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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2021
C
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A
N
D
O
S
O
B
R
E
III Edição
PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO DOCUMENTAL
NAS INSTITUIÇÕES
AVANÇOS E DESAFIOS
Com Mônica Elisque do Carmo
RELATÓRIO
EXPANDIDO
Jorge Santa Anna
Gestão de Secretaria - ABMG
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2021
Belo Horizonte
2019
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2018-2021
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
DOCUMENTAL NAS INSTITUIÇÕES
AVANÇOS E DESAFIOS
Com Mônica Elisque do Carmo
RELATÓRIO EXPANDIDO
Belo Horizonte
ABMG
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© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
CONVERSANDO SOBRE – III EDIÇÃO
Tema da edição: Preservação do patrimônio documental nas instituições: avanços e desafios
Local do evento: sala 1000 da Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de
Minas Gerais. Campus Pampulha
Data de realização: 23 de abril de 2019
Horário: 18:30 as 21:30 h
Comissão organizadora do evento
Presidenta do evento: Mônica Elisque do Carmo
Coordenadores: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Monitora: Raíssa Yuri Hamanaka
Apoio: ECI e equipe ABMG
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
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SUMÁRIO
APRESENTANDO A III EDIÇÃO ............................................................... 3
PLANEJANDO A III EDIÇÃO ................................................................... 4
EXECUTANDO A III EDIÇÃO ................................................................... 6
AVALIANDO A III EDIÇÃO ....................................................................12
APÊNDICE A – FÔLDER DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO .......................... ..13
APÊNDICE B – LISTA DE PRESENÇA COM ASSINATURAS ..................... ..14
APÊNDICE C – MODELO DE CERTIFICADO CONCEDIDO AOS PARTICIPANTES
– ANVERSO E VERSO .............................................................................15
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APRESENTANDO A III EDIÇÃO
O tema da III edição do Conversando Sobre foi proposto na edição anterior do
evento, ocorrida em 23 de abril de 2019, acerca da discussão apresentada
sobre os periódicos científicos pertencentes à área da Biblioteconomia/Ciência
da Informação, no Brasil. Naquela ocasião, a participante Mônica Elisque do
Carmo sugeriu discutir sobre os meandros da memória institucional como
patrimônio das organizações, com foco nas atividades de preservação dos
acervos bibliográficos e arquivísticos.
Sendo
assim,
passados,
praticamente,
dois
meses,
a
Associação
dos
Bibliotecários concretiza a III edição do Conversando Sobre, edição essa
abrilhantada pela palestra da citada bibliotecária, intitulada: Preservação do
patrimônio documental nas instituições: avanços e desafios. Em linhas gerais,
durante o evento, foram apresentados os projetos e ações interventivas
realizadas pela palestrante ao longo de sua trajetória profissional junto ao
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O evento ocorreu no dia 26 de junho de 2019, das 18:30 as 21:30 h, na Escola
de Ciência da Informação, e manifestou-se como abertura de um outro
projeto, mais abrangente, intitulado “Agenda 2030 em MG: o papel das
bibliotecas”. A proposta desse projeto é fortalecer a discussão, em instância
local, acerca da contribuição desempenhada pelas bibliotecas na garantia do
desenvolvimento sustentável das nações. O projeto envolve um ciclo de
palestras, cursos, oficinas, mesas redondas, dentre outros eventos, com
periodicidade não regular e com temas relacionados à contribuição das
bibliotecas para o benefício da sociedade, haja vista a construção de uma
sociedade mais democrática, cidadã, igualitária e, principalmente, inclusiva.
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Portanto, a III edição do Conversando Sobre representou o momento solene
de abertura do citado projeto, sendo que as demais edições do evento serão
incorporadas à agenda de palestras do projeto. Acreditamos que essa iniciativa
foi bem-sucedida, visto que, discorrer sobre a conservação de materiais
informacionais, sobretudo em instituições de memória e cultura, é um tema
que interfere na realidade social, pois é essa memória que mantém viva a
herança história e cultural de uma nação. Logo, refletir sobre tal temática é
uma estratégia de garantir o desenvolvimento sustentável das nações,
principalmente, no que tange às possibilidades de transmitir para os cidadãos
o acesso ao conhecimento registrado nos acervos institucionais.
PLANEJANDO A III EDIÇÃO
O planejamento da III edição do Conversando Sobre iniciou em maio, a partir
de reuniões e contatos mantidos com a palestrante. Além do dia e horário para
concretização do evento, foram definidos a forma de condução (palestra
expositiva), os recursos a serem utilizados e, principalmente, as estratégias de
divulgação.
Como estratégia de divulgação, foi elaborado pela presidenta da associação,
cartaz de divulgação (apêndice A), a ser enviado por meio de diferentes canais
de comunicação, via eletrônica, com apoio de todos os membros e parceiros da
ABMG, além da contribuição, também, da própria palestrante. As mídias
utilizadas para essa divulgação foram: e-mails, grupos de WhatsApp, redes
sociais (Facebook) e em menor proporção, cartaz impresso. Ressalta-se que
esse último foi afixado na sala onde aconteceu o curso Organização de
Bibliotecas para Visitas do MEC, curso ocorrido no início do mês de junho, com
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participação de quase 30 alunos. Na ocasião desse curso, o secretário
aproveitou, também, para convidar, verbalmente, os participantes do curso.
Quanto ao local de realização do III Conversando Sobre, a sala 1000 da Escola
de Ciência da Informação (ECI), da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Campus Pampulha, como já é de praxe, serviu de acomodação. O
espaço foi solicitado pela presidenta da associação, junto à diretoria da ECI,
com quinze dias de antecedência.
Por fim, a fim de facilitar as atividades a serem realizadas, estabeleceu-se a
comissão organizadora do evento, formada oito dias de antecedência. O
quadro 1 apresenta a equipe organizadora, como também outros dados que
resumem a concepção do evento, como principais características e locais e
horários de concretização.
Quadro 1 – Concepção do evento
Características principais do evento
Nome do evento:
Conversando Sobre
Número da edição do evento:
Terceira
Temática:
Preservação da memória institucional
Preservação do patrimônio documental nas
Título:
instituições: avanços e desafios
Público-alvo principal:
Estudantes, pesquisadores e profissionais
interessados pelas temáticas da conversação
e preservação da memória organizacional,
dentre outros aspectos inerentes ao
desenvolvimento sustentável e o contributo
da Biblioteconomia/Ciência da Informação,
nesse contexto
Local e horário de realização
Local de ocorrência:
ECI/UFMG – Campus Pampulha
Dia e horário:
26 de junho de 2019. Das 18:30 às 21:30 h
Comissão organizadora
Presidenta:
Mônica Elisque do Carmo
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de
Coordenação:
Oliveira Costa
Monitoria:
Raíssa Yuri Hamanaka
Apoiadores:
ECI e equipe ABMG
Fonte: Dados do evento (2019).
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Conforme exposto no quadro 1, uma semana antes da realização do evento,
ele já estava concebido. Salienta-se a importância do planejamento nas ações
realizadas em qualquer organização, seja ela de natureza corporativa ou não.
É mediante as práticas de planejamento, que os resultados tornam-se mais
possíveis de serem executados e alcançados, com satisfação.
EXECUTANDO A III EDIÇÃO
O evento teve início às 18:45 h, com breve apresentação e saudações de boasvindas
realizadas
pela
presidenta
da
associação.
Nesse
momento,
foi
enfatizada a importância do Conversando Sobre, como uma oportunidade de
compartilhamento de experiências e percepções dos bibliotecários de Minas
Gerais. Também agradeceu a presença dos participantes, da palestrante e
finalizou estendendo a palavra ao secretário da associação, a fim de
apresentar, brevemente, o tema da presente edição e o currículo da
bibliotecária ministrante.
Assim
como
proferido
pela
presidenta,
o
secretário
cumprimentou
os
presentes, enfatizando a satisfação da ABMG ao perceber que o evento estava
crescendo aos poucos, chegando em sua III edição em um período,
aproximado, de seis meses. Mencionou o tema da terceira edição e relacionouo ao desenvolvimento sustentável, conforme proposta prevista pela Agenda
2030 da Organização das Nações Unidades (ONU), destacando a importância
de as bibliotecas realizarem práticas que possibilitem a inclusão social e, por
conseguinte, o avanço econômico, cultural e social em todas as instâncias e
contextos da sociedade.
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Acerca da Agenda 2030, a Federação Internacional
Instituições
Bibliotecárias
(IFLA)
vem
estimulando
de Associações e
as
organizações
a
valorizarem a prática bibliotecária, sobretudo ao reconhecer o potencial da
profissão para a transformação das pessoas e da sociedade. Condizente com
essa proposta, no contexto brasileiro, a Federação Brasileira de Associações de
Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) tem estimulado
as bibliotecas, instituições de informação e cultura, escolas e centros de
formação, órgãos de classe, dentre outros agentes voltados à defesa da
profissão, em realizar ações práticas que estimulem o alcance dos objetivos
necessários ao desenvolvimento sustentável.
Ao contextualizar esse discurso sobre a Agenda 2030, o secretário declara que
a III edição do Conversando Sobre representava a abertura do Projeto Agenda
2030 em Minas Gerais: o papel das bibliotecas. Informa que o Agenda 2030 é
um
projeto
de
cunho
social,
voltado,
especificamente,
para
a
classe
bibliotecária de Minas Gerais, manifestando-se como uma possibilidade de dar
vez e voz para todos os que acreditam na Biblioteconomia. Com efeito, é um
projeto sustentado pela colaboração; logo, pertence a toda classe, cujos
profissionais poderão participar dos momentos de reflexão e práticas, seja
como facilitadores, organizadores, monitores e/ou participantes, em geral.
O secretário esclarece que o Agenda 2030 tem a intenção de ser executado no
ano de 2019, mas que, poderá ser estendido a 2020, caso os eventos se
fortaleçam ao longo dos próximos meses. Salientou que as edições do
Conversando Sobre – realizadas bimestralmente - seriam vinculadas a esse
projeto, com os seguintes temas previstos para ocorrer ao longo dos próximos
meses: Clube de Leituras, Ações de Marketing em Bibliotecas, Inovações no
contexto da Biblioteca Escolar e Serviço de Referência. Mencionou que todos os
bibliotecários estão convidados a enviarem propostas de palestras, cursos,
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oficinas, dentre outros eventos, que poderão ser inseridos no Agenda 2030 e
nas edições futuras do Conversando Sobre.
Após apresentar o tema da III edição e o contexto do Agenda 2030, o
secretário profere o currículo acadêmico e profissional da palestrante, a qual
foi convidada a conduzir o evento. Em um primeiro momento, após breve
apresentação e agradecimentos pelo convite, a bibliotecária esclarece os
assuntos contemplados em sua palestra, enfatizando o local em que atua
profissionalmente,
o
IPHAN.
O
quadro
2
apresenta
breve
conteúdo
programático abordado pela palestrante.
Quadro 2 – Síntese do conteúdo programático abordado
Tópico abordado
Descrição
Legislação
pertinente
à
proteção
do - Principais leis federais e estaduais que
patrimônio documental
versam sobre a preservação documental,
sobretudo em instituições de memória;
- O papel das instituições de cultura e
memória em face das adequações a essas
leis;
- O contexto de criação e objetivos
principais do IPHAN.
Conservação dos documentos arquivísticos e
bibliográficos
Estratégias contra a deteriorização de
coleções em arquivos, bibliotecas e museus
- A importância da prática da conservação;
- Os impactos causados quando da falta das
ações e projetos de conversação;
- Características e formas de organização de
documentos arquivísticos e bibliográficos.
- Ações práticas realizadas em acervos do
IPHAN;
- Demonstração dos efeitos promovidos com
as ações de conversação;
- Os projetos desenvolvidos no IPHAN para
conservação de seus acervos;
- O papel do bibliotecário nesse processo;
- Atitudes inovadoras e proativas do
profissional.
Fonte: Dados do evento (2019).
De acordo com o que consta no quadro 2, os primeiros assuntos discorridos
foram aspectos relacionados à legislação sobre guarda e preservação dos
acervos de memória, especificamente, leis que dispõem sobre a organização e
preservação
dos
materiais
informacionais
e
dos
bens
culturais
que
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representam a historicidade e memória de um povo. A figura 1 apresenta o
início das discussões.
Figura 1 – Início da apresentação da palestra
Fonte: Dados do evento (2019).
Após explanação das leis, foram apresentadas reflexões a respeito da
conservação dos documentos arquivísticos e bibliográficos, e as estratégias
que podem ser realizadas pelo bibliotecário para a conservação desse material,
atendendo, portanto, as exigências legais.
Importante mencionar que a palestra teve uma concepção mais empírica do
que epistemológica, cuja ministrante teve a oportunidade de expor aos
participantes os desafios, conquistas e estratégias inovadoras que permeiam o
seu fazer profissional na instituição onde atua. Em vários momentos do
discurso
proferido,
foi
enfatizada
a importância
e
necessidade
de
os
profissionais deixarem a “zona de conforto”, de modo a tornarem-se
profissionais inovadores, com espírito crítico que provoque a mudança no
contexto em que atuam. O discurso foi permeado por diversos comentários,
tanto de profissionais quanto de estudantes, os quais se mostraram adeptos
dessa necessidade, mudança essa que começa, a princípio, na formação
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profissional e precisa ser levada com intensidade e engajamento para o
mercado de trabalho.
A experiência relatada na palestra explorou as atividades de planejamento
acerca
da
organização
de
acervos
bibliográficos
e
arquivísticos,
especificamente quando se encontram em situação de deteriorização. Além do
tratamento técnico aos documentos, apresentaram-se as ações de elaboração
de projetos, as quais são consideradas como estratégias mais adequadas para
garantir a excelência do trabalho realizado, com otimização de recursos para o
instituto. A figura 2 apresenta dois momentos importantes de exposição dos
projetos realizados pela palestrante.
Figura 2 – Desenvolvimento da palestra, com apresentação dos projetos de intervenção
realizados pela palestrante
Fonte: Dados do evento (2019).
Após apresentar as atividades realizadas e os resultados alcançados, sobretudo
com a apresentação de fotos, a palestrante discorreu sobre os benefícios que o
instituto alcançou com a organização de seu centro de documentação.
Reforçou
que,
atualmente,
o
centro
está
devidamente
organizado,
manifestando-se como um local de acolhimento, tanto para os profissionais da
instituição, quanto para visitantes e pesquisadores que desejam acessar as
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fontes de pesquisa, resgatando, dessa forma, a memória institucional e, ao
mesmo tempo, memória do país.
Por volta das 21:00 h, já em fase de encerramento, a bibliotecária reforça que
sua experiência profissional, como é de praxe, em qualquer profissão e
contexto de atuação, perpassou por obstáculos, conquistas e aprendizado. É,
evidentemente, o esforço profissional, a busca por inovação, a capacidade em
perder o medo para enfrentar desafios e o apoio da instituição que farão toda a
diferença no sucesso dos resultados a serem atingidos.
Portanto, o evento foi encerrado com o discurso da presidenta da associação, a
qual agradeceu a presença da bibliotecária, mencionando que sua presença
sempre será muito bem-vinda nos projetos que a ABMG realiza. Como forma
de agradecimento, a monitora do evento fez a entrega solene do certificado à
palestrante, a qual foi procedida de calorosos aplausos.
Importante destacar, também, as atividades de monitoria realizadas ao longo
do evento. Dessa vez, essas atividades ficaram a cargo de uma aluna de PósGraduação
da
ECI,
que
concretizou
as
seguintes
práticas:
preparação/organização da sala antes e depois do evento; apoio aos
coordenadores e à palestrante; recepção aos participantes; coleta das
assinaturas deles, na lista de presença etc. A análise à lista de presença com
assinaturas possibilitou identificar a presença de 15 pessoas (apêndice B), com
os registros dos respectivos e-mails de cada participante. Na semana seguinte
ao evento, mensagem de agradecimento foi enviada para esses e-mails,
seguido do certificado eletrônico de cada participante. O modelo de certificado
enviado aos participantes consta no apêndice C.
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AVALIANDO A III EDIÇÃO
Com a finalização da palestra, após as 21:30 h, o secretário da associação
reuniu-se com a palestrante, a fim de receber o retorno da avaliação dela
sobre o evento. Constatou-se a satisfação da palestrante, a qual considerou
que suas expectativas foram atingidas, sobretudo pela receptividade que
recebeu do público.
Nessa discussão, foram refletidas a importância de dar continuidade aos
projetos sociais, sobretudo com temas que demonstrem o potencial da
Biblioteconomia para a sociedade. Na opinião da palestrante, também
comungada pelo secretário, a III edição trouxe como maior contribuição o
resgate do papel interventivo do profissional, não podendo ser ele um sujeito
limitado, mas inovador, crítico e dinâmico. Ademais, outro diferencial desta
edição foi a interação dos participantes e a diversidade no perfil deles,
congregando profissionais, pesquisadores e estudantes.
Outra vantagem que precisa ser mencionada é o contributo para as
organizações, visto que a memória não é algo relacionado à obsolescência; ao
contrário, a memória institucional traz o registro de uma história, de um
percurso trilhado por diferentes personalidades e que refletirá na construção
das futuras gerações. Além disso, a memória organizacional é um dos trunfos
que a instituição possui, haja vista fundamentar a tomada de decisões.
Por fim, como indicação de melhorias para as próximas edições, a palestrante em conjunto com o secretário - pontuou a importância de divulgar mais os
eventos, haja vista ampliar o número de participantes. Por volta das 22:00 h,
a reunião foi encerrada, por conseguinte, a III edição do Conversando Sobre,
como nas edições anteriores, cumpriu com a sua missão.
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APÊNDICE A – FÔLDER DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO
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APÊNDICE B – LISTA DE PRESENÇA COM ASSINATURAS
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APÊNDICE C – MODELO DE CERTIFICADO CONCEDIDO AOS
PARTICIPANTES –ANVERSO E VERSO
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A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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A name given to the resource
Preservação do patrimônio documental nas instituições: Avanços e desafios
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An entity primarily responsible for making the resource
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Contributor
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ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
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ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Preservação
Memória institucional
Description
An account of the resource
A Associação dos Bibliotecários concretiza a III edição do Conversando Sobre, edição essa abrilhantada pela palestra da citada bibliotecária, intitulada: Preservação do patrimônio documental nas instituições: avanços e desafios. Em linhas gerais, durante o evento, foram apresentados os projetos e ações interventivas realizadas pela palestrante ao longo de sua trajetória profissional junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
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ABMG
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PORTAIS DE PERIÓDICOS: AMBIENTES DE ARMAZENAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA PERIÓDICA
Por Jorge Santa Anna
Os periódicos científicos exercem uma contribuição substancial no desenvolvimento das ciências, sobretudo por permitir
que os resultados de pesquisas sejam expostos para análise da comunidade especializada, o que permitirá maior qualidade do que é
descoberto. Além de permitirem a avaliação das pesquisas, esses meios de comunicação permitem que elas sejam disseminadas,
garantindo maior visibilidade e uso dos achados de pesquisa.
Desde o século XVII, com o Journal des Sçavants, publicado na cidade de Paris (figura 1), o periódico veio se desenvolvendo.
Hoje, ele se manifesta como o meio de comunicação mais utilizado em todas as áreas de conhecimento e em todas as partes do
mundo. Prova disso, é o fato de que o número de periódico cresceu de forma exponencial, principalmente, com o surgimento das
tecnologias digitais e disponibilização desse meio de comunicação no ambiente web.
Figura 1 – Capa do primeiro
periódico
científico da humanidade,
impresso em 05 de janeiro de 1665
O crescimento do número de periódicos desencadeou iniciativas a serem tomadas pelas
instituições mantenedoras, com vistas a permitir maior visibilidade dessas publicações. Nas
últimas décadas, as universidades têm se destacado nessa empreitada, por meio da criação de
ambientes digitais ou repositórios que armazenam, especificamente, os periódicos por elas
mantidos. Nasce, portanto, neste contexto, os portais de periódicos.
Os portais de periódicos podem ser conceituados como repositórios ou ambientes digitais de
informação, que armazenam os periódicos científicos de um determinado contexto, seja em
nível mais específico ou mais abrangente, tais como um ou mais departamentos, uma ou mais
instituições, uma ou mais instâncias geográficas, dentre outras delimitações.
Fonte: Birn (1965) apud Santa Anna
(2018).
Especificamente, quanto aos portais de periódicos das Universidades Federais do Estado de Minas Gerais, das 11 instituições
existentes, apenas cinco delas possuem portais estruturados, que são: Universidade Federal de Minas Gerais, Ouro Preto, Juiz de
Fora, São João Del Rei e Triângulo Mineiro. Nessas universidades, os portais apresentam-se de forma desigual, há falta de políticas
específicas na maioria deles, preferência pelo software Open Journal Systems , falta de detalhamento da arquitetura informacional
do site, como também existem limitações quanto aos serviços prestados, grande parte exercendo a função única de diretório.
Essa realidade confirma a importância e contribuição das políticas de informação para subsidiar o trabalho de gestão dos
portais, como também recomendações para a realização de estudos de uso, principalmente com os editores dos periódicos e
gestores dos portais, no intuito de estabelecer melhorias contínuas a esses ambientes.
Além disso, é preciso maior aprofundamento do tema, de modo a aproximá-lo dos fazeres bibliotecários, valorizando a
presença de uma equipe de bibliotecários para atuarem na gestão dessas bibliotecas digitais. Que as potencialidades dos
bibliotecários possam ser melhores aproveitadas no âmbito da comunicação científica, especificamente em periódicos e
em portais!
*Nota: Os resultados aqui registrados é fruto da pesquisa de Mestrado, desenvolvida pelo autor deste texto, junto ao Programa de
Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação, da Universidade Federal de Minas
Gerais. Dissertação defendida em: 20 de dezembro de 2018.
�Jorge Santa Anna é bibliotecário atuante no ramo da
prestação de serviços de orientação, escrita, normalização e
lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Associado da ABMG desde outubro de 2017.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Telefone: (27)99268-1527
Espaço dedicado ao associado
Mande seu tex to, sua ar te, sua produção, seu
marketing para publicação neste espaço. Email: abmg. gestao21@gmail.com
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Portais de periódicos: ambientes de armazenamento da produção científica periódica
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
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Subject
The topic of the resource
Periódicos Científicos
Portais de Periódicos
Description
An account of the resource
Os periódicos científicos exercem uma contribuição substancial no desenvolvimento das ciências, sobretudo por permitir que os resultados de pesquisas sejam expostos para análise da comunidade especializada, o que permitirá maior qualidade do que é descoberto. Além de permitirem a avaliação das pesquisas, esses meios de comunicação permitem que elas sejam disseminadas, garantindo maior visibilidade e uso dos achados de pesquisa
Source
A related resource from which the described resource is derived
Relatório de divulgação
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4597/PlanoProjetoAgenda2030.pdf
7dea54ddbebe92c355fc0092d4d127c9
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE
MINAS GERAIS – ABMG
PLANO DE PROJETO: AGENDA 2030 EM MINAS
GERAIS – O PAPEL DAS BIBLIOTECAS
Belo Horizonte
2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE
MINAS GERAIS – ABMG
Jorge Santa Anna
PLANO DE PROJETO: AGENDA 2030 EM MINAS
GERAIS – O PAPEL DAS BIBLIOTECAS
Plano do Projeto Agenda 2030 em MG: o
papel das bibliotecas, apresentado e
aprovado pela Diretoria da Associação de
Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), a
ser executado de abril de 2019 a
dezembro de 2019.
Coordenador: Jorge Santa Anna
Subcoordenadora: Maria Elizabeth de
Oliveria Costa
Belo Horizonte
2019
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2018-2020
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 3
2 ESCOPO DO PROJETO ........................................................................ 4
3 OBJETIVOS ........................................................................................ 6
3.1 OBJETIVO GERAL............................................................................... 6
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................... 6
4 JUSTIFICATIVA ................................................................................. 7
5 PÚBLICO-ALVO .................................................................................. 8
6 RECURSOS E CUSTOS ENVOLVIDOS ................................................... 8
7 QUADRO SINÓTICO DO PROJETO ...................................................... 9
8 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ...........................................................11
REFERÊNCIAS ......................................................................................12
EQUIPE GESTORA DO PROJETO ...........................................................13
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
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1 INTRODUÇÃO
As discussões em torno da Agenda 2030, instituída pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e aderida pela Federação Internacional de Associações e
Instituições Bibliotecárias (IFLA), manifestam-se como uma oportunidade de
transformação para a Biblioteconomia, no atual século. É por isso que
acreditamos que a Biblioteconomia Social, um campo ou disciplina até então
obscuro aos olhos de muitos profissionais, pode ser considerada como um
tema emergente e que precisa ser inserido no fazer profissional, nesses novos
tempos. Não bastasse essa oportunidade surgida internacionalmente, no
contexto brasileiro, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários
(FEBAB) aderiu às ações propostas pela IFLA, o que pode representar um
mecanismo de ascensão para o campo da Biblioteconomia Social, no Brasil.
No entanto, conforme proferido pela própria ONU, e como já é de praxe em
qualquer movimento que vise a mudança, ela somente ocorrerá quando a
diferença for realizada nas instâncias locais, que provoque modificações no
cotidiano das pessoas e das instituições. Ou melhor, como política pública que
visa a erradicação da pobreza e garanta o desenvolvimento das nações, a
Agenda 2030 somente alcançará essa proposta quando os objetivos forem
aderidos e transformados em atitudes práticas, sobretudo no âmbito local, com
envolvimento do Estado e das instituições, em especial na esfera municipal.
Em comunhão com as reflexões promovidas pelas instituições bibliotecárias de
cunho internacional e nacional, como a IFLA e a FEBAB, é que nasce o Projeto
Agenda 2030 em Minas Gerais: o papel das bibliotecas, cujo escopo principal
de abrangência é o Estado de Minas Gerais. O projeto pretende despertar o
envolvimento de toda classe bibliotecária, haja vista trazer à tona, práticas
inovadoras desenvolvidas por bibliotecários e bibliotecas que provoquem um
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efeito benéfico na vivência das sociedades, por conseguinte, contribua com o
desenvolvimento humano e social.
O projeto é gerenciado pela ABMG, cujo objetivo principal é fortalecer a
discussão, em instância local, acerca da contribuição desempenhada pelas
bibliotecas na garantia do desenvolvimento sustentável das nações. O projeto
envolve um ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas, dentre outros
eventos, com periodicidade não regular, e com temas relacionados à
contribuição das bibliotecas para o benefício das comunidades, haja vista a
construção de uma sociedade mais democrática, cidadã, igualitária e,
principalmente, inclusiva.
Projetado para se desenvolver ao longo dos meses de 2019, há pretensão de
se estender até o primeiro semestre de 2020. Esse desejo somente se
efetivará à medida que houver participação e aceitação por parte da classe
profissional. Portanto, a ABMG, ao longo do projeto, mediante estratégias de
identificação da satisfação e envolvimento dos profissionais, avaliará a
viabilidade (ou não) em estender o projeto para 2020.
2 ESCOPO DO PROJETO
A temática do Projeto Agenda 2030: o papel das bibliotecas em MG contempla,
em linhas gerais, a Biblioteconomia Social, considerada como um campo
promissor para o século XXI. Esse campo possibilita a realização de projetos
interventivos que impactam diretamente no cotidiano das pessoas, por
conseguinte, agregando valor para a sociedade.
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Já nos anos 1990, Almeida Júnior (1997) reforçou que o fazer bibliotecário
precisa ter uma contribuição mais concreta no âmbito da sociedade, não se
restringindo a atividades técnicas realizadas em acervos, no interior das
bibliotecas. Se essa restrição continuar, segundo esse autor, os profissionais
podem estar fadados ao fracasso, o que viabiliza a necessidade constante de o
profissional se reinventar.
A relação entre bibliotecas e sociedade resulta na formação de um novo
conceito, a responsabilidade social dessas unidades, cujas ações realizadas
pelos profissionais da Biblioteconomia visam a busca de metas “[...] que sejam
boas para a instituição na qual ele atua e para a sociedade onde essa
instituição está inserida, atuando em conjunto com ela [...]” (MORAES, 2018,
p. 62).
Mais recentemente, Pozzatti (2018, p. 8) salientou que a preocupação com o
social é de suma importância e ao mesmo tempo instigante, pois envolve um
trabalho “[...] que vai além das instituições, sejam elas públicas ou privadas,
com ações e práticas voltadas aos diferentes cenários da sociedade como
hospitais, periferias, presídios, centros urbanos, dentre outros”.
Em síntese, comungamos com os dizeres de Santa Anna (2018, p. 15), ao
afirmar que:
acreditamos que compreender essas relações firmadas entre profissão e
sociedade é de suma importância para levantar denúncias sociais, como
também propor melhores condições de vida, tanto para profissionais
envolvidos com uma causa, como também aos cidadãos, de uma forma
geral. Isso, provavelmente, tende a desencadear a consolidação dos
direitos humanos e a promoção de uma sociedade cada vez mais
democrática.
Além de abordar essa temática, o Projeto Projeto Agenda 2030: o papel das
bibliotecas em MG coloca-se em sintonia com os objetivos do Desenvolvimento
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Sustentável (ODS), visto que eles compreendem uma somatória de iniciativas
que viabilizarão a construção de políticas públicas adequadas para melhoria da
qualidade de vida das pessoas e, dessa forma, garantir o desenvolvimento
sustentável, considerando pessoas, instituições e o meio ambiente, em geral.
Portanto, o escopo principal do citado projeto compreenderá diferentes
temáticas, ancoradas no campo da Biblioteconomia Social e na política pública
internacional da Agenda 2030 da ONU. Assim, citam-se como principais temas
abordados
nos
eventos
Sustentável. Objetivos do
do
projeto:
Agenda
Desenvolvimento
2030.
Desenvolvimento
Sustentável. Biblioteconomia
Social e cidadania. Ações bibliotecárias inovadoras. Cidadania e democracia.
Políticas públicas. Sociedade inclusiva e igualitária, dentre outros.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Fortalecer a discussão, em instância local (Estado de Minas Gerais), acerca da
contribuição desempenhada pelas bibliotecas na garantia do desenvolvimento
sustentável das nações.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Ampliar o debate sobre o campo da Biblioteconomia Social.
Aproximar profissionais e instituições para práticas colaborativas e troca
de conhecimentos e parcerias.
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Despertar
nos
profissionais a
necessidade
da inovação no
fazer
profissional.
Indicar possibilidades de aperfeiçoamento das bibliotecas e campos de
atuação bibliotecária.
Promover o debate acerca da inclusão social e o papel das bibliotecas.
Encorajar profissionais para a mudança, criatividade e engajamento.
Oportunizar o potencial, a visibilidade e o reconhecimento do fazer
bibliotecário para a sociedade, em geral.
4 JUSTIFICATIVA
A realização deste projeto é pertinente, a princípio, por estimular a reflexão e
praticidade das ações gerenciadas por bibliotecários que vão muito além do
trabalho técnico e operacional realizado em acervos. Isso tende a ampliar os
campos de atuação e estimular o reconhecimento pela sociedade acerca da
profissão, visto que essa se tornará mais presente no cotidiano das
comunidades e, especificamente, dos grupos que se encontram em contextos
de vulnerabilidade social.
Especificamente, em Minas Gerais, o projeto se justifica, pois manifestará
como uma oportunidade de fortalecimento da prática bibliotecária, sobretudo
por demonstrar projetos e ações inovadoras realizadas por bibliotecários e
bibliotecas mineiras, em vários contextos e instâncias desse Estado. Como
consequência, além da valorização e reconhecimento profissional, fortalece a
proposta da Agenda 2030, colocando o referido Estado em sintonia com
instituições defensoras da profissão, como IFLA e FEBAB.
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Assim, percebe-se uma tripla contribuição à medida que este projeto for
executado: 1 - fortalecimento da classe bibliotecária; 2 - benefícios para a
sociedade, especialmente, de grupos marginalizados; e 3 – alcance dos ODS,
conforme a Agenda 2030, sobretudo dos objetivos de número: 1 (erradicação
da pobreza), 3 (saúde e bem-estar), 4 (educação de qualidade), 9 (indústria,
inovação e infraestrutura), 10 (redução das desigualdades) e 16 (paz, justiça e
instituições eficazes).
5 PÚBLICO-ALVO
O público-alvo deste projeto é diversificado, envolvendo tanto a instância da
formação profissional (estudantes de Biblioteconomia), do mercado de trabalho
(bibliotecários), das organizações (gestores públicos e privados) e da pesquisa
(docentes e pós-graduandos).
Descrito de outra forma, o público contempla estudantes, pesquisadores e
profissionais que buscam o fortalecimento da Biblioteconomia/Ciência da
Informação, na sociedade. Também envolve aqueles indivíduos que estão
preocupados com o bem-estar e qualidade de vida das comunidades, unindo
esforços em prol da construção de uma sociedade mais humana, democrática,
justa, igualitária, inclusiva e, de um modo geral, sustentável em todos os
aspectos.
6 RECURSOS E CUSTOS ENVOLVIDOS
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A natureza social deste projeto o torna sem fins lucrativos. Por isso, requer a
adoção de métodos alternativos que não demandem a necessidade de grandes
recursos, principalmente os de cunho financeiro. Portanto, espera-se que não
haja custo (exceto para materiais administrativos), sendo reservado um valor
mínimo para custear despesas ocasionadas por intercorrências ou imprevistos.
O quadro 1 apresenta os recursos utilizados e o valor reservado para situações
emergenciais, valor esse fornecido pela ABMG.
Quadro 1 – Recursos do projeto
Tipo de recursos
Elementos dos recursos
Infraestrutura ambiental Sede da ABMG, salas de aula da
(espaço)
ECI ou outros espaços de
instituições públicas
Infraestrutura
Computador com internet e
tecnológica
projetor multimídia
Recursos Humanos
Pessoas envolvidas na comissão
organizadora de cada evento:
presidente, coordenadores e
monitores
Recursos
materiais/administrativos
Custo e justificativa
Sem custos, pois os locais são
de instituições apoiadoras
Sem custos, visto que a
ABMG possui esses recursos
Sem custos, pois a atuação da
comissão organizadora é de
natureza voluntária e se
beneficiará com a entrega dos
certificados para as funções
exercidas
R$50,00 reais
Certificados
da
comissão
organizadora do evento e lista
de presença
Valor
reservado
para Imprevistos, como: uso de táxi, R$100,00 reais
situações emergenciais
demais materiais de impressão,
necessidade de lanche etc.
Valor total
____
R$150,000 reais
Fonte: Dados do projeto (atualizado em: 14 de agosto de 2019).
7 QUADRO SINÓTICO DO PROJETO
Com o intuito de apresentar uma síntese do referido projeto, expõe-se o
quadro 2, o qual contém o detalhamento sistemático do plano do projeto.
Importante atentar que alguns eventos ocorrerão em paralelo com as edições
do Conversando Sobre, de modo que uma única ação seja realizada para
ambos os projetos. Portanto, entende-se que o Conversando Sobre (evento
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com periodicidade bimestral e sem data de finalização) foi incorporado às
ações do Agenda 2030.
Quadro 2 – Plano do Projeto Agenda 2030 em MG
Projeto Agenda 2030 em MG
Título oficial:
Projeto Agenda 2030 em MG: o papel das bibliotecas
Escopo:
Agenda 2030. Desenvolvimento Sustentável. Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável. Biblioteconomia Social.
Ações bibliotecárias inovadoras. Cidadania e democracia.
Políticas públicas. Sociedade inclusiva e igualitária
Objetivo geral:
Fortalecer a discussão, em instância local, acerca da
contribuição desempenhada pelas bibliotecas na garantia
do desenvolvimento sustentável das nações
Objetivos específicos:
1 – Ampliar o debate sobre o campo da Biblioteconomia
Social
2 – Aproximar profissionais e instituições para práticas
colaborativas e troca de conhecimentos e parcerias
3 – Despertar nos profissionais a necessidade da
inovação no fazer profissional
4 – Indicar possibilidades de aperfeiçoamento das
bibliotecas e campos de atuação bibliotecária
5 – Promover o debate acerca da inclusão social e o papel
das bibliotecas
6 – Encorajar profissionais para a mudança, criatividade e
engajamento
7 – Oportunizar o potencial, a visibilidade e o
reconhecimento do fazer bibliotecário para a sociedade,
em geral
Justificativa:
Manifesta-se como uma oportunidade de fortalecimento
da prática bibliotecária, sobretudo por demonstrar
projetos e ações inovadoras realizadas por bibliotecários
e bibliotecas mineiras, em vários contextos e instâncias
do Estado de Minas Gerais. Como consequência, além da
valorização e reconhecimento profissional, fortalece a
proposta da Agenda 2030, colocando o referido estado
em sintonia com instituições defensoras da profissão,
como Ifla e Febab
Principais ações desdobradas Ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas,
dentre outros eventos
Público-alvo principal:
Estudantes, pesquisadores e profissionais que buscam o
fortalecimento da Biblioteconomia/Ciência da Informação,
na sociedade
Locais
prováveis
de Sede da ABMG, ECI/UFMG, dentre outros locais
ocorrência:
apoiadores
Periodicidade:
Não regular. Estará condicionada à demanda requerida
pelos profissionais
Tempo de execução:
Abril de 2019 a 05 de dezembro de 2019
Abertura oficial:
26 de junho, em paralelo com a III Edição do
Conversando Sobre
Encerramento
oficial
(se 05 de dezembro, em paralelo com o evento de entrega da
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houver):
Prorrogação (se necessário):
Encerramento
oficial
(se
houver):
Medalha da ABMG
Até junho de 2020
20 de junho de 2020, em paralelo com o lançamento dos
livros Mediação da Informação e O bibliotecário e as
redes sociais
Gênese/origem:
Desenvolvimento, publicação e lançamento dos livros:
Biblioteconomia Social e Empreendedorismo Bibliotecário,
no ano de 2018, pela ABMG
Coordenador
Jorge Santa Anna
Subcoordenadora:
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Monitoria:
Raíssa Yuri Hamanaka, dentre outros interessados
Apoiadores:
ECI - UFMG
Alguns
eventos - Preservação da memória institucional (paralelo com a
confirmados/previstos:
III edição do Conversando Sobre)
- Biblioteca pública e a inclusão de pessoas com
necessidades visuais
- Clubes de leitura (paralelo com a IV edição do
Conversando Sobre)
- Biblioteca e formação do sujeito crítico
- Ações de marketing para uso da biblioteca (paralelo
com a V edição do Conversando Sobre)
- Acessibilidade em bibliotecas
- Inovação na Biblioteca Escolar
- Serviço de referência em bibliotecas (paralelo com a VI
edição do Conversando Sobre)
Fonte: Dados do projeto (atualizado em: 14 de agosto de 2019).
8 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Este projeto não tem a intenção de ser exaustivo, tampouco, inflexível. Logo, à
medida que for sendo realizado, novas sugestões poderão ser acatadas, de
modo que outros eventos possam ser acrescentados ao seu planejamento,
possibilitando o enriquecimento da agenda de eventos a serem realizadas ao
longo dos meses de 2019. O quadro 3 apresenta o cronograma previsto, com
menção às datas e os eventos a serem realizados, durante a vigência do
projeto.
Quadro 3 – Cronograma de execução do Projeto Agenda 2030 em MG
Data
Tema do evento
Natureza/formato
Evento
do evento
Previsto Confirmado
26 de
Abertura do projeto
Palestra expositiva
junho
e demonstrativa
Executado
X
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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2018-2020
12
de
agosto
30
de
agosto
25
de
setembro
Preservação da
memória
institucional
A Biblioteca Pública
de Lagoa Santa
Clubes de leitura
Formação do sujeito
crítico
em
bibliotecas públicas
Ações de marketing
Palestra expositiva
e
relatos
de
experiências
Rodas de conversas
Palestra expositiva
X
X
X
31
de
Palestra e relato de
outubro
experiência
20
de Acessibilidade
em Mesa redonda
novembro bibliotecas
02
de Biblioteca escolar
Palestra expositiva
dezembro
05
de Serviço
de Mesa redonda
dezembro referência
Fonte: Dados do projeto (atualizado em: 14 de agosto de 2019).
X
X
X
X
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e Biblioteconomia. São
Paulo: Polis; APB, 1997.
MORAES, Marielle Barros de. Responsabilidade social bibliotecária (RSB): o que
significa em tempos de rupturas democráticas? In: SPUDEIT, Daniela Fernanda
Assis de Oliveira; MORAES, Marilene Barros de (Org.). Biblioteconomia
social: epistemologia transgressora para o Século XXI. São Paulo: ABECIN,
2018. p. 49-76.
POZZATTI, Valéria Rodrigues de Oliveira. Prefácio. In: SANTA ANNA, Jorge;
SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da
(Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da
cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 8.
SANTA ANNA, Jorge. Biblioteconomia e sociedade: resgatando o pensamento
de Jesse Shera. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes
da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social:
possíveis caminhos para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG,
2018. p. 14-22.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�13
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
EQUIPE GESTORA DO PROJETO
_____________________________________
Jorge Santa Anna
Gestão de Secretaria e Assuntos administrativos – ABMG
Coordenador do projeto
________________________________________
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Presidenta da ABMG
Subcoordenadora do projeto
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Plano do Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Agenda 2030
Projeto Social
Description
An account of the resource
Projeto gerenciado pela ABMG, cujo objetivo principal é fortalecer a discussão, em instância local, acerca da contribuição desempenhada pelas bibliotecas na garantia do desenvolvimento sustentável das nações. O projeto envolve um ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas, dentre outros eventos, com periodicidade não regular, e com temas relacionados à contribuição das bibliotecas para o benefício das comunidades, haja vista a construção de uma sociedade mais democrática, cidadã, igualitária e, principalmente, inclusiva.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Plano de Projeto Social
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/6157/ArtigoRBBD.pdf
ae736b8b86c2cbdcfb2a98f2502a03b5
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Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15, n. esp. Melhores trabalhos CBBD, 2019 |
Eixo 7 – Construção e identidade profissional
PARTICIPAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO NA ORGANIZAÇÃO
DE EVENTOS: o caso do lançamento de livros da
Associação de Bibliotecários do
Estado de Minas Gerais
Andreza Gonçalves Barbosa
Doutoranda em Ciência da Informação
pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).
E-mail:
goncalvesandreza@hotmail.com
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Doutoranda em Ciência da Informação
pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
Jorge Santa Anna
Doutorando em Gestão e Organização
do Conhecimento pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: jorjao20@yahoo.com.br
RESUMO
A realização de eventos contribui no fortalecimento das
práticas profissionais e das atividades científicas em uma
determinada área de conhecimento. No entanto, é errôneo
acreditar que esse fortalecimento é consequência, apenas,
dos eventos de maior abrangência, tais como os eventos de
cunho nacional ou internacional. Parte-se do pressuposto de
que, ações conjuntas, realizadas em nível local, por grupos
isolados ou associações profissionais de estados e municípios
podem trazer resultados inovadores e provocar novas
reflexões que contribuam com o crescimento da área. Com
esse propósito apresenta-se este artigo, cujo objetivo é
demonstrar a contribuição das equipes de bibliotecários na
organização de eventos, de modo a possibilitar a condução do
evento com planejamento, controle e excelência nos
resultados alcançados. O texto apresenta-se como um relato
de experiência que discorre acerca do evento de lançamento
de dois livros da área de Biblioteconomia, organizados pela
Associação de Bibliotecários do Estado de Minas Gerais.
Trata-se de um texto descritivo, de abordagem qualitativa,
com características de relato de caso, permeado por técnicas
de observação. A partir dos resultados, foi possível afirmar
que a excelência do trabalho pode ser alcançada,
notadamente na organização de eventos, quando os
profissionais acreditam e investem nas ações de
planejamento, com entusiasmo, audácia, união e colaboração.
Espera-se que outras iniciativas dessa natureza possam ser
pensadas e executadas em prol do fortalecimento da
Biblioteconomia.
Palavras-chave: Eventos científicos. Organização de eventos.
Lançamentos
de
livros.
Biblioteconomia
social.
Empreendedorismo na Biblioteconomia.
LIBRARIAN PARTICIPATION IN EVENT ORGANIZATION:
the case of launching books from the Librarian
Association of the Minas Gerais state
218
�Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15, n. esp. Melhores trabalhos CBBD, 2019 |
Eixo 7 – Construção e identidade profissional
ABSTRACT
The holding of events contributes to the strengthening of
professional practices and scientific activities in a given area
of knowledge. However, it is wrong to believe that this
strengthening is only a consequence of broader events, such
as national or international events. It is assumed that joint
actions, performed at local level, by isolated groups or
professional associations of states and municipalities can
bring innovative results and provoke new reflections that
contribute to the growth of the area. It is for this purpose that
this article is presented, which aims to demonstrate the
contribution of librarian teams in the organization of events,
in order to enable the conduct of the event with planning,
control and excellence in the results achieved. The text
manifests itself as an experience report that discusses the
launching event of two books in the area of Library Science,
organized by the Association of Librarians of the State of
Minas Gerais. This is a descriptive text with a qualitative
approach, with case report characteristics, permeated by
observation techniques. From the results, it was possible to
affirm that the excellence of the work can be achieved,
especially in the organization of events, when professionals
believe and invest in planning actions, with enthusiasm,
audacity, unity and collaboration. It is hoped that other
initiatives of this nature can be thought of and implemented
in order to strengthen Library Science.
Keywords: Scientific events. Event organization. Book
releases. Social librarianship. Entrepreneurship in Library
Science.
1 INTRODUÇÃO
A realização de eventos científicos constitui uma prática comumente realizada nas
mais diversas áreas do conhecimento. Os eventos científicos são importantes, porque
permitem a troca de informações e experiências vivenciadas por profissionais e
pesquisadores, no intuito de que ações possam ser desenvolvidas em conjunto, haja vista
desencadear o fortalecimento e o desenvolvimento de uma área científica.
Assim como acontece com outros meios de comunicação, como os periódicos, nos
eventos, a contribuição está no fato de que as pesquisas apresentadas são submetidas para
apreciação pela comunidade científica, resultando em possíveis críticas ou sugestões que
possam validar, cada vez mais, os resultados almejados. Além da apresentação e melhorias
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�Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15, n. esp. Melhores trabalhos CBBD, 2019 |
Eixo 7 – Construção e identidade profissional
das pesquisas, os eventos manifestam-se como momentos oportunos para capacitação de
profissionais, divulgação de produtos e serviços, dentre outras possibilidades, considerando
a diversidade de atividades que permeiam um evento de natureza científica.
Ao contrário dos periódicos, os eventos científicos se destacam pelo fato de
permitirem um contato face a face entre os participantes. Segundo Campello (2003), os
eventos são momentos propícios que enriquecem as pesquisas apresentadas, destacando-se,
principalmente, por possibilitar um retorno instantâneo, além das sugestões e do diálogo
firmado entre especialistas e o pesquisador ou profissional que submete suas pesquisas,
divulga seus serviços, dentre outras ações desenvolvidas pelo participante.
Nesse contexto, a prática de realização de eventos constitui uma estratégia utilizada
pela ciência, no sentido de garantir maior legitimidade e credibilidade ao que está sendo
pesquisado e utilizado no âmbito de uma área de conhecimento ou profissão. A ciência é
norteada por um sistema de comunicação que permite a interação entre especialistas que se
interessam por temas similares, e esses agentes vão reconstruindo seus fundamentos a partir
das considerações de seus colegas, o que fomenta um intenso ciclo de retroalimentação, o
qual viabiliza maior qualidade no que é produzido (MUELLER, 2003).
A importância dos eventos para a comunicação científica é tamanha que, mesmo com
o aparecimento das tecnologias digitais, que possibilitam formas de interação pelo
computador, permitindo, por exemplo, a prática de videoconferências, os eventos presenciais
não deixaram de existir, como mencionado por Campello (2003). Para Santa Anna (2018), os
eventos científicos precisam ser bem organizados, com equipes integradas, cujas funções são
determinadas, a fim de permitir uma melhor condução das atividades.
O autor salienta que a área da Biblioteconomia se destaca, com eventos sendo
realizados tanto a nível Brasil quanto internacionalmente. Santa Anna (2018) reforça o papel
da gestão do evento, enfatizando que ela precisa ser conduzida por profissionais capacitados
e bem treinados, de modo que os objetivos possam ser alcançados e que os anseios e as
expectativas dos participantes sejam atendidos.
Campello (2003) cita que os eventos podem ser mais abrangentes quando visam
congregar participantes de diferentes regiões, com uma abrangência nacional ou
internacional. Há também, segundo a autora, eventos direcionados a um público restrito,
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
normalmente, a nível local, e contendo os interesses de uma comunidade específica, tal como
uma associação profissional, por exemplo.
Nesse contexto, no âmbito das associações profissionais de Biblioteconomia, no Brasil,
cita-se a Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), entidade que acredita na
causa profissional e acadêmica. A Associação desenvolve um conjunto de ações vinculadas a
projetos variados, que visem em linhas gerais, à capacitação e encorajamento dos
bibliotecários. Com o intuito de fortalecer a área, a entidade se destaca na oferta de cursos de
capacitação, oficinas diversas, publicações de livros, realização de eventos profissionais e
científicos, dentre outras atividades.
Acreditando no potencial das publicações científicas, no ano de 2018, a entidade
desenvolveu dois livros em forma de coletânea. Os capítulos foram escritos por diversos
autores, compostos por alunos, professores e bibliotecários. Com o propósito de disseminar
a leitura a diferentes públicos, foram aceitos textos no formato de artigos de pesquisa, artigos
de revisão, ensaios e relatos de experiência. Os livros foram planejados para publicação no
formato de e-book, não comercializável, cuja comissão organizadora foi composta por
membros da diretoria da ABMG.
Como forma de prestigiar os autores e também de divulgar os dois livros, foi
organizado um evento de lançamento no final de dezembro de 2018.
A comissão
organizadora do evento, além dos membros da comissão organizadora das obras, contou com
a participação de cinco pessoas engajadas com a Biblioteconomia: duas alunas de PósGraduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ambas graduadas em Biblioteconomia e atuantes no mercado - um aluno em formação na
área, uma bibliotecária atuante em biblioteca universitária e um bibliotecário atuante no
ramo da prestação de serviços. O local escolhido para realização do lançamento foi um dos
auditórios da Escola de Ciência da Informação (ECI) da UFMG.
Ressalta-se que ambos os livros contemplaram temas relacionados às inovações que
podem ser realizadas pelo bibliotecário, no mercado de trabalho. Uma das obras voltou-se à
temática da Biblioteconomia Social e a outra abordou o tema relacionado ao
Empreendedorismo na Biblioteconomia. Ambas as coletâneas reforçam que é possível
construirmos uma Biblioteconomia social e empreendedora agregada às técnicas aprendidas
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
na formação profissional. Essas, em conjunto, possibilitarão novos campos de atuação para
os bibliotecários, contribuindo, dessa maneira, para o enriquecimento da área.
A partir do fundamento de que o bibliotecário é o profissional capacitado a organizar
a informação nos mais diferentes formatos, seja ela tangível ou intangível, e cientes das
múltiplas competências atribuídas a esse profissional, parte-se do pressuposto de que as
comissões que gerenciam os eventos muito podem ser beneficiadas com a inserção de
bibliotecários. Assim como afirmou Rasche e Câmara (2013), os eventos científicos,
sobretudo os de cunho cultural, organizados pelas bibliotecas e suas equipes, visam, dentre
outras questões, ampliar o marketing, oportunizar o diálogo, a convivência e a manifestação
social.
Portanto, o presente artigo objetiva demonstrar a contribuição das equipes de
bibliotecários na organização de eventos, de modo a possibilitar a condução do evento com
planejamento, controle e excelência nos resultados alcançados. O texto manifesta-se como
um relato de experiência acerca do evento de lançamento de dois livros da ABMG,
discorrendo sobre: fundamentos teóricos acerca da importância dos eventos e o contributo
dos bibliotecários nas comissões; algumas características e objetivos das obras lançadas; as
atividades realizadas pela equipe de organização do evento; os desafios e conquistas
alcançadas; e, por fim, as possíveis habilidades requeridas para essas atividades.
2 PARTICIPAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO NA ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS:
APORTE TEÓRICO
O trabalho demandado para concretização de um evento é bastante moroso e requer
um conjunto de atividades que se iniciam, na maioria das vezes, muito tempo antes da
realização do evento. Segundo Coutinho (2010, p. 13-14), trata-se da somatória de esforços
realizada por diferentes comissões, cujo trabalho precisa ser conduzido por pesquisa,
planejamento, organização, coordenação, controle e implantação, com vistas à “[...] atingir
seu público-alvo com medidas concretas e resultados projetados”.
Reforça-se, também, que os eventos científicos, independente da natureza,
abrangência e objetivos, terão um público-alvo específico, e o trabalho desenvolvido pelas
comissões terá o propósito de atingir esse público. O alcance desse público estará sustentado
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
por diferentes objetivos, tais como: lançamento de produtos, apresentação de pessoas,
empresas ou entidades, dentre outros elementos, contribuindo para o reconhecimento,
valorização ou melhoria direcionada a esses elementos (COUTINHO, 2010).
Os eventos são importantes pois contribuem com a evolução de uma área ou segmento
profissional e/ou social. O público envolvido possui propósitos similares, uma vez que
comunga de valores relacionados, ou se interessam por determinadas causas em comum. O
trabalho para concretização do evento é complexo e não se resume a atividades isoladas. Ao
contrário, é preciso a formação de equipes integradas, com tarefas bem distribuídas, em que
os grupos formarão comissões especializadas para tratar assuntos diferentes, como:
comunicação, infraestrutura, divulgação, avaliação, dentre outros (CESCA, 2008).
É por esse motivo que se faz necessária a presença de profissionais capacitados,
experientes e competentes para compor as comissões dos eventos científicos. Em linhas
gerais, os membros integrantes dessas equipes precisam possuir domínio e expertise para
lidar com assuntos relacionados à gestão, à capacidade de trabalhar em equipe, de se
comunicar, de desenvolver ações estratégias, tomar decisões, gerenciar recursos, dentre
outras exigências (GOHR; SANTOS; SCHWINGEL, 2011).
Acredita-se que o bibliotecário, consagrado como profissional da informação, poderá
agregar muitas contribuições ao compor as comissões organizadoras dos eventos, sejam eles
de cunho científico e/ou cultural. Isso porque, dentre as competências que possuem, elas
podem ser distribuídas em quatro grandes grupos, que são: comunicação e expressão,
técnico-científicas, gerenciais, sociais e políticas, conforme relatado por Belluzzo (2011).
Com efeito, percebe-se que, para atuar na organização de eventos, as competências de
comunicação e expressão, as sociais e políticas e, sobremaneira, as gerenciais enaltecem esse
profissional.
De acordo com Santa Anna (2018), ao compor a comissão de monitoria de evento
internacional, o trabalho gerencial é o mais evidente, uma vez que é graças ao trabalho das
equipes - na maioria das vezes, presentes nos bastidores - que as atividades são executadas
satisfazendo os interesses e necessidades dos participantes. O autor destaca alguns
elementos básicos necessários aos profissionais que trabalham nesse contexto: dedicação,
integração, recursos disponíveis e capacidade de gestão, práticas de planejamento para
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
distribuição das atividades do evento, além da infraestrutura física e tecnológica adequada,
e preparação do local para acomodação dos participantes e das atividades.
Portanto, ainda em Santa Anna (2018), reforça-se que os bibliotecários possuem
potencial para atuar na organização dos eventos da área, visto que, primeiramente, eles
possuem o conhecimento técnico das temáticas, o que facilita gerenciar as temáticas a serem
apresentadas. Além desse domínio, as habilidades gerenciais também são de suma
importância, pois garantirão a capacidade de condução, controle e avaliação das atividades,
como discorrido no estudo de Coutinho (2010).
Por fim, destaca-se, também, sobretudo em eventos culturais, a capacidade em
estimular a convivência e interação entre os membros das equipes e entre os participantes,
formando um espaço oportuno de socialização (RASCHE; CÂMARA, 2013). As autoras
afirmam que a convivência é saudável, pois “[...] colabora para a melhoria do clima
organizacional e representa uma pausa em atividades rotineiras para o encontro com
colegas, o aprendizado, a fruição, dentre outros” (RASCHE; CÂMARA, 2013, p. 10).
A partir desses apontamentos teóricos, é importante observar como a participação de
bibliotecário no contexto da organização do evento de lançamentos de livros da ABMG pode
ter contribuído. Assim, a seguir, apresenta-se o relato da experiência vivenciada por cinco
bibliotecários que congregaram a equipe organizadora do citado evento, mencionando,
anteriormente, as características dos livros lançados e os fatores motivacionais que levaram
a esse empreendimento.
3 OS LIVROS ORGANIZADOS PELA ASSOCIAÇÃO DE BIBLIOTECÁRIOS DE
MINAS GERAIS
O livro intitulado “Biblioteconomia social: possíveis caminhos para construção da
cidadania” apresenta textos relativos à prática biblioteconômica que vão além das técnicas
aprendidas na Graduação. Fica clara na obra a importância de se ater à questão social dos
bibliotecários e à responsabilidade deles para com a melhoria não somente do local de
atuação, mas também em prol da melhoria da comunidade/sociedade. Dessa maneira, “o
cunho liberal e humanista da profissão” oficializado no juramento da Biblioteconomia pode
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
ser praticado com eficácia, obtendo-se bons resultados assim como os contidos nos capítulos
da obra.
Já o livro intitulado “Empreendedorismo bibliotecário na sociedade da informação:
outros caminhos e possibilidades” abarca questões voltadas para as diversas possibilidades
que a Biblioteconomia apresenta aos profissionais da área. É preciso que o profissional esteja
apto a atuar não somente em bibliotecas ou centros de informação, mas que esteja preparado
a atuar em um mercado cada vez mais competitivo em que tecnologias surgem a todo o
momento. Dessa maneira, o livro apresenta novos nichos de atuação desses profissionais.
Os livros nasceram de uma conversa informal no grupo de WhatsApp da ABMG, em
meados de 2018, a partir das discussões acerca da importância dos projetos sociais
realizados em bibliotecas e que, na maioria das vezes, ficam “engavetados” nas instituições.
A partir desse debate, pensou-se na ideia de reunir, em um único recurso, projetos sociais
que enaltecessem o campo da Biblioteconomia Social. A partir dessa discussão, os membros
da associação enviaram convites a profissionais interessados nesse tema. A adesão por parte
dos convidados estimulou, por parte da diretoria, o desenvolvimento de uma segunda obra,
voltada ao empreendedorismo na Biblioteconomia. Com efeito, iniciaram-se, paralelamente,
ao livro Biblioteconomia Social, a elaboração do livro Empreendedorismo Bibliotecário.
Essas obras foram planejadas com o intuito de garantir o fortalecimento da profissão,
como também a partir das recomendações da Federação Internacional de Associações e
Instituições Bibliotecárias (IFLA), ao estimular o papel das bibliotecas e bibliotecários no
desenvolvimento sustentável das nações, conforme proposta da Agenda 2030 da
Organização das Nações Unidades (ONU).
Com a disseminação dos convites aos autores e com a distribuição dos temas a serem
abordados nos capítulos, a comissão organizadora das obras elaborou o sumário provisório.
A obra Biblioteconomia Social obteve um total de 20 capítulos, distribuídos em quatro seções.
Já a obra Empreendedorismo foi formado por 18 capítulos, com a presença, também, de
quatro seções. O quadro 1 demonstra a estrutura temática da obra, com menção à quantidade
de capítulos nas seções.
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
Quadro 1 - Estrutura do livro por temas
Nome do livro
Biblioteconomia Social
Empreendedorismo
Bibliotecário
Seções da obra
Quantidade de
capítulos
Principais temáticas
Seção I: Biblioteconomia
Social: um fenômeno
obscuro à realidade
brasileira
Quatro
Biblioteconomia Social;
Aspectos conceituais;
Cidadania; Shera;
Empreendedorismo Social
Seção II: Bibliotecas no
fomento à leitura: o poder
transformador da leitura
em diferentes contextos
da sociedade
Seis
Leitura e cidadania; Leitura
em terminais de ônibus;
Clube da Leitura
Seção III: A
Biblioteconomia em
espaços e contextos de
vulnerabilidade
Sete
Ambiente hospitalar;
Ambiente prisional;
Informação utilitária; Sala
Braille
Seção IV: Práticas
bibliotecárias em face do
movimento associativo
Três
Agenda 2030; Conselhos
Regionais; Movimento
Associativo; Participação
política
Seção I: –
Empreendedorismo e
seus reflexos nas
profissões
Quatro
Aspectos históricos e
conceituais;
Empreendedorismo e
profissões;
Empreendedorismo na
Ciência da Informação;
Cultura empreendedora
Seção II:
Desinstitucionalização da
Biblioteconomia
Dois
Consultoria informacional;
Desinstitucionalização da
biblioteca e do bibliotecário
Seção III: Repensando a
Cinco
biblioteca e o bibliotecário
Fator humano nas
bibliotecas; Nova
Biblioteconomia; Ações
culturais
Seção IV: As contribuições
bibliotecárias inovadoras
e incentivadoras como
contribuição para o
profissional e para a
sociedade
Prestação de serviços
informacionais; Editoração
de periódicos; Negócios;
MEI
Sete
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
Como se observa no quadro 1, percebe-se a diversidade de temas abordados nas
seções, o que demonstra a abrangência das temáticas de ambas as obras. Conforme proferido
pelos organizadores das obras, na mesa de abertura do evento de lançamento, os livros
correspondem a um compêndio de projetos desenvolvidos em diferentes estados e em
distintos contextos, seja no âmbito da formação, atuação ou na pesquisa em
Biblioteconomia/Ciência da Informação.
Além da diversidade de temas, as obras romperam a tendência endógena, indo muito
além da fronteira do Estado de Minas Gerais. Os dados coletados a partir das observações no
evento constataram a participação de 52 autores, distribuídos pelas regiões Sudeste, Sul,
Norte e Nordeste, conforme apresenta no gráfico 1.
Gráfico 1 - Número de autores por estados brasileiros
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Os dados confirmam que Minas Gerais e Espírito Santo possuem o maior número de
autores. Essa constatação pode estar relacionada, segundo o discurso de um dos membros da
comissão organizadora, o fato da proximidade entre esses dois estados e a influência que os
membros da diretoria da ABMG exercem ao convidar, possivelmente, pessoas mais próximas
e conhecidas, a maioria inseridas nesses dois estados.
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�Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15, n. esp. Melhores trabalhos CBBD, 2019 |
Eixo 7 – Construção e identidade profissional
Outros dados coletados ao longo do evento e que possibilitam caracterizar as obras
nele lançadas dizem respeito aos contextos de vinculação profissional dos autores. Por meio
da análise ao currículo de cada autor, percebeu-se que a maioria são estudantes de PósGraduação nas Universidades Públicas dos referidos estados brasileiros (gráfico 2).
Gráfico 2 - Distribuição dos autores por contextos de atuação profissional/vinculação institucional
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
A leitura ao gráfico 2 permite constatar que a organização da obra não é um assunto
de interesse apenas de um campo ou segmento da área de Biblioteconomia. Ao contrário, há
envolvimento de indivíduos inseridos no meio acadêmico, alguns ainda em fase de formação,
como os alunos de Graduação, ou em fase de especialização, como os alunos de PósGraduação, como também de professores e, por fim, bibliotecários atuantes em diferentes
segmentos de mercado, tais como: bibliotecas públicas, bibliotecas universitárias, prestação
de serviços, dentre outros.
Esse resultado vai ao encontro do que proferiu um dos membros da comissão
organizadora dos livros, ao discursar na mesa de abertura que “o empreendimento tem uma
concepção mista, ou seja, fundir aspectos teóricos e pragmáticos, convergindo profissionais,
estudantes e docentes de diferentes contextos e regiões brasileiras. Ou seja, isso mostra a
união de esforços em prol do fortalecimento das ações inovadoras para bibliotecários e
bibliotecárias de todo o Brasil” (informação verbal)1.
Discurso proferido pela presidenta da ABMG, Maria Elizabeth da Costa, na mesa de abertura do evento de
lançamento dos livros, ocorrido na ECI/UFMG, em 20 de dezembro de 2018.
1
228
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
Nesse contexto, importante discorrer os fundamentos dos temas abordados nas obras.
Segundo Silva (2018), a Biblioteconomia Social é um campo plural, uma vez que está
direcionada às questões sociais, no âmbito da dinâmica educativa, cultural, tecnológica e
científica. O empreendedorismo, por sua vez, segundo Conti, Pinto e Davok (2009), é um
campo promissor e diversificado, já que bibliotecários empreendem nas bibliotecas, nas
organizações e como profissionais autônomos, ampliando, dessa forma, os nichos de atuação.
Outro fundamento teórico que merece destaque é o estudo de Jatuf (2013, p. 4,
tradução nossa) que conceitua a Biblioteconomia Social como “uma tendência ou
manifestação crítica, teórico-prática da técnica bibliotecária proporcionando alternativa à
biblioteconomia tradicional em termos de compromisso e transformação social”. O
Empreendedorismo na Biblioteconomia visa ampliar o espaço de atuação do bibliotecário
antes restrito “ao contexto das bibliotecas” (SPUDEIT; SILVA, 2018, p.171).
Com o engajamento dos autores e da equipe organizadora, os capítulos foram
finalizados e enviados para diagramação no início de novembro de 2018. Nesse momento,
dois bibliotecários, um do Espírito Santo, atuante em biblioteca universitária, e outro
vinculado à Universidade Federal de Pernambuco, com cargo de professor, desenvolveram
os prefácios das obras. Em paralelo, foi solicitado o registro ISBN, junto à Agência Nacional, e
um profissional da Biblioteca Pública de Minas Gerais elaborou os registros catalográficos.
Com isso, as semanas que se seguiram foram fundamentais para a equipe organizadora do
evento finalizar as atividades para concretização do evento, no dia 20 de dezembro de 2018.
4 EVENTO DE LANÇAMENTO: ATIVIDADES, DESAFIOS E CONQUISTAS
A organização do evento de lançamento dos livros antecedeu a data de sua realização,
cujas atividades se intensificaram a partir do final de novembro de 2018. A ideia da comissão
organizadora das obras em conjunto com a diretoria da ABMG era inovar, ou seja, o evento
de lançamento não seria um espaço de autógrafos e de destaque concedido, apenas, aos
organizadores, mas todos os autores teriam a possibilidade de compartilhar as experiências
e as crenças registradas nos textos dos capítulos.
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
A princípio, a comissão organizadora do evento se reuniu a fim de estabelecer o
cronograma das atividades e as responsabilidades de cada membro. Importante ressaltar que
essa comissão foi formada por um aluno de Graduação, duas bibliotecárias vinculadas à PósGraduação e dois membros da diretoria da ABMG, esses últimos também formados em
Biblioteconomia, um atuante em biblioteca universitária e outro no ramo da prestação de
serviços informacionais. O quadro 2 demonstra a delegação de funções e o período de
realização.
Quadro 2 - Cronograma de atividades para a comissão organizadora do evento
Função
Atividades a serem
realizadas
Membros da
comissão à frente
Período de
execução
Criação do
- Recebimento dos títulos dos
cronograma de
capítulos, autores e seus
trabalho para a equipe contatos;
- Estabelecimento das
atividades, distribuídas em
funções a serem executadas
Todos os membros
01 de dezembro
de 2018
Convite formal
- Elaboração de convite;
- Texto de e-mail para envio
aos autores e autoridades
Bibliotecário
atuante na
prestação de
serviços
Entre 05 a 10 de
dezembro
Divulgação inicial
- Criação de fôlderes de
divulgação e disponibilização
em diferentes canais de
comunicação
Bibliotecária
atuante em
biblioteca
universitária
Entre 10 a 12 de
dezembro
Acolhida no evento
- Convite a um coral ou outra
atividade cultural para
ambientação
- Preparação dos
equipamentos necessários
para a apresentação cultural
Aluno de Graduação
Entre 13 a 15 de
dezembro
Cronograma das
apresentações no
evento
- Criação do grupo de contato
com autores;
- Sequência dos capítulos a
serem apresentados;
- Contato com autoridades
para composição da mesa de
abertura;
- Monitoramento do grupo de
contato
Bibliotecárias pósgraduandas
Entre 15 e 17 de
dezembro
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Infraestrutura e
confraternização
- Contato com prestador de
serviços para oferta de
lanches;
- Arrumação do espaço do
evento;
- Testagem de equipamentos
Bibliotecárias pósgraduandas
Entre 15 e 19 de
dezembro
Divulgação final e
monitoramento
- Elaboração de um fôlder final; Todos os membros
- Elaboração de fôlder com a
programação;
- Envio por e-mail, redes
sociais e afixação de cartazes
Entre 18 e 20 de
dezembro
Avaliação do evento
- Elaboração de relatórios;
- Envio de formulário
avaliativo aos participantes ou
outra estratégia de coletar
opiniões
Mês de janeiro e
fevereiro de
2019
Bibliotecário
atuante na
prestação de
serviços
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Mesmo que as funções foram designadas, isso não quer dizer que o trabalho foi
realizado de modo isolado. Ao contrário, os membros da comissão auxiliaram-se uns aos
outros mediante uma atuação integrada e colaborativa. Essa postura é considerada como
saudável, conforme defendido por Cesca (2008), ao discorrer sobre a delegação de funções
sem, necessariamente, a restrição das atividades. As funções determinadas pela comissão do
evento também estão condizentes com o aspecto de relações públicas dos eventos, cujas
atividades, nesse sentido, segundo a mesma autora, são: assessoria, planejamento, execução
e avaliação.
Aproveitando o ensejo, foi organizado pela Biblioteca da ECI/UFMG, nas primeiras
semanas de dezembro, o Projeto de Extensão intitulado “Feira Luz do Conhecimento”, em que
diversas editoras disponibilizaram na entrada da Escola, livros para comercialização, com
uma árvore de Natal na entrada da biblioteca, contendo os livros dos professores da Escola,
na forma de miniaturas. Em conjunto com essa feira, folders foram distribuídos objetivando
ampliar a divulgação do evento de lançamento.
A comissão organizadora do evento disseminou os folders em diferentes canais de
divulgação, sobretudo em redes sociais, como também enviou convite formal aos autores,
mencionando que cada um poderia convidar amigos e familiares para prestigiar o momento.
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
A figura 1 demonstra cartão de convite enviado via mídias sociais, como também
disponibilização de post no site de notícias da UFMG e da ABMG.
Figura 1 - Instrumentos utilizados como meio de divulgação do evento
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Considerando as atividades e tempo de execução explanadas no quadro 2, os folders
de divulgação expostos na figura anterior foram disseminados em dois momentos, com vistas
a fortalecer a lembrança da ocorrência do evento. A respeito dos instrumentos de divulgação
na organização de eventos, Coutinho (2010) considera como ideal que eles se manifestem
pré e pós-evento. Antes do evento, eles viabilizam a propagação do evento, atingindo as
pessoas interessadas; a divulgação após é aquela que pode se concretizar mediante as ações
avaliativas, como também por meio do feedback dos participantes ou das autoridades e
instituições envolvidas.
Dentre as diversas atividades que permeiam as funções descritas no quadro 2,
destaca-se a elaboração da listagem dos contatos de todos os autores dos capítulos das
coletâneas. A partir dessa listagem, foi possível criar um grupo no aplicativo WhatsApp, no
qual os autores puderam interagir, tirar suas dúvidas sobre as apresentações orais, e,
principalmente, confirmarem a presença no dia do evento. A fim de facilitar a interação entre
os membros da comissão organizadora, foi criado, também, um grupo restrito para essa
equipe.
Ainda na fase de planejamento, após a confirmação dos autores, foi possível
estabelecer também quem seria responsável pela apresentação oral de cada capítulo, visto
que a maioria foi escrita por mais de um autor. Devido à restrição de tempo, cada autor teve
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
um tempo limitado para a apresentação, o que impossibilitou que todos os autores de um
determinado capítulo se pronunciassem; logo, apenas um autor de cada capítulo foi escolhido
para apresentar.
Os autores tiveram a liberdade de convidar outras pessoas para assistirem ao
lançamento dos livros, contribuindo para promover o evento dentre os profissionais da
informação, familiares e amigos. No grupo do WhatsApp, cada autor informou o número de
convidados que iria comparecer ao evento, possibilitando que os organizadores soubessem
de antemão o número aproximado de pessoas que estariam presente.
O uso do WhatsApp para facilitar a comunicação entre membros de uma determinada
comunidade específica tem crescido, como também o seu uso na academia, haja vista a troca
de informações entre professores e alunos. Entre os membros da comissão organizadora,
percebeu-se que o uso dessa rede foi muito benéfico, pois facilitou a troca de mensagens
instantâneas entre os membros do grupo, garantindo o conhecimento dos acontecimentos e
a tomada de decisão. Já entre os autores e participantes do evento, a mídia contribuiu com o
planejamento do evento, uma vez que possibilitou mapear/quantificar os que estariam
presentes. Além de facilitar o planejamento do evento, a mídia possibilitou a troca de
informações sobre as novidades do evento, seja pré, durante ou pós o evento. Os relatos
discorridos nas mensagens demonstram a empolgação dos participantes com o evento,
conforme apresentado no quadro 3.
Quadro 3 - Interação na mídia WhatsApp: pré, durante e após o evento
Momento das
interações
Mensagens
“Muito legal essa iniciativa de vocês. Parabéns por essas ações e desejo muito
sucesso no evento. Pena que não poderei ir, pois moro em outro Estado. Mas,
estou feliz por ter escrito um capítulo e espero que esse lançamento seja
realizado, futuramente, aqui na minha cidade. Por favor, enviem fotos no dia do
evento” (Mensagem recebida de autora de capítulo, em 15 de dezembro de
2018).
Pré-evento
“Gente, esse evento promete. Também estou feliz por ter contribuído com os
livros, escrevendo sobre leitura. Podem confirmar a minha presença,
acompanhado de quatro pessoas, meus pais e irmãos” (Mensagem recebida de
autor de capítulo, em 16 de dezembro de 2018).
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
“Prezados autores, temos a satisfação de divulgar, por aqui, as capas dos livros,
confeccionadas pela empresa Norma Padrão. Também informamos que os
registros catalográficos foram registrados pela Agência Nacional e são esses:
978-85-85259-01-3 e 978-85-85259-02-0” (Mensagem recebida de membro
da comissão organizadora dos livros, em 16 de dezembro de 2018).
Durante o
evento
Após o evento
“Prezados, estamos chegando, mas, como somos de outro Estado, estamos
perdidos na UFMG. Como chegar na ECI?” (Mensagem recebida de participante
do evento, em 20 de dezembro de 2018).
“Começando, agora, o evento, com formação da mesa de abertura, composto por
autoridades. Segue foto” (Mensagem recebida de membro da comissão
organizadora dos livros, em 20 de dezembro de 2018).
“Essa noite que passou foi gloriosa para todos nós, que acreditamos no
potencial da Biblioteconomia. A diretoria da ABMG agradece a todos os
envolvidos por esse empreendimento e esperamos que esse seja o início de
muitas outras iniciativas a serem realizadas pelo Brasil afora (Mensagem
recebida de membro da comissão organizadora dos livros, em 20 de dezembro
de 2018).
“Agradecemos a todos os envolvidos e informamos que, quem tiver interesse
em obter certificado de participação, favor enviar e-mail para ABMG.
Informamos, também, que, nas próximas semanas, a comissão organizadora
enviará o capítulo dos livros, com as respectivas paginações, para que todos
possam realizar o registro no Lattes, enquanto os livros ainda não puderem ser
disponibilizado para acesso completo (Mensagem recebida de membro da
comissão organizadora dos livros, em 27 de dezembro de 2018).
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Os dados apresentados no quadro anterior evidenciam que, além de funcionar como
um canal de comunicação, a mídia social possibilitou despertar entusiasmo à medida que as
notícias do evento eram compartilhadas. A esse respeito, Souza, Araújo e Paula (2015)
afirmam que os grupos de WhatsApp são muito mais do que espaços de comunicação
informal, visto que diversificam os formatos de envio das mensagens, o que estimula a
interação e a formação de um ambiente permeado por laços associativos e relacionais.
A próxima etapa da organização do evento foi a elaboração da programação, que
consistiu em um cronograma para controle do tempo e a ordem de apresentação dos autores
que confirmaram presença, com o nome de seu respectivo capítulo. Também foi elaborada
uma planilha, na qual constavam as confirmações de autores e acompanhantes.
No dia do evento, os organizadores se reuniram algumas horas antes para fazer a
conferência completa da programação final e acertar as últimas pendências. A programação
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
foi impressa em várias cópias para controle dos organizadores. Posteriormente, procedeu-se
à organização do auditório onde seria realizado o evento, conferindo a disposição do
mobiliário e inserindo a ornamentação. Alguns problemas técnicos se manifestaram. A esse
respeito, constata-se a importância de controle constante por parte da comissão
organizadora, além da capacidade de improvisar e estar preparada para situações não
previstas. Esse é, de alguma forma, o perfil almejado para um empreendedor, conforme
proclamado por Silva e Spudeit (2018), ao destacarem, segundo teóricos da Administração,
que o profissional que lida com situações improvisadas precisa agir de forma otimista, com
dinamismo, flexibilidade, liderança e, principalmente, ser bem organizado, planejador e
agregador de valor para as coisas e para os acontecimentos.
Assim sendo, no dia vinte de dezembro de 2018, o evento se concretizou, iniciando-se
por volta das 19:00h, cujo público presente contou com a participação de, aproximadamente,
100 pessoas. Com o intuito de tornar o ambiente mais agradável - até mesmo por ser semana
de Natal - um dos autores e membro da comissão organizadora do evento coordenou as
apresentações musicais, recepcionando os convidados com um coral que, gentilmente,
entoou músicas natalinas.
No intuito de facilitar a condução das atividades, ao longo do evento, a comissão
organizadora convidou um mestre de cerimônia, como também, autoridades a comporem a
mesa de abertura. Tal mesa foi composta pelas autoridades: diretora da ECI, representantes
do Conselho Regional e Federal de Biblioteconomia, diretora da ABMG, diretora da Biblioteca
da ECI e membro da comissão organizadora da publicação dos livros. Em linhas gerais, o
discurso desses membros contemplou aspectos da valorização em se publicar textos que
versam sobre os temas das obras, como também agradecimentos a todos que se envolveram
com o referido empreendimento.
A partir do acolhimento prestado pela mesa de abertura, procedeu-se às
apresentações dos capítulos (apenas dos autores presentes). A comissão também autorizou
o envio de vídeos (apenas para autores de outros municípios ou estados), sendo apresentado,
portanto, dois capítulos de autores do Estado da Paraíba no formato de vídeo. Mesmo com
um curto prazo para discursar (cinco minutos), todos os autores conseguiram explanar com
maestria seus escritos. Alguns chegaram a se emocionar, o que comoveu todos os
participantes.
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
A partir do número de autores que confirmaram presença e das apresentações deles,
foi possível constatar que a maioria dos capítulos foi apresentada, o que demonstrou o
conteúdo temático das obras como um todo. Além do mestre de cerimônia que ajudou nas
mediações, destaca-se o trabalho desempenhado pela comissão organizadora, a qual atuou
de forma prestativa, estando à disposição para sanar eventuais intercorrências, tanto nas
apresentações, quanto no acolhimento aos participantes e gestão dos recursos de
infraestrutura.
Acerca da postura assumida pela comissão organizadora do evento, constata-se que
muitas atitudes estão alinhadas ao perfil exigido para um organizador de evento, conforme
discorrido no estudo de Oliveira (2016). Para essa autora, os organizadores, em linhas gerais,
precisam saber: “[...] administrar pessoas e contratos, negociar, ser pró-ativo, organizado,
saber delegar, ter comunicação clara e objetiva, identificar perfis e ser um reconhecedor do
comportamento humano [...]”. Além disso, os organizadores precisam atuar com
sensibilidade, autocontrole, conhecer os objetivos do evento, como também é necessário “[...]
tomar decisões rapidamente (com ciência das consequências), resolver problemas, ser
detalhista, saber regras de etiqueta e cerimonial, ser observador e harmonizador, saber ouvir
e ser conhecedor do mercado de eventos, entre outras habilidades” (OLIVEIRA, 2016, p. 37).
Ao findar das apresentações, o evento foi encerrado com um breve discurso de
agradecimento por parte da presidenta da ABMG, como também foi proferida a mensagem
final dos organizadores da obra, cujo discurso centrou-se na esperança de que outras
iniciativas dessa natureza sejam desenvolvidas em outros contextos. Desse modo, a área da
Biblioteconomia poderá ser, cada vez mais, divulgada, valorizada, reconhecida e interventiva,
sobretudo em prol das causas sociais e acerca do potencial do bibliotecário na atual
sociedade.
Considerando o dia e horário de início - em que muitos participantes foram direto do
trabalho ou chegaram de viagem para participarem - a organização contratou um buffet que
foi servido na entrada do auditório com salgados, água e sucos variados. Assim, a
confraternização encerrou as atividades do evento.
Após o evento, iniciaram-se as atividades avaliativas, cuja comissão organizadora do
evento elaborou o texto do relatório do evento, discorrendo sobre as atividades realizadas, o
total de participantes, os recursos despendidos e os resultados alcançados. Esse relatório foi
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
entregue à diretoria da ABMG como forma de prestação de contas, o que possibilitou a
transparência acerca dos serviços realizados.
Quanto à avaliação do evento, a ideia era enviar um formulário com perguntas abertas
e fechadas, a fim de coletar as opiniões dos envolvidos e sugestões de melhorias para os
próximos eventos. No entanto, por ser final de ano, optou-se por uma forma de registro mais
rápida, sendo coletados comentários dos participantes no grupo de WhatsApp. A análise aos
comentários permitiu constatar a satisfação do público, cujo evento foi avaliado como
oportuno, necessário e inovador. Esses comentários foram inseridos na parte final do
relatório, sendo entregue à diretoria da ABMG, nos primeiros meses de janeiro do ano
seguinte.
A partir das atividades desenvolvidas pela comissão de bibliotecários responsáveis
pelo evento de lançamento, constata-se que, ao participar dessas comissões, caberá ao
bibliotecário ater-se às seguintes funções: planejamento, execução, monitoramento e
avaliação. No contexto dessas funções, são requeridas como habilidades essenciais ao
profissional: visão de futuro, espírito crítico, domínio de escrita e oratória, trabalho em
equipe, diálogo, interação, comunicação, carisma, inovação, audácia e compromisso.
Em suma, entende-se que essas não são apenas habilidades, mas também virtudes
necessárias para a inserção de qualquer profissional na sociedade e no mercado de trabalho,
haja vista a busca por uma sociedade mais humanizada. A iniciativa da ABMG e o contributo
da equipe organizadora do evento são ações que, além de inovadoras, garantem o
fortalecimento do fazer bibliotecário na sociedade idealizada para o século XXI.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento e a publicação dos livros pela ABMG, conforme descrito neste
relato, confirmam a importância e a necessidade de as associações profissionais, demais
órgãos de classes, escolas de formação, dentre outras instituições unirem esforços em prol
desse empreendimento, com o fim de que as experiências, as crenças, os desafios e as
conquistas presentes na Biblioteconomia possam ser disseminados mundo afora.
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
Comprova-se, também, a eficiência dos bibliotecários, sejam estudantes, profissionais,
pesquisadores, ao formarem equipes para facilitar o processo de organização de eventos.
Portanto, é possível reforçar que a atuação do bibliotecário é diversa, podendo ele assumir
vários papéis, dentre eles, a função de organizador de eventos científicos, contribuindo com
seu potencial na disseminação de informações.
Organizar um evento não é tarefa fácil. Envolve tempo, disponibilidade,
responsabilidade. Envolve saber lidar com as intempéries que ocorrem no caminho, porém é
preciso saber driblá-las para seguir adiante. Os resultados deste estudo confirmam essa
afirmação e reforçam o quanto é necessário desenvolver um trabalho formalizado, cuja
comissão organizadora será conduzida, dentre outras, pelas seguintes funções:
planejamento, execução, monitoramento e avaliação.
Importante ressaltar o valor do trabalho em equipe. Saber lidar com as diferenças de
opiniões e de expectativas é algo que aprendemos na prática cotidiana. E, é nessa hora, que a
famosa frase “a união faz a força” faz sentido. O trabalho isolado, certamente, não é o mais
adequado, e trabalhar de forma coletiva, visando a excelência e qualidade do que se oferece,
irá requerer domínio de conhecimento técnico até habilidades de cunho humanizado que
preze pela boa convivência.
O receio de não conseguir terminar tudo a tempo - ainda mais por se tratar de uma
semana de Natal - foi algo que nos inquietou, instantaneamente. Outra questão que nos
acompanhou foi pensar em como reunir um número expressivo de participantes em uma
época difícil como final de dezembro em que a universidade já se encontrava em férias
estudantis. Essas angústias foram superadas e não se manifestaram como empecilhos, haja
vista o conjunto de habilidades inerentes ao profissional que lida, diariamente, com a
informação e com usuários da informação. Com efeito, o espírito reflexivo, a capacidade de
comunicação, a criticidade, o diálogo, o domínio da escrita e da fundamentação foram
mecanismos essenciais para garantir a concretização do evento de lançamento de livros
narrado neste texto.
A partir dos resultados, é possível afirmar que a excelência do trabalho pode ser
alcançada, notadamente na organização de eventos, quando os profissionais acreditam e
investem nas ações de planejamento, entusiasmo, audácia, união e colaboração. Que outras
iniciativas dessa natureza possam ser pensadas e executadas em prol do fortalecimento da
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Eixo 7 – Construção e identidade profissional
Biblioteconomia e que bibliotecários e as instituições de informação - notadamente as
bibliotecas - incrementem a prática dos eventos em suas rotinas de trabalho, como estratégia
de fortalecimento da área e como mecanismo de relações públicas com a sociedade.
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240
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
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ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
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The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
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Participação do Bibliotecário na Organização de Eventos: o caso do lançamento de livros da Associação de Bibliotecários do Estado de Minas Gerais
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Jéssica Patrícia Silva de Sá
Jorge Santa Anna
Contributor
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ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo : São Paulo
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Febab
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Language
A language of the resource
pt
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
1980-6949
Type
The nature or genre of the resource
Artigo de Periódico
Subject
The topic of the resource
Eventos científicos
Organização de eventos
Lançamentos de livros
Biblioteconomia social
Empreendedorismo na Biblioteconomia
Description
An account of the resource
A realização de eventos contribui no fortalecimento das práticas profissionais e das atividades científicas em uma determinada área de conhecimento. No entanto, é errôneo acreditar que esse fortalecimento é consequência, apenas, dos eventos de maior abrangência, tais como os eventos de cunho nacional ou internacional. Parte-se do pressuposto de que, ações conjuntas, realizadas em nível local, por grupos isolados ou associações profissionais de estados e municípios podem trazer resultados inovadores e provocar novas reflexões que contribuam com o crescimento da área. Com esse propósito apresenta-se este artigo, cujo objetivo é demonstrar a contribuição das equipes de bibliotecários na organização de eventos, de modo a possibilitar a condução do evento com planejamento, controle e excelência nos resultados alcançados. O texto apresenta-se como um relato de experiência que discorre acerca do evento de lançamento de dois livros da área de Biblioteconomia, organizados pela Associação de Bibliotecários do Estado de Minas Gerais. Trata-se de um texto descritivo, de abordagem qualitativa, com características de relato de caso, permeado por técnicas de observação. A partir dos resultados, foi possível afirmar que a excelência do trabalho pode ser alcançada, notadamente na organização de eventos, quando os profissionais acreditam e investem nas ações de planejamento, com entusiasmo, audácia, união e colaboração. Espera-se que outras iniciativas dessa natureza possam ser pensadas e executadas em prol do fortalecimento da Biblioteconomia.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v.15, 2019.
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Título do artigo aqui
�Para além dos muros da universidade:
prática docente na extensão universitária
Beyond the walls of the university: teaching practice in the university extension
Jorge Santa Anna
Mestre e doutorando em Gestão e Organização do Conhecimento
Escola de Ciência da Informação - Universidade Federal de Minas Gerais
professorjorgeufes@gmail.com
RESUMO
O presente trabalho relata atividades docentes desenvolvidas em um projeto de extensão universitária, de modo
a demonstrar a contribuição da prática docente nas atividades extensionistas. Parte-se do pressuposto de que os
docentes constituem personagens essenciais para o sucesso dos projetos e dos cursos de extensão, sobretudo
se utilizados métodos e procedimentos estimuladores e adequados ao perfil dos cursistas. Metodologicamente, o
estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, de natureza qualitativa, permeado por pesquisa bibliográfica
e relato de experiência vivenciado pelo docente no curso de Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica. Constatouse a participação docente no planejamento do referido curso, distribuindo os conteúdos temáticos em módulos,
conduzindo as aulas expositivas e contextualizadas, bem como elaborando e socializando os temas dos projetos de
pesquisa. Com efeito, a atuação docente no curso de metodologia proporcionou a integração da extensão com a
pesquisa e o ensino, permitindo uma maior aproximação da universidade com o contexto social, tendo a ciência um
papel preponderante nesse processo, haja vista o rompimento de desigualdades e a busca pelo desenvolvimento da
sociedade.
Palavras-chave: Prática docente. Extensão universitária. Cursos de extensão. Metodologia científica.
ABSTRACT
It reports on teaching activities developed within the scope of a university extension project, in order to demonstrate
the contribution of teaching practice to extension activities. It is assumed that teachers are essential characters for the
success of projects and extension courses, especially if they use methods and procedures that stimulate and suit the
profile of the trainees. Methodologically, the study is characterized as a descriptive research, of a qualitative nature,
permeated by bibliographic research and report of an experience lived by the teacher in the Course Methods and
Techniques in Scientific Research. It was verified the teaching participation in the planning of the course, distributing
the thematic contents in modules, as well as in the conduction of the classes, through the use of expository classes,
contextualized and the elaboration and socialization of the themes of the research projects by the students. In fact, the
teaching performance in this methodology course provided the integration of extension with research and teaching,
allowing a closer approximation of the university with the social context, with science having a preponderant role in this
process, the breaking of inequalities and the search for the development of society.
Keywords: Teaching practice. University extension. Extension courses. Scientific methodology.
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�INTRODUÇÃO
As atividades extensionistas têm exercido – por meio do vínculo que tenta
estabelecer entre ambiente universitário e sociedade – inúmeras contribuições
para o desenvolvimento das universidades. Além de beneficiar a instituição,
em conjunto com as atividades de pesquisa e ensino, é possível promover a
ampliação e a aplicação do conhecimento, pretendendo estabelecer melhores
condições de vida para os cidadãos. Portanto, a extensão estabelece uma relação recíproca entre a universidade e a sociedade, visto que, ao mesmo tempo
que esta recebe o conhecimento produzido e o utiliza para o bem-estar dos
indivíduos, aquela é influenciada pelas mudanças oriundas a partir da aplicação
desse conhecimento.
A importância atribuída à extensão universitária precisa estar em patamar
de igualdade com o ensino e a pesquisa, de modo que esses três elementos sejam vistos como dependentes uns dos outros e, concomitantemente,
complementares entre si. Esse discurso alimenta o chamado princípio da indissociabilidade, garantindo às instituições a possibilidade de unir esforços em
prol de objetivos semelhantes, mesmo realizando atividades com diferentes
enfoques e em diversos contextos.
Muitos estudos discorrem acerca da associação entre o ensino, a pesquisa e a extensão que são considerados como a tríade ou tripé que sustenta as
universidades. Pivetta et al. (2010) consideram que as universidades somente
assumirão uma atitude inovadora, no intuito de provocar uma transformação
social, à medida que fortalecerem e ampliarem as atividades relacionadas a
essa tríade. Para Gonçalves (2015), o princípio da indissociabilidade é complexo,
sobretudo por contemplar questões filosóficas, políticas, pedagógicas e metodológicas, haja vista a formação e o conhecimento desenvolvidos na e pela
instituição.
A complexidade inerente à integração das atividades de ensino, pesquisa
e extensão manifesta-se como um desafio para muitas instituições. Somado a
isso, tem-se, também, a forma diferenciada com que esses elementos têm sido
tratados, em muitos casos, não sendo considerados sob o mesmo patamar de
igualdade. A esse respeito, Fernandes et al. (2012) esclarecem que as atividades
extensionistas, em muitos casos, não são muito aproveitadas, como deveriam,
estando elas limitadas ou restritas a atividades assistenciais e manifestando-se
como campo de estágio das aulas teóricas.
Semelhante aos resultados alcançados com o estudo de Fernandes et al.
(2012), Viviurka e Porto Alegre (2013) também discorreram sobre os impasses
enfrentados pela extensão. Os resultados desse estudo apontam que a extensão não é considerada uma atividade menor em relação ao ensino e à pesquisa
na instituição, mas “o problema situa-se na falta de registro e de divulgação”.
Assim, para que a extensão seja conduzida de forma efetiva, e atinja os diversos fins a que se destina, faz-se necessário o envolvimento de profissionais
de diferentes áreas do conhecimento, como também das equipes de trabalho
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Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�que atuam na universidade, tais como servidores e docentes. De acordo com
Monteiro et al. (2009), a prática docente muito pode contribuir nas atividades
extensionistas, embora, ainda seja pouco explorada. Na visão de Nozaki, Ferreira e Hunge (2015), além de contribuir com o aprendizado dos alunos em cursos
de extensão, a participação do docente garante um enriquecimento da própria
atuação pedagógica desse profissional, o qual tende a ampliar suas estratégias
em ensinar e aprender.
Portanto, o trabalho está ancorado no pressuposto de que os docentes
constituem personagens essenciais para o sucesso das atividades extensionistas, atuando na condução dos cursos de extensão, especialmente se utilizados
métodos e procedimentos estimuladores e adequados ao perfil dos cursistas.
E este texto objetiva discorrer acerca das principais atividades docentes desenvolvidas no âmbito de um projeto de extensão universitária, de modo a
demonstrar a contribuição da prática docente nesse processo.
Metodologicamente, o estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, de natureza qualitativa, permeado por pesquisa bibliográfica e relato
de experiência vivenciado por docente no Curso de Métodos e Técnicas em
Pesquisa Científica, realizado na Escola de Ciência da Informação (ECI), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E
PRÁTICA DOCENTE: ALGUMAS
ARTICULÇÕES
A extensão universitária corresponde a um conjunto de práticas realizadas
pelas universidades, que extravasa o ambiente acadêmico, permitindo maior
aproximação dos estudantes com a vivência social. Essa aproximação tem uma
dupla e recíproca finalidade, pois, ao mesmo tempo em que possibilita a fusão
entre teoria e prática, também viabiliza contribuições para os indivíduos e as
organizações da sociedade (RAMOS; VIEIRA, 2012).
Essas práticas realizadas na instituição de ensino superior, normalmente,
são conectadas a projetos e programas, podendo se apresentar na forma de
cursos, eventos, palestras, produções científicas, pesquisa e desenvolvimento,
entre outras (FACULDADE MACKENZIE, 2018). Em linhas gerais, servidores, professores e alunos vinculam-se a essas atividades, as quais almejam, essencialmente, o alcance de um conhecimento mais efetivo e sólido (RAMOS; VIEIRA,
2012).
Para que esse conhecimento seja alcançado, como descrito por Ramos e
Vieira (2012), faz-se necessário que as atividades extensionistas sejam articuladas às atividades de pesquisa e de ensino. Desse modo, a formação profissional
demandada pelas universidades permitirá ao futuro profissional realizar “inter-
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�venções na e sobre a realidade, construídas com autonomia e competência
para um fazer vinculado à prática social, geradora de novos saberes e novos
fazeres” (PIVETTA et al., 2010, p. 377).
Dentre as diversas formas de atividades ou projetos extensionistas, destacam-se os cursos de extensão, conceituados como o “conjunto articulado de
ações pedagógicas, de caráter teórico e/ou prático, presencial, planejadas e
organizadas de maneira sistemática” (FACULDADE MACKENZIE, 2018, p. 3). Em
linhas gerais, esses cursos representam um exemplo visível da necessidade de
articular o ensino e a pesquisa, para que as atividades pedagógicas presentes
nesses eventos sejam efetivamente consolidadas e atendam às necessidades
dos aprendizes, melhorando continuamente a proposta da extensão (ROSA,
2012).
Esses cursos não podem ser compreendidos como a extensão universitária propriamente dita, visto que essa é conduzida por atividades diferenciadas,
com propósitos mais amplos, embasadas em programas e projetos devidamente oficializados e gerenciados por órgãos ou colaboradores da instituição
(SILVA, 2018). Com efeito,
as atividades de extensão bem planejadas, bem estruturadas e bem executadas permitem à universidade socializar e democratizar os conhecimentos dos
diversos cursos e áreas, e também preparar seus profissionais, não somente
com a estratégia do ensino-transmissão, mas complementando a formação
com a estratégia do ensino-aplicação (SILVA, 2018, não paginado).
Os cursos de extensão precisam ser conduzidos por práticas que caracterizam a inovação pedagógica no campo acadêmico. Práticas em que a
ação formativa seja realizada de forma colaborativa – com vários profissionais
envolvidos no desenvolvimento das atividades – e que possa viabilizar uma
relação dialógica, entre alunos e professores, haja vista permitir amplas formas
de compartilhar conhecimentos e, além disso, aperfeiçoar continuamente as
estratégias, metodologias e procedimentos que permeiam o processo educativo nas instituições de ensino (ROSA, 2012).
No âmago das atividades desenvolvidas em sala de aula, no contexto
dos cursos de extensão, é preciso enfatizar a importância da interação entre
professorado e alunado. Essa interação precisa ser conduzida pelo respeito,
acolhimento e diálogo, assim como apontou Freire (1996). Também se reforça
a importância da postura do docente, que precisa, primeiramente, conhecer as
realidades, necessidades, hábitos e expectativas da comunidade participante
dos cursos, para, a partir disso, elaborar métodos e estratégias pedagógicas
adequadas ao perfil dos cursistas, como relatou Silva (2002) acerca da relação
pedagógica em curso de extensão direcionado à terceira idade.
Além de atender as necessidades dos alunos, o docente tem o papel
de garantir a sua própria formação, ou seja, o seu aprimoramento, sobretudo
quando se considera a reciprocidade inerente ao processo de ensino-apren-
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Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�dizagem, permeado pelo ato de ensinar-aprendendo (FREIRE, 1996). Nesse
contexto, o docente que atua em cursos extensionistas, em que os cursistas
são provenientes de diferentes culturas, contextos e instâncias da sociedade,
há de se considerar que,
nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinando,
ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar
realmente de saber ensinando, em que o objeto ensinado é apreendido na sua
razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos (FREIRE, 1996, p. 14).
O docente que atua em cursos extensionistas tem a missão primordial
de elaborar uma prática formativa e pedagógica a qual estimule a atenção, o
empenho e o engajamento dos alunos. Ademais, o docente precisa “refletir sobre a prática desenvolvida, afim de que seja possível redirecionar as atividades
de acordo com os objetivos propostos” (CORRÊA-SILVA; PENHA; GONÇALVES,
2017). Além disso, como nos projetos de extensão, o docente poderá elaborar
os planos dos cursos, supervisionar as atividades da equipe envolvida, dentre
outras atividades que promovam melhorias, seja no processo de gestão, seja
no ensino-aprendizagem (FACULDADE MACKENZIE, 2018).
A literatura até então publicada é exaustiva ao abordar a contribuição do
docente em cursos de extensão com foco na formação inicial ao exercício da
docência. Como destacam Dall’Acqua, Vitaliano e Carneiro (2013), esses cursos
e demais atividades extensionistas necessitam ser mais e intensamente valorizados, em virtude do papel articulador que podem exercer entre as atividades
investigativas e didáticas, algo de significativo valor para a formação inicial daqueles que querem se dedicar ao exercício educativo.
Também se faz necessário considerar a atuação docente em outras atividades demandadas para execução de um curso de extensão. Assim, o docente
poderá articular as atividades de ensino desenvolvidas em sala de aula com as
atividades de pesquisa, sobretudo ao preparar as aulas, estimular os alunos ao
ato da investigação, além de melhorar sua capacidade de interação com alunos e membros da equipe executora, de modo que sejam trabalhados, simultaneamente, não apenas habilidades técnicas exigidas para o ato de ensinar, mas
também habilidades direcionadas à ética, sensibilidade e humanização (ROSA,
2012).
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�O CURSO DE EXTENSÃO MÉTODOS
E TÉCNICAS EM PESQUISA
CIENTÍFICA
O curso de extensão intitulado Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica: preparação para ingresso na Pós-Graduação representa uma das ações
desenvolvidas por um projeto de extensão de mesmo nome, coordenado por
servidor vinculado à ECI/UFMG, e gerenciado pelo Centro de Extensão (CENEX)
dessa escola e pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP).
O projeto de extensão foi instituído no ano de 2017, com o intuito de
oferecer um curso especializado em metodologia de pesquisa científica, direcionado à capacitação da comunidade para ingresso na Pós-Graduação. Com
previsão de término para o final de 2018, ao longo de sua execução, tem-se
a pretensão de formar diversas turmas, com o mínimo de 10 e máximo de 40
alunos. Até o momento de elaboração deste relato (meados de 2018), o projeto
conseguiu formar três turmas, sendo que o relator desta experiência (docente)
foi convidado a participar do projeto em conjunto com o coordenador (servidor
da ECI), no sentido de permitir uma melhor gestão e também contribuir com a
prática docente em sala de aula.
Ressalta-se que o docente possui graduação em Biblioteconomia e atua
no ramo da prestação de serviços informacionais, de forma independente, com
foco na consultoria acadêmica, ministrando aulas, oferecendo treinamentos e
orientações a diferentes públicos, a fim de capacitá-los ao exercício da escrita
e da pesquisa científica.
Principais atividades gerenciais
desenvolvidas pelo docente
A priori, docente e coordenador elaboraram a proposta do curso, a qual
possui os seguintes objetivos: preparar o aluno e/ou profissional para a pós-graduação; introduzir os fundamentos do método científico; instruir sobre a
preparação de projeto de pesquisa; e orientar sobre a elaboração de artigos
científicos.
Com base nesses objetivos, definiu-se a carga horária (40 h, distribuídas
em dez encontros presenciais). Para execução desses encontros, estabeleceu-se a divisão por módulos, considerando diferentes conteúdos temáticos a
serem abordados nas aulas. Os módulos e seus respectivos conteúdos são os
seguintes:
•
Módulo I – Fundamentos (dois encontros): contextualização da
origem da ciência; tipos de conhecimento; introdução ao método
científico; a formação e divisão das áreas científicas; principais meto-
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Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�dologias de pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento;
•
Módulo II – Artigo científico (três encontros): reflexões sobre a estrutura do texto científico; o artigo científico e demais tipos e gêneros
textuais; apresentação das partes de um artigo; publicação de artigos
científicos;
•
Módulo III – Projeto de pesquisa (cinco encontros): conceitos de
metodologia científica; classificação das pesquisas; instrumentos de
coleta e análise de dados; a estrutura do texto científico; a escrita e
normalização do texto; as partes de um projeto de pesquisa.
Após elaboração do plano do curso, partiu-se para contratação de docentes conhecedores dos assuntos de cada módulo. Assim, conseguiu-se a
contribuição de três professores vinculados ao quadro efetivo da ECI, a maioria
atuante no curso de Biblioteconomia dessa escola.Em seguida, procedeu-se
à divulgação do curso por meio de posts publicados nos sites do CENEX, da
ECI e da FUNDEP. Até o momento de escrita deste relato (meados de 2018),
o projeto conseguiu formar três turmas, as quais obtiveram, sequencialmente,
15, 12 e 18 alunos, contendo perfis dos mais diversificados, desde servidores
e alunos (graduação e pós-graduação) vinculados à UFMG, até indivíduos de
outras instituições públicas e privadas pertencentes a diferentes áreas de conhecimento, como: Biblioteconomia, Arquitetura, Psicologia, Direito, Biologia,
Teatro, Administração, entre outras.
A atuação do docente auxiliar nas atividades desenvolvidas pelo projeto
Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica, no decorrer da aulas ministradas as
turmas I e II, restringiu-se a questões de cunho administrativo, tais como: elaboração do plano do curso, sobretudo no que tange à distribuição dos conteúdos
nos módulos; monitoria nas aulas; e auxílio a professores e alunos. Porém, na
terceira turma, com a ausência do professor responsável pelo Módulo III, o docente auxiliar responsabilizou-se pelo conteúdo a ser ministrado aos alunos
no módulo. A apresentação deste, as bibliografias utilizadas e os métodos e
procedimentos de ensino empregados na condução das aulas pelo docente
estão descritos na seção seguinte.
Principais atividades docentes realizadas em
sala de aula
O docente auxiliar conduziu as aulas do Módulo III, da terceira turma,
pela impossibilidade de o docente responsável assumi-las. Desde a formação
da primeira turma, ainda na oficialização do plano do curso, essa ocorrência
havia sido esclarecida, ficando assim esse módulo reservado ao docente auxiliar do projeto. Essa decisão foi tomada em virtude de o próprio docente estar
familiarizado com os conteúdos de Metodologia Científica, sobretudo, em se
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�tratando da estruturação e da elaboração de projetos de pesquisa. O docente
atua, de forma autônoma, há mais de dez anos em consultoria acadêmica, seja
no ensino para grupos individuais, seja para empresas particulares e públicas
contratantes dos serviços.
A princípio, com base no plano geral do curso, o docente conduziu as
aulas por meio de conteúdos retirados de bibliografias clássicas as quais contemplam os assuntos pertinentes ao módulo. O Quadro 1 demonstra a correspondência entre os conteúdos temáticos do módulo e as principais bibliografias
que embasaram as reflexões em sala de aula.
Quadro 1 – Correspondência entre os conteúdos abordados em sala e principais
bibliografias
CONTEÚDOS TEMÁTICOS
Conceitos de metodologia científica
PRINCIPAIS BIBLIOGRAFIAS UTILIZADAS
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marília.
Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Atlas 2003.
Classificação das pesquisas
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Instrumentos de coleta e análise de dados
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do
Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2007.
A estrutura do texto científico
MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática
de fichamentos, resenhas e resumos. 12. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
A escrita e normalização do texto
LUBISCO, Nídia Maria Lienert. Manual de estilo
acadêmico: trabalhos de conclusão de curso,
dissertações e teses. 5. ed. Salvador: EDUFBA, 2013.
As partes de um projeto de pesquisa.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de
pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
As obras expostas no Quadro 1 serviram de base para fomentar o discurso
do docente. Na aula inicial de apresentação do módulo, foi entregue aos alunos
o plano de estudos contendo os assuntos que seriam apresentados ao longo
das cinco aulas, as bibliografias correspondentes e as principais atividades e
procedimentos de ensino a serem aplicados.
Assim, as cinco aulas desenvolveram-se com conteúdos e procedimentos de ensino diversificados com o intuito de tornar as aulas menos monótonas,
estimulando, dessa forma, a participação e o engajamento dos cursistas nas
atividades realizadas. O Quadro 2 resume o plano do módulo, expõe o tema da
aula, os procedimentos de ensino e os recursos utilizados.
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Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�Quadro 2 – Plano geral do módulo III adotado pelo docente
AULA
I
TEMA GERAL
ABORDADO
PROCEDIMENTOS
DE ENSINO
RECURSOS DIDÁTICOS UTILIZADOS
A metodologia e o
- Aula expositiva e
Projetor multimídia, lousa, pincel, materiais
texto científicos
exemplificativa.
impressos, como livros, periódicos, teses,
Assunto, temática,
- Aula expositiva e
Projetor multimídia, lousa, pincel, materiais
problema, objetivos,
contextualizada;
impressos, como livros, periódicos, teses,
justificativa de
- Elaboração inicial
relatórios, projetos etc.
pesquisas
do texto do projeto.
Socialização dos
- Roda de conversas.
Lousa, pincel e materiais impressos.
Referencial teórico,
- Aula expositiva e
Projetor multimídia, lousa, pincel, materiais
metodologia,
contextualizada;
impressos, como livros, periódicos, teses,
relatórios, projetos etc.
II
III
temas de pesquisa
IV
cronograma e
relatórios, projetos etc.
referências
V
Apresentação das
pesquisas
- Seminário.
Projetor multimídia, lousa, pincel e projeto
impresso.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Por meio do quadro anterior é possível perceber que o Módulo III, em
comunhão com os módulos anteriores, contemplou aulas teóricas e práticas,
dinâmicas e flexíveis sobre metodologia do trabalho científico e assuntos correlatos, como normalização bibliográfica e projetos de pesquisas científicas.
Considerando um dos objetivos principais do curso aqui relatado, qual
seja: “preparar o aluno e/ou profissional para a pós-graduação”, presume-se
que as aulas ministradas abarcariam os assuntos relacionados à metodologia
de pesquisa. É importante considerar que, no meio acadêmico/universitário,
“fazer ciência é importante para todos porque é por meio dela que se descobre
e se inventa, e o método representa, portanto, uma forma de pensar para se
chegar à natureza de um determinado problema, quer seja para estudá-lo, quer
seja para explicá-lo” (MOURA et al., 2018, p. 4).
Com efeito, ao longo das aulas, o docente enfatizou a necessidade de os
alunos adaptarem-se ao estilo científico, assumindo uma postura de pesquisador, em que os temas precisam ser delimitados, a fim de poderem explicitar
claramente a natureza das pesquisas, os métodos de investigação e as possibilidades de se alcançar resultados que gerem contribuições e inovações para
a ciência e para a sociedade.
Em todo o percurso do módulo, reforçou-se a necessidade de adaptação
dos cursistas, a fim de que esses pudessem ser inseridos no universo da pesquisa científica, realizando estudos de alto rigor metodológico, inéditos, com
ética, e que atendam aos “modismos” científicos e aos anseios da comunidade
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�científica. Assim, o ensino de metodologia científica “vai dar as condições iniciais para que o aluno perceba e compreenda de que forma os saberes espontâneos e os científicos se relacionam com a vida em sociedade” (MOURA et al.,
2018, p. 5).
Para tanto, o docente estabeleceu, inicialmente, aulas teóricas e expositivas, para, posteriormente, exigir atividades práticas, como elaboração das
partes de um projeto de pesquisa. Assim, na Aula I, foram apresentados conceitos, divisão das áreas do conhecimento e os estilos específicos de cada uma
delas. Ademais, ao serem apresentadas as características do método científico
e as especificidades de cada área do conhecimento, eram demonstrados aos
alunos diversos materiais científicos publicados no formato impresso, como
livros, artigos de periódicos, teses e dissertações, relatórios técnicos e científicos, entre outros.
Ao longo desse discurso contextualizado e exemplificativo, foram explanadas a necessidade e importância de se adquirir um perfil de cientista, destacando a necessidade de os participantes adquirirem conhecimento suficiente
que os permita se adequar aos estilos científicos, no intuito de se inserir no
universo da ciência (Figura 1).
Quadro 1 – Correspondência entre os conteúdos abordados em sala e principais
bibliografias
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Na aula II, após a contextualização sobre metodologia científica, apresentada na aula I, iniciaram-se as discussões acerca da necessidade de se
delimitar os temas das pesquisas – primeira parte a ser desenvolvida nos projetos de pesquisa. Semelhante à primeira aula, recorreu-se à aula expositiva e
contextualizada, na qual foram demonstradas características e estratégias para
se delimitar o tema de pesquisa e também outras partes decorrentes do tema,
como problema, objetivos e justificativas.
Uma das estratégias apontadas pelo docente teve como subsídio o método dedutivo de pesquisa, no qual os temas vão sendo recortados a partir de
enfoques mais abrangentes e depois reduzidos em enfoques mais específicos.
Foi ensinada a técnica ou estratégia chamada pelo docente de “métodos das
caixinhas”, na qual, a partir de cinco retângulos em branco, são preenchidos,
em cada um, sequencialmente, os seguintes tópicos: área do conhecimento –
campo de investigação – assunto – tema – objeto – título da pesquisa (Figura 2).
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Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�Figura 2 – Slides demonstrando o método dedutivo e a estratégia das caixinhas
Fonte: dados da pesquisa (2018).
O exemplo apresentado na Figura 2 demonstra uma forma de melhor
clarificar o objeto que será investigado em uma pesquisa científica, de modo
que o pesquisador não se perca, e tenha dados suficientes para traçar objetivos
e tentar atingi-los, gerando resultados. Especificamente, no quadro à direita
da Figura 2, a partir do preenchimento das caixinhas em amarelo, é possível
deduzir que a pesquisa é da área de Filosofia, cujo foco de análise é a Teoria do
Habitus do filósofo Pierre Bourdieu nos trabalhos de conclusão de graduação
em Filosofia da UFMG.
Embora essa estratégia seja um tanto simplista para delimitar temas de
pesquisa, essa foi utilizada pelo docente considerando o perfil dos cursistas,
visto que, em cursos de extensão, dada a diversidade de perfis presentes, faz-se necessário adotar estratégias que sejam adequadas ao entendimento dos
participantes, como o exposto no estudo de Corrêa-Silva, Penha e Gonçalves
(2017).
Ao final da aula II, os alunos foram motivados a iniciar a delimitação dos
temas de suas pesquisas, considerando o que pretendiam investigar quando
estivessem na pós-graduação. Assim, foi dado o exercício do preenchimento
das caixinhas, o qual foi comentado na aula seguinte, mediante roda de conversas.
A partir das aulas iniciais, contendo discussões, exemplificações e exercício prático inicial, acredita-se que os alunos foram estimulados a desenvolver
as habilidades para desenhar uma pesquisa científica, aplicar um método e,
concomitantemente a esses processos, elaborar a escrita do texto científico.
Essas atividades foram se desenrolando nas aulas seguintes. Logo,
o papel da metodologia científica é servir de guia de orientação para o pesquisador, em qualquer nível em que ele se encontre. Nesse sentido, é sempre
prudente que, somente após a compreensão de alguns dos seus requisitos
essenciais (métodos, técnicas etc.), aconteça, então, a elaboração e execução
de uma pesquisa científica. Logo, o pesquisador deve apropriar-se dos seus
requisitos metodológicos a fim de conduzir a pesquisa nos moldes da exigência
da academia (MOURA et al., 2018, p. 5).
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�Na Aula III, por meio da atividade denominada pelo docente de “roda de
conversas”, discorreram-se os procedimentos práticos. Nessa atividade, os
assentos da sala foram dispostos no formato circular, e cada aluno teve cinco minutos para expor as partes de seu projeto – a partir do preenchimento
demandado na estratégia das caixinhas. Após a exposição de cada cursista,
a turma pôde debater o tema, elucidando críticas, fazendo considerações e
apontamentos que propusessem uma melhoria ou uma melhor delimitação do
tema ou do objeto de investigação explicitado. Nesse processo, o professor
portou-se como um mediador dos debates, realizando a avaliação crítica dos
temas e contextualizando-os, de modo a demonstrar que, mesmo existindo
especificidades entre as áreas de conhecimento, a forma de se arquitetar um
projeto de pesquisa, praticamente, é a mesma, considerando a sistematização,
a objetividade e a conexão que deve existir nas partes que vão sendo desenvolvidas ao longo da pesquisa.
Na aula IV, novamente, volta-se às discussões relacionadas a conceitos, procedimentos, técnicas, coletas e análises de dados, com o intuito de
demonstrar ao alunado as características e a forma de como desenvolver as
seguintes partes de um projeto: referencial teórico, metodologia, cronograma
e referências. Para isso, na primeira parte da aula, utilizou-se aula expositiva
como procedimento de ensino, sendo demonstradas as diferentes formas de
se estruturar o texto do referencial teórico. Nessa ocasião, por meio de demonstrações de textos nos slides, o docente aproveitou para discorrer também
sobre a estrutura do texto acadêmico, considerando a adequação às normas
bibliográficas e às regras estabelecidas pela Gramática Normativa da Língua
Portuguesa (Figura 3).
Figura 3 – Slide demonstrando a construção do referencial teórico e as classificações
para a metodologia.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Também nessa aula, a contextualização realizada acerca das diferentes
formas de se elaborar uma pesquisa, por conseguinte, construir novos conhecimentos, provocou um debate profundo e adequado ao curso ministrado,
sobretudo ao considerar a proposta da extensão. Assim, ao perceber que há
diferenciados métodos para se classificar uma pesquisa (conforme quadro à
direita da Figura 3), os participantes, oriundos de contextos variados, foram
instigados a reconhecer que o conhecimento prévio que possuem, ao ser
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Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�contextualizado e sistematizado sob uma abordagem metodológica, poderá
contribuir para gerar descobertas e, de alguma forma, contribuir com inovações
para a ciência e para a sociedade.
A respeito das múltiplas possibilidades de se produzir conhecimento,
desde que seja cumprido um percurso sistemático e metodológico, dialogamos com Tozoni-Reis (2018, p. 3, grifo nosso), para quem, o conhecimento
torna-se “a compreensão teórica do mundo e das coisas, ou seja, há uma elaboração no pensamento em busca de significado”. Aliado a esse fato, é preciso
considerar, também, “que há uma ação prática, pois a definição elaborada no
pensamento conduz à ação, ao modo de agir sobre o mundo compreendido,
ou seja, significado”.
Com o intuito de elucidar estratégias para tornar o projeto de pesquisa
mais sistematizado e metodologicamente capaz de atingir resultados, o docente demonstrou a necessidade de se estabelecer a conexão entre os procedimentos de pesquisa adotados na metodologia em correspondência com
os objetivos, além de outras questões relativas ao ambiente que se propõe
investigar, tal como os conceitos de universo, amostra, sujeitos e ambiente de
pesquisa (Figura 4).
Figura 4 – Slides demonstrando a correspondência entre métodos e objetivos, bem como
outras questões para delimitação do que será analisado e onde ocorrerá a pesquisa.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Conforme apresentado na Figura 4, à medida que os conceitos eram
explicitados, os exemplos eram apresentados de modo que os participantes
assimilassem com maior facilidade a forma de como elaborar a escrita dos
objetivos e os aspectos inerentes à metodologia. Destaca-se que os exemplos
das pesquisas apresentadas pelo professor, nos slides, foram descritos conforme diferentes realidades e contextos – clínicas odontológicas, universidades
federais, centros urbanos, cursos de graduação etc.–, de modo a reforçar que
a pesquisa científica pode permear todo e qualquer realidade social presente
nas manifestações cotidianas e com múltiplas interpretações, como apontado
no artigo de Francelin (2004).
Finalizada a aula expositiva, ainda na aula IV, iniciaram-se os procedimentos práticos em que os alunos teriam que desenvolver um pré-projeto de
239
Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 8, n. 1 - Edição extra, p.1-282, maio/2020
�pesquisa, contendo as partes ensinadas ao longo do Módulo III. Essa atividade
iniciou-se em sala, com a orientação do professor a cada aluno, individualmente e, na posterior e última aula– quatro dias após a aula IV–, os projetos foram
apresentados, sendo avaliados pelo docente e pelo coordenador do curso de
extensão, o qual foi convidado a participar na última aula.
A fim de facilitar a escrita do projeto de pesquisa, o docente disponibilizou um documento (template), já devidamente normalizado, no editor de texto
Word, contendo o passo a passo e as explicações sobre como elaborar as partes do trabalho (Figura 5).
Figura 5 – Modelo instrutivo para elaboração do projeto de pesquisa
Modelo de texto
normalizado
Instruções para
desenvolvimento
da escrita textual
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Na Aula V, ocorreu a apresentação dos projetos na forma de seminário, no
qual cada aluno apresentou seu projeto para toda a turma, além de entregar
o texto impresso para os avaliadores (docente e coordenador). Constatou-se
a variedade de temas abordados nos projetos, considerando a realidade em
que os cursistas estavam inseridos. Citam-se como alguns principais temas
contemplados: arquitetura urbana em patrimônio histórico, violência doméstica
do ponto de vista do agressor, desenvolvimento de coleções em bibliotecas,
gestão de pessoas em bibliotecas, acesso à informação pela Polícia Judiciária,
comportamentos sociais por membros de religiões protestantes, dentre outros.
A diversidade dos temas permite inferir a conexão ou aproximação da
universidade com o contexto social, de modo a demonstrar o papel do curso
na extensão universitária. Portanto, um curso dessa natureza contempla os objetivos da extensão sem necessariamente perder a relação indissociável com a
pesquisa e com o ensino. Logo, um trabalho como esse permite “desenvolver
práticas educativas que valorizem as diversidades construídas pelos diferentes
sujeitos, e ao mesmo tempo [cria] espaços de diálogo e problematização dessas diferenças” (SANTOS, 2015, p. 24).
Com base na apresentação e na escrita do texto impresso, os avaliadores
estabeleceram uma nota, considerando entre zero a dois pontos para cada um
dos quesitos: estrutura formal e normativa do trabalho, temática, problema,
hipótese, objetivos, justificativa, referencial teórico, metodologia, cronograma,
oratória e segurança na apresentação– nota máxima de 10,0 pontos. Mesmo
240
Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�havendo insegurança e ansiedade por parte dos participantes, em linhas gerais,
foi possível perceber a motivação e o empenho na construção dos projetos, os
quais as notas obtidas variaram em torno de 6,5 a 9,7 pontos.
Além da nota e das correções no texto impresso, os avaliadores e demais
colegas tinham a possibilidade de realizar comentários e intervenções no sentido de qualificar o trabalho apresentado. Ao final, as atividades foram encerradas por meio de uma confraternização, como forma de estimular possíveis
interações e ampliar a convivência e a socialização entre os diversos participantes do projeto.
POSSÍVEIS RESULTADOS
ALCANÇADOS COM A EXPERIÊNCIA
A elaboração e condução do curso de Métodos e Técnicas em Pesquisa
Científica representa uma oportunidade de ampliar as ações desenvolvidas
pela extensão universitária, visto que muitos benefícios foram proporcionados,
seja aos próprios organizadores e envolvidos com o curso, seja aos participantes, sobretudo aos indivíduos oriundos de diversas comunidades externas à
universidade.
Além da contribuição com a “abertura dos muros” da universidade – tornando-a um espaço democrático de socialização que cria oportunidades, rompendo barreiras e desigualdades – o curso apresentado neste relato reforça
o quanto os cursos de metodologia potencializam os indivíduos provenientes
de quaisquer contextos da sociedade, no sentido de inseri-los no universo da
ciência e da pesquisa.
Com efeito, ao romper as barreiras e abrir as portas para capacitação de
indivíduos pesquisadores, a universidade, por meio da extensão, está contribuindo não apenas para a mudança social, mas também, e principalmente,
para o desenvolvimento da ciência. Considera-se que, nesse aspecto, “a ciência progride porque o homem de ciência, insatisfeito, lança-se a procura de
novas verdades. Assim empenhado, o pesquisador primeiro suscita e propõe
questões num determinado território do saber”, para, posteriormente, traçar um
plano que viabilize soluções aos problemas existentes (SALOMON, 1994 apud
MOTTA; LEONEL, 2011, p. 115).
Além de estimular o senso e a vontade de investigar um contexto ou um
objeto, os cursistas tiveram a oportunidade de desenvolver habilidades para
realizar investigações mais profundas e metódicas. Assim, tornaram-se mais
capacitados para concorrer aos processos seletivos de pós-graduação, e também desmistificaram a ideia de que ciência/pesquisa é algo inerente a classes
elitizadas, e que somente pode ser realizada em ambientes com alto nível de
desenvolvimento.
Portanto, percebe-se o quanto um curso de extensão voltado para me-
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 8, n. 1 - Edição extra, p.1-282, maio/2020
�todologia científica, considerado como uma atividade incluída em um projeto
maior, poderá estimular o início de um debate mais profundo sobre a aproximação entre universidade, comunidade, ensino e pesquisa, sendo essa integração
fundamental para viabilizar a mudança social. Logo, “o papel transformador da
extensão universitária somente poderá se firmar como práxis de uma universidade pública quando professores, alunos, pessoal técnico-administrativo e
gestores assumirem o compromisso com a transformação da realidade educacional brasileira” (SILVA; VASCONCELOS, 2006, p. 134).
Essas constatações são fruto dos benefícios que estão sendo percebidos
ao longo do projeto de extensão Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica.
No entanto, é a partir da experiência relatada neste texto que se reforçam o
valor dos cursos extensionistas voltados ao ensino de metodologia científica,
com destaque à importância e à necessidade da participação de um docente
para o sucesso das atividades desenvolvidas em sala de aula. A participação
do docente, inicialmente, como auxiliar do coordenador, no que tange às atividades gerenciais, foi fundamental para permitir que o curso se desenvolvesse
de forma sistemática, com conteúdos divididos em módulos que permitiram ao
alunado entrar em contato com a pesquisa, treinar e desenvolver habilidades
de escrita científicas. Além disso, a participação do docente na condução da
Turma III, do Módulo III, na qual foram utilizados procedimentos inovadores e
adequados ao perfil dos cursistas, muito enriqueceu o conhecimento desses
sujeitos e também despertou a motivação e o engajamento com as atividades
de pesquisa, incentivando a possível vinculação em cursos de pós-graduação.
A respeito da adequação do curso às necessidades, desejos, anseios e expectativas dos cursistas, evidencia-se a contribuição dessa estratégia docente
para o sucesso das atividades extensionistas, pois é, por meio da integração,
do acolhimento e da adequação que a universidade tornar-se um espaço que
possibilita a agregação de saberes heterogêneos. Com efeito, ao criar essas
possibilidades de integração e oportunidades para as comunidades, a instituição também estende os limites do conhecimento, intensificando a criatividade
e moldando a identidade de uma nação (FERNANDES et al., 2012).
No que se refere, especificamente, à prática docente que permeia os cursos de extensão, a partir das contribuições oriundas da presença do docente
na gestão do projeto aqui descrito, e também a participação na condução de
aulas, é possível inferir que essa atuação não pode ser vista apenas sob a ótica da formação/capacitação do docente, mas, como descrito ao longo desta
experiência, a presença de um docente pode contribuir muito com o sucesso
das atividades extensionistas, sobretudo se adotar estratégias inovadoras que
promovam o incentivo e a aproximação entre os conteúdos ensinados e a realidade dos aprendizes.
A partir dos resultados alcançados com a experiência, percebe-se que
houve uma contribuição mútua entre docente e o curso de extensão, visto que,
ao mesmo tempo em que o docente aperfeiçoou suas estratégias de ensino
para públicos com múltiplos perfis, a própria turma foi beneficiada, considerando a capacidade de adequação do que foi ensinado às necessidades específi-
242
Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
�cas dos cursistas.
Em suma, semelhante à prática educativa que precisa ser libertadora,
como proferido por Freire (2001), nos cursos extensionistas, essa mesma filosofia precisa transparecer, para que o aprendizado do docente se consolide à
medida que ele, com atitude humilde, democrática e reflexiva, procure estimular a curiosidade e a participação dos alunos, a partir do contexto de vida e das
percepções de cada um. Logo, os cursos de extensão voltados para o ensino
de metodologia científica, ao revestirem-se desse pensamento, possibilitam,
cada vez mais, a aproximação entre universidade e realidade social, tendo a
ciência como um possível caminho para o rompimento de desigualdades e
garantia do desenvolvimento da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da experiência relatada e dos possíveis resultados alcançados, é
possível concluir que a atuação docente pode contribuir para o desenvolvimento dos projetos de extensão, com destaque aos cursos extensionistas, em que o
docente pode exercer tanto atividades gerenciais quanto atividades de ensino.
Quanto às atividades gerenciais, constatou-se, como principal, a participação docente na elaboração do plano do curso, sobretudo ao distribuir sistematicamente os conteúdos temáticos em módulos. No que tange às atividades
em sala de aula, percebeu-se que as aulas expositivas e contextualizadas,
bem como as práticas de elaboração e socialização dos temas dos projetos
de pesquisa constituíram procedimentos de ensino adequados e satisfatórios
para despertar o interesse pelo universo da pesquisa e pela escrita acadêmica,
o que confirma a importância docente para o sucesso da extensão universitária.
Além disso, reforça-se o fato de que os cursos extensionistas voltados
para o ensino da metodologia científica possuem um potencial para proporcionar a integração da extensão com a pesquisa e o ensino, permitindo uma maior
aproximação da universidade com o contexto social, tendo a ciência um papel
preponderante nesse processo, haja vista o rompimento de desigualdades e a
busca pelo desenvolvimento da sociedade.
Por fim, os resultados aqui debatidos também confirmam as contribuições mútuas promovidas tanto ao docente, o qual teve a oportunidade de ampliar sua formação ao exercício da docência, quanto aos cursistas, que foram
beneficiados com procedimentos de ensino adequados e condizentes com a
realidade de cada participante.
Os resultados oriundos deste relato de experiência não permitem a finalização do debate, mas provocam novos questionamentos, os quais viabilizam
a realização de futuros trabalhos, com outras abordagens, tais como: a percepção dos cursistas sobre os procedimentos de ensino adotados no curso de
extensão, e o impacto agregado à formação do docente a partir da experiência
vivenciada.
243
Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 8, n. 1 - Edição extra, p.1-282, maio/2020
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em: 11 set. 2018.
Data de submissão: 13/09/2018
Data de aceite: 19/09/2019
246
Para além dos muros da universidade: prática docente na extensão universitária
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
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A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2020
Language
A language of the resource
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Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
2318-2326
Type
The nature or genre of the resource
Artigo de Periódico
Subject
The topic of the resource
Cursos de Capacitação
Metodologia Científica
Prática Docente
Description
An account of the resource
Relata atividades docentes desenvolvidas no âmbito de um projeto de extensão universitária, de modo a demonstrar a contribuição da prática docente nas atividades extensionistas. Parte-se do pressuposto de que os docentes constituem personagens essenciais para o sucesso dos projetos e dos cursos de extensão, sobretudo se utilizados métodos e procedimentos estimuladores e adequados ao perfil dos cursistas. Metodologicamente, o estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, de natureza qualitativa, permeado por pesquisa bibliográfica e relato de uma experiência vivenciado por docente no Curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica. Constatou-se a participação docente no planejamento do curso, distribuindo os conteúdos temáticos em módulos, como também na condução das aulas, mediante o uso de aulas expositivas, contextualizadas e a elaboração e socialização dos temas dos projetos de pesquisa pelos cursistas. Com efeito, a atuação docente nesse curso de metodologia proporcionou a integração da extensão com a pesquisa e o ensino, permitindo uma maior aproximação da universidade com o contexto social, tendo a ciência um papel preponderante nesse processo, haja vista o rompimento de desigualdades e a busca pelo desenvolvimento da sociedade.
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2021
C
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N
V
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A
N
D
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E
II Edição
OS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
DAS ÁREAS DE
BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO NO BRASIL:
COMO E ONDE PUBLICAR?
RELATÓRIO EXPANDIDO
Celsiane Aline Vieira Araujo
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Mônica Elisque do Carmo
Raíssa Yuri Hamanaka
Rosaria Ferreira Otoni dos Santos
(Organizadores)
Belo Horizonte
Abril de 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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ÁREAS DE BIBLIOTECONOMIA E
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO
BRASIL:
COMO E ONDE PUBLICAR?
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outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
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escrita dos autores e da devida instituição.
CONVERSANDO SOBRE – II EDIÇÃO
Tema da edição: Os periódicos científicos das áreas de Biblioteconomia e Ciência da
Informação no Brasil: como e onde publicar
Local do evento: sala 1000 da Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de
Minas Gerais. Campus Pampulha
Data de realização: 23 de abril de 2019
Horário: 18:30 as 21:30 h
Comissão organizadora do evento
Presidente do evento: Jorge Santa Anna
Facilitadores: Celsiane Aline Vieira Araujo, Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira, Jéssica
Patrícia Silva de Sá, Maria Elizabeth de Oliveira Costa, Mônica Elisque do Carmo e Raíssa Yuri
Hamanaka
Monitoras: Andreza Gonçalves Barbosa e Rosaria Ferreira Otoni dos Santos
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2021
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO EXPANDIDO ...................................... 3
O CONVERSANDO SOBRE...................................................................... 5
A segunda edição do Conversando Sobre ............................................. 7
As atividades de monitoria ..................................................................10
As revistas científicas em portais de periódicos ..................................11
REBECIN, Múltiplos Olhares, Folha de Rosto, Pesquisa Brasileira e
Páginas A&B........................................................................................13
Ciência da Informação em Revista, Informação & Informação, RBBD,
Biblios e Ciência da Informação ..........................................................17
Biblionline, RDBCI, Ibero-Americana, ACB e Ponto de Acesso .............21
Encontros Bibli, Em Questão, Informação e Sociedade, Perspectiva e
Transinformação .................................................................................26
Relato de casos práticos de pareceres dos processos avaliativos ........35
Mensagem final ...................................................................................37
APÊNDICE A – FÔLDER DE DIVULGAÇÃO .............................................40
APÊNDICE B – PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA II EDIÇÃO ...................41
APÊNDICE C – PRINCIPAIS FOTOS DA II EDIÇÃO ...............................42
APÊNDICE D – COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO .....................45
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
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2018-2021
APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO EXPANDIDO
Jorge Santa Anna
O presente documento registra as principais informações e ocorrências
relacionadas a um dos eventos gratuitos promovido pela Associação de
Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG): o Conversando Sobre. Especificamente,
neste texto, a pretensão maior é de informar sobre as atividades que
permearam a II edição do citado evento, cujo tema abordado contemplou os
periódicos científicos direcionados à área da Biblioteconomia, no Brasil.
Convencionamos denominar o referido texto de relatório expandido, visto que
ele não se caracteriza, em nossa percepção, tão somente, como um relatório
de atividades administrativas. Ele vai além do registro das ocorrências
administrativas e meramente informativas, contemplando, também, questões
mais profundas e complexas, o que lhe confere, além de informativo, um
aspecto técnico.
Como informações de cunho administrativo, citamos, por exemplo, a menção a
datas, descrição do número de envolvidos, dos participantes, dos temas e
assuntos debatidos, dentre outras ocorrências que contribuem com a tomada
de decisões no processo gerencial da ABMG. Já os relatos de cunho técnico,
por sua vez, correspondem às informações técnicas sobre as revistas
científicas, as quais foram obtidas por meio de pesquisa documental e
bibliográfica realizada pela comissão organizadora do evento, e que foram
transmitidas pelos facilitadores, ao longo das discussões ocorridas no evento.
Portanto, o relatório expandido, no intuito de promover uma melhor
visibilidade
(consulta),
podendo
contribuir
nas
atividades
de
futuros
pesquisadores, manifesta-se como uma produção técnica da ABMG; logo, não
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ficará restrito aos arquivos da associação, como é de praxe realizar com os
relatórios administrativos referentes a outros eventos e cursos. Ele será, em
tempo futuro, disponibilizado para acesso ao público, por meio da inserção na
página web da entidade, no endereço: <www.abmg.org.br>, na aba destinada
a (e intitulada) Publicações da ABMG.
Ressalta-se que o estímulo à realização deste relatório de natureza técnica
originou-se a partir de um pedido realizado por participante da II edição do
Conversando Sobre, o qual solicitou que seria de suma importância ter acesso
para
consulta,
principalmente,
quanto
aos
dados
de
cada
periódico
apresentado pelos facilitadores, como resultados das pesquisas realizadas por
esses sujeitos.
Com efeito, esperamos, com essa iniciativa, que este relatório expandido possa
ser utilizado por diferentes profissionais inseridos no campo da Ciência da
Informação, de modo que possam ter subsídios de orientação sobre a
publicação em periódicos dessa área de conhecimento. De igual teor,
ressaltamos a necessidade de outros documentos dessa natureza, que possam
contemplar aspectos não abrangidos, aqui, como também aguardamos críticas
e sugestões de nossos leitores e/ou colegas de profissão, acerca de melhorias
em futuros eventos e relatórios que orientem sobre a publicação em
periódicos.
A seguir, são apresentadas informações básicas sobre o Conversando Sobre,
especificamente a II edição, além das informações técnicas dos periódicos
discutidas no evento, considerando a percepção dos organizadores desse
importante evento para o desenvolvimento científico e profissional da área de
Biblioteconomia/Ciência da Informação.
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O CONVERSANDO SOBRE
Apresentação
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Jorge Santa Anna
A ABMG, há mais de cinquenta anos, vem se colocando a serviço do
fortalecimento da área de Biblioteconomia no estado de Minas Gerais. Dentre
as diversas atividades, projetos, intervenções e demais ocorrências realizadas
em prol desta nobre causa, destaca-se o Conversando Sobre.
O Conversando Sobre é um evento bimestral que, a cada edição, aborda um
tema específico no âmbito da Biblioteconomia/Ciência da Informação, em
Minas Gerais. Embora o caracterizemos como um evento, o diferencial dele
está na flexibilidade de apresentação dos temas a serem debatidos, o que lhe
confere a configuração de um verdadeiro bate-papo entre interessados.
Foi com muito afinco que a atual diretoria da associação instituiu esse evento,
em meados de 2018, cujo tema debatido na primeira edição foi a questão da
acessibilidade
em
bibliotecas,
sendo
mediado
pela
bibliotecária
Cleide
Fernandes.
É provável que o crescimento do número de participantes e, certamente, o
envolvimento de diferentes profissionais na condução das edições seja uma
conquista louvável. Com isso, nos sentimos abraçados pela classe bibliotecária
ao aderir esse projeto, e esperamos que muitos e diferenciados temas possam
ser debatidos, nas próximas edições, com trocas de experiências, auxílios
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mútuos e ações práticas em favor da profissão bibliotecária. Desejamos vida
longa ao Conversando Sobre!
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A segunda edição do Conversando Sobre
Jorge Santa Anna
Na segunda edição do Conversando Sobre, o tema abordado foi Os periódicos
científicos da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil: onde
e como publicar. A escolha por este tema justifica-se pelas constantes
inquietações de profissionais, sobretudo aqueles inseridos na Pós-Graduação,
acerca da dificuldade em identificar quais são os periódicos adequados para
publicação no âmbito dessas áreas de conhecimento.
Além dos desafios na localização dos periódicos, outro motivo que impulsionou
a escolha por essa abordagem temática diz respeito às dúvidas geradas no
processo de submissão, acompanhamento e entendimento dos pareceres
oriundos da avaliação ocorrida pelos pares. Portanto, o evento foi idealizado
com três propósitos principais: 1 – demonstrar os principais periódicos da área
existentes no Brasil; 2 – possibilitar uma melhor compreensão sobre os
meandros da comunicação científica; e 3 – estimular os profissionais à prática
da publicação em periódicos.
Acoplada aos objetivos do evento, essa edição também teve a ambição de
contribuir, em termos práticos, com o dia a dia daqueles que desejam
inserirem-se nesse processo. Logo, como produto do evento, foi elaborada
uma planilha, contendo alguns periódicos da área, planilha essa configurada
como a compilação e disponibilização, em um único local, das principais
revistas, facilitando, o trabalho de identificação pelos profissionais/autores.
Com essa intenção, a II edição teve como escopo: exposição das principais
revistas da Ciência da Informação e as peculiaridades de cada uma; passo a
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passo para submissão de um manuscrito; e casos práticos e reais de pareceres
advindos da avaliação, tanto de aceitação quando de rejeição do trabalho. Por
sua vez, o público-alvo principal foi projetado para ser composto por
estudantes, pesquisadores e profissionais interessados em publicar nas
revistas científicas da área de Ciência da Informação, no Brasil.
A II edição aconteceu no dia 03 de abril de 2018, na sala 1000 da Escola de
Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As atividades de divulgação do evento foram realizadas trinta dias de
antecedência. Como forma de divulgação do evento, foram utilizados os canais
formais de contato da ABMG, como: e-mails, rede sociais e grupos de
whatsApp, considerando o envio de fôlder de divulgação (apêndice A).
A
comissão
organizadora
foi
composta
por
nove
profissionais,
assim
distribuídos: um presidente, seis facilitadores e dois monitores. O evento
contou com a participação de 15 participantes, os quais assinaram a lista de
presença e receberam os certificados eletrônicos, nos dias seguintes.
O evento iniciou-se por volta das 19:00 h, com acolhida realizada pela
presidenta da ABMG, a qual passou a palavra ao presidente, responsável pela
mediação das apresentações. A cada facilitador foi designada a incumbência
em pesquisar e apresentar os dados de cinco diferentes periódicos da área,
escolhido de forma aleatória. Ao final do evento, foram apresentados exemplos
práticos de pareceres avaliativos, como também algumas dicas para publicação
em periódicos. A programação completa do evento encontra-se no apêndice B.
O evento foi encerrado às 22:00 h, com mensagens de agradecimentos e
entrega de certificados à equipe organizadora. A seguir, apresentam-se os
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relatos
de
cada
membro
da
comissão
organizadora,
considerando
as
discussões/experiências de cada um deles quanto à participação no evento.
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As atividades de monitoria
Rosaria Ferreira Otoni dos Santos
Participar como monitora da segunda edição do evento Conversando Sobre me
proporcionou crescimento pessoal e profissional. Por meio do networking com
meus pares, foi possível ampliar o meu aprendizado sobre a temática e ainda
me possibilitou a oportunidade de praticar algumas habilidades, das quais
tenho muito apreço.
Citam-se como algumas atividades mais genéricas que contemplam a função
de monitora a mim designada: cuidar dos detalhes, que fazem a diferença; e
verificar, antecipadamente, com o presidente do evento, o que seria necessário
durante as explanações.
Além dessas, outras atividades mais específicas requeridas durante o evento
foram as seguintes: chegar mais cedo para garantir a abertura da sala e
preparação do ambiente; providenciar caneta especial e coletar a assinatura
dos participantes para envio posterior do certificado eletrônico; acolhida dos
participantes; garantir a assinatura de todos os participantes na lista de
presença, além de esclarecer o convite aos presentes para participarem de
projetos futuros da ABMG, recebendo o registro de adesões a futuras
atividades; e permanecer até o encerramento, fechando e zelando pelo espaço
e economia de energia ao apagar das luzes.
Portanto, compreende-se que a atividade de monitoria vai além de uma
atividade com vistas a atividades extracurriculares, com certificado. Trata-se
de um momento gratificante de vivenciar experiências pedagógicas na vida
acadêmica.
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As revistas científicas em portais de periódicos
Celsiane Aline Vieira Araujo
As discussões técnicas relacionadas aos periódicos científicos da área de
Biblioteconomia e Ciência da Informação iniciaram-se com uma breve
apresentação sobre a importância dos portais de periódicos para abrigar a
produção científica veiculada pelos periódicos científicos. Realizou-se o acesso
via web ao Portal Periódicos de Minas:
<https://www.periodicosdeminas.ufmg.br/>, sendo utilizados procedimentos
demonstrativos, acerca das principais funções disponibilizadas pelo Portal de
Periódicos do Estado de Minas Gerais.
Na ocasião, foi reforçada a importância de um portal de periódico, considerado
como um repositório de armazenamento da produção periódica de uma
instituição. O portal de periódicos reúne, em um único local, os periódicos de
uma instituição ou de uma área de conhecimento, cuja função principal é
facilitar a localização dos periódicos por parte dos pesquisadores e demais
interessados e, por conseguinte, garantir maior visibilidade dessas publicações.
Quanto ao Portal de Periódicos de Minas Gerais, ressalta-se que ele é uma
plataforma digital de acesso aberto com a presença aproximada de 400
revistas científicas sediadas em Minas Gerais. Trata-se de uma iniciativa
pioneira a nível estadual, implantado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), em parceria com a UFMG, despontando no
cenário brasileiro como uma política para o Portal de Periódicos que pode
tornar-se
via
estruturante
para
outros
Estados
no
Brasil,
devido
à
singularidade do projeto. Além disso, constitui uma de suas funcionalidades
divulgar informações sobre aspectos relativos aos periódicos e capacitação de
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editores. Dessa forma, é possível aos editores e gestores de periódicos
cadastrarem e editarem o perfil de suas revistas no portal desde que cumpram
os requisitos da política de periódicos.
Quando se fala de editores de periódicos, é importante fazer uma reflexão
quanto à formação desses e de suas equipes. Compreende-se a necessidade
de capacitações e reconhecimento desse trabalho sem liberação de horas por
parte da instituição para realização, e em sua maioria não remunerado ou
gratificado. Chama-se a atenção para a capacitação dos editores e a
necessidade de uma equipe interdisciplinar à luz da Biblioteconomia e Ciência
da Informação, mas também da Administração, do Jornalismo, da Publicidade
e Propaganda. Essa possibilidade viabiliza a interação entre os editores e
gestores de periódicos que precisam atuar com um público acadêmico, mas
também toda sociedade, visto que a linguagem e o engajamento, práticas de
Marketing Científico, deve ser menos técnica possível, características que
também devem ser adotadas pelos portais de periódicos.
Além das características do portal, foram discorridas algumas especificidades
da publicação em periódicos, tal como a modalidade Ahead Of Print,
considerada, grosso modo, como publicação avançada e contínua, evitando-se,
assim, que artigos aprovados não permaneçam mais em processo de espera
até sair um novo número. Ademais, essa nova modalidade de publicação torna
os resultados de pesquisa acessíveis o mais rápido possível, não se perdendo
no tempo da temporalidade das publicações.
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REBECIN, Múltiplos Olhares, Folha de Rosto, Pesquisa
Brasileira e Páginas A&B
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
REBECIN
A Revista Brasileira de Educação em Ciência da Informação (REBECIN) é uma
revista com periodicidade semestral, publicada pela Associação Brasileira de
Educação em Ciência da Informação (ABECIN). Foi fundada em 02 de junho de
2001, mas só iniciou as atividades com a publicação do seu primeiro volume
no primeiro semestre de 2014. Mantém-se regular desde o seu primeiro
volume e a partir de 2017, iniciou a publicação de um número especial
temático, além dos dois números publicados, anualmente.
A REBECIN publica apenas textos originais como: artigos de pesquisa, artigos
de revisão, estudo de casos, comunicações, relatos de experiência e resenhas
relativas à área de Educação em Ciência da Informação. Aceita artigos escritos
em português, espanhol ou inglês. É indexada nas seguintes bases de dados e
diretórios nacionais e internacionais: Sistema regional de información en línea
para revistas científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal
(LATINDEX); DOAJ; Portal Capes; Base de Dados em Ciência da Informação
(BRAPCI); LIVRE; MELICA; Google Acadêmico; SEER; Diretório de Políticas
Editoriais das Revistas Científicas Brasileiras (Diadorim); e Oasisbr. De acordo
com a classificação de periódicos Qualis para o quadriênio 2013-2016, na área
de avaliação Comunicação e Informação, a revista possui conceito B5.
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Múltiplos Olhares em Ciência da Informação
A revista Múltiplos Olhares em Ciência da Informação é resultante do
seminário “Periódicos Científicos Eletrônicos: produção e uso”, ministrado para
o Curso de Biblioteconomia da Escola de Ciência da Informação (ECI) da
Universidade Federal de Minas Gerais e contou desde o início com a adesão e
apoio do Diretório Acadêmico. A revista foi criada em 2011, com o objetivo de
oferecer aos alunos de Graduação dos cursos de Biblioteconomia, Arquivologia,
Museologia e áreas afins, um espaço para divulgarem seus estudos, resultados
de pesquisa de iniciação científica e trabalhos acadêmicos. Desse modo, são
aceitos artigos oriundos de trabalhos de conclusão de curso, projetos de
pesquisa, projetos de iniciação científica, relatos de atividades de monitoria,
extensão, trabalhos de discentes apresentados em encontros científicos,
resenhas, resumos, esquemas de aulas, ensaios, dentre outros. A revista
possui periodicidade semestral. De acordo com a classificação de periódicos
Qualis para o quadriênio 2013-2016, na área de avaliação Comunicação e
Informação, a revista possui conceito B5.
Folha de Rosto: Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação
A revista Folha de Rosto: Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação
surgiu no contexto do Projeto de Iniciação à Docência “Prática Bibliotecária na
Unidade Curricular de Organização e Tratamento da Informação” do Curso de
Biblioteconomia, no ano de 2015. É publicada pelo Programa de PósGraduação em Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA).
Trata-se de uma publicação semestral que tem por objetivo divulgar trabalhos
inéditos que representem contribuição científica para o desenvolvimento de
novos conhecimentos na área de Biblioteconomia, Ciência da Informação e
áreas afins. Além dos números publicados, anualmente, publica um número
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especial
com
os
trabalhos
premiados
na
Semana
Acadêmica
de
Biblioteconomia e Ciência da Informação (SEABI).
As submissões são em fluxo contínuo. A revista aceita artigos científicos,
relatos de experiências e ensaios vinculados a processos de construção de
investigações de docentes, discentes e profissionais da área de informação. É
indexada nas seguintes bases de dados e diretórios nacionais: Sumários.org;
Diretório de Políticas Editoriais das Revistas Científicas Brasileiras (Diadorim);
Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI); e LIVRE. De acordo com a
classificação de periódicos Qualis para o quadriênio 2013-2016, na área de
avaliação Comunicação e Informação, a revista possui conceito B5.
Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia
A Revista Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia
(PBCIB) é editada pelo Grupo de Pesquisa Informação e Inclusão Social (CNPq)
e publicada no Portal de Periódicos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
em parceria com o Laboratório de Tecnologias Intelectuais. Inicialmente, a
revista era publicada, semestralmente. Em 2015, iniciou sua publicação em
tempo real, dinamizando sua atuação como periódico científico de referência.
Em 2019, iniciou-se a publicação com periodicidade trimestral, mantendo a sua
publicação em tempo real.
Trata-se de um periódico científico secundário que publica artigos originais
sobre pesquisas em andamento e revisão de literatura, bem como resumos de
artigos publicados
em periódicos
brasileiros do
campo
da Ciência
da
Informação e nos temas de interesse dos pesquisadores do Grupo de Pesquisa
Informação e Inclusão Social. A revista está indexada nas bases de dados:
Sistema regional de información en línea para revistas científicas de América
Latina, el Caribe, España y Portugal (LATINDEX) e no Repositório Científico de
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Acesso Aberto de Portugal. De acordo com a classificação de periódicos Qualis
para
o
quadriênio
2013-2016,
na
área
de
avaliação
Comunicação
e
Informação, a revista possui conceito B1.
Páginas A&B: Arquivos e Bibliotecas
A revista Páginas A&B: Arquivos e Bibliotecas iniciou a sua publicação em
1997.
Trata-se
de
uma
publicação
do
Gabinete
A&B/CIC.Digital
da
Universidade do Porto (Portugal). A revista possui periodicidade semestral e,
desde 2016, conta com um número especial, além dos dois números
publicados, anualmente. Até 2012, a revista publicava volumes impressos e a
partir de 2014, iniciou-se a terceira série, em formato eletrônico.
A Páginas A&B tem por objetivo promover e divulgar estudos de investigação
na área de Ciência da Informação, tendo como público-alvo privilegiado os
profissionais das bibliotecas, dos arquivos e dos serviços de informação em
geral e os docentes, investigadores e estudantes dos cursos universitários na
área da Ciência da Informação. A revista aceita artigos para publicação,
escritos em português, inglês, francês ou espanhol, de preferência originais, e
desde que os mesmos não tenham sido submetidos, simultaneamente, para
apreciação de outro editor. De acordo com a classificação de periódicos Qualis
para
o
quadriênio
2013-2016,
na
área
de
avaliação
Comunicação
e
Informação, a revista possui conceito B4.
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Ciência da Informação em Revista, Informação &
Informação, RBBD, Biblios e Ciência da Informação
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Outras cinco revistas foram destacadas e apresentadas as suas características
básicas ao longo do evento. Foram as seguintes: Ciência da Informação em
Revista, Informação & Informação, Revista Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação (RBBD), Biblios e Ciência da Informação. A seguir, são
apresentados os dados principais de cada uma delas.
Ciência da Informação em Revista
O periódico Ciência da Informação em Revista está vinculado ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal de
Alagoas, objetivando promover a comunicação científica da Ciência da
Informação
e
sua
inter-relação
com
áreas
afins
como
Administração,
Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Computação, Comunicação Social,
Engenharia de Produção e Museologia. A revista existe desde 2014, com
periodicidade quadrimestral, com números publicados em abril, agosto e
dezembro de cada ano.
O fluxo de submissões é contínuo e a revista aceita as seguintes publicações:
artigos originais, artigos de revisão, pontos de vista, relatos de pesquisa,
relatos de experiência, resenhas, pesquisas em andamento, depoimentos e
entrevistas. O periódico aceita originais em português, espanhol e inglês. O
artigo deve ter de dez a 20 páginas. A revista é indexada em bases nacionais e
internacionais. Atualmente, a revista possui Qualis B5.
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Informação & Informação
A revista Informação & Informação existe desde 1996, estando vinculada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade
Estadual de Londrina (UEL). A revista foi publicada no formato impresso até
2002 e, a partir do volume 9 (2003), encontra-se, exclusivamente, no formato
eletrônico. Informação & Informação publica contribuições inéditas em Ciência
da Informação, Arquivologia, Biblioteconomia e áreas de interface, buscando
incentivar o debate interdisciplinar dos fenômenos concernentes à informação.
A revista, com periodicidade quadrimestral, aceita publicações inéditas e
originais: artigos,
relatos de
experiência, comunicações (pesquisas em
andamento), pontos de vista, documentos, resumos de teses e dissertações e
resenha de livros. Os artigos devem ter entre 15 e 25 páginas. Para serem
aceitas, as publicações devem estar em português, inglês ou espanhol. No site
da revista está disponível o template. O periódico é indexado em bases
internacionais e, atualmente, está avaliado com Qualis A2.
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação
A Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (RBBD) foi criada em
1973, sendo o órgão oficial de comunicação da Federação Brasileira de
Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB).
A RBBD tem como finalidades: a) constituir-se em periódico especializado da
área de Biblioteconomia, Ciência da Informação e conhecimentos afins; b) ser
um veículo noticioso e informativo de eventos e feitos de associações e de
outras instituições ligados à área; e c) preservar a memória profissional e
constituir instrumento para análises futuras.
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A revista tem periodicidade quadrimestral e só aceita publicações originais em
português. É possível submeter artigos, entrevistas, resenhas e notas e
registros. Os artigos devem ter, no mínimo, 12 páginas.
A partir de 2014, passou a publicar trabalhos aprovados nos eventos
promovidos pela FEBAB em números especiais. Atualmente, a revista possui
Qualis B1.
BIBLIOS
O
periódico
científico
Biblios
existe
desde
1999,
sendo
uma
revista
internacional, publicada na cidade de Lima, no Peru. A revista Biblios publica
artigos de pesquisas sobre Biblioteconomia e Ciência da Informação de vários
países da América Latina. São aceitas submissões de artigo, artigo de revisão e
estudo de caso. Para que o artigo seja publicado, esse deve possuir um
mínimo de oito páginas, devendo ser enviada também uma declaração de
originalidade. São aceitos trabalhos em espanhol, português e inglês.
O periódico é trimestral, sendo o tempo médio de publicação 120 dias, após a
submissão do trabalho. No site da revista, encontra-se disponibilizado o
template. A normalização do trabalho pode ser no formato APA, ABNT ou ISO.
A revista é indexada em bases internacionais e, atualmente, possui Qualis A1.
Ciência da Informação
A revista Ciência da Informação foi criada em 1972, vinculada ao Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Foi o primeiro periódico
científico brasileiro da América Latina dedicado, exclusivamente, a discutir
problemas de geração, controle e transferência de informação.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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2018-2021
A revista está voltada para a Ciência da Informação, publicando estudos e
pesquisas sobre as atividades do setor de informação em ciência, tecnologia e
inovação. O periódico entende o campo da Ciência da Informação como a área
interdisciplinar concernente ao estudo dos fenômenos ligados à produção,
organização, difusão e utilização da informação e do conhecimento em todos
os campos do saber.
A periodicidade da revista é quadrimestral. São aceitos para publicação
artigos, relatos de experiência, opion paper e revisão de literatura. Quanto aos
idiomas, podem ser submetidos trabalhos em português, espanhol e inglês. O
periódico exige que o autor principal tenha titulação de doutor. Atualmente, o
periódico está avaliado com Qualis B1.
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Biblionline, RDBCI, Ibero-Americana, ACB e Ponto de Acesso
Mônica Elisque do Carmo
Biblionline
A revista eletrônica Biblionline, ISSN 1809-4775, é destinada às áreas de
Biblioteconomia, Arquivologia, Ciência da Informação e Museologia. Encontrase vinculada ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade
Federal da Paraíba, e vem sendo publicada, ininterruptamente, desde 2005.
Inicialmente, possuía periodicidade semestral; entretanto, devido à grande
demanda, passou a ter periodicidade trimestral a partir de 2017, normalmente
nos meses de abril, agosto e dezembro.
A revista adota o sistema de avaliação pelos pares e obedece aos preceitos do
acesso aberto ao conhecimento. Recebe submissões em fluxo contínuo e
publica artigos, artigos de revisão, pesquisa em andamento, relatos de
pesquisa, relatos de experiência e resumo de monografias.
Os trabalhos submetidos devem ser originais e inéditos e não estar sendo
avaliado para publicação por outra revista, devendo seguir as normas da
Associação
Brasileira
de
Normas
Técnicas
(ABNT).
De
acordo
com
a
classificação de periódicos Qualis para o quadriênio 2013-2016, na área de
avaliação Comunicação e Informação, a revista possui conceito B5.
Fonte: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/biblio>. Acesso em: 23 abr.
2019.
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Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação
A Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, ISSN 1678765X, é uma publicação contínua vinculada ao Sistema de Bibliotecas da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (SBU), tendo como foco
divulgar trabalhos da área da Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Publica artigos inéditos, relatos de experiência, pesquisas em andamento e
resenhas relacionados com a Ciência da informação ou que apresentem
resultados de estudos e pesquisas sobre as atividades dessa área.
Adota em seu processo editorial a avaliação cega por pares, cujos trabalhos
são encaminhados para especialistas para análise, atendendo aos critérios de
sua política editorial. A revista compreende, unicamente, as áreas da
Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Criada em 2003, desde 2016, adotou o idioma bilíngue nas suas edições, ou
seja, português e inglês.
Adota a política de uso de tesauros e vocabulários
controlados, recorrendo, como padrão para as palavras-chave, ao Tesauro de
Ciência da Informação, e para as keywords, ao Thesauro da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) ou Tesauro
da Education Resources Information Center (ERIC), quando o termo não é
encontrado no tesauro da UNESCO.
Seus artigos estão indexados, depositados e cadastrados em diversas fontes
com o propósito de promover e dar uma maior visibilidade a seus conteúdos. A
partir do volume 17 de 2019, passa a adotar o sistema de publicação
contínua (rolling pass). Atualmente, não há fascículos, nem periodicidade e a
revista, também, possui tutorial para leitor, avaliador e autor.
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
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De acordo com a classificação de periódicos Qualis quadriênio 2013-2016, na
área de avaliação Comunicação e Informação, o periódico possui o conceito B1.
Fonte: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/>. Acesso em:
23 abr. 2019.
Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação (RICI)
A Revista Ibero-Americana da Ciência da Informação, ISSN 1983-5213, é um
periódico científico editado pela Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da
Universidade de Brasília (UnB), por meio do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação.
Destina-se a disseminar trabalhos científicos originais, inéditos, resultantes de
pesquisa em Ciência da Informação e áreas correlatas. Existe desde 2008. Sua
periodicidade é quadrimestral, e os resumos devem ser submetidos em
português, inglês e espanhol.
Possui política de quarentena, não publicando colaborações do(s) mesmo(s)
autor(es) por edições consecutivas, mesmo que sendo com coautoria. O
manuscrito deverá aguardar o período de 18 meses para que seja publicada na
edição correspondente a esse período de espera. Além disso, salienta-se que
esse periódico realiza divulgação em catálogos, bibliotecas virtuais e índices de
métricas.
De acordo com a classificação de periódicos Qualis quadriênio 2013-2016, na
área de avaliação Comunicação e Informação, o periódico possui conceito B1.
Fonte: <http://periodicos.unb.br/index.php/RICI>. Acesso em: 23 abr. 2019
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Revista ACB
A Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, ISSN 1414-0594,
concebida pelo movimento associativo de bibliotecários, publica textos originais
e inéditos na área de Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia e
Museologia.
Possui publicação quadrimestral de trabalhos inéditos relacionados à área da
Biblioteconomia e Ciência da Informação, abrangendo, especificamente, a
Biblioteconomia,
Ciência
da
Informação,
Arquivologia,
Museologia
e
Documentação. Aceita textos que apresentem resultados de estudos e
pesquisas sobre atividades relacionadas ao movimento associativo (classe dos
bibliotecários),
artigos,
relatos
de
experiências,
entrevistas,
palestras,
conferências e resenhas.
São aceitos para publicação, trabalhos nos idiomas português, inglês, espanhol
e francês que serão encaminhados aos membros do Conselho Editorial e
avaliadores ad hoc, pelo menos dois, para avaliação. Por fim, constatou-se que
a revista existe desde 1996 e tem periodicidade quadrimestral, desde 2015.
De acordo com a classificação de periódicos Qualis quadriênio 2013-2016, na
área de avaliação Comunicação e Informação, a revista ACB possui conceito
B2.
Fonte: <https://revista.acbsc.org.br/racb>. Acesso em: 23 abr. 2019.
Revista Ponto de Acesso
A Revista Ponto de Acesso, ISSN: 1981-6766, está vinculada ao Instituto de
Ciência da informação (ICI) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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Seu objetivo é tornar acessíveis, livre e gratuitamente trabalhos acadêmicos
focados em temas no campo de estudos da informação, entre eles: Gestão da
Informação
e
Informacional;
do
Conhecimento;
Produção,
Inteligência
Tratamento
e
Competitiva;
Difusão
da
Letramento
Informação
e
do
Conhecimento; Sistemas e Redes de Informação; Políticas e Estratégias de
Informação; Teorias da Informação; Biblioteconomia; Arquivologia; Bancos de
Dados;
Comunicação
da
Informação
Científica;
Propriedade
Intelectual;
Tecnologias da Informação; Sociedade da Informação e do Conhecimento;
Economia da Informação; Informação, Poder, Democracia e Cidadania;
Periódicos Científicos; Imagem e Processo de Geração de Conhecimento;
Linguagem Subliminar e Geração de Conhecimento; dentre outros temas
correlatos.
No âmbito desses temas, a revista publica artigos, debates e entrevistas, e,
também, resenhas de publicações, de softwares e de modelos de gestão de
informação e conhecimento.
Reforça-se que a referida revista está no ar desde junho de 2007, com
periodicidade trimestral, e possui tutorial para avaliadores e autores.
Fonte: <https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaici>. Acesso em: 23 abr.
2019.
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Encontros Bibli, Em Questão, Informação e Sociedade,
Perspectivas e Transinformação
Raíssa Yuri Hamanaka
Perspectivas em Ciência da Informação
Este periódico foi lançado em 1996, em substituição à Revista da Escola de
Biblioteconomia da UFMG. É uma publicação trimestral pertencente à ECI da
mesma universidade, com classificação Qualis A1.
A revista aceita vários tipos de publicações, como: artigos científicos, relatos
de pesquisas, estudos teóricos, revisões de literatura, textos didáticos, relatos
de experiências, traduções e resenhas. As áreas de cobertura são: Ciência da
Informação, Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e áreas afins.
Como indexadores, a revista está em: Directory of Open Access Journals,
Infobila Base de Datos de Información y Bibliotecología Latinoamericana,
Information
Science
Abstracts,
INSPEC,
International
Bibliographie
der
Rezensionen Wissenschaftlicher Literatur/International Bibliographie of Book,
Reviews of Scholarly Literature, ISI Web of Knowledge, Latindex, Library and
Information Science Abstracts, Library Literature, Literatura de Ciência da
Informação (LICI), Pascal, Portal Capes, Scielo e Scopus.
Quanto ao direito autoral, ela é uma revista de acesso livre e imediato ao seu
conteúdo. Os artigos aceitos para publicação se tornam propriedade da revista.
No que tange aos critérios de submissão de trabalhos, citam-se: abrangência e
pertinência do conteúdo em relação à área; clareza e articulação dos conceitos
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e de ideais; atualização dos conceitos; originalidade; no mínimo 15 páginas e
no máximo 25; avaliação às cegas; e justificar trabalho não original ou não
inédito (ex.: resumos de anais; traduções) em “Comentários ao editor”.
Salienta-se que a revista não possui template de submissão.
A comissão editorial é composta por Terezinha de Fátima Carvalho de Souza,
Benildes Coura Moreira Santos Maculan, Fabrício José Nascimento da Silveira e
Lorena Tavares de Paula.
Link de acesso ao periódico:
<http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/index>.
Informação & Sociedade: Estudos
É publicada, ininterruptamente, desde 1991
- quando foi criada pela
Universidade Federal da Paraíba. Está vinculada ao PPGCI dessa universidade.
Possui periodicidade trimestral e é avaliada com Qualis A1, com fator de
impacto (JCR – Web Of Science) igual a: 0,086 (2016).
A
revista
publica
artigos;
vista/notas/comentários;
memórias
relatos
de
científicas
experiência;
originais;
relatos
pontos
de
de
pesquisa;
comunicações de trabalhos/pesquisas em andamento; entrevistas; resenhas; e
resumos de dissertações do Programa de Pós-Graduação da UFPB.
Quanto
às
áreas
de
cobertura,
abrange
a
Ciência
da
Informação,
Biblioteconomia e áreas afins, estando indexada em: Clase, Infobila, Latindex,
Lisa, Web of Science, Portal da Capes, OAister e Scopus/Elsevier.
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Os artigos aceitos para publicação se tornam propriedade da revista. É vedada
a reprodução total ou parcial de artigos sem a devida autorização da comissão
editorial, exceto para uso de estudo e pesquisa.
Os critérios de submissão de trabalhos são: originalidade; um dos autores
deve possuir titulação de doutor; preferência por submissões no formato DOC;
possui template de submissão; revisão por três pares; aceitam-se artigos em
português, inglês e espanhol e, em alguns casos, em francês (quando
autorizado pela comissão editorial); e publicações não inéditas ou não originais
devem estar justificadas em “Comentários ao editor” e acompanhadas de
devida autorização.
Constitui a comissão editorial: Gustavo Henrique de Araújo Freire (editor), Isa
Maria Freire (editora), Bernardina Maria Juvenal Freire Oliveira, Carlos Xavier
de Azevedo Netto, Emeide Nóbrega Duarte, Guilherme Ataide Dias, Izabel
França de Lima, Joana Coeli Ribeiro Garcia, Júlio Afonso Sá de Pinho Neto e
Maria das Graças Targino.
Link de acesso ao periódico:
<http://www.periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/index>.
Transinformação
Foi fundada em 1989, e é uma revista especializada, com periodicidade
quadrimestral, aberta a contribuições da comunidade científica nacional e
internacional, editada pelo Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É ligada ao PPGCI, possuindo a
avaliação Qualis A1 e fator de impacto de 0,352 (2016).
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A revista aceita vários tipos de publicações, como: original, revisão, tradução,
ensaio e relato de experiência ou pesquisa acadêmica. As áreas de cobertura
são Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e áreas
afins. Por sua vez, a revista está indexada em: Scielo, Web of Science, Portal
Capes, JCR Social Science, Scopus, DOAJ, Latindex, CLASE e ROAD.
Os artigos aceitos para publicação se tornam propriedade da revista. Não se
cobra dos autores qualquer tipo de taxa de submissão ou publicação.
Quanto aos critérios de submissão de trabalhos, citam-se: revisão às cegas; a
avaliação do manuscrito é feita com base na originalidade, pertinência,
qualidade acadêmica e relevância do mesmo, podendo ser rejeitados sem
comentários detalhados após análise inicial, se os artigos forem considerados
inadequados ou de prioridade científica insuficiente para publicação na revista;
indicar, opcionalmente, três revisores para o seu manuscrito; os manuscritos
modificados devem ser enviados, juntamente, com a carta-resposta que indica
quais alterações foram realizadas e, se não foram, o porquê; indicação de
autoria nos manuscritos; são aceitos manuscritos em português, inglês,
espanhol ou fracês; não serão aceitas citações bibliográficas na conclusão; não
serão aceitas citações/referências de monografias de conclusão de curso de
Graduação e de textos não publicados (aulas, entre outros); artigos não
publicados podem ser citados, desde que com a carta de aceitação da revista;
dados não publicados podem ser citados desde que com a carta de autorização
do pesquisador; recomendam-se 30 referências para todos os tipos de
publicação, exceto no caso de artigos de revisão que são recomendadas 50
referências; os títulos dos periódicos devem ser indicados por extenso; é
necessário escrever uma justificativa à comissão editorial sobre a principal
contribuição do estudo para a área em que se insere; quando for o caso, incluir
nome
da
agência
financiadora;
indicar
se
o
artigo
é
baseado
em
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tese/dissertação e incluir permissão de editores para reprodução de figuras ou
tabelas publicadas.
Compõem a comissão editorial da revista os seguintes membros: Rogério
Eduardo Rodrigues Bazi (editor), César Antonio Pereira (editor), Maria Cristina
Matoso (editora), Henriette Ferreira Gomes, Isa Maria Freire, José Augusto
Chaves Guimarães, Lígia Maria Arruda Café, Luís Fernando Sayão, Maria Inês
Tomaél, Maria Nélida González de Gómez, Raimundo Nonato Macedo dos
Santos, Rosali Fernandez de Souza, Cândida Fernanda Antunes Ribeiro,
Carmen Marta Lazo, Jorge Pedro Almeida Silva e Souza, Pierre Fayard e YvesFrançois Le Coadic.
Link de acesso ao periódico:
<http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/transinfo/index>.
Em Questão
Publicada desde 2003, em continuidade à Revista de Biblioteconomia e
Comunicação, lançada em 1986, Em Questão tem periodicidade quadrimestral.
Periódico científico da área da Ciência da Informação publicado pelo Programa
de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Biblioteconomia e
Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O
periódico possui avaliação Qualis A2, e publica diversos tipos de documentos,
como artigos, entrevistas e resenhas.
A revista dedicou-se às áreas de Comunicação e Ciência da Informação até
2013. No ano seguinte, passou por uma importante mudança de escopo, a
receber apenas textos da Ciência da Informação e áreas correlatas.
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A revista está indexada em: Web of Science, BRAPCI, Findr, Clase, Dialnet,
DOAJ, Laptoc, Google Scholar, Latindex, Proquest Library Science, Redalyc,
Sumários.org, Bielefeld Academic Search Engine (Base), Diadorim, Diretório
Luso-brasileiro – Repositórios e Revistas de Acesso Aberto, Portal para
Periódicos de Acesso Livre (LIvRe), Oaister, Portal Capes, ROAD, Portal de
Periódicos da UFRGS, SHERPA/RoMEO e Univerciência.
Quanto ao direito autoral, a revista é de acesso livre e imediato ao seu
conteúdo. Os artigos aceitos para publicação se tornam propriedade da revista.
No que se refere aos critérios de submissão de trabalhos: aceita apenas
publicações
traduzidos
inéditas,
de
textos
mas,
que
excepcionalmente,
já
tenham
sido
serão
aceitos
publicados
em
trabalhos
periódicos
estrangeiros; avaliação às cegas; a média de tempo entre a submissão e a
primeira resposta é de 12 semanas; possui template de submissão; a
prioridade de publicação é para textos inéditos de resultados de pesquisas,
seguidos por descobertas científicas, metodológicas ou conceituais, havendo
prioridade aos autores com maiores titulações, a textos de diferentes regiões
do país e do exterior, e ao possível impacto sobre a Ciência da Informação;
necessária a coautoria com doutor ou doutorando; aceita textos em português,
inglês ou espanhol; artigos devem ter de 15 a 25 páginas, resenhas até cinco
páginas
e
entrevistas
financiadora;
o
até
manuscrito
12
páginas;
aceito
pode
conter
ser
informação
publicado
em
de
agência
repositório
institucional, desde que com reconhecimento de autoria e publicação inicial na
revista.
A comissão editorial é composta por: Samile Andréa de Souza Vanz (editora),
Sônia Elisa Caregnato, Armando Malheiro, Cristina Dotta Ortega, Caterina
Groposo Pavão, Daniela de Filippo, Douglas Dyllon Jeronimo de Macedo, Ed
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
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Noyons, Eduardo Andres Vizer, Evelyn Goyannes Dill Orrico, Ely Francina
Tannuri de Oliveira, Fabiano Ferreira de Castro, Fabio Assis Pinho, Elias Sanz
Casado, Fábio Mascarenhas e Silva, Fernanda Ribeiro, Georgete Medleg
Rodrigues, Giulia Crippa, Jesús P. Mena-Chalco, Jose Eduardo Santarem
Segundo, Joana Coeli Ribeiro Garcia, Helena Crivellari, Helen Casarin, Leilah
Santiago Bufrem, Ligia Maria Arruda Café, Lillian Maria Araújo de Rezende
Alvares, Luciane Paula Vital, Luciano Antonio Digiampietri, Marcia Cristina de
Carvalho Pazin Vitoriano, Marckson Roberto Ferreira de Sousa, Marcos Galindo
Lima, Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi, Maria de Fatima Santos
Maia, Maria Isabel Gomes de Pinho, Mariângela Spotti Lopes Fujita, Patrícia
Mallmann Souto Pereira, Moisés Rockembach, Nair Yumiko Kobashi, Rogerio
Mugnaini, Rosângela Schwarz Rodrigues, Suzana Pinheiro Machado Mueller,
Valdir Jose Morigi, Vera Dodebei e Yue Chen, da Dalian University of
Technology.
Link de acesso ao periódico: <https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/index>.
Encontros Bibli: revista eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da
Informação
Criada em 1996, a publicação periódica do PPGCI da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) possui periodicidade quadrimestral que adota a
modalidade de publicação continuada. Essa publicação periódica é avaliada
com Qualis A2, índice H: 28 e índice i10: 109.
Publica os seguintes tipos de documentos: originais inéditos de artigos
resultantes de pesquisa científica, ensaios de caráter teórico fundamentados
em revisão de literatura e estudos de caso. As áreas de cobertura abrangem os
campos da Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e
áreas correlatas.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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Os indexadores da revista são: ANCIB, b-on - Biblioteca do Conhecimento
Online, Biblioteca Virtual USP, Catálogo Coletivo Nacional de Publicações
Seriadas,
Elektronische
Zeitschriftenbibliothek
(EZB),
Electronic
Journals
Library, Journal Info - Lund Universities Libraries, OAIster, Academic Journals
Database, BRAPCI, DOAJ, Google Scholar, Directory of Open Access Scholarly
Resources, Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas
de América Latina, el Caribe, España y Portugal (LATINDEX), Portal Capes,
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP), Red de Revistas
Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal (Redalyc), Red
Iberoamericana de Información y Conocimiento Científico, Sherpa/Romeo,
Sumarios.org, Ulrichs Periodical Directory (ULRICHS), Base de Dados da Área
de Direito (vLEX) e World Wide Science.
Quanto ao direito autoral, a revista é de acesso livre e imediato ao seu
conteúdo. Os artigos aceitos para publicação se tornam propriedade da revista.
Não cobra taxas de submissão e processamento de artigos (APCs).
Os critérios de submissão de trabalhos são: submissão de artigos com um dos
autores doutor; originalidade e contribuição para a comunidade científica; não
aceita artigos já apresentados na íntegra em eventos científicos, apenas serão
aceitas aquelas comunicações não apresentadas na íntegra, como os “short
papers” ou resumos, sempre que os trabalhos sejam reelaborados, ampliados
e que as modificações sejam significativas (é necessário que essas informações
estejam nos “Comentários ao editor” e na nota de rodapé da folha de rosto);
avaliação às cegas; os critérios de prioridade da revista são originalidade,
contribuição, pertinência, vigência temática, estrutura geral e cumprimento
das políticas editoriais; artigos aceitos com modificações tem um prazo de até
21 dias para serem modificados; são enviados cartas sobre os motivos de
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
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2018-2021
recusa de um manuscrito; o tempo médio de resposta desde a aceitação do
original até a confirmação de publicação é de, aproximadamente, 120 dias; os
editores podem realizar alterações nos manuscritos, apenas, em relação a
aspectos gramaticais, ortográficos e de ordem normativa; os textos poderão
ser apresentados em português, espanhol, inglês ou francês; publicações com
oito a 20 páginas; possui template de acordo com o tipo de publicação e
template de notas da obra, ambos obrigatórios; adicionar pelo menos um
potencial revisor de artigos da temática apresentada no trabalho nos
“Comentários ao editor” (informando o nome, instituição, país e e-mail) e
reconhecer que na sua obra não há plágios, fabricação de pesquisa, nem
falsificação ou manipulação de dados.
A comissão editorial é formada por: Enrique Muriel-Torrado (editor), Edgar
Bisset Alvarez (editor), Camila Barros (editora), Ana Cristina de Albuquerque,
Audilio Gonzales, Carlos Alberto Ávila Araújo, Carlos Tejada, Gustavo Henrique
de Araújo Freire, Héctor Alejandro Paredes, José Antonio Moreiro González,
Juan Carlos Fernández-Molina, Luc Quoniam, Marco Antonio de Almeida, Mario
Barité, Rogério Mugnaini, Ruben Urbizagastegui, Suzana Pinheiro Machado
Müller e Waldomiro Vergueiro.
Link de acesso ao periódico: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb>.
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�35
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
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Relato de casos práticos de pareceres dos processos
avaliativos
Jorge Santa Anna
Após a apresentação das informações técnicas relativas a cada periódico,
partiu-se para a análise e reflexão de casos práticos de pareceres avaliativos.
Essa exposição foi conduzida mediante a experiência do facilitador no contexto
da submissão de manuscritos em diferentes revistas da área.
A princípio, foram discorridos, brevemente, alguns detalhes que permeiam os
“bastidores” da comunicação científica, tal como o cadastro dos autores e do
arquivo a ser submetido na plataforma do Open Journal Systems (OJS); o
status do manuscrito, à medida que entra no fluxo editorial; o envio do
trabalho a diferentes avaliadores e a decisão do editor, dentre outras
especificidades. A figura 1 expõe slide contendo demonstração da estrutura da
plataforma do OJS, com destaque aos procedimentos para submissão de
manuscrito.
Figura 1 – Estrutura do OJS e inserção de novo manuscrito
Fonte: Dados do evento (2019).
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
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Por sua vez, a figura 2 demonstra slide apresentado acerca da designação de
avaliadores para um manuscrito, considerando o parecer oriundo do processo
de avaliação.
Figura 2 – O fluxo avaliativo e os meandros da avaliação em periódicos
Fonte: Dados do evento (2019).
No intuito de finalizar a discussão, são expostos para apreciação dos
participantes, resultados verídicos de pareceres avaliativos, em que são
destacados comentários dos avaliadores, sejam eles de natureza estimulante e
positiva (aceitação do trabalho), até relatos mais críticos, com ou sem
fundamentos que justificam a rejeição do trabalho (figura 3).
Figura 3 – Três comentários distintos, de natureza positiva ou negativa do trabalho avaliado
Fonte: Dados do evento (2019).
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Mensagem final
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Com o propósito de finalizar as reflexões, o presidente do evento detalha os
procedimentos utilizados para condução dos assuntos apresentados na
presente edição. Também esclarece acerca da disponibilização de uma
planilha, contendo os nomes de diversos periódicos da área, produto esse que
está sendo elaborado por alguns membros da comissão do evento e que será
disponibilizado no site da ABMG, nas próximas semanas.
A planilha em elaboração representa, portanto, a coroação do evento,
configurando-se como um produto final, que poderia contribuir com o cotidiano
de muitos profissionais e pesquisadores, ao procurarem informações sobre
onde publicar e quais as principais características dos periódicos da área de
Biblioteconomia e Ciência da Informação. Assim, a planilha vai conter diversos
dados como: nome do periódico, vinculação institucional, Qualis, periodicidade,
dentre outros. O gráfico 1 apresenta o total de periódicos a serem inseridos na
planilha, distribuídos por regiões brasileiras.
Gráfico 1 – Distribuição dos principais periódicos por regiões brasileiras
14
13
12
12
9
10
8
6
6
4
2
0
0
Centro Oeste
Nordeste
Norte
Sul
Sudeste
Fonte: Dados do evento (2019).
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Portanto, as atividades de pesquisa documental aliadas às experiências dos
organizadores permitiram identificar um total de 40 periódicos, presentes em
quase todas as regiões do país, pertencentes a instituições diferenciadas e com
variados
enfoques.
Além
desses,
a
planilha
também
contemplará
dez
periódicos internacionais que aceitam trabalhos no idioma português.
Por fim, a partir das discussões apresentadas pelos facilitadores, foi possível
perceber que a II edição do Conversando Sobre atingiu os objetivos a que se
propôs. Ao longo do evento, percebeu-se a integração, participação e
entusiasmos dos facilitadores e participantes. Portanto, ao findar do evento, a
mensagem de agradecimento foi acompanhada pelas sugestões de novas
edições, haja vista a amplitude do tema e a necessidade de se discorrer outros
aspectos e abordagens sobre a produção em periódico.
O presidente do evento, com auxílio da presidenta da ABMG, coloca-se à
disposição para receber críticas e sugestões de novos temas a serem
abordados em outras edições. Na ocasião, a bibliotecária Mônica Elisque
sugere palestrar sobre preservação da memória nas instituições, o que ficou
acordado, naquele momento, que essa seria a temática da III edição, a ser
realizada no mês de julho de 2019.
Ao findar do evento, foram expostas algumas dicas e sugestões para a
publicação em periódico, a saber:
Publicar em periódico é um processo surpreendente;
Ao mesmo tempo que é complexo, pode ser simplista;
Precisamos elaborar nossas pesquisas com consistência, com base no
conhecimento
que
construímos
e
submetê-las,
rompendo
medos,
angústias e dúvidas;
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Se
aprovados
ou
não,
os
pareceres
avaliativos
nos
conferem:
fortalecimento, conhecimento e perseverança! Portanto, mãos à obra!
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APÊNDICE A – FÔLDER DE DIVULGAÇÃO
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APÊNDICE B – PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA II EDIÇÃO
II EDIÇÃO DO CONVERSANDO SOBRE.....
"Os periódicos científicos da área de
Biblioteconomia e Ciência da Informação: onde
e como publicar"
Programação
- 18:30 as 18:40: Boas-vindas aos participantes e contextualização da
segunda edição do Conversando Sobre – por Maria Elizabeth de Oliveira Costa
- 18:40 as 19:00 h: apresentação do Repertório da Produção Periódica
Brasileira de Ciência da Informação – por Celsiane Aline Araujo
- 19:00 as 19:20 h: Breve apresentação das revistas REBECIN, Múltiplos
Olhares, Folha de Rosto, Pesquisa Brasileira e Páginas A&B - por Emanuelle
Geórgia Amaral Ferreira
- 19:20 as 19:40 h: Breve apresentação das revistas CI em Revista,
Informação & Informação, RBBD, Biblios e CI – por Jéssica Patrícia Silva de Sá
- 19:40 as 20 h: Breve apresentação das revistas Biblionline, RDBCI, Iberoamericana, ACB e Ponto de Acesso – por Mônica Elisque do Carmo
- 20:00 as 20:20 h: Breve apresentação das revistas Encontros Bibli, Em
Questão, Informação e Sociedade, Perspectiva e Transinformação – por Raíssa
Yuri Hamanaka
- 20:20 as 20:40 h: relato de casos práticos de pareceres dos processos
avaliativos – por Jorge Santa Anna
20:40 as 21:00 h: debates
- 21:00 h: Encerramento – por Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Facilitadores: Celsiane, Emanuelle, Jéssica, Jorge, Maria Elizabeth, Mônica e
Raíssa.
Monitoria: Andreza e Rosária.
BOM EVENTO A TODOS!
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Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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APÊNDICE C – PRINCIPAIS FOTOS DA II EDIÇÃO
Preparação para acolhida: presidenta da
ABMG e presidente do evento
Início das
monitoria
atividades:
atividades
de
Pesquisadora
Celsiane
Aline
Araujo
discorrendo sobre portal de periódicos
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Pesquisadora Emanuelle Geórgia Amaral
Ferreira abordando as revistas: REBECIN,
Múltiplos Olhares, Folha de Rosto, Pesquisa
Brasileira e Páginas A&B
Pesquisadora Jéssica Patrícia Silva de Sá
apresentando as revistas: Ciência da
Informação em Revista, Informação &
Informação, RBBD, Biblios e Ciência da
Informação
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Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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Pesquisadora Mônica Elisque do Carmo
discursando sobre as revistas: Biblionline,
RDBCI, Ibero-americana, ACB e Ponto de
Acesso
Pesquisadora
Raíssa
Yuri
Hamanaka
destacando as revistas: Encontros Bibli, Em
Questão,
Informação
e
Sociedade,
Perspectiva e Transinformação
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Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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APÊNDICE D – COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO
Da esquerda para a direita: Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira, Rosaria Ferreira Otoni dos
Santos, Jéssica Patrícia Silva de Sá, Raíssa Yuri Hamanaka, Andreza Gonçalves Barbosa,
Mônica Elisque do Carmo e Jorge Santa Anna
Comissão organizadora da II edição do Conversando Sobre
Andreza Gonçalves Barbosa: Doutoranda na Escola de Ciência da Informação,
investigando sobre Bibliotecas Prisionais.
Celsiane Aline Araujo: Doutoranda na Escola de Ciência da Informação, investigando sobre
Dados Abertos.
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira: Doutoranda na Escola Ciência da Informação,
investigando a Nova Biblioteconomia de Lankes no contexto brasileiro.
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda na Escola de Ciência da Informação, investigando
sobre Leitura e Apropriação da Informação.
Jorge Santa Anna: Doutorando na Escola de Ciência da Informação, investigando sobre
Serviços de Referências em Bibliotecas Universitárias.
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Doutorando na Escola de Ciência da Informação,
investigando sobre Educação a Distância.
Mônica Elisque do Carmo: Doutoranda na Escola de Ciência da Informação, investigando
sobre Preservação da Memória Institucional.
Raíssa Yuri Hamanaka: Mestranda na Escola de Ciência da Informação, investigando sobre
Metodologias de BPM, aplicadas em meio acadêmico.
Rosaria Ferreira Otoni dos Santos: Bibliotecária pesquisando sobre BPM Acadêmico.
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Os periódicos científicos das áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil: como e onde publicar?
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Celsiane Aline Vieira Araujo
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Mônica Elisque do Carmo
Raíssa Yuri Hamanaka
Rosaria Ferreira Otoni dos Santos
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Periódicos Científicos
Biblioteconomia
Description
An account of the resource
Exposição das principais revistas da Ciência da Informação e as peculiaridades de cada uma; passo a passo para submissão de um manuscrito; e casos práticos e reais de pareceres advindos da avaliação, tanto de aceitação quando de rejeição do trabalho.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Relatório de evento
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4587/Listadeperiodicosparapublicacao.pdf
cd818bdea21bdefae874c2628cba9543
PDF Text
Text
LISTA DE PERIÓDICOS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS
CIENTÍFICOS NA ÁREA DE BIBLIOTECONOMIA/CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO (BRASIL)
Apresentação
Esta lista é uma produção técnica oriunda dos levantamentos realizados ao longo das atividades de
organização do II Conversando Sobre, que ocorreu no dia 23 de abril de 2019, das 18:30 às 21:00h,
na Escola de Ciência da Informação (ECI), cujo tema foi Periódicos Científicos da área de
Biblioteconomia/Ciência da Informação, no Brasil: onde e como publicar? A instituição promotora do
evento foi a Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), tendo como instituição apoiadora a
ECI da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Campus Pampulha, em Belo Horizonte.
O evento e, por conseguinte, a organização desta planilha é fruto da experiência dos autores no
âmbito da submissão de trabalhos profissionais e acadêmicos para os diversos periódicos existentes
em diferentes regiões do Brasil. Essa iniciativa também foi influenciada pelas constantes inquietações
�e dúvidas por parte de colegas, sobretudo da Pós-Graduação, sobre a tão imperiosa necessidade:
“onde publicar?”.
Em virtude da escassez de um instrumento atualizado que reúna, em um único local, os periódicos da
Ciência da Informação, com menção às suas principais características, principalmente, a página web
da publicação, temos o prazer de colocar à disposição de profissionais, professores e pesquisadores,
esta listagem. Importante ressaltar que ela não é exaustiva (e nem pretende ser), pois os
procedimentos utilizados na sua sistematização foram parte única e exclusivamente, do trabalho
prático dos autores na vivência em publicações periódicas.
Portanto, os periódicos listados neste documento não são resultados de processos de seleção, nem,
tampouco, de procedimentos metodológicos ou critérios de inclusão/exclusão que justifiquem a
escolha por um ou por outro. A inserção deles está ligada à experiência prática dos autores do
documento quanto à submissão de manuscritos em periódicos da área. Portanto, considera-se esta
listagem como fruto da experiência prática, o que justifica, provavelmente, que ela não contempla
todos os periódicos existentes no Brasil e relacionados às áreas de Biblioteconomia e Ciência da
Informação.
�Em virtude da incompletude da planilha, esperamos que novos documentos dessa natureza possam
ser produzidos, com possibilidades de contemplar muitos outros periódicos aqui não listados e, por
conseguinte, facilitar, cada vez mais, o trabalho dos profissionais e pesquisadores que desejam
submeter suas experiências e pesquisas para publicação em periódicos. Também aceitamos
sugestões, críticas e parcerias, as quais serão utilizadas na reformulação de possíveis edições deste
documento, no futuro. Desejamos boa leitura e bom uso!
REGIÃO CENTRO-OESTE
Nome
Ciência
Informação
Comunicação
Informação
Inclusão Social
Órgão gestor
da
&
IBICT
Programa
de
Pós-Graduação
em Comunicação
da Faculdade de
Informação
e
Comunicação
(FIC)
IBICT
Escopo principal
Publica trabalhos originais e
inéditos, relacionados com a
ciência da informação ou que
apresentem
resultados
de
estudos e pesquisas sobre as
atividades
do
setor
de
informação
em
ciência,
tecnologia e inovação
Divulga pesquisa de qualidade
na área. Trata-se de publicação
de trabalhos inéditos, podendo
aprovar
artigos
de
áreas
correlatas
Publica trabalhos no âmbito da
inclusão social, com temas
ligados a ações, programas,
projetos, estudos e pesquisas
sobre inclusão na sociedade
Qualis
*
B1
Sítio
Periodicidade
http://revista.ibict.br/ciinf/about/editorialPolicie
s#focusAndScope
Quadrimestral
B2
https://www.revistas.ufg.br/ci/about
Fluxo contínuo
–
Último
número
publicado
em
2018
B4
http://revista.ibict.br/inclusao/about/editorialPo
licies#focusAndScope
Semestral
�Nome
Órgão gestor
Liinc em Revista
IBICT
Revista
Gestão
do
Conhecimento e
Tecnologia
da
Informação
Escopo principal
Publica reflexão crítica sobre os
processos
de
produção,
circulação e apropriação da
informação e do conhecimento,
ante as transformações no
mundo contemporâneo
Veicula, prioritariamente, artigos
científicos inéditos nas áreas de
convergência da TI com a
dinâmica
social,
política
e
econômica, em especial da
Governança e da Inovação
Qualis
*
B1
Sítio
http://revista.ibict.br/liinc/index
Periodicidade
Semestral
Programa
de
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RGCTI
Quadrimestral
Mestrado
em
–
Último
Governança,
número
Tecnologia
e
publicado
em
Inovação (MGTI)
2017
da Universidade
Católica
de
Brasília
Revista
Ibero- Programa
de Disseminar trabalhos científicos B1
http://periodicos.unb.br/index.php/RICI/in Quadrimestral
Americana
de Pós-Graduação
originais, inéditos, resultantes
dex
Ciência
da em Ciência da de pesquisa em Ciência da
Informação
Informação
da Informação e áreas correlatas
Universidade de
Brasília
* O conceito Qualis está apresentado na listagem, considerando o registro existente na Plataforma Sucupira, na área de Comunicação e
Informação. Consultas realizadas de abril a junho de 2019.
REGIÃO NORDESTE
Nome
Analisando
Ciência
Informação
em
da
Órgão gestor
Escopo principal
Centro
de
Ciências
Biológicas
e
Sociais.
Universidade
Estadual Paraíba
Artigos, relatos de experiência,
relatórios, resenhas, com viés
acadêmicos e profissionais
Qualis
*
B5
Sítio
http://racin.arquivologiauepb.com.br/
Periodicidade
Semestral
�Nome
Órgão gestor
Escopo principal
Archeion Online
UFPB
Artigos, relatos de experiência,
relatórios, resenhas, com viés
acadêmicos e profissionais
Bibliocanto
Biblioteca
Central
Zila
Mamede
(BCZM),
da
Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte
(UFRN)
Departamento
de Ciência da
Informação
da
Universidade
Federal
da
Paraíba (UFPB)
Programa
de
Pós-Graduação
em Ciência da
Informação da U
niversidade
Federal
de
Alagoas
Programa
de
Pós-Graduação
em
Biblioteconomia
(PPGB),
mediante
o
Mestrado
Profissional em
Biblioteconomia,
da Universidade
Federal do Cariri
(UFCA)
Artigo,
ensaio,
relato
de
experiência, resenha, resumo,
resumo expandido em temáticas
relacionadas à Biblioteconomia,
Ciência da Informação e áreas
afins
Biblionline
Ciência
Informação
Revista
Folha de rosto
da
em
Qualis
*
C
Sítio
Periodicidade
http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ar
cheion
Semestral
-
https://periodicos.ufrn.br/bibliocanto
Anual – Último
número
publicado em
2018
Artigos, relatos de experiência,
relatórios, resenhas, com viés
acadêmicos e profissionais
B5
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/biblio
Trimestral
Artigos, relatos de experiência,
relatórios,
resenhas,
dentre
outros trabalhos acadêmicos e
profissionais
B5
http://www.seer.ufal.br/index.php/cir/
Quadrimestral
Artigos, relatos de experiência,
relatórios, resenhas, com viés
acadêmicos e profissionais
B5
https://periodicos.ufca.edu.br/ojs/index.php/fol
haderosto/index
Semestral
�Nome
Informação
Pauta
em
Informação
Sociedade:
Estudos
e
Perspectivas em
Gestão
&
Conhecimento
Pesquisa
Brasileira
em
Ciência
da
Informação
e
Biblioteconomia
Ponto de Acesso
Revista
Informação
na
Sociedade
Contemporânea
Órgão gestor
Escopo principal
Departamento
de Ciências da
Universidade
Federal do Ceará
Programa
de
Pós-Graduação
em Ciência da
Informação
da
UFPB
Centro
de
Ciências Sociais
Aplicadas
da Universidade
Federal
da
Paraíba (UFPB)
Contribuições inéditas na área
de Ciência da Informação e suas
interfaces
UFPB
Instituto
de
Ciência
da
informação
(ICI),
da
Universidade
Federal da Bahia
Departamento
de Ciência da
Informação
e
Programa
de
Pós-Graduação
em Gestão da
Qualis
*
B5
Sítio
Periodicidade
http://www.periodicos.ufc.br/informacaoempaut
a
Semestral
Artigos,
com
viés
mais
acadêmico
e
metodologia
rigorosa. É preferível a presença
de doutor como coautor
A1
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies
Quadrimestral
Publicar trabalhos originais e
inéditos relacionados com as
temáticas
Gestão
e
Conhecimento sob abordagens
que
priorizem
diálogos
inter/pluri/multi/transdisciplinare
s e representem contribuição
para o desenvolvimento de
novos conhecimentos e/ou para
aplicação nos diversos setores e
organizações da sociedade
Contribuições inéditas na área
de Ciência da Informação e suas
interfaces
B1
http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pgc
Quadrimestral
B1
http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pbcib
Trimestra
Artigos, relatos de experiência,
relatórios, resenhas, com viés
acadêmicos e profissionais
B1
https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaici
Quadrimestral
–
Último
número
publicado em
2018
Contribuições de artigos em
língua estrangeira, pois valoriza
e estimula a pluralidade de
abordagens e perspectivas, bem
como a autoria interinstitucional
e internacional.
_
https://periodicos.ufrn.br/informacao
Semestral
Último número
publicado em
2018
�Informação e do
Conhecimento,
da Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte
(UFRN)
Promove também a publicação
de resenhas de livros e os
resumos de monografias, teses
e dissertações dos cursos de
Graduação
e
Pós-Graduação
vinculados ao Departamento de
Ciência da Informação da UFRN
* O conceito Qualis está apresentado na listagem, considerando o registro existente na Plataforma Sucupira, na área de Comunicação e
Informação. Consultas realizadas de abril a junho de 2019.
REGIÃO SUL
Nome
Órgão gestor
Escopo principal
Ágora:
Arquivologia em
Debate
Arquivo
Público
do
Estado
de
Santa
Catarina/UFSC
A.to.Z:
novas
práticas
em
informação
e
conhecimento
Programa de
PósGraduação em
Gestão
da
Informação da
UFPR
Instituto
de
Ciências
Humanas e da
Informação da
FURG
Trabalhos
que
versem
sobre
Administração de Arquivos, Arquivos
digitais, Tecnologia da informação
aplicada aos arquivos, Ciência da
Informação, Documentação,
Paleografia, Diplomática, História e
Sociologia aplicada aos arquivos
Publicação de artigos derivados de
Teses, Dissertações, Monografias e
Trabalhos de Conclusão de Curso
nas áreas de Ciência, Gestão e
Tecnologia da Informação e Gestão
do Conhecimento
Trabalhos inéditos que apresentem
resultados de estudos e pesquisas
relacionados com as áreas da
informação, tecnologia e afins
Biblos
Qualis
*
B1
Sítio
Periodicidade
https://agora.emnuvens.com.br/ra
Semestral
B2
https://revistas.ufpr.br/atoz
Semestral
B3
https://periodicos.furg.br/biblos
Semestral
�Nome
Órgão gestor
Escopo principal
Em Questão
PósGraduação em
Comunicação
e Ciência da
Informação da
UFRGS
Programa de
PósGraduação em
Ciência
da
Informação da
UFSC
Programa de
PósGraduação em
Ciência
da
Informação da
UEL
Programa de
PósGraduação em
Ciência
da
Informação da
UEL
Faculdade de
Biblioteconomi
a
e
Comunicação
da
Universidade
Federal do Rio
Grande do Sul
(UFRGS)
Associação
Catarinense
de
Bibliotecários
Artigos, com viés mais acadêmico e
metodologia rigorosa. É preferível a
presença de doutor como coautor
Encontros Bibli
Informação
Informação
&
Informações
Profissões
&
Intexto
Revista ACB
Qualis
*
A2
Sítio
Periodicidade
https://seer.ufrgs.br/EmQuestao
Quadrimestral
Recebe originais inéditos de artigos
resultantes de pesquisa científica,
ensaios
de
caráter
teórico
fundamentados
em
revisão
de
literatura e estudos de caso
A2
https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/index
Quadrimestral
Contribuições inéditas na área de
Ciência da Informação e suas
interfaces
A2
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/inf
ormacao
Quadrimestral
Artigos, relatos de experiência,
relatórios,
resenhas,
com
viés
acadêmicos e profissionais
B5
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/inf
oprof
Semestral
Pesquisas
teóricas
e
empíricas
realizadas no campo interdisciplinar
da Comunicação,
tendo
como
objetivo constituir-se como espaço
para o debate e a difusão de ideias
capazes de configurar diferentes
cenários comunicacionais
B1
https://seer.ufrgs.br/intexto
Quadrimestral
Trabalhos inéditos relacionados na
área da Biblioteconomia e Ciência da
Informação,
abrangendo
especificamente a Biblioteconomia,
B2
https://revista.acbsc.org.br/racb
Quadrimestral
�Ciência da Informação, Arquivologia,
Museologia e Documentação, ou
textos que apresentem resultados de
estudos e pesquisas sobre atividades
relacionadas
ao
movimento
associativo
* O conceito Qualis está apresentado na listagem, considerando o registro existente na Plataforma Sucupira, na área de Comunicação e
Informação. Consultas realizadas de abril a junho de 2019.
REGIÃO SUDESTE
Nome
Acervo
Biblioteca
Escolar
Revista
em
Bibliotecas
Universitárias:
pesquisa,
experiência
e
expectativa
Órgão gestor
Escopo principal
Arquivo Nacional
Divulgar estudos e fontes
nas
áreas
de
ciências
humanas
e
sociais
aplicadas,
especialmente
História e arquivologia
Além de artigos e relatos de
pesquisa inéditos, a revista
publica resenhas de livros,
documentos
especiais,
entrevistas e traduções de
autoria
de
docentes
e
pesquisadores, desde que
aprovados em revisão cega
por pares
Difundir o conhecimento em
Biblioteconomia e Ciência da
Informação,
com
temas
pertinentes às bibliotecas
universitárias, abrangendo
as questões teóricas e
práticas das áreas, em seus
aspectos
tecnológicos,
humanos, sociais e afins
Universidade
São Paulo
de
Sistema
Bibliotecas
UFMG
de
da
Qualis
*
B2
Sítio
Periodicidade
http://revista.arquivonacional.gov.br/index.ph
p/revistaacervo
Quadrimestral
B3
http://www.revistas.usp.br/berev/about
Semestral
–
Último número
publicado em
2018
C
https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistarb
u/
Semestral
–
Último número
publicado em
2017
�Nome
Órgão gestor
Escopo principal
Brazilian Journal
of
Information
Science:
research trends
Programa
PósGraduação
em
Ciência
da
Informação
da
UNESP
Conhecimento
em Ação
Faculdade
de
Administração e
Ciências
Contábeis
(FACC)
da
Universidade
Federal do Rio
de
Janeiro
(UFRJ)
Textos originais e inéditos
que contemplem temática
atual e relevante para o
universo
teóricometodológico da Ciência da
Informação, considerando a
literatura especializada da
área
Artigos,
relatos
de
experiência,
relatórios,
resenhas,
com
viés
acadêmicos e profissionais
INCID:
Revista
de Ciência da
Informação
e
Documentação
Departamento
de
Educação,
Informação
e
Comunicação da
USP
Informação
Arquivística
Associação
de
Arquivistas
do
Rio de Janeiro
Múltiplos Olhares
em Ciência da
Informação
Escola Ciência da
Informação
da
UFMG
Divulgação especializada da
área informacional, abrindo
espaço
a
discussões
interdisciplinares
e
interinstitucionais de temas
informacionais e possíveis
interfaces que permeiam as
temáticas exploradas
Publicação e a divulgação de
trabalhos
e
pesquisas
relacionadas ao campo da
Arquivologia e suas relações
interdisciplinares, no âmbito
nacional e internacional
Trabalhos
inéditos
relacionados à área de
Ciência da Informação, com
foco na Biblioteconomia,
Arquivologia e Museologia
Qualis
*
B1
Sítio
Periodicidade
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.p
hp/bjis/index
Trimestral
B5
https://revistas.ufrj.br/index.php/rca
Semestral
B1
https://www.revistas.usp.br/incid/about
Semestral
B5
http://www.aaerj.org.br/ojs/index.php/inform
acaoarquivistica/
Semestral
–
Último número
publicado em
2017
B5
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.ph
p/moci/issue/archive
Semestral
–
Último número
publicado em
2018
�Nome
Perspectiva
Ciência
Informação
Órgão gestor
em
da
Escola Ciência da
Informação
da
UFMG
Escopo principal
Qualis
*
A1
Divulga artigos científicos,
relatos
de
pesquisas,
estudos teóricos, revisões
de
literatura,
textos
didáticos,
relatos
de
experiências, traduções e
resenhas
Revista Brasileira FEBAB
Artigos,
relatos
de B1
de
experiência,
relatórios,
Biblioteconomia
resenhas,
com
viés
e Documentação
acadêmicos e profissionais
Revista Brasileira ANCIB
Artigos de pesquisa, de B5
de Educação em
revisão, estudo de casos,
Ciência
da
comunicações, relatos de
Informação
experiência/resenhas,
aplicadas
àEducação
em
Ciência da Informação
Revista
Digital Sistema
de Publica
artigos
inéditos, B1
de
Bibliotecasda
relatos
de
experiência,
Biblioteconomia
UNICAMP
pesquisas em andamento e
e
Ciência
da
resenhas relacionados com
Informação
a Ciência da Informação ou
que apresentem resultados
de estudos e pesquisas
sobre as atividades dessa
área
TransInformação Centro Ciências Artigos, com viés mais A1
Humanas
e acadêmico e metodologia
Aplicadas da PUC rigorosa. É preferível a
presença de doutor como
coautor
* O conceito Qualis está apresentado na listagem, considerando o registro
Informação. Consultas realizadas de abril a junho de 2019.
Sítio
Periodicidade
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.ph
p/pci
Trimestral
https://rbbd.febab.org.br/rbbd
Quadrimestral
http://abecin.org.br/portalderevistas/index.ph
p/rebecin/author/submission/119
Semestral
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.p
hp/rdbci/
Publicação
contínua
(rolling pass)
http://periodicos.puccampinas.edu.br/seer/index.php/transinfo
Quadrimestral
existente na Plataforma Sucupira, na área de Comunicação e
�PERIÓDICOS INTERNACIONAIS – ACEITAM
ARTIGOS EM PORTUGUÊS
Nome
Órgão gestor
Escopo principal
Anales
de
Documentación
Facultad
de
Comunicación y
Documentación
de la Universidad
de Murcia
Biblios
Grupo
Biblios
International
Network for the
Development of
Library
and
Information
Instituto
de
Información
Científica
y
Tecnológica
Publica
trabalhos
originais,
traduções
e
revisões
de
qualquer um dos diferentes
setores e especialidades de
Informação, Documentação e
Comunicação
Revista eletrônica especializada
em Ciências da Informação que
publica artigos de investigação
e artigos de análise
Ciencias de
Información
la
e-Ciencias de la
Información
Universidade
Costa Rica
de
Publica
os
resultados
da
pesquisa
de
todos
os
profissionais ligados à indústria
da
informação
e
do
conhecimento. Abrange todos
os aspectos essenciais da
Biblioteconomia,
Documentação e Arquivologia
Disseminar os resultados da
pesquisa
nas
diferentes
disciplinas de conhecimento
relacionadas à Ciência da
Informação
Qualis
*
A2
Sítio
Periodicidade
https://revistas.um.es/analesdoc/issue/vi
ew/18071
Semestral
A1
https://biblios.pitt.edu/ojs/index.php/biblios
Trimestral
B1
http://cinfo.idict.cu/index.php/cinfo
Trimestral
–
Último número
publicado
em
2017
-
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/eciencias
Semestral
�Nome
Órgão gestor
Escopo principal
Informatio
Instituto
de
Información
de la Facultad de
Información
y
Comunicación de
la Universidad de
la
República
(Uruguai)
Publica estudos originais e
inéditos,
resultados
de
pesquisas,
revisões
de
literatura
e
assuntos
acadêmicos
de
interesse
disciplinar,
que
contribuam
para o desenvolvimento da
Ciência
da
Informação,
Biblioteconomia, Arquivologia e
áreas afins
Investigación
Bibliotecológica:
archivonomía,
bibliotecología e
información
Páginas A & B:
Arquivos
e
Bibliotecas
Palabra-Clave
Instituto
de
Biblioteconomia
e Informação do
México
Artigos,
com
acadêmico
e
rigorosa
viés
mais
metodologia
Gabinetes A & B
- Porto
Revista
Interamericana
de
Bibliotecología
Departamento
de
Bibliotecología
de la Facultad de
Humanidades y
Ciencias de la
Educación de la
Universidad
Nacional de La
Plata
Escuela
Interamericana
de
Bibliotecología
Universidad
de
Antioquia
Qualis
*
-
Sítio
Periodicidade
http://informatio.eubca.edu.uy/ojs/index.php/
Infor/index
Semestral
A1
http://rev-ib.unam.mx/ib/index.php/ib/
Trimestral
Artigos, relatos de experiência,
relatórios, resenhas, com viés
acadêmicos e profissionais
Publica artigos de pesquisa
originais e inéditos, breves
notas de pesquisa, estudos de
caso, ensaios e artigos de
revisão ou estado da arte, em
espanhol, português e inglês
B4
http://ojs.letras.up.pt/index.php/paginasaeb/i
ndex
Semestral
-
https://www.redalyc.org/revista.oa?id=3505
Semestral
Publica
estudos
teóricos,
trabalhos
de
revisão
e
reflexões originais, que dão
conta
do
progresso
da
Biblioteconomia
e
suas
disciplinas
relacionadas,
especialmente na área latinoamericana
A2
http://aprendeenlinea.udea.edu.co/revistas/in
dex.php/RIB/index
Quadrimestral
�Nome
Revista Prefacio
Órgão gestor
Escopo principal
Qualis
*
-
Sítio
Periodicidade
Faculdad
de Artigos, ensaios, relatos de
https://revistas.unc.edu.ar/index.php/PREFAC
Semestral
Filosofía
y caso, entrevistas, resenhas,
IO
Humanidades
com
viés
acadêmicos
e
Universidad
profissionais
Nacional
de
Cordoba
* O conceito Qualis está apresentado na listagem, considerando o registro existente na Plataforma Sucupira, na área de Comunicação e
Informação. Consultas realizadas de abril a junho de 2019.
�DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE
PERIÓDICOS POR REGIÕES BRASILEIRAS
14
13
12
12
10
9
8
6
6
4
2
0
0
Centro Oeste
Nordeste
Norte
Sul
Sudeste
Percebemos, de forma preliminar, que o Brasil possui sua representatividade no âmbito das publicações periódicas na área de Ciência da
Informação e que, mesmo passando por diversos desafios, as equipes envolvidas na gestão dos periódicos unem esforços com o intuito de
garantir a permanência e melhoria contínua desses importantes meios de comunicação científica. Portanto, que possamos adotar iniciativas em
prol da valorização, divulgação e contribuição para fortalecimento dos periódicos científicos de nossa nação, seja na condição de autores,
editores, avaliadores, consultores, dentre tantos outros papéis que podemos exercer.
Os autores
Belo Horizonte, 05 de julho de 2019.
�AUTORES DESTA PRODUÇÃO
- Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira: Graduada em Biblioteconomia. Doutoranda e Mestra em Ciência da Informação pela
Universidade Federal de Minas Gerais, investigando a Nova Biblioteconomia de Lankes no contexto brasileiro. Pesquisadora do grupo
de pesquisa “Estudos em Práticas Informacionais e Cultura” (EPIC/UFMG) cadastrado no CNPq. Possui a trajetória acadêmica
orientada pela extensão, pesquisa e ensino. Seus interesses de pesquisa estão em torno da Biblioteconomia, com ênfase na Ciência
da Informação.
- Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Mestre em Gestão e Organização do Conhecimento. Doutorando na Escola de
Ciência da Informação, investigando sobre Serviços de Referências em Bibliotecas Universitárias. Atua na prestação de serviços
informacionais, no campo da organização, sistematização, normalização, orientação e lecionamento direcionados à metodologia de
pesquisa.
- Mônica Elisque do Carmo: Graduada em Biblioteconomia. Mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (MACPS)
pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. Doutoranda em Gestão e Organização do Conhecimento
da Escola de Ciência da Informação/UFMG, investigando sobre Preservação da Memória Institucional. Atua como bibliotecária e
documentalista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN.
Esta é uma produção técnica da:
© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e outras ações promovidas
pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita dos autores e da
devida instituição.
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Lista de Periódicos para publicação de trabalhos científicos nas áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
Jorge Santa Anna
Mônica Elisque do Carmo
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Periódicos Científicos
lista
Description
An account of the resource
Esta lista é uma produção técnica oriunda dos levantamentos realizados ao longo das atividades de organização do II Conversando Sobre, que ocorreu no dia 23 de abril de 2019, das 18:30 às 21:00h, na Escola de Ciência da Informação (ECI), cujo tema foi Periódicos Científicos da área de Biblioteconomia/Ciência da Informação, no Brasil: onde e como publicar? A instituição promotora do evento foi a Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), tendo como instituição apoiadora a ECI da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Campus Pampulha, em Belo Horizonte.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Produto de evento
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/6151/LivroMediacao.pdf
134b83d0b65521ec9709cfef2f2a465a
PDF Text
Text
[Ano]
�FUNDAMENTOS E PRÁTICAS
DA MEDIAÇÃO NO
CONTEXTO
INFORMACIONAL
�JÉSSICA PATRÍCIA SILVA DE SÁ
ANDREZA GONÇALVES BARBOSA
MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA COSTA
JORGE SANTA ANNA
(Organizadores)
FUNDAMENTOS E PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO
NO CONTEXTO INFORMACIONAL
Belo Horizonte
ABMG EDITORA
2020
�© 2020 Jéssica Patrícia Silva de Sá, Andreza Gonçalves Barbosa, Maria Elizabeth de Oliveira
Costa e Jorge Santa Anna
2020 ABMG Editora
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita
dos autores
COMISSÃO CIENTÍFICA:
André Fagundes Faria - UFMG
André Gustavo Fonseca da Silva – UFMG
Andreza Gonçalves Barbosa – UFMG
César dos Santos Moreira – IFMG
Eliane Apolinário Vieira Avelar - UFMG
Flávia Virgínia Melo Pinto – UFMG
Gabrielle Francinne de Souza Carvalho
Tanus - UFRN
Gracirlei Maria de Carvalho Lima - UFMG
Guilherme Alves de Santana – UFPE
Ismael Lopes Mendonça – UFMG
Janicy Aparecida Pereira Rocha - UNIRIO
Jéssica Patrícia Silva de Sá – UFMG
João Arlindo dos Santos Neto – UEL
Jorge Santa Anna - UFES
José Alimateia de Aquino Ramos – UFES
Sueli Bortolin – UEL
Tatiane Krempser Gandra – PMMG
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA E DIAGRAMAÇÃO: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL FINAL: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO E FORMATAÇÃO DA CAPA e CONTRACAPA: Norma Padrão - Apresentação e
divulgação do trabalho científico
MONTAGEM DA CAPA: Norma Padrão
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG: Rua dos Guajajaras, 410,
Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa – Secretário: Jorge Santa Anna
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
Ficha catalográfica
F981
Fundamentos e práticas da mediação no contexto informacional/
Jéssica Patrícia Silva de Sá ... [et al.] (organizadores) - Belo
Horizonte : ABMG Editora, 2020.
399 p. : il.
Outros organizadores: Andreza Gonçalves Barbosa,
Maria Elizabeth de Oliveira Costa, Jorge Santa Anna.
Inclui bibliografias.
ISBN 978-65-993126-0-1
1. Ciência da informação. 2. Redes sociais. 3. Comunicação.
I. Sá, Jéssica Patrícia Silva de. II. Barbosa, Andreza Gonçalves.
III. Costa, Maria Elizabeth de Oliveira. IV. Santa Anna, Jorge.
CDD: 020
CDU: 02:659.2
Ficha catalográfica elaborada por Vilma Carvalho de Souza – Bibliotecária - CRB-6/1390
�AGRADECIMENTOS
A ideia de fazer uma coletânea com o tema da mediação da informação
partiu de uma necessidade de se explorar as diversas interpretações e
instâncias que abarcam o tema no âmbito da Ciência da Informação. A
organização desta obra, consequentemente, envolveu muitas ações de
mediação por parte da equipe de organizadores, que culminou em muito
esforço e dedicação para que fosse finalizada. Contudo, sem o auxílio de
nossos interlocutores, seria impossível concluir essa empreitada.
São muitas as pessoas envolvidas que merecem ser lembradas e
mencionadas nestes agradecimentos. Considerando o universo amplo da
mediação, agradecemos, em geral, a todos os mediadores envolvidos neste
empreendimento, ou aqueles que atuam como disseminadores da informação,
contribuindo para o desenvolvimento ou melhoria na vida de outrem, sejam
pessoas, organizações, grupos sociais, dentre outros elementos da sociedade.
Cordiais agradecimentos à Escola de Ciência da Informação (ECI) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pelo apoio e condições de
infraestrutura oferecidos. A ECI é e sempre será a nossa “segunda casa”. Ao
Centro de Extensão da ECI pelo auxílio no lançamento da obra, mediante o
Projeto Luz do Conhecimento.
A todos os autores, avaliadores e prefaciadores que compraram nossa
ideia e se dedicaram tanto quanto nós, contribuindo para a exposição do
conhecimento registrado nesta obra. Aos membros e associados da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), gestão 2018-2020. Sem a ABMG
não
seria
possível
a
publicação
deste
livro,
agradecemos
pelo
apoio
incondicional.
À Norma Padrão – Apresentação e Divulgação do Trabalho Científico –
pela disposição gráfica realizada na capa e contracapa da obra. À bibliotecária
Vilma Carvalho pela elaboração do registro bibliográfico (ficha catalográfica).
Nosso muito obrigado!
Jéssica, Andreza, Maria Elizabeth e Jorge (Organizadores)
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2020.
�“Ao contrário da disseminação, a mediação não está restrita
apenas às atividades relacionadas diretamente ao público
atendido, mas em todas as ações do profissional da
informação, em todo o fazer desse profissional [...]”
(ALMEIDA JÚNIOR; BORTOLIN, 2007, p. 6).
�PREFÁCIO
As discussões sobre mediação da informação estão em amplo crescimento e se
espraiando em vários segmentos da Ciência da Informação.
Parto da ideia de que a mediação da informação não é restrita a um pequeno
espaço dentro da área, mas abarca todo o fazer dos profissionais que atuam nos
equipamentos informacionais.
Um dado importante, que deve ser lembrado é que a mediação da informação,
não apenas no âmbito individual, mas também coletivo, sempre, mesmo não tendo
um objetivo claro, explicitado, cria um conflito.
A ideia de conflito merece uma discussão maior. O usuário, quando se apropria
da informação, tem mudanças em seu conhecimento. Essas mudanças não são
simples, não são pacíficas, ao contrário, elas criam antagonismos entre os
conhecimentos aparentemente sustentados por certezas, e as informações externas
que desestabilizam essas certezas. Em suma, as informações geram conflitos. E só há
mudanças a partir de conflitos. Aliás, as informações externas não desestabilizam
certezas, mas as relações entre o externo e o conhecimento, momentaneamente
estruturado, é que alteram, ou podem alterar, o conhecimento.
O profissional da informação, nos vários processos de mediação da informação
que participa, também gera conflitos. Tais conflitos estão vinculados à lida com as
questões apresentadas, mas também os conflitos se apresentam em outros espaços.
Por exemplo, os mediadores atuam a partir de um perfil ideal do usuário, um perfil do
usuário criado com base no entendimento determinado pela média dos interesses,
necessidades
e
desejos
dos
usuários
que
são
atendidos
pelo
equipamento
informacional. O momento em que os interesses definidos como coletivos e a
necessidade individual, cria conflitos.
Ao mesmo tempo, há conflitos quando usamos, nos nossos equipamentos
informacionais, as ferramentas, os instrumentos de organização da informação. A
própria ideia de organizar a informação é conflituosa. Prefiro dizer que nós
organizamos protoinformações, ou seja, “quase informações”, “talvez informações”,
“quem sabe informações”.
Há conflitos quando refletimos sobre o objeto da Biblioteconomia, da Ciência da
Informação; há conflitos quando discutimos os limites de nossas ações no âmbito da
área. O fazer do bibliotecário, por exemplo, termina quando o usuário tem acesso aos
documentos que podem, talvez, satisfazer uma necessidade, um interesse, um desejo
�informacional? Toda satisfação informacional é momentânea, que gera novas
necessidades. O fim do fazer bibliotecário não deve ser a oferta de acesso a
documentos, mas a apropriação, por parte do usuário, da informação.
A ideia de que o acesso é a linha que marca o fim das ações dos profissionais
da informação, provavelmente tem base na concepção de que tais profissionais
buscam recuperar a informação. E o fazem com a ideia de que há uma informação
para cada usuário; um usuário para cada informação. Essa ideia, desculpe
Ranganathan, não é verdadeira. A informação é construída a partir de interesses dos
que a produzem, e é disseminada já carregada de significados, de ideologias. Todo o
ciclo de vida da informação, que se desdobra e segue caminhos diferentes, com
significados diferentes, é um complexo de interferências, de dispositivos, de
profissionais e, finalizando, dos que dela se apropriam.
A concepção de recuperação da informação deve ser refletida, discutida. A
forma como ela é entendida aponta para um usuário passivo, que recebe informações
determinadas pela organização e pelo serviço de referência. O usuário recebe, é um
receptor, acompanhando o modelo matemático da informação.
A
ideia
de
construção
individual
do
conhecimento,
embora
sempre
e
necessariamente a partir da relação entre o sujeito e o mundo, entre o sujeito e os
outros, se opõe à concepção que baseia a ideia majoritariamente aceita de
recuperação da informação. Essas duas ideias são antagônicas, sendo uma delas, a da
necessidade do sujeito se relacionar com o mundo e com os outros, a que se sustenta
nas bases teóricas da mediação da informação.
A mediação da informação surge como um segmento da área, tanto da
Biblioteconomia como da Ciência da Informação. No entanto, quando o interesse
sobre ela foi aumentando, quando as pesquisas e estudos sobre esse tema foi
crescendo, o espaço da mediação da informação se espraiou no interior das duas
áreas, de tal forma que, hoje, ela é entendida como um fundamento da Ciência da
Informação.
Outro ponto que deve ser apresentado é que a mediação da informação obriga
um olhar para a informação pública, uma preocupação com a informação social, com
concepções da Ciência da Informação voltadas para aspectos sociais.
A Ciência da Informação, inicialmente, voltou-se preponderantemente, para as
informações científicas e tecnológicas, com o uso de tecnologias. No Brasil, a ideia de
informações científicas e tecnológicas, surgida com a constituição do IBICT, se
sobrepõe ao que existia, o IBBD, voltado para a Bibliografia e Documentação. Os
�próprios termos demonstram os caminhos dos interesses da área. Claro que as
informações científicas e tecnológicas são importantes e devem fazer parte das
preocupações da área. No entanto, o que a história permite entender é que as
informações públicas e sociais foram negligenciadas e relegadas a um plano
secundário. A ditadura militar que grassou no Brasil, de 1964 até 1985, teve seu
período mais duro entre os anos de 1970 a 1974. Exatamente nesse período a opção
pelas informações científicas e tecnológicas surge e ocupa os espaços dentro daquele
governo autoritário. Claro que as informações públicas e sociais não faziam parte das
políticas públicas do, então, governo autoritário. Basta lembrar as concepções
presentes na implantação do MOBRAL, uma das políticas educacionais da época.
Pesquisadores e profissionais atuando nas áreas resistem se utilizando das
pequenas brechas existentes nas rígidas vigilâncias. Textos e eventos criam espaços
para discussões e debates e, em especial, questionamentos sobre a opção que
desconsidera a informação pública nas preocupações da academia.
Os anos 1990 começam com a implantação, pelo governo, do neoliberalismo,
que acarreta na negligência desse governo pela educação e pela cultura. Órgãos
oficiais de escalões maiores na organização burocrática estatal, são extintos e a
representação dos campos de interesse da Biblioteconomia, se torna praticamente
inexistente.
O início do século XXI vê uma retomada, ainda que incipiente, das pesquisas
sobre informação pública e social. Hoje, quando iniciamos a terceira década do século,
vários segmentos mais específicos da concepção da Biblioteconomia social e da
Ciência da Informação social estão abrindo espaços entre os interesses dessas áreas.
A quantidade de “lives”, textos e livros provam isso.
Esse pequeno histórico teve uma motivação neste texto: defender que não só a
Biblioteconomia retomou o questionamento sobre os aspectos sociais da área, mas,
em quase igual medida, a Ciência da Informação também passou a direcionar suas
atenções para a informação pública e social. Acredito que a abrangência da mediação
da informação possibilitou esse novo olhar dentro das áreas.
A abrangência da mediação da informação, ocupando espaços em todos os
fazeres do profissional e em muitos dos segmentos das áreas de Biblioteconomia e
Ciência da Informação demonstra sua importância e como hoje está influenciando e
interferindo, trazendo novos olhares e formas de entender as duas áreas.
Os textos presentes neste livro provam o que disse acima. Basta olhar o
sumário para perceber como as discussões que têm a mediação da informação como
�base teórica e local de partida para análises e discussões, são abrangentes e
permitem a constatação de que ela, mediação, ocupou o espaço de fundamento
dentro de ambas as áreas, Biblioteconomia e Ciência da Informação.
A expectativa é de que a mediação da informação tenha um crescente interesse
no futuro e que contribua, novidade teórica e prática que é, com os avanços das
discussões, debates e reflexões da área.
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior: Doutor e Mestre em
Ciências da Comunicação, pela ECA/USP. Professor
permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da UNESP/Marília. Professor Associado da
Universidade Estadual de Londrina. Professor colaborador
no Mestrado Profissional em Biblioteconomia da UFCA. É
mantenedor do site “Infohome” (www.ofaj.com.br).
E-mail: ofaj@ofaj.com.br
�SUMÁRIO
PARTE I - MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO: UM CAMPO PLURAL E
ABRANGENTE ...................................................................................... 11
CAPÍTULO I - A contribuição de Benoit Hardy-Vallée para os conceitos de
mediação da informação ......................................................................... 12
CAPÍTULO
II
-
Mediação
dialética:
questões
para
a
construção
e
compreensão dos objetos informacionais .................................................. 35
CAPÍTULO III - A Biblioteconomia e as ciências informativo-documentárias: a
mediação documentária como um modo de produção ................................. 50
CAPÍTULO IV - Página Viva: tipografia e mediação pela cultura.................. 74
CAPÍTULO V - A prática da mediação em museus: entre o artefato e a
subjetividade ......................................................................................... 91
CAPÍTULO VI - Fundamentos teórico-pragmáticos para promoção das práticas
e dos serviços informacionais: diálogos com Ranganathan, Shera, Grogan e
Accart ................................................................................................. 110
CAPÍTULO VII - Interlocuções sobre mediação de leitura no contexto prisional
e seus desdobramentos contemporâneos ................................................ 135
PARTE
II
-
MEDIAÇÃO
COMO
PROMOTORA
DOS
SERVIÇOS
DE
INFORMAÇÃO .................................................................................... 147
CAPÍTULO VIII - Ações de informação no Laboratório de Tecnologias
Intelectuais ......................................................................................... 148
CAPÍTULO IX - Mediação e serviços de informação nas bibliotecas à luz da
fenomenologia: reflexões e possibilidades ............................................... 168
�CAPÍTULO X - A mediação da informação por meio de desafios: da aquisição
à apropriação de informações em jogos digitais ....................................... 197
CAPÍTULO XI - Bibliotecas e colecionismo: uma experiência de mediação da
leitura por meio da exposição de marcadores de páginas .......................... 213
CAPÍTULO XII - Revistas científicas e suas contribuições para a mediação da
informação .......................................................................................... 230
PARTE III - MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E SEU POTENCIAL NA
PRÁTICA BIBLIOTECÁRIA ................................................................. 245
CAPÍTULO XIII - A mediação da informação e o “tsunami de informações”: o
resgate do protagonismo bibliotecário..................................................... 246
CAPÍTULO XIV - O papel do bibliotecário na disseminação da leitura: acesso,
incentivo e mediação ............................................................................ 270
CAPÍTULO XV - Entre o leitor e o livro: bibliotecário como mediador
de
leitura................................................................................................. 289
CAPÍTULO XVI - Da biblioteca à comunidade: o bibliotecário como agente
cultural ............................................................................................... 305
CAPÍTULO XVII - Mediação literária e a literatura afro-brasileira nas
bibliotecas públicas .............................................................................. 323
CAPÍTULO XVIII - Serviço de referência e mediação: integrando pessoas,
processos e tecnologias ........................................................................ 341
CAPÍTULO XIX - Bibliotecas universitárias e a educação a distância: uma
intermediação necessária no acesso e uso da informação .......................... 369
PALAVRAS DA ABMG EDITORA .......................................................... 395
INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS – COMISSÃO ORGANIZADORA ........... 397
�PARTE I - MEDIAÇÃO DA
INFORMAÇÃO: UM
CAMPO PLURAL E
ABRANGENTE
�12
CAPÍTULO I - A contribuição de Benoit Hardy-Vallée para os
conceitos de mediação da informação
João Arlindo dos Santos Neto
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior
1 INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta resultados teóricos originados na tese de
doutorado do primeiro autor, que investigou o estado da arte dos conceitos de
mediação da informação a partir da sua constituição e desenvolvimento
histórico. Nesta comunicação, delimitou-se como objetivo geral discutir como a
teoria de Benoit Hardy-Vallée contribui para a compreensão e legitimação dos
conceitos de mediação da informação. O capítulo é de natureza básica, com
tipologia exploratória e abordagem qualitativa, a partir de uma revisão crítica
de literatura. Para isso, realiza-se um diálogo com diferentes autores, com
ênfase na obra de B. Hardy-Valleé.
Assim como muitos conceitos trabalhados na Ciência da Informação (CI)
são originários e constituídos a partir de diferentes movimentos disciplinares,
sejam eles multi, pluri, inter ou transdisciplinares, identifica-se que os
conceitos de mediação da informação no Brasil também foram constituídos de
algumas dessas maneiras. Comumente, vêem-se investigações teóricas que
buscam compreender como determinado autor pode contribuir para o
entendimento
e
compreensão
dos
conceitos
e
disciplinas
da
ciência.
Reconhece-se o esforço de tais pesquisadores e a relevância desses estudos
para confirmar os aspectos teóricos e conceituais da ciência.
No âmbito da CI, ao buscar por tais pesquisas, pode-se identificar as
seguintes: Teoria crítica da informação no Brasil: a contribuição de Armand
Mattelart (ARAÚJO, 2009); A contribuição de F. W. Lancaster para a Ciência da
Informação no Brasil (ARAÚJO et al., 2009); A contribuição de B. Dervin para a
Ciência da Informação no Brasil (ARAÚJO; PEREIRA; FERNANDES, 2009);
�13
Charles Ammi Cutter: sua contribuição para organização da informação
(MARTINHO; GUEDES, 2009); A contribuição de C. Kuhlthau para a Ciência da
Informação no Brasil (ARAÚJO; BRAGA; VIEIRA, 2010); A contribuição de J. H.
Shera para a Ciência da Informação no Brasil (ARAÚJO et al., 2010); A
contribuição de Tefko Saracevic para a Ciência da Informação no Brasil
(PINHEIRO; SILVA; ARAÚJO, 2012); A contribuição de Robert Merton e
Thomas Kuhn para a visão auto-organizada da colaboração científica: um
estudo metateórico (HILÁRIO; GRÁCIO, 2018); A contribuição de Maria Odila
Fonseca a Arquivologia: teoria, métodos e práticas entre os arquivos, a
docência e a pesquisa (SANTOS, 2018); Bibliografia de bibliografias: a
contribuição de Edson Nery da Fonseca (VERRI, 2019).
Esses
trabalhos
pesquisadores
a
analisam
partir
de
a
contribuição
distintos
teórica
elementos:
de determinados
ocorrência
de
citação,
contribuição direta ou indireta para o campo e contribuição por associação
teórico-conceitual. É o caso deste texto, que associa as dimensões da teoria e
história dos conceitos de B. Hardy-Vallée à constituição dos conceitos de
mediação da informação. Sendo assim, o presente capítulo é composto por
esta introdução e se sucede pelas seguintes seções: mediação da informação e
seus conceitos; história e teoria dos conceitos; e, considerações finais.
2 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E SEUS CONCEITOS
O conceito de mediação é e pode ser empregado e, portanto,
compreendido por distintos campos do conhecimento. Conforme Davallon
(2007) pontua, a mediação é um conceito “plástico” que se estende pelas
fronteiras e demarcações disciplinares existentes.
Para Marteleto e Andalécio (2006, p. 4), a mediação é “[...] uma
construção teórica destinada a refletir sobre as práticas e os dispositivos que
compõem os arranjos de sentidos e formas comunicacionais e informacionais
nas sociedades atuais, sem perder de vista os elos que, tanto os conteúdos
quanto os suportes e os acervos, mantêm com a tradição cultural”.
�14
Nunes e Cavalcante (2017, p. 15) defendem que “A ideia de uma
epistéme mediacional, assim como a construção de um discurso que situe as
bases teórico conceituais da CI no terreno das Ciências Sociais permite com
que se incorpore a noção de sentido ao conceito de informação [...]”.
Corrobora-se o exposto, tendo em vista que a compreensão em torno do
conceito de informação foi se moldando ao longo do tempo na CI, não de
forma
hegemônica,
mas
por
uma
significativa
parcelada
área.
Esta
compreende a informação sob uma perspectiva holística e plural, dependente
dos sentidos atribuídos a ela e por quem se relaciona e interage com ela.
A partir desse olhar, os estudos voltados para a mediação ampliam seu
foco, isto é, considera-se a informação – até então compreendida como objeto
da CI – mas também o sujeito, reconhecendo sua individualidade e seu papel
imprescindível nos processos de apropriação da informação ou de bens da
cultura (ALMEIDA JÚNIOR, 2015; ARAÚJO, 2014; NUNES; CAVALCANTE,
2017).
Sendo
assim,
interessar-se-ia
aos
investigadores
da
mediação
compreender não como a informação se desloca e/ou chega até o usuário –
mas as implicações e decorrências desse processo contínuo e complexo.
Ao contrário do que alguns textos afirmam, não foi em 2008 ou 2009,
mas em2006, nos anais do EDIBCIC (atual EDICIC) realizado em Marília/São
Paulo, que a definição do conceito de mediação da informação proposta por
Almeida Júnior foi publicada pela primeira vez (SANTOS NETO, 2019). No
entanto, pelo modo como os anais do referido evento foi publicado na época
(CD-R), o trabalho não obteve a mesma visibilidade e alcance daquele
apresentado em 2008 no ENANCIB e em 2009 na Revista Tendências da
Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação (TPBCI) e aparece como o mais
citado entre os trabalhos sobre mediação da informação. Em relação ao
referido conceito, Martins (2010, p. 154) ressalta que:
Do ponto de vista da formulação teórica, este é o único autor, no
âmbito de nosso corpus, que tem tentado conceituar a expressão
“mediação da informação”, concebida por inúmeros pesquisadores do
campo
como
intuitivamente
assimilada,
subentendida
ou
consensualmente sedimentada. Assim, na formulação de seu
conceito, o autor empreende um esforço para tratar teoricamente uma
noção cujo uso se difunde pelo campo.
�15
Posteriormente, durante palestra realizada no I Encontro de Pesquisa em
Informação e Mediação (EPIM), em Londrina/PR, Almeida Júnior apresentou na
palestra de abertura a reformulação do conceito elaborado em 2006. O novo
conceito, por sua vez, foi publicado formalmente em 2015 e apresenta a
seguinte concepção de mediação da informação:
[...] é toda ação de interferência – realizada em um processo, por um
profissional da informação e na ambiência de equipamentos
informacionais –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente;
singular ou plural, individual ou coletiva; visando a apropriação de
informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea,
uma
necessidade
informacional,
gerando
conflitos
e
novas
necessidades informacionais (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).
O referido conceito já foi amplamente discutido em outros textos e,
também, por outros pesquisadores. Santos e Gomes (2015) consideram que
após o “[...] estabelecimento do conceito de mediação da informação por
Almeida Júnior, somaram-se outros estudos que procuraram expandir o olhar
acerca da ação mediadora da informação”. De acordo com Nunes e Cavalcante
(2017):
[...] no caso da mediação da informação, ressalta-se a sua importância
enquanto
ferramenta
teórica-conceitual
no
deslindamento
da
complexa relação entre profissional, indivíduos e acesso às fontes e
recursos informacionais, entendendo a sua prática como uma ação de
interferência, logo, distante de qualquer pretensa tentativa de
imparcialidade por parte de quem medeia ou se coloca entre algo
envolvendo dois ou mais entes.
Os autores corroboram o conceito de Almeida Júnior e ressaltam que a
mediação da informação deve ser reconhecida como elemento fundamental
para se compreender as complexas interlocuções entre mediador, sujeito e
recursos informacionais.
3 HISTÓRIA E TEORIA DOS CONCEITOS
A História dos Conceitos se desenvolveu no séc. XX na Alemanha, de
modo multidisciplinar, sobretudo a partir da interlocução com as seguintes
disciplinas: Filologia, História da filosofia e Hermenêutica. Tal perspectiva
historiográfica foi criada pelo historiador alemão Reinhart Koselleck (1923-
�16
2006) fundador e o principal teórico da história dos conceitos. Considerada
também como disciplina da História que busca a análise histórica dos
conceitos, integra a agenda de pesquisa de diferentes universidades pelo
mundo.
Para que uma palavra/termo torne-se conceito, ela necessita ser
representativa e significativa em um determinado contexto. Koselleck (2006)
enfatiza que há uma polissemia dos conceitos, isto é, dependente dos atores,
contextos, emprego, uso, mudança social.
Figura 1 – História dos Conceitos
Fontes: Os autores (2020).
A figura sobreposta foi elaborada com o intuito de representar a interrelação entre as duas dimensões da história dos conceitos. Enquanto a
primeira dimensão é caracterizada por se debruçar sobre o exercício
especulativo acerca de aspectos ônticos1 relacionados ao conceito, a segunda
se atém ao estudo histórico e científico do conceito. Essas dimensões
convergem para um prisma historiográfico, considerando a ressignificação dos
conceitos (diacronia) comparado ao seu uso semântico (sincronia) num dado
contexto.
Investigar a teoria e a historicidade dos conceitos é um movimento
essencial de tempos em tempos, visto que eles são (re)criados e desenvolvidos
em um período histórico e contexto determinados, e com o tempo, podem ser
complementados, questionados e, até mesmo, refutados. Proto (2011, p. 75)
descreve que os conceitos são “[...] categorias heurísticas e ‘encarnadas’ em
1
“Relativo ao ser, ao seu estudo, sua natureza e suas características” (ÔNTICO, 2020).
�17
dadas situações históricas, nas quais foram formulados e transformados em
apreensões conceituais”.
Ao estudar a história dos conceitos, descobre-se como ocorreu o
desenvolvimento disciplinar de uma ciência, quais foram os precursores e
pesquisadores-chave, quais foram os avanços e retrocessos que o emprego de
um conceito proporcionou em determinado período histórico, teoria, escola
científica etc. (RABELLO, 2008).
Koselleck (2006) e Barros (2016) ressaltam que estudar a história dos
conceitos não pode ser um ato dissociado da história social. O entendimento
de um conceito não se restringe a compreensão de seu significado, durante
sua análise deve-se ultrapassar a barreira linguística e semântica, pois atrás
dele há muito mais a ser analisado.
Por apresentar elevada contribuição para as áreas do conhecimento, os
conceitos são indispensáveis, visto que são eles que a sustentam. As
disciplinas do campo científico se
fundamentam em bases conceituais
consolidadas e reconhecidas que afirmam a sua relevância como campo do
saber. Desse modo, “[...] os campos do conhecimento que aceitam discutir o
seu estatuto – por exemplo: a possibilidade ou não de sua cientificidade –
também demandam conceitos” (BARROS, 2016, p. 9).
No prefácio da obra Que é um conceito, Ferreira (2013, p. 12) pontua
que “Criar um conceito não consiste em se fechar numa ideia, mas em
multiplicar as ocasiões de eventos, em aumentar o possível. O conceito,
qualquer que seja sua definição ou o discurso que o construiu, não é uma
simples descrição, nem uma simples representação abstrata que alimenta
ideias gerais e/ou generalistas”. Os conceitos não surgem do nada, mas a
partir da criação de pressupostos, que categorizam o conceito como “ideia
filosófica” (MOSTAFA, 2011). Além disso, sua constituição se dá ao longo da
história envolvendo diversos pesquisadores de um determinado campo de
estudos (BARROS, 2016). Elaborar e propor conceitos não consiste em mera
apresentação de
[...] argumentos e discursos deterministas, mas construir perspectivas
conceituais e representacionais nos processos temporais/reais em
diálogo com diversas ideias, estudos e estudiosos, postulando novas
formas de vera realidade objetiva (CARVALHO, 2016, p. 15).
�18
Os fenômenos que se dão na esfera social, política, cultural ou
educacional,
por
exemplo,
decorrentes
da
sociedade,
podem
levar
os
pesquisadores à construção de conceitos. Le Coadic (2004, p. 55) compreende
que são os “[...] conceitos unívocos que tornam os conhecimentos científicos e
técnicos
em
conhecimentos
objetivos
ou
tendentes
à
objetividade.
Caracterizam-se por não terem ou tenderem um único sentido para abarcar
um conjunto definido de fenômenos”. Os conceitos são sugeridos e ao mesmo
tempo aceitos/adotados pelo sujeito (sempre o pensando no contexto social,
nunca isolado). Rabello (2010) discorre que:
Quando um conceito é construído, sobretudo no âmbito das ciências
sociais, em formulações teóricas convergentes, ele tende a não
modificar a essência de seu conteúdo. A repetição é necessária para que
o conceito seja compreendido e mais bem assimilado num jogo teórico
persuasivo entre os pares acadêmicos. Nesse caso, a repetição e a
relativa linearidade dos conteúdos conceituais adquirem dimensão
política.
Outra importante contribuição para o campo da teoria dos conceitos,
advém de Ingetraut Dahlberg (1927-2017), cientista da informação e filósofa
alemã. Dahlberg é reconhecida internacionalmente na Ciência da Informação,
dentre
outros
fazeres, por sua
trajetória
com
o
campo
conceitual
e
terminológico no âmbito das Ciências Sociais, sobretudo, para a área de
classificação e organização do conhecimento. Seu clássico texto intitulado
“Teoria do Conceito”, publicado em 1978, determina que os conceitos podem
ser classificados como individuais e gerais. “Com a ajuda das linguagens
naturais é possível formular enunciados a respeito tanto dos conceitos
individuais como dos conceitos gerais. É em base a tais enunciados que
elaboramos os conceitos relativos aos diversos objetos” (DAHLBERG, 1978, p.
102).
Santos e Simeão (2016, p. 4) afirmam que a teoria do conceito
possibilita “[...] minimizar os obstáculos referentes ao significado da mediação
da informação [...]”, e que “[...] o estabelecimento de uma série de
enunciados verdadeiros contribui para alcançar o entendimento do conceito”.
Para esta comunicação, no entanto, a ênfase será a partir da teoria de B.
�19
HardyVallée, visto que apresenta de maneira objetiva e, não por isso menos
complexa, as possibilidades de interpretação em relação às teorias do conceito.
3.1 TEORIA DOS CONCEITOS A PARTIR DA VISÃO DE B. HARDY-VALLÉE E A
MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO
B. Hardy-Vallée é graduado e mestre em Filosofia pela Universidade de
Québec e doutor em Filosofia pela Écoles dês Hautes Études em Sciences
Sociales de Paris. Em sua obra Que é um conceito, Hardy-Vallée discute - sob
a ótica de diversos pensadores renomados no campo da Filosofia -, “que é?”,
“como funciona”, “para que serve” e “como se constrói” um conceito
(FERREIRA, 2013).
Hardy-Vallé (2013) estabelece cinco dimensões para discorrer sobre as
teorias do conceito: o invariante; o critério; a aquisição e o formato; a
organização; e, a função. A seguir, se discute cada uma delas.
a) o invariante
A primeira dimensão refere-se a algumas propriedades invariáveis, isto
é, quando o conceito indica certas propriedades que não variam entre o
conceito de alguma coisa, isto é, quando todas as particularidades de uma
categoria de um conceito apresentam qualidades em comum. “O conceito é um
universal que representa particularidades [...]” (HARDY-VALLÉE, 2013, p. 19).
O conceito de mediação, por exemplo, apresenta qualidades intrínsecas
às suas distintas extensões2, isto é, todas elas carregam consigo fatores
invariantes como o diálogo, a subjetividade, o contexto, o conflito; estes,
sempre estarão presentes.
Ainda nesta dimensão, encontram-se dois sentidos: uniformidade e
estabilidade (HARDY-VALLÉE, 2013). Nesse sentido, pode-se dizer que o
conceito mediaçãopossibilita a identificação do que não varia de uma
mediação para outra (ação realizada por mediadores, processo caracterizado
pela presença de um terceiro, função pragmática, por exemplo). Compreender
2
Sobre as extensões do conceito de mediação, ver Santos Neto (2019).
�20
a invariância do conceito de mediação, pela ótica da estabilidade, significa
identificar as propriedades persistentes, duradouras.
O invariante do conceito é discutido ainda, por Hardy-Vallée (2013), a
partir de três concepções: psicológica, metafísica e linguística. Segundo a
primeira, psicológica, o invariante se situa no intelecto, a partir da percepção
(conhecimento pelos sentidos) e da concepção (conhecimento pelo raciocínio)
do indivíduo. Quanto ao conceito de mediação, salienta-se que ele não pode
ser “percebido”, pois não se refere a um “conceito empírico”, conforme Kant
postula, visto que nele não há “conteúdo empírico”: forma, som, textura. De
acordo com a segunda, metafísica, mais realista, o invariante “[...] não é um
signo, mas uma natureza que existe de maneira autônoma” (HARDY-VALLÉE,
2013, p. 42). Essa concepção diz respeito a uma natureza não mental, a uma
permanência contida no conceito. Ao aproximar essa concepção para o
conceito de mediação, poder-se-ia dizer que ela se refere ao que não varia de
uma mediação para outra, ou seja, às essências e pensamentos autônomos
que têm sua própria existência.
Por
fim,
a
concepção
linguística
compreende
a
expressão
dos
pensamentos e ideias por meio da linguagem, dos signos linguísticos, das
palavras. Logo, há que se ter um cuidado no uso das palavras para se referir a
um conceito, seguir o que Wittgenstein chama de “jogo de linguagem”
(HARDY-VALLÉE, 2013). Nesta perspectiva, subentende-se que analisar o
conceito de mediação não consiste em listar as propriedades que ele possui,
mas as que ele deve possuir. Esse jogo, o qual Wittgenstein se reporta, pode
ser deflagrado, por exemplo, quando os especialistas do campo da mediação
descrevem as diretrizes para o uso da palavra “mediação” distinguindo as
inferências verdadeiras das falsas, que se pode fazer a partir do conhecimento
de mediação que se obtém a partir dos estudos. Um exemplo é quando o
termo “uso” começa a ser menos utilizado e o termo “apropriação” passa a ser
empregado nas publicações.
b) o critério
A segunda refere-se a uma regra que possibilita incluir a “coisa” na
categoria de conceito. Essa dimensão, critério, pode ser analisada a partir de
�21
duas perspectivas: condições necessárias e semelhança (HARDY-VALLÉE,
2013). A primeira, diz respeito às condições necessárias e suficientes para uma
“coisa” ser. “Uma condição A é necessária para uma condição B, se a ausência
de A implica a ausência de B” (HARDY-VALLÉE, 2013, p. 62, grifo do autor).
Logo, quando se pensa na mediação, identifica-se como critério a sua
composição tripla, visto que é uma condição para que a mediação ocorra. Na
mediação, medeia-se algo para alguém, logo, requer a presença de três
elementos. O mediador, humano ou não, se coloca ou é colocado entre as duas
partes, exemplo: usuário e informação. Assim, ser composta por três
elementos é uma condição necessária para que seja de fato mediação: se a
situação não é composta por três elementos, não pode ser mediação.
A segunda compreende a associação de uma “coisa” em determinada
categoria
(conceito)
pela
semelhança,
analogia,
não
pelas
condições
necessárias. Hardy-Vallée (2013, p. 72) evidencia que, a semelhança deve ser
interpretada em sentido amplo: “A se assemelha a B somente se houver pelo
menos uma propriedade que A e B têm em comum e pelo menos uma que não
têm em comum. Podemos categorizar segundo uma semelhança perceptual ou
mais abstrata”. Quando se vê duas pessoas, bibliotecário e usuário, por
exemplo, conversando no balcão do serviço de referência, mesmo sem saber
exatamente do que se trata, presume-se de que está havendo uma mediação.
Isso ocorre não porque as condições necessárias à mediação foram aplicadas,
mas porque a imagem de duas pessoas conversando no setor de referência se
assemelha a ideia, que se conhece, de mediação em bibliotecas.
c) a aquisição e o formato
A terceira dimensão inclui a aquisição e o formato. De acordo com
Hardy-Vallée (2013, p. 78), duas questões são necessárias para esta
dimensão:
(1) A aquisição: esse conhecimento, eu nasci com ele? Eu o aprendi? Em
caso afirmativo, como?
(2) O formato: o conceito representa as coisas por semelhança? Senão,
são ideias ou definições que significam?
Esta dimensão se refere a uma representação abstrata do conceito, ou
seja, quando não se consegue ter uma imagem mental concreta dele. Hardy-
�22
Vallée (2013) enfatiza que um conceito deva ser minimamente abstrato. O
entendimento de abstrato pode ser feito tanto a partir da concepção de
abstração (quando se abstrai uma ideia geral) quanto pela “palavra” em si,
que se remete à generalidade e ao caráter não perceptual da ideia. Para essa
reflexão, abstração x generalização, o referido autor apresenta quatro posições
teóricas distintas sobre a aquisição e o formato: empirista, racionalista,
pluralista e analítico-linguística. Segundo Hardy-Vallée (2013, p. 79):
Cada concepção postula um formato e um tipo particulares de aquisição
de conhecimentos, fazendo de uma faculdade ou do casamento de duas
faculdades a sede do conhecimento: a percepção para o empirismo, a
concepção para o racionalismo, as duas primeiras para o pluralismo, e a
linguagem para a posição analítico-linguística.
O conceito de “mediação da informação” é composto por outros dois
conceitos: mediação e informação. Logo, sob a ótica empirista, é necessário
ter tido uma experiência com mediação e com informação (assim como ter a
capacidade de combiná-los), para se ter o que é denominado pelos filósofos de
“conceito compósito”. Na visão racionalista, por sua vez, se defende a posição
de que os conceitos não são adquiridos, mas construídos a partir de uma ação
intelectual, do trabalho reflexivo do pensamento. O pluralismo, por sua vez,
consiste na combinação das duas faculdades: perceptiva e intelectiva. Por fim,
incide a posição analítico-linguística, a qual considera que todo conceito é uma
entidade linguística e que se aprende um conceito aprendendo uma língua
(HARDY-VALLÉE, 2013).
d) a organização
A quarta dimensão refere-se à possibilidade de categorizar as “coisas” e,
logo, agrupar tais categorias em outras maiores. Para Hardy-Vallée (2013, p.
91), “[...] os conceitos são organizados sistematicamente em relações de
conjunto (A é uma espécie de B). Desse modo, pode-se categorizar um
conceito em dois eixos: vertical (referente ao grau de generalidade) e
horizontal (referente à segmentação de um nível).
No eixo vertical, Hardy-Vallée (2013) apresenta o seguinte exemplo:
�23
Figura 2 – Relações sistemáticas entre os conceitos
Fonte: Hardy-Vallée (2013, p. 93).
A partir desta representação, pode-se analisar o que os lógicos chamam
de “lei da proporcionalidade inversa”, isto é, a extensão dos conceitos mais
específicos se insere na dos mais gerais, mas o inverso não se dá igualmente;
assim como, a intensão dos conceitos mais gerais está incluída na dos mais
específicos, mas o inverso não ocorre (HARDY-VALLÉE, 2013). Desse modo,
compreende-se que todos os cães são animais, mas não que todos os animais
são cães, e que todas as propriedades dos animais estão presentes nas
propriedades dos cães, mas não que todas as propriedades dos cães sejam
também propriedades dos mamíferos.
Em analogia a essa Lei, localizou-se na literatura a discussão de Barros
(2016),
em
que
o
autor
delimita
duas
dimensões:
“extensão”
e
“compreensão”. Segundo o autor, as duas dimensões são inversamente
proporcionais, ou seja, quanto maior a extensão de um conceito menor a sua
compreensão e, de maneira inversa, à medida que se enriquece “[...] a
compreensão de um conceito – fornecendo elementos que melhor o delimitam
– a extensão diminui, pois o conceito deixa de se aplicar a muitos casos e
passa a corresponder a um menor número de casos ou objetos [...]” (BARROS,
2016, p. 72). Para o autor, uma espécie de equilíbrio entre compreensão e
extensão é uma condição essencial para uma formulação conceitual adequada.
Ao aplicar a referida lei ao conceito discutido neste capítulo, mediação,
tem-se no eixo vertical, da generalidade,a seguinte representação:
�24
Figura 3 – Relações sistemáticas entre os conceitos de mediação
Fonte: Os autores (2020).
A representação indicada na figura 3 foi elaborada com o intuito de
demonstrar como se dão as relações sistemáticas entre os conceitos de
mediação, com foco na mediação da informação. Sendo assim, entende-se que
toda mediação explícita ou implícita da informação é mediação, mas não que
todas as propriedades da mediação explícita ou implícita estão presentes nas
propriedades da mediação (conceito geral), pois nele, residem ainda diversas
extensões: mediação da cultura, mediação da leitura, mediação pedagógica,
dentre outras. Tal diferenciação é fundamental para compreensão do conceito
de mediação na medida em que se evite uma naturalização do conceito ou seu
uso indevido, muitas vezes presente no senso comum e no cotidiano de
profissionais, pesquisadores e estudantes da CI.
No eixo horizontal, Hardy-Vallée (2013) indica a ocorrência de vários
conceitos de um mesmo nível inferiores a um único nível. Utilizam-se aqui as
mesmas extensões indicadas anteriormente: mediação da cultura, mediação
da leitura, mediação pedagógica. Cada um desses conceitos faz parte da
extensão mediação, e mediação faz parte da intensão de cada um deles.
Ainda que sejam conceitos de um mesmo nível, não são idênticos e, portanto,
não
podem
ser
considerados
como
sinônimos
ou
ser
associados
superficialmente. Assim, reafirma-se que o conceito mediação é analisado e
dividido em diversos conceitos e extensões. Hardy-Vallée (2013) enfatiza que
a necessidade
de organizar conceitos e o
conhecimento em relações
sistemáticas (grupos, categorias conjuntos etc.) é natural entre os humanos.
�25
e) a função
A quinta dimensão trata da função do conceito, que pode ser definida sob
a ótica da metafísica ou da epistemologia (HARDY-VALLÉ, 2013), a partir de
múltiplas funções.Na visão da metafísica, procura-se estabelecer “[...] a
verdadeira natureza da ‘coisa’, independentemente de nossa maneira de
conhecê-la” (HARDY-VALLÉE, 2013, p. 101), ou seja, quando o conceito
procura descrever exatamente uma parte do universo. Para este caso, o autor
toma como exemplo as taxonomias, que visam a categorização das coisas de
maneira adequada e sua análise semântica.
Do ponto de vista da epistemologia dos conceitos, interesse maior dos
autores deste capítulo, a verdadeira natureza de uma “coisa” é determinada a
partir de conhecimentos de um agente e que, para tal, “[...] estuda-se a
representação de um conceito num indivíduo ou numa classe de indivíduos
(sociedade, cultura, grupo etc.)” (HARDY-VALLÉE, 2013, p. 101). Sendo assim,
ainda de acordo com o referido autor, analisar um conceito sob a ótica da
epistemologia não significa definir normas, mas discorrer sobre o uso (correto
ou não) de um conceito num determinado contexto, isto é, sua função num
prisma psicológico. Para tal, Hardy-Vallée (2013) divide as funções em três
tipos: gnosiológicas, inferenciais e linguísticas. O primeiro, referente à teoria
do conhecimento, descreve que os conceitos permitem conhecer o mundo e
realizar inferências, seja para sustentar ou rejeitar afirmações (a priori ou a
posteriori). O segundo compreende a função inferencial, que pode se dar pela
dedução, abdução e indução3. O terceiro, linguístico, Hardy-Vallée (2013, p.
104) afirma que “Os conceitos viajam pelos livros e pelas palavras e têm
funções linguísticas: a comunicação e a significação”. Logo, a comunicação
seria prejudicada ou, até mesmo, impedida sem “[...] as relações semânticas
que os conceitos nos fornecem” (HARDY-VALLÉE, 2013, p. 104).
Com o intuito de estabelecer resumidamente as diferenças entre
metafísica e epistemologia, quanto à teoria dos conceitos apresenta-se o
seguinte quadro.
3
Dedução: parte-se do universal para o particular. Abdução: a partir de um caso otoma-se
como regra. Indução: parte-se do particular para o universal.
�26
Quadro 1 – Metafísica e epistemologia dos conceitos
FUNÇÃO METAFÍSICA
FUNÇÃO EPISTEMOLÓGICA
Determina
a
maneira
como
agentes
Determina a natureza da coisa
cognitivos,
individual
ou
coletivamente,
conhecem a coisa
Especifica a intensão e a extensão reais Especifica a intensão e a extensão a partir dos
(ótimas)
agentes
Descrição: o que deve ser o caso, segundo
Norma: o que deve ser o caso realmente para
um agente ou uma coletividade, para que
que uma coisa caia sob um conceito
uma coisa caia sob um conceito
Determina
o
conteúdo
psicológico
os
Determina o conteúdo semântico inferências
processos cognitivos em ação no uso do
autorizadas por um conceito
conceito
Fonte: Hardy-Vallée (2013, p. 106).
Verifica-se similaridades entre a teoria de Hardy-Valléé (2013) e Barros
(2016), sobretudo, quanto à função dos conceitos. Em relação a função dos
conceitos, Barros (2016) propõe seis: comunicar, organizar, generalizar,
comparar, problematizar e aprofundar, conforme a figura a seguir:
Figura 4 – Seis funções dos conceitos
Fonte: Barros (2016, p. 36).
A função de comunicar
efetiva-se
quando um sujeito ou grupo
comunicam entre si a partir de uma linguagem comum sobre um determinado
tema de interesse. Essa função de comunicar está relacionada ao que
Wittgenstein e Hardy-Vallée denominaram como “jogo de linguagem”, ou seja,
quando os especialistas do campo da mediação descrevem as diretrizes para o
uso do conceito para aceitação de uma comunidade. A organização por sua
vez, refere-se à capacidade de tornar inteligível uma dada realidade. HardyVallée (2013) compreende a função “organização” como a categorização do
�27
conceito, relacionada à sua extensão e intensão. Quanto à generalização,
ocorre quando se percebem características comuns e divergentes e, a partir
justamente delas, é possível atingir a função de comparação. Segundo HardyVallée (2013), essa função poderia ser compreendida também a partir da
aquisição e formato do conceito, conforme já discutido. Por fim, as funções de
problematização e aprofundamento caminham juntas, pois na primeira
descobre-se os caminhos que são formados pelos conceitos, os pontos de
junção e possibilidades de fruição a novos caminhos, novas direções; ao passo
que o segundo, consiste em ir além dos níveis ingênuos do senso comum e ser
mais sutil (BARROS, 2016).
Por fim, Barros (2016, p. 40, grifo do autor) destaca que “Não é função
de o conceito resgatar ou capturar a realidade (os conceitos não são a
realidade). Os conceitos favorecem, sim, a construção de certas ‘imagens da
realidade’: imagens organizadas, problematizadas e de profundidade”.
A mediação em seu conceito genérico pode apresentar funções distintas
assim como a extensão mediação da informação, que pode apresentar como
umas de suas funções: apropriação, autonomia, aprendizado, dentre outras.
Salienta-se que a proposta do conceito de mediação da informação
estruturado e formalizado por Almeida Júnior (2006, 2015) é vinculada e
situada à ambiência dos equipamentos informacionais e a atuação dos
profissionais da informação. Logo, identifica-se no conceito a sua compreensão
e extensão, conforme elucida Barros (2016) quanto a abrangência dos
conceitos. No entanto, o referido autor salienta que
[...] dois autores podem chegar a uma “compreensão” mais ou menos
próxima e, no entanto, diferirem significativamente na sua concepção
concernente à “extensão” do conceito, uma vez que discordem em
relação a quais casos observáveis se enquadrariam no conceito
proposto (BARROS, 2016, p. 124).
A referida citação fundamenta e clarifica o entendimento sobre o conceito
de mediação sob o ponto de vista de sua compreensão e extensão, ou seja, ao
tempo que se pode compreender a mediação como ação de interferência
(ALMEIDA JÚNIOR, 2015) realizada por um terceiro; num processo dialógico,
formativo, ético, estético e político (GOMES, 2014, 2017); que visa a
�28
apropriação e a transformação de uma dada realidade; a sua plasticidade
(DAVALLON, 2007) faz com que a extensão do conceito seja diversa e
impulsiona os conceitos de mediação da informação, mediação da cultura,
mediação da leitura, mediação pedagógica, entre outros. É necessário
reconhecer na polissemia dos conceitos, assim como Barros (2016) discute,
não
como
uma
fragilidade
ou
incapacidade
conceitual,
mas
como
potencialidade para múltiplos olhares e interpretações.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando um profissional da informação, por exemplo, bibliotecário,
arquivista, ou mesmo outro profissional que lida com a informação, jornalista,
programador, designer, utiliza o conceito de “mediação”, frente às diversas
possibilidades de sentido, faz-se necessário de alguma forma esclarecer o
sentido mais objetivo em que o conceito está sendo empregado. Seria
possível, por exemplo, empregar um ou outro conceito de “mediação da
informação” em qualquer contexto? Em muitos casos o termo é tomado como
senso comum entre o discurso dos profissionais da Biblioteconomia e CI e,
mais recentemente, em outras disciplinas também.Todavia, ao conceituar
“mediação” como “ação realizada por mediadores”, dá-se a este conceito uma
extensão muito grande (e possivelmente “inútil”), a qual passa a abarcar
diversas ações de mediadores, humanos e não humanos. Por outro lado,
reduz-se
a
compreensão
do
conceito
a
poucos
elementos
(processo,
interferência).
O conceito de mediação é fundacional, por exemplo, para um dos
paradigmas emergentes da CI, como o da apropriação cultural, discutido por
Perrotti e Pieruccini (2014). Para este campo de discussão, o que caracteriza
tal relevância do conceito é o fato de que a mediação coloca o sujeito no
centro do processo e lhe interessa mais os desdobramentos da pós-relação
entre ele e a informação, que minimamente compreender como a informação
chegou até ele. Não seria possível, portanto, reconhecer e analisar a
�29
complexidade dos processos e práticas informacionais sem interpretar as
implicações decorrentes da mediação, ou especificamente, da mediação da
informação.
O conceito de mediação é universal, no sentido de que permite saber que
a mediação é uma ação de interposição e/ou interferência que visa a resolução
de conflitos, a ligação entre dois elementos, o estabelecimento de uma relação
satisfatória entre eles. O conceito de mediação pode ser visto a partir de suas
funções, com argumentos bem definidos, por exemplo, quando possibilita a
autonomia,
aprendizado
e
apropriação
dos
sujeitos,
construção
e(re)conhecimento de sua identidade cultural, social, política. O conceito, ou
melhor, a extensão dele mediação da informação é composta por dois
conceitos mais primitivos e ainda mais amplos e genéricos: mediação e
informação. Por isto sua conceituação é complexa e necessária.
Considera-se ainda, por exemplo, que é ausente de propósito e
redundante a definição de que “a mediação é uma ação realizada por
mediadores” ou de que “a mediação é um processo caracterizado pela
presença de um terceiro” (essa relação triádica pode ter entes diferentes),
definições como essas não fazem avançar o conhecimento científico. E é com o
intuito de justamente avançar as discussões sobre as teorias do conceito de
mediação que este capítulo foi elaborado, suscitando novos debates e não os
findando.
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�34
DADOS BIOGRÁFICOS
João Arlindo dos Santos Neto: Bacharel em Biblioteconomia
pela UEL. Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela
UNESP/Marília. Professor do Departamento de Ciência da
Informação da UEL. Atua com os seguintes temas da pesquisa:
mediação da informação; mediação implícita da informação;
interferência do profissional da informação; ética na mediação
da informação.Responsável pela Coluna intitulada “Sala de
aula: dia a dia na universidade” publicada no INFOhome.
E-mail: santosneto@uel.br
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior: Bacharel em
Biblioteconomia e Documentação pela FESPSP. Doutor e
Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Professor
Associado da UEL, Professor Titular do Programa de PósGraduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília e
Professor
Colaborador
do
Mestrado
Profissional
em
Biblioteconomia da UFCA. Tem experiência na área de Ciência
da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas:
informação e sociedade, mediação da informação, serviço de
referência e informação, bibliotecas públicas e biblioteconomia.
Presidente da ANCIB 2019-2021. Mantenedor do site
INFOhome.
E-mail: ofaj@ofaj.com.br
�35
CAPÍTULO II - Mediação dialética: questões para a
construção e compreensão dos objetos informacionais4
Ana Amélia Lage Martins
1 INTRODUÇÃO
O
termo
mediação
(e
suas
variantes
mediador,
mediações)
é,
inegavelmente, um dos operadores conceituais mais frequentes nos discursos
produzidos por pesquisadores e pesquisadoras do campo da Ciência da
Informação brasileiro na contemporaneidade.
Sua
consolidação
torna-se
evidente
não
apenas
na
literatura
especializada da área, mas na nomeação de disciplinas, programas de PósGraduação, eventos científicos, cursos, grupos e linhas de pesquisa5, assim
como de diversas ações da prática profissional do bibliotecário, tais como a
“mediação da leitura”, “mediação da informação” e “mediação cultural” etc.
A emergência da mediação como categoria analítica a partir da década
de 1980 no campo da Comunicação e Informação tem como contexto histórico
geral: a) a reorganização capitalista a partir das crises de acumulação das
décadas de 1960/70 e a posterior instauração do modelo de “Sociedades da
Informação”
4
que,
curiosamente,
traziam
como
promessa
o
“fim
das
As principais questões apresentadas neste texto são frutos da pesquisa “Mediação
informacional: perspectivas sócio-históricas” realizada pela autora no âmbito do estágio pósdoutoral feito junto ao Programa de Pós-Graduação do IBICT/UFRJ sob a supervisão da
professora Dra. Regina Marteleto entre 2018 e 2019.
5
Como exemplos podemos citar: o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
(PPGCI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que tem como área de concentração
“Informação, Mediação e Cultura”, o “Encontro de Pesquisa em Informação e Mediação”, os
grupos de pesquisa “Fluxos e Mediações Sócio-Técnicas da Informação”, da Universidade
Federal Fluminense, “Mediações e representações culturais e políticas”, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, “Competência e mediação em ambientes de informação”, da
Universidade Federal do Ceará, o Grupo de Trabalho- GT 3 da Associação Nacional de Pesquisa
e Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia (ANCIB), “Mediação, circulação
e apropriação da informação”, além de variadas disciplinas nos currículos de Biblioteconomia,
Museologia e Arquivologia denominadas “mediação da informação”, “mediação cultural” e
“mediação da leitura”.
�36
mediações”; b) a emergência de “novos movimentos sociais”, que colocavam
em questão temas que não se explicavam somente em termos de classe, mas
que se ligavam especialmente aos aspectos das identidades; c) os processos
de democratização pelos quais passaram países da América Latina e a
legitimação de novos espaços e atores “mediadores” da participação política,
como os Conselhos e as organizações da Sociedade Civil; d) a crescente
informatização das sociedades e a emergência de “novas tecnologias da
informação e comunicação”.
As mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais que decorreram
deste contexto colocaram para as Ciências Sociais, de maneira geral, uma
necessidade de alteração dos modos a partir dos quais eram vistos seus temas
e objetos tradicionais.
É nesta reorientação paradigmática que a categoria mediação, já
empregada há centenas de anos na Filosofia e há algumas décadas nas teorias
de Vygotsky, Adorno, Gramsci etc., é incorporada pela Comunicação, pela
Biblioteconomia e pela Ciência da Informação.
A relevância do termo e a polissemia que historicamente tem marcado
seu uso na Ciência da Informação colocaram a mediação não apenas dentro do
quadro teórico da área, mas a converteram em um hoje frequente objeto de
estudo, de modo que diversas pesquisas têm buscado apreender seus modos
de operação, seus significados e as contribuições trazidas por ele aos estudos
informacionais (MARTINS, 2010, 2019; FARIAS; FARIAS 2017; ARRUDA;
OLIVEIRA 2017; PERROTTI; PIERUCCINI, 2014, dentre outros).
As questões apresentadas neste texto se conjugam a estes esforços de
compreensão das possibilidades da mediação enquanto categoria dentro da
Ciência da Informação, os quais têm produzido um considerável conhecimento
sobre este objeto. Elas são fruto de um trabalho de investigação teóricoepistemológica iniciado pela autora desde 2010, em sua dissertação de
�37
mestrado6, e que teve continuidade no âmbito do estágio pós-doutoral,
concluído em 2019.
Pretende-se,
de
maneira
introdutória,
apresentar
elementos
que
configuraram historicamente a mediação enquanto categoria dialética que
expressa, dentre outros aspectos, a impossibilidade de conhecimento de um
objeto por sua aparência, ou manifestação imediata, mas somente pelo
reconhecimento da interconexão universal de todas as coisas como condição
de sua determinação. Do ponto de vista metodológico, a mediação coloca a
necessidade de se perseguir os nexos constitutivos de um objeto, suas
articulações, propondo a compreensão de processos singulares à luz de
totalidades históricas.
Parte-se da compreensão que a dialética, como marco fundamental de
desenvolvimento
da
mediação
como
categoria,
coloca
aspectos
epistemológicos e metodológicos relevantes para o exercício que envolve a
construção e a compreensão dos “objetos informacionais”, ou seja, dos
objetos, problemas e temas com os quais o campo da Ciência da Informação e
Biblioteconomia se ocupam científica e cotidianamente.
2 MEDIAÇÃO: ELOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS
Quando procuramos pelo termo/verbete mediação em enciclopédias,
dicionários e outras fontes de informação especializadas da Filosofia e das
Ciências Sociais, é muito comum deparar-nos, além de sua definição
etimológica
e
jurídica,
com
cinco
marcos
comumente
associados
ao
desenvolvimento do conceito (MARTINS, 2019). São eles: 1) a lógica da
Antiguidade Clássica; 2) o “termo-médio” do Silogismo; 3) o “meio-termo” da
ética aristotélica; 4) o pensamento teológico da Idade Média;5) a dialética
moderna.
6
MARTINS, Ana Amélia Lage. Mediação: reflexões no campo da Ciência da Informação. 2010.
252 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
�38
Nos dois primeiros marcos, a mediação é localizada subjacentemente à
ideia de “termo-médio” que indica, de maneira geral: a) elementos que
servem de “ponte” e que permitem, no âmbito da lógica, a “passagem de uma
coisa à outra” (ABBAGNANO, 2007, p. 655); b) no Silogismo, um termo que
estrutura o raciocínio lógico e cuja função é conectar as premissas.
A mediação localizada na ética aristotélica, evidenciada na noção de
“meio-termo” está relacionada à “justa-medida” entre o excesso e à falta, uma
fórmula da excelência moral (DIAS, 2016). O quarto marco está relacionado à
ideia da intermediação produzida pelo discurso teológico cristão da Idade
Média quando apontava Cristo como mediador entre humanos e Deus e que
até hoje compreende o uso mais corriqueiro da mediação que designa uma
ação interveniente entre duas partes.
O quinto marco, a dialética moderna, é referenciada frequentemente
como responsável por desenvolver a mediação propriamente como categoria,
ao ser colocada na estruturação do sistema lógico de Hegel.
Da
dialética
hegeliana,
no
século
XVIII,
a
mediação
será
fundamentalmente empregada - e ao mesmo tempo desenvolvida - por
autores que dialogaram com o pensamento do filósofo alemão, como Karl
Marx, no século XIX, e a partir deste, no século XX, por Adorno, Lukács,
Gramsci, Mészaros e outros que se mantiveram alinhados ao materialismo
histórico-dialético marxiano. Subsequentemente, a mediação foi empregada
pela Antropologia, pelas teorias dos Estudos Culturais ingleses e, no final do
século XX, estruturou uma virada paradigmática importante na Comunicação
latino-americana representada pela “teoria das mediações” de Martin-Barbero
(2009).
Considerando os elos históricos do conceito, destacaremos a seguir
alguns aspectos atinentes à mediação dentro da dialética, onde ela opera, ao
lado da contradição e da totalidade, como uma categoria fundamental.
�39
3 MEDIAÇÃO COMO CATEGORIA DIALÉTICA
A dialética, em sua acepção Moderna, foi proposta por Hegel como um
sistema das leis do movimento da realidade e ao mesmo tempo do
pensamento que pensa essa realidade. Este sistema tem como elementos
fundamentais o processo, a contradição e a unidade de desenvolvimento entre
o real e o racional. Nele, a contradição é um fundamento básico a partir do
qual tudo - os seres e a realidade - a partir do movimento, existe.
De maneira bastante geral, dentro da dialética, identifica-se a mediação
como um operador histórico e lógico que apreende o real e o ideal e todos
os objetos a partir do processo de sua contradição constitutiva e dos nexos
estabelecidos no âmbito de uma totalidade histórica complexa (MARTINS,
2019). Ela compreende, portanto, tanto as articulações efetivas do real e ao
mesmo tempo do pensamento que pensa, que apreende o real.
Assim, um primeiro aspecto a ser destacado para a compreensão da
mediação na dialética é esta dupla dimensão lógica e histórica: como
articulações reais que atravessam e determinam a produção da realidade e dos
sujeitos e do modo como se pensa, se conhece, se acerca dessa produção.
Tendo isto em vista, é preciso demarcar que na dialética, tanto a
idealista de Hegel como a materialista de Marx, a mediação tem função
ontológica.
Isso significa que ela, mediação, é a operação necessária para que o ser
imediato, ser vazio que corresponde ao nada, desenvolva o seu conteúdo num
processo de “vir a ser” ou seja, para que ele ganhe determinações (HEGEL,
2016).
Em Marx, a mediação também é a operação necessária para que o ser
social exista.
O trabalho é, para ele, a mediação fulcral porque a existência humana
produzida na relação dos sujeitos com a natureza não se dá de forma
imediata, ou seja, toda a relação entre sujeito e realidade e dos sujeitos entre
si é mediada pela atividade criativa e produtiva do trabalho. Assim como a
�40
linguagem também cumpre com uma função mediadora ontológica. Não existe,
dessa maneira, ser social sem mediação.
Onde a necessidade de vestir-se o obrigou, o homem costurou por
milênios, e desde muito antes que houvesse qualquer alfaiate. Mas a
existência do casaco, do linho e de cada elemento da riqueza material
não fornecido pela natureza teve sempre de ser mediada por uma
atividade produtiva especial, direcionada a um fim, que adapta matérias
naturais específicas a necessidades humanas específicas (MARX, 2011,
p. 167, grifo nosso).
Se
pensamos,
por
esta
perspectiva
ontocriativa
da
categoria,
considerando que a mediação é o que torna possível, o que produz o ser
social, temos que, nas sociedades capitalistas, esta mediação acontece
historicamente
desumanizar
os
de
uma
sujeitos.
maneira
Isto
que
porque
tanto
no
pode
humanizar
desenvolvimento
do
quanto
sistema
capitalista, as mediações passam a operar sob a lógica da reprodução
ampliada do capital e não mais a da satisfação das necessidades, da plena
realização ontológica dos sujeitos. Um exemplo é a mediação fundamental do
trabalho:
tanto
humaniza
quanto
desumaniza,
tanto
emancipa
quanto
escraviza os sujeitos, sendo que sob o capitalismo se constitui como um
elemento decisivo de exploração.
A
mediação,
assim, tanto emancipa
quanto
mantém os
sujeitos
alienados. Ela não é uma ação necessariamente positiva, como comumente se
vê na noção arraigada no senso comum que a compreende como uma ação
que promoverá, necessariamente, a passagem para uma situação melhor,
como identificou Davallon (2007).
Um aspecto central na construção da dialética por Hegel é a consideração
de que “a verdade é o todo”, frase do filósofo alemão que é muito difundida.
Para ele, o todo (e o pensamento sobre o todo) somente se completam
mediante o seu desenvolvimento em um processo totalizador, de modo que a
verdade não pode ser acessada imediatamente ao fenômeno, em sua
manifestação singular ou individual, mas somente tendo em vista suas
mediações.
Neste mesmo sentido, Marx vai dizer que toda ciência seria supérflua se
houvesse coincidência imediata entre a aparência, ou seja, a expressão
fenomênica e a essência das coisas.
�41
Porque o conhecimento não existe em sua dimensão imediata, porque
ele também decorre da produção metabólica entre natureza e homem
possibilitada pela mediação do trabalho e da linguagem e porque a essência
de um objeto não está dada em sua manifestação fenomênica, em sua
aparência ou em sua forma imediata, que existe a mediação como categoria.
Na
dialética,
o
termo
designa,
então,
epistemologicamente,
a
impossibilidade de compreensão da verdade, ou o todo de qualquer objeto pela
sua manifestação imediata ou fenomênica, mas somente tendo em vista suas
mediações,
ou
seus
nexos
constitutivos,
suas
múltiplas
determinações
(MARTINS, 2019).
Isto faz com que o método que busque a apreensão de um objeto pelo
seu todo, que permite o caminho da aparência à essência, possa ser
compreendido como o método das mediações (KOFLER, 2010). Daí a
mediação ser também, fundamentalmente, na dialética, uma categoria
metodológica (MARTINS, 2019).
4 TOTALIDADE COMO PRINCÍPIO EPISTEMOLÓGICO E METODOLÓGICO
DA MEDIAÇÃO
Como categoria epistemológica e metodológica, a mediação na dialética
está vinculada não apenas à noção de contradição, motor do desenvolvimento
e do pensamento, mas, especialmente, à de totalidade.
A filósofa brasileira Maria Ciavatta, ao pensar os problemas teóricometodológicos que cercam a mediação na pesquisa social, lembra que o uso da
categoria implica uma postura epistemológica e metodológica que trata de
colocar o objeto em relação com o todo (CIAVATTA, 2001).
A totalidade é, conforme lembra a autora, um princípio epistemológico e
um método de produção do conhecimento na medida em que esta categoria se
apresenta como núcleo organizador e critério de verdade do método dialético.
Mas como podemos pensar em totalidade na construção e compreensão
dos objetos, se parece, especialmente hoje, impossível abarcar o todo?
�42
Para Ciavatta (2001) isto pode ser feito pelo método reconstrução
histórica, porque a História, enquanto movimento do próprio real, constitui o
universo de todas as mediações.
A aproximação da realidade através da reconstrução histórica coloca,
para ela, a priori, duas questões: a abdicação de todo dogmatismo e das
concepções evolucionistas da história, a recusa da visão cética e fragmentada
do mundo e, especialmente, do relativismo como ponto de partida.
Aos sistemas explicativos fechados ou funcionais, a uma visão
fragmentada da realidade a mediação propõe a busca das articulações
que explicam os nexos e significados do real e levam à construção de
totalidades sociais, relativas a determinados objetos de estudo
(CIAVATTA, 2001, p. 219).
A lógica da reconstrução histórica pretende, assim, ser uma lógica
sociocultural que supera, segundo a autora, a lógica economicista, a lógica
pós-moderna e outras abordagens que ignoram a história como fulcro da
produção da existência humana.
Nesta concepção, o objeto informacional singular, que nós podemos
entender como uma prática ou expressão informacional específica, ou como
um documento, é visto a partir de sua gênese nos processos sociais mais
amplos, das suas múltiplas determinações.
A categoria da totalidade significa que a realidade objetiva é, neste
sentido:
um todo coerente em que cada elemento está, de uma maneira ou de
outra, em relação com cada elemento e, de outro lado, que essas
relações formam, na própria realidade objetiva, correlações concretas,
conjuntos, unidades, ligados entre si de maneiras completamente
diversas, mas sempre determinadas (LUKÁCS, 1967, p. 240).
Carvalho (2007) lembra que operar com a noção de totalidade significa
conhecer a transversalidade conectiva do todo e que para isso:
não se faz necessário - e nem possível - percorrer, como uma listagem,
todas as inumeráveis partes, elementos, momentos e relações do todo,
pois se trata de conhecer a lógica que preside a sua conexão. Com
efeito, a apreensão da conexão dialética essencial de uma totalidade
pode ser descoberta mesmo antes de se ter alcançado o grau máximo
de concretude da totalidade. É, com efeito, o que ocorre quando se
procede à análise de uma dada totalidade por necessárias
aproximações, de degrau em degrau, cobrindo, revelando e
completando cada conceito, cada relação, cada conexão e cada
categoria desde sua apreensão mais abstrata (e mais simples) à mais
concreta (e mais complexa), no curso da qual a lógica essencial que
�43
preside a conexão do todo pode ser captada em algum estágio
intermediário (CARVALHO, 2007, n. p.)
A mediação se apresenta metodologicamente como categoria, portanto,
que tem como horizonte a produção do conhecimento mediato sobre um
objeto considerando as suas múltiplas determinações, suas contradições e as
totalidades históricas nas quais ele está inserido.
5
A
METODOLOGIA
DAS
MEDIAÇÕES
E
OS
“OBJETOS
INFORMACIONAIS”
Quando Marx buscou compreender a essência da produção material da
vida das sociedades burguesas, ele partiu da mercadoria, compreendendo-a
como uma forma elementar ou aparência de um modo historicamente
específico de produção da vida material nas sociedades de classes, cuja
essência era a apropriação, pelo capital, do excedente de trabalho.
Perseguindo,
pelas
mediações,
as
“múltiplas
determinações”
da
mercadoria, ele indicou que ela, mercadoria, ganhava um valor diferente da
sua determinação essencial (valor de uso) somente pela mediação de uma
forma (valor de troca), que também é mediada por diversas outras formas,
como a forma-dinheiro, a forma-lucro, a forma-salário, as quais compreendem
uma
aparência
assumida
pelas
relações
de
produção
historicamente
determinadas. Marx evidenciou, assim, neste processo, o caráter fetichista do
mundo das mercadorias que surge do peculiar caráter social do trabalho nas
sociedades capitalistas que produz a forma-mercadoria (MARTINS, 2019).
Igualmente, se partirmos de práticas e fenômenos informacionais
específicos podemos fazer um exercício de buscar por suas múltiplas
determinações, a partir das mediações.
�44
Isto
pode
ser
feito
reconstruindo
historicamente
nossos
objetos
perseguindo os nexos que conectam as mais diversas práticas informacionais
singulares e específicas à lógica ampla da produção e da reprodução social7.
A título de exemplo, partamos de um objeto singular há algum tempo
bastante usual das sociedades contemporâneas e que mobiliza um grande
esforço
de
compreensão:
os
chamados
microdocumentos
da
Internet,
expressão de Jeanneret (2015) utilizada para designar os pequenos formatos
documentários que diferentes atores em interação nas chamadas “redes
sociais” produzem e fazem circular. Essas formas microdocumentárias reúnem
texto e imagem e são marcadas, especialmente, pela narrativa de si, pelo
reuso de narrativas elaboradas por terceiros, pelo caráter opinativo e/ou
combativo, pela propaganda e frequentemente são estruturados pelos recursos
da ironia, da retórica e do humor.
Se tomamos como exemplos esses formatos microdocumentários pela
sua expressão fenomênica, o que percebemos, imediatamente, é aquilo que
sua aparência nos demonstra: um conteúdo expresso sob determinada
forma em determinado contexto.
Uma análise desta forma-conteúdo, de maneira imediata, pode nos levar
a perceber alguns elementos tais como: a veracidade ou não da informação
que veicula, a ideologia subjacente, os sentidos que tentam fixar e fazer
circular,
sua
intencionalidade
em
vender
um
produto/ideia/serviço
ou
despertar interesses e emoção, sua utilização por determinados segmentos e
perfis, sua capacidade de mobilizar a opinião pública ou gerar adesões, seu
poder de virilizar, dentre outros aspectos.
A análise desta forma-conteúdo por suas mediações trata não apenas
de
7
perceber
a
sua
constituição,
mas
de
perseguir
as
múltiplas
Cabe-nos destacar que a produção material na dialética marxista, vista pelo prisma do
movimento histórico da totalidade, considera as formas que se estabelecem em torno da
configuração e distribuição dos meios de produção e das forças produtivas numa determinada
sociedade e em uma particularidade histórica. Ela relaciona-se, assim, às relações e condições
necessárias para satisfação das necessidades humanas. A reprodução social designa atividades
decorrentes da mediação do trabalho, bem como de provisão, cuidado e interação que
produzem e mantêm laços sociais e que se tornam mais complexas à medida que se
desenvolvem as forças produtivas.
�45
determinações deste objeto, inserindo-o no âmbito tanto da totalidade
quanto da particularidade histórica em que ele se manifesta.
Assim, a análise de uma postagem ou um grupos de postagens que
formam um corpus, por suas mediações, busca apreender para além da sua
manifestação em forma-conteúdo-contexto a sua correlação com: a) a
particularidade histórica de expressão desta manifestação tendo em vista a
dinâmica geopolítica global, organizada por permanentes disputas; b) o lugar
dos dispositivos de informação, tais como as redes sociais, no processo de
desenvolvimento da indústria da cultura e das mídias; c) as estratégias para
acumulação do capital pelos gigantes capitalistas da tecnologia de informação
e comunicação que se valem do próprio vinculo social para produção de valor
(BOLAÑO, 2012); d) o uso de informação como estruturante de uma
racionalidade particular produzida pelo neoliberalismo que avançou de modo
determinante para a produção de subjetividades ajustadas à compreensão
de cada pessoa como uma empresa (LAVAL; DARDOT, 2016), onde a
“exposição de si” figura como estratégia principal; e) as contradições históricas
que se ocultam na forma-informação; f) a capacidade de o sistema incorporar
a contradição como modo de seguir se reproduzindo em estado de contradição
(MARTIN-SERRANO, 2008)8.
Pensar os objetos por suas mediações a partir de uma perspectiva
dialética implica, dessa maneira, na construção e compreensão dos objetos
informacionais pelo reestabelecimento da categoria totalidade, a qual foi sendo
subsumida por perspectivas que começaram a empregar a categoria mediação
para destacar: a) a ampla possibilidade de agência/resistência dos sujeitos
frente aos processos de dominação colocados pela indústria cultural; b) os
processos de produção de sentido numa realidade fragmentada; c) a
8
Isto acontece, por exemplo, quando o capitalismo se utiliza dos significados que o colocam
em xeque seu modo de produção vigente (e que são mobilizados por discursos de movimentos
sociais diversos) como forma de fortalecer a sua própria lógica de reprodução. Assim ele fez
com demandas de maio de 68 (incorporando as reivindicações por flexibilidade e
horizontalidade em sua nova lógica de organização do trabalho), com pautas do movimento
ambientalista e feminista e assim faz incorporando, ajustando e, principalmente, financiando
pautas e ações organizadas em uma lógica informativa cuja aparência é a “resistência”, mas
cujo aspecto essencial é, fundamentalmente, não colocar em risco o próprio sistema.
�46
emergência de um novo paradigma de produção do conhecimento orientado
pela “lógica das redes”.
Em outros termos, a mediação dialética coloca, na perspectiva de um
“paradigma social” da Ciência da Informação, todos os objetos informacionais
no âmbito da totalidade capitalista, compreendo-a não como um sistema
econômico, mas como um modo de produção material e intelectual, que para
se constituir e se reproduzir formula ideias, noções, valores e doutrinas sem os
quais as relações de apropriação econômica e dominação política específicas a
ele não poderiam constituir-se (IANNI, 1976).
Isto porque, como assinalam Wood e Foster (1991, p. 19):
o capitalismo é ‘totalizante’ em formas e graus sem precedentes. Sua
lógica de transformação de tudo em mercadoria, de maximização de
lucro e de atura toda a ordem social. E entender esse sistema
‘totalizante’ requer o tipo de ‘conhecimento totalizante’ que o marxismo
abriu e que os pós-modernistas rejeitam.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mediação destaca, essencialmente, a necessária dialética entre o
material e o simbólico, os significados e a estrutura9 ou entre economia e
cultura no âmbito da totalidade histórica como elementos fundamentais a
qualquer horizonte de construção e compreensão dos objetos informacionais,
sejam eles entendidos como produto, fenômeno ou prática social.
Embora este aspecto possa parecer óbvio, essa não é uma preocupação
que vem se refletindo no emprego do termo mediação, quando colocado no
escopo da problemática de produção de sentidos por sujeitos envolvidos em
ações de produção, acesso e consumo/apropriação informacional.
Demarcar o lugar da informação na produção do ser; no âmbito da
totalidade da produção material-simbólica da realidade e dos sujeitos,
9
Por exemplo: os significados que historicamente se construíram sobre o que é ser homem e o
que é ser mulher em nossas sociedades ocidentais foram mobilizados também em função do
lugar que cada um deveria ocupar no sistema produtivo para que a produção e a reprodução
social capitalista fossem como são. Não se pode pensar significados, que é algo inerente à
informação (por sua dimensão simbólica) sem pensar qual a sua função organizativa na vida
material.
�47
revelando as mediações do modo de produção e reprodução social que, nas
“sociedades da informação” tem como objetivo não a plena realização dos
sujeitos e satisfação de suas necessidades, mas o acúmulo do capital: eis um
primeiro desafio colocado teoricamente pela perspectiva dialética da mediação.
O desafio último, ético e político, é compreender a informação na
transformação, na necessária reorientação radical destas mediações.
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�49
DADOS BIOGRÁFICOS
Ana
Amélia
Lage
Martins:
Professora
adjunta
do
Departamento
de
Processos
Técnico-Documentais
da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Graduada em Biblioteconomia, mestre e doutora em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Realizou estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia (IBICT/UFRJ).
Email: ana.martins@unirio.br
�50
CAPÍTULO III - A Biblioteconomia e as ciências informativodocumentárias: a mediação documentária como um modo de
produção
Matheus Aguiar de Carvalho
1 INTRODUÇÃO
As práticas de mediação de documentos acompanham o desenvolvimento
da humanidade. Os processos de mediação documentária visam oferecer
mensagens sobre documentos que suscitem nos públicos o acesso e uso a
partir da leitura com o fim de promover a apropriação da informação. Portanto,
o
campo,
tomado aqui pelo
termo
Ciências
Informativo-documentárias
(MOREIRO GONZÁLEZ, 2005), se justifica e seus profissionais atuam por meio
de um modo de produção específico, que é estruturado na técnica e
materializado em processos realizados sobre e a partir de documentos. Por
meio desta atuação, promove-se junto aos sujeitos a compreensão de seu eu
individual e social conforme o desenvolvimento de seu protagonismo nas
dinâmicas de informação e comunicação que constituem a sociedade.
O objetivo deste capítulo é o de discutir a noção de mediação
documentária em relação aos conceitos que balizam sua compreensão e dos
processos contemplados por essa noção, que permitem configurar um modo de
produção específico ao campo na sociedade.
A pesquisa se justifica na necessidade de explorar um modo de produção
que justifique e especifique o trabalho do campo. Entende-se que há uma
diversidade de abordagens a este trabalho que não se comunicam e que
favorecem à dispersão, seja em decorrência da introdução do termo
informação junto aos estudos do campo em meados da década de 1950, seja
pela busca em compreender a instância mediacional de seu trabalho. Em
ambos os casos, os termos centrais nessas discussões, informação e mediação,
são tomados de um modo não específico ao trabalho do campo e explorados
�51
em todas as suas variedades semânticas, exploração que comumente se dá a
partir de outros campos e disciplinas que não reportam às Ciências
Informativo-documentárias, ou às suas disciplinas constituintes, como a
Biblioteconomia. Ademais, percebe-se, como Rendón Rojas (2014) também
destaca, a consequência de se gerar no campo um desenvolvimento pautado
no relativismo absoluto que torna todo estudo sob o nome informação válido, e
por isso o campo não se constitui efetivamente como tal, ou seja, com pontos
comuns mínimos entre as abordagens ou vertentes. O autor destaca a
necessidade de compreender esses pontos comuns para desenvolver o campo
em um relativismo
dialético em torno de determinadas problemáticas
(RENDÓN ROJAS, 2014).
Nesse sentido, a discussão proposta em torno da mediação documentária
se justifica ao específicas o modo de produção do campo, desenvolvido em
uma forma distinta de abordar o fenômeno informacional. A construção teórica
é fundamentada no percurso de constituição disciplinar do campo e confere ao
mesmo historicidade e, em decorrência desse percurso, uma consistência
considerável aos modos de abordar sua constituição, subsidiando situar os
estudos do campo em torno de uma unidade em um modo de produção que
relaciona necessidades e públicos, configurando nesse relacionamento uma
forma de trabalho que identifica e qualifica o campo.
Como metodologia, a pesquisa é do tipo descritiva (FROTA, 2007),
possibilitando delinear as discussões propostas, e oportunizada pelo método de
revisão bibliográfica (GRAY, 2012), de caráter qualitativo, pela análise da
literatura já produzida no campo e em campos correlatos, considerada
relevante para o desenvolvimento do tema. Dentre os conceitos trabalhados,
destaca-se o de mediação documentária, documento, e de sistemas e ciências
informativo-documentárias.
Em síntese, a compreensão das ciências informativo-documentárias foi
subsidiada principalmente pela produção espanhola do campo, na qual a
Biblioteconomia é conformada no campo informativo-documentário como uma
das disciplinas que o constitui e que realiza seu trabalho pela mediação
documentária em ambientes específicos, como as bibliotecas e os centros de
�52
documentação e memória. A noção de documento foi discutida a partir de
autores identificados como basilares a compreensão do conceito, identificação
que se deu em especial a partir das revisões sobre o conceito realizadas por
Cristina Ortega em conjunto a outros pesquisadores (ORTEGA; LARA, 2010;
ORTEGA, 2016; ORTEGA; SALDANHA, 2019). Ao seu turno, a discussão acerca
da mediação documentária foi pautada em uma produção da vertente francesa
do campo onde o conceito é explorado de forma mais completa em termos de
fundamentação teórica e histórica, acompanhando as práticas documentárias
seculares e constitutivas do trabalho do campo.
2
A
BIBLIOTECONOMIA
E
AS
CIÊNCIAS
INFORMATIVO-
DOCUMENTÁRIAS
O desenvolvimento da sociedade ocorre a partir de práticas cotidianas
coletivas sistematizadas em técnicas, a partir das quais são desenvolvidos os
processos para a produção de bens úteis para o uso, seja individual ou
coletivo. O processo de produção é descrito por Harnecker (1983) pelos
esforços empreendidos em torno da transformação de objetos em produtos
que respondam às necessidades humanas, tanto fisiológicas quanto sociais.
Desta forma, para o trabalho configura-se um modo de produção para produzir
bens que responsam a certas necessidades humanas. Nessa dinâmica são
mobilizadas as forças físicas e mentais dos sujeitos, que as aplicam em torno
dos processos de produção, constituindo as relações sociais neste exercício
(HARNECKER, 1983). Como forma de otimizar e oportunizar o trabalho em
questão, podem ser mobilizados instrumentos e metodologias, e aparatos
tecnológicos para produzir ambos, o que se dá a partir dos conhecimentos
técnicos já sistematizados.
Dessa forma, pelas práticas cotidianas e o processo de produção que
desencadeiam é que se torna possível a formação das culturas. O conceito de
cultura é compreendo, a partir de Laraia (2001), como uma construção de
significados compartilhados por um grupo a partir de símbolos, os quais
�53
norteiam o comportamento humano em formas de organizar os modos de
produção necessários aquele grupo.
Dessa
forma,
as
culturas
são
formadas
ao
reunir
alguns
dos
conhecimentos técnicos em torno de determinadas modos de produção,
conformando os mesmos em um sistema de crenças e valores, em um
determinado tempo e lugar (PINTO, 2005). Por consequência, a formação de
uma sociedade se dá pela reunião dos modos de produção de interesse a ela e
pelas formas que sua cultura é desenvolvida em termos das relações sociais, a
partir das quais identificam-se as necessidades e os modos de realizar os
processos de produção para o trabalho em questão.
Como forma de promover a inserção dos sujeitos nas dinâmicas que
constituem a sociedade, o papel desempenhado por diferentes entidades reside
nas relações que elas promovem entre a instância coletiva e a individual, ao
reproduzirem
os
modos
de
produção
e
as
concepções
culturais
correspondentes aos coletivos onde os sujeitos serão inseridos, de modo que
esses sujeitos venham a participar em dado momento dessas construções
coletivas.
Dentre as entidades que promovem essas relações entre coletivo e
individual, as ciências cabem o desenvolvimento do trabalho voltado à
racionalização dos processos dos diferentes tipos de trabalhos, e, dessa forma,
promovem o conhecimento sobre os mesmos. O propósito básico de cada um
deles reside em compreender os diferentes fenômenos do mundo, sociais ou
naturais, para intervir nos mesmos a favor de criar melhores condições para a
vida humana. A socialização dos esforços empreendidos pelo trabalho científico
está essencialmente na constituição de redes, atuantes em especial nos
âmbitos da comunicação e da educação.
A prática científica de forma ampla pode ser situada como do âmbito das
mediações sociais, pois constitui uma forma de controle sobre as ações do
homem no mundo pelo conhecimento que promove a construção e pelos
modos que socializa esse conhecimento entre os diferentes grupos da
sociedade. Martín Serrano (2009) situa as mediações sociais como as ações
que orientam ações, atuando no mundo em formas de preservação ou
�54
exploração, na conformação de organizações que promovem a liberdade ou a
opressão, e nas representações que humanizam ou desumanizam.
No âmbito dos fenômenos informacionais, ou comunicacionais, pela
pluralidade semântica da categoria informação, e também pelas variadas
formas que esses fenômenos se manifestam, diferentes campos científicos
foram formalizados ao longo da história, abordando essa categoria de
fenômenos conforme certas perspectivas. Ademais, entende-se que o interesse
nessa categoria está também na relevância da informação como uma proposta
de sentido que, ao ser significada e apropriada pelos sujeitos, subsidia a
formação e a ação humana.
Entende-se que os estudos dos fenômenos informacionais envolvem
tanto as discussões acerca dos processos de transmissão cultural, socialização
de conhecimento e formação de identidade, quanto aquelas relativas à
informação enquanto critério que determina os níveis de integração social,
aumentando ou diminuindo a dependência e interdependência entre os
diferentes agentes das redes que modulam a sociedade, e também entre “os
diferentes saberes, setores de atividades e funções de produção e de gestão”
(GONZALEZ DE GOMEZ, 2009, p. 28).
Como forma de tratar as relações desenvolvidas em torno da informação
em determinados períodos da história humana, em termos de acesso, uso, e
produção, assim como das desigualdades e demais tipos de relações de poder
existentes em torno dessa gestão, a autora anterior também trabalha o
conceito de regime de informação como termo designativo dessas redes de
relacionamentos de poder e de trabalho construídas em torno dos fenômenos
informacionais e também para tratar daquelas redes que estruturam os
próprios fenômenos dessa ordem (GONZALEZ DE GOMEZ, 2009, 2012).
As Ciências Informativo-Documentárias – e
sob esse termo que
discutimos os esforços realizados em torno do trabalho documentário, por
exemplo, aquele específico em bibliotecas –, foram constituídas em torno do
fenômeno informacional, em processos de comunicação viabilizados pela
produção documental e pelas práticas documentárias constituídas a partir dos
documentos.
�55
As práticas de trabalho do campo são essencialmente de caráter
informativo ao serem constituídas com fins comunicacionais, tendo como
objeto de estudo um processo de informação específico composto por sujeitos
emissores, mensagem, meios e sujeitos receptores. O trabalho também é de
caráter documentário, pois desenvolve-se na produção
de informações
documentárias a partir de objetos vistos quanto ao potencial informativo de
determinadas perspectivas. As informações documentárias são fontes de
informação sobre os
documentos, ao representarem sentidos de suas
perspectivas, visando a comunicação desses sentidos junto ao público,
comunicação compreendida por Lara (1993) como do tipo documentária, a
partir do qual promove-se o acesso e o uso de objetos, abordados enquanto
documentos pelo seu potencial informativo, que ao ser explorado pelos sujeitos
subsidia a apropriação da informação, que é o objetivo final do trabalho do
campo.
Portanto,
em
razão
do
trabalho
do
campo
ser
informativo
e
documentário, que adotamos a terminologia Ciência Informativo-Documentário
como designativa do mesmo, a qual tem origem nos desenvolvimentos do
campo
na
vertente
espanhola.
A
denominação
Ciência
Informativo-
Documentária10 é amplamente adotada nas produções espanholas do campo,
como tratam Moreiro González (2005), Rendón Rojas (2013, 2014) e López
Yepes (2015). A partir dessa denominação entende-se a fundamentação do
trabalho do campo em práticas documentárias que envolve a Biblioteconomia,
mas se fundamenta também a partir de disciplinas como a Bibliografia, a
Documentação e a Ciência da Informação, a última um pouco mais dispersa a
depender da abordagem adotada. Desse modo, o termo permite fugir à
dispersão no Brasil do que se entende por Ciência da Informação, ora situada
como disciplina específica e distinta de disciplinas como Biblioteconomia,
Arquivologia e Museologia, ora como campo de estudos e abrange aquelas.
10
No original em espanhol a denominação adotada é Ciencia Informativo-Documental ou
Ciencia de la Información Documental. O uso de “documentária” como forma de traduzir o
último termo, decorre da análise realizada por Cristina Ortega (ORTEGA, 2017) acerca dos
adjetivos documental e documentário que qualificam a atividade do campo. A partir da análise
da autora, toma-se aqui “documental” como aquilo referente específico ao documento, e
“documentário” como as ações do âmbito da documentação realizadas sobre os documentos.
�56
Assim, ao tratar como Ciências Informativo-documentárias conforma-se o
lugar da Ciência da Informação nos estudos do campo, considerando o
histórico anterior a ela por práticas sistematizadas desde o século XV,
anteriores, portanto, das primeiras discussões em Ciência da Informação que
ocorreram nos Estados Unidos na década de 1950. A necessidade de
considerar
esse
percurso
histórico
reside
em
como,
a
partir
dos
desenvolvimentos estabelecidos nele, o campo, e as práticas desenvolvidas em
seu âmbito, pode ser abordado de modo mais qualificado e fundamentado
quanto ao papel que desempenha na sociedade.
3 O DOCUMENTO E A PROPOSIÇÃO DE SISTEMAS INFORMATIVODOCUMENTÁRIOS
O conceito de documento no campo foi desenvolvido no âmbito do
movimento documentalista inaugurado por Paul Otlet a partir do “Traité de
documentation:
le
livre
sur
le
livre,
théorie
et
pratique”,
publicado
originalmente em 1934. Em seu Tratado, Otlet define documento como uma
obra da criação humana resultante de seu trabalho intelectual que produz
efeitos na sociedade (OTLET, 201811). Otlet aborda o documento como termo
que designa o conjunto de signo e suporte, por meio do qual se representa
uma realidade, em forma gráfica ou plástica, mas, independentemente de qual
forma assuma, se configura como um enunciado de fatos, dados e ideias
(OTLET, 2018, p. 145, p. 580). De forma complementar, López Yepes (1997)
destaca a importância dos documentos que, ao conjugarem forma e conteúdo,
servem de instrumento da cultura por permitir a acumulação contínua dos
conhecimentos acerca de uma comunidade, possibilitando sua conservação e
ampliação
das
comunicações
a
partir
destes
conteúdos
acumulados
e
preservados (LÓPEZ YEPES, 1997).
11
Utilizamos a primeira edição da versão traduzida em português, na organização de Antonio
Agenor Briquet de Lemos, sob o título “Tratado de Documentação: o livro sobre o livro: teoria
e prática” (OTLET, 2018).
�57
Suzanne Briet, bibliotecária da Biblioteca Nacional da França, em seu
trabalho publicado originalmente em 1951, discute a necessidade do uso para
que um objeto ganhe o estatuto de documento (BRIET, 201612). Este uso seria
promovido por processos documentários, por meio dos quais institucionalizam
os objetos são enxergados enquanto documentos e trabalhados em vistas a
estabelecer um uso vinculado a construção de conhecimento. Complementar a
isto, a autora descreve a possibilidade do desdobramento dos documentos em
documentos “secundários ou derivados” (BRIET, 2016, p. 3), resultantes do
trabalho documentário, e que configuram formas de mediação e potencializam
o efetivo uso dos documentos primários. Como documentos secundários estão
os catálogos, as bibliografias, os resumos, entre outros (BRIET, 2016).
A terceira contribuição trazida aqui para o entendimento do conceito de
documento é o trabalho de 1981, escrito por Jean Meyriat. O autor discute o
documento como um suporte, mas também como uma forma simbólica de
comunicação que, por estar inscrita em uma materialidade, torna-se durável e
passível de ser recriada em outros tempos e contextos (MEYRIAT, 201613).
Frohmann (200814) complementa ao reforçar a importância das materialidades
para compreender os aspectos sociais e públicos da informação que é
comunicada. Portanto, as duas instâncias identificadas por Meyriat (2016), a
material e a simbólica, são as que formam o documento, e como ambas
podem ser estabelecidas a partir de qualquer objeto, Meyriat (2016) destaca
aquilo já discutido por Otlet, a respeito da pluralidade de objetos que podem
servir à noção de documento, para além dos registros escritos.
Os documentos escritos são um caso privilegiado, porque a escrita é a
forma mais comumente utilizada para comunicar uma mensagem. No
entanto, é necessário observar que se pode escrever sobre muitos
objetos diferentes [...] [e] se pode escrever utilizando diferentes
sistemas de signos [...] (MEYRIAT, 2016, p. 241).
12
Utilizamos a versão em português traduzida por Maria de Nazareth Rocha Furtado, sob o
título “O que é Documentação?” (BRIET, 2016).
13
Utilizamos a versão em português traduzida por Camila Mariana A. da Silva, Marcílio de Brito
e Cristina Dotta Ortega, sob o título “Documento, documentação, documentologia” (MEYRIAT,
2016).
14
Originalmente publicado em 2006. Utilizamos a versão em português traduzida por Laffayete
de Souza Álvares Junior, Lídia Silva de Freitas e Ricardo Sili da Silva, sob o título “O caráter
social, material e público da informação” (FROHMANN, 2008).
�58
Segundo Meyriat (2016), o propósito de preservação e comunicação de
informação pode ser presente desde o momento de criação de um documento,
ou ser instituído a certos objetos a partir de processos que elaboram seu valor
informativo tornando-os úteis para obtenção de informação. Nesse sentido, a
informação constitui-se como uma mensagem, que possui um sentido para
aquele que a enuncia, e tem um sentido produzido por aquele que a recebe.
Desta forma, a ênfase das Ciências Informativo-Documentárias é no
trabalho com documentos, base material e informativa abordada quanto ao
seu potencial comunicativo, sob a qual as técnicas documentárias são
empregadas constituindo processos de mediação para promover o acesso a
esses documentos por um público, para que este se aproprie dos conteúdos
daqueles pela leitura. Por esse trabalho espera-se subsidiar a formação e
participação dos sujeitos nos coletivos em que estão inseridos e nas práticas
cotidianas que participam. Portanto, os esforços empreendidos se atentam a
como constituem-se os diferentes regimes de informação para balizar a criação
de sistemas de informação em que o trabalho mediacional possa promover o
protagonismo dos sujeitos nas dinâmicas de constituição desses regimes.
Segundo Ortega (2012), os sujeitos que constituem o público para o qual
os processos de mediação do campo são visados, é visto em torno das
atividades e contextos nos quais necessitam de informação como subsidio às
suas ações. As necessidades não se restringem àquelas formuladas enquanto
demanda apresentada pelo público ao sistema, mas às “necessidades humanas
de informação, portanto, inerentes a todo ser humano, e relativas a aspectos
de ordem científica, educacional, utilitária, de entretenimento, estética,
profissional, outras” (ORTEGA, 2012, p. 2). Complementar é a observação de
Rendón Rojas que pontua o trabalho do campo como aquele voltado a
satisfazer necessidades em informação, as quais incluem a noção de ajuda ao
“desenvolvimento
existencial do
sujeito,
e
não
apenas
proporcionar a
�59
informação que ele crê necessitar” (RENDON ROJAS, 2004, p. 180-181,
tradução nossa15).
No
nosso
entender,
a
constituição
dos
sistemas
informativo-
documentários é fundamental para as ações do campo como forma de permitir
delimitar os elementos básicos para seu trabalho: o público visado e suas
respectivas
necessidades,
e
os
objetos
tomados
transformados
em
documentos a partir de um modo de produção estruturado pela técnica do
campo. Conceitualmente, também tem referência para compreensão desses
sistemas as discussões que ocorrem sob os termos dispositivos documentários
ou
infocomunicacionais
(GARDIÈS,
2012;
GARDIÈS;
FABRE,
2012)
e
dispositivos informacionais (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007), todos estes
referentes a instituições como bibliotecas, arquivos, museus, centros de
documentação e memória, entre outros tipos de instituições voltadas ao
trabalho com a mediação de documentos.
Desta forma, o trabalho no sistema informativo-documentário pode ser
compreendido no relacionamento que faz entre três elementos: os objetos, os
quais são tomados quanto a seu potencial informativo e transformados em
documentos; os sujeitos, na condição de público dos sistemas; e os processos
de
produção
via
mediação
documentária,
realizados
por
cientistas
e
profissionais ao promoverem a apropriação da informação pelo público a partir
da elaboração da cadeia documentária, que subsidia a ele a estabelecer
relações com a criação, consumo, transformação, transmissão e conservação
da informação.
4 A MEDIAÇÃO DOCUMENTÁRIA COMO MODO DE PRODUÇÃO DO
CAMPO
A mediação documentária é estabelecida em processos sobre e a partir
de objetos com potencial informativo, os documentos, buscando mediar seu
15
No original: “[...] al desarrollo existencial del sujeto, y no solamente proporcionarle la
información que cree necessitar”.
�60
acesso e uso com pessoas identificadas como público. Nesse sentido, o modo
de produção do campo é constituído em torno da mediação documentária
enquanto um conjunto de processos que permitem a transformação de certos
objetos em produtos úteis às necessidades humanas de informação. Esses
processos são sistematizados aqui como o de seleção, de organização da
informação - produção de base de dados e ordenação -, e pela elaboração de
produtos e serviços que potencializem os sentidos elaborados pelos processos
anteriores. Ainda, após esses processos de mediação documentárias, podem
ser realizadas atividades de sensibilização do público desenvolvidas em formas
de ações culturais específicas em termos da relação que têm com os processos
de mediação documentária.
O trabalho documentário se constitui como o de produção de sentidos,
que são elaborados sobre os documentos conforme a realização dos processos
de mediação.
Em decorrência dessa produção de mensagens/sentidos, Capurro situa
que os estudos do campo residem na constituição de mensagens para
comunicação, e para a qual ocorre a oferta de sentido (meaning offer) em um
sistema, que é selecionada por um público, que converte aquele sentido
selecionado em informação ao interpretá-lo (CAPURRO, 2003) pela leitura.
Desta forma, caberia ao campo relacionar os sentidos que oferta com as
formas que essa seleção é feita pelo público, reelaborando continuamente suas
propostas de sentido para torná-las relevantes ao público visado (CAPURRO,
2003).
Ortega (2012) situa que a construção de significados pelo trabalho do
campo não é desenvolvida apenas no momento em que o público aciona o
sistema de informação ou pelo serviço de referência, mas do trabalho em
conjunto realizado sobre os documentos. Kobashi (1996, p. 9) descreve que
“todo ato documentário é um ato de comunicação que tem a finalidade de
promover a circulação da informação”, por sua vez, essa comunicação é
caracterizada por Lara (1993, p. 4) como a “codificação e a decodificação de
conteúdos informacionais, ou seja, o tratamento e
informação”, e que se efetiva na apropriação do público.
a recuperação da
�61
Enquanto tópico de estudos, a mediação documentária encontra campo
fértil de desenvolvimento principalmente na literatura francesa, no âmbito das
Sciences de l'Information et de la Communication (SIC) (Ciências da
Informação e da Comunicação (CIC), e estabelecemos uma discussão
conceitual a partir de alguns autores dessa vertente como Isabelle Fabre,
Hélène Veyrac, Yves Jeanneret e Cècile Gardiès (JEANNERET, 2009; FABRE,
2012, 2013, 2018; GARDIÈS; FABRE, 2012; FABRE; VEYRAC, 2008).
Nesse contexto, os estudos do campo estão em constante diálogo com a
Comunicação constituindo nessa confluência seus estudos. Para Jeanneret
(2009), de forma ampla, o campo desenvolve-se na busca em compreender
todas as instâncias do processo comunicacional, vivendo, em suas palavras, da
negatividade a partir da “rejeição a uma abordagem da cultura que seja
imediata, transparente e absoluta, o que Barthes denomina como uma
‘naturalização’ das práticas culturais” (JEANNERET, 2009, [não paginado],
tradução
nossa16,
grifos
da
autora).
Conforme
Jeanneret
(2009),
a
negatividade seria uma constante do campo, que alimenta a positividade por
exigir o esforço das realidades comunicativas em se fazerem aparecer em suas
diversas variáveis. Assim, o papel do campo estaria em promover uma
constante desconstrução pela negação, para permitir novas construções e
afirmações.
A mediação ao ser tomada como um processo comunicativo, é retirada
da noção de uma simples ação facilitadora de transferência de dados ou
informações
de
um
polo
ao
outro,
que
coloca
o
profissional
como
intermediador ao aproximar um objeto a uma pessoa, mas como uma
construção de significados, estabelecidos em diferentes níveis e formas de
manifestações, realizada sobre e a partir de documentos para que os sujeitos,
pela leitura, possam atribuir sentido e se apropriarem dos significados,
construindo conhecimento em última instância.
Para Fabre (2018), compreender a mediação documentária exige antes o
entendimento da noção de dispositivo. Em suma, a noção de dispositivo pode
16
No original: “[…] le refus d’une approche immédiate, transparente ou absolue de la culture,
ce que Barthes nommait la « naturalisation » des pratiques culturelles”.
�62
ser compreendida como um arranjo de elementos que estabelecem relações e
promovem relações. No caso dos dispositivos documentários, o objetivo desses
sistemas está em promover a construção de conhecimento e para isto, se
fazem da mediação documentária como forma de promover a autonomia do
público frente a busca por informação para sua formação, ao constituir
estruturas de comunicação que relacionem público e documentos.
Em complemento, conforme Fabre (2018), a noção de dispositivo
também é útil para pensar não apenas no sistema de informação como um
todo, que promove ali certas relações, mas na própria coleção e como cada
documento é em si um dispositivo abrigado nesse dispositivo maior, o
documentário, e este, por sua vez, circunscrito em outros dispositivos maiores
e globais. Por consequência, os dispositivos documentários são constituídos
por várias redes entrelaçadas de relacionamentos e influentes em como as
pessoas são formadas e como estabelecem interações com o espaço, com os
documentos e com outros seres: “Assim, o dispositivo é o lugar onde
humanos, objetos materiais e relações são organizadas para promover
interações reais e simbólicas que instituem as modalidades e as lógicas de uso
da informação” (GARDIÈS; FABRE, 2012, par. 2, tradução nossa17).
Fabre e Veyrac (2008) definem a mediação documentária como uma
mediação do conhecimento, “onde o profissional em informação-documentação
é o mediador que permite ao usuário o encontro com a informação e para isso
estabelece um dispositivo documentário favorável a esse encontro” (FABRE;
VEYRAC, 2008, p. 3, tradução nossa18). Portanto, compreender a relevância e
propósito dessa mediação envolve estabelecer o próprio lugar da informação e
seu relacionamento com o conhecimento, tanto o individualmente construído
quanto
aquele
histórico
e
socialmente
estabelecido
pelos
coletivos
da
sociedade (GARDIÈS; FABRE, 2012). Gardiès e Fabre (2012) se referem à
mediação documentária como processo capaz de reconciliar duas instâncias
17
No original: “Ainsi, le dispositif est le lieu où humains, objets matériels et liens s’organisent
pour mettre en oeuvre des interactions à la fois réelles et symboliques qui instituent dês
modalités et des logiques d’usage de l’information”.
18
No original: “la médiation documentaire, elle, désigne une médiation des savoirs, où le
professionnel en information-documentation est le médiateur qui permet à l’usager de trouver
l’information dont il a besoin et pour lequel il met en place un dispositif documentaire adapte”.
�63
estabelecendo comunicação e acesso à informação. Essas instâncias podem ser
identificadas, a primeira, na figura da coleção dos documentos e do sistema
onde estão organizados, e a segunda, na figura do público e das práticas a que
se voltam. Ortega (2015) destaca a importância de se considerar os aspectos
linguísticos para que a comunicação pretendida pela mediação documentária,
entre os sentidos dos documentos em oferta e os sujeitos com suas
compreensões de mundo, possa ser promovida de forma mais efetiva, ainda
que não existam garantias quanto à apropriação objetivada pelas ações do
campo.
Os processos de mediação documentária, como já enunciados, podem
ser sistematizados em três categorias, a saber: a seleção, os processos de
organização da informação – produção de bases de dados e ordenação,
sendo a partir da última mobilizadas as estratégias vinculadas à sinalização e à
espacialização; os produtos e serviços para potencializar o acesso as
informações
e
produtos
documentários
elaborados
na
organização
da
informação.
Na seleção são elencados os objetos a serem transformados em
documentos, para incorporação junto as coleções, de forma que essa inclusão
agregue valor aos objetivos do sistema informativo-documentário em termos
do conhecimento esperado a ser promovido junto ao público.
Como mencionado antes, o trabalho do campo se constitui na produção
de informações documentárias. Essas informações são elaboradas no âmbito
dos processos de organização da informação, em operações para produção
de bases de dados e em formas de ordenação, ambos estabelecidos sobre os
documentos selecionados antes.
Ortega (2008, p. 8) define as informações documentárias como unidades
de representação dos documentos, com forma e conteúdo, e pautadas “nos
tipos de informação, nas áreas do conhecimento ou de atividade, na linguagem
dos usuários e nos objetivos do serviço de informação [...]”. Assim, as
informações documentárias não partem restritamente dos documentos, mas os
enxergam em termos de sua produção e dos sentidos promovidos para seu
uso. Dessa forma, as informações documentárias constituídas a partir dos
�64
processos de organização da informação funcionam como forma de comunicar
os sentidos dos documentos junto ao público.
Na produção de bases de dados, discutida na literatura em termos como
catalogação
e
representação
temática
e
descritiva,
são
elaborados
os
diferentes pontos de acesso que permitem a identificação dos documentos,
seja em termos restritos de sua materialidade, quanto de seu conteúdo,
embora seja comum a adoção desses dois conjuntos de traços documentais
como forma de representar os documentos para a recuperação posterior dessa
informação nas bases de dados.
Os valores dos pontos de identificação e acesso são definidos a depender
dos sentidos que a instituição visa potencializar sobre os documentos. A
constituição
e
materialização
desses
valores
se
dá
nas
informações
documentárias construídas no âmbito do sistema, que colocam em diálogo as
linguagens utilizadas no documento pelo autor com a linguagem do público,
devendo constituir nessa dialética a linguagem do sistema a ser adotada na
elaboração das informações documentárias. Dessa forma, pela produção de
bases de dados, o documento é descrito em determinadas facetas, e as
informações documentárias são elaboradas para comunicar estas perspectivas.
No âmbito da ordenação, as informações documentárias são elaboradas
em sentido semelhante ao que ocorre na produção de bases de dados, mas
com ênfase aos modos de relacionar dois ou mais documentos, pela sua
disposição em uma estrutura que permite a navegação em um espaço para o
aceso e uso desses documentos. A depender do caso, não são criadas novas
informações, mas reutilizadas algumas daquelas elaboradas quando produzidas
as bases de dados. Ortega (2016) sistematiza enquanto funções ao processo
de ordenação, a de subsidiar modos de leitura da coleção e das formas de
navegar por ela, de instituir a localização dos documentos, e de servir de
instrumento a gestão da coleção.
A ordenação pode ocorrer sobre as elaborações feitas na produção de
bases de dados em formas de registros documentários, ou seja, os metadados
dos documentos, assim como sobre os próprios documentos.
�65
No primeiro caso, a ordenação de metadados de documentos é instituída
pela ordem estabelecida aos registros documentários, o que é o caso, por
exemplo, das estruturas de navegação para acesso a determinados conteúdos,
comum em sites na internet, dos registros das bases de dados, como os
catálogos e as bibliografias. No segundo caso, a ordenação dos documentos, o
processo ocorre direcionado a proposição de um arranjo aos documentos da
coleção em um espaço determinado, mantendo como propósito corresponder
as funções do processo, como já enunciadas.
Em termos de métodos, a ordenação pode ser realizada por métodos
cronológico, alfabético ou classificatório. No primeiro se tem uma sequência
numérica, normalmente em ordem de 1 a 10, sendo comum para tal a escolha
de atributos documentais como a data de publicação e a ordem de registro na
coleção. No alfabético, a sequência proposta é usualmente feita pela ordem de
A a Z, a partir de atributos como a autoria e o título. Por fim, o método
classificatório, mais comum em coleções cujo acesso é irrestrito, se faz pela
operação de classificação, estruturando classes e subclasses a partir das quais
os documentos podem ser agrupados. Em decorrência de ser limitado ao
agrupamento, o método classificatório é o único que não permite uma
ordenação propriamente para cada registro ou documento, sendo assim
dependente dos métodos alfabético e/ou cronológico para se estabelecer uma
ordem no interior dos agrupamentos estabelecidos via classificação.
A utilização desses métodos, sozinhos ou combinados entre si, permitem
estruturar sistemas de localização fixa, em que a posição de cada item é
permanente no lugar atribuído a ele, ou relativa em que a ordem dos
documentos é intercalada, tornando suas posições na sequência dependentes
por serem relativas a como os agrupamentos anteriores e posteriores da
coleção são desenvolvidos pela aquisição e descarte de documentos.
A
partir
da
ordenação,
dois
processos
subordinados,
mas
com
especificidades entre si, são realizados, a sinalização e a espacialização. A
Sinalização corresponde aos recursos visuais utilizados para orientar o público
e promover sua autonomia na navegação, pelas estruturas de acesso
propostas a partir da ordenação. Por sua vez, discutir a espacialização envolve
�66
a discussão acerca das estratégias de distribuição espacial dos elementos que
compõem o sistema, como os documentos, as estantes, os demais mobiliários,
e os setores do sistema.
Os produtos e serviços figuram em propostas de potencializar o
caráter comunicativo das informações documentárias pela sua reelaboração
das formas de visualizá-las, ou ainda pela prestação de atividades de
capacitação para orientar os sujeitos aos usos do sistema informativodocumentária e das informações nele propostas e reunidas. Deste modo, os
conhecimentos promovidos nesses produtos e serviços já foram discutidos em
outros momentos pelo propósito de promover a alfabetização informacional, as
competências informacionais, e mais recente o letramento informacional,
sendo desenvolvidos no âmbito de programas de orientação bibliográfica, de
serviços de referência, em manuais para uso de bases de dados, entre outros.
Embora não sejam processos de mediação documentária, podem ser
realizadas nos sistemas atividades de sensibilização. Elas reúnem uma série de
propostas de formação ofertadas ao público, que complementam a formação
dos referenciais simbólicos dos sujeitos junto aos processos de mediação
documentária. Essas ações podem ser qualificadas como ações culturais, mas
devem ser compreendidas quanto a especificidade do campo.
De um modo geral, as ações culturais são compreendidas segundo
Almeida (1987) que as situa como as atividades realizadas com o fim de
promover relações entre as pessoas, onde cada uma é uma potencial agente
formadora de outra. Dada a amplitude que essas atividades podem abranger,
destaca-se
a
necessidade
de
sua
realização
enquanto
atividades
de
sensibilização do público, assim, compreendendo sua condição de apoio ao
trabalho documentário realizado nos processos de mediação documentária.
No que tange especificamente a organização da informação, os processos
são
fundamentais
para
a
constituição
de
um
sistema
informativo-
documentário, pois permitem promover o acesso e uso dos documentos, e é a
partir desses processos que a elaboração dos demais serviços, produtos, e
atividades pode ser realizada. Menos a noção de hierarquia entre as instâncias
que compõem a mediação documentária, a necessidade que se faz, e a
�67
tentativa que se fez, foi de situar onde todos esses processos de mediação se
encontram na constituição dos sistemas informativo-documentários e de suas
propostas
de
significação
e
respectivas
importância
para
promover
a
efetividade das comunicações visadas por esses sistemas na apropriação da
informação pelo público.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mediação documentária pode ser compreendida como a forma de
relacionar documentos e pessoas identificadas coletivamente como um público,
cujo encontro é promovido em práticas realizadas em diferentes sistemas
informativo documentários. Esse tipo de mediação estabelece formas de
comunicar, ainda que não garanta essa comunicação, determinados sentidos
dos documentos a partir de informações documentárias, elaboradas nos
processos de organização da informação como propostas de sentido, e
potencializadas pela elaboração de produtos e serviços. Em certos casos,
incluem-se propostas de atividades de sensibilização do público que apoiem a
formação dos referenciais simbólicos deste para aprimorar a atribuição de
sentido do público à informação, tanto a documentária, quando a dos
documentos em oferta. Deste modo, os processos de mediação documentária
promovem a construção de sentido pela leitura e a apreensão dos significados
pela apropriação da informação, promovendo a formação do público pelo uso
que fazem das coleções.
As práticas de mediação documentária, para promover sua efetividade,
exigem do mediador a compreensão das linguagens que constituem os
documentos e as linguagens do público visado por suas ações, relacionando
ambas em uma dialética que produz uma linguagem do sistema como
resultado deste relacionamento.
Evidencia-se assim como todos os processos dos sistemas informativodocumentários, da seleção às ações culturais realizadas em atividades de
sensibilização, são de fundamental importância para a atuação do campo em
�68
um modo de produção que justifica sua existência e permite sua atuação social
pelas técnicas estruturantes de todos estes processos. Na conjuntura das
ações de mediação documentária que é possível estabelecer zonas de
mediação que oportunizem diferentes formas de encontro entre o público e os
documentos em suas várias possibilidades de subsídio a construção de
conhecimento.
Portanto, cabe aos esforços empreendidos no campo pelos seus
profissionais e pesquisadores, ter na pesquisa um princípio que fundamenta
suas práticas. Ainda, a necessidade de revisar hierarquizações feitas entre os
diversos
elementos
que
compõem
a
mediação
documentária,
que
desqualificam certos fazeres em virtude de outros, ou ainda que situam
oposições entre as instâncias da técnica, da tecnologia e do papel do campo na
sociedade. Sobre as relações entre estas três instâncias por si já exigem novas
reflexões nas melhores formas de situá-las e relacioná-las em uma abordagem
que não promova a concorrência entre elas, mas que compreenda como as
três coexistem, não de forma separada ou hierarquizada, mas juntas para
constituir
um
modo
de
produção,
entendendo
que
uma
abordagem
fragmentada do campo a partir de determinadas facetas, sem visualizar o todo
e os elementos básicos para sua integração, não permite o desenvolvimento de
seu modo de produção em seu potencial integral para a práxis social.
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Información, 2014. p. 89-95.
�73
DADOS BIOGRÁFICOS
Matheus Aguiar de Carvalho: Doutorando em Ciência da
Informaçãopelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação (PPGCI/UFMG).Mestre em Ciência da Informação
(PPGCI/UFMG). Bacharel em Biblioteconomia(UFMG).
Apoio da pesquisa: FAPEMIG.
E-mail: maguiarcarvalho.bh@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8907552061051069
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9987-0150
Telefone: (31) 9 8637-2079
�74
CAPÍTULO IV - Página Viva: tipografia e mediação pela
cultura
Ismael Lopes Mendonça
1 INTRODUÇÃO
O estudo dos registros humanos tem mostrado um apego não somente
ao ato de escrever como meio de fixar memórias e disponibilizá-las para
futuras
gerações.
Notável
atenção
também
é
dada
ao
desenho
das
composições, aos modelos de leiaute e formatos de letras herdeiros de
inúmeras convenções e interações sociais. Essas elaborações são fecundas em
toda a história. Observa-se, por exemplo, a solução gótica que conformava o
modo de produção dos copistas medievais, a reorientação humanista que
marca o início da modernidade, as experimentações contemporâneas na área
do Design e da Publicidade em vista do cenário tecnológico e de consumo,
além do próprio fazer científico, quanto ao estilo normativo das comunicações
acadêmicas, cujo padrão possui devida importância e funcionalidade no meio.
Percebe-se que existe um sentido a guiar tais práticas, um propósito que liga
forma e conteúdo e que varia conforme o contexto, ora enfatizando uma
instância, ora outra, mas sempre considerando o todo no propósito de produzir
e mediar informações.
A tipografia, por meio do arranjo lógico de caracteres ortográficos e
para-ortográficos, como numerais e sinais de pontuação, em um suporte,
possibilita mensagens, forma documentos,
medeia
leituras. Seja
como
ferramenta de produção e reprodução massiva de impressos, seja enquanto
estética que diz respeito à imagem física ou virtual pela qual as páginas se
apresentam, o significado da tipografia pode ir além. Pelas linhas escritas
circulam histórias, culturas e conhecimentos não necessariamente restritos à
comunicação verbal, pois o não verbal, isto é, a aparência ou instância
imagética do caractere e da página, coopera e é revelador de informações não
�75
menos complexas. Diante disso, para além dos estudos orientados pela
Estética da Recepção (ISER, 1979), que focam nas interações linguísticas entre
um texto ausente de corpo gráfico e o sujeito leitor, seria possível pensar na
página
tipográfica
como
matéria
viva,
fenômeno
significante,
infocomunicacional?
Este capítulo tem como objetivo refletir a relação cultural e mediacional
expressa pelas formas tipográficas. Prioriza-se uma abordagem semiótica de
cunho antropológico sobre o fenômeno, cujo zelo milenar tem se manifestado
por diferentes ações de classificação, organização e controle das produções
escritas e tipografadas. A própria materialidade, categoria valorizada nesta
monografia, aponta simbolicamente para conteúdos plurais, permitindo que a
tipografia, independente da mensagem verbal veiculada, constitua-se como
acontecimento histórico e culturalmente significante. Assim, amparado na ideia
de informação como conceito intersubjetivo advindo de práticas hermenêuticas
contextualizáveis (CAPURRO; HJØRLAND, 2007), este trabalho se justifica pela
epistemologia social da Ciência da Informação, fase paradigmática do referido
campo que, embora não exclua as anteriores, de ordem física e cognitiva,
evidencia o protagonismo das relações coletivas e cotidianas na atribuição de
sentido aos fenômenos informacionais e comunicacionais, assim como aos
documentos e suas mediações e apropriações complexas.
A reflexão se estrutura em duas seções, além da introdução e das
considerações finais. Na primeira parte, é realizado um enlace teóricoconceitual a fim de fundamentar, em síntese, o objetivo exposto. A ideia de
“materialidade” considerada aqui é tecida a partir das abordagens de Ostrower
(2013), Ginzburg (2007), Darnton (1990), Chartier (2001), Meyriat (2016) e
Frohmann (1995; 2008), além do insumo semiótico-antropológico oferecido
por Geertz (2015) e Certeau (2019), que marcam o todo da abordagem. Na
seção seguinte, a análise recai sobre a tipografia, evidenciando as relações
históricas e culturais de sentido, que são processos mediacionais apreendidos
pelo estudo das formas. Cabe ainda informar que este trabalho resulta de um
recorte atualizado da pesquisa de mestrado realizada pelo Programa de Pósgraduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará
�76
(PPGCI/UFC), defendida no ano de 2018 e que teve financiamento da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A
dissertação que compreende o todo da pesquisa se chama “A tipografia como
manifestação cultural” (MENDONÇA, 2018) e está disponível no repositório da
referida instituição.
2 ENLACES TEÓRICO-CONCEITUAIS
Os registros tipografados, como os livros, para além de se constituírem
como produtos operacionalizados por uma sofisticada tecnologia de informação
e de comunicação, são fixações de ordem histórica e cultural. São resultado de
convenções que têm regulado as práticas humanas ao longo do tempo, formas
responsáveis pelas promoções de sentido e de memória. Por “forma”,
considera-se a noção dada por Ostrower (2013) de que não se trata de um
objeto isolado, mas de uma complexa rede de significações humanas. É fruto
de intencionalidades, pois forma-se algo a partir das relações de coerência e
ordenação estabelecidas sempre de modo consciente, social e cotidiano. “Toda
forma é forma de comunicação ao mesmo tempo que forma de realização”
(OSTROWER, 2013, p. 5), o que envolve não apenas os aspectos físico e
cognitivo, mas a interação, o pensar e o agir em conjunto com o outro, em
prol de algo. Assim, os registros são, antes de tudo, formas sociais
impregnadas de sentido.
A ideia de forma se comunica com o paradigma indiciário proposto por
Ginzburg
(2007),
sobre
os
objetos
se
manifestarem
como
vestígios
contextualizáveis. A noção de “vestígio”, ao ser aplicada aos registros, revela
índices que remetem a uma época ou acordo, ou conjunto de acordos, cuja
detecção possibilita conhecer os motivos pelos quais as formas estão
representadas
como
tal
e
não
outra,
aferindo
sobre
essas
uma
contextualização que é significante. Em Ginzburg (2007), trata-se de um
método
de
caráter
detetivesco,
realizado
por
um
estudo
meticuloso,
pormenorizado e heterogêneo de pistas discretas, dispersas e, muitas vezes,
�77
marginalizadas nos e pelos documentos, possibilitando uma compreensão
crítica da realidade. É um método histórico que concilia sensibilidade e
objetividade, em que os índices ou vestígios funcionam como resíduos, “dados
marginais, considerados reveladores” (GINZBURG, 2007, p. 149), ligados ao
saber venatório (decifração do passado), divinatório (lança perspectivas de
futuro) e semiótico (expressão de sentido). São “pistas talvez infinitesimais
[que] permitem captar uma realidade mais profunda, de outra forma
inatingível” (GINZBURG, 2007, p. 150). Apreendidas, tais pistas, vestígios ou
índices poderão compor narrativas de mundo.
Com isso, o vestígio material presente nos registros é também
informacional (simbólico), pois comunica algo, como o entorno social em que
foi formado, para alguém. Assemelha-se a uma anotação implícita, isto é,
marca discreta gerada pela força de alguma cultura, que vem à tona pela ação
de um interpretante. Essa prática requer método, mas se flexibiliza ao efeito
dos diversos contextos, inclusive ao do próprio analista, uma vez que as
sociedades observam “a necessidade de distinguir os seus componentes”,
conforme sejam “os tempos e os lugares” (GINZBURG, 2007, p. 171). Nesse
tocante, a mensagem expressa pelas formas escritas, produções humanas
datadas, torna-se complexa porque pode indicar muitos significados: um
sintoma, uma evidência, uma sensação, uma especialidade, um gesto cultural,
uma imagem, todos a depender da interpretação. É pela diversidade de
significados revelada pelos registros, enquanto relações culturais, que o
homem modela e é modelado, isto é, informa e é informado, medeia e adquire
conhecimento. “Se a realidade é opaca”, conclui o autor, “existem zonas
privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la” (GINZBURG, 2007, p.
177).
A proposta indiciária de Ginzburg (2007) tem muito a ver com o
pensamento de Darnton (1990) sobre o impacto dos bastidores técnicos e
socioculturais nas produções livrescas. Focado na realidade da França do
século XVIII, o autor se utiliza de uma etnografia da História, ou “história
vivida” (DARNTON, 1990, p. 17), de análise pormenorizada semelhante à de
Ginzburg (2007), para propor o modelo pelo qual o livro e, por extensão, os
�78
meios de informação e de comunicação em geral acontecem. Para ele, esses
objetos são marcados pelo modo como são produzidos, em um processo que
envolve interação, adaptação, subversão e jogos de poder. Percorrendo esse
circuito batizado como “ciclo de vida” (DARNTON, 1990, p. 112), o livro não
apenas ganha a forma física final, concreta, mas recebe significados conforme
as práticas sociais, políticas e econômicas adotadas ao longo da ampla cadeia
produtiva.
É mais um modo de afirmar que as produções humanas não se
configuram isentas de contexto, pois para além do pragmatismo tecnicista,
participam elaborações de ordem hermenêutica que são resultado das práticas
culturais de formação e de leitura. O ciclo, para Darnton (1990), começa pelas
ações do autor e é encerrado no leitor, que à sua maneira reinicia todo o
processo de produção. No trajeto, envolve o papel do editor, do impressor, do
distribuidor e do vendedor, ou seja, de todos os atravessadores anônimos que,
ao interagirem, compõem esse “circuito de comunicação” (DARNTON, 1990, p.
112) formador da matéria e dos sentidos do livro. Nesse tocante, a
materialidade não se esgota na fisicalidade do objeto ou do registro, ao
contrário, transcende-o e revela relações culturais de sentido.
“Todos estes elementos materiais, corporais ou físicos”, para Chartier
(2001, p. 30), “pertencem ao processo de produção de sentido”, uma
materialidade na qual também participa o leitor, em sua “corporeidade social e
culturalmente construída” (CHARTIER, 2001, p. 32). Ao chamar para o plano
dialógico o mundo social do registro e do leitor, tem-se uma dimensão
complexa tanto do ato de escrever ou tipografar, como do de ler. Trata-se de
um cenário que avança para os movimentos dialéticos da mediação, uma vez
que o registro medeia intenções autorais (ou do seu ciclo de produção), fixadas
como pistas verbais e não verbais no texto, e o leitor, por meio de uma ação
interferente de natureza interpretante, não necessariamente confirma a
mensagem, mas confronta, atualiza, transforma o que lhe chega aos sentidos.
O leitor se apropria do registro, tomando posse e controle da informação
(CHARTIER, 2001), ainda que provisória e silenciosamente, tornando “o texto
habitável, à maneira de um apartamento alugado” (CERTEAU, 2019, p. 48).
�79
Ação
semelhante
é
refletida
também
por
alguns
estudiosos
da
Documentação, como Meyriat (2016), cujo conceito de documento “não se
impõe como uma evidência inicial”, tendo em vista que “ele depende dos
pontos de vista e dos métodos da documentação e da documentologia”
(MEYRIAT, 2016, p. 241). O autor não trata esses objetos de modo apriorístico
e universal, como se existissem por si, mas como algo em constante
construção,
dependente não apenas da
intencionalidade de
uma rede
sociotécnica que configura a matéria para fins informacionais (“documento por
intenção”), como também da apropriação do público (“documento por
atribuição”). Tal apropriação, para Meyriat (2016), acontece pela atribuição de
sentido advinda do uso cotidiano, que pode confirmar a função informacional
dos documentos preparados para esse propósito, como livros e jornais, ou
transformar coisas improváveis em documentos, como uma pedra que serve
de leitura para um geólogo.
Na referida área, em fase mais recente chamada “neodocumentação”, a
ideia de “materialidade” é trabalhada de modo mais denso por Frohmann
(2008), que a compreende em contraponto à informação de ordem mental.
Para o autor, “o conceito de materialidade traz um entendimento muito mais
rico do caráter público e social da informação em nosso tempo” (FROHMANN,
2008, p. 3). Isso porque a sua perspectiva diz respeito ao modo como a
informação toma corpo, ou seja, torna-se documento por práticas humanas,
pelos exercícios de poder e controle manifestos nos sistemas de informação e
de comunicação. O autor foca no aspecto disciplinar da produção documental,
uma vez que parte de suas referências vem de Foucault, e ressalta a
importância dos mecanismos sociais como as instituições que, por ações
interativas e seletivas, produzem e subjugam fenômenos informacionais em
uma espécie de “regime de informação” (FROHMANN, 1995, p. 6, livre
tradução), quer dizer, uma rede organizacional que interfere no registro e em
seus efeitos.
Tal regime fornece os indícios pelos quais a matéria é formada e
prescreve a maneira que os significados devem ser mediados e apropriados,
visando consolidar relações estáveis de sentido. Porém, a natureza da
�80
mediação que se faz por tramas culturais mais amplas é, sobretudo, complexa
do mesmo modo que a cultura o é, pois ambas advêm da coletividade
ordenada e da imprevisibilidade cotidiana. Para Geertz (2015), existir no
mundo requer estar culturalmente ordenado, e tal ordenação reverbera pelas
produções humanas (símbolos), como nos registros, e se expressa pelos
mecanismos
sociais
de
inserção
e
de
controle,
como
nos
regimes
informacionais. A ordenação é o código cultural que autoriza e, ao mesmo
tempo, deslegitima formações, permitindo à ordem haver o mundo e seus
fenômenos, embora não os resolva por completo, dada a pluralidade cultural e
a “poética” cotidiana, com seus artifícios significantes não autorizados
(CERTEAU, 2019).
A ordem é, pois, um estado que condiciona produções, como a tipografia.
Sem ela, o caractere, nem como elemento técnico nem como fenômeno
informacional e comunicacional, existiria. Mas para além dessa cadeia
disciplinar, existem as artimanhas que desarmam regimes preconcebidos e
produzem efeitos imprevisíveis. Isso permite uma poiesis que, apesar de
discreta e anônima, revela-se necessária à dinamicidade do mundo, às
formações e às mediações.
3 TIPOGRAFIA COMO FENÔMENO CULTURAL E SIGNIFICANTE
Enquanto técnica de registro, a tipografia pode ser compreendida como
sistema formado por peças físicas e, atualmente, códigos digitais que
cooperam na composição e reprodução de textos impressos e eletrônicos. Essa
perspectiva enfatiza a relação instrumental do objeto como meio produtor de
documentos a partir de processos, por vezes, industriais, dada a velocidade e a
quantidade de produtos padronizados em série. Ela evidencia um regime de
produção específico, não descontextualizado do entorno social formado pelos
sujeitos que originam serviços (autores e editores), manipulam a máquina
(impressores), criam produtos (designers) e consomem (leitores), além dos
�81
fornecedores de insumos, mantenedores, vendedores e demais atores que
participam do “ciclo de vida” geral dos impressos (DARNTON, 1990).
O
pensamento
ligado
à
tipografia
enquanto
meio
operacional
é
frequentemente observado na literatura sobre o tema, como acontece, por
exemplo, em Araújo (1986). Quando o autor trata da editoração e afirma que
a difusão da imprensa serviu, antes de tudo, para “evitar a incidência de erros
tal como se verificava nas reproduções manuscritas” (ARAÚJO, 1986, p. 45),
infere-se à técnica uma função disciplinar em que o sistema tipográfico seria
utilizado como ferramenta de controle a conservar intenções autorais.
Entretanto, a abordagem de Araújo (1986) repousa no aspecto mecânico da
relação, na tipografia percebida como aparato neutro, promotor de duplicatas,
e não como fenômeno dialético, histórica e socialmente localizado. Nesse
sentido, o dispositivo tipográfico não atuaria com plena eficácia devido aos
“freqüentes [sic] e inquietantes acidentes de impressão” (ARAÚJO, 1986, p.
45), algo difícil de ser estabilizado, para aflição dos que perseguem regras
simples na produção, tratamento e mediação de documentos impressos.
O segundo momento surge quando Araújo (1986) lança a sua definição
sobre os tipos. Para ele, a tipografia “além de designar comumente o
estabelecimento onde se faz a impressão, significa antes de tudo determinado
sistema de reprodução de cópias, mas também a maneira como se distribuem
os tipos na página” (ARAÚJO, 1986, p. 536). Com isso, adere-se à técnica um
efeito estético que corresponde à forma ou projeto gráfico da página
tipografada, sem, mais uma vez, avançar na discussão. Pelo objetivo deste
capítulo, deve-se transcender a relação mecânica para compreender a
tipografia na totalidade de suas representações, como um sistema simbólico,
dialogicamente ligado ao homem e aos modos culturais de ordenar e de
produzir significados. Esse sofisticado sistema de escrita é originário do
contexto europeu do século XV e tem se mostrado impregnado de simbolismos
que percorrem épocas, ordenações e conflitos, mediando apropriações e
transformações diversas.
Antes dos tipos móveis serem instituídos, a produção no interior dos
monastérios
da
Idade
Média
era
cercada
de
numerosas
convenções
�82
envolvendo tempo, local, condições dos copistas, conteúdo das obras, preparo
dos materiais, estilo das letras, formato dos documentos, ilustrações e
acabamentos, compondo um padrão que orientava a produção escrita. Tal
cuidado incidia sobre o valor material e imaterial das obras, transformando os
livros em artigos caros, reservados à minoria. Algumas dessas relações foram
continuadas pelo modelo tipográfico empreendido por Gutenberg, como o
formato em códice dos livros e, na fase inicial da imprensa, a grafia gótica
adaptada aos caracteres metálicos e individualizados, que são os tipos móveis
(BRINGHURST, 2015; CHARTIER, 1999; LUPTON, 2009; MEGGS, 2009). Por
outro lado, a tipografia promoveu rupturas, como o paulatino, embora
irregular, acesso ao letramento e à aquisição de obras (diferentes formatos,
como os de bolso, foram desenvolvidos visando um menor custo para o uso
cotidiano,
por
exemplo).
Outras
modificações
sociais
de
larga
escala
aconteceram, de certa maneira, associadas ao empreendimento tipográfico,
tais como o desenvolvimento civilizatório, o surgimento da autoimagem
nacional e do modo de vida urbano, as novas relações de trabalho e de
consumo, o movimento protestante, o Iluminismo, o progresso científico e a
mídia (BRIGGS; BURKE, 2006; BURKE, 2003; ELIAS, 1996; MCLUHAN, 1977;
MCMURTRIE, 1982).
No alvorecer da modernidade, a técnica, o conteúdo e a forma dos
escritos em massa sofreram revisões. O método de produção artesanal se
tornou manufaturado pela prensa móvel, os textos perderam a censura
eclesiástica, passando a resgatar clássicos greco-romanos e a gozar de certa
liberdade de circulação, e, ainda no século XV, a estética gótica perdeu a
hegemonia para o estabelecimento da forma romana advinda, em parte, das
inscrições lapidares do antigo Império Romano. As ordenações medievais
sofreram
enfraquecimento
pela
ascensão
dos
humanistas,
classe
de
pensadores leigos, cuja erudição não estava atrelada à Igreja (BURKE, 2003).
Essa ação visava desprender o homem das amarras do comportamento
“bárbaro” e do pensamento “mágico-mítico”, marcas da fase medieval, e a
estética tipográfica romana ou humanista se tornou um dos símbolos desse
movimento. Ela materializou a tensão existente entre um passado preconizado
�83
como obscuro e um presente prometido como libertário, artificializando-se
rumo a uma cientificidade que apagaria, ao longo de séculos de sofisticação
técnica, os vestígios de uma cultura tradicionalmente oral, comunitária e
artesanal (BENJAMIN, 2018), a fim de privilegiar a lógica do progresso, do
capital e do individualismo.
Assim, na missão de formar e ampliar sociedades ditas esclarecidas e
desenvolvidas, a tipografia se sujeitou aos processos e mudanças que
empreendera, reconfigurando-se conforme as ordenações sociais e culturais
provocadas. Com a virada paradigmática promovida pela compreensão pósmoderna de mundo, no século XX, ampliada pela revolução informática dos
meios de informação e de comunicação, esse escamotear de sentidos pela
forma foi, em certa medida, revisitada. A linguagem digital permitiu uma gama
de expressividades estéticas, infocomunicacionais, modificando também os
modos de escrever e de ler. De acordo com Chartier (1999), as novas
tecnologias e a linguagem digital afastaram o escritor e o leitor comuns da
experiência em torno da substância, isto é, da fisicalidade pela qual o texto
tradicionalmente impresso se apresentava, desconstruindo identidades antes
resolvidas. Nesse cenário de instabilidades elevadas, conforme reflete Martins
(2015, p. 86), “é para os ecrãs que agora olhamos, é para as telas, [...] uma
luz de cuja artificialidade nos damos conta quando a corrente elétrica falha”.
Isso evidencia o caráter provisório e simulacro pelo qual as relações humanas
e suas formações contemporâneas, incluindo a tipográfica, tornaram-se
marcadas.
Diante da pluralidade de indícios socioculturais mediados pelas formas, a
tipografia deve ser compreendida, de acordo com Flusser (2010, p. 61), “muito
mais como uma nova maneira de escrever e pensar do que como técnica para
produção de impressos ou método para disseminação de informações
alfanuméricas”. Os caracteres não são tratados pelo autor como meras peças
de um maquinário pelo qual textos são montados, mas expressam “sentido de
modelo, forma, esquema ou conjunto interligado de características que pode
ser repetido por um número indefinido de exemplares” (FLUSSER, 2010, p.
62), o que os aproxima da noção primeira levantada por Araújo (1986).
�84
Entretanto, Flusser (2010) vai além e afirma que a tipografia, para além da
esfera técnica, diz respeito à promoção daquilo que se tornou universal e
categórico na cultura humana (“typos”, em grego), isto é, de tudo o que pode
ser reunido, classificado e organizado por esquemas lógicos, tipificados. Nessa
perspectiva, a tipografia se manifesta como signo infocomunicacional complexo
e, ao mesmo tempo, traço cultural que tem permeado a sociedade moderna.
“Nós cremos na realidade dos universais, dos tipos, na realidade da partícula
atômica, dos genes, das classes sociais, das raças, e tentamos exibi-los e
manuseá-los”, afirma Flusser (2010, p. 64), que continua: “A tipografia
esclareceu que manipulamos tipos quando escrevemos”, sendo o motivo pelo
qual “tornou-se um suporte da ciência moderna” (FLUSSER, 2010, p. 64).
Na concepção de Flusser (2010), a tipografia é, pois, uma manifestação
da cultura intelectual humana que atingiu o apogeu na fase moderna. Trata-se
de um sistema simbolicamente ordenado, que permitiu ao homem a ilusão de
domínio sobre as coisas da natureza a partir do exercício da Razão e da
supressão do diferente. Como expressão cultural, a tipografia é ordenada de
modo a permitir que sinais sejam arranjados e provoquem leituras advindas da
constituição do alfabeto, das regras da língua, mas também por refletir, na
própria matéria, o percurso histórico e cultural da humanidade. Por ser um
sistema estabilizado de e por símbolos, é que os caracteres permitem fluxos
infocomunicacionais diversos, como a materialização da fala e dos gestos, o
registro de ideias em suportes, os processos de documentação, os meios de
interação midiáticos e as significações outras em um dado contexto. Tais
códigos e linguagens são fenômenos culturais e significantes, tal como são os
caracteres. Assim, pode-se dizer que a tipografia participa intimamente da
realidade
humana,
recebendo
sobre
si
os
índices
das
ordenações
socioculturais, além de servir como meio em prol da configuração da realidade,
integrando e reforçando mecanismos de ordem, controle e sentido, pois, em
parte, é deles que se vale para se estabilizar enquanto signo, informar e
comunicar mensagens.
O tipo romano batizado como Civilité, segundo Elias (1996), foi
comumente utilizado até o final do século XVIII para dar corpo aos manuais
�85
que instruíram o comportamento civilizado do europeu. Via-se, nessa família
tipográfica, um símbolo favorável às noções de civilidade cultivadas no
Ocidente, sintoma da hegemonia humanista e de sua estética sobre os modos
de vida, que deveriam ser racionalizados em prol de um modelo de
desenvolvimento social. No âmbito científico atual, tem-se a prescrição de
certas regras tipográficas para dar corpo e alguma validade aos trabalhos
oriundos de pesquisas, constituindo padrões formais para as comunicações.
Trata-se das regras de normalização acadêmica estipuladas por instituições
reguladoras como a American Psychological Association (APA), no cenário
internacional, e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no
contexto nacional. A primeira (AMERICAN..., 2010) defende o uso da Times
New
Roman,
outra
fonte
tipográfica
de
estilo
romano.
A
segunda
(ASSOCIAÇÃO..., 2011), que não especifica qual fonte usar, determina que o
tamanho da letra escolhida seja 12 para o texto geral, além de listar outros
detalhes que configuram, juntos, a forma do documento acadêmico, incidindo
efeitos sobre a materialidade e a recepção.
Vale ressaltar que a Times New Roman, popularizada pelo meio
acadêmico local e internacional, surgiu para dar identidade gráfica ao jornal
britânico “The Times”. É, no dizer de Bringhurst (2015, p. 109), um “pastiche
histórico desenhado por Victor Lardent para Stanley Morison em Londres, em
1931”, possuindo “um eixo humanista mas proporções maneiristas, peso
barroco e um acabamento preciso, neoclássico”. Isso significa que a fonte
carrega diversas referências estéticas, históricas e culturais na estrutura, que
foram atualizadas na década de 1990, quando os direitos de uso e distribuição
foram
comprados
pela
Microsoft™
para
instalação
em
sua
rede
de
computadores, o que permitiu a digitalização e a interação com o grande
público. Assim, a fonte que foi processada originalmente para mediar os
significados em torno do jornal londrino, vaga hoje como matéria deslocada
das intenções primeiras de seu criador, tendo os vínculos simbólicos
apreendidos e reordenados pelo uso massivo das instituições normativas e
acadêmicas. Ao reconfigurar a teia de significados da Times, a Academia lhe
�86
ofereceu um novo sentido, tal como qualquer usuário possa lhe atribuir, dado o
caráter dinâmico das mediações e das apropriações.
Portanto, pode-se dizer que a tipografia é diversa de sentidos do passado
e do presente, e uma tensão vem à tona no ato das composições: a forma e os
significados estão sempre na iminência de reordenação. Ao serem postos no
papel ou na tela, não apenas produzem mensagens, mas o próprio caractere
surge carregado de significações que lhes são próprias, de visões de mundo,
de ideologias e tecnologias. Isso atesta o sentido dialético e público das
produções humanas, que são artifícios localizáveis contextualmente, além da
própria
natureza
das
mediações,
que
são
fenômenos
interativos
e
interferentes, dependentes de ações coletivas. O resultado informacional e
comunicacional do registro ou documento tipográfico surgirá, então, das
escolhas feitas entre o verbal e o não verbal, entre a forma e a função ou,
ainda, entre a matéria e o espírito da letra, representados pelo caractere.
Na
compreensão
antropológica
do
fenômeno
tipográfico,
as
possibilidades materiais e mediacionais estão sempre grávidas de efeitos e de
ordenações culturais, tal como diz Freire (2006) acerca das palavras, ficando a
tipografia entendida como uma narrativa sofisticada do mundo, a sofrer das
múltiplas interferências contextuais dos atos de compor e de ler. “Todo
alfabeto é uma cultura. Toda cultura tem sua própria versão da história e seu
próprio acúmulo de tradições”, defende Bringhurst (2015, p. 158). Assim, a
tipografia como fenômeno informacional e simbólico se faz pelas tramas da
cultura, matriz semiótica de significados, plena de processos transitórios de
sentido.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela cultura de abordagem semiótica e antropológica, um fenômeno
como a tipografia desperta sentidos porque plurais são as visões de mundo,
assim como os condicionamentos que participam da experiência. A relação
interpretante está ordenada por processos que configuram práticas, estando a
�87
cultura, enquanto tear de significações, a mediar conflitos e intencionalidades
estabelecidas nas produções e recepções. Nesse tocante, aquilo que se
apreende das páginas advém de complexos e incertos filtros operados no
mundo e por meio dele, ou seja, de lentes provenientes dos diferentes regimes
simbólicos pelos quais o homem, coletiva e cotidianamente, constrói e é
construído. O próprio ato de compor não se desvincula dos valores culturais do
mundo,
o
que
imprime,
na
matéria,
índices
que
datam
e
sinalizam
perspectivas culturais.
O olhar antropológico sobre as coisas e as relações de mundo é também
informacional no sentido de que, pelo interpretar, significados são apreendidos,
mensagens são apropriadas, relações são estabelecidas. Mediar pelas tramas
da cultura condiz com o ato de informar e de comunicar como categoria social,
tal como preconiza a atual fase da Ciência da Informação, em que o fenômeno
informacional dialoga com os modos intersubjetivos de produção e de
apropriação. Assim, a tipografia, enquanto fenômeno cultural e significante,
ilustra aquilo que o conceito social de informação ou documento representa,
quer pelos simbolismos configurados via estratégias compositivas, quer pelas
práticas de leitura, favorecendo uma relação que excede os parâmetros físicos
e
cognitivos
superados
pelo
referido
campo
científico,
na
abordagem
paradigmática.
A técnica, de maquinário restritamente operacional, e a estética, de item
simplesmente cosmético, transcendem para um viés profundamente interativo
com o homem. Essa relação vitaliza e dinamiza as formas tipográficas, seja
nos atos de composição, seja de leitura, transformando caracteres e páginas,
de canais neutros ou impessoais, em signos dinâmicos, comunicantes. Por isso,
“página viva”, título deste trabalho. Pois, pela cultura, sentidos são evocados
na e pela tipografia, burilando aspectos formais e produzindo significados que
atualizam usos e apropriações. Tudo isso permite haver a tipografia como
materialidade vívida, cuja mobilidade simbólica aponta para a semiose infinita,
graças à ação da cultura que se refaz intensamente, pela trama do vivido.
�88
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DADOS BIBLIOGRÁFICOS
Ismael Lopes Mendonça: Doutorando em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre
em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Ceará,
especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem pela
Universidade Federal do Ceará e graduado em Comunicação
Social (Publicidade e Propaganda) pela Universidade Federal do
Ceará. No doutorado, é bolsista da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais e participa do grupo de
pesquisa “Informação e Leitura”, vinculado à Universidade
Federal de Minas Gerais e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Possui experiência em
Ciência da Informação e em Comunicação, com ênfase nos
temas: relações socioculturais da informação e da comunicação,
mediação, leitura, história social do livro e da imprensa,
materialidade, tipografia, design gráfico e direção de arte
aplicada à publicidade.
E-mail: ismaelmendonca@gmail.com
�91
CAPÍTULO V - A prática da mediação em museus: entre o
artefato e a subjetividade
Felipe Eleutério Hoffman
1 INTRODUÇÃO
O vocábulo mediação pode ter sua origem rastreada a partir de uma raiz
grega mesou, ou ainda do latim médius/mediatio, que etimologicamente está
ligada em seu sentido original ao significado de intervenção, interferência,
intercessão ou ainda conciliação. Nesta acepção podemos identificar a raiz med
com o significado de “meio” que remete a ideia de uma posição mediana, algo
que se encontra no meio, no centro, um elemento terceiro que se coloca entre
duas outras partes, agindo como um intermediário, capaz de conciliar estes
dois elementos.
No universo dos museus o conceito pode apresentar acepções diversas,
mas dentro das diferentes possibilidades que se apresentam ao campo, esta
dimensão da mediação como algo que se coloca entre dois elementos com o
objetivo de provocar uma aproximação ou ainda uma relação de apropriação,
também é a que se apresenta de maneira mais comum.
De maneira geral no contexto museal a mediação está ligada a uma série
de intervenções que tem como finalidade estabelecer pontos de contato entre
aquilo que é exposto, representado, rememorado no espaço dos museus e os
diferentes significados que podem ser apreendidos por meio deles por um
público visitante. Desta forma estas diferentes intervenções podem apresentar
dimensões e contextos diversos de acordo com os distintos olhares que
caracterizam as funções e o fazer museal. Neste sentido o presente texto
objetiva traçar um olhar panorâmico sobre algumas destas perspectivas que se
apresentam ao conceito de mediação no âmbito dos museus sem buscar, no
entanto esgotá-las.
�92
Partiremos da percepção da mediação nos termos do que é denominado
nos museus de “ação educativa” ou “mediação cultural” destacando a figura do
“educador” ou “mediador” como o responsável por desenvolver atividades
educativas e/ou informativas e provocadoras no âmbito dos espaços museais.
Em seguida trataremos da mediação no que tange as atividades que são
realizadas com os artefatos e documentos para além do contato direto com o
público, destacando a prática da curadoria como instância de mediação. Por
fim
abordaremos
outras
possibilidades
de
compreensão
da
mediação
considerando novas formas de relacionamento que se desenvolvem entre as
instituições museais e o território em que se encontram inseridas no âmbito
das cidades, pensando o museu como espaço relacional, fruto de novas
abordagens que se descortinam para a museologia e para o campo dos
museus no contemporâneo.
No entanto antes de adentrarmos estas diferentes perspectivas faz-se
necessário
trazer
alguns
apontamentos
acerca
da
própria
trajetória
e
conceituação da instituição museu destacando aspectos que se tornam
fundamentais na percepção destes lugares como espaços de mediação.
Percurso que percorremos a seguir.
2 O MUSEU COMO INSTITUIÇÃO MEDIADORA DA REALIDADE
A origem da palavra museu advém da Grécia antiga, uma alusão ao
templo das musas, o Museion. Dedicados às nove deusas das artes e das
ciências, filhas de Zeus e Mnemôsine, lugares de culto e adestramento nas
artes.
No entanto, o museu da forma como o conhecemos hoje, passa pelas
coleções de objetos e dos gabinetes de curiosidades, onde o contato com este
patrimônio era ainda restrito a alguns estudiosos e é apenas nos séculos XVII
e XVIII que estes se reorganizam, enquanto instituição, assumindo um formato
próximo ao que conhecemos atualmente. A ideia de “um espaço bem
delimitado, destinado à guarda, estudo e exposição de objetos aos quais é
�93
atribuído um sobrevalor – importância religiosa, cívica, científica, estética, ou
qualquer outra- que os torna passíveis de proteção” (BITTENCOURT, 2009,
p.17).
É, portanto a partir dos ideários e de um projeto burguês, tendo como
vértice a Revolução Francesa, em 1789, que os testemunhos históricos e
artísticos são valorizados como construção de uma cidadania formadora da
coletividade e passam a ser vinculados ao campo da representação e a ser
utilizados com fins políticos, com o objetivo de unir grupos cultural e
socialmente distintos, em um projeto unificador de identidade e de nação.
Os monumentos históricos, os saberes e as práticas que os rodeiam
institucionalizam-se. Esculturas, pinacotecas, arquivos nacionais e bibliotecas
públicas, são criadas com a função de dar visibilidade ao poder constituído e de
servir ao mesmo tempo como ferramenta para instrução dos cidadãos. É
também neste contexto que os museus se consolidam enquanto instituição:
A força do conceito de instituição clareia sua função organizadora. [...]
as instituições são percebidas como fator de organização da sociedade,
interligação dos indivíduos a atividades permanentes, passando a
conhecer sua própria sociedade através das representações coletivas
que a simbolizam em totalidade. [...] a instituição inscreve-se no
contexto do grupamento social legitimado, sendo reconhecida e dotada
de verdade validada por si própria, um fato social que determina
comportamentos coletivos e inscreve-se como instrumento de análise
das contradições sociais. A institucionalização das coleções reais e
privadas em museu, tal como hoje é entendido, atenderia perfeitamente
as ambições burguesas em afirmar-se enquanto classe dominante
(CASTRO, 2002, p.103).
Esta
feição
institucional
dos
museus,
resultado
desta
complexa
vinculação com o estabelecimento dos Estados Nacionais, os estabelecem
como local de preservação de uma memória e patrimônio cultural. Patrimônio
e memórias estas que espelhavam o poder das camadas dominantes da
sociedade.
É a partir desta configuração que se deu a exportação e absorção deste
modelo de instituição museal pelo “novo mundo” e pelas nações orientais. Nas
colônias com a implantação de museus que refletiam a forma como a cultura
local era
vista
pelos
“olhos
europeus”,
representavam
um
desejo
de
incorporação política das realidades que se ora se descortinavam. No oriente,
ainda que um pouco mais tarde, principalmente através da implementação de
�94
museus de arte de estilo ocidental, reflete-se a disposição de mostrar ao
ocidente uma posição como aliado político confiável e uma adesão aos
símbolos e valores ocidentais (DUNCAN, 1996).
Neste sentido, desde seus primórdios se percebe o museu como espaço
de não neutralidade. “A instituição museal torna-se, por força de sua
representatividade, uma preciosa aliada na utilização da memória coletiva
como exercício de poder” (CASTRO, 2002, p. 111). Estabelecem-se desta
forma os museus como instrumento de afirmação da nacionalidade, que
deveriam estimular a admiração pública.
Detinham então um papel privilegiado como propagadores de uma
memória oficial, fortemente identificada com a ideia da nação como principal
suporte de uma memória coletiva. Se caracterizavam em suas origens por um
acesso restritivo a seus espaços, inicialmente como lugares para os membros
das classes mais abastadas, pesquisadores, membros da nobreza e das classes
dominantes. Ao longo do século XIX e XX, vão gradualmente se abrindo a
visitação pública.
No entanto, para além do acesso físico aos espaços do museu, outra
questão fundamental na relação da instituição museal com a sociedade como
instância mediadora do patrimônio cultural, diz respeito ao acesso simbólico.
Os procedimentos de coleta de acervo em seus primórdios privilegiavam os
segmentos das elites sociais. Suas exposições adotavam um tratamento
factual da história, promovendo o culto à personalidade, a veiculação de
conteúdos dogmáticos, em detrimento de uma reflexão crítica (JULIÃO, 2006).
Estes fatores que exercem ainda hoje, influências nas práticas museais,
constituem-se em um dos principais veículos de críticas feitas aos museus.
Foram diversos os intelectuais que desde a gênese das instituições museais,
despenderam críticas à lógica museal. Preso a ideia de representação de uma
unidade nacional, a partir de uma perspectiva elitizada, o discurso museal
impossibilitava ao público visitante uma identificação mais profunda com o que
viam em suas galerias, estes se configuravam apenas como espectadores.
As primeiras décadas do século XX trazem mudanças, principalmente a
partir das críticas realizadas pelas vanguardas do movimento moderno aos
�95
espaços museais e ao mesmo tempo pelo surgimento de uma visão mais
pragmática e associada a uma vertente mais mercadológica de museu nos
Estados Unidos. O museu começa a atender novas demandas e serviços,
associados não só a uma vertente educacional e cultural, mas também ao
entretenimento (SILVA, 2007).
No entanto, apesar de todas as transformações nos espaços museais,
permanecia ainda um distanciamento destas instituições com o público. Ainda
que propusessem uma série de novas atividades que incentivam a visitação,
havia toda uma diversidade cultural que não se sentia representada nestes
espaços de memória. Esta condição somente irá se alterar frente aos
movimentos e demandas que se originam no período pós-segunda guerra
mundial, principalmente a partir da década de 1960, movimentos estes que
ganham força nas décadas seguintes. Tal agitação resulta na quebra do
paradigma dos museus enquanto lugares associados exclusivamente ao
universo simbólico das elites e a uma ideia hierarquizada de cultura,
proposições que correm em paralelo com o alargamento da noção de
patrimônio.
Frente a esta conjuntura os museus se reestruturam e começam a
incorporar as questões relativas à vida cotidiana das comunidades, as lutas
pela preservação do meio ambiente e a memória de grupos sociais específicos.
Novas práticas e teorias sinalizam para uma função social do museu, que
passava a redefinir o seu papel, ao estabelecer como seu objetivo maior o
público, e não mais seu acervo. Este fator imprime aos museus uma função
crítica e transformadora na sociedade. Neste sentido, é neste ínterim que o
surgimento do conceito de ecomuseu e museu comunitário, no qual se
expressa a relação da população de um determinado território com sua história
e com o território que o cerca ao incorporar o patrimônio natural e cultural,
transforma a relação entre o museu e a sociedade.
Na
atualidade
o
conceito
de
museu
sofreu
grande
expansão,
principalmente no contexto pós-segunda guerra mundial no qual a criação do
ICOM
teve
determinante
influência,
propiciando
grandes
avanços
na
mentalidade museal em resposta as estas demandas sociais do pós-guerra.
�96
Portanto, ainda que tenham se estabelecido a partir de uma tradição do
ocidente, as instituições museais se configuram na contemporaneidade como
um fenômeno de alcance global.
Até recentemente segundo o ICOM (Conselho Internacional dos Museus)
um museu poderia ser definido como:
[...] uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire,
conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial
da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite
(DESVALLÉES; MAIRESSE, 2014, p.64).
No entanto a partir de uma compreensão de que a atual definição não dá
conta da complexidade da realidade do século XXI, bem como das novas
responsabilidades e compromissos assumidos pelas instituições museais, e ao
mesmo tempo demonstrando a vitalidade do campo museal, começa a ser
debatida uma nova definição de museu em âmbito internacional. Tal
conceituação se baseia na apreciação de uma nova definição que será discutida
por especialistas do campo dos museus no âmbito dos canais institucionais dos
comitês institucionais do ICOM e deverá ser apresentada a comunidade museal
nos próximos anos.
Este movimento, contudo nos demonstra que ainda que se possa
estabelecer uma referência norteadora para o campo museológico a realidade
dos diferentes contextos museais nos remete a existência de uma pluralidade
de iniciativas, lugares, formas e proposições de museus no contemporâneo que
serão sempre desafiadoras e por vezes contraditórias, e que é dentro da
compreensão desta perspectiva diversa que podemos falar nas diferentes
realidades e práticas de mediação no âmbito dos museus.
3 MEDIAÇÃO, MEDIADORES E MUSEUS: O ELEMENTO HUMANO NA
MEDIAÇÃO DO ESPAÇO EXPOSITIVO
Como visto anteriormente, principalmente nas últimas décadas, os
museus passam a ocupar espaços socioculturais mais amplos com uma
�97
diversidade tipológica e conceitual que também vai refletir diretamente nas
práticas e nas formas de comunicação destas instituições com seu público.
O uso crescente das linguagens digitais tem proposto novas formas de
relacionamento entre os museus e seus visitantes, seja através das visitas
virtuais e dos canais de relacionamento e divulgação feitas por meio da Web
ou através da incorporação destas linguagens em seus espaços físicos,
propondo novas abordagens lúdicas e interativas. Contudo apesar de todas as
mudanças reconhecemos que as exposições ainda se configuram como a
principal forma de comunicação das instituições museais com a sociedade.
Neste ambiente se destaca um reconhecido uso crescente do termo
mediação para designar as atividades realizadas por um profissional da
instituição
que
é
responsável
por
desenvolver
atividades
educativas
diretamente com o público transmitindo as propostas pedagógicas dessas
instituições.
Profissional
este
frequentemente
identificado
pelo
termo
“mediador”.
Os mediadores profissionais tornam mais agradável a acolhida aos
diferentes tipos de público nos museus; conduzem e orientam sua visita
às exposições, oferecem aos visitantes diferentes leituras das
exposições; propõem e/ou participam de atividades educativas, em um
convite ao aprendizado; promovem a interatividade entre público e
exposições; esclarecem dúvidas e ao mesmo tempo questionam, de
modo a despertar a curiosidade e a reflexão, mas sobretudo, sabem
ouvir o visitante (RIBEIRO; FRUCCHI, 2007, p. 69).
Comprometidos com a tarefa de tornar mais significativa a experiência
de comunicação de sentidos e a aprendizagem nos museus, por muitas vezes
são eles o contato mais direto com a comunidade de usuários a partir do
momento que atuam também como serviços de atendimento e referência. A
atividade de mediação nesta perspectiva se encontra inserida nos programas
educativos
das
instituições
museais
podendo
adotar
atendimentos
diferenciados conforme segmentos específicos de público, famílias, grupos
escolares, idosos, pessoas com deficiências, entre outros.
Ainda que possa ser encontrada sob a denominação de monitoria ou
visita guiada, segundo alguns autores, esta terminologia reflete pouco os
avanços conceituais sobre a natureza desta ação, ao assumir o visitante como
um sujeito menos receptor e que, portanto não necessitaria ser “guiado” ou
�98
“monitorado”. O caráter de mediação explicita de maneira efetiva um processo
mais interativo entre o visitante e a figura do mediador, que levanta sua
hipóteses durante o percurso e adquire conhecimento a partir de uma troca de
experiências na visitação (GRISPUM, 2014).
Neste sentido a mudança de nomenclatura refletiria também uma
mudança de postura. Inicialmente temos a figura do “guia” como aquele que
sabia e que decorava o maior número de informações acerca de determinada
obra ou tema e que ao realizar sua “visita guiada” pressupunha uma cegueira
ou ignorância total por parte do público. Passamos pela figura do “monitor”
que não buscava delimitar os limites do público, mas o comandava dentro do
espaço e aniquilava as múltiplas possibilidades de interpretação dos objetos.
Para por fim chegarmos a compreensão de que o educador nos museus, como
mediador, se transforma naquele que propõem um diálogo, atraindo do público
sua própria capacidade de estabelecer relações entre os artefatos. Enquanto
mediador este deve buscar se tornar mais um propositor do que propriamente
um banco de informações e dados a ser despejado em cima do público (PINTO,
2012).
Embora devamos considerar os impactos da multiplicidade tipológica
(históricos, artísticos, científicos etc.) e das diferentes realidades institucionais
dos museus na contemporaneidade, gostaria de finalizar a discussão neste
tópico apontando alguns aspectos que se caracterizam como determinantes
nesta relação do elemento humano como mediador presente no espaço físico
do museu.
Primeiro apontar para a necessidade da formação interdisciplinar das
equipes que compõem os setores educativos e das equipes de mediação nos
museus. A diversidade dos artefatos presentes nas instituições museais,
principalmente
considerando
as
ampliações
tipológicas
das
categorias
patrimoniais nos últimos anos, tem demandado o domínio de diferentes
linguagens de especialidade que tendem a se mostrar de maneira mais forte
quanto mais especializado a temática que o museu aborda.
Um segundo ponto é a necessidade do estabelecimento de um diálogo
com a comunidade externa para além dos espaços do museu, pensando e
�99
executando ações de extroversão que não só levem o museu à escola, por
exemplo, mas que também conduzam a momentos anteriores e posteriores a
visita na instituição, de diálogo com os diferentes públicos.
Por fim a partir da constatação de que, como ressaltam alguns autores, a
comunicação nos museus geralmente se desenvolve por um modelo unilateral,
ou seja, sem possibilidade de resposta por um público receptor (DESVALLÉES;
MAIRESSE, 2014), destaca-se o crescente papel das ações de mediação como
possibilidade de tornar o público visitante mais ativo. Um grande diferencial
“está no processo da mediação, como ele irá trabalhar com os diferentes
contextos envolvidos na leitura das imagens: o contexto de produção sim, mas
também o contexto de recepção, o da instituição e o seu próprio” (ALENCAR,
2015, p.117). Ao considerar as distintas experiências como instâncias de
aprendizado é estabelecido um aumento no foco por sobre a subjetividade
permitindo assim “a possibilidade de interpretações múltiplas, não apenas o
discurso
reprodutor
da
cultura
hegemônica,
mas
outras
formas
de
interpretação” (ALENCAR, 2015, p.123).
Todas estas questões apontam para a centralidade que a figura do
mediador nos espaços expositivos assume na atualidade, embora possamos
tratar de outras formas de mediação no espaço museal (assunto que
desenvolveremos a seguir), há que se reconhecer sua crescente importância
não só para a aproximação entre o público e o conteúdo das exposições, mas
também para a aproximação entre público e a instituição museal.
4 CURADORIA E MEDIAÇÃO: PROCESSOS DE MEDIAÇÃO EXPLÍCITOS E
IMPLÍCITOS NO ESPAÇO MUSEAL
Outra perspectiva para se pensar o conceito de mediação em âmbito
museal se relaciona com o contato do público com os artefatos e/ou
referências patrimoniais exibidas nos museus sem que haja no momento da
visitação a presença física de uma figura humana como mediadora como vimos
anteriormente. Trata-se da interação entre o sujeito e o objeto (geralmente
�100
exposto ao olhar) nas vitrines, expositores, displays, painéis e demais suportes
expositivos que podem ser empregados dentro das estratégias comunicativas
dos museus.
Como vimos a demanda de diferentes grupos pela preservação dos
testemunhos de sua história, somada a inclusão no grupo dos objetos
considerados como de interesse para preservação, dos testemunhos da era
industrial, traz uma expansão tipológica para o conceito de patrimônio, que faz
com que os museus passem a incluir objetos pertencentes a um passado cada
vez mais próximo do presente (CHOAY, 2001).
As instituições museais começam a ter de lidar com artefatos de
realidades cada vez mais desafiadoras e com questões relacionadas à coleta
contemporânea de acervos. Ao mesmo tempo este número cada vez mais
crescente de artefatos, implica em novas reflexões nas políticas museais, tanto
no que tange a seleção do que merece ser transmitido para as próximas
gerações, quanto na forma como estes objetos, valores e ideias serão
transmitidos.
Em meio a este turbilhão de novas confrontações os profissionais do
campo dos museus precisam lidar com esta diversidade de artefatos e por
extensão precisam pensar as maneiras como serão disponibilizadas para o
público as informações dos quais estes artefatos são suportes. Neste ponto é
preciso demarcar, os objetos em si não são informação, mas sim suportes que
carregam informação, possuindo assim um potencial documental enquanto
mediadores da realidade. A este respeito Meneses (1998), nos lembra, o
documento é um suporte de informação. Os traços materialmente inscritos nos
artefatos, como sua morfologia, composição físico-química, sinais de uso e
assim por diante, orientam leituras sobre as tecnologias e condições sociais de
fabricação, sua função, significações, entre outros. Portanto, não é o
pesquisador que faz o documento falar, mas sim o pesquisador que fala por
meio dos documentos.
Torna-se assim documento tudo que pode ser interrogado por um
pesquisador com a ideia de nele encontrar uma informação sobre o passado
�101
que nos sirva no presente ou que possa vir a ter significações para um
imaginário de futuro.
Se artefatos são produtos do engenho humano ao qual são atribuídos
sentidos, se os artefatos transcendem suas meras qualidades
morfológicas, se essas só podem ser interpretadas em articulação com
“atributos historicamente selecionados e mobilizados”, não importa
então se falarmos de uma agulha ou de uma estrutura gigantesca,
complexa, cheia de detalhes visíveis e invisíveis: todos, sem exceção,
dependem da interpretação que deles é feita por seus usuários
(BITTENCOURT, 2009, p.24).
Acontece que frequentemente no contexto dos museus o nome dado a
esses profissionais pesquisadores é o de “curador” e ao desafio de selecionar,
interpretar e inter-relacionar estes artefatos na produção de diferentes
narrativas dá-se o nome de “curadoria”. Atividades estas que se encontram
presentes em qualquer museu independente de sua temática, tamanho,
localização e escala, ainda que na realidade de um pequeno museu o
encarregado não se reconheça como tal (BITTENCOURT, 2008, p.7).
Nesta direção os museus se traduzem como lugares em que estas
interpretações, narrativas (escritas, ou orais) podem ser agrupadas na
conformação de diferentes discursos sobre a arte, ciência, história e memória
de um lugar, de acontecimentos ou personagens, que por sua vez são
colocadas a disposição de uma nova interpretação por seus usuários.
É neste âmbito que alguns pesquisadores do campo da Ciência da
Informação vão nos falar que a mediação se estende para além do trabalho de
contato direto com o público e fazem a defesa de que na organização da
informação, no processamento técnico dos artefatos e suportes de informação,
também está o trabalho de mediação. Considerada como um trabalho de
mediação implícita em oposição aos processos de natureza explícitos que
estariam
mais
relacionados
ao
contato
direto
do
profissional
com
a
comunidade de usuários.
Esta mediação implícita:
[...] encontra-se nos “bastidores” de uma unidade informacional.
Atividades tais como: formação e desenvolvimento de coleções,
tratamento informacional (representação descritiva e temática), o
trabalho com softwares e base de dados, circulação, administração,
entre outros, constituem a Mediação Implícita (PAULA, 2012, p.73).
�102
Nesta perspectiva se pode destacar o papel dos profissionais que atuam
nos museus como profissionais da informação, no entendimento do objeto
como suporte informacional, portanto documento, a partir do qual se produz
conhecimento. Atuação esta centrada fundamentalmente na mediação entre os
objetos do acervo e os visitantes da instituição, realizada de maneira geral no
universo dos museus, ainda que não exclusivamente, pelos profissionais
museólogos, que são responsáveis pelas ações de preservação, pesquisa e
extroversão da informação nestes contextos.
Neste sentido, as práticas de pesquisa e documentação museológica bem
como os planejamentos previstos em planos museológicos podem ser
compreendidas, nesta perspectiva, como instrumentos de uma mediação
implícita, na medida em que são realizadas com o objetivo de atender a
necessidades informacionais. Ocorrem em situações e [...] “nos espaços dos
equipamentos informacionais em que as ações são desenvolvidas sem a
presença física e imediata dos usuários” (ALMEIDA JÚNIOR, 2009, p.92-93). É
neste âmbito que podemos afirmar que a curadoria, exerce no museu, um
papel de mediação. Seja de maneira explícita por meio das exposições, ações
culturais e atividades educativas ou de forma implícita no tratamento
informacional do acervo, no estabelecimento de uma política de aquisição e
descarte e etc.
A mediação se encontra presente em todos os procedimentos do museu,
desde a curadoria até o trabalho final da exposição e assim como afirmamos o
museu como espaço de não neutralidade, as diferentes práticas de mediação
devem ser compreendidas como interferências intencionais. Em oposição ao
pensamento
hegemônico
que
apresenta
o
trabalho
do
profissional
da
informação como dotado de neutralidade e imparcialidade:
A imparcialidade e a neutralidade, embora procuradas, não se
concretizam, pois o profissional da informação atua como matéria-prima
que, por si, não é neutra. A informação é carregada e está envolta em
concepções e significados que extrapolam o aparente. A informação está
imersa em ideologias e em nenhuma hipótese se apresenta desnuda de
interesses, sejam econômicos, políticos, culturais, etc (ALMEIDA
JÚNIOR, 2009, p.93).
�103
A partir disso podemos pensar a própria edificação museal e suas
diferentes significações e usos dentro de outras estratégias e instâncias
comunicativas como um agente mediador.
5 MEDIAÇÕES MUSEAIS NO ÂMBITO URBANO: A MUSEOLOGIA SOCIAL
E NOVAS RELAÇÕES DE MEDIAÇÃO COM O TERRITÓRIO
Desde sua implantação nas principais cidades europeias no século XVIII
os museus sempre foram prédios diferenciados, de grande significado nos
grandes centros urbanos. É nesta direção que podemos discutir aspectos das
instituições museais no contexto urbano, ao trabalhar as questões referentes
ao estabelecimento de práticas museais no espaço da cidade no contexto da
mediação, a partir de uma visão da urbe como um complexo sistema
comunicativo.
Ao abordar a cidade como estrutura comunicativa Ferrara nos aponta o
papel fundamental da arquitetura neste processo:
A arquitetura induz, através de materiais, técnicas e formas
construtivas, a função, o uso e o valor do espaço e, nesse sentido,
constitui o suporte através do qual a cidade se constrói como meio
comunicativo que possibilite sociabilidades e interações em constantes
transformações (2007, p.41).
Na teorização da autora se percebe que à dimensão física da cidade,
composta
por
seus
suportes
construtivos,
soma-se
uma
dimensão
comunicativa que possibilitaria a cidade ao mesmo tempo emergir como
eficiente mídia e como espaço de práticas e manifestações de vida capazes de
transpor suas intenções midiáticas. Neste sentido Ferrara nos aponta que
enquanto medium informacional, ou seja, espaço como suporte de conteúdo
informacional, a cidade deve ser compreendida dentro de três aspectos
interdependentes, meio, mídia e mediação (2007).
A cidade como meio, envolve percebê-la em seu plano construtivo, seus
materiais, volumes, formas e implantações, utilizados para a construção do
espaço edificado. O meio seria desta forma, a pele da cidade, informação
�104
concreta e cuja percepção da sua representação contextualizaria, ao mesmo
tempo, a cidade e, sobretudo, a base de identidade simbólica que a
comunicaria (FERRARA, 2007).
Enquanto mídia a cidade é imagem, esta geralmente explorada pelo jogo
comercial, empresarial e, é claro, midiático, que sob a lógica do visual
distorceria a realidade para torná-la consumível por uma percepção rápida e
inconsequente, indo de encontro a uma descoberta da cidade nas suas
diferenças
e
particularidades.
A
imagem
seria
a
primeira
forma
de
comunicação entre a cidade e o usuário que através de seus ícones e símbolos
seriam “a primeira forma inteligível da arquitetura como código cultural”
(FERRARA, 2007, p.46).
Finalmente, enquanto mediação a cidade seria complexa experiência que
atingiria tanto ao usuário, quanto a cidade, partindo de seu caráter midiático
para superá-lo, enquanto interatividade. A cidade enquanto mediação é
caracterizada por sua natureza processual, portanto, aberta a possibilidades,
dependente do processo relacional que o intérprete desenvolve como usuário
da cidade, “influenciando-a e sendo por ela influenciado” (FERRARA, 2007,
p.49). A mediação na cidade desafiaria a lógica da mídia levando-a,
potencialmente, à reversão e à mudança. Nesta relação, o que se vislumbra
são as diferenças entre as cidades e as características de seus lugares.
Colocados estes aspectos, caberia indagar de que forma os museus
inseridos no contexto da cidade, tem contribuído ou colaborado para evidenciar
estes aspectos da natureza informacional das cidades. Colocado de outra
maneira, quais tem sido e quais são as possibilidades das instituições
museológicas no contexto da cidade como meio, mídia e fundamentalmente
como mediação.
No que diz respeito às suas formas, materiais, volumes, enfim numa
percepção da relação do museu com a cidade enquanto meio, conforme nos
aponta Kiefer, os museus serão marcados arquitetonicamente por uma lógica
da grande escala e da monumentalidade. Em suas origens ao ocupar os
palácios e os grandiosos edifícios públicos existentes e no contemporâneo com
�105
a grande liberdade dada aos arquitetos para elaboração de seus projetos de
museus (2001).
A
capacidade
dos
museus
de
atuarem
como
dispositivos
potencializadores em meio a um discurso midiático da cidade se relaciona
principalmente a eficácia destas instituições em se constituírem como marcos
urbanos, podendo ser empregados em campanhas turísticas e publicitárias.
Nas últimas décadas boa parte dos novos museus se desenvolvem no contexto
das chamadas operações de requalificação ou revitalização do espaço urbano,
projetos cujas propostas pretendem alterar o perfil socioeconômico de cidades
ou regiões (HOFFMAN, 2014).
Por fim na compreensão do papel do museu no plano de uma mediação
no contexto urbano. Envolve necessariamente a integração destas instituições
com
as
práticas
trazidas
no
âmbito
da
chamada
nova
museologia,
sociomuseologia ou museologia social. Nestes novos processos museológicos a
própria comunidade ou grupo social envolvido, se encontra inserido de tal
forma que eles mesmos, enquanto sujeitos e objetos de pesquisa e ação do
museu, é que são responsáveis por inventariar, selecionar, expor, organizar,
opinar e participar de todos os aspectos da instituição.
Estes processos, ideias e procedimentos museológicos teriam muito a
contribuir com os museus no território das cidades, podendo resgatar uma
dimensão de inclusão e aproximação do cidadão com seu patrimônio. Indo
para além dos discursos “participacionistas” vigentes na gestão contemporânea
das cidades. Tornando o habitante da cidade não só um consumidor ou
visitante destas instituições, ou ainda como somente fonte de informações,
objetos, memórias e narrativas que a instituição decide onde e como
aproveitar. O cerne desta proposta seria a transformação do cidadão em
gestor destes espaços, transformando o museu em um verdadeiro instrumento
de constituição de memórias e narrativas “contra hegemônicas”.
Retomando então as proposições de Ferrara, verifica-se que estas
condições vão ao encontro dos pressupostos trazidos pela autora, para a qual
a percepção da cidade como mediação “supõe uma auto-organização e
transformação do usuário à medida em que ele interfere na cidade e contribui
�106
para a própria organização do cotidiano que a caracteriza” (2007, p.49). Desta
forma, infere-se que através de práticas museológicas que tenham como base
os fundamentos trazidos pela Nova Museologia, se consiga projetar no
território
das
cidades,
experiências
comunicativas
da
urbe
enquanto
mediação.
Ao observar algumas colocações de Ferrara podemos estabelecer
conexões neste sentido. A autora nos apresenta que enquanto estrutura
comunicativa a mediação na cidade desafia a repetição midiática de imagens,
levando-a, potencialmente, à reversão e à mudança (2007, p.49). A partir de
processos museológicos comunitários os museus deveriam ser reconhecidos
pelas comunidades, sendo então um resultado delas, de sua participação e
empenho. Os papéis, neste sentido, são invertidos, os museus passam a não
ser feitos mais para os grupos sociais, mas por e com eles (CERAVOLO, 2004,
p.261). Tais processos se organizam em torno de uma noção de patrimônio
total ou integral, compreendendo as paisagens, sítios, edificações, objetos,
bem como as próprias memórias e relações sociais das pessoas que habitam o
território em questão, o foco recai sobre a necessidade de transmitir
informação.
Informação que nestes processos deveria ser entendida essencialmente
dentro de uma abordagem sociocultural da informação, enquanto informação
construída
como
prática
social.
As
comunidades,
ou
grupos
sociais
responsáveis pelo museu ou que habitam o território, poderiam ser entendidas
como comunidades discursivas. Tal possibilidade de olhar a informação
permitiria a construção da mesma enquanto “fenômeno social de informação
coletiva,
estruturas
de
conhecimento
e
instituições
de
memória
das
comunidades discursivas” (MORADO NASCIMENTO, 2006, p.31).
Ainda conforme a autora, tal abordagem permitiria:
[...] a possibilidade de provocar a produção de outro conhecimento, não
linear, mas circular, que valorize as inter-relações culturais, ambientais,
sociais, econômicas e políticas construídas para enfrentar de forma mais
coerente e atuante os desafios atuais da sociedade (MORADO
NASCIMENTO, 2006, p.31).
�107
A informação, dentro destes processos museológicos, como construção
coletiva
permitiria
uma
negociação
das
diferenças,
e
a
produção
de
conhecimento crítico, na mediação das relações entre diferentes. Tal aspecto
indo de encontro aos pressupostos trazidos por Ferrara, como condição
essencial aos processos de mediação na cidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentar
um
panorama
sobre
três
abordagens
possíveis
de
compreensão do processo de mediação no contexto dos museus foi o objetivo
do presente escrito. Estas diferentes perspectivas chamam a atenção para as
múltiplas possibilidades que se desvelam ao se aproximar do conceito de
mediação dentro do universo museal. Seja por meio dos profissionais que
neles trabalham, dos artefatos que objetivam preservar e comunicar ao público
ou por meio das edificações que ocupam, os museus estabelecem uma
complexa relação como instância mediadora da realidade, da cultura material,
dos processos de memória e identidade no contemporâneo. Compreender os
“tensionamentos” e potencialidades que podem advir destas diferentes
perspectivas é tarefa fundamental a ser enfrentada pelo profissional da
informação.
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203f. Dissertação (Mestrado), Escola de Arquitetura, Universidade Federal de
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DADOS BIOGRÁFICOS
Felipe Eleutério Hoffman: Museólogo pela UFOP. Mestre
em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Doutor em Ciência
da Informação pela UFMG. Professor do Departamento de
Organização e Tratamento da Informação (ECI-UFMG) na
graduação em Museologia. Atua nas áreas de Museologia,
Arquitetura e Ciência da Informação com ênfase nos
seguintes temas: museus, memória, patrimônio cultural,
exposições, museus e justiça de transição.
E-mail: hoffmanfelipe@yahoo.com.br
�110
CAPÍTULO VI - Fundamentos teórico-pragmáticos para
promoção das práticas e dos serviços informacionais:
diálogos com Ranganathan, Shera, Grogan e Accart
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A organização e o uso da informação constituem campos similares e
complementares
nas
pesquisas
desenvolvidas
na
área
de
Biblioteconomia/Ciência da Informação. Quando essas pesquisas se direcionam
ao
ambiente
realizadas
por
da
biblioteca,
bibliotecários,
destacam-se,
que
sobremaneira,
possibilitam
as
sistematizar,
atividades
armazenar,
transferir e comunicar a informação. Em todos esses fazeres, o propósito é
contribuir para o atendimento das necessidades daqueles que buscam por
informação em diferentes níveis e para fins variados.
Valorizar as pesquisas desenvolvidas nesse âmbito, em grande parte, é
reconhecer a importância que a biblioteca tem assumido, ao longo do tempo,
sobretudo
nas
últimas
décadas,
a
partir
da
consolidação
de
ideais
democráticos. O interesse de pesquisa nas atividades bibliotecárias também é
fruto da importância atribuída à informação, que, mediante a evolução das
tecnologias, se tornou um recurso com valor econômico, capaz de promover o
desenvolvimento das pessoas, das organizações e da própria sociedade.
Diferente do passado, as bibliotecas se tornaram ambientes provedores
de informação, com foco no acesso e não, apenas, na guarda de materiais. Em
países desenvolvidos ou em desenvolvimento, pensar na biblioteca é explorar
as múltiplas possibilidades que os recursos informacionais podem ser utilizados
para benefícios das comunidades atendidas. O paradigma da biblioteca, na
sociedade contemporânea, é aquele que foca no usuário, cujos fazeres
profissionais visam organizar a informação para garantir o uso, sendo
explorados, nesses processos, o potencial das tecnologias digitais.
�111
Valorizar o usuário e as necessidades dele é algo que vai muito além do
mero trabalho técnico realizado na formação de acervos e bases de dados. Não
que esse trabalho seja desnecessário, mas ele sozinho é insuficiente para
atender as tendências do contexto da sociedade globalizada e informatizada.
Esse trabalho técnico-operacional precisa ser complementado com ações
intelectuais, inovadoras e gerenciais, capazes de aproximar a biblioteca da
sociedade. É a partir dessa reflexão, que a biblioteca deixa de ser um espaço
estático e fechado, para se tornar uma organização dinâmica, integrada à
sociedade.
Como proferiu Ranganathan (2009), ainda no decorrer do século XX, a
biblioteca é um organismo em crescimento, e, como tal, precisa oferecer
condições adequadas para atendimento da comunidade usuária. Considerá-la
como organização, segundo Maciel e Mendonça (2006), é identificar suas
atividades, agrupando-as em processos sistematizados, capazes de atribuir
funções variadas, como: desenvolvimento, organização e dinamização de
coleções, além das funções relacionadas à gestão.
Portanto, na sociedade contemporânea, a partir das transformações que
vêm ocorrendo, sobretudo com o uso massificado das tecnologias digitais, que
colocam em sintonia, usuários e organizações em um único espaço social (o
ciberespaço)19, a biblioteca passa a ser prestadora de serviços, a partir da
realidade em que está inserida. Assim, as atividades bibliotecárias, mesmo que
indireta ou implicitamente, precisam convergir para um único propósito:
garantir a promoção dos serviços de informação.
Os serviços de informação representam o resultado de todas as
atividades-meio da biblioteca, tais como catalogação, indexação, restauração,
dentre
outras.
Essas
atividades,
sustentadas
por
técnicas
e
métodos
específicos, que, em linhas gerais, possibilitam a construção de produtos e
sistemas de informação, são reconhecidas e adquirem valor quando são
19
Diz respeito ao novo ambiente de integração da sociedade informatizada, cuja internet
representa o espaço de interação, que converge pessoas, organizações e grupos sociais
distintos, modificando as práticas sociais, para uma cultura digital, a cibercultura (LÉVY,
1999).
�112
utilizadas pela comunidade. O efeito desse acontecimento é a inserção da
biblioteca na sociedade da informação e do conhecimento, sendo destacado o
potencial da unidade e dos profissionais que a organizam e gerenciam.
Entende-se que os serviços de informação é a concretude de todos os
fazeres realizados na unidade, sendo, portanto, a essência da própria prática
bibliotecária, como discorrido por Figueiredo (1992). Esses serviços têm sofrido
transformações,
nas
últimas
décadas,
refletindo
as
próprias
mudanças
ocorridas na unidade de informação, como um todo. Com efeito, compreender
esses serviços requer, primeiramente, entender toda a dinâmica da unidade de
informação, como também, as transformações que vêm ocorrendo, capazes de
impactar nos serviços oferecidos, de modo a adequá-los à realidade social.
Pesquisadores de destaque na área bibliotecária, embora tenham
reflexões específicas e um pouco diferenciadas, em alguns aspectos, vêm
reforçando
o
potencial
dos
serviços
de
informação,
com
pesquisas
desenvolvidas desde as primeiras décadas do século XX. É provável que o
pensamento desses autores interfira/contribua na formulação de propostas de
melhorias ou de ressignificação dos serviços de informação, na concepção dos
dias atuais.
Portanto, este artigo objetiva identificar as principais características dos
serviços oferecidos pelas bibliotecas, ao longo do tempo, evidenciando a
posição desses serviços na sociedade contemporânea, do século XXI. Para
tanto, o estudo é conduzido por meio de argumentos apontados na literatura,
sobretudo no que tange aos fundamentos defendidos por importantes
pesquisadores, como Ranganathan, Shera, Grogan e Accart. Com o fim de
atingir tal propósito, são levantados diferentes momentos históricos acerca da
concepção dos serviços de informação e como eles vêm se modificando, no
decorrer dos tempos.
Metodologicamente, o estudo possui natureza intelectual, ou seja, não
analisa uma realidade empírica, uma vez que se limita a investigar, apenas, a
literatura.
A
abordagem
teórica
caracteriza
o
estudo
como
descritivo,
exploratório e qualitativo. Por fim, quanto aos procedimentos técnicos, o texto
apresenta características de um ensaio, sustentado por uma revisão de
�113
literatura narrativa, visto que são escolhidas, arbitrariamente, as fontes de
consulta.
Salienta-se, também, que este estudo é parte integrante de uma
pesquisa mais abrangente, que tem a intenção de formular um plano de
gerenciamento
para
bibliotecas
universitárias,
no
que
tange
à
institucionalização ou melhorias do serviço de referência digital. O recorte de
estudo aqui delimitado contempla bases teóricas - descritas em parte do
referencial teórico da citada pesquisa - direcionadas à promoção dos serviços
de informação que podem ser oferecidos nas bibliotecas da atualidade.
2 SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS: DA ASSISTÊNCIA À
PESQUISA
Analisando a história de desenvolvimento das bibliotecas, ao longo dos
tempos, percebem-se muitas diferenças na maneira com que as atividades
eram realizadas, como também, os recursos utilizados e os serviços oferecidos,
em cada período histórico (MARTINS, 2000; MILANESI, 2002). Em períodos
antigos, como na Idade Média ou na Moderna, a biblioteca era um ambiente de
contemplação do conhecimento produzido, com atividades direcionadas à
organização e preservação do acervo, sem preocupação com a disseminação
(BURKE, 2003).
É
apenas
com
a
revolução
científica
do
século XVIII,
aliado
à
consolidação dos ideais democráticos e dos direitos humanos - preocupados
com as causas sociais - que as bibliotecas tornam-se ambientes democráticos.
A partir desse momento, a biblioteca assume uma atuação mais pró-ativa, indo
ao encontro das necessidades da comunidade (SANTA ANNA, 2015). Com
efeito, os bibliotecários passam a realizar projetos voltados ao atendimento, de
modo a acolher os usuários, como também garantir visibilidade ao que é
oferecido (GROGAN, 1995).
Segundo Grogan (1995), é nas últimas décadas do século XIX que esses
projetos se intensificaram, por meio de iniciativas isoladas, realizadas tanto na
�114
Europa quanto nos Estados Unidos. O primeiro projeto de assistência foi
proposto pelo bibliotecário Samuel Green, cujo objetivo do projeto era
fomentar a prática da leitura, sendo apresentado em conferência realizada pela
American Library Association (ALA), no ano de 1876. Decorridos mais de dez
anos, esse projeto de assistência passou a ser denominado de serviço de
referência, sendo designado um profissional e espaço adequado para atender
aos frequentadores das bibliotecas.
Analisando o texto original apresentado na conferência da ALA, nota-se
que a inquietação de Green estava relacionada às dificuldades com que cada
consulente apresentava ao buscar um tipo de livro para leitura no acervo. Um
artesão, um estudante e um pesquisador, por exemplo, possuem necessidades
e habilidades diferentes. O domínio de conhecimento do bibliotecário muito
pode contribuir para atender esses usuários, oferecendo variados livros
relacionados ao que eles buscam (GREEN, 1876).
A leitura ao texto de Green (1876) evidencia que a biblioteca precisa
realizar um trabalho que complemente a atividade de organização do acervo.
Ou seja, o tratamento dos materiais, realizado com o fim de sistematizar as
coleções, corresponde às atividades-meio, sendo necessário estruturar as
atividades-fim da unidade. O serviço de referência caracteriza-se, portanto,
como uma recepção calorosa, realizada com cordialidade, diálogo, atenção e
simpatia, proporcionando assistência personalizada e individual aos usuários
(GREEN, 1876).
Nas primeiras décadas do século XX, o serviço de referência foi se
desenvolvendo, incrementado em diversas bibliotecas, principalmente em
países desenvolvidos. Manifestava-se como um serviço de assistência, de
acolhimento, com o fim de estimular um melhor uso das fontes de informação
dos acervos impressos. O sucesso desse empreendimento promoveu maior
divulgação e reconhecimento do trabalho do bibliotecário e da biblioteca, a
ponto do serviço ser considerado “o cartão de visita” da biblioteca (GROGAN,
1995).
Ranganathan (1961), um dos defensores desse serviço, considerou como
principal característica do serviço de biblioteca, a presença do bibliotecário,
�115
profissional que exerce a atividade de mediação, colocando em contato o
usuário e as fontes de consulta. Assim, reforça-se que a referência é um
serviço personalizado que visa “[...] estabelecer contato entre o leitor e seus
documentos de uma maneira pessoal”.
Assim como Grogan (1995) e Ranganathan (1961), Figueiredo (1992)
concorda acerca da atuação personalizada prestada aos consulentes nos
momentos das buscas. A importância do serviço o torna a própria razão de ser
de uma biblioteca/unidade de informação. “[...] É uma função que também
justifica a atuação do profissional bibliotecário como agente de informação,
servindo de intermediário entre os recursos informacionais existentes e o
usuário
que
necessita
de
informação
de
qualquer
tipo
e
nível
[...]”
(FIGUEIREDO, 1992, p. 1).
A importância do serviço de referência coloca-o como cerne de atenção
nas bibliotecas. Considera-se que, ao focar no usuário, em especial, nas
necessidades desse sujeito, faz-se necessário que o serviço de referência não
contemple uma atividade meramente técnica e operacional, mas um conjunto
de
habilidades
específicas,
realizadas
por
equipe
treinada,
haja
vista
possibilitar a satisfação das necessidades da comunidade (GROGAN, 1995).
Atender as necessidades dos usuários passa a ser a principal finalidade
dos serviços oferecidos nas bibliotecas, com a ampliação do projeto de
assistência
proposto
por
Green
(GROGAN,
1995).
A
satisfação
das
necessidades não é decorrência, apenas, da assistência prestada nos serviços
bibliotecários. Ela acontece, também, com a eficiência do trabalho realizado no
processamento dos materiais que formam as coleções (RANGANATHAN, 1961).
Assim, o serviço de referência passa a ser a consequência ou o resultado
do que é realizado nas atividades anteriores, nos processos de formação e
organização de coleções (MACIEL; MENDONÇA, 2006), quando o usuário é
valorizado. Essa valorização é intensificada, a partir de princípios formulados
por Ranganathan (2009), os quais demonstram que, toda e qualquer atividade
realizada pelo bibliotecário visa atender a comunidade, devendo elas estarem
integradas, por conseguinte, viabilizando o crescimento da biblioteca.
�116
Esses princípios, de acordo com Targino (2010), servem como sustento
para ampliar a visão de todo da biblioteca, sua abertura para a vivência social
e sua capacidade de agente de transformação na sociedade. Os princípios, por
romperem as muralhas da exclusão, tornam a unidade um centro de cultura,
voltado às necessidades dos usuários, haja vista fortalecer a aprendizagem e o
conhecimento.
No entendimento de Figueiredo (1992), os princípios de Ranganathan
foram essenciais para enaltecer o valor das práticas bibliotecárias, tornandose, portanto, uma base teórica de fundamentação para o reconhecimento do
exercício profissional. Ademais, a autora também discorre que tais princípios
podem ser traduzidos em objetivos da própria biblioteca. O quadro 1 apresenta
os cinco princípios ranganathianos, algumas explicações inerentes a cada um
deles, e em quais práticas de trabalho eles se manifestam, com mais
intensidade.
Quadro 1 – Os princípios de Ranganathan, algumas explicações e em quais processos de
trabalho são utilizados
Princípio
Explicações
Em quais atividades
principais o princípio é
observado?
Livros são para o
A biblioteca fundamenta-se no paradigma
uso
do acesso, refutando a ideia, tão somente,
- Formação de coleções
de custódia. Os materiais selecionados e
- Classificação,
processados precisam ser representados
catalogação e indexação
por linguagens que traduzem a essência do
conteúdo dos documentos, a fim de que
possam
ser
localização
recuperados,
e
utilização
facilitando
por
parte
a
como
a
interface
entre
- Disseminação seletiva
da
comunidade. Esse princípio considera a
biblioteca
- Serviço de atendimento
- Serviço de alerta
os
usuários e os recursos bibliográficos
A cada leitor seu
livro
O usuário deve ser reconhecido como um
sujeito
particular,
detentor
de
conhecimentos e habilidades próprias,
influenciadas
por
seu
contexto
sociocultural. Assim, o fazer bibliotecário
precisa identificar essas peculiaridades,
correlacionando-as
com
os
materiais
organizados, a fim de buscar uma possível
sintonia ou resposta aos problemas
formulados pela comunidade
- Serviço de atendimento
- Disseminação seletiva
- Serviço de alerta
- Estudo de usuário
- Processo de referência
�117
Princípio
Explicações
Em quais atividades
principais o princípio é
observado?
A cada livro seu
Fundamenta-se na ideia de uso, assim
leitor
como no primeiro princípio. Considerar a
- Formação de coleções
intervenção realizada sobre as coleções, no
- Classificação,
sentido de torná-las acessíveis e utilizadas,
catalogação e indexação
o que dá uma noção ativa ao trabalho
bibliotecário. Por meio das técnicas de
organização,
tornam-se
as
fontes
conhecidas
potencial.
bibliográficas
do
Destaca-se,
usuário
em
também,
a
- Divulgação e marketing
- Disseminação seletiva
- Serviço de alerta
subjetividade do usuário e que, diante
disso,
todo
e
qualquer
material
pode
agregar valor em determinado contexto e
necessidade
Economize
o
tempo do leitor
Economizar o tempo do usuário é facilitar a
- Serviço de atendimento
localização das fontes de consulta, como
também, a otimização dos recursos. Desse
- Processo de referência
modo,
- Classificação,
as
atividades
visam
a
eficácia
interna da biblioteca, haja vista tornar os
recursos
bibliográficos
acessíveis
catalogação e indexação
da
maneira mais conveniente aos usuários
A biblioteca é um
organismo
em
crescimento
O trabalho realizado nas bibliotecas, ao Todas as atividades
considerar as necessidades dos usuários, bibliotecárias
precisa estar em constante adequação,
aliado
ao
fenômeno
da
explosão
bibliográfica,
o
que
condiciona
o
crescimento racional do acervo, de modo
sistêmico,
atendendo
necessidades
específicas da comunidade
Fonte: Elaborado pelo proponente (2019), a partir de Figueiredo (1992) e Ranganathan
(2009).
O quadro 1 demonstra que os princípios, em linhas gerais, se
manifestam ou regem, mesmo que implicitamente, todos os processos de
trabalho desenvolvidos pelos profissionais, seja no setor de processamento, na
referência ou em outras atividades. O quadro também permite inferir que,
pautando-se nesses princípios, o resultado é a oferta de serviços de
informação mais adequados, e, dessa forma, consolida-se um dos objetivos
�118
essenciais do serviço de referência: a satisfação da necessidade informacional,
como defendido por Grogan (1995).
Os cinco princípios formulados por Ranganathan (2009) possibilitaram o
nascimento da Biblioteconomia Moderna, sustentada no paradigma do acesso,
cuja biblioteca assume a missão de propagadora de conhecimento a todos,
tornando-se
um
espaço
democrático,
que
elimina
qualquer
tipo
de
desigualdade e limitação. Ao considerar a biblioteca sob um enfoque universal,
é possível adequá-la às tentativas de democratização do conhecimento,
sobretudo quando se tem o conhecimento como um bem público e acessível, e
os indivíduos vão compartilhando conhecimento, uns com os outros, mediante
práticas colaborativas (RANGANATHAN, 2009).
Nesse contexto, pensar a biblioteca sob os princípios de Ranganathan
(2009) é, ao mesmo tempo, propor serviços equilibrados com o perfil da
comunidade. A partir desses princípios, conforme evidenciado pelo autor e
reforçado
por
Targino
(2010),
sobretudo
quando
se
considera
o
uso
intensificado das tecnologias digitais nas práticas bibliotecárias, fomenta-se o
trabalho colaborativo, com destaque à atuação do bibliotecário, para promoção
do uso da biblioteca.
No âmbito da promoção dos serviços de informação, por conseguinte, a
garantia de melhorias ao acesso informacional, o serviço de referência se
destaca, cuja atuação profissional se manifesta como ponte que liga os
recursos informacionais com os usuários. Essa ideia de ponte, de ligação, de
intervenção realizada pelo bibliotecário para ampliação do uso da biblioteca, é
o que se denomina de mediação da informação, um conceito atual, abrangente
e ainda em desenvolvimento, no iniciar do século XXI (ALMEIDA JÚNIOR,
2015).
A mediação se aproxima do serviço de referência, sobretudo por
possibilitar a interação entre profissional e usuário. Essa interação é observada
quando da ocorrência dos primeiros projetos de atendimento aos leitores nas
bibliotecas, tal como o projeto de Green, embora o conceito de mediação ainda
não estivesse em voga. Na atualidade, a mediação passou a ser objeto de
estudo científico, quanto aos fazeres dos bibliotecários, não se manifestando,
�119
apenas, no serviço de referência, mais perpassando todas as atividades
realizadas na unidade, desde a formação da coleção, englobando catalogação,
indexação, serviços de atendimento e, por fim, práticas de leitura e ações
culturais (ALMEIDA JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014).
O conceito abrangente ao termo mediação serve para comprovar a
necessidade
de
integração
das
práticas
bibliotecárias,
visto
que
essa
integração permitirá o crescimento racional, organizado e sistêmico da
biblioteca, mediante a mescla entre formação, organização, dinamização e
gestão da biblioteca, conforme pontuado por Maciel e Mendonça (2006).
A mediação é um termo abrangente, capaz de demonstrar a visão de
todo da biblioteca. Assim, mediar está associado à ação de interferência,
conduzida por um profissional da informação e realizada de maneira “[...]
direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou
coletiva; visando a apropriação de informação [...]”. Essa apropriação se
manifesta no âmbito do serviço de informação, cujo objetivo é fornecer
insumos que satisfaça, “[...] parcialmente e de maneira momentânea, uma
necessidade
informacional,
gerando
conflitos
e
novas
necessidades
informacionais” (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).
A mediação, como prática inerente ao fazer bibliotecário, sobretudo na
ambiência do serviço de referência, também é observada e fortalecida, quando
as bibliotecas, no decorrer do século XIX, passam a se dedicar ao atendimento
à pesquisa científica. A assistência oriunda do serviço de referência, nesse
contexto, manifesta-se mediante um diálogo intenso, entre pesquisador e
bibliotecário, de modo que sejam melhor compreendidas as necessidades dos
usuários (GROGAN, 1995).
Para Grogan (1995), surge o que se denomina de processo de referência,
visto que o serviço deixa de fornecer respostas prontas e se adapta a fornecer
orientação e negociação, fortalecendo a interação interpessoal. No processo de
referência, manifestam-se oito etapas que abrangem “[...] a totalidade de
passos dados pelo bibliotecário de referência ao responder as questões que lhe
são apresentadas” (GROGAN, 1995, p. 50). Essas etapas, por sua vez, podem
ser agrupadas em dois grandes momentos, caracterizados como fases: a
�120
primeira refere-se às ações que visam localizar um tipo de material; a segunda
diz respeito às ações de análise/avaliação do material. Por meio do quadro 2,
são explicitadas as fases e etapas do processo de referência, bem como as
possíveis explicações.
Fases
Localização
Quadro 2 – Fases e etapas do processo de referência
Etapas
Explicações
Problema de pesquisa
Inicia-se com a identificação de um problema, o
qual poderá ser solucionado com o acesso a
algum tipo de informação. O usuário recorre à
unidade, contextualizando a lacuna que possui,
podendo ela estar relacionada a um problema
de natureza cognitiva, utilitária, noticiosa ou
científica. Destaca-se que grande parte das
necessidades dos usuários é oriunda da própria
vivência social
Identificação da necessidade Em um diálogo inicial, o usuário contextualiza a
sua dificuldade, de modo que seja concretizada
a essência da sua necessidade, atitude
fundamental para se formalizar uma questão
clara e objetiva, capaz de ser interpretada pelo
sistema de informação. Essa necessidade nem
todas as vezes consegue ser expressa, ou é de
modo vago e impressivo; daí a importância do
diálogo firmado entre os dois agentes
Questão
Diz respeito à formalização da necessidade
informacional por meio de uma questão, e,
como tal, requer uma possível resposta. Esse
passo é fundamental por garantir maior
entendimento do bibliotecário acerca de qual
tipo de informação poderá garantir a satisfação
da necessidade
Negociação
Momento em que a questão é melhor
explicitada, haja vista esclarecer aspectos vagos
e imprecisos. Além disso, é nesse momento que
o diálogo se intensifica, com maior interação,
possibilitando
aproximar
a
necessidade
informacional do que a biblioteca tem a oferecer
como resposta
Estratégia de busca
Diz respeito ao estabelecimento de critérios que
visem selecionar os materiais mais adequados e
condizentes com a questão de pesquisa. É nesse
estágio que as tipologias de fonte são descritas,
como também expressões, controladas ou não
por vocabulários, que conectem a necessidade
informacional com os materiais do acervo
Busca
Etapa de execução da etapa anterior, ou seja,
momento em que as estratégias de busca são
colocadas em ação. Faz-se necessária a
presença das ferramentas de busca contidas em
sistemas
de
recuperação,
sejam
eles
informatizados ou não
Resposta
Nesse estágio, tem-se o resultado da busca, por
meio do retorno do sistema. Tal resultado pode
ser bem-sucedido ou não, coincidente ou não
com a questão formalizada. Nesse momento,
�121
Fases
Avaliação
Etapas
Explicações
destaca-se a interação dos agentes, haja vista
atribuir valor (avaliação) ao que foi recuperado
pelo sistema
Solução
Nessa etapa, tem-se a resposta atribuída ao
problema inicial, evidenciando que a resposta é
suficiente
para
satisfazer
a
necessidade
informacional. Destaca-se o acordo firmado
entre os agentes, o que evidencia forte
interação. Porventura, a resposta não satisfaça
a necessidade, o processo é reiniciado
Fonte: Elaborado pelo proponente (2019), a partir de Grogan (1995).
A análise ao quadro 2 permite afirmar que o processo de referência pode
ser conceituado como parte integrante do serviço de referência, regido por
fases e etapas, com presença do usuário e do bibliotecário, mediante um
intenso diálogo. Nesse aspecto, Figueiredo (1992) pontua que esse processo,
embora facilitado por tecnologias e pelo sistema de informação, tem sua
essência ou premissa básica a humanização, considerando os agentes
humanos que se interagem.
O processo de referência, conforme explicitado nos estudos de Grogan
(1995), teve impulso com a valorização das pesquisas científicas, destacandose alguns acontecimentos históricos como o desenvolvimento tecnológico e o
crescimento das universidades, ao longo do século XX. Com esse processo, de
acordo com Shera (1966), o serviço oferecido nas bibliotecas adquire uma
assistência mais ampliada, abandonando a característica técnica e meramente
assistencial (de bate e volta), de modo a adquirir um viés mais colaborativo e
participativo.
Accart (2012) concorda com essa afirmação, acrescentando que o passo
a passo firmado entre profissional e usuário na busca pela informação torna-se
essencial nas bibliotecas especializadas apoiadoras de estudos científicos,
como as bibliotecas universitárias. O serviço de referência torna-se necessário
para garantir o uso das fontes no desenvolvimento de pesquisas avançadas, o
que reforça a importância desse serviço no contexto universitário, mediante
capacitação da equipe que atua na referência (ACCART, 2012).
O diálogo estabelecido no processo de referência representa um passo
evolutivo do serviço de referência, rumo a serviços de informação mais
sofisticados, planejados a partir do momento que considera, também, todo o
�122
trabalho
desenvolvido
pela
biblioteca,
envolvendo o
processamento da
informação (SHERA, 1966). Há de considerar que, além das técnicas de
organização do acervo e o serviço de assistência, os serviços voltados à
comunidade precisam valorizar a cultura, com destaque ações culturais,
práticas de leitura, dentre outras ocorrências que aproximam a biblioteca da
sociedade (RANGANATHAN, 2009).
O atendimento a pesquisadores em bibliotecas acadêmicas passou a ser
uma das principais preocupações das bibliotecas, ou ainda, um dos pontos
mais extremos do serviço de referência (GROGAN, 1995). O processo de
referência, durante muito tempo, despertou interesse de pesquisas, em
diversos pesquisadores, o que promoveu a especialização dos profissionais,
atribuindo ao serviço, uma concepção educativa (SHERA, 1966).
Percebe-se que muitos fundamentos formulados, principalmente, por
Grogan (1995) e Shera (1966), em especial quanto à interação firmada no
processo de referência, serviu de sustentação para embasar muitos estudos
recentes acerca da prática bibliotecária, no iniciar do século XXI, tal como os
estudos direcionados às práticas de mediação. Assim,
o objetivo das bibliotecas vai além do fornecimento da informação, mas
buscando a apropriação dela pelo usuário. Ainda que esse serviço
permaneça pouco valorizado. Defende-se que as atividades que são
desempenhadas pelos bibliotecários devem ter como principal objetivo o
acesso e a apropriação de informações, tornando a função do
bibliotecário, efetivamente, uma mediação entre o usuário e a
informação [...] (ALMEIDA JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014, p. 103, grifo
nosso).
O conceito atualizado e abrangente do termo mediação tem suas raízes
no serviço de referência, principalmente quando esse serviço é analisado em
sentido restrito, ou seja, manifesta-se no momento da interação entre usuário
e profissional, no processo de referência. A esse respeito, os autores citados
mencionam que, por meio das atividades de organização e representação do
conhecimento, como também na interação com os usuários “[...] (para que
eles possam ultrapassar do ponto de sua ‘necessidade imediata’, para gerar
significações
e
atribuir
valor
e
sentido
aos
conteúdos
informacionais
acessados), é que se concretiza, também, o processo de mediação” (ALMEIDA
JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014, p. 103).
�123
Importante considerar que a característica ampla e diversificada da
mediação estimulou a concepção do serviço de referência sob um enfoque,
também, abrangente (ALMEIDA JÚNIOR, 2015). No entanto, conforme os
fundamentos de Grogan (1995), o destaque do serviço de referência está na
capacidade de promover a interação entre usuário e informação. Sendo assim,
a partir do argumento de Grogan (1995), sobre o serviço de referência restrito,
e de Almeida Júnior (2015), a respeito da mediação do tipo implícita e
explícita, considera-se que o serviço de referência restrito manifesta-se como
um tipo de mediação explícita, por promover a interação entre dois agentes
humanos, realizado de modo direto.
A partir dos fundamentos teóricos de Grogan (1995) e Shera (1966),
acerca do serviço de referência e sua evolução, ao longo do tempo, depreendese que esse serviço está na mediação, assim como essa está no serviço de
referência. Com efeito, eles acabam por se complementar, e servem como
fundamentos para o planejamento, gestão e melhorias dos serviços de
informação nas bibliotecas universitárias, como apontado no estudo de Accart
(2012) e Figueiredo (1992).
A evolução do serviço de referência nas bibliotecas acadêmicas, em
especial quando se refuta a ação de “bate e volta”, provoca uma nova
transformação ao serviço oferecido, o qual passa a ter uma concepção
pedagógica. O atendimento à pesquisa, mediante o diálogo estabelecido no
processo de referência, se torna mais necessário quando oferecido a usuários
não especialistas em um determinado assunto ou campo de investigação, algo
muito comum nas bibliotecas
acadêmicas, que prezam pela formação
profissional (SHERA, 1966).
A partir dessa discussão, a assistência fornecida pelo serviço de
referência se amplia, não se limitando, apenas, às práticas de leitura, ou ao
atendimento imediato, com resposta pronta (SHERA, 1966). Na concepção de
Accart (2012), ao abordar a dimensão pedagógica da própria biblioteca, a
referência passa a englobar a recepção, orientação, auxílio e pesquisa de
informação.
�124
Shera (1996) é um defensor da educação como ponto principal do
serviço de referência. O autor destaca a necessidade de capacitação do
bibliotecário para atuar em coleções especializadas, estando essa atuação
permeada por práticas de mediação, haja vista possibilitar ao usuário,
satisfazer sua necessidade informacional, a partir do diálogo estabelecido com
o bibliotecário no processo de referência, como mencionado, também, por
Grogan (1995).
A concepção educativa atribuída ao serviço de referência despertou a
necessidade de capacitação não apenas do profissional, mas também dos
próprios usuários, haja vista o
crescimento do número
de perguntas
formuladas no balcão de referência. Essa ocorrência provocou algumas
dificuldades na assistência, sobretudo quando bibliotecários tinham que
interromper o atendimento para atender as perguntas solicitadas via telefone
(SHERA, 1966).
Nesse contexto, a estratégia adotada era oferecer capacitações aos
usuários, muitas delas concretizadas durante o próprio atendimento. Portanto,
surge a proposta de autonomia do usuário, a qual somente é conseguida por
meio de ações educativas por parte do bibliotecário, haja vista tornar o usuário
autônomo em seus processos de consulta/pesquisa ao acervo.
A autonomia do usuário também está associada à atuação pedagógica do
profissional e à tendência educativa da biblioteca e do serviço de referência
(SHERA, 1996). Nas últimas décadas do século XX, com o uso do telefone e os
primeiros reflexos do processo de automação nas bibliotecas, Otlet (1989)
previu a ampliação das formas de comunicação dos usuários com as
bibliotecas, enaltecendo, nesse processo, a criação e utilização de ferramentas
interativas, as quais poderiam ser utilizadas de modo mais autônomo pelo
usuário. Esse acontecimento promoveu mudanças e o aperfeiçoamento do
serviço de referência, nascendo, pois, o serviço de referência digital.
De qualquer modo, mesmo que a automação garantisse a autonomia do
usuário, em alguns aspectos, Otlet (1989), como também Grogan (1995),
acreditam na necessidade do bibliotecário no serviço de referência digital,
sobretudo pelo fato dos usuários, mesmo com as tecnologias digitais a seu
�125
favor, precisam de mediadores, seja no esclarecimento de dúvidas, na
condução das atividades na busca pela informação, como também na oferta de
treinamentos/capacitações obre o uso das tecnologias. Essas capacitações vêm
se evoluindo e se destacando no contexto contemporâneo, engrandecendo,
ainda mais, o papel pedagógico do serviço de referência, como apontado nos
estudos de Accart (2012).
3 SERVIÇO DE REFERÊNCIA E AS TECNOLOGIAS: DO DIGITAL AO
CONTEMPORÂNEO
A automatização das bibliotecas, no decorrer das décadas de 1980 e
1990, representou o principal acontecimento responsável pela ampliação do
serviço de referência, em especial, nas bibliotecas universitárias (GROGAN,
1995). Com ferramentas eletrônicas, tornou-se possível atingir a autonomia do
usuário, sem desmerecer a atuação bibliotecária típica do serviço de
referência. Logo, “[...] o computador funciona realmente como um auxílio ao
bibliotecário de referência, não como um substituto [...]”. Isso comprova o
aspecto
pedagógico,
manifestado
como
uma
atividade
essencialmente
intelectual e humana, presente nas ações de referência (FIGUEIREDO, 1992, p.
20).
O serviço de referência digital constitui um novo modelo ou manifestação
de assistência prestada pelas bibliotecas, no âmbito da promoção dos diversos
serviços realizados na unidade. Muitos recursos e tecnologias utilizados desde
as primeiras ações de referência, tais como o tradicional balcão de referência,
ou as perguntas solicitadas por telefone e até presencialmente, ainda
permanecem na atualidade (referência tradicional). Mas, o maior destaque
está
na
oferta
de
serviços
mediados
por
tecnologias
interativas,
disponibilizadas na internet, como e-mail, chat, formulários web, dentre outros
(ACCART, 2012).
É certo que a internet contribuiu com a diversificação de recursos que
podem ser utilizados pelas bibliotecas, haja vista atender as necessidades que
�126
emergem na sociedade da informação e do conhecimento. Tecnologias digitais
passaram a ser os principais meios de comunicação nas práticas sociais, e,
como consequência, o serviço de referência precisa adaptar-se a esse novo
contexto digital (ACCART, 2012).
Justifica-se a adesão aos recursos digitais e as práticas inseridas no
ambiente digital, pois essa é uma tendência, que, provavelmente, não
permitirá retrocessos (ACCART, 2012). Na sociedade atual, o contato pessoal
está sendo substituído pelas redes de interação, possibilitando a formação de
uma cultura diferenciada, cujas trocas de informação são realizadas via
dispositivos tecnológicos, convergindo a sociedade para um único espaço, sem
limites geográficos e temporais (LÉVY, 1999).
Em virtude dessa nova tendência, muitas bibliotecas, no decorrer das
primeiras décadas do século XXI, têm se esforçado para inserir-se nesse novo
espaço de interação e compartilhamento. O serviço de referência digital
acompanha as novidades tecnológicas, se tornando, cada vez mais, um serviço
ampliado, cujos serviços de informação vão ao encontro dos usuários, a
qualquer momento e em qualquer local, desde que, para isso, o usuário tenha
um dispositivo e uma conexão com a internet (ACCART, 2012).
O serviço de referência digital, portanto, surgiu como uma mediação
estabelecida pelos primeiros recursos eletrônicos, como ensinado por Otlet
(1989). No entanto, esse serviço tem acompanhado as tecnologias digitais,
sobretudo a partir do momento que as bibliotecas informatizaram suas
coleções, além da criação de ferramentas capazes de facilitar a busca por
informação em diferentes espaços, como bases de dados, portais de
periódicos, dentre outros espaços digitais (TAMMARO; SALARELLI, 2008).
Lima (2018) concorda com Accart (2012) e Tammaro e Salarelli (2008),
ao afirmar que as tecnologias digitais vêm ampliando a capacidade de
expansão da biblioteca, que passa a atuar de modo, cada vez mais,
instantâneo e expansivo. Segundo Lima (2018, p. 144), “[...] ao longo dos
anos, novos serviços foram disponibilizados aos usuários com o uso de
recursos da internet e várias ferramentas de recuperação da informação
passaram a ser usadas no processo de referência [...]”.
�127
A literatura de Biblioteconomia/Ciência da Informação apresenta grande
número de estudos que versam sobre o uso das tecnologias digitais nos
fazeres diários da biblioteca, destacando-se, nesses estudos, o serviço de
referência. Os estudos, em linhas gerais, sinalizam diversos casos de boas
práticas, tais como a construção de canais de comunicação com o usuário,
como chat, formulários web, videoconferência, dentre outros (EZE, 2016).
Dentre outras iniciativas relatadas na literatura, destaca-se a criação de
aplicativos, oferecidos em dispositivos móveis, visto que as mensagens podem
ser facilmente enviadas e respondidas, além de facilitar o acesso a esses
recursos, em qualquer local que esteja o usuário. Os bibliotecários de
referência contribuem com a gestão e configuração desses aplicativos, além de
fornecerem assistência pessoal mediada com os recursos interativos acoplados
aos aplicativos (BARRY et al., 2010).
Mesmo que os serviços oferecidos sejam fruto do uso intensificado das
tecnologias, o serviço de referência contemporâneo continua com um aspecto
de interação, e, principalmente, com uma concepção educativa. No estudo de
Pellegrino (2012), por exemplo, é mencionada a oferta de treinamentos,
mediante programas de educação informacional, os quais fornecem habilidades
de pesquisa e auxílio na localização das fontes, com novas ferramentas
disponibilizadas nas plataformas. Destaca-se, segundo Slebodnik e Riehle
(2011), que a educação do usuário pode se consolidar mediante o processo de
interação, como também, em programas de capacitação, ofertados de modo
presencial ou digital, e também mediante a disponibilização de tutoriais de
orientação.
Na grande maioria desses estudos, evidencia-se a prática da mediação,
sustentada em ações de interferência (prestação do serviço) e de apropriação
(uso do serviço), conforme apontado na revisão de literatura desenvolvida por
Santa Anna, Dias e Maculan (2019). Desse modo, “[...] a mediação facilita ou
contribui com a prática do serviço de referência, tanto no âmbito presencial
quanto digital, possibilitando a expansão desse serviço [...]”. Os autores
complementam a reflexão, discorrendo que a mediação aproxima profissionais
de usuários, haja vista “[...] garantir o uso dos acervos, por conseguinte,
�128
condicionar a adequação da biblioteca, conforme necessidades demandadas
[...]”. Nesse contexto, a mediação como facilitadora do serviço, interfere no
uso e recebe contribuições do usuário. Logo, são elementos principais desse
processo: “[...] os profissionais, usuários e a informação, sendo as tecnologias
instrumentos que promovem a interação entre eles” (SANTA ANNA; DIAS;
MACULAN, 2019, p. 17).
De qualquer forma, mesmo com essa evolução, cujo serviço de
referência tende a se tornar mais digital, no decorrer do século XXI, é preciso
considerar que a essência, os objetivos e muitos conceitos relacionados ao
serviço de referência permanecem inalterados (ACCART, 2012). Esse autor
acredita que a tendência tradicional vai, aos poucos, se rendendo à digital, no
que se refere aos recursos utilizados. Isso demonstra, segundo Accart (2012),
que os serviços tendem a se tornar mais interativos, com ações inovadoras,
além da presença do profissional para auxiliar ao uso dos recursos e
ferramentas que vão surgindo e sendo utilizados.
Com todos os efeitos, mesmo que a tendência esperada é a manifestação
do serviço
de referência digital, os fundamentos desse
serviço
serão
necessários por possibilitar a sua essência e, por decorrência, garantir a
promoção dos serviços de informação, de modo a viabilizar formas diferentes
de acesso e produção de novos conhecimentos. Assim, acredita-se que o
serviço de referência e informação, na atualidade, contempla os fundamentos
propostos pelos autores Ranganathan, Shera, Grogan e Accart, conduzidos por
práticas de mediação e por recursos interativos e digitais, que garantam a
promoção da biblioteca na sociedade contemporânea.
Nesse contexto, considerando as novas tendências que se vislumbram
para as próximas décadas do século XXI, como também, a partir das
dificuldades enfrentadas pelas bibliotecas, como apontado por Lima (2018),
tais
como:
resistência
dos
profissionais
em
acompanhar
a
evolução
tecnológica; falta de recursos tecnológicos, humanos e financeiros; dificuldade
no uso das tecnologias, dentre outras, faz-se necessária a elaboração de
modelos que possibilitem identificar a forma com que os serviços precisam ser
gerenciados.
�129
A figura 1 demonstra um modelo proposto para compreensão da
essência, dinâmica e características dos serviços de informação, modelo a ser
utilizada
na
institucionalização
ou
gestão
do
serviço
de
referência
contemporâneo.
Figura 1 – Modelo proposto para o serviço de referência contemporâneo
Fonte: Elaborada pelo proponente (2019), a partir da literatura investigada.
O modelo ilustrado na figura 1 apresenta, em linhas gerais, a essência do
serviço de referência, na contemporaneidade, considerando os fundamentos
propostos por pesquisadores que se debruçaram em estudar esse serviço no
âmbito das bibliotecas, ao longo do tempo. Os resultados das reflexões desses
teóricos, ao serem contextualizadas, revelam que esse serviço constitui uma
estratégia para promoção de todas as atividades desenvolvidas na biblioteca
para benefícios da sociedade.
O serviço de referência nas bibliotecas contemporâneas, conforme
apresentado na figura 1, precisa ser instituído ou melhorado, a partir de um
conjunto
de
elementos
a
serem
considerados,
tais
como
usuários,
bibliotecários e tecnologias, podendo essas estarem no formato digital ou não,
como revelado na obra de Accart (2012). O modelo descrito na figura 1 é
indicado ao serviço de referência estrito, ou seja, aquele que adota a mediação
explícita, constituída por meio da interação entre usuário e profissional, na
prestação de uma assistência, seja ela direcionada à pesquisa (GROGAN,
1995), ou à leitura, a ações culturais, dentre outros tipos de solicitações
�130
(RANGANATHAN, 1961; SHERA, 1966). Nesse processo interativo, o objetivo
almejado é a necessidade informacional, e o resultado dessa interação é a
satisfação do usuário (GROGAN, 1995).
Destaca-se,
também, no
modelo
apresentado,
que a
assistência,
elemento originado da atuação do bibliotecário, que visa a satisfação da
necessidade, pode ser direcionada a três diferentes propósitos: a interação, a
mediação e a educação. A interação é estimulada pelo intenso diálogo
estabelecido entre usuário e profissional (GROGAN, 1995); a mediação é
resultante da tentativa de conexão/sintonia dos recursos informacionais com a
necessidade (ACCART, 2012; GROGAN, 1995; RANGANATHAN, 1961); e a
educação corresponde à autonomia do usuário e a ampliação de sua
aprendizagem (ACCART, 2012; SHERA, 1966). Em todas as situações, a
essência e a função da referência permanecem inalteradas, modificando-se,
apenas, as tecnologias utilizadas e as formas de uso desses recursos (ACCART,
2012).
Com efeito, infere-se que a interação, mediação e educação são
elementos do serviço de referência, estando presentes desde as primeiras
tentativas de assistência realizadas por bibliotecários, como o projeto de
Green, no final do século XIX. Mesmo que realizadas de modo implícito, elas
são essenciais ao funcionamento do serviço de referência, se intensificando,
cada vez mais, com a ampliação dos recursos e tecnologias digitais da
sociedade atual, como mencionado por Accart (2012). No decorrer do século
XXI, percebe-se que a profecia de Shera (1966), de que o serviço de referência
se tornaria cada vez mais sofisticado, está sendo alcançada. Para isso,
conforme
Accart
(2012),
faz-se
necessário
desmistificar
a
concepção
técnica/operacional da referência, considerando-a como um fazer altamente
intelectual, de promoção da biblioteca, e, como tal, conduzido por um trabalho
de gestão.
�131
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das reflexões apresentadas neste estudo, foi possível identificar
as principais características dos serviços oferecidos pelas bibliotecas, ao longo
do
tempo,
evidenciando
a
posição
desses
serviços
na
sociedade
contemporânea, do século XXI. Por meio da contextualização aos fundamentos
encontrados
nas
pesquisas
de Ranganathan, Shera,
Grogan e
Accart,
constatou-se que esse serviço se caracteriza pela assistência ofertada à
comunidade
usuária,
manifestada
por
meio
da
interação,
mediação
e
educação. Com efeito, independente dessas ocorrências, o propósito é a
satisfação das necessidades, facilitada por meio do uso de diferentes recursos
e tecnologias, adequados à realidade e preferência dos usuários.
A análise histórica do serviço de referência permitiu identificar que ele
vem se aperfeiçoando, em paralelo à evolução das tecnologias, cujo fazer do
profissional, que é a assistência prestada com o fim de auxiliar os usuários na
busca por diferentes tipos de informação, permanece indispensável. Mesmo
que o futuro torna-se cada vez mais digital, a essência e o propósito do serviço
permanecem os mesmos, colocando em sintonia quatro elementos, que são:
usuários, profissionais, informação e tecnologias.
Os fundamentos discorridos pelos teóricos destacados neste artigo
demonstram que, em qualquer serviço de informação, ou prática bibliotecária
realizada em prol de uma assistência, de um atendimento ou auxílio prestado
na busca por informação, é necessário considerar atitudes humanas, capazes
de interagir, mediar e educar os usuários. Dessa forma, tanto os usuários
como os profissionais e a própria unidade de informação tornar-se-ão
capacitados a inserirem-se na sociedade da informação, do conhecimento e da
aprendizagem colaborativa.
O estudo reforçou que o pensamento de Ranganathan, Shera, Grogan e
Accart permanecem vivos e essenciais para garantir a permanência e evolução
da biblioteca, ao longo das próximas décadas do século XXI. Os argumentos
desses teóricos possibilitam formular modelos que sustentem a formalização
de planos de gerenciamento, haja vista garantir a gestão e melhorias aos
�132
serviços de informação das bibliotecas. Como exemplo de modelo, destacamse os elementos: a necessidade informacional (considerada como objetivo do
trabalho) e a satisfação (o resultado almejado). De uma forma direta,
convergindo profissionais, usuários e tecnologias, a assistência do serviço se
manifestará mediante ações de interação, mediação e de educação.
O modelo proposto neste estudo, como também, as discussões em torno
dos fundamentos propostos pelos teóricos instigam a necessidade de estudos
práticos, com o fim de identificar a realidade empírica das bibliotecas, sobre a
oferta dos serviços de informação. Ademais, a discussão pode se aprofundar,
quando
contemplar
outras
práticas
de
mediação
explícita
ou
implícita
presentes, tanto nas bibliotecas, ou em outros contextos, como em arquivos,
museus, centros de documentação, dentre outras organizações e realidades.
Abordar os serviços oferecidos em bibliotecas, arquivos, museus e outras
unidades similares e as práticas dos profissionais da informação, nesses
contextos, é algo indispensável e necessário, sobretudo em face do valor que a
informação
assumiu
na
sociedade
contemporânea.
Contextualizar
esses
serviços e práticas no âmbito das tecnologias digitais é descobrir novos
olhares, horizontes e possibilidades, que demonstrem o potencial desses
recursos,
apontem
soluções
aos
desafios,
como
também
revelem
as
intervenções que podem ser realizadas, para fins de melhoria contínua.
Desafios e dificuldades existem! Cabem aos profissionais, pesquisadores e
apoiadores da área da Biblioteconomia/Ciência da Informação buscarem as
conquistas.
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Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Mestre
e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Gestão e
Organização do Conhecimento. Atuante no ramo da
prestação de serviços de orientação, escrita, normalização
e lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Atua como editor e assessor do Periódico PróDiscente, como também compõe a diretoria da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de
secretário.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
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CAPÍTULO VII - Interlocuções sobre mediação de leitura no
contexto prisional e seus desdobramentos contemporâneos
Andreza Gonçalves Barbosa
Cleiton Martins de Oliveira
1 INTRODUÇÃO
As prisões - ao longo da história - faziam uso de diversos modelos
punitivos que tiveram sua gênese na Igreja, alicerçados, sobretudo, pelas
normas de Direito Canônico. À época, os Clérigos que desacatassem as normas
impostas pela igreja eram recolhidos em celas individuais para que houvesse a
reconciliação com Deus. Em alguns casos considerados mais graves, chegavase a solicitar a exclusão temporária ou permanente do mesmo (MATSUNAGA,
2007).
Os estudos de Michel Foucault (2010) revelam o quão cruéis eram as
punições, que também serviam de "espetáculo" aclamado por uma sociedade
sedenta por justiça. À época, em meados do século XVIII - a figura do
rei/soberano preponderava, sendo assim, qualquer ato considerado ilícito que
o desabonasse teria de ser reparado.
As penalidades se davam em forma de "suplício", ou seja, eram
empregadas punições como esquartejamento, apedrejamento, dentre outras.
Estas medidas visavam desencorajar futuros atos criminosos, servindo de
exemplo a quem ousasse fazê-los. Sobre os suplícios, Foucault explana:
O suplício penal não corresponde a qualquer punição: é uma produção
diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das
vítimas e a manifestação do poder que pune: não é absolutamente a
exasperação de uma justiça que, esquecendo seus princípios, perdesse
todo o controle. Nos ‘excessos’ dos suplícios se investe toda a economia
do poder. O corpo supliciado se insere em primeiro lugar no cerimonial
judiciário que deve trazer à luz a verdade do crime (FOUCAULT, 2010, p.
36).
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Ante a crueldade dos atos de tortura, os movimentos ligados à classe de
intelectuais, liderados por filósofos, profissionais da área de Direito encabeçados pela França, se mostraram contrários a esse tipo de prática e
questionaram a aplicação destas medidas, contribuindo para a implementação
do modelo prisional como o conhecemos atualmente. Em síntese: a construção
do atual modelo de privação de liberdade resulta de ações perpetuadas e
aprimoradas no decorrer de séculos.
No modelo de punição de outrora - o cárcere servia de passagem àqueles
considerados transgressores da lei, atuando tão somente como local de
custódia dos envolvidos até a deliberação final, em outros termos, prenúncio
do ritual de suplício. Atualmente, este sistema funciona como dispositivo de
controle e vigia- como veremos subsequentemente.
Pois bem, no que se refere ao indivíduo encarcerado, a partir do
momento em que este permanece, por longos períodos, privado do convívio
social, seu comportamento é adaptado às exigências do Sistema. Por tratar-se
de um espaço hermético, emblemático e estigmatizado para a maioria das
pessoas, evocamos os estudos de Goffman (1974) sobre as "instituições
totais".
O
referido
autor
cita
manicômios,
conventos
e
prisões
como
instituições totais, uma vez que os indivíduos nelas inseridos são mantidos
apartados da sociedade e observados em suas mínimas práticas cotidianas. O
autor define instituição total como:
[...] um local de resistência e trabalho onde um grande número de
indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais
ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e
formalmente administrada (GOFFMAN, 1974, p. 11).
Como mecanismo de controle e vigia, a prisão molda o comportamento
dos cativos. Ainda segundo o autor, o período de estada no cárcere faz com
que o indivíduo não acompanhe o crescimento dos filhos, perca o contato com
amigos e familiares. Ainda a respeito das instituições totais, Monteiro (2019)
conceitua a postura que o preso assume ao adentrar o sistema prisional como
"comportamento padrão do preso", ou seja:
�137
[...] o comportamento submisso e sedutor diante das regras que lhe são
impostas e do trato com o funcionário, como por exemplo, pedir licença
ao funcionário ao passar por uma porta, responder o funcionário com
“sim senhor” e “não senhor”, andar sempre na faixa pintada no chão
que lhe é permitido (MONTEIRO, 2019, p. 99).
O recluso, dessa maneira, vivencia um processo que podemos denominar
de coerção psicológica, haja vista a mudança comportamental introduzida com
a imposição de regras, bem como o condicionamento psicológico e físico
compelido a este indivíduo.
Posto isto, as mudanças iniciadas no modelo punitivo explicitadas
anteriormente prosseguiram no decurso de vários anos, até atingirmos o atual
modelo conhecido como celular, isto é, um sistema de pena com viés mais
humanizado. Além disso, foram elaborados tratados e regras internacionais
como as "Regras de Mandela" no intuito de garantir a dignidade das pessoas
privadas de liberdade, tal qual o acesso à saúde, educação e o direito a
defesa.
No Brasil, a Lei de Execuções Penais (LEP) que será apresentada
detalhadamente na seção seguinte, garante aos presos (as) dentre outros
benefícios o direito à educação em seus variados níveis. A mesma Lei em seu
Artigo 21. dita que "Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada
estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de
reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos" (BRASIL, 1984).
É sabido que a educação é um dos pilares para emancipação dos sujeitos. Já a
leitura, por sua vez, possibilita aos mesmos desenvolverem um senso crítico a
partir do conteúdo oferecido, assim como do mundo à sua volta.
Ademais, é mister pensar a educação e a mediação de leitura no cárcere
considerando as dificuldades e barreiras encontradas no cotidiano dos presos
(as), sobretudo para se fazer cumprir o que preconiza a lei em sua
completude.
Deste modo, tendo por base as premissas acima supramencionadas, este
trabalho tem por objetivo dissertar sobre a importância das bibliotecas
prisionais, da leitura e da mediação de leitura no cárcere visando proporcionar
melhor qualidade de vida aos cativos por meio da educação e da leitura. Para o
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desenvolvimento deste estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico na
literatura da área.
2 BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
No Brasil, a pena de prisão foi instituída a partir do código Criminal de
1830 podendo ser representada de duas formas: a prisão simples e a prisão
com trabalho. Entretanto, em razão de irregularidades e problemas estruturais
encontrados nas instituições penais brasileiras no fim do Regime Militar,
discussões políticas foram realizadas acerca da situação dos presos do país,
resultando - em 1984 - na criação da Lei de Execuções Penais (LEP)20.
A LEP - por meio de medidas socioeducativas e ressocializadoras – visa
humanizar o sistema e garantir a reinserção do internado e condenado em
sociedade (BRASIL, 1984). Além da LEP, temos, outrossim, a Constituição de
1988 fundamentada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,
que estabelece em seus Incisos
direitos e deveres da pessoa
presa
(BRASIL,1988).
Não obstante, o Brasil ocupa o terceiro lugar em população prisional no
contexto mundial. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional
(DEPEN) atualizados em 2019, o país possui uma população prisional de
773.151 pessoas privadas de liberdade. No que tange à escolaridade, a maior
parcela de pessoas presas possui somente o ensino fundamental incompleto.
No que se refere à educação, a seção V da LEP apresenta alguns Artigos
relacionados à educação no cárcere, conforme explicitado abaixo:
Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a
formação profissional do preso e do internado.; Art. 18 .O ensino de 1º
grau será obrigatório, integrando- se no sistema escolar da Unidade
Federativa; Art.18 A.O ensino médio, regular ou supletivo, com
formação geral ou educação profissional de nível médio, será implantado
nos presídios, em obediência ao preceito constitucional de sua
universalização (BRASIL, 1984).
20
Informação retirada do Grupo de Estudos Carcerários Aplicados na Universidade de São
Paulo. Disponível em: http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/noticias/43-a-constituicaofederal-a-lei-de-execucao-penal-e-o-preso-7-informacoes-basicas-sobre-encarceramento.
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Em suma: apesar de todo amparo legal que versa sobre as políticas de
assistência educacional dos presos, é importante refletir sobre a real eficácia
destas políticas na prática e em quais condições são aplicadas, uma vez que,
em
contrapartida,
o
Sistema
registra
um
crescimento
exponencial
de
indivíduos encarcerados.
3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO CÁRCERE E DOS AGENTES
MEDIADORES NAS ATIVIDADES SOCIOEDUCATIVAS
O conhecimento produzido pela atividade humana vem sendo registrado,
armazenado e repassado através dos tempos de diversas maneiras. Muitos
foram os meios de se registrar informações que, a posteriori, pudessem ser
repassadas aos seus pares. Para isso, os indivíduos aperfeiçoaram os
procedimentos de armazenagem da informação provenientes da interação com
outros indivíduos e ambientes, bem como dinamizaram os dispositivos
utilizados nas atividades por eles desenvolvidas, se valendo, desta maneira, de
informações avaliadas como relevantes para alterarem suas ações rotineiras.
Ora através da oralidade, do saber fazer, da observação, ora através do
registro
em
um
tipo
móvel
portátil
em
linguagem
que
pudesse
ser
posteriormente decodificada e reproduzida, a humanidade traçou diversos
percursos que levam ao caminho da dissolução de problemas que podem ser
considerados problemas de informação.
No contexto do cárcere, existem várias possibilidades de o indivíduo
privado de liberdade manter-se informado, como por exemplo: visita dos
familiares, o envio de cartas, a possibilidade de contatar o setor jurídico quando disponibilizado pela instituição um espaço para tal, além das
bibliotecas instaladas nestes ambientes.
A inserção de bibliotecas no cárcere está pautada na LEP, em seu Artigo
21, que discorre sobre a implantação de bibliotecas nas Unidades Prisionais
adequadas à realidade de cada local e, claramente, atendendo a todos os
reclusos, bem como oferecendo livros instrutivos, recreativos e didáticos. A Lei
�140
garante a obrigatoriedade desses espaços nas prisões, contudo, observa-se
uma brecha em relação à presença do profissional Bibliotecário, função esta
que ainda inexiste no sistema penal.
Segundo a IFLA (2005), os conceitos e valores adotados pelas bibliotecas
localizadas no ambiente carcerário devem assemelhar-se àqueles adotados nas
bibliotecas públicas, garantindo aos presos que participem das ações voltadas
ao lazer, cultura e educação.
Retomando as questões de cunho educacional nas Unidades Prisionais,
em 29 de junho de 2011 foi sancionada a Lei 12433 alterando os artigos 126,
127, 128 e 129 da Lei de Execuções Penais. A partir de então, a nova lei
permite que o preso (a) possa reduzir a pena para além do trabalho, isto é,
por meio de atividades educacionais. Melhor dizendo: a cada 12 horas de
frequência escolar o preso terá um dia de redução na pena, e um dia a menos
de pena a cada três dias trabalhados.
A remição de pena por meio da leitura foi instituída pela Recomendação
44/2013 do CNJ - Conselho Nacional de Justiça. A norma determina que o
preso (a) terá o prazo de 22 a 30 dias para ler uma obra e, em seguida,
deverá redigir e entregar uma resenha do exemplar lido à Comissão
realizadora do projeto. A cada obra lida, resenhada e aceita, reduzir-se-á
quatro dias de pena. A norma ainda estabelece o limite máximo de 12 obras
que poderão ser lidas anualmente, o que resultará em 48 dias de diminuição
da pena. Por ser uma Recomendação e não uma Lei, a medida não é
obrigatória. Fica a cargo das Comarcas aderirem ou não ao projeto.
Por conseguinte, considera-se essencial aos apenados o acesso às
bibliotecas prisionais com a presença de um bibliotecário, sendo este o
responsável pela adoção de atividades ligadas à leitura.
Ainda falando sobre os bibliotecários nas Unidades Prisionais, grande
parte destes profissionais atuam voluntariamente ou por meio de projetos de
extensão realizados pelas Universidades. Acerca desta temática, destaca-se o
trabalho da Bibliotecária, Catia Lindemann, ativista das bibliotecas prisionais e
Presidente da primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP).
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No artigo intitulado "Implantação da biblioteca no cárcere: desafios e
possibilidades, Lindemann e Colares (2015) explanam a respeito do projeto de
Extensão "Janela Literária", realizado na Penitenciária Estadual de Rio Grande
(PERG) cidade localizada no interior do Rio Grande do Sul. Neste trabalho, as
alunas verificaram que apenas organizar e distribuir livros nas celas não
bastava. Era necessário apresentar o livro aos detentos, torná-lo familiar ao
ambiente, além de mediar a informação e a leitura, haja vista que grande
parte da população carcerária é composta por presos com ensino fundamental
incompleto.
Deste modo, percebe-se a importância do bibliotecário como agente
mediador da leitura, especialmente no contexto prisional, lido, reiteradamente,
como ambiente marginalizado.
A respeito disso, salientam Lindemann e Colares (p.3, 2015) "É esse o
papel do bibliotecário hodiernamente, ou seja, facilitar o acesso, mediar
informação para os cidadãos, como forma de que eles tenham insumos para
exercer a sua cidadania [...]", dessa maneira, o bibliotecário contribui para a
formação e ampliação de visão de mundo dos cativos.
Pensar
as
bibliotecas
prisionais
como
locais
que
possibilitem
o
desenvolvimento de atividades relacionadas à aprendizagem, ou seja, como
ambiente de mediação, impulsionando o desenvolvimento de habilidades
diversas, contribuindo pra que os apenados entendam melhor o mundo à sua
volta é de suma importância. Para esse fim, deve-se compreender o conceito
de mediação:
Toda ação de interferência – realizada em um processo por um
profissional da informação e na ambiência de equipamentos
informacionais –, direta ou indireta: consciente ou inconsciente; singular
ou plural; individual ou coletiva; visando a apropriação de informação
que satisfaça parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade
informacional, gerando conflitos e novas necessidades informacionais
(ALMEIDA JUNIOR, 2015, p. 25).
Nota-se
que
o
autor
enfatiza
a importância
de
profissionais
da
informação nas práticas de mediação. Porém, como apontado anteriormente, a
maioria dos bibliotecários atuantes no sistema prisional o fazem de forma
voluntária. Esta função, rotineiramente, fica a cargo de professores e dos
�142
próprios presos, por meio do compartilhamento coletivo de obras e de suas
impressões acerca do que foi lido. A respeito disso, Barbosa (2017) explana
em sua dissertação que, após a leitura, as apenadas do Centro Prisional
estudado em sua pesquisa adquiriam conhecimento sobre uma obra, tornandoa fonte de informação e compartilhavam-na com outras mulheres.
Sendo assim, vale destacar a importância das bibliotecas prisionais, que
dentre muitas funções enseja mudar a realidade desses sujeitos, aprimorar as
aptidões tanto comunicativas quanto de aprendizagem.
Reconhecendo estes espaços como essenciais à mudança de vida das
pessoas privadas de liberdade, entende-se que eles deveriam ser ocupados por
bibliotecários, a fim de que estes profissionais possam aliar a técnica adquirida
ao longo da graduação e adequá-las às regras estabelecidas pelo Sistema.
No entanto, dentre os fatores que contribuem diretamente para a
ausência de bibliotecários nas Bibliotecas das Unidades Prisionais destacam-se
o temor destes profissionais ao adentrar uma prisão, cuja imagem é atrelada
ao crime e demais transgressões; os entraves burocráticos para obter as
autorizações necessárias à sua permanência e desenvolvimento de atividades
nestes recintos; o embaraço quanto aos procedimentos de checagem de
objetos pessoais e, por fim, a disponibilidade de determinados gestores no que
tange à execução dos projetos propostos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo de séculos, foi possível observar como as medidas punitivas
utilizadas nas prisões no passado saíram da categoria de verdadeiras práticas
de tortura e atrocidades, que atentavam contra a vida dos cativos, para
gradualmente alcançar o modelo que conhecemos atualmente, que garante
direitos básicos de dignidade e sobrevivência destes indivíduos.
Entretanto, na história recente, no que diz respeito à humanização das
Unidades Prisionais, podemos destacar a adoção de medidas socioeducativas
no Sistema Prisional Brasileiro que possibilitam aos presos o acesso às
�143
atividades voltadas ao desenvolvimento de suas habilidades educacionais, de
aprendizagem e de leitura, contando com o papel substancial das bibliotecas
nestes ambientes.
Refletindo sobre a leitura e as atividades correlacionadas de mediação no
cárcere, tendo por base a Recomendação que discorre sobre a Remição de
Pena por meio da leitura, embora esta não seja obrigatória, conclui-se que a
medida representa um avanço no propósito de possibilitar o direito à leitura,
na obtenção de informação, proporcionado a ampliação da visão do mundo dos
apenados. Contudo, num primeiro momento - é importante refletirmos quanto
ao processo de avaliação das tarefas propostas aos cativos, especialmente
aquelas que podem beneficiá-los com a remição de pena.
Regra geral é sabido que estes indivíduos possuem o nível de
escolaridade limitado, ou seja, a necessidade de suporte adequado, tal como a
orientação de profissionais capacitados são indispensáveis ao desempenho
satisfatório dos envolvidos durante a realização das tarefas.
Do contrário, a posterior avaliação do conteúdo produzido pelos cativos
será demasiadamente prejudicada e, consequentemente, o intuito de infligir a
remição de pena pela leitura estará comprometido.
Em vista disso, se faz primordial a adoção de medidas que priorizem os
investimentos em políticas educacionais a fim de tornar estes sujeitos
habilitados e capacitados tanto para a produção de textos quanto para a
realização de leituras críticas do conteúdo ofertado.
Num segundo momento, reiteramos a importância da presença do
bibliotecário no fazer diário da educação, participando ativamente da mediação
da leitura e demais atividades correlatas - em sua totalidade, e em constante
diálogo com as equipes de Coordenação Pedagógica das instituições. O
adequado planejamento e implantação de bibliotecas nas Unidades Prisionais,
aliado ao estímulo das atividades de leitura nesses ambientes por parte de
bibliotecários - com o apoio dos gestores das instituições - são fatores que
poderão fomentar uma parceria harmônica e alinhada aos objetivos que se
pretende alcançar.
�144
Enfim, todos os envolvidos serão beneficiados, em outras palavras, os
sujeitos privados de liberdade, as instituições que os abrigam, a sociedade,
trabalhando em prol de um bem comum e fazendo com que a leitura cumpra
de fato seu papel na sociedade.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, O. F. Mediação da informação: um conceito atualizado. In:
BORTOLIN, S.; SANTOS NETO, João A.; SILVA, R. (Org.). Mediação oral da
informação e da leitura. Londrina: ABECIN, 2015.
BARBOSA, Andreza Gonçalves. Práticas informacionais das apenadas do
Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade de Vespasiano MG. 2017. 137 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola
de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBDB4YJ7Z/1/disserta__o_final_
digital_26_04_18_pdf__1_.pdf. Acesso em: 01 jun. 2020.
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julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para dispor sobre a remição de parte
do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 jun.2011. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2011/lei/l12433.htm. Acesso em: 11 jun.2020.
BRASIL. Lei nº 12433, de 29 de junho de 2011. Altera a Lei no 7.210, de 11 de
julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para dispor sobre a remição de parte
do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 jun.2011. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2011/lei/l12433.htm. Acesso em: 11 jun.2020.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 05 out.1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 2 jun.2020.
�145
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Recomendação Nº 44 de
26/11/2013. Dispõe sobre atividades educacionais complementares para fins
de remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão pela
leitura. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/busca-atosadm?documento=1235. Acesso em: 15 jun.2020.
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COLARES, Leni Beatriz; LINDEMANN, Catia Rejane. Implantação da biblioteca
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FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento das prisões. Petrópolis: Vozes,
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Informação)- Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista,
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Traduzido por Maria José Vitorino. 2005. Disponível em:
https://www.ifla.org/files/assets/hq/publications/professional-report/92-pt.pdf.
Acesso em: 21 jun. 2020.
�146
DADOS BIOGRÁFICOS
Andreza Gonçalves Barbosa: Doutoranda em Ciência da
Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação PPGCI-UFMG (2018). Mestre em Ciência da
Informação pelo mesmo programa (2017). Bacharel em
Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação- UFMG
(2015).
Membro
do
grupo
de
pesquisa
"Práticas
Informacionais e Cultura" (EPIC-UFMG). Áreas de interesse:
Usuários da informação, Ciência da Informação, Informação e
cidadania, Bibliotecas Prisionais, Leitura no cárcere,
Ressocialização,
Práticas
Informacionais.
Representante
Discente PPGCI - UFMG. Membro da Comissão Brasileira de
Bibliotecas Prisionais (CBBP - Febab).
E-mail: goncalvesandreza@hotmail.com
Cleiton Martins de Oliveira: Bacharel em Comunicação
Social – Habilitação Jornalismo – pela Faculdade de Ciências
Humanas – UNIVERSIDADE FUMEC (2004). Bacharel em
Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação – UFMG
(2015). Áreas de interesse: Ciência da Informação, Biblioteca
Escolar, Informação e Cidadania.
E-mail: thonmartins@hotmail.com
�147
PARTE II - MEDIAÇÃO
COMO PROMOTORA DOS
SERVIÇOS DE
INFORMAÇÃO
�148
CAPÍTULO VIII - Ações de informação no Laboratório de Tecnologias
Intelectuais
Isa Maria Freire
Gustavo Henrique de Araújo Freire
1 INTRODUÇÃO
A presente comunicação compartilha resultados de reflexão sobre a
aplicação do modelo de regime informacional proposto por González de Gómez
ao campo de pesquisa constituído pelo Laboratório de Tecnologias Intelectuais
– LTi, identificando seu valor informacional no âmbito do regime de informação
da forma de vida da comunidade da Ciência da Informação na Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).
Desde 2009 o Laboratório de Tecnologias Intelectuais - LTi vem
desenvolvendo ações integradas de pesquisa – ensino – extensão, com o
objetivo de facilitar o acesso livre à informação científica e tecnológica na
Internet e promover competências em tecnologias intelectuais para produção e
compartilhamento da informação, na rede das redes.
Trata-se de projeto do Departamento de Ciência da Informação, em
parceria com o Departamento de Contabilidade e Finanças, os Programas de
Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFPB e da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), com apoio do do Programa Interinstitucional de
Bolsas de Iniciação Científica e do CNPq. Sua abordagem metodológica
apresenta um caráter participativo, tanto em nível da articulação com os
espaços sociais e institucionais, quanto em nível da produção e comunicação
de informação e conhecimento.
Desde o início de sua implementação, a pesquisa teórica sobre o LTi tem
como objeto de investigação a pertinência das micropolíticas para gestão de
atividades em um dado regime de informação, seus resultados na produção
colaborativa de dispositivos e artefatos de informação e o compartilhamento
�149
em redes de comunicação virtual. Nesse processo, também foram objetos de
estudo a possibilidade de emergência de uma inteligência coletiva no grupo de
participantes e a ideia de uma competência ética como fundamento à prática
da responsabilidade social dos profissionais da informação.
Nossa análise, ao longo de 10 anos, vem confirmando os indícios de que
as ações de informação se iniciam e desenvolvem em um regime de
informação a partir de atores sociais, mediante dispositivos semânticopragmáticos e estruturas organizacionais aceitos pela forma de vida e apoiados
em tecnologias de informação e comunicação. Vale ressaltar que se trata de
oportunidade única de acompanhar, desde o início, a experiência de um grupo
reunido por laços sociais para criação e distribuição colaborativas de produtos
e serviços de informação.
2 UMA ABORDAGEM DAS AÇÕES DE INFORMAÇÃO
Em texto de 1999 (p. 2), González de Gómez explicita seu objetivo de
“demonstrar a validade acerca dos aspectos seletivos e decisionais da
construção de valores de informação por indivíduos, atores coletivos e
organizações”. Para a autora, embora a tendência na área da Ciência da
Informação seja abordar separadamente os problemas de informação na
perspectiva dos produtos e serviços, ou da gestão da informação, há espaço
para estudá-los a partir do questionamento dos aspectos decisórios e seletivos
das práticas e ações de informação. Pois “essas práticas intervêm na própria
constituição de algo a ser designado como informação, ou domínio da
informação, ex ante”, criando uma assimetria estrutural, uma vez que na
sociedade contemporânea
[...] as possibilidades de escolha dos sujeitos sociais, no processo de
constituição de um valor de informação, ocorrem no horizonte de um
paradoxo: por um lado, os sujeitos detém autonomia para escolher,
mas, por outro, a sociedade demanda e produz regimes de informação
cada vez mais hegemônicos (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p. 3).
�150
No desenvolvimento de sua abordagem, a autora encontrou na “teoria
da ação” de Wersig e Windell (1985) uma conceituação que permite uma
abordagem situacional dos problemas de informação, os quais “remetem a
complexos de atividades e situações ancoradas no tempo e no espaço, os quais
demandam uma diversidade de procedimentos e respostas gnoseológicas. [...]
Começam, assim, a ganhar novas instâncias o que será denominado ‘ações de
informação’”, pois a “teoria da ação” abriria espaço para estabelecer distinções
de caráter social e contextual, relacionando a atuação da Ciência da
Informação ao domínio da confluência dos contextos da comunicação, do
conhecimento e da ação:
A principal ideia é que "ação" e "comportamento" estão intimamente
relacionados, mas são utilizados para diferentes fins e, portanto, são
mais distinguidos pelos critérios que o analista aplica a eles por sua
natureza. Quando nos preocupamos com o "comportamento",
concentramo-nos no que é observável, enquanto que quando falamos de
"ação" existe a intenção do ator de conseguir algo e essa intenção torna
a ação "significativa" pelo menos para o ator. Ao olhar para "ações",
somos sempre confrontados com a questão de entender o sentido
subjacente.
Na abordagem de González de Gómez (1999, p.5), “a ação social se
assenta na força da relação de interlocução, que se estabelece ao mesmo
tempo em que a definição do vínculo social, conforme uma forma específica de
comunicação e de transferência de informação”. Para a autora,
[...] esse plano transcendental de regulamentação de esferas práticodiscursivas já age como pressuposto das ações cotidianas dos falantes
em seus mundos habituais de vida [...]. Os postulados e condições da
comunicação estariam assim pressupostos em alguma medida em todo
plano de ação coordenada ou coletiva (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999,
p.18).
Como essas premissas têm implicações sociais e ético-políticas, a autora
buscou fios conceituais na reconstrução das teorias sociais da ação, como as
de Bordieu e Habermas, na abordagem das práticas-discursivas de Foucault e
em abordagens antropológicas, como a de Geertz, e sociológica, como a de
Collins e Kush. E ressalta que enquanto essas abordagens privilegiam o lado
intencional, auto-referencial e de autogestão da ação coletiva e individual,
outras
abordagens
configurações
de
acentuam
ações
e
o
aspeto
relações
encoberto,
sociais
presentes
a
opacidade
no
processo
das
de
�151
constituição de um “valor de informação”. Nesse contexto, “Se na abordagem
estruturalista as relações são efeitos variáveis e de superfície das estruturas
invariáveis, nas novas abordagens não há nada nem por baixo nem por cima
das relações, pois os termos da relação só existem na própria relação, e não
ex ante” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p.25).
E assim chegamos às ações e relações sociais existentes nos inúmeros e
diversificados
regimes
de
informação
coexistentes
na
sociedade
contemporânea, onde “as redes são estruturas comunicativas” (CASTELLS,
2015, p.66) e, como visto, o ex ante se transmudou em aqui e agora (FREIRE,
2003).
2.1 ESTRATOS E QUADRO NORMATIVO DAS AÇÕES DE INFORMAÇÃO
González de Gómez reitera que, do ponto de vista semântico-pragmático,
um valor de informação se constitui por regras, na maioria das vezes implícitas
e habituais no grupo de sujeitos. Do ponto de vista da estruturação
metainformacional, sua constituição responde a regras formalizadas, padrões
convencionais e contratos, e do ponto de vista das infra-estruturas pode ser
vista como objeto modelável. No curso das suas reflexões a autora consolida
sua reconstrução da ação de informação como uma ação estratificada, sendo
que cada uma dessas estratificações seria definida e organizada por um plano
de regras que se manifesta como definição de valores de informação, seja
como modelo, design ou norma técnica, ou como “padrões de fato21” ou como
micropolíticas organizacionais.
21
Apoiada em Bearman e Sochats (1996), González de Gómez (1999, p.11) usa o termo para
identificar a escolha e aplicação de tecnologias na constituição de um valor de informação, na
medida em que são selecionadas “dentre as ofertas tecnológicas no mercado de indústria de
informação”, estabelecendo possibilidades e limites de relacionamento com outros recursos
tecnológicos.
�152
Quadro 1 – Estratos da informação e quadro normativo
PLANOS DE CONSTITUIÇÃO DAS REGRAS
QUADRO NORMATIVO
Critérios de validade e
aceitação da informação
Redes prático-discursivas [informação]
Arcabouços organizacionais [metainformação]
Concepção de serviços,
redes e interfaces
Mediação técnico-tecnológica
[modelos, processos, artefatos,
Infra-estrutura
tecnologias]
computacional e
telemática
Micropolíticas organizacionais
Modelos operacionais, normas
técnicas
Padrões “de fato”
Fonte: GONZÁLEZ DE GÓMEZ (1999). Intervenções dos autores entre colchetes.
Nesse contexto, “a estrutura, organização e conteúdo de uma unidade
informacional remete, antes, às ações e aos agentes que a produzem e
organizam do que aos conteúdos do mundo natural e social aos quais
apontam, bem como a seus universos de referência discursiva”. (GONZÁLEZ
DE GÓMEZ, 1999, p.4). Para a autora, a construção de “valores de informação”
é orientada por regras construídas por sujeitos coletivos cujas práticas e
discursos
concretos
estão
ancorados
no
tempo e no
espaço.
E
aqui
encontramos os atores sociais em suas formas de vida. Esses sujeitos são
considerados “atores sociais” quando existe
[...] algum grau de institucionalização e estruturação das ações
coletivas dos quadros conceituais e das estratégias prático-discursivas,
as quais agenciam diferenciais para configurar ações formativas que
singularizem e sustentem expectativas de reconhecimento social desses
sujeitos (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p. 24).
A
autora
faz
uma
distinção
entre
“atores
sociais”
e
“atores
gnosiológicos”: enquanto os primeiros podem ser reconhecidos por suas
formas de vida, construindo suas identidades através de ações formativas, os
atores gnosiológicos são atores sociais cujas ações formativas são, de modo
dominante, ações de informação:
A relação entre ator social, ação formativa e valor de informação é a
junção que define as ações de informação. Nesse contexto são
construídos e aceitos certos valores de informação, em situações que
demandam processos sociais de arbitragem, tais como os de produção
de conhecimentos científicos. De modo que a toda ação formativa
�153
corresponde uma ação informacional. Denomina-se, ator gnosiológico ao
ator social (cientista, pesquisador, tecnólogo) cuja ação formativa é a
ação de informação (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p.24).
Instala-se, então, uma nova assimetria entre as ações de informação:
enquanto para todos os atores sociais é a ação social formativa que vincula e
tematiza as ações de informação aos atores gnosiológicos, cuja ação formativa
é a ação de informação em si, a vinculação gnosiológica tematiza e organiza
suas ações sociais. É nesse contexto que González de Gómez (1999, p.22) usa
o conceito de “formas de vida”, conforme Geertz (1998), o qual pode ser
aplicado a um campo profissional, como o dos pesquisadores numa área do
conhecimento científico:
Numa área de pesquisa, entendida como “forma de vida”, regras
intersubjetivas de um “contrato local” serviriam de mediação entre a
autonomia semântica do pesquisador individual e o poder simbólico das
instituições. As regras não são fixas nem imutáveis: estão sujeitas à
reformulação e à negociação.
De modo que, para a autora, no âmbito de uma forma de vida, “a
vinculação gnoseológica tematiza e organiza [as] ações sociais”, de maneira
que “Uma ação de informação se exerce [através da] articulação entre os
planos ou estratos informacional e metainformacional” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ,
1999, p.24). O estrato metainformacional demarca o contexto em que uma
informação tem sentido: trata-se de um plano que “regula e orienta as
operações
de
relação
[tendo]
como
núcleo
um
valor
de
informação,
estipulando o domínio relacional a partir do qual [...] pode desenvolver valores
cognitivos, conforme uma práxis preferencial” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999,
p.5). Desse modo, os múltiplos estratos de informação são organizados
conforme um interesse e se orientam para um “agir ou fazer”.
O plano de articulação informacional responde “às condições daquilo
acerca do que se informa, estabelecendo relações na dimensão cultural,
cognitiva, ética e estética, nas quais estão ancoradas suas referências
semânticas e de conteúdo” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p.5). Nesse sentido,
remete a uma formação discursiva e aos seus universos de referência: “Toda
ação que constrói um novo valor de informação age a partir de algo que a
precede e reúne uma memória de ações de informação [...], bem como
�154
instrumentos e meios disponibilizados pelo ambiente cultural” (GONZÁLEZ DE
GÓMEZ, 1999, p.5). São os dispositivos do regime de informação.
A autora denomina dispositivo de informação a tudo que, “como matéria
informada, mediação maquínica, ou passado instituído do mundo social,
condiciona uma ação de informação [podendo] atuar como variável causal na
ocasião pontual de sua intervenção” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p.5).
De modo geral, um dispositivo de informação é constituído sobre
dispositivos anteriores de informação, que atuam como seu preenchimento
estratégico, em um dado regime de informação.
A reutilização é parte do dispositivo. As redes de comunicação remotas,
nessa concepção, seriam num primeiro momento herdeiras dos
conteúdos
informacionais
já
disponíveis
em
meio
digital,
independentemente de gerar outros recursos, e de modificar conforme
os novos sistemas de inscrição os repositórios já existentes (GONZÁLEZ
DE GÓMEZ, 1999, p.26).
A autora destaca que um regime de informação comporta inúmeros
dispositivos de informação, desdobrando-se
[...] num conjunto de redes formais e informais, nas quais as
informações são geradas, organizadas e transferidas de diferentes
produtores através de muitos e diversos meios, canais e organizações,
para diferentes destinatários ou receptores de informação, sejam
usuários específicos ou públicos amplos (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999,
p.27).
Em
síntese,
um
regime
de
informação
se
caracteriza
por
sua
complexidade e sua não transparência imediata, e também por nele ocorrerem
conflitos, vontades plurais e efeitos não desejados. Para a autora, esse
conceito de regime de informação, de inspiração foucaultiana, permite falar de
política e de poder sem ficar restrito ao Estado e as Políticas Públicas. Nesse
contexto, o que se denomina “informação” é constituído a partir de formas
culturais
de
semantização
desdobramentos
em
atos
de
de
nossa
experiência
enunciação,
do
interpretação,
mundo
e
seus
transmissão
e
inscrição. Essas condições de possibilidade e de realização de uma ação de
informação abrangem condições, regras e recursos de locução, transmissão,
inscrição e decodificação definidas pelas disponibilidades materiais e infraestruturais nas quais se inscreve a ação. Por essa razão, a autora sustenta que
�155
ações de informação tanto podem orientar-se à reprodução quanto à mudança
dos regimes de informação, direcionando o fluxo e distribuição de informação
entre sujeitos, áreas do conhecimento, atividades e regiões.
2.2 TIPOLOGIA DAS AÇÕES DE INFORMAÇÃO
González de Gómez (1999, p.19) denomina “forma de vida” ao complexo
de sujeitos e práticas informacionais e não informacionais, espaços sociais
onde sujeitos coletivos realizam práticas significativas e mais ou menos
duradouras. Conforme Geertz (1998), essas “formas de vida” organizam
vivências e interpretações intersubjetivas e nelas valores de informação serão
aceitos, nos processos de comunicação, inferência ou argumentação. Por sua
vez, Collins e Kush (1999) falam de “ações formativas” como aquelas que ao
fazerem sentido para um grupo social dão, ao mesmo tempo, a identidade e a
diferença
a
partir
das
quais
o
grupo
colocará
suas
demandas
de
reconhecimento na sociedade.
Nessa abordagem as instituições constituem variáveis com diversos
graus de valor, de modo que podem se estender de uma ação com um mínimo
de acordo entre os participantes até uma ordem instituída e formalizada, que
pode ser coercitiva e de pretensões totalizadoras em seu domínio de
intervenção. Nesse plano, os atores constituem e reconstituem continuamente
as instituições através de suas ações e decisões: a instituição social não é nem
fixa nem preestabelecida, mas em cada caso exerce algum tipo de “co-ação”
(ação cooperativa) no domínio de sua intervenção.
Considerando as formas de vida e as instituições como “conjuntos de
ações que se articulam”, Collins e Kush (1999, p.17) denominam esse
recíproco entrelaçamento de “ações formativas”: as formas de vida e as ações
formativas mantêm certas caraterísticas de autor-referencia e validação em
diferentes escalas de sua realização, o que as faria semelhantes a fractais:
Existe assim um elo entre formas de vida de maior extensão
(sociedades), formas de vida que compõem as sociedades (guerra,
esporte) e formas de vida menores (um esporte particular). E quando
�156
descermos na escala encontraremos que não falamos mais de formas de
vida, mas de ações que são tipicamente executadas dentro delas
(COLLINS; KUSH, 1999, p.17).
A abordagem dos autores tem como princípio ocupar
ocupar-se de tipos de
ações e não de ações singulares, estabel
estabelecendo
ecendo as diferenças entre ações
polimórficas e ações mimeomórficas
mimeomórficas:: “As ações polimórficas caracterizam-se
caracterizam
pelo fato de que envolvem uma variedade de comportamentos para executar a
mesma ação na mesma situação” (COLLINS; KUSH, 1999, p.19). Nesse
sentido, González de Gómez entende que práticas e atividades sociais de
informação são combinações híbridas de ações polimórficas e mimeomórficas,
que
podem
ser
vistas
tanto
em
sua
especificidade
quanto
em
sua
complexidade e articulação. De modo que as ações se com
compõem,
põem, articulam e
justapõem em “cascadas de ações” com diferentes possibilidades de interseção
e hibridação. Para a autora, do ponto de vista das ações de informação o
importante é conservar a relação entre ação coletiva e forma de vida, ou
comunidade de práticas
ráticas socioculturais, que “constituiriam o arcabouço social
dos processos seletivos e decisionais, tácitos ou implícitos, que levam a
constituição de um valor de informação pelos atores que agenciam as ações de
informação” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p.24)
p.24).. Nesse contexto, a autora
analisa a “ação de informação” como um conjunto de estratos heterogêneos e
articulados, que ocorrem de modo paralelo e simultâneo ao longo de todo o
desenvolvimento de uma atividade ou processo.
Figura 1 – Assimetrias e interfaces dos estratos das ações de informação
�157
Fonte: Adaptada de GONZÁLEZ DE GÓMEZ (2003a).
Conforme González de Gómezn (2003a) no domínio informacional
estamos imersos nas formações discursivas das comunidades de informação:
esse estrato é polimórfico e expressivo de todas as heterogeneidades e
singularidades dos sujeitos e dos seus “mundos de vida”. Aqui, as ações de
informação acontecem como ações narrativas, relacionadas às múltiplas
formas culturais de produção de sentido. O domínio metainformacional, de
estruturação regulatória, é aquele onde se estipula o domínio relacional ou
contexto dentro do qual algo apresenta ou representa um valor de informação.
Por sua vez, o domínio de infra-estruturas tecno-econômicas remete àquilo
que disponibiliza e deixa disponível um valor de informação como sua
mediação sócio-cultural.
A partir dessas considerações, a autora entende que práticas e atividades
sociais de informação são combinações híbridas de ações polimórficas e
mimeomórficas. Dessa forma, sistemas, redes e artefatos de informação
resultam da busca de um modo para equacionar as condições da base
tecnológica,
a
qual
reúne
componentes
operacionais
e
componentes
comportamentais mimeomórficos, que são de caráter genérico e com baixa
potência de singularização, com demandas e conteúdos culturais da máxima
plasticidade e polimorfismo. Nesse contexto, e tomando como apoio as
categorias de Collins e Kush (1999), González de Gómez (2003a) reconhece
três modalidades de manifestação de uma ação de informação, conforme o
contexto de sua constituição:
de mediação, quando a ação de informação fica atrelada aos fins e
orientação de uma outra ação;
formativa, quando a ação de informação é orientada à informação
não como meio, mas como sua finalização;
relacional, quando uma ação de informação tem como finalidade
intervir numa outra ação de informação, de modo que – ainda quando
de autonomia relativa – dela obtém a direção e fins.
A ação mediadora ocorre quando a informação enquanto tal faz parte de
uma ação de informação que intervém como mediação no contexto de outra
�158
ação social: o sujeito dessa ação de informação é um “sujeito funcional”, cujas
práticas e motivações serão definidas pelo contexto acional em que atua,
dentro das múltiplas atividades sociais e seu domínio de constituição é a
práxis. Quando a informação é constituída no contexto de uma ação
informacional formativa, inicia uma nova cadeia, ou domínio informacional a
partir
de
uma
manifestação
de
sujeitos
sociais
heurísticos
ou
“experimentadores”: trata-se de manifestação do domínio da poiesis. Para
González de Gómez (2003a) esta modalidade de ação de informação é gerada
por sujeitos transformadores dos modos culturais de agir e de fazer, nas artes,
na política, na ciência, na indústria e no trabalho.
Por sua vez, quando uma ação de informação tem como objeto de
referência ou de intervenção outra ação de informação, duplicando assim seu
espaço de realização e ampliando as formas da descrição, da facilitação, do
controle ou do monitoramento, pode-se chamá-la relacional. Estas são ações
realizadas por sujeitos articuladores que executariam, em grande parte, uma
forma de atividade que teria a maior expansão no mundo contemporâneo: o
trabalho relacional ou interativo. Esses sujeitos agem no domínio do “legein”,
da reunião e da articulação dos sujeitos e dos estratos.
As subjetividades constituídas nos modos da práxis, da poiesis e o legein
teriam, sobretudo, o caráter de figuras e possibilidades que estariam, em
princípio, ao alcance de todos os grupos sociais e indivíduos.
A fixação de papéis e de modalidades de ação de informação atende à
divisão social do trabalho, incluído o trabalho da cognição. Em síntese,
toda ação de informação tem uma orientação afim, mas só num caso
essa finalidade é a geração de informação como potência e competência
de transformação – nela mesma (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003a, p.37).
A nosso ver, este é o caso do fenômeno informacional representado pelo
LTi, no qual se constitui um valor de informação no âmbito da forma de vida
acadêmica na área de Ciência da Informação, no regime de informação da
UFPB,
mediante
processos
de
proposição,
modelização,
aplicação
e
acompanhamento de ações para produção e comunicação colaborativas de
informação na Internet.
�159
3 O LTi COMO VALOR DE INFORMAÇÃO
Conforme González de Gómez (1999), definidas por seu papel relacional
num domínio de redes narrativas, sociais, técnicas e institucionais, a
informação e a ação de informação só podem vir a ser identificadas e definidas
no âmbito de uma cadeia de relações que tenha sua especificidade no contexto
social de sua constituição, no âmbito de uma dada forma de vida. Sua
ancoragem
nesse
contexto
dependerá,
contudo,
das
figuras
de
intersubjetividade que tecem os fios implicados nessas ações, a partir das
quais se estabelece se existe ou não um valor prático e factível nos elos da
cadeia de informação estabelecida entre os atores, no regime de informação.
Aplicando o modelo da autora ao LTi, observamos que é possível abordálo como um fenômeno informacional em curso no âmbito de uma forma de
vida social, corroborando a hipótese no que diz respeito à participação dos
atores sociais envolvidos na constituição desse “valor de informação”.
Enquanto fenômeno informacional, como não poderia deixar de ser, o LTi
ocorre mediante ações de informação desenvolvidas por sujeitos sociais,
individuais e organizacionais, que “articulam um valor preferencial de
informação atuando em um dado regime de informação em uma dada forma
de vida” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999, p.3).
É nesse espaço social e cultural que atuam os sujeitos que compartilham
uma forma de vida ― no caso do LTi a forma de vida acadêmica, no âmbito da
comunidade da Ciência da Informação ― e onde se entrelaçam domínios,
estratos e modalidades das ações de informação desde seus aspectos
relacional e formativo, de coordenação, inovação, criação e aplicação de
modelos, ressaltando sua característica de mediação pela disponibilização de
artefatos e serviços de informação virtuais.
�160
Figura 2 – Dinâmica das ações de informação no LTi
Fonte: Elaborad
Elaborada pelos autores (2020).
Nesse contexto, as ações de mediação, formativas e relacionais integram
um mesmo campo de orientações estratégicas e, como consequência, “a
política e a gestão da informação formarão parte do mesmo plano decisional e
prospectivo ao qual pertence à política e a gestão da ciência e tecnologia”
(GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003b, p.61). No caso do LT
LTi, foi possível propor uma
ação de informação no âmbito da política governamental de fomento à
pesquisa e desenvolvimento, por meio do Edital Universal do CNPq, para
promover a produção cooperativa dos participantes através de uma rede de
projetos. Nesse sentido,, as atividades acadêmicas desenvolvidas no LT
LTi podem
ser vistas como “ações de informação, as quais remetem aos atores que as
agenciam, aos contextos e situações em que acontecem e aos regimes de
informação em que se inscrevem”, como esclarece González de Gómez
(2003b, p.61) sobre o objeto de estudo da Ciência da Informação.
Nessa ambiência, e em conformidade com o modelo teórico
teórico-operativo
adotado, as ações da rede de projetos para disseminação, produção e
comunicação
da
informação
contribuem,
para
o
desen
desenvolvimento
de
habilidades de busca, recuperação, propagação e apropriação de informações
�161
relevantes por usuários na sociedade — quadro de referência em que se
fundamenta a proposta do LTi.
Na perspectiva do estrato semântico-pragmático de informação, trata-se
de projeto direcionado ao setor científico e tecnológico da produção social,
particularmente à comunidade científica e acadêmica e aos profissionais da
informação, cujos dispositivos e artefatos estão disponíveis na Internet. Nesse
sentido, o domínio polimórfico das ações expressa as “heterogeneidades e
singularidades dos [mundos de vida] dos sujeitos”, como esclarece González
de Gómez (2003a, p.34) em relação às características dos atores sociais
(produtores e usuários) no regime de informação da sociedade em rede. Sua
diversidade de formas de serviços e produtos de informação se expressa na
interface do LTi na Internet.
O estrato de infraestruturas tecnológicas de informação, no domínio de
intercessão entre ações formativas e ações mediadoras, é “definido na
indústria e nos mercados das tecnologias, das máquinas e dos produtos [...]
mediante ações tecnoeconômicas, normas técnicas, modelos” (GONZÁLEZ DE
GÓMEZ, 2003a, p.34). Essas ações dizem respeito à produção dos artefatos de
informação na rede de projetos do LTi, dos quais o portal virtual é o principal
representante. Assim, os resultados das ações formativas são compartilhados
com a sociedade através de ações de mediação desses objetos de informação
no Portal LTi e em mídias sociais virtuais como blog, Twitter, Instagram e
Facebook. As ações
formativas se
articulam, também, com as ações
relacionais, na medida em que relatos de experiência e de pesquisa são
compartilhados com a comunidade científica mediante comunicações em
eventos e publicação de artigos em periódicos.
Na perspectiva do estrato de meta-informação, as ações de informação
do LTi se inserem nos espaços institucionais do Estado (mediante as políticas
governamentais de fomento à Ciência e Tecnologia, a partir de editais públicos
para
projetos
de
pesquisa),
do
campo
científico
(na
produção
e
compartilhamento cooperativos da informação e conhecimento), da educação
formal (por estar vinculado a instituição de ensino superior), da legislação (por
�162
ter suas práticas orientadas por regulamentos) e dos contratos (mediante
termos de contratos concessão de recursos). É neste estrato regulatório que
[...] se estipula o domínio relacional [...] dentro do qual algo apresenta
ou representa um valor de informação [...] o contexto a partir do qual
aquilo que adquire caráter de informação pode desenvolver valores
cognitivos, constituir evidências probatórias, servir de apoio a decisão
ou ser insumo de ações instrumentais (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003a,
p.35).
Este estrato é representado pelas atividades de pesquisas propriamente
ditas, cujos projetos concorrem a apoio institucional através de editais de
instituições de fomento à pesquisa científica e estão apoiadas em contratos de
alocação de recursos ou de programas específicos de apoio às atividades
acadêmicas na UFPB, em nível da graduação e pós-graduação. Este é o
domínio relacional onde as ações de informação do LTi assumem sua feição de
informação em si (mediação semântico-pragmática), criando, nesse processo,
evidências comprobatórias sobre pressupostos teóricos e procedimentos
metodológicos
da
pesquisa,
validando
seus
resultados
na
comunidade
ações
mediação
científica.
No
regime
de
informação
do
LTi as
de
estão
representadas pelas ações cooperativas para produção e compartilhamento de
artefatos, ou objetos relacionais, na interface virtual do projeto na Internet.
Essas ações estão atreladas às ações formativas para produção de artefatos,
em curso na graduação e pós-graduação, bem como às ações relacionais
representadas pela produção de dispositivos regulatórios e relatos de pesquisa.
As ações de mediação se articulam com as ações formativas para
desenvolvimento de projetos para promoção de habilidades em tecnologias
intelectuais digitais nos participantes e na comunidade acadêmica, em geral,
no âmbito dos quais são produzidos artefatos de informação compartilhados na
Internet através do Portal LTi, das mídias sociais e dos meios virtuais de
comunicação científica.
�163
Figura 3 – Rede de projetos: ações para comunicação
Fonte: Elaborad
Elaborada pelos autores (2020).
As ações de mediação se articulam com as ações formativas justamente
nesse espaço onde os estratos poli/mimeomórficos se encontram, no âmbito
do processo de produção de dispositivos e artefatos de informação. E,
também, se articulam com as ações relacionais,, na medida em que relatos de
pesquisa, modelos de gestão e de processos são compartilhados através de
meios virtuais de comunicação, propiciando oportunidades para discussão das
propostas de pesquisa e seus resultados com a comunidade científica. Da
articulação entre as ações de informação, na perspectiva da mediação,
resultam, dentre outros, os projetos de produção de tutoriais de tecnologias
intelectuais, de organização da informação em nuvem, de comunicação
científica e de edição de mídias sociais virtuais.
Enquanto representativas da forma d
de
e vida própria da comunidade
acadêmica, nas ações formativas destacam-se
se as atividades de formação
científica e treinamento profissional na ambiência dos cursos de bacharelado
�164
em Arquivologia e Biblioteconomia da UFPB e no PPGCI da UFPB e da UFBA, no
âmbito dos quais são criados e produzidos, cooperativamente, os artefatos e
dispositivos de informação compartilhados no Portal LTi.
Essas ações se
misturam às ações regulatórias ou relacionais quando se trata da produção de
relatos
de
pesquisa
―
observações, avaliações
e
análises
próprias
e
apropriadas sobre as ações em curso no regime de informação do LTi.
As ações relacionais, por sua vez, são representadas pela reflexão e
experimentação próprias das atividades de pesquisa desenvolvidas através da
rede de projetos, os quais buscam intervir em outras ações de informação no
regime de informação do LTi e, mesmo, no campo da Ciência da informação,
mediante compartilhamento de modelos de abordagem com a comunidade
científica. Nesse sentido, há uma forte interação com as ações formativas na
medida em que as atividades se inserem em uma forma de vida, são
decorrentes de dispositivos de informação aprovados pela comunidade (apoio
de
instituições
públicas
de
fomento
à
pesquisa,
relatos
de
pesquisa
comunicados em eventos e publicação de artigos em periódicos científicos), e
produzem
novos
dispositivos
e
artefatos
de
informação
amplamente
compartilhados na Internet.
Da articulação entre ações formativas, relacionais e de mediação
resultam projetos de formação para competências em tecnologias intelectuais
digitais de informação, de experimentação de modelos de políticas e gestão da
informação, e de proposição de dispositivos e artefatos de informação a partir
da experiência e do diálogo entre docentes e discentes. Na dinâmica das ações
relacionais, estas tanto se articulam separadamente com ações formativas e
de mediação, nas atividades de produção e compartilhamento de dispositivos e
artefatos de informação, como atuam conjuntamente para desenvolver um
contexto de abordagem dos problemas de informação na ambiência de um
dado regime de informação, urdindo uma trama onde os participantes da
pesquisa entretecem a rede conceitual para uma aplicação teórica no campo
da Ciência da Informação.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
�165
Nesse processo de pesquisa identificou atores sociais e ações de
informação no regime de informação do LTi, a saber: docentes e discentes da
Graduação em Arquivologia e Biblioteconomia da UFPB e da Pós-Graduação em
Ciência da Informação da UFPB e da UFBA desenvolvem ações formativas em
uma comunidade que compartilha práticas sociais, de caráter mediador,
mediante produtos e serviços disponíveis na web, e relacional, a partir das
reflexões e proposições resultantes da prática dos atores.
Os dispositivos são constituídos por documentos que legitimam a
implementação do Projeto LTi no campo científico, como editais, submissão de
projetos, termos de concessão, artigos científicos, comunicação em eventos e
trabalhos de conclusão de curso. Os artefatos, produzidos pelos atores no
curso das ações de informação, tais como tutoriais em tecnologias intelectuais,
coleções de vídeos de interesse para o ensino, biblioteca nas nuvens,
observatório bibliográfico, constituem produtos e serviços de acesso livre para
a comunidade de Ciência da Informação e para a sociedade.
Desse modo, é possível dizer que as ações de informação na rede de
projetos do regime de informação do LTi se caracterizam como um valor de
informação em si, produzido e direcionado para uma forma de vida constituída
“pelas interações duradouras de um grupo que partilha de atividades,
situações e experiências comuns” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ (1999, p.14),
definido como “comunidade acadêmica”. Representam, também, uma ação de
infraestrutura para mediação da informação, representada pela interface
virtual na rede internet, que se propõe facilitar a comunicação da informação
produzida cooperativamente pelos atores sociais; e uma
ação de meta-
informação, por se constituir também em objeto de pesquisa teórica, ademais
de seus aspectos de pesquisa aplicada, oferecendo, também oportunidades
para reflexão sobre as ações de informação em um dado regime de
informação, na perspectiva da emergência da inteligência coletiva.
Os indícios observados confirmam a proposição de González de Gómez
(1999) de que as ações de informação se iniciam e desenvolvem em um
regime de informação a partir de atores sociais, mediante dispositivos
�166
semântico-pragmáticos e estruturas organizacionais aceitos pela forma de vida
apoiados em tecnologias de informação e comunicação. Por sua vez, os
dispositivos são definidos no regime de informação da sociedade em rede, que
privilegia
a
forma
de
vida
acadêmica
como
modo
de
produção
de
conhecimentos científicos e tecnológicos mediante subvenções financeiras e
apoio institucional.
Com este modelo de abordagem, corroboramos González de Gómez
quando diz que é possível encontrar, no campo da Ciência da Informação,
recursos teóricos e tecnológicos que promovam a socialização da informação,
mediante apropriação e uso de tecnologias intelectuais de informação. E,
também, quando destaca que essa abordagem singulariza a Ciência da
Informação no campo das ciências que adotam a informação como objeto de
estudo, e a coloca em posição preferencial quando se trata de olhar processos
e domínios comunicacionais que têm sido, até agora, explicados à luz de
abordagens econômicas ou tecnológicas.
REFERÊNCIAS
BEARMAN, D.; SOCHATS, K. Metadata requirements for evidence.
Pittsburgh: University of Pittsburgh, 1996.
CASTELLS, M. O poder da comunicação. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra,
2015.
COLLINS, H. M.; KUSH, M. The shape of actions: what human and machine
can do. Cambridge Mass: MIT Press, 1999.
FREIRE, I. M. A rede de projetos do Núcleo Temático da Seca como
possibilidade de socialização da informação. Informação & Sociedade:
Estudos, v. 14, n. 2, 2004.
FREIRE, I. M. O futuro é agora. Você S.A., São Paulo, v. 62, p. 58, 2003.
GEERTZ, C. O saber local. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. As relações entre ciência, Estado e sociedade:
um domínio de visibilidade para as questões da informação. Ciência da
Informação, v. 32, n. 1, p. 60-76, 2003b.
�167
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. Escopo e abrangência da Ciência da Informação
e a Pós-Graduação na área: anotações para uma reflexão. Transinformação,
v. 15, n. 1, p. 31-43, 2003a.
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. O caráter seletivo das ações de informação.
Informare, v. 15, n. 2, p. 7-31, 1999.
WERSIG, G.; WINDELL, G. Information Science needs a theory of “Information
Action”. Social Science Information Studies, v. 5, p. 11-23, 1985.
DADOS BIOGRÁFICOS
Isa Maria Freire: Doutora e mestre em Ciência da Informação
pelo convênio entre o Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia e a Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Professora associada do Departamento de Ciência da
Informação e docente permanente no Programa de PósGraduação em Ciência da Informação da Universidade Federal
da Paraíba. Editora científica das revistas Informação&
Sociedade: Estudos e Pesquisa Brasileira em Ciência da
Informação e Biblioteconomia. Coordena a rede de projetos do
Laboratório de Tecnologias Intelectuais. Líder do Grupo de
Pesquisa (CNPq) Informação e Inclusão Social. Bolsista de
Produtividade CNPq.
E-mail: isafreire@globo.com
Gustavo Henrique de Araújo Freire: Doutor e Mestre em
Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, convênio com o Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia.Professor Associado do Departamento de
Biblioteconomia da Faculdade de Administração e Ciências
Contábeis da Universidade Federal do Rio de janeiro. Docente
Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal da Paraíba. Docente
Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação do Instituto Brasileiro de Informação Científica e
Tecnológica convênio com a Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Editor Científico das revistas Informação &
Sociedade: Estudos, Pesquisa Brasileira em Ciência da
Informação e Biblioteconomia e Revista Conhecimento em
Ação. Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq) Comunicação,
Redes, Políticas de Informação. Bolsista de Produtividade
CNPq.
E-mail: ghafreire@gmail.com
�168
CAPÍTULO IX - Mediação e serviços de informação nas
bibliotecas à luz da fenomenologia: reflexões e
possibilidades
Jorge Santa Anna
Célia da Consolação Dias
Benildes Coura Maculan
1 INTRODUÇÃO
Com o desenvolvimento tecnológico e o valor que a informação vem
assumindo na sociedade contemporânea, observou-se que publicações com
abordagens científicas têm considerado a informação como um recurso
complexo, que assume diferentes características. No contexto específico da
Ciência da Informação, destacam-se, por exemplo, três definições clássicas,
cuja informação é definida como coisa, processo ou como conhecimento
(BUCKLAND, 1991).
De acordo com Buckland (1991), a informação como coisa é definida a
partir da presença de um suporte ou recurso tecnológico, ou seja, a
informação se manifesta em objetos, dados e documentos. Como processo, a
informação representa a mudança que promove na mente de uma pessoa, ao
entrar em contato com uma informação. Por sua vez, a informação é
conhecimento quando agrega valor ao comportamento desse sujeito.
Quando se relaciona essas definições com o trabalho desenvolvido nas
unidades de informação, sobretudo nas bibliotecas, é possível perceber, em
tese, que a primeira dimensão (informação como coisa) é a mais recorrente
(FIDELIS; SILVA, 2014). Isso porque os processos de trabalho comumente
realizados por bibliotecários permeiam as ações de organização de objetos
informacionais sistematizados em sistemas para recuperação da informação
por grupos específicos, ou seja, a informação como coisa é um “[...] elemento
�169
tangível, materializado, mensurável e tratável” (FIDELIS; SILVA, 2014, p.
329).
Considerar a informação como coisa pode restringir o trabalho do
bibliotecário à organização da informação registrada. É possível que esse limite
não atenda integralmente a complexidade de alguns aspectos do trabalho
bibliotecário, tal como o processo de referência, que se apresenta como
altamente dinâmico e complexo, como destacado por Timbó (2002).
Assim, ao atuar no campo da organização da informação, essa pode ser
uma
visão
muito
limitada
do
trabalho
bibliotecário,
sustentada
nos
fundamentos tradicionais da biblioteca, em uma concepção, tão somente,
técnica e operacional. A evolução da biblioteca, ao longo dos tempos,
promoveu
novos
olhares
ao
trabalho
realizado.
Como
organismo
em
crescimento (RANGANATHAN, 2009), a biblioteca ampliou sua dimensão,
sofrendo interferências do contexto onde está inserida, ampliando sua atenção
para além da organização e do acesso ao acervo, bem como o planejamento e
a criação de serviços de informação.
Como exemplo desta ampliação podem ser citadas as ações de
comunicação e difusão do conhecimento planejadas e implementadas pelas
bibliotecas junto a seu público. Isso quer dizer que o trabalho do bibliotecário
não termina com a indexação de um objeto em um conjunto de itens
organizados, mas continua ao criar formas de interação com a comunidade,
haja vista possibilitar um melhor aproveitamento do que está representado nos
sistemas de informação. Essa relação com o usuário, pensando na apropriação
e na satisfação, possibilita entender a conversão da informação de coisa a
processo.
A literatura até então produzida na área da Biblioteconomia e da Ciência
da Informação tem evidenciado que a biblioteca acompanha o ciclo da
informação22, não se limitando às atividades de organização do recurso
22
Neste texto, o ciclo da informação é caracterizado como o conjunto de atividades que
possibilitam a aquisição, tratamento e disseminação da informação em uma unidade
documentária, como as bibliotecas (DODEBEI, 2002), como também os processos de
construção, comunicação e uso da informação científica para fins possibilitar a tramitação do
conhecimento científico entre os especialistas (LE COADIC, 2004).
�170
informação
em
sua
forma
tangível
(FIDELIS;
SILVA,
2014;
STALEY;
MALENFANT, 2010). Fica clara essa constatação quando se estuda a biblioteca
como uma organização, sustentada por diferentes funções, conforme descrito
por Maciel e Mendonça (2006), ao citar as seguintes funções deste tipo de
unidade de informação: desenvolver, organizar e dinamizar coleções, bem
como gerenciar recursos.
A função de dinamizar coleções envolve um conjunto de atividades que
visam proporcionar a circulação dos materiais organizados e ampliar o uso dos
serviços oferecidos. É possível que, no contexto dessas atividades, o recurso
informação assuma uma dimensão mais ampla, desvinculada de um suporte,
em uma dinâmica que envolve a percepção das necessidades dos usuários e
dos recursos disponíveis, com auxílio humano ou não, para facilitar o uso e a
apropriação da informação. A informação é processo que favorecerá a sua
transformação em conhecimento a ser produzido pelos usuários, considerando
suas percepções e necessidades.
Nesse contexto, tal como destacado por Buckland (1991), a informação
estimula a produção de conhecimento, uma vez que é desvinculada do suporte
e assimilada pelo usuário, que fará uso, conforme suas necessidades. Assim,
as ações que se manifestam são muito mais complexas, pois envolvem
questões cognitivas e afetivas, portanto, carregadas de subjetividades, tanto
por parte de quem busca informação quanto por aquele que auxilia nessa
busca. Inserem-se, nesse âmbito, a mediação informacional. É importante
esclarecer que, para Almeida Júnior (2015), a mediação constitui o ato de
interferir realizado por um profissional que visa à apropriação por um sujeito
que tenha uma necessidade específica de informação.
As práticas de mediação têm possibilitado a evolução
do papel
desempenhado pelo bibliotecário que mudou sua atuação como guardião para
tornar-se mediador preocupado não só em facilitar as buscas dos usuários
como também, potencializar o papel/contribuição da biblioteca na vida das
�171
pessoas e da sociedade. Destaca-se que, a mediação nas bibliotecas tem sido
mais reconhecida por profissionais da informação no âmbito do serviço de
referência, mediante as ações de atendimento aos usuários no balcão de
referência ou em outros canais de comunicação ajudando no uso dos recursos
e serviços disponíveis.
O conjunto de atividades bibliotecárias que possibilita a prática da
referência não representa um fazer isolado. Portanto, para que a mediação
ocorra de fato e contribua com a satisfação do usuário, faz-se necessário
compreender a dinâmica da biblioteca e as demais funções desempenhadas
pelas diferentes equipes de bibliotecários, contemplando os serviços oferecidos
e as atividades realizadas pelos setores de trabalho, seja no desenvolvimento,
no tratamento ou na dinamização das coleções em uma mesma unidade de
informação.
Entende-se que a mediação demandada pelo serviço de referência requer
a compreensão e a interação com as práticas de produção, organização,
disseminação, uso e apropriação da informação, o que estimula maior
envolvimento e interação entre os bibliotecários e demais profissionais que
atuam na biblioteca.
A dinâmica informacional da biblioteca, portanto, é complexa, ou seja,
envolve questões técnicas, cognitivas e afetivas. No caso da interação firmada
na entrevista de referência, é preciso entender o contexto de vida do sujeito,
exigindo do bibliotecário uma compreensão, também, psicológica, como
discorrido no estudo de Timbó (2002). Considerando que a maioria dos
estudos desenvolvidos no Brasil tem uma concepção mais empírica do que
teórica, faz-se necessária a reflexão sobre novas metodologias ou teorias que
melhor fundamentem os processos de trabalho realizados nas bibliotecas.
Nota-se que os estudos publicados na literatura abordam propostas de
ações para gestão das práticas bibliotecárias, muitas dessas práticas estudadas
de modo isolado, sem considerar a dinâmica do ciclo da informação. Essa
percepção origina-se a partir de estudos publicados na literatura que
demonstram a necessidade de ampliação do fazer bibliotecário e a capacidade
da biblioteca em oferecer serviços inovadores, mais dinâmicos e voltados às
�172
necessidades e tendências da sociedade contemporânea (MELO; SCARVADA;
ALMEIDA, 2015; SANTA ANNA, 2016). Assim, questiona-se acerca das bases
teóricas que sustentam essas práticas e como elas podem ser compreendidas,
haja vista facilitar o alcance de resultados mais objetivos quanto aos estudos
práticos a serem realizados.
O presente texto tem a pretensão de trazer à tona os fundamentos
teóricos que podem subsidiar os estudos aplicados sobre as práticas realizadas
por bibliotecários, sobretudo nas bibliotecas universitárias, em especial no que
se refere à prática da mediação informacional no âmbito dos serviços de
informação oferecidos no contexto atual. O objetivo é discutir sobre a
contribuição da fenomenologia, considerando-a não como método de pesquisa,
mas como corrente teórica que possa dar suporte às possibilidades de
aplicação
dos
métodos
de
pesquisa
empíricos,
direcionados
ao
aperfeiçoamento dos serviços oferecidos pelas bibliotecas contemporâneas.
A escolha por essa temática se justifica considerando a escassez de
estudos teóricos que forneçam bases epistemológicas e metodológicas para
melhor compreensão do fenômeno informação no contexto das bibliotecas.
Mesmo tendo impacto positivo nos estudos desenvolvidos nas áreas de
Ciências Sociais e Humanidades, em especial por desvelar a realidade das
instituições a partir das necessidades da sociedade (BOAVA; MACEDO, 2011),
a fenomenologia não tem sido utilizada com frequência nos estudos da
Biblioteconomia e da Ciência da Informação. Por isso, neste capítulo, é
apresentada a interligação entre os processos de trabalho realizados nas
bibliotecas em comparação com as três definições atribuídas ao recurso
informacional (coisa, processo e conhecimento).
Com efeito, ao integrar os processos de trabalho, demonstram-se os
fundamentos da fenomenologia e as possíveis contribuições que ela poderá
oferecer, haja vista garantir a formulação de técnicas e métodos de pesquisa
empírica que possibilitem resultados mais consistentes para melhoria do que
pode ser oferecido pelas bibliotecas da sociedade contemporânea. Ressalta-se,
também, que este texto é fragmento do capítulo do referencial teórico
�173
desenvolvido em pesquisa de Doutorado23, em andamento, cujo objeto de
análise
é
a
gestão
do
serviço
de
referência
digital
em
bibliotecas
universitárias.
2 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E OS PROCESSOS DE TRABALHO NAS
BIBLIOTECAS
A informação pode ser considerada o objeto de estudo da Ciência da
Informação, embora essa afirmação ainda não esteja consolidada na literatura,
sobretudo pelas dificuldades em definir e caracterizar esse objeto, que pode
assumir diferentes aspectos, dimensões e aplicações (SARACEVIC, 1996). Para
todos os efeitos, ao analisar a informação como recurso que se transforma em
um contínuo ciclo de atividades, é possível identificá-la na forma tangível
(informação como coisa) ou intangível (informação como processo ou
conhecimento) (BUCKLAND, 1991).
Como coisa, a informação se caracteriza quando materializada em um
suporte e requer a adoção de processos de organização para torná-la
disponível em um sistema de recuperação da informação apta para ser
efetivamente recuperada. Como processo e conhecimento, a informação tornase um recurso abstrato, uma vez que compreende ações voltadas ao uso e
agregação de valor, algo que vai muito além da representação, permeado por
questões individuais, cognitivas e subjetivas (BUCKLAND, 1991).
Segundo Le Coadic (2004), a informação como objeto de estudo precisa
ser delimitada em um ciclo que se retroalimenta, cujos processos de trabalho
envolvem as atividades realizadas em unidades e sistemas de informação, e o
trabalho requer a participação de profissionais de diferentes áreas do saber. Ao
tratar da informação científica, o autor identifica três grupos que congregam
atividades diversas que são: produção/organização, comunicação e uso.
23
Tese vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento,
Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, com recursos
subsidiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
�174
A produção/organização diz respeito às atividades que possibilitam a
identificação da informação incorporada a um suporte tecnológico, capaz de
ser tratada para fins de armazenamento. Com o fim de satisfazer uma
necessidade, a informação produzida precisa ser desmaterializada, a fim de ser
comunicada e utilizada (LE COADIC, 2004), o que requer a definição de
estratégias que coloquem em sintonia quem organiza os sistemas de
informação e os que utilizam os sistemas infocomunicacionais24 (MCGARRY,
1999).
Analisando os processos de organização, comunicação e uso no contexto
de uma unidade de informação, como arquivos e bibliotecas, por exemplo, Le
Coadic (2004) ensina que entre a produção, comunicação e uso da informação
manifestam-se atividades de mediação, necessárias para garantir o uso dos
acervos às necessidades da comunidade usuária. Assim, a mediação pode ser
entendida como um processo amplo, que permeia diversas atividades
realizadas em diferentes setores da biblioteca e que tem como foco satisfazer
uma determinada necessidade de informação. Neste sentido, a mediação é
entendida como:
[...] toda ação de interferência – realizada em um processo, por um
profissional da informação e na ambiência de equipamentos
informacionais - direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular
ou plural; individual ou coletiva; visando a apropriação de informação
que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea, uma
necessidade informacional, gerando conflitos e novas necessidades
informacionais (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).
Pelo conceito proposto por Almeida Júnior (2015), percebe-se que a
mediação tem um objetivo fim, que é a apropriação da informação, cuja
necessidade pode não ser sanada integralmente. Para isso, manifesta-se a
ação de interferência que possa garantir, de alguma forma, o acesso à
informação, independente se a interferência ocorra junto ao usuário ou nas
atividades de organização.
24
Refere-se aos sistemas ou práticas que visam mesclar informação e comunicação, ou seja,
ações voltadas à tentativa de disseminar a informação, por meio dos canais de comunicação
disponibilizados na sociedade (MCGARRY, 1999).
�175
Portanto, nas atividades de organização, a informação é considerada um
recurso tangível
que pode ser representado, por meio de linguagens
documentárias, que gerarão os registros da representação temática da
informação, considerados como miniaturas dos objetos informacionais e que
tornarão
passíveis
de
recuperação
quando
inseridos
nos
sistemas
de
informação (NOVELLINO, 1996). Após a implementação dos processos de
organização da informação, faz-se necessário oferecer serviços personalizados
que atendam as necessidades dos usuários nas buscas por informação, com
destaque a presença de profissional especializado para acolher e, dessa
maneira, possibilitar a prática do serviço de referência (GROGAN, 1995).
É no serviço de referência que as ações de comunicação se manifestam
de forma explícita, sobretudo a partir da interação firmada entre o bibliotecário
e o usuário. No entanto, sob um enfoque amplo, os serviços de informação
correspondem à somatória de ações que se desenvolvem de modo integrado e
em
perfeita
harmonia,
para
garantir
o
atendimento
das
necessidades
informacionais da comunidade (ALVES; VIDOTTI, 2006).
Nesse processo amplo, integrado e sistêmico, tem-se a promoção dos
serviços, ou seja, a concretude do uso da biblioteca e dos recursos
disponibilizados, de modo que a unidade cumpra seu papel de agregação de
valor para diferentes públicos e para o desenvolvimento da sociedade. A
promoção do uso da informação está relacionada à mudança social ou
organizacional e à capacidade de os bibliotecários “[...] interpretarem as
implicações de tais mudanças e converter este conhecimento em benefício de
alguém” (FIGUEIREDO, 1987, p. 78).
Ao considerar a biblioteca como um sistema integrado e em constante
crescimento, as atividades realizadas pelas equipes possibilitam identificar
processos de trabalho diluídos entre a organização, comunicação e uso da
informação. Nesses processos, é possível identificar atividades específicas
realizadas por bibliotecários e a dimensão assumida pela informação, como se
observa no quadro 1.
�176
Quadro 1 – Processos de trabalho, atividades bibliotecárias e dimensão informacional
Processo de trabalho
Algumas atividades
Informação como:
Organização/Produção
- Aquisição de materiais
Coisa
- Descarte de materiais
- Catalogação e indexação
- Restauração
Comunicação/Disseminação - Gestão dos catálogos e bases de dados
Processo
- Atendimento personalizado
- Aplicação de treinamentos
Uso/Promoção
- Competência informacional
Conhecimento
- Marketing informacional
- Estudos de satisfação/avaliação
Fonte: Elaborado pelos proponentes (2020).
Os processos de trabalho descritos no quadro 1 indicam o ciclo da
informação manifestado no interior da biblioteca ou fora dela (DODEBEI, 2002;
LE COADIC, 2004). As atividades vinculadas ao processo de organização dizem
respeito
ao
trabalho
de
tratamento
dos
acervos
(FIGUEIREDO,
1987;
NOVELLINO, 1996); no processo de comunicação, intensificam-se as atividades
de atendimento e interação com usuários (FIGUEIREDO, 1987; GROGAN,
1995); por fim, no processo de uso, os serviços são disseminados, haja vista
torná-los mais acessíveis (ALVES; VIDOTTI, 2006; GROGAN, 1995).
As diferentes abordagens que a informação assume, os processos de
trabalhos e as atividades em uma biblioteca evidenciam a necessidade de
integração entre as equipes de trabalho, haja vista garantir a atribuição de
valor que o usuário final concederá ao que lhe é oferecido, conforme discorrido
por Prado (2013). Para esse autor,
informação pressupõe a capacidade de interação entre o sujeito e um
determinado objeto fluído. Para eficácia deste processo a condição do
sujeito é determinante a fim de incorrer as habilidades pessoais de
contextualização, interpretação, assimilação, compreensão e tradução
dos códigos emitidos. A originalidade é fundamental para que se
concretizem os meandros da mensagem como informação (PRADO,
2013, p. 8-9).
A visão de todo da biblioteca (visão sistêmica, integrando todos os
setores e equipes de trabalho) permite constatar a integração do que é
realizado pelas equipes de trabalho em diferentes setores, cujo propósito
dessas atividades é o mesmo, qual seja: garantir o uso e a promoção dos
serviços informacionais. As atividades realizadas possibilitam identificar a
presença do recurso informação, em suas múltiplas abordagens, seja como
�177
coisa, processo ou conhecimento, e tais atividades podem ser agrupadas nos
processos de organização e comunicação que visem o uso da informação pelos
usuários.
Importante destacar que o ciclo da informação, sob um enfoque interno
à biblioteca, é compreendido como o trajeto assumido pela informação
materializada em um suporte (informação registrada). Nesse caminho, são
estabelecidos códigos regidos por uma linguagem artificial e também canais de
contato com os usuários, possibilitando a recuperação e o uso da informação
(DODEBEI, 2002). Em um contexto externo à biblioteca, considerando o valor
científico da informação, o ciclo da informação inicia-se com o processo de
produção, perpassando pela comunicação até chegar ao uso da informação,
haja vista a agregação de valor na vida dos sujeitos que utilizam a informação
para diferentes necessidades (LE COADIC, 2004).
Mesmo que os processos de trabalho desenvolvam-se no formato de
ciclo, é possível que as práticas de mediação estejam direcionadas a cada
processo em si. Desse modo, pode-se manifestar a mediação explícita (com
presença do usuário) ou mediação implícita (sem a presença desse sujeito)
(ALMEIDA JÚNIOR, 2015). Assim, apresenta-se a figura 1, que ilustra as ações
de mediação presentes nos processos de trabalho das bibliotecas, em uma
abordagem processual, que se desenvolve no formato de fluxo.
Figura 1 – Ações de mediação nos processos de trabalho da biblioteca
Fonte: Elaborado pelos proponentes (2020).
Conforme demonstrado na figura 1, nota-se que a mediação se faz
presente em todas as atividades, realizadas de forma direta ou indireta,
�178
explícita ou implícita. A mediação é a interferência que possibilita a
apropriação (ALMEIDA JÚNIOR, 2015). Especificamente, quanto ao serviço de
referência, ele também assume uma dimensão abrangente, acompanhando as
práticas de mediação; no entanto, a manifestação mais intensa desse serviço
está entre os processos de comunicação e uso da informação, com destaque à
interação direta firmada entre profissional e usuário, haja vista as etapas
necessárias para garantir a satisfação da necessidade informacional (GROGAN,
1995),
embora,
conforme
discorrido
por
Almeida
Júnior
(2015),
essa
necessidade pode não ser integralmente satisfeita.
Também é possível inferir a partir da figura 1 que, na comunicação e
uso, estão presentes bibliotecários e usuários em constante interação, ao
passo que na organização, as atividades desenvolvem-se sem a interação da
comunidade. Essa evidência é uma característica muito peculiar do serviço de
referência, ou seja, em sentido estrito, o serviço de referência irá englobar,
normalmente, orientação, auxílio e pesquisa de informação, adquirindo, nesse
processo, um viés pedagógico oriundo da interação estabelecida entre os dois
sujeitos (ACCART, 2012).
A dimensão educativa do serviço de referência - embora essa não tenha
sido a essência inicial do serviço de referência - tem evoluído, a ponto de
reforçar o potencial do uso da informação para benefícios dos usuários,
sobretudo na atividade de pesquisa. A esse respeito, Figueiredo (1992) e
Shera (1966) assinalaram acerca da função educativa que o serviço assume e
a responsabilidade exercida pelo bibliotecário, ao realizar um trabalho de
fundamentação para as pesquisas científicas. Por conseguinte, é possível que
essa concepção educativa também tenha se estendido à prática da mediação,
o
que
demonstra
a
intensa
relação/aproximação
entre
os
elementos:
informação, comunicação e educação.
A visão sistêmica da biblioteca é a opção mais adequada para melhor
compreensão acerca do funcionamento dos processos de trabalho, os pontos
de aproximação e distanciamento entre as práticas bibliotecárias e, por
conseguinte,
estabelecer
os
princípios
que
regem
essas
práticas
(RANGANATHAN, 2009). Prado (2013) também comunga dessa ideia ao
�179
lembrar que o reconhecimento da dinâmica informacional é muito importante,
pois poderá determinar os fundamentos teóricos e metodológicos, em prol do
aprimoramento das práticas profissionais para melhor aproveitamento da
informação na sociedade.
Prado (2013, p. 1) reforça a importância da Filosofia para a evolução de
qualquer área de conhecimento, não fugindo a essa regra, a Ciência da
Informação. Reflete ainda que a Filosofia é a mãe de todas as ciências e, por
isso, “[...] nenhuma pretensão científica pode ser completa sem estar
ancorada em algum fundamento cuja estrutura ao menos permeie algum
princípio da filosofia [...]”. Com efeito, a amplitude das práticas de mediação
nas bibliotecas - considerando-se a integração entre os processos de trabalho
e a dimensão que a informação assume - pode ser compreendida a partir de
fundamentos teóricos apresentados por correntes filosóficas, como, por
exemplo, a fenomenologia que estuda os fenômenos e seus significados.
3 FENOMENOLOGIA: ARCABOUÇO TEÓRICO PARA OS ESTUDOS DAS
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO NAS BIBLIOTECAS
A fenomenologia originou-se no século XX, a partir da argumentação
filosófica proposta por Edmund Husserl (1859-1938), formulada como um novo
paradigma científico capaz de superar o tecnicismo exacerbado proposto pelo
psicologismo, cujas normas são consideradas como verdades lógicas que
possibilitam generalizar interpretações da experiência. Até esse século, o
fundamento da ciência estava pautado em uma concepção positivista suficiente
para gerar o pensamento certo e inquestionável, resultado da objetividade dos
fatos e da vivência empírica (ZILLES, 2007).
Ao criticar o psicologismo, a fenomenologia assume uma postura de
teoria como de método (MARTINEZ; SILVA, 2014), em especial quando amplia
as possibilidades de interpretação de uma realidade, conforme a essência dos
fenômenos existentes. Na concepção fenomenológica, torna-se possível “[...]
analisar a propriedade dos atos de pensar, perceber etc., a partir do seu
�180
conteúdo de sentido, ou seja, do pensado e percebido [...]” (ZILLES, 2007, p.
217).
É nesse aspecto que a concepção husserliana manifesta-se como ruptura
às ideias até então aceitas para embasar os estudos realizados no âmbito das
Ciências Sociais e Humanas. Como corrente filosófica que fomenta o aporte
teórico das investigações, a fenomenologia se preocupa com as essências, ou
seja,
a
realidade
é
estudada
como
ela
mesma
se
apresenta,
independentemente dos resultados oriundos dos experimentos e aplicações.
Portanto, “[...] o interesse teórico da atitude fenomenológica dirige-se
exclusivamente ao universo da subjetividade no qual se nos dá o mundo como
existente” (HUSSERL, 2002, p. 33).
Como estudos dos fenômenos, considerando a essência como eles se
apresentam
em
um
determinado
contexto,
situação
ou
realidade,
o
pensamento husserliano tenta compreender o homem a partir da factualidade,
ou seja, uma abordagem mais coerente e contextualizada ao que se apresenta
ao pesquisador. A fenomenologia se embasa na consciência dos fatos e dos
objetos,
convergindo
objetivismo
e
subjetivismo
e
refuta
a
visão
da
consciência do ponto de vista do espírito (alma). Nesse sentido, a consciência
é resultado da somatória dos atos humanos, formados pela percepção,
imaginação, especulação, volição, paixão, dentre outros (HUSSERL, 1965).
Por meio do estudo da essência dos fatos, dos objetos e das coisas, a
aplicação dessa corrente teórica possibilita se alcançar resultados mais
concretos, robustos e substanciais. Isso ocorre porque a realidade é analisada
como se apresenta, como os sujeitos se expressam, criticam e se comportam
sobre uma dada situação. Com o uso deste aporte teórico, evita-se forjar
hipóteses e ocultar insumos que poderiam gerar novos conhecimentos e
explicações. O pensamento fenomenológico, portanto, é resultado de uma
análise genérica, que combina diferentes fatores na garantia de resultados
mais consistentes e descritivos (LYOTARD, 2008).
Ao
abordar
os
fenômenos
como
eles
se
apresentam
(essência),
considerando-os como reflexo de uma realidade sistêmica e não isolada
(factualidade), a corrente fenomenológica apresenta-se com uma característica
�181
descritiva, conforme mencionado na obra de Carmo (2000). Para esse autor,
não é tarefa principal da fenomenologia explicar os fatos, mas descrevê-los,
visto que a tentativa de os explicar poderia comprometer a essência. Com
efeito, “[...] explicar é um ato artificial, enquanto descrever supõe abordar o
fenômeno da perspectiva do homem que o vivencia tal como ele se apresenta
à consciência” (CARMO, 2000, p. 22).
Husserl (1988) define a fenomenologia como ciência ou teoria das
vivências, visto que a vivência é permeada por fenômenos dos mais variados,
em constante movimentação, que possibilitam uma dinâmica integrada, em
um sistema que se complementa infinitamente. Nesse emaranhado de
fenômenos, devem ser considerados não apenas os de cunho geral, mas
também os dados genuínos e os intencionais, os quais são descritos a partir da
percepção do todo, considerando as vivências e as práticas do cotidiano, sendo
elas complementares e não excludentes.
A fenomenologia, em sua concepção teórica, adverte para a neutralidade
do pesquisador, pois contrariar isso seria negar ou comprometer a essência,
assim como tentar explicar os fatos e não os descrever, conforme apresentado
por Carmo (2000). Tanto em relação à teoria quanto ao método, a concepção
fenomenológica visa à essência, e, como tal, não exclui as possibilidades, o
que a torna mais adequada para aprofundar os conhecimentos, sobretudo no
âmbito das vivências organizacionais (BOAVA; MACEDO, 2011).
[...] A fenomenologia não é a portadora da razão inequívoca (pelo
contrário, ela mesma constitui-se num emaranhado de contradições).
Ela representa, antes de tudo, um método de acesso ao conhecimento
peculiar. Em outros termos, um modo diferente de compreender os
significados esquecidos, ocultos e nebulosos. Uma possibilidade.
Possibilidade de se atingir o núcleo do que se pesquisa, a essência
(BOAVA; MACEDO, 2011, p. 485).
Embora a essência seja uma das principais características dos estudos
fenomenológicos, há de se considerar outros aspectos dessa importante teoria
e metodologia, sobretudo para o desenvolvimento dos estudos nas áreas de
humanidades.
Abbagnano
(1993)
centrou-se
nos
aspectos
teóricos
da
fenomenologia, considerando suas peculiaridades, a partir de fundamentos
filosóficos suficientes para consolidar a cientificidade da corrente teórica. O
�182
autor mencionou cinco características inerentes à abordagem fenomenológica,
conforme indicado no quadro 2.
Quadro 2 – As
Característica
Ciência
da
contemplação e do
rigor
Ciência da intuição
Ciência
subjetividade
Ciência
princípios
da
dos
Ciência
da
impessoalidade
características da fenomenologia a partir de uma concepção filosófica
Descrição
A fenomenologia está embasada em fundamentos absolutos, descritivos,
objetivos e factuais
Tem como base extrair a essência, a partir da razão e como as coisas se
apresentam à percepção. Considera o caráter apofântico (qualquer
enunciado que pode ser considerado verdadeiro ou falso) da razão
(levando em conta a possibilidade de qualquer enunciado ser considerado
verdadeiro ou falso, em função de descrever corretamente, ou não, o
mundo real)
Valoriza o eu como sujeito de todas as intencionalidades constitutivas
Está embasada na consciência de como as coisas se manifestam na
realidade, considerando os possíveis modos como as coisas podem ser
constituídas em um determinado contexto
Significa a ausência de parcialidade, ou seja, os sujeitos não têm
necessidade de prudência, mas de dotes teoréticos
Fonte: Adaptado de Abbagnano (1993).
Por meio da análise do quadro 2, percebeu-se que a fenomenologia,
tanto em sua concepção de corrente teórica ou de metodologia, tem seus
fundamentos na Filosofia, apresentando-se com características rigorosas e
complexas capazes de reforçar sua característica científica. A esse respeito,
Boemer (1994) destaca que a fenomenologia visa questionar e não meramente
formular e responder problemas, o que reforça a aproximação dela com a
Filosofia.
A
fenomenologia
tenta
compreender
a
realidade,
propondo
questionamentos ao que lhe é imposto pelas essências dos fatos (BOEMER,
1994).
Os estudos de Husserl (1965), embora não tenham tido grande
repercussão ao serem formulados, foram ganhando destaque no final do século
XX, sobretudo com o surgimento de novos métodos de pesquisa voltados ao
subjetivismo. Desse modo, a riqueza do que é proposto pela fenomenologia
despertou novos desdobramentos teóricos e metodológicos, a partir de
diferentes seguidores dessa abordagem, o que fez nascer a fenomenologia
realista, constitutiva, existencial, social, dentre outras (ABBAGNANO, 1993;
BOAVA; MACEDO, 2011; BOEMER, 1994; PRADO, 2013).
Em
linhas
gerais,
essas
diferentes
abordagens
correspondem
a
adaptações da proposta de Husserl para diferentes campos de investigação ou
�183
aplicações a variadas áreas de conhecimento. No âmbito da Ciência da
Informação, é coerente que o pensamento fenomenológico encontra terreno
fértil, principalmente, quando se analisam as diferentes formas com que se
manifesta a informação e o tratamento e uso dela, ao ser inserida em sistemas
ou unidades de informação. Nesse contexto, há uma abertura do ser humano
“[...] para entender a vivência a partir do outro, isto é: a adoção do viés
fenomenológico é um debruçar-se sobre o vivido dos sujeitos efetuando uma
reflexão sobre as coisas tal como elas se manifestam no mundo da vida [...]”
(LOUREIRO et al., 2011, p. 147).
Assim, a fenomenologia pode contribuir ao fornecer as bases teóricas
quanto às pesquisas empíricas desenvolvidas no campo da comunicação
(MARTINEZ; SILVA, 2014), nos estudos organizacionais (BOAVA; MACEDO,
2011), nas pesquisas da Ciência da Informação (LIMA, 2018; LOUREIRO et al.,
2011; PRADO, 2013), dentre outras áreas. Na Ciência da Informação, Lima
(2018) destaca o uso mais adequado da abordagem social da fenomenologia,
considerando que a informação é objeto de estudo e que o uso desse recurso é
estudado a partir das percepções dos usuários, considerando diversos fatores
que permeiam o contexto da unidade ou sistema de informação. Logo, “[...]
toda a interpretação que o indivíduo exerce tem como fundamento um mundo
compartilhado com outros, já construído, organizado e significativo [...]”
(LIMA, 2018, p. 59).
Isso leva a crer que o indivíduo como elemento do fenômeno estudado
no sistema ou unidade de informação não pode ser visto como ser isolado ou
descontextualizado de uma realidade. Ao contrário, o sujeito é parte integrante
do sistema, e seu ponto de vista é condição sine qua non para garantir o
entendimento de como o fenômeno se apresenta e, por conseguinte, como se
pode formular propostas de ação para melhoria do contexto em que esse
indivíduo exerce suas atividades (GANDRA; DUARTE, 2012).
Nos diferentes campos ou segmentos de investigação pertencentes à
área da Ciência da Informação, tanto os estudos desenvolvidos por Gandra e
Duarte (2012) quanto os de Lima (2018) advertem acerca da importância da
reflexão husserliana para os estudos de uso da informação: aqueles foram
�184
realizados no âmbito do processo de busca de informação por usuários; já
esses
foram
direcionados
aos
bibliotecários
que oferecem
serviços
de
informação, com destaque ao atendimento e à interação firmados pelo
profissional junto ao usuário no momento da busca. Segundo Lima (2018), é
indissociável o viés fenomenológico para melhor entendimento do perfil e da
atuação dos bibliotecários que interagem com usuários que usam serviços das
bibliotecas. Assim, ao relatar o perfil dos bibliotecários de referência, o estudo
considerou, no âmbito da fenomenologia social, que
[...] o mundo é dado ao sujeito que faz suas interpretações de acordo
com o legado dos seus antecessores, transmitidas pelos pais,
professores, entre outros. A leitura que o sujeito tem da realidade o faz
agir de modo natural e com suas interpretações, as quais Schutz
denomina de atitude natural, ou seja, a forma como ele se relaciona no
mundo da vida (LIMA, 2018, p. 59).
Nota-se que o bibliotecário, mesmo não sendo sujeito central de estudo
na pesquisa de Gandra e Duarte (2012), acaba sendo elemento de análise,
considerando as diversas variáveis que precisam ser compreendidas, a fim de
melhorar o entendimento acerca deste ator estudado em sua essência.
Portanto, a abordagem fenomenológica delimitada nos estudos de uso da
informação perpassa por três elementos, que são: a relação entre usuário e
profissional da informação; o entendimento do julgamento de relevância do
usuário; e a recepção do texto pelos usuários, a partir da percepção e
experiência (GANDRA; DUARTE, 2012).
Considerando a amplitude do ciclo informacional presente em um
sistema ou unidade de informação, a partir dos processos de organização,
comunicação e uso, é possível que uma abordagem fenomenológica possa ser
estendida a esses três processos, não se limitando, apenas, ao uso, conforme
mencionado nos estudos de Gandra e Duarte (2012) e Lima (2018). A
interdependência das atividades que sustentam esses processos possibilita
uma análise mais ampla e profunda, a fim de reconhecer a informação como
um fenômeno, independente de sua manifestação (como coisa, processo ou
conhecimento). Logo, os serviços oferecidos recebem interferências desse
contexto, e a atuação/percepção dos bibliotecários serão reconhecidas em
essência, quando as interpretações forem realizadas de modo contextualizado,
�185
acarretando, portanto, uma visão processual das práticas de mediação e de
todo o fazer exercido pelo bibliotecário. A figura 2 apresenta a visão processual
do fenômeno informação no âmbito das bibliotecas.
Figura 2 – A dinâmica da biblioteca sob uma perspectiva fenomenológica
Fonte: Elaborada pelos proponentes (2020).
A figura 2 apresenta que a biblioteca, ao ser analisada sob uma
perspectiva fenomenológica, possibilita identificar o ciclo da informação como
fio condutor presente em todas as atividades realizadas pelos bibliotecários. De
acordo com Le Coadic (2004), o ciclo da informação constitui a essência dos
serviços informacionais, os quais interagem de modo recíproco, recebem
interferências de elementos internos e externos e, por fim, são estruturados
com base nos perfis da comunidade a ser servida.
Com tudo isso, ressalta-se que investigar os serviços de informação,
sujeitos às variáveis presentes tanto no ambiente interno quanto no ambiente
externo e que representam a essência dos fenômenos atrelados às práticas de
informação pode revelar elementos para a compreensão da implantação e da
gestão dos serviços nas bibliotecas. Neste sentido, podem ser consideradas a
abordagem fenomenológica e a estruturação dos serviços de informação em
bibliotecas, conforme explorado no estudo de Khobragade e Lihitkar (2016).
Conforme apontado na figura 2, é possível identificar os seguintes elementos
que permeiam as bibliotecas a partir da filosofia husserliana, a saber:
Coisa-Processo-Conhecimento:
são
as
possíveis
manifestações
assumidas pela informação no decorrer de sua transformação em um
contexto social (BUCKLAND, 1991);
�186
Organização-Comunicação-Uso:
representam
o
conjunto
de
atividades acopladas em processos de trabalho que acompanham o
ciclo/fluxo da informação, desde sua origem à sua apropriação (LE
COADIC, 2004);
Tecnologias-Bibliotecários-Usuários: são os elementos constitutivos
que alimentam a dinâmica do fenômeno informacional na biblioteca. Diz
respeito aos personagens necessários para estruturação dos serviços de
informação
que
condicionam
possibilidades
de
usos
diversos
(KHOBRAGADE; LIHITKAR, 2016).
Perceber
a
biblioteca
na
visão
sistêmica
e
em
sintonia
com
a
complexidade que a informação assume à medida que se transforma é
essencial para compreender como a fenomenologia pode surtir efeitos nas
pesquisas empíricas. Esse entendimento contribui para fomentar estudos em
diferentes segmentos no âmbito da Ciência da Informação (FIGUEIREDO,
2012; PRADO, 2013), considerando a informação como recurso mutável, que
se transforma à medida que recebe ações de interferência e de apropriação
(ALMEIDA JÚNIOR, 2015).
Na abordagem fenomenológica direcionada aos estudos da informação,
os sentidos do ser e do fenômeno são indissociáveis (LOUREIRO et al., 2011).
Para tanto, os métodos adotados ao considerar essa abordagem precisam
privilegiar “[...] a essência dos fenômenos no âmbito da linguagem, da
informação no mundo da vida [...]”. Além disso, e de maior destaque, o
método aplicado nas abordagens fenomenológicas no âmbito da Ciência da
Informação precisa desenvolver-se “[...] em um plano transcendentalista a
reflexões destinadas a descrever significativamente, se é que é possível aquilo
que simultaneamente nos une e separa teórica e conceitualmente: o fenômeno
informação” (LOUREIRO et al., 2011, p. 147-148).
A fenomenologia pode ser contributo para as práticas de mediação e
para o seu campo conceitual, visto que essas estão presentes em todos os
fazeres da unidade de informação, desde que o bibliotecário intervenha sobre a
informação, a fim de facilitar a apropriação dos recursos pela comunidade
usuária, conforme discorrido por Almeida Júnior (2015). Ao pensar a mediação
�187
como processo abrangente, que vai muito além do serviço de referência, que
permeia atividades, processos e fluxos de informação, é destacada a relação
permanente entre objeto e conhecedor, fato esse que acaba por afetar
diretamente os estudos práticos e teóricos da Ciência da Informação
(FIGUEIREDO, 2012).
Para Figueiredo (2012), as práticas de mediação podem ser melhor
compreendidas com a fenomenologia, a partir da configuração de novos
artefatos que são utilizados no processo de organização. A autora também
pontua que o trinômio homem-tecnologia-mundo é essencial para garantir uma
atuação bibliotecária mais efetiva, condizente com as necessidades dos
usuários da sociedade contemporânea e capaz de auxiliar o acesso ao
conhecimento. Da mesma forma, e como consequência das atividades de
organização, surgem os serviços de informação oferecidos com as tecnologias
digitais, cuja atenção precisa ser direcionada aos elementos: informação,
tecnologia e pessoas (profissionais e usuários) (KHOBRAGADE; LIHITKAR,
2016).
O bibliotecário, como profissional da informação e mediador, ao valorizar
os fundamentos teóricos da fenomenologia, tem o seu fazer analisado sob uma
visão global da unidade de informação, mediante uma atuação recíproca.
Desse modo, esse profissional influencia o processo de referência e também é
influenciado por ele, visto que “[...] todo o processo sofre influência do ser
social que o conduz, da bagagem que ele carrega, das experiências de vida, do
seu perfil, sendo sempre um processo em construção [...]” (LIMA, 2018, p.
172).
A ação de interferência realizada pelos bibliotecários - seja no processo
de organização, comunicação ou de uso da informação – levará em
consideração a apropriação e, como consequência, a atribuição de valor por
aquele que utiliza a informação fornecida. Neste percurso, as práticas de
mediação são influenciadas por diferentes aspectos, como: o contexto
sociocultural da comunidade, da equipe de profissionais, do contexto e da
cultura organizacional, dentre outros. Sob uma perspectiva fenomenológica,
considera-se que o objeto analisado é apreciado mantendo a perspectiva do
�188
universo “[...] tanto do observador, um sujeito dotado de experiências
vivenciadas e intencionalidades, quanto do elemento estudado, fenômeno a ser
ponderado e seu comportamento frente ao ambiente que se apresenta [...]”
(PRADO, 2013, p. 4).
Assim como Loureiro et al. (2011), Figueiredo (2012) e Prado (2013)
acreditam no potencial da teoria construída por Husserl (1965), haja vista
garantir a escolha de metodologias de pesquisas que garantam resultados
mais objetivos e não ambíguos, capazes de subsidiar propostas de ação para
melhorias dos serviços planejados e geridos por bibliotecários nas bibliotecas.
Isso se justifica, sobremaneira, quando se percebe a falta de sintonia entre as
variáveis escolhidas para uma investigação ou a escassez de estudos que
contextualizem a vivência social e organizacional, como descrito por Boava e
Macedo (2011).
Também é bem-vinda a abordagem fenomenológica por seu aspecto
teórico-metodológico, o que lhe afere uma dupla contribuição, mesclando os
fundamentos com as aplicações. Com todo efeito, na abordagem husserliana,
“[...] a neutralidade do pesquisador pode ser utópica, mas ainda assim a
atenção na experiência pode resgatar o frescor dos estudos e contribuir com
resultados originais [...]”, sobretudo quando se percebe que “[...] muitas
pesquisas estão se tornando demasiado descoladas do mundo real [...]”
(MARTINEZ; SILVA, 2014, p. 11).
Adotar a fenomenologia como aporte teórico nos estudos relacionados às
práticas de mediação informacional é uma alternativa coerente, haja vista que
tanto o fenômeno informação quanto as ações de interferência/apropriação são
complexas e abrangentes, permeando todo o ciclo da informação. Como
ensinado por Prado (2013), ao longo desse ciclo, a tarefa mais árdua é a
interpretação da informação, atividade específica do ser humano, capaz de
expressar a atribuição de significados “[...] às manifestações sensoriais
proferidas pelos fluxos identificados em determinada conjuntura [...]”.
Essa conjuntura é a visão de todo do sistema de informação e da
unidade de informação, por conseguinte, da atuação profissional e dos serviços
gerenciados e mediados pelos bibliotecários. Como mencionado por Boava e
�189
Macedo (2011), sob uma abordagem sistêmica, torna-se possível reconhecer e
descrever a realidade, de modo que se atinja a essência dos processos de
trabalho, e, como efeito, o que pode ser realizado para fins de melhoria nas
atividades desenvolvidas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos epistemológicos propostos pela Ciência da Informação acerca
do objeto informacional e as complexidades de manifestação desse objeto
(coisa, processo e conhecimento) possibilitam identificar a interação das
atividades desenvolvidas pelos bibliotecários ao disponibilizar serviços de
informação, nas bibliotecas. Os fundamentos teóricos desses estudos trazem à
tona processos de trabalho sistematizados e conduzidos de modo integrado e
recíproco, haja vista a organização, comunicação e uso da informação. Em
meio a esses processos, diluem-se práticas de mediação, sustentadas pela
ação de interferência do profissional que visa à apropriação e agregação de
valor pelos usuários.
Partindo dessa fundamentação e considerando o propósito principal deste
texto, qual seja apresentar as possíveis relações entre os fundamentos teóricos
da fenomenologia e as práticas de mediação da informação desenvolvidas por
bibliotecários, foi possível constatar que a abordagem fenomenológica muito se
aproxima com o trabalho desenvolvido pelos bibliotecários. Isso somente é
identificado quando se considera a visão sistêmica da biblioteca, cuja
informação assume diferentes manifestações, tanto no formato tangível quanto
intangível, desde que almeje a recuperação e uso para satisfação de diferentes
necessidades.
Os resultados deste ensaio apontam que a abordagem científica proposta
por Edmund Husserl muito pode contribuir para reforçar o aporte teórico que
sustenta a dinâmica da biblioteca, permitindo o reconhecimento de que a
atuação profissional não pode ser analisada de modo isolado, mas sua essência
somente se manifesta, com objetividade e sem viesses, mediante a integração
�190
das atividades desenvolvidas pelos profissionais. As práticas de mediação não
se manifestam, apenas, em um local específico da biblioteca, como também
não permeiam somente o serviço de referência, mas se estendem às
atividades
de
tratamento
informacional
e
às
ações
que
viabilizem
a
apropriação e geração de novos conhecimentos para quem utiliza os serviços
oferecidos.
A abordagem fenomenológica pode contribuir por romper barreiras, como
trabalho isolado, falta de integração das equipes, escassez de recursos, dentre
outros, evidenciando que não há limites entre os processos de trabalho da
biblioteca, o que promoverá resultados mais consistentes capazes de explicar
razões que justificam o modo e o propósito com que os serviços são
estruturados e gerenciados. Por meio de uma visão sistêmica, além da
descrição da realidade e a compreensão de como o trabalho é desenvolvido,
torna-se mais adequada e facilitada a proposição de melhorias para as
bibliotecas, por conseguinte, ampliar as possibilidades de transformação da
informação em conhecimento para a sociedade.
A fenomenologia, ao trabalhar com a essência, com a fusão entre
objetividade e subjetividade, com a descrição e com a factualidade dos fatos
poderá
estimular
a
imparcialidade,
por
conseguinte,
reconhecerá
os
bibliotecários como personagens principais na oferta, manutenção e gestão dos
serviços
informacionais.
Sustentada
no
rigor
científico,
a
concepção
husserliana exigirá do trabalho e dos estudos desenvolvidos em prol das
bibliotecas, a adoção de técnicas e metodologias sustentadas em teorias que
considerem a informação como um fenômeno, que se transforma ao longo do
tempo, e que os serviços a serem oferecidos demandarão da integração entre
tecnologias, bibliotecários e usuários.
A visão contextualizada e integrada proposta pela fenomenologia, haja
vista garantir a descrição dos atos e fatos da forma com que se apresentam à
consciência e à realidade é a possibilidade de reforçar a característica subjetiva
e complexa do ser humano, sobretudo quando inserido em um contexto social.
O bibliotecário e o usuário são elementos-chave para estruturação dos serviços
de informação; no entanto, mesmo que os serviços informacionais precisem
�191
seguir normas, princípios e condições específicas, eles não podem se
manifestar como engessados e inacabados, assim como não é possível
considerar o próprio indivíduo como desprovido de valor próprio e sem
considerar aspectos culturais, cognitivos e afetivos que permeiam a sua
existência e interferem em sua atuação no âmbito dos sistemas e serviços de
informação.
Essas condições reforçadas pela fenomenologia precisam ser acopladas
aos estudos desenvolvidos nos diferentes campos de investigação da Ciência
da Informação/Biblioteconomia, delimitando-se como espaço de pesquisa
empírica as práticas de mediação oferecidas nas bibliotecas, por exemplo.
Essas práticas, pelo que foi abordado neste texto, não podem ser restritas, tão
somente, ao processo de uso da informação, mas também considerando as
possíveis inter-relações existentes com outros segmentos que o recurso
informação assume, ao longo do ciclo informacional.
Entender a biblioteca como um ambiente plural/heterogêneo, com
processos de trabalho que se retroalimentam, e que trabalha a informação
sobre diferentes suportes, com manifestações diversas, é uma estratégia para
melhorar os resultados alcançados com os estudos realizados em seu bojo.
Trazer a concepção fenomenológica para esses estudos é exigir que as práticas
empíricas sejam melhor planejadas e conduzidas, de modo a descrever
sistemicamente o que se observa, considerando a visão de todo e a pluralidade
de interferências existentes, sem contudo, perder a essência dos objetos
investigados.
Os fundamentos teóricos propostos neste capítulo, sobretudo a partir de
uma concepção filosófica, não possibilitam uma conclusão definitiva, cujos
resultados permitiriam colocar um ponto final a este texto. Ao contrário, a
reflexão proposta estimula novos desdobramentos de pesquisas acerca das
práticas de mediação nas bibliotecas, considerando como base de sustento
teórico e metodológico, a abordagem fenomenológica. Como discorrido, que
esses estudos considerem a mediação como um fazer que interfira nos
processos de organização, comunicação e uso da informação.
�192
Ao congregar esses três processos, diferentes técnicas podem ser
utilizadas como método de coleta, como entrevistas e grupos focais, por
exemplo, que investiguem a atuação tanto de bibliotecários quanto de usuários
e até mesmo profissionais de áreas correlatas que contribuem com a gestão
das bibliotecas. O reconhecimento/percepção de diferentes bibliotecários que
atuam nesses processos, acerca do que consideram, como realizam e o que
vislumbram como possibilidades de melhoria para os serviços de informação
das bibliotecas é outra interessante abordagem de pesquisa; a partir da
descrição dessas observações, torna-se possível formular propostas de ação
que possam fomentar as políticas de informação para melhorias do que é
realizado nas bibliotecas de um determinado contexto.
Embora esses métodos já sejam aplicados à Ciência da Informação e ao
serviço
de
referência,
entende-se
que
fundamentá-los
à
abordagem
fenomenológica é uma estratégia de garantir maior confiabilidade aos
resultados. Além disso, essas aplicações se intensificam quando associadas a
contextos
digitais,
diante
das
instabilidades
promovidas
com
o
uso
intensificado da web.
As propostas de ação também podem ser formuladas a partir de um
contexto de investigação mais específico, sob uma abordagem micro, ao
investigar o serviço de referência propriamente dito direcionado ao suporte à
pesquisa acadêmica, por exemplo. Com esse propósito, as ações de mediação
seriam observadas, tão somente, entre o processo de comunicação e uso.
Nesse
caso,
o
fenômeno
informação
seria
analisado
em
uma
visão
contextualizada, a partir de entrevistas com bibliotecários de bibliotecas
universitárias, no entanto, considerando o contato/interação estabelecido entre
bibliotecário e pesquisador no decorrer das atividades de busca e recuperação
da informação científica.
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Agradecimentos: Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento desta pesquisa.
�196
DADOS BIOGRÁFICOS
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Gestão e
Organização do Conhecimento. Atuante no ramo da
prestação de serviços de orientação, escrita, normalização
e lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Atua como editor e assessor do Periódico PróDiscente, como também compõe a diretoria da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de
secretário.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Célia
da
Consolação
Dias:
Graduada
em
Biblioteconomia. Mestrado e Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professora do Curso de Biblioteconomia e do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: celiadias@eci.ufmg.br
Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan: Graduada
em Biblioteconomia. Mestrado e Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professora do Curso de Biblioteconomia e do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: benildesmaculan@ufmg.br
�197
CAPÍTULO X - A mediação da informação por meio de
desafios: da aquisição à apropriação de informações em
jogos digitais
Jose Ricardo da Silva Neto
“Decifra-me, ou devoro-te’’. – Qual o ser que pela manhã tem quatro
pés, ao meio dia tem dois, e a noite tem três?”
Esfinge grega - Conto de édipo
1 INTRODUÇÃO
Ao abordar viajantes, a esfinge25 desafiava suas vítimas a decifrá-la,
tendo como ameaça devorá-los caso não cumpram sua ordem. A esfinge,
segundo GAZOLLA (1983, p. 62), é o “símbolo do enigma supremo, que monta
guarda sobre um significado último que se situa além da capacidade do
entendimento humano”. Ser desafiado pela esfinge impele nos indivíduos a
necessidade por uma resposta, uma necessidade informacional, a qual
precisará de um processo de reflexão e domínio sobre a informação para ser
atendida. Assim, para a Ciência da Informação, a esfinge pode nos remeter, de
maneira
simbólica,
por
meio
de
sua
faceta
humana,
a
busca
pelo
conhecimento, já seu corpo animalesco, aos desafios dessa busca.
A esfinge representa todo o conhecimento de eras passadas, ela é
descrita contemplando o movimento solar pelo céu ao redor da Terra, aludindo
a roda do tempo e seu simbolismo. O esforço de perceber o mundo ao seu
redor, assim como a necessidade de compreender o contexto em que se
encontra também é associado a esfinge (GAZOLLA, 1983). Compreensão
essencial na resolução dos enigmas ou desafios com os quais nos deparamos.
25
A esfinge “é um monstro composto de várias partes do corpo humano e de animais,
representando o mito da multiplicidade ou da enigmática fragmentação do cosmos” (GAZOLLA,
1983, p. 62).
�198
Perceber e interpretar os símbolos, eventos ou formas do meio em que se
encontra é essencial para a formação do conhecimento. Como afirma Gomes, a
“visualização antecede o conhecer”:
pode-se dizer que a visualização das formas e cores e a audição dos
sons a partir dos registros visuais e sonoros, agregada à informação
escrita gerada a partir do esforço de interpretação dessas informações
imagéticas e sonoras, integram o processo de conhecer (GOMES, 2008,
p. 10).
A resolução dos enigmas ou desafios exigem a observação dos elementos
da realidade ao seu redor e oriundos ao próprio enigma, eles impelem a
produção do conhecimento, mesmo que haja uma faísca inicial desse
conhecimento. Para atender a necessidade de uma resposta, o indivíduo é
levado a buscar o conhecimento que “pode estar registrado em livros ou outros
suportes ou não estar materializado” (GOMES, 2008, p. 6). A mediação do
conhecimento,
então,
pode
ocorrer
por
meios
interpessoais,
meios
documentais e de maneira ativa, quando é criada uma necessidade pelo
domínio de uma informação específica.
O profissional bibliotecário deverá ter ciência de que as tecnologias
tangem o seu ambiente de trabalho, assim como também tangem os usuários
da informação, mas essas tecnologias devem ser percebidas como potenciais
recursos para todos os processos envolvidos na atividade das unidades de
informação. Como as tecnologias de informação e comunicação podem
suprimir as formas tradicionais de mediação, deve se atentar para as novas
formas de mediação que se abrem devido às tecnologias emergentes (SILVA;
LOPES, 2011).
2 A MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO
A mediação enquanto um sentido está muito ligado a imagem do
“atendimento ao usuário” (ALMEIDA, 2008, p. 3), mas a mediação envolve
diferentes formas de comunicação e suportes de informação. Além disso, a
“mediação do conhecimento” deve ser caracterizada, majoritariamente, como
�199
um processo por autores diversos, o que sugere que exista um momento
“antes da mediação”, “durante a mediação” e “pós-mediação” para o estado da
informação mediada, como afirma Almeida:
a expressão “mediação da informação” sugere que a informação é um
produto ou entidade que sofre uma ação que permite seu deslocamento
de um lado a outro do espaço, entre, por exemplo, coleção/acervo/obra
e usuário/sujeitos/público. Sendo assim, a informação seria algo
anterior ao processo de mediação, o que nem sempre é previsto nas
análises da teoria da mediação gerando contradições quando se utiliza
uma noção de informação como algo que se cria no instante da
mediação (ALMEIDA, 2012, p. 3).
Nesse sentido, a informação já existe antes do início da mediação do
conhecimento, estando ela disposta em seu portador, seja ele uma pessoa ou
um suporte informacional. Segundo Silva (2015), “a mediação da informação
precisa ser vislumbrada a partir de uma perspectiva de construção de sentidos
entre [...] centro de informação, mediador e usuário” (SILVA, 2015, p. 102),
possibilitando a compreensão da mediação do conhecimento como um
processo.
A construção do conhecimento ocorre por um caminho complexo, na qual
os interlocutores interagem não só uns com os outros, como, também,
interagem com as informações, se apropriando do conteúdo acessado a partir
de suas competências. A interação com a carga simbólica transmitida por meio
de suportes e contextos também é necessária para o processo de construção
do conhecimento, pois esses sustentam a experiência das práticas de conhecer
(GOMES, 2008).
A interação entre o conhecimento mediado e o conhecimento anterior do
indivíduo levam, então, ao processo de construção de um novo conhecimento,
o qual será apropriado pelo sujeito e utilizado caso se faça necessário. É
importante
ressaltar
que
“quando
alcançamos
o
estágio
da
mediação
produzimos conhecimento e se oferecemos tal possibilidade a outrem, da
mesma forma oportunizamos a criação de conhecimento” (ALMEIDA, 2012, p.
7), uma vez que todos os indivíduos envolvidos estão lidando de alguma
maneira com o processo de comunicação desse conhecimento, mesmo que
seja uma comunicação direta ou não.
�200
Gomes, com seu foco nos dispositivos tecnológicos, que servem como
recursos de “extensão da memória”, nos aponta que o conhecimento se dá
como resultado de uma cadeia de inter-relações de conhecimentos anteriores
com novas informações (GOMES, 2008). Os livros, filmes e outras mídias com
capacidade de registro podem ser enquadradas como recursos de extensão de
memória, uma vez que elas podem ser reproduzidas ou copiadas quantas
vezes forem necessárias. Por meio dessas “extensões de memória” temos a
possibilidade da interação sem a presença física dos seus autores ou
produtores, os quais se enquadram como interlocutores nessa produção de
conhecimento.
Essa dinâmica é perceptível a partir da arte interativa. Segundo Capucci
(1997) citado por Silva, Miranda e Baptista (2006), devido às possibilidades
dos recursos tecnológicos que permitem as obras de arte a capacidade de
responder a ação dos indivíduos que a experienciam, tem-se como resultado a
eliminação de barreiras, provocando tensões que não estão sobre o controle do
artista que produziu a obra.Essas tensões se tornam pertencentes a uma
dimensão transcultural e policontextual, o que caracteriza grande parte de seu
potencial cognitivo, cultural e social. A interação, nesse caso, já não mais se
limita a comunicação direta entre mediador e receptor da informação, como
destaca Gomes:
A interação pode ser considerada como o espaço da produção de
sentidos e ainda de manifestação e produção das relações sociais. Dessa
forma, ela não se restringirá ao verbal nem tampouco se configurará,
necessariamente, apenas na presença física dos interlocutores (GOMES,
2008, p. 6).
O que ocorre então é a produção de sentidos manifestada por meio de
um suporte pelo seu criador, seguida de uma relação do receptor com o
material recebido. A forma do material, como apontado por Gomes (2008),
influência em como este será compreendido, “As formas também produzem
sentido e a leitura é sempre uma prática constituída de gestos, espaços,
movimentos e hábitos que interferem na interpretação” (GOMES, 2008, P. 9).
O desafio, portanto, tem suas próprias características e porta em si uma carga
de intencionalidade de seu criador para o seu leitor.
�201
Para compreender o desafio enquanto um elemento de mediação do
conhecimento, é preciso recorrer ao entendimento do funcionamento das
mídias que utilizam os desafios como parte fundamental de sua composição.
Os jogos digitais, enquanto documentos, apresentam a característica de não
permitir o acesso de seu conteúdo até que o usuário consiga “passar de fase”.
Isso ocorre devido à dinâmica inerente a natureza dos jogos, que mesclam as
suas regras a uma narrativa, que, junto da interação com o usuário,
desencadeiam os ludemas.
Antes de abordar o conceito dos ludemas, é importante ressaltar que não
se deve menosprezar o potencial informacional dos jogos digitais, ou de novos
formatos de mídia, pois os jogos digitais enquanto “arte tecnológica também
conduz o homem a repensar sua condição humana por suas interações com a
própria vida” (SILVA; MIRANDA; BAPTISTA, 2006, p. 217). Como uma nova
mídia, possuidora de tecnologias e dinâmicas próprias, é, também, uma nova
forma de contar histórias. Para Cruz, “O importante é utilizar as tecnologias de
forma que nos ajudem a aprender, levando-nos a transformar informação em
conhecimento” (CRUZ, 2008, p. 1029).
3 O CONCEITO DE “LUDEMA”
O conceito “ludema” tem sua primeira aparição no artigo intitulado “Em
Busca dos Ludemas Perdidos”, publicado no “VII SBGames”,sediado em Belo
Horizonte, Minas Gerais, no mês de novembro de 2008. Posteriormente,
melhor cunhado por Marsal Alves Branco, em 2011, em sua tese denominada
“Jogos Digitais: Teoria e Conceitos para uma Mídia Indisciplinada”, em que o
autor desenvolve melhor as propriedades dos ludemas e seus variados tipos,
de acordo com os múltiplos recursos e características dos jogos digitais. O
ludema em sua origem é definido por Branco e Pinheiro como:
a unidade mínima do jogo, ponte entre a ação do interator e o resgate
das regras do sistema ludológico (atualiza os desafios que até então
existem apenas em potência) e do sistema narrativo, do qual converte
as informações e transforma em experiência de jogo. É a presença dos
�202
ludemas que garante a existência de um jogo (PINHEIRO; BRANCO,
2008, p. 73).
Sendo a conexão entre a ação do interator, a estrutura lógica do jogo
(sua programação) e seu conteúdo narrativo, o ludema é um importante
elemento para a compreensão tanto da linguagem dos jogos digitais, quanto
para
o
entendimento
do
funcionamento
do
jogo
enquanto
estrutura
informacional. Contudo, os ludemas foram trabalhados visando apenas seu
aspecto de Game Design e Comunicação, deixando em aberto lacunas
referentes às suas propriedades informacionais. Mas, antes de realizarmos
essa abordagem, precisamos, ainda em sua origem, entender o conceito, seu
funcionamento e aplicabilidade segundo Branco:
os ludemas ocorrem quando dentre todas as possibilidades o gamer, por
um ato de vontade, ATUA sobre algum dispositivo técnico qualquer
(joystick, reconhecimento de imagem ou qualquer tipo de input que o
hardware puder reconhecer) e isso AFETA o andamento do jogo. Ou
seja, o ludema é a resposta do gamer ao reconhecimento de uma
situação/desafio específico contido no sistema de regras (BRANCO,
2011, p. 76).
O ludema, como unidade mínima do jogo, pode ser facilmente visto em
funcionamento quando analisamos jogos digitais ou analógicos. No entanto, é
importante salientar que o ludema não é a estrutura do jogo em si, mas o
processo pelo qual ele insere o jogador e suas ações em seu funcionamento
lógico. Reis (2013) afirma que “a lógica dos ludemas e sua aplicação podem
ultrapassar o campo do que é facilmente reconhecível como jogo, e perpassar
também outros aspectos da vida social” (REIS, 2013, p. 198). Essa afirmação
abre a possibilidade de estudar os ludemas e o seu funcionamento como um
processo de mediação da informação e do conhecimento, mas, para tal, é
necessária uma compreensão básica sobre esse conceito.
Para obtenção de tal compreensão, é importante observar que a
descrição do conceito explicita a existência dos seguintes elementos: sistema
de regras, o sistema narrativo e as ações do jogador. E que os ludemas são
uma forma de compreender a relação do jogador, com a narrativa e suas
informações inerentes em funcionamento dentro de um sistema lúdico de
regras, ou seja, o sistema de regras existe como um suporte para o material
narrativo, mas de maneira que ambos funcionem de maneira simbiótica por se
�203
tratarem de partes complementares do conteúdo contido no jogo digital, muito
provavelmente resignados ao suporte eletrônico como o computador, o
cartucho, CD-ROM, além do console de videogame.
O sistema de regras de um jogo é caracterizado pelas condições de
vitória, derrota e ações permitidas durante a jogatina. Esse sistema, tirando
como exemplo o xadrez, inclui regras como: o movimento de cada peça, o
tempo de cada jogada (quando há limitação), o número de peças no início do
jogo e as jogadas especiais como o “roque”26. O sistema de regras pode incluir
também as regras de uso do suporte de seu conteúdo, como ocorre na
limitação de botões de Joysticks27. É importante ressaltar a afirmação de
Branco sobre o sistema de regras:
o sistema de regras apesar de ser a primeira condição para a existência
de uma game, não é por si só suficiente para que tenhamos um jogo. Se
assim fosse, qualquer sistema digital o seria, uma vez que todos são
manifestações de máquinas de estado. Um sistema operacional, uma
televisão ou uma calculadora são exemplos disso (BRANCO, 2011, p.
33).
A principal diferença dos jogos de outros sistemas digitais é a presença
de um conteúdo narrativo que, por meio do sistema de regras, permite a
interação do jogador com a narrativa apresentada. Essa narrativa interativa
possibilitada
pelo
sistema
de
regras,
muda
a
dinâmica
de
leitura
e
experienciação dos usuários, segundo Pinheiro e Branco (2012) “aos jogadores
não bastam apenas ler e interpretar o que foi escrito, mas decidir o que fazer e
agir em conformidade com essa decisão” (PINHEIRO; BRANCO, 2012, p. 72).
Essas características, segundo Branco (2011), são, também, as diferenças
cruciais entre um jogo e materiais literários/cinematográficos, devido à
necessidade do esforço físico de seu leitor para o desenrolar do jogo, além
desse esforço atuar sobre a narrativa e seus acontecimentos (BRANCO, 2011).
O jogo diante do seu jogador se comporta de maneira semelhante a
esfinge, exigindo uma resposta para seus enigmas sobre a ameaça de encerrar
26
Roque é um movimento que envolve a torre e o rei, tirando o rei do centro do tabuleiro e
deixando ele num canto, ao mesmo tempo colocando a torre no centro do tabuleiro.
27
Joystické um periférico de computador e videogame ou um dispositivo geral de controle,
composto por uma vara vertical, que transmite o seu ângulo de inclinação em duas ou três
dimensões a um computador.
�204
a jornada daquele que a ela veio, pois a história não progride se não houver a
ação de jogar, e, caso a ação não seja suficiente para vencer os desafios, o
jogador pode ser levado a passar horas infindáveis no mesmo lugar, ou até
mesmo sofrer um “game over”28 e ser levado de volta ao início do jogo. Esse
funcionamento baseado em desafios subsequentes acaba exigindo muito da
mente do jogador, como explica Vial (2015), o forçando a aprender coisas
novas ou usar seu conhecimento e habilidades de novas formas.
Todas as condutas do espírito parecem contribuir: a memória, portanto,
sob a forma de expertise; a imaginação, ampla quanto ao projeto
global, mas limitada no lance a lance; o sentido do julgamento, do
raciocínio para perceber as intenções do adversário e descobrir a
próxima resposta, a solução que permite passar dessa resposta à
retomada da progressão desejada; o sangue frio e a tenacidade nessa
ação (VIAL, 2015, p. 45).
Seja em jogos com múltiplos jogadores trabalhando em conjunto ou uns
contra os outros, indo até os jogos individuais onde se enfrenta os desafios
desenvolvidos e o próprio computador, existe essa exigência da ação, do
raciocínio em busca de soluções. Para Varela (2012) O aprendizado e
compreensão da informação pode ser entendida como uma estrutura ou a
totalidade da aplicação a uma demanda de ação intelectual, que verifique a
funcionalidade desta informação ou de suas partes. Corroborando, assim,
Gomes quando diz que: “toda ação é motivada por experiências e só é
concretizada na experiência. Desse modo, a experiência (o movimento
inerente ao protagonismo) é condição imprescindível à mediação e à formação”
(GOMES, 2014, p. 54).
Observa-se então que a ação do jogador, as regras do jogo e as
informações concedidas são fatores essenciais para que os jogadores consigam
aprender e desenvolver seu conhecimento sobre o jogo. Os ludemas estão
presentes nas mais diversas formas nos jogos eletrônicos, digitais ou
analógicos, o que pode facilitar a compreensão da mediação e produção do
conhecimento por meio de desafios.
28
Game Over - do inglês “fim de jogo”, mensagem tradicionalmente usada pela maioria dos
jogos quando o jogador fracassa em sua jornada tendo de reiniciar o jogo.
�205
4 A ESTRUTURA LUDÊMICA E O SEU FUNCIONAMENTO
O ludema, como já explicado, é composto essencialmente de três
elementos centrais, sendo eles o sistema de regras ou sistema lúdico, o
material simbólico narrativo e, por fim, a ação do usuário (preferencialmente
chamado
de
jogador).
Contudo,
é
preciso
entender
a
estrutura
de
funcionamento do ludema, ou a estrutura ludemíca, como será nomeada. Essa
estrutura tem um importante papel sobre a percepção e experiência do
jogador, visto que, segundo Negrine, “no jogo, a ação sempre estará
subordinada ao significado” (NEGRINE, 2014, P. 211), logo, a ação do jogador
não se separa da carga narrativa e do contexto de desafio no qual se insere o
jogador.
Todo o engajamento do jogador para com o jogo também é um
engajamento mesmo que superficial para seu conteúdo. Os jogos bem
projetados colocam seus jogadores em estado de fluxo “onde a ânsia por
vencer promove o desenvolvimento de novas habilidades” (MITCHELL; SAVILLSMITH, 2004, apud SAVI; ULBRICHT, 2008, P. 3).E, como sem a ação do
jogador o sistema não “funciona”, o ludema, para existir, também depende da
existência de um jogador.
Imagem 1 - Elementos do ludema
Fonte: Elaborada pelo autor (2020).
O ludema integra tanto os elementos de programação quanto da
narrativa do jogo, pois, por mais que possua um sistema lógico programado,
ele é desencadeado pela ação do jogador, o qual precisa ser informado, por
meio de seu contexto, possibilitando a ele aprender, consequentemente o
capacitando a superar o desafio proposto. Como ilustrado no fluxograma a
seguir, caso o desempenho do jogador não se mostre suficiente, ou seu
método é ineficaz, o jogo lhe responde com consequências geralmente
punitivas, retornando o jogador para o contexto anterior a sua tentativa de
resposta, o permitindo observar novamente para solucionar o entrave.
�206
Imagem 2 - Estrutura Ludêmica
Fonte: elaborado pelo autor (2020).
Isso acaba colocando o usuário em uma cadeia contínua de “checagem
do desafio”, pois o jogo dá ao jogador uma informação e o submete a testes
até que você “prove” que aprendeu o que foi informado, superando o desafio.
A citação de Mitchel & Savill-Smith, que é feita no trabalho de Savi & Ulbritcht,
corrobora esse funcionamento. Segundo os autores, “Os jogos colocam o aluno
no papel de tomador de decisão e o expõe a níveis crescentes de desafios para
possibilitar uma aprendizagem através da tentativa e erro” (MITCHELL;
SAVILL-SMITH, 2004, apud SAVI; ULBRICHT 2008, p. 3), levando o jogador e
repetir as etapas à medida que falha em superá-las, exigindo dele um
desenvolvimento intelectual resultante do esforço feito para a finalização do
jogo, como aponta a citação a seguir.
Os jogos promovem o desenvolvimento intelectual, já que para vencer
os desafios o jogador precisa elaborar estratégias e entender como os
diferentes elementos do jogo se relacionam. Também desenvolvem
várias habilidades cognitivas, como a resolução de problemas, tomada
de decisão, reconhecimento de padrões, processamento de informações,
criatividade e pensamento crítico (GROS, 2003; BALASUBRAMANIAN;
WILSON, 2006, apud SAVI; ULBRICHT, 2008, p. 4).
Esse processo de enfrentamento do desafio pode durar várias tentativas,
por meio das quais o jogo vai dar variados feedbacks acerca da falha do
jogador, a fim de informar a ele em que errou de maneira pontual, mas nem
sempre direta. Segundo a citação a Mitchell & Savill-Smith feita por Savi &
Ulbritch, “o feedback instantâneo e o ambiente livre de riscos provocam a
experimentação e exploração, estimulando a curiosidade, aprendizagem por
�207
descoberta e perseverança” (MITCHELL; SAVILL-SMITH, 2004 apud SAVI;
ULBRICHT, 2008, P. 4). Essa característica de feedback é apontada por Jean
Paul Gee como algo desejável em ambientes que vão além do funcionamento
dos jogos digitais:
Platão, no Fedro, queixava-se de que os livros eram passivos no sentido
de que você não pode fazer com que eles lhe respondam em um
verdadeiro diálogo, como em um encontro cara-a-cara. Os games
respondem. De fato, nada acontece até que o jogador aja e tome
decisões. Daí em diante, o jogo reage, oferecendo feedback e novos
problemas ao jogador. Em um bom jogo, as palavras e os atos são
colocados no contexto de uma relação interativa entre o jogador e o
mundo. Assim, também, na escola, os textos e livros precisam ser
colocados em contextos de interação onde o mundo e as outras pessoas
respondam (GEE, 2009, p. 171).
Para ilustrar melhor o funcionamento da estrutura ludemíca e situar nela
a aquisição e apropriação da informação, vamos usar como exemplo a cena em
que Édipo se encontra com a esfinge. É interessante notar no esquema a
seguir a relação das cores de cada etapa com as cores dos elementos
necessários para a existência do ludema, uma vez que o início do processo
lúdico sempre se inicia com um contexto narrativo.
O exemplo a seguir se inicia em “Édipo se depara com a esfinge”,
sequencialmente seguido pela aplicação do desafio e as implicações do sistema
de regras, o qual declara a condição de derrota. O jogador, então, é impelido a
buscar as informações necessárias para superar o desafio nos recursos
disponibilizados a ele ao obter essas informações ele precisará interpretá-las
para achar a melhor forma de usar essas informações ao enfrentar o desafio
supracitado.
�208
Imagem 3 - O exemplo da esfinge
Fonte: elaborado pelo autor (2020).
Nesse exemplo, Édipo, enquanto jogador, analisa o enigma e as coisas
que sabe em busca da chave para o enigma. Ao declarar para a esfinge que a
resposta é “O homem”, a esfinge verifica se a resposta está certa em sua
mente enquanto Édipo esclarece a ela o raciocínio quando diz: “O homem
engatinha sobre quatro patas ao amanhecer, quando é ainda um bebê.
Caminha sobre as duas pernas ao meio dia, quando é um adulto e finalmente
ao pôr do sol, anda sobre três pernas, pois usa a bengala na velhice”. Após a
verificação da resposta, é dada a devida consequência, caso Édipo tenha
solucionado ou não o enigma.
O desafio, então, leva quem o enfrenta a desenvolver as suas
competências informacionais, sendo elas: a competência para a aquisição de
informação, que se manifesta por meio da busca por informações, sinalizadas
ou não, que forneçam alguma dica sobre o enigma; competências para a
interpretação da informação, pois será necessário entender o que essas
informações dizem ou apontam em seu contexto; competências para a análise
da informação, visto que será necessário discernir se aquela informação está
correta ou não, pois pode ser uma dica falsa, ou apenas um elemento avulso
no contexto; competências para a compreensão da informação, uma vez que a
informação pode possuir múltiplos significados e sentidos, ou apresentar
�209
natureza
simbólica
e
enigmática.
Essas
competências
se
associam
a
capacidade de ler a realidade e a mudança na ideia de aprendizado, como
apresentado por Cruz (2008):
A aprendizagem está, principalmente, na habilidade de estabelecer
conexões, revê-las e refazê-las. Com isso, a aprendizagem deixa de ser
algo passivo para tornar-se uma obra de reconstrução permanente,
dinâmica entre sujeitos que se influenciam mutuamente. É fundamental
saber ler a realidade com acuidade, para nela saber intervir com
autonomia (CRUZ, 2008, p. 1038).
Por fim, as competências necessárias para o uso e aplicação da
informação, são desenvolvidas durante a busca pelas soluções, seguidas da
execução de ações necessárias para superar o desafio apresentado pelo
sistema. A complexidade desse processo como um todo é perceptível na fala
de Gee (2009), quando menciona a sua dificuldade ao entrar em um jogo mais
complexo:
Quando entrei no jogo, me espantei. Era difícil, longo e complexo.
Fracassei muitas vezes e tive que mergulhar em um projeto de pesquisa
pela internet para aprender algumas das coisas que precisava saber. Os
modos de aprender da minha geração (os baby boomers) não
funcionavam. Senti-me usando músculos de aprendizagem que não
tinham sido exercitados daquele jeito desde minhas aulas de linguística
teórica no mestrado (GEE, 2009, p. 168).
Existem jogos e desafios com diversos níveis de complexidade, esses
níveis de complexidade, geralmente, atendem a suas respectivas faixas de
idade e perfil de público, de maneira que não sejam fáceis demais, nem
frustrantes demais para seus jogadores. Gee (2009) afirma que “o desafio e a
aprendizagem
são
em
grande
parte
aquilo que
torna
os
videogames
motivadores e divertidos. Os seres humanos de fato gostam de aprender”
(GEE, 2009, p. 168), mas esse processo de aprendizado ainda precisa conter
em si sua natureza lúdica, pois, segundo Gee (2009), os próprios campos de
estudo formais possuem uma estrutura similar aos jogos:
Uma ciência como a Biologia não é um conjunto de fatos. Na verdade,
ela é um “jogo” que determinadas pessoas “jogam”. Estas pessoas se
envolvem em um determinado tipo de atividades, usam tipos
característicos de ferramentas e de linguagens e compartilham
determinados valores, ou seja, elas jogam de acordo com um
determinado conjunto de “regras”. Elas fazem biologia. É claro que elas
aprendem, usam e retêm muitos e muitos fatos – e mesmo os
produzem –, mas os fatos vêm do fazer, junto com o fazer. Fora do
�210
contexto da biologia enquanto atividade, os fatos da biologia são meras
trivialidades (GEE, 2009, p. 169).
Contudo, é importante ressaltar que o jogo é um momento desprovido
de consequências para a realidade de seu jogador, como afirma Roger Caillois
“o jogo não passa de uma fantasia agradável e de uma distração inútil,
quaisquer que sejam o cuidado que lhe dediquemos, as faculdades que
mobiliza o rigor que exigimos” (. ele irá assimilar experiências, conhecimento
e, até mesmo, fortes emoções. Mas, ainda assim, isso não afetará diretamente
sua vida factual, pois, quando ocorre, o jogo se torna um esporte, em que o
ganhar se torna um elemento prioritário em detrimento da experiência de
jogo, a qual é justamente quando ocorre a mediação da informação e do
conhecimento por meio dos desafios.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mediação do conhecimento por meio dos desafios está relacionada com
o desenvolvimento de competências informacionais devido à necessidade de
que o usuário consiga lidar com esses cenários propostos para incentivar seu
aprendizado. Se tratando de contextos no qual o usuário precisa assimilar,
discernir e utilizar a informação de maneira eficiente, estando livre para fazer
isso da forma como ela melhor conseguir, pode-se dizer que é um processo de
mediação ao desenvolvimento do próprio conhecimento do usuário sobre as
informações e cenários dispostos.
Diferente
da mediação do conhecimento que atua por meio da
comunicação direta entre o mediador e o interlocutor, na mediação por meio
do desafio, o ludema assume o papel de mediador. Sendo o processo ludemíco
e a ação do jogador o próprio meio de aquisição e apropriação da informação
para a produção do conhecimento. O ludema em si é um conceito complexo e
com níveis de profundidade ainda inexplorados, tendo vários tipos diferentes
de ludemas, os quais possivelmente possuem subtipos. No entanto, devido ao
estado da arte da pesquisa, além de evitar a produção de um capítulo
�211
enciclopédico, neste trabalho foi abordado o aspecto básico e chave do ludema
para a ciência da informação.
O ludema, por se tratar de um conceito novo, não possui muitos
trabalhos
para serem usados como
referências devido à maioria das
contribuições sobre tal conceito serem rasas. Será necessário um longo
trabalho para aprofundarmos a compreensão sobre as características e
peculiaridades info-comunicacionais dos ludemas. A pesquisa que deu base
para este trabalho é um esforço de anos, da qual somente uma fração foi
relatada aqui. O famigerado, pitoresco, caótico, abissal, bufão e excêntrico
autor deste trabalho afirma com afinco que seguirá desenvolvendo essa
pesquisa em seu futuro mestrado, doutorado e afins. O mesmo irrefreável
autor espera que você leitor se depare com os textos futuros sobre essa
pesquisa inusitada.
REFERÊNCIAS
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bases conceituais. Tendências da pesquisa brasileira em Ciência da
Informação, p. 1-18, 2012.
ALMEIDA, Marco Antônio de. Mediações da cultura e da informação:
perspectivas sociais, políticas e epistemológicas. Tendências da Pesquisa
Braileira em Ciência da Informação, v. 1, n. 1, 2008.
BRANCO; Marsal Alves. Jogos digitais, teorias e conceitos para uma
mídia indisciplinada. 2011. 171 f. Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
Programa de pós-graduação de Ciências da computação, São Leopoldo, 2011.
CAILLOIS, Roger. Os jogos e os homens: a máscara e a vertigem. Editora
Vozes Limitada, 2017, 301 p.
CRUZ, Jose Marcos de Oliveira. Processo de ensino-aprendizagem na sociedade
da informação. Educação e Sociedade, v. 29, n. 105, p. 1023-1042, 2008.
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temporalidade. Ensaios de Literatura e Filologia, v. 4, p. 53-66, 1983.
GEE, James Paul. Bons video games e boa aprendizagem. Perspectiva, v. 27,
n. 1, p. 167-178, 2009.
�212
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mediação da informação. Informação & Informação, v. 19, n. 2, p. 46-59,
2014.
GOMES, Henriette Ferreira. A mediação da informação, comunicação e
educação na construção do conhecimento. DataGramaZero-Revista de
Ciência da Informação, v. 9, n. 1, p. 1-15, 2008.
NEGRINE, Airton. Simbolismo e jogo. Editora Vozes Limitada, 2015. 233 p.
PINHEIRO, Cristiano Max Pereira; BRANCO, Marsal Alves. Em Busca dos
Ludemas Perdidos. SBC - Proceedings of SBGames'08: Art & Design Track.
Belo Horizonte, MG – 2012. 10 nov. 6 p.
REIS, Breno Maciel Souza et al. A cidade como tabuleiro: um estudo das
dinâmicas de jogo na rede social móvel Foursquare. PUCRS / PPGCOM. Porto
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SAVI, Rafael; ULBRICHT, Vania Ribas. Jogos digitais educacionais: benefícios e
desafios. Renote, v. 6, n. 1, 2008.
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poesia visual e os conceitos de hipertextualidade, interatividade e
hipermediação da informação: relato de pesquisa. In: Alfabetização Digital e
Acesso ao Conhecimento, Brasília, v. 4, n. 1, p. 215-227, 2006.
SILVA, Edna Lúcia da; LOPES, Marili Isensee. A internet, a mediação e a
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VARELA, Aida. A explosão informacional e a mediação na construção do
conhecimento, 2012. 11 p.
VIAL, Jean. Jogo e educação: as ludotecas. Editora Vozes Limitada, 2019.
247 p.
DADOS BIOGRÁFICOS
Jose Ricardo da Silva Neto: Graduado em
Biblioteconomia. Pesquisador na área de Ciência
da Informação, com o foco em jogos digitais,
produção do conhecimento e imaginário.
E-mail: falecomjosericardosilva@gmail.com
�213
CAPÍTULO XI - Bibliotecas e colecionismo: uma experiência
de mediação da leitura por meio da exposição de
marcadores de páginas
Valéria Rodrigues de Oliveira
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo objetiva apresentar um relato de experiência sobre a
exposição de marcadores de páginas, ou marcadores de livros utilizados, a
princípio, como um agente de entretenimento pessoal e que, posteriormente,
fora percebido como instrumento mediador da leitura, uma vez que a
exposição pode propiciar uma ponte direta entre o leitor e o livro despertandoo para o hábito da leitura.
Dependendo do seu leiaute, o marcador de páginas pode atrair a atenção
do visitante e mexer com sua imaginação. Uma simples ilustração, formato,
citação, parágrafo, textura ou até mesmo uma frase podem ser suficientes
para aguçar o interesse de um leitor, ávido por novas informações ou também
para quem só busca o entretenimento.
O relato de experiência foi embasado nas observações e interações feitas
durante as dez exposições de marcadores realizadas, entre o período de 2014
a 2018 e, visando buscar embasamento teórico, foi realizada pesquisa
documental em tese, livros e artigos que abordavam os temas mediação da
leitura, marcadores de páginas e colecionismo.
Objetivou promover um processo reflexivo que pudesse contribuir para
entender as possíveis relações existentes entre a mediação da leitura, por
meio da exposição de marcadores de páginas na esfera da biblioteca enquanto
ação cultural e o colecionismo, termo esse definido por Farina, Toledo e Corrêa
(2006, p. 1) “como o processo de adquirir e possuir coisas de forma ativa,
seletiva e apaixonada, que fazem parte de um conjunto de objetos não
idênticos e que não são utilizadas na sua forma usual”.
�214
Quanto a temática relacionada aos marcadores de páginas, enquanto
material de mediação da leitura na perspectiva do colecionismo, não foi
localizado referencial no âmbito da biblioteconomia, motivação essa que me
inspirou, enquanto bibliotecária, a relatar tal experiência por meio da
exposição de marcadores de páginas para que, futuramente, possa servir de
consulta para outros profissionais, que porventura venham a pesquisá-la.
Para tanto, é necessário refletir um pouco em torno do tipo da mediação
da leitura, que direciona para a pesquisa realizada por Martins (2010, p. 194),
ao relatar que o termo mediação está relacionado à “prática e/ou processo que
envolve o fluxo, a transferência e a apropriação da informação, a elaboração
de conhecimento e sentidos pelos sujeitos, podendo estar apoiada no agente
mediador especializado, o bibliotecário ou profissional da informação e nos
dispositivos tecnológicos”.
Para Macedo e Silva (2015, p. 65) “a noção de mediação da informação
implica em ações que auxiliam nas formas de interação entre os seres
humanos, de como essas relações podem contribuir para o compartilhamento
de ideias, saberes, fazeres e manifestações culturais, que resultam na
construção individual e coletiva do conhecimento”.
Já segundo Martins (2014, p. 166) “mediação é a ação de dividir em dois
ou estar no meio, indicando ideias de interveniência, relação, conjugação,
religação, ponte ou elo estabelecido nas relações humanas, por meio de um
elemento mediador”, que no caso em questão é a coleção de marcadores de
páginas que está sendo utilizada como mediadora da leitura, visando promover
o incentivo à leitura.
“Os mediadores de leitura são aquelas pessoas que estendem pontes
entre os livros e os leitores, ou seja, que criam as condições para fazer com
que seja possível que um livro e um leitor se encontrem” (CENTRO DE
ALFABETIZAÇÃO,
LEITURA
E
ESCRITA,
200?).
Assim
sendo,
enquanto
bibliotecária, essa foi a “ponte” proposta, utilizar a exposição de marcadores
de páginas como uma ação cultural de mediação da leitura na biblioteca.
�215
Face aos conceitos aqui expostos percebe-se que a temática “mediação”
permeia tanto as atividades inerentes ao fazer bibliotecário, na qual podemos
incluir a exposição de marcadores, assim como a unidade de informação na
qual está sendo realizado o evento, com o propósito de trazer para fora da
biblioteca essa ação cultural, promovendo maior visibilidade.
Etimologicamente a palavra mediação designa, segundo Geiger (2001, p.
908) “ação ou resultado de mediar, de servir de mediador. Relação que se
estabelece entre duas pessoas, coisa, ideias etc. por intermédio de uma
terceira (coisa, ideia, etc.)”.
Propondo conhecer um pouco sobre o surgimento dos marcadores, a
seguir será traçado um breve percurso histórico.
2 CONHECENDO O SURGIMENTO DOS MARCADORES
Os marcadores de página (ou de livros) mais antigos que se conhecem
datam do período entre os Séc. XIII e XV d.C., tendo sido encontrados em
manuscritos de scriptoria medievais de monastérios europeus. Nesse período,
os marcadores eram feitos de velino (pele de mamífero preparada para receber
manuscritos e impressões para a produção de páginas soltas, códices e livros)
ou couro, também utilizados para confeccionar capas de livros.
Contudo, no início do Séc. XXI teve-se conhecimento de um marcador
que datava de 500 a.C. o que, se supõe, que esses objetos podem ter sidos
utilizados em códices desde que os mesmos começaram a surgir, por volta do
século I.
Segundo Pedrão e Murquia (2013, p. 400) “no Séc. XVII, primava o
gosto pelo diferente, desconhecido e curioso, sendo o colecionismo uma
atividade desenvolvida principalmente por príncipes, pelo alto clero e pelos
humanistas”.
Segundo Maner (2016) a história oficial dos marcadores é dividida em
três períodos distintos a saber:
�216
marcadores antigos e medievais, que datam de 0 a 1500 d.C.: coincide
com a Era Cristã, tendo sido encontrados em códices no Egito e
Alemanha;
marcadores da idade moderna, de 1500 a 1980: foram encontrados em
livros no período da renascença e por volta dos Séculos XVII e XVIII e os
marcadores contemporâneos, de 1980 até a data presente, é um período
em que apresentam maior diversidade de desenhos e materiais, sendo
confeccionados
em
diferentes
formatos
e
muito
utilizados
para
propaganda de livros.
A primeira referência ao uso do marcador de livros ocorreu em 1584,
quando o Impressor real da Inglaterra, Christopher Barker, presenteou a
rainha Elizabeth I com um marcador de seda com franja (MANER, 2016).
No reinado da Rainha Vitória, período que compreende junho de 1837 a
janeiro de 1901, no Reino Unido, as senhoras ensinavam a arte de bordar
marcadores às suas filhas, como forma de demonstrar suas habilidades. Assim,
muitos marcadores foram confeccionados e utilizados para presentear os
amigos e familiares (HISTORY...acesso em 20 abr. 2019).
Com a morte da Rainha Vitória seu filho Eduardo a sucedeu, de 1901 a
1910 e, nesse período, os marcadores eram confeccionados com materiais
mais luxuosos passando a serem utilizados pelos livreiros, editores, papeleiros
e outras empresas que viram nesse material um potencial como forma de
divulgação de seus produtos e serviços. (HYSTORY... acesso em 20 abr. 2019).
O holandês Frank Divendal, que coleciona marcadores diversificados de todo o
mundo desde 1982 possui o maior acervo, com 103.009 (cento e três mil e
nove marcadores), conforme registro datado de 8 de fevereiro de 2010. Ele os
classifica por países, separando-os por temas como livrarias, bibliotecas,
turismo entre outros. Os seus favoritos são os confeccionados em papel.
(GUINNESS, 2019).
�217
3 COMO SURGIU O INTERESSE DE COLECIONAR OS MARCADORES DE
PÁGINAS?
O interesse pelos marcadores de páginas ou livros surgiu quando ainda
era estudante de biblioteconomia e estagiava em uma instituição particular na
cidade de Vila Velha/ES, no ano de 2000. Uma das minhas atividades era repor
e organizar os livros e revistas nas estantes e, por vezes, encontrava algum
marcador que era deixado dentro do livro. Assim eram guardados em uma
gaveta até que alguém viesse buscá-los. Como isso raramente acontecia, aos
poucos fui armazenando-os até que contabilizou mais de 300 (trezentos)
itens.
Cerca de 90% dos marcadores da coleção é proveniente de achados
entre os livros que eram guardados nas estantes e doação de colegas de
trabalho, amigos e familiares que me presenteiam com algum deles. Os outros
10% são de aquisições feitas durante viagens a passeio e eventos da área de
biblioteconomia, para complementar a coleção.
Os colegas de trabalho sabem que coleciono e sempre que tinham algum
me doavam e, sem perceber, isso acabou se tornando um hobby. Conforme
relatam Farina, Corrêa e Toledo (2006, p. 5):
O colecionador se apaixona pelos objetos colecionados, por sua coleção,
e ela faz parte de sua vida. A coleção tem o significado de reconstrução
do passado, real ou imaginado, e os colecionadores estão engajados
num processo de descoberta de si mesmos. A coleção permite ao
colecionador o reforço da própria identidade.
E assim, de forma despretensiosa, fui colecionando marcadores de páginas
dos mais variados formatos, materiais e tamanhos, buscando aliar a profissão de
bibliotecária ao lazer. Até o momento já são mais de 3.000 (três mil) itens, assim
sendo, acredito que já posso me considerar uma colecionadora, termo definido por
Lopes (2010, p. 382), “como o hábito de juntar ‘coisas’ que possuem propriedades
ou características comuns que servem para conhecer o mundo”.
Também há um leque de situações relacionadas ao colecionismo que podem
ser realizadas conforme destacam Masques e Hilbert (2009, p. 43):
�218
As práticas relacionadas a atos de colecionar estão circunscritas às mais
diferentes
motivações,
propósitos,
sentidos
e discursividades.
Colecionar, segregar, juntar, sistematizar, escolher, manter, resgatar,
descartar, codificar e outros critérios norteadores da constituição de
coleções são vivenciados.
A Instituição na qual atuo, o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo – Ifes, conta com vinte e dois campi espalhados
pelo estado do Espírito Santo e, no momento que fui convidada a realizar a
primeira exposição de marcadores no campus Vila Velha, e posteriormente nos
demais campi, foi possível perceber que a coleção poderia ser utilizada no
ambiente bibliotecário como instrumento mediador da leitura, devido a
configuração material do marcador de páginas está indissociável do livro, haja
vista trazem informações relativas ao livro que os representam, enquanto
objeto cultural que é permeado pela sua evolução histórica. Conforme relatam
Macedo e Silva (215, p. 69):
A mediação da informação está presente em todas as ações que o
profissional da informação, especialmente o bibliotecário, pode
desenvolver e não somente no Serviço de Referência como usualmente
é considerado, nessa concepção, este profissional passa assumir a
posição de mediador subjetivo, haja vista, que a mediação da
informação propõe ações de interferência que ultrapassam os limites
entre o usuário e a informação.
No Quadro 1 a seguir é possível visualizar o número de exposições
realizadas, os eventos, locais e suas respectivas datas.
Quadro 1 - Exposições realizadas
Nº de
exposições
1ª
2ª
3ª
4ª
5ª
6ª
7ª
8ª
9ª
Evento e local da exposição realizada
Data da exposição
28 de novembro de
2014
IV Semana do Livro e da Biblioteca – Ifes campus Vila 24 a 27 de outubro
Velha
de 2016
1ª Semana do Livro e da Biblioteca – Ifes campus
07 de novembro de
Centro-Serrano
2016
Dia Nacional do Livro e da Biblioteca – Ifes campus São
08 de outubro de
Mateus
2016
1º Festival de Marcadores – Masterplace Mall – Vitória
1º abril de 2017
Inauguração no novo espaço da Biblioteca – Ifes
08 de agosto de
campus Centro-Serrano
2017
3º Festival de Marcadores e 20º Amigo Livro –
15 de setembro de
Masterplace Mall – Vitória
2018
Semana do Livro e da Biblioteca – Ifes campus Centro29 de outubro de
Serrano
2018
Semana do Livro e da Biblioteca – Ifes campus Vitória
12 de novembro de
4º aniversário do Ifes – campus Vila Velha
�219
Nº de
exposições
Evento e local da exposição realizada
Data da exposição
2018
10ª
1º Festival de Marcadores e Festival Literário do Amigo
Livro – Masterplace Mall – Vitória
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
15 de junho de 2019
O primeiro convite para expor a coleção de marcadores foi em novembro
de 2014, no quarto aniversário do Ifes, Campus Vila Velha, local onde
atualmente estou lotada. Para tanto, os marcadores foram expostos em uma
grande mesa, com um cartaz feito à mão, trazendo o breve histórico dos
marcadores (FIGURA 1).
Figura 1 - Primeira exposição de marcadores realizada no campus Vila Velha, em 2014
Fonte: Autoria própria (2014).
Durante a exposição havia interação com os visitantes, que ficaram
surpresos com a referida coleção nunca antes vista. Muitos faziam referência a
alguns marcadores aos quais os livros já haviam sido lidos, outros relatavam
interesse pela leitura de algum livro ali representado no marcador, assim como
aguçava a curiosidade em buscar informações sobre algo que era representado
naquele pequeno suporte.
Com a divulgação do evento nas redes sociais foram surgindo outros
convites para expor e, a segunda exposição, ocorreu no evento da IV Semana
do Livro e da Biblioteca do Ifes de Vila Velha, de 24 a 27 de outubro de 2016,
�220
durante a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, instituída pelo Decreto Nº
84.631 de 09 de abril de 1980, com início em 23 de outubro e término em 29
do mesmo mês, no qual dia 29 de outubro também é comemorado o Dia
Nacional do Livro, instituído pela Lei 5.191 de 18 de dezembro de 1980.
A experiência de expor os marcadores de páginas foi se tornando muito
gratificante, pois comecei a perceber o encantamento dos alunos pela coleção
de marcadores e isso me motivou a dar seguimento a ideia de expô-los, porém
de forma mais profissional. Assim, com a colaboração de uma colega
bibliotecária, foram elaborados dois banners para apresentação da coleção,
sendo um de apresentação da exposição e o outro contendo uma breve
história dos marcadores, conforme ilustrado na Figura 2.
Figura 2 – Banners da exposição de marcadores de páginas
Fonte: Autoria própria (2016).
Em seguida recebi o convite da bibliotecária do Ifes, Campus CentroSerrano, para fazer uma exposição na inauguração da biblioteca, que ocorreu
em 07 de novembro de 2016. Nesta instituição a receptividade foi bem maior
por parte dos alunos do curso técnico em administração integrado ao ensino
�221
médio, haja vista serem frequentadores assíduos da biblioteca e alegavam
adorar leitura.
O quarto convite para expor a coleção de marcadores veio da
bibliotecária do Ifes de São Mateus e foi realizada em 08 de outubro de 2016,
em comemoração ao Dia Nacional do Livro.
Neste evento havia dois biombos de madeira com duas partes cada
(FIGURA 3), nos quais os marcadores foram dispostos em suportes plásticos,
além de duas mesas. As visitações eram feitas no intervalo das aulas e de
outro evento, que ocorria paralelamente.
Figura 3 - Quarta exposição de marcadores realizada no Ifes, campus São Mateus, em 2016
Fonte: Autoria própria (2016).
Devido a repercussão das exposições entre os colegas do Ifes, alunos e
redes sociais fui convidada a participar do Primeiro Festival de Marcadores,
cujo objetivo visava distribuir o máximo de marcadores possíveis aos
participantes, pelo Bruno Mattos, um dos idealizadores do “Amigo Livro, que é
um projeto literário que reúne apaixonados por literatura através de suas
ações e eventos periódicos na Grande Vitória” (AMIGO... 2018).
O evento aconteceu em 1º de abril de 2017, no Masterplace Mall em
Vitória, onde realizei minha quinta exposição, dessa vez para um público um
pouco mais diversificado de leitores e também outros colecionadores de
�222
marcadores com quem pude trocar experiências, além de familiares, amigos e
colegas bibliotecárias que me prestigiaram com a visitação.
A sexta exposição foi realizada na inauguração do novo espaço da
biblioteca do Ifes Centro-Serrano, localizado em Santa Maria de Jetibá, em 08
de agosto de 2017. Os alunos desta instituição ficaram encantados e
demonstraram interesse em conhecer um pouco mais sobre a história dos
marcadores, sinalizavam para os que já haviam sido lidos e buscavam, no
acervo da biblioteca, a existência de alguns livros representados no marcador
para leitura.
Como somente a partir desse evento comecei a disponibilizar uma lista
de assinatura para os visitantes, consegui contabilizar mais de 80 pessoas que,
ao assinarem, recebiam marcadores de páginas, sendo distribuída uma média
de 100 (cem) marcadores.
A sétima exposição aconteceu no 3º Festival de marcadores, do 20º
Amigo Livro, no Masterplace Mall, em Vitória, dia 15 setembro 2018, cujo
público não era composto de alunos do Ifes que, dada sua localização
comercial, era bem heterogêneo e aguçava a curiosidade para a coleção.
Algumas pessoas achavam que a coleção poderia ser comercializada e, ao
explicar sua real função, ficavam perplexos com o quantitativo existente.
No decorrer das exposições há interação com os visitantes, momento em
que são fornecidas informações sobre a história dos marcadores e da coleção
e, como forma de agradecimento e incentivo à leitura, são doados alguns
marcadores duplicados.
Novamente fui convidada a realizar outra exposição na Semana do Livro
e da Biblioteca, no Ifes campus Centro-Serrano, localizado em Santa Maria de
Jetibá, em 29 de outubro de 2018.
Na Semana do Livro e da Biblioteca do Ifes de Vitória, que aconteceu em
12 de novembro de 2018, houve a nona exposição, para um número bem
maior de alunos, haja vista o campus oferta dez cursos técnicos, um de
qualificação profissional, seis de graduação e oito de pós-graduação (FIGURA
4).
�223
Figura 4 – Foto da 10º Exposição realizada na Semana do Livro e da Biblioteca do Ifes campus
Vitória, em 2018
Fonte: Autoria própria (2018).
Nesta exposição foram recolhidas quase oitenta assinaturas, no entanto,
não foi contabilizado o total de pessoas que visitaram esta exposição, assim
como também as demais, pois não havia essa preocupação.
Em 15 de junho de 2019 fui convidada novamente pelo Bruno Mattos a
participar do Festival de Marcadores e Festival Literário do Amigo Livro,
ocorrido no Masterplace Mall em Vitória, contabilizando dez exposições.
Aos
poucos
fui
percebendo
que
havia
muitos
apaixonados
por
marcadores e que, em meio aos que eram expostos, estavam aqueles que
remetiam os leitores aos livros lidos e, muitas vezes, estavam esquecidos em
algum lugar do passado e os despertam para uma releitura ou, até mesmo,
doação ou empréstimo intencionando compartilhar o conhecimento adquirido.
E por meio dessa interação, entre bibliotecário, visitantes e marcadores
era possível proporcionar uma troca de informações riquíssima, inclusive com
�224
indicações de leitura entre os participantes e discussões sobre o conteúdo do
livro.
Por isso, além de livros, um mediador de leitura lê seus leitores: quem
são, o que sonham e o que temem, e quais são esses livros que podem
criar pontes com suas perguntas, com seus momentos vitais e com essa
necessidade de construir sentido que nos impulsiona a ler, desde o
começo e ao longo da vida. (CENTRO DE ALFABETIZAÇÃO, LEITURA E
ESCRITA, 200?).
4 RELATO DE EXPERIÊNCIA
A exposição dos marcadores, na maioria dos eventos, é feita em mesas,
visando melhor visibilidade e disposição dos mesmos, devido a sua variedade
de formatos e tamanhos. Com o intuito de preservá-los do manuseio incorreto,
que pode vir a danificá-los, são cobertos por um plástico de forma que,
também, os visitantes não os retirem do local pois muitos, no ímpeto,
chegavam a pegá-los com o intuito de levar, achando que eram para doação.
Já outros ficavam tão encantados com alguns que perguntavam da origem
daquele marcador, haja vista:
A coleção é composta por objetos que têm um valor representativo,
estético, fora de seu propósito original e que representam uma ideia ou
sentimento. Cada peça dentro da coleção pode ter perdido seu valor
monetário ou utilitário, mas foi acrescida de um valor sentimental e
pessoal que apenas o dono da coleção pode lhe dar: valores que
representam memórias, momentos específicos da vida, lembranças de
determinadas fases ou viagens, por exemplo. (PEDRÃO; MURQUIA,
2013, p. 397).
Objetivando dar visibilidade a exposição, dois banners eram colocados
em locais estratégicos e bem próximos da coleção de marcadores.
Visando facilitar a arrumação dos marcadores foi realizado um processo
de categorização por assuntos, ficando assim dispostos: religiosos, importados,
de bibliotecas, orelhas de livros, com corte especial (madeira, plástico, papelão
etc.), artesanais (tecido, papel, EVA entre outros), com ímãs, de autores
capixabas, em formato de calendário e de régua, de instituições públicas, de
séries especiais e variados, sendo identificados por esses grupos.
�225
Essa disposição faz uma alusão à organização de acervo, de forma a
remeter os visitantes ao espaço de uma biblioteca, como se estivesse entre as
estantes em busca do seu livro.
A coleção é armazenada em bolsa apropriada para o transporte sendo:
alguns dentro de uma caixa, outros em pastas catálogos que, devido sua
disposição, facilitam o manuseio e visualização, de forma que não sejam
danificados. Já os banners são enrolados e embalados sendo dispostos em
tripés, ou outro suporte que houver no local.
As exposições ocorridas no âmbito do Ifes tinham duração média de três
horas cada, enquanto as outras ligadas ao Festival de Marcadores foram de
cinco horas cada uma. Importante destacar que todas as exposições são
realizadas de forma gratuita e o custo com o deslocamento é por minha conta.
Foi possível observar que os marcadores que mais chamavam atenção
dos visitantes eram aqueles bem coloridos, ou com o leiaute diferenciado,
sendo muito gratificante ver que esse tipo de material tem o poder de
despertá-los para a leitura.
Como grande parte da coleção é proveniente de doações, cada marcador
tem uma história ímpar que foi regada a um sentimento de carinho, amor e
afeto, já que alguns deles foram confeccionados exclusivamente para me
presentear, o que me deixa imensamente lisonjeada pelo fato desse trabalho
ser valorizado e reconhecido, principalmente, pelos colegas bibliotecários que
visualizam no marcador a extensão do meu trabalho.
Assim, mesmo se percebendo que o colecionismo apresenta uma
diversidade grande de estímulos e intenções, é importante enfatizar que
essas práticas devem ser pensadas em razão da biografia das pessoas,
no sentido de que o momento em que se começa a colecionar e os
motivos das coleções têm relação com a trajetória de vida das pessoas,
e marcam propriedades atribuídas a seus ciclos de vida. E embora se
trate de um aspecto sempre subjetivo, a relação que as coleções
estabelecem com a vida das pessoas é um motivo interessante para
pensar, para pesquisar e, ao mesmo tempo, para compreender a forma
pela qual as coleções depois são expostas, ou não, e em que condições,
ou atendendo a que intencionalidade (LOPES, 2010, p. 386).
O relato dessas experiências foi baseado nas observações e interações
obtidas durante as dez exposições de marcadores realizadas, entre o período
de 2014 e 2018. Segundo Kauark, Manhães e Souza (p. 20, 2010) “na
�226
observação, são aplicados atentamente os sentidos a um objeto, a fim de que
se possa, a partir dele, adquirir um conhecimento claro e preciso. A
observação deve ser exata, completa, imparcial, sucessiva e metódica”.
Assim sendo, pode-se depreender que há uma relação direta da prática
biblioteconômica com o ato de colecionar e expor os marcadores. Percebe-se
que essa atividade perpassa por quase todos os processos de organização do
acervo de uma biblioteca, que vão desde a seleção, aquisição, organização,
preservação e disponibilização desses materiais informacionais, já que os
marcadores são utilizados, também, como objetos de mediação e incentivo à
leitura no âmbito do Ifes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido à particularidade de cada marcador e seu modo de aquisição, até
porque a maioria foi recebida por doação e se funde com a minha trajetória de
vida profissional, haja vista ter iniciado a coleção quando ainda era estagiária
do curso de biblioteconomia, e a profissão está diretamente relacionada à
prática de selecionar, adquirir, classificar, organizar, armazenar e disponibilizar
os materiais informacionais, nada mais apropriado que utilizar a coleção de
marcadores para promover ação cultural na esfera da biblioteca.
Embora não tenha sido possível encontrar referencial teórico que
abarcasse a temática do colecionismo de marcadores de páginas, utilizado
enquanto objeto de mediação da leitura, em relação a perspectiva da mediação
da leitura, com base na visão dos autores aqui citados, há o entendimento de
que é possível estabelecer tal relação, que se dá mediante a prática de
armazenar objetos com propósitos diversos, e a mediação da leitura,
proporcionada por relações entre coisas e pessoas que podem resultar em
ações culturais que contribuam para o compartilhamento de saberes.
Face ao exposto, embasada nas bibliografias descritas e, mesmo que de
forma empírica, infere-se que a coleção de marcadores de páginas pode ser
considerada como mais um recurso mediador da leitura em ações culturais na
�227
biblioteca a ser adotado pelo bibliotecário, haja vista possibilitar despertar nos
visitantes da exposição o interesse em conhecer um pouco mais sobre a
história do que está sendo representado no marcador.
Nessa perspectiva, o presente artigo pretende promover reflexões e
propor que outras iniciativas acerca do tema abordado possam surgir, abrindo
novos caminhos para que os bibliotecários adotem outros materiais, que não
só os convencionais “livros”, como material de mediação da leitura em uma
ação cultural da biblioteca.
Toda essa interação com as exposições despertou para a necessidade de
criação de um marcador de páginas personalizado, a ser distribuído aos
visitantes de futuras exposições e na biblioteca onde trabalho, visando
incentivá-los a utilizá-lo durante a leitura. Assim sendo, contando com a
habilidade de uma colega bibliotecária, para quem repassei as informações que
gostaria que fossem incluídas no marcador, resultou neste que segue ilustrado
nas Figuras 5 e 6 a seguir:
Figura 5 - Frente do meu marcador
Fonte: Autoria própria (2019).
Figura 6 - Verso do meu marcador
Fonte: Autoria própria (2019).
�228
REFERÊNCIAS
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em: 23 nov. 2018.
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CONTEXTO INTERACIONAL, 6, 2006. São Paulo. Anais... São Paulo, FEAUSP,
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língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011. xxxi, 1456 p.
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�229
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141399362014000500013&script=sci_abstract&tlng=pt . Acesso em: 7 jul. 2019.
MARTINS, Ana Amélia Lage. Mediação: reflexões no campo da ciência da
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Sul, v. 8, n. 16, p. 43-72, jul./dez. 2009. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/949. Acesso em:
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PEDRÃO, Gabriela Bazan; MURQUIA, Eduardo Ismael. Formação das
bibliotecas: uma abordagem desde a perspectiva do colecionismo. Revista da
Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, Porto Alegre, v.
19, n.2, jul./dez. 2013. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/36306/31064. Acesso em: 18
dez. 2018.
DADOS BIOGRÁFICOS
Valéria
Rodrigues
de
Oliveira:
Mestre
em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do estado do Rio
de Janeiro - UniRio (2016), graduada em Biblioteconomia
pela Universidade Federal do Espírito Santo - Ufes (2001),
especialista em Educação a Distância pela Universidade
Católica de Brasília (2006). Atualmente bibliotecária do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Espírito Santo - Campus de Vila Velha. Pesquiso temas
ligados às habilidades e competências informacionais,
biblioteconomia
social
e
colecionismo.
Coordenadora da Biblioteca Zilma Coelho Pinto.
E-mail: valmarcadores@gmail.com / vpozzatti@ifes.edu.br
�230
CAPÍTULO XII - Revistas científicas e suas contribuições
para a mediação da informação
Edna da Silva Angelo
Marlene Oliveira
1 INTRODUÇÃO
As revistas científicas têm como principal atributo a dinamização da
produção e transmissão da informação. Sua introdução surte alterações que
não só afetam a produção de bens e serviços como interferem nos aspectos
culturais e nas formas de interação social.
Esses
meios
de
comunicação
científica
possibilitam
vantagens
e
melhorias na qualidade de vida, pois agilizam e disponibilizam bem-estar a
partir do desenvolvimento das ciências, das artes e, sobretudo, da realização
pessoal, haja vista a ampliação da consciência, do conhecimento, da cidadania
e do engajamento no compromisso da construção de uma sociedade justa e
democrática. Assim, vê-se a demanda crescente para refletir e compreender os
elementos envolvidos sobre esse canal de informação.
O objetivo deste artigo é apresentar as principais características e
funções da revista científica e as contribuições que elas exercem no processo
de mediação da informação científica. O estudo realiza observações sobre o
suporte e a estrutura das revistas, considerando o percurso histórico de sua
existência e o cenário em que elas nasceram e se desenvolveram. Além disso,
relaciona o papel desempenhado pelas revistas no contexto da mediação da
informação.
�231
2
PANORAMA
SÓCIO-HISTÓRICO
DA
ORIGEM
DAS
REVISTAS
CIENTÍFICAS
Durante a Idade Média, a informação foi monopolizada pela Igreja
Católica, que exercia a função de Estado como principal organização, criando
um controle, não apenas sobre a informação em si, mas principalmente sobre
a forma como ela poderia ser entendida ou distribuída (BURKE, 2003). O
reconhecimento científico era realizado por essa instituição com preceitos
religiosos, e a criação de ideias era vigiada, questionada e, quando a Igreja
discordava, punida (BARTLING; FRIESIKE, 2014).
Nos séculos XIV e XV, ocorreu um movimento inovador e consciente no
sentido de se opor ao saber convencional dos “escolásticos”. Denominado de
Renascimento, teve início na Itália e se propagou pela Europa, alterando as
visões sobre o homem e o mundo (BARTLING; FRIESIKE, 2014). A partir de
então, surgiu a preocupação em se fortalecer observações empíricas da
realidade concreta, e o saber passou a não repousar somente na especulação,
ou seja, no simples exercício do pensamento (LAVILLE; DIONNE, 1999).
Nessa conjuntura, e com a criação do aparelho de impressão de
Gutenberg, no século XV29 - que facilitou o acesso e a multiplicação da
circulação documental - a informação ganhou um aspecto público (BURKE,
2003). Essa máquina foi um acelerador decisivo para a difusão das ideias (por
permitir a reprodução rápida de textos) e, por conseguinte, ajudou a refutar o
sombrio período da Idade Média e o monopólio cultural da Igreja Católica
sobre a ciência e o poder (PEREIRA, 2009).
Assim, com o Renascimento e a invenção da imprensa e seus
desdobramentos, a pesquisa científica lentamente se emancipou da religião
29
Destaca-se que a invenção ocidental pode ter sido estimulada pelas notícias do que havia
acontecido no Oriente. Na China e no Japão, a impressão já era praticada desde o século VIII
(senão antes). No entanto, o método geralmente utilizado era o chamado de “impressão em
bloco” (usava-se um bloco de madeira entalhada para imprimir uma única página de um texto
específico). O procedimento era apropriado para culturas que empregavam milhares de
ideogramas, e não um alfabeto de 20 ou 30 letras. Certamente por essa razão teve poucas
consequências a invenção de tipos móveis no século XI na China. Entretanto, no início do
século XV, os coreanos criaram uma fôrma de tipos móveis de uma quase alucinatória
similaridade àqueles de Gutenberg (BRIGGS; BURKE, 2006).
�232
(lentamente, pois a Igreja só reabilitou Galileu em 1992 por sua afirmação
ultrajante de que o sol poderia ser o centro do universo). A marca registrada
desse tempo de mudança foi, sobremaneira, os conceitos de que o mundo era
governado por leis físicas (que poderiam ser descobertas por experimentação
cuidadosa), e que as intervenções divinas ou demoníacas eram desnecessárias
para explicar os acontecimentos na Terra (BARTLING; FRIESIKE, 2014; RALL,
1998). Esse contexto estimulou a origem da Revolução Científica, que
ocasionou mudanças extremamente significativas e de grande alcance em
todos os aspectos da cultura europeia (HENRY, 1998).
Revolução Científica é o nome atribuído pelos historiadores ao período da
história europeia em que, de maneira inquestionável, foram assentados pela
primeira vez os fundamentos conceituais, metodológicos e institucionais da
ciência moderna (HENRY, 1998). O período usualmente se refere ao que
ocorreu desde Nicolau Copernico até Isaac Newton, ou seja, do século XV ao
século XVII30. Foram cerca de trezentos anos de grandes mudanças no clima
intelectual e social (OSLER, 2000).
A
ciência
moderna
proporcionou
a
profissionalização
na
criação,
organização, e principalmente, circulação do conhecimento. As disciplinas
acadêmicas, como se conhece na atualidade, foram formadas nessa época,
assim como o sistema de publicação (BARTLING; FRIESIKE, 2014). Como
descrevem Bartling e Friesike (2014), a profissionalização na criação de
conhecimento exigiu meios para avaliar o valor de uma contribuição, de modo
que os incentivos para pesquisas bem-sucedidas pudessem ser fornecidos.
Faltando um sistema suficiente para esses incentivos, os pesquisadores do
século XVII foram secretos em suas descobertas. Sem um sistema de
publicação científica, eles reivindicaram autoria enviando anagramas a colegas
pesquisadores. Quando o conhecimento em questão se espalhava e os
30
O período preciso em questão varia segundo o historiador. Tal flexibilidade de interpretação
demonstra que é, sobretudo, uma categoria conceitual. No entanto, não significa que seja um
mero produto da imaginação sem nenhuma base na realidade histórica. É fácil perceber que o
conhecimento do mundo natural era muito diferente em 1700 do que fora em 1500. É
incontestável que durante 300 anos algo aconteceu que nunca havia ocorrido e que teve
consequências de longo alcance (HENRY, 1998; RALL, 1998). Como aponta Osler (2000),
esses fatos desencadearam uma real revolução.
�233
anagramas eram considerados sensatos, o financiamento de pesquisa futura
poderia ser garantido (BARTLING; FRIESIKE, 2014).
No final do século XVII, como efeito da ciência moderna, surgiram os
primórdios da atual revista científica. As duas primeiras publicações se
originaram por vias diferentes, em 1665, e com apenas 60 dias de diferença,
de um lado e de outro do Canal da Mancha. As primeiras revistas, portanto,
foram o Journal des Sçavans (França) e as Philosophical Transactions
(Inglaterra), mais tarde renomeadas para Journal des Savants e Philosophical
Transactions of the Royal Society, respectivamente (LEITE, 2008; SPINAK;
PACKER, 2015).
O Journal des Sçavans (a forma singular sçavant é francês médio,
coincidentemente, uma pessoa sábia) começou a ser publicado semanalmente,
em Paris, a partir de 5 de janeiro de 1665, e continha artigos originais que
constituíram exemplos de progresso notável em vários domínios (PISOSCHI;
PISOSCHI, 2016; SPINAK; PACKER, 2015).
Quando os membros da Royal Society, na Inglaterra, obtiveram a edição
do
Journal
des
Sçavans,
discutiram
a
possibilidade
de
publicar
algo
semelhante. Entretanto, concluíram que poderia ser feito de maneira mais
científica. Assim, excluíram algumas seções e deram ênfase aos relatos de
casos de experimentos realizados pelos cientistas (MERLO, 2012). Nesse
direcionamento, com a edição que se dedicava exclusivamente ao registro das
experiências científicas, dois meses mais tarde, em 6 de março de 1665,
lançaram a revista Philosophical Transactions (ou Phil. Trans.), considerada –
pela maioria dos historiadores – a primeira revista científica (MERLO, 2012;
SINGLETON, 2014).
3 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO POR MEIO DAS REVISTAS CIENTÍFICAS
A mediação da informação é um construto social que se estabelece
entre o ser e o mundo aproximando a teoria (conhecimento) da prática (ação),
sendo que a construção de conhecimento é composto a partir do real ou
�234
concreto (das configurações sociais, materiais e históricas), com vistas a
transformação da realidade do(s) ser(es) (SILVA, 2015).
Em seu cerne se encontra o compartilhamento do conhecimento em
processos de interação assegurados pela ação comunicativa, seja ela da
comunicação direta (ou informal), seja ela da comunicação indireta (mediada
ou formal), possível por meio da informação registrada (GOMES, 2008). Neste
contexto, as revistas científicas possuem um importante papel por permitir o
acesso
e
a
interação
de
conteúdos
informacionais
que
subsidiam
o
desenvolvimento das práticas do conhecer.
Elas surgiram no século XVII, na Europa, como uma evolução da
comunicação informal das ciências, que consistia no uso de cartas, atas ou
memórias das reuniões científicas para a transferência da informação entre
pesquisadores (LEITE, 2008). Price (1976) acredita que a principal razão foi o
controle de obras e cartas demasiadamente numerosas para acompanhamento
dos leitores. Por sua vez, Meadows (1999) e Mueller (2000) inferem que o
motivo principal foi a necessidade de comunicação eficiente de alcance mais
amplo que a comunicação oral, e a correspondência pessoal entre uma
comunidade cada vez mais crescente e interessada nas novas ideias e a
formalização do processo de comunicação.
Fato é que o sistema de publicação periódica científica se desenvolveu
quando cartas escritas ou impressas e alguns livros já não eram meios
suficientes para a mediação de conhecimento. Antes de sua impressão e
divulgação, esses materiais tinham que estar em uma forma completa e
correta, pois, caso contrário, não valia a pena pagar por um processo de
publicação dispendioso. Os editores tomaram o controle sobre o conteúdo
científico controlando a impressão e disseminação de resultados científicos e,
consequentemente, a avaliação do impacto científico desenvolvido em torno do
sistema de revistas (BARTLING; FRIESIKE, 2014).
Esse processo representou um aspecto organizacional distintivo e vital na
Revolução Científica, cristalizando um novo conjunto de normas, incentivos e
estruturas organizacionais que reforçaram os compromissos dos pesquisadores
com a divulgação rápida de novos conhecimentos. Com base nesse conceito
�235
central
de
publicação,
institucionalizadas
e
cresceram
miríades
comercializadas.
Tais
de
estruturas
estruturas
parcialmente
desenvolvidas
constituíram o contexto cultural, político e básico, no qual os conhecimentos
acadêmicos se fundamentaram (DAVID, 2004).
4 CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES
Revista ou periódico é um tipo de publicação seriada. São publicações
não diárias (semanal, trimestral, quadrimestral etc.) que expõem ou criticam
produções literárias, científicas, técnicas ou de outros gêneros (MARTÍNEZ DE
SOUSA, 2004). Essas publicações são consideradas não apenas uma fonte
histórica, mas também o espelho da realidade, a partir das ações sociais,
políticas,
econômicas,
científicas,
dentre
outros
aspectos.
As
revistas
representam instrumento de informação que revelam pensamentos, ações,
desejos, manifestações e ideais (LANDA; LANDA, 2006).
As revistas de cunho científico têm como missão a comunicação dos
resultados da pesquisa original que contribuem para o avanço da ciência em
disciplinas ou áreas temáticas específicas. Desempenham o registro público do
conhecimento e são fundamentais para favorecer a geração e a disseminação
de informação e atividades de pesquisas (CURTY; BOCCATO, 2005).
Não se enquadram como revista científica os magazines, diários, anais,
folhetos
e
conferências.
Isso
porque
esses
veículos
não
atendem
a
peculiaridade de possuírem uma política editorial definida e um processo de
avaliação por pares (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE
NÍVEL SUPERIOR - CAPES, 2016).
A ciência não significa simplesmente conhecimentos ou informações
publicadas. Seus fatos e teorias precisam se tornar públicos e passar por um
crivo, por uma fase de análises críticas e de provas, realizadas por outros
indivíduos competentes e especialistas, os quais deverão determinar se os
resultados alcançados com a pesquisa são críveis para que, assim, possam ser
universalmente aceitos (ZIMAN, 1979). É sobre esse princípio que se assenta o
�236
consenso internacional sobre o valor que a ciência moderna outorga às revistas
científicas, e é responsabilidade do corpo editorial assegurar esse fator (RUÍZPÉREZ; MARTÍN-MARTÍN; LÓPEZ-CÓZAR, 2015).
As funções desempenhadas pelas revistas científicas independem do
formato adotado para sua publicação. A seguir, elencam-se as principais:
Comunicar formalmente os resultados de pesquisa: a revista
científica é um canal ágil na disseminação de novos conhecimentos. Por
intermédio dela, a pesquisa é formalizada e se torna conhecimento
público (MABE, 2001; MEADOWS, 1999; OLIVEIRA, 1996; SEVERINO,
2000);
Construir
uma
desenvolvimento
comunidade
de
colégios
científica:
invisíveis
que
isso
ocorre
superam
a
para
o
barreira
geográfica, servindo para identificar, interagir e trocar informações entre
grupos de pares (JANGE; KADEMANI, 1999);
Preservar o conhecimento científico: como um registro formal
validado, as revistas mantêm a investigação e seus resultados para o
registro científico (MABE, 2001; MEADOWS, 1999; STUMPF, 1996);
Manter o padrão de qualidade na ciência: os artigos de uma revista
estão sujeitos ao processo de revisão pelos pares, a fim de manter a
qualidade diante do número crescente de fraudes ou erros. Essa revisão
confere confiabilidade ao material a ser publicado (JANGE; KADEMANI,
1999; KRONICK, 1976; MUELLER, 2000);
Estabelecer a propriedade intelectual: ao publicar seus estudos em
uma revista, o autor registra formalmente a sua autoria, requerendo
para si a descoberta científica (MUELLER, 2000; RODRIGUES; OLIVEIRA,
2012);
Promover o reconhecimento: do ponto de vista de quem faz o ciclo de
publicação acontecer, o cientista, pesquisador ou docente são avaliados
profissionalmente pela produção de artigos em revistas. Publicar é prova
de atividade científica e acadêmica, o que pode garantir uma boa
avaliação do pesquisador pelas universidades e agências de fomento
(BIOJONE, 2003; ZIMAN, 1979).
�237
Diante dessas funções, constata-se que é por meio das revistas
científicas que o conhecimento científico é validado e, como consequência, é
autorizada a sua disseminação entre pares para acesso e uso pela sociedade.
Para que isso ocorra, a avaliação pelos pares é condição sine qua non para
geração de novos conhecimentos, o que permite a continuidade e evolução do
saber humano, sendo necessária a participação de especialistas, nesse fazer.
5 ESTRUTURA DA GESTÃO EDITORIAL
As revistas científicas adotam diferentes estruturas de gestão editorial.
Entretanto, essas estruturas e o funcionamento das revistas devem ser
documentadas, formalmente (SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE SCIELO, 2014). A figura 1 ilustra a estrutura editorial científica recomendada
para uma revista.
Figura 1 - Estrutura editorial científica recomendada para uma revista científica
Fonte: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD) (2010, p.
9).
Nota: O nível de editores associados está sombreado porque, diversamente dos demais, ele
não é obrigatório dentro das boas práticas da publicação científica, mas revela-se uma
necessidade quando o número anual de submissões admitidas no processo editorial ultrapassa
quarenta (e nada impede que exista mesmo antes disso).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (2015, p. 2)
conceitua comitê (ou conselho) editorial como “grupo de pessoas encarregadas
de elaborar diretrizes, estabelecendo o perfil político-editorial de uma editora”.
�238
O comitê é responsável pelas questões da política editorial da revista e atua
em conjunto (faz reuniões periodicamente, de forma presencial ou on-line),
tomando decisões de forma coletiva e, eventualmente, votando os assuntos ou
questões a serem decididos. Não tem envolvimento com o conteúdo de
qualquer fascículo ou artigo em particular, mas com a coleção como um todo,
estabelecendo as diretrizes gerais que a norteiam (TRZESNIAK, 2009). A
função dessa equipe é assessorar a instituição responsável pela revista, o
editor-chefe e os editores associados, avaliar o desempenho da revista e
elaborar recomendações para o aperfeiçoamento dela (SCIELO, 2014). A
equipe que forma o comitê é constituída por um grupo de quatro a nove
pessoas representativas
[...] (1) da ou das entidades que integram a retaguarda; (2) de órgãos
de fomento; (3) de instituições de pesquisas em geral; (4) da ou das
áreas profissionais que aplicam o conhecimento veiculado na revista; (5)
outras que a retaguarda institucional julgar convenientes. O editor
científico ou geral da revista também integra esse Conselho/Comitê,
exceto quando se tratar de decidir sobre a permanência dele próprio na
função. A propósito, escolher o editor é uma das principais atribuições
desse Colegiado (TRZESNIAK, 2009, p. 88).
O editor-geral (ou editor-chefe) desempenha um papel central na
atividade de controle ético do processo de avaliação e publicação da pesquisa
científica. É o responsável pelo que é veiculado na revista, isto é, tanto pela
gestão editorial como pelo desempenho final. As funções principais dos
editores referem-se ao desenvolvimento da política editorial e avaliação de
manuscritos (ANPAD, 2010; SCIELO, 2014; TRZESNIAK, 2009). A garantia de
credibilidade científica é assegurada pelos editores, corpo editorial científico e
corpo de revisores (TRZESNIAK, 2009).
Salienta-se que revistas científicas de grande porte realizam uma divisão
natural e salutar na tarefa do editor geral: a separação das partes
administrativa e de conteúdo, pelas quais respondem, respectivamente, um
editor executivo e um editor científico. Formalmente, editor executivo ou editor
gerente é a pessoa física designada pela entidade publicadora que responde
por todos os aspectos não científicos do periódico, enquanto editor científico é
a pessoa responsável pela execução da política editorial e pelo conteúdo
�239
científico do periódico e corresponde à posição mais elevada na hierarquia
editorial (TRZESNIAK, 2009).
Os editores associados (ou editores de seção) são colaboradores que
atuam de forma ativa e sistemática com o editor-chefe na gestão do fluxo de
avaliação de manuscritos, com ênfase na seleção e interação com os
pareceristas e autores. Em termos de atribuições, apenas não tomam a
decisão final de publicar ou não um trabalho (ANPAD, 2010; SCIELO, 2014).
O corpo editorial científico, na respectiva área de especialidade, atua
como consultor do editor-geral no que diz respeito à interpretação da política
editorial. Assim, lhe são atribuídas as seguintes designações: apontar
pareceristas; analisar pareceres e, com base neles, recomendar a rejeição ou
publicação de originais; atuar como árbitros de desempate, quando uma
contribuição tiver recebido pareceres antagônicos; e supervisionar o processo
de arbitramento de artigos, por delegação do editor geral (TRZESNIAK, 2009).
Importante enfatizar que o corpo editorial científico não se reúne para
discutir algum assunto ou tomar alguma decisão; esse grupo é composto por
pesquisadores que trabalham sozinhos e interagem separadamente com o
editor. O grupo envolve-se com o conteúdo dos artigos, preocupando-se com a
uniformidade, a continuidade, a qualidade e o rigor científico do que é
publicado (TRZESNIAK, 2009).
É esperado que os integrantes do corpo editorial científico sejam
pesquisadores com credibilidade e reconhecimento da comunidade acadêmica,
embora possa haver pesquisadores seniores, para dar legitimidade, e membros
juniores (alunos de graduação ou pós-graduação), eventualmente necessários
para conferir suporte quando novos métodos e teorias sejam empregados nos
manuscritos (ANPAD, 2010).
Os consultores ad hoc, pareceristas, revisores, avaliadores ou árbitros
constituem o corpo de revisores. Esses não fazem parte do corpo editorial
científico e são consultados para avaliar determinado artigo submetido à
revista. Não possuem, no entanto, nenhum vínculo permanente com a revista
e encerram a participação ao término da avaliação do artigo que lhe foi
designado. São pesquisadores nacionais e estrangeiros (preferencialmente com
�240
abrangência em todos os continentes) e reconhecidos nas áreas das revistas
que colaboram e, especialmente, do assunto dos manuscritos que avaliam
(SCIELO, 2014; TRZESNIAK, 2009).
A estrutura de uma revista científica demonstra a credibilidade dos
resultados das pesquisas que são aprovadas para publicação. A fim de
compreender com mais afinco sobre essa estrutura, o funcionamento dela e a
importância do crivo científico para o desenvolvimento da ciência, faz
necessário refletir sobre a formação das primeiras revistas científicas e as
mudanças ocorridas ao longo da história.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo destacou as funções, a estrutura e a origem da revista
científica. A trajetória do conhecimento e os reflexos promovidos com o
lançamento das primeiras revistas científicas evidenciam a principal finalidade
desse processo, que é mediar a informação de qualidade para os cientistas e a
sociedade em geral. Na revista científica, está o alicerce da transmissão do
saber e seus efeitos influenciam de forma direita a educação, o mercado de
trabalho, a comunicação, a política, os serviços públicos, o lazer e a cultura.
Ao longo do tempo, a revista consolidou-se como o veículo oportuno de
visibilidade da produção intelectual, de modo a ampliar os espaços de diálogo e
enriquecer as discussões técnico-científicas. Ela contribui com a sociedade,
pois instiga a reflexão e o debate, haja vista garantir a produção do saber e o
aperfeiçoamento das pesquisas.
Desde seus primórdios, o sistema de publicação de revistas se
desenvolveu
em
resposta
funcional
aos
problemas
de
assimetria
de
comunicação. Elas conferem o compartilhamento de saberes e delas se vale
para apresentar conteúdos informacionais que sustentam as ações de geração
do conhecimento.
Por meio da revisão por pares, a revista certifica a qualidade da
investigação. Esse atributo tornou-se de extrema importância em face dos
�241
desafios
atuais
de
excesso
e
incerteza
da
veracidade
da
informação
disponibilizada na web. O processo de revisão peculiar às revistas solidifica
com trunfo o desenvolvimento humano mais harmonioso, mais autêntico, de
modo a fazer recuar a exclusão social, as incompreensões, as opressões e as
guerras.
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2009. p. 87-102.
ZIMAN, J. Conhecimento público. Belo Horizonte: Itatiaita, 1979.
DADOS BIOGRÁFICOS
Edna da Silva Angelo: Doutoranda e Mestre em
Gestão & Organização do Conhecimento pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). MBA
em Marketing pelo Centro Universitário UNA.
Bacharel em biblioteconomia pela Universidade
Federal de Minas Gerais. Bibliotecária (CRB-6 / 2560)
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
E-mail: ednasangelo@gmail.com
Marlene Oliveira: Doutora pela Universidade de
Brasília, mestre pelo Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia -RJ e graduada em
Biblioteconomia pela FUOM/MG. Atualmente exerce
atividades de ensino e pesquisa na Escola de Ciência
da Informação da UFMG - MG, Brasil.
E-mail: marlene@eci.ufmg.br
�245
PARTE III - MEDIAÇÃO
DA INFORMAÇÃO E SEU
ídias sociais como forma de empreender: o caso do site Santa
Biblioteconomia
- Talita Daemon James e Thalita Gama
POTENCIAL NA PRÁTICA
Mediação da informação e da Leitura no Instagram: novas
possibilidades para os bibliotecários
- João Arlindo dos Santos Neto
BIBLIOTECÁRIA
Blog de bibliotecários: um estudo sobre o blog “Bibliotecária em
Construção”
- Claudia Barbosa dos Santos de Souza
As mídias sociais como ferramenta para divulgação de revistas
científicas da América do Sul
- Edna da Silva Angelo e Marlene Oliveira
As redes sociais como uma possibilidade de extensão de campo para o
bibliotecário
- Gabriela B. Pedrão
Fake News e suas repercussões na sociedade e a atuação do
bibliotecário no seu combate
- Antônio Afonso Pereira Júnior
Novos negócios em uma nova economia
�246
CAPÍTULO XIII - A mediação da informação e o “tsunami de
informações”: o resgate do protagonismo bibliotecário
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
Bruno Fortes Luce
1 INTRODUÇÃO
As tecnologias de informação e comunicação (TICs) alteraram o formato,
o suporte, o processamento e a disseminação da informação; alteraram
aspectos relativos à qualificação profissional do bibliotecário, deram mais
autonomia ao usuário e remodelaram a forma como o trabalho é realizado,
modificando também as formas de mediação da informação. Em linhas gerais,
com
a
coexistência dos
suportes
físicos
e
digitais,
a
Biblioteconomia
readequou-se ao contexto atribuindo novos saberes e práticas para a sua
atuação.
Nesse
sentido,
Araújo
(2017)
menciona
que
dentre
os
desafios
contemporâneos da Biblioteconomia está o fato de que vivemos um período
em que há um amplo acesso à informação, mas isso não tem sido o suficiente
para que as sociedades vivam de maneira cidadã, democrática e igualitária.
Assim, diferentemente do esperado, ainda há muitas desigualdades; a
informação é poder apenas para uma parcela mínima da população brasileira;
há fenômenos emergentes como a pós-verdade e as fake news manipulando a
realidade por meio da desinformação. Envoltas nas facilidades de produção da
informação – que hoje são feitas e disseminadas por qualquer pessoa, desde
que tenha acesso a redes sociais, por exemplo – atingindo, assim, um cenário
de hiper informação.
Pensar que todos têm acesso à informação conforme prediz o mundo
globalizado é reforçar ainda mais o cenário de desigualdades e desinformação
da contemporaneidade. Grande parte das pessoas que possuem o acesso à
informação vive a ilusão de “[...] nos tornamos nós mesmos mercadorias
�247
dentro dos fluxos informacionais contemporâneos, fornecendo informações
nossas a cada clique de computador” (MORAES, 2019, p. 72).
Por outro lado, o documentário intitulado The GreatHack (Privacidade
Hackeada), de 2019, produzido e dirigido por Jehane Noujaim e Karim Amer
baseado no escândalo do fornecimento de dados de 87 milhões de usuários do
Facebook sem permissão pela empresa de consultoria Cambridge Analytica,
demonstrou como as informações produzidas e disponibilizadas pelos usuários
das redes sociais estão sendo utilizadas para divulgar e vender produtos,
manipular comportamentos e eleger políticos.
Durante
um
chat
sobre
“Fake
News,
Desinformação,
Eleições
e
Populismo” na plataforma Zoom Meetings31 ocorrido em 26 de março de 2020,
o pesquisador e professor da Universidade da Virgínia, David Nemer, em
conversa com a pesquisadora e professora Leticia Cesarino, da Universidade
Federal de Santa Catarina, mencionou a importância do bibliotecário em
relação ao algoritmo e ponderou: “O algoritmo é feito por um homem branco,
no Vale do Silício. Como esse algoritmo vai atender a necessidade de
informação de uma comunidade no Brasil? Ele consegue conhecer a realidade
dessa comunidade?”. A resposta nós já conseguimos imaginar. Com isso,
podemos afirmar que para haver a mediação, o bibliotecário deve conhecer a
comunidade que o cerca e assim tornar seu papel fundamental em um
contexto de hiper informação. Nesse sentido, Lankes (2011) pontua que o
bibliotecário deve ser mais ativista e se integrar àcomunidade como membro
para conhecer e contribuir realmente com a realidade social.
Mediante o contexto informacional, Araújo (2013) identificou três
grandes tendências contemporâneas que possuem elementos em comum: 1) a
Mediação; 2) o conceito de Information Literacy; e, 3) os estudos sobre
bibliotecas
eletrônicas
ou
digitais.
As
perspectivas
contemporâneas
da
Biblioteconomia são voltadas para a interação e protagonismo do usuário, que
no contexto da informação em rede interagem e constroem conhecimento. De
31
Plataforma de
videoconferências
que
possui
diversas
funcionalidades,
como
compartilhamento de tela, gravação de webinars, acesso via telefone e upload de reuniões na
nuvem.
�248
acordo
com
o
autor,
a
ideia
da
Mediação
como
uma
perspectiva
contemporânea da Biblioteconomia reorienta a concepção de biblioteca, que
passa a ser vista mais como dialógica do que como meramente uma difusora
do acesso à informação. Nesse aspecto, a promoção do uso efetivo da
informação, em instituições que atuem de maneira dialógica e próxima da
comunidade, demanda uma ação que vem sendo estudada sob a denominação
de “mediação da informação”, “mediação bibliotecária” ou ainda “apropriação
da informação” por bibliotecas e bibliotecários (ARAÚJO, 2017, p.74).
A mediação da informação é uma temática que já vem sendo objeto de
estudo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação há algum tempo,
presente
tanto
no
discurso
científico
quanto
no
discurso
prático
dos
profissionais. Almeida Júnior (2008, p. 3) afirma que a mediação da
informação possui o conceito flexível, sempre contextualizado a realidades
muitas vezes distintas, e por esse motivo, uma definição consensual nos
âmbitos da pesquisa e da atuação parece impraticável. Por outro lado, Moraes
(2017, p. 146) afirma que a mediação é um conceito que circula na Ciência da
Informação fazendo parte dos grupos de trabalhos, dos eventos da área e do
discurso de alguns professores, mas sem uma conceituação aprofundada, o
que reflete diretamente na prática dos profissionais.
No tocante ao discurso prático, bibliotecários de diferentes campos de
atuação se auto intitulam como mediadores, conforme podemos observar na
pesquisa realizada por Ferreira (2016). A autora apresenta em sua dissertação
uma pesquisa realizada com bibliotecários de diferentes campos de atuação e
com professores de Biblioteconomia em Belo Horizonte,no qual o papel
mediador do bibliotecário foi um dos aspectos analisados. Pode-se afirmar que
a mediação da informação é um termo recorrente pelos profissionais, mas
ainda sem o aprofundamento necessário.
No discurso científico, a mediação da informação tornou-se uma temática
pesquisada sob diferentes abordagens, aumentando o volume de publicações
científicas e sendo tema de diferentes eventos da área. Destaca-se o estudo
realizado por Santos Neto (2019), que investigou o estado da arte e a
�249
historicidade do conceito de mediação da informação na Ciência da Informação
e em áreas correlatas como a Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia.
O momento contemporâneo precisa de bibliotecários como mediadores
não somente no discurso, mas com embasamento aprofundado e reflexivo
para a prática, sem desconsiderar o fato de que o discurso acadêmico não
deve ser considerado de maneira isolada ao discurso prático, pois, ambos são
complementares.
Assim, há dois pontos que não podemos deixar de
considerar: a inexistência da discussão específica da mediação no processo
formativo do bibliotecário e o discurso pronto adotado pelo profissional ao se
designar como um mediador. O processo formativo está intimamente ligado ao
fazer profissional. Trata-se de uma constatação óbvia, mas que não tem sido
encarada com a devida relevância. A utilização do termo mediação sem
aprofundamento teórico, sem reflexão crítica e sem sua inserção curricular
para dar embasamento à atuação do bibliotecário faz parte de um ciclo que
não contribui para a ação efetiva do bibliotecário em prol das comunidades e,
sobretudo, para a falta de reconhecimento social dessa contribuição para a
vida das pessoas.
2 COMO CARACTERIZAR A MEDIAÇÃO? O DISCURSO CIENTÍFICO E O
DISCURSO PRÁTICO
Kuhlthau (1993) afirma que um mediador é uma pessoa que ajuda, guia,
orienta e intervém contribuindo com o processo de busca de informação de
outra pessoa. Em linhas gerais, inicialmente podemos entender, então, a
mediação como auxiliar na identificação, seleção de fontes/serviços/sistemas
confiáveis para utilização e provimento do acesso para solucionar as
necessidades informacionais do usuário.
Em 2006, Almeida Júnior elaborou seu primeiro conceito de mediação da
informação centrado em duas ideias principais: a interferência e a apropriação
da informação.
�250
Mediação da informação é toda ação de interferência – realizada pelo
profissional da informação –, direta ou indireta; consciente ou
inconsciente; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de
informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade
informacional (ALMEIDA JÚNIOR, 2009, p. 92).
Posteriormente,
o
conceito
inicial
foi
reformulado
levando
em
consideração a natureza dinâmica da construção do conhecimento e da
apropriação da informação que sofrem interferências no relacionamento com o
outro.
Mediação da informação é toda ação de interferência – realizada em um
processo, por um profissional da informação e na ambiência de
equipamentos informacionais –, direta ou indireta; consciente ou
inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; visando a
apropriação de informação que satisfaça, parcialmente e de maneira
momentânea, uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas
necessidades informacionais (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).
Almeida Júnior (2008, 2014) pontua ainda que a mediação recobre
atividades diferenciadas, que vão desde a concepção corrente de “atendimento
ao usuário” às ações de um agente cultural, à construção de produtos
informacionais, à elaboração de políticas de capacitação ou de acesso às
tecnologias
de
informação
e
comunicação,
à
mediação
tecnológica
proporcionada por ferramentas informacionais em rede (como os portais, sites,
blogs).
Almeida Júnior (2009, p. 92-93) distingue a mediação em: mediação
implícita, que consiste nas ações desenvolvidas sem a presença física e
imediata do usuário; e mediação explícita, que ocorre nos espaços em que a
presença do usuário é inevitável, mesmo que não seja física. De acordo com
Almeida Júnior (2008), a mediação da informação vai desde a escolha de qual
informação será disponibilizada, independentemente do artefato, aos produtos
e serviços. Assim, podemos inferir que os bibliotecários já realizavam a
mediação
desde
a
Antiguidade.
Desse
modo,
podemos
observar
a
responsabilidade do bibliotecário enquanto mediador, pois ele interfere
diretamente nas informações e serviços que serão oferecidos aos usuários da
biblioteca. Todas as atividades desenvolvidas na biblioteca pelo bibliotecário
ocorrem com ointuito de facilitar o acesso à informação, ou seja, contribuir
com a mediação da informação que será apropriada pelo usuário.
�251
Gomes (2014, p. 156) pontua que a mediação da informação tem origem
nas interações sociais e nas mediações simbólicas, razão pela qual a linguagem
é um elemento singular no processo de mediação. A autora afirma ainda que
não há possibilidade de efetividade da mediação quando se negligencia a
importância da comunicação. Assim sendo, com a ideia de mediação, podemos
observar uma grande mudança na ênfase dada à biblioteca, deixando o caráter
de difusão da informação e do conhecimento e adotandoo caráter dialógico.
De acordo com Milanesi (2002, p. 25), dentre as áreas que devem
compor os currículos para a formação do profissional da informação está o
campo da mediação da informação. O autor afirma que se trata de “uma área
abandonada, ainda que fundamental e de importância estratégica para o
desenvolvimento da sociedade” (MILANESI, 2002, p. 25).
A Universidade Estadual de Londrina (UEL) foi a primeira instituição do
Brasil a considerar a Mediação da Informação como uma disciplina no curso de
graduação em Biblioteconomia e na pós-graduação lato sensu. A disciplina foi
proposta pelo Professor Dr. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior em 1996,
sendo implementada na matriz curricular da pioneira UEL em 1997 e ofertada
pela primeira vez em 2000 (SANTOS NETO, 2019, p.117). Hoje, há 40 cursos
de Biblioteconomia no Brasil presenciais distribuídos em todas as regiões
brasileiras e três cursos de formação na modalidade EAD (educação à
distância).
Santos Neto (2019) selecionou para sua análise na pesquisa apenas as
disciplinas que possuem o termo "mediação" no título ou na ementa. Moraes
(2012) investigou os projetos políticos pedagógicos da UFPA, UFSC, UNB, USP
e UFC e não encontrou uma área curricular que explicitava as questões
voltadas à mediação. Dentre os 40 cursos de formação em Biblioteconomia do
país, nove cursos apenas possuem disciplinas com o termo mediação no título
ou na ementa.
Por que aparece tão pouco a temática da mediação nos currículos, se são
tão recorrentes nos discursos dos profissionais da área? De que maneira a
mediação se propõe a ser uma perspectiva contemporânea de estudos da
Biblioteconomia, se ainda é tão (in)existente na formação dos bibliotecários?
�252
Santos Neto (2019, p. 307) aponta como hipótese o desconhecimento de
professores e coordenadores de curso e a divergência de olhares com relação à
mediação da informação, o que pode ser o mais provável se considerarmos a
dificuldade de consenso da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação
como um todo com relação aos conceitos adotados.
Santos Neto (2019) categorizou os textos das ementas dos currículos e
pontuou que as disciplinas enfocam seis grandes eixos: conceitos e teorias de
mediação; cultura; serviços e produtos de informação; fontes e recursos de
informação; papel social; e, leitura.
a) Caráter teórico: conceitos e teorias de mediação, mediação da
informação, da leitura e da cultura; representações sociais, memória e
imaginário; processos de mediação e suas possíveis problemáticas em
outros ambientes informacionais, além das bibliotecas, arquivos e
museus.
b) Caráter cultural: diversidade cultural; políticas públicas; projetos
culturais; ação cultural; equipamentos culturais; direitos culturais;
patrimônio cultural; democracia cultural; produção cultural; relações
étnico raciais; identidade; afro descendência; multiculturalismo.
c) Caráter funcionalista: serviços e produtos de informação: natureza,
conceitos, características e tipologias; promoção; disseminação;
extensão; marketing; gestão; avaliação.
d) Caráter pragmático: analisar e avaliar fontes e recursos de
informação; desenvolvimento da competência em informação; orientar
os usuários na pesquisa; treinamento e capacitação de usuários.
e) Caráter político social: o papel do bibliotecário e da biblioteca frente a
cidadania; conflitos; negociação; desenvolvimento do indivíduo; ética;
construção de conhecimento; políticas públicas.
f) Caráter lúdico: mediação da leitura e do livro; promoção da leitura;
leitor; papel do mediador (SANTOS NETO, 2019, p. 310).
Moraes (2017), em seu estudo, analisou os textos dos Projetos Político
Pedagógicos de cursos do Brasil e da Colômbia, que, apesar de suas diferenças
contextuais, apresentam como característica similar o fato de que a mediação
é abordada de maneira indireta nos currículos da área de Ciência da
Informação, como algo inerente à atividade profissional, sem uma reflexão
própria e aprofundada sobre o tema especificamente.
A inserção do conceito de mediação da informação nos currículos se
reflete nas práticas profissionais dos bibliotecários, sobretudo para que a
Biblioteconomia não seja vista meramente como uma área que se dedica às
técnicas de organização da informação para prover o acesso. Mais do que isso,
a mediação no campo da Biblioteconomia é um instrumento de transformação
�253
das sociedades, aproximando bibliotecários e comunidades para solução dos
problemas informacionais.
Relacionando o discurso prático, Ferreira (2016) identificou três discursos
que refletem a maneira como o bibliotecário concebe a mediação: primeiro
relacionado ao fazer bibliotecário ser entendido como mediação; segundo
concepção direcionada a atender e satisfazer uma demanda; e o terceiro que
diz respeito à mediação como um processo que deve estabelecer-se ao longo
da vida.
Conforme podemos observar nos resultados da referida pesquisa, os
bibliotecários consideram que o ato de organizar as informações nas
bibliotecas já caracteriza uma ação de mediação, tal como menciona Almeida
Júnior (2009, p. 92) ao relacionar a mediação ao fazer do bibliotecário. Foi
possível identificar ainda que houve um consenso entre a maioria dos
entrevistados de que o bibliotecário é um mediador por natureza, seja ao
desenvolver as atividades técnicas, ao gerir e ao desenvolver atividades
culturais em seu ambiente de trabalho. Vinculados à ideia de mediação da
leitura, bibliotecários justificaram o seu papel de mediador ao afirmar que é
por meio deles que os usuários, em sua maioria, têm acesso aos livros e se
torna um leitor. E nesse sentido, o bibliotecário é um mediador independente
de seu local de atuação, seja em bibliotecas escolares, seja em ambientes
corporativos etc. Contudo, um dos sujeitos da pesquisa lembrou que por mais
que o bibliotecário seja um mediador independente de seu local de atuação, a
identificação do bibliotecário como mediador não ocorre com tanta clareza
como no ambiente das bibliotecas.
Concomitante ao discurso do bibliotecário acima, da não identificação do
bibliotecário como mediador, Moraes (2019, p. 72) alerta que os mediadores
atuam de maneira tão sutil e singela que se torna invisível na sociedade.
Apropriando-se da ideia de Zygmunt Bauman acerca da modernidade líquida,
assim se tornou a atuação profissional do mediador, “mais líquida” (MORAES,
2019, p. 72), apesar de mais numerosos que outrora.
Há, também, a concepção de que a mediação ocorre somente quando
solicitada. Trata-se de uma visão mais operacional do processo de mediação
�254
por parte de um dos bibliotecários entrevistados, que se somou o fato do
usuário não saber expressar sua necessidade informacional ao entendimento
de que a mediação ocorre só quando pedem.
Podemos identificar a concepção de que a mediação é uma palavra que
está sendo usada hoje para designar o que já era feito pelos bibliotecários há
algum tempo no serviço de referência, ao atender o público. Portanto,
bibliotecários entrevistados durante a pesquisa de Ferreira (2016), acreditam
que se trata de uma palavra “da moda”. Nesse sentido, Almeida Júnior (2009,
p. 92) esclarece que entender a mediação da informação vinculada ao serviço
de referência ou ao atendimento ao público é uma concepção empírica
considerada incoerente. O discurso desse bibliotecário revela o desafio de fazer
a mediação, principalmente se levarmos em consideração que a mediação da
informação tem como base a apropriação da informação e a interferência que
se dá no âmbito do usuário, do bibliotecário, do suporte e equipamento
informacional, do produtor da informação, das mídias etc. (ALMEIDA JÚNIOR,
2009, p. 99). Trata-se de um processo complexo, pois “não é possível
determinar o uso da informação, como se fosse esse o fim do ciclo de vida da
informação” (ALMEIDA JÚNIOR, 2009, p. 99).
Conforme apresenta Ferreira (2016, p. 130), um dos entrevistados, o
Bibliotecário 3, aponta que o termo mediação tem sido recorrente na
Biblioteconomia, sendo usado de maneira indiscriminada e por vezes utópicas
pelos profissionais.
Eu acho que o termo mediador se tornou muito utilizado na
Biblioteconomia, mas ele acaba sendo uma utopia porque o fato é que a
gente não muda a realidade de um dia para a noite, o fato é que a gente
não forma leitores. [...] A gente precisa continuar um trabalho que já
deveria ter sido feito e às vezes a gente acaba se deparando com
situações em que a gente está começando um trabalho quando ele já
está lá com seu quatorze, quinze anos. É difícil! O termo mediação tem
sido usado de forma genérica como se fosse a salvadora da pátria e não
é assim, até porque seria se fosse desde sempre (Bibliotecário 3).
Dentre os objetivos da pesquisa realizada por Ferreira (2016), estava o
de delinear os desafios contemporâneos da Biblioteconomia sob a perspectiva
dos bibliotecários e professores do curso de Biblioteconomia. No âmbito dessa
discussão, utilizamos elementos da pesquisa concernentes às concepções dos
�255
bibliotecários. Assim sendo, dentre os desafios encontrados, a autora destaca
quatro aspectos que se inter-relacionam: 1) Impactos das tecnologias de
informação e comunicação; 2) Mediação da informação; Formação do
bibliotecário; e, 4) Autovalorização profissional. Com relaçãoà Mediação da
Informação, tema central deste capítulo, os bibliotecários entrevistados
pontuaram dois aspectos: 1) Estar mais próximo da comunidade, de modo que
o foco de todo o trabalho desenvolvido sejam as pessoas; 2) Ouvir as pessoas,
para realizar efetivamente a mediação da informação.
O desafio de exercer a mediação, tal como foi mencionado pelos
bibliotecários entrevistados na pesquisa de Ferreira (2016) se inserem em
outras prioridades e outros interesses, sobretudo em nosso país tão carente do
básico para a existência em sociedade.
3O TSUNAMI DE INFORMAÇÃO: DAS TIC’S À HIPER-INFORMAÇÃO
O que é um tsunami? De origem japonesa, a palavra é formada por tsu
(“bahía”, “porto”) e nami (“onda”). Assim, de maneira simplificada, podemos
definir o fenômeno como uma série de ondas de água causadas pelo
deslocamento de um grande volume de um corpo de água, como um oceano
ou um grande lago. A analogia do tsunami com a informação diz muito do que
a sociedade contemporânea vive no momento, conforme veremos a seguir.
As tecnologias da informação e comunicação (TICs) transformaram nossa
maneira de interagir com o mundo, nos aproximaram virtualmente, aceleraram
nossa comunicação e nos deram uma gama infinita de informações. Para
Castells (2016, p.88), a atual revolução tecnológica não é caracterizada pela
centralização de conhecimento e informação e sim em sua aplicação cíclica e
compartilhada, assim sendo: “[...] uma geração de conhecimento e de
dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de
realimentação cumulativo entre a inovação e o uso.” Castells (2016) afirma
que a evolução das TICs é como um organismo de retroalimentação, em queas
informações
produzidas
geram
sua
evolução
e
adaptação
gerando
�256
conhecimento para criar mecanismos para facilitar esse compartilhamento. Em
ambientes online é possível notar essa constante evolução.
Segundo Ribeiro et.al. (2012, p.201), o diferencial da web em relação
aos meios de comunicação tradicionais é o seu alcance rápido: “A velocidade
com que a internet vem se difundindo nas últimas três décadas não pode ser
comparada com a velocidade de difusão de qualquer outro meio de
comunicação.” Nesse fluxo intenso de informações compartilhadas na internet,
se encontra uma sociedade que tem a necessidade de estar em constante
adaptação para acompanhar a evolução provocada pelas TICs. Em termos de
Brasil, a internet ganha sua comercialização somente em 1996 pela EMBRATEL
após a confirmação do extinto Ministério da Comunicação liberar atuação de
portais e provedores no mercado interno (ARRUDA, 2011).
Durante a comercialização até os dias atuais temos uma evolução da
web,saindo de uma lógica estática da Web 1.0, passando para interação entre
atores na Web 2.0 e chegando na Web 3.0 ou Web Semântica. Segundo
Catarino e Souza (2012, p.79),
O W3C pretende implementar, divulgar e promover linguagens, normas
e recomendações que permitam que os computadores possam, a partir
de dados dispersos em sites e bases de dados da Web, compor
interações na rede e gerar serviços e produtos (CATARINO; SOUZA,
2012, p. 79).
Com uma internet dinâmica, temos a consolidação das redes sociais,
onde a questão geográfica não importa mais para os arranjos sociais, que
ficam ao encargo dos interesses pessoais, como aponta Castells (2003, p.110):
“Em outros casos, essas redes on-line tornam-se foras de ‘Comunidades
especializadas’, isto é, formas de sociabilidades construídas em torno de
interesses específico”. Assim, nos relacionamos com pessoas que tenham os
mesmos interesses que os nossos, nos isolando em bolhas informacionais
pautadas por opiniões semelhantes.
Para potencializar isso, as empresas
gestoras da internet desenvolvem algoritmos que nos deixam reféns dessa
estratégia.
�257
O código básico no seio da nova internet é bastante simples. A nova
geração de filtros on-line examina aquilo de que aparentemente
gostamos – as coisas que fazemos, ou as coisas das quais as pessoas
parecidas conosco gostam – e tenta fazer extrapolações. São
mecanismos de previsão que criam e refinam constantemente uma
teoria sobre quem somos e sobre o que vamos fazer ou desejar a
seguir. Juntos, esses mecanismos criam um universo de informações
exclusivo para cada um de nós – o que passei a chamar de bolha dos
filtros – que altera fundamentalmente o modo como nos deparamos com
ideias e informações (PARISER, 2012, p. 11).
Em meio a isso se encontram duas empresas detentoras de parte do
mercado informacional:Google e Facebook. Em pesquisa divulgada em 2019
pela We Are Social, as cinco primeiras plataformas mais usadas pelos
brasileiros são controladas por essas duas empresas: Youtube (95%),
Facebook (90%), WhatsApp (71%), Instagram (67%), Messenger (43%).
Sendo oFacebook detentor de quatro empresas (WhatsApp, Instagram,
Messenger) das cincos e a Google, proprietária doYoutube. Além de serem
empresas que trabalham com informação online, suas matrizes localizam-se no
estado da Califórnia (Estados Unidos). Multinacionais americanas que ditam
através de seus algoritmos o fluxo informacional brasileiro em ambiente
digital.
Para Castells (2016, p. 124), a informação é “[...] uma parte integral de
toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e
coletiva são diretamente moldados (embora, com certeza, não determinados)
pelo novo meio tecnológico.” A interação atual da sociedade está diretamente
ligada (monitorada) por empresas globais, que não tornam somente a
economiaglobalizada,como também as informações e a comunicação global,
eliminando limites fronteiriços e culturais.
3.1 Hiper Informação
O prefixo hiper, que vem do grego Hypér, significa posição superior,
além ou excesso (AURÉLIO, 1986, grifo nosso). Ao prefixar ao termo
informação,
conota
informação,facilitadopela
um
excesso,
evolução
das
demasia,
TICs
que
neste
caso,
culminou
com
de
a
�258
democratização na produção e disseminação de conteúdo na web trazendo
uma gama excessiva de informação que temos que lidar diariamente.
Embora pareça que o excesso de informação seja algo moderno, já gera
preocupações de teóricos e acadêmicos desde a consolidação da prensa de
Gutenberg. O historiador inglês Peter Burke (2002, p. 175) exemplifica esse
descontentamento com o excesso de informação:
Antonfrancesco Doni, escritor italiano, em 1550 já se queixava da
existência de “tantos livros que não temos tempo para sequer ler os
títulos”. Livros eram uma “floresta” na qual os leitores poderiam se
perder, segundo Jean Calvin (9). Eram um “oceano” pelo qual os leitores
tinham de navegar, ou uma “inundação” de material impresso em meio
a qual era difícil não se afogar (10). As metáforas de florestas e oceanos
eram topoi, naturalmente, mas como topoi em geral também
expressavam a experiência vivida. O bibliotecário francês Adrien Baillet
temia que a multiplicação de livros trouxesse consigo uma nova época
de barbárie. “On a sujet d’appréhender que la multitude de livres quiaug
mententtousles
jours
d’une
manièreprodigieuse,
ne
fassetomberlessièclessuivantsdans
une
étataussifâcheuxquiétoitceluyoùles
barbares
avoitjetélesprécédents”
(BURKE, 2002, p. 175).
As preocupações e ressalvas não contiveram o avanço da informação e
das publicações que, se antes se detinham somente aos livros impressos,
ganharam alcance e uma velocidade de compartilhamento no formato digital
inimagináveis aos teóricos do século XVI, embora tenham sido um pouco
alarmistas na época, já previam possíveis problemas no futuro. Autores
contemporâneos também fazem ressalvas para esse problema.Conforme
pontua Han (2018, p. 106), o excesso de informação pode acarretar efeitos
negativos na sociedade atual.
Quando mais informação é liberada, mais o mundo se torna não
abrangível, fantasmagórico. A Partir de um determinado ponto, a
informação não é mais informativa, mas sim deformadora, e a
comunicação não é mais comunicativa mas sim cumulativa (HAN, 2018,
p. 106).
Han (2018) pontua que esses efeitos podem ocasionar doenças psíquicas
causadas pela Síndrome da Fadiga da Informação (SFI), devido a um excesso
de informação. Cunhado pelo psicólogo David Lewis em 1996 a SFI consome
nossos critérios de seleção embaralhando o que é essencial com o que não é
essencial, confundido nossas tomadas de decisão.
�259
Cornella (2004) faz um jogo de palavras para criar um termo que define
esse momento.Juntando a palavra informação com intoxicação para formar
infoxicação. Para o autor, nós estamos intoxicados com excesso de dados que
consumimos pelos nossos dispositivos eletrônicos. O termo infoxicação foi
criado por Cornella em 1996 para designar a relação entre a informação e a
intoxicação, um neologismo que explica a dificuldade para administrar a
grande quantidade de informação com que somos bombardeados diariamente.
As ideias de Han (2018) e Cornella (2004) convergem ao pontuarem que
a hiperinformação causada nos reais tanto para um indivíduo como para uma
sociedade. Ao não conseguirmos discernir o conteúdo recebido, deixamos
passar informações duvidosas como as chamadas Fake News.
3.2 Fake News
O termo em inglês Fake News, que em uma tradução literal do inglês
para o português significa “Notícias Falsas”, ganhou visibilidade após dois
eventos de escala global, ambos ocorridos em 2016: 1) as eleições norteamericanas, com a vitória de Donald Trump; e, 2) a saída do Reino Unido da
União Europeia, o BREXIT. Mesmo representando uma notícia falsa, o termo
transcende e a definição ganhou relação com o ambiente web, como conteúdo
informacional vinculado dentro de um ambiente online que tenha como
objetivo enganar e prejudicar uma instituição, um grupo social ou um
indivíduo, diferenciando-se, assim, de uma notícia falsa produzida em veículos
de comunicação.
Segundo Dalmazo e Valente (2018, p.155), que fazem uma construção
histórica na relação do jornalismo sensacionalista que utiliza as informações
falsas para se promover, as “Notícias falsas, histórias fabricadas, boatos,
manchetes que são iscas de cliques (as chamadas clickbaits) não são
novidade.”
Os
autores
exemplificam
rememorando
movimentos
da
comunicação que se tornaram célebres pela utilização desses subterfúgios,
como os Pasquins na Itália, Tabloides na Inglaterra e os Canards na França.
�260
Autores como Allcott; Gentzkow (2017) e Zuckerman (2017) também
defendem que as Fake News não são novidades em ambientes informacionais,
mas que ganharam visibilidade com o desenvolvimento das TICs. Zuckerman
(2017) utiliza as eleições americanas para dividir as Fake Newsem três
categorias: 1) notícia falsa para desviar a atenção do problema real;
2)propaganda, onde é usada a notícia falsa para promover um candidato e
denegrir a imagem do outro; e por fim, 3)
um número grande de notícias
falsas, confundindo o leitor pelo excesso de informação.
No último tópico apresentado, realizamos a referência ao termo
hiperinformação como algo propositalmente implementado para confundir os
receptores, nos infoxicando. Ao chegar nesse nível, perdemos nossos critérios
de seleção e amargamos com a Síndrome da Fadiga da Informação
(SFI).Assim, podemos afirmar que estamos vivemos em uma sociedade do
cansaço, como exemplifica Han (2017). De acordo com o autor, “[...]o cansaço
profundo afrouxa as presilhas da identidade. As coisas pestanejam, cintilam e
tremulam
em
suas
margens.
Tornam-se
mais
indeterminadas,
mais
permeáveis, e perdem teor de sua decisibilidade” (HAN, 2017, p. 75). Assim,
cansados
ou
infoxicados,
aceitamos
melhor
o
que
é
mais
facilmente
apresentado, algo que venha ao encontro das nossas opiniões, algo que
corrobora com nossa pós-verdade.
Eleita em 2016 pelo Dicionário Oxford como a palavra do ano,a PósVerdade não corresponde ao sinônimo de mentira (D’ANCONA, 2018). O termo
representa que fatos são menos importantes que as emoções e crenças
pessoais na formação de opinião de um grupo de pessoas. Assim sendo, uma
informação, mesmo que falsa, pode ganhar maior repercussão se ela for
compartilhada dentro de um grupo que queira acreditar nisso. Esses grupos
formados dentro de bolhas informacionais definidos por gostos e desejos
semelhantes e organizados por algoritmos impulsionam a disseminação de
Fake News em ambientes digitais.
Nesse cenário, encontramos uma sociedade sem pensamento crítico
informacional, reféns de algoritmos multinacionais e esgotadas mentalmente
pelo
excesso
de
informações
compartilhadas
diariamente
em
seus
�261
smartphones. Uma sociedade da desinformação, que (des)informa através da
informação e não da sua ausência. Com isso, nunca se fez tão necessário
profissionais que atuem em mediação como os bibliotecários, pois o problema
transcendeu a barreira dos dados e se tornou um problema de saúde pública.
4
O
BIBLIOTECÁRIO
MEDIADOR
E
OS
FENÔMENOS
DA
HIPERINFORMAÇÃO E DA DESINFORMAÇÃO
Ao nos depararmos com um cenário de hiperinformação - que propicia a
desinformação -, vemos a importância de um bibliotecário atuante. Como
exercer além do ambiente da biblioteca? A mediação tradicional, no balcão do
serviço de referência, já aderiu às novas ferramentas digitais utilizando as TICs
para se aproximar de seus usuários e valendo-se das redes sociais para
divulgação de seu material, atuando também fora do espaço físico das
bibliotecas;
confeccionando
material
informativo
para
utilização
nas
plataformas digitais etc. Nesse sentido, o bibliotecário não é mais o
intermediário entre a informação e o usuário e sim o próprio produtor do
conteúdo juntamente com os usuários que se apropriam das informações e
constroem novos conhecimentos. Desse modo, podemos observar uma
retomada, mesmo que virtual, do papel de destaque do bibliotecário.
Outras formas de mediação que transcendem a mediação de balcão maneira passiva na atuação, fazendo uma analogia à educação bancária
rechaçada por Paulo Freire, onde o aluno inerte recebe o conteúdo do
professor. A ideia da mediação de balcão torna o bibliotecário um facilitador
inerte que age somente quando é demandado. Segundo Salort (2017, p. 88) a
mediação não pode servir mais somente como um meio entre o usuário e a
informação.
[...] o sentido de “mediação” visto como aquele que apenas disponibiliza
a informação almejada, ou seja, que serve como “ponte” entre a
informação e seu usuário, talvez necessite ser transformado no mesmo
sentido dado à “mediação pedagógica”, caso se queira avançar em uma
perspectiva educativa da profissão de bibliotecário (SALORT, 2017, p.
88).
�262
Para Salort (2019, p.85), o profissional da informação não pode
continuar atuando somente como um intermediário ou “ponte”, para isso
autora defende um bibliotecário educador “[...]não mais aquele que só
transmite a informação, mas aquele que atua para a geração do conhecimento,
ou ainda, que interfere no desenvolvimento cognitivo de seu interlocutor”.
Belluzzo
(2008,
p.
37)
reforça
a
importância
de
se
assumir
como
educador,sobretudo,no contexto digital.
Os educadores e os bibliotecários devem conscientizar-se de que a
educação é parte desse cenário de mudanças e um referencial
diferenciado na chamada “sociedade em rede”,
sendo
uma
situação emergente a mudança de postura no que diz respeito à
migração da sua identidade de transmissora de informação e de
cultura para uma condição de ensinar a aprender e a pensar [...]
(BELLUZZO, 2005, p.37).
Ao se posicionar como um educador, Morigi et. al. (2005) consideram
que o bibliotecário assume responsabilidades que permeiam a democracia, a
solidariedade e uma construção de identidade nacional. Como educadores,
reforçamos uma identidade nacional, damos visibilidade à comunidade na qual
estamos inseridos, nos desvinculando de uma padronização causada por uma
globalização informacional. A atuação de educador transporta o profissional
para um papel fundamental na sociedade: o desenvolvimento de competências
informacionais de seus usuários através do letramento (Information Literacy).
Caregnato (2000), Dudziak (2001; 2002; 2003) e Campello (2003; 2005)
constroem
o
pensamento
aprendizagem
constante
conhecimento
de
acerca
por
maneira
da
meio
que
Information
da
possa
informação
ser
Literacy
e
da
implementada
como
uma
geração
na
de
prática,
trabalhando, assim, o reconhecimento de fontes confiáveis, pois é através
desse tipo de material que é possível ter uma prática concreta. Mas, para que
isso ocorra, é necessário que o bibliotecário mude também e compreenda que
seu
trabalho
transcende
ao
tecnicismo
e
seu
foco
principal
desenvolvimento de uma sociedade (MORIGI, 2005; LANKES, 2011).
é
o
�263
Não é mais aceitável enviar bibliotecários a comunidades preparados
para responder a perguntas de referência, mas incapazes de processar a
pobreza que encontrarem lá. Não é mais aceitável treinar bibliotecários
acadêmicos para reconhecer lacunas na coleção, mas não para
reconhecer a falta de moradia dos estudantes. Não é mais aceitável
treinar arquivistas que não entendem a política inerente ao controle da
memória de uma comunidade (LANKES, 2019, tradução nossa).
Em seu The Atlas Of New Librarianship, publicado em 2011, Lankes
resgata o protagonismo da atuação do bibliotecário ao estipular uma missão:
“A missão dos bibliotecários é melhorar a sociedade por meio de
facilitação da criação de conhecimento em suas comunidades” (LANKES,
2011, p. 13, tradução nossa, grifo nosso). Não se trata de uma missão para a
biblioteca, trata-se de uma missão para o bibliotecário. Com essa missão,
Lankes (2011) convida a comunidade bibliotecária a repensar sua atuação tão
voltada primordialmente para as técnicas de organização da informação e
volta-se para a comunidade, para a contribuição do bibliotecário para a
melhoria da vida das pessoas por meio da construção do conhecimento.
A Nova Biblioteconomia de Lankes nos propõe uma quebra de paradigma
das bibliotecas ao trazer a visão de que bibliotecas deveriam ser como
comunidades (usuários), pensando as pessoas e não os dispositivos que
armazenam
a
informação.
Assim,
Lankes
(2019)
aponta
que,
independentemente do local onde o bibliotecário exerça sua profissão, é
necessário que compreenda sua comunidade, como avaliar serviços, como
coletar, analisar e proteger dados.Portanto, é necessário que se “aceite que os
bibliotecários não são neutros e devem desenvolver habilidades que sejam
tanto sobre resiliência e autoexame quanto sobre como administrar uma
organização” (LANKES, 2019, tradução nossa).
Não há manual de processos ou linguagem documentária que consiga
roubar do bibliotecário a liberdade de estabelecer fronteiras entre o que
é essencial e acessório. Será sempre ele quem decidirá o que merece
ser representado e o que merece ser descartado no desenvolvimento de
coleções, na prática de indexação, no plano de marketing e na política
de atendimento. É ele que estabelece as relações de subordinação entre
os personagens que transitam na biblioteca. Enfim, o dialógico é
princípio da prática profissional. Dele nasce a repulsa a qualquer
modalidade de mentira. Se não há possibilidade de se separar
radicalmente o que produzimos e o no que acreditamos, podemos
garantir o direito do outro falar (BRAYNER, 2019).
�264
Nesse sentido, Lankes (2011) pontua que devemos cada vez mais
romper com a divisão entre o “mundo real” e o “mundo acadêmico”, apontados
nesse texto como “discurso prático” e “discurso teórico”. Não há a necessidade
de desenvolver padrões únicos, mas, sim, criar sistemas contínuos de
aprendizagem que sejam ágeis, conectados e incorporados para contribuir com
a sociedade.
Consonante com a Information Literacy e com a proposta de Lankes de
uma Nova Biblioteconomia – ambas teorias voltadas para a aprendizagem, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) vem defendendo que a alfabetização do século XXI deve incluir a
capacidade de lidar de maneira eficaz com a informação e as mídias. Assim,
lançou em 2016, no Brasil, a publicação intitulada “Alfabetização Midiática
eInformacional: Diretrizes para Formulação de Políticas e Estratégias”, que
conceitua a alfabetização midiática informacional (AMI)e defende que essaé a
formação necessária para cidadãos tomarem decisões (sobre saúde, educação,
política etc.) baseados em informação e diálogo.
Assim, a atuação do bibliotecário deve ser exercida com o devido
protagonismo que o momento de nossa sociedade pede. Vivemos fenômenos
como a hiperinformação, as fake news, e consequentemente, a desinformação,
mencionados
neste
capítulo.
Não
cabe
mais
ao
bibliotecário
o
papel
estereotipado de estar nos bastidores, preparando a informação para dar o
acesso. Dar o acesso e informar não é o suficiente. Nossas comunidades
demandam uma mediação que contribua para a construção de uma nova
realidade social.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há dois pontos que não podemos deixar de considerar: a inexistência da
discussão específica da mediação no processo formativo do bibliotecário e o
discurso pronto adotado pelo profissional ao se designar como um mediador. O
processo formativo está intimamente ligado ao fazer profissional. Trata-se de
�265
uma constatação óbvia, mas que não tem sido encarada com a devida
relevância. A utilização do termo mediação sem aprofundamento teórico, sem
reflexão crítica e sem sua inserção curricular para dar embasamento à atuação
do bibliotecário faz parte de um ciclo que não contribui para a ação efetiva do
bibliotecário em prol das comunidades e, sobretudo, para a falta de
reconhecimento social dessa contribuição para a vida das pessoas.
O bibliotecário, com suas expertises, pode contribuir no combate
àdesinformação em seus três níveis: desinformação por supressão de
conteúdo, a desinformação por excesso de conteúdo (hiperinformação) e a
desinformação causadas por conteúdo malicioso – às Fake News. Nunca se fez
tão relevante o papel do bibliotecário atuando diretamente com a comunidade
o qual ele atende,deixando, assim, o perfil estereotipado de um profissional
isoladoem meio a livros e assumindo o seu protagonismo em uma sociedade
informacional.
A fim de transcendermos para uma sociedade do conhecimento,
necessitamos de informações fidedignas e checadas, através do trabalho de
profissionais qualificados. Os problemas que eram vistos no século XVI ainda
reverberam atualmente.Cabe a nós decidirmos se faremos algo para estancar
isso ou permitir que a barbárie seja estabelecida, como já avisara Adrien
Baillet.
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DADOS BIOGRÁFICOS
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira: Bibliotecária,
Mestra e Doutoranda em Ciência da Informação pela UFMG.
Pesquisadora dos seguintes grupos de pesquisa “Estudos
em Práticas Informacionais e Cultura” (EPIC/UFMG) e
“Informação na Sociedade Contemporânea” (UFRN), ambos
cadastrados no CNPq. Seus interesses de pesquisa estão
em torno da Biblioteconomia, com ênfase na Ciência da
Informação.
E-mail: emanuelle.gaf@gmail.com
Bruno Fortes Luce: Formado em Jornalismo pelo Centro
Universitário Metodista IPA e bacharel em Biblioteconomia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Mestre em Informática na Educação no Instituto Federal do
Rio Grande do Sul(IFRS). Desenvolveu a pesquisa:
Desinformação na terceira idade: como o público idoso se
relaciona com as Fake News dentro das redes sociais.
E-mail: brunofluce@gmail.com
�270
CAPÍTULO XIV - O papel do bibliotecário na disseminação da
leitura: acesso, incentivo e mediação
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Claudio Paixão Anastácio de Paula
1 INTRODUÇÃO
No âmbito das atribuições do bibliotecário, destaca-se sua competência
na disseminação da leitura literária. O bibliotecário, na sua atuação em prol da
leitura, age em três diferentes níveis: acesso, incentivo e mediação. Contudo,
na literatura da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação é perceptível
o uso dos termos “acesso”, “incentivo” e “mediação” como sinônimos, não
sendo realizada uma devida distinção entre os três termos, que se relacionam
com diferentes formas de atuar na disseminação da leitura no contexto das
bibliotecas. Dessa forma, nesse ensaio, objetivamos discutir os referidos
termos de forma a definir cada um em sua particularidade.
Inicialmente, antes de discutirmos os termos e suas distinções, é
necessário
promover
uma
reflexão
sobre
a
leitura.
Na
sociedade
contemporânea existe um consenso de que a leitura literária é prática
importante
na
vida
de
um
sujeito.
Dessa
forma,
diversas
pessoas,
pertencentes a diferentes contextos e classes sociais, afirmam enfaticamente a
importância da leitura. Contudo, quando se questiona o porquê da relevância
do ato de ler, as respostas costumam ser evasivas ou superficiais. Torna-se
essencial, portanto, a discussão a respeito de qual a real importância da leitura
e como ela está relacionada com a atuação do bibliotecário.
As principais vantagens da leitura literária referem-se, principalmente, à
formação e humanização dos sujeitos. Quanto à formação, a apropriação da
leitura literária é desejável em vários sentidos, por meio dela o sujeito se torna
mais hábil no uso da língua, adquire uma inteligência mais crítica e reflexiva,
alcança novas esferas de conhecimento (YUNES, 1995; PETIT, 2009).
�271
No que diz respeito à humanização, diversos autores se manifestaram e,
em suas reflexões, acabaram por compor uma descrição sobre como o contato
que se estabelece entre o “eu lírico” do autor corporificado em sua obra e a
pessoalidade do leitor acabam por produzir consequências significativas na
identidade desse último. Merleau-Ponty (2002) aponta exatamente nessa
direção, quando destaca que o valor simbólico das palavras do autor guia o
leitor na construção de sucessivas significações estabelecidas pela sua
consciência imaginante (SARTRE, 2004) tornando-o o verdadeiro criador do
texto e um introdutor de novos sentidos ao mesmo. Essa experiência acabaria,
como descreve Proust (1991), tirando o leitor de um estado de passividade e,
mesmo na solidão de sua leitura, o conduziria na busca de elementos de
humanização que, ao estimularem a sua capacidade criadora, tornariam-no
mais forte. De forma análoga, Botton (2011) irá atribuir à leitura da obra do
próprio Proust a oportunização da reflexão sobre – entre outros temas – o diaa-dia, a amizade, o amor, a expressão dos sentimentos e a fruição do tempo e,
consequentemente, elevar a obra desse autor ao status de fonte inesgotável
de consolação, humanização e cura para seus leitores. A leitura possibilita a
atividade de simbolização, de forma que os textos podem agir em diversos
níveis: por meio de seus conteúdos, das associações que suscitam, das
discussões que promovem (PETIT, 2009).
Por meio da leitura, o sujeito torna-se capaz de explorar a experiência
humana, ampliando sua compreensão e comunhão com o mundo, interagindo
com o real para interpretá-lo, compreendê-lo e decidir sobre ele (YUNES,
1995). A função da literatura não é transmitir nada, mas, sim, criar (LAJOLO,
1982). Ouaknin (1996) postula que, uma vez que só há acesso ao tempo
humano através da narrativa, o livro é uma espécie de tempo-objeto ou um
objeto portador do tempo. Em consequência disso, a leitura, ao se configurar
como uma ação interpretativa (ou seja, hermenêutica), teria a possibilidade de
se
32
tornar
uma
“cronoterapia32”
e
oferecer
um
pharmakon33
para
as
Administração de medicamentos a uma determinada hora do dia, considerada ideal para um
melhor resultado terapêutico, no que se considera ser o respeito pelos ritmos circadianos que
regem cada organismo, com o intuito de aumentar a eficácia dos tratamentos e diminuir a sua
�272
“cronopatologias34” de um tempo morto: a ausência de passado (ou a
dissidência em relação a ele), a perda da capacidade para se projetar no futuro
e
de
antecipar.
Em outras
palavras, a
leitura
poderia
oferecer
uma
oportunidade para que o leitor buscasse a convivência justa e harmoniosa da
memória com a esperança: a convivência do que ele é, com o que ele foi e o
com o que ele poderia ser na temporalidade da existência.
Destaca-se que a leitura literária é uma ação que possibilita a fruição,
por meio do contato com a experiência artística da literatura. O livro literário
enquanto obra de arte possibilita a apreciação estética, o despertar de
sentidos. Além disso, o ato de ler também propicia a vivência da alteridade,
possibilitando uma educação emocional, podendo também ser um refúgio para
uma realidade esmagadora. Em suma, a importância da leitura está na
possibilidade de dar sentido à vida. Botton e Armstrong (2014), ao discorrerem
sobre o valor de arte em geral, propõe um raciocínio que poderia ser aplicado,
com muita propriedade, às particularidades da obra literária. Para os autores,
ao apontar a complexidade do universo e expressar essa complexidade no
contexto das transformações e contradições enfrentadas pelas pessoas na
época em que foi produzida, a obra de arte (inclusive a obra literária) acaba
por discutir valores e ideias (ou apresentar a seu público uma oportunidade
para fazer isso). Na contemplação dos conflitos expressos nessas obras,
acabariam por emergir reflexões sobre elementos como, por exemplo, a
indissociável conexão entre a existência humana, a solidão e o sofrimento e,
consequentemente, ofereceriam a possibilidade de
que as pessoas se
sentissem menos solitárias ao experimentarem essas sensações. De forma
análoga, seria possível que essa experiência ajudasse as pessoas a manterem
a esperança diante da crueza da vida. Nessa mesma direção, os autores
advogam que alterações no valor as pessoas atribuem a manterem-se em
toxicidade. Disponível em: https://www.meudicionario.org/cronoterapia. Acesso em: 27 abr.
2020.
33
Droga, medicamento, medicamento veterinário, produto farmacêutico, quimioterápico,
remédio, substância terapêutica. Disponível em: https://pt.glosbe.com/de/pt/Pharmakon.
Acesso em: 27 abr. 2020.
34
Capítulo das ciências médicas que estuda e trata os efeitos dos ciclos circadianos, circanuais
ou outros ciclos temporais sobre os estados de saúde ou doença dos seres vivos. Disponível
em: https://www.meudicionario.org/cronopatologia. Acesso em: 27 abr. 2020.
�273
equilíbrio e valorizarem os detalhes e as pequenas coisas da vida poderiam
emergir da interação com o conteúdo das obras de arte. Para os autores, as
obras de arte, mesmo quando tratam de temas sombrios e traumáticos,
apontam para a promoção de valores e atitudes importantes. Eles afirmam
também que os autores doariam a sua habilidade durante o processo de
criação para tornar esses valores mais atraentes e acessíveis. Desse modo,
cada obra literária, se corretamente explorada, poderia oferecer aos seus
leitores uma oportunidade de refletir sobre a importância de uma vida rica em
experiências, para a necessidade de alargar seus horizontes, para assumir uma
perspectiva mais alegre, terna ou mesmo crítica da vida. Em sua variedade de
motivos, a obra de arte poderia oferecer uma via régia para histórias que
pudessem sincronizar-se com as necessidades das pessoas e de sua época:
indo de um espectro que cobriria desde exemplos de força para se manterem
de pé diante das adversidades e para observar os melhores aspectos da vida
humana a oferecer-lhes espaço e autoridade para reconhecerem a si mesmas
diante de um mundo ruidoso e distraído.
Essa interlocução entre o autor, sua obra e o leitor e os efeitos que ela
trás ao leitor é descrita, com maestria no clássico Autopsicografia de Fernando
Pessoa (1942):
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Ao construir o seu metapoema e dobrar a obra poética sobre si mesma
para descrever como ela se constela, Pessoa expõe não só o próprio processo
de criação – onde afirma que o (bom) poeta modela (ou finge, da expressão
latina
para
modelar:
fingere)
e
busca ardentemente
reproduzir
nessa
�274
modelagem os traços que desenhou em sua imaginação – mas também
discorre sobre os mecanismos que permitem a conexão dessa obra com eu
leitor.
Essa capacidade que o poeta tem de moldar as palavras para, de forma
intensa e completa, representar certas emoções desperta no leitor, segundo o
próprio poeta afirma, sentimentos semelhantes. No entanto, sob o efeito dessa
ficção, o leitor não sente a dor do poeta (seja ela de fato sentida ou apenas
“fingida” pelo autor), mas uma dor que brota, numa espécie de espelhamento,
da forma particular como o leitor interpreta – ou seja, mistura a sua própria
história, sua própria realidade – com a realidade que é expressa (“fingida”) no
poema. Essa conversão da dor original do poeta em uma dor “fingida” (i.e.:
representada) ajuda o leitor a também representar a sua dor original em outra
dor. O poema ajuda o leitor a converter a sua dor em outra dor. Ajuda-o a
criar, por assim dizer, uma dor “mediada” (amplificada em seu significado) e,
assim, o auxilia o difícil processo de dar sentido à sua experiência dolorosa.
Assim,
por
trás
do
“mero
entretenimento”
da
razão
aparentemente
representada pela fruição que a obra literária desperta, diz Pessoa, existe
muito mais; existe um ato de contaminação de aprofundamento que se
transfere de um indivíduo para o outro.
Retomando, após essa longa digressão, as bibliotecas como um objeto
de reflexão o que encontramos é uma coleção de espelhos em potencial.
Espelhos que como nos contos dos Grimm (2000) insistem em revelar não
exatamente o que o seu consulente quer saber, mas o que ele precisa saber e,
dessa forma, ajudam-no a colocar a sua visão em perspectiva:
Dize a pura verdade, dize, espelho meu:
Há no mundo mulher mais linda do que eu?
E certo dia, o espelho respondeu:
Aqui neste quarto sois vós, com certeza,
Mas branca de neve possui mais beleza (GRIMM, 2000, p. 358).
A biblioteca é, dessa forma, mais que apenas um local que possui um
acervo composto por muitos livros ela é uma possibilidade. A possibilidade da
transformação de uma instituição alicerçada no nobre propósito de promover a
prática da leitura literária, possibilitando o acesso e empréstimo de livros de
�275
forma gratuita para a comunidade em geral em um espaço transformacional
para pessoas e, até, sociedades. Para Britto (2016, p. 40) “as bibliotecas são o
lugar do livro e da leitura. [...] Há, por assim dizer, uma identidade de todas
as bibliotecas: a guarda e a organização do texto escrito e a oferta da leitura”.
Nas bibliotecas escolares, o desenvolvimento de projetos em prol da
leitura é essencial. No contexto da escola, o trabalho do bibliotecário deve
sempre adequar-se ao projeto pedagógico da instituição, proporcionando que o
trabalho desenvolvido na biblioteca esteja alinhado ao plano educacional.
Nesse sentido, a parceria entre bibliotecários e professores é fundamental,
visando o planejamento de atividades de incentivo e mediação de leitura. A
promoção da leitura no contexto da biblioteca escolar possui, portanto, uma
característica formativa e educativa, objetivando o aprimoramento das práticas
de leitura, visando a apropriação de aprendizados. Contudo, a função da
leitura literária não deve ser reduzida a um caráter puramente didático, sendo
importante que o bibliotecário se atente para o efetivo trabalho com o
letramento literário, tendo em vista a produção de sentidos por meio da
literatura. É importante que os alunos compreendam a biblioteca como meio
para o aprendizado e conhecimento, mas também como espaço de lazer e
reflexão, sendo necessário que o bibliotecário estimule práticas de leitura
prazerosas, em contramão à obrigatoriedade da leitura que muitas vezes
ocorre em sala de aula.
Já nas bibliotecas públicas, o trabalho com a leitura literária pode ser
potencializado em seu aspecto mais estético e emocional, reduzindo um pouco
o caráter formador e educativo tão presente na biblioteca escolar. Assim, o
bibliotecário pode trabalhar com a promoção da leitura no espaço da biblioteca
pública visando a formação do leitor, com ênfase nas experiências de leitura e
os sentidos que produzem nas vivências dos sujeitos. A ideia é sensibilizar o
sujeito a introjetar a leitura como prática cotidiana, vendo no texto literário
uma nova forma de fruição, lazer, reflexão e compreensão de mundo. A
biblioteca pública tem como função a democratização da informação, sendo
extremamente pertinente a promoção da leitura literária, direito de todo ser
humano.
�276
Outros tipos de biblioteca também devem realizar ações de incentivo e
mediação de leitura. Nas bibliotecas universitárias o trabalho com a leitura não
deve ser menosprezado, sendo importante a criação de ações que visem a
promoção da leitura entre os estudantes, como por exemplo, a criação de
espaços
próprios
para
a
leitura
literária
nas
bibliotecas.
Bibliotecas
especializadas, como bibliotecas de empresas e instituições, também podem
atuar na promoção da leitura literária, realizando ações como campanhas de
doação
de
livros
sensibilizando
os
literários
e
trabalhadores
trocas
a
de
ver
na
livros
entre
leitura
uma
os
funcionários,
opção
para
o
entretenimento e a reflexão. De forma semelhante, a importância da leitura
pode e deve ser disseminada em bibliotecas comunitárias, prisionais, dentre
outras.
Em síntese, toda biblioteca (por essa potencialidade da promoção da
leitura literária) comporta em sua essência a possibilidade para se tornar uma
instituição que traga “escala, consistência e força externa àquilo que de outra
forma poderia permanecer para sempre como um evento pequeno, aleatório e
privado” (BOTTON, 2011, p. 248). Há, nelas, a possibilidade de oferecer
substância às dimensões interiores do humano – aquelas partes interiores que
um mundo barulhento e caótico prefere deixar desregulamentadas e presas,
junto com os “sentimentos unicamente a volumes de poesia ou ensaios,
sabendo que, no fim, os livros são unicamente objetos silenciosos” (Botton,
2011, p. 248) se permanecerem confinados às estantes.
Botton (2011), falando da sociedade secular como um todo, afirma que
precisamos:
[...] de instituições para estimular e proteger aquelas emoções que
estamos inclinados a cultivar, mas às quais, sem uma estrutura de
apoio e um sistema de lembretes ativo, não dedicamos tempo
porque somos distraídos e indisciplinados demais (BOTTON, 2011, p.
251, grifo nosso).
No que diz respeito às bibliotecas, qual poderia ser esse “sistema de
lembretes ativo”? É para uma tentativa de responder a essa questão que o
presente ensaio busca dirigir a sua reflexão.
�277
Tendo em vista as considerações de que a leitura é importante e que
uma biblioteca é um local propício à leitura, é fundamental que o bibliotecário
reflita em torno dessas questões, de forma que possa enriquecer sua prática
profissional. Afinal, qual é o papel do bibliotecário (e, consequentemente da
“sua” biblioteca) na promoção da leitura literária? O que é efetivamente mediar
leitura?Para responder a essas questões torna-se necessário iniciar a reflexão
proposta no início deste capítulo em torno dos termos acesso, incentivo e
mediação de leitura.
Nas discussões sobre leitura e biblioteca, o termo “acesso” geralmente é
utilizado em expressões como “acesso ao conhecimento” ou “acesso à
biblioteca”, sendo pouco utilizada a expressão “acesso à leitura”, como descrito
a seguir.
[...] permite ao indivíduo um acesso ao conhecimento e um maior
domínio das informações (SILVA; SILVA; LOURENÇO, 2016, p. 11, grifo
nosso).
Além disso, é preciso que haja um mediador (bibliotecário ou professor)
que possa estimular o acesso do aluno à biblioteca e aos seus
recursos [...] (GOMES; BORTOLIN, 2011, p. 168, grifo nosso).
[...] o bibliotecário não deve ser um mero técnico– administrativo à
disposição da escola, deve também lutar pela conquista de
oportunidades sociais; possibilitar a todos os estudantes o acesso ao
conhecimento [...] (ALMEIDA; COSTA; PINHEIRO, 2012, p. 475, grifo
nosso).
De forma recorrente, “incentivo” e “mediação” são palavras usadas como
sinônimos quando se aborda a atuação do bibliotecário:
Como podemos notar o bibliotecário também realiza atividades que
desenvolvem ações educativas e culturais como forma de promover
iniciativas e incentivos à mediação de leitura (SILVA; SILVA;
LOURENÇO, 2016, p. 12, p. 160, grifo nosso).
Destaca-se também a importância do papel do bibliotecário e do
professor na mediação da leitura, pois é neles que os alunos vão
encontrar o incentivo para utilizar o acervo e frequentar a biblioteca
(GOMES; BORTOLIN, 2011, grifo nosso).
[...] esse é o papel do bibliotecário escolar no processo de mediação
e incentivo à leitura (ALMEIDA; COSTA; PINHEIRO, 2012, p. 483,
grifo nosso).
�278
Não cabe aqui uma crítica ao trabalho dos referidos autores, e sim, uma
constatação da ausência de diferenciação entre os termos. Apresenta-se a
seguir uma proposta de diferenciação.
A relação do bibliotecário com a promoção da prática da leitura literária
se inicia com a garantia do acesso aos livros de literatura. O acesso à leitura
é essencial para que seja cumprida a missão da biblioteca. O acesso envolve o
espaço físico da biblioteca, o acervo, sua organização e disponibilização. A
seleção, tarefa pertinente ao desenvolvimento de coleções, é uma etapa
importante no que diz respeito ao acesso à leitura, pois a qualidade dos livros
depende dos critérios de seleção da literatura que irá compor o acervo. O
tratamento da informação no que se refere à catalogação, classificação,
indexação e ordenação, são ações que propiciam a organização do acervo
literário,
possibilitando
a
sua
disponibilização
para
o
usuário.
O
acondicionamento dos livros nas estantes e sua devida sinalização também são
formas de facilitar a circulação do usuário na biblioteca, de forma que consiga
localizar itens com facilidade. É importante lembrar também da acessibilidade,
organizando a biblioteca para que ela possa ser amplamente utilizada por
todas as pessoas.
Todas as ações realizadas pelo bibliotecário estão
diretamente ligadas a dimensão do acesso à Literatura.
O uso da expressão “todas as ações” possui um caráter intencional, cada
ação desenvolvida numa biblioteca carrega, de forma implícita, uma missão
dupla e muitas vezes entendida como contraditória: a de organizar, guardar e
proteger as obras e, simultaneamente, dar vida a elas colocando-as nas mãos
de um ou vários leitores. Muitas vezes o segundo desses objetivos é deixado
vago e ignorado. No entanto não seria exagero afirmar que o propósito da
primeira missão é servir à segunda. Ainda assim, essa duplicidade unívoca
embora sustentada no plano teórico, soa para muitos indivíduos como absurda
se proposta ativamente no plano prático. Boa parte do receio de abordar a
“entrega” do livro e da biblioteca ao leitor vem da óbvia percepção de que
existem tipos diferentes de sujeitos interagentes com as bibliotecas. Há – na
mente perplexa dos habitués das bibliotecas (e não somente na “cabeça” dos
bibliotecários) – os que são vistos como um potencial perigo para a ordem,
�279
para os livros, para a limpeza, para a tranquilidade e para a própria
sobrevivência da biblioteca enquanto instituição e há outros, usuários, público,
leitores que remetem a um ideal quase platônico de perfeição construída,
muitas vezes, com base na própria concepção que esses observadores tem de
si mesmos como usuários.
No entanto, é muito difícil encontrar no mundo real os tipos idealizados
(tanto positivamente, quanto negativamente) que os observadores constroem
entre essas polaridades. A realidade sempre frustra a idealização propondo
novas variantes. No entanto o que fica claro diante disso tudo é que nem todos
os sujeitos vão se tornar efetivamente leitores. O gosto pela leitura é
subjetivo, as pessoas têm preferências diversas e essa sua individualidade
deve ser respeitada. Uma pessoa pode não ser um leitor literário, mas ser, por
exemplo, um efetivo apreciador de artes plásticas, o que também implica em
um tipo de leitura (interpretação), fruição e apreciação estética que, também,
como atesta o mesmo Botton (2011) em sua experiência com as obras de arte
pode experimentar a mesma “frágil qualidade que permite a dissolução das
fronteiras de nossos egos, ajuda a nos reconhecermos nas experiências de
estranhos e pode fazer com que a dor deles tenha tanta importância quanto a
nossa” (BOTTON, 2011, p. 191). Contudo, é necessário garantir que todos
tenham acesso à leitura literária, podendo assim, ter o direito de escolher se
desejam ou não se tornarem leitores literários.
Que tipo de atenção pode-se oferecer a essas pessoas? Como atingi-las e
tocá-las de modo a despertá-las para as possibilidades anteriormente
mencionadas?
O incentivo à leitura diz respeito à sensibilização do público da
biblioteca, usuários reais e potenciais, para a prática da leitura. Para realizar
ações de incentivo à leitura não é necessária uma grande proximidade com os
leitores, sendo importante conhecer o público-alvo da ação de modo geral. No
entanto, apesar dessa amplitude de olhar, é necessário que seja estabelecida
uma profunda compreensão da comunidade em que essas pessoas estão
inseridas, sua história, suas características e as mudanças pelas quais ela
passou (e passa) nas dimensões temporais e culturais. Paradoxalmente, esse
�280
fator permite que atividades de incentivo à leitura sejam mais generalistas no
sentido de buscarem contemplar necessidades e interesses do público em geral
e menos generalistas no sentido de serem produzidas como uma ação
massificada; conseguindo, assim atingir um público maior. O incentivo envolve
a atuação do bibliotecário e equipe no que se refere à divulgação de livros por
meio de exposições temáticas, feiras de trocas de livros, visitas guiadas,
contação de histórias, convite a autores, etc. O incentivo à leitura também
envolve ações de marketing da biblioteca.
Nessa perspectiva, o próprio conceito de marketing como é entendido e
praticado pela maioria dos bibliotecários precisa ser ampliado. A noção de
marketing, em sua origem, está intimamente ligada à compreensão da
identidade dos dois polos do comércio de um produto ou serviço. A
compreensão do mercado, ou seja, da identidade das pessoas e grupos que o
compõe, e a compreensão do produto ou serviço – construída a partir da
identidade da instituição que o oferece e expressa na marca que a representa.
Arriscando uma abordagem bastante livre da proposta de Botton (2011), o
olhar do bibliotecário interessado em auferir aos seus esforços de marketing de
bibliotecas um valor efetivo necessitaria vencer as limitações impostas pelo
atrito com uma visão reducionista desse trabalho. Dessa forma, indo além de
uma modéstia desnecessária, ele poderia estender seu olhar para a busca
ampliada das necessidades humanas manifestas em sua comunidade fazendo
pequenas melhorias na oferta de seus serviços e “produtos” para ajudá-la,
através dos indivíduos que a compõe, a se reencontrar com “itens de
consumo” (não apenas intelectual, mas sensorial e emocional). Novos “itens”
que ofereçam regularidade à alimentação da sua humanidade resgatando o
contato com conteúdos (incluindo os momentos e sentimentos já mencionados
anteriormente) que, em outras circunstâncias, seriam negligenciados e, até,
esquecidos.
Exposiçõesde livros nas bibliotecas são exemplos clássicos de ações de
incentivo à leitura. Uma boa forma de manter a frequência das exposições é
aproveitar datas específicas como Dia do Livro Infantil, Dia da Mulher, Dia do
Folclore, Dia da Consciência Negra, para selecionar os livros relacionados às
�281
temáticas e expô-los na biblioteca em local de destaque, de preferência com
alguns textos explicativos e, sempre que possível, uma explicação oral feita
pelo bibliotecário para os visitantes da exposição. Outra prática muito comum
é a exposição de livros de um determinado autor no mês de seu aniversário,
como por exemplo, Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Ariano Suassuna, etc. Essas
exposições contribuem para que o público tenha a oportunidade de conhecer
livros e autores que não conhecia, descobrir novos interesses e se sentir
estimulado a compreender assuntos diversos.
A contação de histórias é uma atividade comumente realizada em
bibliotecas, sendo benquista por muitos bibliotecários. De fato, a contação de
histórias permite uma aproximação do público, atraindo crianças, jovens e
adultos para o espaço físico da biblioteca. O ato de contar histórias remonta à
tradição oral, consistindo em uma ação cultural que sensibiliza e humaniza
leitores e não leitores. Essa atividade pode contribuir para diminuir as
distâncias entre as pessoas e a biblioteca, assim como para sensibilizá-las
quanto à potência das histórias para a criação de sentidos. Contudo, é
importante ressaltar que a contação de histórias, na maior parte das vezes,
ocorre sem a mediação do objeto livro. Pelo fato de o livro não possuir uma
centralidade nesse tipo de atividade, a contação de histórias se enquadra como
ação de incentivo à leitura.
Atividades virtuais de marketing da biblioteca como, por exemplo,
divulgação do acervo e exposição dos livros por meio das redes sociais podem
ser também consideradas como ações de incentivo à leitura. As postagens
realizadas no Facebook, Instagram, blog ou site, criados especificamente para
divulgação da biblioteca, auxiliam na disseminação de informações sobre
livros, autores, lançamentos, novas aquisições, citações de trechos de livros,
convite para eventos da biblioteca, etc. Essas ações são extremamente
relevantes,
pois
promovem
a
inserção
da
biblioteca
no
meio
digital,
promovendo um canal de comunicação direto com uma parcela dos usuários
que se encontra frequentemente conectada à internet.
Já a mediação de leitura é fazer fluir o livro até o leitor. A mediação de
leitura nada mais é do que o efetivo acompanhamento do sujeito em sua
�282
prática de leitura literária. É evidente que essa mediação entre o livro e o leitor
será potencializada durante o processo de formação do leitor, em que é
necessário um acompanhamento mais intenso, um auxílio na transposição de
barreiras e um encaminhamento que permita a esse conhecer as diversas
possibilidades no âmbito da prática leitora. De modo diferenciado, a mediação
de leitura para o leitor experiente ainda é relevante e eficaz no que diz respeito
aos compartilhamentos e trocas de experiências literárias.
A mediação de leitura pode ocorrer de forma individual ou em grupos. No
que se refere à mediação individual, trata-se da relação entre o bibliotecário e
o leitor, na medida em que o mediador estabelece uma relação próxima,
tentando conhecer o perfil daquele leitor, suas preferências literárias, sua
formação leitora, seu nível de leitura, com a finalidade de sugerir leituras,
trocar ideias sobre literatura, conversar sobre os livros, ouvir o leitor e
efetivamente acompanhá-lo na sua trajetória literária. Para que isso ocorra é
necessário que o bibliotecário atue com postura ética, respeitando o espaço
individual do leitor, não sendo invasivo, mas colocando-se à disposição para
atuar como um guia do usuário pelo universo literário, sendo essencial,
contudo, abrir espaço para as escolhas pessoais do leitor, respeitando as
particularidades de cada sujeito. Essa formulação corrobora de Petit (2013),
que concebe o mediador de leitura como uma pessoa que ama os livros,
devendo promover o desejo de ler, abrindo espaços nos quais o leitor possa
traçar seu próprio caminho, de forma que sua atuação não seja sentida como
uma intromissão.
Um outro modo de realizar a mediação de leitura é a atuação com grupos
como, por exemplo, por meio das leituras compartilhadas, comumente
destinadas para o público infanto-juvenil. A leitura compartilhada é uma
prática realizada tendo com centralidade o objeto livro. Em um grupo de
leitores, o bibliotecário apresenta o livro, seu título, autor e ilustrador, e
começa a leitura do livro em voz alta, mostrando também as ilustrações do
livro para o público. As leituras compartilhadas promovem a ligação entre os
leitores e o livro, despertando a curiosidade, estimulando a prática da leitura e
a construção de sentidos por meio da narrativa literária. Além disso, a leitura
�283
realizada de modo coletivo permite o estabelecimento de relações entre os
próprios leitores, que podem trocar experiências literárias.
Também realizados de forma coletiva, os clubes de leitura são ambientes
propícios para a atuação do bibliotecário como mediador. A criação de clubes
de leitura está intimamente ligada a necessidade de compartilhar experiências
vivenciadas por meio da literatura. A leitura literária, por vezes realizada de
modo solitário, torna-se assim uma atividade coletiva, que proporciona a
interação entre os leitores. Clubes de leitura podem ter propostas diversas
quanto às leituras prévias que antecipam cada encontro, sendo possível definir
que todos os leitores devem ler o mesmo livro ou também propor que cada um
leia o livro que escolher. De toda forma, o leitor deve realizar suas leituras
antes do encontro definido. A função do bibliotecário como mediador de um
clube de leitura é atuar como um guia, um orientador, motivando a
participação de todos os leitores presentes, levantando pontos a serem
debatidos, fazendo perguntas e questionamentos de forma a incitar os leitores.
O mediador deve iniciar o encontro, dar voz aos leitores, mas também realizar
um fechamento, de forma que as pessoas sintam que o encontro teve início,
meio e fim. É interessante também que o mediador proponha dinâmicas de
grupo, quiz e sorteios de livros, de forma que o encontro fique dinâmico. A
interação entre os participantes é essencial para que o encontro ocorra e seja
enriquecedor no que se refere ao compartilhamento de leituras.
Atualmente, clubes de leitura também podem ocorrer virtualmente, por
meio das redes sociais como WhatsApp e Facebook. A leitura coletiva em
ambientes virtuais pode ser também uma possibilidade de atuação do
bibliotecário. Nesses grupos é muito comum que seja definido um livro para
ser lido durante o mês, sendo colocadas metas semanais para a leitura. A
interação ocorre diariamente nessas verdadeiras comunidades virtuais de
leitores. O mediador de leitura pode atuar promovendo a interação e trocas
entre os participantes, levantando questões e propondo reflexões, de forma
semelhante ao que ocorre no clube de leitura presencial.
É importante afirmar que as três linhas de atuação – acesso, incentivo e
mediação da leitura – são complementares e de extrema relevância para que o
�284
bibliotecário consiga atuar na disseminação da leitura e efetivação dessa
prática junto à comunidade. Contudo, observa-se que os três níveis apontados
constituem-se como uma progressão, sendo o nível do acesso o mais amplo e
a mediação de leitura o nível mais próximo ao usuário, com maior
possibilidade de acompanhamento e confirmação da formação de leitores.
Nota-se também que o primeiro nível tem potencial de atingir um público
maior, o segundo nível tende a atender uma parcela da comunidade e o
terceiro é um trabalho realizado com grupos. Dessa forma, há uma tendência
de diminuição da dimensão e amplitude dos trabalhos do primeiro ao terceiro
nível. De forma inversamente proporcional, há o aumento da potencialidade da
intervenção, como também a construção de uma relação mais íntima entre os
bibliotecários e os leitores. O quadro 1, a seguir, apresenta a caracterização
das possibilidades de atuação do bibliotecário na disseminação da leitura.
Ação
Acesso
Incentivo
Mediação
Quadro 1 – Acesso, incentivo e mediação de leitura
Definição
Alcance
Relação
bibliotecário/público
Disponibilização de livros
Tem o potencial
Relação superficial,
literários na biblioteca,
de atingir toda a
impessoal e genérica.
devidamente selecionados e
comunidade.
organizados.
Ações de sensibilização do
Atinge uma
Relação de proximidade
público visando a prática da
parcela da
entre o bibliotecário e os
leitura literária.
comunidade por
usuários, conhecimento do
vez.
público-alvo.
O efetivo acompanhamento do
Trabalho
Relação de afetividade e
leitor em sua prática de leitura, realizado em
confiança mútua.
processo que envolve uma
atendimento
relação de afetividade que
individualizado ou
possibilita a formação do leitor, com grupos.
a transposição de barreiras e a
criação de sentidos por meio da
leitura.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Evidencia-se que o bibliotecário pode atuar em qualquer um dos três
níveis de disseminação da leitura, sendo o ideal que cada biblioteca possua as
três frentes de atuação.
Tendo como meta a atuação do bibliotecário como mediador de leitura,
outras questões se fazem pertinentes: O bibliotecário está preparado para ser
um mediador de leitura? Como atuar como um mediador de leitura?
�285
Em
sua
formação,
geralmente,
o
bibliotecário
tem
contato
com
disciplinas sobre leitura e formação do leitor literário, o que já o capacita para
atuar na disseminação da leitura. Existem também vários cursos de formação
de mediadores de leitura, presenciais e virtuais, gratuitos e pagos, que
auxiliam o bibliotecário a ter uma formação complementar.
Contudo, ações de mediação de leitura demandam mais do que uma
aprendizagem formal. Primeiramente, é necessário que o mediador de leitura
seja de fato um leitor, que tenha um amplo repertório de leituras e que tenha
gosto pela leitura, caso contrário, não conseguirá formar leitores nem dialogar
com eles. É necessário também que o bibliotecário conheça o acervo de sua
biblioteca, para que possa refletir sobre as possibilidades de disponibilização
desse acervo e na diversidade de perfis de leitores que podem acessá-lo. Como
afirmado anteriormente, o bibliotecário deve garantir o acesso de qualquer
usuário ao acervo literário. É essencial conhecer a comunidade da biblioteca,
suas demandas e necessidades, de forma que a atuação seja mais efetiva para
o público. O planejamento das ações de incentivo e mediação de leitura na
biblioteca são de fundamental importância, de forma que seja definido o
tempo, público-alvo e que seja feita a devida divulgação da atividade. A
postura do mediador também deve ser evidenciada no que diz respeito a não
ter preconceitos com o público, julgando quem pode ou não se tornar um
leitor. É importante também que o mediador tenha capacidade de lidar com o
público, os diversos perfis de leitores, com respeito e afetividade, dando
liberdade a esses sujeitos. O quadro 2 lista algumas dicas para o bibliotecário
atuar como mediador de leitura.
Quadro 2 - Atuação do bibliotecário mediador de leitura
Sugestões para a atuação do bibliotecário como mediador de leitura:
- Ser um leitor constante e curioso, construindo seu repertório de referências, que será
fundamental no momento da escolha e avaliação dos livros;
- Conhecer o acervo da biblioteca na qual trabalha e, na medida do possível, ampliá-lo
pensando na diversidade e multiplicidade de perfis de leitores;
- Conhecer o público de sua comunidade, suas necessidades e demandas;
- Garantir o acesso à leitura, organizando e disponibilizando os livros do acervo;
- Preparar o espaço da biblioteca para ações de incentivo e mediação de leitura;
- Planejar as etapas de cada atividade, prevendo o tempo de duração e o público-alvo;
- Ser inclusivo e propiciar espaços acessíveis para todos os leitores nas ações realizadas na
biblioteca;
- Não menosprezar a capacidade do público, tendo preconceitos em relação a quem pode ou
�286
não se tornar um leitor;
- Abrir espaço para escuta dos leitores, dando voz e liberdade aos sujeitos.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Tendo em vista a proposta de diferenciação entre acesso, incentivo e
mediação de leitura, como também a discussão da atuação do mediador,
conclui-se que o bibliotecário possui potencial e capacidade para atuar
efetivamente na disseminação de leitura. As três frentes de atuação do
bibliotecário na promoção da leitura – acesso, incentivo e mediação - são
ações complementares e fundamentalmente importantes nas bibliotecas,
sendo cada uma delas particularmente relevante na criação de vínculo entre os
usuários e a leitura.
Constata-se também que o bibliotecário possui a competência necessária
para atuar como mediador de leitura, sendo o profissional capacitado para a
gestão da informação, realizando uma mediação implícita, no que diz respeito
ao
acesso,
como também
a
mediação
explícita, em
ações
realizadas
diretamente com a comunidade da biblioteca.
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Silva. Bibliotecários mirins e a mediação da leitura na biblioteca escolar.
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 17, n. 2, p.
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BOTTON, Alain de. Religião para ateus. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011.
222p.
BOTTON, Alain de; ARMSTRONG, John. Arte como terapia. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2014. 240p.
BRITTO, Luiz Percival Leme. No lugar da leitura: biblioteca e formação. Rio
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GOMES, Luciano Ferreira; BORTOLIN, Sueli. Biblioteca escolar e a mediação de
leitura. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 2, p. 157170, jul./dez. 2011.
�287
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191p.
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Ed. 34, 2009.
PETIT, Michèle. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. São Paulo: Ed.
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SARTRE, Jean-Paul. O que é a literatura? Petrópolis: Vozes, 2015. 256p.
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YUNES, E. Pelo avesso: a leitura e o leitor. Letras, Curitiba, n. 44, p. 185-196,
1995. Disponível:
https://social.stoa.usp.br/articles/0037/3051/Leitura_e_leitorYUNES.pdf.
Acesso em: 24 jun. 2019.
�288
DADOS BIOGRÁFICOS
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
Mestra em Ciência da Informação pela mesma instituição
(2018). Possui graduação em Biblioteconomia pela UFMG
(2016). Atua como Bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal
Professor Francisco Tibúrcio de Oliveira, vinculada à Prefeitura
Municipal de Santa Luzia (MG). Tem interesse nas áreas de
práticas informacionais e estudos de usuários da informação,
com
enfoque
na
apropriação
da
leitura
literária
e
compartilhamento de leituras.
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
Claudio Paixão Anastácio de Paula: Possui doutorado em
Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2005),
mestrado em Ciência da Informação pela Universidade Federal
de Minas Gerais (1999), graduação em Psicologia (Habilitação
em Psicologia Clínica) pela Fundação Mineira de Educação e
Cultura (1994) e bacharelado e licenciatura em Psicologia pela
Fundação Mineira de Educação e Cultura (1993). Atualmente é
Professor Associado do Departamento de Teoria e Gestão da
Informação (DTGI) da Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do
grupo de pesquisa Gabinete de Estudos da Informação e do
Imaginário (GEDII), onde desenvolve a pesquisa Dimensões
simbólicas e afetivas da informação: construindo um repertório
de práticas de investigação na ECI/UFMG.
E-mail: claudiopap@hotmail.com
�289
CAPÍTULO XV - Entre o leitor e o livro: bibliotecário como
mediador de leitura
Flávia Ferreira Abreu
A mediação de leitura deve ir ao encontro dos
interesses do leitor como passaporte para novas
leituras, interpretações e desdobramentos. Tem
que gerar inquietações, pois ao compartilhar a
leitura, cada indivíduo irá experimentar um
sentimento
de
pertença,
de
apropriação,
possibilitando abrir-se para o outro introduzindo-o
no mundo (PETIT, 2008).
1 INTRODUÇÃO
A relação leitura e mediação aqui apresentada é um recorte da pesquisa
de mestrado Mediação e Leitura na biblioteca escolar, defendida no programa
de Pós–Graduação em Ciências da Informação da UFMG. A pesquisadora
investigou as ações de mediação à leitura que têm sido utilizadas pela equipe
de profissionais das bibliotecas escolares da cidade de Belo Horizonte – MG.
O
objetivo
principal
da investigação
foi
analisar
o
trabalho
dos
bibliotecários escolares que desenvolvem essas ações em seu modo de operar,
contribuindo para a formação de sujeitos críticos, com gosto pela leitura. Nesse
capítulo,procurou-se principalmente, entender como os bibliotecários que
atuam em projetos de leitura na biblioteca compreende a mediação da leitura
na escola.
Para Yunes (1995) esse fazer pode possibilitar o contato com as
palavras, uma troca, o nascimento do prazer de conhecer, de imaginar outros
contextos de vida a partir da leitura.
Para responder a esse fim, foram
selecionadas duas bibliotecas escolares, de modo a contemplar as diferentes
configurações de ensino: bibliotecas escolares do ensino particular e público
municipal, que atendem alunos do ensino fundamental a partir do quinto ano e
tem atividades voltadas para a mediação da leitura. Segundo Ceccantini
�290
(2009), os estudos atestam que há um abandono de atos de mediação à
leitura, à medida que os leitores recém-cultivados vão deixando a infância. Por
acreditar que isso não é o ideal para incentivar o gosto contínuo pela leitura,
escolheu-se esse tipo de ação para compreender.
Nesse ambiente de aprendizagem, a equipe da biblioteca pode procurar
compartilhar
novos
conhecimentos
com
outros
estudantes
e
mediadores.Martins (2013, p.14) ressalta que “a importância da biblioteca
escolar se dá, principalmente, pelo apoio no processo de escolarização, a
medida em que a escola é entendida como lugar de mediação e troca de
conhecimentos, haja vista que a mesma tem como foco reconstruir o saber e
legitimá-lo”. A partir desse desempenho no meio social, a constituição das
funções, objetivos e características das bibliotecas será determinada pelos
contextos sócio-históricos e culturais a que pertence.
Bicheri e Almeida Junior (2013, p. 43) atestam que, para que a biblioteca
escolar possa cumprir sua função é necessário, além de espaço e acervo, um
bibliotecário “competente e engajado na escola como um todo. Importa, e
muito, a qualidade das atividades, as atitudes tomadas pelo bibliotecário, que
deve ser comunicativo, interessado e criativo”. É ideal que haja um
planejamento que vise novas e diferentes estratégias para aproximar o leitor
do
texto
e,
dessa
forma,
auxiliar
os
alunos
no
desenvolvimento
de
competências e habilidades de leitura. Desde os primeiros contatos com a
leitura, é preciso encontrar caminhos que levem à apropriação das informações
do texto, para que o leitor possa dar sentido, forma e consistência aquele
conteúdo.
Já Britto (2015), considera que a escola é um lugar de aprender fatos
que não se aprendem no trato da vida cotidiana. Ler e aprender podem ser
ensinados fora da escola, mas é na escola que a produção intelectual
organizada encontra espaço para expandir-se e sistematizar-se, além do senso
comum. Campello (2016) observa que o desenvolvimento de um trabalho em
equipe do bibliotecário com os professores na escola é alicerce para que
mudanças possam ser efetivas nas ações de mediação à leitura e de forma
política, em prol do melhor desempenho da educação e transformação social. A
�291
seguir serão apresentados conceitos sobre a leitura, leitor, mediador da leitura
e a metodologia para o desenvolvimento da pesquisa.
2 BREVE REFERENCIAL TEÓRICO
O arcabouço teórico desta pesquisa é estruturado por temas relevantes
para a compreensão das ações desenvolvidas pelo bibliotecário como mediador
da leitura destacando, portanto, o papel do bibliotecário como mediador social,
que auxilia no desenvolvimento do gosto pela leitura. Certamente, esse
enfoque perpassa por outras áreas de estudo como a educação, pois a leitura é
uma ação social, desenvolvida por atores e em determinados contextos.
2.1 LEITURA E O LEITOR
Para compreender o processo de mediação de leitura é preciso ampliar a
noção desse conceito a partir do entendimento do que é a leitura, retratado na
literatura, como relata Dumont (2007), o processo histórico sobre os estudos
da leitura que se deu nos Estados Unidos no contexto da crise econômica do
final da década de 1930, embasado na sociologia da leitura. Os estudos sobre
difusão da leitura e os efeitos sobre o leitor reuniram, no mesmo sentido, as
ações dos literatos, educadores, bibliotecários, pedagogos, psicólogos e
sociólogos. Um pouco mais tarde, em 1950, os franceses iniciaram as
pesquisas voltadas para a promoção e uso da partilha dos textos. A partir da
década de 1980, os estudiosos passam a ter um olhar direcionado ao público
leitor ou receptor de informações. Para a Ciência da Informação e a
Biblioteconomia, a leitura é visualizada a partir das necessidades dos usuários,
segundo o perfil do leitor. A autora salienta, ainda, que, nas últimas décadas,
surgiram indagações para compreender o contexto social e, assim, o fluxo de
informações, o sujeito e a diversidade da leitura nessas duas áreas.
Atualmente, as pesquisas se preocupam em identificar a efetividade e a
�292
introjeção de conhecimentos pela leitura, entendida aqui como apropriação da
leitura, a partir da subjetividade do leitor e seu contexto.
Chartier (1998) elucida que a leitura é sempre apropriação, invenção e
produção de significados. “Segundo a bela imagem de Michel de Certeau, o
leitor é um caçador que percorre terras alheias. Apreendido pela leitura, o
texto não tem de modo algum, ou ao menos totalmente, o sentido que lhe
atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores” (CHARTIER, 1998, p. 7). A
leitura perpassa por caminhos que envolve o contexto socio histórico do leitor
que interfere no processo intelectuais que asseguram a compreensão do texto.
Para compreender o escrito, o leitor depende de seus conhecimentos de
mundo e de escrita para decodificar os signos e dar sentido ao que lê. Porém,
esse novo modo de leitura instrumental precisa partilhar com a leitura
prazerosa a possibilidade de submeter-se ao tempo do leitor, a garantia da
atividade crítica, dando uma nova permanência histórica e cultural às
narrativas que se constituem e se renovam na grande temporalidade.
A partir da revisão teórica, percebeu-se que a leitura do texto não tem
um sentido único, mas uma construção de entendimento que envolve o leitor a
partir de seu espaço sociotemporal e as novas ideias apresentadas pelo texto.
A teoria da estética da recepção desenvolvida por Iser (1996) vem confirmar
as diversas possibilidades de leitura a partir da interação entre o horizonte de
expectativas dos autores e as possíveis significações por seus leitores,
deixando claro que a interpretação do texto vai além dos conhecimentos do
texto. A estética da recepção visa explicar que ao tratar de obras textuais,
inacabadas e abertas a inúmeros olhares interpretativos. Esse conceito “atribui
à leitura um efeito emancipatório que libera o leitor da busca por uma única e
perfeita interpretação” (SILVEIRA; MOURA, 2007, p. 125).Dessa maneira,
proposta principal para formar o leitor é inserir a prática da leitura pela leitura.
E assim, pode-se visualizar a formação e transformação de um leitor
consciente e capaz de dialogar com o texto, já que ambos são indissociáveis.
Segundo Moreira e Duarte (2014), a animação de leitura tem como
propósito empreender de forma dinâmica a leitura no ambiente escolar, de
modo especial na biblioteca, a partir de métodos do teatro, com o objetivo de
�293
ampliar o processo da leitura para além da rigidez escolar, que a tratava como
meio e não fim. Porém, Perroti (1990) explica que a animação da leitura
passou assim a ser uma das estratégias de fazer frente às representações
negativas sem planejamento, da promoção da leitura comumente adotadas
nas escolas que não formavam leitores.
Campello (2009) alerta para o número significativo de pesquisas que têm
revelado os equívocos das políticas e das atividades de práticas da leitura, que
partem do princípio de que o importante é ler, não importa o quê, semse
estudar e planejar o que ler, é criar o “gosto” da leitura por meio de técnicas
de animação, “possíveis”, e não direcionadas ao texto. Para a autora, a
biblioteca pode ser um espaço no qual se forma o leitor, desde que seja um
lugar de criação e de compartilhamento de experiências, um ambiente de
produção cultural e que os bibliotecários e mediadores sejam leitores críticos,
aptos para o confronto com os usuários através da literatura sem cobranças
mecânicas de compreensão de texto lido e sem fórmulas rígidas de indicação
por idade.
2.2 BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DE LEITURA
O mediador de leitura trabalha com a intervenção entre duas partes, na
ação de dividir em dois ou estar no meio, no conceito de mediação aplicado
sob diferentes perspectivas, “indicando ideias de interveniência, relação,
conjugação, religação, [...] elo estabelecido nas relações humanas, por meio
de um elemento mediador“ (RASTELI, 2013, p.24).
Para Araújo, Duarte e
Dumont (2019), o mediador há de se atentar para que seus próprios valores e
cultura pessoal não interfiram na formação do conhecimento do outro, de
modo que o profissional da informação evite que sua influência se confunda
com manipulação, já que os limites entre uma coisa e outra são um tanto
imperceptíveis. Ainda, para esses autores:
�294
Dentre os diferentes tipos de bibliotecas – públicas, escolares,
comunitárias, universitárias, especializadas, entre outras. – uma em que
o papel do mediador se faz fundamental é a biblioteca escolar. É nesse
ambiente que se forma o leitor e se educa para a competência
informacional (capacidade de se reconhecer a necessidade de
informação, saber como buscá-la, localizá-la e utilizá-la de modo
crítico), atividades em que a presença da mediação explícita se torna
condição sine qua non para o sucesso (p.94).
Além do mais, verifica-se com Silva (2010, p. 8) que a “expressão
mediação é um termo raro nas obras de referência da área de Ciência da
Informação”. E que deve ser trabalhado pelo profissional bibliotecário, para
que este possa ser um agente no auxílio a uma leitura compreensiva do
contexto sócio, político e cultural do leitor. ABREU (2019)acredita que a
mediação da leitura é uma possibilidade de transformação do entendimento do
texto pelos leitores. Através da interação entre os sujeitos envolvidos no
processo de construção do conhecimento e do compartilhamento de ideias, são
possíveis o diálogo, a formação de convicções e questionamentos sobre as
informações que envolve a realidade em que se está inserido.
Acredita-se que o papel dos mediadores é buscar várias formas de
mediar a leitura para além do texto, levar a reflexão por meio do diálogo do
que foi lido e das informações constantes nas entrelinhas. Todavia, deve-se ter
a ciência que o texto, mesmo oferecendo uma gama de probabilidades de
leitura, não pode ser lido arbitrariamente, de qualquer maneira, já que o
sentido não está apenas no leitor, nem no texto, mas na interação autor-textoleitor, cabendo ao mediador literário e ao leitor traçar caminhos possíveis de
interpretação baseados no texto. Por isso, “é de fundamental importância que
o leitor considere na e para a produção de sentido as sinalizações do texto,
além dos conhecimentos que possui” (KOCH, 2008, p. 217).
Carvalho (2016) salienta que o papel mais importante do mediador de
leitura é facilitar, para crianças e jovens, textos de qualidade, sem apelar para
a sedução invasiva e a demagogia, e assim, oferecer aos leitores encontros e
descobertas de algo que fale especialmente com eles a partir do acaso.
Para a pedagoga Farias (2017, p.40), o espaço da biblioteca “cria opções
de aprendizado através de projetos, elegendo a mediação de leitura, propicia
um vínculo entre o leitor, o mediador e os livros”. Isso pode traduzir a
�295
interação e o incentivo à leitura, junto à troca de conhecimento, às
descobertas que vão acontecendo com maior liberdade entre os leitores. A
autora ressalta, ainda, que a intervenção do mediador de leitura apresenta-se
como essencial no processo de incentivo à leitura. O bibliotecário mediador
tem uma função social essencial na formação do leitor, ao interpretar os
conteúdos informacionais que se encontram em sua unidade de informação, na
tentativa de tornar mais acessível ao usuário as informações que demanda.
Esse profissional torna-se ouvinte do leitor e passa a conhecê-lo melhor,
possibilitando o trabalho de mediar a leitura de forma mais efetiva, não só pela
literatura, de ficção, mas pela leitura da sociedade. Os mediadores, ao
incentivar a leitura, podem provocar no leitor o processo de apropriação do
texto e da informação, por meio de novas alternativas de leitura, propiciando
uma aproximação dos alunos ao conhecimento. Para Rodrigues (2007), o olhar
do bibliotecário precisa abranger e trabalhar a atitude educativa da leitura,
auxiliando os sujeitos leitores a refletir, a compreender, a descobrir e a
inteirar-se socialmente no mundo.
Já Barros (1986), espera que o bibliotecário tenha competência técnica,
não seja passivo em seu trabalho, assuma uma postura política, acumule
cultura, exerça a autocrítica, não seja um mero guardião de livros e respeite o
leitor, muito mais carente de saber do que de técnicas. Esse profissional tem
responsabilidade para com a escola e sua função de “mediador favorece, entre
outros
aspectos,
a
seleção,
organização,
disponibilização
do
acervo/informações e intervenção nas práticas de leitura no ambiente em que
atua, também contribuindo na formação de leitores” (BICHERI, ALMEIDA
JUNIOR, 2013 p. 44). Assim como, para a educação do usuário no trato com a
biblioteca
como
um
todo,é
imprescindível
que,
independentemente
do
ambiente e de influências educacionais, políticas, sociais e culturais, o
bibliotecário seja, antes de tudo, um leitor. Um leitor incondicional e
permanente dos assuntos ligados à sua área profissional, de atuação específica
e, também, de modo geral, a temas referentes às questões sociais, políticas e
econômicas de maneira a atuar de forma relevante e competente em seu
meio, procurando sempre redimensionar suas atividades de acordo com a
�296
realidade, mudanças e necessidades de sua comunidade (BICHERI, ALMEIDA
JUNIOR, 2013 p. 44). Além disso, deve ser consciente em relação a seu papel
de mediador, agente social, crítico e transformador na sociedade.
Almeida Junior (2006, p.53-54), discorrendo sobre a postura do
bibliotecário escolar, menciona que:
O bibliotecário adequado é aquele que [...] está em constante
questionamento; [...] que procura conhecer sua área de atuação; [...]
que tem consciência de que o usuário é seu fim último; que sabe que as
informações com as quais lida não são neutras e imparciais; que está
sempre procurando conhecer os motivos que há por trás de suas ações;
[...] que sabe que a informação é imprescindível para a formação do
cidadão. O bibliotecário escolar é aquele que reconhece sua profissão
como importante e necessária para a sociedade.
Acredita-se que colaborar para a formação do cidadão é atitude que faz
do bibliotecário escolar um sercapaz de agir em prol do outro por meio da
mediação da leitura. Assim como Carvalho (2012), os dados desta pesquisa
consideram o processo de mediação de leitura permeado por atividades de
rodas de leitura, encontros com escritores, ilustradores e especialistas em
literatura para debates literários, contação de histórias, e o clube da leitura.
Essas atividades tendem a despertar a mediação da leitura, as quais precisam
ser planejadas e executadas respeitando o valor de arte da literatura. Tais
atividades - de acordo com a autora citada e com os dados deste estudo – não
podem ser utilizadas como pretexto, no sentido de apenas auxiliar outras
disciplinas, e sim formar leitores.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa se caracteriza pela abordagem qualitativa com o intuito de
compreender o que os bibliotecários entendem por mediação de leitura nessas
bibliotecas.
Angrosino
(2009)
apresenta
algumas
características
da
investigação qualitativa com o objetivo de compreender, descrever e, às vezes,
explicar fenômenos sociais, a partir de um olhar para as práticas dos
profissionais, em conjunto com a observação e o registro de ações de
interação.
�297
O estudo tomou por base uma amostra não probabilística, qual seja: a
amostragem por julgamento. Nesse tipo de escolha estatística, classifica-se a
amostra
intencional,
selecionando
por
interesse
e
responsabilidade
do
pesquisador (LAKATOS; MARCONI, 1996).
Os sujeitos da pesquisa referem-se a bibliotecários que apresentam seu
entendimento sobre as ações de mediação de leitura. A bibliotecária EBMB35 da
Escola Municipal (MB) é Mestre em Ciência da Informação pela UFMG, há 20
anos atuando nessa biblioteca, com indicação a prêmios de bom exemplo por
ações que desenvolve, como o incentivo à leitura. Já as bibliotecárias da Escola
Particular (P), que foram entrevistadas, pois uma saiu da escola durante a
pesquisa porque foi aprovada em concurso público e a outra continuou de
forma efetiva o trabalho da funcionária anterior. Ambas EB1EP e EB2EP36 são
graduadas pela UFMG. EB1EP atuou na instituição por cinco anos e EB2EP
iniciou a trajetória há seis meses, interagindo com as professoras de História e
Produção de Texto, as quais desenvolvem o Projeto “Clube da Leitura”, há
nove anos na instituição.
3.1 ENTREVISTA COM BIBLIOTECÁRIOS
As três bibliotecárias foram entrevistas in loc. O objetivo da entrevista foi
sondar significados, explorar as nuances, captando o que está obscuro, e aliar
as questões gerais sobre o que se quer saber, o entendimento a respeito da
mediação de leitura.
3.2 A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS – ANÁLISE DOS RESULTADOS
A mediação de leitura, segundo EB1EP, é uma conversa literária para
levar o texto ao leitor que vai ao encontro da promoção de leitura. Já EB2EP
visualiza a mediação como uma relação de interação maior com o seu leitor
através do diálogo que permitem o compartilhamento de ideias sobre a leitura.
35
36
Entrevistada Bibliotecária da Escola Municipal.
Entrevistada Bibliotecária da Escola Particular.
�298
EBMB defende a mediação de leitura no sentido:
De abrir caminhos de se mostrar as possibilidades de leitura e de
interpretação de texto, de aumentar essa visão estética sobre as coisas
de entrar no universo do escritor, de entrar no universo da literatura eu
gosto muito dessa visão da mediação e acho que é um papel primordial
do profissional da biblioteca escolar.
O mediador precisa ter “paciência” para lapidar a leitura, de acordo com
o perfil do leitor, auxiliando-o no amadurecimento da tipologia de textos a
serem lidos e principalmente conhecendo esse leitor. As entrevistadas
ressaltam, assim como Carvalho (2016) e Almeida Junior e Bortolin (2009),
que o mediador de leitura tem que ser leitor, pois, ao defender algo como
essencial, é necessário que se tenha propriedade e experiência na área dos
gêneros textuais, conhecimento a respeito de autores e obras, ler muito e
sempre compartilhar com os discentes da escola o que está lendo, o que
possibilita efetividade na ação de mediar a leitura.
Para se mediar a leitura, então, é preciso saber as possibilidades e só
consegue isso se abrir para esse outro olhar. Então, além de você
conhecer o que você está lendo, mediando, porque você não pode
enganar seu usuário, leitor, fingindo que gosta de ler, que você leu.
Você tem que ler e saber o que está mostrando; então, é um trabalho
muito grande de conhecer acervo, livro, de abrir seu olhar para essa
outra forma de encarar o livro como um objeto estético e artístico.
Quando a gente se depara com professores de Português, alguns
professores daqui que têm alunos em outras escolas e vão me pedindo
se tenho os livros das listas dessas escolas particulares para o ano todo,
eu vejo os livros indicados estão velhos, ultrapassado. Aí, eu percebo
que aquele professor não é um leitor contemporâneo de literatura
infantil e juvenil. Veja bem aquele livro que ele está indicando para o
aluno de sexto, oitavo e novo ano; é um livro que ele leu há uns vinte
anos e que agora não tem mais diálogo com esses meninos, são edições
esgotadas. Que você passa um aperto danado, por que quem faz essa
indicação são coordenadores e professor e você ver que ele não está se
abrindo a novas possibilidades de livros, de textos e de outras
abordagens, para alguns assuntos, por exemplo, um livro sobre a
família, que esse livro é da década dos anos 80, não refletirá a família
de hoje, que é completamente diversa. Eu percebo muito isso: a falta do
professor, desse profissional que está na sala de aula e está se abrindo
para isso, de estar se abrindo também para o gosto do menino,
atualmente. Por exemplo, é uma resistência a bestseller e eu nem acho
que isso seja uma das piores coisas, não! (EBMB).
Ainda EBMB ressalta que a:
�299
Biblioteca perde um pouco na questão do letramento informacional, a
gente ainda não deu conta de levar a informação para a sala de aula,
formar os pesquisadores de formar alunos competentes em informação
eu acho que isso é o grande desafio da biblioteca escolar. Mas eu
defendo sim a mediação da leitura e ela deve ser uma habilidade do
profissional com a informação muito bem trabalhada, tem que conhecer
o que agente está mediando, ler o que estamos mediando, abrir os
olhos e a percepção do que rola no mundo para a gente poder estar
mediando essa informação, essa leitura.
Essas atividades são incipientes para as habilidades de formar alunos
mais autônomos em suas pesquisas; é um caminho a ser mais desenvolvido na
biblioteca escolar.É preciso entender/considerar o tempo de compartilhamento
espontâneo entre ouvintes e leitores tão importante quanto a leitura e a
narração, é valorizar a indispensável qualificação do mediador de leitura.
O projeto Clube da Leitura na escola particular cujo objetivo é
compartilhar leituras, em queas mediadoras colocaram-se à disposição para
assumir o compromisso de converter a leitura prazerosa e comumente
marginalizada, em uma leitura a ser realizada e discutida no ambiente da
biblioteca. Outro objetivo das mediadoras desse projeto é romper mitos e
derrubar preconceitos que envolvem a literatura, fazendo com que os alunos
descubram o prazer do texto. Elas acreditam que, ao valorizar a independência
de leitura dos discentes, por meio do diálogo intertextual e orientado para uma
leitura crítica e reflexiva em encontros agradáveis para compartilhar suas
apreciações, é possível descobrir o prazer em uma diversidade de textos cada
vez maior.
O clube da Leitura já é, assim, um caso a parte em que, a gente
conseguiu interagir com o leitor; o aluno, enquanto leitor, nos procura,
pedindo indicações e nós fazemos indicações para eles que são
adequadas; eles gostam, desfrutam daquilo, assim, com gosto. Então, é
uma mediação de leitura que dá certo, que quer pegar um leitor que
realmente tem o prazer de ler, ler além da conta, do combinado na
escola. Eu vejo a EP como ponto muito positivo pelo lado do Clube da
Leitura; acho que é uma coisa bastante rica que tem lá e [...] é um
trabalho bacana, que, assim, a gente vê que dá muitos frutos e
maravilhosos. Os ex-alunos que saíram de lá como são e o que
desenvolvem hoje, e a gente sabe que muito se deve ao fato de eles
serem leitores críticos, que realmente gostam de ler. Atualmente, eu
estou trabalhando na prefeitura do interior e pretendo montar um clube
da leitura lá (EB1EP).
O Clube da leitura é o sonho (risos...) (EB2EP). Elas viram a
necessidade de ter uma interação para os meninos começarem a ter
gosto pela leitura; foi criado o clube e é aberto a partir do sexto ano do
�300
Fundamental II; é um espaço para interação, para conversa com os
alunos sobre livros; a gente coloca assuntos atuais, sugestões; eles dão
sugestões de livros [...]. É um momento de interagir não só aqui na
biblioteca, porque a gente não fica só aqui, mas tem fora também,
cinema, teatro. Tudo que é programação [...] tem esse cunho literário.
O Clube é o xodó do colégio; é onde eles investem, eles gostam, tem
orgulho de ir para o Clube; tanto é que já está aí há anos (EB2EP).
As mediadoras do Projeto Clube da Leitura planejam chá com autores
como aconteceu com a Lavínia Rocha, a escritora conversou com os membros
do Clube da Leitura sobre o processo de publicação do livro, inclusive uma
menina falou que não gostava de romance, mas ao ler o livro “Um amor em
Barcelona” foi tocada pelas palavras da autora. Lavínia afirma não acreditar
que existe gente que não goste de ler, apenas não encontrou seu gênero
literário; ela se considera uma leitora desde a infância.
Nesse projeto, há por meio do contato com mediadores, escritores, livros
e filmes a interação com a literatura, a partir do prazer de ler. O Clube da
Leitura permite a participação ativa dos alunos a eventos de leitura, atividades
essas consideradas por Carvalho (2016) como uma fonte de aprendizagem. O
contato com atos de leitura e escrita confere ao leitor a possibilidade de
ampliar o conhecimento de si e do outro. O diálogo do leitor com o objeto lido
é um ponto de partida para a formação do leitor, e o auxílio do mediador de
leitura, nesse processo - de ler com os leitores - poderá favorecer o
intercâmbio de leituras, ampliando o entendimento de determinado assunto
para ambas às partes.
O diálogo do leitor com o objeto lido é um ponto de partida para a
formação do leitor, e o auxílio do mediador de leitura, nesse processo - de ler
com os leitores - poderá favorecer o intercâmbio de leituras, ampliando o
entendimento de determinado assunto para ambas às partes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal desta pesquisa foi entender a mediação de leitura na
visão dos bibliotecários, nas bibliotecas escolares, especificamente na cidade
de Belo Horizonte, Minas Gerais. Verificou-se que nas bibliotecas existem
�301
projetos planejados e implementados. No entanto, para que se alcance a
efetividade dessas ações, é fundamental conhecer os meninos, a escola e a
literatura, sendo leitores que vão formar o leitor pelo exemplo, pelo diálogo e
por praticar aquilo que se acredita. A eficácia das atividades perpassa pelo
trabalho contínuo dos profissionais com os processos de mediação à leitura.
Na instituição de ensino EP, observou-se que o projeto Clube da Leitura é
elaborado e escrito formalmente pela equipe. Isso proporcionou a efetividade e
longevidade da ação. Assim, como em qualquer contexto organizacional, o
planejamento, a formalização e a colaboração entre os envolvidos são
elementos essenciais para garantir o melhor desempenho das atividades de
mediação à leitura.
Na escola MB, os empréstimos, orientações de leitura e contação de
história são constantes na biblioteca. A bibliotecária esclareceu que a contação
de história é importante, embora não seja a única estratégia, cabendo aos
profissionais buscarem meios de capacitação e aperfeiçoamento para o
exercício relacionado à leitura nas bibliotecas escolares. Neste caso, há uma
abertura da entrevistada quanto ao letramento, demonstrando que o trabalho
na biblioteca ainda é incipiente para o planejamento de ações neste sentido.
Os resultados alcançados evidenciam que o bibliotecário utiliza da sua
competência de ser leitor para a escolha das ações de mediação, para lidar
com a informação, além de conhecer a literatura que dará suporte às
atividades planejadas. O conhecimento cultural e as experiências desse
profissional estão presentes em suas ações de mediação à leitura.
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DADOS BIOGRÁFICOS
Flávia Ferreira Abreu: Bacharel em Biblioteconomia (2010),
Especialista em Gestão Estratégica da Informação (2012),
Mestre em Ciência da Informação (2019) pela Universidade
Federal de Minas Gerais. Possui experiência na área de Ciência
da Informação, com ênfase em Gestão da Informação, atuou
principalmente nos seguintes temas: leituras compartilhadas;
biblioteca itinerantes, mediação de leituras e em gestão de
sistema da informação. É servidora do Sistema de bibliotecas
da UFMG, no setor de Referência da Biblioteca Central.
E-mail: flaviaabreu2911@gmail.com
�305
CAPÍTULO XVI - Da biblioteca à comunidade: o bibliotecário
como agente cultural
Alison Barbosa de Souza
1 INTRODUÇÃO
Entrar em uma biblioteca pública, observar seus livros, seus espaços, sua
organização, seus móveis, mesas, cadeiras, estantes. Junto a isso, perceber
que bibliotecas não são compostas apenas de objetos, há também as pessoas,
por vezes acolhedoras, ora aproximando-se prontamente e se colocando na
posição de atenção, escuta e acolhida, ora deixando aquele ser fruir livre, até
que um questionamento porventura surja a partir de sua observação. O
conjunto de sensações e impressões, formado a partir das experiências
vivenciais e intersubjetivas que cada sujeito carrega consigo, faz com que os
atores presentes nos dois lados dessa cena (pessoas que adentram os espaços
informacionais de um lado e funcionários ali dispostos a mediar o encontro
entre os livros e seus leitores de outro) tenham algo a dizer.
De modo geral, considera-se a biblioteca pública um equipamento que
ampliaas possibilidades de formação dos indivíduos por meio do acesso à
informação, estabelecendo processos de mediação informacional, de fruição,
apreensão e produção do conhecimento, a fim de possibilitarem que os sujeitos
atuem crítica e construtivamente nas realidades em que estão inseridos. Por
sua vez, a ação cultural pode ser compreendida como um mecanismo eficaz
na democratização do acesso aos bens culturais. É a ação cultural que visa
garantir “o ingresso do cidadão em atividades de formação, difusão [...] dando
luz a projetos e manifestações locais, bem como proporcionando transparência
e visibilidade nas ações governamentais” (BELO HORIZONTE, 2018, p. 3).
Existe um axioma presente em nossa realidade brasileira, no que se
refere ao livro e à leitura, de que estamos em um país de não-leitores.
Presente em estatísticas dos mais diversificados organismos, a ausência de
�306
fluidez de leitura – de sobremaneira nos contextos mais vulnerabilizados – da
população nos impõe alguns questionamentos: será que nós, bibliotecárias e
bibliotecários, estamos fazendo a nossa parte? Qual a nossa contribuição para
a inserção do livro (enquanto objeto, valor, rotina, prática) em nossos
contextos de convivência? Nós somos, também, não-leitores e não-leitoras?
No exercício de responder aos questionamentos acima, sem perder de
vista o contexto comunitário, evidencia-se ainda mais a necessidade de termos
profissionais bibliotecários e bibliotecárias comprometidos com o papel de
agentes culturais, posto que a suposta ausência de prática leitora é também
responsabilidade da nossa área. Os questionamentos nos levam a identificar a
parcela de contribuição do profissional bibliotecário, comprometido com o
envolvimento e apropriação da comunidade em espaços de leitura, de escrita e
de produção de conhecimento, dos quais destacamos as bibliotecas de acesso
público, como demasiadamente significativa.
Em uma realidade permeada pela adoção de suportes tecnológicos cada
vez
mais
imagéticos,
é
nosso
dever
defendermos
a
ampliação
das
possibilidades de acesso à informação, quer por livros impressos (infantis,
ilustrados, informativos, literários, entre outros) quer pela leitura e pela
produção
de
textos,
em
ambiente
físico
ou
virtual.
Por
fim,
tais
questionamentos nos convidam a adotarmos em nossa prática habitual o
desenvolvimento da capacidade de leitura e da escrita de maneira crítica e
criteriosa.
Para a contribuição que deixo neste capítulo, cujo objetivo é estabelecer
a relação entre a Biblioteca e a comunidade, considerando as Bibliotecárias e
os Bibliotecários como agentes culturais, parto da experiência que angariei a
partir de minha atuação como Bibliotecário na Fundação Municipal de Cultura
da Prefeitura de Belo Horizonte. Considero que este capítulo seja igualmente
apropriado para profissionais que atuam em outros contextos de bibliotecas de
acesso público: quer sejam no ambiente escolar formal, acadêmico, técnico,
empresarial ou especializado.
Quando pensamos no termo comunidade, geralmente ocorre um
equívoco que associa esse termo quase sempre à pobreza. Pelo contrário,
�307
considero que qualquer ajuntamento social, minimamente organizado e que se
concentra com certa regularidade – seja essa concentração espontânea ou
compulsória – pode ser considerada como comunidade.
Com vistas a estabelecer esse percurso existente entre a biblioteca
pública e a comunidade, recupero em parte os estudos teórico-conceituais
realizados para a conclusão de minha dissertação de mestrado37, após uma
breve introdução (Seção 1), apresentando a biblioteca pública (BP) e a revisão
do conceito a partir do Manifesto da Unesco/IFLA (Seção 2), passando para a
compreensão da BP a partir de seus aspectos históricos e de cidadania,
abordando também os aspectos sociopolíticos (Seção 3), partindo para as
funções e importância social e comunitária da mesma (Seção 4). Feito isso,
passo à conclusão do presente capítulo (Seção 5), que espero que seja de
satisfatória leitura para todos e todas, afinal, é no contexto comunitário que se
dão as mais efetivas trocas de experiências e vivências para a produção de
conhecimento.
2 A BIBLIOTECA PÚBLICA: REVISÃO DO CONCEITO A PARTIR DO
MANIFESTO DA UNESCO/IFLA
A biblioteca pública pode ser compreendida para além do já superado
conceito que, em outros momentos históricos, a definiu como uma coleção de
livros organizada e disponibilizada para consulta pública. Isso porque, em uma
compreensão
atual,
tal
instituição
não
deve
ser
analisada
única
e
exclusivamente em função de seu acervo, posto configurar-se, conforme
apontam a Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias
(International Federation of Library Associations and Institutions – IFLA)38 e a
37
SOUZA, A. B. de. A Biblioteca pública do Centro Cultural Vila Fátima: funções sociais e
percepções dos cidadãos-usuários. 2018. 127f. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação) – Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2018.
38
IFLA: Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (International
Federation of Library Associations andInstitutions). É um organismo internacional que
�308
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (United
Nations Educational, Scientificand Cultural Organization – Unesco)39, em porta
de entrada para a comunidade e em local que possibilita a autoformação dos
sujeitos, bem como a ampliação das oportunidades de acesso à informação por
meio da mediação e do estabelecimento de relações de troca, de produção de
conhecimento e de construção permanente da cultura.
O Manifesto da Unesco/IFLA sobre Bibliotecas Públicas é um documento
aprovado por aqueles órgãos em Paris no dia 29 de novembro de 1994. De
acordo com tal proposição, as bibliotecas públicas são entendidas como
espaços que potencializam tanto o desenvolvimento local quanto o pessoal, por
meio da promoção da cultura e de atividades que fomentam o acesso da
comunidade
à
informação,
a
dinamização
das
práticas
educativas
eo
estabelecimento de relações afetivas e de socialização.
No contexto brasileiro, a Coordenadoria do Sistema Nacional de
Bibliotecas Públicas (SNBP), endossando as modalidades de compreensão
acima assinaladas, estabeleceu princípios e diretrizes vinculadas à atuação
social dessas instituições, os quais podem ser dispostos conceitualmente por
meio dos seguintes termos:
O conceito de biblioteca pública baseia-se na igualdade de acesso para
todos, sem restrição de idade, raça, sexo, status social, etc. e na
disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento. Deve
oferecer todos os gêneros de obras que sejam do interesse da
comunidade a que pertence, bem como literatura em geral, além de
informações básicas sobre a organização do governo, serviços públicos
em geral e publicações oficiais. A biblioteca pública é um elo de ligação
entre a necessidade de informação de um membro da comunidade e o
recurso informacional que nela se encontra organizado e à sua
disposição. Além disso, uma biblioteca pública deve constituir-se em um
ambiente realmente público, de convivência agradável, onde as pessoas
possam se encontrar para conversar, trocar ideias, discutir problemas,
autoinstruir-se e participar de atividades culturais e de lazer. (SNBP,
2000, p. 17).
representa os interesses dos serviços de biblioteca e informação e dos seus utilizadores ou
usuários. Constitui-se como a principal voz dos profissionais de informação e documentação.
39
UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (United
Nations Educational, Scientificand Cultural Organization). É uma agência especializada
das Nações Unidas (ONU), com sede em Paris. Seu principal objetivo é contribuir para a paz e
segurança no mundo mediante a educação, ciências naturais, ciências sociais, humanas,
comunicação e informação.
�309
Partindo desses princípios e diretrizes, a BP se apresenta, ainda, como
lugar de ação cultural, de exercício da cidadania e de vivência política e
comunitária, que ganha força de intervenção social a partir dos suportes
informacionais que possui e do poder de decisão que enseja em seus cidadãos.
Faz-se presente no conceito acima mencionado a importância para os utentes
desses espaços informacionais e relacionais, agregados sob a forma de
comunidade,
para
a
consolidação
da
biblioteca
enquanto
espaço
de
apropriação púbica.
Esta perspectiva coaduna também com a definição de Jaramillo (2000,
apud JARAMILLO, 2011, p.72), para quem a BP é entendida como uma
instituição sociocultural que tem como principal finalidade possibilitar o livre
acesso à informação e ao conhecimento de maneira gratuita, contribuindo para
a melhoria na qualidade de vida das pessoas e a construção de relações
democráticas.
Em termos contextuais, os aspectos históricos de constituição das
bibliotecas públicas, tal como explicitado por Silveira (2012), deixa claro os
objetivos que viabilizaram o surgimento dessas instituições e também os
distintos
elementos
de
ordem
política
e
social
que
favoreceram
sua
consolidação enquanto espaço cultural. Nas palavras do autor:
A história das bibliotecas públicas é relativamente recente. Elas surgem
na Europa como resultado de inúmeras transformações decorrentes do
expressivo processo de desenvolvimento industrial e urbano que ocorreu
naquela região entre os séculos XVIII e XIX. A expectativa era que tais
instituições contribuíssem de maneira significativa para o progresso
cultural e intelectual da nação, bem como para a promoção da ordem
social. Em virtude disso, logo adotaram como uma de suas principais
funções a tarefa de elaborar e auxiliar as políticas públicas ligadas à
promoção da cultura, da memória, da leitura e das atividades educativas
(SILVEIRA, 2012, p. 209).
Essa compreensão histórico-política nos autoriza assinalar que tais
instituições
surgem,
portanto,
com
o
intuito
de
contribuírem
para
o
desenvolvimento sociocultural das comunidades em que se inserem e também
a promoção da cidadania. Razão pela qual suas funções básicas se inscrevem
em torno da disseminação de informações voltadas à valorização da cultura
local, ao acesso à cultura letrada, à preservação da memória e ao estímulo às
práticas educativas, de leitura e de lazer.
�310
Lançando mais uma vez nosso olhar sobre o Manifesto da Unesco/IFLA,
verificamos que, em função da BP ser definida como local público de
informação, esta deve ofertar a seus utentes bens e serviços variados,
baseados na igualdade de acesso e sem qualquer distinção. Com isso,
demarca-se a importância de que todos os grupos etários, étnicos e de
diversificadas identidades encontrem no acervo itens adequados às suas
necessidades, bem como esses grupos possam estabelecer relações sociais e
afetivas entre si e com a biblioteca como frequentadores desses espaços. O
Manifesto destaca a importância da comunidade circunscrita em torno da
biblioteca para a consolidação desta enquanto espaço de apropriação, de
relações afetivas e de geração de conhecimento.
Este documento legitima a BP como espaço de apropriação comunitária,
conferindo também valor à mediação aos profissionais que ali congregam.
Consideramos que o Manifesto da Unesco/IFLA sobre Bibliotecas Públicas é o
ponto do qual derivagrande parte das análises teóricas e conceituais
projetadas em torno da BP, destacando-se os estudos que apresentamos a
seguir.
3 BIBLIOTECA PÚBLICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E DE CIDADANIA
Dialogando com as proposições do Manifesto da Unesco/IFLA sobre
Bibliotecas Públicas, estudos com enfoques multidisciplinares têm se dedicado,
na contemporaneidade, a demarcar os modos de funcionamento responsáveis
por justificar socialmente a existência dessas instituições. No cenário latinoamericano, tributário do modelo espanhol de bibliotecas públicas40, destacamse as contribuições teóricas de Orlanda Jaramillo (2000; 2010; 2011) e Silvia
Castrillón (2011). Tais autoras, ambas colombianas, refletem acerca dos
distintos processos por meio dos quais as bibliotecas públicas inserem-se na
40
O modelo espanhol de biblioteca pública edifica-se tendo por referência a forma de atuação
das bibliotecas populares, diferentemente daquelas que marcam o modelo francês, cuja
gênese remota à prestação de serviços a um público mais elitizado.
�311
realidade comunitária na AméricaLatina e, em especial, como essas instituições
operam na atualidade.
No artigo “Revisión conceptual de la biblioteca pública” (JARAMILLO;
MONTOYA-RÍOS, 2000), as autoras estabelecem um panorama do surgimento
da BP na América Latina, afirmam ser difícil pensar na biblioteca pública sem
considerar a comunidade usuária e sem almejar prestar serviços igualitários a
crianças, jovens, adultos e idosos. Para essas autoras torna-se indispensável
reconhecer que cada uma dessas faixas etárias tem interesses, necessidades,
gostos, motivações e habilidades. Em contrapartida, frisam que pensar a
biblioteca e o trabalho por ela desempenhado, levando em consideração as
especificidades de cada um de seus usuários e considerando-os como seres
independentes, pertencentes a diferentes gerações, com gostos e interesses
próprios de suas faixas etárias, já não é tão simples assim.
Reforçam as autoras a importância do estabelecimento das relações
comunitárias, considerando a cultura no seu aspecto de arregimentação de
pessoas em torno de uma prática comum. Com isso, enfatizam a importância
dos bibliotecários e bibliotecárias enquanto agentes culturais, tendo em vista
que são os profissionais que estabelecem relações com a comunidade utente
das bibliotecas.ABP é definida pelas autoras como:
[...] um espaço para a formação da identidade dos indivíduos; sua
função está alicerçada na criação de cidadãos livres por meio do acesso
e da participação das pessoas na cultura e no fornecimento de
informações que necessitam para tomar decisões. A biblioteca pública
tem um grande potencial de intervenção nas dinâmicas sociais se
considerada a partir da contribuição que pode realizar, direta ou
indiretamente, para a solução das desigualdades econômicas, culturais,
educativas
e
organizacionais,
possibilitando
o
equilíbrio
no
desenvolvimento das pessoas (JARAMILLO; MONTOYA-RÍOS, 2000, p.
30, tradução nossa)41.
Por meio dessa definição, as autoras conclamam o caráter formativo da
BP – numa lógica independente do ambiente escolar – para os aspectos
41
La biblioteca pública es un espacio para la formación de la identidad individual; su función
está cimentada en la creación de ciudadanos libres por medio del acceso y la participación de
las personas en la cultura y del suministro de información que requiere para tomar decisiones.
La biblioteca pública tiene un gran potencial de intervención en las dinámicas sociales si se
juzga a partir de la contribuición que puede hacer, directa e indirectamente, para la solución
de las desigualdades económicas, culturales, educativas y organizativas, al posibilitar el
equilibrio en el desarrollo de las personas.
�312
identitários dos sujeitos. Destacam o potencial de modificação das realidades
sociais a partir da BP e de diminuição da desigualdade com a ampliação das
possibilidades de acesso à informação em que a biblioteca atua. Reforçam,
ainda, as funções sociais da BP, uma vez que caracterizam essas instituições
como ambientes favoráveis ao exercício da liberdade expressiva e criativa por
meio da leitura, da escrita e de outros processos possíveis de interação e de
mediação informacional.
Indo mais além, no artigo “La biblioteca pública, un lugar para
laformación
ciudadana:
referentes
metodológicos
del
proceso
de
investigación”, Jaramillo (2010) assinala que no contexto das bibliotecas
públicas três práticas cidadãs transversais se explicitam com maior frequência,
são elas: a convivência, a participação e a autonomia. Para a autora, a
convivência se expressa nas normas e acordos comuns inscritos nas relações
interpessoais: respeito, diálogo, confiança e cuidado com o bem público
(JARAMILLO, 2010); a participação se verifica no discurso e nas práticas de
identidade, pertencimento e apropriação que esses espaços oportunizam.
Complementar a essas duas, a prática cidadã da autonomia se faz visível a
partir do reconhecimento de si e de que modo cada sujeito pode deliberar e
decidir sobre assuntos próprios e outros relacionados ao seu entorno.
A pesquisadora dá continuidade ao estudo do tema em sua tese
(JARAMILLO, 2011), na qual conclui que não se deve almejar estabelecer um
modelo universal de BP, posto a mesma configurar-se de acordo com os
contextos sociais e as dinâmicas comunitárias de onde se inserem. Afirma
também que a apreensão da BP, a partir de uma dimensão cidadã, implica em
adotar uma definição que supere a simples concepção de biblioteca enquanto
facilitadora de acesso à informação e ao conhecimento.
Nesses termos, Jaramillo (2011) atesta que deve ser levando em
consideração, também, que a BP deve representar um papel dinâmico e ativo,
com o estabelecimento de vínculos que possibilitem tornar realidade a
formação do sujeito, dotando-o de capacidades não apenas para exigir e
exercer seus direitos; não apenas como consumidor, mas também como
produtor e transmissor de informação e de conhecimento. A pesquisadora
�313
mostra-se, pois, signatária de uma BP demasiadamente atuante nos processos
formativos do sujeito, que se esmera em busca de autonomia, criatividade e
reflexão ante a realidade.
Em “O direito de ler e de escrever”, Silvia Castrillón (2011) ressalta,
entre outras importantes questões relacionadas às bibliotecas públicas, o papel
significativo que elas desempenham na formação cidadã. Defendendo que “ler
e escrever é um direito dos cidadãos, direito que devemos fazer cumprir e que,
por sua vez, implica um dever e um compromisso de muitos” (CASTRILLÓN,
2011, p. 15), a autora associa a leitura à escrita e vincula tais práticas ao
exercício da cidadania. Em face disso, pontua:
[...] somente quando a leitura constituir uma necessidade sentida por
grandes setores da população, e essa população considerar que a leitura
pode ser um instrumento para seu benefício e for de seu interesse
apropriar-se dela, poderemos pensar numa democratização da cultura
letrada. No entanto, deparamos aqui com um paradoxo: essa situação
só poderia ocorrer à medida que os níveis de desenvolvimento
melhorem e, ao mesmo tempo, diminuam as desigualdades.
Infelizmente, isso não é o que acontece (CASTRILLÓN, 2011, p. 16-17).
Castrillón discute em inúmeros trabalhos a necessidade de se levar em
consideração a leitura e a escrita como forma de apropriação de conteúdos
significativos para o exercício das relações sociais cotidianas. Em paralelo a
isso, reconhece o paradoxo estabelecido pela manutenção das desigualdades e
a consequente paralisação do desenvolvimento humano42 e social43 quando
essas práticas não são devidamente consideradas. A pesquisadora colombiana
deixa claro que a inserção no mundo das práticas leitoras “não é um luxo das
42
O conceito de desenvolvimento humano nasceu vinculado a um processo de ampliação das
escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo
que desejam ser. Diferentemente da perspectiva do crescimento econômico, que vê o bemestar de uma sociedade apenas por meio dos recursos ou pela renda que pode gerar, a
abordagem de desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as pessoas, suas
oportunidades e capacidades. A renda é importante, mas como um dos meios do
desenvolvimento e não como seu fim. Com o desenvolvimento humano, o foco é transferido do
crescimento econômico, ou da renda, para o ser humano. Disponível em:
http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0.html. Acesso em 23. jun.2020.
43
Em relação a 2014, o Brasil estagnou no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no valor
de 0,754, e no ranking mantém a posição 79 entre 188 países. Na América do Sul, o Brasil é o
5º país com maior IDH. Chile, Argentina, Uruguai e Venezuela aparecem na frente. Disponível
em:https://nacoesunidas.org/relatorio-do-pnud-destaca-grupos-sociais-que-nao-sebeneficiam-do-desenvolvimento-humano-brasil-estagnou-no-idh/. Acesso em: 23 jun. 2020.
�314
elites que possa ser associado ao prazer e à recreação, tampouco uma
obrigação imposta pela escola” (CASTRILLÓN, 2011, p. 19).
Ao transpor esse argumento para o universo das bibliotecas públicas, a
autora demarca em suas análises que o principal objetivo dessas instituições
deve ser o de converter-se “em meios contra a exclusão social, isto é, que se
constituam em espaços para o encontro, para o debate que dizem respeito a
maiorias e minorias” (CASTRILLÓN, 2011, p. 36). Nesses termos, propõe que a
BP seja pensada como lugar de encontro geracional, possibilitando, assim, o
convívio entre “crianças, jovens e adultos de todas as condições, leitores e não
leitores, escolares e não escolares” (CASTRILLÓN, 2011, p. 36), e que a
mesma seja capaz de apresentar respostas aos problemas e interesses de seus
usuários, facultando que esses sujeitos constituam novas perspectivas de
interação social.Para responder a esses desafios, Castrillón (2011) ressalta a
necessidade de se fazerem presentes no espaço das bibliotecas públicas
profissionais bibliotecários que sejam agentes culturais, dotados de habilidades
intelectuais que os tornem “capazes de assumir um compromisso ético e
político com seu país e com a sociedade” (CASTRILLÓN, 2011, p. 39). Ao
chamar a atenção para essa necessidade, a autora amplia as formulações do já
mencionado Manifesto da Unesco/IFLA sobre as bibliotecas públicas (1994),
posto preconizá-las como instituições sociais produtoras de condicionantes
políticas voltadas para o exercício da cidadania, em suas esferas específicas,
conforme veremos adiante. A partir desses apontamentos, impõe-se a cada
um desses espaços de mediação informacional, o desafio inovador de se
comprometerem permanentemente com a ampliação das possibilidades de
acesso e instrução dos sujeitos, bem como se acentua o engajamento político
e ético – tanto do profissional, quanto dos bens e serviços prestados – da
biblioteca, para o estabelecimento da justiça e da cidadania.
Castrillón (2011) afirma que “[...] o papel do bibliotecário é revalorizado
quando se aceita que seu trabalho supera o estritamente técnico-profissional e
se reconhece que esse trabalho permite a outros transcender e melhorar sua
condição humana” (CASTRILLÓN, 2011, p. 40). Por meio desse argumento,
Castrillón (2011) destaca o protagonismo do bibliotecário e sua decorrente
�315
(re)valorização a partir da superação dos aspectos estritamente técnicos
ligados ao exercício profissional, passando o mesmo a ser reconhecido pelo seu
trabalho de ação cultural, mediação informacional na interação com os sujeitos
que acessam a biblioteca. Nesse sentido, a participação de profissionais
bibliotecárias e bibliotecários engajados no compromisso com as comunidades
que atendem é fundamental para que essas ações sejam eficazes.
Em paralelo a isso e tendo-se em vista o processo informacional, urge a
necessidade de demarcar o protagonismo das bibliotecas em todas as etapas
da circulação da informação social e utilitária, especialmente em territórios de
alto grau de vulnerabilidade. Faz-se necessário, também, a discussão de ações
voltadas para a recepção crítica da informação que circula nesses espaços.
Nesse sentido, assim como Castrillón (2011), acreditamos ser importante
buscar:
[...] ampliar o leque da participação ativa das bibliotecas na sociedade.
O interesse em contribuir para a democracia, para a inserção dos
cidadãos na vida social e política, para se abrir como espaço de
participação e, em poucas palavras, para contribuir para o exercício da
cidadania, é um desejo de bibliotecas e bibliotecários. (CASTRILLÓN,
2011, p. 72).
De certa forma, é isso que também assinala Gaiman (2013),sem perder
de vista a historicidade das bibliotecas, ressalta os vários usos possíveis desses
espaços informacionais:
Bibliotecas são lugares que pessoas vão para obter informação. Livros
são apenas a ponta do iceberg da informação: eles estão lá, e
bibliotecas podem fornecer livros gratuitamente e legalmente [...] as
bibliotecas também são, por exemplo, lugares onde pessoas que não
tem computadores, que podem não ter conexão à internet, podem ficar
online sem pagar nada: o que é imensamente importante quando a
forma que você procura empregos, se candidata para entrevistas ou
aplica para benefícios está cada vez mais migrando para o ambiente
exclusivamente online. Bibliotecários podem ajudar estas pessoas a
navegar neste mundo (GAIMAN, 2013).
De modo complementar, os apontamentos de Gaiman (2013) encontram
ressonância no estudo de Silveira (2014), que caracteriza a biblioteca como
um espaço vivencial a partir das referências e dos suportes informacionais
existentes. Silveira (2014) conceitua a BP como um lócus de identificação
�316
possível entre o espaço e os sujeitos, para a busca e resolução de suas
necessidades informacionais do cotidiano.
Gaiman (2013) acentua os usos da biblioteca por meio da conectividade,
em contrapartida Silveira (2014) analisa os usos possíveis das bibliotecas a
partir da identificação do indivíduo com esses espaços e os processos de
enraizamento estabelecidos entre sujeitos e as bibliotecas ao longo de sua
trajetória de vida. De modo geral, ambas as percepções podem ser atribuídas
às ações decorrentes dos processos de empoderamento e de emancipação dos
sujeitos e das comunidades proporcionados pelas bibliotecas públicas.
Por sua vez, Libânio (2017), ao estudar práticas culturais em contextos
periféricos, sinaliza para a importância de se levar em consideração a
territorialidade e as possibilidades de acesso informacional. No contexto desse
estudo, o direito à cidade é tratado como uma condicionante sem a qual não se
pode falar em urbanidade dos sujeitos, assim como “é possível também
objetar que sem a efetivação do acesso às facilidades urbanas tal direito corre
risco de se tornar letra morta” (LIBÂNIO, 2017, p. 54). Com isso, a
pesquisadora enfatiza a necessidade do estabelecimento de sistemas de
garantias de aplicabilidade das políticas públicas estabelecidas para todos os
campos da atuação governamental, incluindo-se a cultura. A autora destaca
ainda os entraves que se apresentam à concretização efetiva do “direito à
cidade”:
É necessário considerar, ao se perceber o hiato existente entre o direito
à cidade e sua efetivação, que a segregação socioespacial e as
desigualdades de acesso da população são condicionadas por fatores
diversos, diretamente proporcionais às fragilidades ou vulnerabilidades
sociais [...] Para romper a segregação socioespacial e garantir o direito
à cidade seria necessário, portanto, tornar efetivo o acesso à estrutura
de oportunidades presentes no espaço urbano (LIBÂNIO, 2017, p. 54).
Tendo em vista fundamentar sua crítica, Libânio parte do conceito de
acesso inscrito na obra de Marques (2010 apud LIBÂNIO, 2017), o qual se
alicerça em torno da estrutura de oportunidades presentes na conjuntura
socioespacial das cidades, aliado à presença de agentes capazes de dinamizar
tais oportunidades, para apontar a necessidade de rompimento da segregação
socioespacial e a decorrente garantia de direito à cidade. A autora destaca que
�317
a vulnerabilidade, por sua vez, seria causada pela dificuldade dos indivíduos
em acessar as oportunidades, não somente econômicas, mas também culturais
e sociais, o que consequentemente dificultaria o uso dos recursos existentes.
Atentando para tais apontamentos, torna-se ainda mais relevante, no contexto
geral dessa pesquisa, clarificarmos quais são as funções e como podemos
mensurar a importância social das bibliotecas públicas.
4 BIBLIOTECA PÚBLICA: FUNÇÕES DE MEDIAÇÃO, IMPORTÂNCIA
SOCIAL E COMUNITÁRIA
As bibliotecas públicas são, em sua maioria, caracterizadas como
instituições que oportunizam as relações comunitárias a partir do acesso à
informação e que impulsionam as relações afetivas e relacionais, bem como a
produção e disseminação do conhecimento. Em função disso, partem da
preservação e do acesso à cultura para ampliar as possibilidades de convívio
entre os distintos sujeitos que delas fazem uso.
Objetivando
fortalecer
no
contexto
das
bibliotecas
públicas
os
mecanismos e dinâmicas promotores de uma “percepção crítica da realidade”
(FREIRE, 1981, p. 36), tais estudos dedicaram-se, via de regra, a analisar os
processos de difusão da cultura por meio da animação/ação cultural. Inscritos
nos campos da Sociologia, da Pedagogia, das Ciências Políticas e da
Biblioteconomia inúmeros pesquisadores referendaram a necessidade de uma
movimentação positiva das camadas menos favorecidas rumo à ampliação do
acesso à informação. Diante disso, faz-se necessário estabelecermos um
diálogo com Victor Flusser (1983) e Teixeira Coelho (1986; 1997), uma vez
que ambos vinculam a ação cultural à ação bibliotecária. Flusser (1983)
defende essa aproximação apontando que:
Para o propósito de uma ação cultural, as duas posições diante da
cultura – acervo e contexto – devem ser constantemente consideradas,
pois a ação cultural é basicamente mediação e criação de acervo,
inseridas em contexto cultural bem definido (FLUSSER, 1983, p. 148).
�318
Para Coelho (1986) o termo ação deve ser compreendido como uma
realização constante, que não possui início nem fim demarcados, sendo a ação
cultural “algo que se faz com, de lado de, por dentro, desde a raiz – um
processo que tem sujeitos, que forma sujeitos” (COELHO, 1986, p. 100 –
destaque do autor). Coelho (1997) indica que a ação cultural é uma contínua
descoberta, exigindo, pois, seu constante reexame e reelaboração.
O estudo de Maria Clara Fonseca (2005), “Biblioteca pública: da extensão
à ação cultural como prática de cidadania”, promove um resgate histórico
acerca da BP, conferindo especial atenção aos processos de gradação da ação
extensionista para uma ação cultural freireana. Segundo Fonseca (2005), a BP
surge da necessidade de preservação dos registros gráficos, sonoros e visuais,
com vistas à transmissão do conhecimento às futuras gerações. Razão pela
qual toda BP tem sua funcionalidade atrelada à produção cultural, à
organização e disseminação de serviços e informações, assemelhando-se a
uma caixa do tempo, onde o conhecimento é preservado e propagado para
gerações futuras. Dito com as palavras da autora:
A necessidade de democratizar e interiorizar os serviços bibliotecários
torna-se cada vez mais urgente. O tratamento elitista que sempre
priorizou o serviço da biblioteca pública ao atender exclusivamente os
habitantes do centro da cidade, deve dar lugar para o atendimento, ou a
palavra, aos chamados “não-públicos”, que são as populações
suburbanas ou rurais que não tem noção de cidadania, não conhecem
seus direitos e deveres na sociedade, e que até há pouco tempo eram
chamados de minoria, mas hoje em termos quantitativos, atingem mais
da metade da população brasileira. A biblioteca pública como entidade
prestadora de serviços deve utilizar cada vez mais metodologias
adequadas para diagnosticar as necessidades de informação,
possibilitando o atendimento às aspirações da comunidade (FONSECA,
2005, p. 46).
Ao assinalar tais aspectos, Fonseca (2005) reforça a possibilidade de ser
a BP a entidade que presta serviços de informação para o cidadão, a partir de
metodologias adequadas, com o estabelecimento de uma ação cultural
realizada como prática de cidadania.
Os serviços de promoção e mediação da leitura visam proporcionar, por
meio do estímulo criativo, que cada participante se aproxime do universo dos
livros, valendo-se tanto de referências inscritas na realidade concreta de seus
usuários, quanto de alusões ao mundo do imaginário. A participação em
�319
atividades recreativas também é importante para a manutenção das relações
entre bibliotecários e bibliotecárias e seus públicos. Por meio dessas ações,
torna-se possível aos sujeitos envolvidos criarem e recriarem laços de
solidariedade pautados pelo exercício da imaginação, da valorização da
criatividade, do acesso à cultura letrada e da experimentação de emoções
próprias do contexto narrativo.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma biblioteca pública é também lugar do imaginário, da fruição e do
exercício da criatividade. É o lugar do despertar para o conhecimento formal e
também para a ampliação de novas possibilidades de informação e estímulo
cognitivo. É o lugar da ação, sobretudo da ação cultural, posto que as práticas
sociais
cotidianas
aproximam
as
pessoas
em
busca
de
autonomia,
fortalecendo, assim, a capacidade decisória de cada cidadão. Dito isso, ratificase a importância e as funções sociais atribuídas às bibliotecas públicas, que se
alicerçam em dinâmicas específicas de produção e fruição cultural das
localidades nas quais cada uma dessas instituições se insere.
As bibliotecas de acesso público, em sua maioria, se caracterizam por
serem instituições que propiciam o acesso à informação e que facilitam a
produção e disseminação do conhecimento. Por essa razão, partem da
organização e das oportunidades de acesso à cultura (quer seja escrita,
imagética, audiovisual, táctil, entre outras) para promover e ampliar as
possibilidades de convívio entre os distintos sujeitos que delas fazem uso.
Em contrapartida, a BP não se sustentará enquanto local de efetiva
participação e engajamento comunitário, se mantiver uma postura resistente e
encastelada
no
contato
com
seus
potenciais
usuários,
privilegiando
a
preservação e a conservação de seus acervos acima de qualquer outra
conduta. Com essa afirmação, não queremos defender uma depreciação
desenfreada dos acervos, uma total falta de controle do que há na biblioteca,
do que entra e do que sai. Pelo contrário: a biblioteca, conforme preconiza
�320
Ranganatham (2009), deve ser um organismo em crescimento, não somente
quantitativo, mas também na capacidade de se manter viva e ativa nos
contextos sociais em que se faz presente.
Nesse sentido, não devemos desprezar os aspectos afetivos que
fortalecem as ações de promoção da leitura, a partir dos vínculos estabelecidos
entre os cidadãos-usuários e os mediadores de leitura, situação que se
converte em ações de acolhida, segurança e aconchego. Soma-se a isso a
representação da Biblioteca como espaço referencial para a comunidade em
função dos bens e serviços culturais por ela ofertados.
Espera-se que as bibliotecas de acesso público sejam espaços de
interação social e de participação comunitária, tendo os bibliotecários e as
bibliotecárias como agentes culturais desta ação. Estima-se também que esses
espaços impactem positivamente na vida e na realidade social em que se
inserem, sendo a biblioteca pública reconhecida como um lugar que oportuniza
não apenas o acesso à informação, às melhores condições de produção de
conhecimento, aos insumos da cultura humana e local, à promoção da leitura,
da educação e da cidadania, mas, também, a criação de laços de solidariedade
e o fomento à paz social.
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Processos Técnicos, 2000. (Documentos técnicos; 6).
�322
DADOS BIOGRÁFICOS
Alison Barbosa de Souza: Graduado em Biblioteconomia.
Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de PósGraduação em Ciência da Informação da UFMG. Pósgraduado em Gestão Cultural pela Faculdade UNA.
Bibliotecário na Fundação Municipal de Cultura da
Prefeitura de Belo Horizonte. Atua como coordenador de
Centro Cultural, ocupando o cargo de Gestor.
E-mail: alisonbarbosa@gmail.com
�323
CAPÍTULO XVII - Mediação literária e a literatura
afro-brasileira nas bibliotecas públicas
Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus
Gustavo Tanus
1 BIBLIOTECA PÚBLICA E A IMPORTÂNCIA DE SEUS ACERVOS
A origem das bibliotecas públicas está vinculada ao movimento free
library que surgiu na segunda metade do século XIX, nos Estados Unidos e na
Inglaterra. A constituição das instituições bibliotecas públicas, abertas a à
sociedade, emerge em decorrência da revolução industrial, que passou a exigir
mão
de
obra
qualificada,
ensino
formal,
aperfeiçoamento
individual
e
desenvolvimento nacional (NOGUEIRA, 1986). Segundo Mueller (1984), a
biblioteca pública serviria para manter a ordem social e o progresso nacional,
e, especialmente, a democracia. A constituição do Estado burguês, capitalista e
liberal aflorou o desenvolvimento da ideologia liberal (que postula a igualdade
entre os homens), de modo que a biblioteca pública pudesse ser esse espaço
aberto a todos e gerido pelo Estado como via de democratização do saber
(MULLER, 1984).
Não obstante, a biblioteca pública já em sua constituição com o discurso
de atender a todos, principalmente o proletariado, demonstrou fraturas nesse
processo. Concretamente, seu exercício não atendia, de fato, às expectativas
reais da classe trabalhadora, a começar pela sua localização, horário de
funcionamento e pelos acervos e serviços disponíveis (MUELLER, 1984). Assim,
a biblioteca acabou perpetuando o sistema estabelecido e a ideologia
dominante, pois seu papel social, desde a sua idealização, era o de educar as
classes baixas, formando uma coesão ideológica que contribuísse para a
preservação
dos
valores
sociais
vigentes
legitimadores
dos
interesses
hegemônicos. Ao longo da história das bibliotecas públicas, encontramos na
literatura da área a denúncia e o alerta de que apenas uma camada
�324
privilegiada, uma pequena parcela da população, possui o livre acesso aos
bens culturais, sendo beneficiada pelos serviços e produtos que essas
bibliotecas deveriam oferecer à sociedade como um todo sem qualquer tipo de
exclusão.
Corroboramos com a ideia de Almeida Júnior (1997) e Luís Milanesi
(1986) de que as bibliotecas acabaram constituindo-se em “aparelhos
ideológicos do estado” (ALTHUSSER, 1980), quando, na verdade, elas
deveriam ser espaços propícios para o debate, possibilitando a construção de
um ambiente democrático e de questionamentos, inclusive das próprias ações
do Estado. As bibliotecas acabaram servindo ao Estado a partir da manutenção
de uma ideologia da classe dominante, por meio da oferta dos produtos
culturais gestados pela classe hegemônica. Esse afastamento da real intenção
da
biblioteca
pública
resultou
na
criação
das
bibliotecas
populares
e
comunitárias, as quais por força e vontade da comunidade mantém esses
espaços culturais sem o apoio do poder público. Sobre as bibliotecas como
aparelhos do estado é importante destacar que:
As instituições pedagógicas e as de memória têm a sua parte na
manutenção da cultura hegemônica, porque movimentam um
mecanismo de exclusão que funciona não pelo conflito desimpedido
entre a cultura que produzem em detrimento das culturas das
alteridades, mas sim pela oferta quase exclusiva de bens simbólicos
produzidos por essa cultura, em um processo que seus sujeitos
passariam a vê-la como um bem universal (TANUS; TANUS, 2018, p.
3906).
O discurso do “atendimento a todos”, em que se baseiam as bibliotecas
públicas, acabou promovendo o apagamento dos grupos minoritários, que não
são representados nos acervos e nos serviços oferecidos aos usuários. É mais
comum a manutenção daqueles que frequentam a biblioteca, do atendimento
ao leitor frequente com os “gostos comuns”, do que voltar-se para aqueles que
não a frequentam, que não têm o hábito de leitura, que não se veem
contemplados nos acervos das bibliotecas, como os autores das alteridades,
não apenas suas temáticas. As literaturas Negra, Indígena, LGBTQIA+
brasileiras não estão contempladas a contento nos acervos das bibliotecas
públicas, o que demonstra uma falha das instituições em cumprir sua efetiva
missão social de atendimento à população. Destacam-se nos espaços das
�325
bibliotecas
públicas
estrangeiras,
o
que
as
não
literaturas
seria
um
consideradas
problema
clássicas,
se
não
nacional
fossem,
e
quase
exclusivamente, o foco desses acervos.
Por seu turno, as bibliotecas públicas deveriam zelar para que os “[...]
interesses culturais estejam representados nos materiais do acervo da
biblioteca, cuja contribuição deve refletir a diversidade de culturas presentes
na comunidade” (IFLA, 2012, p. 10), devendo, para isso, acompanhar
discussões presentes na sociedade, disponibilizando recursos em diferentes
formatos, suportes, temáticas e autorias. Diante disso, o Sistema Nacional de
Bibliotecas Públicas do Brasil sinalizou que: “dentro desse contexto, cabe a
biblioteca pública atuar, como instituição democrática por excelência, e
contribuir para que esta situação [de desigualdade] não se acentue ainda mais
e que a oportunidade seja oferecida a todos” (FBN, 2010, p. 17). O(a)
bibliotecário(a) depara-se com esse enorme desafio: mobilizar para dentro e
fora do espaço da biblioteca a informação, de modo personalizado e
individualizado, o acesso ao mundo informacional que não se restrinja ao livro
e nem aos autores clássicos notadamente presentes nos acervos.
Pensar no todo, nesse coletivo de usuários que frequentam as bibliotecas
públicas, requer discutir sobre as diferenças e, sobretudo, as desigualdades
que fundamentaram e ainda sustentam a nação brasileira. Consideramos
urgente trazer para o ambiente da biblioteca a discussão sobre a diversidade
étnica e cultural tendo em vista que é dever das bibliotecas promover o acesso
aos serviços e recursos para comunidade, sem discriminação de idade, raça,
sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social (IFLA, 2012).
As bibliotecas públicas devem se manter conectadas às necessidades das
comunidades, atuando como “agentes de mudanças” de modo proativo no
desenvolvimento social e cultural do indivíduo e da comunidade (IFLA, 2012).
É preciso olhar para a comunidade, para as demandas plurais e singulares,
especialmente, para os grupos excluídos socialmente, postos à margem da
sociedade, focando nessa população, elaborando estratégias para trazê-la para
a discussão sobre a função das bibliotecas e a distribuição equitativa dos bens
culturais e simbólicos da sociedade.
�326
Aproximar os usuários/leitores com o espaço da biblioteca envolve, antes
de entendê-los a partir das suas subjetividades, com os serviços e os produtos
oferecidos pelas bibliotecas alinhados com as comunidades. Pensar a diferença
entre o discurso sobre o que a biblioteca é ou o que deveria ser, conduziriam
suas ações e práticas cotidianas, inclusa a mediação, com toda a sua
potencialidade transformadora. Dito isto, é preciso extrapolar a oferta de
serviços “comuns”, isto é, básicos, que ocorrem em todas as bibliotecas,
como: os empréstimos e atendimentos presenciais para sanar possíveis
dúvidas; indo atrás do que poderiam ser as demandas, necessidades,
motivações, interesses dos usuários.
Os próprios acervos das bibliotecas públicas, constituídos também por
doações, precisam ser repensados, questionados e criticados. É certo que as
bibliotecas públicas possuem geralmente milhares de livros em seus acervos,
entretanto, o volume não representa necessariamente uma qualidade desse
acervo. Assim, a seleção e a avaliação do acervo é, ou deveria ser, o ponto
central. Isto porque se as bibliotecas são instituições responsáveis pela
conservação da herança nacional, faz-se urgente a reflexão sobre se esse
legado representa, de fato, a sociedade como um todo. Uma instituição que
privilegia um tipo de discurso mantenedor do status quo dominante não
cumpre a sua missão de atender a comunidade e a de distribuição dos bens
simbólicos e culturais plurais. A variedade de oferta é condição indispensável
para atingir seu papel social e democrático.
Assim, a negação da oferta das literaturas, é um dos elementos que
prejudica a formação do leitor e a própria conexão da biblioteca com a
comunidade onde se insere que, por sua vez, compromete a mediação em
suas diversas outras manifestações. Em suma, acervos mais representativos
da diversidade são importantes porque inserem as bibliotecas em um ciclo
virtuoso em que os acervos contribuirão para a atração do usuário e
comunidades leitoras, fortalecendo seus laços com a instituição biblioteca, que
cumprirá seu papel formador e facilitador dos diálogos.
�327
2
ADENTRANDO
OS
ACERVOS
DAS
BIBLIOTECAS
PÚBLICAS
BRASILEIRAS
Longe de pensar as bibliotecas como instituições burocráticas, mas, sim,
como instituições de formação a partir de processos dinâmicos, de locais de
reflexo à espaços de reflexão. Pensando nisso, o foco desta análise é a
literatura, o acervo de livros literários. A literatura se configura tanto como um
dos modos possíveis de representação da realidade, quanto contribui, a sua
maneira,
para
a
re-criação
dessa
realidade
e
de
outros
modos
de
relacionamentos com ela. É com essa leitura literária que ocorre o deslocar-se
em direção ao outro, uma experiência de alteridade, cujo movimento é
importante para a (des)construção dos modelos e a construção de identidades,
que é ao mesmo tempo singular e plural (TANUS; TANUS, 2018).
De modo análogo ao que foi dito sobre a literatura, a própria biblioteca
pública pode oferecer, por conta de seus acervos constituídos e mesmo pelas
políticas de formação desses acervos, questões sobre a comunidade nacional e
as
matrizes
culturais
que
formam
essa
comunidade.
Salientamos
a
necessidade de olhar detidamente para os acervos, tendo em vista que a
formação e seleção dos acervos são atividades racionais, críticas, atos políticos
que devem ser refletidos e avaliados, pois a coleção disponível aos usuários
provoca efeitos na sociedade e compromete a efetivação de um Estado
Democrático de Direito.
Como atividade incorporada às ações consolidadas, sabemos que os
estudos de usuários não são realizados pelas bibliotecas, como deveriam ser.
Embora as justificativas sejam decisivas, como a falta de equipe necessária
para o empreendimento, parece óbvio que uma compreensão dos porquês para
tal ação forneceria à instituição elementos autênticos para fundamentar um
pedido formal de contratação de bibliotecários. De modo análogo, outras ações
indispensáveis, tais como avaliação da formação e desenvolvimento dos
acervos, atividades que deveriam ser essenciais nos espaços das bibliotecas
públicas que apresentam o desafio de atender indivíduos diversos, não são
devidamente realizadas.
�328
Dito isto, um dos possíveis, e até necessários, caminhos para o(a)
bibliotecário(a)
pesquisador(a)
é
também
como
rotina
o
trabalho
de
desenvolver pesquisas vinculadas à missão da instituição e a avaliação dos
produtos e dos serviços. Destarte, para este estudo, recorremos à “avaliação
do acervo por meio do cotejo com bibliografia” (LANCASTER, 1996) para,
justamente, diagnosticar as presenças e as ausência da literatura afrobrasileira nos acervos das bibliotecas públicas estaduais brasileiras. Assim, foi
utilizado o índice de autores, escritoras e escritores afro-brasileiros, arrolados
no portal literafro − O portal da Literatura Afro-brasileira44, que, desde 2001
vem reunindo pesquisadores com vistas à percepção de autores e autoras
identificados com o projeto de uma literatura negra. O portal é uma espécie de
arquivo dinâmico de discursos que dispõe aos usuários informações sobre
autores e autoras negros e, em alguns casos, sobre seu processo de escritura,
sobre sua obra nas informações bibliográficas e apresentação de excertos e,
também, de sua crítica, que é localizada, definida, reunida.
Assim, seu objetivo não é somente ser um ponto de convergência de
teorias e conceitos já existentes, mas um espaço de/para articulação de
pensamentos e perspectivas, de textos de escritoras e escritores negros, que
somam, atualmente mais de 130, desde o século XVIII até os tempos atuais, e
seus
respectivos
textos
críticos.
A
dinâmica
estrutura-se
de
maneira
rizomática, num arranjo de discursos, cujo destino são os deslocamentos
possíveis de serem realizados por pesquisadores dentro das academias, pelos
professores e alunos dentro das salas de aulas, e também pelos bibliotecários,
em suas ações de mediação da informação. Assim, sendo um espaço de
divulgação e estímulo à pesquisa e à reflexão sobre a produção literária de
autoria negra, oferece insumos e aportes crítico-teóricos para a formação dos
profissionais que contribuirão para que suas atividades rotineiras contemplem,
de fato, a modificação da sociedade brasileira.
44
Esse portal, disponível no endereço http://www.letras.ufmg.br/literafro/, é fruto do trabalho
do Grupo de Interinstitucional de Pesquisa Afrodescendências na Literatura Brasileira, sediado
no Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade – NEIA, da Faculdade de Letras da
UFMG.
�329
Em relação à literatura, além da sua importância já dita, entender a
especificidade da literatura afro-brasileira, compreender seu espaço de recriação é deveras importante porque sua conceituação, sua particularidade diz
muito sobre as instituições vinculadas à produção da cultura e de sua guarda.
Como disse Cuti (2010), as conquistas da população negro-brasileira têm sido,
desde sempre, minimizadas justamente porque o propósito de uma nação
exclusivamente branca tem continuado a sobrepujar as mentes que a
comandam em suas diversas instâncias de poder. Ainda segundo Cuti (2010,
p. 11-12), com surgimento das personagens, dos autores e leitores negros
tornou-se possível à literatura brasileira a colocação de questões referentes a
sua formação, com a revelação dos elementos culturais das populações da
diáspora, no que se refere às formas e temas, à modificação do paradigma
crítico-literário.
Concomitante a isso, foram trazidos para a discussão aspectos diversos
que, por conta do domínio ideológico, estavam obliterados, silenciados, por
séculos. A literatura afro-brasileira, por meio de textos de autoria negra,
reelabora as imagens da literatura oficial, rediscutindo-as, reencenando-as e
re-apresentando-as,
fazendo
insurgir
questionamentos
acerca
das
invisibilidades. Ela não só valoriza as positividades, a inteligência, a criação do
segmento étnico-racial que a compõe, como trabalha – estética, politicamente
– formas, o pensamento, a linguagem, os temas próprios da cultura negra
(SOUZA, 2017).
Dito isto, adentramos os acervos das bibliotecas, para realizar o
diagnóstico dos acervos das bibliotecas públicas brasileiras. O levantamento –
dos autores e títulos dos livros – foi sistematizado em uma planilha, para que
fosse possível pesquisar no catálogo online das bibliotecas. Para o estudo dos
acervos, concentramo-nos na composição da listagem dos títulos das obras
que atendessem aos seguintes critérios: obras literárias (romances, contos,
infantil, teatro) publicadas individualmente e em coautoria, ou seja, obras
produzidas em parcerias.
Foram identificados 133 autores e 981 obras de literatura a partir da
consulta e extração das informações no portal Literafro realizada no ano de
�330
2019. Quanto a autoria identificamos 37 do sexo feminino e 96 do sexo
masculino. A naturalidade dos autores arrolados concentra-se na região
Sudeste, com 82 escritores, e no Nordeste, com 36 escritores, seguidas das
regiões Sul, com 10 escritores, 2 da região Norte e 2 do Centro-Oeste, e uma
nascida nos Estados Unidos (no apêndice apresentamos, na íntegra, os nomes
dos autores(as).
Em seguida, para verificar as presenças desses escritores e escritoras
negros, fez-se necessário identificar quais bibliotecas públicas brasileiras
possuíam catálogo online disponível para efetuar as consultas, a partir dos
critérios: nome dos autores e de suas obras, atendendo ao recorte da pesquisa
(autoria e texto literário). Das 27 unidades federativas brasileiras, sendo 26
estados
e
um
distrito
federal,
encontramos
o
catálogo
online
em
funcionamento em apenas 14 instituições. Constatamos, infelizmente, que
apenas algumas bibliotecas públicas estaduais disponibilizam o catálogo online,
o que prejudica o conhecimento e o acesso à informação, a autonomia dos
usuários em realizarem suas buscas e, neste caso, a inviabilidade de se
conhecer de modo mais amplo a realidade dos acervos brasileiros.
Expomos, então, a seguir, o quadro 1 que demonstra a frequência dos
títulos presentes e ausentes, apresentados aqui de modo geral, a partir da
consulta ao catálogo das seguintes bibliotecas públicas estaduais:
Quadro 1: Presenças e ausências de títulos nos acervos das bibliotecas públicas brasileiras
ESTADO
BIBLIOTECA
AUSENTE PRESENTE
RIO DE JANEIRO
Biblioteca Parque Estadual
726
255
PARANÁ
Biblioteca Pública Estadual do Paraná
751
230
MINAS GERAIS
Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais
753
228
BAHIA
Biblioteca Pública Estadual da Bahia
814
167
SÃO PAULO
Biblioteca de São Paulo
877
104
PARÁ
Biblioteca Pública Estadual Arthur Viana
929
52
BRASÍLIA
Biblioteca Nacional de Brasília
923
58
SANTA CATARINA Biblioteca Pública Estadual de Santa Catarina
ESPÍRITO SANTO Biblioteca Pública Estadual Levy Cúrcio da Rocha
943
38
951
30
MATO GROSSO
RIO GRANDE DO
SUL
Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça
962
19
963
18
SERGIPE
Biblioteca Pública Estadual Epifânio Dórea
967
14
ALAGOAS
Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos
977
4
Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul
�331
ESTADO
PIAUÍ
BIBLIOTECA
Biblioteca Pública Estadual Desembargador
Cromwel de Carvalho
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
AUSENTE PRESENTE
978
3
A ausência de catálogos on-line das bibliotecas públicas brasileiras
impossibilita ao usuário o acesso remoto ao acervo da biblioteca, atrapalhando
não apenas as pesquisas para seleção de obra, mas também a constatação das
lacunas nas estantes, e a possibilidade de contribuição para a melhoria desse
acervo. Os números que representam a presença das obras de literatura dos
autores e autoras negras arrolados no portal literafro é desalentador. A maioria
das bibliotecas não dispõe de mais de 100 títulos dentre os 981 títulos
identificados, conforme exposto no quadro em que se apresentou a quantidade
de títulos presentes nos acervos da maior para a menor frequência. As
bibliotecas que apresentam uma maior variedade de títulos são da região
Sudeste, como também é a naturalidade dos autores listados, e onde também
há uma maior concentração de editoras que publicam autores e autoras
negras. Cumpre ainda destacar que os autores Machado de Assis e Lima
Barreto, dois autores negros, considerados cânones da literatura brasileira
estão, como é suposto, presentes nos acervos dessas bibliotecas pesquisadas,
por isso optamos por não realizar a identificação de suas obras nos acervos;
entretanto decidimos manter a verificação de autoria.
De modo geral, podemos dizer que os autores mais encontrados nas
bibliotecas públicas brasileiras são: Júlio Emílio Braz, Joel Rufino dos Santos e
Rogério Andrade Barbosa, com suas obras de literatura infantil e juvenil. Além
desses autores destacamos também: Edimilson de Almeida Pereira, totalizando
os quatro autores mais recorrentes nos acervos analisados. Entre as mulheres
registramos uma ínfima participação delas nos acervos, quando elas estão
presentes não há uma quantidade significativa de títulos presentes. Dentre as
mulheres mais presentes nos acervos destacamos: Carolina Maria de Jesus,
Conceição Evaristo, Maria Firmina dos Reis, Mãe Stella de Oxóssi, Geni
Guimarães, Cyana Leahy-Dios, Madu Costa, Heloisa Pires Lima, Cidinha da
Silva. Entretanto, quando comparamos a presença da autoria masculina e da
�332
autoria feminina, a primeira é significativamente maior. As mulheres são uma
minoria nos acervos seja pela sua presença como autoras seja pelo
quantitativo de títulos presentes nos acervos.
De modo geral, a partir desse retrato dos acervos das bibliotecas
públicas é possível dizer que esses acervos – por variáveis mais ou menos
conhecidas, como: verba, produção editorial, legislação e a própria política de
formação e desenvolvimento de acervo – operam com a exclusão, apagamento
e
silenciamento
da
literatura
produzida
pelos
autores(as)
negros(as).
Percebemos uma concentração da presença de títulos em poucos autores,
revelando uma baixa variedade de autores e autoras negros de literatura afrobrasileira identificados a partir do referido Portal. Essa ausência de títulos e
autores nas bibliotecas públicas reforça a estrutura racista e preconceituosa da
sociedade brasileira, quando tal instituição deveria combater esse movimento
excludente e promover o acesso a todos, especialmente, aos usuários negros e
pardos, maioria da população, em acessar a literatura negro-brasileira.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Se os acervos das bibliotecas têm refletido
durante muito tempo a ideologia, deve-se grande
parte
à
seleção
feita
pelo
bibliotecário”
(MARANON, 1980, p. 56).
Passados quase quarenta anos dessa assertiva e dezesseis anos da
instituição da Lei 10.639/2003, os acervos das bibliotecas públicas ainda não
contemplam em toda sua potencialidade os autores e autoras negras de
literatura afro-brasileira. Apesar dos muitos avanços das bibliotecas públicas
em seus serviços e dinamizações refletidas no próprio conceito de “biblioteca
viva”, que traz o envolvimento da instituição com o usuário de forma
acentuada, quando se aborda no plano das alteridades, do desenvolvimento de
acervos de uma outra literatura que não a clássica, a canônica, a qual é
formada por homens, brancos, com cursos superiores, escritores, vinculados
ao eixo Rio de Janeiro e São Paulo (DALCASTAGNÈ, 2014). É preciso reforçar a
importância dos bibliotecários(as) para a formação e desenvolvimento dos
�333
acervos, buscando repensar constantemente o lugar de atuação e os efeitos
gerados pelos mediadores de cultura e de literatura nesses espaços públicos
que são as bibliotecas.
Está evidente que sem acervos de literatura afro-brasileira não há
verdadeiramente uma democratização do acervo, da biblioteca pública, como
se deseja e como é indispensável. A mediação também continua, por sua vez,
comprometida, pois os acervos são um dos serviços de suma importância para
a comunidade, que, no caso da brasileira, é de maioria parda e negra. Há,
também, o comprometimento da mediação literária na biblioteca pública
devido à oferta dos mesmos títulos que reforçam uma identidade nacional
fundamentada em uma unidade, uma coesão que não representa uma
sociedade étnica e racialmente plural, como é a brasileira.
Compreendemos que o profissional bibliotecário deve ter consciência da
relevância de formar e desenvolver acervos que propiciem o acesso à leitura
de livros a todos, para além do reforço apenas do cânone tradicional, que já
compõe os acervos de quase todas as bibliotecas brasileiras. A diversidade e o
acesso à informação de modo mais democrático são fundamentais para a
constituição de uma sociedade menos desigual, fundamentada na pluralidade,
a qual teria como base cidadãos bem informados, que possam, por meio do
acesso à leitura, fortalecer suas identidades, suas comunidades.
Se a apropriação da informação é condição sine qua non para ela existir,
reiteramos também que os acervos construídos a partir da “bibliodiversidade”
é também condição urgente para que as bibliotecas constituam como
instituições democráticas contribuidora para uma efetiva democracia. A
biblioteca pública por meio dos seus acervos, em especial, os livros de
literatura, possibilita a construção de uma autoestima e o reconhecimento da
alteridade, necessárias para o desenvolvimento da cidadania. Isto justamente
porque a “literatura é poder, poder de convencimento, de alimentar o
imaginário, fonte inspiradora do pensamento e da ação” (CUTI, 2010, p. 12).
Desse modo, “As coleções e os serviços [que] não devem ser submetidos
a qualquer forma de censura, seja ideológica, política ou religiosa, nem de
pressões comerciais”. (IFLA, p.12), não podem servir a uma “Política de
�334
silenciamento” dos afro-brasileiros na biblioteca, lugar da escrita da memória e
da história nacionais (CARDOSO, 2015). É preciso, portanto, que as bibliotecas
públicas se atentem para uma “política de reparação de seus acervos”, com
vistas a “descolonizar os acervos” (TANUS; TANUS, 2018; TANUS, et al, 2020).
É preciso expor essa reparação dos documentos oficiais de formação e
desenvolvimento de acervos e aplicar essa mudança na composição dos
discursos com vistas a contemplar a inteligência negra, representada pelos
intelectuais, tradutores, editoras, revisores, ilustradores, entre outros, e,
sobretudo pelos autores e autoras negras.
O portal de Literatura afro-brasileira, que serviu como fonte de
informação para identificação das obras e dos autores, pode constituir, para
o(a) bibliotecário(a), para quem ainda desconheça a produção intelectual
negra, em um dos caminhos para se iniciar a lista de seleção de obras para
composição dos acervos das bibliotecas públicas. Asseveramos, entretanto,
que há outros lugares de pesquisa, como, por exemplo, Quilombhoje (1980);
Geledés: Instituto da Mulher Negra (1988); Fundação Cultural Palmares
(1989) entre outros. Enfim, é preciso atenção dos bibliotecários(as) na
formação e desenvolvimento dos acervos das bibliotecas públicas, porque
acreditamos que a literatura por si só não humaniza, ela é potencialmente
humanizadora, dependendo, portanto, da ação, de leitura, das ações para a
modificação do status quo dominante vigente.
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http://hdl.handle.net/1843/LETR-AQKFS8. Acesso em: 3 nov. 2017.
TANUS, Gustavo; TANUS, Gabrielle Francinne de S.C. As bibliotecas públicas e
a importância da formação e desenvolvimento dos acervos de literatura afro-
�336
brasileira. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO, 19., Anais [...]. Londrina. Disponível em:
encurtador.com.br/hGX38. Acesso em: 02 nov. 2018.
TANUS, Gabrielle Francinne de S.C et al. A literatura afro-brasileira no Sistema
Estadual de Bibliotecas Públicas da Bahia. Revista Brasileira de
Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 16, p. 1-24, fev. 2020.
Agradecimentos: Aos discentes do curso de Biblioteconomia vinculados ao
projeto “A literatura afro-brasileira nos acervos das bibliotecas públicas”, em
andamento na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN): Flavia
Figueiredo de Oliveira; Geísa Pereira Alves; Magaly Alexandre Santiago; Maria
Clara Tavares da Silva; Marcus Victor Siqueira Josua Gomes; Milena Natalya
Morais Frederico; Silvana Souza da Silva; Solange Gomes Toscano de Oliveira;
William Santos da Silva.
APÊNDICE – Escritores e escritoras de literatura afro-brasileira
extraídos do Portal Literafro
Total de Títulos de literatura
Nome
Região
3
Abdias Nascimento
SE
3
Abelardo Rodrigues
SE
2
Abílio Ferreira
SE
4
Aciomar de Oliveira
SE
7
Adão Ventura
SE
7
Ademiro Alves (Sacolinha)
SE
3
Aldri Anunciação
NE
3
Aline França
NE
8
Allan da Rosa
SE
2
Aloísio Resende
NE
5
Alzira dos Santos Rufino
SE
5
Ana Cruz
SE
2
Ana Maria Gonçalves
SE
1
Anajá Caetano
SE
6
Anelito de Oliveira
SE
2
Anízio Vianna
SE
1
Antonieta de Barros
3
Antonio Vieira
NE
5
Aristides Teodoro
NE
9
Arlindo Veiga dos Santos
SE
8
Arnaldo Xavier
NE
9
Bahia (José Ailton Ferreira)
NE
S
�337
10
Bernardino da Costa Lopes
SE
17
Carlos Correia Santos
N
2
Carlos de Assumpção
SE
8
Carolina Maria de Jesus
SE
Cidinha da Silva
SE
6
Conceição Evaristo
SE
7
Cristiane Sobral
SE
9
Cruz e Sousa
13
20
S
Cuti
SE
Cyana Leahy-Dios
NE
11
Domício Proença Filho
SE
13
Domingos Caldas Barbosa
SE
37
Edimilson de Almeida Pereira
SE
3
Edson Lopes Cardoso
NE
9
Eduardo de Oliveira
SE
2
Elaine Marcelina
SE
6
Éle Semog
SE
2
Eliane Marques
8
Elio Ferreira
NE
2
Elizandra Souza
SE
2
Esmeralda Ribeiro
SE
3
Estêvão Maya Maya
NE
2
Eustáquio José Rodrigues
SE
3
Fábio Mandingo
NE
9
Fausto Antônio
SE
4
Fernando Conceição
NE
2
Fernando Ferreira Góes
NE
5
Francisco Maciel
SE
9
Geni Guimarães
SE
5
Gonçalves Crespo
SE
1
Grande Othelo
SE
1
Guellwaar Adún
SE
8
Heloisa Pires Lima
1
Helton Fesan
SE
3
Henrique Cunha Jr.
SE
3
Hermógenes Almeida
NE
5
Inaldete Pinheiro de Andrade
NE
6
Ivan Cupertino
SE
3
J. Romão da Silva
NE
7
Jaime Sodré
NE
1
Jamu Minka
SE
1
Jenyffer Nascimento
NE
Joel Rufino dos Santos
SE
7
29
S
S
�338
3
Jônatas Conceição
NE
3
Jorge Dikamba
SE
6
José Carlos Limeira
NE
5
José do Patrocínio
SE
13
José Endoença Martins
S
Josias Marinho
N
Júlio Emílio Braz
SE
5
Jussara Santos
SE
3
Kiusam de Oliveira
SE
3
Lande Onawale
NE
1
Lepê Correia
NE
3
Lia Vieira
SE
X
Lima Barreto
SE
12
Lino Guedes
SE
6
Lívia Natália
SE
7
Lourdes Teodoro
CO
1
Luís Fulano de Tal
SE
5
Luiz Gama
SE
X
Machado de Assis
SE
8
Madu Costa
SE
2
Mãe Beata de Yemonjá
NE
5
Mãe Stella de Oxóssi
NE
2
Manto Costa
SE
2
Márcio Barbosa
SE
3
Marcos A. Dias
SE
3
Marcos Fabrício Lopes da Silva
CO
4
Maria Firmina dos Reis
NE
8
Maria Helena Vargas
3
159
S
14
Martinho da Vila
SE
17
Maurício Pestana
SE
2
Mel Adún
5
Mestre Didi
NE
4
Michel Yakini
SE
4
Miriam Alves
SE
5
Muniz Sodré
NE
4
Nascimento Moraes
NE
Nei Lopes
SE
13
USA
1
Nelson Maca
2
Nilma Lino Gomes
SE
1
Nívea Sabino
SE
11
Oliveira Silveira
S
S
8
Oswaldo de Camargo
SE
7
Oswaldo Faustino
SE
�339
5
Oubi Inaê Kibuko
SE
3
Patrícia Santana
SE
2
Paula Brito
SE
7
Paulo Colina
SE
3
Paulo Lins
SE
6
Plínio Camillo
SE
3
Ramatis Jacino
4
Raul Astolfo Marques
NE
9
Raul Joviano do Amaral
SE
6
Raymundo de Souza Dantas
NE
2
Renato Noguera
SE
4
Ricardo Dias
SE
3
Rita Santana
NE
Rogério Andrade Barbosa
SE
5
Romeu Crusoé
NE
12
Ronald Augusto
S
4
Ruth Guimarães
SE
8
Salgado Maranhão
NE
8
Santiago Dias
SE
2
Sergio Ballouk
SE
Silvério Gomes Pimenta
SE
9
Solano Trindade
NE
1
Sônia Fátima da Conceição
SE
2
Ubiratan Castro de Araújo
NE
4
Waldemar Euzébio Pereira
SE
82
11
S
�340
DADOS BIOGRÁFICOS
Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus: Professora
do Departamento de Ciência da Informação da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Doutora em Ciência da
Informação (Saberes científicos da Biblioteconomia em diálogo
com as Ciências Sociais e Humanas), Mestra em Ciência da
Informação e bacharela em Biblioteconomia pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Atuou como bibliotecária no
Sistema de Bibliotecas da UFMG nas bibliotecas da Faculdade de
Direito e da Escola de Ciência da Informação
E-mail: gfrancinne@gmail.com
Gustavo Tanus: Doutorando em Estudos da Linguagem –
Leitura do Texto Literário e Ensino (UFRN). Mestre em Teoria
da Literatura e Literatura Comparada (UFMG), tendo atuado
na
Formação
Intercultural
de
Educadores
Indígenas
(Faculdade de Educação/UFMG). Pesquisador e integrante da
comissão
editorial
do
literafro,
Núcleo
de
Estudos
Interdisciplinares
da
Alteridade
(NEIA/Faculdade
de
Letras/UFMG). Autor do livro “Africanos e afrodescendentes
nas estantes a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais”,
publicado pela Faculdade de Letras (UFMG), 2017.
E-mail: gustavotcs@gmail.com
�341
CAPÍTULO XVIII - Serviço de referência e mediação:
integrando pessoas, processos e tecnologias
Jorge Santa Anna
Célia da Consolação Dias
Benildes Coura Maculan
1 INTRODUÇÃO
A análise histórica das bibliotecas tem demonstrado o quanto essas
unidades têm evoluído, adquirindo novas configurações, em conformidade com
o desenvolvimento da sociedade e o potencial das tecnologias. Essa evolução
está associada, também, ao trabalho realizado pelos bibliotecários, cujos
fazeres têm se ampliado, conduzidos por atividades operacionais, intelectuais e
gerenciais, que visam o acesso e uso da informação, de acordo com
necessidades específicas da comunidade servida.
Durante muito tempo, as bibliotecas manifestaram-se como espaços
elitizados,
servidoras
da
ordem
estatal
(BURKE,
2003).
Com
o
desenvolvimento científico, a democratização do conhecimento e como valor
atribuído à informação, as bibliotecas são inseridas no seio das organizações,
sobretudo de universidades, escolas e centros de pesquisa. Nessas bibliotecas,
destaca-se
o
trabalho
realizado
mediante
práticas
de
organização
de
documentos, mediação informacional, gestão de recursos, dentre outras.
Mesmo que o fazer bibliotecário tenha se ampliado, sobremaneira, no
final do século XX, há de se considerar que algumas práticas constituem a
própria essência da biblioteca. A organização do acervo, por exemplo, é uma
prática milenar e é considerada como a base de constituição das primeiras
bibliotecas. Por conseguinte, a mediação informacional - um termo ainda em
desenvolvimento - pode ser observada junto às técnicas de organização dos
acervos, e se intensificou com o valor atribuído às necessidades dos usuários
(ALMEIDA JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014).
�342
Os estudos científicos que investigam o trabalho do bibliotecário revelam
que, além de organizar acervos informacionais diversos, esse profissional atua
como educador e mediador, colocando o usuário em contato com as fontes de
informação, para fins de atender a necessidades específicas (MARTINS, 2017;
SANCHES, 2018). Colocar o usuário como centro dos sistemas de informação e
consequentemente das atenções constitui um novo paradigma para as
bibliotecas, suficiente para transcender a função, tão somente, de custódia e
de armazenamento, atribuída a essas unidades. Ao apoiar-se nesse paradigma,
é possível que o trabalho de organizar e mediar a informação condicione a
oferta de produtos e serviços de informação condizentes com a realidade onde
a biblioteca está inserida.
Embora o termo “serviços e produtos de informação” seja bastante
utilizado na literatura, é importante apresentar o conceito associado a serviço
e a produto. Para esclarecer a definição de ambos os termos, recorre-se ao
estudo de Duarte et al. (2015, p. 608). Para esses autores, serviço de
informação “[...] é algo feito por um profissional, com vistas a atender ao
interagente e dar uma direção para os recursos de informações de que ele
necessita [...]”. Entende-se que o termo serviço denota algo intangível,
normalmente, conduzido por um conjunto de atividades e de modo planejado.
Já o produto corresponde ao resultado concreto, ou seja, “[...] é representado
por algo já pronto por um profissional que o idealizou e o projetou para existir
materializadamente” (DUARTE et al., 2015, p. 608).
Embora os termos sejam diferentes, eles são indissociáveis, sobretudo
quando analisados no contexto das bibliotecas ou outras unidades de
informação. Borges (2008) defende essa associação entre produtos e serviços
e menciona que esses são mais abrangentes, contemplando aqueles. Em linhas
gerais, os serviços de informação são caracterizados sob três grandes
definições, a saber: 1 - todo processo de auxílio ao usuário na busca de
informação ou na satisfação de suas necessidades informacionais; 2 – a
interface direta entre a informação e o usuário; e 3 - a atividade destinada à
identificação, aquisição, processamento e transmissão de informação e ao seu
fornecimento em um serviço ou produto de informação (BORGES, 2008).
�343
A partir dessa diferenciação, serviço de informação, neste texto, é
designado como um termo mais abrangente, capaz de contemplar as
diferentes atividades que uma biblioteca pode oferecer. Logo, com essa
concepção, os serviços de informação constituem o planejamento dos recursos
mediado
pelo
bibliotecário, que
possibilite
satisfazer
uma necessidade,
podendo esse processo envolver: a construção de um produto; a oferta de um
produto; e/ou o atendimento direto aos usuários. Em todas essas perspectivas,
o objetivo é satisfazer as necessidades de informação de uma comunidade.
Nesse sentido, com as mudanças de paradigmas, sobretudo com a
inserção das tecnologias digitais, a biblioteca assume um papel fundamental
para o desenvolvimento da sociedade, cujo fazer bibliotecário não visa,
apenas, a construção de produtos de informação, mas a elaboração,
disponibilização e gestão dos serviços de informação. Tais serviços possibilitam
melhorar a relação/interação da unidade com o público e, como consequência,
facilitar o uso do que a unidade tem a oferecer. Isso promoverá o
reconhecimento acerca da importância e da contribuição exercida pela
biblioteca, na sociedade contemporânea (SANTA ANNA, 2016).
A proposta de ofertar serviços de informação nas bibliotecas não é
recente e acredita-se que essa ideia iniciou com o tradicional serviço de
referência (SR), quando do atendimento prestado a leitores, em meados do
século XIX, nos Estados Unidos. Tal proposta foi bem acolhida, visto que o SR
tornou-se essencial para apoiar as atividades de pesquisa, de modo a oferecer
orientações, por meio de uma atuação pedagógica. Além disso, com a adesão
às tecnologias digitais, o SR torna-se passível de ser disponibilizado no
ambiente web, com recursos interativos.
A oferta dos serviços de informação nas bibliotecas se ampliou com o uso
das tecnologias digitais. Santa Anna (2016, p. 234) acredita no fortalecimento
dos serviços de informação, ao longo do tempo, uma vez que as bibliotecas
têm
se
tornado cada dia
mais
híbridas,
“[...] oferecendo
tecnologias
sofisticadas, sem, contudo, eliminar as tecnologias tradicionais, satisfazendo a
amplitude das necessidades demandadas por seu diversificado público”.
�344
Sendo assim, a discussão em torno da oferta de serviços de informação
nas bibliotecas não é fruto da atual concepção paradigmática, cujo usuário se
revela como o ator principal das práticas bibliotecárias. De acordo com Fonseca
(2007), a biblioteca passou por três importantes paradigmas, como o
Paradigma da Conservação (-1450), Paradigma da Difusão (1450-1950) e o
atual que é o Paradigma da Interação (1950-). Nesse último, a biblioteca deixa
de ser unicamente um espaço de difusão e promoção de informação e cultura
para também se transformar em um espaço de apropriação e de expressão das
individualidades. Nesse contexto, afirma-se a ideia de que o indivíduo é, ao
mesmo tempo, insumo e sujeito do conhecimento, produtor e receptor do
conhecimento e recurso de orientação para si e para os outros (FONSECA,
2007).
A discussão em torno do atual paradigma tem suas raízes no tradicional
SR, que visa acolher os leitores no recinto das bibliotecas, e se caracteriza pelo
seu papel instrutivo atribuído a esse atendimento. Além disso, acredita-se que,
o uso das tecnologias digitais e a ampliação do conceito atribuído ao temo
mediação da informação são fatores que reforçam a importância e o papel do
SR nas bibliotecas atuais.
A partir dessa contextualização, este artigo tem como temática dois
importantes conceitos: mediação da informação e SR. Parte da concepção de
que esses conceitos são complementares e possibilitam uma visão sistêmica da
biblioteca, contemplando diferentes atividades que são realizadas.
Com efeito, o presente estudo objetiva reforçar as relações existentes
entre mediação e SR, haja vista identificar as características, os elementos
constitutivos e o que é esperado dos serviços de informação para as bibliotecas
do futuro.
O estudo se justifica pela contribuição teórica e prática: a primeira
contribuição diz respeito à tentativa de reforçar as relações entre mediação e
SR,
apontando
bases
teóricas
suficientes
que
garantam
sustentação,
motivação e convencimento acerca dos estudos relacionados a esses temas; a
segunda
está
direcionada
à
importância
do
SR
para
as
bibliotecas
universitárias e as possibilidades de melhoria que podem ser implementadas.
�345
Neste sentido, o estudo ora apresentado é resultado preliminar da
revisão
de literatura
realizada
no
desenvolvimento
de uma
tese, em
andamento, sobre planos de gestão para o SR em bibliotecas universitárias.
Esta investigação está vinculada à linha de pesquisa Gestão e Tecnologia, do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento –
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais.
2 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO COMO UM CAMPO ABRANGENTE
De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa, o termo mediação tem
como significado o ato de mediar, ligar, relacionar, facilitar. Mediar, em sentido
denotativo, é uma ação promovida por um agente, normalmente, uma pessoa
que se coloca como facilitador, haja vista contribuir com outra pessoa, seja na
aquisição de conhecimento ou outra contribuição colaborativa (HOLANDA,
2018).
O termo mediação se desdobra para outros significados, dependendo do
contexto em que é utilizado. Pode-se notar, por exemplo, que a mediação
como prática colaborativa se manifesta no fazer pedagógico ou em um
discurso religioso, cujos mediadores são, respectivamente, o professor e o
padre (BICHERI, 2008). A mediação também se manifesta, de forma explícita,
nos trabalhos de profissionais que lidam com a leitura, tais como os
bibliotecários (BORTOLIN, 2010).
Embora esse termo não seja novo, ele tornou-se interesse de pesquisa
científica nos últimos anos, sobretudo com os estudos relacionados à dimensão
que a informação assume na sociedade da informação e do conhecimento (LE
COADIC, 2004). Nesse contexto, o termo refere-se a diferentes conceitos e
aplicações a serem utilizados em diversos campos do saber como Direito,
Educação, Comunicação e Ciência da Informação (SILVA; FARIAS, 2018).
Em algumas áreas do conhecimento, a mediação passou a ser estudada
em profundidade com os métodos de organização do conhecimento, a partir do
uso de técnicas de representação, como catalogação, indexação, dentre
�346
outras. Isso porque, ao organizar o conhecimento, como acontece nas
unidades de informação, por exemplo, é necessário criar vínculos entre as
fontes de informação do acervo e aqueles que buscam pela informação. Nesse
sentido, destaca-se o trabalho de intervenção realizado pelo bibliotecário
(ALMEIDA JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014).
Esse trabalho, segundo os autores citados, não se resume, tão somente,
às ações de interação na busca por informação. Isso quer dizer que a
mediação vai muito além da ideia de ponte ou ação de ligação entre o
bibliotecário e os usuários. A mediação é um conceito que vem evoluindo na
área da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, não se manifestando
como um processo estático que visa, apenas, a transmissão de mensagens
entre dois agentes que se interagem, pois,
mediação da informação é toda ação de interferência – realizada pelo
profissional da informação –, direta ou indireta; consciente ou
inconsciente; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de
informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade
informacional [...] (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).
Estudo desenvolvido por Macedo e Silva (2015, p. 65) reforça que a
mediação é objeto de grande interesse aos estudiosos da Ciência da
Informação,
sobretudo
transmissão
de
quando
conhecimento
esse
na
objeto
sociedade.
possibilita
Portanto,
a
construção
nessa
área
e
de
conhecimento,
[...] a noção de mediação da informação implica em ações que auxiliam
nas formas de interação entre os seres humanos, de como essas
relações podem contribuir para o compartilhamento de ideias, saberes,
fazeres e manifestações culturais, que resultam na construção individual
e coletiva do conhecimento (MACEDO; SILVA, 2015, p. 65).
Ao
estimular
a
transmissão,
por
conseguinte,
geração
de
novos
conhecimentos, o ato de mediar assume uma dimensão ampla e diversificada.
A característica plural e abrangente do processo de mediação é confirmada,
quando se analisa o conceito formulado por Almeida Júnior (2015), cuja
mediação é ação de interferência que exige a presença de um profissional
atuante nas unidades de informação. Assim, no âmbito da Biblioteconomia e
da Ciência da Informação, mediar é ação de interferir que almeje a apropriação
�347
da informação, garantindo, portanto, o uso da informação, haja vista a
satisfação das necessidades dos usuários.
Considera-se, também, que o resultado da mediação não pode ser
analisado como acabado, visto que a satisfação, por ser momentânea, tende a
promover um processo que se retroalimenta, fomentando novas indagações,
conflitos e necessidades àqueles que utilizam as bibliotecas. Além disso,
pontua-se que a mediação, ao ser estudada no âmbito dos equipamentos
culturais como bibliotecas, arquivos e museus, pode se manifestar de forma
explícita e/ou implícita (ALMEIDA JÚNIOR, 2015).
Grande parte dos estudos publicados na literatura brasileira sobre
mediação no âmbito das unidades de informação concorda com a afirmação de
Almeida Júnior (2015), acerca de que a mediação pode se concretizar de forma
direta ou indireta e explícita ou implícita. Portanto, entende-se que o processo
é amplo ou abrangente, que permeia todos os fazeres dos bibliotecários, indo
além do ato de interação, normalmente estabelecido nos serviços de
atendimento como um todo.
No âmbito do processo de organização do conhecimento presente nas
bibliotecas, segundo Almeida Júnior e Santos Neto (2014), a mediação é
observada nas diversas práticas profissionais do bibliotecário, envolvendo
diferentes setores e atividades da unidade, tais como: processamento técnico
(classificação e catalogação), SR, atividades culturais, contação de histórias,
dentre outros fazeres e contextos. Ressalta-se que, na maioria das bibliotecas
brasileiras, o processamento técnico é formado por um conjunto de atividades
intelectuais, realizada em setor específico, com equipe especializada para
desempenho das atividades de representação da informação; o SR se
manifesta no balcão de atendimento, com equipe capacitada para interagir
com a comunidade, seja nas atividades de pesquisa ou informações de
natureza utilitária, que possam auxiliar as indagações dos usuários; as
atividades de cunho cultural, normalmente, acontecem em espaços especiais,
como
laboratórios
ou
auditórios,
entretimento para a comunidade.
possibilitando
momentos
de
lazer
e
�348
Essa abrangência atribuída ao processo de mediação é comungada,
também, por Silva e Farias (2018), quando analisam as ações desenvolvidas
no contexto dos serviços de informação. Nesse contexto, a mediação aparece
no SR, no provimento de informação utilitária, na oferta de eventos ou ações
que estimulem a cultura e o lazer, nas práticas de leitura e na atividade de
pesquisa. Os autores citados concluíram que a abrangência do processo
possibilita “[...] a formação de processos pragmáticos implícitos e explícitos,
sendo pertinente correlacioná-los para compreender a dinâmica do serviçode
informação e, em especial, para a formação de competência” (SILVA; FARIAS,
2018, p. 120).
A partir de diversos estudos publicados na literatura brasileira de
Biblioteconomia/Ciência da Informação, percebe-se que a mediação é objeto
de análise, sobremaneira, na ambiência dos equipamentos culturais (arquivos,
bibliotecas, museus, centros de documentação, dentre outros). Nesses
espaços, é possível entender a mediação como uma ação que se desenvolve
paralela a diferentes atividades, de modo integrado e contextual (ALMEIDA
JÚNIOR, 2015; ALMEIDA JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014; CORDA, 2012;
FARIAS; SILVA, 2019).
A literatura investigada neste estudo também é unânime ao compartilhar
dois modos de manifestação do ato de mediar, a saber: implícito e explícito;
direto e indireto. Assim, associando essas formas de manifestação no âmbito
de uma biblioteca, é possível identificar a mediação como ato de interferência
e acoplá-la aos processos de organização e transferência da informação: no
primeiro, a mediação acontece de forma implícita e indireta, ao passo que no
segundo
modo,
manifesta-se
detalhado na figura 1.
a
mediação
explícita
e
direta,
conforme
�349
Figura 1 – A mediação como ato de interferência realizada nas bibliotecas
Fonte: Elaborada pelos proponentes (2020).
A figura 1 apresenta que a mediação, como ação de interferência,
manifesta-se de modo abrangente em meio a diferentes atividades que
formam os processos de organização e transferência da informação. Além
disso, como ação implícita/indireta, a interferência se faz entre o bibliotecário e
os recursos informacionais, e como ação explícita/direta, a interferência se
manifesta entre bibliotecário e usuário, concretizando uma ação interativa,
com dois atores envolvidos.
Considerando que o conceito de mediação não permeia, apenas, a ação
de interferência, mas também o resultado dessa intervenção, que é a
apropriação (ALMEIDA JÚNIOR, 2015), entende-se que o objetivo do ato de
mediar é garantir o uso da informação pela comunidade usuária, considerando
as necessidades demandadas. A estruturação e a oferta do SR constituem
atividades-fim da biblioteca e precisam ser planejadas e gerenciadas, a partir
das ações de mediação, consagradas no âmbito da interferência e da
apropriação (SANTA ANNA; DIAS; MACULAN, 2019).
Caracterizar a mediação como ato de interferência é algo recorrente na
literatura e mais concreto de ser comprovado. No entanto, aproximar a
mediação da apropriação é algo mais complexo, em especial por envolver
questões subjetivas. Isso pode ser percebido a partir do que comenta Almeida
Júnior (2009) acerca da apropriação, afirmando que ela está relacionada ao
uso, à agregação de valor pelo usuário, o qual terá a possibilidade de
�350
transformar a informação recebida em conhecimento, para resolução de seus
problemas pessoais e coletivos, e também para a produção de novos
conhecimentos.
Na visão de Lima (2018), a mediação foge ao escopo das bibliotecas, em
alguns
aspectos,
por
envolver
questões
cognitivas,
associadas
com
a
experiência e cultura do indivíduo e com o contexto em que ele está inserido
(LIMA, 2018). Com todo efeito, no âmbito da apropriação, a biblioteca já vem
realizando trabalhos a partir de insumos de outras áreas de conhecimento,
como Educação, Administração e Psicologia, por exemplo, ações voltadas aos
estudos de comportamento e satisfação de usuários, avaliação de serviços,
dentre outros, sendo essas ações essenciais para garantir a melhoria do que é
oferecido em todos os serviços oferecidos nas bibliotecas (COTÉ; KOCHKINA;
MAWHINNEY, 2016).
A possibilidade de apropriação é um elemento essencial capaz de
fornecer insumos para melhorias do que é oferecido nas unidades de
informação.
Representa a
concretização
do
objetivo
final
das
práticas
bibliotecárias, refletindo o esforço despendido e os resultados alcançados, além
das necessidades de modificações para alinhamento às necessidades dos
usuários. Em linhas gerais, pensando na apropriação, as bibliotecas podem
realizar pesquisas, “[...] cujo foco é atribuído aos usuários e as formas com
que acessam os serviços. Assim, estão inseridos nessa categoria os estudos de
uso,
modalidades
de
serviços
utilizados,
comportamento,
satisfação
e
percepção” (SANTA ANNA; DIAS; MACULAN, 2019, p. 9).
A partir das evidências coletadas da literatura, apresenta-se a figura 2, a
qual demonstra o que pode ser realizado pelas bibliotecas, considerando o ato
de apropriação oriundo da mediação.
�351
Figura 2 – A mediação como ato de apropriação realizada nas bibliotecas
Fonte: Elaborada pelos proponentes (2020).
Pela figura 2, nota-se que a apropriação é um elemento da mediação,
manifestado em atividades que formalizam o processo de uso da informação,
reforçando a tese de Almeida Júnior (2015). Além disso, a apropriação é o
resultado do ato de intervenção, sendo, portanto, a base de toda a atividade
do bibliotecário, assim como o é o SR, conforme pontuado por Figueiredo
(1992). As atividades realizadas pelas bibliotecas, por exemplo: os estudos de
usuários e de satisfação, dentre outros, representam a mediação explícita - a
partir de técnicas de coletas de dados, como a entrevista guiada, por exemplo
– e a mediação implícita - quando se emprega técnicas não interativas, como o
questionário e análise às estatísticas de uso, dentre alguns exemplos.
De acordo com Corda (2012), a mediação se explicita diretamente no
âmbito da oferta dos serviços de informação, cujo bibliotecário assume a
missão de disseminar, de modo a garantir o uso do acervo informacional. A
autora reconhece, assim como Almeida Júnior (2015), que o ponto máximo da
mediação nas bibliotecas está no SR, com destaque a interação firmada entre
o profissional e o usuário, na busca pelas fontes de informação.
A missão do bibliotecário como mediador da informação se inicia no
processamento das fontes e se consolida na oferta do SR, mediante a
interação com usuários, seja de modo presencial ou digital. Desse modo, o
sucesso de qualquer atividade demandará da reflexão do profissional acerca da
seleção e implementação de ferramentas e da oferta de serviços de informação
adequados à realidade de cada biblioteca, considerando uma série de fatores,
tais como: “[...] as características específicas [...] de usuários, a diversidade
�352
de tecnologias ofertadas a esses usuários e também aos não usuários,
autonomia, estímulo e facilidades para o acesso, busca e uso das fontes de
informação” (NOVELLI; HOFFMANN; GRACIOSO, 2014, p. 31).
Nesse contexto, todos os fazeres realizados pelos profissionais, que
antecedem o atendimento no SR, tais como a catalogação, indexação, dentre
outros, alcançam os objetivos a que são destinados, quando ocorre a
apropriação da informação pelo usuário, ação que, embora subjetiva e
complexa, pode ser facilitada por meio dos serviços de informação. Para Santa
Anna, Dias e Maculan (2019), a mediação contribui para o atendimento
prestado no SR, e, como tal, também auxilia na aquisição de conhecimento,
sobretudo quando são identificadas ações de interferência e apropriação no
planejamento e gestão do SR.
Assim, conforme elucidado por Silva e Farias (2018), os estudos sobre
mediação podem fornecer bases teóricas ou insumos reflexivos que formalizam
programas de ação, intervenção e interferência nas bibliotecas, e os serviços
de informação funcionam como a operacionalização ou a concepção pragmática
do processo de mediação. Portanto, em acordo com Santa Anna, Dias e
Maculan (2019), faz-se necessário reconhecer o potencial da mediação, de
modo a melhor explorá-lo, a fim de apontar melhorias para o SR oferecido nas
bibliotecas universitárias.
Importante destacar que as bibliotecas universitárias são espaços
apropriados para disseminar informação a diferentes públicos, além de
estabelecer relações com organizações de cultura e de memória, que utilizem a
informação para diferentes fins (MURRAY, 2020). Com o potencial das
tecnologias, as bibliotecas universitárias ampliam as práticas de mediação,
haja vista possibilitar o acesso, a busca e a aprendizagem das fontes de
informação (NOVELLI; HOFFMANN; GRACIOSO, 2014). Com efeito, como
discorrido por Farias e Silva (2019, p. 356), é com essa filosofia de trabalho,
que as bibliotecas universitárias, com profissionais capacitados às atividades
de mediação, tornarão as necessidades dos usuários “[...] explicitadas,
interpretadas e atendidas”.
�353
3 SERVIÇO DE REFERÊNCIA E MEDIAÇÃO INFORMACIONAL
O SR pode ser conceituado como um conjunto de atividades realizadas
em prol do provimento de informação a diferentes grupos de usuários, a fim de
satisfazer necessidades específicas desses grupos (GROGAN, 1995). Esse tipo
de serviço proporciona facilidades de uso do acervo informacional, com o fim
de subsidiar, principalmente, atividades de pesquisa, leitura ou ações culturais,
considerando o propósito da unidade de informação (ACCART, 2012).
Caracterizado como atividade-fim da biblioteca, e também aclamado
como a própria essência da ação do bibliotecário que atua na organização dos
acervos (FIGUEIREDO, 1992), o SR define-se, em sua essência, como o
provimento
de
respostas
a
perguntas
realizadas
pela
comunidade.
As
transações que ocorrem podem envolver desde questões simples, de cunho
direcional, a indagações mais complexas, como o uso de um recurso de busca,
por exemplo (BARRETT, 2010).
Ao
bibliotecário,
após
disponibilizar
a
informação
em
artefatos
tecnológicos variados e sistematizar esses recursos em um sistema de
informação, iniciam-se as atividades de atendimento às demandas de
informação solicitadas pelos usuários, antecipando a oferta de informações ou
fornecendo informações para demandas especializadas. Assim, o SR é definido
como uma das funções mediadoras da biblioteca, cujo profissional atua como
agente de informação, “[...] servindo de intermediário entre os recursos
informacionais existentes e o usuário que necessita de informação de qualquer
tipo e nível [...]” (FIGUEIREDO, 1992, p. 1).
Na visão de Lima (2018), o SR constitui, grosso modo, o atendimento
pessoal prestado pelo bibliotecário ao público que frequenta a unidade. Esse
processo,
segundo
Ranganathan
(1961),
está
pautado
na
assistência
personalizada oferecida aos consulentes de uma biblioteca, ou seja, o contato
firmado entre profissional e utilizadores.
Observou-se que o SR nasceu com uma concepção restrita, no final do
século XIX, voltado à assistência personalizada, prestada com cordialidade, aos
leitores de bibliotecas norte-americanas (GREEN, 1876). No início do século
�354
XX, com o crescimento das universidades, o SR se fortalece com o processo de
pesquisa, a partir de ações de intervenção que colocavam em sintonia usuários
e profissionais, mediante um intenso diálogo (GROGAN, 1995).
A importância do processo de pesquisa para fins de auxiliar os
pesquisadores em bibliotecas europeias e nos Estados Unidos, ao longo do
século XX, promove uma concepção pedagógica e instrutiva ao SR, haja vista
facilitar o uso dos recursos informacionais, com destaque a atividades de
educação do usuário (FIGUEIREDO, 1992; SHERA, 1966). Caminhando para as
últimas décadas do século XX45, o SR passa a ser auxiliado, também, pelos
recursos
da
internet
(ACCART,
2012;
OTLET,
1989),
adquirindo
uma
concepção, também, de promoção ao uso, com ênfase as ações de divulgação
e interação da biblioteca com diferentes públicos e contextos (BOSQUE et al.,
2017; PELLEGRINO, 2012).
Nesse percurso evolutivo, o SR também envolve a construção de canais
de comunicação que potencializam o uso da biblioteca, sobretudo com a
utilização dos recursos digitais, o que fez surgir o Serviço de Referência Digital
(SRD), empregando tecnologias da web 2.0. Nesse contexto, o SR é
caracterizado no âmbito da promoção dos serviços de informação em toda a
biblioteca, em que convergem usuários, profissionais, recursos de informação e
tecnologias (PELLEGRINO, 2012).
A
partir
desses
apontamentos,
percebe-se
que
o
SR
possui
características diversas, não se limitando, apenas, a um conceito engessado,
conforme apontado por Alves e Vidotti (2006). Os autores alertam que o
atendimento prestado à comunidade que fornece informação para fins de
satisfazer uma necessidade corresponde a uma das múltiplas características e
possibilidades do SR. Outro aspecto foi mencionado na obra de Shera (1966),
que afirma que o SR tende a abranger todo o espectro da biblioteca, com
auxílio prestado para fornecimento de informações tanto de natureza geral
quanto específica.
45
As mudanças e adaptações com que os serviços oferecidos nas bibliotecas têm passado
estimulam o desenvolvimento de uma linha do tempo, desde os serviços tradicionais aos
digitais. Esse percurso evolutivo constitui um dos produtos que se pretende alcançar com a
finalização da pesquisa de Doutorado, a ocorrer nos próximos dois anos.
�355
É possível que a característica ampla atribuída ao SR seja consequência
da evolução que sofreu, ao longo dos tempos, sobretudo com o impacto
promovido
com
o
desenvolvimento
tecnológico.
Observa-se
que
essas
transformações foram impactantes, a ponto de determinar dois significados ao
SR, conferindo-lhe um sentido amplo (convergência de toda biblioteca para uso
dos recursos informacionais) quanto restrito (orientação para sanar uma
necessidade específica) (LIMA, 2018; MACEDO, 1990; SHERA, 1966).
No Brasil, o SR se consolidou nas últimas décadas do século XX,
intensificando-se na década de 1990, em ações paralelas aos processos de
automatização das bibliotecas, embora o serviço tenha sido implementado sem
planejamento
e
gestão
adequados
(FIGUEIREDO,
1992).
Assim
como
apresentado por Figueiredo (1992), Macedo (1990) também discute sobre o
fortalecimento do SR nessa década, considerando que ele se manifesta nos
seguintes campos de atuação: assistência ao usuário (serviço propriamente
dito), educação de usuário, disseminação seletiva e serviços de alerta,
comunicação e divulgação de serviços e gestão do SR.
É certo que a ampliação do SRD origina-se com o uso da internet,
embora isso não represente o fim dos serviços tradicionais, mas condiciona
uma mudança significativa na forma de organizar, comunicar e utilizar a
informação. Portanto, nas primeiras décadas do século XXI, é provável que o
serviço se torne cada vez mais digital, de modo a fortalecer e facilitar a
interação e promover maior divulgação do potencial da biblioteca e seus
recursos. Isso requer a adoção de técnicas administrativas, haja vista garantir
a institucionalização de um SRD capaz de modificar-se instantaneamente,
conforme as tendências tecnológicas que forem surgindo (ACCART, 2012).
Analisando a trajetória do SR do século XIX ao XXI e com base nos
apontamentos da literatura nacional e internacional, é possível identificar cinco
estágios evolutivos: assistência a leitores (GREEN, 1876), processo de
referência (GROGAN, 1995), educação informacional (SHERA, 1966), SRD
(ACCART, 2012) e promoção/gestão de serviços de informação (ACCART,
2012; FIGUEIREDO, 1992). A figura 3 ilustra uma linha do tempo para o SR
em bibliotecas.
�356
Figura 3 – Trajetória evolutiva dos serviços de informação nas bibliotecas
Fonte: Elaborada pelos proponentes (2020).
Conforme explicitado na figura 3, percebe-se que, embora sejam
identificados cinco estágios ao longo da trajetória, eles não são excludentes,
mas integrados uns aos outros, de modo a consolidar, sobretudo no contexto
contemporâneo, uma realidade híbrida, por meio da fusão entre serviços de
informação com tecnologias tradicionais e digitais. A mesma integração é
percebida nas principais atividades realizadas em cada estágio e o contexto em
que se manifestavam, possibilitando a formação de um SR e de uma biblioteca
cada vez mais sofisticados, conforme proclamado em meados do século XX,
por Shera (1966).
Assim, a linha do tempo apresentada aqui evidencia que as atividades
realizadas em cada estágio, como também as tecnologias utilizadas, vão sendo
aperfeiçoadas, mas também convivem, promovendo o nascimento dos espaços
e atividades híbridas. O estudo de Santa Anna, Siqueira e Gerlin (2015)
demonstrou essa realidade, sobretudo quando constatou a diversificação de
recursos e serviços oferecidos nas bibliotecas universitárias, o que promove ao
usuário utilizar/escolher o que for mais adequado às suas preferências e perfis.
A análise da figura 3 também permite evidenciar algumas principais
características e tendências para cada estágio evolutivo do SR:
�357
1 – Assistência: surgimento do SR, por meio de um projeto para acolhimento
a leitores em bibliotecas norte-americanas. Os profissionais eram treinados
para acolher os leitores com cordialidade e prestatividade, incentivando a
prática de leitura, em espaço adequado e indicando materiais de acordo com o
perfil e necessidade dos usuários (GREEN, 1876);
2 – Processo de referência: surge o tradicional balcão de atendimento para
acolher
as
necessidades
dos
pesquisadores. Mediante
um
atendimento
específico, a intenção era firmar um processo dialógico, conduzido pelas fases
que envolvessem desde a formulação da questão pelo usuário, perpassando
pelas estratégias de busca e etapa de negociação, para fins de localização do
item informacional solicitado (GROGAN, 1995);
3 – Educação informacional: é resultado do sucesso alcançado com as
ações de busca e de recuperação junto aos acervos impressos e no balcão de
atendimento. O aumento do número de usuários despertou a adoção de
práticas instrutivas que tornassem o usuário capaz de realizar de modo
autônomo suas próprias buscas. Nesse estágio, eleva-se o papel pedagógico
da biblioteca, do bibliotecário e do SR (FIGUEIREDO, 1992; SHERA, 1966);
4 – Referência Digital: aparecimento dos primeiros recursos eletrônicos,
com a presença de bases de dados em CD-ROM, além de canais eletrônicos de
comunicação, como o telefone e o e-mail. Com o surgimento das coleções
digitais e utilização da internet, ampliam-se as formas de mediação por meio
de tecnologias interativas e multiplicam-se os meios de contato entre
biblioteca e usuário, podendo esse agente estar no recinto da biblioteca ou fora
dele (ACCART, 2012; GROGAN, 1995);
5 – Promoção/Gestão: o uso da web 2.0 acarretou o surgimento de
tecnologias que facilitam a interação, desencadeando a promoção e divulgação
de todos os serviços das bibliotecas, além dos muros das unidades/instituições.
Nesse estágio, o contato se estabelece mediante comunicação síncrona e
assíncrona46, de modo presencial ou digital, com destaque ao uso de
46
A comunicação assíncrona não exige a presença de ambos os envolvidos em tempo real,
conectados a uma rede. Já a comunicação síncrona necessita que dois ou mais envolvidos
estejam conectados ao mesmo tempo no ambiente virtual (SANTOS; BARBOSA, 2013).
�358
dispositivos móveis e redes sociais. Assim, a biblioteca é inserida no universo
da web social, com atividades inovadoras, condizentes com as novas
tendências, o que exigirá o planejamento e a gestão dos serviços de
informação (ACCART, 2012; BOSQUE et al., 2017).
Ao considerar as características presentes nos estágios, torna-se possível
identificar a presença da mediação em cada um deles, predominantemente a
mediação explícita/direta. A assistência prestada a leitores é uma prática muito
comum nas bibliotecas, desde tempos antigos, e tal prática permanece ao
longo do tempo, com propósitos distintos, seja para fins de pesquisa,
recreação, conhecimento, dentre outras possibilidades. No âmbito da prática
de leitura, a mediação possibilita a formação do leitor crítico e reflexivo, a
orientação
à
pesquisa,
haja
vista
despertar
nos
usuários
“[...]
o
desenvolvimento de habilidades para busca e uso da informação, seja para
resolução de problemas ou tomadas de decisões, sejam para a produção de
conhecimento de maneira individual ou coletiva” (VALDEZ; CALIL JUNIOR,
2017, p. 4).
O processo de referência evoluiu-se ao longo do século XX, como
resultado
da
evolução
científica
que
estimulou
o
desenvolvimento
de
pesquisas. A realização de investigação e a necessidade de acessos aos
recursos de informação contribuem para tornar a biblioteca o local mais
adequado para a busca de informação para a construção da fundamentação
teórica dos estudos em andamento. Segundo Grogan (1995), o processo de
referência é o caminho percorrido parao encontro da informação desejada,
caminho manifestado mediante o diálogo detalhado entre bibliotecário e
usuário. Na visão de Lima (2018), esse processo é socialmente construído,
sendo necessária a interação entre quem busca por informação e quem auxilia
a busca. A visão de ambos os autores evidencia a ação de interferência do
bibliotecário, com o fim de facilitar, em uma atitude interativa, entre
profissional e usuário, o acesso à informação, o que possibilita manifestar,
nesse processo, a mediação explícita e direta.
A educação informacional, terceiro estágio do processo evolutivo do SR,
tem proporcionado um novo olhar a esse serviço, cujo bibliotecário passa a ter
�359
um perfil de instrutor/educador quanto ao uso das fontes de informação
(SHERA, 1966). A educação informacional corresponde ao conjunto de
atividades pedagógicas fornecidas para capacitação do usuário, com o fim de
torná-lo autônomo na realização das buscas e no uso, de modo exaustivo, dos
recursos e ferramentas disponibilizados (SLEBODNIK; RIEHLE, 2011). A
mediação também se faz presente nesse processo, visto que, por contemplar
um ato educativo, há interação entre profissional (ensinante) e usuário
(aprendiz). Assim, além de consagrar-se como orientador, localizador e
identificador, o bibliotecário, ao realizar educação informacional, assume a
missão, também, de conselheiro e orientador (KHULTHAU, 1994).
Observa-se que o SRD também viabiliza práticas de mediação. Isso
porque, ao contrário de muitas especulações relacionadas ao fim do SR com o
uso da internet, a realidade empírica tem demonstrado o quanto a intervenção
humana é necessária, mesmo quando o usuário utiliza a biblioteca no
ambiente digital (SANTA ANNA; SIQUEIRA; GERLIN, 2015). De acordo com
Garcia e Sousa (2017, p. 35), a mediação é beneficiada com as tecnologias
digitais, pois oportuniza diferentes formas de realizar a interação com o
usuário, “[...] englobando outras plataformas e tempos, além do espaço físico
e do contato direto e em tempo real com o usuário”.
Quanto ao estágio atual do SR, em que predomina a promoção e gestão
dos serviços de informação, esse estágio apresenta-se como altamente
diversificado, mesclando tecnologias tradicionais e digitais, com predominância
de adesão a essas últimas (ACCART, 2012). Essa tendência evidencia que as
práticas de mediação também se pluralizam, realizadas de modo direto ou
indireto, consciente ou inconsciente, explícito ou implícito, sobretudo quando
se pensa na criação de mecanismos para aumentar o uso das fontes de
informação, em especial aquelas inseridas no ambiente digital (NOVELLI;
HOFFMANN; GRACIOSO, 2014). Observou-se a importância de considerar a
gestão do SR, as possíveis ações de mediação e o potencial das tecnologias
(ACCART, 2012), sobretudo no que tange aos recursos que aumentam a
visibilidade e possibilitam a divulgação dos serviços de informação oferecidos,
por meio do marketing informacional (PELLEGRINO, 2012). Dessa forma, é
�360
possível aproximar, cada vez mais, a biblioteca de seus públicos, fortalecendo
seu
papel
na
sociedade
atual,
conforme
as
tendências
emergentes
(CHAPUTULA; MUTULA, 2018).
Com efeito, a mediação é um processo, sustentado por atividades
variadas, relativas ao ato de interferência e apropriação, estando essas
atividades presentes no SR oferecido em bibliotecas. Revisão sistemática de
literatura realizada por Santa Anna, Dias e Maculan (2019) identificou que os
trabalhos publicados sobre SR contemplam aspectos relativos tanto ao ato da
interferência, à apropriação, ou a ambos. Portanto,
por meio da mediação, é possível aproximar profissionais de
usuários, e, dessa forma, garantir o uso dos acervos, por
conseguinte, condicionar a adequação da biblioteca, conforme
necessidades demandadas. Assim, infere-se que a mediação é, ao
mesmo tempo, ação e reação, cujos elementos principais desse
processo são os profissionais, usuários e a informação, sendo as
tecnologias instrumentos que promovem a interação entre eles (SANTA
ANNA; DIAS; MACULAN, 2019, p. 1, grifo nosso).
Os resultados alcançados com a revisão de literatura supracitada
reforçam a importância que a mediação exerce, tanto para os usuários, ao
garantir o uso (apropriação), como também para a própria biblioteca e os
profissionais que a gerenciam, ao condicionar as possibilidades de mudanças e
adequações às tendências atuais. Desse modo, o fazer profissional é,
constantemente,
ressignificado,
em
uma
abordagem
social,
conforme
defendido por Lima (2018).
Nota-se a existência de uma reciprocidade entre o SR oferecido na
biblioteca e os usuários. É por meio da mediação, sobretudo no modo explícito,
por meio da interação, que essa ação de auxílio mútuo se intensifica. Isso pode
ser percebido tanto nas ações de interferência quanto nas ações de
apropriação, quando se tem o retorno do usuário acerca da satisfação ou não
de sua necessidade informacional. A pesquisa de Corda (2012) aproxima dessa
reflexão, mencionando que “[...] é responsabilidade do bibliotecário de
referência acrescentar valor ao processo de transferência de informação [...]”.
Esse valor deve perpassar “[...] os processos de busca, categorização,
hierarquização, filtragem, tradução e comunicação das respostas oferecidas ao
�361
usuário, a fim de satisfazer sua demanda de informação” (CORDA, 2012, p.
94-95).
No entendimento de Almeida Júnior e Santos Neto (2014), no âmbito do
SR, a mediação aparece de maneira explícita, com destaque maior a interação
entre o bibliotecário e o usuário. Esse contato, segundo os autores, é essencial
por garantir melhorias e inovações às atividades de comunicação da unidade
com os públicos, pensando em adaptações contínuas.
A mediação se concretiza mediante a oferta de um serviço (SILVA;
FARIAS, 2018). Assim, os autores consideram que
[...] as relações entre mediação e serviços de informação se dão de
forma fluida no contexto paradigmático, o qual opera como uma espécie
de diretriz da prática informacional, e no contexto temático-aplicativo,
que age como um conjunto de práticas de intervenção e interferências
no desiderato informacional (SILVA; FARIAS, 2018, p. 114).
A mediação é uma atividade ampla que se intensifica no SR, e, por
conseguinte, possibilita o reconhecimento do valor que a informação promove
aos usuários. Esse reconhecimento despertará o atendimento ou não àquilo
que foi planejado pelos profissionais, no decorrer de todas as atividades
bibliotecárias realizadas na unidade. Com efeito, entende-se que a mediação
pode se manifestar como “[...] um programa de ação, intervenção e
interferência, e os serviços de informação se constituem como uma das
principais atividades técnica, pedagógica, institucional e pragmática da
mediação [...]” (SILVA; FARIAS, 2018, p. 115). Ademais, considerar essa
relação é importante, principalmente quando se atesta a necessidade de
melhorias e de gestão dos serviços de informação. Logo, a mediação “[...]
auxilia no planejamento, programação e ampliação da envergadura aplicativa
dos serviços de informação, enquanto os serviços de informação atestam o
caráter aplicativo da mediação” (SILVA; FARIAS, 2018, p. 115).
A relação entre SR e mediação é complementar e ambos são necessários
para garantir melhorias ao uso e à promoção dos serviços de informação,
sobretudo com a adesão aos recursos digitais. Desse modo, os serviços de
informação se constituem como “[...] um dos principais mecanismos para
mediação da informação em um centro de informação, de sorte que se
�362
configura como uma proposta materializada e concreta que aproximam o
centro de informação e o usuário” (SILVA; SILVA, 2012, p. 21).
A aproximação e a adequação dos serviços da biblioteca às necessidades
dos usuários dependerão de uma série de fatores, tais como o modelo de
gestão adotado, o contexto social e institucional em que a unidade se
relaciona, dentre outras tendências emergentes da atual sociedade (SANTA
ANNA; DIAS; MACULAN, 2019). Em todos os casos, a característica pedagógica
do SR, também percebida nas práticas de mediação, permanece como
condição apropriada para viabilizar aprendizagens colaborativas e intensificar o
uso dos recursos informacionais (FARIAS; SILVA, 2019; SILVA; SILVA, 2012).
Em suma, mesmo que a literatura aponte a existência de diversas
relações entre mediação e SR, há de se considerar os resultados alcançados
com o estudo bibliométrico realizado por Farias e Farias (2017), sobretudo
quando reconhecem a mediação não como um fazer técnico e operacional, mas
como um aporte conceitual e pragmático ligado a objetos diversos da área
informacional. Assim, em todos os casos, segundo as autoras, os estudos que
versam sobre essas relações direcionam olhares aos aspectos cognitivos, tanto
de bibliotecários e usuários, para promoção e inovação dos serviços de
informação. Valorizar esses aspectos é necessário, haja vista o fortalecimento
da biblioteca, como também o desenvolvimento de habilidades humanas
capazes de tornar o trabalho teórico e prático condizentes com o contexto
atual.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo discorreu as relações existentes entre mediação e SR,
identificando as características, os elementos constitutivos e o que é esperado
dos serviços de informação para as bibliotecas do futuro. Constatou-se que o
SR contempla práticas de mediação explícita, a partir da interação estabelecida
entre usuários e bibliotecário para alcance das necessidades informacionais.
Portanto, a interação é a característica principal, inerente a esses dois
�363
conceitos, cujos elementos constitutivos desse processo envolvem usuários,
profissionais, informação e tecnologias.
Com o desenvolvimento tecnológico e as adaptações promovidas nas
bibliotecas, é possível que usuários estejam cada vez mais próximos da
informação e novos modos de interação sejam instituídos, o que possibilita a
expansão dos serviços de informação. Isso exigirá pró-atividade e visão
estratégica do bibliotecário, consciente de sua missão na garantia de um uso
mais efetivo da informação.
Percebe-se o quanto as duas temáticas demandam por estudos mais
aprofundados, desmembrando olhares diversos, acerca de garantir a oferta de
serviços de informação
mais
adequados aos
usuários e
possibilitar
a
permanência, a valorização e um uso efetivo da biblioteca na sociedade
contemporânea. Assim, a abordagem intelectual deste artigo, como também, a
falta do estabelecimento de critérios para seleção da literatura investigada são
as duas principais limitações do estudo, o que evoca a necessidade de
realização de estudos futuros, por exemplo:
Estudo empírico, sustentado por entrevistas a bibliotecários, haja vista
identificar o posicionamento destes profissionais para implementar
melhorias no SR;
Pesquisa documental, conduzida por levantamento dos regimentos das
bibliotecas, a fim de identificar práticas de mediação mencionadas
nesses documentos e as relações dessas práticas com o que é oferecido
pelas bibliotecas analisadas;
Estudo focal com bibliotecários, a fim de mapear o conhecimento desses
sujeitos acerca das possíveis relações entre mediação e SR;
Investigação dos currículos dos cursos das Escolas de Biblioteconomia,
ou questionário aplicado a estudantes finalistas desse curso, com a
finalidade de reconhecer os conceitos ensinados na formação profissional
sobre mediação e SR;
Diagnóstico e levantamento de uma ou várias realidades empíricas, em
especial, dos Sistemas de Bibliotecas Universitárias, haja vista propor
plano de ação para melhorias do SR e das práticas de mediação;
�364
Revisão Sistemática de literatura, em bases de dados, a partir do
estabelecimento de critérios que garantam seleção mais rigorosa das
fontes de consulta.
Por fim, este estudo contribui com a área de Biblioteconomia/Ciência da
Informação, pois tende a tornar mais robustas as pesquisas empíricas
realizadas no contexto das bibliotecas e até mesmo de outras unidades de
informação, como arquivos e museus. As relações apontadas servem como
sugestões de melhorias aos serviços de informação oferecidos, como também
possibilitam identificar problemas, propor soluções e pensar em inovações.
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Gestão Pública Universitária, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, maio 2017.
Agradecimentos: Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento desta pesquisa.
DADOS BIOGRÁFICOS
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Gestão e
Organização do Conhecimento. Atuante no ramo da
prestação de serviços de orientação, escrita, normalização
e lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Atua como editor e assessor do Periódico PróDiscente, como também compõe a diretoria da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de
secretário.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Célia
da
Consolação
Dias:
Graduada
em
Biblioteconomia. Mestrado e Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professora do Curso de Biblioteconomia e do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: celiadias@eci.ufmg.br
Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan: Graduada
em Biblioteconomia. Mestrado e Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professora do Curso de Biblioteconomia e do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: benildesmaculan@ufmg.br
�369
CAPÍTULO XIX - Bibliotecas universitárias e a educação a
distância: uma intermediação necessária no acesso e uso da
informação
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Beatriz Valadares Cendón
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda a temática da Educação a Distância (EaD) e a
contribuição das bibliotecas universitárias, pontuando também as práticas de
mediação que permeiam o fazer dos bibliotecários na sociedade do século XXI
no apoio à democratização do ensino. Considerando que a EaD permite acesso
mais amplo à educação, o estudo pretende contribuir para fortalecer uma
educação mais igualitária e democrática ao questionar o que as instituições de
ensino, por meio das suas bibliotecas e dos bibliotecários nelas atuantes,
podem fazer para fortalecer o processo educativo na modalidade a distância;
proporcionando o acesso aos recursos informacionais para esses alunos da
EaD.
Este artigo consiste de um recorte de pesquisa de Doutorado, conduzida
por levantamento bibliográfico, documental e entrevista a diretores de
Sistemas de Bibliotecas e os diretores do Centro de Educação a Distância e/ou
Diretores da Universidade Aberta do Brasil, com vistas a verificar o que vem
sendo desenvolvido pelas Bibliotecas Universitárias no País em termos de
atendimento aos alunos que estudam nessa modalidade. E assim tem como
um dos objetivos analisar os Sistemas de Bibliotecas das Universidades que
têm atuado no oferecimento de serviços, recursos informacionais a esses
usuários que se encontram fora do campus universitário da instituição. E
levantar indícios para a possibilidade de formalização de um plano de gestão
que possa fornecer subsídios para as bibliotecas que atuam ou precisam atuar
no apoio ao ensino a distância, mediando a informação e permitindo que o
�370
aluno dessa modalidade tenha acesso aos recursos informacionais para a sua
vida acadêmica.
O
corrente
trabalho
contemplou
apenas
uma
fase
do
percurso
metodológico da pesquisa mencionada, com levantamento de opiniões de
bibliotecários gestores sobre o papel da EaD e as contribuições exercidas pelas
bibliotecas universitárias, mediante a prestação de serviços para o apoio aos
alunos das instituições de ensino superior. Além disso, são apresentados
alguns tipos de mediação, conforme relatado na literatura, e a identificação
desses tipos nos serviços oferecidos pelas bibliotecas universitárias para o
aluno da EaD.
O tema abordado é relevante por beneficiar diversos atores envolvidos
com a prática educativa, tanto professores, quanto gestores de EaD, gestores
bibliotecários e, principalmente, usuários da modalidade a distância. O texto
tem a pretensão de despertar a consciência acerca da importância dos estudos
voltados à EaD, além de evocar o potencial dos bibliotecários para intervir mais
na educação a distância, de modo a apoiá-la para melhor qualidade do ensino
e apoio a esse usuário. A EaD tem o poder de transformação na vida das
pessoas, e as bibliotecas precisam estar no processo, intermediando a
informação, para que todos tenham acesso e façam uso das fontes e recursos
informacionais disponibilizados para a comunidade acadêmica.
2
EDUCAÇÃO
A
DISTÂNCIA,
MEDIAÇÃO
E
BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O fazer educacional tem o professor como um agente que interage com
os alunos, com vistas a estimular o senso crítico, de modo que eles possam
participar ativamente da vida em sociedade. Assim, “[...] cabe ao professor
colocar-se como ponte entre aluno e conhecimento e cabe ao aluno participar
ativamente desse processo [...]” (BULGRAEN, 2010, p. 30). No entanto, como
se
trata
de
um
processo,
a
educação
somente
ocorre
mediante
a
intermediação de determinados elementos que contribuem para a transmissão
�371
de conhecimento. Dentre esses elementos, além do professor, estão outros
profissionais que facilitam o aprendizado, como os coordenadores de disciplina,
os bibliotecários, dentre outros.
O ensino a distância é uma modalidade de educação que utiliza
tecnologias da informação e comunicação para possibilitar a transferência de
informação e o aprendizado, de modo não presencial. É graças a esse tipo de
educação
que
alunos
e
professores
permanecem
em
sintonia,
sem
necessariamente, estarem ligados a um mesmo espaço físico, a sala de aula
presencial (VIEIRA, 2011).
Abbad, Zerbini e Souza (2010) acreditam que é papel principal da EaD
garantir a democratização do conhecimento na sociedade, além da construção
de novos mecanismos de aprendizado, com valorização da aprendizagem
colaborativa estimulada pelas mídias digitais. Assim, “[...] o estudo assíncrono
e veiculado por múltiplas mídias possibilita o acesso de profissionais à
aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar [...]”. Essa característica
da EaD “[...] a torna um importante meio de democratização e ampliação do
acesso de minorias à aprendizagem e à qualificação profissional” (ABBAD;
ZERBINI; SOUZA, 2010, p. 297).
Segundo esses autores, a EaD é um
importante meio educacional que democratiza e amplia o acesso das minorias
ao aprendizado e à qualificação dos profissionais.
Embora o ensino a distância tenha tido a sua gênese no final do século
XIX, com o uso de cursos por correspondência, é com as tecnologias digitais
que a EaD se expandiu, viabilizando “[...] a disseminação e a democratização
do acesso à educação em diferentes níveis, permitindo atender à grande
massa de alunos” (HERMIDA; BONFIM, 2006, p. 34).
Com a expansão dessa modalidade educacional, novos atores passam a
fazer parte desse processo, tais como bibliotecários que atuam nas instituições
de ensino. Como observam Costa, Santa Anna e Cendón (2018, p. 1), a
EaDrequer o uso de materiais para subsidiar as atividades educativas, o que
implica que “[...] as bibliotecas universitárias devem garantir a expansão dos
serviços bibliotecários para além dos muros das instituições, contribuindo com
o ensino de qualidade a diversas partes da nação [...]”.
�372
Segundo Nogueira e Bernardino (2018), as bibliotecas universitárias não
podem se omitir no que se refere ao auxílio para a EaD. Isso porque elas têm
potencial para isso, com recursos, tecnologias e profissionais habilitados à
disseminação
do
acesso
à
informação.
Nas
bibliotecas
universitárias,
normalmente, se fazem presentes recursos humanos e materiais capazes de
garantir
“[...]
a
difusão
do
conhecimento
científico,
promovendo
a
interconexão entre pesquisadores, docentes e discentes através de redes de
conhecimento, e otimizando o processo de apropriação da informação por
parte do usuário” (NUNES; CARVALHO, 2017, p.91).
A biblioteca muito pode contribuir para o desempenho acadêmico de seus
alunos, sejam eles da modalidade presencial ou a distância, em especial
quando fornece o acesso às fontes de informação que serão utilizadas nas
disciplinas dos cursos. Costa, Santos e Barbosa (2015), ao reforçarem o papel
exercido pelas bibliotecas nos polos, afirmam que é papel da biblioteca
universitária suprir as necessidades de ensino-aprendizagem dos alunos da
EaD, mediante a oferta de pesquisa laboratorial e pesquisa nos acervos, sendo
que o intuito dessa intervenção é atender as demandas do ensino e da
produção de conhecimento no ensino superior.
O termo mediação denota diferentes significados, e como tal, pode ser
aplicado a diferentes contextos. Neste texto, ele é entendido como toda ação
de interferência, conduzida por profissional da informação, que vise a
apropriação da informação, seja ela materializada em diferentes suportes e
utilizada para diferentes finalidades (ALMEIDA JÚNIOR, 2015).
Nessa perspectiva, concerne às bibliotecas universitárias conservarem-se
em constante processo de atualização e procurarem “[...] estar preparadas
para atuarem como mediadoras [...] assim como procurarem trabalhar as
insuficiências de seus usuários no âmbito da informação [...]”. Os bibliotecários
que atuam nesse contexto, assumem o papel de mediadores, ou seja, realizam
práticas de mediação como contributo ao processo educativo (NOGUEIRA;
BERNARDINO, 2018, p. 45). Na visão de Sena e Chagas (2015), o bibliotecário
que atua nas universidades assume o papel de mediador entre o documento e
o seu leitor, e com a EaD, esse profissional precisa conhecer os recursos
�373
informacionais disponíveis para ser capaz de pesquisar conteúdos no uso da
informação. Entende-se que, na EaD, a mediação se intensifica com a oferta de
conteúdo exigido nas bibliografias básicas e complementares dos cursos, como
também com o acesso a esse conteúdo.
Especificamente, no contexto das bibliotecas universitárias, a mediação
está diretamente relacionada às diversas atividades que permeiam o fluxo
informacional, resultando na disseminação e no uso da informação por parte
do usuário. Nunes e Carvalho (2017) reforçam que a mediação envolve um
conjunto de intervenções, sejam elas direcionadas ao acesso e uso da
informação, sejam elas voltadas à cultura e ao lazer, além de envolver,
também, práticas de leitura que podem ser muito bem exploradas pelas
bibliotecas das universidades. Para Almeida Júnior e Santos Neto (2014), as
atividades dos bibliotecários direcionadas à mediação podem se manifestar no
processamento técnico de materiais, em que a necessidade do usuário precisa
ser colocada em primeiro lugar, ou pode se manifestar nos serviços de
referência, além de se manifestar, também, em outras atividades que
possibilitem a aproximação da biblioteca com o universo informacional.
As práticas de mediação precisam permear o trabalho do bibliotecário,
independentemente de serem realizadas no ambiente físico ou digital. Na visão
de Silva e Gallotti (2019), específica para os bibliotecários da EaD, estes
atuam em quatro vertentes de trabalho, que são: serviços virtuais e digitais;
mediação,
competência
e
capacitação
informacional;
formação
e
desenvolvimento de coleções; e interação e apoio didático. No que se refere à
vertente “mediação, competência e capacitação informacional”, alguns serviços
a serem prestados são: auxílio no uso de fontes de informação, mediação em
buscas personalizadas, capacitação da equipe didático-pedagógica para acesso
a bases de dados, preparação de auxiliares de bibliotecas para atuarem nos
polos e capacitação de professores conteudistas e professores virtuais (SILVA;
GALLOTTI, 2019).
Alguns autores buscam categorizar os diferentes tipos de mediação. Por
exemplo, Nunes e Carvalho (2017) nomeiam os seguintes tipos: mediação
documentária
(tratamento
de
acervos),
mediação
educacional
�374
(atendimento a alunos e professores) e mediação cultural (ações de
entretenimento e valorização da cultura). Segundo Nogueira e Bernardino
(2018), as atividades operacionais realizadas pelo bibliotecário no recinto da
biblioteca é o que se chama de mediação técnica, embora outras formas de
mediação constituam também o fazer do bibliotecário, como a mediação
pedagógica e a institucional. As práticas de mediação da informação no
contexto das bibliotecas universitárias são dinamizadas em sua forma técnica
por meio do desenvolvimento de coleções, “[...] processamento técnico, de
técnicas de preservação, restauração e conservação do acervo assim como na
alimentação correta das redes sociais, na sinalização do espaço físico da
biblioteca, dentre outros processos [...]” (NOGUEIRA; BERNARDINO, 2018, p.
55). A mediação pedagógica acontece em parceria com o serviço de
referência e disseminação de informação, e a mediação institucional
acontece com intermédio de outros setores da instituição, como as ações
culturais sustentadas pelos projetos de pesquisa e extensão, por exemplo. Já,
para Costa e Fofonca (2017), a mediação tecnológica é constituída pelo
conjunto de tecnologias da informação e comunicação capazes de ligar pessoas
em diferentes locais, tendo como espaço de encontro a internet. Quando se
trata
de
educação,
essas
tecnologias
fomentam
práticas
pedagógicas
educomunicativas, cujo conhecimento é socializado sem a necessidade de
interação física entre humanos.
No contexto da EaD, a mediação pode se manifestar de modo explícito,
ou seja, quando o aluno interage no processo, ou de modo implícito, quando
não há presença direta do usuário, como apontado no estudo de Almeida
Júnior e Santos Neto (2014). A biblioteca como equipamento cultural
(ALMEIDA JÚNIOR, 2015), pode realizar essas duas formas de intervenção
(implícita e explícita), e, em ambos os casos, ela se comporta como peça
estratégica para diminuir os problemas com o acesso igualitário à informação,
através do uso das novas tecnologias e da capacitação em informação
(SUAIDEN; FREITAS, 2017). Como exemplos de mediação explícita citam-se os
seguintes
serviços:
treinamentos,
disseminação
seletiva,
serviços
de
referência, entre outros; já como mediação implícita estão todos os serviços de
�375
organização e tratamento da informação, como catalogação, indexação, dentre
outros (ALMEIDA JÚNIOR; SANTOS NETO, 2014).
O Quadro 1 procura sintetizar os principais tipos de mediação apontados
na literatura, suas definições e os respectivos autores. O esclarecimento acerca
dessas tipologias é necessário, pois contribui para a identificação das mesmas
nas atividades e serviços realizados pelos bibliotecários nas universidades
investigadas
neste
artigo.
Observe-se
que
algumas
dessas
categorias,
definidas por diferentes autores, se sobrepõem. É o caso das categorias
mediação
institucional e
mediação cultural e das categorias mediação
documental e mediação técnica. Já no caso das categorias mediação
pedagógica
e
mediação
educacional,
entendeu-se
que
são
apenas
nomenclaturas diferentes para a mesma atividade.
Quadro 1 - Principais tipos de mediação apontados na literatura
Tipo de mediação
Definição
Pedagógica ou
Educacional
Explícita
Institucional
Cultural
Documentária
Implícita
Acontece mediante a interação do
bibliotecário com usuários no serviço
de referência e disseminação de
informação, visando o aprendizado
no
uso
dos
instrumentos
de
pesquisa.
Atendimento a alunos e professores,
com vistas a contribuir para as
atividades acadêmicas requeridas no
processo de ensino.
Manifesta-se com o intermédio de
outros setores da instituição, a
maioria das vezes, envolve projetos
culturais e ações juntos aos projetos
de extensão nas instituições.
Ações
de
entretenimento
e
valorização
da
cultura
que
estimulem ou explorem outras
potencialidades de bibliotecas e
equipamentos
de
cultura,
informação e educação.
Tratamento de acervos comumente
realizado em bibliotecas e demais
unidades de informação, visando a
recuperação. Constitui as atividades
que permeiam os serviços de
organização
e
tratamento
da
informação,
como
catalogação,
indexação, dentre outros.
Autoria
Nogueira
Bernardino
(2018)
Nunes
Carvalho
(2017)
e
e
e
Nogueira
Bernardino
(2018)
e
Nunes
Carvalho
(2017)
e
Almeida
Júnior
e
Santos Neto
(2014)
e
Nunes
e
Carvalho
(2017)
�376
Tipo de mediação
Definição
Técnica
Atividades operacionais realizadas
pelo bibliotecário no recinto da
biblioteca:
desenvolvimento
de
coleções, processamento técnico,
técnicas de preservação, restauração
e conservação do acervo assim como
alimentação
correta
das
redes
sociais, sinalização do espaço físico
da
biblioteca,
dentre
outros
processos.
Tecnológica
Constituída
pelo
conjunto
de
tecnologias
da
informação
e
comunicação
capazes
de
ligar
pessoas
em
diferentes
locais,
visando o aprendizado em atividades
educativas
para
formação
profissional.
Fomentam
práticas
pedagógicas educomunicativas, cujo
conhecimento é socializado sem a
necessidade de interação física entre
humanos.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2020).
Autoria
Nogueira
Bernardino
(2018)
e
Costa
Fofonca
(2017)
e
A mediação é um fazer que acompanha todo o trabalho do bibliotecário,
como enfatizado pelos autores descritos no Quadro 1. Nas bibliotecas
universitárias, as práticas de mediação possibilitam que o bibliotecário atue
não apenas como mediador da informação, mas como mediador e também
facilitador da ação educativa, através de tecnologias que trouxeram facilidades
e desafios nesse processo, o que exigirá o envolvimento de toda a
universidade (NOGUEIRA; BERNARDINO, 2018).
Pellegrino (2012, p. 31) entende que é através da atuação do
bibliotecário como mediador da informação, por meio de personalização de
serviços, de buscas adaptadas às necessidades dos usuários, de seleção de
links e disponibilização de conteúdos específicos, por meio de treinamentos e
tutoriais, que se consegue o diferencial requerido pela EaD. Ou seja, para a
mediação efetiva é preciso inovar, oferecer outros modos de contato e de
interação entre usuários e bibliotecários. Assim, entende-se que, para o aluno
da EaD, a mediação é algo importante, que precisa se manifestar por meio dos
serviços de informação oferecidos pelas bibliotecas.
Por meio da mediação, a biblioteca buscará outros meios de interação,
em que os profissionais terão como aliadas a tecnologia e as ferramentas
disponibilizadas no mercado que possibilitarão o auxílio, sobretudo nos
�377
procedimentos de pesquisa, de modo a auxiliar alunos, professores e
bibliotecários no acesso à informação para apoio aos trabalhos acadêmicos
(NOGUEIRA; BERNARDINO, 2018). Santos Neto e Almeida Júnior (2017)
acreditam que as práticas de mediação têm se ampliado com o uso da
internet, em que a biblioteca redefine os produtos e serviços oferecidos, sendo
necessário, a princípio, criar um site institucional e disponibilizar os serviços
nessa plataforma, além de utilizar redes sociais com o fim de divulgar o que
pode ser oferecido aos alunos. A biblioteca universitária tem um papel
fundamental no acesso à informação e apoio à aprendizagem, e com as
tecnologias esse compromisso se concretiza com mais facilidade, desde que
haja esforços empreendidos pelos agentes envolvidos com a educação nas
instituições de ensino superior (SILVA; GALLOTTI, 2019).
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho aborda uma visão pragmática enfatizando o problema de
pesquisa e utilizando-se de abordagens pluralistas para obter conhecimento
sobre o problema sem se comprometer com um sistema particular de filosofia
(positivista ou construtivista), e escolhendo métodos, técnicas e procedimentos
de pesquisa que melhor atendem às suas necessidades e propósitos.
O estudo quanto a sua natureza está sob o enfoque da pesquisa
aplicada. Segundo Gil (1991), a pesquisa aplicada apresenta um propósito
dedicado à geração de conhecimento para solução de problemas específicos,
dirigido à busca da verdade para determinada aplicação prática.
Quanto aos objetivos pretendidos, a pesquisa classifica-se como do tipo
exploratória e descritiva. A pesquisa é de cunho exploratório no que tange à
compreensão do problema da pesquisa no contexto em que ele ocorre, sendo o
assunto tratado com profundidade (GIL, 2008). Ainda de acordo com Gil
(1991),
pesquisas
exploratórias
objetivam
facilitar
familiaridade
do
pesquisador com o problema objeto da pesquisa, para permitir a construção de
hipóteses ou tornar a questão mais clara.
�378
As entrevistas foram realizadas no período de 19 de novembro a 10 de
março de 2020 com os diretores dos Sistemas de Bibliotecas de seis
instituições federais de ensino superior brasileiras (Universidade Federal do
Amazonas, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de
Ouro Preto, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de
Brasília e Universidade Federal Rural de Pernambuco). Tiveram o propósito de
levantar opiniões dos bibliotecários gestores sobre o papel da EaD e as
contribuições dos bibliotecários, identificar os serviços prestados e recursos
oferecidos para o alunado da EaD além deidentificar, nos serviços oferecidos,
práticas de mediação que são realizadas ou que podem ser realizadas pelos
bibliotecários no contexto da EaD. Para tanto, o roteiro de entrevista foi
composto por cinco questões.
Portanto na seção seguinte, através da descrição dos dados levantados,
apresentam-se esses propósitos, buscando também discutir as ações de
mediação da biblioteca. O texto confronta os comentários dos entrevistados
com a literatura e estudos publicados sobre o assunto mostrando pontos de
convergência ou complementaridade. Amplia, ainda, a discussão valendo-se da
literatura e sugerindo caminhos com relação ao tema tratado
3.1 A PERCEPÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS GESTORES
As percepções dos bibliotecários gestores foram enquadradas nas
seguintes
categorias: contribuições da EaD para a
democratização da
educação, contribuições das bibliotecas universitárias para a EaD, papel da
tecnologia para a EaD e para a mediação, papel da biblioteca no apoio ao
ensino-aprendizagem e para o estímulo à interação e sociabilidade.
No que se refere ao papel da EaD no ensino superior brasileiro, as
respostas dos entrevistados assemelham-se no que tange à democratização do
ensino, à capacidade em levar a educação para lugares mais distantes e à
oportunidade de conceder o estudo a todas as pessoas, inclusive àquelas que
�379
não possuem tempo para estudar, por causa do trabalho. O Quadro 2 expõe os
comentários que evidenciam essas características do ensino a distância.
Quadro 2 – A contribuição da EaD na visão dos diretores de Sistemas
Na sua opinião, qual o papel da educação a distância no ensino superior
brasileiro?
Instituição
Comentários
UFAM
“Eu entendo que a EaD contribui para a ampliação do ensino. Pode
contribuir muito mais, principalmente, com pessoas que não tem
tempo disponível para se dedicar ao ensino presencial.
Consequentemente, a EaD contribui para o barateamento da
educação. Em especial as instituições privadas não precisam investir
tanto em infraestrutura, para poder receber um número maior de
estudantes [...]”
UFMG
“Ampliar a oportunidade de formação da sociedade [...]; dar acesso
mesmo à educação”
UFOP
“Levar o conhecimento às pessoas que não têm tempo de estar ali,
presencialmente [...]. Levar o conhecimento a pessoas que não têm
condições de se deslocar para outros lugares, onde há uma
instituição, uma faculdade. Então, para mim, o papel da EaD é
estratégico, no sentido de possibilitar a formação de profissionais,
em especial de pessoas que trabalham o dia todo, que não têm
tempo de estudar durante o dia [...]”
UFRGS
“Bom, eu acho a EaD fundamental, considerando o tamanho do
nosso país e considerando as desigualdades regionais e de acesso
das pessoas aos grandes centros universitários. Então, a EaD é
fundamental para democratizar o acesso ao ensino superior [...]”
UFRPE
“A Educação a distância é uma alternativa para a democratização da
educação superior no Brasil. Para um país com um território de
dimensões continentais, disponibilizar educação de qualidade para
todos é um enorme desafio. Acredito que a EaD se apresenta como
uma ferramenta nesse contexto [...]”
UnB
“Depois das expansões das universidades, instituições de ensino
superior, federais e estaduais, talvez de 2008 para cá, a gente pode
observar que é muito importante que as universidades cheguem em
locais para além dos grandes centros [...]”
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
No Quadro 2, nota-se que os gestores concordam que EaD tem o
propósito de romper os limites geográficos e temporais, sendo essa uma
estratégia viável para estimular a prática educativa em todos os cidadãos. As
entrevistas evidenciam que os diretores dos sistemas de bibliotecas concordam
que a EaD facilita o oferecimento da prática educativa para todos os cidadãos,
contribuindo para a democratização do conhecimento. Essa posição está de
acordo com trabalhos publicados na área da Educação, como o estudo de
Moore e Kearsley (2008), que afirmam que o papel da EaD é proporcionar o
acesso democrático à educação, mesmo que os envolvidos, alunos e
professores, estejam em locais diferentes. Ainda na percepção desses autores,
a EaD é o aprendizado planejado “[...] que ocorre normalmente em um lugar
�380
diferente do local do ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e
de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições
organizacionais e administrativas especiais” (MOORE; KEARSLEY, 2008, p. 2).
Quando os entrevistados foram questionados sobre a contribuição das
bibliotecas universitárias para a EaD, as respostas obtidas corroboram o
pensamento de Suaiden e Freitas (2017) quando dizem serem as bibliotecas
universitárias estratégicas no apoio aos alunos da EaD, para diminuir as
dificuldades para o acesso igualitário à informação, através do uso das novas
tecnologias e da capacitação em informação. Nas percepções de alguns dos
bibliotecários
entrevistados,
a
contribuição
da
biblioteca
é
apoiadora,
sobretudo na oferta dos serviços informacionais, que envolvem atividades
voltadas ao provimento de materiais de estudo para os alunos. As respostas
revelaram que, para os entrevistados, biblioteca e EaD precisam ser elementos
indissociáveis. A relação entre esses dois elementos é de extrema importância,
sobretudo
pelos
materiais
que
são
procurados
pelos
alunos
no
desenvolvimento das atividades acadêmicas solicitadas pelos professores, o
que demonstra que a biblioteca tem um papel de apoiar o processo de ensinoaprendizagem.
Em suas entrevistas, os bibliotecários gestores, em sua maioria,
destacam o papel desempenhado pelas tecnologias, observando que elas não
eliminam a interação humana. Nesse sentido, a educação quando ofertada na
modalidade a distância, tem na tecnologia um apoio ou contribuição voltada à
mediação. Com essas tecnologias, o ensino se descentraliza, indo ao encontro
de diferentes públicos, independente das limitações de tempo e de espaço:
[...] permite novas formas de aprendizagem, tanto na expansão do
acesso ao ensino superior, via o atendimento de novos públicos que
estão [...] longe, que não têm acesso ao ensino superior presencial [...]”
(Comentário UFRGS).
Entende-se, desse comentário, que as bibliotecas universitárias podem
contribuir para a EaD e apoiar o processo de ensino-aprendizagem, uma vez
que elas podem ajudar o aluno a ter acesso aos recursos informacionais para
as suas atividades acadêmicas, mediando a busca pela informação.
�381
Outro aspecto revelado nos comentários dos participantes diz respeito à
capacidade da biblioteca de promover a sociabilidade dos alunos, ou seja, para
além do provimento de informação, a biblioteca pode possibilitar um espaço
para diálogos, compartilhamentos, esclarecimentos de dúvidas, dentre outras
atividades que promovam a sociabilidade dos alunos da EaD, seja em
ambiente presencial ou digital. Além de contribuir para o ensino-aprendizagem
e para a sociabilidade dos alunos, as bibliotecas, na EaD, podem contribuir
para a formação desses alunos, o que demonstra o papel formativo das
bibliotecas no contexto da EaD.
O Quadro 3 apresenta os comentários correspondentes sobre essas três
contribuições
da
biblioteca
para
o
aluno
da
EaD:
apoio
no
ensino-
aprendizagem, estímulo à interação e sociabilidade e o papel formativo.
Quadro 3 – Contribuições da biblioteca na Educação a Distância
Na sua opinião, qual a relação e contribuição da biblioteca universitária com a EaD?
Contribuição
Comentários
“[...] A biblioteca é muito importante para poder guiar esse
aluno, a fim de ter acesso às fontes de informação [...]”
(Comentário UFAM)
“[...] Ele [o aluno da EaD] tem contato com a pesquisa, os
acervos em geral, não só com os específicos da área dele.
E a biblioteca vai dar essa oportunidade de ampliar os seus
conhecimentos” (Comentário UFMG)
Ensino-aprendizagem
“[...] O bibliotecário atua em atividades que possam também
ajudar na capacitação deles [alunos]. [...] Este é um dos
grandes braços que os bibliotecários podem ter, que são as
capacitações [...]. E o aprendizado mesmo, que eles chamam
de letramento informacional: ensinar o aluno como pesquisar,
como
produzir
documento,
como
esquematizar
o
conhecimento, como ter acesso às normas solicitadas [...].
Enfim, dar este suporte para a sala de aula e para o professor
[...]” (Comentário UNB)
“[...] A biblioteca é um espaço de socialização. Não tem como
Sociabilidade
não ser, muita coisa acontece na biblioteca: os encontros entre
alunos, as discussões também. Ela é muito importante, sim
[...]” (Comentário UFOP)
“[...] A biblioteca atua não somente em termos de acesso [a
recursos informacionais], porque muita coisa está disponível
fora da biblioteca. A biblioteca precisa atuar muito no sentido
formativo, de boas condutas e até de esclarecimentos para
confiabilidade das informações [...]” (Comentário UFRGS)
“A biblioteca insere-se dentro da universidade como órgão
Papel formativo
fundamental de atuação no processo de ensino-aprendizagem.
Também se caracteriza pelo seu papel na promoção do gosto
pela pesquisa e na formação de novos projetos, seja no ensino,
pesquisa ou extensão universitária [...]” (Comentário UFRPE)
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
�382
3.2 SERVIÇOS E RECURSOS OFERECIDOS AO ALUNO DA EAD
Esta
subseção
trata
dos
serviços
oferecidos
pelas
bibliotecas
universitárias e que por sua vez podem ser estendidos às bibliotecas dos polos
e aborda as percepções dos bibliotecários gestores sobre o oferecimento
igualitário desses serviços para os alunos da EaD e a importância das
bibliotecas polo para tal.
O Quadro 4 expõe serviços/recursos que já são oferecidos pelos
Sistemas de Bibliotecas das instituições pesquisadas. Apresentou-se esta
relação aos entrevistados, com a pergunta: Dos serviços relacionados a seguir
quais devem fazer parte do universo da EaD, se ainda não o são? Ou seja, a
pergunta buscou elicitar dos entrevistados, a partir dos serviços já oferecidos,
usualmente,
nas
bibliotecas
universitárias
para
os
alunos
dos
cursos
presenciais, quais podem e devem fazer parte do universo da EaD?
Quadro 4 – Serviços informacionais que devem fazer parte do universo da EaD
Tipo de serviço
UFOP
UFMG
UFRPE
UFAM
UFRGS
UNB
Empréstimo domiciliar
X
X
X
X
X
Empréstimo entre bibliotecas
X
X
X
X
Solicitação de artigos/outros via
X
X
X
X
X
Comutação Bibliográfica
Levantamento bibliográfico
X
X
X
X
X
Portal de Periódicos da Capes
X
X
X
X
X
X
E-books
X
X
X
X
X
X
Pesquisas em bases de dados
X
X
X
X
X
X
Normalização bibliográfica
X
X
X
X
X
Solicitações por telefone
X
X
X
X
X
X
Acesso a livros
X
X
X
X
X
X
Teses e dissertações
X
X
X
X
X
X
Consultas às obras raras
X
X
X
X
X
X
Consultas em periódicos
X
X
X
X
X
X
Consultas
aos
materiais
X
X
X
X
X
X
especiais (áudio, vídeo, mapas,
partituras)
Repositórios institucionais
X
X
X
X
X
X
Bibliotecas digitais
X
X
X
X
X
X
Participação em treinamentos
X
X
X
X
X
X
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
X: Indica que a biblioteca pode oferecer o item correspondente para alunos de EaD.
Dos 17 serviços apresentados no Quadro 4, por meio das entrevistas
com
os
bibliotecários,
constatou-se
que
sete
podem
ser
oferecidos,
exclusivamente, por meio de serviços on-line, tais como: Portal de Periódicos
da Capes, E-books, Pesquisas em bases de dados, Biblioteca Digital de Teses e
�383
dissertações, Consultas em periódicos on-line, Repositórios institucionais e
Bibliotecas digitais. Seis serviços apenas podem ser oferecidos nas bibliotecas
físicas,
como:
Empréstimo
domiciliar,
Empréstimo
entre
bibliotecas,
Solicitações por telefone, Acesso a livros, Consultas às obras raras e Consultas
aos materiais especiais (áudio, vídeo, mapas, partituras). Neste caso, entendese que pode haver uma intermediação entre as Bibliotecas físicas do Sistema e
as Biblioteca dos Polos para atendimento ao aluno da EaD no Polo ou criação
de mecanismo, serviços para apoiar esses alunos.
serviços
(Solicitação
de
artigos/outros
via
Por sua vez, os demais
Comutação
Bibliográfica,
Levantamento bibliográfico, Normalização bibliográfica e Participação em
treinamentos) podem ser oferecidos tanto como serviços on-line quanto no
ambiente físico da biblioteca.
Todos os entrevistados enfatizaram a importância de atendimento aos
alunos de EaD e pensam no oferecimento, para a EaD, de alguns serviços que
atualmente são exclusivos de ambiente presencial. Embora tenham serviços
que possam ser oferecidos, exclusivamente, como serviços on-line, percebe-se
ainda, que há interesse na oferta de serviços realizados presencialmente, além
da oferta de serviços híbridos, oferecidos tanto no ambiente físico como no
digital. Essa diferenciação quanto a forma de oferta do serviço se assemelha
ao que defendeu o estudo de Costa, Santos, Barbosa (2015, p. 55), quando
afirmaram que as bibliotecas “[...] precisam se adaptar aos novos tempos para
irem de encontro às necessidades dos usuários atuais, sendo eles usuário
presencial ou remoto”.
Segundo os gestores pesquisados, apenas cinco serviços não são
disponibilizados para o aluno da EaD, de acordo com todas as instituições:
empréstimo domiciliar (não oferecido em uma instituição), empréstimo entre
bibliotecas (em duas instituições), solicitação de artigos (em uma instituição),
levantamento bibliográfico (em uma instituição) e normalização bibliográfica
(em uma instituição). Ressalta-se que, nesse último serviço, segundo o
participante, o que se oferece são orientações de como se normalizar um
trabalho acadêmico.
�384
As razões apresentadas para a não disponibilização desses serviços ao
aluno de EaD são variadas: indisponibilidade desses serviços, serviços não
terem sido solicitados por nenhum aluno da EaD, ou porque exigiriam um
serviço de transporte entre as bibliotecas dos campi e a residência do aluno ou
na biblioteca polo, o que não seria possível; ou ainda porque o serviço já existe
na biblioteca do Polo do aluno.
Embora acreditem que tanto o aluno presencial quanto o aluno da EaD
devem ter acesso aos recursos informacionais, igualmente como os alunos dos
cursos presenciais como se vê no comentário abaixo:
“[...] É o seguinte! A gente não faz nenhuma diferenciação em termos
de prestação de serviços para aluno EaD e presencial. Para nós, é aluno
de graduação. A gente sabe que os alunos de EaD têm uma limitação,
quando estão distantes da universidade. Mas, fora isso, para nós, é
indiferente se eles são EaD ou não! São alunos de graduação”
(Comentário UFRGS).
Destacam que diversos desafios se manifestam, em especial quando se
trata de materiais físicos, considerando as dificuldades existentes para
transporte do material. E mencionam a importância da biblioteca polo no
oferecimento de serviços. Como relatado por um entrevistado:
“[...] A biblioteca adquirindo [material impresso], obviamente, os alunos
de EaD vão ser favorecidos. Nessa dificuldade eu não tenho ainda como
interferir; nós não temos como suprir esses serviços de malote. Mesmo
porque um curso de EaD, não significa que é só gente de dentro do
estado [...]. Pode ter gente lá do Acre. Eu acho muito difícil dar acesso
ao livro físico para o aluno da EaD. Vai ser mais fácil ele ter o acesso ao
livro físico na biblioteca polo. [...] Por isso, eu acredito que precisa
dessa interação, pois quem dá este suporte todo é a instituição onde o
aluno faz o curso [...]” (Comentário UFMG).
Embora o acesso físico a determinados materiais represente um
obstáculo, os entrevistados acreditam que essa dificuldade precisa ser
superada. Daí, a importância de se ter uma biblioteca no polo de apoio
presencial. Segundo um dos entrevistados, o desejável seria que a bibliotecapolo os oferecesse ao invés do atendimento à distância:
“[...] Tudo que foi colocado aqui como serviço, mais ou menos está
relacionado com a pergunta [...]. Existe a proposta de uma biblioteca
nos polos que ofereça esses serviços. Se ela não conseguir, a gente vai
oferecer esses serviços em EaD. [...] Se a gente conseguisse atender
todos esses serviços nos polos seria perfeito [...]” (Comentário UFOP)
�385
Portanto, as bibliotecas dos polos precisam ser valorizadas pelas
instituições, visto que elas constituem estruturas de apoio à formação do aluno
da EaD, “[...] principalmente para aqueles que não possuem recursos
financeiros para adquirir os materiais bibliográficos, para acessar a internet e
que precisam consultar os materiais impressos recomendados aos seus
estudos [...]” (ROCHA, 2019, p. 22). Evidenciou-se, no estudo de Costa e
Cendón (2015), a necessidade de interlocução entre bibliotecas situadas na
sede do campus universitário e as bibliotecas existentes nos polos de apoio
presencial. O estudo sugere
[...] a integração entre as bibliotecas universitárias, ou sistemas de
bibliotecas com as bibliotecas dos polos, de modo a ampliar a
contribuição dessas unidades aos cursos oferecidos a distância, [...],
para que esse alunato da EaD tenha acesso e uso dos recursos
informacionais necessários para suas atividades de pesquisa acadêmicocientífica (COSTA; CENDÓN, 2015, p. 92).
É importante destacar que alguns dos entrevistados acreditam que para
o oferecimento igualitário de serviços para o aluno de EaD, além de apoio
pelas bibliotecas dos polos, é importante a criação de setores, serviços para
atendimento desses alunos nas bibliotecas universitárias. Não obstante
iniciativas nesse sentido inexistem no momento das entrevistas. Uma das
gestoras entrevistadas informou que já chegou a ter no Sistema de Biblioteca
um Setor de Apoio as Bibliotecas dos Polos e, consequentemente, de apoio aos
alunos da EaD da instituição, estando este Setor hoje inativo por falta de
pessoal. E em outra instituição houve a proposta de criação de um setor de
apoio a EaD que sequer foi concretizada, devido à falta de infraestrutura, ou
porque segundo a entrevistada, acreditou-se não ser o referido setor
necessário.
3.3 O PAPEL MEDIADOR DA BIBLIOTECA
Pelos serviços oferecidos pelas bibliotecas analisadas para os alunos de
EaD e de acordo com o Quadro 1, percebe-se que a mediação deve está
presente no trabalho do bibliotecário que atua em bibliotecas universitárias,
�386
com vistas a atender ao alunado da EaD através do oferecimento de recursos,
serviços e materiais necessários para realização das atividades estudantis.
A mediação observada nas entrevistas e serviços oferecidos ocorre em
ambas as modalidades explícita e implícita. Dentro da modalidade explícita,
percebe-se a existência da mediação institucional, pedagógica, documentária,
técnica e tecnológica como será discutido a seguir.
A mediação institucional manifesta-se principalmente no apoio que a
biblioteca dá ao tripé ensino, pesquisa e extensão. Também acontece mediante
o apoio dos bibliotecários junto aos centros de EaD, quando realizam
atividades de incorporação dos materiais produzidos por esse centro no
repositório institucional da universidade. Constata-se, também, mediação
institucional, quando bibliotecários são enviados para realizar estudos junto
aos polos de apoio presencial, ou até mesmo, com apoio dos centros de EaD,
treinarem funcionários para atuarem no atendimento aos alunos nos polos. A
mediação institucional também está presente no contexto das bibliotecas da
EaD, sobretudo em virtude dos investimentos que precisam ser despendidos
para oferta do ensino a distância nas universidades. Para que o bibliotecário
ofereça serviços em diferentes formatos, é preciso apoio e integração com
outros setores institucionais, o que depreende a importância de argumentos
válidos que despertem convencimento nos gestores das instituições. Para
Nogueira e Bernardino (2018, p. 47), a mediação do bibliotecário também
precisa ser institucional, estando associada aos procedimentos de como o
profissional da informação irá buscar recursos variados, como infraestrutura,
recursos humanos, financeiros, acervos, dentre outros “[...] seja dentro ou
fora da instituição que o centro de informação está inserido para concretizar
suas ações e interferências [...]”.
A mediação pedagógica manifesta-se com destaque para os serviços de
treinamento de usuários, cujo objetivo principal é tornar os alunos mais
autônomos nas buscas por materiais que subsidiam as atividades acadêmicas.
Na
modalidade
implícita,
fica
subentendida
a
presença
da
mediação
documentária e técnica. A documentária através do tratamento dos acervos
através da catalogação, indexação, dentre outros. A técnica através das
�387
atividades operacionais tais como o desenvolvimento de coleções, a aquisição
ou disponibilização de materiais, em correspondência com as bibliografias dos
cursos ou a alimentação correta de redes sociais, por exemplo. Com a EaD, se
intensifica ainda a mediação tecnológica, que vem para contribuir para os
demais agentes humanos envolvidos com a transmissão e compartilhamento
de conhecimento.
Na visão de Pellegrino (2012), os serviços de busca bibliográfica são
mediados pelo bibliotecário, sobretudo quando esse incorpora ferramentas de
busca que possibilitam a autonomia do usuário. Essa mediação pode ser do
tipo implícita, documentária e técnica, uma vez que o bibliotecário atua na
oferta de recursos disponibilizados nas bases de dados, por exemplo.
Pellegrino
(2012)
também
menciona
os
serviços
de
treinamentos,
mencionando que os usuários que recorrem a esse serviço têm mais sucessos
em suas buscas bibliográficas. No caso dos treinamentos, a mediação se
manifesta como explícita e pedagógica, considerando a interação entre
usuários e bibliotecários.
Entre os tipos de mediação identificados na literatura, não se observou
nos serviços investigados a presença da mediação cultural, embora fosse
possível o oferecimento desse tipo de mediação em especial, nas bibliotecas
dos polos. Conforme Rocha (2019, p. 14), as bibliotecas localizadas nos polos
poderiam oferecer uma diversidade de serviços, muitos deles relacionados à
preservação das características regionais, haja vista “[...] permitir que a
população descubra e valorize a sua origem, cultura, história, seus aspectos
físicos e naturais, seu povo e seu espaço” (ROCHA, 2019, p. 14).
Com base no que foi relatado nas entrevistas com os bibliotecários
gestores, sobre o papel da EaD, constatou-se que a mediação é um fazer que
está por trás da ação educativa e que, com as tecnologias, o conhecimento vai
sendo socializado, mediante um ciclo de compartilhamento, em que pessoas
comportam-se como mediadoras, aprendendo uma com as outras:
“[...] Assim, a gente tem mais um braço da educação superior que
fortalece a formação de estudante de graduação pelo Brasil, [...] que, às
vezes, tem problemas de locomoção, de finanças, de tempo [...]. Enfim,
cada um tem sua forma de aprender. Eu acho que o ensino a distância é
muito interessante e parece que tem se mostrado bastante sólido,
�388
bastante promissor [...]. A impressão que tenho é que o ensino a
distância cada vez mais vem ganhando adesão dentro da educação
superior brasileira, principalmente por garantir o compartilhamento e
colaboração no aprendizado [...]” (Entrevistado UNB).
Nesse contexto, depreende-se que a biblioteca comporta-se como
mediadora do processo de ensino-aprendizagem, ao oferecer serviços e
produtos de informação para os usuários do ensino a distância. Esses serviços,
por serem diversificados e oferecidos em diferentes formatos, possibilitam
diferentes práticas de mediação, seja ela de natureza implícita, explícita,
pedagógica, institucional, documentária, técnica e tecnológica.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, foi possível verificar, entre outros resultados, que os
bibliotecários
gestores
têm
a
percepção
de
que
a
EaD
possibilita
a
democratização do ensino, levando informação e educação para diferentes
partes do país, sem limitar-se no tempo e no espaço. Evidenciou-se que essa
modalidade de educação pode ser beneficiada com o trabalho desenvolvido
pelas bibliotecas universitárias na oferta dos serviços já tradicionais adaptados
para a EaD.
Os resultados revelam que as bibliotecas podem oferecer para os alunos
de EaD, assim como já é oferecido para os alunos dos cursos presenciais,
desde os serviços básicos, como empréstimo do material informacional, livros,
periódicos, dentre outros, até a orientação no levantamento e normalização
bibliográficas, ou atividades que requerem interferência mais profunda, como
acesso ao acervo físico, à bibliografia básica dos cursos, aos repositórios
institucionais e biblioteca virtual como o Portal de Periódicos da Capes, além de
prover treinamentos para garantir o acesso a esses serviços. Em todos esses
serviços,
constataram-se,
conforme
a
literatura,
ações
de
mediação,
manifestadas de forma implícita ou explícita, como a mediação documental,
técnica, institucional e pedagógica, tecnológica, não tendo sido percebida a
presença da mediação cultural.
�389
Embora os entrevistados tenham manifestado interesse no oferecimento
de atendimento a EaD, os dados oriundos das entrevistas com diretores de
sistemas de bibliotecas universitárias, revelaram a inexistência de serviços
proporcionados, exclusivamente, para apoio a alunos da EaD. Para que sejam
criados serviços próprios para este usuário, é preciso que os bibliotecários
procurem conhecer a realidade do usuário da EaD. Desse modo, poderão
realizar de fato a mediação dos serviços e produtos das bibliotecas e colocá-los
à disposição desse alunado. Os usuários dessa modalidade de ensino,precisam
desse apoio tendo em vista que, na sua maioria encontram-se extra campus
universitário, o que evidencia a necessidade de engajamento, criatividade e
interferências dos bibliotecários, com vistas a tornarem-se mediadores ativos e
criarem políticas de atendimento a esse usuário. É importante que seja
facilitado o acesso e uso aos recursos informacionais para esses alunos. Em
todos os casos, é preciso fomentar a consciência da mudança e da inovação no
bibliotecário, de modo que possa atuar para a contribuição do Ensino a
Distância. Afirmam Nunes e Carvalho (2017, p. 107) que os profissionais
precisam ser estimulados à criatividade, à ética e ao compromisso social “[...]
para que eles possam assumir de modo consciente seu papel como mediadores
da informação”.
Ainda que a realidade levantada demonstre que os bibliotecários
gestores sensibilizam-se com relação a EaD, percebe-se, para que o aluno
tenha acesso, e ao mesmo tempo possa fazer uso desses materiais
informacionais para apoio nos seus estudos acadêmicos, as bibliotecas
universitárias
da
instituição
precisam
criar
mecanismos,
políticas
de
atendimento, quer seja, através de um setor ou mesmo de um bibliotecário
disponibilizado para este fim, além das bibliotecas-polo, considerando que as
bibliotecas universitárias, já possuem a infraestrutura necessária para apoio ao
aluno. Com base na literatura, sugere-se ainda, uma união de esforços, com a
busca de maior interação com os centros de apoio a educação a distância nas
universidades para com isso apoiar o aluno da EaD, muitas vezes localizado
nos interiores dos Estados. Conforme Costa, Santa Anna e Cendón,
�390
[...] Recomenda-se a criação de um espaço físico, com infraestrutura,
serviços e produtos informacionais adequados, além da necessidade de
bibliotecários, a fim de melhorar a gestão das bibliotecas polos, e assim,
socializar o conhecimento para todos (COSTA; SANTA ANNA; CENDÓN,
2017, p. 1731).
Os
estudos
voltados
à
contribuição
das
bibliotecas
para
a
EaD
consideram a necessidade de aplicação e desenvolvimento de serviços para
atender o usuário de EaD. Entende-se como aplicação ou desenvolvimento
destes serviços a criação de politicas informacionais como, por exemplo, a
criação de Bibliotecas Digitais com o conteúdo pedagógico da Bibliografia
básica e complementar do curso do aluno, ou até mesmo, a possibilidade de
um carro-biblioteca para interação entre as Bibliotecas Universitárias e os
Polos para atender esses alunos. O’Leary (2000) diz que: Os serviços de
biblioteca que são tradicionalmente fornecidos no local, como empréstimo
entre bibliotecas e serviços de referências, podem ser entregues on-line, por
meio de formulários, tutoriais e referência por e-mail e
ainda manter uma
interação por telefone. [...]. O’LEARY (2000), e acrescenta:
[...] Esses temas nada mais são do que extensões ou variações das
coleções e serviços virtuais já oferecidos pelas bibliotecas à maioria dos
acadêmicos. [...], eles são importantes por si só, porque o ensino a
distância continuará a crescer. Com um pouco de ajustes, as bibliotecas
pode agregar valor a essa nova classe de clientes, ajudando assim mais
um caminho para a sobrevivência e prosperidade nesta era digital
(O’LEARY, 2000).
Assim, também entende ser importante realizarem estudos de usuários e
de satisfação, a fim de que sejam identificados pontos fortes e fracos, com o
propósito de implementação de políticas e planos de ação para melhorias dos
serviços existentes. Esse é um desafio instigante e os resultados desses
estudos, no que tange à oferta de serviços e recursos para o alunado da EaD e
a participação do bibliotecário como mediador da informação, certamente,
contribuirão para as áreas de Biblioteconomia/Ciência da Informação e
Educação, possibilitando benefícios para os envolvidos com a prática educativa
na sociedade. Espera-se que a presente pesquisa se insira neste contexto e
seja um instrumento ou mecanismo de conscientização para o planejamento
de atividades bibliotecárias que visem o aluno da EaD e que sejam
�391
fundamentadas nas práticas de mediação criativa e inovadora, as quais
possam contribuir para uma educação que seja, de fato, democrática.
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comunicação na educação a distância: um estudo sobre a percepção do
�394
professor/tutor. Associação Brasileira de Educação a Distância, v. 10, n.
1, p. 1-6, 2011.
Agradecimentos: Os autores agradecem a todos os diretores de Sistema de
Bibliotecas das universidades federais brasileiras que se disponibilizaram para
as entrevistas.
DADOS BIOGRÁFICOS
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Bibliotecária do
UFMG). Possui Mestrado em Tecnologia e Gestão em
Educação a Distância pela UFRPE. Doutoranda do PPG-GOC
na Escola de Ciência da Informação da UFMG. Presidente da
Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais. Exerceu o
cargo de diretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no
período 2006-2013. Atua principalmente em áreas
temáticas: Bibliotecas Universitárias - Gestão de Pessoas,
Gestão em Unidade de Informação, Extensão Universitária e
Ensino a Distância.
E-mail: mabethcosta@gmail.com
Beatriz Valadares Cendón: Professora Titular do Programa
de Pós-Graduação em
Gestão &
Organização do
Conhecimento da Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais (Nível 5 - CAPES).
Possui os títulos de Doutora e Mestre em Ciência da
Informação pela Universityof Texas at Austin (1996, 1990).
Formada em Engenharia Econômica pela Fundação Dom
Cabral (Especialização, 1984) e em Engenharia Civil pela
Universidade Federal de Minas Gerais (Graduação, 1980).
E-mail: cendon@eci.ufmg.br
�395
PALAVRAS DA ABMG EDITORA
A mediação como ação de auxílio prestado a outrem tem assumido
diferentes abordagens, visando ao alcance de objetivos distintos. Quando essa
prática se apresenta como um ato de interferência para fins de apropriação da
informação, manifesta-se um campo específico, acordado por muitos como
mediação da informação.
Mesmo com esse direcionamento, a mediação da informação não se
singulariza, sobretudo quando se considera a diversidade de formatos e
recursos utilizados para registrar a informação. Além disso, consideram-se,
também, as diferentes opções de acesso e uso com que profissionais e
usuários recorrem, com o fim de sanar as necessidades de informação.
Boa parte dos conceitos, dos fundamentos e das aplicações da mediação
da informação está na prática conduzida pelos profissionais da informação,
como arquivistas, bibliotecários, museólogos, dentre outros. Em todos os
casos, o campo da mediação ainda continua bastante difuso, o que instiga
nosso reconhecimento sobre tais práticas, em especial, em meio à expansão
do universo informacional, seja no meio acadêmico ou profissional.
Confirmamos, por meio dos textos explorados, a diversidade do campo
da mediação da informação, cujos profissionais da informação, desenvolvendo
atividades em unidades de informação, como arquivos, bibliotecas e museus,
ou em serviços variados, poderão facilitar a apropriação da informação. A
mediação explorada no universo informacional possibilita campos variados de
intervenção, contribuindo para um uso mais efetivo da informação, e, desse
modo, ampliando os modos de produção do conhecimento na sociedade.
Esta obra nasceu a partir de experiências, pesquisas e pontos de vista de
diferentes profissionais que atuam no campo informacional. Trata-se de mais
uma contribuição da ABMG Editora que, desde a sua institucionalização, em
dezembro de 2018, vem oportunizando a publicação de livros para a classe
bibliotecária e profissionais de áreas correlatas.
Esta
é
a
terceira
obra
publicada
pela
ABMG
Editora,
como
complementação às obras lançadas em 2018, com os temas associados à
�396
Biblioteconomia Social e ao Empreendedorismo na Biblioteconomia. O desejo
da Editora é, por meio da disseminação do conhecimento produzido pela
Biblioteconomia, favorecer a divulgação e o fortalecimento da área.
Nossos
agradecimentos
desenvolvimento
e
lançamento
a
todos
desse
que
contribuíram
importante
para
empreendimento,
o
em
especial à comissão organizadora, aos autores, prefaciadores e avaliadores.
Também agradecemos aos membros da diretoria da ABMG (2018/2020), na
pessoa de Maria Elizabeth de Oliveira Costa, Jorge Santa Anna, Andrea
Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges, Maria Clea
Borges e Taciane Rodrigues.
Esperamos que esta obra contribua para potencializar o brilhante
trabalho realizado pelos profissionais e pesquisadores que atuam no amplo e
diversificado contexto informacional. Desejamos boas leituras e um ótimo uso
desta obra a todos os profissionais, pesquisadores, estudantes, dentre outros
envolvidos e interessados com o campo da mediação.
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2020.
Jorge Santa Anna – Editor
Editora ABMG
�397
INFORMAÇÕES BIOGRÁFIC
BIOGRÁFICAS – COMISSÃO ORGANIZADORA
Andreza Gonçalves Barbosa: Doutoranda em Ciência da
Informação pelo Programa de Pós
Pós-Graduação
Graduação em Ciência da
Informação PPGCI
PPGCI-UFMG
UFMG (2018). Mestre em Ciência da
Informação pelo mesmo programa (2017). Bacharel em
Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação
Informação- UFMG
(2015). Membro do grupo de pesquisa "Práticas Informacionais e
Cultura" (EPIC
(EPIC-UFMG). Áreas de interesse:
nteresse: Usuários da
informação, Ciência da Informação, Informação e cidadania,
Bibliotecas Prisionais, Leitura no cárcere, Ressocialização, Práticas
Informacionais. Representante Discente PPGCI - UFMG. Membro
da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prision
Prisionais
ais (CBBP - Febab).
E-mail
mail: goncalvesandreza@hotmail.com
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
Mestra em Ciência da Informação pela mesma instituição (2018).
Possui graduação em Biblioteconomia pela UFMG (2016). Atua
como Bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal Professor
Francisco Tibúrcio de Oliveira, vinculada à Prefeitura Municipal de
Santa Luzia (MG). Tem interesse nas áreas de práticas
informacionais e estu
estudos
dos de usuários da informação, com enfoque
na apropriação da leitura literária e compartilhamento de leituras.
E-mail
mail: j.jessicadesa@gmail.com
Jorge Santa Anna
Anna: Graduado em Biblioteconomia. Atuante no
ramo da prestação de serviços de orientação, escrita,
normalização e lecionamento em trabalhos e pesquisas
acadêmico
acadêmico-científicos.
científicos. Atua como editor e assessor do Periódico
Pró-Discente,
Discente, como também compõe a diretoria da Associação de
Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de secretário
secretário,
além do cargo de editor da ABMG editora.
E-mail
mail: professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Costa: Bibliotecária da UFMG. Possui
Mestrado em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância pela
UFRPE. Doutoranda do PPG
PPG-GOC
GOC na Escola de Ciência da
Informação da UFMG. Presidente da Associação dos Bibliotecários
de Minas Gerais. Exerceu o cargo de diretora do Sistema de
Bibliotecas da UFMG, no período 2006
2006-2013.
2013. Atua principalmente
em áreas temáticas: Bibliotecas Universitárias - Gestão de Pessoas,
Gestão em Unidade de Informação, Extensão Universitária e Ensino
a Distância.
E-mail
mail: mabethcosta@gmail.com
�398
Esta é uma obra editada pela:
ABMG
EDITORA
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Diretoria da ABMG (Gestão 2018-2020): Maria Elizabeth de
Oliveira Costa, Jorge Santa Anna, Andrea Brandão, Edcleyton Bruno
Fernandes da Silva, Graciane Borges, Maria Clea Borges e Taciane
Rodrigues
Editor da ABMG Editora: Jorge Santa Anna
Como referenciar esta coletânea no todo:
SÁ, Jéssica Patrícia Silva de; BARBOSA, Andreza Gonçalves; COSTA,
Maria Elizabeth de Oliveira; SANTA ANNA, Jorge (Org.).
Fundamentos e práticas de mediação no contexto
informacional. Belo Horizonte: ABMG, 2020. 395 p.
�399
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Fundamentos e Práticas da Mediação no Contexto Informacional
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Andreza Gonçalves Barbosa
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte : Minas Gerais
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2020
Language
A language of the resource
pt
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
978-65-993126-0-1
Type
The nature or genre of the resource
Livro
Subject
The topic of the resource
Mediação da Informação
Atuação do Bibliotecário
Mediação da Leitura e da Cultura
Description
An account of the resource
O livro “Fundamentos e práticas da mediação no contexto informacional”, caracterizado como coletânea, foi inspirado a partir das diversas formas de mediação que permeiam a sociedade da informação e do conhecimento. O livro tem uma intenção profissional e acadêmica, com vistas a ampliar a discussão e promover um debate mais sólido acerca das contribuições da Ciência da Informação no desejo de aproximar, cada vez mais, as fontes documentárias, os acervos e a informação contida nesses artefatos, dos usuários, considerando, sobremaneira, os diferentes suportes e tecnologias que podem ser utilizados, principalmente, com a disponibilização desses recursos no ambiente web. Esse livro reflete sobre as possibilidades de atuação dos profissionais da informação como mediadores, em diferentes práticas e contextos, desde ações de leitura e práticas culturais a atividades de organização e recuperação de documentos e da informação.
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4602/EmpreendedorismoeBiblioteconomia.pdf
85ed2b8e080d65334560857e39b08fa9
PDF Text
Text
0
�1
EMPREENDEDORISMO
BIBLIOTECÁRIO NA SOCIEDADE
DA INFORMAÇÃO: OUTROS
CAMINHOS E POSSIBILIDADES
�2
JORGE SANTA ANNA
EDCLEYTON BRUNO FERNANDES DA SILVA
MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA COSTA
(Organizadores)
EMPREENDEDORISMO
BIBLIOTECÁRIO NA SOCIEDADE
DA INFORMAÇÃO: OUTROS
CAMINHOS E POSSIBILIDADES
Belo Horizonte
ABMG
2018
�3
© 2018 Jorge Santa Anna
2018 Editora ABMG
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores.
COMISSÃO AVALIADORA:
- Professor Mestre Jorge Santa Anna – Universidade Federal do Espírito Santo
- Professor Mestre Edcleyton Bruno Fernandes da Silva – Universidade Federal da Paraíba
- Bibliotecária Mestra Maria Elizabeth de Oliveira Costa – Universidade Federal de M.
Gerais
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO E FORMATAÇÃO DA CAPA: Norma Padrão - Apresentação e divulgação
do trabalho científico
MONTAGEM DA CAPA: Norma Padrão
PRODUÇÃO GRÁFICA: Norma Padrão
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary,
Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea
Brandão, Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�4
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos os envolvidos nas atividades de desenvolvimento
desta obra, sobretudo os que acreditaram em registrar os conteúdos
textuais manifestados ao longo das seções deste livro, tais como
organizadores, autores, revisores, normalizadores e prefaciadores.
A todos os membros da Associação de Bibliotecários de Minas Gerais,
gestão 2018-2021.
À Norma Padrão – Apresentação e Divulgação do Trabalho Científico pelo
serviço gráfico realizado na capa e contracapa da obra.
À Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerias, especificamente às
bibliotecárias Alessandra Gino e Fátima Falci, pela criação dos registros
catalográficos.
À Escola de Ciência da Informação, da Universidade Federal de Minas
Gerais, especificamente ao Centro de Extensão pela contribuição em
oportunizar o evento de lançamento do livro e, também, aos alunos
Andreza Gonçalves, Jéssica de Sá e Vinicius Alves de Souza, pela
organização e monitoria nesse momento.
A todos os bibliotecários e bibliotecárias do Brasil pelo incentivo e pelas
energias positivas manifestadas nas redes sociais e/ou em outros canais
de
comunicação/divulgação, no
decorrer
do
desenvolvimento
deste
trabalho.
Nosso muito obrigado!
Os organizadores
Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2018.
�5
“A sociedade moderna, principalmente com o uso da
eletrônica, tem propiciado a ampliação no uso da
informação, o que permite repensar os fazeres
profissionais, identificando oportunidades que vão além
das práticas tidas como tradicionais” (LANCASTER,
1983).
�6
PREFÁCIO
Antes de tudo, uma pergunta para você, caro(a) leitor(a): Acredita que
todas
as
pessoas
do
mundo
têm
a
capacidade
de
desenvolver
competências empreendedoras?
Enquanto refletes sobre a pergunta, adianto que para muita gente a
resposta será não, mas muitos acreditarão piamente que sim. Ao me
deparar com a abordagem efetiva do empreendedorismo (no livro:
Effectuation - Elementos da Expertise Empreendedora), desenvolvida e
difundida pela pesquisadora Saras Sarasvathy (da Universidade de
Virgínia),
percebi
que
práticas
inovadoras
e
comportamentos
empreendedores podem ser desenvolvidos, desde que sejam trabalhados
constantemente.
Assim
como
Sarasvachy
observou
práticas
empreendedoras
sendo
realizadas por pessoas comuns, você poderá ver na presente obra Empreendedorismo Bibliotecário na Sociedade da Informação:
outros caminhos e possibilidades –, textos (de abordagem efetiva)
que comprovam que algo significativo e transformador pode ser feito com
poucos recursos e que a transpiração tende a gerar a ação.
A
primeira
parte
deste
livro
aborda
como
o
fenômeno
do
empreendedorismo pode ser uma luz à realidade brasileira, uma vez
que a identificação de boas práticas podem levar atores sociais a obter
novas
perspectivas
para
a
transformação
de
ambientes
e
de
profissões. Por tal motivo, esta seção destaca a transversalidade do
empreendedorismo, a inovação e o espírito empreendedor, e introduz o
empreendedorismo e a cultura empreendedora como diferenciais do
bibliotecário no fomento da Biblioteconomia. Dessa maneira, terás a
possibilidade de visualizar como o empreendedorismo se enquadra como
um elemento fundamental na Biblioteconomia e Ciência da Informação,
�7
bem como para a construção da cidadania nessa era de Transformação
Digital.
Acerca da última assertiva, posso ressaltar que o contexto da Sociedade
da Informação leva ao surgimento de espaços ressignificados, criação de
novos produtos que alteram a vida de usuários, desenvolvimento de uma
economia baseada em serviços que suprem dores (necessidades) de
públicos segmentados. Por isso, adaptar-se ao meio é uma tarefa que
todo ser humano deve fazer, sobretudo, o empreendedor bibliotecário.
Com base nessa discussão, lhe faço uma nova pergunta: O que é um
empreendedor?
Normalmente,
algumas
palavras
associadas
a
este
indivíduo são: criativo; inovador; empresário; diferente, e; visionário. E
muitas podem ser as definições, mas destaco uma que li no livro ‘Vai lá e
faz’, de Tiago Matos [(2017, p. 20), um dos fundadores da Perestroika],
em que o empreendedor é apontado como “aquele que tem consciência
de seu empoderamento”. É aqui onde a Parte II deste livro se centra,
por um motivo ímpar: as bibliotecas foram e continuam sendo espaços de
informação que podem transformar vidas quando rompem suas fronteiras.
Por isso, os estudos desta segunda parte do livro te apresentarão um
debate sobre o processo de desinstitucionalização da biblioteca e do
bibliotecário.
Um empreendedor é “aquele que não aceita a realidade de maneira
resignada” (MATOS, 2017, p. 20). Acredito que essa citação de impacto
define bem o empreendedor bibliotecário, pois esse agente de mudanças
não fica inerte aos acontecimentos em seu cotidiano. Neste ínterim, a
Parte III desta obra insere o tema da reconstrução das funções da
Biblioteconomia em face às novas práticas dos bibliotecários,
bibliotecas e centros de documentação contemporâneos (públicos e
privados), assim como a origem de serviços de consultoria em acervos
documentários.
�8
Já alguns dos casos destacados na Parte IV desta obra representam uma
abordagem efetiva do Empreendedorismo Bibliotecário no Brasil, já que
apresentam ações bibliotecárias inovadoras realizadas por pessoas
comuns que decidiram fazer algo diferente: prestar um serviço além da
atuação tradicional, conservadora e estereotipada do bibliotecário. Esta
seção
apresenta estudos sobre
a atuação
da
Biblioteconomia em
programas de formação de usuários, inovação na gestão de sistemas de
bibliotecas públicas e na normalização de trabalhos acadêmicos, a atuação
do bibliotecário na editoração de periódico e na criação de um próprio
negócio. Esta parte do livro é a minha favorita, pois reforça o impacto
social que o empreendedorismo bibliotecário pode gerar na vida das
pessoas e como o profissional da informação pode ascender no mercado
ao suprir necessidades específicas.
Portanto, os estudos apresentados aqui, estimado(a) empreendedor(a),
demonstrará que a conjuntura social e a revolução digital que vivemos
requerem uma abordagem focada no atendimento de novas dores e
anseios informacionais. Logo, pensar fora da caixa é uma boa forma de
fazer algo inovador, diferente e imprescindível para a vida das pessoas.
Por fim, faço uma última pergunta e para esta te deixo refletindo
enquanto devora as páginas desta efetiva obra: Qual a última vez que
você fez algo pela primeira vez?
Guilherme Alves
Doutorando e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE)
�9
SUMÁRIO
REFLEXÕES INICIAIS ...................................................................14
PARTE I - EMPREENDEDORISMO
E
SEUS
REFLEXOS
NAS
PROFISSÕES .................................................................................18
Capítulo I - A transversalidade do empreendedorismo no contexto atual 19
Capítulo II - Inovação e espírito empreendedor: aplicabilidades na Ciência
da Informação ................................................................................32
Capítulo
III
-
Empreendedorismo
como
um
campo
potencial
ao
bibliotecário ....................................................................................50
Capítulo IV - Iniciativas de fomento à cultura empreendedora na
Biblioteconomia ...............................................................................62
PARTE II – DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DA BIBLIOTECONOMIA ..80
Capítulo V - Desinstitucionalizando o bibliotecário e a biblioteca: para além
dos muros das instituições ................................................................81
Capítulo VI - Desinstitucionalizar a biblioteca à luz da função social ..... 116
PARTE III – REPENSANDO A BIBLIOTECA E O BIBLIOTECÁRIO .. 124
Capítulo
VII
-
O
pensamento
de
David
Lankes
para
uma
nova
Biblioteconomia ............................................................................. 125
Capítulo VIII - Bibliotecas contemporâneas como espaços de convivência
................................................................................................... 140
Capítulo
VIV
-
Equipes
em
bibliotecas
universitárias:
liderança
e
autossuficiência ............................................................................. 153
Capítulo X - Consultoria em acervos documentários: relato de experiência
em uma universidade privada ......................................................... 159
Capítulo XI - O trabalho bibliotecário em centro de documentação de um
hospital privado............................................................................. 169
�10
PARTE
IV
-
AÇÕES
BIBLIOTECÁRIAS
INOVADORAS
E
INCENTIVADORAS COMO CONTRIBUIÇÃO PARA O PROFISSIONAL
E PARA A SOCIEDADE ................................................................. 179
Capítulo XII - Crescimento profissional por meio do magistério: relato de
experiência em docência universitária em Biblioteconomia .................. 180
Capítulo
XIII
-
desenvolvimento
Programas
de
de
competências
formação
de
informacionais
usuários
na
para
UFMG:
o
uma
experiência inovadora entre a Biblioteca Universitária e a Escola Ciência
da Informação .............................................................................. 189
Capítulo XIV - Inovação nas bibliotecas públicas: foco nas pessoas ...... 212
Capítulo
XV
-
Normalização
em
trabalhos
acadêmicos:
atividades
inovadoras para um novo segmento de atuação bibliotecária .............. 225
Capítulo XVI - Atuação bibliotecária na gestão de um sistema de
biblioteca: implantação de um modelo de estágio para a competência
informacional ................................................................................ 239
Capítulo XVII - Bibliotecário atuante na editoração de periódico: relato de
caso na Revista Pró-Discente .......................................................... 253
Capítulo XVIII - Criando seu próprio negócio: o bibliotecário como
consultor independente .................................................................. 266
À GUISA DE CONCLUSÕES: DAS BIBLIOTECAS PARA O MUNDO: UM
NOVO PROFISSIONAL EM ASCENSÃO ......................................... 290
DADOS BIOGRÁFICOS................................................................. 292
�11
REFLEXÕES INICIAIS
Jorge Santa Anna
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
As transformações ocorridas na sociedade contemporânea têm refletido
diretamente no modo com que a biblioteca, o bibliotecário e a área de
Biblioteconomia e Ciência da Informação devem se manifestar, no intuito
de satisfazer as necessidades informacionais decorrentes do amplo
mercado da informação.
Durante
muito
tempo,
os
fundamentos
da
profissão
bibliotecária
estiveram ancorados às atividades técnicas de tratamento de acervos,
comumente realizadas em bibliotecas. No entanto, o momento atual exige
a
redefinição
e
a
recaracterização
das
práticas
profissionais,
por
conseguinte, ocasiona o surgimento de novas oportunidades, de modo que
as potencialidades da área possam ser mais bem aproveitadas.
O mercado da informação expandiu os fazeres dos profissionais, os quais
não se limitam a ocupar postos de trabalho, tão somente, em uma
unidade de informação, por exemplo. A atuação torna-se cada dia mais
desvinculada das instituições, e essa desinstitucionalização abre outros
caminhos e possibilidades, as quais se concretizam por meio de ações
inovadoras, logo, empreendedoras.
Assim, o livro que ora se apresenta é um estímulo aos profissionais acerca
do que pode ser feito pelo bibliotecário que possibilite a ampliação do seu
fazer profissional. O interesse da obra é demonstrar que o momento atual
exige muito mais dos bibliotecários e as oportunidades existem e se
�12
manifestam, quando temos atitudes inovadoras e nos colocamos a serviço
da sociedade, não se restringindo, apenas, à gestão de acervos.
Por contemplar ações inovadoras, que vão além das instituições de
informação, os capítulos descritos nesta obra aproximam-se de um tema
ainda em consolidação – o empreendedorismo na Biblioteconomia - e que,
certamente, engaja-se, cada vez mais, no cotidiano dos profissionais em
todas as áreas de conhecimento.
Não
é
pretensão
do
livro
aprofundar-se
no
empreendedorismo
bibliotecário, mas trazer reflexões iniciais, pautadas nas atividades e
projetos de sucesso, realizados por bibliotecários. Os autores envolvidos
com esta obra acreditam que os bibliotecários devem expandir seus
conhecimentos,
por
meio
de
suas
habilidades,
transformando
conhecimento e inovação em realidade.
A iniciativa em reunir um compêndio de textos que versam sobre ações
inovadoras
inerentes
ao
fazer
e
à
prática
bibliotecária
nasceu,
primeiramente, da inquietação por parte da atual diretoria da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), acerca da necessidade de se
identificar nichos de atuação bibliotecária no amplo e diversificado
mercado da informação.
Além disso, outro fator provocador na escrita deste livro deve-se às
discussões e ações no desenvolvimento de outro livro, direcionado ao
tema da Biblioteconomia Social, cujo planejamento permitiu a reflexão
sobre assuntos ligados à inovação, logo, a qualidade das discussões dos
envolvidos com o citado livro motivou a organização de uma nova obra,
com viés mais direcionado às práticas empreendedoras.
É
importante
esclarecer
sobre
o
poder
transformador
da
atitude
empreendedora. A atual diretoria da ABMG comunga da ideia de que o
�13
bibliotecário
precisa
apoiar-se
no
tripé
inovação,
transformação
e
superação. Com essa postura, o abstrato cede espaço ao concreto; o
impossível torna-se possível; melhoramos como profissionais, cidadãos e
como seres humanos; temos a oportunidade de ajudar e transformar
vidas; enfim, vamos muito além do que esperávamos, transformando
sonhos em realidade, bastando, apenas, acreditar e engajar-se.
As discussões sobre a ideia em publicar uma obra desta natureza
iniciaram-se no grupo whatsApp da associação, no mês de julho de 2018,
em que a ideia foi tomando forma e proporções mais elevadas, sendo
alguns desejos considerados como impossíveis, na visão de alguns,
naquele momento. Mas, ancorados em uma postura audaciosa, típica do
perfil empreendedor, a equipe partiu para a ação, o que possibilitou a
elaboração desta coletânea, em um período de apenas, seis meses.
Acreditamos ser essa conquista um exemplo simples de iniciativa
empreendedora,
sobretudo
pelas
contribuições
que
a
obra
poderá
provocar no pensamento, na reflexão e no comportamento dos leitores.
Como toda publicação no formato de livro, esperamos que a obra seja
utilizada para benefício do mercado de trabalho ou da academia,
facilitando o fazer de profissionais, estudantes, pesquisadores e docentes,
inseridos em todos os cursos e profissões correlatos às áreas da
informação.
Portanto, colocamos à disposição da comunidade científica e profissional
um livro, cujo tema é de suma relevância e precisa ser debatido com mais
intensidade, de modo a fortalecer a área da Biblioteconomia, no decorrer
das próximas décadas. Acreditamos e reforçamos que os profissionais
possuem potencialidades e precisam fazer uso delas, e as oportunidades
existem, sendo necessário reconhecê-las.
�14
A conformidade de relações entre a necessidade e a satisfação de
informação requer características peculiares, inerentes aos bibliotecários.
Compreender o funcionamento desse ciclo é elemento de destaque para
os profissionais. A inovação e o conhecimento tornam-se insumos cada
vez mais procurados na contemporaneidade em busca de soluções para os
problemas informacionais da sociedade.
Que desperte-se maior engajamento da profissão em prol de ações
inovadoras,
como
também,
maior
conhecimento
na
sociedade,
principalmente dos agentes governamentais, sobre o potencial da área,
proporcionando mais valorização, reconhecimento e condições adequadas
para os profissionais exercerem suas intervenções. Assim, por meio da
união de esforços, acreditamos que seja possível a redefinição de uma
nova
Biblioteconomia,
cada
vez
mais
inovada,
interventiva
e
empreendedora.
Por fim, esperamos que esta obra estimule a discussão acerca do que
pode ser feito pelos bibliotecários que extravase as rotinas tradicionais de
trabalho, comumente realizadas nas bibliotecas ou fora delas. Desejamos
que as leituras contribuam para a mudança de pensamento e maior
conscientização a respeito da prática e postura empreendedora, mas o
desejo maior é que as discussões estimuladas com este livro despertem a
transformação, e, o primeiro passo para isso é partir para a ação,
acreditando em nosso potencial para a mudança. Portanto, vamos à luta?
Mãos à obra!
�18
PARTE I
Empreendedorismo e
seus reflexos nas
profissões
�19
CAPÍTULO I
A TRANSVERSALIDADE DO EMPREENDEDORISMO NO CONTEXTO
ATUAL
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
O empreendedorismo é um termo utilizado no âmbito corporativo que
teve sua criação e desenvolvimento no decorrer do século XX, influenciado
pelas teorias contemporâneas da Administração, especificamente, as Teorias
dos Sistemas Abertos e a Teoria Contingencial, cujos fundamentos dessas
teorias pautam-se na necessidade de se criar estratégias para adequação aos
desafios da sociedade, sobretudo a competitividade.
O termo foi elaborado e passou a ser utilizado como um tema de
pesquisa científica, a partir das transformações do mercado globalizado. No
entanto, o sentido dicionarizado do termo remonta às sociedades primitivas e
os diversos períodos históricos, tendo destaque, principalmente, nomes ligados
à ciência, às artes e à cultura de cada época.
Em cada um dos estágios evolutivos da sociedade, verificamos a
presença de pessoas que acreditavam no poder de modificar a realidade, ou
seja, acreditavam que podiam desenvolver algo diferente, a ponto de garantir
melhoria a si mesmo e/ou ao contexto em que estavam inseridos. Esses
personagens tinham como estímulo a crença na inovação. Por almejarem a
inovação,
caracterizavam-se
como
indivíduos
sábios,
esperançosos
e,
principalmente, audaciosos.
É perigoso tentar citar nomes, neste texto, de pessoas com esse perfil,
visto que correríamos o risco de deixar de mencionar muitos indivíduos
empreendedores. De qualquer forma, as conquistas realizadas por esses
indivíduos que hoje os elegemos como precursores de algum acontecimento ou
�20
invenção,
certamente,
pertencem
a
agentes
com
características
empreendedoras.
Portanto, o empreendedorismo está no ser humano, assim como está a
ação de pensar, de refletir, de viver, as quais são típicas do ser humano. O
diferencial é que o indivíduo empreendedor almeja por inovação, não tendo
resistência a mudança e apresenta características proativas. Mesmo que essas
sejam qualidades humanas, nem todos os seres humanos a desenvolvem no
mesmo potencial.
Assim, é possível relacionar o empreendedorismo a um conjunto de
habilidades que permitem ao indivíduo provocar um diferencial, que ocasione
benefícios, de modo a enaltecê-lo no comparativo com outras ações que são
comumente realizadas. O empreendedorismo se sustenta na inovação,
criatividade e na audácia.
Percebe-se que o empreendedorismo é uma prática imprescindível nos
contextos de competitividade. Ou seja, a inovação se faz necessária, à medida
que determinados elementos percebem a necessidade de se sobressair em
relação aos demais elementos de um grupo ou contexto social, profissional
e/ou, principalmente, organizacional.
E, assim, os estudos sobre essa prática se fortalecem no âmbito
empresarial, quando as organizações sentiram os impactos da Revolução
Industrial e do avanço das tecnologias, em que o aumento no número de
concorrentes despertou a necessidade das empresas apostarem no diferencial
do que oferecem a seus clientes.
Falar em competitividade, sobretudo no contexto organizacional, nos
instiga dialogar com Porter (1993), para quem, as empresas precisam romper
os modelos de negócios pautados na repetição e na produtividade, para
avançarem no atendimento e na oferta de serviços e produtos que despertem
o gosto dos clientes, de modo a obterem vantagens competitivas em relação
aos concorrentes.
E a vantagem competitiva é um desafio da sociedade contemporânea,
pois é ela quem garante a sobrevivência das organizações. Porter (1993)
defende a ideia de que a competitividade está presente em todas as instâncias
�21
da sociedade, envolvendo empresas, profissões, agentes governamentais,
organizações sem fins lucrativos, dentre outros elementos. A globalização do
mercado exige que a criatividade e a inovação sejam as bases que garantirão o
crescimento e a permanência no amplo, diversificado e mutante mercado
atual.
O
espírito
empreendedor,
portanto,
precisa
estar
impregnado
às
empresas e também aos profissionais deste século. E ele não é excludente, no
sentido
de
que
se
limita
apenas
ao
ambiente
corporativo,
ou
aos
administradores e gestores organizacionais. Por conseguinte, não se pode
afirmar que seja, também, apenas objeto de estudo da Administração.
Ao contrário, o empreendedorismo é um dos temas que possui uma alta
carga transversal, ou seja, ele perfaz todas as áreas de conhecimento, como
também não exclui nenhuma pessoa, independente de classe social, de ramo
de atuação, de nível educacional, dentre outras particularidades.
É como diz Chiavenato (2003), ao proferir que, empreendedor é aquele
que acredita em algo e se dispõe a fazê-lo, mediante engajamento, expertise e
força de vontade. As organizações, segundo esse autor, precisam investir no
capital
humano,
desenvolvidas
pois
grandes
é
dele
que
habilidades
se
descobrirão,
para
ou
consolidação
melhor,
de
serão
práticas
empreendedoras benéficas para a empresa e para a sociedade.
Embora o tema empreendedorismo seja típico do último século e que
ainda venha se evoluindo, em algumas áreas, é possível afirmar que tal tema
está presente nas práticas profissionais e organizacionais, independente de
qual profissão seja e a que ramo empresarial a organização se adentre.
A
Administração,
como
ciência
clássica
nos
estudos
sobre
empreendedorismo, tem a delimitação de seu campo de atuação cada vez mais
difuso, uma vez que suas teorias e técnicas, sobretudo no que tange à gestão
e ao planejamento, perpassa por todas as outras áreas do conhecimento. E,
assim, é com o empreendedorismo. Ele é um tema difuso que, mesmo tendo
suas origens e grande parte dos estudos se inicie no campo da Administração,
ele é incorporado a outras áreas e profissões, de modo a se tornar cada vez
mais transversal.
�22
Dentre as diversas áreas do saber que utilizam do empreendedorismo
para fortalecer seu campo de atuação, ampliando-o para outros segmentos de
trabalho, está a Biblioteconomia. O empreendedorismo nesse campo do
conhecimento vem ganhando forças, principalmente, pela biblioteca se
modificar às necessidades dos usuários. E, essa tendência tem ocasionado um
campo
fértil,
de
modo
que
a
área
biblioteconômica
possa
ter
suas
potencialidades mais aproveitadas junto à sociedade.
Portanto, o presente texto traz reflexões sobre as principais definições do
empreendedorismo, sua característica transversal na sociedade moderna e
breves discussões acerca de possíveis aplicações empreendedoras na área da
Biblioteconomia.
2
EMPREENDEDORISMO:
CRIATIVIDADE,
INOVAÇÃO,
AUDÁCIA
E
TRANSVERSALIDADE
A compreensão científica do termo empreendedorismo é atribuída a
Richard Cantillon, um cientista econômico que utilizou o termo pela primeira
vez, no ano de 1725, ainda no século XIII, atribuindo o termo a pessoas
corajosas que não se intimidam em assumir riscos. No decorrer dos tempos, o
termo foi superficialmente atribuído às pessoas que ocupavam cargos de
gestão em grandes corporações. Ao longo do século XIX e iniciar do XX,
empreendedores passam a ser as pessoas com espírito de investimento, com
potencial
para
realizar
grandes
transações
financeiras
e
comerciais
(DORNELLAS, 2008).
É somente no século XX que o empreendedorismo desvinculou-se, ou
melhor, deixou de estar relacionado (para muitos quase sinônimo) a gerentes
e passou a sustentar-se na inovação. Assim, empreendedorismo diz respeito a
indivíduos e organizações que inovam, criam, investem e redefinem produtos e
serviços, haja vista atender as necessidades dos clientes de forma criativa e
satisfatória (CUSTÓDIO, 2011).
�23
O significado do termo empreendedorismo remete à capacidade criativa
e inovadora, pois, segundo o Dicionário On-line de Português (2018),
empreendedor é aquele que tem a capacidade de projetar novos negócios ou
de idealizar transformações inovadoras ou arriscadas em companhias ou
empresas.
O verbete ainda traz a significação de que empreender está associado à
vocação de uma pessoa, à aptidão ou habilidade de desconstruir, de gerenciar
e de desenvolver projetos, atividades ou negócios. Trata-se da reunião dos
conhecimentos e das aptidões relacionadas com essa capacidade (DICIONÁRIO
ON-LINE DE PORTUGUÊS, 2018).
Para Chiavenato (2003), o empreendedorismo corresponde à ação de
empreender, a qual se desenvolve, apenas, em indivíduos que conseguem
mesclar conhecimentos adquiridos, com valores, senso crítico e capacidade de
instigar ou promover a mudança. Sujeitos com esse perfil, normalmente,
possuem sensibilidades especiais para prever os acontecimentos e traçar
planos de ação capazes de levar ao sucesso do que desejam criar. Assim,
segundo esse autor, o empreendedor identifica pontos fracos, pontos fortes,
ameaças e oportunidades, transformando ideias em realidade, com o intento
de se auto-beneficiar e beneficiar, também, a coletividade.
[...] Por ter criatividade e um alto nível de energia, o empreendedor
demonstra imaginação e perseverança, aspectos que, combinados
adequadamente, o habilitam a transformar uma ideia simples e mal
estruturada em algo concreto e bem sucedido no mercado [...]. O
empreendedor é a essência da inovação no mundo, tornando obsoletas
as antigas maneiras de fazer negócio [...] (CHIAVENATO, 2003, p. 05).
Conforme discorrido na literatura de Administração, as características de
um empreendedor, na verdade, são habilidades que ele conseguiu desenvolver
de forma estratégica, tendo em vista aproveitar melhor sua imaginação.
Características
muito
peculiares
permeiam
o
perfil
de
uma
pessoa
empreendedora, tal como criatividade, audácia, perseverança, senso crítico,
dentre outras. Essas habilidades são conjugadas ao conhecimento adquirido
pelo sujeito, seja decorrente de sua experiência de vida, ou adquirido por meio
de estudos (DORNELAS, 2008).
�24
Ainda a respeito do perfil do empreendedor, Dolabela (1999) apresenta
algumas características muito
comuns nas pessoas consideradas como
empreendedoras, que são: normalmente são influenciadas por outras pessoas;
possuem autonomia, autoconfiança e otimismo; são audaciosas, prestativas e
visionárias; tem facilidade em aprender com os erros; consegue fixar metas e
alcançá-las; luta contra padrões impostos; procura diferenciar o que faz; tem a
capacidade em descobrir nichos de mercado; possui comprometimento.
Embora o autor citado apresente muitas outras características, as poucas
descritas já são suficientes para demonstrar que o perfil empreendedor não é
exclusivo de uma ou outra profissão. Também não se pode afirmar que uma ou
outra empresa, com esse ou aquele perfil, ou cultural organizacional, não
esteja propensa a se manifestar como adapta do empreendedorismo. O
empreendedorismo, assim, é tema transversal, que perpassa todas as áreas do
conhecimento, em todos os seus aspectos, e vem assumindo lugar de
destaque nas políticas econômicas dos países desenvolvidos e em vias de
desenvolvimento (BAGGIO; BAGGIO, 2014).
Souza (2012) concorda com a reflexão de que o empreendedorismo está
presente em todas as áreas de conhecimento e precisa fomentar as políticas
governamentais, de modo a proporcionar o desenvolvimento social, cultural e
profissional das nações. Além disso, a autora destaca a importância do tema
ser debatido não apenas na vivência profissional, mas é preciso que seja
incorporado na formação profissional, por meio das práticas educativas.
Consoante ao movimento de que toda a população deva desenvolver e
assumir uma postura empreendedora, têm-se desenvolvido, nos últimos
anos, diversas iniciativas de implantação do empreendedorismo na
educação, seja como tema transversal às diversas disciplinas do
currículo, seja como disciplina propriamente dita, constante do currículo
de instituições educacionais formais de educação básica e superior,
privadas e públicas (SOUZA, 2012, p. 80).
O empreendedorismo como tema transversal precisa ser incorporado no
dia a dia de todos os profissionais, tornando-os mais proativos e capacitados a
inovar constantemente as práticas profissionais nos mais diferenciados
contextos e instituições. Empreender é ter visão de futuro e proporcionar
ganhos de competitividade para as empresas, sobretudo daquelas que
�25
investem em seus recursos, como forma de garantirem a consolidação das
vantagens competitivas (MAXIMIANO, 2006).
Empreender é aceitar o desafio na busca por um objetivo previamente
planejado e incorporado nas ações que visarão o alcance do que foi proposto.
É ter visão de futuro, com vistas ao crescimento do negócio que se deseja
obter, mesmo que seja a curto, médio ou longo prazo. Com efeito, o
empreendedor é aquela pessoa que deseja investir em seu próprio negócio,
adquirindo autonomia e se fortalecendo para alcançar metas e objetivos,
conforme
planejado
empreendedorismo
previamente.
aproxima-se
É
das
a
partir
dessa
técnicas
e
concepção
teorias
que
o
administrativas,
sobretudo no que tange à gestão e ao planejamento (MAXIMIANO, 2006).
Por contemplar técnicas e teorias da Administração, depreendemos que a
prática empreendedora está impregnada a qualquer cotidiano profissional,
podendo ser o ponto de partida para a criação dos próprios negócios dos
profissionais em suas áreas de atuação específicas.
As inovações tecnológicas, organizacionais e de mercado têm
impulsionado profundas transformações no mundo do trabalho.
Diversas profissões com conteúdos inovadores estão sendo
criadas,
visando
acompanhar
o
ritmo
das
mudanças.
Transformações estruturais nas relações de trabalho também têm sido
observadas.
Como
consequência
dessas
transformações,
o
empreendedorismo tem sido a alternativa para a geração de emprego e
renda [...] (WRIGHT; SILVA; SPERS, 2010, p. 174).
Para Cupertino e Mendonça (2012), empresário é o profissional ou
agente que atua no mercado corporativo, por meio da oferta de produtos e
serviços. Esse agente pode estar vinculado a uma organização, de forma
institucionalizada, regido por normas e integrado a um ambiente coletivo,
como também pode atuar de forma mais independente, com equipe mais
reduzida, ou até mesmo, de forma individual. O empreendedor, grosso modo,
é
um
empresário
que
possui
habilidades
estratégias
que
visem
o
desenvolvimento do negócio que gerencia.
Por caracterizarem-se como empresários inovadores, os empreendedores
adquirem competências e habilidades múltiplas, o que lhes proporcionam
facilidade em tomar decisões, monitorar as equipes de trabalho, elaborar
planos e conduzi-los, dentre outros requisitos fundamentais exigidos para os
�26
profissionais de sucesso. Esse perfil multifacetado, híbrido e inovador permite
constatar que o empreendedor, de um modo geral, também assume
características gerenciais (GALVAN, 2014), e, como se sabe, a gestão é um
processo administrativo presente em todas as áreas de conhecimento, como
também em todas as profissões e organizações, uma vez que engloba os
segmentos sociais em suas diferentes instâncias e contextos.
3
EMPREENDEDORISMO
E
BIBLIOTECONOMIA:
POSSÍVEIS
ARTICULAÇÕES
Considerando
que
todas
as profissões e
áreas do
conhecimento
aproximam-se do empreendedorismo, com a Biblioteconomia não seria
diferente. Essa aproximação tem se fortalecido, tanto no contexto brasileiro
quanto mundial, com a chegada da sociedade da informação, em que o recurso
informação tornou-se o insumo básico de desenvolvimento das pessoas e das
organizações (VALENTIM, 2002).
A informação é a base de sustento das sociedades, pois ela gera
conhecimento que, ao ser contextualizada e utilizada, agregará valor ao
indivíduo, em seu contexto profissional e social. Assim, bibliotecários e
profissionais da informação são considerados como agentes capazes de
organizar esse recurso e possibilitar que ele esteja disponível para uso, o que
ocasiona novas funções a serem exercidas pelas bibliotecas, pelas unidades de
informação, enfim, pelos profissionais capacitados a gerenciar os acervos e os
fluxos de informação (LE COADIC, 2004).
Os profissionais da informação possuem uma gama de possibilidades a
serem exercidas, em face da competitividade do mercado globalizado. Ao
mesmo tempo em que mudanças ocorrem em todo o mercado, proporcionando
a redefinição e até o desaparecimento de algumas áreas e profissões, por
outro lado essas transformações, sobretudo a partir do uso das tecnologias
digitais, viabilizam a manifestação de novas possibilidades de trabalho
(BAPTISTA; MUELLER, 2004).
�27
A sociedade da informação se sustenta no tripé inovação, formação e
aprimoramento. Ela exige que os profissionais desempenhem funções que vão
muito além do trabalho tradicional, na maioria das vezes, tal trabalho está
pautado em um fazer eminentemente técnico, em que pese a repetição de
tarefas. A sociedade atual requer o desenvolvimento de competências que
permitam ao profissional inovar, de modo a se destacar no mercado,
adquirindo ganhos de competitividade. Portanto, na área da Biblioteconomia,
outros campos de atuação surgem, o que requer, a formação continuada do
profissional e a aquisição de habilidades específicas que proporcionem um
perfil cada vez mais empreendedor (SANTA ANNA; PEREIRA; CAMPOS, 2014).
Portanto, os bibliotecários têm a possibilidade de ampliarem os postos de
trabalho, atuando de forma tradicional, por meio do vínculo empregatício,
como também podem montar seus próprios negócios, por meio da prestação
de serviços, oferecida a pessoas jurídicas como privadas (SANTA ANNA,
PEREIRA, 2014).
O espírito empreendedor do bibliotecário tem sido bastante relatado na
literatura, embora a realidade brasileira ainda apresente um profissional que
se prende muito aos postos de trabalho considerados como tradicionais.
Mesmo havendo recomendações acerca das possibilidades de atuação que vão
além dos muros das instituições, como trabalhar em centros de documentação,
em bibliotecas especializadas, no ramo da consultoria informacional, na
normalização da informação, dentre outros nichos, a maior empregabilidade
volta-se
ao
trabalho
em
bibliotecas
públicas,
mediante
prestações
de
concursos (SANTOS et al., 2016).
Para Spudeit (2016), o empreendedorismo na Biblioteconomia brasileira
está engatilhando. Muitas iniciativas, mesmo que incipientes, vêm fortalecendo
a adentração do empreendedorismo na área biblioteconômica, estimulando
profissionais a montarem equipes especializadas que prestam variados serviços
e consultorias em empresas públicas quanto privadas.
A consultoria é um segmento promissor, pois ela estimula o profissional
a se tornar polivalente, ou seja, capaz de solucionar os problemas dos clientes,
oferecendo-lhe resoluções mais adequadas e satisfatórias. O termo consultoria
�28
informacional, embora seja amplo e ainda pouco difundido na literatura e na
vivência prática, provoca uma aproximação do bibliotecário com o mercado da
informação, pois o condiciona ao status de gestor da informação, conhecedor
dos problemas organizacionais e com criatividade e audácia suficiente para
propor melhoria às empresas (MILANO; DAVOK, 2009).
Assim, as aproximações entre Biblioteconomia e empreendedorismo
tornam-se cada vez mais evidentes e, como em toda profissão, o bibliotecário
empreendedor é aquele que inova, que acredita em seu potencial (SPUDEIT,
2016), que reconhece as dificuldades presentes em seu contexto de trabalho e
tem a capacidade de propor alternativas adequadas e consistentes para
solucionar as dificuldades das organizações, tornando-as cada vez mais
competitivas e em constante desenvolvimento (SANTA ANNA; PEREIRA;
CAMPOS, 2014).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este texto apresentou argumentos teóricos que estimulam a reflexão
sobre a ampliação dos fazeres profissionais do bibliotecário, em que a
sociedade da informação é considerada como a “mola-propulsora” para
garantir
a
expansão
dos
fazeres
profissionais,
o
que
possibilita
uma
aproximação cada vez mais nítida das práticas empreendedoras às atividades
bibliotecárias.
Ademais, o texto também discorreu apontamentos sobre os conceitos
básicos de empreendedorismo, a origem desse campo na Administração, como
também a sua transversalidade, ou seja, sua aproximação e utilização em
diferentes profissões, áreas do conhecimento e organizações da sociedade.
Constatamos, a partir das reflexões propostas, que o empreendedorismo
é uma corrente de pensamento vinculada às teorias da Administração, com
foco nas técnicas gerenciais e no processo de planejamento empresarial, cujo
objetivo é promover a fusão entre conhecimento adquirido por um indivíduo e
�29
habilidades que lhe são peculiares, de modo a formar um perfil profissional que
almeja pela mudança e pela inovação.
Como a mudança e a inovação são dois conceitos que permeiam o
empreendedorismo, podemos dizer que o empreendedor é o sujeito que possui
inúmeras habilidades que provocarão a concretização desses conceitos. Assim,
é exigido de um perfil empreendedor, principalmente, ter características como
criatividade, criticidade, autonomia e audácia.
Com
efeito,
o
empreendedorismo
perpassa
todas
as
áreas
de
conhecimento, o que atesta ser ele um tema transversal, o qual precisa ser
praticado, mas, primeiramente, precisa ser estimulado, e esse estímulo,
começa
na
formação
profissional.
Assim,
ao
considerarmos
o
empreendedorismo como uma habilidade, entendemos que todos podemos
incorporá-lo em nosso cotidiano, desde que adotemos estratégias para
desenvolver as habilidades específicas e necessárias para garantir o alcance de
nossos objetivos, por decorrência, que tenhamos a capacidade em elaborar
produtos e serviços que atendam os desejos dos clientes, o que proporciona
ganhos de competitividade.
Por fim, essas breves considerações são suficientes para demonstrar a
necessidade e importância de buscarmos uma maior interação ou aproximação
do empreendedorismo com o fazer bibliotecário. Que a sociedade da
informação e as transformações ocorridas possibilitem aos bibliotecários
explorarem melhor suas habilidades e competências profissionais, conforme as
necessidades do mercado, e, a partir disso, seja ampliada e fortalecida a
prestação de serviços, a criação de empresas, o descobrimento de novos
postos de trabalho, enfim, a consolidação de práticas empreendedoras no
âmbito da Biblioteconomia.
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�32
CAPÍTULO II
INOVAÇÃO E ESPÍRITO EMPREENDEDOR: APLICABILIDADES NA
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Munic Santos
1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, a informação tem sido considerada o principal recurso
que sustenta as práticas sociais. Em diversos segmentos da sociedade, seja no
âmbito profissional, ou na vida pessoal e social, as pessoas precisam de
informação, a fim de se manterem atualizadas e se inserirem nas novidades e
tendências que surgem a cada dia.
A busca por informação passou a ser uma necessidade obrigatória do ser
humano, o que tem proporcionado o surgimento de um novo mercado, em que
a informação representa a matéria-prima que sustenta essa atual sociedade,
manifestando-se como o insumo básico de desenvolvimento das nações e, por
fim, o recurso que ocasiona o aprimoramento profissional.
Assim, nas últimas décadas do século XX e iniciar do século seguinte,
estamos inseridos na chamada Sociedade da Informação, em que indivíduos,
organizações e profissões buscam por informação, a fim de se tornarem
reconhecidos e valorizados em um mercado cada dia mais instável e
competitivo. O chamado mercado da informação desponta-se como um
segmento
de
mercado
caracterizado
pela
necessidade
de
se
produzir
conhecimento e gerar inovações.
É devido à busca incessante por informação e, como consequência, a
geração de conhecimento, que mudanças ocorrem a todo momento. Manter-se
atualizado e adaptar-se às mudanças passaram a ser uma obrigatoriedade
diária, sobretudo no âmbito profissional. Aqueles que, por um motivo ou outro,
não acompanham essas transformações, certamente, correm o risco de
�33
perderem seus postos de trabalho. Portanto, uma das principais ocorrências da
Sociedade da Informação, principalmente com o avanço tecnológico, é o
aumento do desemprego em nível mundial.
Por outro lado, mesmo com as exigências do mercado atual, nota-se o
surgimento ou expansão de novos postos de trabalho, ou seja, à medida que
muitas práticas profissionais desaparecem, outras surgem, ou são substituídas
por novas necessidades. Portanto, o mercado da informação manifesta-se
como um mercado promissor para os profissionais inovadores, criativos e
estratégicos.
Por ser movido pela informação, esse mercado, provavelmente, requer
profissionais capacitados à prática de tratamento e gestão da informação, de
modo que a informação esteja disponibilizada para quem dela desejar. Assim,
segundo
Smit
(2000), os profissionais que
lidam
diretamente
com
a
informação, como os arquivistas, museólogos e bibliotecários, passam a ser
reconhecidos e requeridos para organização da informação e do conhecimento
na sociedade.
Estudo defendido por Baptista (2004) demonstrou as possibilidades de
atuação dos profissionais da informação1, principalmente com o uso das
tecnologias digitais. Segundo essa autora, vivemos um dilema na Sociedade da
Informação, pois, ao mesmo tempo que a tecnologia diminuiu o emprego, ela
também proporcionou o surgimento de novos postos de trabalho, exigindo dos
profissionais mais empenho e demonstração de suas potencialidades.
Santa Anna e Pereira (2014) também concordam com essa ideia de que
o mercado da informação é promissor para o profissional da informação,
principalmente aqueles que desejam trabalhar de forma autônoma, prestando
serviços informacionais em diversos segmentos. Os autores defendem que, a
atuação profissional no atual mercado, ao contrário do que muitos pensam,
tende a se ampliar, haja vista o potencial que os profissionais da informação
possuem no tratamento, organização e disseminação da informação.
1
O termo profissionais da informação, neste artigo, refere-se aos arquivistas, bibliotecários e
museólogos, como apresentou o estudo de Smit (2000).
�34
Para que isso ocorra, também estamos cientes da necessidade de
aprimoramento
profissional,
ou
seja,
o
profissional
precisa
adquirir
conhecimentos múltiplos, possuir habilidade e competências diversificadas, e,
principalmente,
ter
espírito
empreendedor.
A
formação
desse
perfil
diversificado, certamente, inicia-se no decorrer da formação acadêmica, tal
como disposto nos estudos de Bahia e Seitz (2009) e Silva (2013).
Artigo recente publicado por Santa Anna (2017) destacou a necessidade
de os profissionais da informação adquirirem status de um profissional
moderno, denominados de moderno profissional da informação. Nesse estudo,
são identificadas quatro competências do profissional que são: comunicação e
expressão; técnico-científicas; gerenciais; e sociais e políticas, sendo que as
escolas devem estar em constante processo de renovação curricular, de modo
a formar profissionais, cada dia mais polivalentes.
Sendo assim, o presente texto traz discussões relevantes acerca das
potencialidades dos profissionais da informação, tais como bibliotecários,
arquivistas e museólogos ao se inserirem no amplo mercado da informação, e,
por meio de práticas inovadoras e atitudes empreendedoras tendem a ampliar
cada vez mais a empregabilidade no âmbito da Ciência da Informação.
2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: A FORMAÇÃO DE UM NOVO MERCADO
A atual sociedade em que vivemos possui como principal característica a
produção em massa de documentos. Esses documentos estão disponibilizados
em variados suportes, e contêm informação para uso da sociedade, como
também preservação da memória coletiva de uma nação, sendo que tais
informações sustentam as práticas desenvolvidas em diversos segmentos da
sociedade,
seja
na
indústria,
no
entretenimento,
na
educação,
nas
organizações, nos serviços, no comércio, dentre outros (CASTELLS, 2003).
Segundo Castells (2003), nas últimas décadas, a informação tem sido a
principal fonte de riqueza para os países, sendo utilizada como estratégia para
a tomada de decisões e produção de novos conhecimentos, principalmente nas
�35
atividades empresariais. Portanto, vivemos em um novo estágio da sociedade,
que migrou da Era Industrial, em que o foco era as atividades industriais, para
a Era da Informação, em que o centro das atenções está na inovação.
Assim, a Sociedade da Informação é um novo estágio da sociedade, que,
segundo Castells (2003), além do crescente número de publicações e
disseminação do saber, esse estágio da sociedade possui cinco características
principais, que são: tem a informação como matéria-prima; está condicionada
à capacidade de penetração dos efeitos das novas tecnologias; está sustentada
na lógica de redes; apresenta-se como um contexto flexível; e converge
tecnologias específicas, haja vista formar um sistema integrado.
No que se refere à origem dessa sociedade, há divergências nas opiniões
de diversos estudiosos, sendo que muitos atribuem o início dessa sociedade a
partir da invenção da imprensa, ainda no século XV. No entanto, as
transformações mais intensas da explosão documental ocorreram a partir do
uso das tecnologias de comunicação e informação (TICs), influenciadas com os
impactos da Revolução Industrial (SANTOS; CARVALHO, 2009).
Nesse sentido,
A sociedade da informação pode ser vista como uma organização
geopolítica dada a partir da terceira revolução industrial, com impacto
direto no uso da informação e das tecnologias da informação e
comunicação (TICs). O termo surge como uma mudança de paradigma
técnico-social presente na sociedade pós-industrial, visando o uso da
informação como moeda para a sociedade em constituição naquele
momento [...] (SANTOS; CARVALHO, 2009, p. 45).
Observamos que a Sociedade da Informação é influenciada pelo processo
da explosão bibliográfica, como também, pelo uso das tecnologias digitais, o
que promoveu o aparecimento de um novo mercado, em que a economia
industrial cedeu espaço para a economia globalizada, originando novas formas
de organização social e redefinição de produtos e serviços oferecidos no
mercado de trabalho e nas relações entre países do mundo todo (BORGES,
2004).
Para essa autora, a direção principal da sociedade moderna está no uso
da informação. Portanto, nesse tipo de organização social, “[...] a informação
ocupa um lugar substantivo e se torna uma fonte de riqueza, pelo qual se
�36
produz um crescimento rápido das tecnologias de informação e comunicação
que afeta todos os setores da sociedade [...]” (BORGES, 2004, p. 57). Nesse
contexto,
O processo de globalização desencadeou uma integração contínua da
economia global, impactando vários setores da vida econômica e social
dos países, das instituições, das empresas e dos indivíduos, com
profundas alterações na estrutura vigente: um fluxo crescente de capital
entre fronteiras geopolíticas; o aparecimento de novos mercados e
oportunidades [...] (BORGES, 2004, p. 57, grifo nosso).
Conforme discorrido no estudo de Borges (2004), o mercado de trabalho
transformou-se com as mudanças promovidas na Sociedade da Informação,
sendo que novas oportunidades são esperadas, principalmente para os
profissionais que organizam a informação na sociedade.
Concordando com Borges (2004), Santa Anna e Pereira (2014) também
reforçam o surgimento de novas oportunidades advindas, justamente, das
mudanças provocadas pela sociedade atual. Segundo esses autores, a
prestação
de
serviços
informacionais
representa
uma
das
maiores
possibilidades para o profissional da informação que queira garantir seu espaço
de atuação em um mercado competitivo.
No iniciar do século XXI, no Brasil, diversos estudos foram desenvolvidos
acerca da atuação do profissional da informação no contexto da Sociedade da
Informação, tais como nos ensinam Baptista (2000), Baptista (2004), Borges
(2004), dentre outros. Trata-se, na verdade, de um mercado em expansão
para os profissionais que lidam, direta ou indiretamente com a informação,
sendo que a oferta abundante de informação requer seu gerenciamento, de
modo que agregue valor aos usuários da informação, como relatado no estudo
de Barreto (2000).
Assim, o mercado da informação possui tendências para formação de
novos postos de trabalho, mesmo que esses não sejam por meio de vínculos
empregatícios, mas garantam formas de atuação diferenciadas para diversos
profissionais, principalmente os encarregados com a produção e uso da
informação, de modo a atender as necessidades e demandas dos diversos
atores e elementos da sociedade (BARRETO, 2000; BAPTISTA, 2004; SANTA
ANNA; PEREIRA, 2014).
�37
2.1 AS TENDÊNCIAS DO MERCADO DA INFORMAÇÃO
O mercado da informação é fruto das transformações sociais que
rodeiam a sociedade contemporânea, em que a informação é distribuída como
se fosse uma mercadoria, só que essa mercadoria possui um aspecto
simbólico, pois, mesmo sendo consumida, ela permanecerá consumível, por
um tempo e espaço, que será determinado por sua qualidade e validade
(BARRETO, 2000).
A natureza intangível da informação proporciona novas formas de
gestão, como também sua distribuição em canais diferentes do que,
normalmente, se apresenta com o uso de um objeto tangível (BARRETO,
2000). É por isso que novas práticas profissionais são requeridas na atual
sociedade, exigindo dos profissionais o desenvolvimento de serviços voltados
para garantir o uso da informação, conforme as necessidades e contextos dos
usuários, haja vista que a informação é a base para a tomada de decisões,
principalmente nas empresas (SANTOS, 2016).
Segundo Baptista (2000, p. 91), o mercado da informação é instável, ou
seja, as transformações acontecem a todo momento. Para Valentim (2000), os
problemas existentes requerem a atuação estratégia dos profissionais, de
modo que as necessidades da sociedade possam ser atendidas. Logo, segundo
essas autoras, presenciamos um dilema, ou seja, ao mesmo tempo,
vivenciamos tempos de instabilidade e tempos promissores para muitas
profissões, principalmente àquelas ligadas ao gerenciamento e tratamento
informacional.
Sendo assim, o mercado da informação pode proporcionar a diminuição
da oferta de emprego, no entanto, com grande frequência, observa-se o
crescimento do fenômeno da terceirização e a possibilidade de se trabalhar
com a prestação de serviços, como dito por Baptista (2000). Para essa autora,
[...] se a tecnologia tem se mostrado favorável, deve ser dominada,
evitando assim invasões de outras áreas e transformando concorrentes
em parceiros. É uma época de mudanças e não de acomodação. Alguns
autores mostram um futuro de ameaças e oportunidades, onde será
vencedor o profissional capaz de entender melhor os novos paradigmas
da sociedade da informação e de se adaptar aos novos tempos
(BAPTISTA, 2000, p. 91).
�38
O mercado da informação não está repleto de ameaças, mas essas
devem ser vistas como oportunidades para os indivíduos que se dispõem a
encarar desafios, ter espírito empreendedor e visão de futuro, buscando
ampliar suas competências e habilidades, de modo a tornarem-se reconhecidos
e requeridos para solucionar os problemas informacionais existentes nesse
novo contexto (SANTOS, 2016).
As atividades profissionais são ampliadas com o surgimento das novas
tecnologias (BAPTISTA, 2004), em que o mercado tem buscado profissionais
cada dia mais polivalentes, ou seja, que não se fecham aos conhecimentos
técnicos
pertencentes
à
sua
formação
profissional.
Ao
contrário,
profissionais podem exercer atividades diferenciadas, desde
os
o trabalho
tradicional realizado em unidades de informação, como arquivos, centros de
documentação, bibliotecas, dentre outros, como também contribuir na gestão
da informação em organizações, haja vista contribuir com a tomada de
decisões. Além disso, pode atuar, também, no ramo cultural, oferecendo
informações úteis que favorecem a garantia dos direitos do cidadão (SANTOS,
2016).
Para o citado autor, o mercado de trabalho para o profissional da
informação, no contexto da Sociedade da Informação, divide-se em mercado
tradicional como mercado emergente. Considera que o mercado tradicional
está voltado aos fazeres de organização da informação registrada, processos
de trabalho realizados mais intensamente nos arquivos e bibliotecas. Por sua
vez, o mercado emergente é aquele ainda pouco percebido aos olhos da
sociedade e de muitos profissionais, mas que se aponta como oportunidades
valiosas de contribuição desses profissionais para a resolução de problemas
existente no cotidiano empresarial, institucional, cultural, econômico e, de
modo geral, cotidiano social.
Portando, o profissional deve adotar um perfil diversificado, dinâmico,
interdisciplinar e difuso, o que condiciona sua atuação em diferentes nichos de
mercado, principalmente no que tange à prestação de serviços informacionais,
exercendo atividades que o caracterize como um consultor em informação
(SANTA ANNA; PEREIRA, 2014).
�39
Com o perfil voltado à consultoria, o profissional deve investir em sua
formação continuada, de modo a enriquecer seus conhecimentos sobre
diferentes áreas de conhecimento, como no domínio de tecnologias e
percepção de melhorias em variados ambientes e situações. Desse modo,
semelhante ao estudo de Santa Anna e Pereira (2014), Ferreira (2003)
também defende essa atuação interdisciplinar, de modo que o profissional se
torne, a cada dia, mais híbrido. Resumidamente, “[...] tendo em vista que as
profissões
da
informação
têm-se
caracterizado
pela
variedade
e
pela
multiplicidade de suas funções, parece plausível que um mesmo profissional
realize,
ao
mesmo
tempo,
atividades
consideradas
tradicionais
e
emergentes” (FERREIRA, 2003, p. 45, grifo nosso).
Mesmo possuindo uma tendência forte para a prestação de serviços,
ampliando o campo de atuação dos profissionais da informação, pesquisa
desenvolvida por Loureiro e Januzzi (2007) constatou que a grande maioria
dos trabalhadores ocupados em atividades de informação, no Brasil, se
mantém no perfil tradicional, ou seja, atuam como empregados com carteiras
assinadas em órgãos privados e públicos.
Esse fato se deve a muitos fatores, seja ele relacionado à formação
acadêmica proporcionada pelas instituições de ensino, como também a falta de
divulgação das capacidades do profissional, o que gera falta de conhecimento
dos empregadores sobre as contribuições dos profissionais da informação para
suas
instituições
(FERREIRA,
2003).
Portanto,
no
atual
mercado
da
informação,
Ao que tudo indica, existe demanda no mercado por profissionais da
informação, mas há falta de oportunidade para os profissionais de
informação vindos da área da ciência da informação, bem como de uma
formação acadêmica em que estes possam se habilitar para o
desenvolvimento, a implantação e a operação de dispositivos para
filtrar, analisar, sintetizar e disseminar essa avalanche de informações
(FERREIRA, 2003, p. 42).
Na visão de Santa Anna e Pereira (2014, p. 170), a atual realidade do
mercado da informação tende a provocar o que os autores chamam de
processo de “[...] desterritorialização que, por sua vez, ocasionam a
desinstitucionalização da profissão [...]”, ou seja, com a ruptura do tempo e do
�40
espaço, fenômeno ocasionado com o uso das tecnologias digitais, o profissional
pode atuar em diversos contextos, sem necessariamente, estar vinculado a um
segmento de mercado e empresa específica.
Tornando-se autônomo e ampliando suas competências, certamente, no
mercado, haverá “[...] necessidade de se criar novos espaços de atuação,
focado
na
inovação,
flexibilidade
e
liberdade,
rompendo
os
vínculos
empregatícios, mas gerando novas ocupações [...]” (SANTA ANNA; PEREIRA,
2014, p. 170), tendência essa que provoca a conscientização dos profissionais
acerca da aplicação de suas potencialidades nos diversos segmentos da
sociedade, motivando os profissionais a adquirirem práticas e espírito
empreendedor,
a
ponto
de
adquirirem
o
status
de
empreendedores
informacionais (GARCIA, 2011).
3 EMPREENDEDORISMO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
A informação representa um dos principais elementos da sociedade
moderna,
como
profissionais
da
também
constitui
informação.
o
Portanto,
objeto
de
trabalho
entendemos
que
principal
a
Ciência
dos
da
Informação, no atual momento, como campo de conhecimento, adquire mais
valor e reconhecimento, uma vez que se torna mais útil às práticas sociais
(SANTA ANNA, 2015).
Os métodos e técnicas específicas de tratamento da informação,
descritos pela Ciência da Informação, logo de início, nos fazem perceber a
valiosa contribuição dessa ciência para a Sociedade da Informação. Isso
porque,
A Ciência da Informação apresenta-se como uma área responsável pelo
gerenciamento da informação, proporcionando aos usuários da
informação, seu uso efetivo, conforme as reais necessidades
demandadas. O crescente aumento da informação na sociedade
proporciona dificuldades na localização de informações relevantes para
os cidadãos, o que viabiliza a necessidade de gerenciamento, com vistas
a selecionar as informações requisitadas pela demanda (SANTA ANNA;
PEREIRA, 2014, p. 165).
�41
Assim, a Ciência da Informação torna-se um campo de conhecimento
que promove práticas empreendedoras nos profissionais que se colocam a
serviço da gestão da informação e do conhecimento, de modo a garantir
segurança nos processos de trabalho direcionados a tornar a informação
armazenada, recuperada e disseminada. Ao serem difundidas, práticas são
realizadas em prol do uso dessa informação, à qual servirá como estímulo ao
desenvolvimento, seja de organizações, indivíduos ou da nação (GARCIA,
2011).
Sendo assim, segundo o mesmo autor, os profissionais da informação
podem atuar nas diversas fases do ciclo da informação, desde a origem dos
documentos, seu armazenamento e gestão, até o momento em que a
informação agrega valor para as organizações e para a sociedade, garantindo,
por meio do acesso à informação, a efetiva tomada de decisões.
A esse respeito, pode-se afirmar que:
A sociedade atravessa um momento de transição, influenciada pela
crescente utilização das novas tecnologias e o acúmulo de informações
que, para serem usadas com precisão, precisam ser gerenciadas e
transferidas, o que requer a formação de profissionais da informação
capacitados à condução do ciclo e do fluxo da informação, tornando
a informação mais acessível e agregando valor às necessidades dos
usuários da informação (SANTA ANNA, 2015, p. 14, grifo nosso).
As atividades voltadas à gestão do ciclo da informação são complexas,
mas de suma importância para as organizações e para a sociedade como um
todo. Diversos problemas merecem ser resolvidos, o que condiciona a
contratação de prestadores de serviços com especialidade nessas atividades, o
que determina a redução de custos para as organizações, como também, a
oportunidade de novos campos de atuação, principalmente, por parte dos
profissionais que desejam criar seus próprios negócios (BAPTISTA, 2000).
Essas discussões são suficientes para demonstrar quantos desafios
surgem no mundo moderno, cabendo ao profissional da informação adquirir
um espírito empreendedor, capacitando-se continuadamente. A esse respeito,
Garcia (2011, p. 112, grifo nosso) nos diz que, em um cenário composto por
resistência às mudanças e modelos mentais limitantes, o profissional da
informação “[...] precisa ser proativo e combativo, perseverante e focado na
�42
sua missão de apoiar a produção e o uso estratégico da informação e do
conhecimento
em
toda
a
competências
representam,
organização
na
[...]”.
verdade,
Ainda
“[...]
as
reflete
que
características
essas
dos
empreendedores corporativos (ou intra-empreendedores): pessoas dotadas
de competências e energia transformadora tais que sustentam a concepção e
implantação de novas soluções nas organizações”.
Analisando as diversas necessidades que se afloram na sociedade, como
também as dificuldades em se implementar metodologias e processos de
trabalho para garantir o uso da informação relevante, percebemos a formação
de um novo nicho de mercado no âmbito da Ciência da Informação, a prática
do empreendedorismo por parte dos profissionais que se especializam nessa
área de conhecimento (ARAÚJO; CARVALHO, 2011).
A literatura até então publicada no Brasil apresenta número significante
de pesquisas que versam sobre esse tema, contemplando estudos sobre
atuação de bibliotecários, arquivistas e museólogos na prática empreendedora.
Embora a maioria dos estudos esteja direcionada ao exercício do bibliotecário,
entendemos que o espírito empreendedor não se prende a um tipo de
profissional específico, mas estende-se a qualquer indivíduo que tenha visão
de futuro, visando a inovação, como nos ensina Dornellas (2008).
O referido autor esclarece que o empreendedorismo constitui um
processo amplo, em que indivíduos com perfis diferenciados e que buscam
algo novo, planejam ideias, tendo em vista garantir a transformação de ideias
em oportunidades, sobretudo em um momento de turbulência ou instabilidade.
Empreendedor é quem tem a capacidade de transformar as dificuldades e
desafios em estratégias que, de alguma forma, lhe tragam benefícios.
Especificamente, no âmbito dos serviços informacionais, o estudo de
Prado e outros (2014, p. 63) conceituou empreendedor como sendo
[...] termo utilizado para qualificar, ou especificar, principalmente,
aquele indivíduo que detém uma forma especial, inovadora, de se
dedicar às atividades de organização, administração, execução;
principalmente na geração de riquezas, na transformação de
conhecimentos e bens em novos produtos – mercadorias ou serviços;
gerando um novo método com o seu próprio conhecimento. É o
profissional inovador que modifica, com sua forma de agir, qualquer
área do conhecimento humano.
�43
A prática do empreendedorismo envolve, primordialmente, criatividade,
criação
de
valor,
espírito
aventureiro,
audácia,
busca
por
inovação,
determinação, foco e estabelecimento de estratégias para elaboração de
planos consistentes que tendem a garantir o sucesso das ideias que serão
transformadas
em
grandes
oportunidades,
proporcionando
o
sucesso
almejado. Esse conjunto de características forma o perfil de um profissional
empreendedor, o qual tende a transformar seus sonhos em realidade (COSTA;
CERICATO; MELO, 2007).
Inseridos em um contexto globalizado e instável e, ao mesmo tempo,
com o valor atribuído à informação, os profissionais que lidam com a
informação podem expandir suas práticas profissionais, atuando na consultoria
informacional, como relatado por Santa Anna e Pereira (2014), como também
no gerenciamento da informação para a tomada de decisões nas organizações
(GARCIA, 2011), em especial no trato com a documentação arquivística, como
nos ensina Santa Anna (2015).
3.1 A CONSULTORIA EM SERVIÇOS INFORMACIONAIS
O empreendedorismo como um movimento que provoca a formação de
profissionais empreendedores, que apostam na inovação e na ampliação de
seus
negócios,
encontra
no
campo
da
Ciência
da
Informação,
boas
possibilidades de ser aplicado. Isso se dá, principalmente, pelo fato do
profissional envolver-se com o trinômio dado, informação e conhecimento
(SANTOS, 2016). Esse profissional, portanto, “[...] atua com a gestão da
informação e do conhecimento no contexto de uma cultura organizacional”
(SANTOS, 2016, p. 28).
Por envolver-se com uma cultura específica, o profissional deve possuir
inúmeras competências, habilidades e domínios variados de conhecimento
(VALENTIM, 2000), o que tende a esse profissional desenvolver um perfil de
prestador de serviços (BAPTISTA, 2000). Esses serviços podem ser voltados à
oferta de produtos e serviços definidos pelos clientes, como também podem
�44
representar uma intervenção no sentido de diagnosticar problemas, haja vista
formular
propostas
de
melhoria
para
os
desafios
enfrentados
pelos
contratantes dos serviços (OLIVEIRA, 1999 apud ARAÚJO; CARVALHO, 2011).
Por isso, dentro do empreendedorismo aparece o processo de prestação
de serviços que pode se manifestar no contexto da consultoria. A consultoria
teve sua gênese no século XX, na área da Administração, em virtude do
aumento da competição entre as empresas e as necessidades das empresas
adotarem
estratégias
para
inovarem
(OLIVEIRA,
1999
apud
ARAÚJO;
CARVALHO, 2011).
A consultoria empresarial pode ser conceituada como “[...] um processo
interativo de um agente de mudança externo à empresa, o qual assume a
responsabilidade de auxiliar os executivos e profissionais da referida empresa
nas tomadas de decisões, não tendo o controle direto da situação” (OLIVEIRA,
1999 apud ARAÚJO; CARVALHO, 2011, p. 4).
No que se refere à prestação de serviços informacionais, a literatura
apresenta o conceito de consultoria informacional. Para Santa Anna e Pereira
(2014, p. 166), a consultoria informacional
[...] diz respeito ao conjunto de ações que visam auxiliar a realização de
um feito. Compreende a intervenção de alguém (do consultor), munido
de habilidades, competências e instrumentos técnicos, tendo em vista,
contribuir para que uma dada atividade alcance os resultados a que se
propõe. Mesmo tendo sua gênese na Administração e direcionando-se
com mais ardor ao âmbito empresarial, a consultoria passou a ser
adotada por outras ciências, estendendo-se a outros ambientes.
Para os autores supracitados, o consultor informacional não deve
oferecer as soluções dos problemas, mas, partindo-se do princípio de que a
informação é o caminho que fomenta a elaboração de estratégias para a
solução de problemas, o consultor em informação insere-se nesse contexto,
com a finalidade de propor alternativas.
Estudo feito por Milano e Davok (2009, p. 258), acerca do papel
desempenhado por profissionais na área da informação, sobretudo os
bibliotecários, demonstrou que a consultoria informacional é “[...] uma
prestação de serviços e, portanto, um bem intangível, que será oferecido para
�45
satisfazer um desejo ou necessidade sem a posse de um bem físico, exceto
relatórios parciais e finais [...]”.
Milano e Davok (2009, p. 258) nos ensinam que o profissional que se
dedica à prestação da consultoria nos serviços informacionais comporta-se
como um intelectual, detentor de muitos conhecimentos, tendo em vista “[...]
a capacidade de análise e síntese e com inúmeras variáveis componentes do
conjunto de problemas importantes para o desfecho de uma avaliação técnica
correta [...]”. O domínio variado de conhecimento desse profissional visa a
garantir qualidade do que é ofertado. Portanto, “[...] ele deve fazer com que o
consumidor/usuário perceba os seus serviços como algo palpável, oferecendolhe um serviço de qualidade”.
4 REFLEXÕES FINAIS
Os conteúdos analisados na pesquisa bibliográfica indicam que o mercado
atual, com o uso cada vez mais crescente das tecnologias digitais, promove
conflitos, redução de emprego e até desaparecimento de muitas áreas e
profissões. No entanto, esse mercado não pretende ser excludente para
aqueles que se capacitam, ou seja, o mercado abre portas para novas
possibilidades de
atuação, em um verdadeiro ciclo
de transformações
contínuas.
Como a informação representa a matéria-prima da sociedade atual,
expectativas promissoras são esperadas para os profissionais da informação,
principalmente àqueles que apresentam um perfil empreendedor, de modo a
atuar na prestação de serviços informacionais, sendo necessário valorizar e
investir em sua formação profissional, seja ela acadêmica quanto continuada.
Assim, o empreendedorismo torna-se um tema relevante e apropriado a ser
discutido na área da Ciência da Informação, com foco nos campos da
Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia.
Com isso, recomendamos a união de todos os envolvidos com essas
áreas, de modo que, esforços sejam realizados em prol da conscientização
�46
acerca das potencialidades desses profissionais e de sua formação adequada
para resolver os problemas sociais e encontrar/ocupar seu amplo espaço de
atuação no mercado de trabalho, caso contrário, outros profissionais poderão
ocupar
esses
informação.
postos
destinados,
Reformulação
dos
especificamente,
currículos,
ações
aos
de
profissionais
divulgação
da
das
potencialidades dos profissionais da informação, entre os próprios profissionais
e os empresários, além da luta por direitos, políticas públicas e leis mais
justas, são algumas ações que podem contribuir com a valorização do
profissional no amplo e diversificado mercado da informação da atualidade.
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�50
CAPÍTULO III
EMPREENDEDORISMO COMO UM CAMPO POTENCIAL AO
BIBLIOTECÁRIO
Vinicius Alves dos Santos
1 INTRODUÇÃO
Transformações
geralmente
estabelecem
obstáculos
para
alguns
indivíduos. Como se habituou a exercer as mesmas práticas é mais confortável
realizar da mesma maneira. Porém, no mercado de trabalho, isso não é
possível na maioria das vezes. Com o alto desenvolvimento tecnológico, o
fenômeno da globalização e a rápida obsolescência de alguns itens e ações
devido ao molde de antigos contextos, a busca por inovações se faz
necessária. Essa ação pode ser denominada de empreendedorismo.
A discussão da seguinte elaboração circunda em torno de apresentar o
conceito de empreendedorismo, disponibilizar informações sobre o caráter do
empreendedor, e de processos que viabilizam uma atitude empreendedora.
Tem por objetivo também abordar sem muitas pretensões de aprofundamento,
a indolência dos Cursos de Biblioteconomia e dos profissionais da informação,
diante da evolução técnica, e da primordialidade de adaptações, releitura
mercadológica e da constatação das necessidades das organizações, unidades
de informação e seus respectivos usuários.
A investigação se deu por intermédio de revisão de literatura, com uma
estratégia
de
busca
abarcando
as
expressões:
“Empreendedorismo
e
Biblioteconomia”, “Empreendedorismo”, “Economia Criativa” e “Engenharia de
Produção e Empreendedorismo”. Pesquisou-se no Google Acadêmico dentro da
opção disponível no Portal Capes, e no Sistema de Bibliotecas da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). A biblioteca recorrida após a pesquisa no
sistema foi a Professor Emílio Guimarães Moura da Faculdade de Ciências
�51
Econômicas da UFMG.
Será perceptível ao final da leitura deste texto, a
precisão de incorporar esse conceito na realidade bibliotecária, para incentivar
e manifestar com maior relevância, os dispositivos do campo de estudos.
2 BIBLIOTECONOMIA E EMPREENDEDORISMO
A Biblioteconomia é um campo de estudo que desde o seu princípio com
os seus instrumentos, possui uma busca pelo agrupamento e organização de
informações, e o tratamento representativo para uma posterior recuperação,
diante do fluxo informacional e o surgimento de novas informações. Os
sujeitos ao se inserirem na área aprendem os mecanismos que viabilizam tal
elocução, para empregá-los em bibliotecas, unidades de informação e demais
organizações. Mesmo porque, todas as instituições estão sempre lidando com
informação. Alguns instrumentos que podem ser citados são a catalogação
descritiva, a análise de assunto, a tradução, as linguagens de indexação, entre
outros.
Um grande obstáculo que vem se erguendo, é o desinteresse e a
consequente desatualização dos profissionais, não se inteirando acerca das
novas tecnologias e suas respectivas inovações, para a oportunização de
serviços e produtos informacionais, de acordo com as demandas de um mundo
globalizado e em pleno desenvolvimento tecnológico. Pode-se perceber a
notoriedade dessa sentença anterior, ao se analisar os currículos dos Cursos de
Graduação em Biblioteconomia no
Brasil, e a crescente ocupação de
administradores e pessoal da computação, na apropriação de encargos antes
destinados aos bibliotecários.
Há um consenso expresso por Santos (1987) em relação aos aspectos
econômicos de uma pátria, de que:
o nível de desenvolvimento econômico e social de uma nação pode ser
avaliado pela eficiência com que são produzidos bens e serviços, os
quais uma vez absorvidos elevam a qualidade de vida e o grau de bemestar de sua população (SANTOS, 1987, p. 1).
�52
Tal premissa e silogismo foram desenvolvidos relacionados a uma
perspectiva macro, uma estrutura muito mais complexa, porém, trazendo essa
interpretação para o recorte do oferecimento de serviços e produtos
informacionais, esse preceito pode ser vislumbrado no relacionamento com a
prática bibliotecária e com os seus usuários. A medida sobre o sucesso do
desenvolvimento dos trabalhos elaborados por um profissional da informação é
a dimensão da satisfação de sua clientela ao atender as suas buscas.
Ponderando acerca dessa realidade de instabilidade que a área enfrenta, um
conceito
denominado
de
Empreendedorismo
pertencente
ao
campo
da
Administração, se torna eficiente e eficaz para o problema evocado.
2.1 DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO E DOS
EMPREENDEDORES
O empreendedorismo manifestou-se em uma conjuntura de avanços
tecnológicos, de desenvolvimento e alicerçamento do capitalismo no século XIX
(ROMEIRO; SPUDEIT, 2014, p. 2). Empreendedorismo equivale a uma ação
realizadora e inovadora, que impulsiona recursos e se dispõe a correr riscos
para começar e perseguir um objetivo (MAXIMIANO, 2011). Schumpeter
(1942) citado por Maximiano (2011) corrobora esse raciocínio, dizendo que:
[...] os empreendedores inovam não apenas pela identificação de
formas de usar as invenções, mas também pela introdução de novos
meios de produção, novos produtos e novas formas de organização.
Essas inovações [...] precisam de tanta ousadia e habilidade quanto o
processo de invenção (SCHUMPETER, 1942 apud MAXIMIANO, 2011, p.
1).
Há dois tipos de empreendedores: o comum e o bem-sucedido.
Características eminentes em pessoas com um proceder empreendedor comum
são apresentadas no quadro 1.
Quadro 1 - Características de empreendedores comuns
Perseverança
Faculdade de conviver e suportar a indeterminação e incerteza
Utilização de modo diligente dos recursos
�53
Criatividade e imaginatividade
Atenção aos resultados
Fonte: Filion (2000, p. 3).
Já os empreendedores bem-sucedidos, de acordo com Filion (2000),
possuem as particularidades descritas no quadro 2.
Quadro 2 - Características de empreendedores bem-sucedidos
Valores e cultura de empreendedorismo adquiridos por meio de contato com, pelo
menos, um modelo empreendedor durante a sua juventude
Experiência em negócios
Diferenciação
Intuição
Envolvimento
Trabalhadores incansáveis
Sonhadores realistas (visionários)
Líderes
Trabalham em rede com moderação
Têm o seu próprio sistema de relações com os empregados
Controladores do comportamento das pessoas ao seu redor
Aprendizagem dos seus próprios padrões
Fonte: Filion (2000, p. 3).
Os sujeitos que querem ser empreendedores bem-sucedidos devem
perseguir essas características (pelo menos as possíveis em certos aspectos).
É com clareza que a adoção de uma perspectiva e uma cosmovisão traz
consigo benefícios e inovações, assim como dispêndios e renúncias dentro de
uma
trajetória.
Cabe
ao
indivíduo
que
busca
uma
“habilitação
empreendedora”, avaliar e qualificar a estrutura e contexto, nos quais se
encontra, para assumir os riscos e potencializar tanto o desenvolvimento
pessoal, quanto o aprimoramento do negócio, em relação aos propósitos
engendramentos.
�54
2.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS
O ato de empreender detém benesses e ao mesmo tempo renúncias,
para o alcance dos objetivos planejados e esperados, porque como a pessoa
está se inserido em uma conjuntura inovadora, entende-se que está se
dispondo a correr riscos, e a se esforçar acima do comum, além de realizar
abdicações no tocante à zona de conforto em que se encontra. De acordo com
Maximiano (2011), o empreendedorismo detém as seguintes vantagens e
desvantagens:
*Vantagens:
-
Autonomia: ou seja, a capacidade e a liberdade de tomar decisões.
-
Desafio: o estímulo e impulso de criar algo novo; tal comportamento
pode ser fonte de aprazimento para algumas pessoas.
-
Controle financeiro: toma decisões e possui controle sobre as opções, em
relação às escolhas que faz com os recursos financeiros.
*Desvantagens:
-
Sacrifício pessoal: como já foi dito, será demandado do empreendedor
competências e esforços descomunais, o que exigirá renúncia de
compromissos e agendas cotidianas, muitas vezes.
-
Sobrecarga de responsabilidades: o empreendedor representa para si
mesmo muitas vezes, a própria chefia.
-
Margem de erro: as grandes empresas possuem recursos astronômicos,
caso haja alguma falha. Já um empreendedor se vier a efetuar algum
erro, pode gerar consequências desastrosas, levando inclusive à falência
da unidade ou do próprio negócio, se o mesmo trabalhar de modo
autônomo.
�55
2.3 PLANEJAMENTO
Para um sujeito que se aventura na prática empreendedora, ele carece
de possuir, antes de qualquer implementação, um planejamento. Alday (2000)
diz que:
planejar é a palavra apropriada para se projetar um conjunto de ações
para atingir um resultado claramente definido, quando se tem plena
certeza da situação em que as ações acontecerão e controle quase
absoluto dos fatores que asseguram o sucesso no alcance dos
resultados. É necessário um plano para se construir uma ponte, pilotar
um avião, transplantar um rim, abrir um novo escritório numa outra
cidade ou lançar um novo produto (ALDAY, 2000, p. 4).
Em todas as profissões e em diversas nuances da existência, o ser
humano precisa se planejar se almeja alcançar um êxito mais certeiro, acerca
do esforço que está realizando em relação a uma nova ideia. O planejamento
permite a organização, gerenciamento, controle e previsão (em grande parte
das vezes), dos serviços prestados, ou, nessa conjuntura, do empreendimento.
Com o planejamento, o bibliotecário em sua profissão pode mapear e
contemplar o desenvolvimento de cada um dos processos desenvolvidos.
Deve-se dizer que tomar decisões é o âmago do planejamento e dos atos
administrativos como um todo. Um empreendedor precisa reconhecer que
deliberar é parte essencial do seu trabalho, além de gerar alternativas e indicar
possíveis caminhos de sucesso. Maximiano (2011) diz:
decisões são escolhas que você faz, como resultado do julgamento de
alternativas. As alternativas nascem da avaliação de problemas e
oportunidades. Há diversos tipos de decisões administrativas (ou
gerenciais), relacionadas com os seguintes aspectos da empresa e do
trabalho do empreendedor (MAXIMIANO, 2011, p. 17).
Tomar
decisões
é
ter
a
capacidade
de
realizar
a
leitura
do
enquadramento em que se encontra e identificar as características do local ou
público-alvo; além disso, é optar por determinados caminhos que irão
contribuir para o desenvolvimento dos serviços. O decisor deve ter de modo
claro que ele detém encargos inerentes ao futuro e objetivos, a administração
dos recursos e a resolução dos problemas que surgirem (MAXIMIANO, 2011).
�56
2.4 O CAPITAL DE RISCO
É importante racionalizar que o indivíduo pode ser guiado devido às
escolhas que realiza ao fracasso de sua ideia. Uma recomendação ao
empreender, o que não é um imperativo, mas um conselho consciente e eficaz,
e que pode auxiliar durante o planejamento de um novo propósito, é o
chamado “Capital de Risco”. Battini (1985) citado por Santos (1987) diz que
capital de risco equivale à reunião de recursos diferentes, na qual o sujeito se
compromete a ser um associado ativo, aceitando, dessa maneira, se envolver
com os riscos do êxito ou da falência do projeto, estando clara a possibilidade
de perda do recurso disponibilizado. Quando se engendra um novo serviço, é
necessário possuir essa reserva, entendendo que podem haver perdas.
3
A
APLICAÇÃO
DO
EMPREENDEDORISMO
NA
PRÁTICA
BIBLIOTECÁRIA
Munido de tais ferramentas e métodos expostos neste texto, além dos
conhecimentos da área em si, o bibliotecário deve se aventurar em
empreendimentos,
seja
autonomamente
ou
atuando
dentro
de
uma
organização, para alavancar a própria trajetória profissional e oferecer
inovações aos seus clientes. Em muitas conjunturas, o bibliotecário permanece
letárgico, por não contemplar as modificações da jornada profissional e a
usabilidade
da informação
na contemporaneidade, se
distanciando
dos
contextos de seus usuários e da modernização do espaço ou dos serviços e
produtos, que podem ser oportunizados.
3.1 PASSOS PARA EMPREENDER
O primeiro passo que proponho para movimentar essa transformação é
partir do pressuposto de que o bibliotecário necessita de conhecer, com certa
�57
densidade, os usuários reais e potenciais da instituição e/ou do público que lida
fora de um ambiente institucional formal; faz-se necessário conhecer seus
perfis,
preferências,
necessidades,
sugestões
e
melhorias
para
serem
efetuadas. Após a coleta e identificação desses fatores, o profissional da
informação pode aprimorar e adaptar os serviços e produtos que são
disponibilizados, e também ter uma maior percepção do que não é viável
fomentar, por não se encaixar dentro das precisões do usuário. É preciso em
todo o tempo avaliar.
O segundo passo é averiguar quais são os recursos financeiros e
humanos disponíveis, para implementar as modificações e inovações no
ambiente; “existe a quantidade adequada para as circunstâncias?” “Possuo
uma reserva de recursos caso haja algum fracasso no processo?” “Quais são os
riscos?” É importante passar por essa fase, porque é um dos principais
fundamentos para o início dos empreendimentos, e a aplicação do conceito
“Capital de Risco”.
Após essas duas ações, é importante o bibliotecário e sua equipe, se
houver, pesquisarem as principais tendências, novas tecnologias, trabalhos
que podem ser prestados que diferenciem a unidade ou o serviço e,
consequentemente, o profissional, de outros que oferecem o comum, o
ordinário. O bibliotecário deve frequentar encontros, congressos e simpósios,
que retratam as atualidades no campo da informação, nacionalmente e
internacionalmente. Ou seja, estar atento é primordial.
Depois de apreender inúmeras informações, o profissional da informação
deve se reunir com sua equipe ou se for atuante desacompanhado, se
“separar” e ponderar sobre tudo o que foi adquirido informacionalmente. Por
intermédio dessa ação e de todos os passos anteriores, o bibliotecário irá
mapear e controlar os processos que serão desenvolvidos. Em seguida,
elaborará os serviços e produtos; e realizará testes com uma parcela dos
usuários. Se a resposta for positiva, irá averiguar se existe a possibilidade de
aprimoramentos e implementará, oficialmente, o que foi planejado. Se for
negativa, deve buscar refazer ou transformar a dinâmica do trabalho.
�58
3.2 AVALIAÇÃO
Um dos principais erros dos bibliotecários é a ausência de avaliar os serviços,
seja antes ou posteriormente. Os mecanismos de planejamento em torno do
empreendimento devem ser cíclicos. O profissional deve constantemente
analisar e classificar suas funções e negócios, para perceber a qualidade e
satisfação de sua clientela. Almeida (2005) expressa que
a principal função da avaliação é produzir conhecimentos relativos à
unidade de informação, à organização em que esta se situa e a seu
ambiente, para servir de subsídio [...]. A avaliação possibilita a escolha
certa, ou seja, a correta definição dos objetivos no momento da
concepção do plano. Na implementação do plano, produz informações
que contribuem para a maior produtividade e para a melhoria da
qualidade. No final do processo, permite comparar resultados esperados
e conseguidos, conhecer o nível de satisfação do público-alvo [...]
(ALMEIDA, 2005, p. 11).
Tal elocução permite uma perspectiva mais fundamentada e holística,
sem perder de vista todo o processo pelo desenvolvimento e incumbência das
atividades, avaliando os serviços utilizados. A avaliação conscientemente
também impõe metas: de onde se está saindo e aonde se quer chegar com as
transformações que serão inseridas. E o mais notável, permitirá constantes
aprimoramentos
dos
serviços
e
consequentemente,
da
qualidade
e
contentamento do público-alvo, como retratou Almeida (2005).
3.3 O BIBLIOTECÁRIO FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS
Pode parecer que o último subtópico deste texto esteja desconexo do
assunto principal do artigo, porém, detém profunda inerência. Empreender
demandará
do
profissional
da
informação
atualização
acerca
dos
conhecimentos sobre os instrumentos da Biblioteconomia, mas similarmente,
se informar sobre as novas tecnologias. Uma grave dificuldade no campo é que
inúmeros sujeitos têm aprendido das competências biblioteconômicas e
aparelhados das novidades do design e da informática; e porque não dizer da
�59
administração, tem se sobressaído e demonstrado certo perigo à classe dos
graduados em Biblioteconomia.
Isso ocorre pela desatualização dos currículos em grande parte dos
cursos de graduação, e também do conformismo que os profissionais possuem
em relação ao conhecimento adquirido e às novas potencialidades. O
empreendedorismo se mostra como central, nesse cenário. É imprescindível
inovar, estar atento e acompanhar as modificações das necessidades das
organizações, para conceder constante “revaloração” e reconhecimento do
campo. Não são somente os currículos passíveis de críticas das universidades
que contam com o Curso de Biblioteconomia, mesmo porque o procedimento
para remodelá-los é extremamente burocrático. Os profissionais precisam se
mover em direção às novidades, e se reformarem para perpetuar a
atratividade dos serviços, e alavancar o campo para que outros tenham
interesse em se formarem, e as empresas na contratação do profissional.
Há
um
conceito
recente
denominado
de
“economia
criativa”
ou
“economia cultural”, que pode ser definido como a aptidão criativa relacionada
com atividades como design, artes, cinema, entre outros (COSTA; SOUZASANTOS, 2011). Geralmente, esse termo é aplicado em contextos macros, das
grandes metrópoles, porém, como a economia é uma ciência que equivale ao
diagnóstico da produção, distribuição e consumo dos rendimentos e das
propriedades, é passível de aplicação nas ações particulares, mesmo porque,
uma sociedade é composta por vários sujeitos. Empreender caminha lado a
lado da criatividade, da ação de ponderar sobre questões modernas e
renovadoras.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apostar é sinônimo de empreender. Logo, inovar e correr riscos na
sociedade da informação exercendo a prática bibliotecária, em que as
transformações são extremamente rápidas, se faz imprescindível. Ver as
novidades e possibilidades no mercado e as novas oportunidades de aplicação
�60
dos instrumentos com um diferencial demonstrarão a potencialidade da
Biblioteconomia e seus profissionais, nesse novo cenário. A questão é que os
bibliotecários carecem de cessar e de negligenciar seu papel frente ao mercado
e à sociedade, e ocupar os locais que lhe pertencem.
Não somente as bibliotecas, mas as grandes organizações e o próprio
corpo social, diante do tamanho fluxo informacional e a velocidade da criação
de dados, apontam para a indispensabilidade do fazer biblioteconômico. As
grandes empresas precisam de sujeitos que ordenem seus documentos,
mapeiem seus processos, construam seus projetos, classifiquem seus itens,
cataloguem seus objetos e organizem suas informações, mas com a distinção
de realizar todas essas ações, muitas vezes, em sistemas complexos, ou
propor a fabricação dos mesmos, com um olhar organizacional e fluido. Esse
ato pode ser nomeado como empreendedorismo. O bibliotecário, com suas
competências, é capaz de servir ao mercado e contribuir para que as unidades
de informações e empresas, de um modo geral, impulsionem estruturas e
cooperem para o desenvolvimento social e econômico de qualquer que seja a
nação e/ou instituição.
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<https://www.fespsp.org.br/seminario2014/anais/GT5/1_A%20FORMACAO_D
O_BIBLIOTECARIO.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2018.
SANTOS, Silvio Aparecido dos (Org.). Criação de empresas de alta
tecnologia, capital de risco e os bancos de desenvolvimento. São Paulo:
Pioneira, 1987.
�62
CAPÍTULO IV
INICIATIVAS DE FOMENTO À CULTURA EMPREENDEDORA NA
BIBLIOTECONOMIA
Daniela Spudeit
Jorge Luiz Cativo Alaúzo
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
“O empreendedorismo é visto como uma revolução silenciosa que será
para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século
XX”
Jeffry Timmons2
1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
O empreendedorismo é uma temática abordada consistentemente na
área da Administração, mas na Biblioteconomia e na Ciência da Informação
ainda é um desafio, haja vista a corrente tradicional, o perfil profissional e a
cultura técnica que demarcam a profissão. Contudo, empreender na área de
gestão da informação, que se configura como objeto do fazer profissional do
bibliotecário, é algo que já existe desde a década de 1980, com alguns
bibliotecários pioneiros, conforme indicam as pesquisas desenvolvidas por
Spudeit (2016), Laurindo et al. (2016) e Madalena (2018), recentemente.
Foi pensando nessa conjectura, que, em 2014, começaram algumas
iniciativas na Biblioteconomia para pesquisar essa temática com o objetivo de
reunir as experiências de diferentes bibliotecários e bibliotecárias brasileiros
para socializar e divulgar as boas práticas, consolidar conhecimentos,
desenvolver competências profissionais voltadas para as necessidades reais do
mercado e principalmente, fomentar uma cultura mais empreendedora na
2
Jeffry A. Timmons era um professor americano de empreendedorismo, conhecido como um
pioneiro de pesquisa e educação em empreendedorismo. Durante sua carreira, Timmons
publicou vários livros e mais de cem artigos.
�63
área, ou seja, mais proativa, mais engajada, mais inovadora, mais sustentável
e responsável, socialmente.
Para entender o que é cultura empreendedora, foco deste estudo, é
importante pontuar que a origem do termo empreendedorismo não é recente,
pois remonta ao início do século XVI, com as grandes navegações quando
havia exploração de novas terras e trocas comerciais. Porém, o conceito foi se
construindo ao longo dos séculos e atualmente caracteriza-se como: a)
atividade empreendida por um sujeito ao abrir seu próprio negócio ao perceber
oportunidades para inovar nos serviços e produtos; b) relaciona-se a um novo
perfil e comportamento que deve ser desenvolvido por pessoas de diferentes
áreas, formações e independente de ser funcionário público, privado ou dono
do
seu
próprio
negócio
que
envolve
a
transformação
de
ideias
em
oportunidades para atender demandas específicas de seu ambiente profissional
ou social.
Existem pessoas com perfil empreendedor atuando nas empresas, nas
organizações não governamentais, nas igrejas, nas associações, nas ruas, no
governo, entre outros. Empreender não relaciona-se somente à busca do lucro
financeiro ou capital, mas sim a mobilização de recursos (financeiros, pessoas,
materiais, tecnológicos etc.) para colocar ideias em prática que possam: a)
melhorar o ambiente ou comunidade; b) atender necessidades locais,
regionais, nacionais e internacionais; c) trazer benefícios pessoais, individuais
e
coletivos;
d)
sustentabilidade
instituições.
fazer
a diferença
financeira
Dessa
forma,
para
na
vida
diferentes
torna-se
das
tipos
essencial
pessoas;
de
e
e)
organizações
desenvolver
gerar
e/ou
competências
empreendedoras nas pessoas para que sejam capazes de se engajar e
transformar sonhos em realidades.
Com o objetivo de apresentar algumas iniciativas e fomentar a cultura
empreendedora na Biblioteconomia, essa pesquisa relata algumas experiências
e práticas disseminadas por bibliotecários e bibliotecárias de diferentes regiões
do país que estão disponíveis no Portal EmpreendeBiblio 3 e também das
3
Disponível em: <http://empreendebiblio.com/>.
�64
discussões que teve nas últimas três edições do Fórum de Inovação e
Empreendedorismo na Biblioteconomia (FIEB)4, realizado no Brasil.
2 EMPREENDEDORISMO E A CULTURA EMPREENDEDORA
Foi a partir da década de 1990 que a sociedade passou a usar recursos
tecnológicos de forma mais popular, se tornando acessíveis a uma grande
massa e causando implicações em atividades de ensino e laborais, fortalecendo
ações, programas e iniciativas voltadas ao empreendedorismo a nível mundial
(DORNELAS, 2014).
Dessa forma, atualmente, o empreendedorismo é visto como “uma
revolução silenciosa, que será para o século XXI mais do que a Revolução
Industrial foi para o século XX”, segundo Jeffry Timmons (1990 apud
DORNELAS, 2014, p. 7). Ou seja, tem tanta importância e traz inúmeras
transformações socioeconômicas para a sociedade quanto foi a mudança no
modo de produção de manufatura para maquinofatura no século XVIII,
movimento que iniciou na Inglaterra e se expandiu para toda Europa e depois
para demais países.
Jean Baptist Say (1767-1832), economista francês, se referia ao
empreendedor para diferenciar o indivíduo que consegue transferir recursos
econômicos de um setor com baixa produção para um setor com produção
elevada e com maiores rendimentos (DRUCKER, 1987). Ou seja, é aquele que
transforma ideias em oportunidades, aquele que assume riscos e cria algo
novo para fazer a diferença e transformar a realidade em que vive.
As últimas três décadas foram marcadas pelo crescimento da atuação e
de investigações voltadas para o empreendedorismo em nível mundial,
segundo Thomas e Mueller (2000), e mais recentemente na investigação
bibliométrica realizada por Almeida e Zouain (2016) que mostram o aumento
do interesse nas pesquisas e iniciativas acerca do empreendedorismo no
mundo, coadunando com o que Jeffry Timmons pontuou na década de 1990.
4
Disponível em: <http://www.fieb.net.br>.
�65
É importante destacar que existem diversos fatores que explicam esse
movimento empreendedor, como as mudanças do mundo do trabalho
(legislação, tributos, contratos, oferta e demanda, entre outros), a própria
globalização, novas formas de comunicação, informação e de relacionamento
justificam uma postura diferenciada de comportamento na forma de perceber e
entender as relações de trabalho e suas demandas mercadológicas, assim
como o empreendedorismo como objeto de pesquisa.
Nesse
sentido,
é
preciso
incentivar
o
ensino
e
a
formação
empreendedora na Biblioteconomia para que cada vez mais os profissionais
possam aplicar seus conhecimentos e habilidades desenvolvidas em projetos
que agreguem valor cultural para a sociedade ou possam criar e gerir seus
próprios negócios, prestando serviços na área de gestão da informação e
contribuindo para a inovação das empresas e também colaborando para
atendimento de demandas da sociedade.
Foi pensando nisso que algumas pesquisas estão sendo realizadas como
no caso do trabalho “Empreendedorismo na Biblioteconomia e Ciência da
informação: uma revisão de literatura no âmbito nacional e internacional”
apresentado no Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação e
Biblioteconomia (ENANCIB) deste ano que apresenta um panorama das
pesquisas sobre essa temática e também publicado no capítulo do livro
“Inovação em Biblioteconomia: temas transversais”5. No que tange ao ensino,
o trabalho “Formação para o empreendedorismo nos cursos de bacharelado e
licenciatura
em
Biblioteconomia,
Ciência
da
Informação
e
Gestão
da
Informação no Brasil” apresentado no Congresso de Gestão Estratégica da
Informação, Empreendedorismo e Inovação (CGEI)6 e publicado na Revista
Perspectivas em Gestão & Conhecimento7 que analisa como as instituições
brasileiras que ofertam os cursos de Biblioteconomia, Ciência da Informação e
5
Disponível gratuitamente em:
<http://www.editoraargos.com.br/farol/editoraargos/ebook/inovacao-em-biblioteconomiatemas-transversais/707862/>.
6
Disponível em: <http://pgcin.paginas.ufsc.br/2017/02/14/congresso-de-gestao-estrategicada-informacao-empreendedorismo-e-inovacao-cgei/>.
7
Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pgc>.
�66
Gestão da Informação estão contemplando o ensino de empreendedorismo em
seus currículos.
Além da pesquisa, do ensino, da realização de eventos e projetos
interdisciplinares, o incentivo à criação de empresa júnior no âmbito dos
cursos de Biblioteconomia dentro das universidades também é uma excelente
oportunidade para fomentar uma cultura mais empreendedora na área. Reis
(2017) realizou uma pesquisa sobre empresa júnior na área de Biblioteconomia
e criou uma proposta para implementação na Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), ressaltando a necessidade desse espaço dentro da
universidade para promover iniciativas e uma formação mais empreendedora
dentro da Biblioteconomia. Romeiro e Spudeit (2014) citam que, atualmente,
somente 13% dos cursos de Biblioteconomia têm empresa júnior na área para
incentivar os estudantes a empreenderem enquanto ainda estão na graduação,
destacando-se Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal de
Santa Catarina, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de
São Carlos e Universidade Estadual Paulista.
Há também as atividades voltadas para extensão que as universidades
podem realizar para oportunizar uma formação mais empreendedora, pois são
consideradas “incubadoras naturais” de ideias e tem total infraestrutura para
dar
suporte
aos
professores
e
estudantes
no
desenvolvimento
do
empreendedorismo. As universidades precisam entender os problemas e
demandas sociais para buscar soluções por meio da implementação de
projetos.
A instituição de ensino superior, por sua característica de produção e
disseminação do conhecimento, tem um compromisso social em
promover o desenvolvimento tanto dos profissionais que se formam e
passam por ela, como da sociedade de forma ampla. Para esta questão
do empreendedorismo avançar no interior das universidades é vital o
papel dos gestores universitários na orientação para a formação e
disseminação da cultura empreendedora (MELO, 2014, p. 26).
Uma das ações de extensão que podemos citar é o caso do projeto
“Empreendedorismo na Biblioteconomia: ensino, formação e atuação” realizado
no curso de Biblioteconomia na UNIRIO, entre 2014 e 2015, que teve como
objetivo
promover
capacitações
para
desenvolver
competências
�67
empreendedoras. O projeto foi realizado com alunos do curso de Licenciatura
em Biblioteconomia para que os mesmos buscassem subsídios teóricos,
didáticos e metodológicos para promover um curso aberto à comunidade. O
curso foi ministrado em duas edições pelos próprios estudantes de forma
voluntária. Ao longo do curso, foi criada uma apostila com conteúdos,
exemplos e atividades, a qual, posteriormente, resultou na edição do primeiro
livro sobre o assunto “Empreendedorismo na Biblioteconomia” publicado em
2016 pela editora Biblioo, do Rio de Janeiro. Outra ação que resultou do
projeto, foi a criação do Portal EmpreendeBiblio, em 2016, que ainda será
apresentado neste texto.
Também
teve
a
realização
do
projeto
de
extensão
“Práticas
Empreendedoras na Área de Gestão da Informação” feito no âmbito do Curso
de Graduação em Biblioteconomia e da Pós-Graduação em Gestão da
Informação da Universidade do Estado de Santa Catarina, cujo objetivo é
desenvolver o empreendedorismo na área de gestão da informação, projeto
esse iniciado em 20188. Essas práticas se deram por meio da promoção de
workshops para capacitação profissional ao desenvolvimento de competências
empreendedoras, para formação na elaboração de projetos via Lei Rouanet e
submissão na plataforma SALIC, uso do design thinking no desenvolvimento
de projetos para serviços de informação, aplicação das boas práticas do
PMBOK, no planejamento de serviços de informação, modelagem de negócios
de informação a partir da metodologia CANVAS, uso de metodologias ágeis em
serviços de informação, aplicação do Lean Office na gestão de unidades de
informação, linhas de crédito à inovação e agências de fomento, coaching para
profissionais da informação, entre outros temas relacionados às práticas
empreendedoras e intraempreendedoras na Biblioteconomia.
Dessa forma, acredita-se que estaremos fomentando uma cultura mais
empreendedora que trará benefícios a médio e longo prazo para a visibilidade,
consolidação e fortalecimento da profissão que estará mais próxima das
demandas sociais e mercadológicas, ou seja, de fato cumprindo seu papel na
sociedade.
8
O projeto termina em dezembro de 2019.
�68
A cultura empreendedora é uma estratégia para lidar com as tendências
do mundo do trabalho. O papel de formação de opinião e multiplicação
do saber da universidade possibilita a disseminação da cultura
empreendedora, gerando valores empreendedores que priorizam a
geração e distribuição de riquezas, a inovação, a cidadania, a ética, a
liberdade em todos os níveis educacionais e, acima de tudo o respeito
ao homem e ao ambiente (PORTAL; DUHÁ, 2005, p. 155).
As principais razões para se disseminar a cultura empreendedora são:
auto realização, estimular o desenvolvimento, incidir no desenvolvimento local,
apoiar a pequena empresa, ampliar a base tecnológica, responder ao
desemprego, apontar armadilhas a serem evitadas e reorientar o ensino
brasileiro (DOLABELA, 1999). De acordo com Aiub (2002), uma das estratégias
para a disseminação da cultura empreendedora nas universidades está
fundamentada na formação de docentes para que esses introduzam a temática
do empreendedorismo no conteúdo das diversas áreas do conhecimento. Para
esse autor, a criação dessa cultura está ligada a uma educação empreendedora
que proporcione um ambiente favorável, por meio da formação de pessoas que
estimulem o empreendedorismo.
3 PORTAL EMPREENDEBIBLIO
O Portal EmpreendeBiblio9 surgiu como uma proposta para ser um
espaço para disseminar o conceito e as boas práticas do empreendedorismo na
Biblioteconomia, bem como enfatizar a importância do bibliotecário antever
novas oportunidades de negócios na área de informação frente às demandas
do mercado e da sociedade. Esse canal é um dos resultados de um projeto de
extensão intitulado “Empreendedorismo na Biblioteconomia: ensino, formação
e atuação”, realizado no curso de Licenciatura em Biblioteconomia na
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O projeto teve
uma proposta inovadora, não somente pelo tema que instiga curiosidade, mas
também pelo formato em que o mesmo foi planejado com uma abordagem
interdisciplinar.
9
Disponível em: <www.empreendebiblio.com>.
�69
O Portal reúne notícias e informações sobre empreendedorismo na
Biblioteconomia com sugestões de leituras, divulgação de eventos, artigos
sobre abertura de empresas, incubadoras, investidos, modelos e planos de
negócios, intraempreendedorismo, entre outros. Destaca-se como conteúdo do
Portal, a coluna “Depoimentos” que reúne vídeos com relatos de experiências
de bibliotecários que criaram suas empresas. Nesse espaço, os profissionais
discorrem sobre os desafios, aprendizagens, dão dicas, falam de suas
dificuldades, expectativas e outras informações importantes para quem deseja
empreender na área. Tem também a Coluna “Oportunidades de negócios na
área” que funciona como observatório de boas práticas e socialização de nichos
para quem deseja empreender, apontando demandas do mercado e ideias de
negócios relacionados à gestão da informação.
Para dinamizar o espaço, conta com a participação de colunistas que
eventualmente relatam suas experiências como foi o do bibliotecário Rodrigo
Pereira, CEO da Triagem Consultoria de Mato Grosso do Sul, que abordou
sobre prospecção de clientes. Teve também do bibliotecário Thiago Giordano
Siqueira que relatou sobre a experiência de um projeto social chamado
“Expedição Barco Biblioteca no Amazonas” como um case de empreendimento
social realizado nas comunidades ribeirinhas de Manaus. Também teve uma
coluna com a participação da bibliotecária, proprietária da empresa T-Shirts
Mural, que falou sobre o empoderamento por meio do empreendedorismo na
área.
4
FÓRUM
DE
INOVAÇÃO
E
EMPREENDEDORISMO
NA
BIBLIOTECONOMIA
O FIEB é um evento idealizado por/para bibliotecários empreendedores
de
diferentes
aprendizagem,
regiões
o
do
país
que
compartilhamento
tem
e
a
como
objetivo
troca
de
oportunizar
experiências
a
sobre
empreendedorismo e inovação na Biblioteconomia, reunindo, debatendo e
aproximando bibliotecários do país.
�70
É promovido por um grupo de bibliotecários atuantes em campos dos
mais diversos segmentos e também por alguns docentes do curso de
graduação em Biblioteconomia das mais variadas universidades do país. A
ideia do evento é reunir estudantes de graduação e bibliotecários interessados
em empreender e inovar, vislumbrando novas perspectivas e possibilidades de
atuação em seu campo profissional.
O evento busca discutir temas relevantes relacionados à Biblioteconomia,
assim como as condições das práticas desses em seus ambientes de trabalho,
permitindo o encontro de profissionais da informação dos diversos estados
brasileiros.
As temáticas propostas têm extrema relevância para a compreensão de
que existem diferentes espaços e formas de atuação e ocupação de um
mercado, a partir da promoção de ações que valorizem e aumentem a
perspectiva profissional, criando uma nova identidade a bibliotecários pela
sociedade.
Com essa proposta, a primeira edição do evento aconteceu em São
Paulo, no ano de 2016, e reuniu 116 profissionais de 15 diferentes capitais
brasileiras, com o desejo de compartilhar experiências sobre inovação e
empreendedorismo na Biblioteconomia com o tema “Ações inovadoras nos
múltiplos campos de atuação profissional”. Esse evento ocorreu no auditório da
Biblioteca de São Paulo (BSP) e foi realizado com o apoio da Associação
Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO) e da Federação Brasileira
das Associações de Bibliotecários (FEBAB) e teve patrocínio do Conselho
Federal de Biblioteconomia. Além disso, contou com apoio e parceria da Digital
Libraries, Content Mind, Biblioteca de São Paulo, SP Leituras - Governo do
Estado de São Paulo, Associação Catarinense de Bibliotecários (ACB), Hostel
Paulista, RFID Brasil, EBSCO Host, Agência e Revista Biblioo e BiblioIdeias.
Além de apoiadores e o patrocínio obtido, inovou-se na forma de captar
recursos para um evento da área, quando a organização do evento buscou
apoio solidário para ajudar a custear algumas despesas do evento, já que o
evento é promovido por um grupo de profissionais de forma independente de
instituições da área. Dessa forma, foi criada uma campanha de captação
�71
coletiva na plataforma Benfeitoria10, intitulada “Eu quero apoiar o FIEB”,
disponibilizada num período de 90 dias entre os meses de abril e julho,
indicadas as metas, destinação da aplicação dos recursos, se alcançadas as
metas e recompensas para quem colaborasse. A campanha contou com a
participação de 23 profissionais benfeitores e arrecadou cinco mil e oitenta
reais a partir da ação solidária e colaborativa de profissionais e algumas
empresas da área.
Na primeira edição, o evento teve na programação, a palestra de
abertura com o professor Gil Giardelli que tratou do "E-Futuro? A era digital e a
inovação radical". Em seguida, palestraram ainda Maria José Caixeta de
Oliveira,
consultora
do
SEBRAE
de
São
Paulo,
que
tratou
sobre
“Empreendedorismo como opção de carreira: desafios e oportunidades”.
A série de painéis temáticos com experiências profissionais abordou
temas como “Capital intelectual, Gestão de pessoas e parcerias estratégicas”
com o bibliotecário Fabiano Caruso, sócio-diretor da Personates, idealizador e
gestor da ExtraLibris; teve a bibliotecária Guilma Vidal Viruez, sócia fundadora
da Data Coop, primeira cooperativa da América Latina criada por profissionais
da informação para prestar serviços em Documentação; e também a
bibliotecária Renate Land diretora na Egrégora Inteligência.
Outro
painel
de
experiências
tratou
da
“Apresentação
de
produtos/serviços e prospecção de clientes” com o bibliotecário Diego Abadan,
sócio-fundador
da
Lepidus
Tecnologia,
Neide
de
Sordi,
diretora
da
InnovaGestão – Consultoria em Informação Ltda, Rodrigo Pereira, DiretorProprietário da Triagem Consultoria de Mato Grosso do Sul, e de Todeska
Badke, diretora da EDOC Capacitação.
O terceiro e último painel de experiências relativo ao tema da edição foi
sobre a “Inovação e os novos campos de atuação”, mostrando que as
bibliotecas já não são os únicos espaços da atuação profissional e trouxe a
bibliotecária
Cláudia
Guzzo,
da
Guzzo
Projetos/Solidaridad
Network,
a
bibliotecária Laura Pimentel, que atua com user experience na UOL, e a
bibliotecária Paula Azevedo Macedo, consultora de Inovação na área de design
10
Disponível em: <www.benfeitoria.com/>.
�72
thinking na EMBRAER. Nessa edição, teve também o lançamento do livro
“Empreendedorismo na Biblioteconomia” organizado por Daniela Spudeit e
editado pela Biblioo.
No ano de 2017, foi a vez do Rio de Janeiro sediar o evento, cujas
novidades foram: o planejamento de um Tour à Feira Internacional do Livro e
um Bibliotour cultural em que os participantes foram acompanhados por dois
guias turísticos percorrendo museus, bibliotecas e principais pontos do Rio de
Janeiro. A outra novidade dessa edição foi a submissão de trabalhos
relacionados ao tema, cujos autores submeteram cases conforme orientações
de edital e quatro deles foram aprovados e disponibilizados em galeria digital
no site do evento.
Nessa segunda edição, reuniu 101 participantes e o tema “Atitude
empreendedora”
foi
direcionado
para
identificação
de
características
profissionais que desmistificam o ato de empreender à abertura de empresas
ou de negócio próprio, principalmente quando o insumo da prestação de
produtos e serviços está relacionado ao contexto informacional.
O evento aconteceu no auditório da Associação Comercial do Rio de
Janeiro, no segundo sábado de setembro. Teve o apoio da REDARTE, FEBAB,
ACB, SEBRAE-RJ, Anjos do Brasil, Agência Biblioo, Mural Interativo do
Bibliotecário, Data Coop, Rio Criativo e For All Assinaturas e livros Ltda.
Também teve patrocínio exclusivo do Conselho Federal de Biblioteconomia.
A programação da edição contou com três palestras: uma sobre
“Empreendedorismo Informacional na era da Mobilidade” proferida por Cláudio
Starec, jornalista e professor dos programas de Pós-Graduação da ESPM e da
Fundação Getúlio Vargas (RJ); depois teve a fala “O pitch (quase) perfeito para
alavancar o sucesso” do professor Fábio Moreira, professor e empreendedor
atuando na empresa FM Treinamentos e Palestras, e por fim, a palestra de Didi
Guerreiro da Escola Rio Criativo sobre a “Economia Criativa e o papel das
incubadoras para novos empreendimentos”.
Duas
foram
as
mesas
redondas
realizadas:
uma
sobre
“Empreendedorismo em múltiplos campos de atuação” que contou com a
presença de Chico de Paula da Agência Biblioo, Thalita Gama relatando sua
�73
experiência com a criação do Blog Santa Biblioteconomia, Alex Branco da GED
Brazil Tecnologia e Inovação e Alisson de Castro da ABRAINFO. A segunda
mesa foi sobre o “Intraempreendedorismo e Inovação em múltiplos campos de
atuação” com Leandro Pacheco do SEBRAE (RJ), Andréa Nascimento do Wood
Mackenzie e Leonardo Souto do BNDES.
Finalizando a programação do evento e ressaltando algumas percepções
e estereótipos que os líderes de negócio têm sobre o bibliotecário e seu
trabalho, foi apresentado um case internacional com Norma Palomino, chefe de
Serviços
Bibliotecários
no
Banco
Interamericano
de
Desenvolvimento
(Washington, DC, USA) que, por webconferência, falou sobre “Como a atitude
empreendedora recria a identidade do bibliotecário”
Em 2018, o evento ampliou ainda mais as discussões sobre inovação e
empreendedorismo em suas diversas vertentes na região de Mato Grosso do
Sul, tendo como tema “Empreendedorismo social”. Contando com painelistas
de destacada atuação nacional na área, o evento reuniu 88 profissionais das
diversas capitais brasileiras. Ocorreu no auditório da Santa Casa, em Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 08 de setembro de 2018, com apoio da
Triagem Consultoria, SEBRAE/MS, Content Mind Capacitação Profissional,
FEBAB, Santa Casa, Associação Profissional de Bibliotecários de Mato Grosso
do Sul (APBMS) e patrocínio da Bibliotheca e do Conselho Regional de
Biblioteconomia da 1º Região.
A
programação
contou
com
palestra
de
abertura
intitulada
“Empreendedorismo social focado em negócios de impacto social” com Leandra
Costa, consultora SEBRAE e diretora do Living Lab (MS). Também teve duas
mesas temáticas, sendo a primeira sobre “Empreendedorismo social feminino
na Biblioteconomia” com a participação de Franciele Garcês da Umanus (MG),
Catia Lindemann da FEBAB e presidente da Comissão Brasileira de Bibliotecas
Prisionais (RS), e da bibliotecária Ketty Valencio da Livraria Africanidades (SP),
mediada
por
Nathalia
Romeiro
(RJ).
A
segunda
mesa
foi
sobre
“Intraempreendedorismo social em bibliotecas e projetos de leitura” com a
presença da bibliotecária Paola Nascimento (SC), do bibliotecário Thiago
�74
Giordano, que falou sobre o projeto Expedição Barco Biblioteca do Amazonas,
do bibliotecário Leonardo Vieira (MS) e mediação de Alyson Souza.
A novidade dessa edição foi a submissão, avaliação e apresentação oral
de cases sobre empreendedorismo social no evento. O primeiro trabalho
apresentado
foi
“A
sala
de
leitura
comunitária
como
facilitadora
do
empreendedorismo social” de autoria de Flávia Aparecida Alencar Muglia
Pelegrinelli. O segundo contemplou “O empreendedorismo no contexto de
formação do aluno graduando e pós-graduando” de Maria Cristina Palhares e
de Marcelo Dias de Carvalho. A pesquisa do terceiro foi sobre “A gestão da
propriedade intelectual na Fundação Ezequiel Dias: um rumo à gestão da
inovação” de Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Marina Rezende Santos
Coelho, Marina Vasconcelos Vilaça Santos e Rodrigo Souza Leite. Por fim, o
case “Marketing de relacionamento: estudo de caso da associação dos
bibliotecários de Goiás” de autoria de Lays Sousa Amaral e Tainá de Sousa
Gomes. Todos os trabalhos apresentados tiveram mediação da Coordenadora
da Comissão Técnica e Científica, professora Daniela Spudeit (SC), sendo
reunidos
numa
coletânea
empreendedorismo
social
publicada
da
Revista
em
uma
Brasileira
edição
de
especial
sobre
Biblioteconomia
e
Documentação (RBBD) da FEBAB.
Em relação às últimas edições do evento, percebe-se que as temáticas
destacam as diferentes oportunidades de negócios na área informacional e a
necessidade de atuação de bibliotecários em novos nichos de mercado.
Ressaltam a importância da atitude empreendedora e da boa comunicação no
perfil dos empreendedores que pretendem ocupar novos mercados e o cenário
do empreendedorismo social que se relaciona a pensar globalmente, mas agir
localmente buscando estratégias e parcerias para melhorar o ambiente em que
vivem. O empreendedor social tem uma preocupação além do capitalismo ou
acumulação de lucro, pois produz soluções e serviços para resolver problemas
sociais.
Realizadas três edições e definida a cidade de Curitiba como sede do
evento em 2019, evidencia-se que o evento tem aproximado geograficamente
os participantes que buscam interação e novos aprendizados a partir de
�75
relatos, debates, mesas temáticas e cases sobre o tema. Entre esses temas,
alguns são relevantes e emergentes, sendo destacados na figura 1, a seguir.
Figura 1 - Nuvem de tags com temáticas do FIEB
Fonte: Autoria própria (2018).
No que diz respeito ao perfil dos participantes e dos palestrantes, é
possível perceber que nas três edições o evento reuniu um total de 305
participantes de 20 estados brasileiros. Cumpre dizer que as cidades que
sediam o evento acabam tendo um número representativo de inscritos, seja
pela existência de instituições que oferecem cursos de áreas afins com
interesse no tema, seja pelas parcerias firmadas com instituições locais, entre
elas, aquela que sedia o local do evento, cuja contrapartida, amplia ainda mais
o número de participantes do estado.
O percentual de participantes por estado, dentre o total de inscritos nas
últimas três edições do Fórum, são indicados no gráfico 1, a seguir.
�76
Gráfico 1 - Percentual de participantes por estado nas edições do FIEB
Fonte: Autoria própria (2018).
No que tange aos desafios futuros, percebe-se que existe a necessidade
de promover novas edições em cidades da região norte, nordeste e também no
sul do país para oportunizar que pessoas de outras regiões possam ir ao
evento e também firmar parcerias com instituições que desejam fomentar uma
cultura mais empreendedora na Biblioteconomia.
Também é premente observar que o formato do evento organizado por
um grupo de bibliotecários de diferentes lugares do país de forma autônoma
das instituições da área apresenta benefícios, pois confere uma independência
no que tange à programação, ações, parcerias, dinâmicas do evento e até
mesmo na forma de captação de recursos.
Entretanto, a captação de recursos para organizar as próximas edições
do evento é algo que precisa de atenção maior das comissões organizadoras
para viabilização e sustentabilidade financeira do evento, principalmente no
que tange às parcerias firmadas. Alguns editais para apoio a eventos (como
das fundações de amparo à pesquisa, CAPES, CNPq, entre outras) privilegiam
eventos científicos e/ou promovidos por instituições renomadas da área. Então,
é necessário que se pense em alternativas viáveis para captar recursos de
diferentes formas para pagamento de despesas com palestrantes e demais
custos envolvidos.
�77
5 BREVES CONSIDERAÇÕES
Empreender remete à ação de pessoas que realizam algo, mobilizam
recursos e correm riscos para colocar suas ideias em prática, seja como
funcionários dentro de empresas e organizações públicas, ou como donos dos
seus próprios negócios, denotando a necessária e oportuna importância de
fomentar uma cultura empreendedora na área de Biblioteconomia.
Esse fomento às iniciativas empreendedoras na Biblioteconomia vem
sendo fortalecido pela difusão de publicações, divulgação de pesquisas, pela
criação de portais e eventos sobre o tema que, consequentemente, aproximam
um número cada vez maior de profissionais participantes de diferentes
instituições e regiões do país. O crescente interesse amplia a realização de
pesquisas/atividades ligadas às práticas bibliotecárias que oportunizam maior
visibilidade à profissão e contribuem para a formação de uma geração de
bibliotecários mais proativos, engajados e inovadores que buscam uma
atuação mais sustentável e responsável, socialmente.
É possível identificar na Biblioteconomia muitos profissionais que têm
perfil empreendedor com uma consciência social coletiva que desenvolvem
ações e projetos, de forma voluntária ou não, voltados à melhoria da
educação, acesso à informação, promoção da leitura e da cultura, contribuindo
para a visibilidade das ações da Biblioteconomia para a sociedade, fortalecer a
responsabilidade social da profissão e para o alcance de alguns objetivos de
desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU (principalmente os
objetivos 4 e 10).
Dessa forma, este capítulo apresentou algumas iniciativas para fomentar
a cultura empreendedora na Biblioteconomia, relatando experiências e práticas
disseminadas por bibliotecários e bibliotecárias de diferentes regiões do país
que estão disponíveis no Portal EmpreendeBiblio e também das edições do
FIEB realizadas no Brasil para que inspirem outros profissionais, universidades
e instituições da área.
É
preciso
incentivar
o
ensino
e
a
formação
empreendedora
na
Biblioteconomia para que, cada vez mais, os profissionais possam aplicar seus
�78
conhecimentos e habilidades desenvolvidas em projetos que agreguem valor
cultural para a sociedade ou possam criar e gerir seus próprios negócios,
prestando serviços na área de gestão da informação e contribuindo para a
inovação das empresas e também colaborando para atendimento de demandas
da sociedade. Assim como aconteceu com a Revolução Industrial do século
XVIII, o Empreendedorismo também é um caminho sem volta.
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�80
PARTE II
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
DA BIBLIOTECONOMIA
�81
CAPÍTULO V
DESINSTITUCIONALIZANDO O BIBLIOTECÁRIO E A BIBLIOTECA: PARA
ALÉM DOS MUROS DAS INSTITUIÇÕES11
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A evolução da biblioteca e do bibliotecário reforça, cada vez mais, o
potencial deles no desenvolvimento da sociedade. Ao longo do tempo, esse
profissional e a instituição tradicional a que está comumente acostumado em
trabalhar, a biblioteca, vêm sofrendo transformações, de modo a adequar-se
às necessidades da sociedade.
Esse
fato
demonstra
que
a
área
da
Biblioteconomia
tem
uma
característica peculiar e de suma importância: a capacidade em se adaptar. Ou
seja, mesmo, no decorrer dos períodos históricos, em vez de ser substituída ou
até mesmo de desaparecer - como pode ocorrer com qualquer profissional
e/ou instituição – ele/ela se fortalece, sobretudo por ter um potencial para a
inovação.
Dentre os principais aspectos que garantem essa possibilidade de
adaptação, de inovação, de crescimento, enfim, de desenvolvimento, diz
respeito à desinstitucionalização. A desinstitucionalização da informação, como
discorrido por Lancaster (1983), é um acontecimento promovido pela evolução
dos suportes tecnológicos, sobretudo no que tange à criação das bases de
dados
e
sistemas
de
recuperação
de
informação,
cada
vez
mais
automatizados.
11
Este texto teve os resultados parciais publicados na Revista ACB, em 2015. Algumas
adaptações foram realizadas e outros resultados foram acrescentados para esta nova
publicação.
�82
Desinstitucionalizar a informação, segundo esse autor, é sair de um
único suporte, tornando a informação dinâmica, a ponto de ser acessada em
diferentes formatos, visto que adquire uma nova forma. Além disso,
desinstitucionalizar a informação é fazer com que ela possa ser acessada fora
dos ambientes das instituições.
Essa profecia proclamada por Lancaster (1983) é confirmada nos dias de
hoje, com o surgimento da internet. É possível, com a utilização dos recursos
digitais, possibilitar a construção de ambientes interativos, em que a
informação, ao mesmo tempo em que torna-se mais acessível, também pode
ser compartilhada, rompendo-se as limitações de tempo e de espaço.
É como nos ensina Lévy (2010) acerca do surgimento de um novo
espaço de interação entre as pessoas e os recursos informacionais. O
ciberespaço é um ambiente que congrega diferentes partes do mundo, onde as
pessoas podem manter contatos e compartilhar informações, conhecimentos,
além de realizar práticas sociais das mais diferenciadas. Nesse novo ambiente
de convivência, o ciberespaço, surge uma cultura embasada no digital, a
cibercultura, a qual se configura como uma tendência do século XXI que afeta
as pessoas e as instituições dessa atual sociedade.
A cibercultura é a cultura do digital, mediada por meio dos recursos
tecnológicos e manifestada no ambiente digital. Trata-se de uma tendência a
se consolidar cada vez mais, “[...] que inevitavelmente modifica hábitos
sociais, práticas de consumo cultural, ritmos de produção e de distribuição da
informação e cria novas formas de sociabilidade e de comunicação social [...]”
(LÉVY, 2010, p. 22).
A partir dessa contextualização, e considerando como base de discussão
os
conceitos
de
desinstitucionalização
da
informação,
ciberespaço
e
cibercultura, este texto toma forma ao relacionar esses conceitos com as
transformações que o bibliotecário e as bibliotecas sofreram ao longo dos
tempos.
O foco da discussão aqui proposta não está no aprofundamento dos
conceitos mencionados, mas, por meio deles discorrer acerca das novas
características, perfil almejado, competências e habilidades profissionais, por
�83
conseguinte, novos campos de atuação que surgem para o bibliotecário na
sociedade contemporânea.
Assim, entende-se que os bibliotecários, devido à capacidade de
transformação
e
adaptação
que
possuem,
adéquam-se
a
diferentes
ambiências, ampliando seu campo de atuação ao exercer atividades variadas,
seja no âmbito das bibliotecas convencionais quanto nas digitais, seja em
centros de documentação, no gerenciamento da informação organizacional,
podendo atuar também, na prestação de serviços informacionais, com uma
postura autônoma e empreendedora.
O presente artigo objetiva refletir a evolução das competências,
habilidades e atribuições do bibliotecário ao longo dos tempos, sobretudo no
que se refere aos reflexos da sociedade contemporânea. Para tanto, o estudo
utiliza os seguintes objetivos específicos: contextualiza a trajetória evolutiva
das bibliotecas; apresenta as transformações oriundas com o uso das
tecnologias da informação e comunicação (TICs); reflete acerca das novas
competências e habilidades do bibliotecário na atualidade; e, por fim, expõe os
novos campos de atuação bibliotecária, enfatizando as novas práticas advindas
com a prestação de serviços.
2
TRAJETÓRIA
EVOLUTIVA
DAS
BIBLIOTECAS:
DE
DEPÓSITO
A
CENTROS DE DISSEMINAÇÃO
A produção de conhecimento constitui uma das atividades mais marcante
durante o desenvolvimento das civilizações humanas. O homem produz
conhecimento desde o momento que se relaciona com o ambiente externo, na
tentativa de modificá-lo, viabilizando formas mais facilitadas de vivência e
convivência.
Nas sociedades orais, a transmissão de informações consolidava-se por
meio da fala. A produção de conhecimento, genericamente, era viabilizada
mediante os encontros ou eventos presenciais, em que eram transmitidas as
experiências, vivências, sucessos e fracassos alcançados pelos grupos sociais.
�84
Esse momento fortemente marcado pela oralidade constitui um dos primeiros
estágios de produção e transmissão de conhecimento humano, denominado de
oralidade primitiva (LEVY, 1993).
No entanto, a produção de conhecimento começa a crescer à medida que
o homem criou formas de representação da informação que o cercava e
conseguindo, por meio do registro, transmiti-la para gerações futuras. Essa
capacidade ampliou as possibilidades de armazenamento e transmissão da
informação entre diferentes povos, concretizado com o uso dos canais de
comunicação.
A transmissão de informação gera conhecimento à medida que modifica
um contexto, uma realidade humana, eliminando problemas existentes,
facilitando as relações entre humanos e natureza e, garantindo para o
desenvolvimento
da
civilização.
Por
meio
do
registro,
divulga-se
o
conhecimento para outrem, o que viabiliza a perpetuação das culturas criadas
por diferentes grupos. McGarry (1999) afirma que se não houvesse registro e
as pessoas instruídas de um grupo fossem eliminadas por uma catástrofe, a
identidade do grupo estaria em grave perigo de desaparecimento.
A prática de registrar é típica dos povos pré-históricos, utilizando essas
sociedades de signos primitivos, normalmente em forma de desenhos
realizados nas cavernas a respeito dos grandes eventos por eles realizados.
Essa capacidade em exteriorizar seus fazeres, extrapola as potencialidades do
poder da memória humana, sustentada unicamente pela mente, para tornar-se
uma memória externalizada (memória exossomática), que significa, grosso
modo, fora do corpo (MCGARRY, 1999).
Embora as diversas sociedades existentes foram se desenvolvendo com
base no conhecimento que produziam, os povos ágrafos não tinham as
mesmas condições apropriadas para viabilizar mudanças, como aconteceu a
partir da criação da escrita. A escrita revolucionou as formas de representação
e armazenamento da informação, antes condicionada com o uso da memória,
o que permitia que muitas informações fossem perdidas com facilidade.
Os registros escritos permitem o “congelamento” da fala, tornando a
informação registrada e podendo ser recuperada em momentos futuros. Os
�85
registros para serem formados precisam dos signos que, por sua vez, precisam
de um suporte tecnológico a fim de materializar os códigos que representam as
informações (MCGARRY, 1999).
Segundo esse autor, diversos suportes foram utilizados para armazenar
informação, sendo eles, a fim de não serem perdidos, armazenados em
espaços específicos, constituindo durante toda a Antiguidade, as tradicionais
bibliotecas, locais destinados à pesquisa e à meditação, prática realizada de
modo especial, na ampliação do conhecimento filosófico.
Esses acontecimentos representam a gênese das bibliotecas, embora
possuindo características e contextos bem diferenciados da biblioteca que se
desenvolveu em meio aos paradigmas instituídos pelas revoluções científicas e
tecnológicas dos períodos históricos que se sucederam. Para Morigi e Souto
(2005, p. 190),
desde as primeiras bibliotecas, essa palavra tem sido empregada para
designar um local onde se armazenam livros. Porém, nem sempre foram
livros os materiais que preenchiam as bibliotecas. Historicamente, os
suportes para a informação variaram de formato seguindo a tecnologia
utilizada pelo homem. Já foram usados materiais como tabletas de
argila, rolos de papiro e pergaminho e os enormes códices que eram
enclausurados nos mosteiros medievais.
Em linhas gerais, as bibliotecas existentes na Antiguidade possuíam um
fim único, voltado a assegurar a grande produção intelectual desse período.
Assim, nessa época, o conhecimento produzido pelas ciências era armazenado
nas bibliotecas de modo a ser conservado, tendo em vista ser recuperado em
momento futuro, garantindo, dessa forma, para a preservação da memória
coletiva dos povos antigos.
No entendimento de Milanesi (2002, p. 9), as coleções armazenadas nas
bibliotecas da Antiguidade visavam a “[...] buscar-o-que-foi-guardado e de
guardar-o-que-foi-registrado
atividades
essas
que
(e
de
objetivavam
registrar-o-que-foi-imaginado)
“[...]
manter
viva
a
[...]”,
memória
da
humanidade, forma essa em constante aperfeiçoamento”.
Para Martins (2001), as bibliotecas da Antiguidade diferenciavam-se
entre si, não pela modalidade de usuários, uma vez que essa unidade não se
preocupava com a disseminação da informação (preocupação maior era com a
�86
preservação/conservação do material produzido), mas pela divisão, conforme
os tipos de suporte que acondicionavam as informações.
Inicialmente, era
mais comum encontrar bibliotecas minerais e, posteriormente, foram criadas
bibliotecas vegetais e minerais.
Na Idade Média, as bibliotecas continuaram exercendo sua função
voltada
para
a
custódia
da
informação,
constituindo
um
local
para
armazenamento/depósito do saber. No entanto, em virtude da hegemonia da
Igreja em relação ao poder social, evidenciou-se uma sociedade teocêntrica,
cuja atividade econômica mais intensa era a agricultura.
Assim, a produção de conhecimento desse período foi reduzida e as
bibliotecas tornaram-se espaços limitados, direcionados aos monges, que
zelavam pelas coleções produzidas pelos filósofos. Nota-se que, a atividades de
leitura, de pesquisa e de produção de conhecimento era restrita a pessoas
autorizadas pela Igreja, tendo os monges o papel essencial na guarda e
preservação das obras existentes no acervo. Nesse contexto,
o acesso a esses acervos guardados nos mosteiros limitava-se aos que
pertenciam a ordens religiosas ou eram aceitos por elas. Ler e escrever
eram habilidades quase exclusivas dos religiosos e não se destinavam a
leigos. Os monges contabilizavam o seu capital pelo tamanho e
quantidade de suas bibliotecas [...] (MILANESI, 2002, p. 23).
Durante a Idade Média, as bibliotecas limitaram-se à estocagem dos
acervos, destacando-se como atividades maiores dos monges copistas: o
armazenamento, acondicionamento, preservação e conservação de livros
(MARTINS, 2001).
No final da Idade Média, com o crescimento dos mosteiros voltados para
a formação de religiosos, surgem as primeiras universidades, fato esse que
desencadeia a necessidade de ampliar o acesso ao conhecimento armazenado
nas bibliotecas. Aparecem as primeiras bibliotecas universitárias, estando elas
ligadas
às
ordens
religiosas,
porém
questionava-se
seu
valor
como
propagadoras apenas da religiosidade. Não resta dúvida de que, essas
bibliotecas “[...] são as que mais se aproximavam do conceito atual de
biblioteca como espaço de acesso e disseminação democrática de informação”
(MORIGI; SOUTO, 2005, p. 191).
�87
No entanto, algumas revoluções do século XV serviram de base para
romper as concepções disseminadas pela Igreja, nascendo, assim, um novo
período histórico, a Idade Moderna, fortalecida com as ideias renascentistas, o
estabelecimento do Estado laico e as conquistas advindas das Grandes
Navegações.
Além desses acontecimentos, a invenção da imprensa por Gutemberg
representa o nascimento de uma nova era, aumentando a distribuição de
informação, por conseguinte, favorecendo a democratização da informação
mundo afora, aumentando as possibilidades de acesso a um número ilimitado
de registros impressos. Essa inovadora tecnologia desencadeou uma revolução
nas comunicações, alargando consideravelmente a circulação da informação, o
que provoca alterações nos modos de pensar e nas interações sociais
(RIBEIRO; CHAGAS; PINTO, 2007).
A partir da tecnologia da impressão e o fim da Idade Média, as
bibliotecas deixam de ser administradas por religiosos, tornando-se, aos
poucos, locais públicos, de fácil acesso, e o conhecimento vai sendo propagado
mundo afora (BURKE, 2003).
Nessa época, a biblioteca adquire uma nova concepção: em vez de
somente armazenar, ela oferece a informação, favorecendo, com isso, seu
crescimento acelerado nos séculos que se sucederam, tendo forte influência
das grandes revoluções sociais ocorridas ao longo dos tempos modernos
(BURKE, 2003).
Até essa reviravolta, os paradigmas na qual se apoiavam as instituições
bibliotecárias consideravam a biblioteca como uma unidade de informação
voltada para a custódia, caracterizada como um depósito de livros trancados e
acorrentados. No entanto, as revoluções do período moderno rompem com
essa tradição, tornando a biblioteca um espaço democrático, vislumbrando
uma nova modalidade de biblioteca, a biblioteca pública, na qual está
preocupada com a comunidade em que está inserida e para quem são
destinados seus produtos e serviços de informação (MORIGI; SOUTO, 2005).
Vê-se que a tecnologia da impressão foi o estopim para condicionar as
grandes transformações que deram origem ao desenvolvimento do Estado
�88
Moderno
e
a
independência
de
muitas
colônias,
tornando
as
nações
independentes em busca de crescimento social, econômico e tecnológico.
No âmbito das bibliotecas, após o surgimento do Estado laico, o
conhecimento
passa a ser
dominado
pelo
Estado,
sendo
a biblioteca
frequentada por indivíduos pertencentes às classes elitizadas, que de alguma
forma, exerciam poder de dominação na sociedade (BURKE, 2003). É
importante destacar também que, o acesso às bibliotecas era limitado a uma
minoria pelo fato de haver altos índices de analfabetismo nessas sociedades
(MCGARRY, 1999).
No século XVIII, a partir das ideias iluministas e com os princípios
estabelecidos pela Revolução Francesa, sustentada nos lemas da liberdade,
fraternidade e da igualdade, novos paradigmas passam a ambientar as
bibliotecas.
Além
dos
ideais
franceses,
o
crescimento
do
número
de
publicações, sobretudo com o surgimento do periódico científico (MUELLER,
2000), desperta uma nova modalidade de biblioteca, permeada pelos
processos de democratização e socialização do conhecimento, tornando a
biblioteca uma instituição democrática, voltada para resolução dos problemas
sociais (MARTINS, 2001).
A explosão bibliográfica representou o fator que mais repercutiu nas
transformações
em
que
passam
as
bibliotecas
na
contemporaneidade.
Considerada por muitos como um fenômeno comum as todas as áreas do
conhecimento e talvez a característica mais visível das literaturas científicas,
ela pode ser definida como “[...] a quantidade crescente de documentos
científicos produzidos e a rapidez com que esse número aumenta. Esse
fenômeno não é novo, pois vem ocorrendo de maneira exponencial desde o
estabelecimento da ciência moderna e da publicação dos primeiros periódicos,
no fim do século XVII” (SOLA PRICE, 1963 apud MUELLER, 2000, p. 21).
Ora, durante os quatro grandes períodos da história das civilizações,
percebe-se que a biblioteca esteve a serviço da informação, no entanto
tratando-a de diferentes formas: nos três primeiros estágios, as práticas
bibliotecárias eram voltadas com mais vigor para a guarda, conservação e
preservação da informação registrada, tendo o fim de fornecer ao usuário,
�89
quando necessário, a posse do item informacional (SANTA ANNA, 2013a). Na
Idade Contemporânea, essa preocupação ainda existe, todavia, as bibliotecas
preocupam-se em viabilizar o acesso à informação registrada (figura 1).
Figura 1 – A informação e as bibliotecas ao longo dos tempos
IDADE ANTIGA
IDADE MÉDIA
IDADE MODERNA
GUARDA/CONSERVAÇÃO/POSSE
CONTEMPORANEIDADE
ACESSO
Fonte: O autor, com base em Martins (2001), Milanesi (2002) e Santa Anna (2013a).
Analisando o trajeto histórico das bibliotecas após o surgimento da
imprensa, entende-se que essas instituições entraram em um processo de
aperfeiçoamento tecnológico, fato esse que contribuiu no despertar da
explosão bibliográfica.
O desenvolvimento tecnológico e os novos paradigmas instituídos pela
sociedade contemporânea favorecem a concepção de ideias inéditas a respeito
da disseminação da informação e seu uso pela sociedade, em face das novas
necessidades impostas pelo espaço social, pautado na informação como
insumo básico no desenvolvimento pessoal, cultural e econômico de uma
nação. Nesse contexto, a biblioteca também é influenciada por essas novas
ambiências, redefinindo suas políticas, seus objetivos, seus métodos, técnicas
e procedimentos de trabalho (MORIGI; PAVAN, 2003).
Martins (2001) traça uma linha imaginária dos quatro estágios evolutivos
das bibliotecas, com o aparecimento da indústria editorial: laicização,
democratização, especialização e socialização. A laicização diz respeito ao
primeiro momento em que as bibliotecas deixaram de ser gerenciadas pela
Igreja e passaram a ser dominadas pelo poder burguês. A democratização
compreende o período permeado pela Revolução Francesa, motivada por um
sistema social democrático. A especialização decorre da necessidade de
�90
oferecer informação a públicos leitores com necessidades diferenciadas (figura
2).
Figura 2 – Os estágios evolutivos da biblioteca após a invenção da imprensa
SOCIALIZAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO
DEMOCRATIZAÇÃO
LAICIZAÇÃO
CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA EDITORIAL
IDADE MODERNA
Fonte: O autor, com base em Martins (2001).
Desenvolvidos de formas simultâneas, os estágios relacionavam-se entre
si; os três primeiros convergiram para um estágio de maior abrangência, a
socialização, em que a biblioteca “[...] não apenas abriu largamente as portas,
mas ainda saiu à procura de leitores [...]”; as bibliotecas saem do isolamento e
inserem-se na integração desejando “[...] satisfazer as necessidades do grupo,
assumindo-se a postura de um organismo carregado, dinâmico, multiforme da
coletividade” (MARTINS, 2001, p. 325).
Comparando esses fatos com os dias atuais, percebem-se semelhanças
no que diz respeito ao grande volume de informação que é disponibilizada
hoje, principalmente nos meios eletrônicos. Nesse novo contexto da Sociedade
da Informação, tornou-se necessário desenvolver estratégias e profissionais
competentes capazes de selecionar, organizar e recuperar informações
pertinentes aos leitores, sejam eles virtuais ou não (RIBEIRO; CHAGAS;
PINTO, 2007).
No estágio da socialização, os usuários buscam a biblioteca a fim de
adquirem conhecimento a respeito do uso dos novos canais de comunicação
que são instituídos pela evolução tecnológica. Adentrando-se a essa nova
�91
realidade em que as informações passaram a ser disseminadas em outros
suportes que não apenas o livro, especialmente com a disponibilização da
informação na internet, as bibliotecas devem sair “[...] da postura de
armazenadoras de informações para assumir uma postura centrada no
processo de comunicação, o que significa abandonar a filosofia de posse e
investir na filosofia de acesso [...]” (CARVALHO; KANISKI, 2000, p. 37).
Segundo essas autoras, essa nova postura da biblioteca em viabilizar o
acesso envolve um processo de interação entre diferentes indivíduos, de modo
a favorecer o compartilhamento de recursos informacionais, o trabalho em
rede, minimizando pontos deficitários e eliminando barreiras. Santa Anna
(2013a) sinaliza que, o processo de socialização nas bibliotecas representa um
momento de comunhão e ao mesmo tempo de transformação, redefinindo os
propósitos da unidade ao migrar-se da posse informacional ao acesso.
Vislumbra-se, a partir desse discurso, que o papel da internet, o qual
imprimiu um novo espaço de trabalho: o ambiente virtual, desencadeia o
aparecimento de uma nova modalidade de biblioteca, a biblioteca virtual,
oferecendo acesso aos mais diferenciados tipos de informação, socializadas a
partir da conexão entre redes eletrônicas (SANTA ANNA, 2013a).
À medida que as bibliotecas evoluem-se, os bibliotecários que as
conduzem também sofrem diversas transformações, adentrando-se a novos
perfis que requerem competências e habilidades contínuas, com vistas a
adaptarem-se a essas transformações, aprimorando suas capacidades de
gerenciamento em fase dos novos desafios instituídos no bojo dessas unidades
de informação.
Segundo Martins (2001), na contemporaneidade, a biblioteca é fruto das
condições sociais e ideológicas iniciadas na Renascença, proporcionando a
partir dessa época, a figura de um profissional especializado e capacitado para
gerenciá-la. Até meados do século XIX as bibliotecas empregavam eruditos e
escritores para essa função, pois a profissão de bibliotecário ainda não era
reconhecida,
embora
as
práticas
tradicionais
biblioteconômicas
estiveram presentes no contexto dessas instituições.
sempre
�92
Com a democratização da informação, novos paradigmas são instituídos
nas bibliotecas, viabilizando o surgimento do processo de especialização e
socialização. A partir desses últimos estágios evolutivos, as atenções passam a
ser voltadas para as necessidades do público, fator determinante na melhoria
da qualidade dos produtos e serviços oferecidos. A biblioteca torna-se um
organismo vivo e dinâmico, a serviço de públicos diversificados e conduzida
por novas formas de gestão, deixando de atentar-se apenas ao acervo para
direcionar seus propósitos ao usuário, a fim de conhecer melhor suas
demandas (FIGUEIREDO, 1994).
3 OS REFLEXOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS NAS BIBLIOTECAS E NOS
BIBLIOTECÁRIOS CONTEMPORÂNEOS
A evolução das bibliotecas ao longo dos diferentes períodos históricos
constituintes da sociedade humana esteve caracterizada pela utilização de
diferentes tecnologias que contribuíram, e contribuem, para a criação da
informação registrada a compor os diferentes estoques de informação.
Nota-se que as mudanças ocasionadas a essas unidades de informação
dizem respeito à utilização de diferentes aparatos tecnológicos, que além de
armazenarem a informação, tornando-a registrada, também contribuem com a
oferta de diferentes serviços bibliotecários, como exemplo, os catálogos online, os serviços de alertas, as estratégias de busca etc., serviços esses que
favorecem
os
processos
de
armazenamento,
busca,
recuperação
e
disseminação da informação em ambiente digital.
No entanto, essas mudanças não afetam diretamente os propósitos
bibliotecários, que continuam, independente do tipo de tecnologia empregada,
os mesmos: disseminar informação a diferentes públicos e variadas instâncias,
viabilizando a construção de conhecimento.
Segundo Santa Anna (2013a), desde o aparecimento dos primeiros
registros do conhecimento, tendo os tabletes de argila e os rolos de papiro e
pergaminho, a sua máxima representação, até as páginas eletrônicas da
�93
internet, a biblioteca fidelizou-se à sua principal finalidade: organizar,
preservar,
tratar
e
disseminar
informação,
adequando-se
a
usuários,
ambientes e contextos diferenciados.
Na contemporaneidade, a biblioteca está sustentada no paradigma da
socialização, devendo adentrar-se à sociedade em redes, utilizando diversos
canais
comunicativos,
com
vistas
a
tornar-se
interativa
com
outras
instituições, facilitando a transmissão de informação, de forma contínua e
instantânea, rompendo-se barreiras geográficas (MADUREIRA; VILARINHO,
2010).
O uso de tecnologias sofisticadas representa uma alternativa viável e
efetiva, e ao mesmo tempo necessária no gerenciamento da informação
produzida na sociedade. Sem o aperfeiçoamento e utilização desses recursos,
seria impossível gerenciar todo o conhecimento produzido no mundo, de modo
a torná-lo recuperável. O aumento da produção de conhecimento não é algo
recente, mas constitui o resultado de um longo percurso, conforme refletido
por McGarry (1999, p. 90).
Se voltarmos o olhar para a história da informação registrada, a partir
de nossa posição vantajosa do “aqui e agora” [...], veremos uma
torrente de acontecimentos que começou placidamente com a invenção
da escrita, vagueou até a impressão da imprensa, e aí começou a tomar
o aspecto de um rio cauteloso. A capacidade de gravar e transmitir
informações orais, visuais e auditivas aumentou ainda mais a vazão
desse rio até se tornar elegante dizer que estamos sendo “inundados”
por uma torrente de dados e informações (MCGARRY, 1999, p. 90).
Não resta dúvida de que, na atual conjuntura, a biblioteca vem se
constituindo como um espaço destinado a fornecer o acesso a todo tipo de
fonte de informação a qualquer usuário, desprendendo-se as limitações de
tempo e espaço. Esse processo de interação da biblioteca com seus públicos,
sem medir as fronteiras geográficas somente é conseguido com o apoio das
TICs, ocasionando um processo acentuado de “desterritorialização” (SANTA
ANNA, 2013b).
Nesse sentido, as tecnologias da informação representam a possibilidade
mais concreta para expandir a cooperação interinstitucional e com isso ampliar
e diversificar os pontos de acesso à informação. Entretanto, para assumir a
posição de provedora de acesso à informação, as bibliotecas precisam rever
�94
seus
processos,
repensando
a
dimensão
dos
serviços
e
produtos
desenvolvidos, pois o usuário de hoje diferencia-se daquele que “apertava
parafusos” na era industrial (CARVALHO; KANISKI, 2000, p. 37).
Diante da explosão informacional e com o avanço das novas tecnologias,
Cunha (2010) considera que a revolução da biblioteca, nesse contexto, é
permeada por quatro períodos marcantes que são: era tradicional moderna,
era automatizada, era eletrônica e, por fim, a era virtual. A esse respeito,
Santa Anna (2013b) defende que as metamorfoses sofridas pelas bibliotecas
ao longo das eras apontam para uma mudança crucial nas bibliotecas do
terceiro milênio, pois, com o advento da sociedade da informação, essas
organizações adotaram um novo espaço (ciberespaço) e uma nova interface
que amplia a capacidade comunicativa e interativa com os usuários mundo
afora, flexibilizando a atuação do usuário em relação aos serviços e produtos
por elas oferecidos.
O uso do ciberespaço proporciona a ampliação da oferta de serviços e
produtos de informação, favorecendo novas formas de acesso e uso da
informação registrada no ambiente virtual. Surgem, assim, as potencialidades
das bibliotecas digitais, estando elas relacionadas com o acesso por meio de
redes
a
recursos
informacionais
disponíveis
em
sistema
de
base
computadorizada, de modo a despertar “[...] oportunidade de melhoria da
qualidade dos produtos e dos serviços da biblioteca que devem visar à
eficiência, à qualidade, ao serviço orientado ao usuário e ao retorno de
investimento, mesmo que de forma indireta, otimizando a prestação de
serviços [...]” (REZENDE, 2000, p. 52).
Ora, se a internet viabiliza a formação de novos produtos e serviços a
serem prestados pelas bibliotecas, infere-se que o profissional que a gerencia
deverá acompanhar essas mudanças advindas com o uso do ambiente digital,
reconstituindo novas formas, técnicas e métodos biblioteconômicos, com vistas
a garantir uma efetiva gestão dos produtos e serviços disponibilizados no
ambiente digital.
Vê-se que, a internet traz inúmeros benefícios, configurando-se como
“[...] rede de maior importância para as bibliotecas, funcionando como um
�95
canal na localização e recuperação da informação, auxiliando o bibliotecário a
se tornar um provedor de informação [...]” (MARCHIORI, 1997, p. 2).
Segundo Alvarenga (2006, p. 97), os fazeres bibliotecários tendem a se
evoluir para um novo estágio em que as práticas tradicionais de tratamento,
de gestão e de disseminação sejam aplicadas ao novo ambiente de trabalho.
Cabe ao bibliotecário que atua nessas ambiências, adaptar-se a situações
complexas devido às constantes inovações e desafios impostos pela internet.
Assim, é preciso enfatizar que, com o ambiente digital, “[...] mudam-se os
meios, sofisticam-se os instrumentos e surgem nomes novos para designar
coisas novas e velhas. Entretanto, a essência das coisas permanece”.
Segundo Ribeiro, Chagas e Pinto (2007), essas mudanças permitiram o
reconhecimento da necessidade de um profissional com formação especializada
que pudesse tratar tecnicamente os materiais existentes na biblioteca. Desse
modo, devido à permanência da especialização e da socialização no âmbito das
bibliotecas contemporâneas, o bibliotecário para acompanhar seus usuários,
tende a se aperfeiçoar constantemente e se ambientar com as várias
possibilidades de recursos na sua área (MARTINS, 2001 apud RIBEIRO;
CHAGAS; PINTO, 2007), valorizando, assim, ações que garantam sua
formação continuada, de modo a atender as constantes mudanças e
exigências, tanto da sociedade, quanto dos usuários da informação.
O
aparecimento
das
bibliotecas
digitais
juntamente
com
a
disponibilização da informação na internet representa a configuração de um
novo paradigma para os profissionais da informação (BAPTISTA, 2004). Esse
fato desencadeia uma nova realidade, oferecendo novas oportunidades e
facilidades aos consumidores da informação, libertando-os “[...] de sua
dependência
de
intermediários,
eliminando
barreiras
e
proporcionando
oportunidades para o acesso direto aos produtos de informação em qualquer
hora ou local e de forma independente [...]” (SILVA; LOPES, 2011, p. 1).
Nota-se que a informação no espaço digital requer gerenciamento, fato
esse que demonstra a contribuição das práticas bibliotecárias nesse novo
espaço interativo. Ademais,
�96
[...] uma série de catálogos de bibliotecas já estão acessíveis em toda a
rede, para que qualquer um, de qualquer lugar do mundo, possa
pesquisar em recursos bibliográficos os mais variados. Entretanto,
algumas bases de dados e produtos comercializáveis pela rede irão
exigir acordos e licenças para que a biblioteca possa acessá-los e
disponibilizá-los (SHAW, 1994 apud MARCHIORI, 1997, p. 2).
O uso acentuado das TICs no gerenciamento da informação torna-se um
fator de grandes mudanças, refletindo na formação de novas organizações,
novos
consumidores,
logo,
também
evidencia
a
definição
de
novos
profissionais que lidam com a informação. Muitos se arriscam a afirmar, de
forma equivocada, que os profissionais e serviços de informação tendem a
extinguir-se em um futuro próximo.
No entanto, essas mudanças são desafios a serem superados, e, ao
contrário, em vez de representarem ameaças, consolidam-se como novidades
que sustentam a formação de novas e promissoras oportunidades.
Valentim (2002) considera que o “[...] tripé informação, tecnologias da
informação e telecomunicações muda a sociedade, e, consequentemente,
muda suas demandas [...]”. Todavia, os profissionais inseridos no mercado da
informação devem atuar nesse contexto com uma postura investigativa e
crítica, “[...] de modo que possam assumir essas mudanças sociais de forma
natural [...]” (VALENTIM, 2002, p. 125).
Conforme estudo proclamado por Borges (2004, p. 56), o “[...] avanço
tecnológico alterou a noção de espaço e de tempo [...]”, ocasionando ao
mercado consumidor a oferta de serviços e produtos cada dia mais
sofisticados, provocando o aparecimento de alguns e o desaparecimento de
outros. Assim, “[...] a tecnologia tornou-se, ao mesmo tempo, ‘oportunidade’ e
‘risco’” (BORGES, 2004, p. 56).
Nesse contexto, observa-se que a tecnologia, ao mesmo tempo em que
desemprega, ela oferece outras formas de trabalho, visando atender às novas
necessidades geradas. Para Baptista (2004), as tecnologias juntamente com as
pressões advindas da globalização aumentam o desemprego, porém, ampliam
as oportunidades de trabalho em níveis mundiais.
Entende-se que essas mudanças oriundas com a expansão da tecnologia
viabilizam novas oportunidades, permitindo aos profissionais explorarem
�97
melhor suas potencialidades, sendo necessário, para isso, inovar e instruir-se
continuadamente. No campo da Biblioteconomia, essa tendência tende a
aflorar-se no decorrer do século XXI. Isso porque, as oportunidades de atuação
profissional ampliam-se a cada dia, podendo o profissional atuar em novos
ambientes,
com
novas
funcionalidades,
tornando-se
um
profissional
requisitado, autônomo, criativo e adaptativo, graças à desinstitucionalização da
informação.
4
UM
PROFISSIONAL
EM
EVOLUÇÃO:
NOVAS
COMPETÊNCIAS,
HABILIDADES E ATRIBUIÇÕES DOS BIBLIOTECÁRIOS
Conforme
analisado,
o
bibliotecário
teve
seu
reconhecimento
na
sociedade mundial a partir do século XIX, em virtude das transformações que
as bibliotecas atravessavam, sobretudo com o uso de novos artefatos
tecnológicos, assim como, devido à explosão da informação e com a
necessidade de atender as exigências do público, com vista a oferecer serviços
e produtos de qualidade.
No entanto, a prática bibliotecária data dos primórdios, devido à
necessidade de organização e preservação dos registros do conhecimento
gerados pela sociedade. Para Ortega (2004), essa prática apresenta uma longa
história de atividades de organização e conservação de documentos, desde o
início da escrita até a época moderna, no século XV, quando recebeu novos
insumos em função da invenção da imprensa e do Renascimento científico e
cultural.
A partir das revoluções científicas do século XVIII, os séculos seguintes
foram permeados por constantes mudanças no que se refere aos direitos e
deveres do cidadão e a liberdade de acesso a esses direitos, garantindo para a
consolidação da cidadania (FIGUEIREDO, 1994). Assim, a profissão de
bibliotecário
torna-se
cada vez
mais necessária, tendo
em vista, um
profissional capacitado a exercer atividades de organização, por conseguinte,
�98
ao auxílio na localização e disponibilização da informação registrada a todos os
cidadãos.
Em âmbito brasileiro, as primeiras bibliotecas foram criadas sob
comando dos jesuítas, e apenas no século XX que o profissional foi legalmente
reconhecido. Antes disso, no início do referido século, segundo Castro (2000),
o ensino de Biblioteconomia foi instituído, sendo oferecido pela Biblioteca
Nacional (tendo influência da escola humanista francesa École de Chartes) e
pelo Colégio Mackenzie em São Paulo (sob influência tecnicista da escola
americana Columbia University).
É apenas no ano de 1962, por meio da Lei 4.084/62, que foi instituída a
profissão
bibliotecária.
Segundo
esse
Diploma,
constituem
principais
atribuições desse profissional: atuar na organização, direção e execução dos
serviços técnicos de repartições públicas federais, estaduais, municipais e
autárquicas e empresas particulares concernentes às seguintes matérias e
atividades: o ensino de Biblioteconomia; a fiscalização de estabelecimentos de
ensino
de
Biblioteconomia
reconhecidos,
equiparados
ou
em
via
de
equiparação; a administração e direção de bibliotecas; a organização e direção
dos serviços de documentação; e, a execução dos serviços de classificação e
catalogação de manuscritos e de livros raros e preciosos, de mapotecas, de
publicações oficiais e seriadas, de bibliografia e referência (BRASIL, 1962).
No artigo sétimo da referida Lei também está descrito que os bacharéis
em Biblioteconomia terão preferência, quanto à parte relacionada à sua
especialidade nos serviços concernentes a: padronização dos serviços técnicos
de Biblioteconomia; inspeção, sob o ponto de vista de incentivar e orientar os
trabalhos de recenseamento, estatística e cadastro das bibliotecas; publicidade
sobre material bibliográfico e atividades da biblioteca; planejamento de difusão
cultural, na parte que se refere a serviços de bibliotecas; organização de
congresso, seminários, concursos e exposições nacionais ou estrangeiras,
relativas à Biblioteconomia e Documentação ou representação oficial em tais
certames (BRASIL, 1962).
Essa lei estabelece as principais atividades a serem desempenhadas por
um profissional que possua o Diploma de Biblioteconomia em escola
�99
devidamente reconhecida. Também são descritos nessa lei, as obrigações dos
conselhos de classe em defender os interesses da profissão e das escolas em
formar profissionais comprometidos em oferecer serviços úteis à sociedade.
Vê-se que, nessa época, década de 1960, a explosão bibliográfica estava
consolidando-se, no entanto a revolução tecnológica era vista como um
acontecimento do futuro. As atribuições dos bibliotecários naquele contexto
estavam voltadas exclusivamente para a atuação em bibliotecas, atuando,
sobremaneira, na organização dos acervos bibliográficos impressos e nas
atividades de gestão das bibliotecas no atendimento aos usuários e às
demandas informacionais.
Com a incorporação do bibliotecário na Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO), notadamente com sua inserção na categoria de profissional
da informação, novas atribuições lhe são conferidas. Assim, os profissionais da
informação
[...] trabalham em bibliotecas e centros de documentação e informação
na administração pública e nas mais variadas atividades do comércio,
indústria e serviços, com predominância nas áreas de educação e
pesquisa. Trabalham como assalariados, com carteira assinada ou como
autônomos, de forma individual ou em equipe por projetos, com
supervisão ocasional, em ambientes fechados e com rodízio de turnos.
Podem executar suas funções tanto de forma presencial como a
distância (CBO, 2002 apud FIGUEIREDO; SOUZA, 2007, p. 13, grifo
nosso).
Segundo
eventualmente,
os
autores
trabalham
supramencionados,
em
posições
esses
desconfortáveis
profissionais,
durante
longos
períodos e sob pressão, levando à situação de estresse. As condições de
trabalho são heterogêneas, variando desde locais com pequeno acervo e sem
recursos informacionais a locais que trabalham com tecnologia de ponta.
Conforme exploram Figueiredo e Souza (2007), com base na CBO
(2002), constatam-se novas considerações do trabalho bibliotecário em face
dos novos desafios impostos pela sociedade contemporânea, sobretudo, com a
chegada
das
TICs
e
a
disponibilização
dos
serviços
e
produtos
biblioteconômicos no ambiente digital.
O referido documento trabalhista garante que o bibliotecário pode atuar
em unidades de informação com vínculo empregatício, como pode atuar de
�100
forma autônoma, na prestação de serviços. Também se alude sua participação
em outros ambientes que não sejam as bibliotecas presenciais, podendo ele
atuar na oferta de produtos e serviços por meio do ambiente digital (BRASIL,
CBO, 2002).
No entanto, mesmo estando respaldado por esses documentos legais,
infere-se que, as problemáticas surgidas com o uso acentuado das novas
tecnologias requerem um profissional detentor de novas competências e
habilidades, a fim de expandir suas práticas para outras instâncias, conforme
demandado pela sociedade.
Na visão de Madureira e Vilarinho (2010, p. 103), vive-se, na atualidade,
"[...] um processo evolutivo das bibliotecas e da informação registrada e o
bibliotecário precisa se preparar para assumir sua identidade de ‘cibertecário’.
Nesse sentido, ele é um desbravador, um pioneiro e o que produzir será a base
de uma nova visão de biblioteca e informação".
Nesse enfoque, atentando-se ao quinto postulado de Ranganathan
(2009), Santa Anna (2013a) disserta que as bibliotecas são organismos em
crescimentos e o bibliotecário também deve acompanhar essa (r)evolução,
adentrando-se às novas concepções paradigmáticas, a fim de garantir sua
importante função, qual seja, mediar a todos, informação de qualidade,
independente dos recursos, dos métodos e demais instrumentos empregados.
4.1 O MODERNO PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO
A sociedade contemporânea trouxe mudanças para todas as áreas do
conhecimento, despertando a necessidade dos profissionais reverem suas
práticas e adequá-las às novas necessidades demandadas por instituições e
por usuários. Diante da gama de desafios impostos, faz-se necessário a
adequação profissional ao trinômio: tecnologias, inovação e aprimoramento
(SANTA ANNA; PEREIRA; CAMPOS, 2014).
Um das alternativas encontradas pelas ciências, tendo em vista viabilizar
ações para resolveram questões problemáticas do mundo atual, é a utilização
�101
da interdisciplinaridade. Ter conhecimento amplo de vários campos do saber é
uma atividade requerida principalmente no universo da Biblioteconomia,
devendo os bibliotecários ampliarem suas competências, “[...] possuir um
conhecimento íntimo dos territórios intelectuais das disciplinas e dos atalhos
entre eles [...]” (MCGARRY, 1999, p. 170).
As novidades que permeiam o contexto social e que são refletidas nos
fazeres bibliotecários vêm sendo uma das maiores preocupações tanto de
profissionais, órgãos de classe, academia quanto de pesquisadores da área. As
interferências
acometidas
pelas
inovações
tecnológicas
aos
serviços
biblioteconômicos instigam os profissionais da área a (re)definirem seus
métodos e processos de trabalho, com vistas à adequação das demandas, bem
como à adaptabilidade da prática profissional.
Segundo Santa Anna, Pereira e Campos (2014), instigados com essas
preocupações, vários estudos foram realizados no sentido de conferir as novas
competências e habilidades direcionadas aos bibliotecários. O ponto inicial
dessas discussões é evidenciado a partir dos estudos financiados pela extinta
Federação Internacional de Bibliotecários (FID), no ano de 1992, sendo
aperfeiçoado, logo em seguida, com as pesquisas de Ponjuan Dante (2000).
Em linhas gerais, esses estudos dizem respeito ao novo perfil que o
bibliotecário deve adquirir em face dos acontecimentos advindos da Sociedade
da Informação. Os bibliotecários, diferente das competências que lhe foram
conferidas desde o início da oficialização da profissão, devem adquirir as
características
de
um
profissional
inovador,
denominado
de
Moderno
Profissional da Informação (MIP).
As competências do MIP não podem ser analisadas sobre uma ótica
excludente das características que durante muito tempo representou a base da
profissão de bibliotecário. Silveira (2008, p. 88) discute que “[...] construir um
novo perfil de atuação para os bibliotecários e inseri-los no rol das atividades
que impulsionam o moderno mercado da informação exigiu repensar os
atributos que por longa data definiram o saber biblioteconômico”. A formulação
dessas
competências
deve
levar
em
consideração,
os
desafios
�102
contemporâneos, as novas demandas surgidas no meio social e levar em
consideração as práticas tradicionais da profissão.
Os fazeres biblioteconômicos na forma como foram concebidos com a
regulamentação da profissão no Brasil, em meados do século XX, estavam
voltados para atividades técnicas junto aos itens informacionais, constituídos,
em grande parte, por livros. Assim, o bibliotecário deveria “[...] possuir uma
formação voltada para a preservação da cultura humana; para o apoio à
educação como suporte ao processo de ensino-aprendizagem; para o estudo; à
pesquisa e para o planejamento e administração dos recursos informacionais
[...]” (SILVEIRA, 2008, p. 89).
Na atualidade, esses fazeres são regidos por novas competências, tendo
como fundamentação teórico-prática “[...] ampliar o escopo de conhecimentos
necessários à concretude de seu fazer profissional, tendo em vista priorizar
premissas como: planejamento, gerência e processamento de sistemas de
informação, além da concepção e uso das recentes tecnologias da informação
e da comunicação – TICs” (SILVEIRA, 2008, p. 89).
A chegada do terceiro milênio foi marcada com o estabelecimento de
quatro competências e inúmeras habilidades, elaboradas no IV Encontro de
Diretores das Escolas de Biblioteconomia e Ciência da Informação do Mercosul,
realizado no ano de 2000, em Montevidéu. Como produto desse evento, foram
formalizadas as seguintes competências: competências de Comunicação,
Técnico-Científica, Gerenciais, Sociais e Políticas (VALENTIM, 2000).
As competências de Comunicação e Expressão dizem respeito às
atividades de capacitar e orientar os usuários para um melhor uso dos recursos
informacionais disponíveis em uma unidade de informação. Também referemse à elaboração de produtos de informação (bibliografias, catálogos, guias,
índices, disseminação seletiva da informação etc.), e planejamento e execução
de estudos de usuários dos sistemas de informação (SILVEIRA, 2008).
As competências Técnico-Científicas envolvem o desenvolvimento e
execução do processamento de documentos em distintos suportes, unidades e
serviços de informação. Também abarcam as atividades de selecionar,
registrar, armazenar, recuperar e difundir a informação gravada em qualquer
�103
meio para os usuários de unidades, serviços e sistemas de informação; por
fim, também contemplam o ato de planejar, constituir e manipular redes
globais de informação (SILVEIRA, 2008).
Quanto às competências Gerenciais, Valentim (2000, p. 20) destaca-as
como aquelas voltadas para a gestão, abrangendo, holisticamente, as ações de
“[...] formular, dirigir, administrar, organizar e coordenar unidades, sistemas,
projetos e serviços de informação [...]”. Ponjuan Dante (2000) sintetiza essas
competências como os pilares para uma atuação efetiva, de modo que o
profissional tenha espírito de gestão e liderança, construindo mecanismos que
viabilizem a criação, a comunicação e a consolidação da informação entre
todos os atores da unidade informacional.
As competências Sociais e Políticas afloram para o papel social do
bibliotecário, devendo expandir seu fazer além das paredes da unidade. Para
Valentim (2000 apud SANTA ANNA; PEREIRA; CAMPOS, 2014, p. 80), nesse
quesito, caberá ao profissional fomentar uma atitude “[...] aberta e interativa
com
os
diversos
atores
sociais
(políticos,
empresários,
educadores,
trabalhadores e profissionais de outras áreas, instituições e cidadãos em geral)
que configuram o atual ciclo informacional [...]”.
Quanto às habilidades delegadas a esses profissionais, é importante
destacar que não há limites, podendo o profissional investir em sua formação
continuada, tendo em vista consolidar a melhoria contínua de seus fazeres.
Valentim (2000) descreve as principais habilidades propostas no IV Encontro
de Diretores das Escolas de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Dentre
essas habilidades, destacam-se: utilizar as metalinguagens pertinentes à
preservação, organização e disseminação da informação; demarcar campos
específicos e integrar conteúdos de áreas correlatas em uma perspectiva
multidisciplinar; processar documentos, quaisquer que sejam os suportes,
linguagens e formatos de acordo com as teorias, paradigmas, métodos e
técnicas da área; desenvolver ações pedagógicas voltadas para melhoria do
desempenho profissional e para ampliação do conhecimento em geral;
responder às demandas sociais determinadas pelas transformações que
caracterizam o mundo contemporâneo, dentre outras.
�104
A demonstração acerca da evolução da biblioteca e do bibliotecário em
fase
dos
desafios
impostos
pela
atual
sociedade,
sobretudo
com
o
desenvolvimento e uso das novas tecnologias nos serviços de informação, e
diante das novas competências e habilidades a serem adquiridas pelos
bibliotecários, mostram que eles adquirem um perfil diversificado.
Com esse perfil interdisciplinar e inovador ele pode, também, atuar em
inúmeros e diferenciados ambientes, podendo atuar na prestação de serviços
de informação, de forma autônoma, tornando-se um profissional independente
e com espírito empreendedor.
4.2 A QUESTÃO DA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO
Institucionalizar significa estar ligado a uma instituição, adentrando-se a
valores,
políticas
e
objetivos
conjuntamente
construídos
e
seguidos.
Desinstitucionalizar significa, grosso modo, deixar de ser institucionalizado
(FERREIRA,
1999).
No
âmbito
das
profissões,
o
profissional
desinstitucionalizado é aquele que não possui vínculos empregatícios com as
organizações, prestando serviços de foram autônoma/independente.
A desinstitucionalização na Biblioteconomia não é uma discussão recente,
pois foi proposta por Lancaster (1983), desde as últimas décadas do século XX.
Segundo ele, o bibliotecário que exerce atividades fora das bibliotecas ou de
organizações, sobretudo no ramo da prestação de serviços a diferentes
empresas, caracteriza-se como um agente de informação, considerado como
um bibliotecário free-lance.
Durante muitos anos, Lancaster atuou em bibliotecas públicas inglesas e
em organizações privadas norte-americanas, atuando na organização da
informação junto a sistema de recuperação da informação tanto manuais
quanto automatizados, o que lhe proporcionou grande conhecimento acerca do
futuro das atividades bibliotecárias com o crescimento da internet.
Embora a internet ainda não estivesse sendo utilizada por bibliotecas na
disponibilização de serviços e produtos de informação, Lancaster já previa os
�105
reflexos que as novas tecnologias proporcionariam às bibliotecas físicas e aos
profissionais que lidam com a informação nesses espaços. No entanto,
Lancaster considerava a evolução tecnológica, no âmbito das bibliotecas, como
a “mola propulsora” que ampliaria os fazeres biblioteconômicos, extrapolandoos para ambientes aquém da instituição biblioteca.
Na contemporaneidade, essa profecia confirma-se a cada dia. A
informatização da informação somente representa ameaça para aqueles
profissionais que não são inovadores e que não buscam a instrução a ponto de
não conseguirem adequarem-se ao novo contexto. Assim, as novas tecnologias
viabilizam oportunidades de maior reconhecimento da Biblioteconomia e sua
importância para a sociedade (LANCASTER, 1994).
Essa ampliação representaria a ascensão do profissional da área que,
deixaria de atuar de forma camuflada apenas em instituições de informação,
como as bibliotecas e centros de documentação, para atuar em outras
ambiências, desenvolvendo serviços de informação dos mais variados. Com
base
na
obra
de
Lancaster
(1983),
Baptista
(2000)
afirma
que
a
desinstitucionalização corresponde à aplicação de habilidades profissionais
bibliotecárias em ambientes que ultrapassam os muros das bibliotecas.
Conforme
pesquisa
de
Costa
e
Moraes
(1992),
o
processo
de
desinstitucionalização na Biblioteconomia - que vem de encontro com a
dependência da profissão à biblioteca e contribui para o desenclausuramento
do profissional, à busca do público potencial que deve servir - não é novo.
Lancaster observa que, no passado, alguns profissionais já exerciam suas
funções fora do âmbito da biblioteca. Ele cita como exemplo os bibliógrafos de
assuntos filiados à biblioteca da universidade alemã que, no início do século,
trabalhavam diretamente nos departamentos correspondentes à sua própria
área de especialidade.
Vislumbra-se a partir das discussões em torno da desinstitucionalização
na Biblioteconomia, que os campos de atuação dos bibliotecários tendem a
aumentar à medida que o profissional reconhece seu potencial em prestar
serviços
de
forma
individual
ou
de
forma
coletiva,
utilizando
suas
competências no gerenciamento da informação, assim como em sanar outras
�106
necessidades sociais. Nesse contexto, surgem diferentes nomes direcionados
ao bibliotecário, tais como: agente da informação (PAIVA, 1990), profissional
da
informação
independentes
(MUELLER,
(BAPTISTA,
1996),
2000).
consultor
informacional/profissionais
Independente
da
nomenclatura
que
recebam, o importante é considerar a ampliação dos campos de atuação do
bibliotecário contemporâneo.
Assim, o bibliotecário, de qualquer forma, amplia os horizontes da
profissão, podendo atuar no gerenciamento da informação, semelhantemente
às atividades profissionais realizadas em bibliotecas físicas, podendo atuar
também em outros setores da sociedade, como o setor cultural, garantindo
efetivação de seu papel social, na construção de uma sociedade mais cidadã.
Portanto, conforme descrito por Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014),
de que as bibliotecas na atualidade revestem-se de atividades diversificadas,
fomentando
ações
educacionais,
culturais
e
sociais,
infere-se
que
o
bibliotecário pode atuar no mercado, também, de forma autônoma em prol das
causas sociais, atuando como agente cultural e educacional, garantindo a
efetivação de uma sociedade mais democrática, inclusiva e igualitária
(DUDZIAK, 2007).
No que se refere à atuação na prestação de serviços em prol da gestão
da informação, Paiva (1990, p. 48) discute que, o profissional da informação,
diante das novas oportunidades surgidas, adquire o status de um agente de
informação. Segundo essa autora, no mercado moderno,
surgem novas atividades, que fogem totalmente àquelas efetuadas
tradicionalmente em bibliotecas e centros de documentação e
informação. A maioria dessas atividades está de alguma forma
relacionada à automação de serviços. Consultores, indexadores,
especialistas da informação e agentes da informação são um exemplo de
novas carreiras dentro da profissão do bibliotecário, para aqueles que
exercem essas atividades.
Pereira (2014) acredita que o trabalho em bibliotecas é louvável, porém
não é restrito para os bibliotecários que, mesmo com as funções apreendidas
nas instituições de ensino voltadas ao tradicional, é fundamental que os
bibliotecários sejam reconhecidos pelo seu próprio grupo e pela sociedade
�107
como profissionais aptos para atuar em qualquer tipo de ambiente onde a
informação é o principal “produto”.
Não resta dúvida de que o bibliotecário ao desinstitucionalizar-se deixará
de
atuar
apenas
nas
bibliotecas
para
exercer
atividades
em
outras
organizações, contribuindo na gestão da informação e do conhecimento
organizacional, selecionando informação de qualidade a auxiliar nos processos
decisórios. Segundo o estudo de Milano e Davok (2009, p. 254), esse
profissional
surge
nesse
segmento
prestando
serviços
de
consultoria
informacional em sua área de formação e auxiliando na transformação da
informação em conhecimento. Desse modo,
como gestor da informação, ele sabe que a informação é a matéria
prima do conhecimento, podendo assim atuar de forma direta ou
indireta nas organizações. Nessa direção, é importante conhecer a
atuação desse profissional na área de consultoria, para que os serviços
prestados possam ser completados e aperfeiçoados.
Surge, nesse contexto, o trabalho na área da consultoria informacional,
que, para Silva (2005), quem opta por trabalhar em consultoria tem maior
segurança nas instabilidades do que a pessoa que está empregada. Isso
porque quem mantém vínculo empregatício durante muitos anos – e por isso
acredita ser estável – tem menos possibilidades de concorrer no mercado, caso
seja demitido, do que o profissional de consultoria, que está no mercado todos
os dias.
Como
consultor
informacional,
o
profissional
da
Biblioteconomia
extrapola seus fazeres, atuando na prestação de serviços de assessoria e
consultoria, seja junto às unidades de informação, como junto a outras
empresas ou junto a pessoas físicas. O profissional, nesse ramo, pode prestar
assessoria técnica a publicações; subsidiar informação para tomada de
decisões; assessorar no planejamento de espaço físico da unidade de
informação; participar de comissões de normatização; realizar perícias;
elaborar laudos técnicos; realizar visitas técnicas; assessorar a validação de
cursos; participar de atividades de biblioterapia; preparar provas para
concursos; e participar de bancas de concursos (MILANO; DAVOK, 2009).
�108
Em tempos de globalização e em meio ao crescimento das TICs, a
desinstitucionalização permeia o contexto de todas as profissões, cabendo aos
profissionais saber reconhecer e retirar proveito dessas novas circunstâncias.
Desse modo,
se o cenário econômico mostra que existe diminuição da oferta de
emprego, por outro lado acontece o fenômeno da terceirização e a
possibilidade de se trabalhar com a prestação de serviços. Se a
tecnologia tem se mostrado favorável, deve ser dominada, evitando
assim invasões de outras áreas e transformando concorrentes em
parceiros. É uma época de mudanças e não de acomodação [...]
(BAPTISTA, 2000, p. 91).
O bibliotecário desinstitucionalizado desmistifica o estereótipo atribuído
aos
bibliotecários
tradicionais,
de
que
eles
representam
apenas
mero
“guardadores de livros”. Também são refutadas as constantes especulações
acerca da extinção desse profissional com o desaparecimento do livro e das
bibliotecas físicas. Ao contrário do que afirmam essas especulações, o
bibliotecário possui um futuro promissor, no decorrer dos próximos anos, em
relação ao novo papel da informação e sua utilidade na sociedade.
Na sociedade da informação, a autoimagem do bibliotecário está
mudando com o aumento de profissionais que lidam com a "informação" no
mercado de trabalho. Os bibliotecários estão mostrando que não são só
pessoas que lidam unicamente com a organização de bibliotecas, mas com
informação e documentação — o que lhes proporciona um campo bem mais
completo de atuação (PAIVA, 1990).
Fica
evidenciado
que,
ao
adentrar-se
à
desinstitucionalização,
o
bibliotecário, por tornar-se independente, certamente adquire características
empreendedoras. Segundo Valentim (1998), o mercado de trabalho destinado
a esses profissionais ainda representa uma minoria no contexto brasileiro,
diferente do que já vem ocorrendo em outros países, principalmente em países
desenvolvidos (BAPTISTA, 2000).
O profissional com perfil empreendedor deve ter uma visão proativa, ter
vontade de aprender e inovar, utilizando-se do aprendizado e do marketing, no
intento de conquistar novos mercados. Logo:
�109
neste mercado livre é necessário um profissional bibliotecário mais
empreendedor, mais ousado. Para o terceiro milênio o profissional da
informação deverá ser mais observador, empreendedor, atuante,
flexível, dinâmico, ousado, integrador, proativo e principalmente mais
voltado para o futuro. A formação, portanto, deve estar voltada para a
obtenção de um profissional que atenda essas características
(VALENTIM, 1998, p. 112).
A formação continuada do profissional certamente constitui a “veiamestra” para adequar-se a essas novas ambiências e conseguir atuar com
êxito em um mercado competitivo e globalizado, típico da contemporaneidade.
Conforme destacou Baptista (2000), o profissional precisa atualizar-se, investir
na educação continuada, fortalecer as associações de classe e principalmente
analisar as ameaças e transformá-las em oportunidades.
Nessa empreitada, evidencia-se uma participação colaborativa de vários
elementos ligados ao universo da Biblioteconomia, de modo que esforços
sejam envidados no sentido de que essa desinstitucionalização não seja uma
utopia ou a realidade de uma minoria, mas que seja a esperança de novos
rumos e progressões para toda a classe bibliotecária.
Assim, tanto profissionais, quanto movimento associativo, escolas de
formação, conselhos regionais e federais e sindicatos devem viabilizar ações de
divulgação dessas novas necessidades, transmitindo aos profissionais e à
sociedade essa nova contribuição que a Biblioteconomia tem a oferecer,
contribuindo para solucionar inúmeros problemas advindos com os paradigmas
contemporâneos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo, é possível confirmar que o bibliotecário, durante
toda sua trajetória evolutiva, esteve fortemente atrelado à instituição
biblioteca,
caracterizando-se
como
um
profissional
institucionalizado,
realizando atividades das mais variadas, tendo em vista o contexto dos
diferentes períodos históricos e utilizando as tecnologias até então disponíveis
em cada período.
�110
Analisando a literatura sobre evolução das bibliotecas ao longo da
história, foi possível constatar que essas instituições durante muito tempo
estiveram voltadas para o armazenamento, preservação e conservação da
informação registrada. Contudo, especificamente com o desenvolvimento da
tecnologia impressa, novos rumos foram sendo conduzidos, tornando a
biblioteca um organismo em mutação, adentrando-se ao perfil dos usuários e à
democratização e socialização das informações, no intento de viabilizar a
produção de conhecimento.
A revolução tecnológica esteve presente em todos os estágios de
desenvolvimento das bibliotecas, porém, com o surgimento das TICs, típicas
da
sociedade
contemporânea,
esses
novos
artefatos
garantem
novas
estruturas e funcionalidades às bibliotecas, potencializando-as a gerenciar e
disseminar informação a todas as instâncias, tornando os processos de
trabalho cada dia mais inovadores.
O surgimento da internet e a disponibilização dos produtos e serviços
biblioteconômicos em ambiente virtual favoreceram o desdobramento de novos
paradigmas
no
âmbito
da
indústria
da
informação,
por
conseguinte,
desencadeou o surgimento de novas ambiências à Biblioteconomia. Assim,
tanto as unidades de informação, quanto os profissionais que as gerenciam são
afetados, de modo que a prática bibliotecária é redefinida, adquirindo os
bibliotecários, novas competências, habilidades e atribuições, com vistas a
torná-los adaptados em uma sociedade complexa.
Diante dessa atual conjuntura, o bibliotecário moderno deixa de ser um
profissional que realiza unicamente processos técnicos e tradicionais na
informação, para adquiri status de um Moderno Profissional da Informação,
dotado de inúmeras competências que vão caracterizá-lo como um profissional
diversificado, podendo exercer suas práticas em outros campos de atuação.
Diante dessas contingências, o estudo constata o surgimento de um
profissional
desinstitucionalizado,
que
além
de
exercer
suas
atividades
tradicionais nas bibliotecas, poderá, outrossim, atuar como profissional
independente, atuando como assessor, consultor, agente de informação,
contribuindo tanto no gerenciamento e disponibilização de informações para
�111
pessoas físicas quanto jurídicas, como poderá exercer, também, de forma
autônoma, ações educacionais e culturais, consolidando seu papel de agente
de transformação social.
Por meio desse novo perfil profissional do bibliotecário na sociedade
atual, presume-se que ele, ao adquirir uma postura inovadora, certamente irá
adquirir uma visão empreendedora, investindo em sua formação continuada e
na aquisição de novos e diferentes conhecimentos, fato esse que garantirá sua
permanência
no
mercado
por
longos
tempos,
desencadeando
seu
reconhecimento pela sociedade e sua importância no desenvolvimento social.
Com essa postura, desmistifica-se toda e qualquer especulação e previsão
exagerada a respeito da extinção desse profissional em face dos desafios
contemporâneos.
Também confirma-se, com base nessas reflexões, que o bibliotecário
contemporâneo mudou seu perfil profissional, deixando de ser um guardião de
livros para se um profissional desinstitucionalizado. Assim, com essas
transformações faz-se necessário a reformulação da legislação que assegura o
exercício profissional, de modo a contemplar essas novas potencialidades na
qual o bibliotecário utilizará a fim de solucionar inúmeros problemas sociais e
garantir sua ascensão no decorrer dos tempos futuros.
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�116
CAPÍTULO VI
DESINSTITUCIONALIZAR A BIBLIOTECA À LUZ DA FUNÇÃO SOCIAL
Maria Aparecida de Mesquita Calmon
Suelen de Oliveira Campos
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A biblioteca é uma das instituições mais antigas do mundo. Embora
tenha sido estruturada, utilizada e gerida de forma diferente ao longo dos
tempos, sua capacidade de adaptação em face das transformações sociais
torna-a um organismo mutante, o qual acompanha as mudanças e se renova
constantemente, garantindo sua perpetuação.
Das páginas em argila às páginas da internet, a biblioteca vem servindo
o ser humano, principalmente à atividade de organização, tratamento,
preservação e disseminação da informação produzida na sociedade. É claro
que o modelo de biblioteca na qual o concebemos na modernidade muito se
distancia da concepção adotada nos diferentes períodos históricos, sobretudo
diante de sistemas ideológicos e hegemônicos.
No entanto, percebe-se, no decorrer dos tempos, que a biblioteca
sempre se colocou a serviço de alguém, logo, ela torna-se uma instituição
auxiliar, que contribui, que oferece, que acolhe, que tenta solucionar
problemas, que transforma.
A literatura apresenta grande quantidade de discussões a respeito das
diversas funções exercidas pela biblioteca. No mundo contemporâneo, diversos
estudos confirmam sua função informacional e educativa, mas também
reconhecem o seu papel social, de modo que biblioteca e sociedade sejam
cúmplices na produção de conhecimento e na melhoria da qualidade de vida
dos indivíduos.
�117
O uso de tecnologias digitais, certamente, é um dos fenômenos mais
interferentes na necessidade de se redefinir a biblioteca e o bibliotecário.
Atrelado a isso, tem-se o discurso acerca da interferência da biblioteca na vida
dos indivíduos, os quais, por meio do acesso à informação e educação,
tornam-se capazes de exercer seus direitos e deveres, o que confirma, a
relação da biblioteca com a prática cidadã.
Com a chegada do século XXI, diante das transformações socais, com o
aumento da produção bibliográfica e com a utilização das tecnologias
contemporâneas, parece que a biblioteca perde, para alguns, essa parceria e
reciprocidade que possui com o ser humano. De forma equivocada e até
exagerada, muitos se arriscam a afirmar que ela poderá ser extinta da
sociedade do futuro.
É evidente que a evolução tecnológica viabilizou novas formas de
gerenciamento da informação. De forma estratégica, a biblioteca utiliza dessas
tecnologias, permitindo que as práticas bibliotecárias presentes nas bibliotecas
físicas sejam transferidas para a realidade virtual, sem, contudo, dispensar as
práticas biblioteconômicas.
Não se pretende, neste texto, discorrer acerca dessa nova realidade que
se afora para a biblioteca moderna, pois muitos estudos já versam sobre essa
temática. Nem, tampouco, discutir a realidade atual, em que muitas bibliotecas
estão se tornando ambientes híbridos, oferecendo produtos e serviços em
diferentes formatos, tecnologias e recursos de acesso.
Mas, convém destacar que, as tecnologias contemporâneas não excluem
as práticas bibliotecárias, ao contrário, ampliam a cada dia as possibilidades da
atuação bibliotecária. Por conseguinte, pode-se afirmar que a biblioteca do
futuro não será extinta, como consideram alguns, mas, ao contrário, será
disponibilizada no novo ambiente de socialização: o ciberespaço.
Sendo assim, as bibliotecas físicas, certamente deixarão de existir ou
transformar-se-ão em verdadeiros “museus”. Essa constatação, embora esteja
provado que exigirá muito tempo para ser concretizada, vem sendo bastante
discutida.
�118
Assim, este estudo traz à baila fundamentos teóricos e reflexões que
refutam a constatação acima descrita. Ora, pensemos: se há consenso, na
atualidade, de que a biblioteca possui uma dupla função, ou seja, função
informacional e função social, logo, por meio das bibliotecas virtuais, a função
informacional passará a ser desempenhada por essas modalidades de
biblioteca.
Porém, ainda restará às unidades tradicionais (bibliotecas físicas) a
realização da função social, de modo que a função social caracterizará a
biblioteca como ambiente de socialização, de trocas de ideias, experiências,
um verdadeiro espaço de convivência.
2 MÉTODO DA PESQUISA
Devido ao aspecto teórico desta pesquisa, a metodologia será sustentada
na pesquisa bibliográfica, realizada por meio de levantamentos bibliográficos
em livros, artigos e trabalhos acadêmicos que descrevem a função social da
biblioteca.
Por meio do embasamento à função social da biblioteca, será discorrido
acerca da importância dessa função e sua contribuição para assegurar a
existência da biblioteca no futuro. Também serão utilizados como fundamentos
teóricos para garantir o alcance do objetivo proposto, reflexões propostas por
alguns autores brasileiros da área que também concordam com essa visão,
considerando a transformação da biblioteca em ambientes de convivência,
garantindo, assim, sua permanência por longas gerações.
Os livros utilizados na pesquisa referem-se a publicações renomadas da
área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Os artigos e trabalhos
acadêmicos foram recuperados do portal de periódicos da Capes e do acervo
da biblioteca virtual Scielo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
�119
As sociedades modernas trazem como principal fator de inovação no
comparativo com as sociedades antigas, a preocupação com alguns conceitos
como:
cidadania,
igualdade,
democracia,
diversidades,
cultura,
multiculturalismo, dentre outros.
O Estado democrático possui em sua essência o dever de garantir o
pleno respeito pelas diferenças, tornando possível que indivíduos usufruem de
seus direitos e deveres, comportando-se como cidadãos vinculados a uma
nação.
Ao analisarmos esses conceitos, percebemos o quanto a função social do
Estado vem à tona, sobretudo em uma sociedade diversificada, considerada
como multicultural. E, garantir a concretização dessa função é um dever que
compete a governantes e instituições.
O
conceito
“biblioteca
multicultural”
foi
proposto
pela
Federação
Internacional de instituições bibliotecárias (IFLA) e pela Organização das
Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO), em 2008 e
refere-se, sobremaneira, às bibliotecas públicas que devem disponibilizar
acesso a todos de forma igualitária.
Segundo esse manifesto, a igualdade e o respeito devem prevalecer
nesses ambientes, configurando-os como legítimo espaço público, cujo objeto
principal seja “[...] atender as demandas sociais, oferecendo oportunidade
igualitária e democrática a todo cidadão que faz uso do seu espaço [...]”, não
apenas para buscar conhecimento ou cultura, mas também “[...] para fazer
deste espaço, palco para as reflexões diárias, para o debate participativo de
todos os problemas sociais e necessidades de cada cidadão” (BARROS, 2002,
p. 133, grifo nosso).
Observa-se que as bibliotecas, ao exercerem a função social, estão
cumprindo o dever de serem instituições sociais que se colocam a serviço de
acolher os indivíduos que estão inseridos no multiculturalismo. A função
cultural atribuída às bibliotecas há muito tempo vem sendo tratada pela
literatura.
�120
Aquino (2004) considera que as mutações sofridas pelas bibliotecas
caracterizaram-nas como espaços de informação, saber, conhecimento e
cultura. Mey e Silveira (2009) defendem que as bibliotecas existem para
viabilizar alternativa, possibilidade e oportunidade às pessoas. Ainda discutem
que as bibliotecas são espaços de liberdade, capazes de mudar a história da
humanidade.
De acordo com Ribas e Ziviani (2007), as bibliotecas devem se tornar
ambientes de convivência, oferecendo diversas atividades culturais, recreação,
entretenimento e lazer, dentre outras atividades procuradas pelos cidadãos da
comunidade. No entendimento dessas autoras, o papel social do profissional da
informação, juntamente com a biblioteca moderna é de extrema utilidade,
atuando de forma estratégica na disseminação da informação e utilizando-a
como instrumento e recurso de mobilização nas lutas por melhores condições
de vida da sociedade.
As bibliotecas tendem a se tornar centros de referência, um papel que,
segundo Almeida Junior (1997), já deveria caber à biblioteca pública. Segundo
esse autor, as bibliotecas devem estar abertas para fornecer informação
utilitária para a sociedade, ou seja, um centro de acolhimento que fornece
informações
sobre
emprego,
saúde,
cultura,
lazer,
dentre
inúmeras
necessidades existentes no cotidiano das pessoas.
Além de fornecer serviços utilitários à comunidade, ao caracterizar-se
como ambientes de convivência, a biblioteca torna-se espaços abertos para a
comunidade, permitindo que os objetivos da biblioteca “[...] sejam moldados
conforme as necessidades e desejos deste grupo, incluindo os referentes ao
lazer” (GONÇALVES, 2011, p. 134-135).
Ainda discutindo acerca do lazer, entretenimento e ações culturais, é
importante mencionar, segundo proferido no manifesto da IFLA e UNESCO
(2013), a respeito do papel das bibliotecas públicas que devem fornecer
recursos e serviços em diversos suportes, de modo a ir ao encontro das
necessidades individuais ou coletivas, no domínio da educação, informação e
desenvolvimento pessoal, e também de recreação e lazer.
�121
Conforme
disposto
nesse
mesmo
documento,
as
bibliotecas
desempenham “[...] um papel importante no desenvolvimento e manutenção
de uma sociedade democrática, ao dar aos indivíduos acesso a um vasto
campo de conhecimento, ideias e opiniões” (IFLA, 2013, p. 13, não
paginado, grifo nosso).
Discutindo acerca do papel do bibliotecário no futuro, entende-se que
esse
profissional
poderá
atuar
em
vários
segmentos
onde
demande
informação, cultura e lazer (DARABENSTOTT; BURMAN, 1997). Os autores
citados proferem ainda que as bibliotecas e seus profissionais deverão oferecer
serviços voltados à capacitação dos usuários e o mais importante a esse
profissional será saber “[...] trabalhar com indivíduos e grupos em vários
tipos de disciplinas e, mais ainda, estar habilitado ao manejo de bens
culturais, intelectuais” (DARABENSTOTT; BURMAN, 1997, p. 12, grifo nosso).
A função social da biblioteca está intensamente imbricada nas questões
culturais. Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014) evidenciam que o bibliotecário
deve atuar de forma social, preocupado com a formação cidadã dos indivíduos,
inserindo-se no contexto cultural, atuando como agente que dissemina e
preserva a cultura de uma localidade.
Por fim, vê-se que, na atualidade, pelo menos na realidade brasileira, as
bibliotecas exercem com mais intensidade as funções informacionais do que
sociais. Se a sociedade passasse a perceber a função social da biblioteca,
certamente novas percepções seriam construídas a respeito do futuro da
biblioteca.
Na realidade brasileira ainda estamos presos à função informacional
apenas; no entanto, como exemplifica Lemos (2008), no contexto europeu,
essa realidade já vem sendo percebida, garantindo a permanência da
biblioteca nas sociedades vindouras.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dos argumentos propostos neste
ensaio, percebe-se a
importância que a biblioteca exerce na sociedade, extravasando as atividades
�122
puramente informacionais e institucionalizadas, como consideram muitos.
Constata-se que, a trajetória evolutiva demonstra o quanto a biblioteca é
adaptativa e estratégica ao buscar novas formas de intervenção na sociedade.
Acredita-se, com base nessas considerações, que a função social da
biblioteca
abrirá
novos
espaços
de
trabalho,
tornando-as
centros
de
convivências, o que garantirá sua permanência no futuro, refutando, assim,
previsões exageradas e equivocadas.
Ao envolver-se com as questões sociais, a biblioteca torna-se um
ambiente democrático e, a partir disso, a função informacional ganha outras
dimensões, atuando no contexto de vida dos usuários, de modo que a
informação oferecida pelas bibliotecas possa agregar valor na vivência social.
Essa transfiguração oferecida pela função social permite que as práticas
informacionais realizadas nos acervos impressos, principalmente, tornem-se
desvinculadas da instituição mantenedora, ou dos suportes que possibilitam o
registro e a guarda informacional. Essa modificação confirma que a biblioteca,
o profissional que a sustenta e a própria Biblioteconomia tendem a se tornar
cada vez mais desinstitucionalizados, ou seja, contemplam instâncias muito
mais genéricas que extravasam os limites físicos dos acervos informacionais.
Com efeito, para que a função social se manifeste, a biblioteca assume
uma postura diferente, de modo a romper velhos paradigmas, pautados no
tecnicismo exagerado e na preocupação com a guarda em detrimento ao
acesso, para se tornar cada vez mais libertadora, democrática e flexível. Ou
seja, ela se desinstitucionaliza para se tornar dinâmica a ponto de atender as
múltiplas necessidades da sociedade.
REFERÊNCIAS
AQUINO, M. A. Metamorfoses da cultura: do impresso ao digital, criando novos
formatos e papéis em ambientes de informação. Ciência da Informação,
Brasília, DF, v. 33, n. 2, p. 7-14, maio/ago. 2004.
BARROS, P. A biblioteca pública e sua contribuição social para a
educação do cidadão. Ijuí: UNIJUÍ, 2002.
�123
DRABENSTOTT, K.; BURMAN, C. Revisão analítica da biblioteca do futuro.
Ciência da Informação, Brasília, v. 26, n. 2, 1997.
GONÇALVES, M. G. S. A Biblioteca Pública do Paraná como instrumento
de ação cultural: atividades e mediação da informação. Londrina: UEL, 2011.
IFLA; UNESCO. Manifiesto IFLA por la Biblioteca multicultural: la
biblioteca multicultural: portal de acceso a una sociedad de culturas diversas
en diálogo. 2008.
IFLA; UNESCO. Diretrizes da IFLA sobre os serviços da biblioteca
pública. 2. ed. Lisboa: De Gruyter saur, 2013.
LEMOS, A. B. de. Bibliotecas. In: CAMPELLO, Bernadete; CALDEIRA, Paulo da
Terra. Introdução às fontes de informação. Belo Horizonte: Autêntica,
2008.
RIBAS, C.; ZIVIANI, P. O profissional da informação: rumos e desafios para
uma sociedade inclusiva. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v.
17, n. 3, p. 47-57, set./dez. 2007.
SANTA ANNA, J.; GREGÓRIO, E.; GERLIN, M. N. Atuação bibliotecária além da
biblioteca: o espaço de leitura do Hospital Universitário Cassiano Antônio de
Moraes (HUCAM). Revista ACB, Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 77-88, jan./jun.
2014.
�124
PARTE III
REPENSANDO A
BIBLIOTECA E O
BIBLIOTECÁRIO
�125
CAPÍTULO VII
O PENSAMENTO DE DAVID LANKES PARA UMA NOVA
BIBLIOTECONOMIA
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
1 INTRODUÇÃO
Dentre as transformações ocorridas no mundo contemporâneo (relações
sociais, política, econômica e tecnológica) a mais evidente é a tecnológica. As
tecnologias, efetivamente, impulsionam as mudanças de qualquer natureza. O
impacto na vida das pessoas é automático. As tecnologias no cotidiano
trouxeram novos padrões de comportamento. Vivemos um novo momento na
sociedade contemporânea, conforme pontua Lankes (2011), o momento é de
uma cultura participativa. As pessoas ao nosso redor estão se organizando. Os
cidadãos estão exigindo a participação nas decisões governamentais.
A 'mobilidade' que vivenciamos hoje deixa de ser puramente acesso a
uma tecnologia de informação e comunicação e torna-se 'comportamento'.
Com os smartphones e a web, a voz da comunidade é ampliada. As mesmas
pessoas que procuramos ajudar e disponibilizar o acesso à informação
expressam opiniões sobre a maneira como os produtos e os serviços são
oferecidos. Por outro lado, “uma parte da população mundial segue apartada
desse acesso, incluir essas pessoa segue sendo um problema econômico e,
também informacional” (ARAÚJO, 2018, p. 48).
Também, neste contexto, novos termos como a "pós-verdade" e as
denominadas "fake news" (notícias falsas) são fenômenos observáveis na
contemporaneidade, em que pessoas dão crédito a determinadas informações
por estar de acordo com suas crenças pessoais, independente de sua real
veracidade. As pessoas têm meios de verificar a veracidade das informações
disseminadas, seja pela mídia, seja nas redes sociais, mas há um desinteresse
�126
pela verdade, um apego a preconceitos, fundamentalismos, sobretudo, nesses
tempos de polarizações políticas e intolerâncias.
O que é surpreendente é que, através de todas essas mudanças e ainda
maiores ao longo dos séculos (o Renascimento, o Iluminismo, o
encanamento interno), o conceito de biblioteca sobreviveu. Para ser
mais preciso, o conceito de bibliotecas foi capaz de evoluir para atender
a um mundo em mudança (LANKES, 2011, p. 3, tradução nossa) 12.
As transformações tecnológicas impulsionaram mudanças também no
contexto
da
Biblioteconomia.
Desde
os
rolos
de
pergaminho,
ao
desenvolvimento da prensa de Gutemberg que permitiu a maior circulação de
informação, até a internet das coisas. Novos saberes e novas habilidades
foram necessários como resposta a esse novo contexto informacional.
Os bibliotecários e as bibliotecas têm um papel vital na promoção da
democracia e na erradicação das desigualdades dos direitos, desse modo, não
há tempo para a imparcialidade. A linguagem que usamos, a cor de nossa
pele, o lugar que crescemos e a nossa educação influenciam a maneira como
vemos, atribuímos significados e interagimos com o mundo. Não podemos ser
imparciais,
mas
podemos
ser
intelectualmente
honestos.
A
Nova
Biblioteconomia veio para consolidar tais valores.
R. David Lankes é professor e diretor da Escola de Biblioteconomia e
Ciência da Informação da Universidade da Carolina do Sul. É um apaixonado e
defensor dos bibliotecários e seu papel essencial na sociedade de hoje. Cunhou
o conceito da Nova Biblioteconomia oficialmente em 2011, com a publicação do
Atlas of the New Librarianship. As discussões iniciais em torno do conceito
começaram anteriormente. Em 2009, quando atuava como professor na
Universidade de Syracuse, foi o responsável pelo desenvolvimento do Mestrado
em Biblioteconomia e Ciência da Informação, cujas reflexões sobre a nova
maneira de pensar a Biblioteconomia foram iniciadas no âmbito de uma linha
de pesquisa específica sobre a temática. Posteriormente, o autor publicou as
seguintes obras sobre o assunto: Expect more: demanding better libraries for
12
What is amazing is that, through all of these changes and even greater ones over the
centuries (the Renaissance, the Enlightenment, indoor plumbing), the concept of the library
has survived. To be more precise, the concept of libraries has been able to evolve to meet a
changing world (LANKES, 2011, p. 3).
�127
today’s complex world, em 2012, e The New Librarianship field guide, em
2016.
No Brasil, a Nova Biblioteconomia de Lankes tornou-se amplamente
conhecida a partir do XXVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação (CBBD), ocorrido em julho de 2015. Na ocasião, Lankes foi o
conferencista e nos falou sobre sua obra publicada em 2012 “Expect More:
demanding better libraries for today’s complex world”. Durante a palestra,
surgiu a ideia de lançar o livro, capítulo a capítulo, a cada 15 dias, no site do
autor, para que o conteúdo fosse divulgado amplamente para a comunidade
bibliotecária brasileira. “Vamos pensar juntos uma Nova Biblioteconomia?” foi a
pergunta que nos levou a refletir e engajar em prol de uma Nova
Biblioteconomia, à medida que cada capítulo era traduzido. Em 2016, a
Federação
Brasileira
de
Associações
de
Bibliotecários
e
Cientistas
da
Informação (FEBAB) lançou a versão em português da obra, intitulada “Expect
more: melhores bibliotecas para um mundo complexo”.
Com a Nova Biblioteconomia, R. David Lankes (2011) vem com a
proposta de mostrar uma possibilidade de caminho a seguir, neste contexto de
mudanças, desafios e oportunidades. Logo na introdução do Atlas of the New
Librarianship,
o
autor
menciona
que
temos
muitos
anos
de
tradição
biblioteconômica como inspiração para o nosso futuro, "não como um conjunto
de algemas" nos vinculando (LANKES, 2011, p. 2).
Assim, ao propor uma
Nova Biblioteconomia, Lankes nos convida a focar nossas atenções para a
aprendizagem, o conhecimento e a ação social, não somente para a
catalogação, o suporte físico da informação ou a infraestrutura física da
biblioteca.
Com isso, não se trata de afirmar que a catalogação, os livros ou a
infraestrutura não sejam importante. Trata-se de reforçar tais elementos em
sua devida perspectiva: como instrumentos de trabalho do bibliotecário. O
futuro das bibliotecas não são os edifícios, embora possam permanecer por
séculos. O futuro das bibliotecas é o bibliotecário.
Ressalta-se que não compreendemos a Nova Biblioteconomia como uma
forma especial ou realmente nova de Biblioteconomia. A Nova Biblioteconomia
�128
é uma proposta de construção basilar para uma mudança na área como um
todo (LANKES, 2011, 2012, 2016a, 2016b). Em linhas gerais, a Nova
Biblioteconomia de Lankes nos dá uma nova perspectiva, um novo olhar para a
Biblioteconomia que conhecemos e que vínhamos praticando ao longo do
tempo. Nas linhas que seguem, apresentamos um panorama geral da Nova
Biblioteconomia proposta por R. David Lankes, enfatizando o aspecto da
facilitação na atuação do bibliotecário.
2
RESSIGNIFICANDO
A
BIBLIOTECONOMIA:
A
NOVA
BIBLIOTECONOMIA DE LANKES
A constituição de uma Nova Biblioteconomia consistiu de um longo
trabalho realizado por R. David Lankes para desenvolver uma nova abordagem
teórica e prática da Biblioteconomia que conhecemos e praticamos. No contato
com
diferentes
instituições,
professores
e
bibliotecários,
com
várias
publicações e em conferências realizadas em pelo menos três continentes
diferentes, Lankes (2011) concebeu o conceito de Nova Biblioteconomia.
O autor utiliza a palavra “comunidade” no sentido mais amplo, não
restringindo a determinado grupo ou espaço geográfico. No âmbito da Nova
Biblioteconomia, a comunidade é entendida como um grupo de pessoas que
possuem uma variável em comum e tem conhecimento disso. Nesse sentido,
Lankes (2011, 2012) esclarece que devemos encarar cada indivíduo da
comunidade como membro, e não como usuário, cliente ou outros termos que
usamos recorrentemente. Desse modo, os serviços das bibliotecas são para
atender as necessidades da comunidade e não para a comunidade. Esse é o
fundamento da Nova Biblioteconomia. Lankes (2012, p. 95) afirma ainda que
os bibliotecários e a biblioteca devem adicionar novos valores à comunidade,
valores que contribuam com uma melhoria, que sejam capazes de guiar a
comunidade para um crescente desenvolvimento.
A Nova Biblioteconomia utiliza-se do conceito fundamental de que o
conhecimento é criado por meio da conversação (LANKES, 2011, p. 2). Assim
�129
sendo, envolve uma reformulação da Biblioteconomia tendo como base o
conhecimento e a conversação. Nesse contexto, os bibliotecários, que são os
profissionais que lidam com o conhecimento, atuam como facilitadores da
conversação. Portanto, o exercício de uma Nova Biblioteconomia está
condicionado à atuação do bibliotecário. Lankes (2011, p. 15) afirma que a
missão dos bibliotecários é melhorar a sociedade facilitando a criação de
conhecimento em suas comunidades. A missão do bibliotecário é global, no
sentido de que, independente do seu local de atuação, seja uma biblioteca, ou
um escritório jurídico, ou um hospital, a missão permanece a mesma. O
estabelecimento de uma missão para o exercício da profissão possibilita ao
bibliotecário uma visão de mundo que o oriente na tomada de decisões e na
sua responsabilidade social enquanto indivíduo.
Lankes (2011, p. 15) critica os bibliotecários, afirmando que sua visão de
mundo é direcionada aos artefatos e ao que corriqueiramente chamamos de
técnica, pois, notoriamente há uma dificuldade em separar os objetivos a partir
das ferramentas que utilizamos para alcançá-los. Nenhuma habilidade ou
ferramenta nos define bibliotecários. Em vez disso, é nossa missão e uma
visão de mundo que acompanha.
Conforme afirma Lankes (2011, p. 29),
temos agora de construir os bibliotecários para promover uma sociedade
baseada no conhecimento. Desse modo, devemos desenvolver uma visão de
mundo que transcenda as ferramentas. Desenvolver uma visão de mundo é
vital para as possibilidades que o mundo contemporâneo nos apresenta.
Atividades tradicionais como a organização da informação e a manutenção do
conhecimento registrado são meios para um fim. Não é a finalidade única de
nossa atuação. Assim sendo, se continuarmos definindo tanto bibliotecários
quanto
a Biblioteconomia,
propriamente, pelas
funções que
executam,
estaremos nos limitando.
Mudanças profundas ocorreram em nossa sociedade, no tocante às
tecnologias e a conectividade, a demografia e as relações sociais.
Aliar as
tecnologias com um novo enfoque sobre as comunidades nos permite pensar
melhores bibliotecas para a comunidade (LANKES, 2012, p. 85). Nesse
aspecto, Lankes (2011, p. 3) afirma que, embora, a tecnologia tenha trazido
�130
uma mudança revolucionária, considerar a tecnologia como o "único motor de
mudança é míope ao extremo".
O grande desafio é ajudar as pessoas a
tirarem proveitos das ferramentas digitais (LANKES, 2012, p. 18). A
capacidade de mudar e antecipar são produtos de uma visão de mundo
(LANKES, 2011, p. 18). Com as tecnologias de informação e comunicação,
bibliotecas de todos os tipos estenderam-se para a rede, a fim de prover
acesso e para ser uma nova alavanca para o desenvolvimento digital do
conhecimento.
Com o avanço da tecnologia, precisamos de menos espaço
para realizar nossos trabalhos. Devemos ceder esse espaço à comunidade para
o comércio de ideias. Conectando-nos ao nosso público, nossas faculdades,
nossas empresas, nossas igrejas e nosso governo, nos tornamos mais
essenciais. Desse modo, a missão e os nossos valores perduram; as
ferramentas e funções que usamos para alcançar essa missão é que mudam
com o tempo. É o bibliotecário que faz as coisas acontecerem; é o responsável
pelo impacto da biblioteca. Inspirar e informar para melhorar comunidades
devem ser a busca incansável dos bibliotecários.
A visão de mundo da Nova Biblioteconomia de Lankes se baseia em uma
teoria
de
como
as
pessoas
aprendem,
denominada
Teoria
da
Conversação. Também é formada por outras teorias e conceitos fundamentais,
tais como:
a Teoria da Motivação, que inclui a Teoria da Atribuição, a Teoria
da Expectativa, a Teoria da Definição de Metas e a Teoria da
Autodeterminação. Em linhas gerais, a combinação de teorias de
motivação representa uma série de abordagens conceituais para a
questão do que leva uma pessoa à ação. Para cumprir a missão, é
importante que os bibliotecários entendam a motivação, sobretudo,
para compreender melhor por que os membros usam determinado
serviço e por que os não membros não o fazem;
a Criação de Sentidos, que pode ser exemplificada com o conceito
de Sense-Making, de Brenda Dervin, amplamente estudada pela
comunidade brasileira, sobretudo, nos estudos de usuários da
informação. O conceito é utilizado pela Nova Biblioteconomia como
�131
metodologia para determinar como os membros da biblioteca
percebem os problemas;
o Construtivismo, em que a ênfase está no aprendizado ativo. O
significado
da
aprendizagem
ocorre
de
maneira
individual.
Bibliotecários não fazem o aprendizado acontecer; em vez disso,
eles criam as condições para o aprendizado e satisfazem a
necessidade de aprendizado por parte do membro (LANKES, 2011,
p. 27);
o Pós-modernismo, o qual “é criado nesse contexto como uma
forma de enfatizar a ação individual e a interpretação no trabalho
de Biblioteconomia” (LANKES, 2011, p. 27, tradução nossa)13. Os
debates pós-modernistas são, frequentemente, debates sobre o
caráter daquele que está interpretando.
A
Teoria
aprendizado,
da
Conversação
colocando
o
foco
se
da
concentra
no
conhecimento
Biblioteconomia
e
no
diretamente
no
comportamento e os efeitos dos serviços no indivíduo. O autor utiliza
elementos da Teoria da Conversação, de Gordon Pask, para afirmar que o
conhecimento é criado pela comunidade por meio do diálogo. Desse modo,
Lankes (2011, p. 63) aponta que, enquanto profissionais, estamos no negócio
do conhecimento, e assim sendo, estamos no negócio da conversação. Os
bibliotecários atuam como facilitadores de conversação, buscando enriquecer,
capturar, armazenar e divulgar os diálogos de suas comunidades (LANKES,
2011).
A Biblioteconomia não é sobre os artefatos14, é sobre o conhecimento e a
facilitação da criação de conhecimento (LANKES, 2011, p. 43). Tal afirmativa
não significa dizer que os livros e os computadores não são importantes.
Trata-se de dizer que são ferramentas que servem para um propósito. No
século XVI, em 1597, Francis Bacon pontuou que "o conhecimento em si
mesmo é poder". Isso não mudou. Estamos no século XXI e o conhecimento é
13
“[…] is brought up in this context as a way of emphasizing individual action and
interpretation in the work of librarianship” (LANKES, 2011, p. 27).
14
O autor utiliza a palavra “artefatos” para designar “conhecimento registrado”.
�132
uma porta de infinitas possibilidades para atuação cidadã das comunidades. Os
livros e as coleções raras, as ferramentas multimídias e as páginas da web são
instrumentos para inspirar, educar e provocar conversas e, por conseguinte,
aprendizado. Os livros, o prédio da biblioteca ou o processamento técnico da
informação não são o fim. Independentemente da tipologia, Lankes (2012)
aponta que a missão das bibliotecas é criar uma nação de cidadãos proativos e
informados, porque o futuro da comunidade está nas decisões e nos talentos
dos cidadãos. O simples uso não é suficiente se não contribuir para ajudar as
comunidades a aprender e tomar melhores decisões.
2.1
A
FACILITAÇÃO
DOS
BIBLIOTECÁRIOS
NO
CONTEXTO
DA
NOVA
BIBLIOTECONOMIA
O estereótipo de que o bibliotecário é um profissional isolado e calado
precisa deixar de existir (LANKES, 2012, p. 97). De acordo com Lankes (2011),
é por meio da declaração de uma missão do bibliotecário estabelecida pela
Nova Biblioteconomia que o campo pode evoluir para enfrentar os novos
desafios. Para isso, o autor alerta que o bibliotecário deve compreender que o
conhecimento é um recurso exclusivamente humano, obtido por meio de
conversas ativas, não um artefato ou item da coleção.
Assim sendo, definida a missão do bibliotecário de “melhorar a sociedade
facilitando a construção do conhecimento em suas comunidades”, devemos dar
voz a principal interessada em toda essa mudança paradigmática nas
sociedades contemporâneas: a comunidade. Nesse aspecto, Lankes (2011, p.
28) pontua a importância de aliarmos a missão do bibliotecário ao apoio da
comunidade, criando o que ele denomina em seu Atlas of the New
Librarianship, de pacto social entre a comunidade e os bibliotecários.
Se esperamos apoio de nossas comunidades na forma de impostos,
linhas orçamentárias ou doações, não devemos nos esquivar de negociar
os termos nos quais somos apoiados. Se permitirmos que o
financiamento continue baseado em antigas percepções de repositórios
discretos de livros, logo descobriremos que o financiamento vai embora.
As pessoas dirão que não precisam de armazéns de livros e nos cortam.
Então será tarde demais para mostrarmos o que realmente temos feito:
�133
conhecimento e empoderamento (LANKES, 2011, p. 29, tradução
nossa)15.
Retomando a missão do bibliotecário, como você vê a facilitação? Lankes
(2011, p. 80-81) nos conta que todo bibliotecário que conheceu tinha uma
história, grande ou pequena, sobre pessoas. Em todas as histórias tinha
sempre uma conversa. O autor pontua que mesmo que tenha sido por um
momento ou de uma forma pequena, aquela conversa, aquela solução
informacional tornou o mundo – de cada membro – um lugar melhor. Para
Lankes (2011, p. 81), a facilitação verdadeira e bem sucedida é quando um
bibliotecário ajuda o membro da comunidade encontrar a sua própria história.
A biblioteca, para colocar isso em um contexto político, é uma instituição
do povo ou para o povo? Sua resposta a essa pergunta, em última
análise, define como você vê a facilitação. Se você é para o povo, você é
uma ferramenta e separada. Facilitar é atuar em uma população. Você
tem usuários e clientes, não membros. Se, ao contrário, você sente que
a biblioteca é do povo, então facilitar é envolver e ajudar a comunidade
porque você está se ajudando. Você tem membros. Se você se vê como
uma ferramenta para as pessoas, você tem um emprego. Se você se vê
como um membro da comunidade, você tem uma vocação - um
chamado - uma missão (LANKES, 2011, p. 66, tradução nossa) 16.
O conceito de “facilitar a criação de conhecimento” prevista na missão
que norteia a Nova Biblioteconomia está intimamente ligado aos princípios
associados com o desenvolvimento de uma aprendizagem independente. De
acordo com Lankes (2011, p. 65), de uma maneira inicialmente aplicada, já
que o "fim" é negociado com a comunidade, há quatro meios de o bibliotecário
contribuir com a facilitação:
15
acesso: construindo uma ponte entre os “conversantes”;
conhecimento: tendo o domínio necessário para conversar;
“If we expect support from our communities in the form of taxes, budget lines, or
endowments, we must not shy away from negotiating the terms on which we are supported. If
we allow the funding to continue based on old perceptions of quiet book repositories, we will
soon find that funding going away. People will say that they don’t need book warehouses and
cut us. Then it will be too late for us to show what we have really been up to: knowledge and
empowerment” (LANKES, 2011, p. 29).
16
“Is the library, to put this in a political context, an institution of the people or for the people?
Your answer to that question ultimately defines how you see facilitation. If you are for the
people, you are a tool and separate. To facilitate is to act on a population. You have users and
customers, not members. If, in contrast, you feel as I do that the library is of the people, then
to facilitate is to engage and help the community because you are helping yourself. You have
members. If you see yourself as a tool for the people, you have a job. If you see yourself as a
member of the community, you have a vocation—a calling—a mission” (LANKES, 2011, p. 66).
�134
ambiente: fornecendo uma plataforma onde um membro pode se
sentir seguro para participar; e
motivação: compreensão, apoio e, em alguns casos, transmitindo
o desejo de participar.
A
nossa
(catalogação,
formação
metadados,
em
Biblioteconomia
recuperação
da
está
focada
informação
no
etc.).
acesso
Estamos
habituados a focar no acesso material da informação, nos artefatos. No
entanto, o acesso para os membros é uma via de mão dupla na Nova
Biblioteconomia. Essa é uma parte fundamental da Nova Biblioteconomia: os
membros precisam de auxílio somente para conversar com outras pessoas,
mas também para fornecer acesso ao seu próprio conhecimento e artefatos
(LANKES, 2011, p. 67). Passar a maior parte do tempo trabalhando com os
membros da comunidade e organizações comunitárias, tornando seu conteúdo
acessível, focando a produção e não somente a compra, é o futuro dos
bibliotecários e das bibliotecas (LANKES, 2011, p. 67). Em linhas gerais, o
acesso é a maneira de conseguir com que uma pessoa participe de um diálogo,
seja por meio de artefatos ou de redes digitais. Além de possibilitar o acesso
aos
artefatos
e
ao
conhecimento
produzido
pela
própria
comunidade,
precisamos fornecer acesso ao espaço físico e digital da biblioteca. Para Lankes
(2011, p. 71), sendo o trabalho do bibliotecário facilitar a criação de
conhecimento por meio da conversação, as ferramentas construídas pelos
bibliotecários também devem fazê-lo. O grande diferencial desse aspecto da
Nova Biblioteconomia é o acesso a diálogos e conhecimentos reais, para
contribuir para a construção do conhecimento pela comunidade.
Fornecer acesso aos artefatos ou as conversas não é suficiente para o
conhecimento, haja vista a quantidade de informações disponíveis a qualquer
pessoa com acesso à internet. Há tempos, bibliotecários contribuem com a
necessidade de ir além de oferecer acesso e instrução, especialmente, nos
serviços de referência. Segundo Lankes (2011, p. 73), os bibliotecários, além
de transmitir todas as instruções sobre como pesquisar e avaliar fontes, devem
instruir sobre como transformar o novo conhecimento em uma conversa eficaz
(on-line, pessoalmente ou de outra forma), proporcionando um benefício para
�135
a comunidade. Ao participar de uma conversa, cada membro da comunidade
provavelmente vem com um conceito básico sobre determinado assunto, mas
com a participação adicionam mais conceitos ao seu conhecimento existente,
como resultado de um grande número de diálogos anteriores (LANKES, 2011,
p. 72). Em linhas gerais, no tocante ao conhecimento, os conceitos de Nova
Biblioteconomia exigem uma série de expansões em todos os tipos de
alfabetização. Nesse sentido, Lankes (2011) nos convida a olhar para
alfabetização como uma forma de empoderamento da comunidade. “Os
bibliotecários, eu diria, precisam enxergar a alfabetização como um meio de
adquirir poder - na maioria das vezes, poder para os que não têm poder”
(LANKES, 2011, p. 74, tradução nossa)17. Para Lankes (2011, p. 75), na Nova
Biblioteconomia, todos os perfis de bibliotecários promovem a alfabetização
para capacitar os membros: facilitando habilidades na aquisição de poder.
Ao propiciar conversas para construção do conhecimento coletivo pela
comunidade, preparando-as para participar como igual, por meio do acesso e
do conhecimento, depende do fornecimento de um ambiente seguro para
participar, criar e aprender. A segurança se refere a dois aspectos: a sensação
de segurança física, muitas vezes enfatizada nas configurações de biblioteca
pública que fornece segurança intelectual e cultural; e a segurança do uso dos
bibliotecários para facilitar o conhecimento em muitos contextos. Conceitos
como liberdade intelectual e privacidade são valores fundamentais de qualquer
biblioteca.
Aliada ao ambiente seguro, atraente e desafiador, a motivação é um
elemento complementar. Lankes (2011, p. 26) afirma que é fundamental que
os bibliotecários tenham uma melhor compreensão acerca da motivação. Isso
para compreender melhor porque os membros da comunidade usam o serviço
da biblioteca (e porque não-membros não utilizam). Assim sendo, o autor
aponta que os bibliotecários podem começar a motivar o uso da biblioteca,
tendo uma postura mais proativa na vida de seus membros e na construção do
conhecimento. Lankes (2011, p. 79) afirma, ainda, que o bibliotecário deve
17
“Librarians, I would argue, need to view literacy as a means of acquiring power — more
often than not, power for the powerless” (LANKES, 2011, p. 74).
�136
entender a motivação para construir serviços que não seja simplesmente útil
para os membros, mas que reconheçam as razões dos membros para utilizar o
serviço.
Em linhas gerais, os meios de facilitação mencionados são, em última
análise, uma forma de capacitar bibliotecários e membros (LANKES, 2011, p.
80). Ler, chamar a atenção das pessoas, motivar e mediar a comunicação
entre os membros da comunidade requerem um facilitador poderoso. Para
Lankes (2011), o poder de ser um bibliotecário está em não ver as pessoas
como problemas, mas como membros em necessidades - necessidade de
serviços, suporte, alfabetização e, sobretudo, o poder de criar e aprender, não
simplesmente necessidades para a sobrevivência. O bibliotecário nem sempre
esteve consciente de todo o poder e da responsabilidade em fazer uso do
poder. Sempre imerso em suas tarefas cotidianas de organizar e preservar, o
bibliotecário
pouco
se
dá
conta
de
sua
importância
na
sociedade
contemporânea. “Muitos bibliotecários revivem a história e estão presos num
conservadorismo profissional que privilegia o que eles fazem em detrimento
das razões por que o fazem” (LANKES, 2016a, p. 23). Corroborando a essa
afirmativa, Macedo (1986, p. 219) pontuou que “apesar de todo o progresso
científico, a Biblioteconomia e seus profissionais ainda teimam por manter a
velha atitude de encarar o conhecimento como algo pronto a ser adquirido e
reproduzido”.
Eis
conhecimento
não
o
é
grande
um
diferencial
algo
pronto
da
para
Nova
Biblioteconomia.
adquirir
e
reproduzir;
O
o
conhecimento é uma construção social e a missão do bibliotecário é facilitar a
criação do conhecimento com os membros da comunidade e não para a
comunidade. A comunidade é o verdadeiro acervo.
O bibliotecário é capaz de contribuir com a solução de problemas sociais
da comunidade se tornar-se parte da comunidade, não um prestador de
serviços informacionais. Samek (2007, p. 4) afirma que os bibliotecários
desempenham um papel importante na preservação e no apoio aos ideais de
tolerância, democracia, direitos humanos, direitos e memória coletiva em
muitas partes do mundo. Por meio de uma visão de mundo de uma
Biblioteconomia que transcenda as ferramentas para a organização da
�137
informação e manter o conhecimento registrado, o bibliotecário pode contribuir
com a erradicação do analfabetismo e facilitar a integração de sociedades
multiculturais, por exemplo. Assim sendo, o bibliotecário deve ajudar a
promover o livre acesso democrático e socialmente igualitário às informações.
“[...] Nas mãos de bibliotecários, o poder é a capacidade de fazer as nossas
comunidades e, finalmente, a nossa sociedade, um lugar melhor” (LANKES,
2011, p. 80). O bibliotecário não deve contribuir com a construção do
conhecimento pela comunidade porque é uma boa ideia, mas porque a ideia
deve ser essa. Pensar nas pessoas, no usuário, na comunidade, é uma
tendência contemporânea da área que pode ser observada em diferentes
vertentes. A Biblioteconomia que todos queremos deve ultrapassar fronteiras
(LANKES, 2016a).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a Nova Biblioteconomia, R. David Lankes nos convida a reafirmar as
raízes da Biblioteconomia não centrada no prédio da biblioteca, ferramentas e
coleções, mas no conhecimento, na comunidade e no avanço da condição
humana. A Nova Biblioteconomia de Lankes nos dá uma nova perspectiva, um
novo olhar, para a Biblioteconomia que conhecemos e que vínhamos
praticando ao longo do tempo. Em linhas gerais, o que as bibliotecas e os
bibliotecários fazem é facilitar a criação do conhecimento, e isso é apenas um
aspecto da missão, trabalhando para tornar a comunidade mais inteligente por
meio do fornecimento do acesso e da criação do conhecimento; ao fornecer
treinamentos, contribuindo com a aprendizagem; proporcionando segurança
física e intelectual e motivando a comunidade (LANKES, 2011, 2012). Embora
as ferramentas sejam importantes, a verdadeira definição de nossa profissão
ou de qualquer profissão é o seu impacto e uso. Nós não devemos nos definir
por nossos objetivos. Não somos organizadores, somos facilitadores. Nós não
somos colecionadores, mas aqueles que inspiram novas ideias. A mudança
fundamental é de coisas para o conhecimento humano.
�138
A construção de uma Nova Biblioteconomia sob uma base sólida de
dignidade humana, liberdade, justiça social e diversidade cultural requer que
os bibliotecários atuem de forma constante e implacável sobre as questões
sociais, políticas, culturais, legais, econômicas, tecnológicas e ideológicas
(SAMEK, 2007, p. 43). Ou seja, a chave para uma biblioteca bem sucedida e
para uma Nova Biblioteconomia é o bibliotecário.
realmente
desejam
melhorar
a
sociedade
por
Se os bibliotecários
meio
da
facilitação
do
conhecimento, eles não só devem ter suas vozes ouvidas, como também
trabalhar constantemente para melhorar a sociedade por meio da ação; assim,
os bibliotecários serão ativistas. Ser da comunidade no conceito e na ação é o
aspecto que merece destaque e atenção dos bibliotecários. Mais que oferecer
novos serviços e produtos com as tecnologias digitais é a relação com a
comunidade que muda. Trata-se de uma mudança na visão de mundo aliada a
missão do bibliotecário de contribuir com a facilitação da criação do
conhecimento para a melhoria das comunidades. “Vamos trabalhar juntos?”
(LANKES, 2016a, p. 169).
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Biblioteconomia: fundamentos e desafios
contemporâneos. Folha de Rosto: Revista de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, v. 3, n. 1, p. 68-79, jan./jun. 2017.
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila Araújo. O que é ciência da informação. Belo
Horizonte: KMA, 2018.
LANKES, R. David. The Atlas of new Librarianship. Cambridge: The MIT
Press, 2011.
LANKES, R. David. Expect more: demanding better libraries for today’s
complex world. Jamesville, NY: Riland Publishing, 2012.
LANKES, R. David. Expect more: melhores bibliotecas para um mundo
complexo. São Paulo: FEBAB, 2016a.
LANKES, R. David. The New Librarianship field guide. Cambridge: The MIT
Press, 2016b.
�139
MACEDO, Iara Ferreira de. A ideologia na Biblioteconomia: uma reflexão.
Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 15, n.
2, p. 210-221, set. 1986.
SAMEK, Toni. Librarianship and human rights: a twenty-first century guide.
Oxford, England: Chandos, 2007.
�140
CAPÍTULO VIII
BIBLIOTECAS CONTEMPORÂNEAS COMO ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA
Rômulo Mansur Lauar Júnior
1 INTRODUÇÃO
Das figuras rupestres ao e-book, estamos diante de um grande e
paradoxal sistema de informações que, a cada dia, se avolumam e precisam,
de alguma maneira, ser organizadas e tratadas a ponto de estarem disponíveis
aos usuários e usuários pesquisadores. Ao passo que a pesquisa se avoluma e
todo o sistema de informações vai se integrando, vamos entrando numa seara
de tornar as bibliotecas em espaços de convivência, onde pessoas discutem
ideias, trabalham em consonância umas com as outras e novas perspectivas de
usabilidade dos espaços reservados a esse fim são pensadas.
Trazendo um breve histórico, cujos primeiros registros da trajetória
humana aparecem, temos algumas reflexões:
A história do homem é parte reduzida da trajetória humana uma vez
que a pré-história é muito maior. Os primeiros registros de ações e
reflexões são recentes. Da pedra, argila, papiro, pergaminho e papel à
memória das máquinas, o salto foi curto: poucos milhares de anos.
Nesse período, relativamente breve, o homem, em paralelo à
capacidade de registrar o pensamento, aprendeu a organizar esses
documentos, fazendo com que os registros precedentes fossem
determinantes do pensamento subsequente (MILANESI, 2002, p.15).
E, dessa forma, foi-se formando, por meio das informações, os
conhecimentos que tornam a Biblioteconomia uma ciência interdisciplinar, que
cuida
da
preservação,
recuperação,
organização
e
disponibilização
do
conhecimento para aqueles que o buscam.
Como nossa profissão é uma profissão essencialmente social, uma
profissão de mediação e de contato, de “fazer com o outro”, de fazer
para o outro, o bibliotecário só tem a ganhar com a colaboração com
outros profissionais. Esta tendência de trabalho interdisciplinar é uma
tendência mundial. Tudo indica, e esta é uma visão pessoal desta
�141
realidade, que esta maior visibilidade do bibliotecário tem levado os
profissionais de outras áreas a uma maior curiosidade com relação ao
nosso fazer (CUNHA, 2003, p. 43).
Citação
valorosa
de
Cunha,
em
que
o
autor
evidencia
a
interdisciplinaridade da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, nos
direcionando a uma relação de cooperação em relação aos profissionais de
outras áreas.
Dia após dia, temos visto que muitos meios estão sendo questionados e
inseridos nas bibliotecas com a finalidade de torná-las mais atraentes para a
nova geração que estamos vivenciando, onde os meios digitais são e fazem
parte do aprendizado adquirido por ela. Sendo assim, trataremos, neste
capítulo, das bibliotecas como espaço de convivência e suas particularidades,
apresentando novas maneiras e, acima de tudo, demonstrando a sua evolução
por
lapso
temporal,
além
de
observar
o
aspecto
empreendedor
dos
bibliotecários no exercício de suas funções, diante de um mercado que, a cada
dia, se abre mais, num leque de opções de atuação dos sujeitos ativos dessa
profissão, que vai desde as ciências médicas, exatas e jurídicas, entre tantas
outras.
2 DA IDADE ANTIGA À IDADE CONTEMPORÂNEA
Para melhor compreensão do contexto, buscaremos traçar uma breve
linha do tempo com o processo de evolução da sociedade e das suas
descobertas, ou seja, de onde viemos e como chegamos até os dias atuais.
Há cerca de 4000 anos, houve o surgimento da escrita, que veio dos
povos hebreus e persas que ocupavam as regiões da Mesopotâmia, Egito,
Grécia Antiga e Roma.
Seguindo os passos da história, damos um grande salto para a Idade
Média, que data do ano 476 d.c, marcada pelo feudalismo, pela queda do
Império Romano e também pelas cruzadas, em que foram difundidos muitos
conhecimentos que eram impostos aos povos a que esses impérios e as
cruzadas eram submetidos.
�142
A Idade Moderna, 1453 d.c, trouxe no seu bojo o renascimento, grandes
reformas, principalmente a religiosa, as navegações e o mercantilismo, sendo
possível a difusão de muitos conhecimentos na sociedade. Nesse período,
muitas culturas de diversos povos foram sendo descobertas e suas formas de
preservação, absorvidas pelos colonizadores, que se apropriavam e impunham
aos povos o seu modus vivendi. Nesse período, também vivenciamos a
Primeira Revolução Industrial, o Iluminismo, o descobrimento da América e,
por fim, o descobrimento do Brasil.
Concluímos esse rápido passeio pela história até chegarmos à Idade
Contemporânea, em 1789. Nela, podemos verificar a Revolução Francesa como
grande marco do período, a Segunda Revolução Industrial, trazendo mais
altivez à sociedade e mais conhecimento, maior interação entre os países e
grande difusão de ideias.
Na Idade Contemporânea, também vivenciamos as 1ª e 2ª Guerras
Mundiais, que tornaram o mundo mais dividido, tempo de grande avanço da
ciência por motivo da Guerra Fria traçada entre o oriente e ocidente, viagens
espaciais, avanço nas telecomunicações, corrida armamentista e grandes
desastres humanitários causados por governos fundamentalistas.
E, depois de tantas informações em um período relativamente curto de
nossa história, entramos na era da globalização. Era de integração social,
econômica, política e cultural, estabelecida entre os países do mundo.
Partimos de uma comunicação limitada, por meio de rádios e televisores,
até chegarmos na era da internet, que veio pôr fim a muitas barreiras que
atuavam contra a disseminação do conhecimento. Porém, devido a ela,
estamos tendo que nos adequar e aprender a lidar com o grande volume de
informações que nos chegam a todo instante.
Daí a necessidade de além de tornar a biblioteca como uma fonte de
informação muito importante e insubstituível para a preservação dos nossos
registros, fazer dela um espaço de convivência para que continue sendo
utilizada com intuito de pesquisas e de diálogo, novos ideários e de
transformação.
�143
3 AS BIBLIOTECAS E AS NOVAS TECNOLOGIAS
Quando falamos em biblioteca, de acordo com o site “bibliotecários sem
fronteiras”, temos o seguinte conceito:
Biblioteca (do grego βιβλιοϑήκη, composto de βιβλίον, “livro”, e ϑήκη,
“depósito”), na definição tradicional do termo, é um espaço físico em
que se guardam livros. De maneira mais abrangente, biblioteca é todo
espaço (concreto, virtual ou híbrido) destinado a uma coleção de
informações de quaisquer tipos, sejam escritas em folhas de papel
(monografias, enciclopédias, dicionários, manuais etc.) ou ainda
digitalizadas e armazenadas em outros tipos de materiais, tais como CD,
fitas, VHS, DVD e bancos de dados. Revistas e jornais também são
colecionados e armazenados especialmente em uma hemeroteca
(BIBLIOTECÁRIOS SEM FRONTEIRAS, 2008, não paginado).
Dessa maneira, notamos que, partindo dessa concepção, as bibliotecas
são espaços físicos que se destinam à guarda de livros, monografias,
dicionários, enciclopédias, entre outros tipos de mídias, inclusive bancos de
dados.
Com todo esse contexto, percebemos que, mediante a essa definição,
esses espaços físicos trazem por si uma perceptível e consensual vocação para
se tornarem lugares de convivência entre os seus usuários, utilizando seus
campos para debates e enfrentamentos de discussões sobre teorias e estudos
práticos.
Mundo afora, já vemos muitas bibliotecas bastante intuitivas, onde os
usuários são protagonistas e fazem grande parte do processo de estudos e
investigações com a ajuda dos meios que elas dispõem.
Laboratórios de informática, utilização de plataformas digitais, cujo
acervo encontra-se digitalizado, o que favorece o acesso aos documentos
quase que em tempo real, são facilidades das bibliotecas mais modernas, o
que não faz menos importante que essas mesmas informações estejam nas
estantes dispostas e prontas para consultas, de forma física.
É sensível que temos que nos ater aos novos tempos e perceber a força
da rede mundial de computadores e sua enorme atividade que se impõe sobre
todas as pessoas, os smartphones, tablets, leitores de livros digitais, páginas
direcionadas à leitura, bibliotecas digitais, repositórios, bases de dados e
outras maneiras de mídias que vêm surgindo para facilitar o acesso à leitura e
�144
informações contidas nas bibliotecas em todas as suas nuances. Além disso, é
evidente que essa tecnologia tem a capacidade de promover, a ponto de tornar
as bibliotecas centros de convivência mais efetivos entre as pessoas,
viabilizando a inclusão digital. Reforça-se que, mesmo sendo senso comum
que os meios digitais vieram para ficar e se aprimorar, ainda temos milhões de
pessoas que precisam se adequar, aprender e se aventurar por essas novas
faces das bibliotecas.
Cerveró e Gonzáles (2011) apregoam que “a inclusão digital tem como
interesse a inclusão de todas as pessoas na sociedade da informação,
especialmente os grupos com maiores dificuldades de acesso às Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC)”. Resta, aí, um grande aprendizado e
formalização de que, para que haja a convivência plena, temos que nos ater à
necessidade da inclusão, porque, sem a sua efetivação, não existe uma
comunicação real, qual seja, estaríamos falando em duas línguas diferentes no
mesmo espaço.
A Biblioteconomia, no seu fazer de atividades, estende-se por muitas
outras áreas, cujo bibliotecário, ou até mesmo o estudante de Biblioteconomia,
exerce funções diversas a sua atuação dentro (ou fora) das bibliotecas, salas
de leitura e centros de informação.
As possibilidades de atuação dos bibliotecários vêm, a cada dia,
alcançando
maior
espaço
na
sociedade
contemporânea,
tal
como
em
escritórios jurídicos na atividade de pesquisas jurídicas, no atendimento de
empresários que precisam de informações confiáveis, a respeito de temas que
lhes interessam; na análise de informações estratégicas do setor bancário,
com a finalidade de que esse setor incorra em menos riscos nas suas
atividades; dentre muitas outras atividades, possibilidades e campos de
atuação bibliotecária.
4 BIBLIOTECAS: CENTROS DE CONVIVÊNCIA?
Partindo do pressuposto de que uma biblioteca seja um lugar silencioso,
onde as pessoas não podem conversar para não comprometer o estudo alheio,
�145
apresenta-se esse questionamento, a fim de ser discutido e debatido neste
momento.
A informação é um fator de grande relevância para a formação das
pessoas, pois possibilita a liberdade de pensamento, de livre iniciativa, da
construção de sua própria cidadania. Não podemos coibir as diversas formas
de expressão nem mesmo cercear os cidadãos de uma sociedade civil
organizada, de ter acesso àquilo que almejam. Quaisquer que sejam os
espaços públicos, precisamos fazer com que as pessoas se apropriem e façam
uso dos conhecimentos adquiridos por meio de pesquisas, livros, filmes e
acesso à internet de maneira que a inclusão seja efetiva e não apenas, fazendo
alusão ao ilustre poeta mineiro Drummond de Andrade, “[...] apenas uma
fotografia na parede”.
Nos escritos de Saracevic, “a informação é fator vital tanto para a
subsistência do indivíduo como da sociedade. O grau de desenvolvimento de
uma sociedade pode ser evidenciado pela qualidade de informação disponível
para a sua comunidade”.
Subentende-se, portanto, que as bibliotecas têm seu papel reafirmado
como lugar onde as pessoas desenvolvem suas capacidades cognitivas,
fazendo, dessa maneira, uma sociedade mais plena de pessoas que tenham
discernimento, melhorando, assim, a qualidade de toda uma população.
O desenvolvimento da relação entre Ciência da Informação e Ciência da
Comunicação apresenta várias dimensões: um interesse compartilhado
na comunicação humana, juntamente com a crescente compreensão de
que a informação como fenômeno e a comunicação como processo
devem ser estudados em conjunto (VARELA, 2011, p. 1).
Por essa leitura, entendemos ainda mais o valor das bibliotecas como
centros de convivência, lugares onde as pessoas melhor se informariam e
formariam suas opiniões mediante ao acervo, mas também, do contato com
outros usuários.
Trazer as bibliotecas aos centros de convivência é um caminho para
fomentar o contato das pessoas com livros e com equipamentos culturais.
Precisamos, cada vez mais, aumentar a rede de bibliotecas públicas e levá-las
às periferias dos grandes centros, promovendo a interiorização para que as
�146
pequenas cidades do país também tenham mais opções de espaços de
convivência para seus cidadãos.
Trazer os centros de convivência às bibliotecas é parte de uma inversão
que nos dá a capacidade de fazer dos bibliotecários sujeitos ativos e capazes
de transformar seu fazer profissional dentro das unidades de informação para
além desses espaços; basta que esses sujeitos percebam os nichos de
mercado e trabalhem as suas habilidades adquiridas na academia.
A partir dessa caracterização das bibliotecas como espaços de convívio,
faz-se necessário ampliar a captação de frequentadores, resolver questões
ligadas ao grande número de pessoas, verificar a possibilidade de obter
alguma contraprestação com esse trabalho, dentre outras necessidades. Outro
ponto de grande relevância diz respeito ao fato de os profissionais gostarem do
que estão se propondo a fazer, e se nesses locais existe um mercado que
alimente seu empreendimento.
5 EMPREENDER COM BIBLIOTECONOMIA
Empreender no sentido estrito significa:
Criar opções de melhor desempenho, ganho ou lucro. Transformar
rotinas de trabalho de forma a gerar mais produtividade, ter ideias
inovadoras e desafiadoras. Capacidade de enxergar além do cotidiano,
solucionar com habilidades e criatividade. Ter visão de dono
(DICIONÁRIO INFORMAL, 2018, não paginado).
Proveniente das ciências administrativas, o empreendedorismo é cada
vez mais bem visto pelos bibliotecários, que, nas suas habilidades e funções,
conseguem desenvolver diversos trabalhos e atender áreas paradoxais por sua
vocação interdisciplinar.
Partindo desse pressuposto, em que a informação é a nossa matériaprima, da convergência de tecnologias, do antigo e do presente, das novas
formas de se qualificar e verificar informações importantes, faremos uma
breve comparação ao que diz respeito ao fazer bibliotecário, que é de
recuperar e disseminar informações aos usuários. Trocaremos usuários por
�147
clientes
e
elencaremos
algumas
das
formas
de
empreender
com
Biblioteconomia, discorrendo sobre três formas de empreendimentos que
podem ser utilizadas no contexto das bibliotecas contemporâneas, a saber:
-
Empreendimentos
empresariais:
Referem-se
à
criação
de
empresas, geração de lucro, empregos, movimenta a economia e agrega valor
à sociedade;
- Empreendimentos sociais: Instituições sem fins lucrativos que têm
sua atuação na área social ou por instituições privadas por meio da
responsabilidade
social,
investindo
em
soluções
de
desenvolvimento
sustentável e projetos culturais;
- Empreendimentos culturais: No Brasil, são entidades geralmente
mantidas pelo governo e não possuem fins lucrativos, como, por exemplo,
museus, teatros e bibliotecas.
Por meio desse contexto, percebemos como o empreendedorismo pode
contribuir bastante para a melhoria da vida das pessoas, bem como gerar
novas oportunidades de trabalho para os bibliotecários e promover a
reconstituição e redefinição das bibliotecas.
As opções oferecidas pelas novas formas de trabalho podem ser
bastante compensadoras. Espera-se que os profissionais tenham
criatividade para perceber mercados inexplorados, considerando sempre
as suas competências, habilidades e aptidões para lidar com o conteúdo
da informação e com o usuário da informação (REVISTA ACB, 2016, não
paginado).
É de total importância, a partir da citação anterior, que o bibliotecário
tenha em si um perfil empreendedor, o que facilita bastante sua inserção
nesse mercado gigantesco que se abre, fazendo com que novos olhares sejam
lançados à Biblioteconomia contemporânea e seus espaços de convivência.
Traçando um cenário do empreendedorismo no Brasil, temos várias
empresas que fomentam esse perfil e que dão suporte para quem quer se
aventurar nessa área:
- O SEBRAE viabiliza suporte a quem quer abrir seu próprio negócio;
- O Portal do empreendedor traz informações importantes e dicas sobre
como abrir novos negócios nas suas respectivas áreas;
�148
- A EndeavorBrasil está mais ligada à capacitação e ao networking entre
pessoas que querem partir para essa área, entre tantas outras empresas
júnior, que estão localizadas nas universidades e que prestam consultoria para
que pessoas que pretendem abrir seus negócios tenham maiores condições de
fazer suas ambições darem certo.
6 PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
Empreender é a palavra do futuro e do presente quando falamos de
Biblioteconomia. Cada vez mais, temos muitas oportunidades na área e vagas
que vão sendo abertas. No entanto, o volume de bibliotecários formados não é
suficiente
para
compô-las
no
gerenciamento
dos
grandes
centros
de
informação. Temos um volume grande de bibliotecas escolares, porém, as leis
que deveriam ser cumpridas, no Brasil, são atropeladas por interesses
financeiros e as escolas, bem como o Estado, não dão a importância
necessária.
É preciso estar atento tanto na formação quanto na atuação, buscar
caminhos, capacitação frequente e estar disposto a se relacionar com
profissionais de diversas áreas, o que trará, sem nenhuma dúvida, maior
know-how aos bibliotecários.
Entender de processos gerenciais, identificar as necessidades das
pessoas e dar a elas soluções reais, que as abasteça com as
informações solicitadas. O fornecimento de determinada prestação de
serviço, em geral por profissional qualificado e conhecedor do tema. O
serviço de consultoria oferecido ao cliente acontece por meio de
diagnósticos e processos e tem o propósito de levantar as necessidades
do cliente, identificar soluções e recomendar ações. De posse dessas
informações, o consultor desenvolve, implanta e viabiliza o projeto de
acordo com a necessidade específica de cada cliente (UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA, 1998, p. 2).
A partir dessa premissa, percebemos a importância de agregar valor ao
perfil do bibliotecário, fazendo desse profissional um sujeito capacitado e apto
a atender os usuários e usuários pesquisadores de maneira objetiva e
qualificada, não apenas fornecendo bibliografias solicitadas, mas fomentando
pesquisas com seus conhecimentos.
�149
Temos, diante de nossos olhos, desafios, que nos revelam uma imensa
demanda de serviços e atividades que os bibliotecários podem cumprir de
forma eficiente. Entretanto, ainda precisamos de maior empenho nos cursos de
Biblioteconomia em formar empreendedores.
As disciplinas de empreendedorismo no curso de Biblioteconomia ainda
são poucas e os profissionais conhecem pouco do mercado, estando a mercê
dos estágios para terem essa percepção do “ir além” das estantes de livros,
para se estabelecerem num mercado cada dia mais competitivo.
Empresários da informação – este grupo é constituído por profissionais
da informação que criam empresas de fabricação e venda de produtos
ou serviços de informação, o produto da informação pode ser um banco
de informações especializadas, um programa de computador,
publicações, índices, catálogos etc. (LE COADIC, 1996, p. 6).
Com essa concepção, percebemos que o autor trata como “empresários
da informação” aqueles que criam empresas e vendem serviços de informação,
como também compartilham esses serviços para uma nova sociedade, como
tem sido evidenciado a partir do trabalho realizado pelos bibliotecários ao
ampliarem a função e o espaço da biblioteca, o que vem ao encontro com todo
o conteúdo que colocamos disposto, neste capítulo.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, compreendemos que as bibliotecas contemporâneas como
centros de convivência são, na sua grande maioria, viáveis e que, nas suas
diferentes modalidades, poderão apresentar ao público práticas e dinâmicas
culturais que venham a atrair mais usuários no dia a dia.
Podem ser espaços convidativos, com variados perfis de atendimento e
que reúnam os mais distintos perfis de usuários, trazendo para si a grande
variedade de movimentos culturais que estão presentes na nação brasileira,
disponibilizando espaços que não sejam necessariamente para a leitura.
�150
As bibliotecas contemporâneas têm um caráter de diversidade, cujas
variadas classes sociais e idades podem discutir experiências, acessar a
internet, ler jornais, revistas e, também, fazer pesquisas.
Nesse contexto, com a grande utilização de meios digitais, é possível
trabalhar na construção de blogs, fortalecer espaços digitais para discussões,
estimular processos referentes à inclusão digital de crianças, jovens e adultos,
promover rodas de conversa, oficinas das mais variadas, dentre outras
atividades.
Bibliotecas contemporâneas têm muito mais que estudantes para
atender, elas têm a sociedade para servir, ajudar e desenvolver, ampliando
seus horários de atendimento, estendendo suas programações à sociedade civil
organizada, e mais: podem, ainda, construir vínculos com grupos sociais para
a música, espetáculos, contações de histórias, trabalhar com educação e
cultura e, dessa forma, criar um elo da população com o patrimônio que é de
cada cidadão por direito.
Por essa ótica, vemos que empreender vai muito mais além do que ter
apenas boas ideias; antes, faz-se necessário planejamento, percepção de
cenários, capacidade de verificar os movimentos da sociedade, ter espírito de
liderança, formar boas e eficientes parcerias que tenham os conhecimentos
necessários para o que se pretende fazer.
Durante a graduação, muitos estudantes já começam a perceber essas
singularidades da Biblioteconomia, uma vez que a maior parte dos estágios
que surgem são em tribunais, no Ministério Público, em escritórios de
advocacia, em associações de classe, e por aí vai.
Dessa forma, o caráter empreendedor da Biblioteconomia é fato
esclarecido e consumado entre os doutrinadores mais modernos desse campo
da Ciência da Informação, tendo, claro, as nossas bibliotecas nas suas várias
interfaces como nosso principal objetivo, mas também podemos e devemos
usar as nossas habilidades que o curso de Biblioteconomia nos proporciona
para empreender e fazer a profissão caminhar passo a passo com as novas
tecnologias e com a evolução da sociedade.
�151
Temos um futuro promissor, visto que a sociedade está em constante
evolução. Por esse motivo, temos que nos alinhar e não perder o compasso da
história, para que possamos fazer com que a profissão de bibliotecário se
perpetue e seja cada vez mais solícita às aspirações de um tempo em que as
informações são nossos desafios, tamanha a quantidade que nos é passada a
todo instante.
REFERÊNCIAS
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<https://bsf.org.br/2008/12/30/por-uma-definicao-de-biblioteca/>. Acesso
em: 19 set. 2018.
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informacional como inclusão social. In: CUERVAS, Aurora; SIMEÃO, Elmira
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infoinclusão social. Brasília: Thesaurus, 2011. p. 55-70.
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�152
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VARELA, Ainda. Informação e construção da cidadania. Brasília:
Thesaurus, 2011.
�153
CAPÍTULO VIV
EQUIPES EM BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS: LIDERANÇA E
AUTOSSUFICIÊNCIA
Patrícia Maria de Melo
“Nenhum problema é pequeno ou trivial se realmente pudermos fazer
algo a respeito” Richard P. Feynman
Dedicado à equipe da Biblioteca da FAE-UFMG
1 INTRODUÇÃO
O presente ensaio pretende discorrer sobre a relevância das equipes nas
bibliotecas
universitárias,
considerando
as
características
individuais
de
colaboração entre os integrantes e a liderança consciente do bibliotecário para
atingir as metas e os resultados pretendidos no Planejamento Estratégico da
Biblioteca.
A liderança do bibliotecário na Biblioteca Universitária é inquestionável,
já que ele detém o conhecimento técnico e o conhecimento teórico para gerir a
sua unidade. Inclusive, pesquisa em liderança é muito mais enfatizada na área
de gestão das bibliotecas. A formação da equipe é encontrada apenas como
tópico nas pesquisas e no planejamento. A gestão de pessoal é focada apenas
nos aspectos da liderança. Como se o líder fosse capaz de produzir excelentes
resultados com qualquer tipo de equipe. Os fracassos parecem ser advindos
principalmente de outras variáveis.
A abordagem aqui é sobre a importância das singularidades dos
integrantes da equipe que o bibliotecário vai liderar e a interação deles entre
si, inclusive, o ambiente físico que trabalham, ambiente que pode facilitar ou
dificultar a sua interação. É preciso valorizar uma equipe que aprenda em
�154
conjunto (FLORES, 2018, p. 43), que esteja motivada para prestar um
atendimento de qualidade ao usuário. Uma equipe que visualize metas claras e
compartilhadas por todos os seus integrantes. Que se responsabiliza, junto
com o bibliotecário, pelo Planejamento Estratégico a ser desenvolvido.
Nosso primeiro pensamento é o fato de que se a biblioteca é uma
unidade de informação especializada, os integrantes da equipe também podem
ser bibliotecários com diferentes formações. Os assistentes técnicos, muitas
vezes advindos de uma longa carreira servindo no setor por longos períodos,
possuem um conhecimento prático que às vezes, o bibliotecário ainda não
possui. E até outros servidores, que por terem tempo de trabalho no local,
consideram como seus o espaço da unidade. Nesse contexto, questiona-se:
Como a liderança do bibliotecário pode vislumbrar uma equipe efetiva e
saudável (FAQUETI, 2017), promovendo a cooperação entre os seus membros?
Nosso objetivo é pensar junto com o leitor pistas para favorecer a
autossuficiência e a saudável comunicação dos integrantes da equipe de uma
unidade de informação.
2 DESENVOLVIMENTO
Instaurar uma liderança efetiva é um desafio para o líder bibliotecário.
Antes de tudo é preciso conhecer as características pessoais de cada
funcionário que forma a equipe, como esse funcionário trabalha em grupo,
seus conhecimentos teóricos e técnicos. Até as habilidades e características
que às vezes podem não parecer relevantes para o trabalho em si, como
gostar de rapel, de viajar ou colecionar gibis, por exemplo. Tudo pode somar
nestes
tempos
Universitária.
de
transversalidade
Podemos
dizer
que,
a
que
antes
está
de
inserida
tudo,
antes
a
Biblioteca
mesmo
do
planejamento estratégico, de identificar seus usuários, de reconhecer seu
acervo, cabe ao bibliotecário identificar como a sua equipe interage com os
integrantes entre si e com ele mesmo (NUNES; CARVALHO, 2016). Salienta-se
que os integrantes da equipe são considerados os recursos humanos da
�155
unidade. E esse recurso é primordial para garantir o funcionamento e
desenvolvimento das atividades realizadas.
Muitas vezes, as habilidades de convívio entre os integrantes, a
facilidade para se adaptar às diferenças pessoais ou a habilidade de se
comunicar são preferíveis a um conhecimento técnico exacerbado. Por quê? A
técnica pode ser treinada, os conhecimentos podem ser adquiridos, contudo,
saber cooperar em equipe requer a instauração de
um processo de
comunicação eficaz, o que demanda um conhecimento elaborado. Uma
linguagem coerente entre os integrantes e com atitudes cordadas favorecem o
atendimento ao usuário e a realização dos trabalhos. Por isso, trabalhar em
equipe, segundo Faqueti (2017), é um elemento primordial no ambiente da
Biblioteca Universitária.
Ao adotar uma postura inteligente, o líder bibliotecário terá seu estilo
pessoal, pode ser um estilo mais autoritário ou mais colaborador, mas será
dele a capacidade de um comportamento mais flexível frente a sua equipe.
Uma capacidade de planejamento somada a uma equipe bem sincronizada
para trabalhar junto a ele fará com que o resultado seja mais efetivo e
inovador.
Quando você reconhece em sua equipe capacidades e habilidades, pode
pensar e repensar um planejamento mais coerente com os objetivos da sua
unidade, fazendo um planejamento consistente com os recursos disponíveis. E
a equipe torna-se o recurso primordial que o bibliotecário pode utilizar,
identificando suas competências, habilidades e necessidades de capacitação
para todos os integrantes.
A
liderança
do
bibliotecário,
sendo
uma
liderança
consciente
e
transformadora (O’DONNELL, 2010), é ponto pacífico em pesquisas na área,
cabendo-nos questionar as características de equipe mais produtiva em
Biblioteca Universitária, e essa característica produtiva se apresenta de forma
ampla. A curto, médio e longo prazo, quais as soluções mais eficazes para
atingir as metas pretendidas? E a qualidade do serviço ofertado pode variar de
acordo com determinada equipe? Podemos considerar a interação da equipe
�156
como arte, muito mais do que como uma técnica? Há algo a questionar e
discutir nesse quesito equipes cooperativas em BU? (FAQUETI, 2017).
Ocasionalmente, podemos passar por uma onda de desacerto pessoal,
mas
quando
um
indivíduo
é
cotidianamente
perturbador
no
trabalho,
precisamos pensar qual o ganho real para os projetos a serem desenvolvidos.
A atuação de alguns integrantes da equipe está interferindo no atendimento
aos usuários? Podemos optar ou não por manter esse indivíduo na equipe? Um
ou dois indivíduos podem comprometer recursos públicos ou empresariais em
prol de suas impossibilidades em trabalhar em grupo? Não sendo possível
encontrar meios da interação de todos da equipe, quais as estratégias o líder
pode utilizar? A missão e os valores da unidade sendo bem delimitados, com
metas claras em um Planejamento Estratégico, podem promover um trabalho
integrado?
Precisamos ter em mente nos nossos Planos Estratégicos em Biblioteca
Universitária, a atual necessidade de ter pessoas de diferentes capacidades na
equipe para atender uma sociedade cada vez mais complexa, a qual possui,
como consequência, usuários com demandas também mais complexas, o que
irá exigir a postura de um líder consciente e transformador, mas também uma
equipe acolhedora a novas aprendizagens e performances no trabalho em si.
Uma equipe que consegue ser funcional e cumpre metas, desfrutando de um
ambiente de trabalho agradável e produtivo, promovendo os vários tipos de
aprendizagem (FAQUETI, 2017).
3 CONCLUSÕES
Cabe ao líder, tomar para si a responsabilidade do desempenho dos
integrantes da sua equipe, responsabilizando-se quando a contratação ou
anuência ao receber uma pessoa em sua equipe que pode cooperar ou
comprometer todo o processo de trabalho. É necessário ter a capacidade em
identificar o perfil da pessoa a ser inserida na equipe, reconhecendo se o perfil
é o desejável para o planejamento da unidade e da própria equipe de trabalho.
�157
Com efeito, faz-se necessário esclarecer a responsabilidade da atuação final do
novo integrante. Faz parte das competências do bibliotecário reconhecer e
testar seus colaboradores, e quando a sua escolha é por uma liderança
compartilhada, a responsabilidade é de todo o grupo.
Então, desenvolver uma liderança consciente, em correspondência, uma
equipe cada vez mais autossuficiente é algo a se almejar. Exige-se do
bibliotecário um pensamento flexível para gerar novas ideias e soluções,
visando a integração de todas as pessoas envolvidas no processo. Significa
que, além de respeitar as singularidades individuais, necessita-se obter da
equipe a confiança necessária para os processos decisórios a serem acolhidos.
Há de se pensar em uma forma inclusiva, contudo, que abranja todo o
processo de gerenciamento da informação e dos objetivos da unidade a ser
gerenciada.
Há de se pensar em um Planejamento Estratégico sendo construído
conscientemente. Que ele seja avaliado pela equipe que vai protagonizá-lo e
não apenas pelo seu líder, o bibliotecário. Que a missão, objetivos e ações
sejam divulgados a todos os parceiros internos e externos da biblioteca. É
preciso ter atitudes que exigem muita comunicação e maturidade profissional.
Um desafio a ser partilhado por todos.
REFERÊNCIAS
CLEMENS, John. Liderança: o toque clássico. São Paulo: Best Seller, 1989.
MLODINOW, Leonard. Elástico: como o pensamento flexível pode mudar
nossas vidas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2018.
O'DONNELL, Ken. O espírito do líder: lidando com a incerteza permanente.
São Paulo: Integrare, 2010.
PERSPECTIVAS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Editorial. Perspectivas em
Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, jan./mar. 2016.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/2572>. Acesso em: 30
nov. 2018.
�158
PERSPECTIVAS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Editorial. Perspectivas em
Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 21, n. 4, out./dez. 2017.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/2699>. Acesso em: 30
nov. 2018.
PORTAL FEBAB. Liderança. 2018. Disponível em:
<https://www.portal.febab.org.br/anais/article/download/1508/1509>. Acesso
em: 28 nov. 2018.
RACHELS, James. Alguns pontos básicos sobre argumentos. In: RACHELS,
James; RACHELS, Stuart (Org.). A coisa certa a fazer: leituras básicas sobre
filosofia moral. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 32-40.
�159
CAPÍTULO X
CONSULTORIA EM ACERVOS DOCUMENTÁRIOS: RELATO DE
EXPERIÊNCIA EM UMA UNIVERSIDADE PRIVADA
Elaine Gregório
1 INTRODUÇÃO
A prestação de serviços vem ganhando forças no mundo moderno,
sobretudo à medida que as organizações perceberam as vantagens que podem
ser obtidas ao contratarem esse tipo de intervenção para realização das
atividades
organizacionais.
Essa
percepção
ganhou
força
diante
da
competitividade e da necessidade de poupar recursos, uma tendência do
mercado globalizado da atualidade.
A literatura de Administração é unânime ao valorizar a adoção de
estratégias que tornem as empresas mais competitivas. Para tanto, as
empresas adentram-se em um ciclo de redução de custos, gerenciando com
mais precisão o patrimônio organizacional (GONÇALVES, 1997). Visando
poupar custos, uma das medidas adotadas é a contratação de serviços que
visa, a priori, a redução de custos (BARROS, 2002).
Ao falar da prestação de serviços, uma pergunta fica no ar: esse tipo de
serviço pode ser realizado em bibliotecas? As unidades de informação, também
consideradas como organizações, podem contratar serviços bibliográficos,
tendo em vista adquirir vantagens com esse processo?
No que se refere aos profissionais que serão contratados, a literatura
vem desenvolvendo estudos no sentido de demonstrar que o bibliotecário pode
atuar no ramo da prestação de serviços, atendendo serviços dos mais
diferenciados e em diversas instituições. Estudo recente proferido por Santa
Anna e Pereira (2014, p. 169), por exemplo, destaca que aquele que atua na
prestação de serviços abre leque para a desvinculação do bibliotecário aos
�160
postos tradicionais de trabalho em bibliotecas. Desse modo, segundo os
autores mencionados, “[...] ao inserir-se em um mercado autônomo, rompemse os vínculos empregatícios e as responsabilidades do empregador para com o
empregado,
porém,
abrem-se
espaços
para
que
o
consultor
tenha
possibilidade de realizar novas conquistas, sendo mais dinâmico e inovador”.
A partir dessa questão, este estudo objetiva demonstrar, por meio de
relato de experiência, as vantagens adquiridas por uma biblioteca universitária
ao solicitar por meio de contrato provisório os serviços de tratamento e
organização de acervo bibliográfico. O relato narra os principais serviços
prestados pela equipe de bibliotecário-catalogadores contratados, assim como
apresenta as principais vantagens obtidas pela contratante ao viabilizar esse
tipo de serviço.
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS
A prática empreendedora do bibliotecário torna-se cada vez mais
comum, na atual sociedade, visto que esse profissional tem compreendido a
necessidade de ocupar outros ramos de atuação, que vão muito além dos
serviços prestados por meio dos vínculos empregatícios realizados nas
tradicionais bibliotecas físicas, com foco, principalmente, em serviços de
aquisição, organização e disseminação de acervos (SANTA ANNA; PEREIRA,
2014).
A sociedade da informação proporcionou o surgimento de práticas
inovadoras, as quais passam a ser assumidas por todos os profissionais, nas
mais diferentes áreas do saber. Para Romeiro (2014), nessa sociedade, as
organizações centram suas atenções nos clientes, tendo em vista oferecer a
informação de forma rápida, segura e que proporcione a satisfação das
necessidades dos utilizadores.
A autora considera que a gestão torna-se um ponto de grande
preocupação do bibliotecário, na atual sociedade da informação, pois “[...] o
usuário/cliente deseja conteúdos cada vez mais selecionados e prontos num
�161
curto espaço de tempo. Cabe então ao bibliotecário, desenvolver estratégias
para poupar o tempo do usuário/cliente como dizia uma das Leis de
Ranganathan”. A partir desse fundamento, os profissionais buscam sair da
“zona de conforto” (ROMEIRO, 2014, p. 3), de modo a ocupar postos de
trabalho que demandem serviços de organização e sistematização de acervos,
prestando serviços, sem necessariamente estarem vinculados unicamente a
uma organização, como proferido por Santa Anna e Pereira (2014).
A prestação de serviços informacionais torna-se, portanto, o novo
paradigma do bibliotecário. Isso tem se consolidado em virtude das mudanças
ocasionadas com a sociedade da informação, com o uso dos recursos digitais,
aumento da competitividade, dentre outros fatores (SANTA ANNA; PEREIRA;
CAMPOS, 2014).
No âmbito da prestação de serviços informacionais, existem diversos
campos que podem ser ocupados, pois o mercado da informação é amplo, o
que demanda estratégias de organização da informação para tomada de
decisões no mercado corporativo (SILVA, 2005).
No entanto, um dos segmentos com grande potencial perfaz a oferta de
serviços direcionados à organização dos acervos bibliográficos, prática comum
realizada
em
quaisquer
modalidades
de
bibliotecas,
destacando-se
as
bibliotecas universitárias, as quais visam a fomentar as atividades de ensino,
pesquisa e extensão (LEITÃO, 2005).
Nesse sentido, Rossi, Costa e Pinto (2014, p. 111) acreditam que a
sociedade da informação e do conhecimento está pautada na experiência e no
conhecimento e, utiliza a informação para gerar novos conhecimentos
agregados aos produtos e serviços. Logo, as bibliotecas universitárias investem
no aperfeiçoamento dos serviços prestados para qualificação dos acervos
dispostos a uso da comunidade universitária.
Na visão de Silva e Rados (2002, p. 198), ao contextualizarem a
interferência do mercado globalizado nas organizações, frisam que:
As empresas e instituições deparam-se com a necessidade de aumento
da eficiência e qualidade nos serviços, para serem competitivas. Isto é
evidente quando se observa nas organizações sobrecarga de trabalho,
erros, retrabalhos e falta de definição clara das funções e procedimentos
�162
de cada funcionário, bem como falta de informações nas empresas sobre
seus processos.
Os autores citados destacam que, atingimos um momento de profundas
mudanças e, por decorrência, inquietações, cujas reais necessidades do
homem e das organizações modificam-se com a explosão permanente dos
processos de mudança e com a constante inovação tecnológica. Tais mudanças
também atingem as bibliotecas, que colaboram com a educação e possibilitam
acesso às diferentes fontes de informação.
Assim, reforça-se o papel do bibliotecário na gestão dos acervos
documentários, de modo a facilitar as atividades acadêmicas de alunos,
professores e demais envolvidos com a educação demandada nas instituições
de ensino superior, sejam elas públicas ou privadas.
Nas bibliotecas universitárias, o papel dos bibliotecários na prestação de
serviços de informação é fundamental, pois estes profissionais têm
contato direto com os usuários podendo identificar e adequar os serviços
às necessidades individuais dos mesmos. Porém, para que os
bibliotecários possam prestar um serviço de informação adequado,
atendendo aos objetivos institucionais e às expectativas de seus
usuários, é preciso que eles tenham, ou que desenvolvam competências
específicas para cada tipo de serviço prestado com intuito de atender o
usuário de forma eficiente e eficaz (ROSSI; COSTA; PINTO, 2014, p.
111).
O desenvolvimento de competências e habilidades representa a maior
exigência do mercado da informação, de modo que o bibliotecário reinvente
constantemente os seus serviços, atraindo a atenção das organizações para
contratação de seus serviços (SILVA, 2013).
Assim, mediante a oferta de serviços de qualidade, os bibliotecários
podem formar equipes multiprofissionais, atuando como consultores, conforme
as necessidades das organizações. É por de espírito empreendedor, da
capacidade de atuar em equipe, e com capacidade inovadora que poderá
identificar essas necessidades e montar as equipes a atuarem de forma
autônoma em diferentes empresas e segmentos da sociedade (MILANO;
DAVOK, 2009).
Segundo essas autoras, o bibliotecário surge no segmento da prestação
de serviços em consultoria informacional atuando em sua área de formação e
auxiliando na transformação da informação em conhecimento. Para Rossi,
�163
Costa e Pinto (2014), a consultoria realizada nas bibliotecas universitárias
representa um campo tradicional como também inovador e potencial ao
profissional da informação, o que reforça, por um lado, a contribuição para a
organização que contrata os serviços, como também, a necessidade de
dinamismo, inovação e proatividade, elementos básicos para o sucesso do
profissional que atua na gestão e organização das bibliotecas acadêmicas.
3 RELATO DA EXPERIÊNCIA
A biblioteca para quem os bibliotecários-consultores prestaram serviços
de organização de acervos bibliográficos está vinculada a uma instituição de
ensino superior, pertencente ao ramo privado, sendo o câmpus central
localizado no município de Vitória, estado do Espírito Santo (ES). Com o
crescimento no número de matrículas e a demanda por novos cursos, a
instituição estruturou dois novos câmpi, localizados em municípios vizinhos,
pertencentes à região metropolitana: Cariacica e Villa Velha. Ambos os câmpi,
a priori, foram contemplados com dez cursos (quadro 1).
Quadro 1 – Novos cursos instalados em dois novos câmpi
CÂMPUS
CURSOS
CÂMPUS
Psicologia
Arquitetura
Engenharia Mecânica
Engenharia Civil
CARIACICA
VILA VELHA
Engenharia de Produção
Educação Física
Serviço Social
Ciências Contábeis
Administração
Pedagogia
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
CURSOS
Psicologia
Arquitetura
Engenharia Mecânica
Engenharia Civil
Engenharia Produção
Engenharia Química
Educação Física
Ciências Contábeis
Administração
Pedagogia
Logo, com a instituição desses câmpi e cursos, foram criadas duas novas
bibliotecas.
Para desenvolvimento do processamento técnico de cerca de 18.000
exemplares de livros que iriam atender a vinte cursos novos autorizados pelo
MEC e que seriam instituídos nesses dois novos câmpi, sendo a grade
curricular proposta para atender até o quarto período de cada curso, a
�164
instituição de ensino superior optou contratar profissionais formados, com e
sem experiência, para que pudessem prestar o serviço de atividades técnicas
na área de Biblioteconomia. A compra desse material ainda não foi
integralmente realizada. O processo será feito aos poucos, em etapas, sendo
que, no presente momento, foram adquiridos, apenas, 920 títulos, equivalendo
a 13.949 exemplares (primeira etapa).
O Grupo de Ensino, então, promoveu seleção de seis bibliotecários
(nessa primeira etapa) para atender a essa demanda por meio de contrato
temporário num período de quinze dias, sendo a carga horária de seis a oito
horas diárias. O trabalho foi coordenado por um bibliotecário da própria
instituição,
que
também
atuou
em
todas
as
etapas
das
atividades
desenvolvidas. As atividades se iniciaram em dois de agosto e foram
finalizadas em dezoito de setembro de 2014. O horário de trabalho foi
estabelecido para oito horas diárias com intervalo para almoço e lanche. As
atividades eram iniciadas de 7:00 da manhã as 21:30, intercalando de acordo
com o horário estabelecido via contrato.
3.1 DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
As atividades desenvolvidas contemplaram, de modo geral, ações
bibliotecárias de processamento técnico ou organização da informação, diluídas
em classificação, catalogação e indexação do material adquirido (livros).
Os livros eram entregues pelos fornecedores em caixas enviadas pelos
distribuidores e essas caixas eram abertas e separados os livros por títulos.
Esse serviço de separação dos itens, juntamente com as práticas de
etiquetagem dos livros e carimbos (após processamento técnico pelos
bibliotecários contratados) contou com o apoio de uma equipe de funcionários
da instituição, coordenada por auxiliares técnicos que supervisionavam essa
atividade de preparação dos livros, além dos bibliotecários da equipe
contratada que também desenvolviam essa atividade intercalando com as
atividades de tratamento bibliográfico.
�165
O contrato teve duração de quinze dias e nesse período foi inserido na
base do sistema para atender as duas novas unidades da instituição de ensino
um total de 436 títulos e 8.073 exemplares, divididos pelas seguintes áreas:
Generalidades, Filosofia, Religião, Ciências Sociais, Línguas, Ciências Puras,
Artes, Literatura, História e Geografia.
A classificação adotada na organização dos títulos no sistema foi a
Classificação Decimal de Dewey (CDD), também utilizada pela biblioteca
central. O sistema de gerenciamento foi o BiblioUp, software desenvolvido pela
empresa UpTech informática LTDA, na área de bibliotecas e centros de
documentação.
O Sistema Biblioup é responsável pelo gerenciamento da biblioteca, não
importando o tamanho da biblioteca e a simplicidade de uso do software. Ele
permite que tanto um bibliotecário profissional como qualquer auxiliar possa
utilizá-lo sem dificuldade. O Módulo de Biblioteca pode ser executado
independentemente do Módulo Acadêmico permitindo a aquisição apenas desse
módulo para bibliotecas (Informação verbal)18.
Não foi utilizada uma senha exclusiva para cada bibliotecário, pois não
era intenção da empresa verificar a produtividade individual de cada
bibliotecário e sim o cumprimento da atividade estabelecida.
O processo de cotação e compra foi feito por um bibliotecário e um
assistente técnico na área de Administração. O coordenador responsável por
cada curso enviou a lista dos títulos selecionados para atender as disciplinas do
primeiro ao quarto período de cada curso. Essa listagem dos títulos
requisitados para compra era enviada para três fornecedores distintos, em que
era optado quem fornecia melhor preço e condições de pagamento. Oitenta por
cento dos livros foram comprados com um único fornecedor que ofereceu
preço e condições de prazo. Vinte por cento restantes foi feito com os outros
dois fornecedores.
18
Notícia fornecida pela engenheira de computação, responsável pelo gerenciamento do
software Biblioup, durante treinamento realizado com os bibliotecários consultores, na data de
20 de outubro de 2014.
�166
O bibliotecário nessa fase responsável pela aquisição fazia a conferência
nos pedidos mediante análise de todos os títulos de acordo com as notas
fiscais que chegavam junto com os livros. As notas também eram enviadas via
e-mail e esse controle também era feito mediante planilha e do Projeto Político
Pedagógico (PPC) de cada curso em que a faculdade iria atender e apresentar
ao Ministério da Educação (MEC).
Foi destinado um dia para conhecimento do sistema e treinamentos dos
bibliotecários. O treinamento foi feito em apresentação geral do sistema e
demonstração das particularidades do software de biblioteca. Contudo, foi
focada apenas a área destinada ao cadastro de livros e impressão de etiquetas.
Após o treinamento os bibliotecários, foram instruídos a conhecer o sistema de
modo prático, cadastrando os títulos de forma minuciosa e gradativa. Foi
observado, nesta fase, que aqueles que tinham mais experiências nas
atividades de tratamento se sobrepunham aos outros e já estavam capazes de
sanar dúvidas, mesmo sem conhecer o sistema a fundo.
Na
primeira
semana
de
atividade
(período
de
28/08/2014
a
10/09/2014), foram cadastrados 153 títulos, num total de 3.639 exemplares.
Na segunda semana de atividade, foram cadastrados 289 títulos, num total de
4.434 exemplares. Esses dados comprovam que, na primeira semana de
atividade, os bibliotecários já apresentavam certo domínio para com o sistema,
bem como com todos os processos de classificação, indexação e catalogação.
O
processo
de
tratamento
intensificou-se
na
segunda
semana,
possibilitando constatar o crescimento de quase o dobro de livros inseridos na
base de cadastramento de títulos. Foi observado que os bibliotecários
desenvolveram agilidade e domínio, respeitando os procedimentos requeridos
na representação da informação e desencadeando um trabalho colaborativo,
competente e de qualidade.
�167
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da contratação temporária de bibliotecários para realizarem
serviços de tratamento de acervo bibliográfico, foi possível verificar inúmeros
benefícios alcançados pela instituição de ensino. Além do trabalho efetivo,
rápido e consistente realizado, observou-se que a biblioteca central não foi
prejudicada, uma vez que não precisou transferir bibliotecários e auxiliares do
corpo funcional para realizar o tratamento das novas coleções.
Com os benefícios alcançados, confirma-se a importância de empresas
contratarem consultores para tratamento de acervos, principalmente nos casos
de grandes demandas de material. Assim, os serviços rotineiros da unidade
não ficam prejudicados com o desfalque de pessoal. Por conseguinte, o
mercado da prestação de serviços torna-se um campo promissor para os
profissionais que desejam trabalhar de forma desvinculada.
As atividades realizadas pelos profissionais da informação em acervos
bibliográficos representam um segmento tradicional de atuação. Todavia, este
relato reforça a importância de os profissionais formarem equipes consultoras,
com profissionais qualificados ao exercício das atividades de organização dos
acervos,
além
de
criarem
estratégias
que
atraiam
a
atenção
dos
empregadores, haja vista fortalecer o marketing e o reconhecimento da equipe
junto ao mercado de trabalho.
REFERÊNCIAS
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Magdalena (Coord.). Manual de Gestão de Pessoas e Equipes: Estratégias
e Tendências. São Paulo: Gente, 2002.
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Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 37, n. 3, p. 10-19,
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<http://www.scielo.br/pdf/rae/v37n3/a03v37n3.pdf>. Acesso em: 19 set.
2013.
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LEITÃO, Bárbara. Avaliação qualitativa e quantitativa numa biblioteca
universitária: grupos de foco. Niterói: Intertexto, 2005.
MILANO, Manoelle Cristine Dalri; DAVOK, Delsi Fries. Consultor de informação:
serviços prestados Por empresas de consultoria nas áreas de Biblioteconomia e
gestão da informação. Revista ACB, Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 253-278,
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<https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/658/726>. Acesso em: 27 mar.
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ROMEIRO, Nathália Lima. A formação do bibliotecário empreendedor com
foco na gestão de serviços de informação. 2014. Disponível em:
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ROSSI, Tatiana; COSTA, Marília Damiani; PINTO, Costa Adilson Luiz.
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SANTA ANNA, Jorge; PEREIRA, Gleice. Ampliando o campo de atuação
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SILVA, Chirley Cristiane Mineiro da; RADOS, Gregório Jean Varvakis. Gestão de
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SILVA, Fabiano Couto Corrêa da. Bibliotecários especialistas: guia de
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bibliotecas universitárias brasileiras recém-criadas na região sul. 2013.
Disponível em: <https://portal.febab.org.br/anais/article/download/1640/1641
>. Acesso em: 01 dez. 2018.
�169
CAPÍTULO XI
O TRABALHO BIBLIOTECÁRIO EM CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DE UM
HOSPITAL PRIVADO
Igor de Souza Bento
1 INTRODUÇÃO
No mundo moderno, o bibliotecário está acostumado a limitar seus
ambientes de trabalho a bibliotecas, mas a literatura da área deixa claro que o
profissional da informação está apto a atuar em outros espaços de informação,
como, por exemplo, nos mais diversos centros de documentação.
De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), o
bibliotecário é considerado, por excelência, como profissional da informação,
podendo ele
[...] trabalhar em bibliotecas e centros de documentação e
informação na administração pública e privada, nas mais variadas
atividades do governo, do comércio, da indústria e dos serviços, com
predominância nas áreas de educação e pesquisa. Pode ser um
trabalhador assalariado, com carteira assinada ou como autônomo,
trabalhar de forma individual ou em equipe e executar suas funções
tanto de forma presencial como a distância (MTE/CBO, 2002, não
paginado, grifo nosso).
Fica claro que o bibliotecário possui competências para atuar em várias
áreas, pois a Biblioteconomia é interdisciplinar, estando em sintonia com
diversos campos do conhecimento; logo, o bibliotecário não se deve ater a
bibliotecas como seu único meio de atuação.
Ao adquirir novas experiências, o bibliotecário inova na realização de
suas atividades, ampliando, assim, sua atuação em ambientes que extrapolam
os limites físicos da biblioteca (SANTA ANNA; GREGÓRIO; GERLIN, 2014).
Nesse contexto de ir além do ambiente tradicional, urge o que se denomina na
literatura de desinstitucionalização da informação, que, no caso específico do
bibliotecário, temos a formação de um profissional capaz de atuar em outros
�170
contextos que demandem tratamento, organização e oferta de informação a
diferentes
usuários
e
instituições.
Na
verdade,
esse
contexto
desinstitucionalizado propicia novas possibilidades ao profissional do futuro,
como discorrido no estudo de Lancaster (1983).
A
partir
dessa
oportunidade,
muitos
estudos
convergem
uma
aproximação cada vez maior da Biblioteconomia com o empreendedorismo.
Conforme descrito no Portal do Bibliotecário (2018), o empreendedorismo está
disseminado e se coloca como atividade fundamental para a geração de
riquezas, promovendo o crescimento econômico e aprimorando as condições
de vida da população, aparecendo ainda como importante fator de geração de
emprego e renda.
Ainda, conforme esse portal, o bibliotecário assume o perfil de gestor e
de empreendedor, toda vez que consegue promover serviços inovadores, que
vão muito além dos serviços e produtos tradicionais, ofertados em bibliotecas.
Assim, empreendedor é o termo utilizado para qualificar, ou especificar,
principalmente, aquele indivíduo que detém uma forma especial, inovadora, de
se
dedicar
às
atividades
de
organização,
administração
e
execução,
principalmente na geração de riquezas, na transformação de conhecimentos e
bens em novos produtos – mercadorias ou serviços, gerando um novo método
com o seu próprio conhecimento. É o profissional inovador que modifica, com
sua forma de agir, qualquer área do conhecimento humano (PORTAL DO
BIBLIOTECÁRIO, 2018).
Segundo Silva (2005), o bibliotecário adquire o perfil de empreendedor,
uma vez que a sociedade da informação possibilitou a oferta de informação em
diferentes contextos. Assim, é errôneo considerar que esse profissional atue
apenas nas bibliotecas. Ao contrário, existe uma gama de segmentos que
podem ser identificados pelo profissional e que, mediante reconhecimento das
organizações, o bibliotecário poderá exercer atividades que contribuem com a
tomada de decisões e com os serviços específicos do local que presta as suas
atividades profissionais.
Dentre os diversos segmentos de atuação, pode-se citar os chamados
centros de documentação, os quais são considerados verdadeiras bibliotecas
�171
especializadas, podendo abranger as áreas de ciência e tecnologia, como
outros segmentos empresariais (LEMOS, 2008). Dentre os vários centros de
documentação, assim categorizados pelas empresas mantenedoras, existentes
no Brasil, destacam-se os centros de documentação hospitalares.
Esses centros caracterizam-se, de modo geral, como espaços reservados
para armazenar, tratar, recuperar e disseminar as informações produzidas nos
serviços médicos (prontuários), de modo a facilitar o trabalho dos profissionais
da saúde que ali atuam. Por possuir semelhanças com outros centros de
documentação inseridos em empresas, entendemos que o bibliotecário poderá
atuar no gerenciamento da informação existente no meio hospitalar.
A atuação do bibliotecário em centros de documentação, sobretudo os
empresarias, é uma temática que ganhou força nos últimos anos. No que se
refere à atuação do bibliotecário no contexto hospitalar, algumas pesquisas
também sinalizam a presença desse profissional no campo da saúde
(BERAQUET; CIOL, 2010).
Assim, este relato de experiência objetiva divulgar as principais
atividades e serviços bibliotecários realizados e requeridos em um centro de
documentação, vinculado a um hospital particular.
Serão descritos no relato, os principais serviços biblioteconômicos
realizados com os documentos gerados na instituição hospitalar, o fluxo da
informação documental, e as técnicas de tratamento, armazenamento e
disseminação da informação.
De acordo com a realidade vivenciada, reflete-se acerca da necessidade
e importância de se contratar bibliotecário, haja vista garantir resultados
satisfatórios e excelência nos serviços prestados pelo setor. Ao final,
apresentam-se os pontos positivos e negativos oriundos com a experiência,
recomendando ações que possam acarretar melhoria em toda a ambiência do
centro de documentação.
�172
2 BREVES CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
O bibliotecário vem ampliando seus ramos de atuação, especificamente
com o surgimento da sociedade da informação. A ampliação dos suportes de
informação, aliado à valorização da informação como elemento estratégico
para tomada de decisões e inovação nas empresas são fatores essenciais que
permitem a construção de novas possibilidades de trabalho ao profissional
(LANCASTER, 1983).
Borges (2004) reforça que é preciso reconhecer as dificuldades ou
problemas vivenciados pelas organizações e, a partir disso, estabelecer planos
de oferta de trabalho, de modo que o profissional seja reconhecido por suas
potencialidades e possa contribuir, de alguma forma, para a resolução dos
problemas que permeiam o cotidiano das instituições.
O mercado de trabalho para bibliotecários é abrangente, sobretudo na
atualidade, com o valor atribuído ao recurso informação. Assim, entende-se
que esse profissional está habilitado a ocupar espaços de trabalho de
diferentes empresas, nos mais diferenciados segmentos produtivos. Portanto,
ele pode oferecer seus serviços na esfera pública quanto na privada ou no
terceiro setor (ONG’s), atuando em quaisquer dos setores econômicos
(agricultura, indústria ou serviços) ou ainda como autônomo (FIGUEIREDO;
SOUZA, 2007).
A ampliação quanto aos segmentos de atuação profissional é justificada
pelo fato de o profissional voltar sua prática “[...] ao tratamento, organização
e disseminação da informação, insumo este que se encontra em qualquer
instituição e que vem ganhando cada vez maior importância e valor para a
sobrevivência da [organização] no mercado [...]” (FIGUEIREDO; SOUZA, 2007,
p. 15, grifo nosso).
Biraquet e Ciol (2010) reforçam o potencial do bibliotecário nas unidades
hospitalares, em que tal profissional pode exercer funções no âmbito da
organização de documentos gerados com as atividades organizacionais (tais
como as funções exercidas nos centros de documentação hospitalar, ou em
arquivos especializados de clínicas), como também pode trabalhar diretamente
�173
com profissionais, como médicos e enfermeiros, haja vista contribuir com a
recuperação dos pacientes.
A Biblioteconomia tem que sair da biblioteca e das demais “caixas” onde
é exercida e ir, de uma vez por todas, para onde está seu cliente. Este
bibliotecário que está sendo vislumbrado no Brasil, mesmo não sendo
ainda um bibliotecário clínico, está construindo e abrindo caminhos
(BIRAQUET; CIOL, 2010, p. 127).
Assim, diante do contexto inovador, em que pese o fortalecimento de
uma prática empreendedora por parte do bibliotecário, alguns estudos
publicados nos últimos anos têm considerado a importância do bibliotecário ao
atuar nos centros de documentos dos hospitais. A participação do profissional
nessas unidades é de suma importância, pois facilita o trabalho da equipe
médica com o tratamento dos pacientes, na descrição de medicamentos,
dentre outras contribuições originadas à medida que se sistematiza e gerencia
os documentos gerados para cada diagnóstico em específico (BIRAQUET; CIOL,
2010, PIRES; RIBEIRO; KLEBERSSON, 2013).
Segundo Pires, Ribeiro e Klebersson (2013), os bibliotecários que atuam
em centros de documentação hospitalares precisam estar capacitados a
gerenciar informações que sejam de importância para a área clinica,
participando diretamente no tratamento do paciente. Assim,
[...] os bibliotecários clínicos atuam na eficiência da Informação
requisitada pela equipe clínica, tornando dessa forma a mesma de fácil
compreensão, acessível e disponível no momento em que é solicitada. A
mediação da informação prestada coloca esses profissionais como
membros da equipe médica, já que serão esses profissionais que
coletaram
Informações,
com
base
em
evidências
científicas
comprovadas, a melhor solução em tratamento de cura para o paciente
em questão.
A partir do estudo desenvolvido pelos autores supracitados, ficou
reforçado que a Biblioteconomia Clínica ressalta-se como mais uma área em
maximização
desses
profissionais
(bibliotecários)
aptos
a
tratarem
a
informação como fator de tomada de decisão, sendo, dessa forma, uma
profissão de diversificação profissional.
Essa diversificação é característica da área biblioteconômica, logo, um
perfil híbrido é almejado, no intento de que novos postos de trabalho possam
ser ocupados pelos profissionais, garantindo, desse modo, uma maior
�174
aproximação da prática empreendedora com as atividades bibliotecárias
(SANTA ANNA; PEREIRA, 2014).
3 RELATO DA EXPERIÊNCIA
Esta experiência teve duração de seis meses, com início em setembro de
2014 e com término em março de 2015. Os serviços foram estabelecidos por
meio de contrato pré-estipulado, com aviso antecipado que não haveria
renovação de contrato.
O centro de documentação, no qual foi realizada esta experiência, está
vinculado a um hospital privado de grande porte, situado em município
pertencente à região metropolitana. O hospital reúne em sua infraestrutura 74
leitos de apartamento de enfermaria; 95 leitos de apartamento individual; seis
leitos de UTI infantil; 18 leitos de neonatal; 32 leitos de UTI geral de adulto;
noves leitos de UTI coronariana; dois leitos de isolamento; cinco leitos de
Centro de Tratamento de Queimados (CTQ); consultórios médicos; laboratório
de análises clínicas e laboratório de análises patológicas. A unidade hospitalar
possui capacidade para atender mensalmente 18 mil pacientes. O corpo
funcional do hospital é composto por 1000 colaboradores, estando dividido em
diferentes setores que se encarregam de atividades adversas como: recursos
humanos,
almoxarifado,
tesouraria,
enfermarias,
consultórios,
copa,
manutenção e um centro de documentação.
O centro de documentação, também denominado pela instituição de
serviço de arquivo médico e estatístico (SAME), está situado no subsolo da
instituição
hospitalar,
sendo
dividido
em
três
repartições:
a
sala
de
recebimento dos prontuários médicos, denominada como SAME temporário, o
arquivo local do hospital intitulado SAME externo e um arquivo externo que se
encontra em um espaço alugado fora dos limites do hospital, pois o interno
não comporta a demanda da instituição.
Trabalham nesse centro cinco colaboradores, sendo: um coordenador,
três administradores e um gestor de sistemas e estatística. O referido setor
�175
possui
em
seu
corpo
de
funcionários
um
profissional
graduado
em
Biblioteconomia, no entanto está contratado como coordenador de setor.
No que se refere aos serviços realizados no referido centro de
documentação, destaca-se que no primeiro setor é realizado o tratamento da
informação, ou seja, o prontuário é recebido, organizado, analisado e
despachado para o arquivo local; o segundo setor tem a finalidade de guarda e
preservação do prontuário; já o terceiro exerce a mesma função do segundo.
O primeiro procedimento do tratamento da informação é o recebimento;
os prontuários são enviados ao SAME pelo setor de faturamento; eles chegam
em lotes, divididos por convênio e setor de internação. No ato de recebimento
é realizada a conferência dos documentos, e então, esses são lançados em
armários identificados como recebimento um, dois e três. Esse lançamento é
feito de forma eletrônica em um software integrado do hospital.
O segundo procedimento a ser realizado é a organização e análise dos
prontuários médicos, sendo eles organizados de forma hierárquica, e assim
que organizados eles passam por um ato de checagem, em que um
profissional
analisa
as
assinaturas
dos
atendentes
do
paciente.
Esses
atendentes englobam médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas,
dentre outros. Se for constatada pendência de assinatura nos prontuários, eles
são retirados dos armários de recebimento e lançados nos armários de análise.
Em seguida, os profissionais que deixaram pendências nos prontuários
são informados via e-mail, sendo ele enviado ao profissional e com cópia para
o seu coordenador e para o diretor do SAME. Assim que informada a
pendência, o profissional que a fez vai ao SAME, a fim de corrigi-la; quando
corrigidas as pendências, os prontuários são liberados para serem arquivados.
O terceiro procedimento consiste em colocar os prontuários em pastas e
lançá-los nos armários rolantes no SAME externo. Se, por algum motivo, esse
se encontrar lotado, os prontuários são lançados em caixas e enviados ao
espaço alugado fora dos limites do hospital.
No SAME, também é realizado o serviço de atendimento ao usuário, cujo
paciente e o setor jurídico do hospital podem ter acesso à cópia de
�176
prontuários, e os médicos têm o direito de visualizar os prontuários, mas não
podem, em nenhuma hipótese, fazer qualquer alteração no documento.
Todos esses processos se dão pela necessidade de se criar um método
de rastreamento dos prontuários, em que é necessário criar um registro de
mapeamento, para que os documentos possam ser recuperados, caso eles
sejam solicitados para cópia ou visualização.
A partir da vivência no SAME, analisando os procedimentos adotados
para organização, controle e recuperação dos prontuários gerados a partir da
atividade médica, é possível elencar alguns pontos positivos como negativos.
Em
linhas
gerais,
destacam-se
como
pontos
fortes
os
recursos
tecnológicos, o feedback por meio de indicadores, a criação de procedimento
operacional padrão (POPs) para a realização das atividades do setor, e, por
fim, um espaço físico adequado para desempenho das atividades.
No que se refere aos pontos fracos destaque especial pode ser conferido
à perda de informações pertinentes, por falta de conhecimento sobre a
importância da informação, pouco engajamento no exercício das atividades,
degradação física do ambiente de trabalho, falta de inovações e projetos que
acarretam na escassez de recursos financeiros para o setor. Além desses
pontos negativos, soma-se a causa/origem desses problemas que é a falta de
contratação de um bibliotecário que possa agir com suas competências e
habilidades no gerenciamento da informação produzida e na gestão de todo o
espaço informacional.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da experiência relatada, pode-se concluir que é notável a
necessidade de um profissional da informação para atuar nos centros de
documentação hospitalares, pois os serviços prestados no SAME são os
mesmos serviços que o bibliotecário recebe capacitação para realizar durante
toda sua formação acadêmica, desde a organização da informação até o
atendimento ao usuário. Tornam-se claro os prejuízos acometidos ao hospital,
�177
pelo fato de não possuir um profissional da informação legalizado e registrado,
pois o profissional coordenador do centro de documentação, em muitas vezes,
se torna omisso e menospreza, em alguns casos, suas próprias habilidades e
competências.
Conforme a literatura mencionada, o profissional da informação está
habilitado a atuar em ambientes de informação hospitalar, pois ele possui uma
visão diferenciada quando se trata do tratamento da informação, e no mais,
para criar políticas e projetos de inovação para esses setores, que, por falta da
contratação, reconhecimento e valorização desse profissional, esses setores
acabam sendo postos em últimos planos pelos investidores das instituições,
pois se não há bibliotecário, não há projetos, logo não haverá disponibilização
de verba para esses setores.
Por fim, é importante reforçar o potencial do bibliotecário ao atuar nos
centros de documentação hospitalar, em parceria com a equipe médica, de
modo que os diagnósticos de pacientes possam ser realizados com mais
segurança
e
confiabilidade.
Para
tanto,
é
preciso
que
bibliotecários
proporcionem estratégias de visibilidade do trabalho que pode ser oferecido
nas unidades hospitalares, por um lado, e, por outro, que essas instituições
deem o devido valor, oferecendo recursos que possibilitem uma efetiva
atuação bibliotecária.
REFERÊNCIAS
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não tradicionais: o campo da saúde. Tendências da Pesquisa Brasileira em
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Disponível
em:<http://inseer.ibict.br/ancib/index.php/tpbci/article/view/31/76>. Acesso
em: 10 mar. 2015.
BORGES, Maria Alice Guimarães. O profissional da informação: somatório de
formações, competência e habilidades. In: BAPTISTA, Sofia Galvão; MUELLER,
Suzana Pinheiro Machado (Org.). Profissional da informação: o espaço de
trabalho. Brasília: Thesaurus, 2004. p. 55-69.
�178
FIGUEIREDO, Marco Aurélio Castro de; SOUZA, Renato Rocha. Aspectos
profissionais do bibliotecário. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de
Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, n. 24, p. 10-31, 2007.
Disponível em:
<http://www.brapci.inf.br/_repositorio/2010/09/pdf_4f47718632_0011961.pdf
>. Acesso em: 01 dez. 2018.
LANCASTER, Frederik. Future librarianship: preparing for an unconvencional
career. Wilson Library Bulletin, v. 57, p. 747-53, maio 1983.
LEMOS, Agernor Briquet de. Bibliotecas. In: CAMPELLO, Bernadete; CALDEIRA,
Paulo da Terra. Introdução às fontes de informação. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. CBO, 2002. Disponível em:<
http://www.mtecbo.gov.br/buscaResultado.asp?tituloavancado=bibliotec%E1ri
o&S ubmit=+Procurar+&familias=1&ocupacoes=1&sinonimos=1> Acesso em:
25 mar. 2015.
PIRES, Nazaré; RIBEIRO, Célia Pereira; KLEBERSSON, Mayco.
Biblioteconomia clínica: espaço de atuação emergente para o bibliotecário
no século XXI. 2013. Disponível em: <http://mba.eci.ufmg.br/sitenovo/wpcontent/uploads/Biblioteconomia-clinica-Pires-et-al.pdf>. Acesso em: 01 dez.
2018.
PORTAL DO BIBLIOTECÁRIO. O bibliotecário empreendedor: pensando fora
da biblioteca. 2018. Disponível em:
<http://portaldobibliotecario.com/bibliotecario/o-bibliotecario-empreendedorpensando-fora-da-biblioteca/>. Acesso em: 01 dez. 2018.
SANTA ANNA, Jorge; GREGÓRIO, Elaine; GERLIN, Meri Nadia. Atuação
bibliotecária além da biblioteca: o espaço de leitura do Hospital Universitário
Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM). Revista ACB, Florianópolis, v. 19, n. 1,
p. 77-88, jan./jun. 2014.
SANTA ANNA, Jorge; PEREIRA, Gleice. Ampliando o campo de atuação
bibliotecária: o bibliotecário como consultor informacional. Revista ACB:
Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 19, n. 2, p. 163-173,
jul./dez. 2014. Disponível em:
<http://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/95 6/pdf_96>. Acesso em: 28
mar. 2018.
SILVA, Fabiano Couto Corrêa da. Bibliotecários especialistas: guia de
especialidades e recursos informacionais. Brasília, DF: Thesaurus, 2005.
�179
PARTE IV
Ações bibliotecárias
inovadoras e
incentivadoras como
contribuição para o
profissional e para a
sociedade
�180
CAPÍTULO XII
CRESCIMENTO PROFISSIONAL POR MEIO DO MAGISTÉRIO: RELATO DE
EXPERIÊNCIA EM DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA EM BIBLIOTECONOMIA
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A Biblioteconomia é uma profissão relativamente nova. No entanto, as
práticas bibliotecárias datam de tempos imemoriais, desde os primórdios da
civilização quando esses tiveram a necessidade de registrar suas práticas, sua
historicidade, seus costumes e suas tendências, objetivando garantir a
perpetuação do conhecimento às gerações futuras.
Devido
a
sua
interação
com
a
preservação
e
disseminação
do
conhecimento, a Biblioteconomia estende seus serviços a todas as áreas do
conhecimento. É graças a seu poder de integração inter e multidisciplinar que
ela adapta-se a diferentes épocas e contextos, tornando-se uma profissão
primordial e necessária ao crescimento das demais ciências existentes.
Assim, destaca-se a fala de Ortega Y Gasset (2006, p. 67) ao proferir
que “[...] essa profissão [a Biblioteconomia] é uma das mais importantes que
se pode imaginar”. Devido a seu amplo campo de atuação, a Biblioteconomia
encanta. Encanta, principalmente àqueles que se colocam a serviço da
disseminação da informação e geração de conhecimentos, no intento de
concretizar uma sociedade democrática e cidadã.
Conforme relatado por Andrade (1976, p. 36, grifo nosso), “[...] isso é a
grandeza admirável da Biblioteconomia! Ela torna perfeitamente acháveis os
livros como os seres, e alimpa a escolha dos estudiosos de toda suja
confusão. Este o seu mérito grave e primeiro [...]”.
Sendo assim, quem se gradua em Biblioteconomia coloca-se a serviço da
sociedade, podendo atuar em diferentes instâncias do mercado. Coloca-se a
�181
serviço da sociedade, também, aqueles que se dedicam ao exercício da
docência, que, por meio do método estabelecido por Paulo Freire, criam uma
relação recíproca com os aprendizes, de modo que a prática docente consolidase em meio ao “ensinar aprendendo”.
Nesse contexto, este relato objetiva expor as principais atividades
desenvolvidas por bibliotecário, referente ao segundo semestre de 2014,
lecionando a disciplina Formação e Desenvolvimento de Coleções, vinculada ao
Departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). O referido professor/bibliotecário foi selecionado por meio de Processo
Seletivo
realizado
pelo
Departamento
de
Biblioteconomia
da
referida
universidade e iniciou as atividades docentes no dia 27 de agosto de 2014.
Como fio condutor das atividades a serem desenvolvidas, foi aproveitado
o Plano de Disciplina dos semestres anteriores, considerando-se a consistência
e metodologia delineada no plano. Foram realizadas apenas pequenas
inserções no programa, após aprovação da Câmara Departamental, referente a
novas bibliografias a serem utilizadas.
Obedecendo ao calendário acadêmico da UFES, as aulas foram realizadas
de 27 de agosto a três de dezembro, sendo oferecidas, nas quartas e sextasfeiras, das 20 às 22 horas, conforme plano de horários definidos pelo
Departamento. Quanto ao número de discentes, em um primeiro momento,
estavam matriculados na disciplina, 28 alunos, sendo ampliado para 31 após o
processamento da segunda etapa de matrícula.
Também foi solicitada a autorização junto ao professor para abertura de
escopo para três alunos do curso de Arquivologia, o que foi oficialmente
autorizado e concretizado. Após processamento de matrículas, a turma esteve
composta por 34 discentes.
�182
2
BREVES
CONSIDERAÇÕES
TEÓRICAS
SOBRE
O
EXERCÍCIO
DA
DOCÊNCIA
O exercício da docência constitui um dos fazeres mais estratégicos e
provocativos no que se refere à aquisição/ampliação de conhecimento. O ato
de ensinar requer a preparação prévia do docente, mediante ao estudo e
pesquisa que o capacite ao domínio específico de determinada temática ou
área do conhecimento, viabilizando o processo de produção de conhecimento
individual.
Contudo, é louvável e ainda mais produtivo, aquele que conduz seus
métodos de ensino por meio da filosofia do ensinar aprendendo. Além de
produzir conhecimento individual e transmiti-lo ao alunado, o docente, nessa
concepção, ao mesmo tempo que ensina, também recebe conhecimentos do
alunado, firmando um processo educativo recíproco e interativo, com vistas a
despertar uma produção coletiva de conhecimento.
A sala de aula transforma-se em um ambiente de socialização, atuando o
docente como mediador que conduz as atividades mútuas de ensinoaprendizagem. Essa proposta de ensino revoluciona ou refuta a forma de
educação empregada de forma centralizada na figura do professor como centro
das atenções, caracterizando um processo de alienação (FREIRE, 2006).
As propostas freireanas consideram a incompletude do ser humano, logo,
o professor também está em constante aprendizado. Essa incompletude é
justificada, porque é “[...] impossível saber-se incabado e não se abrir ao
mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas
perguntas” (FREIRE, 2006, p. 136). Assim, o professor é o personagem que
ensina e aprende ao mesmo tempo.
Mantendo uma relação pacífica e conjunta com o alunado, trocando com
eles informação, o professor capacita-os a adquirir competências e habilidades
essenciais para resolver problemas rotineiros presentes nas relações sociais,
como, ter capacidade em comunicar-se, tomar decisões, fundamentar suas
ideias, enfim, relacionar-se socialmente.
�183
O objetivo de formar alunos críticos, seguros e participativos, tendo em
vista concretizar seus objetivos de vida na sociedade deve ser uma das
preocupações dos professores da sociedade atual. Isso porque, segundo
Behrens (1999 apud RODRIGUES, 2010, p. 148, grifo nosso), “a sociedade
passa a exigir profissionais que tenham capacidade de tomar decisões, que
sejam autônomos, que produzam com iniciativa própria, que saibam
trabalhar em grupo, que partilhem suas conquistas e que estejam em
constante formação”.
A fim de atingir conhecimento e formar indivíduos transformadores é
preciso, também, que o professor adote métodos que incentive os discentes ao
hábito da pesquisa. Ensinar por meio da pesquisa desperta nos aprendizes o
espírito investigativo e inovador. Assim, segundo Piaget et al. (1974, p. 18,
grifo nosso), o verdadeiro professor é aquele que “[...] deixa de ser apenas um
conferencista e estimule a pesquisa e esforço, em lugar de contentar-se em
transmitir os problemas já solucionados”.
Mesmo cientes da importância do processo de pesquisa na educação
superior, muitos desafios ainda perfazem a consolidação dessa prática, pois a
pesquisa tem sido ensinada de uma maneira ineficiente, e, possivelmente com
algum
efeito
colateral
negativo.
Considera-se
importante
introduzir
o
estudante no processo real de conduzir pesquisa e não apenas em ler sobre o
assunto (WITTER, 1987).
3 ATIVIDADE DOCENTE: ENSINANDO E APRENDENDO
A disciplina Formação e Desenvolvimento de Coleções aborda assuntos
necessários à prática bibliotecária em unidades de informação, sejam elas
físicas ou digitais. Especificamente, essa disciplina viabiliza aos discentes a
possibilidade de conhecerem as estratégias para formar e desenvolver com
qualidade as coleções bibliográficas.
Assim, a disciplina, indiretamente, relaciona-se com as demais disciplinas
do curso, sobretudo, àquelas ligadas à organização e disseminação da
�184
informação, tendo em vista, concretizar cientificamente a gestão das coleções
que são incorporadas aos acervos das unidades de informação.
As atividades realizadas em sala de aula foram das mais variadas,
contemplando desde leitura de artigos e livros que abordam o processo de
formação e desenvolvimento de coleções, até visitas técnicas e pesquisas de
campo. Não resta dúvida de que a leitura da bibliografia básica representou
uma das maiores exigências da disciplina, acompanhada também da leitura de
artigos científicos publicados em revistas da Ciência da Informação, na qual
retratam temas correlatos à Gestão das Coleções.
Como estratégia de motivação da leitura textual, adotaram-se estudos
dirigidos, trabalhos em grupos e seminários circulares. As atividades de
pesquisa foram utilizadas como estratégia para desenvolver a competência
informacional nos discentes, além do espírito crítico em argumentar as ideias.
Assim, questões problematizadoras eram levantadas e os discentes eram
motivados
a encontrar
soluções científicas,
no
intuito
de
tornarem-se
capacitados a gerenciar processos e tomar decisões, atividades fins atreladas
ao processo de formar e desenvolver coleções.
A relação teoria-prática também foi essencial nessa disciplina, visto que
seu objetivo é capacitar os alunos para assumir com competência a gerência
de unidades de informação. Para tanto, consolidaram-se as visitas técnicas,
sendo uma realizada no setor de Aquisição da Biblioteca Central (BC) e outra
realizada no setor de Desbastamento (baixa demanda) da mesma unidade.
Visando aprimorar as atividades práticas, foram realizados estudos de
campo, em diferentes modalidades de bibliotecas, com vista a visualizar na
prática como os processos recomendados pela literatura eram concretizados no
âmbito
real.
Como
procedimentos
de
ensino,
foram
utilizados:
aulas
expositivas, orientações individuais e em grupo, análise e discussão de
trabalhos, estudos de casos, análise de políticas de desenvolvimento de
coleções e apresentação de seminário.
Quanto às atividades discentes, destacam-se as principais: leitura,
discussão e redação de textos, visitas técnicas, prova escrita, seminários,
estudo dirigido e exercícios (questões objetivas). No que se refere às
�185
tecnologias e recursos didáticos, citam-se como principais recursos: lousa e
giz, projetor multimídia, laboratório de informática, filmes, vídeos e textos
científicos.
Quanto ao processo avaliativo, conforme expresso no programa da
disciplina, foram utilizados os seguintes critérios: domínio cognitivo (85% da
classificação final): avaliou as capacidades de raciocínio e organização de
conhecimentos por meio de testes somativos sobre os conteúdos ministrados e
trabalhos escritos; domínio das atitudes e valores (10% da classificação
final): avaliou a situação do aluno no processo de ensino-aprendizagem
mediante à assiduidade e pontualidade (nível de assiduidade e pontualidade
nas aulas), empenho e motivação (nas atividades letivas solicitadas),
comportamento e relação com os outros (adequação do aluno às regras de
funcionamento das atividades letivas e respeito aos colegas e professor);
domínio das Aptidões/Capacidades (5% da classificação final): avaliou a
aplicação dos conhecimentos por meio da expressão escrita e oral (integração
dos conteúdos no discurso e rigor de terminologia escrita e oral) e autonomia
na aprendizagem (capacidade de iniciativa, aplicação dos conteúdos a novas
situações). Além desses parâmetros, durante as aulas, os discentes eram
monitorados, motivados a participar, a pesquisar, por conseguinte, esses
pormenores constituíram atribuição de pontos a serem somados na média
final.
É importante enfatizar que, a avaliação dos alunos considerou o
desenvolvimento do aprendizado durante toda a disciplina, baseando-se na
troca coletiva, mas individualizando cada aluno em suas experiências prévias e
sua construção de conhecimento.
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O exercício da docência voluntária agregou valor na capacitação do
docente/bibliotecário
voluntário
ao
viabilizar
o
compartilhamento
de
�186
conhecimentos, reciprocamente com os discentes da disciplina e demais
docentes do Curso de Biblioteconomia da UFES.
Evidenciou-se que o conhecimento adquirido coletivamente contribuiu no
crescimento de ambas as partes, tanto do docente quanto do alunado. Como
prova dos esforços despendidos em sala de aula de ambas as partes e como
resultado dessa experiência, as discussões em sala permitiram a escrita de um
artigo, de cunho teórico, sobre o processo de formação e desenvolvimento de
coleções, que foi apresentado no 18.º Seminário de Bibliotecas Universitárias,
que aconteceu em Belo Horizonte.
Após o processo avaliativo, realizado no final da disciplina, pôde-se
constatar que as atividades conduzidas ao longo da disciplina atingiram seus
reais objetivos, conferindo aos discentes novos valores e conhecimentos a
serem inseridos na prática quando forem atuar profissionalmente no mercado.
Confirma-se, assim, que o processo de aprendizado foi alcançado,
agregando valor na vida profissional dos alunos, bem como aprimorar as
experiências e vivências, de modo a torná-los mais capacitados, competentes e
habilidosos
a
resolverem
os
constantes
desafios
ocorridos
na
prática
profissional.
No que tange ao aprendizado adquirido pelo professor-bibliotecário,
constata-se a ampliação de conhecimento, uma vez que o método utilizado
pautou-se nas propostas freireanas, em que o conhecimento deve ser
socializado de forma dialógica, integrada, democrática e recíproca.
A relação dialógica firmada com os alunos permitiu a (re)construção de
valores e de opiniões por parte do conhecimento prévio dominado pelo
docente-bibliotecário. A experiência vivenciada nessa docência voluntária
contribuiu para o crescimento profissional do docente-bibliotecário, sobretudo
no que se refere à atuação em consultoria informacional, ramo principal
exercido pelo referido docente no mercado de trabalho.
Constata-se a assimilação acerca das teorias que fundamentam o
processo de formação e desenvolvimento de coleções, bem como os
pormenores que envolvem essa prática bibliotecária. A contextualização dos
assuntos abordados na disciplina foi fundamental para formar diálogos sobre
�187
os novos campos de atuação que o bibliotecário pode ocupar, ao se tornar um
profissional
híbrido,
com
capacidade
argumentativa
e
munido
de
conhecimentos para tomar decisões, reconhecendo suas potencialidades, a fim
de transformar desafios em oportunidades.
Assim, evidencia-se, por meio deste relato, a necessidade dos docentes
universitários ampliarem a forma de ensinar, em que um ensino técnico
precisa ser substituído por uma forma de ensinar contextualizada. Os futuros
profissionais precisam de um ensino que os estimule a utilizarem os
conhecimentos adquiridos para melhoria de vida das pessoas e essa melhoria é
alcançada mediante a intervenção do profissional.
Por meio deste relato, é possível perceber que o ensino pela pesquisa,
juntamente com a filosofia freireana, despertou inúmeras condutas ao alunado,
como: empenho, participação intensa, motivação, interesse e interação. Como
consequência desses fatos, os alunos demonstraram, por meio da avaliação,
satisfação quanto ao método adotado e a aquisição de novas condutas,
necessárias para transformá-los em profissionais capacitados a defender suas
crenças, valores e atitudes em face das relações sociais.
Essas são algumas das características fundamentais do profissional do
futuro, em frente a uma sociedade mutante e desafiadora. Os resultados
comprovam
que
o
ensino
pela
pesquisa
e
a
construção
coletiva
do
conhecimento são estratégias pedagógicas viáveis, haja vista alcançar o
processo de ensino-aprendizagem. No contexto da Biblioteconomia, infere-se
que esse método é ainda mais necessário, em virtude de envolver uma das
áreas de atuação desse profissional: o ramo da pesquisa, da busca e
recuperação de fontes de informação.
O
método
freireano
também
é
fundamental
ao
ensino
da
Biblioteconomia, em virtude da importância de se motivar ou estimular os
futuros profissionais a ocuparem os diversos segmentos de mercado que lhe
podem
ser
atribuídos.
Portanto,
ensinar
pela
pesquisa
e
compartilhar
conhecimento em sala de aula, como também, nas relações profissionais,
representa o primeiro passo para a construção de um novo perfil do
bibliotecário, caracterizado, principalmente, pela tendência empreendedora.
�188
Portanto, que atitudes inovadoras iniciem-se na própria sala de aula, por
meio da ação docente, a qual, se trabalhada de forma estimulante e
incentivadora, é possível que os futuros profissionais sejam encorajados a
assumir
compromissos
mais
complexos,
tornando
suas
ações
como
transformadoras da realidade e permitindo um melhor aproveitamento da
atividade bibliotecária no amplo mercado da informação.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Mario. Os filhos da Candinha. São Paulo: Martins, 1976.
ORTEGA Y GASSET, José. Missão do bibliotecário. Brasília: Briquet de
Lemos, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica
educativa. 33. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
PIAGET et al. Educar para o futuro. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1974.
RODRIGUES, Mara Eliane Fonseca. A abordagem do ensino com pesquisa: uma
alternativa pedagógica para o ensino de Biblioteconomia e Ciência da
Informação. TransInformação, Campinas, v. 22, n. 2, p. 147-167, maio/ago.
2010. Disponível em:
<http://periodicos.puccampinas.edu.br/seer/index.php/transinfo/article/view/4
92/472>. Acesso em: 12 mar. 2015.
WITTER, Geraldina Porto. O ensino de metodologia científica em
Biblioteconomia: algumas considerações. Ciência da Informação, Brasília, v.
16, n. 2, p. 145-49, jul./dez. 1987.
�189
CAPÍTULO XIII
PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE USUÁRIOS PARA O
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS INFORMACIONAIS NA UFMG:
UMA EXPERIÊNCIA INOVADORA ENTRE A BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
E A ESCOLA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Beatriz Valadares Cendón
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
1 INTRODUÇÃO
Visando
compartilhar
algumas
experiências
de
formação
de
competências informacionais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
este trabalho apresenta a metodologia utilizada no Programa Pró-Multiplicar da
Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) na
UFMG e em disciplinas do Curso de Graduação em Biblioteconomia da Escola
de Ciência da Informação. O estudo aborda uma experiência entre a Biblioteca
Universitária da UFMG e a Escola Ciência da Informação
universidade.
A
Biblioteca
Universitária
coordena
da mesma
tecnicamente
as
25
bibliotecas da UFMG, formando o Sistema de Bibliotecas Universitárias (BUSB/UFMG).
As experiências abordadas neste trabalho lidam com o desenvolvimento
de um dos aspectos da competência informacional que é o domínio do
conhecimento sobre a busca e recuperação da informação, particularmente da
utilização de fontes de informação científica como as bases de dados de texto
completo, referenciais ou de imagens. Apesar da indiscutível necessidade e
importância desse conhecimento, várias pesquisas, nacionais e internacionais,
bem como repetidas observações de profissionais da informação em suas
atividades de apoio à capacitação, demonstram que os usuários de bases de
dados possuem dificuldades na formulação de estratégias de busca, no uso de
�190
operadores
booleanos,
no
entendimento
conceitual
dos
sistemas
de
recuperação de informação e na diferenciação do conteúdo dos vários sistemas
(CONNAWAY; DICKEY, 2010; GUERRERO, 2009; HERNÁNDEZ SERRANO;
FUENTES
AGUSTÍ,
2011;
KOROBILI;
MALLIARI;
ZAPOUNIDOU,
2011;
MALLIARI; KOROBILI; ZAPOUNIDOU, 2011).
As
experiências
apresentadas
neste
trabalho
são
consideradas
experiências bem-sucedidas. O Programa Pró-Multiplicar foi concebido devido
ao reconhecimento pela Capes de deficiências na capacitação do usuário do
Portal de Periódicos. O Programa tinha como objetivo capacitar estudantes de
Pós-Graduação, portanto usuários finais, para se tornarem instrutores do uso
de recursos do Portal Capes. Esses alunos dominam o conteúdo de suas áreas
e são motivados para o uso do Portal pela necessidade do acompanhamento
atualizado da literatura científica mundial para o desenvolvimento de suas
pesquisas e de seus trabalhos acadêmicos. O desafio do Programa PróMultiplicar
era
Biblioteconomia
tornar
e
esses
Ciência
da
usuários,
sem
Informação,
formação
instrutores
específica
capacitados
em
para
transmitir não só o conhecimento sobre as diversas bases de dados,
referenciais ou de texto completo, bem como conceitos e técnicas sobre
sistemas de recuperação da informação (SRIs), estratégias e recursos de
busca.
Já na disciplina “Sistemas de Recuperação da Informação” do Curso de
Graduação em Biblioteconomia, os alunos serão futuros profissionais da
informação. Para esse grupo de alunos, um dos grandes desafios para o uso
das fontes internacionais de informação científica é a falta de domínio da
língua inglesa, idioma predominante nessas fontes. Além do conteúdo dos
registros, os manuais de uso e a documentação dessas fontes com as quais os
alunos
idealmente
devem
adquirir
familiaridade,
são
frequentemente
apresentados em idioma inglês. Entretanto, o conhecimento e o aprendizado
do uso das fontes de informação científica são imprescindíveis para a atuação
do bibliotecário, seja como mediador do uso dos SRIs, como orientador dos
usuários finais ou como instrutor em programas de capacitação de usuários.
�191
Em ambas as experiências, um fator imprescindível para o sucesso foi a
parceria entre a Escola de Ciência da Informação e a Biblioteca Universitária e
a colaboração dos bibliotecários do Sistema de Bibliotecas da UFMG. As
experiências relatadas no presente trabalho diferenciam-se pelo público a que
se destinam os treinamentos, que por apresentarem perfis e necessidades
específicas, trazem desafios diferentes.
2 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
A competência informacional tem sido discutida por diversos grupos,
principalmente
nos
Estados
Unidos,
porém
o
assunto
ainda
é
pouco
considerado na literatura e em iniciativas no Brasil (HATSCHBACH, 2002),
surgindo somente a partir do início dos anos 2000.
Em artigo publicado em 2003, Dudziak (2003, p. 24) afirmava que a
information literacy” ainda era um termo pouco explorado, não possuindo uma
tradução para a língua portuguesa. “[...] Algumas expressões possíveis seriam
alfabetização
informacional,
letramento,
literacia,
fluência
informacional,
competência em informação”.
Segundo
Campello
(2003),
a
expressão
“information
literacy”
foi
mencionada pela primeira vez no país por Sônia Caregnato19 no ano 2000, que
a traduziu como “alfabetização informacional”. No ano 2002, Campello, em
trabalho publicado na perspectiva da biblioteca escolar, traduz o termo
“information literacy” para competência informacional (CAMPELLO, 2006),
embora afirmasse que o termo ainda estivesse em construção (CAMPELLO,
2003).
Gasque (2012) aponta que no Brasil, a literatura em Ciência da
Informação trata muitas vezes o termo competência (saber fazer, habilidade)
como sinônimo de “letramento informacional”. Para essa autora, o letramento
19
CAREGNATO, S. E. O desenvolvimento de habilidades informacionais: o papel das
bibliotecas universitárias no contexto da informação digital em rede. Revista de
Biblioteconomia & Comunicação, Porto Alegre, v. 8, p. 47-55, 2000.
�192
informacional é um conceito flexível, que pode ser discutido e ampliado e que
no presente trabalho é tratado como competência informacional, definido
como:
[...] um processo de aprendizagem que favorece o aprender a aprender,
visto que engloba conceitos, procedimentos e atitudes que permitem ao
indivíduo identificar a necessidade de informação e delimitá-la, buscar e
selecionar informação em vários canais e fontes de informação, bem
como estruturar e comunicar a informação, considerando os seus
aspectos éticos, econômicos e sociais (GASQUE, 2012, p. 46).
Os precursores da competência informacional no país seriam os
bibliotecários que desenvolvem estudos na área de educação de usuários
(DUDZIAK, 2003). Além de Caregnato, primeira a mencionar o termo
competência informacional no país, merecem destaque como primeiros estudos
sobre competência informacional os trabalhos de Belluzzo (2001) que enfatiza
o caráter multidisciplinar do assunto, sendo abordado na área de Ciência da
Informação, Engenharia de Produção, Educação e outras; Dudziak, em 2001,
ao traçar uma trajetória histórica da competência informacional no exterior; e
Campello com trabalhos publicados no âmbito da biblioteca escolar nos anos
de 2003, 2006 e 2010 (SANTOS, 2011). Falando sob o ponto de vista dos
bibliotecários,
Campello
(2006)
aponta
que,
embora
os
pesquisadores
brasileiros trabalhem em diferentes perspectivas, eles têm em mente a
percepção de ser o momento oportuno para ampliar a função pedagógica da
biblioteca e de repensar o papel do bibliotecário como agente no processo da
competência informacional.
Nos últimos anos, tem-se notado um crescimento grande do número de
publicações sobre a competência informacional no país, chamando a atenção
de bibliotecários e cientistas da informação. Esse fato foi constatado na
dissertação apresentada por Santos (2011) a partir de uma análise realizada
nos periódicos de Ciência da Informação e trabalhos de Pós-Graduação strictu
sensu defendidos e publicados a partir do ano 2000. Corroborando essa
afirmação, Almeida, F. (2014) identificou 13 grupos de pesquisa no Brasil com
atuação direta ou com alguma de suas linhas de pesquisa voltadas para a área
de
competência
informacional.
Esses
dados
podem
ser
reflexos
do
�193
fortalecimento da área no país e em consequência disso, um aumento no
número de publicações sobre essa temática.
Quadro 1- Grupos de pesquisa sobre competência informacional no Brasil
Grupo
Líder
Competência em Informação –
UNB
Elmira Luzia Melo Soares
Simeão
Aurora Cuevas Cerveró
Ciência da Informação
Competência em Informação:
suas múltiplas relações – UEL
Linete Bartalo
Ciência da Informação
Competência Informacional
GPCIn – UFSC
Elizete Vieira Vitorino
Ana Claudia Perpetuo
Oliveira da Silva
-
Comportamento e competência
informacionais – UNESP
Comunicação
Científica
em
Saúde Pública – USP
Comunicação
e
Divulgação
Científicas – IBICT
Educação
científica
e
tecnológica
na
formação
profissional - IF-Catarinense
Área predominante
de
Ciência da Informação
Helen de Castro Silva Casarin
Ciência da Informação
Angela Maria Belloni Cuenca
Helene Mariko Ueno
Saúde Coletiva
Lena Vania Ribeiro Pinheiro
Ciência da Informação
Sirlei de Fátima Albino
Marouva Fallgatter Faqueti
Educação
Estudos
de
informação
e
avaliação
em
ciência
e
tecnologia e saúde – FIOCRUZ
Gestão da Informação e do
Conhecimento – UFMG
Grupo
de
Pesquisa
em
Informação – GPINFO
Grupo de Pesquisas e Estudos
em
Representação
do
Conhecimento e Tecnologias
da Informação e Comunicação
(GPERTIC) – UFS
Maria
Cristina
Soares
Guimarães
Eduardo Vieira Martins
Ricardo Rodrigues Barbosa
Marta Macedo Kerr Pinheiro
Gisela Eggert Steindel
Divino Ignacio Ribeiro Junior
Fabiano Ferreira de Castro
Ciência da Informação
Informação, Conhecimento
Inteligência Organizacional
UNESP
Marta Lígia Pomin Valentim
Daniela Pereira dos Reis de
Almeida
Ciência da Informação
e
–
Núcleo
de
Tecnologias
e
Luiz Roberto de Oliveira
Educação a Distância em
Lidia Eugenia Cavalcante
Saúde – NUTEDS – UFC
Fonte: (ALMEIDA, F., 2014, p. 33).
Ciência da Informação
Ciência da Informação
Ciência da Informação
Medicina
Apesar do crescimento do número de publicações e pesquisadores que
tratam do tema da competência informacional, de acordo com Gasque (2012),
houve um grande aumento de pesquisas, mas poucas as ações voltadas para a
formação de pessoas capacitadas em lidar com informação, representando
ainda um problema para o cenário brasileiro. Gasque (2008) admite que, no
Brasil, as discussões sobre
a competência informacional precisam ser
�194
intensificadas, tanto na educação básica quanto no ensino superior. De acordo
com essa autora, parece haver pouca preocupação em sistematizar um
programa de aprendizagem, com conteúdos de busca e uso da informação
integrado aos conteúdos e extensivo tanto a professores e alunos. Almeida, M.
(2014) ainda complementa as afirmações de Gasque (2008) ao considerar que
as pesquisas e estudos sobre a aplicação prática, políticas e implementação de
programas
de
desenvolvimento
de
competências
informacionais
nos
estudantes universitários brasileiros ainda são incipientes, sendo muito
importante que o sistema brasileiro de educação superior invista esforços para
que a formação em competências informacionais tenha presença garantida no
currículo acadêmico.
Para que se consiga superar o desafio do desenvolvimento das
competências informacionais na educação superior, os projetos e programas
em torno da competência informacional devem ser incluídos no currículo das
instituições de ensino superior e trabalhados de forma colaborativa e integrada
entre professores e bibliotecários de maneira que os alunos sejam “[...]
capazes de reconhecer o que eles precisam realizar, determinar se um
computador irá ajudá-los fazer, e, em seguida, ser capaz de usar o
computador como parte do processo de realizar sua tarefa” (EISENBERG;
DOUG, 2002, não paginado, tradução nossa).
Dessa forma, a função da biblioteca universitária que desempenha um
papel importante na formação acadêmica também se altera, indo além do
apoio instrumental às atividades de ensino e pesquisa, contribuindo para a
formação da competência informacional.
3 O PROGRAMA PRÓ-MULTIPLICAR NA UFMG
O Programa Pró-Multiplicar foi uma iniciativa da Capes, atualmente
descontinuado, que visava capacitar alunos bolsistas de Doutorado ou
Mestrado da Capes em instituições credenciadas pelo Portal para atuar como
�195
monitores e multiplicadores na divulgação e instrução sobre o uso do Portal de
Periódicos junto aos seus colegas de Graduação e Pós-Graduação.
Criado em 2008, o Programa foi implantado nas universidades do país,
tendo a UFMG aderido ao mesmo em 2010. De acordo com a Portaria que
instituiu o Pró-Multiplicar na UFMG, o programa tinha os seguintes objetivos
específicos:
a) incentivar os alunos e pesquisadores da instituição a utilizarem os
recursos do Portal na sua plenitude;
b) disseminar nas diversas áreas do conhecimento o uso do Portal nas
instituições participantes;
c) incentivar a utilização dos diversos recursos eletrônicos disponíveis no
portal de Periódicos e editores, facilitando, assim, o uso do mesmo pelos
grupos de pesquisa nas instituições; e
d) possibilitar que as instituições possuam alunos e profissionais [com]
“expertise” nos recursos do Portal de Periódicos nas diversas áreas do
conhecimento com o compromisso de disseminar informação e
promover treinamentos periódicos da comunidade acadêmica discente
(BRASIL, 2009).
A UFMG, por meio da Biblioteca Universitária que coordena tecnicamente
o Sistema de Bibliotecas (BU-SB/UFMG), já possuía, mesmo anteriormente à
sua adesão ao Pró-Multiplicar, a prática de oferecimento de cursos e
treinamentos sobre o uso do Portal para a comunidade acadêmica. Conforme
Cendón e Costa (2013, p.178),
para melhor atender à comunidade, a diretoria da BU-SB/UFMG criou,
em dezembro de 2009, o Setor de Apoio aos Usuários do Portal de
Periódicos da CAPES na UFMG, com o objetivo de cuidar do atendimento
ao usuário, aumentar a visibilidade do Portal e oferecer, para usuários e
bibliotecários, de forma contínua, programas de capacitação sobre a
utilização dos recursos disponíveis.
Nesse sentido, o Programa Pró-Multiplicar veio, portanto, ao encontro
das iniciativas existentes, fortalecendo e ampliando as práticas já adotadas no
sentido da capacitação do usuário e do aumento do uso do Portal.
O planejamento, desenvolvimento e implantação do Programa PróMultiplicar na UFMG seguiram as orientações fornecidas na Portaria da Capes
nº 144, de outubro de 2009, e contou com o trabalho em conjunto da BUSB/UFMG, Escola Ciência da Informação, Pró-reitora de Pós-Graduação e
Pesquisa, para que o programa atingisse os objetivos propostos. Assim, uma
�196
metodologia
visando
atividades,
cronogramas
e
programação
foram
desenvolvidas para a implementação do Programa Pró-Multiplicar na UFMG,
conforme quadro 2.
Quadro 2 - Planejamento para a formação dos multiplicadores
1º ETAPA – PLANEJAMENTO PARA A FORMAÇÃO DOS MULTIPLICADORES
Reuniões dos coordenadores do programa na UFMG
Reuniões entre coordenadores do programa na UFMG, Pró-Reitor de Pós-Graduação,
Diretores da Escola de Ciência da Informação e Biblioteca Universitária.
Convocação e seleção dos bolsistas multiplicadores
Carta inicial de convocação, dirigida a todos os programas de Pós-Graduação da instituição,
foi emitida pelo Pró-Reitor de Pós-Graduação.
Recebimento e gerenciamento das inscrições
Gerenciadas pelos bibliotecários do Setor de Apoio aos Usuários do Portal de Periódicos da
CAPES na Biblioteca Universitária, que mantiveram controle do número de inscritos, dos
seus programas de origem, das áreas do conhecimento a que pertenciam e dos demais
dados.
Atividades de divulgação no Boletim da UFMG e no Site da Biblioteca Universitária
Iniciou-se a publicação de matérias de divulgação nas mídias da UFMG.
Definição da infraestrutura laboratorial e de Internet
Com a previsão inicial do número esperado de inscrições no programa, percebeu-se que
seriam necessários para o treinamento quatro laboratórios. A Escola de Ciência da
Informação disponibilizou três Laboratórios. A Biblioteca Universitária disponibilizou a sua
sala de treinamentos. Todos contavam com aparelho de projeção multimídia e
computadores conectados à internet para alunos e professores.
Recursos Humanos da instituição para apoio ao programa
Para as diversas etapas, envolvendo desde a divulgação até as etapas de treinamento, o
Programa contou com uma equipe da UFMG, sendo: coordenadores do programa, um
técnico de informática disponível para o programa, um fotógrafo, uma jornalista, um
operador de audiovisual, para a gravação e transmissão dos treinamentos, um assistente
em administração e bibliotecários do SB/UFMG.
Fonte: Adaptado de Cendón e Costa (2013, p. 180-183).
É necessário ressaltar que, embora o presente trabalho focalize mais na
metodologia de treinamento dos multiplicadores, a qual será apresentada a
seguir, a implementação do programa na UFMG foi uma atividade complexa
que envolveu vários setores da Escola de Ciência da Informação, a Biblioteca
Universitária, além de outros setores competentes da UFMG. Exemplos das
atividades que fizeram parte do programa foram a transmissão das aulas via
internet para alunos remotos, sinalização do prédio onde foram ministradas as
aulas, divulgações do Programa no Boletim da UFMG, criação de site para o
projeto, gravação das aulas em DVDs, criação de pôsteres e folders com a
programação do evento e comunicações da Pró-Reitoria de Pós-Graduação com
os Programas de Pós-Graduação. Em conjunto, todas essas atividades, as
quais
são
descritas
detalhadamente
em
artigo
submetido
à
revista
�197
Perspectivas em Ciência da Informação, contribuíram para o sucesso do
programa.
4 A METODOLOGIA DO PROCESSO DE MULTIPLICAÇÃO
Na primeira etapa do programa, os multiplicadores, divididos em três
áreas do conhecimento, bem como bibliotecários dos sistemas de bibliotecas
da UFMG receberam, de técnicos da Capes e de representantes das editoras
presentes no Portal, 24 horas de treinamento e orientações sobre o Programa
Pró-Multiplicar, sobre o uso do Portal de Periódicos da Capes e das diversas
bases de dados. De posse dessa informação, os multiplicadores deveriam
repassar o treinamento recebido para outros usuários na instituição.
Com base no conteúdo ministrado pela Capes e pelas editoras e na lista
de alunos multiplicadores e bibliotecários participantes, elaborou-se um
calendário de aulas sobre o uso das bases de dados de cada uma das três
grandes áreas de conhecimento. Esse calendário previa aulas diárias, de
agosto até dezembro de 2010, designava o multiplicador responsável por cada
uma das aulas, bem como as datas em que se dariam os treinamentos
ministrados por eles e o horário e duração das aulas. A cada aluno
multiplicador foi designada uma base de dados, a qual ele deveria estudar em
profundidade. E lhe foram atribuídas duas aulas sobre essa base de dados.
Esse cronograma de aulas a serem ministradas pelos multiplicadores foi
anunciado globalmente na UFMG, podendo qualquer pessoa se inscrever, o que
dava ao aluno multiplicador um maior senso de sua responsabilidade quanto à
sua preparação e ao domínio do conhecimento a ser ministrado.
A metodologia adotada procurou garantir condições para que os
multiplicadores se preparassem adequadamente e se sentissem confiantes,
bem como responsáveis quanto ao conteúdo a eles atribuído, um cuidado que
foi fundamental para o sucesso das aulas. Na distribuição de encargos aos
alunos multiplicadores, buscou-se, realisticamente, atribuir tarefas factíveis e
compatíveis com os demais compromissos e demandas exigidas de um aluno
�198
de Pós-Graduação pelos seus cursos. Na definição do conteúdo a ser
ministrado pelos multiplicadores, considerou-se ainda o fato de que eles não
tinham formação na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação e que
haviam recebido, em apenas três dias, 24 horas de treinamento, com uma
grande sobrecarga cognitiva.
Para garantir a possibilidade de domínio, pelo aluno multiplicador, do
conteúdo a ele designado e, consequentemente, a qualidade dos treinamentos
que eles realizariam, utilizou-se como estratégia a definição de apenas uma
base de dados (ou um pequeno conjunto caso elas fossem muito simples ou
semelhantes) a qual o multiplicador deveria estudar dando-lhe condições assim
de conhecê-la a fundo e sentir-se seguro para ministrar o treinamento.
Preferencialmente, procurou-se alocar bases da área de conhecimento à
qual o aluno pertencia. Definiu-se ainda, para cada base de dados, um
bibliotecário em cada unidade para dar suporte aos alunos multiplicadores na
preparação das suas aulas e do material didático a ser utilizado.
Com a mesma preocupação, e com a autorização da Capes e das
editoras, as aulas ministradas pelos instrutores aos multiplicadores, no
treinamento inicial, foram filmadas e posteriormente editadas e gravadas em
DVDs. Esses foram disponibilizados para os multiplicadores, na Biblioteca
Universitária. Após consulta aos representantes das editoras, foi dada ao
multiplicador permissão para fazer cópias desses DVDs para seu estudo. O
multiplicador foi também informado sobre a existência de outros materiais
instrucionais disponíveis no site do Portal e da possibilidade de contato direto
com os representantes das editoras em caso de dúvidas.
A opção pela designação de apenas duas aulas para cada multiplicador
considerou os seus demais encargos e visou a concentração dos seus esforços
em um domínio mais restrito de conhecimento para possibilitar maior
segurança.
No último dia do treinamento dos alunos multiplicadores, todos os
participantes do treinamento foram reunidos para os esclarecimentos iniciais,
de como se daria o processo de multiplicação. Nessa reunião, dúvidas foram
esclarecidas bem como sugestões foram apresentadas pelos participantes
�199
havendo também oportunidade para aqueles que não se sentiram à vontade
com o conteúdo a eles designados de solicitarem alterações.
Quando, a partir de 20 de agosto de 2010, foram ministrados os
treinamentos
pelos
alunos
multiplicadores
formados,
a
metodologia
desenvolvida mostrou-se eficaz visto que, apesar de os alunos multiplicadores
não terem formação específica na área de Ciência da Informação ou em
Biblioteconomia, na avaliação realizada com eles, percebeu-se satisfação por
parte da maioria. Nessa avaliação, perguntou-se: 1) Como você avalia o
treinamento ministrado pelo aluno/colega multiplicador do programa? 2) Avalie
o local de realização do treinamento. 3) Avalie o conteúdo repassado no
treinamento. 4) Avalie a carga horária do treinamento. 5) Você já possuía
algum conhecimento da base apresentada? 6) Você teria condições de repassar
o conhecimento aprendido? 7) Apresente sugestões para os treinamentos
ministrados no Programa Pró-Multiplicar. Apesar dos alunos multiplicadores
não terem formação específica na área de ciência da informação, 98% dos
alunos treinados os consideraram excelentes ou bons como instrutores, e 97%
consideraram o conteúdo recebido excelente ou bom.
Após o encerramento e avaliação das atividades do Programa PróMultiplicar na UFMG, considera-se ter-se alcançado com sucesso os objetivos
pretendidos. Foram treinados, pelos instrutores da Capes e das editoras
presentes no Portal, 43 alunos multiplicadores e 17 bibliotecários que deram
suporte ao Programa. Após o treinamento pelos instrutores da Capes, os
alunos multiplicadores, por sua vez, realizaram 72 treinamentos para 293
alunos de Graduação e Pós-Graduação, conforme gráfico 1.
Gráfico 1 – Total de pessoas treinadas
Pró-Multiplicar
Total de pessoas treinadas - 2010
4
46
82
Fonte: Cendón e Costa (2013, p. 187).
70
91
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
�200
Os gráficos a seguir mostram o resultado da avaliação sendo que, das
293 pessoas treinadas, 211 responderam ao questionário, sendo que 72%
consideraram os treinamentos excelentes. Observa-se, para essas questões, a
predominância da opção excelente que foi escolhida em cerca de 70% das
respostas. Ainda é importante notar que, dos respondentes, 76% afirmaram
que seriam capazes de retransmitir o treinamento recebido, conforme o gráfico
2, o que demonstra a boa assimilação.
Gráfico 2 – Condição de repassar o conhecimento
Condição de repassar conhecimnto
Sim
Não
Não informado
1%
23%
76%
Fonte: Cendón e Costa (2012, p. 26).
No que se refere aos alunos que receberam o treinamento dos alunos
multiplicadores, eles consideraram o repasse dos conhecimentos em sua
maioria como excelente, conforme gráfico 3.
Gráfico 3 – Conteúdo repassado
Conteúdo repassado
3%
Excelente
Bom
Regular
30%
67%
Fonte: Cendón e Costa (2012, p. 26).
�201
Registrou-se uma satisfação um pouco menor com a carga horária dos
treinamentos (apenas 32% a consideraram excelentes) e as respostas à
questão de número 7 da avaliação, qualitativa, que pedia sugestões para o
Programa, confirmam o desejo dos alunos que as aulas fossem mais longas e
mais aprofundadas. As respostas também indicam a necessidade de maior
divulgação do Portal e do conteúdo e uso de suas bases, já que 68% dos
respondentes
informaram
não
ter
conhecimento
prévio
do
conteúdo
ministrado.
A questão aberta elicitou ainda comentários dos usuários treinados que
indicam a demanda por material didático de suporte para as aulas, de maior
carga horária para exercícios práticos, e até mesmo de inserção do
treinamento
na
grade
curricular,
tornando-o
obrigatório
para
os
pós-
graduandos, o que demonstra o interesse do público-alvo pelo Portal e o valor
que eles perceberam no treinamento recebido. Abaixo, apresentam-se alguns
dos comentários dos usuários treinados pelo Pró-Multiplicar, os quais se
caracterizam como exemplos de sugestões apresentadas:
Aumentar a carga horária dos treinamentos (comentário feito pelos
alunos que receberam o treinamento das bases Mary Ann Lieberty,
SciFinder, BioOne e Optics InfoBase; Wilson Web e SpringerLink,
EndNote Web e Derwent Innovations Index, Science e Annual Reviews, e
ainda o treinamento geral sobre o Portal Capes);
Treinamento mais aprofundado e detalhado em cada uma das bases de
dados disponibilizadas pela Capes voltado para alunos de Pós-Graduação
da universidade (comentário feito por aluno que recebeu treinamento
sobre uso da Web of Science;
Treinamentos nos turnos da manhã, tarde e noite;
Maior divulgação;
Criar treinamento sobre seleção de palavras-chave, orientação sobre
normas para uso de palavras-chave. (comentário de aluno que recebeu
treinamento da base Emerald FullText);
Criar treinamentos voltados para assuntos de pesquisa, de Mestrado ou
Doutorado de cada um;
�202
Tornar o treinamento obrigatório aos alunos de Mestrado e Doutorado
(comentário
feito
por
aluno
que
recebeu
treinamento
na
base
Compendex);
Inserção do treinamento na grade curricular.
5 A DISCIPLINA SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Nesta seção, será relatada a metodologia adotada na parte prática da
disciplina “Sistemas de Recuperação da Informação”. Se as disciplinas sobre
esse assunto serviram de base para a criação da metodologia adotada no PróMultiplicar, a experiência adquirida no Programa também influenciou os
próximos oferecimentos da disciplina. Com base na metodologia desenvolvida
no Programa Pró-Multiplicar, para o ensino do uso de bases de dados na
disciplina buscou-se a parceria com a Biblioteca Universitária. Da mesma
forma que no Pró-Multiplicar procurou-se garantir condições para que os
alunos, ao mesmo tempo em que lhe eram atribuídas responsabilidades pelo
seu próprio aprendizado e pelo de seus colegas, sentissem que teriam o apoio
necessário para estarem confiantes quanto ao conteúdo a eles designado.
A disciplina consistia de uma parte teórica sobre sistemas de recuperação
da informação e de uma parte prática em que os alunos analisavam e
avaliavam um SRI com relação à sua organização e representação da
informação, recursos de busca, especificidades, serviços ao usuário, entre
outros aspectos abordados. Para a parte prática, adotou-se, da mesma forma
que no Programa Pró-Multiplicar, a restrição do material a ser trabalhado
privilegiando-se a profundidade e domínio do aprendizado ao invés da
amplitude do leque de bases a serem aprendidas. Os alunos fizeram
apresentações para os colegas e com tempo suficiente para uma explanação
detalhada e interativa da base e com aplicação de exercícios práticos e
avaliação.
Na
busca
da
parceria
com
a
Biblioteca
Universitária,
que
foi
indispensável, houve a preocupação de não sobrecarregar os bibliotecários que
�203
estavam colaborando com a disciplina. As bases de dados selecionadas foram
sugeridas pelos próprios bibliotecários, de acordo com as suas experiências e
competências, procurando minimizar a ampliação de suas tarefas. Por
sugestão deles, buscou-se, também, nessa seleção, representar as várias
áreas de conhecimento. Por questão de uniformidade, todas as bases deveriam
ser referenciais, textuais, bibliográficas e terem um tesauro. A exigência do
tesauro teve por objetivo garantir formulação de buscas complexas e o
aprendizado do uso de um vocabulário controlado. As bases selecionadas
foram:
SocINDEX (Ciências Sociais Aplicadas);
Educational Resources Information Center - ERIC (Ciências Humanas);
Library and Information Science Abstract - LISA (Ciências Sociais
Aplicadas);
Inspec (Ciências Exatas);
Compendex (Engenharias);
Derwent Innovations Index (Multidisciplinar).
A cada grupo de alunos, composto de quatro a seis integrantes foi
designada uma dessas bases de dados do Portal Capes e um bibliotecário para
apoiá-los
na
sua
aprendizagem.
Cada
grupo
deveria
preparar
três
apresentações, ao longo do semestre, com conteúdo adequado ao material
apresentado em sala de aula. A primeira apresentação de 15 minutos abordava
a base de dados, vista como um sistema de recuperação da informação,
incluindo informações sobre seu histórico, seu produtor e distribuidores. Na
segunda
apresentação,
os
alunos
cobriam
o
processo
de
seleção
de
documentos, sua estrutura e organização, forma de representação dos
documentos, recursos de busca oferecidos, recursos para disseminação dos
resultados e outras especificidades que variaram de base para base. Na
terceira, apresentou-se a prática de uso da base de dados. Os alunos deveriam
apresentar exercícios práticos e foram responsáveis pela avaliação dos
colegas. Durante as aulas, que se deram no laboratório de informática, os
integrantes dos grupos atuaram também como monitores sanando as dúvidas
e problemas encontrados pelos colegas nos exercícios interativos. Abaixo,
�204
apresentam-se detalhes de uma das atividades práticas da disciplina que
consistia na preparação e apresentação de uma base de dados.
Para se preparar para a apresentação, cada grupo de alunos deveria:
entrar em contato com o bibliotecário designado para combinar um dia
para receber um treinamento sobre o seu uso;
pesquisar sobre a base;
ler sua documentação e outros materiais e tutoriais indicados pelo
bibliotecário.
Para a apresentação da base de dados, as tarefas de cada grupo foram:
preparar apresentação interativa usando também a ferramenta Power
Point;
preparar um pequeno manual para uso da base para fornecer para os
colegas;
fornecer para os colegas indicação de outros materiais disponíveis para
estudo da base (tutoriais ou apresentações no site da Capes ou do
produtor);
preparar exercícios para os colegas;
preparar uma avaliação para os colegas;
atuar como monitores da turma no laboratório durante a apresentação, a
realização dos exercícios e da prova.
Os bibliotecários apoiaram os grupos das seguintes formas:
uma orientação/demonstração inicial sobre a base;
indicação onde encontrar mais materiais para estudo da base (site do
produtor, site da Capes);
esclarecimento de dúvidas;
verificação e aprovação, juntamente com o professor da disciplina, dos
exercícios e do material preparado pelos grupos para as apresentações.
Tópicos que deveriam constar da apresentação:
GERAL
Tipo da base, segundo a classificação de Lancaster;
�205
Histórico da base;
Produtor, distribuidores. Uma breve descrição do provedor. Que
produtos ele oferece e qual o seu público-alvo?;
CONTEÚDO
Assuntos/áreas do conhecimento da base cobre;
Materiais que são indexados pela base;
Período de cobertura da base,
Quantos registros têm a base;
Número de registros que são acrescentados anualmente;
Índice(s) que corresponde(m) à base;
Frequência de atualização da base on-line;
Forma de obtenção dos textos completos dos documentos.
ESTRUTURA
Campos da base, e seus códigos;
Campos pesquisáveis;
Existência de campos que são indexados por palavra e/ou por frase;
Palavras proibidas;
Campos de assunto.
REPRESENTAÇÃO
Existência de vocabulário controlado e explicação sobre ele (origem,
como utilizar);
Campos para busca por assunto;
Descrição do registro do tesauro.
BUSCA
Busca com operadores booleanos simples ou aninhados;
Operadores de proximidade;
Busca por expressões (phrase);
Operadores de comparação ou aritméticos;
�206
Outros operadores;
Outros tipos de busca;
Busca
em
campos
específicos/índices
especiais/vocabulário
controlado.
OUTROS
Modos de ordenação dos resultados;
Ajuda ou tutorial, status;
Formatos de saída;
Modos de emissão dos resultados;
Gravação da estratégia de busca;
Mecanismo de alerta.
PARTICULARIDADES / ESPECIFICIDADES DA BASE
Após a apresentação, os alunos deveriam fazer alguns exercícios e prova a
serem entregues. Esses deveriam ser pontuados pelos membros do grupo. A
prova deveria incluir questões sobre:
provedor e histórico da base de dados;
conteúdo;
representação;
busca (parte teórica e prática).
A avaliação dos alunos era baseada na apresentação e no material preparado
para a aula, tais como:
manual de uso da base que deveria ser distribuído para os colegas;
arquivo Power Point da apresentação;
exercícios interativos feitos durante a apresentação;
prova com parte teórica e parte prática.
�207
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em ambas as experiências apresentadas, além do aprendizado de
habilidades e conhecimentos sobre a fonte de informação, pode-se dizer que
foi atingido também o objetivo de mudanças de atitudes e valores, tanto dos
alunos instrutores como dos alunos treinados. Segundo um grupo de alunos,
em sua avaliação da disciplina,
foi possível perceber que os alunos tiveram um grande interesse pelas
bases apresentadas [...] A forma como cada base foi trabalhada
proporcionou ao grupo um aprendizado diferenciado com uma absorção
maior do conteúdo contido em cada base. A atividade avaliativa foi
fundamental para aprimorar o conhecimento das bases.
No caso da disciplina, como resultado desta metodologia, observou-se
uma grande motivação tanto dos alunos que participavam dos grupos quanto
dos colegas a quem o treinamento estava sendo ministrado, pela riqueza do
conteúdo do Portal Capes e um senso de responsabilidade para com a sua
apresentação para os colegas. A mesma motivação e entusiasmo foram
notados em relação aos bibliotecários que apoiaram os alunos, alguns dos
quais quiseram e puderam estar presentes nas apresentações dos alunos,
embora tal não fosse requerido.
Em relação ao Programa Pró-Multiplicar na UFMG, um dos pontos dignos
de nota foi a valorização do Programa pelos multiplicadores e seu entusiasmo
com o conteúdo sendo ensinado, o que foi objeto de comentários pelos
representantes das editoras e técnicos da Capes durante a realização do
treinamento. Merece ser mencionado o interesse e esforço de um grupo de
alunos da área de Ciências Biológicas que foi além das exigências do
programa, oferecendo, por sua própria iniciativa, para colegas e professores
em sua unidade, um treinamento mais extenso do que o que haviam recebido.
Esses alunos forneceram de espontânea vontade um treinamento de 30 horas
(24 horas e mais seis horas de exercícios práticos) em que utilizaram seu
domínio da área de conhecimento para criar outros exercícios e demonstrações
do uso e utilidade das bases de dados. Essa experiência foi ao encontro das
expectativas da Capes que esperava ao criar o Programa Pró-Multiplicar que
�208
“[...] a participação dos bolsistas trará um elemento novo ao treinamento que
se dará de colega para colega, destacando os conteúdos de interesse do
pesquisador” (BRASIL, 2009, p. 27). Sanler (2001, p. 25)20 citado por Del
Fiaco (2005, p. 85) apresenta também observações sobre os benefícios do
envolvimento maior do aluno no seu aprendizado:
Os métodos participativos levam o estudante a vivenciar situações
propícias que possibilitam sua conversão em um ente ativo, criador,
capaz de contribuir com o desenvolvimento do entorno social e sua
própria autotransformação. Além de desenvolver talentos individuais,
garante a formação de um alto grau de responsabilidade social e cidadã
(SANLER, 2001 apud DEL FIACO, 2005, p. 85).
O sucesso dessas experiências e os próprios comentários dos usuários
treinados
pelo
Programa
sugerem
que
seria
interessante
estudar
a
possibilidade de inserção do treinamento no uso do Portal na grade curricular.
Essa inserção poderia se dar de várias formas, sendo uma delas, por exemplo,
o ensino do uso do Portal como um módulo dentro de uma disciplina
introdutória ou de metodologia. A viabilização dessa ideia dependeria de uma
articulação
entre
bibliotecários,
professores,
colegiados
e
órgãos
da
universidade interessados na promoção da pesquisa e produtividade científica
de sua comunidade.
O caráter da instituição onde se deram as experiências, a UFMG, com
cursos de Graduação e Pós-Graduação em todas as áreas do conhecimento e a
variedade das bases de dados utilizadas também sugere a generalizabilidade
de seus resultados para outros ambientes.
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2001.
�209
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informacional (ALFIN) en la formación del estudiante universitario:
análisis de iniciativas en Brasil y España. 2014. 441f. Tese (Doctorado en
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�212
CAPÍTULO XIV
INOVAÇÃO NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS: FOCO NAS PESSOAS
Marina Nogueira Ferraz
1 INTRODUÇÃO
Existe uma tendência nos discursos contemporâneos que o conceito de
inovação quase sempre apareça vinculado à tecnologia, uma vez que a área
tem em seu cerne a inovação como elemento constituinte. No entanto, se
contextualizarmos a inovação para e nas bibliotecas públicas, essa ideia pode
adquirir novos contornos e dimensões.
As mudanças sociais, econômicas e tecnológicas vividas nos tempos
atuais, na chamada Era da Informação ou Sociedade da Informação, têm
trazido
como
consequência
o
desenvolvimento
das
tecnologias,
o
encurtamento das distâncias e, principalmente, a valorização da informação.
Porém, mesmo diante do quadro de um mundo globalizado, a desigualdade de
acesso à informação ainda persiste. As bibliotecas públicas podem e devem
desempenhar o papel de disseminadoras da informação e foram criadas para
esse fim.
Apesar dessa premissa, ao longo de sua trajetória, a biblioteca pública
desempenhou papel de biblioteca escolar — suprindo uma falta histórica no
Brasil e no mundo —, foi direcionada por interesses políticos e, principalmente,
nunca recebeu a devida atenção e reconhecimento como instituição, por
excelência, democrática e que atua como veículo para o desenvolvimento da
cidadania e acesso ao conhecimento. Ainda pouco frequentada pela maioria da
população, o papel da biblioteca pública vem passando por mudanças nas
últimas décadas, voltando-se para um desempenho dinâmico, vivo, integrado
às várias manifestações artísticas e atuando como importante instrumento de
caráter social, que contribui para o diálogo e a articulação da comunidade.
�213
As bibliotecas públicas têm sido objeto de interesse social e acadêmico,
principalmente a partir do século XX, com o fortalecimento dos conceitos de
direitos sociais, democratização, acesso à informação e aprendizagem ao longo
da vida.
Terminado
já
o
primeiro
decênio
do
século
XXI,
no
Brasil
e,
especificamente em Minas Gerais, ainda estamos almejando os mesmos
objetivos que outros países colocaram e cumpriram no século XX: a
universalização das bibliotecas públicas como condição para a plena cidadania,
da infância até o fim da vida.
Do papiro/pergaminho ao papel/bits e bytes; do formato de rolo aos
tablets, o livro vem se transformando, assim como as bibliotecas. Neste
capítulo, vamos conversar sobre como as mudanças de paradigma nas
bibliotecas públicas foram formas inovadoras de disseminar informação e de se
relacionar com a comunidade, entendendo que a inovação deve ser pensada
para além da tecnologia e que as pessoas são sempre a variável mais
importante dessa equação.
2 INOVAÇÃO
Vamos iniciar esta seção discutindo alguns conceitos de inovação
propostos por autores e diretrizes internacionais que abordam este tema. O
primeiro deles é o do Manual de Oslo, elaborado pela Organização para
Cooperação
e
Desenvolvimento
Econômico
(OCDE).
É
uma
publicação
institucional intergovernamental, de mais de 30 países, e “tem o objetivo de
orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de estatísticas e
indicadores de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de países industrializados”
(OCDE, 2006, p. 9). No Manual, uma inovação é
a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de
marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios,
na organização do local de trabalho ou nas relações externas (OCDE,
2006, p. 55).
�214
Dessa maneira, inovação pode referir-se não só à criação de um produto,
mas também a um novo processo, modo ou método. Em uma visão ampliada,
podemos pensar como uma nova forma de ver e interagir. O Manual de Oslo
trouxe uma mudança para o termo, em relação a uma nova concepção de
inovação, não atrelada à tecnologia, como comentamos no início deste
capítulo.
Uma mudança é a remoção da palavra “tecnológica” das definições,
visto que a palavra evoca a possibilidade de que muitas empresas do
setor de serviços interpretem “tecnológica” como “usuária de plantas e
equipamentos de alta tecnologia”, e assim não seja aplicável a muitas
de suas inovações de produtos e processos (OCDE, 2006, p. 24).
Importante também observar que as inovações de valor não precisam
ser, necessariamente, mudanças grandiosas ou radicais e que podem
acontecer em diversos contextos, abrangendo diferentes impactos para
instituições e seus públicos de relacionamento. Esse conceito mais amplo e
realista de inovação nos ajuda a pensar em novos processos ou novos
objetivos de uma mesma missão da instituição. O texto de Tigre (2006, p.
107) discute os diferentes tipos de inovação e quais os fatores que interferem
ou motivam esse processo, classificando-as em incrementais, radicais e
sistêmicas.
As inovações incrementais são aquelas realizadas cotidianamente nas
organizações, por meio do processo de aprendizado. Já as inovações
radicais são descontínuas no tempo e no espaço e geralmente derivam
de atividades de P&D. Inovações mais abrangentes e sistêmicas podem
dar origem a mudanças no paradigma técnico-econômico (TIGRE, 2006,
p. 107).
Nessa perspectiva de pensar em uma mudança que seja inovadora, os
serviços ganham destaque. Tigre (2006) comenta que a principal característica
dos serviços, como objetos intangíveis, está na interação com o cliente. O
projeto e o uso desses serviços baseiam-se na troca e armazenamento de
informações, proporcionando interações e experiências relevantes e até
complementares ao uso dos produtos tangíveis.
Os bens são produtos tangíveis, podem ser estocados e praticamente
não há interação entre clientes e processos de fabricação. Já os serviços
são intangíveis, geralmente não podem ser estocados e dependem da
interação com os clientes na medida em que a produção do serviço é
�215
concomitante ao consumo. A possibilidade de estocar serviços,
entretanto, vem crescendo com a difusão das TIC. Por serem intensivos
em informação, os serviços vêm ganhando cada vez mais importância
na economia do conhecimento. O crescimento dos serviços de
informação e comunicação pode ser observado em todas as áreas de
atividades econômicas, inclusive aquelas produtoras de bens tangíveis.
As funções de serviços são, por essência, complementares a outros
produtos (TIGRE, 2006, p. 147).
O foco na inovação de serviços fica evidenciado na valorização do cliente
(que no contexto das bibliotecas é mais comum designá-lo como usuários),
como veremos a seguir:
As inovações em serviços visam a alcançar os seguintes resultados:
• Obter maior flexibilidade de forma a atender as necessidades
individuais dos clientes.
• Facilitar a interação usuário-fornecedor.
• Aumentar a confiabilidade do serviço e torná-lo mais disponível
temporalmente (24 horas, 7 dias por semana).
• Aumentar a velocidade de produção e entrega do serviço,
aproximando-se do tempo real.
• Cumprir normas, padrões e atender a normas de segurança.
• Aumentar a produtividade na prestação do serviço.
A obtenção desses resultados depende não apenas da incorporação de
novas tecnologias da informação e da comunicação, mas também de
mudanças organizacionais e em processos (TIGRE, 2006, p. 149).
Discutindo esses conceitos no âmbito da inovação, é possível perceber
que as diferentes possibilidades na oferta de serviços requerem processos mais
interativos e dinâmicos, valorizando o cliente como peça fundamental. No
próximo tópico, vamos ver como a mudança de paradigma na Biblioteconomia
pode ser considerada uma forma de inovação para a área, numa perspectiva
de valorização do usuário e na concepção desse sujeito como aquele que
produz e pensa as bibliotecas.
3 BIBLIOTECAS
As bibliotecas públicas, desde seu surgimento na era moderna, foram
criadas segundo interesses políticos, econômicos e culturais, sofrendo todo o
tipo de pressão que esses interesses são capazes de produzir, uma vez que a
informação e o conhecimento configuram-se como objeto de poder e moeda de
barganha das classes dominantes.
�216
Na Inglaterra do século XIX, as bibliotecas públicas foram criadas com
um pensamento utilitário, para que a população tivesse entretenimento barato
e assim onerar pouco o Estado, como aponta Mueller:
Sua defesa ressaltava o baixo custo de um investimento que permitiria
dar ao povo acesso à boa literatura, fazendo das bibliotecas públicas o
meio mais econômico de se tentar manter homens exaustos e sem
dinheiro entretido em prazeres inocentes, e, portanto fora das prisões,
tribunais e asilos (MUELLER, 1984, p. 9).
Sua contribuição era de auxiliar na “ordem social”, “progresso da nação”
e “manutenção da democracia”, com ações voltadas para a leitura e educação
(SILVEIRA, 2014, p. 80). Com o passar do tempo, percebeu-se que as
bibliotecas públicas poderiam também contribuir para a socialização de seus
usuários e para o desenvolvimento intelectual dos sujeitos e das comunidades.
Percebe-se que a motivação de sua criação e desenvolvimento envolvia um
caráter utilitário para as bibliotecas públicas.
Nos Estados Unidos, também no Século XIX, as bibliotecas públicas
foram criadas com finalidade diferente. A intenção de educar o povo e
promover a manutenção da democracia justificava a criação das bibliotecas
públicas.
O movimento de auto-educação estava enraizado na crença da perfeição
inata do homem. A educação era vista como uma cura para todos os
problemas sociais. Segundo esta filosofia, a biblioteca pública era
considerada um meio capaz de espalhar a educação, tratando a todos
como iguais e colocando os recursos da nação ao alcance de todos,
independentemente de capacidades individuais (MUELLER, 1984, p. 11).
Segundo esses relatos de criação das primeiras bibliotecas públicas,
notamos o viés educacional e político presente desde seus primórdios. A essas
duas facetas soma-se a cultural, que foi reconhecida posteriormente devido ao
seu acervo generalista e por estar diretamente em contato com a população.
O aparecimento das bibliotecas públicas foi estimulado por objetivos
bem definidos, que representavam uma mudança radical dos objetivos
tradicionais das bibliotecas eruditas. Essa visão tradicional, assim como
a função educacional que a seguiu, não desapareceu no processo de
mudança. O que aconteceu foi antes uma adição de novos objetivos.
Como em qualquer mudança, houve aceitação e rejeição (MUELLER,
1984, p. 17).
�217
No século XX, começou uma mudança no entendimento de seu papel,
que passou de uma visão educacional, ampliando para a cultural em geral
(MUELLER, 1984, p. 14). O papel do bibliotecário também começou a mudar
na medida em que se responsabilizava não só em preservar os acervos, mas
também em estimular que as pessoas usassem as bibliotecas e que essas se
fizessem conhecidas por todos.
No Brasil, a primeira biblioteca foi a Biblioteca Real, aberta em 1808,
com acervo trazido de Portugal, juntamente com a corte, e instalada no Rio de
Janeiro. Era uma propriedade da coroa e foi aberta ao público somente em
1814 (FERNANDEZ; MACHADO, 2016, p. 37).
Na Bahia, em 1811, o coronel Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco
apresentou o Plano para o estabelecimento de uma biblioteca pública na cidade
de Salvador, oferecida a aprovação do Sr. Conde dos Arcos, capitão general,
em Salvador (AZEVEDO, 2012, p. 9). Em 13 de maio do mesmo ano, foi
inaugurada a primeira biblioteca pública brasileira, em Salvador, por iniciativa
de um senhor de engenho, com inspiração nas bibliotecas americanas e
europeias.
Ainda no século XIX, outras bibliotecas foram sendo criadas nas capitais,
iniciando, nesse momento, a história das bibliotecas públicas brasileiras.
Desde o surgimento das primeiras bibliotecas públicas, elas primaram
pela constituição de acervos diversos para públicos diversos, primeiro com o
intuito de preservação e também educacional e com o passar do tempo com
intenção cultural e de lazer, mas sempre desempenhando um papel social
relevante.
Perrotti e Pieruccini (2008), em uma reflexão sobre os paradigmas que
moldaram a atuação das bibliotecas, ponderam sobre a ampliação do acesso,
mas também controle das massas por uma elite cultural.
Ideais - e lutas - como a dos Iluministas resultaram, pois, na criação de
instituições pautadas pelo novo paradigma da difusão cultural,
referência que se estenderá até os dias que correm, em que pesem
evidências de seu esgotamento face às novas circunstâncias históricas
que colocaram a modernidade em crise. Nesse sentido, se as instituições
de difusão cultural, como, por exemplo, as bibliotecas públicas
estimuladas pelos filantropos ingleses do século XIX, significaram
possibilidade de acesso a informações e conhecimentos negados até
�218
então a diferentes segmentos populacionais, de outro lado,
representaram também ferramenta, visando à assimilação pelas massas
dos valores e comportamentos das elites culturais (PERROTTI;
PIERUCCINI, 2008, p. 1).
Historicamente, o primeiro paradigma seguido pelas bibliotecas públicas
era o paradigma da Conservação Cultural, seguindo uma lógica da
preservação do patrimônio material e imaterial. Nesse paradigma, as palavraschave seriam o controle e a reprodução cultural. O segundo paradigma seguido
foi o da Difusão Cultural, ligado à lógica da circulação da informação, que
visava a regulação social para uma assimilação cultural. Esse paradigma da
disseminação ainda é seguido pela maioria das bibliotecas públicas brasileiras.
O terceiro paradigma, que se faz conhecido mais recentemente e por isso
pouco seguido na realidade das bibliotecas brasileiras, é o da Apropriação
Cultural, no qual a mediação do saber é caminho para o Protagonismo
Cultural.
Na medida em que o sujeito entra em contato com culturas diversas e se
apropria dessa cultura, que passa por transformações decorrentes do seu
contexto, seu mundo simbólico e seus conceitos, torna-se um novo saber, que
contribui para a construção de sua identidade cultural.
Para os autores, as bibliotecas oscilam entre ideais conservacionistas e
difusionistas e acabam não respondendo às demandas do conhecimento que
auxiliem na relação com os signos. Para romper com esses ideais, os autores
propõem o paradigma da apropriação cultural, no qual o protagonismo dos
sujeitos é o objetivo.
Dessa forma, nem os dispositivos concebidos sob os ideais
conservacionistas, herdados da Antiguidade e da Idade Média, nem
aqueles pautados pelo difusionismo moderno atendiam aos nossos
propósitos, o que nos obrigou a romper com o conservacionismo e o
difusionismo do passado, atribuindo novos valores à assimilação e à
difusão. Foi assim que nomeamos e adotamos o paradigma da
apropriação cultural como referência de trabalho. Segundo ele,
conservação e difusão são categorias-meio, instrumentais, e não
categorias-fim nos processos culturais que nos interessavam. Em tal
circunstância, instituições de memória como as do passado, não serão
vistas como depósitos inertes a serem cultuados, mas repositórios
culturalmente marcados, onde contemporâneos podem se alimentar
para protagonizar o presente e o futuro (PERROTTI; PIERUCCINI, 2008,
p. 1).
�219
No paradigma da Apropriação Cultural os sujeitos não são meramente
receptores da informação, mas são capazes de utilizá-la de forma crítica. Esse
é novo modo de ver o sujeito, como um ser atuante, que vai em busca da
informação, que tem um projeto de conhecimento, que se responsabiliza por
suas escolhas e por seu caminho e extrapola a visão utilitária da informação.
É possível retomar aqui a ideia de inovação, especialmente nas
bibliotecas públicas. No contexto de poucos recursos econômicos destinados à
elas, pouca valorização da sociedade e de seus governantes, o paradigma da
Apropriação
Cultural
pode
parecer
utópico,
tendo
em
vista
que
a
universalização das bibliotecas ainda não é realidade no país. E, realmente é,
na maioria dos casos.
No entanto, ao pesquisarmos (FERRAZ, 2018) a visão de biblioteca
pública por seus usuários, em três municípios de Minas Gerais por meio de
entrevistas, aplicação de questionários e observação in loco, o que ficou
manifesto é que a inovação está em, justamente, voltar o olhar para as
pessoas que frequentam essas bibliotecas, entendendo o usuário como um
sujeito
ativo
no
processo
de
construção
e
avanço
das
bibliotecas
e
considerando as bibliotecas públicas como instituição importante para a
construção da identidade individual e coletiva, além da formação de um
repertório simbólico por meio das leituras que se faz e do espaço que se
compartilha. Sendo assim, o papel do bibliotecário como elo entre a instituição
e a comunidade fica ainda mais fortalecido e evidenciado.
Pelo viés da Apropriação Cultural, o espaço das bibliotecas torna-se local
de lazer e também de refúgio. Como lugar de lazer, onde os gostos e
preferências são considerados e o compromisso é tão somente com a própria
fruição. Na fala de vários usuários21, essa ideia já é uma realidade,
independentemente do tamanho da biblioteca.
Venho duas vezes por semana. Meu lazer é ler. Quando a
biblioteca está fechada, leio pela internet (S13 - AF).
É uma forma de lazer vir à biblioteca. Acaba sendo uma
viagem de lazer pela distância onde moro (S17 - BH).
21
AF: Águas Formosas; BH: Belo Horizonte; RP: Rio do Prado; S: Sujeito
�220
Na família já virou um hábito. É prazeroso, não é uma
obrigação (S38 - BH).
Eu gosto de ler. Também o lazer para as crianças, além de ser
um incentivo para elas crescerem (S39 - BH).
Como professora a gente tem sempre que saber uma variedade de
leitura. Como mãe, é um prazer mesmo. Eu tive uma família que me
incentivou. Trago meu filho, mesmo que ele ainda não leia, e eu leio pra
ele. Estar em contato com o ambiente da biblioteca. Quando retornei
ao Brasil, este foi o primeiro lugar que meu filho veio com a avó
materna. Como ela faz um curso de contação de histórias, viemos num
dia de evento e foi muito importante (S40 - BH).
Já como local de abrigo, a biblioteca é procurada, muitas vezes, por se
mostrar como um ambiente seguro. No entanto, mais que a segurança física,
os usuários relacionaram a biblioteca a um lugar de paz e muitas vezes de
refúgio. Uma segurança emocional.
Adoro entrar aqui, é lugar de paz. Quando estou nervosa
venho pra cá e a raiva passa (S5 - AF).
Os livros, a sensação de paz. Eu amo muito estar neste tipo de
ambiente. Quando preciso desabafar, eu venho para a Biblioteca.
Agora que chegaram os livros de doação eu venho mais (S7 - AF).
Comecei a frequentar a biblioteca com 5 anos. Meu tio trabalhava
e me levava. A convivência com os livros é muito importante. Não sou
de ter muito contato com os humanos, por isso tenho com os
livros (S9 - AF).
A única coisa que acho importante é que, pra mim que sofro uma
perseguição de empresários, aqui tem um descanso (S22 - BH).
É perto da minha casa e silencioso. Trago os materiais (S27 BH).
Depois que eu saí da casa do meu pai e fui pra casa da minha
noiva eu passei a vir mais. Pra mim é uma terapia (S33 - BH).
Venho para meu benefício próprio. Parece até egoísmo, mas o
bem que me faz é muito grande (S35 - BH).
A paz que tem aqui, o silêncio. E também as pessoas que tem
aqui (S50 - BH).
Esse sentido de apropriação fez com que um dos participantes da
pesquisa se referisse à biblioteca como sua própria casa, remetendo a uma
sensação de aconchego e conforto e como um lugar de refúgio também.
Você chega na biblioteca, tem um bom bibliotecário, um acervo de livro
maravilhoso, você não quer sair de lá, você quer morar lá dentro.
Gente, vou acampar aqui! Posso construir uma cabaninha aqui
dentro? (risos). Sério, só pra sair, pegar um livro na prateleira e voltar
pra dentro? É maravilhoso, é uma sensação muito boa, a gente se
sente em casa. Pelo menos a gente que gosta de ler. No caso, eu me
sinto, falo por mim. Eu acho maravilhoso, que a gente se sinta em casa.
Sério, se a gente tem um problema em casa, tipo, alguém treta
com você na rua, você chega na biblioteca, respira fundo assim,
ó, (barulho de respiro), acabou o problema, acabou (Entrevistado 2
- AF).
�221
Como a biblioteca participa de um projeto de transformação social, as
múltiplas formas foram descritas por um dos entrevistados, de forma bastante
peculiar.
Tem gente que vai para estudar, gente que vai lá pra pedir ajuda,
tipo, como inscrever no vestibular? Eu mesmo faço isso. Como
fazer isso? Como fazer aquilo? Me ajuda a fazer as questões do ENEM,
me ajuda a fazer inscrição no SISU, me ajuda a fazer inscrição no
PROUNI. Me ajuda, me ajuda! Eu acho que é um negócio muito
importante, porque, muita gente não tem computador em casa, e
não quer gastar dinheiro ou não tem condições de pagar uma lan
house. Então vai na biblioteca e usa o computador. Se não sabe usar, a
pessoa ajuda. Então, não é só livro literário, embora seja pra mim mais
importante do que pesquisa. Mas, no geral, eu acho muito importante,
porque, assim, tem a parcela de, de, como é que fala? De leitores
que vão lá por livros literários, tem os que vão lá pelo PC, os que
vão para pesquisa, seja lá o que seja. E a parcela que vai lá
estudar, na biblioteca. E tem a parcela que vai usar os
dicionários, pra usar os livros didáticos, que vai lá pra usar as
apostilas do ENEM, que vai lá pra isso e aquilo. É muito
importante porque é a única da cidade, fora a das escolas, né?
Embora tenha, é aquela coisa bem basiquinha. Lembrei da MC Loma,
bem basiquinha22 (Entrevistado 2 - AF).
Essa diversidade de usos da biblioteca pública a coloca em posição de
destaque
dentro
das
tipologias
de
biblioteca
no
que
diz
respeito
à
democratização do acesso e valorização das diferenças. Ainda que a maioria
das bibliotecas brasileiras esteja longe de realizar todo seu potencial, alguns
usuários que participaram da pesquisa reconheceram o trabalho desenvolvido
pelos bibliotecários e pelos funcionários das bibliotecas de suas cidades, o que
nos possibilita refletir sobre a importância do profissional conhecer a
comunidade em que atua e ser próximo das pessoas que lá frequentam.
22
É equilibrado, um bom atendimento, uma bibliotecária que atende bem.
Ela sabe onde está tudo de cabeça. Ela é muito disposta, diz que tal
é bom, tal é bom. E uma variedade melhor de livros. Tem umas
bibliotecas que você chega que ela nem levanta para ajudar. Isso
desestimula tanto, uma bibliotecária chata (S6 - AF).
Eu acho que o mais importante é o interesse dos bibliotecários.
Pois se não for uma pessoa interessada, fica um lugar ruim de ser
frequentado (S11 - AF).
VARELA NOTÍCIAS. Mc Loma explica gírias de Pernambuco: “pra você sair na rua bem
‘basiquinha’ falando”. Disponível em:<http://varelanoticias.com.br/mc-loma-explica-as-giriasde-pernambuco-pra-voce-sair-na-rua-bem-basiquinha-falando/>. Acesso em: 02 dez. 2018.
�222
Quanto mais conhecimento, melhor pra mim. E eu gosto demais
também. O que eu mais gosto é o jeito como eles me tratam.
Muito carinhoso (S12 - AF).
Acho importante ressaltar a qualidade do atendimento dos
profissionais da biblioteca (S18 - BH).
Conheci a Sandra [servidora do setor de Empréstimo] e ela me
orientava a achar os livros policiais. Ela que me apresentou muitas
coisas. Venho aqui há uns 10 anos (S21 - BH).
Proximidade, gentileza e educação dos funcionários, qualidade do
material que me atende (S28 - BH).
Pra mim é um lugar que as pessoas me tratam bem. A gentileza dos
funcionários. As pessoas te atendem bem. A presteza dos funcionários é
o mais importante (S49 - BH).
Eu li por sugestão do Glicélio Travessuras da menina má do Mario
Vargas Llosa. Eu gostei tanto do livro que aprendi espanhol só pra ler no
original. Gostei tanto de ler que estou aprendendo outros idiomas:
francês, inglês e estou aprendendo sozinha o italiano (S34 - BH).
A alma da biblioteca é a bibliotecária. A pessoa que ama os
livros, que cuida dos livros é ela. [...]. Quem movimenta uma
biblioteca são as bibliotecárias. Quem veste a camisa. Elas têm que
entender a realidade para servir aos usuários. Elas que têm fácil
acesso, respeitoso, ser entusiasmada. Eu senti que todas elas foram
tocadas por um verdadeiro sentimento do que é o Braille (S36 BH).
Um bibliotecário, para que esteja próximo de seus usuários, precisa
investir tempo nessa relação, pois é no contato do dia a dia, atento aos gostos
e necessidades de seus leitores, que será possível desenvolver um trabalho
relevante. Observando o trabalho e ouvindo os relatos dos bibliotecários das
bibliotecas visitadas, testemunhamos que, muitas vezes, o mesmo é bastante
solitário. Mas esse trabalho poderia ser compartilhado com colegas de
profissão
em
momentos
promovidos,
especialmente,
por
sistemas
de
bibliotecas, conselho de classe, associações e também pelo diálogo facilitado
pelas interações em cursos de formação continuada.
4 CONCLUSÃO
As tecnologias nos ajudam, pois facilitam e otimizam o trabalho do
bibliotecário, para que reste mais tempo para interagir com as pessoas de sua
comunidade.
As mudanças de paradigma que as bibliotecas têm passado foram formas
inovadoras de se adaptarem às mudanças sociais. Com o paradigma da
�223
Apropriação Cultural, o foco passa a ser o usuário e a relação que com ele se
estabelece. Estar aberto a essa experiência é o primeiro passo que bons
bibliotecários podem dar na direção da construção de bibliotecas mais vivas e
indispensáveis.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. 200 anos da primeira biblioteca pública do
Brasil: considerações histórico-biblioteconômicas acerca dessa efeméride.
Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 2, p. 225, abr./jun. 2012.
FERNANDEZ, M. A. A.; MACHADO, E. C. Bibliotecas públicas: um
equipamento cultural para o desenvolvimento local. Recife: Centro de
Desenvolvimento e Cidadania, 2016.
FERRAZ, Marina Nogueira; DUMONT, Lígia Maria Moreira. Representações
sociais de biblioteca pública: a voz dos usuários do interior e da capital de
Minas Gerais. 2018. 172 f. Tese (Doutorado) – Escola de Ciência da
Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B3UJYQ>. Acesso em: 10
dez. 2018.
MUELLER, Susana Pinheiro Machado. Bibliotecas e sociedade: evolução da
interpretação de função e papéis da biblioteca. Revista da Escola de
Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 7-54, mar. 1984.
OCDE. Manual de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre
inovação. 3 ed. FINEP, 2006. Disponível
em:<https://www.finep.gov.br/images/apoio-efinanciamento/manualoslo.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2018.
PERROTTI, Edmir; PIERUCCINI, Ivete. Infoeducação: Saberes e fazeres da
contemporaneidade. Infoeducação: Acesso e Apropriação de Informação na
Contemporaneidade, out. 2008. Disponível em:
<http://infoeducacaousp.blogspot.com.br/2008/10/infoeducao-saberes-efazeres-da.html>. Acesso em: 02 dez. 2018.
SILVEIRA, Fabrício José Nascimento da. Biblioteca pública, identidade e
enraizamento: elaborações intersubjetivas ancoradas em torno da Luiz de
Bessa. 2014. 253f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Escola de
Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2014.
�224
TIGRE, Paulo Bastos. Gestão da inovação: a economia da tecnologia no
Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
�225
CAPÍTULO XV
NORMALIZAÇÃO EM TRABALHOS ACADÊMICOS: ATIVIDADES
INOVADORAS PARA UM NOVO SEGMENTO DE ATUAÇÃO
BIBLIOTECÁRIA
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A formação profissional interdisciplinar adquirida ao longo da trajetória
acadêmica tem proporcionado a definição de profissionais com múltiplas
competências, de modo que a atuação no mercado de trabalho desses
profissionais, em muitos casos, tende a extravasar os fazeres e os espaços de
ocupação tidos como tradicionais. Está inserido nesse contexto, o bibliotecário,
para quem, sua prática tem se estendido a diversos campos de atuação, não
se limitando, tão somente, à prática de organização de acervos, comumente
realizada em bibliotecas e centros de documentação.
O crescimento do mercado de trabalho para o bibliotecário, no Brasil,
tem sido um tema recorrente na literatura, sobretudo a partir da incorporação
das tecnologias digitais nos métodos e técnicas de representação de
conhecimento. Além disso, soma-se o fato de que, com o surgimento do
mercado da informação, a consultoria ou prestação de serviços no ramo
informacional é uma realidade em constante crescimento.
Diversos estudos, nas últimas décadas, mostraram que o bibliotecário
possui capacidade para atuar em atividades diversas, o que evidencia a
demarcação de vários segmentos de mercado. No entanto, a maioria dos
profissionais ainda se limita a exercer atividades no âmbito das unidades de
informação, havendo pouca presença de profissionais que atuam de forma
autônoma e empreendedora, mesmo com as potencialidades oriundas das
demandas informacionais do atual mercado (BAPTISTA, 2000; VALENTIM,
�226
2000; BAPTISTA; MUELLER, 2005; TABOSA; AGUIAR, 2011).
Embora o mercado considerado como tradicional - em que o profissional
vincula-se, normalmente, a uma instituição que demande serviços de
organização e tratamento de documentos – seja o que mais emprega, no
contexto brasileiro, muitos autores acreditam em um futuro promissor para
esse profissional, em que pese a ampliação das práticas profissionais. Nesse
aspecto, o estudo de Santa Anna e Pereira (2014), por exemplo, demonstrou a
participação do bibliotecário nas mais diferenciadas formas de consultoria. Por
sua vez, a inserção do bibliotecário no mercado da informação deve-se,
principalmente, às suas habilidade e competências, como também aos valores
e atitudes que esse profissional precisa adquirir, como relatam Santos e outros
(2016).
Portanto, evidencia-se que o mercado de trabalho da atualidade tem
viabilizado novas oportunidades de trabalho, pois, o bibliotecário além de atuar
nas unidades de informação “[...] pode também atuar em outros campos,
como no ramo cultural, como na gestão da informação em organizações e
ainda, pode atuar em ambiente web [...]” (SANTA ANNA; PEREIRA, 2014, p.
163). Dentre os inúmeros segmentos de mercado, destaca-se a atividade de
normalização, em que o bibliotecário constitui um profissional competente para
realização da normalização bibliográfica (SANTA ANNA, 2017), podendo atuar
de forma independente, por meio da parceria com outros profissionais,
formando grupos de normalizadores (SANTOS; SAMPAIO, 2014).
Sendo assim, este trabalho objetiva apresentar a atuação bibliotecária no
ramo da normalização bibliográfica, destacando o potencial dessa atividade
como um segmento de mercado para o bibliotecário da contemporaneidade.
Para tanto, discute-se a ampliação das práticas bibliotecárias no âmbito da
consultoria informacional; reflete-se sobre conceitos e atividades relativas à
normalização bibliográfica e apresenta relato de experiência de bibliotecário
nesse ramo de atuação.
�227
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 SEGMENTOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL AO BIBLIOTECÁRIO
O mercado de trabalho, nos dias atuais, tem se caracterizado por
constantes mudanças e instabilidades, sobretudo com as transformações
sociais oriundas do uso das tecnologias digitais. Embora essas transformações,
em muitos casos, têm promovido a diminuição da empregabilidade e até
mesmo o desaparecimento de muitas ocupações, evidencia-se a redefinição de
novas formas de trabalho, de modo que, a cada momento, expande-se a
atuação profissional para além dos fazeres e espaços tidos como tradicionais
(BAPTISTA, 2000).
Grande parte das transformações ocorridas no mercado deve-se ao uso
das tecnologias da informação e comunicação, as quais promoveram a
redefinição
das
práticas
de
trabalho,
por
conseguinte,
é
desejável
a
reformulação de perfis profissionais inovadores (VALENTIM, 2000). Para
Baptista (2000), ao mesmo tempo que o avanço tecnológico pode aumentar o
desemprego, por outro lado, ele gera outras possibilidades de atuação por
parte dos profissionais, sobretudo os que lidam com a informação.
O surgimento de novos suportes para abrigar a informação, certamente,
é uma oportunidade de ampliação da prática bibliotecária, o que viabilizou a
esses profissionais exercerem suas competências em diversos segmentos e
instituições, ao atuar no tratamento de documentos em variados formatos e
suportes (SANTOS et al., 2016).
Mesmo diante do surgimento de novas possibilidades de trabalho, os
profissionais são afetados, sobremaneira, “[...] pelo declínio do emprego
formal, pela informatização do ambiente de trabalho, pelo avanço das
tecnologias da informação e comunicação, pelo crescimento do emprego
parcial e precarização do emprego, pela rápida desqualificação do trabalhador,
por processos de reengenharia, terceirização, entre outros [...]” (SANTOS et
al., 2016, p. 19).
Portanto, a atuação profissional no ramo da prestação de serviços
�228
informacionais, também chamada de consultoria informacional, provavelmente,
tende a ser uma atividade que, ao mesmo tempo que proporciona prazer e
satisfação, tende a consolidar-se como um segmento de mercado bastante
demandado, conforme relataram Santa Anna e Pereira (2014).
Isso porque, a atuação bibliotecária no ramo da consultoria em
informação tende a proporcionar
[...] maior flexibilidade, liberdade e, principalmente, estabilidade ao
profissional. Estabilidade porque ao desvincular-se do tradicional
“serviço de carteira assinada”, o bibliotecário expande suas atividades,
consolidando-se como um prestador de serviços. E, essa desvinculação
é necessária, devido ao crescimento exagerado do desemprego,
ocasionado com a globalização, processo esse que, ao mesmo tempo em
que desemprega, aumenta o número de ocupações (SANTA ANNA;
PEREIRA, 2014, p. 163).
Com efeito, a atuação na prestação de serviços em informação, mesmo
que ainda não seja um mercado altamente ocupado, configurando-se como um
mercado de tendências para o futuro, conforme relatado no estudo de Valentim
(2000), observa-se que os profissionais da informação têm investidos na
formação continuada, uma vez que compreendem a necessidade de ampliar as
competências,
de
modo
a
atenderem
as
necessidades
informacionais
requeridas pela sociedade (SANTOS et al., 2016), o que evidencia a
participação mais intensa desses trabalhadores na consultoria em informação.
De modo geral, os bibliotecários, a fim de “[...] manterem-se atrativos para o
mercado e poderem alcançar o sucesso profissional, [...] precisam, de forma
mais exacerbada, caracterizar-se pelo polimorfismo e versatilidade” (SANTOS
et al., 2016, p. 19).
A necessidade atual do mercado tem sido um dos principais fatores que
interferem na busca por novos conhecimentos por parte do profissional, como
também tem sido um motivador na reformulação constante dos conteúdos que
são ministrados nos cursos de formação acadêmica (BAPTISTA; MUELLER,
2005). As competências e habilidades adquiridas por essa formação, seja ela
acadêmica ou continuada, tende a proporcionar a consolidação de um perfil
profissional diversificado, de modo que diversas práticas podem ser realizadas
pelos bibliotecários, com destaque especial, as atividades no âmbito da
organização do conhecimento, tal como a padronização da produção científica,
�229
o que requer um conhecimento acerca de normas e procedimentos para
permitir o acesso e transferência do conhecimento científico, como relato nas
pesquisas de Santos e Sampaio (2014).
No entendimento de Santa Anna (2017), os bibliotecários possuem
capacidade para atuar na normalização bibliográfica, permitindo, por meio
dessa prática, que as informações publicadas atendam a padrões e formatos
uniformes, tendo em vista permitir segurança, conforto e comodidade aos
usuários nos processos de acesso, transferência e uso da informação
acadêmico-científica.
Nesse âmago, a atividade normativa representa um fazer bibliotecário, o
qual pode ser realizado em diferentes espaços, com públicos dos mais
diferenciados. Trata-se, na verdade, de uma prática comumente realizada nas
bibliotecas, mas também pode ser realizada “[...] em outros contextos e
instâncias
para
qual
foi
requerida,
tendo
o
profissional
um
árduo
comprometimento com a organização do conhecimento registrado” (SANTA
ANNA, 2017, p. 70).
Portanto, a normalização bibliográfica caracteriza-se como uma atividade
inserida no âmbito da produção científica (SANTA ANNA, 2017), cujo objetivo
consiste em organizar e facilitar o acesso ao conteúdo abordado nos trabalhos
produzidos nos ambientes de ensino e pesquisa (SANTOS; SAMPAIO, 2014).
No entendimento desses últimos autores, faz-se necessário valorizar o
trabalho de normalização e as normas técnicas, que ajudam a definir e
estruturar ética e esteticamente os trabalhos acadêmicos, sendo que o
crescimento da demanda por serviços de normalização, no âmbito acadêmico,
desperta a formação de equipes especializadas em prestar esse tipo de
serviço, garantindo, dessa forma, a excelência das atividades realizadas
(SANTOS; SAMPAIO, 2014).
�230
2.2
ALGUNS
CONCEITOS
TEÓRICOS
SOBRE
NORMALIZAÇÃO
E
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
A prática da normalização constitui uma atividade milenar. O ato de
adotar procedimentos uniformes a fim de garantir melhorias na execução de
uma tarefa ou permitir facilidades de uso com algum recurso é considerado
como uma forma inteligente de alcançar resultados mais satisfatórios, sem a
necessidade de despender desgaste ou esforço, seja ele intelectual quanto
físico (OLIVEIRA, 2007).
Inicialmente, a prática da normalização relaciona-se com a padronização
ou ainda a uniformidade. Tal prática, a priori, implica a adoção de padrões,
sendo
esses
considerados
como
medidores
da
qualidade
e
excelência
desempenhada por um produto, tarefa ou processo (OLIVEIRA, 2007).
Portanto,
normalizar
não
é
uma
prática
ilusória,
imprecisa
e
desnecessária, mas, trata-se de uma necessidade que permeia as relações do
homem com o meio ambiente em que convive. É preciso normalizar para que a
interação do homem com os recursos naturais e sociais sejam mais facilitados,
o que confere à normalização um conjunto de ações já realizadas nas
civilizações antigas (SOUTO, 1991).
No
contexto
informacional,
com
o
aumento
da
produção
de
conhecimentos na sociedade, permeada por uma ampliação acentuada do
número de registros do conhecimento, faz-se necessário o estabelecimento de
normas, haja vista garantir um melhor acesso, uso e disseminação da
informação armazenada em diferentes recursos e canais informacionais.
Aqui,
bibliográfica,
o
processo
tem
sua
normativo,
importância
considerado
garantida,
uma
como
vez
normalização
que,
sem
a
normalização, provavelmente, o processo comunicativo seria comprometido.
Normalmente, o trabalho de normalização bibliográfica pode ser realizado pelo
bibliotecário em seu cotidiano de trabalho, principalmente no ambiente da
biblioteca (BATISTA; OLIVEIRA, 2014).
Portanto, um dos locais mais apropriado para a prática da normalização é
a biblioteca universitária, a qual visa a oferecer serviços dos mais variados que
�231
fomentem as atividades universitárias diluídas em meio ao ensino, à pesquisa
e à extensão (ROSSI; COSTA; PINTO, 2014). No entanto, essa prática pode
ser realizada em inúmeros contextos e instâncias, desde que demande de um
profissional competente e comprometido com esse fazer (SANTOS; SAMPAIO,
2014).
3 METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se, metodologicamente, como uma pesquisa
exploratória, documental e relato de experiência de natureza qualitativa. É
exploratória, pois analisa a literatura até então publicada sobre o assunto;
caracteriza-se como documental, em virtude de considerar informações de
cunho
legislativo
e
institucionais/administrativas
referentes
à
atuação
bibliotecária na normalização; representa um relato de experiência, pois
descreve os principais resultados obtidos por um profissional após sua
formação em Biblioteconomia. Por sua vez, possui natureza qualitativa uma
vez que não se recorre à análise de dados numéricos, quantificáveis, mas a
informações teóricas e práticas.
O estudo bibliográfico foi realizado com base em materiais publicados
(sobretudo na modalidade artigo científico) que versam sobre a ampliação dos
fazeres bibliotecários no mercado de trabalho, com foco na participação desse
trabalhador na prestação de serviços informacionais, sobretudo no âmbito da
normalização bibliográfica. A pesquisa documental recorreu à análise de um
currículo de Graduação em Biblioteconomia, código de ética profissional e
documentos de divulgação do curso em questão. Por sua vez, o relato de
experiência baseou-se nas atividades realizadas por um bibliotecário, de forma
autônoma, desde sua formação acadêmica, no ano de 2012, até a presente
data, ano de 2018.
4 RESULTADOS ALCANÇADOS
�232
Considerando as reflexões propostas por grande parte da literatura,
entende-se que o bibliotecário pode atuar em diferentes segmentos de
mercado, ampliando suas práticas para diversos contextos que demandem
tratamento, organização e disponibilização da informação registrada. Em
virtude dessas discussões teóricas, o relato de experiência que ora se
apresenta expõe as principais atividades realizadas no âmbito do processo de
normalização bibliográfica.
Ressalta-se que as competências e habilidades para o exercício dessa
prática foram despertadas no relator desta experiência, no decorrer de sua
Graduação em Biblioteconomia. Por meio de diversas disciplinas ministradas no
curso em apreço, é possível evidenciar o conhecimento atribuído ao estudante,
acerca das técnicas específicas para normalizar documentos bibliográficos
(quadro 1).
Quadro 1 – Principais disciplinas que contribuem com o exercício da normalização bibliográfica
NOME DA DISCIPLINA
PRINCIPAL OBJETIVO
Normalização da Informação
Capacitar o aluno a reconhecer os diversos
documentos bibliográficos e as técnicas e métodos
de
normalização
propostos
por
órgãos
normalizadores, como a ABNT.
Fontes de Informação
Despertar a capacidade de reconhecimento e
identificação das características principais das
diversas fontes de informação que registram
conhecimento.
Representação Descritiva
Demonstrar o uso das técnicas de catalogação,
tendo em vista o registro de documentos em
acervos bibliográficos nos mais diferenciados
suportes.
Formação
e
Desenvolvimento
de Apresentar o processo dinâmico e relacional do
Coleções
desenvolvimento
de
coleções
em
acervos
bibliográficos, destacando as estratégias para se
gerenciar o acervo de forma relacional, sistemática
e racional.
Fonte: Dados da pesquisa (2017), adaptado de Universidade Federal do Espírito Santo (2012).
Como se percebe no quadro 1, em linhas gerais, as disciplinas
mencionadas garantem o conhecimento das características das diversas fontes
de informação, fato esse que tende a promover no futuro profissional
habilidades
e
competências
específicas
para
reconhecer
essas
fontes,
identificar a forma de normalizá-las, como também, facilita a extração dos
dados e a disposição desses, de acordo com o formato exigido pelos padrões
normativos.
Destaque
especial
à
disciplina
chamada
“Normalização
da
�233
Informação”, ao qual instrui o aluno ao exercício da prática normativa nos
diversos itens informacionais existentes.
Além
do
conhecimento
adquirido
nas
disciplinas,
outro
fator
determinante que viabilizou no relator o interesse pela atividade normativa, diz
respeito à atribuição da atividade normativa como uma das funções inerentes
ao bibliotecário ao integrar-se com o mercado de trabalho. O quadro 2
apresenta
essas
informações,
sob
a
perspectiva
legislativa
quanto
mercadológica.
Quadro 2 – Atividade normativa como uma atribuição ao bibliotecário
PERSPECTIVA
DESCRIÇÃO
Legal (Código de Ética do Bibliotecário) Art.7º – O Bibliotecário deve, em relação aos
usuários e clientes, [...] orientar a técnica da
pesquisa e a normalização do trabalho
intelectual de acordo com suas competências
(CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA,
2002, não paginado, grifo nosso).
Mercadológica (Divulgação do curso de Uma das áreas de atuação do bibliotecário é a área
Biblioteconomia)
da pesquisa, em que o profissional poderá atuar em
centros de pesquisa, no apoio a pesquisadores
(pesquisa bibliográfica, localização e aquisição de
fontes ou dados, normalização) e na pesquisa
aplicada
à
Biblioteconomia
(UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 2012, não
paginado, grifo nosso).
Fonte: Dados da pesquisa (2017), adaptado de Conselho Federal de Biblioteconomia (2002) e
Universidade Federal do Espírito Santo (2012).
Com efeito, as informações contidas no quadro 2 evidenciam a prática da
normalização como uma atividade que pode ser realizada no âmbito da
consultoria informacional, em que o profissional pode atuar com vínculo
empregatício em uma organização, ou poderá atuar de forma independente,
por meio da prestação de serviços a diferentes usuários, sejam eles pessoas
físicas quanto jurídicas, conforme demonstrado na pesquisa de Santa Anna e
Pereira (2014).
Portanto, a partir das discussões teóricas vivenciadas ao longo da
Graduação, bem como, a partir das descrições inerentes à prática normativa a
ser realizada pelo bibliotecário, conforme documento legal (código de ética) e
mercadológico (divulgação na página da instituição onde o curso é oferecido),
o relator desta experiência inseriu-se no ramo da consultoria em normalização.
Logo de início, as práticas normativas foram direcionadas, tão somente,
a discentes do Curso de Biblioteconomia. A partir dos três primeiros meses de
�234
experiência, os serviços passaram a ser ofertados a profissionais de quaisquer
áreas do conhecimento.
O constante crescimento da demanda por serviços informacionais no
âmago da produção científica, em especial da normalização, despertou a
necessidade
de
divulgação
desses
fazeres,
utilizando-se
de
canais
de
comunicação, tal como afixação de cartazes em instituições acadêmicas, como
também divulgação do trabalho em redes sociais. Com isso, a clientela foi
aumentando, o que provocou a necessidade de firmar parcerias com outros
bibliotecários interessados nessa prática profissional.
Importante atentar que essa parceria não concretizou a formação de
uma única equipe, a serviço dos mesmos serviços demandados. Ao contrário,
cada profissional possui seu próprio negócio e clientes, fomentando indicações
mútuas de clientes quando da impossibilidade de alguém não poder atender as
demandas. Essa colaboração resultou, também, como benefício, a troca de
conhecimento entre os três, nos casos de dúvidas e esclarecimentos sobre a
atividade normativa.
Ademais,
as
atividades
realizadas
exigiram
a
constante
capacitação/aprimoramento do profissional, além de frequente atualização dos
acontecimentos relativos à Biblioteconomia e demais áreas do conhecimento.
Assim, o profissional participou de diversos cursos de especialização, tais
como: normalização bibliográfica; uso das normas ABNT, ISO, VANCOUVER e
APA23; editor de texto aplicado a trabalhos acadêmicos; informática básica e
avançada; revisão textual, linguística e estilística textual; e, por fim, cursos de
atuação
pedagógica.
Destaca-se,
outrossim,
a
participação
assídua
do
normalizador em diversos eventos relacionados à Biblioteconomia e Ciência da
Informação, seja em nível nacional quanto internacional.
Como consequência das demandas e do aprimoramento profissional,
outras atividades passaram a ser realizadas, não se limitando, tão somente, às
práticas de normalização bibliográfica. Assim, na atualidade, são oferecidos
23
Essas quatro instituições caracterizam-se como órgãos normalizadores, inseridas,
respectivamente, em contextos específicos, tais como: no âmbito brasileiro, em nível
internacional, no âmago norte-americano e no contexto dos cursos da área de Psicologia.
�235
serviços de consultoria acadêmica, ou seja, o profissional atua na área de
pesquisa,
oferecendo
serviços
variados
que
favorecem
a
produção,
transferência e uso da informação científica. O quadro 3 resume (por ordem
quantitativa de demanda) os principais serviços oferecidos, os produtos que
recebem esses serviços e alguns usuários solicitantes dos serviços.
Quadro 3 – Principais serviços prestados no âmbito
realização
ORDEM DE
TIPOS DE
PRODUTOS
DEMANDA
SERVIÇOS
GERADOS
OFERECIDOS
1
Normalização
Monografias
e
bibliográfica
artigos
de
graduação,
teses
e
dissertações
2
Revisão
textual Monografias
e
(gramatical
e artigos
de
estilística)
graduação,
teses
e
dissertações
3
Levantamentos
Monografias
e
bibliográficos
artigos
de
graduação,
teses
e
dissertações
4
Lecionamento
Aulas
particulares,
treinamentos e
cursos
de
capacitação
5
Organização
de Catalogação,
acervos impressos indexação
e
e digitais
classificação de
acervos
diversos
6
Elaboração
de Fichas
produtos
de catalográficas e
representação
do etiquetagem
conhecimento
para acervos
Fonte: Dados da pesquisa (2017), elaborado pelo autor.
da produção científica x contexto de
PRINCIPAIS CLIENTES
Graduandos e pós-graduandos
instituições de ensino superior
de
Graduandos e pós-graduandos
instituições de ensino superior
de
Graduandos e pós-graduandos
instituições de ensino superior
de
Graduandos e pós-graduandos de
instituições de ensino; Capacitação
funcional a pessoas jurídicas
Unidades de informação de empresas
públicas e privadas
e acervos
pessoais
Editores e acervos pessoais
A leitura ao quadro 3 permite constatar que os serviços oferecidos são
dos mais variados, sendo que todos eles estão relacionados à produção e
disseminação do conhecimento, seja no âmbito científico, social, institucional
e/ou pessoal. Embora esses serviços estejam relacionados entre si e, na
maioria das vezes são complementares, garantindo o fluxo da comunicação
científica na sociedade, nota-se que a maior procura diz respeito à prestação
dos serviços no âmbito da normalização bibliográfica realizada em trabalhos
�236
acadêmicos, sendo que a maioria dos clientes pertence ao grupo dos
pesquisadores inseridos nos cursos de Graduação e Pós-Graduação, oferecidos
nas instituições de ensino e pesquisa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões teóricas apresentadas pela literatura investigada neste
trabalho em conjunto com as descrições oriundas de documentos legislativos
quanto institucionais, como também o sucesso obtido na prestação de serviços
de consultoria na produção científica são suficientes para constatar que a
prática da normalização bibliográfica pode constituir, na atualidade, como um
segmento de mercado promissor para o bibliotecário.
Por meio da experiência relatada neste trabalho, desmistifica-se a
percepção de que os bibliotecários são capacitados a atuar, tão somente, nos
serviços tradicionais oferecidos em unidades de informação. Evidenciou-se que
a
formação
profissional
e
continuada
são
fatores
determinantes
na
consolidação de competências e habilidades para o exercício da prestação de
serviços no ramo informacional, sobretudo na normalização bibliográfica.
Que esses resultados possam estimular os bibliotecários a preencherem
as demandas existentes no mercado, no que tange a essa atuação profissional,
como também que seja reconhecido pela sociedade como um todo, o potencial
desse trabalhador, caracterizado como normalizador da produção bibliográfica.
REFERÊNCIAS
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sobre o mercado de trabalho do bibliotecário. Informacion, Cultura y
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BAPTISTA, Sofia Galvão. Profissional da informação, autônomo ou empresário,
novas perspectivas de mercado de trabalho. Perspectiva em Ciência da
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Informação, Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. 91-98, jan./jun. 2000. Disponível
em: <http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/550>.
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BATISTA, Rafael Rodrigo do Carmo; OLIVEIRA, Rafael Alves de. O ponto e o
parêntese: uma avaliação de serviços eletrônicos para a elaboração de
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CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Resolução CFB n. 42, de 11 de
janeiro de 2002. Dispõe sobre o Código de Ética do Bibliotecário. Disponível
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<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://www.medici
na.ufmg.br/biblio/arquivos/2011/Anexo01_29_07_2011.pdf&gws_rd=cr&ei=LJ
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OLIVEIRA, B. M. J. F. Conversa sobre normalização de textos
acadêmicos. João Pessoa: Ed. Universitária UFPB, 2007.
ROSSI, Tatiana; COSTA, Marília Damiani; PINTO, Adilson Luiz. Competências
requeridas aos bibliotecários na prestação de serviços de informação em
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SANTA ANNA, Jorge. Normalização bibliográfica no âmbito da transferência da
informação: de um fazer técnico a uma atuação humanista. Revista ACB:
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<https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1270>. Acesso em: 25 abr.
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SANTA ANNA, Jorge; PEREIRA, Gleice. Ampliando o campo de atuação
bibliotecária: o bibliotecário como consultor informacional. Revista ACB:
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SANTOS, Mara Roxanne de Souza; SAMPAIO, Denise Braga Sampaio.
Normalização na prática: um breve relato sobre normalização e a experiência
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Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/incid/article/view/64890>. Acesso
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SOUTO, Franklin Claudio Rache. Uma visão da normalização. Rio de Janeiro:
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TABOSA, Hamilton Rodrigues; AGUIAR, Terezinha Pereira. O atual mercado de
trabalho para o bibliotecário no estado do Ceará. Biblionline, João Pessoa, v.
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Acesso em: 26 abr. 2017.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Curso de Biblioteconomia.
2012. Disponível em: <http://www.biblioteconomia.ufes.br/%C3%A1reas-deatua%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 25 abr. 2017.
VALENTIM, Marta Ligia Pomim. Atuação e perspectivas profissionais para o
profissional da informação. In: VALENTIM, Marta Lígia Pomim (Org.).
Profissionais da informação: formação, perfil e atuação profissional. São
Paulo: Polis, 2000. p. 135-152.
�239
CAPÍTULO XVI
ATUAÇÃO BIBLIOTECÁRIA NA GESTÃO DE UM SISTEMA DE
BIBLIOTECA: IMPLANTAÇÃO DE UM MODELO DE ESTÁGIO PARA A
COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Rosemary Tofani Motta
Silvana Aparecida dos Santos
1 INTRODUÇÃO
A
Biblioteca
Universitária
(BU)
sempre
se
constituiu
um
espaço
privilegiado para contribuir efetivamente para a formação dos alunos. As BUs
têm como missão o apoio ao ensino, pesquisa e a extensão. E é dessa forma
que, ao longo dos anos, os bibliotecários vêm se desenvolvendo e dinamizando
produtos, serviços e até mesmo reestruturando divisões e setores das
bibliotecas,
para
acompanhar
a
evolução
atual,
e
assim,
prestar
um
atendimento de qualidade para a comunidade acadêmica e sociedade em
geral.
E, pensando assim, na atuação de uma gestão de um sistema de
bibliotecas, que surge a ideia de implantação de um projeto de ensino e
pesquisa fruto de uma parceria entre a BU, a Pró-Reitoria de Extensão e a
Escola de Ciência de Informação, desenvolvido com a finalidade de tornar a BU
um espaço de educação para a competência informacional. Com essa ação,
pretendeu-se beneficiar docentes e discentes da Graduação e Pós-Graduação.
No desenvolvimento desse programa, os que denominados alunosestagiários assumem com responsabilidade e comprometimento a condução do
seu processo de aprendizagem a partir do desenvolvimento das habilidades
fundamentais que são: aprender a aprender; a integração, em termos de
formação prática, aperfeiçoamento técnico-cultural, científico e relacionamento
humano; articulação prática/teoria/prática (COSTA et al. 2011).
�240
Essa parceria visou a capacitação técnica e o desenvolvimento de
competências para o exercício da profissão ou fins de preparação para o
trabalho e para o exercício da cidadania.
Este
artigo
visa
relatar
os objetivos desse
projeto24
na BU da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sendo essa biblioteca a
coordenadora técnica do Sistema de Bibliotecas da UFMG (SB/UFMG) e se
contextualiza como instituição dinâmica que oferece espaços para a prática da
referida competência informacional, direcionada a todos os segmentos da
comunidade universitária e, em especial aos alunos da Escola de Ciência da
Informação.
A BU é um órgão suplementar vinculado à Reitoria, responsável
tecnicamente pelo provimento de informações necessárias às atividades de
ensino, pesquisa e extensão da universidade, como também pela coordenação
técnica, administração e divulgação dos recursos informacionais das 25
bibliotecas que compõem o Sistema de Bibliotecas da UFMG.
2 A BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA COMO LABORATÓRIO DE FORMAÇÃO
COMPLEMENTAR
A BU, para o cumprimento de sua missão, possui divisões e setores
técnicos (ou atividades) que são verdadeiros laboratórios de conhecimento e
aprendizagem para os egressos dos cursos da Escola de Ciência da
Informação/UFMG e áreas afins. E, de acordo com seu organograma (anexo
1), são essas as divisões e setores técnicos:
Divisão de Coleções Especiais e Obras Raras: responsável pelo tratamento
técnico dos acervos especiais como: a Coleção Faria Tavares, o Acervo Curt
Lange, a Coleção de Obras Raras, que reúne documentos, livros, periódicos,
mapas, correspondências e fotografias do século XVI ao século XX; a
Patrologia Migné, que abrange textos de filosofia patrística editados em latim e
24
Alterações no projeto, na gestão que o implantou e gestões posteriores não serão tema
deste artigo.
�241
grego; a Coleção Linhares – publicações periódicas editadas em Belo Horizonte
de sua fundação até a década de 1950; entre outras preciosidades.
Divisão de Formação e Desenvolvimento do Acervo: responsável pela
aquisição centralizada de periódicos nacionais e controle da aquisição
descentralizada de material bibliográfico da UFMG, controle patrimonial do
acervo do Sistema de Bibliotecas, doações e transferência de material
bibliográfico e desenvolvimento de política de acervos para o Sistema de
Bibliotecas/UFMG. Essa Divisão possui o Setor de Intercâmbio, responsável
pela aquisição de material bibliográfico em qualquer suporte físico, por meio de
doação ou permuta, seleção do material recebido e repasse às Bibliotecas do
Sistema a outras instituições.
Divisão de Tratamento e Tecnologia da Informação: responsável pela
supervisão, controle e registro dos dados bibliográficos da Base de Dados do
Sistema de Bibliotecas usando o Sistema Pergamum e com prática de
atividades técnicas e manuseio de instrumentos de apoio ao tratamento
técnico da informação (catalogação, classificação e indexação); apoio às
bibliotecas no uso e instalações de software (tais como: Scifinder Scholar 2007
- Chemical Abstracts, Oracle, Linux, Pergamun e outros) utilizados para o
gerenciamento da tecnologia da informação no Sistema de Bibliotecas. Essa
divisão, após o ano de 2014, passou por uma nova estruturação e conta,
atualmente, com três setores25: o Setor de Apoio à Catalogação, Setor de
Tecnologia da Informação (automação) e Setor de Suporte de Hardware e
redes.
Divisão de Planejamento, Gestão e Apoio a Projetos: responsável pelas
informações técnicas e gerenciais referentes ao Sistema de Bibliotecas,
assessoramento à Diretoria da BU no planejamento e gestão a partir do
fornecimento
25
de
informações
gerenciais
Disponível em: <https://www.bu.ufmg.br/ditti/>.
relativas
à
organização
e
�242
administração da BU/Sistema de Bibliotecas; apoio ao desenvolvimento de
projetos e programas para o Sistema de Bibliotecas.
Divisão de Comunicação: responsável pelos serviços de informações da BUSB/UFMG tais como o Boletim Conexão, o Sítio da BU, bem como as
orientações às Bibliotecas do Sistema no que tange à divulgação da BU e do
Sistema de Bibliotecas.
Divisão de Gestão em Inovações Tecnológicas: envolve três setores/
atividades: 1) Setor de Apoio ao atendimento do Portal da CAPES na
UFMG: responsável pelo treinamento, capacitação de usuário do SB/UFMG,
apoio no agendamento de treinamentos na instituição; perguntas e respostas e
também contatos com o Helpdesk da CAPES na UFMG; 2) Setor de Apoio às
Bibliotecas-Polo da Educação à Distância, em parceria com o Centro de
Apoio
à
Educação
a
Distância
(CAED)
da
UFMG:
responsável
pelo
desenvolvimento de políticas para as bibliotecas e controle patrimonial do
acervo da UFMG nos polos de apoio presencial, assim como o planejamento de
serviços realizados por bibliotecas na educação a distância; acompanhamento
e supervisão dos serviços oferecidos a distância aos usuários de bibliotecas;
estabelecimento de procedimentos de atuação para as bibliotecas-polo perante
a organização de serviços a distância; organização do teletrabalho no setor de
bibliotecas e trabalho em equipes multidisciplinares, apoiando a educação a
distância; 3) Setor de Apoio à Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
na UFMG: responsável pela inserção das teses e dissertações defendidas na
UFMG na base de dados da BDTD/UFMG, para compor a base nacional de teses
e dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), na Network Digital Library of Theses and Dissertations (NDLTD),
divulgando e disponibilizando, na íntegra, a produção científica da UFMG em
rede mundial.
Centro de Extensão da Biblioteca Universitária: criado por iniciativa da
Diretoria da BU em 2008, e aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão UFMG,
�243
objetiva o apoio à realização de ações extensionistas desenvolvidas na/pela
BU. As ações de extensão são de significativa importância ao estabelecerem
um elo entre a universidade, bibliotecas e a sociedade, permitindo, além da
integração entre conhecimento acadêmico e conhecimento popular, estarem
associadas aos movimentos e às necessidades de diferentes setores sociais
efetivando, desse modo, a inclusão e a democratização do saber acadêmico.
Na BU-SB da UFMG, o Centro de Extensão tem como função proporcionar um
ambiente de interação entre os funcionários e usuários, fortalecendo as
Bibliotecas do Sistema em seu papel primordial de apoio ao ensino, pesquisa e
extensão junto à sociedade.
2.1 SERVIÇOS OFERECIDOS
A BU-SB/UFMG oferece os serviços: Consulta (local, por telefone,
correspondência, fax, e-mail, web); Empréstimo (domiciliar, entre bibliotecas);
Levantamento bibliográfico (manual e automatizado); Visitas orientadas;
Comutação bibliográfica; Orientação e normalização bibliográfica; Treinamento
de usuários; Alertas, Sumários correntes e Boletins Informativos; Exposições e
promoção de eventos. Também oferece, sistematicamente, programas de
capacitação dos usuários com o objetivo de habilitá-los na utilização das fontes
de informação, em formato eletrônico, disponibilizadas para a comunidade
acadêmica da UFMG. Programas como o Pró-Multiplicar da Capes que, por
meio de parcerias entre a Biblioteca Universitária e a Pró-Reitoria de PósGraduação objetivaram preparar os pós-graduandos para acesso à pesquisa
acadêmica e ampliação da utilização do Portal de Periódicos26. Essas atividades
podem se tornar um campo fértil para o desenvolvimento de estratégias de
aprendizagem continuada à formação básica do profissional.
26
O Programa Pró-Multiplicar se fundamenta em treinamento ministrado pela Capes na
instituição aos alunos bolsistas de Mestrado e Doutorado que, sob a coordenação de professor
e bibliotecário, na instituição, ficam responsáveis por repassar o conhecimento sobre o Portal
de Periódicos a alunos de Graduação e Pós-Graduação. Atualmente, o referido programa se
encontra descontinuado.
�244
O Sistema de Bibliotecas atende tanto os usuários da comunidade
interna (alunos do ensino fundamental, médio, técnico, graduação, pósgraduação, professores, pesquisadores e funcionários), como os usuários da
comunidade externa – de outras instituições, pesquisadores, alunos de
intercâmbio e demais visitantes. A média anual de empréstimo domiciliar é de
500.000 exemplares, para cerca de 70.000 usuários.
A BU-SB/UFMG se constitui, portanto, como unidade de significativa
relevância em seu espaço de atuação. Inserida no ambiente universitário como
apoio ao ensino, pesquisa e extensão, possui um corpo profissional altamente
qualificado e em aprendizagem contínua que se destaca no acompanhamento e
no
atendimento
qualificado
aos
seus
usuários
(em
todos
os
níveis),
proporcionando o acesso à informação confiável e em tempo hábil, o
tratamento e a guarda do acervo utilizando tecnologias de informação e de
ponta na área.
Embora a BU e as bibliotecas da Universidade recebam muitos alunos
para a prática do estágio supervisionado ou estágio curricular, essas atividades
são desenvolvidas isoladamente com certa autonomia tanto na definição de
locais e atividades quanto na elaboração de projetos, respectivamente, pelos
próprios discentes e orientadores, sem uma contextualização ou envolvimento
político-administrativo da coordenação da BU–Sistema de Bibliotecas.
Dessa forma, pretendeu-se apresentar a BU-Sistema de Bibliotecas,
como
um
espaço
próprio
à
prática
de
atividades
que
favorecem
a
complementação da capacitação técnica do futuro bibliotecário, bem como a
ampliação
das
relações
interpessoais,
a
troca
de
experiências,
o
desenvolvimento de um olhar crítico e da ética profissional.
Conforme GOMES (2008),
[...] nas atividades de acesso ao conhecimento estabelecido, ao
conhecimento registrado, os educadores, os espaços informacionais e
seus agentes são os mediadores que transmitem as informações
disponíveis, realizando, assim, as práticas informacionais.
Considera-se, então, que para o aluno, perpassar por todos esses
espaços de informação e suas práticas na BU–Sistema de Bibliotecas da UFMG
é, de
fato, uma experiência que
enriquecerá sua atitude
profissional
�245
estabelecendo a articulação e a interseção entre a informação, a comunicação
e a educação, a partir das quais se torna possível a geração de saberes
(GOMES, 2008).
3
COMPOSIÇÃO DO PROGRAMA: BASES REFERENCIAIS
Na UFMG, de acordo com a Resolução CEPE 02/2009 de 10/03/2009 27,
são
considerados
tipos
de
estágio:
Estágio
como
atividade
curricular
obrigatória; Estágio como atividade curricular optativa; Estágio como atividade
de enriquecimento curricular.
O estágio é uma importante fase da vida acadêmica estabelecendo-se
como o primeiro contato do aluno com o dia a dia das organizações e do
exercício profissional. É um momento próprio, no qual o aluno coloca em
prática o conhecimento teórico adquirido ao longo do curso, bem como, a
partir de um olhar crítico, tem oportunidade de avaliar as ações desenvolvidas
no local definido para realização dessa etapa, em relação à teoria e às
necessidades reais das organizações.
Portanto, a BU–Sistema de Bibliotecas se propôs a estabelecer a parceria
com a Pró-Reitoria de Extensão e Escola de Ciência da Informação da UFMG
para realização do Estágio curricular, assim como ampliá-la para outras
modalidades, a saber: Estágio como atividade curricular optativa e o Estágio
como atividade de enriquecimento curricular. Para realização desse propósito,
a BU apresentou as linhas gerais de um programa de estágio com ênfase:
-
Na aprendizagem em situação de trabalho onde o aprender e o
ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao processo de
trabalho, ou seja, as experiências de natureza teórica/conceitual terão
27
Considera o que determina a Lei 11.788 de 25/09/2008. Dispõe sobre o estágio de
estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e a Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996; revoga as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de
março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o
art. 6o da Medida Provisória no 2.164-41, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências
�246
como finalidade a qualificação teórica metodológica dos serviços em
prática;
-
Na facilitação de transformações nas práticas profissionais e na
organização do trabalho à luz da problematizarão das experiências
cotidianas e coletivas;
-
No compromisso com as metodologias ativas de educação criando
espaços ao desenvolvimento investigativo no âmbito dos serviços de
gestão da informação.
A BU-Sistema de Bibliotecas da UFMG disponibilizou, então, os seus
espaços do fazer bibliotecário para a realização de práticas profissionais dos
alunos da graduação em Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e programa
de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da Escola de Ciência da
Informação.
Para atender a essa finalidade, sugeriu-se a realização de atividades que
demandassem um maior grau de envolvimento do aluno inclusive a aquisição
de conhecimentos específicos para contribuir com os objetivos da biblioteca no
aperfeiçoamento,
na
criação
ou
na
implementação
de
atividades/serviços/ações.
O estágio tem como finalidade proporcionar o desenvolvimento de
atividades e ações que aliem a teoria e a vivência prática com autonomia e
elevado compromisso social, profissional, ou seja, permitindo aos egressos, da
Graduação ou da Pós-Graduação, a condição de sujeitos do processo de
aprendizagem.
especialização
bibliotecas,
Caracteriza-se,
para
centro
alunos
de
pois,
como
recém-formados
documentação
e
um
nas
aperfeiçoamento,
atividades
instituições
afins,
uma
chave
quer
de
sejam
administrativas, técnicas ou de pesquisa.
O programa de estágio foi desenvolvido contemplando cinco áreas ou
núcleos de atividades específicas: Administração e gestão; Processamento e
tratamento técnico da informação; Inovações tecnológicas; Acervos e coleções
especiais; e Qualidade e atendimento aos usuários. A opção pelo núcleo deverá
�247
ser requerida pelo candidato no momento de inscrição ao Estágio a partir de
uma carta de intenção concorrendo, assim, às vagas destinadas àquele núcleo.
4 OBJETIVOS DO PROGRAMA
Em linhas gerais, os objetivos do Programa foram:
- Capacitar o aluno estagiário na prática cotidiana de uma biblioteca de modo
que o mesmo assuma, sob orientação específica, o desempenho profissional de
acordo com as exigências e necessidades próprias do ambiente institucional de
um sistema informacional;
- Integrar as questões teóricas às questões práticas, vivenciadas ao longo do
curso, possibilitando a construção de conhecimento significativo pela ação–
reflexão–ação;
- Realizar atividades que aprimorem a prática profissional, integrando ensino,
pesquisa e extensão.
Enfim, a finalidade principal da proposta foi a capacitação do alunoestagiário de modo que o mesmo pudesse desenvolver um processo formativo
crítico, reflexivo
conhecer,
e
pesquisar
participativo;
e
aplicar
compartilhar
técnicas
de
experiências e
gestão
de
reflexões;
informação
e
conhecimento; criar, experimentar, produzir e disseminar coletivamente os
conhecimentos adquiridos nessa etapa.
A aprendizagem organizacional é abordada sob diversos focos, com
pontos convergentes relacionados à idéia da aprendizagem resultante da
experiência individual, das trocas de experiência e inter-relações entre
as pessoas e os grupos na organização, assim como a criação de
ambientes organizacionais favoráveis às práticas de aprendizagem
(GONÇALVES ZANGISKI et al., 2010, p. 1).
5 MODELO DA IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA
O modelo para implantação e desenvolvimento das ações do programa
teve como princípio básico a integração teoria/ensino/prática com momentos
�248
de atividades comuns como aulas, seminários, rodas de discussão, oficinas
pedagógicas, estudos de caso, dentre outras.
Nos momentos de prática, foi proposta a execução das atividades de
estágio nos locais de trabalho específicos ou locais de exposição de cada
núcleo temático.
Entendeu-se ou configurou-se como ambiente de exposição os locais e
áreas de desenvolvimento do programa em cinco núcleos principais:
-
Administração e gestão;
-
Processamento e tratamento técnico da informação;
-
Inovações tecnológicas;
-
Acervos e coleções especiais;
-
Qualidade e atendimento aos usuários.
Pretendeu-se o uso de ferramentas de Ensino a Distância para módulos
específicos de aquisição de conhecimentos, que poderiam ser totalmente a
distância ou módulos híbridos (contemplando também atividades presenciais).
Para o desenvolvimento e acompanhamento das atividades teóricas e
práticas, pretendeu-se o envolvimento de profissionais docentes da Escola de
Ciência
da
Informação
e
bibliotecários
da
BU-SB/UFMG
especialmente
dedicados a esse trabalho. Os docentes orientadores e os tutores técnicos
ficaram
responsáveis
pelo
acompanhamento
do
aluno-estagiário,
planejamento, discussão e avaliação das atividades teóricas e práticas.
As atividades práticas foram programadas para serem desenvolvidas nas
bibliotecas do SB/UFMG, de acordo com as especificidades de cada núcleo
temático.
a) Duração do Programa, Clientela e Seleção dos candidatos
Estágio Profissional: A duração dos estágios teve como carga horária
prevista entre o mínimo de 60 ao máximo de 200 horas.
�249
A sugestão para essa proposta foi de uma carga horária semanal de 12
horas, sendo oito horas de trabalho efetivo e quatro horas para estudo e
atividades pedagógicas envolvendo rodas de discussão, seminários, entre
outros.
O público-alvo constituiu-se dos alunos do curso de Biblioteconomia a
partir do quinto período sendo que, para os estágios com carga horária de 200
horas, os alunos deveriam estar cursando o último período do curso. O
processo
de
seleção
e
encaminhamento
dos
alunos-estagiários
ficou,
inicialmente, sob a supervisão do Colegiado de Graduação. A definição do
número de participantes e a sua distribuição interna entre as bibliotecas do
Sistema da UFMG ficaram sob a coordenação da BU.
b) Parceria e infraestrutura
Propôs-se
que
representantes
da
BU,
das
Bibliotecas
Setoriais,
juntamente com representantes do Colegiado de Graduação e da Escola de
Ciência da Informação estabelecessem essa parceria considerando, como
dimensão
fundamental
em
sua
efetivação
(definição
de
estratégias,
planejamento, execução e avaliação), a participação de todos os envolvidos.
Consideraram-se
como
elementos
essenciais:
a
clareza
das
responsabilidades, os papéis de cada parceiro, o registro e ampla divulgação
de todas as construções coletivas. Com isso, esperava-se garantir o acesso dos
parceiros com sucesso em seus objetos. Assim, o aluno/estagiário teria uma
experiência prática, a partir da realização de atividades de vivência, ensino e
aprendizagem, em acordo com as áreas técnicas estabelecidas pelo Colegiado,
cooperando para o crescimento da instituição por meio da aplicação coerente,
sistemática e mesmo criativa dos conhecimentos adquiridos durante o curso e
de acordo com as necessidades da BU–SB/UFMG. Dessa forma, a parceria
entre a Escola e a Biblioteca permitiria contribuir com a formação de
profissionais qualificados, com vivência e prática, beneficiando a sociedade
como um todo.
�250
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo do princípio de que a formação do profissional se completa a
partir da reflexão e da exposição à realidade vivenciada, de modo que o
conhecimento e o saber fazer se construam na tentativa de intervenção e
transformação dessa mesma realidade, pretendeu-se com o desenvolvimento
deste programa:
- Que os alunos-estagiários encarem com responsabilidade, comprometimento,
a condução do seu processo de aprendizagem a partir do desenvolvimento de
uma habilidade fundamental – a de aprender a aprender com a noção da
realização do trabalho sob mediação, sob o foco de uma equipe, interagindo
com as necessidades dos indivíduos, os desafios institucionais e a realidade
vivenciada;
- A integração, em termos de formação prática, aperfeiçoamento técnicocultural, científico e relacionamento humano;
- Articulação prática/teoria/prática e do envolvimento da Escola de Ciência da
Informação da UFMG com a BU e a BU, por sua vez, com o Sistema de
Bibliotecas da universidade;
- Capacitação técnica e o desenvolvimento de competências para o exercício
da profissão ou fins de preparação para o trabalho e para o exercício da
cidadania.
A BU é uma instituição dinâmica que oferece espaços para a prática da
competência informacional, direcionada a todos os segmentos da comunidade
universitária e em especial aos alunos dos cursos de Biblioteconomia, o que
possibilita à BU, manifestar-se como laboratório de aprendizado.
Esse envolvimento pode ser ampliado significativamente para as demais
áreas de Graduação e Pós-Graduação da Ciência da Informação (Arquivologia e
Museologia) como um espaço próprio à prática de atividades que favorecem a
complementação da capacitação técnica do futuro profissional, bem como a
ampliação
das
relações
interpessoais,
a
troca
de
desenvolvimento de um olhar crítico e da ética profissional.
experiências,
o
�251
Desse contato do discente com o exercício profissional, valorizando sua
capacidade técnica, incentivando sua criatividade, mas ao mesmo tempo
supervisionado e orientado, compreende-se que esse Programa seja uma
experiência válida que dê subsídio à formação técnica, humana e inovadora
dos sujeitos. E, nesse contexto, pretendeu-se, também, ampliar e consolidar a
parceria entre a BU-Sistema de Bibliotecas e a Escola de Ciência da
Informação, o que pode despertar nos futuros profissionais, a necessidade e
importância em se formar parcerias, quando da atuação no mercado de
trabalho, de forma a fortalecer, cada vez mais, a prática e a interação
bibliotecária, para benefício de toda a sociedade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº. 11.788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio
de estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT [...] e dá outras providências. Brasília, 2008.
CAMPELLO, Bernadete Santos. O movimento da Competência Informacional:
uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da Informação,
Brasília, v. 32, n. 3, p. 28-37, set./dez. 2003. Disponível em:
<http://www.ibict.br/cienciadainformacao/>. Acesso em: 01 mar. 2010.
COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira et al. Competência Informacional em
Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma proposta de estágio para a
formação do futuro profissional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIENCIA DA INFORMAÇÃO, 24.,
Anais... Maceió: UFAL, 2011.
DECLARAÇÃO de Alexandria sobre competência informacional e aprendizado ao
longo da vida. Competência Informacional. 2010. Disponível em
<http://www.ifla.org/III/wsis/BeaconInfSoc-pt.html> Acesso em: 01 abr.
2010.
GOMES, H. F. Práticas pedagógicas e espaços informacionais da
Universidade: possibilidades de integração na constituição do espaço crítico.
2006. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2006.
�252
GONÇALVES ZANGISKI, M.; PINHEIRO, E.; GOUVÊA, S. Uma discussão acerca
do papel da aprendizagem organizacional na formação de competências.
Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 38, n. 1, maio 2010. Disponível em:
<http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/ 1016/1344>. Acesso em:
26 ago. 2010.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (FMG). Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão. Resolução No 02/2009, de 10 de março de 2009.
Regulamenta o Estágio em cursos de Graduação da UFMG e revoga a
Resolução no 03/2006 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Belo
Horizonte: UFMG, 2009.
ANEXO 1
Figura 1 - Organograma da Biblioteca Universitária – Sistema de Bibliotecas
Fonte: site da BU28
28
Disponível em:
<https://cerrado.bu.ufmg.br/bu/images/apresentacoesppt/organograma%20sb%20ufmg.pdf>
.
�253
CAPÍTULO XVII
BIBLIOTECÁRIO ATUANTE NA EDITORAÇÃO DE PERIÓDICO: RELATO
DE CASO NA REVISTA PRÓ-DISCENTE
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
O mercado editorial de publicações tem demandado o aparecimento de
diversas atividades de trabalho, por conseguinte, inúmeros cargos, funções e
até profissionais especializados são requeridos para garantir a efetiva
comunicação e divulgação das informações publicadas em diversos recursos ou
fontes de informação registrada, tais como livros, periódicos, bases de dados,
sejam eles nos formatos impressos quanto eletrônicos.
Com efeito, o trabalho editorial tem se apresentado como um segmento
potencial de empregabilidade em diversas profissões, desde aquelas ligadas ao
desenvolvimento e estruturação das fontes de informação, até aquelas
envolvidas com a disseminação dessas fontes na sociedade. Trata-se de um
campo de trabalho originado em nossos primórdios e que vem se redefinindo
ao longo dos tempos.
Historicamente, ainda no período antigo das civilizações, manifestavamse os trabalhadores responsáveis pela comercialização de manuscritos, os
livreiros, os quais realizavam suas atividades em feiras livres (KNAPP, 1992).
No entanto, nessa época, em virtude da forte censura, as atividades eram
realizadas informalmente, sendo que esse quadro histórico transformou-se
radicalmente, a partir da invenção da imprensa, no século XV, e a partir do
processo de democratização do conhecimento, evidenciado nos séculos
seguintes, como apontou Burke (2003).
Além desses importantes acontecimentos históricos que contribuíram
para o crescimento do mercado editorial, pode-se citar, também, o nascimento
�254
dos periódicos científicos, a partir do século XVII. Os periódicos científicos são
considerados como um dos principais fatores que viabilizaram a explosão
documental vivenciada no século XX e, sua migração para o suporte eletrônico
acarretou, ainda mais, o crescimento das publicações que divulgam os achados
de pesquisas (RODRIGUES; MARINHO, 2009).
Portanto, a reconfiguração do mercado editorial consolida-se, de forma
intensa, com o surgimento do processo de editoração eletrônica, o qual, a cada
dia, redefine as atividades de comunicação, os recursos e ferramentas
utilizadas nessas atividades e, principalmente, o papel desempenhado pelos
profissionais que atuam nesse mercado.
Dentre os diversos profissionais atuantes nesse mercado, destaca-se,
sobremaneira, o bibliotecário, o qual possui competências e habilidades para
identificação, tratamento, organização, recuperação
e disseminação
das
diversas fontes de informação registrada. Logo, nos dias de hoje, observa-se a
ampliação das práticas bibliotecárias realizadas no âmago dos periódicos
científicos eletrônicos, segmento de mercado que viabiliza possibilidades
empreendedoras para esse e outros profissionais, as quais são demandadas
para garantir efetividade no fluxo da comunicação científica no ambiente
digital.
Nesse contexto, há de se concordar que, com a editoração eletrônica,
“[...] simplifica-se o processo, especializam-se as atividades e configuram-se
novas possibilidades de atuação para o bibliotecário, especialmente no que
tange à gestão e normalização de periódicos científicos [...]” (MAIOME;
TÁLAMO, 2008, p. 301, grifo nosso).
Embora a atuação em periódicos científicos venha se fortalecendo, sendo
muito discutida na literatura, é possível identificar um nicho de mercado para o
bibliotecário, ainda pouco explorado. Todavia, sustentamos nossos argumentos
na tese de que, esse profissional, no atual século, pode desenvolver
habilidades empreendedoras, independente do ramo de atuação ou segmento
de mercado que queira intervir e atuar, tendo em vista atender necessidades
específicas do público-alvo. Assim, o bibliotecário é um trabalhador capaz de
“[...] identificar e dirigir necessidades, e que pode implementar, vender, e
�255
avaliar iniciativas” (MATHEWS, 2007, p. 1).
Por decorrência dessas reflexões, apresenta-se este estudo preliminar,
cujo objetivo é apresentar atividades desempenhadas por bibliotecário no
processo de editoração de periódicos eletrônicos, de modo a confirmar as
possibilidades empreendedoras advindas desse contexto de trabalho.
Para
se
atingir
tal
objetivo,
têm-se
os
seguintes
procedimentos
intermediários, que são: 1 – contextualizar o trabalho bibliotecário no âmago
dos
periódicos
científicos
e,
2
-
identificar
possibilidades
de
atuação
empreendedora, haja vista as dificuldades e instabilidades enfrentadas com o
uso das plataformas digitais dos periódicos.
O presente texto versa sobre um relato de caso vivenciado por
bibliotecário junto à equipe editorial da Revista Científica Pró-Discente. O fazer
desse profissional se resumiu a auxílios prestados aos comitês científico e
editorial da revista, com o fim de que os trabalhos publicados apresentassem
melhor qualidade no que tange visibilidade e leitura textual, como também
auxílios na organização da informação disponibilizada na plataforma eletrônica
da revista.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O periodismo pode ser considerado como um dos grandes marcos
históricos na história dos registros gráficos do conhecimento, como também
provocou inúmeras transformações no mercado editorial e na forma com que
as pessoas buscam e acessam informação, sobretudo pelo fato dos periódicos
manifestarem-se como publicações de natureza contínua. No âmago científico,
os periódicos revolucionaram os fazeres científicos, provocando rapidez na
forma de se socializar os achados de pesquisa (RODRIGUES; MARINHO, 2009).
O uso da editoração eletrônica facilitou ainda mais as relações firmadas
entre cientistas, de modo que esse formato de periódico tem se evidenciado, a
cada dia, como a principal fonte de informação para a atualidade (OLIVEIRA,
2008). As peculiaridades desses registros, tais como sua continuidade, aliado
�256
ao crescimento do número de periódicos nas diversas áreas do conhecimento
demandou o uso de técnicas e métodos específicos para garantir o tratamento,
gestão, armazenamento e uso dessas publicações na sociedade (FACHIN;
HILLESHEIM, 2006).
As autoras supracitadas mencionam que as bibliotecas são consideradas
como espaços ou unidades de informação mais apropriadas para armazenar e
tratar
as
coleções
de
periódicos,
e
também
destacam
o
papel
dos
bibliotecários, considerados como profissionais da informação especializados
para tratar as coleções periódicas.
Todavia, a prática bibliotecária junto aos periódicos não deve se limitar,
tão somente, às atividades de organização dessas publicações. Além disso, os
bibliotecários podem atuar, também, no mercado editorial dos periódicos, como
relatado no estudo de Santana (2015, p. 13-14), para quem, a contribuição
desse profissional, no processo de produção editorial de periódicos científicos
permite “[...] tanto a aplicação de conhecimento específicos da área de
Biblioteconomia e Ciência da Informação, bem como de conhecimentos
relacionados a outras áreas profissionais [...]”, apresentando, portanto, uma
maior complexidade e, por conseguinte, exigindo do bibliotecário novas
competências e habilidades.
No
âmbito
da
editoração
eletrônica,
ressalta-se
que
novas
potencialidades são oriundas com esse processo, de modo que o bibliotecário
tende
a atuar
na condução
das etapas editoriais,
por
meio
de
seu
conhecimento em organização das informações no ambiente digital, o que
demanda, além das técnicas tradicionais de representação, o domínio no uso
das ferramentas presentes nas plataformas digitais. Assim, “[...] pensar em
editoração eletrônica é pensar num novo nicho de atuação profissional, abrindo
ainda mais esse leque de oportunidades” (MAIOME; TÁLAMO, 2008, p. 318).
Em
linhas
gerais,
essas
autoras
identificaram
três
importantes
atribuições demandadas aos bibliotecários quanto ao uso das plataformas
digitais que gerenciam os periódicos, que são: 1 - a normalização de
documentos; 2 - a análise de trabalhos técnico-científicos e, 3 - a organização
e gerenciamento de bases de dados virtuais.
�257
Estudo recente desenvolvido por Santana (2016, p. 22) evidenciou que
os fazeres bibliotecários em periódicos eletrônicos, embora ainda pouco
reconhecidos e concretizados, tendem a se tornar um potencial de atuação
desse profissional, o que pode consolidar a prestação de serviços bibliotecários
na gestão das plataformas, bases de dados e de todo o processo e fluxo
editorial demandado desse novo contexto. Assim:
É importante salientar que mudanças hoje observadas no âmbito das
equipes editoriais de periódicos científicos se deram muito em função
das transformações tecnológicas e da importância que os periódicos
assumiram no processo de comunicação e divulgação científica, que
exigem conhecimentos, habilidades e competências cada vez mais
específicos, dada as demandas que se impõem. Essas mesmas
mudanças possibilitam ao bibliotecário desempenhar papéis
estratégicos, bem como assumir funções com níveis maiores de
complexidade e responsabilidade nas equipes editoriais (SANTANA,
2016, p. 22, grifo nosso).
Assim, os bibliotecários, em conjunto com profissionais ligados a áreas
de Tecnologia, Design Gráfico, Comunicação, Marketing, dentre outras,
encontram oportunidades de exercerem atividades profissionais na editoração
eletrônica, uma vez que os sistemas e softwares utilizados nesse processo
precisam ser constantemente monitorados, permitindo que sejam exploradas
as possibilidades que esses recursos podem oferecer (COUTINHO; BUSE,
2014; SANTOS, 2016).
As equipes que atuam na gestão dos periódicos, normalmente, estão
envolvidas em diversas atividades, contempladas nas mais diferenciadas
etapas do extenso fluxo editorial, o que evidencia a presença de práticas
profissionais inerentes à gestão de cunho científico (a análise do conteúdo,
contemplando a avaliação do que será publicado), quanto à gestão de cunho
administrativo, ou seja, processos de trabalho que viabilizam o funcionamento
do software utilizado pelo periódico, quanto outras questões que possam afetar
a disponibilização do que é publicado nas edições (GUIMARÃES; DINIZ, 2014).
Em linhas gerais, na gestão científica, segundo os autores supracitados,
manifesta-se a presença dos editores, avaliadores, corpo editorial científico e o
comitê de política editorial. Por sua vez, a gestão administrativa é formada por
produtores editoriais e gráficos, gestores administrativos e financeiros,
�258
profissionais da comunicação e marketing.
De qualquer forma, para que esse conjunto de atividades diferenciadas
possam ser bem conduzidas e o fluxo da comunicação científica (processo
primordial que permeia o contexto de qualquer periódico científico) se realize
de forma efetiva, “[...] o periódico precisa de uma equipe interna e/ou externa
(terceirizada) consistente e comprometida, além de infraestrutura física e
tecnológica adequada” (GUIMARÃES; DINIZ, 2014, p. 458).
Nesse contexto, evidenciam-se as possibilidades empreendedoras que
podem surgir a partir das necessidades que se manifestam com a implantação
e aceitação, cada dia mais frequente, dos periódicos em formato eletrônico.
Desse modo, os bibliotecários, como outros profissionais da informação, por
possuírem habilidades e competências específicas para lidar com o tratamento,
organização e disseminação de objetos informacionais, como os periódicos,
têm um campo de trabalho promissor, sobretudo no que se refere à consultoria
ou
prestação
de
serviços
informacionais
para
os
periódicos
científicos
(SANTANA, 2016).
Normalmente, as complexidades demandadas nos processos de trabalho
com
os
periódicos
eletrônicos
requerem
a
formação
de
equipes
multiprofissionais, as quais os profissionais atuantes podem ser caracterizados
como empresários da informação, como relatado na obra de Le Coadic (2004).
Nas palavras desse autor, esse grupo é constituído por profissionais da
informação “[...] que criam empresas de fabricação e venda de produtos ou
serviços de informação, o produto da informação pode ser um banco de
informações especializadas, um programa de computador, publicações, índices,
catálogos etc.” (LE COADIC, 2004, p. 108).
Por fim, a editoração de periódicos, sobretudo a eletrônica, manifesta-se
como uma oportunidade viável para oportunizar práticas empreendedoras por
parte dos bibliotecários e demais profissionais que lidam com a informação, de
modo que, novos campos de trabalho possam ser formados, desencadeando ao
bibliotecário, um perfil multidisciplinar, com intervenções direcionadas à
consultoria prestada no amplo mercado da informação (FERNANDES; PIRES,
2012; COUTINHO; BUSE, 2014).
�259
3 RELATO DE EXPERIÊNCIA NA REVISTA PRÓ-DISCENTE
3.1 A REVISTA PRÓ-DISCENTE
O periódico Pró-Discente caracteriza-se como um caderno de produções
acadêmico-científicas, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação
e ao Centro de Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Essa revista científica é adepta ao movimento de acesso livre ao
conhecimento e é editada, por meio de serviços voluntários prestados por
discentes de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, egressos do Programa de
Pós-Graduação e profissionais de áreas correlatas. Tem por objetivos promover
a divulgação da produção acadêmica sobre a educação nas suas múltiplas
relações e contribuir para debates de questões relacionadas com o contexto
educacional em suas diferentes dimensões.
O
periódico
analisado
caracteriza-se
como
especializado
na
área
educacional, priorizando pesquisas interdisciplinares que mantenham relações
com o campo educacional em seus possíveis desdobramentos, contextos e
instâncias da sociedade. Por estar vinculada a um programa de PósGraduação, a revista adota as mesmas linhas de pesquisa do referido
programa. Desse modo, têm-se quatro linhas de investigação, a saber:
diversidade e práticas educacionais inclusivas; educação e linguagens; cultura,
currículo e formação de educadores; e, por fim, história, sociedade, cultura e
políticas educacionais.
O periódico nasceu no ano de 1994, sendo publicado em formato
impresso até o ano de 2009, momento em que passou a ser editado,
exclusivamente, via eletrônica, por meio do software OJS. Em toda a existência
da revista, a periodicidade adotada foi a semestral, sendo que em cada
volume, são publicados entre seis e oito artigos, como também, além desses,
pode haver publicações de resenhas críticas de livros, entrevistas com
especialistas da área, dossiês e traduções inéditas de autores brasileiros e
estrangeiros.
�260
Por caracterizar-se como um periódico científico, adota o processo cego
de avaliação, realizado por pares. Assim, para ser publicado, o manuscrito
perpassa por um processo editorial, realizado por diversas equipes, cada qual
com atividades diferenciadas, porém dependentes uma das outras. Conforme
consta disponibilizado no site do periódico, como também, considerando os
dados coletados na observação participante, constata-se que existem duas
grandes equipes de trabalho: a equipe editorial e o conselho científico.
A equipe editorial é responsável em controlar o fluxo dos manuscritos,
recebendo-os a partir da submissão pelos autores e distribuindo-os para os
avaliadores, os quais compõem o conselho científico. A equipe editorial é
subdivida em quatro grupos, que são: editores chefes (dois pesquisadores da
área de Educação), editores executivos (quatro editores, em que cada um é
responsável por uma linha de pesquisa específica), comitê editorial (treze
profissionais, a maioria pós-graduandos da área educacional e vinculados a
instituições públicas e privadas) e
um comitê assessor (bibliotecário e
educadores especializados em design gráfico). Por sua vez, o comitê científico
é formado por 35 profissionais, a maioria docentes na área de Educação e
vinculados à UFES.
3.2 ATIVIDADES BIBLIOTECÁRIAS REALIZADAS
A vinculação do bibliotecário à equipe editorial oficializou-se no ano de
2014, permanecendo em vigor até o atual momento. A princípio, o profissional
teve que se especializar acerca do sistema utilizado pela revista, uma vez que
as atividades de organização e diagramação das novas edições são realizadas,
exclusivamente, pela plataforma do OJS, conforme demonstrado na figura 1.
�261
Figura 1 – Interface do OJS no âmago do periódico gerenciado pelo bibliotecário
Guias de acesso aos dados do
periódico
Menus para acesso aos status
dos artigos
Menus para acesso a edições e
inserção de novas edições
Fonte: Dados da pesquisa (2017).
Como demonstrado na figura 1, o bibliotecário foi inserido na equipe
editorial da revista, de modo a exercer diversas funções, principalmente no
que se refere a auxiliar o papel do editor chefe (gestão administrativa) e o
papel do editor gerente (gestão científica).
Em linhas gerais, essas duas funções são sustentadas por inúmeras
atividades, concretizando-se após o processo de avaliação dos manuscritos
enviados à revista. Os manuscritos aprovados pelo comitê avaliador são
encaminhados via plataforma OJS ao editor gerente, sendo que esse
encaminha ao bibliotecário para que seja realizada as atividades de revisão
textual e normalização dos artigos. Após esse processo, manifestam-se as
atividades de tratamento, organização e disponibilização dos documentos (tais
como gestão dos metadados), e, logo em seguida, realiza-se o processo de
diagramação da estrutura que comporá a nova edição. Por fim, a nova edição
da revista é publicada.
A
figura
2
demonstra
as
principais
atividades
de
exclusiva
responsabilidade do bibliotecário, sendo que tais atividades são desenroladas
de forma processual, ocasionando - assim como acontece em outras fases da
editoração em que o bibliotecário não participa – um fluxo interativo, relacional
e contínuo.
�262
Figura 2 – Fluxo das principais atividades de responsabilidade exclusiva do bibliotecário
Envio dos manuscritos
aprovados
ao
bibliotecário
Atividades
revisão
textual
de
Atividades
e
de
tratamento
e
organização dos metadados
normalização
Atividades
de
diagramação
Publicação
de
nova
edição da revista
Fonte: Dados da pesquisa (2017).
Por meio das análises às figuras supracitadas, evidencia-se que o
bibliotecário atua de forma interativa e multiprofissional com os demais
membros da equipe editorial da revista, como também em parceria com outros
profissionais ligados às áreas de Tecnologia, Design Gráfico, dentre outros.
Enfatizam-se, outrossim, que o bibliotecário exerce, a priori, os papéis de
assessor, junto ao editor da revista, cadastrando usuários, delimitando papéis
aos membros da equipe, melhorando a interface da revista, inserindo e/ou
atualizando as informações disponibilizadas no site da revista, conforme figura
1. Além disso, são delegadas a esse profissional funções exclusivas, de acordo
com suas habilidades na organização da informação. Portanto, essas atividades
constituem as etapas finais do fluxo editorial, de modo que, em linhas gerais,
elas visam melhorar a qualidade da escrita dos artigos, como também, efetivar
o tratamento documentário das publicações e, por fim, elaborar a estrutura
final da nova edição, a qual é, logo em seguida, disponibilizada ao público
(publicada) (figura 2).
Com efeito, essas atividades, de um modo geral, indicam a ampliação
das práticas bibliotecárias, confirmando a atuação do bibliotecário no âmbito
da editoração de periódicos. Essas contribuições ao fluxo do processo editorial,
por serem realizadas em periódico de acesso livre, desencadeou a atuação
voluntária do profissional, no entanto, essas mesmas atividades podem ser
realizadas no âmago dos periódicos de acesso restrito.
�263
Além disso, essas atividades, dependendo da gestão do periódico, podem
ser contratadas por profissionais externos, o que viabiliza possibilidades
empreendedoras para aqueles que desejam inserir-se na prestação de
serviços, ou seja, elas representam um segmento da consultoria informacional.
Ademais, por meio da observação ao trabalho do bibliotecário neste
periódico, evidenciam-se outras atividades mais complexas, que, na maioria
das vezes, não podem ser realizadas pela equipe editorial, o que demanda a
contratação de serviços especializados. Assim, é possível evidenciar algumas
intervenções de consultores nos periódicos, tais como: o monitoramento,
atualização e manutenção da plataforma e do sistema utilizado pela revista; a
construção de bases de dados para incorporar a memória publicada no
periódico; a elaboração de bancos de dados com vocabulários controlados,
tendo em vista facilitar o processo de busca e recuperação da informação; a
migração ou incorporação entre bases de dados, visando melhorias no
armazenamento e recuperação, dentre outras atividades.
Em suma, a editoração periódica nos ambientes digitais é um episódio da
história das ciências e da humanidade que reconfigurou os meios de
comunicação das pesquisas, logo, por estar em processo de consolidação,
desafios surgem com frequência, fato esse que demonstra a origem de novos
campos de atuação por parte de profissionais de inúmeras áreas do
conhecimento,
sobretudo
dos
profissionais
ligados
à
organização
da
informação, como os bibliotecários.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os procedimentos metodológicos utilizados neste artigo demonstraram a
atuação do bibliotecário na editoração de periódicos eletrônicos. Constatou-se
que esse profissional auxilia nas atividades de gestão do periódico, melhorando
a interface da revista e atribuindo papéis aos membros da equipe, como
também desempenha, de forma exclusiva, as atividades de revisão textual e
normalização; tratamento e organização de metadados; diagramação; e, por
�264
fim, publicação de nova edição.
Além dessas atividades, outras mais complexas se fazem necessárias,
como a manutenção do sistema de gerenciamento e elaboração de estratégias
que melhorem o armazenamento da produção científica e acarrete melhorias
no sistema de recuperação da informação.
Em conjunto, essas atividades manifestam-se como possibilidades
empreendedoras para os bibliotecários que podem atuar na prestação de
serviços, tendo em vista resolver os desafios que se colocam no processo de
editoração eletrônica dos periódicos. Que essas evidências despertem a
formação de profissionais especializados, de modo que esse segmento de
mercado seja ocupado pelo bibliotecário, oportunizando ainda mais o mercado
de trabalho para esse profissional.
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Diderot. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2003.
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Acesso em: 27 abr. 2017.
�266
CAPÍTULO XVIII
CRIANDO SEU PRÓPRIO NEGÓCIO: O BIBLIOTECÁRIO COMO
CONSULTOR INDEPENDENTE
Graciane Silva Bruzinga Borges
Mayara Silva Gonçalves
Filipi Miranda Soares
1 INTRODUÇÃO
As
projeções
de
futuro
para
as
profissões
preveem
grandes
transformações no cenário atual, haja vista o advento da Inteligência Artificial
e do machine learning29. Nesse contexto, as possibilidades de atuação do
bibliotecário são promissoras, principalmente com a criação de seu próprio
negócio e a oferta de produtos e serviços voltados para múltiplos segmentos
do mercado, como o de consultoria independente para pessoas físicas e
jurídicas.
As atividades desempenhadas pelo bibliotecário podem ser observadas
ao longo do tempo, desde a Antiguidade, com a organização da informação em
papiros, até a época atual, com a utilização das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) aplicadas para o avanço da ciência e também para a
gestão da informação corporativa.
Na perspectiva das áreas de Biblioteconomia e da Ciência da Informação
(BCI), ao analisar, organizar e classificar um documento, o ser humano tem
como objetivo, mesmo que indiretamente, sua representação e, como
consequência, a recuperação da informação nele contida, bem como sua
29
O aprendizado de máquina (em inglês, machine learning) é um método de análise de dados
que automatiza a construção de modelos analíticos. É um ramo da inteligência artificial
baseado na ideia de que sistemas podem aprender com dados, identificar padrões e tomar
decisões com o mínimo de intervenção humana.
Disponível em: <https://www.sas.com/pt_br/insights/analytics/machine-learning.html>.
�267
utilização para a geração de novos conhecimentos e para solução de possíveis
problemas.
Para que o processo de recuperação da informação seja eficiente, é
imprescindível que se estabeleça em um primeiro momento sua organização e,
posteriormente, uma representação de forma consistente. A importância
dessas atividades advém da necessidade de o ser humano registrar e tornar
acessível o conhecimento produzido, e que nunca parou de ser criado. Com
isto, o papel do bibliotecário na sociedade é fundamental, considerando que
seu trabalho é essencialmente vinculado à gestão da informação e do
conhecimento.
Nesse cenário, a prestação de consultoria se diferencia por oferecer
diagnósticos aos problemas identificados no mercado e propor soluções
inteligentes para tal. O mercado de atuação desse profissional independente e
autônomo está em crescimento. O fato de ser um campo de atuação novo e
pouco conhecido justifica a pouca representatividade, o que desencadeia em
um espaço vago, sendo muitas vezes desempenhado por profissionais de
outras áreas. Esta realidade é observada atualmente no Brasil, porém, em
países mais desenvolvidos, a situação dos profissionais de consultoria
independente está consolidada. A diferenciação também ocorre no campo de
atuação: no Brasil os bibliotecários estão atuando mais na área de organização
e processamento de coleções e no exterior atuam em maior escala na área de
busca e recuperação da informação (BAPTISTA, 1998; VALENTIM, 1998;
ANNA; GRACE, 2014).
Assim, este
capítulo
tem
por
objetivo
apresentar
um relato
de
experiência de seus proponentes a respeito da atuação do bibliotecário como
consultor independente. Visa ressaltar a relevância desse segmento para o
fortalecimento da classe e discutir algumas possibilidades de produtos e
serviços oferecidos no mercado.
�268
2 O EMPREENDEDORISMO E A CONSULTORIA NA BIBLIOTECONOMIA
Empreendedorismo é um neologismo derivado do verbo empreender,
também
designado
competência
empreendedora,
significando
a
ação
deliberada de realizar ou de tentar realizar algo. O empreendedor estuda a
implementação e o desenho de um negócio, buscando ferramentas e soluções
empresariais para os problemas atuais e futuros30. O primeiro curso sobre
empreendedorismo foi ministrado em 1986, na Harvard Business School,
conforme citação de Larry Farrell, consultor de empresas norte-americano e
autor do livro The Entrepreneurial Age31 (DUARTE, 2011).
Já a pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial em relação ao
The Future of Jobs Report afirma que a resolução de problemas complexos
será a habilidade mais requisitada em 2020 (SCHWAB, 2016). Essa habilidade
é intrínseca às atividades desempenhadas pelo consultor, que visualiza, retrata
o
problema
e
oferece
soluções
em
produtos
e
serviços
comumente
desenvolvidos pelo bibliotecário.
Dessa forma, o perfil do consultor e a maneira com que ele se engaja
com as novas tendências do mercado influenciarão na consolidação de sua
trajetória desde sua formação como bibliotecário. A prática da profissão, a
gestão de projetos e as noções gerais de formalização do negócio são aspectos
também relevantes para um bom desempenho neste segmento, conforme
apresentado nas seções a seguir.
2.1 PERFIL DO PROFISSIONAL
Na
literatura,
profissional
identificam-se
empreendedor.
Em
diversos
geral,
os
estudos
autores
sobre
utilizam
o
perfil
os
do
termos
competência, habilidades, conhecimentos, qualidades e característica da
30
Daniel Nascimento e Silva, consultor e pesquisador em Administração. Fonte: Duarte
(2011).
31
Ver: Revista Exame, Editora Abril, edição 771.
�269
personalidade para identificar esse perfil (BAPTISTA, 2000; GLOSIENE, 2002;
CARDOZO; BARBOSA, 2004; SEBRAE, 2005; DALPIAN; FRAGOSO; ROZADOS,
2007).
Neste trabalho, porém, optou-se pela utilização do termo “competências”
para delinear o perfil do empreendedor. Isto porque subentende-se que não se
trata de “algo” intrínseco ao ser humano, como a personalidade ou qualidade,
mas sim algo que pode ser desenvolvido por cada indivíduo. Dessa forma, com
o intuito de apresentar as competências mais citadas na literatura da área,
identificaram-se algumas competências referentes ao perfil do profissional
empreendedor. Entende-se que tais competências poderão influenciar tanto o
indivíduo como o cliente, sua empresa e também o produto entregue (quadro
1).
Quadro 1 – Perfil do consultor refletindo em diversas áreas
Pessoal
Produtos e serviços
Age com proatividade
Resolve situações problemáticas
Apoia na autoimagem, na cultura da
liderança e na perseverança
Delineia objetivos maiores que o potencial
Trabalha com obstáculos significativos
ou as fontes existentes
Concentra-se na evolução individual
Sabe taxar e vender serviços e produtos
Lida com situações concretas
Foca na flexibilidade e rigor na qualidade
Predispõe-se a manter-se atualizado
dos serviços
Estabelece metas e objetivos que são
desafiantes e que têm significado pessoal
Corre risco calculado
Busca oportunidades e tem iniciativa
Cliente
Empresa
Define tarefas e papéis que criam uma
estrutura clara de organização
Planeja processos
Empenha-se em manter os clientes
Esboça e monitora sistematicamente seu
satisfeitos
negócio
Identifica as necessidades dos clientes
Conhece e explora a qualidade da sua
equipe
Detém boa estratégia de marketing
Fonte: elaborado pelos autores com base em Baptista (2000); Glosiene (2002); Cardozo;
Barbosa (2004); Sebrae (2005); e Dalpian, Fragoso e Rozados (2007).
Uma perspectiva também interessante são os chamados
blended
librarians. De acordo com Lima, Maculan e Borges (2017), essa é uma
expressão que apresenta ao bibliotecário uma ampliação de suas funções,
apontando para um novo perfil de profissional que deve considerar as
seguintes competências: 1) gestor de unidades de informação; 2) mediador de
recursos informacionais; e 3) educador voltado para o desenvolvimento de
�270
competência informacional da comunidade de usuários (neste caso, clientes) a
ser atendida. Assim, as competências do consultor influenciarão na forma
como o profissional trabalha e lida com seus clientes, bem como o escopo dos
produtos e serviços que ele oferece.
2.2 TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO
A formação do bibliotecário consultor acontece antes, durante e após sua
graduação. As habilidades técnicas adquiridas ao longo do curso dão ao
estudante um panorama prático consistente. Com o foco no estudo das
disciplinas ofertadas na Graduação em Biblioteconomia, Silveira (2012)
apontou que, na região Sul do Brasil, 3/5 dos cursos possuem disciplinas,
cujos conteúdos focalizam a temática do empreendedorismo em suas grades
curriculares. Embora seja a representação de uma pequena parcela dos cursos
oferecidos no Brasil, pode-se inferir que o percentual de disciplinas que
proporcionam ao aluno subsídios para enfrentar o mercado de trabalho quanto
a este aspecto é relativamente considerável. Contudo, ao longo de sua
trajetória,
esse
complementares,
futuro
de
profissional
modo
a
deverá
aprimorar
buscar
suas
por
atividades
formações
e
seu
autodesenvolvimento.
A atualização do profissional é de suma importância, considerando que o
aprendizado deve ser renovado para evitar a obsolescência e a estagnação.
Porém, é necessário traçar um plano de carreira pessoal, que servirá como um
direcionador das ações, evitando atualizações que não contribuem para a meta
predeterminada. Realizar uma autoavaliação das potencialidades e fragilidades
é
fundamental
para
verificar
quais
pontos
devem
ser
aprimorados
e
melhorados, por isto a importância de um planejamento individual, que deve
estar em consonância com o plano de carreira. Geralmente, as atualizações do
bibliotecário acorrem durante cursos, palestras, eventos, especializações e
grupos de discussão.
�271
O processo de elaboração e publicação de artigos em periódicos e a
apresentação de trabalhos em eventos na área também contribuem para uma
reflexão quanto ao estado da arte de determinado segmento, assim como
reforçam o processo de comunicação entre os pares. A aproximação das
universidades com as empresas, instituições e com a sociedade em geral
possibilita a aplicação do conhecimento científico na prática do mercado.
2.3 PRODUTOS E SERVIÇOS
O bibliotecário é capacitado a desenvolver diversos produtos e serviços
na área de organização e tratamento da informação. Tais produtos e serviços,
teoricamente, lhe foram apresentados durante a graduação e podem ser
aplicados no mercado. Nessa área, normalmente, os futuros contratantes não
têm clareza quanto às soluções possíveis para suas demandas informacionais,
embora sejam notórias suas necessidades de organização e gestão.
Por outro lado, ocorre, em alguns casos, que mesmo os próprios
bibliotecários podem não identificar com facilidade a potencialidade comercial
de seu portfólio. Esse fato vem em consonância com Dalpian, Fragoso e
Rozados (2007, p. 104), ao afirmarem que a “área de Biblioteconomia tem,
por tradição, não buscar lucro e como sistemática a ideia de não cobrança de
seus serviços e produtos”. Contudo, entende-se que é sim necessário que o
profissional faça publicidade de seus produtos, a fim de que eles sejam
reconhecidos, bem como que o trabalho por ele desempenhado seja
valorizado.
As opções de produtos e serviços que podem ser oferecidas em uma
consultoria são várias, de forma que o apresentado a seguir não é limitante,
mas sim toma como base um breve apanhado da literatura (CARDOZO;
BARBOSA, 2004; SILVA, 2005; FREIRE; ALAUZO; SPUDEIT, 2017), alinhado
com algumas considerações advindas da experiência profissional dos autores
deste capítulo, tal como segue.
�272
Modelagem de soluções em Arquitetura da Informação (AI): a AI tem
como objetivo proporcionar uma estrutura lógica a fim de ajudar o usuário a
encontrar a informação de que necessita, tornando acessível o que já existe na
organização. Segundo Davenport (2000), o fato é de que as informações
dispersas na organização, originadas de diferentes fontes e armazenadas em
vários formatos, provocam dificuldade de acesso. Assim, a AI pode ser um
modelo para solucionar tais problemas via um planejamento informacional de
sistemas de gestão (LIMA, 2016). Dentro dessa perspectiva, as organizações32,
de modo geral, investem no desenvolvimento de Sistemas de Recuperação da
Informação (SRIs), acreditando que esses sistemas, por si só, podem resolver
os problemas de gerenciamento de dados e de documentos vivenciados
internamente. Tais sistemas têm como função armazenar, recuperar e
compartilhar
informações
estratégicas.
Dessa
maneira,
as
organizações
apostam na possibilidade de reúso de dados e no favorecimento dos processos
decisórios internos. Contudo, as chances de obtenção de soluções de SRI
eficazes não são muito animadoras, considerando um alto índice de projetos
que são planejados e executados de maneira inconsistente e/ou incompleta.
Uma das dificuldades técnicas vivenciadas pelas equipes multidisciplinares de
projetos de SRI é a ausência de metodologia para modelagem de domínio
corporativo. O resultado do processo de modelagem deverá ser refletido na
estruturação do sistema em si e também na elaboração dos instrumentos de
arquitetura que os compõem, atuando, diretamente, na gestão do fluxo
informacional corporativo. Assim, essa é uma das atividades inerentes ao
bibliotecário, que poderá atuar em equipes multidisciplinares em projetos de AI
que
visem
o
desenvolvimento
de
SRIs,
ou
mesmo
a
construção
e
implementação de páginas web.
32
De acordo com o Dicionário de Administração e Negócio, ORGANIZAÇÃO é a “denominação
genérica de empresas, entidades, instituições, firmas, associações, sociedades e outras formas
de organismos públicos e privados, produtores de bens ou de serviços, com finalidades
lucrativas ou não, personalidade jurídica e objetivos diversos, entretanto, sempre voltados
para o desenvolvimento e o bem-estar social [...]” (DUARTE, 2011, p. 802, grifo nosso).
�273
Construção de taxonomia corporativa: por definição, a taxonomia é
considerada uma classificação do tipo sistemática, sendo, no contexto da BCI,
uma ferramenta de organização intelectual que pode ser empregada tanto em
portais institucionais e bibliotecas digitais como em mecanismo de busca
(CAMPOS; GOMES, 2008). Para essas autoras, o processo de organização da
informação realizado por meio de uma taxonomia possibilita a alocação, a
recuperação e a comunicação de informações dentro de um determinado
sistema de maneira lógica por meio de sua funcionalidade de navegação. De
acordo com a norma ANZI/NIZO Z39.19,
Taxonomia Corporativa – Coleção de termos de um vocabulário
controlado constituído por termos preferidos, relacionados entre si e
organizados em uma estrutura hierárquica na qual cada termo está em
uma ou mais relações tipo pai/filho (geral/específico) em relação a outro
termo nessa taxonomia (AMERICAN NATIONAL INFORMATION
STANDARDS ORGANIZATION, 1980, p. 1).
Ainda no contexto da AI, as taxonomias podem ser elaboradas pelo
bibliotecário como artefatos, ou seja, entregáveis previstos em um projeto a
fim de subsidiar o processo geral de modelagem de domínio corporativo. O
principal motivo pelo qual os projetos de AI deveriam ser elaborados nas
empresas deveria ser uma real mudança de comportamento dos colaboradores
na manipulação e no uso dos documentos por meio dos quais o conhecimento
da organização é registrado. Sem esse entendimento, o resultado de tais
projetos
possivelmente
será
negativo.
Gerenciamento
de
informação
pressupõe gestão de mudança, afinal, em um cenário de desenvolvimento de
SRI, seu uso efetivo é (ou deveria ser) o principal objetivo da AI. Na
perspectiva de Davenport (2000, p. 202), para a implementação de uma AI
eficiente
é
necessário
considerar
que
ela
mude
a
maneira
como
os
colaboradores utilizam e lidam com as informações, do contrário não faria
sentido propô-la. Seguindo essa mesma linha, Lima (2016, p. 47) faz uma
análise histórico-conceitual do tema, afirmando que a AI “surgiu como uma
proposta para o design de estruturas informacionais em espaços digitais, e
posteriormente, como uma alternativa de modelo de gestão do conhecimento
nas organizações, e na estruturação de websites”. Assim, entendemos a
�274
influência e a contribuição do bibliotecário, nesse segmento, como de extrema
relevância, haja vista sua formação e capacitação na área de organização e
tratamento da informação.
Elaboração de índice de final de livro: esse tipo de índice diz respeito a
dispositivos tradicionais que fornecem uma visão geral do conteúdo do
documento. Normalmente, consiste nos conceitos mais importantes abordados
em um livro, com indicação para as páginas relevantes. Dessa forma, um
índice é uma lista alfabética de pessoas, lugares, assuntos etc., mencionada no
texto de uma obra, impresso no final do documento (MEKKI; NAZARENKO,
2005; CSOMAI; MIHALCEA, 2007).
Trata-se de um produto, normalmente solicitado e gerenciado pelo
mercado editorial com a participação de equipe de profissionais composta
geralmente pelo bibliotecário indexador. Para sua elaboração, é necessário ter
conhecimento aprofundado da temática relatada no livro, considerando que os
termos e frases devem ser representativos, e fornecerem as relações entre
eles (utilização de remissas). Para seleção dos termos e frases, utiliza-se o
princípio da indexação, comumente conhecido pelos bibliotecários. Os índices
enriquecem o livro, pois se constituem em um instrumento facilitador na busca
de informações pontuais dispersas ao longo do texto, demonstrando, ainda, a
preocupação da equipe editorial em proporcionar ao usuário um produto rico
para busca e recuperação de informações.
Normalização de documentos técnicos e científicos: de acordo com a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, on-line),
[...] a normalização é, assim, o processo de formulação e aplicação de
regras para a solução ou prevenção de problemas, com a cooperação de
todos os interessados, e, em particular, para a promoção da economia
global [...]. Norma é o documento estabelecido por consenso e aprovado
por um organismo reconhecido, que fornece regras, diretrizes ou
características mínimas para atividades ou para seus resultados, visando
à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto [...].
Para esse tipo de serviço, o autor solicita a normalização, conforme as
regras predefinidas pela instituição de ensino na qual o trabalho será
submetido. Esse é um nicho de mercado permanente e aquecido, tendo em
�275
vista o imenso volume de monografias, dissertações e teses defendidas no
ensino superior no Brasil. Caracteriza-se como uma atividade minuciosa, na
qual o profissional deve ter domínio das regras a serem empregadas durante o
processo.
Organização e gestão documental de arquivos: campo de trabalho
desempenhado oficialmente por arquivistas formados; contudo, vale ressaltar
que por muitos anos teve, e ainda tem, lacunas atendidas por bibliotecários
que acabaram por se especializar nesta área. Atualmente, com uma maior
inserção de arquivistas no mercado, essa atuação tem ficado cada vez mais
equilibrada,
abrindo
espaço
para
parcerias
entre
os
profissionais.
As
organizações geram diversos arquivos que inclusive são essenciais para
registro histórico daquela instituição. Os procedimentos de organização (física,
eletrônica e digital) e a definição de tipos de acesso aos acervos e a elaboração
de instrumentos de gestão, como Tabela de Temporalidade Documental (TTD)
e Plano de Arquivo (PA) são produtos inerentes a esse nicho.
Organização,
implementação
e
automação
de
bibliotecas:
tradicionalmente desempenhado pelo bibliotecário que detém conhecimento
sobre o tratamento e a organização da informação dos materiais contidos em
uma biblioteca. Envolve processo de automação e digitalização de acervos,
bem como demanda de hardware e software especializados. O mercado
apresenta editais, principalmente provenientes de instituições públicas, para a
contratação de empresas terceirizadas especializadas nessa área.
Disseminação Seletiva da Informação (DSI): de acordo com Cunha e
Eirão (2012), do termo inglês Selective Dissemination of Information (SDI),
esse serviço era elaborado manualmente com base no acervo local de
periódicos, para a produção de listas selecionadas de títulos e artigos e a
distribuição de resumos a poucos usuários. Para os autores, a DSI pode
produzir um grande problema ou solução, referenciando duas das clássicas
Leis de Ranganathan (1963): “Poupe o tempo do usuário" e "Para cada leitor,
�276
seu livro". Trata-se de um serviço personalizado, de valor agregado e
direcionado para a necessidade particular de cada usuário. Nos últimos anos, a
DSI torna-se, com o aumento da demanda de informação e o crescimento da
tecnologia, um importante instrumento de suporte para as organizações que
desejam difundir informações de maneira prática e ágil. O trunfo da DSI reside
no poder conferido ao usuário em decidir o que deseja ou não receber
(CUNHA; EIRÃO, 2012). Assim, esse é um nicho no qual o bibliotecário
desempenha o serviço de referência, entendendo a necessidade do usuário e
traduzindo-a para uma linguagem documentária que facilite as buscas nas
fontes de informação. Dessa forma, fornece uma recuperação eficiente e
confiável das informações, assim como auxilia na disseminação seletiva da
informação, conhecendo a temática de interesse de seus usuários. As entregas
deste serviço preveem o fornecimento de informações adicionais e atualizações
das novas tendências da temática de interesse.
2.4 ETAPAS DO PROJETO
Há várias possibilidades para o desenvolvimento dos produtos e serviços
mencionados e uma delas é por meio da gestão do Ciclo de Vida de um
projeto. Nesta perspectiva, as metodologias em cascata, ou seja, aquelas que
apresentam linearmente a execução de fases e de etapas a serem cumpridas
uma após o término da anterior, mostram-se interessantes. Nesse sentido,
apresenta-se uma abordagem, composta de cinco fases.
Fase de Iniciação: para Trentim (2016), na fase de iniciação, o Termo de
Abertura autoriza formalmente o projeto. Este documento define os objetivos
do projeto, descrevendo sua necessidade e suas justificativas, podendo incluir
restrições de tempo e de custo, entre outras. Além disso, nomeia e dá
autoridade ao gerente de projeto. O responsável pelo termo de abertura é o
patrocinador do projeto.
�277
Fase
de
planejamento:
envolve
diversos
aspectos,
começando
pelo
engajamento dos stakeholders33 na coleta de requisitos e definição do escopo.
Além disso, o tempo e o custo são especificados no Plano de Projeto nesta
fase, que precisa considerar as comunicações, os recursos humanos, os riscos,
as aquisições e os stakeholders do projeto (TRENTIM, 2016).
Fase de execução: a execução começa mobilizando os recursos necessários
do projeto. Tirar o plano do papel exige muita colaboração e integração.
Durante a execução, o gerente de projeto é o responsável por orientar e
direcionar o trabalho, liderando a equipe do projeto para que as entregas
atendam aos requisitos e aos prazos planejados (TRENTIM, 2016).
Fase de controle: o gerente de projeto também é responsável pelo
monitoramento e controle, por meio de indicadores de desempenho, ações
preventivas e ações corretivas, para garantir que o projeto siga seu curso
dentro dos limites de tolerância. É importante ter um processo formal para
solicitação, aprovação e monitoramento de todas as mudanças do projeto
(TRENTIM, 2016).
Fase de encerramento: o término do projeto ocorre quando todas as
entregas são concluídas ou o projeto é cancelado, também possuindo
processos formais, devendo incluir sempre lições aprendidas, documentação do
projeto, encerramento dos contratos e aceitação final do cliente. Finalmente, o
autor
ressalta,
descontraidamente,
a
importância
de
comemorar
o
encerramento com seus stakeholders e com a equipe (TRENTIM, 2016).
Para o consultor iniciante, vale sinalizar uma estrutura mínima para
pensar no fluxo
de trabalho deste
profissional. Tal estrutura poderá,
futuramente, dar subsídios para a formalização das áreas e dos setores
internos da empresa. Uma modelagem de alto nível pode ser observada na
figura 1.
Stakeholders: conjunto de funcionários, acionistas, fornecedores, sociedade civil e meio
ambiente, considerados organizacionalmente como um todo em constante interação [...]
(DUARTE, 2011).
33
�278
Figura 1 – Fluxo de trabalho
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Considera-se que o consultor deve traçar estratégias de marketing e
propaganda, metas iniciais de venda, definir sua metodologia de gestão de
projetos e, consequentemente, o ciclo de vida das ações inerentes a este,
assim como estar atento à execução de uma abordagem de pós-venda.
2.5 FORMALIZAÇÃO DO NEGÓCIO
Quanto à formalização do negócio, recomenda-se considerar a opção
pela microempresa ou pelo Microempreendedor Individual (MEI). De acordo
com Duarte (2011), microempresa corresponde a uma organização comercial,
industrial ou prestadora de serviço, de pequeno porte, definida em legislação
específica que lhe concede tratamento jurídico, fiscal e administrativo
diferenciado dos demais tipos de empresas.
Para o Sebrae, o trabalhador conhecido como informal pode se tornar um
MEI legalizado e passar a ter CNPJ, o que facilitará a abertura de conta
bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de notas fiscais (SERVIÇO
BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 2018a, on-line). Já
para a abertura de um negócio, a instituição recomenda alguns passos para
iniciar bem essa empreitada. Destaca que a abertura e o gerenciamento de
empresas exigem um conjunto de habilidades e conhecimentos e que é preciso
entender o mercado e o público, além de planejar bem o negócio. Uma boa
gestão considera estratégias de marketing, um fluxo de caixa controlado e
�279
passa também por muita criatividade e inovação (SERVIÇO BRASILEIRO DE
APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 2018b, on-line).
3 RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
A GB Consultoria, MSG e Norma Padrão foram criadas por bibliotecários
que trabalham de forma autônoma e também por meio de parcerias. A
proposta desta seção é apresentar alguns aspectos do modelo de negócio das
empresas e a forma como atuam no mercado, bem como exemplificar
situações que decorrem da prática da consultoria, como descrito a seguir.
3.1 A CONCEPÇÃO DA GB CONSULTORIA EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO
A GB Consultoria em Gestão da Informação nasceu da vontade de sua
sócia fundadora em formalizar sua prestação de serviços especializados no
campo da Biblioteconomia, Ciência da Informação e assessoria de pesquisa
científica. Atuando no segmento desde o ano de 2003, a bibliotecária Graciane
Silva Bruzinga Borges, responsável técnica da empresa, sempre acreditou no
potencial da prestação de serviços e na elaboração de produtos de forma
autônoma.
No início do ano de 2016, a partir de um convite de parceria feito pela
então H2P Empreendimentos e Participações, consolidou-se a empresa no
formato MEI. À época, a demanda que se colocava era referente a um projeto
de consultoria no ramo ferroviário, visando ao desenvolvimento de um Sistema
de Gestão de conteúdos internos da companhia. Com o projeto bem-sucedido,
outros contratos se firmaram com empresas de múltiplos segmentos, em
projetos como: capacitação de equipe para elaboração de vocabulário
controlado, elaboração de vocabulário controlado e taxonomia corporativa,
elaboração de termo de referência para edital na área de gestão de arquivos,
dentre outros. Desde então, a GB vem incentivando outros profissionais a se
�280
enveredarem pelo campo da consultoria, haja vista os bibliotecários hoje à
frente da MSG Prestação de Serviços Especializados e da Norma Padrão.
Atualmente, a GB atua em dois pilares fundamentais. O primeiro deles
diz respeito aos serviços especializados para o meio acadêmico, incluindo
normalização de trabalhos científicos; editoração de anais de eventos;
confecção de e-books; realização de pesquisa e localização de dados,
informações e documentos; DSI e assessoria de pesquisa a mestrandos e
doutorandos. O segundo pilar diz respeito ao mercado de consultoria em
organização e tratamento da informação. Normalmente, neste segmento, as
demandas advêm de organizações de médio e de grande porte, especialmente
relacionadas às necessidades de gestão de recursos informacionais internos,
melhoramento
do
fluxo
de
informação,
processamento,
organização,
representação, recuperação e uso de dados. Nesse sentido, é sabido que as
organizações têm como recurso vital para sua cadeia produtiva os dados que
são por elas gerados ou administrados em seus fluxos de trabalho. Esse
conhecimento se encontra registrado em documentos disponíveis em vários
suportes, como os meios físico, eletrônico e digital, o que demanda uma
efetiva gestão. Nesse contexto, a GB atua dando suporte às organizações que
necessitam de projetos que visem ao desenho de soluções de Arquitetura
Corporativa. Assim, é a partir desse tipo de solução, que a camada de AI terá
condições de modelar os sistemas de gestão de conteúdos internos de forma
eficiente e compatível com o modelo de negócio do cliente.
3.1.1 As possibilidades de aproximação entre academia e mercado
Nos
bancos
acadêmicos,
muito
se
fala
da
necessidade
de
as
universidades ultrapassarem os “muros” que, em muitos casos, as fazem
distantes da sociedade. As iniciativas de aproximação entre universidade e
empresa é uma das vertentes que tentam diminuir essa distância, sendo esta
uma das motivações da GB. Atualmente, a empresa vem apostando no estudo
de metodologias científicas aplicáveis ao meio corporativo.
�281
Para tomar qualquer decisão no campo da ciência ou no meio
corporativo, é imprescindível que se tenha por base o maior e mais específico
número de estudos e projetos, semelhantes ao problema em questão, já
realizados e, naturalmente, os resultados já alcançados por meio destes
trabalhos. Desta forma, se contribui para o avanço da ciência e se apresentam
ao mercado as melhores práticas teoricamente fundamentadas na literatura
publicada de cada área.
Assim, a nova vertente apresentada pela GB é configurada pela
proposição de uma aproximação do mercado e da academia, por meio da
oferta de serviço especializado de pesquisa para apoio ao processo de tomada
de decisão no meio corporativo. Este nicho de mercado pressupõe duas
abordagens: 1) as organizações lidam com dificuldades concretas relacionadas
à identificação e escolha de melhores práticas para desenho de soluções; e 2)
profissionais que trabalham nesta área nem sempre podem contar com
metodologias ou instrumentos que auxiliem em projetos de consultoria de
diversos setores da companhia de uma maneira consistente e fundamentada
em bases acadêmicas. Assim, a GB vem inovando no mercado por meio da
oferta de produtos e serviços diferenciados, sempre garantindo a seus clientes
o rigor na manipulação de conteúdos proprietários, respeitando a produção
intelectual e seus direitos autorais. Sua prática é pautada na ética profissional
e em metodologia própria, oferecendo alto padrão de qualidade dos produtos
entregues.
3.2 A CRIAÇÃO DA MSG E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS
No final da Graduação em Biblioteconomia, no ano de 2015, a
bibliotecária Mayara Gonçalves foi convidada para conhecer os trabalhos
prestados pela GB Consultoria, o que gerou curiosidade e identificação com o
trabalho desenvolvido por bibliotecários consultores. Com apoio e mentoria da
GB, foi criado o CNPJ de microempreendedor individual (MSG Prestação de
Serviços Especializados). Assim, a necessidade de trabalhar inicialmente com
�282
profissionais mais experientes no mercado e a identificação de sua própria
identidade como empresa são abordadas na próxima seção.
3.2.1 Os desafios da iniciação em consultoria e a tratativa com o
cliente
Quando o profissional decide formalizar sua empresa, surgem diversos
questionamentos e dúvidas. Primeiro, a responsabilidade solitária de expor o
nome e representar uma classe de profissionais. E, no caso da MSG, ser criada
por uma bibliotecária recém-formada, que detinha conhecimentos teóricos e
vislumbrava possibilidades de aplicação no mercado, porém não possuía
experiência, naquele momento, com contratos e funcionamento de uma
empresa.
O grande desafio de trilhar caminhos para chegar a ser um consultor
advém de muita prática e experiências com projetos executados. Esta
bagagem se adquire com os anos, e o obstáculo em transmitir confiabilidade
para o cliente e consigo mesmo no nascimento de uma empresa deve ser
sanada com parcerias e contatos com profissionais mais experientes, e
também dedicação em estudar um novo campo.
É fundamental entender que, embora a consultoria seja um trabalho
geralmente individual, a consulta e a mentoria do profissional mais experiente
no mercado são essenciais. Isto porque o novo profissional pode apresentar
lacunas e ir por caminhos que podem gerar desconforto e não serem os mais
eficientes, e o profissional experiente, ao apresentar sua forma de trabalho,
pode “iluminar” o novo consultor na sua própria maneira de atuar.
Além dos contatos, é preciso focar na razão de todo o trabalho
desenvolvido: o cliente. A forma de trabalho e comunicação com o cliente é o
que garantirá o sucesso do projeto. Primeiro, é preciso entender a necessidade
do cliente, para, posteriormente, propor uma solução viável, além de saber
escutar e manter-se atento para não se desviar do propósito de coletar o
máximo de insumos possíveis. Durante o projeto, as expectativas do cliente
�283
devem ser reavaliadas para que estejam em consonância com o produto
oferecido e para, ao final do projeto, receber o feedback e avaliar se o produto
ou serviço oferecido realmente foi eficiente para o cliente.
É preciso compreender que, no início de uma empresa, geralmente
representada por apenas um indivíduo, a postura profissional diante do cliente
será a visão que ele terá de sua empresa. Assim, comunicar-se com
propriedade sobre os produtos oferecidos e sobre a necessidade deste cliente
(por meio de estudo prévio de seu perfil) é essencial. A flexibilidade quanto a
possíveis perguntas e situações adversas também é fundamental para uma
boa tratativa com o cliente. Dessa forma, a clareza na comunicação é
primordial à eficiência de qualquer projeto, em que o objetivo central deve ser
sempre solucionar o problema, atendendo e indo além da expectativa do
cliente.
3.3 O DINAMISMO E A INOVAÇÃO DA NORMA PADRÃO
A Norma Padrão é uma startup que surgiu a partir da motivação de dois
amigos bibliotecários que atuaram como freelancers, normalizando trabalhos
durante a Graduação em Biblioteconomia, na Escola de Ciência da Informação
da UFMG, de forma cooperativa. Vislumbrando o campo da Apresentação do
Trabalho Científico como um nicho real de trabalho do bibliotecário, os sócios
decidiram reunir seus conhecimentos e investir em um novo empreendimento
no último ano da graduação. Inicialmente, atuaram em parceria com a GB
Consultoria em Gestão da Informação, empresa madrinha da Norma Padrão34.
As duas empresas continuam a atuar em parceria, assumindo demandas com
profissionalismo e dinamismo.
Para estruturar a empresa, a primeira decisão tomada foi criar a
identidade visual e a marca. Uma equipe especializada em marketing executou
uma pesquisa para encontrar a identidade visual do campo de normalização.
34
Para saber mais sobre a Norma Padrão, acesse: <https://www.normapadrao.com.br/quemsomos>.
�284
Os resultados da pesquisa apresentaram a origem da palavra “norma”, que em
latim significa “esquadro”. Por essa razão, o esquadro está presente na
logomarca da Norma Padrão, e foi o primeiro nome adotado pela empresa.
A etapa seguinte foi o registro da marca no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI), instituição responsável por registrar marcas e
patentes no Brasil. O processo é lento e pode demorar até dois anos para ser
finalizado, mas é essencial para que a empresa consolide sua marca e possa
atuar com segurança no mercado nacional. Concomitantemente, a empresa foi
registrada no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
A estrutura orgânica da Norma Padrão é formada por dois bibliotecários,
responsáveis
técnicos
pelos
serviços
de
normalização
e
formatação,
diagramação textual, design de capa e diagramação de livros digitais (ebooks), principalmente. Os dois bibliotecários também são responsáveis
técnicos pelo serviço de Divulgação do Trabalho Científico, que envolve a
gestão de redes sociais acadêmico-profissionais, como LinkedIn, Google
Scholar, Research Gate e a elaboração e atualização do Currículo Lattes,
ferramentas importantes para dar visibilidade aos resultados de pesquisas e
aos próprios pesquisadores.
Os outros serviços oferecidos pela Norma Padrão, como tradução/versão
e revisão de língua e estilo de textos científicos, são executados em parceria
com outras empresas e profissionais formados na área de Letras. Dessa forma,
a empresa é capaz de atender totalmente as demandas do cliente referentes à
apresentação do trabalho científico, após a finalização da escrita. Não
obstante, o lema da Norma Padrão é: “Preocupe-se em escrever, e do mais a
gente cuida”.
A formalização da empresa e a construção de uma equipe multidisciplinar
competente são os esforços iniciais para a concepção do negócio, mas é
preciso que os clientes conheçam os serviços e a empresa. Por esse motivo, a
Norma Padrão investe em marketing digital e propaganda.
�285
3.3.1 Investimento em marketing e propaganda como estratégia de
crescimento no mercado
O marketing e propaganda ajudam a disseminar a Norma Padrão no
mercado e a apresentar seus serviços. O serviço de marketing deve ser
trabalhado conforme o perfil da empresa. No caso da normalização, o esforço
para elaborar campanhas é maior que em outros setores de prestação de
serviço, uma vez que não existem muitas empresas oferecendo este tipo de
serviço no mercado. Logo, antes de divulgar os serviços, é preciso planejar
como utilizar as linguagens verbal e não verbal para que o cliente em
potencial, sem conhecimento específico dos termos técnicos da normalização,
entenda que o que está sendo oferecido é exatamente o que ele procura.
O marketing digital é uma forma mais barata e ecologicamente correta
de divulgar os serviços. Com a funcionalidade de impulsionamento de
publicações nas redes sociais, como Facebook e Instagram, é possível
selecionar o perfil de interesse do público a ser alcançado (p. ex., estudantes
de graduação, pós-graduação, universidades, médicos etc.) e a cobertura
geográfica da divulgação. Em poucas horas, é possível que milhares de
pessoas visualizem uma campanha de desconto impulsionada pela empresa,
por exemplo.
As redes sociais da Norma Padrão são gerenciadas por profissionais. As
postagens são elaboradas conforme a identidade da empresa e publicadas em
momentos programados. Certas campanhas de desconto são programadas
para acontecerem sempre nas mesmas datas ao longo do ano. Outras
campanhas surgem de acordo com oportunidades, como apoio a eventos
científicos. É comum, também, que a Norma Padrão ofereça serviços como
permuta para obter divulgação em eventos científicos ou publicações de
interesse.
�286
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o objetivo deste capítulo em fazer um paralelo entre a
atuação do bibliotecário como consultor independente e as possibilidades de
oferta de produtos e serviços no mercado, considera-se esta uma discussão
atual e relevante. A atuação do bibliotecário na consultoria é um campo ainda
em desenvolvimento, no entanto, de grande relevância para a sociedade.
Dispor do conhecimento teórico e aplicá-lo na prática é fundamental para
facilitar e divulgar este ramo de atuação do bibliotecário.
Por meio dos relatos de experiências apresentados, pôde-se observar
que o bibliotecário, como consultor independente, desenvolve diversas
habilidades,
e
conhecimentos
que
é
sua
constante
primordial
para
se
atualização
diferenciar
em
no
busca
de
segmento.
novos
Já
as
possibilidades de produtos e serviços oferecidos podem ser ampliadas para
outros contextos, além dos já tradicionalmente explorados, propondo-se, desta
forma, uma nova reflexão aos leitores.
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MERCOSUR, 2., 1998, Santiago. Anais... Santiago: [s.n.], 1998. p. 109-114.
�290
À GUISA DE CONCLUSÕES: DAS BIBLIOTECAS PARA O
MUNDO: UM NOVO PROFISSIONAL EM ASCENSÃO
Jorge Santa Anna
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Inovação e empreendedorismo têm sido destaques em diversos setores,
desde a economia, política e (re)organização da sociedade. Introduzir essas
práticas no âmbito da Biblioteconomia tem se tornado desafios para os
profissionais da área e para aqueles que buscam essa formação.
Crescer no mundo, cuja informação e tecnologia estão modificando as
formas de vida, faz-nos pensar que podemos organizar e estruturar nossas
ações em busca de crescimento individual e organizacional. Nesse contexto,
cabe aos bibliotecários buscar compreender a forma de organização política,
econômica
e
social
e,
por
meio
dessa
compreensão,
utilizar
seus
conhecimentos de forma a buscar soluções para os problemas da sociedade.
Nesse âmbito, as bibliotecas ganham forças por se ornarem insumos
para o crescimento e desenvolvimento de pessoas, organizações e da
sociedade. Os profissionais que ali atuam podem se tornar pontes para o
futuro. Compreender os espaços de atuação profissional vai além do contexto
tradicional das bibliotecas. É preciso atentar-se para os caminhos que a
sociedade está seguindo e, nesse processo, atentar para o desenvolvimento
social e sustentável, o qual pode receber contribuições benéficas das
atividades inovadoras e empreendedoras realizadas nos diversos espaços
informacionais que permeiam a atual sociedade.
As
ações
inovadoras
e
empreendedoras
a
serem
realizadas
por
bibliotecários não requerem, em muitas das vezes, grandes esforços, mas,
ações conjuntas que promovam um diferencial, no intuito de despertar o
potencial que a prática bibliotecária pode oferecer. Cabe aos envolvidos com a
profissão, tais como alunos, professores e profissionais realizarem projetos
�291
interventivos e proporcionar estratégias de visibilidades dessas ações. Por
outro
lado,
cabe
à
sociedade,
representada,
principalmente,
pelos
empregadores e pelos órgãos governamentais, conhecer, reconhecer, valorizar
e dar condições para que a prática bibliotecária contribua com suas
potencialidades para o desenvolvimento das organizações e da sociedade com
um todo.
Embora o empreendedorismo no âmbito da Biblioteconomia ainda esteja
em processo de consolidação, os textos apresentados nesta coletânea são
suficientes para demonstrar que trata-se de um campo potencial para o
bibliotecário e de grande valor para a sociedade. Isso evidencia que o
empreendedorismo manifesta-se como uma oportunidade de ampliar os
fazeres profissionais, de modo que bibliotecários possam se “reinventar”,
enfrentando os desafios da sociedade contemporânea, e se adequando às
novas tendências, garantindo para a ascensão da área no decorrer das
próximas décadas.
Por meio da leitura e reflexões apresentadas nesta obra, entende-se que
empreender não se restringe a grandes ideias e projetos, mas contempla
outros
substantivos
(tais
como:
perseverança,
dedicação,
esforço,
planejamento, gestão, esperança, comprometimento), os quais podem estar
presentes no cotidiano de qualquer profissional, seja atuante em bibliotecas
universitárias, escolares, públicas, dentre outras, ou atuando junto a projetos
sociais, em favor das minorias, e com um propósito de transformação da
realidade, haja vista permitir melhores condições de vida para todos.
Ao findar dessas reflexões, pode-se considerar que o empreendedorismo
bibliotecário
seja
definido
como
uma
disciplina
ou
subcampo
da
Biblioteconomia, de aspecto interdisciplinar, que congrega estudos sobre
atitudes e comportamentos dos bibliotecários em prol da inovação para fins de
adequação aos problemas da sociedade. Esse conceito abrangente alude para
o fato de que a ação empreendedora é emergente, haja vista fortalecer o
potencial da área e garantir o seu desenvolvimento ao longo dos tempos.
Portanto,
que
possamos
ser
criativos,
comprometidos. O futuro está em nossas mãos!
inovadores,
audaciosos
e
�292
DADOS BIOGRÁFICOS
Beatriz Valadares Cendón: Professora Titular do Programa de PósGraduação em Gestão & Organização do Conhecimento da Escola de
Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (Nível
5 - CAPES). Possui os títulos de Doutora e Mestre em Ciência da
Informação pela University of Texas at Austin (1996, 1990). Formada
em
Engenharia
Econômica
pela
Fundação
Dom
Cabral
(Especialização, 1984) e em Engenharia Civil pela Universidade
Federal de Minas Gerais (Graduação, 1980).
E-mail: <bcendon@gmail.com>.
Daniela Spudeit: Professora no curso de Graduação em
Biblioteconomia e no Programa de Pós-Graduação de Gestão da
Informação da Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). É doutoranda e possui Mestrado em Ciência da
Informação pela UFSC, especialista em Gestão de Unidades de
Informação e em Didática do Ensino Superior. Possui
bacharelado em Biblioteconomia e licenciatura em Pedagogia.
E-mail: <danielaspudeit@gmail.com>.
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva: Doutorando pelo
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais
(PPGGOC-UFMG). Mestre em Ciência da Informação pelo
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB). Graduado em
Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba. Membro
do Grupo de Pesquisa Informação, Aprendizagem e
Conhecimento (GIACO) do Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento (CNPq).
E-mail: <biblioebfs@yahoo.com.br>.
�293
Elaine
Meneguci
Gregório:
Bibliotecária,
graduada
pela
Universidade Federal do Espírito Santo (2013). Atuou como
estagiária em unidades de informação e documentação como:
recursos humanos e arquivo do Instituto Federal do Espírito Santo;
Biblioteca universitária - período junho de 2012 a agosto de 2015.
Atua em empresa de Comunicação na área de arquivo e catalogação
e descrição de imagens. Trabalha em consultoria de arquivo jurídico.
E-mail: <ellaine.grego@gmail.com>.
Emanuelle
Geórgia
Amaral
Ferreira:
Bacharel
em
Biblioteconomia, Doutoranda e Mestra em Ciência da Informação
pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do grupo
de pesquisa “Estudos em Práticas Informacionais e Cultura”
(EPIC/UFMG) cadastrado no CNPq. Possui a trajetória acadêmica
orientada pela extensão, pesquisa e ensino. Seus interesses de
pesquisa estão em torno da Biblioteconomia, com ênfase na Ciência
da Informação.
E-mail:
<emanuelle.gaf@gmail.com>.
Filipi Miranda Soares: Graduado em Biblioteconomia. Mestrando
em Gestão e Organização do Conhecimento, da Universidade
Federal de Minas Gerais. Intercambista acadêmico no curso Ciências
e Tecnologias da Documentação e Informação pelo Instituto
Superior de Contabilidade e Administração do Porto, Portugal, ISCAP
(2016-2017). Ampla experiência na área de normalização técnica de
textos científicos. Consultor pela Norma Padrão.
E-mail: <filipi@normapadrao.com.br>.
�294
Graciane Silva Bruzinga Borges: Graduada em Biblioteconomia.
Mestre em Ciência da Informação, pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Doutoranda em Gestão e Organização do
Conhecimento/UFMG. Professora em Elaboração e Apresentação do
Trabalho
Científico/UFMG.
Professora
em
Elaboração
de
Monografia/Instituto
Mineiro
de
Ultrassonografia
(IMEDE).
Especializada em Normalização Documentária & Arquitetura da
Informação. Membro da diretoria da Associação dos Bibliotecários
de Minas Gerais/ABMG. Consultora pela GB Consultoria em Gestão
da Informação.
E-mail: <gracianebruzinga@gmail.com>.
Guilherme Alves: Mentor de startups e apaixonado por educação
empreendedora. Doutorando e Mestre em Ciência da Informação
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É Professor dos
Departamentos de Ciências Administrativas da UFPE, UNINASSAU e
FIP-PB. Consultor credenciado ao Sistema S nas áreas de
marketing, planejamento empresarial e inovação, onde foi
pesquisador, facilitador e consultor sênior do Programa Agentes
Locais de Inovação (ALI, cooperação técnica Sebrae e CNPq).
E-mail: <guilherme.alves.santana@gmail.com>.
Igor de Souza Bento: Bibliotecário, graduado pela Universidade
Federal do Espírito Santo (2018).
E-mail: <igorsouzabento@gmail.com>.
�295
Jorge Luiz Cativo Alauzo: Bibliotecário do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA). Possui Especialização em
Administração
e
Gestão
do
Conhecimento
pelo
Centro Universitário Internacional Uninter. Tutor na modalidade EaD
da empresa Content Mind Capacitação Profissional. Colaborador de
versões do software livre Biblivre. Editor do site Biblioteconomia
Digital.
E-mail: <jcativo@gmail.com>.
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Atua no ramo
da prestação de serviços informacionais, ministrando aulas de
Metodologia
Científica,
Normalização
Bibliográfica
e
Estruturação/Revisão de textos acadêmico-científicos, além de
orientações e consultorias diversas na área da Ciência da
Informação e Pesquisa e Estudos Acadêmicos. É membro do comitê
editorial e assessor do Periódico Pró-Discente, do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES).
E-mail: <professorjorgeufes@gmail.com>.
Maria Aparecida de Mesquita Calmon: Graduada em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Pós-Graduação em Biblioteca Escolar. Graduanda em
Arquivologia pela UFES.
E-mail: <macalmom@hotmail.com>.
�296
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Bibliotecária do Sistema de
Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Geria (UFMG). Possui
Mestrado em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da UFMG.
Presidente da Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais.
Exerceu o cargo de diretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no
período 2006-2013. Atua principalmente em áreas temáticas que
abrangem as seguintes questões: Bibliotecas Universitárias Gestão de Pessoas, Gestão em Unidade de Informação, Biblioteca
Digital, Competência Informacional, Extensão Universitária e
Ensino a Distância.
E-mail: <mabethcosta@gmail.com>.
Marina Nogueira Ferraz: É doutora e mestre em Ciência da
Informação pela Escola de Ciência da Informação da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui graduação em
Biblioteconomia pela UFMG (2002) e graduação em Psicologia
pela FEAD (2012). Atualmente, é bibliotecária da Biblioteca J.
Baeta Vianna da Faculdade de Medicina da UFMG na área de
pesquisa bibliográfica em bases de dados da área de saúde
nacionais e internacionais e professora conteudista do curso de
Biblioteconomia do Centro Universitário Claretiano.
E-mail: <marina.nogueiraf@gmail.com>.
Mayara Silva Gonçalves: Graduada em Biblioteconomia.
Mestranda em Gestão e Organização do Conhecimento pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Experiência em
consultoria de normalização de trabalhos científicos e
acadêmicos; capacitação de equipes voltada para a excelência no
atendimento ao cliente; gestão da informação em arquivos físicos
e digitais; recuperação e organização de arquivos digitais em
instituição de Educação a Distância. Consultora pela MSG
Prestação de Serviços Especializados.
E-mail: <mayara.biblio@gmail.com>.
�297
Munic Santos: Graduada em Arquivologia pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
E-mail: <munycky@gmail.com>.
Patrícia Maria de Melo: Possui Graduação em Psicologia pela
Universidade Federal de Minas Gerais, possuindo os títulos de
Bacharel em Psicologia (1996) e de Psicólogo (1996) e Licenciatura
em Psicologia (2002). Possui Pós-Graduação Lato Sensu em
Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Estadual de
Minas Gerais. Possui Pós-Graduação Lato Sensu em Alfabetização
pela Universidade Estadual de Minas Gerais e Graduação em
Biblioteconomia na mesma instituição.
E-mail: <patriciacriscolo@gmail.com>.
Rômulo Mansur Lauar Júnio: Graduado em Direito pela
UNIVALE. Graduado em Biblioteconomia pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduando em
Biblioteconomia pelo IPEMIG. Entre suas atuações destacamse: extensão universitária em Psicologia da Educação,
Tecnologia e Inovação, Gerenciamento de projetos, Docência do
Ensino Superior e Biblioteconomia, produção editorial e
bibliotecário editor. Atualmente, desenvolve projeto de
pesquisa em Biblioteca escolar e possui pesquisa desenvolvida
em Usuários da Informação.
E-mail: <romulolauar@gmail.com>.
�298
Rosemary Tofani Motta: Possui Mestrado em Ciências da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Graduação em Biblioteconomia pela UFMG. Atuou como ViceDiretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG, eleita por duas
gestões e coordenadora do Laboratório de Preservação de
Acervos da Escola de Ciência da Informação da UFMG, onde
desenvolveu atividades de ensino, pesquisa e extensão ligadas
à conservação e preservação de acervos documentais.
E-mail: <tofani@eci.ufmg.br>.
Silvana Aparecida dos Santos: Possui Doutorado e Mestrado
em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação/Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais (ECI/PPGCI/UFMG).
Possui especialização em Cultura Política, História e
Historiografia
(UFMG/FAFICH),
Gestão
Estratégica
da
Informação (ECI/UFMG) e Museologia (Fundação Mineira de
Arte). Possui Graduação em Biblioteconomia pela Escola de
Ciência da Informação (UFMG). É bibliotecária documentalista
da Universidade Federal de Minas Gerais, atuando na área de
arquivos.
E-mail: <silsanter@gmail.com>.
Suelen
de
Oliveira
Campos:
Arquivista/Bibliotecária.
Complementação Pedagógica em História. Especialista em
Gerenciamento
de
Projetos/História
e
Tecnologia
em
Informática na Educação.
E-mail: <suelenoc@gmail.com>.
�299
Vinicius Alves dos Santos: Graduando em Biblioteconomia
pela Escola de Ciência da Informação na Universidade Federal
de Minas Gerais. Estagiário na Divisão de Estoque da Editora
UFMG. Interesses em linhas de pesquisa ligadas ao Autismo e
Biblioteconomia, além das temáticas de Administração e
Planejamento.
E-mail: <viniciusalves102011@hotmail.com>.
�300
Esta é uma obra editada pela:
Esta é uma obra editada pela:
ABMG
ABMG
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912.
Edifício Rotary, Sala 608
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608
Como referenciar esta coletânea no todo:
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SANTA
ANNA,
Bruno da;
Fernandes
da; Elizabeth
COSTA, de
SANTA
ANNA,
Jorge;Jorge;
SILVA,SILVA,
EdcleytonEdcleyton
Bruno Fernandes
COSTA, Maria
Maria
Elizabeth
de
Oliveira
da caminhos
(Org.).para construção
Empreendedorismo
Oliveira
da (Org.).
Biblioteconomia
Social: possíveis
da cidadania. Belo
Bibliotecário
na
Sociedade
da
Informação:
outros caminhos e
Horizonte: ABMG, 2018. 320 p.
possibilidades. Belo Horizonte: ABMG, 2018. 300 p.
�301
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Empreendedorismo bibliotecário na sociedade da informação: outros caminhos e possibilidades
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2018
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
978-85-85259-02-0
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Empreendedorismo
Biblioteconomia
Description
An account of the resource
Por contemplar ações inovadoras, que vão além das instituições de informação, os capítulos descritos nesta obra aproximam-se de um tema ainda em consolidação – o empreendedorismo na Biblioteconomia - e que, certamente, engaja-se, cada vez mais, no cotidiano dos profissionais em todas as áreas de conhecimento.
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Livro
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pt
ABMG
Livros
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4600/EspacodoassociadoBibliotecasdaEaD.pdf
ff845857d2710db98934f12fdbbbabd7
PDF Text
Text
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O PAPEL DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS BRASILEIRAS
Por Maria Elizabeth de Oliveira Costa
As bibliotecas são instituições milenares que acompanham a evolução humana, adequando às diferentes tecnologias,
necessidades e contextos. Desde os tabletes de argila, na antiguidade, às ontologias e metadados da era digital, essas unidades se
aperfeiçoam no sentido de preservar os registros do conhecimento e garantir o acesso e uso da informação contida nos
documentos.
Mesmo com esses objetivos e com a capacidade de se adaptar, algumas questões são levantadas acerca do potencial da
biblioteca com o surgimento das tecnologias digitais, sobretudo no âmbito do ensino a distância. Semelhante ao ensino presencial, a
Educação a Distância também requer o uso de materiais para subsidiar as atividades educativas, o que remete às bibliotecas
universitárias garantirem a expansão dos serviços bibliotecários para além dos muros das instituições, levando ensino de qualidade
a diversas partes da nação, conforme proposta da Universidade Aberta do Brasil.
Nas universidades brasileiras, os sistemas das bibliotecas precisam oferecer serviços aos usuários da Educação a
Distância, tendo como apoio, nesse processo, as Bibliotecas dos Polos de Apoio Presencial. Observa que embora haja predominância
de uso dos serviços oferecidos, ainda, observam-se alguns desafios, como distância do polo, falta de material adequado às
necessidades e maior divulgação dos serviços, sobretudo quanto à oferta de serviços digitais, remetendo à necessidade de ações
interventivas e mediadoras entre as Bibliotecas Universitárias, os Centros de Apoio a Educação a Distância e as Bibliotecas nos
Polos de Apoio Presencial.
É possível reforçar que o nascimento da EaD tem representado um esforço de garantir a democratização do ensino e da
informação no Brasil e as bibliotecas e universidades exercem um papel imprescindível, em parceria com outros órgãos públicos,
sobretudo no que tange à oferta de produtos e serviços informacionais nos polos de apoio presencial aos estudantes.
Considerando os problemas existentes nas universidades e os desafios que permeiam a gestão dos sistemas de bibliotecas,
remete-se à necessidade de ações interventivas e mediadoras, no intuito de instituir um serviço informacional adequado, a partir da
estruturação das Bibliotecas do Polos, de modo que os alunos dos cursos a distância tenham a seu dispor os mesmos produtos e
serviços informacionais necessários para suas atividades acadêmicas, e que os polos possam de fato ser considerados uma
extensão da Universidade.
Que a Educação a distância seja cada vez mais valorizada, no Brasil, e que as bibliotecas universitárias e seus profissionais
possam contribuir com a melhoria da qualidade da educação ofertada em todos os cantos da nação!
*Nota: O presente texto foi embasado, considerando o desenvolvimento da tese de Doutorado da autora, já em fase de qualificação,
junto à Escola de Ciência da Informação (ECI), da UFMG.
Espaço dedicado ao associado
Mande seu texto, sua arte, sua produção, seu
marketing para publicação neste espaço. Email: abmg.gestao21@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Bibliotecária do Sistema de
bibliotecas da UFMG, atuante na Biblioteca da Escola de Ciência da
Informação. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em
Gestão e organização do Conhecimento. Investiga temas
relacionados as bibliotecas universitárias, Educação a Distância e
Biblioteconomia Social. E-mail: mabethcosta@gmail.com
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Educação a distância e o papel das bibliotecas universitárias brasileiras
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Bibliotecas Universitárias
Bibliotecas da EaD
Description
An account of the resource
As bibliotecas são instituições milenares que acompanham a evolução humana, adequando às diferentes tecnologias, necessidades e contextos. Desde os tabletes de argila, na antiguidade, às ontologias e metadados da era digital, essas unidades se aperfeiçoam no sentido de preservar os registros do conhecimento e garantir o acesso e uso da informação contida nos documentos
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Relatório de divulgação
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A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/6154/RevistaInterfacesPlanejamentoCurso.pdf
3e319a114a48f6471ae3e4010c11957f
PDF Text
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91
Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�Da extensão universitária à pós-graduação: relato
de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas
em Pesquisa Científica
From university extension to post-graduation: report of experience in the course methods and
techniques in scientific research
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Graduada em Biblioteconomia. Universidade Federal de Minas Gerais..
mabethcosta@gmail.com
Jorge Santa Anna
Doutorando na Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de Minas Gerais.
jorjao20@yahoo.com.br
RESUMO
Este trabalho caracteriza-se como um relato de experiência sobre a realização do projeto de extensão Métodos e Técnicas
em Pesquisa Científica: Preparação para Ingresso na Pós-Graduação. O referido projeto é coordenado pelo Centro
de Extensão da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais com apoio da Fundação de
Desenvolvimento da Pesquisa, e contempla a oferta de um curso de mesmo nome, com aulas teóricas e práticas, com o
intuito de desenvolver nos cursistas competências e habilidades em pesquisas científicas. Por meio deste relato, o objetivo
principal é demonstrar a importância da extensão no aprimoramento das atividades científicas, recorrendo a um estudo
descritivo, com procedimentos de pesquisa bibliográfica e apresentação de caso. Espera-se que os resultados alcançados com
o projeto reforcem o potencial da extensão no desenvolvimento e na melhoria do engajamento das universidades na vivência
social, sobretudo no que tange à aplicação de atividades práticas para estimular o interesse e a formação de competências
ao exercício de pesquisa e escrita científicas. Ao constatar a participação da comunidade externa em um curso que visa
estimular os alunos ao ingresso na Pós-Graduação, percebeu-se a relação indissociável entre extensão, pesquisa e ensino. A
partir dessa articulação, a extensão estimula, possibilita e oportuniza novas formas de produção (pesquisa) e de transmissão
do conhecimento científico (ensino) para toda sociedade, rompendo, nesse sentido, qualquer tipo de limitação.
Palavras-chave: Extensão universitária; Cursos de extensão; Ensino e pesquisa; Metodologia científica.
ABSTRACT
This work is characterized as an experience report about the accomplishment of the extension project Methods and
Techniques in Scientific Research: Preparation for Postgraduate Admission. This project is coordinated by the Extension
Center of the School of Information Science of the Federal University of Minas Gerais, with the support of the Research
Development Foundation, and includes the offer of a course of the same name, with theoretical and practical classes,
with the purpose of developing competencies and skills in scientific research. Through this report, the main objective is
to demonstrate the importance of extension in the improvement of scientific activities, using a descriptive study, with
bibliographic research procedures and case presentation. It is hoped that the results achieved with the project reinforce the
potential of extension in the development and improvement of university engagement in social life, especially with regard
to the application of practical activities to stimulate the interest and the formation of competences to the research exercise
and writing. When verifying the participation of the external community in a course that aims to stimulate the students to
enter the Post-Graduation, it was perceived the inextricable relation between extension, research and teaching. From this
articulation, extension stimulates, enables and gives opportunities for new forms of production (research) and transmission
of scientific knowledge (teaching) to every society, breaking, in this sense, any type of limitation.
Keywords: University extension; Extension courses; Teaching and research; Scientific methodology.
92
Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�INTRODUÇÃO
A universidade exerce um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade, visto que promove a formação profissional exigida pelo
mundo do trabalho. No entanto, o compromisso social das instituições
universitárias é mais amplo e complexo, considerando os pilares que sustentam as atividades dessas organizações: o ensino, a pesquisa e a extensão.
Embora esses pilares tenham características específicas – o que
promove atividades das mais diferenciadas – deve-se considerar a interação entre eles, com o intuito de que a universidade cumpra seu papel como
organismo que viabiliza o desenvolvimento econômico e cultural das nações.
Portanto, a universidade precisa romper com quaisquer práticas
que possibilitem, de alguma forma, o tratamento diferenciado a esses elementos, visto que a falta de valorização de algum deles tende impactar na
gestão dos demais. Com efeito, o ensino, a pesquisa e a extensão precisam
ser conduzidos de forma homogênea pelos gestores, considerando a interdisciplinaridade e a relação de dependência entre cada um desses pilares.
O debate acerca da indissociabilidade entre esses pilares tem permeado o contexto das universidades brasileiras. Esse discurso é fundamental para garantir uma gestão mais efetiva das instituições, sobretudo
no setor público, cujos princípios norteadores da democracia e da igualdade de direitos precisam ser considerados. O tema ganha repercussão na literatura ao enfatizar a formação de novas práticas pedagógicas, nas quais
o conhecimento possa ser produzido, reproduzido e socializado (PUHL e
DRESCH, 2016). Logo, a integração entre os pilares provoca uma atitude
inovadora e transformadora da realidade social (PIVETTA et al., 2010),
além de viabilizar um fazer autônomo, competente e ético por parte das
instituições (MOITA e ANDRADE, 2009).
Conforme observado por Moita e Andrade (2009), o ensino, a pesquisa e a extensão precisam estar manifestos em todos os níveis de ensino, o que implica considerar a indissociabilidade dessa tríade no âmago da
Pós-Graduação. Assim, projetos de extensão também possuem relações
com esse nível de ensino, o que permite aproximar ainda mais a teoria da
prática, ou seja, a pesquisa de sua aplicabilidade social.
Com base nas discussões acerca da interação entre ensino, pesquisa e extensão, este texto objetiva demonstrar a importância da extensão no aprimoramento das atividades científicas, relatando as atividades
realizadas pelo projeto de extensão intitulado Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica: Preparação para Ingresso na Pós-Graduação. Parte-se do
fundamento de que a extensão universitária muito pode contribuir na capacitação dos profissionais – inseridos em diferentes áreas – para o de-
93
Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�senvolvimento de pesquisas científicas.
O projeto de extensão é coordenado pelo Centro de Extensão (CENEX) da Escola de Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) com apoio da Fundação de Desenvolvimento da
Pesquisa (FUNDEP), e contempla a oferta de um curso de mesmo nome,
com aulas teóricas e práticas, com o intuito de desenvolver nos cursistas
competências e habilidades em pesquisas científicas.
Tal projeto foi planejado com o intuito de formar diferentes turmas, enquanto estivesse em vigor. Foi ofertado em 2017 e 2018, com possibilidade de ser estendido até o ano de 2019. Em linhas gerais, as atividades pedagógicas tiveram, a priori, uma dupla contribuição: viabilizaram a
formação de competências para o exercício da pesquisa científica e despertaram, nos cursistas, o interesse de participação nos processos seletivos em nível de Pós-Graduação.
O presente trabalho caracteriza-se como descritivo, bibliográfico e qualitativo. Primeiramente, serão apresentados os principais fundamentos teóricos e metodológicos sobre a extensão universitária; em seguida, serão relatados os aspectos gerenciais voltados para a realização do
projeto de extensão: objetivos do projeto, conteúdos temáticos abordados
ao longo das aulas ministradas, formação e perfil das turmas. Além disso,
o trabalho também apresenta possíveis resultados com base nas principais
conquistas e nos desafios enfrentados ao longo das atividades desenvolvidas pelo projeto.
EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA:
COM O ENSINO E A PESQUISA
INTEGRAÇÃO
A extensão universitária representa uma forma de aproximação
entre universidade e sociedade por meio de ações que permitam ampliar
a produção e o uso de conhecimento. É mediante as ações extensionistas
que a universidade fortalece o diálogo com diferentes atores do contexto
social e também desenvolve práticas socioeducativas, com as quais consiga superar os indícios de desigualdade e exclusão que ainda permeiam o
contexto social (RODRIGUES et al., 2013).
Essas atividades proporcionam diferentes contribuições, tanto no
que se refere ao fortalecimento da relação entre educação e sociedade –
viabilizando a prática do que é ensinado e aprendido nas ações formativas
– quanto na contribuição para o desenvolvimento pessoal, profissional e
cidadão. Assim, a extensão universitária possui uma tripla função ao promover a formação profissional e humanística, por conseguinte, provoca a
transformação social (DESLANDES e ARANTES, 2017).
Embora o discurso sobre a extensão universitária tenha se intensificado no Brasil, no início do século XX, a valorização dessas atividades
94
Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�ocorreu apenas a partir da década de 1980, no momento em que a extensão
assume contornos de política pública. A partir de então, são criados projetos que vão além dos muros das universidades, conduzidos por uma gestão
específica, com a distribuição de recursos e com o planejamento adequado
para o desenvolvimento efetivo das atividades extensionistas (MONFREDINI, 2015).
Com efeito, a extensão se concretiza mediante projetos de cunho
social, conduzidos por ações abrangentes que visam atingir públicos diferenciados, de modo a alcançar instâncias que vão além do espaço interno
da instituição de ensino superior. Desse modo, os projetos desenvolvidos
na extensão proporcionam o acolhimento das pessoas, formando-as intelectual e profissionalmente, desencadeando novas oportunidades e transformando a universidade em um espaço favorável à interação, à aprendizagem e ao conhecimento (SÍVERES, 2013).
Nesse sentido, a extensão universitária representa o vínculo direto
entre comunidade e instituição educacional e pode ser conceituada como
“um processo interdisciplinar educativo, cultural, científico e político,
que, sob o princípio da indissociabilidade, promove a interação transformadora entre universidade e outros setores da sociedade” (FÓRUM..., 2010
apud FERNANDES et al., 2012, p. 170).
Ao mesmo tempo em que a universidade transforma os indivíduos por meio das ações extensionistas, ela também é transformada por
eles, configurando-se como um ambiente democrático, o qual representa
a evolução cultural e histórica das sociedades. A extensão deve ser o campo
de atuação para uma relação dialética entre saberes, com base no respeito
às diferenças e na crença de que o conhecimento é uma construção coletiva
(GARCIA, BOHN e ARAÚJO, 2013). Portanto,
A extensão universitária, entre a diversidade de entendimentos, pode ser considerada uma
diretriz institucional, um processo mediador de construção do conhecimento e uma atividade
que aponta para a finalidade do percurso da aprendizagem, qualificando o valor epistemológico, ético e político da instituição, que deve ser vivenciado, cotidianamente, pelos sujeitos
acadêmicos e comunitários, pelos processos instituídos e instituintes, e pelos resultados individuais e coletivos (SÍVERES, 2013, p. 20, grifo nosso).
A relação de reciprocidade entre sociedade e universidade é concretizada por meio da extensão universitária, a qual, para realizar esse
fim, precisa estar integrada com as demais atividades, projetos e funções
desenvolvidas na instituição. A extensão, portanto, precisa estar associada ao ensino e à pesquisa, como forma de garantir uma formação integral
que contemple os três componentes do tripé que sustenta a universidade
(RIBEIRO et al., 2016).
Segundo Puhl e Dresch (2016), considerar a extensão, a pesquisa
e o ensino como práticas indissociáveis constitui uma estratégia no sentido de romper, ou superar, a dicotomia entre teoria/prática, sujeito/objeto,
empiria/razão. O intuito dessa superação é estabelecer um novo funda-
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�mento epistêmico. Os autores consideram, também, que as dicotomias estabelecidas inibem a produção de conhecimento por elas não valorizarem
o potencial oriundo das relações interdisciplinares.
Por isso, é preciso pensar a extensão como uma prática associada
ao ensino e à pesquisa, sendo elas dependentes e complementares uma das
outras. Além de ampliar o acesso à universidade, concretizando a democratização do conhecimento, ao tornar indissociável a tríade ensino-pesquisa-extensão, a instituição assume outras responsabilidades e desafios,
sobretudo ao construir novos padrões de relacionamento entre profissionais, acadêmicos e comunidade (TAVARES et al., 2007).
Soares, Farias e Farias (2010) mencionam que os elementos que
compõem o tripé universitário precisam ser tratados em patamar de
igualdade, embora, na maioria das vezes, esse tratamento aconteça de
forma desigual. Para que sejam tratados sob o mesmo nível de importância, faz-se necessário instituir um modelo de educação que corresponda à
formação integral e tridimensional de todos os envolvidos com a prática
educativa.
Baseando-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), Soares, Farias e Farias (2010) defendem a necessidade de as universidades estabelecerem um modelo educativo o qual atenda três diretrizes ou fundamentos: 1) incentivar o trabalho de pesquisa; 2) comunicar
o saber por intermédio do ensino; e 3) promover a extensão. Para esses
autores, a extensão é um produto que se constrói por meio das atividades de pesquisa e ensino, ou seja, por meio das atividades extensionistas é
possível difundir as conquistas e benefícios advindos da criação cultural,
científica e tecnológica experienciadas na instituição acadêmica.
Assim, no que diz respeito ao ensino, a universidade deve se preocupar com práticas pedagógicas que garantam a formação integral do
indivíduo, com ênfase na aquisição de conhecimento, para uso na experiência profissional. Quanto à pesquisa, essa se desenvolve junto à prática
educativa, estimulando à reformulação do que já é conhecido, para fins de
ampliação e produção de novos conhecimentos. Por sua vez, a extensão
permeia o ensino e a pesquisa, associando-os à realidade empírica, com o
intuito de desencadear mudanças, benefícios, aplicações e reconstruções.
Embora esses três elementos propiciem experiências a discentes e a docentes, é papel da extensão permitir a associação paralela e imediata entre
o conhecimento científico e o conhecimento popular (FERNANDES et al.,
2012).
De acordo com Moita e Andrade (2009), a indissociabilidade entre
os três elementos que permeiam a prática universitária precisa ser considerada em todos os níveis de formação, não se restringindo, tão somente,
à Graduação. Portanto, os autores defendem a ideia de que, na Pós-Graduação, a extensão e o ensino não podem ser considerados como acessórios da pesquisa, mas sim como continuações naturais dessa. Devem ter
como finalidade a intervenção e a efetivação dos estudos científicos de-
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Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�senvolvidos por alunos de Pós-Graduação, visando modificar a realidade
estudada pelos pesquisadores.
Na Pós-Graduação, a pesquisa constitui a prática básica inerente
aos cursos de natureza tanto lato quanto stricto sensu. As atividades de
pesquisa, no âmago da Pós-Graduação, contemplam exigências epistemológicas, metodológicas e técnicas, bem como práticas e posturas acadêmico-científicas, as quais precisam ser adotadas pelos integrantes da
comunidade pós-graduanda - docentes e discentes - de modo a assegurar resultados fecundos tanto na construção de conhecimentos quanto na
formação de novos pesquisadores (SEVERINO, 2009).
Independente da forma com que seja conduzido, o ato de pesquisar, na sociedade contemporânea, valoriza o conhecimento produzido pelos indivíduos e as experiências vivenciadas nos diferentes contextos da
sociedade. Assim, pesquisar significa pensar o papel dos envolvidos com
a pesquisa, sob a perspectiva do aprender a aprender, considerando que
dois elementos fundamentais da aprendizagem estejam presentes nesse
processo: o ato da criatividade e a valorização da subjetividade (GOULART,
2004).
Por fim, por meio desse discurso sobre a indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão, e considerando, especificamente, a importância de as universidades enfatizarem ações que integrem esses três elementos, apresenta-se, a seguir, um relato de experiência sobre o projeto
de extensão que visou desenvolver competências para a prática da pesquisa, de modo a motivar os participantes e capacitá-los para o ingresso nos
cursos de Pós-Graduação.
MATERIAIS E MÉTODOS
Considerando o papel da extensão em tornar a universidade mais
próxima da comunidade e promover uma maior integração entre alunos,
professores, profissionais, dentre outros agentes, o projeto Métodos e
Técnicas em Pesquisa Científica foi pensado a partir da percepção sobre
a necessidade de se estimular profissionais e/ou estudantes a ingressarem na Pós-Graduação. Presumiu-se o potencial de um projeto de extensão que intencionasse oferecer cursos que desenvolvessem habilidades em
pesquisa, voltados a profissionais de diversas áreas do conhecimento.
Com esse propósito, o projeto foi registrado junto ao CENEX da
ECI/UFMG como pertencente à área de Ciências Sociais Aplicadas e à subárea de Ciência da Informação. O objetivo geral do projeto foi o de preparar o
aluno e/ou profissional para a Pós-Graduação. Quanto aos objetivos intermediários, destacam-se os três primordiais: 1) introduzir os fundamentos
do método científico; 2) instruir sobre a produção de projetos de pesquisa;
e 3) orientar a elaboração de artigos científicos. Em linhas gerais, o curso
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�pretendia, como público-alvo, abarcar, principalmente, graduados de todas as áreas do conhecimento ou pessoas interessadas em fazer uma Pós-Graduação, sendo elas vinculadas ou não à UFMG.
Após a validação do projeto pelo CENEX-ECI, esse foi registrado
no Sistema de Informação da Extensão (SIEX), junto à UFMG. O início do
curso foi previsto para o segundo semestre de 2017, e seu término para
dezembro de 2018, podendo esse prazo ser estendido por mais um ano, até
2019. No decorrer desse período, teve-se a pretensão de formar diferentes
turmas. Para formação dessas, era exigido o mínimo de dez alunos e o
máximo de 30 alunos.
Com um total de 40 horas, distribuídas em dez aulas (dez encontros), o plano do curso foi organizado em três módulos: Fundamentos
(duas aulas); Elaboração de projeto de pesquisa (quatro aulas); e Elaboração de artigo científico (quatros aulas) – sendo essas realizadas na modalidade presencial, nas salas de aulas da ECI. Cada módulo foi conduzido
por um professor dessa escola, o qual contou, também, com a ajuda de dois
monitores (alunos de Mestrado e Doutorado) da mesma unidade acadêmica. O Quadro 1 especifica a carga horária do curso, os principais conteúdos
temáticos e os métodos de ensino correspondentes a cada módulo.
Quadro 1 - Carga horária, conteúdos temáticos e métodos de ensino correspondentes
a cada módulo.
MÓDULO
Fundamentos
Elaboração
de projeto de
pesquisa
Elaboração
de artigo
científico
CARGA
HORÁRIA
8 horas (dois
encontros)
PRINCIPAIS CONTEÚDOS
TEMÁTICOS ABORDADOS
PRINCIPAIS MÉTODOS DE
ENSINO ADOTADOS
1 - Origem da ciência;
2 - Tipos de conhecimento;
3 - Introdução ao método científico;
4 - A formação e divisão das áreas
científicas;
5 - Principais metodologias de
pesquisa nas diferentes áreas do
conhecimento.
1 - Aulas teórico-expositivas;
2 - Discussão de textos;
3 - Relato de casos práticos;
4 - Rodas de conversa sobre
pesquisas científicas e
experiências profissionais.
16 horas
(quatro
encontros)
1 - Conceitos de metodologia
científica;
2 - Classificação das pesquisas;
3 - Instrumentos de coleta e análise
de dados;
4 - A estrutura do texto científico;
5 - A escrita e a normalização do
texto;
6 - As partes de um projeto de
pesquisa.
16 horas
(quatro
encontros)
1 - O texto científico;
2 - O artigo científico e demais tipos
e gêneros textuais;
3 - Apresentação das partes de um
artigo;
4 - Publicação de artigos científicos.
1 - Aulas teórico-expositivas;
2 - Revisão de textos em grupo;
3 - Atividades práticas para
elaboração de um projeto;
4 - Rodas de conversa sobre
temas de pesquisa;
5 - Seminários dos projetos
desenvolvidos.
1 - Aulas teórico-expositivas;
2 - Aulas de laboratório para
estruturar o artigo;
3 - Rodas de conversa sobre os
artigos;
4 - Exposição de eventos e
periódicos eletrônicos.
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Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�A plataforma utilizada para a realização das inscrições foi a da
FUNDEP, acessada pelo campo destinado a cursos e atividades extensionistas gerenciados por essa instituição (Figura 1). Foram utilizados, como
estratégia de divulgação, posts de notícias publicados no site da FUNPED e
da ECI (Figura 2).
Figura 1 - Plataforma desenvolvida para inscrição no curso
Fonte: Extensão Universitária (2018).
Figura 2 - Post de notícia sobre o Curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica,
publicado no site da ECI
Fonte: Extensão Universitária (2018).
Após divulgação do curso, e cumprido o prazo para as inscrições,
formou-se a primeira turma - com 12 alunos. As aulas foram ministradas
do dia 1 ao dia 21 de julho de 2017. O programa do curso foi devidamente cumprido, tanto no que se refere à carga horária quanto aos conteúdos
abordados. Em conformidade com a proposta/plano do projeto, a turma I
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�teve a participação de profissionais de diferentes áreas do conhecimento,
de acordo com os dados apresentados no Gráfico 1.
Gráfico 1 - Distribuição dos participantes quanto à área de formação profissional
(Graduação) - Turma I
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Os dados expostos no Gráfico 1 demonstram que a maioria dos
participantes são profissionais formados nas áreas de Biblioteconomia,
História, Administração e Sistemas de Informação. Além disso, destaca-se, também, a presença de um aluno que ainda não concluiu a graduação
(Biblioteconomia) e de dois participantes que já se encontravam desenvolvendo pesquisas nos programas de Pós-Graduação de diferentes instituições. A grande maioria foi composta por indivíduos vinculados à UFMG
(Gráfico 2), seja na condição de servidor seja na de estudante.
Gráfico 2 - Quantidade de cursistas vinculados à UFMG - Turma I
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Com o término do curso ofertado para a turma I, a equipe responsável pelo projeto constatou a viabilidade de formar uma nova turma no
mês de agosto de 2017. Sendo assim, procedeu-se às estratégias de divulgação, conforme apresentado nas figuras 1 e 2. No mês de setembro, após
100
Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�a prorrogação do prazo de inscrições, obteve-se um total de 12 inscritos.
As aulas foram ministradas do dia 16 ao dia 27 de outubro de 2017. Nessa
nova turma, a única mudança realizada no plano do curso diz respeito à
inversão da ordem de execução dos módulos dois e três. A mudança foi sugerida pelos membros da equipe do projeto, visto que consideraram mais
adequado o desenvolvimento do artigo antes da elaboração do projeto de
pesquisa. Essa decisão se justifica, pois, ao estimular os alunos a escrever,
são trabalhadas estratégias de desenvolvimento das técnicas de escrita e
de estruturação de um texto científico, facilitando, portanto, as complexidades que permeiam a escrita, a estruturação e a elaboração de um projeto
de pesquisa.
Semelhante à turma anterior, a turma II contou com participações
oriundas de diversas áreas de formação (Gráfico 3).
Gráfico 3 - Distribuição dos participantes quanto à área de formação profissional
(Graduação) - Turma II
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Os dados expostos no Gráfico 3 demonstram disparidade quanto
às áreas de formação em que os participantes são graduados. Destaca-se
o curso de Biblioteconomia (seis alunos), seguido do curso de Psicologia
(dois alunos). A maioria dos cursistas (oito alunos) possuía algum vínculo
com a UFMG: cinco servidores e três alunos de Pós-Graduação (Gráfico 4).
Gráfico 4 - Quantidade de cursistas vinculados à UFMG - Turma II
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
101
Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�Os dados expostos no Gráfico 3 demonstram disparidade quanto
às áreas de formação em que os participantes são graduados. Destaca-se
o curso de Biblioteconomia (seis alunos), seguido do curso de Psicologia
(dois alunos). A maioria dos cursistas (oito alunos) possuía algum vínculo
com a UFMG: cinco servidores e três alunos de Pós-Graduação (Gráfico 4).
Gráfico 5 - Distribuição dos participantes quanto à área de formação profissional
(Graduação) - Turma III
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
A área de Biblioteconomia teve maior representatividade entre os
alunos (seis alunos), seguida pelas áreas de Direito, Psicologia e Administração (com dois alunos cada uma). Assim como nas duas turmas anteriores, a turma III caracterizou-se como heterogênea, sendo representada
por profissionais e estudantes vinculados a diferentes profissões e áreas
do conhecimento.
No que se refere ao vínculo com a instituição, os dados assemelham-se às turmas anteriores, pois a maioria dos alunos fazia parte da comunidade acadêmica na condição de servidores (cinco alunos), alunos de
Graduação e/ou de Especialização (cinco alunos) (Gráfico 6).
Gráfico 6 - Quantidade de cursistas vinculados à UFMG - Turma III
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Com o intuito de descontrair e estimular os participantes da turma
III, foi realizada, no último dia de aula, uma confraternização, de modo
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Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�que o curso, além de proporcionar a troca de conhecimentos, também
possibilitou um momento oportuno de socialização, permeado pela troca
de experiências, vivências e práticas entre os participantes.
POSSÍVEIS RESULTADOS: CONQUISTAS E DESAFIOS INERENTES À EXPERIÊNCIA RELATADA
Ao longo do desenvolvimento do projeto Métodos e Técnicas em
Pesquisa Científica, é possível descrever – a partir das experiências vivenciadas e dos resultados alcançados – alguns pontos positivos e negativos.
Os pontos positivos servem para fortalecer o aprendizado da equipe envolvida, contribuir para a proposição da melhoria de atividades que ainda serão ofertadas, bem como contribuir para o planejamento de futuros
projetos dessa natureza. Em relação aos resultados negativos, esses precisam ser estudados com mais profundidade, a fim de serem evitados em
outros momentos.
Como pontos positivos, a princípio, cita-se a integração e as iniciativas da equipe que participou do projeto ao perceberem a dificuldade e
até mesmo o desestímulo de muitos graduados da UFMG em darem continuidade aos estudos e ingressarem na Pós-Graduação. A participação de
bibliotecários, professores e técnicos administrativos vinculados à ECI foi
fundamental para garantir tanto a elaboração dos conteúdos programáticos trabalhados nos módulos quanto às estratégias e os métodos de ensino
adotados pelos docentes.
A formação de uma equipe interdisciplinar para conduzir o projeto e a intenção de oferecer aulas relacionadas à metodologia de pesquisa
se mostrou como uma iniciativa válida, como apresentado no estudo de
Oliveira, Souza e Ferreira (2016). Esses autores partem do princípio de que
o ensino de Metodologia precisa ser reforçado, visto que, no decurso da
Graduação, esse não estimula a criticidade dos alunos, mas, tão somente,
é apresentado como um conjunto de saberes considerados como válidos e
inquestionáveis em determinada época, visando habilitar o graduando a
um ofício (ao exercício profissional).
No que se refere à condução das aulas, percebeu-se a participação
e o engajamento dos alunos com as atividades desenvolvidas. A interação
entre professores e alunos viabilizou o compartilhamento de conhecimentos. Esses foram transmitidos de forma dinâmica, agradável e com a
seriedade necessária para estimular o senso crítico de todos os envolvidos
– capacidade essa fundamental a qualquer pesquisador.
Além disso, considera-se como uma conquista a aplicação de atividades práticas, sobretudo àquelas voltadas à elaboração de textos escritos no formato de artigo e projeto de pesquisa. Ao serem estimulados a
escrever, os alunos foram colocados em contato com o universo da leitura
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�e da escrita científicas, desenvolvendo estratégias e habilidades que, mesmo sendo incipientes/preliminares, serviram como incentivo ao hábito,
ao gosto e, principalmente, ao aperfeiçoamento desse fazer.
A esse respeito, considera-se que a interação entre teoria e prática representou o fundamento das aulas de Metodologia Científica. Com
efeito, nessas aulas, tornou-se necessário “compreender alguns conceitos que visam esclarecer os tipos de conhecimentos, os métodos para organizar toda uma linha de pensamento em produção científica”, além de
estimular o raciocínio e a capacidade de contextualizar o conhecimento
em todas as dimensões possíveis, privilegiando o compartilhamento e a
socialização (OLIVEIRA, SOUZA e FERREIRA, 2016, p. 14).
Outra conquista percebida com a aplicação deste projeto de extensão diz respeito à participação da comunidade externa à UFMG. Esse
fato consolida o papel social da universidade em face da democratização
do conhecimento. Além disso, ao possibilitar essas oportunidades à comunidade externa, a universidade deixa de ser um ambiente fechado, restrito, para transformar-se em um espaço de convivência, permeado pelo
respeito à diversidade social, exercendo, dessa forma, influências e sendo
por todos influenciada, haja vista a transformação da realidade para o bem
comum.
O espaço universitário precisa voltar-se para a situação econômica, política, social, cultural, dentre outras, possibilitando a participação
de todos os indivíduos envolvidos com a transformação da sociedade. Em
vez de restritiva e limitadora, a universidade deve valorizar o acolhimento,
visto que o conhecimento, o qual tanto almeja, é ampliado à medida que se
prioriza a participação coletiva, sem estabelecer padrões, modismos e estereótipos que acabam por alimentar as desigualdades sociais (FERNANDES et al., 2012). Por meio dessa valorização, “a população recebe o aprendizado e é beneficiada no que diz respeito ao desenvolvimento na vida de
cada ser, provocando, assim, mudanças sociais” (RODRIGUES et al., 2013,
p. 141).
Ao estimular e desenvolver competências em pesquisa – sendo
os alunos do curso indivíduos pertencentes a diferentes áreas de conhecimento, bem como oriundos de diferentes contextos e instâncias da sociedade – acredita-se estar lutando por uma universidade inclusiva, libertadora e de transformação. Como esclarecido no estudo de Spatti, Serafim e
Dias (2016, p. 355), a universidade precisa integrar-se ao tecido social, de
modo a produzir mudanças relevantes em seu entorno, e não apenas responder aos sinais externos que recebe. Para esse fim, “a formação crítica
e reflexiva, a produção de conhecimento socialmente pertinente e o fortalecimento da extensão comunitária estão entre as ações que julgamos ter
potencial para induzir a mudança necessária”.
Não restam dúvidas de que muitos desafios permearam o desenvolvimento do projeto Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica, como,
principalmente: a substituição de docentes, o número pequeno de partici-
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Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
�pantes nas aulas, a dificuldade de formar turmas com o mínimo de alunos
exigido, a ausência de uma estratégia integrada de divulgação, dentre outras.
Os problemas de gestão e de planejamento nos cursos de extensão permeiam o contexto das universidades brasileiras. Diferentes aspectos relativos à infraestrutura, à oferta de pessoal, entre outros detalhes,
acabam por prejudicar, de alguma forma, o andamento das atividades.
Portanto, como relatado no estudo de Fernandes et al. (2012), a extensão
universitária, em muitos casos, restringe-se apenas às atividades assistenciais e contribuem com o campo de estágio nas aulas teóricas, o que a
torna um elemento acessório no comparativo com as demais preocupações e prioridades da instituição.
Nesse contexto, melhorias podem ser realizadas no projeto no decorrer dos próximos meses, de modo que mais turmas possam ser ofertadas – no ano de 2018 e de 2019 – em consonância com o número de vagas
e com foco na melhoria contínua das atividades a serem desenvolvidas.
Sendo assim, as próprias experiências constatadas desde o lançamento do
projeto, e relatadas neste texto, podem servir como indícios para subsidiar
possíveis intervenções que minimizem ou eliminem os desafios enfrentados até o presente momento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados parciais oriundos da realização do projeto de extensão descrito neste artigo servem como fundamento para reforçar o potencial da extensão, visto que possibilitou a preparação de profissionais
e estudantes de diferentes áreas do conhecimento para ingresso na Pós-Graduação. Ao garantir essa oportunidade, a extensão estimula a construção de uma universidade pública mais inclusiva, libertadora, igualitária
e transformadora.
Por meio das atividades realizadas ao longo do projeto, constata-se que o objetivo desse foi atingido, sobretudo por promover: a integração da equipe gestora; a participação e o engajamento dos alunos com as
atividades desenvolvidas; atividades práticas com o intuito de estimular
o interesse e a formação de competências no exercício da pesquisa e da
escrita científica; e a participação de alunos da comunidade externa.
Com efeito, ao constatar a participação da comunidade externa à
UFMG em um curso voltado para estimular os alunos ao ingresso na Pós-Graduação, percebe-se a relação indissociável entre extensão, pesquisa
e ensino. Nesse contexto, ao promover essa articulação, a extensão estimula, possibilita e oportuniza novas formas de produção (pesquisa) e de
transmissão (ensino) do conhecimento científico, promovendo contribuições para a própria sociedade.
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
�Quanto aos desafios identificados, consideram-se como principais: dificuldade quanto à disponibilidade de professores para ministrar
as aulas; substituição de docentes e monitores; e baixo número de participantes da comunidade externa no comparativo com a comunidade interna. Esses problemas servem como base para fundamentar propostas de
intervenção e melhorias nas próximas atividades a serem realizadas, ou
podem servir como subsídio ao planejamento e execução de outros projetos dessa natureza.
Por fim, ao findar este relato de experiência, verifica-se a necessidade do desenvolvimento de novos estudos, tanto de natureza descritiva
quanto empírica, acerca do modo com que os cursos de extensão vêm sendo gerenciados pelas universidades brasileiras. Em suma, relatos e pesquisas aplicadas que demonstrem o potencial da extensão e as conquistas
e desafios a ela inerentes servem para embasar propostas de intervenção
que viabilizem uma universidade cada dia mais engajada com o desenvolvimento da nação.
106
Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
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SEVERINO, Antônio Joaquim. Pós-graduação e pesquisa: o processo de produção e de sistematização do conhecimento. Revista Diálogo
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rlae/v15n6/03.pdf>. Acesso em: 04 set. 2018.
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Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
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ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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Title
A name given to the resource
Da extensão universitária à pós-graduação: relato de experiência sobre o curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte : Minas Gerais
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Revista Interfaces
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Language
A language of the resource
pt
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
2318-2326
Type
The nature or genre of the resource
Artigo de Periódico
Subject
The topic of the resource
Cursos de Capacitação
Metodologia Científica
Planejamento de curso
Description
An account of the resource
Este trabalho caracteriza-se como um relato de experiência sobre a realização do projeto de extensão Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica: Preparação para Ingresso na Pós-Graduação. O referido projeto é coordenado pelo Centro de Extensão da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais com apoio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, e contempla a oferta de um curso de mesmo nome, com aulas teóricas e práticas, com o intuito de desenvolver nos cursistas competências e habilidades em pesquisas científicas. Por meio deste relato, o objetivo principal é demonstrar a importância da extensão no aprimoramento das atividades científicas, recorrendo a um estudo descritivo, com procedimentos de pesquisa bibliográfica e apresentação de caso. Espera-se que os resultados alcançados com o projeto reforcem o potencial da extensão no desenvolvimento e na melhoria do engajamento das universidades na vivência social, sobretudo no que tange à aplicação de atividades práticas para estimular o interesse e a formação de competências ao exercício de pesquisa e escrita científicas. Ao constatar a participação da comunidade externa em um curso que visa estimular os alunos ao ingresso na Pós-Graduação, percebeu-se a relação indissociável entre extensão, pesquisa e ensino. A partir dessa articulação, a extensão estimula, possibilita e oportuniza novas formas de produção (pesquisa) e de transmissão do conhecimento científico (ensino) para toda sociedade, rompendo, nesse sentido, qualquer tipo de limitação.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.01-591 jan./jun. 2019.
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4595/PrincipaiscursosoferecidospelaABMG.pdf
78774ced767cd35be245cc175bc986d2
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
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2018 2019
CURSOS DE
CAPACITAÇÃO
PROFISSIONAL
- MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA
CIENTÍFICA
- PREPARATÓRIO PARA CONCURSO
- MANUTENÇÃO E LIMPEZA EM
BIBLIOTECAS
- ORGANIZAÇÃO DE BIBLIOTECAS PARA
VISITAS DO MEC
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
(Organizadores)
Belo Horizonte
Dezembro de 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
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CURSOS DE
CAPACITAÇÃO
PROFISSIONAL
- MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA
CIENTÍFICA
- PREPARATÓRIO PARA CONCURSO
- MANUTENÇÃO E LIMPEZA EM
BIBLIOTECAS
- ORGANIZAÇÃO DE BIBLIOTECAS PARA
VISITAS DO MEC
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© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
CURSOS DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL: MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA
CIENTÍFICA, PREPARATÓRIO PARA CONCURSOS, MANUTENÇÃO E LIMPEZAS EM
BIBLIOTECAS E ORGANIZAÇÃO DE BIBLIOTECAS PARA VISITAS DO MEC
Escopo do relatório: Principais cursos de capacitação profissional oferecidos a bibliotecários
ou outros públicos que lidam com bibliotecas
Comissão organizadora: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Casa publicadora: ABMG
Local e data de realização do Curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica: Belo
Horizonte, salas de aula da UFMG. Realizado em fevereiro de 2017
Local e data de realização dos Cursos Preparatórios: Belo Horizonte, salas de aula da
Escola de Ciência da Informação. Realizados em março e abril de 2018
Local e data de realização dos Cursos de Manutenção e Limpeza em Bibliotecas: Belo
Horizonte, Laboratório de Preservação da Escola de Ciência da Informação. Realizados em
março e outubro de 2019
Local e data de realização do Curso Organização de Bibliotecas para Visitas do MEC:
Belo Horizonte, sala de aula da Escola de Ciência da Informação. Realizado em abril de 2019
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Endereço: Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício
Rotary, Sala 608
Site: www.abmg.org.br
E-mail: abmg.gestao21@gmail.com
Telefone: (31) 99959-4087
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Alunos participantes do Curso Métodos e Técnicas em Pesquisa
Científica................................................................................................ 7
Figura 2 - Aulas demonstrativas e práticas no módulo III ........................... 8
Figura 3 - Processos de divulgação do curso .............................................13
Figura 4 - Materiais oferecidos pela associação ao longo do curso ...............20
Figura 5 - Aulas teóricas do curso, com professor, alunos e monitores .........21
Figura 6 - Aulas práticas do curso, com demonstrações e intervenções
práticas ................................................................................................22
Figura 7 - Visita ao acervo e confraternização ..........................................22
Figura 8 - Encerramento do curso, com entrega solene dos certificados .......23
Figura 9 - Principais momentos da segunda turma do curso de manutenção
em bibliotecas .......................................................................................25
Figura 10 - Abertura do evento, com saudações de boas-vindas .................32
Figura 11 - Espaço destinado à ABMG: apresentação da entidade e dos
principais projetos dela ...........................................................................33
Figura 12 - Condução da aula pelo bibliotecário Josuel Ferreira dos Santos ..33
Figura 13 - Intervalo para lanches e socializações .....................................34
Figura 14 - Reunião da comissão organizadora, após o evento ...................34
Figura 15 - Modelo de certificado impresso entregue aos participantes –
anverso e verso .....................................................................................35
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Divisão do curso em três módulos ........................................... 6
Quadro 2 - Elementos constituintes do curso ............................................11
Quadro 3 - Distribuição dos conteúdos abordados no curso por assuntos e
temas específicos ...................................................................................12
Quadro 4 - Principais elementos constituintes do plano do curso .................19
Quadro 5 - Dados da parceria firmada para ocorrência do curso .................28
Quadro 6 - Categorias de participantes ....................................................30
Quadro 7 - Cronograma de atividades do curso ........................................31
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SUMÁRIO
1 ABMG EM AÇÃO: CAPACITANDO OS BIBLIOTECÁRIOS EM MINAS
GERAIS ................................................................................................ 3
2 CURSO MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA CIENTÍFICA................. 5
3 CURSO PREPARATÓRIO PARA CONCURSOS ......................................11
4 CURSO MANUTENÇÃO E LIMPEZA EM BIBLIOTECAS .........................17
5
CURSO
ORGANIZAÇÃO
DE
BIBLIOTECAS
PARA
VISITAS
DO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ................................................................27
6 PALAVRAS FINAIS: CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL EM FOCO ...........36
REFERÊNCIAS ......................................................................................37
SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA ...............................39
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2018-2020
1 ABMG EM AÇÃO: CAPACITANDO OS BIBLIOTECÁRIOS EM
MINAS GERAIS
Dentre as diversas finalidades de uma associação profissional, cita-se a
necessidade em oferecer, constantemente, atualização e/ou aperfeiçoamento
relativo a uma prática ou fazer demandado em uma determinada profissão ou
área de conhecimento. Em linhas gerais, os cursos e eventos oferecidos têm a
intenção de reforçar, complementar e/ou atualizar os ensinamentos oferecidos
na formação acadêmica, de modo que se propague a prática da formação
continuada entre os profissionais.
É como declararam Silva et al. (2015), ao discorrerem sobre os quarenta anos
da Associação Catarinense de Bibliotecários, de que as associações se colocam
a
serviço
dos
profissionais,
oferecendo
recursos
para
ampliação
das
competências e habilidades para melhorar o fazer prestado à sociedade.
Assim, é visada “[...] a educação continuada profissional, promovendo cursos,
eventos, palestras e socialização de boas experiências e práticas profissionais
para atualização permanente [...]”.
Além disso, é importante pontuar que o trabalho desenvolvido pelos órgãos de
classe e pelas associações tem um propósito que extravasa, a princípio, a
capacitação e o desempenho profissional. Há por trás dessa realidade, um
interesse hegemônico, haja vista garantir a defesa da profissão, evitando
“ataques” externos que possam enfraquecê-la, como teorizou Abbott (1988),
como também há intenções restritivas para proteção de indivíduos e grupos
com interesses similares e que se defendem para um bem maior, como sinaliza
suavemente a teoria de Bourdieu (1983).
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O
aperfeiçoamento
de um
fazer pode
ser
direcionado a profissionais
especializados em uma área ou profissão, como também pode ser estendido a
outros contextos, considerando a necessidade de pessoas físicas ou jurídicas.
Com efeito, a oferta de cursos e eventos de aprimoramento precisa ser
planejada e executada, de acordo com as demandas do contratante, as quais
se manifestam a partir dos propósitos almejados pelo público-alvo.
Ciente
desse
compromisso
e
necessidade,
é
que
a
Associação
dos
Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), no início do ano de 2018, instituiu uma
comissão específica para tratar dos assuntos relacionados à gestão de cursos.
Foi, assim, criada a Gestão e Consultoria em Cursos, Treinamentos e Eventos
Diversos. Em linhas gerais, o objetivo principal dessa secretaria é planejar e
executar os projetos direcionados a eventos dos mais variados, que tenham
como foco central a capacitação dos bibliotecários e demais profissionais
envolvidos com as bibliotecas ou inseridos no contexto informacional.
Embora a capacitação seja o ponto principal da mencionada secretaria, há de
se considerar que, os eventos restritivos, de menor abrangência e que são
sustentados por discussões sobre a área, mesmo que não tenham a
capacitação como foco, também foram considerados como preocupação da
secretaria. Assim, projetos sociais e outros eventos diversos, muitos até sem
fins lucrativos, conduzidos por momentos instantâneos de discussão são de
extremo interesse por parte da atual diretoria da ABMG.
A diretoria acredita que, nos projetos sociais, nas rodas de conversa, nos
grupos de estudos, e até mesmo nas palestras, sempre haverá algo a
aprender. E esse aprender poderá estimular a habilidade ou competência
profissional, de modo a contribuir para o aperfeiçoamento do fazer bibliotecário
em diferentes contextos de atuação. Com efeito, pontuamos que nossa
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2018-2020
preocupação está com os eventos, de um modo geral, independente da
modalidade, da abrangência ou outras peculiaridades existentes, desde que se
manifestam como possibilidades de aprendizado para bibliotecários e melhorias
para as bibliotecas e demais unidades de informação.
Este relatório expandido compila os principais eventos na modalidade cursos
de capacitação, realizados pela ABMG, enquanto da atuação da atual diretoria
(gestão 2018-2020). Aqui, estão registrados, apenas, os principais, dentre
vários cursos que a entidade ofereceu nesses dois anos, sobretudo em
parcerias com outros profissionais e instituições. O relatório se restringiu,
também, aos cursos com fins lucrativos, visto a importância que eles exercem
para a manutenção da entidade, como também, por envolverem recursos
financeiros.
Assim,
o
presente
relatório
possibilita
a transparência
da
associação, ou seja, uma forma de prestação de contas das atividades
realizadas junto aos associados e à comunidade bibliotecária, como um todo.
2 CURSO MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA CIENTÍFICA
O Curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica: preparação para ingresso
na Pós-Graduação foi planejado com o objetivo de preparar os profissionais
que têm interesse em ingressar na Pós-Graduação. Esse curso foi pensado, à
medida que se percebeu que muitos bibliotecários, após anos de atuação no
mercado, decidiram especializar-se, ingressando na Pós-Graduação.
Esse desejo de muitos profissionais e a dificuldade em retornar os estudos, em
especial, os direcionados à metodologia de pesquisa, despertou a necessidade
e importância de um curso de capacitação que ensinasse conceitos e
aplicações do método científico. Sendo assim, o curso foi proposto por alguns
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2018-2020
membros da gestão da ABMG, sendo registrado como projeto de extensão,
junto à Escola de Ciência da Informação (ECI), da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Portanto, as duas primeiras turmas estiveram sob
responsabilidade da ECI, e a terceira turma foi gerenciada pela ABMG.
O curso teve como principais objetivos: preparar o aluno e/ou profissional para
a Pós-Graduação; introduzir os fundamentos do método científico; instruir
sobre a preparação de projeto de pesquisa; e orientar sobre a elaboração de
artigos científicos. Para execução desses objetivos, estabeleceu-se a carga
horária de 40h, mediante a realização de dez encontros, que foram distribuídos
em três módulos, conforme apresentado no quadro 1.
Quadro 1 - Divisão do curso em três módulos
Módulo
Conteúdos temáticos
Módulo I - Fundamentos
Contextualização da origem da ciência; tipos
de conhecimento; introdução ao método
científico; a formação e divisão das áreas
científicas;
principais
metodologias
de
pesquisa
nas
diferentes
áreas
do
conhecimento
Módulo II - Artigo científico Reflexões sobre a estrutura do texto científico;
o artigo científico e demais tipos e gêneros
textuais; apresentação das partes de um
artigo; publicação de artigos científicos
Módulo III - Projeto de
Conceitos
de
metodologia
científica;
pesquisa
classificação das pesquisas; instrumentos de
coleta e análise de dados; a estrutura do texto
científico; a escrita e normalização do texto;
as partes de um projeto de pesquisa
Fonte: Dados do curso (2017).
Número
de aulas
Duas
Três
Cinco
Após o planejamento do curso, com conteúdos programáticos definidos e
distribuição dos docentes, iniciou-se o processo de divulgação, o qual foi
realizado por meio de informativos textuais disponibilizados no site da ABMG e
no site da ECI. Os procedimentos de inscrições, como também, os recursos
arrecadados, o marketing, dentre outras ações de cunho administrativo, ficou
a cargo da Secretaria da ABMG.
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Com término das inscrições, foi computado um total de 18 alunos, contendo
perfis dos mais diversificados, desde servidores e alunos (Graduação e PósGraduação) vinculados à UFMG, até indivíduos de outras instituições públicas e
privadas,
pertencentes
Biblioteconomia,
a
diferentes
Arquitetura,
áreas
Psicologia,
de
conhecimento,
Direito,
Biologia,
como:
Teatro,
Administração, dentre outras. A figura 1 expõe os alunos em sala de aula.
Figura 1- Alunos participantes do Curso Métodos e Técnicas em Pesquisa Científica
Fonte: Dados do curso (2017).
A fim de ministrar as aulas, foram contratados professores atuantes na ECI,
como também docentes bibliotecários, que atuam na prestação de serviços. Ao
todo, foram quatro professores, sendo que o módulo III, por sua extensão, foi
conduzido por dois professores. Nos módulos I e II, pela natureza teórica,
apresentaram-se aulas expositivas, ao passo que, no módulo III, foram
aplicadas demonstrações e exercícios práticos.
Assim, o curso foi ministrado nas primeiras semanas de fevereiro, em salas de
aula da ECI, no horário noturno. Além das informações teóricas transmitidas
pelos docentes, em especial quanto aos conceitos de método científico,
evolução da ciência, tipos de métodos, classificação dos estudos, técnicas de
coleta e análise de dados, dentre outras, foram oferecidas várias aulas
práticas, com demonstrações de texto bem elaborado e da identificação de
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textos mal elaborados. A partir dessas demonstrações, os alunos realizaram
exercícios práticos, elaborando, em cada aula, uma parte do projeto de
pesquisa. A figura 2 demonstra uma aula demonstrativa, com diversos
exemplos apresentados pelo docente, no módulo III.
Figura 2 - Aulas demonstrativas e práticas no módulo III
Fonte: Dados do curso (2017).
Na última aula, os projetos elaborados pelos alunos foram entregues, de modo
impresso, ao professor, como também, cada aluno apresentou, para toda a
turma e convidados, o projeto que pretendia submeter ao processo seletivo da
Pós-Graduação. Essa atividade foi muito estimulante, visto que despertou nos
alunos a habilidade de escrita, a capacidade de defender as ideias por meio de
argumentos, como também receberam contribuições dos colegas presentes,
haja vista melhorar a qualidade da proposta apresentada.
Após a socialização dos projetos de pesquisa, na última aula, proferiu-se ao
encerramento do curso, por meio de um breve discurso da presidenta da
associação, como também a oferta de uma confraternização. Conforme
relatado pela presidenta, percebe-se que o curso rendeu bons frutos.
O curso que oferecemos foi promovido com o intuito único, de auxiliar vocês, bibliotecários e
demais profissionais que desejam ingressar-se na Pós-Graduação. Na verdade, esse curso
poderia ser oferecido por outra associação ou escola, em outro local da universidade. No
entanto, entendemos que ele é muito adequado à área da Biblioteconomia/Ciência da
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Informação,
possuem no
agradecer a
possam ser
ABMG).
considerando as competências e habilidades que os profissionais da informação
que tange ao auxílio nas ações de pesquisa. Por isso, a associação tem só a
todos vocês que fizeram parte desse momento e esperamos que novas turmas
formadas, em tempo futuro (Comentário de encerramento da presidenta da
Os resultados alcançados com o curso foram satisfatórios, não apenas, pelo
número
considerável
conhecimentos
entre
construção
novos
de
de
participantes,
mas
também,
os
participantes,
uma
oportunidade
laços
de
amizade
e
pela
colaborações
troca
ímpar
de
para
científicas
e
profissionais. O relato de uma aluna da área de Psicologia demonstra a
importância e necessidade dos cursos voltados à metodologia científica, tendo
os bibliotecários muito a contribuir com esses projetos:
Eu não esperava que o curso oferecesse essa interação e essa dinamicidade entre nós, alunos
e professores. Foi muito proveitoso esse momento, pois além de aprender, eu fui estimulada a
me dedicar mais aos estudos, e me foram demonstradas estratégias de como me dar bem em
um processo de seleção para o Mestrado. Acho que os bibliotecários possuem essa expertise
em estimular, como também mostrar para nós fontes de informação importantes para
fundamentarmos e alinharmos nossas propostas de pesquisa (Comentário de uma aluna, no
momento final do curso).
Nesses cursos, o aprendizado e a capacitação são os objetivos principais. Mas,
não se pode deixar de mencionar que eles também possibilitam a formação de
parcerias e estimula a colaboração. Isso foi constatado, em virtude da criação
de um grupo de whatsApp, o qual continuou em funcionamento com o término
do curso. Nesse grupo, constantemente, são postadas notícias sobre processos
seletivos, cursos e, principalmente, confirmações de aprovação de diversos
alunos que participaram do curso, conforme relatado, a seguir:
Queridos, que saudade do nosso curso e tenho uma ótima notícia para compartilhar com
vocês. Fui aprovado no Mestrado em Letras, na UFMG, e irei iniciar os estudos no primeiro
semestre de 2019. Sou muito grato aos professores, principalmente a você professor x, que
muito nos estimulou, além de ensinar excelentes dicas para aplicações do método científico.
Obrigado a todos! (Comentário de ex-aluno, um ano após o término do curso).
Pelas notícias veiculadas nesse grupo, dentre outras que chegaram de modo
informal, contabilizou-se, em pouco mais de um ano de realização do curso, a
aprovação em processos seletivos da Pós-Graduação de oito alunos, inseridos
em diferentes áreas do conhecimento. Nesse contexto, reafirmamos a
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
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importância dos cursos de metodologia, visto que eles, segundo Costa e Santa
Anna (2019), interferem ao potencializar os indivíduos inseridos em quaisquer
contextos da sociedade, para inserir-se no universo da ciência e da pesquisa.
Os resultados alcançados com o curso demonstram que os cursistas tiveram a
oportunidade de desenvolverem habilidades para realizar investigações mais
profundas e metódicas, se tornando mais capacitados para concorrer aos
processos seletivos da Pós-Graduação. Além disso, o sucesso do curso
possibilitou a publicação de um relato de experiência na Revista de Extensão
da UFMG1, cujos autores defenderam a ideia de que o curso também instigou a
participação
democrática,
desmistificando,
portanto,
a
ideia
de
que
ciência/pesquisa é algo inerente a classes elitizadas e que somente pode ser
realizada em ambientes com alto nível de desenvolvimento (COSTA; SANTA
ANNA, 2019).
Com o término dessa turma, no início de fevereiro de 2018, ao longo desse
ano e no decorrer do ano de 2019, houve novas tentativas de formação de
turmas. No entanto, não se atingiu um número mínimo suficiente para
ministrar uma nova turma. De qualquer modo, o sucesso alcançado com as
turmas anteriores instiga à comissão organizadora e toda a diretoria da ABMG
a continuarem unindo esforços no sentido de formar novas turmas e continuar
a oferta desse importante curso.
1
O relato de experiência foi publicado na Revista Interfaces, no volume 7, número 1, de 2019,
e está disponível para acesso em:
https://www.ufmg.br/proex/revistainterfaces/index.php/IREXT/article/view/416/pdf
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3 CURSO PREPARATÓRIO PARA CONCURSOS
O Curso Preparatório para Concursos Públicos: Cargo Bibliotecário, assim como
o Curso Métodos e Técnicas, também foi planejado a partir das demandas que
a ABMG recebeu acerca da necessidade de se preparar os bibliotecários para
ingresso nos serviços públicos. Em especial, nos primeiros meses de 2018, foi
divulgado o Edital Público para Concurso da UFMG, com vagas para
bibliotecários. Nessa ocasião, muitos profissionais recorreram à associação,
com o fim de formar uma turma que capacitasse os profissionais para esse
concurso.
Sendo assim, a Gestão e Consultoria em Cursos, Treinamentos e Eventos
Diversos, recentemente instituída pela atual diretoria, nomeou a comissão
organizadora, a qual realizou, ao longo do mês de fevereiro, reuniões
contínuas para elaboração do plano do curso. Ressalta-se que esse plano foi
integralmente alinhado à bibliografia do concurso. O quadro 2 expõe os
principais elementos constituintes do curso.
Quadro 2 - Elementos constituintes do curso
Título oficial do curso
Preparatório para Concurso da UFMG: Cargo
Bibliotecário
Instituição gestora
ABMG
Comissão organizadora
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da
Costa
Carga horária
40 horas
Número de aulas
10 aulas
Objetivo geral
Preparar os candidatos ao cargo de bibliotecário no
Concurso Público da UFMG, habilitando-os a atingir
bons resultados no certame
Objetivos específicos
- Oferecer aulas teóricas sobre os assuntos específicos
da Biblioteconomia contemplados no edital do concurso
- Apresentar técnicas, estratégias e metodologias que
possam garantir possibilidades de aprovação em
concursos
- Disponibilizar exercícios práticos, tal como a
resolução de questões abordadas em concursos
anteriores realizados na UFMG
Público-alvo
Bibliotecários que desejam realizar o concurso da
UFMG ou que desejam realizar concursos públicos em
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Metodologia
Temáticas dos módulos
outras instituições, sobretudo as de modalidade federal
Aulas teórico-práticas, ministradas por docentes e
profissionais especializados e experientes na área da
Biblioteconomia
- A biblioteca universitária
- O acervo da biblioteca universitária
- Uso e usuários da informação
Fonte: Dados do curso (2019).
Conforme informações constantes no quadro 2, percebe-s que o curso foi
destinado, especificamente, ao concurso da UFMG, embora muitas estratégias
apresentadas nas aulas, como também, muitos conteúdos, também são
destinados a capacitar o candidato para outros concursos realizados no Brasil,
sobretudo os da esfera público-federal. No que tange aos conteúdos, eles
foram distribuídos em três módulos, contemplando assuntos abrangentes e
mais específicos nas áreas de Biblioteconomia/Ciência da Informação. O
quadro 3 detalha os assuntos gerais dos módulos e os temas mais específicos
alinhados a cada um, como também o número de aulas para cada módulo.
Quadro 3 - Distribuição dos conteúdos abordados no curso por assuntos e temas específicos
Módulo - Assunto
Principais temas específicos
Número de
aulas
Módulo I – Biblioteca e a - Conceitos e características da biblioteca Duas aulas
universidade
universitária
- Gestão de bibliotecas
- Planejamento, organização e avaliação
Módulo II – Acervo da - Bibliotecas digitais
Seis aulas
biblioteca universitária
- Fontes de informação
- Formação e gestão do acervo
- Periódicos científicos
- Recursos informacionais
- Representação descritiva e temática
Módulo III – Uso e - Serviços de informação
Duas aulas
usuários da informação
- Usuários da informação
- Usabilidade da biblioteca
Fonte: Dados do curso (2019).
No que tange ao corpo docente do curso, foram convidados para ministrar as
aulas, um total aproximado de oito profissionais, alguns atuantes como
docentes na ECI e outros bibliotecários prestadores de serviço. A distribuição
do corpo docente levou em consideração a temática de formação e de pesquisa
de cada profissional. Em linhas gerais, as aulas com viés mais prático, por
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exemplo, catalogação/indexação, foram ministradas por bibliotecários atuantes
no processo técnico em bibliotecas, ao passo que as aulas com abordagem
mais teórica, sustentadas por fundamentos, ficaram a cargo dos docentes
vinculados à ECI.
Com o término das atividades de organização do plano curricular, iniciaram-se,
em março de 2018, os processos de divulgação. Foram disseminados fôlderes
eletrônicos em diversos espaços, como: site da ABMG, site da ECI e site do
Conselho Regional de Biblioteconomia. Além disso, o material de divulgação foi
enviado por e-mail para diferentes profissionais do estado de Minas Gerais, e
inserido para compartilhamento nas redes sociais da entidade, como no
Facebook e Instagram. Os materiais de divulgação são apresentados na figura
3.
Figura 3 - Processos de divulgação do curso
Fonte: Dados do curso (2019).
Finalizado o prazo de inscrição, foram computadas 15 inscrições, o que
possibilitou a formação da turma. Em virtude da sobra de vagas, foram
concedias duas bolsas, destinadas a profissionais apoiadoras das atividades da
ABMG. Além disso, foram oferecidas duas bolsas a dois candidatos que
deveriam exercer atividades de monitoria ao longo das aulas. Com efeito, a
turma foi formada com um total de 19 alunos.
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As aulas ocorreram do dia 15 a 28 de março em sala de aula da UFMG,
Campus Pampulha, no turno da noite. Todos os professores mostraram
domínio de conhecimento, cumprindo, fielmente, o plano do curso, sobretudo
no que tange ao conteúdo a ser abordado. Os professores foram orientados
para que, além dos conteúdos apresentados nas aulas expositivas, fossem
dedicados alguns minutos, ao final de cada aula, para prática de exercícios,
considerando a resolução de questões de concursos anteriores ocorridos na
UFMG.
Com o intuito de facilitar a troca de conhecimento entre os participantes, como
também, os comentários das aulas e, principalmente, a correção de exercícios
apresentados em sala de aula, foi criado um grupo de whatsApp, tendo um
professor e membro da comissão organizadora como mediador principal para
explicação das respostas dos exercícios. Esse grupo se manifestou com um dos
pontos mais forte do curso, haja vista as altas discussões e interações e,
principalmente,
a
exposição
de
exercícios
para
que
os
participantes
resolvessem e, logo em seguida, fossem corrigidos e comentados. Acerca do
uso do aplicativo de mensagens, segue um breve relato de aluno:
O curso como um todo foi ótimo. Mas, o que mais me surpreendeu e encantou foi a condução
do grupo de whatsApp, sobretudo no que tange ao empenho do professor, visto que não
poupava esforços e nem horários para postar exercícios e ir corrigindo, de modo que o
aprendizado fosse sendo compartilhado. O grupo de whatsApp apresentou-se como a
continuidade das aulas, ou seja, o curso preparatório foi muito além da sala de aula, nos
guiando até as vésperas das provas (Comentário de aluno participante do curso, postado em
grupo de whatsApp. Mensagem publicada em março de 2018).
A respeito dos cursos de capacitação oferecidos àqueles que desejam
ingressar-se na carreira pública, dialogamos com Albrecht e Krawulski (2011,
p. 215), quando afirmam que esses cursos são benéficos, pois além de
capacitarem
o
profissional
em
algum
aspecto
técnico,
também
“[...]
apresentam-se como uma alternativa preparatória àqueles que decidem
prestar concursos, na tentativa de vencer a competitividade acirrada [...]”.
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Quanto ao uso do aplicativo de mensagens nesses cursos, entende-se que ele
favorece o aprendizado, funcionando como uma forma de cobrar mais estudos
e empenho dos candidatos. De acordo com Silva e Rocha (2017, p. 171), a
aprendizagem baseada em tecnologias móveis, em nenhum sentido substitui
outras modalidades formativas. Porém, as redefine à luz das demandas
contemporâneas, uma vez que a aprendizagem baseada em tecnologias
móveis passa a ser uma dessas demandas. Portanto, na sociedade atual, “[...]
as pessoas estão cada vez mais conectadas umas com as outras por meio de
aplicativos de smartphone, as relações entre esses sujeitos tendem a estar
cada vez mais mediadas por esses dispositivos” (SILVA; ROCHA, 2017, p.
171).
Na última aula do curso, como forma de descontração, foi oferecida uma
pequena confraternização, com disponibilização de doces, salgados e sucos,
além dos votos de felicitações entre os participantes, visto que o certame
ocorreria em algumas semanas. Antes, porém, a presidenta da associação
agradeceu a participação de todos e mencionou que uma nova turma seria
formada
nas
próximas
semanas.
O
professor
membro
da
comissão
organizadora assim discursou:
Considero que esse curso foi uma iniciativa louvável da associação, pois, como entidade que se
ocupa com a capacitação dos profissionais, percebeu a necessidade de ofertar um curso
preparatório para concurso e o realizou em um curto período de tempo, com muito
planejamento, competência e empenho. Por isso, acho que todos, nesse momento, são
vitoriosos: a diretoria da ABMG, por apoiar essas iniciativas, a comissão organizadora, pelas
horas de trabalho dedicadas à concretização deste curso e, principalmente, vocês,
bibliotecários, que acreditaram no potencial das aulas e vieram fortalecer esse evento. Desejo
sucessos a todos na carreira pública e na vivência bibliotecária (Comentário de membro da
comissão organizadora e professor do curso).
Este curso também rendeu a elaboração de um material didático instrumental,
a partir da compilação das apostilas oferecidas aos alunos em cada aula. O
material compilado foi publicado, no formato de livro, estando disponível em
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acesso aberto2. A diretoria da ABMG tornou o material acessível, por acreditar
que
ele
muito
poderá
contribuir
no
planejamento
de
bibliotecários
concurseiros, além de servir como uma fonte de pesquisa, haja vista reforçar o
aprendizado, junto com as obras originais cobradas nos certames.
As semanas que se seguiram foram destinadas à divulgação de uma nova
turma, cujo plano do curso seria o mesmo da turma anterior, modificando-se,
apenas, o corpo docente, cujas aulas foram todas oferecidas pelo mesmo
professor. A segunda turma foi composta por dez participantes, mais dois
monitores das aulas. O período de realização foi do dia 09 a 20 de abril,
também no turno da noite, cujos resultados foram semelhantes ao da turma
anterior no que se refere ao empenho e satisfação, conforme relatado por
aluno no aplicativo de mensagem dessa nova turma:
As aulas foram fantásticas, em termos de conteúdo. Aprendi muito sobre a área, coisas que eu
nunca havia aprendido durante a formação e na atuação profissional. Além do mais, o que
encantou no curso foi a motivação do professor, nos colocando para cima. Isso faz toda a
diferença em um momento de tensão e estimula nosso psicológico, de modo que nos tornamos
mais confiantes em nós mesmos. Muito obrigada, ABMG! Obrigada, professor! (Comentário de
aluno participante do curso, postado em grupo de whatsApp. Mensagem publicada em abril de
2018).
Como se percebe, a oferta do Curso Preparatório para Concursos foi muito
satisfatória.
Os
resultados
alcançados
demonstram
a
satisfação
dos
participantes, como também, obtivemos, como retorno, a informação de que
duas alunas foram aprovadas e contratadas, e boa parte dos alunos obtiveram
bons resultados. Esses resultados evidenciam que o curso precisa continuar.
No entanto, ao longo do ano de 2019, foram abertas inscrições para dois
cursos dessa natureza: preparatório para Concurso da Universidade de Lavras
e preparatório para o Concurso do Conselho Regional de Minas Gerais/Espírito
Santo. Mesmo realizando a divulgação, não foi possível formar turmas.
2
Endereço
para
acesso
ao
material
compilado:
http://abmg.org.br/wpcontent/uploads/2018/08/MATERIAL-DID%C3%81TICO-CURSO-PREPARAT%C3%93RIO.pdf
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A partir dos resultados satisfatórios com as duas turmas do curso preparatório,
a diretoria da ABMG comunga da ideia de que os cursos dessa modalidade, por
certo, irão beneficiar os bibliotecários que desejam ingressar-se na carreira
pública. Por isso, ao longo dos anos, dependendo do edital que for lançado, a
associação unirá esforços no intuito de se formar novas turmas.
4 CURSO MANUTENÇÃO E LIMPEZA EM BIBLIOTECAS
O referido curso manifestou-se como um evento restrito, direcionado aos
colaboradores de uma organização prestadora de serviços na UFMG, a
Conservo: Soluções em Serviços. Considerando a necessidade de capacitação
da equipe que realiza a limpeza de livros e estantes, nas bibliotecas da UFMG,
a empresa contratante solicitou a oferta de um curso específico que
apresentasse aos participantes conceitos básicos de preservação de acervos e
procedimentos práticos e demonstrativos. Tais procedimentos contemplaram
as práticas de limpeza de documentos e do acervo informacional das unidades
de informação do Sistema de Bibliotecas da UFMG, de modo a garantir a
segurança das coleções, das equipes que realizam o serviço e demais pessoas
que utilizam os espaços dessas unidades.
O contato inicial da ABMG com a contratante se manifestou em novembro de
2018, momento em que a diretoria da associação declarou como membros da
comissão organizadora e executora Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de
Oliveira da Costa, estando os demais membros convidados a contribuir/intervir
nos trabalhos dessa comissão, a qualquer momento. A princípio, a comissão
organizadora elaborou o plano do curso, considerando as necessidades da
contratante. Além do plano, outras questões de ordem administrativa foram
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apresentadas, o que viabilizou a oficialização do contrato de prestação de
serviços, devidamente assinado em dezembro de 2018.
No intuito de satisfazer as necessidades da contratante, no plano do curso foi
descrita a carga horária de 12 horas, distribuídas em quatro dias de aula (três
horas de aula diária), sendo seis horas de aula teórica e seis horas de aula
prática. As aulas foram previstas para acontecer de 11 a 14 de março de 2019,
haja vista o tempo discorrido com os trâmites administrativos no âmbito da
prestação de serviços em instituições públicas, como é o caso da UFMG.
A importância desse tipo de curso foi devidamente refletida por ambas as
partes e registrada no plano do curso. Assim, partiu-se do princípio de que
“[...]
a
adoção
de
medidas
preventivas
nos
acervos
das
bibliotecas
universitárias é responsabilidade de todos os atores envolvidos ou que
trabalham direta ou indiretamente com esses documentos [...]” (ABMG, PLANO
DE CURSO, 2018, p. 1).
No diálogo firmado entre ABMG e Conservo, considerou-se que os profissionais
que atuam nos serviços de limpeza exercem um papel fundamental na
preservação dos acervos das bibliotecas, pois são eles que viabilizam “[...] a
manutenção adequada das instalações e documentos, protegendo os acervos
da ação destrutiva de agentes externos [...]”. Por isso, destacou-se que é
preciso “[...] oferecer capacitações às equipes de limpeza e manutenção, de
modo a garantir a conservação do acervo, como também segurança aos
profissionais que exercem essas atividades” (ABMG, PLANO DE CURSO, 2018,
p. 1).
Nesse contexto, o Curso intitulado Manutenção e Limpeza em Bibliotecas teve
como objetivo capacitar e treinar profissionais que atuam com a limpeza e
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manutenção de bibliotecas, sobretudo nos acervos documentários dessas
unidades, cujo público-alvo contemplou profissionais integrantes das equipes
de manutenção das áreas internas dos prédios da UFMG, especificamente, os
envolvidos com a limpeza de livros e estantes. O quadro 4 apresenta o resumo
do plano do curso.
Quadro 4 - Principais elementos constituintes do plano do curso
Justificativa
Viabilizar a conservação dos acervos e segurança aos profissionais
que atuam nas atividades de limpeza e manutenção. Portanto, é
preciso oferecer treinamentos que visem capacitar a equipe de
trabalho, para que seja realizado um trabalho mais efetivo e com
contribuições tanto para profissionais e empresas responsáveis,
quanto para a biblioteca e a instituição como um todo
Objetivos específicos
- Conceituar sobre bibliotecas
- Apresentar o Sistema de Bibliotecas da UFMG
- Discorrer sobre noções básicas de preservação de acervos
- Apresentar procedimentos e técnicas de limpeza, segurança
pessoal e segurança dos acervos
- Realizar treinamento para a apreensão e domínio das técnicas
de limpeza dos materiais constitutivos dos acervos de bibliotecas
Metodologia
- Aulas expositivas sobre conceitos, histórico e importância das
bibliotecas, dos acervos documentários e das técnicas de
conservação dos documentos
- Aulas práticas, com demonstrações sobre pequenos reparos,
cuidados com os livros e demais documentos, técnicas de
higienização, contato e segurança ao lidar com os acervos
Recursos
- Sala de aula com projetor multimídia
- Apostila impressa
- Lousa e caneta para lousa
- Laboratório de conservação de documentos, com materiais para
higienização e demonstrações
Processo de avaliação
Os participantes serão acompanhados e avaliados pelo
coordenador do curso. A avaliação será feita considerando a
participação dos alunos nas atividades propostas, assiduidade e
empenho na execução dos treinamentos
Fonte: Dados do curso (2019).
Importante destacar, também, conforme registrado no plano, os principais
conteúdos programáticos de natureza teórica e/ou prática, que foram: Biblioteca: conceitos, estrutura, tipologias e serviços; - Sistema de Bibliotecas
da UFMG: missão, visão, valores, objetivos e estruturação; - Instalações de
bibliotecas: prédios, móveis e equipamentos; - Tipos de materiais constitutivos
dos acervos; - Noções básicas de Preservação; - Tipologias de acervos: uma
abordagem para a definição dos procedimentos de limpeza; - Procedimentos
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de limpeza e conservação; - Procedimentos em situação de emergência; Visitas à Biblioteca Central, Laboratório de Preservação e Divisão de Coleções
Especiais; - Atividades práticas de limpeza e manutenção de estantes.
Para execução do curso, a ABMG contou com a colaboração da Escola de
Ciência da Informação (ECI), da UFMG, a qual ofereceu sala, com recursos
adequados para realização das aulas teóricas, além do Laboratório de
Preservação utilizado nas aulas práticas. Ademais, como benefícios oferecidos
pela ABMG, foi firmado em contrato, o oferecimento de uma apostila impressa,
com sete páginas de conteúdo abordado nas aulas, sobretudo as teóricas.
Também é praxe da associação oferecer certificado de participação a todos os
inscritos no curso e uma pasta personalizada com materiais para anotações,
conforme exposto na figura 4.
Figura 4 - Materiais oferecidos pela associação ao longo do curso
Fonte: Dados do curso (2019).
Quanto à execução das aulas, no dia 11 de março, foi realizada a primeira
aula, de natureza teórica, cujo facilitador foi o professor Jorge Santa Anna. O
encontro foi introduzido pela organizadora do curso, Maria Elizabeth de Oliveira
Costa, a qual apresentou, de forma breve, a proposta do curso e o currículo
dos professores. Nessa aula, realizada das 09:00 às 12:00h, os participantes
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foram apresentados (sete alunos e dois representantes da Converso) e o
professor ministrou a aula de forma expositiva e participativa, discorrendo
sobre conceitos, tipos e estrutura das bibliotecas contemporâneas, com auxílio
de uma instrutora: doutoranda da ECI, a bibliotecária Jéssica Patrícia de Sá.
No dia 12 de março, aconteceu a segunda aula, das 12:00 às 15:00h, também
ministrada pelo professor Jorge, cujos assuntos abordados foram: riscos em
bibliotecas, agentes degradantes de acervo, conceitos de preservação e
conservação e preparação para procedimentos de limpeza em acervos. Na
presente aula, além da exposição dos conteúdos por meio de retroprojetor,
também foram assistidos vídeos de ações destrutivas sobre os acervos, com
destaque ao incêndio no Museu Nacional, ocorrido no final de 2018. Além do
professor, da coordenadora do curso e dos sete alunos, estiveram presente
nesta aula, a monitora, Andreza Gonçalves, doutorando na ECI e
a
bibliotecária do IPHAN e doutoranda na ECI, bibliotecária Mônica Elisque, a
qual contribuiu com relatos oriundos de sua experiência em acervos históricos.
A figura 5 apresenta a turma de alunos, conduzida por professor e monitores.
Figura 5 - Aulas teóricas do curso, com professor, alunos e monitores
Fonte: Dados do curso (2019).
Nos dias 13 e 14, concretizaram-se as aulas práticas, ministradas pela
professora Ana Panisset, em que os alunos foram submetidos aos processos ou
práticas de execução junto a materiais deteriorados, no intuito de realizarem,
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na prática, ações de pequenos reparos. Além disso, a professora apresentou
casos concretos de contaminação de fungos e bactérias nos acervos, como
também em seres humanos, resultando em perdas irreparáveis para as
instituições e para as pessoas que lidam com as coleções. A figura 6 ilustra
casos práticos refletidos pela professora e as atividades de pequenos reparos
realizadas pelos participantes, no Laboratório de Preservação da ECI.
Figura 6 - Aulas práticas do curso, com demonstrações e intervenções práticas
Fonte: Dados do curso (2019).
Ao final da última aula, no dia 14 de março, foi realizada visita técnica ao
acervo da biblioteca da ECI, em que foi apresentada além da estrutura da
unidade, a forma adequada de se proceder às atividades de limpeza dos livros
e estantes, especificamente, com uso do aspirador de pó. Ao final dessa aula,
houve uma pequena confraternização entre os participantes (figura 7).
Figura 7 - Visita ao acervo e confraternização
Fonte: Dados do curso (2019).
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Além da confraternização, outra atividade realizada no encerramento do curso
foi a entrega solene dos certificados aos cursistas. Esse momento foi permeado
por discurso de agradecimento por parte da comissão organizadora do curso, a
qual ressaltou a importância de novos cursos e parcerias que podem ser
estabelecidas, a posteriori (figura 8).
Figura 8 - Encerramento do curso, com entrega solene dos certificados
Fonte: Dados do curso (2019).
Com o intuito de finalizar as atividades, foi enviado comunicado (e-mail) à
Conservo, acerca do encerramento do curso, cuja comissão organizadora
avaliou o curso como muito adequado e proveitoso, em que os resultados
foram considerados como satisfatórios e atenderam os objetivos propostos,
conforme pode ser percebido na descrição da mensagem:
[...] o curso foi desenvolvido de acordo com o que constava no plano elaborado pela ABMG,
considerando as necessidades da Conservo. Salientamos, também, que o curso foi muito
produtivo, com boa interação dos participantes, tanto nas discussões teóricas,
quanto nos procedimentos práticos realizados no Laboratório de Preservação ou junto ao
acervo da biblioteca universitária. Anexamos algumas fotos para registro, caso tenham
interesse. Quaisquer dúvidas e/ou demais informações, nos colocamos à disposição.
Finalizamos, agradecendo pela oportunidade e nos colocamos à disposição para futuras
parcerias (ABMG, 2019, não paginado, grifo nosso).
Portanto, do ponto de vista da comissão organizadora o curso foi prestado
seguindo os padrões de excelência e qualidade. Essa mesma percepção é
constatada por uma das representantes da empresa contratante, ao responder
o e-mail enviado, da seguinte forma:
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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Agradecemos a parceria firmada para o fim proposto que foi atendido com excelência.
Agradecemos a todos os envolvidos, em especial ao professor Jorge Santa Anna por se dispor
com tão boa vontade e profissionalismo, mesmo estando com o braço imobilizado. São esses
fatores como profissionalismo, comprometimento e criatividade que nos leva a
melhoria contínua na qualidade dos serviços prestados a essa UFMG (ANDRADE, 2019, não
paginado, grifo nosso).
A partir dos resultados alcançados com este curso, reforçamos que as
instituições e demais atores envolvidos com os acervos das bibliotecas
possuem uma responsabilidade fundamental, pois essa memória registrada
constitui o patrimônio cultural e intelectual das instituições e da sociedade.
Logo, o que está registrado nos livros, nos jornais, nas revistas de uma
biblioteca representa a memória do nosso país, do nosso estado, da nossa
cidade, do nosso bairro, da nossa rua, das nossas famílias. Portanto, danificar
e destruir esses objetos é o mesmo que apagar, de uma vez por todas, a nossa
herança cultural, o que pode levar à eliminação completa dos registros da
nossa história, impedindo que as gerações do futuro tenham conhecimento
sobre nossa existência, nossas práticas sociais e nossas vivências.
É como mencionou Ribeiro, Lima e Silva (2018), acerca da importância da
preservação de documentos em acervos, visto que esses se manifestam como
equipamentos de memória. Assim, o desejo é o de garantir a perpetuação dos
registros, tornando eles acessíveis às novas gerações. A preservação possibilita
o sentimento de pertencimento e identidade de uma pessoa ou de um grupo
(RIBEIRO; LIMA; SILVA, 2018).
O sucesso alcançado com o curso de Manutenção e Limpeza em Bibliotecas
despertou a importância em tornar público o material didático elaborado pelos
professores, para acompanhamento dos alunos, nas aulas (apostilas). Assim, o
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Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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conteúdo das quatro aulas foi compilado, em uma única produção técnica, a
qual foi disponibilizada no site da ABMG, para acesso3.
Os resultados positivos alcançados com a primeira turma do curso estimulou a
oferta de uma nova turma, no final do ano de 2019. Dessa vez, a solicitação
veio de uma nova empresa atuante na prestação de serviços de limpezas na
UFMG, a Pluri: Segurança e serviços. A proposta da empresa contratante era a
mesma da empresa anterior, cujo formato do curso foi mantido, sem nenhuma
alteração.
Com efeito, a segunda turma para o curso de Manutenção e Limpeza em
Bibliotecas aconteceu entre os dias de 07 a 10 de outubro de 2019, no
Laboratório de Preservação da ECI, com total de 12 participantes. A figura 9, a
seguir, apresenta alguns momentos principais do curso, como: aula expositiva,
aula prática, entrega de certificado e confraternização.
Figura 9 - Principais momentos da segunda turma do curso de manutenção em bibliotecas
Fonte: Dados do curso (2019).
3
Endereço para acesso ao material: http://abmg.org.br/publicacoes-da-abmg/apostila-docurso-manutencao-e-limpeza-em-biblioteca/
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Os resultados dessa segunda turma também foram satisfatórios, pois, na
solenidade
de
entrega
dos
certificados,
os
participantes
mostraram-se
otimistas, seja em termos do acolhimento prestado no curso, como também, a
dinâmica das aulas, além do conhecimento adquirido. Isso se confirma, no
relato de uma das alunas do curso:
O curso foi muito bom, pois, nas aulas, o professor nos estimulava a discutir os assuntos,
fazendo perguntas e conversando com a gente. Isso faz toda a diferença, pois evita o cansaço,
pois a gente pega cedo no trabalho, e, no horário da tarde, estamos cansadas. Com aulas
alegres, desse jeito, tudo fica mais fácil. Vocês estão de parabéns! Adorei o curso! (Comentário
de aluna do curso).
A fim de finalizar as atividades, a presidenta da ABMG agradece a presença de
todos e aproveita para estimular as pessoas a continuarem nos estudos,
fazendo uma faculdade, pois estudar gera melhores possibilidades de emprego
e melhorias na vida. Finaliza, mencionando que a associação está muito grata
com a oportunidade, e se coloca à disposição dos alunos e da empresa
contratante, a fim de firmar novos diálogos e parcerias.
Em virtude dos bons resultados oferecidos com a oferta dessas duas turmas,
espera-se que novas demandas aconteçam nos anos seguintes. Em dezembro
de 2019, foi enviado e-mail da Empresa Conservo, solicitando a oferta do curso
fora da cidade de Belo Horizonte: dessa vez, o mesmo curso seria oferecido
nas cidades de Tiradentes e em Montes Claros. Nessa ocasião, a Secretaria da
ABMG respondeu os comunicados, e está aguardando o posicionamento da
empresa para atender essas novas demandas, se elas se concretizarem.
Além do valor que os cursos voltados à temática da preservação assumem, no
atual contexto, também salientamos a importância e necessidade em se
realizar os cursos de capacitação e aperfeiçoamento, de modo que a ABMG
consolide-se, cada vez mais, como uma instituição comprometida com as
causas sociais e profissionais e que fortaleça, constantemente, a formação
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profissional na área de Biblioteconomia/Ciência da Informação em todas as
instâncias do Estado de Minas Gerais e do Brasil.
5 CURSO ORGANIZAÇÃO DE BIBLIOTECAS PARA VISITAS DO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Foi com surpresa que recebemos, ainda em período de recesso, um
comunicado via e-mail, propondo a realização de um curso voltado à
capacitação
de
profissionais
a
atuarem
na
organização
de
bibliotecas
universitárias para recebimento de visitas do MEC.
A mensagem foi enviada pelo bibliotecário Josuel Ferreira dos Santos da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), e assim foi registrada: “Prezados. Boa
tarde. Gostaria de realizar junto com vocês o curso organização de bibliotecas
para visitas do MEC em parceria”4. Na ocasião, como não conhecíamos esse
profissional,
solicitamos
maiores
esclarecimentos
sobre
o
curso
e
as
responsabilidades de cada parte envolvida, ABMG e proponente.
No decorrer das semanas, o diálogo foi se fortalecendo, tanto por e-mail,
quanto por telefone, a ponto de decidirmos pela realização do curso, conforme
decisão tomada em reunião da diretoria ocorrida em 19 de março de 2019.
Essa decisão demorou a ser tomada por dois motivos: 1 – o e-mail foi enviado
em período de férias de alguns membros, o que impossibilitou o contato
imediato com o proponente; 2 – pela inovação da proposta, sobretudo por
tratar-se de um curso oferecido por um profissional fora do estado de Minas
Gerais, algo, até então, pioneiro durante a gestão da atual diretoria.
4
Mensagem de e-mail recebida por abmg.gestao21@gmail.com, em 04 de janeiro de 2019
(ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS, 2019a).
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Importante reforçar que, em termos da temática do curso, a atual diretoria
entende que ela assume um papel fundamental na sociedade atual, em virtude
dos rigores estabelecidos nas avaliações para melhoria dos cursos formativos
oferecidos no Brasil. Conforme narrado por Maia e Santos (2015), é um desafio
que precisa ser superado o fato de que os acervos das bibliotecas acadêmicas
precisam
oferecer
materiais
condizentes
com
a
realidade
dos
cursos
oferecidos. Com esse alinhamento, tornar-se-á possível “[...] um melhor
atendimento às novas diretrizes estabelecidas pelo MEC e, consequentemente,
resultando em melhorias para a biblioteca universitária” (MAIA; SANTOS,
2015, p. 100).
À medida que as informações nos foram enviadas, elas foram devidamente
formalizadas em contrato, conforme modelo padrão adotado pela associação,
com as respectivas assinaturas eletrônicas do contratante (representado pelo
profissional) e da contratada (representada pela entidade). Os detalhes
firmados em contrato encontram-se expostos no quadro 5.
Quadro 5 - Dados da parceria firmada para ocorrência do curso
Nome do curso
Organização de Bibliotecas para Visita do MEC
Professor ministrante
Bibliotecário Josuel Ferreira dos Santos
Comissão organizadora
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da
Costa
Monitores e auxiliares
Equipe ABMG
Objetivo do curso
Preparar os profissionais para atuarem em
momentos de visita do MEC, atendendo as
exigências para melhorar a avaliação dos cursos
nas universidades e faculdades
Data de realização
08 de junho de 2019
Local
Escola de Ciência da Informação (ECI) – sala
1000
Vagas
- Número mínimo de inscritos: 15
- Número máximo de inscritos: 40 ou quanto o
espaço comportar
Fonte: Dados do curso (2019).
Além das informações principais pertencentes à proposta do curso, no
contrato, foram registradas as responsabilidades de cada parte envolvida,
como pode ser observado no quadro 6.
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Quadro 6 – Principais responsabilidades de
Responsabilidades do contratante
- Preparar a ementa e plano do curso
- Conduzir a aula, ministrando os
conteúdos contidos no plano
- Arcar com quaisquer
despesas
referentes à locomoção e estadia
- Disponibilizar materiais didáticos com
os conteúdos aos participantes
- Oferecer brindes para sorteio durante
o curso e custear as despesas com
lanche aos participantes
cada parte envolvida
Responsabilidades da ABMG
Providenciar
infraestrutura
ambiental
e
tecnológica para realização do curso
- Realizar as inscrições, conforme política de
inscrições e logística da ABMG (depósito em conta
e envio do comprovante por e-mail)
- Estabelecer comunicados com os participantes,
esclarecendo dúvidas, enviando recibos de
inscrição, dentre outras interações
- Gerenciar os materiais administrativos do curso,
como lista de presença, controle dos e-mails,
dentre outros
- Confeccionar os certificados
- Recepcionar os participantes e acolhê-los no dia
do evento, com o trabalho de monitores
Fonte: Dados do curso (2019).
Assim, a partir da assinatura do contrato, procedeu-se ao período de
inscrições, realizado de 20 de abril a 30 de maio. Os dias restantes com o
término das inscrições até a data de realização foram destinados para
resolução de questões administrativas, como confirmação da sala, elaboração
de certificados, elaboração do cronograma, envio de comunicado aos inscritos,
dentre outras questões.
Com o término das inscrições, foram computadas 23 solicitações, sendo quatro
na modalidade estudante. Considerando a sobra de 17 vagas, a comissão
organizadora optou por convidar profissionais que colaboraram, de forma
voluntária, na II edição do Conversando Sobre5, evento ocorrido na ECI, no dia
23 de abril de 2019.
Com essa intenção, foram enviados e-mails aos oito componentes da comissão
organizadora do citado evento. Portanto, no dia do curso, fizeram-se presentes
5
Esta edição do Conversando Sobre teve como tema “Os periódicos científicos da área de
Biblioteconomia e Ciência da Informação: onde e como publicar”, reunindo um total de 15
participantes, com mediação realizada por seis bibliotecários/pesquisadores, além da
contribuição de duas monitoras. O relatório desse evento está arquivado no google drive do email
da
associação,
além
de
disponibilizado
para
acesso
no
endereço:
http://abmg.org.br/publicacoes-da-abmg/relatorio-expandido-conversando-sobre-ii-edicao-osperiodicos-cientificos-na-area-de-biblioteconomia-e-ciencia-da-informacao/
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os 23 inscritos e quatro convidados, cuja turma foi composta pelo total de 27
participantes, além do professor e os dois membros da comissão organizadora,
os quais atuaram, também, como monitores. Ressalta-se que, como todo
evento ou curso realizado pela associação, os membros da atual diretoria
foram convidados a contribuir na organização do evento, por conseguinte,
participarem do mesmo. No entanto, não houve membros presentes da
diretoria, além dos organizadores. O quadro 7 demonstra o número de
participantes, distribuídos por categorias e os respectivos valores arrecadados.
Quadro 6 - Categorias de participantes
Categorias de participantes
Profissionais
Estudantes
Bolsistas convidados
Comissão organizadora e monitores
Total
Fonte: Dados do curso (2019).
Número de
participantes
19
04
04
02
29
Acerca do convite realizado aos bolsistas, acredita-se que essa ação fez-se
necessária, pois além de demonstrar um gesto de justiça, potencializa o papel
social da entidade em prol dos profissionais, sobretudo os que contribuem ou
apoiam, de alguma forma, as atividades realizadas. A seguir, trecho de e-mail
enviado aos convidados:
“[...] considerando a contribuição dos (as) senhores (as) nas atividades promovidas, nos
últimos meses, pela ABMG (publicação dos livros, cursos diversos, Conversando Sobre, dentre
outros), temos a alegria de comunicar que foram concedidas bolsas para participação dos (as)
senhores (as) em um curso que ocorrerá, neste sábado. [...] Portanto, vocês estão convidados
(as) a participar (gratuitamente) do curso. Essa é uma forma de retribuirmos a nossos
colegas e parceiros pelos auxílios oferecidos para fortalecimento da ABMG e da
classe bibliotecária em Minas Gerais. Esperamos todos no próximo sábado e esperamos
que tenhamos um ótimo evento!6
Conforme programação prévia elaborada pela comissão organizadora, o evento
aconteceria das 12:00 às 19:00h. No entanto, por problemas de aulas
ofertadas na parte da manhã, na ECI, o curso iniciou-se às 12:30 h, sendo os
três intervalos de quinze minutos previstos para ocorrerem foram reduzidos a
6
Mensagem de e-mail enviada por abmg.gestao21@gmail.com, em 03 de junho de 2019
(ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS, 2019b).
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dois intervalos. O quadro 8 explana as principais ocorrências relacionadas ao
cronograma do curso.
Quadro 7 - Cronograma de atividades do curso
Horário
Atividades realizadas
- Das 12:30 às 12:40 h
- Boa vinda aos participantes
e apresentação do docente
- Das 12:40 às 12:50 h
Espaço
da
ABMG
-- apresentação da entidade
-- site, e-mails e telefones de
contato
-- breve história da ABMG e
situação atual
-- convite para associar-se e
participar dos projetos
- Das 12:50 às 14:00 h
- Primeira parte do curso
- Das 14:00 às 14:10 h
- Intervalo
- Das 14:10 às 14:20
- Espaço da ABMG
-- apresentação dos projetos
da
entidade:
cursos
realizados
e
planejados;
Conversando Sobre; Agenda
2030 em MG etc.
- Das 14:20 às 16:00 h
- Segunda parte do curso
- Das 16:00 às 16:15 h
- Intervalo e lanches
- Das 16:15 às 18:00 h
- Terceira parte do curso
- Das 18:00 às 18:20 h
- Simulação de visita técnica
- Das 18:20 às 19:00 h
Agradecimentos,
homenagens,
sorteio
de
brindes
e
entrega
de
certificados
Fonte: Dados do curso (2019).
Responsável
Maria Elizabeth de Oliveira
Costa
Jorge Santa Anna
Josuel Ferreira dos Santos
---Jorge santa Anna
Josuel Ferreira dos Santos
---Josuel Ferreira dos Santos
Josuel Ferreira dos Santos
Maria Elizabeth de Oliveira
Costa
Conforme consta no quadro 8, o curso foi encerrado às 19:00 h, cumprindo a
carga horária exigida no programa curricular. Com o término da aula, a
comissão organizadora reuniu-se com o professor, a fim de realizar a
avaliação, a qual se baseou nas observações da comissão durante o evento,
como
também,
conversas
informais
com
participantes,
além
de
um
questionário aplicado pelo professor aos participantes, no final da aula. Em
linhas gerais, percebeu-se que o propósito do curso foi atendido, haja vista ter
possibilitado a satisfação da maioria dos participantes, os quais garantiram que
é preciso realizar outros cursos com esse mesmo tema. A partir da avaliação
positiva, o professor sugeriu a realização de uma segunda edição do curso, que
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poderia ocorrer na última semana de julho. A comissão ficou de levar para
debate e decisão na próxima reunião da diretoria da ABMG.
Os trabalhos de avaliação e discussões com o professor foram encerrados às
20:00 h, sendo ele dispensado, visto que possuía viagem aérea marcada para
sua cidade (Salvador), às 21:00 h. A comissão organizadora ainda permaneceu
no local do evento, a fim de arrumar a sala destinada à secretaria do curso.
Pontualmente, às 21:00 h, as atividades foram encerradas, cujo local ficou
devidamente organizado, conforme estava antes da realização das atividades.
As figuras, a seguir, são fotos registradas das principais ocorrências do evento:
Figura 10 - Abertura do evento, com saudações de boas-vindas
Fonte: Dados do curso (2019).
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Figura 11 - Espaço destinado à ABMG: apresentação da entidade e dos principais projetos dela
Fonte: Dados do curso (2019).
Figura 12 - Condução da aula pelo bibliotecário Josuel Ferreira dos Santos
Fonte: Dados do curso (2019).
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Figura 13 - Intervalo para lanches e socializações
Fonte: Dados do curso (2019).
Figura 14 - Reunião da comissão organizadora, após o evento
Fonte: Dados do curso (2019).
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Figura 15 - Modelo de certificado impresso entregue aos participantes – anverso e verso
Fonte: Dados do curso (2019).
Por fim, a partir deste evento, constata-se que ele foi produtivo, sobretudo
pelo fato de ampliar a visibilidade do trabalho da associação, além de
oportunizar contribuições ao fazer profissional dos participantes. Mais uma vez,
percebe-se a consolidação do papel social da ABMG, sobretudo em prol do
fortalecimento e potencialização da classe bibliotecária em Minas Gerais.
Ademais,
destaca-se,
como
ação
pioneira,
a
oportunidade
em
trazer
profissionais de outros estados, o que garantiu a troca de experiências, e,
como consequência dessa iniciativa, a entidade assume o compromisso em
romper as fronteiras geográficas, indo muito além do estado de Minas Gerais.
Que outras iniciativas dessa natureza possam ser pensadas, planejadas e
executadas!
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6 PALAVRAS FINAIS: CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL EM
FOCO
Este relatório técnico e expandido apresentou os resultados de parte
integrante do trabalho realizado pela atual diretoria da ABMG, considerando,
em especial, uma das mais importantes funções das associações de classe:
oferecer capacitação aos profissionais. Ao longo de dois anos de gestão, qual
seja, 2018 e 2019, foram oferecidos quatro importantes cursos, e, como se
percebeu nos resultados de cada um deles, a classe bibliotecária foi
beneficiada, reforçando, de alguma forma, as habilidades e competências, para
melhoria e inovação no fazer bibliotecário.
Acreditamos que a capacitação é algo emergente para o século XXI, haja vista
a instabilidade promovida com os reflexos da globalização e das tecnologias
digitais. Os bibliotecários continuarão sendo, ao longo das próximas décadas,
agentes de tratamento e disseminação da informação. Para tanto, precisam se
adequar às novas tendências, criando meios que possibilitem o uso adequado
da informação para benefício das pessoas, das organizações e da sociedade,
como um todo.
É com essa nova realidade que as associações muito podem auxiliar os
bibliotecários,
oferecendo
cursos,
treinamentos,
oficinas,
palestras,
congressos, dentre muitos eventos ou ocorrências que, em comunhão com as
escolas de Biblioteconomia/Ciência da Informação, garantirão uma formação
mais integral, cada dia mais transversal. As associações desempenham esse
papel, que precisa ser entendido como complementar à formação acadêmica,
de modo a estimular a formação continuada dos profissionais.
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Assim,
esperamos
que
as
associações
se
transformem
em
espaços
complementares de formação, planejados a partir das demandas oriundas do
mercado, de modo a aperfeiçoar a atuação bibliotecária, garantindo o
fortalecimento
e
valorização
da
área
no
contexto
individual,
cultural,
econômico e social. Que a ABMG não meça esforços no sentido de lutar por
essa causa, em Minas Gerais, em interação com as demais associações do
país, tornando a Biblioteconomia brasileira mais reconhecida e se tornando um
ponto de referência universal.
REFERÊNCIAS
ABBOTT, Andrew. The system of professions: an essay on the division of
expert labor. Chicago: The University of Chicago Press, 1988.
ALBRECHT, Pricila Anny Tomachski; KRAWULSKI, Edite. Concurseiros e a busca
por um emprego estável: reflexões sobre os motivos de ingresso no serviço
público. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, v. 14, n. 2, p. 211226, 2011. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cpst/v14n2/v14n2a05.pdf. Acesso em: 15 dez.
2019.
ANDRADE, Solange. Encerramento de Curso: Manutenção e Limpeza em
Bibliotecas [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<abmgcursos@gmail.com>, em 15 mar. 2019.
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). Curso
organização de Bibliotecas para visitas do MEC [mensagem pessoal].
Mensagem recebida por <abmg.gestao21@gmail.com>, em 04 jan. 2019a.
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). Convite:
participação em curso [mensagem pessoal]. Mensagem enviada por
<abmg.gestao21@gmail.com>, em 03 jun. 2019b.
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG).
Encerramento de Curso: Manutenção e Limpeza em Bibliotecas [mensagem
pessoal]. Mensagem enviada para <solange.andrade@conservo.com.br>, em
14 mar. 2019.
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2018-2020
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). Plano de
Curso. Belo Horizonte, 2018. 04 folhas.
BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero,
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MAIA, Luiz Cláudio Gomes; SANTOS, Maria de Souza Lima. Gestão da
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RIBEIRO, Josino de Carvalho; LIMA, Izabel França de; SILVA, Leyde Klebia
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preservação digital da Revista do Fisco. Biblios, Lima, v. 73, 2018. Disponível
em: http://www.scielo.org.pe/pdf/biblios/n73/a01n73.pdf. Acesso em: 15 dez.
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SILVA, Andreia Sousa da et al. Associação Catarinense de bibliotecários: 40
anos de serviços prestados na defesa e valorização da Biblioteconomia
Catarinense. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São
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https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/523/444. Acesso em: 26 mar.
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SILVA, Ivanderson Pereira da; ROCHA, Fernanda de Burgos. Implicações do
uso do whatsapp na educação. Revista EDAPECI, São Cristóvão, v. 17, n. 2,
p. 161-174, maio/ago. 2017. Disponível em:
https://seer.ufs.br/index.php/edapeci/article/view/5615. Acesso em: 15 dez.
2019.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Professor e consultor em trabalhos acadêmicos e
científicos. Conselheiro editorial
da Revista Pró-
Discente.
de
Administra
a
gestão
secretaria
e
assuntos administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa: Bibliotecária
do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Doutoranda em
Gestão e Organização do Conhecimento, investigando
o papel das bibliotecas para melhoria da educação a
distância, no Brasil. Ocupa o cargo de presidenta da
atual diretoria da ABMG.
E-mail: mabethcosta@gmail.com.br
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Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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Title
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Cursos de capacitação profissional
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Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
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ABMG
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Belo Horizonte (Minas Gerais)
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ABMG Editora
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A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
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Subject
The topic of the resource
Capacitação
Cursos profissionais
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Métodos e técnicas em pesquisa científica. Preparatório para concurso. Manutenção e limpeza em bibliotecas. Organização de bibliotecas para visitas do MEC
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Relatório de evento
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ABMG
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – GESTÃO E
CONSULTORIA EM CURSOS, TREINAMENTOS E EVENTOS DIVERSOS
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS
CURSO: MANUTENÇÃO E
LIMPEZA EM BIBLIOTECAS APOSTILA
GESTÃO E CONSULTORIA EM CURSOS,
TREINAMENTOS E EVENTOS DIVERSOS
BELO HORIZONTE
2018
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala
608. Telefone: (31)99959-4087. E-mail: abmgcursos@gmail.com. Site: www.abmg.org.br
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CONSULTORIA EM CURSOS, TREINAMENTOS E EVENTOS DIVERSOS
© 2018 Jorge Santa Anna
- Este material ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita dos autores ou
responsáveis.
- Material elaborado em consonância com o Projeto do Curso Profissional Manutenção e Limpeza em Biblioteca,
conforme proposta requerida pela Conservo e pela ABMG.
- Material elaborado por Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira Costa
APOSTILA REFERENTE AO CURSO: Manutenção e Limpeza em Bibliotecas
- AULAS: teóricas e práticas
- Empresa solicitante: Conservo
- Empresa prestadora do serviço: ABMG – Gestão e Consultoria em Cursos, Treinamentos e Eventos Diversos
REVISÃO E EDITORAÇÃO DE TEXTO: Jorge Santa Anna, Jéssica Patrícia Silva de Sá, Andreza Gonçalves Barbosa
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão, Graciane Borges, Taciane
Rodrigues e Maria Clea Borges
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 3
2 AULA I - BIBLIOTECA: UM AMBIENTE DE INFORMAÇÃO, CULTURA E CONVÍVIO
.............................................................................................................................................................. 3
2.1 CONCEITOS DE BIBLIOTECA .................................................................................................. 4
2.2 TIPOS DE BIBLIOTECA E SERVIÇOS OFERECIDOS ............................................................ 4
2.3 SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG .................................................................................. 5
2.3.1 Missão, visão e valores .............................................................................................................. 6
2.4 INSTALAÇÕES DE BIBLIOTECA: PRÉDIOS, MÓVEIS E EQUIPAMENTOS...................... 7
2.5 TIPOS DE MATERIAIS CONSTITUTIVOS DOS ACERVOS .................................................. 8
3 AULA II - NOÇÕES BÁSICAS DE PRESERVAÇÃO ............................................................... 8
3.1 TIPOLOGIA DOS ACERVOS: UMA ABORDAGEM PARA A DEFINIÇÃO DOS
PROCEDIMENTOS DE LIMPEZA ................................................................................................. 10
4 AULA III – PROCESSOS DE LIMPEZA E CONSERVAÇÃO .............................................. 11
4.1 PROCEDIMENTOS EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA...... Erro! Indicador não definido.
5 AULA IV– VISITA TÉCNICA AO LABORATÓRIO DE PRESERVAÇÃO ....................... 12
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 123
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1 INTRODUÇÃO
Esta apostila é composta por quatro aulas, sendo duas teóricas e duas práticas, cujo objetivo é
promover a discussão e conhecimento sobre o que é uma biblioteca, seus conceitos, características, tipos,
usuários que a frequentam e serviços oferecidos, com foco nas práticas de conservação e limpeza dos materiais
que compõem seus acervos, especificamente, os acervos das bibliotecas constituintes do Sistema de Bibliotecas
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Assim, a aula I apresenta os conceitos de uma biblioteca, suas principais características, serviços
prestados e a composição dos acervos. Além disso, apresenta o Sistema de Bibliotecas da UFMG,
mencionando as bibliotecas que o compõem, as quais estão distribuídas em diferentes unidades acadêmicas,
centros e escolas que formam a universidade, tanto o Campus Pampulha, os Campi Saúde e Direito - situados
em Belo Horizonte - como o campus situado no interior, na cidade de Montes Claros.
Na aula II, a partir do conhecimento de como funciona uma biblioteca e como está formado o Sistema
de Bibliotecas da UFMG, discutiremos sobre as principais técnicas e atividades que podem ser utilizadas para
garantir a conservação dos materiais que formam os acervos de todas as bibliotecas do Sistema. Portanto,
estudaremos sobre os procedimentos básicos para higienizar os livros, de modo a retirar os resíduos e demais
elementos que acabam por “sujar” os livros e as estantes. De modo geral, entenderemos a importância em se
realizar um processo de limpeza adequado, no intuito de garantir o bom uso e permitir que esses materiais
sejam conservados ao longo do tempo.
Na aula III, são descritos os conceitos das principais técnicas realizadas para higienizar os materiais; o
que pode ser feito para garantir uma limpeza adequada; o que não pode ser feito; as formas de se comportar no
momento da limpeza, visando a segurança do profissional responsável pela limpeza; o uso de equipamentos e
produtos específicos que garantam a preservação dos materiais e a segurança dos funcionários, dentre outros
procedimentos. Também apresenta breves considerações sobre como se comportar diante de casos
emergenciais, como incêndios, inundações etc. Nessa aula, as atividades serão realizadas em laboratório de
conservação, portanto, a parte escrita da apostila servirá, apenas, como material de anotação e revisão.
Por fim, na aula IV, é apresentada, brevemente, a estrutura do Laboratório de Preservação da Escola de
Ciência da Informação da UFMG, com destaque aos serviços realizados, materiais e equipamentos que
compõem esse acervo. Informamos que essa aula, por contemplar uma visita técnica ao laboratório, a parte
escrita, semelhante à aula anterior, servirá como material de anotação, servindo como apoio às atividades
práticas e, também, como material de revisão.
Desejamos bons estudos e um excelente curso a todos vocês! Sejam bem-vindos!
2 AULA I - BIBLIOTECA: UM AMBIENTE DE INFORMAÇÃO, CULTURA E CONVÍVIO
A biblioteca é um ambiente que, normalmente, pertence a uma organização maior, cumprindo,
portanto, as normas da organização a que pertence. Embora pertença e reflita a realidade da instituição que a
mantém, as bibliotecas acabam por possuir conceitos, características e estruturas muito semelhantes umas das
outras, como também, oferecem os mesmos serviços, a maioria deles ligados à consulta, leitura e empréstimos
de livros, jornais, revistas, dentre outros materiais (FONSECA, 2007).
As bibliotecas existem desde os tempos antigos e vêm acompanhando a evolução da sociedade. No
passado, elas eram vistas, apenas, como depósitos de livros, ou seja, lugares onde se armazenava os materiais
impressos, como livros, jornais e revistas. Mas, a partir do ano 2000, com o uso das tecnologias,
principalmente, com o uso da internet, as bibliotecas passaram a oferecer serviços muito além da consulta,
leitura e empréstimos de livro. Hoje, as bibliotecas são organismos dinâmicos, que oferecem diversos produtos
e serviços a seus usuários, o que permite caracterizar as bibliotecas como unidades de informação, um
verdadeiro centro dinâmico de informação para toda a sociedade (MILANESSI, 2002; MARTINS, 2002;
MORIGI; SOUTO, 2005; SANTA ANNA, 2016).
As bibliotecas oferecem informação que se materializa no formato de livros, jornais e revistas, tanto na
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forma impressa ou eletrônica, oferecida por meio de CDs, DVDs ou disponibilizada na internet. Assim, embora
o trabalho principal da biblioteca esteja na formação e preservação dos livros, disponibilizados nas estantes,
formando o que conhecemos como acervo impresso, as bibliotecas também criam os ambientes na internet, de
modo que os acervos possam ser acessados pelo computador. Ao ser disponibilizada na internet, a biblioteca
adquire diferentes nomes, como bibliotecas eletrônicas, virtuais ou digitais (MORIGI; SOUTO, 2005).
Mas, a biblioteca, hoje em dia, não oferece apenas a informação, estando ela na forma impressa ou
eletrônica. A biblioteca também se ampliou, oferecendo cultura e lazer para as pessoas. Portanto, bibliotecas
são espaços dinâmicos que se apresentam como ambientes de convívio para a sociedade, sendo possível,
comparecer à biblioteca, não apenas para ler ou pegar um livro, mas também para visitar exposições, participar
de palestras, de cinemas, de encenações, dentre tantas outras atividades. As bibliotecas servem à sociedade,
acolhendo a todos sem qualquer tipo de discriminação ou preconceitos. Elas são ambientes democráticos, de
respeito às diferenças e possibilitam que as pessoas venham até elas para estudarem, se divertirem, trocarem
ideias, receberem instruções, enfim, as bibliotecas são os locais de encontro e de interação de uma dada
comunidade (SANTA ANNA, 2016).
2.1 CONCEITOS DE BIBLIOTECA
A palavra “biblioteca” tem sua origem do grego biblíon (livro) e teke (caixa, depósito), portanto, um
depósito de livros. Assim, bibliotecas são instituições que facilitam o acesso aos livros. Para além da sua
função básica, estas organizações também podem conservar outros tipos de materiais, como documentos
históricos, diários, fotografias, jornais, revistas, CDs, DVDs etc. (MORIGI; SOUTO, 2005).
Mas, conceituar biblioteca como depósito de livro é algo ultrapassado, visto que as bibliotecas, hoje
em dia, passaram a oferecer serviços diversos. Assim, na biblioteca, podem ser realizadas atividades culturais e
recreativas, tais como palestras, leituras de poesia, concertos e outras propostas (FONSECA, 2007).
Um conceito mais abrangente e que melhor caracteriza a biblioteca é aquele que a define como uma
organização, cujo objetivo principal é organizar coleções, atualizá-las e facilitar, através de pessoal
especializado, o acesso a documentos que respondam às necessidades dos usuários nos aspectos da informação,
educação e lazer (A BIBLIOTECA, 2018).
Considera-se como biblioteca, toda a coleção organizada de livros e periódicos impressos ou de
quaisquer outros documentos, nomeadamente gráficos e audiovisuais, assim como os serviços dos profissionais
que facilitam a consulta desses documentos pelos usuários, com fins de informação, investigação, educação ou
lazer (A BIBLIOTECA, 2018).
O foco principal de qualquer biblioteca ainda permanece nos acervos impressos, formado por coleções
bibliográficas, documentos históricos, fotografias, mapas, obras raras, dentre outras coleções. No entanto,
outros produtos e serviços passaram a ser oferecidos, de modo que a biblioteca vem se modificando, tornandose um espaço interativo, de troca de informações, onde as pessoas podem ajudar umas às outras. Assim, não se
deve apenas limitar a adquirir, reunir, organizar, tratar, armazenar e conservar os fundos bibliográficos; deve
também comunicar, difundir e estabelecer serviços aos leitores e usuários, para que eles entrem em contato
com as informações contidas nos fundos bibliográficos (A BIBLIOTECA, 2018).
Por fim, salientamos que as bibliotecas têm representado o tesouro do saber e da experiência humana
acumulado, a sua preservação e a sua transmissão de geração em geração. Além disso, na modernidade, uma
biblioteca é um local de descobertas no qual se pode buscar e encontrar respostas, pesquisas ou simplesmente
passar o tempo livre num ambiente acolhedor e descontraído (SANTA ANNA, 2016).
2.2 TIPOS DE BIBLIOTECA E SERVIÇOS OFERECIDOS
Existem muitos tipos de biblioteca. Em geral, elas são classificadas, conforme as propostas e objetivos
das instituições ou empresas que as mantêm. Também são classificadas de acordo com o tipo de material
específico que podem armazenar, como também, considerando o tipo de usuários que atendem. Assim, é
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possível classificar as bibliotecas, por exemplo: em escolares e universitárias, considerando as instituições que
as mantêm, nesse caso, as escolas e as universidades, respectivamente. Também podem ser bibliotecas de obras
raras ou bibliotecas de jornais, considerando, nesse caso, o tipo de material que armazenam em seus acervos.
De acordo com alguns autores consultados, tais como Martins (2002), Milanesi (2002), Morigi e Souto
(2005) e Fonseca (2007), é possível descrever os seguintes tipos de bibliotecas:
Escolares: são unidades pertencentes às escolas e têm como objetivo servir de apoio às atividades de
ensino-aprendizagem, realizadas por professores e toda equipe pedagógica da escola. Servem para
abrigar a comunidade escolar, seja fornecendo livros e demais materiais de ensino e pesquisa, seja
realizando atividades de incentivo à leitura e ações culturais para alunos e professores;
Especializadas: compreendem centros de documentação ou acervos especializados que ajudam nas
atividades desenvolvidas por empresas. Abrigam acervos de literatura, obras históricas, que
demonstram a trajetória da empresa, como também documentos de arquivo, relativos às atividades
realizadas nos setores da empresa;
Comunitárias: normalmente, essas unidades são geridas por não bibliotecários e manifestam-se como
espaços construídos para atender diferentes pessoas de uma comunidade. Em geral, oferecem acervos
com obras literárias, literatura científica, além de acesso à internet para uso pelas comunidades
carentes, de um bairro ou região, geralmente, mais afastadas dos grandes centros urbanos;
Universitárias ou acadêmicas: são bibliotecas mantidas por universidades ou faculdades, cujo
propósito é apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, atividades essas realizadas por alunos,
professores e servidores dessas instituições. Além disso, as bibliotecas universitárias promovem
atividades culturais e acesso à internet e acervos culturais para a comunidade universitária;
Públicas: visam o atendimento da comunidade, em geral, contribuindo para a oferta diversificada de
materiais informacionais, além de cultura e lazer para as pessoas da comunidade. É um espaço
democrático e acolhedor, que se coloca a serviço das causas sociais e da promoção da cidadania.
Dentre as diversas modalidades de bibliotecas, como descrito acima, destacam-se as bibliotecas
universitárias, as quais podem ser definidas como centros de informação, destinados a atender alunos,
professores e técnico-administrativos, de modo a subsidiar as atividades desses usuários e garantir o
crescimento da universidade. Dentre os citados tipos de biblioteca, a universitária é a que mais se destaca por
oferecer diversas atividades a seus usuários, tais como ações culturais, espaço para reuniões, espaço para
leitura, além de oferecer um enorme acervo impresso, com diferentes coleções, no intuito de atender todos os
cursos existentes na universidade. O acervo informacional da biblioteca universitária permite a oferta de
diferentes atividades aos usuários, tais como consulta e leitura das obras no recinto da biblioteca, empréstimo
domiciliar do material, serviços de fotocópia de livros, limpeza, conservação e restauração de materiais,
pesquisa a fontes históricas, dentre muitos outros (NUNES; CARVALHO, 2016).
Ainda sobre as bibliotecas universitárias, é comum, no Brasil, as universidades, considerando o grande
número de cursos e departamentos que possuem, criarem diferentes bibliotecas, em vários espaços da
instituição. Essas bibliotecas, mesmo estando separadas fisicamente, são geridas por um único sistema, de
modo a garantir a padronização das atividades. Assim, muitas universidades brasileiras adotam a criação dos
sistemas integrados de bibliotecas, podendo citar alguns casos, como: Sistema de Bibliotecas da Universidade
de São Paulo, Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Espírito Santo, Sistema de Bibliotecas da
UFMG, dentre outros.
2.3 SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG
O Sistema de Bibliotecas da UFMG é constituído por 25 bibliotecas setoriais nas seguintes áreas:
Ciências Agrárias; Ciências Biológicas; Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas; Ciências Sociais
Aplicadas; Engenharia; Ciências da Saúde; Linguística, Letras e Artes (SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA
UFMG, 2018).
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Além das unidades presentes nos diversos cursos e escolas da UFMG, o sistema também possui
acervos vinculados a Unidades Especiais e a atividades de extensão como: Colégio Técnico; Centro
Pedagógico; Museu de História Natural; Carro Biblioteca; Espaço de Leitura da Biblioteca Central (SISTEMA
DE BIBLIOTECAS DA UFMG, 2018).
As Bibliotecas Setoriais e as Unidades Especiais estão vinculadas tecnicamente à Biblioteca
Universitária e são responsáveis pelo oferecimento, à comunidade universitária, de serviços e produtos de
informação necessários ao desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFMG, bem
como de acervos específicos em suas áreas de abrangência (SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG, 2018).
O acervo bibliográfico disponível para os usuários do Sistema de Bibliotecas gira em torno de um
milhão de exemplares contemplando, ainda, uma coleção de periódicos impressos de aproximadamente 18.000
exemplares e um acervo de materiais especiais – constituído de materiais audiovisuais, slides, partituras, fitas
de vídeo, documentos de arquivo, fotografias etc. – de cerca de 40.000 itens (SISTEMA DE BIBLIOTECAS
DA UFMG, 2018).
2.3.1 Estrutura, missão e valores
A missão do Sistema de Bibliotecas é prestar serviços de informação técnico-científica que
ultrapassem as expectativas da comunidade acadêmica, sustentando e colaborando com a UFMG para que ela
permaneça entre as mais bem conceituadas universidades do país. A visão do sistema é aprimorar cada vez
mais os produtos e serviços visando atingir um patamar de excelência no suporte informacional e disseminação
do conhecimento à comunidade acadêmica e à sociedade, proporcionando atendimento de qualidade condizente
com os anseios dos cidadãos. No que se refere aos valores, o sistema preza pela transparência administrativa,
eficiência gerencial e memória institucional (SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG, 2018). A figura 1
demonstra a estrutura do Sistema.
Figura 1 – Estrutura do Sistema de Bibliotecas da UFMG
Fonte: Sistema de Bibliotecas da UFMG (2018).
Conforme consta na figura 1, o Sistema de Bibliotecas da UFMG possui uma estrutura integrada,
gerenciada pelo Conselho Diretor da universidade, composto pelas 25 bibliotecas da instituição, pela diretoria
do sistema e pelas comissões temporárias formadas para resolver ou conduzir demandas específicas relativas ao
desenvolvimento do sistema e de suas bibliotecas.
Vinculadas diretamente à diretoria estão as divisões técnicas, as seções administrativas, o Cenex e a
Biblioteca Central, essa última, além de contemplar acervo diversificado, conforme os cursos da instituição,
também sedia em sua instalação as divisões técnicas e setores administrativos que gerenciam o Sistema como
um todo.
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2.4 INSTALAÇÕES DAS BIBLIOTECAS: PRÉDIOS, MÓVEIS E EQUIPAMENTOS
As bibliotecas acompanham a evolução da humanidade, ao longo dos tempos. A importância dessas
unidades para o desenvolvimento da sociedade é substancial, haja vista os altos investimentos públicos
voltados para construção dos espaços adequados para abrigar os acervos e as múltiplas atividades
desenvolvidas pelas bibliotecas.
Os espaços físicos de uma biblioteca devem ter arquitetura, em conformidade com leis específicas,
especificamente, considerando normas para acomodação dos acervos impressos, no intuito de que esses
acervos sejam preservados contra ações internas e externas, tais como incêndios, inundações, radiações, dentre
outras ocorrências (CASSARES, 2000).
No caso específico das bibliotecas universitárias, os espaços reservados para construção delas variam
de universidade para universidade. Nos Sistemas de Bibliotecas, as bibliotecas são construídas ao redor das
unidades acadêmicas, dos departamentos, centros ou das escolas, dependendo da forma com que a universidade
esteja dividida. Na UFMG, por exemplo, além da biblioteca central, existem as bibliotecas situadas nos prédios
dos cursos ou escolas, ou próximos deles, de modo que seja facilitado o acesso da comunidade interna ao
recinto da biblioteca.
Por exemplo, a Escola de Ciência da Informação (ECI), formada pelos cursos de Arquivologia,
Biblioteconomia e Museologia e cursos de Pós-Graduação possui a biblioteca situada no terceiro andar do
prédio. A Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) possui o ambiente da biblioteca situado no
térreo do prédio, em frente à entrada principal. E assim manifestam-se o ambiente de instalação das demais
bibliotecas, em que, mesmo estando situadas em locais diferenciados, não perdem a centralização no que tange
às formas de gestão e planejamento, vinculadas a um sistema integrado.
No interior das bibliotecas, é comum haver a presença de mobiliários e equipamentos que possibilitam
o funcionamento das atividades bibliotecárias. Assim, o mobiliário de uma biblioteca é composto por: mesas,
cadeiras, estantes, guarda-volumes, balcões diversos etc. Quanto aos equipamentos, é comum a presença de:
computadores, ar condicionado, impressoras, dentre outros.
As bibliotecas, normalmente, são divididas em pequenos espaços, ou salas, nas quais se realizam
atividades diferentes nesses espaços internos. A divisão interna da biblioteca, normalmente, contempla sala da
chefia, sala de processamento técnico, sala de reuniões, sala de informática, balcão de empréstimo, cabines
para estudos individuais e coletivas, dentre outras.
Destaca-se, em qualquer biblioteca, a área destinada ao acervo impresso, normalmente, situada no
centro da unidade. A área do acervo é composta por estantes de ferro ou aço, acopladas de forma ordenada,
com prateleiras para acomodar os livros, em posição vertical, de modo que a lombada do livro fique exposta,
sendo possível a localização da obra pelo usuário. Destaca-se, também, no acervo impresso, a presença de
bibliocantos, equipamentos de ferro ou aço que possibilitam a rigidez e o posicionamento horizontal dos livros
nas estantes. A figura 2 demonstra a correta disposição de um livro em uma estante de biblioteca e a presença
de bibliocanto, pressionando os materiais.
Figura 2 – Exposição correta de livro em estante de biblioteca e presença do bibliocanto
Fonte: Universidade Federal do Ceará (2015).
Conforme apresentado na figura 2, percebe-se que a arrumação dos livros, nas estantes, obedece a um
sistema específico de localização das obras. Assim, as obras são arrumadas, considerando a ordem de
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classificação estabelecida pelos bibliotecários. A inserção dos livros, em seus devidos lugares, e a logística
geral das estantes demandam cuidados especiais para limpeza desses ambientes. Mesmo que a limpeza seja
realizada em intervalos regulares, é preciso cautela, para retirada de resíduos, tais como poeira, insetos etc.,
devendo o trabalho ser realizado por mais de uma pessoa, de forma colaborativa.
2.5 TIPOS DE MATERIAIS CONSTITUTIVOS DOS ACERVOS
Os acervos das bibliotecas universitárias e, especificamente, os das bibliotecas da UFMG são
compostos por diferentes tipos de materiais ou obras, estando eles no formato impresso quanto eletrônico.
Mesmo que, atualmente, há predominância na formação de acervos eletrônicos, disponibilizados na
internet para acesso aos usuários, os acervos físicos (impressos) não perderam o seu valor, estando localizados
em todas as unidades do Sistema, formados por diferentes coleções de materiais, sejam eles de natureza
bibliográfica, museológica ou arquivística.
1 - Materiais bibliográficos: nesse grupo, estão presentes os livros, revistas e jornais. Um material é
bibliográfico quando possui um número de registro, denominado de ISBN (para livros) e ISSN (para jornais e
revistas). Ressalta-se que, qualquer um deles pode possuir suporte físico, como eletrônico;
2 - Materiais arquivísticos: em geral, são os documentos produzidos na unidade e que demandam de uma
guarda específica, podendo formar os arquivos da unidade ou da instituição. Normalmente, são documentos
históricos, atas de reunião, regulamentos, políticas, fotografias, correspondências, dentre outros de ordem
administrativa. Esses documentos podem estar no formato físico, quanto eletrônico;
3 - Materiais museológicos: ao contrário dos anteriores, normalmente, apresentam-se na forma de ícones ou
objetos oriundos da imaginação, da arte e da cultura de um autor ou artista. Citam-se como documentos
museológicos: obras de arte, troféus, quadros, pinturas, artesanatos, dentre outros. Semelhante aos demais tipos
de materiais, os museológicos podem estar na forma física e eletrônica.
É importante esclarecer que, mesmo havendo essa diferenciação entre a natureza dos materiais, a
maioria das bibliotecas acomoda materiais do tipo bibliográfico, visto que documentos institucionais e obras de
arte possuem outras unidades de informação mais específicas para acomodação desses materiais, tais como os
arquivos e os museus.
Assim, os acervos informacionais das bibliotecas do Sistema da UFMG, em sua maioria, contemplam
uma diversidade de obras de natureza bibliográfica. Os tipos de obra pertencem a diferentes coleções, as quais
formam os acervos bibliográficos das bibliotecas, estando esses acervos abertos ao público em geral, para uso,
o que gera, consequentemente, maiores possibilidades de danos aos materiais. Os principais materiais que
formam as coleções são: livros, periódicos, obras de referência, obras raras e audiovisuais, conforme será mais
detalhado na aula seguinte.
VAMOS EXERCITAR?
- Com base nas discussões apresentadas nesta aula, descreva, com suas palavras, o que você acha que seja uma
biblioteca nos dias de hoje.
- Quais são os elementos que formam o acervo de uma biblioteca universitária?
- Em sua opinião, que atitudes são inadequadas ocorrerem em bibliotecas? Ao presenciar uma dessas situações,
como você agiria?
_________________________________________________________________________________________
3 AULA II - NOÇÕES BÁSICAS DE PRESERVAÇÃO
A preservação em acervos informacionais pode ser conceituada como um conjunto de procedimentos
realizados de forma planejada, que visem o desdobramento de muitas outras ações para garantir a permanência
ou sobrevivência dos materiais ao longo dos tempos. Em outras palavras, a preservação é um projeto
abrangente, regido por políticas e diretrizes específicas, que condicionarão as atividades de intervenção junto
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aos acervos, de modo que o patrimônio cultural, histórico e informacional de uma unidade ou instituição seja
preservado, ou melhor, seja salvaguardado (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995; CASSARES, 2000).
A preservação de acervos sempre existiu ao longo dos tempos. Essa atividade se intensificou, na Idade
Média, por meio da ação dos monges, nos castelos medievais, ao realizarem serviços de guarda dos livros
produzidos na Antiguidade. O uso de técnicas de reparos nos materiais já era realizado nesse período, sendo
que as técnicas foram se evoluído, à medida que os próprios materiais, como papiro, pergaminho e mais
recente, o papel foram sendo adotados como meios de registro das informações (MARTINS, 2002).
A área da preservação vem se evoluindo, principalmente, à medida que os procedimentos realizados
deixaram de centrar, apenas, na atividade do artesão ou restaurador, o qual possuía o domínio total de
conhecimento sobre como proceder para resgatar a forma original de um livro deteriorado com o tempo e fruto
da ação humana ou de agentes naturais, químicos, físicos e/ou biológicos. É a partir do século XIX, que estudos
científicos passaram a ser desenvolvidos, substituindo a atividade do artesão por equipes de trabalho, com uso
de instrumentos e equipamentos sofisticados, construídos para permitir o resgate original à obra deteriorada
(MARTINS, 2002).
Há de se considerar, também, que a partir do século XIX, com os estudos científicos, uma nova
consciência foi estabelecida: a de realizar ações que impedissem que a obra chegasse a se deteriorar. Ou seja,
nos dias de hoje, há uma tendência em se preservar os materiais, de modo que eles fiquem protegidos dos
agentes externos, permitindo que sua originalidade seja mantida. Nesse contexto, surgem, portanto, três
diferentes termos, definidos como:
1 - Preservação: conjunto de medidas de cunho abrangente, que visem garantir a permanência do material
contra agentes que possam comprometer o seu estado original. É um programa maior, que envolve ações de
gestão a serem estabelecidas na instituição, de modo que sejam realizadas atividades pró-ativas para que o
material permaneça sempre resguardado e protegido;
2 - Conservação: diz respeito às ações práticas realizadas sobre um material que sofreu ações de degradação,
ou seja, é um fazer reativo, pois intervém no material, depois que ocorreram os danos, quaisquer que forem.
Trata-se de técnicas, procedimentos e práticas, que podem ser simples e mais elaboradas, no sentido de reparar
os danos sofridos por um material;
3 – Conservação preventiva: a conservação preventiva é mais ligada à higienização e acondicionamento dos
materiais, com o propósito de evitar possíveis deteriorizações.
4 - Conservação curativa ou pequenos reparos: contempla um tipo de conservação, em que os materiais, ao
sofrerem danos de menor proporção, os quais não justificam um trabalho muito profundo de intervenção,
passam por pequenas ações, de modo que o material possa voltar a ser utilizado. É muito comum a presença
dessa prática em bibliotecas, tais como a colagem de um livro que perdeu a capa, ou a secagem de algumas
folhas que foram umedecidas, ou ainda, a retiragem de poeira inserida entre as páginas de um livro. Essas
atividades podem ser consideradas como “o pronto socorro” dos livros. São os primeiros cuidados oferecidos
ao material danificado;
5 - Restauração: nesse processo, o material sofreu danos muito profundos, o qual demandará ações também
profundas no material, de modo que ele volte ao seu estado original. Nesse processo, o material encontra-se,
totalmente mutilado, sendo impossível a realização de atividades de pequenos reparos. Livros com muitas
páginas soltas, com presença de fungos entre suas folhas, com imagens ou letras faltando ou em baixa
visibilidade requerem técnicas de restauro (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995; CASSARES, 2000).
Normalmente, os danos causados em livros são decorrentes de diferentes ações, causadas por agentes
diversos. A literatura considera como principais agentes que causam algum tipo de danificação em acervos
informacionais, a saber:
1 - Agentes biológicos: correspondem aos diversos tipos de microrganismos ou outros seres vivos que utilizam
dos livros, sobretudo aqueles que se encontram no formato de papel, para se alimentarem ou criarem suas
colônias nesses ambientes. Além dos microrganismos, como fungos e bactérias, é comum a presença de insetos
como traças, aranhas, besouros, formigas, dentre outros. Em conjunto, esses seres, além de furarem, cortarem
ou amassarem o material, também causam doenças e incômodos a quem utiliza os livros como: alergias e
infecções.
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2 - Agentes químicos: compreende a ação de substâncias químicas inseridas nos livros, tais como
derramamento de água e outros líquidos ou outras impurezas, como poeira etc. Normalmente, o contágio dos
materiais com essas substâncias advém da ação humana, seja pessoas ao realizarem os processos de limpeza,
seja pelos leitores, ao manusearem o material, consumindo alimentos e bebidas;
3 - Agentes físicos: correspondem às ações mecânicas ou movimentos que acabam por danificar os livros. A
pressão muito intensa de um livro a outro pode inibir a circulação de ar entre eles, logo, pode desencadear
formação de fungos, e outras ações químicas. A falta de manutenção nos acervos, em muitas vezes, pode
provocar a presença de aves, as quais fazem seus ninhos e trazem impurezas que estimulam os agentes
biológicos e químicos. Também é um exemplo de agente físico, o excesso ou escassez de luminosidade e
circulação de ar, a temperatura, dentre outros fatores, a maioria provocada com ajuda de agentes biológicos e
químicos;
4 - Ação antrópica: diz respeito ao mau uso por parte do ser humano. Manusear incorretamente os livros,
derramar produtos sobre eles, seja quando no processo de limpeza ou de leitura, submeter o livro a condições
inadequadas são atitudes humanas que provocam, mesmo que a longo prazo, o desgaste do material;
5 - Intempéries: diz respeito aos fenômenos da natureza. São agentes externos, que se manifestam,
normalmente, na forma de catástrofes, conforme as condições do meio ambiente. Assim, tempestades,
inundações e incêndios são alguns exemplos de intempéries, o que estimula aos gestores das bibliotecas,
equiparem as unidades, com estruturas adequadas, tais como a presença de ar condicionado, para redução do
calor; telas nas janelas, para evitar entrada de aves e outros animais; extintor de incêndio e portas corta fogo,
em caso de incêndios; construir o ambiente das bibliotecas sob alto relevo, evitando os estragos das enchentes,
dentre outras medidas (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995; CASSARES, 2000). A figura 3 demonstra
diferentes danos causados aos materiais bibliográficos.
Figura 3 – Diferentes danos causados por fatores adversos nos livros
1
2
3
4
Legenda: 1 – Lombada danificada por mau uso; 2 – Carimbado, rabiscado e molhado; 3 – Ação de fungos, bactérias e brocas; 4 –
Livro com folhas amassadas e rasgadas
Fonte: Tempo para cuidar (2011).
3.1 TIPOLOGIA DOS ACERVOS: UMA ABORDAGEM PARA A DEFINIÇÃO DOS
PROCEDIMENTOS DE LIMPEZA
Conforme já estudamos na aula anterior, os acervos das bibliotecas universitárias são compostos por
obras de natureza bibliográfica, obras essas agrupadas em coleções, que são:
Coleção de livros: constituem livros editados e publicados por diferentes editoras, estando eles
impressos na forma de brochura ou encadernados, com tamanhos e cores variadas. Essa coleção é
formada por livros de literatura científica, pertencentes aos cursos ofertados na universidade, além de
existirem também livros literários, e demais gêneros textuais publicados na forma de livro;
Coleção de periódicos: compostas por jornais e revistas, sejam eles de natureza meramente
informativa/jornalística, como também periódicos científicos, pertencentes aos cursos existentes na
universidade. A coleção de periódicos, em alguns locais, é denominada de hemeroteca, e pode aparecer
vinculada ao acervo de livros, anexa a ele ou em sala específica para acomodar esse tipo de material;
Coleção de obras raras ou materiais especiais: são livros ou periódicos que possuem um valor muito
especial para a instituição. Para ser especial, o material tem que possuir características específicas,
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estabelecidas pela biblioteca, tais como: ser uma obra muito antiga, ser apenas um único exemplar
existente na unidade, conter assinatura do autor, ser um material que retrata a história local (memória),
dentre outros critérios;
Coleção de Audiovisuais ou materiais multimeios: corresponde a recursos eletrônicos, do tipo CD,
DVD e Fita cassete, além de mapas, atlas, plantas arquitetônicas etc. Em linhas gerais, esses materiais
são acomodados em estantes específicas, na maioria das vezes, separadas do acervo impresso;
Coleção Obras de Referência: compreendem, tradicionalmente, as obras que não podem sair da
biblioteca, haja vista o número reduzido de exemplares, como também, a importância da obra para a
consulta local dos usuários. São obras de referência: dicionários, enciclopédias, mapas, tabelas etc.
Os tipos de materiais acima descritos compreendem o que se denomina de materiais informacionais de
uma biblioteca, sendo esses os elementos do acervo informacional ou bibliográfico. A divisão acima foi
estabelecida, com base na estrutura presente na maioria das bibliotecas do Brasil. A divisão proposta também
tem sua origem na classificação e estruturação proposta pela Federação Internacional das Associações
Bibliotecárias (IFLA), organismo internacional que estabelece recomendações para uma boa estruturação e
gestão de bibliotecas. Mas, é bom esclarecer que essa divisão pode variar de biblioteca para biblioteca,
considerando a realidade local.
Conhecendo os tipos de materiais dos acervos, é preciso definir o suporte que materializa a informação
(papel, papiro, pergaminho etc.), procedimento indispensável para definir possíveis técnicas ou procedimentos
para conservação, como também, definir quais serão os mais adequados processos de limpeza e como devem
ser realizados. Os processos mais adequados para limpeza e conservação dos materiais serão ensinados nas
próximas aulas.
VAMOS EXERCITAR?
- Com base nas discussões apresentadas nesta aula, quais são os agentes que podem danificar os materiais do
acervo de uma biblioteca? Qual deles, você considera como mais perigoso para a biblioteca e para as pessoas
que convivem com os livros?
- Em sua opinião, por que é importante realizar a limpeza, conservação e preservação do acervo de uma
biblioteca?
- Ao se deparar com um usuário comendo na biblioteca ou rabiscando um livro, qual a sua atitude?
4 AULA III – PROCESSOS DE LIMPEZA E CONSERVAÇÃO
Como mencionado em nossas aulas teóricas, as bibliotecas da UFMG são compostas por acervos, cujos
materiais, em sua maioria, são de natureza bibliográfica (livros, jornais e revistas), e estão no formato
impresso, em papel. Por isso, é preciso apresentar alguns procedimentos de como manusear esses livros, para
proceder à limpeza deles e das estantes; é importante, também, conhecer os equipamentos de proteção a serem
utilizados e a adoção de medidas específicas para higienização, como também, medidas em caso de situações
inesperadas. Assim, apresentam-se, a seguir, alguns passos básicos:
1 – Uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs): antes de iniciar as atividades, é preciso
que os profissionais utilizem os EPIs, pois o objetivo desses instrumentos é a proteção do próprio colaborador,
evitando contaminações, infecções, alergias, dentre outros problemas decorrentes do contato com os livros e,
possivelmente, com os agentes de degradação dos livros. Destacam-se como alguns importantes EPIs, para
realização de limpeza de acervos bibliográficos: luvas e máscaras.
2 – Forma adequada de se retirar o livro da estante: o livro precisa ser retirado por meio da
inserção da mão da pessoa junto à parte central da lombada, evitando-se retirá-lo com o dedo indicador na parte
superior do material, pois esse uso tende a danificar a lombada do material;
3 – Após retirados, procede-se à higienização: limpeza das partes do item, de modo a eliminar as
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impurezas presentes no interior do livro. Esse processo é realizado por meio de uma vassoura pequena, não
sendo inserido tecido ou outro material umedecido. As estantes podem ser limpas com o uso de um tecido
umedecido ou outro apropriado;
4 – Recolocação e organização dos materiais nas estantes: após limpeza da estante, deve-se esperar
um tempo para evaporação da água, procedendo-se à ordenação do material, na estante, conforme estavam
antes da limpeza, de modo a permanecer seguindo o ordenamento de classificação;
5 – Após realizar a limpeza dos materiais informacionais: é importante realizar a limpeza de outros
mobiliários como mesas, cadeiras, balcões e outros móveis, garantindo, dessa forma, a limpeza geral do
ambiente.
Ressalta-se que todos esses procedimentos não podem ser realizados, apenas, por uma única pessoa,
mas por uma equipe preparada e que trabalhe de forma colaborativa, promovendo, portanto, segurança aos que
trabalham e garantindo a integridade e proteção dos materiais higienizados. Além disso, dependendo da
biblioteca onde esteja sendo realizada a limpeza e conservação, é preciso respeitar as normas locais do
ambiente, tais como: evitar barulhos ao arrastar mobiliários, conversar em tom baixo de voz, realizar a limpeza
afastada de leitores e demais usuários, preferencialmente, horários em que a unidade esteja fechada para o
público ou horários de reduzido movimento. Essas regras são essenciais para garantir uma boa relação e
convivência em qualquer ambiente de trabalho.
4.1 PROCEDIMENTOS EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA
Os procedimentos em situações de emergência são aqueles decorrentes de situações inusitadas,
normalmente, oriundas de fenômenos da natureza ou ações antrópicas como incêndios etc. Nesse contexto,
deve-se considerar técnicas adequadas para lidar com água, mofo, pragas e insetos, como também deve-se
garantir a proteção dos acervos durante obras/reformas.
VAMOS EXERCITAR?
- Demonstrações e exercícios práticos no laboratório de preservação da ECI.
5 AULA IV– VISITA TÉCNICA E PRÁTICA AO LABORATÓRIO DE PRESERVAÇÃO
Conforme mencionado nas primeiras aulas, a Biblioteca Central é um órgão do Sistema de Bibliotecas
da UFMG, responsável por acomodar as comissões técnicas e administrativas do Sistema, o que permite a
divisão do prédio que abriga essa biblioteca em diferentes setores.
Assim, fazem parte das divisões técnicas, o Setor de Intercâmbio, Tratamento da Informação,
Tecnologia da Informação, Apoio à Biblioteca Digital, Apoio a Bibliotecas dos Polos da EaD e Apoio ao
Usuário do Portal Capes. Compreendem os setores das seções administrativas: Contabilidade, Compras,
Serviços Gerais, Setor de Pessoal e Arquivo.
Nas divisões técnicas, destaca-se o setor de Coleções Especiais, o qual realiza atividades de pequenos
reparos em obras com pequenos danos, além de processos de restauração, em obras com danos mais profundos.
No referido setor, os trabalhos são realizados com apoio de alguns instrumentos indispensáveis para
reparar o livro, sobretudo no caso de a obra submeter-se à restauração. Os pequenos reparos realizados são
conduzidos com uso de materiais específicos demandados nas ações de conservação curativa, tais como cola,
papel japonês, papel capa, espátula, borracha, lápis, régua, compasso, dentre outros.
VAMOS EXERCITAR?
- Demonstrações e exercícios práticos no laboratório de preservação da ECI.
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REFERÊNCIAS
A BIBLIOTECA. A Biblioteca. 2018. Disponível em:
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e1/Microsoft_Word_-_Biblioteca.pdf>. Acesso em: 10
jan. 2019.
CASSARES, Norma Cianflone. Como fazer conservação preventiva em arquivos e bibliotecas. São Paulo:
Arquivo do Estado/ imprensa oficial, 2000.
FONSECA, Edson Nery da. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2007.
LUCCAS, Lucy; SERIPIERRI, Dione. Conservar para não restaurar: uma proposta para preservação de
documentos em bibliotecas. Brasília, DF: Thesaurus,1995.
MARTINS, Wilson. A palavra escrita. São Paulo: Atlas, 2002.
MILANESI, Luís. Biblioteca. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.
MORIGI, Valdir José; SOUTO, Luzane Ruscher. Entre o passado e o presente: as visões de biblioteca no
mundo contemporâneo. Revista ACB, v. 10, n. 2, p. 189-206, 2005.
NUNES, Martha Suzana Cabral; CARVALHO, Kátia de Carvalho. As bibliotecas universitárias em
perspectiva histórica: a caminho do desenvolvimento durável. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 21,
n. 1, p.173-193, jan./mar. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pci/v21n1/1413-9936-pci-21-0100>. Acesso em: 03 mar. 2019.
SANTA ANNA, Jorge. A (re)definição da biblioteca no século XXI: de ambientes informacionais a espaços de
convivência. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 14, n. 2, p. 232246, maio/ago. 2016.
SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG. Sobre o sistema. 2018. Disponível em:
<https://www.ufmg.br/diarq/modules/wfchannel/index.php?pagenum=2>. Acesso em: 09 jan. 2018.
PEMPO PARA CUIDAR. 2011. Disponível em: <https://macacosabido.wordpress.com/tag/restauracao-delivros/>. Acesso em: 03 mar. 2019.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Como localizar livros na estante? 2015. Disponível em:
<http://www.biblioteca.ufc.br/wp-content/uploads/2015/09/tutorial-localizar-livros-estantes.pdf>. Acesso em:
03 mar. 2019.
Mensagem final: Os acervos das bibliotecas constituem o patrimônio cultural e intelectual das instituições e
da sociedade. Logo, o que está registrado nos livros, nos jornais, nas revistas de uma biblioteca representa a
memória do nosso país, do nosso estado, da nossa cidade, do nosso bairro, da nossa rua, das nossas
famílias. Portanto, danificar e destruir esses objetos é o mesmo que apagar, de uma vez por todas, a nossa
herança cultural, o que pode levar à eliminação completa dos registros da nossa história, impedindo que as
gerações do futuro tenham conhecimento sobre nossa existência, nossas práticas sociais e nossas vivências.
Preservemos os acervos e as bibliotecas com todo carinho! Pensemos nisso!
OBRIGADO POR SUA PARTICIPAÇÃO NESTE CURSO!
EQUIPE ABMG – Gestão e Consultoria em Cursos, Treinamentos e eventos diversos
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
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Title
A name given to the resource
Curso: Manutenção e Limpeza em Bibliotecas
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Manutenção em Bibliotecas
Preservação de Documentos
Description
An account of the resource
Esta apostila é composta por quatro aulas, sendo duas teóricas e duas práticas, cujo objetivo é promover a discussão e conhecimento sobre o que é uma biblioteca, seus conceitos, características, tipos, usuários que a frequentam e serviços oferecidos, com foco nas práticas de conservação e limpeza dos materiais que compõem seus acervos, especificamente, os acervos das bibliotecas constituintes do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Source
A related resource from which the described resource is derived
Apostila de curso
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4589/CursoPreparatorioConcursoMaterialDidatico.pdf
27b37454403e6a3f85b4c293f1173331
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0
Associação dos Bibliotecários
de Minas Gerais - ABMG
CURSO PREPARATÓRIO PARA CONCURSO
PÚBLICO UFMG 2018
CARGO BIBLIOTECÁRIO
BELO HORIZONTE / BRASIL
1
�1
© 2018 Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
2018 Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais - ABMG
ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira Costa
PROFESSORES COLABORADORES: Elisângela Cristina Aganette, Flávia Ferreira Abreu, Graciane Bruzinga Borges, Jorge
Santa Anna, Maria Elizabeth de Oliveira Costa e Mayara Silva Gonçalves.
DEMAIS PROFESSORES MINISTRANTES DAS AULAS: Filipi Soares, Janete Fernandes, Maria de Fátima Pinto Coelho,
Maria Helena Santos e Vilma Carvalho de Souza
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA E REVISÃO TEXTUAL: Jorge Santa Anna
MONTAGEM DA CAPA: Graciane Bruzinga Borges
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Presidente: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Vice: Cleide Fernandes
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Silva Bruzinga Borges, Jorge Santa Anna,
Maria Cleia Borges e Taciane Gomes Rodrigues
Gestão 2018/2020
ABMG
Dados Internacionais de da Catalogação na Publicação – CIP
C977
Curso Preparatório para Concurso Público na área de Biblioteconomia : Material didático
instrumental / Jorge Santa Anna, Maria Elizabeth de Oliveira Costa (Org.). Belo Horizonte: ABMG,
2018.
165 f.
Inclui Referências
ISBN 978-85-85259-00-6
1. Bibliotecas Universitárias. 2. Gestão de Bibliotecas. 3. Concurso Público Bibliotecário. I.
Costa, Maria Elizabeth de Oliveira. II. Santa Anna, Jorge. III. Título.
CDD : 020
�2
JORGE SANTA ANNA
MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA COSTA (ORG.)
CURSO PREPARATÓRIO PARA CONCURSO
PÚBLICO NA ÁREA DE BIBLIOTECONOMIA:
MATERIAL DIDÁTICO E INSTRUMENTAL
Belo Horizonte
ABMG
2018
�3
APRESENTAÇÃO DA OBRA
Esta obra caracteriza-se como a compilação das onze aulas realizadas ao longo do Curso
“Preparatório para Concurso Público da UFMG – Cargo Bibliotecário”, curso promovido pela Associação
dos Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), no primeiro semestre do ano de 2018. Por contemplar
assuntos variados direcionados à prática pedagógica, visando ao ensino-aprendizagem para fins de
aprovação em um certame, o presente trabalho manifesta-se como um material didático/instrumental, o
qual poderá servir de base na organização de estudos futuros dos bibliotecários que desejam ingressar-se
na carreira dos concursos públicos.
Nosso sentimento é de extrema gratidão, e, ao mesmo tempo, dever cumprido, haja vista o
sucesso alcançado com o curso, o qual obteve um total de 30 alunos participantes, distribuídos em duas
turmas, e a colaboração de 11 docentes e bibliotecários especializados e conhecedores dos assuntos
contemplados nas aulas. Assim, ao mesmo tempo em que a ABMG fortalece-se na oferta de cursos a
profissionais, também cumpre o seu papel social, nesse momento, quando tornamos o material didáticoinstrumental de domínio público, de modo que possa auxiliar profissionais, estudantes e/ou
pesquisadores em outros contextos e circunstâncias.
A decisão da ABMG em publicitar este material reforça o compromisso social/profissional da
associação em prol do fortalecimento da classe bibliotecária, no intuito de que a área dos concursos
públicos possa ser ocupada pelos bibliotecários que optarem por esse segmento de atuação no mercado
de trabalho. Mesmo cientes de que este material não contemplará, na totalidade, os conteúdos
abordados nos concursos de outras instituições, percebemos que muitas bibliografias aqui resumidas
estão consagradas como clássicas, visto que têm sido adotadas pelas principais bancas examinadoras, nos
mais diferenciados concursos realizados no Brasil, na área de Biblioteconomia/Ciência da Informação.
Portanto, essa constatação fortalece a nossa percepção a respeito da utilidade e do valor que esta
obra poderá assumir para os bibliotecários concurseiros e para estudantes interessados nos temas aqui
abordados. Esperamos que o uso da obra - embora direcionada à preparação para concursos públicos não seja limitado a esse fim, unicamente, mas que possa servir como material de consulta, de apoio, de
orientação, dentre outras finalidades, junto ao diferentes públicos, seja em contextos acadêmicos e/ou
profissionais.
Considerando o contexto em que foi gerado, o presente trabalho está focado nos estudos para
concursos públicos, sem, contudo, perder sua contribuição em outras ocasições. Com vista a atender os
objetivos estabelecidos no plano do Curso “Preparatório para Concurso Público da UFMG – Cargo
Bibliotecário”, conforme consta no apêndice A, tanto as aulas, quanto o material aqui apresentado, estão
�4
em consonância com os conteúdos programáticos e a bibliografia do concurso da UFMG, de 2018, como
demonstrado no anexo A.
No entanto, salientamos que nossa intenção, ao elaborar essa coletânea de aulas, não se
restringe, tão somente, ao aspecto tecnicista que permeia os estudos para concursos públicos. Também
nos instiga o desejo de que, a partir da sistematização dos conteúdos aqui refletidos e das estratégias de
ensino-aprendizagem, novas provocações possam ser despertadas acerca de se melhorar continuamente
a prática pedagógica, com base na interação entre alunos e professor e do papel do docente na mediação
do conhecimento socializado e no despertar da motivação provocada nos alunos.
No que se refere à organização dos conteúdos abordados nas aulas e, agora sumarizados neste
trabalho, reforçamos que, embora a intenção fosse atender, ao máximo, o crivo da padronização,
optamos por respeitar a forma de organização, o estilo de escrita, dentre outras especificidades adotadas
por cada professor, na condução de suas aulas. Assim, ajustes de normalização e diagramação textual
foram realizados, na medida do possível, respeitando-se, essencialmente, o estilo adotado pelo docente.
Nesse contexto, são apresentados, ao longo dos capítulos (dez aulas diluídas em quatro módulos e
uma aula final de revisão geral dos módulos), assuntos que permeiam o fazer bibliotecário na
universidade, desde aspectos de gestão, perpassando pelas práticas de formação e tratamento das
coleções, até estudos de uso e usuários da informação. Ademais, à medida que os assuntos vão sendo
discorridos, com base nas bibliografias do concurso, são apresentadas diversas questões objetivas, as
quais já foram contempladas em outros concursos no país, de modo a treinar/preparar o aluno para o
modelo provável de questão a ser cobrada nos certames.
Não poderíamos deixar de agradecer os diversos personagens envolvidos na organização e no
apoio do “Preparatório para Concurso Público da UFMG – Cargo Bibliotecário”, especialmente os
membros da atual Diretoria da ABMG (gestão 2018/2021). Também agradecemos os professores e
bibliotecários que conduziram as aulas, e, principalmente, aos seis professores que contribuíram na
elaboração deste material didático.
Por fim, nosso desejo é que este material possa atender as necessidades específicas de
diferenciados públicos, contribuindo, de alguma forma, para a evolução do bibliotecário e o alcance dos
objetivos que esse profissional almeja. Desejamos boas leituras e uso efetivo deste material e nos
colocamos à disposição para quaisquer críticas e considerações, no intuito de viabilizar a melhoria dos
próximos cursos e treinamentos que a ABMG pretende oferecer no futuro.
Nossos agradecimentos e até os próximos cursos!
Belo Horizonte, 04 de julho de 2018.
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira Costa (organizadores)
�5
Para início de conversa... Algumas reflexões!
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SUMÁRIO
MÓDULO I - A BIBLIOTECA NO CONTEXTO DA UNIVERSIDADE ......................................... 11
AULA I: A BIBLIOTECA E A UNIVERSIDADE ................................................................................................... 12
1 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: FUNÇÕES, OBJETIVOS, ESTRUTURA E RECURSOS ..................................... 12
1.1 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: FUNÇÕES ................................................................................................... 13
1.2 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: OBJETIVOS ................................................................................................ 14
1.3 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: ESTRUTURA E RECURSOS .......................................................................... 15
1.4 GESTÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ................................................................................................ 15
1.5 PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ..................................................................................... 15
1.6 PLANEJAMENTO NA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ................................................................................... 16
1.7 ORGANIZAÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ..................................................................................... 17
1.8 AVALIAÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ........................................................................................... 17
1.9 DIREÇÃO E CONTROLE DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ......................................................................... 18
1.10 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ........................................................................................................................ 18
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 20
MÓDULO II - O ACERVO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ................................................. 21
AULA II: FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, GESTÃO E PRESERVAÇÃO DE COLEÇÕES .............................. 22
2 FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, GESTÃO E PRESERVAÇÃO DE COLEÇÕES.......................................... 23
2.1 A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES – MODELO DE EVANS............ 23
2.2 POLÍTICAS, ROTINAS E PROCESSOS ......................................................................................................... 25
2.2.1 Política de Desenvolvimento de Coleções .......................................................................................... 25
2.3 AVALIAÇÃO DE COLEÇÕES ....................................................................................................................... 25
2.4 CONSERVAÇÃO, PRESERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE COLEÇÕES ........................................................... 25
2.5 SELEÇÃO DE COLEÇÕES............................................................................................................................ 26
2.6 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO .......................................................................................................................... 28
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 30
AULA III: FONTES DE INFORMAÇÃO E BIBLIOTECAS DIGITAIS .................................................................... 31
3 FONTES DE INFORMAÇÃO ......................................................................................................................... 32
3.1 A CIÊNCIA, O SISTEMA DE COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E A LITERATURA CIENTÍFICA ............................ 32
3.1.1 Tipologias de fontes de informação .................................................................................................... 32
�7
3.2 ORGANIZAÇÕES COMO FONTES DE INFORMAÇÃO................................................................................. 33
3.3 PESQUISA EM ANDAMENTO .................................................................................................................... 33
3.4 ENCONTROS CIENTÍFICOS ........................................................................................................................ 34
3.5 PERIÓDICOS CIENTÍFICOS ........................................................................................................................ 35
3.6 LITERATUZA CINZENTA ............................................................................................................................ 36
3.7 RELATÓRIOS TÉCNICOS ............................................................................................................................ 36
3.8 PUBLICAÇÕES GOVERNAMENTAIS .......................................................................................................... 36
3.9 TESES E DISSERTAÇÕES ............................................................................................................................ 37
3.10 OBRAS DE REFERÊNCIA .......................................................................................................................... 37
3.11 NORMAS TÉCNICAS................................................................................................................................ 37
3.12 PATENTES ............................................................................................................................................... 37
3.13 ÍNDICES DE CITAÇÃO .............................................................................................................................. 37
3.14 A INTERNET ............................................................................................................................................ 37
3.15 BIBLIOTECAS DIGITAIS ........................................................................................................................... 38
3.15.1 Conceitos e características ................................................................................................................ 38
3.15.2 Dimensões da BD ............................................................................................................................... 38
3.15.3 Bibliotecas digitais e web semântica ................................................................................................ 39
3.15.4 Gestão de coleções na biblioteca digital ........................................................................................... 40
3.16 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – BIBLIOTECAS DIGITAIS ................................................................................ 42
3.17 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – FONTES DE INFORMAÇÃO .......................................................................... 44
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 45
AULA IV: O PERIÓDICO CIENTÍFICO, OPEN ARCHIVES E RECURSOS INFORMACIONAIS ............................. 46
4 O PERIÓDICO CIENTÍFICO ........................................................................................................................... 47
4.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ................................................................................................................. 47
4.2 OPEN ARCHIVES ....................................................................................................................................... 48
4.3 OS REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS ......................................................................................................... 49
4.4 RECURSOS INFORMACIONAIS: REPOSITÓRIOS DIGITAIS ......................................................................... 49
4.5 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO .......................................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 53
MÓDULO III - ORGANIZAÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO EM SUPORTES
VARIADOS.......................................................................................................................... 54
AULA V: SOFTWARE PARA GERENCIAMENTO DE BIBLIOTECAS – SISTEMA PERGAMUM ......................... 55
�8
5 SOFTWARE PARA GERENCIAMENTO DE BIBLIOTECAS: SISTEMA PERGAMUM ....................................... 56
5.1 QUESTÕES CONTEXTUAIS ........................................................................................................................ 56
5.2 PERGAMUM: GÊNESE E DESENVOLVIMENTO ......................................................................................... 56
5.3 COMPOSIÇÃO/ESTRUTURA DO PERGAMUM .......................................................................................... 57
5.4 FORMAÇÃO DA REDE PERGAMUM: A CATALOGAÇÃO COOPERATIVA EM EVIDÊNCIA .......................... 57
5.6 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?................................................................................................................... 58
5.7 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?................................................................................................................... 59
5.8 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO .......................................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 62
AULA VI: REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA DA INFORMAÇÃO – SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO CDD E CDU ... 63
6 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA DA INFORMAÇÃO ....................................................................................... 63
6.1 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................. 64
6.1.1 Sistema de classificações bibliográficas .............................................................................................. 65
6.1.2 Classificação Decimal de Dewey - CDD ............................................................................................... 66
6.2 CONSIDERAÇÕES ...................................................................................................................................... 68
6.3 A CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL - CDU........................................................................................ 68
6.4 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?................................................................................................................... 70
6.5 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?................................................................................................................... 71
6.6 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO .......................................................................................................................... 72
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 74
AULA VII: REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA DA INFORMAÇÃO - INDEXAÇÃO .................................................. 75
7 ANÁLISE DE ASSUNTO ................................................................................................................................ 76
7.1 INDEXAÇÃO: CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E LINGUAGENS................................................................. 76
7.2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA ...................................................................................................................... 79
7.3 O PROCESSO DE TRATAMENTO TEMÁTICO ............................................................................................. 83
7.4 A LEITURA DO TEXTO PELO INDEXADOR ................................................................................................. 84
7.5 EXTRAÇÃO DE CONCEITOS ....................................................................................................................... 85
7.6 DETERMINAÇÃO DA ATINÊNCIA .............................................................................................................. 85
7.7 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS.............................................................................................................. 86
7.7.1 Classificação das linguagens documentárias ...................................................................................... 89
7.7.2 Sistema Nocional ................................................................................................................................. 90
7.7.3 Relações Linguísticas e Documentação ............................................................................................... 91
7.8 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO ......................................................................................................................... 93
�9
7.9 ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO ................................................................................. 93
7.10 RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO ......................................................................................................... 97
7.11 WEB E INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA ......................................................................................................... 97
7.12 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ........................................................................................................................ 99
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................... 101
AULA VIII: REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA DA INFORMAÇÃO - CATALOGAÇÃO ....................................... 102
8 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA: REFLEXÕES INICIAIS .............................................................................. 103
8.1 CATALOGAÇÃO: HISTORICIDADE ........................................................................................................... 103
8.2 O NASCIMENTO DA CATALOGAÇÃO COOPERATIVA ............................................................................. 104
8.3 A AUTOMATIZAÇÃO DAS BIBLIOTECAS: A CONVERSÃO RETROSPECTIVA ............................................ 105
8.4 VAMOS EXERCITAR? .............................................................................................................................. 106
8.5 CATALOGAÇÃO DE DIFERENTES MATERAIS: AACR2 .............................................................................. 108
8.5.1 Estrutura do Código de Catalogação Anglo-Americano e formas de descrição .............................. 108
8.6 VAMOS EXERCITAR? .............................................................................................................................. 109
8.7 METADADOS NO ÂMAGO DA CATALOGAÇÃO ...................................................................................... 110
8.8 REQUISITOS FUNCIONAIS PARA REGISTROS BIBLIOGRÁFICOS (FRBR) .................................................. 111
8.9 MACHINE READABLE CATALOGUING – CATALOGAÇÃO LEGÍVEL POR COMPUTADOR (MARC) ........... 112
8.10 RESOURCE DESCRIPTION AND ACCES (RDA) ....................................................................................... 114
8.11 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?............................................................................................................... 114
8.12 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ...................................................................................................................... 115
MÓDULO IV - ESTUDOS DE USUÁRIOS E USO DA INFORMAÇÃO .................................... 118
AULA IX: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL, COMUT E NORMAS BIBLIOGRÁFICAS ................................. 119
9 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL ............................................................................................................ 120
9.1 PROGRAMA DE COMUTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA – COMUT ..................................................................... 122
9.2 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?................................................................................................................. 123
9.3 NORMAS DE TRABALHOS E PUBLICAÇÕES ............................................................................................ 125
9.3.1 NBR 14724 .......................................................................................................................................... 125
9.3.2 NBR 10520 .......................................................................................................................................... 125
9.3.3 NBR 6023 ............................................................................................................................................ 125
9.4 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?................................................................................................................. 126
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................... 127
�10
AULA X: USUÁRIOS, PRODUTOS, SERVIÇOS, NECESSIDADES E USOS ....................................................... 128
10 DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO ........................................................................................................ 129
10.1 O PAPEL DO PROFISSIONAL NA DISSEMINAÇÃO ................................................................................. 129
10.2 SERVIÇO DE REFERÊNCIA ..................................................................................................................... 130
10.3 SERVIÇO DE REFERÊNCIA PRESENCIAL ................................................................................................ 131
10.4 SERVIÇO DE REFERÊNCIA VIRTUAL ...................................................................................................... 131
10.5 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?............................................................................................................... 132
10.6 USUÁRIOS: NECESSIDADES E ESTUDOS ............................................................................................... 133
10.7 MODALIDADES DE SERVIÇOS DE REFERÊNCIA .................................................................................... 134
10.8 A QUESTÃO DOS ESTUDOS DE USUÁRIOS ........................................................................................... 134
10.9 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?............................................................................................................... 136
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................... 138
ENCERRAMENTO ............................................................................................................. 139
AULA XI: REVISÃO FINAL DO CURSO .......................................................................................................... 139
11.1 A BIBLIOTECA E A UNIVERSIDADE – AULA I ......................................................................................... 139
11.2 O ACERVO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA – AULA II ......................................................................... 141
11.3 FONTES DE INFORMAÇÃO – AULA III................................................................................................... 142
11.4 PERIÓDICOS CIENTÍFICOS, OPEN ARCHIVES E REPOSITÓRIOS – AULA IV............................................ 145
11.5 SISTEMA PERGAMUM – AULA V .......................................................................................................... 146
11.6 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO: CDD E CDU – AULA VI ......................................................................... 147
11.7 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA: AACR2 – AULA VII .............................................................................. 148
11.8 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA – AULA VIII ............................................................................................ 151
11.9 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL, COMUT E NBRs – AULA IX ............................................................ 152
11.10 USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO – AULA X ............................................................................................. 154
ANEXO A – BIBLIOGRAFIA DO CONCURSO................................................................................................. 156
APÊNDICE A – PLANO GERAL DO CURSO ................................................................................................... 160
APÊNDICE B – EQUIPE PARTICIPANTE NA ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO ................................. 164
�11
MÓDULO I
A BIBLIOTECA NO CONTEXTO
DA UNIVERSIDADE
AULA I: A biblioteca e a universidade
�12
AULA I: A biblioteca e a universidade
Docente responsável: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Bibliotecária da Escola Ciência da Informação da UFMG. Presidente da ABMG, gestão 2018/2021.
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento. Tem
experiência na área de Biblioteca Universitária e Educação a Distância, tendo ocupado cargo de gestão do
Sistema de Bibliotecas da UFMG, por duas vezes.
CONTEÚDOS DA AULA
1 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: FUNÇÕES, OBJETIVOS, ESTRUTURA E RECURSOS
As bibliotecas são como organizações, as quais convergem um conjunto de elementos que
interligados produzem trabalho (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
�13
No caso das bibliotecas universitárias (BUs), elas manifestam-se como dependentes da sociedade
e de instituições a que estão vinculadas, devendo acompanhar as mudanças relativas ao campo do
conhecimento e da educação (LEITÃO, 2005).
As BUs são empresas e, como tal, constituídas por um conjunto de funções responsáveis, que vão
desde a localização, organização até a recuperação da informação para os usuários que delas necessitam
(VERGUEIRO; MIRANDA, 2007).
A sua estrutura organizacional está formada por departamentos denominados de divisões e
seções. A cada departamento cabe a responsabilidade pelo desenvolvimento de algum produto e/ou
serviço, formando uma cadeia até a sua execução final (VERGUEIRO; MIRANDA, 2007).
A tríade das Bus
A BU do futuro
Fonte: adaptado de Cunha (2000).
As mudanças ocorridas na sociedade atual promoveram a redefinição dos produtos e serviços
prestados pela BU. A oferta diversificada de materiais, em diferentes formatos e suporte, despertou o
nascimento de uma unidade com novas concepções e estruturas, consolidando um processo evolutivo
das bibliotecas, desde a era tradicional, até o nascimento da biblioteca digital e virtual, conforme figura 2.
Fonte: Cunha (2000).
Segundo Cunha (2000), manifestam-se novos cenários para as BUs: do professor ao aprendiz. Isso
provoca implicações variadas no contexto das Bus, tais como: a redistribuição do pessoal da biblioteca,
com um maior quantitativo voltado para o atendimento ao usuário, na terceirização de serviços e na
oferta cada vez maior de serviços educacionais a distância.
O autor citado menciona quatro principais mudanças nas bibliotecas, com a chegada das
tecnologias digitais e com os impasses do mercado globalizado. Dentre elas, citam-se: 1 - mudanças
estruturais (ênfase no atendimento, terceirização dos outros serviços); 2 - no financiamento (consórcios
visando à redução de custos); 3 - nos serviços (balcão de referência eletrônico, suporte a programas de
ensino à distância, agentes inteligentes); 4 - quanto aos públicos (o atendimento à demanda reprimida
por ensino superior implicará diversidade de clientela).
1.1 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: FUNÇÕES
�14
De acordo com Maciel e Mendonça (2006), as bibliotecas são consideradas organizações. Isso
porque, de modo geral, semelhantes às demais organizações inseridas nos mais diversos ramos do
mercado, elas convergem um conjunto de elementos que interligados produzem trabalho.
A divisão das atividades tem sido uma realidade constante, principalmente em grandes
bibliotecas, que demandem um fluxo mais intenso de materiais informacionais, o que requer a divisão
organizacional. Segundo Maciel e Mendonça (2006), as atividades básicas dos bibliotecários contemplam
quatro grandes funções que são: função de desenvolvimento da coleção, função organização das
coleções, função dinamização das coleções e funções gerenciais (figura 3).
Segundo descrito por Maciele e Mendonça (2006), a primeira função corresponde à “porta de
entrada” da biblioteca, ou seja, a função Formação e Desenvolvimento da Coleção (FDC) contempla os
procedimentos administrativos de aquisição de materiais que incorporarão o acervo, contatos com
fornecedores, pagamentos e conferências de notas fiscais e demais documentos gerados nas transações.
A segunda função representa o setor onde se realizam as atividades de processamento técnico, ou
seja, após ser adquirido, o material é catalogado, indexado e classificado, conforme regras de
representação existente na biblioteca. Após isso, o livro pode ser inserido na estante, passando a fazer
parte do sistema.
A terceira função compreende os serviços de referências, ou seja, o atendimento ao usuário,
objetivando encontrar uma obra no acervo. É nessa seção que a biblioteca realiza as atividades de
controle do acervo e a assistência prestada ao usuário, seja no manuseio do sistema, do acervo ou da
disponibilização de materiais para empréstimo.
A quarta função diz respeito às atividades de monitoramento, ou seja, contempla a atividade de
administrar todas as demais seções, realizando ajustes necessários e intervindo nas atividades e nos
colaboradores no sentido de conduzi-los com o intuito de atingir a essência nas atividades realizadas.
Importante entender, segundo Maciel e Mendonça (2006), que essas funções são
complementares, ou seja, uma depende da outra, não podendo se desenvolverem de forma isolada. À
medida que os materiais chegam à unidade, inicia-se um constante e contínuo fluxo ou processo de
trabalho que permite a preparação do item a fim de que seja incorporado ao acervo a fim de poder ser
recuperado no momento da busca.
1.2 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: OBJETIVOS
Os objetivos das bibliotecas, de um modo geral, visam a contribuir para a disseminação da
informação, transmissão de conhecimento, e ser o centro cultural de uma determinada comunidade
�15
(MACIEL; MENDONÇA, 2006). Ainda, segundo essas autoras, o objetivo da biblioteca varia conforme sua
comunidade de usuários e seus propósitos.
1.3 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: ESTRUTURA E RECURSOS
As bibliotecas universitárias são contempladas por recursos materiais, recursos financeiros e
recursos humanos. Esses recursos viabilizam a manutenção e ampliação da infraestrutura, que, através da
gestão dos recursos e com infraestrutura adequada será obtida a qualidade dos serviços prestados pela
comunidade usuária. Por fim, a BU realiza avaliação de desempenho, de modo a monitorar e melhorar
continuamente os produtos e serviços que oferece à comunidade acadêmica (LEITÃO, 2005).
Os desafios por que passam as BUs, na Sociedade do Conhecimento, fazem com que essas
unidades assumam novas competências. Assim, as BUs deixam de ser apenas repositório de informações
e passam a trabalhar com políticas que focam a satisfação do usuário e a contribuição das suas ações na
melhoria dos processos e dos resultados de formação dos alunos. Portanto, constituem-se em setores
estratégicos engajados na dinâmica institucional que precisam submeter-se aos processos avaliativos com
fins de melhoria contínua e de assegurar a qualidade dos seus serviços (LUBISCO, 2011).
1.4 GESTÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
A gestão da BU em tempos de mudança precisa considerar diferentes aspectos, que são: 1 - a
responsabilidade dos envolvidos com suas funções; 2 - o trabalho em equipe; 3 – a gestão adequada de
recursos financeiros e humanos; 4 – a integração entre todos os envolvidos: alunos, funcionários e
comunidade; 5 – a administração do tempo e da inovação (LEITÃO, 2005).
A relação entre biblioteca e universidade precisa considerar os seguintes aspectos, a saber: 1 –
armazenamento de documentos que apoiam, historiam e estimulam o saber; 2 - acompanhamento dos
rumos tomados pelo conhecimento; 3 - estreitamento dos laços com seus usuários; 4 - gestão de toda
espécie de recursos que essas atividades envolvem (LEITÃO, 2005).
De igual forma, as unidades documentárias, como em qualquer empresa, devem ser geridas tendo
como foco:
1 - o atendimento das necessidades de seus usuários;
2 - na identificação de requisitos de qualidade do produto ou serviço;
3 - no estabelecimento de um planejamento para que esse padrão seja atingido;
4 – na busca pela melhoria contínua, em todos os seus aspectos, visando à satisfação dos seus
clientes e à eficácia da organização (LUBISCO, 2011).
As bibliotecas estão ligadas as funções gerenciais de cunho administrativo e essas são
responsáveis pela ativação de todas as funções meio ou fim e pelo seu direcionamento e ajuste às metas
e objetivos do sistema. Funções estas que tratam-se de planejamento, organização, direção e controle
necessários para conduzir com sucesso uma organização (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
1.5 PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E AVALIAÇÃO
As bibliotecas universitárias não são organizações autônomas, e sim organizações dependentes de
uma organização maior - a Universidade, portanto sujeitas a receberem influências externas e internas
do ambiente que as cercam (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
Assim, o gestor precisa conhecer as teorias administrativas, e inseri-las no cotidiano das unidades,
considerando as contingências do mercado. Portanto, é preciso considerar, no processo de gestão,
especificamente na função gerencial, a importância do planejamento, da organização e da avaliação
(MACIEL; MENDONÇA, 2006).
O planejamento, a organização e a avaliação, em conjunto com a direção e o controle, são
elementos que sustentam a função gerencial das bibliotecas. Esses elementos são oriundos da Escola
�16
Clássica da Administração e devem estar inseridos no cotidiano do bibliotecário gestor. Os elementos que
sustentam a função gerencial da biblioteca podem ser visualizados na figura 4.
Fonte: adaptado de Maciel e Mendonça (2006).
1.6 PLANEJAMENTO NA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
O planejamento é a preparação das ações que podem vir a ocorrer. Um bom planejamento está
preparado para ter soluções para todos os tipos de ações que podem acontecer, sejam boas ou ruins
(MACIEL; MENDONÇA, 2006). Não é um acontecimento, mas um processo contínuo, permanente e
dinâmico, que fixa os objetivos, define linhas de ação, detalha as etapas para atingi-los e prevê os
recursos necessários à consecução desses objetivos (ALMEIDA, 2005).
De acordo com Almeida (2005), o planejamento é oposto de improvisação e opera
economicamente, pois:
Reduz custos, pela ênfase em operações eficientes e compatíveis com as condições existentes;
Substitui atividades fragmentárias e não coordenadas por um esforço de grupo;
Substitui o fluxo desigual de trabalho por um uniforme;
Substitui julgamentos bruscos e irrefletidos por decisões premeditadas;
Traz segurança e favorece a produtividade;
Faz o tempo trabalhar a seu favor;
Possibilita o monitoramento das ações.
O planejamento em bibliotecas precisa ser sustentado por instrumentos específicos, resumidos
por Almeida em sete instrumentos, tais como:
Plano: linha de ação preestabelecida;
Objetivos: situação futura esperada;
Metas: resultados a serem atingidos;
Políticas: guias de raciocínio que orientam a decisão e ação;
Regras: procedimentos que orientam ações;
Programas: complexos de metas, políticas, procedimentos, regras, passos e recursos;
Projetos: menores unidades dentro do planejamento.
A autora supracitada menciona que existem três tipos de planejamento a serem realizados pelas
organizações, considerando os níveis hierárquicos em que são desenvolvidos. O planejamento estratégico
é aquele desenvolvido pela alta administração; o planejamento intermediário é executado pelo nível
intermediário da empresa, com a presença dos chefes das equipes de trabalho; por sua vez, o
planejamento operacional corresponde à parte prática e é realizado pelos membros das equipes, no nível
operacional da instituição. Em bibliotecas, segundo Almeida (2005), o planejamento ocorre nos níveis
intermediário e operacional.
O planejamento em bibliotecas manifesta-se de forma processual, permeado por cinco diferentes
etapas que se retroalimentam e se interagem constantemente, à medida que as atividades vão sendo
desenvolvidas (ALMEIDA, 2005). A figura 5 ilustra as cinco etapas integradas e a etapa da avaliação, a qual
permeia todas as demais etapas ao longo da execução do planejamento.
�17
Fonte: adaptado de Almeida (2005).
Almeida (2005) ensina que para o planejamento de serviços de informação, o bibliotecário precisa
conhecer bem: 1 - as fontes de informação na área; 2 - os serviços existentes; 3 - seus usuários; 4 - os nãousuários.
1.7 ORGANIZAÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
A organização é a função de organizar, ou seja, a organização estabelece a estrutura para o uso de
todos os recursos existentes para que tenham um bom desempenho em suas atividades. Para se
organizar é preciso primeiramente planejar. Tendo-se o planejamento podemos criar a maneira de fazer
ele funcionar (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
A organização como elemento da gestão organizacional estabelece os planos de ação ou os
procedimentos práticos a serem adotados, para que o que foi estabelecido no planejamento seja
efetivamente concretizado (MACIEL; MENDONÇA, 2005).
A organização diz respeito à função desempenhada pela alta administração em consonância com
os gestores das equipes de trabalho, de modo que os planos de ação possam ser gerados e devidamente
cumpridos pelas equipes de trabalho (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
1.8 AVALIAÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
Dentro do pressuposto da busca da melhoria contínua, a avaliação assume um papel primordial,
como valiosa ferramenta de auxílio ao planejamento e à gestão, fornecendo elementos para subsidiar as
decisões institucionais (LUBISCO, 2011).
A avaliação integra os ciclos de melhoria contínua das organizações, constituindo-se em etapa
posterior à execução do planejamento, atuando como meio de comparar os resultados alcançados com as
metas estabelecidas e fornecendo elementos para as ações corretivas, quando necessárias, ou para a
manutenção do padrão obtido (LUBISCO, 2011).
A avaliação é uma etapa ou processo do planejamento, a qual permite aferir o sucesso na
implementação do plano e traçar novos objetivos e metas (ALMEIDA, 2005).
Na prática, a avaliação das bibliotecas universitárias brasileiras vem há algum tempo atrelada às
avaliações oficiais do Ministério da Educação, nas quais a biblioteca é vista, parcialmente, como um dos
recursos de infraestrutura do processo ensino-aprendizagem (LUBISCO, 2011).
Avaliação é o ato de atribuir valor, julgar mérito e relevância, medir o grau de eficiência e eficácia
e o impacto causado pelas ações, políticas, programas e projetos informacionais (ALMEIDA, 2005).
A avaliação ocorre como parte do processo de planejamento e tomada de decisões e permite a
revisão de objetivos, metas, ações, estratégias etc., de modo a conferir subsídios para o planejamento e
mudanças (ALMEIDA, 2005).
�18
A avaliação deve determinar o que mudar em um serviço de informação e como mudar, auxiliando
o bibliotecário a fazer mudanças internas (rotinas, atividades, serviços) ou externas (relação com o
ambiente externo). Deve sempre partir de um problema identificado, de modo a propor melhorias e
buscar mudanças organizacionais, em prol do alcance de objetivos (ALMEIDA, 2005).
A avaliação pode ser realizada por meio das medidas de desempenho, determinadas pelos
conceitos de eficácia e eficiência. Uma organização eficaz é aquela que cumpre seus objetivos. Já
eficiência denota que a organização aplica, de modo produtivo, seus recursos (LUBISCO, 2011).
No que se refere aos tipos de avaliação a serem realizadas no planejamento bibliotecário, Almeida
(2005) enumera as seguintes classificações:
1 – Quanto à abordagem metodológica: 1.1 Avaliação quantitativa: análise estatística, mensuração e
quantificação; 1.2 Qualitativa: metodologias oriundas da Sociologia, Antropologia e na História Oral,
tendo sua ênfase nos processos e agentes; 1.3 Pluralista: mensura e também qualifica decisões,
processos, resultados e impactos sociais;
2 – Quanto aos avaliadores: 2.1 interna; 2.2 externa;
3 – Quanto ao momento: 3.1 marco-zero (diagnóstico); 3.2 ex-ante; 3.3 avaliação de processo; 3.4
avaliação de resultados (ALMEIDA, 2005).
1.9 DIREÇÃO E CONTROLE DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
Na função gerencial, também têm-se os seguintes elementos: a direção e o controle.
A direção caracteriza-se pelo acompanhamento do desenvolvimento das atividades. A direção
designa as atividades, e as acompanha, de seu início ao final. É o gerenciamento da execução das
atividades.
O controle representa a verificação dos resultados. É a análise de como foram feitas as demais
funções da biblioteca. No contexto da biblioteca, o controle poderá avaliar a execução tanto de conjuntos
de atividades ou elas individualmente (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
1.10 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1: Vistas como organizações, as bibliotecas possuem funções gerenciais ou administrativas,
que podem ser definidas como:
A) relacionadas com a formação, desenvolvimento e organização das coleções para fins de acesso e
utilização;
B) responsáveis pela ativação de todas as funções meio ou fim e pelo seu direcionamento e ajuste aos
objetivos e metas do sistema;
C) relacionadas com o atendimento aos usuários reais e virtuais e a decorrente dinamização do uso das
coleções;
D) de natureza social e legal, implicando o relacionamento do gerente com representantes da
organização, com os subordinados e com indivíduos ou grupos externos à empresa.
Questão 2: Em se tratando de administrar as unidades de informação, com vistas a satisfazer mais
facilmente as necessidades dos usuários, uma estratégia que deve ser evidenciada é a de:
A) conservação;
B) preservação;
C) cooperação;
D) depósito legal;
E) Indexação.
Questão 3: A biblioteca universitária tem objetivo específico relacionado aos objetivos da instituição à
qual está vinculada. O objetivo específico dela, portanto, é:
�19
A) apoiar os programas de ensino, pesquisa e extensão;
B) apoiar os programas de ensino oficial;
C) democratizar a informação para a comunidade local;
D) apoiar os objetivos e metas da instituição mantenedora.
Questão 4: Considere as afirmativas abaixo sobre Planejamento:
I. É o oposto da improvisação;
II. Não é um processo contínuo, mas um acontecimento;
III. Faz acontecer;
IV. Compensa incertezas, mas não mudanças.
Está correto o que se afirma APENAS em:
a) I e III.
b) I e II.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.
Questão 5: O planejamento é um processo dinâmico e intera- tivo, que pode ser dividido em várias
fases. Assim,
a) o processo de planejamento inicia-se pela elaboração do plano;
b) o diagnóstico é a última fase do planejamento;
c) as formas de acompanhamento e controle estão relacionadas à elaboração do diagnóstico;
d) a definição de metas e prioridades é posterior à elaboração do plano, precedendo o diagnóstico;
e) a elaboração do plano é precedida pela análise dos dados e informações obtidos.
Questão 6: Considere:
I. O planejamento operacional decide "o que fazer" e "como fazer";
II. O planejamento global é a combinação de todos os planos existentes na organização;
III. O planejamento é um processo linear;
IV. O planejamento em bibliotecas e unidades de informação localiza-se, frequentemente, nos níveis
estratégico e intermediário;
V. O planejamento de longo prazo, em função de seu horizonte temporal mais amplo, é mais qualitativo
que quantitativo.
Está correto o que consta APENAS em:
a) I, II e V.
b) I, IV e V.
c) I, II e IV.
d) I, II e III.
e) II, IV e V.
Questão 7: Quanto à avaliação de serviços e produtos, sob a ótica da qualidade, oferecidos em
unidades de informação, é correto afirmar:
a) Avaliação se faz necessária quando se deseja definir propósitos, delimitar objeto, valorar a qualidade
do programa em sua totalidade ou em algumas de suas variáveis e elementos;
b) Há vários critérios que podem ser adotados para avaliar serviços bibliotecários, dentre eles pode-se
citar: atendimento, especificações dos dados coletados, relações dos dados com outros serviços;
c) A avaliação tem por objetivo verificar possíveis falhas nos serviços prestados e, a partir daí, traçar ações
para sua correção e consequentemente para sua desativação seqüencial;
d) Avaliação é um processo mediante o qual se colhe e interpreta-se, formal e sistematicamente, a
informação pertinente sobre suas atividades, permitindo produzir juízos de valor e tomada de decisão.
�20
Questão 8: A fase final do processo administrativo é o controle. À medida que a organização caminha
na realização de seus objetivos, os gerentes devem:
a) definir novas metas, buscando maximizar o investimento financeiro da organização;
b) aprimorar os mecanismos de controle e definição de responsabilidades, de maneira a evitar
retrocessos e substituição de funcionários inadequados;
c) ampliar os objetivos anteriormente definidos, de forma a adequá-los ao novo momento institucional;
d) rever as funções e a cadeia escalar, incorporando novas especializações e habilidades do capital
intelectual;
e) monitorar o progresso para se assegurar de que a empresa se comporta de modo a realmente alcançálos no período programado.
Questão 9: Uma biblioteca universitária “do futuro” terá de confrontar sua função, recursos e política
tradicionais com novas formas possíveis, decorrentes de mudanças tecnológicas, sociais e da própria
universidade. Alguns aspectos, contudo, serão cruciais para se construir uma nova biblioteca
universitária. Os principais aspectos que influenciarão nessa mudança são relativos:
A) ao financiamento, à organização da informação, ao ensino à distância e ao acervo;
B) à estrutura, ao financiamento, ao público e aos serviços e produtos;
C) ao público, à tecnologia, ao acervo informacional e à organização do acervo;
D) à tecnologia, à biblioteca digital, às instalações físicas e à organização do acervo.
Questão 10: Consiste no planejamento, na organização, no desenvolvimento, na coordenação e no
controle de técnicas capazes de promover o desempenho eficiente do pessoal, ao mesmo tempo em
que a organização representa o meio que permite às pessoas que com ela colaboram alcançar os
objetivos individuais relacionados direta ou indiretamente com o trabalho. Trata-se:
A. da administração de recursos humanos.
B. do setor de recursos humanos.
C. do processo de seleção e recrutamento de pessoal.
D. da análise de cargos.
E. da gestão estratégica do capital humano.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. C. B. Planejamento de bibliotecas e serviços de informação. 2. ed. Brasília: Briquet de
Lemos, 2005.
CUNHA, M. B. Construindo o futuro: a biblioteca universitária em 2010. Ciência da Informação, v. 29, n. 1,
2009.
LEITÃO, B. J. M. Avaliação qualitativa e quantitativa numa biblioteca universitária. Rio de Janeiro:
Interciência, 2005.
LUBISCO, N. M. L. (Org.). Biblioteca universitária: elementos para o olanejamento, avaliação e gestão.
Salvador: EDUFBA, 2011.
MACIEL, A. C.; MENDONÇA, M. A. R. Bibliotecas como organizações. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.
VERGUEIRO, V.; MIRANDA, A. C. D. (Org.). Administração de unidades de informação. Rio Grande: FURG,
2007.
�21
MÓDULO II
O ACERVO DA BIBLIOTECA
UNIVERSITÁRIA
AULA II: Formação, desenvolvimento, gestão e preservação de
coleções
AULA III: Fontes de informação e Bibliotecas Digitais
AULA IV: O periódico científico, Open Archives e Recursos
informacionais
�22
AULA II: Formação, desenvolvimento,
gestão e preservação de coleções
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
CONTEÚDOS DA AULA
ASSUNTOS
1 – Formação,
desenvolvimento,
gestão e preservação
de coleções;
1.1 – Políticas, rotinas
e processos.
VERGUEIRO, W. Seleção de materiais
de informação: princípios e técnicas.
Brasília: Briquet de Lemos, 2010.
WEITZEL, S. R. Elaboração de uma
política de desenvolvimento de
coleções em bibliotecas universitárias:
Rio de Janeiro: Interciência, 2013.
MOTTAR, R.; CARVALHO, M. C.;
FERNANDES, C. A. A preservação de
acervos de bibliotecas e sua
importância na atualidade: a ótica dos
bibliotecários da UFMG, Informação e
sociedade, João Pessoa, v. 15, n. 1,
2005. Periódico
�23
2 FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, GESTÃO E PRESERVAÇÃO DE COLEÇÕES
A formação e desenvolvimento de coleções é um processo comumente realizado em bibliotecas,
embora não tenha o destaque e valor como acontece com outras atividades bibliotecárias (VERGUEIRO,
2010; WEITZEL, 2013).
A prática de formar e desenvolver coleções data dos primórdios (bibliófilos), mas a atividade
tornou-se científica a partir da década de 1979, sendo incorporada aos currículos acadêmicos
(VERGUEIRO, 2010; WEITZEL, 2013).
O desenvolvimento de coleções é visto por uma perspectiva que indica as atividades (etapas) do
processo como essenciais e ainda afirmam que cada uma das etapas não deve ser executada de forma
isolada, isto é, precisam ser consideradas como subsistemas – partes de um todo. Trata-se de uma
atividade processual, integrada e sistêmica, tendo como modelo principal de estudo, o modelo sistêmico
e integrado formulado pelo bibliotecário norte-americano, Edgard Evans, na década de 1970, conforme
demonstrado na figura abaixo:
2.1 A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES – MODELO DE EVANS
A perspectiva sistêmica atribuída ao desenvolvimento de coleções recebe características
adicionais importantes para o processo e política, isto é, o processo é visto como cíclico, ininterrupto e
contínuo (VERGUEIRO, 2010; WEITZEL, 2013).
Essas características revelam que o processo deve ser uma atividade rotineira e contínua da
biblioteca, executada por bibliotecários. Só assim o desenvolvimento de coleções garante sua efetividade.
ETAPAS DO MODELO DE EVANS
1 - estudo da comunidade;
2 - política de seleção;
3 - seleção;
4 - aquisição;
5 - desbaste, incluindo descarte;
6 - avaliação da coleção (VERGUEIRO, 2010; WEITZEL, 2013).
O processo de desenvolvimento de coleções, na abordagem sistêmica, é aquele que identifica
pontos fortes e fracos de uma coleção em relação às necessidades dos usuários, que visa corrigir as
fraquezas e que requer constante avaliação dos recursos da biblioteca e, ainda, o estudo das
necessidades dos usuários, o que servirá de base para o planejamento das mudanças que deverão ser
realizadas. A integração das etapas do Modelo de Evans é apresentada na figura, a seguir:
�24
1 - Formação, desenvolvimento, gestão e
preservação de coleções
ETAPAS DO MODELO DE EVANS
Estudo da
comunidade
Aquisição
Política de
seleção
Desbastamen
to
Seleção
Avaliação
(VERGUEIRO, 2010; WEITZEL, 2013)
Processo de desenvolvimento de coleções deve ser caracterizado como um processo heterogêneo,
uma vez que ele não se define da mesma forma em todas as bibliotecas, isto é, o processo se define de
um modo específico a partir do tipo, missão e funções de cada biblioteca (VERGUEIRO, 2010; WEITZEL,
2013).
A analogia do guarda-chuva pode ser útil para explicar conceitualmente a relação entre o processo
e política de desenvolvimento de coleções com suas respectivas etapas, bem como a relação da
interdependência entre elas. Cada etapa é formada por seu respectivo processo e política, e juntas,
formam o conceito de Desenvolvimento de Coleções (WEITZEL, 2013, p. 20-21).
O Desenvolvimento de coleções, segundo a metáfora do guarda-chuva de Simone Weitzel (2013),
contempla as seguintes etapas:
• 1 - Estudo da comunidade: é uma investigação de primeira mão, uma análise e coordenação dos
aspectos econômicos, sociais e de outros aspectos inter-relacionados de um grupo selecionado.
Um trabalho de pesquisa junto à comunidade, que exige equipe qualificada (WEITZEL, 2013, p.
27).
• 2 - Política de seleção: é um instrumento de trabalho primariamente destinado a dar suporte às
decisões de seleção e deve informar: a identificação dos responsáveis de seleção; os critérios
utilizados no processo; os instrumentos auxiliares; as políticas específicas; os documentos
correlatos (WEITZEL, 2013).
• 3 - Seleção: é o “processo de tomada de decisão título a título” (FIGUEIREDO, 1998, p. 84).
Aquisição “é o processo que implementa as decisões tomadas no processo de seleção”
(FIGUEIREDO, 1998, p. 84-85) (MACIEL; MENDONÇA, 2006, p. 20).
• Aquisição: etapa considerada como o processo operacional da seleção. Diz respeito ao momento
em que os materiais são devidamente adquiridos pela instituição, incluindo as modalidades de
aquisição, o contato com fornecedores, os primeiros registros de identificação dos itens, além de
uma série de procedimentos administrativos (VERGUEIRO, 2010)
• 5 - Política de aquisição deve reunir os seguintes elementos: “responsabilidade pela atividade;
definição das prioridades da aquisição; determinação de fontes de financiamento e captação de
recursos; estabelecimento de diretrizes para alocação dos recursos; detalhamento dos
procedimentos e rotinas para compra, doação e permuta; definição dos instrumentos auxiliares
aplicáveis para aquisição; orientações para a escolha dos fornecedores; definir os critérios para o
registro das diferentes coleções para fins de identificação de patrimônio; descrição da participação
da biblioteca em planos ou programas de aquisição cooperativa; adoção de programas para o
controle e acompanhamento dos processos de aquisição” (WEITZEL, 2013, p. 51-56).
• 6 – Desbastamento: é o ajuste do acervo às necessidades da comunidade e à missão institucional.
A implementação de suas ações trazem como consequência a renovação de espaços para o
armazenamento, contribuindo ainda mais para melhorar o acesso dos usuários ao material.
Importante considerar outro conceito de desbastamento e a relação com descarte, que é:
desbastamento consiste na retirada de documentos pouco utilizados pelos usuários, de uma coleção de
uso frequente para outros locais – os depósitos especialmente criados para abrigar este material de
�25
consultas eventuais. Já o descarte, consiste na retirada definitiva do material do acervo da biblioteca, com
a correspondente baixa nos arquivos de registro da mesma (MACIEL; MENDONÇA, 2006, p. 25).
• 7 - Política de desbastamento: deve considerar quatro elementos “responsabilidade pelo
processo; critérios; métodos; aspectos legais e administrativos” (WEITZEL, 2013, p. 68).
A política de desbastamento tem como principal função a definição de critérios que conduziram o
processo de desbastamento, incluindo o descarte. Portanto, é importante estabelecer os responsáveis
pelo processo, os métodos que serão aplicados e ainda atentar para os aspectos legais e administrativos.
Slote (1997 apud WEITZEL, 2013, p. 71), ao falar a respeito dos métodos para o desbastamento,
enumera estes métodos e afirma que eles devem ser baseados na avaliação sistemática de coleções,
principalmente levando em conta os dados que ilustram a baixa circulação de materiais e o próprio
desbastamento contínuo.
• 8 – Avaliação: Avaliação “é, efetivamente, uma avaliação dos seus métodos de seleção”
(FIGUEIREDO, 1998, p, 97-98).
• 9 – Política de avaliação: deve considerar três elementos: “quem será o responsável pelo
processo; definição de padrões e critérios e metodologias; métodos a serem empregados”
(WEITZEL, 2013, p. 61)
2.2 POLÍTICAS, ROTINAS E PROCESSOS
2.2.1 Política de desenvolvimento de coleções
Na visão de Weitzel (2013), uma política de desenvolvimento de coleções, no âmbito das
bibliotecas universitárias, deve ser conduzida/formalizada em obediência a doze passos, conforme
descritos no quadro a seguir:
2.3 AVALIAÇÃO DE COLEÇÕES
No que tange à avaliação, ela consolida-se como resultado concreto, o qual possibilita a
identificação das obras que apresentam um tempo médio aceitável ou não sem uso, denominado por
Slote (1997) de ‘tempo de estante’, bem como a busca de uma alternativa para estimular o uso, caso a
obra ainda seja de relevância, ou desbastá-la (WEITZEL, 2013, p. 65).
A avaliação permite a segurança na tomada de decisões e ainda pode melhorar o direcionamento
da formação e desenvolvimento de coleções, trazendo benefícios para os usuários e para a própria
biblioteca.
Qualquer avaliação a que a biblioteca seja submetida deve se preocupar em determinar em que
medida ela desempenha com êxito essa função de interface (LANCASTER, 1996 apud WEITZEL, 2013, p.
56).
2.4 CONSERVAÇÃO, PRESERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE COLEÇÕES
�26
Além das etapas indicadas, a literatura especializada em coleções indica outros elementos e
aspectos que podem ser considerados correlatos e possuem uma relevância para a formação e
desenvolvimento de coleções, como: 1 - a conservação (medidas ou ações direcionadas a preservar ou
restauração dos documentos); 2 - a preservação (medidas ou ações que visam proteger, preservar e
manter a longevidade dos documentos); 3 - o compartilhamento de recursos; 4 - os direitos autorais; 5 o armazenamento, entre outros (WEITZEL, 2013).
Em diversas partes do mundo, é possível perceber estágios avançados de degradação de acervos,
tendo, como causas principais os fatores climáticos, dotação orçamentária insuficiente, locais
inadequados de armazenamento, utilização de materiais não tratados e de técnicas superadas nos
reparos e restauração, mas, também e, em grande parte, causados pela negligência na manipulação e
falta de pessoal especializado na área (CARVALHO; MOTTA; FERNANDES, 2005).
Há um baixo nível de sensibilização e conscientização por parte de profissionais da informação e
de usuários acerca do valor social do patrimônio documental mantido pelas bibliotecas (CARVALHO;
MOTTA; FERNANDES, 2005).
Contudo, para que se evitem distorções graves em investigações desse tipo, é necessário
contextualizar o olhar do indivíduo para os bens culturais do seu tempo colocando o valor atribuído a tais
bens como inter-relacionado a outras percepções (ou falta de) culturais e sociais (CARVALHO; MOTTA;
FERNANDES, 2005).
Há diferenças entre os termos preservação, conservação e restauração caracterizados, cada um,
como:
PRESERVAÇÃO: tem um sentido abrangente, incluindo todas as considerações administrativas baseadas
em políticas estabelecidas que devem prever desde o projeto de edificações e instalações, até a seleção,
aquisição, acondicionamento e armazenamento dos materiais informacionais, assim como o treinamento
de usuários e de pessoal administrativo;
CONSERVAÇÃO: implica em técnicas e práticas específicas relativas à proteção de materiais de diferentes
formatos e natureza física (papel, tecido, couro, registros magnéticos) contra danos, deterioração e
decomposição;
RESTAURAÇÃO: compreendam-se as intervenções técnicas sobre os componentes materiais de um
documento já deteriorado, praticadas por especialistas em laboratório.
Estudo realizado por Carvalho, Motta e Fernandes, em 2005, no âmago do Sistema de Bibliotecas
da UFMG, detectou que, na percepção dos bibliotecários entrevistados: 1 - a maior parte dos
bibliotecários participantes da pesquisa se mostrou hesitante entre a pretensa obrigação de fazer eles
próprios, os reparos de conservação; 2 - o papel gerencial de estabelecer e fiscalizar a aplicação de
políticas de preservação de acervos, de planejar e desenvolver programas de educação de usuários e de
funcionários, além de alocar recursos para a preservação; 3 - Reconhecem a universidade como lugar de
produção e de manutenção do patrimônio cultural de um país, mas contraditoriamente, não estão
suficientemente preparados como gerentes do acervo documental da Instituição.
Além disso, o estudo mencionado descreveu as principais práticas realizadas no SB da UFMG, que
são: 1 - limpeza dos documentos e estantes: apenas três informantes declararam no questionário ser
esta uma prática em suas bibliotecas; 2 - reparos gerais: mais da metade dos informantes apontou os
pequenos reparos em documentos como a prática mais frequente nas suas bibliotecas; 3 - encadernação:
executada na própria unidade foi apontada por dois informantes; 4 - educação/treinamento de
usuários/funcionários: apenas cinco respondentes apontem a educação de usuários como ação de
preservação praticada em suas bibliotecas (CARVALHO; MOTTA; FERNANDES, 2005).
2.5 SELEÇÃO DE COLEÇÕES
Descrevendo com mais detalhes a fase da seleção, é preciso considerar a importância da etapa de
seleção para qualquer biblioteca e aqui ela pode ser indicada como uma das etapas que mais
�27
complementam a avaliação e o desbastamento em bibliotecas especializadas, uma vez que essas etapas
encontram-se diretamente relacionadas, pois indicam o que deve entrar, permanecer, ser remanejado e
ser descartado do acervo. Afinal, a seleção é uma tomada de decisão que requer planejamento, é a
escolha de materiais que corresponde à necessidade informacional dos usuários da biblioteca
(VERGUEIRO, 2010).
Há um momento em que a decisão está nas mãos do bibliotecário, sobretudo quando da
incorporação de quaisquer itens no acervo, considerando a sistematização do item no conjunto
bibliográfico, quanto à satisfação das demandas institucionais e dos usuários (VERGUEIRO, 2010).
A seleção deve ser norteada por critérios pré-estabelecidos, para que o acervo possa ser
desenvolvido de forma racional, equilibrada e atenda as demandas. Para isso:
1 - o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua responsabilidade, sabendo
melhor do que ninguém em que aspectos ele está fraco, em que aspectos ele está forte, em que aspectos
ele atingiu um estágio ideal de desenvolvimento;
2) - o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o usuário cujas necessidades informacionais
tem por obrigação procurar atender, sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as
que têm características mais duradouras, ligadas a necessidades reais, das que são ditadas por tendências
esporádicas, influência dos meios de comunicação de massa ou de modismo (VERGUEIRO, 2010).
A função decisória do bibliotecário manifesta-se - individualmente (responsável pela seleção); e coletivamente (coordenador da comissão de seleção). A comissão de seleção pode ser designada da
seguinte forma: - comissão deliberativa de seleção (bibliotecário participa como membro ou
coordenador); - comissão consultiva de seleção (visa a assessorar o responsável pela seleção); - o
bibliotecário faz a seleção dos materiais. Uma das maiores críticas no que tange à conduta do
bibliotecário é a de que nem sempre esse profissional conhece aquelas realidades (a coleção e a
comunidade usuária) (VERGUEIRO, 2010).
A objetividade constitui uma meta sempre almejada na seleção, de modo que não haja o risco de
surgir acusações de favoritismo ou ineficácia por parte dos usuários que, porventura, não se sintam
satisfeitos com os materiais selecionados (VERGUEIRO, 2010).
A fim de evitar isso, o bibliotecário deve demonstrar que os materiais foram selecionados segundo
parâmetros objetivos de qualidade ou de necessidade. Daí a importância das políticas devidamente
elaboradas e utilizadas no processo de seleção (VERGUEIRO, 2010).
Considerações gerais que influenciam a seleção – Critérios gerais. São critérios pré-determinados
segundo razões objetivas: 1 - o assunto (área de cobertura da coleção <=> estudo de comunidade); 2 - o
usuário; 3 - o documento (em si, sua relação com os demais itens da coleção <=> avaliação da coleção); 4
- o preço; 5 - outras questões complementares: material mais suscetível a furto, vandalismo ou
mutilações; assuntos polêmicos; qualidade do material (VERGUEIRO, 2010).
Por sua vez, são considerações específicas que influenciam a seleção – Critérios específicos: 1 Segundo o conteúdo: autoridade; precisão; imparcialidade; atualidade; cobertura/tratamento; 2 Segundo a adequação ao usuário: conveniência; idioma; relevância/interesse; estilo; 3 - Segundo os
aspectos adicionais: características físicas do documento; aspectos especiais; contribuição potencial;
custo (VERGUEIRO, 2010).
Existem mecanismos para identificação, avaliação e registro da Organização e do Processo de
Seleção. Esses mecanismos podem ser: 1 - formulários para indicação e seleção de títulos (sujeito da
indicação e o material indicado); 2 - instrumentos auxiliares da seleção: catálogos e listas de editoras,
dentre outros materiais para acesso às fontes; 3 - política de seleção: contempla os critérios e demais
diretrizes que determinam as ações (VERGUEIRO, 2010).
Destaca-se, no processo de seleção as chamadas Listas de desiderada, demanda reprimida e
sugestões, os quais são instrumentos quase sinônimos, pois se referem a materiais que a biblioteca está
considerando incorporar ao acervo. A lista de desiderata é a lista de materiais que a biblioteca deseja
adquirir, a maioria dos itens já selecionados; a Demanda reprimida manifesta-se como uma expressão
pouco simpática, indica títulos procurados pelos usuários e não possuídos pela biblioteca, mas também
�28
pode referir-se aos indicados pelos usuários; por fim, a lista de sugestões é a lista sugerida por usuários, a
qual ainda será levada para análise da comissão. Essas regras nem sempre são aplicadas em todas as
bibliotecas (VERGUEIRO, 2010).
No que se refere às funções dos instrumentos auxiliares da seleção, destacam-se que eles:
ampliam o conhecimento de bibliotecários e usuários sobre os materiais de informação correntes;
possibilitam a identificação e complementação de falhas no acervo; proporcionam juízos avaliativos dos
materiais disponíveis. Existem tipologias de instrumentos auxiliares da seleção, que são: Catálogos de
Editores, Folhetos etc., Resenhas, Bibliografias e listas de livros recomendado (VERGUEIRO, 2010).
No processo de seleção, devido à sua complexidade, é de suma importância estabelecer, também,
uma política específica de seleção. A importância do documento formal de política de seleção é: 1 administrativa: continuidade dos critérios além da presença física de um bibliotecário; 2 - comunicativa:
relações públicas entre a biblioteca e os usuários (VERGUEIRO, 2010).
A política representa o instrumento de resistência e gerência de conflitos em torno da coleção. É
composta pelos elementos: a identificação dos responsáveis pela seleção; os critérios adotados no
processo; os instrumentos auxiliares; as políticas específicas; os documentos correlatos (VEGUEIRO,
2010).
2.6 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1 - O processo que implica o remanejamento de unidades do acervo para outros locais
controlados, como parte das atividades de formação e desenvolvimento de coleções, é denominado:
A) descarte. b) preservação. c) conservação. d) desbastamento. e) disseminação.
Questão 2 - O desenvolvimento de coleções é, acima de tudo, um trabalho de planejamento que exige
comprometimento com metodologias. Avalie as afirmativas e assinale a alternativa INCORRETA com
relação ao desenvolvimento de coleções:
a) Efetuar o processo de compra dos materiais é uma das atribuições básicas do trabalho de aquisição
para a biblioteca.
b) O processo do desenvolvimento de coleções é centrado no bibliotecário e apresenta as seguintes fases:
estudo da comunidade, políticas de seleção, seleção, aquisição, desbastamento, avaliação da coleção.
c) Entre os muitos instrumentos auxiliares à seleção, disponíveis aos bibliotecários, podemos destacar:
catálogos de editores, resenhas, bibliografias e livros recomendados.
d) O bibliotecário norte-americano Edward Evans, autor do modelo do processo sobre desenvolvimento
de coleções, salienta que o processo é descontínuo e possui começo/fim bem definidos.
e) As metodologias quantitativas, qualitativas e fatores de uso, classificadas por Lancaster, podem ser
utilizadas no processo de avaliação da coleção.
Questão 3 - Aquisição é:
A. a atividade especializada que, junto com a doação, constitui o processo de desenvolvimento de
coleções.
B. a administração dos recursos da biblioteca por meio dos procedimentos de levantamento, seleção e
compra de materiais.
C. o procedimento de compra de materiais, direta ou por licitação pública, de acordo com as normas da
instituição.
D. a etapa administrativa do desenvolvimento de coleções realizada por meio da compra, doação e/ou
permuta de materiais.
E. a política de desenvolvimento de coleções que avalia a necessidade de compra de materiais para o
acervo.
�29
Questão 4 - Desenvolvimento de coleções é:
A) um processo linear, com atividades regulares que busca criar mecanismos para o financiamento de
materiais informacionais.
B) um processo sistêmico, seguindo um único padrão para todas as bibliotecas ou unidades de
informação.
C) um processo cíclico, ininterrupto e com atividades regulares e contínuas, levando-se em conta a
especificidade de cada biblioteca ou unidade de informação.
D) um delineamento das seguintes etapas: estudo da comunidade, seleção, aquisição e
acondicionamento do material bibliográfico no contexto particular das bibliotecas ou unidades de
informação.
E) um plano de trabalho, entretanto, o desenvolvimento de coleções não é caracterizado como atividade
rotineira nas bibliotecas.
Questão 5 - Os processos de retirada de títulos ou partes da coleção para outros locais menos acessíveis e
de retirada para fins de doação, correspondem, respectivamente, às atividades de
(A) preservação e remanejamento.
(B) desbastamento e seleção.
(C) descarte e preservação.
(D) seleção negativa e desbastamento.
(E) remanejamento e seleção negativa.
Questão 6 - Um documento de política de seleção deve ter como componentes:
(A) identificação dos responsáveis pela seleção de materiais, critérios utilizados no processo de aquisição
e políticas específicas de conservação e preservação.
(B) critérios utilizados no processo, instrumentos auxiliares, políticas específicas para tombamento e
documentos correlatos.
(C) identificação dos responsáveis pela seleção de materiais, critérios utilizados no processo,
instrumentos auxiliares, políticas específicas para seleção e documentos correlatos.
(D) critérios utilizados no processo, instrumentos auxiliares, políticas específicas de conservação e
preservação e documentos relacionados à aquisição das obras.
(E) identificação dos responsáveis pela aquisição de materiais, instrumentos auxiliares, políticas
específicas de conservação e preservação e documentos relacionados à aquisição das obras.
Questão 7 - O desenvolvimento de coleções na biblioteca deve incluir:
(A) política da seleção, alocação de recursos e planejamento de compartilhamento, avaliação de coleções
para descarte, desbastamento e armazenagem em depósitos.
(B) avaliação da coleção atual para descarte, desbaste ou armazenagem em depósitos e distinção entre os
procedimentos financeiros, de aquisição e processamento técnico.
(C) alocação de recursos, reavaliação de coleções, descarte, armazenagem em depósitos, distinção clara
entre os procedimentos de aquisição e catalogação.
(D) análise de recursos de aquisição cooperativa, avaliação das necessidades dos usuários, reavaliação dos
formatos e processos de tratamento do material adquirido.
(E) pesquisa sobre práticas de doação, permuta, seleção e aquisição, reavaliação das aquisições
efetuadas, análise das práticas de formas de pesquisa e recuperação do material.
Questão 8 - Quanto à seleção de documentos eletrônicos, é correto afirmar que
(A) devem ser considerados aspectos de conteúdo de acordo com parâmetros de assunto definidos,
facilidade de acesso, compatibilidade, suporte e custo.
(B) em termos de acesso, os documentos devem apresentar mecanismos de busca complexos que
permitam atingir resultados mais completos.
�30
(C) para documentos de acesso aberto, deve-se verificar a autorização do fornecedor para acesso em
rede local e número de usuários.
(D) por serem recursos de interesse para os usuários nativos digitais, podem ter critérios de avaliação que
flexibilizem os padrões de qualidade da coleção.
(E) as considerações de conteúdo devem ser diferentes daquelas feitas para documentos impressos, na
medida em que se trata de outro suporte físico.
Questão 9 - Segundo Weitzel (2006), “[…] o bibliotecário selecionador deve investir em um trabalho de
prospecção de materiais de interesse para a biblioteca. […] Para que este trabalho de prospecção alcance
seu objetivo, é necessário definir quais são as fontes de informação que servirão de instrumentos
auxiliares”. Nesse trecho, o termo trabalho de prospecção refere-se a uma atividade da etapa do
processo de desenvolvimento de coleções denominada:
a) seleção.
b) aquisição.
c) estudo da comunidade.
d) desbastamento e descarte.
Questão 10 - Para a elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções, Weitzel (2013)
apresenta elementos sob a forma de doze passos. Abaixo são citados alguns desses elementos. Numereos na sequência em que os autores que trabalham com política e desenvolvimento de coleções
recomendam.
• ( ) Avaliação da política
• ( ) Descrever a política de seleção
• ( ) Perfil da comunidade
• ( ) Descrever o processo e a política de aquisição
• ( ) Perfil das coleções
• ( ) Identificação da missão e objetivos institucionais
• Qual a sequência recomendada?
a) 6, 2, 5, 4, 1, 3 b) 6, 4, 2, 5, 3, 1
c) 4, 6, 2, 3, 1, 5 d) 4, 5, 1, 3, 2, 6
REFERÊNCIAS
VERGUEIRO, W. Seleção de materiais de informação: princípios e técnicas. Brasília: Briquet de Lemos,
2010.
WEITZEL, S. R. Elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções em bibliotecas
universitárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2013.
MOTTAR, R.; CARVALHO, M. C.; FERNANDES, C. A. A preservação de acervos de bibliotecas e sua
importância na atualidade: a ótica dos bibliotecários da UFMG, Informação e sociedade, João Pessoa, v.
15, n. 1, 2005.
�31
AULA III: Fontes de Informação e
Bibliotecas Digitais
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
CONTEÚDOS DA AULA
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3 FONTES DE INFORMAÇÃO
3.1 A CIÊNCIA, O SISTEMA DE COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E A LITERATURA CIENTÍFICA
A confiabilidade é uma das características mais importantes da ciência, pois a distingue do
conhecimento popular, não científico. O sistema de comunicação científica comunica o conhecimento
científico produzido pelos pares e utiliza, como meios de transmissão do conhecimento, os canais formais
(periódicos e livros) e informais (comunicação de pesquisa em andamento, certos trabalhos de
congressos). Dentre os canais formais, o mais importante são os artigos de periódicos. Toda pesquisa
envolve atividades diversas de comunicação e produz pelo menos uma publicação formal (CAMPELLO et
al., 2003).
As características próprias da ciência e tecnologia modernas afetam e dificultam bastante o
trabalho profissional, entre as quais estão:
o fenômeno da explosão bibliográfica;
a diversificação de formatos de apresentação e divulgação;
a eliminação de barreiras no acesso (geográficas, hierárquicas e outras);
a aceleração do avanço do conhecimento e consequente obsolescência mais rápida das
publicações;
a intensificação da interdisciplinaridade (unindo áreas científicas antes isoladas) e
a tendência à pesquisa em colaboração (CAMPELLO et al., 2003).
Diferentemente da literatura científica ou acadêmica, a literatura tecnológica nem sempre recebe
divulgação ampla. Enquanto cientistas priorizam a divulgação e uso de seus trabalhos, nas empresas, o
interesse está no domínio de mercado (CAMPELLO et al., 2003).
O sistema de comunicação científica está amparado por diversos elementos e personagens,
inseridos em um amplo e complexo mercado editorial. O modelo proposto por Garvey e Griffith resume
esse mercado, conforme figura abaixo:
Em resumo, o modelo inicial proposto por Garvey e Griffith já não representa tão bem o processo
de comunicação científica moderno. Todas as fases desse processo foram e continuam sendo afetadas
pelo emprego da tecnologia (CRAWFORD, HURT e WELLER, 1996). O quadro geral está mudando e já se
anteveem formas de comunicação que provavelmente colocarão o periódico tradicional em choque, num
futuro próximo (CAMPELLO et al., 2003).
3.1.1 Tipologias de fontes de informação
A divisão mais utilizada no mundo que melhor contempla as diversas modalidades de fontes de
informação é aquela que divide os documentos em:
1 - Fontes primárias: produzidas com a interferência direta de seu criador;
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2 – Fontes secundárias: facilitam o uso do conhecimento disperso nas fontes primárias;
3 – Fontes terciárias: guiam o usuário para as fontes primárias e secundárias (CAMPELLO et al., 2003).
As figuras abaixo identificam alguns tipos de fontes de informação de natureza primária,
secundária e terciária.
Identificar, coletar, organizar e preservar constituem tarefas difíceis para os profissionais, pois: - o
volume de publicações é muito grande e continua a crescer, e - os formatos em que ocorrem estão
também em evolução, complicando a identificação do material pertinente. Faltam instrumentos de busca
adequados e abrangentes, especialmente quando a questão envolve pesquisas produzidas no Brasil
(CAMPELLO et al., 2003).
3.2 ORGANIZAÇÕES COMO FONTES DE INFORMAÇÃO
Organizações caracterizam-se como um espaço de ações econômicas no qual se concentram
capital, gerência, mão de obra e tecnologia, proporcionando um ambiente de convívio e de interações
constantes entre os diversos atores envolvidos em cada um dos setores acima mencionados. Constituem
um ponto de convergência da sociedade, pois geram empregos, desenvolvem tecnologia e atraem
investimentos (CAMPELLO et al., 2003).
Nas organizações, manifestam-se os processos formais, representados pelos diversos tipos de
documentos, tais como organogramas, regulamentos e normas internas; e os processos informais, que
são os processos sociais, dos relacionamentos humanos e das tendências culturais (CAMPELLO et al.,
2003).
As organizações constituem importante fonte de informação. O acesso às informações de uma
organização pode se dar através dos indivíduos a ela ligados ou dos documentos que ela gera. Algumas
organizações, por sua natureza, têm na divulgação de informações sua própria razão de ser. É o caso da
maioria das organizações não lucrativas que produzem uma variedade de documentos de acesso público
(CAMPELLO et al., 2003).
Os diretórios são as fontes tradicionais para a identificação de organizações: essas obras listam os
nomes das organizações fornecendo em geral informações tais como endereço, telefone, fax, e-mail,
produtos e serviços, nomes e cargos dos dirigentes e outros do gênero (CAMPELLO et al., 2003).
Segundo Campello et al. (2003), existem diversos tipos de organizações, como: organizações
comerciais, organizações educacionais e de pesquisa, organizações governamentais, organizações
profissionais e sociedades científicas, organizações internacionais e organizações não governamentais.
3.3 PESQUISA EM ANDAMENTO
O ritmo acelerado em que as mudanças científicas e tecnológicas e a morosidade de publicação do
periódico científico, viabilizam o nascimento das pesquisas em andamento (CAMPELLO et al., 2003).
Nesse contexto, surgem, portanto, o interesse pela publicação de resultados parciais de pesquisas
e o uso de relatórios técnicos como veículo de relatos de pesquisa (CAMPELLO, 2003).
�34
3.4 ENCONTROS CIENTÍFICOS
Os encontros manifestam-se como fontes primárias, as quais apresentam resultados de pesquisa
(integrais e/ou parciais), viabilizam o contato direto com pesquisadores, apresentam os resultados atuais
de pesquisa, e, por fim, podem ser categorizados como literatura branca ou cinzenta (CAMPELLO et al.,
2003).
A grande quantidade de eventos de caráter científico que ocorrem atualmente em todas as áreas
do conhecimento mostra que o encontro pessoal ainda é uma forma de comunicação que ainda muito
agrada a cientistas e pesquisadores (CAMPELLO et al., 2003).
A apresentação de trabalhos em encontros científicos constitui a oportunidade que o pesquisador
tem de ver seu trabalho avaliado pelos pares ou colegas, de forma mais ampla, diferentemente do que
ocorre com os periódicos quando submete um artigo ao periódico que é avaliado por uma comissão
editorial composta por um número restrito de membros e, que, normalmente, demora meses para
completar o trabalho de julgamento (CAMPELLO et al., 2003).
Os eventos podem se manifestar na forma de congresso, definido como um evento de grandes
proporções, de âmbito nacional ou internacional, que dura normalmente uma semana e reúne
participantes de uma comunidade científica ou profissional ampla. Também podem ocorrer eventos com
nomes variados, tais como simpósio, jornada, seminário, colóquio, fórum, reunião, encontro, que são
denominações dadas a eventos científicos de âmbito menor que o do congresso, tanto em termos de
duração, quanto de número de participantes, cobrindo campos de conhecimento mais especializados
(CAMPELLO et al., 2003).
As principais funções dos eventos científicos são:
• encontros como forma de aperfeiçoamento de trabalhos;
• encontros como reflexo do estado da arte;
• encontros como forma de comunicação informal.
As pesquisas apresentadas nos eventos são compiladas em fontes de informação denominadas de
anais. Assim, os anais correspondem à literatura produzida com os eventos. Esses documentos aparecem
numa variedade de formas que vão desde a publicação feita pela própria instituição organizadora, até a
publicação por editoras comerciais profissionais, caso em que o produto se apresenta na forma de
volumes de excelente qualidade editorial (CAMPELLO et al., 2003).
Como exemplo de um famoso congresso na área de Biblioteconomia, Campello et al. (2003) cita o
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, que teve sua primeira edição no ano de 1954, e veio ocorrendo,
ao longo dos tempos, em intervalos relativamente regulares. Em 2017, ocorreu a vigésima sétima edição,
na cidade de Fortaleza, conforme demonstra a logomarca apresentada abaixo:
Os eventos científicos apresentam como principais elementos ou composição: as conferências; as
palestras; os painéis; as mesas redondas, dentre outras (CAMPELLO et al., 2003).
A divulgação dos eventos, normalmente, é realizada por meio de boletins, publicações
especializadas, sítios de instituições promotoras; listas de discussão; imprensa em geral. No Brasil, existe
a Lista de Reuniões Técnico-Científicas Realizadas no Brasil e o Calendário de Eventos em Ciência e
Tecnologia, como também a Base de Dados de Eventos em C&T: Qualidade e Produtividade "«ea TMS
World Meetings Calendar^, os quais funcionam como canais especializados na divulgação dos eventos
(CAMPELLO et al., 2003).
O controle bibliográfico dos eventos, como também dos anais, é realizado por meio de diversos
canais, tais como: catálogos de editoras; boletins e revistas de associações que organizam eventos;
periódicos de indexação e resumo; e por meio da publicação em listas específicas para indexação desse
material (CAMPELLO et al., 2003).
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3.5 PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
Os periódicos são fontes primárias, que apresentam resultados de pesquisa (integrais).
Caracterizam-se como meios de comunicação de diferentes ideias, produção/propriedade intelectual;
pertencem à indústria editorial; e são categorizados como literatura branca (CAMPELLO et al., 2003).
Os periódicos científicos apareceram no século XVII na Europa, em uma época marcada por
mudanças em toda a sociedade, inclusive no campo científico. Constituem os primeiros periódicos
científicos da história: o Journal de Sçavans e o Philosophical Transactions, que era dedicado
exclusivamente ao registro das experiências científicas, não incluindo outras matérias (CAMPELLO et al.,
2003).
São quatro as funções dos periódicos apresentadas por Campello et al. (2003), a saber:
1 - comunicação formal dos resultados da pesquisa original;
2 - preservação do conhecimento registrado;
3 - estabelecimento da propriedade intelectual;
4 - manutenção do padrão da qualidade na ciência.
A mesma autora descreve cinco problemas inerentes aos periódicos:
1 – demora na publicação do artigo;
2 - custos altos de aquisição e manutenção;
3 - rigidez do formato impresso em pape;
4 – dificuldade em saber o que foi publicado;
5 - dificuldade em acessar o que foi publicado.
Campello et al. (2003) apontam como causas desses problemas, as seguintes ocorrências: 1 - a
proliferação de periódicos; 2 - dispersão de artigos sobre um mesmo assunto entre muitos títulos; e 3 –
elevada em demasia o custo de atualização de coleções.
Especificamente no âmago brasileiro, as autoras supracitadas descrevem os seguintes problemas:
custo dos periódicos foi agravado no início da década de 1990 por decisões políticas e circunstâncias
econômicas do País; áreas de ciências puras, engenharia e medicina costumam ser mais caros que o das
áreas de ciências sociais e humanidades; as bibliotecas se viram forçadas a fazer cortes significativos em
suas coleções, mas intensificou-se a busca por alternativas.
Como alternativas para os periódicos, as autoras enfatizam a importância advinda com o
nascimento dos periódicos eletrônicos, os quais podem estar no formato on-line como em CD-ROM.
Apesar das inúmeras possibilidades oferecidas pela tecnologia, a maioria dos periódicos científicos
eletrônicos ainda é muito parecida com os periódicos impressos.
Segundo Campelo et al. (2003), ainda há resistência na comunidade científica em aceitar o
periódico eletrônico como equivalente ao periódico tradicional. Mesmo assim, grandes investimentos
vêm sendo realizados em prol das bases eletrônicas de preprints, as quais publicam artigos ainda não
aprovados por pares, permitindo, dessa forma, que os resultados de pesquisas fiquem parado, haja vista
a demora dos periódicos no processo avaliativo e na publicação das edições. Como exemplo desse tipo de
base, cita a LANL Preprint Archive, na área de física, mantida pelo Los Alamos National Laboratory (LANL),
nos Estados Unidos.
Para Campello et al. (2003), existem também os periódicos técnicos e comerciais, que são
dedicados aos interesses da indústria e do comércio e, nesse sentido, seus conteúdos são menos
acadêmicos. Como forma de controle bibliográfico dos periódicos, Campello et al. (2003) mencionam as
listas de periódicos, tal como a Ulrich's International Periodicals Directory. No Brasil, o IBICT é responsável
pelas seguintes listas: Periódicos Brasileiros de Cultura; Periódicos Brasileiros em Ciência e Tecnologia e;
ISSN: Publicações Periódicas Brasileiras.
Por fim, como forma de controlar a publicação dos periódicos, Campello et al. (2003) mencionam
a criação do International Standard Serial Number, agência internacional do ISSN, localizado em Paris e
que, em parceria com institutos de controle de vários países, estabelece uma rede que registra os códigos
que identificam os periódicos existentes em cada país.
�36
3.6 LITERATUZA CINZENTA
Esse tipo de fonte caracteriza-se como publicações não convencionais, as quais não estão inseridas
no mercado editorial. Tratam-se de documentos semi-publicados, produzidos nos âmbitos
governamental, acadêmico, comercial e industrial. Esses documentos não são passíveis de receber
números normalizados e depósito legal. Exemplos: publicações governamentais, traduções avulsas,
preprints, dissertações, teses e literatura originada de encontros científicos, como os anais de congressos
(CAMPELLO et al., 2003).
O controle bibliográfico da literatura cinzenta é realizado por instituições específicas para esse fim,
tal como o National Technical Information Service (NTIS) e o System for Information on Grey Literature in
Europe (SIGLE), instituições presentes na Europa (CAMPELLO et al., 2003).
A internet propicia amplo acesso aos produtores da literatura cinzenta através de seus
mecanismos de comunicação: e-mail, chat (conversa em tempo real entre usuários conectados em salas
virtuais), as listas e os grupos de discussão (CAMPELLO et al., 2003).
3.7 RELATÓRIOS TÉCNICOS
São fontes primárias. Apresentam resultados de pesquisa. São considerados como meio de
comunicação confidencial, sobretudo ao contemplar pesquisas tecnológicas e científicas. Contemplam,
normalmente, áreas de defesa, aeronáutica e energia nuclear, mas, atualmente abrangem diversas
disciplinas. Os relatórios são caracterizados como literatura cinzenta (CAMPELLO et al., 2003).
Primeira empresa a publicar relatório em 1915, foi a Nasa. Em seguida, houve a criação do Office
for Scientific Research and Development (OSRD), como também agências especializadas como Defense
Documentation Center (DDC), o Technical Information Center da United States Atomic Energy Commission
(TIC/USAEC) e o NTIS (CAMPELLO et al., 2003).
Os relatórios são produzidos por empresas privadas, órgãos governamentais e instituições
controladas pelo governo. É fruto de um trabalho em equipe, normalmente com autoria coletiva,
possuindo um número reduzido de cópias. Os relatórios são produzidos, sobremaneira, nas pesquisas
tecnológicas nas áreas de ENGENHARIA. Mas também utilizados em Educação, Economia, Medicina,
Agricultura etc. (CAMPELLO et al., 2003).
Como formas de controle bibliográfico dessas fontes, citam-se o NTIS, que abriga uma coleção
formada por quase três milhões de relatórios; a base de dados Educational Resources Information Center
(ERIC), a qual indexa relatórios, artigos de periódicos, livros, anais e materiais instrucionais de Educação; a
Langley Technical Report Server: publicação da NASA; e, por fim, no Brasil, ainda não há formas de
controle dos relatórios técnicos (CAMPELLO et al., 2003).
3.8 PUBLICAÇÕES GOVERNAMENTAIS
As publicações governamentais são decorrentes de atividades públicas, funcionam como
“espelho” das atividades de um Governo e registram a atuação do Estado e orienta a população. Essas
fontes apresentam-se de forma desordenada e são caracterizadas como literatura cinzenta (CAMPELLO et
al., 2003).
Publicação oficial é qualquer item produzido por meios reprográficos ou outros, editado por uma
organização que é um o organismo oficial, e disponível para uma audiência mais larga que a daquele
organismo (CAMPELLO et al., 2003).
Essas publicações são documentos bibliográficos e não bibliográficos, produzidos por qualquer
processo, editados sob a responsabilidade, a expensas, por ordem ou com a participação dos órgãos da
administração pública, ou de entidades por ela controladas, com o objetivo de registrar a atuação do
Estado e de informar ou orientara opinião pública sobre a mesma (CAMPELLO et al., 2003).
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3.9 TESES E DISSERTAÇÕES
As teses e as dissertações caracterizam-se como fontes primárias, pois são documentos originados
das atividades dos cursos de pós-graduação, produzidos em instituições educacionais. Além disso, esses
documentos são caracterizados como literatura cinzenta e são direcionados a públicos especializados
(CAMPELLO et al., 2003).
Após a apresentação desses documentos por pares, eles podem ser fragmentados em artigos
científicos, de modo a garantir o acesso e divulgação para a comunidade científica. Na maioria das vezes,
esses documentos mantêm-se na sua forma original: impressão xerografada, número pequeno de
exemplares, normalização deficiente (CAMPELLO et al., 2003).
Quanto ao controle bibliográfico das teses e dissertações, tem-se, em nível internacional, a
instituição University Microfilms International (UMI), a qual dedica-se à venda de teses. No Brasil,
esforços para disseminação e guarda desse tipo de fonte tem sido realizado pelo IBICT, o qual criou
publicações que listam as teses defendidas no país, tal como o “Livro, do Jornal do Brasil”. Além disso,
também é produzido no Brasil, o Catálogo do Banco de Teses, pelo Ministério da Educação (MEC), como
também há o Sistema de Informação sobre Teses (SITE), gerenciado pelo IBICT e o serviço de comutação
bibliográfica (COMUT), coordenado pelo IBICT e realizado por grande parte de bibliotecas universitárias
brasileiras (CAMPELLO et al., 2003).
3.10 OBRAS DE REFERÊNCIA
Geralmente, contemplam as fontes secundárias. São publicações de uso pontual e recorrente.
Normalmente, não são disponibilizadas para empréstimo domiciliar em bibliotecas. Correspondem à
literatura branca e são obras apropriadas para consulta (CAMPELLO et al., 2003).
3.11 NORMAS TÉCNICAS
As normas técnicas podem ser consideradas como fontes primárias, que se referem à
padronização de uma tecnologia. As normas são permeadas por aplicação de regras, regidas por órgãos
nacionais e internacionais, cujo objetivo de sua aplicação, é simplificar o processo de produção em massa.
As normas estão em constante aprimoramento e são caracterizadas como literatura cinzenta (CAMPELLO
et al., 2003).
3.12 PATENTES
São instrumentos legais destinados a proteger a invenção industrial e que garantem ao inventor
um monopólio temporário. As patentes visam a recompensar o inventor por uma novidade técnica. Elas
devem ter uma aplicação industrial, produção independente (privada), respaldada por direitos autorais, e
são gerenciadas pelo Instituto da Propriedade Industrial (INPI) (CAMPELLO et al., 2003).
3.13 ÍNDICES DE CITAÇÃO
Permitem organizar o impacto que determinado trabalho concedeu à Literatura Científica. Servem
de base para fomentar estudos bibliométricos. Ordenam, controlam e preservam a literatura em ciência e
tecnologia. Por fim, esses tipos de fonte constituem obras de referências e são vistas como fontes
terciárias (CAMPELLO et al., 2003).
3.14 A INTERNET
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A informação na internet difere da informação disponível em outras fontes por sua acessibilidade
via redes de computadores, sua estrutura, seu dinamismo e seus métodos de publicação. As
peculiaridades da informação eletrônica em redes podem originar tanto vantagens como barreiras e
desafios (CAMPELLO et al., 2003).
3.15 BIBLIOTECAS DIGITAIS
3.15.1 Conceitos e características
A biblioteca convencional é aquela em que a maioria dos itens do seu acervo é constituída de
documentos em papel. Ela existe desde a invenção da escrita. Uma característica da biblioteca
convencional é que tanto a coleção como os seus catálogos utilizam o papel como suporte de registro da
informação. A biblioteca digital (BD) combina a estrutura e a coleta da informação, tradicionalmente
usada por bibliotecas e arquivos, com o uso da representação digital tornada possível pela informática
(CUNHA, 2008).
O acervo da BD precisa ter conteúdo, que pode ser material antigo, convertido no formato digital,
ou material novo, nascido digitalmente. Os itens que formam o seu acervo podem ser comprados,
doados, trocados ou digitalizados localmente, a partir de documentos que não mais estão sujeitos aos
ditames legais do direito autoral. O objetivo maior da biblioteca digital é consistente com aquele da
biblioteca convencional, isto é, organizar, distribuir preservar os recursos informacionais (CUNHA, 2008).
O quadro abaixo demonstra os documentos variados que podem compor o acervo de uma BD.
Segundo Cunha (2008), a BD contempla importantes aspectos, que são:
1 - organização da informação: a biblioteca digital tem um potencial informacional que dificilmente terá
sido alcançado pela biblioteca convencional;
2 - acesso à informação: este é o momento de se iniciar uma integração das fontes e materiais
eletrônicos nos acervos e serviços;
3 - o aspecto econômico: muitas bibliotecas procuram no ambiente externo aquelas fontes de
informação que poderão ser úteis, digitalizam seus conteúdos e os colocam à disposição de sua
comunidade;
4 - as ações cooperativas: houve um incremento das atividades de cooperação bibliotecária, não
somente para reduzir os custos, mas também para facilitar a sobrevivência da biblioteca como instituição
social.
3.15.2 Dimensões da BD
As BDs contemplam as seguintes dimensões, que são:
Dimensão contextual: significado econômico, social e cultural da web semântica e a recuperação
de informação: ontologias, agentes, metadados e publicações digitais;
Dimensão tecnológica: site de uma biblioteca, os componentes da URL: rede, servidor, roteador,
endereço IP, servidores de bancos de dados, motores de busca, interface com usuário;
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Dimensão do uso: papel das bibliotecas na comunicação científica, finalidades, mecanismos,
canais, filtros, o papel dos serviços de informação e das publicações eletrônicas, autopublicação,
auto-arquivamento e informação livre: Open Access e Open Archives.
Alguns conceitos inerentes à BD:
BDTD: missão de criar um consórcio de publicações eletrônicas, para acesso a teses e dissertações
brasileiras;
Ontologias: concepção de estruturas concebidas como um conjunto de relações entre elementos
com funções definidas;
Open Archives: interoperabilidade entre os sistemas das bibliotecas;
Open source: possibilita o usuário a alterar e adequar o software, segundo suas necessidades
(MARCONDES et al. 2006).
No que tange ao desenvolvimento das BDs no Brasil, importante citar como principais elementos
influenciadores: o IBICT, o Programa de informação e comunicação para a pesquisa – PROSSIGA, a BDTD,
os Arquivos abertos, os Repositórios institucionais, o Scielo, o Portal Capes, o Portal Domínio Público e as
BDs em Universidades brasileiras (MARCONDES et al. 2006).
3.15.3 Bibliotecas digitais e web semântica
A nova web depende do desenvolvimento de ferramentas que facilitem a geração e a gerência do
conjunto dos descritores, garantindo a criação de camadas semânticas por sobre os recursos disponíveis.
Os profissionais da informação têm muitas habilidades que outros profissionais procuram quando tentam
vislumbrar a web semântica, podendo contribuir decisivamente para sua própria etapa de
desenvolvimento. As técnicas biblioteconômicas muito podem contribuir para o desenvolvimento das BDs
(MARCONDES et al. 2006).
A biblioteca digital continua sendo uma biblioteca, com os mesmos propósitos, funções e metas
da biblioteca tradicional. A parte digital do termo indica meramente que os materiais são armazenados e
acessados digitalmente. Uma biblioteca digital é então muito mais que uma coleção digital,
particularmente uma coleção, como é ilustrado no número grandioso de sites da World Wide Web na
internet que consiste em informação atual relativamente volátil (MARCONDES et al. 2006).
No que se refere à Arquitetura da Informação, ela está relacionada às diversas formas com a
informação sobre ambientes urbanos poderia ser reunida, organizada e apresentada para públicos
distintos.
Elementos da Arquitetura informação no website da BD:
1 - Sistema de organização: cria estruturas sistemáticas;
2 - Sistema de rotulagem: guia usuário na navegação;
3 - Sistema de navegação e busca (MARCONDES et al. 2006).
Quanto ao uso dos metadados, um dos maiores objetivos do uso de metadados no contexto da
web é permitir não só descrever documentos eletrônicos e informações em geral, possibilitando sua
avaliação de relevância por usuários humanos, mas também permitir agenciar computadores e
programas especiais, robôs e agentes de software, para que eles compreendam os metadados associados
a documentos e possam então recuperá-los, avaliar sua relevância e manipulá-los com mais eficiência
(MARCONDES et al. 2006).
Um dos tipos de metadados de maior relevância na organização das coleções em BDs, diz respeito
ao padrão de metadados Doblin Core, o qual possui os seguintes elementos de descrição: Subject
(assunto); Title (título); Creator (autor, responsável pelo documento); Publisher (publicador, quem torna o
docum ento disponível na Internet); Contribuitor (outros colaboradores - porex. editores, tradutores, etc);
Description (descrição, resumo, sumário); Date (data de publicação); Type (tipo de recurso - homepage,
romance, poesia, software, dicionário); Format (formato do arquivo que contém o docum ento eletrônico
— texto, PDF, LaTex, HTML, W O R D ou outro); Indetifier (geralmente o URL de um docum ento
�40
eletrônico); Relation (relacionamentos com outros documentos, por ex. versões); Source (fonte ou
origem); Language (idioma do documento); Coverage (cobertura - espacial ou temporal, sobre que lugar,
ou sobre que época o texto se refere); e o Rights (texto livre especificando qualquer restrição referente a
direitos autorais) (MARCONDES et al. 2006).
Reforça-se que o Dublin Core é um padrão voltado principalmente para a descrição e a descoberta
de documentos eletrônicos. Caso a biblioteca digital, além de referenciar recursos eletrônicos, também
seja uma publicadora ou editora, terá que se preocupar, além de referenciar seus documentos com
metadados segundo padrões como Dublin Core, com questões como copyright, administração e gestão
destes documentos e a preservação digital dos mesmos. Para todas estas atividades, existem conjuntos
de metadados específicos (MARCONDES et al. 2006).
Nas BDs deve ser considerada a tríplice AA: acesso aberto, arquivos abertos e auto-arquivamento.
As BDs brasileiras usam o protocolo OAI-PMH, independentemente do software adotado. Todas se
baseiam em softwares livres. Alguns exemplos: o ePrint, para auto-arquivamento, o TEDE, para
repositório institucional, o SEER e o SOAC (MARCONDES et al. 2006).
Importante destacar que, no desenvolvimento de BDs, uma das questões primordiais a considerar
é a interface das BDs. Essa interface deve contemplar: 1 - componentes físicos - são os recursos tangíveis
compostos por dispositivos de hardware com os quais os usuários realizam as atividades motoras e
perceptivas; e 2 - componentes cognitivos - são recursos abstratos desenvolvidos pelo sistema a partir de
diretrizes, conceitos e valores pré-definidos (MARCONDES et al. 2006).
O desenvolvimento das interfaces possui diversos focos, tendo destaque aquele que foca no
usuário da BD. Assim, é preciso realizar estudos prévios de comportamento informacional, necessidades e
perfil dos utilizadores. Destacam-se como principais abordagens os estudos nessa direção: a abordagem
de Valor Agregado de Robert Taylor – usuário-sistema; a abordagem de Sense-Making de Brenda Dervin –
necessidade e comportamento; e a abordagem do Processo Construtivista de Carol Kuhlthau – busca e
recuperação (MARCONDES et al. 2006).
Com a expansão das bibliotecas convencionais para BDs consolidou-se o que se chama de
Bibliotecas híbridas, que se refere ao conceito para acomodar estes dois momentos paralelos que
estamos vivendo, o da “biblioteca híbrida”, aquela que contém não apenas material impresso e
magnético, mas também informação digital (em múltiplos formatos: mídias óticas on e off-line, como CDROMs e DVDs, terminais para acesso a catálogos, a bancos de dados e a alguns dos variados tipos de
documentos digitais) (MARCONDES et al. 2006).
Assim, as BDs das universidades brasileiras, em linhas gerais, oferecem os seguintes serviços:
Levantamento bibliográfico, COMUT, Pergunte à Bibliotecária, Fale conosco, Envio de cópias on-line,
Sugestões, Empréstimo entre bibliotecas, Sumários correntes, Fichas catalográficas, Normalização de
documentos, Dicionário, Enciclopédias on-line, Livros e periódicos on-line, Informativo: acervo, equipe e
serviços e Lista de periódicos eletrônicos (MARCONDES et al. 2006).
Na atualidade, as BDs viabilizaram novos conceitos, culturas e com profissionais competentes
quanto às habilidades profissionais. Desse modo, a formação do profissional que atua em BD deverá
contemplar as seguintes áreas: 1 - usuário da informação; 2 - Recursos informacionais, 3 - Processos de
agregação de valor; 4- Tecnologias da informação; e 5- Gestão da informação (MARCONDES et al. 2006).
3.15.4 Gestão de coleções na biblioteca digital
Na biblioteca digital continuam inalterados os objetivos, as funções básicas. O que muda é a
tecnologia. A gestão da coleção é a mesma da tradicional, contemplando os processos de:
1 – seleção e aquisição;
2 – catalogação;
3 – arquivamento (MARCONDES et al. 2006).
O modelo organizacional da coleção digital considera três funções:
Organização da mediação – imita o controle bibliográfico das bibliotecas físicas;
�41
Definição da coleção primária: materiais mais procurados;
Definição da coleção secundária: distribuidora da comunicação científica (MARCONDES et al.
2006).
O desenvolvimento de uma coleção digital é mais problemático do que o da coleção impressa. Os
dois problemas mais importantes na formação da coleção digital são os custos e a qualidade dos recursos
digitais. Portanto, no mundo digital, a autoridade do recurso digital é posta em xeque por duas situações:
1- proliferação de fontes que não são validadas; e 2 – possibilidade de manipulação dos documentos
(MARCONDES et al. 2006).
A fim de desenvolver as coleções das BDs, é preciso caracterizar as tipologias de fontes. Assim,
existem materiais dos mais diferenciados, como: materiais originalmente digitais; periódicos eletrônicos
de origem digital; periódicos com licença de uso; livro eletrônico e substitutos de obras impressas
(MARCONDES et al. 2006).
Tendo em vista a variação de conceitos e taxonomias atribuídas às BDs, convencionou-se
identificar três distintos elementos para essas bibliotecas, que são: os usuários, os conteúdos e os
serviços de acesso (MARCONDES et al. 2006).
Como benefícios oriundos com o desenvolvimento das BDs, podem-se destacar: 1 – informação
entregue diretamente; 2 – melhoramento da pesquisa; 3 – melhor colaboração; 4 – atualização das
informações; 5 – melhor uso das informações; e 6 – diminui o fosso digital (distância/limites)
(MARCONDES et al. 2006).
A participação dos governos na formação e gestão das BDs deve constituir um fazer típico da
Administração Pública. Portanto, no âmago governamental, deve-se considerar a rede comunitária, tendo
em vista: recursos e oportunidades culturais, recursos educativos, direitos e serviços da administração,
atividades econômicas e comerciais e a saúde e qualidade de vida (MARCONDES et al. 2006).
Segundo esses autores, na sociedade da aprendizagem, o governo precisa considerar a conexão
com a internet distribuída para todos, a presença de um rico conteúdo informativo e a capacidade de
saber utilizar a informação digital (MARCONDES et al. 2006).
A personificação dos serviços deve ser uma atividade constante na gestão das BDs. Assim, a
personalização dos serviços é um elemento constitutivo da BD, que, cada vez mais, deverá solicitar aos
usuários que se cadastrem e definam os serviços que lhes são prioritários. Devem-se valorizar os
seguintes atores: USUÁRIO – CLIENTE – PARTE INTERESSADA – PESSOA – COMUNIDADER DE USUÁRIOS –
AGENTE (MARCONDES et al. 2006).
No que tange à preservação e arquivamento dos documentos digitais, os autores enfatizam que a
preservação é a função da BD que compreende as atividades de armazenamento da informação em
suportes digitais, a manutenção das coleções, o acesso permanente e a difusão dos documentos
(MARCONDES et al. 2006).
Na preservação digital deve-se dar atenção às seguintes áreas: Estratégias de preservação;
Produtores e editores de informação; Direitos de propriedade intelectual; Gestão da coleção digital;
Metadados; Arquivos na rede; Atualização do pessoal; e, por fim, a colaboração (MARCONDES et al.
2006).
De qualquer forma, ressalta-se que a integridade da informação digital dependerá: do conteúdo;
da estabilidade; da consistência das citações; da procedência; e do contexto (MARCONDES et al. 2006).
No que tange à gestão e uso dos metadados, as funções dos metadados são: ajudar usuário
identificar os recursos digitais; ajudar usuários a conhecer as condições de acesso; ajudar os usuários a
utilizar os recursos; e ajudar o gestor do recurso na atividade de preservação (MARCONDES et al. 2006).
Os metatados têm sido muito utilizados na prática bibliotecária, sobretudo quanto à
representação da informação nas plataformas digitais. Os metadados na comunidade bibliotecária têm
contemplado, sobremaneira, as seguintes considerações: iniciativas do OCLC; apoio ao Projeto Marc;
utilização do padrão Doblin Core; e o uso do protocolo Z9.50 (MARCONDES et al. 2006).
No que tange ao acesso na BD, tem-se o que se chama de desintermediação. Os problemas de
acesso são os seguintes: interface de busca; interoperabilidade das BD; e a integração dos recursos
�42
digitais. As fases do processo de busca na BD contemplam: a formulação da busca; a ação; a avaliação dos
resultados; e o refinamento da busca (MARCONDES et al. 2006).
Por fim, após a criação, desenvolvimento e gestão das BDs, é preciso estabelece os mecanismos de
avaliação. A avaliação das BDs é mais complexa que as bibliotecas convencionais, sendo as medidas e
vaiáveis avaliativas também diferenciadas. A avaliação das BDs deve considerar diferentes orientações:
baseada nos conteúdos, nos serviços e nos usuários (MARCONDES et al. 2006).
O detalhamento de cada tipo de orientação para o processo de avaliação é demonstrado na tabela
abaixo:
3.16 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – BIBLIOTECAS DIGITAIS
Questão 1 - Para ser plenamente competente no planejamento e na operação de bibliotecas digitais, o
profissional da informação, na visão de Marcondes et al. (2006) deve ter conhecimento em algumas
áreas. Assinale, a alternativa em que são indicadas corretamente essas áreas:
A) Gestão de documentos, processos de agregação de valor, recursos informacionais, tecnologias da
informação e usuários da informação.
B) Gestão da informação, processos de agregação de valor, recursos informacionais, tecnologias da
informação e usuários da informação.
C) Gestão de pessoas, processamento técnico, recursos informacionais, tecnologias da informação e
usuários da informação.
D) Gestão da informação, processamento técnico, recursos informacionais, sistemas de informação e
usuários da informação.
Questão 2 - Dadas as características seguintes, referente às Bibliotecas Digitais,
I. Acesso remoto pelo usuário, por meio de um computador conectado a uma rede.
II.
Utilização
simultânea
do
mesmo
documento
por
duas
ou
mais
pessoas.
III. Existência de coleções de documentos correntes onde se pode acessar não somente a referência
bibliográfica,
mas
também
o
seu
texto
completo.
IV.
Serviço
de
auxílio
ao
usuário
por
meio
da
entrevista
de
referência.
V. Provisão de acesso em linha e outras fontes externas de informação (bibliotecas, museus, bancos de
dados, instituições públicas e privadas), por meio da utilização da comutação de dados e empréstimo
entre instituições.
É correto afirmar que: a) I e II estão corretas.
b) II, III e V estão corretas. c) III, IV e V estão corretas.
d) IV e V estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.
Questão três - Com relação à catalogação praticada na biblioteca digital é INCORRETO afirmar:
a) que, da mesma forma que a ficha catalográfica, a função dos metadados é oferecer aos usuários uma
série de informações úteis para a localização de informações que possam existir no interior do material
digital.
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b)que os registros MARC que possuem a etiqueta 856 são usados para a catalogação de periódicos
eletrônicos e recursos da internet.
c) que o metadado DOI (Document Object Identifier) é um identificador duradouro, destinado à gestão de
objetos digitais protegidos pelo direito do autor e foi desenvolvido pela Association of American
Publisher.
d) que o Dublin Core Metadata Element Set foi desenvolvido com o objetivo de melhorara recuperação
dos recursos informacionais da Rede por parte de bibliotecas, editoras, arquivos e autores. Seu objetivo é
colocar em ordem de relevância os recursos encontrados e, propositalmente, foi limitado a um pequeno
conjunto de dados.
Questão 4 - De acordo com a taxonomia dos modelos de avaliação de bibliotecas digitais de Tammaro
(2008), a abordagem centrada nos usuários considera como critérios:
a) eficiência, eficácia e perfeição;
b) qualidade, funcionalidade e custos;
c) impacto, benefícios e valor;
d) recursos, serviços e equipamentos;
e) infraestrutura, transparência e serviços.
Questão 5 - Com o advento das bibliotecas digitais alterou-se fundamentalmente:
a) o meio de produção e registro dos documentos.
b) a essência das mensagens veiculadas pelos documentos.
c) o conteúdo das mensagens veiculadas pelos documentos.
d) o volume de dados necessários para identificar os documentos.
Questão 6 - Tammaro (2003) considera a biblioteca digital um sistema cooperativo e apresenta uma
tipologia para os acordos necessários à integração de recursos heterogêneos. Relacione adequadamente
os tipos de acordo às suas respectivas características.
1. Acordo organizacional.
2. Acordo quanto a conteúdos.
3. Acordo técnico.
( ) Concordância quanto às regras de acesso, preservação, autenticação e pagamento.
( ) Consenso quanto a formatos, protocolos e sistemas de segurança que permitam a troca de
mensagens.
( ) Decisão quanto aos dados e seus metadados, inclusive os metadados semânticos.
A sequência está correta em: a) 1,2,3; b) 1,3,2; c) 2,1,3; d) 3,1,2; e) 3,2,1.
Questão sete - O protocolo desenvolvido pela Library of Congress, OCLC e RLIN, conhecido pelo número
de série Z39.50, tem por finalidade:
A - descobrir informações em rede e abranger todos os modos de acesso à biblioteca virtual, sejam
documentos ou pesquisas.
B - ajudar na recuperação e transferência de dados em formato bibliográfico entre processadores ligados
em rede.
C - definir todos os tipos de equipamento eletrônicos necessários ao seu funcionamento, na recuperação
da informação.
D - facilitar a interação entre usuários e documentos de bibliotecas digitais, podendo o usuário construir
sua própria base e criar novos documentos.
E - manter o controle bibliográfico de tudo o que é produzido na Rede e que possui alguma qualidade
informacional.
Questão 8 - Segundo Marcondes et al. (2006, p. 246), um dos pontos relevantes, ao se construir uma
biblioteca digital, é o acesso. A partir da sua implantação, se não houver restrições, o acesso será
universal e trará grandes vantagens, como as citadas a seguir, EXCETO:
a) preservação dos materiais impressos.
b) informação sem acesso hipertextual.
c) sem limitações de disponibilidade do número de volumes
�44
d) sem limitações geográficas.
e) integração, difusão e democratização do conhecimento.
3.17 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – FONTES DE INFORMAÇÃO
Questão 1 - O resultado do trabalho intelectual de estudiosos e pesquisadores é comunicado,
geralmente, através de algum tipo de publicação. O conjunto desses registros vai formar:
(A) o guia de literatura
(B) a publicação técnica
(C) a literatura científica
(D) o índice de citação
Questão 2 - As cópias dos trabalhos aceitos pela comissão organizadora dos encontros científicos,
distribuídas antes do evento às pessoas inscritas, são chamadas:
(A) proceedings
(B) preprints
(C) anais
(D) resoluções
Questão 3 - O escritório brasileiro encarregado do controle e da concessão de patentes e registro de
marcas é a seguinte autarquia com sede no Rio de Janeiro:
(A) INSS
(B) INPI
(C) OMPI
(D) INEP
Questão 4 - As enciclopédias e os dicionários são obras de referência, por isso não figuram como fontes
de informação. ( ) certo ( ) errado
Questão 5 - Embora consolidado como fonte de informação científica e universalmente aceito, há
crescentes problemas com os periódicos científicos tradicionais. São fatores que costumam ser apontados
como causas desses problemas, EXCETO:
A) Custo de atualização de coleções.
B) Dispersão de artigos sobre determinado tema em vários periódicos.
C) Demora na publicação dos artigos.
D) Proliferação exagerada dos periódicos.
Questão 6 - O uso efetivo e regular de fontes impressas ou online de qualidade é um requisito que pode
levar ao sucesso na satisfação das necessidades de informação dos usuários. Considerando essa
afirmação, marque com a letra F as alternativas falsas e com a letra V as alternativas verdadeiras:
( ) O número de fontes de informação científica e tecnológica vem aumentando significativamente. Esse
fenômeno é atribuído às mitoses nos ramos da ciência, provocando o surgimento de novas disciplinas
científicas, bem como o aumento do número de usuários e a diversificação de seus interesses.
( ) Considerando o advento da internet, a literatura técnico-científica, antes denominada de “Literatura
Cinzenta”, deixou de existir.
( ) O serviço de comutação bibliográfica (Comut) foi extinto, pois as fontes de informação online são
livremente acessíveis.
( ) A Federação Internacional de Informação e Documentação (FID) é um dos organismos internacionais
de normalização da documentação científica.
( ) Diferentemente da literatura científica, a literatura tecnológica nem sempre é divulgada amplamente.
A) V, V, F, V, F B) V, V, V, F, V C) V, F, F, V, V D) F, V, V, V, F E) F, F, V, F, V
Questão sete - As fontes de informação não convencionais, utilizadas para a realização de pesquisas
especializadas, são conhecidas como literatura branca. ( ) Certo ( ) Errado
Questão 8 - Com relação às fontes de informação, periódicos de indexação, fontes históricas, patentes e
metabuscadores, são respectivamente exemplos de fonte:
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(A) primária, secundária, terciária e quaternária.
(B) secundária, primária, terciária e eletrônica.
(C) primária, terciária, secundária e eletrônica.
(D) terciária, secundária, primária e eletrônica.
(E) secundária, terciária, primária e eletrônica.
Questão 9 - A fonte para identificação de trabalhos de interesse do pesquisador que propicia o acesso ao
conhecimento em uma única fonte, fato ocorrido ou em curso periodicamente no campo estudado e
podendo substituir a consulta a uma série de outros trabalhos, é:
a) a revisão de literatura.
b) o relatório técnico.
c) o guia de literatura.
d) a literatura cinzenta.
Questão dez - Fontes de informação são geralmente classificadas como fontes primárias, secundárias e
terciárias, dependendo da sua originalidade e sua proximidade com a fonte de origem. Associe a primeira
coluna com a segunda coluna:
1. Primária
2. Secundária
3. Terciária
( ) Interpretações e avaliações de fontes primárias.
( ) São aqueles que se apresentam e são disseminados exatamente na forma com que são produzidos por
seus autores.
( ) Os documentos incluídos nessa categoria variam muito, entre os quais bibliografias de bibliografias,
diretórios e almanaques.
( ) Patentes, Periódicos.
a) 1 - 2 - 3 - 2
b) 2 - 3 - 1 - 2
c) 3 - 2 - 2 – 3
d) 2 - 1 - 3 – 1
e) 1 - 3 - 1 - 2
REFERÊNCIAS
CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; KREMER, J. M. (Org.). Fontes de informação para pesquisadores e
profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
CUNHA, M. B. Das bibliotecas convencionais às digitais: diferença e convergências. Perspectiva em
Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, jan./abr. 2008.
MARCONDES, C. H. et al. (Org.). Bibliotecas digitais: saberes e práticas. 2 ed. Salvador: UFBA, 2006.
TAMMARO, A. M.; SALARELLI, A. A biblioteca digital. Brasília: Briquet de Lemos, 2008.
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AULA IV – O periódico científico, Open
Archives e Recursos Informacionais
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
Bibliotecária colaboradora: Flávia Ferreira Abreu
Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010), especialização
em Gestão Estratégica da Informação pela Federal de Minas Gerais (2012). Atualmente, é mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação/UFMG. Tem experiência na área de Ciência da
Informação, com ênfase em Gestão da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: leituras
compartilhadas; bibliotecas itinerantes, mediação de leituras e em gestão de sistema da informação.
CONTEÚDOS DA AULA
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4 O PERIÓDICO CIENTÍFICO
4.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
O periódico científico está inserido no universo da comunicação científica, a qual é analisada por
diversas áreas do conhecimento, mas para a Ciência da Informação o enfoque está direcionado para a
produção e uso, os quais se manifestam como os enfoques mais estudados (MUELLER; PASSOS, 2000).
O novo conhecimento deve ser submetido ao exame de outros cientistas (pares) que irão avaliar
sua qualidade e validade. Para que o conhecimento seja reconhecido como científico deve, também, ser
publicado, sendo o periódico o veículo mais utilizado para tal finalidade, embora ocorram variações de
uma área do conhecimento para outra (MUELLER; PASSOS, 2000).
O periódico científico é o veículo formal da ciência “autorizada”. É a fonte por excelência a ser
consultada e citada nos trabalhos científicos. Percebe-se, a importância do papel que os periódicos bemconceituados desempenham: NA FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA E NA CARREIRA DOS CIENTISTAS (MUELLER;
PASSOS, 2000).
O periódico científico é considerado o veículo de maior visibilidade para resultados de pesquisa, o
qual tem sido considerado, para as CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS, assim como para parte significativa das
CIÊNCIAS HUMANAS e sociais e para parcela menor das ARTES E HUMANIDADES, o veículo mais
importante de comunicação da pesquisa. Representa, assim, um dos veículos que compõem o produto
final, formal, consolidado da disseminação de resultados de pesquisas realizadas por estudiosos de todo o
mundo (MUELLER; PASSOS, 2000).
Trata-se de um tipo de comunicação formal que perpassa por um longo e complexo fluxo. Como
exemplo desse processo, tem-se o Modelo de Garvey e Griffith desenvolvido a partir de estudos na área
da Psicologia sobre o fluxo da comunicação científica, o qual engloba desde o início do percurso de um
trabalho científico até o final do processo da comunicação científica (MUELLER; PASSOS, 2000).
O modelo proposto por Garvey e Griffith mostra de maneira esquematizada o processo da
disseminação cientifica, desde as fases iniciais da elaboração de um projeto de pesquisa até a aceitação
final de seus resultados, já como conhecimento científico certificado. [...] O modelo de Garvey e Griffith
mostra claramente a existência de dois tipos de comunicação: formal e informal (MUELLER; PASSOS,
2000).
Com o desenvolvimento tecnológico, principalmente com o início do acesso a computadores
pessoais e a utilização do correio eletrônico pelos pesquisadores, tornaram-se questionáveis os limites da
categorização de comunicação formal e informal (MUELLER; PASSOS, 2000).
�48
O formato tradicional do periódico científico, impresso em papel já começa a ser alvo de
tentativas de inovação e mudanças, não apenas de canal, mas de concepção, pois compreendem que
volumes e fascículos poderiam ser abolidos para que se usufruísse da rapidez e da capacidade de
interação dos meios eletrônicos (MUELLER; PASSOS, 2000).
Considerando a globalização da ciência, verificam-se limitações para sua universalidade. Isto,
oriundo das desigualdades econômicas e sociais presentes nos mais diferentes países. Como
consequência, a produção e utilização do conhecimento científico se restringem aos países do chamado
Primeiro Mundo. E as diferenças no acesso e uso dos periódicos também se manifestam entre ricos e
pobres. A periferia adota as preferências e os valores de centro, avaliando seu próprio desempenho com
os critérios desenvolvidos e aplicados na metrópole (MUELLER; PASSOS, 2000).
Mesmo com os impactos das tecnologias nos periódicos, o periódico persiste como instrumento
de atualização indispensável em qualquer profissão e provoca impactos significativos no fluxo da
informação científica e tecnológica, quer em sua versão impressa, quer em seu formato eletrônico
(MUELLER; PASSOS, 2000).
4.2 OPEN ARCHIVES
A comunicação científica é parte essencial dos estudos da ciência da informação, a qual constitui
uma disciplina cujas preocupações centrais estão focadas em questões relacionadas, direta ou
indiretamente, com o compartilhamento do conhecimento na sociedade (BAPTISTA et al., 2007).
Pesquisas, em todo o mundo, são primordialmente realizadas por pesquisadores em
universidades. Como consequência, mudanças no ambiente acadêmico das universidades tendem a ter
reflexo tanto na atividade da pesquisa propriamente dita quanto na sua disseminação (BAPTISTA et al.,
2007).
A ideia do acesso livre se deve, principalmente, a dois fatores: 1 - de uma reação dos
pesquisadores ao modelo de negócios de editoras comerciais de revistas científicas (e seus preços cada
vez mais altos - preços de assinatura); 2 - crescente conscientização do aumento de impacto provocado
pela disponibilização de documentos científicos livres de barreiras ao acesso (BAPTISTA et al., 2007).
O Open Archives é um movimento mundial em favor da disseminação ampla e irrestrita dos
resultados de pesquisas financiadas com recursos públicos. Os benefícios dessa filosofia são, entre outros,
a maior visibilidade das pesquisas e sua utilização pelo maior número possível de interessados, o que
promove, em última instância, o desenvolvimento da ciência (BAPTISTA et al., 2007).
Importante frisar que os impactos promovidos pelo modelo de acesso ao periódico científico ao
longo dos três últimos séculos devem-se ao modelo de negócios, o qual NÃO ATENDE AS ideais de
disseminação da pesquisa, como também referem-se aos PREÇOS DAS ASSINATURAS cobrados por
editores comerciais (BAPTISTA et al., 2007).
Com o modelo comercial vigente até o final do século XX desencadeou-se: pouca visibilidade das
pesquisas, no que tange às necessidades tanto de acesso quanto de disseminação, particularmente por
parte da comunidade dos países considerados periféricos (BAPTISTA et al., 2007).
Trajetória histórica do Open Archives: 1999 – Convenção de Santa Fé (Califórnia); Criação da OAI Protocolo OAI-PMH; 2001 – Reunião de Budapeste, organizada pela OSI; Documento: Budapest Open
Access Initiative (BOAI) (BAPTISTA et al., 2007).
Estratégias advindas do BOAI: via verde, por meio do depósito em repositórios
(autoarquivamento) e a via dourada, por meio da publicação em periódicos de acesso livre ao
conhecimento (BAPTISTA et al., 2007).
Em fevereiro de 2007 existiam mais de 2500 revistas de acesso livre e mais de 700 repositórios
institucionais em universidades e centros de investigação de todo o mundo. Acredita-se que a via verde é
a estratégia que pode conduzir de forma mais rápida à concretização do objetivo (utópico para alguns) de
ter 100% da literatura científica em acesso livre (BAPTISTA et al., 2007).
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4.3 OS REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS
Os materiais depositados nos repositórios são:
1 - artigos publicados em revistas científicas;
2 - teses e dissertações;
3 - relatórios técnicos de projetos;
4 - outros materiais resultantes da produção intelectual de uma instituição (SENA, 2000).
No que tange às políticas institucionais, elas podem ser de natureza voluntária, de natureza
compulsória e de natureza mista (política Patchwork Mandate). O depósito compulsório, portanto, visa a
solucionar a questão dos reduzidos índices de autoarquivamento. Muitos defendem e aderem à proposta
do depósito departamental em deprimento ao institucional (SENA, 2000).
O Repositório digital ArXiv deposita artigos e relatórios não publicados; é denominado de
repositório de e-prints ou e-prints archives; possui a presença de um moderador; representa um espaço
para comentários dos usuários; e, por fim, assemelha-se a colégios invisíveis (SENA, 2000).
O arquivo de e-prints precisa conter os elementos:
1 - mecanismo de submissão;
2 - sistema de armazenamento a longo prazo;
3 - uma política de gestão para a submissão e preservação de documentos;
4 - uma interface aberta que permita a terceiros coletar os metadados dos respectivos arquivos
(SENA, 2000).
Existem várias ferramentas de suporte ao Acesso Livre que implementam o protocolo OAI-PMH.
Grande parte destas ferramentas é de código aberto (ou Open Source, no original), o que significa não só
que são gratuitas, como que podem ser alteradas. O Open Journal Systems (OJS) constitui um sistema de
gestão de revistas: 900 revistas mundiais, sendo 140 brasileiras; e o Sistemas Eprints, DSpace e Fedora
representam tipos de repositórios (institucionais, temáticos, disciplinares ou outros) (SENA, 2000).
Existem várias ferramentas de suporte ao Acesso Livre que implementam o protocolo OAI-PMH.
Grande parte destas ferramentas é de código aberto (ou Open Source, no original), o que significa não só
que são gratuitas, como que podem ser alteradas (SENA, 2000).
A comunicação científica ampliou seus horizontes de troca de dados, informações e
conhecimentos com o aparecimento dos open archives, arquivos que congregam e-prints das diversas
áreas do saber e que são abertos à consulta pública, bem como à publicação automatizada dos trabalhos
por parte dos pesquisadores (SENA, 2000).
A experiência americana em áreas da física, matemática e ciência da computação, entre outras,
demonstra a viabilidade e utilidade dos arquivos abertos como ponto de convergência para comunidades
de pesquisadores que se veem sem fronteiras geográficas ou institucionais para o intercâmbio de seus
resultados de pesquisas (SENA, 2000).
Nos Estados Unidos e em alguns países europeus, existe um número crescente dessas coleções de
e-prints (preprints e reprints). Os pares tornam-se seus próprios editores. A publicação desses
artigos/trabalhos é de inteira responsabilidade do autor/pesquisador, que o faz de forma automatizada
(SENA, 2000).
As publicações dos repositórios e-prints podem ser vistas como publicação acadêmica nãocomercial, viabilizando-se a vontade do autor de que haja a máxima distribuição possível do seu trabalho,
sem qualquer cobrança de royalties ou pay-per-view, resguardado, porém, o uso justo (fair use) da obra,
permitindo ao autor publicar onde quiser o seu trabalho (SENA, 2000).
Parte do futuro dos open archives depende dos avanços das tecnologias de informação e
comunicação, especialmente da indústria de software, que hoje busca implementações que tentam aliar
performance e interoperabilidade em diferentes ambientes. (SENA, 2000).
4.4 RECURSOS INFORMACIONAIS: REPOSITÓRIOS DIGITAIS
�50
Na segunda metade do século XX, há um deslocamento do regime de acumulação baseado na
grande indústria, para as atividades imateriais, deslocamento este, imposto pela globalização do mercado
com relação à produção intelectual e alterando, também, as relações sociais (SAYÃO et al., 2009).
Os repositórios institucionais manifestam-se como peças fundamentais de um futuro sistema
brasileiro de livre acesso à produção científica do país. Constituem bibliotecas digitais destinadas a
guardar, preservar e garantir livre acesso, via internet, à produção científica no âmbito de uma dada
instituição (SAYÃO et al., 2009).
São elementos de uma rede ou infraestrutura informacional de um país ou de um domínio
institucional destinados a garantir a guarda, preservação a longo prazo e, fundamentalmente, o livre
acesso à produção científica. Eles são uma retomada dos ideais iluministas quanto aos resultados da
atividade científica, na forma das diferentes publicações (SAYÃO et al., 2009).
Os Repositórios Institucionais (RI) constituem, hoje, uma das principais iniciativas para a
implantação do acesso livre no mundo. Os benefícios que essa iniciativa traz para os pesquisadores, as
instituições de ensino e pesquisa, assim como para os países são expressivos (SAYÃO et al., 2009).
O lançamento do Manifesto brasileiro de apoio ao acesso livre à informação científica em 2005 é o
primeiro desdobramento político no Brasil de um movimento internacional amplo de apoio ao livre
acesso à informação científica. O primeiro repositório digital de preprints surge em 1991, no laboratório
de física de Los Alamos. O primeiro periódico totalmente eletrônico, The Online Journal of Clinical Trials,
surge em 1992 (SAYÃO et al., 2009).
Os repositórios se proliferavam por diversos países e cobriam as diferentes áreas de
conhecimento. No bojo dessa iniciativa, foi criado o padrão de metadados Dublin Core e o Open Archives
Initiative Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH), para propiciar a coleta automática e o reuso de
metadados de repositórios abertos (open archives) (SAYÃO et al., 2009).
Repositório institucional é uma base de dados na web na qual uma instituição de pesquisa
deposita sistematicamente sua produção acadêmica e a disponibiliza de forma ampla para as
comunidades interessadas (SAYÃO et al., 2009).
Os serviços oferecidos no repositório envolvem a captura, armazenamento, tratamento técnico,
organização, preservação e entrega de conteúdos digitais de toda a natureza – texto, imagens, vídeo,
áudio, apresentações, programas de computador, datasets etc. (SAYÃO et al., 2009).
Existe uma grande variedade de programas, como os gerenciadores de bases de dados
bibliográficos – por exemplo, o Micro-ISIS –, e ainda os softwares gerenciadores de banco de dados mais
genéricos, como o MS Access (SAYÃO et al., 2009).
As fases de criação dos repositórios são:
1 - a necessidade de se criar um repositório institucional;
2 – fixação das políticas de gestão e de uso do repositório;
3 – estabelecimento do elenco de serviços que serão oferecidos a uma comunidade definida de
usuários;
4 – Escolha dos softwares (SAYÃO et al., 2009).
Assim, devem-se considerar, na escolha dos softwares, os seguintes requisitos:
1 – Escalabilidade: crescimento do sistema;
2 – Extensibilidade: agregar novas ferramentas;
3 - Facilidade de implantação;
4 - Plataforma computacional;
5 - Implantações de sucesso;
6 - Suporte do sistema;
7 - Base de conhecimento das comunidades envolvidas;
8 - Perspectivas para o futuro;
9 – Limites do sistema;
9 - Documentação disponível/cursos/publicações (SAYÃO et al., 2009).
�51
Os modelos de licença e distribuição são: Software proprietários: - o cliente paga por uma licença
de uso do software; - Software de código aberto – tipicamente o cliente baixa gratuitamente o software
da internet e o instala por conta própria ou assistido por consultoria contratada (SAYÃO et al., 2009).
Para estabelecer a infraestrutura técnica, gerencial e metodológica, consideram-se como
elementos principais: o hardware, software, expertise técnica gerencial e metodológica e a
sustentabilidade (SAYÃO et al., 2009).
Por sua vez, para avaliação do software, considera-se como parâmetro de escolha: interface
default: prontas para uso; padrões de interface: padrões (abertos) apropriados; customização; lay-out,
cores, logomarcas etc.; ergonomia e usabilidade; acessibilidade; e multilíngue (SAYÃO et al., 2009).
Para organização da informação, são tidos como principais processos: a indexação: o software
pode ser configurado para apresentar texto completo, criar índices, vocabulários controlados etc.; a
recuperação da informação; e a interatividade entre usuários (SAYÃO et al., 2009).
No que tange aos softwares livres para instalação dos repositórios, tem-se o Dspace, definido
como um sistema de repositório digital inovador que captura, armazena, indexa, preserva e redistribui
materiais de pesquisa em formato digital produzidos por comunidades acadêmicas dentro do contexto de
organizações de pesquisa e de universidades (SAYÃO et al., 2009).
As funções dos repositórios institucionais são: 1 - criação de comunidades e de coleções; 2 cadastro de usuários; 3 - gerenciamento de políticas de conteúdos; 4 - autoarquivamento de documentos.
Atualmente, pode-se considerar que o repositório digital surgiu com propósitos de preservação da
memória e visibilidade institucional, porém, esses ambientes não precisam ser obrigatoriamente
científicos (SAYÃO et al., 2009).
As instituições de memória sempre tiveram a preocupação com a seleção dos objetos de suas
coleções, ainda que essa seleção fosse de natureza política, como as escolhas o são. O interesse das
bibliotecas, dos arquivos, dos museus foi e é o de criar coleções que possam simbolizar o conhecimento
acumulado, talvez visando a um coletivo que transcenda à singularidade da produção intelectual (SAYÃO
et al., 2009).
A Biblioteca Digital Mundial (BDM) é uma coleção de bens culturais mundiais que poderia contar
histórias e iluminar os acontecimentos de países e culturas, promovendo a troca e o entendimento
multicultural (SAYÃO et al., 2009).
Existe como estratégia de repositório para garantia da memória histórica da humanidade o
PROJETO DE NATUREZA EDUCATIVA, PATRIMONIAL E FILANTRÓPICA DA UNESCO, 2005, cujo objetivo da
criação desse projeto é instituir uma biblioteca universal, com o intuito de reduzir limites entre
hemisfério norte e sul (SAYÃO et al., 2009).
Para os documentos a serem incorporados no repositório, considera-se que o ciclo documentário
que permeia o processo de tratamento deva contemplar as fases demonstradas na figura abaixo:
�52
4.5 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1 – Com relação à relevância dos canais informais de comunicação usados nos dias atuais, à
evolução do processo de comunicação científica em biblioteconomia e aos conceitos fundamentais dessa
área, é correto afirmar que:
a) os altos custos para publicação impressa e divulgação de trabalhos de caráter técnico-científico
estimulam o desenvolvimento da comunicação científica.
b) a comunicação científica consiste da troca de informações entre membros da comunidade científica
acerca de atividades associadas somente à análise, organização e aplicação da informação, desde o
momento em que o cientista decide o que pesquisar até que os resultados de sua pesquisa sejam aceitos
como constituintes do conhecimento científico.
c) o pesquisador, para garantir qualidade, confiabilidade e credibilidade à sua produção científica, deve
acompanhar, sistematicamente, a literatura publicada de suas áreas de interesse e, mediante a
publicação de suas ideias e resultados, buscar a avaliação de outros pesquisadores, mantendo constante
comunicação com seus pares.
d) o padrão de exercício técnico-profissional em comunicação técnico-científica, ao longo dos tempos,
tem variado de acordo com as características específicas de cada época.
e) a comunicação científica é prejudicial à organização do conhecimento científico que vise refutar os
resultados de pesquisas anteriores ou estimular novas perspectivas em diversas áreas.
Questão 2 – Sobre os Repositórios Institucionais, é CORRETO afirmar que:
a)Toda biblioteca digital pode ser considerada um tipo de repositório institucional. Entretanto, nem todo
repositório institucional de acesso aberto pode ser considerado uma biblioteca digital.
b)A avaliação por pares é uma das características dos repositórios institucionais, como também de outros
veículos de publicação científica. Portanto, a seleção do material que fará parte do RI deverá passar pela
avaliação dos pares.
c)Por lidar com a produção científica e acadêmica, os repositórios institucionais equivalem-se aos
sistemas de gerenciamento de bibliotecas, pois, servem para a manutenção, desenvolvimento e controle
do acervo como um todo.
d)Lidam com a produção científica de uma determinada instituição, contemplando a reunião,
armazenamento, organização, preservação, recuperação e, sobretudo, a ampla disseminação da
informação científica produzida.
e) Repositórios institucionais são semelhantes aos periódicos científicos, pois, têm a função de registrar,
certificar, arquivar e disseminar a produção intelectual da instituição.
Questão 3 – Um Repositório Institucional (RI) de acesso aberto constitui um serviço de informação
científica - em ambiente digital e interoperável — dedicado ao gerenciamento da produção intelectual de
uma instituição. Sobre Repositórios é correto afirmar:
a) O acesso aberto significa que os textos completos podem ser acessados através da Internet, para
leitura, download, cópia, distribuição, impressão, busca ou criação de links.
�53
b) Não existe nenhum controle sobre os direitos autorais, a partir do momento que o texto é publicado
no RI cessam os direitos autorais.
c) O maior benefício dos RI's é o fato de serem gratuitos.
d) Apesar de serem de livre acesso, os RI's não têm uma política de manter permanentemente seus
conteúdos.
Questão 4 – Publicação periódica é destinada a promover o progresso da ciência, geralmente noticiando
novas pesquisas. A maioria é altamente especializada, trata-se de:
a) Periódico científico;
b) Revista;
c) Trabalho de Conclusão de Curso;
d) Livro didático;
e) Artigo científico.
REFERÊNCIAS
MUELLER, S. P. M.; PASSOS, E. J. L. (Org.). Comunicação científica. Brasília: Departamento Ciência da
Informação, 2000.
BAPTISTA, A. A. et al. Comunicação científica: o papel do Open Archives Iniciative no contexto do acesso
livre. Encontros Bibli, n. esp., 2007.
SENA, N. K. Open archives: caminho alternativo para a comunicação científica, Ciência da Informação, v.
29, n. 3, dez. 2000.
SAYÃO, L. et al. (Org.). Implantação e gestão de repositórios institucionais: políticas, memória, livre
acesso e preservação. Salvador: EDUFBA, 2009.
�54
MÓDULO III
ORGANIZAÇÃO E TRATAMENTO DA
INFORMAÇÃO EM SUPORTES
VARIADOS
AULA V: Software para gerenciamento de bibliotecas Sistema Pergamun
AULA VI: Representação Temática - Sistemas de Classificação
CDD e CDU
AULA VII: Representação Temática da Informação - Indexação
AULA VIII: Representação Descritiva - Catalogação
�55
AULA V: Software para gerenciamento de
bibliotecas – Sistema Pergamun
Docente responsável: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Bibliotecária da Escola Ciência da Informação da UFMG. Presidente da ABMG, gestão 2018/2021.
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento. Tem
experiência na área de Biblioteca Universitária e Educação a Distância, tendo ocupado cargo de gestão do
Sistema de Bibliotecas da UFMG, por duas vezes.
CONTEÚDOS DA AULA
�56
5 SOFTWARE PARA GERENCIAMENTO DE BIBLIOTECAS: SISTEMA PERGAMUM
5.1 QUESTÕES CONTEXTUAIS
A revolução tecnológica que vem acontecendo é evidente, ao considerar o desenvolvimento da
informática, comunicações e telecomunicações (TICs). Essas tecnologias provocam mudanças
significativas em todas as áreas do conhecimento, não sendo diferente na área da informação.
Assim, nas bibliotecas, houve a necessidade de reestruturação de serviços e produtos, em
conjunto com a redefinição da forma de atuar das bibliotecas, considerando o contexto social, com base
no perfil diferenciado e exigências dos usuários. O esquema a seguir demonstra essa relação:
Evidencia-se que, com o surgimento do microcomputador e internet, houve maior visibilidade
para os serviços e produtos oferecidos aos usuários, com seus acervos disponíveis em catálogos on-line
(Online Public Access Catalogue – OPAC), reservas, renovações, levantamentos bibliográficos etc.,
inicialmente em rede de intranet e, mais tarde, em redes nacionais e internacionais, com as bibliotecas
virtuais e digitais.
As bibliotecas há muito reconheceram a impossibilidade de isoladamente possuírem todos os
recursos necessários para atender as necessidades de seus usuários. Nesse sentido, participar em redes
cooperativas passa a ser praticamente obrigatório, pois traz inúmeras vantagens, tanto para o
profissional bibliotecário, quanto para os usuários.
5.2 PERGAMUM: GÊNESE E DESENVOLVIMENTO
A Pontifícia Universidade Católica do Paraná foi pioneira no Estado do Paraná na informatização
de sua biblioteca, tornando-se referência nacional.
O Sistema Pergamum nasceu em 1988 de um trabalho final de graduação do Curso de Ciência da
Computação do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da PUC-PR, desenvolvido por alunos, com
colaboração de bibliotecários da instituição.
Inicialmente desenvolvido em MUMPS (linguagem de computação de alto nível, interpretada,
voltada para sistemas interativos), se mostrou viável chamando a atenção de outras instituições que ao
conhecê-lo manifestaram interesse em adquiri-lo.
O estudo para informatizar a biblioteca da PUCPR evidenciou que os softwares à disposição no
mercado eram estrangeiros e com custo de aquisição e manutenção muito alto, não existindo um
software no mercado nacional que atendesse nossas necessidades. Diante desta realidade, optou-se por
desenvolver um software compatível com a realidade brasileira.
Analisando a história de desenvolvimento desse software de gerenciamento de bibliotecas,
observam-se os seguintes acontecimentos: 1 – em 1988 foi implantando na BC; 2 - o processo de
informatização com cadastro do acervo; 3 - implantado o módulo de empréstimo; 4 - utilizava código de
barras para controle de empréstimo/devolução; 5 - adotava também o leitor ótico, além da emissão de
fichas catalográficas e etiquetas de lombada.
Em 1996, iniciou-se a comercialização e passou a se chamar Sistema Pergamum, como referência à
cidade de Pérgamo na Ásia Menor, que possuía uma grande e importante biblioteca na Antiguidade.
�57
Em junho de 1997, firmou parceria de cooperação técnica e científica com a PUC-Rio para
modificações da estrutura interna do software, passando a adotar o formato MARC (Machine Readable
Cataloging) desenvolvido pela Library of Congress.
Em novembro de 1998 foi implantado o módulo de aquisição e o sistema passou para o formato
MARC21. Em 1999 passou a usar os recursos da web disponibilizando o catálogo on-line e outras
facilidades como reservas e renovações pela internet. Em meados de 2004 termina a parceira para
desenvolvimento do software com a PUC-Rio, que permanece como usuária do software e membro da
Rede.
5.3 COMPOSIÇÃO/ESTRUTURA DO PERGAMUM
O estudo para informatizar a biblioteca da PUCPR evidenciou que os softwares à disposição no
mercado eram estrangeiros e com custo de aquisição e manutenção muito alto, não existindo um
software no mercado nacional que atendesse nossas necessidades. Diante desta realidade, optou-se por
desenvolver um software compatível com a realidade brasileira.
O Pergamum - Sistema Integrado de Bibliotecas - está entre os principais softwares pagos
disponíveis no mercado brasileiro. A Associação Paranaense de Cultura, mantenedora da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, é detentora dos direitos autorais e produtora deste software. Foi
desenvolvido com o objetivo de gerenciar todos os serviços de uma biblioteca de pequeno, médio ou
grande porte e implementado na arquitetura cliente/servidor, com interface gráfica, utilizando banco de
dados relacional SQL.
O sistema está dividido em nove grandes módulos, considerando os serviços realizados. Os
módulos são os seguintes: Módulo parâmetros; Aquisição; Catalogação; Circulação; Relatórios e
estatísticas; Consulta ao catálogo; Internet; Usuários; Diversos.
O sistema presta serviços de manutenção e suporte técnico a distância e in loco, treinamentos,
cursos de AACR2, MARC21 bibliográfico e autoridades. Os clientes comportam-se como parceiros da
equipe Pergamum. O sistema oferece atualizações das versões do software sem custo adicional aos seus
clientes. Por fim, permite aos usuários com deficiências visuais ter acesso aos serviços remotamente.
5.4 FORMAÇÃO DA REDE PERGAMUM: A CATALOGAÇÃO COOPERATIVA EM EVIDÊNCIA
A Rede Pergamum é formada por todos os clientes do software Pergamum, e tem por objetivo
principal promover a cooperação e intercâmbio de serviços entre as bibliotecas usuárias do sistema. Os
clientes atuam como parceiros integrantes da equipe, mantendo intercâmbio de conhecimento entre as
instituições e seus profissionais para atualização e melhoria contínua do software.
A rede Pergamum oferece encontros anuais entre as bibliotecas conveniadas, no intuito de trocar
experiências e propor melhorias ao sistema. Os encontros são realizados, um ano em uma instituição
conveniada e no ano seguinte no contexto do Seminário de Bibliotecas Universitárias.
O sistema está dividido em comissões, que são:
1 - Comissão Diretora
2 - Comissão Técnica de Catalogação
3 - Subcomissão Técnica de Catalogação de Periódicos
4 - Comissão Técnica de Estudos do Padrão MARC
5 - Comissão Técnica de Autoridades;
6 - Comissão Técnica de Informática.
Compreendem produtos e serviços da Rede Pergamum, dentre outros, a saber:
* Indexação Compartilhada de Artigos de Periódicos – ICAP: objetivo de indexar de forma
compartilhada os artigos dos periódicos editados pelas instituições da Rede;
* permuta de periódicos;
* empréstimo entre bibliotecas;
�58
*catálogo de autoridades padrão MARC21 disponível na web;
*catálogo coletivo de acervo das bibliotecas da Rede disponível na web.
Importante salientar que o princípio que desencadeou a formação da rede foi a necessidade
urgente em diminuir os estoques de materiais nas bibliotecas aguardando tratamento técnico. Esse
princípio sustenta-se na chamada catalogação cooperativa.
Desse modo, a catalogação cooperativa se manifesta por meio da disponibilização dos registros
das instituições participantes em sua própria base, a qual está integrada às bases de outras instituições,
permitindo, dessa forma, o compartilhamento dos registros. Essa ação compartilhada visa a elaborar o
acervo coletivo da rede, e que os registros podem ser copiados/importados por outra instituição para sua
base bibliográfica.
A ideia de compartilhar serviços foi lançada por Charles C. Jewett (1816-1868). Ele foi o pioneiro
da catalogação cooperativa. A formação de catálogos coletivos regionais ou nacionais é a base para o
Controle Bibliográfico Nacional (CBU).
A Rede Pergamum foi criada em 04 de outubro de 1999, no I Encontro dos Usuários do Sistema
Pergamum, realizado em Curitiba, na PUC-PR. Recebeu o nome de Rede Compartilhada do Sistema
Pergamum.
A rede é composta por duzentas e dezesseis instituições, com aproximadamente mil e cem
bibliotecas, um milhão e meio de usuários atendidos diretamente, que totalizam sete milhões de títulos
na rede e com aproximadamente trezentos e cinquenta profissionais bibliotecários (dados de junho de
2008).
5.6 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - Segundo Anzolin (2009), a utilização das tecnologias digitais viabilizou o aparecimento dos
softwares de gerenciamento de bibliotecas ou sistemas informatizados de bibliotecas, os quais
promoveram:
a) A padronização, aumento da eficiência, interligação por redes e melhores serviços;
b) A integração dos profissionais em vários locais e o compartilhamento de recursos;
c) a melhoria do atendimento aos usuários, sobretudo quanto à cópia de documentos digitalizados;
d) A realização das atividades bibliotecárias, as quais passam a ser desempenhadas pelos sistemas
automatizados;
e) Facilitação no tratamento e no acesso à informação documentária
Questão 2 - Anzolin (2009), ao contextualizar os impactos das tecnologias, dialoga com Rowley (2002),
descrevendo que as funções das instituições responsáveis pelo fornecimento de informações vêm sendo
reavaliadas e reformuladas. Reforçam que ainda está em seu começo a era em que a tecnologia da
informação coloca desafios á nossa maneira de viver, às atividades que desempenhamos, ao processo de
criação de conhecimento e à forma como esses conhecimento são avaliados para domínio do público. A
que tipo de instituições as autoras fazem referência?
a) Centros de informação, em geral; b) instituições públicas e privadas; c) às bibliotecas; d) às
universidades; e) às instituições de informação pública
Questão 3 – No mundo moderno, as bibliotecas, a partir do uso da Internet “também mudaram suas
formas de atuação, possibilitando maior visibilidade para os serviços e produtos oferecidos aos usuários,
com seus acervos disponíveis em catálogos on-line” (ANZOLIN, 2009, p. 494). O texto se refere a que tipo
de catálogo?
a) OPAC b) RDF c) catálogo topográfico d) catálogo informatizado e) catálogo em registro Marc.
Questão 4 - Sobre o Sistema Pergamum, julgue as alternativas:
�59
1 – É um sistema integrado e permite o compartilhamento de recursos, integrando diversas bases de
dados, sobretudo de instituições que aderiram ao Open Archives;
2 – Representa um principais softwares pagos disponíveis no mercado brasileiro;
3 - Foi desenvolvido com o objetivo de gerenciar todos os serviços de uma biblioteca de pequeno, médio
ou grande porte e implementado na arquitetura cliente/servidor, com interface gráfica, utilizando banco
de dados relacional SQL;
4 – Teve sua gênese a partir de um Monografia de Graduação da área de Engenharia;
5 – Sua estrutura está dividida em dez módulos, cada uma com funções específicos no contexto da
unidade de informação.
Estão corretos os itens:
a) 1, 2, 3 e 5 b) 2,4 e 5 c) 2, 3, 4 e 5 d) todos os itens e) 2, 3 e 4.
Questão 5 – Dadas as afirmações abaixo:
1 - A flexibilidade do Sistema Pergamum pode ser percebida ao atender bibliotecas escolares, públicas,
universitárias, especializadas, unidades de informação da área privada e pública, como bancos, ONGs,
ministérios, tribunais etc.
2 - A Rede Pergamum cresce à medida que aumentam os clientes. O crescimento de clientes, bem como a
diversidade de tipos de bibliotecas e unidades de informação, tem demonstrado a flexibilidade e
efemeridade do software.
a) As duas estão corretas, pois demonstram o crescimento e a consolidação do Pergamum no Brasil;
b) As duas estão incorretas pois mesmo contemplando as diversas funções de uma biblioteca, o
sistema ainda perpassa por alguns desafios;
c) A primeira está correta e a segunda incorreta, visto que a aceitação e uso com intensidade do
sistema vilusbram a sua continuidade;
d) A segunda está correta e a primeira incorreta, pois, mesmo sendo dirigido a diversas unidades de
informação, o Pergamum é direcionado, especificamente, para serviços bibliotecários.
5.7 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - Quanto à estruturação dos módulos do Pergamum, associe a primeira de acordo com a
segunda:
A – Módulo Parâmetros
B – Módulo Relatórios
C – Módulo Circulação
( ) possibilita que cada biblioteca utilize o sistema de forma personalizada
( ) cadastro de usuários, controle de visitantes, acompanhamento do processo de reserva, empréstimo e
renovação, consulta ao histórico de empréstimos, devoluções e multas
( ) levantamento do acervo por área de conhecimento, por bibliotecas e por disciplina, relatórios por
atividade, por grupo de atividades e por executante, boletim bibliográfico, estatísticas do acervo na
apresentação exigida pelo MEC
A sequência correta é: a) A, B e C b) A, C e B c) C, A e B d) B, C e A
e) C, B e A.
Questão 2 - O conjunto de unidades de informação, que agrupam pessoas e/ou organismos com as
mesmas finalidades, em que a troca de informações é realizada de maneira organizada e regular, por
meio de padronização e compartilhamento de tarefas e recursos, denomina-se:
(A) serviços de informação.
(B) sistemas de informação.
(C) redes de informação.
�60
(D) centros de informação.
(E) setores de informação.
Questão 3 - Com o objetivo de identificar, reunir e divulgar os trabalhos dos membros do Ministério
Público Federal, foi criado o campo 596 – Bibliografia, para que todos os integrantes da rede BMPF, ao
criarem um acervo, identifiquem se a obra em questão é de um membro do MPF. Esse campo poderá
sofrer alguma alteração, após avaliação pela:
(A) Comissão de Catalogação da Rede Pergamum.
(B) Gerência da Rede Virtual de Bibliotecas.
(C) Secretaria da Biblioteca.
(D) Rede de Bibliotecas do Ministério Público Federal.
(E) Biblioteca da Rede RBVI.
Questão 4 - Quanto à estruturação dos módulos do Pergamum, associe a primeira de acordo com a
segunda:
A – Módulo Internet
B – Módulo Usuários
C – Módulo Diversos
( ) Inclui malote, envio de e-mail, coleta de dados de material usado internamente, correção em lote de
acervo bibliográfico
( ) descreve os procedimentos utilizados no Sistema Pergamum para o controle dos usuários. Inclui dados
pessoais dos usuários e das unidades organizacionais (cursos e departamentos)
( ) acervo digital, facilitando o acesso à obra na íntegra, renovação, reserva, acompanhamento do
processo de aquisição pelo usuário solicitante
A sequência correta é: a) A, B e C b) A, C e B c) C, A e B d) B, C e A
e) C, B e A.
Questão 5 - Acerca da Rede Pergamum, seu principal objetivo é:
a) Viabilizar a integração de profissionais e usuários do sistemas, entre as unidades integrantes;
b) promover a cooperação e intercâmbio de serviços entre as bibliotecas usuárias do sistema;
c) Garantir a execução dos serviços bibliotecários compartilhados;
d) Integrar diferentes funcionalidades de uma biblioteca, considerando funções básicas: como:
catalogação, cadastro de usuários, circulação etc.;
e) Fomentar a formação de uma base de dados de registro catalográficos para compartilhamento.
Questão 6 - De acordo com Anzolin (2009), correspondem a produtos e serviços da Rede Pergamum,
exceto:
a) Indexação Compartilhada de Artigos de Periódicos – ICAP;
b) permuta de periódicos;
c) empréstimo entre bibliotecas;
d) catálogo de autoridades padrão MARC21 disponível na web e catálogo coletivo de acervo das
bibliotecas da Rede disponível na web;
e) Gestão e compartilhamento de registros catalográficos.
5.8 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1 – A tecnologia da informação tem sido um recurso muito importante para auxiliar as
bibliotecas, especialmente as universitárias, na gestão dos dados armazenados em suas bases e que
�61
precisam responder as diversas questões demandadas pelos usuários. Julgue as afirmativas abaixo,
assinalando (V) para as VERDADEIRAS e (F) para as FALSAS.
I. O sistema integrado de bibliotecas Pergamum oferece acesso simultâneo de usuários às bases de
dados, mas a oferta de treinamento para diferentes tipos de usuários está prevista apenas para a metade
do primeiro semestre de 2015.
II. A rede Pergamum foi criada com a filosofia de catalogação compartilhada. Para isso, a ideia é trabalhar
conjuntamente e cada instituição participante disponibiliza seus registros online, em um acervo coletivo
na home page da rede, podendo ser copiado/importado por outra instituição para sua base bibliográfica.
III. O Pergamum permite a emissão de diversos relatórios, tais como de entrada e recebimento de
documentos por período, de circulação e empréstimo, por período.
IV. ARede Pergamum é formada por todos os clientes do software Pergamum. Tem por objetivo principal
promover a cooperação e o intercâmbio de serviços entre as bibliotecas usuárias do sistema e,
atualmente, com o Módulo Internet, tem disponibilizado a todas as bibliotecas da rede o acesso às
informação sobre o acervo.
V. O Pergamum permite o uso de código de barras para fazer a avaliação e o controle do inventário do
acervo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.
A) F, V, F, V, V. B) F, V, V, F, V.
C) V, V, F, F, F. D) V, F, V, F, V.
Questão 2 – No que concerne às características do processamento técnico do sistema informatizado de
gerenciamento
de
bibliotecas Pergamum é
correto
afirmar
que
esse
sistema
a)tem o objetivo de obter as melhores práticas de cada instituição a fim de manter-se atualizado e
atuante no mercado, tornando-se capaz de gerenciar qualquer tipo de documento, atendendo tanto
universidades, faculdades, centros de ensino fundamental e médio, quanto empresas, órgãos públicos e
governamentais.
b)contempla as principais funções de uma biblioteca com o objetivo de facilitar a gestão dos centros de
informação, melhorando a rotina diária de seus usuários.
c)é um sistema informatizado de gerenciamento de dados, direcionado aos diversos tipos de centros de
informação e presente em mais de 2.500 bibliotecas em todo o Brasil.
d)permite a consulta ao cadastro de autoridades, lista de editoras e lista de siglas durante o
cadastramento de um registro.
e)foi implementado na arquitetura cliente/servidor, com interface gráfica, programação em Delphi, PHP e
JAVA, utilizando banco de dados relacional SQL (ORACLE, SQLSERVER ou SYBASE).
Questão 3 – O software de gerenciamento de bibliotecas, que adota formato internacional de
intercâmbio bibliográfico utilizado na Rede Virtual de Bibliotecas - Congresso Nacional (RVBI) é o
(A) Virtua.
(B) Aleph.
(C) SophiA.
(D) OrtoDocs
(E) Caribed)
Questão 4 – A Rede Pergamum exerce um papel fundamental para as ações de promover a cooperação e
o intercâmbio de serviços entre as bibliotecas usuárias do sistema. As afirmativas abaixo estão corretas,
EXCETO.
A) Permuta de periódicos, empréstimo entre bibliotecas e catálogo de autoridades padrão MARC21
disponível na web são alguns dos serviços desenvolvidos pela Rede.
B) A rede foi criada com a filosofia de catalogação compartilhada, mas aproveitar registros bibliográficos
alheios na sua catalogação sempre foi vista com muita cautela pelos seus membros.
�62
C) A rede foi criada com a filosofia de catalogação compartilhada e uma de suas preocupações era
otimizar recursos humanos existentes nas bibliotecas, deslocando bibliotecários da catalogação para os
serviços ligados ao atendimento do público, ou ainda, implementando novos serviços e/ou produtos.
D) O que motivou a formação da rede foi a necessidade urgente de diminuir os estoques de materiais nas
bibliotecas aguardando tratamento técnico.
Questão 5 - Para a construção de bibliotecas digitais, o bibliotecário pode escolher entre os softwares:
(A) MultiTes, TCS ou TheXML;
(B) End Note, MORE ou Zotero;
(C) Dokmee, Powerdoc ou Verbis;
(D) Aleph, OrtoDocs ou Pergamum;
(E) Dspace, Emilda ou Greenstone.
Questão 6 – A Fundação Getúlio Vargas coordena uma rede de catalogação cooperativa baseada no
compartilhamento de informações, buscando minimizar esforços e padronizar as formas de descrição
físicaede conteúdo dos documentos presentes nas bibliotecas que integram a rede. Esta rede de
cooperação é conhecida como:
A) Bibliodata
B) Lilacs
C) Scielo D) Proquest E) Rede Pergamum
REFERÊNCIAS
ANZOLIN, H. H. Rede Pergamun: história, evolução e perspectivas. Revista ACB, Florianópolis, v. 14, n. 2,
2009.
PERGAMUN, Sistema Integrado de Bibliotecas: Características técnicas. Curitiba, 2010.
�63
AULA VI: Representação Temática da
Informação – Sistemas de Classificação
CDD e CDU
Docente responsável: Elisângela Cristina Aganette
Doutora em Ciência da Informação (UFMG-2015), Mestre em Ciência da Informação (UFMG-2010),
Especialista em Gestão da Informação e do Conhecimento (CEFET-2008) e Bacharel em Biblioteconomia
(UFMG-2005). Professora Ajunto da Universidade Federal de Minas Gerais. Mais de 15 anos de
experiência como Consultora em Gestão e Tecnologia da Informação, consultora especialista nas áreas de
organização da informação, representação da informação e do conhecimento, mapeamento de
processos, soluções de Enterprise Content Management (ECM), Business Process Modeling (BPM).
Pesquisa: representação da informação e do conhecimento, taxonomias corporativas.
Docente responsável: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Bibliotecária da Escola Ciência da Informação da UFMG. Presidente da ABMG, gestão 2018/2021.
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento. Tem
experiência na área de Biblioteca Universitária e Educação a Distância, tendo ocupado cargo de gestão do
Sistema de Bibliotecas da UFMG, por duas vezes.
CONTEÚDOS DA AULA
6 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA DA INFORMAÇÃO
A área de tratamento e organização da informação tem a função de tratar e organizar tanto o
formato quanto a temática de um item informacional. O tratamento da forma refere-se às características
referentes à representação descritiva, física ou bibliográfica do item, com a descrição de campos como
autor, título, edição, editora, data, paginação, de acordo com o código de catalogação escolhido para tal.
�64
Já no que se refere ao tratamento temático, trata-se da definição do assunto do documento ou item
informacional, ou seja, da definição do assunto que tal item trata, para assim definir a notação de
classificação, os assuntos e o resumo.
De acordo com Guinchat e Menou (1994), o processo de tratamento da informação consiste na
aplicação de técnicas de maneira que o conteúdo do documento possa ser recuperado pelo usuário. Para
que isso aconteça, é preciso criar um sistema de classificação e recuperação da informação, considerando
elementos tais como as necessidades do usuário, o contexto temático, os recursos humanos e materiais
disponíveis, os produtos e serviços que serão oferecidos e a relação custo-eficácia. A recuperação de
informações (RI), segundo Calvin Mooers, em 1951, é uma operação dentro do sistema que pressupõe a
tentativa de relacionar a busca do usuário com os itens armazenados no SRI. Dessa forma, verifica-se que
a classificação do item informacional na entrada do SRI é essencial para que a recuperação seja possível.
A classificação na perspectiva da Biblioteconomia consiste em ordenar e dispor objetos ou ideias
em classes a partir de determinado critério. A ISO TR-14177 (1994) define classificação enquanto
(produto) como um conjunto de conceitos organizados sistematicamente de acordo com critérios ou
características pré-estabelecidas. Já Piedade (1977) define a classificação como um processo que
compreende “dividir em grupos ou classes, segundo as diferenças e semelhanças. Dispor os conceitos,
segundo suas semelhanças e diferenças, em certo número de grupos metodicamente distribuídos”. Ou
seja, o processo de classificação consiste na definição de classes de dados que tenham características
comuns, para assim poder ser agrupados e organizados segundo um ponto de vista ou características
classificatórias.
6.1 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO
As primeiras abordagens classificatórias, no alvorecer dos esforços intelectuais do ser humano,
surgiram dentro do contexto filosófico. Foram, narram os estudiosos, quase unanimemente, os sábios da
antiguidade (filósofos), os primeiros a se preocuparem com discernir, distinguir, discriminar (o que
equivale a dizer classificar) os objetos materiais e, sobretudo, formais das diversas áreas da então ciência
única/saber único. Aristóteles teria sido o primeiro intelectual a não apenas se preocupar com dividir em
áreas (classificar) o saber (a ciência de então), mas até mesmo a iniciar a organização dos hoje
denominados suportes físicos da informação, os documentos em suas então pouco variadas formas de
apresentação: os pergaminhos, os papiros, as tabuetas enceradas, enfim, as mídias da época (SILVA,
2003).
A classificação se manifesta em atividades “[...] de nomeação, definição, análise, generalização,
discriminação, de marcação, amostragem, filtragem, padronização, distribuição, separação,
individualização, identificação, seleção, agrupamento, categorização, ordenação, posição, organização,
distinção, correlação, tabulação, mapeamento, correspondência, desenho, controle, estruturação e
coordenação [...]” (SATIJA, 1998, p. 32).
De acordo com Piedade (1977), os sistemas de classificação são sistemas verbais-simbólicos,
geralmente constituídos por algumas características básicas, tais como: i) um esquema de classificação:
estrutura de itens de classificação de uma classe da classificação; ii) um princípio de divisão: obedece a
um único critério pré-estabelecido de divisão; iii) classes da classificação: item de alto nível dentro de
uma classificação expressando um conceito principal; iv) definição de classes: identificação das
características essenciais de uma classe de classificação que ilustra uma clara fronteira entre ela e outras
classes de classificação, podendo ser (a) de classes simples (única característica, não cabem mais
subdivisões) e (b) de classes compostas (mais de uma característica, e podem caber mais subdivisões); v)
item de classificação: único conceito definido, unicamente dentro de uma classe da classificação; vi)
termo de classificação: designação de uma classe de classificação ou item de classificação por meio de
uma expressão linguística; vii) notação: um identificador alfanumérico. Trata-se de um sistema de códigos
expressando o arranjo de uma classificação.
Quanto à finalidade os sistemas de classificação podem ser filosóficos ou bibliográficos.
�65
1 - Classificações filosóficas: criadas por filósofos, com o intuito de dar ordem às ciências ou às coisas. Os
primeiros sistemas de classificação filosóficos foram: i) Platão, Aristóteles e Porfírio: o Universo é um
sistema harmônico, de causas, efeitos e princípios, e é possível criar uma hierarquia e relações entre
esses elementos; ii) Platão dividiu o conhecimento em: Física, Ética e Lógica; iii) Aristóteles introduziu a
divisão dicotômica das coisas e introduziu cinco predicáveis: gênero, espécie, diferença, propriedade ou
acidente; iv) Porfírio, inspirado em Aristóteles, apresentou dicotomias sucessivas, a partir de um atributo.
2 - Classificação dos seres ou classificações bibliográficas: desenvolvidas para estabelecer relações entre
os documentos de uma coleção, em bibliotecas e centros de informação ou documentação, para facilitar
a localização. Classificação dos saberes.
No presente estudo, a classificação dos seres ou classificações bibliográficas terá maior ênfase,
especificamente no que tange a Classificação Decimal de Dewey – CDD, conforme a seguir.
6.1.1 Sistema de classificações bibliográficas
Um sistema de classificação bibliográfica pode ser definido como uma linguagem estruturada, que
possui uma divisão por classes, que são divididas em subclasses, e assim, sucessivamente, até chegar ao
termo mais específico. Essa sequência, geralmente, respeita a ordem natural das coisas. Linguagem
documentária, sistema verbal-simbólico, artificialmente construído, a partir de signos normatizados, que,
geralmente, buscam cobrir todos os campos do conhecimento (TRISTÃO; FACHIN; ALARCON, 2004).
Já Piedade (1983) afirma que consiste em sistematizar documentos segundo os assuntos de que
tratam ou a sua natureza, como: ordenar os documentos nas estantes ou arquivos: a partir de diferentes
princípios; ordenar as referências nas bibliografias ou nas fichas dos catálogos. Classificações
bibliográficas procuram estabelecer as relações entre documentos para facilitar sua localização. Têm
como finalidades: ordenação dos documentos nas estantes o nos arquivos; ordenação das referências nas
bibliografias e das fichas nos catálogos (PIEDADE, 1983). Têm como principal característica serem
sistemas decimais, ou seja, tratam-se de sistemas que utilizam números decimais para símbolos de
classificação, subdividindo-se de 10 em 10, onde cada assunto é subdividido em 10 assuntos mais
específicos em cadeia. Os sistemas decimais de classificação mais utilizados mundialmente são:
Classificação Decimal de Dewey – CDD e Classificação Decimal Universal – CDU.
Quanto à estrutura de apresentação dos assuntos de um sistema de classificação bibliográfica,
estes podem ser: a) Enumerativo - apresentam todas as combinações de assuntos possíveis, e seus
respectivos símbolos, prontos. Exemplo: Classificação da Biblioteca do Congresso - LC; Classificação de
Rider; b) Semi-enumerativo - apresentam símbolos para alguns assuntos e permitem a síntese para
assuntos compostos. Exemplo: CDD; Brown; CDU; Bliss. c) Analítico-sintético - apresentam símbolos para
os assuntos simples, deixando livre a combinação de símbolos para os assuntos compostos. Exemplo:
Classificação de Dois Pontos (Colon Classification).
No que se refere à abrangência de um sistema de classificação bibliográfica, esse pode ser: a)
Classificações gerais (ou enciclopédicas) - sistematizam todo o conhecimento humano. Exemplo: CDD,
CDU, Bliss, Cutter, Colon Classification etc. b) Classificações especializadas - sistematizam conhecimentos
de um domínio específico. Exemplo: Classification for Medical Libraries, United Classification for the
Construction Industry (Uniclass) etc. c) Classificação Expansiva (Cutter-1891) - Cutter foi o primeiro a
utilizar subdivisões comuns de forma e geográficas em um sistema de classificação. Exemplo:
característica presente na Classificação Decimal Universal – CDU
No final do século XIX e início do século XX, alguns bibliotecários e classificadores como Dewey,
1876 e Brown, 1906, realizaram estudos para criar classificações bibliográficas para recuperação de
documentos, tais como: i) sistemas de classificações hierárquicos; ii) sistemas de classificação facetados.
i.
Sistemas de classificações hierárquicos
Têm sua origem no final do século XIX e início do século XX: Dewey, 1876; Brown, 1906 criam
classificações bibliográficas para recuperação de documentos. Os sistemas de classificações hierárquicos
baseiam-se nos princípios de Aristóteles, tais como: divisão dicotômica das coisas: gênero/espécie; nos
�66
cinco predicados (relações lógicas): gênero (classe), espécie (tipo), diferença (característica específica),
propriedade (atributo), acidente (qualidade); nas dicotomias sucessivas de Porfírio: Árvore de Porfírio.
Apresentam ainda uma estrutura de classes subordinantes-coordenadas-subordinadas.
Segundo Piedade (1983), sistemas de classificações hierárquicos se norteiam basicamente por três
conceitos: a) categorias: classes mais gerais; b) divisão lógica (gênero/espécie): distinguir classes e
subclasses e c) relacionamentos: hierárquicos e semânticos.
Dentre os diferentes sistemas que seguem esse princípio hierárquico, os mais conhecidos são:
classificação Decimal de Dewey (CDD), de 1876; classificação da Biblioteca do Congresso NorteAmericano, de 1902; e classificação Decimal Universal (CDU), de 1905.
ii.
Sistemas de classificação facetados
Têm sua origem no século XX, após os princípios estabelecidos por Ranganathan. Surgem da
necessidade de se criar um sistema que fosse mais especifico, uma vez que nem tudo poderia ser bem
representado pelos sistemas hierárquicos; fazia-se necessário a criação de mais atributos, aspectos e
relacionamentos, entre classes e conceitos.
Possuem a mesma estrutura e princípios de representação dos sistemas hierárquicos, no entanto
adiciona-se o elemento das categorias, manifestações das facetas. Os grupos ou classes abstratas são
organizados em categorias que reflitam os procedimentos mais consistentes dentro do domínio e vai
além da distinção entre semelhanças e diferenças entre os itens. Permitem que mais de uma categoria
possa ser utilizada por vez para caracterizar uma classificação. No entanto, não há classes préestabelecidas de assuntos, uma vez que ocorre análise do assunto e este é representado pela notação, a
partir de regras para a sua formação.
Quanto aos fundamentos que regem os sistemas de classificação facetados, existem as categorias
fundamentais desenvolvidas como uma ordem lógica e consistente por Ranganathan e “Classification
Research Group (CRG)”:
•
Ranganathan (1892-1972): Colon Classification: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo
(PMEST);
•
CRG: Tipos de Produto Final, Partes, Materiais, Propriedades, Processos, Operações, Agentes,
Espaço, Tempo e Forma de Apresentação.
Na classificação facetada, adiciona-se aos relacionamentos hierárquicos (gênero/espécie), a
abordagem analítico-sintética: assuntos (facetas) podem ser relacionados uns aos outros de diferentes,
complexas e imprevistas formas (todo/parte, ação/paciente, entre outros). Ranganathan classificou a “Era
da Classificação” em: período pré-facetado: 1876 a 1896; transição para período facetado: 1897 a 1932 e
período facetado: 1933 a 1975. Exemplos: Colon Classification (1933) e Classificação Bibliográfica de Bliss
(1935).
6.1.2 Classificação Decimal de Dewey - CDD
Melvil Louis Kossuth Dewey nasceu em 10 de dezembro de 1851 em Nova York, onde também
faleceu em 1931. Dewey era estudante e auxiliar de bibliotecário no Amherst College quando criou a CDD.
Na época os sistemas de classificação eram de “localização fixa”, ou seja, eram atrelados à localização dos
livros nas estantes. Em maio de 1873 teve a ideia de um sistema de classificação que seria a CDD.
A CDD baseia-se no sistema de Harris e no seguinte raciocínio: “O homem, sendo um animal
racional, faz uso dessa faculdade, donde a Filosofia; eleva seu pensamento em Deus, daí a Religião; vive
em sociedade, donde a Sociologia; comunica-se com seus vizinhos, Filologia, adquire conhecimento dos
fatos, dos problemas da vida, da matéria e da força, Ciências puras e aplicadas; com elas ganha meio de
descanso e recreação, Belas Artes e literatura; faz registros e viaja, História e geografia, reunindo todos
esses assuntos e o encabeçamento vêm as Obras gerais”.
O sistema de classificação mais difundido é a Classificação Decimal de Dewey (CDD). Nos Estados
Unidos, a CDD é usada por 95% das bibliotecas públicas e escolares, 25% das bibliotecas universitárias e
por 20% das bibliotecas especiais.
�67
A “localização relativa” de Dewey tornou possível o crescimento da coleção sem a necessidade de
renumerar os livros. No sistema decimal os livros são numerados de acordo com seu conteúdo intelectual
que não muda nunca. Dewey dividiu o conhecimento em dez classes principais que se subdividem
sucessivamente, de 10 em 10 dando maior especificidade ao conteúdo do livro. A CDD Foi a primeira
classificação bibliográfica a utilizar números decimais. Dewey dividiu a CDD em dez Classes de assuntos
com base nos estudos das classificações de Aristóteles, Bacon, Locke e outros filósofos estudiosos
(PIEDADE, 1983).
A 1ª edição da CDD foi publicada em 1876, com o título de “A Classification and Subject Index for
Cataloguing and Arranging the Books and Pamphlets of a Library” com 44 páginas. Em 1885 foi publicada
a 2ª edição, considerada uma das mais importantes, por ter estabelecido a forma e a política da CDD para
os próximos sessenta e cinco anos. A partir da 2ª edição de 1885 estabeleceu-se o padrão notacional. Em
1989, a 20ª edição foi publicada em quatro volumes. Em 1996, a 21ª edição foi publicada na versão
resumida e completa. Dewey percebeu que um esquema que sofresse muitas alterações não haveria de
prosperar. A 20ª edição foi traduzida para o italiano, espanhol e turco. De 1884 até 1971, ou seja, até a
18ª edição, foram publicadas nove versões abreviadas, com cerca de 10% da edição integral (SILVA,
2003).
As primeiras 15 edições foram publicadas em um volume. As edições 16 e 17 foram publicadas em
dois volumes. As edições 18 e 19 foram publicadas em três volumes. As edições 20 a 23 foram publicadas
em quatro volumes. A 22ª e 23ª edição da CDD possui: tabela principal; tabelas auxiliares e inúmeras
tabelas para subdivisão de grupos de números. A notação é numérica, com um mínimo de três
algarismos. Só utiliza um sinal gráfico: o [.] ponto, que é colocado após o terceiro número da notação
(PIEDADE, 1983).
A CDD utiliza recursos mnemônicos que consistem na repetição frequente de esquemas padrão,
que ajudam a fixar na memória a estrutura do sistema. É um sistema versátil, pois pode ser adotado por
bibliotecas gerais de qualquer tamanho e por bibliotecas especializadas. A CDD é, atualmente, o principal
sistema de classificação, presente em 135 países. A CDD adota a notação simples ou pura, de números
arábicos trabalhados em frações decimais. Adota também a notação hierárquica, o que significa que ela
descreve a coordenação e subordinação dos assuntos (SILVA, 2003). Na composição da notação, de
acordo com a CDD, os dígitos são tratados como frações decimais; têm no mínimo três dígitos; para
números com mais de três dígitos, coloca-se um ponto entre o terceiro e o quarto número.
Quanto a sua estrutura, a CDD possui em seu Volume 1: introdução, tabelas e outros assuntos;
Volumes 2 e 3: classes principais e sumários; Volume 4: índice relativo e manual. Nos Volumes 2 e 3,
apresenta-se o primeiro sumário que traz as dez primeiras classes principais; o segundo sumário que
inclui as dez primeiras subdivisões de cada uma das dez classes principais e o terceiro sumário que inclui
100 subdivisões de cada uma das dez classes principais. Os referidos sumários oferecem três níveis
diferentes de visualização geral e total da tabela.
No que se refere às Tabelas Auxiliares, Silva (2003) pondera:
•
Tabela 1 - Subdivisões Padrão: abrange um conjunto de ideias secundárias, quase todas associadas
ao conceito de forma;
•
Tabela 2 - Áreas: representam os aspectos geográficos dos assuntos;
•
Tabela 3 - Subdivisões para literaturas Individuais: representam os diversos detalhes próprios da
literatura como gêneros, períodos, as pessoas envolvidas com a criação literária, os leitores especiais a
que se destinam, estilos etc.; a Tabela 3 se subdivide em três tabelas específicas:
o
3-A - Autores individuais;
o
3-B - Dois ou mais autores, retórica de formas literárias específicas;
o
3-C - Detalhes da tabela 3-B e do 808/809.
•
Tabela 4 - Subdivisões para Línguas Individuais: representam as divisões, subdivisões, detalhes,
aspectos da Gramática Geral quando aplicados a uma língua específica;
•
Tabela 5 - Grupos raciais, étnicos, nacionais: representam aspectos de raça e nacionalidade;
�68
•
Tabela 6 - Línguas: são constituídas de números que representam as línguas e dialetos em que
podem estar redigidos os assuntos contidos nos documentos;
•
Tabela 7 - Pessoas: representam grupos de pessoas específicos, quanto a sua religião, profissão,
gênero etc.
Algumas críticas são feitas à CDD, segundo Piedade (1983), no que se refere à ordem das classes
definidas por Dewey: separação das Ciências Sociais da História; distância entre as Línguas e a Literatura.
Segundo Silva (2003), a concepção, estrutura e princípios do sistema de classificação de Melvil Dewey
denunciam sua origem filosófica, remontando aos clássicos da Grécia através de influências mais
recentes.
Como qualquer produto de uma época, ainda que genial, não poderia deixar de refletir, para bem
ou para mal, o ambiente cultural, os valores, as crenças, o estágio de desenvolvimento da ciência, da
tecnologia, das artes, à época de seu surgimento. A ênfase era maior nas Humanidades do que na Ciência
e nas tecnologias, menos abundante em Literatura, àquela época, mesmo nos Estados Unidos, que ainda
não era a potência tecnológica em que se veio transformar em seguida. O sistema reflete a concepção das
divisões do conhecimento correntes no século XIX, quando, por exemplo, ainda se incluía a Psicologia
entre as partes da Filosofia Racional (SILVA, 2003).
No fim do Século 19, Dewey autorizou o Instituto Internacional de Bibliografia, atual Federação
Internacional de Documentação, a expandir o seu sistema, trabalho que resultou na CDU. O
gerenciamento do sistema CDD é feito pela Lake Placid Education Foundation, cuja fundação o próprio
Dewey participou. A Library of Congress começou a vender suas fichas para outras bibliotecas e viu a
necessidade de incluir nelas a Classificação de Dewey. Atualmente, a Library of Congress em convênio
com a Lake Placid Education Foundation são responsáveis pela manutenção do sistema. A publicação de
novas edições acontece a cada sete anos e é a principal forma de atualizar o sistema (SILVA, 2003).
6.2 CONSIDERAÇÕES
A teoria da classificação agregou princípios analítico-sintéticos aos hierárquicos. A origem das
classificações hierárquicas está em Aristóteles, que entendeu a natureza como uma dicotomia: há o todo,
e esse todo pode ser dividido em partes.
Já as classificações facetadas oferecem elementos a mais, as sistematizações pelas categorias
fundamentais. Em ambos, os sistemas são representações do conhecimento e, na prática, têm a
finalidade de representar, organizar, localizar e recuperar informações. Sua elaboração sempre
dependente das interpretações e do conhecimento prévio de quem classifica.
A teoria da classificação, por meio de seus preceitos, auxilia a prática da classificação, e essa
prática a transforma e a faz evoluir, num processo de retroalimentação.
Bases teóricas do processo de classificação: promover uma classificação sistemática, lógica, que
reflita sobre os elementos de ligação que servem para indicar a reunião e os relacionamentos entre seus
conceitos. Para Foucault, a ciência somente pode existir a partir de estruturas classificatórias, que possam
ordenar e descrever um padrão da realidade, de modo que possa ser comunicada efetivamente. Na
contemporaneidade, os sistemas de classificação são mais versáteis. A classificação e a organização do
conhecimento são os alicerces dos sistemas de recuperação de informação, seja em uma biblioteca
tradicional ou digital, seja na construção de sistemas de hipertexto ou em sistemas de inteligência
artificial.
6.3 A CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL - CDU
A CDU é um sistema de classificação também denominado de linguagem de indexação. Foi
elaborada por Paul Otlet e Henri La Fontaine, quando da ideia inicial em se instituir uma biblioteca
universal, por meio do Repertório Bibliográfico, de modo a contemplar todos os documentos produzidos
mundialmente.
�69
A CDU possui tabelas auxiliares, uma delas é composta por símbolos tais como (mais, travessão,
ponto e vírgula, parênteses entre outros), cada um correspondente a uma função determinada
como, por exemplo, (forma do item, linguagem, povos e raça, tempo etc.), e também símbolos
especiais para notação.
Com isso, a CDU supre a necessidade que se fez presente nos outros tipos de classificação
que era dar conta dos detalhes bibliográficos existentes. E assim, permite com que possa especificar mais
o assunto a ser classificado.
A CDU é uma linguagem de indexação e de recuperação de todo o conhecimento registrado
e na qual cada assunto é simbolizado por um código baseado nos números arábicos, e é
ainda uma classificação enumerativa, mas já com um pouco de facetação. A diferença entre CDD e
CDU está no modo como os assuntos podem ser correlacionados (SOUZA, 2009).
Apresenta-se em dois volumes: parte 1 - tabela sistemática e parte 2 - índice alfabético. A tabela
sistemática, por sua vez, subdivide-se em outras duas: a tabela principal e as tabelas auxiliares, as
quais exemplificam os elementos enumerativos e analítico-sintéticos em todas as classes da CDU.
A tabela principal contém todo o conhecimento humano, arranjado em dez classes e
hierarquicamente subdividido. É identificada como notação primária, constituída por nove classes
específicas e uma geral.
Os assuntos são subdivididos, sucessivamente, tornando-se cada vez mais específicos, ou seja,
quanto maior a extensão dos números de classificação, maior o detalhamento da informação.
As tabelas principais são divididas hierarquicamente, com a hierarquia numérica refletindo a
hierarquia conceitual. A extensão do número de classificação indica o grau de detalhe. Assim:
- Números simples como 3, 5 e 7: superordenados;
- 33, 55 e 77 ou 333, 555 e 777: coordenados;
- 316.626.2: subordinados – maior grau de detalhamento;
- Hospitaleiras: maiores desdobramentos em classes já existentes.
Também difere-se da CDD na pontuação de suas notações. A CDU acrescenta um ponto a
cada grupo de três dígitos para facilitar a leitura, não tendo, portanto, valor classificatório.
A ilustração, a seguir, demonstra as classes principais da CDU, que semelhante à CDD, pode ser
dividida em outras classes, as chamadas subseções, mantendo-se uma relação hierárquica entre as
classes, mas podendo ser adotados diferentes relacionamentos, com base na realidade da biblioteca.
Portanto, a CDU manifesta-se como um sistema mais flexível, o que justifica, também, ser chamada por
muitos de sistema semifacetado.
Além da tabela principal, a CDU é composta pelas tabelas auxiliares, considerando sinais de
pontuação. Assim, consideram-se as seguintes auxiliares:
Auxiliares de relação: indicam relacionamento entre dois ou mais números principais;
Auxiliares independentes: são os auxiliares de língua, forma, lugar, raça e tempo. Eles podem ser
utilizados em qualquer posição da notação;
�70
Auxiliares dependentes: são os auxiliares de ponto de vista comum, propriedade, materiais,
pessoas, asterisco e extensões alfabéticas. Eles são sempre sufixos, ou seja, são sempre acrescentados
aos números principais.
A numeração específica que norteia a formação das notações corresponde a:
A CDU engloba todos os tipos de documentos e continua se expandindo e se modificando,
através de suas novas edições e de sua publicação anual Extensions and Corrections to the
UDC, que foi estruturada pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID),
juntamente com outras instituições de informação e documentação, ou seja, outros cinco editores da
CDU (Bélgica, Espanha, Países Baixos, Reino Unido e Japão), que adquirem todos os direitos e
responsabilidades civis do sistema e passam a administrá-lo (SOUZA, 2004).
Línguas oficias da CDU: inglês, francês e alemão. Entretanto, a língua oficial do consórcio CDU é o
inglês.
Possui quatro tipos de edição: desenvolvida, média, abreviada e especiais.
A FID exerceu os direitos da CDU. Após 1992, os direitos passaram para o Consórcio CDU, formado
por instituições de informação situadas nos países: Bélgica, Espanha, Países Baixos, Reino Unido e Japão.
A edição em Língua Portuguesa, no Brasil, é de responsabilidade do IBICT;
Desde 1949 vem sendo atualizada, modificada, corrigida, sendo, inicialmente em intervalos
semestrais. De 1933 passou a ser anual.
1976: no Brasil, o IBICT publicou a 1ª ed. Média em Língua Portuguesa, traduzida da Ed.
Desenvolvida Alemã. Em 2007, o IBICT publicou a 2ª ed. Padrão Internacional em Língua Portuguesa, com
base nas atualizações feitas pelo Consórcio entre 1996 e 2004.
6.4 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - Numere a primeira de acordo com a segunda:
A - Tratamento da Informação
B - Tratamento Descritivo
C - Tratamento Temático
( ) Processo realizado nas bibliotecas, cujo objetivo é descrever os dados dos documentos, criando
pontos de acesso, para fins de recuperação
( ) Trata-se do conjunto de operação realizadas em prol da representação dos conteúdos de que tratam
os documentos
( ) Contempla um conjunto de práticas que se baseia em códigos e linguagens, os quais permitem a
criação de dados para representar o conteúdo e a forma dos documentos tratados.
A sequência correta, de baixo para cima, é:
( ) B, C e A ( ) B, C e A ( ) A, B e C ( ) B, A e C ( ) A, C e B ( ) NDA
Questão 2 - De acordo com Souza (2004), a definição mais adequada para a prática da classificação
documentária é:
A - Arrumar livros nas estantes para facilitar a recuperação do usuários;
B - Dividir em grupos ou classes, segundo as diferenças e semelhanças;
C - Colocar os itens conforme suas especificidades, obedecendo um arranjo pré-definido;
D - Dividir o conhecimento em classe, seguindo a estrutura de um sistema de classificação
E - Agrupar os documentos em categoria, refletindo o assunto a que se referem e o contexto onde são
inseridos
Questão 3 - Souza (2004) estabelece um objetivo específico do processo de classificação. Tal objetivo é:
�71
A - identificar o assunto do documento, para que ele possa ser posto em local determinado nas
estantes, junto com outros documentos com assuntos semelhantes;
B – Estabelecer notações, as quais levam o usuário à localização do item nas estantes;
C – Determinar a incorporação do item dentro de um conjunto mais abrangente de documentos;
D – Individualizar o item em um acervo sistematizado;
E – Permitir que o documento seja recuperado, considerando a sistematização do acervo bibliográfico.
Questão 4 - A classificação criada por Ranganathan foi um marco na história da classificação em
bibliotecas. A versatilidade desse sistema, aliado à combinação dos assuntos permitiram novas acepções
quanto à sistematização de documentos em acervos mais complexos. O conceito “sistema de classificação
enumerativo, hierárquico e rigidez nas classes de assunto” refere-se:
A – Colon Classification ou classificação dois pontos;
B – Universal Classification System;
C – Decimal Classification;
D - Bibliographic Classification;
E - Subject Classification.
6.5 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - Para formar as classes principais da CDD, Dewey baseou-se diretamente no sistema de Harris,
que tevepor base a ordem inversa do sistema filosófico de:
a) Paul Otlet.
b) Francis Bacon.
c) Porfírio.
d) Shiyali Ramamrita Ranganathan.
Questão 2 - Possui estrutura hierárquica e o conhecimento é dividido em dez partes que podem
sesubdividir em partes lógicas infinitamente. Essa compreensão conceitual refere-se a:
a) COMUT
b) CDD
c) Vaticana
d) Tesauro
e) CDU
Questão 3 - É dotada de uma estrutura inovadora e possibilita expressar por símbolos, não apenas os
assuntos simples, como também as relações entre diversos assuntos. Sua estrutura éhierárquica, na qual
o conhecimento é dividido em dez classes, podendo ser subdividido em partes lógicas, até o infinito. A
classificação definida é a
(A) CDD.
(B) CDU.
(C) Bliss.
(D) (D) Vaticana
Questão 4 - As atividades relacionadas à organização e representação da informação e do conhecimento
compreendem diversos processos na biblioteconomia. Julgue as afirmativas a seguir, assinalando (V) para
as VERDADEIRAS e (F) para as FALSAS.
( ) A catalogação cooperativa foi proposta inicialmente pelo bibliotecário da Biblioteca do Smithsonian
Institution (EUA), em 1850, o qual tinha um projeto de transformar essa biblioteca em biblioteca nacional
�72
e criar um catálogo coletivo das bibliotecas cooperantes. Entretanto, a ideia só foi implementada pela
Library of Congress em 1901.
( ) No Brasil, a catalogação cooperativa teve início em 1942, com a distribuição de fichas catalográficas
pelo Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (IBBD). Porém, algum tempo depois, em
1972, apareceram algumas dificuldades, o que originou a sua interrupção. Tal situação foi regularizada
em 1972, com o surgimento do formato MARC e se consolidou com o projeto CALCO em 1973.
( ) A CDU contém as tabelas auxiliares que permitem a construção de números compostos, ou seja, a
atribuição de um número extraído de determinada localidade para unir aos números das tabelas
principais, especificando a determinação do assunto do item.
( ) A CDU é uma linguagem de indexação e recuperação da informação que abrange praticamente todos
os assuntos e que pode ser utilizada em acervos que lidem com qualquer tipo de suporte documental.
( ) O sinal de dois pontos serve para indicar uma relação entre dois ou mais assuntos por meio da conexão
de seu número da CDU, ampliando os assuntos que liga. Assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA. A) V, V, F, V, F. B) F, F, V, F, V.
C) F, V, F, F, V.
D) V, F, V, V, F.
______________________________________________________________________________________
6.6 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1 - As afirmativas abaixo sobre linguagens documentárias estão corretas, EXCETO:
A) A possibilidade do indexador não dominar o idioma do documento é um fator que não prejudica a
qualidade da indexação.
B) Os sistemas de classificação CDD e CDU são estruturados hierarquicamente, dividindo o
conhecimento em dez classes principais, subdivididas sucessivamente.
C) A CDU concilia e equilibra exigências dos esquemas hierárquicos com a multifacetação dos
sistemas em diversos aspectos de um mesmo assunto.
D) O processo de indexação automática é similar ao processo de leitura-memorização humano,
sendo seu princípio geral baseado na comparação de cada palavra do texto com uma relação de
palavras vazias de significado.
Questão 2 - Com base na Classificação Decimal Universal, considere as seguintes afirmativas:
1. A CDU, como vários esquemas gerais, é uma classificação por aspectos, na qual um fenômeno é
classificado segundo o contexto ou disciplina em que é considerado.
2. Em 1795, um novo passo para o progresso da classificação decimal foi dado por Paul Otlet.
3. A notação da CDU corresponde a uma linguagem artificial da qual foram eliminadas muitas das
ambiguidades da linguagem natural.
4. Desde agosto de 1949, as correções autorizadas têm sido publicadas nas
ExtensionsandCorrectionstothe UDC, editadas, a princípio, anualmente e agora semestralmente.
a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
Questão 3 - Em relação à Classificação Decimal Universal, avalie os dois agrupamentos abaixo.
Colchetes […]
Dois pontos duplos ::
Parênteses 0 (0…)
a. São utilizados para fixar a ordem dos números que compõem uma notação composta.
b.São usados para estabelecer subgrupos algébricos quando dois ou mais números principais se
encontram ligados por um sinal de adição ou dois pontos.
�73
c. Indicam a forma ou apresentação de um documento que trata de um assunto representado por um
número principal.
A correlação correta entre os agrupamentos é:
a) Ib; IIa; IIIc.
b) Ia; IIb; IIIc.
c) Ic; IIa; IIIb.
d) Ib; IIc; IIIa.
e) Ic; IIb; IIIa.
Questão 4 - Empregando a Classificação Decimal Universal, a equipe de bibliotecários do Tribunal
Regional Federal da 3ª Região planeja separar os periódicos de direito do restante do acervo, porém
mantendo juntas as coleções de cada país. O bibliotecário I propõe agrupá-los por assunto, assim:
34(05)(73), 34(05)(81) e assim por diante. O bibliotecário II acha melhor reuni-los sob a sua forma, assim:
(05)34(73), (05)34(81) etc. Por fim, o bibliotecário III pensa em organizá-los segundo a forma e o
lugar,assim: (05)(73)34, (05)(81)34 etc.
Ocorre que:
a)os bibliotecários I, II e III estão corretos; a flexibilidade da ordem de citação torna possíveldiferentes
arranjos.
b)os bibliotecários I, II e III estão incorretos; a ordem de citação impõe que o lugar sejaseguido da forma,
e não o contrário.
c)o bibliotecário I está incorreto; os auxiliares devem ser agrupados usando-se a barrainclinada:
34(05/73), 34(05/81) etc.
d)o bibliotecário II está incorreto; o número principal não deve ser intercalado entre osnúmeros
auxiliares.
e)o bibliotecário III está incorreto; não se deve justapor dois auxiliares à frente do númeroprincipal, mas
apenas um.
Questão 5 - A classificação é a atividade de representação temática da informação voltada para a
organizaçãofísica dos documentos, atribuindo a estes uma notação de um sistema pré-coordenado. Dos
itens abaixo, identifique o sistema que não é considerado pré-coordenado:
A) Dewey Decimal Classification.
B) Universal Decimal Classification.
C) Colon Classification.
D) Library of Congress Subject Headings.
E) Bibliographic Classification.
Questão 6 - No caso de uma obra que contém resultados decorrentes de um trabalho de pesquisa, o
classificador tem como atribuição:
A.classificar de acordo com a área temática pertinente, independente do caráter da informação ou dos
meios empregados.
B.compor uma classificação que integre a classe generalidades à classe específica que representa o
assunto da pesquisa.
C.criar um número auxiliar para representar o método empregado na pesquisa.
D.unir, por meio do uso de dois pontos simples, a temática pesquisada e o método
Questão 7 - Utilizando a tabela de Classificação Decimal Universal (CDU), a notação que representa
corretamente o assunto “Educação Profissional” é
A) 377
B) 379.8
C) 37.013
D) 378
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Questão 7 - De acordo com a CDU, a notação que apresenta o auxiliar de forma é
A) 658.56:36
B) 658.56(81)
C) 658.012.2(035)
D) 658.012.2+658.56
Questão 8 - Um vocabulário controlado é essencialmente:
A) uma relação de publicações que o autor consultou para escrever sua obra.
B) um índice classificado de um trabalho ordenado alfabeticamente por temas específicos.
C) uma lista de termos autorizados para recuperação da informação.
D) Uma lista de letras ou números que representam o nome do autor e a classificação de uma obra.
Questão 9 - A Classificação também conhecida como Sistema Decimal de Dewey (SDD ou CDD) foi
desenvolvida por Melvil, Dewey em 1876. Assim chamada de decimal por:
A) Dividir o conhecimento humano em 10 classes
B) Possuir um caráter unitário
C) Utilizar um sistema que não usa números inteiros
D) Dividir os temas de assuntos em dígitos múltiplos
Questão 10 - A CDU (Classificação Decimal Universal) elaborada por Paul Otlet e Henri la Fontaine contém
um elemento facetado que é usado especialmente em bibliotecas:
A) públicas
B) comunitárias
C) especializadas
D) para deficientes visuais.
REFERÊNCIAS
SILVA, O. P. CDD: manual teórico-prático para os alunos da disciplina Classificação no Departamento de
Ciência da Informação da Universidade de Brasília, 2018.
SOUZA, S. CDU: como entender e utilizar a segunda edição internacional em língua portuguesa. Brasília:
Thesaurus, 2004.
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AULA VII: Representação Temática da
Informação - Indexação
Docente responsável: Graciane Silva Bruzinga Borges
Bibliotecária, Doutoranda e Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, da Escola de Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Membro do Grupo de Pesquisa Modelagem Conceitual para Organização Hipertextual de
Documentos (MHTX). Ampla experiência em Serviços de Referência de bibliotecas empresariais;
Consultoria e Gestão Documental em arquivos corporativos; Disseminação Seletiva da Informação (DSI);
Análise de Assunto de Publicações.
Bibliotecária colaboradora: Mayara Silva Gonçalves
Bibliotecária graduada pela Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais,
formatura: junho de 2016. Membro do Grupo de Pesquisa Modelagem Conceitual para Organização
Hipertextual de Documentos (MHTX), coordenado pela Profª. Dra. Gercina Ângela de Oliveira Lima.
Interesse em organização documental, representação descritiva da informação e serviço de referência.
CONTEÚDOS DA AULA
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7 ANÁLISE DE ASSUNTO
Dias e Naves (2007) definem ANÁLISE DE ASSUNTO (AA) como a 1ª Etapa do Tratamento de
Informação, sendo o processo de ler um documento para extrair conceitos que traduzam a essência de
seu conteúdo. Trata-se de uma tarefa sujeita à interferência de diversos fatores ligados à pessoa daquela
profissão, como: 1) nível de conhecimento prévio do assunto de que trata o documento; 2) formação e
experiência; 3) subjetividade; 4) fatores linguísticos, cognitivos e lógicos. Tem como 1ª FASE do processo
de AA a Leitura do Texto pelo indexador, sendo preciso uma leitura que: possibilite a extração de
conceitos que sintetizam seu conteúdo, devendo considerar: a importância do texto; a estrutura do texto;
os tipos de texto e a forma de leitura. Tem-se como 2ª FASE do processo de AA a Extração de Conceitos,
onde, para definir em termos adequados o assunto de um texto é preciso que: se extraiam os conceitos
nele contidos. Como 3ª FASE do processo de AA a Determinação da Atinência, quando é preciso
selecionar aqueles que realmente sintetizam o assunto do documento, considerando a atinência e o
significado. Para os autores, em síntese, AA tem um caráter interdisciplinar, sendo uma atividade
complexa, por sofrer interferências de fatores linguísticos, cognitivos e lógicos.
7.1 INDEXAÇÃO – CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E LINGUAGENS
Para Dias e Naves (2007), o conceito de INDEXAÇÃO está ligado a uma terminologia usada para
ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO PELOS SERVIÇOS DE INDEXAÇÃO E RESUMO. Visa organizar informações
referentes, principalmente, a artigos de periódicos. Essas informações não são, normalmente,
organizadas em bibliotecas (que costumam se limitar à organização dos periódicos no todo). Tem como
produtos: índices e abstracts, disponíveis em forma impressa e em bases de dados. Já sobre as linguagens
de indexação, os autores esclarecem que essas fornecem termos padronizados para representar o(s)
assunto(s) identificado(s) no documento. Algumas características são destacadas, tais como haver
sentidos diferentes para o termo indexação: 1) um mais amplo, como uma atividade de criar índices, seja
de autor, título, assunto, tanto de publicações, quanto de catálogos ou bancos de dados, em bibliotecas e
centros de informação e 2) outro mais restrito, onde é realizada a indexação ou catalogação de assuntos
dadas as informações contidas nos documentos.
Na visão de Cintra et al. (2002), as linguagens são construções sociais e se apresentam de
diferentes formas, o que caracteriza a língua praticada em um contexto específico, podendo ela estar na
forma natural praticada pelos falantes, como na forma controlada – linguagem documentária. A língua
natural analisa dados da experiência segundo padrões que dependem da tradição cultural e do momento
social do povo que fala. Por conseguinte, essa língua é uma análise da sociedade, do homem praticante
de um grupo e de sua cultura. Na língua natural o elemento de troca é o signo linguístico, que associa um
SIGNIFICANTE – imagem acústica – a um SIGNIFICADO – conceito. Com os limites próprios de uma
linguagem construída, as linguagens documentárias se valem de quase todos os conceitos apresentados
para a língua natural, e constituem sistemas onde as unidades se organizam em relações de dependência.
Assim, nas linguagens documentárias não se processa uma comunicação no sentido estrito.
Processa-se, antes, uma decodificação pura e simples, à maneira de códigos estáticos e, semelhante à
linguagem natural, as documentárias não se livram completamente de interferências culturais que
acabam por exigir um trabalho quase permanente de atualização. Importante frisar que AS LINGUAGENS
DOCUMENTÁRIAS SÃO SISTEMAS CONSTRUÍDOS e, portanto, se caracterizam como sistemas econômicos,
que, ao contrário da língua natural, aplicam uma racionalização de escolhas e de procedimentos, que
permitam uma utilização eficaz do sistema. As linguagens documentárias são tributárias da linguagem
natural, à medida em que são construídas a partir delas. Sua função é tratar o conhecimento dispondo-o
como informação, ou seja, essas linguagens transformam estoques de conhecimentos em informações
adequadas aos diferentes segmentos sociais. Elas são consideradas como sistemas e como práticas
sociais, não se apresentando como uma construção universal, que seguem princípios únicos, mas
refletem práticas sociais distintas, considerando necessidades específicas de cada contexto.
�77
Na visão de LEIVA e FUJITA (2012), no capítulo 2 da obra, que aborda os aspectos conceituais da
indexação, contextualiza o tema da seguinte maneira:
1) O PROCESSO COGNITIVO E A INDEXAÇÃO. A indexação gera palavras-chave, índices ou os cabeçalhos
de assunto de um documento. Para obtê-los são necessários processos mentais que têm a ver com a
PERCEPÇÃO da informação, da MEMÓRIA e da COMPREENSÃO. As operações mentais realizadas pelos
seres racionais para a recepção seletiva de informação, a sua codificação simbólica e seu armazenamento
e recuperação, denomina-se PROCESSO COGNITIVO. A Psicologia Cognitiva é a disciplina que estuda os
processos cognitivos como a percepção sensorial da informação, a aprendizagem (linguagem, leitura e
escrita), a memória ou a capacidade de raciocínio. Passa-se pela ORGANIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO (1.1),
por meio do DISCURSO TEXTUAL, considerando o Conceito de texto; os Critérios de textualidade; a
Estrutura do texto (micro e macroestrutura); Tipos de texto (1: argumentativo raciocínio argumentativo;
2: narrativo; 3) descritivo, dados espaciais de objetos, lugares, sentimentos; 4) expositivo; 5) instrutivo; 6)
dialogado, informação sequencial construída entre dois ou mais falantes de um assunto; 7) jornalístico.
Em seguida, passa-se para PERCEPÇÃO SENSORIAL DA INFORMAÇÃO (1.2), onde a informação pode
chegar ao indexador por três sentidos: visão, audição e tato. Após, passa-se para ATIVAÇÃO DA MEMÓRIA
(1.3); durante a indexação, a memória entra em jogo constantemente, uma vez que o indexador tem
muitos conhecimentos armazenados e os utiliza a cada momento, por meio da Memória sensorial (ou dos
sentidos registra dados de duração escassa) e da Memória de curto e longo prazo. Por fim, chega-se à
COMPREENSÃO (1.4), por meio dos Processos na compreensão (entende que compreender um texto
leva-nos a fazer seu significado); Elementos para a compreensão (os textos ou discursos (textuais, orais e
audiovisuais, mas principalmente os dois primeiros), para serem compreendidos devem ter coesão e
coerência); Coesão discursiva (se manifesta na superfície do discurso, ou seja, sob a forma da construção),
como exemplo o Tópico frasal (para falar de coerência textual global deve-se ter a coerência da frase e a
coerência entre os parágrafos) e o Tema textual (ou discursivo tem sido chamado pelos linguistas de
diferentes maneiras, assim, tem sido utilizadas expressões como alusão, plano global, tópico do discurso
ou macroestrutura textual).
2) A INDEXAÇÃO. Trata-se de um processo técnico documentário – de um conjunto de operações
realizadas para a SELEÇÃO, a AQUISIÇÃO, o REGISTRO e o TRATAMENTO dos DOCUMENTOS, a fim de
possibilitar seu armazenamento e, posterior recuperação. Em geral, a entrada dos documentos em um
centro de informação ocorre por meio de duas etapas sucessivas: a seleção e a aquisição. A política de
aquisições deve ser concebida em relação ao pressuposto, aos recursos e aos serviços prestados.
Caracteriza-se em um contexto onde os fundos vão aumentando pela compra ou pela troca de
documentos entre as instituições ou por doação de fundos privados. Além disso, como o nome sugere,
selecionar é escolher a documentação que deve ser incorporada. Portanto, a seleção do material e sua
posterior aquisição é a primeira etapa do processo que conduz a constituição dos fundos documentários.
Normalmente, cada instituição tem pessoal encarregado para essa tarefa e, uma questão chave no
processo de seleção, é verificar as necessidades, as características e as preferências dos usuários. Outra
fase do processo documentário é o TRATAMENTO TÉCNICO que recebem os documentos para que
possam ser utilizados. Este tratamento é dividido em ANÁLISE DA FORMA e ANÁLISE DO CONTEÚDO. A
análise da forma de um documento também é conhecida como descrição bibliográfica ou catalogação,
enquanto que a análise de conteúdo inclui a classificação, o resumo e a indexação. A última fase do
processo documentário é a saída da informação. Todas as operações desenvolvidas na fase de entrada e
de tratamento da informação têm um objetivo principal: a divulgação da informação. A razão das
operações descritas é a divulgação da informação que foi selecionada, adquirida ou recebida e analisada
anteriormente.
Conceito de indexação: as diferentes maneiras que os indexadores lidam com a indexação de
documentos podem ser agrupadas em três correntes presentes na literatura. A indexação centrada no
documento, no usuário e no domínio. 1) Indexação centrada no documento (os indexadores realizam uma
descrição precisa e fiel do documento, sem considerar o contexto ou as necessidades de informação dos
usuários que se utilizam dela (SOERGEL, 1985; LANCASTER, 1991); 2) Indexação centrada no usuário (os
�78
indexadores selecionam os conceitos e os convertem em termos controlados por uma linguagem de
indexação, levando em conta o conhecimento que tem dos usuários e suas possíveis necessidades de
informação (ALBRECHTSEN, 1993; FIDEL, 1994). A mesma norma ISO 5963:1985 estabelece que os
indexadores podem selecionar os conceitos que eles consideram úteis para um grupo de usuários; 3)
Indexação centrada no domínio (Jens-Erik Mai, 2005). O citado autor propôs essa terceira possibilidade
chamada indexação centrada no domínio. Esse método é baseado no conhecimento profundo da
organização (histórico, objetivos, metas, pessoas e relacionamentos, fluxos de informação etc.). E isso faz
com que o autor subdividida a indexação em quatro processos: análise do domínio, das necessidades dos
usuários, papéis desempenhados ou adotados pelos indexadores e, finalmente, a análise do documento,
tendo em conta os elementos acima referidos. Esses tópicos não são repetidos para cada documento,
exceto o último, quando vários deles mudam significativamente. Portanto, as diferenças de abordagem
entre a indexação centrada no documento e a centrada no domínio consistem em que enquanto a
primeira tem como única referência a informação contida no documento, a indexação centrada no
domínio gerencia outros elementos além do documento.
As Etapas de Indexação são: 1)ANÁLISE DOS DOCUMENTOS; 2) QUESTÕES PARA A SELEÇÃO DOS
CONCEITOS EXPLÍCITOS OU IMPLÍCITOS e 3) ARMAZENAMENTO DESTAS PALAVRAS-CHAVE COMO ESTÃO,
ou sua conversão numa linguagem controlada.
Em resumo, a indexação é um processo executado nos objetos suscetíveis de serem representados
e nas solicitações dos usuários para, em última análise, satisfazer as necessidades de informação. A
qualidade da indexação corresponde aos elementos que caracterizam tanto o processo quanto o
resultado da indexação, que são a EXAUSTIVIDADE, a CONSISTÊNCIA, a ESPECIFICIDADE e a CORREÇÃO.
A) Exaustividade na indexação: tanto a norma ISO 5963-1985 quanto sua tradução em espanhol (UNE 50121-91) indicam que a exaustividade na indexação está relacionada com a quantidade de conceitos que
caracterizam todo o conteúdo do documento e não com o número de descritores atribuídos a um objeto
indexado.
B) Especificidade: a própria norma ISO 5963-1985 sugere que a especificidade tem a ver com a precisão
com que um termo de indexação representa fielmente um conceito particular que aparece no documento
em análise.
C) Correção: ou a ausência de erros é de suma importância, porque a indexação pode ter dois tipos de
falhas: por omissão (quando um termo é omitido) e por inclusão (adição de um termo sem necessidade).
Por outro lado, a ausência de um termo que deveria estar presente e a atribuição de um mais genérico,
específico ou afim, é um tipo especial de erro de omissão e de inclusão.
D) Consistência: definida por Zunde e Dexter (1969, p. 259), dois pioneiros nesse assunto, como “[...] o
grau de concordância na representação da informação essencial de um documento por meio de um
conjunto de termos de indexação selecionados por cada um dos indexadores de um grupo”. A
consistência na indexação pode ser estudada como uma referência a um ou vários indexadores. Quando
um profissional indexa o mesmo documento em momentos diferentes falamos de intra-consistência ou
consistência intraindexador. E em segundo lugar, quando vários profissionais indexam um mesmo
documento de maneira diferente, falamos de inter-consistência ou consistência inter-indexador.
Para Feitosa (2006), a INDEXAÇÃO consiste na “análise temática da informação e ocorre no
processamento técnico da informação, mais especificamente na classificação, na indexação, na
disseminação, no resumo, na recuperação e na busca. A operação classificação consiste principalmente
na atribuição de um número ou outro símbolo para descrever o documento. A indexação consiste em
atribuir vários descritores, que podem ter ligações entre si, para descrever o conteúdo do documento. De
certo modo, uma lista de termos pode ser vista como uma espécie de minirresumo, uma vez que reúne os
termos em uma lista ou índice. Com relação à extensão do registro, a indexação pode ser seletiva (mais
restrita) ou exaustiva (mais completa). A operação de resumo consiste na condensação do documento em
linguagem natural. O principal objetivo do resumo é indicar de que trata o documento ou sintetizar seu
conteúdo. Conforme o nível de aprofundamento, o resumo pode ser classificado como resumo breve ou
resumo detalhado (ampliado). Esse grau de aprofundamento é também denominado extensão do registro
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de um resumo. De todas as operações do processamento técnico, a mais importante para o contexto
desta obra é, sem dúvida, a indexação, da qual pode depender em grande medida a qualidade dos
resultados advindos de uma operação de busca e recuperação” (FEITOSA, 2006, p. 21).
“A linguagem natural é formada pela reunião de sinais utilizados e reconhecidos facilmente pelo
homem. Quando empregada na indexação denominada ‘livre’, utiliza termos como se apresentam nos
documentos. A linguagem documentária compreende o conjunto de regras, símbolos e termos
previamente estabelecidos, formando uma linguagem artificial para a indicação do conteúdo temático
dos documentos” (FEITOSA, 2006, p. 23).
“A técnica da indexação necessita do uso de uma linguagem indexação, que compreende a
especialização de uma linguagem documentária. A linguagem de indexação é uma ‘linguagem artificial
utilizada para o registro ou indicação dos temas contidos nos documentos, dotada de vocabulário
controlado e regida por uma sintaxe própria’ (CAVALCANTE, 1982). Um vocabulário controlado relaciona
termos utilizados em sistemas de indexação, com vistas à uniformidade de armazenagem, bem como à
facilidade de recuperação. A sintaxe compreende um conjunto de regras necessárias à tarefa de
combinação dos elementos do vocabulário” (FEITOSA, 2006, p. 23).
“Segundo Harman (1994), o ponto chave para qualquer indexação é a escolha dos limites do
registro que identifica uma unidade pesquisável” (FEITOSA, 2006, p. 24).
7.2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA
Para contextualizar o processo de Indexação Automática, Dias e Naves (2007) citam Navarro
(1988), que afirma que: durante muito tempo trabalhou-se na base do bom senso e somente a partir da
necessidade de sistematizar as relações entre linguagem natural e as linguagens documentárias,
principalmente visando-se procedimentos automatizados, a interseção foi percebida e trabalhada a nível
teórico. Com a explosão bibliográfica, fez-se sentir a necessidade de um documento 'industrial' e
automatizada, surgindo o imperativo da explicitação das operações de indexação anteriormente
implícitas. A linguística tornou-se fundamental para a documentação automatizada. Sendo indexação, a
condensação (elaboração de resumos) e a busca atividades de que envolvem a extração do significado do
texto, a mecanização desses processos implicaria em que o computador possa compreender o significado
do texto. O estudo do significado contribui para a pesquisa em processamento automático de texto.
Dahlberg (1992) aponta para as bases linguísticas e filosóficas para ao organização do conhecimento;
estudos de bases filosófica que consideram: a lógica; a teoria da ciência; a epistemologia; a ontologia; a
fenomenologia; a aletiologia e a metafísica.
Para Feitosa (2006), “Técnicas de indexação automáticas ou semi-automáticas, normalmente
baseadas em processos estatísticos, linguísticos ou baseados na Inteligência Artificial, têm sido
pesquisadas e utilizadas especialmente para aqueles textos completos que não foram submetidos a
processos de indexação manual ou de resumo” (FEITOSA, 2006, p. 21).
“Definida por Robredo (1982) como ‘operação de representar o conteúdo dos documentos,
qualquer que seja o método utilizado’, a indexação utiliza-se de instrumentos para o tratamento da
informação, de modo a obterem-se termos que representem corretamente os conceitos contidos em
determinado documento. Assim, o principal propósito de um serviço de indexação é assegurar da forma
mais eficiente e econômica possível, que qualquer documento ou informação seja fornecido ao usuário
no momento preciso (CARNEIRO, 1985). Para a consecução desse objetivo, a técnica de indexação
necessita da utilização de instrumentos normativos (normas), bem como de instrumentos linguísticos
como a linguagem natural e as linguagens documentárias” (FEITOSA, 2006, p. 22).
Segundo Dias e Naves (2007), a grande área da Análise de Assunto (AA) é o TRATAMENTO DA
INFORMAÇÃO, que se divide em: 1) Tratamento Descritivo (dados físicos extraídos do documento) e 2)
Tratamento Temático (observa seu conteúdo - o assunto) (FIG. 1).
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FIGURA 1 – A área de Tratamento da Informação
Fonte: desenvolvida pela autora com base em Naves e Dias (2007).
O aumento da quantidade de informação no mundo e a necessidade de se produzir informação
sobre informação objetivou documentar os registros existentes nas várias áreas do conhecimento, suas
características, e onde podiam ser encontrados. Identificar e acessar a informação são tarefas cruciais,
porém, a identificação serve de etapa preliminar para a etapa fim desse processo, que é o acesso efetivo
à informação/documentos. Assim, acesso à informação/documentos é a questão básica de interesse da
Ciência da Informação. Sistemas de Recuperação da Informação (SRI) visam otimizar o acesso ao
conteúdo das informações, em bibliotecas ou não, pois, a biblioteca já é organizada para facilitar o
acesso ao conteúdo, porém, o catálogo - seu principal SRI - incrementa esse acesso. Os SRI e as
bibliotecas são constituídos de vários subsistemas, entretanto, o tratamento da informação na prática e
na literatura pode variar e ser referida como mostra na Figura 2.
FIGURA 2 – Subsistemas dos SRI
Fonte: desenvolvida pela autora com base em Naves e Dias (2007).
Entretanto, tratamento da informação na prática pode variar e ser referido como (FIG. 3).
FIGURA 3 – Variações do Tratamento da Informação
�81
1
2
3
4
5
�82
Fonte: desenvolvida pela autora com base em Naves e Dias (2007).
O conceito de Tratamento da Informação, para os autores, pode ser assim explicitado: expressão
que engloba todas as disciplinas, técnicas, métodos e processos relativos a: 1) descrição física e temática
dos documentos numa biblioteca ou sistema de recuperação da informação; 2) desenvolvimentos de
instrumentos a serem utilizados nessas descrições, como códigos, linguagens, normas, padrões e 3)
concepção/implantação de estruturas físicas ou bases de dados de armazenamento dos documentos e de
seus simulacros, como fichas, registros eletrônicos, etc. Compreende as disciplinas de: classificação,
catalogação, indexação, bem como especialidades delas derivadas, ou terminologias novas nelas
aplicadas, tais como metadados e ontologias, entre outras.
Especialidades da área: TRATAMENTO DESCRITIVO (ou representação descritiva), que são os
aspectos objetivos capazes de identificar extrinsecamente o documento, e TRATAMENTO TEMÁTICO (ou
representação temática), que apresenta forte carga subjetiva, caracterizando o documento sob o ponto
de vista de seu conteúdo! Agentes da área (profissional da informação): classificador; catalogador e
indexador.
Pontos de atenção: tendência de considerar as atividades de abordagem temática da informação
(classificação, catalogação por assunto, indexação temática) como uma única atividade. Equivalente a: 1)
identificar o assunto ou assuntos de um documento e 2) traduzir esse assunto(s) para a linguagem de
indexação. Porém, há diferenças: 1) classificar um documento para colocação nas estantes de uma
biblioteca, ou mais genericamente para situá-lo numa coleção (= único local para o documento na
coleção) e 2) catalogá-lo ou indexá-lo por um assunto (= possibilidades de várias entradas de assunto
num catálogo ou num índice. Tendo como limite a política de indexação do sistema, que por sua vez
incorpora princípios de recuperação da informação, mas, pode também ser afetada por questões de
ordem econômica).
FIGURA 4 – Os processos do Tratamento da Informação
Fonte: desenvolvida pela autora com base em Naves e Dias (2007).
No processo de tratamento da informação são utilizados alguns instrumentos, conforme descrito,
a seguir.
(TRATAMENTO DESCRITIVO):
�83
1)
CÓDIGOS DE CATALOGAÇÃO (Ex.: Código de Catalogação Anglo-Americano - 2ª edição - CCAA2);
2)
FORMATOS DE METADADOS (Ex.: Dublin Core);
3)
ELABORAÇÃO DE BIBLIOGRAFIAS (Índices/Abstracts): por meio de Referências Bibliográficas ou
Citações (Ex.: International Standards Organization (ISO) e Associação de Normas Técnicas (ABNT)).
(DESCRIÇÃO TEMÁTICA):
1)
LINGUAGENS DE INDEXAÇÃO (fornecem termos padronizados para representar o(s) assunto(s)
identificado(s) no documento). Tipos principais: 1.1) Alfabéticas (Ex.: Listas de Cabeçalho de Assunto
(p/bib. mais gerais) e Tesauros (p/bib. mais especializadas) e 1.2) Simbólicas: sistemas de classificação
bibliográfica (símbolos como letras e números para representar os assuntos) (Ex.: Classificação Decimal de
Dewey);
2)
TABELAS DE NOTAÇÃO: usadas em conjunto com os sistemas de classificação, auxiliam na
classificação quanto à sua tarefa de prover uma localização única e fixa para cada documento numa
coleção;
3)
NORMAS PARA ELABORAÇÃO DE RESUMOS (Ex.: International Standards Organization (ISO) e
Associação de Normas Técnicas (ABNT));
4)
MANUAIS DE INDEXAÇÃO (usados nos serviços de indexação e resumo e em bibliotecas
especializadas/técnicas ou centros de documentação);
5)
MANUAIS DE CATALOGAÇÃO POR ASSUNTO (usados em todos os tipos de bibliotecas).
No processo de tratamento da informação são gerados alguns produtos, conforme descrito, a
seguir.
1)
REGISTROS BIBLIOGRÁFICOS (representações dos documentos a que se referem POR MEIO DE:
retratação dos elementos essenciais dos documentos por meio de número reduzido de informação) – Ex.:
Referência Bibliográfica;
2)
REGISTROS CATALOGRÁFICOS (representações dos documentos a que se referem POR MEIO DE:
retratação dos elementos essenciais dos documentos por meio de número reduzido de informação) – Ex.:
Ficha Catalográfica;
3)
RESUMOS (úteis para o profissional da informação, para identificação do assunto do documento e
úteis para o usuário, para identificação da pertinência do item);
4)
METADADOS (equivalentes aos Registros Bibliográficos e Catalográficos referentes aos
documentos eletrônicos);
5)
PONTOS DE ACESSO DE CATÁLOGO (elementos da descrição que poderão ser utilizados na
pesquisa do catálogo);
6)
PONTOS DE ACESSO DE BIBLIOGRAFIAS (elementos da descrição que poderão ser utilizados na
pesquisa do catálogo);
7)
ARRANJO SISTEMÁTICO DE COLEÇÕES DE DOCUMENTOS (organização da coleção de acordo com
algum tipo de classificação por assunto. Permite a função de browsing, importante nos sistemas
automatizados, como nos websites).
7.3 O PROCESSO DE TRATAMENTO TEMÁTICO
Apresentam dois sentidos do termo indexação: um mais amplo e outro mais restrito (FIG. 5).
FIGURA 5 – Os sentidos da indexação
�84
Fonte: desenvolvida pela autora com base em Naves e Dias (2007).
Pontos de atenção: o foco da obra é a indexação acadêmica, que tem como ETAPAS: 1) extração
de conceitos que possam representar o assunto de um documento e 2) tradução desses para termos de
instrumentos de indexação ou linguagens documentárias. Sobre a questão da subjetividade, de acordo
com Strehl (1998), a coerência da indexação é colocada em risco por: 1) o conteúdo real do documento;
2) a parte desse conteúdo que será suscetível de responder às necessidades (futuras) dos usuários; 3) os
conceitos importantes que devem ser conservados para representar esse conteúdo; 4) os descritores
definidos para representar esses conceitos. Assim, havendo a necessidade de uma política de indexação,
que considere: o perfil dos usuários; o sistema de recuperação de informação. Tal política tem como
ELEMENTOS: níveis de exaustividade e especificidade; capacidade de revocação e precisão do sistema;
estratégia de busca; tempo de resposta do sistema; e forma de saída e avaliação do sistema.
Consistência: manifesta-se na similaridade dos termos de indexação atribuídos a um dado
documento por diferentes indexadores. Grau de concordância na representação do conteúdo de
informação (essencial) do documento por certas listas de termos de indexação selecionadas
individualmente e independentemente por cada indexador (ROLLING, 1981). Uma das razões para a
inconsistência pode ser no momento da expressão de conceitos, que é feita de formas diferentes em
diferentes níveis de especificidades (SVENONIUS, 1981).
Relevância: contexto da Recuperação da Informação (RI). Refere-se ao julgamento feito pelo
indivíduo ao se confrontar com o resultado de sua busca em um sistema de RI. Tem por definição:
avaliação da satisfação do usuário com relação à representação de documentos.
7.4 A LEITURA DO TEXTO PELO INDEXADOR
Definição: meio, veículo que permite a comunicação de ideias entre o sujeito que cria e dissemina
informação (emissor, autor) e o sujeito que necessita e adquire informação (receptor, leitor). A palavra
texto é confundida com documento, discurso, informação, dado, conhecimento ou mesmo com leitura.
Pode ter qualquer extensão, desde uma simples palavra, até um conjunto de frases (ORLANDI, 1987). As
estruturas do texto são: microestrutura (estrutura superficial, correspondente à realidade física do texto);
macroestrutura (tópico representativo hierárquico e coerente da unidade textual, com mínima estrutura
da representação textual sintática-semântica) e superestrutura (estrutura teórico esquemática, sendo
transição entre estruturas de superfície e de profundidade).
A leitura é definida como a prática de dar sentido perceptivo e intelectual a um texto,
considerando o sujeito, e toda sua capacidade subjetiva de interpretar. Tem como características: ser
interdisciplinar, apresentando conexão com as ciências cognitivas e a semântica. Apresenta problemas,
tais como: Problemas Continentes (significado de uma palavra desconhecida); Problemas Táticos
(organização do texto entre os planos principal e secundário); Problemas Modais (dependem da
compreensão de um conceito ou teoria) e Problemas Ontológicos (provenientes de crenças ideológicas do
leitor) (CAVALCANTI, 1989).
�85
A prática da leitura técnica tem como definição a forma de leitura do conteúdo do documento
apropriada à realização das demais tarefas de AA: identificação dos conceitos; seleção dos conceitos; e
expressão do(s) documento(s) na forma de uma frase, ou frases, de indexação. Segundo Lancaster (1993),
trata-se de um misto de ler e passar os olhos pelo texto, devendo ser uma leitura direcionada a certas
partes do texto: título; subtítulo; sumário; resumo; introdução; prefácio; apresentação; títulos dos
capítulos e bibliografia.
7.5 EXTRAÇÃO DE CONCEITOS
A definição é de um conjunto de características, que são os elementos dos conceitos e traduzem
os atributos das coisas designadas, onde, a característica mais geral corresponde a uma categoria. Tem
como características processos mentais para formar um conceito: análise (operação mental para
decompor os elementos constituintes); síntese (operação mental para recompor os elementos
constituintes); abstração (operação mental de isolar para considerá-lo à parte); generalização (estender a
toda uma classe de objetos e fenômenos os elementos essenciais, gerais). São apontados os seguintes
problemas: 1) percepção (início do trabalho mental - material prima do pensamento); emoção
(sentimentos, alterações orgânicas e impulsos para a ação); atitude (tipos de predisposição para a ação:
opiniões, preconceitos e nível de abstração); linguagem (sistema de símbolos verbais, palavras,
elaboração: elaboração e uso pela comunidade para exprimir e comunicar sentimentos e pensamentos).
O assunto constitui o produto da extração de conceitos, que representa o conteúdo informacional.
Apresenta algumas características: termo ambíguo, impreciso, difícil de definir e ensinar. Há a
necessidade da presença do indexador humano para essa atividade, visto os avanços tecnológicos, a
atividade não pode ser feita pela máquina. Além disso, não se pode definir um assunto sem que se leve
em conta o contexto; ambos os conceitos (ASSUNTO & CONTEXTO) estão juntos nas teorias tradicionais e
indexação. Na literatura mais recente, aparece o uso do termo aboutness (neste livro traduzido por
atinência), como sinônimo do termo subject (assunto) de um documento.
O contexto tem por definição: aspectos observados na leitura técnica, que se faz inicialmente, ao
analisar um documento. Possibilita incluir informação sobre o ambiente de recuperação no qual o existe.
Aspectos situacionais ou contextuais correspondem à perspectiva pragmática que é estabelecida como a
dimensão prevalente na pesquisa do texto, de forma que uma teoria textual implica uma teoria do
contexto. Exemplo: Metcalfe (1977) quando um assunto não é um assunto? = quando uma porta não é
uma porta? RESPOSTA: quando ela não está inserida em uma parede!
7.6 DETERMINAÇÃO DA ATINÊNCIA
Tem por definição: termo traduzido do inglês aboutnes. Apresenta as seguintes características:
Baranov (1983), aboutnes = concernência, do verbo concernir; adjetivo concernente. Cesarino e Pinto
(1980) apontam dois momentos que se faz AA: quando se analisa o documento e quando se analisa
questões do usuário. Beghtol (1986) diferença entre atinência extencional (assunto inerente ao
documento) e intensional (razão ou propósito pelo qual ele foi adquirido pela biblioteca ou requerido
pelo usuário).
O significado tem por definição: considera-se o significado como a representação, na linguagem,
de um significante, correspondendo o primeiro ao conceito ou à noção, e o segundo à forma. O processo
de significação é aquele em que um significante e um significado são correlatos, e o produto é o sinal. A
significação impõe uma relação transitória entre expressão (significante) e conteúdo (significado). Uma
característica, segundo Beghtol (1986), é que um texto tem uma atinência relativamente permanente,
mas um número variado de significados.
Quanto aos aspectos linguísticos, Cunha (1987) menciona que a linguística é a ciência que estuda
as línguas naturais. Sua importância para a análise documentária não está só na fase de processos de
análise, mas também na fase de elaboração de instrumentos e produtos. Apresenta as características:
�86
Cintra (1983), disciplinas linguísticas que interessam para a indexação: semântica (sentidos ou
significação dos elementos); sintaxe (relações que se estabelecem a partir da organização sintagmática
dos elementos) e morfologia (sintetiza parcialmente aspectos da semântica e da sintaxe - identificação
das partes da palavra e de suas condições de ocorrência). Destacam-se alguns problemas: Baranov
(1983), dificuldade de interrelacionamento da CI com a Linguística e o não preenchimento de
expectativas. Smit (1987) afirma que a automação da problemática da análise documentária não se
limitava às questões de sintaxe e semântica, pois ultrapassava o limite da frase e passa a se preocupar
com o texto, sendo um outro componente necessário: a lógica. Interseções com a CI: feita por meio da
Indexação Automática, sendo que o estudo do significado contribui para a pesquisa em processamento
automático de texto.
Quanto aos aspectos Cognitivos e Lógicos, pode-se dizer que, juntamente com os aspectos
linguísticos, os aspectos cognitivos e lógicos formam o TRIPÉ de sustentação do processo de AA.
Considera os conceitos: Daniels (1986), a ciência cognitiva consiste em disciplinas como: psicologia
cognitiva, linguística, inteligência artificial; filosofia; educação e idealmente, ciência da informação.
Há interseções: Garcia Marco e Esteban Navarro (1993), a Psicologia Cognitiva (PC) interessa à CI
por duas razões: 1) CI & PC são ambas ciências cognitivas num sentido amplo; ambas se interessam na
maneira como a informação produz conhecimento, como a informação é processada e como é realizada a
melhor adaptação da realidade e 2) os processos psicológicos mediam o ciclo da informação,
acontecendo, principalmente, em todos os tipos de atividades lógica formal (lida com a forma =
significante de interface entre homens, e entre homens e máquinas. Os enunciados é a variação da lógica
geral (limita-se a um sistema de símbolos) relacionando o exercício de raciocínio lógico a um cálculo
algébrico.
7.8 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS
De acordo com Cintra et al. (2002), a informação não é um dado. Ela se constrói no encontro de
duas dinâmicas, concretizadas por meio do agente que enuncia – o enunciador – para o agente que
recebe a informação – o enunciatário. Ela ocorre num espaço onde as posições desses agentes são
intercambiadas, em um jogo de forças permanente. Esse jogo de forças é sustentado pela cultura dos
agentes, em que, por meio do conjunto de signos – linguagem – consegue-se transmitir a informação.
Os significados de informação e conhecimento estão extremamente relacionados. Informação
constitui, ela mesma, um conhecimento potencialmente transmissível. A informação relaciona-se à
identificação de um sinal e supõe uma forma passível de ser interpretada como mensagem. A partir da
década de 1970, informação e conhecimento adquiriu novas relações, considerando a forma com que são
utilizados e interferem no desenvolvimento de diferentes disciplinas e áreas do saber. Assim, informação
e conhecimento são analisados sobre três diferentes aspectos complementares, a saber:
enquanto o conhecimento é estruturado, coerente e frequentemente universal, a
informação é atomizada, fragmentada e particular;
enquanto o conhecimento é de duração significativa, a informação é temporária,
transitória, talvez mesmo efêmera;
enquanto o conhecimento é um estoque, a informação é um fluxo de mensagem.
Assim, o estoque de conhecimento é alterado com o input de novas informações, em virtude de
adições, reestruturações ou mudanças. Mas, para que o conhecimento da sociedade não se perca e possa
ser compartilhado, ele é registrado num dado suporte: livro, imagem, foto, disco etc., passando a se
constituir em documento.
Com o desenvolvimento tecnológico, houve uma explosão de documentos, o que viabiliza a
importância das atividades de triagem, organização e conservação da informação, bem como a
necessidade em viabilizar o acesso a esse conjunto de informação gerada.
Esse crescimento documental é marcado, principalmente, com o surgimento das revistas
científicas, no ano de 1665, de natureza primária, aumentando-se, posteriormente, com o surgimento de
�87
revistas secundárias e terciárias. É a partir desse acontecimento que foi criado o Sistema Universal de
Informação Científica (UNISIST), com patrocínio da ONU, haja vista armazenar a informação científica em
um computador central, dotado de um sistema de busca.
Para que essa informação seja tratada e armazenada, são realizadas diferentes atividades, em um
extenso ciclo ou processo documentário. Assim, na primeira fase manifestam-se as atividades de
localização, triagem e escolha; na segunda, ocorrem as operações de controle e registro do material; e,
por fim, consolida-se a descrição do conteúdo, denominada de análise documentária. A análise
documentária utiliza operações de descrição das informações que trazem o documento, e a tradução
dessas informações numa formulação aceitável pelo sistema adotado.
O caráter científico deu à linguagem uma força tal que, hoje, pode-se dizer que ela é tomada como
chave de acesso do homem moderno às leis do funcionamento social. No intuito de conhecer a
linguagem, alguns aspectos que se sobressaem são a demarcação, significação e a comunicação. Assim, é
preciso considerar que todas as práticas humanas são tipos de linguagens, visto que elas demarcam,
significam e comunicam.
A prática da linguagem é marcada por uma tendência natural do homem: compreender, governar
e modificar o mundo. Assim, o homem situa-se em dois extremos: de um lado, situa-se a apreensão, e de
outro a compreensão. O primeiro esforço, o de fixação, equivale a uma catalogação do mundo. O outro
lado, o de coordenação, equivale a uma hierarquização do mundo.
Na prática da linguagem natural, as palavras chegam até as pessoas por intermédio dos sentidos
de forma organizada, isto é, são agrupadas de acordo com regras preestabelecidas, formando as frases.
De um lado a língua pode ser vista como um sistema cujas unidades se articulam no plano da expressão
de conteúdos, planos que se unificam com o único modo de ser do pensamento, a sua realidade e a sua
realização. Desse modo, a língua integra o universo mais amplo da linguagem e atua como elemento
fundamental da comunicação social.
A língua é, pois, um sistema de signos e regras combinatórias que, de fato, não se realiza
completamente na fala de nenhum sujeito. Ela só existe completamente na massa, no conjunto de uma
sociedade. Mas também, é um sistema de relações virtuais em permanente disponibilidade para o
falante.
A língua não é função do sujeito falante nem sucessão de palavras correspondentes a outras
equivalentes. É um sistema-estrutura de valores e formas. Os sistemas de valores não são construções
particulares de um indivíduo; são, antes, o resultado de todo um contexto sócio-histórico que determina
as condições de produção do discurso.
A utilização de linguagens documentárias remete ao desenvolvimento científico e tecnológico
vivenciado nas décadas de 1950 e 1960, em que esforços foram realizados no sentido de garantir efetiva
recuperação de informação nos sistemas de informação. Assim, essas linguagens são construídas para
indexação, armazenamento e recuperação da informação e correspondem a sistemas de símbolos
destinados a traduzir os conteúdos documentais.
Os estudos sobre as linguagens documentárias envolveram pesquisadores interdisciplinares com
os campos da Estatística e da Linguística, a primeira considerou-se a determinação de frequências de
descritores, mapeamento de ocorrências e análise de citações, o que viabilizou o desenvolvimento da
Bibliometria. A segunda, por sua vez, preocupou-se com problemas de vocabulário, tendo em vista a
construção de instrumentos mais adequados.
Tal como as linguagens naturais, as documentárias são sistemas simbólicos instituídos que visam
facilitar a comunicação. Sua função comunicativa, entretanto, é restrita a contextos documentários, ou
seja, as documentárias devem tornar possível a comunicação usuário-sistema.
Grande parte das discussões teóricas sobre linguagens documentária inserem-se no âmbito da
Análise Documentária (AD) que, por sua vez, se define como uma atividade metodológica e específica no
interior da Documentação, que trata da análise, síntese e representação da informação, com o objetivo
de recuperá-la e disseminá-la. Nesse contexto, as linguagens documentárias são, pois, instrumentos
intermediários, ou instrumentos de comutação, através dos quais se realiza a "tradução" da síntese dos
�88
textos e das perguntas dos usuários. Essa síntese é feita em unidades informacionais ou conjunto de
unidades aptas a integrar sistemas documentários. A formalização das perguntas dos usuários é feita na
linguagem do próprio sistema. É por esta razão que as LDs podem ser concebidas como instrumentos de
comutação documentária.
Mas diferentemente da LN, o sistema de relações das LDs não é virtual, nem como seus
mecanismos de articulação são extremamente precários, em face daqueles existentes nas línguas em
geral. Bem ao contrário, elementos dessa linguagem específica são selecionados de universos
determinados e seu sistema de relações é construído, sendo indispensável para utilizá-la, a existência de
regras explícitas. Por esse motivo, as LDs são linguagens construídas.
Uma LD deve integrar três elementos básicos:
• um léxico, identificado como uma lista de elementos descritores, devidamente filtrados e
depurados;
• uma rede paradigmática pronta para traduzir certas relações essenciais e, geralmente estáveis,
entre descritores. Essa relação lógico-semântica corresponde à organização dos descritores numa forma
que, lato sensu, poder-se-ia chamar classificação e;
• uma rede sintagmática destinada a expressar as resoluções contingentes entre os descritores,
relações que são válidas no contexto particular onde aparecem. A construção de "sintagmas" é feita por
meio de regras sintáticas destinadas a coordenar os termos que dão conta do tema.
Embora na LN haja diferença conceitual clara entre léxico, vocabulário, nomenclatura e
terminologia, observam-se usos sinonímios entre léxico e vocabulário, por um lado, e nomenclatura e
terminologia, por outro.
Embora mesmo nos estudos das ciências da linguagem haja, eventualmente, referência a léxico e
vocabulário como conjunto de palavras de uma língua ou de um autor, de uma arte ou de um meio social,
a rigor, léxico designa o conjunto de unidades reais e virtuais que formam a língua de uma comunidade,
algo como um depósito de elementos em estado virtual e de regras que permitem a construção de novas
unidades necessárias para as atividades humanas da fala. Já vocabulário refere-se ao conjunto de
ocorrências que integram um determinado corpus discursivo, como uma lista de unidades da fala.
Em termos de LD, não faz sentido falar em léxico, nem em vocabulário nas acepções de uma
Linguística, uma vez que esses elementos são específicos da LN. As LDs, linguagens construídas com
finalidades específicas de representação documentária, não são suficientemente articuladas, nem se
constituem em unidades geradoras de novos elementos.
Também não integram vocabulários propriamente ditos porque são formadas de palavras
preferenciais, combinando palavras de vocabulários de determinados domínios e palavras utilizadas pelos
usuários. Dessa forma, englobam vocabulários representativos de vários discursos. Assim, quando a
palavra vocabulário referir-se à LD, deve ser entendida segundo essa última acepção, que privilegia a
constituição a partir de origens diferentes. Urna nomenclatura, por sua vez, diz respeito à ação de chamar
algo por seu nome. Assim, se constitui em lista de nomes que supõem biunivocidade da relação
significado-significante. Diferentemente de uma nomenclatura, uma terminologia refere-se ao conjunto
de termos de uma área, termos relacionados e definidos rigorosamente para designar as noções que lhe
são úteis.
É bom lembrar que todo conhecimento técnico-científico desdobra-se num universo de linguagem
que condiciona o conhecimento objetivo, determina os limites e sua formulação. A representação
documentária é obtida por meio de um processo que se inicia pela análise do texto, com o objetivo de
identificar conteúdos pertinentes em função das finalidades do sistema – e da representação desses
conteúdos – numa forma sintética, padronizada e unívoca.
A síntese e a representação documentária oriundas do processo de análise podem se apresentar,
geralmente, sob duas formas: o resumo, que é feito sem a intermediação de uma LD e o índice, que, para
maior qualidade, deve ser elaborado a partir de uma LD. A operação de tradução de textos em LN para
uma LD denomina-se indexação. Inerente ao processo de indexação, estão as operações de classificação.
�89
As várias fases do processo analítico apresentam uma complexidade considerável, pois não se
trata de adquirir os documentos e armazená-los numa ordem lógica. A documentação é memória, seleção
de ideias, reagrupamento de noções e de conceitos, síntese de dados. Trata-se de criar, de avaliar, de
analisar, de "traduzir", de encontrar respostas para necessidades específicas.
Uma LD é utilizada na entrada do sistema, quando o documento é analisado para registro. Seu
conteúdo é identificado e traduzido, de acordo com os termos da LD utilizada e segundo a política de
indexação estabelecida. É da mesma forma utilizada na saída do sistema, quando, a partir da solicitação
da informação pelo usuário, é feita a representação para busca. Assim, seu pedido é analisado, seu
conteúdo identificado e devidamente "traduzido" nos termos da LD utilizada.
As LDs mais conhecidas são os tesauros e os sistemas de classificação bibliográfica. As diferenças
entre esses dois tipos reside no maior ou menor grau de reprodução das relações presentes na LN e no
universo de conhecimento que pretendem cobrir.
Os primeiros sistemas de classificação bibliográfica conhecidos são de natureza enciclopédica,
como a CDD – Dewey, a CDU - Classificação Decimal Universal, utilizada pela Biblioteca do Congresso, os
quais visam cobrir todo o espectro do conhecimento. Sistemas elaborados, posteriormente, como as
classificações desenvolvidas a partir do CRG - Class1fication Rcscarch Group, com base na Colon
Classfication, de Ranganathan, visam a domínios particulares. Os tesauros, por seu lado, originaram-se de
classificações facetadas com uma preocupação adicional: o controle do vocabulário.
7.8.1 Classificação das linguagens documentárias
As LDs mais consistentes para a representação documentária dispõem de um vocabulário que
integra elementos, de um lado da linguagem de especialidade e das terminologias e, de outro, da LN que
é a linguagem dos usuários. Essas unidades, acompanhadas ou não de uma notação, constituem o
''léxico" das LDs, denominadas, diferentemente, conforme o sistema e a época, como: palavras-chave,
descritores, cabeçalhos de assunto etc.
O vocabulário documentário tem por objetivo reunir unidades depuradas de tudo aquilo que
possa obscurecer o sentido: ambiguidade de vocábulo ou de construção, sinonímia, pobreza informativa,
redundância etc. Toda LD tem, também, uma sintaxe. Ela é bastante rudimentar nos sistemas de
classificação bibliográficos e mais desenvolvidos nos tesauros, com a utilização de operadores booleanos.
O esquema sintático de uma LD permite a delimitação mais precisa de um assunto, por meio de
combinações de seus elementos.
Nos sistemas de classificação convencionais não há grande preocupação com controle do
vocabulário. É frequente a utilização de frases, como ocorre, por exemplo, na CDU. Já nos tesauros, a
função de controle do vocabulário está mais presente. O conjunto nocional básico é apresentado em
hierarquias (na vertical), em torno das quais se agregam as unidades informacionais que se relacionam
horizontalmente. Nenhuma unidade pode se configurar numa LD sem que esteja relacionada a uma outra
unidade da mesma linguagem.
Nos tesauros, os diferentes tipos de relações entre as unidades são mais claramente apresentados
enquanto sistemas de classificação bibliográficos não raras vezes amalgamam, numa mesma hierarquia,
relações de natureza diferente.
A estrutura básica de uma LD é dada por relações hierárquicas, que podem ser genéricas ou
partitivas. O vértice representa o gênero ou o todo. As subdivisões constituem as espécies e/ou partes. As
relações hierárquicas proveem as unidades superordenadas e as unidades subordinadas. Unidades
subordinadas ao mesmo vértice, quando no mesmo nível da cadeia, denominam-se coordenadas. Nos
sistemas de classificação a estrutura hierárquica é dada pela notação (decimal, no caso da CDD e CDU). A
organização básica dos tesauros também é hierárquica, existindo tantos vértices, que equivalem a classes,
quanto forem os aspectos escolhidos para organizar o domínio de especialidade.
Além das relações hierárquicas, também se manifestam as relações não-hierárquicas,
denominadas de associativas. Enquanto as hierárquicas exprimem relações mais estáveis, as associativas
�90
viabilizam outros gêneros de proximidade. Também podem aparecer as relações por equivalência, as
quais permitem a compatibilidade entre a linguagem do sistema e a do usuário, operando no nível da
sinonímia. Nesses casos, especificamente nos tesauros, são criadas as remissivas, representadas pelas
expressões: USE (use) e UP (usado para).
7.8.2 Sistema Nocional
O sistema nocional corresponde à organização de uma dada área, por meio de notações que
permitem a utilização de instrumentos eficazes para o tratamento e recuperação da informação. Tendo
em vista que as LDs, normalmente, funcionam a partir do controle do "vocabulário" de uma área, pode-se
facilmente depreender que o sistema nocional de uma área constitui-se em um parâmetro básico, ou em
uma viga-mestra de sustentação das LDs. Nesse sentido, a ausência de um sistema nocional compromete
não só a indexação, mas também, a economia da própria atividade documentária, fragmentando-a com
questões relativas ao significado e à compreensão dos termos.
O sistema nocional pode ser definido como o conjunto estruturado de noções que reflete as
relações estabelecidas entre as noções que o compõem e o compõem e no qual cada noção é
determinada pela sua posição no sistema. A noção ou conceito, por sua vez, define-se como a unidade de
pensamento constituído por propriedades comuns a uma classe de objetos.
As relações entre as noções materializam o sistema de noções, que se expressam,
documentariamente, em relações hierárquicas e relações não-hierárquicas. As relações hierárquicas são
aquelas que se definem entre noções subordinadas em um ou vários níveis. Dito de outra forma, as
relações hierárquicas são aquelas que acontecem entre termos de um conjunto, onde cada termo é
superior ao termo seguinte, por uma característica de natureza normativa.
No conjunto de relações hierárquicas, há que se considerar os conceitos de ordem e de
subordinação. A ordem equivale a uma superordenação, que parte da subdivisão de uma noção
hierárquica mais alta em um certo número de noções de nível inferior, denominadas de subordinadas. É
esse processo de subdivisão que se chama subordinação. Inversamente, a noção subordinada é a noção
que pode ser agrupada com uma ou mais noções do mesmo nível, a fim de formar uma noção de nível
superior, ou seja, uma superordenação.
Das relações hierárquicas, manifestam-se relações genéricas, específicas e partitivas. As relações
genéricas definem-se como relações hierárquicas, baseadas na identidade parcial do conjunto de
características das noções superordenadas e subordinadas nelas envolvidas. O gênero, nesse sentido, é
entendido como noção superordenada que comporta as mesmas características das noções subordinadas
a partir dela. Já as relações específicas definem-se como relações hierárquicas subordinadas que, além de
compartilhar das mesmas características da noção que lhes é superordenada, apresenta, pelo menos,
uma característica a mais que as diferencia.
A relação partitiva é um tipo de relação hierárquica, na qual a noção superordenada refere-se a
um objeto considerado como um todo e as noções subordinadas a objetos considerados como suas
partes. As relações não-hierárquicas, por sua vez, definem-se pela negativa. Elas recobrem o conjunto de
relações que não são passíveis de serem descritas como hierárquicas. As relações que não se submetem a
uma hierarquia são aquelas que apresentam entre si contiguidade espacial ou temporal. Por essa razão,
tais relações também são chamadas de relações sequenciais.
São consideradas relações sequenciais: as de oposição, as de causa e efeito, as de contradição etc.
De certo modo, essa dificuldade em dividir as relações não-hierárquicas viabilizou a denominação das
relações associativas, as quais devem ser consideradas conforme o contexto que valide essas relações.
Nas relações hierárquicas, considera-se a divisão lógico-hierárquica, considerando pontos de vista
os quais são baseados em postulados de significado ou convenções culturais e ideológicas. Como
exemplo, pode-se citar a estruturação da CDD e da CDU, a qual foi criada com base nas dez classes
maiores, inerentes à classificação do conhecimento até então considerada à época.
�91
Esse tipo de relação também se manifesta na construção dos tesauros, os quais têm suas origens
na Colon Classification de Ranganathan (Classificação facetada) e no conceito de faceta que privilegia
determinados pontos de vista no arranjo dos domínios e subdomínios particulares, em função dos
objetivos específicos do sistema documentário em questão. Assim, a base dos termos construídos está no
conjunto de termos do domínio nuclear (a grande área de especialização) e domínios periféricos, ou áreas
complementares.
Em linhas gerais, a CDD e CDU referem-se ao universo global de conhecimento; já os tesauros
voltam-se para domínios cada vez mais particulares. Portanto, os tesauros acabam sendo mais flexíveis e
direcionados a atender demandas específicas.
Nas relações do tipo genética, supõe-se uma noção fundamental que inclui noções específicas
que, por sua vez, mantêm com ela relações hierárquicas. Assim, essas relações indicam que todo o
conceito que pertence à categoria do conceito específico (a espécie) é parte da extensão do conceito
amplo (o gênero). Um conceito específico possui todas as características do conceito mais amplo, mas,
pelo menos, uma característica distintiva adicional que serve para diferenciar conceitos específicos no
mesmo nível de abstração.
A extensão de uma noção corresponde ao conjunto de indivíduos aos quais uma noção pode ser
aplicada, e considera a totalidade de todas as espécies. A noção de extensão vem sempre associada à de
intenção ou compreensão, a qual diz respeito à totalidade das características desse conceito.
A relação partitiva expressa a relação entre o todo e suas partes. Nessa relação, o conceito da
parte depende do conceito de todo e não pode ser definido previamente à definição do conceito do todo.
Não se pode definir um motor de automóvel, antes de definirmos automóvel, por exemplo.
As diretrizes para elaboração de tesauros da UNESCO reconhecem quatro tipos principais de
classes que representam relacionamento todo/parte: sistemas e órgãos do corpo, localidades geográficas,
disciplinas ou áreas de estudo e estruturas sociais hierarquizadas.
Os conceitos que estão em uma relação partitiva podem formar séries horizontais e verticais
similares às séries horizontais e verticais formadas por relações genéricas. Essas relações estão presentes
nos sistemas de classificação bibliográfica como a CDD e CDU.
Relações sequenciais são relações que apresentam uma dependência resultante de uma
contiguidade espacial ou temporal, do tipo: causa/efeito, antes/depois, esquerda/direita, acima/abaixo,
produto/produto, material/produto. Tais relações podem, também, representar estágios de um processo
de desenvolvimento ou de produção, procedimentos legais, procedimentos administrativos. Conceitos
desse tipo, com alguma frequência, representam ações que podem ser subdivididas em ações
participativas, tomando lugar, consecutivamente ou simultaneamente.
As associações entre termos pertencentes a categorias diferentes são dadas a partir do universo
de referência individual. Para o controle de vocabulário, entretanto, é essencial conhecer e explicitar os
universos tidos como referência.
A experiência no desenvolvimento de LDs permitiu enumerar vários tipos de associações, segundo
a sua natureza. Podem-se citar como algumas relações: relação de atribuição, disciplina ou campo de
estudo, processo ou operação, relação de influência, matéria-prima/produto, coisa/aplicação, dentre
outras.
7.8.3 Relações Linguísticas e Documentação
Uma vez estabelecido um sistema nocional, existem condições para estabelecer relações entre
termos. O rigor com que tais relações se propõem determina o grau de controle de uma linguagem
construída. Dito de outro modo, uma linguagem construída é produto de uma operação nas palavras que
transforma em termos. De fato, a linguagem construída neutraliza as diferenças existentes na relação
entre a palavra e seus significados em LN.
Nela não podem coexistir, por exemplo, duas ou mais palavras que se refiram a um mesmo
conceito, ou uma palavra para designar vários conceitos, sem que o fato seja suficientemente registrado,
�92
e seja devidamente controlado. Assim, manifesta-se o que se denomina de controle do vocabulário, pois
a palavra precisa ser uma unidade "neutra", isto é, apta a se adequar a diferentes padrões culturais.
Assim, a LD se manifesta como um exercício de liberdade, visto que ela é dinâmica, já que, a cada
momento ela se transforma, se evolui. É um instrumento de representação da realidade que deve ser
caracterizado como múltiplo e plurissignificativo.
Portanto, quando se afirma que as linguagens documentárias supõem o controle do vocabulário
afirma-se, simultaneamente: a existência de mecanismos interpretativos próprios; a possibilidade de se
produzir linguagens de natureza monossêmica que participam da elaboração das LD; a existência de um
vocabulário próprio de uma LD que comporta vocabulários especializados.
Nesse contexto, tem-se o que se chama de polissemia e ambiguidade. Para a Linguística, a palavra
é sempre fonte de significação. Mas, há que se distinguir a plurissignificação, como fenômeno geral,
decorrente da organização sintático-semântico de enunciados e a polissemia, fenômeno específico da
área vocabular.
A ambiguidade, por sua vez, é entendida como a possibilidade de uma comunicação linguística
prestar-se a mais de uma interpretação e ocorre em função, tanto da plurissignificação como da
polissemia. De fato, a ambiguidade pode ser consequência, na área vocabular, da polissemia ou da
homonímia e, no plano mais geral, de deficiências na utilização de padrões sintáticos-semânticos.
Numa linguagem documentária, tanto a polissemia, quanto a ambiguidade devem ser
neutralizadas, para que seja garantida a monossemia entre a forma do significante e a do significado.
A ambiguidade evidencia, de maneira inequívoca, a divergência entre a aparência e a realidade do
sistema e nos permite dizer que a aparência não é sempre a vista interpretativa mais segura. Levados pela
aparência, operamos, normalmente, com os mecanismos interpretativos habituais e nos acostumamos
com significados repetitivos. Isso diz respeito aos nossos hábitos e não ao sistema linguístico.
A sinonímia é a relação de equivalência entre, ao menos, duas palavras. Por meio dela não se
afirma a identidade entre os elementos envolvidos na relação. A equivalência equivale como o recurso
normalizador importante para a compreensão de um LD. De um lado permite normalizar a polissemia,
indicando que várias palavras, uma vez que compartilham significados próximos, expressam-se por um
mesmo descritor. De outro modo, permite compatibilizar a linguagem dos usuários com a linguagem do
sistema, funcionando, assim, como operador de sentido.
A existência de sinônimos ou quase sinônimos nos leva a considerar relações de equivalência para
o trabalho documentário. A grande importância das relações de equivalência advém do fato de que elas
intensificam o processo de controle sobre a variação de significado, permitindo maior rigor no tratamento
da informação e eficácia na sua recuperação.
Já a categoria denominada hiponímia opera com a noção de inclusão, a mesma noção que permite
reunir unidades numa classe. A inclusão tem a ver com a inserção de um dado elemento numa classe.
Assim, a hiponímia expressa a relação existente entre um lexema mais específico ou subordinado, e um
lexema mais geral ou superordenado.
A relação de hiponímia/hiperonímia (ou subordinação/superordenação) permite verificar que um
termo pertence, ou subordina-se a um outro mais geral, o gênero, mas não permite identificar em que os
termos subordinados se diferenciam entre si.
Pode-se dizer que a relação de hiponímia representa uma operação de conjunção em face do
termo superordenado, bem como de disjunção, tomando-se a série de termos obtidos a partir da divisão
realizada.
Como na LN, nas documentárias a superordenação/subordinação representa um caso de
implicação unilateral, onde o termo superordenado implica termos subordinados, denominados
hipônimos.
A relação hiponímia colocada na Linguística permite explicar, nas LDs, vários tipos de
relacionamentos tomados como hierárquicos que não cabem dentro da classificação gênero/espécie (e
tão pouco nas relações todo/parte, parte/parte).
�93
7.9 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO
Leiva e Fugita (2012) apresentam as seguintes perguntas: Qual o interesse pela política de
indexação? Esta pergunta remete à outra: A quem interessa a política de indexação?
As duas perguntas colocadas emanam da relação estreita entre Indexação e Recuperação da
Informação. Podemos dizer de outro modo, da relação entre CAUSA E EFEITO. A indexação possui várias
características que causam efeitos na recuperação da informação. A ESPECIFICIDADE, por exemplo, é uma
das características que provoca efeitos. Podemos inferir que a recuperação da informação é o efeito e o
objetivo da indexação. Nessa perspectiva, a indexação necessita mais do que a definição do processo de
indexar e sua natureza, necessita do entendimento do contexto de gestão do sistema de recuperação da
informação composto por todos os requisitos – pessoas, comunidade usuária, domínios de assuntos,
infraestrutura física e material e funcionamento como sistema de informação – para a definição de
princípios, métodos e orientações quanto às características da indexação e efeitos na recuperação.
A política de indexação interessa a profissionais que realizam o tratamento temático de
documentos, aos gestores e dirigentes de sistemas de recuperação da informação, aos usuários e aos
próprios sistemas de informação.
Por isso, destina-se a “descortinar aos olhos” dos profissionais o processo de indexação e os
fatores que o influenciam de modo a instrumentalizá-lo no sentido da elaboração de uma política de
indexação que contemple a complexidade do contexto e da cultura organizacional dos sistemas de
informação no que se refere à recuperação da informação.
O livro tem a pretensão de realizar a aproximação da teoria com a prática, demonstrando quão
importante e colaborativa é essa união para o desenvolvimento e construção da Ciência da Informação
vista como uma Ciência Social Aplicada. O objetivo comum de todos os autores é apresentar estudo sobre
política de indexação sob três diferentes aspectos: teórico, metodológico e pedagógico.
7.10 ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Alguns problemas [volume de informações] podem ser caracterizados como aponta Maedche
(2000), por fatores como: 1) crescimento acentuado das fontes de informação digitalizada; 2) acesso,
localização e resumo de informações tornam-se cada vez mais difíceis, tendo em vista a necessidade de se
filtrar informações (a esses fatores contrapõe-se a indisponibilidade de ferramentas que possibilitem a
filtragem); 3) existência de um hiato entre o conceito de informação e as atuais formas de
armazenamento. O autor argumenta que a falta do uso de formas padronizadas para o armazenamento
de informações na web prejudica o compartilhamento do conhecimento (FEITOSA, 2006, p. 14).
Apontam dificuldades na área [recuperação da informação], tais como: 1) baixa efetividade ou
elevado custo das técnicas de pré-processamento da linguagem natural, bem como de extração de texto
semântico em grandes quantidades de dados - na maioria dos casos essas técnicas só são efetivas em
textos bem estruturados com tesauros ou com outras informações contextuais; 2) informações
distribuídas em diferentes computadores, topologias, plataformas e larguras de banda diversas - esses
fatores podem tornar o acesso bem mais complexo do que em ambientes de rede local, por exemplo; 3)
acentuada volatilidade dos dados — os autores estimavam, em 1999, que cerca de 40% da informação
disponível na internet já era modificada mensalmente, o que indica a ocorrência de baixos níveis de
preservação da informação digital (preservação de originais); 4) acentuada volatilidade de endereços e
páginas — diversos sites e páginas mudam de endereço com elevada frequência; 5) grande volume de
informações - fator que torna cada vez mais complexa a tarefa de se recuperar informações na web; 6)
dados não estruturados e redundantes — muitos sites, além de não estarem estruturados rigorosamente
segundo os padrões da Hypertext Markup Language (HTML) — ou de outras linguagens de marcação —,
não apresentam conteúdos originais; os autores estimavam que naquela época, cerca de 30% das páginas
da web já eram “duplicações” e 7) baixa qualidade dos dados, seja por problemas de correção ortográfica,
digitalização ou de correção conceitual (BAEZA-YATTES; RIBEIRO-NETO, 1999 apud FEITOSA, 2006, p. 14).
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Ao lado desses problemas, são destacadas, ainda, as dificuldades do usuário na recuperação da
informação, seja pela falta de conhecimento ao elaborar questões que reflitam seus objetivos de busca,
seja pela sua inabilidade para interpretar, classificar, priorizar ou filtrar as grandes quantidades de
informação retornadas pelo sistema de busca, selecionando apenas aqueles documentos que lhe
interessam (FEITOSA, 2006, p. 15).
Assim, a web é provavelmente o mais rico repositório de informações na história humana, mas
como a maioria dessa informação é desestruturada, não se pode saber o que ela contém e com que
propósito ou que se pode esperar dela (FEITOSA, 2006, p. 15).
Para Feitosa (2006), documentos constituem um objeto que fornece um dado ou uma informação
e pode ser diferenciado entre outros documentos, de acordo com suas características físicas ou
intelectuais (FEITOSA, 2006, p. 17).
Características: as características físicas de um documento relacionam-se aos conceitos de material,
natureza, tamanho, peso, forma de produção, suporte, entre outras. As características intelectuais
relacionam-se aos conceitos de objetivo, conteúdo, assunto, tipo de autor, fonte, forma de difusão,
originalidade, entre outras. As características intelectuais de um documento permitem definir seu
interesse, público-alvo e valor (FEITOSA, 2006, p. 17).
Características Intelectuais: destacam-se:
Objetivo - refere-se à razão pela qual o documento foi produzido: para servir como prova, para preparar
outro documento, para expor ideias, para divulgar resultados de um trabalho, para o ensino, entre
outras;
Grau de elaboração - refere-se à autoria e à finalidade de um documento. Com base na noção de grau de
elaboração é possível estabelecer-se uma classificação dos documentos em: 1) primários - documentos
originais elaborados pelo autor; 2) secundários - documentos que descrevem documentos primários,
como, por exemplo, as bibliografias, os catálogos e os resumos e 3) terciários - documentos elaborados a
partir de documentos primários ou secundários e que reúnem, condensam e elaboram a informação
original na forma mais adequada às necessidades de um usuário ou grupo de usuários.
Conteúdo - o conteúdo pode ser avaliado a partir da identificação do assunto, da forma de apresentação,
ou exaustividade da análise, do nível científico do texto, da novidade das informações, representatividade
das informações para um dado grupo de leitores, entre outras características.
Tipo - refere-se ao nível de relevância do documento; há documentos essenciais, isto é, que tratam de
assuntos que possuem interesse direto para determinada comunidade de leitores e documentos
marginais, ou seja, que possuem nenhuma relevância para o usuário (GUINCHAT E MENOU, 1994 apud
FEITOSA, 2006, p. 17).
Feitosa (2006) menciona que, quanto ao ciclo documentário, esse tratamento relaciona-se a
operações de seleção, avaliação, análise, tradução e recuperação de documentos. O conjunto de
operações de tratamento dos documentos é organizado num ciclo conhecido como cadeia documentária
ou ciclo documentário. O ciclo documentário, como qualquer outro sistema, apresenta uma extremidade
na qual entra os documentos a serem tratados; e outra na qual são apresentados os produtos
documentários, que resultam desse processamento: referências bibliográficas, descrições de
documentos, índices, instrumentos de pesquisa, documentos secundários e terciários. Os produtos
documentários são utilizados em atividades de pesquisa e, novamente, transformados em documentos
que realimentam o sistema (FEITOSA, 2006, p. 18-19). Principais atividades do ciclo documentário: a
coleta, o registro, o tratamento intelectual, a pesquisa e a difusão (FEITOSA, 2006, p. 19).
Os produtos que recebem tratamento intelectual podem ser classificados, de acordo com o nível
desse tratamento em simples, elaborados, analíticos, analítico-críticos ou complexos (CAVALCANTI, 1982).
O tratamento intelectual da informação compreende operações como a catalogação e a análise temática
da informação (FEITOSA, 2006, p. 21).
Na visão de Feitosa (2006), a análise temática da informação ocorre no processamento técnico da
informação, mais especificamente na classificação, na indexação, na disseminação, no resumo, na
recuperação e na busca. A operação classificação consiste principalmente na atribuição de um número
�95
ou outro símbolo para descrever o documento. A indexação consiste em atribuir vários descritores, que
podem ter ligações entre si, para descrever o conteúdo do documento. De certo modo, uma lista de
termos pode ser vista como uma espécie de minirresumo, uma vez que reúne os termos em uma lista ou
índice. Com relação à extensão do registro, a indexação pode ser seletiva (mais restrita) ou exaustiva
(mais completa). A operação de resumo consiste na condensação do documento em linguagem natural.
O principal objetivo do resumo é indicar de que trata o documento ou sintetizar seu conteúdo. Conforme
o nível de aprofundamento, o resumo pode ser classificado como resumo breve ou resumo detalhado
(ampliado). Esse grau de aprofundamento é também denominado extensão do registro de um resumo.
De todas as operações do processamento técnico, a mais importante para o contexto desta obra é, sem
dúvida, a indexação, da qual pode depender em grande medida a qualidade dos resultados advindos de
uma operação de busca e recuperação (FEITOSA, 2006, p. 21). Técnicas de indexação automáticas ou
semiautomáticas, normalmente baseadas em processos estatísticos, linguísticos ou baseados na
Inteligência Artificial, têm sido pesquisadas e utilizadas especialmente para aqueles textos completos que
não foram submetidos a processos de indexação manual ou de resumo (FEITOSA, 2006, p. 21).
Definida por Robredo (1982) como “operação de representar o conteúdo dos documentos,
qualquer que seja o método utilizado”, a indexação utiliza-se de instrumentos para o tratamento da
informação, de modo a obterem-se termos que representem corretamente os conceitos contidos em
determinado documento. Assim, o principal propósito de um serviço de indexação é assegurar da forma
mais eficiente e econômica possível, que qualquer documento ou informação seja fornecido ao usuário
no momento preciso (CARNEIRO, 1985). Para a consecução desse objetivo, a técnica de indexação
necessita da utilização de instrumentos normativos (normas), bem como de instrumentos linguísticos
como a linguagem natural e as linguagens documentárias (FEITOSA, 2006, p. 22).
A linguagem natural é formada pela reunião de sinais utilizados e reconhecidos facilmente pelo
homem. Quando empregada na indexação denominada “livre”, utiliza termos como se apresentam nos
documentos.
A linguagem documentária compreende o conjunto de regras, símbolos e termos previamente
estabelecidos, formando uma linguagem artificial para a indicação do conteúdo temático dos documentos
(FEITOSA, 2006, p. 23).
A técnica da indexação necessita do uso de uma linguagem de indexação, que compreende a
especialização de uma linguagem documentária. A linguagem de indexação é uma linguagem artificial
utilizada para o registro ou indicação dos temas contidos nos documentos, dotada de vocabulário
controlado e regida por uma sintaxe própria (CAVALCANTE, 1982). Um vocabulário controlado relaciona
termos utilizados em sistemas de indexação, com vistas à uniformidade de armazenagem, bem como à
facilidade de recuperação. A sintaxe compreende um conjunto de regras necessárias à tarefa de
combinação dos elementos do vocabulário (FEITOSA, 2006, p. 23). Segundo Harman (1994), o ponto
chave para qualquer indexação é a escolha dos limites do registro que identifica uma unidade pesquisável
(FEITOSA, 2006, p. 24).
O citado autor destaca que os produtos originários da operação de indexação são os índices. A
principal função da elaboração desses índices, que são instrumentos utilizados para a representação do
conteúdo de documentos primários, é facilitar a recuperação de informações relativas ao documento
indexado ou resumido. Índices, bem como resumos, geralmente são incluídos em bases de dados que
podem ser impressas, armazenadas em fichas, ou em formato eletrônico (LANCASTER, 1993) ou, ainda,
assinala Harman (1994), em um arquivo invertido ou em outra estrutura de dados, de modo que
pesquisas possam ser realizadas no índice, utilizando operadores booleanos, ou algoritmos baseados no
peso dos termos, para se obter resultados ordenados de acordo com critérios estatísticos (FEITOSA, 2006,
p. 23).
Quanto ao processo de Indexação Automática, o autor acrescenta que a decisão depende, em
parte, da natureza do objeto a ser indexado. Importa aqui destacar que a escolha do tamanho do registro
não é tão importante para a exibição dos resultados, mas, principalmente, para realização da pesquisa.
Assim, um registro muito pequeno fornece pouco texto para os algoritmos de pesquisa, o que fornece
�96
resultados pobres; um registro muito grande, entretanto, pode diluir a importância das palavras
encontradas e causar falsas ocorrências. A segunda decisão chave para qualquer sistema de indexação é
a escolha do que constitui uma palavra e, por conseguinte, quais dessas palavras devem ser indexadas.
Nos sistemas de indexação manual, a escolha é facilmente feita por um indexador humano. Para a
indexação automática, entretanto, é necessário definir que pontuação deve ser utilizada como
separador entre as palavras e definir que palavras indexar.
Definidos os limites das palavras, outro problema a ser resolvido é a indexação de números, uma
vez que o conjunto de números únicos é infinito. Não indexar os números, entretanto, pode acarretar
problemas na recuperação, quando um número for imprescindível para a pesquisa, como é o caso de
datas, anos ou números de identificação de documentos. Outro problema para a indexação é relativo aos
caracteres individuais (a, b, c etc.). Se, por um lado, indexar esses caracteres pode representar um
aumento no tamanho do índice, por outro, não indexá-los pode representar perda de informação,
quando um caractere for imprescindível à pesquisa, por exemplo: vitamina C (FEITOSA, 2006, p. 25).
Como solução para definir que palavras devem ou não ser indexadas, Harman (1994) sugere os
seguintes “compromissos”, a serem estabelecidos com o usuário: 1) a pontuação deve ser estudada e
potenciais problemas identificados; 2) deve-se estudar o uso de letras maiúsculas e minúsculas; uma
técnica visual, relata a autora, é a conversão dos caracteres maiúsculos para minúsculos durante a
indexação, o que pode, entretanto, acarretar problemas para a recuperação de nomes próprios; 3) a
indexação de números depende profundamente da aplicação; datas, rótulos de seções e números
combinados com letras podem ser indexados; outros tipos de números não devem ser indexados; 4)
quanto à indexação de caracteres individuais, pode-se verificar o alfabeto, notando-se as letras que
possuem um significado particular para a aplicação; após essa operação, tais letras podem ser indexadas
(FEITOSA, 2006, p. 25-26).
Citam-se ainda outras técnicas [baseada na ocorrência dos termos] como: indexação de palavras
não significativas; uso de sufixos; e extensão da busca — essa última, segundo Harman (1994), muito bem
sucedida em pequenas coleções.
A técnica de indexação de palavras não significativas baseia-se na construção de listas de termos
que não possuem maior relevância ao campo daquele assunto específico.
Uma técnica mais apropriada é a produção de uma lista de termos não-significativos baseada no
próprio corpus do texto a ser indexado, com base na frequência com que determinadas palavras ocorrem
naquele texto, conforme, por exemplo, a sua classe gramatical ou outro critério definido por especialistas
(FEITOSA, 2006, p. 26).
Outros sistemas utilizam a sufixação ou derivação para substituir todas as palavras indexadas com
suas raízes. Os algoritmos utilizados para realizar essa tarefa normalmente possuem três partes: uma
especificação ou qualificação da terminação da palavra; uma lista de exceções e uma ação necessária. A
utilização de sistemas de sufixação ou derivação deve-se a dois fatores primordiais: a redução do
tamanho do índice armazenado e o aumento da performance, devido ao uso de variantes das palavras
(FEITOSA, 2006, p. 27).
Outra técnica conhecida e utilizada por diversos sistemas comerciais de indexação é a da
atribuição de pesos aos termos, que fornece a possibilidade de ordenar os documentos com base no
número de termos que correspondem à pesquisa do usuário e às ocorrências desses termos nos
documentos. Essa técnica utiliza ordenações estatísticas complexas e pode ser utilizada quando se
desejar aumentar a precisão em uma busca de três ou mais termos (FEITOSA, 2006, p. 27).
Alguns sistemas de medida que podem ser utilizados por essa técnica baseiam-se no Inverted
Document Frequency (IDF), que mede a escassez de um termo no texto. Outros utilizam algum tipo de
função de medida da frequência do termo no texto. Independentemente de todas essas técnicas e
metodologias, um dos maiores problemas encontrados nos sistemas de recuperação da informação é que
documentos relevantes são perdidos porque não contêm os termos da busca (FEITOSA, 2006, p. 27).
Um método de expansão de uma busca pode ser o uso de uma linguagem documentária como
um tesauro ou uma terminologia, como instrumento de controle de vocabulário incorporado
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automaticamente ao sistema. Por esse motivo, o uso de um gerenciador eletrônico de tesauros pode ser
uma alternativa mais viável no que se refere à obtenção de resultados mais precisos (FEITOSA, 2006, p.
27).
7.11 RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Portanto, a principal função de um sistema de recuperação de informações é permitir que o
usuário localize o maior número possível de itens relevantes. É importante destacar-se, também, que
resultados satisfatórios na recuperação dependem diretamente da qualidade com que a indexação foi
realizada, isto é, da política de indexação utilizada, das regras usadas para a redação do resumo, da
qualidade do vocabulário, da qualidade das estratégias de busca, entre outros fatores (FEITOSA, 2006, p.
28).
Segundo Piedade (1977), os dois fatores que mais influenciam a revocação e a precisão, são a
exaustividade. Em resumo, o aumento da exaustividade aumenta a revocação e diminui a precisão. Por
outro lado, o aumento da especificidade diminui a revocação e aumenta a precisão. Tomando esse ponto
de vista, e lembrando que a revocação, que é definida por Lancaster (1993, p.4), como “a capacidade de
recuperar documentos úteis” tem menor importância em um sistema de indexação automática, então, o
ideal é que se aumente o nível de precisão, que o autor define como “a capacidade de evitar documentos
inúteis”, por meio do aumento da especificidade da indexação (FEITOSA, 2006, p. 29).
Os modelos de recuperação mais comuns são o booleano, o vetorial, o probabilístico e o de
atribuição de pesos. De acordo com a definição do MOLE Text Analysis Group (1991), o método de
recuperação booleana é o mais simples dos métodos de recuperação e, como diz o seu nome, baseia-se
no uso de operadores booleanos. O modelo de vetor-espaço pode ser dividido em três estágios: a)
indexação do documento, na qual os termos chaves são extraídos do documento; b) extensão dos termos
indexados para melhorar a recuperação dos documentos relevantes para o usuário; c) classificação do
documento com relação à busca, de acordo com uma medida de similaridade (MOLE, 1999b). A indexação
probabilística é baseada no pressuposto de que existe algum nível de diferença na distribuição do
conteúdo de termos-significativos e de termos não significativos. Segundo os autores, há três principais
fatores de ponderação dos termos: a) fator de frequência dos termos; b) fator da frequência da coleção; e
c) fator da extensão da normalização (FEITOSA, 2006, p. 30-31).
7.12 WEB E INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA
Os resultados são classificados por relevância e por data. A relevância é obtida com base na
localização e na frequência dos termos na página - classificação estática, correspondente à primeira
metade do algoritmo de busca, bem como pelo cálculo do número de ligações para uma página, isto é,
quanto mais ligações para uma página, maior sua relevância no contexto - classificação dinâmica,
correspondente à segunda metade do algoritmo de busca. O peso final é dado pela soma dos valores
estático e dinâmico. O sistema não utiliza meta marcações, pois são vulneráveis à intervenção dos
autores das páginas em busca de melhores classificações nos sistemas de busca (FEITOSA, 2006, p. 44).
Utilizar das metas tags para a descoberta de conteúdo de uma página, essa técnica passou a ter
menor importância na indexação automática da web e seu uso tem sido mais bem fiscalizado com
tecnologias anti-spam que, inclusive, apenam os sites cujo uso for considerado abusivo (FEITOSA, 2006, p.
45).
Nesse âmago, surgem os metadados. A palavra meta dados origina-se do prefixo metá, que
significa mudança, posteridade, além, transcendência e reflexão crítica sobre alguma coisa. A palavra
dado, no sentido informativo, refere-se à informação codificada (FERREIRA, 1996). Assim, juntando-se os
termos, pode-se chegar a uma noção de transcendência sobre a informação, ou de uma possível
descrição da informação que os dados representam. Nessa perspectiva, meta dado é todo dado físico,
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isto é, contido em algum software ou qualquer tipo de mídia, e que fornece informação sobre outra
informação. De uma maneira mais simples, é possível dizer, também, que meta dado é “dado sobre
dado”. O conceito de metadado está associado, ainda a conhecimento - contido em pessoas ou mídias dentro e fora de uma organização, incluindo informação sobre dados físicos, processos técnicos e de
negócios, regras e restrições sobre os dados e estruturas de dados usados por uma corporação. Assim,
falar sobre metadados é também, falar sobre conhecimento (MARCO, 2000) (FEITOSA, 2006, p. 47).
Historicamente, é a partir dos anos 1990, que o conceito de metadados foi se alterando e,
atualmente, o desafio com que se deparam os especialistas em informação é a habilidade para
diferenciarem repositórios de metadados de dicionários de dados. Os sistemas tornaram-se mais flexíveis
e não integrados; criaram-se os conceitos de armazéns de dados e mercados de dados; com o advento
dos negócios realizados em linha, muitas necessidades de informação dos usuários ficaram ainda a serem
preenchidas; com a popularização dos negócios realizados em linha, aumentou, proporcionalmente, a
necessidade de se implementar maior nível de segurança e de confiança aos dados envolvidos nas
transações (MARCO, 2000 apud FEITOSA, 2006, p. 50).
No sentido do saber biblioteconômico, metadado pode ser considerado como dado estruturado,
que compartilha diversas características similares para a catalogação, e que descreve as características de
um determinado recurso informacional (FEITOSA, 2006, p. 50).
Benefícios do uso dos metadados: a) metadados são estruturados e, desse modo: a) podem
formar a base para o desenvolvimento de sistemas de busca mais avançados; b) podem ser convertidos
para outros formatos, de modo que possam interoperar com diferentes protocolos de busca e
recuperação; c) em relação a documentos publicados na internet, pensando-se em recuperação
automatizada, torna-se mais fácil a extração de conteúdo de uma base de dados de descrição de
recursos, do que arquivos textuais em formato HTML; d) metadados administrativos podem ser utilizados
para facilitar o gerenciamento do sistema de informação, uma vez que ajudam a avaliar quando os
recursos devem ser revistos ou removidos da base de dados (DAY, 2000 apud FEITOSA, 2006, p. 52-53).
Em relação ao agrupamento dos elementos de metadados de um recurso informacional, Day
(2000) sugere uma classificação, segundo o uso, em: a) dados descritivos - são aqueles que contêm
informação passível de utilização por sistemas de busca, como: título; título abreviado; título alternativo
(em outro idioma, por exemplo); subtítulo; descrição; URI; autor; idioma; codificação do conjunto de
caracteres; organização (de criação e de hospedagem do documento); formatos de arquivo (por exemplo,
texto, imagem, áudio, vídeo), meio físico, propriedade intelectual ou copyright, disponibilidade (por
exemplo, indicação se o acesso à informação é gratuito ou sujeito a registro); software requerido para
acesso (navegadores específicos, software de MIDI); e público-alvo; b) dados do assunto - são aqueles
que descrevem o conteúdo do documento, como: palavras-chaves; código de classificação; sistema de
classificação; e termos do tesauro ou cabeçalho de assuntos; c) dados administrativos - são aqueles que
facilitam a organização e a administração do sistema de informações, como, por exemplo: responsável
pela manutenção do documento; data de adição do documento ao sistema; data da última modificação;
data de expiração (por exemplo, de um anúncio de conferência); catalogador do documento; origem do
registro; e proprietário dos direitos (FEITOSA, 2006, p. 53).
A escolha de um formato de metadados é uma das decisões mais importantes no
desenvolvimento de sistemas de informação, e é essencial que tal formato permita a integração com o
software que forma a base do sistema (FEITOSA, 2006, p. 54).
O formato Dublin Core é, na atualidade (2006), um dos mais importantes meios de descrição de
recursos da internet e é um exemplo das iniciativas que se propõem a definir um core (núcleo) de
metadados, isto é, um conjunto de dados essenciais que possam ser utilizados como padrão para
descrição de recursos na web. O esquema Dublin Core caracteriza-se pela sua utilidade e flexibilidade na
representação de dados (FEITOSA, 2006, p. 54).
A Dublin Core Metadada Iniciativi (DCMI) iniciou-se em 1995, com o workshop realizado em
Dublin, no estado de Ohio, nos Estados Unidos, que congregou bibliotecários, pesquisadores especialistas
em Biblioteconomia e bibliotecas digitais, provedores de conteúdo e especialistas em técnicas de
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marcação de textos. O objetivo desse workshop era promover a melhoria dos padrões de descoberta da
informação na web (FEITOSA, 2006, p. 54).
O número de elementos [Dublin Cobre] foi elevado para quinze - título, criador, assunto,
descrição, editor, colaborador, data, tipo, formato, identificador, fonte, idioma, relação, cobertura e
direitos (FEITOSA, 2006, p. 55).
Os diretórios foram a primeira solução proposta para organização de conhecimento na web e
surgiram com uma intenção de se coletar manualmente, ou por meio de indicações de usuários, a maior
quantidade de informações possível, contando-se a grande variedade dos assuntos disponíveis na
internet. Segundo Wall (2004), o primeiro mecanismo de buscas a ser disponibilizado na internet foi o
Archie, criado em 1990, pelo estudante Alan Emtage, na Universidade McGill, em Montreal.
Com o advento da web, Matthew Gray introduziu o seu sistema World Wide Web Wanderer, mais
tarde conhecido como Wandex, que inicialmente tinha apenas a intenção de medir o crescimento da web
por meio da contagem dos servidores web ativos (FEITOSA, 2006, p. 34).
Segundo Wall (2004), 1998 foi o último ano de lançamento de super mecanismos, como o Google,
que introduziu a característica de classificação dos resultados com base nas ligações com outras páginas
(FEITOSA, 2006, p. 37).
Criado em 1996, como resultado de uma dissertação de mestrado, o Mamma foi um dos primeiros
serviços de busca a introduzirem o conceito de metabusca na internet (FEITOSA, 2006, p. 40).
A técnica de clustering difere de outras como a classificação, a construção de taxonomia e a
marcação de metadados, uma vez que é totalmente automatizada, dispensando a intervenção humana.
De acordo com informações obtidas no site do serviço, o maior desafio da técnica de clustering tem sido o
de buscar e organizar rapidamente os grupos de conhecimento relativos à pesquisa do usuário (FEITOSA,
2006, p. 41).
É importante conceituar a web semântica como uma estrutura de representação de dados na
World Wide Web, por meio de um esforço colaborativo liderado pelo W3C, com a participação de
pesquisadores e de empresas de desenvolvimento de software de todo o mundo (FEITOSA, 2006, p. 121).
No que tange às ontologias, definem-se como “[...] elemento basilar na construção da web
semântica, pois acredita-se que favorecerão um entendimento comum e compartilhado sobre um
determinado domínio de conhecimento, tanto entre pessoas como entre computador” (FEITOSA, 2006, p.
121).
XML fornece uma sintaxe básica para a estruturação de documentos, mas não possui elementos
que lhe permitam impor restrições semânticas ao significado de tais elementos (FEITOSA, 2006, p. 121).
O RDF “é um modelo de dados para objetos ou ‘recursos’ e tal modelo pode ser representado
utilizando-se a sintaxe da XML” (FEITOSA, 2006, p. 121).
O RDF-SCHEMA “é um vocabulário para a descrição de propriedades e classes de um modelo RDF,
com a utilização de elementos semânticos para generalização de tais propriedades e classes” (FEITOSA,
2006, p. 121).
O OWL fornece mais vocabulário para a descrição de propriedades e classes, por meio de: a)
relações entre classes – por exemplo: disjunção; b) cardinalidade – por exemplo: univocidade; c)
igualdade; d) maior riqueza de propriedades para a especificação de tipos de dados; e) propriedades
relativas a características – por exemplo: simetria; e) enumeração de classes (W3C, 2003). Esses são,
também, os objetivos da linguagem DAML + OIL (OUELLET; OGBUJI, 2002 apud FEITOSA, 2006, p. 121 122).
7.13 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1 - Análise de assunto é a etapa que constitui o trabalho intelectual do indexador. Analise a
afirmativa a seguir. A _________________ se tornou a estratégia clássica de leitura para análise de
assunto. Consiste em uma leitura direcionada para certas partes do documento vai ao encontro de
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elementos especificamente importantes para identificação do assunto ou assuntos do documento.
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna.
a) Leitura técnica b) Consistência c) Relevância d) Leitura documentária
Questão 2 - No âmbito da indexação, a expressão “de que trata um documento", refere-se à
a) atinência. b) revocação c) especificidade. d) exaustividade e) precisão.
Questão 3 - As Linguagens Documentárias (LDs), assim como os vocabulários controlados, têm sido
ferramentas imprescindíveis para o bibliotecário, principalmente na representação da informação nas
rotinas de análise e síntese da informação. Diante desse contexto, observe:
___________________ permitem que se estabeleçam padrões de classificação e ordenação de
informações por meio de herança, ou seja, pelo relacionamento hierárquico (gênero/espécie) entre os
objetos. A conceituação proposta por ____________________ deve ser representada de maneira formal,
legível e utilizável por computadores, de maneira a permitir o compartilhamento e o reuso do
conhecimento entre os sistemas. ____________________ tem objetivo de controle terminológico,
utilizados em sistemas de informação para traduzir a linguagem dos documentos, dos indexadores e dos
pesquisadores numa linguagem controlada, usada na indexação e na recuperação de informações.
Para o preenchimento das lacunas, a ordem CORRETA consta apenas em:
a) Tesauros – Taxonomias – Ontologias. b) Ontologias – Taxonomias – Tesauros. C) Taxonomias –
Ontologias – Tesauros. D) Tesauros – Ontologias – Taxonomias.
Questão 4 - O processo que utiliza a operação de tradução de textos em Linguagem Natural (LN) para
uma Linguagem Documentária (LD) se denomina: a) automação.
b) normalização.
c) indexação.
d) recuperação.
Questão 5 - Uma Linguagem Documentária (LD) é utilizada na entrada de um sistema de informação
quando o documento é analisado para: a) registro.
b) empréstimo. c) aquisição. d) seleção
Questão 6 - A Análise Documentária (AD) se define como um conjunto de procedimentos metodológicos
para representar o conteúdo informacional de documentos e com o objetivo de:
a) recuperar e armazenar informação.
b) recuperar e disseminar informação.
c) organizar e
armazenar informação. d) organizar e coletar informação.
Questão 7 – Os primeiros sistemas de classificação bibliográfica considerados de natureza enciclopédica e
que visam abranger todas as áreas do conhecimento são: a) CDU, LC e tesauro.
b) CDD, CDU e LC.
c) CDD, CDU e tesauro. d) CDD, LC e tesauro.
Questão 8 - Uma das Linguagens Documentárias mais desenvolvidas que faz uso de operadores boleanos
para construção de novas relações entre os termos é o (a): a) CDD. b) CDU.
c) LC. d) tesauro.
Questão 9 - Na construção de um tesauro, é fundamental o emprego de relações conceituais. Nesse
contexto, se dois conceitos diferentes possuem características idênticas e um deles possui uma
característica a mais do que o outro, pode-se afirmar que entre eles se estabelece uma relação: a) de
equivalência. b) hierárquica. c) partitiva. d) de oposição.
Questão 10 - Na prática da indexação, utiliza-se vários conceitos que interferem na recuperação da
informação em um sistema. Em relação aos conceitos apresentados, marque V para as assertivas
verdadeiras e F para as falsas.
�101
( ) Especificidade é o nível de detalhe com que um tópico examinado num documento é abrangido numa
representação desse documento. O nível de especificidade possível é determinado pelas características
do vocabulário empregado na indexação.
( ) Exaustividade é a extensão com que a diversidade dos dados descritivos se acha abrangida numa
representação do documento. O nível de exaustividade corresponde ao número de termos atribuídos.
( ) Pertinência é a relação que existe entre uma fonte de informação e a necessidade de informação de
uma determinada pessoa num determinado momento. Somente a pessoa que expressa a necessidade de
informação é quem pode decidir sobre o que é ou não pertinente.
( ) Precisão é a extensão com que os itens recuperados durante uma busca numa base de dados são
considerados relevantes ou pertinentes. Uma busca que alcance precisão alta será aquela em que a
maioria dos itens recuperados forem considerados relevantes ou pertinentes.
Assinale a sequência correta: a) F, F, F, V - b) V, F, V, V c) V, V, V, F d) F, V, V, F.
REFERÊNCIAS
CINTRA, A. M. M. et al. Para entender as linguagens documentárias. 2. Ed. São Paulo: Polis, 2002.
DIAS, E. W.; NAVES, M. L. Análise de assunto: teoria e prática. Brasília: Thesaurus, 2007.
FEITOSA, A. Organização da informação na web: das tags à web semântica. Brasília: Thesaurus, 2006.
GIL LEIVA, I.; FUJITA, M. S. L. Política de indexação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.
�102
AULA VIII: Representação Descritiva da
Informação - Catalogação
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
CONTEÚDOS DA AULA
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8 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA: REFLEXÕES INICIAIS
A catalogação tem seu fundamento em um conjunto de informações que simbolizam um registro
de conhecimento.
É preciso que sua representação não seja um trabalho mecânico, e sim se fundamente nos
relacionamentos entre os registros do conhecimento, que precisam ser estabelecidos e pensados para
que os usuários tenham alternativas de escolha em suas buscas, além de auxiliá-los na localização do item
buscado no acervo físico ou ciberespacial (GODINHO et al., 2014).
Catalogação é o estudo, preparação e organização de mensagens codificadas, com base em itens
existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir a intersecção entre as
mensagens contidas nos itens e as mensagens internas dos usuários.
Catálogo é um canal de comunicação estruturado, que veicula mensagens contidas nos itens, e
sobre os itens, de um ou vários acervos, apresentando-as sob forma codificada e organizada, agrupadas
por semelhanças, aos usuários desse (s) acervo (s) (CASTRO; SANTOS, 2009).
É um dos instrumentos mais antigos na história da descrição e organização da informação
registrada. Muitas vezes define-se o catálogo como lista ordenada dos documentos existentes em um ou
mais acervos (CASTRO; SANTOS, 2009).
O bibliotecário/catalogador elabora representações de itens documentários de uma determinada
organização ou unidade de informação, de forma a simplificar a busca e a recuperação dos mesmos.
Essas representações abrangem tanto o aspecto físico dos itens como seu conteúdo. Com essas
representações, criam-se instrumentos que serão utilizados como subsídios para as práticas
biblioteconômicas: bibliografias, catálogos, boletins de serviço de alerta, entre outros (CASTRO; SANTOS,
2009).
Cabe também ao profissional bibliotecário promover a divulgação dos itens documentários,
permitindo que os usuários encontrem itens novos.
8.1 CATALOGAÇÃO: HISTORICIDADE
SÉCULO XIX: SÉCULO DAS LUZES PARA A CATALOGAÇÃO
A primeira sistematização de um moderno corpo de regras de catalogação foi elaborado em 1840
pelo bibliotecário Anthony Panizzi, em conjunto com os seus colaboradores, o qual gerou 91 regras de
catalogação. Panizzi inovou ao pensar em um catálogo de autores e índice de assunto para o Museu
Britânicom (Inglaterra) em um momento onde havia um caos na instituição.
Em 1850, a ideia de catalogação cooperativa foi lançada por Charles Coffin Jewett, criando um
sistema uniformizado de catalogação, idealizado para funcionar como um catálogo coletivo. Além de
funcionar como uma central de catalogação, o serviço forneceria um instrumento de acesso às coleções.
Cabeçalhos de responsabilidade e obras anônimas de Jewett são seguidos até hoje (GODINHO et al.,
2014).
- Algumas conquistas – Ano de 1876: Criação da ALA - Lançamento da CDD - Código de Cutter.
Grande importância atribuída a Cutter, não apenas pela criação do sistema de classificação, com
destaque à notação de autor, mas pela criação de um código que continha 369 regras que incluem
normas não só para entradas por autor e por título, mas também para a parte descritiva, cabeçalhos de
assunto, e ainda alfabetação de arquivamento de fichas (GODINHO et al., 2014).
Novas conquistas – Século XX.
CRIAÇÃO DO CÓDIGO DA ALA
Inúmeras tentativas foram realizadas em prol de realizar a confecção das fichas de uma única vez,
por uma central de catalogação, mas essas tentativas não foram implementadas. No ano de 1901, na
tentativa de levantar a questão na Conferência da ALA, realizada em Winconsin, Melvil Dewey comprova
e justifica a imprescindível urgência da criação de um programa de catalogação cooperativa e
centralizada. No mesmo ano, a LC começou a imprimir suas fichas catalográficas para venda e a ALA
nomeou uma comissão encarregada de estudar as regras adotadas pela LC.
�104
O percurso histórico da catalogação, com destaque a alguns acontecimentos marcantes, a partir
de meados do século XX, pode ser visualizado na figura abaixo:
1 – Representação Descritiva: Catalogação Cooperativa
CONFERÊNCIA DE PARIS – 1961 – CONQUISTAS PRÉ E PÓSCONFERÊNCIA
RIEC
Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada (ISBD)
CRIAÇÃO DO AACR2
GRUPO DE ESTUDOS PARA ESTUDOS DOS FRBR
Catalogação cooperativa no Brasil – SIC – DASP - IBBD
(GODINHO et al., 2014)
Projeto Calco – Formato Marc - 1973
8.2 O NASCIMENTO DA CATALOGAÇÃO COOPERATIVA
Catalogação cooperativa é o trabalho realizado por várias bibliotecas e enviado a uma Central, que
se encarrega de normalizar e reproduzir suas fichas e distribuí-las a uma coletividade. A catalogação
compartilhada “Sharedcataloging” é um exemplo de catalogação cooperativa, efetuada pela Library of
Congress – LC (GODINHO et al., 2014).
No Brasil, a catalogação cooperativa está ligada ao nascimento do Projeto Calco, o qual propunha
os principais objetivos:
1 - elaborar um catálogo que arrole a maior parte da produção bibliográfica atual servindo de
instrumento para a pesquisa nos pontos mais distantes do país;
2 - obter bibliografias especializadas;
3 - fazer a permuta de informações no Brasil e fora do país;
4 - obter catálogos coletivos especializados;
5 - padronizar normas de catalogação e cabeçalhos de assuntos;
6 - acelerar a duplicação de fichas, e
7 - economizar tempo e mão de obra para bibliotecas que possuem as mesmas obras (GODINHO
et al., 2014).
A Library of Congress (LC) sempre se preocupou com a padronização e o intercâmbio de
informações bibliográficas, iniciando um programa de intercâmbio de fichas e integrando as facilidades da
automação aos trabalhos de representação descritiva.
Foi constituído, então, um projeto piloto denominado MARC (Machine Readable Cataloguing), que
iniciou a padronização de registros bibliográficos em meio magnético.
O uso do formato MARC 21 torna os dados bibliográficos legíveis por computador, possibilitando
seu compartilhamento por meio de diferentes sistemas (FURRIE, 2000).
A existência de redes de catalogação cooperativa possibilitou a criação de bancos de dados
bibliográficos e catalográficos que também fornecem registros, já existentes, às suas cooperantes.
Entende-se por base de dados cooperativa a reunião dos registros bibliográficos de diferentes
unidades de informação em meio magnético, constituindo-se em um catálogo coletivo onde os mesmos
podem ser consultados e aproveitados por qualquer uma das unidades de informação integrantes da rede
(SOUZA; MOSTAFÁ, 1999, p. 128).
No Brasil, muitas unidades de informação integraram-se à rede de catalogação cooperativa
BIBLIODATA contribuindo para o crescimento da base de dados central, para o compartilhamento de
recursos informacionais, aperfeiçoando o controle bibliográfico, bem como promovendo a divulgação da
coleção existente em cada unidade participante.
�105
O Banco de Dados Bibliográficos da Rede BIBLIODATA é composto por: Bases Bibliográficas
(Português e Outras Línguas) e Bases de Autoridade (Assuntos e Autores), distribuídas em dois CD-ROMS
de catalogação.
A Rede BIBLIODATA é uma experiência nacional na criação de uma rede de catalogação
cooperativa, que objetiva a difusão dos acervos bibliográficos do país, o aperfeiçoamento dos serviços de
documentação e informação das instituições participantes e o compartilhamento dos recursos
bibliográficos e catalográficos (GODINHO et al., 2014).
A Rede BIBLIODATA tem como missão a disseminação da informação por meio do
compartilhamento de dados e serviços entre bibliotecas, contribuindo para o desenvolvimento cultural e
socioeconômico do país. Como um dos objetivos da Rede BIBLIODATA tem-se o desenvolvimento e
manutenção do Catálogo Coletivo da Rede, construindo metodologias e instrumentos para a catalogação
cooperativa.
Vantagens da Catalogação Cooperativa
1 - auxiliar o trabalho de catalogação realizado pelos profissionais da informação;
2 - aponta para um trabalho de contribuição entre estes profissionais.
3 - não é apenas uma economia de tempo, mas a padronização de dados descritivos, a facilidade
na busca, na identificação de autoria da obra, na compra de livros, na compilação de bibliografias e na
confecção de catálogos de bibliotecas (GODINHO et al., 2014).
Desvantagens da Catalogação Cooperativa
1 - demora na confecção dos registros pela central;
2 - diferenças de formatos;
3 - desconfiança do trabalho alheio;
4 - adoção de diferentes níveis nas bibliotecas;
5 - custo para se filiar ao consórcio;
6 - a barreira linguística (GODINHO et al., 2014).
8.3 A AUTOMATIZAÇÃO DAS BIBLIOTECAS: A CONVERSÃO RETROSPECTIVA
Num cenário marcado por inovações tecnológicas, agilização dos meios de comunicação e
usuários de informações mais exigentes, surge a preocupação das bibliotecas em automatizar seus
acervos. Para tanto, utilizam um processo que agiliza a automação de bibliotecas, o de conversão
retrospectiva – retrospective conversion - RECON, que facilita a promoção do acesso às informações de
acervos de forma rápida e eficaz (GODINHO et al., 2014).
Não se pode pensar no processo de automação e na formação de catálogos on-line sem a
utilização do processo de conversão retrospectiva, pois esse é um processo preliminar que proporciona
uma maior rapidez ao acesso às informações até então, descritas na maioria das vezes, em suporte papel
e permitirá o intercâmbio de dados bibliográficos e catalográficos de modo digital (CASTRO; SANTOS,
2009).
A RECON consiste na transformação de fichas do catálogo em registros legíveis por máquina. O
princípio da RECON é o aproveitamento de registros existentes em outras bases na formação da base de
dados local, diminuindo o esforço de catalogar em máquina o material da biblioteca. Então, esse processo
contribuiu para a consolidação da CATALOGAÇÃO COOPERATIVA (CASTRO; SANTOS, 2009).
Ao falarmos em representação descritiva e conversão retrospectiva, não podemos nos esquecer
dos bancos de catalogação cooperativa, como por exemplo, a base OCLC (On Line Computer Library
Center), e a BIBLIODATA - Fundação Getúlio Vargas, pois é através deles que podemos compartilhar
informações bibliográficas e catalográficas de forma rápida (CASTRO; SANTOS, 2009).
No processo de informatização de acervos documentais (arquivos, bibliotecas e centros de
documentação), a simples disponibilidade de software e hardware não é condição suficiente para a
utilização, são também necessários os dados referentes ao acervo (CASTRO; SANTOS, 2009).
�106
A criação de arquivos de registros bibliográficos é considerada a parte mais difícil dos projetos de
automação de bibliotecas, mas também importante para qualquer projeto dessa natureza (ALMEIDA et
al., 1994, p. 43) (CASTRO; SANTOS, 2009).
Deve ser feito um levantamento do acervo que deve ser contemplado pelo projeto para
determinar claramente a quantidade e tipo de material a ser convertido; determinar a quantidade de
títulos catalogados e não catalogados, se existirem; qual o suporte em que se encontram, isto é, catálogos
de fichas, listagens, meio magnético etc. (CASTRO; SANTOS, 2009).
Deve-se relacionar e tabular todos os detalhes com os totais de cada caso. É importante
determinar a prioridade, ou seja, qual acervo deve ser tratado em primeiro lugar, pois caso os recursos
não forem suficientes, será tratado o que for mais necessário (CASTRO; SANTOS, 2009).
A conversão retrospectiva pode ser realizada de diversas formas, e a escolha do melhor método
para uma unidade de informação dependerá do tipo e tamanho da coleção, o orçamento será um fator
preponderante, bem como a qualidade da demanda, o tempo previsto e as necessidades dos profissionais
(CASTRO; SANTOS, 2009).
Nos estudos sobre o tema percebe-se que muitas vezes é possível, para as bibliotecas que já
contam com seus registros em meio magnético, adaptar suas bases de dados ao novo ambiente, ou seja,
converter seus registros para que sejam utilizados no novo sistema. A forma mais básica de conversão é
digitar as informações das fichas diretamente em uma planilha eletrônica, o que pressupõe,
naturalmente, a existência de um software específico para receber e tratar os registros (CASTRO;
SANTOS, 2009).
Um projeto de conversão retrospectiva, se bem planejado e executado, é altamente vantajoso
para a biblioteca, pois é uma forma rápida e eficiente para incorporar ao catálogo on-line centralizado os
registros que se encontram em catálogos manuais ou dispersos muitas vezes em diversas bases
provisórias de soluções locais (CASTRO; SANTOS, 2009).
8.4 VAMOS EXERCITAR?
Questão 1 - Definimos Catalogação de assunto:
a)Característica de uma entidade. Um atributo pode ser intrínseco a uma entidade ou ser-lhe
externamente imputado.
b)Qualidade de uma entidade, atributo ou relação que possui significado ou valor especial no contexto de
recursos bibliográficos.
c)Parte da catalogação que fornece termos de assunto controlados e/ou números de classificação.
d)A parte do processamento bibliográfico que fornece quer os dados descritivos quer os pontos de acesso
que não são de assunto.
e)Conjunto real ou virtual de duas ou mais obras combinadas ou publicadas conjuntamente.
Questão 2 - A Catalogação cooperativa é uma experiência internacional no intercâmbio de informações
bibliográficas que se iniciou nos Estados Unidos. O Brasil também possui diversas instituições que
trabalharam na implementação de uma rede de catalogação cooperativa. Analise as afirmativas a seguir e
assinale com V as VERDADEIRAS e com F as FALSAS.
( ) No início da Rede, os catálogos coletivos e os catálogos de Autoridades (nomes e assuntos) eram
distribuídos para as bibliotecas participantes em formato de fichas catalográficas impressas.
( ) A missão principal da Rede é disseminar a informação por intermédio de dados e serviços entre as
bibliotecas participantes contribuindo assim para o desenvolvimento de uma rede de bibliotecas
universitárias.
( ) Qualquer instituição pública ou privada que faz adesão por meio de um contrato com a Rede Bibliodata
pode participar da Rede Bibliodata.
( ) O CALCO foi um projeto elaborado para que houvesse uma relação entre bibliotecas, fazendo com que
fosse possível a permuta de informações dentro e fora do país e padronizar normas de catalogação.
�107
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA das letras.
A) (F), (F), (V), (V). B) (F), (V), (F), (V). C) (V), (F), (V), (F). D)(V),(V),(F),(V).
Questão 3 - Referindo-se ao tema objeto desta questão, Chaumier (1988) identifica nele “quatro estágios
distintos: conhecimento do conteúdo documental realizado por meio da leitura documental; escolha dos
conceitos representativos do assunto abordado por meio da identificação dos conceitos a partir do
conteúdo documental; tradução dos conceitos selecionados; e incorporação dos elementos sintáticos
eventuais”. O processo a que o autor se refere é denominado: A) processo de catalogação. B) processo
de representação e organização do conhecimento. C) processo de representação do conhecimento. D)
processo de indexação.
Questão 4 - A catalogação deve possuir as seguintes características:
a) Integridade, Clareza, Precisão, Lógica, Consistência;
b) Integridade, Definição, Precisão, Lógica, Consistência;
c) Integridade, Clareza, Precisão, Relatividade, Consistência;
d) Integridade, Clareza, Definição, Lógica, Consistência;
e) Relatividade, Clareza, Precisão, Lógica, Consistência.
f)
Questão 5 - O estudo, preparação e organização de mensagens, com base em registros do conhecimento,
reais ou ciberespaciais, existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir a
interseção entre as mensagens contidas nestes registros do conhecimento e as mensagens internas dos
usuários, refere-se à: A) Indexação. B) Catalogação. C) Recuperação da informação. D) Relevância. E)
Necessidade de informação.
Questão 6 - As redes e catálogos resultantes de catalogação cooperativa são:
a) Formato CALCO e Bibliodata, ambos da FGV.
b) Formato CALCO e Formato MARC 21.
c) Rede Bibliodata, OCLC e WordCat.
d) Formato MARC 21 e Protocolo Z39.50.
e) Rede Bibliodata e Formato MARC 21.
Questão 7 - Um dos mais importantes exemplos de cooperação bibliotecária existentes no Brasil é a Rede
Bibliodata. Sobre essa rede, considere os seguintes objetivos:
1. Difusão dos acervos bibliográficos do país.
2. Desenvolvimento de metodologias e instrumentos para a aquisição bibliográfica cooperativa.
3. Aperfeiçoamento dos serviços de documentação e informação das instituições participantes.
4. Compartilhamento dos recursos empregados.
A Rede Bibliodata visa: a) 1 e 2 apenas. b) 1 e 3 apenas. c) 2, 3 e 4 apenas. d) 1 e 4 apenas. e) 1, 3 e 4
apenas.
Questão 8 - Redes de serviços de apoio institucional visam o compartilhamento de dados, o
desenvolvimento de padrões comuns e a comutação bibliográfica entre bibliotecas. Qual das alternativas
refere-se a redes de serviços de apoio institucional?
a) MARC 21, AACR2, Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil.
b) Rede Bibliodata, COMUT, Catálogo Coletivo Nacional (CNN).
c) LILACS, MEDLINE, Science Citation Index.
d) Directory of Open Access Journal, COMUT, CDS/ISIS
______________________________________________________________________________________
�108
8.5 CATALOGAÇÃO DE DIFERENTES MATERIAIS: AACR2
8.5.1 Estrutura do Código de Catalogação Anglo-Americano e formas de descrição
O Código de Catalogação Anglo-Americano - 2ª edição (CCAA2, ou AACR2 a partir da sigla em
inglês) é um compêndio de regras para a criação de descrições bibliográficas e para a escolha, a
construção e a atribuição dos pontos de acesso (cabeçalhos) representando pessoas, localizações
geográficas e entidades coletivas, além de títulos uniformes representando obras e expressões (AACR2,
2002).
A PRIMEIRA EDIÇÃO: publicada em 1969, com adaptações do bibliotecário Abner Lellis Corrêa
Vicentini, responsável por sua tradução. Essa primeira edição resultou em fins didáticos para as entidades
do curso no país (AACR2, 2002).
Código de Catalogação Anglo-Americano - 2ª edição (CCAA2, ou AACR2 a partir da sigla em inglês).
Surgiu mais tarde, a segunda edição, que continha a nova forma de descrição bibliográfica, publicada
em 1978 (AACR2, 2002).
Traduzida paulatinamente para o português, a mencionada obra foi publicada em dois volumes,
contendo o primeiro a Parte I do AACR2, relativa à Descrição, além dos Apêndices A a D e do índice
correspondente ao texto (AACR2, 2002).
O segundo volume compreende a Parte II dessas regras, como: Cabeçalhos, Títulos Uniformes e
Remissivas, cujos capítulos, já traduzidos, devem sofrer acurada revisão (AACR2, 2002).
O AACR é oriundo da Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada (ISBDs) e segue a
normalização proposta por essa norma, tanto em termos de pontuação quando em termos dos
elementos da descrição, os quais são agrupados em oito grandes áreas, as quais formam a estrutura
completa de um registro bibliográfico, conforme visualizado na figura abaixo:
O AACR2 está composto por uma parte destinada à descrição dos diferentes tipos de recursos ou
materiais informacionais. Na descrição de um item, considerar todos os seus aspectos: se é publicado ou
manuscrito, suporte, conteúdo, tipo de publicação, relacionamento com outras obras. Usar sempre as
regras específicas aplicáveis ao item de preferência às regras gerais.
Apresenta parte introdutória, formada pelos elementos: Estrutura da Parte I – Descrição,
Introdução, Introdução geral, Regras 0.1. a 0.14., Introdução, Regras 0.21. a 0.29. Essas introduções
explicam o que é o código, sua finalidade, sua estrutura, estrutura das regras, cabeçalhos definidos como
entrada principal ou secundária, os apêndices (AACR2, 2002).
Ainda na Parte I manifestam-se os capítulos, tais como: 1 Regras gerais para descrição, 2 Livros,
folhetos e folhas soltas impressas, 3 Materiais cartográficos, 4 Manuscritos (incluindo coleções
manuscritas), 5 Música, 6 Gravação de som, 7 Filmes cinematográficos e gravações de vídeo, 8 Materiais
gráficos, 9 Recursos eletrônicos, 10 Artefatos tridimensionais e realia, 11 Microformas, 12 Recursos
contínuos, 13 Análise (AACR2, 2002).
A partir das áreas e dos elementos que as compõem, é possível formar o registro, conforme figura
a seguir. Além disso, importante que o catalogador assegure-se sobre qual parte do recurso (fonte de
informação) pode ser utilizada para seleção dos dados descritivos.
�109
Importante considerar algumas recomendações quando da realização do processo de catalogar:
não “reinventar a roda” o que significa: com o uso de normas e padrões vários catalogadores não
precisam mais catalogar um mesmo item. Compartilhamento de registros bibliográficos. Possibilidade de
integração em redes de catalogação cooperativa. Possibilidade de transferência de registros bibliográficos
on-line de redes de catalogação cooperativas nacionais e internacionais, como participantes dessas redes.
Possibilidade de transferência de registros bibliográficos via WORLDCat. Possibilidade de localização de
itens em bases de dados acessadas pela internet, por exemplo, a Library of Congress e transferência
desses registros (AACR2, 2002).
8.6 VAMOS EXERCITAR?
Questão 1 - Segundo orientação do AACR2 não se deve omitir a data de publicação, distribuição, etc. Se
nenhuma data for identificada, o código sugere que o catalogador registre uma data aproximada. Sendo
assim, marque a opção em que o catalogador indica uma data provável:
A) 1975? B) (1975?) C) [1975?] D)[197--.] E)(19-?)
Questão 2 - No que tange às normas, aos formatos e aos modelos conceituais para a catalogação
descritiva de um item, relacione a COLUNA II de acordo com a COLUNA I considerando as principais
características e objetivos das normas, dos formatos e dos modelos. 1.RDA 2.MARC 21 3.FRBR
4.AACR2
( )Construída com base na AACR2, oferece os princípios e as instruções para registro de dados sobre
recursos hoje conhecidos e os que ainda venham a ser desenvolvidos.
( )Faz uma abordagem centrada no usuário, analisa quais requisitos de dados o usuário utiliza para
realizar a busca e o que ele espera encontrar de informação no registro bibliográfico.
( ) Foi originalmente elaborada num ambiente de materiais majoritariamente impressos e de catálogos
em fichas; seu uso ativo durante décadas se deve ao seu efetivo processo de revisão.
( )Forma-se por conceitos relevantes presentes neste modelo conceitual: as entidades obra e expressão.
( )A forma como foi projetada proporciona uma estrutura coerente, flexível e extensível tanto para a
descrição técnica quanto de conteúdo de todos os tipos de recursos e conteúdos.
( )Instrumento indispensável ao catalogador que busca automação, este formato possibilita às bibliotecas
compartilharem recursos bibliográficos com, a garantia de que seus dados serão compatíveis, mesmo que
substituam seus sistemas
Assinale a sequência CORRETA. a)1 2 4 3 2 1 b)4 3 2 1 3 1 c)3 1 4 2 4 3 d)1 3 4 3 1 2
Questão 3 - Na catalogação, a “regra dos três" é o princípio que determina que:
�110
•
•
•
•
•
a)numa obra com mais de três autores, se um deles estiver destacado na página de rosto, será
feita entrada principal por este, e secundárias para todos os que o antecederam naquela página.
b)uma obra com até três autores terá entrada principal pelo primeiro citado e secundárias para os
demais; ou, se tiver mais de três autores, terá entrada secundária apenas para o primeiro.
c)toda a obra, com autoria conhecida ou atribuída, será recuperada pelos nomes de seus autores,
desde que sejam até três, através de cabeçalho principal ou secundário.
d)qualquer obra com responsabilidade compartilhada terá o primeiro autor citado como ponto de
acesso principal; e todos os demais como pontos de acesso secundários.
e)para a eficácia do catálogo gerado, o catalogador deve limitar-se a determinar, até três entradas
secundárias por obra catalogada, além da entrada principal pelo nome do autor.
Questão 4 - Conforme define o AACR2, o processo de preparação de um registro bibliográfico que
descreve parte ou partes de um item para o qual utilizou-se uma entrada mais ampla é a:
A) classificação facetada.
B) indexação.
C) análise.
D) catalogação secundária.
E) referência.
Questão 5 - Certa vez, nosso ilustre "bruxo das letras" usou seu nome verdadeiro, Joaquim Maria
Machado de Assis, em crônicas literárias e o bem conhecido pseudônimo, Machado de Assis, para assinar
obras satíricas. Ao definir o cabeçalho de entrada para o autor, usando o AACR2 − Revisão 2002, o
bibliotecário deve escolher:
a) o nome verdadeiro, pois este é base do cabeçalho para pessoas, fazendo remissiva do
pseudônimo para esta forma.
b) o pseudônimo, pois este é o nome pelo qual o escritor é geralmente conhecido, fazendo remissiva
do nome verdadeiro para esta forma.
c) o pseudônimo, caso esta forma seja determinada com base nas fontes de referência, fazendo
remissivas cruzadas entre os dois nomes.
d) as duas formas, pois se trata de identidades bibliográficas distintas, fazendo remissivas para
relacionar os nomes entre si.
e) o nome verdadeiro ou o pseudônimo, dependendo de qual foi usado com mais frequência,
fazendo remissiva da forma adotada para a outra.
_____________________________________________________________________________________
8.7 METADADOS NO ÂMAGO DA CATALOGAÇÃO
Metadados são um conjunto de dados-atributos, devidamente estruturados e codificados, com
base em padrões internacionais, para representar informações de um recurso informacional em meio
digital ou não digital, contendo uma série de características e objetivos (MORENO et al. 2005).
Quando pensamos em metadados, a primeira ideia que nos permeia é inspirada no seu uso no
ambiente da biblioteca; no seu papel de um esquema formal para descrição de todo tipo de objetos
informacionais, digitais e não digitais. A catalogação tradicional é uma forma de atribuição de metadados.
Relacionada à função de catalogação, existe outra importante razão para a criação de metadados:
facilitar a descoberta de informações relevantes, seja no ambiente da biblioteca, seja no ambiente web. O
exemplo mais ilustrativo é o Dublin Core Metadata Element, uma das mais importantes iniciativas na área
de metadados, cujo objetivo essencial é apoiar a descoberta de recursos no extenso e fragmentado
universo web, que apesar da sua riqueza informacional não foi pensado especificamente para a
recuperação de informação (MORENO et al. 2005).
�111
Atributos ou metadados são como os elementos de descrição bibliográfica propriamente ditos.
Nos FRBR, são categorizados de acordo com as entidades, incluindo os mais diferentes tipos de materiais
e suas características (MORENO et al. 2005).
Abrange desde registros sonoros tendo como atributos modalidade de captação, meio físico,
extensão do suporte, velocidade de execução (no caso de uma manifestação), até objetos cartográficos,
por exemplo, que possuem, na expressão, como atributos: escala, projeção, técnica de apresentação,
entre outros. Um recurso eletrônico de acesso remoto, por exemplo, apresenta como atributos as
características do arquivo, forma de acesso, endereço de acesso, e assim por diante (MORENO et al.
2005).
De acordo com o propósito a que são utilizados, os metadados podem ser classificados em
diferentes nomes, tais como: administrativos, descritivos, de preservação, técnicos e de uso. O quadro, a
seguir, ilustra essas modalidades de metadados, com as respectivas definições e exemplos.
8.8 REQUISITOS FUNCIONAIS PARA REGISTROS BIBLIOGRÁFICOS (FRBR)
É um modelo conceitual resultante do estudo realizado por um grupo de estudo da IFLA entre os
anos de 1992 e 1997. O FRBR foi publicado em 1998.
O FRBR é um modelo conceitual: não é um código de catalogação, não é um formato, não é uma
norma, não é um padrão, não é um código, não é um princípio de catalogação. Como modelo conceitual,
o FRBR resulta da abstração de uma realidade, no caso, a realidade é o “universo bibliográfico” (MORENO
et al., 2005).
Os FRBR foram ampliados posteriormente à sua publicação em outros dois modelos para dados de
autoridades e dados de assunto, os Functional Requirements for Authority Data (FRAD) – dados de
autoridade, e os Functional Requirements for Subject Authority Data (FRSAD)- autoridade de assuntos,
respectivamente (MORENO et al., 2005).
Esse modelo foi essencial para fornecer a estrutura subjacente e conferir forma à RDA (Recursos:
Descrição e Acesso). Tanto o FRBR e o FRAD representam modelos de entidade-relação. Estão centrados
no usuário e objetivam as seguintes ações: FRBR (registros bibliográficos): encontrar, identificar,
selecionar e obter (ou adquirir); e FRAD (dados/registros de autoridade): encontrar, identificar,
contextualizar e justificar (MORENO et al., 2005).
Os objetivos propostos pelo modelo conceitual FRAD são:
�112
1 - prover um quadro para a análise dos requisitos funcionais para o tipo de dados de autoridade que é
requerido no controle de autoridade e no seu compartilhamento internacional;
2 - fornecer um quadro estruturado de referência que relacione os dados elaborados pelos criadores do
registro de autoridade para atender as necessidades de seus usuários;
3 - e auxiliar na avaliação do potencial de cooperação internacional e utilização de dados de autoridade,
tanto em bibliotecas como em outras instituições (MORENO et al., 2005).
Os objetivos do estudo que deu origem ao FRBR foram:
1 - prover um quadro definido com clareza e estruturado para relacionar os dados que são registrados em
registros de bibliográficos às necessidades dos usuários desses registros; e
2 - recomendar um nível básico de funcionalidade para registros criados por agências bibliográficas
nacionais (MORENO et al., 2005).
Para o desenvolvimento do FRBR foi utilizada uma metodologia baseada na técnica de análise de
entidades, ou modelo Entidade-Relacionamento.
O FRBR define entidades, atributos e relacionamentos do universo bibliográfico. Entidade é aqui
entendida como uma ‘coisa’ ou um ‘objeto’ no mundo real que pode ser identificada de forma unívoca
em relação a todos os outros objetos. Uma entidade pode ser concreta ou abstrata. Por sua vez, atributos
são as diversas características que um tipo de entidade possui, ou propriedades descritivas de cada
membro de um conjunto de entidades. Um relacionamento é uma associação entre uma ou várias
entidades (MORENO et al., 2005).
Grupo 1 – entidades que são produto de trabalho intelectual ou artístico: obra (uma distinta
criação artística ou intelectual), expressão (a realização artística ou intelectual de uma obra),
manifestação (a materialização de uma expressão de uma obra) e item (um único exemplar de uma
manifestação). As entidades vinculadas ao grupo 1 são demonstradas no diagrama abaixo:
Grupo 2 – entidades responsáveis pelo conteúdo intelectual ou artístico, pela produção física e
disseminação ou pela guarda das entidades do Grupo 1: pessoa (um indivíduo) e entidade coletiva (uma
organização ou grupo de indivíduos e/ou organizações) (MORENO et al., 2005).
Grupo 3 – entidades que, juntamente com as entidades dos grupos 1 e 2, servem como “assunto”
da entidade obra: conceito (uma noção abstrata ou ideia), objeto (uma coisa material), evento (uma ação
ou ocorrência) e lugar (um local) (MORENO et al., 2005).
Alguns dos atributos definidos no FRBR são: título, forma e data da obra; forma, data e idioma da
expressão; título, edição, local e data de publicação, publicador e suporte da manifestação; identificador
e origem do item; nome, datas e títulos de uma pessoa; nome, locais e datas associadas a uma entidade
coletiva; termos representando conceitos, objetos, eventos e lugares (MORENO et al., 2005).
8.9 MACHINE READABLE CATALOGUING – CATALOGAÇÃO LEGÍVEL POR COMPUTADOR (MARC)
MARC quer dizer Machine Readable Cataloguing (catalogação legível por computador). Indica a
forma de como descrever os elementos de dados de forma legível por máquina. Os formatos MARC são
publicados pela LC de forma concisa ou completa (FURRIE, 2000).
O Mar é o padrão para representação de dados bibliográficos em formato legível por máquina.
Representa um conjunto de padrões para identificação, armazenamento e comunicação da informação
de catalogação. Um registro catalográfico significa um registro bibliográfico, ou a informação
tradicionalmente apresentada em uma ficha catalográfica. O registro inclui: 1 – descrição do item; 2 –
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entrada principal e secundárias; 3 – cabeçalhos de assunto; 4 – classificação ou número de chamada,
dentre muitos outros detalhes (FURRIE, 2000).
Uma ficha catalográfica não pode ser simplesmente digitalizada no computador. Ela precisa ser
normalizada, de acordo com um formato em que o computador possa entendê-la. Um registro em Marc
contém um guia para esses dados, ou pequenos sinalizadores, antes de qualquer elemento da informação
bibliográfica (FURRIE, 2000).
Um registro criado em formato MARC 21 é formado por três elementos:
1- Estrutura do registro: para controle do processamento;
2 - Indicação de conteúdo: os campos, indicadores e subcampos;
3 - Conteúdo dos elementos: que compõem um registro em MARC, o qual é definido por padrões
externos ao formato, como por exemplo o AACR2, entre outras convenções usadas pela instituição que
gera um registro (CASTRO; SANTOS, 2009).
Ainda podem ser identificados na estrutura de um registro, os seguintes elementos:
- Campo: um registro bibliográfico é dividido logicamente em campos, os campos em subcampos.
Ex.: campo publicação, distribuição, etc. é dividido em subcampos local, editora e data;
- Delimitadores: identificam os códigos de subcampos;
- Código de subcampo: caractere alfabético ou numérico que identifica o subcampo (FURRIE,
2000).
Para estrutura do formato MARC, a LC criou também um conjunto de regras para a descrição e
organização dos dados em fita magnética. A partir dessas regras, foram criados os protocolos Z39.50 e ISO
2709 que orientam sobre a estrutura de um registro e a transferência de dados bibliográficos,
respectivamente. Os dados em meio magnético são estruturados de forma a possibilitar o intercâmbio de
registros bibliográficos. A estrutura do formato, mesmo quando semelhante, não garante a
compatibilidade do registro. Há que se considerar o conteúdo dos registros que irão influenciar
fortemente na recuperação da informação (CASTRO; SANTOS, 2009).
Na nova geração de sistemas, os padrões são essenciais para garantir maior eficiência e
conectividade. O uso do formato MARC, por exemplo, garante que as bibliotecas substituam seu sistema
de automação por outro com a segurança de que os dados armazenados pelo antigo sistema não sejam
perdidos na conversão retrospectiva (CASTRO; SANTOS, 2009).
Os campos e subcampos estão relacionados em uma estrutura de descrição para cada dado
catalográfico em específico, conforme descrito: 0XX - Informação de controle, números e códigos; 1XX Entrada principal; 2XX Título e parágrafos do título; 3XX - Descrição física; 4XX - indicação da série; 5XX
– Notas; 6XX – Assunto ; 7XX - Entradas secundárias; 8XX - Entradas secundárias de série; 9XX Informações locais (FURRIE, 2000).
A representação do livro “Capitães de Areia”, de Jorge Amado, por exemplo, em formato Marc,
pode ser visualizada abaixo:
AMADO, Jorge. Capitães da areia : romance. 110. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2003 256 p.
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8.10 RESOURCE DESCRIPTION AND ACCES (RDA)
O Resource Description and Access (RDA) é um padrão para catalogação descritiva lançado
inicialmente em junho de 2010, o qual fornece instruções e diretrizes para a formulação de dados
bibliográficos. Destinado ao uso por bibliotecas e outras organizações culturais, como museus e arquivos,
a RDA é a sucessora das Regras de Catalogação Anglo-Americanas, Segunda Edição (AACR2).
A RDA surgiu da Conferência Internacional sobre os Princípios e Desenvolvimento Futuro da AACR,
realizada em Toronto em 1997. É publicado conjuntamente pela Associação Americana de Bibliotecas, a
Federação Canadense de Associações de Bibliotecas e o Instituto Chartered de Profissionais de
Biblioteconomia e Informação (CILIP) no Reino Unido. A manutenção da RDA é de responsabilidade do
Comitê de Orientação da RDA (RSC). A partir de 2015, a RSC está passando por uma transição para uma
estrutura de governança internacional, prevista para vigorar em 2019 (OLIVER, 2011).
As instruções e diretrizes do RDA estão disponíveis por meio do RDA Toolkit, um serviço de
assinatura on-line e em um formato impresso. Os materiais e textos de treinamento da RDA estão
disponíveis on-line e impressos (OLIVER, 2011).
O RDA esteve nas mãos dos mesmos responsáveis pelo AACR2, portanto, os dois códigos possuíam
a mesma governança. “Estrutura” é uma palavra tão ampla que pode ser utilizada para se referir a muitas
coisas do RDA: estrutura administrativa, estrutura das seções, capítulos, elementos, regras, estrutura.
Muitas instruções do RDA derivam das AACR2. A RDA nasceu de uma tentativa inicial de fazer uma
revisão radical das AACR (OLIVER, 2011).
Os princípios desse novo código são os seguintes:
- Diferenciação: os dados devem diferenciar um recurso de outro;
- Suficiência: os dados devem ser suficientes para que o usuário possa selecionar o recurso apropriado às
suas necessidades;
- Relações: os dados devem mostrar as relações bibliográficas significativas que existem entre os recursos;
- Representatividade: os dados devem refletir o recurso descrito;
- Precisão: os dados devem ser inequívocos;
- Uso comum: os dados usados, fora do previsto pelo próprio recurso, devem refletir o uso comum
(OLIVER, 2011).
A RDA introduz novos elementos descritivos, novas abordagens da descrição do suporte e do
conteúdo e novas formas para melhorar o acesso. A RDA aperfeiçoa e tem como base diversas normas
para descrição de recursos. A RDA é um modelo conceitual resultante do estudo realizado por um grupo
de estudo da IFLA entre os anos de 1992 e 1997 (OLIVER, 2011).
Antes de se optar pelo uso da norma RDA, faz-se necessária uma avaliação da instituição quanto
aos custos e benefícios gerados para os usuários na busca por recursos informacionais. Vale destacar que
o Brasil ainda não apresenta softwares com uma completa aderência aos modelos conceituais FRBR e
FRAD, base teórica da RDA. Assim, os benefícios promulgados por esses modelos nos relacionamentos
entre os registros e entidades ainda não podem ser verificados na recuperação da informação, que com
os novos conceitos será mais apropriadamente denominada ‘descobertas de recursos’ (OLIVER, 2011).
8.11 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - Os Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR) são um modelo conceitual do
universo bibliográfico e estão possibilitando transformações no campo da Representação Descritiva e de
modelagem de bancos de dados. Tendo em vista as entidades dos Grupos 1 e 2 dos FRBR, observe os
enunciados a seguir:
I. A publicação da primeira edição do livro “Ágata noturna”, de Emmanuel Tugny, pela editora Sulinas.
II. A tradução do livro “The bookman’s pomise” para o português, por Alvaro Hattnher. As entidades dos
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Grupos 1 e 2 dos FRBR que representam corretamente os relacionamentos apontados nos enunciados I e
II são, respectivamente,
A - Obra – Entidade coletiva e Expressão – Pessoa.
B - Manifestação – Pessoa e Item – Entidade coletiva.
C - Manifestação – Entidade coletiva e Expressão – Pessoa.
D - Obra – Entidade coletiva e Obra – Pessoa.
E - Manifestação – Entidade coletiva e Obra – Pessoa.
Questão 2 - O novo padrão voltado para o mundo digital, que tem em seu desenvolvimento as bases
estabilizadas pelo AACR2r e pela tradição anglo-americana em catalogação, na qual se baseia, é o:
(A) RDA (Resource Description and Access).
(B)FRAD (Functional Requirements for Authority Data).
(C)FRBR (Functional Requirements for Bibliographic).
(D)ISBD (International Standard Bibliographic Description).
Questão 3 – Observe excertos de um registro bibliográfico no formato MARC 21, transcritos a seguir, e
assinale a opção que apresenta uma leitura CORRETA do registro:
a)O segundo indicador do campo 245 indica que será gerada uma nota secundária de título.
b)O campo 650 não foi utilizado corretamente, pois o mesmo é dedicado à descrição de assunto
geográfico.
c)O campo 090 representa o número de chamada local adotado pela agência catalogadora.
D)O campo 240 informa que “Wuthering hights” é uma forma variante do título principal.
e)O campo 041 informa que a obra descrita apresenta textos em português e inglês.
Questão 4 - As principais características do padrão de metadados MARC 21 são:
a)estrutura descritiva simples, baseados em normas emergentes que descrevem e identificam o recurso
de forma estruturada com propósitos gerais.
b)estrutura descritiva complexa, altamente estruturada, com descrição específica, exaustiva, baseados
em normas e códigos próprios de domínio bibliográfico.
c)estrutura descritiva complexa, altamente estruturada, com descrição geral, simplificada, baseados em
normas do domínio web.
d)estrutura descritiva simples, não estruturada, de semântica reduzida, baseados em normas do domínio
web.
8.12 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão 1 - A informação que descreve a estrutura de dados e sua relação com outros é dado o nome de
Metadados. Assinale a afirmação correta sobre metadados:
a)Registros bibliográficos não são considerados metadados.
b)Os metadados diferem dos dados bibliográficos ou catalográficos porque a informação de localização
acha-se contida no registro.
c)Metadados não fornecem localização de documentos que estejam em pontos remotos.
d)Os metadados seguem um padrão predeterminado.
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Questão 2 - Em uma biblioteca digital, os padrões de metadados incluem metadados com funções
distintas, que podem ser divididos em
I.
descritivos, usados na descrição de recursos informacionais.
II.
estruturais, utilizados na estruturação visual da biblioteca digital.
III.
administrativos, empregados na administração de recursos informacionais. I, II e III são exemplos,
respectivamente, de metadados para:
a) catalogação de registros, apresentação de documentos na Internet e controle de acesso.
b) digitalização de acervos, registro de exibição na base e conversão restrospectiva.
c) recuperação da informação, formatação de documentos digitais e preservação de recursos.
d) automação de coleções, composição de documentos eletrônicos e compartilhamento de aplicações.
e) identificação de materiais, publicação de documentos na web e localização de recursos eletrônicos.
Questão 3 - Os modelos conceituais Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR)
e Functional Requirements for Authority Data (FRAD) influenciaram na estrutura teórica que dá forma
à Resource Description and Access (RDA), na terminologia e nos conceitos, tendo como foco o:
(A)formato de apresentação e o de recuperação
(B)catálogo e o uso do dado bibliográfico
(C)conteúdo e a definição do escopo da norma
(D)registro bibliográfico e as normas de catalogação
(E)usuário e as tarefas que precisa executar
Questão 4 - Com o crescente aparecimento de materiais em formato digital, foi necessária uma revisão
do Código de Catalogação AACR2, surgindo o(a):
(A)ICP – Princípios de Catalogação Internacional.
(B)FRBR – Requisitos Funcionais para Registro Bibliográfico.
(C)FRAD – Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade.
(D)ISBD – Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada.
(E)RDA – Recursos para Descrição e Acesso.
Questão 5 - Analise as afirmativas abaixo, em relação aos metadados, assinalando aquelas que estão
corretas.
I. Um registro de metadados consiste em um conjunto de atributos ou elementos necessários
especificamente para descrever recursos que estão disponíveis na internet.
II. Assim como o Padrão Brasileiro de Metadados de Teses e Dissertações, o padrão Dublin Core também
possui 15 elementos para descrição dos recursos.
III. O elemento Descrição do Dublin Core compreende uma exposição sobre o recurso.
IV. Diversos estudos e reuniões têm sido realizados para que seja feita uma total compatibilização entre o
código RDA e o padrão de metadados Dublin Core.
V. Os elementos descritivos do Dublin Core foram baseados nos campos variáveis mais importantes do
MARC para descrição de itens informacionais.
Assinale, a seguir, a alternativa em que foi indicada a sequência correta. A) I, II e III B) III, IV e V C) II, III e V
D) I, III e IV
Questão 6 - Em relação aos metadados, as afirmativas abaixo são verdadeiras, EXCETO.
A)Os metadados surgiram com a necessidade de se criar uma estrutura para a descrição padronizada de
documentos eletrônicos especificamente aplicados a bibliotecas digitais.
B) Os metadados são importantes para facilitar a interoperabilidade e integração de recursos.
C) O padrão Dublin Core de metadados foi elaborado em 1960 pela Library of Congress (LC) para atender
a necessidade de se ter um padrão para entrada de dados bibliográficos nos primeiros sistemas de
automação de biblioteca.
�117
D) MARC, Dublin Core e RDF são padrões de metadados.
Questão 7 - Em relação aos Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR) e aos Requisitos
Funcionais para Dados de Autoridade (FRAD), analise as afirmativas a seguir e assinale com V as
VERDADEIRAS e com F as FALSAS.
( ) Os modelos promovem uma mudança de perspectiva porque os dados são analisados segundo sua
utilidade para os usuários do sistema.
( ) O objetivo principal da RDA é atender às necessidades das bibliotecas.
( ) Os modelos FRBR e FRAD são modelos de entidade-relação.
( ) Uma Manifestação, que pertence ao segundo grupo do modelo FRBR, é a materialização de uma
expressão de uma obra, ou seja, seu suporte físico que é representada pelo Item, um único exemplar de
uma manifestação.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. A) (F), (V), (F), (V). B) (V), (F), (V), (F). C) (V),
(V), (V), (F). D) (F), (F), (F), (V).
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MÓDULO IV
ESTUDOS DE USUÁRIOS E USO DA
INFORMAÇÃO
Aula IX: Competência Informacional,
COMUT e Normas Bibliográficas
Aula X: Usuários, produtos, serviços,
necessidades e usos
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AULA IX: Competência Informacional,
COMUT e Normas Bibliográficas
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
CONTEÚDOS DA AULA
�120
9 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
Competência informacional (information literacy) é um termo que vem se adentrando ao contexto
de atuação dos profissionais da informação. Usado inicialmente nos Estados Unidos para designar
habilidades ligadas ao uso da informação eletrônica, ele foi assimilado pela classe bibliotecária e
atualmente insere-se de forma vigorosa no discurso dos bibliotecários americanos. Cabe também ao
profissional bibliotecário promover a divulgação dos itens documentários, permitindo que os usuários
encontrem itens novos (CAMPELLO, 2003).
No Brasil, o termo está em construção, sendo mencionado pela primeira vez, no ano 2000
Caregnato (2000), traduzido como alfabetização informacional. Referia-se, à expansão do conceito de
educação de usuários e ressaltava a necessidade de que as bibliotecas universitárias se preparassem para
oferecer novas possibilidades de desenvolver nos alunos habilidades informacionais necessárias para
interagir no ambiente digital (CAMPELLO, 2003).
O trabalho de Dudziak (2003) considera a competência informacional além da tecnologia. A
competência informacional é o mesmo que alfabetização informacional, letramento, literacia, fluência
informacional, competência em informação. Não há como negar o potencial desse conceito no papel da
Biblioteca Escolar (BE) quanto à educação no século XXI (CAMPELLO, 2003).
As discussões em torno do tema Competência Informacional, no Brasil, foram tomada como
estratégia pedagógica no âmago da biblioteca, de modo a construir um novo paradigma educacional para
a biblioteca e de se repensar o papel do bibliotecário (CAMPELLO, 2003).
Considerando o contexto peculiar do surgimento do termo competência informacional, no Brasil,
o conceito de letramento seria o mais adequado para embasar ações que busquem ampliar a ação
educativa da biblioteca (CAMPELLO, 2003).
No contexto da BE, é preciso considerar a função educativa da biblioteca, tendo em vista o
aparecimento do Serviço de Referência; a ampliação da Educação de Usuários (EU), a qual promoveu
características pró-ativas nos usuários de bibliotecas. Assim, educação de usuário é uma antecedente da
competência informacional (CAMPELLO, 2003).
No final da década de 1950, surgiu no EUA, a Bibliographic Instruction, cujo objetivo foi instruir o
leitor no uso da coleção, treinando-o para manusear fontes de informação consideradas apropriadas e
relevantes para a aprendizagem de determinado tópico do currículo (CAMPELLO, 2003).
Segundo Campello (2003), a fase inicial da educação de usuários centrou-se na abordagem da
fonte ou foco na coleção, e a segunda fase desse tipo de educação sustentou-se na abordagem guia ou
foco no programa. Todavia, novas abordagens permitem manifestar a valorização no aluno, tendo o
bibliotecário e a biblioteca papel fundamental no processo de mediação da aprendizagem, conforme
destacado no esquema abaixo:
Em 1975, foi percebida a necessidade de se ampliar o espaço da biblioteca no processo
pedagógico. Assim, novos padrões foram lançados, dessa vez recomendando a participação do
bibliotecário no planejamento curricular (CAMPELLO, 2003).
Nessa ocasião, o termo information literacy foi usado pela primeira vez. Em 1974, Paul Zurkowsky,
então presidente da Information Industries Association, mencionou-o em relatório submetido à National
Commission on Libraries and Information Science (CAMPELLO, 2003).
Sugeriu que o governo norte-americano se preocupasse em garantir que a população do país
desenvolvesse competência informacional que lhe permitisse utilizar a variedade de produtos
informacionais disponíveis no mercado (CAMPELLO, 2003).
�121
Assim, o termo passou a ter forte relação com a cidadania, pois cidadãos competentes no uso da
informação teriam melhores condições de tomar decisões relativas à sua responsabilidade social.
Na década de 1980, novas atribuições são direcionadas ao bibliotecário, sendo considerado como:
1 - professor, encarregado de ensinar não apenas as habilidades que vinha tradicionalmente ensinando
(localizar e recuperar informação), mas também envolvido no desenvolvimento de habilidades de pensar
criticamente, ler, ouvir e ver, enfim, ensinando a aprender a aprender;
2 - consultor didático, encarregado de integrar o programa da biblioteca ao currículo escolar,
colaborando no processo de ensino/aprendizagem e assessorando no planejamento e na implantação de
atividades curriculares (CAMPELLO, 2003).
As teorias da aprendizagem exercem influências marcantes no desenvolvimento da Competência
Informacional e o papel do bibliotecário nesse contexto. Assim: Teoria Construtivista da Aprendizagem e
Aprendizagem Baseada em Recursos viabilizou a Competência Informacional (CAMPELLO, 2003).
Em 1983, houve a divulgação do documento A Nation at Risk: the Imperative for Educational
Reform, que apresentou um diagnóstico da situação de deterioração em que se encontrava o ensino
público nos Estados Unidos. No entanto, esse documento não menciona o potencial das bibliotecas e dos
bibliotecários, o que promoveu uma REAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS (CAMPELLO, 2003).
Como formas de reação, a classe promove a Divulgação do Libraries and the Learning Society:
Papers in Response to A Nation at Risk, publicado em 1984 pela ALA, em que os autores demonstravam a
contribuição que a biblioteca escolar poderia oferecer para uma educação que ensinasse o aluno a
aprender a aprender e desenvolvesse habilidades para buscar e usar informação, consideradas essenciais
para viver em uma sociedade complexa e mutável (CAMPELLO, 2003).
Assim, o bibliotecário exerce a função pedagógica, assumindo os seguintes papéis:
1 - Caregiver: o ato educativo possui uma dimensão afetiva;
2 - Orientador (Coach): profissional estimula a aprendizagem;
3 - Elo (Connector): conectar alunos com os recursos informacionais;
4 - Catalisador (Catalyst): catalisador de mudanças. Visão global do aprendizado em todas as áreas
(CAMPELLO, 2003).
Além dessas conquistas, houve a publicação do Novo Information Power, em que foram incluídas
nove habilidades informacionais, divididas em três grupos que abrangem:
1) competência para lidar com informação;
2) informação para aprendizagem independente;
3) informação para responsabilidade social (CAMPELLO, 2003).
A competência informacional foi a bandeira erguida pela classe bibliotecária americana para tirar a
biblioteca do estado de desprestígio em que se encontrava. O tom do discurso do movimento é
claramente o de exortação e de urgência para as mudanças demandadas pela sociedade da informação.
É uma estratégia retórica que se centra na persuasão e que procura levar os praticantes a se
convencerem da necessidade de transformação inevitável que virá com as novas exigências da sociedade
da informação (CAMPELLO, 2003).
Os bibliotecários são incitados a tomar atitude proativa, a fim de participar do esforço educativo
que requer mais do que a visão ingênua e simplista do processo de busca e uso da informação.
A Competência Informacional manifesta-se, portanto, como um discurso de dupla face, quanto ao
trabalho do bibliotecário:
1 – fazer tradicional: lidar com uma variedade de formatos de informação e na sua sensibilidade para
entender as necessidades;
2 – fazer inovador: atitudes condizentes com o novo ambiente social.
Portanto, o foco da biblioteca tem de se deslocar dos recursos para o aluno, a fim de criar a
comunidade de aprendizagem (CAMPELLO, 2003).
Para Campello (2003), o ambiente da competência informacional é permeado pela (o):
1 – Sociedade da informação, visto que a “sociedade da informação” é o espaço mais abrangente por
onde trafega o movimento da competência informacional;
�122
2 – Tecnologia da informação, pois, se a sociedade da informação é ambiente de abundância
informacional, a tecnologia é o instrumento que vai permitir lidar com o problema, potencializando o
acesso à informação e conectando as pessoas aos produtos da mente;
3 – Teorias da aprendizagem, tendo em vista a consistência das teorias pedagógicas no discurso da
competência informacional que vai ocorrendo à medida que o movimento amadurece;
4 – Bibliotecário, o qual é a figura central no discurso da competência informacional. Visa desenvolver a
competência informacional, assumindo as mudanças e se transformando em membro ativo da
comunidade escolar, deixando para trás suas características de passividade e isolamento.
Mesmo que tenha alcançado muitos avanços no contexto norte-americano, críticas se
manifestaram em relação ao movimento. São algumas críticas: julgamentos de que o movimento era uma
tentativa de captar recursos para as bibliotecas; Imprudência no uso da palavra literacy; e, por fim,
dificuldades no entendimento da pergunta “O que significa dominar a leitura na Sociedade da
Informação?” (CAMPELLO, 2003).
No Brasil, o movimento tem acontecido, no entanto, as discussões se direcionam,
especificamente, para o Letramento Informacional. Isso porque, a competência informacional está
intimamente ligada à capacidade de leitura. Envolve a habilidade de ler e usar informação necessária para
a vida cotidiana. Envolve também o reconhecimento da necessidade de informação e sua busca para
tomar decisões bem embasadas (CAMPELLO, 2003).
Assim, percebe-se que há espaço para trabalhar a competência informacional no bojo das
questões do letramento, o que nos levaria ao letramento informacional. A questão está em aberto;
entretanto, é necessário mais do que uma discussão terminológica (CAMPELLO, 2003).
9.1 PROGRAMA DE COMUTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA – COMUT
O Comut permite a obtenção de cópias de documentos técnico-científicos disponíveis nos acervos
das principais bibliotecas brasileiras e em serviços de informação internacionais. Podem-se solicitar os
seguintes tipos de documentos:
- periódicos técnico-científicos (artigos);
- teses e dissertações (na íntegra ou parte);
- anais de congressos nacionais e internacionais;
- partes de documentos (capítulos de livros), desde que sejam autorizados pela Lei de Direitos
Autorais (IBICT, 2013).
A Gerência do Comut oferece aos seus usuários o serviço de Busca Monitorada. Esse serviço
atende às solicitações de material bibliográfico existente no Brasil e no exterior e atende também a
usuários estrangeiros. O valor é diferenciado. A busca no Brasil custa 2 (dois) bônus, enquanto a busca no
exterior custa 4 (quatro) bônus (IBICT, 2013).
Para participar do Comut, o usuário deve cadastrar-se no Programa, via internet, adquirir Bônus
COMUT e preencher o formulário de solicitação (IBICT, 2013).
O Programa de Comutação Bibliográfica (Comut) é um esforço conjunto do Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), por intermédio do IBICT e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); e do
Ministério da Educação (MEC), por intermédio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e da Secretaria de Ensino Superior (Sesu). O Comut tem por objetivo facilitar o acesso à
informação necessária ao desenvolvimento educacional, científico e tecnológico do País (IBICT, 2013).
O Programa foi instituído pela Portaria nº 456 de 5 de agosto de 1980, pelo então Ministério da
Educação e Cultura, tendo como responsável a Capes. No mesmo ano, em 5 de novembro, foi feito um
Termo de Ajuste em que o IBICT passou a compor com a Capes a corresponsabilidade pelo Comut.
Em 5 de março de 2002, a nova Portaria conjunta nº 590 do MEC e do MCT adapta o Comut às
novas estruturas administrativas e organizacionais de seus mantenedores. Esse novo marco legal instituiu
o Programa junto à Capes, à Sesu (MEC), ao IBICT e à Finep (MCT) (IBICT, 2013).
�123
O sistema foi automatizado em 1996, tendo como resultado a melhoria de todos os
procedimentos administrativos e operacionais, possibilitando maior agilidade em todo o processo de
comutação bibliográfica.
Em outubro de 1998, em continuidade à modernização das operações de comutação bibliográfica
no País, foi implantado, em âmbito nacional, um sistema de transferência eletrônica de documentos, com
o propósito de acelerar o processo de atendimento ao usuário e ampliar a capacidade de atendimento
das bibliotecas (IBICT, 2013).
Atualmente, encontra-se em fase final de desenvolvimento um novo sistema com o objetivo de
agregar novos produtos e serviços, adequando o Comut às novas tecnologias de informação e
comunicação (IBICT, 2013).
O Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas (CCN) é um catálogo de acesso público que
reúne informações sobre as coleções de publicações seriadas nacionais e estrangeiras disponíveis nas
bibliotecas brasileiras. Essas bibliotecas, que compõem a rede CCN, possuem acervos automatizados e
atuam de maneira cooperativa sob a coordenação do IBICT (IBICT, 2013).
Os objetivos do catálogo coletivo são difundir, identificar e localizar publicações seriadas
existentes no país; estabelecer políticas de aquisição de coleções; padronizar a entrada dos títulos
conforme critérios internacionais; promover o intercâmbio entre bibliotecas, por meio do COMUT (IBICT,
2013).
Criado, em 1954, pelo então Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (IBBD), o
CCN constituiu-se, até sua automação, em 1968, em um catálogo convencional em fichas, prestando
informações in loco, por telefone ou correspondência (IBICT, 2013).
De 1970 a 1978, o sistema automatizado possibilitou a divulgação impressa do CCN por grandes
áreas do conhecimento: Ciências Exatas e Tecnologia, Ciências Agrícolas e Veterinárias, Ciências da Saúde
e Ciências Sociais e Humanas. Em 1978, devido ao crescimento constante de novos títulos e acrescido do
inter-relacionamento entre as áreas do conhecimento, o IBICT optou pela divulgação do CCN em
microfichas reunindo todas as áreas (IBICT, 2013).
Inclui dados de publicações seriadas, nacionais e estrangeiras, e suas respectivas coleções que
compõem os acervos das bibliotecas participantes da Rede CCN. Cada registro contém os dados do título,
siglas das bibliotecas e os dados de coleções (IBICT, 2013).
O CCN também indica o endereço eletrônico das revistas que disponibilizam, gratuitamente, os
artigos em texto completo na internet (IBICT, 2013).
As referências bibliográficas dos títulos estão apresentadas segundo padrões internacionais,
utilizando-se para a definição dos elementos de dados o International Serials Data System (ISDS) e, para a
descrição bibliográfica do título, as regras do International Standard Bibliographic Description (ISBD(S).
O vocabulário utilizado na descrição temática de cada título é o Tesauro Science Policy Information
Exchange System (SPINES), desenvolvido pela UNESCO, acrescido de termos livres (IBICT, 2013).
Cada registro da base de dados contém um conjunto de informações que descrevem uma
publicação seriada e estão reunidas e estruturadas em campos de dados (metadados) (IBICT, 2013).
A Rede CCN está estruturada para desenvolver suas funções operacionais de forma
descentralizada a partir de uma coordenação central, localizada no IBICT (IBICT, 2013).
A alimentação dos dados de coleção é efetuada por meio da cópia da base de dados da biblioteca
que deve ser remetida via Internet de acordo com padrões previamente estabelecidos pelo IBICT. O
processamento dos dados é realizado diariamente pelo IBICT e a alimentação dos dados pelas bibliotecas
participantes, ocorre em uma periodicidade média trimestral (IBICT, 2013).
9.2 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - Segundo Campello (2009), o Information Power é um documento que foi desenvolvido pela
American Association of School Librarians, em conjunto com a Association for Educational
Communication and Technology, em 1998. As normas e parâmetros de letramento informacional
�124
apresentados no documento dividem-se em três segmentos: (1) _________, que enfatiza as habilidades
de acessar, avaliar e usar informação; (2) _________, que diz respeito à capacidade de buscar e usar
informação de maneira independente; e (3) __________, que explora o uso social da informação,
abordando a atitude ética com relação à informação e ao compartilhamento de práticas informacionais.
Assinale a opção que apresenta os termos que preenchem corretamente as lacunas acima, observando a
ordem na qual aparecem:
a) busca da informação - conduta independente - geração social do conhecimento
b) competência informacional - geração de informação - aprendizagem de tecnologias
c) competência informacional - aprendizagem independente - responsabilidade social
d) aprendizagem independente - responsabilidade social - conduta ética e) busca da informação aprendizagem independente - aprendizagem social
Questão 2 - Entre as décadas de 1980 e 1990, segundo Campello (2003), “as teorias educacionais exigiam
que se redesenhassem novas formas de mediação para o bibliotecário, em um modelo em que o usuário
ficaria no centro do processo de aprendizagem”. Nesse sentido, relacione os papéis do bibliotecário e as
funções pedagógicas sugeridas por Stripling (1996, citado por Campello, 2003):
1. Caregiver.
2. Orientador.
3. Elo.
4. Catalisador.
( ) O bibliotecário conecta os alunos com as ideias concretizadas no universo dos recursos informacionais
disponíveis.
( ) O bibliotecário estimula a aprendizagem, levando o aluno a buscar as fontes, estratégias e respostas
para suas necessidades.
( ) O bibliotecário colabora no planejamento curricular e facilita a aprendizagem, por estar em uma
posição privilegiada e por ter uma visão global do processo de aprendizagem em todas as áreas.
( ) O bibliotecário apoia a aprendizagem individualizada, auxiliando cada aluno em suas necessidades
específicas, respeitando seu estilo de aprendizagem. Assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA.
A) 3, 4, 2, 1.
B) 3, 2, 1, 4.
C) 3, 2, 4, 1. D) 3, 1, 2, 4.
Questão 3 - O Programa de Comutação Bibliográfica COMUT, instituído pelo CAPES, no início dos anos 80
com a colaboração do IBICT, tinha por finalidade precípua facilitar o acesso aos documentos,
especialmente artigos de periódicos, nas tarefas de pesquisa bibliográfica. Esse Programa, inicialmente,
incluía apenas as bibliotecas: a) universitárias. b) públicas federais. c) especializadas. d) especiais.
e) ligadas à Biblioteca Nacional.
Questão 4 - O COMUT é um serviço oferecido pelo IBICT que permite:
A. fazer cópias de livros e teses disponíveis nas bibliotecas participantes do programa.
B. obtenção de cópias de documentos técnico-científicos disponíveis no acervo das principais
bibliotecas nacionais e em serviços de informação internacionais.
C. ao usuário cadastrado, cópias gratuitas dos documentos solicitados.
D. obtenção do documento original por meio de empréstimo solicitado via internet.
Questão 5 - No Brasil, a Comutação Bibliográfica pode ser realizada pelo COMUT, que se caracteriza
como:
(A) rede cooperativa nacional e internacional.
(B) rede de serviço de busca e recuperação da informação.
(C) rede e serviço de apoio institucional a sistemas de informação.
(D) sistema de recuperação da informação em linha.
(E) serviço de busca e recuperação da informação de distribuidores de base de dados.
�125
9.3 NORMAS DE TRABALHOS E PUBLICAÇÕES
9.3.1 NBR 14724
A NBR 14724 especifica os princípios gerais para a elaboração de trabalhos acadêmicos (teses,
dissertações e outros) visando sua apresentação à instituição (banca examinadora de professores,
especialistas designados e/ou outros). Essa norma aplica-se, no que couber, aos trabalhos intra e
extraclasse da graduação.
A citada norma delimita os elementos: 1 - pré-textuais, que são: Capa (obrigatório), Lombada
(opcional), Folha de rosto (obrigatório), Errata (opcional), Folha de aprovação (obrigatório), Dedicatória(s)
(opcional), Agradecimento(s) (opcional), Epígrafe (opcional), Resumo em língua vernácula (obrigatório),
Resumo em língua estrangeira (obrigatório), Lista de ilustrações (opcional), Lista de tabelas (opcional),
Lista de abreviaturas e siglas (opcional), Lista e símbolos (opcional), Sumário (obrigatório); 2 – Os
Elementos textuais: Introdução, Desenvolvimento, Conclusão; e os 3 - Elementos pós-textuais:
Referência (obrigatório), Glossário (opcional), Apêndice (opcional), Anexo(s) (opcional), Índice(s)
(opcional).
9.3.2 NBR 10520
Essa norma especifica as citações em documentos. As citações são menção de uma informação
extraída de outra fonte. A citação de citação é a citação direta ou indireta de um texto em que não se
teve acesso ao original. A citação direta corresponde à transcrição textual de parte da obra do autor
consultado. A citação indireta é um texto baseado na obra do autor consultado.
Nas citações, as chamadas pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título
incluído na sentença devem ser em letras maiúsculas e minúsculas e, quando estiverem entre parênteses,
devem ser em letras maiúsculas.
9.3.3 NBR 6023
Essa norma estabelece os elementos a serem incluídos em referências. Fixa a ordem dos
elementos das referências e estabelece convenções para transcrição e apresentação da informação
originada do documento e/ou outras fontes de informação. Destina-se a orientar a preparação e
compilação de referências de material utilizado para a produção de documentos e para inclusão em
bibliografias, resumos, resenhas, recensões e outros.
São caracterizados como principais elementos de uma referência: autor(es): pessoa(s) física(s)
responsável(eis) pela criação do conteúdo intelectual ou artístico de um documento. Autor(es)
entidade(s): Instituição(ões), organização(ões), empresa(s), comitê(s), comissão(ões), evento(s), entre
outros, responsável(eis) por publicações em que não se distingue autoria pessoal. Capítulo, seção ou
parte: divisão de um documento, numerado ou não. Documento: Qualquer suporte que contenha
informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Inclui
impressos, manuscritos, registros audiovisuais, sonoros, magnéticos e eletrônicos, entre outros. Edição:
todos os exemplares produzidos a partir de um original ou matriz. Pertencem à mesma edição de uma
obra todas as suas impressões, reimpressões, tiragens etc., produzidas diretamente ou por outros
métodos, sem modificações, independentemente do período decorrido desde a primeira publicação.
Editora: casa publicadora, pessoa(s) ou instituição responsável pela produção editorial. Conforme o
suporte documental, outras denominações são utilizadas: produtora (para imagens em movimento),
gravadora (para registros sonoros), entre outras.
�126
9.4 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - De acordo com a seção 5.2.3 da NBR 14724:2011, que trata da apresentação de trabalhos
acadêmicos, os títulos sem indicativo numérico devem ser centralizados. Assinale a opção que apresenta
somente títulos que se enquadram nessa situação.
a) resumo, lista de ilustrações, referências, conclusão, apêndice
b) errata, agradecimentos, sumário, glossário, índice
c) folha de aprovação, abstract, introdução, referências, índice
d) folha de aprovação, agradecimentos, dedicatória, referência, apêndice e) epígrafe, lista de tabelas,
introdução, conclusão, glossário.
Questão 2 - Analise as afirmativas abaixo com base na NBR 10520, de agosto de 2002, que especifica as
características exigíveis para apresentação de citações em documentos e assinale (V) para as
VERDADEIRAS e (F) para as FALSAS.
( ) Notas explicativas são aquelas usadas para comentários, esclarecimentos ou explanações, que não
possam ser incluídos no texto.
( ) Notas de referência indicam fontes consultadas ou remetem a outras partes da obra onde o assunto foi
abordado.
( ) A citação indireta é aquela baseada na obra do autor consultado.
( ) Notas de rodapé apresentam indicações, observações ou aditamentos ao texto feitos pelo autor,
tradutor ou editor. Assinale a alternativa em que foi indicada a sequência CORRETA. A) V, V, V, V.
B) V,
V, V, F.
C) V, V, F, F.
D) V, F, F, F.
Questão 3 - Analise os elementos pré-textuais da estrutura de trabalhos acadêmicos:
1. Folha de rosto 2. Errata 3. Folha de aprovação 4. Dedicatória 5. Agradecimentos 6. Epígrafe 7. Resumo
na língua vernácula 8. Resumo em língua estrangeira 9. Lista de ilustrações 10. Lista de tabelas 11. Lista
de abreviaturas e siglas 12. Lista de símbolos 13. Sumário.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA de números com os itens opcionais de acordo
com a NBR 14724 (2011):
A) 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 12.
B) 3, 4, 5, 8, 9, 10, 11, 12.
C) 2, 3, 4, 5, 6, 9, 11, 12.
D) 2, 4, 5, 6, 9, 10,
11, 12.
Questão 4 - De acordo com a NBR 6023, de 2002, que estabelece os elementos a serem incluídos em
referências, os elementos essenciais da publicação periódica como um todo são, EXCETO:
A) Editora.
B) Data de início.
C) Volume.
D) Local de publicação
Questão 5 - Em 2006, José Augusto Chaves Guimarães e Natália Bolfarini Tognolli apresentaram, no XXIX
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, o trabalho intitulado “Arquivística pósmoderna, diplomática arquivística e arquivística integrada: novas abordagens para a construção de uma
disciplina contemporânea”. O evento foi realizado na cidade de Maceió, Alagoas, e organizado pela
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, que também foi responsável pela publicação dos
anais. O trabalho foi publicado às páginas 125 a 140 dessa obra. Segundo a NBR 6023, a referência
bibliográfica do trabalho acima mencionado é:
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REFERÊNCIAS
CAMPELLO, B. S. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento
informacional. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n. 3, 2003.
IBICT. Programa de Comutação Bibliográfica. Brasília, 2013.
ABNT. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2011.
ABNT. NBR-10520: informação e documentação: citações em documentos. Rio de Janeiro, 2002.
ABNT. NBR 6023: informação e documentação: referências. Rio de Janeiro, 2002.
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AULA X: Usuários, produtos, serviços,
necessidades e usos
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
Bibliotecária colaboradora: Flávia Ferreira Abreu
Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010), especialização
em Gestão Estratégica da Informação pela Federal de Minas Gerais (2012). Atualmente, é mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação/UFMG. Tem experiência na área de Ciência da
Informação, com ênfase em Gestão da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: leituras
compartilhadas; bibliotecas itinerantes, mediação de leituras e em gestão de sistema da informação.
CONTEÚDOS DA AULA
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10 DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO
A força da informação como elemento para o avanço do conhecimento; para conhecer o outro,
reconhecendo-se o homem como ser no mundo; e, ao conhecer o próximo, pode estabelecer uma interrelação de respeito e de equilíbrio social: de cidadania. Disseminar significa, em alguma medida, divulgar,
difundir, propagar, mediante condições e recursos de que se cerca o agente (BARROS, 2003, p. 14).
A construção da cidadania, como decorrente do direito à informação e à leitura, não deixa de ser
uma contribuição, embora nula se não for transformada pela ação diária de convencimento dos outros
segmentos intelectuais, sobre a necessidade de transformar a realidade concreta, passando do discurso,
da formulação legal, para a ação (SOUZA, 1994, p. 20).
Temas de discussão para bibliotecários no contexto da construção da cidadania:
• Identidade cidadã do bibliotecário;
• Poder de intervenção;
• Identidade profissional;
• Autonomia de sua profissão na sociedade;
• O que ele pensa com os compromissos de classe;
• O que a sociedade civil pensa (BARROS, 2003).
•
•
O processo de disseminar informações envolve dois aspectos fundamentais:
o pressuposto de que há informações a serem disseminadas;
e que o próprio processo envolve estratégias e técnicas de comunicação.
Assim, um serviço de disseminação de informação, planejado e funcionando em conformidade
com a estratégia e objetivos de acordo com o perfil de seus usuários, estimula a criatividade e a inovação,
contribuindo com o êxito do processo de aprendizagem e construção do conhecimento (BARROS, 2003).
10.1 O PAPEL DO PROFISSIONAL NA DISSEMINAÇÃO
O profissional da informação que, se tiver ele mesmo a consciência do conceito de cidadania,
deverá estar atento às suas competências e conhecimentos desde a organização da informação, o
desenvolvimento do acervo, as condições do acesso, do atendimento e a disseminação propriamente dita
(BARROS, 2003, p. 25).
O panorama concreto de virtualidade e instantaneidade da informação permite que o usuário da
informação – não mais apenas da biblioteca – conquiste cada vez mais sua autonomia no controle dos
processos de busca, de escolha e de satisfação das suas necessidades informacionais.
Informar continua sendo a função básica do bibliotecário; o que muda, ao longo do tempo, é a
maneira como ele assume (ou não assume) esse papel, qualificando-o pela formação continuada, pela
postura profissional, pelo posicionamento social, pelas estratégias e pelo instrumental adotado (BARROS,
2003, p. 30).
Por esse papel, o profissional consegue ajudar o usuário a encontrar-se como leitor.
Com sensibilidade, o profissional bibliotecário, pelos serviços que presta ao usuário, muitas vezes
dinamiza a informação disponível, entretanto, nesse papel, pesa bastante a falta de orientação para o uso
da informação, que pode inclusive, criar o desconforto de existir material ocioso, evidenciado pelas
estatísticas e desequilibrando na relação custo – benefício.
Por outro lado, a mediação não se restringe à leitura, mas estende-se aos serviços e desenvolve
para o usuário, em sua unidade de informação.
A função do bibliotecário, ao disseminar a informação, perpassa pelos âmbitos informacionais,
educacionais e culturais.
Para exercer essas funções, o profissional deve desenvolver atividades de promoção da cidadania
e o desenvolvimento social da comunidade a qual atende.
�130
O profissional precisa valorizar o exercício de atividades de cunho pedagógico que incentivem o
crescimento da intelectualidade. O profissional amplia sua integração e sua influência na sociedade e, por
conseguinte seu comprometimento político. Portanto, se o trabalho técnico do bibliotecário não estiver
ancorado na consciência política, a sua ação será inócua em termos de transformação social.
Faz-se necessário, no âmago da disseminação, que o profissional manifeste-se como mediador,
com nuances de tutor, professor, com uso de diferentes mídias para garantir a conexão do acervo com o
usuário.
A disseminação é uma das cinco linhas do Serviço de Referência. Contempla dois importantes
serviços, que são:
1 – DSI (tradicional e tecnológica): ordem especializada; perfis específicos de públicos e unidades;
2 – Serviços de alerta: divulgar o que é novo, como em: murais com notícias de eventos, novos
itens adquiridos, boletins, bibliografias, folhetos variados, em diferentes mídias.
As bibliotecas públicas se configuram em legítimo espaço público, voltado para atender as
demandas sociais, oferecendo oportunidade igualitária e democrática a todo cidadão que faz uso do seu
espaço, não apenas para buscar conhecimento ou cultura, mas também para fazer desse espaço, palco
para as reflexões diárias, para o debate participativo de todos os problemas sociais e necessidades de
cada cidadão (BARROS, 2003).
10.2 SERVIÇO DE REFERÊNCIA
Os serviços de referência surgem nas bibliotecas públicas norte-americanas, no final do século XIX.
A partir da década de 1990, a introdução das tecnologias da informação e comunicação (TICs) modifica a
concepção do serviço de referência presencial, doravante associado a um serviço de referência digital que
utiliza a internet (ACCART, 2012).
Surge então, a função “Ask a Librarian”, pergunte ao bibliotecário, e nos sítios das bibliotecas
universitárias são instalados chats para estabelecer contato direto entre o bibliotecário e o usuário
(ACCART, 2012).
Cada pessoa deve ter as competências para aproveitar plenamente a sociedade da informação. É
essencial, portanto, desenvolver as capacidades e garantir a familiarização com as TICs. Essas tecnologias
podem contribuir para a educação de todos no mundo inteiro (ACCART, 2012, p. 5).
O Serviço de Referência nas bibliotecas precisa ocupar posição que lhe permite ser imediatamente
identificável pelo usuário. Precisa contar com locais para consulta e com obras de referência.
Ao bibliotecário de referência nas universidades, incube ajudar os alunos nas pesquisas e na
compilação de suas bibliografias. Dá-se ênfase na entrevista de referência (reference interview) que
constitui vasta literatura.
1 – Primeira mudança nos SR: uso do telefone;
2 – Segunda mudança: uso da internet, a partir de 1990 (ACCART, 2012).
Uma das origens do conceito de mediação (ou intermediação) está no desenvolvimento das
tecnologias da informação que permitem orientar de forma diferenciada os serviços, oferecer capacitação
dos usuários na utilização dos recursos informatizados (consulta de catálogos em linha, a base de dados,
mecanismos de busca), auxílio na orientação dos serviços, criação de novos produtos, aplicação de
marketing, monitoramento da informação (ACCART, 2012, p. 15).
A mediação é o conjunto de relações públicas e de coleções, que resulta em uma transferência de
informação, através do fornecimento de informação, orientação, ajuda, busca por informações e
documentos. Também denominada de mediação da informação ou mediação documental. Essa mediação
pode ser:
a)
a mediação social, destinada a diferentes públicos-alvo de meios migrantes ou desfavorecidos de
acesso a livros ou cultura;
�131
b)
a mediação cultural, a qual se aplica à política cultural em consonância com a cidade, região,
universidade, país. Ela permite a organização de exposições, conferências e debates.
c)
a mediação digital, que leva em conta a dimensão virtual da rede e facilita o acesso à informação
digital. Importa ressaltar que os serviços que crescem com os usuários na vida real, também podem ser
desenvolvidos de forma virtual (ACCART, 2012).
As quatro missões do profissional da referência:
1 – ajudar os usuários a compreender o funcionamento da biblioteca;
2 – responder às perguntas dos usuários;
3 – ajudar os usuários a selecionar as obras boas;
4 – desenvolver competências para acesso e uso das fontes documentais e da informação, em geral.
No que tange à organização do Serviço de Referência, é preciso considerar as atribuições em
relação à equipe de referência, que são:
- Deontologia e responsabilidade jurídica;
- Responsabilidade jurídica;
- Qualidades do profissional de referência: habilidades técnicas, conhecimento teórico,
personalidade, qualidades intelectuais e comportamentais.
10.3 SERVIÇO DE REFERÊNCIA PRESENCIAL
Está relacionado ao lugar físico, local onde as pessoas são recebidas, onde são fornecidas
informações - na biblioteca, no arquivo, serviço de documentação, seja junto ou separado do serviço a
distância. O SR é um serviço completo que presta respostas personalizadas a uma consulta explícita
em busca de informações bibliográficas e documentais (ACCART, 2012).
Esse serviço compreende a assistência pessoal prestada aos leitores pelo bibliotecário. Essa
assistência deve sem completa, haja vista satisfazer as necessidades dos usuários (pessoalmente, por
telefone ou por correio eletrônico) (ACCART, 2012).
Nesse contexto inovador, surgem os serviços biblioteconômicos virtuais, norteados em um
ambiente estruturalmente e assistencialmente automatizado, em que convergem para um público
mais volátil, menos regular, e também, graças à presença da internet, acessível em qualquer instante
e em qualquer lugar (ACCART, 2012, p. 163).
10.4 SERVIÇO DE REFERÊNCIA VIRTUAL
Oferece um ponto de acesso único em linha que o usuário pode identificar imediatamente, ao
qual ele apresenta uma solicitação, entregue aos cuidados de profissionais qualificados, solicitação essa
que enseja uma resposta rápida, pertinente e de qualidade (ACCART, 2012).
O serviço de referência virtual – elementos do conceito:
1 – um serviço de informação identificado;
2 – quadro de pessoal para mediação humana;
3 – uma nova mídia;
4 – uma função de especialista;
5 – um funcionamento colaborativo;
6 – um contexto competitivo (ACCART, 2012).
O SRV é o fornecimento de referência tradicional por intermédio de mídia eletrônica. Representa uma
rede de competências, uma intermediação humana e recursos colocados à disposição dos usuários num
ambiente em linha. Três elementos se manifestam:
1 – O recurso a uma rede de competências;
2 – uma intermediação humana;
3 – recurso em linha à disposição dos usuários (ACCART, 2012).
�132
O SRV, no âmago do Open Archives, requer algumas funções do bibliotecário de referência, que são:
1 – Função de formação: mostrar a necessidade de saber usar fontes confiáveis;
2 – Função de comunicação: preparar as páginas iniciais dos documentos abertos ou dos ambientes
de armazenamento;
3 – Função de orientação: seleciona os recursos adequados e confiáveis e guia o usuário à localização
dessas fontes.
Implantação dos SRVs:
1 – Aspectos normativos e legais;
2 – Aspectos técnicos;
3 – Aspectos organizacionais.
O SR pode congregar-se por meio de uma rede. A REDE DE REFERÊNCIA VIRTUAL COLABORATIVA
corresponde a uma rede que reúne diversos serviços de referência virtuais em torno de uma ou várias
temáticas e que tem objetivos comuns: compartilhamento de recursos, sejam eles humanos ou
documentários.
A comunicação no SR:
- Ocorre: - junto aos usuários reais; - em geral, no meio profissional, nos usuários potenciais;
- entre a equipe de referência.
É preciso estabelecer um plano de comunicação, com os seguintes objetivos:
- Por que comunicar?
- Qual a mensagem divulgada no plano?
- Qual o público-alvo?
- Quais recursos utilizar?
- Quais ferramentas?
“Não perder a ligação com o usuário virtual”. Essa poderia ser o cerne (a mensagem) principal do
SRV. Se na rede é difícil captar um usuário virtual, as bibliotecas devem ser visíveis nas diferentes mídias e
na internet. A frase “O futuro é virtual” não é uma frase vazia, pois se inscreve na realidade atual e futura
dos serviços de referência.
10.5 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 - A disseminação da informação por meio da publicação de listas com novas aquisições
bibliográficas para fins de divulgação do acervo é chamada de
• A.provisão de documento.
• B.serviço de alerta.
• C.orientação de usuário.
• D.levantamento de bibliografia
Questão 2 - A forma de divulgação contínua e regular das informações ou materiais recebidos pelas unidades de
informação, por meio de serviços de alerta, elaboração de boletins informativos, e sumários correntes, com o
objetivo de levar ao conhecimento dos usuários as informações de seu interesse denomina-se
•
•
•
•
•
A.seleção da informação.
B.registro da informação.
C.tratamento da informação.
D.disseminação da informação.
E.armazenamento da informação.
Questão 3 - Analise as características da biblioteca universitária, segundo Accart (2012), e assinale (V) para as
alternativas VERDADEIRAS e (F) para as FALSAS.
�133
( ) É geralmente especializada.
( ) O serviço de referência é concebido como uma ajuda secundária ao ensino e à pesquisa.
( ) Não se assemelha a um serviço especializado de documentação.
( ) Os bibliotecários realizam pesquisas “para ou em lugar de” estudantes e docentes. Assinale a
alternativa que apresenta a sequência CORRETA.
A) V, F, F, F.
B) F, V, F, V.
C) F, V, F, F. D) F, F, F, F.
Questão 4 - De acordo com Accart (2012), o profissional de referência tem deveres (coluna II) em relação ao
usuário e à informação (coluna I). Relacione, abaixo, aqueles referentes ao usuário ou à informação.
1) Usuário 2) Informação
( ) As informações que o profissional detém sobre os usuários e suas pesquisas são confidenciais e não
podem ser divulgadas nem arquivadas por um longo período, o que caracteriza o respeito à
confidencialidade.
( ) Sigilo profissional no que se refere a certas informações que lhe são confiadas.
( ) A informação fornecida deve ser fiel às fontes, as quais devem ser identificadas. O profissional é
responsável pela informação fornecida, ou seja, pela conformidade com as fontes.
( ) Respeito aos direitos de autor no que se refere às fontes de informação citadas e utilizadas.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência de números CORRETA. A) (1) (2) (2) (1).
B) (2) (1) (2)
(1).
C) (1) (1) (2) (2).
D) (1) (2) (1) (2)
10.6 USUÁRIOS: NECESSIDADES E ESTUDOS
O crescente volume de publicações gerado pelas sociedades científicas passou a exigir a criação de
bibliotecas para reuni-las, organizá-las e armazená-las. E foram assim, no campo das pesquisas científicas
e industriais do século XIX, que se desenvolveram os serviços de informações em bibliotecas e surgiram
os serviços formais de auxílio ao usuário em bibliotecas (PESSOA; CUNHA, 2007).
Com o passar dos anos, as bibliotecas e as informações tornaram-se cada vez mais especializadas e
os usuários passaram a exigir mais tempo e atenção dos bibliotecários, fenômeno percebido,
primeiramente, nas bibliotecas universitárias. Com o aumento de bibliotecas especializadas nas áreas
comercial, industrial e administrativa, também os serviços de referência se especializaram para satisfazer
as solicitações desses usuários (PESSOA; CUNHA, 2007).
Mudam as maneiras de se prestar os serviços conforme a realidade das bibliotecas, e, a cada dia,
cresce o número de ferramentas que auxiliam na organização documentária e na busca e recuperação de
informações.
Muitos recursos tecnológicos são resultados da revolução dos meios de comunicação e das
demandas altamente diferenciadas que os usuários propõem. Por isso, pressionadas pelo mundo
globalizado, as bibliotecas e unidades de informação acabam por modificar sua estrutura, seus processos,
e seus produtos e serviços. O advento da indústria on-line, na década de 1970, acelerou essa mudança
com a produção de catálogos que se constituíam de citações bibliográficas e de índices. A diminuição dos
custos de armazenamento e o consequente aumento do número de buscas permitiram acrescentar
resumos a muitos desses catálogos. Isso levou os usuários a buscarem o documento primário e essa é
uma tendência que ainda persiste: o texto completo da informação primária sendo oferecido on-line.
Novas necessidades e demandas: novos serviços
Serviços de referência
1ª Conferência da American Library Association, em 1876, quando o bibliotecário Samuel Swett Green
falou sobre a relevância do auxílio aos leitores, que necessitavam de orientação para fazerem bom uso
das coleções disponíveis.
�134
O serviço de referência abrange todo o espectro que inclui desde uma vaga noção de auxílio aos
leitores até um serviço de informação muito esotérico, muito abstrato e altamente especializado. Nesse
serviço, nota-se a interação entre o bibliotecário de referência e o leitor (hoje denominado
usuário/cliente), e essa interação constitui o foco central do serviço de informação.
Referência virtual é um serviço de referência iniciado eletronicamente, frequentemente em tempo
real, onde usuários utilizam computadores ou outra tecnologia da internet para se comunicarem com a
equipe de referência sem estar fisicamente presente.
O advento desses sistemas on-lines alterou o relacionamento entre a referência, a aquisição, a
catalogação, os empréstimos entre bibliotecas. Além disso, serviços on-line permitiram à biblioteca
oferecer um nível mais alto de serviço, por um custo aceitável, com grande presteza e pequeno trabalho
adicional para a equipe de pessoal.
10.7 MODALIDADES DE SERVIÇOS DE REFERÊNCIA
1 - Correio eletrônico: foi o primeiro a surgir devido ao seu custo praticamente inexistente, por ser
facilmente executado pelo pessoal da biblioteca e, também, por não requerer tecnologia especial nem
para o bibliotecário e nem para o usuário;
2 – Chat: mensagens instantâneas trocadas via web, ou seja, comunicação em tempo real entre
duas ou mais pessoas por meio da internet. Os serviços de referência via chat utilizam softwares básicos,
no entanto, é possível distinguir três tipos de tecnologias diferentes para esse serviço. São elas: softwares
de mensagens instantâneas, salas de bate-papo e softwares de chat;
3 – Web contact centers softwares: os softwares denominados de Web Contact Centers ou de
Real-Time Live Web Reference são, também, tecnologias de chat só que com um nível muito maior de
interatividade entre bibliotecários e usuários;
4 – Videoconferência: a tecnologia de videoconferência já está disponível há anos, porém,
anteriormente, eram necessários equipamentos e salas especiais para realizá-las, o que elevava
consideravelmente o seu custo. Nos últimos tempos, foram desenvolvidos alguns softwares de
videoconferência que podem ser utilizados no próprio computador do usuário;
5 – Projetos colaborativos de referência virtual: proporcionam uma série de benefícios, já que
permitem às instituições participantes o compartilhamento de suas habilidades e recursos específicos, a
expansão do horário de funcionamento dos serviços, bem como proveem o acesso ao conhecimento
resultante das consultas a outros serviços de referência digital (arquivos de perguntas/respostas
armazenadas).
Há dificuldades e desafios quanto à implantação do Serviço de Referência. Isso se deve, em grande
parte, por conta do desenvolvimento experimental do serviço de referência virtual, visto que se tem
pouca literatura sobre o seu funcionamento na prática e a sua administração, assim como sobre questões
relacionadas ao seu planejamento, execução e avaliação.
Orientações são necessárias para saber como incorporar o serviço de referência virtual ao
processo de planejamento da biblioteca como um todo.
Além disso, também são necessárias informações que expliquem como o serviço de referência
virtual se enquadra na série daqueles oferecidos pela biblioteca, assim como também são necessárias
informações para o desenvolvimento de políticas e procedimentos para o suporte do serviço.
10.8 A QUESTÃO DOS ESTUDOS DE USUÁRIOS
Estudos de usuários têm sido uma temática recorrente na literatura, tendo essa preocupação se
intensificado a partir da década de 1960. A essência tem sido a mesma: coletar dados para criar e/ou
avaliar produtos e serviços informacionais, bem como entender melhor o fluxo da informação.
�135
A tabela 1 demonstra o crescimento do número de pesquisa ao longo das últimas décadas,
considerando levantamento realizado na Base Lisa.
Os quadros abaixo ilustram a trajetória evolutiva dos estudos qualitativos nas últimas décadas.
2 – Usuários: necessidades e estudos
A pesquisa qualitativa:
Estudos de comportamento em detrimento à frequência e uso
Teoria das Ciências Sociais, com foco em teorias antropológicas
e sociológicas
A abordagem de Taylor é uma abordagem com valor agregado, em que transforma dados em
informação útil em um processo de busca. A informação encontrada esclarece, informa e contribui com o
crescimento pessoal, cultural e afeta o poder decisório e as ações pessoais do indivíduo.
Na abordagem de Kuhlthau, as pessoas buscam informação em diferentes sistemas e com
estratégias diferenciadas, o que amplia as dúvidas e incertezas. Assim, o processo de busca, nessa
abordagem, se dilui em meio às etapas: início, seleção, exploração e formulação.
Início do processo = aumenta incerteza
Final do processo = diminui a incerteza
�136
Como principais métodos utilizados para coleta de dados, nas pesquisas sobre estudos de
usuários, destacam-se:
Questionário: mais utilizado. Lista de questões a ser respondida, sem a presença do pesquisador.
Benefícios com o uso da internet. Técnica de Delfos (rodadas de entrevista);
Entrevista: mais utilizado após questionário. Permite reações, sentimentos, opiniões, hábitos e
maior interação entrevistado-participante. Estudo focal, com moderador;
Observação: não-estruturada. Participante não-estruturada e observação sistemática;
Análise de conteúdo: análise quantitativa de termos de um texto. Em seguida, realiza-se a
condensação dos conteúdos contextualizados e interpretados. É utilizado desde o início do século XX, e é
apropriada para medir a legibilidade de um texto ou comunicação e analisar questões relacionadas com
atitudes, interesses e valores culturais de um grupo.
10.9 VAMOS EXERCITAR JUNTOS?
Questão 1 – Analise as afirmativas abaixo sobre as dificuldades de implantação de um serviço de
referência virtual de acordo com Pessoa e Cunha (2007) e assinale (V) para as VERDADEIRAS e (F) para as
FALSAS.
( ) Pouca literatura sobre o seu funcionamento na prática e a sua administração.
( ) Pequeno número de pedidos recebidos pelas bibliotecas, denunciando mais um grave problema: a falta
de marketing.
( ) Falta de treinamento do pessoal escolhido para atuar no serviço de referência virtual.
( ) Custo demandado pelo serviço de referência virtual. Assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA. A) V, V, V, F. B) V, V, F, F. C) V, F, F, F. D) V, V, V, V
Questão 2 – Em relação ao estudo de usuários, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso), as
afirmações abaixo.
( ) O estudo de usuários reflete a investigação que tem como objetivo identificar e caracterizar os
interesses, as necessidades e os hábitos de uso de informação de usuários reais e/ou potenc iais de
um sistema de informação.
( ) O estudo de usuários abrange pesquisas para verificar se as necessidades de informação por parte
dos usuários de uma biblioteca ou de um centro de informação estão sendo satisfeitas de maneira
adequada.
�137
( ) Os estudos de usuários da informação são orientados ao uso de uma biblioteca ou centro de
informação e aos serviços de qualidade que são oferecidos.
Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo
a) V – F – V b) F – V – F c) V – F – F d) F – V – V e) V – V – F
Questão 3 – O que é método Delphi?
• A.Método através do qual o pesquisador capta a realidade observada. Vários tipos de
profissionais, entre eles o médico, o psicólogo e o publicitário, apesar de normalmente utilizarem
uma diversidade de métodos de coleta de informação, fazem uso frequente deste método.
• B.Método de pesquisa das ciências sociais que pode ser descrito como a obtenção de dados ou
informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado
como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, que pode
ser um questionário.
• C.Método que coleta dados sobre estudos de usuários sem interrogá-los ou observá-los de uma
forma direta. Nesse método, os dados são coletados através de documentos já existentes, como
estatísticas de bibliotecas, referência de obras citadas, anotações, textos etc. É utilizado em
estudo de usuários.
• D.Método que faz uso do questionário para obter um consenso de opiniões sobre determinado
assunto sendo sua principal área de aplicação a de previsão tecnológica; consiste em uma
sucessão de rounds em que são colhidas as opiniões de um grupo de especialistas, para levantar
seus conhecimentos e capacidade de julgamento.
• E.Método para mapear necessidade de informação sob a ótica do usuário; consiste em
pontuações de premissas teóricas e conceituais e outras metodologias relacionadas, para avaliar
como audiências, usuários, clientes e cidadãos percebem, compreendem e sentem suas interações
com instituições, mídias, mensagens e como usam a informação e outros recursos nesse processo.
Questão 4 - O estudo do usuário para a compreensão da natureza de suas necessidades informacionais e
padrões de busca de informação
(A) consiste na etapa final do processo de gestão de projetos e serviços de uma biblioteca universitária ou
especializada.
(B) auxilia a gerência da biblioteca a avaliar o sistema existente para iniciar, elevar ou diminuir ênfase,
aperfeiçoar ou promover um serviço.
(C) apresenta elevado custo para os procedimentos de estudo e análise com resultados ineficientes para a
gestão da biblioteca.
(D) indica requisitos de equipamentos, programas, formatos e fontes de informação sem relevância para
a definição de serviços na biblioteca.
(E) define fontes de informação, padrões de comunica- ção e interfaces de pesquisa de utilidade
irrelevante para o serviço de informática.
Questão 5 – Segundo Baptista e Cunha (2007), os métodos utilizados na coleta de dados em estudos de usuários
estão relacionados com o tipo de aprendizagem qualitativa ou quantitativa. Nesse trabalho, os autores citam os
principais métodos de coleta de dados para estudos de usuários, suas vantagens e desvantagens. São exemplos
desses métodos de coletas de dados em estudos de usuários, EXCETO.
A) Análise de conteúdo. B) Modelo de Kuhlthau. C) Observação. D) Questionário.
Questão 6 - Analise as características dos novos estudos de comportamento de usuários e assinale com V as
afirmativas VERDADEIRAS e com F as FALSAS, com base em Ferreira (1995).
( ) Empregar maior orientação quantitativa.
( ) Visualizar holisticamente as experiências do indivíduo.
( ) Focalizar os aspectos cognitivos envolvidos. ( ) Considerar o indivíduo como sendo orientado situacionalmente.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência de letras CORRETA.
�138
A) (F) (V) (V) (V).
B) (F) (V) (F) (V).
C) (F) (V) (F) (F).
D) (F) (V) (V) (F).
REFERÊNCIAS
ACCART, J. P. Serviço de referência: do presencial ao virtual. Brasília: Briquet de Lemos, 2012.
BARROS, M. H. T. C. Disseminação da Informação: entre teoria e prática. Marília: a autora, 2003.
PESSOA, P.; CUNHA, M. B. Perspectivas dos serviços de referência digital. Informação e sociedade, João
Pessoa, v. 17, n. 3, 2007.
BAPTISTA, S. G.; CUNHA, M. B. Estudo de usuários: visão global dos métodos de coleta de dados.
Perspectiva em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2007.
�139
ENCERRAMENTO
Aula XI: Revisão final do curso
Docente responsável: Jorge Santa Anna
Bibliotecário atuante no ramo da Consultoria e Metodologia de Trabalhos Científicos. Professor de
Metodologia de Pesquisa e aulas particulares de Biblioteconomia e áreas correlatas. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da UFMG. Atua há mais de oito
anos na Normalização Bibliográfica, com vasta produção bibliográfica publicada em periódicos científicos.
Membro do comitê editorial da Revista Pró-Discente.
Docente responsável: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Bibliotecária da Escola Ciência da Informação da UFMG. Presidente da ABMG, gestão 2018/2021.
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento. Tem
experiência na área de Biblioteca Universitária e Educação a Distância, tendo ocupado cargo de gestão do
Sistema de Bibliotecas da UFMG, por duas vezes.
11.1 A BIBLIOTECA E A UNIVERSIDADE – AULA I
A biblioteca e a
universidade – aula I
ISSO PODE
CAIR....
-Bibliotecas como organizações: As características do mundo moderno têm
influenciado substancialmente as organizações e vêm alterando as formas de
gestão das bibliotecas;
-BU e o futuro: As universidades freqüentemente têm estado mais
preocupadas com seus problemas do que com as demandas da sociedade, mais
preocupada com a autonomia como reivindicação do que com a sua
responsabilidade social;
-Avaliação das BUs: o caráter e eficiência da universidade podem ser medidos
no tratamento dado ao seu órgão central – a biblioteca;
-Avaliação como melhoria contínua: a avaliação assume um papel primordial,
como valiosa ferramenta de auxílio ao planejamento e à gestão, fornecendo
elementos para subsidiar as decisões institucionais;
- Planejamento bibliotecário: a atividade de planejar é uma tarefa pouco
executada pelos bibliotecários, os quais tendem a considerá-la uma perda de
tempo, fator este que influencia os gestores de bibliotecas a não planejarem.
�140
Questão 1 - Considere a frase do Prof. Murilo Cunha: “... a catalogação original, tanto para itens
impressos quanto para os digitais, não desaparecerá. Entretanto, essa tarefa provavelmente
ficará restrita a grandes bibliotecas ou àquelas muito especializadas, ou a serviços
bibliográficos on-line. Será comum o downloading do registro catalográfico para o catálogo local,
o qual terá ligações (links) para as bibliotecas hospedeiras dos documentos digitais.” Essa frase:
a) reflete uma situação anterior ao desenvolvimento exponencial da web 2.0 e nunca se tornou
realidade;
b) permanece atual e corresponde ao que já está acontecendo no mundo, inclusive no Brasil;
c) foi verdadeira durante o início do século XXI, mas já está caindo em desuso;
d) é totalmente incorreta, uma vez que a catalogação já não existe mais.
e) é parcialmente correta, uma vez que atualmente apenas as editoras de e-books estão
desenvolvendo esse trabalho.
Questão 2 - O processo de identificação dos pontos fortes e fracos de uma coleção de materiais
de uma biblioteca requer uma constante atenção por parte dos bibliotecários. Segundo Maciel &
Mendonça (2000), este trabalho é composto por vários processos, que não podem ser
considerados isoladamente, mas como parte integrante de um todo. Assinale a alternativa que
contem etapa que não faz parte deste processo.
a) Estudo da comunidade.
b) Políticas de seleção.
c) Armazenamento.
d) Aquisição.
e) Desbastamento e descarte.
Questão 3 - Por ser um processo contínuo, o planejamento de uma biblioteca requer metas e um
controle da natureza e da direção das mudanças. Acerca do planejamento marque a alternativa
correta.
a) O planejamento é um acontecimento que dispensa objetivos;
b) É um processo metódico de abordagem racional e científica;
c) Possui como característica uma ação permanente;
d) Por se tratar de atividade esporádica, dispensa orçamentos.
Questão 4 - No planejamento de bibliotecas, produzir conhecimentos relativos à unidade de
informação, à organização em que esta se situa e a seu ambiente, tanto na fase de elaboração do
plano, programa ou projeto, quanto na fase de implementação das ações corresponde à:
a) Avaliação
b) Seleção
c) Plano
d) Aquisição.
Questão 5 - Os serviços de informação, a partir de iniciativas de seus funcionários e dirigentes ou
mesmo por influência de suas instituições mantenedoras, estão investindo cada vez mais recursos
na modernização de suas práticas gerenciais, na melhoria de seus processos e na capacitação de
seus colaboradores, visando principalmente oferecer produtos e serviços mais adequados a seus
usuários, otimizando ao máximo os recursos disponíveis, sem perder naturalmente:
a) A melhoria contínua; b) o padrão de qualidade planejado; c) os objetivos previamente
estabelecidos; d) a satisfação às necessidades dos usuários; e) o suporte tecnológico.
�141
Questão 6 - Segundo Vergueiro e Miranda (2005), em uma economia cada vez mais baseada em
serviços, o conhecimento é um fator decisivo para a sobrevivência organizacional. Por outro lado,
existem determinadas formas de gestão, as quais estão intimamente relacionadas à estrutura da
organização, bem como a seu porte, diversidade, escala hierárquica e distribuição das pessoas
certas para os lugares certos. Isso não é mais sinônimo de controle, padronização ou rotina, ou
seja, esta gestão está ligada àquelas atividades relacionadas com o estímulo ao envolvimento e
com o desenvolvimento da estrutura organizacional. O texto refere-se a qual modalidade de
gestão? A) gestão estratégica;
B) gestão do capital financeiro
C) gestão institucional
D) gestão baseada em recursos
E) NDA.
Questão 7 – O primeiro enfoque do profissional da informação, na sua função de planejador,
consiste em:
a) adotar estratégias motivacionais e catalisadoras de ação.
b) promover o uso do acervo e os serviços oferecidos para melhor atender a comunidade.
c) elaborar manuais para melhorar o fluxo das atividades.
d) interpretar a missão institucional estabelecendo objetivos para o seu cumprimento.
11.2 O ACERVO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA – AULA II
O acervo da Biblioteca
Universitária – aula II
ISSO PODE
CAIR....
-Desenvolvimento de coleções: é um processo dinâmico, cíclico e integrado,
que não tem tanta preocupação como as demais práticas de tratamento;
-O ato de formar e desenvolver coleções: está presente em todo tipo de
biblioteca, mas de forma diferenciada;
-As etapas do processo: analogia ao guarda-chuva (nove etapas);
- Etapas da política: missão/objetivos; perfil usuários; perfil coleções;
cobertura das coleções; etapas do FDC; outros detalhes; documentos correlatos
e avaliação da política;
-Seleção da coleção: etapa decisória e aquisição etapa operacional;
-Critérios: - comuns: assunto, usuário, documento; - específicos: conteúdo,
usuário, aspectos adicionais;
-Preservação da coleção: práticas usuais: Limpezas de documentos/estantes;
reparos gerais; encadernação; educação usuário;
-Preocupação com o patrimônio documental: herança histórica da
universidade, o que requer maior responsabilidade do sistema para garantir a
preservação desses acervos.
�142
Questão 1 - Vergueiro (2010) em Seleção de materiais de informação afirma que algumas
editoras costumam notabilizar-se pela qualidade dos materiais que produzem, funcionando como
índice de confiabilidade do conteúdo dos documentos. É CORRETO afirmar que, nesse trecho, o
autor faz referência a um critério de seleção concernente à: a) autoridade.
b) conveniência.
c) imparcialidade.
d) relevância.
Questão 2 - Segundo Weitzel (2013, p.39), antes de começar a elaborar um primeiro esboço da
Política para Desenvolvimento de Coleções é necessário alguns preparativos. Informe verdadeiro
(V), ou falso (F), e em seguida, assinale a alternativa com a sequência correta.
( ) Identificação da missão e objetivos institucionais.
( ) Perfil da comunidade.
( ) Perfil das coleções.
( ) Perfil do administrador(diretor).
( ) Avaliação do comportamento do usuário.
(A) V – F – V – F – F. (B) F – V – V – V – F. (C) V – V – V – F – F. (D) F – F – V – V – V. (E) F – F
–V–V–F
Questão 3 - No âmago da preservação de acervos bibliográficos, há distinções entre os termos
preservação, conservação e restauração. Estabeleça as correspondências entre os termos
apresentados na primeira coluna com as respectivas definições expostas na segunda coluna:
a) Preservação ( ) implica em técnicas e práticas específicas
b) Conservação
( ) tem um sentido abrangente, incluindo todas as considerações
administrativas
(c) Restauração ( ) intervenções técnicas sobre os componentes materiais de um documento já
deteriorado
a) a, b e c;
b) c, b e a;
c) b, a e c;
d) b, c e a;
e) NDA.
Questão 4 - Para Vergueiro (2010), a avaliação de filmes para incorporação ao acervo das
bibliotecas deve considerar, além de questões básicas como adequação do material ao usuário,
sistema de vídeo mais apropriado para a biblioteca e implicações financeiras para a instituição,
um conjunto de critérios relacionados:
(A) à tematicidade do item.
(B) ao aspecto da autoridade.
(C) à perfeição das cores.
(D) à qualidade da cópia ou do exemplar.
11.3 FONTES DE INFORMAÇÃO – AULA III
�143
O acervo da Biblioteca
Universitária - aula III
ISSO PODE
CAIR....
-Fontes de informação: auxiliam o dia a dia de profissionais e pesquisadores e
podem ser armazenadas em diferentes locais.
-Tipologias de fontes: natureza primária, secundária e terciária. Contempla
desde os periódicos, a eventos, organizações, índices de citação, guias de
literatura etc.
-Bibliotecas digitais: a ideia dessa biblioteca não é nova: remete ao memex de
Busch e a Otlet e La Fontaine.
-O potencial da biblioteca digital em relação à biblioteca convencional;
-A biblioteca digital representa um modelo transformativo em larga escala,
centrada no usuário, movendo-se de forma integrada a seus componentes;
-No caso de periódicos eletrônicos, várias partes do documento podem ficar
hospedadas em diversos computadores;
-O paradigma da representação informacional era a de um livro, passando a
ser a de um capítulo, dentre tantas formas de representação;
-Repositórios são bancos de dados contendo conteúdos completos e
respectivos metadados;
Questão 1 – O acervo de uma biblioteca universitária é composto por fontes de informação que
apresentam características e finalidades distintas. Nesse contexto, assinale a alternativa correta.
A) O abstract é uma publicação de referência, que tem como finalidade indicar outras fontes de
informação.
B) O índex é uma publicação de referência, que tem por finalidade a recuperação da informação
nas estantes.
C) O periódico científico é uma publicação seriada, que tem como finalidade publicar edições
atuais de fontes esgotadas.
D) O dicionário especializado é uma publicação organizada em verbetes, que visa à descrição do
universo do conhecimento.
E) O relatório é uma publicação técnico-científica, que objetiva sistematizar o planejamento de
serviços e produtos diversos.
Questão 2 – Considere os tipos de fontes de informação apontados na primeira coluna (I-II) e os
exemplos de fontes arrolados na segunda (1-5).
I. fonte primária
II. fonte secundária
1 – Diário da Justiça
2 – Diário Oficial da União
3 – Cartilha do egresso [folheto eletrônico]
4 – Jus Navegandi [periódico eletrônico]
�144
5 – Revista dos Tribunais
As relações entre o tipo de fonte e seu(s) exemplo(s) estão indicadas em:
(A) I-1 e 2 ; II- 3, 4 e 5.
(B) I-2; II-1, 3, 4 e 5.
(C) I-2 e 5; II-1, 3 e 4.
(D) I-3 e 4; II-1, 2 e 5.
(E) I-4 e 5; II-1, 2 e 3.
Questão 3 - Os eventos científicos desempenhar diversas funções, resumidas em três principais.
Assinale a alternativa que demonstra a presença dessas três funções:
A) Aperfeiçoamento de trabalho, comunicação informal e reflexo do estado da arte;
B) Troca de experiências e vivências; contato pessoal entre pesquisadores e refletir o estado da
arte;
C) Contato pessoal entre pesquisadores, transmitir as inovações científicas e refletir sobre os
assuntos mais atuais;
D) Reflexo do estado da arte, comunicação informal e estabelecimento de uma rede de contatos;
E) Comunicação informal, formar parcerias e contatos e garantir maior confiabilidade a
autoridade científicas.
Questão 4 - A biblioteca digital se caracteriza por:
A) disponibilizar para acesso, basicamente, o resumo de livros e teses devidamente digitalizados.
B) oferecer aos usuários mais de 90% do acervo, documentos eletrônicos e digitais.
C) disponibilizar sua base informacional em servidores próprios e acessados via rede de
computadores.
D) permitir que os usuários da biblioteca aprendam a lidar com as tecnologias de informação.
Questão 5 - Constitui-se um marco na história do desenvolvimento da comunicação científica, da
publicação eletrônica e das bibliotecas digitais. Promoveu a elaboração e o estabelecimentos de
padrões e protocolos para interoperar bibliotecas digitais (MARCONDES, 2006). Assinale a opção
a que o enunciado faz referência. a ) FRBR b ) Iniciativa de open archive c ) RDA
d ) MARC21 e ) WorldCat
Questão 6 – A estruturação de uma biblioteca digital deve seguir diretrizes baseadas na
qualidade, visando estabelecer indicadores para que o projeto seja bem-sucedido, considerando
as categorias desempenho, conformidade e durabilidade. Na categoria conformidade, o nível de
organização da informação agrega a variável:
a) armazenamento de documentos.
b) mecanismo de busca.
c) controle de acesso.
d) arquitetura da informação.
e) cadastro de visitantes.
�145
11.4 PERIÓDICOS CIENTÍFICOS, OPEN ARCHIVES E REPOSITÓRIOS – AULA IV
O acervo da Biblioteca
Universitária - aula IV
ISSO PODE
CAIR....
-Periódico científico: Principal meio de comunicação científica, sendo utilizado
em proporções diferentes nas diversas áreas de conhecimento;
-Open Archives: auto-arquivamento de trabalhos científicos em repositórios
(via verde) e os periódicos científicos eletrônicos de Acesso Livre (via dourada);
-Repositórios digitais: como elementos de uma rede ou infraestrutura
informacional de um país ou de um domínio institucional;
-Repositórios de e-prints: produção de uma instituição, seja ela publicada ou
não, com espaço para comentários por parte dos utilizadores;
-Qualquer repositório vai requerer criação de políticas, tomada de decisões e
as ações por parte das instituições acadêmicas e governamentais que garantam
o Acesso Livre;
-Tipos repositórios: disciplinar/temático e institucional. Normalmente, os
temáticos formam os institucionais.
Questão 1 – Os periódicos científicos são considerados como os principais meios de comunicação
científica. Considerando sua importância no desenvolvimento científico, assinale a alternativa
correta quanto ao século de surgimento desse tipo de fonte de informação, como também o
nome atribuído ao primeiro periódico de natureza científica:
a) Século XIX, Jornal de Sçavans;
b) Século XVII, Philosophical Transactions;
c) Século XIX, Philosophical Transactions;
d) Século XVII, Jornal de Sçavans;
e) Século XIX, Philosophical Transactions.
Questão 2 – No mundo contemporâneo, o uso das tecnologias de informação e comunicação
(TICs) tem impactado a comunicação científica em pelo menos dois aspectos: O primeiro, o
processo de comunicação científica baseado no meio eletrônico, resultado do uso de tecnologias
de informação e comunicação para disseminação da pesquisa. O segundo, os impactos que esse
uso provoca na própria comunicação científica e nas comunidades científicas (BAPTISTA et al.,
2007, p. 3). Contudo, o modelo de negócios para a publicação científica – notadamente os
periódicos científicos – não explora suficientemente as tecnologias no sentido de beneficiar, de
fato, a disseminação das pesquisas. Como reação a esse modelo têm surgido novos modos
alternativos para a produção, circulação e publicação de pesquisas, como os open archives, que
tecnicamente podem ser definidos como:
A) diretórios existentes em um computador que estão abertos para o acesso via ftp ou http,
armazenando uma coleção de séries de artigos ou uma coleção de dados sobre artigos
armazenados em outro local.
B) banco de dados de artigos científicos revisados pelos pares e disponíveis aos internautas.
�146
C) biblioteca digital de artigos científicos, acessíveis por meio de instituições tradicionais
(bibliotecas).
D) consórcio de pesquisadores, para publicação de suas pesquisas sem a mediação das editoras
científicas tradicionais.
Questão 3 - De acordo com Sayão et al. (2009), percebe-se uma série de equívocos e de
distorções relacionada aos repositórios institucionais de acesso aberto. Acerca dessa temática,
analise as afirmativas abaixo e marque (V) para verdadeiro ou (F) para falso.
( ) Repositórios institucionais lidam exclusivamente com a produção científica e acadêmica da
instituição, em formato digital, para sua maior disseminação e visibilidade.
( ) A finalidade da informação a ser gerenciada deve ser fundamentar o avanço científico e
tecnológico e seu público alvo deve ser a comunidade científica e acadêmica.
( ) A plena adoção e funcionamento de um repositório não contribui em nada para composição da
memória institucional.
( ) Repositórios institucionais são iguais a portais de periódicos científicos, concorrendo com eles.
( ) Os repositórios dão maior garantia, pois inibem o plágio devido ao aumento da visibilidade.
A sequência correta é:
a) V, F, V, F, V.
b) V, V, F, F, F.
c) F, V, V, F, V.
d) V, F, F, V, V.
e) V, F, V, V, F.
11.5 SISTEMA PERGAMUM – AULA V
Sistema Pergamum –
aula V
ISSO PODE
CAIR....
-Pergamum: software de gerenciamento de biblioteca, criado pela PUC-Paraná,
no ano de 1988, por meio de um TCC na área de Engenharia;
-O software contempla as principais funções de uma Biblioteca, funcionando
de forma integrada, com o objetivo de facilitar a gestão dos centros de
informação, melhorando a rotina diária com os seus usuários;
Algumas funções relativas ao processamento técnico: Permite a catalogar de
acordo com as regras do Anglo american cataloguing rules - AACR2; Entrada de
dados on-line; Formato MARC 21 dos registros bibliográficos para exportação e
importação; Formato MARC 21 dos registros internos; Importação de dados de
centros de catalogação cooperativa on-line e CD-ROM via formato ISO-2709.
�147
Questão 1 - A Rede Pergamum exerce um papel fundamental para as ações de promover a
cooperação e o intercâmbio de serviços entre as bibliotecas usuárias do sistema. As afirmativas
abaixo estão corretas, EXCETO.
A) Permuta de periódicos, empréstimo entre bibliotecas e catálogo de autoridades padrão
MARC21 disponível na web são alguns dos serviços desenvolvidos pela Rede.
B) A rede foi criada com a filosofia de catalogação compartilhada, mas aproveitar registros
bibliográficos alheios na sua catalogação sempre foi vista com muita cautela pelos seus membros.
C) A rede foi criada com a filosofia de catalogação compartilhada e uma de suas preocupações
era otimizar recursos humanos existentes nas bibliotecas, deslocando bibliotecários da
catalogação para os serviços ligados ao atendimento do público, ou ainda, implementando novos
serviços e/ou produtos.
D) O que motivou a formação da rede foi a necessidade urgente de diminuir os estoques de
materiais nas bibliotecas aguardando tratamento técnico.
11.6 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO: CDD E CDU – AULA VI
CDD e CDU– aula VI
ISSO PODE
CAIR....
-Representação Temática: refere-se à disciplina que estuda as formas de
representação do conteúdo documentários, viabilizando a recuperação;
-Classificação: atividade milenar relacionada à categorização do conhecimento,
iniciada na Filosofia;
-A classificação é arte de reunir coisas, ideias ou seres em grupos, conforme o
grau de semelhança;
-Introduzir ordem numa multiplicidade de conceitos, ideias, informações,
organizando-as em classes, em grupos de coisas que tem algo em comum;
-Classificações filosóficas e científicas não adequaram-se à classificação de
livros: Aristóteles, Bacon;
-Classificações documentárias (e não bibliográficas): CDD nasceu para
classificar o acervo da biblioteca e CDU é mais expandida;
-CDD e CDU: sistemas de classificação enumerativos. A CDU possui um pouco
de facetação.
Questão 1 - Para classificar uma obra usando a Classificação Decimal de Dewey, um Bibliotecário
deve aplicar o princípio norteador do sistema, o qual estabelece que uma obra deve ser
classificada:
a) no assunto que exercer influência sobre outro, de maneira que obras com mais de um assunto
sejam interrelacionadas.
b) na disciplina da qual deriva, de maneira que obras produzidas em uma mesma área apareçam
agrupadas.
�148
c) no assunto que aparecer primeiro nas tabelas, de maneira que obras de um mesmo assunto
permaneçam juntas.
d) na disciplina a que se destina, de maneira que obras utilizadas em conjunto sejam encontradas
juntas.
e) no aspecto mais genérico do assunto, de maneira que obras que tratam de um mesmo assunto
apareçam na mesma hierarquia.
Questão 2 - Em relação à Classificação Decimal Universal, considere os dois agrupamentos
abaixo:
I.
347.96-055.2 – Advogadas
II.
(520+81) − Japão e Brasil
III.
III. (=214.58) − Ciganos
a. Trata-se de um sinal usado para ligar dois ou mais números separados para indicar um assunto
composto para o qual não existe um número simples.
b. Trata-se de auxiliar passível de ser citado no final, no meio ou no início de um número
composto.
c. Trata-se de auxiliar aplicável às tabelas principais quando o aspecto pessoal é secundário em
relação ao assunto.
A correta correlação entre os agrupamentos é:
a) I-c; II-b; III-a.
b) I-a; II-b; III-c.
c) I-b; II-c; III-a. d) I-a; II-c; III-b.
e) I-c; II-a; III-b.
Questão 3 - Os sistemas de classificação documentárias foram influenciados pelas classificações
do conhecimento estabelecida pela Filosofia e pela Ciência, embora tenham o fim específico de
organizar acervos documentários. Dentre os sistemas CDD, CDU e Dois pontos. A alternativa que
representa os criadores desses sistemas é, respectivamente:
a) Paul Otlet, Dewey e Ranganathan;
b) La Fontaine, Paul Otlet e Ranganathan;
c) Dewey, La Fontaine e Ranganathan;
d) La Fontaine, Paul Otlet e Dewey;
e) NDA.
11.7 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA: AACR2 – AULA VII
�149
AACR2 – aula VII
ISSO PODE
CAIR....
-Representação Descritiva: prática ou disciplina que representa os documentos
no que tange às características relativas à forma;
-Catalogação:
-conversão retrospectiva, retrospective conversion ou RECON: promoção do
acesso às informações de acervos de forma rápida e eficaz;
-Catalogação como uma prática milenar;
-Catálogo como produto da catalogação, definido como o instrumento mais
antigo na história da representação documentária;
-AACR2: código de catalogação idealizado com a Convenção de Paris e RIEC, a
partir da reformulação das ISBDs;
-Oito áreas da descrição bibliográfica, que compõem as fichas impressas: Área:
• Título e indicação de responsabilidade • Edição • Publicação, distribuição etc.
• Descrição física • Série • Notas • Números normalizados e modalidades de
aquisição.
-Pontuação: Cozinheiro demais / Rex Stout ; tradução: Celso Nogueira. -- São
Paulo : Companhia das Letras, 1991. 223 p. ; 18 cm. Tradução de: Too many
cooks. ISBN 85-7164-175-7.
Formatos de
catalogação – aula VII
ISSO PODE
CAIR....
-MARC: Machine Readable Cataloging que quer dizer catalogação legível por
computador;
-FRBR: Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos: é um modelo
conceitual resultante do estudo realizado por um grupo de estudo da IFLA
entre os anos de 1992 e 1997;
RDA: Resource Description and Access. Em português, Recursos: Descrição e
Acesso: novo código de catalogação, o qual comtém descrições para
documentos eletrônicos;
-Catalogação Cooperativa: realizada de forma mais colaborativa e
padronizada entre os profissionais;
-Pazzini e Jewett: idealizador do catálogo (autores e assuntos) e da
cooperação;
Formatos baseados no MARC em vários países, como nos Estados Unidos –
USMARC, na Inglaterra – UKMARC, na França – InterMARC e no Canadá –
CanMARC;
Estrutura geral do registro bibliográfico: líder, diretórios e campos de dados.
�150
Questão 1 - Em relação ao AACR-2, considere:
I. É possível afirmar que um dos princípios que norteiam o código é a homogeneidade; quanto
mais homogêneos forem os dados, maior será a qualidade do catálogo.
II. A determinação dos pontos de acesso compreende duas etapas: a primeira é a própria escolha
do ponto de acesso e, a segunda, a escolha da forma dos cabeçalhos.
III. Há três níveis para a descrição catalográfica, o que dá às bibliotecas certa flexibilidade para
determinar a sua política de catalogação. Os fatores que afetam a decisão sobre o nível de
catalogação a ser adotado incluem objetivo da biblioteca, necessidades dos usuários e
importância do acervo.
IV. Ao estabelecer os pontos de acesso secundários para vários tipos de responsabilidade, como
tradutor, ilustrador, coordenador etc., é preciso indicá-los segundo a ordem de importância que
têm na obra.
V. Na representação bibliográfica, integridade significa que a mesma solução deve ser sempre
usada para informações semelhantes.
Está correto o que se afirma APENAS em: a) II, IV e V. b) I e IV. c) I, III e IV. d) II e III.
e) III, IV e V.
Questão 2 - O AACR2, em relação à descrição de materiais, prescreve a seguinte regra geral:
A) as áreas da catalogação descritiva são sete, a saber: título e indicação de responsabilidade;
edição; publicação, distribuição etc; descrição física; série; notas; e número normalizado.
B) a indicação da edição, quando inserida no item, é transcrita na forma como aparece, sem
abreviar os elementos. (abreviada: ed.)
C) os únicos sinais de um título que o código manda substituir são reticências por travessão, e
colchetes por parênteses.
D) o nome do lugar, quando aparece de forma abreviada na fonte principal de informação, é
transcrito como aparece nessa fonte.
E) Está correto o que se afirma em: a) A, B e D; b) C e D; c) B e C; d) Apenas A
e) todas
as alternativas.
Questão 3 - Na catalogação, para responder às necessidades dos usuários, os Requisitos
Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR) são definidos em relação às seguintes tarefas
genéricas, realizadas pelos usuários quando fazem buscas em bibliografias nacionais e catálogos
de bibliotecas, ou os utilizam, chamadas user tasks, EXCETO:
a ) uso dos dados para escolher um padrão.
b ) uso dos dados para encontrar materiais.
c ) uso dos dados recuperados para identificar uma entidade.
d ) uso dos dados para selecionar uma entidade.
e ) uso dos dados para obter acesso à entidade descrita.
Questão 4 - Segundo os Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos, a entidade que
representa o produto do trabalho intelectual ou artístico, que implica a representação de todos
os objetos físicos possuidores das mesmas características tanto de conteúdo intelectual como de
forma física e que abrange diversos materiais como livros, manuscritos, mapas, filmes e kits de
multimídia denomina-se:
a) obra.
b) item.
�151
c) conceito.
d) expressão.
e) manifestação.
Questão 5 –
No contexto da Catalogação, estas definições aplicam-se, respectivamente, a:
a) item e obra. b) fonte e registro. c) obra e formato. d) formato e item. e) registro e fonte.
11.8 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA – AULA VIII
Representação
Temática – aula VIII
ISSO PODE
CAIR....
-Indexação: é uma atividade que compõe o serviço de tratamento da
informação nos centros de informação;
-Análise de assunto: primeira etapa do tratamento temático. Constitui o
processo de leitura dos documentos existentes em bibliotecas e sistemas de
recuperação da informação visando identificar os assuntos de que tratam
para que possam ser recuperados nos catálogos e índices;
-Etapas: leitura, o reconhecimento estrutural do texto, o levantamento dos
principais conceitos e informações, da seleção dos conceitos e informações
essenciais e, finalmente, a elaboração final de resumos e índices;
-Linguagens de indexação: linguagens padronizadas, controladas, que são
construídas para indexar, armazenar e recuperar a informação,
correspondendo a sistemas de símbolos destinados a traduzir o conteúdos
dos documentos;
-Indexação automática quanto manual: a ausência de termos de busca em
vocabulários controlados impede a recuperação de itens relevantes;
-Política de indexação: sintoniza as necessidades dos usuários e a
representação dos documentos dentro de seus domínios.
Questão 1 - Cintra et al. (2002) apresentam em seu livro os aspectos fundamentais das
linguagens documentárias. além de seu caráter organizacional, as linguagens documentárias
viabilizam o compartilhamento de informações produzidas por diferentes instituições. Em relação
às linguagens documentárias, analise as afrmativas a seguir e assinale com (V) as VERDADEIRAS e
com (F) as FALSAS.
�152
( ) Uma linguagem documentária é um conjunto de elementos utilizados para catalogar
conteúdos de materiais de qualquer natureza, inclusive os objetos digitais.
( ) Nos sistemas de classificação convencionais, não há grande preocupação com o controle do
vocabulário. Já nos tesauros, a função de controle de vocabulário está mais presente.
( ) As noções, devidamente relacionadas, constituem o arcabouço fundamental para a
organização de uma área, na medida em que possibilitam um ponto de vista materializado no
sistema de noções, para o tratamento documentário.
( ) As linguagens documentárias são construídas para indexação, armazenamento e recuperação
da informação e correspondem a sistemas de símbolos destinados a traduzir os conteúdos dos
documentos.
( ) As linguagens documentárias são instrumentos intermediários ou instrumentos de comutação,
através dos quais se realiza a tradução da síntese dos textos e das perguntas dos usuários.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência de letras CORRETA: a) F, V, V, V, V;
b) V, V, V, F, V;
c) F, F, V, F, V;
d) V, V, V, V, V.
Questão 2 - A análise de assunto é a primeira etapa do tratamento temático da informação, de
acordo com Dias e Naves (2013). Sobre essa etapa, analise as afirmações abaixo:
I- A leitura técnica do documento é um tipo de leitura de conteúdo que se constitui em um misto
de ler e passar os olhos pelo texto, direcionada para certas partes do documento onde podem ser
identificados elementos importantes para a identificação do assunto do documento.
II- A análise de assunto, realizada em textos escritos, necessita de uma leitura que possibilite a
extração de conceitos que sintetizem o conteúdo desses textos.
III- Após a extração dos conceitos e a seleção dos que refletem melhor o assunto do documento,
partimos para a terceira fase da análise de assunto: a atinência.
IV- A indexação é uma operação simples e necessária para a análise de assuntos. É entendida
como processo básico na recuperação da informação.
V- Critérios de pertinência, exaustividade e especificidade impedem os indexadores de avaliar o
trabalho
de
indexação.
Estão corretas as afirmativas
a) I, II e III.
b) I, III e IV.
c) I, III e V.
d) II, IV e V.
e) III, IV e V..
11.9 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL, COMUT E NBRs – AULA IX
�153
Competência, Comut
e NBRs – aula IX
ISSO PODE
CAIR....
-Competência Informacional: é um movimento idealizado pela classe
bibliotecária dos EUA, em virtude da precariedade do sistema escolar;
-Competência informacional: foi uma evolução do serviço de referência que
atingiu níveis mais elevados, considerando os desafios da sociedade da inf.;
-A comutação bibliográfica viabilizou a expansão da cooperação bibliotecária;
-COMUT: permite a obtenção de cópias de documentos técnico-científicos
disponíveis nos acervos das principais bibliotecas brasileiras e em serviços de
informação internacionais;
-NBR 10520: especifica as características exigíveis para apresentação de
citações em documentos;
-NBR14724: especifica os princípios gerais para a elaboração de trabalhos
acadêmicos (teses, dissertações e outros), visando sua apresentação à
instituição (banca, comissão examinadora de professores, especialistas
designados e/ou outros);
-NBR6023: fixa a ordem dos elementos das referências e estabelece
convenções para transcrição e apresentação da informação originada do
documento e/ou outras fontes de informação.
Questão 1
Questão 2 - Considere as informações abaixo sobre a NBR 10520 – Informação e Documentação –
Citações em Documentos – Apresentação:
I. As citações diretas, no texto, de até três linhas, devem ser contidas entre aspas duplas. As aspas
simples são utilizadas para indicar citação no interior da citação.
II. As citações diretas, no texto, com mais de três linhas devem ser destacadas com recuo de 4 cm
da margem direita com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas.
III. Quando a citação incluir texto traduzido pelo autor, deve-se incluir após a chamada da citação,
a expressão tradução nossa, entre parênteses.
Assinale a alternativa em que (todas) a(s) afirmativa(s) está(ão) CORRETA(S):
a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas I e III. e) I, II e III.
�154
11.10 USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO – AULA X
Usuários da
informação – aula X
ISSO PODE
CAIR....
-Serviços e produtos nas BUs: foco na qualidade e melhoria contínua com
base nas necessidades dos usuários da BU (ensino, pesquisa e extensão);
- Serviços formais de auxílio ao usuário: reflexo da explosão informacional.
-Estudos de usuários: coletar dados para criar e/ou avaliar produtos e
serviços informacionais, bem como entender melhor o fluxo da transferência
da informação;
-Estudos de abordagem quantitativa e qualitativa: técnicas para coleta de
dados e estudos de comportamento, percepções e cognições.
-Estudos voltados para as necessidades cognitivas, afetivas, psicológicas e
fisiológicas;
-Disseminação Seletiva da Informação: garantir a possibilidade de
informações especializadas;
-Serviço de Referência: mediação realizada por profissional na interação
usuário e acervo;
-Serviço de referência virtual: correio eletrônico, chat, web contact centers
softwares, videoconferência e os projetos colaborativos de referência virtual;
Questão 1 - Os estudos que se inserem um paradigma centrado no usuário preocupam-se com a
percepção, com os sentimentos e com o modo como as pessoas aprendem. Enfim, com aspectos
que, segundo os teóricos da corrente cognitivista, interferem no comportamento de busca e de
uso de informação. Assinale a alternativa que não identifica argumento da abordagem cognitiva.
a) Aspectos cognitivos e afetivos, que interferem na busca e no uso da informação.
b) Relevância das experiências individuais.
c) Ferramentas de busca da informação.
d) A necessidade da informação é situacional e contextualizada.
e) A necessidade de informação muda à medida que o usuário avança no seu processo de busca
de informação.
Questão 2 - A respeito da disseminação seletiva da informação (DSI), considere as afirmações
abaixo.
I. Pode ser entendida como um serviço personalizado, de valor agregado e direcionado à
necessidade particular de cada usuário.
II. Foi idealizada em 1958, pelo pesquisador Hans Peter Luhn, da IBM Corporation, com o objetivo
de minimizar os esforços dos cientistas na busca de informações relevantes para o trabalho de
pesquisa.
III. Os primeiros estudos sobre DSI no Brasil surgem na década de 1980, ligados principalmente
aos centros de informação e às divisões de informação de órgãos públicos.
�155
IV. A difusão do computador e dos métodos eletrônicos alterou a estrutura do serviço de
disseminação seletiva da informação, permitindo, inclusive, a prestação desse serviço de forma
automática.
V. O serviço de DSI tem um alto índice de aceitação entre os pesquisadores, pois serve para
mantê–los informados sobre as recentes publicações de suas áreas de interesse.
Estão CORRETAS, apenas:
a) I, II, IV e V.
b)III, IV e V.
c)I, III e V.
d)II, III e IV.
e)I e V.
�156
ANEXO A – BIBLIOGRAFIA DO CONCURSO
�157
�158
�159
�160
APÊNDICE A – PLANO GERAL DO CURSO
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG
CURSO PREPARATÓRIO
CONCURSO PÚBLICO – BIBLIOTECÁRIO UFMG
OBJETIVO GERAL: preparar os candidatos ao cargo de bibliotecário no Concurso Público da UFMG, habilitando-os a atingir
bons resultados no certame;
Objetivos Específicos: 1 – Oferecer aulas teóricas sobre os assuntos específicos da Biblioteconomia contemplados no edital do
concurso; 2 – Apresentar técnicas, estratégias e metodologias que possam garantir possibilidades de aprovação em concursos;
3 – Disponibilizar exercícios práticos, tal como a resolução de questões abordadas em concursos anteriores realizados na
UFMG.
PÚBLICO-ALVO: Bacharéis em Biblioteconomia que desejam realizar o concurso da UFMG ou concursos públicos em outras
instituições, sobretudo as de modalidade federal.
METODOLOGIA: Aulas teórico-práticas, ministradas por docentes e profissionais especializados e experientes na área da
Biblioteconomia.
PROGRAMA GERAL DO CURSO: 40 horas: dez aulas de quatro horas por dia, distribuídas em quatro módulos, os quais
apresentam assuntos referentes à biblioteca universitária, tratamento e organização da informação e produtos e serviços
direcionados aos usuários da informação.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO POR MÓDULOS
MÓDULO I– A UNIVERSIDADE E A BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
Aulas do
curso
Principais assuntos
Principais bibliografias
●
Funções, objetivos,
estrutura e recursos
ALMEIDA, M. C. B. Planejamento de bibliotecas e serviços de
informação. 2. Ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2005.
1
●A
biblioteca e a
universidade
Gestão da biblioteca
universitária;
CUNHA, M. B. Construindo o futuro: a biblioteca universitária
em 2010. Ciência da Informação, v. 29, n. 1, 2009.
Aula 1
●
LEITÃO, B. J. M. Avaliação qualitativa e quantitativa numa
biblioteca universitária. Rio de Janeiro: Interciência, 2005.
Planejamento,
organização e
avaliação
Docente
Dia: 15/03
Jorge
Anna
Santa
Maria
Elizabeth
LUBISCO, N. M. L. (Org.). Biblioteca universitária: elementos
para o Planejamento, avaliação e gestão. Salvador: EDUFBA,
2011.
MACIEL, A. C.; MENDONÇA, M. A. R. Bibliotecas como
organizações. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.
VERGUEIRO, V.; MIRANDA, A. C. D. (Org.). Administração de
unidades de informação. Rio Grande: FURG, 2007.
MÓDULO II – 0 ACERVO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
Aulas do
curso
Principais assuntos
Principais bibliografias
O acervo da
●
Biblioteca
Universitária
Formação,
desenvolvimento,
gestão e preservação
VERGUEIRO, W. Seleção de materiais de informação:
princípios e técnicas. Brasília: Briquet de Lemos, 2010.
Docente
Maria
Fátima
de
�161
de coleções: políticas,
rotinas e processos
Aula 2
WEITZEL, S. R. Elaboração de uma política de desenvolvimento
de coleções em bibliotecas universitárias: Rio de Janeiro:
Interciência, 2013.
Dia 16/03
Sexta-feira
MOTTAR, R.; CARVALHO, M. C.; FERNANDES, C. A. A
preservação de acervos de bibliotecas e sua importância na
atualidade: a ótica dos bibliotecários da UFMG, Informação e
sociedade, João Pessoa, v. 15, n. 1, 2005. Periódico
O acervo da
●
Biblioteca ●
Universitária
Bibliotecas digitais;
Fontes de informação;
Aula 3
CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; KREMER, J. M. (Org.). Fontes
de informação para pesquisadores e profissionais. Belo
Horizonte: UFMG, 2003.
CUNHA, M. B. Das bibliotecas convencionais às digitais:
diferença e convergências. Perspectiva em Ciência da
Informação, BH, v. 13, n. 1, jan./abr. 2008.
Jorge
Anna
Santa
Dia 19/03
Segunda-feira
MARCONDES, C. H. et al. (Org.). Bibliotecas digitais: saberes e
práticas. 2 ed. Salvador: UFBA, 2006.
4 – O acervo
●
da Biblioteca
Universitária
●
Aula 4
●
O periódico científico:
características e
evolução;
Open archives;
Recursos
informacionais
tradicionais e
eletrônicos
TAMMARO, A. M. SALARELLI, A. A biblioteca digital. Brasília:
Briquet de Lemos, 2008.
BAPTISTA, A. A. et al. Comunicação científica: o papel do Open
Archives Iniciative no contexto do acesso livre. Encontros Bibli,
n. esp., 2007.
MUELLER, S. P. M.; PASSOS, E. J. L. (Org.). Comunicação
científica. Brasília: Departamento Ciência da Informação, 2000.
Jorge
Anna
Santa
Dia 20/03
Terça-feira
SENA, N. K. Open archives: caminho alternativo para a
comunicação científica, Ciência da Informação, v. 29, n. 3, dez.
2000.
SAYÃO, L. et al. (Org.). Implantação e gestão de repositórios
institucionais: políticas, memória, livre acesso e preservação.
Salvador: EDUFBA, 2009
MÓDULO III – ORGANIZAÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO EM SUPORTES DIVERSOS
Aulas do
curso
Principais assuntos
Software para
gerenciamento de
bibliotecas: Sistema
Pergamun
Principais bibliografias
Docente
ANZOLIN, H. H. Rede Pergamun: história, evolução e
perspectivas. Revista ACB, Florianópolis, v. 14, n. 2, 2009.
PERGAMUN, Sistema Integrado de Bibliotecas: Características
técnicas. Curitiba, 2010.
Quarta feira
21/03
�162
●
Organização ●e
Tratamento
de
Informação
em suporte ●
diversos.
Aula 5
●
●
ORGANIZAÇÃ
OE
TRATAMENTO
DA
INFORMAÇÃO
EM SUPORTES
●
DIVERSOS
Representação
Temática: princípios
gerais da classificação;
SILVA, O. P. CDD: manual teórico-prático para os alunos da
disciplina Classificação no Departamento de Ciência da
Informação da Universidade de Brasília, 2018.
Sistemas de
classificação;
CDD
ANZOLIN, H. H. Rede Pergamun: história, evolução e
perspectivas. Revista ACB, Florianópolis, v. 14, n. 2, 2009.
Prof.
Elizangela
Agannette
Quinta – dia
22/03
CDU
SOUZA, S. CDU: como entender e utilizar a segunda edição
internacional em língua portuguesa. Brasília: Thesaurus, 2009.
Prof.
Felipe
Soares
Quinta – dia
22/03
Metadados
Representação
Descritiva: catalogação
de diferentes materiais
e suportes; CCAA2
AACR2;
CASTRO, F. F.; SANTOS, P. L. V. A. C. Conversão retrospectiva
de registros bibliográficos. 2017.
Prof.ª Maria
Helena Santos
Código de Catalogação Anglo Americano. São Paulo: FEBAB,
2004.
Sexta-Feira dia
23/03
Formato MARC;
FRBR;
RDA;
Catalogação
cooperativa
FURRIE, B. O Marc bibliográfico: um guia introdutório:
catalogação legível por computador. Brasília: Thesaurus, 2000.
Vilma
Carvalho-
GODINHO, F. M. A.; FARIA, F. M. S.; FARIA, M. S.; Catalogação
cooperativa: história, vantagens e desvantagens. Múltiplos
olhares em CI, BH, v. 4, n. 2, 2014.
Dia 26/03
Segunda-feira
Representaçã
o Descritiva
da
informação
Aula 6
●
ORGANIZAÇÃ●
OE
●
TRATAMENTO
●
DA
INFORMAÇÃO
EM SUPORTES
DIVERSOS
MARC 21: formato condensado para dados de autoridade. São
Paulo: espaço-conhecimento, 2005.
2 – Formatos
de
catalogação
MORENO, F. P.; MÁRDERO ARELLANO, M. A. Requisitos
Funcionais para registros bibliográficos: uma apresentação,
Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
Campinas, v. 3, n. 1, 2005.
Aula 7
OLIVER, C. Introdução à RDA: m guia básico. Brasília: Briquet
de Lemos, 2011.
Representaçã●
o Temática da
●
Informação
Aula 8
●
●
Análise de assunto;
Indexação (conceitos,
características,
linguagens;
Indexação automática
CINTRA, A. M. M. et al. Para entender as linguagens
documentárias. 2. Ed. São Paulo: polis, 2002.
DIAS, E. W.; NAVES, M. L. Análise de Assunto: teoria e prática.
Brasília: Thesaurus, 2007.
FEITOSA, A. Organização da informação ma web: das tags à
web semântica. Brasília: Thesaurus, 2006.
GIL LEIVA, I.; FUJITA, M. S. L. Política de indexação. São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2012.
MÓDULO IV – ESTUDOS DE USUÁRIOS E USO DA INFORMAÇÃO
Graciana
Bruzinga
Dia 27/03
Terça-feira
�163
Aulas
●
Serviço
informação
●
●
de
Principais assuntos
Competência
informacional;
Comut;
Normalização
de
trabalhos
e
publicações
Principais bibliografias
ABNT. NBR-10520: informação e documentação: citações em
documentos. Rio de Janeiro, 2002.
ABNT. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos
acadêmicos. Rio de Janeiro, 2011.
ABNT. NBR 6023: informação e documentação: referências. Rio
de Janeiro, 2011.
Aula 9
Docente
Maria
Fátima
Coelho
de
Pinto
Quarta-feira
Dia 28/03
CAMPELLO, B. S. O movimento da competência informacional:
uma perspectiva para o
letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, v.
32, n. 3, 2003.
IBICT. Programa de Comutação Bibliográfica. Brasília, 2013.
2 – Usuários
●
da
informação
Aula 10
●
Serviços e produtos
para
usuários
de
biblioteca
universitária;
Usuários: necessidades
e estudos.
ACCART, J. P. Serviço de referência: do presencial ao virtual.
Brasília: Briquet de Lemos, 2012.
BAPTISTA, S. G.; CUNHA, M. B. Estudo de usuários: visão global
dos métodos de coleta de dados. Perspectiva em Ciência da
Informação, BH, v. 12, n. 2, 2007.
BARROS, M. H. T. C. Disseminação Seletiva da Informação:
entre teoria e prática. Marília: a autora, 2003.
PESSOA, P.; CUNHA, M. B. Perspectivas dos serviços de
referência digital. Informação e sociedade, João Pessoa, v. 17,
n. 3, 2007.
Prof.ª Janete
Fernandes
Dia 29/03
Quinta-feira
�164
APÊNDICE B – EQUIPE PARTICIPANTE NA ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO
Elisângela Cristina Aganette: Doutora em Ciência da Informação
(UFMG-2015), Mestre em Ciência da Informação (UFMG-2010),
Especialista em Gestão da Informação e do Conhecimento (CEFET2008) e Bacharel em Biblioteconomia (UFMG-2005). Professora
Ajunto da Universidade Federal de Minas Gerais. Mais de 15 anos
de experiência como Consultora em Gestão e Tecnologia da
Informação, consultora especialista nas áreas de organização da
informação, representação da informação e do conhecimento,
mapeamento de processos, soluções de Enterprise Content
Management (ECM), Business Process Modeling (BPM). E-mail:
<elis@eci.ufmg.br>.
Flávia Ferreira Abreu: Possui graduação em Biblioteconomia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (2010), especialização em
Gestão Estratégica da Informação pela Federal de Minas Gerais
(2012). Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação/UFMG. Tem experiência na área de
Ciência da Informação, com ênfase em Gestão da Informação,
atuando principalmente nos seguintes temas: leituras
compartilhadas; bibliotecas itinerantes, mediação de leituras e em
gestão
de
sistema
da
informação.
E-mail:
<flaviaabreu2911@gmail.com>.
Graciane Silva Bruzinga Borges: Bibliotecária, Doutoranda e
Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de PósGraduação em Ciência da Informação, da Escola de Ciência da
Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Membro do Grupo de Pesquisa Modelagem Conceitual
para Organização Hipertextual de Documentos MHTX. Ampla
experiência em Serviços de Referência de bibliotecas
empresariais; Consultoria e Gestão Documental em arquivos
corporativos; Disseminação Seletiva da Informação DSI; Análise de
Assunto de Publicações. E-mail: <gracianebruzinga@gmail.com>.
Jorge Santa Anna: Possui graduação em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES, 2012). Mestrando
do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Membro do grupo de pesquisa Informação e sistemas de
informação: Estudos de usuários e usos, financiado pelo CNPQ.
Atua no ramo da consultoria informacional, com foco em
normalização, estruturação e revisão de projetos e pesquisas
acadêmico-científicas. Ministra aulas, cursos e treinamentos sobre
metodologia científica, e é revisor e editor do periódico PróDiscente. E-mail: <professorjorgeufes@gmail.com>.
�165
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Presidente da ABMG, gestão
2018/2021. Bibliotecária/documentalista da escola Ciência da
Informação da UFMG. Doutoranda do Programa de PósGraduação em Gestão e Organização do Conhecimento/UFMG.
Atua em áreas temáticas que abrangem as seguintes questões:
bibliotecas universitárias - organização e planejamento, gestão em
unidade de informação, competência informacional, extensão
universitária, educação a distância e as bibliotecas dos polos. Email: <mabethcosta@gmail.com>.
Mayara Silva Gonçalves: Bibliotecária graduada pela Escola de
Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais,
formatura: junho de 2016. Membro do Grupo de Pesquisa
Modelagem Conceitual para Organização Hipertextual de
Documentos - MHTX, coordenado pela Profª. Dra. Gercina Ângela
de Oliveira Lima. Interesse em organização documental,
representação descritiva da informação e serviço de referência. Email: <mayara.biblio@gmail.com>.
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Curso Preparatório para Concurso Público na área de Biblioteconomia: Material didático instrumental
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
978-85-85259-00-6
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Concurso Público
Biblioteconomia
Description
An account of the resource
Esta obra caracteriza-se como a compilação das onze aulas realizadas ao longo do Curso “Preparatório para Concurso Público da UFMG – Cargo Bibliotecário”, curso promovido pela Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), no primeiro semestre do ano de 2018. Por contemplar assuntos variados direcionados à prática pedagógica, visando ao ensino-aprendizagem para fins de aprovação em um certame, o presente trabalho manifesta-se como um material didático/instrumental, o qual poderá servir de base na organização de estudos futuros dos bibliotecários que desejam ingressar-se na carreira dos concursos públicos.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Apostila de curso
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4585/Clubesdeleitura.pdf
555b613a6cf8e920617d6de6996a7554
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Text
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
PROJETO
IV Edição do Conversando Sobre
A
G
E
N
D
A
CLUBES DE LEITURA EM
BIBLIOTECAS ESCOLARES E
ESPAÇOS PÚBLICOS
Com Flávia Abreu e Jéssica de Sá
2
0
3
0
-
RELATÓRIO EXPANDIDO
III
E
V
E
N
T
O
Flávia Ferreira Abreu
Geisa Mara Batista
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Jorge Santa Anna
Mônica Luiza Lages de Oliveira
Rosária Ferreira Otoni Santos
(Organizadores)
Belo Horizonte
Agosto de 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
CLUBES DE LEITURA EM BIBLIOTECAS
ESCOLARES E ESPAÇOS PÚBLICOS
Com Flávia Abreu e Jéssica de Sá
RELATÓRIO EXPANDIDO
Belo Horizonte
ABMG
Agosto de 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
PROJETO AGENDA 2030 EM MG – III EVENTO
CONVERSANDO SOBRE – IV EDIÇÃO
Tema da edição: Clubes de Leitura em Bibliotecas Escolares e Espaços Públicos
Local do evento: Espaço de Leitura da Biblioteca Central da UFMG
Data de realização: 30 de agosto de 2019
Horário: 18:30 as 21:30 h
Comissão organizadora do evento
Presidentas do evento e palestrantes: Flávia Ferreira Abreu e Jéssica Patrícia Silva de Sá
Coordenadores: Jorge Santa Anna, Rosária Ferreira Otoni Santos e Maria Elizabeth de Oliveira
da Costa
Monitoria: Patrícia Maria de Melo
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
SUMÁRIO
1 III EVENTO DO PROJETO AGENDA 2030 EM MG E IV EDIÇÃO DO
CONVERSANDO SOBRE: A LEITURA EM CENA ....................................... 3
2 ABERTURA DO EVENTO: BOAS-VINDAS E APRESENTAÇÕES............... 9
3
ATIVIDADES
DE
MONITORIA
AO
EVENTO:
DESNUDANDO
OS
BASTIDORES .......................................................................................11
4
LEITURA
AO
LONGO
DOS
SÉCULOS:
DIFERENTES
PRÁTICAS,
CONTEXTOS E AMBIENTES ..................................................................13
5 LEITURA E SEUS PORMENORES: ESTÍMULO, PROMOÇÃO E MEDIAÇÃO
...........................................................................................................20
6 CLUBES DE LEITURA: DESAFIOS, CONQUISTAS E PERSPECTIVAS ....23
7 MEDIAÇÃO E FORMAÇÃO DOS LEITORES: RELATOS PRÁTICOS .........32
8 A LEITURA COMO FORTALECIMENTO PARA A VIDA ..........................36
REFERÊNCIAS ......................................................................................39
APÊNDICE A – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO ......................42
APÊNDICE B – FOTOS DO EVENTO .......................................................43
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�3
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
1 III EVENTO DO PROJETO AGENDA 2030 EM MG E IV
EDIÇÃO DO CONVERSANDO SOBRE: A LEITURA EM CENA
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Professor e
consultor em trabalhos acadêmicos e científicos. Conselheiro editorial da
Revista Pró-Discente. Administra a gestão de secretaria e assuntos
administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
O propósito de concretizar ações que promovam mudanças práticas no
cotidiano das populações, sobretudo no âmbito dos municípios, é uma
iniciativa
da
Federação
Internacional
de
Associações
e
Instituições
Bibliotecárias (IFLA), ao comungar da política pública da Agenda 2030 da
Organização das Nações Unidas (ONU). Essa política tem como principal
objetivo possibilitar o desenvolvimento sustentável das nações, incluindo essa
evolução sob a perspectiva econômica, humana e social.
Tal proposta precisa ser inserida nas diversas instâncias e contextos,
envolvendo
todos
os
países
e
mobilizando
agentes
governamentais
e
instituições de qualquer natureza. Pensando nessa necessidade, é que o
Projeto Agenda 20301, em seu terceiro evento - em paralelo com o evento
Conversando Sobre2 – em sua quarta edição, apresentam à classe bibliotecária
mineira o evento intitulado Clubes de Leitura em Bibliotecas Escolares e
Espaços Públicos.
1
Projeto gerenciado pela Associação de Bibliotecários de Minas Gerias, com o objetivo de
fortalecer a discussão, em instância local (Minas Gerais), acerca da contribuição
desempenhada pelas bibliotecas na garantia do desenvolvimento sustentável das nações.
2
Evento bimestral que, a cada edição, aborda um tema específico no âmbito da
Biblioteconomia/Ciência da Informação, em Minas Gerais. Caracteriza-se como um bate-papo
entre interessados do assunto.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�4
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
Por certo, o tema abordado neste evento é acolhido com louvor pela diretoria
da ABMG, como também por pesquisadores e bibliotecários, em geral. Para os
bibliotecários, em particular, a leitura constitui uma prática que precisa ser
desenvolvida nas pessoas, sendo a biblioteca o espaço especial para esse
fazer. Mas, é errôneo considerar que a leitura está limitada aos recintos das
bibliotecas.
Pelo contrário, a leitura é algo que vai muito além das linhas de um texto
escrito ou que se desenvolve, apenas, em escolas e locais de alfabetização.
Como dizia Chartier (1998, p. 7), “[...] do rolo antigo ao códex medieval, do
livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa
história das maneiras de ler [...]”. Ou ainda, conforme proferido por Paulo
Freire (1989, p. 13), “[...] a leitura da palavra não é apenas precedida pela
leitura do mundo, mas por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevêlo’, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente [...]”.
Ao comungarmos da ideia de que a leitura é objeto de transformação e que se
manifesta em diferentes contextos, é que elegemos com vigor o tema
específico dos Clubes de Leitura, considerados como possibilidades (dentre
muitas outras) de fortalecimento da prática leitora. Acreditamos que, ao
refletirmos sobre os clubes, temos a possibilidade de demonstrar que a leitura
é dinâmica, que vai se modificando, ao longo dos tempos, recebendo
contribuições das tecnologias e sendo influenciada por preferências, modismos
e
tendências
culturais
variadas.
Mas,
o
seu
papel
de
transformação
permanece.
O papel transformador da leitura e a importância dela para o desenvolvimento
do indivíduo, por conseguinte, a evolução da sociedade, é inegável. Com
efeito, a preocupação em estimular o hábito da leitura precisa ser contemplada
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�5
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
nas práticas profissionais de educadores, pesquisadores, bibliotecários, dentre
outros
profissionais,
além
de
estar
inserida,
também,
nas
agendas
governamentais, cujos maiores investimentos precisam ser realizados, haja
vista garantir a formação de uma sociedade mais leitora.
No âmbito dos investimentos realizados pelo poder governamental, destaca-se
a importância das políticas de fomento à leitura, tal como o Plano Nacional do
Livro e Leitura (PNLL), que, embora não tenha alcançado objetivos práticos,
possui uma base teórica muito bem fundamentada. Esse documento reza que
o Brasil precisa assegurar e democratizar o acesso à leitura e ao livro a toda a
sociedade, “[...] com base na compreensão de que a leitura e a escrita são
instrumentos indispensáveis na época contemporânea para que o ser humano
possa desenvolver plenamente suas capacidades, seja no nível individual, seja
no âmbito coletivo” (BRASIL, 2011, não paginado).
O desejo de transformar o País em uma sociedade leitora é complexo e não
pode estar, apenas, expresso nas políticas, ou constituir um fazer ou
responsabilidade de alguns; ao contrário, é preciso a união de esforços, entre
profissionais e instituições. Como pontuou Santa Anna (2017, p. 34), faz-se
necessária a participação de todos os elementos sociais, sejam instituições,
organizações e profissões “[...] as quais necessitam ser sustentadas por
políticas públicas gerenciadas e mantidas pelo Estado, realizando atividades
que despertem o gosto pela leitura entre todos os grupos da sociedade [...]”.
Para que a leitura seja adotada como uma prática cotidiana a ser realizada por
indivíduos, grupos e comunidades, é necessário, primeiramente, romper
alguns mitos e inverdades, tais como: - leitura como prática limitada a salas
de aulas e bibliotecas; - leitura como responsabilidade somente de educadores
e bibliotecários; - leitura como ação que permeia, apenas, a biblioteca escolar;
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�6
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
- leitura como ato único de decodificação de sinais gráficos, dentre outros.
Rompendo essas limitações, fica mais fácil entender a contribuição da leitura,
os efeitos dela no desenvolvimento individual e coletivo, haja vista fomentar a
cidadania, e, por conseguinte, a participação de profissionais e instituições
rumo a uma sociedade leitora. A figura 1 demonstra o quanto essas relações
são indissociáveis.
Figura 1 – A união de esforços para a construção de uma sociedade leitora
Instituições: escolas, bibliotecas, centros
culturais, empresas, governo etc.
Indivíduo
Sociedade
leitora
Leitura
Profissionais: educadores,
bibliotecários, empresários, gestores,
governantes etc.
Fonte: Adaptado de Santa Anna (2017).
A análise à figura 1 permite inferir que a leitura é uma habilidade e, como tal,
precisa ser desenvolvida nos indivíduos, de modo que a prática cidadã seja
concretizada, o senso crítico estimulado e, como consequência, tem-se a
formação de uma sociedade leitora, processo esse considerado como um
avanço rumo ao desenvolvimento das nações.
É por meio dessas crenças que o III evento do Projeto Agenda 2030 em MG e
a IV edição do Conversando Sobre foram planejados, cujo objetivo foi o de
constituir um momento de discussão a respeito dos efeitos da leitura na vida
das pessoas e o que profissionais e instituições podem fazer em prol dessa
causa, sobretudo no que tange à formação e gestão dos Clubes de Leitura. O
quadro 1 apresenta os detalhes constitutivos desse evento.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�7
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
Quadro 1 – Detalhes do evento sobre Clubes de Leitura
Características principais
Nome do projeto de vinculação
Agenda 2030 em MG: o papel das
bibliotecas e Conversando Sobre
Número da edição do evento
III e IV, respectivamente
Temática
Leitura e Clubes de Leitura
Título
Clubes de leitura em bibliotecas escolares e
espaços públicos
Conteúdo programático
- O histórico e a formação de clubes de
leitura
- Mediação de leitura e formação do leitor
- Relatos de pesquisa em clubes de leitura
em bibliotecas escolares e espaços públicos
Público-alvo principal
Estudantes, pesquisadores e profissionais
interessados pelas temáticas do incentivo e
mediação de leitura, dentre outros aspectos
inerentes à formação do leitor e o contributo
da Biblioteconomia/Ciência da Informação,
nesse contexto
Local, dia e horário de realização
Local de ocorrência
Espaço de Leitura da Biblioteca Central da
UFMG – Campus Pampulha
Dia
30 de agosto de 2019
Horário
Das 18:30 às 21:30 h
Comissão organizadora
Presidentas e palestrantes
Flávia Ferreira Abreu e Jéssica Patrícia Silva
de Sá
Coordenação
Jorge Santa Anna, Rosária Ferreira Otoni
Santos e Maria Elizabeth de Oliveira da
Costa
Monitoria
Patrícia Maria de Melo
Apoiadores
ECI e Biblioteca Universitária da UFMG
Fonte: Dados do evento (2019).
As atividades de organização do evento iniciaram-se com dois meses de
antecedência, cuja equipe organizadora se mobilizou em prol dos processos de
divulgação, mediante elaboração de um fôlder (apêndice A). Além disso, o
evento também foi divulgado na TV Educativa da UFMG, por meio de entrevista
concedida por uma das palestrantes.
No que diz respeito aos conteúdos apresentados, importante reforçar que eles
se originaram a partir do desenvolvimento das pesquisas de Pós-Graduação
das palestrantes, em que as dissertações apresentaram os seguintes temas: Práticas de leituras em blogs (Jéssica de Sá) e Mediação, estímulo e promoção
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�8
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
de leitura em bibliotecas escolares (Flávia Abreu). Ao longo do evento, a fim de
efervescer as discussões, foram convidadas duas professoras para relatarem
suas experiências e crenças acerca do processo de mediação de leitura. O
detalhamento acerca do conteúdo desse evento é apresentado nas próximas
seções deste relatório.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�9
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
2 ABERTURA DO EVENTO: BOAS-VINDAS E APRESENTAÇÕES
Rosaria Ferreira Otoni Santos: Graduada em Biblioteconomia.
Empreendedora e Personal Organizer. Organiza fotos, livros,
residências. Atualiza currículos. Assistente virtual Administrativa.
E-mail: santosrosariaferreiraotoni@gmail.com
Participar do evento Conversando Sobre, IV edição, com o tema Clubes de
leitura em Bibliotecas escolares e espaços públicos, foi muito instigante. Ao
conhecer o histórico e a formação de clubes de leitura, percebi a força da
vontade além das adversidades. A leitura aproxima as pessoas. Chamou-me a
atenção a afirmativa: “Existem diversos tipos de leitura. Não existe o certo ou
errado no tipo de mídia, formato ou gênero que se lê”. O fato real é que cada
leitor traça o seu perfil, de acordo com sua experiência de vida!
Os relatos de pesquisa explorados no evento foram muito bem apresentados
pela Flávia e Jéssica. Conheci contextos sociais diferentes, mas com resultados
semelhantes.
Mediar
a leitura
e
promover
eventos
que
proporcionam
compartilhamento de informações foram vivenciados com muita dedicação.
Também foi muito enriquecedor a presença de parceiras e representantes de
outros clubes de leitura e reencontro com colegas bibliotecários.
Neste evento, como coordenadora de cerimônia, fiz a abertura e fechamento,
bem como registrei os momentos em fotos. Aprecio essas tarefas e me
empenhei para fazer o melhor possível. Quanto à organização administrativa,
percebi que as atividades foram muito bem organizadas e conduzidas. O
cuidado com cada detalhe fez toda diferença. Emissão de certificados, lista de
presença, organização do local e o lanche foram perfeitos. Deixou um desejo
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de novo encontro para novas parcerias. Sou grata à ABMG, em especial à
pessoa do Jorge Santa Anna, pelo convite e por acreditar no meu potencial.
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3 ATIVIDADES DE MONITORIA AO EVENTO: DESNUDANDO
OS BASTIDORES
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Professor e
consultor em trabalhos acadêmicos e científicos. Conselheiro editorial da
Revista Pró-Discente. Administra a gestão de secretaria e assuntos
administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
A organização de eventos não constitui uma atividade fácil, visto que demanda
muito empenho, esforços e dedicação dos organizadores, os quais realizam
atividades variadas, normalmente agrupadas em comissões, haja vista facilitar
o andamento do processo de organização.
Dentre essas atividades, destaca-se a monitoria. A equipe de monitores presta
um trabalho árduo, “ao vivo” e, na maioria das vezes, os auxílios dessa equipe
se desenvolvem nos bastidores. No entanto, isso não desmerece o trabalho da
monitoria, pois é dela que vem todo apoio técnico/operacional para que o
evento se manifeste, se concretize, com o intuito de possibilitar melhor
comodidade aos participantes e facilitar o fluxo das atividades.
Na IV edição do Conversando Sobre, a atividade de monitoria esteve a cargo
da bibliotecária Patrícia Maria de Melo, que muito bem conduziu as atividades
básicas, como: acolhida aos participantes, coleta de assinatura dos presentes,
apoio de infraestrutura tecnológica, dentre outros.
O que mais chamou a atenção na atividade de monitoria foi a preocupação
com a organização do espaço. Em conjunto com as presidentas do evento, a
monitora teve o cuidado com a ornamentação, expondo objetos ligados à
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leitura e à cultura, além de expor uma canção para recepcionar os
participantes, o que promoveu um clima muito agradável e acolhedor no
ambiente.
Acreditamos que o cuidado com a preparação do espaço é um dos principais
fazeres na organização de evento, embora em muitas vezes, isso é colocado
em último plano. Criar um espaço ou contexto de ambientação é uma forma de
convocar os participantes a entrarem em clima de concentração, deixando suas
angústias diárias, a fim de se envolverem ao máximo com as atividades que
serão oferecidas ao longo do evento.
Nós, seres humanos, somos movidos por emoções e sentimentos e esses vêm
de nossas percepções, as quais se manifestam não apenas por meio de belos
discursos, mas, e, talvez, principalmente, por meio de gestos, de objetos, de
sons, dentre outros elementos implícitos.
Portanto, no evento sobre Clubes de Leitura, aprendemos muito acerca da
importância dos objetos e das atitudes que nos rodeiam, pois elas também
expressam significados, por conseguinte, instigam o despertar de atitudes
humanas, que podem ser benéficas ou não. A partir disso, pensemos na
importância que o ambiente e as atividades de monitoria interferem em nossas
vidas!
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4
LEITURA
AO
LONGO
DOS
SÉCULOS:
DIFERENTES
PRÁTICAS, CONTEXTOS E AMBIENTES
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Graduada em Biblioteconomia. Mestra e
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de
Minas Gerais. Atua como bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal
Professor Francisco Tibúrcio de Olveiria na cidade de Santa Luzia (MG).
Tem interesse em pesquisas sobre leitura literária e compartilhamento
de leituras.
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
No contexto das leituras compartilhadas em espaços sociais, a retomada de
aspectos históricos sobre o surgimento das comunidades de leitores se mostra
relevante. Ao pesquisar historicamente sobre os hábitos de leitura, Darnton
(2010) afirma que a leitura não evoluiu numa única direção; ela assumiu
formas diferentes entre diferentes grupos em épocas diversas.
Vittorio Reggianini (Itália, 1858–1938). The storyteller.
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Darnton (2010) constata que, no Início da Idade Moderna, a leitura já se
constituía como atividade social na Europa. A leitura popular acontecia nos
celeiros, oficinas e tavernas. A instituição mais importante da leitura popular
era uma reunião ao pé do fogo.
No século XIX, artesãos, como charuteiros e alfaiates, revezavam-se para ler
ou contratavam uma pessoa para ler em voz alta e os entreter durante o
trabalho.
Os livros utilizados na leitura destinavam-se aos ouvidos, começando a
narrativa com expressões como “o que vocês vão ouvir?...”. Dessa forma, os
livros eram mais ouvidos do que vistos, contando mais com ouvintes do que
com leitores.
Knut Ekwall (Suécia, 1843 - 1912).
Charles Moreau (França, 1830 - 1891).
The Reading Lesson.
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Cafeterias
Assim como as classes populares, a elite também tinha suas formas de
vivenciar a leitura como atividade social. De acordo com Rebollar (2002, citado
por ALMEIDA, 2008), os primeiros pontos de encontros literários surgiram na
França no início do século XVI; eram os primeiros cafés e salões literários,
frequentados pela elite burguesa e pelos intelectuais da época.
Para Darnton (2010), a cafeteria foi uma instituição de leitura importantíssima,
que se difundiu pela Alemanha no século XVII. As cafeterias ofereciam jornais
e revistas, mostrando-se como ambiente propício para discussões políticas. Em
1760, Viena tinha, no mínimo, sessenta cafeterias desse tipo. Em Londres e
em Amsterdã, esses espaços de leitura nos cafés permaneceram por mais de
um século.
John Arthur Lomax (1857 - 1923). In the Library.
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Nos salões aristocráticos, grandes damas, cavalheiros e pessoas letradas
recebiam implicitamente uma educação literária. Uma rua inteira de Paris
torna-se, no século XVIII, um ponto de encontro literário. Nessa época, os
salões literários tornaram-se locais onde os convidados fumavam, bebiam,
jogavam cartas, liam poemas, ouviam música, riam, discutiam literatura e
participavam de debates calorosos sobre diversos temas.
Já no século XIX, com o aparecimento das indústrias, das redes de transporte,
das organizações operárias e do comunismo, os salões literários perdem ao
pouco seu espaço para discussões mais populares com assuntos como dinheiro
e política, transformando esses ambientes em locais de troca de interesses.
Com isso, é deixado para trás o glamour dos períodos anteriores, o que
empobreceu a vida cultural europeia (REBOLLAR, 2002, citado por ALMEIDA,
2008, p. 37-39).
“No Salão de Madame ‘Geoffrin’, em 1755”. Óleo sobre tela por Anicet Charles Gabriel
Lemonnier (1743 – 1824, França).
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Além dos cafés e salões literários, outra instituição de leitura importante foram
os Clubes de Leitura. Para um pequeno número de pessoas cultas que podiam
comprar livros, a leitura constituía uma experiência mais privada. Ainda assim,
muitas delas participavam de Clubes de Leitura, onde podiam ler quase tudo
que quisessem, numa atmosfera social. Por um pagamento mensal, tinham
acesso a livros, jornais e salas especiais destinadas à socialização.
A proliferação desses clubes em Paris aconteceu no século XVIII. Muitas
livrarias eram convertidas em gabinetes de leitura, cobrando-se uma taxa pelo
direito de frequentá-las. Nesses locais, os leitores tinham acesso a um
ambiente com boa iluminação, cadeiras confortáveis e a assinatura de meia
dúzia de jornais. Na Alemanha, os Clubes de Leitura cresceram numa
velocidade espantosa no século XVIII, fornecendo as bases sociais para uma
variedade distinta da cultura burguesa (DARNTON, 2010).
Guglielmo Zocchi. What happens next (Itália, 1874).
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Contexto Brasileiro
Broca e Barbosa (2005) descrevem que, no Brasil do início do século XX, a
vida boêmia centralizava-se não somente nos clubes, mas também nos salões
literários da época. Os tradicionais salões literários aconteciam no Rio de
Janeiro e também em São Paulo, reunindo intelectuais.
Os cafés literários, como a Confeitaria Colombo no Rio, eram ponto de
encontro de escritores, como, por exemplo, João do Rio e Lima Barreto. Além
dos cafés, as livrarias também eram locais de reunião dos escritores, sendo a
primeira e mais frequentada, a Garnier. Na livraria Revista Brasileira, reuniamse Machado de Assis, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Coelho Neto,
Taunay, Nabuco e outros. “Dessas tertúlias acompanhadas de um chá e
torradas nasceu, como se sabe, a Academia Brasileira” (BROCA; BARBOSA,
2005, p. 81).
Confeitaria Colombo (1919).
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Livraria Garnier (Rio de Janeiro, 19-?).
Feiras Literárias
Por volta dos anos 1940, consolidam-se as primeiras feiras do livro. Surgida
nas cinzas da Segunda Guerra Mundial, a feira do livro de Frankfurt aconteceu
pela primeira vez em 1949. Seguindo a tendência alemã, surgem feiras do
livro em toda a Europa, como as de Londres, Paris, Belgrado, Berlim e Lisboa.
Aparece também a Feira de Guadalajara, no México, e as de Quebéc e Toronto,
no Canadá. São instituídas, no Brasil, “[...] a Bienal do Livro, a Feira Nacional
do Livro de Ribeirão Preto e a Festa Literária Internacional de Parati (FLIP),
considerada hoje como um dos mais importantes festivais literários do mundo”
(ALMEIDA, 2008, p. 42).
Ainda no século XX, acontece a ruptura radical dos tradicionais ambientes
literários com o aparecimento das novas tecnologias.
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5 LEITURA E SEUS PORMENORES: ESTÍMULO, PROMOÇÃO E
MEDIAÇÃO
Flávia Ferreira Abreu: Bacharela em Biblioteconomia (2010).
Especialista em Gestão Estratégica da Informação (2012). Mestra em
Ciência da Informação (2019) pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Possui experiência na área de Ciência da Informação, com
ênfase em Gestão da Informação, atuando, principalmente, nos
seguintes temas: leituras compartilhadas, biblioteca itinerantes,
mediação de leituras e em gestão de sistema da informação. É servidora
do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no setor de Referência da
Biblioteca Central.
Email: flaviaabreu2911@gmail.com
As pesquisas sobre leitura se preocupam em identificar a efetividade e
introjeção de conhecimentos pela leitura, entendida aqui como apropriação da
leitura, a partir da subjetividade do leitor permeado pelo seu contexto. Dumont
(2007)
salienta
que,
nas
últimas
décadas,
surgiram
indagações
para
compreender o contexto social e, assim, o fluxo de informações, o sujeito e a
diversidade da leitura nas diversas áreas de conhecimento.
Para a Ciência da Informação e a Biblioteconomia, a leitura é visualizada a
partir das necessidades dos usuários, segundo o perfil do leitor e o contexto
que está inserido. Baseando-se em estudo teórico, observa-se que o conceito
de mediação da informação evidencia a simbologia e dialética da informação e
da mediação, assim como o movimento que caracteriza as relações entre as
duas instâncias, determinando o sentido da realidade social (REIS; MARTINS,
2009).
O repertório intelectual conta muito, pois essa diversidade de leituras está
subordinada ao seu poder de interpretação, juntamente com os seus
conhecimentos acumulados, que são decisivos para a pluralidade de leituras.
Nesse sentido, “um mesmo texto pode ser lido distintamente por leitores de
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graus de conhecimentos diferentes e, de acordo com o ponto de vista de cada
um, podem chegar a conclusões diferentes” (NASCIMENTO, 2014, p. 33).
Campello (2009) alerta para o número significativo de pesquisas que têm
revelado os equívocos das políticas e das atividades de práticas da leitura, que
partem do princípio de que o importante é ler, não importa o quê; sem se
estudar e planejar o que ler, é criar o “gosto” da leitura por meio de técnicas
de animação, “possíveis”, e não direcionadas ao texto. Para a autora, a
biblioteca pode ser um espaço no qual se forma o leitor, desde que seja um
espaço de criação e de compartilhamento de experiências, um espaço de
produção cultural e que os bibliotecários e mediadores sejam leitores críticos,
aptos para o confronto com os usuários, por meio da literatura sem cobranças
mecânicas de compreensão de texto lido e sem fórmulas rígidas de indicação
por idade.
É recente, no Brasil, o uso do termo “mediação de leitura” por alguns autores
da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Bicheri e Almeida Júnior
(2013, p. 48) atestam que um dos requisitos para mediar a leitura “é ser leitor
e dar testemunho disso aos alunos; não só disponibilizar leitura aos seus
usuários, mas também propor-lhes leituras”. O mediador é o leitor atento,
respeitoso e desprendido de preconceitos (ALMEIDA JÚNIOR; BORTOLIN,
2009).
Mediar a leitura é mais do que ler um livro e indicá-lo para outros leitores. É
tornar a história interessante para o leitor, discuti-la, fazer questionamentos,
mostrar os benefícios que a leitura oferece e o poder de transformação que ela
tem na vida das pessoas (ALMEIDA; COSTA; PINHEIRO, 2012, p. 477).
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A mediação de leitura deve ir ao encontro dos interesses do leitor como
passaporte para novas leituras, interpretações e desdobramentos. Tem que
gerar inquietações, pois ao compartilhar a leitura, cada indivíduo irá
experimentar um sentimento de pertença, de apropriação, possibilitando abrirse para o outro, introduzindo-o no mundo (PETIT, 2008).
Acredita-se que o papel dos mediadores é buscar várias formas de mediar e
incentivar a leitura para além do texto, levar a reflexão por meio do diálogo do
que foi lido e das informações constantes nas entrelinhas. Todavia, deve-se ter
a ciência que o texto, mesmo oferecendo uma gama de probabilidades de
leitura, não pode ser lido arbitrariamente, de qualquer maneira, já que o
sentido não está apenas no leitor, nem no texto, mas na interação autor-textoleitor, cabendo ao mediador literário e ao leitor traçarem caminhos possíveis
de interpretação baseados no texto.
Nesse sentido, a pesquisa de Mestrado de Abreu (2019) buscou compreender
que ações de mediação e incentivo à leitura têm sido utilizadas pela equipe de
profissionais das bibliotecas escolares, com o intuito de formar leitores mais
capacitados a compor uma sociedade de cidadãos pensantes, formadores de
opinião e críticos, tendo o suporte e o domínio da leitura e, consequentemente,
a apropriação da informação. Nessa investigação, o clube da leitura foi
identificado como ação efetiva para se compartilhar a leitura.
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6
CLUBES
DE
LEITURA:
DESAFIOS,
CONQUISTAS
E
PERSPECTIVAS
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Especialista em Gestão Estratégica da Informação (2012). Mestre em
Ciência da Informação (2019) pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Possui experiência na área de Ciência da Informação, com
ênfase em Gestão da Informação, atuando, principalmente, nos
seguintes temas: leituras compartilhadas, biblioteca itinerantes,
mediação de leituras e em gestão de sistema da informação. É servidora
do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no setor de Referência da
Biblioteca Central.
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Clubes de Leitura em bibliotecas escolares
De
acordo
com
Campello
(2016),
um
dos
espaços
de
trabalho
dos
bibliotecários são as bibliotecas de formação básica escolar, onde é realizada a
orientação dos usuários na utilização efetiva desse ambiente de aprendizagem.
Para que a biblioteca escolar possa cumprir sua função, é necessário, além de
espaço e acervo, um bibliotecário “competente e engajado na escola como um
todo. [...] O bibliotecário deve ser competente, comunicativo, interessado e
criativo” (BICHERI; ALMEIDA JÚNIOR, 2013, p. 43).
Clube do Livro - Escola Municipal Aurélio Pires
Fonte: Acervo da pesquisadora (2018).
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O Clube do Livro foi implementado no início do ano de 2014, sob a supervisão
da bibliotecária que lá trabalhava na ocasião, com a participação da auxiliar de
biblioteca e da professora em readaptação funcional. Esse projeto gerou o
Prêmio Carol Kuhlthau para uma das fomentadoras do Clube. O objetivo dessa
ação é incentivar a leitura e formar leitores, além de criar um espaço em que
alunos, profissionais da biblioteca e professores pudessem interagir e
compartilhar experiências literárias, atribuindo um novo sentido à relação que
possuem com os livros, intensificando o gosto pela leitura. O Clube do Livro
visa educar os discentes para a literatura independentemente de notas
atribuídas pelo professor, contribuindo, dessa forma, para a formação do aluno
sem excluir a autonomia e o prazer dele com a leitura.
O Clube do Livro visava, também, apropriar-se do ambiente da biblioteca,
qualificado para promover a conjugação entre os elementos que permeiam a
prática da linguagem: oralidade, leitura e escrita (SÁ; PENA, 2015). Os
encontros do Clube são bimestrais para troca de experiências das leituras
realizadas. As mediadoras recebem os comentários escritos das leituras
realizadas pelos estudantes para conversarem nos encontros presenciais.
Apresentam-se, aqui, alguns depoimentos sobre o Clube do Livro, pelo viés das
mediadoras desse projeto.
A maior parte do tempo foi destinada aos comentários sobre as obras anteriormente lidas de
modo solitário. Ocorreu a troca de experiências literárias entre os colegas, consistindo no
intercâmbio de informações sobre os temas e ideias apresentados nos livros, relacionando-os
com os diversos aspectos da vida. A participação e a fala foram facultativas. À medida que o
participante se permitiu falar e ser ouvido, sendo essencial o respeito entre opiniões diferentes
ou contrárias, percebeu-se que sua autoestima foi aumentada (SÁ; PENA, 2015, p. 5).
A Sá sempre atuante, colaborativa, dando mais ideias e eu aprendendo com ela. [...] Nós
retomamos com o Clube do Livro e aí o professor, auxiliando, os auxiliares de biblioteca, os
professores de Língua Portuguesa, da [...]. Apesar disso, eu acho que conseguimos alcançar
alguns objetivos, sim, de alguns alunos que leem mais no Clube do Livro, mas acho que
precisa tempo para acompanhá-los, com um intervalo menor de encontros, o que ainda não
conseguimos fazer (EP1MA).
Esse projeto é o melhor que já vi. Eu não deixo ele morrer. [...] Não quero que morra e meus
alunos ficarão estimulando. É um projeto que assim, começou com muitos alunos; em geral,
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os meninos menores são mais propícios. A gente tinha dois encontros com os meninos do
sexto, sétimo, oitavo e nono ano. E, depois, foi enxugando e todos juntos. É muito livre! O que
é importante, que os meninos escolhem; é o que faço com meus alunos quando eu peço para
eles escolherem os livros que eles querem, em geral. Mas, a biblioteca, ela tem essa questão;
as meninas estão sempre preocupadas com o que os meninos estão lendo [...]. Eu acho que
nossa biblioteca só tem gente boa. [...] Nós temos muitos alunos que gostam de ler (EP3MA).
O ideal para esse processo seria a parceria mais efetiva entre biblioteca e sala
de aula. No entanto, essa integração tem acontecido em um nível de
coordenação, ou seja, a participação de professores ainda é restrita e o
trabalho é individualizado. Recomenda-se um nível de currículo integrado, cuja
atividade principal é a criação de um ambiente colaborativo, em que a
cooperação entre os profissionais da biblioteca e os professores seja definida
pelo currículo (PEREIRA; CAMPELLO, 2016). Foi possível constatar, no decorrer
do projeto, a emergência de diversas indagações que pressupõem estudos
teóricos por parte dos profissionais da biblioteca, a fim de que a prática leitora
seja aperfeiçoada.
Clube da Leitura
É um projeto criado há dez anos por iniciativa das professoras de Produção de
Texto e História em junção com a bibliotecária. Mesmo com a troca de
bibliotecárias nesse período, o projeto se manteve ativo com ações efetivas,
como retrata uma entrevistada.
Eu sempre entendi a biblioteca como o ponto central da escola [...]. Eu sempre tive muita
sorte com os profissionais da biblioteca, com os bibliotecários, porque, assim, sempre
acolheram muito bem minhas ideias. [...] A biblioteca teve a sorte de terem bibliotecárias
modernas no sentido de permitir que as ações aconteçam lá, de serem dinâmicas, chamativas
para os jovens e adolescentes, serem atrativas (EP1EP).
Os encontros com a leitura ocorrem nas sextas-feiras, a cada quinze dias entre
as mediadoras para discutir e planejar estratégias de mediação da leitura
dentro do ambiente da biblioteca. O diálogo com os membros do Clube é
quinzenalmente, por duas horas, às sextas, depois do horário das aulas, das
11:40h às 13:40h, para compartilhar as leituras.
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As mediadoras do Clube da Leitura, sensibilizadas pelo gosto de ler, ainda
restrito a um grupo de alunos da instituição EP, apesar de resistentes às
leituras obrigatórias a outros livros indicados pelos professores de Português,
mantiveram-se solícitas e desejaram diversificar e estimular as leituras.
Clube da Leitura – Dez anos de existência
Fonte: Acervo da pesquisadora (2019).
Dentre as principais ações que acontecem no Clube da Leitura, como também
os objetivos do Clube, destacam-se: a prática da leitura prazerosa e
comumente marginalizada,
convertida em uma leitura a ser realizada e
discutida no ambiente da biblioteca (isso implica em aproximar as ideias de
literatura-escola-prazer) (ABREU; BATISTA; OLIVEIRA, 2014); romper mitos e
derrubar preconceitos que envolvem a literatura, fazendo com que os alunos
descubram o prazer do texto no Clube da Leitura; leitura no cinema,
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relacionando a arte cinematográfica com a literatura; leitura em espaços
sociais, como asilos (a leitura se torna terapia para seus leitores); encontros
com autores para aproximar o leitor do contexto do autor, dentre outras
práticas e finalidades.
Integrantes do Clube da Leitura
Fonte: Acervo da pesquisadora (2018).
Observou-se que os projetos Clube da Leitura são elaborados e escritos
formalmente pelas equipes. Isso proporcionou a efetividade e longevidade da
ação. Assim, como em qualquer contexto organizacional, o planejamento, a
formalização e a colaboração entre os envolvidos são elementos essenciais
para garantir o melhor desempenho das atividades de mediação e incentivo à
leitura.
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Clubes de Leitura em Espaços Públicos
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Graduada em Biblioteconomia. Mestra e
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de
Minas Gerais. Atua como bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal
Professor Francisco Tibúrcio de Olveiria na cidade de Santa Luzia (MG).
Tem interesse em pesquisas sobre leitura literária e compartilhamento
de leituras.
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
Durante o período de coleta de dados da pesquisa de Mestrado “Ler e
compartilhar na web: práticas informacionais de blogueiros literários”, a
pesquisadora teve a oportunidade de participar de dois Clubes de Leitura que
ocorrem em espaços públicos. Eventos que tiveram a observação participante
da pesquisadora: #Clube do Livro BH e Clube do Livro de Ribeirão das Neves.
#Clube do Livro BH
O #Clube do Livro BH é realizado no Centro de Referência da Juventude,
recinto público vinculado à Prefeitura de Belo Horizonte. O evento acontece
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cerca de cinco edições por ano, ocorre aos sábados, das 14h às 18h, no
auditório do local, com capacidade para 300 pessoas.
O evento é realizado por duas organizadoras, conhecidas como irmãs Pimenta.
Elas relatam que a necessidade de trocar ideias sobre livros foi o que
impulsionou a criação do #Clube do Livro BH. No início, o projeto acontecia em
shoppings e parques da cidade com a participação de poucas pessoas, até que,
com uma quantidade maior de participantes, conseguiram a parceira com a
Fundação Municipal de Cultura para utilizar o Centro de Referência da
Juventude.
Cerca de 50 livros são destinados para sorteio entre todos os participantes.
Esses livros são oferecidos pelas editoras parceiras do evento. Há também a
participação de autores e editores convidados. As organizadoras conduzem o
evento com muitas brincadeiras, como o momento da dança.
O público é, majoritariamente, feminino, contando com a presença de muitas
mulheres jovens e adultas, algumas crianças e poucos homens. Em vários
momentos, ocorreram pausas para realização de sorteio de livros. Dentre as
atividades paralelas que ocorrem, no decorrer do evento, citam-se: leitura
coletiva diferentona, tambor vip, venda de camisas e canecas com logotipo do
clube, dentre outras.
Clube do Livro de Ribeirão das Neves
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O projeto é realizado por três blogueiros literários, administradores dos blogs
DNA Literário e Cultura Pocket: Rita Lima, Jussara Ferreira e Fábio Souza. O
Clube consiste em uma pequena reunião de cerca de 20 leitores, que se
encontram, mensalmente, para fazer um piquenique e conversar sobre os
livros que leram. Alguns livros são destinados ao sorteio.
Cada encontro tem um tema específico: Terror, Romance, Livros que viraram
filmes, dentre outros. O encontro sempre é iniciado pela fala de uma das
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organizadoras que discute o tema do mês. Cada participante é convidado a
falar
sobre
os
livros
que
leu.
Não
é
estabelecida
nenhuma
ordem,
possibilitando que cada leitor possa tomar a iniciativa de falar no momento em
que sentir vontade. Alguns leitores levam os livros que leram para mostrar ao
grupo, enquanto contam a história e falam das impressões.
Na maior parte das vezes, os leitores recomendam os livros, mas também há
momentos em que criticam alguns livros de forma negativa. Os membros do
grupo se sentem à vontade para comentar as falas dos demais.
Entre os comentários dos participantes, os organizadores sorteiam alguns
livros que conseguem por meio de editoras ou por doações. Cerca de 10 livros
são sorteados e há também o sorteio de marcadores de livros. O Clube
acontece de forma descontraída, informal e, principalmente, intimista. Em sua
maioria, o Clube é composto por adolescentes e mulheres, estando presente
alguns homens e crianças.
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MEDIAÇÃO
E
FORMAÇÃO
DOS
LEITORES:
RELATOS
PRÁTICOS
Geisa Mara Batista: Doutoranda em Estudos Linguísticos. Mestra em
Filosofia. Graduada em Filosofia e Letras. Professora da Faculdade
Senac – MG e da Rede Estadual de Educação. Coordenadora do Clube
da Leitura do Colégio ICJ. Atua no Ensino de Filosofia, Letras e na
formação de professores.
E-mail: geisamara.batista@gmail.com
Mônica Luiza Lages de Oliveira: Mestra em Ciência da Informação
pela Universidade Federal de Minas Gerais (2014). Graduada em
Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010),
atuando principalmente nos seguintes temas: história da leitura,
formação do leitor, bibliotecas escolares, leitura na escola, literatura
infantil e juvenil. Atualmente, atua como bibliotecária e contadora de
histórias na Escola da Serra.
E-mail: monicafazhistoria@yahoo.com.br
Após a apresentação da palestra de Flávia Abreu acerca da mediação, estímulo
e promoção de leitura em bibliotecas escolares, foi aberto o espaço para livre
manifestação e questionamentos do público e demais participantes. A
professora e mediadora do Clube da Leitura do Colégio ICJ, Geisa Batista, e
Mônica Lages foram as primeiras a pedir a palavra. A participação das
mediadoras
pode
ser
dividida
em
três
seções:
1
-
mensagem
aos
bibliotecários; 2 - detalhamento da experiência do Clube; e 3 - respostas a
questionamentos do público e demais participantes. A seguir, precedemos aos
relatos.
1. Aproveitando
a
oportunidade
de
estar
diante
de
um
grupo
de
bibliotecários, as mediadoras abriram sua participação afirmando a
importância desse profissional para a fundação e manutenção de um
Clube da Leitura. Como as professoras relataram, a experiência do Clube
é replicável em vários outros ambientes. Essas mesmas professoras
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fundaram outros clubes nas instituições públicas em que atuam.
Contudo, não obtiveram o mesmo sucesso. Segundo as mediadoras,
ambas as escolas possuíam biblioteca e contavam com bom acervo.
Também tinham um grupo de alunos interessados em compartilhar suas
experiências e professores interessados em mediar. No entanto, não
havia um elemento fundamental na equação, o bibliotecário. A falta do
conhecimento técnico do bibliotecário tornava a simples tarefa de
localizar um livro e tomá-lo emprestado uma missão quase impossível.
Mas a participação do bibliotecário como membro do Clube vai além: é o
bibliotecário que os alunos buscam para encontrar o livro que alguém
acabou de indicar; é o bibliotecário com escuta sensível o que mais
conhece o comportamento do leitor e observa mais de perto seus
interesses, os quais vão estimular e tematizar as melhores discussões; é
ele quem primeiro recebe as novidades literárias e comunica aos demais
membros, despertando o interesse para novas descobertas; enfim, é o
bibliotecário quem mantém unificado o Clube mesmo quando ele não
está
fisicamente
reunido.
Lamentavelmente,
a
experiência
das
professoras constata que, de modo geral, escolas públicas da rede
estadual não contam com profissional qualificado, o que acaba por
transformar as bibliotecas em grandes depositárias de livros, cuja
presença do estudante não é estimulada.
2. O Clube da Leitura do Colégio ICJ existe há 10 anos, tendo em média 30
membros, ao longo dos anos. Ele surgiu quando, observando o interesse
de um grupo de alunos, as professoras Monica e Geisa propuseram a
então
bibliotecária
Elisteia
Maia
a
criação
de
um
momento
de
compartilhamento de leitura. Contudo, as mediadoras fazem questão de
afirmar que o sucesso do projeto não implica em menores problemas. A
definição do número de membros ideal, o volume de leitura para
mediadoras acompanharem os membros e a definição de regras podem
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ser geradores de conflitos a serem tratados.
Como pontos que as
mediadoras julgam essenciais para o sucesso do Clube, estão:
a) superar o estigma “os alunos/jovens de hoje não gostam de ler, eles não
leem”. Todos leem, podem não ler o que você espera, mas leem. Cabe ao
mediador se aproximar, ouvir e oportunizar novas experiências;
b) garantir participação livre e democrática: o clube é espaço de liberdade de
expressão. Toma-se muito cuidado com possíveis preconceitos literários.
Segundo as mediadoras, uma frase sempre dita é “você pode não gostar de
um livro ou um texto, mas deve lê-lo para ser capaz de emitir sua opinião de
maneira qualificada, ou talvez, descobrir que estava enganado”. Os membros
são sempre estimulados a transitar por diferentes gêneros e autores;
c) capacitação e perfil dos mediadores: além da referida importância do
bibliotecário,
como
mediador,
assim
como
os
demais
mediadores,
os
profissionais que atuam em prol da leitura devem ser pessoas que gostam de
ler e com bagagem de leitura. O gosto pela leitura é o verdadeiro estímulo,
afinal, nenhuma palavra é mais poderosa que o exemplo. Tão importante
quanto gostar de ler e ter bagagem de leitura é ter a capacidade e técnica de
promover a experiência de leitura interativa e a intertextualidade. É esse
movimento entre interação/intertextualidade que garante a diversificação de
gêneros e ampliação do gosto de ler.
d) por fim, o Clube é um espaço intimista. Deve-se garantir que permaneça
como tal. Daí a relevância de se definir um número ideal de membros, bem
como um ambiente de confiança e liberdade de expressão sem julgamentos. O
ambiente do Clube é um ambiente de catarse, experimentação e fruição. O
texto deve ser livremente fruído por todos e eu posso compartilhar meus
próprios textos. As mediadoras relatam que não raro os membros se tornam
autores.
3) Uma das primeiras perguntas feitas às mediadoras foi justamente acerca
da
possibilidade
de
relação
entre
ler
e
escrever.
As
mediadoras
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responderam que a experiência delas mostra que, à medida que se ganha
mais intimidade com a palavra escrita, por meio da leitura, essa intimidade
parece naturalmente conduzir a vontade de também expressar suas
próprias palavras, a vontade de ser autor. Outro questionamento feito
referiu-se ao ato de mediar. Uma participante relatou às mediadoras certa
dificuldade em atuar como mediadora em relação a suas filhas e pediu
conselho. A resposta foi: Ouça! Primeiro ouça o que o leitor tem a dizer,
sem expectativas iniciais. Ouça seus interesses, gostos e conhecimentos e
dialogue com esses gostos, interesses e conhecimentos. Permita que
escolha com liberdade o que quer ler e leia junto. Compartilhe e se abra
para a troca; se fizer isso, estará mediando o próprio caminho dela como
leitora, não o que você traçou, o que pode, inclusive, te surpreender. Por
fim, um participante do Peru compartilhou a experiência de escrita de um
Clube de Leitura de crianças e um professor em sua terra natal, o qual
produziu um livro. Relatou, ainda, que a biblioteca de sua cidade foi
durante a ditadura um lugar de proteção e refúgio. O participante pediu
que as mediadoras comentassem sobre o que contou. As mediadoras,
primeiramente, falaram com interesse sobre a bem-sucedida experiência e
apresentaram o livro “Hoje tem Clube?”, livro esse produzido pelos
membros do Clube do Colégio ICJ. Sobre o emocionante relato da biblioteca
como refúgio, acrescentaram: “Se pensar bem, nada mais natural. O livro
não nos oferece apenas a segurança do conhecimento, mas a passagem
para novos mundos e perspectivas. Ainda que esteja a portas fechadas e
ao redor o ambiente seja inóspito, ninguém está verdadeiramente preso se
está com um livro. O livro é sempre uma janela aberta”.
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8 A LEITURA COMO FORTALECIMENTO PARA A VIDA
Flávia Ferreira Abreu: Bacharela em Biblioteconomia (2010).
Especialista em Gestão Estratégica da Informação (2012). Mestra em
Ciência da Informação (2019) pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Possui experiência na área de Ciência da Informação, com
ênfase em Gestão da Informação, atuando, principalmente, nos
seguintes temas: leituras compartilhadas, biblioteca itinerantes,
mediação de leituras e em gestão de sistema da informação. É servidora
do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no setor de Referência da
Biblioteca Central.
Email: flaviaabreu2911@gmail.com
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Graduada em Biblioteconomia. Mestra e
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de
Minas Gerais. Atua como bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal
Professor Francisco Tibúrcio de Olveiria na cidade de Santa Luzia (MG).
Tem interesse em pesquisas sobre leitura literária e compartilhamento
de leituras.
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Professor e
consultor em trabalhos acadêmicos e científicos. Conselheiro editorial da
Revista Pró-Discente. Administra a gestão de secretaria e assuntos
administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
As atividades realizadas no III evento do Projeto Agenda 2030 e IV edição do
Conversando Sobre demonstraram as contribuições da leitura, considerando a
evolução do sujeito em sua individualidade, ou enquanto elemento pertencente
a um contexto social (coletividade). Também reforçaram a necessidade em se
desenvolver iniciativas que provoquem o hábito da leitura, uma vez que ela
constitui uma habilidade adquirida; logo, precisa ser estimulada.
Quando a prática da leitura é realizada no meio social, aumentam-se as
possibilidades de formação de leitores mais críticos, além do compartilhamento
de
conhecimento
entre
os
que
mediam
essas
práticas.
Portanto,
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apresentaram-se os exemplos dos Clubes de Leitura: Clube do Livro da Escola
Municipal Aurélio Pires, Clube da Leitura do ICJ, Clube do Livro BH e Clube do
Livro de Ribeirão das Neves.
Ao
ser
realizada
nos
ambientes
das
bibliotecas,
especificamente,
nas
instituições de ensino, como nas bibliotecas escolares, a leitura servirá como
alavanca na produção de novos conhecimentos, enriquecendo, portanto, o
aprendizado
e
também
a
criticidade.
Com
efeito,
paralelo
à
leitura,
desenvolvem-se as atividades de mediação, promoção e incentivo. Essas ações
são
complementares
e
possibilitam
a
transmissão
de
conhecimento
enaltecendo o valor que a leitura assume na sociedade humana.
Após o término do evento, a partir dos resultados, é possível perceber que os
objetivos foram alcançados, a ponto de extravazar as expectativas da
comissão organizadora. Isso porque os participantes tiveram a oportunidade
de conhecerem e compartilharem um pouco mais sobre o universo da leitura,
sobretudo no que tange à necessidade de se implementar projetos que
fomentem essa prática, nos mais diferentes contextos e espaços.
O evento obteve uma avaliação positiva, haja vista a satisfação dos
participantes ao final do evento. Como proferido por um dos membros da
comissão organizadora:
Parece que a leitura tem o poder mágico de ir muito além da produção de conhecimento. Ela
tem o poder, também, de nos encorajar para a vida, fortalecendo nossa cidadania, como
também ela nos fortalece, alivia os nossos cansaços, angústias e sofrimentos. Em pleno final
de sexta-feira, chegamos a esse evento cansados com as fatigas da semana, e, ao final do
evento, saímos aliviados, pronto para novas aventuras da vida (Comentário de um membro da
comissão organizadora).
Nas redes sociais, o sentimento também foi de satisfação e realização, em
virtude das postagens e compartilhamentos de fotos, curtidas e comentários
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diversos. A satisfação foi percebida, conforme palavras registradas por parte
dos participantes, em aplicativo de mensagem:
“O evento foi muito bom. A galera se empolgou tanto que, se deixassem, estariam lá até
agora!”. “É verdade! Falar da leitura é algo que nos cativa, nos encanta”.
Por fim, ao findar deste relatório, concluímos que a leitura manifesta-se como
a chave que abre as portas para o conhecimento, para a cidadania e para o
desenvolvimento individual e coletivo. A leitura é muito mais do que a
decodificação de códigos linguísticos; vai muito além do auxílio à alfabetização
e ensino-aprendizagem. Ela também envolve questões subjetivas profundas,
capaz de tocar nossos sentimentos e emoções, servindo, portanto, como ponto
de fortalecimento para a vida.
A importância da leitura confirmada neste evento evidencia a necessidade de
maiores investimentos e engajamento, tanto de profissionais, quanto de
instituições, do poder público ou privado, em busca de uma sociedade leitora
no Brasil. Assim, esperamos que a leitura deixe de ser um desejo e torne-se
uma realidade, um fazer cotidiano, ao longo do século XXI.
Para que se alcance a efetividade dessas ações com a leitura, é fundamental
conhecer os meninos, a escola e a literatura, sendo leitores que vão formar o
leitor pelo exemplo, pelo diálogo e por praticar aquilo que se acredita. Os
projetos Clube da Leitura são elaborados e escritos formalmente pelas equipes.
Isso proporciona a efetividade da ação.
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SANTA ANNA, Jorge. A importância da leitura e as contribuições das
instituições: em busca de uma sociedade leitora no Brasil. Pró-Discente:
Caderno de Produção Acadêmico-Científica, Vitória, v. 23, n. 2, p. 34-53,
jul./dez. 2017. Disponível em:
http://periodicos.ufes.br/PRODISCENTE/article/view/18614/12627. Acesso
em: 16 set. 2019.
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
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APÊNDICE A – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO
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APÊNDICE B – FOTOS DO EVENTO
Abertura do evento – Mensagem de boas-vindas
Início da palestra sobre Clubes de Leitura – relatos da dissertação da palestrante
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Apresentação das práticas de leitura ao longo dos tempos: dos ledores aos blogueiros
Palestrante apresentando os processos de mediação, promoção e incentivo à leitura, conforme
resultados da dissertação
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Palestrante contextualizando a leitura no âmbito da Ciência da Informação e Biblioteconomia
Participantes da plateia atentos aos debates
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Momento de discussão e socialização entre os participantes
Solenidade de entrega dos certificados entre a comissão organizadora
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Equipe ABMG e diretoria da Biblioteca Central da UFMG
Momento de confraternização – Encerrando as atividades
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Confraternização de encerramento
- OBRIGADO A TODOS E ATÉ
O PRÓXIMO EVENTO!
- Ações de Marketing em Bibliotecas
- Com Elisa Dobrillovich e Yuri Martins
- 30 de outubro de 2019
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�
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Clubes de Leitura em Bibliotecas Escolares e Espaços Públicos
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Flávia Ferreira Abreu
Geisa Mara Batista
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Jorge Santa Anna
Mônica Luiza Lages de Oliveira
Rosária Ferreira Otoni Santos
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Clubes de Leitura
Bibliotecas Escolares
Description
An account of the resource
O histórico e a formação de clubes de leitura. Mediação de leitura e formação do leitor. Relatos de pesquisa em clubes de leitura em bibliotecas escolares e espaços públicos
Source
A related resource from which the described resource is derived
Relatório de evento
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4601/BiblioteconomiaSocial.pdf
4760481b9a0d285c3462d55512ae3728
PDF Text
Text
0
[Ano]
�1
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL:
POSSÍVEIS CAMINHOS PARA
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
�2
JORGE SANTA ANNA
EDCLEYTON BRUNO FERNANDES DA SILVA
MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA COSTA
(Organizadores)
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL: POSSÍVEIS
CAMINHOS PARA CONSTRUÇÃO DA
CIDADANIA
Belo Horizonte
ABMG
2018
�3
© 2018 Jorge Santa Anna
2018 Editora ABMG
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores.
COMISSÃO AVALIADORA:
- Professor Mestre Jorge Santa Anna – Universidade Federal do Espírito Santo
- Professor Mestre Edcleyton Bruno Fernandes da Silva – Universidade Federal da Paraíba
- Bibliotecária Mestra Maria Elizabeth de Oliveira Costa – Universidade Federal de M.
Gerais
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO E FORMATAÇÃO DA CAPA: Norma Padrão - Apresentação e divulgação
do trabalho científico
MONTAGEM DA CAPA: Norma Padrão
PRODUÇÃO GRÁFICA: Norma Padrão
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary,
Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea
Brandão, Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos os envolvidos nas atividades de desenvolvimento desta obra, sobretudo
os que acreditaram em registrar os conteúdos textuais manifestados ao longo das seções deste
livro, tais como organizadores, autores, revisores, normalizadores e prefaciadores.
A todos os membros da Associação de Bibliotecários de Minas Gerais, gestão 2018-2021.
À Norma Padrão – Apresentação e Divulgação do Trabalho Científico pelas disposições
gráficas realizadas na capa e contracapa da obra.
À Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerias, especificamente às bibliotecárias Alessandra
Gino e Fátima Falci, pela criação dos registros catalográficos.
À Escola de Ciência da Informação, da Universidade Federal de Minas Gerais,
especificamente ao Centro de Extensão pela contribuição em oportunizar o evento de
lançamento do livro e, também, aos alunos Andreza Gonçalves, Jéssica de Sá e Vinicius
Alves dos Santos, pela organização e monitoria nesse momento.
A todos os bibliotecários e bibliotecárias do Brasil pelo incentivo e pelas energias positivas
manifestadas nas redes sociais e/ou em outros canais de comunicação/divulgação, no decorrer
do desenvolvimento deste trabalho.
Nosso muito obrigado!
Os organizadores
Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2018.
�5
“A informação é o insumo capaz de transcender paredes, horizontes e
contextos, promovendo a transformação de pessoas, instituições e da
própria sociedade” (MCGARRY, 1999).
�6
PREFÁCIO
Fiquei surpresa e imensamente feliz ao receber o convite do bibliotecário Jorge Santa
Anna, que, junto a Edcleyton Bruno Fernandes da Silva e Maria Elizabeth de Oliveira Costa,
idealizaram o livro Biblioteconomia social: possíveis caminhos para construção da
cidadania, publicado pela Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG). Senti-me
lisonjeada e agradecida, até porque essa é uma responsabilidade nunca antes a mim atribuída.
O livro é fruto de um belo e instigante trabalho realizado por uma nova geração de
pesquisadores de Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins, no qual estão
envolvidos professores, alunos e bibliotecários dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo,
Santa Catarina, Rio de Janeiro, Paraíba, Ceará, Bahia, Pernambuco e Amazonas que se
debruçaram sobre a temática da Biblioteconomia Social.
O livro está dividido em quatro partes e subdivido em vinte capítulos, abordando
temas ligados à Biblioteconomia Social e à utilização da leitura, como meio transformador
nos diferentes espaços físicos e contextos da sociedade, objetivando a democratização do
acesso à informação como forma de conscientizar o cidadão, visando minimizar as
desigualdades sociais.
Aliando teoria à prática bibliotecária, os autores buscam promover reflexões nos
âmbitos cultural, político e social, propondo mudanças de cunho comportamental que possam
vir a colaborar significativamente para estimular e transformar as pessoas.
As experiências aqui apontadas sinalizam que há possibilidade de proporcionar o bemestar da sociedade, por meio de contribuições da Biblioteconomia para além das instituições,
sejam elas públicas ou privadas, com ações e práticas voltadas aos diferentes cenários da
sociedade como hospitais, periferias, presídios, centros urbanos, dentre outros.
Adotar uma postura pró-ativa e engajar-se em questões voltadas a promover políticas
públicas que possam garantir apoio e maiores investimentos financeiros, que transcendam os
espaços físicos das bibliotecas, têm sido um constante desafio para os bibliotecários que,
mesmo diante de todas as adversidades enfrentadas no seu cotidiano, não se deixam abater.
E quanto a você, o que tem feito nesse sentido?
Valéria Rodrigues de Oliveira Pozzatti
Bibliotecária. Mestre em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UniRio
�7
SUMÁRIO
REFLEXÕES INICIAIS ........................................................................................................ 11
PARTE I - BIBLIOTECONOMIA SOCIAL: UM FENÔMENO OBSCURO À
REALIDADE BRASILEIRA ................................................................................................ 13
Capítulo I - Biblioteconomia e sociedade: resgatando o pensamento de Jesse Shera .............. 14
Capítulo II – O bibliotecário escolar e o incentivo à leitura: a contação de histórias como
prática educativa ....................................................................................................................... 23
Capítulo III - Empreendedorismo social na Biblioteconomia: análise da atuação bibliotecária
em ações com foco na agenda 2030 ......................................................................................... 36
Capítulo IV - O papel da biblioteca comunitária como instrumento de inclusão social .......... 53
PARTE
II
-
BIBLIOTECAS
TRANSFORMADOR
DA
NO
LEITURA
FOMENTO
EM
À
LEITURA:
DIFERENTES
O
PODER
CONTEXTOS
DA
SOCIEDADE .......................................................................................................................... 69
Capítulo V – Quarta da contação: histórias contadas por crianças. ..........................................70
Capítulo VI - Implantação de bibliotecas em terminais urbanos da grande Vitória-ES: um
relato de caso ............................................................................................................................ 82
Capítulo VII - Letramento informacional em bibliotecas: para além do processo de
alfabetização ........................................................................................................................... 104
Capítulo VIII - Leitura como processo de integração entre a subjetividade do leitor e o
contexto sócio-histórico.......................................................................................................... 113
Capítulo IX - Sistema de bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais: criação do
espaço de leitura para o lazer no ambiente universitário ........................................................ 125
PARTE III - A BIBLIOTECONOMIA EM ESPAÇOS E CONTEXTOS DE
VULNERABILIDADE......................................................................................................... 138
Capítulo X - Projeto de instalação do espaço de leitura em clínica pediátrica de Hospital
Universitário ........................................................................................................................... 139
Capítulo XI - O bibliotecário no contexto do encarceramento: das instituições escolares aos
presídios .................................................................................................................................. 150
�8
Capítulo XII - Práticas informacionais de presas gestantes do Centro de Referência a Gestante
Privada de Liberdade do município de Vespasiano-MG: um relato de experiência .............. 173
Capítulo XIII – Remição de pena pela leitura: o lugar da Biblioteca Prisional no processo de
ressocialização ........................................................................................................................ 188
Capítulo XIV - A função da biblioteca comunitária nas regiões inacessíveis ao conhecimento
................................................................................................................................................ 203
capítulo XV - “O essencial é invisível aos olhos”: Sala Braille da Biblioteca Pública de Lagoa
Santa-MG ............................................................................................................................... 215
Capítulo XVI - A informação utilitária como um direito do cidadão: das bibliotecas públicas
aos centros de referências ....................................................................................................... 227
Capítulo XVII - O papel social da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais: uma
biblioteca para todos ............................................................................................................... 241
PARTE IV - PRÁTICAS BIBLIOTECÁRIAS EM FACE DO MOVIMENTO
ASSOCIATIVO .................................................................................................................... 254
Capítulo XVIII - Por uma sociedade mais justa e igualitária: o papel do movimento
bibliotecário na democratização do conhecimento ................................................................. 255
Capítulo XIX - Vivências e práticas no âmbito do Conselho Regional de Biblioteconomia. 268
Capítulo XX - Participação no movimento associativo: Associação de Bibliotecários de Minas
Gerais e o seu grande desafio ................................................................................................. 283
À GUISA DE CONCLUSÕES - BIBLIOTECONOMIA SOCIAL: O FUTURO EM
PERSPECTIVA .................................................................................................................... 304
312
DADOS BIOGRÁFICOS ................................................................................................... 3112
�9
REFLEXÕES INICIAIS
Jorge Santa Anna
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
A trajetória histórica da área de Biblioteconomia - seja no contexto brasileiro quanto
internacional – tem revelado o desenvolvimento e contribuição das práticas profissionais
realizadas por bibliotecários nos mais diferenciados contextos e instâncias.
Dentre as diversas atividades biblioteconômicas realizadas, consideramos de extremo
valor para a sociedade contemporânea, os projetos interventivos realizados em prol da
sociedade, por meio de um campo denominado de Biblioteconomia Social.
Portanto, apresentamos à comunidade científica/profissional esta obra, a qual tem o
intuito de discorrer alguns desses projetos desenvolvidos ou discursos proferidos pelos
bibliotecários que acreditam no potencial da área para a construção de uma sociedade mais
justa, cidadã e igualitária.
Os projetos e discursos apresentados neste livro são aqueles que, na maioria das vezes,
permanecem obscuros aos olhos da sociedade, uma vez que acabam ficando “engavetados”
nas instituições, carecendo de uma maior visibilidade.
A ideia em formalizar este compêndio de textos é uma iniciativa da atual diretoria da
Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), que - inquieta pela falta de
divulgação dessas atividades – propôs esse empreendimento, de modo a fortalecer a função
social e política do bibliotecário e da biblioteca em uma sociedade que busca pelo
desenvolvimento sustentável ao longo do século XXI.
Consideramos que a ideia em publicitar este livro está em consonância com os
esforços realizados em prol do desenvolvimento sustentável, conforme Agenda 2030 da
Organização das Nações Unidas e que foi aderida pela Federação Internacional de
Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA). Assim, bibliotecas e bibliotecários, por meio
dos projetos sociais, interferem na melhoria da qualidade de vida das pessoas, possibilitando o
exercício da cidadania a todas as classes sociais, sobretudo as minorias.
O livro tem a pretensão de fundir teoria e prática, o que possibilitou a participação de
pesquisadores e profissionais de vários estados brasileiros. Os estudos aqui apresentados é
fruto das experiências vivenciadas pelos autores, ou projetos gerenciados dentro e foras das
�10
bibliotecas, como também, envolvem discursos teóricos que propiciam o fortalecimento do
campo social na área biblioteconômica.
Com efeito, a obra está composta por vinte capítulos, distribuídos em quatro seções, as
quais mencionam, sequencialmente: 1 – o campo da Biblioteconomia Social; 2 – os projetos
de leitura nos mais diferenciados contextos; 3 – projetos interventivos que possibilitam
melhorias nas vidas das pessoas; e 4 – práticas bibliotecárias no âmbito político, que
viabilizam o fortalecimento da classe e da sociedade, em geral.
Esperamos que este livro desperte aos leitores uma maior aproximação com o campo
da Biblioteconomia Social, de modo a fortalecê-lo, tanto na formação quanto na vivência
profissional. Além disso, é almejado o desejo de que toda a sociedade reconheça o potencial
desse campo, sobretudo os agentes governamentais, no intuito de que sejam elaboradas
políticas públicas direcionadas a possibilitar a expansão dos projetos sociais realizados pela
Biblioteconomia, rumo a uma sociedade mais democrática, inclusiva, participativa e cidadã.
�13
PARTE I
Biblioteconomia
Social: um fenômeno
obscuro à realidade
brasileira
�14
CAPÍTULO I
BIBLIOTECONOMIA E SOCIEDADE: RESGATANDO O PENSAMENTO DE JESSE
SHERA
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A preocupação social constitui um dos principais objetivos das ciências e das profissões,
sobretudo àquelas que se desenvolveram e convergem princípios e valores de acordo com as
mudanças da contemporaneidade. O discurso científico, filosófico, político e profissional se
desenvolvem pela e para a sociedade, não sendo possível, portanto, dissociá-los, nem, tampouco,
pensar em estabelecer concepções antagônicas entre eles.
A historiografia do conhecimento científico e filosófico nos mostra claramente essa
indissociabilidade, estando essa tendência originada em nossos primórdios. Essa preocupação se
acentua ainda mais, com a expansão do conhecimento científico e tecnológico, e os possíveis
impactos oriundos dessa evolução, sobretudo com as grandes revoluções dos últimos séculos, tais
como Revolução Francesa e Industrial, que implementaram novos modelos de produção, consumo e
circulação de capital na sociedade.
Esse modelo implantado intensifica o debate acerca da relação entre o que se cria e para
quem, promovendo, por conseguinte, um campo fértil destinado às disputas de poder, como
também, os reflexos desse sistema aos indivíduos, o que consolida um discurso amplo em prol das
desigualdades sociais. Grandes pensadores, ao longo de suas vivências, tal como Foucault,
Durkheim, Bourdieu, Marx, dentre muitos outros comungavam dessa ideia, colocando em debate os
conflitos, as forças, os interesses e demais condições que, em conjunto, acabavam por denunciar
injustiças e propor explicações para a pacificação do sistema.
Foucault (1972), por exemplo, nos traz indícios de que a sociedade se evolui à medida que o
conhecimento científico é descoberto e utilizado, para propósitos e benefício da própria sociedade.
Logo, a concepção filosófica sustenta a ciência, que, por sua vez, reflete na vivência social,
remodelando o fazer profissional e beneficiando indivíduos e instituições.
Pensar o lado social da ciência e das profissões, portanto, é uma necessidade emergente,
visto que toda e qualquer profissão coloca-se a serviço de uma causa, de modo a beneficiar, de
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imediato, um grupo de envolvidos. Ao mesmo tempo, entender a realidade social constitui um
primeiro passo na resolução de problemas sociais, visto que, é por meio deste entendimento que
alternativas podem ser pensadas, para apaziguar ocorrências mais impactantes.
Os filósofos citados nos deixaram um legado triunfal, rumo a uma sociedade que, mesmo,
ilusoriamente, poderíamos considerar de “sociedade sem conflitos”. Compreender os reflexos da
Revolução Industrial e os meios de produtividade seria, portanto, uma forma para explicar
tendências ao suicídio, como atestou Marx (2006). Outro exemplo dessa relação envolve, por
exemplo, a liberdade de escolhas, e a formação de grupos e contextos específicos, que
compartilham crenças e hábitos em comum, conforme proposto na teria bourdiana (BOURDIEU,
1983).
Acreditamos que compreender essas relações firmadas entre profissão e sociedade é de suma
importância para levantar denúncias sociais, como também propor melhores condições de vida,
tanto para profissionais envolvidos com uma causa, como também aos cidadãos, de uma forma
geral. Isso, provavelmente, tende a desencadear a consolidação dos direitos humanos e a promoção
de uma sociedade cada vez mais democrática.
Na área da Biblioteconomia, por exemplo, reforçamos a ideia de que a preocupação com o
social precisa inserir-se no cotidiano dos profissionais, como também deve fazer parte do
fundamento teórico e prático dessa ciência. Isso se justifica pelo fato de que, durante muito tempo,
o discurso que sustentou essa área esteve pautado em um tecnicismo exacerbado, o que provocou o
afastamento com as causas humano-sociais.
A concepção humanista da Biblioteconomia, certamente, é impulsionada com a Escola de
Chicago, em meados do século XX, nos Estados Unidos, para a qual destaca-se como ícone nesse
pensamento Jesse Shera, formado em Biblioteconomia, possuidor de uma habilidade impressionante
no ato de catalogar, mas que, não perdeu a sua vocação para as Ciências Sociais e Humanas. Esse
olhar social proposto pelo teórico promoveu um viés mais humanizado aos registros do
conhecimento e, portanto, uma preocupação com o uso desses na sociedade, abrindo novas
possibilidades de se redefinir as práticas bibliotecárias, muito além dos registros e dos acervos,
fortalecendo a participação dessa área no desenvolvimento da sociedade.
�16
2 ALÉM DOS LIVROS E DAS BIBLIOTECAS: RESGATANDO O PENSAMENTO DE
JESSE SHERA
Jesse Hauk Shera nasceu no ano de 1903, em Oxford, Ohio, Estados Unidos. Filho de
camponeses, destacou-se muito na prestação de serviços de catalogação na Biblioteca Universitária
de Chicago, o que o impulsionou a graduar-se nessa área, exercendo inúmeras contribuições,
também, ao Instituto Americano de Documentação, mais tarde denominado de Sociedade
Americana de Cientistas da Informação (ENCICLOPÉDIA, 2007).
A atuação intensificada com a Biblioteconomia, seja no fazer profissional, quanto aos
estudos científicos que desenvolveu, ao longo do tempo, fez-lhe adquirir reconhecimento entre os
profissionais e estudiosos da área, sobretudo por impulsionar a corrente humanista, a qual sustentou
a Biblioteconomia norte-americana, e que muito contribuiu para o desenvolvimento dos estudos
sociais.
Figura 1 – Shera, defensor da corrente humanista na área da Biblioteconomia
Fonte: Enciclopédia (2007).
O engajamento desse profissional, pesquisador e escritor fortaleceu a desvinculação da área,
tão somente, à concepção tecnicista, preocupada com questões técnicas e operacionais. Contribuiu
para instigar os primeiros estudos sobre uso de sistemas automatizados por humanos, além de
práticas no serviço de referências nas bibliotecas. Segundo esse teórico, qualquer que seja o
�17
objetivo da biblioteca, do bibliotecário e dos registros que são construídos, tudo deve ser feito para
uso na sociedade (SHERA, 1976).
O conhecimento e o interesse nos estudos da Sociologia permitiram ao autor fundir o fazer
bibliotecário, comumente realizado em bibliotecas, com as questões sociais, em que o centro das
atenções deixa de ser a biblioteca, os acervos e coleções, para ser os problemas sociais e a
contribuição desses fazeres para melhoria da vida dos indivíduos, discurso esse que permitiu
atribuir à Shera uma denominação muito mais ampla, dita por muitos como “sociólogo do
conhecimento” (BUDD, 2002).
Defendendo a necessidade de maior fundamentação da área, mediante o diálogo com a
Epistemologia Social, propõe a abrangência do fazer às diversas instâncias da sociedade, em que a
proposta bibliotecária precisa ir muito além, extravasando os muros das instituições. Assim, o
objetivo que precisa operar “[...] é aumentar a utilidade social dos registros gráficos, seja para
atender à criança analfabeta absorta em seu primeiro livro de gravuras, ou um erudito absorvido em
alguma indagação esotérica [...]” (SHERA, 1977, p. 11, grifo nosso).
Constata-se que o pensamento de Shera (1977) reflete uma reconfiguração da área, de modo
a complementá-la. Envolve todas as alternativas possíveis para que o conhecimento seja acessado e
utilizado pelo homem, no intuito de que possam ser estabelecidas melhores condições de vida.
[...] Portanto, se a Biblioteconomia deve servir à sociedade em toda extensão de suas
potencialidades, deve ser muito mais do que um monte de truques para encontrar um
determinado livro numa estante particular, para um consulente particular. Certamente é isso
também, mas fundamentalmente Biblioteconomia é a gerência do conhecimento. Por isso,
estes novos mecanismos projetados para manipular conhecimentos a fim de que o homem
possa alcançar melhor compreensão do universo no qual se encontra, são de especial
interesse para o bibliotecário [...] (SHERA, 1977, p. 11, grifo nosso).
Nesse diálogo, salienta-se que o papel do bibliotecário vai além da mediação, visto que esse
profissional, em conjunto com as propostas da instituição, demonstra aos usuários, por meio da
disseminação do conhecimento, a compreensão da evolução histórica, das transformações sociais, o
que evidencia, por meio desse reconhecimento, encontrar possíveis soluções aos conflitos sociais.
A evolução das bibliotecas revela que essas unidades foram se desenvolvendo ao longo do
tempo, a ponto de que, nos dias atuais, elas deixaram de ser repositório restrito de conhecimento e
passaram a ser centros de propagação do conhecimento, tendo como foco fornecer indícios para o
desenvolvimento individual, cultural e social.
Nosso sociólogo do conhecimento reforça a multiplicidade das funções atribuídas ao
bibliotecário e à biblioteca, na sociedade moderna, em que predominam as funções de apoio a
diversas instituições, como: “[...] empresas e organizações industriais, o sistema educacional em
todos os níveis, a cultura popular e o crescente movimento para auto-educação [...]” (SHERA, 1973,
�18
p. 88, tradução nossa). Ademais, o bibliotecário tem o compromisso com o uso do conhecimento
pelos humanos, o que envolve um contexto altamente complexo, problemático e que requer um
engajamento extrínseco à biblioteca. Assim, esse profissional precisa ser “[...] o mediador entre o
homem e livro, onde livro é um termo genérico que inclui todos os registros gráficos, e é sua
especial responsabilidade de operar nessa associação complexa de registro e mente humana
[...]” (SHERA, 1973, p. 88, tradução nossa, grifo nosso).
Destaca-se, na filosofia de Shera, as ações desenvolvidas em ambientes mais distantes da
sociedade, ou contextos que requerem uma intervenção mais acentuada, seja por parte do
profissional, quanto dos envolvidos com a gestão social. Nessa seara, a Biblioteconomia e todo o
seu corpus de conhecimento teórico e metodológico tornam-se agentes da democracia, “[...]
alcançando sua influência até mesmo aos desprivilegiados e socialmente desfavorecidos, mas
sempre foi uma parte do tecido da sociedade, refletindo as atitudes, valores e objetivos da cultura
que a apoiava” (SHERA, 1973, p. 88, tradução nossa).
A abrangência das práticas biblioteconômicas é alcançada por meio de uma discussão mais
profunda, em que pese os fundamentos propostos pelas ciências sociológicas e epistemológicas, tais
como a Epistemologia Social (SHERA, 1977). Essa disciplina condiciona argumentos que
fundamentam as pesquisas e, por decorrência, tendem a redefinir os fazeres dos profissionais, com
vistas a garantir a universalização/democratização do conhecimento e a aplicação desse para uso
junto às questões sociais.
A busca por uma sociedade democrática se manifesta por meio do acesso à informação e ao
conhecimento. Essa afirmação é praxe em diversas áreas do conhecimento e é consenso entre
especialistas e gestores de instituições. A Biblioteconomia ganha espaço nesse contexto, sobretudo
com o papel social atribuído à área e às unidades e serviços de informação. E esse espaço é
alcançado, principalmente, com o uso de equipamentos e serviços tecnológicos que passam a ser
ofertados à comunidade, criando uma relação mais próxima entre instituição e usuários, como
relatado por Shera (1972).
A reconstrução ou embasamento científico e pragmático da área passa pela questão social e
requer uma discussão que permeie o ambiente científico, educacional e profissional. A união desses
agentes e a consideração de diferentes contextos em que o conhecimento é gerado e disseminado
precisam ser o sustento da área, para que o compromisso social se manifeste. Portanto, trata-se de
um processo que se complementa pela ação conjunta, levando em conta as formas com que o
conhecimento é coordenado, integrado e colocado a funcionar (a praticidade do conhecimento na
vivência social). E, na maioria das vezes, esse processo é complexo, visto que há barreiras a serem
superadas, uma vez que existem forças ou pressões específicas de um dado local, ou seja, forças
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intelectuais, regidas por interesses próprios, que acabam por modelar as estruturas e as instituições
sociais (SHERA, 1972).
As forças intelectuais, na maioria das vezes, impregnadas sob um viés cultural e politizado,
acabam por gerar relações hierárquicas, em que há predominância de domínio do poder,
promovendo diferenças e exclusões. Manifestam-se, nesse âmago, uma sociedade que adestra
determinadas concepções, ou seja, uma sociedade disciplinar, em que são construídas, legitimadas e
seguidas regras pré-estabelecidas, conforme discorrido por Foucault (1979).
Essas relações representam uma forma de controle social, por um lado, mas podem ser
compreendidas, por outro, como manifestação para geração de privilégios. É nessa segunda questão
que o comprometimento social da Biblioteconomia e demais áreas das Ciências Sociais encontra
respaldo, ou melhor, essas ciências manifestam-se como denunciadoras da realidade e
emancipadoras dos sujeitos. Como emancipação do sujeito, a Biblioteconomia muito contribui,
mediante a oferta do conhecimento às pessoas, independente do contexto ou realidade a que se
inserem, o que evidencia a responsabilidade da área com a prática cidadã.
Além dos conflitos sociais existentes na sociedade e as diferentes causas de geração, há de
se considerar, também, as especificidades oriundas da cultura. A cultura é elemento fundamental
para formação da sociedade. Representa, ainda, um estimulador à democracia e liberdade de
expressão. Portanto, o estudo e/ou intervenção da Biblioteconomia nos contextos sociais deverão
considerar as interferências culturais nesses ambientes, respeitando-se as diferenças e garantindo,
sob o prisma da ética e dos bons costumes, a igualdade social e os direitos humanos.
Analisar os contextos sociais e as manifestações culturais nos leva a refletir sobre o conceito
de habitus, um elemento que possibilita o entendimento das diferenças culturais. Esse elemento
representa um conjunto de disposições conjuntamente constituídas, o qual “[...] enquanto estruturas
estruturadas e estruturantes constituem o princípio gerador e unificador do conjunto das
práticas e das ideologias características de um grupo de agentes” (BOURDIEU, 2007, p. 191, grifo
nosso).
A valorização e o respeito à diversidade cultural são o caminho certo para consolidação dos
valores humanos e da igualdade de direitos, princípios norteadores dos estados democráticos. A
partir dessas condições, o compromisso profissional se amplia, extravasando os limites físicos das
instituições, indo ao encontro dos grupos sociais, sem considerar qualquer diferenciação que
proporcione algum tipo de discriminação, seja de raça, cor, classe social, gênero, opção sexual,
limitações físicas ou psicológicas, dentre outras tantas limitações e especificidades da sociedade
multicultural.
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Em Shera (1972, 1977), a Biblioteconomia reforça o potencial dela ao fundamentar-se em
teorias e princípios filosóficos, por meio da Epistemologia Social, que propõe o estímulo das
reflexões e da redefinição dos fazeres técnicos e humanos. Promove, a partir dessa provocação, uma
ação interventiva do bibliotecário no contexto social, mediante a construção de um perfil
profissional engajado e comprometido com as causas sociais.
A aproximação entre Biblioteconomia e sociedade se concretiza à medida que ações passam
a ser desenvolvidas para benefício das comunidades. Reforça-se, portanto, o papel das bibliotecas
públicas e populares na democratização do conhecimento, a ênfase atribuída aos usuários da
informação, e a delimitação de funções sociais propriamente ditas, como participação em
movimentos políticos e intervenções realizadas para benefícios de grupos marginalizados, como
relatado por Almeida Júnior (1997).
Por meio de uma Biblioteconomia renovada, certamente, atingiremos um nível mais elevado
de reconhecimento e valorização. É por meio da biblioteca e dos serviços que oferecemos com as
competências atribuídas ao bibliotecário que muito podemos contribuir para o desenvolvimento
social e a eliminação das desigualdades sociais. É preciso pensar e remodelar a biblioteca e o que
dela pode ser gerado; uma instituição
[...] que reflita e retrate as ideologias das classes oprimidas, geradas e mantidas por um
sistema embrutecido que escamoteia a realidade através de nebulosos conceitos de ordem e
progresso. Não importa o nome que se dê, [...] importa que a biblioteca caminhe ao lado e
com a maioria da população, auxiliando cada pessoa na busca do resgate de sua dignidade e
de sua condição de cidadão (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 57).
A Biblioteconomia Social, portanto, não representa uma discussão meramente teórica, que
enobrece o discurso e a pauta de governos e interesseiros no domínio do poder. Ela precisa
concretizar-se, sobretudo nas ações operacionais realizadas por bibliotecários e suas equipes de
trabalho, nos mais baixos níveis hierárquicos da profissão. Isso nos alude afirmar que o discurso
precisa ser substituído pela ação, ou seja, mais praticidade é uma estratégia para garantir a expansão
das práticas bibliotecárias para além das paredes das instituições.
Como afirmado por Shera (1977, p. 10), em todas as áreas de conhecimento, é preciso
considerar que, “[...] o mundo do pensamento e o mundo da ação, embora um ou outro possa ser
dominante em dada sociedade, são sempre interdependentes [...]”. Todavia, tendo em vista que o
modelo cultural vigente “[...] torna-se cada vez mais complexo, esta interdependência se intensifica,
tornando-se de importância cada vez maior à sobrevivência”.
Romper os velhos paradigmas que sustentaram a área ao longo do tempo não representa uma
tarefa fácil, mas estimular uma discussão, resgatando a argumentação filosófica e a mudança de
atitude, haja vista um fazer mais proativo e interventivo, representa um importante passo a ser dado,
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rumo a uma sociedade mais justa, democrática e igualitária, o que permite reforçar o papel da
Biblioteconomia com o desenvolvimento do estado democrático.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Resgatar o pensamento de Jesse Shera acerca da aproximação da Biblioteconomia com a
Epistemologia Social representa um estímulo renovador para os profissionais da área atuarem de
forma mais interventiva, em uma sociedade democrática, cuja informação e o conhecimento
representam as molas propulsoras para o desenvolvimento individual, econômico, político, cultural
e social.
A leitura às reflexões propostas por esse sociólogo do conhecimento reforça a área
biblioteconômica, sobretudo diante das fragilidades impostas pelo contexto competitivo e instável
da pós-modernidade. Pensar a Biblioteconomia no viés social não deve ser um discurso fictício e
ilusório, tampouco, um modismo adepto apenas aos indivíduos politizados. Trata-se de uma
preocupação que deve permear o fazer dos bibliotecários em todos os níveis e instâncias de atuação,
como também exige o reconhecimento e valorização por parte das instituições mantenedoras e
apoiadoras e por parte das autoridades governamentais.
Ancorados nos discursos de Shera e tomando sua experiência de vida profissional como
testemunho, somos chamados a proclamar a Biblioteconomia Social, como um dos campos
emergentes a serem assumidos pelos profissionais, de modo que o tecnicismo exacerbado seja
complementado pelas questões sociais, tornando a prática bibliotecária mais abrangente e
aproximada com a realidade social.
Acreditamos que a questão social, no âmbito da Biblioteconomia contemporânea, perpassa
por inúmeros contextos, sustentada por projetos sociais inovadores e que não se limitam aos
espaços físicos das instituições, desde que objetive a construção da prática cidadã, rumo a uma
sociedade integralmente inclusiva. Assim, múltiplas atividades podem ser pensadas com esse
propósito, perpassando desde o potencial da leitura e da educação para as pessoas, até contextos de
vulnerabilidade, junto aos grupos mais desfavorecidos e/ou em situações de risco, como também,
abranger as intervenções realizadas no âmbito político, haja vista o fortalecimento, legitimidade e
reconhecimento da profissão na sociedade.
Que essas manifestações possam se fortalecer, tornando-se um compromisso prioritário dos
bibliotecários, o que tende a demonstrar o potencial da Biblioteconomia para a evolução da
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sociedade e a consolidação e permanência constante dos princípios e valores humanos nas gerações
vindouras.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e Biblioteconomia. São Paulo: Polis;
APB, 1997.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.
______. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
BUDD, John. Jessa Shera. Sociologist of Knowledge? The Library Quarterly, v. 72, n. 4, out.
2002.
DURKHEIM, Émile. O suicídio: uma questão sociológica. São Paulo: Marins Fontes, 2000.
ENCICLOPÉDIA. Jesse Shera. 2007. Disponível em:
<http://ucla245.pbworks.com/w/page/8751414/Jesse%20Shera>. Acesso em: 05 nov. 2018.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis: Vozes, 1972.
______. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
MARX, Karl. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006.
SHERA, Jesse. Epistemologia social, semântica geral e Biblioteconomia. Ciência da Informação,
Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-12, 1977.
______. Introdução à biblioteconomia: elementos básicos do serviço de biblioteca. Littleton:
Bibliotecas Ilimitadas, 1976.
______. The Foundations of Education for Librarianship. New York: Becker and Hayes, 1972.
______. Toward a Theory of Librarianship and Information Science. Ciência da Informação, Rio
de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 87-97, 1973.
�23
CAPÍTULO II
O BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR E O INCENTIVO À LEITURA:
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PRÁTICA EDUCATIVA
Sara Suyane de Sousa Rodrigues
Laiana Ferreira de Sousa
Claudialyne da Silva Araújo
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
1 INTRODUÇÃO
Muito se ouve falar nos inúmeros benefícios proporcionados pela leitura; por isso não é
nenhuma novidade que ela desenvolve o indivíduo intelectualmente e socialmente. A leitura é capaz
de proporcionar conhecimento,
criticidade,
poder de persuasão, habilidades
oratórias,
enriquecimento do vocabulário, dentre outras competências que a tornam uma ferramenta
fundamental para o crescimento e desenvolvimento cognitivo do ser humano. Essa prática está
presente em nossa sociedade de diversas formas, sendo utilizada em várias vertentes, desde textos
de entretenimento até livros científicos.
Além de desenvolver as habilidades listadas, a leitura também pode ser praticada como um
ato prazeroso, de lazer e entretenimento. Os livros literários são os maiores responsáveis por
proporcionar momentos de alegria, prazer e encantamento entre os leitores de todas as idades. Esse
tipo de prática aguça o imaginário, desperta os sentidos e leva o leitor a universos paralelos além da
sua realidade.
Mesmo diante de todas essas características atribuídas à leitura, nossa sociedade não é
considerada leitora. Dados da pesquisa Retratos de Leitura no Brasil 1, realizada em 2016, revelam
que o número de leitores ativos tem diminuído gradativamente. O estudo demonstra ainda que,
mesmo entre os estudantes regularmente matriculados e que frequentam a escola, o índice de leitura
é baixo, resultando em uma população não leitora, consequentemente, pouco pensante, pobre em
argumentos e com pouco poder de decisão.
1
Pesquisa
Retratos
de
Leitura
no
Brasil.
2016.
Disponível
em:
<http://prolivro.org.br/home/images/2016/RetratosDaLeitura2016_LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pdf>.
Acesso em: 16 nov. 2017.
�24
É extremamente necessário que a leitura seja introduzida como prática prazerosa na vida das
crianças, já que elas formarão a sociedade pensante de amanhã. Geralmente, é na escola onde
acontecem os primeiros contatos das crianças com o universo leitor, contato inicial que muitas
vezes é decisivo para que elas se tornem leitores assíduos.
A leitura contribui diretamente para a formação da personalidade dos educandos. Por meio
do convívio com textos informativos e literários eles podem desenvolver o gosto pela
leitura, descobrir o mundo que o cerca e identificar suas preferências (GOMES;
BORTOLIN, 2011, p. 158).
As instituições de ensino estão mais conscientes do papel que exercem na formação leitora
de seus alunos e têm cedido, cada vez mais, espaço para atividades que propiciem a interação entre
as crianças e os livros. Sendo assim, se fazem necessárias iniciativas que sensibilizem e incentivem
a leitura, dinamizando-a e disseminando-a.
A contação de histórias tem se tornado uma das atividades mais utilizadas por educadores no
incentivo à leitura, por ser uma arte milenar que vem se perpetuando, ao longo dos tempos. Ela é
capaz de ampliar o universo literário, sendo uma prática que instiga o interesse do leitor. Dentro do
ambiente escolar, ela pode ser uma grande aliada no processo de iniciação à leitura, pois alia o
lúdico do “faz de conta” ao processo de letramento da criança.
Diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo apresentar o bibliotecário escolar
como um dos principais agentes propulsores do incentivo à leitura dentro da escola, trabalhando
conjuntamente com as práticas pedagógicas curriculares. Evidencia-se a contação de histórias como
uma aliada da escola, que, mediante à ludicidade e dinamicidade, torna-se uma ferramenta
importante que auxilia no desenvolvimento leitor do estudante.
Este trabalho foi elaborado, por meio de revisão de literatura a materiais bibliográficos
referentes ao tema em questão. Foi também utilizada como referência para a pesquisa a vivência de
um dos autores no ambiente escolar, já que o mesmo trabalha na Biblioteca de uma escola particular
da cidade de Fortaleza-Ceará.
Este artigo está dividido em cinco seções. A primeira traz a introdução ao tema,
apresentando o objeto e os objetivos do trabalho. A segunda seção trata da biblioteca escolar,
abordando a importância da sua existência dentro da escola e as dificuldades para sua
implementação. Ainda na segunda seção, é apresentado o bibliotecário escolar e o novo perfil desse
profissional, atuando em atividades de mediação da leitura. A terceira seção aborda a metodologia
utilizada para a pesquisa. Na quarta, demonstram-se as atividades de mediação e incentivo à leitura,
que podem ser desenvolvidas na biblioteca escolar e apresenta a contação de histórias como uma
das mais eficazes para o estímulo à leitura. Mostra ainda, algumas possibilidades de se trabalhar
com a contação de histórias, por meio de técnicas e acessórios que podem aprimorar o trabalho. Na
�25
quinta e última sessão, apresentam-se os resultados da pesquisa, concluindo que os objetivos da
pesquisa foram atingidos ao se constatar que o bibliotecário tem um importante papel na construção
da identidade leitora e que a contação de histórias é uma arte efetiva no incentivo à leitura, que pode
ajudar a aproximar os alunos do universo leitor.
2 A BIBLIOTECA ESCOLAR
A biblioteca escolar no Brasil é uma realidade efetiva para um número reduzido de
instituições. Nosso sistema educacional ainda traz muitas lacunas a respeito da presença de
bibliotecas nas escolas do setor público e privado. Em geral, as instituições possuem um local
destinado ao funcionamento da biblioteca, mas que não é bem aproveitado para o fim a que se
destina. No setor público, a questão é ainda mais agravante, pois algumas instituições enxergam a
biblioteca, meramente como um “depósito” de materiais bibliográficos.
A lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010, estabelece que em um prazo máximo de até dez
anos, a partir da data de publicação da referida lei, todas as escolas do setor público e privado
deverão dispor de uma biblioteca, ofertando o seu acesso à comunidade escolar e respeitando a
profissão do bibliotecário.
Em contrapartida a esse cenário, a importância da biblioteca no ambiente escolar vai além
das necessidades legislativas existentes. O ensino e a biblioteca devem ser aliados e trabalharem
conjuntamente para despertar e estimular o interesse pelos livros e pela leitura nos alunos.
A biblioteca se apresenta como uma grande aliada da escola na formação dos alunos. Além
da guarda, organização e disponibilização do acervo, é também tarefa dessa unidade de informação
a promoção e dinamização da leitura no ambiente escolar, por meio de atividades e projetos que
possibilitem despertar nos alunos o desejo pela leitura e desenvolver suas habilidades leitoras. “A
leitura, portanto, precisa ser constantemente estimulada; é necessário criar o hábito de ler, o prazer
de ler, o gosto pela leitura” (CAMPELLO, 2003, p. 3). A biblioteca é o espaço ideal para que esse
prazer pela leitura seja estimulado; ela deve ser ativa e se adequar ao ambiente e as necessidades do
leitor para que possa exercer seu papel com excelência.
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2.1 O BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR E A MEDIAÇÃO DA LEITURA
Durante bastante tempo, o bibliotecário foi visto como um profissional altamente tecnicista,
que realizava um trabalho repetitivo e contínuo, tratando, armazenando e recuperando a informação
de forma convencional. De fato, há alguns anos, essa era a realidade da maioria desses profissionais
da informação.
Diante das novas configurações globais, o profissional precisou mudar e se adequar ao novo
cenário instaurado. As informações mudam e se transformam com freqüência; elas agora se
colocam mais acessíveis e em grande quantidade, consequentemente, as pessoas que necessitam
delas também têm um perfil diferente; são, agora, mais atentas, exigentes e dinâmicas. As
bibliotecas e os bibliotecários precisaram acompanhar essa tendência para se adequar a essa nova
sociedade e continuar a ter papel efetivo diante dela.
A técnica tem um significado específico no trabalho, não devendo ser desvinculada das
outras dimensões, como aconteceu durante muito tempo com as práticas bibliotecárias. Isto
significa que para o bibliotecário escolar ser competente, não basta o domínio de algumas
“técnicas”; é necessário que estas técnicas sejam fertilizadas pela determinação autônoma
dos objetivos e finalidades, pelo compromisso com as necessidades do coletivo e pela
presença da sensibilidade (FARIAS; CUNHA, 2009, p. 32).
O bibliotecário, portanto, tem agora, mais do que antes, o papel de agente socializador.
Além de tornar a informação acessível, ele também deve permitir que ela faça sentido ao seu
usuário e atenda às necessidades informacionais e sociais desse sujeito.
Dada essa extensão, o papel do bibliotecário está embutido na função de agente
socializador da informação, contribuindo no processo de aprendizagem dos indivíduos
através das mais diversas formas de leitura, como também em suas práticas, ajudando o
leitor a atingir um nível maior de complexidade no processo de ler/escrever e de produzir
sentidos (RASTELI; CAVALCANTE, 2013 p. 169).
A escola é um dos principais ambientes onde o bibliotecário irá atuar diretamente com
leitores em processo de formação. Portanto, na biblioteca escolar, esse perfil inovador se torna
ainda mais necessário, já que o seguimento é bastante desafiador e exige que o profissional tenha
um atendimento personalizado a cada usuário. Assim, “[...] a ação do bibliotecário escolar envolve
técnica e sensibilidade orientadas por princípios éticos e políticos” (FARIAS; CUNHA, 2009, p.
33).
Farias e Cunha (2009, p. 33) complementam, ainda, refletindo que,
é senso comum afirmar que a tarefa da escola é a formação de cidadãos. Diante disso, é
tarefa do bibliotecário escolar contribuir para essa formação, utilizando os recursos que
dispõe, analisando as situações de maneira crítica, consciente e comprometido com as
necessidades concretas do contexto social em que desenvolve seu trabalho. É por isso que,
quando falamos de competência temos que situá-la numa sociedade real.
�27
É importante que o bibliotecário escolar esteja atento às novas tendências literárias e as
preferências dos seus usuários, portanto, é interessante que ele invista na formação continuada, nas
pesquisas e esteja ligado a inovações e mudanças constantes. Além disso, de nada adianta dispor os
livros a usuários que não os procuram; é imprescindível que o profissional procure instigar os
alunos à leitura, apresentando meios dinâmicos de divulgação e incentivo. “No nosso entender o
bibliotecário escolar auxilia na formação do indivíduo, estimulando a comunicação [...]” (FARIAS;
CUNHA, 2009, p. 29).
Portanto, os bibliotecários, dentro das suas atribuições, exercem o papel de criar meios de
incentivar a leitura, agindo de forma interativa e dinâmica. A partir dessa concepção, Gomes e
Bortolin (2011, p. 158) salientam que “as atividades de promoção à leitura na escola contribuem
para que as crianças desenvolvam a curiosidade e busque novos conhecimentos, além de aproximálas da literatura”.
Esses profissionais podem contar com a mediação da leitura para realizar essas atividades
incentivadoras dentro do ambiente escolar, pois sua maior finalidade é proporcionar a comunicação
entre os livros e os alunos, estabelecendo elos entre as partes. Principalmente na biblioteca escolar,
a mediação é uma prática bastante eficaz, pois ela tem como premissas a dinamicidade e a
criatividade do mediador, o que proporciona uma atividade prazerosa aos mediados. “Na escola, por
exemplo, cabem aos mediadores de leitura, bibliotecários, professores, proporcionar aos educandos
iniciativas de leitura e essas iniciativas exigem dos mesmos uma postura dinâmica” (GOMES;
BORTOLIN, 2011, p. 158).
Educadores, de modo geral, precisam estar empenhados nessa missão de incentivo e
mediação da leitura, pois é papel fundamental da escola, formar leitores atuantes, pensantes e
questionadores.
Somos nós, bibliotecários e professores, os mais numerosos e frequentes mediadores
oficiosos de leitura. Nesse sentido, é importante que, como mediadores, tenhamos
conhecimentos teóricos sobre leitura e literatura, que nos dêem competência; conheçamos
os fundamentos de Psicologia, de Teoria do Conhecimento e outros mais, que nos dêem a
habilidade; dominemos o acervo disponível e que é lançado pelo parque editorial, que nos
dêem a segurança; que conheçamos a crítica da mídia, tanto quanto façamos a nossa própria
análise, que nos dêem a diretriz para a oferta, para o aconselhamento, para o processo de
mediação da leitura, enfim, tanto em nível particular quanto em nível coletivo (BARROS;
SILVA; BORTOLIN, 2006, p. 17).
Exercendo um importante papel para a disseminação da leitura dentro do ambiente
educacional e agindo como um educador, o bibliotecário tem a possibilidade de estimular nos
alunos o gosto pela leitura, mediante ao uso de atividades que fomentem a importância da leitura no
cotidiano do indivíduo. Nesse cenário, como mediador, ele estabelece um elo entre os livros e os
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leitores, ou seja, ele atua como o profissional “[...] que exerce atividades de aproximação entre
indivíduos e as obras de cultura [...]” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 242).
Marteleto (2009, p. 19) afirma que,
seja numa ou noutra acepção, a mediação implica sempre em acompanhamento, controle e
negociação por um “terceiro”, enquanto o sujeito que se beneficia de um processo de
mediação é levado a aprofundar o seu próprio ponto de vista e a descobrir outros. Sob o
ângulo da construção de sentidos, a noção se fundamenta no fato de que os sentidos não são
imanentes aos objetos, mas são construídos processualmente por sujeitos interpretantes,
apoiados em linguagens e dispositivos.
A mediação da leitura é uma atividade ampla, que oferece inúmeras possibilidades e que
pode ser trabalhada com diversos tipos de público, modificando apenas a maneira como ela é
aplicada.
Para garantir o maior sucesso nas iniciativas de mediação da leitura é importante que
bibliotecários e educadores estejam integrados nessa empreitada. Salienta-se, também, que
esses profissionais devem saber escolher a melhor forma de trabalhar com a leitura, de
acordo com o público que se deseja atingir. O fomento à leitura e a formação de leitores é
um caminho longo, e percorrê-lo não é tarefa fácil (RODRIGUES, 2013, p. 38).
Para trabalhar a mediação, o bibliotecário pode contar com alguns artifícios que facilitem a
sua tarefa. Apresentaremos, a seguir, a metodologia utilizada para a pesquisa e em seguida algumas
das atividades que podem ser trabalhadas pelo educador dentro do âmbito escolar.
3 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica; para tal, foi
feito um levantamento de materiais bibliográficos. A pesquisa foi baseada em artigos, livros e
demais materiais que contivessem um segmento ou aprofundamento do tema proposto.
Entende-se por pesquisa bibliográfica a revisão da literatura sobre as principais teorias que
norteiam o trabalho científico. Essa revisão é o que chamamos de levantamento
bibliográfico ou revisão bibliográfica, a qual pode ser realizada em livros, periódicos, artigo
de jornais, sites da Internet entre outras fontes (PIZZANI et al., 2012, p. 53).
Esta pesquisa se configura como qualitativa, sendo uma abordagem que permite o viés
subjetivo, em que a produção do conhecimento e as impressões adquiridas no percurso podem ser
consideradas importantes para a sua realização e resultados.
De modo diferente da pesquisa quantitativa, os métodos qualitativos consideram a
comunicação do pesquisador em campo como parte explícita da produção de conhecimento,
em vez de simplesmente encará-la como uma variável a interferir no processo. A
subjetividade do pesquisador, bem como daqueles que estão sendo estudados, tornam-se
parte do processo de pesquisa (FLICK, 2009, p. 25).
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Utilizou-se a pesquisa do tipo exploratória, que se caracteriza por ser uma pesquisa mais
simples, que se familiariza com o assunto abordado, possibilitando que o pesquisador possa
conhecer a fundo o objeto em estudo. “As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e [ideias], tendo em vista, a formulação de problemas
mais preciosos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1999, p. 43). O
planejamento da pesquisa exploratória é bastante flexível e seus resultados são capazes de mostrar
evidências e elucidar questões já conhecidas pelo pesquisador.
4 ATIVIDADES DE INCENTIVO À LEITURA NA BIBLIOTECA ESCOLAR
Além de tornar o acervo organizado, acessível e disponibilizá-lo aos seus usuários, é
importante que a biblioteca escolar busque desenvolver o estímulo à leitura, por meio de práticas
que apresentem a leitura e aproximem os alunos do cotidiano leitor.
Apenas a disponibilização de livros não é o suficiente para formar leitores [...]. É necessário
também investir na valorização social da cultura letrada e na formação de educadoresleitores, principalmente bibliotecários, professores e acadêmicos. A importância de espaços
de leitura, públicos ou abertos ao público, através de sua função de difusor e facilitador do
acesso ao conhecimento da cultura escrita, precisa ser resgatada como um dos elos mais
democráticos da reivindicada igualdade social (CORREA, 2011, p. 1).
Bibliotecários, professores e educadores, de modo geral, precisam estar atentos às novas
necessidades leitoras dos alunos, às novas formas de se incentivar a leitura e de introduzi-los no
universo leitor.
A missão de incentivar a leitura torna-se ainda mais desafiadora quando se trata das
crianças. Por haver entre esse público pouco ou nenhum contato com os livros, é missão do
educador, tornar os primeiros contatos prazerosos, possibilitando que a leitura seja introduzida de
maneira positiva na vida dos aprendizes, abrindo portas para uma trajetória de afinidade com a
leitura no cotidiano da criança e futuro adulto leitor.
A leitura não se refere ao simples ato de decifrar o código escrito nem de apenas saber
localizar e repetir conteúdos específicos de um texto de forma linear e literal. É importante
destacar essa ideia, pois durante muito tempo se acreditou que bastava estar alfabetizado ou
ser capaz de repetir o que estava escrito para se compreender qualquer texto. Hoje sabemos
que um leitor proficiente é aquele que sabe utilizar procedimentos de leitura, de modo a
reconstruir os sentidos do texto, dialogar com ele, concordar, discordar etc. (ARMELIN;
GODOY, 2011, p. 65).
Apenas saber decifrar o que está escrito não é suficiente para que o aluno seja um leitor
assíduo; é necessário também que ele saiba o que está sendo lido e entenda o motivo e/ou
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importância da leitura. A obrigatoriedade que muitas vezes é imposta aos alunos nas escolas acaba
afastando-os da leitura, já que eles a veem apenas como uma atividade curricular, sem nenhum
atrativo para seu cotidiano. É preciso desmistificá-la e trabalhar para que ela seja reconhecida para
além de suas características pedagógicas. A seguir, apresentaremos algumas atividades que podem
ser introduzidas na biblioteca escolar para estimular a leitura entre os estudantes.
Rodas de leitura
Essa atividade pode ser aplicada para diversas faixas etárias, bastando adequar o conteúdo
para a sua realização. A roda de leitura se torna mais produtiva quando os alunos já são
alfabetizados, pois o principal objetivo dessa atividade é debater o conteúdo lido entre os
participantes. Assim, o mediador indica um livro ou uma temática e solicita que os participantes
façam a leitura para que possam compartilhar suas considerações com o grupo. Desse modo, todos
poderão ver o livro de diferentes pontos de vista, concordando ou não, gerando interações em torno
da leitura abordada.
Concursos literários
Além de ser uma ótima atividade incentivadora da leitura, os concursos literários também
desenvolvem várias habilidades nos participantes, tais como a escrita, ampliação do vocabulário, a
criatividade, autonomia, o senso de responsabilidade e de competição, entre outras. A biblioteca
escolar pode desenvolver esses concursos ao longo do período letivo, alterando apenas o gênero
literário. Poesias, cordéis, desenhos, paródias, cartas, redações, entre outros gêneros podem fazer
parte da temática central do concurso.
Saraus literários
Os saraus têm ganhado cada vez mais espaço entre as atividades artísticas e pedagógicas das
escolas. O sarau literário desenvolve a leitura, a oratória, a memorização e a desinibição dos alunos.
Um sarau poético, por exemplo, pode ter como tema um poeta específico ou diversos poetas,
aproximando os participantes e o público espectador do gênero em questão.
Atividades como “A hora do conto” são umas das mais utilizadas para mediar a leitura na
biblioteca escolar. A seguir, abordaremos a contação de histórias e sua contribuição para o incentivo
e disseminação da leitura no ambiente escolar.
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4.1 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA BIBLIOTECA ESCOLAR
Não se sabe ao certo quando a contação de histórias foi introduzida no cotidiano dos seres
humanos; sabe-se que antes mesmo de se dar conta, eles já narravam histórias. Essa arte, portanto,
tem suas raízes nas sociedades ancestrais que encenavam histórias para realizarem seus rituais e
mitos e para difundirem seus conhecimentos e experiências adquiridas ao longo do tempo
(RAMOS, 2011).
Por necessidade, prazer, costumes e tradições, a contação de histórias já faz parte da nossa
sociedade a milênios e mesmo com o surgimento e avanço da escrita e novas configurações
tecnológicas é uma arte que vem se perpetuando, ao longo dos tempos.
A narração oral precisou se reinventar e se adequar a nova sociedade da informação em que
está inserida, visto que hoje os narradores de histórias têm outro perfil, assim como os ouvintes que
também têm características, desejos e objetivos distintos.
As escolas têm reconhecido a eficácia pedagógica dessa prática, passando a inseri-la como
atividade artística, cultural e educacional no ambiente escolar. Sendo uma atividade leve, divertida,
que entrete, encanta e emociona, a contação de histórias é bastante indicada para o início do
processo de mediação de leitura, pois, segundo Gomes e Bortolin (2011, p. 161), “em um processo
de mediação na escola, o primeiro contato da criança com a leitura deve iniciar-se de maneira
natural, fazendo com que a leitura seja mais uma de suas brincadeiras”.
O bibliotecário, assumindo seu papel de mediador da leitura, pode encontrar na narrativa
uma importante ferramenta para a realização do seu trabalho. Trabalhando em parceria com os
professores e adaptando suas atividades às necessidades do currículo escolar, o bibliotecário exerce
seu papel de educador, sendo fundamental no processo de aproximação e inserção dos estudantes no
universo da leitura.
A contação de histórias entra nessa empreitada, sendo uma atividade que busca trabalhar
dentro do contexto exigido, histórias e temas que não só aproximem os alunos da leitura, mas os
faça refletir sobre a história em questão, e os temas abordados, que muitas vezes vão além das
literaturas clássicas já conhecidas. As histórias também abordam temas cotidianos, pequenos
conflitos reais e questões sociais.
Atualmente, a literatura direcionada à criança conta, além dos clássicos, de textos ditos
realistas. Os textos realistas, conquanto se querem diferentes dos clássicos ao substituir
fadas, bruxas e fantasias por pessoas e fatos cotidianos, também seduzem porque
comunicam as vivências das crianças em uma mensagem essencialmente artística
(CALDIN, 2002, p. 34).
�32
Dentro da biblioteca escolar, as narrativas orais podem tornar-se uma das maiores aliadas do
bibliotecário na efetivação do seu papel como incentivador da leitura, já que, geralmente, é na
escola onde as crianças dão seus primeiros passos rumo ao universo leitor. Sendo uma das maneiras
mais conhecidas e eficazes de se mediar a leitura, a presença desse profissional dentro da biblioteca
escolar se torna indispensável. O bibliotecário pode trabalhar com a contação de histórias de
diversas maneiras, usando sua criatividade e personalidade para dar vida a essa prática. “Contar
histórias é um experiência de interação. Constitui um relacionamento cordial entre a pessoa que
conta e os que as ouvem. A interação que se estabelece aproxima os sujeitos envolvidos”
(SCHNEID, [200?], p. 4).
A hora do conto é uma das atividades mais praticadas pelos educadores para o incentivo à
leitura em sala de aula, principalmente na educação infantil, quando as crianças estão estabelecendo
seus primeiros contatos com a leitura. “[...] Essa atividade pode despertar na criança a curiosidade
sobre o mundo da literatura infantil, com histórias fantásticas que contribuem para melhor
compreender a vida e também adquirir o gosto pela leitura” (GOMES; BORTOLIN, 2011, p. 164).
O bibliotecário também pode trabalhar com essa atividade na biblioteca, estabelecendo horários
extra-sala de aula para receber as crianças e partilhar histórias com elas.
A contação de histórias também pode tratar de temas do cotidiano, podem ser atribuídas
temáticas a esses momentos, em consonância ao assunto abordado pelo professor em sala de aula.
“Ouvindo histórias, crianças e adultos podem apresentar reações que manifestam seus interesses
revelados ou inconscientes e conseguem vislumbrar nas narrativas, soluções que amenizam tensões
e ansiedades” (SCHNEID, [200?], p. 3).
Se o professor está trabalhando o tema inclusão com seus alunos, por exemplo, o
bibliotecário pode escolher livros que tratem dessa questão e de maneira lúdica e dinâmica trabalhar
a inclusão social, a acessibilidade e as diferenças com as crianças.
Para personalizar e tornar a atividade ainda mais atrativa, os contadores de histórias podem
contar com algumas técnicas e acessórios no momento da contação. “A entonação da voz, fazer as
pausas que fazem parte da história, diferenciar vozes de acordo com os personagens, são algumas
das artimanhas utilizadas” (RODRIGUES, 2013, p. 35).
O uso de figuras e imagens, do próprio livro ou não, podem ajudar a ilustrar as histórias e
aproximar ainda os mais ouvintes do cenário do texto. Outro acessório bastante relevante são os
fantoches; eles tornam a história mais dinâmica e prendem a atenção da criança, principalmente
com relação aos personagens. Para tornar esse momento ainda mais atrativo, podem ser usados os
mais variados tipos de apetrechos no momento da contação, tais como fantasias, aventais coloridos,
dedoches, objetos etc.
�33
A contação de histórias não contempla somente o público infantil; ela também pode ser
trabalhada com adolescentes, tratando de temáticas do cotidiano e aproximando-os da realidade, por
meio das histórias.
A contação de histórias é um vínculo que gera entre as pessoas um contato humano mais
sensível no contexto social, por ser uma anfitriã acolhedora do ser humano que se diz
tímido e, norteadora do que se diz paroleiro, ela incentiva a todos que a ouvem a buscarem
novas respostas para os conflitos tratados num conto, numa poesia ou num poema [...]
(SOUSA, 2016, p. 13).
Para esse tipo de público, narração de contos e crônicas pode ser bem interessante. O
contador de histórias pode versar entre autores clássicos renomados e autores contemporâneos que
fazem sucesso entre os jovens. Além disso, o bibliotecário pode trabalhar a dramatização com os
alunos, fazendo adaptações da história e ajudando-os a encenar. Além de aproximá-los da leitura,
essa atividade desenvolve a oratória, a postura diante do público, a memorização e o improviso.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo evidenciar a importância da biblioteca no ambiente escolar
e o bibliotecário como mediador de leitura, assumindo um novo perfil criativo, dinâmico e lúdico,
tendo a contação de histórias como uma das principais atividades nesse processo de mediação da
leitura.
É necessário considerar que é na escola onde, geralmente, as crianças têm os primeiros
contatos com os livros; sendo assim, desenvolver atividades que tornem essas experiências iniciais
satisfatórias é de grande relevância para a formação dos futuros leitores.
Nesse contexto, é imprescindível que o bibliotecário escolar esteja junto aos demais
educadores no processo de inserção ao universo leitor. É essencial que o papel de incentivador e
disseminador da leitura exercido por ele, esteja acompanhado de práticas pedagógicas que ajam
conjuntamente com o currículo escolar, tratando não somente de temas clássicos, mas de temas
cotidianos e vivências atuais.
Por meio de uma revisão de literatura baseada em artigos, livros e outros materiais
bibliográficos, foi possível constatar que a contação de histórias no ambiente escolar é uma prática
bastante efetiva para incentivar a leitura. As escolas têm utilizado essa arte para aproximar os
alunos do mundo literário, aguçando seu imaginário, causando fascínio, despertando a curiosidade e
desenvolvendo neles habilidades leitoras, tais como senso crítico, autonomia, ampliação do
vocabulário, oratória, postura ante as situações do cotidiano, entre outras.
�34
Sabe-se que o incentivo à leitura tem sido um assunto bastante abordado por educadores,
pesquisadores e estudantes; por isso muitos ensaios, trabalhos e artigos são diariamente publicados
com enfoque nessa temática. Contudo, apesar da gama de informações acerca do tema, não se pode
considerá-lo esgotado, já que a informação e a sociedade leitora estão em constante modificação.
Por fim, conclui-se que a leitura é fundamental para o desenvolvimento pessoal, social e
cognitivo do ser humano, e que a contação de histórias aplicada ao contexto escolar pode aproximála dos alunos e ajudá-los a se descobrirem leitores. Salienta a importância da inserção do
bibliotecário nas práticas leitoras, principalmente, no âmbito da contação de histórias, uma vez que
essa arte possibilita a dinamização do acervo literário da biblioteca ao mesmo tempo em que auxilia
na formação de leitores.
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�36
CAPÍTULO III
EMPREENDEDORISMO SOCIAL NA BIBLIOTECONOMIA: ANÁLISE DA ATUAÇÃO
BIBLIOTECÁRIA EM AÇÕES COM FOCO NA AGENDA 2030
Daniela Spudeit
Claudia Souza
1 INTRODUÇÃO
John Wood ocupava uma importante função na área financeira da Microsoft e depois de
muitos anos se dedicando com afinco à empresa, por orientações médicas, tirou um período sabático
e programou uma viagem ao Himalaia. Em meio a uma fase de autodescobrimento e reflexões sobre
seus objetivos de vida, John percebeu que precisava mudar. Embora se espelhasse em Bill Gates,
sua vida precisava de outro sentido. Na viagem viu muitas escolas no Nepal sem uma estrutura
mínima de educação, de acesso à informação e cultura. Quando voltou a Nova York, criou uma
campanha para arrecadar livros e montar bibliotecas nas escolas do Himalaia para beneficiar toda
população, conforme relatado por ele (WOOD, 2007).
Para dar um novo significado a sua vida, John largou a profícua carreira na Microsoft e em
2000 criou a Room of Road, se transformando num importante ativista social. Essa Organização não
Governamental (ONG) tem a educação como foco de plataforma social e por meio dessa instituição
John tem empreendido importantes ações em toda Ásia, ficando conhecido como “herói asiático”
pela Revista Time e recebeu três vezes o Prêmio Capitalista Social da Fast Company/Monitor
Group. Essa história é um típico caso de empreendedorismo social narrada no livro “Saí da
Microsoft para mudar o mundo”, publicado em 2007 pela Editora Sextante.
No livro “Doar: como cada um de nós pode mudar o mundo”, o autor Bill Clinton informa
que Wood já construiu mais de 287 escolas e 3600 bibliotecas em vários países da Ásia, e expandiu
para África do Sul e América Latina a partir de 2010. Além dele, Clinton (2008) cita o caso de
Sheri Saltzberg e Mark Grashow, profissionais da área de Saúde Pública nos Estados Unidos que
em uma viagem de lazer para Zimbábue, na África, viram a realidade das crianças de lá e tiveram a
ideia de criar uma ONG para melhorar as escolas e toda estrutura educacional (bibliotecas,
laboratórios etc.), visando proporcionar mais qualidade de ensino e aprendizagem para as crianças.
�37
Com base nesses exemplos em que o empreendedor social é aquele que não mede esforços
para captar recursos por uma causa social que beneficie um grupo de pessoas, seja uma comunidade
local ou regional, apresenta-se esta pesquisa, com o intuito de apontar casos de bibliotecários que
podem ser considerados empreendedores sociais no Brasil.
Schneider e Castelo Branco (2012, p. 19) definem empreender como o “ato de tentar,
experimentar, decidir-se a fazer alguma coisa, resolver, pôr em execução”. Ou seja, remete à ação e
pode-se dizer que empreendedores são aqueles que realizam algo, mobilizam recursos e correm
riscos para colocar suas ideias em prática. Schneider e Castelo Branco (2012, p. 22) definem o
empreendedor como “aquele conectado, bem relacionado, atento e dinâmico, capaz de ver o que os
outros não veem [...], tem uma relação profunda com o que faz e não aprecia perder oportunidades”.
Partindo dessa premissa do empreendedor ser definido como realizador e mobilizador, é
interessante conhecer casos de pessoas que tem esse perfil, porém, no caso do empreendedor social,
há uma preocupação além do capitalismo ou acumulação de lucro, como vemos grandes
empresários que têm esse perfil empreendedor.
Dessa forma, Oliveira (2004) explica que o
empreendedorismo social é uma forma coletiva e integrada de produzir bens e serviços para a
comunidade local com o objetivo de desenvolver soluções para problemas sociais.
Empreendedorismo é "o processo de somar algo novo [criatividade] a algo diferente
[inovação] com a finalidade de criar riqueza para o indivíduo e acrescentar valor à sociedade"
(THOMPSON, 2002, p. 413). É aquela pessoa que habitualmente cria e inova, desenvolvendo
alguma coisa de reconhecido valor, em torno de uma oportunidade. Muitos empreendedores sociais
são pessoas com qualidades e conhecimentos e podem ser associados, por nós, a empresários que
operam na comunidade e estão mais preocupados em ajudar as pessoas do que "ganhar dinheiro".
Em muitos casos, eles mudam as vidas das pessoas porque abraçam causas sociais importantes
(THOMPSON, 2002).
Nas áreas da Saúde e Meio Ambiente, é mais comum conhecer casos de pessoas que agem
em prol do coletivo e fundam instituições com os objetivos sociais. Entretanto, esta pesquisa foca
nas iniciativas educacionais e culturais desenvolvidas por bibliotecários que são consideradas
exemplos de empreendedorismo social. Essas ações contribuem para o fortalecimento da
responsabilidade social da profissão, visibilidade das ações da Biblioteconomia para a sociedade e
também contribui para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030
estipulados pelas Organizações das Nações Unidas (ONU)2.
2
ORGANIZAÇÃO
DAS
NAÇÕES
<https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>.
UNIDAS.
Agenda
2030.
2015.
Disponível
em:
�38
A Agenda 2030 elenca 17 objetivos organizados em 169 metas e compõem um plano de
ação criado em 2015 por representantes dos 193 países membros da ONU pensando na
transformação do mundo para um desenvolvimento mais sustentável. Dentro desse plano de ação,
os bibliotecários podem contribuir para o alcance de todos os 17 objetivos, entretanto, enfatiza-se o
objetivo 4 (Educação e Qualidade) e objetivo 10 (Redução das Desigualdades) como os prioritários
a serem realizados, pois visam o desenvolvimento de empreendimentos sociais para a melhoria no
acesso, uso e disseminação da informação para a efetiva construção do conhecimento e formação de
uma sociedade mais reflexiva, crítica, consciente e democrática. Dessa forma, este trabalho objetiva
apresentar alguns casos de bibliotecários considerados empreendedores sociais para retratar como
desenvolvem seu trabalho a partir dos benefícios gerados para as comunidades mais vulneráveis em
que atuam, contribuindo para a qualidade de vida cultural, econômica e ambiental no âmbito da
sustentabilidade social.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O fenômeno de empreendedorismo social surge num contexto de desafios, crises, mudanças
sociais, econômicas e ambientais que caracterizam a atual sociedade. É importante compreender
como ocorreu desde o início nos Estados Unidos da América (EUA) e como esse fenômeno
reverbera para a Biblioteconomia.
2.1 HISTÓRICO SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Parente e Quintão (2014, p. 13) explicam que “o conceito de empreendedorismo social
encontra as suas raízes nos EUA, na década de 1980, nas áreas disciplinares da economia e da
gestão, e o termo empreendedor social vulgariza-se nos anos 1990”.
Na década de 1990, a perspectiva teórica do setor não lucrativo internacionalizou-se através
do The Johns Hopkins Comparative Nonprofit Setor Project, iniciado em 1991. Este
projeto, encabeçado por Lester Salamon da The John Hopkins University, surge da
crescente importância das organizações de caráter associativo e não lucrativo em áreas
como a educação, saúde, serviços sociais, serviços culturais e recreativos, numa versão
funcionalista, inspirada numa perspectiva econômica do papel destas organizações nas
sociedades atuais. Em meados da década de 1990, este projeto começa a ser replicado,
abrangendo hoje 45 países o que permitiu desenvolver alguns dos primeiros estudos de
âmbito nacional e possibilitou as primeiras comparações internacionais. Estes estudos
vieram contribuir para uma maior visibilidade do setor em termos econômicos e políticos,
na medida em que possibilitaram a quantificação do número de trabalhadores (remunerados
ou voluntários), horas de trabalho, receitas e peso das diversas fontes de financiamento
(governo, filantropia, vendas) (PARENTE; QUINTÃO, 2014, p. 15).
�39
Dessa forma, percebe-se que o empreendedorismo social surgiu a partir da incapacidade das
instituições governamentais em solucionar novos problemas sociais, visíveis nos diferentes tipos de
políticas sociais setoriais (ou na ausência delas) e particularmente nas restrições orçamentais que
fomentam iniciativas da sociedade civil na procura de práticas alternativas que respondam às
necessidades sociais não atendidas nem pelo Estado, tampouco pelo mercado, conforme colocado
por Parente et al. (2011). Os mesmos autores defendem que:
É consensual que o conceito de empreendedorismo social nasce em contexto americano e
que não obstante as divergências entre as escolas que se debruçam sobre o fenômeno, fruto
dos contextos sociais, políticos e econômicos diferenciados, todas contribuíram quer para o
crescimento do interesse pelo tema quer para a consensualização da necessidade de
encontrar formas inovadoras no uso de métodos de negócio adequados à resolução de
problemas sociais (PARENTE et al., 2011, p. 270).
Nesse sentido, Silva, Moura e Junqueira (2015) explicam que, nas últimas décadas, as
pessoas e organizações têm buscado novas formas de atuar com foco no impacto social. É nesse
contexto que emergem as discussões sobre empreendedorismo social, porém isso não é novo, pois
antes da utilização do termo já havia iniciativas que poderiam se enquadrar como
empreendedorismo social. A utilização do termo e o aumento de empreendimentos sociais se
tornaram foco de diversos estudos, em face das organizações que atuam no segmento social
buscarem a sustentabilidade financeira.
O empreendedorismo social chega ao Brasil, justamente quando começa a popularização do
empreendedorismo nos EUA, na década de 1990. Nesse momento, o contexto era de crescente
problematização social: a redução dos investimentos públicos no campo social, o aumento das
organizações do terceiro setor e da participação das empresas no investimento e nas ações sociais
(OLIVEIRA, 2004).
Atualmente,
o
empreendedorismo
social
se
apresenta
como
um
conceito
em
desenvolvimento, mas com características teóricas, metodológicas e estratégicas próprias,
sinalizando diferenças entre uma gestão social tradicional e uma empreendedora.
2.2 DESENVOLVIMENTO DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Para entender como funciona, Baggio e Baggio (2014, p. 30) explicam que “o processo de
empreendedorismo social exige principalmente o redesenho de relações entre comunidade, governo
e setor privado, com base no modelo de parcerias”. Para tanto, o resultado final desejado é a
promoção da qualidade de vida social, cultural, econômica e ambiental sob a ótica da
�40
sustentabilidade. Hart e Milstain (2004) detalham que a sustentabilidade global tem sido definida
como a habilidade para satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das
futuras gerações para satisfazerem suas necessidades. Similarmente, o desenvolvimento sustentável
é um processo para se alcançar o desenvolvimento humano de uma maneira inclusiva, interligada,
igualitária, prudente e segura. Dentro dessa linha que Baggio e Baggio (2014, p.30) esclarecem que
“o empreendedorismo social é um misto de ciência e arte, racionalidade, intuição, ideia e visão,
sensibilidade social e pragmatismo responsável, utopia e realidade, força inovadora e praticidade”.
Para eles, o empreendedor social subordina o econômico ao humano, o individual ao coletivo e
carrega consigo um grande sonho de transformação da realidade atual.
Os autores explicam que o empreendedorismo social difere do empreendedorismo
propriamente dito em dois aspectos: não produz bens e serviços para vender, mas para solucionar
problemas sociais, e não é direcionado para mercados, mas para segmentos populacionais em
situações de risco social (exclusão social, pobreza, miséria, risco de vida). Nesse sentido,
Hesselbein et al. (1998, p. 53) enfatizam que o empreendedor social “transforma processos no setor
social, também com a perspectiva de extrair um rendimento maior. Aqui, no entanto, o ‘produto’
não é nem uma mercadoria nem um serviço (como nos negócios), nem uma regulamentação (como
no governo), mas um ser humano transformado”. Para eles (empreendedores bem sucedidos),
qualquer que tenha sido a questão, a atração não foi a necessidade existente, por si própria, mas a
perspectiva de obter resultados, de realmente produzir uma mudança em circunstâncias e vidas
humanas. Essa é uma característica diferenciadora dos empreendedores sociais: não se engajam em
caridade, mas em transformação.
Atualmente,
o
empreendedorismo
social
apresenta-se
como
um
conceito
em
desenvolvimento, mas com características, princípios e valores próprios, sinalizando diferenças
entre uma gestão social tradicional e uma empreendedora. Ou seja, é uma forma de solucionar
problemas de pobreza e exclusão social. Inicialmente, era uma derivação do empreendedorismo
empresarial e foi fortemente influenciado pela ação das empresas privadas no campo social e
público, assumindo, contudo, as suas próprias estratégias, num contexto de renascimento do terceiro
setor e da necessidade e procura de ações de grande impacto e mudanças efetivas (BAGGIO,
BAGGIO, 2014).
2.3 PERFIL E CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL
André Neto et al. (2013) apresentam características entre o empreendedor privado,
empreendedor social empresarial e o empreendedor social enfatizando que o empreendedor social
�41
foca no coletivo e integrado com foco na busca de soluções para problemas sociais a partir de
medidas de desempenho com impacto e transformação gerando capital social, inclusão e
emancipação. Na literatura, o empreendedor social também é visto como empreendedor sustentável
oposto ao empreendedor mais capitalista que só visa lucro a qualquer custo, de acordo com André
Neto et al. (2013).
Schneider e Castelo Branco (2012) enfatizam que criar um negócio é difícil, por isso realizar
isso com a preocupação de reduzir desigualdades sociais é desafiador, exigindo maior criatividade e
inovação na busca de soluções comuns que visem o desenvolvimento coletivo e sustentável. A
sustentabilidade deve ser pautada em uma consciência social, reconhecimento do valor da
diversidade cultural e política, ênfase nas prioridades voltadas às necessidades básicas, à qualidade
de vida e à inclusão social, segundo Krause (1997).
O empreendedorismo social contribui para formação da cidadania, emergindo como uma
forma de enfrentamento dos desafios sociais, econômicos e ambientais insuficientemente atendidos
pelo Estado, conforme enfatizado por Capela (2014). Para essa autora, “a prática se confunde e
diferencia do empreendedorismo privado, da responsabilidade social empresarial e do ativismo
social, evidenciando tratar-se de um conceito em construção, mas com características já
definidoras”. Ela explica que:
Ao buscar essa definição e distinção, encontra-se que o empreendedorismo privado, apesar
de ter o objetivo de suprir necessidades humanas, tem o foco no mercado e a medida de seu
desempenho é o lucro. A confusão ocorre porque o empreendedorismo social se apropriou
do termo empreendedorismo, pois incorporou suas características em um espaço cuja
finalidade não é a da acumulação da riqueza ou lucro. A responsabilidade social
empresarial traz para o negócio a perspectiva de longo prazo, a inclusão sistemática da
visão e das demandas das partes interessadas e a transição para um modelo em que os
princípios, a ética e a transparência precedem a implementação de processos, produtos e
serviços. Seu objetivo principal, no entanto, é agregar valor estratégico ao negócio e
atender expectativas do mercado e da percepção da sociedade/consumidores. O ativismo
social ou político também é provocado pela constatação de desequilíbrio social, mas se
diferencia pela orientação da ação transformadora que é focada em influenciar outros, como
os governantes, instituições não governamentais, consumidores ou trabalhadores. Embora
exija do ator social as mesmas características de inspiração, criatividade e força, a medida
do desempenho está relacionada à mobilização alcançada, mais do que à intervenção direta
na promoção do equilíbrio. O uso de um conceito pelo outro ocorre pela mescla de
orientações que cruzam objetivo social, associado às instituições sem fins lucrativos, com
uma vertente empreendedora, aliada ao caráter dinâmico e inovador do negócio. Por outro
lado, embora seja importante conceituar adequadamente (CAPELA, 2014, p. 68).
No que tange ao perfil do empreendedor social, Heis (2006) defende que a primeira
determinante do perfil são os valores humanos nos quais ele deve defender a cooperação, a
solidariedade, a equidade, a competência, a responsabilidade e o rigor econômico. Outra
característica do empreendedor social é o conhecimento que ele deve ter de história, geografia e a
evolução da humanidade, para que possa entender as diferenças culturais existentes na sociedade
brasileira, as quais lhe permitam enfrentar os efeitos da exclusão social, como a violência urbana, a
�42
exploração infantil, a marginalização dos idosos, os preconceitos e o narcotráfico. O empreendedor
social deve ser uma pessoa com habilidades gerenciais que valoriza tanto a rotina operacional
quanto a inovação organizacional. E ainda, precisa ser capaz de conciliar a parte operacional com os
projetos, que constituem a atividade-fim das instituições sociais, justificando a sua existência.
Apesar dos termos serem relativamente novos, empreendedores sociais e ações de
empreendedorismo social podem ser encontrados ao longo da história em diferentes áreas e
iniciativas. Ao fazer uma pesquisa sobre empreendedorismo social na base SCIELO 3, uma das
bases de dados mais completas existentes que agrupa publicações de várias áreas do conhecimento,
a busca usando as palavras “empreendedorismo e empreendimento social” trouxe 144 artigos, cujas
publicações concentram-se, principalmente, no Brasil (98), Colômbia (21) e Portugal (21), sendo
sete em língua portuguesa, 22 em inglês e 20 em espanhol.
A primeira publicação foi em 2004 e o ano que mais teve publicações foi 2012 com o
registro de 19 artigos; em segundo lugar foi no ano de 2015 com 17 artigos, sendo que 111
trabalhos são focados na área de Ciências Sociais Aplicadas, retratando a importância científica que
existe nessa área para pesquisas sobre tal temática. Embora esse número seja expressivo, o tema
ainda carece de maior aprofundamento.
2.4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL NA BIBLIOTECONOMIA
Na Biblioteconomia, ao pesquisar na Base de dados de Periódicos em Ciência da
Informação (BRAPCI)4, o termo “empreendedorismo social” como estratégia de busca trouxe como
resultado apenas dois artigos. Porém, nenhum dos dois foi direcionado para a área de
Biblioteconomia. Ao colocar o termo “empreendedor social”, apareceu na busca o artigo de Josiane
Fonseca da Cunha, publicado na Revista ACB, em 2009, o qual apresenta o histórico das atividades
sociais praticadas pela Faculdade São Francisco de Assis, desde o ano de 2004. A autora detalha as
ações realizadas pela faculdade em instituições carentes de Porto Alegre e região metropolitana,
doando alimentos, brinquedos e alegria para algumas pessoas, em sua maioria, crianças, e explica a
atividade teatral, cujo elenco era formado por colaboradores da biblioteca.
O fato de nos resultados não apresentar trabalhos indexados com a palavra
“empreendedorismo social” também mostra que as ações desenvolvidas - muitas vezes de forma
3
SCIELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros e está
disponível em: <http://www.scielo.org/php/index.php>.
4
BRAPCI é uma base de dados de Periódicos em Ciência da Informação publicada no Brasil desde 1972 e encontra-se
disponível em: <http://www.brapci.inf.br/>.
�43
voluntária para beneficiar comunidades vulneráveis - podem até existir, porém não são tão
disseminadas em canais de comunicação como revistas científicas. Em eventos da área como no
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação e no Painel de Biblioteconomia em
Santa Catarina é possível encontrar alguns relatos de práticas sociais.
Mesmo assim, percebe-se que na área de Biblioteconomia existe uma lacuna de estudo que
relacione esses relatos de experiências sobre empreendedorismo social. É importante que haja maior
aprofundamento sobre a temática para publicizar as práticas culturais e educacionais que são
realizadas por meio de parcerias e voluntariado de diferentes profissionais.
Pensando nisso, a comissão organizadora do III Fórum de Inovação e Empreendedorismo na
Biblioteconomia (FIEB)5, que ocorreu em setembro de 2018, em Campo Grande (Mato Grosso do
Sul), escolheu como
temática “Empreendedorismo Social” para dar visibilidade aos
empreendedores sociais na área e oportunizar discussões e aprendizagens sobre essa importante
temática e alinhar essas iniciativas aos objetivos da Agenda 2030, principalmente nas áreas de
educação e cultura em que os profissionais da Biblioteconomia tem as competências requeridas para
desenvolver projetos sociais.
Bastos e Ribeiro (2011), ao relacionar a educação e empreendedorismo social como forma
de transformar os cidadãos, enfatizam que essa proposta coaduna com a linha pedagógica de Paulo
Freire (2001), que entende as mudanças da realidade a partir da participação dos sujeitos que a
constituem.
Imaginar horizontes de possibilidades; sonhar coletivamente é assumir a luta pela
construção das condições de possibilidade. A capacidade de sonhar coletivamente, quando
assumida na opção pela vivência da radicalidade de um sonho comum, constitui atitude de
formação que orienta-se não apenas por acreditar que as situações-limite podem ser
modificadas, mas fundamentalmente, por acreditar que essa mudança se constrói constante
e coletivamente no exercício crítico de desvelamento dos temas-problemas sociais que as
condicionam (FREIRE, 2001, p. 30).
É nesse viés que o empreendedorismo social surge para protagonizar a construção desse
“sonho coletivo”, pois Freire (2001) sempre convida, a partir da prática educativa, a “(trans)formar
uma geração de alunos que tenham nítida percepção do contexto social, político, tecnológico da
realidade excludente e, ainda, da possibilidade de gerar mudanças a partir de ações coletivas,
conscientes, transformadoras” (FREIRE, 2001, p. 30).
5
Fórum de Inovação e Empreendedorismo na Biblioteconomia. Disponível em: <www.fieb.net.br>.
�44
A partir desse olhar de Paulo Freire, percebe-se que os empreendedores sociais são pessoas
preocupadas com as questões sociais e, por isso, realizam trabalho na comunidade a qual estão
inseridos, em que o ganho maior é o desenvolvimento das pessoas. Mas, para que isso aconteça, são
necessárias, além da boa vontade, criatividade e inovação.
Dentro dessa perspectiva da responsabilidade social na Biblioteconomia e alinhada à missão
social defendida por Ortega y Gasset (2006, p. 13), o bibliotecário:
Ao exercer uma profissão deve comprometer-se a fazer o que a sociedade necessita. […].
Para determinar a missão do bibliotecário, é preciso partir […] da necessidade social a que
serve vossa profissão. E esta necessidade, como tudo que é propriamente humano, não
consiste em uma magnitude fixa, mas é, essencialmente, variável, migratória, evolutiva; em
suma histórica.
Assim, consta também no juramento da Biblioteconomia, disposto pelo Conselho Federal
de Biblioteconomia (1966), que enfatiza a responsabilidade social quando cita: “Prometo tudo fazer
para preservar o cunho liberal e humanista da profissão de Bibliotecário, fundamentado na liberdade
de investigação científica e na dignidade da pessoa humana” (CFB, 1966). Shera (1977, p. 11),
importante pesquisador da Ciência da Informação, também salienta a função social da
Biblioteconomia, afirmando que: “seja qual for o nível intelectual em que deve operar, o foco da
Biblioteconomia deve ser para aumentar a utilidade social dos registros gráficos [...]”. Também
acredita que a Biblioteconomia “[...] deve servir à sociedade em toda extensão de suas
potencialidades, deve ser muito mais do que um monte de truques para encontrar um determinado
livro numa estante particular, para um consulente particular”.
Com essa intenção, é possível perceber alguns trabalhos publicados que retratam a
Biblioteconomia com uma vertente mais social, chamada de “Biblioteconomia Social”. Souza
(2001) propôs um estudo amplo para produzir uma “teoria biblioteconômica-humana” para o Brasil.
Para ele, a perspectiva humana da Biblioteconomia, traduzida aqui pela expressão Biblioteconomia
Social, “[...] exige pesquisa nacional, com investimento em capacitação de pesquisadores capazes
de entender, explicar, e ensinar uma Biblioteconomia para a autonomia nacional” (SOUZA, 2001,
p. 44).
Lindemann (2014, p. 45) procurou fazer este estudo por meio de uma pesquisa bibliográfica
e documental sobre a temática e mostrou que “embora o termo Biblioteconomia Social em si não
seja muito familiar dentro da área no Brasil, ele é na verdade o caminho de um novo conhecimento
respaldado no conhecimento tradicional já existente como prática bibliotecária, mas sem a
compreensão de conceitos”. De acordo com a autora, existem Programas de Pós-Graduação
(UNAM, México), cursos e oficinas (Universidade de Córdoba, Argentina), contemplando
exclusivamente essa temática, entre outras iniciativas.
�45
Spudeit e Moraes (2018) publicaram coletânea de textos sobre biblioteconomia social em
que vários autores do país relatam pesquisas e práticas voltadas para ação social, sendo
considerados os diferentes perfis de empreendedores sociais dentro da Biblioteconomia.
Silva, Moura e Junqueira (2015, p. 122) corroboram e apontam a necessidade de atender as
demandas da sociedade e “abre-se uma nova perspectiva no enfrentamento dos problemas sociais,
seja pelo empreendedorismo social ou por outras formas que assumam as organizações da
sociedade civil”. Esse campo demanda não só uma ação inovadora, mas também a reconfiguração
dos papéis dos diversos atores sociais sejam eles, as próprias organizações, o Estado e a iniciativa
privada. Resta identificar casos de bibliotecários que podem ser considerados empreendedores
sociais, que é o foco desta pesquisa, cujos procedimentos metodológicos são apresentados a seguir.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica em relação aos objetivos e quanto aos
procedimentos é descritiva. Para desenvolver a pesquisa, apresentam-se fundamentos teóricos sobre
empreendedorismo, empreendedorismo social, sustentabilidade, Agenda 2030 e função social da
Biblioteconomia. Para esse levantamento, foi feita uma pesquisa em artigos científicos indexados
nas bases BRAPCI e SCIELO, além de consultar a literatura da área. Segundo Gil (2010), a
principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura
de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
Para relatar as experiências de bibliotecários considerados empreendedores sociais no Brasil,
foi feita uma coleta via Facebook no grupo “Bibliotecários do Brasil”, que congrega mais de doze
mil profissionais no país. Após identificar algumas iniciativas, entrou-se no site ou fanpage dos
projetos e também das pessoas envolvidas para conhecer mais as ações que realizavam. Para este
relato, focou-se em alguns casos para demonstrar as possibilidades da atuação do profissional como
empreendedor social na Biblioteconomia e fazer ações focadas nos objetivos da Agenda 2030 da
ONU.
�46
4
CASOS
DE
EMPREENDEDORISMO
SOCIAL
DESENVOLVIDOS
POR
BIBLIOTECÁRIOS
Na Biblioteconomia e Ciência da Informação, o termo empreendedorismo social ainda não é
usado, porém encontra-se em anais de eventos e artigos de revistas, diferentes trabalhos que
discorrem sobre reflexões e ações voltadas à geração de benefícios a toda sociedade, seja iniciativa
local ou regional, no âmbito das organizações não governamentais, setor privado ou público. Essas
práticas são tratadas por Moraes (2018) como ações de “responsabilidade social bibliotecária”. Para
a autora, o tema da responsabilidade social “torna-se cada vez mais pauta do dia não apenas na área
da administração de empresas, mas em várias outras áreas do conhecimento, principalmente no
campo da educação” (MORAES, 2018, p. 49). Nesse cenário educacional, “encontram-se os
bibliotecários, profissionais da informação e da cultura, os quais buscam adentrar os terrenos das
escolas e atuar junto aos professores possibilitando acesso à informação, à cultura e alfabetizando
os alunos no que concerne ao mundo informacional” (MORAES, 2018, p. 52).
No viés da responsabilidade social bibliotecária, emerge o empreendedorismo social como
forma de colocar o documento (um dos focos da Biblioteconomia) em um segundo plano e focar
nas necessidades de acesso e uso da informação como norte principal das iniciativas dos
profissionais da Biblioteconomia. A essa postura, Moraes (2018, p.60) chama para um perfil de
bibliotecário “mais crítico e consciente de que seu trabalho envolve algo muito além da organização
e administração dos materiais de informação; de que, na realidade, ele é um mediador, um educador
do acesso e do uso da informação, que surge o que denominamos de visão crítica da
responsabilidade social bibliotecária”.
Dentro dessa perspectiva que as ações empreendedoras e socialmente responsáveis dos
profissionais da Biblioteconomia vêm corroborar com o cumprimento dos objetivos da Agenda
2030, em especial dos objetivos 4 e 10 que dizem respeito à qualidade da educação e também à
redução das desigualdades, compromisso priorizado pela Federação Internacional de Associações
de Bibliotecas e Instituições (IFLA)6, que é o organismo internacional que representa os interesses
das bibliotecas e serviços de informação e de seus usuários.
No caso do objetivo 4 que se relaciona a assegurar a educação inclusiva, equitativa e de
qualidade visando promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, a IFLA
(2017) coloca que: as bibliotecas devem cumprir esse objetivo mediante a provisão de equipes
dedicadas que apoiem a educação na primeira infância (educação continuada), o acesso à
6
Disponível em: <https://www.ifla.org/files/assets/hq/topics/libraries-development/documents/sdgs-insert-pt.pdf>.
�47
informação e à pesquisa para estudantes em todo o mundo, promovam espaços inclusivos onde os
custos não sejam uma barreira para adquirir novos conhecimentos e habilidades. É possível que os
profissionais da Biblioteconomia promovam atividades e projetos voltados à formação de leitores,
diversidade cultural, multiculturalismo, desenvolvimento da competência em informação, entre
outros.
Em relação ao objetivo 10, diz respeito à redução das desigualdade dentro dos países e entre
eles. Para a IFLA (2017), as bibliotecas podem promover espaços neutros e agradáveis que
permitam a aprendizagem para todos, incluindo os grupos marginalizados, como os imigrantes, os
refugiados, as minorias, os povos indígenas e pessoas com deficiência, além do acesso equitativo à
informação que promova a inclusão social, política e econômica. Torna-se necessário que sejam
realizadas ações que visem promover o respeito, a tolerância e inclusão de todos, pensando nas
questões de gênero, sexualidade, raça, religião, cor, entre outros fatores que muitas vezes são
usados de forma discriminatórias e precisam ser combatidos para promover a igualdade. Oficinas,
encenações teatrais, cine-debates, palestras, exposições, entre outras atividades devem ser
promovidas com essa finalidade dentro e fora dos espaços tradicionais de atuação dos
bibliotecários.
Nesse contexto, Spudeit e Prado (2017) relatam as atividades desenvolvidas pelas
bibliotecas parques no estado do Rio de Janeiro alinhadas às premissas de sustentabilidade
propostas pela Agenda 2030 que também são consideradas ações que legitimam o
empreendedorismo social na Biblioteconomia.
Ao realizar a busca no grupo “Bibliotecários do Brasil” na mídia social Facebook que reúne
mais de 12 mil bibliotecários, foi possível mapear algumas ações consideradas cases de
empreendedorismo social na área, conforme serão relatadas, a seguir:
A Biblioteca Sem Paredes localizada no Rio de Janeiro é um típico exemplo de
empreendedorismo social. Trata-se de um projeto desenvolvido pelos bibliotecários Carlos Farias e
Patrícia Chamon, quando ainda eram estudantes de Biblioteconomia da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O projeto tem por missão promover e incentivar a leitura na
capital do Rio de Janeiro. Os livros são arrecadados e doados por amigos, editoras ou pessoas
interessadas em partilhar leitura e depois são disponibilizados em praça pública, numa banca para as
pessoas que circulam pela Feira Desapegue-se. O projeto utiliza o Facebook e Twitter como forma
de divulgação e aproximação com leitores de outros estados brasileiros. O envio também é feito
para diferentes regiões do país, mediante pagamento das despesas de envio, pois as obras são
doadas.
�48
No sudeste tem também o Clube Literário Tamboril, trabalho feito por uma equipe
interdisciplinar que conta com o bibliotecário Leandro da Silva Teixeira. É realizado nas cidades de
Pirapora e Buritizeiro, em Minas Gerais, desde 2017. São bibliotecas comunitárias que funcionam
como pontos de leituras e desenvolvem diferentes atividades com mediação, saraus, oficinas,
empréstimos de livros, rodas de conversas com autores, entre outras.
No sul, um exemplo típico bem conhecido dentro da área de Biblioteconomia é o de Cátia
Lindemann. Formada pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Cátia se considera ativista
da biblioteconomia social, atua na promoção do livro e a leitura para comunidades com
vulnerabilidade social. Trabalha de forma voluntária com mediação de leitura para detentos,
implantou e organizou um espaço de leitura em uma Casa de dependentes químicos no Rio Grande
do Sul. Por meio do seu trabalho com detentos, surgiu a necessidade de disseminar o hábito de
leitura em prostíbulos, onde quinzenalmente faz empréstimo de livros. Em consequência da sua
atuação, em 2016, Cátia foi contratada pela empresa VR Projetos Sociais, Culturais e
Transformadores, para atuar de forma remunerada em projetos de promoção do livro e a leitura a
comunidades em vulnerabilidade social em diferentes regiões no Brasil por meio dos projetos:
estante de histórias e sacolas literárias. Como bibliotecária voluntária, já implantou quatro
bibliotecas no Rio Grande do Sul (uma prisional, uma comunitária e duas escolares em colégio
público estadual), pois acredita que a educação esvaziará o cárcere.
No sul, entre tantos, destaca-se o projeto UmanuS, criado em dezembro de 2016, pela
bibliotecária Franciéle Garcês e sua sócia Daiana Breternitz, da área de Administração Pública.
Atua com desenvolvimento acadêmico para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica
e educacional. Dessa forma, ajuda pessoas que queiram se preparar para ingressar numa
universidade, fazer uma Graduação ou Pós-Graduação, oferecendo métodos de estudos,
planejamento do tempo e dicas sobre os processos seletivos e vestibulares.
Outro típico case de empreendedorismo social, que não é gerenciado e nem foi criado por
bibliotecários, porém tem bibliotecários que atuam de forma esporádica como voluntários na equipe
é o case da Barca dos Livros em Florianópolis, Santa Catarina.
A Biblioteca Barca dos Livros caracteriza-se como uma biblioteca comunitária criada em 02
de fevereiro de 2007 com o objetivo de defender a importância da leitura para o desenvolvimento
coletivo e individual. Foi instituída por um grupo de moradores da região da Lagoa da Conceição
que depois passou a ser administrada pela Associação Amantes da Leitura, do mesmo bairro, na
cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Atualmente, é administrada por uma professora
aposentada, entretanto, recebe ajuda voluntária de profissionais da área de Biblioteconomia
�49
regularmente, bem como estudantes de Biblioteconomia da Universidade do Estado de Santa
Catarina que realizam estágio curricular ou extracurricular.
Com ampla programação cultural e educacional, oferece uma extensa agenda com
intervenções literárias, cursos, palestras, oficinas, contações de histórias, encenações teatrais,
sessões de lançamentos de livros e conversas com escritores, entre outras atividades que são
programadas em parceria com a comunidade da Lagoa da Conceição. Em algumas ações, é cobrada
taxa de inscrição para manter os custos da locação do espaço e outras taxas administrativas. Porém,
várias ações são ofertadas gratuitamente para toda comunidade. Para manter-se, faz parcerias com
instituições públicas e recebe doações de empresas privadas e pessoas físicas.
No norte do país, tem a bibliotecária Cristiane Garcia, que em parceria com alunos da
Universidade Federal de Rondônia, criou, em 2016, a Biblioteca Salete Vergani, dentro de uma
unidade prisional localizado em Porto Velho (RO). Com um acervo de mais de 900 livros, conta
como público alvo, apenadas e seus filhos. Trata-se de um projeto voluntário (não remunerado), que
promove o acesso ao livro, ao conhecimento, à cultura, além de aproximar a apenada ao regime
semiaberto, por meio da remição de pena através da leitura.
Também no norte do país, outro case de empreendedorismo social é a Expedição Barco
Biblioteca no Rio Amazonas divulgada por um dos bibliotecários voluntários Thiago Giordano
Siqueira. A atividade surgiu em 2006 e conta com doações para alugar o barco e realizar as
atividades. O projeto visa levar a leitura para as comunidades ribeirinhas do Amazonas que não
possuem acesso de via terrestre, tentando alcançar e ganhar o maior número de leitores possíveis
contribuindo para o processo de inclusão informacional a partir da prática da leitura e a
democratização do acesso ao livro. A última expedição ocorreu em agosto de 2017 em quatro
comunidades de vulnerabilidade social Águia, Nossa Senhora de Nazaré, São Paulo e São Pedro do
Lago do Castanho de Manacapuru, no estado do Amazonas.
No nordeste também é possível encontrar vários cases de empreendedorismo social na área,
mas destaca-se o BiblioSolidário. Foi criado em 2012, por amigos bibliotecários paraibanos, e tem
como objetivo promover e disseminar ações voltadas à diversidade de indivíduos, culturas e
condições sociais. Tem por finalidade colaborar de distintas formas para aquisição de bens
necessários para uma condição de vida melhor, por meio de obras sociais e de atividades que
promovam o incentivo à leitura. A equipe desenvolve atividades culturais diversas e distribuição de
livros e brinquedos.
Além dessas relatadas, é possível identificar inúmeras outras na área que têm impactos
sociais, colaboram com benefícios para uma comunidade ou atendem necessidades de grupos locais.
Pautado nessas necessidades, percebe-se que nem sempre o empreendedorismo tem por objetivo
�50
somente a obtenção de resultados particulares ou individuais, mas também pode gerar benefícios a
toda sociedade, seja iniciativa local ou regional que vão além somente de iniciativas da esfera
pública ou privada.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que na Biblioteconomia tem muitos “John Woods” com o mesmo desejo em
melhorar a qualidade de vida das pessoas e oportunizar o acesso à informação e cultura. Apesar de
ainda não conseguirem mobilizar tantos recursos e ter a visibilidade de John Wood, são
bibliotecários que saíram da “zona de conforto” e estão pensando localmente e agindo globalmente
“fora da caixinha” focados no bem-estar coletivo, empreendendo socialmente.
Esses profissionais da Biblioteconomia, além de serem considerados empreendedores
sociais, também são inovadores sociais, pois são agentes de transformação que se motivam para
melhorar ou inventar novas soluções de forma sustentável para mudar a sociedade e gerar impacto
social que beneficiam comunidades e grupos, por meio de atividades de leitura, cultura e de acesso
à informação.
Na perspectiva da inovação social, os empreendedores sociais não surgem associados a uma
dimensão de organização coletiva ou a qualquer setor, público ou privado (lucrativo ou não
lucrativo), mas sim em estruturas híbridas, ora com apoio de empreendimentos comerciais, do setor
público, e, ainda, no setor privado, por meio de iniciativas de responsabilidade social empresarial ou
empreendedorismo social corporativo.
As atividades sociais, educacionais e culturais relatadas nesta pesquisa vão ao encontro das
práticas empreendedoras defendidas por renomados pesquisadores e contribuem para o alcance
efetivo dos objetivos da Agenda 2030, em especial o objetivo 4 (Educação de Qualidade) e 10
(Redução das Desigualdades) da Agenda 2030, além de trazer visibilidade para o papel, missão e
responsabilidade social da Biblioteconomia. Além disso, fazem parte de um rol de outras que
podem e devem ser exploradas e investigadas nos sertões, periferias e capitais desse Brasil pelos
bibliotecários. É de suma importância que esse profissional assuma sua responsabilidade social e
alinhe suas práticas aos preceitos de sustentabilidade requeridos pelas Organizações das Nações
Unidas.
�51
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�53
CAPÍTULO IV
O PAPEL DA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO
SOCIAL
Maria do Socorro Soares Rodrigues
Laiana Ferreira de Sousa
Claudialyne da Silva Araújo
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
1 INTRODUÇÃO
As bibliotecas comunitárias nascem em comunidades e periferias das grandes cidades e
também na zona rural de todo país. Essas organizações surgem, muitas vezes, do desejo dos
moradores de serem protagonistas na construção de sua cidadania, por meio do acesso à leitura, à
informação e ao conhecimento. Nesse contexto, a biblioteca comunitária tem um papel social de
grande relevância para a vida dessas pessoas.
Segundo Machado (2008), a biblioteca comunitária pode ser entendida como um projeto
social que possui autonomia perante instituições governamentais e que são geridas e organizadas
pela própria comunidade. A partir da sentença de Machado (2008), é possível reconhecermos a
biblioteca comunitária como uma entidade autônoma que pode promover o crescimento social de
sua comunidade, considerando a questão da inclusão e exclusão social nesses locais.
Sabe-se que a grande maioria da população, principalmente as que vivem em comunidades e
bairros das periferias, padece de um processo penoso de exclusão social. A exclusão se dá em todas
as áreas, seja educacional, profissional, cultural e social. Além desses, pode-se acrescentar outro
tipo de exclusão, que é a exclusão informacional, muito presente em nossa realidade. Nesse cenário,
acredita-se que a biblioteca comunitária é um caminho na tentativa de reverter o quadro de exclusão
informacional das comunidades, pois “[...] a informação é, portanto, direito de todos. É um bem
comum, que pode e deve atuar como fator de integração, democratização, igualdade, cidadania,
libertação, dignidade pessoal. Não há exercício da cidadania sem informação” (TARGINO, 1991, p.
155). Como se pode ver, a informação é um bem vital; é essencial para a garantia de direitos, e para
tanto, é necessário que a mesma esteja acessível.
As bibliotecas, de modo geral, têm como objetivo primordial disseminar a informação de
�54
acordo com a necessidade de seu público-alvo, no caso da biblioteca comunitária, à comunidade
localizada ao seu redor. É nesse contexto que destacamos o projeto Rede de Leitura Jangada
Literária, fruto da parceria com o Instituto C&A por meio do Programa Prazer em Ler. O projeto foi
criado em 2013, e fundamenta-se na implantação de bibliotecas comunitárias nas periferias de
Fortaleza e São Gonçalo do Amarante, região metropolitana, estado do Ceará.
O programa tem por objetivo fomentar a criação e estruturação de bibliotecas comunitárias e
espaços de leitura em comunidades espalhadas pelo país; ele se desenvolve, geralmente, em
instituições de cunho social, como: Organizações Não Governamentais (ONGs), Associações de
Moradores, Conselhos Comunitários, entre outros. Um dos pontos mais importantes do programa é
o foco no incentivo à leitura, por meio de ações que estimulem esse processo, principalmente com o
uso do livro. Sabe-se que as dificuldades enfrentadas pelas bibliotecas públicas são uma constante,
e, em especial, as bibliotecas comunitárias, as quais não dispõem de recursos necessários para a
manutenção de seus espaços, bem como para a contratação de um bibliotecário, profissional esse de
fundamental importância para gerir a biblioteca e promover de modo eficaz o acesso ao livro e à
leitura. A realidade que se presencia diariamente é a escassez desses profissionais para atuarem nas
bibliotecas, sejam elas de qualquer tipologia.
No caso das bibliotecas comunitárias, recorre-se, portanto, à figura do mediador de leitura,
responsável por gerir a biblioteca na falta do bibliotecário. No projeto Rede Jangada Literária, o
mediador de leitura conta com a gestão de um bibliotecário, que assessora as oito bibliotecas
integrantes da rede. A escolha do mediador de leitura é feita a partir de alguns critérios, como, por
exemplo: sua ligação com a comunidade onde a biblioteca está inserida, e que prioritariamente seja
um morador local, jovens em idade escolar ou universitária e que, além dessa ligação com a
comunidade, demonstre apreço pela leitura.
Considerando o fato de a biblioteca comunitária ser um espaço de inclusão social, enfatizase o papel dos jovens a frente dessas bibliotecas, como mediadores de leitura, uma vez que a
biblioteca pode ser uma ponte para o alcance de objetivos, a realização de sonhos e a descoberta de
talentos entre esses jovens. Justifica-se essa análise, principalmente, pelo quadro social que se
apresenta nos bairros e comunidades das periferias onde as bibliotecas da rede estão localizadas,
como, por exemplo: IDH muito baixo; altos índices de analfabetismo entre crianças, jovens e
adultos; aumento exponencial da violência, especialmente, entre os jovens, bem como a
insuficiência de serviços públicos básicos como educação, saúde, transporte e lazer.
Além desses fatores, as bibliotecas comunitárias são o único equipamento cultural
disponível para o desenvolvimento da cultura e do lazer na população atendida, ou seja, crianças e
jovens, alvos mais vulneráveis. Como metodologia, utilizou-se a pesquisa participante, com uma
�55
exploração bibliográfica do tema, bem como de temas afins, a partir de textos sobre cidadania,
inclusão e exclusão informacional, informação e sociedade, biblioteca pública, conceitos e
definições sobre comunidade, entre outros.
Além do uso da bibliografia, realizou-se ainda a observação participante in loco dessas
bibliotecas e dos mediadores de leitura, uma vez que um dos autores deste artigo atua como
bibliotecário da Rede. Para tanto, como corpus de análise, têm-se os três mediadores de leitura de
três bibliotecas da Rede, a saber: a Biblioteca Comunitária Sorriso da Criança, localizada no bairro
Presidente Kennedy; a Biblioteca Famílias Reunidas, no bairro Padre Andrade; e a Biblioteca
Comunitária Literateca, de São Gonçalo do Amarante.
Desse modo, a fim de alcançar a proposta deste artigo, o mesmo possui sete seções. Na
primeira seção, é feita a introdução, cuja temática é contextualizada, como também expõe-se a
justificativa acerca da escolha do tema, os objetivos e a metodologia utilizada. Na segunda parte,
apresenta-se o referencial teórico sobre biblioteca comunitária e inclusão social, à luz de alguns
teóricos estudados. Por fim, apresenta-se a metodologia, os resultados obtidos e as considerações
finais.
2 O PAPEL DA BIBLIOTECA PARA PROMOÇÃO DA IGUALDADE E DA CIDADANIA
O Brasil é um país de grandes proporções e dimensões continentais, diferentes costumes,
grande riqueza natural e considerado o maior país da América do Sul. No entanto, sofre com
problemas sociais crônicos na saúde, segurança e em especial na educação. Apesar de todo seu
crescimento econômico e de ser o maior país da América do Sul, a questão da educação é sempre
um tema recorrente, principalmente pelos índices de analfabetismo7, que atualmente chegam a 8%
entre jovens de 15 a 19 anos.
É certo que esse quadro vem mudando ao longo do tempo, muitas vezes, por iniciativa da
própria população. No entanto, para as pessoas de baixa renda e que vivem em comunidades em
situação de vulnerabilidade social, a educação ainda é um problema a ser enfrentado. Essa
problemática é proveniente da origem do nosso país. Sobre isso, Paulo Freire (1967, p. 67) já
afirmava que,
[...] nossa colonização foi, sobretudo, uma empreitada comercial. Os nossos colonizadores
não tiveram — e dificilmente poderiam ter tido — intenção de criar, na terra descoberta,
uma civilização. Interessava-lhes a exploração comercial da terra.
7
PNAD-IBGE (2016) apud Retratos da Leitura no Brasil (2016).
�56
É perceptível na fala de Freire (1967) que, para os colonizadores, não era importante manter
uma relação de parentesco, de pertencimento com essa terra, fato que traz consequências até os dias
de hoje. A educação tem um papel fundamental para a construção da cidadania e igualdade social
de uma nação, de um povo, de uma comunidade. Nessa perspectiva, a biblioteca torna-se uma
parceria estratégica para o desenvolvimento econômico e social, especialmente quando
consideramos as ferramentas: livro, leitura, informação e conhecimento.
Mas, o que significa cidadania? O que caracteriza ser um cidadão? Ao tratar sobre esses
conceitos recorre-se às definições gregas de Aristóteles apud Targino (1991, p. 151): “homem livre
e que tem direito a exercer seus direitos”. No entanto, naquele período histórico, assim como hoje,
nem todos se encaixavam na definição de cidadãos. Targino (1991, p. 151) afirma que, “[...] a
cidadania é compreendida enquanto dimensão pública da participação dos homens na vida social e
política, ainda que, em antigas legislações, nem todos os habitantes da cidade fossem cidadãos”.
Esse fato é tão atual, quanto o foi no passado, visto que muitos são os que são excluídos de
seus direitos e, portanto, vivem à margem da sociedade. Ainda de acordo com Targino (1991),
pode-se
inferir que ser cidadão é ter consciência de seus deveres e acesso a seus direitos. A
cidadania se manifesta e se constrói a partir dessa conscientização e da participação política
e social dos homens na sociedade (TARGINO, 1991, p. 156).
Entendemos que essa prerrogativa de direitos e deveres passa, num primeiro momento, pelo
acesso à informação e ao conhecimento, sendo a escola e a biblioteca espaços primordiais para o
desenvolvimento do ser cidadão. Portanto, as bibliotecas, assim como as escolas, se destacam como
espaços de construção de conhecimento, disseminação do saber e transformação social.
Corroborando Targino (1991), a respeito da construção da cidadania, Petit (2008) afirma não ser
algo simples e fácil de conquistar, mas algo a ser alcançado.
Uma cidadania ativa --- não devemos esquecer isso --- não é algo que cai do céu, é algo que
se constrói. A leitura pode contribuir em todos os aspectos que mencionei: acesso ao
conhecimento, apropriação da língua, construção de si mesmo, extensão do horizonte de
referência, desenvolvimento de novas formas de sociabilidade [...] (PETIT, 2008, p. 53).
Assim, a biblioteca, seja ela pública, privada, escolar, universitária, especializada ou
comunitária exerce um importante papel de promoção não somente de informação, mas de
qualidade de vida e lazer para seus frequentadores.
[...] É sempre na intersubjetividade que os seres humanos se constituem, e suas trajetórias
podem mudar de rumo depois de algum encontro. Esses encontros, essas interações às
vezes são proporcionados por uma biblioteca [...] (PETIT, 2008, p. 53).
A afirmação de Petit (2008) é bem significativa para expressar o valor da biblioteca
�57
enquanto espaço de oportunidades e novas estratégias de vida. Infere-se, portanto, que onde existe
uma biblioteca, as possibilidades de crescimento e desenvolvimento local são substanciais. Nesse
contexto, as bibliotecas são redutos para transformação social, para construção de igualdade e
cidadania, possibilitando a garantia de direitos às comunidades onde estão inseridas.
3 COMUNIDADE NO CONTEXTO BRASILEIRO
Viver em grupo faz parte da história do homem desde os tempos mais remotos de sua
trajetória sob a terra. Foi assim com os primeiros habitantes e assim continua até os dias atuais. São
várias as nomenclaturas para descrever, ao longo do tempo, esses ajuntamentos de indivíduos:
tribos, clãs, aldeias, vilas e as cidades. Essas últimas têm se desenvolvido de forma tão acelerada,
principalmente pela explosão populacional que as acomete. Seus domínios se formam a partir de
ruas e bairros e se estendem desde o centro até as periferias.
Nessa configuração territorial, o Estado oferece aos indivíduos que ali vivem uma série de
instituições e serviços que se configuram em instrumentos capazes de prover a vida do coletivo. No
entanto, a forma como nasce essas ruas e bairros nem sempre se dá de modo planejado e
organizado, o que acarreta uma série de problemas estruturais e deficiência na prestação de serviços
essenciais para a população.
Nessa perspectiva, de inchaço populacional e desorganização dos espaços territoriais,
surgem as favelas e/ou comunidades. Feitosa (1998) expõe as causas desse fenômeno na sentença
abaixo.
A favela no Brasil é resultado do processo de desenvolvimento econômico por que passou o
país ao longo de sua curta história. Assim sendo, tem suas marcas fundantes no processo
capitalista adotado como recurso desenvolvimentista. Seu surgimento deriva da má
distribuição de renda e da divisão da sociedade em níveis hierárquicos, onde a grande
maioria da população sobrevive com baixos salários, enquanto uma minoria domina os
processos de produção dos bens e materiais do sistema capitalista (FEITOSA, 1998, p.
110).
O autor ainda complementa seu pensamento afirmando que o “desenvolvimento econômico
e ocupação ilegal de terras são tidos como as causas do surgimento das favelas nas cidades”
(FEITOSA, 1998, p. 110).
Portanto, quando pensamos no aumento exorbitante da população que ocorre nos meios
urbanos ou rurais e nas desigualdades sociais, fica claro que a afirmação do autor é muito coerente e
bem atual. Outro fator de destaque na concepção de Feitosa (1998) é a questão do território, ou seja,
o solo que é ocupado, no qual as pessoas vão construindo suas moradias. As favelas, portanto, são
�58
territórios onde se desenvolve a vida de seus moradores, e dentro desse contexto, também podemos
entender esses locais como espaços comunitários, cujos ocupantes usufruem dos mesmos serviços e
possuem as mesmas necessidades e dificuldades.
Nesse sentido, entende-se que favela não é diferente de comunidade. Neste trabalho,
optamos tratar o termo favela por comunidade, pois entendemos não existir diferença entre um
termo e outro, no que diz respeito ao coletivo que ali se constitui. Ainda, segundo Suaiden (1995),
“a comunidade é, pois, uma área de vida dotada de certo grau de coesão social, suas bases são:
localidade e consciência de si mesma. Uma comunidade ocupa sempre uma área territorial”. Logo,
percebe-se que Suaiden (1995) também aponta a questão do território como fator importante para
descrever a comunidade e assim corrobora o conceito de comunidade descrito pela Sociologia.
É (comunidade) essencialmente ligada ao solo, em virtude dos seus componentes viverem
de maneira permanente em determinada área, além da consciência de pertencerem, ao
mesmo tempo, ao grupo e ao lugar, e de partilharem o que diz respeito aos principais
assuntos das suas vidas. Têm consciência das necessidades dos indivíduos, tanto dentro
como fora do seu grupo imediato e, por essa razão, apresentam tendência para cooperar
estritamente (EBAH, DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA, ON-LINE)8.
A comunidade, no entanto, não pode ser vista somente do ponto de vista do territorial ou
local e sim do sentimento de pertencimento e da segurança que o coletivo proporciona aos seus
integrantes. Isso se observa no pensamento de Bauman (2003, p. 7), em que o autor afirma que a
“comunidade é um lugar ‘cálido’, um lugar confortável e aconchegante”. Para ele, “comunidade
sugere coisa boa”.
Esse pensamento, todavia, pode parecer contraditório e até ingênuo, já que o viver
coletivamente não é tão simples e fácil, pois existe tensão constante de todos os lados, uma vez que
a comunidade é formada por diferentes indivíduos com interesses diversos. De toda forma, Bauman
(2003) não é incoerente em sua exposição, pois como já mencionado, a comunidade ainda é um
lugar de refúgio, de abrigo e de pertencimento para as pessoas que ali residem.
Não é raro encontrar nessas comunidades, grandes deficiências econômico-sociais, pois,
quase sempre, estão longe do alcance dos recursos públicos, e, consequentemente, há ausência de
investimentos em serviços básicos, como: saúde, transporte, trabalho, segurança, cultura e
educação, infraestruturas essas que garantem a cidadania aos seus moradores.
Esses serviços e instituições que o Estado dispõe aos cidadãos das periferias e comunidades
quase sempre geram insatisfação, pois seu alcance é muito pequeno se considerarmos a quantidade
de pessoas que convivem num mesmo território. Órgãos essenciais como hospitais, postos de saúde
e escolas são insuficientes para atender a população aos seus arredores, sendo possível incluir,
8
Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAGZQAJ/dicionario-sociologia>.
�59
também, nessa lista, as bibliotecas.
A cidade de Fortaleza, por exemplo, dispõe de apenas duas bibliotecas públicas: uma
estadual e uma municipal. A situação dessas bibliotecas públicas não é das melhores. A Biblioteca
Pública Estadual Governador Menezes Pimentel, atualmente, passa por uma reforma que se arrasta
já há dois anos, sem previsão de entrega à sociedade. É significativo dizer que a biblioteca pública
como instituição estatal voltada a suprir as necessidades informacionais do município ou do estado,
no entanto, não pode atender sozinha, de modo satisfatório, os seus usuários, e uma das razões para
a concretização desse fato, como visto, é a quantidade de bibliotecas públicas existentes na cidade,
uma vez que a biblioteca pública estadual atende não somente o morador fortalezense, mas também
todas as regiões do estado.
É nesse cenário de dificuldades, que a biblioteca comunitária surge como equipamento
cultural de fundamental importância para os bairros e comunidades que se encontram afastados da
biblioteca pública, seja do estado ou município. A biblioteca comunitária passa, então, a exercer o
papel dessas bibliotecas, pois, muitas vezes, é o único acesso da comunidade à leitura, informação,
conhecimento e ao lazer. Assim, a biblioteca comunitária assume uma responsabilidade bem mais
ampla em relação à sua comunidade; ela se destaca como ferramenta de inclusão social.
3.1 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA
A biblioteca é tida como “templo do saber”, expressão muito usada para destacar sua
importância para o desenvolvimento econômico, social e cultural da humanidade. Sua origem
remonta desde o surgimento das antigas civilizações, em que sua principal função era armazenar
todo conhecimento produzido pelo homem. No entanto, ao longo do tempo, a biblioteca passou por
diversas transformações. Hoje, o armazenamento não mais se configura como aspecto mais
importante da biblioteca, e sim sua capacidade de alcançar seus usuários, de modo a atender suas
necessidades informacionais e sociais.
A biblioteca se divide, basicamente, em duas categorias: as públicas e as privadas, e dentro
do caráter público ou privado, temos seus diversos tipos: escolar, universitária, especializada e
comunitária, além da biblioteca pública. Cada tipo de biblioteca tem características que as
distinguem umas das outras. Ressalta-se, aqui, a biblioteca comunitária como foco deste artigo. No
entanto, antes de explorarmos o universo da biblioteca comunitária, vamos conhecer como se
configuram as outras tipologias de bibliotecas. Segundo Machado (2009, p. 58),
�60
de modo geral, as bibliotecas atendem as demandas de suas comunidades e são
caracterizadas por elas, ou seja, pelo seu público. A biblioteca universitária é criada por lei
federal, independente de ser vinculada a uma instituição de ensino superior ou privada [...]
enquanto que a biblioteca especializada está necessariamente atrelada a uma instituição e
atende as demandas informacionais do grupo de técnicos e especialistas vinculados
formalmente a essa instituição.
Fica claro que cada biblioteca objetiva atender as necessidades de seus usuários e que cada
uma possui características intrínsecas a eles. Além dessas categorias, tem-se, ainda, a biblioteca
pública, que, segundo a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e Instituições
(IFLA, 1994, não paginado), é
[...] porta de acesso local ao conhecimento, fornece as condições básicas para uma
aprendizagem contínua, para uma tomada de decisão independente e para o
desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais.
A biblioteca pública, assim, tem um importante papel para o desenvolvimento de seu país.
Ela nasce institucionalizada, ou seja, o Estado a provém de estrutura, equipamentos, recursos
financeiros e de pessoal e seu objetivo é atender as necessidades informacionais da sociedade em
nível de estado, município ou federação. Suaiden (1995, p. 19) afirma que,
a biblioteca pública, mantida pelo governo, tem por objetivo primordial preservar e difundir
o conhecimento, principalmente no que se refere à cultura local, e dentre todos os tipos de
bibliotecas é a única que possui realmente características de uma instituição social, tanto
pela amplitude de seu campo de ação como pela diversificação de seus usuários.
Nesse contexto do social, temos a biblioteca comunitária, que, assim como a pública, tem
seus objetivos direcionados a atender as demandas de informação e conhecimento da comunidade
onde está localizada. Machado (2008, p. 62) a descreve da seguinte forma:
[...] o emprego do termo biblioteca comunitária é mais apropriado para identificar o que
consideramos ser empreendimentos sociais que surgem do desejo e da necessidade de um
determinado grupo de pessoas em ter acesso ao livro, à informação e à prática de leitura,
num real exercício de cidadania [...]. Podemos identificar as bibliotecas comunitárias como
projetos vinculados a um grupo particular, que tem como objetivo atender esse mesmo
grupo, os quais possuem os mesmos problemas, os mesmos interesses e a sua própria
cultura, seja esse um grupo de especialista em paleontologia ou um grupo de moradores de
uma comunidade considerada de risco.
Observa-se, portanto, que a biblioteca pública e a biblioteca comunitária são semelhantes,
mas uma diferença significativa se destaca que é a forma como cada uma se constitui, pois, no caso
da biblioteca comunitária, ela nasce diretamente da comunidade e para a comunidade, não
possuindo nenhum vínculo com o poder público.
Almeida Júnior (1997, p. 94) descreve a biblioteca comunitária como,
[...] aquelas bibliotecas que atuavam junto aos seguimentos mais pobres das grandes
cidades, principalmente em bairros periféricos, mas que em nada ou talvez, em muito pouca
coisa, diferenciava das bibliotecas públicas tradicionais.
�61
O autor deixa claro que em sua concepção a biblioteca comunitária, nada mais é que uma
biblioteca pública situada nas periferias das cidades. Ele ainda esclarece que o termo “bibliotecas
comunitárias” “[...] é utilizado como forma de amenizar as ideias que acompanhavam a proposta de
bibliotecas populares” (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 93). É preciso esclarecer que não
aprofundaremos a discussão sobre bibliotecas populares, neste trabalho. Considerando, portanto, as
características e similaridades entre a biblioteca comunitária e a biblioteca pública, evidencia-se a
importância da comunidade para essas organizações e que sua existência se explica a partir do
momento em que as mesmas respondem aos anseios da coletividade, atuantes como agentes de
inclusão social.
A partir desse quadro de desigualdade social e falta de expectativas por parte dos jovens, é
que se ressalta a importância da biblioteca comunitária. Como campo de observação para esta
pesquisa, delimitaram-se as bibliotecas comunitária integrantes da Rede de Leitura Jangada
Literária. Nesse sentido, cumpre aqui elaborar estratégias para conhecer os mediadores de leitura
dessa Rede e compreender os impactos dessas ações na formação dos mesmos.
4 METODOLOGIA
A fim de atingir o objetivo de evidenciar a biblioteca comunitária como ferramenta de
inclusão social, capaz de promover o desenvolvimento social de jovens residentes em comunidades
de risco, optou-se pela pesquisa participante, já que um dos autores deste artigo atua como
bibliotecário nas bibliotecas do projeto. De acordo com Brandão (2006, p. 12), entende- se a
pesquisa participante como:
[...] um repertório múltiplo e diferenciado de experiências de criação coletiva de
conhecimentos destinados a superar a oposição sujeito/objeto no interior de processos que
geram saberes e na sequência das ações que aspiram gerar transformações a partir também
desses conhecimentos.
O trabalho tem uma abordagem qualitativa de cunho exploratório, na qual se faz uso da
observação participante, da pesquisa bibliográfica e de campo. O universo amostral da pesquisa é
formado por três mediadores de leitura, que atuam em três bibliotecas comunitárias integrantes da
Rede de Leitura Jangada Literária.
Os três são jovens que desde criança participam de atividades nos projetos sociais; são
membros de grupos de jovens, de associações e de conselhos comunitários ou de órgãos de controle
social, como no caso de uma jovem mediadora que atualmente está como conselheira da linguagem
Literatura no Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza. Esses mediadores também se
�62
destacaram desenvolvendo habilidades e talentos que contribuíram para o crescimento e a
visibilidade da biblioteca comunitária em suas comunidades, fato que justifica as escolhas por esses
sujeitos.
Os mediadores são identificados pelas iniciais de seus nomes e sobrenomes preservando,
assim, as identidades deles. Para coleta dos dados, optou-se pela aplicação de um questionário
contendo oito perguntas. Em um primeiro bloco de perguntas, abordamos seus dados pessoais,
como: nome completo, idade, endereço, sexo, biblioteca em que atua e escolaridade. Em outro
bloco, indagamos o papel da biblioteca em suas vidas, como eles a conheceram e o que mudou a
partir de suas atuações nesses ambientes.
4.1 ANÁLISE DOS DADOS
Para análise, apresenta-se um breve relato sobre o Projeto Rede de Leitura Jangada Literária
para, então, discorrer sobre a entrevista realizada com os mediadores de leitura do projeto.
4.1.1 Projeto Rede de Leitura Jangada Literária
As bibliotecas comunitárias, integrantes da Rede Jangada Literária, desenvolvem diversas
atividades em seus espaços, desde ações intrínsecas à sua função, como incentivo à leitura, até
ações de lazer, como jogos, brincadeiras, entre outros. A mediação de leitura, carro chefe do
Programa Prazer em Ler/Instituto C&A, parceiro dessas instituições, é uma ação desenvolvida em
todas as bibliotecas da Rede. Dentre as atividades realizadas têm-se: a contação de história com o
uso do livro, a contação de história com uso de recursos teatrais, a leitura compartilhada, saraus
literários etc.
Essas bibliotecas também realizam atividades que envolvem a comunidade onde se
localizam, como: seminários sobre a elaboração de políticas públicas que contemplem o livro, a
leitura e a exemplo disto tem-se a construção do Plano Municipal de Livro, Leitura, Literatura e
Biblioteca de Fortaleza; exibição de filmes na rua; aulas de música; oferta de serviços e
informações utilitárias (confecção de currículos, busca por ofertas de trabalho); reuniões de
lideranças comunitárias; palestras com temas de interesse da comunidade, como, por exemplo:
saúde, habitação, alimentação, drogas, o primeiro emprego e pesquisas escolares diversas.
Apesar dessa variedade de serviços ofertados por esses espaços, eles enfrentam alguns
�63
problemas, principalmente no que diz respeito aos territórios onde as bibliotecas escolares se
localizam, pois, muitas vezes, é um lugar de extrema desigualdade social, cujo tráfico de drogas dita
as regras e a violência é sempre presente na vida dos moradores locais, situação que atinge
principalmente os jovens e adolescentes.
Esses grupos não recebem a atenção necessária por parte do poder público, especialmente a
educação de qualidade e o acesso à cultura, fatores imprescindíveis para o desenvolvimento de um
pensamento crítico e uma atitude cidadã. A Rede conta com a assessoria de uma bibliotecária que
acompanha os mediadores de leitura nas bibliotecas, uma vez que esses espaços não possuem
recursos necessários para a contratação de um bibliotecário para cada biblioteca.
Nesse sentido, essa função é assumida pelo mediador de leitura, ou seja, jovens, entre 18 e
29 anos, selecionados da própria comunidade onde a biblioteca se situa. Os mesmos devem estar
cursando nível superior em diversas áreas do conhecimento, principalmente àquelas afins à leitura,
como: Biblioteconomia, Pedagogia, Serviço Social, Administração e Letras. As bibliotecas
integrantes da Rede Jangada Literária situam-se dentro de organizações sociais que desenvolvem
diversas atividades direcionadas para as comunidades onde se localizam, tendo os jovens como
público primordial, uma vez que esses são os mais atingidos pela violência.
A seleção dos mediadores para essas bibliotecas se dá a partir da resolução de um
questionário, em que os mesmos expõem suas habilidades, experiências, vivências, anseios,
objetivos, bem como seus interesses na leitura, seus conhecimentos a respeito de biblioteca e se
frequentam a mesma.
Boa parte desses mediadores diz ter pouco contato com a biblioteca, com os livros e com a
leitura, salvo algumas exceções. Esse quadro, no entanto, começa a mudar gradualmente, pois, a
partir do momento em que começam a atuar nas bibliotecas, aos poucos eles descobrem um novo
mundo, uma oportunidade de se desenvolverem enquanto seres sociais e livres que são.
4.1.2 Análise das entrevistas com mediadores de leitura
Os mediadores de leitura selecionados para esta pesquisa são jovens com idade média entre
20 a 30 anos, sendo dois do sexo feminino e um do sexo masculino. Todos cursam nível superior,
vinculado às áreas de Pedagogia, Serviço Social e Publicidade e Propaganda. A partir das
entrevistas realizadas com os mediadores, identificou-se em suas falas, a importância que a
biblioteca comunitária teve/tem para seu desenvolvimento social, educacional, profissional e
cultural. Foram feitas duas perguntas principais sobre a biblioteca, a saber:
�64
a) Há quanto tempo trabalha na biblioteca comunitária como mediador de leitura? Como
a conheceu e quais suas motivações?
b) Você considera que a biblioteca comunitária contribuiu, de alguma forma, para o seu
crescimento profissional e pessoal, sob quais aspectos?
É perceptível na fala dos mediadores de leitura que a biblioteca conseguiu, de algum
modo, transformar suas vidas, seja no modo de pensar, de agir, de se relacionar com as pessoas e
com o mundo que os cerca. Nossa primeira entrevistada é a jovem mediadora de leitura S.E.A.S,
21 anos, estudante do 6º semestre de Pedagogia, moradora no bairro Presidente Kennedy:
“Atuo como mediadora de leitura desde o ano de 2013. Comecei como voluntária na ONG em 2012, em 2013 a
mesma fez uma parceria que garantiu recurso para contratação de mediadores de leitura, por estar atuando na
organização, a gestora me convidou para trabalhar na biblioteca. Conheço e utilizo a biblioteca desde criança,
sempre participava de oficinas e pegava livros, isso me motivou a oportunizar outras pessoas, pois o espaço
impactou minha vida e eu sempre tive o desejo de que outras pessoas também pudessem ter esse acesso”.
A fala da mediadora S.E.A.S demonstra uma relação de intimidade com a biblioteca, de
como esse contato começou bem cedo, quando ela ainda era criança e o desejo de que outras
pessoas também possam ter o acesso ao universo da biblioteca e sentir o impacto da mesma em
suas vidas. Machado (2008) corrobora a mediadora em destacar o papel dessas bibliotecas para o
desenvolvimento de suas comunidades e seus sujeitos. “Objetivamente, essas bibliotecas devem
criar mecanismos para colaborar no desenvolvimento da sua comunidade, potencializando os
próprios talentos dos indivíduos e das comunidades” (MACHADO, 2008, p. 51).
Ainda em relação à mediadora, foi possível identificar talentos, até então não
desenvolvidos, como escrever, principalmente a escrita de textos poéticos e de cordel, bem como a
criação de um blog para divulgar seus textos. Outra fala significativa da mediadora é o papel da
biblioteca comunitária como ferramenta que propiciou seu ingresso na universidade,
principalmente como fonte de informação e leitura:
“Sempre estudei em escola pública, por isso tive várias lacunas na minha formação, o acesso aos livros, informações
era bastante limitado e a biblioteca comunitária cumpriu um papel essencial, pois preencheu essa lacuna que a escola
deixou. Na biblioteca tive acesso a um vasto mundo de conhecimento, participei de oficinas, conheci gêneros textuais,
passei a ter mais autonomia e pensamento crítico. Eu acredito que só passei em uma universidade pública por conta
da biblioteca e da ONG, nunca fiz cursinho, mas a biblioteca possibilitou esse ingresso, pois impactou diretamente na
minha formação leitora, humana e crítica”.
A segunda entrevistada é E.N.O, 23 anos, estudante do 7º semestre de Serviço Social,
mediadora de leitura na Biblioteca Comunitária Literateca, moradora de São Gonçalo do
Amarante. Ela também ressalta toda a diferença que a biblioteca comunitária lhe proporcionou,
�65
em destaque para seu engajamento social e o empoderamento advindo de seu papel como
mediadora do conhecimento na biblioteca comunitária:
“Trabalho há 4 anos e 5 meses como mediadora, conheci a partir de uma seleção que ia fazer para outro cargo,
como Auxiliar Administrativo da Associação União das Famílias. Acredito que esse espaço é transformador e que
trabalhar como mediadora me torna mais empoderada e engajada socialmente. Muito bom saber que como
mediadora tenho o papel de mediar conhecimento e não somente por obrigação, mas por acreditar que a leitura
muda os homens que consequentemente muda o mundo”.
Assim como a primeira mediadora, a mediadora E.N.O destaca a biblioteca comunitária
como um espaço transformador que lhe proporciona empoderamento e engajamento social
necessários para sua atuação como cidadã, além de frisar o seu papel como mediadora do
conhecimento. Outro destaque que E.N.O dá à biblioteca comunitária, a partir de sua atuação
como mediadora de leitura, é o seu desenvolvimento crítico e seu crescimento pessoal,
profissional e social:
“A partir do meu trabalho na biblioteca pude perceber socialmente e politicamente como as situações funcionam,
cresci e fomentei a minha criticidade a partir das leituras e formações recebidas. Pessoalmente tornei- me mais capaz
de tomar minhas próprias decisões embasada não somente no emocional, mas no racional também. Foi a partir do
meu trabalho como mediadora que interessei-me pelo Serviço Social, pelas causas políticas e pelas causas sociais”.
O terceiro mediador de leitura é W.H.D.B, 28 anos, estudante do 2º semestre de
Publicidade e Propaganda, morador do bairro Presidente Kennedy. Sua experiência com a
biblioteca comunitária, assim como suas colegas mediadoras de leitura, é de intimidade com a
leitura e seu desejo de incentivar outras pessoas a desenvolver esse relacionamento com os livros:
“Trabalho há três anos como mediador de leitura, minha maior motivação é de poder ter o prazer de trabalhar no
universo que eu amo: livros, e saber que de alguma forma estou contribuindo para disseminar e incentivar a leitura e o
ato de ler nas pessoas assim como um dia também alguém me incentivou”.
Para W.H.D.B, sua atuação na biblioteca comunitária lhe permitiu crescer na esfera pessoal
e profissional:
“No âmbito profissional através de qualificação por meio das formações me incentivaram a buscar obter mais
conhecimento e de me qualificar para que eu pudesse ser um profissional qualificado na área que pretendo atuar; no
âmbito pessoal foi o amadurecimento de conceitos, ideias; emocional, o tratar as pessoas e saber se comunicar e ser
entendido por qualquer pessoa, saber me relacionar e conviver com pessoas de opiniões diferentes”.
A partir das falas dos mediadores de leitura, fica claro que as bibliotecas comunitárias
funcionam como espaços de multicultura, onde se desenvolvem diversas atividades direcionadas a
atender um público variado, desde crianças a idosos, podendo influenciar de modo positivo a vida
daqueles que atuam na linha de frente desses espaços, no caso, os mediadores de leitura.
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Esses mediadores atuam nessas bibliotecas não como bibliotecários, uma vez que não têm
formação para tal. No entanto, são mediadores entre o conhecimento e a comunidade, em que essas
bibliotecas se localizam, mantendo, assim, seus vínculos identitários e proporcionando a outros o
acesso às riquezas existentes na biblioteca.
Nota-se, ainda, que alguns mediadores, antes de atuarem nas bibliotecas comunitárias,
tinham pouco contato com os livros e a leitura; a biblioteca era um espaço distante de suas
realidades. Todavia, atualmente, a partir de suas atuações nesses espaços, esse quadro mudou. Os
jovens, no momento atual, dispõem de diversas oportunidades, tanto de crescimento profissional,
pessoal, bem como social. Logo, a biblioteca comunitária, agora, é uma parte importante de suas
vidas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento social e humano dos sujeitos perpassa seu acesso à leitura, à informação
e ao conhecimento, por meio, principalmente, da escola e da biblioteca. Essa última tem um papel
fundamental como ferramenta de inclusão social, em destaque, a biblioteca comunitária, pois ela
proporcionou o acesso à cidadania, seja como espaço de aprendizado, descobertas de habilidades,
ascensão profissional e educacional e como espaço de interação para os mediadores analisados
nesta pesquisa.
Trabalhar com o social é desenvolver habilidades para além da técnica; é entregar-se por
completo numa jornada sem limites, muitas vezes, sem retorno financeiro, mas de uma grandeza
imensurável. A biblioteca comunitária pode ser entendida como uma ferramenta capaz de
desenvolver habilidades e capacitar os sujeitos para os desafios da vida em comunidade, um ponto
de apoio para a tomada de decisões de interesse do coletivo e a mola propulsora de uma cidadania
plena. A partir das entrevistas, pode-se aferir que esses jovens despertaram o gosto literário no ato
de suas atividades, o que demonstra o quanto ações participantes colaboram para o desenvolvimento
tanto do mediador quanto dos leitores.
Além disso, percebe-se que as atividades desenvolvidas nas bibliotecas transformaram a
vida desses jovens, tornando esse momento não somente propício para formação profissional, mas
também para torná-los mais humanos, cientes do poder de transformação que possuem nas mãos. A
missão de mediar a leitura não é tarefa fácil, principalmente, quando se trata de um país de não
leitores; portanto, será sempre um desafio a ser enfrentado.
Dessa forma, ao passo em que os mediadores têm oportunidade de conhecer os serviços de
�67
uma biblioteca e desenvolver novas competências, eles também estão sendo contemplados pelo
programa, já que fazem parte da comunidade e são atingidos por uma série de riscos. Nas
bibliotecas comunitárias, eles desenvolvem o gosto literário, a criatividade, a imaginação e estão em
constante interação com os usuários que fazem parte da mesma comunidade. Demonstra-se,
portanto, a importância de projetos dessa natureza, que visam incluir, socialmente, jovens no
universo leitor e torná-los participantes e cientes dos direitos que possuem.
REFERÊNCIAS
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Londrina: Editora UEL, 1997.
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2016. Disponível em:
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SUAIDEN, Emir José. Biblioteca pública e informação à comunidade. São Paulo: Global, 1995.
TARGINO, Maria das Graças. Biblioteconomia, informação e cidadania. Revista da Escola de
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<http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/reb/>. Acesso em: 15 dez. 2017.
THE INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND
INSTITUTIONS. Manifesto da Ifla/Unesco sobre bibliotecas públicas. 1994. Disponível em:
<https://www.ifla.org/files/assets/public-libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto- pt.pdf>.
Acesso em: 20 out. 2017.
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PARTE II
Bibliotecas no fomento à
leitura: o poder
transformador da leitura
em diferentes contextos
da sociedade
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CAPÍTULO V
QUARTA DA CONTAÇÃO: HISTÓRIAS CONTADAS POR CRIANÇAS
Karla Karinne Alcoforado Pinho Costa
Laiana Ferreira de Sousa
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Claudialyne da Silva Araújo
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho, discute-se o leitor que conta histórias e as contribuições advindas dessa
prática para o desenvolvimento de competências leitoras no início da infância. Desse modo, relatase como o ato de contar histórias favorece a aprendizagem e contribui para potencializar o
desenvolvimento da criatividade, da linguagem, da atenção e da memória.
A arte de contar histórias vem se destacando desde a antiguidade, até mesmo antes da
escrita. Hoje, é valorizada e reconhecida por ser um instrumento no processo educativo, pois é uma
excelente estratégia para despertar o gosto pela leitura desde o início da infância.
Infelizmente, a realidade brasileira anda a passos lentos no que diz respeito à formação de
leitores. Muitas vezes, as escolas utilizam metodologias que só afastam as crianças dos livros,
causando consequências desastrosas no aprendizado. Apesar disso, é, principalmente, na instituição
escolar, que o aluno tem o primeiro contato com os livros e com a sala de leitura, o que demonstra a
importância da biblioteca no âmbito da aprendizagem escolar.
É na escola que, na maioria das vezes, é apresentado o livro à criança pela primeira vez, por
isso a importância do desenvolvimento de ações que estimulem o gosto e o prazer da leitura
literária. Além disso, a organização de um lugar propício não somente para o compartilhamento de
livros com as crianças, mas também para a construção de um espaço onde elas se sintam
participantes, protagonizem ações de mediação de leitura e desenvolvam competências leitoras, é de
suma importância.
Foi pensando nisso que o Colégio Ari de Sá, localizado em Fortaleza - Ceará, desenvolveu o
projeto Quarta da Contação, há sete anos, com o objetivo de estimular a leitura nos alunos, de
maneira lúdica e eficaz. Toda quarta-feira, na Biblioteca Infantil, no horário dos intervalos, alunos,
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familiares e funcionários da escola se reúnem para contar histórias. Eles têm a oportunidade e a
liberdade de escolher uma história e contá-la para seus colegas.
Diante do exposto, este trabalho busca relatar as ações do Projeto Quarta da Contação, que
visa à formação de leitores das séries iniciais, por meio do protagonismo infantil. O intuito é
evidenciar a importância da contação de histórias para o desenvolvimento da linguagem,
estimulando a imaginação e a fantasia. Além disso, evidencia-se a leitura como instrumento
fundamental para o desenvolvimento educacional de qualquer indivíduo, instrumento esse
fortalecido quando adicionado à biblioteca escolar e às diferentes atividades desenvolvidas por ela,
no âmbito da escola.
Nesse contexto, levanta-se a seguinte questão: quais as contribuições da arte de contar
histórias para o desenvolvimento de competências leitoras nas séries iniciais?
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa,
realizada em uma instituição privada de ensino localizada em Fortaleza. Optou-se, também, pela
pesquisa participante, já que uma das autoras deste artigo atua como bibliotecária da instituição
onde o projeto é desenvolvido. Para tanto, além da observação e análise do comportamento dos
alunos que participam do projeto, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com professoras do
segundo ano do Ensino Fundamental I, responsáveis pelo processo de letramento dos alunos e
atuantes no Projeto Quarta da Contação. O intuito foi conhecer o impacto desse protagonismo
infantil, no que concerne à prática da contação de histórias, para o desenvolvimento de
competências leitoras, no contexto escolar.
Desse modo, a fim de alcançar a proposta deste artigo, a pesquisa se apresenta em sete
seções. A primeira, que constitui esta introdução, contextualiza a temática abordada e expõe a
justificativa acerca da escolha do tema, os objetivos e a metodologia utilizada. Na segunda parte,
apresenta-se o referencial teórico sobre contação de história e a biblioteca escolar, recorrendo aos
teóricos estudados. A seguir, são apresentadas a metodologia e os resultados obtidos neste estudo e,
finalmente, as considerações finais.
2 CONTANDO HISTÓRIAS NA ESCOLA PARA DESENVOLVER O GOSTO LITERÁRIO
Contar histórias é uma arte que existe desde muitos anos. Antigamente, homens e mulheres
se sentavam ao redor de fogueiras para contar e ouvir histórias, no intuito de trocar experiências,
transmitir ensinamentos, crenças, rituais, costumes, valores e mitos às futuras gerações, e que
pudessem ser perpetuados, conservando a cultura dos pais para os filhos e cultivando, assim, um
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laço de afetividade. A arte de contar histórias é um momento de confraternização e, ao mesmo
tempo, de absorver conhecimento.
Considerando as mudanças advindas de um novo paradigma social, marcado pela
conectividade e pelo acesso à informação via recursos digitais, o tempo para se ouvir uma história
já não é mais o mesmo. Hoje, os contadores de histórias apresentam-se nos palcos de espetáculos
com cenários e iluminação. Apesar dessas mudanças, sempre estamos contando histórias, pois,
constantemente, narramos fatos do nosso dia a dia e outras tantas histórias que nos aproximam
daquele antigo contador de história popular (SOUSA; LIMA; CAVALCANTE, 2017).
É notório o prazer nos olhos das pessoas ao ouvir uma boa história. O sujeito que escuta tem
a oportunidade de associar a realidade com a imaginação, pois certas histórias são como um estalo
para o despertar de novas ideias, de novas histórias. Afinal de contas, as “histórias existem para
serem contadas, serem ouvidas e conservarem aceso o enredo da humanidade. O contador narra
para se sentir vivo” (BUSATTO, 2006, p. 25).
Nesse contexto, a contação de histórias vem sendo valorizada e reconhecida como excelente
estratégia para o desenvolvimento da aprendizagem no processo educativo, principalmente devido
ao seu caráter lúdico, proporcionando, assim, o prazer de aprender e a superação de dificuldades de
aprendizagem. Busatto (2006) corrobora ao considerar que:
as histórias são verdadeiras fontes de sabedoria, que têm papel formador da identidade. Há
pouco tempo, elas foram redescobertas como fonte de conhecimento de vida, tornando-se
também um grande recurso para educadores. A tradição oral dos contos, não só não
reapareceu como está ganhando força nos últimos tempos (BUSATTO, 2006, p. 21).
É interessante que a contação de histórias faça parte da vida das pessoas desde a infância,
pois o hábito de ouvir histórias desde cedo auxilia na construção e no desenvolvimento da
identidade. Existe uma troca sensacional entre contador e o ouvinte, fazendo com que toda bagagem
cultural e afetiva dessas crianças aflore. “Contar histórias é uma arte porque traz significações ao
propor um diálogo entre as diferentes dimensões do ser” (BUSATTO, 2003, p. 10).
Além disso, a arte de contar história contribui para estimular a imaginação, já que, devido ao
seu aspecto lúdico,
o contar histórias é fermento para o imaginário. Elas nascem no coração e, poeticamente
circulando, se espalham por todos os sentidos devaneando, gatiando, até chegar ao
imaginário. O coração é o grande aliado da imaginação nesse processo de produção de
imagens significativas. Com o coração, a gente sente e vê com os olhos internos as imagens
que nos fazem bem (BUSATTO, 2006, p. 58).
Assim, a contação de histórias estimula o desenvolvimento social, emocional e cognitivo da
criança. É um momento em que a criança pode sonhar e viajar por lugares incríveis, onde ela pode
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ser a mocinha ou guerreira, a princesa ou a bruxa, pode estar no castelo ou num vilarejo, tudo é
possível por meio de uma história lida ou contada, pois a leitura proporciona essa magia.
Autores como Abramovich (1997), Meireles (1984) e Coelho (2002) consideram
fundamental que o contador de histórias desenvolva habilidades do contexto cênico, pois esse
precisa articular expressões e movimentações que se encaixem no enredo da história e, assim,
prender a atenção do ouvinte.
Para contar uma história é preciso saber como se faz, afinal podem se descobrir sons e
palavras novas, e por isso é importante que se tenha uma metodologia específica. É preciso
que quem conte, crie um clima de envolvimento, de encanto, e saiba dar pausas necessárias
para que a imaginação da criança possa ir além e construir seu cenário, visualizar seus
monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, vestir a princesa com a roupa
que está inventando, pensar na cara do rei... E tantas outras coisas mais...
(ABRAMOVICH, 1994, p. 20).
É importante a preparação do contador de histórias, pois, somente assim, ele poderá fazer
entonações e variações de vozes para dar o efeito necessário ao enredo. Entende-se que o adulto
pode contar qualquer história para as crianças, desde que o livro esteja condizente com a
compreensão, como afirma Abramovich (1997).
Qualquer história pode ser contada, [...] desde que ela seja bem conhecida pelo contador,
escolhida porque a ache particularmente bela ou boa, porque tenha uma boa trama, porque
seja divertida ou inesperada ou porque dê margem para alguma discussão que pretende que
aconteça, ou porque acalme uma aflição... O critério é do narrador... E o que pode se
suceder depois depende do quanto ele conhece suas crianças [...] (ABRAMOVICH, 1997,
p. 20).
No século XVIII, surgiram os primeiros livros direcionados às crianças. Destacaram-se
alguns escritores da época, como La Fontaine e Charles Perrault, focando suas obras no gênero
contos de fada que perpetua até os dias atuais. Seguindo essa linha de gênero, foram surgindo outros
escritores como os irmãos Grimm, Hans Cristian Andersen e também Monteiro Lobato, todos com
obras importantes para a Literatura Infantil.
Nessa época, a Literatura Infantil era considerada como uma mercadoria, principalmente
para a sociedade aristocrática. Mas, com o passar do tempo, esse formato foi sendo modificado com
a industrialização, o crescimento da sociedade e toda a modernização, aumentando,
consequentemente, a produção de livros.
Baseando-se nessa evolução, as escolas passaram a compreender a importância da Literatura
Infantil e do livro na vida escolar das crianças. De acordo com Lajolo e Zilberman (2002, p. 15), “a
escola passa a habilitar as crianças para o consumo das obras impressas, servindo como
intermediária entre a criança e a sociedade de consumo”.
No início do século XX, as obras didáticas produzidas e apresentadas para as crianças
tinham apenas um único objetivo, o de educar e criar um perfil de criança de acordo com as
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expectativas dos adultos. Os livros, dificilmente, tinham o objetivo de ser prazerosos e existiam
poucas obras que narravam situações do cotidiano das pessoas.
Atualmente, essas obras tomaram uma dimensão muito mais ampla e importante. Elas
oferecem à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo inquestionável. De acordo
com Abramovich (1997, p. 25), “quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar, de forma
mais clara, sentimentos que elas têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas
existenciais típicos da infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor,
perda, além de ensinarem infinitos assuntos”.
Outro fator importante é a escolha do espaço de leitura, o qual deve ser acolhedor,
convidativo e confortável, permitindo que as crianças circulem e falem livremente. Deve ser um
espaço propício não somente para o compartilhamento de livros com as crianças, mas também para
desenvolver teatro com fantoches, encenações com o uso de acessórios adequados, caracterizações
de personagens das histórias ou teatros em que as crianças sejam os personagens.
O uso de artifícios para prender a atenção do ouvinte também merece destaque. A técnica de
repetição é das mais favoráveis para conquistar e manter a atenção e o interesse do pré-leitor, pois,
na primeira vez que a história é contada para a criança, tudo é novidade. A partir da segunda vez, as
crianças já sabem o que acontecerá, então, elas procuram detalhes da história, assim como acontece
com os adultos em um bom livro lido ou em um belo filme visto.
Vale ressaltar que a família tem um papel fundamental nesse processo, pois a contação de
histórias, desde os primeiros meses de vida, influencia no processo de aquisição de leitura por
fruição, estando em segundo lugar a escola como agente educador, oferecendo não somente ações
de estímulos à leitura, mas, muitas vezes, o primeiro contato com o livro. Segundo Sandroni e
Machado (2000, p. 12), “a criança percebe desde muito cedo que livro é uma coisa boa, que dá
prazer”. As crianças pequenas apresentam interesse pelas imagens, sons, formas e figuras que os
livros possuem e, mais tarde, darão significados a elas, identificando-as e nomeando-as. Cumpre
aos adultos oportunizar esse primeiro contato com os livros.
É fundamental que a criança possa vivenciar a palavra e a escuta em todas as suas
possibilidades, explorando diferentes linguagens, capturando-as e apropriando-se do mundo
que a cerca, para que este se desvele diante dela e se torne fonte de interesse vivo e
permanente, fonte de curiosidade, de espantos de desejos e descobertas, numa dinâmica em
que ela se socialize e se manifeste de forma ativa, cri (ativa), participativa em qualquer
situação, não apenas “recebendo” passivamente, mas produzindo e (re) produzindo cultura
(JORGE, 2003, p. 97).
Nesse sentido, quando uma criança tem acesso ao livro desde cedo e percebe o prazer que a
leitura produz, maior será a chance de se tornar um adulto leitor, além de desenvolver uma postura
crítico-reflexiva extremamente relevante à sua formação cognitiva.
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Para alguns escritores, o gosto pela leitura está relacionado à questão do acesso ao livro; a
escola, como espaço público, deve favorecê-lo, criando oportunidades para que seja despertado nos
alunos o interesse pela leitura.
3 BIBLIOTECA ESCOLAR: UMA GRANDE ALIADA
A partir do desenvolvimento da imprensa por Gutenberg, no século XV, aumentaram o
número de publicações e, com isso, a importância da biblioteca, local indispensável à formação e ao
desenvolvimento intelectual dos indivíduos. Hoje em dia, as bibliotecas escolares têm sido criadas
para atender as escolas como um recurso de ensino-aprendizagem, pois a ideia de democratização
do saber por meio da leitura confirma a necessidade e a importância dessa instituição.
Na maioria das bibliotecas da Antiguidade, o acesso à leitura e à escrita era restrito a uma
parcela muito pequena da população. Em meados do século XIX, no Brasil, surgiram as primeiras
discussões sobre a necessidade de criação de bibliotecas escolares. Na época, referiam-se à palavra
“biblioteca” apenas como coleções de livros (VÁLIO, 1990).
A concepção que temos de biblioteca vem se transformando e se ajustando por meio da
própria história desse espaço. Para Fonseca (1992, p. 25), um novo conceito “é o de biblioteca
menos como coleção de livros e outros documentos, devidamente classificados e catalogados do
que como assembleia de usuários da informação”. Isso quer dizer que as bibliotecas não devem ser
vistas como simples depósitos de livros, mas devem ter seu foco voltado para as pessoas e ao uso
que essas fazem da informação, oferecendo meios para que essa circule da forma mais dinâmica
possível.
As bibliotecas podem ser classificadas como infantis, especializadas, públicas, nacionais,
comunitárias, de centro cultural, entre outras. Aqui, o foco será a biblioteca escolar. Para Pimentel
(2007, p. 23), a biblioteca escolar,
localiza-se em escolas e é organizada para integrar-se com a sala de aula e no
desenvolvimento do currículo escolar. Funciona como um centro de recursos educativos,
integrado ao processo de ensino-aprendizagem, tendo como objetivo primordial
desenvolver e fomentar a leitura e a informação.
A biblioteca escolar tem uma grande missão. De acordo com o Manifesto da Federação
Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias e da Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (IFLA/UNESCO, 2005), ela promove serviços de apoio à
aprendizagem e livros aos membros da comunidade escolar, oferecendo-lhes a possibilidade de se
tornarem pensadores críticos e efetivos usuários da informação, em todos os formatos e meios.
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Segundo Souza et al. (2011, p. 2), “a biblioteca escolar foi criada para desenvolver o ensino formal,
sendo de sua competência, grande parcela no desenvolvimento da capacidade de ler”.
O estímulo à leitura não se trata do incentivo ao isolamento do indivíduo com o livro, mas
trata-se de muni-lo com conhecimento para que possa conviver e relacionar-se com o meio em que
vive. A leitura jamais será um ato isolado, pois carrega consigo vivências e relações que se
misturam e influenciam umas às outras, contribuindo para a interpretação dos textos lidos.
Conforme Lajollo (2005, p. 7), “ninguém nasce sabendo ler, aprende-se a ler à medida que se vive.
Se ler livros geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na
chamada escola da vida [...]”. Já Freire (2001) ressalta que a leitura não é somente para a criança,
mas tem sua importância em todas as fases da vida do indivíduo.
A biblioteca escolar, principal espaço mediador da leitura na infância, também se faz
presente como elemento de ligação entre professor e aluno no processo de aprendizagem. Observase, conforme Andrade (2002, p. 13), que “educadores – professores e bibliotecários – que acreditam
na biblioteca como recurso pedagógico eficiente, contam agora com evidências concretas para
mostrar que a biblioteca escolar pode fazer diferença na educação de crianças e jovens”.
Dessa forma, um dos papéis das bibliotecas escolares é proporcionar o desempenho da
prática da leitura como uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da cidadania e da
democratização da informação. Além disso, contribui para o desenvolvimento de atividades em sala
de aula, ao fornecer materiais que reforçam o conteúdo estudado e que proporcionam o
entretenimento. Esses processos possibilitam aos alunos melhor desenvolvimento de seu
aprendizado e o gosto pela leitura.
Uma escola deve ter como aliada uma biblioteca, cujo espaço deve ser atrativo, acolhedor,
com muitas atividades literárias, um acervo adequado à faixa etária e, principalmente, com
profissionais especializados para gerenciar todas as ações do setor. Caldin (2005, p. 1) demonstra
que,
além de despertar o gosto pela leitura como forma habitual de lazer, um dos objetivos da
biblioteca escolar é a formação do cidadão consciente e capaz de um pensamento crítico e
criativo. Isso significa uma maior participação do bibliotecário no processo cultural do qual
fazem parte, também, os professores, pedagogos, escritores e pesquisadores que vêem na
leitura um ato de conscientização do indivíduo.
A existência de uma biblioteca escolar ativa e dinâmica é um fator fundamental para que se
estabeleça o processo de ensino-aprendizagem e o incentivo à leitura, pois é o primeiro contato do
aluno com esse tipo de estabelecimento.
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A biblioteca deve ser entendida como um centro de cultura, entretenimento, apoio
pedagógico, enfim, “o coração da escola”. Nela, a leitura deve ser prazerosa, um lazer, uma
diversão, pois existem alunos que não têm nenhum incentivo em casa.
Segundo Pimentel (2007, p. 28), “[...] a biblioteca escolar deve ser encarada como um
espaço dinâmico e indispensável na formação do cidadão”. E, com base nessa citação, surge o papel
do bibliotecário, com muita responsabilidade de se atentar para garantir o acesso à leitura, de
manter a frequência dos alunos em horários livres ou em momentos com a turma e os professores. É
dever desse profissional deixar a biblioteca sempre de portas abertas para qualquer usuário,
envolvendo a participação dos pais, professores, funcionários da escola e toda a comunidade
escolar.
4 METODOLOGIA
A presente seção aborda a metodologia utilizada na elaboração do estudo, cujo objetivo
principal é relatar a experiência do desenvolvimento do Projeto Quarta da Contação. Segundo
Pedron (2001), metodologia é o caminho percorrido para se alcançar determinado fim. Ou seja,
metodologia é o conjunto de métodos e técnicas aplicados para se atingir um determinado objetivo.
O estudo tem caráter exploratório, visto que o “tema escolhido é pouco explorado e torna-se
difícil sobre ele formular hipóteses precisas” (GIL, 2010, p. 43). O objetivo da pesquisa exploratória
é proporcionar visão geral sobre determinado fenômeno, que pode servir de ponto de partida para
novos trabalhos sobre o tema abordado. Desse modo, a etapa inicial da pesquisa envolveu o
levantamento bibliográfico, em que foram consultados livros e artigos sobre o tema selecionado, já
que o levantamento bibliográfico visa ao esclarecimento de conceitos sobre o tema ou problema
estudado.
A pesquisa tem abordagem qualitativa, pois analisa os aspectos subjetivos que qualificam o
problema. O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista semiestruturada. O corpus de
análise foi constituído pelos alunos, com o levantamento de dados ocorrendo junto a professores e
educandos.
O universo da pesquisa é composto por aproximadamente 100 alunos e cinco professores.
Para este artigo, selecionou-se uma amostra correspondente a duas professoras do Ensino
Fundamental I e em torno de 60 alunos. Utilizou-se a amostragem intencional por conveniência,
pois as professoras foram escolhidas por estarem na escola no momento da realização da entrevista.
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A escolha da escola ocorreu devido a uma das autoras do artigo trabalhar como bibliotecária na
instituição.
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PROJETO
QUARTA
DA
CONTAÇÃO:
ANÁLISE
DO
COMPORTAMENTO
INFORMACIONAL DE CRIANÇAS CONTADORAS DE HISTÓRIAS
O projeto de leitura e contação de histórias Quarta da Contação foi criado em 2011, na
Biblioteca Escolar do Colégio Ari de Sá Cavalcante, localizado em Fortaleza, com o objetivo de
atender a grande demanda de alunos que frequentavam a biblioteca no intervalo de aula. As
atividades do projeto ocorrem todas as quartas-feiras, momento em que as crianças selecionam uma
história para contar a seus amigos que estão presentes na biblioteca. Para o espetáculo, são
disponibilizados instrumentos de som, ou seja, microfone e caixa de som, além de acessórios, como
fantasias de livre escolha do aluno. Depois da narração, registra-se a presença do aluno com uma
foto sua e o livro de sua escolha para, posteriormente, expor a fotografia num painel da biblioteca. É
comum os alunos convidarem seus pais para visitarem o espaço e verem a exposição de fotos no
painel, momento de grande satisfação.
A partir da experiência com o desenvolvimento do projeto, surgiu o interesse de avaliar o
comportamento dessas crianças juntamente com o auxílio de duas professoras que participam das
ações. O intuito foi conhecer o impacto desse protagonismo infantil, no que concerne à prática da
contação de histórias, para o desenvolvimento de competências leitoras no contexto escolar.
Inicialmente, observaram-se os alunos, tentando entender que histórias eles mais gostavam
de contar para seus amigos. Percebeu-se que a grande maioria das meninas se interessava mais por
histórias de princesas, bailarinas e animais, enquanto os meninos se identificam mais com livros de
dinossauros, animais e comédias. A participação das meninas é bastante representativa, pois elas
frequentam mais o projeto, utilizam mais os acessórios e fantasias, gostam mais de tirar fotos; já os
meninos são mais práticos e objetivos quanto ao uso de acessórios e, geralmente, escolhem um
chapéu ou óculos, dentre outros.
Participa das atividades do projeto uma média de 40 alunos no turno da manhã e 20 alunos
no turno da tarde. Nota-se o desenvolvimento gradativo dos participantes no que concerne à leitura,
pois, no começo do ano, as crianças começam lendo muito devagar e escolhem poucos livros para o
empréstimo e, em pouco tempo, desenvolvem um verdadeiro cotidiano leitor. Foi unânime a fala
das crianças sobre a emoção de contar histórias com o microfone e com os recursos oferecidos para
os seus colegas assistirem: “Eu me sinto uma artista de televisão”.
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Muitos comentam que os pais ficam orgulhosos e felizes com a participação deles no
projeto, o que demonstra que esses alunos que contam histórias são também estimulados pelos pais
e familiares. Além disso, as crianças relatam que frequentam livrarias e teatro, o que demonstra a
importância desse estímulo para além da sala de aula. “O primeiro contato da criança com um texto
é feito oralmente, por meio da voz da mãe, do pai ou das avós, contando contos de fadas, trechos da
Bíblia, histórias inventadas...” (ABRAMOVICH, 1995, p. 20).
Em entrevista com as crianças envolvidas no projeto, a grande maioria comentou sobre a
influência das professoras nas salas de aula, que contam histórias em sala e conduzem os alunos até
a biblioteca, estimulando, dessa forma, o prazer pela leitura.
Entrevistando duas das principais professoras que participam desse projeto, as interlocutoras
comentaram sobre a satisfação de colher frutos com suas ações de incentivo à leitura. Falaram da
importância de organizar horários de aula de expressão oral e escrita para acontecerem na
biblioteca, como também reservam um tempo de visita a esse espaço para fazerem alguma leitura
com sua turma.
Segundo a professora Silva, é importante a leitura na vida das crianças, pois elas caminham
para uma formação de qualidade, de modo que se tornam mais criativas nas atividades curriculares
da escola e desenvolvem melhor as argumentações, ocasionando um excelente desempenho escolar.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desta pesquisa, foi possível acompanhar o projeto Quarta da Contação e avaliar o
desenvolvimento de competências leitoras de alunos do Fundamental I. Nota-se que foi a partir da
ação da biblioteca da escola que o projeto atingiu uma ampla dimensão, com resultados notórios no
desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos alunos.
Pensando na formação integral do aluno, a biblioteca propõe, por meio da contação de
história, formar a criança para a prática da liberdade, autonomia e construção da identidade e
personalidade. Quando a criança conta uma história, ela está se divertindo, estimulando a
imaginação, e todo esse desenvolvimento agrega excelentes resultados em sala de aula.
Assim, pode-se dizer que as histórias tratam de questões relativas à vivência social e coletiva
e, ao serem utilizadas na biblioteca, podem fornecer aos educandos formas de se relacionar com as
realidades externas e internas da dimensão humana. Não se trata apenas de entretenimento infantil,
mas também de fontes de conhecimento e imaginação.
�80
A partir do relato das professoras entrevistadas, percebeu-se que o contato com o livro e a
contação de história são essenciais, pois todos esses fatores intensificam o interesse e o prazer das
crianças para o universo literário, refletidos no desempenho dos alunos em sala de aula.
Dessa forma, conclui-se que a contação de histórias responde às necessidades afetivas e
intelectuais das crianças, gerando inúmeros benefícios para o leitor que conta histórias, pois, além
de instigar o gosto literário, amplia o vocabulário, desenvolve a linguagem oral e escrita, exercita o
poder de concentração, educa a atenção, dentre outros. Por isso, assume-se a importância em
desenvolver ações que dinamizem o espaço da biblioteca escolar e promovam o acesso à leitura
literária nas séries iniciais.
REFERÊNCIAS
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1994.
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�81
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VÁLIO, Else Benetti Marques. Biblioteca escolar: uma visão histórica. Transinformação,
Campinas, v. 2, n. 1, jan./abr. 1990.
�82
CAPÍTULO VI
IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS EM TERMINAIS URBANOS DA GRANDE
VITÓRIA-ES: UM RELATO DE CASO9
Maria Aparecida de Mesquita Calmon
Suelen de Oliveira Campos
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
Os estudos e projetos desenvolvidos sobre leitura têm sido uma constante na vivência de
profissionais e instituições, sobretudo daqueles (daquelas) que lidam com a informação e o
conhecimento para transformação social.
Dentre essas instituições, as bibliotecas se destacam, pois são elas propulsoras da
informação contida nas mais diferenciadas coleções que formam os acervos bibliográficos. Em
meio às atividades de formação e disseminação dos acervos, aliado aos serviços de referência que
atendem diferentes públicos, as bibliotecas e os bibliotecários acabam por estimular a prática da
leitura.
Assim, as bibliotecas se configurarem-se como espaços promotores da leitura. Cientes do
papel da leitura na vida dos indivíduos, seja quanto ao desenvolvimento intelectual, psicológico,
cultural e social, além da contribuição com o entretenimento, as bibliotecas colocam-se a serviço da
leitura, como também na formação de leitores.
Deveras, ao abraçar essa causa, as bibliotecas estão realizando uma atividade nobre para a
sociedade, pois a leitura fomenta a prática cidadã, como discorrido nos estudos de Diniz et al.
(2011) e Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014), dentre outros.
Além disso, há de se considerar que ao viabilizar a leitura, bibliotecas e bibliotecários estão
exercendo uma atividade inerente ao seu exercício profissional, mas também, não podemos
9
Os resultados finais deste relato de caso foram publicados no ano de 2016, na Revista Biblionline. Logo, o texto que
aqui se apresenta expõe esses e outros resultados, com algumas adaptações, sobretudo no que tange às mudanças
ocorridas, nos últimos anos, no Sistema de Transporte Rodoviário Urbano (TRANSCOL) da Grande Vitória, estado do
Espírito Santo.
�83
esquecer que elas e eles estão cumprindo o que está expresso em políticas públicas em favor da
leitura no Brasil, de modo a tornar a sociedade cada vez mais leitora.
No âmbito governamental, a criação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) revestese dessa causa, mobilizando ações em prol da promoção da leitura. Assim, torna-se uma tarefa
conjunta, seja de pessoas, organizações e governo em unir esforços no sentido de promover
parcerias e redes de leitura em todo o país (BRASIL, 2011).
As bibliotecas procuram atender as disposições do PNLL, dentre outras determinações
normativas, seja nas esferas municipal, estadual ou federal. O objetivo principal é permitir que a
leitura passe a se manifestar como uma atividade prazerosa, que pode ser realizada em qualquer
ambiente, desmistificando o fato de que as pessoas não lerem por falta de tempo; por não terem
condições de adquirir um livro; porque passam boa parte do tempo no trabalho; porque não vão à
escola ou à biblioteca, dentre outras justificativas.
É com esse propósito que muitas bibliotecas, sobretudo as bibliotecas públicas ou
comunitárias, realizam projetos em que os livros vão ao encontro das pessoas. Esses projetos são
estimuladores, porque rompem as “desculpas” acima mencionadas, e acabam por incentivar as
pessoas ao hábito da leitura.
É comum perceber projetos conduzidos pelas bibliotecas em que os livros são expostos em
ambientes fora da biblioteca. É louvável essa atividade, pois a biblioteca adota uma postura próativa, indo ao encontro dos leitores. Além de irem ao encontro dos leitores, é preciso também,
conforme defendido na tese de Chartier (1994, 1998), conhecer o perfil dos leitores, de modo a
melhorar as condições, para que a prática da leitura se efetive, independente do local que o leitor
esteja.
Pensando nisso, foi implementado o Projeto Biblioteca Transcol, uma parceria firmada entre
a Biblioteca Pública do Estado do Espírito Santo e o Sistema de Transporte Coletivo Metropolitano
(TRANSCOL) da Grande Vitória, estado do Espírito Santo (ES). Uma das ações do projeto foi
instituir acervos bibliográficos nos terminais de ônibus existentes nas cidades que comportam essa
região metropolitana, de modo que as pessoas, ao passarem no local, pudessem retirar um livro e
realizar a leitura, seja em casa, ou dentro dos ônibus.
Acreditamos que esse projeto sustentou-se na estratégia de que, mesmo estando dentro de
um ônibus, e, normalmente, diante de altos engarrafamentos comuns nas cidades brasileiras, as
pessoas pudessem aproveitar o tempo ocioso para recorrer à prática da leitura.
Assim, este estudo disserta acerca dos espaços de leitura instituídos em locais externos às
bibliotecas físicas, haja vista implementar ações de fomento à leitura na sociedade. Objetiva
apresentar o Projeto Biblioteca Transcol, demonstrando a oferta de material informacional
�84
disponibilizado em terminais rodoviários de grande circulação e disponíveis aos usuários que
utilizam o sistema de transporte urbano da região metropolitana de Vitória. Tendo em vista
demonstrar o desenvolvimento do referido projeto, analisam-se as práticas de leitura e o perfil dos
leitores, assim como a percepção dos usuários desses espaços quanto ao material fornecido e as
condições ambientais para concretização da leitura.
2 DIÁLOGO COM A LITERATURA
No intuito de fundamentar as ideias propostas neste artigo acerca da importância da leitura e
da contribuição do bibliotecário e da biblioteca no fomento a essa prática, principalmente quanto à
elaboração de ações que estimulem essas práticas para além dos ambientes tradicionais das
bibliotecas, esta seção destina-se a apresentar reflexões que confirmem a importância e necessidade
em se realizar essas ações.
Assim, nos dois tópicos, a seguir, apresentam-se fundamentação teórica, considerando o
papel da biblioteca e do bibliotecário no estímulo às práticas leitoras, como também os ambientes
em que essa prática pode se realizar e qual o comportamento dos leitores nos mais variados
contextos e ambientes em que a leitura pode ser realizada.
2.1 A CONTRIBUIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS NO FOMENTO À
LEITURA: O PAPEL DA BIBLIOTECA E DO BIBLIOTECÁRIO
A leitura vem sendo muito questionada ao longo dos tempos, principalmente a partir do
momento que passou a ser vista como uma prática de transformação e desenvolvimento intelectual e
social. É por meio da leitura que se desenvolve a habilidade crítica e reflexiva, o que torna o leitor
capacitado a transformar sua realidade. Portanto, a leitura desperta o conhecimento do mundo,
sendo um instrumento propagador de cidadania (MARINHO, 1993).
Por estar relacionada à cidadania, assim como defende a tese de Marinho (1993), a leitura
torna-se objeto de preocupação de governantes, principalmente nos países de sistema democrático.
Ela ocupa (ou deveria ocupar) um lugar privilegiado nos planos governamentais, o que justifica a
criação de políticas públicas que assegurem a formação de uma sociedade leitora (ROSA;
ODDONE, 2006).
�85
Para que a sociedade se torne leitora, não basta apenas investir no sistema educacional, de
modo a reduzir o analfabetismo. É preciso, segundo Rosa e Oddone (2006), implementar programas
de incentivo à leitura, sendo necessário, também, demonstrar a importância do livro e das
instituições que se colocam a serviço de sua guarda e disseminação, como as bibliotecas.
Especificamente, no Brasil, observa-se um cenário desigual e contraditório, pois, ao mesmo
tempo em que há políticas públicas e programas governamentais em favor da leitura, do livro e das
bibliotecas, muitas medidas não são implementadas, o que transforma o país em uma nação com
poucos leitores (ROSA; ODDONE, 2006).
Segundo essas autoras, transformar o Brasil em um país de leitores constitui um grande
desafio, principalmente com os reflexos da sociedade da informação, em que novos suportes
informacionais surgem, o que demanda conhecimento no uso das novas tecnologias por parte do
leitor, e isso pode acarretar novos problemas na tentativa de incluir o cidadão nesse novo estágio da
sociedade.
Mesmo diante dessas dificuldades, é preciso considerar que a luta por uma sociedade leitora
não constitui apenas missão dos governos, mas também de outras instituições e profissionais
engajados com as causas sociais. Trata-se de um trabalho conjunto, em que esforços devem ser
comungados, assim como dispõe o PNLL, cuja meta principal é criar condições favoráveis para a
formação de leitores e o incentivo à leitura no Brasil (BRASIL, 2011).
De acordo com o referido programa, todo cidadão deve ter acesso ao livro e à leitura,
independente de quaisquer limitações desse sujeito. Portanto, esse programa coloca-se a serviço da
formação cidadã por meio da prática da leitura. Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014, p. 79), a
respeito do PNLL, consideram que
o documento legal determina que o país condicione a formação continuada de profissionais,
seja das escolas, seja das bibliotecas. Para atingir esse fim, deve ser viabilizada a produção
e distribuição de materiais de orientação, com vistas a promover parcerias e redes de
leitura. Também se recomenda no texto legal a ampliação e implementação de bibliotecas
escolares e dotação de acervos.
Considerando as reflexões dos autores citados, entende-se que as instituições educacionais,
como as escolas e as bibliotecas, devem ser disseminadoras e incentivadoras das práticas leitoras.
Os profissionais dessas instituições devem comportar-se como agentes educacionais, culturais e
sociais, tendo apoio, incentivo e investimento por parte das autoridades governamentais.
Assim, é necessário repensar o papel da biblioteca, a qual deve adquirir uma dimensão
educativa, como mediadora e formadora de leitores (prática de leitura), além de sua atuação como
agência modificadora “[...] do viver, do sentir e do pensar do indivíduo, ou seja, torná-los
verdadeiramente cidadãos” (MARINHO, 1993, p. 93).
�86
Sendo assim, depreende-se o importante papel que o bibliotecário possui quanto à formação
de uma sociedade leitora. Esse profissional não pode ser visto apenas como guardião dos acervos,
mas sim, como propagador da informação, contribuindo para o desenvolvimento cidadão, tendo em
vista conquistar “[...] igualdade de oportunidades sociais que possibilitem a todos os estudantes o
acesso ao conhecimento registrado” (CALDIN, 2005, p. 163).
Com efeito, o bibliotecário deve ser dinâmico e audacioso, desenvolvendo ações que
interfiram no cotidiano das pessoas. No que se refere ao incentivo à leitura, não resta dúvida de que,
a inovação e criatividade são primordiais para atrair os novos leitores. O bibliotecário deve fazer
com que a biblioteca seja um espaço divertido e agradável para que as pessoas tenham mais vontade
de frequentá-la. Projetos podem ser realizados nas unidades de informação para atrair e manter os
leitores interessados (PITZ; SOUZA; BOSO, 2011).
A adoção de projetos constitui uma forma valiosa para divulgar o trabalho prestado na
unidade de informação. Portanto, no que se refere à leitura, o desenvolvimento de projetos que
viabilizem o contato dos usuários com os materiais informacionais, que despertem o interesse pela
leitura, tais como dramatizações e contações de história constituem atividades criativas e inovadoras
(PITZ; SOUZA; BOSO, 2011).
Outro exemplo de atividades bibliotecárias criativas e inovadoras voltadas à propagação da
leitura diz respeito à construção de espaços de leitura, podendo esses espaços serem estruturados
fora do ambiente físico da biblioteca, o que permite uma atuação bibliotecária além da biblioteca
(SANTA ANNA; GREGÓRIO; GERLIN, 2014).
É evidente que os espaços de leitura criados fora da estrutura física da biblioteca ampliam os
laços de aproximação entre biblioteca e sociedade. Para Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014), essa
atuação é, sem dúvida alguma, uma atitude interventiva do bibliotecário, haja vista despertar a
importância e o interesse pela leitura a um número cada vez maior e diversificado de leitores.
Assim, projetos podem ser realizados no sentido de implementar espaços de leitura em diversos
locais de uma comunidade, seja em locais públicos de grande circulação, seja em locais mais
reservados e privativos, como no interior de empresas.
2.2 ALÉM DOS MUROS DAS BIBLIOTECAS: OS ESPAÇOS E PRÁTICAS DE LEITURA E O
PERFIL DO LEITOR
Considerando a atuação da biblioteca além de seu recinto, no que se refere à propagação da
leitura, assim como apontou Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014), ao estruturarem um espaço de
�87
leitura em instituição hospitalar, depreende-se que a biblioteca e demais instituições educacionais
devem ser um organismo dinâmico que vai ao encontro da sociedade, desenvolvendo um trabalho
interventivo e de mudanças.
Marinho (1993) reforça o trabalho árduo das escolas e bibliotecas na busca por uma
sociedade leitora. Segundo esse autor, no que se refere à biblioteca, essa unidade possui um caráter
social, e não pode se manter isolada, nem tampouco, restrita a atividades internas de seu recinto. Ao
contrário, ela deve extravasar suas paredes, indo ao encontro de leitores e promovendo ações que
fomentem a leitura em todas as partes e grupos da sociedade.
A biblioteca possui inúmeras contribuições e funcionalidades na sociedade, sendo a
propagação da leitura, uma de suas maiores responsabilidades. Mas essa missão não deve restringirse aos muros das unidades. Ao contrário, as atividades bibliotecárias devem atingir diferentes
contextos e instâncias (SANTA ANNA; GREGÓRIO; GERLIN, 2014). E, essa expansão torna-se
ainda mais fácil com o uso das novas tecnologias, em que a biblioteca se torna universal, sem muros
e até sem lugar específico, o que permite a propagação da biblioteca na sociedade (CHARTIER,
1994).
Promover ações de leitura em ambientes externos às instituições educacionais requer a
gestão de espaços específicos para acomodar os materiais informacionais, assim como proporcionar
condições físicas e adequadas ao leitor para que o processo de leitura se efetive. Os espaços de
leitura, segundo Barreto (2007, p. 44-45), apresentam-se “[...] como o lugar, o ambiente destinado
ao ato de ler, onde o corpo do leitor presentifica-se [...]”.
Por isso, ao se pensar nos espaços de leitura, segundo Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014),
deve-se considerar essas estruturas como locais que viabilizam a aprendizagem. Portanto, segundo
esses autores, a prática da leitura não pode ser realizada apenas em ambientes educacionais, na
família ou na biblioteca. Nesse contexto, entende-se que a leitura pode ser realizada por meio da
estruturação de ambientes de aprendizagem “[...] organizados fora do ambiente escolar e/ou da
biblioteca, podendo ser firmada em ambientes onde o público aproveita o tempo ocioso para
consolidação da leitura” (SANTA ANNA; GREGÓRIO; GERLIN, 2014, p. 85, grifo nosso).
Assim, no entendimento desses autores, constata-se que o bibliotecário expande sua atuação
profissional e cumpre sua missão de agente cultural e social ao adquirir competência informacional,
contribuindo, sobremaneira, no gerenciamento desses espaços destinados à leitura e aprendizagem.
Embora pareça um processo simplista, ao arquitetar um espaço de leitura, muitas questões
complexas estão envolvidas, assim como defendeu Chartier e Lebrun (1998). O ambiente que está à
volta do leitor, as condições estruturais oferecidas para acomodar esse sujeito são fatores
interferentes nas técnicas utilizadas por ele durante a realização da leitura. Esses autores também
�88
demonstram que o espaço físico, assim como as tecnologias que materializam os textos (os
suportes) são questões que repercutem na produção de sentido.
No que se refere às tecnologias utilizadas, é consenso na literatura que os recursos
informáticos viabilizam grandes mudanças no processo de leitura, assim como na definição do
perfil do leitor e sua interação com o texto lido e a produção de sentidos. Nesse enfoque das novas
tecnologias, evidencia-se que esses suportes provocam mutações nas práticas de leitura, e o uso da
eletrônica como forma de escrita e comunicação acentuou a capacidade de interação do texto com o
leitor, por conseguinte, aumentaram-se as técnicas e práticas de leitura na sociedade atual,
viabilizando, também, diferentes perfis de leitores (SANTA ANNA; PEREIRA, 2014). Sendo
assim, não resta dúvida de que “a revolução do texto eletrônico será, ela também, uma revolução da
leitura. Ler num monitor não é o mesmo que ler num códice [...]” (CHARTIER, 1994, p. 190).
Vê-se que a trajetória do escrito ao longo dos tempos é suficiente para demonstrar a
pluralidade de formas que podem ser utilizadas para a prática da leitura, o que demonstra ser a
leitura um processo dinâmico, mutante e plural (CHARTIER, 1994). Portanto, as práticas, técnicas
e metodologias de leitura existentes são das mais diferenciadas, tendo o leitor a oportunidade de
optar por um ou outro tipo, considerando questões espaciais, tecnológicas e contextuais
(CHARTIER; LEBRUN, 1998).
Levando em consideração essas questões que permeiam o contexto do leitor, nota-se a
consolidação de diferentes perfis de leitores. A esse respeito, refletem Santa Anna e Pereira (2014,
p. 1693):
O surgimento da escrita representa um grande marco histórico à leitura, condicionando o
surgimento de diferentes práticas de leitura ao longo do desenvolvimento das sociedades. É
graças aos recursos materiais ou suportes tecnológicos que a escrita pôde ser representada
graficamente, por conseguinte, diversificaram-se as técnicas, estratégias e metodologias de
se realizar a leitura, acarretando, outrossim, perfis diferenciados de leitores.
Assim, as diversas técnicas de leitura viabilizadas ao longo dos tempos repercutem na
formação do leitor contemporâneo, o qual deixa de ser um agente receptor, para ser um interagente,
assumindo um papel mais dinâmico e participativo na construção dos significados oriundos do
texto. Logo, diferentes técnicas de leitura podem ser utilizadas, caracterizando diversos perfis de
leitor que podem ser: contemplativo (que realiza leitura detalhada), movente (o qual utiliza variadas
fontes) ou imersivo (utiliza fontes contextualizadas com recursos da internet) (SANTAELLA,
2004).
Em suma, observam-se as complexidades que envolvem os espaços de leitura, logo,
confirma-se a importante missão do bibliotecário ao arquitetar e gerenciar esses ambientes, sendo
�89
necessário constante monitoramento das condições estruturais e contextuais e dos recursos que
permitem que a prática da leitura seja realizada e disseminada de forma efetiva na sociedade.
3 MÉTODO DA PESQUISA
A metodologia utilizada no desenvolvimento deste estudo caracterizou a pesquisa como
descritiva, no que se refere aos objetivos do estudo e pesquisa de campo, no que se refere aos
procedimentos técnicos utilizados.
Consideramos este estudo como descritivo, pois ele analisou a realidade de uma dada
população, ou seja, 32 usuários que frequentam os espaços de leitura estruturados em terminais
rodoviários, espaços esses denominados de Biblioteca Transcol. Também pode ser considerado
como descritivo, uma vez que utilizou como técnica de coleta de dados, formulário com perguntas
fechadas (11 perguntas).
No caso deste estudo, o ambiente de pesquisa delimitado foi o projeto desenvolvido por uma
instituição bibliotecária, denominado de Projeto Biblioteca Transcol, cujo objetivo desse projeto é
disponibilizar acervos de livros para leitores que frequentemente utilizam o sistema de transporte
coletivo, sendo esses acervos caracterizados como espaços de leitura inseridos nos terminais
rodoviários pertencentes ao sistema de transporte coletivo.
Quanto às técnicas para coleta de dados, utilizou aplicação de questionário a leitores das
Bibliotecas Transcol, bem como o estudo de observação junto aos bibliotecários que gerenciam o
projeto, com o intuito de coletar informações sobre a criação, desenvolvimento e monitoramento do
projeto.
No que se refere à abordagem do problema, este estudo classifica-se como qualiquantitativo, pois ao mesmo tempo que se analisam dados concretos e objetivos com base nas
respostas obtidas na aplicação do questionário, recorreu-se à indução, a partir das entrevistas com os
bibliotecários, bem como às reflexões oriundas da fundamentação teórica.
3.1 O PROJETO BIBLIOTECA TRANSCOL
Tendo em vista a fundamentação teórica discorrida, considera-se a Biblioteca Transcol
como um espaço de leitura gerenciado pela Biblioteca Pública do Estado do Espírito Santo, em
parceria com a Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (CETURB), empresa essa
�90
que gerencia o sistema de transporte coletivo unificado dessa região, denominado de Sistema
Transcol.
Esse sistema adota a estrutura tronco-alimentadora, interligando diferentes linhas em
diversos terminais rodoviários, dispersos nos cinco municípios que compõem a região
metropolitana. Atualmente, o sistema possui um total de nove terminais interligados, com local
destinado ao embarque e desembarque de passageiros10. No interior dos terminais também há
diferentes lojas que prestam diversos serviços e/ou oferecem produtos variados aos usuários que
utilizam o sistema.
Levando em consideração a quantidade de pessoas que circulam nesses locais diariamente e
o tempo gasto na viagem dentro dos ônibus ou na espera nos terminais, foi instituído um acervo
contendo diferentes literaturas, tendo em vista incentivar a prática da leitura, durante a permanência
das pessoas nos terminais ou dentro dos coletivos.
Esses acervos foram expostos em prateleiras, no interior de uma sala, a qual possui também
computadores com acesso à internet. Esses espaços, denominados de Biblioteca Transcol, estão
presentes em todos os terminais da Grande Vitória. Logo, em 2018, o sistema consta com um total
de nove acervos.
Cada unidade possui em média um total de, aproximadamente, 2500 itens informacionais
(no caso, livros impressos). Esses acervos constam com diversas literaturas, seja ela científica,
acadêmica ou literária. No entanto, a maior parte do acervo está composta por obras de literatura.
Seu acervo é gerenciando pela Biblioteca Pública de Vitória, que é ligada à Secretaria de Estado da
Cultura (SECULT).
Os serviços prestados nesses espaços envolvem desde a consulta local aos materiais, bem
como o empréstimo domiciliar, podendo o usuário ler o livro dentro dos terminais enquanto espera
os ônibus, ou dentro dos ônibus durante o trajeto, ou até mesmo, em sua residência.
A figura 1 ilustra o interior das unidades, com destaque à disponibilização dos livros nas
estantes e computador para uso. A figura 2 apresenta a parte externa da biblioteca.
10
À época da coleta de dados, no ano de 2014, o Sistema Transcol era formado por dez terminais, logo, dez bibliotecas.
No entanto, no ano de 2018, um terminal foi desativado, o Terminal de Itaparica, restando apenas, no sistema, nove
terminais, portanto, nove bibliotecas.
�91
Figura 1 – Interior da Biblioteca Transcol
Fonte: Secretaria de Cultura (2018).
Figura 2 – Parte externa da biblioteca
Fonte: Secretaria de Cultura (2018).
Portanto, o projeto intitulado “Biblioteca Transcol” sustentou-se mediante ações voltadas à
instalação de unidades de locação de livros, nos terminais rodoviários do Sistema Transcol, pois,
nesses circulam parcela significativa do público-alvo do projeto. Os interessados se cadastram nas
próprias bibliotecas, retiram a carteirinha de associado na mesma hora, e podem locar,
gratuitamente, um livro por vez, pelo período de dez dias. Nesse sentido, o projeto está
incentivando a leitura e contribuindo para a melhoria do nível de informação e conhecimento das
populações menos favorecidas.
Fiel ao objetivo delimitado neste estudo, serão analisados, a seguir, os dados coletados em
campo, a partir da aplicação de questionário a 32 usuários-leitores das Bibliotecas Transcol. Entre
nove bibliotecas existentes à época da coleta de dados (2014), foram entrevistados três leitores em
cada uma delas, abordados aleatoriamente no momento da coleta. Em apenas uma biblioteca, por
ela ser maior, entrevistou-se um total de cinco leitores, também abordados aleatoriamente.
�92
Ressalta-se, também, que a partir do ano de 2016, foi adquirido o Software Sophia
Biblioteca para o gerenciamento das obras, gerando, assim, um catálogo sistematizado em rede.
Desse modo, os usuários podem realizar a consulta on-line, por meio de seu cadastro, o que
possibilita uma melhor comunicação efetiva entre a instituição e os seus usuários.
Tendo em vista demonstrar o desenvolvimento do referido projeto, o questionário foi
sistematizado de modo a contemplar três diferentes aspectos, que são: 1 - as práticas de leitura
adotadas pelos leitores desse sistema; 2 – o perfil desses leitores; e 3 - a percepção dos usuários
desses espaços quanto ao material fornecido e as condições ambientais para concretização da
leitura.
3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.2.1. As práticas, técnicas e estratégias de leitura realizadas na Biblioteca Transcol
Na opinião dos 32 leitores entrevistados, no que se refere ao local mais adequado para
concretização da leitura, as opiniões se divergem. Para três leitores (9,4%), realizam a leitura dentro
dos ônibus, durante os trajetos; para dois leitores (6,2%), o local que eles mais leem é nos terminais,
quando estão à espera dos ônibus; já para 13 leitores (40,6%), a leitura é realizada em casa,
enquanto que para 14 leitores (43,8%), a leitura é realizada em diferentes locais, seja em casa, nos
ônibus ou nos terminais (gráfico 1).
Gráfico 1 – Local em que os leitores realizam a leitura
50
43,8
45
40,6
40
35
30
25
20
15
10
9,4
6,2
5
0
0
dentro dos ônibus
no terminal à
espera dos ônibus
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
em casa
no terminal e
em todos os locais
dentro dos ônibus
acima citados
�93
Percebe-se que a maioria dos entrevistados realiza o processo de leitura em qualquer local,
desde que haja condições para tal, ou seja, que o leitor esteja com tempo ocioso, tendo a leitura um
papel de complementação, assim como afirma Scliar-Cabral (2009), de que, a leitura exerce
influência sobre a mente. Assim, segundo essa autora, lê-se para ocupar a mente, uma forma de
aproveitar o tempo para adquirir novos conhecimentos e despertar o exercício mental.
Quando se indagou a respeito das técnicas, metodologias ou estratégias específicas que os
leitores utilizam, haja vista tornar o processo mais agradável e compreensível, constatou-se que,
para dez leitores (31,25%), prefere-se ler por capítulos, o que viabiliza maior organização das
ideias; já para 12 leitores (37,5%), realiza-se a leitura até que haja cansaço; por fim, novamente dez
leitores (31,25%) disseram que leem enquanto estão com o tempo ocioso (gráfico 2).
Gráfico 2 – Técnicas utilizadas no discorrer da leitura
40
35
37,5
31,25
31,25
30
25
20
15
10
5
0
0
leio por páginas
leio as partes
principais do livro,
como introdução, o
resumo e o final
0
leio por capítulos
leio até ficar
cansado
leio enquanto
permaneço em
tempo ocioso
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Percebe-se que a maioria dos leitores são verdadeiros “devoradores” de livros, pois leem até
aparecer o cansaço, ou seja, continuam lendo um texto desde que estejam conseguindo assimilar as
ideias. Nesse enfoque, dialogamos com Chartier (1998) ao mencionar Michel de Certeau,
destacando que o leitor nada mais é do que, um caçador que percorre terras alheias. Constatamos
que a maioria dos leitores da Biblioteca Transcol leem por prazer, tornando-se verdadeiros
caçadores de novas ideias dispersas nas linhas e entrelinhas escritas por um autor.
Perguntou-se, também, no âmago das práticas de leitura, a respeito da interação entre o leitor
e o suporte que materializa a escrita, nesse contexto, o livro impresso. Investigou-se a respeito da
utilização de recursos ou instrumentos auxiliares de modo que o processo de leitura fosse melhor
�94
desenvolvido. Assim, para oito leitores (25%), utiliza-se tampão de ouvido; para cinco leitores
(15,6%), prefere-se o uso da régua para delimitação das linhas do texto; também cinco leitores
preferem ler ouvindo música baixa; já dez leitores (31,25%) utilizam o dedo indicador como ponto
de marcação das linhas e palavras; por fim, apenas quatro leitores (12,5%) disseram ler sem o
auxílio de nenhum recurso (gráfico 3).
Gráfico 3 – Utilização de recursos para melhorar o desenvolvimento da leitura
35
31,25
30
25
25
20
15,6
15,6
15
12,5
10
5
0
utilizo tampão de utilizo régua para
ouvino para isolar delimtar as linhas
o barulho externo
da escrita
gosto de ler
ouvindo música
baixa
leio com ajuda
dedo indicador
para marcar as
linhas
leio sem nenhum
recurso auxiliar
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
De acordo com os dados obtidos do gráfico acima, resulta-se que há forte interação entre
texto e leitor, assim como defendeu Chartier (1994), de que o texto (como produto da escrita) e o
leitor estabelecem uma interação, podendo essa ser voltada ao sentido do texto (concentração)
quanto ao contato, considerando as tecnologias envolvidas no suporte textual.
O dedo indicador aparece como o recurso mais utilizado para facilitar a leitura e a grande
minoria não utiliza nenhum recurso. Curioso que alguns leitores preferem ler ouvindo música, já
outros optam pelo silêncio absoluto. Esses resultados confirmam as teorias de Chartier (1994,
1998), quando menciona que, ao longo dos tempos, inúmeras práticas de leituras vêm sendo
utilizadas, desencadeando perfis diferenciados de leitor, um processo integralmente dinâmico e
diversificado.
No entendimento de Hillesheim et al. (2011), é importante mencionar que o texto se constrói
no encontro com o leitor, na relação entre um e outro. Portanto, é evidente que não se pode
dissociar texto e leitor, e nessas relações em que cada leitor possui sua estratégia, sobretudo com os
diversos suportes que registram a escrita, é comum que, constantemente, sejam manifestadas novas
e adversas combinações.
�95
3.2.2 O perfil dos leitores das Bibliotecas Transcol
A princípio, investigou-se a quantidade e tipologia de livros utilizados pelos leitores. No que
se refere à quantidade de livros em que se realiza a leitura por mês, oito entrevistados (25%) leem
apenas um livro; 11 usuários (34,4%) leem um total de dois livros; três respondentes (9,4%) leem
três livros; e dez usuários (31,2%) leem quatro livros ou mais a cada mês (gráfico 4).
Gráfico 4 – Quantidade de livros lida mensalmente pelos usuários da Biblioteca Transcol
40
34,4
35
31,2
30
25
25
20
15
9,4
10
5
0
0
nenhum
um livro
dois livros
três livros
quatro ou mais
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Quanto às modalidades de literatura lidas pelos usuários, obteve-se que, a grande maioria,
26 leitores (81,25%) procura por romance; dois leitores (6,25%) preferem ler livros de autoajuda;
três leitores (9,37%) escolhem a literatura acadêmica; e, por sua vez, apenas um leitor (3,12%) lê
todas as modalidades de literatura mencionadas no questionário (gráfico 5).
Gráfico 5 – Modalidade de literatura utilizada pelos usuários da Biblioteca Transcol
90
81,25
80
70
60
50
40
30
20
10
6,25
9,37
0
3,12
0
histórias em
quadrinhos
romance
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
livros de autoajuda livros acadêmicos
todos
�96
Por meio da análise aos dois gráficos supracitados, entende-se que o público da Biblioteca
Transcol é um público leitor, sendo que boa quantidade lê quatro livros ou mais por mês, o que
afere um resultado significativo. O tipo de obra mais procurada é o romance, seguido por livros
acadêmicos e de autoajuda.
Recorrendo às reflexões de Chartier (1994, 1998), a partir desses dados, é importante
discorrer acerca da leitura silenciosa e extensiva, muito comum nas sociedades modernas, ao
contrário do que ocorria na sociedade antiga e medieval, em que se optava pela leitura em voz alta e
intensiva. Segundo o referido autor, essa mudança de um tipo de leitura para outra é consequência
provável do crescimento editorial, o qual proporcionou mais facilidade de acesso ao livro e à
leitura, permitindo que as pessoas lessem individualmente (leitura silenciosa) e uma maior
quantidade de livros (leitura extensiva).
O leitor do sistema Transcol realiza a leitura para diversos fins. De acordo com os dados
obtidos na pesquisa, a maioria, 10 respondentes (31,25%), realiza a leitura em casa com fins de
entretenimento; cinco leitores (15,6 %) leem nos ônibus e terminais por necessidades profissionais;
oito leitores (25%) leem nos ônibus e terminais a fim de aproveitar o tempo de espera; outros oito
leitores (25%) leem em casa a fim de adquirem conhecimentos; e, por fim, apenas um leitor
(3,12%) considera que lê por outros motivos (gráfico 6).
Gráfico 6 – Motivo que leva o leitor a utilizar os livros ofertados pela Biblioteca Transcol
35
31,25
30
25
25
25
20
15,6
15
10
3,12
5
0
ler durante
ler nos ônibus e nos ler em casa para
permanência nos
terminais como
admquirir
ônibus e terminais formar a aproveitar conhecimentos
por necessidade o tempo de espera
profissional e
acadêmica
ler em cada para
fins de
entretenimento
outro motivo
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Esse resultado vai ao encontro do que afirma Brito (2010), de que o leitor busca na leitura
diversos objetivos, tanto de cunho informacional, quanto para se instruir, obter e aprofundar
conhecimentos, entretenimento, prazer, por gosto, comunicabilidade e para melhor compreender o
meio em que se vive. Enfim, o sujeito busca na leitura sua satisfação em meio a diferentes
necessidades.
�97
A figura do leitor aparece no contexto atual repleto de mudanças, como um agente que sofre
interferências de inúmeros fatores externos durante o processo de leitura, fato esse que pode
viabilizar o desvio no real sentido de um texto quando idealizado por seu autor, no momento que é
decodificado pelo processo de leitura (CHARTIER; LEBRUN, 1998).
Para os leitores do Transcol, a maioria, 15 leitores (46,9%), recebe interferências de vários
fatores externos, como: barulho, luminosidade e postura em pé; para cinco entrevistados (15%), o
fator mais presente é o barulho; para 11 leitores (34,5%), o principal fator diz respeito à postura em
pé; e, ao final, para apenas um leitor (3,12%), não existem fatores interferentes (gráfico 7).
Gráfico 7 – Fator mais presente no cotidiano dos leitores da Biblioteca Transcol
50
46,9
45
40
34,5
35
30
25
20
15
15
10
3,12
5
0
0
barulho
luminosidade
postura em pé
todos os fatores
acima de igual
proporção
não existe nenhum
desses fatores
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Essas interferências nos remetem a afirmar que a leitura constitui um processo dinâmico,
complexo e subjetivo, conduzida e refletida única e exclusivamente pelo leitor que dela se apropria,
sendo expressa por meio de “[...] um gesto, individual ou coletivo, dependente das formas de
sociabilidade, das representações do saber ou do lazer, [e] das concepções da individualidade”
(CHARTIER, 1994, p. 173).
Os fatores externos aliados ao texto refletem diferentes ambiências, o que proporciona
diferentes modalidades de leitor. Na visão de Santaella (2004), na modernidade, existem três
categorias de leitores: o contemplativo, o movente e o virtual. De acordo com os leitores
entrevistados, a maioria, 20 sujeitos (62,5 %), acredita que a ambiência proporcionada pelo sistema
Transcol favorece a consolidação de um leitor contemplativo; para cinco leitores (15,6 %), são
leitores moventes; também cinco acham que são leitores imersivos; e por fim, apenas um
respondente (3,12%) considera ser outro tipo de leitor (gráfico 8).
�98
Gráfico 8 – Tipos de leitor, dadas as condições ofertadas pelas Bibliotecas Transcol
70
62,5
60
50
40
30
20
15,6
15,6
10
3,12
0
leitor contemplativo (que
leitor movente
leitor imersivo (virtual,
lê silenciosmante, de fragmentário (que ler de interativo com as novas
forma independente
forma dinâmica, atento
tecnologias)
aos detalhes,
comparanado o texto
lidocom outros textos
outro tipo de leitor
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Não resta dúvida de que o texto lido em voz alta ou de forma silenciosa, bem como o texto
materializado em tabletes de argila, papiro, pergaminho ou impresso em papel, assim como, a
ambiência e contexto ideológico na qual o leitor se situa desperta no leitor a transposição de um
mundo imaginário (registrado no suporte) a um mundo real (contextualizado) (CHARTIER;
LEBRUN, 1998).
A partir desse conjunto de fatores que permeiam a ambiência social, diferentes práticas de
leitura vão sendo desenvolvidas, fomentando diversos perfis de leitores. Como o contexto social é
mutante, aferimos que a leitura e suas práticas constituem um processo dinâmico e flexível,
consequentemente, proporcionaram e proporcionam pluralidade de leitores ao longo dos tempos.
3.2.3 A percepção dos leitores quanto às questões estruturais da Biblioteca Transcol
A Biblioteca Transcol foi instituída com o intuito, a priori, de despertar nos usuários do
sistema de transporte o gosto pela leitura, de forma que o tempo gasto nos terminais e nos ônibus
fosse aproveitado em prol da leitura. O acervo das unidades é formado por obras de literatura,
especificamente romances, sejam nacionais quanto estrangeiros. Analisando a percepção dos
leitores a respeito da qualidade dos materiais disponibilizados no acervo dessas unidades, para 21
leitores (65,7%), o material é de excelente qualidade, atendendo suas expectativas; logo, para onze
�99
leitores (34,3%), os materiais são bons, porém recomendam que o acervo poderia ser mais
diversificado (gráfico 9).
Gráfico 9 – Qualidade dos materiais disponibilizados pelas bibliotecas
70
65,7
60
50
40
34,3
30
20
10
0
0
0
Excelente qualidade. Me Não satisfazem minhas Não satisfazem minhas
Materiais são bons,
atendem
necessidades. Conteúdo necessidades. Conteúdo
porém poderiam
superficial
difícil entendimento diversificar mais o acervo
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Por meio desses dados, percebe-se que, o acervo está atendendo as necessidades dos
usuários. Alguns consideram como melhoria a diversificação do acervo. De qualquer forma, é
preciso monitoramento por parte do bibliotecário, sendo indispensável que o profissional conheça
muito bem todo o seu acervo e o perfil de seus usuários, possibilitando satisfação dos leitores e
produção de conhecimento (DINIZ, 2011).
Quando indagados a respeito do que poderia ser feito para que a leitura fosse mais
concretizada, 22 leitores (68,75%) pensam que a unidade poderia oferecer mais materiais; dois
leitores (6,25%) sugerem a disponibilização de espaço com mesas e cadeiras; por fim, oito leitores
(25%) acham importante que o material emprestado tivesse um prazo mais estendido (gráfico 10).
Gráfico 10 – Opções adotadas pela biblioteca que poderiam viabilizar o hábito da leitura
80
70
68,75
60
50
40
25
30
20
6,25
10
0
Oferecer mais materiaias além
dos já disponibilizados
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Disponibilizar espaço com
Estender o prazo de permanência
cadeiras e mesas nos terminais
do material com o leitor
�100
Nota-se que, na opinião dos leitores, a maioria considera como principal fator a ser pensado
na tentativa de incentivar a prática da leitura é diversificar as coleções que formam o acervo. Esse
resultado condiz com o que reza o PNLL ao dispor sobre a necessidade de ofertar livros em
diferentes formatos e que atenda as necessidades do público servido.
As unidades existentes nos terminais possuem acervo composto por livros em estantes e
alguns computadores para consulta ao acervo e para viabilizar acesso à internet. Não há
disponibilização de espaço para leitura com cabines, mesas e cadeiras. Ao perguntar aos leitores
sobre a montagem de um espaço para leitura, contendo mobiliário apropriado, 17 leitores (53,1%)
entendem que seria bom, pois aumentaria o poder de concentração; para seis leitores (18,7%), o
espaço seria bom, pois diminuiria problemas de postura, uma vez que usuários aguardam o
transporte em pé; já para três leitores (9,3%), esse espaço não ajudaria em nada, pois eles fazem as
leituras em suas residências; outros seis leitores também disseram que não ajudaria, pois eles fazem
as leituras nos ônibus (gráfico 11).
Gráfico 11 - Criação de espaços de leitura, com mesas e cadeiras, na biblioteca
60
53,1
50
40
30
18,7
20
18,7
9,3
10
0
Seria bom, pois
Seria bom, pois
aumentaria o poder de diminuiria problema de
concentração
postura
Não me auxiliaria em
nada, pois faça as
leituras em casa
Não me auxiliaria em
nada, pois faça as
leituras dentro dos
ônibus
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Percebe-se que a maioria considera a estruturação do espaço como viável. Assim, não basta
apenas oferecer as fontes, é preciso também, disponibilizar um espaço adequado e agradável
(BRASIL, 2011). Segundo Santa Anna, Gregório e Gerlin (2014), a fim de despertar o gosto e
motivação dos leitores/educandos, faz-se imprescindível a estruturação de um espaço dinâmico,
interativo e acolhedor, o que exige criatividade e inovação por parte dos profissionais responsáveis
pelo gerenciamento do espaço.
�101
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo apresentou algumas características da Biblioteca Transcol, as práticas de
leitura realizadas, o perfil dos leitores e a percepção dos leitores quanto ao papel dessa unidade no
fomento à leitura. Logo, o objetivo da pesquisa foi atendido. De modo geral, constatou-se ser uma
ação válida a gestão desse projeto, uma vez que atende, em alguns aspectos, as recomendações do
PNLL.
A partir dos dados e das informações teóricas analisadas nesta pesquisa, constatou-se que o
cenário que reveste o imaginário do leitor é diversificado, e a prática da leitura pode ser realizada
em diferentes ambientes, não estando engessada unicamente nos espaços e instituições tradicionais,
como nas residências, nas instituições escolares ou nas unidades de informação. O ato de leitura
desperta no leitor a construção de novas habilidades e viabiliza a consumação do aprendizado, sem
considerar o espaço, a posição, enfim, independente da maneira como a leitura é praticada.
De modo geral, o estudo aplicado a 32 leitores da Biblioteca Transcol demonstrou que, a
grande maioria realiza as leituras em suas residências, com a finalidade de entretenimento. Essa
preferência pode ser justificada pelo fato da grande maioria considerar inúmeros fatores
ergonômicos que interferem no processo de leitura, como: barulho, luminosidade e postura em pé.
No que se refere às práticas de leituras oferecidas pela Biblioteca Transcol, em linhas gerais,
constatou-se que a leitura desenvolvida na referida unidade constitui um processo dinâmico,
mutante, plural e prazeroso, com práticas de leitura diversificadas, tendo o leitor diferentes
comportamentos durante a consolidação do ato ler.
Com efeito, constatou-se, no que se refere aos aspectos voltados ao perfil do leitor, que os
usuários das Bibliotecas Transcol leem diversos livros, tendo preferência por romances. Em linhas
gerais, esses livros são lidos de forma individual e com rapidez, o que caracteriza as leituras como
extensivas, no entanto, mesmo assim, os leitores não perdem a tendência contemplativa.
Os resultados obtidos a partir da percepção dos usuários quanto aos produtos e serviços
prestados pela Biblioteca Transcol permitem afirmar que, de modo geral, os leitores estão satisfeitos
e sendo despertados ao gosto e hábito pela leitura. Sugerem como melhoria a diversificação quanto
às modalidades de livros ofertados e a construção de um espaço específico para acomodar os
leitores.
Este estudo também demonstrou a viabilidade do projeto Biblioteca Transcol, até o
momento, ao adotar práticas que fomentem a leitura em diferentes espaços sociais, atendendo às
políticas públicas voltadas para a formação de leitores, assegurando o exercício da cidadania. O
contexto analisado na pesquisa viabiliza a formação de diferentes leitores, cujos objetivos ao
�102
praticar a leitura é aproveitar o tempo despendido ao se utilizar o transporte urbano na aquisição de
novas informações oriundas com a prática da leitura.
Com o término desta pesquisa e com os resultados obtidos a partir da Biblioteca Transcol,
bem como diante das recomendações propostas pelos planos governamentais a respeito da leitura,
recomenda-se a elaboração de outros projetos dessa natureza, em que a biblioteca seja vista como
um espaço sem fronteiras, no que diz respeito ao fomento à leitura. Sugerem-se pesquisas e projetos
que proponham, por exemplo, a inserção dos espaços de leitura em outros ambientes abertos de
grande circulação, tais como na estação ferroviária, no aeroporto e nos terminais rodoviários
intermunicipais existentes na região da Grande Vitória. A leitura não pode parar, pois se trata de um
processo transformador da realidade social.
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jan./abr. 2007. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/37618>. Acesso
em: 14 fev. 2016.
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da Leitura (PNLL) e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/c civil_
03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7559.htm>. Acesso em: 12 fev. 2014.
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Faculdade Dom Domênico, Guarujá, ano 4, n. 8, jun./2010. Disponível em:
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CHARTIER, Roger. Do códice ao monitor: a trajetória do escrito. Estudos Avançados, v. 8, n. 21,
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HYPERLINK "http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext%20&pi%20d=S010340141994000200012"& HYPERLINK
"http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext%20&pi%20d=S0103-40141994000200012"pi
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�104
CAPÍTULO VII
LETRAMENTO INFORMACIONAL EM BIBLIOTECAS: PARA ALÉM DO PROCESSO
DE ALFABETIZAÇÃO
Rafael Ribeiro Rocha
1 INTRODUÇÃO
O avanço da tecnologia tem propiciado o acesso das pessoas à informação. Desde a chamada
“explosão informacional”, a propagação de conteúdos ganhou espaço na vida de muitos indivíduos
que, sedentos de conhecimento, procuraram fazer parte do mundo em que ocupavam. Afinal, o
pertencimento sempre foi algo urgente na vida de um cidadão e nada mais necessário que a
informação, uma vez que ela abre horizontes e tem a capacidade de mudar a história de toda uma
comunidade ou até mesmo de gerações.
De 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, ao ano de 2018, o mundo assistiu as
transformações ocorridas nas variadas formas de armazenamento, organização e divulgação da
informação, sejam elas na propagação de conhecimentos científicos ou por meio dos meios de
comunicação de massa como jornal e revista, rádio e televisão e a internet. Diante disso, o
“comportamento informacional” da sociedade tem mudado consideravelmente, pois se antes as
pessoas adotavam uma postura mais passiva no recebimento da informação, atualmente, os
indivíduos exercem um papel mais participativo, uma vez que o acesso às tecnologias facilita essa
prática.
Sendo assim, é notável que empresas, institutos e bibliotecas têm atuado como repositórios
ou unidades de informação, cujo dever é o de estabelecer a manutenção e a divulgação desses
“objetos informacionais”. Gasque (2012, p.26) pondera que em meio à “difícil missão de formar
cidadãos reflexivos, críticos e autônomos”, a Biblioteconomia tem o intuito de auxiliar os cidadãos,
“usuários e não usuários de bibliotecas e unidades de informação”, na forma com que eles lidam
com as informações.
Os bibliotecários têm o poder não apenas de ser responsável pela gestão informacional, mas
também o de atuar como agente cultural e educacional, proporcionando o desenvolvimento dos
indivíduos, mediante a expertise na propagação da informação e do conhecimento para as pessoas.
A alfabetização, tal qual concebemos, é de extrema importância para a vida de uma pessoa. Afinal,
�105
ela conduz o ser humano à sua autonomia e ao seu respectivo lugar de fala, lugar no mundo. No
entanto, o letramento informacional vai além: ele direciona os usuários aos conteúdos necessários e
elementares para a sua vida. Por meio dessa prática, o bibliotecário ajuda a formar novos leitores,
aprimorar tal prática e a orientar o comportamento de todos que procuram estar inteirados em sua
comunidade ou espaço por meio da informação.
Pode-se considerar esse profissional da Ciência da Informação como o detentor de técnicas
que direcionam as pessoas às fontes corretas de informações em suas variadas formas. No entanto, o
enfoque que se dará, neste capítulo, está no espaço da biblioteca escolar e a importância que o
profissional da unidade de informação exerce na mediação dos usuários ao conhecimento
necessário. Para explicar aos leitores todos os lugares que contam com a presença do bibliotecário,
seria preciso mais de um capítulo, talvez um livro inteiro, mas a bibliografia da área sempre é
agraciada com pesquisas e análises aprofundadas, feitas por estudiosos que investigam com afinco
as nuances presenciadas e surgidas na área. A intenção, aqui, é falar e mostrar como uma prática
tem o poder de modificar para melhor a aproximação do aluno/cidadão à informação. O letramento
informacional tem essa força e o bibliotecário é o principal agente envolvido nessa habilidade.
2 METODOLOGIA
A escolha pelo tema surgiu a partir de um interesse, sobretudo na relação que a biblioteca
exerce com o usuário e vice-versa. Existem estudos primorosos acerca do letramento informacional.
Com isso, os autores citados neste capítulo são aqueles, cujas pesquisas bem fundamentadas
enriqueceram as investigações realizadas na área da Ciência da Informação.
A seção 3 “Letramento Informacional” procura explicar com base nas discussões de Gasque
(2012), Campello (2009) e Caregnato (2000) a origem da expressão ”Information Literacy” e os
caminhos que consolidaram a prática dentro da profissão dos bibliotecários. Além disso, destaca-se
o advento do letramento informacional aqui no Brasil e quais foram os principais pontos
vivenciados desde então pelos atuantes na área.
Já a seção 4 “Revisão de Literatura” traz a temática de forma mais aprofundada, convidando
o leitor a se inteirar de forma completa no assunto. Essa seção abordará os fundamentos teóricos
levantados por pesquisadores brasileiros acerca do letramento informacional. Questões como as
principais linhas de investigação e os problemas serão abordados, de forma bem sucinta,
considerando a abrangência que o tema já ganhara ao longo dos últimos anos.
�106
3 LETRAMENTO INFORMACIONAL
De acordo com Gasque (2012, p. 26), o termo “letramento informacional” foi adotado pela
primeira vez pelo bibliotecário norte-americano Paul Zukowski, em 1974, quando o relatório The
information service enviroment relationships and priorities foi publicado com o intuito de
promover a information literacy (letramento informacional) como ferramenta de acesso à
informação nas bibliotecas do país.
Ao longo dos anos, a preocupação com a forma de recebimento da informação por parte dos
usuários ganhou espaço não apenas nos Estados Unidos, mas em outras partes do mundo. Há que se
destacar um evento que foi o responsável por impulsionar o papel do letramento informacional na
prática educacional e bibliotecária: o National Forum on Information Literacy (NFIL), de 1990,
contando “com a participação de mais de 75 membros de instituições de educação, negócios e
organizações governamentais”. O objetivo principal era o de trazer luz à discussão sobre a
necessidade de conscientização acerca da importância do letramento informacional e de planejar
práticas voltadas para a orientação de aquisição das competências informacionais (GASQUE, 2012,
p. 27).
Segundo Campello (2009, p. 68), os bibliotecários tentavam provar suas influências no
processo de aprendizagem, baseando-se no conceito de information literacy. A pesquisadora ainda
ressalta que muitos desses profissionais já exerciam tal função, uma vez que eles “já vinham
desenvolvendo ação pedagógica mais ampla do que o referido termo implica e tinham consciência
de que esse trabalho exercia influência positiva na aprendizagem”.
Gasque (2012, p. 28) explica que o letramento informacional pode ser correspondido como
um processo no qual ocorre a ação de desenvolvimento de competências que induzem os usuários
na localização, acesso, organização e uso da informação, a fim de que essas etapas gerem
conhecimento, resultando em tomadas de decisão e resolução de problemas.
Embora o termo tenha surgido na década de 1970, a pesquisa sobre essa área ganhou espaço
aqui no Brasil apenas no final do século XX, por meio de uma análise bem detalhada realizada por
Sônia Caregnato sobre o letramento informacional no contexto das bibliotecas universitárias. A
partir de seu estudo, Caregnato abriu precedentes para que outros estudiosos desenvolvessem
pesquisas de extrema importância não só na área da Ciência da Informação, mas também na
Educação, tendo em vista o papel de educador que bibliotecários também exercem na mediação
entre a informação e o estudante/cidadão.
�107
4 REVISÃO DE LITERATURA
A teoria acerca do letramento informacional tem sido discutida de forma incessante nos
últimos anos. Aqui, no Brasil, por exemplo, a primeira vez que esse assunto veio à tona foi através
de um estudo, no qual Caregnato (2000) fez uma revisão acerca dos conceitos ligados à educação
dos usuários em bibliotecas universitárias. Além disso, sua pesquisa procurou evidenciar a
importância acerca da habilidade informacional em um contexto marcado pelo crescimento
considerável das informações no meio digital. Interessante lembrar que a sociedade do final do
século XX e início do XXI assistiu a uma transformação que mudaria para sempre a forma de obter
acesso a diversos conteúdos.
Naquela época, Caregnato (2000, p. 48) já demonstrava o desafio que surgiria com o
aperfeiçoamento das tecnologias da informação e a educação dos usuários frente às suas
necessidades. Caberia, então, às bibliotecas, o papel de conduzi-los por meio de habilidades que os
capacitariam para a “localização, seleção, acesso e utilização da informação”. A pesquisadora já
havia salientado o cenário que se delinearia a partir daquele momento.
No entanto as bibliotecas nem sempre têm cumprido eficientemente este seu papel. Elas
vivem hoje um momento especial, há uma pressão constante para que melhorem a
qualidade dos serviços prestados aos seus usuários, particularmente no momento em que se
observa uma mudança paradigmática em Ciência da Informação e Biblioteconomia, de uma
abordagem centrada em sistemas para uma abordagem centrada no usuário, e quando a
explosão dos recursos e fontes de informação, especialmente as eletrônicas, é esmagadora.
No Brasil, particularmente nas últimas duas décadas, recursos financeiros e humanos das
bibliotecas parecem ter sido primordialmente canalizados para a informatização, como
consequência alguns serviços foram penalizados, dentre eles destacam-se aqueles
relacionados ao atendimento do público, e em particular a educação de usuários. É
impossível discordar do empenho colocado em dominar e aplicar as tecnologias dos
computadores e das telecomunicações nas bibliotecas, pelo contrário, pode-se observar que
muito ainda deve ser realizado neste sentido. No entanto é preciso lembrar que bibliotecas
são instituições provedoras de serviços e todo e qualquer aplicação de tecnologia tem um
único objetivo: oferecer mais e melhores serviços aos usuários. A integração da tecnologia
da informação e educação de usuários, por exemplo, pode oferecer serviços que são
verdadeiramente centrados no usuário (CAREGNATO, 2000, p. 48).
A autora chama a atenção nesse parágrafo destacado quanto à prioridade que muitas
bibliotecas brasileiras passaram a ter com o aperfeiçoamento da informatização das unidades de
informação. No entanto, todo esse cuidado relegou o atendimento de usuários para segundo plano.
Isso postergou a educação do usuário, ou seja, houve uma preocupação acentuada com os
instrumentos e enfoque aquém do esperado com as pessoas que iam até os locais em busca de
informação.
Aproveitando que a abordagem sobre o letramento informacional estava começando a ser
delineado no Brasil, Caregnato (2000) apresentou algumas variantes que faziam referência à prática
da educação de usuários e suas respectivas competências. A pesquisadora comparou, então, as
�108
formas utilizadas ou discutidas por outros estudiosos da Ciência da Informação. O trabalho dos
bibliotecários em induzir os usuários a uma prática satisfatória diante dos conteúdos informacionais
recebeu algumas denominações, contestadas ao longo do tempo. Caregnato (2000) pontua que as
expressões “treinamento de usuários”, “instrução bibliográfica”, “educação de usuários” e
“desenvolvimento de habilidades” foram usadas de uma “forma quase indiscriminada” a fim de
designar tal prática. A utilização de tais termos evidenciava a evolução da compreensão dos teóricos
sobre “os fenômenos associados ao ensino/aprendizado e à informação”.
O estudo de Caregnato representa o pontapé inicial da discussão sobre o letramento
informacional no Brasil. É importante ressaltar que sua contribuição para a Ciência da Informação
abriu precedentes para que outras abordagens fossem realizadas ainda de forma mais ampla, uma
vez que a análise feita por Caregnato encontrou nas bibliotecas universitárias o objeto de estudo
para sua observação.
Diante da necessidade de abrir o leque sobre o letramento informacional, Gasque e
Tescarolo (2010) discutiram a viabilidade e o impacto que tal prática poderia trazer aos estudantes
do ensino básico. Para isso, os autores procuraram reforçar a ideia de que o conhecimento e o
acesso à informação são elementos essenciais para o aprendizado. Os estudiosos utilizaram a análise
de pesquisas realizadas pelo comitê de Desenvolvimento da Ciência e Aprendizagem, cuja
descoberta de três fatores acrescenta importantes pontos no ensino, a saber: conhecimentos prévios
e experiências, conhecimentos factuais e o processo metacognitivo.
A primeira dessas descobertas considera que o conhecimento só é de fato entendido como
tal quando processado a partir de um conhecimento prévio. Dessa forma, a informação
representa um elemento exógeno a ser transformado em conhecimento mediante a
interpretação e a compreensão de cada pessoa. O conhecimento, mesmo reconhecido como
experiência subjetiva, pessoal e intransferível, pode ser exteriorizado como informação para
outro ser humano por meio de símbolos, indícios, sinais, imagens, fala ou escrita. A
informação, incorporada pela aprendizagem, transforma-se em conhecimento que, portanto,
não se reduz ao resultado da experiência direta e imediata do sujeito sobre a realidade
(GASQUE; TESCAROLO, 2004), nem “a uma fórmula matemática ou à instrução para
computador: é arte, conselho, tecnologia, teoria e a motivação que está por trás de toda a
comunicação” (WURMAN, 1991, p. 361). A segunda descoberta refere-se a uma base
sólida de conhecimento factual, em que as relações entre fatos e ideias devem estar bemestruturadas e organizadas, de modo a facilitar a recuperação e aplicação. O planejamento
de tarefas, a percepção de padrões e a capacidade de gerar argumentos e explicações
razoáveis estão mais relacionados ao conhecimento factual do que se acreditava. As pessoas
devem assumir o controle da própria aprendizagem, identificando quando entendem e
precisam de mais informações, uma vez que a “compreensão profunda do assunto
transforma a informação factual em conhecimento utilizável” (BRANSFORD; BROWN;
COCKING, 2007, p. 35). A terceira descoberta reporta-se ao processo de metacognição,
capacidade catalisadora de um conjunto de atividades fundamentais para a aprendizagem,
principalmente a escolar. A metacognição corresponde à competência humana de antevisão
do próprio desempenho nas tarefas cognitivas, possibilitando o monitoramento do método
que se utiliza para se solucionar uma situação-problema ou do nível imediato de
compreensão e de domínio das mais diversas atividades cognitivas. Destaca-se que essa
competência de “identificar os limites do conhecimento que se tem no momento, e então
tomar providências para remediar a situação, é muito importante para aprendizes de todas
�109
as idades” (BRANSFORD; BROWN; COCKING, 2007, p. 74) (GASQUE; TESCAROLO,
2010, p. 49-50).
De acordo com Gasque e Tescarolo (2010), tais descobertas mostram a necessidade do aluno
do ensino básico frente ao aumento considerável da informação. Eles chamam a atenção para o
protagonismo que os estudantes devem ter, a fim de que adquiram estratégias, cuja importância se
dará na forma de seleção de “informações relevantes para torná-las significativas”. Em outras
palavras, é como se as pessoas relacionassem novas informações com o que já faz parte de seu
conhecimento e, a partir disso, fazer uma associação entre elas. Sendo assim, Gasque e Tescarolo
(2010) enfatizam que “quanto mais relações entre as informações o aluno consegue estabelecer,
menos mecânica se torna sua aprendizagem”. A importância do letramento informacional está
justamente nesse quesito, ou seja, ele é importante, a partir do momento em que se têm as
estratégias adequadas para lidar com algum conteúdo de forma satisfatória.
A presença do bibliotecário torna-se imprescindível durante esse processo. Campello (2009,
p. 19) pondera que as funções dos profissionais estão ligadas às práticas de democratizar o acesso
das pessoas à informação; além de tornar os usuários capacitados para o uso crítico dos bens
informacionais, promover condições que permitam a reflexão e a construção de ideias por meio da
leitura. A biblioteca escolar, por sua vez, exerce um papel de suma importância devido ao espaço
adequado para o desenvolvimento do letramento informacional (CAMPELLO, 2009, p. 19).
Embora seja inevitável relativizar a situação das bibliotecas escolares, em função das
múltiplas realidades vivenciadas pelas unidades de informação, algo que não pode passar
despercebido é o exercício da pesquisa escolar como a oportunidade dos bibliotecários para induzir
os alunos aos caminhos do letramento informacional. De acordo com Campello (2009, p. 19), a
pesquisa escolar funciona como uma estratégia didática inerente ao bibliotecário, uma vez que o
aluno pratica essa busca no ambiente da biblioteca. No entanto, evidencia-se uma necessidade de
aperfeiçoamento, tendo em vista que nem todos os usuários alcançavam de fato o que era desejado,
ou seja, recebiam condições para ter acesso à informação necessária. Os motivos levantados pela
pesquisadora foram variados, ora passando pela estrutura pedagógica da escola ora pela incoerência
de alguns professores que nem sequer liam os trabalhos realizados pelos alunos. Além disso, a
pouca motivação dos estudantes também influenciava muito na busca pela informação adequada. O
quesito estrutura também foi trazido para o cerne da discussão. Campello (2009, p. 21) enfatiza que:
Estudo feito em uma biblioteca pública (MARTUCCI, 1997), para investigar o processo de
busca e uso da informação por alunos dos ensinos fundamental e médio que iam à
biblioteca para cumprir tarefas de pesquisa solicitadas por seus professores, confirmou as
fragilidades do processo, ao verificar que o atendimento era feito de forma rápida, para que
o funcionário pudesse atender ao próximo usuário que aguardava sua vez. O aluno ‘recebe
o que lhe é dado e copia mecanicamente. Educar-se, pesquisando, significa copiar um
trecho curto, de um livro didático que lhe foi entregue, exatamente nas páginas indicadas, o
�110
mais rapidamente possível, para logo cumprir sua obrigação escolar’ (MARTUCCI, 1997,
p. 186).
Torna-se urgente o fato de o exercício de letramento informacional não depender somente
dos bibliotecários, mas de uma articulação a ser desenvolvida no espaço pedagógico. Sendo assim,
Campello (2009, p. 22) reitera que tal prática precisa ser pensada como uma atitude coletiva. A
implantação de programas voltados para o letramento informacional nas instituições escolares exige
a participação não apenas dos bibliotecários. A responsabilidade por tal processo também deve ser
atribuída à comunidade escolar com um todo (GASQUE; TESCAROLO, 2007 apud CAMPELLO,
2009, p. 22).
O estudo de Campello (2009) evidencia outras observações realizadas por Gasque e
Tescarolo, cujas análises lançaram luz sobre os desafios prementes e intrínsecos ao letramento
informacional no contexto da biblioteca escolar. A pesquisadora reitera as impressões obtidas por
Gasque e Tescarolo (2010) no que diz respeito aos percalços encontrados na busca pela informação.
Segundo Gasque e Tescarolo (2007 apud CAMPELLO, 2009, p. 22), a partir do momento em que o
desempenho de atividades voltado para a “pesquisa requer a aprendizagem de competências de
busca e uso de informação, os autores ampliaram o entendimento da questão” ao evidenciar os
seguintes desafios: “a dificuldade em mudar a cultura pedagógica, a formação inadequada dos
professores, a concepção de ensino-aprendizagem, a organização do currículo, a ausência de
infraestrutura adequada de informação”.
Dentro do ambiente escolar, o letramento informacional encontra seus desafios, mas a
articulação entre bibliotecários e profissionais da educação pode ser aprimorada cada vez mais.
Campello (2009, p. 28) pondera que a função pedagógica atribuída ao bibliotecário se desenvolveu
ao longo do tempo em um caminho fortalecido por atividades “implementadas em bibliotecas, como
por pesquisas acadêmicas, que possibilitaram a constituição de um aparato teórico/conceitual que
tem sustentado essas práticas”, reforçando o importante papel educacional da classe bibliotecária na
democratização da informação aos seus usuários.
Gasque (2012, p. 152) reforça que, para o letramento informacional ocorrer de maneira
reflexiva e significativa ao usuário, é preciso a presença de uma equipe multidisciplinar para fazer
valer a sua principal função: levar a informação às pessoas de uma maneira que seja propiciada
estratégias para sua utilização satisfatória. Gasque (2012, p. 152) especifica o papel dos envolvidos
nessa prática:
O professor em sala de aula deve implementar projetos conciliando a aprendizagem sobre o
conteúdo a ser pesquisado, por exemplo, ‘corpo humano’, ‘educação no Brasil’, ‘doença de
chagas’, e a aprendizagem dos conteúdos necessários à pesquisa. Exemplos desses
conteúdos são: ‘compreensão da organização da biblioteca’, ‘busca em bancos de dados’,
‘resumos’, ‘esquemas’, ‘estruturação da pesquisa de acordo com as normas da ABNT’,
�111
dentre outros. Por sua vez, o bibliotecário deve atuar inicialmente na formação do corpo
docente da instituição, orientando sobre os conteúdos necessários para realização da
pesquisa. Além da formação dos professores, os bibliotecários devem colaborar com os
projetos educacionais que ocorrem nos vários espaços de aprendizagem (sala de aula, laboratórios, biblioteca). Isso requer disseminar informação, promover palestras, oficinas. Cabe
à direção educacional e coordenadores propiciar e organizar a formação dos profissionais,
orientar e monitorar os processos pedagógicos, bem como propiciar uma abordagem
pedagógica centrada na resolução de problemas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se uma preocupação iminente em relação aos mecanismos adotados para a prática do
letramento informacional. Reforça-se, a necessidade de conscientização dos bibliotecários em
relação à importância de seu papel na democratização da informação aos usuários. As pesquisas
evidenciam isso e abrem caminhos para novas abordagens, sejam elas realizadas em bibliotecas
universitárias, escolares, especializadas ou especiais.
Bibliotecas são locais ideais para a difusão do conhecimento. Quando dotados de
profissionais empenhados na divulgação dos conteúdos, esses redutos podem modificar a vida de
uma comunidade inteira. Em meio a tantos livros, materiais multimídias, periódicos, cartografias,
entre outros, é importante que se conte com a presença de pessoas que conheçam os meandros da
Biblioteconomia para autenticar a busca pela informação.
Os bibliotecários estão longe de exercer somente suas funções inerentes ao processo técnico,
tão importante para a organização da informação nos mais variados acervos. Todos eles também
atuam na mediação. A divulgação dos conteúdos aos leitores/usuários deve ser pensada de forma a
atingir sua excelência.
Isso significa que as pessoas necessitadas de informação precisam recebê-la de maneira
integral e sem ruídos, ou seja, livre de impedimentos, possibilitando a transformação de suas vidas.
Sendo assim, o profissional de Biblioteconomia tem a premissa social e educacional de utilizar as
estratégicas inerentes ao letramento informacional para democratizar o acesso à informação a todas
as pessoas, independente da cor, da crença, da orientação sexual, do gênero, da origem e da classe
social. Informação é um bem público e todos devem ter o direito de desfrutá-la com eficiência.
REFERÊNCIAS
CAMPELLO, Bernadete Santos. Letramento informacional no Brasil: práticas educativas de
bibliotecários em escolas de ensino básico. 2009. 207f. Tese (Doutorado) – Programa de PósGraduação em Ciência da Informação, Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de
�112
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. Disponível
em:<http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/ECID-7UUPJY>. Acesso em: 18
nov. 2018.
CAREGNATO, Sônia Elisa. O desenvolvimento de habilidades informacionais: o papel das
bibliotecas universitárias no contexto da informação digital em rede. Revista de Biblioteconomia e
Comunicação & Comunicação, Porto Alegre, v. 8, 2000. Disponível
em:<https://core.ac.uk/download/pdf/11883861.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2018.
GASQUE, K. C. G. D. Letramento informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem. Brasília:
Universidade de Brasília, 2012.
GASQUE, K.C.G.D; TESCAROLO, R. Desafios para implementar o letramento informacional na
educação básica. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, 2010. Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010246982010000100003&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 18 nov. 2018.
�113
CAPÍTULO VIII
LEITURA COMO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ENTRE A SUBJETIVIDADE DO
LEITOR E O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO
Flávia Ferreira Abreu
1 INTRODUÇÃO
Muito se tem falado, pesquisado e publicado sobre o acesso à informação, sendo a leitura
uma das formas mais propícias de possibilitar esse direito. Um dos desafios desse processo é tornar
o leitor criativo e reflexivo, capacitado a agir com autonomia na sociedade. O leitor deve ser
compreendido como sujeito independente, que faz leituras diversas do texto, seja escrito ou oral, a
partir de seu contexto social, com liberdade de criar as próprias interpretações para os signos com
os quais interage. Mesmo com essa autonomia, a presença do mediador literário se faz necessária,
visto que ele auxilia na formação do leitor.
Para que possa mediar a leitura, o profissional que faz a mediação precisa ter conhecimento
de seu leitor e da literatura, visto que a capacidade de ler envolve todo o processo de saber do
mundo. Em face disso, Freire (1989, p. 11) sinaliza que a “leitura do mundo antecede a das
palavras. Desde o nascimento interagimos com elos culturais que nos proporcionam a construção da
nossa identidade individual e coletiva”.
A identidade coletiva pode ser entendida como “questão de saber quão profundas e
essenciais para a formação do indivíduo são as pressões e influências exercidas por essa sociedade
externa” (ELIAS, 1994, p. 34). Essa relação exercida entre os indivíduos e o mundo permite que
eles se conheçam e a partir das semelhanças e compartilhamentos, sintam-se pertencentes a um
grupo homogêneo, o que caracteriza a cultura coletiva. Já a identidade individual é um projeto de
caracteres próprios e exclusivos que vai sendo construído pelo desenvolvimento do indivíduo, que
lhe permite diferenciar dos demais.
A história da leitura é similar a outras práticas culturais humanas, pois a constituição dela
está relacionada ao contexto histórico que cada leitor se inseriu ao interpretar as variadas tipologias
textuais. Para Silveira e Moura (2007, p. 124), “toda prática de leitura se desenvolve e adquire
sentido a partir de um determinado contexto histórico e espaço temporal, conjugado com a
�114
subjetividade e anseios específicos de cada leitor”. Dessa forma, a leitura pode ser visualizada a
partir de diversos olhares que permitirão uma visão múltipla dos significados das informações.
A leitura permite que os leitores rompam barreiras e possam construir uma viagem pelo
contexto cultural que os unem à sociedade. Na crença de que a leitura se desenvolve a partir das
interpretações dos sujeitos históricos inseridos em um contexto social e temporal, a estética da
recepção se “constitui como um dos esforços mais originais sobre a questão da leitura” (SILVEIRA;
MOURA, 2007, p. 124).
A estética da recepção visa explicar que ao tratar de obras textuais, inacabadas e abertas a
inúmeros olhares interpretativos, a interpretação literária se interage entre o horizonte de
expectativas dos autores e as possíveis significações por seus leitores. Esse conceito “atribui a
leitura um efeito emancipatório que libera o leitor da busca por uma única e perfeita interpretação”
(SILVEIRA; MOURA, 2007, p. 125). Nesse sentido, leitor expõe sua visão interpretativa como
leitor, considerando seu conhecimento prévio, suas crenças, valores e contexto de vida.
Para a Ciência da Informação, a estética da recepção amplia o campo teórico de investigação
da leitura do bibliotecário a partir da especificidade de sua prática leitora, com vistas a uma
intervenção mediadora “[...] entre os signos informacionais presentes nos vários acervos com que
lida, e os inúmeros usuários que os acessa” (SILVEIRA; MOURA, 2007, p. 125). O bibliotecário
mediador está sujeito às interpretações do mundo que o permeia; logo, não busca registrar o original
dos acervos, mas permitir acesso, por meio de representações dos assuntos das obras inseridas na
unidade de informação.
Compreendendo a leitura como prática cultural que se desenvolve a partir da interação entre
a subjetividade de cada leitor e seu contexto social, busca-se analisar como a intertextualidade pode
auxiliar a mediação literária pelo bibliotecário, por meio de bases teóricas da leitura, formação do
leitor e o papel do bibliotecário como mediador social.
2 LEITURA E SEUS CONCEITOS
A leitura é um processo de aprendizado que permite ao indivíduo, à medida que acessa a
informação, conhecer seus direitos e deveres. Dessa forma, cria-se um olhar com uma dimensão
mais reflexiva da vida social, o que promove o exercício da cidadania. A leitura reflexiva será o
diferencial na compreensão do texto, proporcionando ao leitor as possíveis interpretações. Isso é
possível mediante às perspectivas do leitor, geradas por meio de seu conhecimento, o que distingue
a competência interpretativa entre os outros leitores.
�115
Portanto, a leitura manifesta-se como um direito de todos os cidadãos, os quais poderão
ampliar os horizontes críticos e culturais a respeito da vida em sociedade. Nesse sentido, as pessoas
poderiam desenvolver de forma mais efetiva o senso crítico e conquistariam decisões mais
assertivas em seu convívio social. Para Bobbio (2004, p. 17), em relação aos direitos, mesmo eles
estando expressos em princípios, políticas, convenções, dentre outras manifestações nacionais ou
internacionais, é necessário saber qual é “o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que
apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados”.
No que condiz à leitura no Brasil, acredita-se que o acesso a ela está engatilhando. Com
efeito, vale destacar a importância do acesso à informação e a relação desse acesso com a leitura.
Assim,
[...] criação de estruturas e o estímulo ao acesso e uso da informação tornam premente a
capacitação dos sujeitos para acesso aos códigos encerrados pela informação. Em um país
que detém baixos índices em desempenho de leitura e escrita é impraticável que os
cidadãos exerçam seus direitos sociais e políticos, que podem ser viabilizados a partir da
informação, caso não se invista de forma simultânea nos processos educacionais e de
acesso aos códigos da leitura (MARTINS; REIS, 2014, p. 169).
Seguindo essa linha de pensamento, é indispensável que a educação seja mais igualitária a
toda sociedade, de modo que as instituições educacionais tenham estruturas adequadas para o
desenvolvimento pessoal, profissional e social do sujeito. Portanto, é imprescindível que as escolas
tenham bibliotecas, para garantir o acesso à informação e à leitura, equipadas com profissionais
capacitados para que possam orientar os usuários. O papel do bibliotecário vai além da simples
indicação de um livro, mas no sentido da compreensão de ações políticas e interventivas, por meio
de uma leitura crítica da realidade.
Essa ação política, para Martins e Reis (2014, p. 169),
é o caminho fecundo para que os efeitos nocivos do capitalismo e da globalização sejam
minimizados, novos regimes de força se estabeleçam na luta pelo poder e, sobretudo, para
que o exercício dos direitos ou da coletividade decorra, enfim, do seu reconhecimento
necessário como condição de liberdade.
A sociedade, mediante visão e conhecimento críticos da política do país, possibilitados pela
leitura reflexiva e análise críticas do sistema social, terá condições mais efetivas de decidir sobre as
questões da nação, visto que é um direito de todos acessarem as informações públicas do Estado e
contribuírem com o desenvolvimento da nação.
Lajolo (1982, p. 59) concorda com a relação da leitura com o desenvolvimento da
criticidade do sujeito e conceitua o ato de ler como,
uma atividade que está muito além da decifração de signos linguísticos: Ler não é decifrar,
como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de
atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para
�116
cada um reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria
vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista.
Consoante a essa citação, a leitura não pode ser entendida como decifração, visto que o
leitor não se satisfaz com a superficialidade do texto, mas imerge nas acepções mais profundas dele.
Na condição de sujeito, ele não deve se contentar apenas com uma leitura única; pelo contrário,
deve levantar diversas possibilidades de análise sobre a intenção de quem escreveu o texto e ter
perspicácia suficiente para descobrir o sentido e atribuir-lhe valor (NASCIMENTO, 2014). A
capacidade de o leitor relacionar os textos permite uma leitura intertextual que possibilita a abertura
para novas leituras que se entrelaçam, de forma não linear, mas contextualizada. Assim, o leitor
manifesta-se como agente que, mediante a leitura crítica, é autônomo em tomar decisões, a partir do
que está expresso em um texto.
O ato de ler é altamente dependente da competência do leitor porque essa competência lhe
faculta a possibilidade de realizar suas inferências textuais e intertextuais. Tais inferências
dão condições a ele para que seja autônomo diante das ideias do texto e, frente a isso,
possa aceitar ou rejeitar as intenções do seu autor. Portanto, a leitura, por essa ótica, está
subordinada ao grau de conhecimento do leitor e também à sua capacidade de interpretar e
de inter-relacionar as ideias dos textos (NASCIMENTO, 2014, p. 28, grifo nosso).
Matêncio (1994, p. 42) também segue a linha análoga defendida por Nascimento (2014),
enfatizando acerca da postura ativa e interventiva do leitor, o qual possui conhecimentos prévios,
capazes de contextualizar e atribuir outros sentidos ao texto materializado em um suporte.
[...] A leitura, assim como a escrita, é uma atividade realizada de forma visual, por
movimento de globos oculares. Ao longo desse processo, os olhos não se fixam em cada
uma das palavras, como fariam pressupor as atividades de leitura na escola, mas identificam
um conjunto de palavras. Por outro lado, o leitor não é passivo frente ao texto, mesmo
que a escola o oriente nessa conduta: os sentidos que ele estabelece na leitura são
vinculados aos seus conhecimentos da atividade, da estrutura textual e de mundo; ao
longo desse processo ele cria, confirma ou rebate suas hipóteses acerca do que ali lhe é
exposto (MATÊNCIO, 1994, p. 42, grifo nosso).
Barroso (2006, p. 55) descreve a leitura, em sentido lato, com essas palavras:
[...] é, portanto, um processo de vivência, de observação, de relação e de aprendizagem
realizado pelo interesse do leitor. Assim a leitura é determinada por elementos internos ou
subjetivos e por elementos externos ou objetivos. Ou seja, há que se considerar, nesse
processo, tanto os lados sensitivos e sensoriais-emotivos do indivíduo, quanto as questões
externas a ele, isto é, os estímulos dos meios sociais, culturais e políticos do contexto no
qual está inserido.
Sob uma perspectiva institucional, abordamos o conceito de leitura expresso nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, em que a leitura caracteriza-se como
[...] o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do
texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de
tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando
letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de
�117
seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o
uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar
decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos,
validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p. 69-70).
A partir desses fundamentos teóricos e com base na experiência profissional da autora deste
texto, considera-se a leitura como uma forma do leitor compreender o texto a partir de seu
conhecimento interno e sua relação com o saber que vem adquirindo a partir das diversas leituras
que faz da realidade em que está inserido.
3 LEITURA E LEITOR
Para compreender o escrito, o leitor depende de seus conhecimentos de mundo e de escrita
para decodificar os signos e dar sentido ao que lê. Essa interação da grafia com a leitura do mundo
possibilita a comunicação com o universo intimamente relacionado, seja com a escrita, pintura,
gravura e escultura ou qualquer outro signo que permita a interpretação variada, fruto da
subjetividade do leitor e do contexto histórico cultural em que o signo se originou.
Nessa seara, Antunes (2003, p. 70) acredita que
a atividade da leitura favorece, num primeiro plano, a ampliação dos repertórios de
informação do leitor. Na verdade, por ela, o leitor pode incorporar novas ideias, novos
conceitos, novos dados, novas e diferentes informações acerca das coisas, das pessoas, dos
acontecimentos, do mundo em geral.
O sentido da leitura é uma miscelânea dos novos conhecimentos advindos do texto, dos
saberes iniciais que o leitor já possui em relação ao objeto de que trata o texto. Assim, confirma
Antunes (2003, p. 78) “que não se pode ver no texto o que lá não está nem se pode ver apenas o que
lá está sobre a página. A leitura tem, assim, a dinâmica de qualquer outro encontro: seu sentido é de
agora e é de antes”.
Trata-se, portanto, de uma interação entre o sujeito que lê e o quê o texto lhe proporciona de
novo. À medida que o leitor for penetrando no texto, seus conhecimentos prévios serão
pressupostos básicos para que o sujeito tenha o domínio daquilo que lê. “Ao mergulhar na leitura,
aparece à necessidade de recorrer ao seu repertório intelectual para auxiliá-lo a compreender a
mensagem. É como se andasse para frente, mas, simultaneamente, a voltar seu olhar para trás”
(NASCIMENTO, 2014, p.31).
Souza e Gamba Junior (2002) consideram o encontro entre a leitura e o leitor como algo
mágico; o êxtase do processo de leitura está nessa interação, pois a leitura não é um ato solitário,
�118
mas a interação com as muitas vozes que ecoam no texto de um escritor e que só terão oportunidade
de se manifestar pela colisão marcada entre o leitor e o texto.
A leitura é comunhão, é o momento em que o indivíduo isolado tem a possibilidade de
reconhecer a sua inserção particular na história de uma época. Com base na narrativa de outrem, a
própria identidade do leitor se restabelece. Ler é um modo de viajar e deixar-se impregnar pela
névoa do desconhecido. O desafio maior que enfrentamos, hoje, é preservar a dimensão mágica da
leitura no contexto da utilização da tecnologia. Porém, esse novo modo de leitura instrumental
precisa partilhar com a leitura mágica a possibilidade de submeter-se ao tempo do leitor, a garantia
da atividade crítica, dando uma nova permanência histórica e cultural às narrativas que se
constituem e se renovam na grande temporalidade. O uso da tecnologia nos ambientes de estudos
proporciona o diálogo entre as ferramentas da construção do saber, gerando novas fontes de acesso
à aprendizagem (SOUZA; GAMBA JUNIOR, 2002).
O repertório intelectual conta muito, pois a diversidade de leituras está subordinada ao poder
de interpretação juntamente aos conhecimentos acumulados do leitor, que são decisivos para a
pluralidade de sentidos. Nesse aspecto, “um mesmo texto pode ser lido distintamente por leitores de
graus de conhecimentos diferentes e, de acordo com o ponto de vista de cada um, podem chegar a
conclusões diferentes” (NASCIMENTO, 2014, p. 33).
Todavia, deve-se ter ciência que o texto, mesmo oferecendo uma gama de probabilidades de
leitura, não pode ser lido arbitrariamente, de qualquer maneira, já que o sentido não está apenas no
leitor, nem no texto, mas na interação autor-texto-leitor, cabendo ao mediador literário e ao leitor
traçarem caminhos possíveis de interpretação baseados no texto. Por isso, “é de fundamental
importância que o leitor considere na e para a produção de sentido as sinalizações do texto, além
dos conhecimentos que possui” (KOCH, 2008, p. 217).
Zilberman (1988, p. 146), em face do comentário abaixo, destaca a importância da leitura
literária.
Que a leitura é importante, todos sabemos: a leitura ajuda o indivíduo a se posicionar no
mundo, a compreender a si mesmo e à sua circunstância, a ter suas próprias ideias. Mas a
leitura da literatura é ainda mais importante: ela colabora para o fortalecimento do
imaginário de uma pessoa, e é com a imaginação que solucionamos problemas. Com efeito,
resolvem-se dificuldades quando recorremos à criatividade, que, aliada à inteligência,
oferece alternativas de ação.
Faulstich (2008, p. 23) esclarece o que se deve considerar para que haja o entendimento de
um texto: “Entender um texto é compreender claramente as ideias expressas pelo autor para, então,
interpretar e extrapolar essas ideias”. Nesse momento, o sujeito deve ajustar as informações
contidas no contexto em análise às que ele possui em seu arquivo de conhecimento, baseado em
suas observações, experiências e vivências.
�119
4 FORMAÇÃO DO LEITOR
A proposta principal para formar o leitor é inserir a prática da leitura pela leitura. A partir
dessa prática, é possível viabilizar a formação e transformação de um leitor consciente e capaz de
dialogar com o texto, já que ambos são indissociáveis. O mediador literário pode se valer da
intertextualidade para auxiliar o leitor na busca pela leitura que procura, possibilitando, até mesmo,
a participação desse sujeito, mediante sua capacitação e aquisição de conhecimentos, na gestão da
sociedade, à medida que esse leitor passar a compreender melhor as questões políticas.
Azeredo (2007, p. 25- 26), assim, explica o conceito de intertextualidade.
Nenhum texto veicula informações cem por cento inéditas, assim como nenhum texto é
cem por cento novo no formato, ou gênero pelo qual essas informações são veiculadas.
Qualquer texto lembra, retoma ou evoca, implícita ou explicitamente, outro texto ou parte
de algum texto. A essa propriedade, que é também uma espécie de conhecimento
compartilhado – só que numa dimensão social e histórica -, chamamos intertextualidade,
um importante suporte de coerência.
O texto é uma espécie de ponte lançada entre conexões de saberes que permite ao leitor
visualizar sentidos que estão interligados a outros textos. O mediador, ao conhecer seu leitor,
poderá utilizar dessa relação textual para direcionar o leitor a novas possibilidades de leitura. O bom
leitor deve ter domínio da leitura, condição de convivência do indivíduo na sociedade.
Para Paulino et al. (2001, p. 35), “desde o momento em que aprendemos a ler, entramos no
mundo da escrita e subordinamo-nos às suas leis, reforçando nossa condição social, marcada pela
aquisição da linguagem”. Não é sem razão que estudiosos mostram que a escrita liga-se ao controle,
às leis sociais. Se sei ler, estou pronto para conhecer a lei, não podendo mais desrespeitá-la
impunemente. Por outro lado, estou pronto também para me deixar seduzir pelo texto e pelos
mundos que ele configura. Assim, a sedução e repressão se instalam no próprio processo de
alfabetização e letramento, por meio da capacidade de análise crítica da realidade social, na qual o
leitor está inserido e sujeito a transformar esse meio, por meio do seu poder de decisão de forma
mais consciente.
Portanto, formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que
possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que
estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem
ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de
elementos discursivos que comprovem sua interpretação e compreensão do texto (PAULINO et al.,
2001).
Os autores citados apresentam as características do leitor ideal, fundamentadas numa
concepção de leitura interativa.
�120
Importa perguntar, pois, qual o papel do bibliotecário na formação do leitor. Não o leitor
obediente, que preenche devidamente fichas de livros ou reproduz com propriedade
enunciados textuais. Mas o leitor que, instigado pelo que lê, produz sentido, dialoga com o
texto, com os intertextos e com o contexto, ativando sua biblioteca interna, jamais em
repouso. Um leitor que, paradoxalmente, é capaz de se safar até mesmo das camisas-deforça impostas pela escola e pela sociedade, na medida em que produz sentidos que fogem
ao controle inerente à leitura e à sua metodologia (PAULINO et al., 2001, p. 29).
Destarte, é de suma importância formar leitor capaz de criar sua própria análise, com o uso
do conhecimento do meio social em que vive, mediante uma visão crítica da sociedade e justamente
por ser um processo complexo que a formação de leitores se torna um bem inestimável para o
bibliotecário, pois o domínio da leitura e da informação pode significar libertação e participação
social do indivíduo na sociedade.
5 PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR SOCIAL
O bibliotecário mediador tem um papel social fundamental na formação do leitor crítico, ao
interpretar os conteúdos informacionais que se encontram sistematizados nos acervos das unidades
de informação, na tentativa de tornar mais acessíveis ao usuário as informações que demanda. Esse
profissional torna-se ouvinte do leitor e passa a conhecê-lo melhor, o que possibilita um trabalho
mais efetivo de mediação da leitura, não só pela literatura de ficção, mas pela leitura da sociedade.
Embasado em Soares (2009), assim como os desdobramentos de letramento literário e
letramento visual ajudam-nos a estabelecer estratégias de orientação de leitura, a atuação
bibliotecária se manifesta entre o sujeito que busca e o que pode ser encontrado no acervo, que
atenda as necessidades. Na perspectiva do letramento, observa-se o sujeito que aprendeu a não
apenas ler e escrever, mas adquiriu capacidade em utilizar-se da leitura e da escrita para interagir
criticamente com o seu meio social.
Ampliando esse raciocínio, entendemos que o acesso à leitura literária de qualidade leva o
indivíduo ainda mais longe: permite-lhe conhecer a si mesmo e ao universo do qual faz parte,
sendo, pois, um processo decisivo para o enriquecimento social, afetivo, ético e estético do leitor.
Em outras palavras, à literatura, como a qualquer forma de arte, cabe um papel potencialmente
humanizador do sujeito leitor.
O Projeto Clube da Leitura, desenvolvido em uma escola de Ensino Fundamental e Médio,
em que a autora deste artigo participou, vai ao encontro do pensamento de Soares (2009). O Clube
da Leitura com o objetivo de compartilhar e incentivar leituras percebeu o interesse dos leitores em
se tornar escritores. Para as mediadoras do projeto, essa não era a pretensão, porém, “a intimidade
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da escrita trouxe essa grata surpresa” (ABREU; BATISTA; OLIVEIRA, 2014, p. 12). Por
conseguinte, algum tempo depois, o projeto teve um livro publicado em 2014, e mais um em
processo de edição.
Esse projeto se norteia em fundamentos teóricos buscados no campo atual da Sociologia da
Leitura, que procura entender o desenvolvimento do gosto e da prática da leitura junto a crianças e
jovens numa perspectiva centrada no sujeito interessado, a partir do conhecimento e do respeito ao
seu contexto social pelo agente da leitura. Alguns membros do projeto retratam também, por meio
de teatro, suas concepções de vida e resposta ao estilo social a que estão inseridos, como pode ser
observado no Musical Entrilhas do Grupo Formigueiros, cujos próprios atores escreveram e
contracenaram episódios que demonstram a visão crítica deles acerca da sociedade em que vivem.
Refletindo com Orlandi (2012), ressalta-se qual seria a contribuição do bibliotecário nas
atividades de leitura: em relação às leituras previstas para um texto, a contribuição é modificar as
condições de produção de leituras do sujeito leitor, dando oportunidade a que ele construa sua
história de leituras. E, além disso, o leitor tem a possibilidade de estabelecer, quando necessário, as
relações intertextuais, resgatando a história dos sentidos do texto, sem obstruir o curso da história
desses sentidos.
O bibliotecário, sujeito capaz de possibilitar a transformação social por meio da educação,
precisa buscar parcerias que auxiliem na formação do leitor. O envolvimento da família, haja vista
estimular o hábito da leitura, pode ser a base diferencial que facilitaria o gosto literário pelo sujeito
desde a infância. Essa parceria com a família dos leitores, certamente, está de acordo com os
argumentos de Souza (2009), para quem, o ambiente determina as ações que os sujeitos realizarão.
O ato de ler foi de tal forma se afastando da prática individual que a tarefa que hoje se
solicita de profissionais da leitura, como professores, bibliotecários e animadores culturais, é
exorcizar o risco da alienação, muito embora eles possam acabar constituindo elo a mais e
inevitável cadeia de mediação que se interpõe entre o leitor e o significado do texto.
O bibliotecário precisa difundir e divulgar a importância da biblioteca, como unidade de
preservação, que ativa o conhecimento, estimulando a leitura. A biblioteca não pode ser considerada
como apêndice de uma instituição educacional; ela é a própria escola, pois é nesse espaço
informacional que os usuários podem encontrar tudo aquilo que precisam para a formação
acadêmica e cidadã deles, mediante a pluralidade de leituras que podem realizar da vida e do
mundo.
A biblioteca possibilita acesso à leitura e às informações para dar respostas e suscitar
perguntas aos educandos, configurando-se numa instituição, cuja tarefa centra-se na formação não
só instrutiva, como também no apoio informacional ao pessoal docente para atender as necessidades
�122
educacionais e sociais. A biblioteca precisa ser entendida como um espaço demonstrativo em que
interajam usuários e informação. Esse espaço democrático pode ser circunscrito a duas funções: a
função educativa e a formação cultural do indivíduo.
6 REFLEXÕES FINAIS
A partir da revisão teórica, percebeu-se que a leitura do texto não tem um sentindo único,
mas contempla uma construção de entendimento que envolve o conhecimento prévio do leitor - com
base no espaço social-temporal a que está inserido - além das novas ideias que lhe são apresentadas
pelo texto. A teoria da estética da recepção vem confirmar as diversas possibilidades de leitura a
partir da interação do horizonte de expectativas dos autores e as possíveis significações por seus
leitores, deixando claro que a interpretação do texto vai além dos conhecimentos do texto e a
compreensão deve se ater às informações do texto.
A intertextualidade se apresenta como indispensável para a compreensão da leitura e
formação do leitor, na proporção que permeia sobre a leitura do mundo em constante comunicação
com outras leituras realizadas pelo sujeito leitor. Por meio da contextualização intertextual, o
mediador literário pode traçar novos caminhos para atender a demanda dos leitores e direcioná-los a
leituras que permitam uma visão mais crítica da sociedade.
O bibliotecário como mediador social pode utilizar todas as possibilidades que a biblioteca
oferece, haja vista garantir a formação de um sujeito crítico e consciente de seu papel transformador
da sociedade, o que possibilita o exercício da cidadania. Isso é alcançado pelo fato de a biblioteca
configurar-se como um lugar de múltiplas funções, tanto de guarda, preservação, organização e
disseminação do conhecimento de um povo.
Nesse ambiente, o leitor terá contato com o saber, o que lhe garante a formação cultural,
social e identitária, proporcionando um conhecimento da realidade sociocultural, de modo que seja
capaz de tomar decisões mais assertivas em sua vida. Ao bibliotecário cabe, ainda, tornar possível o
acesso de forma eficaz a esse leitor do mundo.
Para que esse processo de acesso à leitura e informação possa se concretizar, é necessário
que haja políticas efetivas e estruturadas, no sentido de preparar os profissionais a caracterizarem-se
como mediadores nos espaços e ambientes de acesso à leitura e informação. Como mediadores, a
orientação é de que os profissionais propiciem a formação de cidadãos capazes de exercer seus
direitos sociais e políticos de maneira consciente.
�123
REFERÊNCIAS
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ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 1988.
�125
CAPÍTULO IX
SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS:
CRIAÇÃO DO ESPAÇO DE LEITURA PARA O LAZER NO AMBIENTE
UNIVERSITÁRIO
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Taciane Gomes Rodrigues
1 INTRODUÇÃO
A Biblioteca Universitária do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas
Gerais (BU-SB/UFMG) caracteriza-se como um órgão suplementar dessa instituição responsável
tecnicamente pelo provimento de informações necessárias às atividades de ensino, pesquisa e
extensão da universidade, como também pela coordenação técnica dos recursos informacionais das
25 bibliotecas que compõem o Sistema de Bibliotecas.
Além da biblioteca universitária, esse sistema é composto por uma biblioteca em cada
unidade acadêmica da UFMG e pelas Bibliotecas do Centro Pedagógico e do Colégio Técnico
(Escolas de Educação Básica e Profissional).
Em linhas gerais, as bibliotecas proporcionam informações específicas relativas às diferentes
áreas do conhecimento, tendo em vista fornecer condições adequadas para o efetivo funcionamento
das atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Embora a biblioteca universitária tenha um aspecto muito particular, visto que coloca-se a
serviço da universidade, sendo considerada por muitos pesquisadores como uma biblioteca
especializada, como mencionado por Accart (2012), há de se considerar que seus serviços podem ir
muito além da instância universitária, sobretudo quanto ao papel desempenhado pela universidade,
no que tange ao desenvolvimento da sociedade.
Nesse contexto, a partir de um momento de reflexão junto à equipe gestora da BUSB/UFMG, pensou-se na possibilidade em instituir um espaço físico que oferecesse acolhimento
para a comunidade externa da UFMG, especificamente, no que tange à oferta de materiais
informacionais e estrutura física para acomodação de leitores.
Assim, houve o desejo da criação de uma biblioteca não acadêmica, com características
interativas e dinâmicas, possuidora de acervo especializado, voltado para o lazer, ou seja, material
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lúdico, literatura e entretenimento, os quais seriam utilizados para fomentar a prática da leitura no
ambiente da Biblioteca.
O espaço foi organizado, de modo a contemplar um ambiente alegre, colorido e ao mesmo
tempo acolhedor. A ideia era que a comunidade universitária, nos horários vagos, como horário de
almoço, ou mesmo entre uma aula e outra, pudesse ter o prazer e convívio com uma leitura
diferenciada; logo, a biblioteca cumpriria as funções híbridas necessárias às bibliotecas da
contemporaneidade: funções educativas, informativas, recreativas e culturais, como dito por Santa
Anna (2018).
Além disso, a comunidade externa também poderia usufruir do espaço, com vistas a
estabelecer um vínculo mais aproximado da instituição com a comunidade, viabilizando, portanto, o
compromisso da extensão universitária, como proclamado por Ferreira (2012).
Assim, foi instituído o Espaço de Leitura no prédio da Biblioteca Central 11, cujo objetivo é
proporcionar a leitura de lazer para a comunidade acadêmica e também para o público externo. Esse
espaço foi inaugurado no dia 10 de setembro de 2009, e contava com um acervo de
aproximadamente 2800 exemplares formados por obras de variados gêneros literários como poesia,
romance, literatura clássica, biografia, literatura infantojuvenil e artes, além de jornais, revistas,
informativos e obras em Braille.
2 O ESPAÇO DE LEITURA E SUA CRIAÇÃO
A criação do Espaço de Leitura na Biblioteca Central da UFMG está ancorada às reflexões
propostas na literatura científica até então publicada sobre a importância de adequação dos espaços
das bibliotecas às necessidades das comunidades, além do forte discurso sobre a Biblioteconomia
Social, como um campo emergente para o século XXI.
Em termos específicos, o Espaço de Leitura se incorpora da leitura para promover a busca
por uma sociedade inclusiva e democrática. A leitura aqui é valorizada por sua capacidade de
transformação na vida dos leitores. Isso porque, os leitores, na maioria das vezes, buscam algo que
“[...] sacie o desejo por conhecimento ou apenas por lazer e este objeto desejado muitas vezes tornase obscuro, de difícil acesso, já que nem sempre se pode incluir no dia a dia a leitura” (SANTOS,
2006, p. 1).
11
Biblioteca Central compreende o prédio de quatro andares que abriga a Biblioteca Central, os setores e divisões
técnicas e administrativas da Biblioteca Universitária, coordenadora do Sistema de Bibliotecas da UFMG. O Espaço de
Leitura funciona dentro do prédio da Biblioteca Central.
�127
Assim, é importante criar espaços de leitura em todos os cantos da sociedade, inclusive com
apoio das instituições (SANTA ANNA, 2017). Além disso, considera-se, também, que o leitor é um
agente muito particular, que realiza a leitura de diferentes formas, com diferentes recursos e em
várias localidades, conforme defendido na tese de Roger Chartier (2003).
Em termos práticos, o projeto voltado para criação da Sala de Leitura teve sua gênese, no
ano de 2006, quando em visita à Escola de Ciência da Informação da UFMG, o então candidato a
reitor, professor Ronaldo Tadeu Pena, ouviu da professora Vera Lúcia Furst, que à época era
membra do Conselho12 Diretor do SB/UFMG, a sugestão de criação de um espaço dedicado à
leitura para o lazer da comunidade acadêmica.
Depois de eleito como reitor, o então professor Ronaldo Pena manifestou interesse em
viabilizar a criação desse espaço e, com o apoio da diretora da BU-SB/UFMG, Maria Elizabeth e da
diretora de Cooperação Institucional, Maria Cecília Nogueira Lima, iniciaram-se as atividades de
construção do espaço. Definiu-se que o espaço seria no prédio da Biblioteca Central, a qual possuía
condições de infraestrutura mais adequadas a abrigar o acervo informacional. Definiu-se como local
de instalação, o lado esquerdo do térreo, logo na entrada do prédio, por ser amplo e bem próximo da
portaria, facilitando o acesso.
E assim, em 2007, foi dado início ao processo, contando com a elaboração do projeto
arquitetônico pelas arquitetas Marieta Cardoso Maciel e Valeria Soares de Melo Franco e o projeto
elétrico pelo Departamento de Manutenção e Operação da Infraestrutura da UFMG (DEMAI). A
participação da arquiteta Marieta Cardoso Maciel, que também era membra do conselho diretor da
BU-SB/UFMG, concebeu o projeto visando a redução de gastos com compra de mobiliário e ao
máximo aproveitamento dos recursos existentes.
O mobiliário utilizado foi composto por móveis existentes no prédio e também por cadeiras
doadas pela Escola de Arquitetura, móveis esses que necessitavam de reforma, orçada no valor de
R$ 3.020,00. A compra de mobiliário para esse espaço ficou restrita a vinte e sete estantes, dois
sofás de quatro lugares, duas mesas laterais e uma mesa de centro, conforme figura 1 e 2.
12
O Conselho Diretor é responsável por definir a política de gestão da Biblioteca Universitária – Sistema de Bibliotecas
da UFMG. É formado pela diretora da Biblioteca Universitária - Sistema de Bibliotecas da UFMG; por professores
indicados pela reitora; por representação do corpo técnico e administrativo e do corpo discente.
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Figura 1 – Estantes adquiridas para o Espaço de Leitura e Lazer na Biblioteca Universitária
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Figura 2 – Mobiliário para acomodação de leitores no Espaço de Leitura da Biblioteca Central
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
A compra das estantes foi realizada pela BU no valor de R$21.036,16. Para economia de
orçamento e como haviam sido doadas pela Escola de Arquitetura da UFMG, vinte e cinco cadeiras
(figura 3) foram reformadas juntamente com seis poltronas, sendo que foram realizados três
orçamentos e a empresa que apresentou o menor preço realizou trabalho de reforma em uma peça
para fins de avaliação, e após, procedeu-se à execução da reforma geral.
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Figura 3 – Materiais adquiridos por doação e submetidos a reformas
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
No que tange aos materiais informacionais, para composição do acervo, ele foi adquirido
mediante compra, junto a diferentes fornecedores e livreiros. A Biblioteca recebeu e conferiu os
livros que foram patrimoniados e catalogados com a colaboração dos bibliotecários do Sistema.
Também foram adquiridos uma tela para projeções, um projetor, quatro carrinhos para transporte de
livros e cento e sessenta bibliocantos, totalizando R$ 5.974,00. Foram firmados dois contratos para
fornecimento de jornais e revistas.
No que se refere à infraestrutura para acesso físico ao local, há uma rampa para
acessibilidade, conforme ilustrado na figura 4. Salienta-se a importância em se adequar os espaços
das bibliotecas, considerando as pessoas com necessidades especiais. Essa adequação faz da
biblioteca um ambiente de e para todos; trata-se, na verdade, da inserção dessas unidades na
sociedade inclusiva (FIALHO; SILVA, 2012), sociedade essa almejada para as próximas décadas
do século XXI, conforme as determinações da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas, a
qual foi aderida pela Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA), e
também pela Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), no intuito de se
viabilizar o desenvolvimento sustentável das sociedades do futuro, como descrito no estudo de
Dutra, Pinto e Geraldo (2017).
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Figura 4 – Adequação ao Espaço de Leitura e Lazer da BU/UFMG – rampa de acesso
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
E, assim, além da disponibilização de literatura de lazer, cultura e informação a toda
comunidade acadêmica e ao público em geral, o Espaço de Leitura tornou-se um espaço lúdico,
confortável, agradável e convidativo para a comunidade universitária, já logo na sua entrada,
conforme ilustrado na figura 5.
Figura 5 – Biblioteca universitária da UFMG, com destaque ao recinto destinado ao Espaço de Leitura e Lazer
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Por meio da figura 5, depreende-se o quanto é importante adequar o espaço das bibliotecas,
de modo que se transformem em ambientes acolhedores, desmistificando o estereótipo de que são,
tão somente, locais que estocam informação e conhecimento. Além de registrar o conhecimento por
meio dos acervos, as bibliotecas criam e recriam a realidade, por meio de adequações em suas
estruturas e nos serviços prestados, de modo a se reinventar, garantindo satisfação à comunidade
que a ela se dirige.
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Portanto, seja como espaço físico, como símbolo de uma ordem cósmica ou social ou como
forma visível da razão humana, as bibliotecas são lugares que guardam histórias e
despertam o fascínio e o encantamento. Lugares onde tais elementos se transmutam,
perturbando e excitando fantasias, irmanando o sonho com a ação, além de provocarem
medo e instigarem reações (SILVEIRA, 2012, p. 152).
Por meio do Espaço de Leitura, é possível entender o quanto a leitura tende a contribuir para
o enriquecimento das bibliotecas. A partir de uma reflexão mais ampla, é provável que esses
espaços transformem a vida das pessoas, pois, ao se sentirem acolhidas, amparadas e mediadas pela
leitura, certamente, manifesta-se o desenvolvimento emocional, intelectual e o fortalecimento da
autoestima e da satisfação humana.
Para Silveira (2014, p. 153), enquanto lugares de práticas culturais e enquanto espaço de
leitura, as bibliotecas e seus acervos adquirem “[...] a capacidade de interferir nos cenários sóciopolíticos em que se inserem, fazendo frutificar o saber acumulado e contribuindo para a preservação
e difusão de todo o legado cultural humano”.
A respeito da prática da leitura, principal atividade proposta e realizada na Sala de Leitura
para o Lazer na BC/UFMG, frisou a importância dessa proposta a ser aderida pelas unidades de
informação, independente se é especializada, pública, universitária e demais. O importante é que
todas as instituições unam esforços para que a leitura seja cada vez mais disseminada na sociedade,
como relatado no artigo de Santa Anna (2017).
Nas bibliotecas universitárias, a leitura deve se manifestar, haja vista o potencial dessa
prática no desenvolvimento crítico dos alunos. Nesse aspecto, instituir espaços que facilitem a
prática leitora é algo indispensável no ambiente universitário, pois, conforme relatado por Oriente,
Souza e Simões (2014, p. 162), a instituição cumpre o papel em “[...] estimular e subsidiar o hábito
e gosto pela leitura como também a pesquisa dos seus usuários [...]”. Portanto, bibliotecários e
demais atores que trabalham na universidade “[...] buscam incentivar cada vez mais a prática da
leitura, já que esta deve ser uma luta constante de toda a sociedade [...]”, em prol de uma sociedade
cada dia mais leitora.
Assim, o Espaço de Leitura foi instituído, configurando-se como um belíssimo espaço, algo
que ainda faltava para completar o Sistema de Bibliotecas com suas 25 bibliotecas acadêmicas. O
objetivo desse local é, em linhas gerais, preencher uma lacuna no atendimento ao grande e
diversificado público que transita diariamente no Campus Pampulha.
Segundo Araújo (2009, não paginado), em entrevista concedida à atual diretora do
SB/UFMG, nesse novo espaço, o usuário terá “[...] acesso a uma leitura descompromissada e
poderá preencher o seu tempo livre e momentos de lazer com a leitura de um best-seller, de uma
revista ou de jornal diário”.
�132
Dessa forma, com o término das atividades de planejamento e execução, em 2009, foi
inaugurado, sendo entregue à comunidade por meio de um ato solene. Nessa cerimônia, fizeram-se
presentes autoridades e pessoas envolvidas com o desenvolvimento do projeto, tais como: prof.
Ronaldo Tadeu Pena, Reitor da Universidade; Pró-Reitor de Planejamento, prof. Nagib Cotrim;
diretora de Cooperação Institucional, Maria Cecília Nogueira Lima; diretora e vice-diretora do
SB/UFMG, as bibliotecárias Maria Elizabeth de Oliveira Costa e Rosemary Tofani Motta; e, por
fim, a bibliotecária coordenadora da BC, Cleide Faria, dentre outros participantes (figura 6).
Figura 6 – Cerimônia de institucionalização do Espaço de Leitura
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
– Foto: Diogo Domingues
Por meio da solenidade, o Espaço de Leitura e Lazer se consolida como uma extensão da
universidade, visto que ampliou as possibilidades do Sistema de Biblioteca, em levar informação,
conhecimento e, por que não, lazer e entretenimento para as pessoas. A criação do espaço e a
participação e engajamento dos profissionais, a grande maioria, vinculados à UFMG, demonstram o
quanto as instituições públicas precisam realizar com transparência os seus serviços, e possibilitar
que esses serviços estejam à disposição de toda a população, sem distinções. Isso representa uma
forma de prestação de contas para com a sociedade, acerca dos investimentos realizados com os
recursos públicos (figura 7).
�133
Figura 7 – Entrega e registro do Espaço de Leitura para toda a comunidade
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
- Foto: Diogo Domingues
Nesse contexto, entendemos o valor da Biblioteconomia para toda a sociedade. O espaço
inaugurado foi feito pensando em todos os cidadãos, sejam eles vinculados ou não à universidade.
Por ser pública, e mesmo tendo um viés especializado, a instituição concretiza-se como o espaço de
todos os indivíduos, local onde poderão exercer a cidadania, sendo a leitura um direito a ser
exercido por todos os brasileiros.
Pensar no social é romper as desigualdades, é ir para outros locais, extravasando os muros
das instituições. Ir para instâncias onde as pessoas mais precisam de informação e de conhecimento.
É viabilizar o conhecimento universal para todos, independente de cor, classe, condição social,
orientação sexual, dentre outras particularidades do ser humano. Como há muito tempo discursou
Almeida Júnior (1999), as bibliotecas e seus profissionais precisam colocar-se a serviço das classes
sociais, exercendo um papel mais vigoroso frente às causas e aos problemas que permeiam o dia a
dia da sociedade. O intuito dessa intervenção com a sociedade, segundo o autor, é garantir a
consolidação de uma sociedade mais democrática e justa.
Após inauguração do Espaço de Leitura em 2009, foram desenvolvidos projetos para
incentivar o uso desse ambiente diferenciado e também realizada divulgação por meio de fôlderes,
panfletos, notícias no site do SB/UFMG e reportagens no Boletim da UFMG, acerca dos serviços
prestados à comunidade por esse novo espaço, além dos tradicionais serviços que já eram
oferecidos.
Para um efetivo funcionamento desse espaço, segundo Sá e Faria (2013, p. 2), foram
realizadas reuniões com os bibliotecários da Biblioteca Central, no intuito de “[...] desenvolver
projetos que incentivassem o uso desse ambiente diferenciado na universidade e também que
promovesse o incentivo à leitura por lazer [...]”.
�134
Assim, de acordo com as autoras citadas, os profissionais uniram esforços em prol de dar
continuidade à melhoria do ambiente. Portanto, outras ações foram sendo realizadas no decorrer dos
anos, no intuito de tornar o ambiente cada dia mais atrativo e com maior adesão por parte do
público usuário. O quadro 1 especifica alguns projetos realizados e as diversas ações a eles
vinculados, de modo a proporcionar o desenvolvimento e socialização do Espaço de Leitura na
instituição.
Quadro 1 – Projetos e ações desenvolvidas na Sala de Leitura e Lazer
PROJETO
PRINCIPAIS ATIVIDADES
Sugestão de leitura
Orientação e auxílio ao leitor sobre a escolha de livros.
Ciclo de palestras
Organização de palestras sobre obras literárias, autores,
personalidades etc.
Hora do conto e da leitura
Narração de estórias para um público pré-determinado com o
objetivo de incentivar o gosto pela leitura por lazer, promover
autores consagrados e divulgar importantes clássicos da
literatura.
Exposições bibliográficas temáticas
Realizada por meio de mostra em vitrines de obras reunidas
sobre diversos temas literários, políticos e culturais, visando o
incentivo à leitura e à divulgação do acervo do espaço para
toda a comunidade interna e externa da UFMG.
Exposições bibliográficas interativas
Reúne e expõe em vitrines abertas obras literárias e culturais da
biblioteca com datas comemorativas, que convidam o visitante
do Espaço de Leitura a interagir com o acervo, através da
leitura local e empréstimo domiciliar.
Exposições bibliográficas interativas
Proporciona o contato com outras formas de expressão
artísticas e valorização da leitura em diferentes suportes como
pintura, fotografia etc.
Organização de mostras de artes –Projeto Cinema Exibe na última sexta-feira do mês filmes baseados em obras
para Ler
literárias.
Visita ao Espaço de Leitura
Visita orientada ao local e ao acervo e faz descrição das
atividades desenvolvidas no setor para a comunidade interna e
externa da UFMG.
Fonte: Adaptado de Sá e Faria (2013, p. 2-3).
Importante destacar, também, que são utilizadas estratégias para divulgação do espaço, algo
muito importante para demonstrar à comunidade, os diferentes serviços oferecidos no espaço.
Dentre os vários canais de divulgação, cita-se, por exemplo, o Blog do Espaço de Leitura, o qual se
configura como uma rede social que visa a divulgação do espaço e das atividades desenvolvidas
nele e elabora a postagem de resumos, dicas culturais, lançamento de livros etc. (SÁ; FARIA,
2013).
O Espaço de Leitura vem se configurando, cada vez mais, como um espaço da comunidade,
cumprindo com o propósito a que foi criado, ou seja, ser um “[...] espaço de fruição e de lazer, e em
sua essência trata a leitura literária como sua principal função dentro da UFMG [...]” (FERRAZ;
PAIVA; REIS, 2016, p. 11). No entanto, conforme pesquisa realizada por essas autoras, desafios
persistem, o que requer, constantemente, a avaliação do espaço, a fim de identificar pontos fracos e
fortes, para fins de formular estratégias de melhoria. Dentre os pontos fortes, as autoras citam o
potencial em disponibilizar um local para leitura, estudos e ações culturais. Como pontos negativos,
�135
há de se considerar, a necessidade de maior envolvimento da extensão universitária, como também
conscientização do público-alvo acerca das atividades específicas a serem desenvolvidas no local.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Espaço de Leitura e Lazer, localizado na Biblioteca Central da UFMG, tem um acervo
diferenciado do mundo acadêmico com literatura voltada para o entretenimento, ou seja, destina-se,
primordialmente, para manifestação da leitura literária e atividades recreativas. Entende-se que o
próprio ambiente tem uma característica de conforto, colorido, aconchegante, tornando-se propício
para uma leitura descontraída, voltada para o lazer.
A logística do local o diferencia dos demais ambientes tradicionais de muitas bibliotecas
existentes no conjunto das 25 bibliotecas do SB/UFMG, como diferencia também dos demais
ambientes universitários do campus frequentados pela comunidade acadêmica, e também pelo
público externo. Trata-se, portanto, de um ambiente inovador, o qual fortalece o novo papel das
bibliotecas, preconizadas como espaços de interação e convívio, para diferentes públicos e com
múltiplas funcionalidades.
O público externo que busca a instituição e seus serviços diversificados, inclusive os
serviços de bibliotecas, como empréstimos de livros e utilização de salas de leitura para estudo
acadêmico, passa também a conhecer o espaço e os inúmeros serviços por ele oferecidos, como, por
exemplo, o Projeto "Cinema para Ler", cujo objetivo é mostrar a proximidade entre cinema e
literatura e o quanto o cinema pode incentivar a leitura.
Esse projeto, juntamente com as demais atividades realizadas no Espaço de Leitura, é
voltado para o social, ou seja, a Biblioteconomia Social. Os projetos e as atividades do Espaço de
Leitura almejam a democratização e socialização desse ambiente universitário e que não só a
comunidade acadêmica, como também o público externo, pode usufruir do espaço para uma leitura
descontraída e também para os diversos serviços oferecidos como promoção de encontros, eventos,
seminários e palestras.
Em linhas gerais, os serviços oferecidos colocam-se a serviço dos usuários em seus variados
contextos, em suas diferenciadas particularidades, considerando múltiplas necessidades, rompendose, assim, qualquer possibilidade de limitação entre o ser humano e a informação. Portanto, o
Espaço de Leitura manifesta-se como um elemento da Biblioteconomia Social, que encontra na
leitura e no acolhimento, uma forma de vencer desigualdades e promover a democratização da
informação na sociedade.
�136
REFERÊNCIAS
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Lemos/Livros, 2012.
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�138
PARTE III
A Biblioteconomia em
espaços e contextos de
vulnerabilidade
�139
CAPÍTULO X
PROJETO DE INSTALAÇÃO DO ESPAÇO DE LEITURA EM CLÍNICA PEDIÁTRICA
DE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO13
Elaine Gregório
1 INTRODUÇÃO
A leitura se apresenta como uma fonte inesgotável de aquisição de informação e de
produção de conhecimento, sendo necessário, por meio dela, “[...] aprender a ler o mundo, dar
sentido a ele e a nós próprios [...]” (MARTINS, 2007, p. 34), possibilitando, com isso, que se
questione a realidade vivida e, por conseguinte, que se oportunize crescimento social e cultural.
Desse modo,
A leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda
a própria vida do ser humano [...] parece ser o único meio de desenvolver a originalidade e
a autenticidade dos seres que aprendem [...] (SILVA, 2005, p. 42 apud SILVEIRA, 2011, p.
5).
Diversos profissionais trabalham com a criação das práticas de leitura, dentre eles, os
bibliotecários, que, constantemente, lidam com a formação de novos leitores em diversos ambientes
de informação, educação e cultura. Nesse sentido, não apenas a biblioteca torna-se palco de atuação
desse profissional ao desenvolver práticas alternativas interdisciplinares na área de leitura em
diversos espaços e tempos.
Dentre os diversos ambientes de desenvolvimento de práticas de leitura, destacamos o
hospital, que tem como missão promover assistência à saúde e, por consequência, o cuidado com a
vida (MELLO, 2008). Nesse ambiente, percebemos a relevância da dinamização da leitura ao
favorecer o contato com “[...] valores humanitários compartilhados por todos que trabalham na
organização. Isto, por certo, favorecerá a confiança tão almejada pelos pacientes para se deixarem
cuidar” (ZOBOLI, 2008, p. 7).
Podemos citar algumas atividades de leitura em hospitais fazendo com que seja parte de uma
estratégia terapêutica que drible parte dos problemas advindos da hospitalização, como a depressão,
13
Esta pesquisa contempla partes de um Trabalho de Conclusão de Curso de Biblioteconomia, defendido no ano de
2012. Alguns resultados foram apresentados no CBBD, de 2013 e outros publicados na Revista ACB, em 2014.
�140
entre outros sintomas. Nesse contexto de atuação, Caldin (2001 apud ALMEIDA, 2011) apresenta
uma experiência que dá visibilidade ao trabalho de leitura no ambiente hospitalar, ao contextualizar
essa prática como uma estratégia terapêutica que contribui para humanizar o tratamento hospitalar.
Caldin (2001) avalia o projeto Leitura infantil e Medicina pediátrica: como uma
aproximação de integração humana, desenvolvido pela Pontífica Universidade Católica do
Rio Grande do Sul e cinco sub-projetos vinculados ao projeto-matriz Por uma Política de
Incentivo à Leitura, da Universidade de Joinville. Estes projetos, desenvolvidos por
formandos e coordenados por professoras do Curso de Letras das Universidades citadas,
desenvolveram trabalho de terapia por meio da leitura na pediatria de hospitais de Porto
Alegre e de Joinville. Verificou-se que as histórias contadas às crianças diminuíam seu
estado de incapacidade e proporcionaram alívio temporário das dores e dos medos advindos
da doença e do ambiente hospitalar. O resgate do sonho, do imaginário e do lúdico forneceu
um suporte emocional às crianças enfermas. Os registros dos leitores de histórias
legitimaram a eficácia da biblioterapia em cultivar a leitura infantil como integradora no
processo de cura que abrange o corpo e a mente (CALDIN, 2001 apud ALMEIDA, 2011,
p. 5-6).
Como forma de refletir sobre a prática da leitura no ambiente hospitalar, recorremos a uma
experiência na qual se registra a participação de docentes e de graduandos do Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), vinculados ao projeto de
extensão universitária Ideias e Práticas em Informação, Educação e Cultura. Dessa experiência,
também participaram profissionais da área da informação e saúde, que se propuseram a trabalhar
com a criação do projeto de extensão Leitura no ambiente hospitalar, desenvolvido no Ambulatório
Pediátrico do Hospital Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM).
Sendo assim, este texto versa sobre uma experiência de leitura em um contexto de alta
complexidade, o ambiente hospitalar. Pretende-se reforçar o fato de que bibliotecas e bibliotecários,
por meio do potencial dos acervos, viabilizam práticas de leitura que podem contribuir com a
melhoria dos pacientes ou, de alguma forma, interferir na pacificação dos demais personagens que
permeiam um ambiente hospitalar, como profissionais da saúde, familiares de pacientes e
acompanhantes.
O presente texto é um relato de experiência, cuja intenção principal é relatar a experiência de
implantação e dinamização da leitura no ambulatório do HUCAM e refletir acerca da atuação do
bibliotecário em projetos de leitura no ambiente hospitalar.
2 IMPLANTAÇÃO DO ESPAÇO DE LEITURA NO AMBIENTE HOSPITAR
As atividades de implantação do projeto de leitura no Ambulatório Pediátrico do HUCAM
iniciaram-se no primeiro semestre do ano de 2010, envolvendo um conjunto de atividades, dentre
elas, reuniões, encontros de formação e grupos de estudos. Ressalta-se, nesse processo, o
�141
estabelecimento de contato com os profissionais do hospital, momento em que se obteve permissão
para a realização do diagnóstico do perfil dos pacientes.
Na fase diagnóstica, resgataram-se, no banco de dados do ambulatório, informações
relacionadas ao atendimento realizado nos meses de fevereiro a dezembro de 2009. Com isso,
identificou-se a procedência de pacientes de todas as regiões do Estado do Espírito Santo (urbanas e
interioranas). Também se registrou o atendimento a usuários provenientes de outros Estados
brasileiros, tais como Minas Gerais (MG) e Bahia (BA).
Ao analisar o fluxo de atendimento (gráfico 1), percebeu-se que não houve registros de
atendimento no mês de janeiro, assim como, identificou-se que no mês de dezembro o ambulatório
funcionava praticamente até a metade do mês. Percebeu-se também que o atendimento
intensificava-se entre os meses de março e novembro.
Gráfico 1 – Atendimento no setor de ambulatório
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
As informações sobre o atendimento auxiliaram no processo de planejamento do
cronograma de atendimento do espaço de leitura, da mesma forma que os dados relacionados à
idade (gráfico 2) e ao gênero (gráfico 3) permitiram a identificação de que o público atendido seria
composto, em sua maioria, por crianças e pelo gênero feminino. Entretanto, a equipe não
desconsiderou como um público potencial o gênero masculino, bem como a classe de adolescentes,
jovens e adultos.
�142
Gráfico 2 - Idade dos usuários
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
Gráfico 3 - Informações de gênero
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
Em seguida, partiu-se para a observação das características da situação física e estrutural do
espaço que se mostraram insuficientes desde a época da implantação. Porém, o espaço foi adaptado
para receber o público-alvo, que seria composto por pacientes, acompanhantes e funcionários do
hospital.
Para garantir o atendimento a esse público, o acervo foi constituído em sua maioria por
obras infantojuvenis cedidas pelo GECHUFES. Também foram recebidas doações dos alunos do
�143
Curso de Biblioteconomia e outros membros da comunidade interna e externa à universidade. Desse
modo, foram acrescentados ao acervo obras de romance, poesia, contos, revistas em quadrinho,
periódicos de diversas áreas, CDs infantis e outros tipos de materiais que garantiram o início do
trabalho.
Após esse processo, a equipe organizou o evento denominado Atividades de formação na
área de leitura e narrativa oral: em busca de práticas diferenciadas. Destaca-se, nessa fase, a
participação de profissionais da saúde, docentes de Biblioteconomia da UFES e bibliotecários
formados que assumiram a função de condutores das discussões dos seguintes temas: humanização
do ambiente hospitalar; leitura e cidadania; narrativa oral; leitura de histórias; dramatização e
musicalização.
2.1 DINAMIZAÇÃO DO ESPAÇO DE LEITURA
A dinamização do espaço de leitura iniciou-se no segundo semestre de 2010, tendo
continuidade até o segundo semestre de 2011. Inicialmente, o espaço foi liberado para o trabalho
em apenas um dia da semana, tendo, com isso, o acompanhamento de uma bolsista do curso de
Biblioteconomia da UFES. Todavia, os profissionais do hospital utilizavam o acervo em outros dias
da semana.
As atividades desenvolvidas, no auditório do Ambulatório Pediátrico, inicialmente,
consistiram na disponibilização do acervo sobre mesas (figura 1), para, assim, facilitar o acesso aos
livros e a outros tipos de materiais disponíveis para as leituras.
Figura 1 - Exposição de partes do acervo do projeto
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
�144
A estratégia ocasionou numa boa recepção por parte dos pacientes e acompanhantes,
conforme pode ser observado no relato de uma das bolsistas do projeto:
Os pais aprovaram a iniciativa do projeto e nos disseram que chegam a ficar mais de cinco horas aguardando o
atendimento, e que seria muito bom se estivéssemos lá todos os dias, pois a leitura de livros e revistas ajuda a passar o
tempo de espera.
Assim, percebeu-se a necessidade da ampliação do atendimento no ambiente hospitalar,
tendo em vista que não apenas as crianças e os adolescentes demonstraram prazer ao entrar em
contato com o acervo do projeto. As histórias possibilitaram aos sujeitos desse espaço,
dinamizadores e usuários, diálogos acerca da saúde e da realidade das comunidades de origem.
Com a análise da experiência, percebeu-se que a competência em leitura exercitada naquele
ambiente evidenciou o aprender a ler o mundo e a dar sentido a ele, assim como, aos próprios
sujeitos (MARTINS, 2007).
Desse modo, o diálogo em torno da leitura permitiu aos sujeitos questionar a realidade
vivida e a perceber a importância dela para obter crescimento social e cultural. Segundo relato de
outra bolsista do projeto,
certa feita, uma mãe relatou que gostou muito do projeto, pois a escola em que seus filhos estudavam não possuía
biblioteca, e ali ela pôde vê-los lendo um livro. Ela relatou ainda que também estava lendo alguns livros infantis para
depois contar para seus filhos.
Diante desse contexto, identificam-se circunstâncias que propiciam a precariedade das
práticas de leitura em ambientes de educação e cultura e, por conseguinte, a realidade que é imposta
aos sujeitos cotidianamente.
No contexto da dinamização da leitura no espaço hospitalar (figuras 2 e 3), também foram
registrados diálogos compartilhados perante a situação de adoecimento, a angústia da espera na
instituição hospitalar, de abandono no contexto familiar, bem como, das dificuldades enfrentadas no
dia a dia. A prática vivida, então, em alguns momentos, viabilizada pela leitura dirigida, permitiu
momentos de reflexões e de aprendizagens nesse ambiente.
�145
Figura 2 - Usuários do ambulatório
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
Figura 3 - Usuários do ambulatório
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
Acerca da atuação dos discentes do Curso de Biblioteconomia da UFES, verificou-se que
trabalharam na revitalização14 do espaço de leitura, organizando, por exemplo, campanhas de
14
Trabalho realizado na disciplina Ação Cultural em parceria com o Projeto Ideias e Práticas em Informação,
Educação e Cultura, ambos ligados ao Departamento de Biblioteconomia da UFES.
�146
doação dos livros que resultaram na melhoria do acervo do projeto e em outras ações que visaram a
sua reestruturação.
Destacam-se ainda, nesse contexto, as atividades para a melhoria do ambiente, como a
confecção de painéis removíveis com temas de contos infantis (figura 4), tornando-o, assim, o
espaço mais atrativo. Os discentes também promoveram momentos de contação de histórias,
seguidos de desenhos que eram articulados com a leitura do texto das narrativas. Também
utilizaram técnicas relacionadas com leitura dirigida individualmente, música e expressão corporal.
Figura 4 - Revitalização do espaço
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
O contexto da disseminação registrada nos documentos dos projetos consubstancia o relato
de atividades que foram positivas tanto para o público-alvo quanto para os dinamizadores do
projeto. Além do exposto, a contribuição das ações para a formação do futuro bibliotecário pôde ser
verificada perante o relato de uma das discentes do curso de Biblioteconomia:
Minha participação no projeto foi curta, porém de grande valia para a vida profissional, mostrando uma possibilidade
de atuação do bibliotecário como agente cultural. Apesar de o projeto trabalhar com um público flutuante, a
participação das crianças foi bastante significativa.
Com a exposição da implantação e dinamização descrita até o momento, coexiste a
constatação do desaparecimento de praticamente todo o acervo do projeto no final do segundo
período de 2011. Paralela a essa realidade, evidencia-se o desaparecimento do mobiliário que
atendia ao público infantil no ambiente hospitalar.
Com o número reduzido de livros e a baixa participação do público em detrimento do
desfalque do acervo, restaram apenas poucos periódicos antigos e mutilados. Nos relatórios dos
projetos, registra-se também o extravio de gibis junto com a maior parte dos livros infantis,
�147
ocasionando na falta de interesse por parte dos pacientes e outros usuários em frequentar o espaço
de leitura.
Diante do exposto, no primeiro período de 2012, as atividades do Projeto de Extensão
Leitura no ambiente hospitalar foram transferidas para o Projeto de Extensão Ideias e Práticas em
informação, educação e cultura, com a finalidade de encontrar formas de reestruturar o trabalho,
que, na atualidade, continua sendo desenvolvido em espaços educacionais. Todavia, o interesse dos
alunos pela dinamização da leitura no ambiente hospitalar permanece, ocasionando em estudos de
Trabalho de Conclusão de Curso e em planejamentos de outras atividades extensionistas no
ambiente hospitalar. Por conseguinte, este relato aponta para a necessidade de continuidade do
trabalho, o que requer uma gestão que possa dar conta da dinamização da leitura na instituição
hospitalar.
Nesse sentido, só é possível conceber uma formação que implique ações que se constituam
num processo de construção coletiva com os sujeitos envolvidos. Entende-se que o movimento de
mudança das práticas e da organização do trabalho só se tornará efetivo por meio da
problematização dos modos de cuidar de gerir instituídos, se esses movimentos estiverem
conectados com as práticas de trabalho nos serviços de saúde, com seus trabalhadores e usuários
(HECKERT; NEVES, 2000 apud GUEDES; PITOMBO; BARROS, 2009).
A realidade exposta dá visibilidade à ausência de trabalhos mais efetivos na área do ensino,
da pesquisa e da extensão na universidade, voltados especificamente para essa realidade, tendo
como finalidade promover espaços de leitura na área de interesse da comunidade interna e externa à
instituição de formação. Conforme aponta Yunes (2004, p. 2),
no que toca a questão da leitura, a primeira necessidade de uma comunidade é reconhecer
esta prática como uma atividade que precede a maioria das conquistas sociais de seus
integrantes. Ela é o recurso que lhe permite obter informação sem depender muito de
intermediários e intérpretes, que situa cada um diante de uma série de possibilidades, que
lhe oferece opções para fazer-se um pouco menos autômato e mais responsável por seus
desejos e atitudes.
Nesse sentido, surge a necessidade de criação de políticas que possam prever a participação
do bibliotecário e de outros membros da comunidade, interna e externa à UFES, nesse contexto de
atuação, que se caracteriza como sendo inter e transdisciplinar. Torna-se importante colocar que,
para isso, não existe uma receita pronta e acabada, conforme expõe Yunes (2004, p. 5), mas sim,
possibilidades de conceber “[...] ações assumidas coletivamente em cada comunidade, com decisões
concertadas interinstitucionalmente que acolham as iniciativas e projetos para apoiá-los e expandilos”.
�148
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da experiência vivenciada no hospital universitário descrito neste estudo, percebe-se
o quanto a leitura, por meio das intervenções de bibliotecários, alunos e docentes da área de
Biblioteconomia e campos afins, muito pode contribuir para minimizar as angústias existentes no
ambiente hospitalar. Acreditamos, por meio deste relato, que a Biblioteconomia pode ir muito além
das bibliotecas, atingindo esses locais em que prevalecem instabilidades e sentimentos de medo,
dor, sofrimento, dentre outras sensações que inquietam ou incomodam o ser humano.
A leitura, a educação e a informação fundamentam a construção de uma sociedade crítica, na
qual a cultura é o elemento fundamental para que o desenvolvimento social dos sujeitos seja
efetivado. Questiona-se, então, sobre a importância de práticas de incentivo à leitura, bem como,
para o fato de que ações contribuem para a formação de novos leitores.
A prática da leitura não pode ser realizada apenas em ambientes educacionais, na família ou
na biblioteca. Ela pode ser realizada por meio da estruturação de ambientes de aprendizagem,
organizados fora do ambiente escolar e/ou da biblioteca, podendo ser firmada em ambientes onde o
público aproveita o tempo ocioso para consolidação da leitura. O bibliotecário expande sua atuação
profissional e cumpre sua missão de agente cultural e social ao adquirir competência informacional,
contribuindo, sobremaneira, no gerenciamento desses espaços destinados à leitura e aprendizagem.
A participação do profissional da informação, especificamente o bibliotecário, que lida
diretamente com o objeto livro, pode ser pensada como agente para disseminação e incentivo ao ato
de ler. Com o intuito de refletir acerca das potencialidades da profissão, apresentamos um relato de
experiência no qual se registra a atuação de docentes e discentes do Curso de Biblioteconomia da
UFES no Ambulatório pediátrico do HUCAM, vinculados ao Projeto de Extensão Universitária
Ideias e Práticas e Informação, Educação e Cultura do Departamento de Biblioteconomia dessa
universidade.
A mediação da leitura promovida no espaço pediátrico contribuiu para a discussão acerca da
importância da implantação de espaços como esse que visem a dinamização e o aprendizado em
práticas culturais envolvendo discentes. Espera-se que, com isso, os resultados do presente estudo
possam contribuir para o fomento de políticas dentro na universidade que valorizem o
desenvolvimento de práticas de leitura para crianças e adolescentes, e repensar no papel do
bibliotecário como mediador da leitura no referido contexto social.
�149
REFERÊNCIAS
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ENCONTRO REGIONAL DE ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO,
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO, 14., Anais Eletrônicos... São
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<http://rabci.org/rabci/sites/default/files/A%20LEITURA%20COMO%20TRATAMENTO%20dive
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MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2007.
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um estudo de caso na Sala de Leitura Tabajara Ruas do HCPA. 2011. Disponível em:
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YUNES, E. Políticas públicas de leitura: maneira de fazê-las. Pensar no livro, n. 3, mar. 2004.
�150
CAPÍTULO XI
O BIBLIOTECÁRIO NO CONTEXTO DO ENCARCERAMENTO: DAS INSTITUIÇÕES
ESCOLARES AOS PRESÍDIOS
Eni Maria Zanette
1 INTRODUÇÃO
Ser capaz de aprender, adquirir novos conhecimentos, descobrir, inventar, criar e inovar é
uma necessidade premente do homem moderno. Mais do que ter hábitos aperfeiçoados, é
importante ter flexibilidade e agilidade para adaptar-se às novas mudanças no mundo
contemporâneo. A biblioteca é fundamental para a formação e desenvolvimento humano e social,
constituindo-se como uma fonte propagadora de conhecimento.
Bibliotecas também podem viabilizar o exercício da cidadania, interferindo na formação
consciente do indivíduo, capacitando-o a exercer sua conduta em conformidade com regras,
costumes e demais fatores culturais legalmente aceitos e instituídos. Estando vinculadas a uma
organização específica, as bibliotecas podem exercer a missão socializadora, como acontece nas
bibliotecas prisionais.
Bibliotecas prisionais têm grande importância principalmente para a formação de práticas de
leitura, uma vez que os apenados não têm acesso a jornais, televisão, internet etc. Resta a
possibilidade dos livros como companheiros durante o ócio. No entanto, mesmo sabendo das
contribuições que as bibliotecas prisionais podem proporcionar, a realidade do sistema prisional
brasileiro confirma a falta de gestão e até mesmo a inexistência dessas unidades nos presídios
brasileiros.
Especificamente, refletindo o contexto do Estado do Espírito Santo, segundo o relatório do
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), de 2008, sobre a situação das bibliotecas no
Sistema Penitenciário, na meta 16, que trata das bibliotecas, descreve que o acervo das bibliotecas
instaladas nas quatro unidades prisionais no Espírito Santo é formado por doações.
Para a
dinamização desse acervo, em geral, é indicado um preso para atuar, que segundo o referido
relatório, conforme transcrito, tal preso é designado para atuar na função de bibliotecário (BRASIL,
2008). Isso vem demonstrar o desconhecimento do Estado quanto ao papel desse profissional e a
�151
importância de sua atuação enquanto mediador e orientador do acesso à informação em sistemas
prisionais.
Esse desconhecimento pode estar relacionado a diferentes fatores, tanto no que se refere à
formação profissional, bem como quanto à divulgação no mercado das novas contribuições que o
profissional pode proporcionar a diferentes espaços que demandem de informação. Sobre essa
questão, faz-se necessário definir um perfil profissional que se deseja, sendo também
imprescindível o desenvolvimento de ações que “[...] divulguem o profissional para o mercado
empregador” (VALENTIM, 2002, p. 118).
Nesse contexto, partiu da seguinte questão norteadora de pesquisa: de que forma a biblioteca
pode contribuir para otimizar a gestão do sistema prisional considerando, em caráter geral, a
realidade nacional e, em caráter particular, a realidade do Espírito Santo? Por decorrência dessa
indagação, o presente texto manifesta-se com a perspectiva de caracterizar as contribuições da
biblioteca contemplando como elemento estratégico a atuação do bibliotecário em ambientes
prisionais, destacando a realidade do sistema prisional brasileiro, em especial, a realidade do Estado
do Espírito Santo.
Metodologicamente, utilizou-se da pesquisa bibliográfica, conduzida por meio da consulta a
livros e artigos científicos que versam sobre esse assunto, tendo em vista buscar embasamento
teórico que justificasse a contribuição do bibliotecário e da biblioteca no contexto prisional.
Além da pesquisa bibliográfica, recorreu-se à pesquisa documental, analisando documentos
jurídicos de natureza primária, os quais fornecem informações para sustentar as atividades a serem
realizadas na unidade prisional. Dentre os documentos primários consultados, citam-se: as regras,
regulamentos, resoluções, portarias, diretrizes e leis do sistema prisional brasileiro e do Estado do
Espírito Santo.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
De acordo com a British Broadcasting Corporation Brasil (BBC/BRASIL, 2012), em 28 de
dezembro de 2012, a população carcerária no Brasil obteve o 3º maior aumento do mundo. Nos seis
primeiros meses desse ano, o país apresentou um crescimento de 6% e se continuar com essa
tendência, em breve, será um dos três países do mundo com maior população carcerária absoluta.
Além disso, as condições precárias do sistema prisional brasileiro dificultam a prática de programas
para ressocialização dos presos.
�152
Segundo Kawaguti (2012), o Brasil tem um sistema prisional superlotado, além de um
déficit de vagas de quase duzentos mil. Por meio da fiscalização de Direitos da Organização das
Nações Unidas, o Brasil recebeu como recomendação melhorar as condições das prisões e enfrentar
o problema da superlotação. Conforme levantamento da Pastoral Carcerária para a população
prisional, maior parte dos encarcerados tem baixa escolaridade, é formada por negros ou pardos,
não possui emprego formal e é usuária de drogas.
De acordo com Souza (2008), o perfil do preso brasileiro em sua maioria absoluta é formado
por pessoas pobres. A escolaridade desses compreende 70% com ensino fundamental incompleto e
10,5% de analfabetos. A atividade educativa é desenvolvida por apenas 18%, portanto, 72% estão
em total ociosidade. É uma população jovem, em que mais da metade está na faixa de 18 a 29 anos
entre homens e mulheres. Quase metade dos aprisionados está sob essa condição por causa de
roubos seguidos pelo tráfico de entorpecentes, dentre outros motivos. A reincidência representa
80% dos presos que saem e voltam a cometer crime.
O Sistema Penitenciário Brasileiro apresenta muitas dificuldades e os presos, cada vez mais,
estão convivendo em celas superlotadas, com precárias condições de sobrevivência e com grande
predominância de violência.
Diante disso, percebe-se que o artigo 1°, inciso III, da Constituição Brasileira de 1988, que
dispõe sobre a Dignidade da Pessoa Humana e o artigo 5º, inciso III, ao descrever que “[...]
ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante [...]”, estão sendo
violados (BRASIL, 1988, p. 13).
O sistema penitenciário brasileiro ainda não oferece
possibilidades de apoio para que o detento seja ressocializado.
Ao Estado, compete fazer cumprir essas garantias, que estão asseguradas no artigo 10 da Lei
nº 7.210, de 11 de julho de 1994, conhecida como Lei de Execução Penal (LEP) (BRASIL, 1984).
A Lei 12.245, de 24 de maio de 2010, altera o artigo 83 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1994,
para autorizar a instalação de salas de aulas nos presídios (BRASIL, 2010).
Conforme a LEP, em seu artigo 21, em atendimento às condições locais, cada
estabelecimento será dotado de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida
de livros instrutivos, recreativos e didáticos (BRASIL, 1984).
�153
3 OS SISTEMAS PRISIONAIS E AS BIBLIOTECAS
3.1 DIRETRIZES INTERNACIONAIS
Em 25 de maio de 1984, por meio da Resolução 1984/4715, o Conselho Econômico e Social
da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou treze procedimentos para a aplicação efetiva
das Regras Mínimas, conforme artigo 40 a seguir transcrito: “Cada estabelecimento prisional terá
uma biblioteca para o uso de todas as categorias de presos, devidamente provida com livros de
recreio e de instrução, e os presos serão estimulados a utilizá-la” (UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO, 2013, não paginado). Entre os treze procedimentos, constam a previsão de uma biblioteca
disponibilizada a todos os presos para fins de instrução e recreação.
Em 1985, a Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA),
mediante ao Comitê Permanente da La Sección de Bibliotecas para Personas en Condiciones
Desventajosas (LSDP) reconheceu a necessidade de oferecer serviços bibliotecários e de
informação para um número maior de pessoas que cumprem condenação em unidades prisionais em
todo o mundo. Dentro da seção de usuários especiais, criou um grupo de trabalho sobre bibliotecas
prisionais, com o objetivo de elaborar normas internacionais para esse tipo de serviço. Assim,
durante cinco anos seguidos, uma equipe organizou e desenvolveu conferências, oficinas, reuniões
objetivando aumentar os conhecimentos sobre biblioteca prisional e coletar informações como
subsídio na elaboração e publicação das diretrizes (LEHMANN; LOCKE, 2007).
A primeira publicação das Diretrizes para Bibliotecas Prisionais, a Guidelines for Library
Services to Prisoners ou Pautas para serviços bibliotecários para reclusos foi editada pelo francês E.
Kaiser, em 1992, e traduzido para o espanhol, em 1993. Em sua segunda edição, em 1995, já incluía
informações mais específicas sobre os serviços. Em 2001, o Comitê Permanente da LSDP propôs a
atualização das pautas. Um novo grupo de trabalho assumiu o compromisso de examinar como os
sistemas de bibliotecas públicas haviam expandido os serviços para os indivíduos sob condição de
reclusão, devendo realizar as seguintes atividades: atualizar as informações relativas ao estado atual
das bibliotecas prisionais existentes e conhecidas; e, atualizar as informações sobre as normas
existentes e sobre os métodos utilizados para oferta de serviços pelas bibliotecas. Como resultado
15
As Regras mínimas para tratamento de prisioneiros foram adotadas pelo 1º Congresso das Nações Unidas sobre
Prevenção do Crime e Tratamento de Delinquentes, realizado em Genebra (em 1955), e posteriormente, aprovada pelo
Conselho Econômico e Social da ONU, mediante a sua resolução 663 C I (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela
resolução 2076 (LXII), de 13 de maio de 1977 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2014).
�154
dessa investigação, foi publicada a 3ª edição das diretrizes, em 2007, na versão em língua espanhola
(LEHMANN; LOCKE, 2007).
A IFLA e a Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura
(UNESCO), em seu Manifesto sobre Bibliotecas Públicas, incluíram, em 1994, as diretrizes para a
oferta de serviços e materiais específicos, para usuários que, por algum motivo, não podem ter
acesso aos serviços e materiais, como pessoas hospitalizadas e detentos (IFLA, 2012). Estabeleceu
ainda que, os serviços devem ser fisicamente disponíveis a toda comunidade. A IFLA espera que
seja oferecida a esses grupos uma coleção renovada.
Assim, diante do exposto, pode-se inferir que, no âmbito internacional, as instituições
reconhecem que a biblioteca é um instrumento de reinserção para o recluso. Na descrição das
características das bibliotecas prisionais, em alguns países - apresentada por Garcia-Perez (2001) há situações, em que os bibliotecários tomaram a iniciativa na promoção de ações decisivas para o
crescimento dos serviços. A biblioteca pública tem um papel importante, por meio do serviço
bibliotecário, de renovar o acervo e buscar fundos. Cada país aplica seus próprios critérios, não
existindo uma norma internacional comum a todos, apenas diretrizes.
Lehmann e Locke (2007), editores das diretrizes ou pautas, descrevem que o objetivo das
Pautas para serviços bibliotecários para reclusos é atuar como uma ferramenta para apoiar
projetos, aplicações e a evolução desses serviços para prisioneiros. Essas diretrizes internacionais
adaptadas sem dificuldades em qualquer local revelam uma aceitação dessas propostas pela maioria
dos países, cujas políticas governamentais locais e nacionais apoiem a existência de bibliotecas
prisionais.
As diretrizes são instrumentos para projetos de novas bibliotecas e avaliação das existentes.
Em caso de não haver diretrizes específicas para a região, as diretrizes propostas pela IFLA e
UNESCO podem ser aplicadas. Servem ainda, como uma declaração geral de princípios sobre os
direitos dos reclusos a ler, aprender e ter acesso à informação. Essas diretrizes são aplicadas à
população de cinquenta ou mais reclusos.
Também são extensivas aos bibliotecários,
administradores
prisionais,
de
bibliotecas,
autoridades
legislativas
e
administradores
governamentais e demais autoridades responsáveis pela administração e financiamento das
bibliotecas prisionais.
De acordo com Lehmann e Locke (2007), as diretrizes para bibliotecas prisionais tiveram
contribuição de vários documentos mundiais. Dentre eles, citam-se:
regras mínimas para o tratamento de prisionais - regra 40: dispõe essa pauta que cada
estabelecimento prisional terá uma biblioteca para o uso de todas as categorias de presos,
�155
devidamente provida com livros de recreio e de instrução, e os presos serão estimulados a
utilizá-la;
la Carta del Lector: instituída em 1994, elaborada pelo Comitê Internacional do Livro e a
Associação Internacional de Editores, publicadas pela UNESCO, declarando que a leitura é
um direito universal;
o Manifesto sobre a Biblioteca Pública da IFLA/UNESCO, de 1995: convoca as
bibliotecas públicas a servir seus reclusos;
el Informe Education em La Prisión: escrito pelo Conselho Europeu, firmado em
Estrasburgo, no ano de 1990, incluindo um capítulo sobre biblioteca prisional. Esse
documento recomenda que as bibliotecas prisionais, para funcionarem, precisam seguir os
mesmos padrões profissionais de uma biblioteca da comunidade; devem ser administradas
por um bibliotecário profissional; satisfazer os interesses e necessidades de uma população
heterogênea; e oferecer livre acesso aos detentos e disponibilizar uma variedade de
atividades relacionadas à alfabetização e leitur.
Lehmann e Locke (2007) ainda mencionam que as pautas para serviços bibliotecários
prescrevem:
alcance: sua aplicação se estende a todos os centros onde existam pessoas encarceradas,
presos, prisões, centros preventivos de prisão, centros de detenção, hospitais e outras
instituições prisionais. São diretrizes válidas para adultos e menores;
administração: a redação das diretrizes para a prestação de serviços bibliotecários deve ser
desenvolvida pelas autoridades nacionais ou prisão local. Essa norma deve enunciar, de
forma clara, a missão e objetivos, assim como as fontes de financiamento e
responsabilidades administrativas para os serviços bibliotecários.
As diretrizes para
bibliotecas prisionais devem servir de base para o desenvolvimento de procedimentos
bibliotecários locais, tratando temas como atividades operacionais da biblioteca;
a coleção: o controle da administração e o financiamento para as bibliotecas prisionais
variam para cada país (Ministério da Justiça Nacional, Governo, Município, Biblioteca
Pública, o Sistema de Bibliotecas, Ministério da Educação e Cultura). Em alguns casos,
diversas organizações governamentais dividem essa responsabilidade, tendo um acordo,
contrato legal que explique a contribuição de cada parte e os serviços que oferecem.
Recomendam, ainda, que a coleção disponha de uma quantidade mínima de 100 livros,
sendo possível o empréstimo de dois títulos por semana para cada recluso. Também, há
orientações quanto às instalações físicas e equipamentos;
�156
quadro de pessoal: recomendam que sejam bibliotecários profissionais com preparação e
habilidades adquiridas na universidade. Na pauta 6.2, recomenda-se que todas as prisões que
tenham mais de 500 detentos devem contar com um profissional em tempo integral e para as
unidades que tenham acima de 1000 devem ter em seu quadro dois bibliotecários. Para as
unidades prisionais que tenham uma população menor, podem reduzir o número de horas de
trabalho do bibliotecário da seguinte forma: população de: 0 a 300 – o bibliotecário terá 24
horas de trabalho semanal. Para a população de 301 a 499, o profissional terá a carga horária
de 30 horas. O resto de profissionais para atender ao quadro de pessoal será selecionado de
acordo com as necessidades da unidade;
responsabilidade: a instituição responsável pela biblioteca deve assegurar no seu orçamento
previsão de recursos para cobrir gastos com pessoal, salários, materiais de biblioteca, acesso
às redes etc.
De acordo com Mischiati e Valentim (2005), o bibliotecário deve ser capaz de atuar de
forma criativa e eficaz, identificando demandas de informação de seus usuários. É responsável pelo
processamento de informações nos diversos tipos de documentos e suportes, existentes no acervo, e
deve dispensar todo conhecimento no tratamento, armazenamento, disseminação, busca e
recuperação da informação. Ainda, segundo as autoras citadas, esse profissional deve ser
conhecedor de novas tecnologias, pois cabe a ele o desenvolvimento de novos serviços, e ser capaz
de atender às expectativas de seus usuários.
3.2 REGULAMENTAÇÃO EM ÂMBITO NACIONAL
No Brasil, inexistem diretrizes ou regulamentação específica sobre características de
bibliotecas em sistemas prisionais, mesmo havendo previsibilidade em diversas legislações e
regulamentações. Durante a pesquisa documental, identificaram-se documentos de amplo alcance,
como a Constituição e a própria Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a qual estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação, a (LDB), dentre outras legislações que, em sua funcionalidade,
oferecem garantias quanto ao usufruto de direitos considerados universais. Analisaram-se, também,
documentos de âmbito internacional com efeito direto nas práticas nacionalmente adotadas pelo
sistema prisional brasileiro, no que se refere, principalmente, à educação e à existência de
bibliotecas.
�157
Na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), reconhecem-se os direitos sociais, dentre eles o
direito à educação, estendido de forma universal aos sujeitos. Esse direito social também alcança o
recluso, incluindo aqueles que não o alcançaram na idade própria.
Sobre a sua regulamentação no Brasil a partir da LDB, cabe salientar a recomendação
prescrita aos sistemas de ensino de assegurar aos jovens e adultos oportunidades educacionais
apropriadas às condições de existência: de vida e de trabalho (CONSELHO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, 2010).
Conforme descreve Claude (2005), educação é a ferramenta indispensável para o
crescimento pessoal, amplia o conhecimento, o saber e o discernimento. É um direito social,
porque, no contexto da comunidade, promove o desenvolvimento da personalidade humana.
Representa um direito econômico, porque favorece a autossuficiência econômica, mediante ao
trabalho. É cultural, porque a comunidade internacional orientou a educação no sentido de construir
uma cultura universal de direitos humanos. A educação é o pré-requisito fundamental para o
indivíduo atuar plenamente como ser humano na sociedade moderna.
Nesse contexto, é bem-vinda a afirmação de Muakad (1990, p. 25), quando discursa que “a
prisão deve ter o mesmo objetivo que tem a educação da infância na escola e na família: preparar o
indivíduo para o mundo a fim de subsistir ou conviver tranquilamente com seus semelhantes”.
3.2.1 Decisões do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)
As Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil foram regulamentadas pela
Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP), consolidada em reunião de 17 de outubro de 1994 e considerando a decisão
do Comitê Permanente de Prevenção ao Crime e Justiça Penal das Nações Unidas, do qual o Brasil
é membro e considerando ainda o disposto na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de
Execução Penal).
Essas Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil obedecem aos princípios da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, aos tratados, convenções e regras internacionais de
que o Brasil é signatário (CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E
PENITENCIÁRIA, 1994).
As instruções para a assistência educacional estão previstas na resolução CNPCP nº 14/94,
nos artigos 38 ao 42. Compreendem a instrução escolar na formação profissional do preso,
prescrevendo que instrução primária e cursos de alfabetização são obrigatórios a todos os presos
�158
que não as possuem. A regra 41 determina que os estabelecimentos prisionais estejam constituídos
de biblioteca organizada com livros de conteúdo informativo, educativo e recreativo, adequados à
formação cultural, profissional e espiritual do preso. No artigo 42 está previsto o direito ao preso
participar de cursos por correspondência, rádio ou televisão (CONSELHO NACIONAL DE
POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 1994).
A Resolução nº 1, de 20 de março de 1995, também do CNPCP, viabiliza a aplicação das
Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil, em todos os Estados e no Distrito Federal
em cumprimento à orientação ditada pela Resolução n. 2.858, de 20 de dezembro de 1971, da
Assembleia Geral da ONU e em conformidade com a Resolução CNPCP nº 01/95 (CONSELHO
NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 1995).
O artigo 1º da resolução CNPCP nº 01/95 recomenda às secretarias, responsáveis pelos
assuntos penitenciários nos Estados e no Distrito Federal, a adequação de seus Estatutos,
Regulamentos ou Regimentos Penitenciários, em conformidade com a Resolução CNPCP nº 01/95
(CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 1995).
Em seu artigo 2º, solicita aos Conselheiros Penitenciários dos Estados e do Distrito Federal
que implementem ações e medidas no sentido de efetivar a aplicação das Regras Mínimas para o
Tratamento do Preso no Brasil, considerando que a atuação do Poder Executivo e a assistência do
Poder Judiciário, com apoio do Ministério Público, são imprescindíveis para o êxito social do
cumprimento da pena ou da medida de segurança, na dinâmica do diálogo entre os seus
destinatários e a comunidade (CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E
PENITENCIÁRIA, 1995).
A Resolução nº 3 do CNPCP, de 11 de março de 2009, dispõe sobre as Diretrizes Nacionais
para a Oferta de Educação nos estabelecimentos penais. Tal resolução levou em consideração:
as propostas encaminhadas pelo Plenário do I Seminário Nacional de Educação nas Prisões
(de 2006);
o protocolo de intenções firmado entre os Ministério da Justiça e da Educação com o
objetivo de fortalecer e qualificar a oferta de educação nas prisões;
a responsabilidade dos Ministérios da Educação e da Justiça quanto ao fomento e indução de
políticas públicas de Estado no domínio da educação nas prisões, estabelecendo as parcerias
necessárias junto aos Estados, Distrito Federal e Municípios;
o disposto na Constituição Federal de 1988, na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, bem
como na Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, desse Conselho, que fixou as Regras
Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil; e
�159
o Projeto Educando para a Liberdade, fruto de parceria entre os Ministérios da Educação e
da Justiça e da Representação da UNESCO no Brasil (CONSELHO NACIONAL DE
POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 2009).
Considerando os documentos antecedentes, tal resolução constitui-se como uma referência
fundamental para subsidiar o desenvolvimento de uma política pública de educação no contexto
prisional, feita de forma integrada e cooperativa, e representa novo paradigma de ação a ser
desenvolvido no âmbito da Administração Penitenciária.
Em seu artigo 2º, garante que as ações de educação no contexto prisional devem estar de
acordo com a legislação educacional em vigor e na Lei de Execução Penal. No artigo 3º e inciso I,
deve-se atender aos eixos pactuados no Seminário Nacional pela Educação nas Prisões, ocorrido em
2006 (CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 2000). Os
eixos propostos nesse evento devem contemplar:
gestão, articulação e mobilização;
formação e valorização dos profissionais envolvidos na oferta de educação na prisão; e
aspectos pedagógicos.
Em seu inciso IV – trata do quesito biblioteca, recomendando que essa unidade deve “[..]
estar associada às ações de fomento à leitura, tendo em vista atender a população carcerária e aos
profissionais que trabalham nos estabelecimentos penais” (CONSELHO NACIONAL DE
POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 2009).
Prevê, ainda, que sempre que possível, devem ser promovidos vínculos entre comunidade e
familiares do preso, ações de inclusão, acessibilidade, respeito ao gênero e às etnias etc. Essa
Resolução faz registro sobre aspectos da gestão da educação no contexto prisional, responsabiliza as
autoridades dos estabelecimentos a propiciar espaços físicos adequados às atividades educacionais
(salas de aula, bibliotecas, laboratórios etc.) e integrar as práticas educativas às rotinas da unidade
(CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, 2009).
3.2.2 Decisões do Conselho Nacional de Educação
A Resolução nº 2, de 19 de maio de 2010, da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação (CEB/CNE), definiu as principais Diretrizes Nacionais para a oferta de
educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais.
Com essa resolução, a responsabilidade de oferecer educação é atribuição direta do órgão
responsável pela educação nos Estados, no Distrito Federal (Secretaria de Educação ou órgão
�160
equivalente) e deverá ser realizada em articulação com os órgãos responsáveis pela sua
administração penitenciária, exceto as penitenciárias federais, que são de responsabilidade do
Ministério da Educação (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2010).
No artigo 3º dessa resolução, estão as orientações para a oferta de educação para jovens e
adultos em estabelecimentos penais. O inciso II indica as fontes de financiamento, delegadas ao
Ministério da Educação, privilegiando os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento de
Educação Básica (FUNDEB) e outras estaduais e federais. O inciso III, abaixo transcrito, salienta a
importância das ações complementares, incluindo–se a implementação, recuperação e manutenção
de bibliotecas:
[...] estará associada às ações complementares de cultura, esporte, inclusão
digital, educação profissional, fomento à leitura e a programas de implantação,
recuperação e manutenção de bibliotecas destinadas ao atendimento à população privada
de liberdade, inclusive as ações de valorização dos profissionais que trabalham nesses
espaços (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2010, não paginado, grifo nosso).
O artigo 9º prescreve que a oferta de educação profissional nos estabelecimentos penais
deve seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação,
inclusive com relação ao estágio profissional supervisionado concebido como ato educativo. O
artigo 11º, seguidamente, prescreve ações exclusivas para educadores, gestores e técnicos que
atuam nos estabelecimentos penais. O parágrafo primeiro do artigo 11º apresenta as orientações
para os docentes que atuam nos espaços penais e as recomendações quanto à habilitação, porém não
consta nenhuma recomendação para o profissional de Biblioteconomia para atuar na biblioteca
(CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2010).
De forma complementar à Resolução CEB/CNE nº 04/2010, que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, o artigo 21º define as etapas da educação básica
e prevê no inciso VII, a garantia para as pessoas em situação de privação de liberdade, “[...] de
adolescentes em regime de acolhimento ou internação, jovens e adultos em situação de privação de
liberdade nos estabelecimentos penais” (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2010, não
paginado).
3.2.3 Decisões de âmbito federal
A Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (LEP), em seus artigos 17º ao 21º, também trata da
assistência educacional, prescrevendo a criação de bibliotecas. A biblioteca está confirmada no
artigo 21º, quando dispõe que: “em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada
�161
estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros
instrutivos, recreativos e didáticos” (BRASIL, 1984, não paginado).
Refletindo sobre o teor do artigo 21º da LEP, entende-se que, em atendimento às condições
locais, dotar-se a cada estabelecimento de uma biblioteca, refere-se a uma biblioteca formada dentro
das recomendações legais com previsão de um bibliotecário para a gestão dessa biblioteca, levando
em consideração o tipo de usuário específico e o gerenciamento do acervo, adentrando-se ao perfil
dos usuários.
Esse profissional deve facilitar o acesso e a disseminação da informação com
consciência de seu papel social.
No artigo 10º da LEP, está a responsabilidade do Estado, que é oferecer “[...] assistência ao
preso e ao internado [...], objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade”. No artigo 11º – inciso IV, encontra-se a garantia da assistência educacional ao preso,
com destaque para os seguintes aspectos:
previsão para a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado
(conforme artigo 17);
obrigatoriedade na oferta do ensino de 1º grau e integrado ao sistema escolar (conforme o
artigo 18);
ensino profissional ministrado em níveis de iniciação e aperfeiçoamento técnico (artigo 19);
ensino profissional para a mulher (conforme artigo 19, parágrafo único);
previsibilidade de convênios com entidades públicas e privadas para a oferta de atividades
educacionais (conforme artigo 20) (BRASIL, 1984a).
Em maio de 2010, a Lei 12.245, de 24 de maio de 2010, alterou o artigo 83 da LEP, para
autorizar a instalação de salas de aula nos presídios (BRASIL, 2010).
A LEP significou um avanço sendo fortalecida por outras resoluções e diretrizes, tornandose um grande desafio para que seja proporcionado e exigido das autoridades competentes, o seu
cumprimento. Embora a LEP não mencione o bibliotecário para atuação nas bibliotecas prisionais,
entende-se a necessidade desse, uma vez que há escolas em funcionamento. Cabe ao conselho de
classe lutar pela ocupação desse profissional nas escolas prisionais.
3.2.4 Regulamentação de âmbito estadual: o caso do Estado do Espírito Santo
O Sistema Prisional do Estado do Espírito Santo, em relação à etnia dos detentos, indica que
o percentual de pardos e negros representa 78% do total dos detentos e 4,6% são procedentes da
zona rural (BRASIL, 2012).
�162
Em relação à existência de bibliotecas em unidades prisionais desse Estado, consta
registrado no Relatório da Situação Atual do Sistema Penitenciário - Bibliotecas, produzido pelo
Ministério da Justiça (BRASIL, 2008), a existência de quatro bibliotecas. Porém, consta no relatório
do CNMP de 2013 que, das 37 instituições prisionais, há 32 bibliotecas instaladas (CONSELHO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2013).
Não há relato das atividades que são
desenvolvidas na biblioteca, nem referências dos profissionais que atuam nesses ambientes.
Por iniciativa da Secretaria de Justiça (SEJUS), o Programa Educacional Portas Abertas
para a Educação promove campanha de doação de livros (Livro Aberto), desde 2009. O acervo de
livros das bibliotecas prisionais é proveniente dessa campanha permanente. As bibliotecas das
unidades prisionais do Estado do Espírito Santo têm o objetivo de estimular a leitura e democratizar
o acesso aos livros e suporte para os detentos que estudam nessas unidades (PORTAL DO
GOVERNO DO ES, [2009?]).
Essas bibliotecas contribuem para o trabalho educacional que está sendo desenvolvido nos
ambientes prisionais como reeducação e garantia da remição da pena pela educação.
Essa situação de quase inexistência de bibliotecas funcionando de forma efetiva como um
recurso ressocializador, formador e de incentivo à leitura também foi identificada em recente
pesquisa produzida pelo Instituto de Atendimento Sócio-Educativo do Espírito Santo (IASES,
2013), especificamente observando as práticas de leitura e condições da biblioteca disponibilizada
na Unidade de Internação Metropolitana (UNIMETRO), situada no município de Vila Velha (ES),
com capacidade para 120 socioeducandos, entre 17 a 20 anos e 11 meses.
Os resultados obtidos nessa pesquisa indicaram que as práticas de leitura subsistem “[...]
muito mais por força e interesse do agente e da equipe pedagógica, do que propriamente por
iniciativa e política explícita do órgão”. Os dados também coletados, por meio de pesquisa
documental e entrevista realizada com a equipe pedagógica indicaram a ausência de investimentos
regulares, de recursos financeiros e de profissionais habilitados. Sobre a situação da biblioteca, os
dados apontaram para a existência de um espaço adaptado designado Espaço Livre Reconstruir,
composto de estantes, livros, filmes e DVD’s doados, uma mesa e poucas cadeiras plásticas e um
sofá.
Essa realidade evidenciada nos órgãos gestores responsáveis pela ressocialização de
adolescentes e jovens em conflito com a lei anuncia e retrata a situação caótica do sistema prisional
brasileiro, especialmente a realidade do Estado do Espírito Santo. O nosso jovem em conflito com a
lei também não tem sido contemplado em seus direitos fundamentais.
No que se refere à regulamentação dos estabelecimentos penais para o Estado do Espírito
Santo, essa menção está prescrita na Portaria nº 332-S, de 2 de julho de 2003, que constitui o
�163
Regimento Padrão dos Estabelecimentos Prisionais do Estado do Espírito Santo e atende
rigorosamente os Princípios Gerais da Lei de Execução Penal e as Regras Mínimas para Tratamento
dos Presos, instituídas pela ONU (ESPÍRITO SANTO, 2003).
De acordo com o Regimento Padrão dos Estabelecimentos Prisionais do Estado do Espírito
Santo, as unidades prisionais do Estado constituem-se em Sistema Administrativo de Execução da
Pena, administrado pela Diretoria Geral dos Estabelecimentos Penais (DIGESP).
Conforme disposto no art. 3º, os regimes de execução administrativa da pena são
desenvolvidos, por meio de:
I - unidade de Segurança Máxima;
II - unidade de Segurança Média;
II - unidade de Segurança Mínima;
IV - unidade de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
No capítulo I, seção IV, trata da Assistência Educacional e Qualificação Profissional. De
acordo com os artigos 79º e 80º, a assistência educacional compreenderá a instrução escolar, até o
primeiro grau, educação de base, profissionalização rural e urbana e desenvolvimento sóciocultural. O programa de educação será mais diretivo e intensificado nas unidades prisionais de
regime fechado. De acordo com o parágrafo único do art. 80º, o preso em regime semiaberto terá
acesso, por opção, a cursos de segundo grau e superior, obedecendo a legislação em vigor
(ESPÍRITO SANTO, 2003).
O Regimento Padrão prevê ainda em seu art. 81º, que o ensino de primeiro grau será
obrigatório, integrando-se ao sistema escolar da unidade federativa, em consonância com o regime
de trabalho da unidade prisional e as demais atividades socioeducativas e culturais. O parágrafo
único desse artigo trata do ingresso ao sistema prisional e a triagem escolar (ESPÍRITO SANTO,
2003).
Em seu artigo 82º, trata das atividades educacionais, que podem ser objeto de ação integrada
ao Fundo de Amparo ao Preso (FUNAP) e conveniadas com outras entidades públicas, mistas e
particulares, que se disponha a instalar escolas, cursos e oficinas profissionalizantes nas unidades
prisionais (ESPÍRITO SANTO, 2003).
O ensino profissionalizante é tratado no artigo 83º do referido regimento e poderá ser
ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico, atendendo às características da
população urbana e rural, segundo aptidões individuais e demanda do mercado. Assim, dispõe o
referido Diploma:
Art. 84º. A unidade prisional disporá de biblioteca para uso geral dos presos, providas de
livros de literatura nacional e estrangeira, técnicos, didáticos e recreativos.
�164
Parágrafo Único. A unidade prisional, através dos órgãos competentes, poderá promover
convênio com entidades públicas ou particulares para ampliação da biblioteca, com a
doação de livros ou programas de bibliotecas volantes (ESPÍRITO SANTO, 2003, não
paginado).
O Regimento Padrão dispõe nos artigos 127º e 128º as recomendações para uso da
biblioteca. Assim, está descrito:
Art. 127º. A unidade prisional disporá de uma biblioteca e o acesso do preso ao acervo darse-á:
I - para uso na própria biblioteca;
II - para uso na própria cela.
Art. 128º. Os livros deverão ser cadastrados, utilizando-se fichas para consultas no local e
nas retiradas para leitura em cela.
§ 1º Qualquer dano ou desvio será ressarcido na forma prevista neste Regimento Padrão,
sem prejuízo da sanção disciplinar correspondente.
§ 2º Durante o cumprimento da sanção disciplinar poderão ser retirados os livros
pertencentes à biblioteca que se encontrarem na posse do infrator.
§ 3º Quando das saídas, sob quaisquer modalidades, o preso deverá devolver os livros em
seu poder (ESPÍRITO SANTO, 2003, não paginado).
O capítulo 3, em seu artigo 129º, trata dos meios de comunicação e recomenda que o recluso
possa ter acesso à leitura e outros meios de comunicação adquiridos às expensas próprias ou por
visitas, desde que submetidos à apreciação da direção da unidade prisional, que avaliará a sua
contribuição ao processo educacional e ressocializador (ESPÍRITO SANTO, 2003).
Tendo como base o aspecto legal do Regimento Prisional do Estado do Espírito Santo e a
alta quantidade de detentos existentes nos presídios capixabas, conforme o regime, é possível
observar que há um grande número de detentos que podem ser incentivados com a leitura.
4 PRÁTICAS DO BIBLIOTECÁRIO NO CONTEXTO PRISIONAL
Morigi, Vanz e Galdino (2002, p. 140), descrevendo sobre o bibliotecário e suas práticas na
cidadania, concluíram que a educação é um fator decisivo para que o cidadão possa lutar pelo
exercício e respeito de sua cidadania. O bibliotecário deve ter a responsabilidade social de
proporcionar, como educador, o acesso à informação para que a cidadania efetive-se. Recomendam
que o bibliotecário não deve priorizar apenas as atividades técnicas, mas que busque elementos
teóricos ligados às ciências humanas, para que possa exercer sua atividade profissional de forma
consciente e ética.
Reafirmam que o conhecimento é adquirido, por meio da aprendizagem tácita com a
interação dos sujeitos com o mundo em que vivem. À escola, cabe proporcionar o conhecimento
formal, em que o indivíduo recebe as mais variadas informações. Para Targino (1991, p. 155), não
há exercício da cidadania sem informação, pois para que se possam cumprir deveres e reivindicar os
�165
direitos políticos, sociais e civis, é indispensável a posse da informação. A informação é um bem
comum a todos e faz parte do processo educativo.
O bibliotecário é o profissional que trabalha e trata a informação para torná-la acessível ao
usuário. É responsável pela organização, tratamento e disseminação das informações, garantindo as
boas condições dos materiais armazenados e facilitando o acesso à informação. É ele quem oferece
suporte e disponibiliza informação para a tomada de decisão.
A Biblioteconomia preconiza ações de competência do profissional bibliotecário, um
conjunto de práticas orientadas para que possa trabalhar nos dias atuais em que as transformações
sociais e tecnológicas ocorrem com grande rapidez.
De acordo com o Código de Ética do Bibliotecário, em seu art. 7º, o qual dispõe que o
bibliotecário deve, em relação aos usuários e clientes, observar as seguintes condutas:
[...] a) aplicar todo zelo e recursos ao seu alcance no atendimento ao público, não se
recusando a prestar assistência profissional, salvo por relevante motivo; b) tratar os
usuários e clientes com respeito e urbanidade; c) orientar a técnica da pesquisa e a
normalização do trabalho intelectual de acordo com suas competências (CONSELHO
FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2002, não paginado).
A Special Libraries Association (SLA), uma organização de bibliotecários especializados,
elaborou um estudo sobre as competências e as habilidades que os bibliotecários devem apresentar
para trabalhar nos dias atuais, considerando as grandes transformações sociais e tecnológicas que
vêm ocorrendo. Segundo o citado estudo, as principais competências que os bibliotecários do século
XXI devem possuir são: conhecimento profundo em recursos informacionais, impressos e
eletrônicos e a capacidade de administrar serviços de informação para atender as necessidades dos
usuários (COMPETÊNCIA PARA OS BIBLIOTECÁRIOS DO SÉCULO XXI, 2012).
Especificamente sobre as atribuições e competências de um bibliotecário que atua em
sistemas prisionais, podemos citar três documentos orientadores:
[...] a American Library Association (ALA) editou o “Library standards for adult
correctional institutions” em 1992, a Library Association (LA) editou as “Guidelines for
Prison Libraries” em 1997 e a International Federation of Library Associations and
Institutions (IFLA) editou em 2005 a última versão das “Internacional Guidelines for
Library Services to Prisoners”. Para além de competências mais específicas ou adaptadas à
realidade do meio prisional, as competências destes bibliotecários são semelhantes às do
bibliotecário da Biblioteca Pública presentes no Manifesto da UNESCO (1994),
relacionadas com a informação, a literacia, a educação e a cultura (EIRAS, 2007, p. 4).
Conforme Perez-Pulido (1997), o início dos programas de leitura nas prisões ocorreu em
1870, a partir do Congresso Nacional de Prisões, em Cincinatti, nos Estados Unidos. As primeiras
normas para biblioteca em prisões americanas surgiram em 1915 publicadas pela American Library
Association (ALA), e atualizadas em 1981, definindo o serviço bibliotecário das prisões como um
suporte e oportunidade para o programa de reabilitação.
�166
Ainda, segundo a autora, em 1981, a Britânica Library Association (LA) publica normas
nacionais para avaliar os níveis do serviço inglês. Países como Canadá, Holanda e Tailândia
possuem normas reguladoras para o serviço bibliotecário nas prisões, o contrário da maioria de
outros países (PEREZ-PULIDO, 1997).
Especificamente, no que se refere às atividades que o bibliotecário pode desenvolver no
âmbito da biblioteca prisional, Carvalho (2016) menciona o desenvolvimento de práticas que
viabilizem o acesso à informação para a comunidade usuária. O acesso à informação constitui uma
das mais importantes missões das bibliotecas, seja elas de natureza prisional, pública, escolar,
comunitária e/ou especializada.
Segundo Carvalho (2016), as bibliotecas prisionais podem funcionar como interlocutoras
com as demais modalidades de bibliotecas, de modo a promover o acesso à informação,
considerando a diversidade de perfis de usuários, os quais se manifestam como os sujeitos da
informação. Essa articulação entre as diversas modalidades de bibliotecas formaria uma prática
reticular de bibliotecas.
Em síntese, é possível elencar quatro categorias de atuação informacional no âmbito da
biblioteca inserida em presídios, conforme demonstrado no quadro 1.
Quadro 1 – Categorias e formas de atuação do bibliotecário na biblioteca prisional
Categoria
Principais formas de atuação (atividades)
Alfabetização/Letramento Informacional
Uso do acervo; Serviço de referência, dentre outras.
Trabalho/Profissão/Emprego
Criação de guias, cartilhas, folhetos e demais
materiais sobre emprego e trabalho; Serviço de
informação utilitária, dentre outras.
Entretenimento e Lazer
Ação cultural; Identificação dos principais interesses
culturais dos sujeitos/usuários como teatro, dança,
desenho, pintura, música etc., visando oferecer
materiais específicos, dentre outras.
Relações Humanas
Transmissão de mensagens, conteúdos e materiais
sobre relações humanas; Criação de guias, cartilhas,
manuais, folhetos, folders, índices e outros materiais
sobre relações humanas, dentre outras.
Fonte: Adaptado de Carvalho (2016).
As quatro categorias descritas por Carvalho (2016) correspondem à somatória de atividades
que podem ser realizadas pelo bibliotecário, tendo em vista promover, de forma criativa e
inovadora, a concretização do que é proposto em cada categoria, consolidando o potencial da
biblioteca para com seu público-avo, o que condiciona, nesse contexto, a consolidação da cidadania.
Sobre a contribuição do bibliotecário para a inclusão social, de acordo com Vicentini e
Mileck (2000) citado por Viapiana (2008), é necessário que os profissionais da informação estejam
capacitados no uso das tecnologias de informação disponíveis e receptivos para trabalhar em
equipes multidisciplinares.
�167
Conforme Eiras (2007, p. 6), o bibliotecário dentro do ambiente prisional enfrenta muitos
desafios e encontra também muitas oportunidades, devido à grande intervenção social. Para o autor,
é na biblioteca prisional que o bibliotecário irá exercer seu papel social, enquanto mediador e
orientador no acesso à informação e conhecimento. A atuação desse profissional, mediante
atividades educativas desenvolvidas nesse espaço na tentativa de ressocializar os usuários, fá-lo um
agente transformador na vida de cada detento.
O bibliotecário é o elemento chave dentro da biblioteca prisional, e para sua atuação,
algumas competências são indispensáveis. Eiras (2007) apresenta as mais necessárias para esse
ambiente, como: ter equilíbrio emocional, postura dinâmica, ter cultura geral relevante, ser uma
pessoa com grande capacidade de adaptação e ser um bom comunicador (dependendo do país, deve
ter conhecimento em outra língua, pois no ambiente prisional há pessoas de outros países). A
liderança é indispensável para trabalhar com esse tipo de usuário, além de ser indispensável ter
criatividade, gostar do que faz, ser um profissional que explore as diversidades culturais e étnicas,
ser criativo, ter boa atenção e possuir conhecimento em legislação penal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A biblioteca no ambiente educacional é de suma importância, pois tem sido o elo facilitador
para o ensino e para a aprendizagem. Para isso, seu acervo deve atender aos objetivos da instituição
mantenedora, ser diversificado, ter quantidade suficiente e ser adequado ao perfil do usuário que se
pretende atender. Além disso, deve estar organizado de acordo com as normas biblioteconômicas e
disposto em ambiente agradável.
As bibliotecas prisionais não são conhecidas como outras modalidades, mas independente da
sua especialidade é como qualquer outra biblioteca que oferece informação, cultura e lazer. A
criação dessas bibliotecas está em crescimento contínuo. A inserção em regulamentos, leis
internacionais, nacionais e estaduais indicam as tendências à concretização dessa realidade.
Observa-se a mudança de pensamento das pessoas em relação à reeducação prisional e
conscientização da contribuição que a biblioteca pode proporcionar a esses usuários, embora o
despertar para a necessidade de um profissional da área de Biblioteconomia ainda não tenha
acontecido. Tanto em âmbito brasileiro quanto no Estado do Espírito Santo, a concretização das
recomendações legais, no que tange à consolidação de bibliotecas prisionais, contendo bibliotecário
como gestor da informação ainda constitui uma utopia, mesmo possuindo uma legislação
transparente e fundamentada quanto a essa questão.
�168
Durante o levantamento bibliográfico, foi verificado que há exigências legais para a criação
de bibliotecas e vaga informação para o perfil do preso que atua no espaço da biblioteca e nenhuma
informação quanto à capacitação para o detento responsável pela biblioteca. Não identificamos
dados sobre os serviços oferecidos e, segundo as informações coletadas, concluiu-se que os serviços
bibliotecários não estão atendendo aos seus usuários com a qualidade necessária e recomendada
pelas diretrizes devido à falta de profissional qualificado em Biblioteconomia.
O avanço da educação prisional e sua regulamentação constante na legislação sinalizam para
a necessidade de debates, discussões, fóruns, no intuito de despertar os dirigentes e autoridades
competentes quanto à compreensão do verdadeiro trabalho do bibliotecário e o comprometimento
de sua inserção no ambiente prisional.
A Lei nº. 12.244, de 24 de maio de 2010, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas
nas instituições de ensino do Brasil, prevê a instalação de bibliotecas em todas as instituições de
ensino públicas e privadas do país, considerando biblioteca escolar a coleção de livros e outros
materiais bibliográficos independente do suporte destinado à consulta, pesquisa, estudo e leitura.
Em seu parágrafo único do artigo 2º, prevê a obrigatoriedade de um acervo mínimo na biblioteca
para cada aluno matriculado e em seu artigo 3º, confirma o respeito à profissão do bibliotecário
(BRASIL, 2010).
Entende-se que, se no ambiente prisional já se encontra a escola, a biblioteca e os alunos,
porém falta o profissional bibliotecário para auxiliar na gestão educacional e contribuir com a
gestão administrativa com a reeducação desse interno, oportunizando o acesso à leitura e
informação (BRASIL, 2010).
Foi possível mediante a literatura analisada, verificar o desconhecimento dos dirigentes
quanto à formação da coleção do acervo, bem como as políticas que norteiam o trabalho nesse
ambiente. De acordo com as informações coletadas, ficou claramente demonstrado que a
composição do acervo é feita apenas de doações, sem apresentar os critérios relevantes para um
bom desenvolvimento da coleção e o conhecimento das características de seus usuários, seus
interesses culturais, educacionais etc.
A biblioteca prisional deve ter em seu objetivo principal a reintegração social dos detentos
por meio das atividades educacionais que serão desenvolvidas e de apoio à formação escolar. Deve
viabilizar o acesso à informação e à educação. Deve promover a leitura como uma forma de
reintegração social e fortalecimento de vínculos da comunidade prisional e seus familiares.
Portanto, a atuação do bibliotecário no espaço prisional deve ser de apoio à gestão prisional, pois é
ele o orientador para o acesso ao conhecimento.
�169
Assim, infere-se que a inserção de um bibliotecário no quadro de funcionários do sistema
prisional, melhoraria o acesso às bibliotecas, devido ao conhecimento da área, podendo serem
criados vários espaços de leitura e diversas atividades de incentivo à leitura. Desse modo, acreditase que deva ser pensado na organização desse espaço chamado de biblioteca e na formação da
coleção que irá compor o acervo, bem como suas políticas.
A questão inicial que norteou a presente pesquisa objetivou caracterizar a contribuição
potencial da biblioteca na gestão de sistemas prisionais. Após exaustivas consultas a documentos e
literatura de natureza técnico-científica, principalmente ligada ao campo da Biblioteconomia,
identificaram-se dois conjuntos de recomendações e de possibilidades de ações típicas ou
apropriadas para esse ambiente: a) as diretrizes recomendadas por organismos internacionais
governamentais ou não, que prescrevem parâmetros desejáveis de ações a serem implementadas; e
b) os relatos de experiência que descrevem práticas bem sucedidas de instituições e profissionais.
Portanto, com base na consulta a diferentes materiais publicados na literatura especializada
ou instituídos no contexto prisional, é possível concluir que a biblioteca tem o potencial de
funcionar como um organismo ou departamento da unidade prisional que condiciona, por meio de
práticas em prol da cidadania, a ressocialização dos usuários do presídio. Sendo assim, o
bibliotecário assume o compromisso em atuar de forma criativa, por meio de atividades que
despertem aos usuários a alfabetização/letramento, a inserção no mercado de trabalho, o
entretenimento e lazer, e, por fim, práticas em prol da humanização nas relações sociais.
Quando ao final desta pesquisa, após análise a uma ampla lista de ações possíveis e
desejáveis, compreende-se que, no contexto prisional brasileiro, especificamente no Estado do
Espírito Santo, há muito que fazer, pois se tem a previsibilidade legal da biblioteca, mas não se tem,
de fato, essa realidade amplamente implementada ou viabilizada a sua potencialidade.
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%2D40C6%2DA2C6%2DF741CF662E79%7D%3B&UIPartUID=%7B2868BA3C%2D1C72%2D
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�173
CAPÍTULO XII
PRÁTICAS INFORMACIONAIS DE PRESAS GESTANTES DO CENTRO DE
REFERÊNCIA A GESTANTE PRIVADA DE LIBERDADE DO MUNICÍPIO DE
VESPASIANO-MG: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Andreza Gonçalves Barbosa
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte
1 INTRODUÇÃO
[...] a informação não é somente determinada por um fator externo que se ajusta
perfeitamente às necessidades, de acordo com o estudo do Comportamento informacional
propõe, há um conjunto de fatores humanos, pessoais, individuais, coletivos que
determinam sua aderência, de maneira que suas características são microssociológicas,
melhor dizendo, propondo-se ao exercício de olhar para o micro para responder ao
macrossocial (BERTI; ARAÚJO, 2017, p. 395).
O texto aqui apresentado é fruto de dissertação de Mestrado defendida em vinte de
dezembro de 2017 no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Escola
de Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Procuramos
compreender as práticas informacionais de mulheres grávidas e mães presas de um Centro de
detenção específico para elas em Minas Gerais.
Sabemos que no cárcere microsociedades são formadas. Dessa maneira, assim como
acontece fora dos muros da prisão, os sujeitos cativos são produtores e disseminadores de
informação. Ressalta-se que por meio de aparatos legais contidos, por exemplo, na Lei n. 7210, Lei
de Execução Penal (LEP), de 1984, cujo objetivo é humanizar o sistema, por meio de medidas
socioeducativas e ressocializadoras, os cativos têm acesso dentre outros à assistência educacional.
2 BREVE HISTÓRICO
O Centro de Referência a Gestante Privada de Liberdade (CRGPL) foi fundado em 2009, e é
modelo de referência nacional no que tange aos cuidados com mulheres presas mães e gestantes. O
local tem capacidade para receber até oitenta mulheres. À época da pesquisa, o quantitativo de
internas era de 42 mulheres entre 19 a 46 anos de idade. Ao completarem o quinto mês de gravidez
�174
nas prisões tradicionais, essas mulheres são encaminhadas para o Centro para receberem um
tratamento mais humanizado durante a gestação. Caso a criança complete um ano e a mãe não
tenha cumprido sua pena, a guarda da criança é concedida à família. Quando há recusa dos
familiares em receber a criança, ou mesmo quando a presa não possuir familiares que possam
assistir o filho, ele é encaminhado para um abrigo e lá permanecerá durante o período de reclusão
da mãe podendo, conforme o caso, serem adotados.
Alguns postos de trabalho são oferecidos por empresas dentro do Centro. No momento da
pesquisa, duas empresas estavam instaladas no local, sendo uma de etiqueta e uma de lacre. Além
disso, algumas presas trabalhavam na cozinha ou em atividades de limpeza. Algumas presas
exerciam função de cuidadora, ou seja, eram responsáveis pelos cuidados dos filhos de outras
presas, enquanto trabalhavam ou estudavam. A presa que necessita do serviço arca com a
remuneração da cuidadora, pagando por isso o valor de sessenta reais mensais.
O Centro conta com uma mini-biblioteca denominada "Vovozona", nome escolhido pelas
apenadas. A biblioteca conta com livros de assuntos variados, além de uma Caixa Estante, projeto
idealizado pela Superintendência de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais. Conforme a necessidade,
os livros contidos na caixa podem ser trocados mediante solicitação da direção à Biblioteca Pública
Estadual de Minas Gerais.
A mini-biblioteca é cuidada por uma apenada que fica responsável pela organização do
espaço, empréstimo e cobrança de livros. No CRGPL existe um local destinado ao apoio jurídico.
Ademais, um defensor público visita mensalmente o Centro e chama as presas para falar de seus
casos. Elas também têm acesso a atendimento médico e psicológico. No Centro, são realizadas
algumas palestras voltadas para saúde e cuidados com bebê/criança.
A maioria das apenadas do Centro são oriundas de famílias de baixa renda, advindas de
ambientes de alto risco social. A maioria dos crimes cometidos está relacionado a drogas. O quadro
abaixo apresenta o perfil das onze entrevistadas. Ordenamos o quadro por ordem de entrevista.
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Quadro1 - Perfil das entrevistadas
Nome
Idade
Escolaridade
Crime
Condenação
Primeira
Gravidez?
Quantidade de
Filhos
Flor do
Campo
47
F1
Homicídio
13 anos
Não
3
Girassol
20
F2
Tráfico
5 anos e 10 meses
Não
3
Tulipa
25
F2
Latrocínio
13 anos
Não
2
Copo de Leite
21
EM
Tráfico
4 anos e 2 meses
Sim
-
Antúrio
19
EM
Tráfico e
Munição
NI
Sim
1
Alfazema
25
EM
Tráfico
NI
Não
1
Magnólia
21
EM
Tráfico
4 anos e 2 meses
Sim
-
Violeta
32
F1
EM
NI
4anos e 6 meses
Não
5
Rosa
21
Tráfico
12 anos
Não
2
Crisântemo
21
Tráfico e
Homicídio
13 anos
Não
1
Gardênia
29
EM
Tráfico
NI
Não
Fonte: Elaborado pelas autoras
Legenda: F1= Fundamental 1; F2 = Fundamental 2; EM = Ensino Médio; NI = Não Informado.
3
F2
Partindo do pressuposto de que informação e conhecimento são condições sine qua non para
melhoria de vida das pessoas, buscamos compreender as práticas informacionais dessas mulheres
no que tange ao acesso, busca e compartilhamento de informação em um contexto que, apesar de
exclusivo às mães e futuras mães, mostra-se frágil e adverso na busca de reabilitação e,
concomitantemente, analisar as barreiras encontradas por essas mulheres na busca por informação,
sobretudo informações que elas julgassem serem úteis e necessárias às suas vidas no cárcere.
Utilizamos das técnicas de entrevista semiestruturada e observação participante para
compreendermos melhor o contexto estudado.
3 PRÁTICAS INFORMACIONAIS
As práticas informacionais estão inseridas no terceiro paradigma da Ciência da Informação
descrito por Capurro (2003) como paradigma social, abordagem essa originada por meio dos
estudos de Jesse Shera sobre a epistemologia social da informação, confrontando os estudos
anteriores focados nos paradigmas físico e cognitivo. O termo começou a aparecer na literatura de
�176
information seeking em meados das décadas de 1960 e 1970, porém estudos mais aprofundados
sobre o tema se iniciaram a partir da primeira década do século XXI (SAVOLAINEN, 2007).
Essa abordagem salienta a importância de enxergar o indivíduo comum, inserido em um
contexto social e que necessita e busca informação para o seu dia a dia na vida cotidiana. Ou seja,
fora do ambiente de trabalho os indivíduos precisam estar informados e, pensando nessa perspectiva
inserida na Ciência da informação, faz se necessário compreender as práticas informacionais e as
diferentes formas de interação entre as pessoas com o objetivo de entender como elas se informam.
Savolainen (2007) define as práticas informacionais como a investigação de elementos de
busca, uso e compartilhamento de informação, segundo o contexto dos indivíduos. Para Talja
(2005), a diferença existente entre práticas informacionais e comportamento informacional é que a
primeira está voltada para estudos relacionados a pesquisas mais centradas nos campos sociológico
e contextual.
Por não existir uma definição única para o termo, alguns autores vêm desenvolvendo
algumas conceituações em seus estudos. Para Marteleto (1995, on-line), as práticas informacionais
são "mecanismos mediante os quais os significados, símbolos e signos culturais são transmitidos,
assimilados ou rejeitados pelas ações e representações dos sujeitos sociais em seus espaços
instituídos e concretos de realização". Para Araújo (2017),
estudar as práticas informacionais constitui-se num movimento constante de capturar as
disposições sociais, coletivas (os significados socialmente partilhados do que é
informação, do que é sentir necessidade de informação, de quais são as fontes ou recursos
adequados) e também as elaborações e perspectivas individuais de como se relacionar com
a informação (a aceitação ou não das regras sociais, a negociação das necessidades de
informação, o reconhecimento de uma ou outra fonte de informação como legítima,
correta, atual), num permanente tensionamento entre as duas dimensões, percebendo como
uma constitui a outra e vice-versa (ARAÚJO 2017, p. 221).
Percebe-se nos conceitos elencados, a prevalência de que existe uma dimensão coletiva na
ação de cada sujeito, possibilitado por meio das interações sociais e em determinados contextos.
Dessa maneira, esse sujeito recebe, usa, produz, dissemina e compartilha informação.
4 DIÁRIO DE CAMPO
Elaboramos um diário de campo explicitando o dia a dia da pesquisa. Optamos por escrevêlo em primeira pessoa para aproximarmos o leitor da experiência vivenciada. Todos os nomes
constantes a seguir são fictícios para preservar a identidade das entrevistadas. Atribuímos a elas
nomes de rosas ou flores.
�177
O CRGPL está situado na região rural de Vespasiano. Para quem vai de transporte coletivo duas linhas de ônibus realizam o trajeto partindo da estação Morro Alto, já em Vespasiano. O ponto
de parada do ônibus situa-se às margens da Linha Verde, num local com poucas residências. Após
atravessar uma grande passarela, avista-se uma rua estreita. De um lado existe uma clínica de saúde
mental, e do outro, algumas casas similares a chácaras.
Enquanto seguia por essa rua, observei que vários moradores chegavam com muitas sacolas
de compras realizadas em outros bairros, pois próximo ao CRGPL não há estabelecimentos
comerciais. Após alguns minutos de caminhada, avistei o grande muro rosa do Centro. Adiante,
subi uma rampa e bati no portão de ferro, portão esse que contava com uma pequena abertura na
parte superior. Um agente me atendeu e solicitou que lhe entregasse um documento de
identificação, o Registro Geral (RG) para conferência. O sol estava forte e ali permaneci
aguardando por um bom tempo. Quando o portão se abriu, fui recebida com um bom dia até
animado. Como estava de mochila, o agente pediu para que eu retirasse apenas o material que
utilizaria, ou seja, agenda, gravador, caneta e uma garrafa de água. Quanto ao celular, tive que
deixá-lo em um armário, juntamente com meu RG.
Após passar pela porta, cujos funcionários identificam se possuímos ou não algum objeto de
metal, fui conduzida pelo agente até a lateral da entrada onde me deparei com uma agente feminina.
Como estava na condição de pesquisadora, não passei pela revista íntima. Dessa forma, entrei em
um pequeno quarto onde as revistas acontecem. A agente passou um detector de metal em meu
corpo e solicitou-me que retirasse o tênis e levantasse a blusa.
Quando estive na Secretaria e Defesa Social (SEDS), pediram-me para que nos dias da
pesquisa, não vestisse roupas vermelhas. Caso estivesse usando brincos, o mesmo teria que ser bem
pequeno. A não utilização de saias ou vestidos também foi uma exigência. Tive que assinar um
caderno de controle, onde foram anotados todos os pertences que precisei para conduzir as
entrevistas.
Após esse procedimento, levaram-me a uma sala e pediram que eu aguardasse a pedagoga,
pois ela iria me acompanhar todos os dias. Ao avistar a pedagoga, lembrei-me de que já a conhecia,
pois ela já trabalhava no Centro desde 2016, época em que fui explicar e esclarecer questões
relativas à pesquisa para a direção. Foi naquele mesmo ano que participei de uma palestra realizada
no pátio coberto do Centro. À época, o ginecologista que atendia as presas falava sobre gravidez e
higiene. Sentei-me junto delas e, quando surgiam dúvidas, conversava com algumas delas acerca do
assunto da palestra. Determinados assuntos causavam muitas gargalhadas, outros descontentamento
e reclamações. Ressalto que em nenhum momento fui identificada como pesquisadora às presas;
isso só ocorreu quando realizei a primeira entrevista.
�178
Saindo da sala da pedagoga, a primeira porta permite o acesso a um dos pátios do Centro,
cercado por uma tela espessa e por um portão. O primeiro pátio me fez recordar dos pátios de
escola, com algumas mesinhas para a turma se reunir. Tal espaço é reservado para os dias de visita.
Entramos novamente em outro corredor onde estavam agentes à porta. Novamente, tive de assinar
outro caderno de controle. Depois de alguns minutos, o cadeado do portão que dá acesso à primeira
ala foi aberto. Logo na entrada, avistei a biblioteca "Vovozona" que estava com as portas abertas.
Defronte à biblioteca estavam duas presas. Cumprimentamo-nos com um bom dia e uma
delas estava com uma menina no colo, bem alegre, que logo quando me avistou, pediu-me colo.
Nesse momento, olhei para a pedagoga com um olhar de quem procura permissão e ela acenou
permitindo que eu carregasse a criança. Entrei na biblioteca com a criança no colo e percebi que o
local estava organizado.
A presa Tulipa cuida do espaço e disse gostar muito do trabalho. Quando saí, Flor do
Campo, mãe da criança que estava comigo, chegou, pois havia ido buscar sua filha para prepará-la
para o almoço. Flor do Campo foi mãe aos 46 anos no Centro. Além da filha que completaria um
ano de idade em alguns dias, ela tinha outros dois filhos. Flor do Campo nasceu e foi criada na roça,
acostumada a lidar com a terra; disse sentir muita falta da mãe e dos irmãos.
Como a hora do almoço se aproximava e simultaneamente iniciaria o procedimento16, a
pedagoga pediu para voltarmos à sala dela até o término do horário do primeiro almoço. No
primeiro horário, as presas acompanhadas de seus filhos saem das alas e almoçam no refeitório. As
presas que estão grávidas recebem os alimentos (marmitex) nos quartos. Perguntei o porquê da
separação de horário e o porquê de algumas poderem almoçar no refeitório e outras receberem o
marmitex. A pedagoga me explicou que muitas crianças estão em idade de comer alimentos sólidos,
por isso faz-se necessário o trituramento desse alimento até formar uma espécie de “papinha”, o que
não seria possível fazer nos quartos. Outra justificativa é o fato de o espaço ser pequeno e não
comportar muitas pessoas. Após o almoço das internas, é servido o almoço dos funcionários. Fui
convidada para almoçar com eles.
A comida nos foi servida pela janela da cozinha e com a porta fechada. Lá dentro trabalham
algumas presas e uma chefe de cozinha que não é presa. O Centro conta com uma nutricionista que
monta o cardápio da semana. Cheguei até a janela, uma das internas me recebeu com um sorriso e
perguntou-me o que gostaria que colocasse no prato. No dia foi servido arroz, feijão, salada e um
tipo de carne. Como sou vegetariana, não me interessei em saber qual carne seria. Peguei o prato e
os talheres quando a interna que me serviu gritou perguntando se eu não queria a sobremesa. Voltei
16
O procedimento é o nome dado à hora em que o Centro está com poucas agentes de vigia, devido a saída ou retorno
de almoço e/ou outras atividades.
�179
para pegar e ela me entregou um pudim de chocolate que estava em uma embalagem de plástico
fechada com uma tampa. Enquanto almoçava, observava as conversas das agentes e outros
funcionários. O assunto era sobre situações cotidianas, novelas, festas, roupas; tudo ocorria entre
olhares e sorrisos comedidos.
Após o almoço, entramos novamente no primeiro corredor, mas não pude iniciar a entrevista
imediatamente devido ao procedimento. Como a pedagoga tinha outras atividades a fazer, ela me
deixou na primeira ala até que conseguíssemos autorização para, assim, começar a entrevista. Iniciei
uma conversa com as agentes do portão; conversamos sobre o Centro. Quando passava alguma
interna no corredor, elas me falavam: aquela é fulana, aquela é sicrana, e começavam a me contar
sobre o delito por elas cometido.
Aproveitei e pedi para caminhar pelo corredor e pátio até que a pedagoga retornasse. Obtive
autorização e assim o fiz. Andei devagar, entrei nos quartos, cumprimentava as internas, escutava
muito ruído de criança e perfume de sabonete de bebê, pois muitos, naquela hora, estavam tomando
banho. Cada passo que eu dava era acompanhado por olhares atentos das agentes.
Precisei encher minha garrafa de água. Ao perguntar a uma agente onde poderia encontrar
um bebedouro, ela me olhou com um olhar de desconfiança, e antes de me apontar o lugar, pediu
para verificar minha garrafa. Entreguei-lhe a garrafa, ela a balançou, abriu a tampa, e depois me
indicou o bebedouro. Sei que medidas de segurança devem ser seguidas no cárcere, mas, naquela
hora, senti uma angústia e comecei a pensar como deveria ser difícil suportar uma vida confinada
sob vigia.
Em seguida, a pedagoga apareceu e disse que, naquela hora, poderíamos iniciar as
entrevistas. No corredor apareceu Flor do Campo e a pedagoga perguntou se ela gostaria de fazer
parte da entrevista. Meio desconfiada, Flor do Campo aceitou. Fomos ao refeitório, nos sentamos
em uma das mesas. A pedagoga e uma agente ficaram próximas, a uma distância suficiente para
escutar o que conversávamos.
Quando me vi de frente a Flor do Campo, minha primeira entrevistada, a aparente
tranquilidade deu espaço a certa ansiedade. Por mais que tivesse me preparado para aquele
momento, ainda assim me senti um pouco perdida. Tentei demonstrar estar o mais tranquila
possível. Apresentei-me, expliquei do que se tratava a pesquisa e pedi a ela para ler o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ela me disse que não precisava, pois confiava em mim.
Todavia, enfatizei sobre a importância de ler o documento, pois ele detalhava elementos
importantes sobre a pesquisa, inclusive podendo ela, a qualquer momento, desistir da entrevista. Ela
concordou e leu todo o documento, assinou e iniciamos a entrevista. Flor do Campo era dona de um
�180
par de olhos extremamente azuis, seus cabelos já brancos ultrapassavam a altura da cintura; isso
ficava mais evidente por ela ser uma mulher de baixa estatura.
Pedi a ela que me contasse um pouco sobre sua história de vida. Ela disse que era da roça,
que quando foi presa estranhou muita coisa que ela antes nem sabia que existia.
Quando falava da família, principalmente da mãe, seus olhos ficavam marejados. Parávamos
um pouco até que ela se recomposse e continuávamos após alguns instantes. Durante a entrevista,
ela chegou a me perguntar se eu não havia conhecido seu pai, o Sr. (nome do pai). Segundo ela, ele
tinha um problema mental e perambulava pelo mundo aos berros. Flor do Campo já é avó de um
menino que mora no interior de Minas. Segundo relatou, toda a família, exceto uma irmã, ainda
mora na cidade em que ela nasceu. Flor do Campo, seu filho e o marido encontram-se presos pelo
mesmo crime, homicídio; teriam assassinado uma mulher que ameaçava sua sogra. Ela afirma que
todos são inocentes.
Começamos a falar sobre escola e ela disse que estava prestes a se formar na quarta série do
ensino fundamental. A formatura aconteceria na sexta-feira, último dia da pesquisa. Fiquei curiosa
pra saber como seria a cerimônia. Ela estava feliz e ansiosa para o momento, pois como ela mesma
ressaltou, o que aprendeu ninguém poderia tirar-lhe, e por isso, era muito grata a todos do Centro.
Com relação à saúde dela e da filha, Flor do Campo contou que sua gravidez foi de alto risco e que
todos da área de saúde do Centro, assim como agentes e direção, eram muito atenciosos com ela, e
que, se estivesse na roça, não teria acesso a um bom hospital no momento do parto.
Flor do Campo disse, durante a entrevista, que estava passando por momentos tristes, pois
em poucos dias aconteceria a separação dela e da filha. A filha seria entregue à sua irmã que
morava em outra cidade. Como a filha iria completar um ano em poucos dias, uma festinha de
aniversário seria oferecida no Centro, o que poderia, por alguns instantes, amenizar a dor da
separação. Como Flor do Campo é uma presa com bom comportamento e esforçada, a direção
estava tentando transferi-la para uma Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC),
que funciona como um modelo alternativo ao sistema carcerário tradicional.
Essas unidades não possuem celas, assemelhando-se bastante com o modelo do Centro. Ao
término da entrevista, Flor do Campo disse sonhar com a liberdade e, assim que estiver livre,
voltará para a roça para criar a filha e ficar junto da família.
Durante aquele dia, realizei outras entrevistas. Ao passar pelos corredores e pátios, muitas
presas me cumprimentavam como dona ou senhora. Boa tarde dona, boa tarde senhora. Achei
curioso e perguntei à pedagoga se aquela abordagem era normal. Ela me disse que era uma maneira
respeitosa de tratamento. Já passava das 15 horas e mudamos o local das entrevistas; fomos para o
segundo pátio. Logo na entrada, percebi algo não notado: uma citação grafada numa parede do pátio
�181
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta. Não há ninguém que explique e ninguém
que não entenda" e abaixo, a autoria: Cecília Meireles. Achei impactante, pois no cárcere uma das
palavras mais escutadas é liberdade.
O pátio encontrava-se cheio, a televisão é ligada e o lanche da tarde servido. No Centro as
presas podem assistir TV pela manhã, à tarde e à noite. Os aparelhos são dispostos em dois pátios,
no pátio coberto da primeira ala e no coberto da segunda ala. Elas assistem à novela da tarde e aos
filmes veiculados após a novela. À noite, assistem à novela das vinte horas. Devido à mudança de
horário, as presas solicitaram à direção que a TV ficasse ligada por mais uma hora, pois a novela
acabava por volta de 22:30. O pedido foi aceito e após o horário fixado, a TV é desligada. A novela
sensação do momento era "A Força do Querer", cujo assunto central da trama tratava de uma
mulher casada, mãe de família, que ao ter o marido preso por tráfico, também se envolve com o
crime para ajudá-lo. Essa é a história vivida pela maioria das presas, e talvez, por isso, era a mais
assistida no Centro. Eis a arte imitando a vida.
Ao término do primeiro dia, fui até a direção e perguntei se poderia participar da formatura.
A diretora me autorizou e disse que a cerimônia aconteceria na sexta-feira, às nove da manhã.
No segundo dia, passei pelos mesmos procedimentos. Como já me tornara uma figura
conhecida no Centro, já era cumprimentada com sorrisos mais largos e olhares mais amenos. Ao
passar por uma interna que havia entrevistado no dia anterior, cumprimentei-a pelo seu nome. Nesse
momento ela se virou, olhou para mim e disse: “Dona! a senhora lembra do meu nome?” - e saiu
falando para as outras presas próximas sobre o ocorrido. Naquele momento, vivi na pele o que até
então tinha lido somente em livros e artigos, a questão da importância do nome. O nome nos dá
identidade, nos torna importantes. Ao adentrar o cárcere, uma das primeiras coisas que o sujeito
perde é o nome, passando a ganhar um número de Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (INFOPEN) que o seguirá por toda a estadia no cárcere.
Nesse dia, as entrevistas foram realizadas em uma pequena sala, onde as agentes
responsáveis pelo local guardam seus pertences. Para chegar ao local, passei por um corredor e
dentro de uma sala encontravam-se algumas presas fazendo crochê. Descobri que elas fazem
trabalhos manuais que são expostos e vendidos em uma feira realizada na Cidade Administrativa
(Sede do Governo do estado). O dinheiro arrecadado com as vendas é dividido entre aquelas que
participam das oficinas.
Durante uma das entrevistas, escutei um burburinho vindo do pátio. Perguntei a entrevistada
o motivo do alvoroço e ela disse que era dia de entrega do papel higiênico. Parei a entrevista para
ela pegar o dela; fiquei na porta observando como tudo acontecia. As agentes chegam com um
carrinho de compras e chamam cada presa para pegar dois rolos. A entrevistada, ao retornar, falou-
�182
me que aquele era um bom dia, pois estavam recebendo dois, pois, às vezes, recebiam apenas um
rolo que deveria durar 15 dias. Segundo informações do Centro, as presas recebem um kit a cada 15
dias, composto por sabão em barra, absorvente, creme dental e sabonete.
Nesse dia em específico, tive que esperar para dar continuidade às entrevistas devido ao
procedimento. Enquanto aguardava, aproveitei para explorar outros locais como a sala de trabalho
artesanal e as salas onde as aulas eram ministradas; corri e fui até a biblioteca para dar mais uma
olhada nas obras. Percebi que havia muitos livros de autoajuda, alguns espíritas de Zibia Gasparetto
e Chico Xavier, algumas bíblias, livros de literatura variados e lá estava ela, a Caixa Estante,
trancada. Fiquei curiosa para ver os livros nela contidos, mas nesse dia as duas diretoras já haviam
ido embora. Sabia que não teria oportunidade de vê-la aberta até o final da pesquisa, pois já estava
atrapalhando bastante a rotina do Centro. Senti-me como intrusa em certos momentos, pois, para a
realização das entrevistas, mudou-se um pouco a rotina do Centro, e nem todos viam tal mudança
com bons olhos.
Durante a pesquisa, descobri que o Centro era uma das primeiras unidades a receber o
projeto Rodas de Leitura do Serviço Voluntariado de Assistência Social (SERVAS) em Parceria
com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (SEAP). Nesse projeto, voluntários ensinam
aos presos resenhar um livro. O objetivo principal do projeto é incentivar o gosto pela leitura para
que essa passe a ser uma constante na vida dos internos. No final de cada ciclo, que dura um mês,
os presos têm que fazer a resenha do livro e, caso o juiz daquela comarca aceite, e desde que o preso
(a) consiga tirar uma nota mínima, ele pode remir quatro dias de pena. Achei interessante a
iniciativa e no mesmo dia liguei para a coordenadora do projeto que permitiu minha participação,
desde que conseguisse autorização da diretoria.
Consegui autorização da direção e, nesse dia, fiz as entrevistas pela manhã para que às 14h
horas pudesse participar do Projeto Rodas de Leitura. Fui para a entrada do Centro, pois quis
acompanhar todo o processo desde o início. Às 14h em ponto, duas voluntárias chegaram, passaram
pelo mesmo procedimento na entrada. Apresentei-me a elas, que já sabiam da minha participação, e
nos dirigimos até a sala de aula, onde oito internas já nos aguardavam. Duas estavam carregando as
crianças de quem elas eram cuidadoras. As crianças estavam inquietas. Com o intuito de ajudar, me
ofereci para carregá-las enquanto elas assinavam a lista de presença. Nesse dia, elas aprenderam a
fazer a introdução de uma resenha.
No mesmo dia, conheci Gardênia, mulher falante, que se identificou com algumas partes do
livro trabalhado "Cinderela Pop". Como ela foi uma das primeiras a terminar a introdução,
conversei um pouco com ela, que me disse que também se formaria na sexta-feira; ela iria
completar o nono ano. Perguntei a Gardênia se ela aceitaria participar da minha pesquisa após a
�183
formatura, ela aceitou o convite. Às 15:30 h, as internas foram liberadas, pois o carro do Servas que
leva os voluntários já estava estacionando em frente ao Centro.
Os dias se passaram e, enfim, o dia da formatura havia chegado. Compareci ao Centro,
conforme combinado, bem cedo, pois a formatura começaria às nove da manhã. Logo atrás de mim,
chegou o músico que já havia sido professor das presas e que, nas formaturas, atuava como
voluntário, bem como a diretora do sistema de educação, professores e um pastor. Demoramos
muito para entrar nesse dia, pois os instrumentos do músico foram quase completamente
desmontados na revista.
Quando entrei, encontrei-me com a pedagoga que estava numa correria, pois ela era a pessoa
encarregada a organizar a cerimônia. O dono de uma loja de aluguel de becas estava chegando,
entregou a sacola para ela. A pedagoga pediu para que eu ficasse ao seu lado em todos os
momentos, a fim de evitar alguma confusão, pois o Centro, naquele dia, estava cheio. Seguimos
rumo ao almoxarifado e lá estava Flor do Campo, sentada, sendo maquiada por uma agente. Os
cabelos foram trançados com cuidado. Todas estavam preocupadas em fazer uma maquiagem
perfeita para a ocasião.
A pedagoga pegou a beca e a deixou sobre a mesa. Alguém havia solicitado a presença dela
em outro setor e ela me pediu para ficar ali, na maquiagem, aguardando seu retorno. Flor do Campo
já estava com a maquiagem feita. Faltava apenas vestir a beca. Quando começaram a vesti-la, viram
que a beca tinha ficado muito longa para ela. Pronto, naquele momento, a relativa tranquilidade deu
lugar ao desespero. Procuraram por linha e agulha para ajustarem a roupa, mas nada encontraram.
No intuito de ajudar, peguei um grande grampeador e perguntei se poderia ajudar. Elas deixaram e
fui grampeando a barra da beca com muito cuidado para um lado não ficar maior do que o outro e
para que os grampos ficassem escondidos. Flor do Campo já estava pronta. Faltava a outra
formanda, Gardênia.
A agente me chamou para segui-la e, quando chegamos no outro pátio, deparamo-nos com
um problema. Gardênia ainda estava escovando os cabelos. Sua colega de ala tentava escová-los o
mais rápido possível, mas seu cabelo, apesar de pouco cumprimento, era bastante volumoso. Ela
começou a chorar dizendo que sem os cabelos bem escovados não participaria da formatura. Em seu
dia especial, queria estar bonita. Fizemos um mutirão para ajudá-la, pois os convidados já estavam
inquietos e a hora estava passando. Foi um “segura cabelo” ali, segura aqui, enquanto a agente
começava a maquiá-la.
Após tanto sufoco, trabalho terminado. Gardênia ainda se sentia triste com a franja de seu
cabelo que, segundo ela, tinha ficado mal escovada. Como não tínhamos espelho (proibido no local)
para mostrar-lhe o bom resultado da escova, fiquei pensando em um modo de ajudar. Se ao menos
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estivesse com meu celular, poderia tirar uma foto e mostrar-lhe como ficou. Olhei para a mão da
pedagoga, ela portava uma câmera profissional. Sugeri que ela tirasse uma foto de Gardênia para
mostrar-lhe o cabelo. E assim fizemos. Após ver sua foto, ela se acalmou um pouco e seguimos
correndo para a cerimônia.
Quando chegamos ao pátio da cerimônia, era visível o descontentamento no rosto de todos,
decorrente do atraso, com certa razão, pois foram quase 40 minutos de espera. A cerimônia foi
iniciada com o Hino Nacional tocado no saxofone. Todas as presas estavam presentes para
prestigiarem as colegas formandas. Gardênia estava tão emocionada, que lágrimas se misturaram a
sorrisos. Aliás, de todos os presentes, ela foi a única que cantou em alto e bom tom todo o Hino.
Quando o pastor começou a proferir a bênção, a comoção foi geral. A presença da religião
evangélica no cárcere é algo comum. Mesmo quem não se converte à religião costuma frequentar os
cultos que são realizados em dias específicos. As formandas, ao fim da cerimônia, receberam alguns
presentes. Em seguida, muitas fotos e gritos de comemoração e alegria ecoavam no ambiente. A
cerimônia de formatura é também um incentivo para que outras presas comecem a estudar.
Quando o pátio já estava vazio, iniciei a entrevista com Gardênia, que ainda estava
preocupada com a franja e a todo momento me perguntava se eu achava se ela tinha "saído bem na
foto". Por alguns instantes, caímos na gargalhada relembrando o sufoco do dia. Após a entrevista,
fiquei sabendo que aquele também era o “dia da beleza”.
O dia da beleza acontece às quintas-feiras para as mães, e às sextas-feiras para as gestantes.
Nessas ocasiões, elas podem utilizar secadores e chapinhas disponibilizados pelo Centro, assim
como fazer as unhas utilizando alicates e esmaltes de uso pessoal. Elas recebem também uma
lâmina para poderem se depilar. Aos sábados, todas as presas que trabalham no Centro podem
utilizar secador e chapinha. Todos os materiais são distribuídos e conferidos no dia. No caso da
lâmina, após a devolução, confere-se se esse objeto está completo.
Minha última entrevistada foi Crisântemo, moça nova, que a todo instante queria me
intimidar, mostrando-se superior às outras, dizendo-se destemida de tudo e de todos. O que percebi,
no entanto, é que chega um momento em que, devido ao tempo de convivência, parece que
começamos a nos habituar com o lugar. É como se as coisas que ali acontecem não fossem mais
novidade, passando a ser consideradas comuns. Diante disso, não me intimidei e prossegui com a
entrevista. No meio da entrevista, a cuidadora do filho de Crisântemo entregou o filho à mãe, pois
teria aula naquele instante. A partir daí, o semblante da mãe mudou, e a entrevista que até então se
resumia a respostas curtas e ríspidas, transformou-se numa conversa amorosa, envolvendo mãe e
filho. A entrevista tornou-se mais amena, e em determinado momento, Crisântemo disse que se
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alguém na sua infância tivesse lhe ensinado o que era certo e errado, ela poderia ter trilhado um
caminho diferente. Refleti e pensei em quantas Crisântemos existem por aí.
Ao final das entrevistas, fui aos setores para agradecer a atenção e a ajuda. No último
momento, caminhei também pelos corredores com o intuito de agradecer novamente a cada presa
participante da pesquisa, mas, devido à dinâmica do local, não foi possível rever todas elas.
Enquanto me retirava do pátio, uma delas gritou: "Tchau, dona Andreza! Vá com Deus! Boa
sorte!”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como o objetivo da pesquisa era compreender as práticas informacionais dessas mulheres
no que tange ao acesso, busca e apropriação de informações que lhes fossem úteis, concluímos que
o acesso à informação é mediado pelos setores jurídico, psicológico, médico, pelos agentes
penitenciários, pela família durante as visitas e também entre as próprias presas, principalmente as
que tinham mais experiência de cárcere.
Percebemos, por meio da análise de dados realizada mediante aos relatos, que as presas são
mulheres ativas no que tange à busca por informação. Durante as visitas que acontecem aos
domingos, elas mantêm-se informadas sobre outros familiares, sobre os filhos que geralmente estão
sob os cuidados das avós maternas, sobre as novidades do ambiente externo e a respeito dos
companheiros que, geralmente, encontram-se presos em unidades prisionais da Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
Quesito importante observado refere-se à atenção dessas mulheres em relação às penas que
lhes serão infligidas, especialmente pelo fato de serem mães ou gestantes – e também com a saúde
dos seus filhos (as). Para isso, recorrem ao setor de saúde disponível no Centro.
Para garantirem seus direitos e manterem-se informadas sobre eles, elas recorriam ao setor
jurídico que, segundo os relatos, apesar de alguns entraves, conseguiam suprir suas necessidades
informacionais jurídicas. Ainda, segundo os relatos, as barreiras encontradas por elas na obtenção
de informação jurídica dizem respeito à dificuldade em obter contato com os defensores públicos;
reclamaram da troca recorrente dos defensores responsáveis por seus casos, pois isso acarretava no
atraso dos processos das mesmas. Apesar de o Centro oferecer palestras sobre saúde, higiene e
cuidados com a criança, as presas disseram ser importante inserir na programação palestras que
explanassem sobre questões jurídicas, de modo a esclarecer algumas dúvidas.
�186
Constamos que havia grande empenho por parte da direção local e da pedagoga em
incentivar as presas na continuidade dos estudos. Participar das atividades escolares, além de
permitir a remição de pena, tornou-se uma prática expressiva para reduzir o ócio no cárcere.
No que tange às práticas de leitura e ao uso da biblioteca, as apenadas disseram que o faziam
como um passatempo nas horas livres, ou, às vezes, eram incentivadas por outras presas que
indicam-lhes obras que tivessem lido e gostado. A leitura da Bíblia servia como um acalanto nas
horas de tristeza, saudade e solidão. Os livros mais procurados eram os de romance e religiosos. Foi
interessante observar em alguns relatos, que algumas presas já possuíam o hábito da leitura no
cotidiano, antes de serem presas, chegando a indicarem alguns livros durante a entrevista. Outras
disseram que a leitura, além de remir pena conforme rege a Regulamentação 44/2013 17 do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), era importante para obterem conhecimento e que assim poderiam
conhecer um novo mundo.
Concluímos que a privação do convívio externo, principalmente familiar, faz com que essas
mulheres lutem para terem de volta aquilo que foi perdido, sobretudo a liberdade e, para isso, elas
utilizam dos aparatos que lhes são oferecidos no Centro como, por exemplo, o apoio jurídico. Dessa
maneira, por mais hostil que o ambiente prisional possa parecer, a realização de práticas para
suprirem as necessidades informacionais das apenadas não deixam de acontecer.
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<http://periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/20655/31068.>. Acesso em: 24 out. 2018.
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2, p. 380-401, maio/ago. 2017. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm>. Acesso em: 02 out. 2018.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Recomendação Nº 44 de 26/11/2013. Dispõe sobre
atividades educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo e estabelece
17
Ementa: Dispõe sobre atividades educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo e estabelece
critérios para a admissão pela leitura, conforme estabelecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
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critérios para a admissão pela leitura. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/busca-atosadm?documento=1235>. Acesso em: 15 out. 2018.
CAPURRO, Rafael. Epistemologia e ciência da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE
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Horizonte: ANCIB, 2003. Disponível em: <http://www.capurro.de/enancib_p.htm>. Acesso em: 23
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emprego dos conceitos de imaginário, instituição e campo social. Ciência da Informação, Brasília,
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practices. In: FISHER, Karen; ERDELEZ, Sanda; MCKECHNIE, Lynne (Ed.).
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�188
CAPÍTULO XIII
A REMIÇÃO DE PENA PELA LEITURA: O LUGAR DA BIBLIOTECA PRISIONAL NO
PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO
Ana Karisse Valença Silva Azevedo
Edivanio Duarte de Souza
"Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como
sendo-o vós mesmo também no corpo”.
(HEBREUS, 13:1).
1 INTRODUÇÃO
A sociedade se organiza numa rede complexa de pessoas, cada uma com sua razão de
existência e, por conseguinte, exercendo papel fundamental para o seu funcionamento. As
diferentes instituições são responsáveis, segundo Lakatos e Marconi (2010), pela definição de
normas e valores específicos dessa conformação social, considerando contextos e finalidades.
A relação entre as pessoas e as instituições mantém e transforma as estruturas sociais. O
homem, na concepção de Durkheim (1978), não pode ser humano senão vivendo em sociedade,
pois é ela que leva os diversos sujeitos a considerar os interesses coletivos e não apenas os
individuais. Isso significa, essencialmente, aprender a viver em comunidade, neutralizar as paixões
e os instintos, obedecer à lei e, em sentido amplo, atender ao contrato social.
A escola e a família, historicamente, procuram formar sujeitos moral e eticamente
comprometidos com o ideal de sociedade. Com efeito, para Setton (2005), as principais instituições
que participam da formação sociocultural da criança são a escola e a família. A falha de qualquer
uma dessas instituições pode ser definitiva para um lapso na construção do caráter humano. O fato
de essas serem essenciais, contudo, não significa que estejam disponíveis a todos, o que pode afetar
na formação de parcela da sociedade, acarretando formas de agir incompatíveis com o que se
considera aceitável e/ou de acordo com a lei, levando-a a situações legitimamente desaprovadas e
passíveis de penalidades legais.
As necessidades básicas do sujeito nessa situação precisam ser supridas pelo Estado, que
deve promover as condições necessárias para a sobrevivência, sem comprometer sua dignidade, e
reeducação para o convívio nos limites do contrato social. A situação de superlotação em que se
encontram os presídios não permite, porém, que o tratamento do preso seja individual e
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personalizado, impedindo, em grande medida, a otimização dos resultados no que diz respeito à
ressocialização. Com o objetivo de não deixar essas pessoas à mercê da própria sorte, o sistema
penitenciário tem se utilizado de medidas reintegradoras que incentivam o sujeito a se redescobrir
como cidadão consciente de suas ações e ser racional com capacidade para refletir e decidir acerca
de sua própria vida.
A Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, mais conhecida como Lei de Execução Penal (LEP),
busca tornar esses sujeitos úteis a si mesmos e à sociedade. As formas de reintegração têm ocupado
lugar de importância considerável nos debates acerca do cárcere, numa tentativa de afastamento da
reincidência na criminalidade e de reinserção do apenado no convívio social (BRASIL, 1984). Essa
reinserção exerce papel fundamental na formação social, política e econômica dos sujeitos. A
efetividade das medidas capazes de auxiliar na reintegração desses sujeitos à sociedade deve,
portanto, ser de interesse do Estado e da sociedade como um todo.
Nesse horizonte, a leitura é uma prática vista como alternativa para a erradicação da
reincidência criminal, que hoje não é apenas um agravante da criminalidade primária, mas passa a
ser a “espinha dorsal” das carreiras criminais (FANDIÑO MARIÑO, 2002). É importante
considerar, a partir de Freire (1997, p. 11), que o ato de ler “[...] não se esgota na decodificação pura
da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do
mundo”. E mais: “[...] a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca para as
mudanças sociais” (FREIRE, 1997, p. 28).
Então, por intermédio da leitura, os apenados poderão alcançar a consciência plena dos atos
praticados, assim como de suas consequências, pois essa é capaz de renovar o sujeito e mostrar que
o conhecimento liberta (OLIVEIRA, 2013, p. 92) e abre espaço para experiências culturais,
exercendo o papel de agente transformador de fundamental importância.
Pensando nisso, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da Recomendação nº 44,
de 26 de novembro de 2013, instaura a inserção da remição de pena pela leitura no Brasil, que
incentiva os tribunais em todo país a instituírem esse tipo de projeto nos estabelecimentos penais
correspondentes (BRASIL, 2013).
De acordo com o CNJ, essa recomendação já está consolidada em quase todo o país com o
objetivo de contribuir com a promoção da cultura de paz nos estabelecimentos penitenciários,
oportunizando aos apenados o direito ao conhecimento, à educação, à cultura e ao desenvolvimento
da capacidade crítica, por meio da leitura e da produção de resenhas, e, por conseguinte, possibilitar
a remição pelo estudo (BRASIL, 2015). Infelizmente, por causa da ausência de informação e
conhecimento, nem todos os encarcerados reconhecem os benefícios que a leitura traz para suas
próprias vidas.
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Sobre isso, Setton (2005) afirma que a prática educativa não é apenas um processo de
aprendizagem formal e sistemático, mas uma prática que influencia diretamente no cotidiano das
relações sociais, possibilitando o crescimento da circulação de informações. Destarte, o sistema
prisional que tem como finalidade reformar sujeitos se utiliza da informação para reinseri-los na
comunidade.
O fato é que promover o acesso à informação é uma tarefa que pode parecer fácil, mas
carrega a complexidade de escolhas adequadas, principalmente, na instituição penitenciária, que
lida com um público específico e cujo acesso à leitura indiscriminada não é adequado. Para que a
circulação de informações ocorra de forma a contribuir com o processo de ressocialização e a
leitura possa cumprir seu objetivo no meio carcerário, se fazem necessárias algumas condições.
Nesse conjunto, destaca-se a disponibilidade de biblioteca e profissionais especialistas em
informação, que tracem estratégias para promover o uso de fontes e recursos informacionais
diversos, considerando o projeto ressocializador.
A mediação do bibliotecário se torna indispensável para que ele seja a ponte entre o livro e o
leitor. Desta forma, a leitura não será apenas uma obrigação ou uma forma de sair dos limites do
presídio, mas de introduzir o apenado em um mundo diferente que trará de volta sua humanidade e
as condições para uma vida nova.
Este capítulo, organizado em cinco seções, tem como finalidade abordar a prática de remição
de pena pela leitura no processo da ressocialização. A primeira seção aborda a contextualização
temática, a delimitação e os apontamentos da discussão. A segunda seção discute sobre a
responsabilidade da sociedade e do governo com a vida e a dignidade das pessoas que se encontram
encarceradas, visto que sua ressocialização trará benefícios para todos. A terceira seção aborda os
benefícios da prática da leitura, principalmente, dentro do cárcere, destacando como ela pode
contribuir na reestruturação das vidas desses sujeitos. A quarta seção discute a importância da
instituição biblioteca e do bibliotecário como agentes ressocializadores dos sujeitos em situação de
cumprimento de pena. Por fim, na quinta seção, são apresentadas algumas considerações e
perspectivas de aprofundamento da temática em discussão.
2 A RESSOCIALIZAÇÃO COMO INTERESSE SOCIAL
Para que a sociedade funcione de maneira adequada, torna-se necessário que os
componentes desta organização descubram em que setor eles poderão se inserir, exercendo sua
função social, política e econômica. A rigor, faz-se necessário que a sociedade disponha de espaços
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para que todos os cidadãos operem em sintonia com sua finalidade, realizando atividades
consideradas lícitas, de forma a não ferir as diretrizes da comunidade. O primeiro obstáculo para o
alcance deste ideal é justamente o fato de que o sistema econômico capitalista utilizado em grande
parte do mundo contemporâneo, incluindo no Brasil, não dispõe de espaço para a inserção
igualitária de todos os sujeitos nos diversos meios de produção.
Nesse contexto, Figueiredo Neto et al. (2005) esclarecem que a classe social é uma divisão
gerada pela distribuição desigual de influência sobre os recursos relevantes de uma sociedade. A
posse dos ativos produtivos determina o que as pessoas obtêm, o chamado bem-estar material, e o
que devem fazer para conseguir o que obtêm, que seriam as oportunidades. E mais, o que se tem
implica diretamente naquilo que se pode vir a ter, gerando um círculo vicioso do qual poucos
conseguem se safar.
Os sujeitos que se encontram encarcerados, em sua maioria, são resultado deste sistema que
agride o ideal de sociedade, marginalizando parte da sociedade.
O desenvolvimento preconizado pela sociedade capitalista esteve amparado na economia,
ou seja, no aumento de riquezas materiais. Tal processo garantiu progresso considerável na
ampliação tecnológica e no bem-estar de parcela da sociedade. Em contrapartida, provocou
extremos de privação, pobreza e marginalização social para grande parcela da população
dessa mesma sociedade (CUNHA, 2010, p. 158).
Além disso, a violência instaurada no Brasil, nos últimos anos, resulta em penitenciárias
cada vez mais parecidas com depósitos de infratores, que entram e saem do sistema sem mudança
alguma na forma de pensar e de agir. Assim, o Estado perde o controle financeiro e logístico dos
presídios, o que pode acarretar na privação de alguns direitos previstos em lei, tais como
alimentação, saúde, segurança, trabalho, remuneração, previdência social, descanso, recreação, e
exercício de atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas, desde que compatíveis
com a execução da pena.
A forma de ver e de aplicar a pena sofreu várias alterações ao longo dos anos, na medida em
que a delinquência deixa de ser vista como um comportamento natural ou uma característica
biológica do sujeito e, por conseguinte, sua reintegração social deixa de ser vista como uma forma
de tratamento adequado relativa a outro tipo de doença. No século XXI, o conceito de pena tem
como referência o castigo daqueles que ferem os preceitos morais de uma sociedade instituída. A
pena pode ser privativa de liberdade, restritiva de direitos ou de multa (MIRABETE; FABBRINI,
2015). De modo geral, seja como for, a pena obriga o sujeito a reparar seus atos de forma que
pareça justa ao ofendido.
Para Faustino e Pires (2009), a punição entendida como vingança e tendo como alvo
prioritário o corpo do condenado não era mais suficiente, do ponto de vista social, político e
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econômico. Desta forma, diferentemente dos tempos mais remotos, cujas primeiras prisões foram
inspiradas no sistema de mosteiros da Idade Média e impunham ao condenado o silêncio e a leitura
da Bíblia, a ressocialização agora seria resultado de um processo individual de reflexão e de
arrependimento que o infrator efetivaria sobre si mesmo. Esse processo seria possível pelo fato de
que, sendo ele um ser racional e consciente, também poderia, racional e conscientemente,
arrepender-se do mal praticado e, por conseguinte, empreender autotransformações (FAUSTINO;
PIRES, 2009). O sujeito, então, seria protagonista de sua transformação e único responsável por sua
readaptação, numa relação consigo mesmo, utilizando-se dos poucos recursos disponibilizados para
esse fim.
O resultado dessa mudança de entendimento é que as prisões se transformam em ambientes
que buscam tornar os apenados conscientes de seus direitos e deveres, e prontos para o retorno ao
convívio em sociedade, em que a reintegração social do apenado é uma das preocupações centrais.
O sistema penitenciário, nesse contexto, passa a ter um papel determinante na reinserção adequada
do cidadão na sociedade com o restabelecimento de seus direitos e deveres, sem que haja o retorno
à prática de delitos. Por outro lado, se, mesmo após a liberação do sujeito do sistema prisional, não
é possível constatar mudanças positivas de comportamento, isso condiciona a população a pensar
que o sistema prisional é realmente “A escola do crime”, que é cada vez menos visto como lugar de
reintegração.
Existem dois grandes problemas em a prisão assumir esse papel. O primeiro é um dos
princípios fundamentais da Constituição da República Federativa do Brasil, a “dignidade da pessoa
humana” (BRASIL, 1988), conforme o qual, mesmo sendo delinquentes, os sujeitos encarcerados
continuam sendo seres humanos que necessitam de cuidados e atenção. O segundo, por sua vez, é
de ordem estrutural e física, na medida em que é constantemente constatada a incapacidade que os
presídios brasileiros têm de comportar todas essas pessoas. O
conceito
de
reinserção,
para
Figueiredo Neto et al. (2009), diz respeito ao conjunto de atributos que permitem ao sujeito tornarse útil a si mesmo, à sua família e à sociedade. Com efeito, é importante considerar que o
fundamento da prática de reintegração é a assistência na aquisição de meios necessários para a
reinserção do sujeito na sociedade.
Desse ponto de vista, tanto as oportunidades de trabalho quanto os programas educativos e
de treinamento ocupacional para os apenados devem, em tese, reduzir a reincidência e ajudar o
apenado a se preparar para a procura de emprego quando liberado. Pode ser lembrado que o ócio
prisional é, frequentemente, visto como um fator estimulador de recidivismo (FANDIÑO
MARIÑO, 2002).
�193
Nesse contexto, devem ser pensadas políticas públicas que minimizem os efeitos agressivos
do aprisionamento, levando-se em conta que a pessoa condenada perde seu segundo maior bem, o
direito à liberdade, considerando-se que o primeiro é o direito à vida.
Com essa nova perspectiva, pode-se perceber e incentivar a valorização do sujeito, e de sua
capacidade de (re)adaptação de maneira positiva, o que acarretará em benefícios para ele, para a
sociedade e para o Estado. Segundo Faustino e Pires (2009), então, a finalidade da pena não está
apenas ligada à economia, mas também à esfera política, que visa ao controle e disciplina do
apenado, estando os dois vinculados, contribuindo para o mesmo objetivo, a saber, o entendimento
e aceitação das relações sociais vigentes.
As penitenciárias são, quase sempre, caracterizadas por falta de espaço, submissão de muitos
a poucos que detêm o “poder” interno, poucas condições que possibilitem a preferência por um
caminho alternativo e um sistema que os encaminha de volta ao ponto de onde partiram. Essa
situação, muitas vezes, agrega atributos intensificadores do comportamento inadequado que já
apresentavam. Fandiño Mariño (2002) afirma que a prisão tem induzido, ao invés de reduzido a
reincidência de prática delituosas, o que demonstra a falha da efetividade da prisão, que visa
recuperar esses sujeitos e reintegrá-los à sociedade.
Problemas de inúmeras ordens afetam diretamente todas as tentativas de reinserção dos
apenados e instauram a situação calamitosa que frequentemente assola os sistemas prisionais do
Brasil, que sobrevivem em condições precárias. A reincidência criminal é um dos grandes
problemas do sistema penitenciário e da sociedade como um todo. Para diminuí-la, o Estado se
utiliza das chamadas medidas ressocializadoras para os apenados tomarem consciência de si
mesmos e da sociedade em que se encontram inseridos.
A ressocialização, portanto, é de importância essencial para o Estado, visto que a
reincidência criminal afeta todos os setores da sociedade, inclusive o econômico. Porém, esta não é
uma preocupação que cabe somente ao ente estatal, embora as pessoas que vivem na sociedade
sigam como se o que acontece dentro das penitenciárias não fosse do interesse de todos, mas
exclusivamente a responsabilidade do Estado de punir aqueles que não merecem ser parte da
comunidade.
A ressocialização tem a potencialidade de devolver a dignidade humana àqueles que, dadas
as condições sociais, sequer acreditavam que um dia a possuíram. Por este motivo, a reintegração
do apenado é um dever de todos, cabendo, por conseguinte, averiguar se ela está sendo bem
planejada e aplicada, posto que, com medidas efetivas, pode-se começar a observar diminuição da
reincidência que envergonha o sistema prisional brasileiro.
�194
3 A LEITURA NO CÁRCERE: UMA PRÁTICA RESSOCIALIZADORA
Dadas as condições dos presídios brasileiros, as medidas ressocializadoras são alternativas
para impedir, ou pelo menos diminuir, o retorno dos sujeitos que cumpriram pena à prática
criminosa.
A leitura tem sido vista como uma medida ressocializadora que assume o papel de agente
restaurador ou até mesmo formador de estruturas basilares da educação de pessoas encarceradas.
Ocorre que muitos nunca tiveram acesso a um livro ou se viram capazes de ler, visto que a leitura é
largamente tida como prática e costume de pessoas afortunadas, sábias e inteligentes. Barroco
(2004, p. 83) afirma que “a leitura é, acima de tudo, uma construção de significados, apresentandose, portanto, a decodificação de grafemas apenas como um meio de acesso ao texto”. Essa
construção de significados é responsável por dotar a leitura de resultados positivos em ambientes de
ensino.
No cárcere, a leitura encontra morada por vários fatores; o principal deles é a superação do
ócio, dada a situação em que pouco ou nada se tem a fazer, contrapondo ao tempo longo em que
muitos presos permanecerão nesse ambiente. Por esse motivo, seguindo a já anteriormente citada
Recomendação nº 44 do CNJ, os sistemas prisionais em todo país têm instaurado a remição de pena
pela leitura. Mesmo que a principal intenção dos apenados, no início, seja apenas se livrar de uma
pena e esta não ser a ideal, é suficiente para que os benefícios da leitura comecem a aparecer.
Para além dos limites do ócio, Oliveira (2013) apresenta como benefícios da leitura a
otimização, a compreensão, o aprendizado e a experiência. O ato de ler amplia os horizontes e ajuda
na compreensão do porquê das coisas, tem a ver com as formas de expressão do sujeito, e é
responsável por ligar historicamente o leitor ao que é lido. Dessa forma, a leitura é um processo de
compreensão sensorial, emocional, intelectual, fisiológico, neurológico, cultural, econômico e
político. Trata-se de uma experiência pessoal e intransferível, sendo, portanto, a interpretação
submetida ao conhecimento, às experiências e à sensibilidade de cada um.
A leitura, então, transforma convicções subjetivas do leitor, mesmo aquelas que não se
mostram cotidianamente, mas que afetam consideravelmente sua forma de existir e ver o mundo, o
que, consequentemente, dirige suas ações e relações consigo mesmo e com a sociedade à que
pertence. Isso significa a compreensão de que uma das formas possíveis para recuperar a dignidade
outrora perdida pelos apenados é por meio da leitura, que auxilia no desenvolvimento do senso
crítico, na medida em que vai além da escolarização, mas faz com que os sujeitos envolvidos com
esse processo produzam sentido para suas vidas e construam conhecimento individual, de acordo
com a vivência de cada um.
�195
O ato de ler concretiza-se através da busca da velha informação e da nova informação. A
velha informação está directamente ligada aos designados schemata (esquemas cognitivos
associados a um dado conhecimento já armazenado e organizado), sendo o processo da
inferência que decide os esquemas a revelar para tratamento da nova informação
(BARROCO, 2004, p. 85).
Por esse motivo, apesar de algumas fragilidades porventura existentes nos projetos e nas
práticas de remição de pena pela leitura, podem-se considerar alguns resultados positivos do que a
leitura pode fazer por reeducandos em todo o Brasil. A leitura viabiliza junto aos apenados
reflexões acerca de como o mundo e a sociedade funcionam; é capaz de fazê-los entender que,
apesar de ser difícil encontrar espaço num sistema que parece repeli-los, é possível e
recompensador. O ato de ler é capaz de quebrar as correntes sociais a que eles estão presos e incitálos a almejar suas autonomias.
Para além da formação, a leitura pode afetar positivamente os sujeitos encarcerados em seu
processo de reformação. Por esse motivo, é importante que o Estado garanta as condições ideais, ou
o mais próximo disso, para que a leitura aconteça e possa cumprir seu papel. Essas condições são
compostas, entre outros, por materiais de trabalho, fontes de informação adequadas e tecnologias
que facilitem a prática de leitura. Além disso, os recursos humanos utilizados também são
importantes para que a leitura seja eficaz, ou seja, a presença de profissionais adequados para que
haja o incentivo à leitura, a seleção adequada de títulos, a organização e a disseminação dessa
literatura.
Com efeito, esta situação só pode ser concretizada diante de um estudo de usuários
igualmente bem elaborado e aplicado para que as fontes de informação sejam adequadamente
adquiridas, tornando-se indispensável a presença do bibliotecário. Além desse, se faz necessário o
espaço físico da biblioteca, que seja apresentado como local responsável por assegurar o saber,
promover a cultura, proporcionar o ócio e o lazer, e educar e formar (BARROCO, 2004). Com essas
condições, a leitura se torna um agente ressocializador de importância imensurável para aqueles que
almejam a reintegração na sociedade.
4 AGENTES RESSOCIALIZADORES NO CONTEXTO DA LEITURA
Conforme já discutido, a ressocialização dos apenados é um interesse de todos e a leitura,
um instrumento eficaz nesse processo. Nesse mesmo horizonte, as bibliotecas prisionais se tornam
indispensáveis para que o trabalho seja completo e os resultados, correspondentemente satisfatórios.
�196
Além dos benefícios para a sociedade, a biblioteca é um direito previsto por lei aos presos.
“[...] Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para
uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”
(BRASIL, 1984). Tendo o Estado reconhecida a importância das bibliotecas em lei, deve-se,
portanto, manter sua posição e contribuir com as condições para implantá-las.
A biblioteca prisional é vista por muitos como um favor desmerecido aos apenados. Essa
infeliz perspectiva acaba por perpetuar o afastamento da responsabilidade do Estado e da sociedade
para com a ressocialização dos que se encontram encarcerados. Isso acontece porque, para muitos, a
biblioteca, num estabelecimento prisional, é um luxo a que a própria população livre não tem
acesso. E, talvez, por esse motivo, a biblioteca prisional como um direito dos presos é pouco ou
nada discutida. Esse estado de carência acarreta a sensação de que as penitenciárias que a possuem
receberam um favor do Estado, quando na verdade é apenas este ente cumprindo sua obrigação na
ressocialização do preso. Não se pode perder de vista que:
o direito à educação pressupõe de imediato o direito ao acesso à informação, uma vez que a
informação é parte do processo educativo. [...] A informação é um direito social do
indivíduo e o acesso a ela é exatamente esse direito de ser informado, o direito de saber das
coisas, numa linguagem muito simples (MORIGI; VANZ; GALDINO, 2002, p. 142).
Reconhecido o importante papel da leitura em ambientes prisionais, vem o questionamento
da necessidade de uma biblioteca. Afinal, para que tirar os presos das celas? A entrega dos livros
nas celas não é suficiente? Ocorre que a biblioteca não é apenas um local de guarda de livros, mas
um espaço de disseminação de informação e de cultura, que permite aos apenados um (re)acesso à
sua cidadania e à sua dignidade.
Apesar de se referir a bibliotecas públicas, é importante mencionar o amplo e fundamental
papel desta instituição apontado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura18 (UNESCO, 1994), ao afirmar que as bibliotecas devem promover a democracia, a paz, o
bem-estar, o repouso espiritual dos cidadãos, a tolerância, a pluralidade de pensamentos, a educação
para todos e o acesso a informações diversas.
Pode-se afirmar que, respeitando os limites do que é permitido para sujeitos em situação de
cárcere, os objetivos citados acima devem ser cumpridos também pela biblioteca prisional. A
relevância dessa instituição é reafirmada quando a LEP coloca como ponto a ser mensurado em
18
Acrônimo de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. A UNESCO é uma agência
especializada da Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 4 de novembro de 1946 e sediada em Paris, com
a finalidade de contribuir com a paz e segurança no mundo por intermédio do desenvolvimento e da implementação de
planos, projetos e ações de educação, ciência e cultura.
�197
censos penitenciários “[...] a existência de bibliotecas e as condições de seu acervo [...]” (BRASIL,
1984).
Outro ponto que vale a pena destacar é a Lei Federal de nº 13.163, de 9 de setembro de 2015,
que modifica a LEP e estabelece a oferta do Ensino Médio nas Penitenciárias. Por esse lado,
começa-se a pensar nos benefícios não apenas de uma biblioteca prisional para apenados, mas
também tudo que a biblioteca escolar pode fazer por eles na condição de alunos (COSTA et al.,
2016). O fato é que, sob essa perspectiva, esta biblioteca, agora com carga dupla de
responsabilidade, tem o dever de formar e reformar sujeitos por intermédio, respectivamente, da
assistência educacional e da reinserção social.
A biblioteca prisional não pode atuar como um repositório de livros; é preciso que seja um
organismo em crescimento, na concepção da quinta Lei de Ranganthan (2009) 19 e, por isso,
necessita passar por todos os processos técnicos e administrativos próprios de uma biblioteca, assim
como pelo trabalho de estudo de usuário e desenvolvimento de coleções.
É importante considerar que, além da biblioteca, faz-se necessária a presença de um
bibliotecário. Essa constatação decorre, além da existência de atividades privativas desse
profissional, da prática de complexos processos informacionais que envolve este tipo de instituição.
As bibliotecas que atendem a leitores em ambiente prisional, levando em consideração os
diferentes níveis de literácia e as condições em que se encontram, devem servir como
centros de informação, fornecendo recursos que supram as necessidades básicas de
informação, que compreendem a recuperação da informação, a leitura recreativa e a
aprendizagem. Tomando como referências as características da clientela, faz-se necessário
formar suas coleções, levando em consideração a questão da censura em relação ao direito
dos presos e, concomitante, a escolha adequada, de modo que esses conteúdos sejam úteis
no processo de transição do apenado ao convívio da sociedade (TONIN; SOUZA, 2014, p.
49).
Um leitor que se forma dentro do sistema prisional, possivelmente, será um leitor fora dele,
que procurará aprimoramento de seus conhecimentos e continuar ampliando seu acesso à
informação.
Morigi, Vanz e Galdino (2002, p. 141) chamam a atenção para a responsabilidade social da
biblioteca, mas também do bibliotecário, quando afirmam que “a informação é considerada um bem
simbólico e o seu acesso é essencial para que a cidadania se efetive de forma plena, sendo assim o
profissional deve colocar-se de forma ativa diante de sua responsabilidade social como educador”.
O bibliotecário precisa se colocar num local de agente transformador na atuação da biblioteca como
espaço de ressocialização dos sujeitos.
19
Também conhecidas como as Leis da Biblioteconomia, Ranganathan, a partir de estudos sobre as condições das
bibliotecas, desenvolveu cinco leis, a saber: os livros são para serem lidos, todo leitor tem seu livro, todo livro tem seu
leitor, poupe o tempo do leitor, e uma biblioteca é um organismo em crescimento (RANGANATHAN, 2009).
�198
Apesar de não constar explicitamente a necessidade de um bibliotecário em bibliotecas
prisionais, em seu art. 21, cap. V, a LEP se preocupa com as condições dos acervos de bibliotecas
penitenciárias como fator a ser observado nos censos sobre educação em prisões, visto que aquelas
seriam primordiais para o desenvolvimento dessas, e para o auxílio do preso em sua ressocialização
(BRASIL, 1984). Dessa forma, considera-se que, para a reeducação ser bem-sucedida dentro da
prisão, se faz necessária a presença do bibliotecário, pois ele é o profissional que consegue manter
um acervo em condições ideais para uso devido e melhor aproveitamento.
Assim como qualquer outra biblioteca, a prisional precisa realizar diversos serviços de
qualidade, tais como formação e desenvolvimento de coleções (seleção, aquisição, avaliação e
desbastamento), estudos de uso e de usuários, catalogação, classificação, atendimento aos usuários e
empréstimos, entre outros.
Não se pode perder de vista que os presos têm preferências literárias e se faz necessário o
incentivo, por meio de obras que possam ser de seu interesse. Por isso, é preciso uma seleção de
livros adequados baseada num estudo de usuário que leve em consideração a situação peculiar em
que se encontra cada um deles, mas, acima de tudo, que os leve para o caminho do que é
considerado correto, que os incentive a procurar uma nova forma de viver e os leve a reflexões de
onde estão e para onde querem ir.
Coincidência ou não, um dos livros mais requisitados pelos internos das quatro
penitenciárias federais é “Crime e castigo”, de Dostoiévski. Um clássico da literatura
mundial, a obra conta a história de um jovem que enfrenta dilemas morais e existenciais
após decidir matar uma agiota. “Nota-se, nessa obra, a que ponto o ser humano pode chegar
por causa do dinheiro”, escreveu um detento em uma resenha sobre o livro. “Crime e
castigo” foi a primeira obra a ser doada para o projeto, que foi criado em 2009 na
Penitenciária Federal de Catanduvas (PR). A doação partiu de juízes federais do Paraná.
Desde então, se espalhou por diversas cadeias pelo país (LINDEMANN, 2017).
É reconhecida a relevância de estudo de usuário completo que leve em consideração as
condições de privação, mas ainda que faça com que o gosto do leitor tenha relevância. O
bibliotecário possui duas principais atribuições em bibliotecas: primeiro, e mais conhecida (ainda
que aquém do ideal), é a técnica, por meio de atividades como as já citadas; a segunda tem a ver
com o trabalho social do bibliotecário, que vai desde a promoção do acesso à informação, passando
pelo fomento da leitura e a formação de leitores, à potencialização do resgate da autonomia e da
construção da cidadania (COSTA et al., 2016).
Os serviços bibliotecários permitem aos prisioneiros o uso mais proveitoso de seu tempo,
como também lhes possibilitam ampliar seus desenvolvimentos pessoais e obter conhecimentos
gerais que contribuam para aliviar a tensão do enclausuramento. Porém, até os próprios
bibliotecários parecem desconhecer esse fato, e agem como se suas obrigações fossem meramente
técnicas e como se a sua própria responsabilidade social fosse nula.
�199
A falta de um bibliotecário fere o processo de ressocialização e faz com que o trabalho da
biblioteca e, consequentemente, da leitura seja sofrido e que atue de forma superficial, e, ainda, que
alguns objetivos sejam alcançados. Assim, sem a atuação profissional, não é possível a
consolidação do papel desses para a ressocialização em larga escala, atingindo a totalidade dos
presos que se propõem a ler.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ressocialização dos sujeitos em cumprimento de pena é a medida a ser tomada para a
redução do recidivismo criminal, pois é por meio dela que os sujeitos serão realocados na sociedade
e encontrarão seu espaço de forma legal. O sucesso da ressocialização dentro dos presídios
influencia a sociedade como um todo de forma positiva, pois, além de desafogar o sistema prisional,
devolve a dignidade do apenado, diminui custos do governo e diminui a criminalidade na
comunidade, visto que o ex-apenado não será mais um perigo para a sociedade, desde que o
processo de reinserção seja efetivo.
Na medida em que a ressocialização é um benefício de todos, passa a ser responsabilidade
não só do sistema prisional, mas da sociedade em geral. Primeiro, o Estado na condição de provedor
deve munir o sistema das condições necessárias para a efetivação dos processos necessários. A
sociedade tem o papel de acompanhar e cobrar do Estado medidas e condições melhores na
execução do processo. E, complementarmente, os apenados, que devem utilizar todos os benefícios
que lhes são oferecidos de forma responsável, para melhor aproveitamento dos recursos do Estado.
A leitura, nesse processo, é vista sob uma perspectiva de prática transformadora de caráter e,
consequentemente, de vidas e destinos, na medida em que, por intermédio dela, o preso encontra
libertação mental, quando consegue se ver fora dos muros do encarceramento a partir de sua
imaginação. A leitura proporciona conhecimento, entretenimento, resgate à dignidade, incentivo à
educação, melhora no vocabulário e aprimoramento da escrita dos sujeitos encarcerados. Além de
promover a reflexão acerca de suas condições e do ambiente em que se encontra, a leitura pode
auxiliar o sujeito na compreensão da sociedade em que se insere, do papel que ele assumia como
delinquente e, como contraponto, do papel que ele pode vir a assumir na condição de sujeito
reformado pelo Estado. Por esses e outros motivos, a leitura é considerada uma das medidas
eficazes de ressocialização de apenados em todo o país.
A biblioteca e o bibliotecário se apresentam como componentes das condições necessárias à
efetiva ação da leitura como medida ressocializadora. A biblioteca atua como local de reinserção na
�200
cultura, cujos apenados conseguem exercitar sua capacidade de escolha e seu senso de
responsabilidade para com o patrimônio estatal. Com a visita à biblioteca, o preso começa a se
familiarizar com o convívio fora das celas e tem acesso aos serviços oferecidos pela biblioteca
prisional, que pode ser uma biblioteca escolar, visto que muitos dos apenados concluem seus
estudos dentro da prisão.
O bibliotecário, por sua vez, vem como um agente capaz de possibilitar o melhor
aproveitamento do espaço da biblioteca e da leitura, visto que sua presença otimiza o tempo do
leitor, por meio de diversos serviços. A atuação desse profissional é de importância fundamental
para a prática da leitura, desde a seleção de títulos que sejam adequados e desejáveis, até a atuação
social do profissional, que ajudará a devolver a dignidade desses sujeitos.
A biblioteca, o bibliotecário e a leitura considerados em conjunto podem fazer com que a
experiência carcerária seja menos ociosa, e mais proveitosa, na forma como incentiva os presos ao
encontro com a informação que necessitam, que os levará para reflexões e lugares que antes não
tiveram oportunidade de estar. Há, contudo, um processo de exclusão, porque, embora querendo
participar, o sujeito não encontra em si mesmo condições para isso, por não saber ler, escrever ou
até organizar as ideias em um texto. A rigor, alguns apenados permanecem sem oportunidade de
recuperar o tempo e a informação que perderam. Dessa forma, os projetos de remição de pena pela
leitura não podem ser desvinculados da educação básica, na medida em que ela dará condições
necessárias para essa participação.
Para aperfeiçoamento dos projetos de remição de pena pela leitura, é imprescindível a
participação do bibliotecário para que, numa relação interdisciplinar entre Biblioteconomia, Ciência
da Informação, Direito, Psicologia, Serviço Social e áreas afins, considere-se o contexto cultural e o
regime de informação do ambiente prisional. Essas condições, certamente, promoveriam a melhor
qualificação e o maior aprofundamento na execução dos projetos, sendo possível, assim, o alcance
de resultados melhores e de maior abrangência.
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�203
CAPÍTULO XIV
A FUNÇÃO DA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA NAS REGIÕES INACESSÍVEIS AO
CONHECIMENTO
Igor de Souza Bento
Ana Carolina Silva da Cunha
Gleice Pereira
1 INTRODUÇÃO
Na antiguidade, o homem já criara meios de registrar o conhecimento para que auxiliasse as
gerações futuras na sobrevivência e no desenvolvimento. A informação com o passar do tempo e
com o avanço tecnológico teve vários tipos de formatos, desde seu início com pinturas rupestres até
a atualidade com documentos digitais.
Vivemos na sociedade do conhecimento, em que a mesma pessoa o consome, produz e
disponibiliza em rede via youtube, facebook, twitter ou outras ferramentas, as quais criam novos
valores, porém, o conhecimento encontra-se fragmentado. Segundo Morin (2013), em tais
condições, as mentes jovens perdem suas aptidões naturais para contextualizar os saberes e integrálos em seus conjuntos.
Por meio da análise à história da humanidade, a biblioteca se mostrou palco das mudanças
de pensamento da sociedade e até a atualidade seu poder não pode ser despercebido mesmo perante
uma sociedade permeada de links e informações que aumentam “vertiginosamente nos bancos de
dados, nos hipertextos e nas redes” (LÉVY, 1999, p. 13).
Para isso, precisamos traçar um panorama da sociedade atual e os desafios contemporâneos
e como a biblioteca pode auxiliar nas incessantes mudanças da humanidade. A biblioteca
comunitária é um importante centro de disseminação da informação, incentivo à leitura e de acesso
democrático.
Também possui grande potencial incentivador de desenvolvimento da fala e escrita de
crianças e adultos de uma comunidade, além de, no caso de biblioteca já informatizada, ser uma
grande chance de inclusão digital para seus frequentadores. A biblioteca comunitária fornece a seus
usuários espaço para pesquisa e estudo; oferece o resgate da cultura popular e proporciona
autonomia na busca, cabendo somente ao usuário avaliar o que é mais relevante para a sua pesquisa.
�204
A biblioteca comunitária quando bem estruturada e com o acervo atualizado para atender
todas as possibilidades de busca, tende a cativar o leitor e conquistar sua frequência no ambiente.
Nesse espaço, é importante que o mediador se mostre sempre solícito e disposto a oferecer um
serviço de qualidade. Desse modo, o usuário adquire, cada vez mais, independência em suas buscas,
podendo realizá-las posteriormente sem supervisão. A biblioteca comunitária valoriza a
comunidade, promove o exercício da cidadania, não há diferença social, todos possuem o mesmo
acesso à informação, o que incentiva a educação.
Objetiva-se, neste estudo, conceituar o que vem a ser uma biblioteca comunitária, buscando
analisar a potência dessa unidade de informação como disseminadora, e realizar um breve relato
acerca da realidade de uma dessas instituições e o acesso à informação que a mesma oferece.
O interesse pela abordagem do tema biblioteca comunitária surgiu ao realizarmos no ano de
2015 uma visita técnica à Biblioteca Comunitária do Bairro Laranjeiras, cidade de Serra, Estado do
Espírito Santo, em que foi possível presenciar, no momento da visita, o admirável trabalho sendo
realizado, e vimos a importância dessa biblioteca para a comunidade, na qual está localizada, e o
número significativo de usuários atendidos diariamente.
Assim, buscou-se realizar um estudo de caso na biblioteca comunitária de Laranjeiras,
utilizando o método de entrevista estruturada, com visita in loco para realizar a coleta de dados,
sendo a análise dos dados de teor qualitativo.
2 DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À INFORMAÇÃO
Dilúvio, assim exemplifica Lévy (1999), relacionando o evento bíblico a atual quantidade de
informação acessível à maioria das pessoas. Do século XX voltado para produção de tecnologia, a
sociedade da informação passou a ser a sociedade do conhecimento no século XXI, produzindo
conhecimento em tempo real, desfazendo antigas estruturas de poder, ao mesmo tempo em que deu
luz às novas.
Mesmo com grandes avanços tecnológicos e científicos, com dados tão importantes sendo
acessados, desaprendemos lidar com a vida e nosso relacionamento com os outros, ao buscarmos
respostas às dificuldades enfrentadas; notamos que cada tempo do saber aponta uma direção; esse
fenômeno ocorre, pois, o conhecimento produzido encontra-se fragmentado e desconexo e mesmo
utilizando ferramentas de alto poder de recuperação, selecioná-las de forma adequada se torna um
desafio (MORIN, 2001; MOSÉ, 2013).
�205
Além do aumento de informação, há o aumento populacional, aproximando, cada vez mais,
os excluídos. Observamos, assim, os desdobramentos de um movimento que começou há muitos
anos em todas as esferas da sociedade. Portanto, cabe a nós,
[...] apenas que permaneçamos abertos, benevolentes, receptivos em relação à novidade,
que tentemos compreendê-la, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim
reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta
da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural (LÉVY, 1999, p.
12).
Morin (2003) enfatiza a necessidade de “uma cabeça bem-feita”, que não devemos apenas
acumular o saber sem primeiro selecionar e organizar de forma que tenha sentido, e em vez de
acumular o saber, o que realmente importa é dispor ao mesmo tempo de aptidão geral para colocar e
tratar os problemas e de princípios de organização que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.
Criada junto com a democratização do acesso à informação e produção de conhecimento, a
proposta do sistema de ensino tem induzido a redução e fragmentação da complexidade ao simples,
pois fraciona os problemas, eliminando, assim, as oportunidades de um julgamento corretivo ou de
uma visão a longo prazo.
A informação é a base do conhecimento; sem ela não adquirimos o saber. Segundo Barreto
(1994, p. 1),
a informação, quando adequadamente assimilada, produz conhecimento, modifica o
estoque mental de informações do indivíduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e ao
desenvolvimento da sociedade em que ele vive.
Assim como agente mediador na produção do conhecimento, a informação qualifica-se, em
forma e substância, como estruturas significantes com a competência de gerar
conhecimento para o indivíduo e seu grupo.
A questão que se coloca agora é a de como se trabalhar com a informação enquanto
estruturas significantes, no sentido de direcioná-la ao seu propósito de produtora de
conhecimento para a sociedade. Como se organiza, controla e distribui de maneira correta,
política e socialmente, a informação, considerando a sua ingerência na produção do
conhecimento.
As bibliotecas públicas, incluindo, é claro, a biblioteca comunitária, tem um papel enorme
na educação de seus usuários, visto que é um espaço onde se encontra acesso à informação para o
desenvolvimento do conhecimento. Dessa forma, a biblioteca contribui para o letramento
informacional, que surge a partir do momento que se observa a demanda de auxiliar as pessoas a
desenvolver habilidades e competências na busca e recuperação da informação, tornando-as capazes
de aprender de forma autônoma ao longo da vida.
Serviços de referência e de educação de usuários foram criados para auxiliar os leitores a
entender a estrutura peculiar daquele espaço e a lidar com as fontes de informação ali existentes.
Segundo Campello (2009), focalizar as competências das pessoas e não no serviço da biblioteca,
contribui para a aprendizagem. Esse cuidado do bibliotecário é refletido na maneira como a
�206
informação é disponibilizada ao usuário, e seu interesse em conhecer como seu público acessa
aquela informação.
“O desenvolvimento da inteligência geral requer que seu exercício seja ligado à dúvida,
fermento de toda atividade crítica [...], o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e
ligação, análise e síntese” (MORIN, 2003, p. 22-24). A leitura crítica pode propiciar esse ambiente
de desenvolvimento.
A leitura verdadeira me compromete de imediato com o texto que a mim se dá, e a que me
dou, e cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito. Ao ler não me
acho no puro encalço da inteligência do texto como se fosse ela produção apenas de seu
autor ou de sua autora (FREIRE, 1996, p. 15).
A partir do momento em que nos envolvemos com novos pontos de vista, por meio da
leitura, adentramos em um “mundo novo”. A esse respeito, Sartre (2008, p. 78) declara que:
[...] quando todos os caminhos estão barrados, a consciência precipita-se no mundo mágico
da emoção, precipita-se por inteiro, degradando-se, ela é nova consciência diante do mundo
novo, com essa presença a si mesma, sem distância, de seu ponto de vista sobre o mundo.
É necessário, portanto, estar em contato com os mais diferentes tipos de conhecimento. As
bibliotecas, que por décadas se mostraram símbolo do saber para uma minoria rica e dominante, por
volta do século VXIII, passa a abrir as suas portas a todos. Para Foucault (1997 apud
LAPLANTINE, 2006, p. 1),
antes do final do século XVII, o homem não existia, como também o poder da vida, a
fecundidade do trabalho ou a densidade da linguagem, é uma criatura muito recente que o
demiurgo do saber fabricou com suas próprias mãos há menos de duzentos anos [...] uma
coisa em todo caso é certa, homem é uma invenção e a arqueologia de nosso pensamento
mostra o quanto é recente, e quão próximo talvez seja seu fim.
Dentre os vários tipos de bibliotecas, destacamos a biblioteca comunitária pela proximidade
com os usuários e pela característica de surgir ou ser implantada no bojo de uma comunidade que,
em um dado momento, conscientizou-se que a informação traria mudanças significativas a seus
utilizadores.
3 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA: O QUE É?
Primeiramente, para que se discorra sobre biblioteca comunitária é necessário entendermos
o que viera ser uma comunidade, e, por definição, comunidade é estado do que é comum, ou seja,
um agrupamento social que se caracteriza por acentuada coesão baseada no consenso espontâneo
dos indivíduos que o constituem. Bauman (2003, p. 7-8) define comunidade como:
�207
[...] um lugar “cálido”, um lugar confortável e aconchegante [...] lá fora, na rua, toda sorte
de perigo está à espreita, temos que estar alertas quando saímos, prestar atenção com quem
falamos e a quem nos fala, estar de prontidão a cada minuto [...] Aqui, na comunidade
podemos relaxar – estamos seguros, não há perigos ocultos em cantos escuros (com certeza,
dificilmente um “canto” aqui é “escuro”).
No delinear da história, foi notada a necessidade de reunir as informações, com o fim de
produzir conhecimento. Com isso, surgiu a biblioteca, uma organização de caráter cultural com
acervo de informação organizado e que presta serviços informacionais à comunidade, que
corresponde ao alvo de seu trabalho (CAVALCANTI; CUNHA, 2008). Na definição tradicional, é
um espaço físico em que se guardam livros, porém a mesma possui uma complexidade superior a
essa definição: a biblioteca é todo espaço – físico, virtual ou híbrido – destinado a uma coleção de
informações que se encontra nos mais diversos formatos como o impresso, digital, 3D, dentre
outros.
As tipologias ou modalidades de unidade de informação são determinadas pelas funções e
serviços ofertados pela mesma, pela comunidade a que se destina, e pela instituição em que ela está
vinculada. Essas unidades podem ser de critério multidisciplinar, ou seja, aquelas que atendem o
público em geral, ou podem ser específicas e possuir conteúdo especializado em determinada área
do conhecimento e atingir um público-alvo, também, bem delimitado. Dentre os principais tipos de
bibliotecas existentes, podemos listar a pública, universitária, comunitária, escolar e especializada.
Segundo Machado (2008), as bibliotecas comunitárias e os espaços públicos de informação
foram as maneiras com que a comunidade encontrou para levar acesso à informação para seus
membros e também de combater as desigualdades sociais.
A biblioteca comunitária é um importante agente social, que auxilia no desenvolvimento
intelectual da comunidade, pelo fato de possuir interface de atendimento direto com os usuários e
permitir uma interação dos mesmos no que diz respeito ao acesso, trazendo, assim, possíveis
crescimentos pessoais, intelectuais e profissionais para os freqüentadores, a maioria, membros
pertencentes à comunidade.
De acordo com Machado (2009, p. 6),
objetivamente, essas bibliotecas devem criar mecanismos para colaborar no
desenvolvimento da sua comunidade, potencializando os próprios talentos dos indivíduos e
das comunidades, constituindo-se como espaços públicos voltados para emancipação, onde
a prática cidadã possa aflorar de forma inovadora, criativa e propositiva. Nessa linha de
pensamento, pudemos identificar algumas particularidades que as distinguem da biblioteca
pública: a forma de constituição: são bibliotecas criadas efetivamente pela e não para a
comunidade, como resultado de uma ação cultural; a perspectiva comum do grupo entorno
do combate à exclusão informacional como forma de luta pela igualdade e justiça social; o
processo de articulação local e forte vínculo com a comunidade; a referência espacial:
estão, em geral, localizadas em regiões periféricas; e, o fato de não serem instituições
governamentais, ou com vinculação direta aos Municípios, Estados ou Federação.
�208
Cidadania é um status concedido àqueles que são elementos integrais de uma comunidade
(TARGINO, 1991). Observamos, porém, que não há mais limites Estado-nação; podemos dizer que,
atualmente, há um cidadão do mundo proveniente da globalização e relação diferente de espaço.
Sobre a reforma do pensamento,
[...] além disso, todos os problemas particulares só podem ser posicionados e pensados
corretamente em seus contextos, e o próprio contexto desses problemas deve ser
posicionado, cada vez mais no contexto planetário (MORIN, 2003, p. 14).
A aprendizagem também deve oferecer a possibilidade de contextualizar, ter espaço ao
debate e também deve contribuir para o enraizamento de cada sujeito na sua história e cultura
vinculando-o a história da humanidade e do próprio mundo. O sistema capitalista em seu estímulo
ao consumo continua a cercear a informação apenas para os que possam pagar por ela. A biblioteca
deve acentuar seu caráter cultural, diversificando seus serviços e dispondo de informação utilitária,
para benefício de seu público-alvo. Como nos lembra Targino (1991, p. 1),
[...] é preciso conscientizar o bibliotecário de que o objeto de sua profissão é a informação e
de que ele deve agir como catalisador e difusor do conhecimento dentro da comunidade,
advindo daí seu potencial político como autor de mudanças sociais. É urgente transformar o
bibliotecário em instrumento de democratização da informação [...] cumpre-nos então,
neste momento, exercer nossa função de educador, dentro de determinados objetivos
definidos democraticamente pela comunidade [...].
Apesar dos autores pioneiros no tema bibliotecas comunitárias contextualizarem sobre o
fato de a biblioteca comunitária ser criada a partir de insumos da própria comunidade, Todêska
(1984, p. 18) afirma que “[...] são raríssimos no país inteiro os casos de bibliotecas que tenham, de
fato nascido por iniciativa da comunidade, e mais ainda, tenham-se desenvolvido de acordo com os
interesses e necessidades dessa mesma comunidade”.
Em meio a esses raríssimos casos, podemos destacar a biblioteca comunitária de Laranjeiras,
pois, a mesma, segundo relatos de profissionais que ali atuam desde seu nascimento, surgiu por total
interesse da própria comunidade, ou seja, feito pelos moradores para atender as necessidades da
própria comunidade.
4 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DE LARANJEIRAS
A história do bairro Parque Residencial Laranjeiras começou com a chegada dos primeiros
moradores no final do mês de abril de 1978, ocasião em que as unidades habitacionais começaram a
ser entregues aos seus compradores, nesse caso, denominados de cooperativados.
�209
É necessário notar a natureza de cooperativa habitacional desse conjunto residencial, tendo
como
órgão
administrador
a
Cooperativa
Habitacional
dos
Trabalhadores
Capixabas
(COOPHABCAP), estando a orientação técnica dessa cooperativa a cargo do Instituto de
Orientação às Cooperativas Habitacionais do Espírito Santo (INOCOOPES) - que dirigiu, no caso,
o processo de formação dessa cooperativa.
Logo no primeiro mês de vivência, a população residente, de forma espontânea, começou a
fazer referência aos problemas de infraestrutura existentes, tais como: transporte coletivo deficiente,
água potável em condições inadequadas ao consumo, segurança pública, telefones públicos,
ausência de calçadas nas ruas, áreas públicas de lazer, escola pública, manutenção de áreas verdes,
asfaltamento deficiente, dentre outros problemas de importância para comunidade. Assim,
convocou-se uma reunião para que os moradores discutissem essas questões e apontassem formas
mais eficientes de encaminhamento. Nessa primeira reunião, constatou-se a necessidade de
organizar a população em torno de uma associação dos moradores. Inicialmente, foi formada uma
comissão provisória de seis membros para já encaminhar as reivindicações levantadas, proceder a
organização da associação dos moradores e apresentar um anteprojeto de Estatutos.
A Associação de Moradores do Parque Residencial Laranjeiras foi oficialmente fundada no
dia 23 de julho de 1978, cujo objetivo principal era o de assegurar os moradores do bairro a
efetivação dos seus direitos fundamentais, buscando solução dos problemas, promovendo o seu
desenvolvimento comunitário e proporcionando a seus associados condições para realização das
funções de habitar, trabalhar, recrear, desenvolver e manifestar.
Pela necessidade expressa pelos próprios moradores, surgiu a ideia inicial da criação de uma
biblioteca no centro comunitário, que seria um espaço para leitura, pesquisa e empréstimo.
Aprofundando-se mais da necessidade da comunidade, entendeu-se que o tipo de biblioteca a ser
desenvolvida não poderia ser da forma tradicional e sim, uma biblioteca viva, dinâmica,
participativa, vinculada a todas as iniciativas culturais e reivindicativas do bairro.
Estipulou-se como objetivo de a biblioteca ser realmente comunitária, participando das lutas
contra tudo aquilo que causasse impedimento da realização cultural da comunidade. A intenção foi
de transformar a biblioteca comunitária no centro cultural do bairro, onde se concentrasse todas as
iniciativas da comunidade e apoio às novas manifestações culturais populares.
Quando se tornou difundida a ideia da criação da biblioteca comunitária, obteve-se todo o
apoio do bairro e de pessoas de fora, materializando em inúmeras doações de livros, bem como, o
incentivo e a colaboração, não só com doações de livros, mas também, com conhecimentos técnicos
oriundos da Biblioteca Pública Estadual e da Associação dos Bibliotecários.
�210
Em 31 de outubro de 1981, foi realizada, no Centro Comunitário da Associação de
Moradores, uma festa para o ato de fundação da Biblioteca comunitária, que contou com o apoio do
Departamento Estadual de Cultura e uma programação com diversas apresentações culturais.
Em sua estrutura real, a biblioteca comunitária pertence à associação de moradores, é
patrimônio do bairro, politicamente livre, independentemente de qualquer conotação políticopartidária, sendo que as decisões tomadas para seu fundamento e administração partem da própria
comunidade.
O movimento diário é constante, pois todos os integrantes da comunidade podem fazer uso dos
serviços dessa unidade de informação, desde o empréstimo ao uso de internet gratuita.
5 O COTIDIANO DA BIBLIOTECA
Foi realizada uma entrevista estruturada com uma colaboradora da Biblioteca Comunitária
de Laranjeiras, buscando ouvir relatos sobre o nascimento da biblioteca e a sua jornada de atuação
até os dias de hoje. Os resultados dessa investigação são apresentados, a seguir.
- Porque as bibliotecas comunitárias, em geral, têm dificuldades em se firmarem?
- Porque no geral elas são mantidas pela associação de moradores; no entanto, quando muda a chefia da associação
surgem novos interesses; alguns têm consciência da importância da biblioteca, e outros não. Um exemplo claro deste
fenômeno pode ser constatado no bairro Feu Rosa do mesmo município; existia a biblioteca comunitária, mas, quando
mudou a chefia da presidência do bairro houve conflitos de interesses e a biblioteca foi fechada, pois na visão da nova
gestão, a mesma não era relevante.
- A política interfere na criação e mantenimento dessas bibliotecas?
- Infelizmente em sua normalidade a política do nosso país não favorece a educação. Em diversas questões podemos
constatar a influência da mesma na educação e no acesso à informação, e com pesar digo que ela tem grande
influência e na maioria das vezes não favorável. Também existem muitas disputas de poder de ego.
- A que se atribui a longa permanência da biblioteca aqui no bairro Laranjeiras?
- A biblioteca nos primórdios de sua existência era administrada pelos próprios moradores do bairro. Em seguida por
necessidade e exigência da chefia da associação de moradores da época foi contratado um bibliotecário, que teve
grande influência no desenvolvimento da biblioteca. Passado algum tempo com a mudança da chefia da associação, o
profissional foi desligado; logo em seguida fui convidada a atuar nessa unidade, e com bastante louvor me orgulho do
trabalho que aqui exerço até os dias atuais. Fui muito bem recebida pela comunidade; pude contar com o apoio de
todos. Grande foi minha satisfação ao atuar na Biblioteca Comunitária de Laranjeiras; já tive a oportunidade de me
aposentar, porém, devido ao amor às atividades que exerço, não o fiz; ainda não estou pronta para me desvincular da
biblioteca, e o fato de não haver outro profissional preparado para me substituir pesou na minha decisão de adiar
�211
minha aposentadoria. Existem profissionais contratadas da associação que me auxiliam durante determinado período
de funcionamento da biblioteca. Retomando o foco da pergunta, acredito eu que a biblioteca permanece em
funcionamento até os dias de hoje devido ao grande interesse por parte da própria comunidade.
- Sobre o acervo...
- A biblioteca recebe doações entregues diretamente nela. No início seus colaboradores eram os próprios moradores
por meio de ações voluntárias, pois nas esquinas das ruas do bairro eram colocadas caixas, e os moradores
depositavam ali os livros doados, e a associação disponibilizava um veículo que passava recolhendo as doações. Logo
mais adiante com a mudança da liderança da associação de moradores, foi percebida a importância da biblioteca e a
necessidade de um profissional da informação para gerenciar essa unidade. 90% do acervo da biblioteca é constituído
por doações.
- Como é feita a manutenção da biblioteca e do seu acervo?
- Não há verba disponibilizada diretamente para investir na biblioteca. No início, a prefeitura financiava as
assinaturas de jornal, porém este benefício foi cortado. Atualmente, a biblioteca consegue manter as assinaturas
graças a uma máquina de xerox, que é cobrado um valor simbólico pelo serviço de cópias e isso contribui na renda da
biblioteca; os demais custos de funcionamento são custeados pela associação de moradores; não é direciona verba
periodicamente para renovação de acervo e manutenção da estrutura física da biblioteca, sendo os frutos do lucro com
o serviço de cópias revertidos em pequenos reparos e aquisição de alguns livros para compor o acervo.
- Como é o dia-a-dia da biblioteca? Existe algum quantitativo de usuários atendidos
diariamente?
- Em média são atendidas cerca de oitenta pessoas por dia. O atendimento ao usuário desta unidade se diferencia de
certa forma das tradicionais unidades de informação. O primeiro paradigma quebrado é que não existe silêncio na
biblioteca, pois, para que seja funcional, a mesma precisa ser atrativa para seus usuários; na maioria dos casos os
atendimentos aos usuários são todos bem-sucedidos.
- Qual o diferencial no atendimento aos seus usuários?
- O nosso acervo é organizado de maneira a atender com exatidão e rapidez os nossos usuários, por exemplo, um livro
de biografia que são “romanceados”, mas, a biografia é pouco procurada, e a partir da experiência diária sei que o
mesmo fica melhor localizado em um local destinado a baixa demanda, então o coloco nas estantes menos utilizadas
objetivando a dinamização do acervo e a economia de espaço nas estantes com localização mais estratégica. Outro
exemplo para que se compreenda a organização do nosso acervo, seria o da seção de ocultismo, que possui
determinada localização, porém, devido a tendências momentâneas os romances mediúnicos começaram a chegar em
grande quantidade, e com o objetivo de facilitar a recuperação do material para o usuário, desvinculamos estes
romances da sessão de ocultismo, os reclassificamos e os disponibilizamos nas estantes mais visíveis; com isso,
obtivemos grande agilidade no atendimento ao usuário.
- Nos dias atuais contamos com o acesso à internet. Qual era a realidade da biblioteca antes do
advento das tecnologias em redes?
�212
Sempre houve muito empenho no atendimento ao usuário, tanto agora quanto no início, por exemplo, quando um
usuário buscava por determinado assunto fazíamos o serviço de referência de forma manual, pegávamos os livros nas
estantes e procurávamos o assunto desejado, e quanto mais se conseguia localizar materiais pertinentes para os
usuários mais satisfação, nós, colaboradores, tínhamos. Depois do advento da internet, houve uma queda na demanda
de pesquisas, apesar do ambiente aconchegante que temos a oferecer aos nossos usuários.
- A biblioteca comunitária de Laranjeiras possui parceiros?
Temos parceria com o projeto Sol Nascente da Rede Aica, inaugurado em 2002. O projeto atende adolescentes e jovens
que, por terem cometidos atos infracionais, receberam, pelo Juizado da Infância e da Juventude, a liberdade assistida
comunitária e a prestação de serviço à comunidade, medidas socioeducativas previstas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente como alternativa à privação da liberdade. Nessa parceria, recebemos os jovens infratores para estagiarem
na biblioteca; o intuito é a reintegração social desses jovens, na maioria das vezes são jovens competentes e dedicados,
muitos pedem autorização para atuarem uma carga horária além da que lhes foi dada como sentença, pois se
identificam com o trabalho e com nosso acolhimento; aos usuários são apresentados como colaboradores da biblioteca
e não como infratores que estão cumprindo medida; eles nos auxiliam bastante no dia-a-dia. Infelizmente, no atual
momento, só possuímos esse parceiro. Uma coisa que me chateia um pouco é a falta de eventos; acredito que deveria
ter uma equipe específica para elaboração dos mesmos, pois não sou dinâmica o suficiente para fazer as atividades
rotineiras da biblioteca e cuidar de eventos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível constatar, neste estudo, que a procura dos cidadãos por um espaço onde possam
adquirir informações para aprimorar seus conhecimentos é progressiva. A biblioteca comunitária é
um exemplo de inserção das classes menos favorecidas, pois os usuários possuem acesso
democrático à informação, além de contribuir moral e eticamente para o desenvolvimento dos
cidadãos. O conceito de cidadania para jovens de comunidades pobres ainda é algo abstrato e é
essencial que a comunidade trabalhe isso. A implantação da Biblioteca Comunitária no Bairro
Parque Residencial Laranjeiras contribuiu para a formação cidadã dos seus moradores.
As bibliotecas comunitárias, diferentemente das escolares, não fazem parte de um projeto
pedagógico; elas proporcionam a seus usuários um mundo de informações diferenciadas. Seguindo
essa linha de raciocínio, a Biblioteca Comunitária de Laranjeiras tem exercido com maestria seu
papel social, pois seu acervo é multidisciplinar e seus usuários, apesar de serem membros da mesma
comunidade, demandam diferentes necessidades informacionais.
Empiricamente, se analisarmos à risca a definição de letramento informacional, veremos que
o mesmo discorre sobre formação e desenvolvimento de competências e habilidades que tornem os
usuários autônomos pesquisadores de informação. Logo, a partir desse conceito, podemos dizer que
�213
a unidade de informação aqui trabalhada não realiza essa atividade, pois não existem políticas ou
ações voltadas para esse seguimento. É possível constatar algumas das questões que motivem à falta
dessas atividades: a primeira delas é a falta de profissionais com formação acadêmica adequada, e a
segunda diz respeito à ausência de políticas específicas, com equipes de trabalho direcionadas a
ampliar os serviços oferecidos.
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�215
CAPÍTULO XV
“O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS”20: SALA BRAILLE DA BIBLIOTECA
PÚBLICA DE LAGOA SANTA-MG
Paula Mariano
Tatiana Brandão
1 INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea vem passando por várias transformações ao longo do tempo em
relação ao uso da informação. É essencial um profissional que possua habilidades e competências
que viabilizem aos usuários um serviço que contribua para a transformação social, por meio da
democratização do acesso à informação. O bibliotecário deve ser um profissional atuante nessa
sociedade, cuja informação é fundamental para o seu desenvolvimento em que deve gerir a
informação e o conhecimento, atuando tanto como mediador informacional, quanto educacional,
conforme explica Píres (2013, p. 3):
[...] os bibliotecários podem contribuir, ajudando na formação do intelectual do leitor,
promovendo o hábito da leitura e incentivando a cultura, visando informar e educar o
usuário no uso da informação, facilitando o processo de construção do conhecimento uma
vez que esse se dá pela função da disseminação da informação e dando condições de
autonomia ao consulente capacitando, orientando quando ao uso da informação, usando
também os produtos e serviços da biblioteca, pois, esta tem a informação como seu objeto
de trabalho e que são de suma importância para o aprendizado [...].
Atualmente, um dos maiores desafios dos bibliotecários diz respeito ao seu papel como
agente transformador na sociedade. Por meio do enfoque informacional e das mudanças ocorridas
na sociedade, o profissional da informação assume suas competências adotando e disseminando
práticas transformadoras na sociedade. Sobre o papel do bibliotecário, Píres (2013, p. 6) enfatiza
que:
como líder de uma unidade informacional trabalha constantemente para melhorar os
aspectos sociais e educacionais da sociedade contemporânea. O bibliotecário deve estar
consciente dessa sua missão e consciente que é um agente de mudanças ou que pode tornarse transformador social, por meio do correto tratamento da informação, pois, conforme
Barreto (2002, p. 56) “[...] quando corretamente transmitida tem o poder de modificar o
estoque mental de saber do indivíduo trazendo benefícios para o seu desenvolvimento e
para o bem estar da sociedade em que vive”, o que implica em uma formação social
perfeitamente contemplada no seu escopo.
20
SAINT-EXUPERY, Antoine. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
�216
O bibliotecário é, então, dentro da sua área de atuação profissional, agente transformador da
sociedade, uma vez que contribui de maneira efetiva para uma formação social dos indivíduos,
disseminando a informação, sendo um facilitador no processo de construção do conhecimento do
indivíduo.
Em relação à democratização do acesso à informação no Brasil, a atuação das Bibliotecas
Públicas é fundamental: "As bibliotecas públicas são o único meio de acesso, para a maioria dos
brasileiros sem recursos, a livros, revistas e jornais, indispensáveis para sua inclusão e participação
na sociedade da informação e do conhecimento” (LIRA, 2007, p. 11).
A inclusão de todos os indivíduos na sociedade da informação está no cerne das Bibliotecas
Públicas, conforme preconizado pela Federação Internacional de Associações e Instituições
Bibliotecárias (IFLA) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO):
os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de
acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou
condição social. Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição dos
utilizadores que, por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais
correntes, como, por exemplo, minorias linguísticas, pessoas deficientes, hospitalizadas ou
reclusas (IFLA; UNESCO, 1994, p. 1, grifo nosso).
Sobre o processo de inclusão, Malheiros e Cunha (2018, p. 154) enfatizam que o acesso à
informação é fundamental e destacam que “a participação das bibliotecas no processo de inclusão
social traz autonomia, permitindo que a pessoa tenha a liberdade de escolha das informações de que
necessita”.
Nesse contexto, a Biblioteca Pública Municipal de Lagoa Santa possui um serviço específico
para um grupo que está à margem da sociedade da informação: os deficientes visuais. Para que esse
serviço se concretizasse e tivesse seus objetivos alcançados, foi necessário que as bibliotecárias
fizessem mais do que reunir e colocar material acessível à disposição; era preciso fazer com que
esses leitores fossem à biblioteca.
Foi fundamental que o bibliotecário fosse ao encontro das pessoas com deficiência visual,
uma vez que se tratava de um leitor especial, que em sua maioria, até então, não tinha acesso aos
livros e nunca havia ido até a biblioteca. O primeiro contato foi feito pessoalmente em suas
residências, uma entrevista a domicílio para estudo de usuários potenciais. O desafio era então
tornar a pessoa com deficiência usuária e frequentadora regular da Biblioteca Pública, otimizando o
acesso aos recursos especializados. Foi preciso oferecer meios que atraíssem o leitor para dentro da
biblioteca, colocando-o em contato direto com o material acessível, oportunizando o acesso ao
livro, à leitura e à informação. Para isso, foi disponibilizado transporte fornecido pela prefeitura, ida
�217
e volta, uma vez por semana. Essa medida garantiu a frequência assídua desse grupo, permitindo a
continuidade na evolução e acompanhamento de cada leitor de acordo com suas peculiaridades.
Nesse momento, o bibliotecário, como agente disseminador de informação e transformador
social, assume um importantíssimo papel na formação de leitores, dando oportunidade de acesso à
informação para indivíduos totalmente à margem da sociedade da informação e do conhecimento.
Foi oferecido um ambiente favorável ao gosto pela leitura, tornando-os leitores reais. A criação de
um ambiente agradável e funcional foi possível, por meio dessa relação estabelecida na primeira
abordagem, feita pessoalmente no início do projeto na casa da pessoa com deficiência, que vem se
fortalecendo ao longo dos anos.
Percebe-se que é um desafio suprir as reais necessidades dos deficientes visuais e apresentar
soluções que mudem as questões dos fatores que limitam o acesso à informação por parte das
pessoas com deficiência visual e propor soluções que mudem de fato essa realidade. Foi preciso que
se fizesse uma adequação da biblioteca às necessidades das pessoas com deficiência visual:
aquisição de acervo acessível e de equipamentos com recursos de tecnologia assistiva; adequações
do espaço físico e oferecer atendimento especializado. A importância do bibliotecário nessa
adequação ao ambiente para esse tipo de usuário está diretamente relacionada aos resultados
alcançados. Na prática, as mudanças adotadas nos diversos contextos tornaram acessíveis as
informações em seus diversos formatos aos deficientes visuais, proporcionando-lhes uma
transformação em sua vida, sua realidade e sua atuação na sociedade.
2 BREVE HISTÓRICO DA SALA BRAILLE
A Biblioteca Pública Municipal Padre Agenor de Assis Alves Pinto, localizada no município
de Lagoa Santa, Minas Gerais, vem se destacando pelas ações de inclusão desenvolvidas
especialmente na Sala Braille. Esse setor é resultado do empenho de sua equipe para ofertar livros
acessíveis para as pessoas com deficiência visual da cidade.
Em 2008, a Biblioteca Pública de Lagoa Santa recebeu a visita de um jovem com deficiência
visual, morador da zona rural, que procurava livros para estudar. Esse jovem levou livros em tinta
para que outra pessoa pudesse ler para ele. A força de vontade dele para vencer as dificuldades e
seguir com seus sonhos de fazer uma faculdade comoveu a equipe da Biblioteca Pública que desde
então, passou a empreender esforços para que livros acessíveis destinados às pessoas com
deficiência visual fossem ofertados pela Biblioteca Pública.
�218
Foram feitas pesquisas sobre aquisição de livros acessíveis, como fazer atendimento às
pessoas com deficiência visual, visitas técnicas a instituições especializadas e entrevistas com
potenciais usuários de um Setor Braille. Os recursos existentes na Biblioteca e na prefeitura foram
direcionados para o Projeto Sala Braille; recursos junto à iniciativa privada também foram
levantados. Uma Sala na Biblioteca foi disponibilizada para abrigar o acervo acessível e para
receber as pessoas com deficiência.
Assim, nasceu o projeto: "O essencial é invisível aos olhos: Sala Braille da Biblioteca
Pública" que vem sendo desenvolvido desde 2011 e atende crianças, jovens e idosos da comunidade
com qualquer grau de deficiência visual.
Além do empréstimo de livros acessíveis, são oferecidas diversas atividades visando à
inclusão social e à acessibilidade na biblioteca: sessões de cinema com recurso acessível
(audiodescrição); roda de leitura; inclusão digital para pessoas com deficiência visual (Dosvox,
NVDA, internet); oficina de iniciação ao alfabeto braile; e excursões a instituições culturais.
O objetivo geral do projeto é promover a inclusão de pessoas com deficiência visual da
cidade de Lagoa Santa, por meio da democratização do acesso à informação, cultura e leitura. Entre
os objetivos específicos destacam-se: fomentar ações de incentivo à leitura para pessoas com
deficiência visual ofertando livros acessíveis (braile e audiolivros) e promover atividades de
incentivo como Hora da História, Palestras e Saraus; promover a inclusão digital para pessoas cegas
ou com baixa visão: realizando oficinas por meio de programas de leitores de tela disponíveis para
download gratuito como Dosvox e NVDA para digitação e uso da internet; democratizar o acesso à
cultura e à arte, promovendo sessões de cinema com recurso acessível, organizando excursões a
instituições culturais como: museus, teatros, galerias de arte e ser um espaço de convivência e
interação, referência para pessoas com qualquer grau de deficiência visual da comunidade.
A Sala Braille da Biblioteca Pública Padre Agenor de Assis Alves Pinto é o único espaço
destinado a pessoas com deficiência visual na cidade de Lagoa Santa, e se tornou um local de
encontro, espaço de convivência e interação social. Com isso, está se tornando também uma
referência para outros municípios que desejam promover a acessibilidade em suas bibliotecas
públicas, especialmente para atender pessoas com deficiência visual.
3 CRIAÇÃO E IMPLATAÇÃO DA SALA BRAILLE
O processo de criação e implantação do Projeto "O essencial é invisível aos olhos: Sala
Braille da Biblioteca Pública" passou pelas seguintes etapas: aquisição do acervo acessível;
�219
diagnóstico dos usuários potenciais; capitação de recursos e otimização dos já existentes;
catalogação, indexação e disponibilização dos itens para o empréstimo; inauguração da Sala Braille
da Biblioteca Pública; e monitoramento e avaliação dos resultados. Duas bibliotecárias,
funcionárias da Biblioteca Pública Municipal, formaram uma equipe e coordenam o Projeto. O
primeiro passo foi realizar visitas técnicas nas instituições especializadas e referências estaduais que
atendiam pessoas com deficiência visual: Setor Braille da Biblioteca Pública Estadual Luís de Bessa
e o Instituto São Rafael, ambos situados em Belo Horizonte, Minas Gerais. Essa etapa foi
fundamental para iniciarmos o projeto.
3.1 DIAGNÓSTICO DOS USUÁRIOS POTENCIAIS
Segundo Malheiros e Cunha (2018, p. 154), para oferecermos as informações adequadas aos
usuários, é necessário identificarmos quais são as demandas informacionais por meio dos estudos de
usuários e complementam: "no caso dos usuários com deficiência visual, o compromisso do
profissional da informação e o valor do seu trabalho são essenciais pelas dificuldades enfrentadas
por esses usuários, pois na sua quase totalidade as informações não são adaptadas às suas
necessidades especiais”. Após as visitas técnicas em instituições especializadas no atendimento a
pessoas com deficiência visual, a etapa seguinte foi levantar o diagnóstico dos usuários potenciais
da Sala Braille. Foi realizado um levantamento do número de pessoas com deficiência na cidade de
Lagoa Santa. A equipe visitou a residência, traçou o perfil dos usuários e fez o cadastramento de 45
pessoas com deficiência visual no município. Foram levantados dados, mediante aplicação de um
questionário que apontou as necessidades específicas de cada um dos entrevistados.
Há casos de cegueira total e baixa visão decorrentes de doenças como: toxoplasmose,
diabetes, glaucoma e catarata congênita. Detectamos um alto índice de depressão, muitos não saíam
de casa, o que agravava o estado emocional e físico. Muitos não utilizavam bengalas, por não
saberem usar ou não poderem comprar ou por possuírem alguma resistência. Perguntamos aos
entrevistados quais seriam suas expectativas, sonhos e desejos. Constatamos que alguns tinham o
desejo de voltar a estudar, outros de aprender a usar o computador, ter ou retomar o contato com a
leitura, ir a um local de convivência e troca de experiências na cidade, sair de casa e ter atividades
de lazer como passeios a museus, cinema e teatro. Todos os entrevistados foram cadastrados nos
registros de leitores da Biblioteca Pública.
A programação de atividades da Sala Braille foi estruturada em função das expectativas,
desejos e sonhos das pessoas com baixa visão ou cegueira total. Constatou-se a necessidade de se
�220
ofertar oficinas de locomoção e mobilidade para pessoas com deficiência visual, excursões
culturais, curso de inclusão digital, oficinas de iniciação ao alfabeto Braile e de arte, roda de leitura,
palestras, entre outras.
Ao poucos, todas essas atividades foram sendo incorporadas à rotina da
Sala Braille, à medida que conseguíamos os recursos necessários junto à Prefeitura Municipal,
empresas, ONGs e outras instituições especializadas.
3.2 ACERVO: AQUISIÇÃO DE MATERIAL ACESSÍVEL
Até então, o acervo da biblioteca pública municipal não contatava com nenhum título de
livro acessível para pessoas com deficiência visual. Para iniciarmos a aquisição de materiais
acessíveis, foi realizado o cadastro da Biblioteca Pública de Lagoa Santa na Fundação Dorina
Norwill, ONG de São Paulo, que produz e distribui livros Braille, falados e digitais acessíveis
gratuitamente para bibliotecas e outras organizações de todo o Brasil.
Outro cadastro foi feito no Instituto Benjamim Constant (IBC), com sede no Rio de Janeiro,
que é o centro de referência nacional para questões relativas à deficiência visual. O Instituto
capacita profissionais da área da deficiência visual, assessora escolas e instituições em geral e
oferece reabilitação física. Dessa instituição, a Sala Braille recebeu placas em thermoform
(esquemas, mapas e tabelas em alto relevo para pessoas com deficiência visual), alguns materiais
didáticos acessíveis para o ensino do alfabeto Braile, ciências, matemática, português e audiolivros.
A Biblioteca Pública ainda participou do edital do Programa de Doação e Patrocínio da
Cimentos Liz, empresa que atua na cidade. Foi contemplada em duas edições seguidas neste
Programa, em 2011 e 2012. Isso permitiu a compra de audiolivros e mobiliário para armazená-los.
Foram adquiridos clássicos da literatura nacional, estrangeira e infantojuvenis.
Como foi diagnosticado que boa parte dos deficientes visuais da cidade não sabia ler em
Braile ainda, a aquisição de audiolivros foi fundamental para ampliar e diversificar o acervo
acessível da Sala. Para efetuar o cadastro nas instituições referidas e participar do edital da
Cimentos Liz, foi obrigatório apresentar os dados dos usuários cadastrados que seriam beneficiados
pelo projeto.
�221
3.3 CATALOGAÇÃO, INDEXAÇÃO E DISPONIBILIZAÇÃO PARA O EMPRÉSTIMO
Adquiridos os itens da coleção acessível, todo o material passou pelo processo de
catalogação, indexação e preparo para o empréstimo. O catálogo é automatizado, o software
utilizado é livre, o Openbiblio.
3.4 OTIMIZAÇÃO DOS RECURSOS JÁ EXISTENTES
Todos os recursos já existentes e disponíveis na Biblioteca Pública e na Prefeitura Municipal
de Lagoa Santa que seriam necessários para o projeto foram otimizados e direcionados para esse
fim: recursos humanos, espaço físico e mobiliário, transporte e lanche.
3. 4. 1 Espaço Físico e Mobiliário
Para implantação da Sala Braille foi disponibilizada uma sala no prédio da Biblioteca com
acesso independente que foi adaptada para receber as pessoas com deficiência visual. Outros
recursos já existentes foram utilizados na sala, como: mobiliário, computadores para uso individual,
data show, tela de projeção, aparelho de som, caixa de som amplificadora e material de escritório.
3.4.2 Recursos humanos
A equipe é composta por funcionários efetivos da Biblioteca Pública Municipal de Lagoa
Santa, que são:
duas bibliotecárias: idealizadoras e coordenadoras do projeto, as quais são funcionárias
efetivas do município, o que garante continuidade e estabilidade do trabalho que vem sendo
desenvolvido desde 2011;
um agente administrativo: funcionário efetivo portador de deficiência visual com
conhecimentos em Braile e recursos em tecnologia assistiva: Dosvox e NVDA;
duas monitoras acompanhantes dos usuários: funcionárias efetivas, dinâmicas e pró-ativas e
muito atenciosas com o público atendido.
�222
A equipe da Sala Braille procura participar sempre que possível de cursos voltados para a
questão da Acessibilidade em Bibliotecas Públicas para aprimorar o atendimento e oferecer novos
serviços.
3.4.3 Transporte
As dificuldades em relação à mobilidade urbana são um obstáculo ainda maior para as
pessoas com deficiência, e acabam limitando a interação social; muitos evitam sair de casa, e esse é
um dos motivos.
Assim, um recurso fundamental para o desenvolvimento do projeto foi o
transporte fornecido pela Prefeitura Municipal, uma vez por semana. Uma kombi com duas
monitoras busca os usuários cadastrados interessados em casa e após três horas de atividades
individualizadas são levados para suas respectivas residências. Oferecer transporte foi fundamental,
pois facilita o deslocamento dos usuários da Sala com segurança, comodidade e gratuidade,
garantindo frequência dos interessados. O transporte trouxe ainda um impacto muito importante ao
garantir a frequência regular, sendo possível registrar a evolução dos participantes e o impacto do
projeto em suas vidas; a maioria dos frequentadores mais assíduos estão no projeto desde 2011.
3.4.4 Lanche
Pelo perfil socioeconômico do grupo atendido pela Sala Braille, identificamos a necessidade
de se ofertar lanche para os usuários. É servido suco, leite, biscoitos e café, toda terça-feira, antes de
se iniciar as atividades programadas com duração de três horas dentro da Sala Braille. É também
um momento em que o grupo confraterniza e conversa sobre suas rotinas e vivências.
4 INAUGURAÇÃO DA SALA BRAILLE DA BIBLIOTECA PÚBLICA
Após todo esse processo de organização e implantação, a Sala Braille da Biblioteca Pública
de Lagoa Santa foi inaugurada em outubro de 2011 e foi instituída pela Lei Municipal n. 3482/2013,
que regulamenta o funcionamento e a instalação da Sala Braille da Biblioteca Pública, legitimando
e contribuindo para a continuidade e manutenção do projeto, assegurando que todo material
�223
adquirido para esse projeto por meio de doação, compra ou prêmios, permaneça e seja destinado
exclusivamente à Sala Braille.
Ao longo do tempo, o projeto Sala Braille foi sendo consolidado e reconhecido pelo trabalho
desenvolvido e resultados alcançados. Foi um dos agraciados pelo 8º Prêmio Viva Leitura Categoria Bibliotecas Públicas - 2016 (PNLL); vencedor do 22º Concurso FNLIJ - Os Melhores
Programas de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens de Todo o Brasil – 2017; recebeu
menção honrosa no IX SENABRAILLE - Federação Brasileira de Bibliotecários. É um projeto
reconhecido e acolhido pela comunidade local. A Sala Braille se tornou um espaço, um lugar de
convivência e interação social para as pessoas com deficiência visual da cidade.
5 ATIVIDADES OFERECIDAS
O atendimento aos participantes do projeto é individualizado, buscando atender as demandas
e respeitar as especificidades e necessidades de cada frequentador. Atualmente, a Sala Braille da
Biblioteca Pública de Lagoa Santa presta às pessoas com qualquer grau de deficiência visual da
cidade os seguintes serviços:
1. empréstimo de livros acessíveis: áudio livro e livros em braile; edições em fonte ampliada;
2. curso de informática para pessoas com deficiência visual: uso dos leitores de tela programas
(Dosvox e NVDA) e internet;
3. roda de leitura;
4.
palestras de temas de interesse do público atendido (saúde, alimentação, direitos da pessoa
com deficiência);
5. sessão de cinema com recursos acessíveis: audiodescrição;
6. oficinas de artes que desenvolvem aspectos sensorial, sócio afetivo, motor e cognitivo;
7. excursões culturais: visita a museus, teatro, universidades etc.;
8. orientações para locomoção e mobilidade (uso da bengala);
9. serviço de informação utilitária: disponibiliza informação e orienta sobre formas de acesso
aos direitos das pessoas com deficiência e aos programas sociais do governo.
A Sala Braille segue o horário de funcionamento da Biblioteca Pública Municipal: segunda a
sexta-feira das 7:30h às 18:00h. Sempre nas manhãs de terças-feiras, acontece o atendimento
personalizado, com acompanhamento individual dos monitores quando são oferecidas as atividades
como: oficina de inclusão digital para pessoas com deficiência visual, oficinas de arte, sessões de
�224
cinema com audiodescrição, entre outras, de acordo com a programação mensal da Sala Braille. Os
usuários da Sala Braille têm também a opção de agendar dia e horário para serem atendidos e
buscarem livros a serem emprestados. A equipe empreende todos os esforços possíveis para
adequar os atendimentos à disponibilidade de horário dos usuários da Sala.
6 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE RESULTADOS
A avaliação e o monitoramento do trabalho desenvolvido são feitos mensalmente. A equipe
se reúne em um primeiro momento com os frequentadores da sala, depois a equipe faz sua análise e
promove as adequações necessárias.
O trabalho desenvolvido é individualizado, e buscamos atender as necessidades específicas
de cada um dos usuários da Sala Braille. Assim, apresentaremos alguns casos dos frequentadores
mais assíduos da sala, apontando como evoluíram durante o projeto para descrever alguns
resultados (quadro 1).
Quadro 1 - Avaliação e resultados
CASO 1:
Dona Isabel
62 anos de idade
Diagnóstico: 2011
Evolução: 2018
Cegueira total decorrência da Diabetes.
Bordadeira aposentada. Escolaridade: nível
médio.
Saía pouco de casa.
Não sabia utilizar computador.
Digita, imprime, envia e recebe e-mails,
pesquisa na internet.
Escreveu um livro utilizando o programa
Dosvox.
Frequenta diariamente a Sala Braille.
Atualmente, está aprendendo a utilizar as redes
sociais.
Evolução: 2018
Diagnóstico: 2011
CASO 2:
Eliane
Cegueira total retinose.
Nível
de
escolaridade:
fundamental
incompleto. Depressão. Não saía de casa.
Sem noção de informática. Sem acesso aos
benefícios sociais, mesmo tendo direito.
Aluna da EJA, concluindo o ensino médio.
Mais comunicativa, mais integrada na
sociedade. Recebe benefício LOAS. Utiliza a
internet para ouvir aulas sobre os temas e
disciplinas estudados em sala de aula. É
considerada a melhor aluna de sua classe.
Apresenta ótimas notas.
Atualmente, tem pretensão de prestar ENEM
para cursar faculdade de Administração.
Diagnóstico: 2011
Evolução: 2018
Cegueira total. Não utilizava computador.
Não conhecia o programa Dosvox.
Leva livros em Braile semanalmente. Digita e
imprime textos e acessa a internet para escutar
vídeos no Youtube.
Diagnóstico: 2011
Evolução: 2018
40 anos de idade
CASO 3: Maria
Fernanda
10 anos de idade
CASO 4:
Dona
Mercês
Maria
Cegueira Retinose.
Analfabeta. Não saía de casa.
Não tem interesse em aprender informática nem
Braile, mas participa de algumas atividades
culturais promovidas pela Sala: Sarau e Cine
�225
69 anos de idade
Diagnóstico: 2015
Braile, palestras.
Gosta de ouvir os audiolivros.
Evolução: 2018
CASO 5: Anísio
Baixa visão, perda progressiva: Meningite.
Nível médio. Aposentado. Não tinha noção
de informática.
Saía pouco de casa.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2018).
35 anos de idade
Aprendendo digitação. Mais comunicativo,
interage bem com os demais frequentadores.
Utiliza e conhece o Dosvox.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre as etapas de implantação do Projeto, o levantamento do diagnóstico dos possíveis
frequentadores foi fundamental. Fazer a primeira abordagem pessoalmente em domicílio foi
essencial no processo. A partir desse momento, os entrevistados sentiram-se seguros e motivados
para participarem do Projeto e frequentarem a Biblioteca Pública. Para a equipe da Biblioteca, foi
importante direcionar os serviços, de acordo com os anseios e expectativas do público-alvo, ficando
claro, naquele momento, que o trabalho deveria ser individualizado. Sendo um leitor especial, era
necessário criar o elo de confiança e de credibilidade, que foi fortalecido ao longo do tempo,
mediante ao atendimento especializado.
Dar voz e ouvir os usuários é imprescindível para conhecer e atender suas demandas. É o
próprio público-alvo que vai indicar o caminho a ser seguido, pois são eles que indicam o que
precisam, de acordo com a demanda pessoal, uma vez que, em linhas gerais, o ‘público-alvo’ é
singular. Quando se trata de inclusão, é preciso estar atento às especificidades e particularidades de
cada uma das pessoas atendidas; é um trabalho individualizado.
Além disso, disponibilizar transporte gratuito, com monitores, garantiu a frequência dos
interessados no Projeto. A questão da mobilidade urbana que apresenta inúmeras dificuldades é
ainda mais complexa para as pessoas com deficiência. Oferecer essa alternativa para sanar esse
dificultador foi essencial para garantir a regularidade da frequência, garantindo que a evolução dos
participantes acontecesse de forma gradativa e que os resultados fossem monitorados e registrados.
Vivemos em uma sociedade que, infelizmente, não é inclusiva, nem acessível. Grupos
minoritários vivem marginalizados, enfrentam ainda mais obstáculos do que a maioria para terem
acesso a direitos básicos. Os bibliotecários, no exercício de sua profissão, podem contribuir de
maneira efetiva para transformar essa realidade. Eles são os profissionais responsáveis por
disseminar a informação, oportunizando a formação social do indivíduo de forma autônoma para o
pleno exercício de sua cidadania. Os bibliotecários são facilitadores no processo de construção do
�226
conhecimento, dentro da sua área de atuação profissional, cujo objetivo principal é a
democratização do acesso à informação para todos.
REFERÊNCIAS
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<https://www.fundacaodorina.org.br/>. Acesso em: 24 set. 2018.
IFLA; UNESCO. Manifesto sobre bibliotecas públicas 1994. Disponível em:
<https://www.ifla.org/files/assets/public-libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.pdf>.
Acesso em: 28 ago. 2018.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT. Sobre o IBC. 2018. Disponível em:
<http://www.ibc.gov.br/>. Acesso em: 24 set. 2018.
LAGOA SANTA (município). Lei Municipal n. 3482, de 2013. Institui a Sala Braille da Biblioteca
Pública de Lagoa Santa. 2013. Disponível em:
<https://www.lagoasanta.mg.gov.br/index.php/educacao-noticias/4823-biblioteca-publica-de-lagoasanta-recebe-premio-nacional-viva-leitura-2>. Acesso em: 24 set. 2018.
LIRA, Guilherme de Azambuja. Biblioteca Nacional: desenvolvimento do modelo brasileiro de
biblioteca acessível para pessoas com deficiência e idosos. Inclusão Social, Brasília, v. 2, n. 2,
p.10-13, abr./set. 2007. Disponível em:
<http://www.brapci.inf.br/_repositorio/2010/05/pdf_4da4622c1f_0010180.pdf>. Acesso em: 21
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MALHEIROS, Tânia Milca; CUNHA, Murilo Bastos da. As bibliotecas como facilitadoras no
acesso à informação por usuários com deficiência visual. RDBCI: Revista Digital de
Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 16, n. 1, p. 146-170, out. 2017. Disponível
em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/8650318>. Acesso em: 28
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PIRES, Erik André de Nazaré. O bibliotecário como agente transformador social: sua importância
para o desenvolvimento da sociedade informacional através da disseminação da informação.
Múltiplos Olhares em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 3, n. 2, 2013. Disponível em:
<http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/moci/article/view/2202>. Acesso em: 21 ago.
2018.
SAINT-EXUPERY, Antoine. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
SUPERINTENDÊNCIA DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS E SUPLEMENTO LITERÁRIO DE
MINAS GERAIS. Sistema Estadual de Bibliotecas. 2018. Disponível em:
<http://www.bibliotecapublica.mg.gov.br/index.php/pt-br/>. Acesso em: 24 set. 2018.
�227
CAPÍTULO XVI
A INFORMAÇÃO UTILITÁRIA COMO UM DIREITO DO CIDADÃO: DAS
BIBLIOTECAS PÚBLICAS AOS CENTROS DE REFERÊNCIAS21
Helba Aparecida Borges
Maria de Lourdes Franklin Maia
1 INTRODUÇÃO
A informação utilitária como o nome sugere é a informação que conduz o cidadão em um
determinado contexto ou situação, definida como um conjunto de “[…] informações de ordem
prática, que auxiliam na solução de problemas que normalmente aparecem no cotidiano das
pessoas, em todos os sentidos […]” (CAMPELLO, 1998, p. 35). O conhecimento da informação
utilitária é primordial para que todos possam exercer plenamente seus direitos e deveres, desde o
mais simples como horário de ônibus à complexidade de leis das quais se possa colher benefícios
constitucionais a seu favor. Dentro das bibliotecas comunitárias, essa informação pode ser definida
como “[…] uma prática coletiva desenvolvida não somente PARA a comunidade, mas COM a
comunidade […]” (CARVALHO, 2014, p. 1).
Nessa perspectiva, a falta da informação utilitária em nossas unidades de informação nos
leva a constatar uma lacuna latente e dada a relevância da ausência da informação utilitária, surge o
motivo de inquietação deste estudo.
Partindo desse princípio, se fez necessário um trabalho de
pesquisa, a fim de expor a temática e investigar o quanto nossas unidades de informação estão
sensíveis a esse quesito.
Campello (1998, p. 35) menciona que a expressão informação utilitária tem sido empregada
por bibliotecários com vistas a auxiliar na solução de problemas que normalmente aparecem no
cotidiano das pessoas, envolvendo “[...] desde os mais simples aos mais complexos, abrangendo,
por exemplo, assuntos ligados à educação, emprego, direitos humanos, saúde, segurança pública e
outros”. Almeida Júnior (1997), além de concordar com Campello (1998), destaca que a realidade
das bibliotecas públicas demonstra o não oferecimento desse tipo de informação aos seus usuários;
21
Texto originalmente publicado na Revista ACB, em 2015. Adaptações foram realizadas, sobretudo no que tange aos
conceitos teóricos e ampliação dos resultados.
�228
as bibliotecas, em geral, se restringem, apenas, a oferecer materiais bibliográficos e auxiliando
alunos, pesquisadores e consulentes em pesquisa.
A falta da informação utilitária atingiu diretamente as autoras deste texto, pois, por uma
delas ser portadora de necessidades especiais (PNE), e ao ter ciência de alguns direitos concedidos
por Lei às PNE para aquisição de um veículo, fez-se necessário dar início aos procedimentos e
assim usufruir e consequentemente fazer valer seu direito de ir e vir já fragilizado por pertencer ao
grupo PNE.
A Lei nº 8.989/1995 isenta as PNEs de alguns impostos, tais como Impostos sobre Produtos
Industrializados (IPI), Impostos sobre Operações Financeiras (IOF), perfazendo, aproximadamente,
23% de Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS).
Com a alegria de ter esses direitos adquiridos, Helba Aparecida Borges, por ser (PNE),
recorreu ao processo de isenção e descontos para aquisição de sua Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) e posteriormente um carro. Nesse ponto, o saber onde achar a informação utilitária é
primordial, evitando momentos embaraçosos. Porém, o caso descrito neste texto não foi de fácil
acesso e essa lacuna no saber onde encontrar ou a quem recorrer para conseguir tais informações
acabou por trazer, à época, grande transtorno, pois envolveu um conjunto de regras, inúmeros
procedimentos, pormenores burocráticos e enfadonhos, gerando uma sensação de fragilidade,
desgaste emocional e físico, acompanhado de muito constrangimento, por parte da requerente.
A constatação dessa lacuna foi o combustível que impeliu este estudo, a fim de demonstrar a
exposição da ausência da informação utilitária, nas unidades de informação. Para tanto, se fez
necessário elencar um tipo de unidade de informação, sendo o objeto do nosso estudo, a Biblioteca
Pública Estadual do Estado do Espírito Santo.
Com base na democratização da informação, o estudo tem o objetivo geral de verificar como
a literatura e bibliotecas públicas estaduais abordam o tema “Democratização da informação
utilitária”, elencando, também, os conceitos relativos à democratização da informação e informação
utilitária.
2 CONTEXTO DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS
Mantidas pelo poder público, as bibliotecas públicas tem como objetivo prestar serviço de
informação a todos sem restrição, concordando com as disposições do Manifesto da Federação
Internacional de Bibliotecas (IFLA) e da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO).
�229
Todos os grupos etários devem encontrar documentos adequados às suas necessidades. As
coleções e serviços devem incluir todos os tipos de suporte e tecnologias modernas
apropriados assim como fundos tradicionais. É essencial que sejam de elevada qualidade e
adequadas às necessidades e condições locais. As coleções devem refletir as tendências
atuais e a evolução da sociedade, bem como a memória da humanidade e o produto da sua
imaginação. As coleções e os serviços devem ser isentos de qualquer forma de censura
ideológica, política ou religiosa e de pressões comerciais (IFLA, 1994, não paginado).
Fonseca (2007) estabelece que as bibliotecas públicas viabilizam o acesso à leitura e a
formação de leitores, sendo assim um espaço de desenvolvimento das práticas leitoras, formando
leitores críticos com grande contribuição para cidadania. Portanto, cabem às bibliotecas públicas,
proporcionar “[...] a igualdade de acesso para todos sem restrição de idade, raça, orientação sexual,
status social etc. e na disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento [...]”
(BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL, 2000, p. 1).
2.1 A DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
As principais funções da democracia são a proteção dos direitos humanos fundamentais,
como as liberdades de expressão, de religião, a proteção legal e as oportunidades de participação na
vida política, econômica e cultural da sociedade. O Brasil é regido por sistema democrático, em que
todos têm direito de opinião, de expressão das próprias opiniões e de acesso às informações
(ESCOBAR, 2014). Sendo assim, democratizar a informação nada mais é do que tornar a
informação acessível a todos.
A democratização da informação, tão fortemente evidenciada através da Sociedade da
Informação, realçou a importância do papel social da Biblioteca Pública e seu contributo
para a formação de uma sociedade mais democrática, os conceitos de Democracia e
Cidadania, Aprendizagem ao Longo da Vida, Desenvolvimento Econômico e Social, bem
como a Diversidade Cultural e Linguística, estão evidenciados em muitos documentos
produzidos nos últimos anos que destacam o papel da Biblioteca Pública na Sociedade da
Informação (BEZERRA, 2013, p. 3-4).
O ser humano, em geral, vive em sociedade, em que a informação é ferramenta básica para
sobrevivência. Uma simples informação, como horário de transporte, vagas de emprego, ou
aspectos mais amplos e complexos, como as dificuldades de entendimento aos direitos expostos nas
legislações, são alguns tipos de informações essenciais para garantir a convivência em um meio
social. Essas informações, segundo Campello (1998) e Almeida Júnior (1997), são caracterizadas
como informação utilitária.
Segundo Campello (1998), esse tipo de informação surgiu nos Estados Unidos, em meados
do século XX, também recebendo o nome de informação para a sobrevivência, por estar, naquele
momento, muito ligada à população de baixa renda, cujos meios de acesso à informação eram
�230
escassos e restritos a pequena parcela populacional, informações essas consideradas as mais
importantes e básicas para os usuários, auxiliando-os a resolverem situações problemáticas, tais
como: conhecer seus direitos como cidadãos, utilizar um serviço público, identificar oportunidades
de emprego, entre outras.
Para Figueiredo (1992), a informação utilitária foi apresentada primeiramente pelas
bibliotecas norte-americanas, com sua gênese atrelada ao período pós-segunda guerra mundial. No
entanto, ao longo do tempo, ela se estendeu às bibliotecas públicas de diversos países, porque,
segundo a autora, naquele momento, as nações estavam em crise e os cidadãos viviam momentos
caóticos como: desemprego, falta de serviços, saúde, assistência hospitalar, educação, dentre muitos
outros problemas.
Na visão de Suaiden (1995, p. 63), a informação utilitária pode ser conceituada como:
[...] um serviço que pode ser prestado pela biblioteca pública, objetivando a disseminação
de informações para que as pessoas possam resolver problemas diários como tirar
documentos, conseguir bolsas de estudos, matricular seus filhos na escola, conseguir
emprego, saber a programação de cinema, teatro, televisão e outras atividades culturais,
conseguir informações sobre as atividades do governo etc.
A informação utilitária torna-se de crucial importância, sendo um objeto de estudo não
apenas das bibliotecas públicas, mas abrangendo todas as áreas da Ciência da Informação, conforme
enfatizado por Monteiro e Silva (2014, p. 66):
na área de Ciência da Informação, os estudos voltados para Serviços de Informação
Utilitária ainda são carentes. Tendo em vista a sua importância para a sociedade, isso não
deveria ocorrer, já que a atuação pretendida pelos serviços de informação utilitária é a que
melhor aproxima essa área com a sociedade.
Monteiro e Silva (2014) ainda destacam que a informação utilitária desempenha um papel
primordial na sociedade, já que a sua promoção, por meio de serviços próprios denominados de
Serviços de Informação Utilitária, tem em seu escopo funcional, informações de ordem prática que
são de fácil compreensão e alvitram atender um público interessado em cessar sua necessidade por
informações que serão utilizadas em um momento desejado.
3 INFORMAÇÃO UTILITÁRIA EM BIBLIOTECA PÚBLICA: ESTUDO EM CAMPO
Embora seja comprovada a necessidade das bibliotecas brasileiras também terem em seu
acervo assuntos de natureza utilitária, o que se constata, na atualidade, é a escassez de materiais
informacionais dessa natureza. Apesar de o seu surgimento ser datado do século XX, Campello
(1998, p. 7) constatou que, no cenário brasileiro, poucas tentativas foram realizadas no intuito de
�231
implementar serviços de informação utilitária, e as poucas iniciativas realizadas não foram
suficientes para tornar esses serviços parte integrante da biblioteca e nem para desenvolver nos
bibliotecários a consciência de sua importância.
Conforme sinaliza a autora,
[...] algumas experiências têm sido relatadas, mas são casos isolados. Não se pode ignorar
que a implantação de um serviço deste tipo exige mais do que reunir uma coleção de fontes,
mesmo que relevantes e atualizadas; o comprometimento da equipe com o auxílio efetivo
ao usuário talvez seja o fator mais importante para o sucesso do serviço (CAMPELLO,
1998, p. 7).
Assim sendo, para saber como uma biblioteca pública estadual dissemina a informação
utilitária foram elaboradas questões, mediante aplicação de entrevista junto ao bibliotecário gestor
da unidade visitada. O objetivo dessa investigação foi o de verificar como a literatura e bibliotecas
públicas estaduais abordam o tema “Democratização da informação utilitária”.
O estudo em campo representa uma verificação e análise in loco, cujo objetivo é estudar a
realidade dos indivíduos, grupos, comunidades, instituições, entre outros segmentos (GIL, 2010).
No que diz respeito à técnica de entrevista, segundo Marconi e Lakatos (1999, p. 94), ela pode ser
compreendida como o “[...] encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de um determinado assunto [...]”.
3.1 ANÁLISE E DISCUSSÕES DE RESULTADOS
Com intuito de elucidar o objetivo da pesquisa, foi elaborado um roteiro contendo perguntas
abertas e fechadas a serem respondidas pelo bibliotecário responsável pela gestão da biblioteca
pública, em face de dois aspectos: coletar dados a respeito dos propósitos da unidade de
informação, e dados referentes à informação utilitária, descrevendo como esse tipo de informação é
considerado tanto pelos profissionais quando pelo usuário que usufrui dos produtos e serviços
biblioteconômicos oferecidos pela unidade. As respostas obtidas e analisadas estão dispostas a
seguir.
ASPECTOS RELACIONADOS À UNIDADE DE INFORMAÇÃO
A primeira pergunta teve a intenção de indagar sobre a proposta principal da biblioteca
pública, de modo a identificar quais seus objetivos e interesses básicos (quadro 1).
�232
Quadro 1 - Objetivo principal da biblioteca
PERGUNTA
RESPOSTA DO BIBLIOTECÁRIO
ENTREVISTADO
Qual o objetivo principal da biblioteca pública ao Independente de todas as atividades bibliotecárias
prestar serviços e produtos à população capixaba?
realizadas pela unidade, o objetivo maior que perfaz
todos os demais está relacionado às necessidades
demandadas pela comunidade na qual a biblioteca
atende.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Atender o usuário é o principal objetivo do profissional de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, sendo que essa preocupação se vê amplamente traduzida na literatura da área. Embora
muitas atividades bibliotecárias sejam de suma importância para que a qualidade dos produtos e
serviços oferecidos seja alcançada, de modo geral, tudo é realizado em prol de um único objetivo:
atender necessidades da comunidade usuária (ALMEIDA JÚNIOR, 2003).
A segunda pergunta indagou a respeito do foco principal das atividades realizadas pelos
profissionais (quadro 2).
Quadro 2 – Foco principal da unidade
PERGUNTA
RESPOSTA DO BIBLIOTECÁRIO
Qual o foco principal das atividades realizadas pelos
profissionais?
A unidade de informação está sustentada no
paradigma do usuário, com vistas a considerar suas
necessidades no momento de elaborar os produtos e
serviços de informação.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Essa constatação é proclamada com louvor por inúmeros teóricos, pois observando essa
filosofia, a unidade torna-se um organismo útil, logo, torna-se valorizada pela sociedade. Com
efeito, ao desvincular as atenções, tão somente, para o acervo, os serviços de atendimento e
acolhimento ao usuário tende a se tornar uma das atividades mais comuns das bibliotecas públicas.
Assim, o serviço de referência é atividade central para que usuários encontrem as informações de
que desejam, bem como uma alternativa estratégica utilizada pela unidade para conhecer seus
usuários. Desse modo que,
[...] os bibliotecários de referência são profissionais que atuam na linha de frente, como
mediadores da informação, ou seja, no atendimento às necessidades de informação dos
usuários, que possuem conhecimentos sobre o perfil dos usuários, sobre as fontes de
informação e sobre as principais estratégias de busca para obter a informação solicitada
(ROSTIROLLA, 2006, p. 18).
Por meio dos serviços de atendimento/acolhimento, o perfil do usuário e suas necessidades
são manifestados aos profissionais. A esse respeito, quando questionado sobre quem são os usuários
�233
que frequentam a unidade, a respondente declara serem pessoas à procura de informações para
estudo e lazer (quadro 3).
Quadro 3 – Público-alvo da biblioteca
PERGUNTA
RESPOSTA DO BIBLIOTECÁRIO
ENTREVISTADO
Qual o público real (que frequenta assiduamente) desta
unidade? Além do público real, a biblioteca está
preparada para atender usuários potenciais (outros
usuários que não frequentam)?
O público que frequenta assiduamente a biblioteca está
relacionado a jovens e adultos que buscam consultas e
empréstimos para estudo e lazer. A biblioteca tem
condições físicas de atendimento a outros usuários
potenciais e tem prestado serviço ao público
diferenciado como os de deficiência visual e especiais
por parceria entre a APABB, haja vista que o espaço
poderá sim atender a novos projetos e programas
fundamentalmente.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
No momento atual, a biblioteca atende em maior quantidade estudantes e pesquisadores,
além de leitores que encontram na leitura o exercício do lazer. Contudo, é importante refletir acerca
da preocupação da unidade em inovar com projetos direcionados a outros públicos, sobretudo
àqueles que possuam dificuldades em alocar-se ao recinto da biblioteca, como os portadores de
necessidades visuais, de modo a oferecer condições ergonômicas mais apropriadas, atentando-se às
dificuldades enfrentadas pela comunidade (quadro 4).
Quadro 4 - Preocupações com a comunidade
PERGUNTA
RESPOSTA DO BIBLIOTECÁRIO
Existe alguma preocupação (ou projeto) direcionada
aos problemas enfrentados pelos cidadãos da
comunidade? Em caso positivo, relate.
Sim. Temos atendimento a pessoas de públicos
diferenciados como os deficientes visuais pelo setor
Braille e também cedemos espaço para as reuniões e
oficinas para os usuários da APABB que atuam
semanalmente no setor infantil.
Fonte: Dados de pesquisa (2018).
A reestruturação dos espaços físicos e dos serviços bibliotecários, de modo geral, está
relacionada não apenas às informações a serem oferecidas, mas também, à garantia de acesso e de
conforto para quem utiliza o espaço e os serviços prestados. Assim, aferimos que a biblioteca
pública precisa se adequar ao uso por parte do deficiente visual, dentre outras necessidades
especiais apresentadas pelos usuários, com o fim de desenvolver um atendimento com qualidade,
objetivando, consequentemente, abrir as portas a todos os cidadãos, independente de qualquer
especificidade apresentada pelos indivíduos que frequentam o espaço.
�234
ASPECTOS RELACIONADOS À INFORMAÇÃO UTILITÁRIA
A respeito dos tipos de informação oferecidos à comunidade, evidenciou-se, com base nas
respostas da entrevistada, que, a informação para estudo e pesquisa é a única modalidade de
informação oferecida, não sendo encontrada nenhuma informação e/ou serviço úteis ao dia a dia do
cidadão (quadro 5).
Quadro 5 – Informação oferecida à comunidade
Que tipo de informação é oferecido à comunidade?
ALTERNATIVAS
Informação bibliográfica.
Informação para estudo e pesquisa.
Informação referente ao cotidiano do cidadão
(emprego, saúde, previdenciárias, FGTS, PIS, etc.).
Serviço de informação ao cidadão (SIC).
Informações para esclarecimento rápido e preciso
para resolução de problemas do cotidiano do
cidadão.
Outros. Especificar.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
RESPOSTA DO BIBLIOTECÁRIO
ENTREVISTADO
X
X
Constata-se que a unidade não oferece informação utilitária; vale lembrar que a não oferta
desse tipo de informação ou serviço pode ser um dos motivos que torna as bibliotecas com baixa
frequência de usuários (ALMEIDA JÚNIOR, 1997).
Nota-se que a informação mais procurada é a informação bibliográfica, informação
direcionada a trabalhos escolares e pesquisas universitárias. A biblioteca pública, ao oferecer
somente essas modalidades de informação, segundo Almeida Júnior (1997), passa a suprir uma
deficiência da biblioteca escolar, pois os usuários ao não encontrar o atendimento que desejam
nessas unidades recorrem à biblioteca pública em busca da informação para estudo e pesquisa.
O fato de que a informação utilitária é pouco procurada nessa unidade de informação não
deve ser pretexto para que esse tipo de informação não seja ofertada. Faz-se necessário, nesse
contexto, que os serviços e produtos informacionais oferecidos pelas bibliotecas sejam divulgados,
de modo que os indivíduos saibam das inúmeras possibilidades e da agregação de valor que as
bibliotecas e seus profissionais podem proporcionar à sociedade (SUAIDEN, 1995).
Adentrando-se a serviços específicos de informação utilitária, em muitas localidades,
sobretudo em comunidades carentes, é comum notar os chamados Serviços de Informação ao
Cidadão, também denominado por muitos como “Centros de Referências”. Na visão de Almeida
Júnior (1997), a construção desses espaços deve-se ao fato da biblioteca não cumprir seu papel
social, não oferecendo informação utilitária para o cidadão. O mesmo autor defende a necessidade
de construir espaços no interior das bibliotecas, a fim de oferecer serviços de informação utilitária,
tornando a unidade, um elo entre cidadão e sociedade.
�235
Nesse contexto, ao indagar-se ao respondente: “Qual a preocupação maior para esta
unidade em relação às necessidades emergenciais do cidadão, consideradas como utilitárias?
Aqui, nesta unidade, prioriza-se o Serviço de Informação ao Cidadão (SIC)?”. Com essa pergunta,
obteve-se a seguinte resposta:
“A preocupação maior atualmente da biblioteca está relacionada ao atendimento de usuários em geral, considerando
que os programas e projetos são desenvolvidos de acordo com a procura dos serviços; em consideração a serviços de
informação utilitária ainda não há projeto específico para este fim”.
Ora, se a biblioteca não oferece esse tipo de informação, constatamos uma lacuna por ela
consumada. A esse respeito, o papel social do bibliotecário não é cumprido. Ao contrário, a
biblioteca como instituição social deveria atuar de forma ampla, rompendo os “muros” das
tradicionais bibliotecas físicas e prestando assistências em diversos espaços, garantindo com a
socialização do conhecimento (CARVALHO, 2012).
Os SICs desenvolvidos em espaços além das unidades de informação, certamente serão
melhores gerenciados se contar com a participação de profissionais específicos e adequados às
atividades da disseminação da informação. Portanto, ao ser questionada sobre o fato de não se ter a
presença do bibliotecário, em órgãos do governo, como o Centro de Referência e Assistência Social
(CRAS) e a Casa do Cidadão, em Vitória, ambos disseminadoras de informação utilitária, a
bibliotecária entrevistada considera que
“[...] se tivesse um bibliotecário nesses espaços contribuiria bastante para a organização da informação e surgimento
de novos serviços entre as secretarias de ação social, educação e cultura”.
Nota-se que os bibliotecários possuem conhecimento acerca do valor que a informação
utilitária pode desempenhar à sociedade. Presume-se que, o fato da unidade não oferecer
informação utilitária ao público, deve-se não ao desconhecimento do profissional, mas sim, a
inúmeros outros fatores de ordem pública, falta de recursos, de infraestrutura, dentre outros entraves
vivenciados pelas bibliotecas mantidas pela administração pública brasileira.
Desse modo, questionou-se a respeito de como inserir essa nova preocupação nos fazeres
biblioteconômicos, que deverão adentrar-se também a serviços de informação utilitária. Perguntouse: “De modo geral, vocês consideram como válido a preocupação das bibliotecas com os
problemas sociais? Acreditam que as bibliotecas poderiam contribuir para a construção da
cidadania ao viabilizar a democratização da informação? De que forma esse processo poderia ser
concretizado? Relate”. Assim, obteve-se a seguinte resposta:
“Sim, acredito que a Biblioteconomia pode contribuir em várias áreas devido a sua transversalidade e um ponto de
partida para este processo seria o engajamento dos profissionais nos assuntos ligados a democracia exercendo
atividades em associações, ONGs e também em conselhos representativos da sociedade civil”.
Constata-se a visão moderna da profissional, possuindo conhecimento acerca dos serviços
bibliotecários que não devem se resumir tão somente aos espaços de bibliotecas, mas sim, serem
�236
ampliados para outros segmentos sociais, podendo o profissional atuar em outras organizações,
sobretudo em empresas do terceiro setor, atuando, seja como consultor, como mediador da
informação ou como agente histórico/cultural, garantindo para sua inserção e contribuição na
construção de uma sociedade inclusiva (RIBAS; ZIVIANI, 2007).
A fim de concluir a entrevista, a partir dos dados até então coletados, indagou-se como a
informação utilitária poderia ser melhor gerenciada por esta unidade de informação. Segundo a
respondente:
“Sim, mas essa questão está ligada ao organograma da política pública, onde dividem as funções de cada
departamento ou setor, neste conceito a informação utilitária fica sob as responsabilidades das secretarias de ação
social e não das pastas de educação e cultura, que normalmente são gestoras de bibliotecas públicas”.
Novamente, percebem-se as mazelas do serviço público, de modo especial, a falta de uma
gestão efetiva que assegure aos profissionais da informação, a garantia de trabalho, em que haja
necessidade de um árduo, íntegro e consistente tratamento, gerenciamento e disseminação da
informação registrada, de modo que seja viabilizado o uso da informação.
Os profissionais da informação possuem competências e habilidades para desempenhar
funções relativas ao uso da informação pela sociedade, favorecendo a produção de novos
conhecimentos, bem como a consolidação do exercício da cidadania, garantindo melhores
condições de vida a todos os cidadãos (RIBAS; ZIVIANI, 2007). Se não há projetos voltados para a
inserção dos serviços de informação utilitária no bojo das unidades de informação, faz-se necessário
levar os profissionais da informação até os espaços produtores dessa modalidade de informação.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo apontou que na biblioteca pública analisada há distância entre a unidade e o
oferecimento de informação utilitária, estando a biblioteca equiparada, tão somente, à preparação e
disseminação de informações voltadas para estudo, pesquisa e lazer, não tendo atenção especial da
administração pública na elaboração de projetos em prol da construção de serviços de informação
utilitária no espaço da unidade.
A pesquisa detecta que o bibliotecário possui conhecimento a respeito das funcionalidades
da informação utilitária, além de ter uma visão do campo de atuação em outros espaços,
especialmente junto a secretarias e órgãos que lidam com informação de ordem utilitária, e que
deveriam ser disseminadas para todas as comunidades, favorecendo o despertar da função social do
profissional da informação, agregando valor no cotidiano de vida dos indivíduos.
�237
Por isso, dialogamos com Almeida Júnior (1997), ao propor a construção dos Centros de
Referência em comunidades, de modo que nesses espaços sejam oferecidas informações
direcionadas à vivência e convivência das pessoas, em um contexto social. Os Centros de
Referência passam a ser considerados como extensões das bibliotecas, levando aos locais mais
distantes das regiões centrais, muitas das vezes, locais considerados como zonas de risco ou de
grande vulnerabilidade social, informações que as pessoas precisam para exercer seus direitos,
como cidadãos de um país democrático.
Desse modo, os serviços de informação utilitária podem ser oferecidos no próprio recinto da
biblioteca, em conjunto com os serviços de cunho educacional, como também podem ser
estruturados em locais externos. Reforçamos, por meio deste texto, a importância em se construir e
gerenciar esses serviços nos locais mais afastados, como em periferias e zonas rurais, como também
adjacentes aos locais onde os órgãos públicos oferecem os serviços de apoio à população.
No intuito de se construir e gerenciar esses serviços, consideramos viável a necessidade de a
biblioteca conhecer a realidade dos cidadãos e discriminar as informações caracterizadas como de
natureza utilitária. Assim, na construção dos serviços, o modelo proposto por Monteiro e Silva
(2014) (figura 1) pode ser utilizado, em que a biblioteca conduz todo o processo, desde o
conhecimento das necessidades, até a diferenciação dos tipos de informações e sua distribuição em
diferentes formas de prestar os serviços.
Figura 1 – Modelo para gestão dos serviços de informação utilitária
Fonte: Monteiro e Silva (2014, p. 64).
Em suma, com base nesses relatos e segundo o estudo de Monteiro e Silva (2014), confirmase, aqui, a responsabilidade social da Biblioteconomia e da Ciência da Informação e seus
profissionais modernos, tendo eles a missão de transmitir o conhecimento para aqueles que
necessitam, constituindo uma responsabilidade social, e essa responsabilidade parece ser o
verdadeiro
fundamento
dessas
áreas,
viabilizando
a
participação
do
profissional
no
desenvolvimento humano e social. Souza (2013) sinaliza que a biblioteca na contemporaneidade
�238
deve estruturar-se em prol da comunidade servida, rompendo toda e qualquer barreira que impeça o
acesso à informação, tornando-se, assim, um espaço democrático, que se adéqua às necessidades da
população, colocando-se a favor das causas sociais, sobretudo em defesa das classes menos
favorecidas.
Reforçamos, por meio da reflexão descrita neste texto, que a Biblioteconomia é uma área
que muito pode oferecer às pessoas que se encontram, de alguma forma, “às margens” da sociedade.
E, viabilizar serviços de informação utilitária já representa o primeiro passo que promova
estratégias para eliminar as desigualdades sociais, e construir uma sociedade mais humana,
eliminando quaisquer formas de preconceitos, discriminação e diferenças culturais, raciais,
econômicas e sociais.
REFERÊNCIA
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�240
(Mestrado em Ciência da Informação)– Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação,
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SUAIDEN, Emir. Biblioteca pública e informação à comunidade. São Paulo: Global. 1995.
�241
CAPÍTULO XVII
O PAPEL SOCIAL DA BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS: UMA
BIBLIOTECA PARA TODOS
Alessandra Soraya Gino Lima
Gildete Santos Veloso
1 INTRODUÇÃO
Historicamente, as bibliotecas sempre estiveram relacionadas às necessidades da
comunidade em que estão inseridas.
Em Nipur, há mais de 5 mil anos, surgia a primeira biblioteca formada por uma coleção de
tábulas de argila que representavam o formato físico dos documentos da época.
Foram surgindo, então, diversas bibliotecas até a lendária Biblioteca de Alexandria, marcada
por vários ataques e culminando com sua destruição por um incêndio.
O Clero controlava o acesso à informação durante a Idade Média e as bibliotecas
funcionavam em mosteiros. No século XVIII, surgiram as primeiras bibliotecas universitárias. As
bibliotecas públicas vêm do século XIX, sob a ótica moderna de disponibilizar gratuitamente
grandes acervos sobre temas variados.
Em Portugal, a Biblioteca Nacional, localizada em Lisboa, criada em 1796, contrariava a
tendência da época em funcionar apenas para os eruditos, oferecendo seus serviços ao público em
geral.
As bibliotecas brasileiras surgiram em 1550, situadas nos colégios jesuítas. A Biblioteca
Nacional, fundada em 1810, com um acervo de 70 mil volumes vindos de Portugal, era consultada
apenas pelos nobres. Em 1814, ela foi aberta a todos, mas a consulta permaneceu para a nobreza,
uma vez que a maioria da população era analfabeta.
Segundo Santos e Rodrigues (2013), a Biblioteconomia acompanha as bibliotecas desde
então, por isso pode ser considerada como uma das disciplinas mais antigas, cujo propósito é
sistematizar
conhecimentos
relativos
disseminação, acesso e uso da informação.
à
seleção,
aquisição,
armazenamento,
tratamento,
�242
Desse modo, podemos dizer que a função social está intrínseca à Biblioteconomia,
bibliotecas públicas e bibliotecários. Trabalha-se alicerçado nas demandas que a sociedade impõe,
mediando o acesso à informação de forma igualitária.
2 BIBLIOTECAS PÚBLICAS
As bibliotecas públicas cumprem importante papel social, pois são agentes transformadores
que conseguem atuar em locais onde a leitura, a informação e a cultura não chegam facilmente, o
que proporciona o uso dos seus serviços de extensão a esses locais.
Comungam com o Manifesto da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO), para Bibliotecas Públicas, em que estão atrelados, os seus objetivos
institucionais:
criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças, desde a primeira infância;
apoiar a educação individual e a auto-formação, assim como a educação formal a todos os
níveis;
assegurar a cada pessoa os meios para evoluir de forma criativa;
estimular a imaginação e criatividade das crianças e dos jovens;
promover o conhecimento sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas realizações e
inovações científicas;
possibilitar o acesso a todas as formas de expressão cultural das artes do espetáculo;
fomentar o diálogo inter-cultural e a diversidade cultural;
apoiar a tradição oral;
assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação da comunidade local;
proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais, associações e grupos de
interesse;
facilitar o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática;
apoiar, participar e, se necessário, criar programas e atividades de alfabetização para os
diferentes grupos etários.
Segundo Cesarino (2007, p. 7), os serviços da biblioteca pública devem ser gratuitos,
apoiados por uma legislação específica e financiados pelo poder público. A biblioteca pública
configura-se em componente essencial de uma estratégia a longo prazo para o desenvolvimento
cultural do país, do estado e do município. Desempenha papel fundamental, específico e
�243
complementar às bibliotecas comunitárias, escolares, universitárias e especializadas, formando, com
elas, uma rede de acesso à informação e à leitura.
Além disso, há de se considerar, também, que as bibliotecas públicas incorporaram em suas
funções, o atendimento aos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), conforme
determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da agenda 2030, acerca do
desenvolvimento das nações nas primeiras décadas do século XXI.
A agenda 2030 é um documento elaborado pela ONU, em 2015, com intuito de nortear os
trabalhos das organizações em relação à economia, ao meio ambiente e ao desenvolvimento social
até o ano de 2030. Além dos países membros, diversas outras organizações da sociedade civil
auxiliaram por mais de dois anos na criação e revisão do texto, incluindo a Federação Internacional
de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA). Nesse documento, são listados 17 objetivos
gerais e, a partir de cada um deles, diversos objetivos específicos, nos quais as autoridades
nacionais se baseiam para implementar mudanças em seus países, formando um movimento global
de melhoria social.
Segundo a IFLA (2015), as bibliotecas podem servir de apoio para o cumprimento de
diversos objetivos da agenda, pois são instituições públicas com um papel importante no
desenvolvimento da sociedade. De acordo com Pires (2015) e outras instituições, os principais
objetivos que podem ser implantados pelas bibliotecas, especialmente as públicas, são os seguintes:
a) Objetivo 1 – erradicação da pobreza: proporcionar acesso público à informação e recursos que
geram oportunidades de melhoria de vida da população; capacitação das pessoas possibilitando a
aquisição de novas habilidades necessárias para a educação e o emprego.
b) Objetivo 3 – saúde e bem-estar: tornar públicas informações sobre saúde, bem-estar, segurança
alimentar e prevenção de doenças por meio de intervenções, preferencialmente em regiões de
vulnerabilidade social, como palestras, campanhas de conscientização, rodas de conversa e
divulgação de material de pesquisa, sobretudo do Guia Alimentar para a População Brasileira
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014), contribuindo para que todas as famílias sejam saudáveis.
c) Objetivo 4 – educação de qualidade: oferecer um ambiente seguro, confortável e acessível para
estudantes, com equipes que apoiem a educação continuada e que auxiliem na busca pela
informação de todos os estudantes.
d) Objetivo 5 – igualdade de gênero: disponibilizar um local seguro e confortável para encontros e
discussões sobre o tema; informar e conscientizar mulheres de todas as idades a respeito de seus
direitos e de situações abusivas vivenciadas por elas no dia a dia; executar projetos de alcance
externo ao ambiente da biblioteca, cujo objetivo seja apoiar e informar mulheres sobre a
importância da luta pela liberdade das mulheres e pela igualdade de gênero.
�244
e) Objetivo 9 – indústria, inovação e infraestrutura: oferecer à comunidade espaços agradáveis e
inclusivos, em que custos não sejam barreiras para a adaptação do ambiente e, de modo geral, para
aquisição de informação; disponibilizar acesso aos meios tecnológicos, como internet e
computadores.
f) Objetivo 10 – redução das desigualdades: proporcionar acesso equitativo à informação
promovendo inclusão social, política e econômica.
g) Objetivo 13 – ação contra a mudança global do clima: difundir o acesso a informações sobre o
assunto para motivar a população a uma mudança de hábitos, bem como uma participação ativa nas
decisões políticas e administrativas de suas cidades para fiscalizar as medidas tomadas por elas.
h) Objetivo 16 – paz, justiça e instituições eficazes: oferecer para toda população, principalmente
as de regiões mais carentes, meios de acompanhamento das medidas propostas e aprovadas pelo
governo, sociedade civil e outras instituições; capacitar as pessoas para que compreendam e
desenvolvam as habilidades necessárias para a utilização dessas informações; oferecer espaços para
que as pessoas possam se reunir e se organizar em movimentos com esses fins.
2.1 BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Frente a essas considerações feitas pela IFLA, torna-se evidente as funções das bibliotecas
públicas no Brasil de hoje – como as mais democráticas instituições de caráter cultural e
educacional as quais, sem dúvida alguma, tem a vocação nata para exercer um papel social de
grande relevância na inserção da sociedade brasileira na modernidade globalizada e informada. Em
Minas Gerais, não seria diferente. Diante desse panorama, a Biblioteca Pública Estadual de Minas
Gerais procura vincular suas atividades aos objetivos propostos pela Agenda 2030. Dentre os
objetivos já incorporados nas ações ali desenvolvidas, destacamos:
a) Objetivos 1, 4 e 8 – Erradicação da pobreza, Educação de qualidade e Trabalho decente e
crescimento econômico: existem projetos como o do Curso de Braille e o Bordados e Teatros que
são de cunho educativo que visam a capacitação da população gerando novas oportunidades de
emprego e de geração de renda, bem como os grupos de estudos de inglês, direito e português que
acontecem no Setor Braille.
b) Objetivo 5 – Igualdade de gênero: são organizadas exposições com o intuito de conscientizar e
empoderar mulheres e meninas, como a exposição “Violência: não se acostume com essa ideia” e as
exposições temáticas dos setores, por exemplo, a de “Protagonistas e Heroínas”, do Setor
Infantojuvenil.
�245
c) Objetivo 9 – indústria, inovação e infraestrutura: os dois prédios que compõem a Biblioteca
Pública Estadual de Minas Gerais, a Sede Luiz de Bessa e o Anexo Professor Francisco Iglésias, são
acessíveis a pessoas com deficiência; além disso, o Laboratório de Informática do Prédio Anexo
oferece à população computadores conectados à internet.
d) Objetivo 10 – redução das desigualdades: a Biblioteca desenvolve projetos de extensão que
levam acesso à leitura, informação e cultura a comunidades de regiões com vulnerabilidade social
de Belo Horizonte e a Região Metropolitana, como a Caixa Estante e o Carro Biblioteca.
e) Objetivo 13 – ação contra a mudança global do clima: promove hábitos mais sustentáveis e
conscientiza a população por meio de palestras, exposições com essa temática e ao dar
protagonismo a esse tema na elaboração de projetos.
f) Objetivo 16 – paz, justiça e instituições eficazes: é desenvolvido o projeto Jornada do Direito
que possibilita a interação entre pessoas leigas e profissionais e estudantes da área, levando essas
pessoas a adquirir noções básicas a respeito de conhecimentos jurídicos.
O alinhamento dos objetivos gerais das bibliotecas, em especial das bibliotecas públicas,
com as ações propostas pela IFLA para o cumprimento da Agenda 2030 e o desenvolvimento
sustentável se faz necessário, uma vez que suas ações de promoção cultural têm um caráter
universal, pois atingem todos os âmbitos da sociedade, a exemplo os projetos desenvolvidos pela
Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais que sempre visam à democratização do acesso ao
conhecimento.
Vamos, então, destacar as ações desenvolvidas pela Biblioteca Pública Estadual de Minas
Gerais realizadas em seus diversos setores, tais como: Setor Infantojuvenil, Coleções Especiais,
Setor Braille, Galeria Paulo Campos Guimarães e Passarela Cultural, Setor de Referência e Estudos,
Carro-Biblioteca e Caixa-Estante, assim como a Diretoria do Sistema Estadual de Bibliotecas
Públicas Municipais. Ao longo de seus 64 anos de existência, a Biblioteca vem atendendo
demandas bastante significativas que promovem a inclusão sociocultural de diversas camadas da
sociedade e cumprem importante papel no cenário cultural de Belo Horizonte, por meio de cerca de
400 atividades por ano. Algumas atividades já contam com recurso de acessibilidade. Elas já estão
consolidadas e têm mais de cinco anos de continuidade, fazendo parte da programação fixa da
instituição.
Aula na Biblioteca: criado em 2009, esse projeto tem por finalidade ser uma ponte entre a
universidade e a comunidade, em especial aos jovens em formação. Promove o encontro entre
professores e profissionais de diversas áreas do conhecimento, promovendo palestras e debates com
temas contemporâneos, a fim de despertar para a diversidade cultural existente no acervo da
Biblioteca e que está ao alcance de todos por meio da leitura.
�246
Jornada do Direito: ciclo de palestras e debates sobre vários temas ligados à área jurídica
em linguagem que possa atender a comunidade em geral. Os palestrantes convidados são
professores universitários especialistas nas áreas que vão abordar.
Em Destaque: exposição mensal temática de livros, entre outros materiais que forneçam
informações e referências sobre determinado tema, visando despertar o interesse e a curiosidade dos
usuários em um espaço pensado e organizado para permitir que se consultem livremente as obras
em exposição. Bimestralmente, são realizadas intervenções culturais que abordam o tema exposto
no mês em curso, como: palestra, mesa redonda, apresentação musical, cinema etc. O tema pode
estar ligado ao calendário cultural de Minas Gerais, mas permite a inserção de outros enfoques,
como: sugestões de leitores, instituições de ensino e do Comitê de Educação do Circuito Liberdade,
onde a Biblioteca está inserida.
MUMIA: a Biblioteca participa da Mostra Udigrudi Mundial de Animação – MUMIA,
desde 2012. O festival reúne diversos filmes de animação (cerca de 34 países participantes).
Visitas Guiadas: em atividade desde 2006, as visitas têm uma trajetória particular no campo
de ações ligadas à cultura; seu êxito deve-se à cooperação que se estabeleceu entre a Biblioteca
Pública e setores da sociedade interessados em participar de iniciativas em favor da leitura. O
visitante encontrará um espaço organizado, de acesso fácil aos livros e um ambiente estimulante de
promoção da leitura. A visita apresenta e situa o usuário potencial dentro do espaço da Biblioteca
Estadual de Minas Gerais, as dimensões do uso dos seus serviços e a importância de tudo que ela
oferece.
Clube de Leitura de Quadrinhos: encontro de leitores de uma mesma obra em quadrinhos
para expressarem suas opiniões e críticas sobre ela.
Encontros com a Leitura: ciclo de palestras com especialistas, pessoas de renome e
escritores com o objetivo de buscar, por meio da discussão, a reflexão e valorização do espaço da
biblioteca, do livro e da leitura. Destinado a profissionais que atuam com o incentivo à leitura e
literatura como professores, bibliotecários, mediadores de leitura, estudantes entre outros.
Hora do Conto e da Leitura: narração e leitura de histórias que visa dinamizar o uso do
acervo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, aproximando crianças e adolescentes do
universo literário e contribuindo para a formação de leitores. Setores: Caixa-Estante, CarroBiblioteca e Infantojuvenil.
Roda de Leitura: atividade conduzida por um leitor-guia (professor, escritor...) com o
objetivo de aproximar crianças, adolescentes e adultos de textos literários, por meio de um diálogo
que explore os aspectos vivenciais presentes na literatura. Uma troca de experiências de leitura
entre os participantes. Setores: Carro-Biblioteca e Infantojuvenil.
�247
Clube de Leitura: encontro de leitores de uma mesma obra para expressarem suas opiniões
e críticas sobre ela, explorarem o gênero literário em questão e conhecerem outros autores e livros
afins, com o intuito de incentivar o gosto pela leitura. Setores: Braille, Caixa-Estante, CarroBiblioteca e Infantojuvenil.
Encontro com o Escritor: bate-papo com escritores de literatura infantil, juvenil e adulta
com vistas a aproximar o leitor do autor, promovendo um diálogo sobre o processo de criação de
livros, bem como sobre a obra, estilo, motivações e experiências de leitura dos escritores. Um
encontro também que oferece a oportunidade de os leitores ouvirem dos próprios autores a leitura
de seus textos publicados. Setores: Braille, Caixa-Estante, Carro-Biblioteca e Infantojuvenil.
Apresentações Teatrais: apresentações teatrais inspiradas e livros de literatura
infantojuvenil e adulta existentes no acervo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais.
Setores: Braille, Caixa-Estante, Carro-Biblioteca e Infantojuvenil.
Livro Fora da Estante: exposições que destacam mensalmente um tema de interesse
cultural. As publicações relativas ao tema são retiradas de seus lugares nas estantes, e reunidas em
uma só prateleira temática, com o objetivo de chamar a atenção do leitor para o assunto proposto.
Setor: Carro-Biblioteca.
Exposição Temática: exposições de livros com o objetivo de divulgar o acervo e autores
específicos. Setor: Infantojuvenil, Empréstimo Domiciliar e Hemeroteca Histórica.
Exposições de Artes: exposições de artes visuais e literárias, selecionadas por meio de
Edital Público, contando ainda com escritores para lançamentos de livros, com o objetivo de
mostrar e divulgar trabalhos de novos artistas. Setor: Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães e
Passarela Cultural.
Painel Descobrindo o Autor: espaço destinado para destacar autores e ilustradores da
literatura infantojuvenil, cujos leitores têm a oportunidade de conhecer mais o seu autor/ilustrador
preferido, seus trabalhos, biografias, leituras, motivações, livros publicados e ampliar suas
possibilidades na escolha de livros. Setor: Infantojuvenil.
Oficina de Origami: após contação de histórias os participantes fazem personagens,
animais, flores e o que mais imaginarem com a técnica origami. Setor: Caixa-Estante.
Inventar e brincar: é só começar!: apresentação de repertório de brinquedos e brincadeiras
e abordagem da importância do brincar para o desenvolvimento da criança. Setor: Infantojuvenil.
Lançamento de Livros: os setores da DEAR oferecem a possibilidade de reserva de seus
espaços para receberem escritores em eventos de lançamentos de livros. Setores: Braille, CaixaEstante, Carro-Biblioteca e Infantojuvenil.
�248
Curso: promoção de cursos com temas de interesse para os leitores e também para os
servidores da Biblioteca. Os cursos são ministrados pela própria equipe da Biblioteca e também por
profissionais reconhecidos no mercado. Setores: Braille, Caixa-Estante, Carro-Biblioteca e
Infantojuvenil.
Desde a sua fundação, em 1954, a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais tem como
premissa a acessibilidade e a inclusão.
A década de 1960 foi muito importante para o fortalecimento da Biblioteca. Foram
instituídos os serviços de maior alcance social. Surgiram o Carro-Biblioteca, o setor Infantojuvenil,
as primeiras ações institucionalizadas do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais e o
Setor Braille. Esse foi criado em 1965 tornando-se um equipamento importante para a prática da
leitura acessível, não só na Capital, mas também em toda a região metropolitana de Belo Horizonte,
tendo como diferencial o fato de possuir em seu quadro funcional pessoas com deficiência visual,
aptas a melhor perceber as demandas dos usuários.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146, de 6 de julho de 2015)
define:
Art. 3o Para fins de aplicação dessa Lei, consideram-se:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e
autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e
comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural,
por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem
usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os
recursos de tecnologia assistiva;
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada
à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando a sua
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.
�249
2.1.1 Setor Braille
O Setor Braille se caracteriza por ser um espaço de trabalho e convivência, cujos princípios
são fundamentados na promoção humana, no voluntariado e na inclusão social. O Setor possui
como objetivo oferecer às pessoas com deficiência visual o acesso irrestrito à cultura e informação,
por meio de livros acessíveis em braille, audiolivros, equipamentos adaptados, bem como pela
realização de atividades de incentivo à leitura e trabalho voluntário.
Configura-se numa referência em acessibilidade para bibliotecas e outros espaços culturais,
num trabalho caracterizado pela permanência e continuidade dos serviços oferecidos e por isso
mesmo garantindo uma credibilidade junto à comunidade como um todo.
Mensalmente, o Setor atende cerca de 1.000 pessoas com deficiência visual (cegos e baixa
visão). É um público muito heterogêneo, que abrange classes sociais variadas, múltiplas faixas
etárias (adolescentes, jovens, adultos e idosos), diversificados gêneros, tendo cada indivíduo desse
coletivo, demandas individuais bem distintas (estudo para concursos, leitura de materiais
científicos, leitura de textos em formatos digitais, gravação de apostilas, empréstimos de livros em
braille, audiolivros e filmes com audiodescrição, uso de tecnologias assistiva, inscrição para
concursos etc.).
O Setor Braille possui um acervo diversificado composto por obras literárias de autores
brasileiros e estrangeiros nos mais variados formatos (cerca de 2000 títulos em braille, 1800
audiolivros e, aproximadamente, 60 filmes com audiodescrição), abrangendo as diversas áreas do
conhecimento.
O Setor também promove atividades inclusivas de incentivo à leitura que estimulam o gosto
e o hábito de ler entre os seus usuários, norteadas pelos princípios da acessibilidade, a saber:
Cine Braille: atividade desenvolvida a cada dois meses, que tem como objetivo exibir
filmes com audiodescrição para pessoas com deficiência visual, no teatro da biblioteca
pública. No final de cada sessão, o voluntário do Setor, Ronaldo Toledo, conduz uma
discussão sobre os aspectos do filme. São realizados, mais ou menos, seis encontros por ano.
Curso de Braille: ministrado pelo servidor Alexandro Alves Lima, tem o objetivo de
proporcionar aos voluntários cadastrados no Setor e às pessoas com deficiência visual e seus
parentes a oportunidade de aprender a ler e escrever por meio do Sistema Braille. O referido
curso tem carga horária de 60 horas, com duração de seis meses. É promovido um curso por
ano.
�250
Serviço Voluntário: leitura viva voz de voluntários para os usuários do setor, de materiais
para estudos de educação continuada, concursos públicos e didáticos que não são
disponíveis em braille.
Café com Poesia: narração e leitura de poesias para pessoas com deficiência visual.
Tempo para Ler: apresenta textos curtos de determinado autor fomentando discussão sobre
literatura.
2.1.2 Carro-Biblioteca
O Carro-Biblioteca e a Caixa-Estante são os serviços de extensão da Biblioteca Pública
Estadual de Minas Gerais. Criado em 1960, o Carro-Bilioteca possui como maior premissa a
democratização do acesso à leitura para comunidades em condições socialmente vulneráveis que
não possuem bibliotecas ou equipamentos culturais. Por meio de sua atuação, são desenvolvidas
atividades de incentivo e mediação de leitura junto a cinco bairros de Belo Horizonte, atendidos
semanalmente no período da manhã. Conta com um acervo de aproximadamente 25.000 livros,
dentre eles literatura brasileira, estrangeira e infantojuvenil, além de revistas adultas e infantis.
Desde sua implantação, o Carro-Biblioteca atendeu as necessidades de leitura e informação
de diversas comunidades e promoveu ações culturais em vários formatos e temáticas. Foram mais
de 37 comunidades contempladas ao longo desses 58 anos de atuação. Por isso, o serviço do CarroBiblioteca tornou-se uma referência cultural, nesse cenário.
2.1.3 Caixa Estante
Já o serviço de Caixa-Estante foi criado em 1969 e, desde então, tem possibilitado o
convívio com os livros fora dos muros da Biblioteca, por meio do atendimento a instituições
públicas e não governamentais de Belo Horizonte e região metropolitana. Hoje, a Caixa-Estante
está presente em 15 instituições, tais como creches, penitenciárias, centros socioeducativos, casa de
semiliberdade, Lar dos Meninos e APAE.
Possui um acervo de aproximadamente oito mil títulos, contemplando literatura brasileira,
estrangeira e infantojuvenil, além de revistas adultas e infantis.
�251
A Caixa-Estante permanece nas instituições por três anos e, além da democratização da
leitura e do acesso à informação, tem como objetivo sensibilizar as instituições as quais atende, no
intuito de que elas criem suas próprias bibliotecas.
As ações voltadas para a promoção da leitura desses dois serviços de extensão estão em
consonância com as recomendações da UNESCO e do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura
e Bibliotecas de Minas Gerais, principalmente, em atendimento ao eixo 1, que trata da
democratização do acesso à leitura e ao eixo 2, o qual discorre sobre o fomento à leitura e à
formação de mediadores.
3 CONCLUSÃO
O espaço democrático da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, com toda sua
diversidade de público e de atividades, constitui um ambiente propício ao desenvolvimento social
dos indivíduos. O processo de inclusão sociocultural acontece quando, nesse ambiente, asseguramos
a democratização do acesso à informação, contribuindo com a diminuição das desigualdades sociais
e estimulando, cada vez mais, o uso da biblioteca como forma de ampliação de conhecimento.
Guimaraens (2018) reflete o trabalho desenvolvido na Biblioteca Pública Estadual de Minas
Gerais quando assegura:
A biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos
seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros:
Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso
para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição
social. Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que,
por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes, como, por
exemplo, minorias linguísticas, pessoas deficientes, hospitalizadas ou reclusas. Todos os
grupos etários devem encontrar documentos adequados às suas necessidades. As coleções e
serviços devem incluir todos os tipos de suporte e tecnologias modernas apropriados assim
como fundos tradicionais. É essencial que sejam de elevada qualidade e adequadas às
necessidades e condições locais. As coleções devem refletir as tendências atuais e a
evolução da sociedade, bem como a memória da humanidade e o produto da sua
imaginação. As coleções e os serviços devem ser isentos de qualquer forma de censura
ideológica, política ou religiosa e de pressões comerciais.
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�254
PARTE IV
Práticas bibliotecárias
em face do movimento
associativo
�255
CAPÍTULO XVIII
POR UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E IGUALITÁRIA: O PAPEL DO MOVIMENTO
BIBLIOTECÁRIO NA DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
A evolução da sociedade tem sido acompanhada pela manifestação de diferentes tendências
no decorrer da história humana que proporcionam a delimitação ou divisão do espaço social em
relação ao tempo ou momento histórico vivenciado, determinado por hábitos, culturas, formas de
organização social e política, dentre outros elementos que, em conjunto, caracterizam a
heterogeneidade das práticas humano-sociais.
A heterogeneidade é, talvez, o traço mais marcante e peculiar do ser humano e das relações
sociais que estabelece com seus semelhantes. E são essas diferenciações que possibilitam as
transformações, consideradas como impulsos promotores da mudança, em que concepções e
paradigmas vão sendo questionados e repercutem na ruptura desses e, por conseguinte, formação de
novas ideologias.
A ruptura de determinadas crenças e propósitos é fruto da inquietação do ser humano acerca
do sistema que rege a sociedade em um determinado momento, não sendo, portanto, uma atividade
simples e súbita. Contempla, normalmente, um longo período, em que as práticas sociais, sobretudo
no que tange ao sistema de controle social, vão sendo rejeitadas, determinando a formação de novas
ideologias, apoiadas por grupos e forças que acabam, em determinado momento, estabelecendo uma
forma de controle hegemônico sobre os demais grupos.
Sob uma perspectiva histórica, econômica e política, as sociedades buscam estabelecer
formas de organização social, e, para essa organização, manifestam-se as formas de controle, as
quais são geradas e conduzidas por meio de grupos que exercem, sob uma determinada condição, a
autoridade sobre o sistema social. Surge, especificamente, o sistema político, representado por
indivíduos que, por possuírem similaridades de pensamento sobre determinadas crenças, valores e
acepções, organizam-se para defender interesses em comum e estabelecer as formas de controle sob
o que acreditam para melhoria da sociedade.
�256
No âmago do sistema político da contemporaneidade, não resta dúvida acerca do papel
desempenhado pela democracia, em que a autoridade está no povo e para o povo, sendo os líderes
políticos, em quaisquer contextos, escolhidos mediante o direito de indicação de cada indivíduo. As
sociedades democráticas, portanto, possibilitam alternativas que tendem a eliminar opressões e
desigualdades. Isso é alcançado, certamente, mediante a universalização dos direitos e por meio da
ampliação de acesso à educação e ao conhecimento.
A democratização do conhecimento é uma das maiores conquistas das sociedades
democráticas, sendo acelerada, no decorrer das últimas décadas do século XX, por meio da
passagem de uma sociedade que restringia o conhecimento às classes elitizadas, para uma sociedade
que pluralizou as formas de acesso e, dessa maneira, abriu espaços para a participação de todos os
indivíduos, independente de condição social, na construção do conhecimento e, por decorrência, no
desenvolvimento intelectual e crítico dos cidadãos.
Democratizar o conhecimento não é, simplesmente, disponibilizá-lo, mediante estratégias de
divulgação. Trata-se de um fazer muito mais complexo, que envolve comprometimento de
profissionais, haja vista promover o controle e a gestão, permitindo, o uso efetivo e lícito do
conhecimento. Além do empenho e engajamento de profissionais, faz-se necessária a participação
dos agentes governamentais, no intuito de promover políticas de apoio e garantir maiores
investimentos para as classes envolvidas com essa causa.
O movimento político a favor dos direitos dos cidadãos e, especificamente, a defesa da
prática profissional se consolida por meio da formação de grupos envolvidos com os interesses das
classes profissionais. Os profissionais envolvidos com a democratização do conhecimento, como os
bibliotecários, merecem destaque nesse contexto de lutas e defesas de direitos, pois, são eles que
gerenciam o fluxo da informação que possibilita a geração de conhecimento.
Além de atuarem com as práticas de organização do conhecimento, normalmente realizada
em unidades e serviços de informação, como bibliotecas, arquivos, centros culturais, dentre outros,
os bibliotecários também possibilitam práticas de disseminação do que é produzido, permitindo, por
decorrência, o uso do conhecimento, para fins de desenvolvimento individual e social.
Essas difíceis e louváveis atividades, essenciais para consolidar a democratização do
conhecimento - considerada como o alvo das sociedades democráticas – a fim de serem melhores
realizadas, requerem maior valorização e reconhecimento por parte das autoridades políticogovernamentais e da própria sociedade, o que justifica a inserção dos bibliotecários no âmbito
político, uma causa urgente e necessária.
Discorrer sobre democratização do conhecimento permite reforçar a contribuição das
práticas biblioteconômicas na gestão e disseminação do conhecimento na sociedade. Com efeito,
�257
não é possível refletir sobre o papel desse profissional, sem destacar a contribuição do movimento
associativo, o engajamento de grupos, com propósitos semelhantes e que unem-se em defesa dos
direitos da classe, garantindo, portanto, melhorias ao fazer profissional, e, como consequência,
viabilizando condições adequadas para a prática cidadã, também considerada como fruto e essência
da democracia.
No âmbito bibliotecário, acreditamos ser de suma importância o discurso acerca da
participação desses profissionais com as causas sociais, sobretudo em sociedades democráticas. É
essa participação que possibilita o acesso e uso democrático ao conhecimento e a mudança de vida
das pessoas. Por sua vez, essa participação se intensifica por meio do engajamento de grupos ou
lideranças, ligadas à classe. Assim, é indissociável a relação estabelecida entre democratização,
movimento bibliotecário em defesa da classe e o alcance de uma sociedade mais justa e igualitária.
2 DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E O MOVIMENTO BIBLIOTECÁRIO:
LUTAS EM FAVOR DA CLASSE PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E
IGUALITÁRIA
A história e evolução do conhecimento na sociedade, ao longo dos tempos, têm revelado o
quanto esse elemento tem interferido nas formas de relacionamento e o estabelecimento do poder
entre os grupos sociais. Acontecimentos históricos marcantes, como a invenção da imprensa, a qual
possibilitou novas formas de socialização do conhecimento (BURKE, 2003), como também, o
desenvolvimento das tecnologias digitais, as quais promoveram o compartilhamento e participação
coletiva mais intensa na construção do conhecimento (BURKE, 2012), foram decisivos para
viabilizar o acesso universal e democrático ao saber humano.
A democratização do conhecimento não pode ser considerada, tão somente, como uma
prática ou fazer relativo à disponibilização ou disseminação do que é gerado com o conhecimento.
Trata-se de um processo mais abrangente, visto que permite garantir, de forma universal eliminando-se quaisquer limitações - o acesso ao conhecimento. Ademais, ao democratizar, são
oferecidas condições para que as pessoas possam participar, de forma interventiva, na construção de
novos conhecimentos e agregação de valor para a evolução da sociedade (TEIXEIRA, 2001).
O processo de democratizar o conhecimento envolve diversos agentes, pois sustenta-se em
práticas diversificadas, realizadas em inúmeros espaços da sociedade. Além do aparato tecnológico
que vem contribuindo, cada vez mais, para garantir o acesso ao conhecimento, é preciso que outros
�258
fazeres sejam realizados, envolvendo, também, ações pedagógicas que viabilizem a aprendizagem e
o desenvolvimento dos indivíduos (RAMOS; ROSSATO, 2017).
Em uma primeira instância, a democratização é promovida por meio do acesso à
informação, considerando os registros gráficos armazenados em acervos documentários, os quais
precisam ser gerenciados, a fim de tornarem-se passíveis de recuperação. Essa constitui a essência
dos serviços e das unidades de informação, em que o bibliotecário, na condição de agente
informacional, propicia condições para garantir a transferência do que está contido nos acervos para
os utilizadores (BARROS, 2003).
Como
agentes
de
disseminação
do
conhecimento,
os
bibliotecários,
atuantes
tradicionalmente em bibliotecas, centros de informação e em variados locais que demandem
serviços informacionais, cumprem o papel de promover a formação instrutiva e crítica dos sujeitos,
mediante práticas pedagógicas, comunicativas e de assistência às necessidades específicas dos
usuários. Em linhas gerais, essas funções realizadas por esses agentes possuem uma dimensão
social, que vai muito além de procedimentos técnicos e operacionais. Isso porque, no exercício da
função bibliotecária, independente do contexto de manifestação dessas funções, há necessidade de
promover o acesso e mediação da informação, em diferentes mídias, no intuito de que “[...] as
pessoas sejam capazes de refletir e desenvolver um senso crítico para exercer seus direitos, sua
cidadania e viver em uma sociedade mais justa e igualitária [...]” (LINDEMANN; SPUDEIT;
CORRÊA, 2016, p. 707, grifo nosso).
Em uma instância mais profunda, a democratização se concretiza quando são realizadas
intervenções que contribuem para o uso da informação e a transformação dela em conhecimento,
uma tarefa que acarreta melhorias no contexto de vida dos sujeitos. Isso envolve um conjunto de
ações promovidas pelo sistema social, haja vista desencadear oportunidades que viabilizem
melhores condições de vida. Logo, mediante ao uso da informação e seu valor para a cidadania,
desperta-se o crescimento econômico (ROCHA, 1999).
Acreditamos que os bibliotecários, nas múltiplas atividades que realizam, exercem
contribuições para a democratização do conhecimento, seja em termos de disseminação quanto ao
uso da informação para manifestação da cidadania. Por consequência desse processo, há relação
entre fazer bibliotecário e desenvolvimento pessoal e social. Mais que isso, em uma sociedade
altamente competitiva da pós-modernidade, e diante dos ideais democráticos e valores humanos que
visam a ordem mundial, para o progresso das nações futuras, é possível constatar o contributo do
fazer bibliotecário com o desenvolvimento sustentável da sociedade.
O aprofundamento acerca dessa relação tem sido acatado em âmbito internacional, tendo
destaque as ações e propostas acatadas pela Federação Internacional de Associações e Instituições
�259
Bibliotecárias (IFLA), a qual reconhece o papel das bibliotecas e dos profissionais, para o alcance
dos propósitos do desenvolvimento sustentável para o mundo, conforme proposto na Agenda 2030
da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com os ideais da ONU, para o
desenvolvimento futuro do planeta, a IFLA convoca toda a classe bibliotecária e as unidades e
serviços que envolvem os bibliotecários colocarem-se a serviço dessa causa. O quadro 1 expõe os
principais objetivos do desenvolvimento sustentável e as principais ações a serem desenvolvidas
pela prática bibliotecária.
Quadro 1 – A prática bibliotecária em favor do desenvolvimento sustentável
Objetivos do desenvolvimento sustentável
Principais ações bibliotecárias
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em - Acesso público à informação e recursos que geram
oportunidades para melhorar a vida das pessoas;
todos os lugares
- Capacitação para adquirir novas habilidades
necessárias para a educação e o emprego;
- Informação para apoiar o processo de tomada de
decisões para combater a pobreza por parte dos
governos, da sociedade civil e do setor empresarial.
Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e - Pesquisas e dados agrícolas para que os cultivos sejam
melhoria da nutrição e promover a agricultura mais produtivos e sustentáveis;
- Acesso público para produtores agrícolas a recursos
sustentável
em rede, como, por exemplo, preços de mercado local,
informes meteorológicos e novos equipamentos.
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar Pesquisas disponíveis em bibliotecas médicas e
hospitalares que apoiem a educação e melhorem a
para todos, em todas as idades
prática médica dos provedores de cuidados médicos;
-Acesso público à informação sobre saúde e bem-estar
nas bibliotecas públicas para contribuir com que todas
as pessoas e famílias sejam saudáveis.
Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de - Equipes dedicadas que apoiem a educação na primeira
qualidade,
e
promover
oportunidades
de infância (educação continuada); - Acesso à informação
e à pesquisa para estudantes em todo o mundo;
aprendizagem ao longo da vida para todos
- Espaços inclusivos onde os custos não sejam uma
barreira para adquirir novos conhecimentos e
habilidades.
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as - Espaços de encontro seguros e agradáveis; Programas e serviços pensados para satisfazer as
mulheres e meninas
necessidades de mulheres e meninas como direito e
saúde;
- Acesso à informação e tecnologias que permitam as
mulheres desenvolver habilidades no mundo dos
negócios.
Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da - Acesso à informação de qualidade sobre boas práticas
que permitam desenvolver projetos locais de gestão da
água e saneamento para todos
água e saneamento;
- Acesso livre e seguro à eletricidade e iluminação para
ler, estudar e trabalhar.
Construir infraestruturas resilientes, promover a - Uma ampla estrutura de bibliotecas públicas,
industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a especializadas e universitárias e com profissionais
qualificados;
inovação
- Espaços agradáveis e inclusivos;
- Acesso a tecnologias digitais, como por exemplo, com
internet de alta velocidade que não se encontra
disponível em todo lugar.
- Espaços neutros e agradáveis que permitam a
Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
aprendizagem para todos, incluindo os grupos
marginalizados, como os imigrantes, os refugiados, as
�260
Tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
minorias, os povos indígenas e pessoas com deficiência;
- Acesso equitativo à informação que promova a
inclusão social, política e econômica.
- Instituições confiáveis dedicadas a promover a
inclusão e o intercâmbio cultural;
- Documentação e conservação do patrimônio cultural
para as futuras gerações.
Fonte: Adaptado de IFLA (2016).
A Agenda 2030 da ONU tem sido acatada pela IFLA, como também vem sendo refletida no
âmbito brasileiro, sendo transmitida a todos os profissionais e demais agentes, a contribuição da
biblioteca para uma sociedade desenvolvida economicamente, instrutivamente, culturalmente,
enfim, socialmente. No Brasil, a Federação Brasileira das Associações de Bibliotecários (FEBAB)
destaca-se como pioneira e incentivadora dessa causa para todas as instâncias do país.
A responsabilidade da Biblioteconomia, portanto, transcende as funções técnicas e
operacionais que há muito tempo permeou a profissão. Abrem-se, nesse contexto, um debate mais
profundo e fecundo, com vistas a consolidar o campo da Biblioteconomia Social, ou seja, como
descrito por Almeida Júnior (1997), esse campo contempla as questões sociais, que vão além dos
muros das instituições.
Todavia, é preciso considerar que essa abrangência nas práticas bibliotecárias não depende,
apenas, de profissionais da documentação e informação. É preciso engajamento da classe, o que
depreende o fortalecimento das questões políticas, as quais viabilizarão maiores investimentos
públicos, construção de políticas sociais, reconhecimento profissional, fiscalização, dentre outras
ações a serem realizadas pelos bibliotecários que se inserem nos movimentos defensores dos
direitos da classe, como: movimentos associativos, entidades de classe, conselhos de classe, dentre
outras entidades que promovem o fortalecimento e a jurisdição da prática profissional.
Confirmamos, aqui, o engajamento dos bibliotecários com as causas sociais,
especificamente, no âmbito daqueles que se inserem na luta pela democracia, considerando
propósitos em comum, haja vista, condições adequadas para o desenvolvimento da Biblioteconomia
na sociedade. Acerca dos agentes envolvidos com a causa política em defesa da profissão, não se
trata de anarquismo, mas do atendimento aos ideais e princípios norteadores do Estado Democrático
de Direito, que busca gerar condições para uma sociedade mais justa e igualitária a todos os
cidadãos.
Essas lutas nascem da percepção de que determinadas situações e práticas sociais são
desrespeitosas. Quando os sujeitos percebem que as condições de autorrealização, em
alguma de suas dimensões, são-lhes cerceadas pelos atos de outros seres humanos, tendem
a sentir-se indignados e esse sentimento pode desencadear ações políticas. Isso não
significa que o desrespeito conduza necessariamente à indignação e à luta [...]
(MENDONÇA, 2012, p. 121).
�261
Na Biblioteconomia, confirmamos o quanto faz-se necessário o engajamento com as
questões políticas, de modo que a profissão esteja resguardada juridicamente, como também, sejam
direcionados recursos para manutenção das bibliotecas e apoio aos serviços bibliotecários, os quais
visam, em linhas gerais, a democratização do conhecimento, com vistas a romper desigualdades e
alcançar o desenvolvimento sustentável.
Embora o engajamento político na área da Biblioteconomia seja necessário, no Brasil, a
vivência cotidiana permite constatar uma participação ainda pouco representativa. Como discorrido
na obra de Almeida Júnior (1997), acerca da Biblioteconomia e a relação com a sociedade, os
bibliotecários não podem ser apolíticos. Ou melhor, precisam formar grupos que denunciem
injustiças e cobrem investimentos e valorização por parte das autoridades. Ademais, “nós
precisamos atingir a população carente, a população carente de informações. Não será com essa
postura apática, passiva e reacionária da biblioteca de hoje que o conseguiremos [...]” (ALMEIDA
JÚNIOR, 1997, p. 92).
Trata-se de assumir uma postura pró-ativa, interventiva, de envolvimento com a sociedade,
que transcenda os limites físicos das bibliotecas e dos acervos. Esse deve ser o perfil almejado para
o profissional deste século. Isso quer dizer, também, que não basta apenas criar bibliotecas em toda
parte. Essa ação apenas é vazia, visto que atitudes de mudança e de gestão precisam ser instituídas.
Por fim, “[...] é preciso que o bibliotecário que atuar nessas bibliotecas [...] seja consciente da sua
real função social; [...] que saiba que o seu trabalho pode e deve alterar pensamentos e
comportamentos [...]” (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 92, grifo nosso).
[...] é preciso que ele vá até a população, que ele procure o povo, que ele trabalhe com a
comunidade. Nós precisamos de uma Biblioteconomia subversiva. Nós precisamos de uma
Biblioteconomia guerrilheira, que subverta a ordem das atuais prioridades; que procure,
busque, constantemente, os interesses populares, que esteja voltada para os oprimidos
(ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 92).
A difícil tarefa social direcionada aos bibliotecários justifica a participação dos movimentos
políticos em defesa da classe. No âmbito profissional, esse movimento representa formas de
organização social, pautadas em princípios comuns, e comungados pelos membros do grupo, que
estabelecem medidas de controle e intervenções que garantam a legitimidade, autoridade, jurisdição
e reconhecimento do fazer profissional na sociedade (ABBOTT, 1988).
No Brasil, destacam-se como principais grupos inseridos na causa política (órgãos de classe)
em defesa da profissão:
FEBAB: tem a missão de defender e incentivar o desenvolvimento da profissão, cujos
objetivos principais são: congregar as entidades para tornarem-se membros e instituições
�262
filiadas; coordenar e desenvolver atividades que promovam as bibliotecas e seus
profissionais; e apoiar as atividades de seus filiados e dos profissionais associados (FEBAB,
2018);
Sistema Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) e Conselhos Regionais de
Biblioteconomia (CRBs): constitui uma estrutura administrativa criada para favorecer o
planejamento e a execução de ações articuladas dirigidas à fiscalização do exercício da
profissão de bibliotecário, no Brasil (CFB, 2018);
Associações profissionais: corresponde a uma sociedade civil sem fins lucrativos, de
âmbito regional, que congrega entidades e pessoas físicas, atuantes na área da
Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CFB, 2017);
Sindicatos: têm como alguns objetivos: defender os direitos dos bibliotecários, estimulando
a sua organização; participar das negociações coletivas de trabalho, garantindo o
cumprimento dos acordos coletivos; lutar pelo fortalecimento da categoria e pela
consciência da classe; colaborar com o poder público e o setor privado na solução dos
problemas da categoria. Esses objetivos podem variar de entidade para entidade (CFB,
2017).
A união de esforços desses órgãos - considerados como grupos sociais que se inserem em
prol da causa da profissão bibliotecária – representa, conforme mencionado na teoria abbottiniana,
forças emergentes do campo profissional, cujo objetivo é demonstrar, perante a sociedade,
sobretudo diante das demais profissões, o campo de atuação profissional, evitando forças
antagônicas, que ameacem a existência da profissão (ABBOTT, 1988).
O esquema representado na figura 1 demonstra a interação desses grupos em prol de um
objeto comum: viabilizar condições para o desenvolvimento da profissão bibliotecária.
�263
Figura 1 – Representatividade dos órgãos de classe em favor da causa bibliotecária
CRBs
FEBAB
Sindicatos
Bibliotecários,
práticas
bibliotecárias e
bibliotecas
Associações
CFB
Fonte: elaborado pelo autor (2018).
No âmbito do associativismo, há controvérsias acerca da concepção política propriamente
dita, visto que, como dito por Kerstenetzky (2003, p. 132), a participação associativa, por si só, “[...]
não seja capaz de neutralizar os efeitos negativos das desigualdades socioeconômicas sobre a
igualdade política, bem como seja em si mesma uma incubadeira de discursos politicamente
abrangentes [...]”. De qualquer forma, seja como for, acreditamos que, mesmo implicitamente, esse
movimento intensifica e fortalece o compromisso profissional e, portanto, insere-se nas causas
sociais, em prol da melhoria de grupos sociais, aqui, representados pelos bibliotecários. Além disso,
a cobrança junto aos órgãos governamentais, como também, as práticas de fiscalização exercidas
pelos órgãos de classe caracteriza uma missão política dos envolvidos, que viabiliza, diretamente, a
legitimação de uma profissão, como também, indiretamente, propicia a democratização do
conhecimento e, por conseguinte, a busca pelo desenvolvimento sustentável, como proposta da
Agenda 2030 da ONU.
Com o intuito de se alcançar a democratização do conhecimento, por tratar-se de um
processo complexo, como descrito por Ramos e Rossato (2017), as instituições, profissões, agentes
políticos, representantes governamentais, dentre outros personagens e entidades precisam trabalhar
de forma conjunta, para que a sociedade viabilize a prática cidadã, alcance o desenvolvimento
sustentável e a democracia atinja seus propósitos.
Bibliotecas são espaços de informação e conhecimento que sempre estiveram ligadas à
evolução das sociedades. Logo, o fazer dos agentes envolvidos com elas precisa, também, ser
respaldado e valorizado. O novo modelo de biblioteca, aberta, acessível, livre de censura,
direcionada a todas as classes sociais é uma conquista da sociedade moderna, a qual tem como mola
propulsora dessa conquista, o sistema social democrático (BURKE, 2003).
�264
Os espaços de informação e as práticas realizadas em prol da disseminação que vise gerar
conhecimento e agregar valor aos cidadãos é um dos maiores compromissos dos agentes públicos
que se colocam a serviço da democracia. Portanto, tanto a biblioteca e os personagens a ela
relacionados precisam estar engajados com a democratização do conhecimento e exercendo a
responsabilidade social almejada pela democracia (SOUSA et al., 2014).
Assim, reforçamos o papel desempenhado pela Biblioteconomia, no processo de
democratização do conhecimento, considerando, principalmente, o envolvimento e atuação
politizada de muitos grupos de bibliotecários. Essa atuação manifesta-se como uma prática
mediadora entre as necessidades do fazer bibliotecário e o compromisso da sociedade em viabilizar
condições adequadas para o fortalecimento da área e a melhoria contínua dos produtos, serviços,
práticas e unidades informacionais. Por meio da leitura à figura 2, é possível visualizar essa relação
entre os agentes de controle social (o Estado) e engajamento dos órgãos de classe bibliotecária para
benefícios da profissão, haja vista atingir a democratização do conhecimento e, por conseguinte, o
desenvolvimento sustentável das nações.
Figura 2 – Órgãos de classe atuando junto ao Estado para fortalecimento das práticas bibliotecárias
-Poder governamental
Recursos públicos
Administração pública
Políticas públicas
Legislação
- Entidades de classe
- Conselhos de classe
- Associações
- Democratização do
conhecimento
- Serviços de informação
- Centros de documentação
- Centros de referência
- Ações culturais
- Bibliotecas públicas
- Bibliotecas especializadas
- Bibliotecas acadêmicas
- Bibliotecas escolares
-Bibliotecas itinerantes
- Desenvolvimento
sustentável
Fonte: elaborado pelo autor (2018).
Conforme reforçado por Sousa et al. (2014, p. 37), os bibliotecários, como profissionais da
informação, tem uma participação acentuada com a gestão da informação para promoção e uso do
conhecimento. Esses profissionais têm a função de “[...] contribuir para a reversão das realidades de
exclusão, e assegurar a igualdade do acesso à informação, a promoção da cidadania e do
conhecimento a todos os cidadãos”.
O compromisso social é, portanto, o que sustenta o fazer dos bibliotecários. E esse
compromisso com a sociedade perfaz pela democratização do conhecimento, para garantir a
cidadania e o desenvolvimento sustentável. Essa responsabilidade atribuída à classe e todas as
estruturas e serviços a ela pertencentes somente é alcançada com a valorização, legitimação,
�265
reconhecimento e a oferta de recursos adequados advindos do Estado. E é nesse contexto que
grupos se formam, em prol de uma atuação política para mediar essa relação do Estado e da própria
sociedade com a classe bibliotecária.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A participação do bibliotecário na democratização do conhecimento é um compromisso
muito mais abrangente do que a mera gestão de acervos informacionais. Envolve a preocupação e
responsabilidade com as causas sociais, o que demanda, além da disseminação da informação,
desenvolver mecanismos para uso do conhecimento e transformação da vida dos cidadãos,
proporcionando, portanto, o desenvolvimento da sociedade.
O movimento bibliotecário promove inúmeras práticas profissionais, sendo que, na atual
conjuntura, a partir dos princípios democráticos, são cobradas ações mais abrangentes por parte da
classe, sobretudo no que tange à eliminação das desigualdades sociais e à consolidação da
cidadania. É nesse contexto de mudanças e, ao mesmo tempo, cobranças, que precisa surgir um
comprometimento mais politizado de alguns profissionais, com maior engajamento junto aos órgãos
de classe, de modo a fortalecer a classe bibliotecária, no intuito de que possa exercer as funções que
lhe são exigidas.
O movimento político direcionado aos bibliotecários envolve a participação desses
profissionais junto aos órgãos de classe, como também, em instâncias governamentais, ocupando
cargos políticos, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, ou atuando em ministérios e
secretarias do governo, com cargos de apoio às atividades públicas. Salientamos que essa
participação é necessária, pois, é dessa forma, que a profissão estará respalda, uma vez que é
representada politicamente, sendo direcionados recursos e demais benefícios que garantam a sua
sobrevivência, desenvolvimento e cumprimento de suas responsabilidades junto à sociedade.
Ao findar este texto, espera-se que ele seja capaz de promover uma reflexão mais profunda,
com vistas a despertar o engajamento dos bibliotecários com as causas sociais. A missão do
bibliotecário precisa ser revista e reformulada, de modo que as questões sociais sejam fundidas ao
fazer técnico e operacional, tornando-se uma prática mais abrangente que viabilize a transformação
individual e social, rumo a uma sociedade mais justa, igualitária e, por fim, que resulte no
desenvolvimento sustentável das nações. Também espera-se o aumento da participação nos
movimentos políticos, visto que a omissão a essa causa tende a comprometer o desenvolvimento da
área e o cumprimento das funções bibliotecárias exigidas pela sociedade democrática.
�266
REFERÊNCIAS
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<https://periodicos.furg.br/biblos/article/download/4262/3334>. Acesso em: 09 dez. 2018.
TEIXEIRA, Adriano Canabarro. Internet e democratização do conhecimento: repensando o
processo de exclusão social. 2001. 129f. Dissertação (Mestrado em Educação), Departamento de
Educação - Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2001. Disponível em:
<http://usuarios.upf.br/~teixeira/livros/Livro.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2018.
�268
CAPÍTULO XIX
VIVÊNCIAS E PRÁTICAS NO ÂMBITO DO CONSELHO REGIONAL DE
BIBLIOTECONOMIA
Álamo Chaves de Oliveira Pinheiro
1 INTRODUÇÃO
As sociedades – nas idades antiga, média e moderna – desenvolveram formas de
organização para tornar possível a vida em grupo e a coexistência de diferentes grupos. As
sociedades se organizam em torno de interesses e aspectos comuns, visando a vida e a segurança
coletiva.
Se pensarmos historicamente, podemos dizer que a primeira forma conhecida de
organização da sociedade está descrita nos livros bíblicos. O personagem Abraão possuía um filho –
Ismael – gerado pela sua criada Agar e outro filho – Isaque – gerado pela sua esposa Sara. A certa
altura, Sara exige que o patriarca expulse a criada e o filho de suas terras, uma vez que Agar a tem
destratado. Abraão diz à criada que ela deve ir embora com o filho. Eles partem dali e se
estabelecem no deserto. A história diz que Isaque deu origem ao povo hebreu ao passo que Ismael
originou as nações árabes. A passagem bíblica que relata a construção e a destruição da Torre de
Babel é outra história que nos dá conta de formas de organização social: segundo o livro de
Gênesis, a humanidade falava um único idioma em toda a Terra. Após o episódio conhecido como o
Grande Dilúvio, parte da humanidade ruma para as terras do Oriente e, ali, decidem construir uma
grande torre que tornasse possível ao homem alcançar o céu. Para evitar esse tipo de
empreendimento humano, diz a história bíblica que Deus teria descido dos céus e misturado as
vozes dos homens para que eles se confundissem e não pudessem entender uns aos outros. Dessa
forma, os homens se dispersam por todo o mundo. Embora não esteja explícito no livro bíblico,
pressupõe-se que homens que falavam uma mesma nova língua se juntaram e formaram novas
comunidades baseadas nos novos grupos linguísticos.
Esses exemplos bíblicos mostram formas macro de organização da sociedade, uma vez que
estão ligadas à origem de povos e nações. Entretanto, quanto mais uma sociedade se desenvolve,
mais ela irá dispor de formas de micro organização, uma vez que estarão ligadas aos interesses dos
indivíduos em si, dentro de um plano maior, como um povo ou uma nação. Essas formas de
�269
organização em um ambiente micro podem se constituir em razão do interesse comum de um
ajuntamento de pessoas. Por exemplo: grupos de pessoas com pensamentos políticos similares
podem formar partidos políticos. Pessoas que seguem uma mesma fé podem se agrupar numa única
religião.
Alguns grupos são formados no século XIX, no Ocidente. Entretanto, outras formas de
organização social são formadas no início do século XX no formato pelo qual são conhecidos nos
dias de hoje. Algumas dessas formas de organização são conhecidas como movimentos
associativos. A partir de 1950, assistimos a um salto nos avanços tecnológicos. É quando se inicia a
era Moderna. É também quando as formas de organização da sociedade se fortalecem e se
expandem.
No Brasil, surgem sindicatos, grêmios, associações, entre outros movimentos associativos, e
instituições que já existiam – como os partidos políticos –, que se tornam mais robustas e se
multiplicam.
2 UM BREVE HISTÓRICO
Em 1808, D. João VI chegou ao Brasil fugindo das invasões napoleônicas que ocorriam na
Europa. Em sua comitiva estava a então Real Biblioteca. Um decreto expedido em 29 de outubro de
1810 determina a fundação da Real Biblioteca no Brasil, hoje denominada Fundação Biblioteca
Nacional (FBN) e localizada no Rio de Janeiro. Atualmente, a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a considera uma das dez maiores bibliotecas
nacionais do mundo. A FBN também detém o título de maior biblioteca nacional da América Latina
(FBN, 20--?).
Criada por Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco e conhecida como Biblioteca Central dos
Barris, a Biblioteca Pública do Estado da Bahia (BPEB), inaugurada em 1811, é considerada a
primeira biblioteca pública da América Latina (IPHAN, 2013).
Em 1821, o bibliotecário Luís Joaquim dos Santos Marrocos assume o cargo de prefeito da
Real Biblioteca, no qual permanece até 1825. Em 1822, frei Antônio de Arrábida é nomeado
autoridade máxima da Biblioteca, cargo que passa a ter o nome de bibliotecário (FBN, 20--?).
Também em 1822, a Real Biblioteca passa a receber um exemplar de todas as obras, folhas
periódicas e volantes impressos na Tipografia Nacional, fato precursor do que hoje é a Lei do
Depósito Legal. A Real Biblioteca passa a se chamar Biblioteca Nacional, em 1876 (FBN, 20--?).
�270
Em 1915, dentro das instalações da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, foi criado o
primeiro Curso de Biblioteconomia no Brasil. Considerado o primeiro da América Latina e o
terceiro no mundo, o curso seguia o modelo da École de Chartres, na França, tido como o melhor
existente à época (FBN, 20--?).
Outros cursos surgiram em São Paulo, nos anos de 1929 e de 1936, ensejando a criação, em
1932, da Associação Paulista de Bibliotecários (APB), a primeira entidade de classe da área de
Biblioteconomia no Brasil.
Em 1954, acontece, em Recife (PE), o primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação (CBBD). Alguns dos temas do evento foram “A situação atual do leitor brasileiro e
ensino profissional”, “Processos técnicos”, “Bibliotecas públicas, infantis, de escolas primárias e
especializadas” e “Bibliografias, associações bibliotecárias e legislação profissional” (FEBAB, 20-?).
Uma grande conquista para a área foi a publicação, em 1958, da Portaria n.º 162 do
Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS), que garantiu que a profissão de bibliotecário
fosse regulamentada no Serviço Público Federal e, posteriormente, incluída no 19º Grupo das
Profissões Liberais.
Com sede e foro na cidade de São Paulo, surge em 26 de julho de 1959, a Federação
Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB), com
a missão de “defender e incentivar o desenvolvimento da profissão e com o objetivo de congregar
as entidades para se tornarem membros, coordenar e desenvolver atividades que promovam as
bibliotecas e seus profissionais, apoiar as atividades de seus filiados e dos profissionais associados”,
entre outros (FEBAB, 20--?).
Todos esses fatores irão culminar na consolidação de uma grande conquista para os
bibliotecários brasileiros no ano de 1962, quando a aprovação da Lei n.º 4084 coroou todo o
trabalho realizado por diversas entidades desde então, ao regular, até hoje, o exercício da profissão
no Brasil e estabelecer as prerrogativas dos portadores de diploma em Biblioteconomia no país.
Também em 1962, com sede e foro no Distrito Federal, foi criado o Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB), com jurisdição em território nacional, nos termos da Lei n.º 4.084/62, do
Decreto n.º 56.725/65 que a regulamenta e a Lei n.º 9.674/98. O CFB é uma autarquia federal
dotada de personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa, patrimonial e
financeira, atualmente constituído por quatorze membros efetivos e três suplentes, designados pelo
título de Conselheiros Federais, todos brasileiros natos, bacharéis em Biblioteconomia, com
mandato trienal, eleitos nos termos legais e na forma prevista do regimento interno da instituição
(CFB, 2002?). Laura Garcia Moreno Russo foi a primeira presidente do CFB.
�271
O CFB tem a missão de orientar, supervisionar e disciplinar o exercício da profissão de
bibliotecário em todo o território nacional, bem como o de contribuir para o desenvolvimento da
Biblioteconomia em todo o Brasil. Além disso, o CFB exerce ações administrativo-executiva,
normativa, regulamentar, consultiva, supervisora, disciplinar e contenciosa, como instância
originária ou recursal (CFB, 2002?).
Por volta de 1990, o CFB elaborou um Projeto de Lei que alteraria a Lei n.º 4084/62. Nesse
documento, a intenção era garantir que as atividades de tratamento, registro e recuperação da
informação, independentemente do suporte, fossem executadas exclusivamente por bibliotecários.
A Lei n.º 9.674 foi promulgada em 1998 para complementar a Lei n.º 4084/62 no que tange à
normatização de denúncias e o enquadramento de pessoas não habilitadas na Lei de Contravenções
Penais, bem como o pagamento de multa em caso de descumprimento do que está previsto no texto
legal (CFB, 2002?).
No dia 6 de outubro de 2017, o CFB publicou a Resolução nº 184/2017, que dispõe sobre a
obrigatoriedade da indicação do nome e do registro profissional do bibliotecário nos documentos e
fichas catalográficas sob sua responsabilidade. De acordo com a decisão, é obrigatório citar o
número de registro no Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB), após a assinatura de qualquer
trabalho relacionado com as atividades biblioteconômicas em quaisquer empreendimentos e por
quaisquer meios. Pela Resolução, o número do registro do profissional no CRB deve constar abaixo
das fichas catalográficas de publicações de quaisquer natureza e trabalhos acadêmicos.
Atualmente, o CFB é composto por 14 CRBs que abarcam todo o território nacional. São
eles: CRB-1 (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), CRB-2 (Pará, Amapá e
Tocantins), CRB-3 (Ceará e Piauí), CRB-4 (Pernambuco e Alagoas), CRB-5 (Bahia e Sergipe),
CRB-6 (Minas Gerais e Espírito Santo), CRB-7 (Rio de Janeiro), CRB-8 (São Paulo), CRB-9
(Paraná), CRB-10 (Rio Grande do Sul), CRB-11 (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima), CRB-13
(Maranhão), CRB-14 (Santa Catarina) e CRB-15 (Paraíba e Rio Grande do Norte).
Por deliberação do CFB, em 1º de março de 2010, o CRB 12ª Região, que compreendia o
Estado do Espírito Santo, foi transformado em uma delegacia vinculada ao Conselho Regional de
Biblioteconomia 6ª Região (CRB-6), de Minas Gerais, com sede em Belo Horizonte. Dessa forma,
os bibliotecários que residem no Espírito Santo são registrados no CRB-6, juntamente com os que
vivem em Minas Gerais.
�272
3 O CRB-6
O CRB da 6ª Região (CRB-6), criado com a publicação da Resolução CFB nº. 4 de 12 de
julho de 1966, é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público,
autonomia administrativa e financeira, cuja sigla, jurisdição e sede são designadas em resoluções
específicas do CFB.
Sua estrutura atual é composta pelas comissões permanentes e obrigatórias de: Ética
Profissional, Licitação e Tomada de Contas e Fiscalização Profissional. Também compõem a
estrutura do Conselho as comissões de: Legislação e Normas e Divulgação. Existem, ainda,
comissões temporárias para atender demandas específicas do CRB-6. Algumas dessas comissões
são: Bibliotecas Escolares, Medalha Professora Etelvina Lima, Eventos, Recursos Humanos,
Patrimônio e Eleitoral.
A diretoria do Conselho é composta pelos seguintes cargos: Presidente, Vice-presidente,
Diretor Financeiro (antigo Tesoureiro), Diretor Administrativo e Diretor Técnico (antigos Primeiro
e Segundo Secretários).
Os diretores de escolas de Biblioteconomia bem como os coordenadores de cursos de
Graduação em Biblioteconomia de Minas Gerais e do Espírito Santo e os presidentes das
associações de classe mineiras e capixabas são membros natos do Conselho, de acordo com o
disposto no Art. 21 da Lei 4.048/62.
A gestão do Conselho é composta por 15 conselheiros efetivos e quatro conselheiros
suplentes, com três anos de mandato. A eleição de uma chapa ocorre por escrutínio secreto e
maioria de votos dentre as chapas registradas no pleito. Um conselheiro pode atuar em duas gestões
seguidas, sendo vedada a participação em um terceiro mandato consecutivo.
O trabalho realizado pelos conselheiros é totalmente voluntário, não cabendo quaisquer tipos
de remuneração direta ou indireta.
A bibliotecária Annaiz Maria Pereira Vial foi a primeira presidente do CRB-6, entre 1967 e
1969. Ela foi a primeira bibliotecária registrada em Minas Gerais, sendo, portanto, a portadora do
registro profissional CRB-6/0001. Vial também foi a segunda presidente da Associação de
Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG).
O Conselho é obrigado a cumprir os requisitos previstos na Lei de Acesso à Informação
(LAI), que exige a apresentação de balancetes – os quais incluem despesas com diárias e ajuda de
custo, entre outros. As informações podem ser consultadas com mais detalhes no site:
www.crb6.org.br.
�273
O CRB-6 tem a missão de fiscalizar o exercício da profissão, impedindo e punindo as
infrações à legislação vigente em sua jurisdição, que são os estados de Minas Gerais e Espírito
Santo.
3.1 A VIVÊNCIA NOS CONSELHOS REGIONAIS DE BIBLIOTECONOMIA
Em geral, a sociedade e os próprios bibliotecários possuem uma ideia equivocada do que é e
para que servem os conselhos profissionais. Não é raro encontrar quem questione a existência dos
conselhos e mesmo a sua atuação.
É importante ter em mente que a função de um conselho é: 1) registrar os profissionais aptos
a exercer a profissão, na qual se graduaram, dentro da jurisdição do conselho; 2) fiscalizar a atuação
desses profissionais; 3) supervisionar a ética profissional; 4) disciplinar a classe; e 5) julgar os
profissionais inscritos nos respectivos quadros.
Para que isso ocorra, os conselhos profissionais, enquanto autarquias federais, cobram uma
anuidade dos bibliotecários registrados em suas jurisdições. Essa anuidade é um tributo estabelecido
pelo CFB e corrigido anualmente. O objetivo da cobrança da anuidade é a sustentabilidade da
instituição. Ou seja, serve para o pagamento dos salários dos funcionários, das diversas assessorias,
aluguéis, contas em geral, materiais de insumo e de papelaria, diárias, entre outras despesas. Toda a
estrutura logística e de material humano para que as atividades dos conselhos aconteçam demandam
custos. Custos esses supridos com a cobrança da anuidade.
O critério utilizado pelo CFB para o cálculo do valor da anuidade leva em consideração a
variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Do total do valor arrecadado com o pagamento da
anuidade pelos profissionais inscritos, 25% é obrigatoriamente direcionada para o CFB. Esse
percentual é denominado cota-parte e todos os conselhos no Brasil estão obrigados a enviar o valor.
Os 75% restantes permanecem no conselho de origem.
É importante ressaltar que o objetivo dos conselhos é proteger a sociedade dos maus
profissionais. Por exemplo, o Conselho Regional de Medicina, por meio do registro dos bacharéis
em Medicina e da fiscalização dos médicos registrados, pode garantir que determinado profissional
está apto a exercer sua profissão. Da mesma forma, o CRB-6, ao fiscalizar bibliotecas em todo
Estado de Minas Gerais e Espírito Santo, garante à sociedade que o bibliotecário ali presente está
apto a exercer suas funções. Logo, não é função dos conselhos proteger a classe profissional. Mas,
indiretamente, isso acaba acontecendo, uma vez que se uma biblioteca não possui bibliotecário, a
�274
instituição será autuada pelos fiscais do Conselho e terá um prazo para a contratação de um
profissional. Obviamente, a instituição irá contratar um bibliotecário com suas obrigações regulares
perante o CRB-6, que somente dará baixa no processo daquela instituição mediante comprovação
da contratação de um profissional. Dessa forma, a sociedade tem a certeza de contar com
bibliotecários habilitados ao passo que os bibliotecários em geral são beneficiados, indiretamente,
pelas vagas de emprego abertas pelas fiscalizações realizadas. Isso gera um círculo que se
retroalimenta.
Para fins de esclarecimento, a função primária de proteger a classe profissional compete aos
sindicatos. São os sindicatos que, entre outras ações, promovem a defesa dos direitos dos
bibliotecários, estimulam a organização da classe, participam das negociações coletivas de trabalho,
intercedem pelo cumprimento dos acordos coletivos, agem em prol do fortalecimento da classe e
colaboram com o poder público e o setor privado para solucionar problemas da área como um todo.
Já existiu um sindicato mineiro de bibliotecários, mas, atualmente, não existe sindicato.
Diversos movimentos, nos últimos anos, se engajaram na tentativa de restabelecer um sindicato em
Minas, mas, nenhuma tentativa prosperou.
Em São Paulo, o Sindicato dos Bibliotecários, Cientistas da Informação, Historiadores,
Museólogos, Arquivistas, Documentalistas, Auxiliares de Biblioteca e de Centros de Documentação
no Estado de São Paulo (SINBIESP), criado em 22 de agosto 1985, representa legalmente os
bibliotecários atuantes no Estado. Um de seus principais objetivos é a defesa da categoria
profissional liberal, composta de profissionais autônomos, servidores públicos, trabalhadores
assalariados e aposentados. O SINBIESP oferece assessoria jurídica, atendimento a empresas,
tabelas de recomendações salariais e convênios com outras instituições.
Coletivamente, existe um pensamento equivocado no qual essa função de proteção aos
bibliotecários cabe aos conselhos profissionais. Por isso, é importante ressaltar o papel de cada
entidade.
Da mesma forma, é creditada às associações de bibliotecários a luta pela proteção da classe.
O que também é um equívoco. As funções de uma associação podem variar. Em terras mineiras,
existe a ABMG, cuja missão é
[...] congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em biblioteconomia,
ciência da informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos
associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais,
aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o
desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros
(ABMG, 2018?).
Alguns estados do Brasil, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, possuem associações
de bibliotecários fortes e representativas. A Associação Catarinense de Bibliotecários (ACB) edita a
�275
Revista ACB, indexada no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), e livros pela Editora ACB. Além disso, realiza desde 1982, o evento
estadual “Painel Biblioteconomia em Santa Catarina”, atualmente em sua 36º edição. A ACB
também possui uma loja virtual para venda de produtos personalizados. Em Porto Alegre, a
Associação Rio-Grandense de Bibliotecários (ARB) congrega bibliotecários, bacharéis e estudantes
de Biblioteconomia, técnicos e estudantes do curso técnico em Biblioteconomia do Estado do Rio
Grande do Sul. A ARB possui uma forte comunicação institucional, que atinge, inclusive, outros
estados do país.
Esses esclarecimentos sobre as diversas entidades de classe são importantes para que a
sociedade e também os bibliotecários direcionem melhor suas demandas. É direito de qualquer
pessoa reclamar junto aos conselhos a falta de bibliotecários qualificados na biblioteca da escola em
que seus filhos estudam, por exemplo.
Lançando um olhar para as instituições públicas de educação regular de ensino básico,
fundamental, médio e/ou técnico, é possível perceber a situação crítica e alarmante das bibliotecas
dessas escolas. O que deveriam ser bibliotecas, na verdade, são depósitos desorganizados de livros,
em sua maioria livros velhos, obsoletos, em mau estado de utilização e conservação, livros didáticos
fora do período de uso, ou livros sem qualquer relação com o ensino regular. Esses espaços,
normalmente, ficam a cargo de professores com os mais variados problemas físicos, psicológicos ou
outros que impedem seu aproveitamento em sala de aula. Na maior parte dos casos encontrados
pelos bibliotecários-fiscais, não há qualquer organização do acervo das escolas públicas, não há
prestação de serviços minimamente estruturados, bem como não há políticas de uso e de
desenvolvimento do que deveria ser uma biblioteca.
Nesses casos, quando o bibliotecário-fiscal identifica a ausência de um bibliotecário na
biblioteca, a instituição é notificada e recebe um prazo para regularizar a situação. Caso a
instituição não contrate um bibliotecário para sua biblioteca, a mesma é intimada para um
julgamento, no qual o responsável pela instituição tem a oportunidade de apresentar uma defesa
para a irregularidade e, consequentemente, propor a solução do problema, ou seja, assumir um
compromisso de contratar um bibliotecário e encaminhar as provas da contratação do profissional
dentro de determinado prazo. Caso a instituição não contrate um bibliotecário, o Conselho pode
aplicar uma multa, cujo valor será decidido pelos conselheiros.
Não é raro que prefeitos ou secretários de educação e/ou cultura dos municípios fiscalizados,
ou seus advogados, compareçam ao julgamento no plenário do Conselho. A justificativa dada,
normalmente, gira em torno de um problema comum a quase totalidade das cidades brasileiras: a
inexistência do cargo de bibliotecário. Para que haja o cargo no município, é necessário que os
�276
vereadores criem o cargo na Lei Orgânica Municipal. No Estado, a criação do cargo é uma
incumbência dos deputados. Além disso, é necessário definir valores que entrarão no orçamento
municipal ou estadual para custear o salário dos novos profissionais a serem admitidos via concurso
público.
Obviamente, o movimento para criar um novo cargo não é algo simples. Uma solução
encontrada por prefeitos em Minas Gerais foi a contratação de profissionais terceirizados
temporariamente até que a Câmara realize todos os trâmites para abertura de concursos.
E, no tocante a concursos públicos, um problema constantemente encontrado pelos
conselhos são as diferenças salariais existente entre bibliotecários e outras profissões de nível
superior. Muitas vezes, o salário oferecido para bibliotecários é inferior ao oferecido para as outras
profissões de nível superior. Não é raro também que a exigência para que se ocupe a vaga de
bibliotecário seja possuir Ensino Médio – em detrimento do Curso de Graduação em instituição
reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e o devido registro no CRB. Nesses casos, o
Conselho encaminha para a organizadora do concurso, bem como para a prefeitura municipal, um
ofício no qual se questiona o edital publicado. Na maioria das vezes, o edital é corrigido, seja
equiparando o salário oferecido para o cargo de bibliotecário aos demais cargos de nível superior,
seja especificando a exigência de diploma em curso superior em Biblioteconomia e o registro
profissional no CRB.
Lançando um olhar para as instituições privadas de ensino básico, fundamental, médio e/ou
técnico, a situação normalmente encontrada não é menos complexa. Escolas pequenas,
especialmente as de ensino infantil, não possuem bibliotecas ou possuem a chamada “sala de
leitura”. Em geral, essas escolas particulares utilizam as mais diversas justificativas para tentar
explicar a inexistência de uma biblioteca ou a administração da “sala de leitura” por professores.
Diante da falta de instrumentos legais, o CRB se vê, muitas vezes, de mãos atadas em relação à
melhor forma de proceder para com as escolas infantis de pequeno porte.
A Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010, dispõe sobre a universalização das bibliotecas
escolares nas instituições de ensino do País. É sabido que a falta de profissionais suficientes para
atender a totalidade das bibliotecas nas escolas de todo o Brasil impedirá o cumprimento dessa meta
dentro do prazo. Um Projeto de Lei, apresentado pela deputada Laura Carneiro, propôs uma nova
definição de biblioteca escolar e a criação de um Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares
(SNBE), com vistas a tentar atender a Lei nº 12.244.
Entretanto, a própria Lei nº 12.244 é utilizada por diretores ou coordenadores pedagógicos
de escolas particulares, os quais alegam que somente a partir do ano 2020 são obrigados a
constituírem uma biblioteca em suas escolas. Em julgamentos ocorridos no plenário do CRB,
�277
alguns proprietários de instituições privadas de ensino afirmaram que iriam fechar as bibliotecas de
suas escolas até o ano 2020. O objetivo de fechar suas bibliotecas é o de não precisar contratar
bibliotecários. Nesses casos, se, realmente, a biblioteca é fechada, não há qualquer outra ação que o
Conselho possa realizar em prol do bibliotecário. Se não tem biblioteca, não há obrigatoriedade de
bibliotecários.
A Comissão Temporária de Bibliotecas Escolares do CRB-6, por exemplo, tem realizado
intensos trabalhos de esclarecimentos e conscientização em relação às bibliotecas escolares, infantis
e juvenis. Um dos parceiros da Comissão nessa empreitada é o Grupo de Estudo em Bibliotecas
Escolares (GEBE), da Escola de Ciência da Informação, da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Além de campanhas e ações pontuais, foram realizadas diversas reuniões com o Governo
do Estado de Minas Gerais e com prefeituras, com o objetivo de tratar da situação das bibliotecas
nas escolas públicas.
Uma realidade desoladora que se apresenta em bibliotecas escolares e públicas ocorre em
pequenas cidades interioranas. Os salários oferecidos em cidades muito pequenas, em geral, são
baixos, seja em instituições privadas, seja na esfera municipal. Mas, essa é uma realidade
compartilhada por profissionais de outras áreas, como professores e pedagogos. Infelizmente, não
existe solução fácil. E, por isso, muitos bibliotecários não aceitam mudar para essas cidades por um
baixo salário. Isso acarreta a falta de profissionais em grande parte do interior do Brasil. Os cursos a
distância foram pensados como uma forma de suprir essa carência de profissionais, mas, ainda
assim, não será o bastante para sanar esse problema. Num primeiro momento, o País precisa tomar a
decisão de que Educação é uma prioridade institucional e, num segundo momento, essa situação
passa por questão econômica e de planejamento.
A situação só é um pouco acalentadora em três casos: nas empresas privadas, nas
universidades públicas e nas instituições particulares de ensino superior.
Nas empresas privadas, há uma crescente necessidade de organização e tratamento de
informações. É necessário criar ferramentas e sistemas que disponibilizem informações confiáveis
de forma rápida para que os gestores possam tomar decisões. Também é importante desenvolver
formas de registrar, disseminar e compartilhar o conhecimento dos profissionais como um todo.
Além disso, vive-se uma era de digitalização. Os arquivos estão cada vez mais em formato
eletrônico e não somente físico. Para atender a essas demandas, as empresas privadas buscam
profissionais aptos a trabalhar com informações e com a gestão do conhecimento.
As universidades públicas, especialmente as federais, por serem mantidas pelo próprio
Governo, conseguem manter um plano de carreira atrativo o bastante para atrair os melhores
profissionais. O próprio tamanho dessas universidades, que muitas vezes possuem campi em
�278
diferentes cidades, culmina na criação de um grande número de postos de trabalho para suas
bibliotecas. As bibliotecas universitárias oferecem diversos serviços especializados para seus
usuários. Logo, cada bibliotecário ou grupo de bibliotecários, possui uma função bem específica. E
isso requer um número grande de profissionais. Além disso, por ser uma instituição de ensino, os
profissionais são constantemente incentivados a se qualificar o que irá impactar em melhores
salários.
As instituições particulares de ensino superior são avaliadas permanentemente pelo MEC
para fins de credenciamento e reconhecimento de cursos. Embora os instrumentos de avaliação
utilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)
tenham sido aperfeiçoados, uma grande parte dos itens avaliados se relacionam com a biblioteca.
Por exemplo, o site da biblioteca precisa conter uma relação de, no mínimo, dez títulos de
periódicos virtuais, relacionados a cada um dos cursos oferecidos pela instituição. Além disso,
tópicos como bibliografias básica e complementar por unidade curricular, acervos voltados para
educação a distância (EAD) e trabalhos de conclusão de curso (TCC) também sofreram alterações.
Por isso, as instituições privadas de ensino superior demandam a figura do bibliotecário para
atender os requisitos mínimos legais. Entretanto, cabe aqui uma observação: o objetivo de uma
instituição privada é o lucro. Logo, não é possível, principalmente dada a conjuntura econômica por
que passa o País, ter uma vasta equipe para realizar e gerenciar os serviços prestados por essas
bibliotecas. Prevalece aqui o conceito de “fazer mais com menos”, ou seja, prestar o máximo de
serviços com o menor número de profissionais possíveis. Não é raro uma instituição particular de
ensino superior com várias unidades ou campi deslocar o acervo, bem como os profissionais de uma
biblioteca, para outra no período de avaliação do MEC. Infelizmente, o bibliotecário se sujeita a
esse tipo de manobra por receio de demissão. Muitas instituições chegam ao ponto de contratar
bibliotecários apenas por um pequeno período correspondente ao tempo de avaliação do MEC e, em
seguida, demite o profissional, podendo até mesmo fechar a biblioteca, após o curso ser autorizado
a funcionar. Existe também uma realidade, na qual um único bibliotecário responde pela gestão de
várias bibliotecas de uma mesma instituição, algumas vezes, em diferentes cidades.
Essas são situações de difícil controle e solução em razão da falta de denúncias. Caberia, aí,
talvez, uma ação do Sistema CFB/CRBs junto ao MEC para garantir o pleno funcionamento dessas
bibliotecas e manutenção do posto de trabalho para o bibliotecário, após a autorização dos cursos
avaliados.
Em outros tipos de instituições como empresas de tecnologia, pesquisa e comunicação,
museus, bancos, empresas de engenharia e transporte, editoras, agências de fomentos e inovação,
autarquias, fundações, entre outras similares, o campo para atuação do bibliotecário vem se
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mostrando promissor. Em geral, esses trabalhos exigem conhecimentos interdisciplinares e atuação
transversal. É importante que o bibliotecário não leve a cabo os ensinamentos muitas vezes
ideológicos ensinados nas escolas de Biblioteconomia, mas que busquem outras qualificações
complementares em áreas correlatas, de acordo com o seu gosto pessoal. Um bom início é realizar
um curso de especialização, além de participar de eventos de porte nacional, como o eDOC, o
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD), o
Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU), entre tantos outros. Os conselhos
costumam participar ativamente desses e de outros eventos, seja na divulgação, seja na organização
e realização do evento em si.
É importante ressaltar, ainda, os trabalhos de divulgação realizados pelos conselhos. O
CRB-6, normalmente, tem o maior destaque nacional nessa área. A título de exemplo, entre 2012 e
2017, durante a 16º e a 17º gestões, foi publicado um Boletim Eletrônico Informativo com cinco a
seis notícias por edição, semanalmente, o que resultou em mais de 50 boletins eletrônicos, com mais
de 250 notícias, por ano. Isso totaliza 1.500 notícias institucionais produzidas nesses seis anos de
atuação. É um volume de material inédito entre os Conselhos de Biblioteconomia. Além disso, o
CRB-6 manteve um blog institucional, no qual foram publicadas mais de 7.000 matérias,
segmentadas da seguinte forma: 3.600 notícias gerais, além daquelas publicadas no Boletim
Eletrônico semanal, mais de 400 cursos divulgados, mais de 2.200 eventos, mais de 370 vagas de
empregos anunciadas, mais de 140 dicas de publicações técnicas, mais de 130 convites para defesas
de teses e dissertações, entre outros conteúdos de interesse dos bibliotecários. Ainda na área de
divulgação e comunicação institucional, o Conselho editou e publicou a Revista CRB-6
INFORMA, com assuntos atuais, regularmente, a cada seis meses. Todas as mais de 7.000 matérias
e todas as edições da Revista podem ser consultadas em: http://blog.crb6.org.br. O CRB-6 também
está presente e mantêm intensa divulgação nas redes sociais: Facebook, Instagram, YouTube, Flickr
e Twitter. O Facebook e o Twitter contavam com dois conteúdos diários, cada um, o que resultou
em aproximadamente 1.400 publicações por ano. Isso totaliza 8.400 publicações únicas nesses seis
anos de gestão. A conta no Twitter foi descontinuada em 2018, por decisão da 18º gestão do CRB-6.
Para ressaltar a importância da Biblioteconomia, das bibliotecas e dos bibliotecários para a
sociedade como um todo, foram realizados, aproximadamente, 25 eventos como palestras,
seminários e mesas-redondas, também entre 2012 e 2017, tanto em Minas Gerais, como no Espírito
Santo. Esses eventos, em sua maioria, eram direcionados, principalmente, à classe política, a
diretores de instituições de ensino, a empresas - sobretudo as privadas - que contratam
bibliotecários, a órgãos públicos e também para estudantes de Biblioteconomia, como forma de
aproximar a academia dos conselhos. Em algumas ocasiões, os eventos foram realizados em
�280
parceria com outras instituições, como a associação de bibliotecários, universidades e também com
empresas privadas.
Um tema doloroso para o CRB são as denúncias por motivação ética. Embora raros, é
possível denunciar um bibliotecário por infringir a ética profissional. Todo o trâmite do processo até
a ocorrência do julgamento que irá determinar a cassação ou não do registro do profissional acusado
é longo e desgastante, uma vez que envolve a avaliação minuciosa de documentos, relatórios,
provas, além da audição de testemunhas e advogados. O CRB-6, por exemplo, tem trabalhado,
intensamente, para orientar os bibliotecários mineiros e capixabas sobre questões éticas e de
moralidade na postura profissional. Em tempos de redes sociais e de fake news, o bibliotecário,
enquanto profissional que deve zelar pela informação de qualidade, não deve se aventurar por
caminhos que levem à propagação da desinformação. Tampouco deve ser um porta-voz de discurso
que preguem o ódio, a intolerância e o desrespeito. O bibliotecário tem aí a oportunidade de ser um
agente transformador da sociedade.
É preciso esclarecer, também, a questão do técnico em Biblioteconomia. Muitos
profissionais têm o entendimento de que o técnico em Biblioteconomia pode vir a tomar o lugar dos
bibliotecários. Mas isso não procede. A legislação é bem clara ao estabelecer que a coordenação e a
administração de bibliotecas são atividades privativas do bibliotecário. Um técnico não pode
responder pela gestão de uma biblioteca. O técnico deve ser visto como um auxiliar de biblioteca
super capacitado, e não como um concorrente.
Um ponto que merece atenção é o sentimento de pertença dos bibliotecários capixabas.
Desde 2010, quando o CFB transformou o então CRB-12 numa delegacia do CRB-6, houve quem
acreditasse que o tratamento dado às questões relacionadas à fiscalização no Estado do Espírito
Santo não atendessem plenamente os anseios dos profissionais daquele Estado. Ainda hoje, é
possível encontrar bibliotecários que acreditam que os profissionais capixabas estão “alojados
dentro do CRB de Minas”. Entretanto, esse pensamento está equivocado. E o empenho demonstrado
pelo CRB-6 nas questões que envolvem o Espírito Santo corrobora isso. A bem da verdade, é
correto dizer que o CRB-6 é um conselho, cuja jurisdição são os estados do Espírito Santo e Minas
Gerais, em igualdade de condições.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Autarquias são pessoas jurídicas de direito público, criadas por lei específica, que dispõem
de patrimônio próprio e realizam atividades típicas do Estado, de forma descentralizada. O CRB-6,
�281
por ser uma autarquia federal, está sujeito ao controle do Tribunal de Contas da União (TCU). É
importante ressaltar que a entidade nunca foi alvo de intervenção desde sua criação.
Os conselhos profissionais são autarquias federais e, por isso, cobram dos profissionais neles
registrados uma anuidade para custear todas as despesas necessárias para fiscalizar o exercício da
profissão na sua área de jurisdição.
Assim como os primeiros grupos humanos se formaram em torno de interesses comuns,
como ocorre nas histórias bíblicas, os bibliotecários devem se organizar em movimentos
associativos, como os grupos de trabalho, os sindicatos, as associações e os conselhos, entre outros,
para fortalecer a área.
É importante que os bibliotecários enxerguem nos seus conselhos um aliado e não um
inimigo a ser combatido. Os conselhos precisam do apoio de todos os envolvidos: sociedade e
bibliotecários. Somente assim será possível construir um país em que todos tenham acesso a
informações de qualidade e ao conhecimento humano. Somente assim a Educação será de fato um
direito assegurado para todos.
O CRB-6, em particular, conta com uma equipe de servidores excepcionais, sempre prontos
para atender leigos, estudantes de Biblioteconomia e bibliotecários prontamente e da melhor forma
possível. Gerente, assistentes de diretoria, assistentes administrativos, bibliotecários-fiscais, auxiliar
de serviços gerais, estagiários e aprendizes dão o melhor de si diariamente para que o Conselho
possa cumprir bem o seu papel. Certamente, o mesmo se aplica a todos os demais CRBs do Brasil.
É papel dos bibliotecários, em geral, buscar apoio no seu Conselho, contribuir com
sugestões e material para divulgação, denunciar infrações à ética profissional, participar das
plenárias abertas, ler os comunicados oficiais, votar nas eleições para novos conselheiros e,
obviamente, estar em dia com suas obrigações financeiras.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO DE BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). Missão. (2018?).
Disponível em: <http://abmg.org.br/sobre-a-abmg/missao/>. Acesso em: 20 nov. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA (CFB). Bibliotecário: legislação e órgãos de
classe. Brasília: CFB, (2012?).
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS, CIENTISTAS DA
INFORMAÇÃO E INSTITUIÇÕES (FEBAB). Missão e histórico. (20--?). Disponível em:
<http://www.febab.org.br/sobre/historico/>. Acesso em: 20 nov. 2018.
�282
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (FBN). Histórico. (20--?). Disponível em:
<https://www.bn.gov.br/sobre-bn/historico>. Acesso em: 20 nov. 2018.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Biblioteca
Aloísio Magalhães. (2013?) Disponível em: <https://biblioam.wordpress.com/2013/04/25/primeirabiblioteca-publica-do-brasil/>. Acesso em: 20 nov. 2018.
�283
CAPÍTULO XX
PARTICIPAÇÃO NO MOVIMENTO ASSOCIATIVO: ASSOCIAÇÃO DE
BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS E O SEU GRANDE DESAFIO
Andrea de Paula Brandão Martins
Aurea Regina Guimarães Tomasi
1 MOVIMENTO ASSOCIATIVO E PARTICIPAÇÃO
Os movimentos associativos são processos políticos sociais que permitem articulações
interinstitucionais, a participação e a prática associativa como uma escolha para vida política,
buscando uma identidade de classe, sentimento de pertencimento, seja geográfico, seja cultural e
profissional, aqui especificamente de bibliotecários e áreas afins, como a Arquivologia e
Museologia, no universo da Ciência da Informação. O movimento associativo pressupõe a gestão
social, articulações para interação e ações integradas, sendo de fundamental importância ter como
princípio a participação. Um dos grandes desafios, hoje, em tempos de redes sociais e
“comportamentos líquidos e/ou fugazes” continua sendo estabelecer adesão, fortalecimentos dos
laços e convergência de interesses e objetivos na construção de bens coletivos. Também constitui
um desafio superar a desmotivação, a participação incipiente por valores que buscam a necessidade
de “Sermos Juntos” em uma sociedade tão desigual e opressora. Os espaços associativos precisam
ser vistos e entendidos como espaços das possibilidades e das oportunidades, sejam culturais,
político-ideológicas, profissionais-mercadológicas, sócio-culturais e desenvolvimento de valores
que agreguem importância às profissões, às pessoas e ao papel profissional enquanto sujeito social e
coletivo que contribui para o desenvolvimento regional e do país.
Entendendo
a
importância
desses
espaços
associativos,
vislumbram-se
infinitas
possibilidades de superação das causas já há muito apontadas por diversos autores como
determinantes para até passado recente esvaziamento das associações profissionais de classe, não
sendo, contudo, uma particularidade da Biblioteconomia, sendo esse fenômeno reconhecido em
outras profissões em nível nacional e internacional.
Podemos elencar pouco interesse em
participação coletiva de classe e associações de representação de classe profissional, falta de
formação política, questões culturais, isolamento em rotinas de trabalho incompatíveis, apesar das
�284
tecnologias disponíveis e a prática participativa ser muito desgastante, exigindo disponibilidade de
tempo, dedicação, continuidade de estudo como rotina etc.
1.1 O SENTIDO PARA A PRÁTICA ASSOCIATIVA POR MEIO DA GESTÃO SOCIAL E DA
PARTICIPAÇÃO
Para dar sentido ao engajamento da prática associativa na perspectiva dos bibliotecários, há
que se pensar sobre a importância da gestão social como referência para se pensar as relações
advindas das práticas associativas e voluntárias, carregadas de valores e ideologias. Relações
estabelecidas entre sujeitos individuais e/ou coletivos, entre sociedade civil e Estado, permeadas
pela busca de poder, pelos ideais de construção coletiva, por espaços de atuação pública, social e
profissional, estando presente nas relações de trabalho e classe social.
Desde a década de 1990, diversos autores vêm trabalhando o desenvolvimento do conceito
de Gestão Social, que começaria nos moldes da gestão pública evoluindo para a complexidade das
relações estabelecidas no tecido social, envolvendo políticas públicas, legislação, responsabilidade
social, transformação cultural, inclusão, ou seja, na perspectiva da interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade, transdisciplinaridade. Cada vez mais, adotada para o entendimento da
participação para o desenvolvimento local, autores como Singer (1999), Dowbor (1999), Carvalho
(1999), Fischer (2002), Tenório (2002), Maia et al. (2005), entre tantos outros defendem a gestão
social como possibilidade de estabelecer e interpretar forças que se tencionam nesse tecido das
relações complexas, levando em consideração critérios e valores culturais, propósitos da ação, foco
das ações do cenário político, poder local, local dos empreendimentos. Nesse processo, também se
questionam quais atores sociais participam direta ou indiretamente das ações, quais objetivos e
metas se quer alcançar, com que instrumentos, técnicas e recursos, quais parâmetros a nortear o
desenvolvimento em qualquer área da sociedade e do conhecimento.
A participação em movimento associativo requer compreensão e entendimento desse
universo de termos importantes que se relacionam, bem como os transversais e suas funções no
processo histórico-social, a saber alguns muito importantes: construção coletiva, práticas
democráticas, direito e cidadania, justiça, bem-estar social, ética, qualidade de vida, acesso a postos
de trabalho, equidade na distribuição de renda e inclusão social, a importância dos atores sociais
como os trabalhadores, população, organizações sociais, universidades, associações de classe, a
sociedade civil, sindicatos, indivíduos, grupos e coletividades, organizações não governamentais, e
�285
a possibilidade de alcançar um protagonismo no processo de construção democrática de qualquer
movimento na defesa de intenções e interesses, sejam compreendido de forma imediata ou não.
Quais objetivos se buscam e que se pretende alcançar? Quais ações necessárias? Qual é o
foco para tanto investimentos de tempo, dinheiro. Qual o sentido para a participação?
Compreendendo a importância do associativismo, gestão social e autogestão, das forças que se
tencionam e das necessárias para mudanças efetivas, somente, assim, a partir dessa compreensão,
encontram-se respostas para a pergunta emblemática que muitos fazem diante da possibilidade de
ingressarem para um conselho regional de classe, para um movimento sindical ou para as
associações de classe profissional e, aqui, especificamente, de bibliotecários. Geralmente,
perguntam: “O que a instituição tem para oferecer ao profissional?”.
Ora, quando ouve as histórias de bibliotecários abnegados, e se entende gestão social como
dedicação, planejamento de ações estratégicas, planos de ação, usando instrumentos adequados a
cada processo social em um contínuo permanente, marcado pela presença de várias gerações,
surgindo, aí, como bem descreve Pedro Demo (1993, p. 67), “perspectiva de processo histórico
cultural de algo permanentemente em construção, uma vez que não se faz gestão social a fim de se
alcançar desenvolvimento, inovação ou até mesmo o desenvolvimento local sem participação”. A
participação é uma “conquista para a vida”, complementando com a ideia de que ela é “a
característica de uma política social centrada nos próprios interessados, que passam a autogerir ou
gerir a satisfação de suas necessidades”. A autopromoção, autogestão no sentido de emancipação e,
ainda, a participação “[...] não pode ser entendida como uma dádiva, algo ofertado, e sim como
processo histórico, uma conquista” (DEMO, 1993, p. 18).
Superação de crises político-financeiras foi bandeira quase que permanente dos movimentos
sindicais e associativos no Brasil, também vivenciada na Associação de Bibliotecários de Minas
Gerais (ABMG), como já registrado em estudo de caso de autoria de Borges e Romanelli (2011),
que estiveram por muitos anos à frente da associação. E ainda, para Borges e Romanelli (2011, p.
1), esse afastamento e isolamento das associações e não participação podem acontecer devido aos
inúmeros problemas de gestão, pelo desinteresse da classe trabalhadora em zelar pela mesma, pela
falta de comprometimento e muitas vezes falta de ousadia por parte dos bibliotecários. Uma vez
absorvidos em suas rotinas de trabalho, como refletir ou perceber outros espaços que precisam de
sua participação? Como se comprometerem? É preciso unir a qualificação à participação na
associação. O sujeito social vai imprimir o conhecimento, o status de sua persona na imagem da
associação, com sua presença e adesão. Foi assim no início da criação da Federação Brasileira das
Associações Bibliotecárias (FEBAB), das associações no Brasil e dos cursos de Biblioteconomia; e
com a ABMG, não seria diferente.
�286
Como a associação de bibliotecários ainda por muitos, é vista como local físico a ser
desenvolvido, é preciso em face das possibilidades tecnológicas refletir sobre isso, sobre
“desenvolvimento local”, que Dawbor (1999) vai imprimir uma importância na necessidade de
conhecer o local imediato de atuação, em que esteja inserido, definindo, ainda, a informação como
algo imprescindível ao desenvolvimento social, afirmando que “pessoas desinformadas não
participam, e sem participação não há desenvolvimento”. Dessa forma, há que se considerarem
estratégias de produzir conhecimento participando, sendo um processo de aprendizagem, como bem
referido por Demo (1993).
Para os autores Dallari (1983), Bordenave (1986) e Demo (1993), a participação deve ser
entendida como conquista para a vida, parte intrínseca da gestão social, demandando em sua
natureza a gestão das articulações entre os atores sociais em função de um desenvolvimento que
pode ser local, mais imediato, como pode também ser em nível regional, nacional ou global. Tendo
em vista as contribuições dos autores aqui citados sobre gestão social, participação e
desenvolvimento local, o associativismo e as práticas associativas podem ser tratados a partir das
contribuições desses mesmos autores.
De acordo com Boschi (1986), associar-se é uma arte, requer habilidades, senso de justiça,
ações e interesses coletivos. O universo associativo brasileiro, há muito estudado, tem seus limites
pautados pela legislação, impedindo que haja expansão das ações coletivas. Ganança (2006, p. 115)
salienta que o associativismo brasileiro tem sofrido o esvaziamento de seus espaços, bem como
crises financeiras, dificultando suas gestões. Tem também sofrido influências burocráticas do
Estado, inclusive ônus de taxas e impostos. Situação que pode ser muito agravada na atual
conjuntura política no Brasil em que tramitam projetos no Congresso Brasileiro para criminalização
de manifestações de práticas associativas, movimentos sociais e sindicais, mais uma vez a
importância da não obrigatoriedade de adesão aos movimentos, evidenciando a conscientização
para a importância dos mesmos e apoio por associação livre, expressando o amadurecimento
político dos bibliotecários independentes de qualquer ideologia partidária.
Entender isso é tão importante para a consolidação e até mesmo longevidade e alcance dos
movimentos,
desempenho
dos
profissionais
engajados
no
movimento
associativo,
e
desenvolvimento das associações, que apontamos critérios que foram estabelecidos por Demo
(1993) quanto à qualidade política das associações, como representatividade, legitimidade,
participação de base e autossustentação. Contudo, Ganança (2006, p. 116) pontua que o
associativismo brasileiro é muito diversificado em sua composição, distante do que se pauta em
busca da democracia e cidadania, em decorrência do próprio processo político cultural do país, e
hoje tendendo ao retrocesso das mentalidades, com o alinhamento dos atores de ideologias de
�287
extrema direita em nível nacional e internacional que não veem, nem demonstram apoio as práticas
democráticas e defesa do Estado de Direito, causando muita apreensão, principalmente no âmbito
universitário e externo a ele. E, ainda, em termos de representatividade, legitimidade,
autossustentação e participação de base, segundo o autor Ganança (2006), fica evidente tratar-se de
um fenômeno não encontrar esses quatro critérios propostos por Demo nos diversos tipos de
associação no Brasil.
Apesar das dificuldades, as associações, no Brasil, não deixaram de existir ou de serem
criadas, tampouco de crescer (BOSCHI, 1986), mesmo que minimamente, desde a década de 1990
(GANANÇA, 2006).
Contudo, há que se tratar da gestão da participação nesses espaços
associativos, podendo pensar em habilidades para exercê-la nas associações de classe profissional,
como afirmam em seus estudos Almeida Júnior (1997), Walter (2008) e Ferreira e Pereira (2011),
como já mencionado o trabalho corpo a corpo, a promoção dos encontros chamando os
bibliotecários a vivenciar esses espaços associativos como um processo de formação em práticas
associativas, de militância, a partir da experiência propositiva e concreta.
Na perspectiva da gestão social ainda em construção, recebendo significados instituídos a
partir de modelos políticos, econômicos, culturais, a participação é inserida na perspectiva de
processo histórico. Ela se configura e reconfigura também pelo mesmo processo histórico cultural
de cada época. Para a promoção do desenvolvimento local, é a partir das relações, dos nexos que
desses conceitos se estabelecem - indissociáveis, na medida em que a gestão social tende a ser
democrática em prol da cidadania, e da inclusão social, que valores políticos, éticos e morais vão
sendo mais bem compartilhados e entendidos por aqueles que querem fazer a diferença, como nos
ensina os autores Demo (1993), Tenório (1998), Fischer (2002) e Maia (2005).
A participação na perspectiva da gestão social deve ser apreendida em seus significados de
importância numa construção individual e coletiva, vista como aprendizado, exercida e planejada
como um projeto de vida para a ação individual ou coletiva em função de um desenvolvimento
local. Esse deve ser visto como parte ou resultado da gestão social, da ação coletiva, participação
associativa interdisciplinar entendida e aprimorada, sendo vista como parte integrante ou
consequência da outra. Intrinsecamente, ligados à gestão social, participação e desenvolvimento
local devem ser tidos como processo. Não há gestão social sem participação, assim como não há
desenvolvimento local sem a possibilidade de gestão social das práticas associativas participativas,
como destacado nos estudos de Dallari (1983), Bordenave (1986), Demo (1993), Tenório (1998),
Fischer (2002) e Maia, (2005). Em linhas gerais, esses autores, pela convergência de ideias, nos
ajudam nas reflexões de entendimento de que a participação é algo a ser estabelecido como
�288
processo contínuo de aprendizado. Os sujeitos sociais devem atuar como protagonistas de suas
próprias histórias individuais e coletivas.
Em seu trabalho, Demo (1993) apresenta a participação como algo a ser vislumbrado,
conquistado e exercido, sempre visto e delineado como processo histórico.
A participação supõe compromisso, envolvimento, presença em ações por vezes arriscadas
e até temerárias. Por ser processo, não pode totalmente ser controlada. [...] é preciso encarar
o poder, a partir dele e, então, abrir os espaços de participação numa construção (DEMO,
1993, p. 20).
A partir dessa citação, a participação deve ser entendida como algo a ser construído, sendo
importante para o desenvolvimento do sujeito social e coletivo, para o mundo do trabalho, suas
relações para com a comunidade da qual faz parte e a sociedade. O autor chama a atenção para
conflitos e embates que surgem das disputas pelo poder de participação, com sentido em um
processo histórico, atentando para os canais de participação, como esses são usados e como se
desenvolvem e devem ser vistos, ou seja, instrumentos importantes para a participação. Ressalta-se,
ainda, a importância da participação na organização da sociedade civil, no caso específico dos
movimentos sociais, bem como os sindicais e associativos, trazendo a dimensão do trabalho,
estando a associação de bibliotecários inserida nesse contexto.
Na perspectiva da construção coletiva, do processo histórico sociológico, a participação em
órgãos representativos se faz cada vez mais necessária e valorizada, na medida em que seja vista
[...] a participação enquanto resultado do processo de construção social, portanto, sujeito a
fatores históricos e culturais. Nesse sentido, a participação parece manter uma relação
direta com a capacidade individual ou coletiva de interagir, cooperar, associar-se e confiar,
isto é com o chamado capital social (MARTINS, 2002, p. 52).
A participação como um processo de aprendizagem “é empenho pessoal por um aprendizado
difícil das regras e meios de se fazer, ouvir, entender e atender” (MARTINS, 2002, p. 52). O autor
demonstra não se tratar de coisa simples, sendo, muito pelo contrário, parte da complexidade da
vida. Para superação dos desafios e limitações, demandas por habilidades e técnicas para mediação
de conflitos que advirão naturalmente das tentativas e empreendimentos que se fizerem necessários,
sejam em quaisquer áreas da vida do sujeito social. União da arte da técnica da atitude
interdisciplinar (BOSCHI, 1986; MARTINS, 2013; SANTOS, 2007).
Então, no processo participativo, existem planejamento e ações estratégicas, estabelecendose relações de reciprocidade, buscando uma identidade e objetivos comuns. A participação é algo
que requer investimento, seja de tempo, estudo, gestão e planejamento. Requer que o sujeito seja
intimamente engajado no processo, enquanto Demo (1993) se atém à postura do sujeito de estar
sempre buscando algo idealizado e inacabado. Bordenave (1986, p. 16-17) vem reforçar essa idéia,
�289
enfatizando que “participar é fazer parte, tomar parte, ter parte”; enfim, a participação é vista como
“autogestão”, seja em nível individual ou coletivo.
Na esfera individual, a participação como autogestão permite inferir que sujeitos sociais
participam de algo, consciente ou inconscientemente, procurando satisfazer suas necessidades
individuais ou coletivas. Bordenave (1986, p. 16-17) reafirma a ideia de que “a participação é o
caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si
mesmo e dominar a natureza e o mundo”.
A ideia de autogestão pode ser um meio, um instrumento para se alcançar a autopromoção.
Essa ideia é defendida por Demo (1986, p. 482), quando se refere à conquista competente dentro do
processo histórico. A vida moderna se dá principalmente na área do trabalho, pela capacidade de
fazer algo, gerir a carreira profissional, ser eficiente e competente. A mesma ideia deveria ser
aplicada por todos que querem ver a democracia consolidada, os direitos sociais garantidos, o
avanço das práticas associativas, das ações coletivas. Demo preconiza que a participação tem
também objetivos, sendo eles, além da autopromoção já apresentada, “a realização da cidadania, a
implementação de regras democráticas de jogo, controle de poder, controle da burocracia, o
estabelecimento da negociação e a construção de uma cultura democrática” (DEMO, 1986, p. 475).
Na perspectiva da participação para o desenvolvimento local, Martins (2002, p. 52)
demonstra a responsabilidade de cada um em buscar, construir, lutar defendendo seu direito pela
qualidade de vida. Tudo o que envolva o fazer humano, o estar no mundo já nos torna parte
integrante de algum “sistema ou complexidade de coisas”. Relações serão estabelecidas em maior
ou menor grau, sejam de livre escolha ou não. E ainda sobre participação:
[...] sua prática envolve a satisfação de outras necessidades [...] como a interação com os
demais homens, a autoexpressão, o desenvolvimento do pensamento reflexivo, o prazer de
criar e recriar coisas e a valorização de si mesmo pelos outros (afetiva e instrumental, fazer
coisas com os outros é mais eficaz e eficiente que fazê-las sozinho) (BORDENAVE, 1986,
p. 17).
Essa ponderação do autor chama a atenção para os dias atuais, em que mesmo com avanço
das tecnologias informacionais e de comunicação ainda há forte tendência ao individualismo, sendo
preciso repensar a vida, princípios e valores que norteiam as decisões, seja na esfera individual ou
coletiva. O autor direciona seu parecer para a importância das reflexões em torno dos poderes
instituídos, ética e incertezas:
O que fazemos e outras pessoas fazem podem ter consequências profundas, de longo
alcance e de longa duração, consequências que não podemos ver diretamente nem predizer
com precisão. Entre as ações e seus efeitos existe enorme distância – tanto no tempo como
no espaço – que não podemos sondar usando nossas capacidades inatas e ordinárias de
percepção, e sendo assim dificilmente podemos medir a qualidade de nossas ações
mediante pleno inventário de seus efeitos (BAUMAN, 2006, p. 24).
�290
Tanto Bordenave (1986) quanto Bauman (2006) fazem um chamado à participação
consciente, para que o sujeito reflita sobre suas decisões, ao falar sobre incertezas e ética. Pode-se
inferir que os autores incitam à participação coletiva, à interação, para que das relações possam
surgir novas formas de atuação, outras possibilidades de escolhas. Nesse sentido, em relação à ética,
e valores principalmente na contemporaneidade, destaca-se a participação política, porque essa
passa por um conjunto de regras e valores, princípios que darão condições para que os sujeitos
sociais façam suas escolhas individuais e coletivas.
Quanto à natureza associativa do ser humano, essa é vista por Dallari (1983, p. 36) como
uma necessidade da natureza humana, dizendo que “o direito e dever de participação política são
duas faces da mesma realidade”. E, ainda, que a “participação intensa e constante de muitos é
necessária para impedir que alguns imponham uma ordem injusta, que sempre acaba sendo
prejudicial para todos”. Dessa maneira, tanto Demo, Bordenave e Dallari como Bauman defendem a
construção conjunta, mostrando a impossibilidade do avanço se não houver empenho consciente,
diversidade de atores no processo e engajamento político.
Os autores ressaltam a importância do trabalho colaborativo, interdisciplinar, intersetorial e
defendem a importância da qualidade participativa do sujeito protagonista, contribuindo para o
desenvolvimento do próprio sujeito, das organizações, setores, grupos e movimentos sociais,
políticas públicas etc.
A partir das contribuições desses autores, juntamente com as contribuições de Martins
(2002, p. 52), sobre a participação para o desenvolvimento local, fica evidente que as pessoas
precisam estar atentas ao que possuem, onde estão, como participam. E devem refletir sobre suas
capacidades e habilidades em criar redes interativas e relacionais sobre o aprendizado coletivo,
sobre como as organizações aprendem, adotando postura consciente perante os desafios a serem
enfrentados localmente, no imediato. Sobre a importância da dimensão humana e o sentido de lugar,
ele acrescenta:
[...] esta é a escala humana, que se identifica pela relação entre as pessoas, entre estas e o
seu entorno (ambiente, empresas e instituições), pautada na interdependência e na
comunidade de interesses, mas também, e principalmente, no cotidiano conflitante e
solidário vivido em comum (MARTINS, 2002, p. 54).
Estabelecidas as redes e fortalecidas as relações, a busca por soluções dos problemas
individuais e coletivos torna-se possibilidade. Experiências felizes tendem a promover o grupo cada
vez mais para a aceitação de uma nova cultura, de uma mudança de paradigma rumo ao trabalho
colaborativo, integrado, com posturas mais propositivas e assertivas. E também com oportunidades
a partir das experiências, das práticas, de adquirir habilidades superando desafios e mediando
conflitos de interesses, tendo sempre como resultado, o aprendizado coletivo.
�291
A aprendizagem coletiva e o conhecimento construído a partir da gestão social poderão
explicar comportamentos individuais e coletivos no tempo presente, refletindo no desenvolvimento
local ou não. Para entender a complexidade da vida dos tempos atuais, requer-se uma prédisposição ao trabalho intersetorial, interdisciplinar. Para tanto, implica o entendimento dos
processos, ajuda mútua, descentralização da gestão, principalmente da gestão pública. Um sujeito
interdisciplinar é exigido a todo o momento para que as coisas possam avançar no sentido do
desenvolvimento, seja ele mais imediato, local, regional ou global.
Para Santos (2007), a atitude interdisciplinar deve ser compreendida como um
posicionamento face aos outros atores envolvidos nos processos, sejam eles de construção do
conhecimento, problemas a serem enfrentados tendo em vista um processo educativo. Pensando a
participação política como aprendizado para a vida, tanto movimento quanto atitude leva a crer na
relação que se estabelece entre o sujeito social e os espaços de participação, sejam quais forem. Há
que se buscar esse conhecimento do espaço de atuação, das regras, do cotidiano das pessoas, na
interação. Assim sendo, demandando do sujeito participativo uma atitude interdisciplinar que seria
um posicionamento frente a realidade da vida, procurando conhecer seu ambiente, principalmente
em face de tomada de decisões importante para si e para o coletivo.
Em questões de militância em prol de uma reconfiguração da realidade, o sujeito
interdisciplinar requer não perder a perspectiva de processo a médio e longo prazo para se obter
resultados. Saber esperar, ser capaz de ceder, negociar, ter reciprocidade, comprometimento,
dedicação, desapego do que já não serve mais. Humildade em assumir o que não sabe, buscar ajuda,
ser solidário, ter empatia para que seja possível um diálogo aberto e franco, assertividade e buscar
fazer o melhor possível. A atitude interdisciplinar requer maturidade.
A participação mais assertiva requer domínio de certos instrumentos, como bem pontua
Demo (1993), planejamento, ações estratégias bem pensadas e articuladas. Santos (2007), sobre o
aprendizado e o trabalho interdisciplinar, contribui no sentido de demonstrar que a discussão e as
recomendações já estão há muito colocadas no sentido da gestão das próprias atitudes e também
coletivas demandando entendimento e aplicabilidade do que está posto.
Sabe-se que o acesso e uso da informação e do conhecimento é algo imprescindível para que
se promova a inclusão social, o acesso a políticas públicas, aos direitos sociais, à cidadania, sendo
esse ideal perseguido pelo bibliotecário educador. É preciso avançar em direção à militância
política, ampliando os espaços de atuação para além das organizações do “trabalho”. Dar suporte ao
desenvolvimento em várias áreas do conhecimento, com relação direta com a educação;
participando dos processos educativos é uma premissa para o desenvolvimento. Há na literatura,
estudos que reconhecem o papel socioeducacional do bibliotecário, sendo aquele que:
�292
[...] promover a competência em informação torna-se a chave ao desenvolvimento
socioeconômico sustentado e porque está diretamente ligado à inclusão social. A
incorporação e mobilização de atitudes, conhecimentos e habilidades direcionadas ao
exercício pleno da cidadania é o coração da inclusão social e da sustentabilidade. Também
inclui a aceitação das diferenças, a valorização da diversidade, o direito de pertencer e
buscar a constante melhoria de si mesmo e da sociedade. Os bibliotecários tornam-se
mediadores pedagógicos e agentes educacionais de transformação social (DUDZIAK, 2007,
p. 88).
Juntamente a essa dimensão do papel social-educacional do bibliotecário, a contribuição de
Demo (1993, p. 70) relaciona a qualidade participativa ao exercício da cidadania. Diz-se que a
“cidadania é a qualidade social de uma sociedade organizada sob a forma de direitos e deveres
majoritariamente reconhecidos”. Assim, a reflexão passa não somente pela função social e
educacional do bibliotecário, mas também pela necessidade da qualidade participativa ao exercer a
sua profissão, a sua cidadania no mundo do trabalho, com o profissional consciente de seus deveres
e defendendo os direitos sociais e coletivos.
Para compreender um pouco a participação dos bibliotecários em espaços políticos, torna-se
necessário lançar mão do conceito da gestão social da participação em órgãos de representação de
classe. Sobre o campo da gestão social, Fischer (2002) propõe tratar-se do:
[...] campo do desenvolvimento social, que se constitui como um processo, a partir de
múltiplas origens e interesses, mediados por relações de poder, de conflito e de
aprendizagem. Para a autora, o entrelaçamento das dimensões praxiológicas e
epistemológicas já acumuladas apontam uma “proposta pré-paradigmática” da gestão
social. Nesta perspectiva da gestão social estão especialmente identificados como sujeitos
os indivíduos, grupos e coletividades interessadas, mediados por redes ou por
interorganizações (FISCHER, 2002 apud MAIA, 2005, p. 10).
Sobre a participação política em órgãos de classe, especificamente a ABMG, percebe-se que
há muito ainda por compreender e fazer, repensando a contribuição individual de cada um, e dos
grupos, demandando estudos que resgatem as personalidades que fizeram a história da
Biblioteconomia e o movimento associativo em Minas Gerais. Há poucos registros sobre os
bibliotecários que se destacaram no processo histórico, embora o que não quer dizer que não tenha
havido esses sujeitos empreendedores e dedicados ao longo de seus 58 anos. Enxergar para além
das estruturas burocráticas formais, se o bibliotecário é participativo ou apenas um associado é
importante. Como ficou registrado a participação e a contribuição de cada um na construção
coletiva de classe também torna-se relevante.
No que se refere à qualidade política das associações, Demo (1993, p. 117) afirma que,
embora não seja possível um “modelo pronto” a ser seguido, ainda assim, é preciso estabelecer
critérios de avaliação. Dentro dos processos participativos e dos movimentos associativos,
definimos os quatro critérios de qualidade política de associações: “representatividade,
legitimidade, participação da base, autossustentação”.
�293
Tendo em vista o campo da gestão social apresentado por Fischer (2002) na investigação
sobre a participação dos bibliotecários na associação, os critérios são parâmetros a serem
considerados; os bibliotecários com suas demandas também precisam ser cada vez mais ouvidos
sobre a sua atuação no mercado profissional, e o que esperam dos órgãos de participação, das
associações, como veem a atuação da mesma e se, se reconhecem como parte importante, nesse
processo.
Conhecer as lideranças, seu processo de engajamento e envolvimento com a associação é
fundamental para o reconhecimento identitário da classe bibliotecária com os movimentos de
interesse, as causas mais imediatas, projetos, mobilizações para ações coletivas etc. Assim sendo, a
qualidade política dos “gestores” da associação deverá indicar a expressão da representatividade,
sendo esse o primeiro critério a ser observado (DEMO, 1993).
O segundo critério a ser obedecido é a legitimidade, em que a importância estaria na
“qualidade política do processo participativo, quando estiver fundado em estado de direito”. Será
que todos entendem e veem no seu trabalho que têm o direito a se expressarem, participarem da
associação? E os objetivos buscados pela mesma contribuem para essa valorização da imagem e o
fazer bibliotecário? Ainda, segundo Demo, “no plano de uma associação, a legitimidade se forja
com base nos estatutos que, neste sentido, seriam uma obra-prima dos membros”. O autor destaca
que ser sócio é diferente de ser membro e completa sobre o estatuto:
[...] lá se coloca de comum acordo, como alguém se torna membro da associação, como se
desliga, como se fazem os chefes e se os impugnam, quais direitos e quais deveres são de
todos, como funciona no dia-a-dia, como praticam reuniões, como se legisla e se julga, e
assim por diante (DEMO, 1993, p. 119).
Há uma crítica do autor no que se refere à atenção culturalmente dispensada apenas à
dimensão, ao aspecto burocrático da construção dos estatutos de associações, ressaltando que há
preocupação somente com a formalidade legal, não se importando em aprofundar-se no aspecto que
seria o próprio “compromisso político”. Enfatiza, ainda, que ser membro de uma associação
significaria ser “parte integrante, consciente, compromissada, o verdadeiro dono e a autêntica
origem da associação”. O membro seria o ser cidadão exercendo a cidadania participativa, “é a
cidadania organizada que funda a legitimidade de todos os processos participativos”.
Como terceiro critério, pontua o autor a participação da base. Destaca-se que “a qualidade
política de uma associação se decide nesse parâmetro, porque na mobilização organizada da base
demonstra se existe ou se é uma farsa”:
[...] o que é indispensável é a intensidade participativa, a coesão organizada e
compromissada ideologicamente, a realização conjunta de um projeto comum, sentido e
definido como comum, na vibração da identidade de propósitos, de passado e de futuro
(DEMO, 1993, p. 21).
�294
O quarto critério é o que de fato vai dizer se a associação é emancipada, resultado da
autopromoção. A autossustentação é fundamental para o cotidiano e manutenção da associação,
sua liberdade de ação. Os associados têm que apreender o sentido educativo-participativo de
pertencer e participar, sentindo-se parte da associação e que ela é sua. Demo (1993, p. 124) acredita
que “os processos participativos não resumem sua qualidade política somente na face política”. Os
associados precisam comparecer financeiramente, assumindo compromissos socioeconômicos. As
associações não podem sobreviver somente com “ideias, compromissos, ideologias, mobilizações”,
precisando saber resolver a questão dos recursos materiais. Para isso, há que se lançar mão de muito
engajamento, trabalho colaborativo, inteligência e criatividade e buscando por recursos alternativos
e por atividades produtivas que possam capitalizar a associação, como bem defendido os cursos de
capacitação e educação continuada por várias gestões que passaram pela associação.
2 A ASSOCIAÇÃO DE BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG)
2.1 IDENTIDADE PROFISSIONAL: BIBLIOTECÁRIO PARTICIPATIVO
As reflexões sobre identidade profissional impactadas pelo advento das tecnologias e o
aprimoramento contínuo das mesmas despertam sentimentos ambíguos, contraditórios. Nos
primórdios, o profissional da informação lidava diretamente com o caos informacional e
instrumentos rudimentares; hoje, continuamos mergulhados no caos exponencial e ilimitado de
informações, há tecnologia de ponta e a falsa sensação de que tudo estaria sob controle caiu por
terra; é que hoje se domina e se conhece de tudo um pouco. Essa realidade impacta a identidade
coletiva se pensarmos a aldeia global e a rapidez com que temos que responder a situações em
tempo real. Hoje, nos falta o tempo necessário para a elaboração do pensamento, das ideias e o
reconhecimento da parcela de responsabilidades sobre os processos individuais e coletivos,
principalmente os de impacto nas transformações sociais e de visão de mundo. Com tanta
tecnologia, todos nós podemos nos sentir cidadãos do mundo, mas as mudanças locais de que
realmente precisamos não acompanham a quantidade de informação que estamos expostos. As
informações são desproporcionais e como podemos de fato utilizá-las em nosso cotidiano, em nossa
vida, em nossa comunidade, representa um dos maiores desafios da atualidade; sem contar,
também, que o sofrimento hoje passa pela síndrome do pensamento acelerado.
�295
Muito se fala sobre a identidade profissional do bibliotecário, os desafios apresentados a
esses profissionais, podendo a reflexão ser conduzida com expressivos trabalhos desde a década de
1990 por Almeida Júnior (1997), Castro (2000), Souza (2002, 2004), Dudziak (2007) e Lima e
Lima (2009). Desde a virada do milênio, Castells (2000), Sturt Hall (2002) e Bauman (2005)
colaboraram com suas reflexões sobre o estar no mundo na perspectiva da construção da identidade
coletiva e impactos tecnológicos, dos desafios que todos teríamos que enfrentar, seja como sujeito
participativo ou não, de algum movimento social. Assim, toda a reflexão passa por pensarmos o
mundo conectado por redes interativas e infinitas possibilidades de encontros virtuais após a queda
do paradigma tempo e espaço, muito embora, para tal inclusão digital, é preciso haver investimento,
disposição e letramento.
Muito se escreveu sobre o esvaziamento das associações e a falta de disposição para o
encontro físico presencial, fenômeno que atinge a sociedade como um todo e a pressão para a
produção e utilização de serviços virtuais digitais de acesso remoto. Na prática profissional,
percebe-se a tendência priorizando o encontro, por meio de conferências de acesso remoto, grupos
de estudos virtuais; enfim, tudo que a tecnologia possa proporcionar e, assim sendo, o encontro
presencial fica preterido e cada vez mais a desumanização, pois o instrumento que nos expõe a
todos é o mesmo também que afasta, nos inviabiliza e nos camufla em meio a tantas possibilidades
de recursos num mundo virtual.
2.2
O DESAFIO DO CONTATO E DA PERSUASÃO: O ENCANTAMENTO PELA
ORALIDADE
A fundação da ABMG partiu do desejo de alguns bibliotecários que levaram o curso para a
Universidade Federal de Minas Gerais, que antes era ministrado pelo Instituto Nacional do Livro
(INL), sendo criada em 17 de junho de 1960. A participação no processo para a fundação da
associação teve inspiração em nível regional, internacional e localmente, sendo um desejo e
proposta de Etelvina Lima.
Naquela época, Minas Gerais contava com poucos bibliotecários, mas a união de todos foi
importante para o crescimento e transferência do curso para a UFMG. Desde os primórdios da
profissão no Brasil, grande parte dos profissionais, por várias gerações, se interessou pela carreira
pelo gosto à leitura e por questões culturais. No início, os cursos eram bem marcados pela presença
feminina e em grande maioria pelo pouco conhecimento sobre a profissão. Há registros da vasta
�296
área de atuação da entidade, sejam em instituições públicas ou privadas, em carreira técnica,
docência e pesquisa, em gestão pública, cargos políticos e carreira jurídica.
Sobre a avaliação que podemos fazer hoje do patrimônio cultural (memória) e material
(sede, ensino e infraestrutura), a associação, nos seus 58 anos de vida ininterruptos, passou por altos
e baixos, contudo, sempre marcada pela livre associação e pelo encontro de pessoas e interesses.
Cada liderança teve seu perfil diferenciado dentro do que foi possível no contexto sócio, político,
ideológico e econômico.
Contudo, o maior patrimônio da associação sempre foi os bibliotecários, as pessoas que
dedicaram parte de suas vidas para que as coisas acontecessem ao longo do tempo de sua história.
Foram tantos bibliotecários, que os registros merecem estudo histórico à parte e aqui, como já
mencionado, com nome de Etelvina Lima, fica a homenagem às gerações de bibliotecários
comprometidas com a associação, não sendo possível citar todos, neste texto, devido à relevância de
cada um, por meio de suas ações individuais e coletivas para o movimento associativo.
Em 58 anos, a associação tem sido forte e com muita credibilidade entre os bibliotecários.
Há um reconhecimento de legitimidade e representação, contudo, ainda, assim, precisa ampliar seu
alcance junto às escolas de formação, sejam públicas ou privadas, mostrando de que maneira vem
atuando e toda a sua potencialidade de desenvolvimento em que a Biblioteconomia social tem muito
o que oferecer para a cidadania, informação estratégica para a inclusão social, para o
desenvolvimento de um povo/nação, para o desenvolvimento do país. O movimento associativo tem
muito o que contribuir para essa formação, podendo complementar a formação curricular que,
muitas vezes, não permite vivenciar processos inseridos na sociedade, como proposição de projetos
de leis, informações para movimentos sociais, informação utilitária, gestão social, dentre muitos
outros.
Os registros passam pela organização e participação de importantes Congressos Brasileiros,
sendo o Biblos 2000 (CBBD), trazendo retorno financeiro e visibilidade de entidade no mundo
bibliotecário, além de tantos outros cursos, palestras, workshops, oficinas, encontros, visando a
educação continuada dos bibliotecários, arquivistas e pessoas interessadas em Biblioteconomia e
Ciência da Informação. Dessa forma, a avaliação cultural é imensurável, além de ter contribuído
com muitas oportunidades de trabalho aos associados, não só preparando-os para o mercado, como
indicando para empresas que procuravam a ABMG, como referência de empregos e prestação de
serviços demandados.
A memória viva do movimento associativo nos leva a crer que, de fato, o maior patrimônio
cultural hoje da associação, são os profissionais bibliotecários e sua oralidade; precisamos ouvir os
profissionais que sempre estiveram presentes nos trabalhos da associação. Segundo Cléa Borges,
�297
bibliotecária que sempre esteve presente junto à associação, talvez “seja a única associação de
Bibliotecários do Brasil que tem maior patrimônio imobiliário, com sede própria”, sendo essa uma
conquista muito grande, resultado da participação de abnegados profissionais, muito empenho e
gestão estratégica. Hoje, a ABMG possui três salas bem localizadas no centro de Belo Horizonte:
duas no Edifício Hotary, próximo ao Museu Inimá de Paula; e uma no circuito histórico Praça da
Liberdade, com razoável infraestrutura.
A associação tem participação de profissionais ativos e principalmente aposentados. Os
profissionais ativos atuam em gerenciamento de bibliotecas públicas e privadas, na esfera
municipal, estadual e federal, escolares, universitárias, comunitárias e de saneamento, professores
de universidade, contadores de história, profissionais liberais, empresários, bibliotecas de órgãos
públicos etc. Geralmente, há demandas para cursos preparatórios para concursos públicos,
atualizações e formação continuada. Os aposentados são pessoas que têm perfil para trabalharem
em movimento associativo, e com vasta experiência por terem sido presidente de Conselho, de
associação, superintendente em órgão público, que gostam e queiram colaborar com a classe, pois o
trabalho é voluntário, demandando disponibilidade de tempo, habilidades diversas, perfil,
compromisso com educação continuada e atuação política; os aposentados em convergência de
interesses com os ativos demandam por oportunidades de lazer, entretenimento, viagens nacionais e
internacionais para conhecer bibliotecas e museus, espaços alternativos e encontros festivos para
confraternização etc.
A associação tem recebido demandas do profissional liberal de iniciativa privada, num
mercado cada vez mais concorrido e permanência nos postos de trabalho e valorização da profissão
e salários. Merece estudos, o fenômeno da valorização dos estágios, pois, enquanto ainda em
formação acadêmica e a desproporcionalidade no ingresso ao mercado após a formação com
salários compatíveis, os profissionais saem altamente qualificados de seus cursos. Há um
movimento dormente e renitente junto à associação pela criação de um sindicato de classe ou a
evolução da associação, transformando-a em sindicato.
Paralelo a essa situação reflexiva, diante das necessidades dos profissionais de lutarem por
inserção ao mercado de trabalho garantindo os postos e melhores condições de trabalho e salários,
podemos inferir, ainda, a pouca adesão e participação dos estudantes e profissionais da área de
Ciência da Informação, sejam técnicos de nível médio, ou graduandos ainda em formação e
profissionais já inseridos no mercado de trabalho.
Há os que defendam que a identidade para a formação associativa em movimentos de classe
precisa e deve passar pela formação acadêmica também; outros já defendem que se trata de perfil,
identificação com as causas coletivas; outros acreditam nas questões políticas ideológicas para o
�298
não envolvimento, bem como a questões financeiras e, hoje, talvez, se acentue com a legislação da
não obrigatoriedade em participação financeira em entidades de classe. Contudo, refletir sobre a
natureza das instituições coletivas quando estruturam em seus estatutos “a garantia para livre
adesão” já seria um indício da maturidade política, do uso da liberdade em escolher participar,
contribuindo para as causas coletivas.
A ABMG tem conseguido estabelecer alianças, difundindo a sua missão de congregar
bibliotecários e profissionais afins. Como toda instituição, a associação tem seus altos e baixos,
contudo, ainda assim, a baixa adesão sinaliza que é preciso investimentos na interação e ações
coletivas integradas, trabalhando a visibilidade e o sentido de pertencimento sem perder de vista a
importância da interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.
O reconhecimento da legitimidade de representação se percebe sim, porque a ABMG vem
atuando há 58 anos ininterruptos. A maior parte de sua vida foi uma associação forte e com muita
credibilidade entre os pares e bibliotecários.
A articulação da associação com a categoria profissional precisa ser entendida e praticada de
todas as formas possíveis, em encontros festivos, corpo a corpo, site atualizado, telefonema, emails, redes sociais diversas e cada vez mais em alta, reuniões presenciais, participação da diretoria
nos cursos, palestras, network, workshops de outros órgãos, e mediante à divulgação dos trabalhos
de consultoria, assessorias, dos profissionais atuantes no mercado de trabalho, obviamente
acompanhando a evolução tecnológica, mas visando mais confiabilidade e agilizada nas
informações que se pretende divulgar.
Precisa buscar a interação da classe e o senso de voluntariado precisa ser ampliado para os
trabalhos e filiações, aumentando a rentabilidade que permitirá investimentos em áreas estratégicas
como marketing, estruturação de cursos, contratando pessoas para melhor gestão da associação e
isso somente será possível com a colaboração e com um contingente expressivo de profissionais
bem sucedidos e abnegados.
Atualmente, com a nova gestão recentemente empossada, permitiu sentir o prenúncio de
novos tempos na associação, com um trabalho mais planejado, reflexivo, colaborativo, buscando
assertividade, engajamento político, motivando a todos a pensar e valorizar a ascensão da
Biblioteconomia social. Nesse contexto, pressupõe ações junto àqueles que estão à margem social,
os mais necessitados de informações que venham transformar suas realidades de vida com projetos
sociais, e ações inovadoras que permitam, de fato, a inclusão social e o acesso à leitura, cultura,
artes e ao sistema educacional.
Desde sua fundação, no ano de 1960, na ABMG, encontram-se, ainda, hoje, associados que
se aproximaram da mesma na década de 1970 e empenharam-se para a sua consolidação e
�299
reconhecimento. São atores em destaque, cuja própria história de vida se confunde, entrelaçando-se
com a história da associação.
Com esse espaço de interação, perseguindo-se a ideologia da importância da participação
para a identidade coletiva do bibliotecário, persiste-se em mostrar o valor social da profissão de
bibliotecário. Esse milita exaustivamente, mesmo que, inversamente, o retorno do reconhecimento
da classe, às vezes, não seja na mesma proporção. “Preservar a memória”, promovendo a
aproximação do passado com a atualidade, por meio da oralidade, estimulada pela possibilidade do
encontro entre passado e presente torna importante o espaço físico da associação e, nesse sentido,
da oralidade somada à tecnologia. Para Almeida Júnior (1997),
uma associação [...] uma entidade de classe deveria surgir da necessidade de união de
pessoas vinculadas a uma área profissional comum, com um ou mais objetivos específicos
[...] deve ser construída a partir e com as necessidades das bases – entendida como a
totalidade ou uma parcela dos profissionais da área (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 109).
A princípio, o encontro de várias gerações deveria promover ou estimular bibliotecários a
conhecer as questões atuais com olhar sobre a experiência do passado. Estimula-se o engajamento na
associação como uma oportunidade de resgatar a memória, mesmo que seja na oralidade. A história
da Biblioteconomia mineira deve ser pauta permanente da agenda da associação.
Enquanto uns querem preservar a memória, outros, em face do advento das tecnologias,
querem o rompimento com o passado ampliando fronteiras, inclusive para o acolhimento na
associação de outros profissionais, como tem sido, nos últimos anos, de acordo com o Estatuto, os
arquivistas, museólogos, todos pertencentes à área de Ciência da Informação. Além do Estatuto,
quais ações são empreendidas? Os bibliotecários, por serem os fundadores da ABMG, têm
consciência dessa relação? Os arquivistas e museólogos têm conhecimento dessa possibilidade de se
associarem? Como percebem essa realidade?
Dessa relação, ainda não totalmente estabelecida, talvez seja possível identificar o sentimento
de pertencimento que os associados tenham para com a associação, como está sendo visto, e se existe
mesmo essa aproximação entre os profissionais dos primórdios da associação com a atualidade e
quais vínculos estão de fato estabelecidos.
Adotando os critérios sobre a qualidade política da associação, pode-se inferir sobre os “reais
motivos” de interesse pela participação ou não participação dos bibliotecários, arquivistas,
museólogos e analistas de sistemas informacionais.
Quais estímulos favorecem a aproximação dos mesmos com a associação são questões que
estimulam o encontro para a reflexão em busca de respostas, e de como agregar, de fato, pessoas para
o trabalho associativo. Ações que poderão funcionar como estratégias para avançar rumo à inovação
no sentido de uma nova reconfiguração da associação de bibliotecários, detectando as possíveis
�300
necessidades de mudanças de mentalidade e comportamentais, do profissional que lida com o caos
informacional, de modo geral, em relação à associação. Parte dos motivos para participação ou não
participação possivelmente estabelece “nexus” com o que os autores citados neste texto classificaram
como critérios de qualidade política de associações. O não reconhecimento desses critérios, por parte
das instituições ou pelos associados, pode dificultar o engajamento em ações coletivas, em
movimentos de interesse da classe.
Segundo Demo, é preciso participar conscientemente, acentuando que “a maior inteligência
da participação está em mostrar-se tão necessária quanto viável”, sublinhando-se a importância de
um planejamento considerado pelo autor como um “instrumento de participação”. “Entretanto, assim
o cremos, não somente no sentido de pelo menos não estorvar processos participativos, mas
igualmente no sentido de colaborar em sua motivação” (DEMO, 1993, p. 42).
Essa citação vem mostrar que a participação está para além do discurso, requer muito trabalho
e que a sua qualidade e planejamento dependem da autocrítica, da capacidade de autoavaliação de
cada sujeito social envolvido no seu fazer. Sobre o dever de participação política, pode-se concluir e
acrescentar aos apontamentos de Demo (1993):
[...] todo indivíduo exerce alguma influência sobre o meio social em que vive e sofre
influência desse meio por mais que procure isolar-se [...] a participação não depende de se
desejar ou não, pois mesmo aqueles que não tomam qualquer atitude são utilizados pelos
grupos mais ativos, visto que o silêncio e a passividade são interpretados como sinais de
concordância com as decisões dos grupos dominantes (DALLARI, 1983, p. 34).
Ou seja, a oportunidade do encontro valoriza os registros sobre o profissional e sobre a
Biblioteconomia, passando também pela oralidade, pela oportunidade de contar e preservando a
memória, no próprio espaço físico da associação. As ações planejadas estratégicas devem permear
iniciativas nesse sentido. Mas também a não participação pode deixar lacunas que outros grupos de
pessoas mais organizados e articulados poderão ocupar espaços, desde que queiram e não
encontrando resistências, já que há o esvaziamento das associações, de modo geral. É preciso
refletir sobre essa realidade, se seria esse o destino dos sindicatos, grêmios e associações de classe
com o impacto das tecnologias.
Finalizando, a ABMG, sendo parte integrante dos movimentos associativos do Brasil,
merece estudo histórico, resgatando sua documentação arquivística, suas histórias, principalmente,
por meio da oralidade de muitos bibliotecários atuantes desde o início de sua fundação.
�301
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À GUISA DE CONCLUSÕES
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL: O FUTURO EM PERSPECTIVA
Jorge Santa Anna
1 MAS AFINAL, O QUE É BIBLIOTECONOMIA SOCIAL?
A Biblioteconomia é uma área de conhecimento, porque tem suas origens em tempos
remotos da sociedade e foi se desenvolvendo, ao longo dos períodos históricos, deixando de ser um
fazer técnico para se aperfeiçoar, a partir de métodos cientificamente construídos. Trata-se, como
dizia Shera (1977), de uma construção coletiva, pautada em ações concretas existentes no dia a dia
das instituições e dos profissionais, sem perder, contudo, o aspecto humano, social e
epistemológico, com base em princípios e argumentos teóricos que possibilitam a sua evolução.
Essa área de conhecimento tem um potencial extraordinário para a sociedade, como também
permeia todas as demais áreas do saber humano, uma vez que possibilita a “limpeza”, separando, ou
melhor, organizando o conhecimento produzido e tornando-o passível de ser recuperado. Como
dizia Andrade (1976), é ela que alimpa as escolhas dos estudiosos de toda suja confusão, o que
permite o desenvolvimento das demais áreas científicas, das profissões e da sociedade, em geral.
Com base nesses argumentos, a priori, é possível constatar a dependência da sociedade e do
mundo à Biblioteconomia. Ela sempre esteve presente e acompanha o desenvolvimento
tecnológico, mesmo que se reinventando, tornando-se mais fortalecida, “de cara nova”, sobretudo a
partir da incorporação dos recursos digitais nas práticas de organização, representação e
disseminação do conhecimento.
Trazemos à discussão, nosso ilustre professor Edson Nery da Fonseca (2007), ao proferir
que o significado da palavra, talvez, possa trazer uma concepção pejorativa e que, certamente, não
consegue representar a amplitude das funções e do louvor atribuído à Biblioteconomia, aos
bibliotecários e às bibliotecas. De qualquer forma, o referido teórico salienta que enquanto
existirem
sociedades
humanas,
haverá
bibliotecas,
e
é
de
fundamental
importância
considerar/valorizar o papel da leitura, do leitor e do profissional que proporciona o acesso à
informação.
É certo que o papel inestimável da biblioteca sempre existiu, mas, ao contrário do que
muitos, erroneamente, pensam, é a partir das últimas décadas, em face do crescimento dos
�305
movimentos sociais e dos princípios básicos que regem as sociedades democráticas que as
bibliotecas acabaram se fortalecendo. A tecnologia não inibe a atuação bibliotecária e o poder das
bibliotecas, nem, tampouco de outras instituições de informação e educação. É como salienta Lévy
(1999), é um novo tempo, em que as pessoas interagem de outra forma, por meio dos recursos
digitais, consolidando uma cultura interativa, uma sociedade integrada.
E, é nesse novo tempo, que o poder hegemônico e opressor que, durante séculos, conduziu a
sociedade, torna-se cada vez mais vulnerável, estimulando o desejo de uma sociedade libertadora,
em que os direitos humanos e democráticos ganham destaque, logo, a educação (FREIRE, 1996),
em conjunto com a informação (McGARRY, 1999), tornam-se os recursos mais almejados,
necessários para inibir as desigualdades e garantir o estabelecimento de sistemas sociais menos
opressores e mais pacíficos e libertadores.
A valorização atribuída à informação e à educação, como discorrido pelos teóricos citados,
estimula o desenvolvimento de uma nova sociedade, portanto, de uma nova Biblioteconomia, em
que velhos paradigmas passam a caminhar em paralelo com outros paradigmas. Observa-se a
transformação de uma biblioteca que tem como atividade básica a custódia, para uma unidade de
informação que prioriza o acesso e, mais recentemente, o uso para fins de desenvolvimento humano
e social.
Nessa discussão, é bem-vindo o discurso de Capurro (2003), acerca dos paradigmas que
sustentam a Ciência da Informação, e as proximidades dessa ciência com a Biblioteconomia
permitem garantir, ainda mais, o fortalecimento dessa última, como uma técnica, uma disciplina,
uma ciência, uma área de conhecimento essencial para a sociedade do futuro.
Capurro (2003) considera como principais paradigmas, o físico, o cognitivo e o social. O
primeiro diz respeito aos registros gráficos em que a informação se utiliza para ganhar forma, se
materializar. Nesse aspecto, associemos tal paradigma à formação dos acervos, atividade tradicional
das bibliotecas; o paradigma cognitivo é aquele em que a informação se dinamiza em fluxos e pode
ser recuperada por diferentes usuários, considerando as necessidades de cada um. Assim, os fazeres
bibliotecários que viabilizam o atendimento ao usuário, as estratégias de disseminação e
recuperação da informação podem ser um exemplo da ocorrência desse paradigma; por fim, o
paradigma social é aquele que se relaciona ao uso; ele vai além da materialidade da informação, na
forma documental, e alcança instâncias mais elevadas, em que os usuários agregam valor à
informação, à medida que fazem uso dela em seus contextos de vida. O paradigma social, portanto,
pode ser assimilado às tentativas das bibliotecas em elevar os serviços para além das instituições, de
modo a preocupar-se, não apenas, com a custódia e o acesso, mas o uso da informação, tendo uma
aplicabilidade prática e útil na vida dos indivíduos.
�306
No âmago da Biblioteconomia contemporânea, acreditamos que os paradigmas da Ciência
da Informação são incorporados à Biblioteconomia, não sendo eles excludentes, mas caminham
juntos, formando um conjunto que acaba por caracterizar uma área cada vez mais fortalecida e
diversificada. A Biblioteconomia não é a ciência da custódia, do acesso e nem, tão somente, do uso,
mas, podemos dizer, que, nos tempos atuais, ela contempla esses três aspectos, sendo, portanto, uma
ciência mista, uma ciência híbrida, e, por assim dizer, os profissionais e as unidades de informação
recebem essa mesma pluralidade de funções, sustentados por um paradigma híbrido.
É a partir do desenvolvimento das sociedades democráticas, em favor do exercício da
cidadania, resultado alcançado, sobremaneira, a partir das revoluções do século XIX e XX, tais
como Industrial, Francesa e Tecnológica (BELL, 1974) que assistimos, hoje, uma sociedade em que
somente sobrevive quem se adapta. Com efeito, para essa adaptação, é preciso conjugar o misto de
paradigmas, de modo a atender as diferentes necessidades e anseios da sociedade. No caso da
Biblioteconomia, uma ciência híbrida, que utiliza dos fundamentos teóricos da Ciência da
Informação e da Epistemologia Social (SHERA, 1977), entendemos que seja necessário comungar
dos aspectos físicos, cognitivos e sociais (figura 1).
Figura 1 - Conjugação dos paradigmas físico, cognitivo e social para uma ciência híbrida
FÍSICO:
COGNITIVO:
Acervos
Serviços
informacionais
informacionais
SOCIAL:
Questões e práticas
sociais
BIBLIOTECONOMIA CONTEMPORÂNEA:
bibliotecas e bibliotecários na sociedade
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).
A Biblioteconomia na atual sociedade se apresenta como uma ciência e profissão mista,
plural ou híbrida, em que são conjugados os três principais paradigmas discorridos no âmbito dos
estudos da Ciência da Informação, como defendido na tese de Capurro (2003). Embora essa seja a
realidade, não há como negar as fortes tendências do ambiente tecnológico e a preocupação
premente dos Estados Democráticos com as causas sociais. Por isso, reforçamos os argumentos
propostos por Shera (1977), acerca do fortalecimento de uma área que tem seu espaço de ocupação,
tão somente, para o benefício da sociedade. Logo, nota-se a prevalência de um dos principais
campos inerentes à Biblioteconomia, a Biblioteconomia Social.
�307
A Biblioteconomia Social é a disciplina que se ocupa com as questões que não se limitam ao
ambiente da biblioteca. Podemos dizer que esse campo aproxima, cada vez mais a biblioteca da
sociedade, de modo que os serviços criados, tradicionalmente, para serem oferecidos em uma
unidade, passam a ser oferecidos em outras instâncias e contextos muito além dos muros das
instituições, como ensinado por Almeida Júnior (1997).
A Biblioteconomia Social tem como objetivo as causas, os problemas, as necessidades, as
tendências da sociedade. Ela se manifesta em contextos desinstitucionalizados, ou seja, não se
prende a um único espaço formal institucionalizado, mas torna-se autônoma, capaz de aproveitar
outras possibilidades a serem oferecidas fora do ambiente institucional (LANCASTER, 1983).
As questões e práticas sociais passam a ser o foco dos produtos e serviços bibliotecários.
Eles convergem os espaços sociais em suas múltiplas facetas, por meio de uma biblioteca pública,
democrática e de qualidade, que preza pela cidadania, pelos direitos humanos, pela igualdade social,
pelo respeito às diferenças, que adentra-se à cultura da nação e que conduz os projetos, políticas e
demais ações no âmbito político (ALMEIDA JÚNIOR, 1997).
Colocar-se a serviço das causas sociais tem sido uma das principais preocupações dos
Estados Democráticos. A agenda governamental, seja em âmbito de Brasil ou internacionalmente,
cada vez mais, tem como base a garantia de direitos e deveres, uma luta conjunta das nações em
prol da erradicação da pobreza e fortalecimento da igualdade. Essa tendência vem se aproximando,
também, da Biblioteconomia, sobretudo dos órgãos de classe. A Agenda 2030 da Organização das
Nações Unidas, em conjunto com outras ações que prezam pelo desenvolvimento sustentável das
nações, é a comprovação desse empreendimento por parte da classe bibliotecária.
Portanto, embora tenhamos como base os três paradigmas da Ciência da Informação
(CAPURRO, 2003), cabe afirmar que um desses se sobressai, ou seja, temos um paradigma
emergente (SANTOS, 2000), que é o paradigma social. Por conseguinte, a Biblioteconomia Social é
um campo emergente no decorrer das próximas décadas do século XXI. Além disso, há de se
considerar que o paradigma social é mais abrangente, logo, os demais paradigmas inserem-se ao
paradigma social, visto que os acervos e os serviços informacionais, conforme as necessidades dos
usuários, são elementos do ambiente social.
Em síntese, a Biblioteconomia Social é a disciplina que adentra-se às causas sociais,
considerando como causas sociais todos os elementos do ambiente social e todas as ocorrências da
sociedade. Dentre essas causas, destacam-se, principalmente, os serviços oferecidos que garantam a
consolidação dos princípios democráticos e dos direitos humanos, em busca de uma sociedade mais
justa e igualitária. Portanto, nesse aspecto, a Biblioteconomia Social perpassa diferentes contextos,
em que presenciam-se casos de desigualdades e/ou vulnerabilidades, injustiças, explorações,
�308
conflitos, situações de preconceitos, desrespeitos, ambientes propícios a sentimentos de angústias,
aflição, dentre outras muitas situações em que, por meio do acesso à informação, de alguma forma,
os problemas existentes nesses contextos possam ser solucionados ou minimizados.
Os bibliotecários que comungam da Biblioteconomia Social são aqueles que investem cada
vez mais nas causas sociais, seja por meio da elaboração de projetos que levem informação, cultura,
entretimento e educação a todos os cidadãos, sem qualquer tipo de limitação temporal ou espacial,
como também, sem qualquer tipo de discriminação, respeitando as peculiaridades de cada ser
humano. E essas atividades passam a ser oferecidas em ambientes que extravasam as paredes das
bibliotecas. Ou seja, a Biblioteconomia Social tem uma forte tendência de ir além, de ir ao encontro
dos usuários, de se fazer presente nos espaços sociais, ampliando os horizontes da unidade de
informação.
2 O QUE SE ESPERA DA BIBLIOTECONOMIA NO SÉCULO XXI?
A Biblioteconomia Social é a grande aposta para o século XXI, visto que contempla ou
abarca os demais paradigmas existentes nas unidades de informação da contemporaneidade. Formar
acervos, gerenciar serviços de acesso e garantir o uso desses serviços para fins de disseminação da
informação é a função central (ou deveria ser) de qualquer biblioteca. Portanto, a biblioteca é feita
pela e para a sociedade, devendo se tornar um ambiente cada vez mais democrático, dinâmico,
híbrido e inovador.
Está comprovada a contribuição da informação e da educação para o desenvolvimento da
sociedade. Também estão cada vez mais percebíveis, os esforços das nações em prol da construção
de sociedades mais democráticas e igualitárias, com base na cidadania. Diante dessa necessidade
social, ou melhor, dessa tendência da sociedade contemporânea, presumimos que a Biblioteconomia
Social tende a se fortalecer a cada dia.
Para que esse fortalecimento ocorra, é preciso a união de esforços de todos os envolvidos
com a área, seja os profissionais inseridos em qualquer modalidade de biblioteca, ou atuante em
qualquer tipo de serviço de informação; seja de docentes e pesquisadores; seja de estudantes ou
órgãos de classe, dentre outros agentes. A questão não é achar culpados para os problemas que
permeiam o fortalecimento da área, mas sim, cada um assumir o seu compromisso, em contribuir
para garantir o reconhecimento e valorização por parte da sociedade. Acreditamos que é por meio
do reconhecimento, que o fortalecimento se consolidará.
�309
Além do compromisso em expandir os serviços biblioteconômicos, em mostrar o potencial
da Biblioteconomia, compromisso esse dos envolvidos com a área, é preciso, por outro lado,
despertar a valorização por parte da sociedade, sobretudo dos gestores públicos, haja vista conceder
políticas públicas que garantam o desenvolvimento das bibliotecas e dos serviços informacionais.
Assim, conforme a figura 2, por meio do engajamento por parte dos envolvidos com a área e do
reconhecimento/valorização por parte da sociedade, a Biblioteconomia Social tende a ser
fortalecida.
Figura 2 - Fortalecimento da Biblioteconomia Social: engajamento + valorização
ENGAJAMENTO PROFISSIONAL
Agentes envolvidos com a área
FORTALECIMENTO
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL
VALORIZAÇÃO/RECONHECIMENTO
Agentes sociais (empregadores,
gestores públicos etc.)
Melhorias à sociedade
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).
Conforme esquematizado na figura 2, é possível presumir um futuro esperançoso para a
Biblioteconomia Social. O futuro que se espera, e que, certamente, toda a sociedade quer e precisa,
é um futuro em que a informação - oferecida por meio dos serviços bibliotecários - tenha cada vez
mais utilidade prática na sociedade, e que esses serviços sejam realizados, principalmente, em
contextos onde as pessoas mais precisam.
Para que isso ocorra é preciso atender duas exigências: 1 - que os bibliotecários continuem
extravasando os muros das bibliotecas ao elaborarem serviços que vão além das instituições e que
lutem para demonstrar as potencialidades da área; 2 – que a sociedade, representada por
empregadores e gestores públicos - possa reconhecer o potencial desses serviços e criem/gerenciem
políticas que envolvam os profissionais e que utilizem dos serviços bibliotecários para
desenvolvimento das organizações e, por conseguinte, para o desenvolvimento da própria
sociedade.
No que se refere ao reconhecimento do potencial da Biblioteconomia Social para o futuro, é
esperada a participação cada vez mais intensa do poder privado e, especificamente, do poder
público. Assim, é preciso a oferta de recursos, infraestrutura e condições de trabalho adequadas para
os profissionais. É preciso diversificar os ambientes de atuação, permitindo que os profissionais
sejam inseridos nas diferentes secretarias e órgãos, atuando além das unidades. É preciso envolvê-
�310
los em equipes multiprofissionais, haja vista contribuírem com sugestões inovadoras, garantindo
melhoria contínua ao que é oferecido à população. Enfim, é preciso conhecer melhor e dar o devido
reconhecimento e oportunidade, para que o desejo de uma sociedade mais justa e igualitária possa
ser alcançado.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteconomia e Sociedade. São Paulo: Polis,
1997.
ANDRADE, Mario. Os filhos da Candinha. São Paulo: Martins, 1976.
BELL, Daniel. O Advento da Sociedade Pós-Industrial. São Paulo: Cultrix, 1974.
CAPURRO, Rafael. Epistemologia e ciência da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE
PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - ENANCIB, 5., 2003. Belo Horizonte. Anais...
Belo Horizonte: UFMG, 2003.
FONSECA, Edson Nery da. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos,
2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
LANCASTER, Frederic. A biblioteconomia futura: preparando para uma carreira nãoconvencional. Wilson Library Bulletin, p. 747-753, maio 1983.
LÉVY, Pierre. Cibercultrua. São Paulo: Editora 34, 1999.
MCGARRY, Kevin. O contexto dinâmico da informação: uma análise introdutória. Brasília:
Briquet de Lemos, 1999.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: Contra o desperdício da
experiência. São Paulo: Cortez, 2000.
SHERA, Jesse. Epistemologia social, semântica geral e Biblioteconomia. Ciência da Informação,
Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-12, 1977.
�311
EQUIPE
ELABORADORA
DADOS
BIOGRÁFICOS
�312
DADOS BIOGRÁFICOS
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte: Professora Associada do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais.
E-mail: <bogliolo@eci.ufmg.br>.
Álamo
Chaves
de
Oliveira
Pinheiro:
Bibliotecáriodocumentalista da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Especialista em Gestão de Pessoas pelo Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Bacharel em
Biblioteconomia pela UFMG. Cursou disciplinas do Mestrado em
Ciência da Informação e do Mestrado em Gestão e Organização
do Conhecimento da UFMG. Foi Diretor de Informações
Estratégicas da empresa Praxis Softwares Gerenciais. Foi Vicepresidente e Tesoureiro do Conselho Regional de Biblioteconomia
6º Região (CRB-6).
E-mail: <o.arietino@yahoo.com.br>.
Alessandra Soraya Gino Lima: Graduada em Biblioteconomia
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós–
Graduação em Biblioteconomia e gestão. Atualmente, é diretora
da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, onde atua no
gerenciamento da organização de acervos bibliográficos,
promoção de atividades culturais de incentivo ao livro e à leitura,
na disseminação da informação e na preservação do patrimônio
bibliográfico relativo a Minas Gerais.
E-mail: <alessandragino@yahoo.com.br>.
Ana Carolina Silva da Cunha: Bibliotecária. Graduada pela
Universidade Federal do Espírito Santo (2018).
E-mail: <anacarolinacunha2003@yahoo.com.br>.
�313
Ana Karisse Valença Silva Azevedo: Graduada pelo Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal de Alagoas (2018). Foi
pesquisadora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (PIBIC/CNPq) no Projeto "As relações étnico-raciais na
organização do conhecimento: uma análise no sistema de
Classificação Decimal de Dewey” e monitora da disciplina de
"Representação Temática 1" do Curso de Biblioteconomia.
E-mail: <karisseazevedo@gmail.com>.
Andrea de Paula Brandão Martins: Mestrado Profissional pelo
Centro Universitário UNA BH em Gestão Social Educação e
Desenvolvimento
Local
(2013).
Especialização
em
Gestão
Estratégica da Informação pela Escola de Ciência da Informação
(ECI), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2005).
Graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas
Gerais (1998). Bibliotecária documentalista lotada na Universidade
Federal de Minas Gerais – Sistema de Biblioteca Universitária da
Faculdade de Direito.
E-mail: <dedehbrandao@hotmail.com>.
Andreza Gonçalves Barbosa: Bacharela em Biblioteconomia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre e Doutoranda
em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação ( PPGCI) da Escola de Ciência da Informação
(ECI), na UFMG .
E-mail: <goncalvesandreza@hotmail.com>.
Aurea Regina Guimarães Tomasi: Graduação em Ciências Sociais
pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade
Federal de Minas Gerais (1979); Pós-Graduação em Ciências Sociais
Aplicadas à Educação - Faculdade de Educação da UFMG (1982);
Mestrado em Ciências da Educação - Université René Descartes ParisV Sorbonne (1994) e Doutorado em Ciências da Educação Université René Descartes Paris, V Sorbonne (2005).
E-mail: <aureagt@gmail.com>.
�314
Claudialyne da Silva Araújo: Doutoranda e Mestra em Ciência da
Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB).
Docente do curso de Arquivologia da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB). Graduada em Biblioteconomia pela Universidade
Federal da Paraíba.
E-mail: <claudialynearaujo@gmail.com>.
Claudia Barbosa dos Santos de Souza: Bacharel em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (Unirio). Arquivista, graduada pela Universidade Federal
Fluminense (UFF). Pós-Graduação em MBA Gestão Empresarial e
Sistemas de Informação pela UFF. Atuou como estagiária de
Biblioteconomia: Sesc Departamento Nacional: 03/2017 a 11/2018;
Biblioteca da Alerj: Outubro/2016 a Fevereiro/2017; Biblioteca
jurídica da PGM-RJ: junho a setembro/2016; Biblioteca Central da
Unrio em 2016. Atuou como arquivista, Coordenadora de
Documentação em empresas privadas de médio e grande porte. –
Período:2008 a 2016.
E-mail: <claudia.bs.souza@gmail.com>.
Daniela Spudeit: Professora no curso de Graduação em
Biblioteconomia e no Programa de Pós-Graduação de Gestão da
Informação da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
É doutoranda e possui Mestrado em Ciência da Informação pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em
Gestão de Unidades de Informação e em Didática do Ensino
Superior. Possui bacharelado em Biblioteconomia e licenciatura em
Pedagogia.
E-mail: <danielaspudeit@gmail.com>.
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva: Doutorando pelo Programa
de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento da
Universidade Federal de Minas Gerais (PPGGOC-UFMG). Mestre em
Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB).
Graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba.
Membro do Grupo de Pesquisa Informação, Aprendizagem e
Conhecimento (GIACO) do Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento (CNPq).
E-mail: <biblioebfs@yahoo.com.br>.
�315
Elaine
Meneguci
Gregório:
Bibliotecária,
graduada
pela
Universidade Federal do Espírito Santo (2013). Atuou como estagiária
em unidades de informação e documentação como: recursos humanos
e arquivo do Instituto Federal do Espírito Santo; Biblioteca
universitária - período junho de 2012 a agosto de 2015. Atua em
empresa de Comunicação na área de arquivo e catalogação e
descrição de imagens. Trabalha em consultoria de arquivo jurídico.
E-mail: <ellaine.grego@gmail.com>.
Eni Maria de Souza Pinto Zanetti: Graduada em Biblioteconomia
e Administração. Mestre em Engenharia de Produção. Atuante no
ramo educacional. Compõe o editorial da Revista Atalaia. Professora
e Coordenadora de Curso Técnico, Membro da CPA e Bibliotecária da
Faculdade Castelo Branco.
E-mail: <e.zanetti@oi.com.br>.
Edivanio Duarte de Souza: Doutor em Ciências da Informação
pela Universidade Federal de Minas Gerais (2011). Mestre em
Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (2004).
Graduado em Direito pela Faculdade Estácio de Alagoas (2014) e
em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba (1999).
Professor do Curso de Biblioteconomia e do Programa de PósGraduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de
Alagoas, atuando na linha de pesquisa “Produção, Mediação e
Gestão da Informação".
E-mail: <edivanioduarte@gmail.com>.
Flávia Ferreira Abreu: Possui Graduação em Biblioteconomia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (2010). Atualmente, é
mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação/UFMG. Tem experiência na área de Ciência da
Informação, com ênfase em Gestão da Informação, atuando
principalmente nos seguintes temas: leituras compartilhadas,
biblioteca itinerantes, mediação de leituras e em gestão de sistema
da informação.
E-mail: <flaviaabreu2911@gmail.com>.
�316
Gildete Santos Veloso: Graduada em Biblioteconomia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É servidora da
Secretaria de Estado da Cultura (SEC), desde 1996, onde já
exerceu as funções de coordenadora do Setor Braille e
coordenadora do Serviço de Caixa Estante. Desde agosto de 2011,
ocupa o cargo de Diretora de Extensão e Ação Regionalizada
(DEAR) na Superintendência de Bibliotecas Públicas e Suplemento
Literário (SUBSL).
E-mail: <dear.sub@cultura.mg.gov.br>.
Gleice Pereira: Doutora em Ciências da Informação pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Tecnologia
Educacional pela Universidad de Salamanca (1993). Especialista em
Documentação e Informação pela Universidade Federal do Espírito
Santo (1990) e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade
Federal do Espírito Santo (1989). Atualmente, é professora
assistente do Departamento de Biblioteconomia da Universidade
Federal do Espírito Santo.
E-mail: <gleicepereira@gmail.com>.
Helba
Aparecida
Borges:
Bibliotecária,
graduada
pela
Universidade Federal do Espírito Santo. Tem experiências nas
áreas de Bibliotecas Públicas e Escolares, com participação em
projetos sociais.
E-mail: <helba@yahoo.com.br>.
E-mail: paularenatamariano@gmail.com
Igor de Souza Bento: Bibliotecário, graduado pela Universidade
Federal do Espírito Santo (2018).
E-mail: <igorsouzabento@gmail.com>.
�Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Atua no ramo
da prestação de serviços informacionais, ministrando aulas de
Metodologia
Científica,
Normalização
Bibliográfica
e
Estruturação/Revisão de textos acadêmico-científicos, além de
orientações e consultorias diversas na área da Ciência da
Informação e Pesquisa e Estudos Acadêmicos. É membro do
comitê editorial e assessor do Periódico Pró-Discente, do Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES).
E-mail: <professorjorgeufes@gmail.com>.
Karla Karinne Alcoforado Pinho Costa: Graduada em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Especialista em Gestão de Bibliotecas Escolares pela Faculdade
Católica de Fortaleza/Acesso Educacional. Atualmente, atua como
Bibliotecária do Colégio Ari de Sá Cavalcante em Fortaleza.
E-mail: <karlakarinne@aridesa.com.br>.
Laiana Ferreira de Sousa: Graduada em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestra
em Ciência da Informação pela UFPB. Especialista em Educação à
Distância pela UFC. Especialista em Teorias da Comunicação e
Imagem pela UFC. Atualmente, atua como Supervisora Pedagógica
e de Monitoramento e Avaliação do Núcleo de Tecnologias e
Educação a Distância em Saúde da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará (NUTEDS/FAMED/UFC). Professora
de Pós-Graduação nas áreas de Gestão Estratégica e Unidades de
Informação e Gestão em Bibliotecas Públicas e Escolares.
E-mail: <laiana_ffsousa@hotmail.com>.
Maria Aparecida de Mesquita Calmon: Graduada em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Pós-Graduação em Biblioteca Escolar. Graduanda em
Arquivologia pela UFES.
E-mail: <macalmom@hotmail.com>.
317
�318
Maria de Lourdes Franklin Maia: Bibliotecária, graduada pela
Universidade Federal do Espírito Santo. Tem experiências nas áreas
de Bibliotecas Públicas e Escolares, com participação em projetos
sociais.
E-mail: <lourdesfranklim@gmail.com>.
E-mail: paularenatamariano@gmail.com
Maria do Socorro Soares Rodrigues: Graduada em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Especialista em Gestão de Bibliotecas Públicas e Escolares pela
Universidade
Católica
de
Fortaleza/Acesso
Educacional.
Atualmente, é Bibliotecária da Universidade Estadual do Ceará –
Centro de Humanidades – Campus Fátima.
E-mail: <msoares425@gmail.com>.
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Bibliotecária do Sistema de
Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Geria (UFMG). Possui
Mestrado em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da UFMG.
Presidente da Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais.
Exerceu o cargo de diretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no
período 2006-2013. Atua principalmente em áreas temáticas que
abrangem as seguintes questões: Bibliotecas Universitárias Gestão de Pessoas, Gestão em Unidade de Informação, Biblioteca
Digital, Competência Informacional, Extensão Universitária e
Ensino a Distância.
E-mail: <mabethcosta@gmail.com>.
Paula Renata Mariano: Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em
Gestão Pública e em Gestão de Projetos Sociais. Atua há 14 anos
em biblioteca pública, elaborando e coordenando projetos
culturais, sociais e de inclusão, através do incentivo à leitura,
promovendo a democratização do acesso à informação.
E-mail: <paularenatamariano@gmail.com>.
E-mail: paularenatamariano@gmail.com
�319
Rafael Ribeiro Rocha: Aluno do 4º período do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Possui Graduação em Comunicação Social – Habilitação
em Jornalismo pelo Centro Universitário Estácio de Sá de Belo
Horizonte (2012). Trabalhou como estagiário na Biblioteca do
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais –
Campus I. Atualmente, exerce o cargo de estagiário na
Gerência-Geral de Documentação e Informação (GDI) da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
E-mail: <ribrocc18@gmail.com>.
Sara Suyane de Sousa Rodrigues: Graduada em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Graduanda em Letras Português pela UFC/Universidade Aberta
do Brasil (UAB). Especialista em Gestão de Bibliotecas Públicas
e Escolares pela Faculdade Católica de Fortaleza/Acesso
Educacional. Atualmente, atua como bibliotecária escolar no
Colégio Santo Inácio em Fortaleza.
E-mail: <sarasuyane.00@gmail.com>.
Suelen de Oliveira Campos: Arquivista/Bibliotecária.
Complementação Pedagógica em História. Especialista em
Gerenciamento de Projetos/ História e Tecnologia em
Informática na Educação.
E-mail: <suelenoc@gmail.com>.
Taciane Gomes Rodrigues: Bibliotecária, graduada pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Graduação em
Gestão Estratégica da Informação. Atuou como estagiária em
unidades de Informação e documentação como: Arquivo do
Departamento De Pessoal/UFMG, 2009 a 2010; Biblioteca
Universitária UFMG – período outubro 2010 a março 2011;
Assembleia Legislativa de Minas Gerais no período de
fevereiro 2011 a dezembro de 2011. Trabalhou como
bibliotecária documentalista em Empresas como: Manabi S/A
e Construtora Andrade Gutierrez. Trabalha com Normalização
documentária.
E-mail: <tacianegomees@gmail.com>.
�320
Tatiana Soares Brandão: Graduada em Biblioteconomia e
Letras (UFMG). Especialista em Gestão de Projetos Sociais.
Atua na Biblioteca Pública da cidade de Lagoa Santa - MG,
onde cresceu e reside. Elabora e coordena projetos culturais,
sociais e de inclusão, através do incentivo à leitura,
fomentando a democratização do acesso à informação.
E-mail: <tatianasb10@gmail.com>.
E-mail: tatianasb10@gmail.com
Valéria Rodrigues de Oliveira Pozzatti: Mestre em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (UniRio, 2016). Graduada em Biblioteconomia
pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES, 2001).
Especialização em Educação a Distância pela Universidade
Católica de Brasília (2006). Atualmente, é coordenadora da
biblioteca do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo (IFES), Campus de Vila Velha.
E-mail: <valeriapozzatti@gmail.com>.
�321
Esta é uma obra editada pela:
ABMG
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício
Rotary, Sala 608
Como referenciar esta coletânea no todo:
SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria
Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para
construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. 320 p.
�322
�
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
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Title
A name given to the resource
Biblioteconomia social: possíveis caminhos para construção da cidadania
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2018
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
978-85-85259-01-3
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia Social
Cidadania
Description
An account of the resource
O livro está dividido em quatro partes e subdivido em vinte capítulos, abordando temas ligados à Biblioteconomia Social e à utilização da leitura, como meio transformador nos diferentes espaços físicos e contextos da sociedade, objetivando a democratização do acesso à informação como forma de conscientizar o cidadão, visando minimizar as desigualdades sociais
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Livro
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ABMG
Livros
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6d5b2205ca8feb377e3781e8e05f37ee
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Text
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL E EMPREENDEDORISMO
BIBLIOTECÁRIO: TEMAS EMERGENTES PARA O SÉCULO XXI
Jorge Santa Anna (UFMG) - professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira Costa (UFMG) - mabethcosta@gmail.com
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva (SEMEC) - biblioebfs@yahoo.com.br
Resumo:
A preocupação com o desenvolvimento sustentável das nações - conforme proposta da Agenda
2030 - tem sido colocada como uma questão emergente na área de Biblioteconomia e Ciência
da Informação. Parte-se do pressuposto de que as bibliotecas, seus profissionais e órgãos de
classe desempenham papel imprescindível, haja vista mobilizar ações em prol dessa causa. O
presente texto propõe reflexões acerca dos projetos que podem ser desenvolvidos pelas
bibliotecas e bibliotecários em âmbito local, com o intuito de possibilitar o alcance do
desenvolvimento sustentável, especificamente no que tange à eliminação das desigualdades e
a ampliação da oferta de emprego. Utiliza pesquisa descritiva, bibliográfica e estudo de caso,
com abordagem mista. O ambiente de investigação é a Associação de Bibliotecários de Minas
Gerais e o caso contempla o levantamento de informações sobre o desenvolvimento e
publicação de duas coletâneas. A partir deste estudo, foi possível concluir que a
Biblioteconomia Social e o Empreendedorismo na Biblioteconomia são temas emergentes a
serem explorados pelos bibliotecários, em seus variados contextos de atuação, de modo a
fortalecer o compromisso da área com o desenvolvimento sustentável. Os resultados
revelaram a existência de diversos assuntos e projetos voltados para esses temas,
desenvolvidos em diferentes estados e distintos contextos, seja no âmbito da formação,
atuação ou na pesquisa. Conclui que as associações profissionais contribuem ao articular os
bibliotecários nos estados e municípios brasileiros, a partir de eventos, projetos e atividades
inovadoras e mobilizadoras, incentivando à publicação desses resultados, haja vista provocar
maior visibilidade e reconhecimento acerca da atuação bibliotecária.
Palavras-chave: Agenda 2030. Biblioteconomia Social. Empreendedorismo bibliotecário.
Causas sociais. Atuação e intervenção bibliotecária.
Eixo temático: Eixo 1: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
�XXVIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação
Vitória, 01 a 04 de outubro de 2019.
1 INTRODUÇÃO
A Biblioteconomia é uma área de conhecimento que remonta aos primórdios da
civilização. Ao longo do tempo, assistiu-se o desenvolvimento dessa área, com destaque
às atividades técnicas realizadas por bibliófilos e copistas, a fazeres mais sofisticados,
com o uso de métodos e técnicas de representação e organização de acervos, realizados
por profissionais habilitados ao exercício da profissão.
Na sociedade atual, as práticas desenvolvidas por profissionais se diversificaram,
sobretudo a partir do uso das tecnologias digitais e com a disponibilização dos acervos
informacionais na internet. As transformações ocorridas ao longo dos séculos permitiram
que a área fosse se adequando, de modo a se reinventar, ou seja, à medida que surgem
novos recursos, como consequência, surgem novas práticas, novos postos de atuação e
novas preocupações por parte da Biblioteconomia.
Considerando os propósitos do atual momento, especificamente no que tange às
recomendações da Organização das Nações Unidades (ONU), para o desenvolvimento
sustentável das nações, ao longo do século XXI, acredita-se que bibliotecas e
bibliotecários muito podem contribuir com esse desenvolvimento, sobretudo por meio de
ações inovadoras e, também, por meio de intervenções realizadas em prol da melhoria de
vida das pessoas.
A Agenda 2030 da ONU estabelece objetivos que precisam ser transformados em
ações práticas a serem realizadas em contextos locais e globais, haja vista garantir a
igualdade social e o fortalecimento da cidadania, no intuito de promover um mundo
melhor para todos, sem distinções e com mais qualidade de vida. Com esse propósito, a
Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA) elenca as
principais ações que podem ser desenvolvidas pelas bibliotecas, reforçando a importância
da realização de projetos sociais gerenciados ou apoiados pelas bibliotecas e por
bibliotecários, para o alcance das propostas do desenvolvimento sustentável.
Dentre os 17 objetivos da Agenda 2030, destaca-se, principalmente, o objetivo de
número dez, que tem o propósito de reduzir as desigualdades, cabendo às bibliotecas
criarem espaços ou intervirem em contextos sociais com o intuito de garantir “[...] a
aprendizagem para todos, incluindo os grupos marginalizados, como os imigrantes, os
refugiados, as minorias, os povos indígenas e pessoas com deficiência [...]”. Outro
objetivo a ser destacado diz respeito à promoção e crescimento econômico sustentável da
nação, possibilitando a ampliação da empregabilidade, de forma decente. Com esse fim,
as bibliotecas permitem o acesso à informação e estimula o desenvolvimento de
habilidades para que as pessoas encontrem melhores postos de trabalho, se candidatem
a eles e possam ter sucesso em melhores empregos (IFLA, 2016, não paginado).
Considera-se que a Agenda 2030 manifesta-se como um fenômeno de
transformação para o futuro, com ações concretas direcionadas à efetivação da prática
cidadã e o fortalecimento do estado democrático. Em todo o mundo, esse movimento vem
se fortalecendo, sendo que os objetivos serão alcançados, à medida que houver a
participação e o engajamento dos profissionais em seus contextos de atuação social e
profissional.
No Brasil, a Biblioteconomia tem se mobilizado, com incentivo da Federação
Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições
(FEBAB), a qual reforça e estimula as ações práticas realizadas no dia a dia de
bibliotecas e bibliotecários, em todos os contextos e instâncias do País. Segundo Ferrari
(2017), a disseminação da proposta da Agenda, no contexto brasileiro, manifesta-se como
�uma estratégia de mostrar à sociedade e aos próprios bibliotecários, as intervenções e o
potencial da Biblioteconomia na melhoria de vida das pessoas.
Essa percepção é reconhecida, certamente, quando há engajamento dos
profissionais e projetos inovadores desenvolvidos que possibilitam a mudança. Assim, as
bibliotecas ampliam suas atividades, por meio da oferta de produtos e serviços que vão
além dos muros das instituições. Com efeito, é possível que se desmistifique o estereótipo
atribuído à área, cujas bibliotecas são vistas como único local de trabalho dos
bibliotecários, e esse ambiente é considerado, apenas, como espaço para depósito de
documentos e realização de estudos.
Nesse contexto, acredita-se ser premente a discussão sobre dois temas:
Biblioteconomia Social e Empreendedorismo Bibliotecário. A Biblioteconomia Social,
segundo Silva (2018), é um campo múltiplo direcionado às questões sociais, no âmbito da
dinâmica educativa, cultural, tecnológica e científica. O Empreendedorismo Bibliotecário
também perpassa diversos setores e segmentos sociais, com foco na atuação profissional
mediante o uso de práticas interventivas e inovadoras na resolução de problemas
organizacionais e sociais, como destacado por Alves e Davok (2009).
Ciente da importância desse movimento em prol do desenvolvido sustentável,
conforme proposto pela ONU e acatado pela IFLA e FEBAB, e considerando os temas
Biblioteconomia Social e Empreendedorismo como essenciais para o fortalecimento da
área e maior participação social, é que a Associação de Bibliotecários de Minas Gerais
(ABMG) uniu esforços em prol do desenvolvimento e posterior publicação de duas
coletâneas sobre esses temas.
Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo identificar projetos que podem
ser desenvolvidos pelas bibliotecas e bibliotecários em âmbito local, com o intuito de
possibilitar o alcance do desenvolvimento sustentável, especificamente no que tange à
eliminação das desigualdades e a ampliação da oferta de emprego.
Mediante a aplicação de técnicas de pesquisa no contexto da ABMG, em face do
desenvolvimento das obras mencionadas, são adotados os seguintes objetivos
específicos: - apresentar os fatores que motivaram o desenvolvimento das obras; - expor
a concepção, estrutura, temas tratados nos capítulos e as autorias envolvidas; e, por fim, discutir a importância das obras para a área da Biblioteconomia, mencionando as
contribuições alcançadas no que tange à proposta da Agenda 2030 e o papel das
bibliotecas, bibliotecários e associações, nesse contexto.
2 MÉTODO DA PESQUISA
O presente estudo se manifesta como uma pesquisa descritiva, de abordagem
quali-quantitativa, cujos procedimentos metodológicos utilizados foram a pesquisa
bibliográfica e o estudo de caso. A junção desses métodos se fez necessária, haja vista
possibilitar maior consistência aos resultados alcançados.
A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio da consulta à Base de Dados em
Ciência da Informação, resgatando artigos e livros que versam sobre os assuntos
“Biblioteconomia Social”, “Empreendedorismo” e “A Agenda 2030 e as bibliotecas”. O
estudo de caso, por sua vez, foi realizado junto a uma Associação de Bibliotecários, a
ABMG. Nessa instituição, houve a intenção de investigar projetos referentes à Agenda
2030. Em entrevista com a diretoria, constatou-se que entre os projetos desenvolvidos
por essa associação, o que mais se adequava com a Agenda 2030 era o desenvolvimento
e publicação de duas coletâneas: uma sobre Biblioteconomia Social e a outra sobre
Empreendedorismo na Biblioteconomia.
Os dados foram coletados por meio da análise ao site da ABMG e os relatórios
institucionais acerca das atividades realizadas ao longo da produção dos livros (análise
�documental), como também a observação participante, em que os pesquisadores
identificaram momentos marcantes desse processo, permitindo reconhecer ações e traçar
possíveis interlocuções acerca do papel das bibliotecas e das associações em
conformidade com as proposta do desenvolvimento sustentável.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ABMG foi criada na década de 1950 e, no decorrer das décadas seguintes, vem
se fortalecendo como uma entidade em favor da classe bibliotecária no Estado de Minas
Gerais, sobretudo no que tange à capacitação dos profissionais. Durante os seus 60 anos
de atuação, tem se colocado a serviço das bibliotecas e dos bibliotecários, ao oferecer
cursos e eventos que despertem a cultura da inovação, acreditando que essa seja a
estratégia adequada para possibilitar o desenvolvimento da profissão.
Com esse propósito, a fim de realizar uma ação estratégica e inovadora no
contexto de Minas Gerais, de modo a estimular/despertar os bibliotecários para a ação, a
associação planejou o lançamento de dois livros, cujos assuntos considerados como
inquietantes na visão da atual diretoria são: a Biblioteconomia Social e o
Empreendedorismo na Biblioteconomia.
A ideia em publicitar coletâneas com esses temas era viabilizar à sociedade o
quanto a área pode oferecer e quanto o bibliotecário pode beneficiar-se com isso, visto
que amplia suas possibilidades de atuação, indo além das atividades comumente
realizadas em bibliotecas. Essa constatação foi identificada por meio da leitura ao
relatório de lançamento dos livros:
A atual diretoria da ABMG comunga da ideia de que o bibliotecário precisa apoiar-se no tripé inovação, transformação
e superação. Com essa postura, o abstrato cede espaço ao concreto; o impossível torna-se possível; melhoramos
como profissionais, cidadãos e como seres humanos; temos a oportunidade de ajudar e transformar vidas; enfim,
vamos muito além do que esperávamos, transformando sonhos em realidade, bastando, apenas, acreditar e engajar-se
(Dados da pesquisa, 2019, grifo nosso).
Ademais, a ideia em compilar, em uma única obra, textos que versam sobre os
mencionados temas é a crença de que, com essa estratégia, seria possível “dar voz” aos
projetos desenvolvidos por bibliotecários, os quais, em muitas vezes, esses projetos são
desenvolvidos sem recursos ou incentivos, mas, mesmo assim, conseguem promover
mudanças significativas na vida do profissional e na vida das pessoas, sobretudo àquelas
que são vítimas de algum tipo de opressão ou vulnerabilidade.
As discussões sobre a ideia em publicar essas obras iniciaram-se no grupo
WhatsApp da associação, no mês de julho de 2018, em que a ideia foi tomando forma e
proporções mais elevadas, sendo alguns desejos considerados como impossíveis, na
visão de alguns, naquele momento. Mas, ancorados em uma postura audaciosa, típica do
perfil empreendedor, a equipe partiu para a ação, o que possibilitou a elaboração das
coletâneas, em um período de apenas, seis meses.
O primeiro passo foi a criação do sumário provisório das obras, o qual foi
compartilhado entre os membros da diretoria, de modo que cada um convidasse colegas
para contribuírem na escrita. Conforme relatado em documento e discursado no evento
de lançamento, a maioria dos autores pôde escolher o capítulo de seu interesse, grande
parte já possuía partes do texto elaboradas.
O livro sobre Biblioteconomia Social foi formado por 20 capítulos, distribuídos em
quatro seções, a saber: seção 1 – Biblioteconomia Social: um fenômeno obscuro à
realidade brasileira; seção 2 – Bibliotecas no fomento à leitura: o poder transformador da
leitura em diferentes contextos da sociedade; seção 3 – A Biblioteconomia em espaços e
contextos de vulnerabilidade; e seção 4 – Práticas bibliotecárias em face do movimento
associativo. Além disso, o livro também possui prefácio, introdução e conclusão.
O livro Empreendedorismo Bibliotecário conteve um total de 18 capítulos, com
quatro seções, que são: seção 1 – Empreendedorismo e seus reflexos nas profissões;
�seção 2 – Desinstitucionalização da Biblioteconomia; seção 3 – Repensando a biblioteca
e o bibliotecário; e seção 4 – As contribuições bibliotecárias inovadoras e incentivadoras
como contribuição para o profissional e para a sociedade. Além das seções, assim como
o livro anterior, esse também contém prefácio, introdução e conclusão.
Mediante a análise ao sumário dessas obras, e ao resumo de cada capítulo
disponibilizado no arquivo administrativo da ABMG, foi possível identificar as palavraschave que representam o conteúdo dos capítulos contidos em cada seção, conforme
ilustrado na figura 1.
Figura 1 – Distribuição do número de capítulos por seções e principais assuntos discorridos
Livro Biblioteconomia Social
Livro Empreendedorismo Bibliotecário
Seção I: Aspectos históricos e
conceituais; Empreendedorismo e
profissões; Empreendedorismo na
Ciência da Informação; Cultura
empreendedora.
Seção I: Biblioteconomia
Social; Aspectos conceituais,
Cidadania; Shera;
Empreendedorismo Social.
3
7
4
Seção II: Leitura e Cidadania;
Leitura Terminais de ônibus;
Clube da Leitura.
6
Seção III: Ambiente hospitalar;
Ambiente prisional; Informação
utilitária; Sala Braille.
Seção IV: Agenda 2030;
Conselhos Regionais;
Movimento Associativo;
Participação Política.
4
7
2
5
Seção II: Consultoria
Informacional;
Desinstitucionalização da
biblioteca e bibliotecário.
Seção III: Fator humano nas
bibliotecas; Nova Biblioteconomia;
Ações culturais.
Seção IV: Prestação de serviços
informacionais; Editoração de
periódicos; Negócios; MEI.
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
A partir da análise a relatórios constantes nos arquivos da ABMG, e com base no
discurso proferido pela comissão organizadora, no dia do lançamento, foi possível
identificar que um dos objetivos dos livros era congregar profissionais, estudantes e
pesquisadores de diferentes partes do Brasil, de modo a contemplar, na obra, um
panorama nacional, demonstrando a realidade da Biblioteconomia em diferentes
contextos. Assim, participaram do desenvolvimento de ambas as obras 52 autores, a
maioria pertencentes aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo e atuantes como
alunos de Pós-Graduação, conforme figura 2.
Figura 2 – Distribuição dos autores por estados e por contextos de atuação
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Percebe-se que as obras congregaram projetos de intervenção e discussões
teóricas em diferentes contextos de atuação ou vinculação dos autores e em diferentes
instâncias e realidades do Brasil, o que possibilitou demonstrar o panorama nacional da
área.
No que se refere à importância desse empreendimento para o fortalecimento da
Agenda 2030 e o papel das bibliotecas, profissionais e instituições, tanto a observação
realizada in loco, acerca das opiniões da atual diretoria da ABMG, como também as
informações constantes nos relatórios, confirmam o alcance desse fortalecimento e o
despertar para uma atuação mais interventiva e compromissada com as questões sociais
e com o mercado de trabalho. Consta registrado em relatório da entidade:
�Crescer no mundo, cuja informação e tecnologia estão modificando as formas de vida, faz-nos pensar que podemos
organizar e estruturar nossas ações em busca de crescimento individual e organizacional. Nesse contexto, cabe aos
bibliotecários buscar compreender a forma de organização política, econômica e social e, por meio dessa
compreensão, utilizar seus conhecimentos de forma a buscar soluções para os problemas da sociedade (Dados da
pesquisa, 2019, grifo nosso).
A partir do engajamento da diretoria da ABMG e do envolvimento de diferentes
profissionais e instituições, as coletâneas manifestam-se como um produto desse esforço
conjunto. Com a publicação das obras, no formato de e-book e a disponibilização em
acesso aberto, a finalidade é promover a disseminação das boas práticas realizadas por
bibliotecários, haja vista promover a construção de uma Biblioteconomia mais social e
engajada com o desenvolvimento sustentável, nas próximas décadas do século XXI.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo, foi possível concluir que a Biblioteconomia Social e o
Empreendedorismo são temas emergentes a serem explorados pelos bibliotecários, em
seus variados contextos de atuação, de modo a fortalecer o compromisso da área com o
desenvolvimento sustentável das nações. Os resultados revelaram a existência de
diversos assuntos e projetos voltados para esses temas, desenvolvidos em diferentes
estados e em distintos contextos, seja no âmbito da formação, atuação ou na pesquisa.
Constatou-se que as associações profissionais são responsáveis com essa causa,
o que evidencia a necessidade de articular os bibliotecários nos estados e municípios
brasileiros, a partir de eventos, projetos e atividades inovadoras e mobilizadoras,
incentivando à publicação desses resultados, haja vista provocar maior visibilidade e
reconhecimento por parte da sociedade e dos próprios profissionais.
Com efeito, os resultados alcançados com o desenvolvido das coletâneas não
constituíram uma atividade fim, mas representaram um impulso inicial para que
bibliotecas, bibliotecários e instituições, em seus contextos locais de atuação e
abrangência, reforcem o potencial das ações bibliotecárias para o bem-estar social,
ampliando, portanto, os campos de atuação da Biblioteconomia.
REFERÊNCIAS
ALVES, Luciano Antônio; DAVOK, Delsi Fries. Empreendedorismo na área de
biblioteconomia: análise das atividades profissionais do bibliotecário formado na UDESC.
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.14, n.1, p.313-330,
jan./jun. 2009.
FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE ASSOCIAÇÕES E INSTITUIÇÕES BIBLIOTECÁRIAS
(IFLA). As
bibliotecas podem promover a implementação da Agenda 2030. 2016. Disponível em:
https://www.ifla.org/libraries-. Acesso em: 16 abr. 2019.
FERRARI, Adriana Cybele. Brazilian Libraries and the 2030 Agenda: actions to support
compliance with ODS. In: IFLA WLIC 2017, 83., 2017, Anais [...]. Haia: IFLA Library, 2017.
SILVA, Jonathas Luiz Carvalho. Perspectivas sociais em biblioteconomia: percepções e
aplicações. In: SPUDEIT, Daniela Fernanda Assis de Oliveira; MORAES, Marielle Barros de
Moraes (Org.). Biblioteconomia social: epistemologia transgressora para o Século XXI.
São Paulo: ABECIN, 2018.
�
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Biblioteconomia Social e Empreendedorismo Bibliotecário: temas emergentes para o século XXI
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória : Espírito Santo
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Febab
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Language
A language of the resource
pt
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
2318-5546
Type
The nature or genre of the resource
Artigo de Evento
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia Social
Empreendedorismo Bibliotecário
Description
An account of the resource
A preocupação com o desenvolvimento sustentável das nações - conforme proposta da Agenda 2030 - tem sido colocada como uma questão emergente na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Parte-se do pressuposto de que as bibliotecas, seus profissionais e órgãos de classe desempenham papel imprescindível, haja vista mobilizar ações em prol dessa causa. O presente texto propõe reflexões acerca dos projetos que podem ser desenvolvidos pelas bibliotecas e bibliotecários em âmbito local, com o intuito de possibilitar o alcance do desenvolvimento sustentável, especificamente no que tange à eliminação das desigualdades e a ampliação da oferta de emprego. Utiliza pesquisa descritiva, bibliográfica e estudo de caso, com abordagem mista. O ambiente de investigação é a Associação de Bibliotecários de Minas Gerais e o caso contempla o levantamento de informações sobre o desenvolvimento e publicação de duas coletâneas. A partir deste estudo, foi possível concluir que a Biblioteconomia Social e o Empreendedorismo na Biblioteconomia são temas emergentes a serem explorados pelos bibliotecários, em seus variados contextos de atuação, de modo a fortalecer o compromisso da área com o desenvolvimento sustentável. Os resultados revelaram a existência de diversos assuntos e projetos voltados para esses temas, desenvolvidos em diferentes estados e distintos contextos, seja no âmbito da formação, atuação ou na pesquisa. Conclui que as associações profissionais contribuem ao articular os bibliotecários nos estados e municípios brasileiros, a partir de eventos, projetos e atividades inovadoras e mobilizadoras, incentivando à publicação desses resultados, haja vista provocar maior visibilidade e reconhecimento acerca da atuação bibliotecária.
Source
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28o. Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (2019)
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http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4596/EspacodoAssociadoBibliotecasdigitaisevirtuais.pdf
c0fb071aef05dcefc355a1301461f9b2
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BIBLIOTECAS DIGITAIS E VIRTUAIS: O QUE SE ESPERA PARA O SÉCULO XXXI?
Por Jorge Santa Anna e Célia da Consolação Dias
Os reflexos provocados pelas tecnologias digitais e o uso intensificado do ambiente web têm promovido uma mudança substancial na
sociedade como um todo, englobando usuários e instituições, nos mais diferenciados segmentos sociais. No âmbito informacional, profissionais e
unidades inserem-se em um ciclo de transformação, haja vista atender as necessidades e tendências que se apresentam, a cada momento, por
parte dos utilizadores dos produtos e serviços de informação.
Diante desse cenário, bibliotecas e bibliotecários se colocam em uma situação de adequação, visto que a permanência dessa instituição
e desse profissional está ligada à capacidade de acompanhar as novidades, atendendo e satisfazendo as necessidades do público-alvo. Essa é
uma característica da globalização direcionada a todas as áreas de conhecimento e profissões, sobretudo em virtude da instabilidade promovida
pela competitividade do mercado.
Logo, adequar-se não é uma exigência restrita apenas a bibliotecas e bibliotecários, mas configura-se como um paradigma social que
permeia todas as instâncias e contextos da sociedade. Ser competitivo e conseguir sobreviver em um mundo comandado pelas tecnologias
digitais vai muito além da adequação. Requer, também, a capacidade em oferecer algo que promova um diferencial, um engajament o nos
consumidores e/ou utilizadores de produtos e serviços, especialmente os de informação.
No âmbito específico das bibliotecas, a adesão às tecnologias digitais representou uma grande reviravolta nas tradicionais práticas
bibliotecárias realizadas nessas instituições no decorrer dos tempos. A passagem do século XX para o XXI foi marcada por discussões, previsões
e controvérsias a respeito da biblioteca do futuro. A realidade tem demonstrado que as bibliotecas vêm se adequando à realidade digital,
adquirindo inúmeras nomenclaturas, como digitais, virtuais, eletrônicas, dentre outros nomes. De qualquer forma, a adesão às tecnologias não
representa o fim das práticas tradicionais, visto que elas podem caminhar juntas, possibilitando o nascimento de um ambiente híbrido.
Boa parte dos estudos que versa sobre essa questão aborda que, nas primeiras décadas do século XXI, bibliotecas e bibliotecários
precisam valorizar quatro aspectos, ao se pensar em uma realidade ideal para as bibliotecas, que são: estruturação das bibliotecas, produtos e
serviços oferecidos, educação e formação, e acesso e usabilidade da biblioteca.
Estruturação de bibliotecas: demanda de um trabalho colaborativo, com profissionais capacitados e recursos adequados para
execução das atividades;
Produtos e serviços: precisam ser oferecidos em consonância com o perfil e necessidades dos utilizadores, estando esses serviços
em processo constante de avaliação, em prol da qualidade do que é ofertado;
Educação e formação: diz respeito à capacitação do profissional para atuar no ambiente das bibliotecas digitais. Isso exige a
formação continuada do bibliotecário, como também maior aprofundamento do tema e outras estratégias criadas, como a inserção do
tema em disciplinas do currículo formativo;
Acesso e usabilidade da biblioteca: importância em se realizar estudos de uso, a fim de identificar mecanismos mais adequados
para representação da informação nos sistemas de recuperação da informação das bibliotecas digitais.
Esses quatro aspectos precisam ser inseridos no dia a dia dos bibliotecários, constituindo a sustentação do trabalho realizado em
qualquer biblioteca. Acreditamos que o futuro seja cada vez mais digital; portanto, a atuação do bibliotecário precisa pautar-se na criatividade,
de modo a aproveitar, ao máximo, as potencialidades das tecnologias digitais e do ambiente web, diversificando a oferta dos serviços
informacionais.
* Notas: - Este texto é parte integrante do artigo intitulado “Bibliotecas digitais e virtuais à luz da literatura brasileira”, publicado na Revista e-Ciencias de la
Información, v. 10, n. 1 de 2020. Artigo completo para download: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/eciencias/article/view/39882/40511
- O assunto discorrido está associado e constitui resultados preliminares da tese sobre Serviço de Referência Digital, pesquisa vinculada ao Programa de PósGraduação em Gestão e Organização do Conhecimento da UFMG. Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pelo financiamento da pesquisa.
�SOBRE OS AUTORES
Jorge Santa Anna é bibliotecário atuante no ramo da prestação de serviços de
orientação, escrita, normalização e lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Associado da ABMG desde outubro de 2017.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Célia da Consolação Dias é bibliotecária e professora no Curso de Biblioteconomia e no
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, na Escola de
Ciência da Informação da UFMG. Apoiadora e integrante das ações da ABMG.
E-mail: celiadias@eci.ufmg.br
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Bibliotecas digitais e virtuais: o que se espera para o século XXI?
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Célia da Consolação Dias
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Bibliotecas Digitais
Bibliotecas Virtuais
Description
An account of the resource
Os reflexos provocados pelas tecnologias digitais e o uso intensificado do ambiente web têm promovido uma mudança substancial na sociedade como um todo, englobando usuários e instituições, nos mais diferenciados segmentos sociais. No âmbito informacional, profissionais e unidades inserem-se em um ciclo de transformação, haja vista atender as necessidades e tendências que se apresentam, a cada momento, por parte dos utilizadores dos produtos e serviços de informação.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Relatório de divulgação
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/6150/LivroRedesSociais.pdf
ffc22843686774723fba11c92db27566
PDF Text
Text
[Ano]
�BIBLIOTECÁRI@S E AS
REDES SOCIAIS
�JÉSSICA PATRÍCIA SILVA DE SÁ
ANDREZA GONÇALVES BARBOSA
MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA COSTA
JORGE SANTA ANNA
(Organizadores)
BIBLIOTECÁRI@S E AS REDES SOCIAIS
Belo Horizonte
ABMG EDITORA
2020
�© 2020 Jéssica Patrícia Silva de Sá, Andreza Gonçalves Barbosa, Maria Elizabeth de
Oliveira Costa e Jorge Santa Anna
2020 ABMG Editora
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores
COMISSÃO AVALIADORA:
André Fagundes Faria - UFMG
André Gustavo Fonseca da Silva - UFMG
César dos Santos Moreira - IFMG
Eliane Apolinário Vieira Avelar - UFMG
Flávia Ferreira Abreu - UFMG
Gabrielle Francinne de Souza Carvalho
Tanus - UFRN
Gracirlei Maria de Carvalho Lima - UFMG
Guilherme Alves de Santana - UFPE
Janicy Aparecida Pereira Rocha - UNIRIO
Jorge Santa Anna - UFES
José Alimateia de Aquino Ramos - UFES
Ney Lúcio da Silva - UFMG
Renata Kelly de Arruda – ESP-MG
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA E DIAGRAMAÇÃO: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL FINAL: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO E FORMATAÇÃO DA CAPA e CONTRACAPA: Norma Padrão Apresentação e divulgação do trabalho científico
MONTAGEM DA CAPA: Norma Padrão
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG: Rua dos Guajajaras,
410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa – Secretário: Jorge Santa Anna
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane
Borges, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
Ficha catalográfica
B582
Bibliotecári@s e as redes sociais/ Jéssica Patrícia Silva de Sá
... [et al.] (organizadores) - Belo Horizonte : ABMG Editora,
2020.
317 p. : il.
Outros organizadores: Andreza Gonçalves Barbosa,
Maria Elizabeth de Oliveira Costa, Jorge Santa Anna.
Inclui bibliografias.
ISBN 978-65-993126-1-8
1. Ciência da informação. 2. Redes sociais. 3. Comunicação.
I. Sá, Jéssica Patrícia Silva de. II. Barbosa, Andreza Gonçalves.
III. Costa, Maria Elizabeth de Oliveira. IV. Santa Anna, Jorge.
CDD: 020
CDU: 02:659.2
Ficha catalográfica elaborada por Vilma Carvalho de Souza – Bibliotecária - CRB-6/1390
�AGRADECIMENTOS
É com muita alegria e satisfação que chegamos ao final da jornada
de organização desta obra. Da concepção da ideia inicial à concretização
deste livro houve muitas horas de trabalho, comprometimento e empenho
de toda a equipe. O encontro dos quatro organizadores demonstra, ainda,
a ampla capacidade de cooperação entre bibliotecários, tornando possível
a identificação de interesses comuns destes pesquisadores da Ciência da
Informação.
Finalizar o desenvolvimento de uma obra é, portanto, o mesmo que
confirmar a ocorrência de um trabalho coletivo. Por isso, nossos
agradecimentos a todos que se envolveram com esse empreendimento,
desde 2018 até a presente data. Registramos, em especial, cordiais
agradecimentos à Escola de Ciência da Informação (ECI) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) pelo apoio e condições de infraestrutura
oferecidos. A ECI é e sempre será a nossa “segunda casa”. Ao Centro de
Extensão da ECI pelo auxílio no lançamento da obra, mediante o Projeto
Luz do Conhecimento.
A todos os autores, avaliadores e prefaciadores que compraram
nossa ideia e se dedicaram tanto quanto nós, contribuindo para a
exposição do conhecimento registrado nesta obra.
Aos membros e associados da Associação de Bibliotecários de Minas
Gerais (ABMG), gestão 2018-2020. Sem a ABMG não seria possível a
publicação deste livro, agradecemos pelo apoio incondicional.
À Norma Padrão – Apresentação e Divulgação do Trabalho Científico
– pela disposição gráfica realizada na capa e contracapa da obra. À
bibliotecária Vilma Carvalho pela elaboração do registro bibliográfico (ficha
catalográfica).
Nosso muito obrigado!
Jéssica, Andreza, Maria Elizabeth e Jorge
Os organizadores
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2020.
�“Por meio dos computadores e das redes, as pessoas
mais diversas podem entrar em contato, dar as mãos
ao redor do mundo. Em vez de se construir com base
na identidade do sentido, o novo universal se realiza
por imersão. Estamos todos no mesmo banho, no
mesmo dilúvio de comunicação. Não pode mais haver,
portanto,
um
fechamento
semântico
ou
uma
totalização. Uma nova ecologia das mídias vai se
organizando ao redor das bordas do ciberespaço [...]”
(LÉVY, 1999, p. 127).
�PREFÁCIO
A cada avanço tecnológico, as mais diversas áreas de pesquisa e
campos de atuação profissional refletem sobre as consequências deste, no
contexto de suas atividades. Em algumas dessas áreas, o percurso de
reflexão conduz seus membros a um ponto de impasse e de contínuos
questionamentos e polêmicas quanto ao avanço implicar em ameaças ou
oportunidades.
Sempre houve e ainda há discussões sobre o impacto que a
tecnologia teve e tem na profissão bibliotecária. Além disso, a própria
continuidade da existência da profissão costuma a ser indagada a cada
grande desenvolvimento das tecnologias digitais.
Debates assim costumam mobilizar o campo que ao se deparar com
inevitáveis tendências relacionadas às mudanças tecnológicas se divide
entre os que a encaram, a partir da concepção ‘tecnoapocalíptica’,
enxergando o perigo que estas representam para a profissão e os
‘tecnointegrados’ buscando localizar como estas permeiam suas práticas.
O esforço deste último grupo costuma resultar na correlação de uma
série de funções e habilidades que os bibliotecários precisam adotar para
serem capazes de lidar com as mudanças e permanecer relevantes
(GRAZIA MELCHIONDA, 2007), o que, por sua vez, vai demandar
atualizações
curriculares
e
inserção
de
conteúdos
formativos
que
repensem as bases tecnológicas da Biblioteconomia (ARAÚJO, 2015) e
meçam o quanto estas são capazes de reduzir o descompasso entre o
mercado e a academia.
As tecnologias da internet e das redes digitais compõem parte
desses avanços que vêm sendo integrados a produtos e serviços de
informação ao longo do tempo interligando objetos, sistemas e pessoas.
Ao considerar as redes sociais na internet como dispositivos
infocomunicacionais e enquanto estruturas midiáticas e tecnológicas de
mediação (JEANNERET, 2015) sua reflexão no campo precisa superar
abordagens pautadas em uma racionalidade cognitivo-instrumental e sua
�adesão prática, por sua vez, precisa superar o desafio de não ser
encarada meramente como um componente tecnológico e assim se
distanciar de um emprego de perspectiva tecnicista.
Nesse sentido, é um prazer prefaciar a obra “Bibliotecári@s e as
redes socias” organizada por pesquisadores vinculados à Escola de Ciência
da Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e à
Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG). Trata-se de uma
coletânea que preenche uma lacuna de publicações sobre o tema na área,
em especial dessa correlação das redes sociais e suas implicações para as
bibliotecas e o papel de seus profissionais nesse cenário.
O livro está dividido em três partes nas quais pesquisadores e
profissionais do campo encontrarão textos que dialogam entre a teoria e a
prática
que
envolve
a
compreensão
e
uso
desses
dispositivos
infocomunicacionais e os benefícios que estes vêm promovendo nos mais
diversos contextos de pesquisa e de atuação. Na primeira parte, os
capítulos versam sobre as redes sociais e suas aplicações em bibliotecas e
nos serviços de informação com atenção especial aos seus aspectos
comunicativos, de divulgação, atendimento ao público e educativos. Na
segunda parte, a ênfase dada é para as redes sociais enquanto
instrumento de promoção e dispositivos de mediação, com atenção
especial à mediação da leitura. E na terceira parte, os textos se
concentram no protagonismo e na figura do profissional e da atuação do
bibliotecário localizados em perspectivas e possibilidades.
Em sua participação no livro “O poder das bibliotecas: a memória
dos livros no ocidente”, escrito por Marc Baratin e Christian Jacob, o
filósofo francês Bruno Latour, com o capítulo “Redes que a razão
desconhece: laboratórios, biblioteca, coleções”, nos proporciona uma
reflexão de que por trás dos textos, livros e dos escritos há um mundo
desconhecido de movimentos e deslocamentos que envolvem a produção
do conhecimento. Para o autor, a falta de compreensão desse mundo tem
feito os pesquisadores franceses não terem se beneficiado, até agora, de
�uma
verdadeira
biblioteca,
o
que,
segundo
o
filósofo,
pode
ser
considerado um crime cometido contra o espírito (LATOUR, 2000).
Podemos utilizar essa mesma perspectiva ao resgatar os aspectos
estruturais, funcionais e relacionais das redes sociais para as bibliotecas e
considerar que os bibliotecários que não se utilizam destas ainda não se
beneficiaram do verdadeiro poder que estas têm a oferecê-los, e estão
perdendo o potencial de aproximação com sua comunidade usuária.
Ao reconhecer isso, a presente obra coloca o bibliotecário como um
agente atento aos movimentos circulantes das redes sociais e sua
contribuição quando aplicadas na promoção e divulgação de produtos e
serviços de informação que este gerencia, na mediação dos contextos que
atua e na reconfiguração da sua prática profissional.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, R. F. Bases tecnológicas da Biblioteconomia e Ciência da
Informação no Brasil: análise da tecnologia como assunto de pesquisa e
conteúdo na formação. Tese (Doutorado em Ciência da Informação),
Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 2015.
GRAZIA MELCHIONDA, M. Librarians in the age of the internet: their
attitudes and roles: A literature review.New Library World, v. 108, n.
3/4, p. 123-140, 2007. Disponível em:
https://doi.org/10.1108/03074800710735339. Acesso em: 1 dez. 2020.
JEANNERET, Y. Analisar as redes sociais como dispositivos
infocomunicacionais: uma problemática. In: TOMAÉL, M. I.; MARTELETO,
R. M. Informação e redes sociais: interfaces de teorias, métodos e
objetos. Londrina: EDUEL, 2015.
LATOUR, B. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas,
coleções. In: BARATIN, Marc; JACOB, Christian (Coord.). O poder das
bibliotecas: a memóriados livros no ocidente. Rio de Janeiro: UFRJ,
2000.
�DADOS BIOGRÁFICOS
Ronaldo Ferreira de Araujo
Araujo: Doutor em Ciência da
Informação (2015) e Mestre em Ciência da Informação (2009)
pelo Programa de Pós
Pós-Graduação
Graduação em Ciência da Informação da
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Possui graduação em Ciência da
Informação (2006) pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC Minas). Foi professor visitante no
Departamento de Jor
Jornalismo
nalismo e Ciências da Comunicação da
Universidade do Porto (2012). É Professor Adjunto do Curso de
Biblioteconomia
do
Instituto
de
Ciências
Humanas,
Comunicação e Artes (ICHCA), Universidade Federal de Alagoas
(UFAL). Professor e Vice
Vice-Coordenador
Coordenador do Programa
Progra
de PósGraduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFAL) e Professor
do Programa de Pós
Pós-Graduação
Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (PPG
(PPGGOC/UFMG)
GOC/UFMG).
E
E-mail: ronaldfa@gmail.com
�SUMÁRIO
PARTE I - REDES SOCIAIS: APLICAÇÕES EM BIBLIOTECAS E NOS
SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO .........................................................11
CAPÍTULO I - A dimensão comunicativa das redes sociais digitais nas
bibliotecas setoriais da UFPB: a fan page como estratégia de comunicação
.....................................................................................................12
CAPÍTULO II – Uso de redes sociais no serviço de referência em
bibliotecas universitárias ..................................................................29
CAPÍTULO III - Redes sociais como instrumento de divulgação em
bibliotecas: relato de experiência sobre o uso dos memes na divulgação
de produtos e serviços informacionais ................................................52
CAPÍTULO IV - Uso de redes sociais e serviços oferecidos pelos Portais
de Periódicos das Universidades Federais do Estado de Minas Gerais......67
CAPÍTULO V - O potencial da divulgação científica no YouTube e o
combate
à
desinformação:
um
estudo
de
casos
múltiplos
para
planejamento de serviços .................................................................89
CAPÍTULO VI – Redes sociais e comunicação na Biblioteca Professora
Etelvina Lima: um relato de experiência ........................................... 108
PARTE II - REDES SOCIAIS COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO
DA LEITURA ................................................................................ 129
CAPÍTULO VII - O fenômeno transmídia no compartilhamento de leituras
na web ......................................................................................... 130
�CAPÍTULO VIII - A prática de leitura mediada pelas redes sociais: um
relato de caso ............................................................................... 147
CAPÍTULO IX - O protagonismo dos leitores comuns na blogosfera
literária ........................................................................................ 159
CAPÍTULO X - O impacto da globalização e das redes sociais na formação
do leitor ....................................................................................... 180
CAPÍTULO XI - Leitura coletiva em grupos do WhatsApp .................. 190
CAPÍTULO XII - Mediação da informação e da Leitura no Instagram:
novas possibilidades para os bibliotecários ........................................ 212
PARTE III - REDES SOCIAIS E A ATUAÇÃO BIBLIOTECÁRIA: NOVOS
HORIZONTES E POSSIBILIDADES ............................................... 233
CAPÍTULO XIII - Mídias sociais como forma de empreender: o caso do
site Santa Biblioteconomia .............................................................. 234
CAPÍTULO XIV - Blog de bibliotecários: um estudo sobre o blog
“Bibliotecária em Construção” ......................................................... 246
CAPÍTULO XV - As mídias sociais como ferramenta para divulgação de
revistas científicas da América do Sul ............................................... 258
CAPÍTULO XVI - As redes sociais como uma possibilidade de extensão de
campo para o bibliotecário .............................................................. 273
CAPÍTULO XVII - Fake News e suas repercussões na sociedade e a
atuação do bibliotecário no seu combate .......................................... 285
CAPÍTULO XVIII - Novos negócios em uma era de incertezas ........... 304
INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS – COMISSÃO ORGANIZADORA ..... 313
PALAVRAS DA ABMG EDITORA.................................................... 314
�PARTE I - REDES
SOCIAIS: APLICAÇÕES
EM BIBLIOTECAS E NOS
SERVIÇOS DE
INFORMAÇÃO
�12
CAPÍTULO I - A dimensão comunicativa das redes sociais
digitais nas bibliotecas setoriais da UFPB: a fan page como
estratégia de comunicação
Walqueline da Silva Araújo
Gustavo Henrique de Araújo Freire
1 INTRODUÇÃO
A importância do papel comunicativo da biblioteca como disseminadora
de informações fidedignas é incontestável. As práticas desenvolvidas nos
setores
de
uma
biblioteca
com
os
diversos
materiais
informacionais,
convergem para a comunicação e o compartilhamento dessas informações com
seus usuários. O papel comunicativo desempenhado pela biblioteca é de
grande relevância para a sua sobrevivência, uma vez que o acesso à
informação
tem
passado
por
grandes
mudanças
com
o
advento
das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs).
Na contemporaneidade os dispositivos computacionais conectados à
internet têm sido utilizados largamente pela sociedade para busca de
informações, bem como para a comunicação entre as pessoas. As diversas
ferramentas de comunicação disponíveis na web, a exemplo do Facebook,
Instagram
e
Twitter
são
recursos
que
aproximam
pessoas
dispersas
globalmente, são ferramentas de comunicação com amplo alcance e que
possuem um grande número de usuários1. A biblioteca deve estar imersa
nesse universo digital da comunicação, interagindo com seu público de uma
maneira dinâmica e moderna.
1
Existem cerca de 7.593 bilhões de pessoas no mundo. Desse total, 4.021 bilhões (53%) têm
acesso à internet; 3.196 bilhões (42%) são usuários ativos de redes sociais; 2.958 bilhões
(39%) usam as redes sociais por meio de dispositivos como os smartphones. Disponível em:
https://wearesocial.com/blog/2018/01/global-digital-report-2018. Acesso em: 10 nov. 2019.
�13
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo: criar em uma
ação conjunta entre a pesquisadora autora e os pesquisadores participantes,
uma ferramenta digital que possibilitasse otimização no momento de socializar
informações do conjunto de bibliotecas que fizeram parte do escopo da
pesquisa para os usuários. Neste sentido, em uma ação coletiva entre a
pesquisadora autora e os pesquisadores participantes buscou-se averiguar se
as referidas bibliotecas utilizavam as TDICs para a comunicação com os
usuários;
por
meio
de
reuniões
foram
definidas
as
preferências
de
comunicação das bibliotecas; foram analisadas as diversas ferramentas
disponíveis de forma gratuita na web e por fim foi selecionada uma delas, com
base nas possibilidades e limitações que cada ferramenta possuía. A
ferramenta selecionada seria utilizada como canal de comunicação por parte do
conjunto de bibliotecas.
A ação coletiva teve o intuito de dinamizar e modernizar o processo
comunicativo das bibliotecas com seus usuários, tendo em vista que elas
buscavam acompanhar e se inserir no atual cenário comunicativo vivenciado
pela sociedade.
2 BIBLIOTECAS CONTEMPORÂNEAS
Na contemporaneidade as bibliotecas são também chamadas de unidades
de informação, por se constituírem um dos tipos de unidades que são voltadas
para o campo da informação, a exemplo também dos museus, arquivos, entre
outros, precisam constantemente se adequar aos novos hábitos da sociedade,
em busca de sua sobrevivência. As ferramentas digitais são grandes aliadas na
contemporaneidade por possibilitar o acesso do usuário aos documentos físicos
da biblioteca, quando digitalizados.
Muitas bibliotecas já digitalizaram seus acervos, mas essas fontes de
informação são meio esotéricas, difíceis de encontrar e usar. É preciso
criar programas para ajudar o cidadão a interagir com eles. Um grande
exemplo é a Digital Public Library (projeto do historiador Robert Darnton
de digitalização e acesso aos acervos das bibliotecas americanas) e a
Europeana (biblioteca digital da União Europeia). Essas iniciativas
permitem que programadores independentes interajam diretamente
�14
com ele, criando programas para lidar com a informação (BATTLES,
2013, on-line).
Atualmente, a informação está cada vez mais presente na vida das
pessoas e o seu armazenamento, distribuição e acesso, facilitado pelo uso das
TDICs. Nesse contexto, o foco deixou de ser o domínio e passou a ser o acesso
à
informação,
nos
mais
diversos
suportes,
gerado
pelas
rápidas
transformações tecnológicas e o aparecimento de novas ferramentas de
comunicação.
Diante dos avanços tecnológicos e da expansão expressiva do uso da
internet pela sociedade, é cada vez mais notável as mudanças nos processos
de aquisição do conhecimento, e o uso dos recursos tecnológicos tem se
tornado cada vez mais assíduo e indispensável na vida das pessoas. Com isso,
se torna cada vez mais aparente a discrepância entre as novas e as antigas
gerações, em seus hábitos e costumes, tanto no que se refere ao modo de
vida, como também à forma de trocar e buscar informações. Como afirma
Chartier (1994, p. 185), “o livro já não exerce o poder de que dispôs
antigamente, já não é o mestre de nossos raciocínios e sentimentos em face
dos novos meios de informação e comunicação de que doravante dispomos”,
pois cada vez mais, a informação está sendo disponibilizada na forma digital.
Na sociedade moderna caracterizada, sobretudo pelo processo de
produção e disseminação da informação, advindo principalmente com o
surgimento da internet, o suporte de registro informacional passou a
influenciar, de forma decisiva, na maneira de compartilhar e usar a informação
para a construção de novos conhecimentos. A informação sempre caminhou
junto com a evolução da humanidade. Nessa perspectiva o ser humano sempre
está à procura de novos recursos que permitam contribuir com o seu
desenvolvimento.
Tomaél (2008) reforça a importância que a internet vem exercendo no
cotidiano da sociedade, afirmando que uma parte significativa dos principais
recursos, antes disponíveis apenas em bibliotecas, podem ser acessados hoje
de forma online na internet, onde as ferramentas de busca procuram respostas
para praticamente qualquer consulta na rede. Dessa forma, o que antes só era
�15
possível em suportes impressos, hoje já se pode encontrar em meio digital
facilitando a vida das pessoas.
Conforme os livros passem a ocupar o reino digital, a biblioteca vai virar
um local para interagir com tais objetos, criando novas experiências de
significado a partir deles. Os e-books são maravilhosos, mas seu modelo
de consumo é baseado sobretudo no iPod e no download de músicas –
que ouvimos em fones de ouvido, de forma privada. A leitura já é um
ato bastante privado, então precisamos de formas de dividir essa
experiência uns com os outros. [...] As bibliotecas podem ajudar nisso
ao dar acesso a outras fontes de informação, como ferramentas de
visualização, mecanismos de edição, salas interativas – e outras mídias
caras demais para o leitor ou estudante médio (BATTLES, 2013, online).
Nesse contexto, as bibliotecas precisam potencializar a introdução das
TDICs no seu cotidiano, utilizando as ferramentas mais modernas disponíveis
para aprimorar a disponibilidade de seus produtos, a prestação dos seus
serviços, e a comunicação com os usuários, para isso, torna-se fundamental
que ela tenha ciência do diferencial que esses recursos agregam, e do
potencial que os bibliotecários têm de utilizar esses recursos para estarem
cada vez mais próximos da comunidade que é o público-alvo da biblioteca.
Os serviços de biblioteca são parte de um “ecossistema” mais amplo
onde sim, os membros (usuários) estão consumindo informação, mas
também estão produzindo, trabalhando, sonhando e brincando. Este é o
foco de uma biblioteca excelente. Eles entendem que o material que
uma biblioteca abriga e adquire não é sua verdadeira coleção – a
comunidade o é (LANKES, 2012, on-line).
Diante disso, podemos dizer que as bibliotecas excelentes são aquelas
que têm seu foco no usuário, que buscam utilizar mecanismos contemporâneos
como as redes sociais digitais para se comunicar com o seu público. As
bibliotecas devem fazer uso das ferramentas tecnológicas de comunicação
como as redes sociais digitais para auxiliá-la em diversos sentidos, tais como:
publicação de informes, disseminação seletiva da informação, capacitação de
usuários por meio de vídeos e, especialmente, a criação e a manutenção dos
laços entre a biblioteca e o usuário, pois essa relação é fundamental para o
fortalecimento do vínculo da biblioteca com o seu público, e também para
atrair novos usuários para a unidade de informação.
Grandes bibliotecas podem ter grandes prédios, ou prédios feiosos, ou
nenhum prédio sequer. Grandes bibliotecas podem ter milhões de
�16
volumes ou nenhum. Mas, excelentes bibliotecas sempre têm grandes
bibliotecários que engajam a sua comunidade e ajudam a identificar e a
preencher suas aspirações (LANKES, 2012, on-line).
As redes sociais digitais se constituem excelentes recursos para auxiliar
na comunicação com a comunidade, uma vez que, um percentual cada vez
maior de pessoas utilizam as redes sociais digitais, sendo inegável o grande
alcance que essas mídias possuem na sociedade contemporânea. Com isso, a
biblioteca precisa realizar estudos internos para averiguar em quais redes
sociais digitais se concentram o maior número do seu público-alvo, para com
isso, investir seguramente na ferramenta de comunicação identificada. A
estratégia de comunicação por meio das redes sociais digitais difere do
tradicional
e
traz
para
a
imagem
da
biblioteca
uma
mensagem
de
modernidade, dinamismo e interatividade.
A comunicação ajustada entre a biblioteca e o usuário por meio das
redes sociais digitais se mostra um excelente recurso de interação em rede
que vai além das paredes físicas, possibilitando que o usuário tenha espaço
para
acessar
informações,
adquirir
conhecimento,
obter
respostas
e,
sobretudo, exercer uma comunicação dinâmica e moderna. Com essas
ferramentas de comunicação, a informação pode fluir em uma dimensão multifacetada (da biblioteca para o usuário, do usuário para a biblioteca, da
biblioteca para o usuário e a partir dele para outro usuário) e não apenas de
uma forma vertical partindo da biblioteca para o usuário.
Desse modo, o uso das redes sociais digitais para a comunicação se
revela bastante eficiente no que se refere à criação de produtos e serviços
disponibilizados por meio de redes digitais de comunicação, assegurando, com
isso, uma biblioteca em total conformidade com a contemporaneidade que se
caracteriza não somente pelo uso intensivo de informação e conhecimento,
mas também por uma cultura voltada para o virtual/digital.
3 A DIMENSÃO COMUNICATIVA DAS REDES SOCIAIS DIGITAIS
Um dos aspectos mais recorrentes da sociedade contemporânea é a nova
maneira de se comunicar que se apresenta com o advento tecnológico, sendo
�17
também, as tecnologias, uma condição essencial na atualidade para a
execução de atividades que visam praticidade e agilidade. Tem-se com isso,
uma sociedade que está conectada em todo momento, formando uma rede
global que conforme passam os dias, só aumenta o número de adeptos. Uma
pesquisa do IBGE (2016) destacou que 94,6% da população brasileira acima
de 10 (dez) anos de idade, utiliza o smartphone para acessar a internet, em
seguida o dispositivo mais utilizado foi o microcomputador com 63,7%, logo
após vem o tablet com 16,4%, e por último a televisão representando 11,3%
desse acesso.
Essa conexão que tem tomado proporção mundial tem como elementos
fundamentais a internet e mais recentemente as redes sociais digitais que
foram responsáveis por estabelecerem um novo cenário de interação social.
Segundo Lemos (2015, p. 14) “a internet encarna a presença da humanidade a
ela própria, já que todas as culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí
se entrelaçam”. Por meio da internet e das redes sociais digitais é possível
participar de inúmeras palestras e cursos dos mais variados, tudo de forma
virtual, é possível trocar informações, socializar o conhecimento, utilizar
serviços dos mais variados gêneros e comprar produtos de um grande número
de lojas online dispersas pelo mundo. É cada vez mais crescente essa
tendência de estar inserido nessa teia global.
A internet, os dispositivos computacionais, e as redes sociais digitais são
exemplos dos elementos que constituem essa teia tecnológica comunicacional.
As redes sociais digitais propiciam às pessoas uma conectividade mundial,
facilitando a troca de informações e a comunicação, mesmo que estejam
distantes entre si. Os dispositivos computacionais como tablet, notebook e
smartphone são ferramentas que possibilitam as maneiras de acesso dos
usuários aos serviços de informação que são ofertados no ambiente digital
pelas bibliotecas. Por meios desses dispositivos os usuários se comunicam e
podem ter acesso aos produtos disponíveis nas plataformas digitais das
bibliotecas, sem a necessidade de deslocar-se até a instituição física.
A comunicação e o acesso aos produtos e serviços de informação em
ambiente digital é o resultado do avanço tecnológico na sociedade, e a
�18
biblioteca como insumo fundamental para a criação do conhecimento, por meio
do aporte informacional que ela possui, tem o dever de permear esses
espaços, utilizando as redes sociais digitais para se comunicar, construindo
com isso, um tipo de relacionamento diversificado, dinâmico e totalmente
moderno.
De acordo com Bernaoui e Hassoun (2015) cada dia mais vem se
consolidando e se tornando permanente a oferta de produtos e serviços em
ambientes digitais pelas bibliotecas, mostrando com isso, uma presença digital
se consolidando fortemente, a das redes sociais digitais, como blog, Twitter,
Instagram e Facebook, entre outras, possibilitando o compartilhamento de
informações sobre eventos atuais na sociedade e eventos que ocorrem no
ambiente da biblioteca, além de sua natureza comunicacional de grande
relevância no contexto contemporâneo. Diante disso, um estudo realizado por
Bernaoui e Hassoun (2015, p. 68) destacou que:
os princípios da web 2.0 foram comparados a uma nova maneira de
perceber as bibliotecas, notadamente colocando o usuário no centro de
seus serviços e atividades. A vantagem disso é perceptível, [basta]
saber quais ferramentas são utilizadas pelos usuários e oferecer
informações através das mesmas ferramentas. Isso leva a uma melhor
comunicação e colaboração com a biblioteca (BERNAOUI; HASSOUN,
2015, p. 68).
A comunicação por meio das redes sociais digitais na atualidade eleva ao
máximo as possibilidades relacionais entre a biblioteca e o usuário, facilitando
e dinamizando qualquer processo de interação. Contudo, a comunicação por
meios dessas ferramentas digitais precisa fazer parte de uma totalidade no que
diz respeito às estratégias relacionais da biblioteca, estar dentro do seu
planejamento e em conformidade com sua missão e seus valores, como pontua
Scroferneker, Amorin e Silva (2011, p. 7) ao afirmarem que:
quando a atuação nas mídias sociais de uma organização consegue estar
em sintonia com sua missão, seus valores, seus modos de atuar em
outras instâncias, e quando ela consegue se apropriar do estatuto dessa
rede, seus códigos de conduta e de linguagem, podemos dizer que a
lugarização nas mídias sociais se efetiva (SCROFERNEKER; AMORIN;
SILVA, 2011, p. 7).
Estar presente nos espaços de comunicação como as redes sociais
digitais exige empenho e atuação por parte da biblioteca, de constantemente
�19
compartilhar, dialogar, interagir e manter uma comunicação ágil e instantânea,
para com isso, efetivar a criação e a manutenção dos relacionamentos com
seus usuários online, desenvolvendo dessa maneira, uma postura ativa nas
redes sociais digitais, objetivando o sucesso nesses espaços modernos de
interação.
As redes sociais digitais são uma realidade já consolidada no cotidiano
das pessoas, esse espaço de comunicação tem possibilitado uma reorganização
no que se refere às trocas de informações e às formas de se comunicar, e tem
sido
aderido
pelas
comunicacionais,
bibliotecas
estabelecendo,
que
dessa
almejam
maneira,
ampliar
ações
suas
de
fronteiras
comunicação
inovadora, resultando em ganhos tanto para os usuários quanto para a
biblioteca.
4 METODOLOGIA
Com o intuito de realizar uma pesquisa com viés resolutivo foram
delimitados os caminhos metodológicos caracterizados pela interação entre a
pesquisadora autora e os pesquisadores participantes, buscando intervir no
cenário pesquisado. Dessa maneira, o estudo configurou-se no âmbito da
pesquisa-ação, que conforme Ketele e Roegiers (1993, p. 99) procura “unir a
pesquisa à ação ou prática”, ou seja, desenvolver o conhecimento e a
compreensão como parte da prática.
O desenvolvimento deste estudo conduziu-se pelo método da pesquisaação, escolhido por ser o mais adequado para solucionar o objetivo
pretendido, sendo este: criar em uma ação conjunta entre a pesquisadora
autora
e
os
pesquisadores
participantes,
uma
ferramenta
digital
que
possibilitasse otimização no momento de socializar informações do conjunto de
bibliotecas que fizeram parte do escopo da pesquisa para os usuários.
A pesquisa-ação nasceu da necessidade de sanar o lapso entre teoria e
prática, uma das particularidades desta forma de pesquisa é que por meio dela
os pesquisadores desempenham um papel ativo na solução de questões
�20
existentes,
procurando
intervir
na
prática
de
modo
inovador
já
no
desdobramento do próprio processo de pesquisa e não apenas como possível
resultado de uma recomendação no estágio conclusivo do estudo.
Para Tripp (2005, p. 446), a pesquisa-ação pode ser representada no
ciclo básico da investigação-ação: planejamento, implementação, descrição e
avaliação, com vistas a aprender mais durante o processo, tanto a respeito da
prática quanto da própria investigação.
Thiollent (2011 p. 20) considera que a pesquisa-ação é “realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da
situação
ou
do
problema
estão
envolvidos
de
modo
cooperativo
ou
participativo”. Dessa forma, entendeu-se que a pesquisa-ação seria a mais
indicada para a elucidação das medidas necessárias a serem empregadas na
criação da ferramenta digital para socialização da informação.
4.1 UNIVERSO E PARTICIPANTES DA PESQUISA
Quanto ao universo da pesquisa, a escolha se deu devido ao fato da
pesquisadora autora atuar como bibliotecária na instituição de ensino que foi
campo do estudo, a saber: o universo foi representado por três bibliotecas que
integram o Sistema de Bibliotecas (SISTEMOTECA) da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). O SISTEMOTECA é formado por uma Biblioteca Central e vinte
Bibliotecas Setoriais dispersas em quatro Campi, nas cidades de: João Pessoa;
Areia; Bananeiras e Rio Tinto/Mamanguape. Formando um sistema composto
por vinte e uma unidades. As bibliotecas participantes da pesquisa foram:
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Médicas (BS/CCM);
Biblioteca
Setorial
do
Hospital
Universitário
Lauro
Wanderley
(BS/HULW);
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde - Escola Técnica de
Saúde (BS/CCS).
�21
Os participantes da pesquisa foram formados pelos bibliotecários
coordenadores das respectivas bibliotecas. Totalizando um universo de 4
(quatro) pesquisadores participantes.
4.2 DIÁLOGOS COM OS PESQUISADORES PARTICIPANTES – RELATO DA
PESQUISA
Esse estudo teve como atividade inicial averiguar o cenário pesquisado,
por meio de encontros entre a pesquisadora autora e os pesquisadores
participantes, nos quais se dialogava acerca do comportamento das bibliotecas
em relação às TDICs. O intuito era construir um mapa cognitivo à respeito da
situação atual em que se encontrava as bibliotecas, no que se refere à inserção
das redes sociais digitais de comunicação no seu cotidiano. Para isso, foi dado
início a um diagnóstico com o intuito de obter um panorama da atual situação
das bibliotecas, pois, com um diagnóstico podemos explicar a realidade sobre a
qual se pretende atuar e melhorar. Por meio dos diálogos buscava-se idealizar
e conduzir a técnica da pesquisa-ação, com a contribuição dos pesquisadores
participantes foi possível sistematizar as atividades desenvolvidas no decorrer
da pesquisa.
O diagnóstico realizado apontou que a BS/CCM e a BS/HULW não haviam
aderido às redes sociais digitais para tornar mais dinâmica e inovadora sua
maneira de socializar informações e se comunicar, mas que havia um interesse
real em fazer parte desse cenário moderno que emerge uma cultura digital. Já
na BS/CCS – Escola Técnica de Enfermagem foi diagnosticado que nem mesmo
o seu acervo bibliográfico estava disponível para os usuários por meio de uma
plataforma online. Dessa maneira, percebeu-se que uma rede social digital
poderia se configurar uma grande aliada para divulgar os produtos e serviços
de informação e um excelente veículo de comunicação entre as bibliotecas e
seus usuários.
“Há um consenso geral de que os sistemas de mídia social estão tendo
um impacto significativo sobre o que bibliotecários, bibliotecas e usuários de
bibliotecas fazem” (NGUYEN; PARTRIDGE; EDWARDS, 2012, p. 8). Neste
�22
sentido, refletiu-se acerca do potencial que uma ferramenta de comunicação
virtual tem no desenvolvimento das bibliotecas, tanto favorecendo a promoção
de seus produtos e serviços de informação quanto no que se refere à
ampliação do campo comunicacional. Durante esse processo, também se
avaliou as redes sociais disponíveis de forma gratuita na web, alinhando as
possibilidades e limitações que elas tinham com os objetivos que as bibliotecas
pretendiam alcançar com a utilização das mesmas.
Assim, foi escolhida a rede social digital mais adequada, com o intuito de
otimizar
o
processo
comunicativo
com
os
usuários,
objetivando
o
desenvolvimento ou aperfeiçoamento de uma comunicação eficaz, dinâmica e
moderna entre essas bibliotecas e seu público, gerando visibilidade para os
produtos e serviços que elas disponibilizam.
Diante de tantas possibilidades de redes sociais digitais disponíveis na
web que podiam desempenhar um papel significativo no que se refere à
sociabilidade entre a biblioteca e seu público, foi identificado na Fan Page
possibilidades que atendiam os critérios do conjunto de bibliotecas. Tendo em
vista que as bibliotecas tinham como objetivo maior socializar informações de
maneira eficiente e se comunicar de forma moderna e dinâmica com seus
usuários. Um dos fatores essenciais que resultou na escolha dessa ferramenta
foi o fato de um grande percentual dos usuários do conjunto de bibliotecas
estarem conectados a esse canal de comunicação por meio de perfis pessoais
do Facebook.
4.3 RESULTADOS
Esse estudo nos forneceu uma base e projetou um cenário ainda pouco
explorado pelo conjunto de bibliotecas envolvidas na pesquisa, refletindo
acerca do grande potencial das redes sociais digitais para as bibliotecas. O
levantamento bibliográfico realizado para dar suporte ao estudo revelou o
quanto que a importância das TDICs para as bibliotecas são atualmente
discutidas, comprovadas e relatadas em inúmeros estudos de caso, podendo
�23
ser encontrados publicados em plataformas como o Portal de Periódicos da
CAPES. Esses estudos revelam que o Facebook é uma ferramenta de
comunicação comumente utilizada pelas bibliotecas dispersas globalmente.
Sendo esta a ferramenta escolhida para compor o cenário tecnológico das
bibliotecas que fizeram parte do escopo da pesquisa, como se pode visualizar
na figura 1.
Figura 1 – Apresentação da interface da Fan Page
Fonte: Os autores (2019).
Uma Fan Page pode resultar em inúmeros ganhos para a biblioteca em
diversos quesitos, a saber:
Quadro 1 – Atividades que podem ser desempenhadas em cada quesito e que
resultarão em ganhos para a biblioteca e os usuários
QUESITO
DESEMPENHO/GANHOS
Informacional
Disponibilizar informações sobre a biblioteca existentes na Fan Page, tais
como: nome da instituição mantenedora, nome da biblioteca, missão,
seções, equipe, notícias e novidades, eventos realizados, e-mail geral e
setorial, telefone geral e setorial, endereço físico, histórico, horário de
funcionamento, normas e regulamentos, estatísticas, relação dos produtos e
serviços oferecidos;
Promocional
Disponibilizar informações, tais como: selo com o logotipo da instituição e da
biblioteca, postagens com informações sobre a biblioteca e seus recursos
informacionais, banner, animações, entre outros recursos que possam atrair
a atenção dos usuários;
Instrucional
Disponibilizar instruções sobre o uso dos recursos informacionais oferecidos
pela biblioteca na forma tradicional e online disponíveis na Fan Page, tais
como: tutoriais e informações sobre como usar serviços e produtos
oferecidos pela biblioteca;
Referencial
Disponibilizar links para outras fontes de informação existentes na rede, tais
como: acesso a bases de dados; links para mecanismos de busca, para
websites e Fan Pages de outras bibliotecas, para materiais de referência
(dicionários, enciclopédias), para periódicos eletrônicos, para websites e Fan
Pages de instituições diversas;
Pesquisa
Disponibilizar serviços e produtos oferecidos online na Fan Page da
biblioteca, tais como: catálogo online, lista dos periódicos assinados, serviço
�24
QUESITO
Comunicacional
DESEMPENHO/GANHOS
de empréstimo, disponibilizar material bibliográfico online, serviço de
reserva, serviço de referência online;
Disponibilizar mecanismos para estabelecer relacionamentos, tais como:
formulários para cadastrar usuários, coletar opinião/satisfação pelos serviços,
coletar sugestões e críticas, pesquisar opinião sobre a Fan Page, coletar
sugestão de compra e preferências de canais para contato com a biblioteca.
Fonte: Adaptado de Amaral e Guimarães (2008, p. 153).
Com tantas alternativas de redes sociais digitais disponíveis na web e
com os enormes ganhos que podem ser obtidos por meio delas, os
pesquisadores participantes sentiram a real necessidade de estarem se
adequando a esse espaço e suas configurações, uma vez que não é mais
possível controlar o processo comunicativo que com o auxílio das TDICs podem
fluir a qualquer hora e em qualquer lugar. Contudo, é considerada de grande
importância a avaliação periódica da rede social digital pela qual se optou
utilizar para a comunicação, devido a característica efêmera do cenário
tecnológico, analisando de maneira recorrente se a ferramenta ainda está
atendendo
de
forma
eficiente
as
necessidades
informacionais
e
comunicacionais dos seus usuários, com o intuito de socializar as informações
e se comunicar satisfatoriamente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo demonstrou, por meio de seu levantamento bibliográfico, a
importância das bibliotecas contemporâneas estarem inseridas no contexto das
TDICs e com foco nos usuários, uma maneira encontrada pelos pesquisadores
participantes foi a de possuir um canal de comunicação online para que as
bibliotecas pudessem socializar informações e se comunicar com seus usuários.
Na literatura pesquisada, a Fan Page nos revelou ser uma importante
ferramenta para divulgação dos produtos e serviços informacionais, atendendo
de maneira eficaz as ações que as bibliotecas se propunham a realizar no
quesito informacional, promocional, instrucional, referencial, comunicacional e
em ações de pesquisa. A Fan Page se constitui uma excelente aliada no
processo comunicativo contemporâneo, por se tratar de uma ferramenta
popular e de alcance global.
�25
Observou-se por meio das leituras realizadas para compor este estudo,
que uma boa comunicação nos dias atuais passa por uma reformulação dos
serviços e produtos disponibilizados pelas bibliotecas, especialmente com a
inserção das TDICs. Isso não se constitui apenas um processo operacional,
mas uma estratégia de gestão que pode garantir a eficácia da disseminação
das informações, estabelecendo uma forma inovadora de se comunicar.
Ao utilizar a Fan Page, as bibliotecas podem abrir mais um canal para a
comunicação com seus usuários. Nesse contexto, é necessário que esse espaço
seja atualizado de maneira periódica com informações de interesse do seu
público-alvo. É importante que as bibliotecas façam uso dessa ferramenta de
maneira eficiente, uma vez que ela propicia a ampliação comunicativa para
além das paredes físicas, além de simplificar o acesso dos usuários ao material
informacional que elas compartilham, construindo laços menos formais e mais
dinâmicos e inovadores. Dessa forma, estar imerso no cenário da comunicação
digital se constitui um grande avanço para as bibliotecas e seguramente irá
resultar em ganhos, tanto para elas quanto para seus usuários.
Logo, conclui-se que emerge a necessidade das bibliotecas estarem
continuamente
se
adequando
a
esses
espaços
comunicacionais
contemporâneos, moldando suas práticas de comunicação. Vale recomendar
que para fortalecer essa nova forma de diálogo, as bibliotecas podem pensar
em:
Elaborar planos de ações claros para serem aplicados por meio da Fan
Page, com ênfase na comunicabilidade e na relevância dos conteúdos
disseminados para os usuários;
Ajustar uma prática de interação entre os bibliotecários das bibliotecas
que estarão compartilhando na Fan Page, para que haja uma rotina de
atualizações periódicas, disponibilizando informações relevantes para os
usuários e mantendo o equilíbrio entre o excesso e a escassez de
informações;
Monitorar constantemente as preferências do seu público por meio das
estatísticas que a Fan Page disponibiliza, para que haja uma adequação
contínua do conteúdo compartilhado com seus usuários;
�26
Mesmo sendo a Fan Page uma ferramenta de comunicação bastante
utilizada pelos usuários na atualidade, é necessário que se realize
pesquisas periódicas, para confirmar a continuidade da utilização dessa
ferramenta por parte dos mesmos, dentre tantas disponíveis na web e
novas que surgem a cada dia, uma vez que, é extremamente importante
a biblioteca acompanhar as mudanças advindas do seu público.
O processo comunicativo contemporâneo requer muita dedicação dos
profissionais que buscam se inserir nos espaços digitais. Por ser uma
ferramenta que amplia a comunicação de forma rápida e dinâmica, exige
desses profissionais uma atenção constante nas demandas informacionais
solicitadas pelos usuários online, bem como um cuidado maior no conteúdo
compartilhando, para que sejam atuais e relevantes. Contudo, a utilização
dessas ferramentas modernas só gera ganhos para as bibliotecas e seus
usuários, tornando as bibliotecas mais interativas, aproximando-as dos seus
usuários, fazendo com que a comunicação se torne mais prazerosa e acessível.
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�28
DADOS BIOGRÁFICOS
Walqueline
da
Silva
Araújo:
Graduada
em
Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação pela UFPB. Atua profissionalmente
como Bibliotecária Documentalista na UFPB.
E-mail: walqueline.araujo@gmail.com
Gustavo Henrique de Araújo Freire: Doutor e Mestre em
Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, convênio com o Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia.Professor Associado do Departamento de
Biblioteconomia da Faculdade de Administração e Ciências
Contábeis da Universidade Federal do Rio de janeiro. Docente
Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal da Paraíba. Docente
Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação do Instituto Brasileiro de Informação Científica e
Tecnológica convênio com a Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Editor Científico das revistas Informação &
Sociedade: Estudos, Pesquisa Brasileira em Ciência da
Informação e Biblioteconomia e Revista Conhecimento em
Ação. Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq) Comunicação,
Redes, Políticas de Informação. Bolsista de Produtividade
CNPq.
E-mail: ghafreire@gmail.com
�29
CAPÍTULO II – Uso de redes sociais no serviço de referência
em bibliotecas universitárias
Jorge Santa Anna
Célia da Consolação Dias
Benildes Coura Maculan
1 INTRODUÇÃO
O aperfeiçoamento constante das tecnologias digitais tem possibilitado a
configuração de um novo cenário para a sociedade, cujas mídias sociais digitais
se destacam. Nesse novo cenário, surgem formas de comunicação imediatas,
com a oferta de uma variedade de recursos a serem utilizados, o que promove
o aparecimento das redes de interação, manifestadas em diferentes contextos
e com propósitos variados.
Essas redes, graças ao potencial da tecnologia e com os recursos da web
2.0, permitem a variedade de opções, aproximando, cada vez mais, as
pessoas, sem considerar as limitações de tempo e de espaço. A sociedade
contemporânea está sendo marcada pelo fenômeno da mídia social, que
oferece um conjunto de aplicações para facilitar o compartilhamento de
informações entre todas as pessoas ou grupo de pessoas. Trata-se de uma
realidade marcada pela troca intensa de conteúdo, pela enorme quantidade de
pessoas conectadas e, ao mesmo tempo, pela evolução tecnológica e pela
obsolescência dos recursos tecnológicos, rompendo, em intervalos cada vez
mais curto, o uso de determinados artefatos, que são substituídos por
artefatos mais sofisticados.
Assiste-se, hoje, a uma cultura da exposição, da criação de novos laços,
do compartilhamento, em que pessoas e instituições estão, cada vez mais,
presentes no ambiente da web, espaço capaz de possibilitar e exigir essas
condições. Essa realidade acaba por afetar, também, o comportamento, as
�30
atitudes, as decisões, os costumes e as práticas instituídas há muito tempo na
sociedade humana.
As redes sociais representam, segundo Castells (1999, p. 497), a nova
configuração do espaço social, visto que elas convergem pessoas, instituições,
atividades e valores para o espaço da web. Se, anterior ao desenvolvimento
tecnológico, as pessoas se integravam, apenas, de forma presencial, hoje, o
processo
é
instantâneo,
sendo
modificados,
substancialmente,
“[...]
a
operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e
cultura” (CASTELLS, 1999, p. 497).
Mesmo diante de muitas incertezas acerca das consequências dessa
velocidade de uso das tecnologias digitais, sabe-se que elas vieram para
permanecer e reconfigurar a sociedade, incluindo-se todos os elementos
sociais, sejam pessoas ou organizações nos aspectos éticos e do trabalho, da
comunicação, pesquisa e acesso à informação, aspectos jurídicos, entre outros.
Assim, diante das mudanças que afetam as pessoas, as organizações também
precisam aceitar e incorporar essas tendências, de modo a satisfazer as
necessidades dos usuários no que diz respeito ao acesso à informação.
Como ocorre em instituições ou organizações de qualquer natureza,
observou-se que as bibliotecas também fazem uso das mídias sociais, haja
vista conquistar a confiança dos usuários, por conseguinte, garantir a
permanência dessas unidades na sociedade contemporânea. Com o valor
atribuído ao recurso informação, e a disponibilização dela em diferentes
suportes, com destaque para a criação das coleções de documentos digitais, as
bibliotecas vêm passando por transformações ao longo do tempo. Destaca-se
que tais transformações rompem o paradigma da guarda dos acervos e
chegam à busca de formas alternativas de alcançar o público que busca por
informação de qualidade. O momento é de adaptação e também de ampliação
das práticas realizadas pelas bibliotecas, considerando o potencial dos recursos
e tecnologias digitais na organização e disseminação de informação e
conhecimento para a sociedade.
Desde o final do século XX, com a explosão informacional e o
desenvolvimento das tecnologias digitais, muito se tem questionado sobre o
�31
futuro das bibliotecas e o papel dos bibliotecários no atual contexto. O serviço
de referência também passa por adaptações, considerando o uso de diferentes
tecnologias.
Alguns autores da área, defensores desses serviços, como Gorman
(2001), Otlet (1989) e Shera (1966), já preconizavam as modificações com
uso de tecnologias digitais, desde meados do século passado. Gorman (2001)
alertou para o fato de que as bases dos serviços de informação precisam
considerar as necessidades do usuário e dos profissionais que executam os
serviços, visto que a tecnologia por si só não basta. Logo, é preciso
desenvolver ações de organização da informação para recuperação da
informação; Otlet (1989) previu o nascimento dos serviços digitais; e Shera
(1966) otimizou a esperança de que os serviços se tornariam, ao longo das
próximas décadas, cada vez mais sofisticados, desde que adequados à
realidade da biblioteca e dos usuários.
As mudanças apontadas pelos autores acima podem ser visualizadas a
partir da análise das características dos serviços de referência, que passam a
ser oferecido com o uso de diferentes recursos tecnológico, ao longo do tempo.
A demanda por criar serviços de apoio aos usuários foi determinando para que
os bibliotecários implementassem ações educativas para capacitar os usuários
no uso dos recursos de informação. Além disso, a valorização atribuída ao
usuário e a intenção de integrar a biblioteca com a sociedade são fatores que
ocasionaram novas concepções ao serviço de referência, destacando as
relações públicas da unidade, sobretudo ao utilizar os recursos da web 2.0.
Nesse contexto, destaca-se o uso das redes sociais como tecnologias
importantes para dar acesso e visibilidade aos serviços da biblioteca, o que
confere o papel exercido pelo marketing informacional, ou seja, as estratégias
de divulgação dos serviços oferecidos. Harrison et al. (2017) afirmam que as
bibliotecas, sobretudo as acadêmicas, estão cada vez mais engajadas nas
mídias sociais, a fim de se conectarem com diversos grupos comunitários e ir
além dos limites tradicionais da biblioteca. Nas redes sociais, segundo esses
autores, as unidades de informação expõem postagens sobre arquivos,
coleções,
eventos,
exposições,
instalação,
comunidade
de
bibliotecas,
�32
sentimentos,
serviços,
gerenciamento
de
site
e
perfil
da
comunidade
universitária.
Muitos estudos publicados na literatura, assim como o de Harrison et al.
(2017), mencionam o uso das redes sociais pelas bibliotecas, sem contudo,
explorar quais são os tipos de serviços que têm sido oferecidos por essas
mídias e se os serviços de referência são beneficiados, de alguma forma, com
o uso dos recursos dessas mídias. Sendo assim, questiona-se: o que
consideram os estudos publicados na literatura sobre o uso das redes sociais
no serviço de referência das bibliotecas universitárias?
Assim, o presente artigo é parte de uma pesquisa de Doutorado que visa
propor um plano de ação para gestão dos serviços de informação em sistemas
de bibliotecas universitárias. Considerando o recorte delimitado para este
artigo, objetiva-se conhecer - por meio de uma revisão sistemática de
literatura (RSL) – o uso das redes sociais nos serviços de referência das
bibliotecas universitárias, tendo como base de investigação os artigos
publicados no idioma em inglês e indexados na Base de Dados Library and
Information Science Abstracts (LISA).
A escolha pelo método da RSL deve-se à relevância que ele tem
assumido, nos últimos anos, sobretudo pela capacidade em mapear evidências
científicas oriundas de estudos confiáveis publicados na literatura de uma
determinada área de conhecimento. Por sua vez, a escolha pela LISA se
justifica, haja vista a sua importância para a Ciência da Informação.
2 METODOLOGIA
Este estudo se apresenta como uma pesquisa descritiva e de abordagem
qualitativa. Os procedimentos técnicos adotados o caracterizam como uma
RSL, além de utilizar a análise de conteúdo.
O estudo descritivo, segundo Gil (2010), tem a intenção de levantar
aspectos sobre um objeto ou fenômeno, com vistas a caracterizá-lo. Segundo
�33
esse autor, nos estudos descritivos, há o propósito de despertar maior
familiaridade do proponente com o assunto tratado.
O estudo aqui escrito tem uma abordagem qualitativa, pois há pretensão
em entender a realidade e não apenas apresentá-la, de forma quantificável.
Nos estudos qualitativos, de acordo com Creswell (2014), normalmente, os
investigadores partem de pressupostos e, mesclando diversas técnicas para
coletar dados, tentam encontrar as razões que causam um determinado
problema, mediante interpretações que vão muito além do que está exposto
explicitamente nos dados coletados.
A RSL foi escolhida para este estudo, pois ela mapeia as publicações
sobre um assunto, levando em consideração, também, as crenças do
pesquisador. Em geral, os artigos de revisão sistemática tentam “[...]
responder uma pergunta específica e [utilizam] [...] métodos explícitos e
sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos, e
para coletar e analisar os dados destes estudos incluídos na revisão [...]”
(ROTHER, 2007, p. 5).
Por
sua
vez,
a
análise
de
conteúdo
é
conceituada
como
uma
possibilidade de síntese de conteúdos contidos em mensagens coletadas a
partir de documentos ou sujeitos de pesquisa, haja vista garantir a
sistematização do conhecimento expressos nessas fontes de dados. Em linhas
gerais, esse método se caracteriza como “[...] um conjunto de técnicas de
análise das comunicações [...]” (BARDIN, 2011, p. 47).
Ainda quanto à análise de conteúdo, para extração dos dados contidos
nas
fontes
consultadas,
recorreu-se
ao
processo
de
categorização,
estabelecido, a priori. As categorias foram estabelecidas a partir das
características diversas que os serviços de referência têm assumido, no
decorrer dos tempos, considerando a percepção de diferentes autores,
conforme apresentado no quadro 1.
Quadro 1 – Concepção dos serviços de referência
Característica principal dos
Autores
Citação
serviços de referência
Assistência a leitores
Green (1876)
“[...] As pessoas que
usam uma biblioteca
popular para fins de
investigação
geralmente precisam de
�34
muita assistência [...]”
(GREEM, 1876, p. 1,
tradução nossa).
Garantir o acesso às fontes do acervo Shera
(1966)
e “Os
serviços
de
(papel educativo)
Figueiredo (1992)
referência
possuem
uma
concepção
educativa, orientada na
capacitação do usuário
para
o
acesso
à
informação”
(FIGUEIREDO, 1992, p.
12).
Acesso ao acervo para sanar uma Grogan (1995)
“Embora os serviços
necessidade informacional
possam diferir de uma
realidade para outra, é
provável
que
o
atendimento vise sanar
necessidades
específicas
dos
usuários”
(GROGAN,
1995, p. 6)
Divulgação de produtos e serviços
Siqueira (2010) e Accart O serviço de referência
(2012)
“[...]
é
também
denominado ‘cartão de
visitas’ da biblioteca
[...]” (SIQUEIRA, 2010,
p. 117). “Os serviços de
informação [...] passam
a adotar uma visão
ampliada
[...]”
(ACCART, 2012, p. 11).
Fonte: Elaborado pelos proponentes (2019), a partir de evidências da literatura.
Conforme apresentado no quadro 1, percebe-se que os serviços de
referência nas bibliotecas vêm se evoluindo, em especial nas universitárias,
passando de um serviço micro e específico a um serviço amplo, considerando,
principalmente, a contribuição do avanço tecnológico. Portanto, as análises
deste estudo visaram a identificar essa evolução a partir do uso das redes
sociais na prática dos serviços de referência.
3 ETAPAS DA REVISÃO E ESTABELECIMENTO DO PROTOCOLO
Considerando o caminho metodológico sugerido para RSL, conforme
proposto por Rother (2007), para este estudo, foram escolhidas cinco etapas,
a saber:
�35
Primeira etapa – Definição do problema: a partir de leituras prévias
a
artigos-base,
definiu-se
um
problema
a
ser
investigado,
com
possibilidade de ser respondido a partir dos apontamentos da literatura;
Segunda etapa – Definição dos ambientes de busca: com o
problema delimitado, fez-se necessário escolher em quais sistemas de
informação as fontes seriam buscadas, considerando, apenas, as bases
de dados. Além disso, escolheram-se as palavras-chave e definiu-se a
expressão de busca;
Terceira etapa – Critérios de inclusão e exclusão: com os estudos
recuperados, definiram-se alguns critérios, dentre da própria base, ou
critérios relacionados ao conteúdo dos trabalhos, a fim de selecionar uma
amostra mais apurada;
Quarta
etapa
– Seleção
dos
estudos:
de
posse
dos
artigos
selecionados, precedeu-se à leitura integral de todos os trabalhos e os
respectivos fichamentos;
Quinta etapa – Análise e síntese: após os fichamentos dos textos,
mediante à análise de conteúdo, os trabalhos foram distribuídos nas
categorias de análise, para extração de conteúdo.
A partir da definição das etapas citadas, foi possível sistematizar as
estratégias de cada etapa, formalizando o protocolo de revisão, o qual serviu
de guia ao longo de todo percurso da pesquisa. O quadro 2 apresenta o
protocolo de revisão deste artigo.
Etapa da RSL
Primeira
Segunda
Terceira
Quadro 2 – Protocolo de revisão sistemática de literatura
Estratégias/Atividade
Descrição
Problema investigado:
De que forma as redes sociais têm
sido adotadas nos serviços de
referência
das
bibliotecas
universitárias?
Base de dados:
Lisa
Expressão de busca:
“Reference service” AND “University
Libraries” AND“Social Networks”
Local das palavras-chave:
Todas as três palavras em qualquer
parte do trabalho
Tipo de documento:
Artigo de periódico
Idioma:
Inglês
Extensão do artigo:
Longo. Mais de cinco páginas
Acesso:
Texto completo para download
Conteúdo textual:
Textos que estejam relacionados ao
uso de redes sociais em serviços de
informação
�36
Etapa da RSL
Quarta
Estratégias/Atividade
Leitura integral e fichamento
dos textos selecionados
Descrição
Apresentação
sistemática
das
características principais de cada
artigo na forma de quadro
Quinta
Categorização
Alinhamento de cada trabalhos às
categorias que definem as várias
concepções para os serviços de
referência
Fonte: Elaborado pelos proponentes (2019), a partir de evidências da literatura.
A partir do estabelecimento do protocolo de revisão, partiu-se para a
concretização das diferentes atividades em cada uma das etapas. Os
resultados alcançados no percurso de revisão estão apresentados na seção
seguinte.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca realizada na base Lisa considerou a seguinte string: “Reference
Service” AND “University Libraries” AND “Social Networks”, retornando um
total de 90 trabalhos. Após a aplicação dos critérios de inclusão, 63 trabalhos
foram excluídos por não atender um desses critérios. A figura 1 ilustra o
percurso de seleção com a aplicação dos diferentes critérios.
Figura 1 – Percurso de seleção a partir dos critérios de inclusão
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Conforme exposto na figura 1, constata-se que 63 trabalhos foram
excluídos e 27 selecionados, sem análise do conteúdo dos trabalhos. Logo,
após a leitura integral aos 27 artigos, identificaram-se 11 estudos que, embora
mencionando as três palavras-chave, não estavam centrados ao problema de
�37
pesquisa da revisão sistemática. Sendo assim, foram selecionados para análise
16 artigos, que posteriormente foram resumidos e as principais características
inseridas em um quadro sistemático.
Mediante a análise de cada um dos artigos foi possível extrair as
principais conclusões, apresentadas a seguir. No artigo de Zheng (2006), as
redes sociais e os serviços de referência virtual como um todo contribuíram
para dar mais autonomia ao usuário, uma vez que ele consegue acessar os
materiais informacionais, além de inteirar-se com notícias da biblioteca.
Destaca-se,
nesse
estudo,
que
a
autonomia
apontada
pela
autora
é
consequência das ações de educação da comunidade, o que afere a
importância dos treinamentos e a concepção instrutiva dos serviços de
referência, haja vista garantir que os usuários se ajudem mutuamente.
Para Jayasuriya e Brillantine (2007), as redes sociais são consideradas
como instrumentos que facilitam o acesso aos serviços de referência por meio
dos aplicativos baixados em dispositivos móveis, de modo que o atendimento
seja imediato e o compartilhamento se propague entre grupos específicos
criados e gerenciados pelos próprios usuários. Assim, por meio da web 2.0, a
biblioteca pode estimular a comunidade a criar esses grupos e também
desenvolver outros aplicativos que poderão ser utilizados pela biblioteca. Desse
modo, consolida-se, portanto, uma “arquitetura de participação” (JAYASURIYA;
BRILLANTINE, 2007).
Os recursos da web 2.0 podem ser explorados nos serviços de
informação, inserindo a biblioteca na atual realidade do mundo digital. Citamse como exemplos de recursos a serem utilizados: wiki, blog, mashup e
biblioblogosfera2. Além das vantagens no que tange à interação, o uso desses
recursos oferece outros benefícios, tais como a preservação digital, sendo
necessário conhecer o básico da terminologia e das tecnologias (LANKES;
SILVERSTEIN; NICHOLSON, 2007).
Estudo aplicado a bibliotecários, a fim de conhecer as percepções desses
profissionais e o que eles vêm realizando, demonstrou que a mesa de
2
Esses são recursos interativos, disponibilizados na rede, que possibilitam a interação dos
usuários e dos bibliotecários na produção e compartilhamento de conteúdos (MANESS, 2007).
�38
referência não é mais o local de atuação, cujas mídias sociais podem ser
utilizadas como forma de “abrir as portas” para os usuários do mundo digital.
Na Califórnia, os bibliotecários estão usando dispositivos que podem transmitir
comunicações de voz e também receber transferências de telefonemas
(SCOTT, 2008).
Destacam-se os aplicativos de mensagens instantâneas, apontados como
benéficos por serem rápidos e estimularem a interação entre usuário e
profissional (CLEMENTS, 2009). A autora acredita que essa interação imediata
é um recurso que garantirá mais autonomia ao usuário, por conseguinte
amplia-se a possibilidade de compartilhamento, e, como consequência,
manifesta-se a aprendizagem colaborativa.
Reference or enquiry services in USA, UK and Australian university
libraries are using a range of social software packages to extend library
services into online environments. These initiatives point to a concern on
the part of universities to “meet learners where they are” and to retain
relevance and visibility. A deeper concern for enhancing learning
experiences lies the heart of these initiatives, however. At this level,
development of new online services is not just a means of keeping up
with technology, but a concerted effort to provide the fullest learning
opportunities using content and modes of delivery that complementeach
other (CLEMENTS, 2009, p. 393-394).
Assim como apontado no artigo de Clements (2009), acerca da
aprendizagem mediada pelas mídias sociais, Gieseche (2011) também acredita
que uma alternativa válida no uso de redes sociais pelos serviços de referência
é a criação de práticas educativas para os usuários que possibilitem de forma
instantânea a oferta de aulas, cursos, além da disponibilização de tutoriais
compartilhados pelas mídias. Com esses recursos, os bibliotecários facilitam
aos usuários conversas ou aprendizado por meio de atividades de alfabetização
da informação, aumentando a capacidade crítica e argumentativa. Por meio da
interação promovida pelas redes, as bibliotecas conseguem reunir pessoas e
conteúdo de maneira a permitir que os usuários criem suas próprias conexões
(GIESECKE, 2011).
A aprendizagem colaborativa e a possibilidade de dar visibilidade aos
produtos e serviços oferecidos pelas bibliotecas são duas vantagens que
podem ser alcançadas quando se adota o uso das redes socais nos serviços de
informação. Para Pinto e Manso (2012), a criação de perfis da biblioteca no
�39
Facebook, Youtube ou Twitter possibilitará duas contribuições, resumidas em:
garantir a oferta de feedback mais rico e mais ativo à comunidade usuária, e
convergir para um único ponto, o acesso e visibilidade de todos os serviços
oferecidos.
Embora a oferta de serviços de referência com uso das redes sociais
ainda seja um trabalho incipiente, muitos estudos advertem que essa oferta é
fundamental, pois garantirá melhorias ao padrão e à qualidade dos serviços
informacionais.
As
redes
sociais,
nesse
contexto,
contribuem
para
a
comunicação, exercendo um papel social, orientado para o usuário e suas
necessidades, sejam elas acadêmicas ou não (TYAGI, 2012).
Uma das redes sociais que muito pode contribuir por facilitar a interação
e a troca de mensagens instantâneas, com bastante fundamentação, é o
Twitter. A revisão de literatura realizada por Vassilakaki e Garoufallou (2014)
identificou a diversidade de funções que pode ser atribuída a essa rede social,
incluindo-se os serviços de referência, seja com objetivo de facilitar os
processos de pesquisa, seja como estratégia de divulgação do que a biblioteca
tem a oferecer e promover. Nesse estudo, percebeu-se a necessidade
crescente
de
bibliotecários
adotarem
novas
funções
para
atender
às
expectativas do usuário quanto a formas inovadoras de comunicação e acesso
à informação.
Para Kumar (2015), os recursos interativos da internet facilitam as
orientações, que podem ser prestadas ao vivo, independente do lugar e do
horário que o usuário esteja. As redes sociais podem ser utilizadas ao
disponibilizar treinamentos, conduzidos de modo proativo e direcionado a
alunos, profissionais e docentes nas universidades. Desse modo, por meio da
alfabetização informacional, os usuários tornam-se espertos na busca por
informação, evitando desafios, por conseguinte, retrabalho e angústias no
momento das pesquisas.
Assim como Vassilakaki e Garoufallou (2014) destacaram a importância
do uso do Twitter, Oyieke e Dick (2016) também apontam essa importância. E
ainda frisam que os diversos recursos interativos da web 2.0 funcionam como
meio de ampliar a visibilidade, ao criar uma maior aproximação da biblioteca
�40
com seus públicos. Com todo efeito, “[...] Twitter is a way to remind people
about events and to share information. Twitter is invaluable for creating social
networks even in university settings [...]” (OYIEKE; DICK, 2016, p. 266).
As redes sociais, segundo Bandyopadhyay e Boyd-Byrnes (2016), podem
ser caracterizadas como tipos de serviços de referência virtual, em conjunto
com os aplicativos de mensagens instantâneas, que possibilitam o contato e a
troca de mensagens, por meio de texto, voz e vídeo. Em linhas gerais, as
bibliotecas universitárias oferecem esses recursos com o fim de atender os
usuários,
muitas
das
vezes
localizados
remotamente
e
incapazes
ou
indispostos de usar a biblioteca física, seus recursos e serviços. No entanto,
esses recursos possuem algumas desvantagens no comparativo com a
referência
presencial,
sobretudo
ao
ocultar
determinadas
pistas
comportamentais dos usuários, tais como: tom de voz, hesitação, postura
corporal, atenção, dentre outras (BANDYOPADHYAY; BOYD-BYRNES, 2016).
Nas bibliotecas, é cada vez mais recorrente o uso das redes sociais para
melhoria dos serviços, de modo que a unidade se capacite, conforme as
tendências do mundo digital. Ao utilizar as redes sociais como forma de
ampliação da oferta dos serviços de referência, esses se tornaram mais
dinâmicos e contribuem para garantir a autonomia do usuário. Tal fato pode
ser explicado porque as ferramentas e serviços digitais permitem que os
usuários se conectem,contribuem, compartilhem e recebam feedbacks das
mensagens postadas. Com efeito, “[...] the most important feature of social
networking sites is to facilitate user’s to make their social networks and build
connections worldwide with ease [...]” (KAUSHIK, 2016, p. 284).
O acesso às redes sociais pelos dispositivos móveis é outra questão
abordada na literatura e que, mesmo que esse uso, na vivência prática, ainda
seja tímido, os benefícios são diversos, pois envolvem a garantia de acesso às
fontes de informação para pesquisa, o compartilhamento de notícias variadas,
dentre outros (RODRÍGUEZ; RIVERO, 2016). Nesse contexto, segundo esses
autores, os usuários podem satisfazer uma necessidade de informação com
base no contexto com que ela é apresentada, e eles são capazes de usar as
redes sociais como uma fonte valiosa de informação. Além disso, com o uso
�41
desses dispositivos, o usuário tem a capacidade de transferir dados de um
dispositivo para outro e armazenar as informações úteis a serem consultadas,
posteriormente.
A implementação das redes sociais nos serviços de referência perpassam
por alguns desafios no âmbito das bibliotecas da Nigéria, tais como: 1 - tempo
inadequado para aprender, explorar e implementar novas redes; 2 -
equipe
inadequada para dedicar totalmente tempo para atualizar e acompanhar
constantemente as novas tecnologias e inovações; 3 - dificuldades em
determinar
quais
ferramentas
seriam
aceitas
pelos
usuários;
4
-
os
bibliotecários não têm interesse em usar as mídias sociais, entre outros
(OKITE-AMUGHORO, 2017).
No entanto, na percepção dos bibliotecários, as mídias sociais funcionam
como mecanismos de divulgação dos serviços de informação, além de criarem
laços de aproximação e cordialidade entre biblioteca e usuários. Logo, essas
mídias
são
garantindo
úteis
a
no
compartilhamento
promoção
dos
serviços
das
de
conhecimento/informação,
bibliotecas,
em
especial
no
aprimoramento da referência, “[...] providing quick updates, getting feedbacks
fromusers, enhancing communication and interaction betwe enthe library and
theusers as well as helping librarian stoke epabrea stwithi nformation,
activities and resources in theirfield” (OKITE-AMUGHORO, 2017, p. 1).
Outro estudo que aponta a prática colaborativa no suporte a pesquisas
acadêmicas foi desenvolvido por Bardakcı, Arslan e Unver (2018). Segundo os
resultados obtidos
da pesquisa aplicada, constatou-se o potencial dos
aplicativos, sobretudo por criar redes de contatos que possibilitam a troca de
informações e o ensino acerca das estratégias de busca nos sistemas
informatizados das bibliotecas e demais coleções de documentos. O estudo
concluiu
que
esse
é
um
potencial
das
mídias
para
pesquisadores
e
profissionais, mas ainda não tão explorado no processo de pesquisa.
A fim de facilitar a identificação do tema principal de cada artigo, eles
foram sistematizados em um quadro, contendo os seguintes atributos:
autores/ano, assunto principal utilizado no estudo e resultados alcançados. O
quadro 3 resume essas informações.
�42
Quadro 3 – Autores, assuntos e conclusões dos artigos
Assunto principal
Principal resultado
abordado
Zheng (2006)
Construção do Serviço de Foram demonstradas estratégias de
Referência Digital
como desenvolver o serviço digital na
China, reforçando o potencial das
interações oriundas com os recursos
digitais
Jayasuriya e Brillantine Necessidades
de Constatou-se que os serviços da
(2007)
informação
para biblioteca 2.0 garantem autonomia ao
acadêmicos e o papel da usuário e ampliam a visibilidade da
biblioteca
biblioteca
Lankes, Silverstein e Redes colaborativas para Apresentou
um
conjunto
de
Nicholson (2007)
serviços informacionais
recomendações para promover maior
discussão e ação sobre o tema das
redes
participativas
e,
mais
amplamente,
a
biblioteconomia
participativa
Scott (2008)
Adequação dos serviços de Resume opiniões divergentes sobre o
referências às tecnologias futuro do serviço de referência,
digitais
destacando a importâncias das redes
de interação
Clements (2009)
Uso
de
mensagens Devido ao rápido desenvolvimento
instantâneas na referência
das tecnologias, sugere-se a escolha
por software de código aberto. O
princípio abrangente precisa incluir
um foco na melhoria da experiência
de aprendizado
Gieseche (2011)
Reestruturação
das As bibliotecas precisam implementar
bibliotecas de pesquisa
serviços que recorram ao uso das
tecnologias digitais, haja vista atender
os usuários em suas atividades de
pesquisa, em qualquer local e
momento que desejarem
Pinto e Manso (2012)
Avaliação de serviços de Uso das redes sociais e de recursos de
referência digitais
interação, que possibilitarão retorno
mais
imediato
à
comunidade,
conferindo visibilidade ao que é
oferecido
Tyagi (2012)
Uso da tecnologia web 2.0 É de suma importância a incorporação
por
profissionais
de das tecnologias da web 2.0, embora
bibliotecas
as bibliotecas estejam longe dessa
realidade
do
Twitter
nas O Twitter pode ser utilizado para
Vassilakaki
e Uso
Garoufallou (2014)
diferentes fins nas bibliotecas, seja
bibliotecas
para provimento de informação de
pesquisa ou outras notícias que
conferem visibilidade aos serviços
oferecidos
Kumar (2015)
Redes sociais e bibliotecas Importância valiosa das redes sociais
acadêmicas
como instrumentos de educação de
usuários, com práticas de treinamento
e compartilhamento de informação
Oyieke e Dick (2016)
Avaliação dos recursos da Por meio desses recursos, a biblioteca
web 2.0
se
torna
mais
conhecida,
aumentando, dessa forma, o uso dos
serviços
Bandyopadhyay
e Serviços de informação Reforçou
a
necessidade
dos
Autores
�43
Autores
Assunto principal
abordado
digitais e a adequação da
biblioteca
Boyd-byrnes (2016)
Kaushik (2016)
Rodríguez
(2016)
e
Rivero
Okite-Amughoro
(2017)
Bardakcı,
Arslan
Unver (2018)
e
Principal resultado
bibliotecários serem qualificados e
conhecedores para fornecer serviços
de referência eficazes e eficientes em
um ambiente digital
Uso de redes sociais em O uso de sites de redes sociais na
bibliotecas
biblioteca está aumentando dia a dia
e ajuda os profissionais da biblioteca
a criar interação pessoal com seus
usuários
Dispositivos
móveis
e Os dispositivos móveis podem ser
capacitação de usuários
utilizados como meio de envio de
cursos, dicas, tutoriais, dentre outras
ações que capacitem os usuários
Serviços
digitais
e Os
bibliotecários
precisam
capacitação
de disponibilizar recursos interativos, que
bibliotecários
promovam a oferta de informação e a
ampliação do que acontece na
biblioteca
Uso de redes sociais por Os serviços das biblioteca podem
pesquisadores
apoiar a pesquisa, cujas redes sociais
contribuem por criar um ambiente de
aprendizado mútuo, mediante a
colaboração e compartilhamento de
informações para pesquisa
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Com os temas e resultados de cada estudo, foi possível alinhar cada um
deles às categorias selecionadas a priori, de modo a identificar qual a
concepção dos serviços de referência ao fazer uso das redes sociais. Assim, os
estudos foram distribuídos a diferentes características que os serviços de
referência podem assumir, quais sejam: serviço de assistência à leitura,
garantia de acesso às informações para pesquisa, oferecimento de informações
com base nas necessidades dos usuários e serviços de divulgação/marketing.
Percebeu-se que todos os estudos foram alinhados a, pelo menos, uma
dessas categorias, e que apenas a categoria assistência à leitura não foi
constatada em nenhum dos 16 trabalhos. Essa ocorrência demonstra que as
redes sociais podem ser utilizadas na prática dos serviços de referência,
principalmente por garantirem o acesso às informações para pesquisa e à
promoção/divulgação da biblioteca e seus serviços. O quadro 4 demonstra a
distribuição das características dos serviços de referência entre os trabalhos
analisados.
�44
Quadro 4 – Concepção dos serviços de referência presente nos trabalhos investigados
Característica principal
Artigos alinhados
Justificativa
dos serviços de
referência
Assistência a leitores
Não identificado
Nenhum trabalho abordou a
assistência à leitura pelas redes
sociais
Garantir o acesso às fontes Bardakcı, Aslan e Unver Esses trabalhos consideram que
do acervo (papel educativo)
(2018), Clements (2009), as redes sociais têm o potencial
Giesecke (2011), Kaushik para garantir a aprendizagem,
(2016), Kumar (2015), mediante o acesso às fontes de
Okite-Amughoro (2017), informação
que
podem
ser
Rodríguez
e
Rivero compartilhadas, além das ações
(2016) e Zheng (2006)
de
capacitação
a
serem
disponibilizadas nas redes
Uso do acervo para sanar Bandyopadhyay
eBoyd- Nesses trabalhos, o foco está na
uma
necessidade Byrnes (2016), Bardakcı, adequação da biblioteca e do
informacional
Arslan e Unver (2018), bibliotecário em disponibilizar os
Jayasuriya e Brillantine serviços de consulta e as notícias
(2007), Kaushik (2016), da biblioteca, nas redes sociais,
Lankes,
Silverstein
e de modo a se adequar à realidade
Nicholson
(2007), e ao perfil dos usuários
Rodríguez
e
Rivero
(2016), Scott (2008) e
Tyagi (2012)
Divulgação de produtos e Jayasuriya e Brillantine Em linhas gerais, esses autores
serviços
(2007),
Lankes, realizaram
pesquisa
para
Silverstein e Nicholson comprovar a importância das
(2007), Okite-Amughoro redes sociais para a biblioteca,
(2017), Oyieke e Dick sendo
constatada
como
(2016), Pinto e Manso vantagem mais importante, a
(2012), Scott (2008) e capacidade
dessas
redes
Vassilakaki e Garoufallou garantirem
visibilidade
aos
(2014)
serviços oferecidos, de modo que
a biblioteca, como um todo, seja
mais
utilizada,
acessível
e
valorizada
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
A partir do quadro 4, torna-se evidente que as redes sociais possuem
relação com os serviços de referência e, portanto, não podem deles se
distanciar. Os resultados dos artigos analisados apontaram para a necessidade
de exploração dos recursos da web 2.0, com vistas a garantir a inserção da
biblioteca
na
sociedade
digital.
As
tendências
da
contemporaneidade
determinam mudanças de costume, comportamentos e preferências nas
pessoas. Logo, caberá à biblioteca reconhecer os perfis da comunidade a ser
atendida e realizar as adequações necessárias.
Embora
a
categoria
assistência
aos
leitores
não
tenha
tido
correspondência com os estudos da amostra, é possível que as redes sociais
possam contribuir para as práticas de leitura, cabendo ao bibliotecário utilizar
�45
as redes para indicação de materiais. Conforme discorrido por Messias e
Almeida Júnior (2017, p. 4), “[...] as práticas de leitura nas redes sociais são
norteadas pelos elos e por compartilhamentos de experiências de leitura que
transformam um ato solitário em um ato compartilhado [...]”.
Paralelo a essa atuação de mediar a leitura, por meio da indicação de
fontes constantes nos acervos da biblioteca, o bibliotecário exercerá o papel
educativo, uma vez que estimulará o senso crítico do leitor, sobretudo no
âmbito do desenvolvimento de pesquisas. Desse modo, as redes sociais
funcionam como canais propagadores no estímulo à aprendizagem, por
conseguinte, a construção de novos conhecimentos. Segundo Giesecke (2011),
os bibliotecários, especialistas em mídias e com perfis pedagógicos, passam a
ser chamados de professores-bibliotecários, e atuam na gestão de bibliotecas e
laboratórios de informática. Logo, “[…] librarians are seeking terms and
metaphors that indicate librarians are professionals who do more than read
and shelve books” (GIESECKE, 2011, p. 58).
A atitude pedagógica do profissional não se resume, tão somente, à
disseminação de material informacional contido nos acervos. Preocupada com
a instrução e autonomia do usuário, a prática da oferta de treinamentos
constitui um dos pontos fortes dos serviços de referência, sobretudo em
bibliotecas acadêmicas. Com as mídias sociais, essa prática se expande, visto
que se manifesta como mais um canal para disseminar habilidades quanto ao
uso dos recursos informacionais. As mídias sociais precisam ser utilizadas com
fins acadêmicos e de pesquisa e o profissional instrui os usuários, haja vista
um melhor aproveitamento das mídias e dos materiais oferecidos (KUMAR,
2015).
No que se refere à categoria oferta de informações, conforme as
necessidades dos usuários, os estudos analisados nesta amostra de pesquisa
evidenciaram que os serviços oferecidos nas redes sociais deixam de ter uma
concepção voltada ao entretenimento, para ter objetivos profissionais e de
pesquisa, conforme o perfil da comunidade. Para Bardakcı, Arslan e Unver
(2018), as redes sociais, no contexto dos serviços de informação das
bibliotecas acadêmicas, têm o propósito de fomentar informação para grupos
�46
específicos e criar a cultura da colaboração, sob uma perspectiva mais ampla,
profunda e multicultural, cujos recursos e materiais são compartilhados em
diferentes comunidades científicas.
Por fim, quanto à categoria divulgação de produtos e serviços, nota-se
que as redes sociais muito contribuem para essa prática, principalmente pela
capacidade de ampliar o compartilhamento de conteúdos, o que garante um
alcance mais abrangente do que a biblioteca oferece. É provável que essa
abrangência seja uma oportunidade de dar mais “voz” ao papel da biblioteca
na sociedade, de modo que ela seja mais reconhecida pelo seu valor na
evolução das pessoas e das instituições.
Para confirmar essa constatação, cita-se o trabalho de Pinto e Manso
(2012), ao afirmar que é necessidade urgente criar a cultura da visibilidade, ou
seja, “fazer ser visto”, a fim de que novos usuários possam fazer parte da
biblioteca, usufruindo das contribuições dela. As bibliotecas precisam buscar a
participação ativa de comunidades de usuários, juntamente com outros
profissionais e instituições, a fim de criar uma maneira mais colaborativa de
trabalhar. Por fim, os serviços oferecidos por meio das redes sociais terão o
potencial de atingir diferentes contextos, grupos heterogêneos ou mais
específicos, haja vista viabilizar a inserção da biblioteca na sociedade digital
(PINTO; MANSO, 2012).
Assim como apresentado nos estudos desta revisão, acerca do uso das
redes sociais para aprimoramento dos serviços de referência e, considerando o
alerta de Accart (2012, p. 289), ao afirmar que “o futuro é digital [...] e se
inscreve na realidade atual e futura dos serviços de referência”, confirma-se a
contribuição, importância e necessidade de se adotar as redes sociais como
mecanismo de ampliação dos serviços de referência nas bibliotecas.
Também se confirma o pressuposto de Shera (1966), ao afirmar que
esses serviços se tornariam cada vez mais sofisticados, e a tese de Figueiredo
(1992), quando destacou que esses avanços jamais tomarão o lugar do
profissional. Isso porque, é atividade inerente ao bibliotecário manipular,
intelectualmente, a informação de maneira hábil e com criatividade para
�47
inovar/ampliar/diversificar
a
oferta
dos
serviços
informacionais
para
a
sociedade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada na literatura reforçou que as redes sociais podem
contribuir com a prática dos serviços de referência nas bibliotecas, constituindo
mais um canal de comunicação e interação entre bibliotecários e usuários para
ampliação do acesso aos serviços oferecidos. Foi possível perceber que, ao
utilizar essas mídias, os serviços de referência se propõem a educar (instrução
e treinamento para uso das fontes do acervo), a sanar necessidades
específicas
(mediante
adequação
ao
perfil
da
comunidade)
e
a
divulgar/promover (dar visibilidade ao potencial da biblioteca).
A partir dessa constatação, conclui-se que é possível utilizar as redes
sociais para a prática dos serviços de referência e esse uso tem sido relatado
na literatura, cujos estudos são unânimes ao afirmar que as redes sociais são
tendências emergentes da atual realidade e as bibliotecas precisam se
adentrar
a
esse
contexto,
a
fim
de
serem
inseridas
na
sociedade
contemporânea. Os estudos também reforçam que essa conquista dependerá
de uma atuação inovadora por parte dos bibliotecários, de modo que os
serviços de referência acompanhem essas mudanças, tornando-se cada vez
mais aperfeiçoados.
Este estudo não tem a pretensão de se esgotar, visto a abrangência do
tema, o que instiga a realização de estudos futuros, sobretudo com viés
aplicado, que possa reconhecer a realidade das bibliotecas brasileiras, quanto
ao uso de redes sociais para ações de referência. Assim, por meio deste texto,
foram fornecidas algumas bases teóricas acerca da aplicabilidade dos serviços
de referência nas redes sociais, estimulando a continuidade da pesquisa, por
meio de entrevistas com bibliotecários, a fim de reconhecer a percepção
desses profissionais. Com efeito, a partir dos apontamentos da literatura e das
evidências levantadas in loco, serão revelados indícios para formulação de um
�48
plano de ação ou diretrizes para constituir políticas de informação a serem
adotadas pelas bibliotecas brasileiras.
Não se pode deixar de registrar outros desdobramentos de pesquisa, em
especial no que tange ao papel exercido pelos bibliotecários no contexto da
web social. Nesse segmento, esses profissionais encontram um novo e
diversificado nicho de atuação, que rompe as estruturas físicas das bibliotecas,
ampliando o potencial bibliotecário na organização e acesso à informação
digital,
além
da
construção
e
gestão
dos
canais
que
possibilitam
a
comunicação e mediação no ambiente da web.
Bibliotecários são considerados agentes de fundamental importância para
a organização da web e as bibliotecas são unidades que aproveitam o potencial
do espaço digital para ampliar e diversificar os produtos e serviços que podem
oferecer
para
as
comunidades.
Assim,
novas
iniciativas
precisam
ser
desenvolvidas, de forma empreendedora, audaciosa e inovadora, com o fim de
potencializar
o
papel
da
biblioteca
e
dos
bibliotecários
na
sociedade
contemporânea, principalmente quanto aos aspectos inerentes à informação,
comunicação e mediação.
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Agradecimentos: Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento desta pesquisa.
DADOS BIOGRÁFICOS
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Gestão e
Organização do Conhecimento. Atuante no ramo da
prestação de serviços de orientação, escrita, normalização
e lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Atua como editor e assessor do Periódico PróDiscente, como também compõe a diretoria da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de
secretário.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Célia
da
Consolação
Dias:
Graduada
em
Biblioteconomia. Mestrado e Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professora do Curso de Biblioteconomia e do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: celiadias@eci.ufmg.br
Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan: Graduada
em Biblioteconomia. Mestrado e Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professora do Curso de Biblioteconomia e do
Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento, na Escola de Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: benildesmaculan@ufmg.br
�52
CAPÍTULO III - Redes sociais como instrumento de
divulgação em bibliotecas: relato de experiência sobre o uso
dos memes na divulgação de produtos e serviços
informacionais
Jose Ricardo da Silva Neto
1 INTRODUÇÃO
O trabalho com memes foi iniciado pelo autor como uma resposta à
necessidade de divulgação do 1° Colóquio Informação e Imaginário, o qual se
tratava de um evento produzido pelo Gabinete de Estudos de Informação e
Imaginário (GEDII) que é liderado pelo professor Cláudio Paixão Anastácio de
Paula. Como o principal meio de divulgação do 1° Colóquio Informação e
Imaginário seria a página do GEDII no Facebook, foi proposto a utilização dos
memes a fim de promover uma linguagem de comunicação que fosse atrativa
principalmente aos alunos da graduação. A proposta foi aprovada, o que deu
margem ao autor para a produção deste trabalho, que carrega em si muito da
própria relação pessoal com a internet e a linguagem dos memes em redes
sociais.
Inicialmente ficou evidente a necessidade de se elaborar um pequeno
plano de “social media” para a página, que, até aquele primeiro momento,
contava com menos de 50 curtidas e poucas modalidades de publicação em
seu histórico. Era uma página pequena e pouco utilizada, tendo, inclusive, um
perfil de usuário com o mesmo nome, o que acaba sendo uma redundância de
perfis, dividindo o público e os esforços de divulgação, muitas vezes
diminuindo o retorno no que diz respeito à visibilidade.
Contudo, mesmo o autor possuindo uma considerável vivência pessoal
de dez anos, em meio a nichos específicos da web voltados a esse tipo de
conteúdo, foi necessário realizar um breve estudo o melhor desenvolvimento
da tarefa a ele designado. Primeiro, foi feito uma pesquisa em busca de fontes
�53
confiáveis acerca da origem dos memes, pois o primeiro do autor com esse
tipo de conteúdo foi em meandros de 2007, por meio dos memes relacionados
ao filme 3003 e, até aquele momento, possuía a visão de usuário e consumidor
desse tipo de conteúdo.
Logo após a pesquisa acerca da origem dos memes, comecei a
idealização e produção dos memes para a página do GEDII. Entretanto, me
deparei com as dúvidas viscerais acerca do trabalho que me foi dado:
Imagem 1 - “E agora José”
Fonte: geradormemes.com
“Qual tipo de piada, humor e meme é adequado à página?”
“Por se tratar de uma página acadêmica, como manter a respeitabilidade
sem ficar sem graça?”
Nesse segundo momento, a começar pelo humor do meme, foi
necessária
um
levantamento
sobre
os
gêneros
da
dramaturgia,
mais
especificamente a farsa e a comédia. Abrindo, assim, caminho para um breve
estudo sobre os três tipos básicos de humor, sendo eles o humor físico, o
humor falado e o humor escrachado, o que deu base para a produção dos
3
300 é um filme de fantasia e guerra norte-americano de 2006, co-escrito e dirigido por Zack
Snyder. Baseado na série de quadrinhos homônima de Frank Miller e Lynn Varley, publicada
pela Dark Horse Comics em 1998, ambos são releituras fictícias da “Batalha de Termópilas”,
que ocorreu durante as Guerras Persas.
�54
memes para avaliação dos membros do grupo. Portanto, serão apresentados
pequenos tópicos sobre esse processo, além de curtas revisões sobre os
conceitos utilizados na elaboração do material e os impactos sobre a
visibilidade da página do GEDII no Facebook.
Visando explicar passo a passo a compreensão e produção dos memes,
por meio de uma breve recuperação de conceitos, guiado pelo relato da minha
experiência utilizando a criação de memes com o objetivo de divulgar a página
do GEDII, nos próximos tópicos serão abordados os seguintes assuntos “os
memes”, ”a construção dos memes” e “a viralização4”. O trabalho, como um
todo, é fruto das reflexões acerca de uma série de atividades práticas para a
produção e disseminação dos memes. Essa atividade será melhor descrita em
detalhes no tópico referente a “construção dos memes”, o qual será o
equivalente a “metodologia” neste capítulo.
Convido o(a) leitor(a) a ler este material não somente com o olhar
acadêmico, mas, também, com o olhar da sua quinta série, pois não podemos
pensar em memes da internet sem associar a ele piadas ruins, senso de humor
distorcido e momentos em que “rimos de nervoso”.
2 OS MEMES DA INTERNET
Os memes da internet, como conhecemos hoje, tiveram sua origem ao
final da década de 1990, ganhando cada vez mais espaço e popularidade nos
anos 2000. O sucesso deles caminha junto a expansão do mercado de redes
sociais e a popularização da internet, no qual o ambiente de compartilhamento
rápido de informação facilita a reprodução e viralização dos memes da internet
(MUSEU DOS MEMES, não datado, não paginado). No entanto, os memes não
se originaram do período supracitado. Para compreender a natureza dos
memes, primeiro, devemos rever a origem de sua definição.
4
Viralização, termo originalmente relacionado a propagação de doenças, usado devido as
pessoas chegarem a compartilhar conteúdos quase que inconscientemente, o que gera uma
“epidemia” de internautas falando sobre o mesmo assunto.
�55
Mas quem saberia nos dizer a origem dos memes? Além disso, saímos
vitoriosos e invictos de uma série de eventos baseados em troca de ataques
virtuais nas redes sociais, conhecidos na internet como “as guerras memeais”5.
O Brasil, no “mundo virtual”, é uma grande potência e autoridade no que diz
respeito aos memes, chegando ao ponto de possuirmos um museu on-line dos
memes, o qual segundo o próprio site do museu é administrado por uma
equipe de docentes e discentes da Universidade Federal Fluminense (UFF):
A equipe do #MUSEUdeMEMES congrega docentes e discentes em
caráter permanente ou honorário. São pesquisadores da pós-graduação
em Comunicação (PPGCOM-UFF), da graduação em Estudos de
Mídia/UFF, e também de outras áreas e instituições. (MUSEU DE MEMES,
não datado, não paginado).
A origem do conceito de “meme” é anterior à popularização da internet,
tendo sua origem na obra de 1976 escrita por Richard Dawkins “O gene
egoísta” (The Selfish Gene), é fácil se perder em questionamentos e reflexões
sobre até que ponto algo é ou não um meme. Porém, o foco é a utilização dos
memes na internet, já que serão o objeto de estudo deste capítulo devido à
sua ampla presença nas redes sociais. Esses lançam mão dos mais diversos
recursos do humor para conseguirem público e se manterem em circulação,
sendo esta a principal característica dessa linguagem visual como aponta o
Museu de Memes:
Hoje, memes são um fenômeno típico da internet, e podem se
apresentar como imagens legendadas, vídeos virais ou expressões
difundidas pelas mídias sociais. Próprios do universo das comunidades
virtuais, eles são geralmente compreendidos como conteúdos efêmeros,
vulgarmente encarados como “besteirol” passageiro ou “cultura inútil”,
5
“A Guerrilha Dos Memes foi um conflito travado por brasileiros e portugueses, que levou a
um conflito de proporções enormes. Essa guerrilha foi travada entre os maiores "memeiros" de
ambos os países. A guerra foi oficialmente terminada quando a página "In Portugal we don't"
anunciou em seu Twitter que tinha desistido da guerra e que os brasileiros poderiam ficar com
o meme que havia sido roubado.” (DESCICLOPÉDIA, página foi modificada pela última vez em
15 de junho de 2018, às 00h04min).
A Segunda Guerra Memeal foi a segunda batalha digital de nível internacional registrada na
história da internet, travada entre Argentina, Brasil e Portugal (embora este último mal tenha
pisado em campo de batalha) que ocorreu entre os dias 16 e 17 de Junho de 2016 e teve
como campo de batalha a rede social Twitter, onde a Primeira Guerra Memeal também
ocorreu. A Segunda Guerra Memeal foi consequência de um pedido desesperado de Portugal a
Argentina para "vingá-lo" em uma retaliação contra o Brasil. (DESCICLOPÉDIA, página foi
modificada pela última vez em 15 de junho de 2018, às 00h04min).
�56
fruto de sua utilização da linguagem do humor (MUSEU DE MEMES, não
datado, não paginado).
Devido a essa origem popular, falta de registro sobre seus produtores e
sua característica humorística, poucos pesquisadores levaram esse tema para
o espaço acadêmico. Contudo, segundo o Museu de Memes, é preciso salientar
que os memes possuem uma enorme carga cultural e não podem ser vistos de
maneira preconceituosa como “cultura inútil”:
Os memes são, portanto, uma linguagem que encontra ampla
repercussão em ambientes online, mas que é relativamente pouco
estudada e pouco compreendida, em especial no cenário da pesquisa
científica. Parte deste descaso é fruto de uma equivocada compreensão
do fenômeno como pertencente à uma “cultura do besteirol” ou à
chamada “cultura inútil”, termos que não reconhecem os memes na
plenitude de seu valor cultural, manifestações características da internet
mas capazes de influenciar inclusive os meios de comunicação
mainstream (MUSEU DO MEME, não datado, não paginado).
Os memes da internet, enquanto fruto da comunicação digital, viabilizam
as mais diversas combinações textuais e não verbais, contendo em si,
principalmente,
as
imagens
de
significação
popular,
quanto
sons
ou
movimentos que ressaltam a intenção da mensagem. Guerreiro e Soares
(2016) apontam que “os domínios digitais carregam, agora, não apenas textos
verbais, como também imagéticos, objetos em movimento, sons, cores e
disposições dos textos” (GUERREIRO; SOARES, 2016, p. 186). Com a grande
acessibilidade às redes sociais e a recursos de produção visual simples,
qualquer pessoa pode produzir seus memes. Guerreiro e Soares (2016)
pontuam bem esse aspecto por meio das citações de Candido e Gomes (2015)
e Martino (2015):
Importante destacar que os memes são elaborados por intermédio de
uma imagem, retirada de uma cena do cotidiano, e de um texto,
extraído de um outro contexto, mas na configuração final do meme
adquire uma significação característica. Outra questão observada é que
não há preocupação do produtor dessas imagens quanto ao design
visual, pois são produzidas de modo colaborativo e com autoria não
divulgada. Candido e Gomes (2015, p. 1298) ressaltam a simplicidade
dos memes que “podem ser produzidos com os mais básicos programas
de edição, pois o objetivo não é arte, mas a situação que deseja
comunicar, sempre com o fundo de comicidade”. Martino (2015, p. 178)
concorda ao afirmar que “qualquer pessoa com conhecimentos
rudimentares de edição de imagem digital pode, potencialmente, se
apropriar de uma ideia, modificá-la e compartilhá-la”, características da
�57
produção desse gênero (GUERREIRO;
GOMES; MARTINO, 2016, p. 191).
SOARES,
apud
CANDIDO;
A facilidade de produção desse tipo de conteúdo é também a chave de
seu sucesso, por gerar uma relação de facilidade para sua compreensão por
pessoas que compartilham bases de vivência ou consumo informacional
similares. Isso ocorre devido à forte presença da cibercultura na vida das
pessoas, que as levam, cada vez mais, a compor seu imaginário, seus valores
e expressões com base no que consomem na internet ou, principalmente, nas
redes sociais. Rocha e Montardo (2005) apontam que, devido a essa presença
contínua na vida das pessoas, a cibercultura acaba assumindo o lugar de
matriz de sentido nos dias atuais.
a cibercultura ganha a vida no dia a dia, dinamizando o imaginário
contemporâneo e concretizando-se em práticas. Na medida em que
estampa capas de revistas de variedades, invade as telas de cinema,
circula pela Internet, pode-se dizer que a cibercultura ocupa um lugar
privilegiado como matriz de sentido contemporânea (ROCHA;
MONTARDO, 2005, p. 2).
Essa forte presença da cibercultura pelos dispositivos móveis e redes
sociais,
leva
os
memes
a
serem
uma
forma
viral
de
comunicação
extremamente efetiva entre pessoas de compreensão “simples” da realidade.
Por usarem uma linguagem despretensiosa e baseada no humor, acabam
passando mensagens curtas que serão amplamente compartilhadas à medida
que estas tiverem a capacidade de alcançar a catarse do receptor, que irá
compartilhá-la novamente, seja por identificação ou por desejar mostrar a
mesma a seus contatos.
3 A CONSTRUÇÃO DOS MEMES
Aparentemente, a criação dos memes se baseia em juntar uma imagem
engraçada, uma frase legal, ir em um site ou programa de edição, juntar tudo
e kabum! As pessoas vão rir e adorar seus memes. Na prática, essa é a ideia.
A linguagem dos memes da internet visa ser direta e simples para seu público
produtor e consumidor. Entretanto, quando falamos de páginas institucionais,
�58
não é bem assim, pois existem inúmeros fatores dentro da elaboração de um
bom meme e esses precisam ser administrados com cuidado, sendo os
principais fatores: o tipo de humor, a seleção das imagens e como o meme
será utilizado.
Figura 2 - “Como fazer memes”
Fonte: Autor desconhecido (2018).
Começando pelo humor, que podemos facilmente considerar o aspecto
mais sensível da produção e utilização dos memes da internet em páginas
acadêmicas, devido aos riscos de se perder o tom da piada, levando o
conteúdo a tomar sentidos indesejados. Além disso, as páginas institucionais
possuem um caráter de seriedade que deve ser prezado, mesmo nos detalhes
de uma postagem mais descontraída. Sabendo que o humor, segundo
Jablonski e Range (1984), tem sua matriz em “Quatro grupos de fatores que
os resumem: (a) incongruência6; (b) surpresa; (c) superioridade7; (d) alívio de
tensão8” (JABLONSKI; RANGE, 1984, p. 135). É necessário, então, uma
mistura difícil entre coerência para com a instituição e quebra de expectativa
acerca de seu conteúdo, atendendo, assim, aos fatores de surpresa e
6
Teoria da incoerência, diz que “espera-se algo e acontece outra coisa, as vezes o exato
oposto [...] o que importa no humor é mais a incoerência, o contraste, a diferença do que
propriamente a degradação” (ASCERALD, 2004, p. 5).
7
Teoria da superioridade, “O fato de se colocar na posição de observador já é, por si só,
característica da superioridade. Deste modo, o humor é algo que acontece com os outros, os
inferiores, os que escorregam e caem, os que levam tortas na cara” (ASCERALD, 2004, p. 4).
8
Teoria do alívio, “segundo a qual o humor é uma forma de nos libertar, ainda que
temporariamente, das tensões impostas pela moral coletiva. Aqui acredita-se que a origem do
riso está na remoção de barreiras, na sensação de liberdade perante as amarras sociais e
culturais” (ASCERALD, 2004, p. 6).
�59
incongruência que trabalham juntos nesse cenário, pois, à medida que os
memes se tornam habituais na página, eles tendem a perder sua eficácia.
Logo, na produção de memes para as páginas de instituições, deve-se
prestar atenção aos arquétipos atribuídos a instituição, para manter-se fiel à
imagem estabelecida com o público alvo. No entanto, isso deve ser feito de
maneira a dar espaço para a subversão controlada. Segundo Vieira (2006), é
necessária “uma comunicação humorística, visando romper os padrões de
beleza, implantando uma linguagem coloquial na publicidade e fixando a
relação da imagem ao produto” (VIEIRA, 2006, p. 14).
Essa subversão, em sua raiz, também será o principal elemento
humorístico, uma vez que o meme e sua piada irão destoar do conteúdo
habitual da página, mas sem perder a identidade da instituição. Dessa
maneira, a primeira linha de humor do meme será a sua própria presença no
ambiente formal, por engajar um conteúdo de fim humorístico (mesmo que
crítico) em um ambiente formal, causando, assim, surpresa e uma confusão
momentânea ao público. Como afirma Jablonski e Range (1984):
A idéia básica é a de que há sempre um elemento de inconsistência, de
inusitado, ou de algo que se revele destoante em um quadro ou situação
inicialmente percebido como unitário [...] A surpresa talvez possa ser
até conceituada como uma subclasse de incongruência. Uma situação é
surpreendente quando ela não é esperada dentro de uma certa lógica
dos acontecimentos. E, portanto, um elemento incongruente em uma
cadeia (JABLONSKI; RANGE, 1984, p. 135).
A partir disso, foi trabalhada, então, a linha do humor ligado à surpresa e
ao alívio da tensão, sendo o segundo aspecto objetivado devido à inerente
carga de estresse, pressão ou tensão ligada ao meio acadêmico, suas rotinas e
práticas. A temática principal dos memes e seu humor foram definidos
segundo termos diretos associados ao grupo de pesquisa em conexão com as
datas de anúncio, inscrição e realização do evento. A metodologia da criação
de produção dos memes foi baseada em três critérios diretos:
�60
Temática “Jedi”9: Devido ao nome do grupo de pesquisa ser GEDII e
alguns alunos da Escola de Ciência da Informação (ECI) já fazerem
piadas por meio desse trocadilho, isso levaria as piadas de corredor para
a página acadêmica por meio da divulgação do grupo, causando, assim,
surpresa e familiaridade simultânea nos alunos.
“Ir e vir”: A preferência por cenas ligadas ao ato de ir a algum lugar
para facilitar a conexão das imagens e seu humor com os textos de
convite ao evento.
“Memes conhecidos”: Utilizados tanto para buscar no público a
nostalgia quanto o humor já agregado a eles em seus imaginários. Como
a incongruência, já se dava na presença deles em uma página
acadêmica, seria interessante utilizar memes da internet já muito
disseminados/viralizados, que devido a isso já estavam muito presentes
na memória dos usuários da rede social.
“PAIXÃO”: Não estamos falando do sentimento de paixão, mas, sim, do
professor Cláudio Paixão. Por ser um professor carismático e que quase
sempre está vestido de maneira despojada, acaba funcionando como um
ícone do GEDII na ECI.
Figura 3 - Exemplo de meme usado na campanha
Fonte: produzido pelo autor no site imgflip.com
9
Jedi: pronúncia aportuguesada: jedái, são personagens fictícios da série americana 'Star
Wars’. Formam uma ordem de guardiões que dominam o "lado da luz" da força, em
contraposição aos sith, no universo fictício da série.
�61
Após a construção dos memes, utilizando sites disponíveis gratuitamente
na internet10 e softwares de edição de imagem, foi realizado o envio do
conteúdo produzido para os membros do grupo da iniciação científica. Essa
ação teve como objetivo obter feedbacks sobre o teor do humor, para, assim,
delimitar melhor que tipo de conteúdo humorístico era desejado para a página.
Logo, na sequência dos primeiros ajustes, segundo os feedbacks dos colegas
de grupo, teve início a produção do primeiro pacote de memes para a página.
Ao total, foram três pacotes de memes produzidos, sendo o segundo
resultado de ajustes após o feedback do primeiro, e o terceiro da mesma
maneira, foi o resultado dos ajustes após o feedback do segundo pacote. Isso
evita que sentidos de humor equivocados ou delicados demais sejam
disseminados nos memes, pois, tendo essa avaliação externa ao produtor de
memes, há o contato do conteúdo com percepções externas a quem fez os
memes. Segundo Ascerald (2004), o humor se aproxima da percepção
estética, que também se dá de maneira singular a cada indivíduo.
Isso evita que sentidos de humor equivocados ou delicados demais
sejam disseminados nos memes, pois tendo essa avaliação externa ao
produtor de memes há o contato do conteúdo com percepções externas
a quem fez os memes (o que o aproxima ainda mais da experiência
estética, igualmente universal, igualmente singular) (ASCERALD, 2004,
p. 3).
A aprovação do terceiro pacote de conteúdo, após as adequações
segundo os feedbacks coletados no processo, evidenciou, ainda mais, a
necessidade de trabalhar a produção dos memes com o acompanhamento,
seja de coordenadores ou um grupo de teste formado por colegas da própria
instituição. É recomendável que esse acompanhamento seja direcionado pelos
profissionais com maior contato com o público e conhecimento da história da
10
Nota do autor: Caso você não conheça nenhum bom software de edição de imagem ou não
tenha domínio deles, basta procurar no Google por “memegenerator” ou pelas palavras chave
“criar” e “memes”. Para facilitar sua vida segue abaixo o link dos principais sites ativos até o
dia 02 de abril de 2020, às 6:40 da manhã:
https://imgflip.com/memegenerator
https://makeameme.org/memegenerator
https://www.gerarmemes.com.br/
�62
instituição, para, assim, ter o aval daqueles que melhor compreendem as
nuances que a imagem institucional carrega.
4 A UTILIZAÇÃO DOS MEMES DA INTERNET
A coordenação da iniciação científica definiu um calendário para a
postagem dos memes, com a duração de aproximadamente seis semanas,
período no qual os memes seriam postados com o espaço de dois a quatro
dias, dividindo espaço com as postagens diárias sobre os convidados e
palestras do evento. Do total de trinta e dois memes produzidos no primeiro
pacote, foi definido a utilização de dezoito deles, sendo três direcionados para
postagem durante a realização do evento entre as filmagens e demais
postagens ligadas ao Colóquio de Informação e Imaginário.
Imagem 4 - “Lado imaginário da força”
Fonte: produzido pelo autor no site imgflip.com
A maior parte dos memes foi criada para alertar quanto às datas de
inscrição para o evento. As postagens das imagens eram acompanhadas das
hashtags (#GEDII, #COLOQUIOIMAGINARIO, por exemplo) muitas vezes
utilizando do humor e irreverência para acalmar quem poderia ter se esquecido
de se inscrever no evento, apresentando, logo na sequência, as orientações
para como participar dele mesmo sem a inscrição prévia.
�63
Abusando da piada com a sigla GEDII e a sua possível semelhança
fonética com o nome da ordem JEDI, dois terços das imagens e memes
selecionados para a divulgação foram oriundos de cenas da franquia Star Wars
ou continham referências a alienígenas, sendo, muitas vezes, de outros filmes
ligados a temática alienígenas.
imagem 5 - “A guerra é para lá!”
Fonte: produzido pelo autor no site imgflip.com
5 RESULTADOS
O primeiro e surpreendente resultado da campanha de divulgação
utilizando os memes foi o rápido crescimento de popularidade da página.
Tendo uma explosão de cinquenta e cinco seguidores para cerca de cento e
trinta seguidores nas primeiras quarenta e oito horas de campanha. As
estatísticas de seguidores cresceram de forma natural e linear após essa
primeira explosão, demonstrando, talvez, uma ineficácia na utilização contínua
dos memes.
Já as curtidas das postagens se concentraram no primeiro meme de
divulgação. As postagens seguintes não tiveram desempenho semelhante a
primeira, como podemos ver nos gráficos abaixo, sendo ambos retirados da
página de estatísticas do Facebook ao final da execução da campanha, que foi
a plataforma usada para a divulgação do evento em 2018.
�64
Imagem 6 - Estatísticas da página no Facebook
Fonte: Estatísticas da página “GEDII ECI UFMG” no Facebook
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência de utilizar os memes em páginas acadêmicas no Facebook
foi muito interessante e muito gratificante, principalmente por ver a aplicação
de uma linha de conteúdo que eu produzia apenas por diversão sendo usada
de maneira útil. No entanto, devo ressaltar que a grande dificuldade deste
trabalho, desde o planejamento, execução e o capítulo que aqui se faz
presente, é a ausência de referências bibliográficas nessa direção. Os memes,
enquanto objeto de estudo, necessitam de certa interdisciplinaridade por
possuírem aspectos ligados à comunicação, design, humor e a sociedade.
Nesse sentido, os memes acabam se tornando um tema difícil de ser
trabalhado, ainda mais quando não se tem referências claras sobre a sua
utilização em sua área.
�65
Contudo, em um último registro, declaro que a utilização dos memes
deve ser feita de maneira a acompanhar os eventos que explodem na
sociedade e nas redes sociais. Em atuações posteriores para empresas e
instituições, pude perceber que as postagens iniciais tendem a explodir como
correu com a página do GEDII, só que, após esse primeiro aumento de
visibilidade, o crescimento da página se desacelera, tendo novas explosões
quando se posta memes relacionados às últimas grandes notícias, mas sem
perder o alinhamento das postagens para com o perfil da instituição.
REFERÊNCIAS
ACSELRAD, Marcio. Humor, esclarecimento e miditadura. XIII Encontro
Anual da, 2004. 12 p.
DAWKINS, R. O Gene Egoísta (AP Oliveira, Trad.). São Paulo: Itatiaia, 1976.
DESCICLOPEDIA.ORG. Primeira Guerra Memeal. Esta página foi modificada
pela última vez em 17 de fevereiro de 2019, às 21h04min. Disponível em:
https://desciclopedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Memeal. Acesso em: 21 ago.
2019.
DESCICLOPEDIA.ORG. Segunda Guerra Memeal. Esta página foi modificada
pela última vez em 17 de fevereiro de 2019, às 21h04min. Disponível em:
https://desciclopedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Memeal. Acesso em: 21 ago.
2019.
GUERREIRO, Anderson; SOARES, Neiva Maria Machado. Os memes vão além
do humor: uma leitura multimodal para a construção de sentidos. Texto
Digital, v. 12, n. 2, p. 185-208, 2016.
JABLONSKI, Bernardo; RANGÉ, Bernard. O humor é só-riso? Algumas
considerações sobre os estudos em humor. Arquivos Brasileiros de
Psicologia, v. 36, n. 3, p. 133-140, 1984.
MUSEU DE MEMES. O que são memes? CoLab; Universidade Federal
Fluminense - Instituto Nacional de Ciência & Tecnologia Digital.
ROCHA, Paula Jung; MONTARDO, Sandra Portella. Netnografia: incursões
metodológicas na cibercultura. In: E-compós, 2005.
VIEIRA, Daniele Aben-Athar. Garoto bombril: garoto-propaganda de maior
sucesso Na publicidade brasileira, 2006.
�66
DADOS BIOGRÁFICOS
Jose
Ricardo
da
Silva
Neto:
Graduado
em
Biblioteconomia. Pesquisador na área de Ciência da
Informação, com o foco em jogos digitais, produção do
conhecimento e imaginário.
E-mail: falecomjosericardosilva@gmail.com
�67
CAPÍTULO IV - Uso de redes sociais e serviços oferecidos
pelos Portais de Periódicos das Universidades Federais do
Estado de Minas Gerais
Jorge Santa Anna
1 INTRODUÇÃO
As bibliotecas digitais são ambientes arquitetados para organizar e
disseminar
informação
para
grupos
específicos,
haja
vista
sanar
as
necessidades informacionais desses sujeitos. Assim como acontece com as
bibliotecas físicas, as digitais oferecem uma gama de serviços e produtos
Informacionais, modificando-se, apenas, o formato de disponibilização dos
documentos e a forma de interação dos usuários com os profissionais.
A construção das bibliotecas digitais representa um dos maiores
resultados alcançados com o uso das tecnologias da informação e comunicação
no
âmbito
da
Biblioteconomia/Ciência
da
Informação.
Essas
unidades
demandam de um conjunto de recursos capazes de fornecer a informação no
ambiente digital e possibilitar a interação. Além dos recursos para instalação,
as bibliotecas digitais precisam oferecer serviços variados, o que exigirá,
também, a necessidade da gestão desses ambientes.
Portanto, os serviços informacionais oferecidos em bibliotecas digitais é
algo a ser pensado e precisa ser colocado como prioridade nas decisões
tomadas pelos gestores de unidades de informação. Com todo efeito,
considerando o usuário como foco das atenções, esses serviços precisam ter
ampla divulgação, além de serem oferecidos por meio de canais midiáticos que
tenham aceitação por parte da comunidade usuária.
As redes sociais inserem-se nesse contexto, visto o alcance ou
abrangência que possuem, de modo que novos usuários sejam beneficiados.
Além disso, essas mídias vêm se consolidando como os maiores canais de
�68
interação das pessoas na sociedade contemporânea, o que determina que as
organizações ofereçam seus serviços mediados por esses recursos.
Assim, as bibliotecas podem adotar as redes sociais como nova forma de
comunicação com seus públicos, não se limitando, apenas, aos canais de
comunicação tradicionais, como o e-mail, formulários eletrônicos, dentre
outros. É provável que, por meio das redes sociais, os produtos e serviços
oferecidos sejam conhecidos e passem a ser utilizados com maior frequência,
muitas das vezes, de forma imediata e do próprio dispositivo móvel dos
usuários.
A literatura internacional tem sinalizado essa necessidade, por meio de
iniciativas que inserem a biblioteca no universo das novas mídias. Tonta
(2009) afirmou que o futuro das bibliotecas está intimamente associado ao
sucesso com que atendem às demandas dos usuários digitais. Williams, Dhoest
e Saunderson (2019), dez anos depois, reforçam essa afirmação, e destacam o
uso das mídias como importantes recursos de marketing informacional.
No Brasil, as bibliotecas digitais, na grande maioria, são caracterizadas
como coleções digitais e estão vinculadas a uma outra biblioteca física, que
garante o gerenciamento da coleção digital. Observa-se a pluralidade de
nomenclaturas adotadas para essas coleções, estando elas, muitas das vezes,
representadas pelos repositórios digitais, coleções de teses e dissertações,
coleções de periódicos científicos (portais), dentre outras.
De qualquer modo, o uso de redes sociais nesses ambientes, sejam eles
de coleções de periódicos, ou de documentos históricos, ou repositórios, dentre
outros, é uma iniciativa que poderá garantir a visibilidade, por conseguinte
aumentará o uso do que é oferecido à comunidade por meio dos documentos
digitais armazenados na coleção. Logo, o objetivo deste texto é analisar o uso
de
redes
sociais
por
bibliotecas
digitais
de
periódicos
vinculadas
às
identificar
as
universidades federais do Estado de Minas Gerais.
Como
objetivos
de
natureza
secundária,
citam-se:
potencialidades do uso das redes sociais nos portais de periódicos; conhecer os
tipos de redes utilizadas; e reconhecer os serviços prestados pelos portais do
estado de Minas Gerais.
�69
Como procedimento de investigação, adota-se a pesquisa bibliográfica
realizada na literatura internacional, seguida da pesquisa documental nos
websites dos portais. O primeiro tipo de pesquisa visou fornecer bases teóricas
acerca de como e para que os portais têm feito uso das redes sociais; ao passo
que o segundo objetiva identificar se os portais de periódicos utilizam as redes
sociais,
considerando
publicados
na
como
literatura
base
de
de
recomendação
Biblioteconomia/Ciência
os
da
apontamentos
Informação
e
selecionados mediante o levantamento bibliográfico.
2 USO DE REDES SOCIAIS E SERVIÇOS OFERECIDOS EM PORTAIS DE
PERIÓDICOS: APONTAMENTOS TEÓRICOS
O uso de redes sociais por indivíduos e instituições é um fenômeno
mundial no atual século. Em bibliotecas, essas mídias têm aparecido com
grande
frequência,
sobretudo
em
países
desenvolvidos
ou
em
desenvolvimento. As bibliotecas universitárias, em especial, têm unido esforços
no sentido de atender as necessidades dos estudantes, apoiando as atividades
acadêmicas mediante a disseminação dos serviços, por meio do Facebook,
Twitter, YouTube e Instagram, sendo o Facebook e os Blogs os mais preferidos
na visão desses usuários (WINN; GROENENDYK; RIVOSECCHI, 2015).
As redes sociais são páginas da internet que possibilitam a criação de
perfis personalizados e individualizados, de uma pessoa ou organização, haja
vista
ampliar
a
divulgação
e
criar
diferentes
formas
de
interação
e
compartilhamento com outros utilizadores. No âmbito das bibliotecas digitais, o
Twitter se destaca por ser um serviço de microblog, também caracterizado
como
uma
ferramenta
de
marketing
para
os
serviços
informacionais
(VASSILAKAKI; GAROUFALLOU, 2015).
As diferentes redes existentes conferem à biblioteca escolher a melhor
que atenda seus objetivos, considerando o perfil do público atendido pelos
serviços oferecidos. Além dessas páginas garantiram a ampliação do que a
biblioteca oferece, por meio do marketing informacional, elas também
�70
possibilitam atender as perguntas de pesquisas dos estudantes, a qualquer
hora e em qualquer local. Dentre as redes mais utilizadas pelos usuários, o
Facebook e as mensagens instantâneas em aplicativos de dispositivos móveis
vêm atraindo a atenção dos usuários, por conseguinte, sendo ofertadas pelas
bibliotecas acadêmicas (BARO; EFE; OYENIRAN, 2014).
No âmbito das bibliotecas digitais de periódicos eletrônicos, essas
plataformas também podem diversificar a oferta de serviços, com uso da mídia
social para atingir diferentes propósitos. Os portais de periódicos são
repositórios de coleções especializadas de revistas científicas que garantem a
preservação da produção científica de uma instituição, além de facilitarem as
consultas aos artigos publicados nas revistas, como também aumentar a
visibilidade dessa produção. Esses ambientes se destacam, sobremaneira, por
serem facilitadores na conversão de periódicos publicados por sociedades e
universidades acadêmicas para acesso aberto, em particular nas Ciências
Sociais e Humanidades (BJÖRK, 2017).
De acordo com Moffat (2004), os portais da web em geral funcionam
como agregador de conteúdo e fornecem acesso eficiente a informações e
serviços on-line. Esses sites convergem, em um único local, links de hipertexto
para outros sites e coletam informações. Eles fornecem um ponto focal e uma
fonte de informação que pode ser personalizada, permitindo que as pessoas
coletem informações detalhadas, sob demanda.
Considerando a importância dos portais, haja vista a facilidade que
oferecem ao usuário ao procurar sites confiáveis sobre um determinado
assunto, serviço ou produto, torna-se importante criar perfis personalizados
dos portais, com vistas a ampliar a divulgação deles. O perfil criado em redes
sociais determina a maneira pela qual os usuários se apresentam a outros
usuários. O fator de distinção mais importante entre os vários sites é o
intervalo de informações de perfil em que eles mantêm, armazenam e podem
executar operações (NEUMANN et al., 2005).
As redes sociais que oferecem comunicação síncrona, ou seja, realizada
de forma imediata, tais como os aplicativos de mensagens, são tendências
emergentes para os próximos anos. Em países asiáticos, como na Coreia, por
�71
exemplo, por meio de aplicativos de celular, os usuários enviam fotos, vídeos e
músicas, disponibilizando as informações para a rede de contatos. Já nos
Estados Unidos, é mais comum os usuários publicarem mensagens de
conteúdo e qualquer pessoa pode acessá-las (SHIN, 2010).
Embora o estudo de Shin (2010) foque no uso das redes de comunicação
síncrona, cujos resultados demonstraram que a maioria dos usuários utiliza
esses
recursos
para
fins
de
manterem
relacionamentos
pessoais
e
profissionais, evidencia-se que os serviços de informação - com uso das redes
sociais e oferecidos em bibliotecas digitais de periódicos - possam ser úteis,
sobremaneira, a pesquisadores. Para Alwagait, Shahzad e Alim (2015), o uso
das redes sociais pode ser um fator que repercute no desempenho acadêmico
dos estudantes, visto que, diferentes das plataformas tradicionais, esses canais
possuem arquitetura informacional mais adequada, de modo que confere o
equilíbrio entre lazer, troca de informações e desempenho acadêmico.
Assim como nos periódicos científicos, o uso das redes sociais tem
crescido e essa mesma tendência deve ser seguida pelos portais de periódicos.
Não resta dúvida de que, para se ter maior visibilidade e notoriedade no
mundo acadêmico e científico, é necessário ter publicações em periódicos com
fator de impacto. Além disso, o compartilhamento das pesquisas possibilita a
disseminação, por conseguinte, garantirá ao pesquisador, como também ao
próprio periódico, maior reconhecimento, visibilidade, projeção da redação
científica e maior possibilidade de ser citado pelos pares (OLIVEIRA, 2019).
Como em Oliveira, Pulidoet al. (2018) também acreditam no potencial
das mídias sociais para ampliar o impacto das pesquisas científicas, devendo
essas mídias serem utilizadas por pesquisadores e instituições, de modo a
formar uma rede de interação. Com efeito, por meio do uso das redes e dos
estudos
altmétricos,
publicação/divulgação
pesquisadores
das
pesquisas
e
instituições
podem
responsáveis
acompanhar
o
avanço
pela
da
avaliação do impacto na sociedade. Portanto,
[…] novel evidences of social impact of research can be found in social
media, becoming relevant platforms for scientists to spread quantitative
and qualitative evidence of social impact in social media to capture the
interest of citizens. Thus, social media users are showed to be
�72
intermediaries making visible and assessing evidence of social impact
(PULIDO et al., 2018, p. 1).
O
uso
das
redes
sociais
pelos
cientistas
é
um
mecanismo
de
popularização da ciência e constitui um dos grandes efeitos das iniciativas do
acesso aberto. A construção dos portais de periódicos científicos representa
uma dessas tentativas de possibilitar a democratização da ciência para além
dos muros das instituições científicas (BJÖRK, 2017).
Nesse âmbito, as redes sociais constituem estratégias de disseminação e
acesso democrático à informação científica, de forma rápida, cabendo a sua
utilização pelas instituições de pesquisa e de informação. Com efeito, “[…] is
that not only are scientists utilizing social media to communicate their
research, they must […]”. Logo, os recursos viabilizadores do acesso aberto
em comunhão com “[...] the ability to communicate to the masses via social
media
is
critical
to
the
distribution
of
scientific
information
amongst
professionals in the field and to the general population” (EPEREN; MARINCOLA,
2011, p. 1).
Considerando a importância das redes sociais no cotidiano dos cientistas
e da população em geral, e a necessidade de se adequar às novas tendências
da contemporaneidade, justifica-se identificar os tipos de redes sociais
utilizadas nos diferentes contextos do acesso aberto e os propósitos desse uso.
Destaca-se que o fluxo constante de postagens pode ser filtrado para
corresponder aos interesses do usuário por meio da criação de listas. Assim, os
pesquisadores podem agrupar e seguir contas específicas, por exemplo,
periódicos, financiadores, institutos, agências de notícias científicas, blogueiros
e cientistas individuais, em tópicos separados, dentre outras funcionalidades
(NATURE CELL BIOLOGY, 2018).
As redes sociais potencializam a prestação de serviços nas bibliotecas
digitais, com destaque a oferta do marketing informacional (ARAÚJO; PINHO
NETO; FREIRE, 2016). Muitos consideram as redes como complementos ou
tipos de serviços oferecidos nas plataformas digitais. Segundo Alves e Vidotti
(2006), nas bibliotecas digitais, os serviços mais oferecidos são aqueles que
possibilitam a interação entre profissionais que gerenciam as plataformas e
�73
usuários que utilizam as coleções, consolidando, nesse processo, práticas de
mediação e serviços de referência.
As autoras mencionam que os serviços oferecidos podem simples ou
avançados. Os serviços simples compreendem o que é realizado na biblioteca
tradicional, ou seja, são disponibilizadas no ambiente digital obras de
referência, como: bases de dados, bibliografias, dicionários, enciclopédias,
tesauros, diretórios, motores de busca e metabuscadores.
No que se refere aos serviços avançados, eles compreendem tecnologias
interativas, canais de contato, dentre outros recursos oferecidos de modo
síncrono ou assíncrono, possibilitando um melhor uso da biblioteca e seus
recursos. Entre os serviços assíncronos destacam-se os correios eletrônicos (email), formulário na web, frequently asked questions, dentre outros; quanto
aos serviços síncronos, distinguem-se o chat e a videoconferência (ALVES;
VIDOTTI, 2006).
Em especial, as bibliotecas de periódicos eletrônicos, como os portais,
podem aproveitar o potencial desses serviços, de modo que as necessidades
dos usuários sejam sanadas com mais eficiência. Na visão de Santa Anna e
Cendón (2018), a função dos portais é armazenar e disponibilizar um conjunto
de fontes de informação, cujos serviços oferecidos estão associados ao
relacionamento do portal com a comunidade usuária, mediante um processo
de comunicação. Os autores citam como principais serviços que podem ser
disponibilizados nos portais, a saber: correio eletrônico, fóruns de discussão,
agregador de conteúdo, mecanismos de buscas, dentre outros.
A investigação realizada pelos autores em um conjunto de portais
revelou que os portais encontram-se estruturados de forma desigual, a maioria
sem políticas específicas, como também apresentam limitações quanto aos
serviços prestados, grande parte exercendo a função única de diretório. Essa
constatação evidencia a importância e necessidade de se realizar estudos mais
profundos sobre o potencial da oferta de serviços nos portais, como também a
elaboração
de
políticas
de
informação
que
norteiem
o
trabalho
dos
profissionais que atuam com as bibliotecas digitais, sejam elas de quaisquer
tipos de documentos.
�74
No intuito de se manter serviços de qualidade, como também garantir a
atualização dos meios de comunicação e interação, como as redes sociais,
destaca-se a importância do trabalho realizado por profissionais capacitados,
tais como jornalistas, designs gráficos, bibliotecários, dentre outros. A esse
respeito, Silveira (2018) afirma que a equipe deve ter compromisso consultivo
e técnico, formada, principalmente por bibliotecário, professor, analista de
sistema, dentre outros.
3 METODOLOGIA
As bibliotecas digitais de periódicos, também denominadas de portais de
periódicos, desempenham um papel importante para a comunidade científica e
tendem a contribuir para a consolidação de um novo modelo de comunicação
para a ciência, o acesso aberto. Em virtude dessa importância e do
crescimento do número de periódicos na sociedade, optou-se por analisar esse
escopo de pesquisa, no âmbito das coleções digitais das universidades
brasileiras.
Para este estudo, ainda que diante de muitas controvérsias acerca do
uso do termo “bibliotecas digitais”, consideram-se os portais de periódicos
como bibliotecas, haja vista as tendências apontadas na pesquisa de Santa
Anna
(2018),
sobre
o
uso
dos
serviços
oferecidos
nos
portais
das
universidades federais de Minas Gerais. Além disso, a realidade brasileira tem
apontado alguns importantes portais com essa denominação, tal como o da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)11 e o
da Universidade Federal do Paraná (UFPR)12, dentre outros.
A delimitação pelo estado de Minas Gerais se justifica por esse estado ser
o segundo maior em extensão territorial do Brasil, além da influência que
11
O Portal de Periódicos da CAPES é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a
instituições de ensino e pesquisa no Brasil o melhor da produção científica internacional.
Endereço para acesso: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez27.periodicos.capes.gov.br/
12
A Biblioteca Digital de Periódicos da UFPR objetiva garantir a visibilidade mundial, por meio
da internet, aos artigos técnicos e científicos publicados nas revistas dessa instituição.
Endereço para acesso: https://revistas.ufpr.br/wp/historico/
�75
exerce na economia e na produção científica. As universidades analisadas
foram selecionadas, a partir do estudo realizado por Santa Anna (2018), que
identificou
a
universidades
existência
públicas
de
(das
portais
onze
de
periódicos,
existentes
nesse
apenas,
em
cinco
estado),
que
são:
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade
Federal de São João Del Rey (UFSJ) e Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM).
A partir dos endereços eletrônicos desses portais expostos na obra de
Santa Anna (2018), procedeu-se à pesquisa documental nos websites
conduzida por três etapas e as respectivas ações, a saber:
1 –Levantamento das características dos portais: identificação do
nome, instituição gestora e foco principal de cada portal, inserindo essas
informações em um quadro sistemático;
2 – Mapeamento dos serviços oferecidos: localização dos tipos de
serviços, com destaque ao uso das redes sociais;
3 – Discussão dos dados coletados: contextualização com estudos da
literatura e indicações de melhoria/recomendações para os portais.
A partir das três etapas definidas para este artigo, considera-se que a
metodologia caracteriza o estudo como descritivo, de abordagem qualitativa.
Quanto aos procedimentos técnicos, adotou-se a pesquisa bibliográfica, a
partir do levantamento na literatura; pesquisa documental, mediante a
consulta às plataformas dos portais; e, por fim, análise de conteúdo,
comparando as evidências da literatura com a realidade investigada.
A fim de validar as informações coletadas, sobretudo na pesquisa
documental, registra-se que a consulta aos websites foi realizada em 05 de
dezembro de 2019. Os endereços eletrônicos de cada portal constam
mencionados no anexo A, deste trabalho, conforme exposto, também, no
estudo de Santa Anna (2018).
�76
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos resultados oriundos das coletas de dados, é possível
perceber que os portais de periódicos das universidades federais do Estado de
Minas Gerais não estão apresentados de forma padronizada. Isso porque, a
estrutura com que as informações estão disponibilizadas no website não
apresenta semelhanças no que tange à arquitetura informacional, aos recursos
tecnológicos escolhidos para oferta dos serviços e interação com usuários,
além de aspectos de visibilidade, como cor, tamanho da fonte dos textos,
dentre outros detalhes.
Quanto aos dados investigados no que se refere às características dos
portais, percebeu-se heterogeneidade no que tange à denominação do portal,
à instituição gestora e aos objetivos de cada uma das plataformas, conforme
apresentado no quadro 1.
Portal
UFJF
UFMG
UFOP
UFSJ
UFTM
Conforme
Quadro 1 – Nome, instituição gestora e foco dos portais
Nome formal
Instituição/unidade
Foco principal
gestora
Portal de Periódicos UFJF
Não mencionado
Científicos
da
Universidade Federal
de
Juiz
de
Fora
(UFJF)
Periódicos UFMG
Diretoria de Tecnologia da Aumentar
a
Informação do Centro de visibilidade
dos
Computação (DTI-CECOM), periódicos
Centro de Comunicação produzidos
no
(CEDECOM),Escola
de âmbito
da
Ciência
da
Informação Universidade
(ECI)
e
Biblioteca
Universitária
Portal de Periódicos Sistema de Bibliotecas e Aglutinar,
num
Eletrônicos da UFOP
Informação (SISBIN) da mesmo local virtual,
UFOP
as publicações de
conteúdo
técnicocientífico
Portal de Periódicos Não mencionado
Não mencionado
Eletrônicos da UFSJ
Revistas Eletrônicas - Não mencionado
Não mencionado
UFTM
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
demonstrado
no
quadro
1,
nota-se
que
o
nome
é
autoexplicativo, fazendo menção ao nome da universidade a que está
vinculado. Em nenhum dos portais há denominação ou mera menção de que se
�77
trata de uma biblioteca ou coleção digital, como aparece nos Portais da CAPES
e da UFPR. A esse respeito, Santa Anna (2018) pontuou que a falta de
padronização das informações e a escassez de recursos levam a crer acerca da
necessidade de melhorias nos processos de estruturação, organização e
gestão, com equipe técnica específica para atuar nesses processos. Se assim
for, os portais poderão ser denominados ou pelo menos caracterizados como
bibliotecas digitais especializadas de periódicos científicos.
Resultados similares são observados a partir das análises aos dados
referentes à equipe que gerencia o portal, sendo que em dois portais não
foram encontradas informações sobre a equipe gestora. Destaca-se que em
duas universidades, há menção à participação das equipes das bibliotecas, o
que evidencia que esse possa ser um campo promissor de trabalho para o
bibliotecário.
As discussões apresentadas
na
literatura
confirmam essa
evidência:
[...] Electronicjournals open upmanyexcitingopportunitiesandpotentials
for academiclibrariesalso. […]Librarians need to be able to identify and
balance the factors that would make electronic journals a success or
failure in their libraries. […] The libraries would do well to publicize such
journals that they find scholarly enough and within the subject scope,
providing user initiation and education facilities […] (VIJAYAKUMAR;
VIJAYAKUMAR, 2005, p. 12-13).
Além disso, os autores citados reforçam sobre a necessidade de
identificar, separar e combinar os perfis de usuários, a fim de manter uma
melhor mediação entre o conteúdo fornecido nas publicações dos periódicos e
as necessidades da comunidade. Com efeito, a atuação do profissional e da
instituição não está, apenas, na oferta dos serviços e atendimento aos
usuários, mas também na gestão das coleções que são publicadas. Portanto,
“[...] librarians may provide access to them through their Home Page and even
take the responsibility of archiving them” (VIJAYAKUMAR; VIJAYAKUMAR,
2005, p. 13).
Quanto ao foco e escopo, a maioria dos portais analisados não apresenta
essa informação, algo considerado como inadequado, visto a importância que
exerce quando os objetivos da plataforma estão bem definidos e expressos, de
acordo com as recomendações propostas por Santa Anna (2018). Os objetivos
�78
apresentados em dois portais demonstram que é função do portal aumentar a
visibilidade da produção institucional. Segundo Moffat (2004), o portal é o
espaço que congrega, por meio de uma única interface, toda a produção
periódica
da
instituição,
garantindo
que
ela
tenha
um
alcance
mais
abrangente, aumentando, portanto, a visibilidade institucional.
Após o levantamento das características dos portais, analisaram-se os
dados relacionados aos serviços oferecidos. A consulta aos websites identificou
a discrepância, também, na oferta de serviços, cujo portal da UFMG é o que
menciona maior número de informações sobre alguns tipos de serviços
prestados. Os serviços analisados foram alinhados às seguintes categorias:
canais de contato, mecanismos de buscas e treinamentos, classificação essa
estabelecida por Santa Anna (2018). Para este estudo, acrescentou-se, como
nova categoria de serviço, o uso das redes sociais pelos portais. O quadro 2
demonstra os principais serviços oferecidos, com destaque ao uso de redes
sociais pelos portais.
Quadro 2 – Serviços oferecidos nos portais e o uso de redes sociais
Instituição
Nome
Canais
para
contato
Mecanismo de Treinamentos
busca
Redes sociais
Busca portítulo Palestras,
do periódico
treinamentos e
ordenado
workshops
alfabeticamente
com filtros , por
unidade
acadêmica e
por área de
conhecimento.
Não oferece
busca no
contéudo dos
periódicos
Facebook,
Twitter e Fórum
UFJF
Portal de
Periódicos
Científicos
UFMG
Periódicos
UFMG
Telefone,
correio
eletrônico e
endereço
UFOP
- Portal de
Periódicos
Eletrônicos
da UFOP
Correio
eletrônico,
atendimento
presencial
agendado e
telefone
�79
Instituição
Nome
Canais
para
contato
Mecanismo de Treinamentos
busca
UFSJ
- Portal de
Periódico
da UFSJ
Busca por título
do periódico.
Não oferece
busca no
contéudo dos
periódicos
UFTM
- Revistas
eletrônicas
– UFTM
Busca por título
do periódico.
Não oferece
busca no
contéudo dos
periódicos
Redes sociais
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Pelos dados coletados e expostos no quadro 2, observa-se que os portais
não seguem uma padronização na oferta de serviços, o que evidencia, segundo
Santa Anna (2018), a necessidade de se instituir equipe gestora, liberação de
recursos e políticas informacionais que garantam a realização de uma trabalho
íntegro, sistêmico e condizente com o que está expresso em políticas
regionais, nacionais e internacionais.
A partir dos serviços contemplados no Portal da UFMG, percebe-se que
alguns deles estão condizentes com o que menciona a literatura internacional.
Para Moffat (2004), o portal precisa disponibilizar recursos on-line que apoiam
os membros de uma instituição em todos os aspectos de suas aprendizagens,
ensino, pesquisa e outras atividades. Os recursos podem ser internos ou
externos e incluem recursos de informação locais e remotos (livros, revistas,
bancos de dados, sites, objetos de aprendizagem, imagens, sistemas de
informações de alunos etc.), serviços baseados em transações, registro, envio
de tarefas, avaliação etc., e também oferecer ferramentas colaborativas, por
exemplo calendários, e-mail, bate-papo, dentre outros.
Os serviços oferecidos em um portal, seja ele de periódico científico,
governo eletrônico ou de outra natureza corporativa, é uma variável
considerada de grande valor para a satisfação dos utilizadores. A esse respeito,
o estudo de Ayo et al. (2016, p. 347, grifo nosso) identificou que “[…]
competence of e-service support staff, system availability, service
portfolio, responsiveness and reliability, in that order, were found to be most
�80
significant in rating e-service quality”. Logo, essas variáveis precisam ser
consideradas pela equipe que arquiteta e gerencia o portal.
A partir da constatação demonstrada na pesquisa de Ayoet al. (2016),
depreende-se, para este estudo, a importância da oferta de serviços
diversificados e padronizados, como também, o papel de profissionais com
expertise no ramo da organização de periódicos, destacando-se, nesse
contexto, bibliotecas e bibliotecários, como reforçado por Santa Anna (2018) e
Vijayakumar e Vijayakumar (2005).
No que se refere ao uso de redes sociais pelos portais, novamente,
apenas o da UFMG oferece esse tipo de recurso para interação com a
comunidade usuária, com destaque o uso do Facebook, Twitter e Fórum. O
uso
desses
recursos
só
tem
a
potencializar
a
prática
bibliotecária,
independente do contexto e do tipo de biblioteca. O estudo de Mishra (2008),
desenvolvido há dez anos, já reforçava essa vantagem, ao afirmar que o
ambiente da web 2.0 não apenas aprimora a usabilidade prática na biblioteca,
mas também ajuda os bibliotecários na economia de recursos e a agregar
valor à profissão, dado o valor ou potencial do bibliotecário, o qual tem sido
muito questionado no cenário da informação digital.
O potencial das mídias sociais está no fato de que “[...] professionals
can reach to number of users at time and they are able to provide similar
kind of information to large community of the users […]”. Nesse contexto, em
virtude da expansão da tecnologia e a adesão das pessoas aos recursos
midiáticos, “[...] the use of social networking sites in library is increasing
days by day and it helps to library professionals to build personal interaction
with their users” (PRIOLKAR; GANDHINAGAR, 2015, p. 1).
Acerca dos tipos de redes utilizadas pelas bibliotecas e que o bibliotecário
muito pode aproveitar o potencial da tecnologia aliado a suas habilidades, o
estudo de Canty (2012) identificou a existência das principais mídias em seis
bibliotecas nacionais. Destaca-se que o Facebook, o Twitter e o YouTube são
utilizados em todas as bibliotecas (figura 1), o que evidencia o potencial
dessas mídias, sobretudo por garantir a mescla na diversidade de recursos
visuais e interativos presentes nesses três tipos de redes.
�81
Figura 1 – Bibliotecas nacionais que utilizam redes sociais
Fonte: Adaptado de Canty (2012, p. 5).
Existem diversos estudos publicados na literatura que exploram o uso
das redes sociais no âmbito das bibliotecas (BARO; EFE; OYENIRAN, 2014,
VASSILAKAKI; GAROUFALLOU, 2015), sendo poucos os estudos que focam nas
bibliotecas especializadas de periódicos (BJÖRK, 2017). Em linhas gerais,
mesmo que o uso venha aumentando, por parte das bibliotecas para
visibilidade de seus produtos e serviços, o que enaltece o papel do marketing
informacional, nesse contexto - como pontuou Araújo (2018) - Hamad,
Tbaishat e Al-Fadel (2016) afirmam que a preferência no uso das redes pelos
bibliotecários está na criação de perfis pessoais para ascensão profissional.
Mesmo não sendo aproveitadas como deveriam, como se constata nos
websites deste estudo, Emezie e Nwaohiri (2016) acreditam no potencial
dessas mídias e afirmam que o uso tende a crescer nos próximos anos. Nas
palavras dos autores:
Social networks have become new avenues for libraries to interact with
their patrons. Social networks allow individuals to join and create a
personal profile, then formally connect with other users of the system as
social friend. This new concept is precipitated by the emergence of
information and communication technologies which has ushered in web
tools applications for libraries […] (EMEZIE; NWAOHIRI, 2016, p. 107).
O estudo desses autores considerou que o Facebook é o site de rede
social mais utilizado e que as bibliotecas o utilizam como forma de ampliar o
público, que passa a curtir, comentar e compartilhar eventos, informações,
dentre outras novidades. Embora os Blogs e Fóruns não tenham uma
comunicação imediata como outras mídias, eles também são bastante
�82
utilizados, sobretudo no que tange à disseminação de notícias variadas para os
públicos. Outras mídias muito valorizadas e que podem ser utilizadas a gosto
das bibliotecas são: MySpace, LinkedIn, Delicious, Flickr, Wikis, YouTube,
Podcasts, Academia.edu e Hi5 (EMEZIE; NWAOHIRI, 2016).
Utilizado pelo Portal da UFMG, o Twitter, considerado como um serviço
de microblog, está se tornando cada vez mais popular entre as bibliotecas
como um meio de alcançar os usuários e como uma ferramenta de marketing
para seus serviços (VASSILAKAKI; GAROUFALLOU, 2015). Os autores ainda
discorrem que o uso do Twitter pelas bibliotecas teve um impacto na maneira
como interagir em um ambiente on-line, sendo necessário refletir sobre
algumas questões importantes antes da escolha por essa rede, tais como: a
privacidade on-line; a sobrecarga de informações; o surgimento de novas
comunidades on-line; e, finalmente, a política de marketing das bibliotecas.
Com todo efeito, faz-se necessário, na tomada de qualquer decisão,
considerar alguns fatores essenciais na modernização de qualquer serviço de
informação: perfil da comunidade usuária, políticas institucionais, recursos e
equipe gestora. Mesmo que os resultados encontrados na realidade investigada
demonstrem a baixa adesão ao uso das redes sociais, e a literatura reforçando
a necessidade e contribuição dessas mídias, esses fatores precisam ser
considerados mediante a institucionalização de um plano de gestão para
implementação das redes sociais nas bibliotecas digitais de periódicos
científicos das instituições brasileiras.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado demonstra que o uso de redes sociais pelos portais de
periódicos das universidades federais de Minas Gerais ainda é pequeno, visto
que apenas uma instituição adota três tipos de redes, diante da diversidade
existente com a evolução da web 2.0. Além disso, essa diversidade pode ser
muito mais explorada para benefícios das bibliotecas, seus profissionais e
públicos.
�83
Pelos resultados alcançados a partir da contextualização dos dados,
evidencia-se que o Portal da UFMG, ao oferecer os serviços do portal mediante
o uso do Facebook e do Twitter, tem a possibilidade de ir muito além das
instâncias institucionais. Ademais, ao criar vínculos com usuários de outras
realidades, aumenta-se a visibilidade do portal, sendo essa uma estratégia de
marketing e, ao mesmo tempo, de fidelização da comunidade aos serviços
informacionais oferecidos. Quando ao uso do Fórum, embora seja uma mídia
com menos recursos interativos e de abrangência mais limitada, o seu uso
garante a divulgação de notícias e demonstra que a instituição une esforços
no sentido de diversificar as formas de contato com seus públicos.
Por meio dos propósitos intermediários deste estudo, foi possível,
também, confirmar sobre as potencialidades das redes socias, resumidas em:
ampliação do marketing; consquistas e fidelização de novos públicos;
aumento no uso dos recursos e serviços; estabelecimento de relações com
outras instituições; e práticas de colaboração. Outro aspecto pontuado neste
artigo
foi
a
identificação
dos
serviços
oferecidos
nos
portais,
sendo
constatada heterogeneidade no que é o oferecido, o que aponta para a
necessidade
da
criação
de
diretrizes,
norteadas
em
políticas,
para
padronização de serviços oferecidos nesses ambientes.
Sendo assim, a partir dos apontamentos da literatura, percebe-se que,
antes de qualquer mudança, seja no sentido de instituir ou melhorar o uso
das redes sociais, é preciso criar um plano de gerenciamento. Nesse plano, a
formação de uma equipe especializada, a alocação de recursos e a criação do
plano de marketing são iniciativas primordiais a serem registradas.
Também como efeito das discussões exploradas na literatura, e
considerando o que não foi constatado na realidade analisada, elencam-se
algumas recomendações que poderão subsidiar a elaboração do plano de
gestão para o uso das redes sociais pelos portais, recomendações distribuídas
em quatro grupos, a saber:
Estudo de usuário: mediante técnicas de coleta de dados com
entrevistas e questionários, serão conhecidas as necessidades dos
usuários;
�84
Diagnóstico institucional: observação interna, com o propósito de
reconhecer os recursos que poderão ser utilizados;
Infraestrutura tecnológica: identificação de aparato tecnológico
necessário para criação das redes socias e os custos envolvidos;
Formação/treinamento de pessoal: identificar o potencial dos
membros das equipes, e como as habilidades e competências podem
ser exploradas. Recomenda-se que a equipe seja interdisciplinar, desde
que
contenha,
obrigatoriamente,
a
presença
de
bibliotecários
especilizados em bibliotecas digitais.
Essas são algumas indicações que poderão contribuir para as bibliotecas
que desejam utilizar o potencial das redes sociais na ampliação dos serviços
oferecidos em coleções digitais, sejam elas de qualquer tipologia documental.
Em coleções de periódicos, o uso das redes viabilizarão benefícios não apenas
a bibliotecários, mas também, aos atores envolvidos com a comunicação da
ciência, que se sustenta, em grande parte, pelos trabalhos disseminados em
periódicos eletrônicos, e, na grande maioria, inseridos nos portais eletrônicos.
Por fim, finaliza-se este estudo reforçando a ampliação do campo de
trabalho para o bibliotecário, que não se resume, apenas, à gestão dos
acervos físicos. Por meio das bibliotecas digitais e com o potencial dos
recursos da web, a informação não encontra obstáculos ou limites que
impeçama transposição de barreiras geográficas. Com as redes sociais,
bibliotecários têm a possibilidade de enaltecer o papel da biblioteca,
construindo e reconstruindo relações com públicos diversos e tornando
visível, cada vez mais, a contribuição e o valor da biblioteca e da prática
bibliotecária para a sociedade.
Este estudo se manifesta como o despontamento para investigações
mais profundas, acerca do papel da biblioteca, com uso das redes sociais, no
âmbito das bibliotecas digitais, especificamente, dos portais de periódicos.
Portanto, sugerem-se estudos aplicados em portais de outras regiões
brasileiras, como também investigação com bibliotecários acerca do que
esses profissionais consideram sobre a realidade dos portais e o potencial das
mídias digitais. O artigo também estimula o desenvolvimento de um estudo
�85
aplicado, haja vista a elaboração de um plano de gestão que contemple o uso
das redes sociais nos portais. Também desperta a importância que as
políticas institucionais exercem na manutenção dos serviços de qualidade e a
necessidade da liberação de recursos por parte das instituições, com o intuito
de garantir que os serviços sejam criados e mantidos com base na melhoria
contínua.
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environment: its impact on academic libraries in the digital millennium.
Eprints, v. 1, p. 1-14, 2005.
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media, diffusion of innovations, morale and digital inequality. Library Hi Tech,
Bradford, v. 37, n. 3, p. 480-495, 2019.
WINN, Dee; GROENENDYK, Michael; RIVOSECCHI, Melissa. Like, Comment,
Retweet: Understanding Student Social Media Preferences. Partnership: The
Canadian Journal of Library and Information Practice and Research, v. 10, n. 2,
p. 1-14, 2015.
ANEXO A – ENDEREÇO ELETRÔNICO DOS PORTAIS
NOME DO PORTAL
Portal de Periódicos Científicos da
Universidade Federal de Juiz de
Fora
Periódicos Universidade Federal de
Minas Gerais
Portal de Periódicos Eletrônicos da
Universidade Federal de Ouro Preto
Portal de Periódico da Universidade
de São João Del Rey
Revistas eletrônicas Universidade
Federal do Triângulo Mineiro
Fonte: Santa Anna (2018).
ENDEREÇO ELETRÔNICO
http://portal.ufjf.emnuvens.com.br/
https://www.ufmg.br/periodicos/
https://portaldeperiodicos.ufop.br/
http://www.seer.ufsj.edu.br/
http://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/
�88
DADOS BIOGRÁFICOS
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia. Atuante no
ramo da prestação de serviços de orientação, escrita,
normalização e lecionamento em trabalhos e pesquisas
acadêmico-científicos. Atua como editor e assessor do Periódico
Pró-Discente, como também compõe a diretoria da Associação
de Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de
secretário e editor da ABMG Editora.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
�89
CAPÍTULO V - O potencial da divulgação científica no
YouTube e o combate à desinformação: um estudo de casos
múltiplos para planejamento de serviços
Jose Ricardo da Silva Neto
Gabriela Natale Vicalvi Ribeiro
1 INTRODUÇÃO
Promover a divulgação científica é um grande desafio em tempos de fake
news, na qual a disseminação viral da informação sobrepuja a capacidade
humana de absorver todas as notícias e checar a veracidade dessas. Para lidar
com esse cenário, é importante que as redes sociais sejam apropriadas para a
disseminação de informação científica, sem deixar de instruir seu público sobre
como identificar fake news e campanhas de desinformação que são veiculadas.
Os conceitos de “divulgação científica” e “desinformação” são trabalhados
ao decorrer dos tópicos, tendo como finalidade fomentar a discussão acerca
das possibilidades, potencialidades e dificuldades da utilização da plataforma
como meio de disseminação da informação. O que é relevante para a
Biblioteconomia,
mediante
a
sua
missão
de
“facilitar
a
criação
de
conhecimento” prevista na missão que norteia o Atlas13, “está intimamente
ligado aos princípios associados com o desenvolvimento de uma aprendizagem
independente” (FERREIRA, 2018, p. 58).
Dessa forma, cabe à Biblioteconomia o combate à desinformação,
fomento à disseminação da informação e compreensão dos fenômenos
informacionais emergentes na sociedade. Devido “a missão do bibliotecário de
contribuir com a facilitação da criação do conhecimento para a melhoria das
comunidades” (FERREIRA, 2018, p. 58), é crucial compreender como podemos
13
LANKES, R. David. The Atlas of the New Librarianship. Cambridge: MIT Press, 2011
�90
utilizar o YouTube como veículo para a divulgação científica e combater a
desinformação propagada dentro da plataforma.
2 O YOUTUBE
O YouTube foi criado em fevereiro de 2005 por três ex-funcionários da
empresa de comércio PayPal, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim. Em
novembro de 2006, a Google comprou o site por cerca de 1,65 bilhões de
dólares; agora, o YouTube funciona como uma das subsidiárias da Google. O
sucesso da plataforma é atribuído à possibilidade dada ao usuário de produzir
e exibir seu próprio conteúdo, o que a diferencia por completo das outras
mídias de massa, como explanado por Felinto (2008):
O que nos fascina num site como o YouTube não é apenas a
possibilidade de tornarmo-nos produtores culturais (extrapolando,
portanto, a posição de meros consumidores a que nos condenavam as
mídias de massa). Seduz-nos o enorme leque de possibilidades
oferecidas
pelas
aparentemente
inesgotáveis
capacidades
de
armazenamento do meio, pois ele nos oferece acesso a uma infinidade
de produtos: cenas de antigos seriados de televisão ou filmes clássicos,
propagandas,
momentos
decisivos
em
históricas
competições
esportivas, clipes de música dos nossos artistas favoritos, blogs,
documentários de viagem, entrevistas com celebridades e muito mais
(FELINTO, 2008, p. 39).
Consequentemente, com cada usuário tendo liberdade de produzir e
postar seu próprio conteúdo (desde que não fira as diretrizes da plataforma), o
leque de possibilidades e assuntos ali contidos crescerá exponencialmente com
o passar do tempo. Para Burges (2009, p. 23), “O YouTube, mais ainda do que
a televisão, é um objeto de estudo particularmente instável, marcado por
mudanças dinâmicas (tanto em termos de vídeos como de organização)”, uma
vez que ele sofre contínuas alterações de política para os produtores de
conteúdo, além da diversidade de conteúdos produzidos, que se desenvolvem
em ritmo diferente da televisão, mas, de maneira similar, despeja conteúdo
por meio de serviços e frequência análoga à “mesmice” do cotidiano (BURGES,
2009).
�91
Os vídeos com maior audiência são indicados, por vez, para um número
ainda maior de usuários, causando a “viralização” daquele conteúdo. Segundo
Felinto (2008, p. 35), “O princípio viral consiste na repetição dos mesmos
signos, na incessante multiplicação das imagens e símbolos que, num
paroxismo semiótico, terminam por abolir as fronteiras entre o real e o
simulado”. Essa cadeia de produção e consumo, seguida da recomendação,
acaba por tomar proporções titânicas devido ao número de usuários e
produtores de conteúdo na plataforma.
Dessa forma, corroborando os problemas da facilidade do acesso à
informação, como dito por Felinto (2008, p. 38), “Nunca a informação foi tão
barata e acessível. Se toda a história da humanidade foi caracterizada pela
raridade da informação — e daí seu valor intrínseco — hoje sofremos por seu
excesso”. Contudo, é necessário lembrar que, segundo Pierre Lévy (1999, p.
49), “as características virtualizante e desterritorializante do ciberespaço fazem
dele o vetor de um universo aberto”, possibilitando, em si, novas formas de
aquisição, acesso e compreensão de diferentes contextos e informações que,
por questões econômicas, sociais ou físicas, antes da existência desses
recursos, seriam drasticamente limitados.
3 DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DO YOUTUBE
O YouTube é uma plataforma cujo intuito majoritário está ligado ao
entretenimento. Com 3.341.947.598 visualizações até as 14 horas e 54
minutos do dia 04 de maio de 2019, PSY - Gangnam Stye(강남스타일) M/V é o
vídeo mais assistido de toda a plataforma, nos levando a pensar que o
conteúdo científico não teria espaço nela. No entanto, divulgação científica em
redes sociais possibilita um meio para a promoção da comunicação da ciência,
utilizando
o
potencial
compartilhamento,
do
socialização
ambiente
e
trocas
digital
de
para
a
experiência,
disseminação,
informação
e
conhecimento (REALE; MARTYNIUK, 2016). Carvalho aponta que inúmeros
canais do YouTube já se dedicam à divulgação científica.
�92
Há inúmeros canais dedicados a essa temática. Alguns chegam a atrair
milhares de usuários, engajando-os em torno de um assunto que com
frequência é visto como hermético e que tem pouco impacto social. Os
youtubers têm utilizado todos os recursos dessa plataforma para
mostrar o contrário: a ciência faz parte do cotidiano e afeta a qualidade
de vida das pessoas (CARVALHO, 2016, p. 11).
A divulgação científica no YouTube e outras redes sociais, segundo Reale
e Martyniuk (2016, p. 6), “trabalha para promover uma nova cultura científica
na qual o diálogo com a população aconteça de maneira natural”. Logo, para a
promoção desse conteúdo, nessas plataformas, é necessário alinhar-se com o
formato de comunicação daquele canal. No caso do YouTube, como alguns
canais de divulgação científica já perceberam, faz-se necessário incorporar
linguagens audiovisuais e recursos multimídia mais palatáveis para atrair e
cativar seu público, como apontado por Silva Neto:
[...] uma característica recorrente nestes canais é a presença de
recursos multimídia ligada ao tipo de informação que está sendo
disseminada. Estes por sua vez, além de tornar o vídeo atrativo ajudam
no entendimento do que está sendo apresentado ao público. Por se
tratar de um conteúdo complexo e muitas vezes maçante, este aparato
é recorrente para não deixar o vídeo monótono e manter o interesse do
público (SILVA NETO, 2018, p. 3).
Nos canais de divulgação científica mais populares no YouTube, Silva
Neto (2018, p. 4) aponta que “A mescla do conteúdo informativo com os
recursos multimídia tem se mostrado principal característica dos canais com
ênfase em conteúdo científico e intelectual”. Essa característica agrega um
diferencial ao canal segundo Felinto (2008, p. 39): “No contexto de um mundo
do excesso informacional, essa sensibilidade estética faz todo sentido. Isso não
nos explica, contudo, por que certos produtos alcançam popularidade
expressiva e outros não — uma questão fundamental”.
O alinhamento do conteúdo científico à realidade do público alvo é um
fator importante para atender o anseio da sociedade pela informação científica.
Devido a isso, é crucial planejar a linguagem do canal de acordo com o público
alvo que se deseja alcançar. Para Silva Neto (2018, p. 3), “a adaptação da
comunicação acaba levando a uma mudança na forma e no meio onde a
informação é disseminada.” Já que, por ter acesso à informação científica com
esse gancho ligado aos seus interesses, ou a sua realidade, o receptor acaba
�93
por assimilar de maneira mais objetiva de qual forma a ciência impacta em sua
realidade, deixando claro a ele a importância dela, gerando assim um anseio
por compreender melhor o mundo que o cerca.
E devido ao anseio da sociedade por informação, ligando a facilidade do
acesso ao dilúvio informacional da internet, começa a surgir canais do
YouTube dedicados à disseminação de informações científicas e
explicações técnicas sobre o funcionamento e origem de coisas
cotidianas (SILVA NETO, 2018, p. 3).
Atualmente, a escolha pelo YouTube por parte dos produtores de
conteúdo
ocorre
por
essa
ser
a
maior
plataforma
de
exibição
e
compartilhamento de vídeos na internet. Propiciando, então, uma oportunidade
de, por meio do planejamento de conteúdo e edição de vídeo cuidadosa,
atingir um grande número de usuários,o que dá a chance de que os canais e
seus vídeos tenham uma crescente visibilidade na plataforma. Associado à
possibilidade de angariar recursos por meio da monetização adequada do
canal, seguindo as diretrizes da plataforma, o YouTube acaba oferecendo
vantagens em relação às outras redes sociais, como afirma Dal Pian (2015):
Um dos grandes benefícios proporcionados pelo YouTube é o
compartilhamento de informações úteis à construção coletiva do
conhecimento, fazendo uso das diversas ferramentas típicas das
plataformas e linguagens do audiovisual. Estudiosos, pesquisadores,
intelectuais, educadores e demais especialistas em diferentes áreas do
saber passaram a se utilizar dos recursos e técnicas de captação e
edição de vídeos para produzir, compartilhar e dialogar com outros
usuários da rede acerca de diferentes temas filosóficos, científicos e
tecnológicos (DAL PIAN, 2015).
A fim de melhor explicar essa conexão entre os conteúdos multimídia e
científico, veremos, a seguir, uma rápida análise de alguns dos canais
brasileiros mais relevantes com foco em ciência na plataforma do YouTube.
Mas, antes, é preciso pontuar a explicação da escolha dos canais e a realização
das análises.
Devido à necessidade de analisar canais que servem como bons
exemplos de divulgação científica no YouTube, os canais selecionados possuem
entre si variados níveis e formas na presença do entretenimento em conexão
com a divulgação científica. Como uma forma de buscar canais efetivos e
relevantes para a divulgação científica, foi dada preferência à seleção de canais
�94
que tivessem pelo menos 500.000 (quinhentos mil) inscritos na data do dia 19
(dezenove) de agosto de 2019 (dois mil e dezenove) por volta das 16h (quatro
horas da tarde).
O ponto central da análise foi a estética do canal e sua conexão com o
público na execução da divulgação científica, com a finalidade de cunhar
orientações sobre isso para quem está começando, pois, segundo Schneider,
Caetano e Ribeiro (2012, p. 6), “As escolhas em relação aos aspectos visuais
dessas tipografias, como o tamanho, a cor, a posição, a relação com o plano
de fundo é, muitas vezes, feita de forma intuitiva, empírica”. O que expõe
certa demanda de material acadêmico que traga exemplos e orientações sobre
a divulgação científica por vídeos em plataformas de redes sociais. Os autores
também ressaltam que:
Além disso, as características como cor, fonte, tamanho, relação com o
plano de fundo e a posição e interação que cada elemento desempenha
representam um papel importante no aprendizado e têm suas
especificidades de utilização. Cada detalhe deve ser devidamente
escolhido e planejado para que a composição visual final seja atrativa,
legível e adequada ao público (SCHNEIDER; CAETANO; RIBEIRO, 2012,
p. 4).
A composição visual em conexão com o conteúdo científico e a temática
de entretenimento, quando presente, geram um contraste interessante, o qual
Schneider, Caetano e Ribeiro (2012, p. 8) caracterizaram como “uma
ferramenta
de
expressão
que
intensifica
significados
e
simplifica
a
comunicação, ao mesmo tempo em que estimula e atrai a atenção”. Isso
reforça a importância de observarmos casos onde essa combinação deu certo,
a fim de compreendermos melhor como ampliar a efetividade dos canais de
divulgação científica.
4 CANAIS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DO YOUTUBE
O primeiro canal a ser observado é o METEORO BRASIL. O canal foi
iniciado em 2017 e possui, atualmente, cerca de 583 mil inscritos. O foco do
canal são assuntos ligados à filosofia indo ao encontro da cultura pop,
�95
mostrando a relação entre as obras de entretenimento e os temas ou
pensadores citados. Podemos mencionar como exemplo os vídeos “STEVEN
UNIVERSE, MELANCIAS & ROUSSEAU”, “GAME OF THRONES E MUDANÇAS
CLIMÁTICAS” e o “YOSHI: UM DINOSSAURO CONTRA A EXTINÇÃO DA
INOCÊNCIA”.
O canal aborda assuntos complexos com linguagem acessível e palhetas
de cores ordenadas para serem tão chamativas quanto as conexões c
com vídeo
games, cinema, música, arte e afins. No entanto, a seriedade dos temas
trabalhados não se perde em meio a isso, possuindo modalidades de vídeo que
variam entre documentários, reflexões e análises sobre os assuntos abordados.
A estética do canal abusa
usa do branco, verde ou padrões que lembram a folhas
de caderno para os momentos mais sérios.
Imagem 1 - Exemplo da estética “Meteoro Brasil”
Fonte: C
Canal Meteoro Brasil no YouTube (2020).
Imagem 2 - Segundo exemplo da estética “Meteoro Brasil”
Fonte: C
Canal Meteoro Brasil no YouTube (2020).
�96
Nessa mesma linha de vincular ciência e cultura pop, há também o canal
NERDOLOGIA. Iniciado em 2010, hoje, o canal com 2,5 milhões de inscritos,
é um dos maiores canais de divulgação científica do YouTube Brasil. Ele mescla
o conteúdo científico às hipóteses de como os elementos ficcionais das obras
de entretenimento funcionam segundo a ciência. Como exemplo, há vídeos
como: “O Rei Leão poderia crescer comendo insetos?”, “E se você levasse um
meteoro de Pégaso” ou “E se os nazistas tivessem ganho a guerra?”.
Abordando assuntos como biologia, física, história e outros campos do
conhecimento, eles explicam de maneira objetiva os mais diversos princípios
científicos subjacentes aos eventos abordados nos vídeos.
Com um modelo de vídeos mais diretos e “simples”, por não utilizar de
tantos recursos audiovisuais, temos o CANAL DO PIRULA, que foi iniciado no
ano de 2006, possuindo, atualmente, cerca de 822 mil inscritos. Focado no
campo da Biologia, o canal aborda diversos temas, curiosidades e notícias em
vídeos no formato de vlog, falando diretamente para a câmera. O canal
CIÊNCIA TODO DIA utiliza essa mesma dinâmica do vlog, com a utilização de
recursos visuais em alguns momentos. Esse canal, por sua vez, conta com
cerca de 934 mil inscritos e foi iniciado em 2012.
5 A DESINFORMAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA NO YOUTUBE
O potencial de divulgação científica das redes sociais é inegável.
Estudos14 na área médica ressaltam a importância das redes sociais na
divulgação do conhecimento científico. Lopez-Goñi e Sanchez-Angulo (2017, p.
14
Os estudos aqui mencionados correspondem aos disponíveis na base de periódicos da
Oxford University, cujo acesso era restrito na época em que as informações foram consultadas,
inviabilizando que mais detalhes sobre as publicações fossem fornecidos.
�97
2) pontuam a importância do Twitter15 como uma ferramenta de ensino e
aprendizagem para a sociedade:
In addition, Twitter has been used in teaching and learning, and as a
platform to communicate science to society (Thompson 2015). Recently,
Twitter has been successfully used as a pedagogical tool in an
assessment to enhance the educational experience and increase student
engagement with staff and course content in several science and
medical education programs (Mckay et al. 2014; Diug, Kendal and Ilic
2016; Gonzalez and Gadbury-Amyot 2016). However, despite the
general recommendation for the use of Twitter in academic
environments, there are yet scarce examples available in the literature
of its use in science communication (LOPEZ-GOÑI; SANCHEZ-ANGULO,
2017, p. 2).16
Não obstante, esse potencial informacional pode ser explorado em outras
redes sociais além do Twitter. Lopez-Goñi e Sanchez-Angulo (2017, p. 3)
também pontuam essa amplitude, ressaltando a característica dinâmica das
redes sociais como positivas para garantir “uma visibilidade” internacional da
ciência:
Social networks are optimal platforms for bridging the gap between
research, education and science popularization. They can be an online
dynamic display for research lines and publications, allowing an
enhancement of the visibility of our science worldwide. Twitter
microbiology courses have been an excellent way to make science open
and accessible to all readers free of charge. This is also a call for all of
you who are interested in joining as a Twitter professor in a panEuropean Microbiology MOOC (LOPEZ-GOÑI; SANCHEZ-ANGULO, 2017,
p. 3).17
15
Twitter é uma rede social que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais
de outros contatos, por meio do website, SMS, aplicativos ou por softwares específicos em
dispositivos móveis.
16
Além disso, o Twitter tem sido usado no ensino e aprendizagem, e como uma plataforma
para comunicar a ciência à sociedade (Thompson 2015). Recentemente, o Twitter foi usado
com sucesso como uma ferramenta pedagógica em uma avaliação para aprimorar a
experiência educacional e aumentar o envolvimento dos alunos com a equipe e o conteúdo do
curso em vários programas de ciências e medicina (Mckay et al. 2014; Diug, Kendal e Ilic
2016; Gonzalez e Gadbury-Amyot 2016). No entanto, apesar da recomendação geral para o
uso do Twitter em ambientes acadêmicos, ainda existem poucos exemplos disponíveis na
literatura sobre seu uso na comunicação científica (LOPEZ-GOÑI; SANCHEZ-ANGULO, 2017, p.
2).
17
As redes sociais são plataformas ótimas para preencher a lacuna entre pesquisa, educação e
popularização da ciência. Eles podem ser uma exibição dinâmica on-line para linhas de
pesquisa e publicações, permitindo um aprimoramento da visibilidade de nossa ciência em
todo o mundo. Os cursos de microbiologia do Twitter têm sido uma excelente maneira de
tornar a ciência aberta e acessível a todos os leitores gratuitamente. Este é também um
convite para todos vocês que estão interessados em ingressar como professor do Twitter em
um MOOC pan-europeu de microbiologia (LOPEZ-GOÑI; SANCHEZ-ANGULO, 2017, p. 3).
�98
Contudo, há uma problemática inerente à pós-modernidade. Com a
popularidade da internet e a democratização do acesso por meio das redes
sociais, o conteúdo das mídias pode ser elaborado e divulgado tanto por
conhecedores quanto por leigos em um determinado tema abordado. Essa
democratização
acabou
por
criar
um obstáculo
para
a
divulgação
de
informações de caráter científico por, além de perpassar o conhecimento
factual, abranger, também, o senso comum.
A disseminação de desinformação é, também, um efeito colateral da
cibercultura. Por ser um ambiente em constante mudança, usuários sem
qualquer conhecimento sobre determinado conteúdo apresentado no YouTube
e que adentrem esse ambiente pela primeira vez podem absorver um conceito
de forma diferente de usuários com algum domínio prévio da área abordada.
Ripoll (2017, p. 2341), ao mencionar a “reconfiguração” das informações,
afirma:
Com o surgimento do hipertexto e da cibercultura, houve o retorno da
informação contextualizada (o ciberespaço é atemporal), universalizada
(o ciberespaço é ubíquo), contudo, sem ser totalizada: uma vez que as
informações no ciberespaço são continuamente reconfiguradas pelos
seus usuários, dentro desse universo em constante transformação que é
o ciberespaço, os sentidos das informações são continuamente
reconstruídos, reestruturados e ressignificados coletivamente (RIPOLL,
2017, p. 2341).
Desse modo, essa “ressignificação” não necessariamente respeita o
caráter pragmático da ciência, possibilitando que se abra uma porta para a
propagação de informações falsas. Para Ripoll (2017, p. 2341),
Do ponto de vista sociológico, instaura-se no mesmo cenário a
decadência das verdades universais, a ascensão da dúvida e da
desconfiança em relação à história oficial, a problematização das
grandes narrativas e as novas formas de relação com o saber. Estas são
características de uma condição, que Lyotard (2004) definiu como ‘pósmoderna’ (RIPOLL, 2017, p. 2341).
A presença de informações de cunho duvidoso em redes sociais demanda
maior cautela ao caracterizar a divulgação científica no YouTube. Devido à
ressignificação, o youtuber pode caminhar na contramão da ciência, mesmo
que, para ele, a base científica ainda se mantenha. Essa alteração, embora
rápida, em alguns casos, faz com que a credibilidade de determinada
�99
informação se perca em uma inferência precipitada. Grande parte dessas
inferências surge de um exemplo da vida particular, de uma informação
disponibilizada pela mídia ou, em alguns casos, oriunda da própria comunidade
científica.
Em 2012, a equipe do apresentador Jô Soares convidou um pesquisador
da USP18 para participar de uma entrevista em seu programa. Após a exibição
do programa, alguns canais publicaram sobre a entrevista com a chamada
“(...)A farsa do aquecimento global(...)”, “Aquecimento Global - uma farsa” e
“[Erro500] O aquecimento global não existe”. Na época, o pesquisador havia
apresentado algumas inferências contrárias ao aquecimento global, o que
causou polêmica no meio acadêmico. Como resposta, um dos canais de
divulgação científica19 apresentou um vídeo contendo dados de outras
pesquisas
relacionadas
a
esse
fenômeno
e
sua relação
com
a
ação
antropogênica nos últimos séculos, para pontuar uma possível falha na
medição dos dados da pesquisa do pesquisador da USP, uma vez que o seu
resultado não correspondia ao de outros estudos que comprovam o fenômeno.
Para que um conhecimento seja considerado como científico, é preciso
que a aplicação dos métodos que o qualificam como tal ocorra criteriosamente,
o que para Marconi e Lakatos:
O conhecimento científico [...] difere do popular muito mais pelo que se
refere a seu contexto metodológico do que propriamente por seu
conteúdo. Essa diferença ocorre também em relação aos conhecimentos
filosófico e religioso (teológico) (MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 4).
Ao analisarmos a literatura cinzenta, percebemos que existem critérios a
serem seguidos para que as informações apresentadas se aproximem mais
facilmente da realidade. Antes de iniciar uma exposição de argumentos para
validar conclusões perante os dados coletados, o pesquisador precisa recorrer
a uma metodologia que permita uma aproximação mais precisa aos fatos, caso
contrário haverá uma chance considerável de sua linha de raciocínio estar
18
Por motivos éticos, o nome do pesquisador foi ocultado no texto.
O canal em questão corresponde ao canal Canal do Pirula, cujo intuito é informar sobre
temas que adentrem às ciências da natureza e a área de biológicas.
19
�100
equivocada. Faz-se necessário o uso de uma metodologia consistente, no
intuito de aproximar-se da realidade.
Grande parte dos dados e informações apresentados nos canais de
divulgação científica é retirada de fontes respeitadas por pesquisadores e
acadêmicos.
Porém,
nem
todos
selecionados
para
a
divulgação
são
apresentados da forma como estão descritos nas fontes de informação
originais, o que impede que a credibilidade seja validada.
Ao abordar os canais de divulgação científica, verificamos que esses
realizam uma pesquisa aprofundada e atentam para a seleção de fontes de
informação confiáveis, para que não haja a disseminação de informações
falsas, enquanto os canais de desinformação tendem a manipular20 os dados
em prol de uma linha de pensamento. Tal ação é apresentada por Floridi
(2011):
‘Disinformation’ is simply misinformation purposefully conveyed to
mislead the receiver into believing that it is information. If we analyse
epistemic relevance in terms of cognitive efforts, clearly misinformation
makes no worthwhile difference to the informee/agent’s representation
of the world (FLORIDI, 2011, p. 260).21
Entretanto, vemos que o ato de desinformar não está, estritamente,
relacionado com a manipulação da totalidade dos dados. Por exemplo, o
youtuber pode utilizar-se de dados verdadeiros e, ainda assim, promover a
disseminação de desinformação. Se o youtuber utiliza dados estatísticos de um
determinado ano, que não correspondem ao valor do ano atual, para validar
seu
ponto
de
vista,
ele
está
desinformando
seu
público
com
dados
comprovados cientificamente, ainda que com a alteração ou omissão da(s)
data(s) correspondente(s) à amostra.
20
Considera-se aqui, a manipulação em seu significado pejorativo, de acordo com o quarto
verbete do dicionário online Michaelis (2019): “provocar o falseamento da realidade; adulterar,
falsear.”
21
"Desinformação" é simplesmente desinformação propositalmente transmitida para induzir o
destinatário a acreditar que é informação. Se analisarmos a relevância epistêmica em termos
de esforços cognitivos, claramente a desinformação não faz diferença importante na
representação do mundo do informado/agente (FLORIDI, 2011, p. 260).
�101
Essa prática é uma estratégia recorrente em regimes totalitários, como
mencionado por Shultz e Godson (c1984, p. 10). Segundo os autores, em
determinado período na URSS, eram utilizadas propagandas e bloqueio a
informações divergentes dos interesses do governo soviético para exercer
poder perante outras nações, o que acaba por inserir um background político
para tal ação:
Os líderes soviéticos usam a expressão ‘medidas ativas’ (aktiivnyye
meropriatia) para descrever um conjunto de ações abertas ou
dissimuladas destinadas a influenciar eventos e comportamentos nos
países estrangeiros, e as atividades desses países. Antes de 1960 o
termo [...] era usado em alguns círculos soviéticos para descrever estas
técnicas. As medidas ativas podem destinar-se a influenciar a política de
outros governos, minar a confiança em seus líderes e em suas
instituições, deteriorar as relações diplomáticas entre nações ou
desacreditar e enfraquecer opositores governamentais ou não. Isto
frequentemente envolve tentativas de mascarar o alvo (a elite dos
quadros oficiais ou não, os estrangeiros, ou o público em geral) e de
distorcer a maneira como o alvo capta a realidade (SHULTZ; GODSON,
1984, p. 10).
Entretanto, a exposição de dados e informações de fontes respeitadas
pela academia tende a fazer com que o público a tome como “confiável”, uma
vez que os retirou de fontes também utilizadas por especialistas. Partindo
desse ponto, entramos em outro aspecto mencionado por Floridi(2011,p. 260),
“[…] astrological data may, accidentally, lead to a scientific discovery but they
are not, for this reason, epistemically relevant information”.22
Sendo assim, por exemplo, o youtuber,ao dizer que a Bóson de Higgs é
estudada pelos físicos do CERN para melhor entender as origens do
universo,está divulgando um fato sobre ciência. Porém, se ele a usa para
comprovar sua fé em Deus - uma vez que o termo ‘partícula de Deus’ é um
sinônimo para o Bóson de Higgs -ao associar o fato com uma ideologia, sem
informar a mudança de embasamento, o conteúdo apresentado pode ser
caracterizado como uma tentativa de desinformar, mesmo que seja do
interesse do público. Para Floridi (2011):
22
Dados astrológicos podem, acidentalmente, levar a uma descoberta científica, mas, por esse
motivo, não são informações epistemicamente relevantes.
�102
The student who answers ‘Napoleon’ to the question ‘who fought at
Thermopylae?’ has said something false and hence uninformative and
fortiori epistemically irrelevant, to someone who asked the question in
order to be informed about the battle, although his answer is
informative about, and hence might be epistemically relevant to
someone interested in assessing, the student’s historical education
(FLORIDI, 2011, p. 260).
Dessa forma, para um pesquisador que tenha como objeto de estudo a
interferência da religião nos fatos científicos, o vídeo, antes caracterizado como
desinformativo, passa a agregar informação, uma vez que se torna o objeto de
estudo de uma área do conhecimento. Contudo, o vídeo só será considerado
como informativo para o público que obtiver o acesso à pesquisa em questão.
Uma diferença que podemos encontrar entre esses canais e os canais de
divulgação científica é a presença marcante da defesa de um ponto de vista
político-ideológico. Não obstante, há uma seleção de informações verdadeiras
associada a uma comunicação que visa convencer o espectador de que esta
seleção é um “compilado” das principais informações existentes na área
abordada, com o intuito de resumir sua compreensão.
Outro fator que contribui para descaracterizar a informação científica é o
descontrole ocasionado pelo excesso de conteúdo disponível. Ripoll (2017, p.
2336) aborda esse tema, caracterizando o ciberespaço como uma infosfera que
impede uma melhor reflexão e seleção do conteúdo disponível:
Vive-se dentro de uma infosfera, que produz constantemente uma
grande quantidade de informações, de forma que o próprio indivíduo
parece não dar conta de interpretar e refletir sobre a carga
informacional disponibilizada diariamente ao seu aparato cognitivo. Não
bastasse a explosão informacional, que leva o volume de informações a
um nível muito mais difícil de acessar e interpretar, ainda se soma a isso
a mistura de informação verídica com informações e dados falsos,
propagados muitas vezes de forma negligente e até intencional (RIPOLL,
2017, p. 2336).
Serva (2001, p. 124) também aborda o excesso de informação como
antagonista para o processo de construção de uma cognição com um viés
científico. Para ele:
O crescimento da chamada indústria da informação também tende a
provocar uma distorção: a saturação do consumidor diante de um
universo de milhares de informações, muito maior do que ele pode
processar. Conseqüência natural dessa emissão excessiva de conteúdos
é a neutralização de informações: muitas notícias se perdem devido a
saturação dos consumidores e dos meios (SERVA, 2001, p. 124).
�103
Como em um debate, o youtuber defende um ponto de vista diante de
um tema de interesse para o espectador. Porém, ambos estão mediados por
uma tela, provavelmente a uma distância considerável um do outro. Os
comentários exercem um papel importante na validação das informações
apresentadas via YouTube. É nesse ambiente que se tentará contestar ou
concordar com os fatos apresentados e, caso seja relevante, se apresentará a
opinião de conhecedores - ou não - da área de estudo.
Outro ponto que fortalece a propagação de desinformação é a linguagem
utilizada para “informar” o espectador. Visando o entretenimento, muitos
canais recorrem à linguagem e a fontes mais acessíveis em uma estratégia de
aproximação. Tal medida poderia ser considerada como uma qualidade positiva
para a divulgação científica, contudo, utilizar fontes midiáticas para a
elaboração de conteúdo com o intuito de confirmar um ponto de vista, pode
acabar inserindo o youtuber em uma armadilha argumentativa.Ao mesmo
tempo que a mídia apresenta um caráter informativo, essa também apresenta
um caráter opinativo, que é diretamente influenciado pelo conhecimento
cultural e técnico do jornalista envolvido. Serva (2001, p. 123) chama atenção
para esse aspecto ao informar os processos de formação de uma notícia e as
ressignificações que podem ser formadas no processo de reciclagem de
“fatos”:
O sistema de construção da notícia jornalística se dá através de
procedimentos
técnicos,
denominados
“edição”,
que
visam
explicitamente a satisfazer a necessidade de informação do consumidor.
Ao mesmo tempo, tais procedimentos estabelecem essa necessidade
uma vez que se voltam principalmente para a publicação de “notícias”,
definidas como narração de fatos novos. Na ausência de notícias
genuinamente novas, o jornalismo veste como novos muitos fatos que
em verdade não o são (SERVA, 2001, p. 123).
Ao analisar as estratégias para informar o espectador, percebemos que
tanto os canais de divulgação científica quanto os de desinformação visam
despertar a sua curiosidade. Para Serva (2001, P. 123), “a curiosidade do
leitor se dá por novidades, não por textos que descrevam o desenvolvimento
de
notícias
publicadas
nos
dias
anteriores”. Tal curiosidade
pode
ser
considerada uma estratégia, que também é empregada no jornalismo
convencional, para que pessoas que usualmente não se interessariam por
�104
determinado conteúdo por sua complexidade, vejam-no como mais palatável e
atrativo e transformem-se em novos consumidores do conteúdo em questão.
Esses processos desinformantes são essenciais ao trabalho jornalístico.
Omissão, sonegação, submissão deformação, saturação, neutralização e
redução são conseqüências do processo de edição que, embora
“naturais”, invertem a vocação expressa do jornalismo: a missão de
informar (SERVA, 2001, p. 124).
Para chamar a atenção do público, é necessário que a linguagem
abordada se aproxima da utilizada no cotidiano e, assim, o discurso é
modelado de forma a causar polemização, como apontamSilva e Grillo (2019):
Portanto, a utilização de ambas as modificações do discurso indireto nos
dois canais aponta para um mesmo objetivo pretendido: a associação
dos enunciados com a esfera científica, na tentativa de firmar-se como
fontes confiáveis de informações científicas. Isso explica, ainda, a
utilização da modificação analítico-verbal não para uma quebra de
paradigmas pela polemização, mas para produzir concordância com o
discurso científico já existente, e consequentemente, ser a ele associado
(SILVA; GRILO, 2019).
Essa característica acaba por mesclar a informação científica com a
desinformação, uma vez que youtubers destes canais visam aproximar-se dos
fatos científicos para ganhar a credibilidade do público. Ainda para Silva e Grilo
(2019):
O discurso direto é definido por Volóchinov como um estilo pictórico de
transmissão do discurso alheio, de extrema leveza de interação e de
penetração mútua entre discurso autoral e alheio e, portanto,
desassociado de um contexto científico e racionalista. Utilizando-nos
dessa definição, aliada aos conceitos de Bakhtin (2011), notamos que o
discurso direto é utilizado em nossos corpora para marcar uma
associação do enunciado aos gêneros primários do discurso, os gêneros
do cotidiano, em contraposição aos secundários (nos quais se incluem os
gêneros científicos), marcados pelo discurso indireto (SILVA; GRILO,
2019).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a criação da Internet e o advento da cibercultura, novos meios de
informação surgiram e estão rapidamente atraindo cada vez mais usuários,
inclusive no meio acadêmico. O YouTube é uma fonte de informação
relativamente nova quando comparada às mais tradicionais, tratando-se de
�105
uma ferramenta que apresenta desafios para o pesquisador quanto a sua
confiabilidade. No entanto, seu amplo alcance e facilidade de acesso o tornam
um ambiente com alto potencial para a divulgação científica. Devido a isso, a
possibilidade de utilização desta rede por profissionais da informação não pode
ser ignorada.
Contudo, para que ocorra o uso devido dos canais do YouTube no
processo
de
mediação
de
informações
científicas,
faz-se
necessária
a
construção prévia de competências informacionais que assegurem a qualidade
das informações selecionadas, além da aplicação de metodologias científicas,
tanto qualitativas quanto quantitativas, de acordo com a demanda implícita ou
explicitamente apresentada.
Portanto, compete ao profissional da informação auxiliar nesse processo
de verificação e adotar tal veículo como uma ferramenta para a divulgação de
informações em geral de forma ética e consistente.
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Ciência da Informação. Brasília: Thesaurus, 2003.
�107
SILVA, Beatriz Amorim de Azevedo; GRILLO, Sheila Vieira de Camargo. Novos
percursos da ciência: as modificações da divulgação científica no meio digital a
partir de uma análise contrastiva. Bakhtiniana: Revista de Estudo do
Discurso, São Paulo, v. 14, n. 1, jan./mar. 2019.
SILVA NETO, José Ricardo da. Alcance da divulgação científica por meio do
youtube: estudo de caso no canal Meteoro Brasil. Múltiplos Olhares em
Ciência da Informação, v. 1, n. 2, 2018.
SHULTZ, Richard; GODSON, Roy. Introdução. In:______ (Org.).
Desinformação: medidas ativas na estratégia soviética. Rio de Janeiro:
Nórdica, 1984. p. 10.
DADOS BIOGRÁFICOS
Jose Ricardo da Silva Neto: Graduado em
Biblioteconomia. Pesquisador na área de Ciência
da Informação, com o foco em jogos digitais,
produção do conhecimento e imaginário.
E-mail: falecomjosericardosilva@gmail.com
Gabriela Natale Vicalvi Ribeiro: Graduanda em
Biblioteconomia.
Interessada
nas
temáticas:
arquitetura da informação e Desinformação.
E-mail: vicalvi.gabriela@gmail.com
�108
CAPÍTULO VI – Redes sociais e comunicação na Biblioteca
Professora Etelvina Lima: um relato de experiência
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Elaine Diamantino Oliveira
Maianna Giselle de Paula
Rosimeire Silva Campos de Lima
Vivian Ascenção Fonseca
1 INTRODUÇÃO
As redes sociais tornaram-se um importante mecanismo de comunicação
no decorrer das primeiras décadas do século XXI. A facilidade de interação
promovida por essas mídias estimulou a sua popularização. Hoje, as pessoas
se comunicam de modo instantâneo e diversificado, cujas mensagens são
transmitidas de variados modos, seja por meio de imagem, som, texto, dentre
outros recursos.
É certo que o potencial dessas redes é alcançado quando se exploram os
recursos da Web 2.0, os quais enriquecem as características das redes. Assim,
as redes sociais tornam-se facilitadoras das atividades realizadas em um
contexto
social,
sendo
utilizadas
para
ligar
pessoas
e
organizações,
fortalecendo as ações de compartilhamento e divulgação de notícias e
produtos, práticas de entretenimento, dentre outras.
Levando em consideração essas características e funcionalidades de uma
rede social, como também, a expansão de uso na sociedade contemporânea, é
que as bibliotecas têm feito uso dessas mídias para enaltecer a oferta de
produtos e serviços que colocam à disposição de diferentes públicos. Presume-
�109
se que as bibliotecas utilizam das redes para adentrarem-se à realidade dos
usuários, de modo que essas unidades sejam mais visíveis e reconhecidas pelo
público-alvo.
A literatura tem comprovado o crescimento de uso das redes sociais
pelas bibliotecas brasileiras, em especial no contexto universitário. Segundo
Araújo, Pinho Neto e Freire (2016), o benefício desse uso é a garantia da
comunicação efetiva e personalizada e do marketing do que é oferecido. Para
Pontes (2016), as redes sociais estão, cada vez mais, no cotidiano das
organizações, incluindo-se, nesse contexto, as bibliotecas, as quais poderão
ampliar a oferta dos produtos, serviços, comunicação e relacionamentos.
Mesmo com as evidências da literatura, nota-se que há carência de
estudos práticos que demonstrem o modo com que as bibliotecas fazem uso
das redes sociais, como pontuado por Ribeiro, Leite e Lopes (2014). Esses
autores
afirmam
que,
por
enquanto,
“[...]
observa-se
apenas
uma
virtualização dos serviços já existentes, e não a criação de novos serviços
usando as potencialidades das redes sociais [...]” (RIBEIRO; LEITE; LOPES,
2014, p. 25).
Este capítulo está ancorado na necessidade apresentada por Ribeiro,
Leite e Lopes (2014), acerca da importância de apresentar relatos de caso ou
experiências quanto ao uso das redes sociais pelas bibliotecas universitárias. O
presente estudo caracteriza-se como um relato de experiência, considerando o
que tem sido realizado pela Biblioteca Professora Etelvina Lima da Escola
Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ressalta-se que a Biblioteca está vinculada, tecnicamente, ao Sistema de
Bibliotecas da UFMG, cuja missão é apoiar as atividades de ensino, pesquisa e
extensão dessa universidade. Dentre o público universitário atendido pela
Biblioteca da ECI, o foco principal está nos cursos de Graduação em
Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, além dos cursos de Pós-Graduação
em Ciência da Informação e Gestão e Organização do Conhecimento.
Portanto, o objetivo deste capítulo é apresentar o modo com que as
redes sociais são utilizadas pela Biblioteca Professora Etelvina Lima. Para
alcançar esse fim, são
estabelecidos, também, os
seguintes objetivos
�110
intermediários: apresentar fundamentos sobre o uso das redes sociais nas
bibliotecas, conforme relatado na literatura; identificar, dentre os produtos e
serviços ofertados, as redes sociais utilizadas pela Biblioteca Professora
Etelvina Lima; e expor a concepção e as características das redes utilizadas
nessa unidade de informação.
Com efeito, o presente texto está estruturado em seis seções, incluindose esta parte introdutória. Após a introdução, o texto apresenta alguns
fundamentos teóricos, as informações sobre a Biblioteca, as características das
redes sociais utilizadas, e, por fim, é finalizado com as considerações finais e
as referências.
2 USO DAS REDES SOCIAIS NAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS:
ALGUNS APONTAMENTOS TEÓRICOS
As redes sociais vêm sendo utilizadas em larga escala por diferentes
atores da sociedade, com propósitos variados, sobretudo no que tange ao
compartilhamento de informações para fins pessoais e/ou profissionais
(LABADESSA, 2012). Nas organizações, segundo Labadessa (2012), o uso
dessas ferramentas vem crescendo, tendo em vista ampliar os mecanismos de
comunicação, além de viabilizar a interação entre colaboradores e clientes, de
modo a ampliar a visibilidade e o marketing de produtos e serviços oferecidos.
Araújo, Pinho Neto e Freire (2016) entendem que, nas bibliotecas, essa
realidade não é diferente, sendo as redes sociais, como o Facebook, Twitter,
dentre outras, utilizadas para fins de comunicação efetiva e personalização do
que é ofertado ao público. Além disso, nas bibliotecas, as redes estimulam a
promoção dos serviços e a ampliação dos relacionamentos interpessoais, que
integram “[...] formas de aproximar, manter e aprimorar os laços, tendo em
vista que o objetivo da unidade de informação é atender as necessidades de
informação de seus usuários” (ARAÚJO; PINHO NETO; FREIRE, 2016, p. 3).
Segundo Catoni, Maciel e Trevisol Neto (2019), as bibliotecas precisam
criar perfis em redes sociais, com o propósito de tornarem-se mais conhecidas,
�111
cujas mídias contribuem para expandir a biblioteca a um espaço de
experiência, criatividade e participação ativa da comunidade. Para esses
autores, é preciso que as bibliotecas sejam inseridas na cultura do virtual,
cabendo aos profissionais que a gerenciam a necessidade de reverem o modo
com que se comunicam e divulgam seus serviços no ambiente digital (CATONI;
MACIEL; TREVISOL NETO, 2019).
No contexto das bibliotecas universitárias, muito se discute sobre o uso
das redes sociais e os profissionais reconhecem o potencial dessas mídias,
como estratégia de divulgação. No entanto, as iniciativas práticas ainda são
escassas e requerem maior envolvimento no planejamento e gestão dessas
redes (ANJOS, 2016). A autora reconhece que algumas redes mais populares,
como o Facebook, além de ampliarem a visibilidade da biblioteca, também
permitem a integração entre alunos, professores e funcionários, haja vista
fornecerem alternativas de acesso a diferentes serviços que podem gerar
grandes oportunidades no ambiente universitário.
Além do Facebook, outras redes sociais estão sendo adotadas nas
bibliotecas universitárias, seja como estratégia de marketing, ou com o
objetivo de compartilhar produtos e serviços informacionais essenciais para o
desenvolvimento das atividades acadêmicas (ALBUQUERQUE; PAIXÃO, 2020).
O Instagram, por exemplo, vem crescendo o seu uso, visto que essa rede,
além de fortalecer a visibilidade, possibilita trocas imediatas, interações,
compartilhamentos
e
eventos
mediados
pela
biblioteca,
congregando
diferentes grupos sociais (ALBUQUERQUE; PAIXÃO, 2020).
No contexto brasileiro, as bibliotecas criam perfis nas redes sociais,
embora os utilizem ainda de modo um pouco tímido (AGUIAR, 2012). Nota-se
que, em alguns países, o uso dessas ferramentas vai muito além do marketing.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os bibliotecários oferecem serviços de
pesquisa, com interação síncrona, colocando à disposição dos acadêmicos,
acesso aos acervos digitais. As bibliotecas criam perfis em diferentes redes
sociais, tais como Facebook, YouTube, Issuu e Twitter, cujos profissionais
precisam se envolver mais com as redes, interagindo com os comentários dos
�112
usuários, e disseminando conteúdo relevante para pesquisas e para o ensino
(FONG et al., 2020).
Na visão de Kumar (2015), as redes sociais podem ser utilizadas como
espaços de interação para realização de treinamentos, o que reforça o papel
educativo das bibliotecas, sobretudo na promoção dos serviços de referência.
De acordo com esses autores, o uso do Facebook e do Twitter constitui uma
atitude louvável. No entanto, o sucesso dessas atividades demanda não
apenas engajamento dos bibliotecários, mas, e principalmente, planejamento
para que produtos e serviços sejam oferecidos de modo adequado e sejam
constantemente monitorados e avaliados, promovendo constantes melhorias
(KUMAR, 2015).
Independente dos tipos de redes sociais utilizadas, como também,
mesmo com dificuldades no aproveitamento do potencial das redes sociais
pelas bibliotecas universitárias, Prado e Correa (2016) advertem para o fato de
que as mídias sociais apontam o nascimento de novos tempos, e que o fazer
da biblioteca é de expansão, indo além de seus muros. Reforçam os autores
que as mídias se apresentam como um grande desafio e novidade, exigindo
que as bibliotecas adaptem seus produtos e serviços, cuja informação deixou
de ser somente de acesso, mas também de interação (PRADO; CORREA,
2016).
3 A BIBLIOTECA PROFESSORA ETELVINA LIMA
A Biblioteca Professora Etelvina Lima é parte integrante da ECI/UFMG,
ligada administrativamente a essa unidade, e tecnicamente ao Sistema de
Bibliotecas da UFMG. A Biblioteca foi fundada no ano de 1950, quando da
institucionalização do curso de Biblioteconomia. No decorrer dos anos, foi
evoluindo, com o objetivo de atender outros cursos correlatos à Ciência da
Informação, como Arquivologia e Museologia, os quais foram agregados à
unidade acadêmica, no ano de 2008.
�113
Hoje,
essa
unidade
de
informação
é
especializada
nas
áreas
mencionadas, como também contempla o universo da Documentação. A
Biblioteca oferece à comunidade universitária serviços e produtos necessários
ao desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão. Dispõe de espaços
confortáveis para o desenvolvimento das atividades de estudos, e também
para uma leitura mais descontraída, como pode ser observado na Figura 1.
Figura1 – Sala de Leitura da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Fonte: Fotografia registrada por Foca Lisboa (2020).
Destaca-se, na Figura 2, que uma das peculiaridades da Biblioteca “[...]
é servir também de biblioteca-laboratório, espaço vivo para ‘pesquisa de
campo’ na área de Ciência da Informação e em áreas do conhecimento
relacionadas”
(BIBLIOTECA
PROFESSORA
ETELVINA
LIMA,
2020a,
não
paginado).
Figura 2 – Laboratório de Informática da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Fonte: Fotografia registrada por Foca Lisboa (2020).
Assim como as demais bibliotecas do Sistema da UFMG, a Biblioteca
Professora Etelvina Lima tem como propósito atender, primordialmente, alunos
�114
e
professores,
sobretudo
no
que
tange
ao
apoio
informacional
para
desenvolvimento das atividades acadêmicas (seja em termos de ensino,
pesquisa e extensão). Esse compromisso da unidade de informação pode ser
identificado por meio da análise à missão, visão e ao objetivo da Biblioteca
(Quadro 1).
Quadro1 – Missão, visão e objetivo da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Missão
Apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, possibilitando a criação de
conhecimento e o fortalecimento da comunidade acadêmica.
Visão
Constituir, permanentemente, em uma biblioteca-laboratório de excelência,
contribuindo para o desenvolvimento crítico e ético de indivíduos. Manter o
compromisso com a democratização do acesso à informação, respeitando a ética e
os valores humanos.
Objetivo
Prestar serviços de excelência, visando a atender as necessidades de informação e
as expectativas da comunidade, bem como capacitar os usuários na utilização dos
recursos e ferramentas informacionais.
Fonte: Adaptado de Biblioteca Professora Etelvina Lima (2020a).
A expansão dos cursos da ECI estimulou o crescimento da Biblioteca,
seja em termos de composição do acervo, estrutura espacial e equipe
funcional. Atualmente, o acervo é composto por 20.048 itens, distribuídos em:
livros, periódicos, trabalhos acadêmicos e multimeios. A Biblioteca ocupa uma
área de 617,03m2, composta pelo espaço do acervo com 192,14m2, um salão
de leitura/estudo de 264.17m2, duas salas de informática, três salas de estudo
coletivo, uma sala da diretoria, uma sala para processamento técnico e uma
sala de videoconferência de 160,72m2. A Figura 3 ilustra alguns desses
espaços, como: espaço de entrada, acervo com as estantes, piso adaptado à
acessibilidade e a sala de videoconferência.
Figura 3 – Espaços físicos com algumas das divisões da Biblioteca
Entrada
Parte do espaço para acervo
�115
Acessibilidade
Sala de videoconferência
Fonte: Fotografias registradas por Foca Lisboa (2020).
Importante destacar os espaços para atendimento aos usuários. Muitas
vezes, as bibliotecas universitárias, a fim de chegarem a um formato desejável
com espaços bem estruturados, dependem de grandes esforços conjuntos
entre bibliotecários e administração central, ou com o apoio das unidades
acadêmicas ou das reitorias para desenvolvimento de projetos, captação de
recursos, dentre outras ações. A Biblioteca também possui um serviço de
auxílio às pessoas com deficiência, conforme especificado no Quadro 2, de
modo a garantir a inclusão de todos no espaço da Biblioteca, facilitando,
assim, a democratização do acesso aos produtos e serviços.
No que se refere aos recursos humanos, a equipe de trabalho é
composta
de
13
colaboradores:
cinco
bibliotecárias,
três
técnicos
administrativos, dois estagiários, um colaborador terceirizado e dois menores
aprendizes vinculados à Cruz Vermelha23.
Outro ponto de destaque da Biblioteca Professora Etelvina Lima diz
respeito à diversidade de produtos e serviços informacionais disponibilizados
para
uso
pela comunidade
universitária.
O
Quadro
2
apresenta essa
diversidade.
23
A UFMG tem convênio com o programa Jovem Aprendiz da Cruz Vermelha, uma ação
voltada ao preparo de jovens ao mercado de trabalho.
�Continua
116
Quadro 2 – Produtos e serviços oferecidos pela Biblioteca Professora Etelvina Lima
Tipo de
produto/serviço
Descrições
Acessibilidade
A Biblioteca possui: a) computador adaptado com monitor 24
polegadas; fone de ouvido; teclado especial com fundo amarelo para
usuários com baixa visão ou visão subnormal; sistema operacional
com software livre NonVisual desktop Access (NVDA), que descreve
os itens em tela do computador por meio de audiodescrição; b)
máquinas adaptadas, também com o software NVDA, nos laboratórios
onde são ministradas aulas dos cursos da Escola; c) piso tátil, que
serve de orientação e direciona o usuário com deficiência visual para
o Serviço de Referência. Além disso, no espaço da Biblioteca não
existem desníveis (degraus e escadas) a serem transpostos; d) parte
da bibliografia básica do curso de Biblioteconomia está em formato
legível por softwares de audiodescrição; e) títulos de literatura em
audiolivros.
Agendamento de
videoconferências
A Biblioteca possui uma sala de videoconferência que atende a
comunidade da UFMG, para a realização de defesas de trabalhos,
reuniões, cursos e entrevistas. A utilização desse espaço dá-se por
meio de agendamento, cujo usuário, ao informar dia e horário
desejado, contará com infraestrutura tecnológica e profissional para a
realização da videoconferência. Tal solicitação pode ser feita de modo
presencial ou por qualquer um dos canais de atendimento da
Biblioteca.
Auxílio na execução de O usuário pode solicitar atendimento individualizado para auxílio em
pesquisas bibliográficas suas pesquisas bibliográficas.
Bases de dados ECI
Boletim Novas
Aquisições
Produzidas e mantidas pela ECI, as bases de dados Literatura
Brasileira em Biblioteca Escolar (LIBES) e PERI oferecem livre acesso
a referências, documentos e literaturas publicadas no Brasil nas áreas
de Biblioteconomia, Ciência da Informação, Arquivologia e
Museologia.
É uma publicação mensal, on-line, disponibilizada no site da
Biblioteca, que tem por objetivo realizar a divulgação dos novos
materiais adquiridos para o acervo. Dentre esses materiais estão os
livros, DVD’s e os trabalhos de especialização, mestrado e doutorado
defendidos na ECI/UFMG. Ressalta-se o trabalho que a Biblioteca
realiza com os livros das novas aquisições, cujo sumário da obra é
digitalizado e disponibilizado, para que o usuário possa, ao receber o
boletim, ter uma clareza melhor do que trata a obra.
Esse serviço acontece em todas as Bibliotecas do Sistema. Nessa
campanha, são oferecidos aos usuários, marcadores de páginas com
instruções do que não se deve fazer com o material da Biblioteca.
Além disso, o Sistema de Bibliotecas da UFMG disponibiliza às
Campanha de
bibliotecas setoriais, cartazes para serem afixados no espaço da
preservação do acervo biblioteca, contendo dicas de como preservar os materiais
bibliográficos. O objetivo é possibilitar ao usuário o uso consciente do
material, evitando danificá-lo. Assim, reduzem-se os custos com
reparos, por conseguinte, a retirada de circulação de materiais.
Serviço de referência virtual que utiliza o software gratuito Tawk.to.
Encontra-se no canto inferior direito do site da Biblioteca. Visa a
agilizar a comunicação entre a Biblioteca e o usuário remoto, que
�Continuação
117
Tipo de
produto/serviço
Descrições
Chat
necessita de alguma informação ou serviço. Com isso, é possível
proporcionar a comunicação e a troca de mensagens sobre
determinados assuntos entre a comunidade acadêmica e a Biblioteca,
de forma síncrona.
Coleção de filmes
A Biblioteca possui uma lista de DVD’s, que fazem parte do acervo e
que estão disponíveis para empréstimo.
Comutação
bibliográfica
Serviço pago no qual o usuário pode solicitar a obtenção de cópias de
documentos técnico-científicos disponíveis em acervos de bibliotecas
e centros de pesquisa do Brasil e de outros países que sejam
participantes do Sistema de Comutação Bibliográfica (COMUT).
Elaboração de fichas
catalográficas
Produção de fichas catalográficas para os trabalhos realizados por
professores e alunos da ECI/UFMG.
Empréstimos
A comunidade acadêmica pode realizar empréstimos de obras
pertencentes ao acervo do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Além
disso, por meio de convênios com instituições públicas e privadas, os
alunos da universidade podem retirar materiais em outras bibliotecas
conveniadas.
Eventos promovidos
pela Biblioteca
São promovidos com periodicidade regular dois importantes eventos:
Semana do Bibliotecário e Semana do Livro e da Biblioteca. Ambos
encontram-se na sua IV edição. Esses eventos estão consagrados na
agenda da Biblioteca, contando com vários dias de palestras, cursos e
treinamentos, e são abertos a profissionais e alunos da área, visando
a contribuir com a formação profissional.
Exposições e quadros
de avisos de interesse
da comunidade de
usuários
A Biblioteca divulga, neste espaço, eventos e serviços de interesse da
comunidade acadêmica.
Normas técnicas
Orientação à
normalização de
trabalhos científicos
A Biblioteca dispõe das principais normas da área de Ciência da
Informação, sobretudo no que tange à normalização bibliográfica,
considerando as recomendações da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) e da International Organization for Standardization
(ISO).
O usuário da Biblioteca pode recorrer aos bibliotecários para
orientação quanto ao uso de manuais e normas, bem como para a
realização de treinamentos nas principais bases de dados da área da
Ciência da Informação e correlatas.
Orientação/treinamento
de usuários
Palestras, aulas e
demonstrações para
usuários
O bibliotecário, a convite ou de iniciativa própria, realiza palestras,
aulas e demonstrações sobre os mais diversos assuntos e serviços
ligados ao seu ofício.
�Conclusão
118
Tipo de
produto/serviço
Descrições
Redes sociais
A Biblioteca possui perfil em três redes sociais amplamente utilizadas
no Brasil. Nelas são divulgados eventos, serviços e comunicados
relacionados à área da Ciência da Informação.
- Twitter:
https://twitter.com/BibEtelvinaLima
- Facebook:
https://www.facebook.com/bibliotecaeci
- Instagram:
https://www.instagram.com/bibliotecaeciufm
Supervisão de estágios Oportunidade concedida aos alunos de vivenciar a rotina de trabalho
curriculares e
do bibliotecário.
extracurriculares
Fonte: Adaptado de Biblioteca Professora Etelvina Lima (2020b).
Conforme destacado no Quadro 2, percebe-se que a Biblioteca faz uso de
três redes sociais, que são: Twitter, Facebook e Instagram. A concepção
dessas três redes sociais, como também a estruturação, finalidades e
dificuldades existentes no contexto dessas mídias são detalhadas na seção
seguinte.
4 USO DAS REDES SOCIAIS E A COMUNICAÇÃO NA BIBLIOTECA
PROFESSORA ETELVINA LIMA
Para atender as necessidades informacionais da comunidade acadêmica e
externa, a qual a Biblioteca está inserida, fez-se necessário criar mecanismos
efetivos de comunicação. Pensando nesse contexto, em 1998, a Biblioteca
desenvolveu o seu primeiro site que, ao longo dos anos, vem se aperfeiçoando
(Figura 4).
�119
Figura 4 – Site atual da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Fonte: Site da Biblioteca Professora Etelvina Lima (2020a).
O site proporciona benefícios para os usuários, pois a maioria das
informações relacionadas aos serviços e produtos, eventos de interesse da
comunidade, dentre outras informações encontram-se mencionadas no site.
Segundo Anjos (2016), o objetivo da biblioteca universitária é proporcionar ao
usuário/cliente acesso à informação, sendo primordial a importância em
garantir a visibilidade dos seus produtos e/ou serviços. E, assim, por meio do
site,
a
informação
é
disponibilizada
à comunidade
da
ECI
e
demais
interessados.
Nas últimas décadas, além do site, outras mídias podem ser utilizadas
pelas bibliotecas. Assim, para melhor relacionar com seus usuários e atender
as necessidades informacionais deles, a Biblioteca Professora Etelvina Lima
possui três mídias sociais, que foram desenvolvidas nos seguintes anos: o
Twitter, no ano de 2010, o Facebook, no ano de 2013, e o Instragram, no ano
de 2019.
As práticas realizadas pelas bibliotecas nas redes sociais se destacam
como alternativas digitais e de comunicação com seus usuários. Ao mesmo
tempo e de igual valor, essas práticas possibilitam ampliar o marketing da
biblioteca na divulgação de seus produtos e serviços, como sinalizados nos
estudos de Araújo, Pinho Neto e Freire (2016), Ribeiro, Leite e Lopes (2014),
dentre outros.
O
Twitter
da
Biblioteca
Professora
Etelvina
Lima
está
entre
as
ferramentas disponíveis, sendo tal ferramenta marcante pelo fato de fornecer
�120
informações em tempo real, ou seja, de maneira mais rápida e atualizada. O
Twitter permite o envio de mensagens curtas e instantâneas, conforme
demonstrado na Figura 5.
Figura 5 – Twitter da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Fonte: Twitter da Biblioteca (2020).
De acordo com Silva et al. (2012), por meio do Twitter, é possível
agilizar a disseminação e atualização da informação. Também se torna
adequado fortalecer a comunicação e interação com o usuário e a expansão do
serviço de referência que toda biblioteca precisa oferecer (SILVA et al., 2012).
O Facebook é considerado a maior rede social do mundo (GODEIRO;
SERAFIM, 2013). Aproveitando-se desse potencial, a Biblioteca passa a utilizar
essa rede de comunicação para a divulgação dos seus produtos e serviços,
como o Boletim de Novas Aquisições e a agenda de eventos promovidos pela
Biblioteca, tais como: Semana do Bibliotecário, Semana do Livro e da
Biblioteca, dentre outros. A Figura 6 apresenta a página principal da Biblioteca
Professora Etelvina Lima na rede social Facebook.
Figura 6 – Facebook da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Fonte: Facebook da Biblioteca (2020).
�121
Nota-se
que
as
bibliotecas
universitárias
precisam
aproveitar
as
tecnologias como uma ferramenta de ajuda, tendo em vista alcançar o objetivo
principal que é a satisfação do usuário. Com o uso do Facebook, esse objetivo
pode ser alcançado, sendo “[...] primordial que os usuários possam realmente
interagir com a biblioteca, através desse canal, tendo o feedback para ambos
os lados” (GODEIRO; SERAFIM, 2013, p. 10). Portanto, a partir das
experiências com essa rede social, é possível perceber que o Facebook passa a
ser um grande aliado da Biblioteca Professora Etelvina Lima na divulgação dos
eventos em tempo real, com diversas possibilidades de interação com o
usuário.
Por sua vez, o Instagram como ferramenta de marketing também é
muito
importante
para
a
Biblioteca,
principalmente
no
potencial
de
engajamento com o público, o que traz grande alcance para as publicações
(Figura 7).
Figura 7 – Instagram da Biblioteca Professora Etelvina Lima
Fonte: Instagram da Biblioteca (2020).
O Instagram se destaca pelo aumento no número de engajamento dos
usuários. Essa rede permite ao usuário curtir e comentar publicações, enviar
posts, seguir e ser seguido, além de acessar novidades que surgem a cada
atualização do aplicativo (OLIVEIRA; HENRIQUE, 2016).
A Biblioteca Professora Etelvina Lima, atualmente, mantém os perfis
ativos nas redes sociais. A equipe responsável por produzir conteúdos e
gerenciar as redes é o Setor de Referência, que consta com bibliotecários e
estagiários do curso de Biblioteconomia e Museologia.
�122
As redes sociais são utilizadas pela Biblioteca, principalmente, com as
seguintes finalidades: a) promover a visibilidade dos produtos e serviços da
Biblioteca; b) auxiliar na divulgação de cursos e eventos gerenciados pela
Biblioteca; c) compartilhar conteúdos relevantes da Biblioteca e outros perfis;
d) aproximar e realizar interações com os nossos usuários reais e potenciais; e
e) ser um canal de comunicação com uma linguagem menos formal.
Em relação ao conteúdo das postagens, ele é exclusivo de interesse das
áreas que envolvem os cursos de Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e
assuntos correlatos. Já em relação à frequência das postagens, ela tende a ser
de duas a três vezes por semana. Para auxiliar na criação dos posts, faz-se o
uso da plataforma de design gráfico Canva24, que permite a edição de texto e
imagem.
As
principais
dificuldades
permanecem
atreladas
à
produção
de
conteúdos relevantes para a comunidade usuária, gerando interesse e
repercussão entre os interessados pelos conteúdos postados. Aliado a essa
questão, a frequência de postagens depende do momento atual, ou seja, a
partir dos eventos da Biblioteca e dos cursos ocorridos, as postagens podem
ser mais efetivas.
A Biblioteca faz parceria com o Laboratório de Informática da ECI, que
oferece suporte e sugere ferramentas gráficas que auxiliam a produção de
conteúdo para as redes sociais, principalmente de edição de imagens, tendo
em vista a valorização da imagem, nesse contexto. A colaboração também
acontece por parte da Biblioteca Universitária, a qual é a responsável técnica
pelas bibliotecas do Sistema e possui um Setor de Comunicação para apoiar as
atividades dessas bibliotecas. De acordo com Silva e Nogueira (2016),
acredita-se que é nesse sentido que o Sistema de Bibliotecas da UFMG criou,
em 2010, uma Divisão de Comunicação (DICOM). Essa equipe é composta por
uma jornalista e três bolsistas, que têm a missão de atender as necessidades
comunicacionais das 25 bibliotecas da instituição.
Assim, para os grandes eventos, existe uma parceria sistêmica na
própria instituição, que garante a colaboração. A colaboração é importante em
24
Disponível em: https://www.canva.com/pt_br/
�123
tempos de mídias sociais, pois é um dos propósitos das mídias, as quais
fortalecem, cada vez mais, as práticas de democratização do acesso à
informação.
Novamente,
as
bibliotecas,
utilizando
as
redes
sociais,
potencializam essa missão de levar conhecimento além de suas paredes,
mediante uma atuação colaborativa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelas experiências relatadas neste texto, evidenciou-se que, com o
impacto das tecnologias de informação e comunicação e o advento das redes
sociais, a sociedade tem se transformado. Essa situação é percebida por todos,
seja na vida social, no trabalho, no lazer e nas relações entre países.
Por meio das redes sociais, passamos por um processo de mudança
significativa, envolvendo diversas áreas do conhecimento. Hoje, é possível, em
poucos segundos, comunicar-se com uma pessoa do outro lado do planeta.
E as bibliotecas, como não poderiam deixar de ser, passam por estas
transformações, tanto na prática profissional, quanto no modo de comunicar
com o seu público-alvo. As redes sociais têm transformado e contribuído para
as bibliotecas ampliarem o diálogo com seus usuários.
Mediante os relatos da experiência, foi possível apresentar o modo com
que as redes sociais são utilizadas pela Biblioteca Professora Etelvina Lima. O
relato também se embasou nos apontamentos teóricos da literatura, expondo
os fundamentos sobre o uso das redes sociais nas bibliotecas, revelando que,
dentre os produtos e serviços ofertados pela biblioteca analisada, as redes
sociais utilizadas para divulgação desses são: o Twitter, o Facebook e o
Instagram. As ferramentas dessas redes sociais possibilitam a divulgação de
informações, dos serviços e produtos, permitindo, assim, uma linguagem
informal e ao mesmo tempo dinâmica, abrindo canais para comentários,
sugestões, dúvidas, críticas, dentre outras interações por parte dos seus
usuários.
�124
A partir do uso dessas três redes sociais, considerando, sobremaneira, as
funcionalidades de cada uma, percebe-se o quanto elas podem contribuir para
ampliar e fortalecer o papel da Biblioteca junto ao seu público e com a própria
sociedade. Por isso, evidencia-se que os bibliotecários, ao usarem os recursos
das redes sociais, como o Facebook, o Instagram e o Twitter, dentre outras,
estão para além de divulgar os produtos, serviços, eventos da área, cursos e
outras possibilidades para o seu público-alvo. Eles também conseguem, por
meio das redes, promover o marketing da biblioteca, proporcionando maior
visibilidade à instituição e permitindo uma integração social entre os diferentes
públicos.
A Biblioteca Professora Etelvina Lima, parte integrante do Sistema de
Bibliotecas da UFMG, vem buscando trabalhar as estratégias do uso das
tecnologias e mídias sociais em prol dos seus usuários. Desse modo, a
Biblioteca constrói o seu plano de comunicação para atender a comunidade
acadêmica da ECI.
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TWITTER DA BIBLIOTECA PROFESSORA ETELVINA DE LIMA. Biblioteca. 2020.
Disponível em: https://twitter.com/bibetelvinalima. Acesso em: 10 nov. 2020.
DADOS BIOGRÁFICOS
Maria Elizabeth de Oliveira Costa: Doutorado em
Gestão e Organização do Conhecimento pela UFMG.
Mestrado em Tecnologia e Gestão em Educação a
Distância pel UFRPE. Presidente da Associação dos
Bibliotecários de Minas Gerais. Exerceu o cargo de
diretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no período
2006-2013. Atua principalmente em áreas temáticas:
Bibliotecas Universitárias - Gestão de Pessoas, Gestão
em Unidade de Informação, Extensão Universitária e
Ensino a Distância.
E-mail: mabethcosta@gmail.com
Elaine Diamantino Oliveira: Mestre em Gestão e
Organização do Conhecimento (2018) pela Universidade
Federal de Minas Gerais e especialista em Arquitetura e
Organização da Informação (2011), também pela
UFMG. Atualmente é bibliotecária coordenadora da
Biblioteca Professora Etelvina Lima, Escola de Ciência
da Informação, UFMG.
E-mail: elainediamantino@gmail.com
Maianna
Giselle
de
Paula:
Graduada
em
Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Possui especialização em Gestão de Instituições
Federais de Educação Superior pela Universidade
Federal de Minas Gerais e formação de leitores pela
Faculdades Integradas de Jacarepaguá. Exerceu o cargo
de bibliotecária coordenadora da Biblioteca Professora
Etelvina Lima, da Escola Ciência da Informação da
UFMG.
E-mail: maiannag@gmail.com
�128
Rosimeire Silva Campos de Lima: Graduação em
Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas
Gerais (2008). Atuou na Prefeitura Municipal de
Contagem (2014-2018) como Bibliotecônoma, na área
da Educação, exercendo funções de coordenação,
assessoria e supervisão das bibliotecas escolares do
município. Atualmente é Bibliotecária-documentalista do
setor de referência da Biblioteca Professora Etelvina
Lima, Escola de Ciência da Informação/UFMG.
E-mail: rosimeirecampos@gmail.com
Vivian
Ascenção
Fonseca:
Graduação
em
Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Bibliotecária da Escola de Ciência da Informação
da UFMG. Especialista em Formação de leitores pela
Faculdades Integradas de Jacarepaguá. Exerceu o cargo
de coordenadora da Biblioteca “Professora Etelvina
Lima” da ECI/UFMG, no período 2000-2005.
E-mail: vivian@eci.ufmg.br
�129
PARTE II - REDES
SOCIAIS COMO
INSTRUMENTO DE
PROMOÇÃO DA LEITURA
�130
CAPÍTULO VII - O fenômeno transmídia no
compartilhamento de leituras na web
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Carlos Alberto Ávila Araújo
1 INTRODUÇÃO
O presente capítulo discute alguns dos resultados da dissertação de
mestrado intitulada “Ler e compartilhar na web: práticas informacionais de
blogueiros literários”, defendida em dezembro de 2018 junto ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas
Gerais.
A pesquisa partiu do pressuposto de que a leitura literária possui um
caráter paradoxal, ao permitir escapadas solitárias e também encontros
(PETIT, 2009). Em certo aspecto, o ato de ler pode ser compreendido como
solitário, uma vez que o leitor possui apenas o livro como seu companheiro
durante a leitura, realizando um diálogo interno com o texto e com o autor.
Contudo, ao finalizar a leitura, o leitor pode sentir a necessidade de
compartilhar as reflexões e experiências vivenciadas pela narrativa, emitindo a
opinião e juízo de valor dele sobre o livro lido. É nesse sentido que a leitura
literária pode abrir caminho para encontros com outros leitores, de forma que
possam ocorrer trocas informativas sobre as experiências de leitura.
Diante da possibilidade de o leitor poder compartilhar suas leituras em
círculos sociais de leitores, surgiram algumas inquietações que nortearam esta
pesquisa: E se um leitor literário que deseja compartilhar suas leituras não
encontre outros leitores com os quais possa comentar sobre os livros que leu?
Quais as possibilidades que esse leitor possui, visto que ele não tem contato
com nenhum grupo de leitores que se encontra presencialmente? Será possível
que esse leitor acesse a web à procura de um espaço no qual possa
compartilhar suas leituras com outros leitores?
�131
Em outras épocas, era necessário um local físico onde um grupo de
leitores pudesse se encontrar pessoalmente. Outro meio de comunicação era o
envio de correspondências por correio para compartilhar leituras, críticas e
comentários. A internet abriu novas possibilidades para entrar em contato com
as pessoas por meio da rede. Assim, uma comunidade de leitores não precisa
ser necessariamente um encontro de um grupo in loco. Atualmente, a
interação ocorre de modo on-line, cujos leitores podem elogiar, sugerir, opinar
e criticar sobre o que leram durante ou imediatamente após a leitura
(CARNEIRO, 2011).
Dessa forma, uma das possibilidades que o leitor literário possui para
compartilhar suas experiências de leitura é inserir-se no ambiente virtual,
buscando outros leitores na web. A experiência da internet acabou por
demonstrar que cada leitor tem uma legitimidade, um direito de julgamento
pessoal. As redes eletrônicas ampliam a possibilidade de intervenções e
discussões, estando ao alcance de todos a produção dos juízos pessoais e a
atividade crítica (CHARTIER, 2009). Assim, surgiram espaços virtuais nos quais
leitores podem compartilhar suas leituras, opiniões, críticas, sugestões e
quaisquer informações literárias.
O intuito inicial da pesquisa, em nível de mestrado, foi analisar os
blogueiros literários, uma vez que os blogs literários são espaços nos quais
leitores podem compartilhar suas leituras. Contudo, a pesquisa revelou outros
resultados, que serão apresentados nesse capítulo. Por meio da análise dos
dados, foi possível compreender que, para além do compartilhamento
realizado nos blogs, os blogueiros, enquanto leitores e produtores de conteúdo,
apropriam-se das diversas redes sociais, sendo identificado o fenômeno
transmídia. Na próxima seção, são descritos os espaços virtuais existentes que
possibilitam o compartilhamento de leituras na web.
2 POSSIBILIDADES PARA COMPARTILHAR LEITURAS NA WEB
De acordo com Almeida (2008), no século XXI o ponto de referência para
a vida literária é o internauta/leitor, adaptado a um mundo de possibilidades
�132
no qual ele consegue adquirir quase de tudo pela internet: periódicos, artigos,
livros, imagens e textos em geral. Além dessa facilidade na aquisição de
leituras, a web não é somente uma fonte de informação, mas também uma
fonte de aproximação, possibilitando trocas diversas. “No campo literário, com
todo o compartilhamento de textos em rede, o internauta/leitor passa a sentir
a necessidade de dividir suas ideias e impressões literárias através da rede”
(ALMEIDA, 2008, p. 44).
Chartier (2009) caracteriza algumas das mudanças que aconteceram
com a denominada Revolução Eletrônica. Para o autor, o leitor do texto
eletrônico é mais livre. O texto no formato eletrônico permite uma maior
distância em relação ao escrito, o que torna possível uma relação não corporal,
não sendo necessário que o leitor segure um livro com as mãos e vire as suas
páginas. Processo semelhante acontece com quem escreve, pois a mediação
do teclado instaura um afastamento entre o leitor e seu texto. Há também
uma mistura dos papéis de produtor e editor, na medida em que um produtor
de texto pode ser imediatamente seu editor. Quanto ao papel do crítico, esse é
ampliado no sentido de que qualquer pessoa pode apresentar sua crítica.
Evidentemente, as redes eletrônicas ampliam esta possibilidade,
tornando mais fáceis as intervenções no espaço de discussão constituído
graças à rede. Deste ponto de vista, pode-se dizer que a produção dos
juízos pessoais e a atividade crítica se colocam ao alcance de todo
mundo (CHARTIER, 2009, p. 17).
Em virtude desse novo leitor, surgiram também novas ferramentas e
plataformas que proporcionam espaços para as discussões e trocas literárias.
Gnisci (2018) considera que “quanto às produções e críticas literárias, o
blogpode ser considerado a primeira ferramenta midiática a compartilhar
relatos de experiências individuais e coletivos de diversas áreas e interesses
[...]”.
Além dos blogs literários, existem outros espaços virtuais nos quais
acontecem
trocas
literárias.
Apresentam-se
algumas
plataformas
que
proporcionam a formação de comunidades virtuais de leitores: Facebook,
YouTube, Instagram, Twitter, Skoob e Wattpad.
�133
Almeida (2008) aponta a existência de sites que fazem reflexões sobre
textos, livros, escritores e a vida literária. A autora também cita o Facebook
como espaço de discussão sobre literatura, mediante a existência de diversos
grupos sobre o tema. A Revista Conexão Literatura25, site dedicado ao universo
literário, apresenta um ranking de grupos do Facebook relacionados à leitura
literária, nos quais é possível conversar sobre autores preferidos, compartilhar
ideias, sugerir dicas de leituras e se manter atualizado sobre novidades do
mundo da literatura. Alguns grupos relacionam leitores, autores, editoras e
também blogueiros literários para discussões literárias e para divulgação e
lançamentos de livros.
Outro espaço para cultura literária disponível na rede é o YouTube. Gnisci
(2018) define os booktubers como proprietários de canais do YouTube que
produzem vídeos relacionados à literatura e à leitura. Para Jeffman (2017), um
booktuber forma um booktube, ou seja, uma comunidade composta por um
canal literário. Um booktubeéuma rede social “formada por pessoas que
gostam de ler e compartilhar suas impressões sobre a leitura através de
vídeos” (JEFFMAN, 2017, p. 187). A autora explica que no booktube “o diálogo
é norteado pelas leituras realizadas, autores preferidos, eventos literários
frequentados, pelas reflexões que o contato com a literatura oferta, entre
outras possibilidades relacionadas ao consumo cultural” (JEFFMAN, 2017, p.
187). De acordo com Gnisci (2018), a transição das narrativas escritas para
produções audiovisuais teve início na primeira década do século XXI. Jeffman
(2017) afirma que, no Brasil, até 2012, o local de maior concentração do
universo literário era a blogosfera. O crescimento exponencial dos booktubers
foi percebido pela autora principalmente em 2015, após mapear 630 canais
literários brasileiros entre os anos de 2009 e 2016.
O Instagram, rede social para compartilhamento de fotos e vídeos,
também vem se tornando um ambiente virtual propício ao compartilhamento
de experiências literárias. Os perfis do Instagram que se dedicam à literatura
25
Disponível em:
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2016/08/10-grupos-do-facebook-para-quemama.html. Acesso em: 28 fev. 2018.
�134
geralmente publicam fotos das capas ou de pequenos trechos dos livros; além
disso, postam pequenas resenhas junto com a imagem. O Instagram também
é utilizado por editoras para promoção de lançamentos literários. É fácil
encontrar na internet rankings que listam os perfis do Instagram sobre livros,
como por exemplo, os sete perfis selecionados pela revista Exame26, que listou
perfis que apresentam conteúdo relacionado à literatura.As postagens sobre
literatura comtemplam: frases de livros, imagens de grifos em livros, trechos
de livros em backgrounds e fontes diferentes, frases engraçadas relacionadas à
leitura, situações vividas pelos leitores, confissões de leitores, fotos de livros e
livrarias.
O Twitter, microblog criado em 2006, também tem se tornado um espaço
para
discussões
sobre
livros
e
leitura.
Lemos
(2008)
apresenta
as
características do Twitter, que permite postagens com poucos caracteres,
sendo uma ferramenta que publica atualizações rápidas e curtas a partir de
uma multiplicidade de suportes diferentes. De acordo com a autora, recursos
como o Twitter dão origem a novas linguagens, algumas delas de caráter
colaborativo, ou seja, não é um só enunciador, mas enunciadores que
colaboram produzindo novos discursos. No Brasil, o Twitter foi adotado de
forma rápida pelos blogueiros como forma de informação, relacionamento e
socialização (LEMOS, 2008). É possível encontrar vários perfis sobre livros e
leitura literária no Twitter, desde perfis oficiais de grandes editoras e de
autores consagrados, até perfis de leitores que publicam fotos das capas e
comentários sobre os livros que leram. Dentro da restrita quantidade de
caracteres, muitos usuários publicam frases retiradas dos livros.
O Skoob é citado por Silva (2011) como um canal de interação de
internautas que se interessam em compartilhar as suas experiências de leitura.
A autora afirma que, no Brasil, a rede Skoob é uma experiência similiar às
redes sociais internacionais Goodreads e Shelfari, cujo objetivo é promover
trocas de informações sobre livros, autores e leituras. Criado em 2009, o
Skoob possui uma interface que possibilita que o leitor compartilhe com
26
Disponível em: https://exame.abril.com.br/tecnologia/7-perfis-no-instagram-para-quemgosta-de-livros/. Acesso em: 28 fev. 2018.
�135
contatos informações como: os livros que está lendo, relendo, suas pretensões
e metas de leitura e até mesmo os livros que desistiram de ler. Além disso, por
meio da ferramenta “cortesia”, os usuários podem participar de sorteio de
livros que estão em lançamento. Existe também a possibilidade de o usuário
trocar livros com outras pessoas da rede (SILVA, 2016).
A comunidade on-line Wattpad, criada em 2006, é considerada por Silva
(2016) uma plataforma que possibilita aos usuários lerem livros e também
permite que autores independentes publiquem seus próprios livros, poemas,
dentre outras produções. De acordo com informações disponibilizadas no
siteda plataforma, o Wattpad é um aplicativo que pode ser acessado no
computador ou celular, permite a leitura on-line e off-line dos livros disponíveis
sem a necessidade de realizar o download. O aplicativo permite que sejam
postadoscomentários
on-line,
possibilitando
compartilhar
impressões
e
interagir com outros leitores enquanto o usuário realiza a leitura. O Wattpad
também promove concursos literários para premiar os escritores amadores.
Como discorrido, existem várias possibilidades de redes sociais e canais
nos quais os leitores literários podem interagir. É interessante ressaltar que
esses espaços são, de certa forma, complementares, uma vez que o fato de
um leitor ter um perfil em uma determinada rede não impede que ele possa
criar o perfil em outra plataforma. O que acontece é justamente o contrário: é
comum o leitor literário participar de mais de uma rede social sobre leitura.
Nos blogs literários, geralmente, encontra-se olink para a página do Facebook
do blog ou para o Instagram. Muitas vezes, uma postagem no blog consiste
em um vídeo produzido pelo blogueiro em seu canal literário no YouTube. No
final do vídeo de um booktuber, consta o seu perfil do Twitter e/ou do
Instagram. Trata-se do fenômeno transmídia.Conforme Arnault et al. (2011, p.
5), vivemos em uma “era transmídia”, com a disponibilidade de diversas
plataformas e meios de comunicação nos quais a população pode engajar-se,
interagir e gerar conteúdo. Quando as pessoas se engajam em um assunto,
manifesta-se “a distribuição de forma conectada entre as múltiplas plataformas
de mídia, pode-se observar a transmídia em ação, seja de forma planejada ou
por consequência das mídias espontâneas [...]”.
�136
Na transmídia, o conteúdo é desenvolvimento em uma plataforma de
mídia, sendo desdobrado e expandido para outras plataformas. O objetivo de
uma ação transmídia é alcançar o público-alvo buscando uma interligação
entre todas as plataformas de mídia, de modo a promover a interação desse
público em mais de um tipo de mídia de forma sinérgica. O início de um
projeto transmídia pressupõe a elaboração de um conteúdo principal (história,
produto, serviço). A partir desse conteúdo, planejam-se as demais ações de
veiculação para cada plataforma de mídia. A divulgação deve ocorrer também
com a utilização das novas mídias, como as redes sociais (Facebook, Twitter,
LinkedIn) (ARNAUT et al., 2011). É especialmente importante, em um projeto
transmídia, o conhecimento das plataformas de mídia, sabendo-se utilizar o
melhor de cada uma de modo que elas se complementem.
Em um projeto transmídia, as ações de mídia se encaixam umas nas
outras, e se não houver um conhecimento profundo dos recursos
disponíveis em cada mídia, o projeto não conseguirá explorar todo o
potencial de cada plataforma em cada segmento de público (ARNAUT et
al., 2011, p. 12).
Em suma, as redes estão todas interligadas, o que proporciona ao leitor
literário espaços virtuais diversos nos quais ele pode escolher o modo como
interage e transmite suas experiências literárias. O leitor poderá ainda optar
pela criação de conteúdos textuais, imagéticos e audiovisuais, divulgando sua
produção nas diversas mídias disponíveis na web.
3 METODOLOGIA
É necessário enfatizar que este estudo é oriundo de uma pesquisa
qualitativa em profundidade sobre blogueiros literários e suas práticas
informacionais de compartilhamento de leituras na web. Tal estudo foi
embasado no método da netnografia (KOZINETS, 2002), que permitiu uma
imersão na blogosfera literária. Adotaram-se como técnicas de coletas de
dados a análise documental dos blogs e a entrevista semiestruturada com as
blogueiras.
�137
O método netnográfico pressupõe a técnica da observação como forma
de compreensão e análise dos fenômenos. No caso da blogosfera, a
observação baseia-se principalmente na observação do discurso textual,
objetivando compreender as relações sociais dos grupos e a profundidade de
suas comunicações virtuais (KOZINETS, 2002). Dessa forma, a observação
netnográfica
nessa
pesquisa
foi
embasada
nos
preceitos
da
análise
documental.Com base nesses pressupostos, a primeira etapa da coleta de
dados consistiu em uma imersão na blogosfera literária. A partir dela, foi
possível conhecer os blogs e os blogueiros, realizando a leitura de postagens e
comentários. Ao analisar o conteúdo textual, imagético e hipertextual presente
nos blogs, buscou-se compreender como se configura o perfil de cada blog e
que tipo de informação é veiculada pelo blogueiro.
Como
complementação
da
análise
documental,
foram
aplicadas
entrevistas semiestruturadas. A técnica da entrevista semiestruturada tem
como vantagem a elasticidade quanto à duração, permitindo uma flexibilidade
para abordar profundamente determinados assuntos. Além disso, esse tipo de
entrevista
possibilita
uma
maior
interação
entre
o
entrevistador
e
o
entrevistado, dando abertura para abordar assuntos mais complexos e
delicados. “As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade
que estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador que
poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa” (BONI; QUARESMA, 2005,
p. 75).
Dessa forma, a segunda etapa da coleta de dados consistiu na realização
das entrevistas semiestruturadas com oito blogueiras responsáveis pelos
blogsselecionados para a pesquisa, buscando entender as práticas do sujeito
informacional do seu ponto de vista. Por meio de tais entrevistas, pretendeu-se
apreender as falas dos sujeitos no que se refere às interações entre os
blogueiros.
Por se tratar de uma pesquisa muito ampla, optamos por restringir este
capítulo aos dados obtidos no segundo bloco do roteiro da entrevista
semiestruturada. Tal bloco foi intitulado “O blogueiro e a interatividade”, cujo
intuito foi de coletar dados referentes às práticas informacionais dos
�138
blogueiros, verificando como o blogueiro, considerado sujeito informacional,
atua na blogosfera literária, objetivando identificar como ocorre a interação
entre os blogueiros e a formação de círculos sociais na web.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisar os blogsliterários, foi possível compreender a forte relação
das blogueiras com as demais redes sociais, sendo elas: Facebook, Instagram,
Twitter e Youtube. A presença das blogueiras nessas redes pode ser
constatada conforme dados registrados no Quadro 1.
Paradise
Books
Livros e
Sushi
Menina
Compassiva
Cultura
Pocket
DNA Literário
Marshmallow
com Café
Características
Minha
Estante e
Muito Mais
Blogs
Entrando
Numa Fria
Quadro 1 - Redes sociais utilizadas pelas blogueiras no compartilhamento de leituras
Possui Facebook
X
X
X
X
X
X
X
X
Possui Instagram
X
X
X
X
X
X
X
X
Possui Twitter
X
X
X
X
X
X
Possui canal no
YouTube
X
X
X
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
A relação dos blogs com as redes sociais apresenta-se intensa, uma vez
que todos os blogs possuem, no mínimo, dois perfis em redes sociais, e três
blogs estão presentes em quatro redes sociais.
Durante as entrevistas, ao mencionarem o número de seguidores que
possuem no blog, as blogueiras citaram também o número de seguidores que
o blog possui nas redes sociais, demonstrando a forte relação dos blogscom
essas mídias. A análise documental também constatou os elevados números de
seguidores nas diversas redes, conforme apresentado no Quadro 2.
�139
Quadro 2 – Número de seguidores nas redes sociais
Nº de
Nº de
Nº de
Nº de
Blogs
seguidores seguidores seguidores seguidores
no
no
no
no
blog
Instagram
Facebook
Twitter
Entrando Numa Fria
NI
9.267
10.517
5.281
Minha Estante e Muito
32
809
410
NP
Mais
Marshmallow com Café
51
3.082
122
NP
DNA Literário
NI
1.777
1.322
106
Cultura Pocket
314
659
426
NP
Menina Compassiva
102
580
449
28
Livros e Sushi
3.881
7.774
2.922
767
Paradise Books
NI
8.612
7.175
2.223
Legenda: NI = Não Informado; NP = Não possui
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Conforme
os
dados
apresentados,
observa-se
que
o
Nº de
seguidores
no
YouTube
202
NP
NP
340
NP
NP
NP
949
número
de
seguidores dos blogs é bem menor em comparação com o número de
seguidores nas redes sociais. Três blogueiras não souberam informar o número
de seguidores dos blogs, afirmando que retiraram o contador de seguidores da
página.
O Instagram apresenta-se como a rede social com o maior número de
seguidores, com exceção de Entrando Numa Fria, que apresenta maior número
de seguidores no Facebook. Percebe-se que mesmo os blogs pequenos
possuem maior representatividade no Instagram, como é o caso de Minha
Estante e Muito Mais, que no blog possui apenas 32 seguidores e no Instagram
possui 809. O número de seguidores no Facebook também é relevante, apesar
de, na maioria dos casos, ser menor que o número de seguidores do
Instagram. O Twitter apresenta grande número de seguidores somente para
Entrando Numa Fria e Paradise Books. Quanto ao YouTube, apenas três
blogspossuem um canal literário (booktube). Os canais de DNA Literário e
Paradise
Books
são
constituídos
de
vídeos
produzidos
pelas
próprias
blogueiras. Já o canal Entrando Numa Fria possui vídeos autorais, mas também
publica vídeos não autorais como trailers de filmes. Entretanto, os canais
Entrando Numa Fria e Paradise Books foram descontinuados, com as últimas
postagens feitas, respectivamente, em 2016 e em 2017.
�140
Após realizar a análise documental dos blogs e as entrevistas com as
respectivas
blogueiras,
constatou-se
uma
forte
presença
do
fenômeno
transmídia na blogosfera literária. Atualmente, os blogs literários não atuam
somente na própria plataforma do blog, estendendo-se para diversas redes
sociais.
Para detalhar o fenômeno transmídia existente nos blogs literários
analisados,
apresentam-se
as
principais
redes
sociais
utilizadas
pelas
blogueiras: Instagram, Facebook, Twitter e YouTube.
O Instagram é a rede social mais comentada e utilizada pelas blogueiras.
Em vários momentos no decorrer da entrevista, o Instagram foi evidenciado
como uma plataforma que complementa o blog. Conforme Arnault et al.
(2011), é essencial o conhecimento das plataformas de mídia, sabendo-se
utilizar o melhor de cada uma de modo que elas se complementem. No caso
das entrevistadas, o uso das duas plataformas se torna complementar na
medida em que o blog é o espaço preferencial para a postagem das resenhas
de forma integral, para personalização da identidade da blogueira e marca do
seu lugar no ciberespaço; e o Instagram torna-se apoio do blog na divulgação
das resenhas e na postagem de fotografias atrativas dos livros.
Uma publicação no Instagram é vista como uma estratégia de atrair os
leitores para o blog. A postagem de uma fotografia do livro e uma parte da
resenha podem encaminhar o leitor para ler a resenha completa no blog. Essa
rede social é voltada para a publicação de fotos e vídeos, apresentando pouco
espaço para a produção textual. Dessa forma, as blogueiras usam os recursos
do Instagram, publicando o link para a postagem completa no blog.
Há diferença na forma com que a informação é apresentada ao leitor no
blog e no Instagram. Para acessar as informações disponíveis no blog, o leitor
tem que fazer uma busca ativa, efetivamente entrar no bloge navegar pela
página. Por meio do Instagram, o usuário já se encontra na rede social e, por
seguir o perfil do blog, depara-se com a informação no seu feed de notícias.
Existe uma tendência na blogosfera de migração dos blogueiros para o
Instagram,
de
modo
que
os
blogs
literários
sejam
desativados,
mas
continuarão como perfis literários nessa rede social. Além da fácil visibilidade
�141
do conteúdo que o Instagram proporciona, a rede torna-se atrativa também
pelo fator estético, uma vez que a publicação de fotografias de livros chama a
atenção dos usuários. Outro atrativo para os seguidores é a postagem de
textos sucintos devido ao limite de palavras, o que é um ponto a favor
daqueles
que
não
gostam
de
resenhas
muito
longas.
Apesar
dessas
possibilidades, nenhuma das blogueiras entrevistadas manifestou intenção de
desativar o bloge prosseguir somente com o perfil do Instagram.
Uma das blogueiras mostrou-se especialmente interessada em realizar a
migração do blog para o Instagram. Apesar de gostar mais de utilizar o
Instagram para publicar fotos e resenhas dos livros, ela considera importante
manter o blog. De acordo com a blogueira, o blog não pode ser abandonado
por dois motivos: a parceria que firmou com as e a marca de blogueira, ou
seja, essa marca, segundo a entrevistada, estabelece um sentimento de
identidade decorrente da sua atuação junto ao blog.
O intenso uso do Instagram por parte das blogueiras literárias é
decorrente do aumento do impacto dessa rede social na atualidade. Como o
Instagram é uma rede social cuja quantidade de usuários tem crescido, é
natural que as blogueiras também sintam a necessidade de inserir-se com
maior dedicação nessa rede, que mostra-se muito atrativa para divulgações
relacionadas ao universo literário.
O Facebook, por sua vez, é uma rede social na qual todos os
blogsinvestigados possuem um perfil. Contudo, atualmente ele não está sendo
considerado pelas blogueiras como uma rede muito acessada. Elas relatam a
diminuição do uso do perfil do Facebook dos blogs e também a pouca utilização
da rede social por parte dos leitores, fazendo uma comparação com o uso do
Instagram.
A queda no uso do perfil do Facebook dos blogspode estar vinculada a
ascensão
do
Instagram
atualidade.Entretanto,
como
foram
a
rede
relatadas
social
algumas
que
está
facilidades
em
no
voga
na
uso
do
Facebook. A postagem feita no blog pode ser automaticamente enviada para o
Facebook, já no Instagram é necessário gerar uma postagem diferente. Além
disso, o Facebook foi valorizado pela facilidade de interação com as pessoas,
�142
que podem iniciar uma conversa com a blogueira por meio dos comentários,
além de possibilitar o contato com os leitores que não acessam o blog
frequentemente, avisando-os sobre novas postagens e convidando-os para
visitar a página do blog.
No âmbito deste estudo, o Twitter obteve um baixo uso, conforme
informado pelas blogueiras, apesarde a maioria possuir uma conta do seu
respectivo blog. Apenas os blogsMinha Estante e Muito Mais e Cultura Pocket
não possuem perfil no Twitter. Algumas blogueiras relatam dificuldade no uso
da rede social.
É perceptível, no discurso de algumas blogueiras, o pouco uso do Twitter
e até mesmo a sua negligência se comparado a outras redes sociais. A
restrição do uso do Twitter por parte das blogueiras pode ser decorrente da
dificuldade apresentada no uso da rede social ou pelo desconhecimento de
suas potencialidades na disseminação da informação.Todavia, houve casos de
uso frequente do Twitter. O ato de tuitar27 o link da postagem feita no blog é
considerado como uma forma de divulgação, que possibilita o aumento do
número de visualizações do post.
Trêsblogs possuem canal do YouTube, entretanto apenas o canal do DNA
Literário é ativo na publicação de vídeos. A blogueira administradora relata
pensar em impulsionar o canal no YouTube, afirmando que continuará a gravar
os vídeos mesmo que o canal tenha poucos seguidores.
Já os canais dosblogs Entrando Numa Fria e Paradise Books foram
descontinuados. No primeiro caso, a senha da conta no YouTube foi perdida e
a blogueira afirma ter dificuldades na edição dos vídeos e na manutenção de
tantas mídias diferentes vinculadas ao blog. No segundo caso, a blogueira
considera que os canais literários no YouTube foram uma tendência há algum
tempo e que atualmente o Instagram é o grande destaque no meio literário.
As facilidades da plataforma YouTube também apareceram nas falas das
blogueiras. A gravação de uma resenha em vídeo é considerada bem mais
rápida do que a produção de uma resenha em texto. Além disso, no YouTube,
27
Publicar numa conta da rede social Twitter. Disponível em: https://dicionario.priberam.org.
/tuitar. Acesso em: 5 out. 2018.
�143
o seguidor não precisa realizar o esforço de ler a postagem, recebendo a
informação de forma passiva ao assistir o vídeo.
Uma das blogueiras conta que é espectadora de vários canais literários
no YouTube, ressaltando que uma das facilidades dos vídeos é poder ouvi-los
enquanto faz outras atividades, o que o blog não permite, uma vez que o leitor
deve dedicar-se exclusivamente à leitura.
Algumas blogueiras receberam sugestões de amigos para tornarem-se
booktubers; no entanto, essa não foi considerada uma opção interessante para
as entrevistadas. Uma das blogueiras considera que o trabalho para criar um
canal no YouTube não compensaria a ausência de retorno financeiro. Já outra
blogueira afirma que não se sentiria confortável em frente às câmeras, devido
à exposição. Ela ainda ressalta que o YouTube traz maior visibilidade e aceso,
mas considera mais fácil escrever e possui o blog porque gosta.
Apesar dos benefícios que os canais literários proporcionam, como a
visibilidade, a rápida produção das resenhas e o aumento do número de
seguidores, em geral as blogueiras mostram-se desmotivadas em produzir
conteúdo para o YouTube. Com exceção da blogueira do DNA Literário, que
mantém seu canal ativo, as demais entrevistadas não se mostraram
interessadas em atuarem como booktubers sendo os motivos citados:a
dificuldade de edição, a administração de várias mídias, a ascendência do
Instagram no meio literário, ausência de retorno financeiro e a exposição
pessoal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar o fenômeno transmídia,observa-se o uso das redes sociais
(Instagram, Facebook, Twitter e YouTube) como plataformas vinculadas ao
blog, destacando o Instagram como a mídia mais atrativa na visão das
blogueiras.
Conforme Arnault et al. (2011), é essencial o conhecimento das
plataformas de mídia, sabendo-se utilizar o melhor de cada uma de modo que
�144
elas se complementem. No caso das entrevistadas, o uso das plataformas se
torna complementar na medida em que o blog é o espaço preferencial para a
postagem das resenhas de forma integral, para personalização da identidade
da blogueira e marca do seu lugar no ciberespaço; já o Instagram torna-se
apoio do blog na divulgação das resenhas e na postagem de fotografias
atrativas dos livros.
Pelos resultados da pesquisa, revela-se que o Facebook não está sendo
considerado pelas blogueiras como uma rede muito acessada, entretanto,
foram relatadas algumas facilidades no uso da rede social, como o envio
automático da postagem feita no blog e a facilidade de interação com as
pessoas. Constatou-se uso reduzido do Twitter, apesar de a maioria possuir
uma conta do respectivo blog. Algumas entrevistadas relatam dificuldade no
uso
da
rede
social,
havendo
poucos
casos
de
blogueiras
que
usam
constantemente o Twitter. Com exceção da blogueira do DNA Literário, as
participantes mostram-se desmotivadas a produzir conteúdo para o YouTube,
apesar de apontarem a facilidade de produção de conteúdo nessa plataforma.
Conclui-se que é perceptível a presença das blogueiras na webpor meio
da articulação dos blogs com as redes sociais, administrando vários canais de
comunicação virtual tendo como objetivo o compartilhamento de experiências
de leitura. Tal articulação ocorre com o uso de cada rede social conforme
avaliação dos seus aspectos positivos, sempre em relação ao benefício que
pode trazer como uma plataforma complementar de divulgação, um apêndice
do blog.
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�146
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rumo aos desafios. Educação Temática Digital, Campinas, v. 13, n.1, p.2743, jul./dez. 2011. Disponível
em:https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/1164.
Acesso em: 12 set. 2019.
DADOS BIOGRÁFICOS
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e Mestra em Ciência da Informação pela mesma
instituição (2018). Possui graduação em Biblioteconomia
pela UFMG (2016). Atua como Bibliotecária na Biblioteca
Pública Municipal Professor Francisco Tibúrcio de Oliveira,
vinculada à Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura
Municipal de Santa Luzia (MG). Tem interesse nas áreas de
práticas informacionais e estudos de usuários da
informação, com enfoque na apropriação da leitura literária
e compartilhamento de leituras.
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
Carlos Alberto Ávila Araújo: Professor associado da
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal
de Minas Gerais. Graduado em Jornalismo (1996), mestre
em Comunicação Social (2000) e doutor em Ciência da
Informação (2005) pela UFMG. Pós-doutor pela Faculdade
de Letras da Universidade do Porto (2011). Atua nas áreas
de Epistemologia da Ciência da Informação, Estudos de
Usuários da Informação, Práticas Informacionais.
E-mail: casalavila@yahoo.com.br
�147
CAPÍTULO VIII - A prática de leitura mediada pelas redes
sociais: um relato de caso
Suellen Souza Gonçalves
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a sociedade é dominada pelas redes sociais, as quais
trouxeram privilégios para vários ramos do corpo social, um dele foi à prática
da leitura, pois as tecnologias e as mídias sociais geram inúmeros benefícios,
viabilizam ao leitor expor e compartilhar suas opiniões sobre determinada
literatura.
Para Brandão (1997), o ato de ler é algo extenso e complexo, que
envolve a compreensão. Para que exista a leitura, é preciso que haja uma
interação entre o leitor, autor e o texto.Ler, no sentido profundo do termo, é o
resultado da tensão entre leitor e texto, um esforço de comunicação entre o
escritor, que escreveu e teve impresso seu pensamento, e o leitor que se
interessou e leu o texto (SANDRONI; MACHADO, 1998, p. 10).
Para que o ato de ler torne-se algo significativo para o leitor, ao
ponto de estimular esse hábito, a leitura deve ser atraente, pertinente a sua
realidade. A relação entre o texto e os fatos do cotidiano do legente facilita sua
interpretação, assim como o motiva a compartilhar com o outro seu
entendimento e sua perspectiva sobre a publicação.
É por meio da leitura que o ser humano começa a ter acesso à
informação, cria seu senso crítico, seu ponto de vista e divide com o outro.
Com as redes sociais esse compartilhamento ficou mais fácil e rápido.
O artigo presente tem por objetivo discutir e promover o uso das
redes sociais na mediação da prática de leitura. Com exposição de uma breve
fundamentação teórica, um relato de experiência, participação e mediação de
leitura coletiva, no projeto “clube de leitura: incentivo à leitura e à literatura”,
implantado pelo Instituto Federal do Amapá, campus Porto Grande, com
�148
intermediação das mídias sociais. Além de demonstrar as contribuições dos
grupos virtuais de socialização para o profissional da informação.
2 LEITURA, TECNOLOGIA E REDES SOCIAIS
Nos dias atuais, a leitura, a tecnologia e as redes sociais são uma tríade,
no qual os autores e suas obras literárias ganharam um impulso enorme com a
possibilidade da divulgação em tempo real, ou seja, o compartilhamento das
opiniões do leitor é imediata, assim como sua ânsia para discutir com terceiros
a leitura. Esse desejo de expor suas opiniões, suas críticas, abre a mente para
um universo que está além das páginas do livro.
A tecnologia possibilitou essa oportunidade desde a criação de novos
modos de compartilhamento na comunicação, como novas maneiras de obter o
acesso à informação, às obras de forma rápido, em segundos, em vários
formatos, e principalmente os meios de compartilhamento de voz, através das
redes sociais.
As mídias sociais possibilitam uma interação concomitantemente,facilita
a liberdade de expressão, que cada ser humano tem por direito, ao expressar
seu conhecimento e sua opinião acerca da obra, conforme ilustração:
Compartilhar as obras com outras pessoas é importante porque torna
possível beneficiar-se da competência dos outros para construir sentido
e obter o prazer de entender mais e melhor os livros. Também porque
permite experimentar a literatura em sua dimensão socializadora,
fazendo com que a pessoa se sinta parte de uma comunidade de leitores
com referências e cumplicidades mútuas (COLOMER, 2007, p. 143).
A breve explicação sobre a união de leitura, tecnologia e redes sociais
funciona e possibilita a disseminação do exercício. Nos tópicos a seguir, será
apresentada a definição de cada uma delas e suas contribuições práticas.
2.1 LEITURA
A leitura é o primeiro elo entre tecnologia e as redes sociais, porque vem
desde os primórdios na história da evolução humana, a partir do momento no
�149
qual se tem as interpretações dos símbolos criados pelos primeiros seres
humanos, temos a criação do ler, o interpretar e traduzir o que se observa.
A leitura nos permite ter acesso a maior parte dos conhecimentos
acumulados
pela
desenvolvemos
humanidade,
a
compreensão,
ampliamos
a
nossa
comunicação
e
visão
de
o
senso
mundo,
crítico
(FOUCAMBERT, 1997). É por meio da leitura que nossos horizontes são
expandidos, pois ela trabalha não somente com o nosso processo de absorção
do texto, mas nossa criatividade, imaginação, pois exige imaginar a cena que o
autor está nos relatando e interpretar ao mesmo tempo, para então criarmos
nossa opinião acerca do exposto. Segundo Cosson (2006, p. 27),
a leitura no sentido de que lemos apenas com os nossos olhos, a leitura
é de fato, um ato solitário, mas a interpretação é um ato solidário. Ler
implica troca de sentidos não só entre escritor e leitor, mas também
com a sociedade onde ambos estão localizados, pois os sentidos são
resultado de compartilhamentos de visões de mundo entre os homens
no tempo e no espaço.
No primeiro momento ler é um ato solitário, porque inicialmente lemos
sozinho, para que possamos formular uma opinião e depois dividir com o
outro. Como mencionado, a leitura atualmente clama por ser compartilhada,
não precisa ser acadêmica para partilhar ideais científicas, precisa apenas
tocar o leitor causando vontade de propagar a obra lida, sua opinião e o efeito
causador ao lê. Conforme Demo (2006, p. 27),
a leitura bem-feita é formativa, no sentido de que reestrutura ideias e
expectativas, reformula horizontes. Nem toda leitura precisa ser assim
tão séria, mas toda leitura bem-feita ocorre sob o signo do
questionamento, porque, quem não sabe pensar, acredita no que pensa.
Mas, quem sabe pensar, questiona o que pensa.
Questionar o que se lê é o fator gerador para compartilhar uma obra, o
que pensamos dela e o que o autor apresenta, nada mais é do que realizar
todas as leituras que nos cercam, tanto textual quanto visual, e essa prática
consiste no processo de interpretação desenvolvido por um sujeito-leitor que,
defrontando-se com um texto, analisa, questiona com o objetivo de processar
seu significado projetando sobre ele sua visão de mundo para estabelecer uma
interação crítica com o texto (INDURSKY; ZINN, 1985, p. 56).
�150
As tecnologias proporcionaram dividir a leitura com terceiros e até
mesmo com o próprio autor da obra, mediante a criação dos computadores,
celulares e principalmente da internet, e a partir dela, das redes sociais como
Facebook, Instagram, blog, Twitter, WhatsApp etc., na qual a opinião ficou a
um passo de um simples clicar de enviar.
2.2 TECNOLOGIA E REDES SOCIAIS
Segundo
Lévy
(1999),
os
tempos
que
vivenciamos
podem
ser
denominados de sociedade em rede, onde as pessoas interagem através de
uma realidade virtual, criada a partir de uma cultura da informática em que as
pessoas experienciam novas relações espaço-tempo.
Nota-se que a tecnologia atualmente está presente em nosso dia a dia,
desde o momento que você acorda ao deitar-se, ela realiza uma interação na
sociedade, que nem um outro acontecimento foi capaz. O surgimento da
internet conecta todas as pessoas via web e propicia à comunicação em tempo
real. O cotidiano mudou e sofreu uma crescente dependência tecnológica, hoje
os computadores, celulares, tablet, entre outros equipamentos tornaram uma
extensão da mão do ser humano, na qual a necessidade de estar conectado é
a principal preocupação.
O ser humano conectado compartilha e troca opiniões por meio da
transmissão de textos, imagens, entre outros, e essa intercomunicação é
disponibilizada pelas tecnologias, foram elas que expandiram a comunicação
de pessoas em pontos extremos. Lévy (1999, p.81) diz que:
a comunicação por mundos virtuais é, portanto, em certo sentido, mais
interativa que a comunicação telefônica, uma vez que implica, na
mensagem tanto a imagem de pessoa como a da situação, que são
quase sempre aquilo que está em jogo na comunicação.
Ao incluirmos as tecnologias de informação, na prática de leitura,
incentivamos ao mesmo tempo que disseminamos o hábito de ler, as mídias
ligadas às comunicações enriquecem e alcançam o máximo de leitores
�151
possíveis. As redes sociais aproximam as pessoas, ou seja, unem indivíduos
com interesses em comuns, com o desejo de interação.
Recuero (2009) afirma que as redes sociais complexas sempre existiram,
mas os desenvolvimentos tecnológicos recentes permitiram uma forma de
organização social e assim como uma rede de computadores conecta
máquinas, uma rede social conecta pessoas. A prática de leitura mediada pelas
redes sociais permite que as pessoas se expressem mais, mesmo as que têm
dificuldades em falar em público acabam expondo sua opinião, uma vez que a
exposição é virtual e não estão com suas faces exibidas, ficando confortáveis
para apresentar seus pontos de vista.
As redes sociais têm como objetivo, então, provocar uma motivação
comum, podendo operar em diferentes níveis e interesses. As mais populares
são as redes de relacionamento, como Facebook, Instagram, Twitter e
WhatsApp, por terem fácil manuseio e maior acessibilidade (CASTELLS, 2003,
p.170).
As mídias sociais são dinâmicas, por isso possibilitam a interação entre
os internautas. A prática de leitura é beneficiada, porque alcança o leitor, os
meios de debates sobre a leitura e até mesmo o formato de leitura. Eco (2010,
p. 65) afirma que, com o advento da Internet, passamos a ler mais nos
suportes eletrônicos e mesmo com o advento das tecnologias digitais, o
impresso (exemplo o livro) continuará sendo a forma mais flexível de leitura.
A prática da leitura acaba gerando um clube ou comunidade que socializa
suas opiniões com o outro, através das redes sociais as pessoas constroem
laços eletivos, que não são os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar,
que coincidem fisicamente, mas pessoas que se buscam, principalmente nas
comunidades criadas pelas redes sociais, onde o importante é encontrar
pessoas que tem gostos afins para que se possa trocar opiniões (CASTELLS
apud MORAES, 2005, p. 274).
�152
3 RELATO DE EXPERIÊNCIA COMO MEDIADORA
Ser leitora e bibliotecária é algo que causa uma constante ansiedade.
Como leitora você quer sempre compartilhar suas leituras e principalmente as
que provocam um sentimento especial. Na posição de bibliotecária a vontade
latente é de disseminar e incentivar a leitura, porque acredita na sua
importância, no desenvolvimento do ser humano. Sabe que a leitura é
transformadora e contribui também para a criação do senso crítico do
indivíduo.
A partir da observação dos alunos no IFAP-Campus Porto Grande, foi
perceptível que alguns gostavam de ler, mas não tinham a oportunidade de
expor sua opinião sobre os livros lidos, um grande percentual de alunos não
tinham o hábito da leitura, por isso o prejuízo no ensino básico dos mesmos.
Entendemos que a maioria das disciplinas precisa que os alunos desenvolvam
o senso crítico para compreender o que está sendo repassado. Os alunos não
tinham habilidades para realizar as interpretações necessárias dos textos
recebidos. Além disso, muitas informações passadas via editais e avisos em
murais eram mal interpretadas, em razão de muitos não conseguirem realizar
uma decodificação básica dos textos existentes nos documentos. Como boa
parte não tem o hábito de ler, isso acaba provocando repasse de informações
incorretas. Outro fator preocupante verificado foi a preguiça, ou seja, a
aversão à leitura; as queixas constantes dos alunos são sobre o tamanho do
texto ou conter muitas palavras que desconhecem. Muitos não conseguiam ler
de forma hábil, o que dificultava sua interpretação e produção escrita.
A bibliotecária do campus encontrou, no projeto clube de leitura, a
oportunidade de criar o hábito de ler e tirar a ideia de que é algo chato e
complicado. Além de ser motivada a alterar o cenário descrito a seguir:
A baixa competência de leitura não apenas influi negativamente no
desenvolvimento pessoal e profissional dos cidadãos e também contribui
decisivamente para ampliar o gigantesco fosso social existente em
países como o Brasil, promovendo mais exclusão social e menos
cidadania. Em geral, pessoas que sequer conseguem dominar
plenamente as habilidades da leitura e da escrita, com dificuldades de
acesso às informações e também para compreendê-las e interpretá-las,
�153
muito provavelmente também não terão como fazer valer seus mais
elementares direitos de cidadão (PASCHOALIN; AMORIM, 2015).
Por isso, é necessário incentivar a leitura; a falta desse hábito causa
grande prejuízo na vida acadêmica dos alunos, assim como na vida pessoal.
O projeto intitulado “clube de leitura: incentiva à leitura e à literatura” foi
submetido à Direção de Pesquisa e Extensão, do IFAP-Campus Porto Grande,
sendo aprovado, suas atividades poderiam ser iniciadas. O programa tinha
como objetivo macro desenvolver o hábito de ler nos alunos, condição
fundamental para gerar capacidade de fazer julgamentos, como objetivos
específicos o intuito era capacitar a análise crítica por meio das obras literárias
obrigatórias para o Enem; favorecer a imersão dos participantes no processo
de sensibilização e valor do letramento; construir conhecimento acerca da
literatura brasileira e promover o costume de utilizar os livros como recreação
e/ou busca de informação.
O projeto tinha como atividade central as rodas de leitura, que foram
desenvolvidas com os alunos das modalidades de ensino do integrado, do
subsequente e PROEJA, no qual se reuniam para ler e comentar as obras
escolhidas no mês, cada um com seus apontamentos específicos a respeito de
seus entendimentos sobre o tema. Todo o exercício estava sob a coordenação
das mediadoras, a bibliotecária e uma professora de língua portuguesa.
Nos momentos sem reuniões presencias, as mediações eram realizadas
via grupo de WhatsApp criado para facilitar a prática proposta, ferramenta que
proporcionou mais liberdade de interação aos participantes, o que favoreceu a
exposição de suas ideias e opiniões sem constrangimentos, assim como foi
instrumento de divulgação das leituras e encontros.
3.1 ETAPAS REALIZADAS
Na primeira etapa teve a reunião com os coordenadores do projeto para
a escolha dos livros, considerando as temáticas a serem abordadas de acordo
com a necessidade decorrente de eventos ocorridos na sociedade e no campus.
�154
Foi definido, em reunião com os coordenadores do projeto, dois
encontros mensais, aos quais seriam intercaladas as obras envolvidas no
projeto. O intuito era vislumbrar a melhor maneira de incentivar a leitura e o
engajamento da turma, no cotidiano escolar, além de realizar a divulgação
para a inscrição no grupo de leitura, uma vez que os participantes eram
fundamentais na escolha final dos textos que integrariam o clube de leitura,
cumprindo o exercício da democracia em que o projeto acredita.
As escolhas dos livros foram realizadas por votação dos participantes do
clube, após os mediadores elencaram as indicações das obras pertinentes ao
programa. A escolha da primeira leitura da turma foi mediada inicialmente via
WhatsApp.
As sugestões ao projeto foram gibis, HQ's, clássicos da literatura
brasileira, contos, poesias, obras internacionais etc., pois a variação do gênero
proporciona mecanismos para incentivo e favorecimento no processo de
construção do hábito e gosto pela leitura.
Acreditamos quando Freire (1993) no livro, A importância do ato de ler,
ressalta o valor da prática e faz uma avaliação pessoal sobre a sua impressão
de mundo. Relembrando os momentos da infância, o primeiro contato com a
leitura através do ambiente em que vivia e experiências do dia a dia.
Correlacionar os aspectos da leitura com a realidade vivenciada traz um valor
agregado, pois cada indivíduo desenvolve seu entendimento de mundo por
influências de suas crenças, criação, cultura e referências pessoais, pois cada
um de nós enxerga a leitura de acordo com nossa realidade e percepção.
Na segunda etapa, após as escolhas dos livros, estipulou-se um período
para todos terminarem suas leituras, no decorrer desse tempo, as dúvidas
eram sanadas via WhatsApp, com a mediadora e professora de língua
portuguesa, antes do encontro para a roda de conversa,na qual cada um
fariam suas considerações e obteriam uma breve explicação do gênero de
leitura
escolhido.
Essa
dinâmica
trabalhou
a
contextualização
e
reconhecimento dos gêneros literários solicitados no Enem.
Foi notório a fluidez com que se desenvolviam as conversas e debates
via WhatsApp. A cada avanço e desenrolar da leitura, os participantes
�155
compartilhavam suas ideias no grupo, sem medo da exposição. A tecnologia
realmente abarcava a todos, uma facilidade maior para as mediadoras
instigarem a continuação e incentivo da leitura, inclusive de outras obras, que
alguns livros trazem como indicação.
3.2 APRENDIZADO E DESAFIOS DA MEDIAÇÃO
O projeto foi um aprendizado para todos, pois aproximou pessoas de
profissões, idade e níveis escolares diferentes. Mesmo com as dificuldades
encontradas a união do grupo foi importante para mantê-los até o final. Um
dos desafios foi a permanência dos 25 alunos inscritos, apenas 19 continuaram
no programa, compreensível, pois no IFAP –Campus Porto Grande, a classe do
integrado tem aula em dois períodos, o que sobrecarrega suas atividades,
sendo difícil conciliar os horários e sobrar tempo para participarem das
reuniões do clube da leitura.
Sem dúvida, a mediação por meio do uso do grupo de WhatsApp
aproximou
presentes
indispensável
para
e
que
ausentes
todos
os
nos
encontros,
envolvidos
cumprindo
pudessem
um
registrar
papel
suas
impressões sobre a leitura, até mesmo abrir novos e importantes pontos de
reflexão.
Um mediador precisa de estudo, preparo e criatividade para encontrar
maneiras de atrair as pessoas para a leitura, tem o desafio de conquistar o
indivíduo e torná-lo um apreciador, com a missão de romper a visão deturpada
que o processo é chato, cansativo e sem graça. É importante que todo(a)
mediador(a) goste de ler, para conduzir pessoas ao mundo do conhecimento e
entretenimento, ser inspiração através do exemplo e usar a experiência para
sensibilizar os participantes do projeto na ideia do benefício que o hábito da
leitura traz para a vida pessoal e acadêmica.
A mediação traz também à necessidade de estar capacitado a realizar
resumos e emergir fatos atrativos sobre as obras, deve estar disponível para
tirar dúvidas frequentes, assim como de vocabulários desconhecidos pelos
�156
leitores, auxiliá-los e ficar atento às suas necessidades, portanto, é manter-se
em aprendizado constante. Bem como exercer uma certa habilidade de buscar
e disseminar literaturas. Mais uma vez constatou-se que o grupo no WhatsApp
simplificou muito a tarefa, possibilitando tirar dúvidas imediatas dos leitores e
divulgar a leitura de maneira mais atraente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura é um elemento essencial na vida do indivíduo, contribui para o
desenvolvimento intelectual, por seu intermédio, obtém-se conhecimento, algo
que não nos é tirado, além de aumentar o senso crítico e o léxico. Ler expande
a mente para novas ideias, mundos e experiências.
São essas experiências de leitura capazes de gerar um sentimento novo,
que impulsiona a compartilhar com os outros, a convidar pessoas a
conhecerem as literaturas. Essa troca de percepções entre os leitores torna a
experiência de mediar enriquecedora, pois cada um traz uma perspectiva, um
ponto de vista singular do que leu, posto que cada experimentação é
diversificada.
A troca de convicções é reavaliada uma a uma, negociada e intermediada
pelas redes sociais, instrumento facilitador no compartilhamento das opiniões,
objeto de liberdade de expressão, local para tirar dúvidas, de forma remota,
sem a necessidade de presença física.
Uma das maiores dificuldades foi conciliar horário e/ou datas compatíveis
para todos os alunos envolvidos participarem do encontro e roda de conversa
sobre os livros. As aulas eram ministradas em horário diurno, dificultava juntar
com os alunos noturnos.
Com o grupo de WhatsApp, sanamos muitos desafios, tempo, espaço,
evitamos inibições, fomentamos a troca de pensamentos, facilitamos a
mediação dos participantes do clube, além de ser estimulante de leitura. Hoje,
a facilidade de adquirir um celular, que suporte o aplicativo em questão, é
grande e torna tudo muito mais acessível, uma vez que a leitura pode ser feita
�157
por meio da tela, com possibilidade de marcação textual e dividir o que
despertou interesse do leitor de maneira instantânea.
Dado o exposto, corroboramos a importância desse projeto dentro das
escolas, como é essencial que se inicie o incentivo à leitura, uma maneira de
mostrar aos alunos como ela colabora para a vida das pessoas, além de
desenvolver suas habilidades cognitivas, usufruir das tecnologias das redes
sociais nos envolve socialmente. Compreendemos que é possível alcançar um
número maior de leitores e possibilitar a liberdade de expressão, incentivando
a compartilhar suas opiniões com os outros, disseminando conhecimento,
diversão e produzindo conteúdo de qualidade nas mídias sociais.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Helena. Aprender a ensinar com textos didáticos e
paradidáticos. São Paulo: Cortez, 1997.
CASTELLS, M. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios
e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CASTELLS, M. A internet e a sociedade em rede. In: MORAES, Denis de (Org.).
Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2005.
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São
Paulo: Global, 2007.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto,
2006.
DEMO, Pedro. Leitores para sempre. Porto Alegre: Mediação, 2006.
ECO, Umberto; CARRIÈRE, Jean-Claude. Não contem com o fim do livro.
Rio de Janeiro: Record, 2010.
FOUCAMBERT, Jean. A criança, o professor e a leitura. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997. Disponível em:
http://lecture.org/ressources/portugais/a_crianca.pdf. Acesso em: 18 set.
2019.
FREIRE, Paulo. A Importância do ato de ler. 29 ed. São Paulo: Cortez,
1993.
�158
INDURSKY, Freda; ZINN, Maria Alice Kaner. Leitura Como Suporte Para a
Produção Textual. Revistas Leitura Teoria e Prática, n. 5, 1985.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 1999.
PASCHOALIN, Luciana; AMORIM, Galeno. Clube de leitura palavra mágica.
2017. Disponível em: http://alb.org.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem11/COLE_4210.pdf.
Acesso em: 18 set. 2019.
RECUERO, R. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
SANDRONI, Laura; MACHADO, Luís Raul. A Criança e o livro: guia prático de
estímulo à leitura. São Paulo: Ática, 1998.
DADOS BIOGRÁFICOS
Suellen
Souza
Gonçalves:
Graduada
em
Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará.
Especialista em Gestão e Governança em Tecnologia da
Informação. Bibliotecária do Instituto Federal do Pará,
Campus Parauapebas. Atuante na prestação de serviços
de orientação e normalização.
E-mail: suelllengoncalves@hotmail.com
�159
CAPÍTULO IX - O protagonismo dos leitores comuns na
blogosfera literária
Jéssica Patrícia Silva de Sá
1 INTRODUÇÃO
A World Wide Web, doravante designada como web, é uma plataforma
de interface hipertextual que agrupa várias ferramentas e recursos que
possibilitam a divulgação e o compartilhamento de informações. Dentre esses
recursos estão os blogs, espaços de trocas de informações, que promovem o
surgimento de novas ideias e reflexões, propiciando a interação e comunicação
entre as pessoas no ambiente virtual (ALCARÁ; CURTY, 2008).
Os blogs são páginas da web com características específicas, cujo
surgimento e popularização datam do final da década de 1990. O fenômeno
dos blogs é relativamente recente, permitindo que uma pessoa, grupo ou
instituição possa se tornar um autor/editor de sua própria página, expressando
suas opiniões e divulgando informações no espaço público da internet. A
enorme difusão dos blogs aconteceu em poucos anos, tendo esse se tornado
um novo modelo de comunicação, permitindo a publicação de textos com
bastante autonomia e possibilitando a interação dos leitores (EIRAS, 2007). À
época do grande aumento do número de blogs, Loyola e Malini (2010)
consideraram a blogosfera, a comunidade formada por blogs e blogueiros,
como uma das maiores manifestações de interação no ciberespaço.
Os blogs tiveram um acelerado crescimento na primeira década dos anos
2000. Entretanto, Biscalchin (2012) afirma que, na década de 2010, a
ausência da divulgação de números sobre o tamanho da blogosfera fez surgir a
especulação sobre a morte dos blogs. Veículos importantes, como o The New
York Times, afirmaram que ferramentas de redes sociais como o Facebook e o
Twitter decretariam a falência dos blogs. Entretanto, existe uma tendência do
uso dessas ferramentas para divulgar, interagir e captar leitores para os blogs.
�160
Outro argumento é de que os espaços dos blogs são para conteúdos maiores
que os poucos caracteres disponíveis no Twitter. Dessa forma, os conteúdos
considerados banais que antes estavam nos blogs, como o que se está fazendo
ou pensando no momento, têm agora lugar nessas redes sociais, deixando os
blogs livres para se tornarem a esfera pública da criatividade e da expressão
(BISCALCHIN, 2012, p. 63).
Entre as diversas tipologias de blog, os blogs literários apresentam-se
como importantes elementos na blogosfera. Araújo e Araújo (2015) fizeram
um levantamento dos blogs literários existentes por meio de uma busca no
diretório de blogs do Google. Os resultados dessa busca são apresentados no
Quadro 1.
Quadro 1 - Levantamento dos blogs literários
Descritor
Resultados
Blogs sobre livros
Aprox. 31.100
Blogs literários
Aprox. 35.900
Blogs sobre leitura
Aprox. 40.900
Fonte: Araújo e Araújo (2015, p. 9).
Embora os blogs literários representem a tipologia mais presente no
diretório do Google, conforme expresso no Quadro 1, a importância dessas
plataformas não advém não advém somente da amplitude quantitativa, mas
dos complexos aspectos comunicativos e informacionais realizados pelos
blogueiros que os constituem. Existe um pressuposto de que a dinâmica de
compartilhamento da informação nos blogs literários apresenta-se mais rica,
uma vez que as postagens implicam em leituras prévias de livros pelos
blogueiros, o que não acontece, por exemplo, em blogs no formato de diários
pessoais. Desse modo, as relações entre o sujeito e a informação apresentamse complexas e permeadas por vários processos como: leitura, apropriação e
interpretação da informação, produção de conteúdo, compartilhamento de
experiências
de
leitura,
navegação
pela
blogosfera
literária,
troca
de
informações e conversas informais com leitores e demais blogueiros.
Épocas diferentes proporcionam formas diferenciadas de leitura e
apropriação
do
texto
literário.
Novos
tempos,
novos
leitores.
Nessa
perspectiva, Silva e Martha (2009) consideram que a literatura se inseriu no
�161
ciberespaço como forma de buscar sua sobrevivência e, principalmente,
conquistar mais leitores.
Assim, observando este novo leitor, a literatura criou diversos espaços
no mundo eletrônico e entre estas diversas formas de veiculação de
textos na internet, o blog é um dos mais procurados e tem interessado
tanto os leitores como os estudiosos (SILVA; MARTHA, 2009, p. 4).
Nesse sentido, apresenta-se, neste capítulo, um estudo28 sobre a
blogosfera literária, que configura-se como um espaço virtual de protagonismo
e interação de leitores comuns na web. O objetivo do estudo foi compreender o
papel exercido pelos blogueiros enquanto produtores de conteúdo na web,
buscando caracterizar a relação de cada blogueiro com seu respectivo blog,
suas principais motivações para inserção na blogosfera, a importância do blog
na vida de cada blogueiro e, por fim, os impactos causados pelo blog na
vivência dos sujeitos.
2 BLOGOSFERA LITERÁRIA
De acordo com o dicionário Priberam29, o adjetivo “literário” significa
“relativo à letras, à literatura ou a conhecimentos humanos adquiridos pelo
estudo”. Nessa concepção, um blog literário é um blog referente à literatura.
Entretanto, a exploração da blogosfera permitiu a identificação de tipos
diferentes de blogs literários.
Uma tentativa de diferenciação dos blogs literários é proposta na
pesquisa de Carneiro (2011), que realiza uma divisão do ponto de vista do
produtor do blog: blogs criados por escritores consagrados pelo cânone; blogs
de pessoas que lidam direta ou indiretamente com a literatura (como
jornalistas, professores de Letras ou críticos literários); e blogs de escritores
amadores que encontram na rede um canal de publicação de seus escritos. Já
28
O presente estudo é parte de uma pesquisa de mestrado intitulada “Ler e compartilhar na
web: práticas informacionais de blogueiros literários”, defendida em dezembro de 2018 junto
ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas
Gerais.
29
Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/liter%C3%A1rio. Acesso em: 27 fev. 2019.
�162
Almeida (2008), em sua pesquisa sobre fontes de informação literária na web,
percebe
os
tipos
diferentes
ao
exemplificar
três
blogs
literários,
caracterizando-os nas seguintes tipologias: blogs de escritores e sobre
literatura; blogs sobre livros e leituras; e blogs sobre política, cinema e
literatura.
É possível, com base na estrutura da blogosfera literária, categorizar três
tipos de blogs literários. A categorização proposta foi realizada a partir de uma
imersão na blogosfera literária, que permitiu a observação e análise do perfil
de vários blogs.
Blogs sobre literatura: Abordam temas relacionados aos livros,
literatura e à leitura literária. Os leitores comuns30 pertencem a esse
grupo, pois buscam compartilhar as leituras realizadas, resenhas e
opiniões sobre os livros, notícias sobre lançamentos, dentre outros
compartilhamentos. Os críticos literários que mantêm blogs profissionais
também pertencem a esse grupo.
Blogs de escritores: Dedicam-se à publicação de textos autorais dos
mais diversos gêneros literários (contos, crônicas, romances e outros).
Nesse grupo, podem ser inseridos os blogs de escritores já consagrados,
que buscam publicar novidades e promover seu trabalho, como também
podem ser
inseridos os
escritores amadores, que
encontram na
plataforma dos blogs um espaço para publicação da literatura que
produzem.
Blogs mistos: Contêm tanto a produção literária autoral como também
resenhas e comentários sobre outros livros. Esse tipo é a fusão dos
outros dois, constituindo-se como um blog que promove os escritos do
30
Conforme Virginia Woolf, o leitor comum se diferencia do crítico e do professor. É aquele que
lê para seu próprio prazer, muito mais do que para repartir conhecimento ou corrigir opiniões
alheias. Ele é guiado pelo instinto de criar para si mesmo, enquanto lê jamais pára a fim de
remendar alguma construção imperfeita. Impaciente, descuidado e superficial, ora lendo um
poema, ora as obras de um velho cenário, sem se importar de que natureza seja desde que
sirva a seus propósitos e sustente seus argumentos. As deficiências críticas do leitor comum
são bastante óbvias, mas se ele tem alguma palavra final talvez poderá valer a pena
prosseguir escrevendo algumas ideias e opiniões, insignificantes em si mesmas, irão contribuir
muito para um resultado (WOOLF, 2007, p. 11-12).
�163
próprio blogueiro, mas que também publica comentários sobre as
leituras realizadas por ele.
Um aspecto relevante é a possibilidade de, em todos esses tipos, os
blogueiros
identificarem-se
como
blogueiros
literários.
Além
disso,
é
interessante destacar que esses tipos de blogs podem apresentar conteúdos
temáticos que extrapolam a temática da literatura. Nos blogs sobre literatura,
é comum os blogueiros abordarem outros conteúdos além de suas opiniões
sobre livros, como comentários sobre filmes, séries e outros assuntos
relacionados ao universo literário. Nos blogs de escritores, é comum os
blogueiros postarem seus textos literários autorais, mas também postarem
pensamentos ou relatos da vida cotidiana.
Os blogs de escritores têm o seu espaço na blogosfera literária. Por meio
desses blogs, é possível que um escritor amador, que não tem a possibilidade
de publicar em uma editora, possa publicar seus escritos na web, o que
permite que seus textos literários possam ser lidos e que ele receba o feedback
de seus leitores. As produções são de diversos tipos:
presente, cotidiano, humor, sarcasmo e iconoclastia são características
unânimes. Aspectos reincidentes também são a autoreferência, o
biografismo e o memorialismo em tom de paródia. Citações literárias e
filosóficas, referências ao mundo da história, da psicanálise, da cultura
erudita e de massa (chegando ao lixo cultural) estão presentes em
vários autores. Alguns se dedicam com talento ao ensaísmo, à crítica
literária, à resenha, ao artigo, ao texto opinativo. Com exceção de
poucos posts longos, a brevidade é marca desta produção textual, como
se os blogueiros soubessem que dispõem de pouco tempo para seduzir o
leitor, como se não quisessem enfastiá-lo (MATOS, 2009, p. 8).
Entretanto, para os fins desta pesquisa, foram selecionados os blogs
literários do primeiro tipo, os blogs sobre literatura, especificamente aqueles
mantidos por leitores comuns. A escolha desse tipo de blog permitiu que fosse
possível analisar como o leitor sente a necessidade de compartilhar suas
leituras, adentrando na blogosfera literária para publicar suas opiniões e
comentários sobre os livros que leu, além de trocar informações com outros
leitores, formando círculos sociais.
A proposta de diferenciação dos blogs foi realizada para fins de
esclarecimento dos tipos de blogs literários existentes e do tipo que foi
investigado, delimitando o escopo da pesquisa. Ressalta-se que, no decorrer
�164
da pesquisa, utilizaremos o termo geral blogs literários, sempre em referência
à subcategoria de blogs sobre literatura. A referência à categoria geral blogs
literários justifica-se pela autodenominação dos blogueiros, que qualificam
seus blogs como literários e se intitulam como blogueiros literários.
Dessa forma, são considerados blogs literários, como o próprio nome
sugere,blogs que abordam de várias maneiras a temática da leitura, dos livros
e da literatura em geral (ARAÚJO; ARAÚJO, 2015). O objetivo dos blogs
literários, geralmente, é promover o hábito da leitura e proporcionar um
diálogo em torno dos livros, desde os clássicos aos lançamentos modernos
(SANTOS; RODRIGUES; FERREIRA, 2014). Assim, os blogs literários levam
uma discussão sobre livros e literatura para o ambiente virtual.
Araújo e Araújo (2015) constatam que não existem regras para o tipo de
publicação do blog literário, contanto que esteja relacionada ao tema central
que é a literatura. Entretanto, os autores ressaltam algumas peculiaridades
das postagens desses ambientes virtuais. As resenhas apresentam-se como
um importante elemento na caracterização de um blog literário, visto que
consistem em uma redação na qual o autor descreve a obra lida de
maneira sintetizada, agregando argumentos referentes à sua opinião
crítica [...] são a representação das experiências de leitura do autor da
postagem transmitidas aos leitores da página (ARAÚJO; ARAÚJO, 2015,
p. 5).
Outra característica comumente presente nesse tipo de blog são notícias
sobre lançamentos de livros, novidades sobre autores e eventos do gênero.
Um elemento comum nos blogs literários são as parcerias, entre blogs e
também entre editoras. A parceria entre blogs funciona como uma troca de
divulgações e a parceria entre editoras consiste no envio de livros como
cortesia; assim, o blogueiro se compromete a resenhá-los em seu blog
(ARAÚJO; ARAÚJO, 2015).
A
interatividade
é
fundamental
nos
blogs
literários.
Ao
produzir
conteúdo, os blogueiros compartilham suas experiências de leitura, suas
resenhas, contendo opiniões e críticas; por sua vez, os leitores comentam a
postagem do blogueiro, comunicando-se com ele e também com os demais
leitores da página. Muitas vezes, esses leitores são também blogueiros. Essa
�165
comunicação estabelece relações e vínculos entre os blogueiros e leitores,
constituindo uma blogosfera.
[...] os blogueiros formam comunidades cujo epíteto ‘espaço sem
fronteiras geográficas’ não é mera retórica, sendo apropriado o uso do
termo blogosfera para se referir a este universo e sua amplitude de
alcance (MATOS, 2009, p. 3).
De acordo com Santos, Rodrigues e Ferreira (2014, p. 104), “a
blogosfera literária pode ser definida como uma comunidade de blogs cujo
objetivo é escrever sobre literatura”. Tratando-se de um notório canal de
comunicação de leitores comuns, que apesar de não serem profissionais, se
dedicam ao aperfeiçoamento ortográfico e crítico, promovendo um conteúdo
variado e especializado, contribuindo, ainda, para chamar a atenção de não
leitores.
Comunidades formadas por leitores e escritores existem há muito tempo,
como por exemplo, os clubes de leitura. Entretanto, o fenômeno das
comunidades virtuais de escritores e leitores na rede é algo novo, cujo
surgimento é propiciado pelos recursos disponibilizados nos blogs, como o
hipertexto, que permitem visitar, frequentar e linkar outros blogs (DI LUCCIO;
NICOLACI-DA-COSTA, 2010, p. 142).
3 METODOLOGIA
O universo da pesquisa abrangeu os blogueiros literários da Região
Metropolitana de Belo Horizonte e seus respectivos blogs. Optou-se por definir
a amostra em um evento literário, o 20º Clube do Livro BH. Dessa forma, dos
19 blogs identificados, oito blogs foram considerados como possíveis de serem
contemplados na pesquisa. Foi realizada a análise documental de cada um dos
blogs e foram aplicadas entrevistas semiestruturadas com as blogueiras
administradoras desses blogs.
De acordo com Cunha (1982), a entrevista é o segundo método mais
utilizado em estudos de usuários, sendo superada apenas pelo questionário.
Segundo o autor, a entrevista apresenta vantagens como possibilitar o contato
�166
direto com o entrevistado, permitindo captar suas reações e sentimentos. Além
disso, a técnica permite que o entrevistador esclareça alguma pergunta não
compreendida pelo entrevistado e também que o pesquisador possa pedir
detalhes de respostas fornecidas quando são detectados fatos interessantes ou
novos. Como toda técnica, a entrevista também apresenta desvantagens,
como a possibilidade de dupla distorção, a probabilidade de o entrevistador
emitir opiniões afetando as respostas do entrevistado e o custo mais elevado
(CUNHA, 1982).
Por se tratar de uma pesquisa muito ampla, optou-se por restringir este
capítulo aos dados obtidos no primeiro bloco do roteiro da entrevista
semiestruturada, intitulado “O blogueiro e sua relação com seu blog”, que
visava coletar dados referentes aos blogueiros e seus blogs, objetivando
conhecer aspectos pessoais desses sujeitos e aspectos relacionados à criação
do blog (motivação pessoal, influências, necessidade de compartilhar leituras,
dentre outras ocorrências) além da relação do blogueiro com o blog.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Buscou-se compreender a relação das blogueiras com seus respectivos
blogs, que é permeada por aspectos muito pessoais, que envolvem sua
personalidade, sentimentos e vivências. Segundo Recuero (2004), a relação
entre o “eu” do blogueiro e o blog trata-se da apropriação individual do espaço
virtual, uma construção do “eu” em um lugar que é “meu”. O blog constitui-se
como “uma tentativa de apropriação individual e coletiva do ciberespaço,
através da extensão daquilo que o blogueiro compreende como seu particular
(identidade individual, personalidade) através da configuração de um espaço”
(RECUERO, 2004, p. 6).
De acordo com Recuero (2004), os blogs funcionam como uma presença
do “eu” no ciberespaço. Existe uma personalização do blog, que reflete a visão
que o blogueiro tem de si mesmo ou a visão que pretende transmitir aos seus
leitores. Conforme a autora, essa personalização está presente em todos os
�167
aspectos de um blog. Portanto, em toda informação que é divulgada no blog
está incutida a personalidade de seu autor, pois o blogueiro deseja que o leitor
entenda que aquele espaço é seu. “O blog é imbuído de personalidade.
Imbuído das características e das impressões que seu autor quer dar, da
maneira através da qual ele deseja ser percebido pelo leitor” (RECUERO, 2004,
p. 3).
Nesse sentido, promoveu-se uma exploração das dimensões emocional e
social dos sujeitos da pesquisa. Na análise das entrevistas, é perceptível que a
relação entre cada blogueira e seu blog – que é também uma relação com a
informação, ao abranger busca, uso, produção e compartilhamento de
informações - está permeada pelo envolvimento afetivo, constatado nos
relatos das motivações das blogueiras, na concepção que elas possuem de
bloge nas mudanças de vida proporcionadas por ele.
4.1 MOTIVAÇÕES
Recuero (2004, p. 4) constata que “permanece a questão da motivação
pela qual as pessoas estão apropriando-se com tal intensidade do ciberespaço,
através da personalização que acontece através dos blogs”. Após investigar
essa questão, apresentam-se as principais motivações das blogueiras ao
inserirem-se na blogosfera literária: superação da timidez, criação de um
espaço para compartilhar leituras e influência de outras blogueiras literárias.
Além disso, verificaram-se as motivações para fazer postagens no blog, ou
seja, as motivações atuais que promovem a continuidade do blog.
4.1.1 Inserção na blogosfera literária
As blogueiras foram questionadas quanto à motivação para criação de
um blog literário. Em alguns casos, a criação do blog literário surgiu de uma
necessidade de criar um espaço para compartilhar suas leituras. Uma das
�168
blogueiras conta que se sentia solitária e que o blog surgiu como uma
oportunidade para falar com as pessoas sobre o seu amor pelos livros, mas, ao
mesmo tempo, manter o seu filho próximo e mostrar a ele um exemplo
positivo.
Menina, tava sozinha e queria muito falar dos livros que eu gostava
[...]. Então assim, foi disso mesmo, eu precisava falar [...]. E foi aí que
eu precisei dessa necessidade. Que tipo assim, eu lia várias coisas, eu
lia vários livros maravilhosos e tipo assim não tinha o que fazer... E era
uma forma de eu conseguir fazer o que eu amava que era ler, ficar
perto do meu filho né [...]. Mas assim, manter ele perto, sabe? E
mostrar ele, tipo assim, com exemplos mesmo, que pode ser legal tipo
assim você falar sobre as coisas, você ler alguma coisa e conseguir falar
com as pessoas daquilo ali. Foi mais dessa necessidade de [...] manter
quem eu gosto perto, continuar fazendo o que eu gosto e também falar
com as pessoas sobre o que eu gosto, mas ao mesmo tempo, sem ter
ninguém pra falar, sabe? (BLOGUEIRA 2).
Já outra blogueira foi inspirada por uma colega a fazer o blog e achou
que esse seria um espaço importante para falar sobre as coisas que mais
gostava, com foco nos livros.
Surpreendentemente, algumas entrevistadas alegam que sua inserção na
blogosfera literária como blogueiras foi uma forma de superar a timidez. Elas
contam que são muito tímidas, mas a faculdade e o trabalho demandam que
elas sejam pessoas mais comunicativas. Dessa forma, elas encontraram no
blog literário uma forma de trabalharem suas habilidades de comunicação.
E a ideia era falar com as pessoas sobre aquilo que eu gostava, na
verdade, a ideia foi escrever. Eu era muito tímida e queria melhorar um
pouco a minha timidez, comecei a escrever. Mas não aparecia né,
ninguém sabia quem tava escrevendo [...]. Veio essa vontade de
escrever e de falar, de fazer evento tudo, por causa da minha timidez
[...]. Eu ainda sou um pouco, ainda sou tímida, ninguém acredita, mas
eu sou tímida. E eu não conseguia escrever com segurança, eu não
conseguia falar com segurança. E acabou que era uma válvula de
escape do meu trabalho, porque eu precisava no meu trabalho de ter
essa segurança. Eu precisava na faculdade ter essa segurança por causa
do curso e eu não tinha [...]. A partir do momento que eu vi que eu
precisava perder aquela timidez e eu vi no blog uma possibilidade
grande disso, aí eu entrei de cabeça (BLOGUEIRA 1).
Metade das blogueiras se inseriu na blogosfera literária como influência
de outras blogueiras literárias. Uma blogueira afirma que já era leitora do blog
antes de ser convidada para fazer parte da equipe. Ao ver as postagens das
amigas no blog, ela conta que sentiu necessidade de falar a respeito da sua
�169
opinião sobre os livros que lia. Outra blogueira também se sentiu influenciada
por várias blogueiras e booktubers. As outras entrevistadas que se inseriram
na blogosfera literária por influência de blogueiras contam que já atuavam
como colunistas de blogs de amigas, mas sentiram a necessidade de criar seus
próprios blogs, haja vista construir a própria identidade.
A necessidade de compartilhar leituras já era cotada como uma grande
motivação para uma leitora se tornar uma blogueira literária. Mas, a inserção
na blogosfera como forma de superação da timidez foi uma motivação muito
peculiar que surgiu no discurso de algumas entrevistadas. É interessante,
também, observar como a leitura de outros blogs influenciou a metade das
entrevistadas a se tornarem blogueiras literárias. Acompanhar o blog de outras
pessoas despertou nessas leitoras a vontade de também exercerem um
protagonismo, ocupar o seu lugar no ciberespaço e emitir opiniões a respeito
das leituras.
4.1.2 Postar no blog
Realizar postagens no blog é o que o mantém ativo. As motivações de
todas as blogueiras para postar nos blogs estão, direta ou indiretamente,
associadas aos leitores do blog, o que ressalta uma necessidade que elas
possuem de terem suas opiniões lidas, de possuírem voz ativa e serem
“ouvidas”. Determinadas blogueiras afirmaram que sua motivação para fazer
os posts é receber o feedback dos seguidores do blog. Esse argumento vai ao
encontro da afirmação de Prange (2003), que considera que os comentários
funcionam como estímulo para os blogueiros escreverem diariamente em seus
blogs. De acordo com a autora, o desejo das blogueiras pela participação dos
leitores está associado a uma intensa necessidade de feedback dos conteúdos
postados.
Eu gosto de ver o feedback das pessoas; eu gosto de ver quando eu
mando o link pra pessoa e ela fala ‘Nossa eu gostei muito! Quero ler’, ou
ela fala ‘Nossa você escreve bem, eu gostei das fotos!’. Nem que seja só
pelas fotos, sabe? Mas quando a pessoa dá um retorno, ela fala que
gostou, eu percebo que tá fazendo diferença pra alguém. Então, se tá
�170
fazendo diferença pra alguma pessoa, eu continuo postando porque vai
ter aquela pessoa que vai ser bom pra ela, sabe? Não precisa ser tipo
nossa vou ficar famosa mundialmente, mas assim se tá fazendo
diferença pra alguém já é alguma coisa (BLOGUEIRA 6).
Apesar de todos os dias pensar em desistir do blog, uma das blogueiras
sente que a motivação para continuar vem dos comentários que recebe dos
leitores e de sua atuação na disseminação de informações na blogosfera
literária.
Então, motivação mesmo...Todo dia quando eu acordo eu acho que eu
vou desistir dele [...]. Eu falo ‘nossa eu não aguento, chega, cansei, vou
passar esse blog pra frente’. Aí na hora que eu vou dormir, porque
normalmente eu olho meu quarto na hora que eu vou dormir, então tipo
eu olho pra frente, aí eu olho a quantidade de livro que tem e aquilo me
bate um desespero, aí eu durmo. Aí de manhã cedo ‘não, eu vou dar
conta’. Aí eu acordo já motivada de novo. Eu acho que a motivação é
dos comentários que a gente recebe. Tipo, eu recebi um comentário
agora mais cedo, a menina falou ‘Nossa fala mais de romance de época,
adoro romance de época’. E às vezes o fato de que as pessoas, é
estranho isso, porque hoje a rede social é tão ampla, a gente para e
pensa todo mundo sabe de tudo, mas não. As pessoas não veem as
coisas, não vê os lançamentos, não recebe, não vê evento. Aí de
repente quando passa fala tipo ‘nem vi’. Então mesmo sendo uma rede
social tão ampla, a informação não chega. Então, eu gosto de pensar
que eu sou um pontinho ali ajudando a rede social, as informações a
chegarem um pouco mais pra frente, sabe? (BLOGUEIRA 1).
Outras motivações citadas dizem respeito ao senso de responsabilidade
com as editoras parceiras do blog e também o compromisso em mantê-lo
atualizado para os seguidores.
A necessidade de falar sobre os livros que gostam é a motivação de
certas
entrevistadas.
Algumas
blogueiras
enfatizam
o
gosto
pelo
compartilhamento de suas leituras. Já outra blogueira afirma que, além de
falar sobre os livros que gosta com outras pessoas, ela motiva-se a postar no
blog para ser um bom exemplo para os filhos.
Percebe-se que grande parte das blogueiras usa a palavra “feedback” ao
relatarem sobre as suas motivações, ressaltando a importância da interação
com o leitor do blog. Outras motivações citadas dizem respeito à atuação como
disseminadora de informações na blogosfera literária e o compromisso
assumido com as editoras. A já notada necessidade de compartilhar leituras
surge outra vez junto às principais motivações.
�171
A questão de ser um exemplo para os filhos, já citada na motivação para
inserção na blogosfera, aparece novamente, sendo esse ponto abordado pelas
duas blogueiras que são mães.
Porque eu gosto de fazer, eu gosto de ler. Quando eu fico muito
empolgada com alguma coisa. Às vezes eu posto também, porque como
eu tenho dois filhos, eu leio pra eles e eles trazem algumas coisas da
escola [...]. E é minha motivação, acho que eles principalmente, assim,
poder mostrar pra eles que aquilo é legal, poder mostrar que você pode
ter pessoas inteligentes, você pode conviver com pessoas, você pode
aceitar as pessoas do jeito que elas são, você não precisa impor sua
vontade sobre elas... A minha maior motivação é fazer algo que eu
gosto e poder compartilhar isso com outras pessoas que eu sei que
também gostam dessas coisas (BLOGUEIRA 5).
É evidente que as motivações das blogueiras, tanto para inserir-se na
blogosfera literária como para continuar realizando postagens no blog,
perpassam por questões muito pessoais, que envolvem sentimentos muito
íntimos como: a necessidade de trabalhar a timidez; ter voz ativa e ser ouvida
por outras pessoas; compartilhar suas leituras e poder expressar sua própria
opinião; ser um exemplo para os filhos e mantê-los próximos; escapar da
solidão; a responsabilidade com as parcerias e com os leitores do blog.
4.2 REPRESENTAÇÕES DO BLOG
O blog possui diferentes representações na vida das blogueiras. Durante
as entrevistas, elas foram perguntadas se enxergavam o blog como um hobby,
como uma forma de visibilidade ou como um modo alternativo de renda.
Entretanto, surgiram outras respostas, uma vez que o blog também é visto
como um trabalho e, em algumas falas, constatou-se que as blogueiras se
referem ao blog como um “filho”.
A
maioria
das
blogueiras
compreende
o
blog
como
um
hobby,
evidenciando em suas falas que o blog é algo que fazem por prazer, não sendo
uma forma alternativa de renda. As blogueiras consideram que ser blogueira
literária não é uma atividade lucrativa. Contudo, uma das blogueiras pontua
que, mesmo sendo um hobby, o blog permite que ela receba livros
gratuitamente das editoras.
�172
Acho que ele tem muito mais uma forma de hobby. Hoje ele pra mim é
um hobby, assim, algo que eu dispenso um tempo pra cuidar porque eu
gosto, não porque eu tenho pretensão de ah eu vou ser a blogueira mais
conhecida da história dos blogs. Eu não tenho essa pretensão não, não é
essa a intenção. A intenção mesmo é poder interagir com outras
pessoas que gostam das mesmas coisas que eu e poder falar um
pouquinho. Não é nada grandioso, não quero ficar rica (BLOGUEIRA 5).
Surpreendente, o blog configura-se como um trabalho para as duas
blogueiras que possuem um grande número de parcerias com editoras. A
parceria com as editoras demanda dessas blogueiras uma responsabilidade
com os prazos para leitura e postagens dos livros, o que desconfigura o blog
como um hobby feito por prazer e impõe uma pressão para publicação das
postagens.
Mas, eu também encaro como trabalho, por causa do compromisso que
eu assumi, até porque não é brincadeira né. A empresa que tá do outro
lado, ela é séria, ela quer lucro, ela não tá lá só pra fazer os blogueiros
felizes [...]. E a gente é um meio de divulgação, um veículo né. Então,
eu encaro muito como um trabalho, como um compromisso
(BLOGUEIRA 7).
Em alguns casos, os blogs são considerados como forma de visibilidade.
Uma das blogueiras afirma que o blog promove sua visibilidade e que coloca
em seu currículo que é blogueira, pois como estudante de jornalismo, ela
considera importante divulgar seu trabalho. Para algumas blogueiras, o blog
permite algumas facilidades no meio literário, como a entrada gratuita em
eventos. Durante a entrevista, uma blogueira lembrou do reconhecimento que
possui nos eventos literários, como na Bienal do Livro. Sendo assim, o blog
apresenta-se como uma forma de visibilidade, dependendo do propósito de
cada blogueira.
É um pouco forma de visibilidade, porque eu coloco no currículo. Coloco
blogueira DNA Literário, vídeo e texto. Porque se a pessoa vai procurar
um texto seu e ela vê lá, eu acho que dá uma ajudada, sabe [...].
Então, eu coloco no currículo sim, coloco naquela assinatura do Gmail
(BLOGUEIRA 4).
No discurso de metade das blogueiras, constatou-se que elas referem-se
ao blog como um “filho”, utilizando também a palavra “cuidar” ao se referirem
à atualização do blog. Essas expressões demonstram uma forte afetividade na
relação das blogueiras com o seu blog. Uma das blogueiras conta como
consegue “cuidar” do blog em meio a uma rotina de trabalho intensa. Em seu
�173
discurso, a blogueira conta que qualquer tempo disponível que possui, entra no
blog para dar uma olhada, como se fosse um filho.
Qualquer momentinho eu vou lá e dou uma olhada, é tipo filho, sabe
(BLOGUEIRA 7).
A gente tenta cuidar mesmo, assim é o nosso filho (BLOGUEIRA 8).
O fato de as blogueiras referirem-se ao blog como um filho demonstra
uma relação sentimental com o projeto. No discurso das blogueiras, observase que esse blog “filho” demanda cuidado, carinho, deseja-se que ele cresça,
mas, ao
mesmo
tempo,
esse
mesmo filho
demanda tempo e
cobra
responsabilidades.
4.3 MUDANÇAS APÓS O BLOG
As entrevistadas relataram as principais mudanças que sofreram em
suas vidas após se tornarem blogueiras. No discurso de determinadas
blogueiras, constata-se que o blog proporcionou a formação de novas
amizades e auxiliou na melhoria da sociabilidade. Em outros relatos, as
blogueiras evidenciam que o blog contribuiu para a autoconfiança e para o
reconhecimento.
4.3.1 Amizades e sociabilidade
Tornar-se blogueira possibilitou que essas leitoras participassem de
novos círculos sociais, conquistando novas amizades. Uma blogueira considerase grata ao meio literário pelos amigos que fez em Belo Horizonte. Ela também
afirma que o mundo literário constitui 50% de sua vida. Outra blogueira
considera que não é uma pessoa que possui facilidade em fazer amizades, mas
que conheceu pessoas do Brasil todo por meio do blog, além do grupo de
amigas blogueiras de Belo Horizonte.
�174
E eu não sei... Mas eu conheci muita gente, muita, muita gente, foi
muito bom. Eu não sou uma pessoa que faz amizade fácil e com ele eu
conheci muita gente, sabe, que talvez eu não conheceria nunca. Tipo eu
só conheço gente do meu trabalho, da faculdade... E são pessoas do
Brasil todo, tem gente de São Paulo, do Rio que a gente fez amizade.
Aqui de BH também meninas que eu nunca... não tem nada em comum
a não ser livros e somos amigas. Então assim eu acho que essa parte
dos livros mudou muito por causa disso. E também tem as
apresentações em eventos, acaba que a gente fica mais antenada. [...]
Então eu acho que um pouco dos livros já tá internalizado em mim
sabe... A gente muda sem saber né... E acaba que eu não sei viver mais
sem isso, é muito louco né (BLOGUEIRA 7).
Em outro caso, a blogueira considera o blog como seu ponto de
equilíbrio, afirmando que ele a retirou de crises depressivas intensas. Além
disso, ela afirma que depois do blog conquistou novos amigos, pois antes ela
só convivia com o filho e com as pessoas vinculadas à igreja que frequenta.
Atualmente, ela se relaciona com várias pessoas diferentes no meio literário.
Em seu relato, uma blogueira considera que o blog possibilita que ela
esteja próxima dos amigos, uma interação com pessoas por quem ela tem um
carinho especial. Além disso, o blog permite também conhecer outros leitores,
de modo que seja criada uma rede social de pessoas que gostam das mesmas
coisas. Ela termina sua fala afirmando que o blog manifesta-se grupo de apoio.
É um papel mesmo assim [...] que eu possa realmente estar mais
próxima dos meus amigos porque as pessoas que estão lá são pessoas
por quem eu tenho um carinho muito grande [...]. Uma ferramenta pra
você fazer da leitura... uma ferramenta pra interagir com outras
pessoas. Então o blog acabou sendo isso, ser uma ferramenta pra gente
conhecer outras pessoas, pra gente falar desse... pra criar mesmo um
universo de pessoas em uma rede social de pessoas que gostam das
mesmas coisas que a gente gosta. É quase como se fosse aqueles
grupos sabe, tipo grupo de apoio, o blog é meu grupo de apoio [risos],
tive DR [discussão de relacionamento] aí eu vou pra lá (BLOGUEIRA 5).
No caso das blogueiras que se consideram tímidas, houve relatos de
como o blog auxiliou na superação da timidez e na melhoria de sua
socialização.
Eu tenho melhorado o aspecto pessoal. Porém, no blog é um pouco mais
tranquilo, por tirar o visual, sabe. Eu tô falando lá, tem a minha foto lá,
mas a pessoa não tá me vendo falar. Então é bem mais tranquilo falar
assim. Mas eu tenho tentado melhor o verídico mesmo né [...] fora da
internet (BLOGUEIRA 3).
Olha, eu tô bem menos tímida do que eu era. Porque eu acho que a
partir do momento que você se abre pra outra pessoa ler o que você tá
falando, você perde um pouco disso, porque tipo você sabe que alguém
tá lendo, você não tá postando pra ninguém [...]. Eu perdi muito a
�175
timidez [...]. Foi o DNA que me ajudou com a timidez assim e me ajuda
também a fazer amizade, eu tô fazendo amizade por causa dos livros
(BLOGUEIRA 4).
É perceptível que o blog promove a criação de vínculos entre os leitores
literários. Como forma de forma de divulgar as leituras realizadas, o blog
permite a interação entre leitores que possuem gostos semelhantes, o que
propicia o surgimento de novas amizades. Além disso, o blog auxilia a
expressão, possibilitando a superação da timidez.
4.3.2 Autoconfiança e reconhecimento
A autoconfiança e o reconhecimento são sentimentos que emergiram nas
falas das blogueiras. Uma das blogueiras declara que, conforme recebia
feedback positivo dos leitores do blog, sentia-se confiante e valorizada. Ela
afirma que essa confiança atingiu todos os aspectos de sua vida.
Autoconfiança. Sério. Porque as pessoas que me davam retorno, eu
comecei a pensar nossa as pessoas leem de verdade, nossa as pessoas
realmente gostam, se elas tão se dando ao trabalho de escrever pra
mim é porque elas gostam. Já recebi vários e-mails de pessoas
elogiando, nem pedindo nada... E eu fico muito feliz de ver que as
pessoas gostam, sabe. Então eu comecei a escrever, eu sempre gostei
de escrever só que eu não publicava nada. E quando eu comecei a fazer
o blog que eu percebi que as pessoas gostavam do que eu escrevia,
melhorou muito assim a minha confiança na minha pessoa. Sério, eu
fiquei assim mais confiante em qualquer coisa na vida. Fui melhorando
aos poucos né, claro, mas melhorei bastante (BLOGUEIRA 6).
Outra blogueira descreve como se tornou uma referência para as pessoas
quando o assunto são os livros, sendo reconhecida como uma pessoa que lê
muito e escreve sobre os livros que ama.
É... Todo mundo quando precisa de alguma informação, de família, é
muito engraçado... Ás vezes alguém de família vem conversar com
você, você fala ‘Ah pode falar’, ‘Não, tô precisando é de uma indicação
de livro’. Então pra indicar livro sou eu. E isso mudou muito de antes,
porque hoje todo mundo sabe a Emília31 lê, a Emília tem muito livro, a
Emília ama leitura, a Emília escreve. Então isso fez uma diferença até na
minha vida (BLOGUEIRA 1).
31
Nome fictício.
�176
Uma das
blogueiras considera que
o
blog contribuiu com certa
credibilidade, permitindo que as pessoas a conheçam e possam ler o que ela
escreve.
Então isso ajuda, dá credibilidade quando você manda, você fala ‘Ah eu
escrevo lá no blog tal’, você vai ver minha carinha lá, quem sou eu na
fila do pão, você sabe quem que é. Então o blog ajudou nisso, sabe
(BLOGUEIRA 5).
É perceptível no discurso das blogueiras que sua inserção na blogosfera
literária possibilitou mais do que a participação no universo literário, abrindo
caminhos para conhecer novas pessoas e fazer novas amizades, além de
permitir a conquista da autoconfiança e um reconhecimento do seu trabalho
por parte de terceiros, como os familiares e as editoras. É importante ressaltar
que todas as mudanças observadas estão relacionadas a sentimentos muito
íntimos de cada blogueira, que envolvem as relações interpessoais, a
capacidade de interagir, a confiança em si mesma e a sensação de ser
reconhecida.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa permitiram a compreensão de que a
blogosfera literária é um espaço que permite o protagonismo de leitores
comuns, possibilitando a expressão desses sujeitos e dando visibilidade às
suas ações.
A análise das entrevistas com as blogueiras participantes deste estudo
permitiu a identificação de três categorias de análise: motivações para
inserção na blogosfera, representações do blog e mudanças após o blog. As
diversas motivações para criação do blog estão intimamente ligadas às
mudanças de vida que vieram depois dele. As necessidades das blogueiras perder a timidez, escapar da solidão, ter voz ativa e ser ouvida, compartilhar
as suas opiniões sobre as leituras - deram lugar ao reconhecimento,
autoconfiança e sociabilidade proporcionados pelo blog. Por sua vez, essas
�177
mudanças geraram representações positivas do blog - um hobby, um trabalho,
uma forma de visibilidade, um filho.
A partir dos resultados, o estudo revelou o forte envolvimento afetivo
que permeia a relação entre o blog e os blogueiros. Conclui-se que o afeto
pelos livros estende-se ao blog, espaço de liberdade para escrever, criticar,
opinar, compartilhar, criar e ser uma protagonista.
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WOOLF, Virginia. O leitor comum. Rio de Janeiro: Graphia, 2007.
DADOS BIOGRÁFICOS
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
Mestra em Ciência da Informação pela mesma instituição (2018).
Possui graduação em Biblioteconomia pela UFMG (2016). Atua
como Bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal Professor
Francisco Tibúrcio de Oliveira, vinculada à Secretaria Municipal de
Cultura da Prefeitura Municipal de Santa Luzia (MG). Tem interesse
nas áreas de práticas informacionais e estudos de usuários da
informação, com enfoque na apropriação da leitura literária e
compartilhamento de leituras.
E-mail: j.jessicadesa@gmail.com
�180
CAPÍTULO X - O impacto da globalização e das redes sociais
na formação do leitor
Vinicius Alves dos Santos
1 INTRODUÇÃO
As redes sociais digitais nada mais são que o imperativo que foi
dispensado aos indivíduos do mundo globalizado, de que eles precisam estar
conectados em todo o tempo, análise essa que se pode fazer pelo mais simples
empirismo. Como consequência, as redes sociais digitais têm sido responsáveis
por diversas tipologias de engajamento, seja político, religioso, educacional,
entre outros. As pessoas querem expor seu modo de pensar. Nesse ambiente
elas estão inseridas, e se sentem com um poder de fazer valer sua
representatividade.
Por isso o bibliotecário deve levar em consideração em sua práxis as
redes sociais, porque nessa plataforma as pessoas se encontram e pode ser
um local com a qualidade de conceder visibilidade às unidades de informação,
e
formar
leitores
que
valorizarão o
conhecimento
contido nos
livros,
independente do suporte, como potencial transformador e qualificador das
atividades de sua existência de acordo com Diniz (2016).
Essa
elaboração
está
objetivada
em
relacionar
o
fenômeno
de
globalização, que incluiu e conectou uma parcela considerável do mundo, e o
emprego das redes sociais para a disseminação da prática leitora, como
potencial que detém para os profissionais da informação, ao estimularem
pessoas a buscarem o hábito da leitura. Santos e Duarte (2019) citando
Bauman (1999) explanam:
[...] ‘globalização’ é o destino irremediável do mundo, um processo
irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma
medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo ‘globalizados’ — e
isso significa basicamente o mesmo para todos (BAUMAN, 1999, apud
SANTOS; DUARTE, 2019, p. 3).
�181
Ou seja, estar ausente da conexão mundial é quase impossível no
contexto urbano e ousa-se dizer, em contextos rurais similarmente, salvo por
dificuldades intelectuais, de formação ou de acesso. Os corpos sociais em
regimes democráticos em suma, estão fadados a essa predestinação global.
Portanto, deve-se utilizar de tal elocução social a favor da informação, da
formação e educação das pessoas.
2 GLOBALIZAÇÃO: VALOR SEMÂNTICO, BREVE HISTÓRICO E AS
TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO
Antes de ponderar acerca das mídias sociais e a latência por detrás para
a formação de leitores, é necessário entender o que se encontra na retaguarda
dessa movimentação, seu valor semântico e a historicidade, com a finalidade
de compreender os fundamentos dessa emergência e o novo modus operandi
social.
2.1 DEFINIÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO
Campos
e
Canavezes (2007) discutem em
sua obra
noções de
globalização e alguns significados sobre a globalização. O mais adequado para
esse contexto tratado é a definição de um economista internacionalista
estadunidense — Joseph Stiglitz — que diz:
Fundamentalmente, é a integração mais estreita dos países e dos povos
que resultou da enorme redução dos custos de transportes e de
comunicação e a destruição de barreiras artificiais à circulação
transfronteiriça de mercadorias, serviços, capitais, conhecimentos [...].
(STIGLITZ, 2004 apud CAMPOS; CANAVEZES, 2007, p. 13).
Globalização é a aproximação numa amplitude considerável como
descrita, de modo que haja a troca das experiências e até mesmo da cultura
que permeia a práxis humana. O termo atualmente é mais popular, contudo,
não é uma criação do século XXI.
�182
2.2
BREVE
HISTÓRICO:
GLOBALIZAÇÃO
E
AS
TECNOLOGIAS
DE
COMUNICAÇÃO
Não se sabe designar com muita facilidade quando a globalização se
iniciou, porque, de certo modo, já havia comunicação entre diferentes
populações na idade antiga – claro que não com a expressão vislumbrada pela
presente geração. Campos e Canavezes (2007) apontam que foi no período do
século XV com as famigeradas expedições ultramarinas e o “descobrimento do
novo mundo”, que o processo de globalização teve sua gênese.
Com a invenção e aprimoramento dos meios de transporte, como o navio
a vapor e as ferrovias, e também das telecomunicações no século XIX, houve
uma contribuição do que se pode denominar de um sistema global. O estudo
de Santos e Duarte (2019) fundamenta novamente esses dados:
[...] após a Segunda Guerra Mundial inicia-se o processo de
desenvolvimento global econômico, claro que sem muita expressão, mas
através de uma rede global que se instala no início do Século XX,
precisamente a partir dos anos 20, que vem a ser a criação da televisão,
que nos anos 30 e 40 espalhou-se por toda Europa e também nos
Estados Unidos, chegando no Brasil nos anos 50, iniciando assim um
forma global de conhecimentos cultural, político e econômico, ensejando
a chamada aldeia global [...] (SANTOS; DUARTE, 2019, p. 276).
Após a Segunda Guerra Mundial, especificamente nos anos 80, 90 e
2000 isso se intensifica sendo um alavancamento expressivo, tendo como
resultado a conjuntura vivenciada atualmente, onde se percebe uma ampliação
ao acesso a internet em diversas nações, a emergência de sites de
relacionamento, publicação de vídeos na internet em massa, informatização de
processos burocráticos da governança, informatização de bibliotecas, poder
aquisitivo da classe média baixa sendo ampliado para a aquisição de
computadores pessoais com acesso a internet, popularização dos afamados
smartphones, dentre outros.
Todas essas movimentações e transformações tecnológicas modificaram
o relacionamento do ser humano com a sociedade, seja em sua participação
política, educacional, na resolução de problemáticas e/ou na conquista de um
espaço no mercado. A informação ganhou uma nova valoração social no
desenvolvimento pessoal do indivíduo.
�183
Porém, o destaque especial se deve às redes sociais, que minimizaram
distâncias afetivas, proporcionou à contribuição cidadã citada anteriormente,
permitiu a recolocação de diversas pessoas no mercado de trabalho, a criação
de relações de diferentes gêneros, a troca de informações sobre produtos de
consumo e dados sobre saúde. As redes sociais, tendo como fundamento a
internet, converteram os laços com o mundo e com as questões que se
apresentam, de modo irreversível; isso é perceptível e constatado ao observar.
3 FORMAÇÃO DO LEITOR
Ler é um ato de compreensão da vida, de acordo com Diniz (2016), pois
pela apreensão de informações pela decodificação dos signos nos suportes que
viabilizam a leitura, o ser humano possui a oportunidade de se mover e atuar
dentro da realidade, não considerando somente os insights de sua mente, mas
tomando consciência do pensamento do próximo e de tudo o que foi construído
anteriormente a ele.
3.1 O QUE É LEITURA?
Antes de oportunizar indicações acerca do que seria o processo de
formação do leitor, é imprescindível antes definir o que seria leitura. A leitura
pode ser discernida como este ato analítico e interpretativo de alguma
sentença ou texto; é a capacidade de atribuir sentido ao que foi lido.
Entretanto, para contextualizar e demonstrar a correlação e a junção de ambas
as práticas, Rojo (200?) concede um sentido mais amplo:
A leitura passa, primeiro, a ser enfocada não apenas como um ato de
decodificação, de transposição de um código (escrito) a outro (oral),
mas como um ato de cognição, de compreensão, que envolve
conhecimento de mundo, conhecimento de práticas sociais e
conhecimentos lingüísticos muito além dos fonemas (ROJO, 200?, p. 3).
�184
A
ação
de
reconhecer
signos
ao
fazer
uma
leitura
interage
consequentemente, com a conjuntura na qual a pessoa se encontra, além das
experimentações em sua vivência com os personagens os quais se relaciona e
convive. Todos esses fenômenos influirão na maneira como um indivíduo
interpreta em sua leitura. O sujeito terá a capacidade de analisar, concordar
e/ou questionar as disposições definidas, e alinhar e alargar a sua cosmovisão.
Rojo (200?) corrobora esse silogismo dizendo que:
[...] a leitura é vista como um ato de se colocar em relação um discurso
(texto) com outros discursos anteriores a ele, emaranhados nele e
posteriores a ele, como possibilidades infinitas de réplica, gerando novos
discursos/textos. O discurso/texto é visto como conjunto de sentidos e
apreciações de valor das pessoas e coisas do mundo, dependentes do
lugar social do autor e do leitor e da situação de interação entre eles –
finalidades da leitura e da produção do texto, esfera social de
comunicação em que o ato da leitura se dá (ROJO, 200?, p. 3).
A leitura impulsiona os aspectos reflexivos e críticos do leitor, fazendo
com que suas percepções e opiniões a partir da leitura pleiteem e revelem os
seus conhecimentos de mundo (KLEIMAN, 1989; 1993 apud MARINHO, 1993).
Um dos profissionais mais bem preparados e qualificados para desenvolver e
impulsionar sujeitos na prática da leitura é o bibliotecário.
3.2 A FIGURA DO BIBLIOTECÁRIO E A FORMAÇÃO DO LEITOR
Como se sabe o profissional bibliotecário não está enclausurado a
trabalhar somente com bibliotecas; como a tônica da área é a organização e o
tratamento da informação, e todos os setores da sociedade direta ou
indiretamente lidam com informação, os bibliotecários possuem a capacidade
de prestar seus serviços a diversos âmbitos. Podem oferecer consultorias,
trabalhar em grandes empresas nos setores de divisão de estoque, tracejando
projetos de ordenação de itens e a gestão deste e de outros setores,
auxiliarem médicos em suas investigações, trabalhar com juristas, entre outros
nichos de mercado. No entanto, a proposta do presente escrito não é conceder
perspectiva mercadológica, mas oportunizar uma visão da potencialidade em
oferecer informações que possam formar um leitor a partir das redes sociais.
�185
É
preciso
deixar
aclarado
que
os
bibliotecários
não
ofertam
conhecimento; conhecimento é algo construído pelo usuário por meio de sua
assimilação e aprendizado. Os bibliotecários apenas ordenam os dados que,
organizados
anizados se tornam informação, e ao serem apreendidos e aprendidos,
conhecimento. Posteriormente
Posteriormente, com a experiência e aplicação do conhecimento
se transforma em inteligência. Esses são os níveis hierárquicos da informação
(URDANETA, 1992 apud MORESI, 2000)
2000).. A seguir uma figura que representa
esse silogismo.
Figura 1 - Os níveis hierárquicos da informação
Fonte: Moresi (2000, p. 18).
O bibliotecário precisa enxergar nas informações que disponibiliza em
qualquer que seja o local, a capacidade de despertamento para a formação de
um indivíduo pensante e crítico ao realizar as leituras das informações; e não
um mero decodificador de signos, como já foi dito. Esta competência levará o
seu usuário a não ser um analfabeto funcional; pelo contrário, a pe
pessoa terá a
capacidade de ponderar sobre as relações sociais, as forças políticas, as
estruturas e hierarquias, e os desdobramentos de uma descoberta científica,
para que tenha a capacidade de opinar e se posicionar, independente do meio
em que esteja inserido.
�186
Para se alcançar o conceito ideal de leitura colocado no início do tópico, é
interessante pensar na maneira como é conduzido o oferecimento de serviços
de informação. A palavra-chave desse processo é o diálogo. É necessário
diálogo para compreender o usuário e solucionar ou apontar o caminho para a
resolução
de seus problemas informacionais, e encorajar a busca de
informação e alargamento de seus horizontes.
O processo de formação do leitor se dá pela leitura do seu público,
enxergando
interesses,
necessidades
diante
da
conjuntura
do
usuário,
fornecendo informações que corresponderão à sua realidade. Isso coopera
para que o usuário contemple na leitura, um patrimônio não somente para
responder às suas demandas emergenciais, mas guiar, contribuir e moldar sua
cosmovisão diante daquilo que aspira como destino de vida.
4 A FORMAÇÃO DO LEITOR NAS REDES SOCIAIS
Após verificar o contexto informacional e cultural do mundo, no sentido
de como a maior parte das relações se dão, atrelando à informação de como
funciona o processo de leitura, é hora de expressar em aspectos práticos como
formar leitores na era das redes sociais. Já é desafiador propor formação de
leitores em meios convencionais, que dirá em meios digitais, entretanto, é
necessário o bibliotecário perceber novos campos de atuação, e saber
vislumbrar diante das novidades meios para exercer seu fazer informacional.
Existem infinidades de redes sociais, algumas com caráter específico, outras
bem genéricas que retratam diversos tipos de assunto. Considerar o impacto
das tais, e saber quais empregar na busca por esse processo é essencial, para
que seja eficiente e eficaz o trabalho desenvolvido.
O primeiro passo é investigar por intermédio dos estudos de usuários, de
modo quantitativo e qualitativo, as redes mais acessadas pelos usuários reais e
potenciais da unidade de informação onde se atua. A partir disso, investir na
criação de publicações que resgatem a atenção do público, e que respondam
às realidades às quais eles enfrentam. Por isso também uma análise
�187
sociológica, avaliando a faixa etária, classe social e interesses, se faz
extremamente importante para esse percurso.
Uma rede que gostaria de exaltar nesse artigo é o Skoob, que
basicamente
suporta
uma
comunidade
virtual
de
leitores.
É
possível
recomendar obras, vender, trocar ou comprar livros, criar amigos devido aos
interesses similares, etc. Oliveira (2015) realiza uma apresentação da
plataforma com características bem notáveis para o andamento da formação
do leitor, associando com ações que garantem maior consolidação da prática
leitora na vida do indivíduo. Não consiste em algo passageiro, mas um fator
que ressignifica a leitura do indivíduo associando com memórias afetivas.
O diferencial do Skoob é que se trata de uma comunidade brasileira, que
fala a mesma língua, manifestando seus gostos literários, mais ou
menos modelados pelo sistema social em que se dão as práticas de
produção, circulação e recepção daquilo que todos entendem como
literatura. O gosto literário funciona como elemento de agregação e
estabelecimento de vínculos entre os usuários da rede, pertencentes a
um território comum de trocas e relações sociais (OLIVEIRA, 2015, p.
70).
Um bibliotecário que enxerga essa rede como possibilidade para a sua
unidade, criando uma conta da instituição, agregando seus usuários na rede,
convidando, recomendando e sendo esse mediador de laços, promoverá não
somente o despertamento do interesse no leitor por tal expressão, mas
articulará integração de interesses e amizades.
A plataforma oferece a possibilidade de visualizar diversas críticas sobre
a mesma obra, filtrar conveniências, ter contato com outras realidades,
buscando formar um leitor crítico, entre outras possibilidades. A formação do
leitor por meio do Skoob se mostra muito benéfica ao contemplar os laços e
reações da rede.
Apesar disso, existem outros ensejos no mercado, capazes de assistir ao
profissional da informação nessa empreitada de formar leitores a partir de
redes sociais. Aqui foi exposta uma alternativa, mas existe uma diversidade
delas, pelas quais você pode “capturar” um leitor, indicar, conceder uma nova
roupagem do convite ao mundo da leitura e oferecer um significado novo a
essa experiência.
�188
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se essa produção sintetizando que ainda é possível suscitar
leitores pelos meios tradicionais, contudo, quando se trata de rendimento e
efetividade, as redes sociais estão no mercado para oferecer justamente o
resultado diante dessa realidade expressa que é a globalização. As unidades de
informação precisam estar onde os usuários estão, e estes se encontram
conectados. Logo, para alcançar esse público online, é preciso se interligar a
esses sujeitos adentrando em seu respectivo universo.
Além disso, não é um universo presente somente na individualidade, mas
a coletividade e o Estado tem se apropriado do mesmo e entendido que mais
que
trazer
economia
nos
serviços,
se
garante
maior
efetividade
na
comunicação de suas ideias para angariar sujeitos que serão como aportes de
suas perspectivas, ou na participação de suas ações como no caso do Estado
estando nas redes. Estar conectado, estar nas redes sociais digitais é como um
imperativo para o profissional bibliotecário, caso queira demonstrar o valor de
mercado no meio urbano de sua profissão.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Luís; CANAVEZES, Sara. Introdução à globalização. Lisboa:
Instituto Bento Jesus Caraça, Departamento de Formação da CGTP-IN, 2007.
DINIZ, Johnathan Pereira Alves. Práticas de leitura nas redes sócias:
influências da mídia social facebook na formação de leitores dos cursos de
graduação do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí. In: INTER
PROGRAMAS — ECOMUNICA — COMUNICADORES E MUTAÇÕES: CENÁRIOS E
OPORTUNIDADES, 15., Anais [...]. Brasília: Universidade Católica de Brasília,
2016. Disponível em:
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/AIS/article/view/7866. Acesso em: 29
mar. 2020.
MARINHO, Raimunda Ramos. Leitura: um caminho para a cidadania. Transinformação, Campinas, v. 5, n. 1, 2, 3, p. 90-94, jan./dez. 1993. Disponível
em: http://periodicos.puc-
�189
campinas.edu.br/seer/index.php/transinfo/article/view/1650. Acesso em: 02
dez. 2019.
MORESI, Eduardo Amadeu Dutra. Delineando o valor do sistema de informação
de uma organização. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 1, p.14-24,
jan./abr. 2000. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n1/v29n1a2.pdf. Acesso em: 02 nov. 2019.
OLIVEIRA, Rejane Pivetta de. Favoritos do público: uma análise das práticas de
leitura da comunidade virtual Skoob. Revista do programa de pósgraduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, v.
11, n. 1, p. 70-91, jan./jun. 2015. Disponível em:
http://seer.upf.br/index.php/rd/article/view/4968/3443. Acesso em: 02 dez.
2019.
ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania.
LAEL/PUC-SP, São Paulo, p.1-8, [200?]. Disponível em:
http://arquivos.info.ufrn.br/arquivos/2013121153a8f1155045828c12733b68e/
Letramento_e_capacidade_de_leitura_pra_cidadania_2004.pdf. Acesso em: 02
nov. 2019.
SANTOS, Lucineia Rosa dos; DUARTE, Juliana. Globalização e capitalismo
humanista. Revista de direito internacional e globalização econômica,
São Paulo, v. 1, n. 1, p. 273-290, 2019. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/DIGE/article/view/42361/28132. Acesso em: 26 nov.
2019.
DADOS BIOGRÁFICOS
Vinicius Alves dos Santos: Graduando do 7º período de
Biblioteconomia na Escola de Ciência da Informação (ECI), pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já foi estagiário
(2017-2018) no Centro Pedagógico da UFMG e na Editora UFMG
(2018-2019). É membro do grupo de pesquisa Fundamentos
teóricos, metodológicos e históricos da Organização da Informação
dirigido pela professora Cristina Dotta Ortega, coordena um grupo
de estudosque trabalha com ciência política denominado de
Fundamentos do Conservadorismo e Liberalismo. Atualmente,
pesquisa na área sobre Transtorno do Espectro Autista,
ponderando em como a Biblioteconomia e a Ciência da Informação
podem assistir a esses usuários.
E-mail: viniciusalves102011@hotmail.com
�190
CAPÍTULO XI - Leitura coletiva em grupos do WhatsApp
Andreza Gonçalves Barbosa
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
1 INTRODUÇÃO
As tecnologias da informação e comunicação (TICs) impulsionaram
transformações em diferentes dimensões da cultura, dentre as quais, a leitura
literária e a maneira como compartilhamos leituras. Assim, Chartier (2009)
aponta que toda história da leitura propicia liberdade ao leitor, que altera suas
práticas de leitura em conformidade com os tempos e lugares.
Toda história da leitura supõe, em seu princípio, certa liberdade do leitor
que desloca e subverte aquilo que o livro pretende impor. Mas esta
liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada por limitações
derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em
suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam segundo os
tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler: Novas atitudes são
inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do
livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a
longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre
corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as categorias intelectuais
que asseguram a compreensão (CHARTIER, 2009, p. 77).
É perceptível a identificação de um novo perfil de leitor, que utiliza a
internet como forma de ampliar sua experiência de leitura, possibilitando a
realização de leituras de forma conjunta com outros leitores, permitindo trocas
de experiências no decorrer da leitura. Nessa prática, a leitura torna-se
coletiva, pois os leitores influenciam-se mutuamente no que diz respeito a
interpretações e opiniões sobre os livros.
Assim sendo, o presente capítulo aborda a temática da leitura literária e
o compartilhamento dessas experiências que ocorrem por meio da web,
especificamente através de grupos presentes no aplicativo de mensagens
instantâneas WhatsApp.
�191
O WhatsApp - do trocadilho "What'sUp" em inglês - é um aplicativo
gratuito que possibilita o envio e o recebimento de mensagens de texto,
arquivos de mídia, chamadas de voz e vídeo. O aplicativo foi criado por Jan
Koum e Brian em 2009 como uma alternativa ao serviço de SMS e é utilizado
por mais de dois milhões de pessoas, em mais de 180 países32. Com o
WhatsApp é possível trocar mensagens e arquivos com contatos individuais e
há a possibilidade de criar grupos que funcionam como comunidades virtuais.
A alteração de paradigmas que o surgimento da Internet causou para o
mundo acabou por alterar os conceitos de comunidades tradicionais. Já
que não há interação física nem proximidade geográfica, as
comunidades virtuais se estruturam essencialmente sobre um único
aspecto: os interesses em comum de seus membros (BARROS, 2006, p.
144).
Desse modo, a identificação da ocorrência cada vez mais comum da
formação de grupos de leitura coletiva em aplicativos de mensagens
instantâneas suscitou vários questionamentos que nortearam essa pesquisa,
tais como: Quem são os leitores que decidem inserir-se nesses grupos
virtuais? Qual a principal motivação desses leitores para compartilhar suas
experiências de leitura no grupo? Quais as vantagens e as desvantagens das
trocas de experiências literárias ocorrerem por meio do aplicativo WhatsApp?
Nesse sentido, o objetivo geral desta pesquisa foi delinear o perfil dos
leitores pertencentes a um grupo de leitura coletiva formado no aplicativo
WhatsApp. Foram considerados os seguintes objetivos específicos: identificar
as principais características dos leitores do grupo; verificar os principais
motivos que levam os leitores a se inserir no grupo; e, constatar os aspectos
positivos e negativos do compartilhamento de leituras pelo WhatsApp.
2 LEITURA COMPARTILHADA EM MEIO DIGITAL
Segundo Failla (2016), a leitura literária possibilita viver muitas vidas e
experiências ao permitir o contato com o que outros já viveram, produziram,
32
De acordo com informações fornecidas na página do aplicativo WhatsApp. Disponível em:
https://www.whatsapp.com/about/. Acesso em: 23 mar. 2020.
�192
sentiram e criaram, propiciando desvendar outras visões de mundo e outras
percepções sobre o que é ser humano.
Na atualidade, com o constante crescimento do uso das tecnologias, a
autora aponta uma questão relevante:
O desafio é conseguir despertar para a leitura uma geração
quaseentorpecida pela comunicação em meio digital. Ler é uma prática
que exige ficar só, que pede concentração, não oferece estímulo
multimídia, mas, principalmente, pede o domínio da competência leitora
e do letramento. Ler não é tarefa fácil para quem ainda não foi
“conquistado” e é impraticável para quem não compreende aquilo que lê
(FAILLA, 2016, p. 20).
Contudo, já é possível identificar um novo perfil de leitor, que faz uso da
internet como forma de tanto realizar a sua prática de leitura como também
torná-la uma atividade social e interativa. Carrenho (2016, p. 104) ressalta
que “19% dos usuários de internet a utilizam para compartilhar textos e
informações sobre livros e literatura em blogs, fóruns e mídias sociais”. De
acordo com o autor, esse dado demonstra que os internautas brasileiros não
só querem ler, mas querem também escrever e interagir em rede.
Nesse sentido, compreende-se que a leitura literária possui uma
dimensão socializadora no que diz respeito às trocas de experiências literárias,
possibilitando ao sujeito realizar o intercâmbio das ideias suscitadas durante a
leitura individual com outros membros de uma comunidade leitora (PETIT,
2009). Conforme pontua Cysne (1993), “a leitura é social porque o livro
também o é” (CYSNE, 1993, p. 71). Assim sendo, partimos do princípio de que
o ato de ler é uma prática social, como apontado por Chartier (2009).
Se em outras épocas era necessário um local físico onde leitores
pudessem se encontrar pessoalmente, o advento da internet tornou possível
que a interação entre leitores ocorra de forma on-line (CARNEIRO, 2011).
Segundo Almeida (2008), a ruptura radical dos tradicionais ambientes
literários ocorreu no século XX com o aparecimento das novas tecnologias. O
computador, juntamente com a internet, alterou definitivamente a forma de
compartilhar ideias.
�193
A possibilidade de diferentes trocas, como pesquisas, compras, músicas,
filmes, jogos virtuais e diversificadas leituras, criou uma disputa de
atenção dos leitores entre as movimentadas feiras do livro e os
ambientes literários on-line, estes que oferecem páginas de reflexões,
listas de discussões, salas de bate-papo, blogs, sítios literários e
comunidades virtuais (ALMEIDA, 2008, p. 42).
Santaella (2012) afirma que, mediante as mídias digitais, a configuração
da literatura foi alterada em todas as suas instâncias: produção literária,
recepção multimídia, a leitura e interpretação literárias, direitos do autor,
novas formas de edição, novas configurações da obra literária, o acesso e a
função social da literatura.
Dessa forma, a leitura hoje tem a possibilidade de ser compartilhada por
meio das mídias sociais, aplicativos, dentre outros. As redes eletrônicas
ampliam a possibilidade de intervenções e discussões, estando ao alcance de
todos a produção dos juízos pessoais e a atividade crítica (CHARTIER, 2009).
Ainda
atentando-se
para
a
inserção
das
tecnologias
digitais
no
compartilhamento de leitura, e percebendo que a leitura é um fator social,
torna-se importante pensar a respeito do social e a cultura digital. Dessa
maneira, para Cysne (1993) o social torna-se um adjetivo que acompanha a
participação da sociedade em rede.
Guanabara e Sakamoto (2018) propõem um paralelo entre a trajetória
dos livros e os grupos de leitura modernos. Os livros mantiveram sua função
principal ao longo do tempo de transportar informações, mas alteraram sua
materialidade
em
conformidade
com
os
avanços
tecnológicos
e
as
necessidades de uso de cada época. Os clubes do livro mantiveram sua
essência de compartilhar as leituras realizadas, mas se transformaram com os
avanços tecnológicos, sendo realizados em ambiente digital, adicionando novas
características de compartilhamento e funções (GUANABARA; SAKAMOTO,
2018, p. 4).
De acordo com Sá (2018), os encontros presenciais não devem ter sua
importância menosprezada, pois oferecem trocas enriquecedoras entre os
leitores. Contudo, a autora ressalta que a web abre outra possibilidade: o leitor
tem a oportunidade de conectar-se com outros leitores através da rede. Assim,
se no passado só era possível formar uma comunidade de leitores a partir de
�194
encontros presenciais, atualmente a internet permite a interação entre leitores
por meio de ambientes virtuais que proporcionam um diálogo sobre livros e
literatura.
3 METODOLOGIA
A pesquisa quantitativa permite captar conteúdos que possam ser
mensuráveis sendo para isso, utilizados algumas técnicas de pesquisa como,
por exemplo, o questionário, técnica empregada neste trabalho. Conforme
salienta Laville e Dione (2007), uma das características positivas dos
questionários é que por meio deles consegue-se alcançar muitas pessoas
simultaneamente, nesse caso, o entrevistador não precisa estar presente.
Outro ponto importante destacado pelos autores é que a “uniformização
assegura que cada pessoa veja as questões formuladas da mesma maneira, na
mesma ordem e acompanhadas da mesma opção de respostas” (LAVILLE;
DIONE, 2077, p. 184) o que facilita a análise no final do trabalho.
Portanto, a metodologia consistiu em uma análise quantitativa com
inserção de três questões abertas no questionário, pois, percebeu-se que
apenas as questões fechadas não conseguiriam abarcar nuances mais
subjetivas dos respondentes. Segundo Flick (2013, p.107), de acordo com a
necessidade,
os
pesquisadores
podem
incluir
perguntas
abertas
no
questionário “às quais os respondentes podem responder com suas próprias
palavras”. O questionário foi composto por 27 perguntas, sendo vinte e quatro
(24) fechadas e três (3) abertas.
O grupo selecionado para aplicação do questionário é intitulado como
“Sociedade Literária CP”, vinculado ao blog literário “Cultura Pocket”, sendo
administrado pelos seus respectivos blogueiros. A escolha desse grupo foi
baseada no conhecimento prévio deste por parte das pesquisadoras, uma vez
que a pesquisa de Sá (2018) analisou o blog Cultura Pocket.
O Cultura Pocket é um blog literário que foi criado em agosto de 2017. O
blog é coletivo, sendo administrado por uma equipe de blogueiros, tendo um
�195
grupo residente em Minas Gerais, no município de Ribeirão das Neves, e outros
membros residentes em outros estados brasileiros. Esse blog pode ser
caracterizado como uma página na web que publica predominantemente
resenhas de livros literários e conteúdos relacionados, como séries e filmes. O
conteúdo postado no blog possui grande número de comentários, o que revela
a interação entre os blogueiros e os leitores do blog (SÁ, 2018).
Existem algumas ações realizadas pelos blogueiros do Cultura Pocket que
estão vinculadas ao blog, como o Clube do Livro de Ribeirão das Neves, o
projeto Livro Viajante e o grupo no aplicativo WhatsApp.
O grupo do WhatsApp intitulado “Sociedade Literária CP” completou dois
anos de existência em setembro de 2019. À época da coleta de dados, o grupo
era formado por 77 membros, residentes em diferentes regiões do Brasil. O
grupo é divulgado no blog e nas redes sociais do Cultura Pocket. Para entrar
no grupo, é necessário enviar um pedido de solicitação para um dos
administradores, que responde enviando um link.
A dinâmica do grupo de leitura coletiva consiste na leitura de um livro
por mês, com metas de leitura semanais pré-estabelecidas. Os debates de
cada meta de leitura são realizados aos finais de semana. Nos debates os
leitores têm a liberdade de expressar suas opiniões sobre a leitura realizada,
tanto por meio de mensagens de texto como por mensagens de áudio.
O grupo caracteriza-se pela forte interação entre os membros, revelada
pelo grande quantitativo de mensagens trocadas. Para a escolha do livro a ser
lido, os membros enviam sugestões de livros e, posteriormente, é feita uma
votação para definir a leitura do próximo mês. Além das metas semanais, os
leitores também participam de desafios postados pela equipe administradora
do grupo, que consistem em brincadeiras relacionadas ao livro, como
postagens de textos e imagens. Ao final de cada desafio, é sorteado um brinde
para os participantes, geralmente marcadores de livros e mimos, que são
enviados pelo Correio ao vencedor.
Tendo em vista os objetivos deste trabalho - a identificação dos perfis
dos leitores participantes do grupo de leitura coletiva no WhatsApp, verificando
sua motivação, as vantagens e desvantagens do compartilhamento de leituras
�196
virtual - julgou-se pertinente aplicar um questionário. Para tal finalidade, o
formulário do Google foi utilizado para coletar os dados e divulgado aos
participantes. Dessa forma, no dia 23 de setembro de 2019, o formulário com
27 perguntas fechadas e abertas foi enviado aos leitores por meio do próprio
grupo. O formulário ficou disponível para preenchimento ao longo de três dias.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 77 participantes do grupo de leitura coletiva, 25 responderam ao
formulário. Obteve-se, portanto, uma taxa de resposta de 32,47%. Contudo, é
interessante frisar que, à época da pesquisa, apenas 26 leitores afirmaram no
próprio grupo estarem participando da leitura proposta para o mês de
setembro, o livro “O Cemitério” do autor norte-americano Stephen King.
Constata-se, portanto, que desses 26 leitores que estavam efetivamente
participando do grupo com frequência durante o período da coleta de dados,
25 responderam ao formulário. As respostas dos 25 participantes foram
analisadas em três categorias: perfil socioeconômico, perfil dos leitores e
compartilhamento de leituras.
4.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO
A análise do perfil socioeconômico dos leitores permite situar e
compreender tanto aspectos e características identitárias do perfil como
também da condição social predominante entre os leitores. Verificou-se, dentre
outros aspectos, a faixa etária, sexo, identidade racial, estado civil, renda
familiar, trabalho, área de formação e escolaridade.
Em relação à faixa etária (GRÁFICO 1), constatou-se que mais da
metade dos leitores (52%) têm de 31 a 40 anos de idade e 28% possuem de
22 a 30 anos de idade. Esse percentual demonstra que o grupo é composto
predominantemente por pessoas em idade economicamente ativa, que se
�197
dedicam a múltiplas tarefas - estudo, trabalho, demandas familiares e sociais conseguindo conciliá-las
las com a prática da leitura literária assídua.
Gráfico 1 - Idade dos leitores
Fonte: Dados d
da pesquisa (2020).
O questionário possibilitou averiguar que o grupo é composto por 84%
de mulheres (GRÁFICO 2). Essa estatística vai ao encontro de estatísticas
nacionais, como a da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 4 (FAILLA, 2016),
que constatou que as mulheres leem mais do que os homens.
Gráfico 2 - Sexo dos leitores
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Em relação à cor da pele (GRÁFICO 3), 44% se autodeclarou pardo,
seguido de 40% de brancos e apenas 16% de negros. Para uma análise mais
aprofundada desses dados, ser
seria
ia necessária a coleta de dados de forma
qualitativa, que permitisse uma compreensão mais completa que justificasse
os dados obtidos.
�198
Gráfico 3 - Cor da pele autodeclarada pelos leitores
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Em relação ao estado civil, 48% dos leitores são casados, 40% solteiros,
8% divorciados e 4% declarou viver com companheiro.
Responderam ao questionário, leitores residentes nos seguintes estados
brasileiros:
Amazonas,
Ceará,
Distrito
Federal,
Minas
Gerais,
Pará,
Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Com isso, podemos
constatar a amplitude do alcance que um clube de leitura compartilhada por
WhatsApp possui, dinâmica que é própria das comunicações em rede na
sociedade contemporânea. Dos estados mencionados, cerca de 36% residem
em Minas Gerais, sendo a maior porcentagem dos leitores que participaram da
pesquisa. A forte presença dos leitores mineiros se atribui ao fato de que a
maior parte dos administradores do grupo são de Minas Gerais.
Gráfico 4 - Renda familiar mensal dos leitores
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
A renda familiar mensal de 40% dos membros do grupo fica em torno de
2 a 3 salários mínimos, 32% de 4 a 6 salários mínimos, fazendo parte de uma
classe média. Ressalta-se que 12% possui renda de até um salário mínimo,
representando uma classe social mais baixa. Apenas 12% dos leitores recebe
mensalmente de 7 a 9 salários, compondo uma classe média alta (GRÁFICO
4). 72% dos leitores afirmaram que não trabalham diretamente com a leitura
�199
literária, dado que reflete que a leitura para a grande parte dos leitores tratase de um hobby, uma atividade relacionada ao lazer e não à prática
profissional. Dentre as profissões citadas pelos leitores participantes da
pesquisa foram apontadas: Agente de pesquisa, Auxiliar de escritório, Auxiliar
administrativo, Bancário, Bibliotecária, Designer Gráfico, Professora, Professora
universitária, Radialista, Fonoaudióloga, Fotógrafa, Técnico de Manutenção,
Psicóloga, Química, Servidor Público, Artesã e Supervisora de atendimento.
Também houve casos de pessoas que afirmaram ser donas de casa,
aposentadas e desempregadas. Tal dado reflete também a importância dada à
leitura literária, prática que não é realizada por obrigação, visto que não está
entre as atribuições profissionais da maioria. É fato relevante que, apesar de
uma rotina diária de trabalho, profissionais das diversas áreas apontadas na
pesquisa dediquem seu tempo de lazerà prática da leitura.
Quanto à escolaridade, a muitos leitores possuem pós-graduação
completa (36%), seguidos de leitores com ensino superior completo (28%). O
nível de escolaridade dos leitores do grupo revela a importância da educação
formal e sua estrita relação com a formação do leitor proficiente e crítico. Dos
64% dos leitores que completaram uma graduação, diagnosticou-se que
65,2% não se formou em área diretamente relacionada à leitura literária. Esse
último dado aponta novamente para a prática da leitura realizada por lazer,
não estando relacionada aos estudos formais dos participantes da pesquisa. As
áreas de formação citadas pelos leitores graduados foram: Administração,
Biblioteconomia, Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Economia,
Estatística, Fonoaudiologia, História, Letras, Psicologia, Química, Serviço
Social, Tecnologia Eletrônica. Houve respondentes que não especificaram o
curso de formação, um afirmou que ter se formado na área de Ciências
Humanas e outro na área de Ciências da Saúde. É um equívoco, portanto, a
concepção de que pessoas que se interessam pela leitura são advindas
somente das áreas de ciências humanas, ligadas à educação ou ao estudo da
literatura. Os dados demonstraram que pessoas vinculadas as mais diversas
áreas do conhecimento, inclusive às ciências exatas, concebem a leitura
literária como ação relevante no seu cotidiano.
�200
Outro dado relevante é que 48% dos leitores cursaram seus estudos
integralmente em escola pública, 32% cursaram a maior parte em escola
pública, 12% cursaram a maior parte dos estudos na rede particular e 8% e
em
escola particular. Tal estatística destaca a importância do investimento no
setor público de forma a contribuir para a educação e forma
formação
ção de leitores.
4.2 PERFIL DOS LEITORES
Para compreender o perfil dos leitores e suas respectivas práticas de
leitura, buscou-se
se investigar sua frequência de leitura, de modo a verificar a
incorporação do ato de ler no cotidiano dessas pessoas. Averiguou
Averiguou-se também
a quantidade de livros lidos por mês, as maiores barreiras encontradas pelo
leitor durante a leitura, a percepção do tempo dedicado à leitura, o uso de
diferentes suportes e o papel da leitura na vida do leitor.
Gráfico 5 – Frequência de leitura literária
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
O Gráfico 5 revela como a prática da leitura literária é algo presente no
cotidiano dos leitores, visto que a grande maioria (76%) lê todos os dias. Mais
do que a quantidade de livros lidos, a frequência de leitura permite a
compreensão da verdadeira importância da leitura na vida das pessoas.
Sujeitos que leem todos os dias são aqueles que priorizam a prática da leitura,
tendo essa ação como incorporada no seu dia a dia.
�201
Gráfico 6 – Quantidade de livros mensal
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Quanto à quantidade de livros lidos, o Gráfico 6 revelou que grande parte
dos entrevistados 44% leem de 3 a 5 livros por mês. Pode
Pode-se, nesse caso,
inferir que a participação em clubes de leitura sejam eles virtuais ou
presenciais tem grande relevância para manter o hábito de leitura.
Gráfico 7 – Barreiras em relação à leitura
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
No que se referem às barreiras encontradas pelos leitores (GRÁFICO 7),
os resultados mostram que a maioria dos respondentes 64% declararam não
possuir tempo para se dedicarem à leitura.Os afazeres do dia a dia como
trabalho, estudo, dentre outras questões que surgem no cotidiano das pessoas
podem contribuir para tal resultado. Com relação ao tempo dedicado a leitura,
72% dos participantes disseram ser insuficiente (GRÁFICO 8).
Gráfico 8 – Tempo dedicado a leitura pelos leitores do grupo
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
�202
Outra análise possível de ser feita em relação a esses dados é a extrema
autocobrança dos leitores, pois 76% dos leitores leem todos os dias, sendo que
44% leem de dois a três livros por mê
mês,
s, ainda assim 72% dos leitores sentem
que seu tempo dedicado a leitura é insuficiente. Por meio da correlação entre
os dados estatísticos, podemos considerar que os leitores possuem uma
frequência de leitura muito alta, com uma quantidade de livros lidos por mês
acima da média, mas mesmo assim não consideram que conseguem ler tanto
quanto gostariam. Tal constatação demonstra tanto a voracidade dos leitores
em querer ler mais, quanto uma extrema cobrança para dedicarem
dedicarem-se mais à
prática da leitura.
Gráfico 9 – Suporte informacional mais utilizado
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Quanto ao suporte informacional utilizado (GRÁFICO 9), 60% dos
participantes disseram utilizar ambos os suportes, impresso e digital. A
praticidade de e-readers ou computadores e até mesmo smartphones facilitam
a vida de quem precisa de praticidade no dia
dia-a-dia
dia devido os afazeres
cotidianos. Já o livro impresso mesmo diante das novas tecnologias aliadas a
leitura, ainda assim continua entre as preferências de mui
muitas
tas pessoas, haja
vista que os leitores possuem uma relação afetiva com os livros físicos,
valorizam o contato com o papel, têm o livro como um objeto para colecionar e
ler no conforto de casa.
�203
Gráfico 10 – Papel da leitura para os leitores do grupo
po
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Conforme o Gráfico 10, a maioria dos respondentes (56%) disse ler por
prazer, já 4% deles leem para se informar. É interessante perceber que
mesmo a leitura por prazer possibilita informação e aprendizagem ao indivíduo
leitor.
A escolha da resposta “gosto de ler porque me dá prazer” vai ao
encontro do senso comum, uma vez que em escolas e em diversas campanhas
de promoção da leitura é divulgado o famoso slogan “ler é um prazer”.
Contudo, essas questões precisam ser melhor invest
investigadas,
igadas, no sentido de
realmente compreender qual é esse prazer que a leitura proporciona. O prazer
no sentido de um entretenimento e diversão só irá ocorrer quando o leitor
dedica-se
se a leituras que possuem narrativas cômicas ou romanceadas, de
forma que a leitura de textos mais densos, profundos ou dramáticos não irá
proporcionar o prazer fácil, a risada e o entretenimento, mas poderá
proporcionar um prazer da fruição.
Nesse sentido, outros leitores relacionaram o papel da leitura em sua
vida
de
modo
mais específico, constatando que gostam de
ler para
pensar/refletir (20%) ou que gostam de ler para ter outras experiências
(20%). Esse último dado abarca as possibilidades de vivências diversas por
meio da literatura e como o sujeito consegue experienciar sent
sentimentos e se
inspirar por trajetórias ficcionais.
�204
4.3
.3 COMPARTILHAMENTO DE LEITURAS
A análise do compartilhamento de leituras diz respeito a experiência do
próprio grupo de leitura coletiva “Sociedade Literária CP” e as vivências que
esse
grupo
proporciona
ciona
aos
leitores
participantes.
Verificou
Verificou-se
qual
a
motivação para adentrar no grupo do WhatsApp,, como cada leitor ficou
sabendo da existência do grupo, se a prática da leitura foi intensificada devido
à participação no grupo e se os leitores já indicara
indicaram
m o grupo para outras
pessoas.
Gráfico 11 – Motivação para entrar no grupo de leitura coletiva
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
De acordo com os dados acima (GRÁFICO 11), compreende
compreende-se que uma
grande parcela dos leitores (48%), inseriu
inseriu-se no grupo em busca de conhecer
outros leitores e/ou fazer amizades. Tal fator pode estar relacionado à solidão
que muitas vezes atinge o leitor durante a leitura, que é um ato realizado de
modo solitário. Também relacionado ao sentimento de querer tornar o ato de
ler uma
ma ação mais interativa, 24% dos leitores afirmam inserirem
inserirem-se no grupo
de leitores para compartilhar suas opiniões sobre os livros lidos. Outros 24%
apontaram como motivo da procura pelo grupo o fato de escolherem ler livros
diferentes dos que costumam le
ler,
r, buscando assim variar as suas leituras,
ampliando horizontes e perspectivas, conhecendo outros gêneros literários e
saindo da zona de conforto. Por fim, 4% afirmaram adentrar no grupo para
participar dos desafios e ganhar brindes, dando prioridade às br
brincadeiras
literárias e a um modo de interação mais lúdico.
No que se refere ao modo como os sujeitos da pesquisa tomaram
conhecimento da existência do grupo, 32% conheceram a “Sociedade Literária
�205
CP” por meio das redes sociais, 32% por meio da indicação de amigos que já
estavam no grupo, 20% por meio de outro grupo de leitura coletiva e 16% por
meio do blog Cultura Pocket. A interpretação desses dados remete ao fato de
que esses leitores são sujeitos inseridos no mundo virtual, e que, ao transitar e
interagir em diversos espaços virtuais, como as mídias sociais, o blog, e outros
grupos de leitura, acabaram conhecendo o grupo de leitura coletiva vinculado
ao Cultura Pocket.
No que diz respeito à participação no grupo e o aumento da quantidade
de leituras realizadas, a grande maioria dos leitores (76%) afirmam que a sua
entrada no grupo de leitura coletiva intensificou suas práticas de leitura.
Constata-se que o grupo motivou os leitores a dedicarem-se mais às leituras,
por meio da grande interação proporcionada pelo WhatsApp, que transforma a
leitura em uma atividade coletiva. Além disso, 92% dos membros já
recomendaram o grupo para outras pessoas, o que demonstra uma grande
aprovação da “Sociedade Literária CP”.
De maneira complementar, o questionário contou com três perguntas
abertas acerca da contribuição do grupo para a vida dos leitores; aspectos
positivos e negativos do grupo de Leitura Compartilhada no WhatsApp. Além
das três questões, optamos por deixar um espaço livre para os leitores que
quisessem compartilhar relatos de experiência no contexto do grupo.
Assim sendo, quando perguntamos aos participantes da pesquisa “Qual a
principal contribuição do grupo para a sua vida?” e “Cite os aspectos positivos
do grupo de Leitura Coletiva no WhatsApp”, as respostas giraram em torno do
aspecto emocional. As duas questões apresentaram respostas similares, de
maneira a possibilitar maior compreensão do grupo para os respondentes. Para
a maioria, o grupo motiva na realização de leituras ao possibilitar “sair da zona
de conforto”; funciona como um “apoio emocional” – conforme pontua um dos
respondentes; e principalmente, oportuniza fazer novas amizades.
Outro aspecto muito mencionado pela maioria dos participantes da
pesquisa, foi o fato de o grupo de leituras compartilhadas contribuir para uma
abertura nas possibilidades de leitura e propiciar a troca de perspectivas e
experiências sobre o texto.
�206
“Com o grupo fiz novas amizades e gosto de acompanhar a discussão
dos diversos pontos de vista de uma mesma história” (Leitor 4).
“Ver como com a mesma história as pessoas têm visões diferentes”
(Leitor 8).
“Ter acesso a vários livros, autores e gêneros. As amizades que a leitura
te dá, e a experiência que cada um tem não só em relação às leituras
mas na vida” (Leitor 9).
“Fazer novos amigos, partilhar leituras, ver outros pontos de vistas…”
(Leitor 10).
“Me tirar da zona de conforto em relação a livros que costumo ler”
(Leitor 18).
Consonante com a possibilidade de ver diferentes perspectivas sobre
uma mesma obra, a possibilidade de ampliar as leituras, conhecer pessoas que
também se identificam com o universo literário e construir laços de amizade
foram aspectos mencionados pela maioria.
“Temos a oportunidade de conhecer pessoas do Brasil todo, criar laços
de amizade, temos diversos pontos de vista de uma mesma história e
também somos chamados a sair da nossa zona de conforto” (Leitor 3).
“Com o grupo intensifiquei minha frequência de leitura, li livros fora da
minha zona de conforto, me senti confortável em expressar minha
opinião, acolhida pelos membros do grupo. Compartilhar leituras virtuais
é muito interessante para conhecer leitores de vários outros lugares do
Brasil, que as vezes tem gostos muito semelhantes! A interação é muito
boa seja por mensagem escrita, seja por áudio, as trocas são muito
ricas” (Leitor 14).
“Ele abre um leque de possibilidades, de fazer amizades, de debater
sobre o que lemos, sair da zona de conforto e principalmente a amizade
que o grupo gera, que acaba sendo apoio em vários momentos difíceis
da vida diária” (Leitor 6).
Na resposta acima, o Leitor 6 pontua que o grupo também atua como
apoio nos momentos difíceis da vida. A relação estabelecida nos grupos
propicia o estabelecimento de vínculos que se sobrepõe ao interesse somente
pelas leituras. Nesse sentido, um dos leitores, mencionou o fato de que o
grupo tem contribuído para redução de crises depressivas.
“Fiz lindas amizades.
depressivas” (Leitor 7).
Eu
tenho
surtado
menos.
Menos
crises
Quanto aos aspectos negativos do grupo, os leitores pontuaram o atraso
nas metas de leitura; o acúmulo de mensagens, que atrapalha os membros
�207
acompanharem as conversas; outros tipos de mensagens no grupo; e, lidar
com as diferenças e divergências de opiniões que não agregam às discussões.
Houve também leitores que afirmaram não haver aspecto negativo ou que não
se recordam.
“Mensagens de bom dia, boa tarde etc.” (Leitor 5).
“As vezes tem muito blábláblá que não acrescenta, mas acho que faz
parte e também depende da maturidade do grupo” (Leitor 8).
“Aspectos negativos às vezes o grande acúmulo de mensagens, se você
perde o início de uma discussão, você tem que tirar um tempo para ler
todas as mensagens e ouvir os áudios. Já teve em alguns momentos a
presença de pessoas com opiniões muito rígidas, pessoas muito
inflexíveis, ocorreram algumas polêmicas, mas logo essas pessoas se
ausentaram do grupo. Em um grupo de leitura coletiva é necessário que
os membros sejam mais flexíveis, é importante respeitar as opiniões
diversas" (Leitor 14).
Mensagens de saudação (bom dia, boa tarde, boa noite); outros tipos de
mensagem além das temáticas do grupo; discordâncias de opiniões. Vivemos
um momento na sociedade contemporânea que, como em qualquer grupo de
WhatsApp, os aspectos negativos mencionados seriam pontuados, pois tratase de aspectos comportamentais de um grupo que mesmo tendo como
finalidade um interesse comum, é heterogêneo.
Ainda no tocante aos aspectos negativos, houve leitores que pontuaram
questões individuais que interferem no grupo, tais como o fato de não poder
escolher com quem interagir; e, a dificuldade de seguir metas semanais.
A última pergunta do questionário foi a única com o campo de respostas
livre. Foi solicitado aos leitores que contassem experiências com a Leitura
Coletiva no WhatsApp. Dos 25 leitores que participaram da pesquisa, oito
relataram
alguma
experiência.
Em
todos
os
relatos,
a
sensação
de
pertencimento foi um aspecto marcante entre os leitores. A comunicação no
WhatsApp, seja escrita ou falada - por áudios, pelos leitores constitui um
diálogo que possibilita a formação de laços, produzindo a sensação de
pertencimento. Pertencer a uma comunidade virtual de leitores como o grupo
possibilita liberdade de ser e se expressar sobre os livros e a leitura.
“Através da leitura consegui falar por áudios kkk, é algo simples, até
insignificante, mas pra mim foi um passo gigante” (Leitor 4).
�208
“O grupo foi um marco na minha vida. Depois que entrei no grupo
voltei a ler mais, a leitura se tornou parte da minha rotina, do meu diaa-dia. Me conectei aos leitores que conheci, viraram amigos, pessoas
queridas, damos risadas juntos. No grupo o pessoal é muito carinhoso,
adoro isso! Sinto que achei minha turma, estou entre os meus. Rola uns
desabafos, tem apoio, um grupo quase terapêutico rsrs. Meu sonho
seria fazer uma grande reunião presencial com todos, um encontrão da
Sociedade Literária!” (Leitor 5).
“Saí da minha zona de conforto e li outros tipos de livros e realmente
gostei. Vi que temos diversos escritores bons no Brasil e já estou
acompanhando alguns deles que conheci no grupo” (Leitor 8).
O relato acima nos mostra o quanto o grupo é importante para que os
leitores conheçam os autores já renomados e os contemporâneos do Brasil,
incentivando a valorização da literatura brasileira. O ato de compartilhar a
leitura com outras pessoas é importante, sobretudo, para ressignificar a
compreensão do texto literário a partir do olhar do outro. Além disso, o
compartilhamento de leituras possibilita aos membros do grupo vivenciar a
dimensão socializadora da literatura, ao propiciar a sensação de pertencimento
a uma comunidade leitores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As
tecnologias
de
informação
e
comunicação
impulsionam
as
oportunidades de aproximação de pessoas com interesses comuns, como os
membros do grupo de Leitura Coletiva por WhatsApp. Na leitura coletiva,
realizada pelo WhatsApp, o leitor não é solitário, não termina o livro para
depois discutir – como ocorreria em um clube de leitura presencial - ele discute
durante a leitura, o que enriquece a sua experiência. Conforme podemos
observar com a realização da pesquisa, por meio da leitura coletiva os
participantes têm a possibilidade de conhecer novas leituras possibilitando,
dessa maneira, uma visão mais holística da literatura.
Os resultados da pesquisa identificaram o perfil socioeconômico dos
leitores, se destacando o seguinte perfil como maioria dos participantes:
mulheres autodeclaradas pardas, na faixa etária de 31 a 40 anos, casadas,
�209
com renda familiar de 2 a 3 salários mínimos, que não trabalham com a leitura
literária, com formação acadêmica em nível de graduação.
Quanto ao perfil do leitor, identificou-se que a frequência de leitura é
diária, totalizando de 3 a 5 livros por mês, cuja principal barreira para leitura é
a falta de tempo. A maioria considera o tempo dedicado à leitura como
insuficiente, utilizando tanto livros impressos quanto digitais. A motivação da
maioria dos leitores ao realizar leituras é a busca pelo prazer.
No tocante aos resultados referentes à prática de compartilhamento de
leituras, avaliou-se que a motivação para entrada no grupo é conhecer outros
leitores/fazer amizades. O grupo de leitura coletiva é conhecido por meio das
redes sociais ou pela indicação de amigos e com a entrada no grupo a prática
da leitura literária se intensifica.
Com a realização da pesquisa, podemos afirmar que o grupo de Leitura
Coletiva por WhatsApp é um instrumento de motivação aos leitores membros,
ao possibilitar acesso a autores e títulos diferentes; apoio emocional; troca de
experiências literárias com pessoas de diferentes localidades do país com um
interesse em comum; a leitura; e a oportunidade de fazer novas amizades. Os
aspectos
negativos
mencionados
pelos
leitores
que
participaram dessa
pesquisa são próprios do contexto informacional que vivenciamos, como o
acúmulo de mensagens no grupo; mensagens sobre outros assuntos no grupo;
e, lidar com as diferenças e divergências de opiniões. Aspectos individuais dos
leitores também foram pontuados, tais como a dificuldade de cumprir as metas
de leitura definidas pelo grupo, e o tempo dedicado ao grupo.
A leitura realizada de modo coletivo pelo WhatsApp, analisada nesta
pesquisa, demonstra que o leitor pode utilizar a tecnologia como sua aliada. Os
resultados da pesquisa apontam que não é uma questão de leitura versus
tecnologia, mas sim, leitura com o uso da tecnologia, pois para os leitores as
mídias digitais são oportunidades para criar formas novas de ler e interagir na
rede.
�210
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DADOS BIOGRÁFICOS
Andreza Gonçalves Barbosa: Doutoranda em Ciência da
Informação pelo Programa de Pós
Pós-Graduação
Graduação em Ciência da
Informação PPGCI
PPGCI-UFMG
UFMG (2018). Mestre em Ciência da
Informação pelo mesmo programa (2017). Bacharel em
Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação
Informação- UFMG
(2015). Membro do grupo d
de
e pesquisa "Práticas Informacionais e
Cultura" (EPIC
(EPIC-UFMG).
UFMG). Áreas de interesse: Usuários da
informação, Ciência da Informação, Informação e cidadania,
Bibliotecas Prisionais, Leitura no cárcere, Ressocialização, Práticas
Informacionais. Representante Disce
Discente PPGCI - UFMG. Membro
da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP - Febab).
E-mail
mail: goncalvesandreza@hotmail.com
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
Mestra em Ciência da Informação pela mesma instituição (2018).
Possui graduação em Biblioteconomia pela UFMG (2016). Atua
como Bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal Professor
Francisco Tibúrcio de Oliveira, vinculada à Prefeitura Municipal de
Santa Luzia (MG). Tem interesse nas áreas de práticas
informacionais e estudos de usuários da informação, com enfoque
na apropriação da leitura literária e compartilhamento de leituras.
E-mail
mail: j.jessicadesa@gmail.com
Emanuelle Geórgia Amaral Ferreira
Ferreira:: Bibliotecária, Mestra e
Doutoranda em Ciência da Informação pela UFMG. Pesquisadora
dos seguintes grupos de pesquisa “Estudos em Práticas
Informacionais e Cultura” (EPIC/UFMG) e “Informação na
Sociedade Contemporânea” (UFRN), ambos cadastrados no
CNPq. S
Seus
eus interesses de pesquisa estão em torno da
Biblioteconomia, com ênfase na Ciência da Informação.
E-mail
mail: emanuelle.gaf@gmail.com
�212
CAPÍTULO XII - Mediação da informação e da Leitura no
Instagram: novas possibilidades para os bibliotecários
João Arlindo dos Santos Neto
1 INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico provocado pelas mudanças ocasionadas no Séc. XX
e Séc. XXI, como desenvolvimento da web, surgimento de dispositivos móveis
e sua popularização, das redes e mídias sociais digitais, dentre outras,
acarretou uma profunda transformação nas distintas frentes de ocupação no
mundo do trabalho. Seja devido ao acompanhamento de uma tendência
(imediata ou duradoura) ou de uma necessidade, impulsionando muitas
organizações e profissionais a adentrar no universo das “redes sociais”. Este
comportamento se deve a alguns motivos: estabelecer uma comunicação mais
direta com o público; estreitar o relacionamento com o cliente; divulgar
produtos, serviços e processos etc.
No entanto, devido à diversidade de redes e mídias sociais existentes,
cabe a organização investigar qual é a mais adequada ou quais são as redes
mais adequadas ao seu perfil/contexto, isto é, identificar em qual delas
encontram-se a maioria dos seus clientes reais e potenciais. Digo isto, pois ao
realizar algumas pesquisas e, até mesmo, utilizar algumas redes, identifiquei
perfis e páginas de uma mesma organização/pessoa em diferentes redes e
mídias sociais. Todavia, tais redes apresentam-se muitas vezes desatualizadas.
Sem entrar no mérito dos motivos que levam uma página ou perfil a ficar
desatualizado, o que quero destacar é a imagem que isso passa ao
cliente/usuário. Uma página que não está atualizada ou que não interage com
seu público tem sua imagem afetada, visto que não demonstra interesse em
informar e se comunicar com ele.
Na ânsia de obter mais visibilidade e aumentar os “3Cs”: curtidas,
comentários e compartilhamento; páginas e perfis são criados em distintas
�213
plataformas e nelas publica-se o mesmo conteúdo, sobretudo, pelo uso de
ferramentas que programam e replicam uma mesma postagem em diferentes
redes. Quero destacar que essa facilidade é benéfica, no entanto, precisa ser
utilizada com parcimônia e de maneira estratégia. Afinal, quão representativo
ou relevante é se realizar, por exemplo, cinco postagens ao dia e replicá-las
em três ou quatro redes distintas? Este e outros questionamentos serão aqui
discutidos.
Este capítulo, de natureza básica, tipologia exploratória e abordagem
qualitativa (GIL, 1999; VOLPATO, 2004), tem como objetivo discutir as
possibilidades de mediação da informação e da leitura no Instagram, seja por
bibliotecários vinculados a equipamentos informacionais-culturais ou não; além
de fornecer dicas sobre como mediar informação e leitura na referida rede.
Sendo assim, o presente texto está estruturado da seguinte forma: breve
cenário das pesquisas sobre mediação em redes sociais; mediação da
informação e da leitura; redes sociais, bibliotecários(as) e bibliotecas;
recomendações e dicas para mediar informação e leitura no Instagram.
2 BREVE CENÁRIO DAS PESQUISAS SOBRE MEDIAÇÃO EM REDES
SOCIAIS
No âmbito nacional e internacional da Biblioteconomia e Ciência da
Informação (CI), houve um aumento significativo no número de pesquisas que
investigam
o
uso
das
redes
sociais
por
bibliotecas
e
equipamentos
informacionais-culturais. Ainda que a existência das redes e mídias sociais não
seja novidade (algumas existem há mais de 10 anos), a presença de
organizações e profissionais desse campo de atuação não foi tão rápida e
concomitante ao aparecimento das redes. Obviamente, no surgimento delas,
em geral, não se tinha dimensão de que poderiam ser utilizadas para além dos
relacionamentos sociais.
Logo, tal demora refletiu também no tempo que se levou para realizar
pesquisas nesse contexto. Ao realizar uma busca na Base de Dados em Ciência
�214
da Informação (Brapci33) a partir da expressão “mediação AND rede social” e
pelo nome de algumas redes: Facebook, Instagram, Twitter, obtive diversos
resultados. Com o intuito de apresentar um breve panorama das investigações
já realizadas, destaco algumas delas.
Bernardino, Suaiden e Cuevas-Cerveró (2014) publicaram o artigo
intitulado O uso do Facebook pelas Bibliotecas Públicas do estado do Ceará e
constataram que somente 18% das bibliotecas pesquisadas possuem contano
Facebook. Analisando também as bibliotecas públicas brasileiras Calil Junior e
Almendra (2016), a partir do texto As apropriações do Facebook pelas
bibliotecas públicas estaduais brasileiras, estabeleceram sete categorias
temáticas referente ao conteúdo postado no Facebook pelas bibliotecas.
Gomes e Santos (2009, 2001), por sua vez, chegaram a um total de 16
categorias ao levantar e analisar as ações demediação da informação no
Facebook pelas bibliotecas públicas brasileiras.
Seco, Santos e Bartalo (2016) publicaram o artigo Comportamento
informacional e compartilhamento da informação no Instagram. Nele, as
autorasinvestigaram dois perfis no Instagram no âmbito das atividades
domésticas, cujo compartilhamento e mediação têm o objetivo de satisfazer
necessidades informacionais dos seguidores.
Ramos, Santana e Santos Neto (2016) analisaram a mediação da
informação no YouTube em vlogs sobre jogos eletrônicos. Mesmo não sendo no
âmbito
dos
similaridades
equipamentos
com
os
informacionais,
processos
de
os
mediação
autores
explícita
e
identificaram
implícita
da
informação.
Garcia e Sá (2017) investigaram o uso do Instagram por bibliotecas da
Espanha, Brasil, Chile e Estados Unidos. Segundo as autoras, as bibliotecas
utilizam
esta
mídiapara
divulgar
suas
atividades,
eventos,
programas,
projetos, acervo e seus serviços.
33
Disponível em:
https://brapci.inf.br/index.php/res/?q=media%C3%A7%C3%A3o%20AND%20redes%20sociai
s&type=1&year_s=1972&year_e=2020&p=2. Acesso em: 10 jul. 2020.
�215
Rozzi, Bortolin e Santos Neto (2017) pesquisaram o uso do Twitter no
incentivo à leitura pelas bibliotecas escolares a partir do emprego de hashtags.
Os autores elucidam que os tweets aproximam os leitores dos cientistas,
escritores, artistas, professores, bem como estreitam o relacionamento entre
usuários/leitores e a biblioteca escolar.
Ao pesquisar as bibliotecas universitárias do Estado do Paraná, Santos
Neto e Almeida Júnior (2017) identificaram que somente 31% delas utilizam o
Facebook como forma de mediar a informaçãoe interagir com seu público.
Além disso, evidenciaram 15 categorias temáticas que os conteúdos postados
se enquadram.
Albuquerque e Paixão (2020) publicaram o artigo intitulado O Instagram
como canal de interação entre as bibliotecas e os usuários da Universidade
Federal de Alagoas. Das 14 bibliotecas que compõem o Sistema de Bibliotecas
da UFAL, os autores identificaram que apenas seis possuem perfil na rede
social. Destacam ainda que realizar postagens frequentes não promove
necessariamente o fortalecimento dos laços com seus usuários.
As análises das mediações realizadas pelas bibliotecas nas redes sociais
permitem compreender “[...] como elas têm construído sua imagem dentro
desse dispositivo e ampliadosuas relações sociais com os usuários, bem como
identificar que os serviços da biblioteca nãose restringem ao seu espaço físico,
sendo possível também no espaço virtual” (SANTOS; GOMES, 2015).
3 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA LEITURA
Compreendo que os conceitos mediação da informação e mediação da
leitura ocupam uma posição equivalente na hierarquia das extensões do
conceito de mediação, assim como os conceitos de mediação cultural,
mediação pedagógica, dentre outros. De maneira simplificada, enquanto a
mediação da informação preocupa-se com a apropriação da informação e a
satisfação de uma necessidade informacional, a mediação da leitura tem como
�216
foco aproximar o leitor de uma manifestação textual (escrita, imagética,
audiovisual etc.).
Outros
textos
trataram
de
maneira
aprofundada
e
complexa
a
epistemologia, historicidade e definições para os conceitos de mediação da
informação e da leitura. Logo, esta seção não tem esse intuito. Pretendo
apresentar ao leitor algumas definições com as quais coaduno e compreendo
como essenciais para o presente texto. Quanto à mediação da informação,
corroboro com Almeida Júnior (2015, p. 25), ao definir que:
[...] é toda ação de interferência – realizada em um processo, por um
profissional da informação e na ambiência de equipamentos
informacionais –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente;
singular ou plural, individual ou coletiva; visando a apropriação de
informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea,
uma
necessidade
informacional,
gerando
conflitos
e
novas
necessidades informacionais.
Compreendo que a referida definição subsidia e norteia todos os fazeres
dos profissionais da informação, sejam eles no âmbito dos equipamentos
informacionais tradicionais ou não, como é caso das redes sociais. Identifico
que todo o planejamento, preparo, criação, escolha da rede social é uma
interferência do profissional da informação, ou seja, uma mediação. Neste
caso, relaciono à mediação implícita da informação (ALMEIDA JÚNIOR, 2006),
quando o usuário não está presente. Este processo de curadoria de conteúdo,
bem como linguagem a ser empregada, horário de postagem etc., são escolhas
do profissional e interferem no modo com o usuário visualiza, se relaciona e
apropria-se ou não da informação.
Também identifico proximidades desse fazer com a mediação explícita da
informação (ALMEIDA JÚNIOR, 2006), quando a presença física ou remota do
usuário é fundamental. Neste caso, associo, dentre outros elementos, a
interação e o engajamento do usuário quando ele curte, comenta e
compartilha um determinado conteúdo. A organização, seja ela uma unidade
informacional ou não, ou mesmo o perfil pessoal de um(a) bibliotecário(a), só
consegue ter dimensão do trabalho realizado nas redes sociais a partir da
interação com o usuário. Se este não apresenta indicadores mínimos de
�217
interação, como por exemplo curtir, comentar ou compartilhar, tem se a
impressão de que o bibliotecário está invisível nas redes.
Em complemento ao exposto, destaco também a contribuição de Gomes
(2014, 2017) ao estipular cinco dimensões da mediação da informação:
dialógica, estética, formativa, ética e política. Fazendo uma síntese sobre tais
dimensões, a dialogia está contida na mediação pois ela se pauta no diálogo, o
oposto disso seria imposição oumanipulação; a dimensão estética se dáno
instante em que o sujeito reconhece o prazer estético no processo de
aprendizado e desenvolvimentosocial e cognitivo; a dimensão formativa diz
respeito a relação mútua entre mediação-mediando, tendo em vista que na
mediação a escuta, o acolhimento e a observação são essenciais; a dimensão
ética se faz presente pelo simples fato (não menos complexo) de lidar com
sujeitos e instâncias, está ligada ao ato de cuidar; por fim, a dimensão política,
capaz
de
transformar
os
sujeitos
em
cidadãos
sociais
conscientes
e
comprometidos.
Quanto ao conceito de mediação da leitura, Barros (2006, p. 17) aponta
que “[...] mediar a leitura é fazer fluir a indicação ou o próprio material de
leitura até o destinatário-alvo, eficiente e eficazmente, formando leitores”.
Neste ato promove-se o encontro entre o leitor em formação e o texto. Me
aproprio também da definição de Bortolin (2010, p. 107), que considera a
mediação da leitura como “[...] ato fundamental para formação de leitores,
umposicionamento sociocultural no sentido de levar o cidadão a ler diferentes
textospara que ele, com autonomia, exerça plenamente seu papel de cidadão”.
A referida autora apresenta ainda uma extensão para ele, a mediação de
leitura literária como a “[...] interferência casual ou planejada visando a levar
o leitor a ler literatura em diferentessuportes e linguagens” (BORTOLIN, 2010,
p. 115). Literária ou não, a mediação da leitura precisa levar em consideração
alguns aspectos, dentre eles o leitor e sua experiência, o contexto, a obra em
si. Tais escolhas e decisões configuram-se como interferência do mediador,
logo, como mediação. Seja na indicação e sugestão de um livro, seja na
contação de histórias por exemplo. Ressalto, todavia, que a compreensão de
mediação da leitura não possa ser reduzida a indicação ou apresentação de
�218
uma obra (livro, por exemplo), mas de modo abrangente e holístico, que
requer planejamento, conhecimento e domínio de uma proposta metodológica,
sempre pautada num processo ético e dialético. É possível destacar que na
mediação da leitura também há uma dimensão estética e, ao mesmo tempo,
formativa, tendo em vista que para Barbosa e Barbosa (2013, p. 11) “[...]
mediação começa com uma disponibilidade para a hospitalidade, esta
entendida como ato de acolher aquele que chega e dar-lhe lugar e condições
para que, após essa chegada, possa prosseguir com força e vigor a sua própria
caminhada”.
Normalmente, quando se fala em mediação da leitura, é comum que se
remeta a imagem da escola como principalmediadora. No entanto, a escola
não pode ser a única mediadora da leitura. Acredito e defendo que essa ação
deva ser iniciada em casa, com os familiares, pois esses já possuem certa
proximidade com o leitor em potencial e a mediação da leitura pode se dar de
maneira mais prazerosa e satisfatória. Reconheço a limitação desta seção e
que discorrer sobre as práticas de leitura e sua mediação em mídias sociais é
complexo, pois a leitura se dá de diferentes formas e com distintos conteúdos
(literário ou não). Assim, percebo que uma forma, dentre várias existentes, de
mediar informação e leitura fora da biblioteca é a partir das mídias e redes
sociais.
4 REDES SOCIAIS, BIBLIOTECÁRI@S E BIBLIOTECAS
As redes sociais podem ser constituídas por pessoas ou organizações que
possuem
umobjetivo
e/ou
interesse
em
comum.
Nelas, os
laços
são
construídos a partir da identidade e do perfil de cada usuário, estabelecendo
essa relação no mundo físico ou virtual. O foco desta seção, no entanto, são as
redes sociais on-line. A criação e manutenção de redes sociais on-line pelas
bibliotecas e bibliotecários(as) não só faz com que ocorra mais interlocução
com os usuários, mas permite a mediação e ocompartilhamento de recursos
informacionais em um ambiente eletrônico. Nesse sentido, os usuários podem
�219
criar vínculo com a unidade de informação e descobrir se os interesses e
necessidadesde outros usuários são comuns aos seus, a partir do que é
visualizado, comentado, curtido (MANESS, 2007).
Quanto
às
mídias
sociais,
Recuero
(2008)
afirma
que
elas
são
ferramentas de comunicação que possibilitam que as redes sociais emerjam.
Para Telles (2011, p. 8), elas são “[...] plataformas na internet construídas
para permitir a criação colaborativa de conteúdo, a interação social e o
compartilhamento de informações em diversos formatos”.
Portanto, existem muitas possibilidades para ser exploradas quando se
trata de redes e mídias sociais, posso elencar algumas delas: WhatsApp,
Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn, YouTube, dentre outras. Caberá ao
usuário analisar a viabilidade de uma ou de outra para o seu ramo de atuação.
No entanto, alguns elementos podem ser levados em consideração na escolha
de uma ou outra rede: o perfil do público que se atende ou pretende atingir; o
tipo de conteúdo a ser compartilhado; a familiaridade dos administradores com
a plataforma; a adequação da rede ou mídia aos dispositivos existentes; a
popularidade e uso da rede pelos usuários; os recursos que a ferramenta
oferece (vendas, anúncios, métricas etc.). O Facebook e o Instagram, por
exemplo, dispõem de recursos para venda e anúncios patrocinados. O Twitter
e o LinkedIn, por sua vez, não apresentam essa possibilidade. O Twitter e o
Instagram têm limite de caracteres a serem compartilhados, as demais
plataformas não. Portanto, é necessário pensar em diversos aspectos para se
escolher qual delas será mais adequada para um equipamento informacionalcultural ou para um profissional da informação autônomo. No entanto, o foco
desse texto é o Instagram.
O Instagram foi lançado em 2010, mas a partir de 2012 é que o
aplicativo ganhou adeptos e tornou-se popular (INSTAGRAM, 2020). Criado
inicialmente com o objetivo de permitir ao usuário o compartilhamento de
fotos e vídeos, passou a ser considerado, também, uma ferramenta para
divulgação de produtos e serviços (DEMEZIO et al., 2016). Pesquisas de
mercado e de marketing consideram o Instagram como a mídia social com
maior engajamento e por conta disso, maior popularidade entre os usuários na
�220
internet quando se trata de “marcas” (ROSA, 2018). Em reportagem ao Jornal
Estado de Minas, Viri (2018) comenta que um estudo semestral sobre marcas
e comportamento de consumo com adolescentes do mundo todo evidenciou
que 85% deles usam esta rede social pelo menos uma vez por mês.
Visto que o Instagram apresenta uma adesão cada vez maior da
população mundial, as organizações adentraram também neste espaço, seja
para promover sua marca, divulgar produtos e serviços, e se relacionar com
seus clientes. Assim, corroboro a ideia dequetambém é possível pensar as
bibliotecas como “organizações” ou, ainda mais, como “marcas”34. Nos últimos
dois anos, é possível identificar um crescimento no número de perfis no
Instagram de bibliotecas e de bibliotecários(as). Sobretudo no período de
distanciamento social, ocasionado pela pandemia COVID-19, o Instagram foi
um meio para manter ativa a comunicação com os usuários e para realizar
lives sobre diferentes temas. Ao digitar o termo “biblio” no campo “explorar”
do Instagram, inúmeros são os perfis que aparecem (bibliotecas universitárias,
públicas, escolares e perfis pessoais de profissionais que divulgam suas ações).
Assim, acompanhando uma tendência mundial e ao mesmo tempo uma
necessidade em se reinventar, o Instagram aparece como uma potente
ferramenta para se mediar informação e leitura aos usuários e leitores.
5 RECOMENDAÇÕES E DICAS PARA MEDIAR INFORMAÇÃO E LEITURA
NO INSTAGRAM
Com o intuito de apresentar dicas para o uso do Instagram como
ferramenta para se mediar informação e leitura, e sugerir postagens e
posicionamento, tive que recorrer a sites especializados da área de marketing
e redes sociais, além de resgatar algumas experiências obtidas com o uso da
plataforma. Sendo assim, ao se decidir criar e gerenciar um perfil no
34
Sobre
a
ideia
de
“bibliotecas
https://www.instagram.com/p/CBmJmRLD1pC/, do perfil
Bibliotecária Mayara Cabral.
como
@biblio.mkt
marca”
administrado
ver
pela
�221
Instagram, será necessário se apropriar dos conteúdos apontados nesta seção
e outros mais.
Conforme
evidenciado
anteriormente,
existem
diferenças
entre
a
mediação da informação e a mediação da leitura. Sendo assim, quando se
pretende trabalhar com uma dessas formas de mediação (ou as duas), deve-se
pensar também na forma como pode-se realizá-la no Instagram. Tendo em
vista que esta mídia tem como característica o caráter imagético, os conteúdos
a serem postados precisam seguir esta lógica. Não faz sentido apenas
estruturar um conteúdo predominantemente em texto escrito e salvá-lo numa
extensão de imagem: .png ou .jpeg, afinal, o texto escrito permanece e o que
muda é apenas a mídia em que é postado. Por exemplo: a biblioteca faz um
comunicado sobre alteração em seu horário de funcionamento e o posta no seu
Facebook. Quer fazer o mesmo no Instagram e posta a imagem desse mesmo
comunicado em seu feed. No referido exemplo não houve adaptação ou
diferenciação de conteúdo para ser postado em cada rede. O ideal é que os
conteúdos sejam distintos, visto que cada rede pode alcançar um público
específico que espera por um determinado formato para ser “consumido”,
apropriado.
Portanto,
enfatizo,
novamente,
que
usar
os
recursos
de
compartilhamento automático de uma mesma postagem em diferentes redes,
talvez, não seja a melhor estratégia. A seguir apresento algumas dicas, para
mediar informação e leitura no Instagram, a partir da recomendação de sites
de organizações especializadas, como Rock Content e mLabs.
Ao definir, por exemplo, o Instagram como uma das ferramentas a ser
utilizada é fundamental que se tenha em mente o público que se pretende
alcançar, isto é, definir a persona. Denominado como persona, esta pode ser
constituída por um ou mais personagens fictícios que representam um público
alvo. Deste modo, a persona de uma biblioteca escolar é diferente da
personade uma biblioteca universitária, de uma biblioteca pública, assim por
diante.
Personalizar o perfil por meio da biografia com informações completas
é fundamental para que os usuários saibam do que se trata a conta, se há
vinculação institucional, endereço ou telefone para contato. É o local para se
�222
inserir as principais informações sobre a marca do negócio/perfil. A biografia
do perfil no Instagram não poderá ser muito longa, é limitada a 150
caracteres.
Como dito, existem muitos perfis que oferecem um mesmo conteúdo.
Logo, o que diferenciará um perfil de outro? Por este motivo é recomendado se
estabelecer uma política ou linha editorial, isto é, que se tenha bem
definido o que se pretende publicar, a periodicidade mínima, os valores da
marca/organização etc. Esta política é considerada como um dos elementos
principais para gerar um alto engajamento e fidelidade dos usuários. Muito se
questiona a respeito da obrigatoriedade em se manter um feed harmônico ou
organizado35, ou seja, quando se mantém um padrão entre o estilo das fotos,
na paleta de cores, no uso de bordas etc. Isso não significa, no entanto, que
uma página do Instagram sem feed harmônico não gerará engajamento e
visibilidade, mas, que páginas que seguem uma harmonia tendem à despertar
mais a atenção e o interesse do usuário. Por se tratar de uma mídia de apelo
visual, o ideal seria que se produzisse conteúdo com o auxílio de um
profissional qualificado, tendo em vista que produções caseiras podem não
despertar o interesse e engajamento do usuário. No entanto, não são todas as
bibliotecas e bibliotecários que dispõem de recursos para custear esses
serviços. Sendo
assim,
existem
plataformas
on-line
que
disponibilizam
templates para postagem no Instagram, dentre elas destaco: Canva e Free Pic.
Manter uma frequência regular de postagens também incide como
uma estratégia para manter-se competitivo na rede. Reconheço que postar
diariamente nem sempre será possível, todo esse processo de criação e/ou
curadoria de conteúdo demanda tempo e dedicação do responsável. No
entanto, ainda que alguns não percebam a ausência dessas postagens, outros,
certamente, a perceberão. Conforme defende Gomes (2014), a mediação da
informação possui uma dimensão dialógica e formativa, que envolve o ato do
35
“Um feed harmônico no seu perfil do Instagram funciona como uma vitrine para a sua
marca. As redes sociais têm sido o canal de comunicação mais próximo que as empresas têm
de seus clientes. Desta forma, é imprescindível prezar por uma identidade visual marcante,
inclusive, no feed do Instagram. Por ser uma rede social de apelo visual, seguir uma narrativa
visual no planejamento das postagens gera interação e desperta interesse no público”.
(FERREIRA, 2019).
�223
cuidar, logo, compreendo que deixar o perfil sem uso por muito tempo,
configura-se como descaso em relação aos usuários. Para facilitar os criadores
de conteúdo, o Instagram disponibiliza um recurso denominado “estúdio de
criação”36, em que o responsável pelo perfil pode programar as postagens para
um determinado dia e horário, fazendo com que não tenha a necessidade de
estar conectado no momento da postagem. Acredito que este recurso possa
ser uma saída estratégica para os gerenciadores de conteúdo, pois, assim,
seus perfis permanecerão ativos e presentes na rede. Esta função, no entanto,
requer planejamento e amplo conhecimento do recurso.
Utilizar as postagens em formato carrossel, isto é, quando posta-se
em sequência até 10 imagens. De acordo com a redatora da Rock Content,
Laura Ribeiro (2019), este formato “[...] é interessante para agregar conteúdo
comum, fazer postagens que tenham continuidade ou até mesmo que contém
uma história (abuse do Storytelling!).” Visualizo nessa opção uma das
melhores funções do Instagram para os perfis de biblioteca e bibliotecários(as)
mediarem informação e leitura. Digo isto, pois, o estilo carrossel possibilita,
por exemplo, a explicação passo a passo de algumas ações a serem realizadas
pelo usuário/leitor sem ocupar espaço no feed sobre um mesmo assunto e
perder a noção de sequência. Dentre as possíveis mediações, destaco e
recomendo o uso do carrossel para o compartilhamento sobre:
a) como fazer login no catálogo e/ou alterar senha de acesso;
b) reserva/renovação de material e/ou consulta ao catálogo;
c) citação e referência de uma obra e demais normas da ABNT;
d) pesquisa em bases de dados e repositórios;
e) uso do VPN37 da instituição ou acesso CAFe38, via CAPES;
f) antes e depois de reformas ou revitalização do espaço;
g) exposições e eventos realizados na instituição;
36
“O Estúdio de Criação reúne todas as ferramentas de que você precisa para publicar, ganhar
dinheiro, mensurar o desempenho e interagir com os fãs em todas as suas Páginas do
Facebook e contas do Instagram” (FACEBOOK, 2020).
37
“Rede privada virtual, do inglês Virtual Private Network, é uma rede de comunicações
privada construída sobre uma rede de comunicações pública” (VPN, 2020).
38
Quando o acesso é realizado remotamente através da Comunidade Acadêmica Federada –
CAFe, que permite o acesso dentro ou fora da instituição.
�224
h) paginação e impressão de trabalhos acadêmicos;
i) trechos de livros de literatura para os usuários tentar adivinhar;
j) capas de diferentes edições de um mesmo livro;
k) alterações em normas, leis e decretos;
l) materiais recém adquiridos de uma área específica;
m) informe sobre como funciona o recebimento de doações;
n) alertas e avisos importantes; entre outros.
Compreendo que estas ações já são realizadas pelas bibliotecas, seja
presencialmente ou em tutoriais disponíveis nos próprios sites. Aponto-as
como sugestão para postagem no Instagram, tendo em vista que observo uma
dificuldade em se postar conteúdos. Além disso, os usuários já estariam
presentes na plataforma, aumentando a chance de visualização e interação.
Na sequência, escrever legendas interessantes e explorar o uso de
hashtags. A legenda deve ser atrativa e não precisa replicar na íntegra o
conteúdo da imagem. Nesta opção pode-se inclusive fazer o uso de emojis e
tornar a descrição da postagem mais informal e atrativa. A recomendação
quanto as hashtagsé explorar o máximo possível de termos, tendo em vista
que não há limites. Além disso, é orientado que não se prenda aos termos da
legenda ou ao que está explícito na imagem. Criar uma hashtag própria da
biblioteca ou do perfil é uma forma também de criar um posicionamento online
e manter uma identidade consolidada na rede, ou seja, sempre que as pessoas
buscam por ela, as postagens serão recuperadas. Além disso, o Instagram
permite seguir também hashtags específicas. Com o objetivo de tornar as
publicações e conteúdos acessíveis, a hashtag #pracegover39 foi instituída para
queos usuários a empreguem e, logo em seguida, apresentem uma descrição
detalhada sobre o conteúdo da imagem.
Ainda quanto às postagens e sua frequência, convém destacar que as
contas com a maior quantidade de postagensnão são necessariamente aquelas
que obtiveram ou que obterão mais engajamento. Assim, para se obter
engajamento, os números de postagens e seguidores não são suficientes, mas,
39
Este recurso é utilizado para serem reproduzidos em aplicativos de áudio descrição tanto
para cegos quanto para disléxicos e deficientes intelectuais.
�225
sobretudo, um conjunto de fatores que integra conteúdos, legendas, hashtags,
dia e horário da publicação.
Interagir com
os seguidores
também
é
necessário.
Curtir os
comentários feitos por eles e respondê-los é uma forma de demonstrar que a
marca se importa com a reação e opinião das pessoas. Não há uma regra
sobre seguir todos os usuários que seguem a página, isto dependerá muito do
tipo de conteúdo que se oferece e do tipo de relação que se pretende obter40.
A interação também se dá no Directou bate papo privado. Muitos usuários
enviam questões e dúvidas sobre o conteúdo que é postado como uma forma
de manter sua privacidade preservada ou fazer perguntas específicas, tirar
dúvidas etc. Responder um Direct denota atenção e diminui a distância entre
seguidor e perfil.
Explorar os Stories e o ao vivo também aparecem como uma forma
de se obter mais visibilidade, engajamento, interação e proximidade com o
usuário. “Essa alternativa permite que você [...] grave vídeos pequenos ou tire
fotos com o diferencial do tempo de expiração de 24 horas, ou seja, todo
conteúdo [...] expirará dentro de um dia, ficando inacessível para outros
usuários da rede” (RIBEIRO, 2019). Quanto aos stories, Costa (2019) expõe
algumas sugestões para postar: “Conteúdos dos bastidores, os famosos
‘behind the cameras’; Detalhes do produto ou serviço. Fazer perguntas (use as
‘Enquetes’!)”. No caso da mediação da informação e da leitura, poder-se-ia
trabalhar com os stories e o ao vivo do Instagram da seguinte forma:
a) mostrar aos usuários a chegada de material recém adquirido e o
status de determinado item na linha de processamento técnico dos
recursos bibliográficos;
b) apresentar brevemente as divisões internas da biblioteca, muitas
vezes desconhecida pelos usuários;
c) realizar uma visita guiada virtualmente;
d) evidenciar que a biblioteca realiza aquisições constantes;
e) explicar detalhadamente o que significam os caracteres da etiqueta
que é colada na lombada dos materiais;
40
Nesse caso, deve-se levar em consideração a política do perfil.
�226
f) realizar enquetes com os usuários com o intuito de conhecê-los
melhor, descobrir seus desejos e necessidades;
g) compartilhar eventos que acontecem na biblioteca para usuários que
não puderam comparecer;
h) avaliar produtos, serviços e conteúdos postados;
i) ouvir
as
sugestões
usuários
quanto
a
aquisição
de
recursos
bibliográficos e oferta de produtos e serviços.
Com relação aos melhores dias e/ou horário para postar não há uma
única resposta. Para cada segmento ou persona, haverá dias e horários de
pico. No próprio aplicativo há a opção para visualizar o tráfego na página. O
algoritmo da plataformanão funciona seguindo a cronologia das postagens
desde 201641, mas segundo a experiência do usuário e seu interesse, isto é,
quanto mais ele é engajado com um determinado conteúdo ou nicho de
mercado, mais ele será direcionado para tais perfis e conteúdos. “O algoritmo
do Instagram deixa muito claro a intenção da rede em criar um ambiente
propício a proximidade entre marcas e usuários” (COSTA, 2019). Por isso que,
às vezes, se segue alguns perfis e raramente se vê postagens dele. O
Instagram permite ainda que cada usuário visualize as contas que possui
maior ou menor interação dentre as contas que segue.
Para verificar a performance de um perfil empresarial, bem como
horários
com
maior
engajamento,
número
de
visitas
ao
perfil,
de
compartilhamentos, dentre outras métricas, a rede social disponibilizou uma
ferramenta gratuita, intitulada Instagram Analytics (MLABS, 2018b). Para ter
acesso
a
essas
informações
é
necessário
que
o
perfil
seja
do
tipo
“corporativo”42. De acordo com a mLabs (2018a), com um perfil comercial é
possível identificar os dados de: contas que viram seu post; views da
postagem; vezes que os seguidores acessam o Instagram no dia; vezes que o
vídeo foi visto; número de usuários que acessaram o link da bio; número de
41
Ver mais em: Costa (2019). Disponível em: https://rockcontent.com/blog/algoritmo-doinstagram/. Acesso em: 20 jun. 2020.
42
A mLabs fez um passo a passo para tornar uma conta comercial. Disponível em:
https://www.mlabs.com.br/blog/mudar-para-perfil-comercial-no-instagram/. Acesso em: 05
jul. 2020.
�227
usuários que salvaram um post; quantas pessoas viram o vídeo e enviaram um
direct de lá; dados demográficos: gênero, idade, país e cidade dos seus
seguidores.
Essas informações fornecidas pelo Analytics possibilitam aos gestores e
administradores dos perfis identificar se os conteúdos postados obtêm
“impacto”, seja a partir dos “3Cs” ou de outras métricas, conforme indicado.
Assim como no ambiente físico de uma biblioteca, o serviço de informação e
referência avalia seus serviços e produtos a partir de feedbacks, avaliações,
sugestões, no Instagram é possível também se certificar de que o que tem
sido feito gera ou não engajamento entre os usuários.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao identificar o Instagram como ambiente para mediar informação e
leitura, os profissionais da informação podem interagir mais facilmente com os
usuários e manter um relacionamento contínuo e, até mesmo, duradouro com
eles. Como muitos usuários estão cadastradosna referida rede, para eles a
novidade seria em relação ao publicador das postagens, no casoos perfis das
bibliotecas, ou mesmo, de bibliotecários(as) que prestam consultoria na área
de informação e documentação.
Normalmente, o usuário não tem o costume de visitar frequentemente o
espaço físico da biblioteca, às vezes acessa o seu site, no entanto, se ela
estiver inserida na rede social, o alcance será maior e provavelmente o usuário
verá o que está sendo postado, pois ambos estarão no mesmo “ambiente”. A
partir dessa presençavirtual e posicionamento, os sujeitos que não frequentam
seu espaço físico podem se interessar e descobrir o que elas têm a oferecer.
Por outro lado, os usuários da biblioteca podem se tornar mais adeptos e fiéis
a ela.
Portanto, considero que o uso das redes e mídias sociais, sobretudo do
Instagram, pode proporcionar mais visibilidade às bibliotecas bem como
potencializa a mediação da informação e da leitura.
�228
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03 jul. 2020.
�232
DADOS BIOGRÁFICOS
João Arlindo dos Santos Neto: Bacharel em Biblioteconomia
pela UEL. Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela
UNESP/Marília. Professor do Departamento de Ciência da
Informação da UEL. Atua com os seguintes temas da pesquisa:
mediação da informação; mediação implícita da informação;
interferência do profissional da informação; ética na mediação
da informação.Responsável pela Coluna intitulada “Sala de
aula: dia a dia na universidade” publicada no INFOhome.
E-mail: santosneto@uel.br
�233
PARTE III - REDES
SOCIAIS E A ATUAÇÃO
ídias sociais como forma de empreender: o caso do site Santa
Biblioteconomia
- Talita Daemon James e Thalita Gama
BIBLIOTECÁRIA: NOVOS
Mediação da informação e da Leitura no Instagram: novas
possibilidades para os bibliotecários
- João Arlindo dos Santos Neto
HORIZONTES E
Blog de bibliotecários: um estudo sobre o blog “Bibliotecária em
Construção”
- Claudia Barbosa dos Santos de Souza
POSSIBILIDADES
As mídias sociais como ferramenta para divulgação de revistas
científicas da América do Sul
- Edna da Silva Angelo e Marlene Oliveira
As redes sociais como uma possibilidade de extensão de campo para o
bibliotecário
- Gabriela B. Pedrão
Fake News e suas repercussões na sociedade e a atuação do
bibliotecário no seu combate
- Antônio Afonso Pereira Júnior
Novos negócios em uma nova economia
- Guilherme Alves de Santana
�234
CAPÍTULO XIII - Mídias sociais como forma de empreender:
o caso do site Santa Biblioteconomia
Talita Daemon James
Thalita Gama
1 INTRODUÇÃO
Todo bibliotecário já escutou o seguinte discurso: “Os livros vão acabar e
tudo será digital”, provavelmente também ouviram por aí “o bibliotecário está
fadado a um futuro de esquecimento”, ou ainda, “Só há espaço para a
tecnologia.” Talvez não com essas mesmas palavras, porém sempre com esse
tom de desespero e tragédia. Obviamente, nossa sociedade está evoluindo e
automatizando diversas funções que antes eram realizadas por seres humanos
e dentro de uma biblioteca não poderia ser diferente. Se antes utilizávamos
fichas em papel, em catálogos físicos, atualmente temos softwares que
armazenam e gerenciam essas informações de forma bem mais simples e
confortável, tanto para os usuários quanto para os catalogadores.
A
necessidade de desenvolver novas competências que se adaptem a esse novo
panorama, aliado a novas habilidades profissionais, torna-se um grande
desafio para a classe bibliotecária no Brasil e no mundo, principalmente
[...] pelo desenvolvimento tecnológico e ocupar um papel destacado por
sua experiência acumulada no uso e no trato com informação. Esses
profissionais têm a obrigação e a necessidade de preparar-se para esta
realidade. Devem entender as novas necessidades que surgem e as
novas formas de responder a estas necessidades, desenvolvendo novas
competências (CUNHA, 2009, p. 103).
Ser bibliotecário no Brasil é se enxergar normalmente entre estudar e
passar em um concurso público, seguir carreira acadêmica, ter um emprego
formal com um contrato de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT) ou ainda empreender e ter sua própria empresa. Muitos acabam
mesclando uma ou duas atividades, como magistério e a atuação em
bibliotecas, ou ainda empreendedores que têm um emprego fixo como fonte
�235
principal de renda. Um reflexo das várias opções que a área proporciona ou da
necessidade de criação de espaços pelos bibliotecários? Seja lá qual for a
melhor resposta a essa questão, temos que lidar com essas demandas vindas
da hiperautomação dos nossos serviços e da explosão das redes sociais como
forma de comércio. Isso impacta e muito a nossa vida profissional.
Aliado a esse cenário, diversos exemplos de diferentes áreas de
formação nos mostram outros caminhos a seguir. E afinal, trabalhar fora do
modelo tradicional, criar seu mercado, por conta própria e ser o dono do seu
próprio tempo: quem nunca se questionou sobre essa possibilidade? Como
realizar isso sendo bibliotecário? Buscamos neste capítulo abordar algumas
estratégias empreendedoras possíveis e com ênfase no relato de experiência
do site Santa Biblioteconomia como exemplo de utilização das redes sociais
como forma de empreender na área.
2 O PODER DAS REDES SOCIAIS
Na visão de Recuero (2009), as redes sociais são constituídas a partir da
relação entre dois elementos - os atores e suas conexões - e pode-se dizer que
uma rede social na Internet é constituída a partir de atores interagindo,
trocando informações, e comunicando-se por meio desses ambientes digitais
que contribuem para a construção dessas redes. São exemplos dessas redes
sociais plataformas como o Facebook, o Instagram, o Twitter e o LinkedIn.
A primeira rede social propriamente dita, segundo Gnipper (2018b), foi a
SixDegrees (que esteve ativa entre 1997 e 2001), e permitia que seus
usuários criassem um perfil e criassem uma conexão com seus amigos. A rede
chegou a registrar 3,5 milhões de usuários. A rede não teve grande impacto no
Brasil, mas seu sucesso é considerado responsável pela abertura de mercado
para sua sucessora, a rede Friendster (esta, por sua vez, responsável por
preparar o terreno para o Facebook). Em 2004, ainda conforme Gnipper
(2018b), surgiu a rede que de fato fez sucesso no Brasil: o Orkut.
�236
Outras redes sociais surgiram na década de 2000, com aspectos mais
temáticos como o MySpace (inicialmente uma rede genérica, mas que passou a
concentrar informações sobre música) e o LinkedIn, voltada para informações
e contatos profissionais. Entretanto, o Orkut é tido como a rede que definiu
parâmetros de redes sociais.
O Facebook, uma das plataformas com maior número de usuários
atualmente, também foi criada em 2004. Entretanto, apenas em 2006 foi
aberta para que qualquer pessoa pudesse se cadastrar e utilizar suas
funcionalidades, segundo Gnipper (2018c). Nessa época surgiram os feeds de
notícia que caracterizam a plataforma. No final dos anos 2000 o Facebook já
havia atraído boa parte dos usuários do Orkut e hoje a plataforma conta com
mais de 2 bilhões de usuários espalhados pelo mundo todo.
Em 2006 surge um outro formato de rede social, em que as pessoas não
precisavam mais “ser amigas”. No Twitter, apenas posts curtos (à época com
limitação
de
140
caracteres)
são
permitidos,
contribuindo
para
uma
comunicação rápida. O conceito de amizade não faz parte da rede, mas sim o
de seguir para que se tenha acesso ao conteúdo produzido por quem é
seguido.
Outras plataformas temáticas surgiram, com foco na publicação de fotos
(como o Tumblr e o Instagram) ou ainda a publicação de localização e
avaliação de produtos e serviços (como o Foursquare). Surgiram também
plataformas para a publicação de vídeos, longos ou curtos, como o YouTube, o
Snapchat e outros.
Fato é que as redes sociais se tornaram forte e útil ferramenta de
comunicação, em especial no Brasil. Nesse contexto, empresas passaram a
investir em comunicação social por meio destas plataformas como forma de se
aproximar de seu público, e atingir novos clientes a partir das funcionalidades
de divulgação de eventos e compartilhamento de notícias.
�237
2.1 BIBLIOTECAS E A RELAÇÃO COM REDES SOCIAIS
A biblioteca deve estar onde seus usuários estão e fazer propaganda dos
seus produtos e serviços em veículos de comunicação onde a probabilidade do
seu cliente ter acesso seja maior, ou seja, é preciso que as bibliotecas entrem
de cabeça no mundo das mídias sociais. Entre as vantagens de criar um canal
de comunicação com os usuários através das redes sociais, conforme Giménez
(2010), temos:
a) Grandes possibilidades de marketing, a partir de uma lista de contatos
que receberão informações sobre produtos e serviços da biblioteca;
b) Fidelização dos usuários, ao construir uma comunidade virtual que
encontre espaço para compartilhar interesses comuns;
c) Atração de novos usuários entre o público em potencial, já que a
proposta da biblioteca chegará mais facilmente a um grande número de
pessoas;
d) Otimização de recursos, com o envio de mensagens de maneira rápida
e efetiva;
e) Ampliação dos canais de comunicação com os usuários, chegando aos
usuários rompendo barreiras geográficas e temporais, além de incluir pessoas
a partir de iniciativas inclusivas;
f) Reforço dos mecanismos de avaliação dos serviços, por meio do
feedback dos comentários dos usuários;
g) Serviço de custo mínimo, já que criar um perfil em uma rede social é
gratuito.
Não basta, no entanto, postar apenas. É preciso um estudo sobre seu
público alvo e a criação de conteúdo padronizado pela biblioteca. Sites como o
canva.com podem ajudar com designes simples e rápidos. Algumas dicas
básicas:
● Crie uma identidade visual, o simples normalmente é a melhor opção!
● Use a logomarca da instituição ou da própria biblioteca, passa mais
credibilidade.
�238
● Faça postagens periódicas! É preciso fixar uma frequência, para que seu
público conheça o trabalho desenvolvido na biblioteca, pelo menos 3 x
por semana!
● Crie conteúdos! Poste sobre os livros que existem, dê dicas culturais.
● Sempre se coloque no lugar de quem está recebendo esse conteúdo,
precisa ser simples, direto!
É importante notar que ao adentrar o universo das redes sociais, as
bibliotecas precisam ter em mente as ameaças que existem. Para Giménez
(2010), são elas:
a) Falta de tempo, já que para manter ter um perfil em uma rede social é
necessário que as equipes invistam tempo na geração de conteúdo;
b) Falta de recursos para anunciar ou promover seu conteúdo nas redes,
já que esse tipo de serviço costuma ser cobrado;
c) A falta de formação especializada do pessoal em novas tecnologias que
estão sempre em constante evolução;
d) Relutância das Instituições;
e) Imagem distorcida das redes sociais.
Vivemos uma eterna revolução nas mídias sociais. Se no início dos anos
2000 o Orkut dominava o público, hoje o Facebook que se mantém grande,
mas também vem perdendo a força. Observa-se uma crescente no Instagram
como rede de distribuição de conteúdo e comércio, e também do Twitter. Sites
e blogs são igualmente, formas interessantes de divulgar e o melhor são
espaços próprios, que não contam com o impacto de compartilhamento nas
redes e dependem de estratégias diferentes de marketing para alcançar novos
públicos, inclusive as próprias redes sociais. Entretanto, a forma com que o
algoritmo do Facebook privilegia postagens pagas, ou não leva sua postagem a
todos o seus amigos, é uma política da empresa sobre a qual não temos
controle. Um site ou blog da sua biblioteca, sempre será um endereço da
internet com todas as informações atualizadas que com o tempo seus usuários
vão aprender a ir consultar. Invista!
As 5 leis de Ranganathan para a biblioteconomia continuam sendo uma
fonte valiosa de inspiração e ajuda, vamos usá-las a nosso favor!
�239
● Primeira Lei - Livros são para Uso: os livros precisam ser usados! Isso
significa fazer propaganda do que já existe na sua biblioteca!
● Segunda Lei - Para cada Leitor, seu Livro: é preciso saber o que seu
usuário precisa!
● Terceira Lei - Para cada Livro, seu Leitor: fazer indicações precisas, e
divulgação!
● Quarta Lei - Poupe o tempo do leitor: quanto mais organizado for sua
biblioteca e seus serviços, melhor.
● Quinta Lei - A Biblioteca é uma organização em crescimento: sempre
podemos crescer, e não necessariamente em tamanho, mas em
importância social!
Para que se tenha uma ideia, de acordo com Targino (2019), diversas
bibliotecas tradicionais têm atuado em redes sociais, em especial no Facebook.
Dentre elas, destacam-se a Fundação Biblioteca Nacional, a Biblioteca Mario de
Andrade, A biblioteca do Senado Federal, o Sistema de Bibliotecas da PUC_Rio,
a Biblioteca do Centro de Tecnologia da UFRJ, a Biblioteca do Centro de
Tecnologia da UFRJ e a Biblioteca da Faculdade de Direito da UFF.
3 O QUE É EMPREENDER?
Jesus e Machado (2009) pontuam que “O empreendedorismo tem sido
abordado como o ato de fazer algo novo, diferente, de mudar a situação atual
e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócio, tendo como
foco a inovação e a criação de valor.” Essa visão, aborda o lado mais
propagado do empreendedorismo, onde existe um profissional com perfil
curioso e que busca exteriorizar suas ideias em uma empresa ou vendendo sua
capacidade de mão de obra através de consultorias, cursos e materiais.
Encontrar um caminho que seja ao mesmo tempo:
[...] indutor de novos negócios, mas também como um fenômeno que
auxilia na descoberta de novos nichos de mercado e na prestação de
serviços terceirizados às empresas, constituindo-se em importante
alternativa para o problema do desemprego (HONESKO, 2001, p. 21).
�240
Temos então a perspectiva de empreender como possibilidade ao
desemprego. Principalmente quando pensamos que o bibliotecário é um
profissional liberal e que pode oferecer seus serviços técnicos e de consultoria
a quem precisa.
Conti, Pinto e Davok (2009, p. 41) afirmam que o bibliotecário pode ser
intraempreendedor de várias formas, tais como: facilitando a comunicação e
interação na organização em que atua, fazendo com que aconteça a
união/cooperação entre os setores; executando suas funções de forma criativa
com os, geralmente, poucos recursos disponíveis; desenvolvendo projetos para
captar mais recursos para a unidade de informação; fazendo estudos, para
identificar e conhecer seus clientes e adequar os produtos e serviços às
expectativas e necessidades deles; disponibilizando informações estratégicas
para a organização em que está inserido, visando facilitar a tomada de decisão
em todos os níveis hierárquicos; antecipando-se às tendências e realizando
mudanças nos produtos e serviços que oferece antes que eles fiquem obsoletos
e caiam em desuso.
Muito se engana quem acha que empreender é necessariamente abrir
uma empresa. É possível ter a postura empreendedora de várias formas
mesmo dentro de um trabalho ou instituição mais “tradicional”. Alves e Davok
(2009, p. 313) confirmam que “empreender não significa somente criar novas
empresas, significa também o indivíduo colocar em prática habilidades e
competências na realização de algo novo na organização em que trabalha,
tornando-se um intraempreendedor”.
3.1 O CASO SANTA BIBLIOTECONOMIA
Falar sobre o Santa Biblioteconomia é abordar o contexto social em que
estávamos entre 2005/2015. Durante esse período, o Brasil passou por uma
fase de grande investimento no serviço público em geral, e principalmente na
área educacional, com a construção de novas universidades e ampliação das
que já existiam antes. Houve forte investimento na construção de uma nova
�241
imagem do servidor público e da valorização desses profissionais com o
aumento de vagas ofertadas, a manutenção de benefícios indiretos como a
estabilidade profissional, salários atrativos e progressões na carreira. Esses
fatores tornaram os concursos públicos ainda mais disputados e cobiçados por
grande parte da população brasileira, inclusive os bibliotecários.
Nossa área se expandiu, principalmente com as vagas surgidas nas
universidades
em
todo
país.
Concursos
que
chamavam
mais
de
40
bibliotecários por vez, alta frequência de editais abertos, vagas muito atrativas
na área jurídica e legislativa também. Uma febre se instalou: praticamente
todo estudante de biblioteconomia ou bibliotecário formado começou a estudar
para concursos ou ao menos se interessar em fazer as provas como forma de
obter uma boa colocação no mercado. A biblioteconomia, historicamente, é
uma carreira de estado. Onde a maioria dos bibliotecários no país se encontra
trabalhando: órgãos do governo, sejam federais, estaduais ou municipais,
assim como as agências e as empresas de economia mista. Todos com acesso
por meio de concurso público.
Sendo assim, a necessidade de obter materiais atualizados e focados em
concurso trouxe à luz um novo mercado. O pioneiro a perceber e oferecer
serviços voltados a essa necessidade foi Gustavo Henn com seus livros, cursos
e blog chamado “Biblioteconomia para concursos”. Algumas outras iniciativas
também surgiram, mas nenhuma tão forte e contínua.
A criação do Santa Biblioteconomia aconteceu em outubro de 2013,
quando estudando para concursos e buscando uma forma de compartilhar suas
descobertas e também manter a motivação nos estudos, a bibliotecária Thalita
Gama idealizou o blog. Durante 2 anos, todo o conteúdo gerado era feito de
forma gratuita. Prezando pela linguagem simples e acessível, indicando livros,
artigos e dicas de estudo. Em 2015, já servidora pública federal, Thalita iniciou
a comercialização de apostilas on-line em que comentava questões e redigia
resumos dos assuntos mais cobrados em certames. Também neste mesmo ano
iniciaram-se os cursos presenciais ministrados pela bibliotecária. Em seis anos
de atividade, os cursos presenciais do Santa Biblioteconomia já foram
realizados em São Paulo (SP), Campinas (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba
�242
(PR), Fortaleza (CE), Belém (PA), Goiânia (GO), Belo Horizonte (MG), atingindo
todas as regiões do Brasil.
Em 2016, uma parceria com a Class Cursos foi realizada e dessa união
nasceram três cursos com foco em concurso. Essa ação tornou os cursos - que
antes eram apenas presenciais - em atividades na esfera on-line, o que
ampliou em nível nacional a popularidade e o impacto que o Santa
Biblioteconomia já exercia regionalmente.
Atualmente (outubro de 2019), o Santa Biblioteconomia é um site, com
loja on-line, possui personalidade jurídica própria, conta com mais de 15 mil
seguidores no facebook, e 8 mil no instagram, mantendo-se como o maior
perfil relacionado à Biblioteconomia na rede. Mais de 1300 alunos passaram
por suas capacitações, on-line e presencial, transformando a marca Santa
Biblioteconomia em um símbolo e referência na área. Talita James, também
bibliotecária, foi incluída como ministrante de cursos e geradora de conteúdo
em uma equipe que conta ainda com colaboradores para a parte técnica de
administração, informática e web design.
4 DICAS PARA QUEM QUER INICIAR UM PROJETO
Para empreender é preciso estudar e se preparar. Para isso, seguem
algumas dicas práticas que - pela experiência das autoras - podem ajudar
bibliotecários que desejem aderir ao empreendedorismo na biblioteconomia:
1)
Faça algo em que você acredite, não apenas por dinheiro.
É claro que você quer ganhar dinheiro, precisamos disso para ter uma
vida confortável! Mas tenha em mente que esse não pode ser seu único motivo
para empreender. Mesmo que você lance um serviço, um curso ou consultoria
revolucionários que lhe tragam muito dinheiro, se isso não fizer sentido pra
você, em algum momento as coisas ficarão complicadas. Continuidade e
perseverança são essenciais para fidelização dos seus clientes e seguidores.
Então, nossa dica número 1 é: identifique algo que te transborda e que você
�243
acredite! Depois, analise se o retorno te agrada ou se talvez o assunto que
você gosta pode ser um projeto paralelo ao seu trabalho oficial.
2)
Estude quem já faz o que você quer fazer.
Quer abrir uma consultoria de Gestão Eletrônica de Documentos (GED)?
Ou ainda uma de normalização de trabalhos acadêmicos? Quem sabe um site
com foco em concursos? Ou ainda, uma marca de blusas e bolsas com foco em
literatura?
Todos
empreendedores,
esses
procure
exemplos
conversar
já
com
contam
eles
com
sobre
as
bibliotecários
dificuldades
encontradas e analisar os pontos fortes. Mesmo que você não vá fazer algo
exatamente igual, se inspirar e trocar experiências sempre será importante.
3)
Pesquise a demanda do mercado
É preciso saber de antemão se o que você deseja oferecer, é o que o
mercado consumidor quer.
4)
Seja ousado
Se ninguém nunca fez o que você está pensando, seja ousado e abra
esse caminho. Se fortaleça e acredite no seu potencial!
Esperamos que esse capítulo te dê inspirações e insights sobre o
empreendedorismo na biblioteconomia e as possibilidades por meio das redes
sociais.
REFERÊNCIAS
ALVES, L. A.; DAVOK, DelsiFries. Empreendedorismo na área de
Biblioteconomia: Análise das atividades profissionais do bibliotecário formado
na UDESC. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.
14, n. 1, p. 313-330, 2009.
AQUINO, L. F. El desafio del marketing em lagestiónactual de las unidades de
información. Ciencias de laInformación, Havana, v. 28, n. 1, p. 185- 197,
1996.
CONTI, D. L.; PINTO, M. C. C.; DAVOK, D. F. O perfil do bibliotecário
empreendedor. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina,
Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 27-46, 2009.
�244
CUNHA, M. V. da. O profissional da informação e o sistema das profissões: um
olhar sobre competências. Ponto de Acesso, Salvador, v. 3, n. 2, p. 94-108,
2009.
GIMÉNEZ, D. G. Redes Sociales: posibilidades de Facebook para las bibliotecas
públicas. BID: textos universitários de biblioteconomia e documentación, n.
24, jun. 2010. Disponível em: http://bid.ub.edu/24/garcia2.htm. Acesso em:
30 out. 2019.
GNIPPER, P. A evolução das redes sociais e seu impacto na sociedade: parte 1.
Canaltech. 2018a. Disponível em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/aevolucao-das-redes-sociais-e-seu-impacto-na-sociedade-parte-1-107830/.
Acesso em: 29 out. 2019.
GNIPPER, P. A evolução das redes sociais e seu impacto na sociedade: parte 2.
Canaltech. 2018b. Disponível em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/aevolucao-das-redes-sociais-e-seu-impacto-na-sociedade-parte-2-108116/.
Acesso em: 29 out. 2019.
GNIPPER, P. A evolução das redes sociais e seu impacto na sociedade: parte 3.
Canaltech. 2018c. Disponível em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/aevolucao-das-redes-sociais-e-seu-impacto-na-sociedade-parte-3-109324/.
Acesso em: 29 out. 2019.
HONESKO, A. Empreendedorismo em bibliotecárias universitárias: um estudo
do cenário paranaense. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS, 12., 2002, Recife. Anais [...]. Recife: SNBU, 2002. 1 CDROM.
JESUS, M. J. F. de; MACHADO, H. V. A importância das redes sociais ou
networks para o empreendedorismo. Revista Eletrônica de Administração,
v. 13, n. 14, jan./jun. 2009. Disponível em:
http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/view/220/72. Acesso
em: 21 out. 2019.
RECUERO, R. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
TARGINO, R. Como as bibliotecas têm utilizado as redes sociais: iniciativas
procuram divulgar e potencializar os serviços disponibilizados ao público.
Biblioo. 2019. Disponível em: https://biblioo.cartacapital.com.br/como-asbibliotecas-tem-utilizado-as-redes-sociais/. Acesso em: 31 out. 2019.
�245
DADOS BIOGRÁFICOS
Talita Daemon James: Mestranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de São Carlos.
Especialista em Gestão do Conhecimento pela AVM
Faculdades
Integradas
(2014).
Graduada
em
Biblioteconomia pela Universidade de Brasília (2006).
Atualmente é bibliotecária do Supremo Tribunal Federal.
Tem experiência nas áreas de Gestão da Qualidade e
Gestão do Conhecimento. Ministra aulas para concursos
públicos pelo preparatório Santa Biblioteconomia.
E-mail: talita.james@santabiblioteconomia.com.br
Thalita Gama: Mestranda em Memória Social pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO. Especialista em Gestão de informações e
documentos pela AVM Faculdades Integradas (2014).
Graduada em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de
Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ (2013). Atualmente é bibliotecária no Centro de
Ciências Jurídicas e Políticas da UNIRIO. Tem experiência
com serviço de referência e treinamentos. É a idealizadora
do Santa Biblioteconomia e trabalha desde 2015
ministrando cursos pelo país.
E-mail: contato@santabiblioteconomia.com.br
�246
CAPÍTULO XIV - Blog de bibliotecários: um estudo sobre o
blog “Bibliotecária em Construção”
Claudia Barbosa dos Santos de Souza
1 INTRODUÇÃO
O uso massificado das Tecnologias de Informação e Comunicação
modificou o modo de trabalho, de produção e disseminação de informações e
documentos, além da forma de comunicação em sociedade. De igual forma, o
uso das redes sociais virtuais promoveu interação em tempo real e eliminou as
barreiras geográficas e de tempo.
A produção e disseminação de informação se intensificou no ambiente da
Web 2.0 e, consequentemente, houve a promoção da gestão da informação e
do conhecimento.
O uso de blog como ferramenta de comunicação propiciou a utilização
desse espaço para discussão e obtenção de conhecimento fora dos locais ditos
tradicionais
(arquivos,
bibliotecas,
livros,
documentos,
etc.),
além
do
compartilhamento de informação e de promover também a interação entre
pessoas, comunidades e grupos sociais.
A interação com leitores (seguidores) acontece por meio de comentários
em matérias que se identificam ou que tem algum significado pela replicação
de matéria postada ou por contato com pares.
Criar um blog e mantê-lo ativo, com pautas coerentes que sejam
atrativas para o público alvo é um desafio para todos, mas principalmente para
o bibliotecário (a). Coletar, avaliar e disseminar informações verdadeiras, de
forma ética é atuar de igual forma em unidades de informação.
Em tempos de “Fake News” e de desinformação, um blog cujo conteúdo
seja verdadeiro, planejado, organizado terá um papel muito importante, pois
vai se tornar um agente de disseminação de informação e um serviço de
referência.
�247
No contexto da biblioteconomia, há muito tempo os bibliotecários se
prontificaram a criar blogs com temáticas e abordagens diversas, como forma
de disseminar as práticas e conceitos biblioteconômicos, a promoção da
visibilidade
profissional
dos
bibliotecários
e
das
bibliotecas,
e
mais
recentemente ações de “advocacy”.
Para
atuar
neste
contexto,
o
bibliotecário
deverá
desenvolver
competências e habilidades para poder atender a essa nova realidade, a da
promoção de informação em ambiente virtual por meio de mídias sociais, mais
especificamente por blogs.
2
BLOGS
DE
BIBLIOTECÁRIOS
E
O
COMPARTILHAMENTO
DE
INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
Os blogs podem ser considerados como “gêneros comunicacionais
emergentes na forma de páginas pessoais ou organizacionais na web, passíveis
de uso e publicação por todo na rede”. Uma das principais funções é o
disseminar informações na internet, além de proporcionar visibilidade por meio
de marketing digital (ARAÚJO; TEIXEIRA, 2013, p.951).
De acordo com Santos e Rocha (2012, p.139) os blogs podem ser
classificados a partir dos seus objetivos e utilização como: corporativos,
profissionais, educacionais e espaço para produção científica.
A missão e os objetivos de um blog dever ser bem definidos, pois é por
meio deles que serão conhecidos o tipo de informação a ser divulgada, o
público (seguidores) e a frequência de publicações como afirma Silva (2005,
p.171):
É preciso levar em conta os objetivos da criação de um blog com
antecedência, fazendo um planejamento da sua estrutura no que se
refere ao conteúdo e quem será o responsável pela sua manutenção e
atualização. Se o objetivo da criação de um blog for a divulgação e
interação dos leitores sobre as novidades na área de Ciência da
Informação, por exemplo, o responsável deverá ficar atento aos
acontecimentos desta área, buscando informações atualizadas nos
principais meios de comunicação especializados e divulga-los no blog
sempre que for possível, o que trará um permanente interesse dos seus
leitores, instigando-os a realizarem uma nova visita futuramente, e
�248
muitas vezes divulgando a qualidade deste blog pra outros leitores
através da indicação através de um link em seu próprio blog ou mesmo
através de contato pessoal.
No âmbito da biblioteconomia encontramos diversos tipos de blogs cujos
editores são bibliotecários e bibliotecárias. Os mais conhecidos com o tema
concurso
público
são:
o
“Santa
Biblioteconomia”,
de
Thalita
Gama,
“Biblioteconomia para concursos” do Gustavo Henn e o “BiblioJuris”, de Sônia
Neves. Com conteúdo diversificado (biblioteconomia, livros, leitura) temos o
“Esse é o último, eu juro!” da Gabriela Pedrão, sobre Marketing em bibliotecas,
o “Somente Biblio”, de Gilda Queiróz, Dempsey Bragante e Jane Queiróz. O
mais novo blog é voltado para bibliotecas escolares, o “Dica de Bibliotecária”,
de Elani Régis. Sobre literatura temos: “Estante Mágica”, de Ana Lúcia Mérege,
que além de bibliotecária é escritora. Essa é uma pequena amostra desse rico
universo de disseminação de informação e conhecimento criado e administrado
por bibliotecários. Há muitos outros, com finalidades diversas, que neste
momento não é possível listar.
Para Silva (2005, p.167) o uso de blogs pela comunidade bibliotecária
tem vários objetivos, um deles é “divulgar novidade sobre uma unidade de
informação”. Segundo Araújo (2010, p.209) “O blog é uma ótima ferramenta
para criar e manter uma rede de contatos com pessoas que tem os mesmos
interesses”, e para Alvim (2007) o blog serve para:
[...] promover relações na comunidade profissional, baseando-se na
partilha de informações, de fontes, de notícias, de novidades, na
atualização de conhecimentos e na discussão e expressão de opinião.
Promove a construção da individualidade do profissional da informação,
na transformação do seu perfil, de gestor da informação para
produtor/criador de informação, e promove igualmente um alto nível de
intertextualidade e interatividade.
Transcender os limites da biblioteconomia por meio do blog é um desafio
diário, principalmente para este em estudo. Entretanto, é algo que tem sido
feito paulatinamente com a ajuda de amigos bibliotecários, de estudantes de
biblioteconomia e afins, de professores, de educadores, de escritores e de todo
tipo de seguidores do blog.
No domínio da Ciência da Informação, Alvim (2007) afirma que os blogs
podem ser compreendidos como um “novo meio de serviço, nas estruturas da
�249
documentação e informação, poderá ser um local de debate, um relato de
experiências e de opiniões”. Ou seja, pode-se afirmar que é um local de
compartilhamento de informação e de conhecimento, podendo estreitar laços
entre os participantes.
Segundo Araújo e Teixeira (2013, p. 955), os blogs de biblioteconomia
são denominados como “biblioblogosfera” por ser formada por interesses
comuns e afinidade temática, sendo escritos ou não por bibliotecários, tendo
ênfase no conteúdo disseminado. Afirmam que “ao proporcionarem uma
interatividade entre os leitores e os blogueiros, tais recursos acabam por
facilitar a disseminação da informação na web e, com isso, a geração de novos
conhecimentos” (ARAÚJO; TEIXEIRA, 2013, p.952).
Este novo espaço – o do blog – representam um “espaço aberto e
democrático no qual o bibliotecário pode tanto enxergar-se quanto apresentarse de forma diferenciada” (CORRÊA; ZAMBAM; OLIVEIRA, 2013 apud ARAUJO;
TEXEIRA, 2013, p.955).
A criação de laços de afinidades promove a formação de nichos,
intensificam vínculos e consolidam uma rede social. Segundo Araújo (2010),
[...] o capital social é fundamental para a construção das redes sociais
nos blogs, neste contexto, considera-se a informação o capital social
trocado entre os indivíduos, que estimula o surgimento e o
fortalecimento de laços sociais proporcionando a construção de novas
formas de pensamento e outra concepção de recepção de informações.
(HENRIQUES; RECUERO, 2007 apud ARAÚJO, 2010, p. 206-207).
E é justamente por pensar neste capital social, e em tempos de “Fake
News” e de desinformação, que a responsabilidade em administrar e criar
pauta para um blog, que o bibliotecário (a) tem compromisso com a verdade e
com
a
responsabilidade
em
disseminar
conteúdo
ético
e
verdadeiro,
proporcionando credibilidade e interação.
3 O BLOG “BIBLIOTECÁRIA EM CONSTRUÇÃO”
O blog “Bibliotecária em Construção” teve seu primeiro post publicado no
dia 12 de março de 2016, em pleno Dia do Bibliotecário no Brasil. Os temas
�250
escolhidos para o lançamento foram: O dia do Bibliotecário no Brasil (história e
legislação); Recomendação de leitura e “Bibliotecando em Pernambuco”
(divulgação da reinauguração da Biblioteca da Academia Pernambucana de
Letras e uma breve entrevista com a maravilhosa bibliotecária, Maria
Bernadete Amazonas. Uma pequena amostra do que viria a ser o perfil do
blog.
Figura 1 – Print da Página principal do blog no Wordpress
Fonte: A autora (2019).
Nome inspirado no blog “Arquivista em Construção”, o seu quase
homônimo – o “Bibliotecária em Construção” - surgiu por quatro motivos: o
primeiro, divulgar a biblioteconomia e afins de uma maneira diferente, sob a
perspectiva de uma discente do bacharelado em Biblioteconomia da UNIRIO.
Segundo, o gosto por utilização de internet e seus múltiplos recursos, como as
ferramentas de redes sociais virtuais. Terceiro, por gostar e querer disseminar
informações como fonte de informação para todos que tiverem acesso. E o
último, o desafio de redefinição profissional.
Arquivista na primeira formação, estudante de Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Claudia Souza,
editora e proprietária do blog, conseguiu realizar um antigo sonho, o de criar
�251
um blog para disseminação de informação voltada para o público da área de
formação e afins.
Depois de muito pesquisar sobre perfis de blogs, ficou decidido (na
época)
que
teria
como
missão: “Espaço
reservado
para
reflexão
e
a
disseminação da Biblioteconomia sob a ótica de uma discente do bacharelado
em biblioteconomia” (SOUZA, 2016).
Tem por objetivo:
[...] é a reflexão sobre a Biblioteconomia do ponto de vista de uma
discente, porém, com formação em Arquivologia. Postagens sobre
viagens, visitas técnicas e culturais a arquivos, bibliotecas e museus,
além de apresentar personalidades da biblioteconomia e publicações.
Oportunidade de aprendizado, de troca, de conhecimento (SOUZA,
2018).
O segundo passo foi escolher o meio pelo qual o blog disseminaria tais
informações: facebook, instagram, páginas pessoais, enfim, algo que pudesse
ter a visibilidade desejada no momento.
No
início
de
2016,
foi
escolhido
o
wordpress,
nomeado
“bibliotecando2016.wordpress.com”, como o primeiro meio de disseminação de
informação. Nele foram criadas nove páginas com os assuntos: O início de
tudo (explicando os motivos da criação do blog e apresentando a editoraproprietária), Aconteceu (divulgação de eventos), Personalidades (espaço para
apresentação de ícones da biblioteconomia, sob a perspectiva da editora, não
necessariamente apresentação de famosos”, Bibliotecando (divulgação de
lugares, instituições
visitadas.
Apresentação
de
informações
sobre
tais
instituições e dicas), Curiosidades (reservado para posts diversos), Dicas
(novidades na área de Biblioteconomia e afins), Biblio News (uma espécie de
agenda para divulgação de eventos a serem realizados e posts dos que
aconteceram),
Eventos (divulgação específica de eventos), Indicação de
leitura (espaço destinado a indicar livros lidos por amigos bibliotecários,
lançamentos de livros e periódicos científicos).
O blog ficou nessa plataforma durante o seu primeiro ano, mas devido a
interação não ser simultânea e a alta demanda por conteúdo, foi sugerido o
uso concomitante com uma página do Facebook. A aceitação foi imediata, com
interação
entre
página
e
usuários,
usuários
com
usuários,
além
de
�252
proporcionar a divulgação da mesma; no entanto, não teve a mesma
visibilidade
obtida
com
o
wordpress43,
mas
tem
demonstrado
grande
aceitação.
Após esta primeira experiência, optou-se por continuar com a página no
facebook, e em virtude disso e do grande acesso, buscamos identificar quem
são as pessoas que curtem, seguem compartilhando conteúdo e fazendo
contato com a editora.
Para identificar o perfil de quem segue o blog, foi necessário fazer uma
breve pesquisa de usuário, com o intuito de conhecer a formação, atuação e
interesses. Buscou-se entender também o possível motivo pelo qual eles
seguem, recomendam aos amigos, comentam postagens e até indicam
matérias e assuntos a serem colocados em pauta, além de contato para outros
fins.
3.1 O BLOG PELA PERSPECTIVA DO USUÁRIO
Dentre tantos tipos de blogs de biblioteconomia (preparatório para
concurso público, de leitura, de literatura, de memes, etc.), compreender a
aceitação do perfil deste blog é de certa forma buscar “conhecer as
necessidades informacionais44 da comunidade a ser atendida”, [...] e é “ponto
de partida do planejamento de um serviço de informação e uma preocupação
constante no decorrer da prestação de serviços” (PIRES, 2004, p.6).
Passados três anos de existência e com a adesão de aproximadamente
4.600 (quatro mil e seiscentos) seguidores (na época da pesquisa) de diversas
formações, ficou evidente a necessidade de conhecer ou identificar quem são
esses atores, seguidores, usuários do blog. Para isso, foi efetuada uma
43
O Wordpress tem acesso mundial, não fica restrito ao acesso da população brasileira. Havia
muita aceitação por parte de seguidores de país diversos.
44
A compreensão das necessidades de cada indivíduo em relação à informação é complexa e
se modifica constantemente. O conhecimento do usuário é a base da orientação e da
concepção dos serviços de informação, considerando suas características, atitudes,
necessidades e demandas (PIRES, 2004, p. 7).
�253
pesquisa com o uso do “Google Forms”, na qual os usuários responderam a
algumas questões, de forma anônima.
No período de março a maio de 2019 foi divulgado um questionário com
dezesseis questões abordando: gênero, idade, nível de escolaridade, profissão,
domicílio dentre outras.
Foram
quarenta
e
cinco
respondentes,
correspondendo
aproximadamente a 1% do total de seguidores da época. Destes, 88,9% são
do gênero feminino, sendo os 11,1% restantes do gênero masculino. Dividido
por faixa etária, temos um percentual bem homogêneo, tendo seguidores de
18 a 65 anos de idade. Quanto ao grau de escolaridade, 60% possui nível
superior completo; 35,6% possui superior incompleto e 13,4%, ensino médio.
O perfil de seguidores pós-graduados é de 24,4% com especialização;
4,4% com mestrado; 2,2% com doutorado e a maioria 68,9% não possui pósgraduação. Destes, 60% são bibliotecários; 4,4% são professores/professoras
e 33,3% possui outra profissão.
Do total, 77,8% conheceram o blog pelo facebook; 13,3% por indicação
de amigos; 4,4% conheceu pela página da faculdade e 4,4% por meio de
busca na internet.
Perguntados o que apreciam no blog, 37,8% mencionaram o conteúdo,
33,3% notícias sobre bibliotecas e afins, 20% indicação de eventos e 6,7%
divulgação de leitura.
No que diz respeito a interação com a página: 88,9% já divulgaram
conteúdo publicado. Quanto a “marcar” alguém (amigo) em um post
interessante, 46,7% afirmaram ter marcado amigos para lerem a matéria.
Como pode-se constatar, o público do blog é bem diversificado.
Geograficamente 57,8% são da região sudeste; 15,6% da região sul; 17,8%
do nordeste; 6,7% são do norte e 2,2% são do centro-oeste brasileiro.
Quando perguntados se sabem quem é o profissional bibliotecário,
93,3% disseram que sim, e 6,7% disseram que não. E quando perguntamos se
conhecem um bibliotecário (a), 100% dos respondentes afirmaram conhecer
um bibliotecário (a).
�254
Finalizando os questionamentos, foi disponibilizado um campo livre para
sugestões, alguns usuários responderam (SOUZA, 2019):
Não tenho no momento.
Que constantemente indicasse livros e seminários para aprendizados
acadêmicos.
Obtenção de relatos semanais de estudantes e profissionais de
Biblioteconomia, objetivando instigar outras pessoas a conhecerem e se
aprofundarem na área.
Mais conteúdo de biblio para quem não é da área.
Fotos de grandes bibliotecas pelo mundo seriam interessantes.
Divulgar vagas de cursos e concursos na área.
Dicas de práticas da profissão (catalogação, classificação, serviço de
referência, uso de códigos e sistemas de classificação) e novas formas
de aplicar a biblioteconomia fora da biblioteca (empreendedorismo e
trabalho autônomo).
Ao observar as diferentes respostas, pudemos perceber que muitos dos
seguidores não se atentaram para a missão da página. Algumas sugestões
fogem ao contexto estabelecido desde a criação do blog, pois consideramos
que há outros meios para divulgação (a exemplo de blogs para concursos e
vagas).
No entanto, há interação com os seguidores, percebe-se que o conteúdo
publicado e divulgado pela página no facebook (publicação própria e replicação
de outras páginas) tem grande aceitação, pois são reencaminhadas para
publicações externas.
A constante publicação de matérias jornalísticas que abordam temas
como: educação, inovação, bibliotecas, livros, professores e outros, somadas
as replicações de páginas de amigos bibliotecários, de divulgação de eventos
possuem muita aceitabilidade por parte dos usuários do blog, incluindo
escritores.
Percebe-se que aos poucos o blog foi se consolidando como um potencial
serviço de referência, promovendo visibilidade para a biblioteconomia, para os
bibliotecários (as) e afins.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A internet é um espaço de interação e ampla visibilidade ocupado por
diversas áreas do conhecimento e por diversos segmentos da sociedade. Os
�255
blogs, por sua capacidade de interação, passaram a ser considerados como
fontes de informação e uma forma do usuário manter-se atualizado com o
conteúdo desejado de um modo mais fácil.
Neste contexto, o bibliotecário (a), profissional habilitado para organizar
e disseminar informação, adquire mais uma responsabilidade: ser agente de
organização e disseminação de informações em mídias sociais, dentre eles o
blog.
A biblioteconomia tem por finalidade: coletar, classificar, indexar e
disponibilizar informação aos seus usuários reais e potenciais. Tais ações foram
absorvidas pelo blog e busca compartilhar informações em tempo real por
meio de plataformas digitais e redes sociais virtuais.
Ao longo de sua existência, o blog “Bibliotecária em Construção” já
passou por modificações, buscando atender às demandas informacionais de
seus seguidores e de sua editora. Soma-se também, a necessidade de rever
sua missão, pois a discente de biblioteconomia tornou-se bibliotecária em abril
de 2019.
Prestes a chegar aos seis mil seguidores, redefinir a missão e objetivos
do blog promoverá a consolidação da identidade do blog, possivelmente a
criação de uma identidade visual para o mesmo e adoção de novos seguidores
e replicadores.
Percebe-se que com a adoção do facebook como interface para o blog, a
interação acontece em tempo real, suscitando nos usuários um senso de
pertencimento, ao ponto de fazerem contato propondo pauta, solicitando
divulgação
de
eventos,
além
de
requerer
informações
técnicas
sobre
biblioteconomia e afins.
O usuário/seguidor foi identificado por meio da pesquisa efetuada, na
qual foi demonstrada os diferentes perfis de usuários. Sabendo-se disso,
aumenta a responsabilidade no disseminar informações relevantes, reais,
verdadeiras que agreguem valor a todos que a buscam.
Ficou evidente que o uso de blog transcende a perspectiva de somente
disseminar informações: ela produz conhecimento, estreita laços e ajuda a
disseminar o perfil profissional de sua editora. Pode também contribuir em
�256
futuras pesquisas abordando possibilidades diversas, desde frequência de
acesso até mesmo assuntos mais comentados e replicados.
Na perspectiva de editor de um blog, o bibliotecário transcenderá a sua
atuação de organizar e disponibilizar informações em bibliotecas, centro de
documentação e afins, passará a trabalhar com informações cujo valor
agregado dependerá da qualidade e da aceitação perante o seu público
(usuários do blog). Fazer prospecção de temas, de novas possibilidades de uso
de mídia sociais fazem parte do seu cotidiano.
REFERÊNCIAS
ALVIM, Luísa. Avaliação da qualidade de blogues. In: CONGRESSO NACIONAL
DE BIBLIOTECÁRIOS, ARQUIVISTAS E DOCUMENTALISTAS, 9., 2007, Açores.
Anais [...]. Açores: Universidade dos Açores, 2007. Disponível em:
http://badinfo.apbad.pt/Congresso9/COM105.pdf Acesso em: 10 set. 2019.
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profissional. Revista ACB, Florianópolis, v. 15, n. 1, p. 201-213, dez. 2009.
Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/676. Acesso em:
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ACB, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 949-978, out. 2013. Disponível em:
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da biblioteca Lydio Bandeira de Mello, da Faculdade de direito da Universidade
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SILVA, Fabiano Couto Corrêa da. Bibliotecários especialistas: guia de
especialidades e Recursos Informacionais. Brasília: Thesaurus, 2005.
�257
DADOS BIOGRÁFICOS
Claudia Barbosa dos Santos de Souza: Mestranda em
Ciência da Informação pelo IBICT convênio com a UFRJ
(2020). Possui graduação em Biblioteconomia pela UNIRIO
(2018) e Arquivologia pela UFF (2008), MBA Gestão
Empresarial e Sistemas de Informação pela UFF (2013).
Atuou como Arquivista em diversas instituições privadas
(médio e grande porte) de diversos segmentos. Na
Biblioteconomia, tem experiência de estágio em bibliotecas
públicas e privadas. Tem interesse nas áreas de gestão
(informação e do conhecimento, unidades de informação,
de acervos), arquivologia e biblioteconomia.
E-mail: claudia.bs.souza@gmail.com
�258
CAPÍTULO XV - As mídias sociais como ferramenta para
divulgação de revistas científicas da América do Sul
Edna da Silva Angelo
Marlene Oliveira
1 INTRODUÇÃO
Este artigo busca verificar se as revistas científicas de acesso aberto da
América do Sulusam as mídias sociais para difusão de seu conteúdo. Para
tanto, expõe um breve referencial teórico acerca das relações entre ciência e
sociedade e a importância da atividade de divulgação científica. Na sequência,
o estudo mapeia as revistas produzidas nocontinente sul-americano, a
presença delas na mídia sociale a análise do engajamentosocial obtido,
identificando as principais características desse processo.
Com
o
movimento
do
acesso
aberto45
revistas
passaram
a
ser
disponibilizadas on-line e livres de taxas para leitura e download. Isso
representa, para
Packer
e
Meneghini
(2006), um
dos
indicadores de
visibilidade. Todavia, algumas dessas publicações estão sujeitas a atividades
de difusão e circulação precárias (FURNARO; RAMOS; CARVALHO, 2013).
Assim, é imperativo revisar os quesitos necessários para ampliar a repercussão
(CUENCA et al., 2013) e, nesse contexto, as mídias sociais têm potencial para
promover o contato entre as pesquisas ea sociedade, aproximando a ciência
dos grupos sociais.
Esse tema é relevante, pois evidencia a necessidade de um debate mais
profundo acerca da comunicação da ciênciapara além dos muros das
45
O termo acesso aberto é usado para nomear o movimento da comunicação científica, cuja
literatura digital produzida deve ser de acesso gratuito, livre das licenças restritivas (SUBER,
2012). Em 2002, foi realizada a primeira declaração oficial do assunto, conhecida como
Declaração de Budapeste (Iniciativa de Acesso Aberto de Budapeste - BOAI), que é
reconhecida como um dos pontos definidores do Movimento de Acesso Aberto (TENNANT et al.,
2016).
�259
universidades. A divulgação científica no contexto da web social46 abre
caminho para que o público leigo relacione as atividades sociais e os produtos
utilizados no cotidiano com a ciência. Como demonstrativo dessa relação temse, por exemplo, o alimento saudável consumido, que é obtido a partir de
pesquisas diversas na área de Ciências Agrárias. Outro exemplo diz respeito à
aquisição do celular recém-lançado, que se manifesta como resultado de
investimentos em inovação tecnológica ou, ainda, o medicamento para dor de
cabeça que é fruto de um longo período de estudos (VILELA, 2016).
Além disso, outro motivo que justifica a importância das revistas
científicas no dia a dia social é a necessidade de se combater as notícias que
possuem a finalidade de desinformar a população (SHU et al., 2017). Dessa
forma, é necessário fazer que revistas com dados confiáveis estejam ao
alcance dos indivíduos.
2 BREVE DISCUSSÃO SOBRE CIÊNCIA E SOCIEDADE
A divulgação dos resultados das pesquisas promove a familiaridade dos
indivíduos com o contexto da ciência e, sobretudo, a consciência dos serviços
que podem ser oferecidos a partir das descobertas científicas (OLMOSPEÑUELA; CASTRO-MARTÍNEZ; FERNÁNDEZ-ESQUINAS, 2014).
O avanço das inovações científicas e a capacidade em comunicar essa
ocorrência para a sociedade remontamao período da Revolução Industrial, no
século XVIII. Naquelao casião, foi preciso levar aos mecânicos e a outros
profissionais
conhecimentos
desempenho
funcional.
básicos
Esse
sobre
a
acontecimento,
ciência
para
melhorar
ascircunstâncias
o
históricas
esignificativas transformações no mundo expuserama necessidade, cada vez
maior, da divulgação científica (BRAGA; PINHEIRO, 2009).
Não há possiblidade de todos os indivíduos se dedicarem ao exercício
científico, portanto, é necessário os colocar em sintonia com o que é
46
A web social englobaplataformas cuja ênfase está na interação social, no compartilhamento
de informações e no acesso às ferramentas de produção (ACKLAND, 2013).
�260
pesquisado e descoberto. O público geral deve entender os fundamentos
básicos da ciência, os métodos científicos de pensar, a abordagem prática para
a investigação científica, as relações entre ciência e sociedade, os potenciais e
as limitações dos cientistas (KAIXUN, 1996).
A ciência e a própria sociedade só têm a se beneficiar com uma
divulgação bem realizada. Nas últimas décadas, à medida que a internet se
popularizou, cresceram, drasticamente, as facilidades de acesso à informação
e velocidade de comunicação. Ao mesmo tempo, aumentou o número de
crenças
infundadas,
pensamento
incorreto
e
confronto
com
a
ciência
(TANDOC; WEI LIM; LING, 2018).
A improcedência naconstrução de narrativas de fatos empíricos, ou
mesmo “pseudofatos”, gerada pela instrução científica parcial ou falsa,
promove um novo tipo de analfabetismo, denominado “alfabetismo científico
tendencioso” (VALDECASAS; CORREAS, 2010). Para combatê-lo, é premente
empreender
maiores
esforços
para
exposição
das
fontes
de
pesquisa
confiáveis.
3 PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO NO ÂMBITO DA DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA
NAS MÍDIAS SOCIAIS
Na contemporaneidade, a informação se tornou elemento essencial,
consideradamatéria-prima para o desenvolvimento científico e tecnológico,
bem comodiferencial competitivo de uma sociedade cada vez mais globalizada.
Esse contexto, somado ao aumento exponencial do volume das produções
científicas e da capacidade de comunicação interativa, faz com que seja
necessário refletir sobre a melhor circulação e acesso das revistas (ARAÚJO,
2015).
Nesse cenário, as mídias sociais são reconhecidas como uma estratégia
importante para ampliaracomunicaçãode trabalhos acadêmicos, quebrando
barreiras de tempo (determinado pela velocidade de distribuição) e espaço
(sob a forma da área de distribuição). Há muito tempo editoras internacionais,
�261
como Elsevier e Springer, adotaram, com sucesso, as mídias sociais para a
divulgação de seus conteúdos, que potencializam o alcance já amplo dos
artigos publicados nessas revistas (NASCIMENTO, 2016).
Nesse contexto, o bibliotecário pode auxiliar na implementação e
nagerência dos recursos informacionaisnas mídias sociais. Dentre as atividades
que toca no cerne da profissão – em que se entrelaçam competência
intelectual, conhecimento técnico e relação interpessoal – encontram-se ações
que propiciam meios para propagar o saber ao organizar, tratar e disseminar
as informações contidas nos registros em meio digital (BAZIN, 2012).
Ciente de que o atual ciclo da comunicação científica não termina com a
publicação
dos
resultados
de
pesquisa,
o
bibliotecário
se
ocupa
em
democratizar o conhecimento e em servir não apenas ao mundo acadêmico,
mas também a um espectro mais amplo de atores sociais. Deve lidar, ao
mesmo tempo, com todos os tipos de registros, lançando mão de todos os
suportes e formas de mediação para notificar o usuário sobre a existência de
registros potencialmente relevantes (BAZIN, 2012).
Para usufruir das potencialidades das mídias sociais com a intenção
depromover o aumento da visibilidade das revistas científicas, recomenda-se
ao profissional, assim como apontado para os editores por Araújo (2015),
construir e manter uma presença on-line das publicações, oferecer um
conteúdo adequado ao ambiente das mídias e estabelecer uma atuação
responsiva. Essas ações propiciam que os recursos informacionais possam ser
utilizados, e não apenas armazenados.
4 METODOLOGIA
O presente artigo expõe o panorama das revistas científicas de acesso
aberto da América do Sul nas redes sociais. A forma de abordagem ao
problema é tanto quantitativa como qualitativa, pois pretendeu traduzir
números em informações que foram classificadas e analisadas. Considera, em
determinados momentos, que existe uma relação entre o mundo e o sujeito
�262
que não pode ser traduzida em números (GIL, 2008). Do ponto de vista dos
objetivos, caracteriza-se como exploratória, pois realiza um estudo preliminar
visando a familiarizar-se com o fenômeno, buscando obter uma imersão inicial,
tornando-o mais explícito (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006; GIL, 2008).
A princípio, realizou-se um levantamento do cenário das revistas
científicas de acesso aberto da América do Sul, considerando como ambiente
de consulta a base de dados do Directoryof Open Access Journals (DOAJ)47. Os
resultados constataram a existência de 2.323 revistas. Em seguida, foi
elaborada uma planilha no Microsoft Excel® para organização e registro dos
International Standard Serial Number (ISSN)48.
No intuito de proceder à investigação, com o uso da Plataforma
Altmetric.com49, utilizou-se atécnica altmétrica de quantificação e mensuração
do impacto de publicações científicas. Essa coleta de dados foi realizada de
agosto a outubro de 2019.
A altmetria, partindo de uma visão pragmática, é o uso de dados
cibermétricos para análises cientométricas. Da mesma forma que muitas
citações, as menções on-line indicam um diálogo ou interesse numa obra, mas
não atestam a qualidade do que está sendo dito. No entanto, os comentários
sãouma oportunidade de se detectar precocemente o interesse ou polêmica
pelos resultados apresentados. Esta prática é estratégica para ações de
comunicação do pesquisador ou instituição no debate que venha a se seguir
com a imprensa e a sociedade como um todo.
A técnica rastreia qualquer vestígio ou indicador conferidoa um conjunto
de dados compartilhado por acadêmicos, comunidades científicas e público em
geral, mediante acesso aredes sociais on-line, como o Twitter, Reddit e
47
Diretório on-line com curadoria da comunidade que indexa e fornece acesso a revistas de
alta qualidade, acesso aberto e revisadas por pares (DOAJ, 2019).
48
Identificador internacionalmente aceito para individualizar o título de uma publicação
seriada, tornando-o único e definitivo. É composto por oito dígitos distribuídos em dois grupos
de quatro dígitos, ligados por hífen e precedidos sempre por um espaço e a sigla ISSN. É um
número eficiente e econômico de intercâmbio de informação e seu uso é definido pela norma
técnica Internacional Standards Organization (ISO) 3297 (SEMINÁRIO DE PUBLICAÇÕES
SERIADAS, 1983; CENTRO BRASILEIRO DO ISSN – CBISSN, 2017).
49
Foi fundada por Euan Adie, em 2011, e surgiu do crescente movimento altmétrico. Possui a
missão de rastrear e analisar a atividade on-line em torno de resultados de pesquisas
acadêmicas (ALTMETRIC.COM, 2019).
�263
Facebook. Oferece dados estatísticos quantitativos acerca da atenção dada a
cada publicação da web social (SAID et al., 2019).
A altmetria pode complementar as métricas de avaliação científica
existentes por possibilitar fontes alternativas de revisão por pares. Em vez de
esperar meses por duas opiniões, o impacto de um artigo pode ser avaliado
por
milhares
de
conversas
e
marcadores.
A
velocidade
representaa
oportunidade de criar sistemas de filtragem colaborativa e de recomendações
em tempo real. No curto prazo, é provável que isso complemente a revisão por
pares tradicional. Além disso, métricas de impacto mais rápidas e amplas
também
podem
desempenhar
um
papel
importante
nas
decisões
de
financiamento e promoção (PRIEM;TARABORELLI; GROTH; NEYLON, 2010;
PRIEM; GROTH; TARABORELLI, 2012).
4.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Com o propósito de verificar se as revistas científicas de acesso aberto
da América do Sul usam as mídias sociais, a partir dos procedimentos de
coleta e análise de dados, percebeu-se que esses meios de comunicação
científica estão inseridos na web social.
Os dados iniciais revelaram que a América do Sul possui 2.323 revistas
científicas em acesso aberto, que equivale a 17% das 13.751 existentes no
mundo (DOAJ, 2019). Identificou-se que o Brasil está em ênfase na região,
visto que publica 60,8% do total das revistas sul-americanas. Em seguida, a
Colômbia possui 15,2%, a Argentina 10,3%, o Chile 5,1%, o Peru 2,8%, o
Equador 2,5%, a Venezuela 1,4%, o Uruguai 1,1%, o Paraguai 0,7% e a
Bolívia 0,2%. Mesmo com essa distribuição dispersa, não foi localizada revista
em dois países: Suriname e Guiana50. A figura 1 apresenta a quantidade em
cada país.
50
A Guiana Francesa é uma região que pertence à França/ União Europeia. Não se trata de um
país.
�264
Figura 1 – Quantidade de revista por país da América do Sul
Fonte: Dados da pesquisa (2019). Extraído de DOAJ (2019).
O Brasil também se destaca porapresentar a maior taxa de
interação. Dos dez artigos mais mencionados nas mídias sociais, nove são de
revistas brasileiras e apenas um da Argentina. Além disso, tanto as três
revistas quanto as três editoras mais mencionadas são brasileiras.
Esses
dados
representatividade
se
no
alinham
mundo
ao
de
fato
artigos
de
o
Brasil
científicos
ter
em
uma
grande
acesso
aberto
(SCIENCE-METRIX, 2018). Três quartos das publicações desse país indexadas
na Web of Science e publicadas entre 2008 e 2014 estão disponíveis para
download, sem custo, conforme relatório publicado pela Science-Metrix (2018),
que aponta a Scientific Electronic Library Online (SciELO) como grande
responsável pelo fenômeno.
Considera-se, também, como fator contributivo na elevação do número
de artigos em acesso aberto, o fato de a maior parte das pesquisas no Brasil
ser desenvolvida nas universidades que o Estado financia por meio de suas
agências de fomento. Em consequência, o acesso aberto se manifesta como
uma forma de retorno do investimento na pesquisa, para contribuir com o
crescimento econômico e o bem estar da sociedade.
�265
Com o intuito de demonstrar a relação entre a quantidade que está
presente nas mídias e a quantidade que não está, apresenta
apresenta-se o gráfico 1,
que indica esse percentual relacional de títulos.
Gráfico 1 – Proporção de revistas científicas de acesso aberto da América do Sul presentes nas
mídias sociais
Sim
Não
43%
Chile
57%
39%
Brasil
61%
34%
66%
Colômbia
33%
67%
País
América do Sul
Argentina
22%
78%
Equador
21%
79%
Peru
19%
81%
16%
Uruguai
13%
Paraguai
Venezuela
84%
88%
6%
0%
94%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Fonte: Dados da pesquisa (2019). Extraído de DOAJ (2019).
Em termos proporcionais, observa
observa-se
se uma baixa presença de revistas
nas mídias sociais. Em todos os países da América do Sul, a presença nas
mídias não alcança nem sequer a metade. Dentre os países que obtiveram
resultados superiores à média geral, têm
têm-se
se apenas Chile e Brasil. Os dados
indicam a existência de três países (Suriname, Guiana e Bol
Bolívia) que não
possuem nenhuma revista.
Esse resultado comunga com as constatações observadas e destacadas
no estudo de Vilela (2016), ao discorrer que é preciso fortalecer o diálogo da
ciência
com
a
sociedade
e
as
revistas
científicas
nas
mídias
sociais
representam
presentam um caminho. Não se deve ser tímido para divulgação de
pesquisas científicas nas redes sociais (VILELA, 2016).
Aliado a essa reflexão, é importante salientar que a internet é uma
importante ferramenta de comunicação, de informação e de diálogo int
interativo.
Portanto, a presença de revistas científicas na mídia social ajuda, de maneira
significativa, a tornar disponíveis os dados que podem confirmar ou refutar
ideias e argumentos.
�266
No Brasil, na área da Ciência da Informação, por exemplo, observa-se a
baixa presença on-line de pesquisadores, indicando que eles não utilizam as
plataformas web como extensão de seu trabalho. Dessa forma, eles abrem
mão
de
proporcionar
comunicação
um
apoio
doconhecimento
adicional
científico.
que
Mesmo
facilitariaa
o
uso
de
produção
e
ferramentas
altamente popularizadas como Twitter e Facebook ainda é tímido entre
pesquisadores, sendo mais usadas para fins pessoais do que para atividades
de compartilhamento profissional (BARROS, 2015).
No que se refere ao número de menções nas redes sociais, a figura 2
apresenta o percentual e quantidade de menções das revistas da América do
Sul.
Figura 2 – Menções das revistas da América do Sul nas redes sociais
Fonte: Dados da pesquisa (2019). Extraído de DOAJ (2019).
Conforme informações disponibilizadas na figura 2, identifica-se que a
mídia social mais usada é o Twitter, que também é apontada em outros
estudos como a mais utilizada para a propagação de informação científica.
Segundo Hassan et al. (2017), mais de 91% das menções altmétricas derivam
do Twitter, sendo a rede social mais utilizada para compartilhamento de
informações e disseminação de conteúdo. A emergência dessa rede social nos
últimos anos pode ser explicada por haver cada vez mais cientistas,
�267
principalmente os mais jovens, com perfis na rede e é comum que eles a
utilizem para comunicar e recomendar artigos (MARQUES, 2014).
Outro ponto observado é que a maioria dos artigos com maior número de
menções tem o texto no idioma inglês (nove dos dez mais mencionados). O
inglês é considerado a língua universal da comunidade científica, usado como
meio de comunicação transnacional que facilita o intercâmbio em todas as
atividades sociais.
Constata-se que as revistas sul-americanas são mencionadas em
diversas partes do mundo. Entretanto, o Brasil (22.324 posts), os Estados
Unidos (8.809 posts), a Colômbia (5.531 posts), a Inglaterra (4.030 posts) e a
Espanha (2.947 posts) são os países que mais interagem.
O uso das mídias sociais auxilia a quebrar as barreiras geográficas ao
abordar novos públicos e potencializar o aumento da visibilidade, além de
orientar os leitores para publicações e amplificar os resultados da pesquisa
(HOLMBERG,
2016).
Atenta-se
que
os
resultados
apresentados
são
quantitativos e mostram a atenção que foi dada a certa publicação, mas não
julgam se esse impacto teve boa ou má repercussão.
Sobre as áreas do conhecimento, a área da Saúde apresenta o maior
número de revistas com repercussão nas mídias. Essa área é apontada com
posições mais elevadas em termos de cobertura no Twitter. Além disso, os
perfis mais ativos entre os usuários dessa rede, em termos de audiência para
todas as publicações de 2015 de revistas indexadas na Web of Science,
pertencem à área da Saúde (HAUSTEIN, 2018).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa evidenciam os motivos que justificam à
ciência estendero olhar para além das fronteiras das universidades e dos
centros de pesquisa. Os desafios globais contemporâneos ampliaram o
interesse
no
alcance
social
da
atividades de divulgação científica.
ciência,
tornando
inter-relacionadas
as
�268
É necessário se preocupar com a circulação da informação científica na
sociedade contemporânea. Com os avanços tecnológicos e com o advento e a
evolução da web, o uso das mídias sociais passou a ser um importante aliado
para ampliaçãodo debate acadêmico e para levar textos científicos a públicos
não especializados.
Se a maior parte da população permanecer alheia aos processose
benefícios oriundos das investigações, a atividade científica perderá o sentido,
o propósito e a essência. É fundamental mostrar às pessoas o que está sendo
estudado, assim como mostrar os produtos gerados com as pesquisas (VILELA,
2016).
O
levantamento
deste
estudo
revela
dados
que
demonstram
a
necessidade de maior envolvimento da ciência com as mídias sociais, de modo
a romper as barreiras que impedem a democratização do acesso à pesquisa
científica. A presença das revistas nas mídias sociais ainda é pequena e
marcada por grandes desigualdades regionais. Na América do Sul, nenhum
país possui ao menos metade das revistas disponível nas redes.
A
partir
do
objetivo
previamente
estabelecido
para
este
artigo,
constatou-se que ele foi atingindo, uma vez que foi apresentado, por meio dos
procedimentos de coleta e análise de dados, o panorama geográfico quanto à
presença das revistas científicas dos países sul-americanos na web social.
O artigo identificou que, na América do Sul, o Brasil possui o maior
número de revistas, de editoras e de artigos mencionados na rede social. No
entanto, a relação de revistas por milhões de habitantes constata que a
Colômbia possui maior proporção, ao passo que o Chile lidera esse ranking
quanto à porcentagem de presença na rede.
Por meio da análise do engajamento das revistas na web, os resultados
indicaram ser o Twitter a mídia mais usada. Artigos mais mencionados se
encontram no idioma inglês e a área do conhecimento com maior envolvimento
é a da Saúde. Por fim, quanto à repercussão em termos geográficos, as
revistas da região são mencionadas em todos os continentes e, dentre os
países que mais as mencionam, destacam-se Brasil, Estados Unidos e
Colômbia.
�269
Os resultados indicam a necessidade de maior adesão por parte de
profissionais capacitados a contribuir com a disponibilização e gestão das
revistas na web social. Entende-se que a união de esforços entre editores,
financiadores, profissionais da informação, designers gráficos, dentre outros
agentes, é uma alternativa que pode ampliar a repercussão das revistas no
meio social.
Destaca-se, nesse processo, o papel desempenhado por bibliotecários e
instituições
de
informação,
sobretudo
ao
oferecerem
contribuições
na
organização das redes sociais e ampliação da divulgação para diferentes
segmentos sociais. Os bibliotecários, além de representarem/organizarem a
informação, possibilitam condições para garantir o acesso, rompendo barreiras
tecnológicas e geográficas, sendo fundamental, para esse fazer, a elaboração
de políticas de informação voltadas ao desenvolvimento da ciência.
A pesquisa limitou-se a verificar a presença das revistas nas mídias
sociais. Para futuras investigações, vê-se a necessidade de entender como o
conteúdo científico está sendo exposto, se teve boa ou má repercussão e se
essas ferramentas efetivam o alcance da divulgação para a sociedade em geral
ou se circula apenas entre os próprios autores.
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DADOS BIOGRÁFICOS
Edna da Silva Angelo: Doutoranda e Mestre em
Gestão & Organização do Conhecimento pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). MBA
em Marketing pelo Centro Universitário UNA.
Bacharel em biblioteconomia pela Universidade
Federal de Minas Gerais. Bibliotecária (CRB-6 / 2560)
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
E-mail: ednasangelo@gmail.com
Marlene Oliveira: Doutora pela Universidade de
Brasília, mestre pelo Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia -RJ e graduada em
Biblioteconomia pela FUOM/MG. Atualmente exerce
atividades de ensino e pesquisa na Escola de Ciência
da Informação da UFMG - MG, Brasil.
E-mail: marlene@eci.ufmg.br
�273
CAPÍTULO XVI - As redes sociais como uma possibilidade de
extensão de campo para o bibliotecário
Gabriela Bazan Pedrão
1 INTRODUÇÃO
Com certeza, em algum momento na carreira, a maioria dos profissionais
bibliotecários já foi questionada sobre as razões de sua escolha profissional.
Esses questionamentos normalmente vêm acompanhados do argumento de
que nossa profissão está condenada ao passado e ao esquecimento. Que
sentido há em ser bibliotecário em pleno século XXI, quando a internet já
tomou conta de tudo o que diz respeito à informação?
Essa noção popular de que, se há internet (e seus sofisticados
mecanismos de busca), não há necessidade de um bibliotecário, é bastante
comum. É também um grande erro a respeito de nossa profissão. O fato de
que a internet se tornou um grande repositório de informação, editável,
colaborativo e passível de alimentação por qualquer pessoa (DENTZEL, 2014)
parece sugerir que nossa profissão está ultrapassada. Contudo, isso está longe
de ser verdade. O bibliotecário não é mais o detentor da informação e a figura
representativa do conhecimento em um lugar (a biblioteca), mas isso não quer
dizer que a profissão não tem mais lugar na sociedade. Uma coisa
simplesmente não se segue da outra.
Na contramão da ideia comum de “profissão do passado”, há um estudo
de 2013, da Oxford University, feito por Frey e Osborne, que lista as profissões
mais suscetíveis à substituição por automação, no qual encontramos os
bibliotecários na posição de número 360 de 706, começando dos menos
suscetíveis aos mais suscetíveis. Nós, bibliotecárias e bibliotecários, estamos
antes de profissões bastante especializadas como: mecânico de aviação e
técnico em aviônica, preparadores de equipamentos médicos, técnicos elétrico-
�274
mecânicos, operadores de refinaria de petróleo e cientistas de atmosfera e
espaço.
Claro que isso não quer dizer que a dinâmica da profissão não está
mudando. Há tempos estamos saindo da visão tecnicista, focada em acervo,
custódia e controle e com as funções principais em classificação e catalogação,
para a biblioteconomia social, voltada ao leitor, às comunidades e as
necessidades do outro. Entender o impacto da internet na rotina das pessoas e
como ela transformou a forma como consumimos leituras, por exemplo, é
essencial
para
os
bibliotecários
de
hoje,
pois
só
assim
poderemos
desempenhar nossa função de mediação e de facilitadores de acesso da melhor
maneira. Antes de ver como bibliotecários podem se aproveitar das redes
sociais, é interessante ver exatamente que mudanças a internet trouxe para
nosso cotidiano.
A internet mudou completamente nosso modo de viver. Olivro publicado
pela Open Mind e BBVA, em 2014, 19 key essays onhow internet ischangin
gourlives, discute como mudamos grande parte dos nossos hábitos por causa
dela. Da forma como comemos, como cuidamos de nossa saúde, até como nos
comunicamos, tudo vem sendo influenciado pelos aplicativos, serviços de
compras, agendamentos automáticos e redes sociais.
Um outro fator importante e muito relacionado às redes sociais é a
questão da identificação e da identidade. Muito do que nós somos e do que
expomos no mundo online vem donosso senso de identidade e de como
queremos ser vistos. A questão é que nossos padrões estão mudando e nós
estamos mudando a forma como enxergamos a nós mesmos.
Hall (2006) comenta que estamos passando por uma fase de declínio de
velhas identidades e buscando novas referências, dando origem a uma crise de
identidade. Ele ainda diz que essa crise está fragmentando o sujeito moderno,
que até então era visto como unificado, e que isso também significa um
processo de mudança mais profundo, que desloca processos centrais das
sociedades e modificam nossos quadros de referência, que são como âncoras
no mundo social.
�275
Segundo
o
autor,
as
identidades
modernas
estão
se
tornando
descentradas. Além disso, afirma que essas transformações estão acontecendo
principalmente pela mudança de como pensamos sobre classes, gênero,
sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que antes nos davam uma sólida
localização social e hoje não o fazem mais (HALL, 2006).
Podemos considerar a internet como um dos fatores de mudança, pois
ela vem se tornando mais presente em nossas vidas nos últimos 30 anos, com
uma interferência ainda maiordesde o surgimento dos smartphones e da
expansão do acesso, há cerca de 20 anos. Essa ferramenta produziu uma
revoluçãoem como nos comunicamos e em como interagimos em sociedade,
tanto pela mobilidade, quanto pelo acesso à internet móvel e às redes sociais.
Mas como isso muda nosso trabalho? Como a internet afeta o espaço da
biblioteca?
A internet não mudou apenas os hábitos, mas também as dinâmicas de
estabelecimentos e serviços. Não cabe hoje para a biblioteca ser um local de
silêncio, voltado apenas para leitura, estudo e com uma lista de restrições. O
bibliotecário precisa ir além da classificação e da catalogação. Numa biblioteca
escolar, por exemplo, é muito difícil imaginar um ambiente que proíba o uso de
celular e que seja ao mesmo tempo acolhedor para os educandos, uma vez
que o celular se tornou parte integral da vida de todos, principalmente na fase
adolescente. A proibição invariavelmente vai levar à percepção de que a
biblioteca é lugar “careta”, ultrapassado e desinteressante. Hoje, trabalhamos
principalmente entendendo as demandas de onde as bibliotecas estão
inseridas, compreendendo as comunidades e trabalhando em prol do leitor.
Como
a
internet
e
os
celulares
permeiam
todas
as
comunidades,
independentemente de estrato social, e alteram fundamentalmente o modo de
se engajar com o mundo, é necessário acomodar essa nova realidade.
Com a internet temos um instrumento poderoso capaz de criar
identificação, disseminar informação e facilitar acessos. Para o bibliotecário,
mais do que administrar uma ferramenta, fica o desafio de explorar meios de
utilizar, especialmente as redes sociais, como algo produtivo para si e para a
�276
biblioteca. Em suma, a internet e tudo que ela implica é inescapável em todas
as esferas da vida contemporânea, e para nossa profissão não seria diferente.
2 AS REDES SOCIAIS
Uma das principais transformações que vêm acontecendo é a mudança
nas relações sociais. Com a internet não temos mais barreiras geográficas e a
troca entre pessoas é cada vez maior (DENTZEL, 2014). Saímos da era
industrial para a era do network, na qual as histórias pessoais vão para o
público e os eventos locais vão para o global (DENTZEL, 2014).
Com as novas possibilidades, vieram também as redes sociais. Essas
ferramentas valorizam principalmente as relações pessoais e a história que
cada um conta sobre si. Com elas é possível dividir experiências, informações e
entrar em contato com pessoas e ideias de maneira instantânea, sem a
intervenção do tempo e espaço (DENTZEL, 2014).
As redes mudaram a forma como nos relacionamos com outras pessoas,
a maneira que entendemos amizade e vêm influenciando nossos hábitos cada
vez mais. A maneira como vivemos nossas rotinas e nos organizamos foram
afetadas pelos hábitos de postagens e compartilhamentos. A economia mudou
e muito das ações de grandes empresas estão baseadas na forma como o
público se comporta nessas redes.
Castells (2014) comenta que também estamos vivendo um processo de
individualização e valorização do eu. Esse processo se dá por diversos fatores,
como a transformação do espaço e da vida metropolitana, a mudança no
trabalho
e
nas
atividades
econômicas
com
a
cultura
do
network,
a
comunicação e a cultura voltadas para a internet e a crise na família patriarcal
com o aumento da autonomia financeira de outras partes dentro dafamília.
O autor ainda explica que a chave desse processo de individualização é a
construção da autonomia dos atores sociais (CASTELLS, 2014). Os maiores
exemplos dessa construção são os movimentos que vemos com cada vez mais
frequência: a audiência ativa na mídia, que opina e muda decisões sobre
�277
programas, filmes e séries, por exemplo; o usuário criativo na internet, que
constrói seu espaço, cria novas ferramentas e modifica a experiência de
navegação; nos mercados, com o consumidor informado e inteirado de seus
direitos; e na educação com alunos cada vez mais informados e digitais
(CASTELLS, 2014).
Assim, enxergando o panorama geral, podemos entender que as novas
mídias estão centradas no eu e no indivíduo, mas, ao mesmo tempo, esse
indivíduo também busca por experiências e crescimento pessoal tendo como
base o conjunto e a vivência de outras pessoas. Para isso é importante criar
uma rede de trocas, ter contatos, saber quem procurar ou com quem falar, daí
o network e o crescimento das redes sociais. As pessoas estão se aproximando
e criando comunidades comuns. Chegamos, então, a um ponto chave: a
identificação, que nada mais é do que um tipo de reconhecimento de
afinidades e de que se habita um universo de interesses e desejos parecidos.
Meu objetivo ao traçar esse panorama é entender como nossa sociedade
está se adaptando a um novo formato e como, a partir de agora, temos uma
nova tendência: a identificação e o compartilhamento de experiências, que é
potencializado pela agilidade das mídias sociais. Se observarmos bem é
possível identificar cada tendência pela qual a internet passou nos últimos
anos. Das bases de dados até as selfies, vivemos em tempos de compartilhar
informação. Já nos últimos anos, com o desgaste de algumas redes e o início
das ofertas de streaming, com filmes, séries e músicas mediante ao acesso
facilitado e amplo, a internet vem passando por uma mudança quanto ao que é
oferecido ao outro. Não basta apenas uma rede com fotos pessoais, as pessoas
buscam pela chamada ‘vida real’, dividir rotinas, trocar ideias e vivências.
Estamos vendo cada vez mais a ampliação do que é oferecido, e ao
mesmo tempo tem se intensificado o questionamento a respeito do valor do
produto; não só a respeito do seu custo, mas também sobre o que ele agrega
à vida do consumidor. Kotler e Keller (2006) explicam isso em seus cinco
níveis de produto e em como cada nível constitui uma hierarquia de valor para
o consumidor. Saímos da ideia do benefício que esse produto nos oferece para
um produto básico, dele para o esperado, o ampliado, chegando no potencial,
�278
ou seja, o que ele extraordinariamente poderia ser. Cada um desses níveis
oferece uma experiência e, conforme esses níveis vão aumentando o valor do
produto e da experiência são também elevados.
Vemos então serviços e produtos sendo agregados a outros serviços e
produtos para uma experiência mais profunda, mais completa e até mesmo
mais humana e relacionada com a ‘vida real’ que mencionei acima. Essa nova
oferta está intimamente ligada às redes sociais, pois hoje elas têm o poder de
influenciar muito do que é consumido e vendido, principalmente por meio dos
chamados influenciadores digitais. Se esses influenciadores estão usando
determinados produtos ou serviços e os incorporaram em sua rotina como algo
benéfico em suas vidas, então é uma ótima propaganda para outras pessoas e
o público geral consumirem também.
Agora, chegamos à questão central: como os bibliotecários podem
aproveitar essa tendência?
3 O BIBLIOTECÁRIO E AS REDES SOCIAIS
Sou produtora de conteúdo do canal “É o último, juro!” há mais de cinco
anos. A ideia inicial era de produzir um canal literário que me ajudasse no
incentivo à leitura e que fosse uma ferramenta externa do meu trabalho em
uma biblioteca escolar. A ideia deu certo, e com o passar do tempo passei a
falar também sobre Biblioteconomia, organização de estudos e pós-graduação.
Os temas além da literatura surgiram por uma identificação do público
com alguns comentários que sempre fiz, principalmente sobre a profissão de
bibliotecária, e por pedidos para que eu discutisse mais esses assuntos. Com o
tempo, percebi que esses eram temas de interesse e que, especialmente a
profissão, era um assunto que as pessoas tinham curiosidade. Assim, nasceu o
“Fala, Bibliotecária”.
A programação de vídeos sobre Biblioteconomia foi uma grande
surpresa. Em pouco tempo o número de visualizações ultrapassou o do
restante dos vídeos do canal e a interação crescia a cada vídeo. A maioria das
�279
pessoas que acompanhavam esses vídeos eram bibliotecários, e assim
identifiquei um nicho e uma carência em nossa área. Os profissionais estavam
procurando informações, buscando ajuda e alguém para conversar sobre a
rotina de trabalho.
Com essa movimentação e participação comecei a notar que era possível
levar a profissão para além do espaço físico. Passei a produzir mais vídeos
sobre o assunto, e aconteceu o que até então era inimaginável para mim:
mensagens de colegas dizendo que os vídeos estavam ajudando, convites para
palestras e eventos e até mesmo vestibulandos que estavam se inspirando
nessas falas para cursar Biblioteconomia.
Percebi que o que estava faltando era a informação fácil (uma tremenda
ironia para nós) e a conexão entre colegas, o que a internet possibilitou e
ainda deu força. Assim, chegamos em um ponto importante na produção de
conteúdo, já mencionado: a identificação. Como já disse, estamos vivendo um
momento de partilha de experiências e vivências no qual as pessoas procuram
algo que realmente acrescente às suas vidas, que não seja apenas superficial e
que fale também sobre o olhar e a experiência sobre o outro.
Pensando nessa tendência de compartilhamento temos um meio fértil
para a atuação bibliotecária. Comigo foi pelo caminho da divulgação, de
comunicar a outras pessoas e até aos colegas um pouco da nossa importância
(reconhecer-se como profissional que é necessário à sociedade e que tem um
objetivo é importante, mas essa nem sempre é a visão de todos, tanto das
pessoas no geral, como dos próprios bibliotecários às vezes) e de abrir
algumas portas para que meu trabalho fosse possível no mundo digital.
Esse trabalho foi possível e ainda tem sido. Hoje, atuo como produtora
de conteúdo e mantenho uma rotina de vídeos e postagens, principalmente no
Instagram e YouTube. Esse não é meu único trabalho e não me mantém
exclusivamente. Também sou bibliotecária escolar, e esse é o maior problema
de se atuar nas redes: a visibilidade vem devagar, o crescimento é lento e o
faturamento é baixo para quem trabalha com nichos pequenos.
Vivemos em um momento em que a profissão ‘produtor de conteúdo’, ou
o famoso ‘influenciador digital’, se tornou um sonho a ser alcançado. Muitos
�280
querem o glamour, a fama e as facilidades que essa profissão parece oferecer,
mas é um trabalho árduo chegar até lá e a grande maioria não consegue.
Trabalhar com mídias é trabalhar com uma produção de conteúdo exaustiva.
Postar todos os dias não é uma tarefa tão fácil quanto parece e ter assunto
para tanto é mais difícil ainda. Digo isso porque quando falo sobre redes como
potencial de trabalho para o bibliotecário, provavelmente essa possibilidade
veio à cabeça de muitos.
Esse não é meu principal trabalho e, na verdade, não me considero
dessa forma. A produção de conteúdo é mais parte de uma opção minha de
fazer algo pela minha profissão do que paratransformar isso em algo rentável
e uma carreira. Mas como podemos trabalhar com isso?
Eu acredito mais na importância do compartilhamento de informações,
independente de quem fala, do que na figura do produtor de conteúdo em si.
Muitas vezes pensamos que é preciso estar à frente do projeto, falar, gravar,
aparecer, mas nem sempre isso é verdadeiro. A produção pode ser feita com
foco na informação, não no produtor. A pessoa que produz conteúdo precisa de
habilidades que vão muito além do “compartilhar informações”. É necessário
carisma, um domínio de temas, estudo do universo relevante, confiança para
desempenhar um papel (porque em determinado momento se tornará um
papel também), e muita paciência para lidar com a recepção do público que,
como todos sabemos, pode ser bastante desagradável. É um trabalho que
exige muito e que em determinado momento pode saturar, tanto pela falta de
conteúdo, quanto pelo cansaço da própria pessoa51.
Já no compartilhamento, como já dito, o trabalho é focado na informação
que é passada, não tanto na figura que passa. Acredito que as redes sejam
uma extensão interessante do trabalho que já é realizado na rotina do
profissional. Explorar mídias como o YouTube e o Instagram para ampliar a
rede de alcance é muito válido. Quando o serviço já existe, a criação de
conteúdo é mais fácil, pois é baseada naquele serviço. Para uma biblioteca, por
exemplo, o bibliotecário pode levar para as mídias os livros mais emprestados,
51
A depressão em youtubers, por exemplo, é um fenômeno real e que só agora está
recebendo a atenção devida.
�281
depoimentos dos leitores, comentários sobre adaptações cinematográficas de
obras, cobertura de eventos, ou até mesmo fatos interessantes ou fora da
rotina da biblioteca. Tudo isso pode ser feito em todas as redes, principalmente
nas mais ágeis, como o Instagram e o Facebook.
Para ilustrar, vou citar dois exemplos de bibliotecárias que, para além de
seus trabalhos, estão nas redes divulgando a profissão e ganhando espaço. A
primeira delas é a bibliotecária Thalita Gama, que mantém um blog sobre
biblioteconomia focado em concursos públicos. Além do blog, Thalita também
tem uma conta bastante movimentada no Instagram, onde leva conteúdos
diversos, tanto sobre os concursos, quanto sobre assuntos gerais ligados à
área.
Dificilmente uma rede social será um trabalho único. Ter as mídias como
profissão, como já comentei, é difícil e envolve abordar um assunto pelo qual
as pessoas se interessem e que seja passível de monetização. Por isso, na
maioria dos casos, as plataformas são extensões dos trabalhos já executados
em outros momentos. A ferramenta auxilia no alcance de pessoas e,
principalmente, a divulgar o projeto, serviço ou atividade a pessoas fora do
círculo principal.
Outro caso interessante é o da bibliotecária Fernanda Zely, à frente do
projeto
‘Mente Brava’, que
é
uma
loja de
camisetas
com
temáticas
bibliotecárias. Fernanda aproveitou um nicho diferente, o mercadológico, para
oferecer produtos voltados à classe profissional com caráter personalizado. A
loja é nova e a ideia vai bem além do que estamos acostumados na profissão.
Sai do lugar comum de profissional que oferta serviços para uma profissional
que oferta produtos.
Além de seu site, que é também uma loja on-line, Fernanda tem também
uma conta no Instagram onde faz postagens sobre seus produtos e ainda traz
conteúdo sobre a área. O diferencial, além do produto, é o fato de que ela fez
algumas parcerias com outros bibliotecários e bibliotecárias que usam suas
camisetas e divulgam a marca. Fora o network entre profissionais, essa ideia
ainda cria uma comunidade e divulga o trabalho de outros bibliotecários que
também estão nas redes.
�282
O que há em comum com esses trabalhos é que eles estão ligados à
identidade do profissional. A identidade bibliotecária é uma questão delicada.
Nossa profissão ainda sofre com uma crise sobre quem somos e qual nossa
função no mundo contemporâneo. Com essas produções de conteúdo nos
aproximamos de colegas e nos sentimos menos sós. É possível acompanhar
outros trabalhos, dividir questões e compartilhar rotinas semelhantes. Os
problemas se tornam comuns e há um alívio ao ver as mesmas dúvidas em
outras pessoas, tanto no que está à frente de uma rede, por exemplo, quanto
nos outros que estão ali comentando e acompanhando.
Acredito que o principal hoje para trabalhos com mídias seja esse toque
de identificação. Ao olharmos para conteúdos que fazem sentido para nós, que
nos representam de alguma forma ou até mesmo que nos trazem um
significado sobre o nosso “fazer diário”, aquela produção tem outro valor.
Acredito que a produção de conteúdo atualmente precisa ter valor acrescido,
não apenas informações. As pessoas querem saber o que você achou sobre um
livro, não apenas a informação que ele está à venda. Em outras palavras,
devemos cada vez mais assumir o papel de curadores de conteúdo. Afinal, um
dos papéis do bibliotecário é justamente a mediação da informação. Como o
mundo nunca esteve tão saturado de informação e conteúdo, as pessoas vêm
cada vez mais buscar alguém que indique caminhos, que faça sugestões de
forma educada e interessante, que faça realmente uma seleção do que vale a
pena ser consumido ou não. Desse modo, portanto, o bibliotecário tem muito a
desempenhar no papel de curador de informação nas redes, e isso não se faz
sem ir além do aspecto técnico da profissão. O bibliotecário precisa ser uma
pessoa engajada e interessada.
Agregar opiniões, um toque pessoal e as experiências são a chave para
estar
nas
redes.
Para
nosso
campo
especificamente,
acredito
que
o
compartilhamento de rotinas e conhecimento fazem muita diferença e é a
maior carência da classe hoje.
�283
4 CONCLUSÃO
A internet vem mudando nossos hábitos e a forma como executamos as
mais diversas atividades do nosso dia a dia, desde o trabalho até as relações
pessoais e cuidados com a saúde. Tudo vem sendo influenciado pela
disponibilidade de informação da internet e a relação entre pessoas nas redes
sociais. Baseados nisso podemos rever nossa atuação como bibliotecários e
bibliotecárias. Vemos a cada dia, por meio das boas experiências de colegas da
profissão, que é possível ter essas redes como uma extensão do nosso
trabalho. Elas podem nos auxiliar, tanto em divulgação de ideias, como em
compartilhamento de práticas e informações.
O melhor caminho é aproveitar essa rede em conjunto com trabalhos já
executados, assim além de colocarmos nossas experiências em destaque,
também aproveitamos os materiais, conteúdos e reflexões que já fazemos e
carregamos conosco em nosso dia a dia. Falar do que estamos familiarizados é
sempre mais simples e mais verdadeiro, além de economizar um bom tempo
de preparação.
Deixo como conclusão que trabalhar com redes e mídias é complicado e
exigente. Nem sempre há o retorno esperado, nem sempre nos dá o caminho
ou respostas que imaginamos, mas nos oferece uma rede de colegas,
contatos, inspirações e trocas. Hoje, com certeza sou uma profissional melhor
e devo muito ao ‘É o último, juro!’ e às pessoas que me acompanham. O
crescimento é diário e a vontade de renovação e incentivo ao estudo e
produção são constantes.
REFERÊNCIAS
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Ch@nge: 19 key essays on how internet is changing our lives. Open Mind:
BBVA, 2014.
DENTZEL, Z. How the internet has changed everyday life. In: Ch@nge: 19 key
essays on how internet is changing our lives. Open Mind: BBVA, 2014.
�284
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are jobs to computerisation? Oxford Martin Programme on Technology and
Employment, 2013.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de
Janeiro: DP&A, 2006.
KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo:
Pearson Hall, 2006.
DADOS BIOGRÁFICOS
Gabriela Bazan Pedrão: Graduada em Biblioteconomia e
Ciência da Informação (FFCLRP, USP). Doutora em Ciência
da Informação (PPGCI, Unesp). Bibliotecária escolar na Rede
de Escolas Sociais do Grupo Marista e produtora de
conteúdo do canal ‘É o último, juro!’, no YouTube. Curadora
e mediadora dos clubes de leitura da Fundação do Livro e
Leitura de Ribeirão Preto e do Sesc Ribeirão Preto.
E-mail: gabriela.bzp@gmail.com
�285
CAPÍTULO XVII - Fake News e suas repercussões na
sociedade e a atuação do bibliotecário no seu combate
Antônio Afonso Pereira Júnior
1 INTRODUÇÃO
O que são Fake News? Lembra-se do aforismo de Joseph Goebbels, de
que uma mentira contada mil vezes se torna verdade.
Hitler nomeou Goebbels para o Ministério da Propaganda e Otto Dietrich
para controlar a imprensa. Apesar de Dietrich exercer um papel mais
importante e decisivo, somente o primeiro é lembrado por todos. Isso
deve ao fato de que Dietrich para se livrar da condenação do Tribunal de
Nuremberg imputou todos os crimes a Goebbels, já morto na época do
julgamento. A ele é atribuída a famosa frase: “uma mentira contada mil
vezes se torna verdade”. Uma fake news, um boato, uma mentira de
Dietrich atribuída a Goebbels (HERF apud QUESADA; PISA, 2018, p. 1).
É fato e não boato que elas, as notícias falsas, existem desde de muito
antes de chegarmos ao estado atual e avançado de acesso midiático, quase em
tempo real, das informações e notícias sobre os mais variados temas do
cotidiano. Quantidade exponencial de notícias falsas veiculadas nas redes
sociais.
As redes sociais são modelo de negócios rentáveis na internet, a
mercantilização do mundo digital criou impérios de lucratividade. Crise nas
instituições: imprensa, poder público e falta de liderança corroboraram para o
fenômeno das notícias falsas. As Redes sociais são bolhas digitais que
convergem para pessoas com mesmo pensamento, o que possibilita mais força
para o maniqueísmo ideológico de grupos fundamentalistas na consolidação de
seus valores.
Os
meios
de
comunicação,
instrumentos
criados
para
prestar
informações ao homem, a começar com a criação da imprensa, ainda no século
XIV, passando pelos Correios, telégrafos, rádio, televisão chegaram, agora,
com muito vigor e conteúdo, a internet e redes sociais. E, para piorar, com
�286
uma geração cada vez mais repleta de notícias, mas de pouco conhecimento,
surgem as chamadas fake news.
Segundo o Dicionário de Cambridge (2018), o conceito fake news indica
histórias falsas que, ao manterem a aparência de notícias jornalísticas, são
disseminadas pela internet (ou por outras mídias), sendo normalmente criadas
para influenciar posições políticas e assuntos relevantes para população, como
saúde pública: as mentiras inventadas para abalar a confiança da sociedade
nas campanhas de vacinação.
As fake news correspondem a uma espécie de “imprensa marrom” (uma
expressão de cunho pejorativo, utilizada para se referir a veículos de
comunicação - principalmente jornais, mas também revistas e emissoras de
rádio e TV - considerados sensacionalistas, ou seja, que buscam elevadas
audiências
e
vendagem
através
da
divulgação
exagerada
de
fatos
e
acontecimentos), deliberadamente veiculando conteúdos falsos, sempre com a
intenção de obter algum tipo de vantagem, seja financeira (mediante receitas
oriundas de anúncios), política ou eleitoral.
Em tradução literal, as fake news seriam as notícias falsas, espalhadas
por desconhecimento ou de forma proposital, com um fim específico, muitas
vezes
difamador.
Ganharam
especial
atenção
recentemente,
mais
precisamente na disputa presidencial americana entre Hillary Clinton e Donald
Trump e na saída do Reino Unido da União Europeia, popularmente chamado
de Brexit. Os fatos citados confirmaram os riscos reais da prática de espalhar
fake news. Motivo de preocupação, em todo o planeta, em relação a
disseminação de notícias falsas. As redes sociais foram locupletadas por velhas
práticas políticas de difamação e manipulação de dados. O discurso atinge uma
velocidade exponencial de compartilhamento nas redes e coloca em risco a
credibilidade dos espaços digitais e das informações que nelas circulam. A
massificação de postagens automatizadas por robôs tenta amordaçar a
discussão crítica de temas relevantes para sociedade como política e saúde
pública. Os boatos ocupam a timeline das redes sociais dividindo e usurpando
o espaço das agências de notícias.
A questão que assume primordial importância reside no fato comprovado
�287
de que a criação e disseminação de notícias falsas tem capacidade potencial de
influenciar, por exemplo o resultado de um pleito eleitoral, atingindo o Estado
Democrático de Direito em sua essência: a emanação do poder pelo povo, no
exercício da escolha de seus representantes políticos, que consiste em Cláusula
Constitucional Pétrea (parágrafo único do artigo 1.º, da Constituição Federal
(CF) de 1988). O problema posto é possível a vivência da democracia na
esfera pública, ou é uma utopia numa sociedade pós-moderna?
Devido à facilidade de propagação rápida de informações, a internet é
uma ferramenta muito utilizada atualmente. Este recurso, porém, tem sido
usado para divulgar notícias falsas ou imprecisas, com o objetivo de enganar,
prejudicar, confundir ou, até mesmo, manipular as pessoas.
A liberdade da internet levou a uma ingênua ilusão de que a humanidade
iria atingir um patamar de conhecimento jamais alcançado, levou a gigantesca
frustração que ao invés de proporcionar lucidez estava sendo utilizada para
desinformar. A disseminação de tais notícias tem o potencial de se tornar
“viral”. Viral é um termo que surgiu junto com o crescimento do número de
usuários de blogs e redes sociais na internet. A palavra é utilizada para
designar os conteúdos que acabam sendo divulgados por muitas pessoas e
ganham repercussão (muitas vezes inesperada) na web, principalmente
quando se alinham às ideias de um determinado grupo radical, pois não serão
checadas ou questionadas para serem repassadas. O crescimento do uso de
robôs representa uma grande ameaça à democracia, porque manipula o
processo de formação de unanimidade de ideias e de assuntos relevantes
como eleições para sociedade e dar força as agendas de governos autoritários.
O advento da era digital já dominada pelo conceito de ‘pós-verdade’
(post-truth). Essa denominação ajuda a compreender o risco de crescimento e
avanço das fake news, simbolizando o fato de que a preocupação com a
verdade está perdendo o espaço na sociedade e no debate público. Segundo
Zigmunt Bauman, “a distinção entre a liberdade subjetiva e objetiva abriu uma
genuína caixa de pandora” (BAUMAN, 2001, p. 24). Há um limiar muito tênue,
sem dúvida, entre se controlar a propagação de notícias falsas ou boatos e de
se violar o direito fundamental à liberdade de expressão, sendo a censura um
�288
fantasma sempre a rondar este debate. O controle sempre se dá de forma
posterior (em razão dos direitos de imprensa e livre expressão) à divulgação
das notícias, o que permite sua propagação e desinformação, e com pouca
eficiência, haja vista a existência de outras redes sociais, como WhatsApp que
não possui forma de verificação de conteúdo.
Sendo assim, pretende-se compreender o fenômeno fake news e discutir
as seguintes temáticas: a atuação das empresas de tecnológia para combater
a proliferação da desinformação; o papel dos diversos setores da sociedade e a
nova performance do bibliotecário na educação digital para impedir as
mentiras e garantir a liberdade de expressão e legitimar o Estado Democrático
de Direito. A metodologia desta pesquisa será cotejar fatos e relatos de
pesquisas e trabalhos de autores sobre as fake news ao longo do tempo; e
como as empresas tecnológicas lidaram para barrar as notícias falsas; de como
os bibliotecários estão atuando para combater o fenômeno comunicacional e
das perspectivas de mudanças da legislação vigente no intuito de penalizar os
autores de fake news no ordenamento jurídico brasileiro.
2 FAKE NEWS: FENÔMENO ANTIGO, COMPLEXO E DEVASTADOR
Atualmente, todo mundo diz que estamos na Era da pós-verdade,
infestada de mentiras e ficções enganosas. O fenômeno das fake news não é
novo, desde sempre existiu, só não tinha a capilaridade e velocidade de
espalhar como no presente.
Os humanos sempre viveram na era da pós-verdade. O Homo sapiens é
uma espécie da pós-verdade, cujo o poder depende de criar ficções e
acreditar nelas. Desde a Idade da Pedra, mitos que se autorreforçavam
serviram para unir coletivos humanos. Realmente, o Homo sapiens
conquistou esse planeta graças, acima de tudo, à capacidade exclusiva
dos humanos de criar e disseminar ficções. Somos os únicos mamíferos
capazes de cooperar com vários estranhos porque somente nós somos
capazes de inventar narrativas ficcionais, espalhá-las e convencer
milhões de outros a acreditar nelas. Enquanto todos acreditamos nas
mesmas ficções, todos nós obedecemos às mesmas leis e, portanto,
cooperamos efetivamente (HARARI, 2018, p. 287).
A calúnia, a difamação e a maledicência não são atos que começaram na
atualidade com as redes sociais. Na França do século XVIII, antes da
�289
Revolução
Francesa,
a
mãe
das
revoluções,
publicações
anônimas
denunciavam o Rei Luiz XVI, a nobreza depravada e um clero ganancioso. Os
autores dessas publicações estavam espalhados por toda Europa, destaque
para Londres onde a liberdade de imprensa já era uma realidade conquistada.
Essa literatura “submunda” teve um grande papel para o acontecimento da
Revolução Francesa.
Jean-Charles-Pierre Lenoir, chefe da polícia de Paris de agosto de 1774
a agosto de 1785. Era equivalente ao ministro do Interior moderno.
Durante esse período que coincidiu com a Revolução Americana e o pico
de atividades libelistas em Londres, Leonir descobriu que seria
impossível policiar o comércio de livros sem deixar-se arrastar pelas
intrigas de poder na corte. Nos rascunhos de suas memórias, ele discute
cada um dos ministros de Luís XVI, registrando incidentes que
ocorreriam quando escândalos e injúrias foram se tornando questões
políticas sérias. Desse modo, por mais incompletos que sejam, seus
manuscritos fornecem um rico panorama das políticas de mídia num
momento em que a imprensa começava a emergir como uma força
crucial na história (DARTON, 2012, p. 132).
As notícias falsas sempre foram usadas para desestabilizar o mundo
político, criar factoides é algo muito comum. Avançado no tempo, vamos
discutir sobre a campanha eleitoral de 2016, nos Estados Unidos, ocorreram
várias violações de privacidade eletrônica, feita por órgãos americanos, ou
russos com intuito de fraldar informações e envenenar o pleito eleitoral.
Os vazamentos de e-mails ocorridos na campanha presidencial de 2016
também foram uma forma poderosa de desinformação. As palavras
escritas numa situação só fazem sentido naquele contexto. O próprio ato
de retirá-las de seu momento histórico e divulgá-las em outro é um ato
de falsificação. E, pior, quando os meios de comunicação cobriram os
vazamentos eletrônicos como se fossem notícias, traíram sua própria
missão. Em vez de noticiar a violação de direitos básicos nossa mídia, de
modo geral, preferiu entregar-se de forma imprudente ao interesse
inerentemente obsceno que temos pela vida alheia (SYNDER, 2017, p.
85).
A tecnologia está programando cada vez mais o dia a dia, além disso
estabeleceu um novo conceito, a pós-verdade, uma nova forma de mentir, ou
de relativizar a verdade?
Vivemos em uma era de fragilidade institucional. As instituições da
sociedade agem como anteparos. São os órgãos que encarnam seus
valores e suas continuidades. Lançar luzes sobre seus fracassos, sua
decadência e seu colapso absoluto é intrinsecamente perturbador. Mas
isso não é tudo. A pós-verdade floresceu nesse contexto, quando os
firewalls e os anticorpos (misturando metáforas) se enfraqueceram.
�290
Quando os supostos fiadores da honestidade vacilam, o mesmo
acontece com a verdade. O filósofo A. C. Grayling talvez tenha razão ao
identificar a crise financeira com o momento germinal que levou, em
questão de anos, à era da pós-verdade. O mundo mudou depois de
2008, ele disse à BBC, em janeiro de 2007 – e assim foi (D’ANCONA,
2018, p. 45).
O colapso de regimes democráticos atualmente não termina com uma
ruptura brutal e violenta através de um golpe militar. No presente, a escalada
da tirania se dá com o enfraquecimento lento e gradual das instituições
democráticas, imprensa e do poder judiciário através da desinformação.
As salvaguardas constitucionais em si mesmas são suficientes para
garantir a democracia? Nós acreditamos que a resposta seja não.
Mesmo constituições bem projetadas por vezes falham nessa tarefa. A
Constituição de Weimar da Alemanha de 1919 foi projetada por algumas
inteligências legais mais destacadas do país. Seu duradouro e
conceituado Rechtsstaat (estado de direito) foi considerado para muitos
o suficiente para impedir abusos governamentais. Porém, tanto a
Constituição quanto o Rechtsstaat entraram rapidamente em colapso
com a usurpação de poder por Adolf Hitler em 1933 (LEVITSKY;
ZIBLATT, 2018, p. 99).
Vamos analisar nos próximos parágrafos como combater esse mal do
século XXI. Os projetos apresentam espaço para interpretações, como penas
maiores para casos que ‘distorçam gravemente a verdade’, mas quem definirá
o que é verdade? Verdade para quem?
O maior perigo da era da pós-verdade é que o nosso sentido do olfato
falhou. Nós nos tornamos indiferentes, ou nos acostumamos, ao “fedor
das mentiras”, resignados à atmosfera malcheirosa de afirmações de
verdades conflitantes. Em outras palavras: as chamas do colapso
democrático ainda não estão consumindo a nossa sociedade. No
entanto, nosso detector de fumaça coletivo está com defeito
(D’ANCONA, 2018, p. 121).
As universidades de Princeton e Nova York publicaram na revista Science
Advances, em janeiro de 2019, relata que os grandes compartilhadores de
notícias falsas na internet são os idosos (IDOSOS..., 2019). Aqueles que têm
idade superior a 65 anos compartilharam sete vezes mais fake news do que
aqueles com idade entre 18 e 29 anos. WhatsApp e Facebook são redes sociais
de difícil aprendizado para os que não são nativos digitais, geração que nasceu
na era digital.
A falta de conhecimento das pessoas mais idosas pode ser uma das
responsáveis pela viralização das fake news. O fluxo de informação no
�291
WhatsApp é menos intuitivo que nas outras redes, ou ainda por ser mais
informativo e menos contemplativo e de entretenimento. Uma segunda
possibilidade descrita pelo estudo se relaciona com a psicologia cognitiva e
social, ou seja, os efeitos do envelhecimento na memória. Os pesquisadores
observaram que a deterioração da memória trazida pela idade pode limitar a
capacidade de resistir as mentiras, entre outros efeitos ligados a ideologia e ao
conservadorismo, resumindo, suas crenças ajudam na propagação das notícias
falsas.
Dinheiro combinado com polarização é um terreno fértil para a
desinformação e a propagação de mentiras nas questões de relevância para
população, por exemplo: saúde e o caso das mentiras sobre a vacinação; ou
nas eleições, como ocorreu na vitória de Donald Trump e no Brexit, que
permitiu a saída do Reino Unido da União Europeia. Existem dois caminhos
para combater essa indústria da mentira: para a pessoa ou organização que
espalhou fake news cabe ao Estado avaliar e impor penalidades aos
propagadores de mentiras e fazê-los ressarcir o dano acarretado seja ao
indivíduo e/ou à coletividade; o outro caminho é o processo educativo, a
educação
para
a
cidadania.
Contribuir
para
a
formação
de
cidadãos
responsáveis, críticos e solidários, que conhecem e exercem os seus direitos e
deveres numa dialética de respeito com a sociedade pluralista, heterogênea e
democrática. Vamos ver como a educação digital pode ser uma arma para
debelar as notícias falsas.
3 COMBATE ÀS FAKE NEWS
A necessidade de uma educação digital para este público que são
considerados analfabetos digitais. E também para os nativos digitais, que
também propagam notícias falsas mesmo com a capacidade cognitiva boa e
compreensão melhor do mundo digital. A inclusão digital é um fenômeno social
que tomou conta do Brasil nos últimos anos. O país tem hoje dois dispositivos
digitais por habitante, incluindo smartphones, computadores, notebooks e
�292
tablets. Em 2019, a nação brasileira tinha 420 milhões de aparelhos digitais
ativos. (WOLF, 2019). Entre os aparelhos, o uso de smartphone se destaca:
segundo o levantamento, há hoje 230 milhões de celulares ativos no País
operando no país em 2019 (WOLF, 2019). Existem mais telefones móveis
(celulares) do que brasileiros. Assim, cada vez mais as novas mídias são
consumidas por pessoas mais velhas, que iniciam sua vida digital com
aplicativos populares como Facebook e WhatsApp.
A população deve exigir do poder público a oferta de uma educação
digital para compreender o fenômeno Fake News e combatê-lo em todas faixas
etárias. E das empresas de tecnologia, o auxílio na busca de procedimentos
para a reprimir a disseminação das notícias falsas, preservando sempre as
garantias de liberdade de imprensa e livre manifestação do pensamento. O
ordenamento jurídico brasileiro tem mecanismos para impedir e penalizar a
disseminação de mentiras pela internet. As grandes instituições tecnológicas
têm como criar barreiras para impedir a proliferação das fake news.
Identificar os robôs torna-se um desafio crucial, pois esse tipo de
mecanismo cada vez mais sutil e capaz de replicar o padrão humano com
precisão. Diferenciar o dado real do manipulado é fundamental para combater
a desinformação. Neste aspecto, as plataformas digitais têm como rastrear tais
artifícios tecnológicos.
O Facebook, divulgou nota em outubro de 2019, um novo pacote de
recursos e a modernização de suas funções direcionadas ao combate do
alastramento das notícias falsas. A partir de agora, a plataforma vai identificar
quaisquer matérias com conteúdo falsos, com mais clareza para seus usuários,
através de algoritmos e inteligência artificial para identificar e colar um selo de
falsidade na postagem compartilhada. Portanto, nota-se que é necessário um
movimento de
todos
contra
disseminação
de notícias
falsas.
Para
os
conglomerados tecnológicos é vital a transparência e confiança nas marcas,
para oferecer e vender seus produtos e serviços. Além, do selo de atestado de
mentira, já mencionado, o Facebook mantém por 7 anos uma biblioteca de
anúncios das eleições, para quem quiser verificar fraudes cometidas no período
eleitoral. Vejamos, a seguir mais ações de combate as fake news no Brasil. A
�293
Rede social de Mark Zuckerberg tem banido vários perfis de políticos de
extrema direita em vários países, inclusive no Brasil. Uma busca pela
credibilidade e respeito aos direitos civis tem forçado a plataforma a efetivar
uma resposta contundente no intuito de não perder mais usuários e
patrocinadores.
Como combater a desinformação que é nociva aos princípios da
Democracia, sem inviabilizar direitos fundamentais como a liberdade de
expressão? No tocante à responsabilidade civil, quem produz ou compartilha
informações falsas pode ser condenado a ressarcir a vítima se houver danos
morais ou materiais. “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não
sofrerão nenhuma restrição [...]” (BRASIL, 1988). Contudo, é necessário
esclarecer que esse direito deve respeitar:
a) a vedação ao anonimato;
b) o direito de resposta proporcional ao agravo;
c) o direito à indenização por dano material, moral ou à imagem;
d) a inviolabilidade da intimidade, da vida privada e da honra das
pessoas.
A responsabilização por publicação de fake news pode gerar dúvidas a
respeito do direito à liberdade de expressão e pensamento. É claro que a
liberdade de manifestação do pensamento é o direito de qualquer um
manifestar livremente suas opiniões, ideias e pensamentos sem medo de
retaliação ou censura. Mas é importante esclarecer que o direito à liberdade de
manifestação e pensamento previsto na Constituição e em outros dispositivos
legais, não autoriza ofensas que possam ferir a honra e dignidade de uma
pessoa. Se ao exercer a liberdade garantida na Constituição uma pessoa
ofender a dignidade de outra, surge então o direito de indenização que pode
ser configurado em dano moral e/ou material, sendo que estes não se
confundem e podem ser cumulados em um único processo civil.
Conforme o nosso Código Civil de 2002, o dano moral é aquele que afeta
a personalidade, a moral e a dignidade da pessoa e decorre da própria ofensa,
pela força dos próprios fatos. A princípio, não é necessária a apresentação de
�294
provas que demonstrem a ofensa moral da pessoa. O próprio fato já configura
o dano. Na indenização por dano moral, deve ser analisada a ofensa à honra
subjetiva (apreço à própria dignidade) e a honra objetiva (valoração de
terceiros, reputação, a boa ou má fama). O dano moral também não se
confunde com o mero aborrecimento ou dissabor. O mero aborrecimento
cotidiano é entendido como fato imperceptível, que não atinge a personalidade
do indivíduo, sendo um fato da vida e, portanto, não repercutindo ou alterando
o aspecto psicológico ou emocional de alguém. Na prática, em uma demanda
judicial o caso será analisado minunciosamente através de ampla defesa e
contraditório para que se possa chegar a uma decisão justa para o caso
concreto, evitando-se, assim, que haja um incentivo à indústria do dano moral,
bem como que lesão à dignidade da pessoa fique impune.
O Código Eleitoral, Lei nº 4.737/65, possui alguns tipos penais que
enquadram na prática de produzir e compartilhar fake news. O grande
problema do crime é a demora para punir os malfeitores. Os efeitos com a
demora da punição para desfazer o mal para as organizações e/ou indivíduos
atacados podem ser extremamente danosos. Ocorrendo descumprimento das
normas previstas na Lei das eleições, é possível a suspensão de todo o
conteúdo veiculado por uma empresa (portal, site, rede social ou outro tipo de
mídia). São legitimados para ingressar com a ação específica (representação
eleitoral), o Ministério Público, candidato, partido político ou coligação
participante do pleito, devendo ser observado o rito previsto no art. 96, da Lei
Eleitoral (art. 31, Resolução).
O Marco Civil da Internet, que ocorreu com a edição da Lei nº 12.965/14,
que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet
no Brasil. Segundo a legislação, o uso da Internet é permeado por inúmeros
princípios, como a preservação e a garantia da neutralidade da rede (art. 3.º,
inciso IV, Lei nº 12.965/14) e a liberdade de expressão, comunicação e
manifestação de pensamento (art. 3.º, inciso I, Lei nº 12.965/14), e tem como
objetivos o acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida
cultural e na condição dos assuntos públicos (art. 4.º, inciso II, Lei nº
12.965/14). No que se refere ao presente estudo, o artigo 19 da Lei que
�295
instituiu o Marco Civil da Internet traz importante norma referente ao combate
e à disseminação de informações falsas:
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir
a censura, o provedor de aplicações de Internet somente poderá ser
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado
por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as
providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e
dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado
como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário
(BRASIL, 2014).
O Senado aprovou em 30 de junho de 2020, em sessão deliberativa
remota, o projeto de lei de combate às fake news. O Projeto de Lei (PL) nº
2.630/2020
cria
a
Lei
Brasileira
de
Liberdade,
Responsabilidade
e
Transparência na Internet, com normas para as redes sociais e serviços de
mensagem como WhatsApp. A intenção é evitar notícias falsas que possam
causar danos individuais ou coletivos e à democracia. O texto segue para a
Câmara dos Deputados.
A proposta aprovada pelos senadores conseguiu passar sem tipificar
criminalmente a conduta de disseminação de notícias falsas nas redes sociais.
O acordo dos parlamentares previu a edição de uma nova lei para tratar
especificamente
dos
tipos
penais relacionados
à
prática de
criação
e
disseminação de fake news. Especialistas da área de Direito dizem que o PL nº
2.630/2020 apresenta lacunas não pacificadas. Entre os pontos problemáticos,
estão o cadastro de usuários o artigo 7 do PL, a criação do Conselho de
Transparência, no artigo 25, que podem prejudicar a privacidade do usuário e
a proteção de dados na Internet, além da violação da jurisdição do território
estrangeiro, artigo 32. Uma ansiedade da classe política para criminalizar as
fake news. De maneira geral, tais iniciativas, sem dúvida, contribuirão para a
redução do impacto da criação e disseminação de notícias falsas. Poder
Legislativo cria de mecanismos legais para tornar eficaz ao máximo o combate
à desinformação. Sem dúvida, o maior problema sobre o combate e a
disseminação de notícias falsas é o choque de princípios constitucionais, como
a liberdade de expressão.
É preciso combater a desinformação e adotar os novos parâmetros de
controle de informação nas redes sociais no intuito de preservar a liberdade de
�296
expressão e pensamento. Em parte da Europa nota-se uma busca pela
harmonia das empresas de tecnologia e a população. Um aprendizado
constante para minimizar os efeitos nefastos das notícias falsas. A Malásia
adotou uma rigorosa penalidade para os crimes envolvendo fake News. O
Parlamento malaio aprovou, em abril de 2018, uma lei punindo a propagação
de informação parcial ou totalmente falsa com penas de até seis anos de
prisão e multas de US$ 130 mil (cerca de R$ 500mil). A lei foi condenada por
grupos internacionais de direitos humanos como uma tentativa de silenciar
críticos a governos autoritários. As entidades acreditam que devem afastar a
criminalização das notícias falsas e buscar amparo no direito civil e na
educação digital. O diálogo do poder público com as plataformas digitais no
intuito de unir esforços no combate da desinformação. O trabalho em conjunto
de toda sociedade na luta pelo contra a desinformação e manter o princípio
basilar da democracia, a liberdade de expressão e pensamento.
4 O BIBLIOTECÁRIO NO COMBATE DAS FAKE NEWS
O bibliotecário no passado era chamado de guardião do conhecimento,
na atualidade somos filtros de verificação de autenticidade de conteúdo. Várias
práticas
pelo
mundo
de
sucesso
dos
bibliotecários
no
combate
a
desinformação. A International Federation of Library Associations (IFLA) está
muito preocupada com o risco crescente do compartilhamento de notícias
falsas na internet. A IFLA entende que o acesso à informação e a liberdade de
expressão é um direito de todos. A entidade desenvolveu um infográfico para
detectar as fake news, alternativa baseada na convicção de que a educação é a
melhor forma para combater a desinformação. O infográfico teve grande
sucesso, foi traduzido para 37 idiomas e apresentado em inúmeros boletins
informativos, bibliografia de cursos de jornalismo e biblioteconomia. E como
algumas pessoas não têm as habilidades necessárias para identificar as fake
news a entidade elaborou um infográfico com linguagem simples e direta para
evitar a desinformação.
�297
Figura 1 – Como identificar notícias falsas
Fonte: (IFLA, 2018a).
No Vietnã, os professores de Biblioteconomia da Universidade de Danang
utilizaram o infográfico da IFLA para elaborar aulas sobre alfabetização
informacional e compartilhar os riscos associados à incapacidade de reconhecer
as partes falsas das notícias. Estudantes de Biblioteconomia da Universidade
de Stuttgart, elaboraram folhetos inspirados no infográfico da IFLA e
compartilharam
bibliotecários
na
comunidade
escreviam
artigos
local,
de
ao
mesmo
pesquisa,
tempo
em
compartilhava
que
os
boletins
informativos sobre o tema. As bibliotecas públicas da Malásia colocaram
pôsteres com notícias falsas para atrair a atenção dos estudantes e como eram
prejudiciais para sociedade. As bibliotecas da Geórgia compartilharam o
infográfico da IFLA em suas redes sociais (IFLA, 2018a).
A atuação do bibliotecário está voltada para cidadania, segundo Corrêa e
Custódio
(2018).
O
bibliotecário
proporciona
a
formação
de
cidadãos
autônomos para a busca e acesso à Informação, de maneira consciente e
crítica para utilização da informação em prol da coletividade. Bibliotecários
podem motivar os indivíduos na busca da informação nas fontes confiáveis e
�298
proporcionar o conhecimento e a construção de novos saberes. Assim, devem
dominar as ferramentas úteis contra a desinformação, além de aprender e
replicar o conhecimento para a sociedade.
A missão do bibliotecário nos dias de hoje, disposto de um leque infinito
de interagentes com acessos aos mais diversificados conteúdos online
deve ser repensada em torno de uma nova configuração de
competências direcionadas a esta realidade, caracterizada por um
contexto político, econômico, social e cultural específicos da era da pósverdade e que possam prover às comunidades respostas às suas
demandas informacionais (CORRÊA; CUSTÓDIO, 2018, p. 15).
No Brasil, as associações de bibliotecários de vários Estados, a Federação
Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e
Instituições (FEBAB), o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) e os
Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB’s) promovem palestras e
campanhas no combate a desinformação. Agora, seria importante que as
bibliotecas públicas, escolares, universitárias e especializadas fossem centros
de combate à desinformação, estimulando um movimento viável, amplo e que
atingisse toda a sociedade nos seus diversos segmentos. Uma ação recente
que serve de modelo é o trabalho da Biblioteca do Senado que abriu o acesso
de fontes primárias nacionais e estrangeiras sobre informações confiáveis
sobre pandemia do Coronavírus.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É inegável que o Direito e a Tecnologia têm entre si diferença abismal em
relação às velocidades de renovação e capacidades de lidar com as inovações.
Pode-se concluir que o ordenamento jurídico brasileiro tem alicerces e
ferramentas para coibir e punir a disseminação de notícias falsas. O princípio
democrático é a verdadeira pedra angular constitucional, sendo fundamento de
validade de todas as normas do ordenamento jurídico, e da própria
Constituição, os direitos e garantias não são absolutos, o ordenamento
jurídico, aliado aos instrumentos processuais da tutela de urgência, soluciona
com tranquilidade os abusos praticados no âmbito das liberdades de imprensa
�299
e manifestação do pensamento, seja pela vedação constitucional ao anonimato
(art. 5.º, IV, CF), seja pela preservação do direito de resposta e indenizações
(art. 5.º, V, CF).
O ponto crítico referente às eleições vindouras estará mais centralizado
na capacidade de nosso Poder Judiciário de dar respostas rápidas à
proliferação de fake news, que se vale de mecanismos virais de replicação e
colocará à prova a capacidade de nossos magistrados de lidar com as inúmeras
demandas por tutelas de urgência que haverão de surgir. A questão encontrase focada não em novas leis, mas na adequação técnica daquelas já
existentes, atribuindo às ordens judiciais eficácia máxima.
Solução
provedores
em
de
entender
conteúdo
e
redesenhar
devem
as
plataformas
estabelecer-se
como
digitais.
parceiros
Os
das
autoridades, pôr em prática o combate efetivo da propagação de notícias
falsas, máxima eficácia e celeridade das emanações do Poder Judiciário.
A preservação da vontade da maioria é dever de todos, tanto dos
governantes, quanto da sociedade civil organizada, e até mesmo de cada
indivíduo, sendo que se deseja a preservação do princípio democrático, da
liberdade de escolha, da liberdade de pensamento, manter os direitos e
garantias fundamentais, que são alicerces do Estado Democrático de Direito.
A área de atuação do bibliotecário começa aqui, conscientização, o
profissional da informação será um tutor digital. Uma grande possibilidade do
trabalho coletivo em rede, por exemplo uma rede de bibliotecários atuando nas
bibliotecas escolares, universitárias e públicas para informar e esclarecer suas
comunidades diante de boatos espalhados. Ensinar as pessoas a checar as
notícias, nós vários sites de checagem de fatos, os fact-checking, agências de
jornalismo cujo objetivo é verificar a veracidade das informações. No país,
temos várias agências de avaliação de notícias, por exemplo: Fato ou Fake do
grupo Globo, O truco da Agência Pública, Agência Lupa que fica hospedada nos
sites do jornal Folha de São Paulo e da Revista Piauí, Aos Fatos uma
organização de jornalistas independentes, entre outros. A educação digital terá
que acompanhar todas faixas etárias da população. O bibliotecário será o ator
para promover programas nas instituições educacionais visando o combate as
�300
fake news. Para isso, o bibliotecário deverá dominar o conhecimento legislativo
sobre o assunto, conhecer bem as técnicas de emulação de verdade, o
funcionamento das redes sociais, os algoritmos que estão por trás do
compartilhamento das fake news, manter a imparcialidade, pois pessoas
extremamente ideológicas são mais suscetíveis as armadilhas das mentiras
espalhadas na internet.
O fenômeno da fake news é uma grande oportunidade para discutir a
relevância da internet e das redes sociais, como força de democratização da
informação. Um debate sério com todos atores da sociedade envolvidos (poder
público, impressa, grupos tecnológicos, sociedade civil) na busca de combater
a desordem informacional e propor um novo pacto social para informação. As
fake news devem ser encaradas como uma epidemia global e que, portanto,
requer atenção de todos. Não existe uma bala de prata ou um tiro certeiro que
acabará com esse fenômeno complexo de uma vez, talvez minimizar, mas
dependerá
de
um
esforço
geral.
Os
veículos
de
comunicação
devem
reestabelecer diálogo e credibilidade com a população. A volta de um
jornalismo investigativo de qualidade, um dos melhores remédios para
combater as notícias falsas. Os conglomerados de tecnologia como Google,
Facebook, Apple, Samsung e Microsoft precisam propor formas para inibir a
propagação em escalabilidade exponencial desse conteúdo falso. Os órgãos
públicos de todos países precisam fiscalizar e punir os responsáveis pelas fake
news.
Os usuários devem adquirir uma educação digital para identificá-las,
atuando no combate da desinformação. Trata-se de um novo nicho de mercado
para bibliotecários, pois são os arquitetos dos repositórios de informação
científica, jurídica, literária, cultural e educacional. A partir deste momento,
serão grandes filtros da qualidade da informação, atuando na educação digital
para o combate da desinformação, garantindo a liberdade de expressão e
pensamento no Estado Democrático de Direito brasileiro, priorizando os fatos e
não os pontos de vistas mal-intencionados com interesses escusos.
�301
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso
em: 20 jan. 2020.
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garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Diário Oficial
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Acesso em: 20 jan. 2020.
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Diário Oficial da União, Brasília, 19 jul. 1965. Disponível em:
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2020.
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Acesso em: 03 jun. 2019.
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University Press, 2018.
CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; CUSTODIO, Marcela Gaspar. A informação
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releitura com base em Ortega y Gasset. Revista Brasileira de
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https://febab.emnuvens.com.br/rbbd/article/download/777/1043. Acesso em:
08 jul. 2020.
D’ANCONA, Matthew. Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempo
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DARNTON, Robert. O diabo na água benta, ou, A arte da calúnia e da
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2012.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário. Novo curso de
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GOMES, Helton Simões. Facebook e Google miram modelo de negócio das
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Letras, 2018.
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IFLA. Soluções reais para as fake news: como as bibliotecas podem ajudar.
Tradução: Tatiani Meneghini. São Paulo: Conselho Regional de Biblioteconomia
8ª Região, 25 maio 2018b. Disponível em: http://www.crb8.org.br/solucoesreais-para-as-fake-news-como-as-bibliotecas-podem-ajudar/. Acesso em: 10
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QUESADA, Miguel; PISA, Licia Frezza. Fake News Versus MIL: a difícil tarefa de
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�303
2C%20o%20uso,ativos%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%202018.
Acesso em: 03 jun. 2019.
DADOS BIOGRÁFICOS
Antônio
Afonso
Pereira
Júnior
Júnior::
Graduado
em
Biblioteconomia e Especialização em Arquitetura e
Organização da Informação pela Escola de Ciência da
Informação da Universidade Federal de Minas Gerais –
ECI/UFMG. Mestrando do Programa de Pós
Pós-Graduação em
Gestão e Organização do Conhecimento
Conhecimento- PPGOC da
ECI/UFMG. Bibliotecário do Acervo de E
Escritores
scritores Mineiros da
Faculdade de Letras da UFMG. Atualmente Conselheiro
Federal da 18ª Gestão do Conselho Federal de
Biblioteconomia – CFB, atuando na comissão de divulgação
e valorização do profissional.
E
E-mail: antonioapjr@yahoo.com.br
�304
CAPÍTULO XVIII - Novos negócios em uma era de incertezas
Guilherme Alves de Santana
Ketiane Santiago Ventura Alves
1 CERTEZAS E INCERTEZAS NUM MERCADO DIGITAL
A única certeza é a incerteza. A estabilidade real é a instabilidade. Essas
afirmações destacadas por pensadores e futurólogos (MATTOS, 2017) em anos
anteriores se confirmaram durante o ano de 2020 com a pandemia oriunda do
vírus Covid-19. Rubem Bauer (1999) já havia alertadoque a década de 2000
levaria as empresas para um contexto de caos e complexidade digital, e que
enfrentariam um ambiente mercadológico mais digital e inovador.
Estar atento para as mudanças e rupturas que acontecem no modelo de
negócios de concorrentes, processos de entrega de fornecedores e no
comportamento do usuário, pode definir se uma organização terá vitalidade
para competir ou não no mercado digital (MATTOS, 2017).
Neste sentido, ter as habilidades de resiliência, equilíbrio e inteligência
emocional, raciocínio lógico, experiência do usuário, que já eram necessárias
para atuar com empresas no ambiente digital, agora serão ainda mais exigidas
em ambientes governamentais, empresariais e universitários. É neste ponto,
que pode se inserir profissionais com competências informacionais, como os
bibliotecários, uma vez que novos problemas exigem soluções e perfis
diferentes.
Com as mudanças do comportamento dos consumidores por conta dos
novos hábitos adquiridos durante a pandemia, empresas já estão reavaliando
ações que envolvem marketing digital e gestão de mídias sociais. A
necessidade de buscar a transformação digital urge e esta pode ser uma
lacuna preenchida por profissionais da informação, como os bibliotecários.
Estes
deverão
desenvolver
estratégias
e
colocar
relacionamento e fidelização de clientesem prática.
ações
de
atração,
�305
2 INOVAÇÃO NA ERA DA INFORMAÇÃO
Desde a globalização e a difusão da internet no mundo, empresas
passaram a ter concorrentes de qualquer lugar do planeta.Profissionais e
empreendedores
brasileiros,
por
exemplo,
passaram
a
concorrer
com
profissionais da China, Índia, Estados Unidos,dentre outros países, levando a
inovação
a
tornar-se
uma
estratégia
essencial
para
empreendedores
(tradicionais, sociais ou de startups) e um diferencial competitivo e sustentável
(CHRISTENSEN, 2011).
Christensen
(2011)
destaca
ainda
que
a
inovação
não
é
algo
inerentemente previsível e que as estratégias de ruptura, se bem utilizadas,
podem derrotar concorrentes mais fortalecidos. Este conceito de ruptura está
baseado na realização de um trabalho na base do mercado. Por este motivo,
para o autor, a relação entre consumidor e produto precisa ser ajustada entre
profissionais e empresas, uma vez que é preciso entender que na verdade as
empresas realmente querem é achar o produto que as pessoas necessitam
para fazer determinadas tarefas.
De acordo com o Manual de Oslo, documento criado pela Organização
para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD), que visa oferecer
diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre inovação, o ato de
inovar ocorre na implementação de uma novidade ou melhoria em algum
produto, serviço, processo, marketing ou no operacional (OECD, 2006). Neste
contexto, a inovação nas organizações representa algo que vai muito além da
adoção de novas tecnologias e pode ser entendida como toda e qualquer
modificação que tenha o intuito de atender às atuais necessidades de mercado,
buscando modos diferentes de atrair potenciais consumidores e manter os que
já estão fidelizados.
Avançando cronologicamente, chegamos a complexidade mercadológica
gerada pela pandemia e o quanto a mesma suscitou a obrigação de
transformação digital das empresas. Organizações passaram a conhecer
tecnologias que outras empresas já vinham utilizando como big data,
inteligência artificial, blockchain, internet das coisas, robótica, genética,
�306
biotecnologia, energias renováveis, chatbots, realidade mista (virtual ou
aumentada), moedas virtuais, impressão 3D, drones, mobiles, aplicativos, ecommerce, ferramentas proprietárias.
No entanto, ainda que estas tecnologias sejam necessárias, empresas
que ainda não migraram para o digital,apresentam maior dificuldade na
introdução de tecnologias e de ações de inovação. Alguns fatores como
pensamento tradicional,receio de mudança, falta de pessoas e equipes
qualificadas levam a uma descrença de que inovar é o melhor caminho para
lidar com as incertezas do futuro. Por tal motivo, profissionais que lidem com
esse cenário adverso são necessários e são estes que ajudarão empresas no
mundo todo a se reinventarem para sobreviver numa economiamais complexa.
3 INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO EM EMPRESAS BRASILEIRAS
O desenvolvimento e popularização do empreendedorismo começou na
década de 90 no Brasil, tendo crescimento exponencial durante os anos
seguintes. Podemos compreender que ato de empreender vai muito além da
ação de abrir uma empresa, pois ocorre quando se identifica novas
oportunidades, tem iniciativa, elabora novos processos dentro da organização,
lideram-se pessoas, se assumem riscos calculados, utiliza-se uma rede de
conexões, atinge-se uma independência. O empreendedorismo desempenha
um papel importante dentro das organizações privadas, que através de ações
inovadoras buscam aumento da competitividade e desenvolvimento de
talentos.
Embora existam dificuldades na implantação da inovação, as empresas
de micro e pequeno porte são as que mais geram empregos e renda e que de
fato movem a economia brasileira. Assim, ao longo das últimas décadas, uma
série de políticas públicas e ações de fomento surgiram, acarretando no
surgimento de diversas outras empresas. A Lei da Inovação (Lei nº
10.973/2004), por exemplo, permite uma maior interação entre empresas e os
Instituições
de
Pesquisa
Científica
e
Tecnológica(ICTs),
propiciando
�307
mecanismos de fomento e financiamento para a realização de pesquisas de
desenvolvimento e inovação.
Os empreendedores brasileiros podem contar com outros auxílios na
busca de alcançar a inovação. Com foco em estimular a economia e reduzir a
informalidade, foi criada a Lei Complementar nº 123/2006, também conhecida
como Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que estabelece um tratamento
diferenciado e favorecido. Instituições como Fundações de Amparo à Pesquisa
(FAPs), ICTs, Universidades, instituições do Sistema S, como o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), compõem um
ecossistema de inovação e empreendedorismo capaz de estimular a geração de
ideias, abertura de novas empresas e surgimento de talentos.
Na busca pela inovação, as organizações também passaram a contar
com o fortalecimento de ecossistemas de inovação e arranjos produtivos
locais,
gerando
a
formação
de
novos
polos
e
parques
tecnológicos
universitários, empresariais ou governamentais. Vide os ecossistemas do Porto
Digital (Recife-PE), Sururu Vale (Alagoas), Jerimum Vale (RN), San Pedro
Valley (Belo Horizonte-MG), Campina Grande (Paraíba), e obviamente os polos
de tecnologia Capital da Inovação(Florianópolis/SC), Rio de Janeiro e São Paulo
(destacando a Rua Faria Lima), Uber Hub (Uberlândia-MG), Vale da Eletrônica
(Santa Rita do Sapucaí/MG) Parque Tecnológico de São José dos Campos/SP,
Fundação UNICAMP (Campinas-SP), Tecnopuc (Porto Alegre/RS), Vale do
Dendê (Salvador/BA) e Curitiba e Foz do Iguaçu (Paraná). Nestes ambientes,
instituições se uniram para possibilitar o desenvolvimento e o aprendizado em
inovação.
Diante do exposto, é notório que apesar das condições adversas de
empreender no Brasil, empreendedores nacionais podem fazer uso destes
estímulos governamentais e se conectar com instituições de apoio para que
consigam manter sua competitividade, bem como aprender como implementar
a inovação na suacultura organizacional.
Vale
ressaltar
que
o
empreendedorismo
se
faz
presente
em
universidades, no governo e na sociedade. No que tange as Instituições de
Ensino, é possível ver uma inserção do empreendedorismo em alguns cursos,
�308
tanto na área de ensino, pesquisa e extensão. Esta realidade vem despertando
um senso de criação de negócios e desenvolvimento de ideiasno corpo discente
universitário. O que é o caso dos profissionais que vem se formando nos
cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação. As características
peculiares que formam o empreendedor, tais como a autoconfiança, otimismo,
persistência e persuasão, também podem ser vistas em bibliotecários Brasil a
fora.
O que é mais relevante salientar é que o empreendedorismo já foi visto
por muitos como uma competência herdada geneticamente, mas hoje já se
sabe que pode ser adquirida e potencializada através de estudos, práticas e
contato social. Saras Saravathy, pesquisadora da Universidade de Virginia,
cunhou o termo Efffectuation para o ato de aprender o empreendedorismo na
prática, levando em consideração princípios como começar com o que se tem,
estabelecer metas e provisões, potencializar parcerias e definir perdas
aceitáveis (SARASVATHY, 2008). Acerca deste resultado, é possível afirmar
que bibliotecários podem se inserir fortemente e desenvolver as características
que envolvem empreender.
4 COMO OS BIBLIOTECÁRIOS SE INSEREM NESTE CONTEXTO DE
MUDANÇA?
As mudanças no comportamento do consumidor refletem diretamente na
atuação de profissionais da informação em frentes de trabalho que envolvem o
marketing digital e as mídias sociais. Habilidades que envolvem produção,
comunicação e uso da informação estão sendo ainda mais requeridas em
empresas brasileiras, uma vez que tratar, processar, categorizar e adotar
estratégias que facilitem a recuperação da informação são demandas de
qualquer organização.
Logo, é possível afirmar que profissionais bibliotecários podem se
enquadrar no nicho de atuação em marketing digital por terem versatilidade de
conhecimentos
em
organização,
tratamento,
categorização,
análise,
�309
disseminação,
representação
e
recuperação
da
informação
(LOUREIRO,
JANNUZZI, 2005; SANTOS, BARREIRA, 2019). Vale destacar que esta
constatação é embasada no perfil e currículo do profissional de biblioteconomia
e Ciência da Informação.
Correlacionando o perfil do bibliotecário com demandas de mercado,
nota-se a possibilidade deste profissional atuar com inovação empresarial,
levando atransformação digital para empresas de qualquer porte. Sendo assim,
bibliotecários e bibliotecárias devem buscar se capacitar e desenvolver ainda
mais em transformação digital e se inserir em contextos empresariais que
envolvam o marketing digital em mídias sociais. Para exemplificar, listam-se a
seguir algumas das áreas que os profissionais de Biblioteconomia podem
atuar:
Planos
de
estratégias
tecnológicas
marketing
e
táticas,
digitais
e
estratégias
posicionamento,
de
comunicação
de
marketing
segmentação,
e
digital:
plataformas
informação,
cultura
digital,gerenciamento do processo de comunicação digital, marketing
viral, WEB marketing e mobile Marketing;
Comportamento
do
consumidor
e
design
de
interação:
Cibercultura, tecnologias digitais eDesign de Interação;
Comércio eletrônico: e-commerce, e-business, modelo de transação
digital, segurança transacional;
Gestão
de
serviços,
preços
e
endomarketing:
marketing
de
Serviços, gestão da qualidade, monitoração da satisfação do cliente,
produtividade em serviços, recuperação e relacionamento com clientes,
tangibilização dos serviços, processos organizacionais;
Marketing de conteúdo: inbound marketing, definição das personas,
planejamento de Funis TOF, MOF e BOF,estágios do potencial cliente
(consciência, consideração e decisão),Call to Action (CTAs), criação de
conteúdo de páginas de oferta, entrega e agradecimento, landing pages,
conversão em cadastros, e-books, slideshows, PDFs, fluxos de nutrição e
relacionamento com leads, mapeamento de objeções redação web,
storytelling, gatilhos mentais;
�310
Gestão de campanhas de mídias sociais: comunicação da marca no
Facebook, Twitter, YouTube, Instagram e Linkedin, segmentação e
marketing
de
nicho,conteúdo
orgânico
x
conteúdo
patrocinado,
investimento em mídias sociais,mensuração e métricas para mídias
sociais, Facebook Insights, Facebook Ads, Twitter Analytics, YouTube
Analytics, Linkedin Marketing Solutions;
Gestão de campanhas com o google adwords e google analytics:
otimização de gastos, metas, perfis, pesquisa interna, definição de
indicadores de resultados (KPI’s), monitoramento de resultados de sites
e landing pages.
Marketing em máquinas de busca: SEM (search engine marketing) e
SEO (search engine optimization).
Estas
atribuições
podem
ser
desenvolvidas
pelos
profissionais
bibliotecários, que por sua vez, podemcontribuir diretamentenas estratégias de
inbound marketing, relacionamento e ferramentas de vendas aplicadas ao
marketing digital, bem como no gerenciamento de projetos de software para
marketing digital.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica evidente que qualquer instituição, seja ela empresa tradicional ou
inovadora, independentemente de seu tamanho, deve investir na inovação e
na transformação digital, e se atrelar a ecossistemas de empreendedorismo.
Desenvolver ações de transformação e marketing digital não acarretam apenas
um ganho financeiro ou conquista de novos clientes, mas também tende a
melhorar a gestão, o ambiente de trabalho e a resolução de problemas
corriqueiros.
Desta maneira, destaca-se a necessidade dos novos profissionais em
biblioteconomia e Ciência da Informação se prepararem para lidar com
ferramentas para gerenciamento, utilização e criação de projetos para
marketing digital e técnicas para otimização de projetos de marketing. Nesta
�311
linha de pensamento, bibliotecários podem se inserir em empresas brasileiras e
colocar
em
prática
suas
competências
informacionais,
que
aliadas
a
características empreendedoras podem ser indutores de desenvolvimento
empresarial.
REFERÊNCIAS
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São Paulo: Atlas, 1999.
CHRISTENSEN, Clayton. O Dilema da Inovação: Quando As Novas
Tecnologias Levam Empresas Ao Fracasso. São Paulo: M. Books, 2011.
LOUREIRO, Mônica de Fátima; JANNUZZI, Paulo de Martino. Profissional da
informação: um conceito em construção. Transinformação, Campinas, v. 17,
n. 2, p. 123-151, ago. 2005. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010337862005000200003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 08 nov. 2020.
MATTOS, Thiago. Vai lá e faz: Como empreender na era digital e tirar ideias
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de Oslo: Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre
Inovação Tecnológica. Publicado pela FINEP (Financiadora de Estudos e
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SANTOS, Jaires Oliveira; BARREIRA, Maria Isabel De Jesus Sousa.
Competência em informação: o bibliotecário e o processo de definição das
necessidades informacionais. Biblios, n. 74, 2019. Disponível em:
http://www.scielo.org.pe/pdf/biblios/n74/a04n74.pdf. Acesso em: 08 nov.
2020.
SARASVATHY, S. D. C. Effectuation: elements of entrepreneurial expertise.
[S.l.]: Edward Elgar Publishing Limited, 2008.
�312
DADOS BIOGRÁFICOS
Guilherme Alves de Santana: Doutorando e Mestre em
Ciência da Informação pela UFPE. Cofundador do Reef
Coworking e da empresa i2b Inovação para Negócios.
Professor de Programas de Graduação e Pós-graduação.
Mentor de Startups e negócios sociais, no Porto Social,
Softex, Inovativa Brasil e Porto Digital. Consultor e
Instrutor credenciado ao SEBRAE e SENAC. Especialista
em Gestão de Negócios. Graduado em Gestão de Turismo
e Gestão da Informação. Ministrou palestras em 12
estados brasileiros e realizou consultorias em mais de 300
empresas. Visitou ecossistemas de inovação nacionais e
internacionais, como o Vale do Silício-EUA.
E-mail: guilherme.alves.santana@gmail.com
Ketiane Santiago Ventura Alves: Graduada em
Gestão de Recursos Humanos e Especialista em Gestão
de Negócios. COO do Reef Coworking. Possui experiência
com consultoria em marketing digital.
E-mail: keitysantiago10@gmail.com
�313
INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS – COMISSÃO ORGANIZADORA
Andreza Gonçalves Barbosa: Doutoranda em Ciência da
Informação pelo Programa de Pós
Pós-Graduação
Graduação em Ciência da
Informação PPGCI
PPGCI-UFMG
UFMG (2018). Mestre em Ciência da
Informação pelo mesmo programa (2017). Bacharel em
Biblioteconomia pela Escola de Ciência da InformaçãoInformação UFMG
(2015). Membro do grupo de pesquisa "Práticas Informacionais e
Cultura" (EPIC
(EPIC-UFMG).
UFMG). Áreas de interesse: Usuários da
informação, Ciência da Informação, Informação e cidadania,
Bibliotecas Prisionais, Leitura no cá
cárcere,
rcere, Ressocialização, Práticas
Informacionais. Representante Discente PPGCI - UFMG. Membro
da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP - Febab).
E-mail
mail: goncalvesandreza@hotmail.com
Jéssica Patrícia Silva de Sá: Doutoranda em Ciência da
Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
Mestra em Ciência da Informação pela mesma instituição (2018).
Possui graduação em Biblioteconomia pela UFMG (2016). Atua
como Bibliotecária na Biblioteca Pública Municipal Professor
Francis
Francisco
co Tibúrcio de Oliveira, vinculada à Prefeitura Municipal de
Santa Luzia (MG). Tem interesse nas áreas de práticas
informacionais e estudos de usuários da informação, com enfoque
na apropriação da leitura literária e compartilhamento de leituras.
E-mail
mail: j.jessicadesa@gmail.com
Jorge Santa Anna
Anna: Graduado em Biblioteconomia. Atuante no
ramo da prestação de serviços de orientação, escrita,
normalização e lecionamento em trabalhos e pesquisas
acadêmico
acadêmico-científicos.
científicos. Atua como editor e assessor do Periódico
Pró-Discente,
Discente, como também compõe a diretoria da Associação de
Bibliotecários de Minas Gerais, ocupando o cargo de secretário
secretário,
além do cargo de editor da ABMG editora
editora.
E-mail
mail: professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Costa: Bibliotecária da UFMG. Possui
Mestrado em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância pela
UFRPE. Doutoranda do PPG
PPG-GOC
GOC na Escola de Ciência da
Informação da UFMG. Presidente da Associação dos Bibliotecários
de Minas Gerais. Exerceu o cargo de diretora do Sistema de
Bibliotecas da UFMG, no período 2006
2006-2013.
2013. Atua principalmente
em áreas temáticas: Bibliotecas Universitárias - Gestão de Pessoas,
Gestão em Unidade de Informação, Extensão Universit
Universitária e Ensino
a Distância.
E-mail
mail: mabethcosta@gmail.com
�314
PALAVRAS DA ABMG EDITORA
O
crescimento
exponencial
no
uso
dos
recursos
digitais
e,
consequentemente, das redes sociais, é um fenômeno mundial que interfere
no modo com que as pessoas, organizações e profissionais se relacionam,
neste
novo
século.
Bibliotecas
e
bibliotecários,
de
modo
estratégico,
aproveitam para se inserir nesse universo, com diferentes objetivos, quais
sejam: divulgar produtos e serviços, ampliar o potencial do fazer bibliotecário,
contribuir para a gestão da informação, auxiliar na comunicação, dentre outros
benefícios propostos pela web social.
As discussões apresentadas por diferentes pesquisadores e profissionais
apresentadas nesta obra são suficientes para confirmar o potencial das redes
sociais no desenvolvimento e ampliação do trabalho realizado por bibliotecas e
bibliotecários em diferentes contextos e instâncias do Brasil. Reafirmamos,
pelos textos apresentados, três dimensões a serem exploradas: a ação do
bibliotecário nas bibliotecas e/ou serviços de informação, na promoção da
leitura e em ambientes não convencionais que indicam a inovação e prática
empreendedora do bibliotecário.
Acreditamos que o trabalho bibliotecário e as redes sociais são elementos
que podem caminhar juntos. Essa afirmação pode ser confirmada mediante os
18 textos apresentados, nesta obra, caracterizada como a compilação e a
sistematização do conhecimento compartilhado pelos bibliotecários, dentre
outros profissionais atuantes no campo da organização e disseminação da
informação.
Esta produção intelectual constitui o quarto livro publicado pela ABMG
Editora, em seus dois anos de institucionalização. Paralelo a ele, a Editora
também está publicando um livro que versa sobre Mediação da Informação e,
em anos anteriores, publicou mais dois livros: Biblioteconomia Social e
Empreendedorismo na Biblioteconomia.
Com a finalização desta quarta obra a ABMG Editora cumpre com sua
missão de tornar público e democrático o acesso à informação e ao
conhecimento, na crença de que essa é uma estratégia que visa ao
�315
fortalecimento da área na sociedade. Além disso, espera-se que seja
despertada a consciência para a publicação das experiências e pesquisas
produzidas por bibliotecários, em diferentes contextos, com o propósito de “dar
vez e voz” a todas as ações realizadas por bibliotecários ou apoiadores da
profissão.
A
Editora
agradece,
em
especial,
a
participação
da
comissão
organizadora, na pessoa de Jéssica de Sá, Andreza Gonçalves, Maria Elizabeth
Costa e Jorge Santa Anna que, desde o final de 2018, uniram esforços para
concretização do lançamento desta obra. Também agradece à diretoria da
ABMG (Maria Elizabeth de Oliveira Costa, Jorge Santa Anna, Andrea Brandão,
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges, Maria Clea Borges e
Taciane Rodrigues) o apoio recebido. Por fim, mas não menos importante,
nossos agradecimentos a todas as pessoas ou instituições que, direta ou
indiretamente, contribuíram para que essa iniciativa se concretizasse.
Esperamos que esta obra contribua para potencializar o brilhante
trabalho realizado por bibliotecas e bibliotecários de nosso imenso Brasil.
Desejamos boas leituras e que muito conhecimento possa ser produzido a
partir da leitura aos textos aqui registrados.
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2020.
Jorge Santa Anna – Editor
ABMG Editora
Livros publicados (coletâneas) pela ABMG Editora:
Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da cidadania –
Lançamento em dezembro de 2018
Empreendedorismo Bibliotecário na Sociedade da Informação: outros caminhos
e possibilidades - Lançamento em dezembro de 2018
Mediação da Informação no
dezembro de 2020
contexto informacional
-
Lançamento em
Bibliotecár@s e as redes sociais - Lançamento em dezembro de 2020
�316
Esta é uma obra editada pela:
ABMG
EDITORA
Rua dos Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG CEP: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Diretoria da ABMG (Gestão 2018-2020): Maria Elizabeth de
Oliveira Costa, Jorge Santa Anna, Andrea Brandão, Edcleyton Bruno
Fernandes da Silva, Graciane Borges, Maria Clea Borges e Taciane
Rodrigues
Editor da ABMG Editora: Jorge Santa Anna
Como referenciar esta coletânea no todo:
SÁ, Jéssica Patrícia Silva de; BARBOSA, Andreza Gonçalves; COSTA,
Maria Elizabeth de Oliveira; SANTA ANNA, Jorge (Org.).
Bibliotecári@s e as redes sociais. Belo Horizonte: ABMG, 2020.
395 p.
�317
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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Bibliotecári@s e as Redes Sociais
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jéssica Patrícia Silva de Sá
Andreza Gonçalves Barbosa
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Jorge Santa Anna
Contributor
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ABMG
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte : Minas Gerais
Publisher
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ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2020
Language
A language of the resource
pt
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
978-65-993126-1-8
Type
The nature or genre of the resource
Livro
Subject
The topic of the resource
Redes Sociais
Atuação do Bibliotecário
Description
An account of the resource
O livro “Bibliotecários e as Redes Sociais” nasceu da necessidade em se aprofundar a discussão sobre o uso, cada vez mais intenso, das redes sociais, na sociedade moderna, destacando o papel de bibliotecas e bibliotecários, nesse processo. Esse livro tem a intenção de despertar o interesse de profissionais e pesquisadores acerca dos benefícios que as tecnologias digitais vêm promovendo nos fazeres profissionais e nos ambientes e serviços de informação, nas primeiras décadas do século XXI. Assim, o livro tem uma pretensão mista, ou seja, visa fundir teoria e prática, congregando o interesse profissional e acadêmico por essa temática, de modo que possam ser pensadas e descobertas melhores formas de comunicar a informação, com o uso dos recursos midiáticos disponibilizados no ambiente web.
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/6152/ArtigoRevistaACB.pdf
5137e8c8cf4a60a9de035219eb6b3da5
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Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina,
Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 509-530, ago./dez., 2020.
ASSOCIAÇÃO DE BIBLIOTECÁRIOS E A AGENDA 2030: A
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DAS BIBLIOTECAS NO ESTADO DE
MINAS GERAIS
Jorge Santa Anna1
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa2
Resumo: A construção de uma sociedade mais democrática e com melhores condições de vida constitui uma das
principais estratégias que norteiam o desenvolvimento sustentável e está amparada pela política pública da Agenda
2030, considerando o desejo esperado para as primeiras décadas do século XXI. Por meio dessa política,
profissionais e instituições de todos os contextos sociais são convocados a assumir essa causa, não eximindo dessa
função, bibliotecas e bibliotecários. Essa luta se intensifica com a adesão do movimento associativo bibliotecário,
que exerce um papel fundamental para despertar o potencial da classe para com o desenvolvimento sustentável.
Objetivo: O presente texto aborda a temática da Agenda 2030 no âmbito das associações de bibliotecários, com
destaque o Estado de Minas Gerais, cujo objetivo é relatar as ações realizadas pelo Projeto Agenda 2030,
gerenciado pela Associação de Bibliotecários desse Estado. Metodologia: Com esse propósito, apresenta
referencial teórico sobre a temática, expõe os propósitos e as atividades do citado projeto, e discorre sobre as
contribuições alcançadas. Conclusões: Conclui que as associações de bibliotecários, no âmbito dos estados e
municípios, exercem papel fundamental ao estimularem o envolvimento da classe bibliotecária com as causas
sociais, de modo que o potencial bibliotecário possa ser melhor explorado em favor da sociedade.
Palavras-chave: Movimento associativo. Associação dos bibliotecários de Minas Gerais. Agenda 2030. Papel
social das bibliotecas.
1 INTRODUÇÃO
A luta pela igualdade de direitos e pela consolidação dos direitos humanos e sociais tem sido um
dos principais resultados oriundos com a institucionalização dos estados democráticos das últimas
décadas. Com o passar dos anos, as nações vêm buscando a garantia de uma sociedade mais justa e
igualitária, com condições mais adequadas de sobrevivência. E esse desejo se intensifica com a ideia do
desenvolvimento sustentável, o qual é assegurado por meio de uma política pública de âmbito mundial,
gerenciada pela Organização das Nações Unidas (ONU): a Agenda 2030.
A Agenda 2030, em linhas gerais, tem o propósito de estimular o nascimento de uma sociedade
mais igualitária, com defesa de direitos socialmente instituídos, por conseguinte, representa a alternativa
para a conquista da paz mundial. Espera-se, por meio dessa política, que sejam unidos esforços, por parte
de todos os países, em prol dessa causa, sendo elencados 17 objetivos voltados ao desenvolvimento
Bibliotecário atuante na consultoria em informação. Secretário da Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG).
Editor da ABMG Editora. E-mail: jorjao20@yahoo.com.br
2
Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre e doutora em Gestão e
Organização do Conhecimento. Presidenta da Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG). E-mail:
mabethcosta@gmail.com
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sustentável e que precisam ser atendidos até o ano de 2030.
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Dentre esses objetivos, pode-se citar, por exemplo: objetivo 1 - erradicação da pobreza; objetivo 2 –
fome zero e agricultura sustentável; objetivo 3 - saúde e bem-estar, para citar apenas alguns. O alcance
integral desses objetivos não é uma tarefa simples, e também não representa um esforço individual, mas
requer o envolvimento de diferentes instituições e profissionais em todo o mundo, sobretudo nos
contextos locais.
Considerando a importância desses objetivos e, ao mesmo tempo, a complexidade deles, como
também a contribuição que a Biblioteconomia muito pode oferecer para a sociedade, é que a Federação
Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA) aderiu a essa política, aproximando-a
do movimento associativo bibliotecário. No Brasil, a Federação Brasileira de Associação de
Bibliotecários (FEBAB) comungou da proposta, estimulando as associações a despertarem nas bibliotecas
e nos bibliotecários o potencial da área para o desenvolvimento da sociedade.
Esse cenário vem se ampliando no Brasil, tal como mostra alguns estudos publicados na literatura.
Segundo Sandrini (2019, p. 4), a temática do desenvolvimento sustentável ganha força, “[...] atraindo a
atenção de diferentes agentes sociais, seja na esfera pública ou privada, no meio acadêmico ou
profissional [...]”. Dutra, Pinto e Geraldo (2017) defendem que as bibliotecas podem contribuir com esse
desenvolvimento, ao possibilitar o acesso à informação e salvaguardar o patrimônio cultural das nações e
o uso das tecnologias digitais. Já Castro Filho (2018) adverte que a contribuição está relacionada ao
fomento à educação, ao possibilitar uma educação de qualidade, mais justa e inclusiva. Por sua vez,
Mariano e Brandão (2019) alertam que além do acesso à informação e educação, as bibliotecas precisam
centrar-se nas causas sociais, não deixando ninguém para trás, mediante ações que promovam a inclusão e
a igualdade de direitos entre todos os cidadãos.
Nesse contexto, entende-se que as associações profissionais, a partir de um de seus principais
objetivos, que é viabilizar “[...] o desenvolvimento de valores que agreguem importância às profissões, às
pessoas e ao papel profissional enquanto sujeito social e coletivo que contribui para o
desenvolvimento regional e do país” (MARTINS; TOMASI, 2018, p. 283, grifo nosso), muito podem
contribuir com as propostas da Agenda 2030. Cientes de que a Biblioteconomia vai muito além da mera
técnica em organizar papéis, desponta-se o lado humanista da área, cuja questão social precisa ser
colocada como prioridade, haja vista estreitar as relações entre o fazer profissional e a sociedade.
entre os bibliotecários. A partir desse empreendimento, é possível que a atuação bibliotecária, seja ela
desenvolvida em bibliotecas públicas, escolares, universitárias, ou até mesmo em serviços informacionais
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dos estados e municípios, é uma alternativa benéfica que pode disseminar a proposta da Agenda 2030
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Assim, os projetos sociais desenvolvidos pelas associações de bibliotecários, sobretudo no contexto
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autônomos se manifeste com um interesse mais social, de modo a transparecer o contributo da profissão
para com o desenvolvimento sustentável das nações.
O presente artigo constitui um relato de experiência, a partir da criação do projeto intitulado Agenda
2030 em Minas Gerais: o papel das bibliotecas, projeto esse gerenciado pela Associação de
Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG). O intuito do texto é relatar os propósitos e as ações realizadas
por esse projeto, discorrendo sobre as contribuições alcançadas, em conformidade com o que está
disposto nos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODSs) e com o que está publicitado na literatura.
2 APONTAMENTOS TEÓRICOS
Caracterizada como uma proposta de intervenção mundial, como uma política pública para o
desenvolvimento dos países, ou ainda como um plano de ação, a Agenda 2030 está direcionada para o
futuro, considerando a melhoria na qualidade de vida, em diferentes aspectos, e os resultados possibilitam
benefícios para as pessoas, para o planeta, almejando a prosperidade. Destaca-se que nessa proposta, os
eixos norteadores não se limitam, apenas, a pessoas e ao futuro das gerações, mas também há o interesse
em alcançar a paz e a busca por parcerias, haja vista um futuro melhor para todos (SILVA, 2016).
Essa Agenda foi instituída no ano de 2015, como resposta aos eventos mundiais realizados em
defesa do meio ambiente, como a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20)
(SILVA, 2016). O foco principal da Agenda é estabelecer mecanismos que condicionem o
desenvolvimento sustentável do planeta, o qual engloba o plano econômico, a qualidade de vida, a
sociabilidade e o meio ambiente (FURTADO, 2018).
Assim, o desenvolvimento sustentável não pode ser entendido, apenas, como uma questão
ambiental ou associada ao meio ambiente. Ele envolve questões mais amplas, que permeiam os conceitos
de democracia e cidadania, por conseguinte, garantia de direitos humanos e sociais (SILVA; ADOLFO;
CARVALHO, 2015). Essa complexidade inerente ao desenvolvimento sustentável demonstra que as
propostas da Agenda somente ocorrerão com o envolvimento de toda a sociedade mundial, sobretudo com
participação dos estados e municípios, visto que ações de mudança ocorrem, em especial, no âmbito das
instâncias locais (SANDRINI, 2019).
“[...] as reivindicações de uma proposta de caráter universal ganham peso e promovem mudanças, quando
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elementos sociais, proclamando a sociedade civil, os profissionais e diferentes instituições. Isso porque,
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Como relatado no estudo de Sandrini (2019), para consolidação da Agenda, a ideia é envolver os
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as ações acontecem no âmbito local, com envolvimento coletivo e direcionado à realidade vivenciada
pelas comunidades em seus contextos de atuação” (SANDRINI, 2019, p. 4).
No âmbito das bibliotecas, a IFLA aderiu a Agenda 2030, elaborando um conjunto de diretrizes
capazes de nortear o trabalho e envolvimento das bibliotecas e seus profissionais para com a causa do
desenvolvimento sustentável. Segundo essa instituição, as bibliotecas devem mostrar que podem
impulsionar o progresso ao longo de toda a Agenda 2030, mediante o desenvolvimento de planos de ação.
Com a condução desses planos, “[...] a comunidade bibliotecária de cada país terá uma clara oportunidade
de comunicar aos seus líderes governamentais como as bibliotecas podem ser parceiras para promover as
suas prioridades de desenvolvimento com uma boa relação custo-benefício” (IFLA, 2020, p. 2).
A IFLA (2016) elaborou algumas ações que podem ser implementadas pelas bibliotecas para
atendimento dos ODSs. Conforme relatado na literatura, desses objetivos, destacam-se o objetivo 4,
voltado à educação de qualidade, com destaque o papel da biblioteca escolar (CASTRO FILHO, 2018;
MARIANO; BRANDÃO, 2019) e os objetivos 1 (erradicação da pobreza), 10 (redução das
desigualdades), 16 (paz, justiça e instituições eficazes), dentre outros (LIMA; VELOSO, 2018).
No entendimento de Lima e Veloso (2018), as bibliotecas, em especial as públicas, são agentes de
transformação social. E essa transformação está associada a melhorias da realidade, o que promove
benefícios para as pessoas e instituições, de modo a promover o reconhecimento da profissão (SILVA;
SALES, 2012). Por contribuírem com o social, essas unidades acabam que preservando os registros da
coletividade, despertando um sentimento de identidade entre os indivíduos (SALCEDO; LIMA, 2018).
Assim, no contexto da Agenda 2030, tem-se o fortalecimento do campo destinado à
Biblioteconomia Social. Esse é um campo que enaltece o valor humanista da profissão, uma vez que
bibliotecas e bibliotecários, por meio dos projetos sociais, “[...] interferem na melhoria da qualidade de
vida das pessoas, possibilitando o exercício da cidadania a todas as classes sociais, sobretudo as minorias”
(SANTA ANNA; COSTA; SILVA, 2018, p. 11).
Os autores citados acreditam que a Agenda 2030 é um momento de reflexão para que os
bibliotecários redefinam as funções que exercem, com destaque a contribuição que podem exercer para
construção de uma sociedade mais justa, democrática, igualitária e inclusiva. A informação como objeto
do bibliotecário e que sustenta a dinâmica da biblioteca, segundo Mariano e Brandão (2019), é uma
tipo de discriminação ou barreira, seja ela econômica, cultural, ideológica, social, dentre outras.
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com vistas a democratização do acesso à informação, sem considerar limitações, preconceitos ou qualquer
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oportunidade que amplia as práticas de trabalho, cujo bibliotecário assume a missão de disseminador,
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3 O PROJETO AGENDA 2030 EM MINAS GERAIS: A PREOCUPAÇÃO COM AS CAUSAS
SOCIAIS
Em comunhão com as reflexões promovidas pelas instituições bibliotecárias de cunho internacional
e nacional, como a IFLA e a FEBAB, é que nasce o Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais: o papel das
bibliotecas, cujo escopo principal de abrangência é o Estado de Minas Gerais. O projeto pretende
despertar o envolvimento de toda classe bibliotecária, haja vista trazer à tona, práticas inovadoras
desenvolvidas por bibliotecários e bibliotecas que provoquem um efeito benéfico na vivência das
sociedades, por conseguinte, contribua com o desenvolvimento humano e social.
O projeto é gerenciado pela ABMG e tem como objetivo principal fortalecer a discussão, em
instância local, acerca da contribuição desempenhada pelas bibliotecas na garantia do desenvolvimento
sustentável das nações. O projeto envolve um ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas, dentre
outros eventos, com periodicidade não regular, e com temas relacionados à contribuição das bibliotecas
para o benefício das comunidades, haja vista a construção de uma sociedade mais democrática, cidadã,
igualitária e, principalmente, inclusiva.
O projeto foi instituído no segundo semestre de 2019, com previsão de encerramento no segundo
semestre de 2020, tendo como instituição apoiadora a Escola de Ciência da Informação da Universidade
Federal de Minas Gerais (ECI/UFMG). Salienta-se que as atividades serão desenvolvidas à medida que
houver participação e aceitação por parte da classe profissional. Portanto, a ABMG, ao longo do projeto,
mediante estratégias de identificação da satisfação e envolvimento dos profissionais, avaliará a
viabilidade em ampliar ou não o projeto para os anos seguintes.
Esse empreendimento foi pensado a partir das discussões propostas no evento de lançamento de
dois livros publicados pela ABMG, no final de 2018: Biblioteconomia Social e Empreendedorismo
Bibliotecário. Os autores dos capítulos dessas obras em comunhão com a diretoria da associação
perceberam a importância em se debater as questões sociais e o perfil inovador do bibliotecário, tendo em
vista despertar o potencial das bibliotecas e dos bibliotecários para promoção do desenvolvimento
sustentável, conforme almejado pela IFLA, para concretização da Agenda 2030 da ONU.
Com o intuito de apresentar uma síntese do referido projeto, expõe-se o quadro 1, o qual contém o
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detalhamento sistemático do plano do projeto.
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Título oficial
Escopo
Objetivo geral
Objetivos específicos
Justificativa
Principais
desdobradas
Público-alvo principal
Locais
prováveis
ocorrência
Periodicidade
Tempo de execução
Abertura oficial
Encerramento previsto
Gênese/origem
Quadro 1 – Plano do Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais
Projeto Agenda 2030 em MG
Projeto Agenda 2030 em MG: o papel das bibliotecas
Agenda 2030. Desenvolvimento Sustentável. ODSs. Biblioteconomia
Social. Ações bibliotecárias inovadoras. Cidadania e democracia. Políticas
públicas. Sociedade inclusiva e igualitária
Fortalecer a discussão, em instância local, acerca da contribuição
desempenhada pelas bibliotecas na garantia do desenvolvimento sustentável
das nações
1 – Ampliar o debate sobre o campo da Biblioteconomia Social
2 – Aproximar profissionais e instituições para práticas colaborativas e troca
de conhecimentos e parcerias
3 – Despertar nos profissionais a necessidade da inovação no fazer
profissional
4 – Indicar possibilidades de aperfeiçoamento das bibliotecas e campos de
atuação bibliotecária
5 – Promover o debate acerca da inclusão social e o papel das bibliotecas
6 – Encorajar profissionais para a mudança, criatividade e engajamento
7 – Oportunizar o potencial, a visibilidade e o reconhecimento do fazer
bibliotecário para a sociedade, em geral
Manifesta-se como uma oportunidade de fortalecimento da prática
bibliotecária, sobretudo por demonstrar projetos e ações inovadoras
realizadas por bibliotecários e bibliotecas mineiras, em vários contextos e
instâncias do Estado de Minas Gerais. Como consequência, além da
valorização e reconhecimento profissional, fortalece a proposta da Agenda
2030, colocando o referido Estado em sintonia com instituições defensoras
da profissão, como IFLA e FEBAB
ações Ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas, dentre outros eventos
de
Estudantes, pesquisadores e profissionais que buscam o fortalecimento da
Biblioteconomia/Ciência da Informação, na sociedade
Sede da ABMG, ECI/UFMG, dentre outros locais apoiadores
Não regular. Estará condicionada à demanda requerida pelos profissionais
Segundo semestre de 2019 até o final de 2020
26 de junho de 2019
Dezembro de 2020, em paralelo com o lançamento dos livros Mediação da
Informação e O bibliotecário e as redes sociais
Desenvolvimento, publicação e lançamento dos livros: Biblioteconomia
Social e Empreendedorismo Bibliotecário, no ano de 2018, pela ABMG
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
No que tange aos recursos para execução, a natureza social do projeto o torna sem fins lucrativos.
Por isso, requer a adoção de métodos alternativos que não demandem a necessidade de grandes recursos,
principalmente os de cunho financeiro. Portanto, espera-se que não haja custo (exceto para materiais
administrativos), sendo reservado um valor mínimo para custear despesas ocasionadas por intercorrências
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emergenciais, valor esse fornecido pela ABMG.
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ou imprevistos. O quadro 2 apresenta os recursos utilizados e o valor reservado para situações
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Tipo de recursos
Infraestrutura ambiental
(espaço)
Infraestrutura
tecnológica
Recursos Humanos
Recursos
materiais/administrativos
Valor reservado para
situações emergenciais
Valor total
Quadro 2 – Recursos para execução do projeto
Elementos dos recursos
Custo e justificativa
Sede da ABMG, salas de aula da ECI ou Sem custos, pois os locais são de
outros espaços de instituições públicas
instituições apoiadoras
Computador com internet e projetor Sem custos, visto que a ABMG
multimídia
possui esses recursos
Pessoas
envolvidas
na
comissão Sem custos, pois a atuação da
organizadora de cada evento: presidente, comissão organizadora é de natureza
coordenadores e monitores
voluntária e se beneficiará com a
entrega dos certificados para as
funções exercidas
Certificados da comissão organizadora R$50,00 reais
do evento e lista de presença
Imprevistos, como: uso de táxi, demais R$100,00 reais
materiais de impressão, necessidade de
lanche etc.
____
R$150,000 reais
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
A temática do Projeto Agenda 2030: o papel das bibliotecas em MG contempla, em linhas gerais, a
Biblioteconomia Social, considerada como um campo promissor para o século XXI. Esse campo
possibilita a realização de projetos interventivos que impactam diretamente no cotidiano das pessoas, por
conseguinte, agregando valor para a sociedade.
Já nos anos 1990, Almeida Júnior (1997) reforçou que o fazer bibliotecário precisa ter uma
contribuição mais concreta no âmbito da sociedade, não se restringindo a atividades técnicas realizadas
em acervos, no interior das bibliotecas. Se essa restrição continuar, segundo esse autor, os profissionais
podem estar fadados ao fracasso, o que viabiliza a necessidade constante de o profissional se reinventar.
A relação entre bibliotecas e sociedade resulta na formação de um novo conceito, a
responsabilidade social dessas unidades, cujas ações realizadas pelos profissionais da Biblioteconomia
visam a busca de metas “[...] que sejam boas para a instituição na qual ele atua e para a sociedade onde
essa instituição está inserida, atuando em conjunto com ela [...]” (MORAES, 2018, p. 62).
Pozzatti (2018, p. 8) também salientou que a preocupação com o social é de suma importância e ao
mesmo tempo instigante, pois envolve um trabalho “[...] que vai além das instituições, sejam elas públicas
ou privadas, com ações e práticas voltadas aos diferentes cenários da sociedade como hospitais, periferias,
presídios, centros urbanos, dentre outros”.
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acreditamos que compreender essas relações firmadas entre profissão e sociedade é de suma
importância para levantar denúncias sociais, como também propor melhores condições de vida,
tanto para profissionais envolvidos com uma causa, como também aos cidadãos, de uma forma
geral. Isso, provavelmente, tende a desencadear a consolidação dos direitos humanos e a promoção
de uma sociedade cada vez mais democrática.
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Em síntese, comungamos com os dizeres de Santa Anna (2018, p. 15), ao afirmar que:
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Além de abordar essa temática, o citado projeto coloca-se em sintonia com os ODSs, visto que eles
compreendem uma somatória de iniciativas que viabilizarão a construção de políticas públicas adequadas
para melhoria da qualidade de vida das pessoas e, dessa forma, garantir o desenvolvimento sustentável,
considerando pessoas, instituições e o meio ambiente, em geral.
Portanto, o escopo principal do citado projeto compreenderá diferentes temáticas, ancoradas no
campo da Biblioteconomia Social e na política pública internacional da Agenda 2030 da ONU. Assim,
citam-se como principais temas abordados nos eventos do projeto: Agenda 2030. Desenvolvimento
Sustentável. ODSs. Biblioteconomia Social e cidadania. Ações bibliotecárias inovadoras. Cidadania e
democracia. Políticas públicas. Sociedade inclusiva e igualitária, dentre outros.
3.1 EXECUTANDO O PROJETO
O Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais não tem a intenção de ser exaustivo, tampouco, inflexível.
Logo, à medida que for sendo realizado, novas sugestões poderão ser acatadas, de modo que outros
eventos possam ser acrescentados ao seu planejamento, possibilitando o enriquecimento da agenda de
eventos a serem realizadas ao longo dos meses de 2019 e 2020. De qualquer modo, para este texto, são
apresentadas, apenas, as ações desenvolvidas no ano de 2019.
O processo de divulgação foi realizado em abril e maio de 2019, por meio de chamada pública,
convocando toda a classe bibliotecária a participar, principalmente, na organização dos eventos. Nesse
período, a ABMG recebeu algumas propostas de eventos enviadas por bibliotecários, a maioria voltada a
palestras sobre temas relacionados às experiências profissionais vivenciadas por esses sujeitos em seus
contextos de atuação. Com efeito, a comissão organizadora do projeto elaborou uma agenda provisória,
contendo as datas, temas abordados e formato do evento, conforme apresentado no quadro 3.
31 de outubro
20 de novembro
02 de dezembro
05 de dezembro
Preservação da memória institucional
Palestra expositiva e demonstrativa
A Biblioteca Pública de Lagoa Santa
Palestra expositiva e relatos de experiência
Clubes de leitura
Rodas de conversa
Formação do sujeito crítico em Palestra expositiva
bibliotecas públicas
Ações de marketing
Palestra e relatos de experiência
Acessibilidade em bibliotecas
Mesa redonda
Biblioteca escolar
Palestra expositiva
Serviço de referência
Mesa redonda
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
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516
26 de junho
12 de agosto
30 de agosto
25 de setembro
Quadro 3 – Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais: eventos previstos para o ano de 2019
Tema do evento
Natureza/formato do evento
Página
Data
�Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina,
Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 509-530, ago./dez., 2020.
Conforme consta no quadro 3, nota-se que a maioria dos eventos foram planejados para acontecer
na forma de palestra expositiva, com predominância, também, de mesas redondas. A abertura do projeto
ocorreu no dia 26 de junho de 2019, com uma palestra proferida sobre Preservação de documentos em
instituição de memória. Já o encerramento das atividades para o ano de 2019 foi planejado para ocorrer
em 05 de dezembro, com uma mesa redonda sobre Serviços de informação.
Ao longo dos meses, não foram recebidas mais propostas de eventos, como também não foram
executados os eventos do dia 25 de setembro e 02 e 05 de dezembro. O evento do dia 25 não ocorreu, pois
houve um imprevisto na agenda do palestrante. Já os demais eventos não ocorreram, pois seminários com
a mesma temática, gerenciados por outras instituições, aconteceram em datas próximas, tornando inviável
a realização desses eventos. Por essa ocorrência, a comissão do projeto optou por agendar esses eventos
para o ano de 2020. Assim, o ano de 2019 foi encerrado com a mesa redonda sobre acessibilidade,
ocorrida em novembro.
A partir desse planejamento e das ocorrências que se manifestaram ao longo do segundo semestre
de 2019, o Agenda 2030 em Minas Gerais foi abrilhantado com cinco edições, cujo número da edição,
I
II
III
IV
V
Quadro 4 – As cinco edições do Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais
Tema/Título
Breve ementa
Data de
realização
Preservação da memória Relatos de uma bibliotecária que atua em instituição 26
de
institucional: avanços e de memória, destacando as ações de preservação de junho
desafios
documentos e a importância do trabalho de
intervenção do bibliotecário que atua, nesse contexto
A Biblioteca Pública de Experiências narradas por duas bibliotecárias acerca 12
de
Lagoa Santa e a Agenda do trabalho de criação de um espaço específico para agosto
2030:
o papel
do acolher e desenvolver atividades direcionadas às
bibliotecário na sociedade pessoas com necessidades visuais, em uma biblioteca
da informação e do pública. Os relatos reforçaram a importância dos
conhecimento
recursos de tecnologia assistiva, como também a
necessidade do bibliotecário ser inovador e
audacioso, ao preocupar-se com o social, tornando a
biblioteca um espaço acolhedor para todos
Clubes de leitura em Discurso sobre os resultados de pesquisa alcançados 30
de
bibliotecas escolares e com o desenvolvimento de duas dissertações sobre agosto
espaços públicos
leitura. Relatos de experiência de duas professoras,
mediadoras de leitura em bibliotecas escolares
Ações de marketing e Relatos de experiência sobre a modernização de uma 31
de
incentivo à leitura na biblioteca corporativa, com destaque as ações de outubro
Biblioteca Corporativa do divulgação e envolvimento da biblioteca com os
SEBRAE
demais setores da organização, além das ações de
incentivo à leitura e clubes de leitura
Acessibilidade
em Roda de conversas, com o relato de seis 20
de
bibliotecas:
ações bibliotecários atuantes em diferentes instituições e novembro
inclusivas
com atividades direcionadas à inclusão
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis (Brasil) - ISSN 1414-0594
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Edição
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tema, breve ementa e data de realização do evento são apresentados no quadro 4.
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Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 509-530, ago./dez., 2020.
O evento da primeira edição teve como objetivo principal apresentar práticas bibliotecárias
interventivas para melhorias de um acervo histórico, possibilitando a sua acomodação, preservação e uso
mais adequado e satisfatório pela organização mantenedora, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN). O quadro 5 apresenta breve conteúdo programático abordado pela
palestrante.
Tópico abordado
Legislação
pertinente
proteção
do patrimônio
documental
Quadro 5 – Síntese do conteúdo programático abordado
Descrição
à
- Principais leis federais e estaduais que versam sobre a
preservação documental, sobretudo em instituições de memória
- O papel das instituições de cultura e memória em face das
adequações a essas leis
O contexto de criação e objetivos principais do IPHAN
Conservação dos documentos arquivísticos- A importância da prática da conservação
e bibliográficos
- Os impactos causados quando da falta das ações e projetos de
conversação
- Características e formas de organização de documentos
arquivísticos e bibliográficos
Estratégias
contra
a
- Ações práticas realizadas em acervos do IPHAN
deteriorização
de coleções em arquivos, - Demonstração dos efeitos promovidos com as ações de
bibliotecas e museus
conversação
- Os projetos desenvolvidos no IPHAN para conservação de
seus acervos
- O papel do bibliotecário nesse processo
Atitudes
inovadoras
e proativas
do
profissional
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Importante mencionar que a palestra teve uma concepção mais empírica do que epistemológica, cuja
ministrante teve a oportunidade de expor aos participantes os desafios, conquistas e estratégias inovadoras que
permeiam o seu fazer profissional na instituição onde atua. Em vários momentos do discurso proferido, foi
enfatizada a importância e necessidade de os profissionais deixarem a “zona de conforto”, de modo a tornarem-se
profissionais inovadores, com espírito crítico que provoque a mudança no contexto em que atuam. O discurso foi
permeado por diversos comentários, tanto de profissionais quanto de estudantes, os quais se mostraram adeptos
dessa necessidade, mudança essa que começa, a princípio, na formação profissional e precisa ser levada com
intensidade e engajamento para o mercado de trabalho.
A experiência relatada na palestra explorou as atividades de planejamento acerca da organização de
acervos bibliográficos e arquivísticos, especificamente quando se encontram em situação de
trabalho realizado, com otimização de recursos para o instituto.
Já em fase de encerramento, a bibliotecária reforçou que sua experiência profissional, como é de
praxe, em qualquer profissão e contexto de atuação, perpassou por obstáculos, conquistas e aprendizado.
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projetos, as quais são consideradas como estratégias mais adequadas para garantir a excelência do
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deteriorização. Além do tratamento técnico aos documentos, apresentaram-se as ações de elaboração de
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Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 509-530, ago./dez., 2020.
É, evidentemente, o esforço profissional, a busca por inovação, a capacidade em perder o medo para
enfrentar desafios e o apoio da instituição que farão toda a diferença no sucesso dos resultados a serem
atingidos.
A primeira edição iniciou-se às 19:00h, encerrando-se às 22:00h, e reuniu um total aproximado de
20 participantes, dentre eles: alunos de Graduação em Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia;
alunos de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado); e profissionais de diferentes áreas, a maioria
bibliotecários.
A segunda edição do Agenda 2030 em Minas Gerais, ao discorrer sobre a acessibilidade, teve o
propósito de apresentar a adequação das bibliotecas públicas à Agenda 2030 da ONU, com destaque o
papel do bibliotecário nas ações de inclusão para com as pessoas com algum tipo de necessidade especial.
Nesse evento, no formato de palestra proferida por duas bibliotecárias, foram destacados os
procedimentos para criação da Sala Braille, um ambiente de convívio para as pessoas com necessidades
visuais, cidadãos da cidade de Lagoa Santa/MG.
A primeira parte do evento foi conduzida por apontamentos teóricos, cujos assuntos foram os
seguintes: - A função social da Biblioteca Pública e o papel do bibliotecário - Agenda 2030: objetivos 3,
4, 8 e 10 na Biblioteca Pública; e - Uso de recursos de tecnologia assistiva na promoção da inclusão social
da pessoa com deficiência visual. Na segunda parte, foi relatado o passo a passo para criação da Sala
Braille, com destaque a necessidade de planejamento e gestão adequados para o efetivo funcionamento do
espaço.
Ao longo do evento, além dos relatos acerca da criação do espaço destinado às pessoas com
necessidades visuais, muito foi enfatizado acerca da importância de envolvimento do bibliotecário nessas
ações de inovação. Conforme proferido pelas palestrantes, na sociedade da informação e do
conhecimento, é essencial que o profissional de Biblioteconomia busque proporcionar aos leitores com
deficiência a inclusão educacional, informacional e cultural para alcançar os objetivos da Agenda 2030.
Assim, deve-se assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos assegurando o acesso à informação de qualidade e de maneira
igualitária.
Segundo as mediadoras do evento, na Sala Braille, além do empréstimo de livros acessíveis, são
deficiência visual (Dosvox, NVDA e internet), oficina de iniciação ao alfabeto braille e excursões a
instituições culturais. Além de apresentarem os procedimentos para criação da sala e as atividades
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cinema com recurso acessível (audiodescrição), roda de leitura, inclusão digital para pessoas com
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oferecidas diversas atividades visando a inclusão social e a acessibilidade na biblioteca: sessões de
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realizadas no espaço, foram demonstrados os resultados alcançados, sobretudo no que tange à melhoria da
qualidade de vida das pessoas atendidas. Nas palavras das mediadoras do evento:
“Os resultados reforçam a viabilidade do projeto, a concretização dos ODSs e, principalmente, o papel do bibliotecário,
nesse processo. Consideramos que a prática bibliotecária não se resume, apenas, ao trabalho fechado de organização de
acervo, no interior das bibliotecas. A função do bibliotecário é, antes de tudo, humana; logo, tem a preocupação com o social.
Portanto, ao realizar ações de inclusão e bem-estar para as pessoas, esses profissionais e as bibliotecas que gerenciam
tornam-se facilitadores no processo de construção do conhecimento” (Discurso proferido por uma das palestrantes).
Esse evento teve início às 19:30h e o encerramento foi às 22:10h. O público contou com a presença
de aproximadamente dez pessoas, a maioria bibliotecários. Além desses profissionais, fez-se presente,
também, professores/pesquisadores que lecionam disciplinas de cunho social, sobretudo as direcionadas à
inclusão.
A terceira edição do projeto objetivou constituir um momento de discussão a respeito dos efeitos da
leitura na vida das pessoas e o que profissionais e instituições podem fazer em prol dessa causa, sobretudo
no que tange à formação e gestão dos clubes de leitura. O conteúdo programático do evento contemplou
os seguintes assuntos: - Histórico e formação dos clubes de leitura; - Mediação de leitura e formação do
leitor; - Relatos de pesquisa em clubes de leitura em bibliotecas escolares e espaços públicos.
A princípio, foram apresentados os resultados de duas dissertações defendidas recentemente: uma
abordou a evolução das práticas de leitura ao longo dos tempos, enfatizando a leitura no recinto familiar,
até a formação das cafeterias e dos clubes de leitura, além da leitura mediada por meio dos recursos
digitais, como acontece nos blogs; a outra pesquisa enfocou nas ações de mediação, considerando o papel
do bibliotecário escolar, em conjunto com professores, haja vista tornar a biblioteca mais atrativa, com
atividades que estimulem o hábito da leitura pelos estudantes, tais como: hora do conto, contação de
histórias, clubes do livro, dentre outras.
As atividades realizadas demonstraram as contribuições da leitura, considerando a evolução do
sujeito em sua individualidade, ou enquanto elemento pertencente a um contexto social (coletividade).
Também reforçaram a necessidade em se desenvolver iniciativas que provoquem o hábito da leitura, uma
vez que ela constitui uma habilidade adquirida; logo, precisa ser estimulada.
Segundo as palestrantes, quando a prática da leitura é realizada no meio social, aumentam-se as
possibilidades de formação de leitores mais críticos, além do compartilhamento de conhecimento entre os
Neves.
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Municipal Aurélio Pires, Clube da Leitura do ICJ, Clube do Livro BH e Clube do Livro de Ribeirão das
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que mediam essas práticas. Portanto, quatro clubes de leitura foram citados: Clube do Livro da Escola
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Em seguida, duas professoras narraram as experiências com mediação de leitura na escola onde
atuam, destacando que esse é um papel do professor e que o bibliotecário muito pode contribuir com esse
empreendimento. As professoras reforçam o potencial da leitura, visto que ela contribui não apenas com o
aprendizado requerido nas escolas, mas transforma a vida das pessoas. Assim se expressou uma das
professoras, no final do evento:
“Se pensar bem, nada mais natural. O livro não nos oferece apenas a segurança do conhecimento, mas a passagem para
novos mundos e perspectivas. Ainda que esteja a portas fechadas e ao redor o ambiente seja inóspito, ninguém está
verdadeiramente preso se está com um livro. O livro é sempre uma janela aberta” (Discurso proferido por umas das
palestrantes do evento).
A terceira edição iniciou-se às 19:00h, encerrando-se às 22:30h, e reuniu um total aproximado de 50
participantes, um público bastante diversificado, composto por: professores da educação básica,
graduandos e pós-graduandos de Biblioteconomia, servidores da UFMG, bibliotecários e profissionais de
outras áreas, como: Pedagogia, Letras, Filosofia e Administração.
A quarta edição abordou a temática do Marketing em unidades de informação e visou explorar
estratégias de marketing e divulgação que promovessem os serviços das bibliotecas, envolvendo todo o
contexto de uma organização. Nesse evento, dois bibliotecários apresentaram, na forma de palestra com
exposições e demonstrações, as ações realizadas na biblioteca, de modo a fundamentar a sua existência na
empresa, elucidando os benefícios que a organização teria ao aderir aos diversos serviços gerenciados
pelos bibliotecários, serviços esses que vão muito além da mera organização de livros.
Após a apresentação da organização e estrutura da biblioteca, foi exposta a situação da biblioteca
nos últimos anos, que não era das melhores. A gestão da empresa decidiu por descontinuar os serviços da
biblioteca, haja vista a pouca importância que ela exercia na instituição. Em meio a essa grave ameaça, os
bibliotecários iniciaram um processo de reestruturação dos tradicionais serviços oferecidos, com o fim de
demonstrar para a gestão da empresa o potencial da biblioteca.
Nesse contexto, serviços inovadores foram implementados, como: divulgação de boletim
bibliográfico, estímulo à participação nos clubes de leitura, serviços de alerta e disseminação seletiva,
criação de espaço de leitura, melhorias no site da biblioteca e no catálogo eletrônico, programações
culturais, dentre outros. Os palestrantes frisaram, em vários momentos da palestra, que nada seria
Portanto, os bibliotecários investiram no marketing informacional, inserindo a biblioteca no
ambiente das redes sociais e disseminando os serviços oferecidos para todos os setores da organização.
Além disso, como mecanismo de fortalecimento do marketing, foram gravados e divulgados vídeos com
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trabalho da organização ficariam cientes do papel da biblioteca e dos bibliotecários.
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realizado, se não houvesse as ações de marketing, pois, somente dessa forma, os gestores e as equipes de
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relatos dos bibliotecários acerca da importância e contribuição da biblioteca. Nesses vídeos, foram
inseridas campanhas de motivação, de modo que a participação das pessoas resultaria em premiações ou
promoções, enaltecendo, de alguma forma, a imagem do colaborador no contexto organizacional.
Ao longo da palestra, foram utilizados recursos midiáticos e ilustrativos, tais como vídeos, fotos dos
eventos que a biblioteca promove, estrutura do site, dentre outros recursos que tornou o momento mais
atrativo. Essas estratégias foram benéficas, pois despertou a atenção dos participantes, além de facilitar o
entendimento de como as ações de divulgação e inovação foram realizadas pelos profissionais.
Assim como nos eventos anteriores do Agenda 2030, os bibliotecários palestrantes, em vários
momentos, frisaram a importância do perfil interventivo do bibliotecário. Nas palavras de um dos
palestrantes:
“Infelizmente, a gente tem vivenciado, em muitos contextos, bibliotecários morosos, inquietos com a realidade, mas sem
adotar nenhuma estratégia que dê visibilidade ao seu trabalho. O marketing informacional entra em cena nesse contexto, pois
coloca a biblioteca e os serviços oferecidos em sintonia com os usuários, ou com futuros usuários. A nossa experiência tem
demonstrado que muito depende de nós, bibliotecários, de fazermos que nosso trabalho seja reconhecido e valorizado.
Desafios, certamente, não deixam de existir, mas o que não se pode deixar acontecer é a postura estática, engessada e
pessimista do profissional, pois, se assim for, a biblioteca tenderá a ser descontinuada, como os gestores queriam fazer no
início da nossa gestão” (Discurso proferido por palestrante do evento).
Esse evento foi abrilhantado com a presença de aproximadamente 25 pessoas, um público, também,
bastante diversificado, contendo bibliotecários atuantes em bibliotecas universitárias, públicas e
especializadas, estudantes de Biblioteconomia e profissionais ligados à área da Administração. Além
disso, contou com a participação de dois docentes de Biblioteconomia e de familiares dos palestrantes.
Por fim, quanto à quinta e última edição do Agenda 2030, no ano de 2019, tem-se a mesa redonda
sobre acessibilidade em bibliotecas. Com o título Acessibilidade em Bibliotecas: ações inclusivas, o
evento objetivou apresentar ações, projetos e/ou atividades diversas desenvolvidas em unidades de
informação que demonstrem o compromisso dessas unidades com a causa da acessibilidade, rumo ao
alcance de uma sociedade mais inclusiva. Além disso, foi pretensão, também, desse evento, levantar
fundamentos que reforçassem a importância de as bibliotecas aderirem a essa causa, em busca de uma
sociedade justa, democrática e igualitária.
O conteúdo programático da mesa ateve-se às próprias temáticas das seis palestras apresentadas,
como ambiente democrático e inclusivo; e - O papel da biblioteca na concretização de uma sociedade
mais inclusiva.
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e perspectivas; - Projetos de acessibilidade nas bibliotecas e nas instituições de ensino; - A biblioteca
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sendo resumidos aos seguintes tópicos temáticos: - Acessibilidade nas bibliotecas: conceitos, importância
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Iniciando a apresentação das discussões de cada expositor, duas bibliotecárias atuantes em
biblioteca pública apresentaram, de modo conjunto, as ações que tendem a tornar a biblioteca um
ambiente de todos e para todos, com destaque o uso das tecnologias assistivas e a adequação dos espaços
para circulação de pessoas e acesso ao acervo e aos serviços informacionais. Em seguida, por meio da
segunda exposição, também foi narrado o contexto de criação da Sala Braille em biblioteca pública, e os
recursos e atividades ofertadas que tornem a sala um espaço de convívio. A terceira discussão da noite
trouxe fundamentos teóricos para se pensar a acessibilidade e como ela é importante e faz toda diferença
na vida das pessoas, haja vista fomentar uma sociedade mais inclusiva. A quarta discussão foi
abrilhantada com as atividades realizadas pelo Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da UFMG,
sendo apresentada a influência do instituto para garantir a acolhida e permanência do aluno com alguma
limitação na universidade. A quinta exposição contemplou a apresentação de detalhes acerca do que
caracteriza o autismo, como também foram explorados os resultados alcançados com estudo de caso
aplicado a alguns alunos que se consideram com essa limitação. Ao final, na sexta exposição, foi
discursado a respeito da acessibilidade no âmbito de um sistema de bibliotecas universitárias, que vem
unindo esforços, nos últimos anos, no sentido de garantir melhorias às unidades integrantes, haja vista
eliminar as barreiras que impedem o acesso à informação e aos serviços oferecidos pelas unidades do
sistema.
Ao findar das apresentações, mediante discurso da moderadora da mesa, ficou evidenciado que a
acessibilidade precisa permear o contexto não apenas institucional, mas também, social, visto que ela é
um direito de todos, haja vista garantir a concretização da prática cidadã. Proferiu a moderadora que:
“Mediante o envolvimento de toda a classe bibliotecária, ao acreditar na importância e necessidade da acessibilidade e ao
aderir essa causa, os bibliotecários se tornarão mais capacitados e conscientes, de modo que possam ser planejadas ações
para adequação das unidades, considerando o perfil específico dos usuários em seus contextos de sociabilidade” (Discurso
proferido pela moderadora da mesa).
A mesa redonda sobre acessibilidade foi executada em três horas de discussão, das 19:30h às
22:30h. Foi registrado um total aproximado de 25 participantes, a maioria pessoas ligadas à
Biblioteconomia, como: alunos, bibliotecários de vários campos de atuação, sobretudo em bibliotecas
A partir dos eventos realizados no ano de 2019, no âmbito do Projeto Agenda 2030 em Minas
Gerais, foi possível elucidar algumas contribuições oriundas desde importante empreendimento. Em
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3.2 AS CONTRIBUIÇÕES ALCANÇADAS COM O AGENDA 2030 EM MINAS GERAIS
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públicas, e alguns pesquisadores que investigam a temática.
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especial, para cada um dos eventos, torna-se oportuno apontar alguns resultados alcançados que se
manifestam como contribuições valiosas, haja vista demonstrar o potencial das bibliotecas e dos
bibliotecários para o desenvolvimento sustentável.
Com a primeira edição, constatou-se a satisfação da palestrante e dos participantes, sobretudo
quando se reflete acerca do papel interventivo do bibliotecário, não podendo ser ele um sujeito limitado,
mas inovador, crítico e dinâmico. Ademais, outro diferencial dessa edição foi a interação dos
participantes e a diversidade no perfil deles, congregando profissionais, pesquisadores e estudantes. Outra
vantagem que precisa ser mencionada é o contributo para as organizações, visto que a memória não é algo
relacionado à obsolescência; ao contrário, a memória institucional traz o registro de uma história, de um
percurso trilhado por diferentes personalidades e que refletirá na construção das futuras gerações. Além
disso, a memória organizacional é um dos trunfos que a instituição possui, haja vista fundamentar a
tomada de decisões.
De acordo com os ODSs, percebe-se que essa prática bibliotecária pode ser inserida no objetivo de
número 16, em especial quando menciona acerca da formação de instituições eficazes. Assim, caberá às
bibliotecas “[...] promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável,
proporcionando o acesso à justiça para todos e construindo instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis” (IFLA, 2016, p. 21, grifo nosso). Na literatura, como fundamentos para
essa reflexão, cita-se o estudo de Salcedo e Lima (2018, p. 3030), ao afirmar que a preservação da
memória constitui atividade bibliotecária e que “[...] o resgate das memórias das instituições é
significativo ao melhor entendimento da própria história institucional, bem como para a memória coletiva
ou social [...]”.
Com o evento da segunda edição, evidenciou-se que as bibliotecas públicas assumam seu papel
dentro dos objetivos da Agenda 2030, em prol do desenvolvimento sustentável, em especial o
de assegurar uma educação acessível para todas as classes sociais. A partir das contribuições alcançadas
com o Projeto Sala Braille, confirmou-se o quanto as bibliotecas podem fazer, haja vista fortalecerem o
direito dos cidadãos, em uma sociedade que, muitas vezes, gera possibilidades de marginalização das
pessoas, ao invés de acolhê-las. Reiteramos que bibliotecas e bibliotecários são personagens protagonistas
dos ODSs, sendo que as unidades e profissionais, inseridos, principalmente, no contexto dos municípios -
normativas e legais estabelecidas por órgãos e representantes governamentais.
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eles que possibilitam a concretude do que está expresso nas políticas, nos princípios e nas determinações
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muitos deles situados em regiões longínquas dos grandes centros – estão à frente nessa causa, pois são
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Com a construção da Sala Braille como espaço de convívio, novamente, entende-se que essa
iniciativa se enquadra no objetivo de número 16, quando dispõe que é necessário construir instituições
mais fortalecidas em diferentes aspectos, de modo que essas se tornem mais inclusivas, em todos os
níveis. Também é possível relacionar essa iniciativa com o objetivo de número 10, que visa a redução das
desigualdades, dentro dos países e entre eles (IFLA, 2016). Na literatura, segundo Mariano e Brandão
(2019, p. 238), por meio das ações de inclusão, em bibliotecas, é assegurada a educação inclusiva e
equitativa de qualidade, promovendo “[...] oportunidades de aprendizagem ao longo da vida de todos”.
Mediante a execução da terceira edição, explorando o tema da leitura, foi possível perceber que a
leitura manifesta-se como a chave que abre as portas para o conhecimento, para a cidadania e para o
desenvolvimento individual e coletivo. A leitura é muito mais do que a decodificação de códigos
linguísticos; vai muito além do auxílio à alfabetização e ensino-aprendizagem. Ela também envolve
questões subjetivas profundas, capaz de tocar os sentimentos e emoções, servindo, portanto, como ponto
de fortalecimento para a vida. Nesse sentido, entende-se que, ao desenvolver ações de leitura, as
bibliotecas estão contribuindo com o desenvolvimento sustentável, alinhadas ao objetivo de número 4,
que dispõe sobre a oferta de educação para todos, em especial, nas escolas, com a disponibilização de
equipes dedicadas “[...] que apoiem a educação na primeira infância (educação continuada); - acesso à
informação e à pesquisa para estudantes em todo o mundo; e - espaços inclusivos onde os custos não
sejam uma barreira para adquirir novos conhecimentos e habilidades” (IFLA, 2016, p. 1). Sobre esses
aspectos, reforça-se o papel da biblioteca escolar, que, para Castro Filho (2018, p. 362), precisa ser “[...]
um espaço ativo de ação pedagógica, de incentivo e de práticas à leitura, com inserção de atividades
lúdicas complementares ao processo tradicional de ensino-aprendizagem [...]”.
Pelos resultados alcançados com o evento da quarta edição, inferiu-se que a atuação impositiva do
bibliotecário não pode ser “escondida” atrás dos acervos impressos e, muitas das vezes, inutilizáveis. O
marketing manifestou-se como um instrumento ou ferramenta de apoio que o bibliotecário pode se
sustentar, haja vista dar visibilidade às contribuições que a biblioteca pode oferecer para diferentes
públicos, e, por conseguinte, produzindo efeitos benéficos no ambiente organizacional. As ferramentas
administrativas comungadas com a criatividade e audácia do profissional são condições essenciais para
fazer surgir uma nova Biblioteconomia, reinventada, adequada às necessidades e desejos da
capacitação “[...] para desenvolver habilidades que as pessoas necessitem para encontrar melhores postos
de trabalhos, candidatar-se a eles e ter sucesso em melhores empregos” (IFLA, 2016, p. 2). Essa ideia é
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sobre trabalho decente e crescimento econômico - quando prevê a provisão de acesso à informação e
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contemporaneidade. Essa constatação está alinhada, com mais intensidade, ao objetivo de número 8 -
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corroborada por Silva e Sales (2012, p. 401), ao mencionarem que o bibliotecário pode intervir nas
organizações que demandem de informação, onde ela “[...] é entendida como um insumo essencial para o
desenvolvimento das atividades. E também para fornecer melhores serviços aos seus clientes, ganhando
assim, destaque no mercado”.
Quanto à quinta edição, evento que explorou o tema da acessibilidade em diferentes contextos,
percebeu-se que são as unidades de informação e as instituições que precisam se adequar às necessidades
específicas de cada usuário e não o contrário. Além disso, o usuário com alguma deficiência, seja ela qual
for, precisa ser tratado com respeito e cordialidade, tendo a seu dispor todos os recursos informacionais
que garantam o seu aprendizado. Não se trata de “ter pena”, pois o fundamento não é esse. Trata-se de se
adequar, oferecendo aos usuários o que lhes são garantidos por direito. Por meio das reflexões propostas
nesse evento, constatou-se que, é somente com esse pensamento, que estaremos unindo esforços em prol
de uma sociedade inclusiva, conforme proposta formulada pela Agenda 2030, haja vista garantir o
desenvolvimento da sociedade, sustentada pelo respeito às diferenças e fomentadora da prática cidadã.
Novamente, é possível identificar a correspondência desses resultados com o que reza o objetivo de
número 10, ao considerar que as unidades de informação precisam ser “[...] espaços neutros e
agradáveis que permitam a aprendizagem para todos, incluindo os grupos marginalizados, como os
imigrantes, os refugiados, as minorias, os povos indígenas e pessoas com deficiência; - acesso equitativo
à informação que promova a inclusão social, política e econômica” (IFLA, 2016, p. 2, grifo nosso). Por
meio das ações inclusivas, as bibliotecas também contribuem com a concretização do objetivo de número
16, ao possibilitar a paz, justiça e instituições eficazes, que devam ser “[...] responsáveis e inclusivas em
todos os níveis” (IFLA, 2016, p. 2).
Em suma, as diferentes palestras comungam de ideias e propósitos similares, sobretudo quando
possibilitam algum tipo de benefício ou melhoria, seja para as próprias bibliotecas, para as organizações e
para os cidadãos. Desse modo, confirma-se o papel social das bibliotecas, ou seja, como mencionou Santa
Anna, Costa e Silva (2018), é preciso adequar e alinhar as atividades realizadas pelos bibliotecários com
as expectativas das comunidades, de modo que o potencial da área possa ser aproveitado como contributo
para a evolução e desenvolvimento da própria sociedade. Essa é uma das propostas do desenvolvimento
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sustentável e, como tal, bibliotecas e bibliotecários têm muito a contribuir.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo, conduzido, metodologicamente, por um relato de experiência, apresentou a
criação do Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais: o papel das bibliotecas, com menção aos propósitos,
às ações desenvolvidas e às contribuições alcançadas, a partir dos cinco eventos realizados no ano de
2019. Em linhas gerais, constatou-se que as discussões em torno da Agenda 2030 da ONU não estão
distantes da realidade das bibliotecas, cujos fazeres realizados pelos bibliotecários muito podem
contribuir para a concretização dos ODSs. Assim, infere-se que as propostas da Agenda manifestam-se
como uma oportunidade de transformação para a Biblioteconomia, no atual século.
Nesse contexto, depreende-se que a Biblioteconomia Social, um campo ou disciplina até então
obscuro aos olhos de muitos profissionais, pode ser considerada como um tema emergente e que precisa
ser inserido no fazer profissional, nesses novos tempos. Não bastasse essa oportunidade surgida
internacionalmente, no contexto brasileiro, a FEBAB aderiu às ações propostas pela IFLA, o que pode
representar um mecanismo de ascensão para o campo da Biblioteconomia Social, no Brasil.
O Projeto Agenda 2030 em Minas Gerais é fruto dessa atual conjuntura, de adesão do movimento
associativo em prol do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas deste século. Foi pensado
com a ideia de disseminar as propostas dos ODSs na classe bibliotecária, estimulando os profissionais a
demonstrarem o potencial que possuem para o desenvolvimento da sociedade. Conduzido por um longo
ciclo de eventos, na forma de palestras, mesas redondas, seminários, dentre outras ocorrências, é
destinado a dar voz aos bibliotecários que acreditam na transformação promovida pelo seu fazer.
As experiências relatadas em cada um dos eventos do Projeto Agenda 2030 evidenciam que as
bibliotecas contribuirão com o desenvolvimento sustentável à medida que mudanças forem
implementadas nas instâncias locais, que provoquem modificações no cotidiano das pessoas e das
instituições. Ou melhor, como política pública que visa a erradicação da pobreza e garanta o
desenvolvimento das nações, a Agenda 2030 somente alcançará essa proposta quando os objetivos forem
aderidos e transformados em atitudes práticas, sobretudo no âmbito local, com envolvimento do Estado e
das instituições, em especial na esfera municipal. Portanto, confirma-se que as associações de
bibliotecários, no âmbito dos estados e municípios, exercem papel fundamental ao estimularem o
Os eventos realizados no ano de 2019 demonstraram o potencial do bibliotecário ao promover
melhorias na vida dos cidadãos, das organizações e da sociedade. Em todos os eventos, as intervenções
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ser melhor explorado em favor da sociedade.
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envolvimento da classe bibliotecária com as causas sociais, de modo que o potencial bibliotecário possa
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Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 509-530, ago./dez., 2020.
tiveram um propósito direcionado à melhoria de um contexto, ou seja, um fazer interventivo, o que
confirma que o fazer profissional vai muito além da mera organização e tratamento de acervos impressos,
visão equivocada atribuída à área por muitos leigos. No âmbito dos ODSs, confirmaram-se as reflexões
da literatura, de que as bibliotecas contribuem, sobremaneira, com o desenvolvimento dos objetivos de
número 4, 8, 10 e 16.
Os resultados alcançados com as atividades do projeto, realizadas em 2019, despertam a
necessidade de continuidade do projeto, com eventos contemplando outras contribuições das bibliotecas
para o desenvolvimento sustentável. Assim, para 2020, estão previstos os seguintes temas: formação do
sujeito crítico pela biblioteca pública, serviços de informação na era digital, a contribuição das bibliotecas
no ensino a distância, dentre outros. Sugere-se, também, que projetos similares a esse sejam
implementados em outras realidades brasileiras, em especial no âmbito dos estados e municípios, de
modo a fortalecer essa causa no movimento associativo, disseminá-la entre os profissionais e,
principalmente, garantir o reconhecimento pela sociedade, acerca do potencial das bibliotecas para um
mundo melhor.
REFERÊNCIAS
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Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) - Instituto de Geociências, Universidade Federal
Fluminense, Rio de Janeiro, 2016.
SILVA, Lidiana Sagaz; SALES, Fernanda de. O bibliotecário: atuação profissional em empresas da
grande Florianópolis. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 17, n. 2, p. 400421, jul./dez. 2012.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a oportunidade por terem constituído a diretoria da Associação de Bibliotecários de
Minas Gerais (ABMG) (Gestão 2018 a 2020), representada pelos seguintes membros: Maria Elizabeth de
Oliveira da Costa (Presidenta), Jorge Santa Anna (Secretário), Edycleiton Fernandes (Tesoureiro),
Andreia Brandão (Conselho fiscal), Graciane Borges (Conselho fiscal), Maria Cléa Borges (Capitação de
recursos) e Taciane Borges (Capitação de recursos). Também agradecem ao apoio e incentivo recebido da
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições (FEBAB),
da Escola de Ciência da Informação da UFMG e de todos os associados e apoiadores da ABMG.
ASSOCIATION OF LIBRARIES AND THE 2030 AGENDA: THE SOCIAL CONTRIBUTION
OF LIBRARIES IN THE STATE OF MINAS GERAIS
Abstract: The construction of a more democratic society with better living conditions is one of the main
strategies that guide sustainable development and is supported by the public policy of Agenda 2030,
considering the desire expected for the first decades of the 21st century. Through this policy,
professionals and institutions from all social contexts are called upon to take up this cause, not exempting
libraries and librarians from this function. This struggle is intensified with the adhesion of the associative
librarian movement, which plays a fundamental role in awakening the class's potential for sustainable
development. Objective: This text addresses the theme of Agenda 2030 within the scope of librarian
associations, especially the State of Minas Gerais, whose objective is to report the actions carried out by
the Agenda 2030 Project, managed by the Association of Librarians of that State. Methodology: For this
purpose, it presents a theoretical framework on the theme, exposes the purposes and activities of the
aforementioned project, and discusses the contributions achieved. Conclusions: It concludes that the
associations of librarians, within the scope of states and municipalities, play a fundamental role in
stimulating the involvement of the librarian class with social causes, so that the potential librarian can be
better exploited in favor of society.
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Keywords: Associative movement. Association of librarians of Minas Gerais. Agenda 2030. Social role
of libraries.
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Title
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ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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Associação de Bibliotecários e a Agenda 2030: o papel social das bibliotecas no Estado de Minas Gerais
Creator
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Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Florianópolis : Santa Catarina
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Revista ACB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2020
Language
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pt
Identifier
An unambiguous reference to the resource within a given context
1414-0594
Type
The nature or genre of the resource
Artigo de Periódico
Subject
The topic of the resource
Associação de Bibliotecários
Agenda 2030
Papel Social das Bibliotecas
Description
An account of the resource
A construção de uma sociedade mais democrática e com melhores condições de vida constitui uma das principais estratégias que norteiam o desenvolvimento sustentável e está amparada pela política pública da Agenda 2030, considerando o desejo esperado para as primeiras décadas do século XXI. Por meio dessa política, profissionais e instituições de todos os contextos sociais são convocados a assumir essa causa, não eximindo dessa função, bibliotecas e bibliotecários. Essa luta se intensifica com a adesão do movimento associativo bibliotecário, que exerce um papel fundamental para despertar o potencial da classe para com o desenvolvimento sustentável. Objetivo: O presente texto aborda a temática da Agenda 2030 no âmbito das associações de bibliotecários, com destaque o Estado de Minas Gerais, cujo objetivo é relatar as ações realizadas pelo Projeto Agenda 2030, gerenciado pela Associação de Bibliotecários desse Estado. Metodologia: Com esse propósito, apresenta referencial teórico sobre a temática, expõe os propósitos e as atividades do citado projeto, e discorre sobre as contribuições alcançadas. Conclusões: Conclui que as associações de bibliotecários, no âmbito dos estados e municípios, exercem papel fundamental ao estimularem o envolvimento da classe bibliotecária com as causas sociais, de modo que o potencial bibliotecário possa ser melhor explorado em favor da sociedade.
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A related resource from which the described resource is derived
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c474e9108e4056e3d44e2710b6a35582
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Ações conjuntas de bibliotecários para o fortalecimento da
Biblioteconomia: um relato de experiência
Andreza Gonçalves Barbosa (UFMG) - goncalvesandreza@hotmail.com
Jéssica Patrícia Silva de Sá (UFMG) - j.jessicadesa@gmail.com
Jorge Santa Anna (UFMG) - professorjorgeufes@gmail.com
Resumo:
A realização de eventos contribui no fortalecimento das práticas profissionais e das atividades
científicas em uma dada área de conhecimento. No entanto, é errôneo acreditar que esse
fortalecimento é consequência, apenas, dos eventos de maior abrangência, tais como os
eventos de cunho nacional e internacional. Parte-se do pressuposto de que, ações conjuntas,
realizadas em nível local, por grupos isolados ou associações profissionais de estados e
municípios podem trazer resultados inovadores e provocar novas reflexões que contribuam
com o crescimento da área. É com esse propósito que apresenta-se este relato de experiência,
cujo objetivo é o de apresentar o processo de desenvolvimento de dois livros da área de
Biblioteconomia, por uma associação profissional, e descrever as atividades de organização do
evento de lançamento dessas obras, demonstrando a importância da interação entre a equipe
de bibliotecários envolvida com esse inovador empreendimento. A partir dos resultados, foi
possível afirmar que a excelência do trabalho pode ser alcançada, notadamente na
organização de eventos, quando os profissionais acreditam e investem nas ações de
planejamento, entusiasmo, audácia, união e colaboração. Espera-se que outras iniciativas
dessa natureza possam ser pensadas e executadas em prol do fortalecimento da
Biblioteconomia.
Palavras-chave: Eventos científicos. Organização de eventos. Lançamentos de livros.
Biblioteconomia social. Empreendedorismo na Biblioteconomia.
Eixo temático: Eixo 7: Construção e identidade profissional
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�1 INTRODUÇÃO
A realização de eventos científicos constitui uma prática comumente realizada nas
mais diversas áreas do conhecimento. Os eventos científicos são importantes, porque
permitem a troca de informações e experiências vivenciadas por profissionais e
pesquisadores, no intuito de que ações possam ser desenvolvidas em conjunto, haja vista
desencadear o fortalecimento e o desenvolvimento de uma área científica.
Assim como acontece com outros meios de comunicação, como os periódicos, nos
eventos, a contribuição está pelo fato das pesquisas apresentadas serem submetidas
para apreciação pela comunidade científica, resultando em possíveis críticas ou
sugestões que possam validar, cada vez mais, os resultados almejados.
Ao contrário dos periódicos, os eventos científicos se destacam pelo fato de
permitirem um contato face a face entre os participantes. Segundo Campello (2003), os
eventos são momentos propícios que enriquecem as pesquisas apresentadas,
destacando-se, principalmente, por possibilitar um retorno instantâneo, além das
sugestões e do diálogo firmado entre especialistas e o pesquisador ou profissional que
submete suas pesquisas.
Nesse contexto, a prática de realização de eventos constitui uma estratégia
utilizada pela ciência, no sentido de garantir maior legitimidade e credibilidade ao que está
sendo pesquisado. A ciência é norteada por um sistema de comunicação que permite a
interação entre especialistas que se interessam por temas similares, e esses agentes vão
reconstruindo seus fundamentos a partir das considerações de seus colegas, o que
fomenta um intenso ciclo de retroalimentação, o qual viabiliza maior qualidade no que é
produzido (MUELLER, 2003).
A importância dos eventos para a comunicação científica é tamanha que, mesmo
com o aparecimento das tecnologias digitais, que possibilitam formas de interação pelo
computador, permitindo, por exemplo, a prática de videoconferências, os eventos
presenciais não deixaram de existir, como mencionado por Campello (2003). Para Santa
Anna (2018), os eventos científicos precisam ser bem organizados, com equipes
integradas, cujas funções são determinadas, a fim de permitir uma melhor condução das
atividades.
O autor salienta que a área da Biblioteconomia se destaca, com eventos sendo
realizados em nível nacional e internacional. Santa Anna (2018) reforça o papel da gestão
do evento, enfatizando que ela precisa ser conduzida por equipes competentes e
integradas, de modo que os objetivos possam ser alcançados e que os anseios e as
expectativas dos participantes sejam atendidas.
�Campello (2003) cita que os eventos podem ser mais abrangentes quando visam
congregar participantes de diferentes regiões, com uma abrangência nacional ou
internacional. Há também, segundo a autora, eventos direcionados a um público restrito,
normalmente, a nível local, e contendo os interesses de uma comunidade específica, tal
como uma associação profissional, por exemplo.
Nesse contexto, no âmbito das associações profissionais em Biblioteconomia, no
Brasil, cita-se a Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG), entidade que
acredita na causa profissional quanto acadêmica, e representa os interesses da classe no
Estado de Minas Gerais. Com o intuito de fortalecer a área, essa entidade se destaca na
oferta de cursos de capacitação, oficinas diversas, publicações de livros, realização de
eventos profissionais e científicos, dentre outras atividades.
Acreditando no potencial das publicações científicas, no ano de 2018, a entidade
desenvolveu dois livros em forma de coletânea. Os capítulos foram escritos por diversos
autores, compostos por alunos, professores e bibliotecários. Com o propósito de
disseminar a leitura a diferentes públicos, foram aceitos textos no formato de artigos de
pesquisa, artigos de revisão, ensaios e relatos de experiência.
A princípio, os livros foram planejados para publicação do tipo coletânea,
organizada por membros da diretoria da ABMG, e no formato de e-book, não
comercializável. No entanto, ao longo do desenvolvimento, surgiu o convite, por parte de
uma editora do mercado de Belo Horizonte, da publicação impressa e comercializável.
Assim, a versão eletrônica sob responsabilidade editorial da ABMG foi lançada no dia 20
de dezembro de 2018, e a versão impressa está prevista para publicação no decorrer do
ano de 2019.
O livro intitulado “Biblioteconomia social: possíveis caminhos para construção da
cidadania” apresenta textos relativos à prática biblioteconômica que vai além das técnicas
aprendidas na Graduação. Fica claro na obra a importância de se ater à questão social
dos bibliotecários e à responsabilidade deles para com a melhoria não somente do local
de atuação, mas também em prol da melhoria da comunidade/sociedade. Dessa maneira,
“o cunho liberal e humanista da profissão” oficializado no juramento da Biblioteconomia
pode ser praticado com eficácia, obtendo-se bons resultados assim como os contidos nos
capítulos da obra.
Já o livro intitulado “Empreendedorismo bibliotecário na sociedade da informação:
outros caminhos e possibilidades” abarca questões voltadas para as diversas
possibilidades que a Biblioteconomia apresenta aos profissionais da área. É preciso que o
profissional esteja apto a atuar não somente em bibliotecas ou centros de informação,
�mas que esteja preparado a atuar em um mercado cada vez mais competitivo em que
tecnologias surgem a todo o momento. Dessa maneira, o livro apresenta novos nichos de
atuação desses profissionais.
Ambos os livros mostram que é possível construirmos uma Biblioteconomia social e
empreendedora agregada às técnicas aprendidas na formação profissional. Essas, em
conjunto, criarão novas possibilidades de atuação para os bibliotecários, contribuindo,
dessa maneira, para o enriquecimento da área.
2 EVENTO DE LANÇAMENTO: UNIDOS EM PROL DO FORTALECIMENTO DA ÁREA
Como forma de prestigiar os autores e também de divulgar os dois livros, foi
organizado um evento de lançamento no final de dezembro de 2018.
A comissão
organizadora do evento, além dos membros da associação, contou com a participação de
duas alunas de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e um aluno de Graduação. O local escolhido para realização do
lançamento foi um dos auditórios da Escola de Ciência da Informação (ECI) da UFMG.
A organização do evento de lançamento dos livros antecedeu a data de sua
realização, iniciando-se com a listagem dos contatos de todos os autores dos capítulos
das coletâneas. Com essa listagem, foi criado um grupo no aplicativo WhatsApp, no qual
os autores puderam interagir, tirar suas dúvidas sobre as apresentações orais, e,
principalmente, confirmarem presença no dia do evento.
Após a confirmação dos autores, foi possível estabelecer também quem seria
responsável pela apresentação oral de cada capítulo, visto que a maioria foi escrita por
mais de um autor. Devido à restrição de tempo, cada autor teve um tempo limitado para a
apresentação, o que impossibilitou que todos os autores de um determinado capítulo se
pronunciassem; logo, apenas um autor de cada capítulo foi escolhido para apresentar.
Os autores tiveram a liberdade de convidar outras pessoas para assistirem ao
lançamento dos livros, como familiares, amigos e profissionais da informação. No grupo
do WhatsApp, cada autor informou o número de convidados que iria comparecer ao
evento, possibilitando que os organizadores soubessem de antemão o número
aproximado de pessoas que estariam presente.
A próxima etapa da organização do evento foi a elaboração da programação, que
consistiu em um cronograma para controle do tempo e a ordem de apresentação dos
autores que confirmaram presença, com o nome de seu respectivo capítulo. Também foi
elaborada
uma
acompanhantes.
planilha,
na
qual
constavam as
confirmações
de
autores e
�No dia do evento, os organizadores se reuniram algumas horas antes para
conferirem a programação final e acertarem as últimas pendências. A programação foi
impressa em várias cópias para controle dos organizadores. Posteriormente, procedeu-se
à organização do auditório onde seria realizado o evento, estabelecendo a disposição do
mobiliário e a ornamentação.
Dessa forma, no dia 20 de dezembro de 2018, o evento se concretizou, iniciandose por volta das 19:00 h, cujo público presente contou com a participação de,
aproximadamente, 100 pessoas. Com o intuito de tornar o ambiente mais agradável - até
mesmo por ser semana de Natal - um dos autores e membro da comissão organizadora
do evento coordenou as apresentações musicais, recepcionando os convidados com um
coral que, gentilmente, entoou músicas natalinas. Foi um momento emocionante e
contemplativo.
Considerando o dia e horário de início - em que muitos participantes foram direto
do trabalho ou chegaram de viagem para participarem - a organização contratou um buffet
que foi servido na entrada do auditório com salgados, água e sucos variados.
A mesa de abertura foi composta pelas autoridades: diretora da ECI, presidente do
CRB-6, conselheira do CFB, diretora da ABMG, diretora da Biblioteca da ECI e membro
da comissão organizadora da publicação dos livros. Em linhas gerais, o discurso desses
membros contemplou aspectos da valorização em se publicar textos que versam sobre os
temas das obras, como também agradecimentos a todos os envolvidos.
Após do acolhimento pela mesa de abertura, procedeu-se às apresentações dos
capítulos (apenas dos autores presentes). Mesmo com um curto prazo para discursar
(cinco minutos), todos os autores conseguiram explanar com maestria seus escritos.
Alguns chegaram a se emocionar, o que comoveu a todos os participantes.
Ao findar das apresentações, o evento foi encerrado com um breve discurso de
agradecimento por parte da presidente da ABMG, como também foi proferida a
mensagem final dos organizadores da obra, cujo discurso centrou-se na esperança de
que outras iniciativas dessa natureza sejam desenvolvidas em outros contextos, de modo
que a área da Biblioteconomia seja, cada vez mais, divulgada, valorizada, reconhecida e
interventiva, sobretudo em prol das causas sociais e acerca do potencial do bibliotecário
na atual sociedade.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento e a publicação dos livros pela ABMG, conforme descrito neste
relato, confirmam a importância e a necessidade de as associações profissionais, demais
�órgãos de classes, escolas de formação, dentre outras instituições unirem esforços em
prol desse empreendimento, com o fim de que as experiências, as crenças, os desafios e
as conquistas presentes na Biblioteconomia possam ser disseminados mundo afora.
Comprova-se, também, a eficiência dos bibliotecários, sejam estudantes,
profissionais, pesquisadores, ao formarem equipes para facilitar o processo de
organização de eventos. Portanto, é possível reforçar que a atuação do bibliotecário é
diversa, podendo esse assumir vários papéis, dentre eles, a função de organizador de
eventos científicos, contribuindo com seu potencial na disseminação de informações.
Organizar um evento não é tarefa fácil. Envolve tempo, disponibilidade,
responsabilidade. Envolve saber lidar com as intempéries que ocorrem no caminho,
porém é preciso saber driblá-las para seguir adiante.
Importante ressaltar a importância do trabalho em equipe. Saber lidar com as
diferenças de opiniões e de expectativas é algo que aprendemos na prática cotidiana, nos
apertos. E, é nessa hora, que a famosa frase “a união faz a força” faz sentido.
O receio de não conseguir terminar tudo a tempo - ainda mais por se tratar de uma
semana de Natal - foi algo que nos inquietou, instantaneamente. Outra questão que nos
acompanhou foi pensar em como reunir um número expressivo de participantes em uma
época difícil como final de dezembro em que a universidade já se encontrava em férias
estudantis.
A partir dos resultados, é possível afirmar que a excelência do trabalho pode ser
alcançada, notadamente na organização de eventos, quando os profissionais acreditam e
investem nas ações de planejamento, entusiasmo, audácia, união e colaboração. Que
outras iniciativas dessa natureza possam ser pensadas e executadas em prol do
fortalecimento da Biblioteconomia.
REFERÊNCIAS
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�
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Organização de eventos
Lançamentos de livros
Biblioteconomia social
Empreendedorismo na Biblioteconomia
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A realização de eventos contribui no fortalecimento das práticas profissionais e das atividades científicas em uma dada área de conhecimento. No entanto, é errôneo acreditar que esse fortalecimento é consequência, apenas, dos eventos de maior abrangência, tais como os eventos de cunho nacional e internacional. Parte-se do pressuposto de que, ações conjuntas, realizadas em nível local, por grupos isolados ou associações profissionais de estados e municípios podem trazer resultados inovadores e provocar novas reflexões que contribuam com o crescimento da área. É com esse propósito que apresenta-se este relato de experiência, cujo objetivo é o de apresentar o processo de desenvolvimento de dois livros da área de Biblioteconomia, por uma associação profissional, e descrever as atividades de organização do evento de lançamento dessas obras, demonstrando a importância da interação entre a equipe de bibliotecários envolvida com esse inovador empreendimento. A partir dos resultados, foi possível afirmar que a excelência do trabalho pode ser alcançada, notadamente na organização de eventos, quando os profissionais acreditam e investem nas ações de planejamento, entusiasmo, audácia, união e colaboração. Espera-se que outras iniciativas dessa natureza possam ser pensadas e executadas em prol do fortalecimento da Biblioteconomia.
Source
A related resource from which the described resource is derived
28o. Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (2019)
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4591/Mesadediscussaoacessibilidade.pdf
e4ce355493a9631c79f5ce76358fd3ba
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
PROJETO
V Evento
A
G
E
N
D
A
MESA DE DISCUSSÃO
ACESSIBILIDADE EM
BIBLIOTECAS: AÇÕES
INCLUSIVAS
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RELATÓRIO EXPANDIDO
V
E
V
E
N
T
O
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
(Organizadores)
Belo Horizonte
Dezembro de 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
MESA DE DISCUSSÃO
ACESSIBILIDADE EM BIBLIOTECAS:
AÇÕES INCLUSIVAS
RELATÓRIO EXPANDIDO
Belo Horizonte
ABMG
Dezembro de 2019
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2018-2020
© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
PROJETO AGENDA 2030 EM MG – V EVENTO
MESA DE DISCUSSÃO
Tema da edição: Acessibilidade em bibliotecas: ações inclusivas
Local do evento: Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
Data de realização: 20 de novembro de 2019
Horário: 18:30 as 22:00 h
Comissão organizadora do evento
Presidentes do evento: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Coordenadora e moderadora: Andreza Gonçalves Barbosa
Facilitadores: Alessandra Gino e Gildete Veloso; Paula Mariano e Tatiana Brandão; Michelle
Assunção; Vera Lúcia Moreira Nunes; Vinicius Alves; e Sindier Antônia Alves
Monitores: Equipe ABMG
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
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SUMÁRIO
1 V EVENTO DO PROJETO AGENDA 2030 EM MG: DISCUTINDO A
ACESSIBILIDADE NAS BIBLIOTECAS.................................................... 3
2 INÍCIO DAS DISCUSSÕES .................................................................. 8
3 ACESSIBILIDADE: PROJETOS E AÇÕES PRÁTICAS PARA INCLUSÃO .. 9
4 ACESSIBILIDADE EM BIBLIOTECA: AINDA MUITO A SE DISCUTIR ...18
REFERÊNCIAS ......................................................................................19
SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA ...............................21
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
1
V
EVENTO
DO
PROJETO
AGENDA
2030
EM
MG:
DISCUTINDO A ACESSIBILIDADE NAS BIBLIOTECAS
O projeto Agenda 2030: o papel das bibliotecas, desde sua institucionalização,
em meados de 2019, vem crescendo ao longo dos meses, sobretudo no que
tange à oferta de discursos proferidos por profissionais e pesquisadores em
seus contextos de atuação. No quinto evento, temos a honra de receber uma
discussão
mais
integrada,
que
possibilitou
o
compartilhamento
de
experiências, a partir do relato de diversos profissionais, o que oportunizou um
momento propício de reciprocidade, com práticas de ensino e de aprendizado.
O quinto evento foi planejado no formato de uma roda de discussão, cujo tema
debatido foi a acessibilidade nas bibliotecas e nas instituições de ensino. A
comissão organizadora uniu esforços no sentido de promover um evento
participativo e mais dinâmico, rompendo o modelo tradicional de palestra, que
acabava gerando pouca interação, além de cansaço aos participantes.
A mesa de discussão, também denominada de mesa de conversas ou mesa
redonda, é um formato de evento que congrega mais de um expositor sobre
um mesmo tema ou temas relacionados. Diferente das palestras, cujo
conhecimento é controlado e transmitido por uma única pessoa, na roda de
discussão o conhecimento espalha-se na forma de rede, o que possibilita a
identificação das aproximações e distanciamentos entre os temas relatados.
Normalmente, os participantes que conduzem as discussões têm a liberdade de
expor os assuntos de forma livre, com tempo determinado e igual para cada
expositor. À medida que o conhecimento é socializado com o público, é
possível estabelecer as conexões entre um tema e outro, ação essa muito
válida para ampliar a discussão, gerando novas provocações/indagações, por
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conseguinte,
manifesta-se
um
clima de
compartilhamento, interação
e
participação coletiva.
O tema da acessibilidade foi selecionado para debate por contemplar um dos
temas emergentes para o século XXI, inserido nas ações do desenvolvimento
sustentável, conforme proposta da Organização das Nações Unidas (ONU).
Trata-se de um tema em voga, comungado em nível internacional e que vem
despertando interesse nos pesquisadores e nos projetos de lei em diversos
países, haja vista a tentativa de se instituir uma sociedade mais democrática,
e, para tanto, essa sociedade precisa, antes de tudo, ser inclusiva.
A busca por uma sociedade mais inclusiva acaba por ser uma das principais
preocupações
dos
países
democráticos
e
representa
um
fator
de
desenvolvimento social das nações. Incluir as pessoas é uma forma de garantir
a qualidade de vida e o bem-estar, possibilitando o acolhimento dos cidadãos,
de modo que possam ter seus direitos garantidos, no que tange à convivência
social, independente das limitações que possam apresentar, sejam elas de
natureza física, psicológica, comportamental, dentre outras.
O tema ganha força no meio acadêmico, profissional e social e repercute em
várias instâncias e contextos da sociedade, envolvendo governantes, gestores
públicos,
profissionais
e
organizações
do
ramo
público
e
privado.
A
Biblioteconomia abraça essa causa, ao acreditar que as bibliotecas são espaços
que precisam ser adequados às pessoas que possuem alguma limitação. Essa
crença não é nova, visto que o debate iniciou-se desde meados do século XX.
No entanto, a cada dia, novos estudos e experiências aparecem, haja vista
tonar as bibliotecas inclusivas e os bibliotecários gestores dessa inclusão.
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Por isso, o quinto evento do Projeto Agenda 2030 teve como título
“Acessibilidade em bibliotecas: ações inclusivas”. O quadro 1 demonstra as
características principais desse evento.
Quadro 1 – Detalhes da mesa de discussão sobre acessibilidade
Características principais
Nome do projeto de vinculação
Agenda 2030 em MG: o papel das
bibliotecas
Número da edição do evento
Quinta
Temática
Acessibilidade em bibliotecas
Título
Acessibilidade
em
bibliotecas:
ações
inclusivas
Conteúdo programático
- Acessibilidade nas bibliotecas: conceitos,
importância e perspectivas
- Projetos de acessibilidade nas bibliotecas e
nas instituições de ensino
- A biblioteca como ambiente democrático e
inclusivo
- O papel da biblioteca na concretização de
uma sociedade mais inclusiva
Público-alvo principal
Estudantes, pesquisadores e profissionais
interessados
pelas
temáticas
da
acessibilidade,
em
especial,
quando
abordada no âmbito das bibliotecas e
unidades de informação
Local, dia e horário de realização
Local de ocorrência
Escola de Ciência da Informação –
Universidade Federal de Minas Gerais –
Campus Pampulha
Dia
20 de novembro de 2019
Horário
Das 18:30 às 22:00 h
Comissão organizadora
Presidentes
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de
Oliveira da Costa
Coordenação
Andreza Gonçalves Barbosa
Monitoria
Equipe da ABMG
Apoiadores
Escola de Ciência da Informação
Fonte: Dados do evento (2019).
A discussão preliminar desse evento iniciou-se em grupo de WhatsApp1, no
mês de julho, quando um integrante do grupo postou comentários sobre
acessibilidade
nas
bibliotecas, e
houve
várias
opiniões
a respeito
do
comentário. Naquele momento, um membro da diretoria mencionou a
1
Diz respeito ao grupo de WhatsApp “Amigos da Biblio em Minas Gerais”, grupo gerenciado
por membros da diretoria da ABMG e profissionais apoiadores. O grupo foi criado a partir do
evento de lançamento dos primeiros livros publicados pela ABMG, evento que ocorreu em 20
de dezembro de 2018.
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importância de se realizar uma roda de conversas, o que foi muito bem aceito
por todos, com alguns profissionais colocando-se à disposição para compor a
mesa.
Logo no mês seguinte, considerando a abrangência do evento - visto que seria
abrilhantado
com
a
participação
de
seis
profissionais/pesquisadores
–
iniciaram-se as primeiras atividades de organização. Nessa ocasião, a Gestão
de Secretaria da ABMG providenciou a escolha dos facilitadores, como
também, o envio de convite formal, por e-mail, a fim de garantir a resposta
em tempo hábil às atividades de execução do evento.
Algumas semanas posteriores, com o retorno dos convidados, foi possível
planejar a programação das apresentações dos temas, seguida das atividades
de divulgação do evento, por meio de fôlderes disseminados nas redes sociais.
A figura 1 apresenta o modelo de convite formal e material de divulgação.
Figura 1 – Modelo de convite enviado aos facilitadores e fôlder de divulgação
Fonte: Dados do evento (2019).
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Conforme apresentado no material de divulgação constante na figura 1, notase a presença de seis momentos de discussão, com profissionais inseridos em
diferentes contextos, possibilitando um debate que unisse teoria e prática
acerca da acessibilidade nas bibliotecas e instituições de ensino. O quadro 2
expõe o nome dos facilitadores, o título da discussão e contexto de
atuação/vinculação dos convidados.
Quadro 2 – Aspectos relativos aos participantes e
Convidado(s)
Contexto de
vinculação/atuação
Alessandra Gino e Biblioteca Pública de
Gildete Veloso
Minas Gerais
Paula
Mariano
e Biblioteca Pública de
Tatiana Brandão
Lagoa Santa
Michelle Assunção
Programa
de
PósGraduação em Gestão e
Organização
do
Conhecimento/ECI
Vera Lúcia Moreira Núcleo
de
Nunes
Acessibilidade
e
Inclusão da UFMG
Vinicius Alves
Curso
de
Biblioteconomia/ECI
Sindier Antônia Alves Sistema de Bibliotecas
da UFMG
Fonte: Dados do evento (2019).
as discussões temáticas
Título da discussão
Biblioteca Pública de Minas Gerais: um
espaço para todos e todas
A Biblioteca Pública de Lagoa Santa e a
Agenda 2030: o papel do bibliotecário como
facilitador no processo de inclusão da
pessoa com deficiência visual na sociedade
da informação e do conhecimento
Gestão
inclusiva
em
bibliotecas
universitárias
Recursos tecnológicos e a inclusão dos
alunos com deficiência na UFMG
Realidade do usuário autista nas unidades
de informação: estudo de caso
Sistema de Bibliotecas da UFMG e
acessibilidade: algumas considerações
A leitura ao quadro 2 permite constatar que o evento foi proposto com um
aspecto diversificado em termos de contextos de atuação das ações inclusivas,
ou seja, a expectativa era apresentar projetos desenvolvidos em bibliotecas
universitárias, públicas, nos núcleos de inclusão das universidades, e também
apresentar discussões teóricas e práticas oriundas de trabalhos acadêmicos.
Participou como moderadora da mesa, a bibliotecária, doutoranda e professora
Andreza Gonçalves Barbosa, com intervenções realizadas no sentido de
promover
a
interlocução
entre
os
assuntos,
estimulando
o
debate
e
controlando o tempo de discussões, dentre outras tarefas. Destaca-se que foi
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estabelecido um tempo máximo de 30 minutos para cada expositor, e as
perguntas e intervenções da plateia foram deixadas para o momento final, com
o término de todas as apresentações.
2 INÍCIO DAS DISCUSSÕES
As boas-vindas aos participantes e a acolhida, em geral, ficou a cargo do
secretário da ABMG, o qual aproveitou o momento para contextualizar o
Projeto Agenda 2030 e reforçar a importância e relação desse projeto com o
tema da acessibilidade. Em seguida, proferiu o currículo da debatedora,
passando-lhe a palavra, a fim de iniciar as apresentações (figura 2).
Figura 2 – Iniciando as atividades – formação da mesa
Fonte: Dados do evento (2019).
A fim de iniciar as atividades, a debatedora agradeceu o convite e proferiu, de
forma breve, o contexto da acessibilidade para a Agenda 2030 da ONU,
articulando a contribuição das bibliotecas, nesse processo. A esse respeito,
dialogamos com Miranda (2017), ao proferir que as bibliotecas não precisam
esperar os usuários com limitações até elas chegarem. Ao contrário, precisam
romper esse perfil reativo, e atuar de modo proativo, adequando os espaços
com infraestrutura e recursos adequados às condições dessas pessoas.
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3 ACESSIBILIDADE: PROJETOS E AÇÕES PRÁTICAS PARA
INCLUSÃO
Iniciando a apresentação das discussões de cada expositor, as bibliotecárias
Alessandra Gino e Gildete Veloso apresentaram, de modo conjunto, as ações
desenvolvidas na Biblioteca Pública de Minas Gerais, acerca da acessibilidade.
No discurso das palestrantes, foi exposto um vídeo sobre o que a biblioteca
desenvolve e a participação de representantes da unidade e do poder público,
haja vista a construção de um espaço adequado para receber todas as
pessoas, rompendo qualquer tipo de limitação ou discriminação para acessar
os serviços oferecidos na biblioteca.
Foram destacados o acervo em Braille e as ações de leitura e práticas culturais
que permeiam esse espaço. Também discorreram acerca dos colaboradores da
unidade que possuem algum tipo de limitação e que contribuem muito na
adequação do espaço para acolhimento às pessoas com deficiência, seja ela de
qualquer natureza. O discurso é finalizado com a mensagem de que essa
biblioteca conhece e une esforços para executar as práticas inclusivas,
conforme proposto pela Agenda 2030, e com o fim de garantir a construção de
uma sociedade democrática, cidadã e igualitária, para todos. A figura 3 ilustra
o momento de compartilhamento das experiências promovidas pela Biblioteca
Pública de Minas Gerais.
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Figura 3 – Apresentação das ações pela Biblioteca Pública de Minas Gerais
Fonte: Dados do evento (2019).
A partir das discussões proferidas, percebe-se que a biblioteca precisa ser um
ambiente promotor da inclusão. Segundo Lima e Veloso (2018, p. 251), o
processo de inclusão sociocultural acontece quando, nesse ambiente, “[...]
asseguramos a democratização do acesso à informação, contribuindo com a
diminuição das desigualdades sociais e estimulando, cada vez mais, o uso da
biblioteca como forma de ampliação de conhecimento”.
Finalizando a discussão apresentada pela Biblioteca Pública de Minas Gerais,
foram convidadas para proferir o debate, as bibliotecárias da Biblioteca Pública
de Lagoa Santa, Paula Mariano e Tatiana Brandão. Nesse momento, a Agenda
2030, novamente, é contextualizada, o que reforça, segundo as palestrantes, a
importância que a Biblioteconomia Social assume, como também o papel das
bibliotecas e dos bibliotecários, em favor, principalmente, das minorias.
Ao longo da apresentação, é destacado o Projeto Sala Braille, projeto premiado
e muito discutido em nível nacional e internacional, e que constitui a oferta de
um espaço adequado para todos os portadores de necessidades visuais. Além
da sala ser equipada com tecnologias assistivas, são realizadas práticas de
leitura, ações culturais, além da disponibilização de transporte para locomover
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as pessoas de suas residências até a biblioteca. As palestrantes reforçam que
os resultados alcançados com o projeto demonstram o quanto a biblioteca
contribui com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, visto que os
usuários dessas salas, ao frequentarem o espaço, venceram muitos desafios,
como depressão, passaram a estudar, a usar as redes sociais, a se interagir,
dentre muitos outros benefícios. A figura 4 apresenta o momento da palestra
destinada à Biblioteca Pública de Lagoa Santa.
Figura 4 – Bibliotecárias da Biblioteca de Lagoa Santa proferindo as discussões
Fonte: Dados do evento (2019).
Importante considerar que, em vários momentos, as bibliotecárias mencionam
que, mesmo diante de muitos desafios existentes, tal como falta de recursos
financeiros, não se pode desistir de lutar por uma biblioteca inclusiva. Daí,
depreende-se acerca do papel que o bibliotecário exerce, nesse processo, não
podendo se redimir ou ficar estagnado a padrões e preconceitos. Para Mariano
e Brandão (2018, p. 225), os bibliotecários, no exercício de sua profissão,
podem contribuir de maneira efetiva para transformar essa realidade. “[...]
Eles
são
os
profissionais
responsáveis
por
disseminar
a
informação,
oportunizando a formação social do indivíduo de forma autônoma para o pleno
exercício de sua cidadania [...]”.
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A terceira discussão da noite trouxe fundamentos teóricos para se pensar a
acessibilidade e como ela é importante e faz toda diferença na vida das
pessoas, haja vista fomentar uma sociedade mais inclusiva. Conduzida pela
doutoranda Michelle Assunção, esse debate contemplou a experiência da
pesquisadora, tanto na vivência profissional quanto nos estudos realizados
para construção da pesquisa de Doutorado. Pelas reflexões, foi demonstrado
que as universidades possuem papel fundamental no processo de inclusão, ao
desenvolverem projetos direcionados a acolher profissionais, professores ou
estudantes com deficiências, com a oferta de infraestrutura adequada e
recursos adaptados, conforme as limitações de cada sujeito pertencente à
universidade. A figura 5 expõe os momentos de reflexão conduzidos pela
mediadora.
Figura 5 – Discussão sobre as ações inclusivas no meio universitário
Fonte: Dados do evento (2019).
A partir dos fundamentos da acessibilidade e sua aplicação nos ambientes
universitários, sobretudo nas bibliotecas, é possível entender que a inclusão de
discentes
com
deficiência
nas
universidades
brasileiras
“[...]
demanda
mudanças nos seus espaços, abrangendo as bibliotecas e o processo de
formação
dos
bibliotecários,
visando
maior
eficiência
e
equidade
no
atendimento e na prática profissional [...]” (COSTA; DUARTE, 2017, p. 161).
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A quarta discussão foi abrilhantada com as atividades realizadas pelo Núcleo
de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da UFMG, sendo mediada pela servidora
Vera Lúcia Moreira Nunes. No decorrer da discussão, foi apresentada a
influência do instituto para garantir a acolhida e permanência do aluno com
alguma limitação na universidade. O instituto se apresenta como um órgão
acolhedor que desenvolve estudos para concretização de projetos ou ações que
permitam garantir a adequação dos espaços físicos e a oferta de tecnologias
assistivas suficientes para possibilitar a inserção e o desenvolvimento das
atividades acadêmicas. Foi mencionado o percurso histórico do instituto, com
destaque o papel das bibliotecas nessa trajetória, e a modernização dele, o
qual vem unindo esforços, mediante um trabalho com equipe interdisciplinar,
capaz de acolher, cada vez mais, as pessoas com algum tipo de deficiência. A
discussão mediada pelo NAI é apresentada na figura 6.
Figura 6 – Palestra sobre as ações desenvolvidas pelo NAI no contexto da UFMG
Fonte: Dados do evento (2019).
A respeito dos núcleos de acessibilidade nas universidades, destaca-se que
eles são de muita importância, pois, conforme relatado por Melo e Araújo
(2018), ao discorreram sobre os resultados alcançados com o núcleo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, os estudantes tornam-se
conhecedores de seus direitos e lutam pela efetivação deles, além desses
estudantes não apenas realizarem as atividades acadêmicas, mas também
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tornam-se mais participativos nas questões políticas, enaltecendo, dessa
forma, a temática da inclusão no ensino superior brasileiro.
Com a finalização do discurso proclamado pela representante do NAI/UFMG,
iniciou-se a discussão sobre o usuário autista nas unidades de informação,
momento conduzido pelo estudante Vinicius Alves. O debate proposto pelo
aluno contemplou a apresentação de detalhes acerca do que caracteriza o
autismo, como também foram explorados os resultados alcançados com estudo
de caso aplicado a alguns alunos que se consideram com essa limitação. O
ponto forte do debate foi a informação de que muitos ainda possuem
dificuldades de aceitar o problema, como também as próprias instituições
criam “falsas” crenças do que seria o autismo e o que pode ser feito para
melhor atender o usuário que convive com essa realidade. A figura 7 apresenta
o discurso proferido sobre as características do autismo.
Figura 7 – Discussão sobre o autismo e suas características principais
Fonte: Dados do evento (2019).
A partir dos resultados alcançados com o estudo de caso aplicado pelo
estudante Vinicius, junto aos usuários autistas, foi possível inferir acerca da
importância do bibliotecário para atendimento e adaptação do espaço e oferta
de recursos acessíveis, haja vista incluir esse sujeito no ambiente das unidades
de informação. Logo, “[...] os bibliotecários carecem de assumir seu papel de
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gestor,
para
proporcionarem
um
ambiente
mais
integralizador
e
desenvolvimentista para as capacidades dos autistas” (SANTOS, 2019, p. 1).
A última discussão da noite foi abrilhantada pela bibliotecária Sindier Antônia
Alves, ao discursar a respeito da acessibilidade no âmbito do Sistema de
Bibliotecas da UFMG. Segundo o relato, o Sistema de Biblioteca vem unindo
esforços, nos últimos anos, no sentido de garantir melhorias às unidades
integrantes, com apoio, em especial, do NAI, haja vista eliminar as barreiras
que impedem o acesso à informação e aos serviços oferecidos pelas unidades
do Sistema. Mediante o envolvimento da diretoria do Sistema, ao acreditar
nessa causa, os bibliotecários estão sendo capacitados, de modo que possam
ser planejadas ações para adequação das unidades, considerando o perfil
específico dos usuários que se vinculam aos cursos da universidade. A partir
dessa crença e do planejamento realizado no Sistema, ficou evidenciado que a
acessibilidade precisa permear o contexto não apenas institucional, mas
também, social, visto que ela é um direito de todos, haja vista garantir a
concretização da prática cidadã. A discussão mediada pela bibliotecária do
Sistema de Bibliotecas da UFMG é apresentada na figura 8.
Figura 8 – Sistema de Bibliotecas da UFMG debatendo sobre a acessibilidade nesse contexto
Fonte: Dados do evento (2019).
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Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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Em relação ao que foi discutido nessa última palestra, a respeito do
envolvimento dos Sistemas de Bibliotecas com a acessibilidade no ambiente
universitário, Diniz, Almeida e Furtado (2017, p. 1) afirmam que as bibliotecas
precisam
instituir
políticas
voltadas
à
inclusão,
de
modo
que
sejam
estabelecidas diretrizes para o acesso inclusivo de usuários, “[...] na
perspectiva de incluí-los em um único espaço com uma diversidade de serviços
comuns e acessíveis a todos”.
Ao findar da sexta discussão, a moderadora proferiu um breve discurso,
sintetizando e relacionando os temas apresentados em cada discussão.
Mediante os comentários da moderadora, entende-se que o tema da
acessibilidade vem ganhando força no cotidiano das bibliotecas e instituições
educacionais, cujo usuário tem sido colocado em primeiro plano e precisa ser
tratado, conforme suas limitações.
Segundo a moderadora, são as unidades de informação e as instituições que
precisam se adequar às necessidades específicas de cada usuário e não o
contrário. Além disso, o usuário com alguma deficiência, seja ela qual for,
precisa ser tratado com respeito e cordialidade, tendo a seu dispor todos os
recursos informacionais que garantam o seu aprendizado. Não se trata de “ter
pena”, pois o fundamento não é esse. Trata-se de se adequar, oferecendo aos
usuários o que lhes são garantidos por direito.
É somente com esse pensamento, que estaremos unindo esforços em prol de
uma sociedade inclusiva, conforme proposta formulada pela Agenda 2030,
haja vista garantir o desenvolvimento da sociedade, sustentada pelo respeito
às diferenças e fomentadora da prática cidadã. A moderadora considerou que
cada
discussão
apresentada
possui
a
sua
peculiaridade,
mas
estão
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integralmente relacionadas, ao comungarem do mesmo propósito, qual seja:
lutar por uma sociedade mais justa, humana, democrática e igualitária.
Após o debate da moderadora, em virtude do avançar do tempo previsto para
encerramento, foi concedida a palavra à presidenta da ABMG, Maria Elizabeth
de Oliveira da Costa. A presidenta agradeceu a presença de todos, reforçando
que o tema é de suma importância, o que estimula o desenvolvimento de
novas mesas de discussão, de modo que as ideias e os projetos voltados à
acessibilidade sejam colocados em prática, possibilitando o fortalecimento da
temática e das ações. A figura 9 apresenta o momento de encerramento, com
cumprimentos entre os participantes.
Figura 9 – Momento final – cumprimentos entre os participantes
Fonte: Dados do evento (2019).
Ainda no discurso final, a presidenta, ao mencionar que o debate é muito fértil
e que novas ações, projetos e ideias precisam ser pensados e concretizados,
aproveitou o momento para convidar todos que apresentaram as discussões, a
enviar um manuscrito sobre o relato, de modo que fosse desenvolvida uma
coletânea de textos sobre acessibilidade. Finalizou informando que, nos
próximos dias, a Editora da ABMG, responsável
pelas publicações da
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associação, entraria em contato, enviando o convite formal, como também o
cronograma para desenvolvimento do livro.
4 ACESSIBILIDADE EM BIBLIOTECA: AINDA MUITO A SE
DISCUTIR
A mesa de discussão sobre acessibilidade reuniu profissionais atuantes em seis
diferentes contextos e que valorizam a causa da acessibilidade, considerando-a
como um fator estimulante para o desenvolvimento da sociedade e para a
consolidação da cidadania. Pelos relatos, foi constatado que essa causa vem
sendo
abraçada
pelos
bibliotecários
e
muito
incentivada
pela
gestão
universitária, embora muitos desafios ainda existam e ações estratégias
precisam ser adotadas, como também é requerido maior envolvimento da
classe bibliotecária com essa questão.
Conforme consta nos registros do evento, foi reunido um total de vinte
pessoas.
Mesmo
que
esse
quantitativo
considerando a importância do tema,
os
não
seja
resultados
muito
expressivo,
alcançados
foram
satisfatórios, visto que promoveram a integração, a troca de experiências e o
aprendizado entre os participantes. Isso foi confirmado, sobremaneira, com o
entusiasmo que os participantes apresentaram, ao final, no momento do
encerramento, reforçando que novos eventos precisam ser realizados pela
ABMG e que a ideia do livro é, sem sombra de dúvida, muito oportuna.
Com essa constatação, a atual diretoria da ABMG acredita que esse evento
tenha sido o despertar, o estímulo ou o início de muitos outros que poderão
ser realizados, tanto pela ABMG, quanto por outras instituições. Portanto, não
se pode inserir um ponto final, mas, ao contrário, a inserção de uma vírgula,
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de modo que, a pausa seja para planejar novas ações e, em breve, novas
oportunidades de socialização possam ser concretizadas.
Esses momentos de debate são muito benéficos, pois eles instigam a
“provocação” entre os participantes, além de estimularem a conquista de
adeptos ou pessoas interessadas com o tema abordado em uma discussão
coletiva. Além
disso, soma-se
o conhecimento que
é partilhado e o
aprendizado que é fortalecido, visto que diferentes ideias ao serem conectadas
se tornam fortalecidas, alavancando a produção do conhecimento.
Em síntese, afirmamos que a acessibilidade precisa ser muito debatida,
inserida como prioridade na formação acadêmica do bibliotecário, na prática
desse profissional e nas agendas institucionais e governamentais. Somente,
assim, em união de esforços, que o século XXI será mais inclusivo. Como
desejou Santa Anna (2018, p. 21-22), ao comentar sobre a Biblioteconomia
Social
e suas possíveis e diversas manifestações, que esse seja um
compromisso prioritário dos bibliotecários, “[...] o que tende a demonstrar o
potencial da Biblioteconomia para a evolução da sociedade e a consolidação e
permanência constante dos princípios e valores humanos nas gerações
vindouras”.
REFERÊNCIAS
COSTA, Michelle Karina Assunção; DUARTE, Adriana Bogliolo Sirihal. A
(in)acessibilidade nas bibliotecas universitárias: a interação entre o
bibliotecário de referência e o usuário com deficiência. Revista Brasileira de
Biblioteconomia e Documentação, v. 13, n. 2, jul./dez. 2017. Disponível
em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/479/647. Acesso em: 15 dez.
2019.
DINIZ, Isabel Cristina dos Santos; ALMEIDA, Ana Margarida Pisco; FURTADO,
Ana Margarida Pisco. Bibliotecas universitárias inclusivas: acessibilidade e
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2018-2020
oportunidades para os usuários com necessidades educativas especiais. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO, 28., 2019, Vitória. Anais [...]. Vitória: FEBAB, 2019. p. 1-5.
Disponível em: https://portal.febab.org.br/anais/article/viewFile/1877/1878.
Acesso em: 15 dez. 2019.
LIMA, Alessandra Soraya Gino; VELOSO, Gildete Santos. O papel social da
biblioteca pública estadual de Minas Gerais: uma biblioteca para todos. In:
SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria
Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos
para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 241-253.
MARIANO, Paula; BRANDÃO, Tatiana. “O essencial é invisível aos olhos”: Sala
Braille da Biblioteca Pública de Lagoa Santa-MG. In: SANTA ANNA, Jorge;
SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da
(Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da
cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 215-226.
MELO, Francisco Ricardo Lins Vieira de; ARAÚJO, Eliana Rodrigues. Núcleos de
Acessibilidade nas Universidades: reflexões a partir de uma experiência
institucional. Psicologia Escolar e Educacional, p. 57-66, 2018. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v22nspe/2175-3539-pee-22-spe-57.pdf.
Acesso em: 15 dez. 2019.
MIRANDA, Sulamita Nicolau de. Acessibilidade em bibliotecas: de Ranganathan
à Agenda 2030. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação,
São Paulo, v. 13, 2017. Disponível em:
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/846/902. Acesso em: 15 dez.
2019.
SANTA ANNA, Jorge. Biblioteconomia e sociedade: resgatando o pensamento
de Jesse Shera. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes
da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social:
possíveis caminhos para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG,
2018. p. 14-22.
SANTOS, Vinicius Alves dos. Realidade do usuário autista nas unidades de
informação: estudo de caso. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 28., 2019,
Vitória. Anais [...]. Vitória: FEBAB, 2019. p. 1-5. Disponível em:
https://portal.febab.org.br/anais/article/view/2200/2201. Acesso em: 15 dez.
2019.
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SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Professor e consultor em trabalhos acadêmicos e
científicos. Conselheiro editorial
da Revista Pró-
Discente.
de
Administra
a
gestão
secretaria
e
assuntos administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa: Bibliotecária
do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Doutoranda em
Gestão e Organização do Conhecimento, investigando
o papel das bibliotecas para melhoria da educação a
distância, no Brasil. Ocupa o cargo de presidenta da
atual diretoria da ABMG.
E-mail: mabethcosta@gmail.com.br
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acessibilidade em bibliotecas: ações inclusivas
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Acessibilidade em bibliotecas
Sociedade Inclusiva
Description
An account of the resource
Acessibilidade nas bibliotecas: conceitos, importância e perspectivas. Projetos de acessibilidade nas bibliotecas e nas instituições de ensino. A biblioteca como ambiente democrático e inclusivo. O papel da biblioteca na concretização de uma sociedade mais inclusiva
Source
A related resource from which the described resource is derived
Relatório de evento
Language
A language of the resource
pt
ABMG
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/41/4594/Possedanovadiretoria.pdf
878e276aafbbea7c6237af090334fc1b
PDF Text
Text
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2018-2020
R
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L
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T
Ó
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N
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ABMG – NOVA
GESTÃO – 20182020
POSSE DA ATUAL
DIRETORIA
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
(Organizadores)
Belo Horizonte
Março de 2018
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
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2018-2020
ABMG – NOVA
GESTÃO – 20182020
POSSE DA ATUAL
DIRETORIA
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Março de 2018
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2018-2020
© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
ABMG: NOVA GESTÃO – POSSE DA ATUAL DIRETORIA – 2018-2020
Escopo do relatório: Processo eleitoral, posse celebrativa e oficial da nova diretoria e
algumas expectativas da nova gestão
Comissão organizadora: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Casa publicadora: ABMG
Local e data de realização da posse celebrativa: Belo Horizonte, Auditório Azul da ECI.
Realizada em 14 de março de 2018
Local e data de realização da posse oficial: Belo Horizonte, Sede da ABMG. Realizada em
reunião da diretoria no dia 28 de março de 2018
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Endereço: Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício
Rotary, Sala 608
Site: www.abmg.org.br
E-mail: abmg.gestao21@gmail.com
Telefone: (31) 99959-4087
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Divulgação da abertura do processo eleitoral .............................. 5
Figura 2 - Programação da III Semana do Bibliotecário – posse da diretoria da
ABMG .................................................................................................... 9
Figura 3 - Posse celebrativa da nova diretoria da ABMG .............................10
Figura 4 - Parceira entre a ABMG e a ECI .................................................11
Figura 5 - Encerramento da posse celebrativa – confraternização ...............12
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Composição da chapa da nova diretoria da ABMG – gestão 20182020 ..................................................................................................... 6
Quadro 2 - Algumas ações emergentes propostas pela chapa para a nova
gestão da ABMG ..................................................................................... 7
Quadro 3 - Atividades primordiais a serem realizadas pela atual diretoria ....13
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SUMÁRIO
1 ABMG: EM BUSCA DE UMA NOVA GESTÃO .......................................... 3
2 A FORMAÇÃO DE UMA CHAPA E O PROCESSO ELEITORAL .................. 4
3 SOLENIDADE DA NOVA GESTÃO: POSSE CELEBRATIVA E OFICIAL .... 8
4 ABMG: NOVOS HORIZONTES E EXPECTATIVAS .................................14
REFERÊNCIAS......................................................................................16
SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA ...............................17
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1 ABMG: EM BUSCA DE UMA NOVA GESTÃO
A história da Associação de Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG) revela o
compromisso que os bibliotecários assumem com a área, no intuito de unir
esforços em prol do fortalecimento da Biblioteconomia no Estado de Minas
Gerais. Isso porque, desde a institucionalização oficial da associação, em 17 de
junho de 1960, muitas conquistas foram alcançadas, e, mesmo
com
dificuldades e desafios, a entidade vem crescendo ao longo dos tempos.
No final de 2017, a associação completou 57 anos de existência, sendo
conduzida por, aproximadamente, 20 gestões, ao longo desse tempo, com
profissionais engajados com a causa bibliotecária. Dentre esses profissionais,
muitos nomes se destacam, a maioria com influência no contexto brasileiro, e
com perfis diferentes, tais como: docentes, prestadores de serviços, atuantes
em bibliotecas públicas, escolares, universitárias, especializadas, dentre outros
perfis.
Entendemos que o compromisso assumido por essas gestões tem como pauta
principal oferecer suporte ao trabalho bibliotecário, em especial, no que tange
à capacitação, aperfeiçoamento e inovação. O resultado desse trabalho é a
oferta de bibliotecários qualificados ao mercado de trabalho, de modo que o
exercício profissional possa ser melhor realizado. Com isso, almeja-se o
fortalecimento,
visto
que
profissionais
preparados
conquistarão
novos
horizontes, encantarão as organizações e os gestores públicos, concretizando,
assim, valorização e reconhecimento da profissão por toda a sociedade.
As associações são constituídas pelo aglomerado de profissionais, com
objetivos comuns, que visam possibilitar benefícios aos demais colegas que
integram uma mesma profissão. O intuito é o auxílio mútuo, como acontece na
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formação de um núcleo familiar, cujos membros comungam das mesmas
ansiedades, tristezas, alegrias e se sustentam pela colaboração. No caso das
associações de bibliotecários, ou demais órgãos de classe, como os conselhos,
por exemplo, segundo Pinheiro (2018), os profissionais precisam ter esses
institutos como aliados, vinculando-se “[...] aos movimentos associativos,
como os grupos de trabalho, os sindicatos, as associações e os conselhos,
entre outros, para fortalecer a área” (PINHEIRO, 2018, p. 281).
O trabalho incansável das associações de bibliotecários dentre outros órgãos
de classe justifica a renovação constante dos membros que formam as
comissões gestoras. Isso é praxe em quaisquer instituições, sobretudo as
públicas, incluindo-se as autarquias pertencentes ao movimento associativo.
Nesse contexto, no final de 2017, fez-se necessária a formação de uma nova
gestão para conduzir os trabalhos da ABMG, no decorrer dos próximos três
anos (gestão 2018 a 2020).
Assim, este relatório manifesta-se como uma produção técnica, elaborado por
membros da gestão 2018-2020, logo após a formação e vinculação dessa
gestão ao comando da ABMG. O objetivo do presente relatório é dar
transparência das ações ocorridas que possibilitaram a posse da atual
diretoria, como também servir como registro e memória que resguarde a
história da ABMG, ao longo dos tempos.
2 A FORMAÇÃO DE UMA CHAPA E O PROCESSO ELEITORAL
O processo eleitoral decorrido para vinculação de uma nova diretoria que
estará à frente dos trabalhos de uma associação profissional precisa ser
transparente e democrático como qualquer outro processo seletivo público. No
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caso das associações bibliotecárias do Brasil, cada uma dessas entidades
possuem seus estatutos, elaborados em consonância com o estatuto da
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB). A ABMG possui
o seu estatuto, e, portanto, as normas específicas que garantem a condução
do processo eleitoral precisam ser integralmente seguidas.
Conforme reza o estatuto da ABMG, nos últimos meses de uma gestão, faz-se
necessária a divulgação de que o processo eleitoral está aberto, o que
possibilita a formação de chapas, as quais apresentarão suas propostas e
serão submetidas a eleições, cujos eleitores são, tão somente, os profissionais
associados, no ano em questão. Consta no capítulo II, artigo 63 do citado
estatuto que:
[...] para as eleições será adotado o sistema de votação por chapas
contendo o nome dos candidatos a todos os postos eletivos. Parágrafo
único: as chapas completas serão registradas na ABMG até 15 (quinze)
dias antes da realização das eleições.
Dos votantes: poderão votar
todos os associados da ABMG que estão quites com suas obrigações
estatutárias [...] (ABMG, Estatuto, 2018a, não paginado).
Assim, em novembro de 2017, foi divulgada essa informação, no site da
ABMG, de que o processo eleitoral estava aberto, cabendo aos interessados,
enviar as informações dos membros a compor as chapas, como também o
plano de trabalho, decorridos trinta dias após a publicação do edital das
eleições. A figura 1 apresenta o post de divulgação.
Figura 1 - Divulgação da abertura do processo eleitoral
Fonte: ABMG (2018b).
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Decorrido o prazo para candidatura das chapas, houve, apenas, o interesse de
uma chapa, composta por sete profissionais. O quadro 1 expõe o nome desses
profissionais, as funções designadas como membros da diretoria da ABMG e
um breve currículo.
Quadro 1 - Composição da chapa da nova diretoria da ABMG – gestão 2018-2020
Nome do profissional
Cargo a
Breve currículo
ocupar
Maria Elizabeth de Oliveira da Presidenta
Graduada
em
Biblioteconomia.
Costa
Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da
UFMG
Cleide Aparecida Fernandes
Vice-presidenta Graduada
em
Biblioteconomia.
Bibliotecária na Biblioteca Pública de
Minas Gerais
Andrea Brandão
Conselho fiscal
Graduada
em
Biblioteconomia.
Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da
UFMG
Edcleyton Bruno Fernandes Tesoureiro
Graduado em Biblioteconomia. Atuante
da Silva
em bibliotecas públicas
Graciane Borges
Conselho fiscal
Graduada
em
Biblioteconomia.
Doutoranda em Gestão e Organização do
Conhecimento
Jorge Santa Anna
Secretário
Graduado
em
Biblioteconomia.
Bibliotecário atuante na prestação de
serviços e na docência
Maria Clea Borges
Diretora técnica Graduada em Biblioteconomia
Taciane Rodrigues
Conselho fiscal
Graduada em Biblioteconomia
Fonte: Dados do relatório (2018).
Assim, no final de dezembro de 2017, montou-se a comissão eleitoral, tendo
como membra organizadora a professora Dalgiza de Oliveira Andrade. Além da
divulgação dos nomes, foram disseminados os principais princípios e propostas
da presente chapa para a próxima gestão. Como princípios, citam-se:
transparência, ética, responsabilidade, respeito, dignidade e compromisso. Já
como proposta, a intenção é garantir o fortalecimento da ABMG, mediante um
conjunto de ações a envolver e integrar toda a classe bibliotecária, com o
intuito de oferecer capacitação profissional, fortalecendo, valorizando e
reconhecendo o potencial da Biblioteconomia. O quadro 2 apresenta algumas
ações colocadas como pontos urgentes a serem realizados pela chapa, ao
assumir a diretoria da ABMG.
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Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
Quadro 2 - Algumas ações emergentes propostas pela chapa para a nova gestão da ABMG
Ação
O que se pretende realizar?
Ampliação da oferta de cursos
Divulgação e execução de cursos de
capacitação
para
bibliotecários,
contemplando necessidades emergentes,
como: Atualização em Biblioteconomia,
MARC21,
RDA,
Metodologia
científica,
Preservação, Preparação para concursos,
dentre outros
Repaginação do site
Contratação de um novo servidor para
abrigar o site, como também, melhorias na
arquitetura informacional, visibilidade e na
navegação
Plano de marketing
Aumentar as atividades de divulgação, com
o uso de materiais de divulgação, além de
maior envolvimento nas divulgações com
uso das redes sociais da entidade: Facebook
e Instagram
Boletim e Revista da ABMG
Lançamento de um boletim informativo,
sobre notícias da Biblioteconomia e do
movimento associativo. Criação de uma
revista científica para publicação de temas
relacionados
à
área,
sobretudo
as
experiências profissionais
Eventos e projetos sociais
Realização de projetos sociais, concretizados
na forma de palestras, oficinas, mesas
redondas,
seminários,
dentre
outras
ocorrências, que garantam a integração dos
profissionais para troca de conhecimentos
Comissões e secretarias
Criação de comissões, as quais ficariam
responsáveis por atividades específicas,
possibilitando um trabalho de mais eficiência
e qualidade
Aumento do número de associados
Campanhas que incentivem as pessoas a se
associarem,
em
comunhão
com
as
campanhas e propostas elaboradas pela
FEBAB
Fonte: Dados do relatório (2018).
A respeito do papel de uma associação, haja vista fortalecer e integrar a classe
profissional, Santa Anna (2018) destaca que o compromisso é muito mais do
que político, pois envolve, também, a garantia dos princípios democráticos.
Constitui um compromisso árduo voltado, sobremaneira, às causas sociais,
tendo em vista desenvolver “[...] mecanismos para uso do conhecimento e
transformação
da
vida
dos
cidadãos,
proporcionando,
portanto,
o
desenvolvimento da sociedade” (SANTA ANNA, 2018, p. 265).
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Após divulgação da chapa, a eleição ocorreu no dia 28 de dezembro, cujos
associados puderam votar mediante um link de acesso enviado por e-mail.
Terminado os trabalhos de votação, com os resultados apurados, a nova
diretoria foi considerada como eleita. Com efeito, o próximo passo seria o
processo da posse, que seria realizado nos primeiros meses de 2018,
especificamente, no contexto das comemorações do dia do bibliotecário, a
ocorrer nas primeiras semanas de março.
3 SOLENIDADE DA NOVA GESTÃO: POSSE CELEBRATIVA E
OFICIAL
Em decorrência do dia do bibliotecário, a Escola de Ciência da Informação
(ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou a III Semana
do Bibliotecário (de 12 a 16 de março), evento destinado à classe, cujo
objetivo foi o de possibilitar um espaço de discussão acerca das possibilidades
de atuação dos bibliotecários enquanto mediadores do acesso, da busca e uso
da informação atrelada aos planos da Agenda 2030 da Organização das Nações
Unidas (ONU).
Considerando a parceria muito saudável entre ABMG e ECI, estabelecida na
gestão anterior, a atual diretoria considerou como muito válida a continuidade
dessa parceria. Sendo assim, decidiu que, na III Semana do Bibliotecário,
ocorreria um momento solene dedicado à atual diretoria. Assim, a intenção
era, nesse evento, realizar uma posse celebrativa, sendo que a posse oficial
aconteceria nas próximas semanas, em reunião da diretoria, na Sede da
ABMG, no centro de Belo Horizonte.
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Conforme a programação do evento, a posse celebrativa aconteceu no dia 14
de março, logo após palestra principal do dia, proferida pela presidenta da
FEBAB, a bibliotecária Adriana Ferrari. A figura 2 apresenta essa programação,
com destaque à posse da diretoria da ABMG.
Figura 2 - Programação da III Semana do Bibliotecário – posse da diretoria da ABMG
Fonte: Dados do relatório (2018).
No evento destinado à posse da diretoria, na palestra proferida pela presidenta
da FEBAB, discursou-se sobre o papel das bibliotecas na Agenda 2030, cujas
atividades dos bibliotecários precisam voltar-se para as causas sociais,
refletindo o compromisso dos bibliotecários com o desenvolvimento da
sociedade, com a melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a evolução
do planeta, como um todo.
Terminado esse momento, por volta das 21:00h, procedeu-se à formação da
mesa com os membros da atual diretoria, momento esse conduzido pela
servidora Eliedir Marcelina, que ocupou a função de mestra de cerimônia. Os
membros da diretoria foram chamados na seguinte ordem: presidenta, vicepresidenta, secretário, tesoureiro, diretoria técnica e conselho fiscal. A figura 3
demonstra a formação solene da mesa.
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Figura 3 - Posse celebrativa da nova diretoria da ABMG
Fonte: Dados do relatório (2018).
Após a formação da mesa, a palavra foi dirigida à presidenta, a fim de
discursar um pouco sobre a situação atual da ABMG, como também as
propostas a serem realizadas no decorrer dos três anos da nova gestão. No
discurso proferido, percebeu-se que a intenção é que a ABMG apresente-se
disponível para a classe, dialogando sobre eventuais problemas que permeiam
a atuação profissional, e, a partir desse diálogo, a diretoria formalizará planos
de cursos, que visem aprimorar o trabalho dos bibliotecários.
A nossa diretoria pretende unir esforços, congregando profissionais de todo o Estado de Minas
Gerais, convidando-os a se vincular à associação, como também oferecer cursos,
treinamentos, capacitações, palestras, encontros, dentre outros momentos que estimulem o
aprendizado em comum. Nossa diretoria comunga a ideia de que o objetivo de uma associação
é a capacitação dos profissionais, haja vista viabilizar o fortalecimento, reconhecimento,
valorização e desenvolvimento contínuo da Biblioteconomia, em nossa sociedade (Discurso
proferido pela presidenta da ABMG, no momento da posse celebrativa).
Além de proclamar esse discurso, a presidenta também aproveitou para expor
o plano de ação e as propostas que a atual diretoria pretende realizar ao longo
de sua gestão. Assim, demonstrou alguns projetos iniciados na gestão anterior
e que seriam continuados, visto que essa seria uma atitude mais democrática,
passível de render frutos a curto prazo e sem envolver gastos desnecessários.
Citam-se como ações em continuidade: repaginação do site, formação de
comissões, ampliação da oferta de cursos, parceria com instituições, como a
ECI, realização de eventos científicos, dentre outras.
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Outros projetos que são priorizados pela atual diretoria, segundo a presidenta,
é a construção do boletim informativo e da revista científica, de modo que as
experiências e pesquisas realizadas pelos bibliotecários em seus variados
contextos de atuação pudessem ser divulgadas em diversas instâncias, indo
muito além de Minas Gerais. A presidenta aproveita a oportunidade, antes de
finalizar o discurso, para reafirmar que a diretoria apoia a filosofia do trabalho
democrático e compartilhado. Assim, a classe bibliotecária pode participar das
atividades, opinando, avaliando, executando, dentre outras intervenções que
tendam a fortalecer a associação.
A ABMG não é da diretoria, não é minha, nem sua. Ela é de todos nós, de Minas Gerais.
Portanto, convido todos a virem participar de nossos projetos, a estarem em constante diálogo
conosco, a se associarem, enfim, a entidade está de portas abertas e, certamente, somente
realizaremos um trabalho de qualidade com a participação conjunta, integrada e recíproca de
toda a classe (Discurso proferido pela presidenta da ABMG, no momento da posse celebrativa).
A fim de finalizar o discurso, a presidenta agradeceu a parceria firmada entre a
associação e a ECI, reforçando que essa parceria precisa ser mantida, seja no
uso dos espaços físicos para os eventos, como também o auxílio dos
professores quanto à oferta dos cursos e demais eventos. A figura 4 ilustra
alguns membros da diretoria com professores da ECI.
Figura 4 - Parceira entre a ABMG e a ECI
Fonte: Dados do relatório (2018).
O discurso da presidenta foi finalizado com calorosos aplausos, sendo
procedido pelo discurso da coordenadora do processo eleitoral. A coordenadora
mencionou que o processo eleitoral foi realizado com ética, possibilitando a
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legitimação da posse da atual diretoria. Reforçou que todos os membros são
muito bem-vindos, visto que eles são profissionais atuantes na área de
Biblioteconomia e que, por certo, farão um trabalho árduo na entidade.
Finalizou o discurso, confirmando que a atual diretoria, a partir daquele
momento, estava empossada e que o processo eleitoral, portanto, finalizado.
A solenidade de posse celebrativa foi finalizada com uma confraternização
entre todos os presentes, com destaque os membros da diretoria da ABMG e
os servidores e professores da ECI, além de bibliotecários que estavam
presentes no evento (figura 5).
Figura 5 - Encerramento da posse celebrativa – confraternização
Fonte: Dados do relatório (2018).
A posse celebrativa foi abrilhantada por um clima de humanização, algo muito
saudável, pois, além de descontrair os presentes, possibilita a ampliação do
diálogo, troca de experiências e parcerias. Acerca dessas comemorações,
acreditamos que elas são eventos muito importantes, não apenas, como
formas de interação, mas como momento de comunicar o conhecimento
produzido pela área. Desse modo, “[...] as associações, comissões, grupos e
redes de bibliotecários especializados motivam os profissionais à participação,
à
capacitação
e
ao
trabalho
corporativo
e
colaborativo
para
maior
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desenvolvimento da comunicação científica na área [...]” (MOVIMENTO
ASSOCIATIVO, 2018, p. 4).
Finalizada a posse celebrativa, no dia 28 de março de 2018, realizou-se a
posse oficial, em reunião ordinária (primeira reunião da atual diretoria,
considerando o calendário de reuniões proposto para o ano corrente). A
princípio, esse momento oportunizou maior afinidade entre os membros.
Também foram discutidos os projetos e ações a ser executados no decorrer do
ano de 2018, cujas primeiras atividades a serem realizadas estão listadas no
quadro 3.
Quadro 3 - Atividades primordiais a serem realizadas pela atual diretoria
Cronograma de reuniões
Foi definido que a cada mês aconteceria uma
reunião, sempre nas segundas-feiras, mas que
outras reuniões poderiam ocorrer. O secretário ficou
responsável por realizar os comunicados
Formação de comissões
Para a próxima reunião, cada um apresentaria uma
proposta de trabalho a ser realizada, e seriam
formadas comissões para execução
Registro em cartório da atual diretoria No decorrer do próximo mês, a presidenta e vicepresidenta procederiam ao registro da chapa em um
cartório de Belo Horizonte
Curso preparatório para concurso
A comissão organizadora desse curso elaboraria, nos
próximos dias, o programa desse curso
Plano de curso
Na próxima reunião, os cursos seriam definidos,
como também um possível plano de execução dos
mesmos seria estabelecido
Boletim da ABMG
Formação de uma equipe para colocar o boletim em
atividade, visto que a primeira edição dele já estava
montada, precisando, apenas, de acabamentos e
pequenos ajustes
Fonte: Dados do relatório (2018).
Além dos assuntos constantes no quadro 3, foram debatidos outras ideias
inovadoras, tais como a criação de programas culturais, como viagens e
excursões por cidades históricas do Brasil, além da criação da revista científica,
que muito iria contribuir com a visibilidade do trabalho dos profissionais.
Também se mencionou o desejo de se realizar um evento de bibliotecários
mineiros, ou um evento com temática específica, como Bibliotecas dos Polos
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da Educação a Distância, por exemplo. Decorridas três horas de reunião, os
trabalhos foram encerrados, com uma pequena confraternização.
4 ABMG: NOVOS HORIZONTES E EXPECTATIVAS
Com a posse da atual diretoria, espera-se que o trabalho realizado pelas
gestões anteriores seja continuado, fortalecendo, cada vez mais, a profissão
bibliotecária em Minas Gerais. As propostas de trabalho da atual diretoria
vislumbram
inúmeras
contribuições,
em
especial,
no
que
tange
ao
aperfeiçoamento dos profissionais, além da busca por novos associados e
parcerias, tendo em vista fomentar um trabalho bibliotecário que preze pela
colaboração, integração e pelo auxílio mútuo.
O modo com que o processo eleitoral foi conduzido e as atividades que
permearam a posse, sobretudo a celebrativa, demonstram a seriedade e
comprometimento da atual diretoria, cujas expectativas são esperançosas
rumo a uma sociedade que valorize mais o potencial da classe bibliotecária.
Além disso, entende-se que a união de esforços é um dos pontos fortes do
trabalho a ser exercido pela atual diretoria. Nesse aspecto, é importante
considerar, como muito bem pontuaram Lanna e Badke, em 1985, que “[...] a
união, a agregação, a luta por um ideal comum não é nada mais do que o
engajamento no trabalho associativo, o comprometimento social e político de
cada um [...]” (LANNA; BADKE, 1985, p. 85).
O desejo futuro é que a ABMG não seja um espaço institucional fechado ou
estático, mas, sobretudo, um espaço acolhedor que, por meio da participação,
os próprios profissionais se beneficiem dando e recebendo contribuições.
Ademais, reforça-se que a atual diretoria tem a expectativa de transcender o
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papel atribuído às associações, se tornando espaços das possibilidades e das
oportunidades, além de instigarem novos valores “[...] que agreguem
importância às profissões, às pessoas e ao papel profissional enquanto sujeito
social e coletivo que contribui para o desenvolvimento regional e do país”
(MARTINS; TOMASI, 2018, p. 283).
Embora as propostas de ação sejam muito válidas para garantia do
fortalecimento e aperfeiçoamento dos profissionais, outra expectativa é o
investimento nos projetos sociais, de modo que a Biblioteconomia seja
reconhecida como uma profissão que contribui com a sociedade, com o bemestar e qualidade de vida das pessoas, dos cidadãos. Esse desejo almejado é
algo necessário, a partir das novas tendências da sociedade contemporânea,
que preza pela garantia dos direitos humanos e sociais.
Outra contribuição que também se destaca no trabalho a ser realizado pela
diretoria empossada é o benefício que bibliotecários bem treinados e
capacitados poderão promover às organizações. Desse modo, o profissional
terá seu lugar garantido no mercado de trabalho, por conseguinte, será mais
reconhecido e valorizado por outras profissões e também pelos agentes
governamentais.
Por fim, as expectativas são muitas e, certamente, para serem atendidas,
demandarão de muitos esforços, empenho, coragem e sacrifício da atual
diretoria. Somam-se a isso, os obstáculo e desafios que também não deixarão
de se manifestar, como escassez de recursos, políticas inconsistentes, dentre
outros. Mas, de qualquer forma, o amor pelo que se faz e a força de vontade
representam a solução para qualquer dificuldade. Que muito sucesso permeie
o caminho da ABMG e que Deus esteja nos protegendo!
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REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). ABMG torna
público o processo de eleição. 2018b. Disponível em:
http://abmg.org.br/2017/11/abmg-torna-publico-processo-de-eleicao/. Acesso
em: 15 dez. 2018.
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). Estatuto.
Belo Horizonte: ABMG, 2018a.
LANNA, Rosa Maria de Sousa; BADKE, Todêska. Associações de bibliotecários:
um estudo comparativo. Revista Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação, Belo Horizonte, v. 18, n. 3, dez. 1985.
MARTINS, Andrea de Paula Brandão; TOMASI, Aurea Regina Guimarães.
Participação no movimento associativo: Associação de Bibliotecários de Minas
Gerais e o seu grande desafio. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton
Bruno Fernandes da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.).
Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da cidadania.
Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 283-303.
MOVIMENTO ASSOCIATIVO DE BIBLIOTECÁRIOS NA COMUNICAÇÃO
CIENTÍFICA BRASILEIRA. 2018. Disponível em:
http://sisconev.com.br/uploads/cbbd15/trab14400193820150330_000000.pdf.
Acesso em: 15 dez. 2018.
PINHEIRO, Álamo Chaves de Oliveira. Vivências e práticas no âmbito do
Conselho Regional de Biblioteconomia. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA,
Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.).
Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da cidadania.
Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 268-282.
SANTA ANNA, Jorge. Por uma sociedade mais justa e igualitária: o papel do
movimento bibliotecário na democratização do conhecimento. In: SANTA
ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria Elizabeth
de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para
construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 255-267.
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SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Professor e consultor em trabalhos acadêmicos e
científicos. Conselheiro
Discente.
Administra
editorial da Revista
a
gestão
de
Pró-
secretaria
e
assuntos administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa: Bibliotecária
do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Doutoranda em
Gestão e Organização do Conhecimento, investigando
o papel das bibliotecas para melhoria da educação a
distância, no Brasil. Ocupa o cargo de presidenta da
atual diretoria da ABMG.
E-mail: mabethcosta@gmail.com.br
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ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
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A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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ABMG: nova gestão
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
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Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Associação de Bibliotecário
Diretoria
Description
An account of the resource
Este relatório manifesta-se como uma produção técnica, elaborado por membros da gestão 2018-2020, logo após a formação e vinculação dessa gestão ao comando da ABMG. O objetivo do presente relatório é dar transparência das ações ocorridas que possibilitaram a posse da atual diretoria, como também servir como registro e memória que resguarde a história da ABMG, ao longo dos tempos
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A related resource from which the described resource is derived
Relatório de evento
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ABMG
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O
2019
ABMG EM EVENTOS
- ENCONTRO REGIONAL DOS
ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA
- CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
- ENCONTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
(Organizadores)
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ABMG EM EVENTOS
- ENCONTRO REGIONAL DOS ESTUDANTES DE
BIBLIOTECONOMIA
- CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAÇÃO
- ENCONTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO
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2018-2020
© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
ABMG EM EVENTOS: V ENCONTRO REGIONAL DOS ESTUDANTES DE
BIBLIOTECONOMIA, XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAÇÃO E XX ENCONTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Escopo do relatório: Ações e experiências quanto à representação da ABMG em eventos
científicos
Comissão organizadora: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Casa publicadora: ABMG
Local e data de realização do V Encontro Regional dos Estudantes de
Biblioteconomia: Belo Horizonte, de 13 a 18 de novembro de 2018
Local e data de realização do XXVIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação: Vitória, de 01 a 04 de outubro de 2019
Local e data de realização do XX Encontro de Pesquisa em Ciência da Informação:
Florianópolis, de 21 a 25 de outubro de 2019
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Endereço: Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício
Rotary, Sala 608
Site: www.abmg.org.br
E-mail: abmg.gestao21@gmail.com
Telefone: (31) 99959-4087
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
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2018-2020
SUMÁRIO
1 REPRESENTANDO A ABMG EM EVENTOS ............................................ 3
2 ATIVIDADES REALIZADAS NO ENCONTRO DOS ESTUDANTES............ 6
3
ATIVIDADES
REALIZADAS
NO
CONGRESSO
BRASILEIRO
DE
BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO ...............................................11
4 ATIVIDADES REALIZADAS NO ENCONTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO ................................................................................20
5 ABMG: ALÉM DAS INSTÂNCIAS DE MINAS GERAIS ...........................22
REFERÊNCIAS ......................................................................................24
SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA ...............................26
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1 REPRESENTANDO A ABMG EM EVENTOS
Os eventos científicos e profissionais correspondem a importantes canais de
comunicação da ciência, sendo eles muito utilizados nas diversas áreas do
conhecimento. O grande diferencial desses canais de comunicação deve-se à
capacidade de integrar as pessoas, promovendo um ambiente de trocas de
conhecimentos, realizadas face a face, o que estimula as práticas de
humanização.
Além dos eventos possibilitarem o contato entre pesquisadores e profissionais,
o que resulta em futuras parcerias ou colaborações, ação muito saudável para
o desenvolvimento científico e profissional, eles também exercem o papel de
divulgação e promoção. A participação em eventos locais ou mais abrangentes,
sejam eles caracterizados como fóruns, congressos, encontros, dentre outras
nomenclaturas, é uma alternativa muito válida que pode aumentar a
visibilidade de uma experiência, de um projeto, dentre outras ações.
Em muitas profissões, como na Biblioteconomia, por exemplo, é muito comum
ações, experiências ou projetos desenvolvidos por bibliotecários, sobretudo os
que atuam em regiões distantes dos grandes centros urbanos, não serem
conhecidos mundo afora, por falta de divulgação e socialização. Nesse
contexto, os eventos manifestam-se como “uma janela que se abre”, ou seja,
a atividade realizada pelo profissional
em um contexto micro tem a
possibilidade de ganhar maior repercussão, sendo replicada por outros colegas,
em outras realidades, ou até mesmo criticada, a ponto de ser melhorada.
É com esse entendimento que a Associação de Bibliotecários de Minas Gerais
(ABMG),
em
especial
na
participação/representação
gestão
em
2018-2020,
grandes
iniciou
eventos
um
trabalho
de
na
área
de
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Biblioteconomia/Ciência da Informação realizados, no Brasil. No decorrer dos
anos de 2018 e 2019, considerando que alguns eventos aconteceriam em
cidades não muito longes da sede da ABMG (cidade de Belo Horizonte), a
diretoria enviou representantes para esses eventos, haja vista apresentarem
as ações e projetos de destaque que vinham sendo desenvolvidas pela
entidade. Foi proferido em grupo de WhatsApp da diretoria da ABMG, acerca
dessa ideia:
Estamos com a proposta de enviar um ou dois membros da diretoria para fazerem presença
em alguns eventos importantes da Biblioteconomia. Recebemos, recentemente, convite da
organização do Encontro dos Estudantes, a montar um stand no evento. Além disso, também
achamos válido participar de outros eventos de renome na área, como o CBBD e o ENANCIB,
de modo que possamos dar visibilidade ao trabalho que estamos desenvolvendo, além de
captar novos associados e apoiadores. É possível que, ao expormos nossas experiências,
teremos sugestões de melhorias, soluções para nossos problemas, como também poderemos
ajudar outros profissionais, que poderão replicar nossas ações em outras realidades
(Mensagem postada por membro da diretoria em grupo de WhatsApp no dia 10 de agosto de
2018).
A partir dessa sugestão proposta por alguns membros da diretoria, foi
aprovada em reunião a importância e necessidade de a associação se fazer
presentes nos eventos. Definiu-se que, em 2018, a entidade estaria presente
no V Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia (EREBD). Já em
2019, a participação poderia ser realizada no XXVIII Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia e Documentação (CBBD) e no XX Encontro de Pesquisa em
Ciência da Informação (ENANCIB). O quadro 1 apresenta o escopo de cada um
desses eventos, como também a cidade onde foram realizados e a data em
que aconteceram.
Quadro 1 – Eventos com presença da ABMG
Nome do
Escopo
evento
V EREBD
Abrangência
Cidade de
realização
Data de
acontecime
nto
13 a 18 de
novembro de
2018
Evento de caráter científico, Regional
Belo
profissional e social que visa
Horizonte
promover
a
integração
de
estudantes
e
egressos
da
Graduação,
Pós-Graduação
e
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profissionais.
Possibilita
o
estreitamento das relações entre
as universidades que oferecem os
cursos em Ciência da Informação,
bem
como
a
difusão
do
conhecimento
e
experiências
ligadas a ele (EREBD, 2018)
XXVIII
Tem como objetivo discutir o
CBBD
estado da arte da Biblioteconomia
e da Ciência da Informação e
integrar os profissionais das
bibliotecas brasileiras de todas as
tipologias: escolares, públicas,
comunitárias,
universitárias
e
especializadas (CBBD, 2019)
XX
É o principal evento de pesquisa e
ENANCIB
de Pós-Graduação da área de
Ciência da Informação do Brasil e
visa discutir e refletir a produção
de conhecimento na área, de
modo a estimular, por meio de
amplo
diálogo
entre
os
pesquisadores que nela atuam, a
realidade dos programas de PósGraduação (ENANCIB, 2019)
Fonte: Dados do relatório (2019).
Nacional
Vitória
01 a 04 de
outubro
de
2019
Nacional
Florianópolis
21 a 25 de
outubro
de
2019
Assim, no final de 2018, a ABMG se fez presente no evento de estudantes, ao
passo que em 2019 participou do CBBD e do ENANCIB. No primeiro evento,
além da presença dos representantes da entidade e da montagem de um stand
específico, ela se fez presente, também, como apoiadora do evento. No CBBD,
a participação se firmou mediante convite da Federação Brasileira de
Associação de Bibliotecários (FEBAB), para compor o stand dessa federação. Já
no ENANCIB, a organização do evento convidou a associação a expor os livros
publicados pela Editora da ABMG.
Portanto, esta produção técnica relata as principais atividades realizadas com a
participação da ABMG nos três eventos mencionados. Além de relatar as
atividades, são descritos comentários que expressam o ponto de vista da
diretoria da ABMG, acerca do que se vivenciou nos eventos com a presença da
associação.
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ATIVIDADES
REALIZADAS
NO
ENCONTRO
DOS
ESTUDANTES
O evento de estudantes foi realizado ao longo de uma semana, com várias
atividades típicas de um evento científico, como: palestras, mesas redondas,
apresentações de trabalhos, oficinas, dentre outras. A ABMG iniciou a
montagem do stand no dia 13 de novembro, à medida que outras instituições
apoiadoras também apresentavam-se ao local. Os stands dos expositores
foram montados logo após a entrada principal da Escola de Ciência da
Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No dia 14 de novembro, pela manhã, antes da abertura do espaço das
exposições, ocorreu a mesa de abertura do evento, com diversas autoridades
presentes, estando a ABMG representada pelo secretário (figura 1).
Figura 1 – Mesa de abertura do EREBD com autoridades
Fonte: Dados do relatório (2019).
Em linhas gerais, o discurso das autoridades contemplou aspectos sobre a
importância
da
realização
desses
eventos
para
o
fortalecimento
da
Biblioteconomia e a integração entre os profissionais. Nos comentários do
representante da ABMG, foram mencionados agradecimentos pelo convite,
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como também parabéns aos organizadores, haja vista a importância dos
eventos para o desenvolvimento da ciência e da profissão.
O representante expôs algumas ações realizadas pela ABMG, destacando como
principais: a repaginação do site, a elaboração de ciclos de palestras, cursos de
capacitação, dentre outras. Acrescenta que a associação possui uma história
de sucesso em Minas Gerais e que esse legado precisa ser preservado, para
que não se perca, nas próximas gerações. Aproveitou, com esse comentário,
para convidar a todos a se associarem e a participarem, com mais intensidade,
dos projetos da ABMG e do movimento associativo, como um todo.
Após o momento solene de abertura do evento, o espaço dos expositores foi
aberto. No stand da ABMG foram disponibilizadas cadeiras para acomodação
dos expositores e dos visitantes. A mesa principal foi composta por materiais
de
divulgação,
como:
fôlderes
da entidade,
formulário impresso
para
cadastramento de associado, brindes diversos (porta-canetas, mouse pad,
adesivos, lista de presença, dentre outros). Ao lado da mesa, foram expostos
dois bânneres, contendo informações sobre a associação e o convite para
todos conhecerem, participarem e se associarem. Destaque ao bânner
descrevendo as ações realizadas pela ABMG, ao longo do ano, sendo
mencionadas como principais:
Curso Preparatório para Concurso Público: diz respeito à oferta de
aulas teóricas acerca dos assuntos cobrados em principais concursos
públicos de Biblioteconomia ocorridos, no Brasil;
Curso
Normalização
Bibliográfica:
capacita
os
cursistas
a
conhecerem as principais normas para trabalhos acadêmicos e como
praticar essas normas, haja vista padronizar os trabalhos escritos;
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Curso Português Acadêmico: oferece diversas técnicas e estratégias
para se construir, de modo mais adequado, um texto acadêmico,
conforme as normas gramaticais da Língua Portuguesa;
Planejamento da Revista da ABMG: conjunto de atividades que visam
estruturar o periódico da ABMG, bem como pensar na composição das
comissões editoriais;
Repaginação do site: contratação de um novo servidor para abrigar o
site, além de melhorias na arquitetura informacional do espaço;
Espaço do Associado: criação de um ambiente, no site, para
divulgação de produtos, serviços, textos diversos e demais artes
realizadas pelos associados;
Banco de talentos e empregos: compreende o desenvolvimento de
um banco de dados para encaminhamento de profissionais ao mercado
de trabalho.
A figura 2 apresenta o bânner contendo essas ações e o convite para todos
associarem-se e se envolverem com as comissões organizadoras desses
projetos.
Figura 2 – Bânner contendo algumas das ações da ABMG
Fonte: Dados do relatório (2019).
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Também foi afixado, em local próximo, cartazes sobre o lançamento de livros
que a Editora da ABMG estava desenvolvendo, evento a ocorrer em 20 de
dezembro de 2018. A figura 3 ilustra parte do espaço reservado à ABMG, em
momento de interação entre a equipe expositora e os congressistas.
Figura 3 – Espaço reservado à ABMG para atendimento aos visitantes
Fonte: Dados do relatório (2019).
As atividades no stand se estenderam no decorrer dos dias 14, 15 e 16, cuja
equipe de expositores foi composta por cinco membros da ABMG: Edcleyton
Fernandes, Graciane Borges, Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira da
Costa. Essa equipe se revezou ao longo dos dias, sendo concedida aos
integrantes uma camisa com estampa da ABMG para uso, como forma de
divulgação da entidade.
Dentre as atividades realizadas no stand, destacam-se: acolhimento aos
visitantes; apresentação da ABMG; entrega de brindes; registro dos visitantes
na lista de presença, com menção aos dados de contato; sorteios de brindes;
sorteio de bolsas em cursos; dentre outras.
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Nos três dias de exposição, contabilizou-se a presença de, aproximadamente,
55 pessoas, sendo 25 delas residentes no Estado de Minas Gerais. Todas essas
pessoas deixaram seus e-mails registrados na lista de presença, cujos
moradores de Minas Gerais tiveram o contato inserido na lista geral de
contatos da ABMG, que, no final de 2019, consta com um total de 300 contatos
cadastrados, os quais, certamente, recebem as mensagens divulgadas pela
entidade.
Portanto, entendemos que a participação da ABMG no EREBD foi benéfica,
visto que foram alcançadas algumas conquistas, sobretudo no que tange à
divulgação da entidade, a qual, na visão de muitos congressistas, não sabiam
da existência da associação em Minas. Acolher essas pessoas, dialogar com
elas e cadastrar o contato delas são formas humanizadas que as associações
encontram para romper o distanciamento entre a entidade e a classe
profissional.
Além da interação e troca de contatos e de conhecimentos, a ABMG conseguiu
duas inscrições de afiliação, além de pessoas que se interessaram em auxiliar
na execução dos projetos sociais e cursos a serem promovidos pela
associação, nos meses seguintes. Outro contributo dessa socialização é a
oportunidade de passar informação para essas pessoas, como também
aprender com elas. Um exemplo dessa troca de experiências é o relato de uma
estudante de Porto Alegre, que se mostrou interessada pela publicação dos
livros, mencionando que levaria a ideia para a Associação de Bibliotecários do
Rio Grande do Sul.
A respeito da contribuição oriunda da participação em eventos, em especial, no
que tange à visibilidade das ações, a atual diretoria confia muito nessa
estratégia. Segundo Barbosa, Sá e Santa Anna (2019, p. 220), os eventos vão
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muito além da apresentação de pesquisas, visto que se “[...] manifestam como
momentos oportunos para capacitação de profissionais, divulgação de produtos
e serviços, dentre outras possibilidades [...]”. Acerca da interação vivenciada
em um evento, dialogamos com Carmo e Prado (2005), quando reforçam que
os eventos são oportunidades de se conhecer novas pessoas, formar parcerias,
pensar em novos projetos, além de viabilizar a ampliação dos contatos
pessoais e profissionais.
3 ATIVIDADES REALIZADAS NO CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
Ao contrário do stand montado no EREBD, no CBBD, a participação da ABMG
se fez no stand dedicado à FEBAB. Essa instituição enviou comunicado
antecipado, acerca da participação daquela, em dia e horário pré-determinado,
dia 02 de outubro de 2019. Assim, a diretoria da ABMG delegou os membros
Jorge Santa Anna (secretário) e Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
(presidenta) à representação no citado congresso. Na semana anterior ao
evento, foram confeccionados materiais para exposição no stand, como:
impressão de livros publicados, bânneres sobre as ações da ABMG, formulário
para afiliação, brindes para distribuição.
Além das atividades a serem realizadas no stand da FEBAB, a presidenta da
associação foi convocada para reunião dos presidentes, seguida de uma
confraternização (jantar), no segundo dia do evento, no turno da noite. Outro
motivo que justifica o empenho da ABMG junto ao CBBD é a apresentação de
artigos, resultantes das experiências da entidade, nas modalidades pôster ou
comunicação oral. Ao todo, o evento contou com três publicações referentes às
atividades da associação, seguida de uma publicação na Revista da FEBAB,
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considerando que um desses trabalhos foi premiado como melhor trabalho do
GT 7 (Construção e Identidade Profissional); logo, foi enviado um texto mais
expandido para publicação na revista. O quadro 2 demonstra as características
desses trabalhos.
Quadro 2 – Trabalhos apresentados no CBBD referentes à ABMG
Título
Autores
Modalidade
de
Apresentação
Biblioteconomia
social
e Jorge Santa Anna, Maria Pôster
empreendedorismo
Elizabeth de Oliveira da
bibliotecário:
temas Costa e Edcleyton Bruno
emergentes para o século Fernandes da Silva
XXI
Ações
conjuntas
de Andreza Gonçalves Barbosa, Comunicação
bibliotecários
para
o Jéssica Patrícia Silva de Sá e Oral
fortalecimento
da Jorge Santa Anna
Biblioteconomia: um relato
de experiência
Participação do bibliotecário Andreza Gonçalves Barbosa,
na organização de eventos: Jéssica Patrícia Silva de Sá e
o caso do lançamento de Jorge Santa Anna
_____
livros da Associação de
Bibliotecários do Estado de
Minas Gerais
Fonte: Dados do relatório (2019).
Local de
publicação
Anais do CBBD
Anais do CBBD
Revista
Brasileira
de
Biblioteconomia
e
Documentação
Conforme exposto no quadro 2, percebe-se que os trabalhos foram escritos por
membros da diretoria e outros profissionais apoiadores da entidade. Também é
importante destacar que, todos os trabalhos manifestaram-se como relatos de
experiências acerca do desenvolvimento de duas coletâneas organizadas por
membros da diretoria e publicadas pela Editora da ABMG, no final de 2018 e
início de 2019. O livro sobre Biblioteconomia Social foi formado por 20
capítulos,
distribuídos
em
quatro
grandes
seções
e
o
livro
sobre
Empreendedorismo Bibliotecário conteve 18 capítulos, diluídos, também, em
quatro seções.
Ressalta-se que esses livros foram disponibilizados em acesso aberto, no site
da ABMG, e uma tiragem de dez exemplares cada obra foi elaborada, para fins
de apresentação e comercialização no CBBD e no ENANCIB. Esses resultados
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evidenciam que a organização e a publicação dessas coletâneas configuram-se
como uma das maiores conquistas da ABMG realizada pela gestão atual (20182020). Nas palavras de Santa Anna, Costa e Silva (2019, p. 6), acerca dos
temas das obras: “[...] a Biblioteconomia Social e o Empreendedorismo são
temas emergentes a serem explorados pelos bibliotecários, em seus variados
contextos de atuação, de modo a fortalecer o compromisso da área com o
desenvolvimento sustentável das nações [...]”.
No que se refere à importância em se conferir às associações o poder em
organizar e publicar livros, discute-se que:
Certamente, a organização e publicação dessas obras não é um trabalho isolado, mas
colaborativo e possibilita a divulgação da prática bibliotecária, além das bibliotecas. Além
disso, essas ações servem como estratégias de marketing e de fortalecimento, reconhecimento
e valorização da área pela sociedade. Esse momento não representa o fim, mas o despertar de
outras ações, desenvolvidas por outras instituições, instâncias e contextos. É uma conquista
dos profissionais, da área e da ABMG, que institui a sua editora (Informação verbal)1.
Assim, no primeiro dia do CBBD, seguindo a programação estabelecida pelo
evento, foi apresentado o manuscrito intitulado “Biblioteconomia social e
empreendedorismo bibliotecário: temas emergentes para o século XXI”. Em
virtude de indisponibilidade dos representantes da ABMG no evento, nesse dia,
o artigo foi apresentado por uma membra apoiadora e colaboradora da ABMG,
a doutoranda Andreza Gonçalves Barbosa2. Esse trabalho relatou o processo de
desenvolvimento e as características das obras, além de relacionar esse fazer
com o papel das associações para concretização da Agenda 2030.
O segundo trabalho também foi apresentado por Andreza Gonçalves Barbosa e
teve como principal objetivo relatar as atividades realizadas no evento de
1
Discurso proferido pelo secretário da ABMG, no dia 20 de dezembro de 2018, na mesa de
abertura do evento de lançamento dos livros.
2
Os autores e toda a equipe da diretoria expressam os sinceros agradecimentos à profissional
que, gentilmente, apresentou o trabalho.
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lançamento das obras, que ocorreu em 20 de dezembro de 2018, na ECI da
UFMG. Algumas semanas após o CBBD, os autores desse artigo receberam
comunicado de que o trabalho foi o melhor avaliado do GT 7, sendo premiado,
portanto, seria publicado na Revista da FEBAB, tendo os autores que enviar
uma versão ampliada do artigo, o que resultou no terceiro trabalho intitulado
“Participação do bibliotecário na organização de eventos: o caso do lançamento
de livros da Associação de Bibliotecários do Estado de Minas Gerais”.
No que se refere às atividades realizadas no stand da FEBAB, elas ocorreram
no dia 02 de outubro, das 12:00h às 13:30h. Nesse intervalo, o espaço foi
ornamentado com a exposição de três bânneres, descrevendo as ações e
projetos da ABMG e convidando as pessoas a se envolverem. A figura 4
demonstra esses materiais expositivos.
Figura 4 – Materiais expositivos sobre a ABMG
Fonte: Dados do relatório (2019).
Como se observa na figura 4, a ABMG, sobretudo no ano de 2019, tem se
apresentado como atuante, em favor do fortalecimento da classe bibliotecária,
em Minas Gerais. Isso porque diversos projetos sociais, como também cursos
de capacitação, vêm sendo realizados, de modo que os profissionais possam
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trocar experiências, haja vista enriquecer o aprendizado e, por conseguinte,
melhorar a atuação profissional. Dentre as principais atividades gerenciadas,
destacam-se:
Curso organização e manutenção de bibliotecas: é um curso
oferecido sob demanda, normalmente, direcionado a instituições que
desejam capacitar os colaboradores envolvidos com a preservação e
limpeza dos ambientes das bibliotecas;
Curso Metodologia Científica:
profissionais,
estudantes
e
tem
o objetivo de capacitar os
pesquisadores
à
prática
da
pesquisa,
demonstrando a forma de aplicação dos métodos de investigação, como
também, estimulando à habilidade de escrita e publicação;
Curso Organização de Bibliotecas - Visita do Ministério da
Educação: curso executado em parceria com bibliotecário especializado
nessa temática. O intuito é preparar os que atuam no ambiente
universitário, haja vista possibilitar uma avaliação satisfatória pelo MEC,
acerca do ensino oferecido para formação profissional;
Projeto Agenda 2030: projeto de cunho social, composto por um ciclo
de palestras, oficinas, mesas redondas, dentre outras atividades, de
modo a demonstrar o papel das bibliotecas para o desenvolvimento
sustentável das nações;
Conversando Sobre: constitui um projeto social de periodicidade
regular, que envolve a reunião de interessados para discutir um tema
específico;
Organização e
lançamento de livros:
compreende
o
trabalho
realizado pela Editora da ABMG, mediante o planejamento, organização e
publicação de livros, com temas ligados à Biblioteconomia e áreas
correlatas;
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Melhorias no site: atividades contínuas de repaginação, gestão de
conteúdo e melhoria do design do site, facilitando a navegação e acesso
aos serviços disponibilizados;
Planejamento
da
Revista
da
ABMG:
atividades
voltadas
ao
lançamento, no futuro, de um periódico da Biblioteconomia, gerenciado
pela Editora da ABMG.
As atividades listadas são apenas algumas, dentre as várias oferecidas. Em
virtude dessa variedade, os bânneres mencionam o convite das pessoas a se
associarem, ou se envolverem com as comissões para execução dos projetos
diversos que a entidade executa ou pretender executar em curto, médio ou
longo prazo. A disponibilização desses materiais foi benéfica, visto que facilitou
aos visitantes conhecerem as ações, de modo mais dinâmico e visual. Por meio
da figura 5, é possível observar os congressistas analisando os anúncios.
Figura 5 – Congressista oberva as ações da ABMG descrita em bânner
Fonte: Dados do relatório (2019).
Na mesa do stand foi disponibilizada a lista de presença, livros impressos para
divulgação e comercialização, fôlder e canetas, conforme apresenta a figura 6.
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Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
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Figura 6 – Membros da ABMG apresentando as ações da entidade
Fonte: Dados do relatório (2019).
Durante os 90 minutos que a ABMG esteve no stand apresentando suas ações,
contabilizou-se a presença de 20 pessoas, incluindo profissionais de diferentes
estados e atuantes de vários segmentos de mercado, a maioria em bibliotecas
escolares e universitárias de instituições públicas. Um dos maiores destaques
foi a apresentação dos livros, sendo quatro vendidos e dois de cada obra foram
sorteados, cujos ganhadores são residentes da cidade de Salvador/BA (figuras
7 e 8).
Figura 7 – Membros da diretoria com bibliotecária de Salvador
Fonte: Dados do relatório (2019).
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Figura 8 – Membros da diretoria com profissionais e professores de Teresina/PI
Fonte: Dados do relatório (2019).
A partir desses resultados, julgamos que a iniciativa foi satisfatória, visto que
possibilitou a troca de experiências entre profissionais, ou seja, ao mesmo
tempo em que ensinamos muito das nossas ações, aprendemos, também,
muito. Os livros, por exemplo, tiveram uma grande repercussão, cujos
professores de Teresina reforçaram a importância que as obras assumem e o
fato
triste
de
haver
poucas
publicações,
sobretudo
com
o
tema
da
Biblioteconomia Social. Segundo a professora que visitou o stand, a partir da
experiência da ABMG, ela estimulará a realização de eventos e da organização
de livros sobre esse tema, no contexto em que atua.
Novamente, salientamos a importância da interação que o evento promove aos
participantes. Daí, a participação das associações ou demais órgãos de classe é
de suma importância, principalmente, quando se vivencia tempos de crise
econômica, ou quando a área carece de políticas consistentes que assegurem a
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legitimação e o exercício da profissão na sociedade. Conforme proferido por
Santa Anna, Costa e Silva (2019, p. 6), as associações profissionais são
responsáveis com essa causa, o que evidencia a necessidade de articular os
bibliotecários nos estados e municípios brasileiros, “[...] a partir de eventos,
projetos e atividades inovadoras e mobilizadoras, incentivando à publicação
desses resultados, haja vista provocar maior visibilidade e reconhecimento por
parte da sociedade e dos próprios profissionais”.
Com o término das atividades no stand, a ABMG esteve representada,
também, na reunião dos presidentes das associações. Nessa reunião,
estiveram presentes o secretário, como apoio, e a presidenta, que prestou um
breve e conciso discurso acerca da situação atual da ABMG. Durante o
discurso, de aproximadamente, dez minutos, a presidenta apresentou os
desafios existentes e superados, os que ainda persistem e as conquistas
alcançadas, com destaque aos projetos sociais, cursos de capacitação
oferecidos e colaboração firmada com algumas instituições e profissionais.
[...] Semelhante ao que foi relatado pelos colegas das demais associações, a situação da
ABMG é muito parecida em alguns aspectos. Nos últimos anos, temos realizados muitas
atividades de sucesso, mas os desafios não deixam de existir, sobretudo com a escassez de
recursos, o que nos impede de realizar muitas atividades. [...] Como se percebe, temos
desafios e dificuldades, mas a atual diretoria tenta realizar um trabalho árduo, acreditando no
potencial da Biblioteconomia, e na tentativa de envolver toda a comunidade acadêmica e
profissional [...] (informação verbal)3.
Por fim, a participação da ABMG no CBBD foi encerrada, no encerramento do
evento, cuja presidenta compôs a mesa, ao lado de outras autoridades, a fim
de apresentar a mensagem final. Nessa ocasião, reforçou o papel da ABMG
3
Discurso proferido pela presidenta da ABMG, Maria Elizabeth de Oliveira da Costa, em reunião
dos presidentes das associações de bibliotecários, ocorrida no dia 03 de outubro de 2019, no
contexto do CBBD, na cidade de Vitória/ES.
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como entidade que ajuda a construir a história da Biblioteconomia em Minas
Gerais.
4 ATIVIDADES REALIZADAS NO ENCONTRO DE PESQUISA EM
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Em virtude de o ENANCIB configurar-se como um evento de cunho mais
acadêmico do que profissional, a participação da ABMG foi conduzida de modo
mais tímido, no comparativo com o CBBD. O estímulo à participação se deu à
medida que a entidade recebeu convite para apresentar e divulgar os dois
livros publicados no final de 2018, no decorrer desse evento.
Assim, em virtude de um dos membros da diretoria (o secretário) já ir ao
evento para apresentar os resultados preliminares de sua tese, ainda em
andamento, na forma de comunicação oral, aproveitou a oportunidade e
dedicou-se às atividades de divulgação das ações da ABMG, em um dia do
evento. Desse modo, no dia 22 de outubro, foi entregue na mesa de
exposição, os livros impressos Biblioteconomia Social e Empreendedorismo
Bibliotecário.
Nessa oportunidade, o secretário permaneceu ao lado do stand de livros,
durante toda a parte da tarde, conversando com pessoas que mostravam
interesse nos livros. Aproximadamente, no decorrer dessa tarde, dialogou-se
com quinze pessoas, a maioria estudantes de Pós-Graduação, em especial,
vinculados às universidades públicas dos estados da região Sul e Sudeste. Nas
discussões, o foco direcionou-se aos temas das obras, mas, em vários
momentos,
foi
reforçada
a
importância
das
associações
profissionais
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publicarem as vivências dos bibliotecários; e isso pode ser realizado por meio
do trabalho editorial da entidade.
Em um momento, um congressista relatou a dificuldade que existe em se
manter uma associação profissional, como também os desafios que permeiam
a gestão dos canais de comunicação, como os livros e os periódicos. Na opinião
desse sujeito, o problema maior não é a escassez de recursos financeiros,
mas, de recursos humanos, de mão de obra especializada, ou até mesmo, de
pessoas com boa vontade em ajudar ou estimular. Muitos problemas nas
publicações científicas estão relacionados ao próprio comportamento do ser
humano.
Concordamos com esse congressista, e salientamos que, em muitos casos,
podemos afirmar que os problemas que a classe enfrenta é consequência da
atitude dos próprios profissionais, visto a falta de empenho, engajamento e
audácia, rumo a uma sociedade que valorize mais o trabalho do bibliotecário. É
como afirmou Santa Anna (2018, p. 308), discursando que a questão não é
achar culpados para os problemas que permeiam o fortalecimento da área. O
que precisa ser feito é “[...] cada um assumir o seu compromisso, em
contribuir para garantir o reconhecimento e valorização por parte da
sociedade.
Acreditamos
que
é
por
meio
do
reconhecimento,
que
o
fortalecimento se consolidará”.
Outro congressista encantou-se com a ideia da publicação, mencionando que
pretende levar para seu Estado essa iniciativa a ser realizada pela associação
de bibliotecários. Nessa ocasião, solicitou mais detalhes de como a obra fora
idealizada, planejada e conduzida, para que os resultados fossem alcançados
em um período tão curto de tempo. O secretário relata os acontecimentos e se
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coloca à disposição para auxílios ou parcerias que possam ser necessárias e
saudáveis na realização de novos empreendimentos.
Nos demais dias do evento, o representante da ABMG passava no stand todos
os dias, permanecendo, em média, dez minutos, uma vez que precisava
participar da apresentação de outros trabalhos, para fins de aprendizado para
o desenvolvimento da tese. No último dia do evento, como os livros não foram
comercializados, a comissão do evento propôs a doação dele para um evento
que
ocorreria logo após o ENANCIB, o
I Seminário Internacional
de
Competência em Informação (SEICIn). Foi concedida essa doação, visto que
ela, certamente, seria uma estratégia de divulgar a associação e de contribuir
com o aprendizado de quem recebesse as obras.
5 ABMG: ALÉM DAS INSTÂNCIAS DE MINAS GERAIS
Ao finalizarmos este relatório, percebemos que bons frutos foram colhidos, a
partir da ideia de representar a ABMG em eventos relacionados à área de
Biblioteconomia/Ciência da Informação. Isso porque, como se notou, as
atividades realizadas promoveram a integração, a troca de contatos, de
experiências, o que constitui um trabalho recíproco de colaboração, atitude
necessária para se alcançar o fortalecimento de qualquer proposta.
Percebeu-se que as atividades se diferenciaram em cada um dos eventos,
considerando a peculiaridade de cada evento, como também a proposta do
serviço em si, com base no que tenha sido planejado, previamente, pela
equipe envolvida. Esse resultado demonstra a importância do planejamento e
da gestão, quando uma entidade pretende se fazer presente em um evento.
Desse modo, não basta apenas ir participar. É preciso, antes de tudo,
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estabelecer um plano, com objetivos claros, concretos e condizentes com as
atividades a serem executadas.
Dentre as atividades realizadas pela ABMG e socializadas nos três eventos, é
certo que a maior repercussão foi o lançamento dos livros. Isso reforça a
importância desse fazer, que, ao nosso ver, precisa ser inserido no dia a dia da
associação de bibliotecários. Ao executar atividades editoriais, as entidades
tornam-se editoras, embora com atividade secundária, mas realizando as
mesmas funções de organizar, planejar, avaliar, diagramar e publicar as
pesquisas e experiências dos profissionais em diferentes instâncias. Ao
disponibilizar os estudos, aumenta-se o número de profissionais que passam a
conhecer os trabalhos de sucesso de bibliotecários inseridos em diferentes
locais do imenso Brasil.
A experiência da ABMG, realizada no final de 2018 e ao longo de 2019, acerca
da participação da entidade em eventos, demonstra que essa é uma iniciativa
muito saudável, que pode ser replicada por outras associações brasileiras. É
provável que as associações ao se fazerem presentes nos eventos estarão
unindo esforços para fortalecimento da área e da profissão. Por conseguinte,
espera-se que haja maior valorização e reconhecimento por parte de outras
profissões e áreas e por parte da sociedade, como um todo.
A participação das associações em eventos é uma estratégia de romper o
isolamento
exagerado
que
permeia
muitas
realidades,
cujas
ações
bibliotecárias, muito bem pensadas, planejadas e executadas, acabam por
restringir-se a um contexto micro, o que resulta no engavetamento, ou ainda,
na “morte” desses projetos e ações. Algo que poderia ser divulgado mundo
afora - contribuindo com a vida de muita gente, ajudando bibliotecários a
solucionar muitos problemas ou a inovarem suas práticas, muitas das vezes,
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monótonas e vazias - acaba por não vingar, não se desenvolver, por falta de
visibilidade.
Por fim, as experiências aqui relatadas servem para mostrar a contribuição da
ABMG para o desenvolvimento da Biblioteconomia em Minas Gerais e também
no Brasil. Desejamos que a ABMG supere todos os desafios que enfrenta – e
que são inúmeros – e se fortaleça, rompendo, cada vez mais, as fronteiras
geográficas do estado de Minas Gerais.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Andreza Gonçalves; SÁ, Jéssica Patrícia Silva de; SANTA ANNA,
Jorge. Participação do bibliotecário na organização de eventos: o caso do
lançamento de livros da Associação de Bibliotecários do Estado de Minas
Gerais. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15,
2019. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1345/1181.
Acesso em: 15 dez. 2019.
CARMO, João dos Santos; PRADO, Paulo Sérgio Teixeira do. Apresentação de
trabalho em eventos científicos: comunicação oral e painéis. Interação em
Psicologia, v. 9, n. 1, p. 131-142, 2005. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3293/2637. Acesso em: 15 dez.
2019.
CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO (CBBD).
Desigualdade e democracia: qual o papel das bibliotecas? 2019. Disponível
em: https://www.cbbd2019.com/. Acesso em: 10 dez. 2019.
ENCONTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB). Sobre.
2019. Disponível em: http://www.enancib2019.ufsc.br/sobre/. Acesso em: 10
dez. 2019.
ENCONTRO REGIONAL DOS ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA (EREBD).
Sobre o EREBD. 2018. Disponível em:
http://www.erebdsecosul.com.br/belohorizonte2018/o-evento/sobre-o-erebdse-co-sul. Acesso em: 10 dez. 2019.
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SANTA ANNA, Jorge. Biblioteconomia social: o futuro em perspectiva. In:
SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria
Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos
para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 304-310.
SANTA ANNA, Jorge; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira; SILVA, Edcleyton
Bruno Fernandes da. Biblioteconomia social e empreendedorismo bibliotecário:
temas emergentes para o século XXI. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 28., 2019, Vitória. Anais [...]. Vitória:
FEBAB, 2019. p. 1-6. Disponível em:
https://portal.febab.org.br/anais/article/view/2099/2100. Acesso em: 15 dez.
2019.
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SOBRE OS AUTORES DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Professor e consultor em trabalhos acadêmicos e
científicos. Conselheiro editorial
da Revista Pró-
Discente.
de
Administra
a
gestão
secretaria
e
assuntos administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Maria Elizabeth de Oliveira da Costa: Bibliotecária
do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Doutoranda em
Gestão e Organização do Conhecimento, investigando
o papel das bibliotecas para melhoria da educação a
distância, no Brasil. Ocupa o cargo de presidenta da
atual diretoria da ABMG.
E-mail: mabethcosta@gmail.com.br
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
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A name given to the resource
ABMG em eventos
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An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
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Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
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A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
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Subject
The topic of the resource
Associação de Bibliotecários
Eventos científicos
Description
An account of the resource
Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia. Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação. Encontro de Pesquisa em Ciência da Informação
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A related resource from which the described resource is derived
Relatório de evento
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A language of the resource
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ABMG
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2018-2020
P
U
B
L
I
C
A
Ç
Ã
O
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL:
POSSÍVEIS CAMINHOS PARA
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
EMPREENDEDORISMO
BIBLIOTECÁRIO NA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO:
OUTROS CAMINHOS E
POSSIBILIDADES
D
E
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R
O
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EVENTO DE LANÇAMENTO
Jorge Santa Anna
(Organizador)
Belo Horizonte
Dezembro de 2019
2018
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PUBLICAÇÃO DE LIVROS
BIBLIOTECONOMIA SOCIAL: POSSÍVEIS CAMINHOS PARA
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
EMPREENDEDORISMO BIBLIOTECÁRIO NA SOCIEDADE
DA INFORMAÇÃO: OUTROS CAMINHOS E POSSIBILIDADES
EVENTO DE LANÇAMENTO
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© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
PUBLICAÇÃO DE LIVROS DA ABMG
Temas dos livros: Biblioteconomia Social e Empreendedorismo na Biblioteconomia
Comissão organizadora: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva e Maria
Elizabeth de Oliveira da Costa
Casa publicadora: ABMG
EVENTO DE LANÇAMENTO DOS LIVROS
Tema do evento de lançamento: Publicação de livros da ABMG – Evento de lançamento
Comissão organizadora do evento de lançamento: Andreza Gonçalves, Jéssica de Sá,
Jorge Santa Anna, Maria Elizabeth de Oliveira da Costa e Vinicius Alves
Local do evento: Escola de Ciência da Informação – Sala 1000
Data de realização: 20 de dezembro de 2018
Horário: 18:30 as 21:30 h
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
Endereço: Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - CEP: 30180-912. Edifício
Rotary, Sala 608
Site: www.abmg.org.br
E-mail: abmg.gestao21@gmail.com
Telefone: (31) 99959-4087
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SUMÁRIO
1 PUBLICAÇÃO DE LIVROS: O TRABALHO EDITORIAL DA ABMG ........... 3
2 O DESENVOLVIMENTO DAS PRIMEIRAS OBRAS ................................. 5
3 ESTRUTURA, ASSUNTOS ABORDADOS E AUTORES ENVOLVIDOS ....... 6
4 O EVENTO DE LANÇAMENTO .............................................................10
5 DISPONIBILIZAÇÃO PARA ACESSO ÀS OBRAS E PERSPECTIVAS
FUTURAS .............................................................................................15
REFERÊNCIAS ......................................................................................19
APÊNDICE A – ALGUMAS FOTOS DO EVENTO DE LANÇAMENTO ...........20
SOBRE O AUTOR DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA .....................................23
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�3
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1 PUBLICAÇÃO DE LIVROS: O TRABALHO EDITORIAL DA
ABMG
A Associação de Bibliotecário de Minas Gerais (ABMG), no decorrer da gestão
2018-2020, percebeu a importância da atividade de publicação de estudos
científicos, sejam eles com viés acadêmico ou meramente profissional. A
diretoria acredita que, é por meio das publicações, sejam elas no formato de
livro, artigo de periódico ou comunicações de evento, que a Biblioteconomia se
fortalece, ao promover a visibilidade do que é realizado pelos profissionais e
apoiadores da área.
Foi com essa crença que a diretoria instituiu, no ano de 2018, uma comissão
direcionada à atividade de publicação, provisoriamente denominada de Gestão
de Publicações, tendo à frente os membros que participam dos trabalhos da
Secretaria da ABMG. Inicialmente, o objetivo dessa comissão foi elaborar
produções ou relatórios técnicos, originados a partir dos diversos cursos e
eventos promovidos pela associação, de modo que esses materiais não tenham
o fim, apenas, de registro administrativo, mas também adquiram uma
visibilidade maior, mediante a disponibilização no site da ABMG ou em suas
redes sociais.
O sucesso alcançado com a elaboração desses relatórios possibilitou um passo
mais avançado e audacioso, mas de extrema necessidade, sobretudo no que
tange ao aumento da visibilidade do que a instituição vem realizando. Surge,
portanto, a ideia de se publicar um livro com um tema emergente e muito
defendido pela atual diretoria: a Biblioteconomia Social. Essa discussão iniciouse no grupo de WhatsApp da diretoria, em junho de 2018, convergindo a
necessidade de se publicar, também, outro tema de muita relevância, o
Empreendedorismo na Biblioteconomia.
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Com efeito, definiu-se a proposta de organização de duas coletâneas, trabalho
esse realizado em um período pouco mais de cinco meses, contando com a
participação de bibliotecários espalhados por vários estados brasileiros, com
destaque a Minas Gerais e Espírito Santo. Como se tratava de um novo tipo de
publicação, muito mais avançada do que os relatórios e produções técnicas,
fez-se necessária a solicitação do Número Internacional Padronizado de Livros,
o ISBN, junto à Biblioteca Nacional.
A partir desse importante acontecimento, é que nasceu a Editora da ABMG, ou
seja, para solicitação desses registros, a entidade realizou um cadastramento
junto ao Banco de Dados da Biblioteca Nacional, adquirindo status de editora,
cuja atividade editorial não seria sua atividade fim, mas atividade secundária.
Portanto, no decorrer do mês de dezembro de 2018, a Editora ABMG é
instituída, solenemente, sendo registrada com o prefixo editorial: 85259.
Nesse contexto, a associação assume mais um compromisso com a classe
bibliotecária, garantindo aos profissionais e pesquisadores da área ou de
campos similares, a oportunidade de terem os trabalhos publicados no formato
de livro, aumentando, dessa forma, a visibilidade da profissão. Essa é, sem
sombra de dúvida, uma das grandes conquistas da atual diretoria da ABMG, e
acreditamos que representa um “presente” para os profissionais, em especial,
por estimular o fortalecimento da Biblioteconomia/Ciência da Informação no
contexto científico, profissional e social.
Nesta produção técnica, apresentamos a publicação dos primeiros livros
editados pela ABMG. A editora espera que esses sejam o iniciar de muitos
outros projetos desenvolvidos não apenas por comissões gerenciadas pela
diretoria, mas por profissionais de todo o Brasil, em suas atividades
profissionais ou de pesquisa. Logo, todos são bem-vindos ao disponibilizarem
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suas experiências e estudos para publicação científica por meio da Editora da
ABMG. O trabalho editorial é contínuo, diversificado e democrático.
2 O DESENVOLVIMENTO DAS PRIMEIRAS OBRAS
O primeiro trabalho a ser compilado e publicado no formato de livro não foram
as coletâneas organizadas no final de 2018. Na verdade, o registro editorial foi
solicitado alguns meses antes desse empreendimento, em virtude do material
didático
pedagógico
elaborado
pela
comissão
organizadora
do
Curso
Preparatório para Concurso Público da UFMG – Cargo Bibliotecário, material
esse publicado no formato de livro, com ISBN 978-85-85259-00-6, sendo o
documento
disponibilizado
no
site
da
associação,
disponível
em:
<http://abmg.org.br/wp-content/uploads/2018/08/MATERIALDID%C3%81TICO-CURSO-PREPARAT%C3%93RIO.pdf>.
Alguns meses depois, colocamos à disposição da sociedade, duas novas obras,
no formato de coletânea, uma sobre o tema Biblioteconomia Social e outra
sobre
Empreendedorismo
na
Biblioteconomia,
cujos
títulos
são,
respectivamente, Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção
da cidadania e Empreendedorismo Bibliotecário na Sociedade da Informação:
outros caminhos e possibilidades. Os números de registros dessas obras foram
solicitados à Biblioteca Nacional, sendo gerados os seguintes códigos: 978-8585259-01-3 e 978-85-85259-02-0, respectivamente.
O objetivo de ambas as coletâneas foi o de viabilizar maior fortalecimento da
área de Biblioteconomia, e maior engajamento e compromisso com as causas
sociais e empreendedoras a serem assumidas por bibliotecários em todas as
instâncias e contextos do Brasil.
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A obra sobre Biblioteconomia Social apresenta temas e assuntos que
contemplam as intervenções que a área biblioteconômica pode oferecer para o
bem-estar da sociedade. Já a obra sobre Empreendedorismo apresenta
reflexões que contemplam aspectos relacionados às práticas inovadoras
realizadas por bibliotecários, as quais possibilitam a formação de novos
campos de atuação desse profissional na sociedade contemporânea. Ambos os
livros tiveram uma intenção mais profissional do que acadêmica e foram
elaborados
por
professores,
bibliotecários,
alunos
e
pesquisadores,
pertencentes a diversos estados brasileiros, como Minas Gerais, Espírito Santo,
Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina, Paraíba, Amazonas, Ceará e Alagoas.
3
ESTRUTURA,
ASSUNTOS
ABORDADOS
E
AUTORES
ENVOLVIDOS
A princípio, os livros foram planejados para publicação do tipo coletânea,
organizada pelos seguintes membros da ABMG: Jorge Santa Anna, Edcleyton
Bruno Fernandes da Silva e Maria Elizabeth de Oliveira da Costa e no formato
de e-book, não comercializável. No entanto, ao longo do desenvolvimento,
surgiu o convite, por parte de uma editora do mercado de Belo Horizonte, da
publicação impressa e comercializável. Assim, a versão eletrônica da ABMG foi
lançada no dia 20 de dezembro de 2018, sem disponibilização, ainda, para
acesso ao público. O acordo firmado com a editora foi o de publicar a versão
impressa até final de fevereiro de 2019. Assim, se essa proposta fosse
efetivada pela editora, a publicação eletrônica seria disponibilizada em acesso
aberto, apenas, a partir de meados de 2019.
O livro sobre Biblioteconomia Social foi formado por 20 capítulos, distribuídos
em quatro seções, a saber: seção 1 – Biblioteconomia Social: um fenômeno
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obscuro à realidade brasileira; seção 2 – Bibliotecas no fomento à leitura: o
poder transformador da leitura em diferentes contextos da sociedade; seção 3
– A Biblioteconomia em espaços e contextos de vulnerabilidade; e seção 4 –
Práticas bibliotecárias em face do movimento associativo. Além disso, o livro
também
possui
uma
introdução,
elaborada
pelos
organizadores,
uma
conclusão descrita por Jorge Santa Anna, e a obra foi prefaciada pela
bibliotecária Valéria Rodrigues de Oliveira Pozzatti, do Instituto Federal do
Espírito Santo.
Com o intuito de demonstrar os principais metadados da obra Biblioteconomia
Social, apresenta-se, por meio da figura 1, a ficha catalográfica, elaborada pela
bibliotecária Fátima Falci, da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais.
Figura 1 – Registro catalográfico do livro Biblioteconomia Social
Fonte: Santa Anna, Silva e Costa (2018a).
O livro Empreendedorismo Bibliotecário conteve um total de 18 capítulos, com
quatro seções, que são: seção 1 – Empreendedorismo e seus reflexos nas
profissões; seção 2 – Desinstitucionalização da Biblioteconomia; seção 3 –
Repensando a biblioteca e o bibliotecário; e seção 4 – As contribuições
bibliotecárias
inovadoras
e
incentivadoras
como
contribuição
para
o
profissional e para a sociedade. Além das seções, o livro apresenta introdução
e conclusão elaborada pelos organizadores e prefácio redigido pelo professor
Guilherme Alves, da Universidade Federal de Pernambuco.
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A figura 2 apresenta a ficha catalográfica do livro Empreendedorismo na
Biblioteconomia, registro esse elaborado, também, pela bibliotecária Fátima
Falci.
Figura 2 – Registro catalográfico da obra Empreendedorismo na Biblioteconomia
Fonte: Santa Anna, Silva e Costa (2018a).
No que se refere à composição dos autores dos capítulos, observou-se a
prevalência pela autoria múltipla, ou seja, poucos trabalhos foram escritos,
apenas, por um autor. Ambas as coletâneas reuniram um total de 52 autores,
distribuídos pelas regiões Sudeste, Sul, Norte e Nordeste, conforme apresenta
o gráfico 1.
Gráfico 1 – Número de autores por estados
Fonte: Dados do relatório (2019).
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Quanto à atuação profissional dos autores, ou seja, local em que atuavam ou
cargo que ocupavam no cenário da Biblioteconomia/Ciência da Informação, os
dados coletados ao longo do desenvolvimento das obras revelaram que a
maioria são estudantes de Pós-Graduação em Universidades Públicas, além de
autores
caracterizados
como
professores,
estudantes
de
Graduação
e
profissionais.
O
tema da Biblioteconomia
Social
é importante
porque
representa a
diversidade, já que está associado às questões sociais (SILVA, 2018). Além
disso, esse campo possibilita repensar a atuação profissional, além dos
padrões e normas, muito comum na área, de modo que “[...] o tecnicismo
exacerbado seja complementado pelas questões sociais, tornando a prática
bibliotecária mais abrangente e aproximada com a realidade social [...]”
(SANTA ANNA, 2018a, p. 21).
O empreendedorismo na Biblioteconomia é algo estimulador, haja vista o
descobrimento de novos nichos de atuação (SANTA ANNA, 2018b). Isso implica
que novas atividades sejam descobertas, aumentando o potencial dos
profissionais na resolução de problemas que permeiam o cotidiano da
sociedade. Por isso, empreender em Biblioteconomia é o mesmo que “pensar
fora da caixinha”, ou seja, descobrir novas oportunidades existentes fora do
recinto das bibliotecas (SPUDEIT; SILVA, 2018).
Após o recebimento dos capítulos enviados pelos autores, procedeu-se às
atividades de correção gramatical, normalização e diagramação, serviços esses
realizados pela Secretaria da ABMG. Antes, porém, de finalizar a diagramação,
com inserção das fichas catalográficas, fichas técnicas, dentre outros detalhes,
foi solicitada à empresa Norma Padrão, a confecção das capas das obras,
conforme demonstrado na figura 3.
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Figura 3 – Capas das obras confeccionadas pela empresa Norma Padrão
Fonte: Dados do relatório (2019).
Conforme idealizado pela comissão organizadora e devidamente apoiado pela
diretoria da ABMG, os livros foram lançados em um evento próprio, de modo
que possibilitasse um momento de interação e socialização de conhecimento
entre todos os participantes, com destaque os autores de cada capítulo.
4 O EVENTO DE LANÇAMENTO
No intuito de proporcionar maior visibilidade às obras, como também interação
entre todos os agentes envolvidos, sobretudo autores e membros da ABMG, foi
realizado o lançamento oficial, com um evento realizado no dia 20 de
dezembro de 2018, na Escola de Ciência da Informação da Universidade
Federal de Minas Gerais.
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O evento foi inserido no Projeto de Extensão da mesma universidade, com
título “Luz do Conhecimento” e contemplou o fechamento das atividades desse
projeto. Foi estabelecida uma comissão organizadora para o evento, composta
por: duas estudantes de Pós-Graduação (Andreza Gonçalves e Jéssica de Sá),
um estudante de Graduação (Vinicius Alves) e dois membros da comissão
organizadora, também membros da diretoria da ABMG (Jorge Santa Anna e
Maria Elizabeth Oliveira da Costa).
A comissão organizadora uniu esforços em planejar as atividades com
antecedência, investindo, principalmente, na elaboração da programação do
evento, como também nas atividades de divulgação. Para a divulgação, foram
elaborados fôlderes, convidando a comunidade em geral, sendo
esses
materiais disponibilizados nas redes sociais. A figura 4 ilustra os principais
materiais de divulgação.
Figura 4 – Materiais utilizados para divulgação nas redes sociais e demais canais de
comunicação
Fonte: Dados do relatório (2019).
A comissão organizadora, de forma estratégica, elaborou um grupo no
WhatsApp, inserindo os contatos dos autores, a fim de que cada um
registrasse o quantitativo de pessoas a participar da solenidade. Além de
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permitir a contagem dos participantes, o grupo também manifestou-se como
um canal de interação entre os participantes, de modo a propiciar a troca de
informações e mensagens de incentivo na concretização do evento e de outras
iniciativas dessa natureza que, porventura, possam vir a ocorrer.
O evento teve início, por volta das 19:00 h, com a entoação de músicas
natalinas. Contou com a participação de, aproximadamente, 100 pessoas,
envolvendo diferentes personalidades do meio acadêmico e profissional, tais
como: autoridades políticas da área, professores dos cursos da Escola de
Ciência da Informação e autores e seus convidados. Ademais, durante o
evento, ocorreu o lançamento de dois outros livros, um sobre documentos
históricos e outro sobre representação temática de conteúdos, com breve
discurso proferido pelos autores desses livros, em momento oportuno
concedido pela comissão organizadora do evento.
A mesa de abertura foi composta pelas autoridades: diretora da ECI,
presidente do CFB e CRB, diretora da ABMG, diretora da Biblioteca da ECI e
membro da comissão organizadora dos livros. Em linhas gerais, o discurso
desses membros contemplou aspectos da valorização em se publicitar textos
que versam sobre os temas das obras, como também agradecimentos a todos
que se envolveram com esse empreendimento.
Encerrada a mesa de abertura, iniciou-se o principal momento do evento, ou
seja, os autores de cada capítulo apresentaram, de forma breve, os assuntos
principais de seus artigos. Os trabalhos foram iniciados com as apresentações
dos capítulos do livro Biblioteconomia Social, cujos autores teriam um prazo
máximo de cinco minutos para discursar sobre os assuntos abordados e os
resultados alcançados com o estudo realizado.
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Dos 20 capítulos da obra, compareceram ao evento, autores de 12 capítulos. A
mediação esteve a cargo de um dos organizadores das coletâneas, Jorge Santa
Anna. Ao serem apresentados os capítulos da primeira seção, o trabalho de
Jorge Santa Anna é mencionado, a respeito dos conceitos de Biblioteconomia
Social na concepção de Jesse Shera; em seguida, o capítulo escrito por Sara
Suyane de Sousa Rodrigues, Laiana Ferreira de Sousa, Claudialyne da Silva
Araújo e Edcleyton Bruno Fernandes da Silva é explicitado por meio de vídeo
enviado pela autora principal, relatando a respeito da importância da contação
de história nas bibliotecas. Na seção dois do livro, destaca-se o trabalho de
Vinicius Alves sobre leitura e cidadania; Maria Aparecida de Mesquita Calmon e
Suelen de Oliveira Campos discorrem sobre a leitura em terminais de
transporte urbano; Rafael Rocha fala sobre a leitura e o letramento
informacional; Flávia Abreu destaca o perfil do leitor e sua formação como
papel do bibliotecário; Maria Elizabeth de Oliveira Costa e Taciane Gomes
Rodrigues destacam a criação de espaço de leitura em ambiente universitário.
Na seção três do livro, com trabalhos sobre a Biblioteconomia em contextos de
vulnerabilidade, o trabalho sobre práticas profissionais em presídios é
apresentado por Andreza Gonçalves Barbosa e Adriana Bogliolo Sirihal Duarte;
Paula Mariano e Tatiana Brandão discorreram sobre a construção da Sala
Braille na biblioteca pública de Lagoa Santa; Alessandra Soraya Gino Lima e
Gildete Santos Veloso discursaram sobre as atividades e projetos de inclusão
social realizados na Biblioteca Pública de Minas Gerais. Por fim, na última
seção, destinada aos movimentos associativos e órgãos de classe, Álamo
Chaves de Oliveira Pinheiro apresentou suas experiências vivenciadas no
âmago do Conselho Regional de Biblioteconomia e Andréa de Paula Brandão
Martins e Aurea Regina Guimarães Tomasi destacaram os desafios da
participação
no
movimento
associativo
com
menção
às
atividades
desenvolvidas pela ABMG, ao longo das últimas décadas.
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Concluída a apresentação desse livro, o mediador Edcleyton Bruno Fernandes
da Silva conduziu a exposição dos capítulos do livro sobre Empreendedorismo.
Dos 18 capítulos do livro, compareceram ao evento autores de 11 trabalhos.
Na primeira seção, com abordagem de conceitos e definições, foi apresentado
o
trabalho
de
Jorge
Santa
Anna,
sobre
a
transversalidade
do
empreendedorismo em todas as profissões e na sociedade em geral; seguiu-se
a
reflexão
a
respeito
do
potencial
do
empreendedorismo
na
prática
bibliotecária, discurso apresentado pelo autor Vinicius Alves. Na segunda parte,
Maria Aparecida de Mesquita Calmon e Suelen de Oliveira Campos expuseram
os resultados de estudo realizado com bibliotecários sobre as atividades
sociais, tais como ações culturais desenvolvidas em bibliotecas da cidade de
Vitória. A parte três é iniciada com as discussões sobre a nova Biblioteconomia
proposta por David Lankes, apresentação mediada por Emanuelle Ferreira; o
capítulo seguinte, de autoria de Rômulo Mansur Lauar Júnior, menciona a
necessidade de se pensar as bibliotecas como espaços de convívio; a
importância
da
formação
de
equipes
integradas
e
com
liderança
do
bibliotecário em bibliotecas universitárias é o tema do capítulo desenvolvido e
apresentado por Patrícia Maria de Melo. Por fim, na última seção, o foco esteve
nas práticas inovadoras realizadas em bibliotecas e outros contextos de
atuação bibliotecária: Beatriz Valadares Cendón e Maria Elizabeth de Oliveira
Costa
discorreram
informacional
sobre
programa
na universidade;
Marina
de
formação
para
Nogueira Ferraz
competência
apresentou um
trabalho, cujo tema principal são as pessoas, ou seja, a importância de o
bibliotecário valorizar os usuários que frequentam a unidade; em seguida, foi
apresentado o estudo sobre o papel das bibliotecas universitárias como
contributo para estágios de estudantes, trabalho apresentado por Maria
Elizabeth de Oliveira Costa, Rosemary Tofani Motta e Silvana Aparecida dos
Santos; a participação do bibliotecário na editoração de periódicos científicos é
o assunto do capítulo desenvolvido por Jorge Santa Anna; e, o capítulo que
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finaliza o livro é de autoria de Graciane Silva Bruzinga Borges, Mayara Silva
Gonçalves e Filipi Miranda Soares, cujo assunto principal é o bibliotecário como
microempreendedor independente.
Ao findar das apresentações, o evento é encerrado com um breve discurso de
agradecimentos por parte da presidenta da ABMG, como também é proferida a
mensagem final por Jorge Santa Anna, cujo discurso centrou-se na esperança
de que outras iniciativas dessa natureza sejam desenvolvidas em outros
contextos, de modo que a área da Biblioteconomia seja, cada vez mais,
divulgada, valorizada, reconhecida e interventiva, sobretudo em prol das
causas sociais.
Em virtude do clima festivo típico do mês de dezembro, o evento de
lançamento foi finalizado com uma confraternização, por meio da oferta de
doces e salgados para os participantes. Nesse momento, realizou-se o abraço
de Natal, ou seja, um momento de diálogo e alegrias, propiciando um clima
agradável, acolhedor, de muito carinho e humanizado. As atividades foram
encerradas às 22:00h, cuja comissão organizadora continuou no local, durante
os próximos 30 minutos, a fim de realizar a limpeza/arrumação do local, como
também solucionar as últimas pendências gerenciais.
5 DISPONIBILIZAÇÃO PARA ACESSO ÀS OBRAS E PERSPECTIVAS
FUTURAS
No que tange à disponibilização do livro em acesso aberto e sua publicação em
versão impressa, a equipe organizadora das obras ficou aguardando o
posicionamento da editora que ficou responsável em publicar a coletânea no
formato impresso e comercializável. Para não prejudicar os autores quanto ao
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registro no Currículo Lattes, a comissão enviou os metadados de cada capítulo
para os autores, de modo que pudessem inserir os registros no Lattes.
Em junho de 2019, a ABMG recebeu o comunicado da editora, de que não
realizaria a publicação no formato impresso, por motivos do alto número de
obras
que
ainda
estavam
em
processo
de
editoração.
Diante
desse
comunicado, de forma imediata, a Editora da ABMG disponibilizou ambos os
livros na aba “Publicações da ABMG”, no site da instituição. Por meio da
consulta a essa aba, é possível realizar o download das obras, de modo
gratuito, estando as obras em formato PDF. A figura 5 ilustra a plataforma de
publicação das obras.
Figura 5 – Disponibilização das obras no site da ABMG
Fonte: ABMG (2019).
Mesmo com a disponibilização das obras em acesso aberto, no site da
entidade, as atividades em prol dessas publicações ainda continuaram, no
decorrer do segundo semestre de 2019. Foram realizadas algumas campanhas
de divulgação das obras, por meio de avisos nas redes sociais. Além disso, a
Editora da ABMG, mediante autorização da diretoria, procedeu a uma primeira
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tiragem de exemplares impressos. Foram impressos um total de dez livros
cada obra. Esses exemplares foram levados para divulgação no XXVIII
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD), que ocorreu
em Vitória/ES, em setembro de 2019, sendo que alguns deles foram vendidos
a bibliotecários interessados.
Importante mencionar que a comissão organizadora do XX Encontro Nacional
de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), evento ocorrido em
Florianópolis, em outubro de 2019, convidou a Editora da ABMG a lançar os
livros no evento. Sendo assim, dois exemplares foram enviados para exposição
nesse evento, sendo eles doados como brindes para premiação em outro
evento realizado logo após o ENANCIB, o I Seminário Internacional de
Competência em Informação (SEICIn). Os exemplares impressos que restaram
estão sendo utilizados como sorteio de brindes nos cursos/eventos promovidos
pela ABMG, ou outros eventos que a entidade apoia, e novas tiragens podem
ocorrer, mediante serviço de encomenda.
Em suma, os resultados alcançados com essas atividades demonstram que
bons frutos estão sendo colhidos, em um curto período de tempo. Além da
exposição dos livros em dois importantes eventos da Biblioteconomia/Ciência
da Informação, até o momento, foram publicados três trabalhos, no formato
de artigo (relato de experiência): dois trabalhos foram publicados nos Anais do
XXVIII
CBBD 1
e
outro
na
Revista
Brasileira
de
Biblioteconomia
e
Documentação, na edição especial de 2019 (v. 15)2. Nesses trabalhos, foram
apresentadas as experiências com o desenvolvimento das obras e com o
evento de lançamento.
1
Disponíveis para acesso em: https://portal.febab.org.br/anais/issue/view/13/showToc
Artigo disponível para acesso em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/issue/view/92/showToc
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Outro resultado importante que tende a fortalecer o trabalho editorial da
ABMG, sobretudo com as publicações de livros, diz respeito às novas
demandas que chegaram, a partir dos bons frutos alcançados com a publicação
das primeiras coletâneas. Assim, nos primeiros meses de 2019, a Editora
recebeu o convite de duas alunas de Pós-Graduação a desenvolver dois novos
livros, com uma filosofia muito parecida com a experiência das obras
anteriores. Dessa vez, os livros que se encontram em desenvolvimento têm
como temáticas centrais: “Bibliotecário e as Redes Sociais” e “Mediação da
Informação
em
diferentes
contextos”.
A
previsão
de
lançamento
e
disponibilização das obras no site da ABMG é para meados de 2020. Com essas
publicações lançadas e com novas publicações, só nos resta DESEJAR VIDA
LONGA PARA A EDITORA DA ABMG.
Por fim, o mais importante é que o objetivo maior dessas ações tende a se
concretizar, ou seja, é provável que, ao se tornar público um estudo ou relato,
a
área
tenha
mais
visibilidade,
por
conseguinte,
mais
valorização,
reconhecimento e fortaleza. Como mencionou Santa Anna, Silva e Costa
(2018b, p. 291), precisamos “[...] fortalecer o potencial da área e garantir o
seu desenvolvimento ao longo dos tempos. Portanto, que possamos ser
criativos, inovadores, audaciosos e comprometidos. O futuro está em nossas
mãos!”.
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REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS (ABMG). Livros
publicados pela ABMG . 2019. Disponível em:
http://abmg.org.br/publicacoes-da-abmg/boletim-da-abmg/. Acesso em: 05
nov. 2019.
SANTA ANNA, Jorge. A transversalidade do empreendedorismo no contexto
atual. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA,
Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.). Empreendedorismo Bibliotecário na
Sociedade da Informação: outros caminhos e possibilidades. Belo
Horizonte: ABMG, 2018b. p. 19-31.
SANTA ANNA, Jorge. Biblioteconomia e sociedade: resgatando o pensamento
de Jesse Shera. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes
da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social:
possíveis caminhos para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG,
2018a. p. 14-22.
SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria
Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos
para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018a.
SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria
Elizabeth de Oliveira da (Org.). Empreendedorismo Bibliotecário na
Sociedade da Informação: outros caminhos e possibilidades. Belo
Horizonte: ABMG, 2018b.
SILVA, Jonathas Luiz Carvalho. Perspectivas sociais em biblioteconomia:
percepções e aplicações. In: SPUDEIT, Daniela Fernanda Assis de Oliveira;
MORAES, Marielle Barros de Moraes (Org.). Biblioteconomia social:
epistemologia transgressora para o Século XXI. São Paulo: ABECIN, 2018. p.
25-48.
SPUDEIT, Daniela; SILVA, Pollyana e. A contribuição do empreendedorismo
para visibilidade do bibliotecário no Brasil. Revista Brasileira de
Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. 3, p. 170-192, 2018. Disponível
em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1075/1059. Acesso em: 3
dez. 2019.
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira da Costa
Demais membros: Andrea Brandão, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Graciane Borges,
Jorge Santa Anna, Maria Clea Borges e Taciane Rodrigues
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2018-2020
APÊNDICE A – ALGUMAS FOTOS DO EVENTO DE
LANÇAMENTO
Ambientação – Músicas natalinas
Abertura do evento – Mesa de abertura com autoridades
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Apresentação dos capítulos pelos autores
Apresentação dos capítulos pelos autores
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Apresentação dos capítulos pelos autores
Receptividade a autores de outros estados
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SOBRE O AUTOR DESTA PRODUÇÃO TÉCNICA
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Professor e consultor em trabalhos acadêmicos e
científicos. Conselheiro editorial
da Revista Pró-
Discente.
de
Administra
a
gestão
secretaria
e
assuntos administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
ABMG como Editora
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
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An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Associação de Bibliotecários
Publicação de livros
Description
An account of the resource
Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da cidadania. Empreededorismo Bibliotecário na Sociedade da Informação: outros caminhos e possibilidades
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Relatório de evento
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A INFINITUDE DAS BIBLIOTECAS
As bibliotecas são instituições milenares que acompanham a humanidade ao longo dos tempos. Sua presença e permanência na
sociedade tem sido de fundamental importância para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, como também tem contribuído
para a evolução da ciência e da vida social. Sua contribuição é tamanha que não existem sociedades sem bibliotecas, como também
não existiria ciência, tecnologia e desenvolvimento como um todo, se não houvesse a presença das bibliotecas.
Mas, o que chama a atenção em relação às bibliotecas não diz respeito, tão somente, à importância delas para a humanidade.
Destaca-se, também, a capacidade adaptativa dessas unidades, visto que elas conseguem se adequar às diferentes tecnologias,
necessidades e contextos. Desde os tabletes de argila, na antiguidade, às ontologias e metadados da era digital, essas unidades vêm
se aperfeiçoando, com o intuito de garantir a preservação dos registros que materializam o conhecimento, permitindo, dessa forma,
favorecer o acesso e uso da informação contida nos mais diferenciados acervos documentários.
Essa reflexão traduz muito bem a profecia do bibliotecário argentino Jorge Luiz Borges, acerca da longevidade da biblioteca e a sua
capacidade em armazenar, organizar e sistematizar as coleções, tornando-se um labirinto de conhecimento, que abre infinitas
portas para os leitores, com diferentes caminhos a serem seguidos, conforme as necessidades desses sujeitos. As infinitas formas
de se construir conhecimento provocam a expansão dos acervos, o que requer recursos, técnicas, métodos e, principalmente,
profissionais habilitados para permitir que esse ambiente não se transforme na Biblioteca de Babel.
O discurso de Borges, talvez, teve uma concepção utópica e provavelmente, para muitos foi considerado como literário. Mas,
atualmente, acaba por ganhar novas reflexões, se aproximando da verdade, sobretudo com a chegada das tecnologias digitais. A
Biblioteca Digital representa a expansão infinita do acervo bibliográfico, rompendo as limitações de tempo e de espaço, que durante
séculos permeou a sociedade humana. Assim, a partir dos recursos digitais, a Biblioteca de Babel não representa uma metáfora no
sentido de desordem, mas a configuração ou redefinição da biblioteca, a qual se torna um ambiente pleno e infinito.
Com efeito, as bibliotecas de hoje e as de amanhã não deixarão de ter os mesmos objetivos e concepções do que sempre tiveram,
tampouco deixarão de existir, visto que a Biblioteca Digital acaba de ser a prova viva da permanência da biblioteca para os próximos
milênios, continuando a exercer sua função de transformadora das realidades sociais. Portanto, não há como não aceitar que:
sempre tivemos, ainda temos, e sempre teremos bibliotecas em nossas vidas, cada vez mais plena, completa e infinita! Que
possamos fazer bom uso e valorizar as bibliotecas e os bibliotecários de nossas sociedades!!
Espaço dedicado ao associado
Mande seu texto, sua arte, sua produção, seu
marketing para publicação neste espaço. Email: abmg.gestao21@gmail.com
Jorge Santa Anna é bibliotecário atuante no ramo da
prestação de serviços de orientação, escrita, normalização e
lecionamento em trabalhos e pesquisas acadêmicocientíficos. Associado da ABMG desde outubro de 2017.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Telefone: (27)99268-1527
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ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
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The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
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A infinitude das bibliotecas
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Jorge Santa Anna
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ABMG
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
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Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
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Subject
The topic of the resource
História das Bibliotecas
Evolução das Bibliotecas
Description
An account of the resource
As bibliotecas são instituições milenares que acompanham a humanidade ao longo dos tempos. Sua presença e permanência na sociedade tem sido de fundamental importância para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, como também tem contribuído para a evolução da ciência e da vida social. Sua contribuição é tamanha que não existem sociedades sem bibliotecas, como também não existiria ciência, tecnologia edesenvolvimento como um todo, se não houvesse a presença das bibliotecas.
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Relatório de divulgação
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
PROJETO
A
G
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D
A
A BIBLIOTECA PÚBLICA DE
LAGOA SANTA E A AGENDA
2030
Com Tatiana Brandão e Paula
Mariano
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RELATÓRIO EXPANDIDO
II
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T
O
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
Jorge Santa Anna
(Organizadores)
Belo Horizonte
Agosto de 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
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�ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
A BIBLIOTECA PÚBLICA DE LAGOA
SANTA
O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO FACILITADOR NO PROCESSO DE
INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL NA SOCIEDADE DA
INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO
Com Tatiana Brandão e Paula Mariano
RELATÓRIO EXPANDIDO
Belo Horizonte
ABMG
Agosto de 2019
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2018-2020
© 2019 Editora ABMG
- Este documento constitui uma produção técnica elaborada a partir dos eventos, projetos e
outras ações promovidas pelos membros da diretoria e demais colaboradores da ABMG.
- O documento ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita dos autores e da devida instituição.
PROJETO AGENDA 2030 EM MG – II EVENTO
Tema da edição: A biblioteca Pública de Lagoa Santa e a Agenda 2030: o papel do bibliotecário
como facilitador no processo de inclusão da pessoa com deficiência visual na sociedade da
informação e do conhecimento
Local do evento: sala 1000 da Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de
Minas Gerais. Campus Pampulha
Data de realização: 12 de agosto de 2019
Horário: 18:30 as 21:30 h
Comissão organizadora do evento
Presidentas do evento: Tatiana Soares Brandão e Paula Renata Mariano
Coordenadores: Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Monitoria: Equipe ABMG
Apoio: ECI/UFMG
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
REVISÃO TEXTUAL E NORMALIZAÇÃO ORTOGRÁFICA: Jorge Santa Anna
PROJETO GRÁFICO: Jorge Santa Anna
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS - ABMG
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SUMÁRIO
1 O PROJETO AGENDA 2030 EM MG: O PAPEL DAS BIBLIOTECAS ......... 3
2 SEGUNDO EVENTO DO AGENDA 2030: A BIBLIOTECA PÚBLICA DE
LAGOA SANTA E A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL.. 9
2.1 A BIBLIOTECA PÚBLICA DE LAGOA SANTA E A SALA BRAILLE ................13
2.2 A BIBLIOTECONOMIA SOCIAL AOS OLHOS DA BIBLIOTECA E DOS
BIBLIOTECÁRIOS ...................................................................................15
2.3 O PROJETO SALA BRAILLE .................................................................17
2.3.1 Desafios e conquistas que permeiam o Projeto ..........................18
3 A CONTRIBUIÇÃO DO SEGUNDO EVENTO E PERSPECTIVAS FUTURAS
...........................................................................................................21
REFERÊNCIAS ......................................................................................23
APÊNDICE
A
–
PROGRAMAÇÃO
DO
AGENDA
2030
–
SEGUNDO
SEMESTRE DE 2019 .............................................................................24
APÊNDICE B – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO II EVENTO ..................25
SOBRE OS AUTORES DO RELATÓRIO ...................................................26
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1
O
PROJETO
AGENDA
2030
EM
MG:
O
PAPEL
DAS
BIBLIOTECAS
Jorge Santa Anna
Os desafios enfrentados pela Biblioteconomia, ao longo dos tempos, têm
ocasionado inúmeras inquietações a diversos personagens envolvidos com a
área, seja na instância das escolas de formação ou no exercício profissional e
de pesquisa. É premente o discurso acerca da necessidade de se “reinventar”,
haja vista garantir o desenvolvimento e a consolidação dessa área de
conhecimento na sociedade, discurso esse
comungado por estudantes,
professores e profissionais de Biblioteconomia e áreas correlatas.
Esse discurso não é recente e tem se fortalecido ainda mais, com a chegada da
Sociedade da Informação e do Conhecimento, mergulhada em uma tendência
paradoxal ou dialética, mediante os conceitos de vivência x sobrevivência,
aperfeiçoamento x desaparecimento, evolução x extinção, dentre outros.
Evidentemente, não há como negar, em todas as profissões, a necessidade de
recorrer à criatividade e inovação, com o fim de romper essa dicotomia, por
meio da superação das ameaças, que precisam ser transformadas em
oportunidades.
As oportunidades somente serão alcançadas quando o fazer profissional
possibilitar
mudanças
concretas
que
agreguem
valor
para
pessoas,
organizações e instituições. Dessa forma, a contribuição profissional terá um
efeito mais direto no cotidiano da sociedade, o que possibilitará maior
reconhecimento e valorização, principalmente, por parte do Estado. É nesse
contexto, que precisam ser identificadas tendências emergentes para a atual
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2018-2020
sociedade do século XXI, e de que forma a prática bibliotecária poderá
contribuir com as novas demandas que surgem.
Não é preciso muito esforço para identificar temas emergentes que precisam
ser inseridos no cotidiano de bibliotecas e bibliotecários. Em instância
internacional,
por
exemplo,
tem-se
a
Agenda
2030
promovida
pela
Organização das Nações Unidas (ONU), a qual se desdobra em 17 objetivos
norteadores na construção de uma sociedade mais sustentável para as
próximas décadas. Com toda sorte para a área da Biblioteconomia, é que a
Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA)
aderiu tal projeto, elencando ações a serem realizadas pelas bibliotecas que
possam contribuir para o alcance desses objetivos.
Portanto, a adesão da IFLA se manifesta como uma oportunidade de
transformação para a Biblioteconomia, no atual século. É por isso que
acreditamos que a Biblioteconomia Social, um campo ou disciplina até então
obscuro aos olhos de muitos profissionais, pode ser considerada como um
tema emergente e que precisa ser inserido no fazer profissional, nesses novos
tempos. Não bastasse essa oportunidade surgida internacionalmente, no
contexto brasileiro, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários
(FEBAB) aderiu às ações propostas pela IFLA, o que pode representar um
mecanismo de ascensão para o campo da Biblioteconomia Social, no Brasil.
No entanto, conforme proferido pela própria ONU, e como já é de praxe em
qualquer movimento que vise a mudança, ela somente ocorrerá quando a
diferença for realizada nas instâncias locais, que provoque modificações no
cotidiano das pessoas e das instituições. Ou melhor, como política pública que
visa a erradicação da pobreza e garanta o desenvolvimento das nações, a
Agenda 2030 somente alcançará essa proposta quando os objetivos forem
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aderidos e transformados em atitudes práticas, sobretudo no âmbito local, com
envolvimento do Estado e das instituições, em especial na esfera municipal.
Em comunhão com as reflexões promovidas pelas instituições bibliotecárias de
cunho internacional e nacional, como a IFLA e a FEBAB, é que nasce o Projeto
Agenda 2030 em Minas Gerais: o papel das bibliotecas, cujo escopo principal
de abrangência é o Estado de Minas Gerais. O projeto pretende despertar o
envolvimento de toda classe bibliotecária, haja vista trazer à tona, práticas
inovadoras desenvolvidas por bibliotecários e bibliotecas que provoquem um
efeito benéfico na vivência das sociedades, por conseguinte, contribua com o
desenvolvimento humano e social.
O Projeto é gerenciado pela ABMG, cujo objetivo principal é fortalecer a
discussão, em instância local, acerca da contribuição desempenhada pelas
bibliotecas na garantia do desenvolvimento sustentável das nações. O projeto
envolve um ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas, dentre outros
eventos, com periodicidade não regular, e com temas relacionados à
contribuição das bibliotecas para o benefício das comunidades, haja vista a
construção de uma sociedade mais democrática, cidadã, igualitária e,
principalmente, inclusiva.
Projetado para se desenvolver ao longo dos meses de 2019, há pretensão de
se estender até o primeiro semestre de 2020. Esse desejo somente se
efetivará à medida que houver participação e aceitação por parte da classe
profissional. Portanto, a ABMG, ao longo do projeto, mediante estratégias de
identificação da satisfação e envolvimento dos profissionais, avaliará a
viabilidade (ou não) em estender o projeto para 2020.
O quadro 1 apresenta o detalhamento do citado projeto.
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Quadro 1 – Plano do Projeto Agenda 2030 em MG
Projeto Agenda 2030 em MG
Título oficial:
Projeto Agenda 2030 em MG: o papel das bibliotecas
Escopo:
Agenda 2030. Desenvolvimento Sustentável. Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável. Biblioteconomia Social.
Ações bibliotecárias inovadoras. Cidadania e democracia.
Políticas públicas. Sociedade inclusiva e igualitária
Objetivo geral:
Fortalecer a discussão, em instância local, acerca da
contribuição desempenhada pelas bibliotecas na garantia
do desenvolvimento sustentável das nações
Objetivos específicos:
1 – Ampliar o debate sobre o campo da Biblioteconomia
Social
2 – Aproximar profissionais e instituições para práticas
colaborativas e troca de conhecimentos e parcerias
3 – Despertar nos profissionais a necessidade da
inovação no fazer profissional
4 – Indicar possibilidades de aperfeiçoamento das
bibliotecas e campos de atuação bibliotecária
5 – Promover o debate acerca da inclusão social e o papel
das bibliotecas
6 – Encorajar profissionais para a mudança, criatividade e
engajamento
7 – Oportunizar o potencial, a visibilidade e o
reconhecimento do fazer bibliotecário para a sociedade,
em geral
Justificativa:
Manifesta-se como uma oportunidade de fortalecimento
da prática bibliotecária, sobretudo por demonstrar
projetos e ações inovadoras realizadas por bibliotecários
e bibliotecas mineiras, em vários contextos e instâncias
do Estado de Minas Gerais. Como consequência, além da
valorização e reconhecimento profissional, fortalece a
proposta da Agenda 2030, colocando o referido estado
em sintonia com instituições defensoras da profissão,
como Ifla e Febab
Principais ações desdobradas Ciclo de palestras, cursos, oficinas, mesas redondas,
dentre outros eventos
Público-alvo principal:
Estudantes, pesquisadores e profissionais que buscam o
fortalecimento da Biblioteconomia/Ciência da Informação,
na sociedade
Locais
prováveis
de Sede da ABMG, ECI/UFMG, dentre outros locais
ocorrência:
apoiadores
Periodicidade:
Não regular. Estará condicionada à demanda requerida
pelos profissionais
Tempo de execução:
Abril de 2019 a 05 de dezembro de 2019
Abertura oficial:
26 de junho, em paralelo com a III Edição do
Conversando Sobre
Encerramento
oficial
(se 05 de dezembro, em paralelo com o evento de entrega da
houver):
Medalha da ABMG
Prorrogação (se necessário): Até junho de 2020
Encerramento
oficial
(se 20 de junho de 2020, em paralelo com o lançamento dos
houver):
livros Mediação da Informação e O bibliotecário e as
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redes sociais
Desenvolvimento, publicação e lançamento dos livros:
Biblioteconomia Social e Empreendedorismo Bibliotecário,
no ano de 2018, pela ABMG
Coordenador
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Monitoria:
Raíssa Yuri Hamanaka, dentre outros interessados
Apoiadores:
ECI - UFMG
Alguns eventos previstos:
- Preservação da memória institucional (paralelo com a
III edição do Conversando Sobre)
- Biblioteca pública e a inclusão de pessoas com
necessidades visuais
- Clubes de leitura (paralelo com a IV edição do
Conversando Sobre)
- Biblioteca e formação do sujeito crítico
- Ações de marketing para uso da biblioteca (paralelo
com a V edição do Conversando Sobre)
- Acessibilidade em bibliotecas
- Inovação na Biblioteca Escolar
- Serviço de referência em bibliotecas (paralelo com a VI
edição do Conversando Sobre)
Fonte: ABMG. Plano do Projeto Agenda 2030 em MG (2019).
Gênese/origem:
Conforme exposto no quadro 1, percebe-se que o projeto foi planejado para
ser executado até o final de 2019, com possibilidade de ser prorrogado, até
meados de 2020, caso haja demanda e aceitação por parte da classe
bibliotecária e demais agentes apoiadores. Salienta-se, também, que o evento
intitulado Conversando Sobre (periodicidade bimestral) foi incorporado ao
Agenda 2030, sendo três edições realizadas em paralelo, no decorrer do ano
de 2019.
A respeito dos eventos, até o momento, foi realizada a palestra de abertura,
com o tema Preservação do patrimônio documental nas instituições: avanços e
desafios, ocorrida na ECI/UFMG, com presença da bibliotecária do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), no dia 26 de junho. Além
disso, foi definida uma agenda prévia, contendo o cronograma de eventos
(previstos e confirmados) para o segundo semestre de 2019, conforme consta
no apêndice A. Com efeito, no dia 12 de agosto de 2019, concretizou-se o
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segundo evento do projeto, também no formato de palestra, com exposições
de casos práticos, realizados pela Biblioteca Pública de Lagoa Santa.
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2 SEGUNDO EVENTO DO AGENDA 2030: A BIBLIOTECA
PÚBLICA DE LAGOA SANTA E A INCLUSÃO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA VISUAL
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
Jorge Santa Anna
O tema e as propostas do segundo evento do projeto Agenda 2030 em MG
foram pensados a partir dos resultados satisfatórios alcançados com o
desenvolvimento de um dos capítulos da obra Biblioteconomia Social: possíveis
caminhos para construção da cidadania, a partir do capítulo intitulado: O
essencial é invisível aos olhos. Nessa ocasião, as autoras Tatiana Soares
Brandão e Paula Renata Mariana discorreram, na forma de relato de
experiência, as contribuições oriundas de projeto para inclusão de pessoas com
necessidades visuais na Biblioteca de Lagoa Santa.
No evento de lançamento do citado livro, ocorrido em 20 de dezembro de
2018, as autoras apresentaram o capítulo, na forma oral, em um curto período
de tempo, haja vista as circunstâncias do evento de lançamento. Percebeu-se
o anseio dos participantes em conhecer mais essa iniciativa inovadora das
bibliotecárias, por conseguinte, planejou-se o evento intitulado A biblioteca
pública de Lagoa Santa e a Agenda 2030: o papel do bibliotecário como
facilitador no processo de inclusão da pessoa com deficiência visual na
sociedade da informação e do conhecimento.
Além da relevância do projeto de inclusão realizado pela Biblioteca de Lagoa
Santa, a escolha por esse tema para o segundo evento do Agenda 2030 em
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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MG deve-se ao fato da inclusão contemplar uma necessidade instituída por lei
e que, em muitos contextos, ainda não atende os requisitos legais, infringindo,
portanto, direitos humanos, haja vista garantir o alcance de uma sociedade
inclusiva.
O evento direcionado às ações de inclusão realizadas pela Biblioteca de Lagoa
Santa foi realizado no dia 12 de agosto de 2019, na sala 1000 da ECI/UFMG, e
teve como presidentas, as bibliotecárias Tatiana Soares Brandão e Paula
Renata Mariano. Os demais pormenores desse evento são apresentados no
quadro 2.
Quadro 2 – Concepção do segundo evento do Agenda 2030
Características principais do II evento
Nome do projeto de vinculação:
Agenda 2030 em MG: o papel das
bibliotecas
Número da edição do evento:
Segunda
Temática:
Inclusão das pessoas com necessidades
visuais na sociedade e a contribuição das
bibliotecas
Título:
A biblioteca pública de Lagoa Santa e a
Agenda 2030: o papel do bibliotecário como
facilitador no processo de inclusão da
pessoa com deficiência visual na sociedade
da informação e do conhecimento
Conteúdo programático
- A função social da Biblioteca Pública e o
papel do bibliotecário
- Agenda 2030: objetivos 3, 4, 8 e 10 na
Biblioteca Pública
- Uso de recursos de Tecnologia Assistiva na
promoção da inclusão social da pessoa com
deficiência visual
Público-alvo principal:
Estudantes, pesquisadores e profissionais
interessados pelas temáticas da inclusão e
acessibilidade em bibliotecas públicas,
dentre outros aspectos inerentes ao
desenvolvimento sustentável e o contributo
da Biblioteconomia/Ciência da Informação,
nesse contexto
Local, dia e horário de realização
Local de ocorrência:
Sala 1000 da ECI/UFMG – Campus
Pampulha
Dia:
12 de agosto de 2019
Horário:
Das 18:30 às 21:30 h
Comissão organizadora
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Presidentas:
Coordenação:
Monitoria:
Apoiadores:
Fonte: Dados do evento (2019).
Tatiana Soares Brandão e Paula Renata
Mariano
Jorge Santa Anna e Maria Elizabeth de
Oliveira Costa
Equipe ABMG
ECI/UFMG
Ao longo do evento, além dos relatos acerca da criação do espaço destinado às
pessoas com necessidades visuais, muito foi enfatizado acerca da importância
de envolvimento do bibliotecário nessas ações de inovação. Conforme
proferido pelas palestrantes, na sociedade da informação e do conhecimento, é
essencial que o profissional de Biblioteconomia busque proporcionar aos
leitores com deficiência a inclusão educacional, informacional e cultural para
alcançar os objetivos da Agenda 2030. Assim, deve-se assegurar a educação
inclusiva e equitativa de qualidade, promover oportunidades de aprendizagem
ao longo da vida para todos assegurando o acesso à informação de qualidade e
de maneira igualitária.
A garantia da inclusão para atendimento aos objetivos dos ODS é assegurada
pela Biblioteca de Lagoa Santa. O quadro 3 descreve como a Biblioteca Pública
de Lagoa Santa busca assegurar o cumprimento desses objetivos.
Quadro 3 – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a Biblioteca Pública de Lagoa Santa
OBJETIVO 3
Na Biblioteca Pública de Lagoa, as pessoas com deficiência
Assegurar uma vida saudável visual atendidas, que antes viviam reclusas e isoladas em
e promover o bem-estar para suas casas, afastadas de atividades sociais, alguns em
todos, em todas as idades
depressão, sem opções de lazer, hoje contam com um espaço
adequado para promover encontros semanais, inserindo-se
em um ambiente coletivo; elas não estão mais sozinhas; têm
uma vida mais ativa e saudável.
OBJETIVO 4
A Biblioteca Pública de Lagoa Santa oferece além de livros
Assegurar
a
educação acessíveis, oficinas de inclusão digital para pessoas com
inclusiva e equitativa de deficiência visual e capacita o grupo para utilizar algumas
qualidade
e
promover ferramentas de tecnologia assistiva. Antes de frequentar o
oportunidades
de projeto, nenhum integrante do grupo sabia utilizar
aprendizagem ao longo da
computador; hoje, os usuários acessam a internet para fazer
vida para todos
pesquisas de assuntos diversos, para ampliarem seus
conhecimentos. Atualmente, eles possuem mais autonomia;
podem usar e sabem usar o computador de forma
independente.
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OBJETIVO 8
Promover
o
crescimento
econômico
sustentado,
inclusivo
e
sustentável,
emprego pleno e produtivo e
trabalho decente para todos
OBJETIVO 10
Reduzir
a
desigualdade
dentro dos países e entre eles
OBJETIVO 16
Promover
sociedades
pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável;
proporcionar o acesso à
justiça para todos e construir
instituições
eficazes,
responsáveis e inclusivas em
todos os níveis
Fonte: Global taskforce (2019).
Ao terem o acesso à informação e serem capacitados, os
frequentadores dos projetos são colocados em igualdade de
condições com as outras pessoas na busca de colocação no
mercado de trabalho. Antes, a probabilidade de eles
conseguirem emprego era nula, tanto por não terem
formação quanto por não conhecerem seus direitos e as leis
que regulamentam a colocação obrigatória do deficiente
dentro de empresas privadas e instituições públicas. Alguns
estão trabalhando, outros se preparando para inserção no
mercado de trabalho, seja no setor público (concursos) ou
empresa privada.
Ao incluir as pessoas com deficiência visual na sociedade,
tanto por meio do conhecimento como interação social, o
Projeto contribui para reduzir a desigualdade social. Desse
grupo que se encontra em situação muito vulnerável em
todos os aspectos, especialmente econômica, alguns não
tinham nenhuma renda, viviam de doações da comunidade,
recebiam apenas cestas básicas de organizações não
governamentais. Após o Projeto, eles tiverem acesso aos
benefícios do governo, sendo inscritos nos programas sociais
disponíveis.
A Biblioteca Pública de Lagoa Santa adequou seu espaço,
serviços e os profissionais se capacitaram para atender as
pessoas com deficiência visual.
A partir do quadro 3, nota-se que, dentre os 17 ODS propostos na Agenda
2030 da ONU, a Biblioteca Pública de Lagoa Santa vem comungando desses
objetivos, concretizando ações que atendam aos objetivos de número 3, 4, 8,
10 e 16. Essas ações estão vinculadas, principalmente, ao projeto de
desenvolvimento da Sala Braille, cujo intuito é assegurar um espaço de
atividades para as pessoas com deficiência visual dessa cidade.
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2.1 A BIBLIOTECA PÚBLICA DE LAGOA SANTA E A SALA BRAILLE
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
A Biblioteca Pública Municipal Padre Agenor de Assis Alves Pinto, localizada no
município de Lagoa Santa - uma das cidades que compõem a região
metropolitana de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais – está sediada em
um prédio de 4 andares, ocupando uma área geográfica de 192 m2, cujo
endereço é Rua Cecília Dolabela n. 25, centro.
A figura 1 apresenta a
estrutura externa da Biblioteca.
Figura 1 – Prédio da Biblioteca Pública de Lagoa Santa
Fonte: As palestrantes (2019).
Essa unidade de informação vem se destacando pelas ações de inclusão
desenvolvidas especialmente na Sala Braille. Tal setor é resultado do empenho
de sua equipe para ofertar livros acessíveis e serviços para as pessoas com
deficiência visual da cidade.
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Os recursos existentes na biblioteca e na prefeitura foram direcionados para o
Projeto Sala Braille, e recursos junto à iniciativa privada também foram
levantados.
Uma sala na biblioteca foi disponibilizada para abrigar o acervo
acessível e para receber as pessoas com deficiência. A figura 2 apresenta o
interior da sala, com destaque ao mobiliário, equipamentos eletrônicos e
acervo informacional para uso das pessoas com necessidades visuais.
Figura 2 – O espaço destinado à Sala Braille da Biblioteca
Fonte: As palestrantes (2019).
Além do empréstimo de livros acessíveis, são oferecidas diversas atividades
visando à inclusão social e à acessibilidade na biblioteca: sessões de cinema
com recurso acessível (audiodescrição), roda de leitura, inclusão digital para
pessoas com deficiência visual (Dosvox, NVDA e internet), oficina de iniciação
ao alfabeto braile e excursões a instituições culturais.
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2.2 A BIBLIOTECONOMIA SOCIAL AOS OLHOS DA BIBLIOTECA E
DOS BIBLIOTECÁRIOS
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
Atualmente, um dos maiores desafios dos bibliotecários diz respeito ao seu
papel como agente transformador na sociedade.
Por meio do enfoque
informacional e das mudanças ocorridas na sociedade, o profissional da
informação assume suas competências adotando e disseminando práticas
transformadoras na sociedade. O bibliotecário é, então, dentro da sua área de
atuação profissional, agente transformador da sociedade, uma vez que
contribui de maneira efetiva para uma formação social dos indivíduos,
disseminando a informação, sendo um facilitador no processo de construção do
conhecimento do indivíduo.
Nesse cenário, surge uma nova disciplina que confere um aspecto mais
humanizado à profissão: a Biblioteconomia Social. Acerca da relação dessa
disciplina com a área da Biblioteconomia, Santa Anna (2018, p. 21) discorre
que
a preocupação com o social precisa inserir-se no cotidiano dos
profissionais, como também deve fazer parte do fundamento teórico e
prático dessa ciência. A questão social, no âmbito da Biblioteconomia
contemporânea, perpassa por inúmeros contextos, sustentada por
projetos sociais inovadores e que não se limitam aos espaços físicos das
instituições, desde que objetive a construção da prática cidadã,
rumo a uma sociedade integralmente inclusiva. Assim, múltiplas
atividades podem ser pensadas com esse propósito, perpassando desde
o potencial da leitura e da educação para as pessoas, até contextos de
vulnerabilidade, junto aos grupos mais desfavorecidos e/ou em
situações de risco, como também, abranger as intervenções realizadas
no âmbito político, haja vista o fortalecimento, legitimidade e
reconhecimento da profissão na sociedade (SANTA ANNA 2018, p. 21,
grifo nosso).
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Contextualizando a tese de Santa Anna (2018), percebe-se que o Projeto Sala
Braille é uma iniciativa que enaltece o trabalho do bibliotecário e da biblioteca
em favor das causas sociais, colocando o papel desses agentes como
facilitadores da inclusão, logo, responsáveis por ajudar na execução dos ODS,
conforme proposta da Agenda 2030 da ONU. O bibliotecário é agente de
transformação da realidade, ao cumprir com as determinações estabelecidas
pelos órgãos internacionais, haja vista as melhorias que podem ser realizadas
nos contextos dos municípios onde exercem sua profissão.
A esse respeito, apresenta-se a figura 3, a qual registra um momento de
prática de leitura conduzido por bibliotecários, no espaço da Sala Braille da
Biblioteca de Lagoa Santa.
Figura 3 – Atividade de leitura conduzida por bibliotecário na Sala Braille
Fonte: As palestrantes (2019).
Nesse contexto, a Sala Braille é uma iniciativa de transformação na vida das
pessoas, o que demonstra o potencial do campo da Biblioteconomia Social,
conforme defendido por Santa Anna (2018). Com efeito, a Sala Braille é fruto
da atuação do bibliotecário, profissional que se caracteriza como um agente
disseminador de informação e transformador social, exercendo papel na
formação de leitores, de modo a viabilizar “[...] o acesso à informação para
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indivíduos
totalmente
à
margem
da
sociedade
da
informação
e
do
conhecimento. Foi oferecido um ambiente favorável ao gosto pela leitura,
tornando-os leitores reais [...]” (MARIANO; BRANDÃO, 2018, p. 217).
2.3 O PROJETO SALA BRAILLE
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
A Sala Braille da Biblioteca Pública atende crianças, jovens e idosos com
qualquer
grau
de
deficiência
visual
da
comunidade. Semanalmente,
a
Biblioteca disponibiliza o serviço de transporte, que busca e leva o aluno com
deficiência visual (ou qualquer usuário cadastrado para acesso ao local) em
casa para participar das atividades desenvolvidas no espaço.
O trabalho
desenvolvido é individualizado, pois buscamos atender as necessidades
específicas de cada um dos usuários da Sala Braille.
Cada frequentador tem acesso a um computador com o software DosVox1
instalado. No início de implementação do Projeto, foi apresentado o sistema,
manual, comandos, seus recursos e funções. Foi ofertado treinamento para a
utilização do programa. Os usuários também foram treinados a digitar,
imprimir e acessar a internet de maneira autônoma. Esses treinamentos, na
maioria das vezes, foram conduzidos por meio de oficinas, ministradas por
profissionais capacitados ao uso desses recursos. A figura 4 demonstra a
realização de uma oficina, com destaque aos usuários com deficiência
1
Constitui um sistema para microcomputadores da linha PC que se comunica com o usuário
por meio de síntese de voz, viabilizando, desse modo, o uso de computadores por deficientes
visuais, que adquirem, assim, um alto grau de independência no estudo e no trabalho
(DOSVOX, 2019).
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monitorando os equipamentos e recebendo suporte dos instrutores das
oficinas.
Figura 4 - Sala Braille: oficina de inclusão digital para uso do Sistema Dosvox
Fonte: As palestrantes (2019).
Após dominar o uso do software, os frequentadores passaram a utilizar o
sistema de acordo com seus interesses e necessidades. Por meio desses
recursos, eles conseguem ler livros em PDF, fazer pesquisas na internet e
utilizar as redes sociais.
2.3.1 Desafios e conquistas que permeiam o Projeto
À medida que o citado Projeto começou a funcionar, foram realizadas
avaliações constantes, com o intuito de comparar os benefícios alcançados,
com a utilização do espaço pelos usuários com deficiência devidamente
cadastrados. Assim, apresentaremos alguns casos dos frequentadores mais
assíduos da sala, apontando como evoluíram durante o projeto (quadro 4).
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Quadro 4 – Alguns resultados alcançados
CASO 1:
Diagnóstico: 2011
Eliane
Cegueira total: retinose. Nível de
Idade:
40 escolaridade:
fundamental
anos
incompleto. Depressão. Não saía de
casa.
Sem noção de informática.
Sem acesso aos benefícios sociais,
mesmo tendo direito.
CASO 2:
Maria
Fernanda
Idade:
10
anos
Diagnóstico: 2011
Cegueira total.
Não utilizava
computador,
não
conhecia
o
programa Dosvox. Aluna do ensino
público de nível fundamental.
CASO 3:
João
Idade:
39
anos
Diagnóstico: 2011
Cegueira.
Causa: retinose. Não
conhecia o programa.
CASO 4:
Isabel
Idade:
65
anos
Diagnóstico: 2011
Cegueira total. Causa: diabetes.
Não utilizava computador; não
conhecia o programa Dosvox.
Aposentada.
com o Projeto Sala Braille
Evolução: 2019
Mais comunicativa e mais integrada
na sociedade. Recebe benefício da Lei
Orgânica
de
Assistência
Social
(LOAS). Utilizou o serviço oferecido
pela Biblioteca Pública de tecnologia
assistiva como ferramenta para seu
aprendizado
enquanto
estava
matriculada na Educação de jovens e
adultos (EJA). Concluiu o ensino
fundamental e médio; foi aluna
destaque na turma. Atualmente, em
2019, está estudando para prestar o
Exame Nacional do Ensino Médio.
Evolução: 2019
Leva livros em Braile, semanalmente.
Digita e imprime textos e acessa a
internet para escutar vídeos no
Youtube. O uso dos recursos de
tecnologia assistiva tem contribuído
para que Fernanda, aluna do ensino
fundamental, assimile melhor os
conteúdos
na
sala
de
aula,
desenvolva melhor sua escrita e seus
conhecimentos
específicos
de
ortografia. Apresenta seus trabalhos
na escola impresso em tinta e escrito
em braille.
Evolução: 2018
Frequentador da Biblioteca desde o
ensino
médio.
Estudou
para
concurso; foi aprovado, e hoje é
funcionário
público
municipal.
Atualmente, é aluno do curso de
jornalismo
na
UFMG;
continua
fazendo uso dos recursos disponíveis
na Biblioteca como ferramenta para
seus estudos acadêmicos.
Evolução: 2018
Digita, imprime, envia e recebe emails
e
pesquisa na internet.
Escreveu um livro utilizando o
programa
Dosvox.
Frequenta
diariamente
a
Sala
Braille.
Atualmente, está aprendendo a
utilizar as redes sociais. Aprendeu a
utilizar o programa. Faz curso técnico
de Teologia e utiliza os recursos de
tecnologia assistiva ofertados como
suporte para seus estudos.
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CASO 5:
Anísio
Idade:
35
anos
Diagnóstico: 2015
Baixa visão, perda progressiva:
meningite.
Nível
médio.
Aposentado. Não tinha noção de
informática. Saía pouco de casa.
Evolução: 2018
Aprendendo
digitação.
Mais
comunicativo, interage bem com os
demais frequentadores. Conhece e
utiliza o Dosvox.
Fonte: Dados do Projeto Sala Braille (2019).
Os resultados até então alcançados demonstram a contribuição do Projeto na
inclusão das pessoas com deficiência na sociedade contemporânea. Por meio
de entrevista realizada a um dos usuários da Sala, observa-se a satisfação
desse frequentador, conforme relatado:
"Aqui convivi com pessoas com a mesma deficiência que eu, tive acesso à informação e soube
meus direitos. Aprendi a mexer no computador. Já tinha visto computador quando enxergava,
mas nunca pensei que ia aprender, ainda mais depois que perdi a visão. Aqui aprendi a usar
o computador sozinha, mandar e-mails, imprimir, escrever e usar sozinha o computador" (Sra.
Isabel, 63 anos, usuário do projeto).
Esses resultados reforçam a viabilidade do Projeto, a concretização dos ODS e,
principalmente, o papel do bibliotecário, nesse processo. Consideramos que a
prática
bibliotecária não
se
resume,
apenas,
ao
trabalho fechado
de
organização de acervo, no interior das bibliotecas. A função do bibliotecário é,
antes de tudo, humana; logo, tem a preocupação com o social. Portanto, ao
realizar ações de inclusão e bem-estar para as pessoas, esses profissionais e
as bibliotecas que gerenciam tornam-se “[...] facilitadores no processo de
construção do conhecimento, dentro da sua área de atuação profissional, cujo
objetivo principal é a democratização do acesso à informação para todos”
(MARIANO; BRANDÃO, 2018, p. 225-226).
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3 A CONTRIBUIÇÃO DO SEGUNDO EVENTO E PERSPECTIVAS
FUTURAS
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
Jorge Santa Anna
Vivemos em uma sociedade que, infelizmente, não é inclusiva, nem acessível.
Grupos minoritários vivem marginalizados, enfrentam ainda mais obstáculos
do que a maioria para terem acesso a direitos básicos. Os bibliotecários, no
exercício de sua profissão, podem contribuir de maneira efetiva para
transformar essa realidade. Eles são os profissionais responsáveis por
disseminar a informação, oportunizando a formação social do indivíduo de
forma autônoma para o pleno exercício de sua cidadania (MARIANO;
BRANDÃO, 2018).
Ao conhecer as diferentes formas de acesso à informação, o leitor com
deficiência visual ganha condições de igualdade em relação ao leitor vidente,
tendo, por exemplo, à sua disposição, os mesmos livros, realizando a leitura
na mesma dinâmica e tempo equivalente aos demais usuários por meio dos
recursos que a tecnologia existente permite. O bibliotecário tem o papel de
mediador, nesse processo, cabendo a ele conhecer e disponibilizar os recursos
para o leitor com deficiência visual.
É importante que cada vez mais os bibliotecários se atentem e estudem sobre
esses recursos e suas possibilidades, e que mais casos e relatos de experiência
sejam divulgados para inspirar novas ações inclusivas e aprimorar as já
existentes em bibliotecas. É importante também que as bibliotecas públicas
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assumam seu papel dentro dos objetivos da Agenda 2030, em prol do
desenvolvimento sustentável, em especial o de assegurar a educação inclusiva
e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos.
A partir das contribuições alcançadas com o Projeto Sala Braille, as quais
estimularam a condução do II Evento do Projeto Agenda 2030, confirmamos o
quanto as bibliotecas podem fazer, haja vista fortalecerem o direito dos
cidadãos, em uma sociedade que, muitas vezes, gera possibilidades de
marginalização das pessoas, ao invés de acolhê-las. Reiteramos que bibliotecas
e bibliotecários são personagens protagonistas dos ODS, sendo que as
unidades e profissionais, inseridos, principalmente, no contexto dos municípios
- muitos deles situados em regiões longínquas dos grandes centros – estão à
frente nessa causa, pois são eles que possibilitam a concretude do que está
expresso nas políticas, nos princípios e nas determinações normativas e legais
estabelecidas por órgãos e representantes governamentais.
O encanto do Projeto desenvolvido pela Biblioteca de Lagoa Santa instiga a
necessidade de que seja replicado em outros contextos, disseminando, cada
vez mais, o potencial das bibliotecas e dos bibliotecários, a exemplo do ilustre
trabalho realizado pelas gestoras desse Projeto. Nossos cumprimentos a todos
os envolvidos no Projeto e que muitos frutos ainda sejam colhidos a partir do
espírito inovador e da atitude humana dos profissionais dessa biblioteca!
Este relatório manifestou-se como o registro do II Evento do Agenda 2030 em
MG, que ocorreu no dia 12 de outubro, na ECI/UFMG, com participação de
bibliotecários, estudantes e pesquisadores. A partir do relato do Projeto Sala
Braille da Biblioteca Pública de Lagoa Santa, as atividades foram encerradas a
partir das 21:30, com mensagem de agradecimento por parte da equipe da
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ABMG, e breve apresentação do III evento do citado projeto, com tema sobre
Clube de Leituras, a realizar no dia 30 de agosto próximo. Assim, que muitas
inovações e provocações sejam conduzidas pelos bibliotecários em favor das
causas sociais!
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG. Plano do
Projeto Agenda 2030 em MG. Belo Horizonte: ABMG, 2019. 01 manuscrito.
DOSVOX. O que Dosvox. 2019. Disponível em:
http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/intro.htm. Acesso em: 11 set. 2019.
GLOBAL TASKFORCE. Guía para localización de los ODS: implementación y
monitoreosubnacional. 2016. Disponível em:
http://www.ods.gub.uy/images/GUIA-GLOBAL-TASKFORCE---ODSSubnacional-1.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019.
MARIANO, Paula; BRANDÃO, Tatiana. “O essencial é invisível aos olhos”: Sala
Braille da Biblioteca Pública de Lagoa Santa-MG. In: SANTA ANNA, Jorge;
SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da
(Org.). Biblioteconomia Social: possíveis caminhos para construção da
cidadania. Belo Horizonte: ABMG, 2018. p. 215-226.
SANTA ANNA, Jorge. Biblioteconomia e sociedade: resgatando o pensamento
de Jesse Shera. In: SANTA ANNA, Jorge; SILVA, Edcleyton Bruno Fernandes
da; COSTA, Maria Elizabeth de Oliveira da (Org.). Biblioteconomia Social:
possíveis caminhos para construção da cidadania. Belo Horizonte: ABMG,
2018. p. 14-22.
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
APÊNDICE A – PROGRAMAÇÃO DO AGENDA 2030 – SEGUNDO
SEMESTRE DE 2019
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
APÊNDICE B – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO II EVENTO
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
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ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS DE MINAS GERAIS – ABMG – Gestão
2018-2020
SOBRE OS AUTORES DO RELATÓRIO
Tatiana Soares Brandão: Graduada em Biblioteconomia
e Letras (UFMG). Especialista em Gestão de Projetos
Sociais. Atua na Biblioteca Pública da cidade de Lagoa
Santa - MG, onde cresceu e reside. Elabora e coordena
projetos culturais, sociais e de inclusão, por meio do
incentivo à leitura, fomentando a democratização do
acesso à informação.
E-mail: tatianasb10@gmail.com
sto
Paula Renata Mariano: Bacharel em Biblioteconomia
pela UFMG. Especialista em Gestão Pública e em Gestão de
Projetos Sociais. Atua há 14 anos em biblioteca pública
elaborando e coordenando projetos culturais, sociais e de
inclusão, mediante ao incentivo à leitura, promovendo a
democratização do acesso à informação.
E-mail: paularenatamariano@gmail.com
e rosto
Jorge Santa Anna: Graduado em Biblioteconomia.
Professor e consultor em trabalhos acadêmicos e
científicos. Conselheiro editorial da Revista Pró-Discente.
Administra a gestão de secretaria e assuntos
administrativos da ABMG.
E-mail: professorjorgeufes@gmail.com
Rua Guajajaras, 410, Centro - Belo Horizonte, MG - Cep: 30180-912. Edifício Rotary, Sala 608
Presidenta: Maria Elizabeth de Oliveira Costa
Demais membros: Jorge Santa Anna, Edcleyton Bruno Fernandes da Silva, Andrea Brandão,
Graciane Borges, Taciane Rodrigues e Maria Clea Borges
�
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
ABMG - Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais
Subject
The topic of the resource
A ABMG tem como principal missão congregar bibliotecários, instituições e pessoas interessadas em Biblioteconomia, Ciência da Informação e áreas afins. Defender os interesses e apoiar as reivindicações dos associados. Representar os associados junto aos órgãos da classe nacionais e internacionais, aos órgãos públicos e privados e incentivar o aprimoramento da profissão e o desenvolvimento cultural através de cursos, congressos, seminários, palestras e outros.meuip.co
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
A Biblioteca Pública de Lagoa Santa e a Agenda 2030
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Tatiana Soares Brandão
Paula Renata Mariano
Jorge Santa Anna
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
ABMG
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Belo Horizonte (Minas Gerais)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
ABMG Editora
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Type
The nature or genre of the resource
Texto
Subject
The topic of the resource
Biblioteca Pública
Agenda 2030
Description
An account of the resource
A função social da Biblioteca Pública e o papel do bibliotecário. Agenda 2030: objetivos 3, 4, 8 e 10 na Biblioteca Pública. Uso de recursos de Tecnologia Assistiva na promoção da inclusão social da pessoa com deficiência visual.
Source
A related resource from which the described resource is derived
Relatório de evento
Language
A language of the resource
pt
ABMG