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http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/2/6996/advocacy.pdf
61eba56bd30a4819841d380479ab3b1f
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�2
�Quando nos deparamos em 2019 com a iniciativa do “Advocacy de 10 minutos da biblioteca”
da Federação Internacional de Bibliotecas (IFLA) tivemos o desejo de disseminá-la entre as
equipes de bibliotecas do Brasil. Isso porque desde 2012, esse é um tema importante e então
promovemos em iniciativa conjunta entre a FEBAB e SP Leituras, um curso presencial
sobre “advocacy” com Marci Merola da Associação Americana de Bibliotecários (ALA) na
Biblioteca de São Paulo.
Naquele momento o termo “advocacy” era desconhecido pela área de bibliotecas e para
contribuirmos nesta discussão traduzimos o “Manual das pessoas que advogam pela
biblioteca”(*) de autoria da Associação de Bibliotecários Americana (ALA) e alinhamos
várias ações para a promoção dos conceitos, visando estimular o engajamento das bibliotecas.
Nossa intenção era sensibilizar as equipes para a preparação de planos locais de advocacy,
sintonizados com as associações filiadas à FEBAB e com os Sistemas Estaduais de Bibliotecas
Públicas.
Mas somente em 2021 é que conseguimos estabelecer uma nova parceria para traduzir e
adaptar “o advocacy de 10 minutos da biblioteca” que, da mesma forma como lançado pela
IFLA, idealizamos uma campanha de promoção de postagens com os conteúdos veiculados
nas redes sociais da FEBAB e Sistema Estadual de Bibliotecas do Estado de São Paulo –
SISEB.
Ao final da campanha decidimos compilar todas as dicas e transformá-las neste livro de modo
a facilitar o uso pelas equipes bibliotecárias e contribuir para termos mais materiais sobre o
tema aplicado às bibliotecas. Então é com muita emoção que laçamos esse livro esperando
que ele alcance ainda mais pessoas.
Essa iniciativa não se esgota aqui, a partir desse livro queremos promover oficinas para
ampliarmos a corrente em defesa das bibliotecas brasileiras.
Assim, convidamos você a ler ou reler esse conteúdo e se engajar , lembrando que ninguém
está só nesta “missão” . É importante se juntar às redes, sistemas estaduais e, claro, ao
movimento associativo nacional.
Então, vamos começar? Seja você também um(a) ativista pelas bibliotecas!
Boa leitura!
Adriana Cybele Ferrari
Coordenadora do Grupo de Trabalho em Bibliotecas Públicas e Vice Presidenta da Federação
Brasileira de Associações de Bibliotecários e Instituições – FEBAB
Jorge Moisés Kroll do Prado
Presidente da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários e Instituições – FEBAB
(*) American Library Association. Office for Library Advocacy, “Manual das Pessoas que Advogam pela
Biblioteca”. http://repositorio.febab.org.br/items/show/6168.
3
�Copyright © Federação Internacional de Associações e Instituições
Bibliotecárias (IFLA)
Todos os direitos reservados. Não é permitida a reprodução total ou parcial
desta edição - em qualquer meio ou forma - sem a expressa autorização.
Tradução e adaptação das postagens The 10 Minute Library Advocate, do
blog Library Policy and Advocacy da International Federation of Library
Associations and Institutions (IFLA).
Capa e diagramação de ebook: Henrique Morais
Catalogação na fonte
Ficha catalográfica elaborada pela SP Leituras
F293
O advocacy de 10 minutos da biblioteca / Federação Internacional de Associações e
Instituições Bibliotecárias (IFLA) ; organizado por SP Leituras ; tradução por One
Translations; revisado e adaptado por SP Leituras e Federação Brasileira de Associações de
Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições - São Paulo : Secretaria de Cultura e
Economia Criativa do Estado de São Paulo, 2023.
ePub
4.750 kbytes
ISBN 978-65-89169-30-7
1. Advocacy 2. Biblioteca 3. Federação Internacional de Associações e Instituições
Bibliotecárias (IFLA) I. Federação Internacional de Associações e Instituições
Bibliotecárias (IFLA). II. SP Leituras. III. Federação Brasileira de Associações de
Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições.
CDD-020
Índices para o catálogo sistemático 1. Biblioteca e ciência da informação 020 2. Bibliotecas
Públicas 027
2023
Todos os direitos desta edição reservados à SP Leituras
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�SUMÁRIO
#1 Apresentando............................................................................................................07
#2 Formas de pensar.....................................................................................................09
#3 Ambiente virtual.......................................................................................................10
#4 Os números contam..................................................................................................11
#5 Ferramentas poderosas.............................................................................................12
#6 Respostas às necessidades........................................................................................13
#7 Decisão de impacto..................................................................................................14
#8 Olhar para o futuro...................................................................................................15
#9 Sintonia com a comunidade.....................................................................................16
#10 O poder da imagem................................................................................................17
#11 Ambiente digital.....................................................................................................18
#12 Direitos autorais.....................................................................................................19
#13 Importância do diálogo..........................................................................................21
#14 Imprensa e Biblioteca............................................................................................22
#15 Valorize a objetividade...........................................................................................23
#16 Escolha suas prioridades........................................................................................24
#17 Frases de impacto...................................................................................................25
#18 Encontre seu público..............................................................................................26
#19 Participe do debate.................................................................................................27
#20 Fortaleça suas parcerias.........................................................................................28
#21 Teste seus argumentos............................................................................................29
#22 Ferramenta poderosa..............................................................................................30
#23 Amplie seu contexto...............................................................................................31
#24 Personalize a mensagem........................................................................................32
#25 Comunique sua paixão...........................................................................................33
5
�#26 Atenção às oportunidades......................................................................................34
#27 Fortaleça sua presença...........................................................................................35
#28 Use datas comemorativas.......................................................................................36
#29 Foque na comunidade............................................................................................37
#30 Seja objetivo...........................................................................................................38
#31 Registre seu progresso...........................................................................................39
#32 Invista na colaboração............................................................................................40
#33 Deixe sua marca.....................................................................................................41
#34 Aprenda com seus erros.........................................................................................42
#35 Clareza na mensagem............................................................................................43
#36 Divulgue sua atuação.............................................................................................44
#37 Crie conexões.........................................................................................................45
#38 Mostre o que está fazendo......................................................................................46
#39 Forma e conteúdo...................................................................................................47
#40 Desperte empatia....................................................................................................48
#41 Abra canais de contato...........................................................................................49
#42 Vença a resistência.................................................................................................50
#43 Fortaleça os apoios.................................................................................................51
#44 Estruture seu trabalho............................................................................................52
#45 Seja memorável......................................................................................................53
#46 Estabeleça metas....................................................................................................54
#47 Torne-se mais convincente.....................................................................................55
#48 Continue sendo notado...........................................................................................56
#49 Construa seu apoio.................................................................................................57
#50 Pense, planeje, faça!...............................................................................................58
6
�Bibliotecas não existem no vácuo – elas estão lá para servir.
Ao proporcionar acesso ao conhecimento, bem como um espaço público aberto e
acolhedor, elas ajudam as pessoas a se ajudarem.
Mas também dependem do apoio externo. Isso não é só sobre políticos, funcionários
ou sobre a alta gerência, que tomam decisões sobre leis, contratações ou orçamentos. É
também sobre aqueles que influenciam os tomadores de decisão sobre a opinião pública.
Para prosperar, bibliotecas e bibliotecários precisam trabalhar para moldar o ambiente
ao seu redor e construir uma comunidade que não tenha apenas simpatia pela biblioteca,
mas esteja pronta para agir por ela.
E a melhor forma de fazer isso é realizar o advocacy1.
O advocacy é para você!
Muitas vezes, o advocacy é visto como algo para poucos, para a alta gerência, para
os extrovertidos. No entanto, como o Resumo da Visão Global da IFLA destaca, todo
bibliotecário deveria fazer advocacy.
Isso não significa que todo bibliotecário deveria tentar organizar uma reunião com o
prefeito, ou dar uma entrevista à TV. Há muitas maneiras diferentes de se envolver com o
advocacy.
Também não requer necessariamente que você faça um curso, ou receba outro
treinamento, mesmo que isso certamente faça diferença. Há muitas coisas que você pode
fazer –mesmo em dez minutos– para pensar e agir como realizar o advocacy pela biblioteca.
E é para isso que esta série serve. Todas as semanas, apresentaremos uma ideia de
atividade que contribuirá para fortalecer o advocacy pelas bibliotecas.
Nem todas serão adequadas a todas as situações, ou para todas as personalidades.
Algumas serão sobre planejamento, pensamento, preparação de argumentos. Outras serão
7
�práticas, e te colocarão em contato direto com usuários e outras pessoas. Você não será
capaz de fazer tudo, mas nós certamente esperamos que todos possam fazer algumas delas.
Cada ideia vai incluir uma breve descrição e, muitas vezes, sugestões de lugares que
você pode buscar se quiser (e puder) ir mais fundo. E, claro, encorajamos qualquer pessoa
interessada a encontrar oportunidades para aprender mais sobre advocacy e se envolver
mais com o assunto.
Esperamos que você esteja ansioso para começar. Se você usar dez minutos, dez horas,
ou dez dias, estará apoiando o futuro das nossas instituições e da nossa área.
[1] Advocacy – Ainda não há um termo correspondente direto em língua portuguesa. Seu
significado pode ser traduzido como defesa e/ou engajamento ativo em relação a uma
causa ou proposta. Advocacy envolve ação, isto é, identificar, adotar e promover uma
causa no âmbito da sociedade como um todo. Tem como objetivo “chamar a atenção do
público
e de seus representantes para um assunto com o qual é necessário lidar”.
Fontes: Manual das Pessoas que Advogam pelas Bibliotecas, da American
Library Association (http://siseb.sp.gov.br/wpcontent/
uploads/2017/01/Manual-das-pessoas-que-advogam-pelasbibliotecas.
pdf) e Notas de Biblioteca 7 – Bibliotecas públicas e seus
desafios para a construção de uma sociedade leitora: Diálogos do 6º
Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias
(http://siseb.sp.gov.br/arqs/Notas_7_web.pdf).
8
�Pense em cinco palavras que usuários e usuárias utilizariam
para descrever a biblioteca onde você atua.
Realizar o advocacy tem tudo a ver com mudar a forma de pensar.
Você precisa que as pessoas que tomam decisões sobre sua biblioteca – e as pessoas que as
influenciam– entendam e apoiem o que você faz, e estejam prontas para agir em interesse
das bibliotecas.
É claro que falar sobre mudança implica em ter um ponto de partida. O que você acha
que as pessoas diriam sobre sua biblioteca se você as questionasse agora?
Então, nosso segundo exercício é escrever cinco palavras que sua comunidade usaria
para descrever a biblioteca. Coloque-se no lugar deles e delas e tente pensar realisticamente:
o que diriam?
Só podemos melhorar se soubermos o que há de errado. Portanto, nesse exercício você
também deve ser crítico / crítica! Inclua palavras positivas e negativas.
Entender do que as pessoas gostam lhe dará ideia das fortalezas da sua atuação.
Compreender do que elas não gostam tanto te ajudará a pensar sobre quais pontos é
necessário trabalhar para mudar essa percepção.
9
�Verifique como sua biblioteca aparece on-line.
Um advocacy bem-sucedido começa com a construção de percepções positivas.
Como foi discutido no último exercício, é importante saber o que usuários e usuárias
pensam sobre a biblioteca onde você atua. O mesmo se aplica a não usuários, que podem,
naturalmente, incluir pessoas com cargos políticos, da gestão governamental e outros
tomadores de decisão.
Uma das principais coisas que moldam a forma como sua biblioteca é percebida, é a
aparência que ela tem no ambiente virtual. É cada vez mais normal que usuários, usuárias
e demais interessados procurem informações sobre a biblioteca na internet antes de visitála.
O que encontram lá molda suas opiniões e pode fazer diferença na decisão de realizar
uma visita ou não. Informações erradas, especialmente sobre horários de funcionamento,
serviços e programação cultural, podem gerar decepção.
É óbvio que a construção de um site ou mesmo de um bom perfil nas redes sociais leva
mais do que 10 minutos, mas ao buscar por sua biblioteca através de uma ferramenta de
pesquisa, você pode ter uma ideia do que as pessoas estão vendo.
Então, nosso terceiro exercício é procurar virtualmente por sua biblioteca e anotar
quais sites a mencionam e o que dizem sobre a equipe, os serviços e os programas.
Você pode entrar em contato com páginas que tenham informações desatualizadas, para
corrigi-las. Também pode pensar sobre quais sites deveriam mencionar sua biblioteca,
mas não estão.
10
�Aprenda algumas estatísticas importantes sobre bibliotecas.
Os números contam.
Quando estiver fazendo advocacy para sua biblioteca, ou bibliotecas em geral, sua
mensagem deve buscar tocar o coração, bem como levar a pessoa com que você está
dialogando a refletir.
Estar preparado / preparada para fornecer números também vai lhe dar mais credibilidade
e, assim, tornar seus argumentos mais poderosos.
Você deve ser inteligente quanto às estatísticas que usa.
Certamente, as melhores são os medidores de impacto da biblioteca.
Quantas pessoas encontraram emprego, melhoraram suas notas, ou aprenderam uma nova
habilidade graças à biblioteca?
Mas as mais simples também podem ser úteis – quantas pessoas visitam bibliotecas,
quantos livros são emprestados?
Então, nosso quarto exercício é este: escreva três estatísticas poderosas sobre sua
biblioteca, ou bibliotecas de sua região ou país, e memorize.
Se precisar de ajuda, você pode olhar o que estiver disponível no Mapa Mundial de
Bibliotecas e aprender sobre algumas delas. Boa sorte!
Há muitas coisas que você pode fazer –mesmo em dez minutos– para
pensar e agir como realizar o advocacy pela biblioteca.
11
�Pense em três coisas que sua biblioteca faz que melhoram a vida
das pessoas.
Políticos e publicitários sabem que a promessa de uma vida melhor é uma das
ferramentas mais poderosas para chamar a atenção das pessoas e fazê-las mudar de ideia.
As bibliotecas oferecem isso, mas nem sempre deixam isso claro de maneira
convincente. Para fazer um bom advocacy, você precisa ser capaz de dizer rapidamente e
claramente como as bibliotecas fazem diferença na vida diária das pessoas.
Um primeiro passo fundamental é organizar seus próprios argumentos.
Então, pegue um pedaço de papel (ou seu celular, ou computador), e pense em três
coisas diferentes que sua biblioteca faz que beneficiam pessoas comuns. Certifique-se
de que sejam coisas que realmente importam para os indivíduos. Pense: o que torna sua
biblioteca especial ou útil para eles?
Depois de escrever suas ideias, lembre-se delas! Se quiser, você pode
testá-las com um amigo ou colega, ou compartilhá-las nas redes sociais
usando a hashtag #TodoBibliotecárioFazAdovacy.
12
�Pense em três coisas com as quais sua comunidade se preocupa.
As bibliotecas sempre tiveram a missão de responder às necessidades de seus usuários
e suas usuárias.
No entanto, para ganhar o apoio de sua comunidade, é importante deixar evidente que
você se importa com as coisas que têm valor e significado para eles e para elas.
Essa é uma lição que alguns políticos entendem há muito tempo. As pessoas votarão
em candidatos e candidatas que afirmem compartilhar suas prioridades e prometam agir
sobre elas.
É claro que as bibliotecas já estão trabalhando em prol das comunidades!
Mas a forma como você fala sobre seu trabalho e como o divulga, seja por meio de cartazes,
artigos e redes sociais, pode fazer diferença.
Para entender como fazer isso de forma mais eficaz, você precisa ter uma ideia do
que importa. Então, nosso quinto exercício é pensar em três coisas com as quais sua
comunidade se preocupa.
Quais são os assuntos e as problemáticas que os(as) motivam? Com o que eles e elas
se preocupam? Pense sobre o que as pessoas falam nas ruas, o que os políticos dizem, o
que você ouve na sua vida pessoal e profissional.
Depois, escreva isso e use como referência no seu trabalho com as bibliotecas, para
garantir que seu advocacy realmente repercuta nas pessoas.
13
�Descubra quem está no comando.
O objetivo final do advocacy é impactar a tomada de decisões.
Você precisa encorajar aqueles e aquelas que têm poder e/ou recursos
para apoiar sua biblioteca, o seu sistema de bibliotecas ou as bibliotecas em geral.
Realizar advocacy é preparar o terreno, construir entendimento, mudar atitudes, criar a
motivação para agir. Também é importante lembrar que sempre haverá certas pessoas que
direta ou indiretamente você precisa influenciar.
Mas quem é o alvo?
Nosso sexto exercício é descobrir quem é a pessoa –ou quem são as pessoas– tomando
decisões importantes sobre o financiamento e as leis que afetam você e a sua biblioteca.
Você pode começar focando em um nível do governo.
No nível local, há alguém responsável pelos assuntos da biblioteca?
Podem ser funcionários públicos, pessoas designadas ou eleitas para ocuparem cargos na
estrutura administrativa, entre outros.
No nível regional ou nacional, você deverá pensar sobre quais ministérios, secretarias,
departamentos e organizações têm algo a dizer sobre a forma como as bibliotecas são
geridas, financiadas ou como podem atender suas comunidades.
Escreva suas respostas – você precisará delas para exercícios futuros.
14
�Defina um objetivo a longo prazo para a sua biblioteca.
Se você quiser seguir em frente, precisa antes saber onde fica “em frente”.
A fim de garantir que o tempo e o esforço que você coloca ao realizar o advocacy de
sua biblioteca sejam bem usados, é importante ter uma ideia de seus objetivos a longo
prazo.
Eles devem servir como guia para o seu trabalho e ajudar na reflexão se o que você está
fazendo vem funcionando ou não. Pode ser um bom motivo para mudar e parar de fazer
coisas quando elas não estiverem contribuindo para suas metas.
Então, nosso sétimo exercício é pensar em um objetivo a longo prazo para o seu
trabalho de advocacy em sua biblioteca.
Sua escolha dependerá, naturalmente, do seu contexto. Já que você está concentrando
esse exercício em sua própria biblioteca, pode ser sobre mudar regulamentos que decidem
o que você pode ou não pode fazer, sobre o financiamento, ou mesmo sobre conseguir
apoio para os serviços e os programas dentro de sua comunidade.
Deve ser ambicioso (você quer melhorar a situação atual), mas também realista (você
não quer que o fracasso seja inevitável). Se preferir, você pode usar o método SMART2.
É crucial que seja algo que você possa facilmente lembrar e usar em seu trabalho.
[2] SMART, sigla com as iniciais das palavras Specific (específico),
Measurable (mensurável), Achievable (alcançável), Relevant (relevante) e
Time Bound (temporal).↩
15
�Pense em parceiros e parceiras com quem possa trabalhar.
Nenhuma biblioteca e uma ilha.
Sua biblioteca e uma parte importante da comunidade a qual você atende. E dentro
dessa comunidade deve haver outras pessoas e grupos que entendam e apoiam o que você
faz.
Esse e o caso, quer seja uma biblioteca pública ou comunitaria, quer seja uma biblioteca
universitaria, ou uma biblioteca a serviço de uma organização, todas têm pessoas ao
redor que podem ser aliadas.
Uma forma de demonstrarem apoio e ajudando você em suas atividades de advocacy.
Parceiros e parceiras podem ecoar suas mensagens, deixar que outros saibam por que
seu trabalho e importante, ou mesmo oferecer feedback sincero que te ajudara a
aprimorar seus serviços.
Então, para o nosso oitavo exercício, pense em parceiros e parceiras com quem possa
trabalhar.
Podem ser indivíduos (como educadores, escritores locais ou jornalistas), organizações
(como escolas, ONGs, ou mesmo departamentos municipais), ou grupos (como clubes que
usam a biblioteca, ou grupos de pesquisa).
Se você lembrar de mais gente será ótimo! Escreva quem são, juntamente com algumas
palavras para descrevê-los(as) e como podem colaborar com o seu advocacy.
16
�Tire uma foto bem bacana de sua biblioteca em funcionamento.
Imagens são poderosas.
Elas podem ilustrar e apoiar textos, mas também ajudar a tornar as coisas
reais.
Isso certamente se aplica a bibliotecas. Elas podem mostrar as
atividades, os recursos disponíveis e as instalações e, com isso, ajudar as
pessoas com quem você estiver falando a se imaginarem lá.
São uma ferramenta importante para realizar o advocacy, principalmente
nas redes sociais e em outros meios de comunicação on-line.
Então, para o nosso décimo exercício, tire uma foto bem bacana de sua
biblioteca em funcionamento, quando as atividades estiverem acontecendo.
Procure mostrar algo positivo e atraente que vá apoiar o seu advocacy.
Se possível, inclua as pessoas que usam a biblioteca, caso elas concordem
em serem fotografadas.
Se você não tiver essa habilidade, encontre um/uma colega que saiba
tirar uma boa foto. Como sugestão, você também pode promover uma ação
nas redes onde as pessoas possam se fotografar, postar e autorizar que a
biblioteca use as imagens.
Você pode encontrar algumas dicas sobre fotografia no Manual de Contação de
Histórias do Mapa Mundial de Bibliotecas (em espanhol).
Assim que tiver as fotos, você pode começar a tornar seu site, sua
presença nas redes sociais e outras ferramentas de advocacy mais vivas.
17
�Inscreva-se num blog ou assine uma newsletter sobre questões
relacionadas às bibliotecas.
Quando falamos de advocacy precisamos conhecer o panorama geral
onde a biblioteca está inserida.
Para convencer os outros do valor e da importância do seu trabalho, você
precisa entender o contexto em que eles trabalham.
Quais são as principais questões, as principais tendências, os tópicos
polêmicos?
Se você os conhece, você pode tornar os seus argumentos mais
relevantes. As pessoas estão preocupadas com as fake news? Você pode falar
sobre como as bibliotecas fornecem informações confiáveis. As pessoas
estão preocupadas com os custos para se capacitarem? Você pode falar sobre
como as bibliotecas tornam isso acessível para todos.
Mas como abordar as questões?
Para o nosso décimo primeiro exercício, chamamos a atenção para você
acompanhar o ambiente. Inscreva-se num blog ou numa newsletter sobre
questões relacionadas às bibliotecas. Incentive a equipe que trabalha com
você a fazer o mesmo!
Acompanhe os sites da FEBAB e do SisEB e também encorajamos você
a ler o Blog de Política e Advocacy da IFLA (em inglês) quando puder.
Se tiver algum favorito, compartilhe com toda a equipe da biblioteca e
conversem sobre isso.
18
�Cuidado com os direitos autorais.
De maneira geral, as leis são importantes para as bibliotecas. Elas podem garantir que
os governos locais tenham a obrigação de administrar bibliotecas, bem como definir os
serviços a serem oferecidos às comunidades, como acesso gratuito à internet, atendimento
especial conforme demanda, desenvolvimento de coleções, dentre outros.
A Lei de Direitos Autorais (LDA) tem papel e importância fundamentais para o bom
desempenho da biblioteca e de um atendimento de qualidade aos cidadãos. É por meio
dela que as bibliotecas poderão definir suas diretrizes de apoio à pesquisa e à educação,
preservação e digitalização de acervos, empréstimos, acessibilidade, etc.
Entender os direitos autorais certamente leva mais de 10 minutos. Mas como se trata
de um tema importante de advocacy, é útil saber onde recorrer para resgatar informações
iniciais – especialmente no caso brasileiro, cuja LDA que atualmente se encontra ainda mais
defasada por conta do ambiente eletrônico e digital e que já era carente de regulamentação
específica para os equipamentos culturais.
Assim, para uma visão das LDAs em diversos países, sugere-se uma visita ao Comitê
Permanente da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) sobre Direitos
Autorais e Direitos Relacionados.
Especificamente sobre o Tratado de Marraqueche, acesse: (1) a versão em português
do documento O Tratado de Marraqueche: Guia EIFL para Bibliotecas, publicado pela
EIFL e traduzido pela Comissão Brasileira de Direitos Autorais e Acesso Aberto (CBDA3)
da FEBAB; (2) a obra Caminhando – Implementação do Tratado de Marraqueche para
pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao
texto impresso: Um guia prático para bibliotecários, produzida pela IFLA, traduzida e
com comentários feitos CBDA3/FEBAB, a partir da proposta brasileira de implementação
19
�do Tratado de Marraqueche disponível para consulta pública no período de maio a julho
de 2020.
Referente à LDA no Brasil, visite o canal do YouTube da CBDA3/FEBAB e o webinar
Bibliotecas digitais: acervos, plataformas e direitos autorais, realizado pelo SisEB.
Algo se destaca para você? Vê algum problema? Alguma oportunidade?
20
�Use um broche ou um crachá.
Realizar o advocacy é saber conversar, dialogar.
Você precisa engajar os tomadores de decisão e as pessoas que os influenciam, e
construir com eles a compreensão sobre a importância das bibliotecas. Desta forma, você
pode encorajá-los a agir!
Mas, como começar essa conversa? Uma ótima maneira de fazer isso é criar um tópico
de discussão, algo que as pessoas podem perguntar sobre.
Então, para o nosso exercício, use um broche ou um crachá com alguma frase, palavra
ou marca relacionada às bibliotecas. Você pode usá-los no trabalho, mas também fora dele,
como, por exemplo, quando assiste a reuniões públicas ou até mesmo no seu dia a dia.
A FEBAB desenvolveu algumas campanhas e marcas, como Biblioteca Eu Amo Eu
Quero e Bibliotecas por um mundo melhor, que podem ser utilizadas ou te inspirar. Para
saber mais, acesse: https://www.acoesfebab.com/advocacy.
Você pode criar o seu material, mas não se esqueça de torná-lo atraente e interessante,
algo que estimule a curiosidade e que encoraje as pessoas com quem você está falando a
fazerem perguntas.
Você pode compartilhar suas fotos e a de seus broches e crachás
favoritos nas redes sociais com a hashtag #TodoBibliotecárioFazAdvocacy.
21
�Encontre um/uma jornalista que possa escrever sobre bibliotecas.
Quando você faz advocacy, não precisa exercer esse papel sozinho.
Às vezes, é ainda mais poderoso quando temos outra pessoa falando por nós. E há
poucas vozes mais poderosas do que as da mídia.
Quando um/uma jornalista fala de bibliotecas e do grande trabalho que estão fazendo,
ele/ela pode alcançar milhares, até milhões de pessoas.
Então, para o nosso décimo quarto exercício, encontre um/uma jornalista que possa
escrever sobre bibliotecas. Eles podem trabalhar para um jornal local ou noticiário, na
mídia impressa, no rádio ou na TV, o que for mais apropriado a sua cidade, seu Estado ou
país.
Você pode fazer uma pesquisa usando um agregador de notícias como o Google News
ou similares para descobrir quem já está escrevendo sobre bibliotecas. Ou ainda, você
pode identificar quem poderia ser estimulado(a) para escrever sobre bibliotecas.
Em ambos os casos, envie informações e histórias a essas pessoas. Esses dados podem
virar pautas para os profissionais da comunicação. Faça isso rotineiramente.
22
�Desenvolva o seu discurso de elevador.
Às vezes, você precisa ser rapidamente convincente.
Uma vez que realizar o advocacy envolve esforço e paciência ao longo do tempo,
você pode ter uma oportunidade de passar um minuto com um(a) tomador(a) de decisõeschave, como um(a) prefeito(a), um(a) ministro(a), ou um(a) financiador(a).
É muito provável que estejam ocupados, com muitas outras coisas em mente. Mas
se você conseguir a atenção deles quando estiverem ao seu lado, poderá obter grandes
progressos.
Esses momentos podem acontecer a qualquer instante – em uma recepção, em um
evento público, em um elevador – e você precisa estar preparado.
Então, para o décimo quinto exercício, prepare o seu “discurso de elevador”.
Esse é o termo para um discurso muito curto que convence outra pessoa do seu ponto
de vista – e, nesse caso, da importância das bibliotecas, algo que se possa dizer num
elevador entre um andar e outro.
Você precisa focar em seus argumentos, se livrar de informações desnecessárias e
garantir o que precisa ser dito, da forma mais simples e convincente possível.
Tente escrever o seu discurso e depois editá-lo, palavra por palavra, até que seja o mais
curto possível. E tenha sempre seu “discurso de elevador” na ponta da língua para usá-lo
sempre que tiver a oportunidade.
23
�Escolha um ODS e pense como sua biblioteca ajuda a alcançálo.
Realizar o advocacy pode nos exigir rápida adaptação.
Se você quer que a pessoa com quem está falando concorde com você e apoie
bibliotecas, você precisa responder às suas prioridades.
Você precisa de argumentos que mexam com eles/elas, e que mostrem como as
bibliotecas ajudam a alcançar as coisas que lhes interessam.
Mas as pessoas se preocupam com coisas diferentes, certo? Um médico se preocupa
com a saúde, um professor com a educação, um agricultor com as mudanças climáticas.
Como você pode estar pronto? Uma boa maneira é preparar as suas ideias sobre uma série
de questões.
Então, para o nosso décimo sexto exercício, escolha um dos 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e reflita como as bibliotecas ajudam a alcançá-lo.
Os ODS proporcionam boa estrutura para pensar em quase todas as
políticas públicas. Você não precisa fazer tudo de uma vez, comece com um
e faça os outros se tiver tempo.
Você pode encontrar ideias na publicação Acesso e oportunidade para todos: Como as
bibliotecas contribuem para a agenda de 2030 das Nações Unidas e nas Histórias dos ODS
no Mapa Mundial de Bibliotecas da IFLA. Há também grandes exemplos de bibliotecários
e bibliotecárias no Brasil e ao redor do mundo.
24
�Encontre e memorize uma boa citação sobre bibliotecas.
Quando você realiza advocacy, é importante escolher suas palavras.
Encontrar uma ótima maneira de expressar a importância das bibliotecas pode fazer a
diferença quando você está tentando convencer alguém. Mas às vezes não é fácil encontrálas e nem todos nós somos poetas.
Nem sempre você precisa escolher suas próprias palavras. Muitas pessoas famosas
têm apoiado bibliotecas.
Então, para o nosso décimo sétimo exercício, encontre uma boa citação sobre bibliotecas
e a memorize.
Você pode usá-la quando estiver falando com as pessoas, publicá-la nas redes sociais,
ou até mesmo imprimi-la em um pedaço de papel (ou, se você estiver se sentindo corajoso/
corajosa, em uma camiseta).
Há diversos sites com citações na internet e você pode procurar por uma
ou mais que você se sinta confortável em usar.
Compartilhe suas favoritas com a equipe da biblioteca.
25
�Use hashtags e identificadores nas redes sociais.
Realizar advocacy é chamar a atenção.
Você pode ter grandes ideias, mensagens e materiais, mas como garantir que você seja
ouvido?
Especialmente nas redes sociais, muitas contas têm poucos seguidores.
Mesmo os populares nem sempre chegam às pessoas que importam. Ainda assim, é
possível ter um propósito no que é feito nas redes sociais.
Você também pode garantir que sua mensagem seja exibida quando as pessoas estiverem
acompanhando debates importantes. Então, para o nosso décimo oitavo exercício, encontre
e use hashtags e identificadores relevantes.
Procure nas principais redes sociais o que você está buscando e anote seus
identificadores, como, por exemplo, @sisebsp, @febab, @culturasp, ou as hashtags
usadas em discussões importantes, como #AGENDA2030PARAVENCERACOVID e
#TodoBibliotecárioFazAdvocacy.
Ao usá-los, você pode garantir que seu público-alvo –políticos, gestores municipais,
influenciadores, jornalistas– sejam notificados sobre suas mensagens.
Você também pode fazer com que suas publicações sejam incluídas nos principais
resultados de pesquisa de identificadores e hashtags populares.
26
�Escreva uma carta ou publique um comentário.
Você não precisa usar apenas as suas próprias plataformas para falar sobre bibliotecas.
Ao usar outras redes você tem a oportunidade de chegar a novas pessoas,
incluindo aquelas que, diferentemente de você, não pensariam em bibliotecas.
Você também pode engajar jornalistas, comentaristas políticos ou outros(as)
influenciadores sociais iniciando uma conversa com eles(as).
Sabemos que as bibliotecas podem fazer a diferença em diversas áreas e há muitos
assuntos que você pode dizer algo que mostra o que as nossas organizações já fazem e
podem fazer.
Então, para o nosso exercício, escreva uma carta ou publique um comentário em
resposta a um artigo, ou a uma matéria. Você pode pensar onde focar – é um jornal local
ou nacional? É especializado numa determinada comunidade ou é mais geral? É lido por
pessoas que você quer influenciar?
Na sua resposta, mantenha-se positivo(a) e focado(a) nas bibliotecas. Você pode usar
alguns números e histórias que mencionamos em exercícios anteriores do informativo. Basta
acessar https://siseb.sp.gov.br/publicacoes/o-advocacy-de-10-minutos-da-biblioteca.
Você não precisa publicar coisas o tempo todo, mas quando o fizer, terá feito com que
as pessoas pensem mais sobre bibliotecas.
27
�Pesquise o histórico dos potenciais apoiadores da biblioteca.
Realizar advocacy é chamar a atenção.
Você pode ter grandes ideias, mensagens e materiais, mas como garantir
que você seja ouvido?
Especialmente nas redes sociais, muitas contas têm poucos seguidores.
Mesmo os populares nem sempre chegam às pessoas que importam. Ainda
assim, é possível ter um propósito no que é feito nas redes sociais.
Você também pode garantir que sua mensagem seja exibida quando as
pessoas estiverem acompanhando debates importantes. Então, para o nosso
décimo oitavo exercício, encontre e use hashtags e identificadores
relevantes.
Procure nas principais redes sociais o que você está buscando e anote
seus identificadores, como, por exemplo, @sisebsp, @febab, @culturasp, ou
as hashtags usadas em discussões importantes, como
#AGENDA2030PARAVENCERACOVID e #TodoBibliotecárioFazAdvocacy.
Ao usá-los, você pode garantir que seu público-alvo –políticos, gestores
municipais, influenciadores, jornalistas– sejam notificados sobre suas
mensagens.
Você também pode fazer com que suas publicações sejam incluídas nos
principais resultados de pesquisa de identificadores e hashtags populares.
28
�Teste seus argumentos com um amigo ou uma amiga.
Nem sempre é fácil preparar bons argumentos. É preciso ter conteúdo e estilo certos.
Encontrar a maneira correta para mostrar seu ponto de vista, da forma mais simples e
convincente possível, pode levar tempo. Mas você não precisa fazer isso sozinho(a).
Para ter certeza de que você está no caminho certo, pedir a opinião de outra pessoa
pode ser uma boa ideia.
Então, para o nosso vigésimo primeiro exercício, teste seus argumentos de advocacy
da biblioteca com um amigo ou com uma amiga.
Observe se você consegue convencê-lo(a) sobre o valor das bibliotecas, ou sobre como
é possível, através disso, lidar com questões sociais e culturais.
Eles e elas podem oferecer-lhe feedbacks ou sugestões, apontar onde você deveria ser
mais claro(a), ou mais assertivo(a), assim como elogiá-lo(a) pelos pontos de acerto.
Certifique-se de que seus amigos e suas amigas saibam ser objetivos e, se necessário,
críticos. Seus argumentos serão melhores assim!
29
�Comece a estruturar seu plano de advocacy.
O caminho de sucesso do advocacy nem sempre é simples.
Para gerar mudanças políticas e comportamentais de forma organizada, estratégica e
contínua, é importante estruturar um plano de advocacy.
Para planejar a melhor forma de usar seu tempo, é preciso encontrar maneiras de
concentrar os seus esforços.
Então, para o exercício de hoje, comece a estruturar seu plano de advocacy. Antes,
você pode se inspirar conhecendo mais sobre experiências nacionais e internacionais de
advocacy em bibliotecas.
A Associação Brasileira das Organizações Sociais de Cultura desenvolveu o curso
on-line “Advocacy: estratégias para o futuro da Cultura”, que conta com aulas, painéis e
publicação sobre o tema. A formação aborda elementos essenciais para a estruturação do
plano de advocacy, desde o diagnóstico e os objetivos, até o mapeamento e a articulação
com as partes interessadas.
Também recomendamos a leitura do Manual das Pessoas que Advogam pela Biblioteca,
produzido pela American Library Association e traduzido pela FEBAB.
Essa poderosa ferramenta auxilia na decisão de onde e como realizar o advocacy. Você
encontrará mais conteúdos sobre o assunto nos canais da FEBAB e da Impacta Advocacy
no YouTube.
30
�Encontre e use palavras e expressões de efeito.
Escolher as palavras certas pode fazer a diferença.
Elas podem ajudar as pessoas a fazer conexões com outras questões, inserindo as
bibliotecas em um contexto maior. Podem tornar a sua mensagem mais relevante dentro
de um debate público mais amplo.
Por exemplo, veja a série Palavras dos ODS do blog Política e Advocacy da Biblioteca
da IFLA, que explica algumas palavras e expressões mais utilizadas na Organização
das Nações Unidas, como: sustentabilidade, não deixe ninguém para trás, participação,
resiliência. O conteúdo está em inglês, mas é possível traduzi-lo facilmente instalando uma
extensão/plugin no navegador de sua preferência, ou utilizando plataformas de serviços
gratuitos de tradução, como o DeepL Tradutor e o Google Tradutor.
Agora, para o nosso exercício, encontre e use palavras, frases e expressões que estão
em voga nesse momento. Considere os contextos locais e informações importantes para
potencializar sua mensagem.
Pense em palavras que jornalistas e políticos usam de forma recorrente em artigos e
discursos, tendo cuidado para não utilizar expressões que já viraram clichê.
31
�Pense no que seus públicos querem escutar.
Realizar advocacy envolve fazer com que as pessoas compreendam suas causas e seu
discurso.
Quando você fala com alguém quer que eles/elas entendam que vocês compartilham
dos mesmos objetivos e que você pode ajudá-los(as).
Especialmente para os(as) tomadores(as) de decisão que, muitas vezes, têm de lidar
com problemas, as bibliotecas deveriam apresentar-se como uma solução.
Para isso, você precisa adaptar e selecionar, ou priorizar seus argumentos. Mas como
fazer isso?
Para o nosso exercício, pense no que os seus públicos querem escutar.
Você pode fazer isso olhando para os problemas com os quais eles se importam.
Por exemplo, um profissional da educação básica quer que crianças tenham uma
educação qualificada que colabore para seu desenvolvimento pleno.
Um profissional da área da saúde quer que as pessoas tenham a oportunidade de
aprender sobre como ter estilos de vida mais saudáveis.
Pais podem querer simplesmente ajuda para entreter seus filhos e auxiliá-los no
desenvolvimento de suas habilidades.
Então, escolha alguém – ou um grupo de pessoas – com quem você queira conversar e
pense sobre o que eles gostariam de escutar.
32
�Demonstre sua paixão pelo seu trabalho.
O sucesso de realizar o advocacy não está relacionado apenas com o falar, mas também
com o fazer.
Grandes discursos, apresentações ou publicações em mídias sociais podem,
naturalmente, ajudar a garantir apoio para o seu trabalho. Porém, a menos que isso seja
pautado por pessoas comprometidas, as mensagens não funcionarão para sempre.
Poucas coisas são mais convincentes que alguém focado em prover um serviço de
excelência, seja para as comunidades locais ou para os funcionários e alunos de uma
organização social, universidade ou escola.
Então, para o nosso exercício, demonstre sua paixão pelo seu trabalho!
Trata-se, claramente, de uma tarefa de tempo integral. Mas, reservando apenas
10 minutos, é possível pensar sobre como você pode mostrar seu entusiasmo e
comprometimento aos usuários e parceiros da biblioteca.
Faça um pouco a mais e as pessoas ao seu redor verão que, ao apoiar bibliotecas, elas
estarão apoiando pessoas que estão fazendo o melhor que podem pelos públicos e pela
comunidade.
33
�Junte-se ao debate!
Realizar o advocacy significa engajar pessoas.
Uma boa maneira de conseguir isso é participar de discussões (presenciais ou virtuais)
de outros assuntos que sejam de interesse da comunidade.
Fique atento, pois isso pode acontecer em uma grande reunião, em uma consulta ou em
muita conversa on-line após uma grande notícia veiculada nas mídias. Esses momentos
podem ser uma oportunidade para você incluir a biblioteca e conversar sobre como ela
pode ajudar.
Por isso, para o nosso exercício, propomos que você se junte ao debate!
Caso tenha pouco tempo, faça uma publicação – (re)veja o 19º informativo (Participe
do debate) para saber mais – e estabeleça a ligação entre a biblioteca e o assunto da
discussão.
Se você quiser, escreva num blog ou num jornal explicando o ponto de vista da
biblioteca, responda a uma consulta, ou até mesmo vá a um evento público.
34
�Faça um acompanhamento.
Realizar o advocacy é construir relacionamentos.
Embora seja um primeiro passo importante falar com um(a) político(a), financiador(a)
ou influenciador(a), e obter o seu cartão de visita com os contatos, você não pode parar por
aí.
Na verdade, quanto mais importantes forem essas pessoas, mais ocupadas serão. Elas
precisam ser lembradas desse encontro para que você inicie um relacionamento e possa
estar em contato contínuo.
Então, para o nosso exercício, continue acompanhando alguém que você conheceu
recentemente em um evento, em uma visita, ou em outra ocasião, que seja importante para
seu advocacy local.
Envie-lhes um e-mail, ou mesmo uma carta/cartão (isto pode ser marcante, dado que
as cartas físicas são muito raras agora). Lembre-os de sua conversa e envie algumas, mas
não muitas, informações adicionais.
Pode ser uma oportunidade para mostrar seus argumentos de maneira
mais eficaz do que pessoalmente.
35
�Comemore um dia internacional.
Realizar o advocacy envolve mostrar a sua relevância.
Em informativos anteriores, falamos sobre como identificar assuntos pertinentes para
a comunidade e como reagir a eles. Mas, a biblioteca pode também promover alguns
debates em torno de efemérides internacionais.
As Nações Unidas e as suas agências identificaram uma série de dias importantes em
que se concentra uma questão específica – Dia Internacional da Mulher, por exemplo,
celebrado em 8 de março.
Nessas datas, muitos governos e outras pessoas irão falar sobre essas questões. E, as
bibliotecas também podem entrar na discussão!
Assim, a proposta para o nosso exercício é comemorar um dia internacional. Claro que
no contexto das bibliotecas alguns são mais relevantes do que outros. Por exemplo, o Dia
Internacional da Alfabetização (10 de setembro), o Dia Internacional do Desenvolvimento
da Informação (24 de outubro) e o Dia dos Direitos Humanos (10 de dezembro), são
particularmente ótimos para fazer conexões com o trabalho das bibliotecas.
Você pode fazer isso baixando um pôster ou folheto, publicando nas redes sociais, ou
até mesmo escrevendo um artigo para um jornal ou blog.
Fazer isso mostra que você e sua biblioteca fazem parte de uma conversa global e
podem fazer as pessoas pensarem em bibliotecas de um novo jeito.
36
�Imagine uma pessoa de sua comunidade e pense em três
maneiras de ajudá-la.
Ao realizar o advocacy da biblioteca é preciso, antes de tudo, considerar as pessoas.
Para convencer alguém é importante ser capaz de mostrar por que a biblioteca é
relevante para eles/elas e para as pessoas com quem se preocupam.
Quando os indivíduos estão criando sites ou outros serviços, eles muitas vezes pensam
em “personas” – tipos de pessoas que buscam atender. Os partidos políticos também fazem
assim, identificando grupos-alvo e adaptando as suas mensagens de acordo com eles.
Não precisa ser uma pessoa específica, mas sim um “tipo” como, por exemplo,
pesquisadores, estudantes, pais, jovens, idosos, etc.
Você pode fazer o mesmo!
Dessa forma, a sugestão de exercício é imaginar um integrante “típico” de sua
comunidade e pensar nas formas como você o(a) ajuda.
Se preferir, você pode fazer isso com a ajuda de seus/suas colegas e construir uma
“persona” mais complexa. Então, discutam juntos e juntas sobre o que fazer por esse
grupo.
Você pode elaborar uma lista de ideias para realizar o advocacy com grupos específicos,
ou, claro, com integrantes do governo (executivos e parlamentares) que se preocupam
com essas comunidades.
37
�Acerte na primeira frase!
Um bom advocacy pode ocorrer em segundos.
Isso pode ser porque você só tem um curto período de tempo para falar com alguém.
Mas também pode ser porque a pessoa com quem você está falando começa a se
distrair muito rapidamente. Para alguém ocupado, isto é natural.
Você precisa ter certeza de que eles/elas fiquem com a melhor impressão de você e das
bibliotecas desde o início.
Então, acerte na primeira frase.
Pratique, definindo quem você é, o que quer falar e por que isso é importante. É bom
decorar, uma vez que nem sempre os encontros são planejados.
Essa preparação também pode ajudar a construir a sua confiança para o resto da
conversa.
38
�Lembre-se de tirar uma selfie.
O advocacy bem realizado deixa rastros e evidências.
Se você quer ser capaz de construir bons relacionamentos, é importante mostrar o que
já fez e alcançou.
Ter registros de que você se encontrou com um(a) político(a), por exemplo, facilita a
continuação do acompanhamento. E é ótimo ter evidências ao falar sobre seu advocacy
para seus colegas, amigos e amigas.
Para o nosso exercício propomos que quando você se encontrar com um(a) tomador(a)
de decisões, lembre-se de tirar uma selfie!
Claro que, dependendo da pessoa com quem você está falando, uma foto tradicional
também será boa. E é uma ótima maneira de criar um senso de cumplicidade e até mesmo
um senso de diversão, desde que a pessoa que você está encontrando esteja de acordo com
o registro.
Normalmente as pessoas que estão no poder gostam que tirem fotos delas no trabalho.
Você também pode compartilhar a foto com esse alguém que conheceu – ele/ela pode
querer mostrar que está se reunindo com as partes interessadas.
39
�Compare anotações e compartilhe ideias.
Você não precisa realizar o advocacy sozinho(a)!
Um dos pontos fortes na área das bibliotecas é que existem organizações e profissionais
em milhares de cidades ao redor do mundo.
E lá há pessoas que exercem o advocacy, cada uma com seus próprios pontos fortes e
questionamentos. Isso significa que existe bastante potencial para aprender e discutir o que
você está fazendo.
Então, para o nosso exercício, compare as anotações e compartilhe ideias!
Encontre outras pessoas que estejam se envolvendo com o advocacy das bibliotecas,
veja o que tem funcionado para elas e que lições aprenderam. No seu cotidiano, aproveite
as conversas informais onde você pode realmente se aprofundar e fazer as perguntas que
deseja.
Os eventos nacionais são uma ótima oportunidade para isso, como o Seminário
Internacional Biblioteca Viva e o Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação,
que acontecerá de 26 a 30 de setembro de 2022.
Se tiver oportunidade de viajar para o exterior, o Congresso Mundial de
Biblioteca e Informação da IFLA também é um ótimo momento para ter
esses encontros.
40
�Bibliotecas não existem no vácuo – elas estão lá para servir.
Tenha sempre um item com a marca da biblioteca para apoiar seu advocacy.
Realizar o advocacy não precisa ser necessariamente apenas conversar com seus
potenciais aliados.
Para as pessoas que têm muitas reuniões pode ser difícil lembrar o que aconteceu
em uma conversa específica. Você precisa dar à pessoa com quem está falando algo para
lembrar de você e de sua mensagem.
Uma boa conversa e um bom item de apoio são essenciais para tornar a sua reunião
diferente. A proposta é que você tenha sempre um suporte por perto.
Pode ser algo simples como uma foto ou um cartão postal. Se você tiver um folheto ou
algo mais detalhado da biblioteca, é ainda melhor.
Mesmo uma “lembrancinha” pode ajudar, desde que tenha o nome da biblioteca ou da
organização a que está vinculada, ou alguma nota de sua reunião.
Isso não só acrescenta à sua apresentação, mas também, quando o(a) seu(sua)
interlocutor(a) estiver tirando as coisas da bolsa ou do paletó no fim do dia ou da semana,
eles/elas vão ver a lembrança e pensar nas bibliotecas.
41
�Pare e pense.
Realizar o advocacy nem sempre funciona na primeira vez.
Seu propósito, sua mensagem e suas ferramentas podem não ser imediatamente
eficazes. Isto é normal e não é razão para desistir. Na verdade, essa é uma experiência
realmente útil que você pode usar para melhorar as coisas.
Então, pare e pense.
Dedique um momento para refletir sobre o que deu certo e o que não deu, no contexto
em que você está atuando. Lembre-se de seus objetivos e pense se os alcançou.
Quais mensagens pareciam engajar as pessoas e quais você precisava explicar
novamente?
Você pode fazer isso sozinho(a) ou em grupo – diferentes perspectivas podem ser
úteis. Os resultados irão ajudá-lo(a) a desenvolver ainda mais o seu advocacy no futuro.
42
�Acerte na sua entrega!
Às vezes, realizar o advocacy não é sobre o que se diz, mas sobre a maneira/forma que
falamos.
Mesmo os melhores argumentos e as evidências mais fortes ainda precisam ser bem
apresentados para ter o impacto desejado. Preste atenção no vocabulário que você utiliza,
no seu tom e na velocidade que fala.
Então, para o nosso exercício de hoje, acerte na sua entrega!
Lembre-se que você é um pouco como um ator/uma atriz, que adapta a forma como
fala e age para ter um efeito maior. Por exemplo, certifique-se de que não está usando
jargão de biblioteca que outros podem não entender.
Certifique-se também de falar claramente, manter suas frases curtas e se concentrar na
mensagem que quer enviar.
E, claro, sorria e seja amável – isso fará com que as pessoas pensem mais positivamente
sobre sua mensagem.
43
�Torne seu trabalho reconhecido.
O advocacy fica mais forte quando você pode mostrar o apoio dos outros.
Ser capaz de apontar sites ou fontes que falem sobre o seu trabalho ajuda a construir
credibilidade. Isso evidencia que outras pessoas também demonstram que sua biblioteca é
importante!
Mas, como fazer isso acontecer?
Tente conseguir que um jornal escreva sobre o que você está fazendo, ou viabilize algo
na TV, ou no rádio. Mas também podemos fazer as coisas diretamente.
Então, para o nosso exercício, faça com que o seu trabalho seja reconhecido.
Encontre um site ou uma plataforma onde possa divulgar sua atuação.
Especialmente, a Semana dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
promovida pela Organização das Nações Unidas, oferece a possibilidade de colocar suas
ações em um mapa. Acesse o site e adicione o que sua biblioteca está fazendo, por exemplo,
para aumentar a conscientização ou ajudar a alcançar os ODS.
Ou ainda, busque em sua cidade grupos e/ou instituições que estejam realizando ações
alinhadas aos ODS e mostre o seu trabalho.
Mantenha as redes sociais atualizadas divulgando suas ações diariamente.
44
�Memorize nomes e rostos.
Uma forma de fazer um bom advocacy é se aproximar de tomadores/tomadoras de
decisão ou influenciadores/influenciadoras.
Se vocês têm uma conexão próxima, é mais fácil compartilhar seus argumentos. Mas,
como construir essa conexão quando se deparar com eles/elas pela primeira vez?
Uma boa maneira de criar familiaridade é evitar perguntas desconfortáveis sobre quem
são eles e elas, sendo capaz de abordá-los imediatamente pelo nome.
Ocupantes de cargos políticos (em todas as instâncias) tendem a apreciar quando as
pessoas sabem quem eles/elas são desde o primeiro momento. Contudo, isso nem sempre
é fácil em uma reunião pública.
Assim, para o nosso exercício, memorize alguns nomes e rostos.
Se você sabe que pode vê-los/vê-las em um encontro ou compromisso, procure por
eles/elas on-line e veja se há imagens disponíveis. Tente lembrar-se dessas pessoas para
que, caso as encontre, possa dizer “olá” imediatamente e ir direto aos seus argumentos.
45
�Envie um convite para visitar sua biblioteca.
Uma parte muito poderosa de realizar o advocacy é mostrar o que você está fazendo, e
não apenas falar sobre isso. É natural que as pessoas acreditem mais no que experimentam
por si próprias do que naquilo que outra pessoa diz. Eles e elas também se lembrarão
melhor da experiência!
Isto é verdade tanto para pessoas em posição de poder como para qualquer outra. Além
disso, é possível que elas não tenham visitado uma biblioteca há anos.
Para o nosso exercício de hoje, prepare e envie um convite para visitar a sua biblioteca!
Encontre alguém a quem queira influenciar (veja o informativo #7 – Descubra quem
está no comando) e, em seguida, escreva um convite que seja interessante. Pense no que
ele/ela pode querer ver ou dizer e adapte a isso (reveja o número #25 – Demonstre sua
paixão pelo seu trabalho).
Poderia haver uma oportunidade de geração de mídia para essa pessoa?
Certamente a visita – e sua preparação – levará mais do que 10 minutos, mas o convite
não precisa ser longo. Na verdade, algo mais curto pode ter mais poder.
46
�Pense em um problema e apresente as bibliotecas como a solução.
O advocacy é poderoso quando estamos oferecendo soluções.
As pessoas que você provavelmente está visando – políticos, patrocinadores e outros
– passam muito tempo tentando resolver problemas.
E existem muitos por aí, sociais, políticos e econômicos.
É claro que as bibliotecas também precisam dos/das tomadores/as de decisão para
várias coisas, como para financiamentos, leis e outros tipos de apoio. Mas, legisladores/as
podem ser mais propensos/as a ouvir com atenção quando você foca em como isso poderia
ajudá-los/as a resolver outros desafios.
Então, para o nosso exercício, pense em um problema, e então pense em como você
pode apresentar bibliotecas como a solução.
Certifique-se de que é um problema com o qual um/a tomador/a de decisão se importaria.
Você pode tentar mais do que um, é claro. Por exemplo, desemprego, falta de capacitação,
falta de integração, entre outros.
Se você praticar seus argumentos, estará em uma posição melhor para influenciar e
encorajar outras pessoas.
47
�Descreva um cenário positivo (ou negativo).
Realizar advocacy é criar empatia.
É importante fazer com que a pessoa com quem você está falando imagine o que
significa apoiar a biblioteca. Não só em termos estatísticos ou específicos, mas também
em termos de como a vida das comunidades e seus membros vai mudar, ou, claro, imagine
as consequências de não agir.
Isso permitirá que pensem sobre como eles, elas, suas comunidades e seus eleitores
seriam afetados.
Para o nosso exercício, descreva um cenário positivo ou negativo.
Tente criar uma imagem na cabeça deles e delas. Tente torná-la o mais real possível,
para que possam realmente imaginar o impacto das próprias ações.
O que significará para os indivíduos, para as sociedades como um todo?
No geral, tente ser positivo/a! Em alguns casos, um cenário negativo –
do que se perde quando as bibliotecas não recebem apoio – também pode chamar a atenção.
48
�Peça e use feedbacks.
Quando alguém faz um julgamento, tende a se importar com o que os outros pensam.
É por isso que, quando você compra um livro, geralmente há citações e referências
de outras obras. Ou, quando você procura por produtos on-line, as avaliações de outros
clientes são disponibilizadas.
Nós naturalmente tendemos a querer concordar com outras pessoas. E se elas têm uma
opinião positiva, é mais provável que você também tenha.
Você pode usar a mesma técnica com sua biblioteca.
O exercício de hoje é para que você peça e use feedbacks.
Você pode fazer isso por meio de uma simples caixa de comentários nas redes sociais
da biblioteca, ou por um formulário físico ou virtual.
Isso mostra que você está ouvindo seus usuários e suas usuárias e, contanto que peça
permissão, também pode usar esses exemplos positivos para fazer o advocacy da biblioteca.
Isso ajudará a mostrar o quanto a comunidade se preocupa com o trabalho realizado e
porque os/as tomadores/as de decisão também deveriam.
49
�Pense em um contra-argumento.
O advocacy é sobre fazer as pessoas mudarem de ideia, quando você quer que pensem
e ajam de formas diferentes em relação às bibliotecas.
Às vezes, o único problema é que elas apenas não tiveram tempo para pensar sobre
isso antes. Ocasionalmente pode haver alguma resistência.
Você precisa ser capaz de explicar por que elas deveriam gastar tempo ou esforço em
bibliotecas, em vez de outra coisa.
E se você quiser mudar uma lei ou um regulamento, pode ser que exista oposição. Seu
advocacy será mais forte se você conseguir entender isto.
Então, para o nosso exercício, pense em um contra-argumento.
Tente imaginar por que alguém não apoiaria bibliotecas em geral, ou sua solicitação
em particular.
Escreva suas ideias e tente respondê-las. Isso deixará você mais convincente!
50
�Diga a um/a amigo/a para dizer a um/a amigo/a.
O advocacy é sobre ser convincente.
Como foi mencionado algumas vezes em nossa série, sua mensagem pode ser mais
poderosa quando vem de outra pessoa.
Você pode tentar fazer com que uma celebridade fale em seu nome, por exemplo. Mas
não precisa focar somente em figuras públicas, os próprios visitantes da biblioteca podem
te ajudar muito!
Nossa proposta de exercício é que você diga a um/a amigo/a para dizer a um/a amigo/a.
Encoraje alguém que visita a sua biblioteca a compartilhar com seus/suas conhecidos/
as o motivo de ele/ela gostar tanto do local.
Na verdade, ouvir isso de um/a amigo/a pode ser mais convincente do que de uma
celebridade que não se conhece pessoalmente.
Você pode fazer isso conversando com os/as usuários/as, mas também por meio de um
cartaz, ou outro lembrete na biblioteca.
51
�Defina marcos importantes.
O advocacy pode levar tempo para alcançar o sucesso.
Uma combinação de ações pode ser necessária para atingir seus objetivos, como por
exemplo realizar várias reuniões e eventos, contatar parceiras e parceiros, jornalistas ou
outros influenciadores mais de uma vez.
Para estruturar seu trabalho, você precisa pensar tanto em um objetivo de longo prazo
(veja o informativo nº 8 – Olhar para o futuro), quanto em objetivos de curto prazo.
Então, para o nosso exercício de hoje, defina marcos para realizar seu trabalho de
advocacy.
Você pode fazer isso atuando em função de seu propósito geral. Que passos, em qual
ordem, o levarão a esse objetivo? Quem você precisa convencer a apoiá-lo/apoiá-la? Quais
materiais você precisa para convencêlos/ convencê-las?
Definir essas etapas não só ajudará a manter o impulso, mas também a identificar os
sucessos ao longo do caminho e se manter motivado/motivada.
52
�Aprenda um fato notável sobre bibliotecas.
Para ter impacto em seu advocacy, você precisa ser memorável.
Há muitas pessoas indo em busca de tomadores e tomadoras de decisão e demandando
coisas deles/delas.
É necessário garantir que o que você diz e faz permaneça na mente das pessoas, para
que pensem em você quando tomarem decisões sobre legislação ou financiamento.
Existem várias maneiras de fazer isso – usando um apoio ou suporte (informativo nº
33 – Deixe sua marca), planejando uma ótima primeira frase (informativo nº 30 – seja
objetivo), ou descrevendo um cenário positivo ou negativo (informativo nº 40 – Desperte
empatia).
Uma maneira é oferecer informações que eles e elas possam usar em suas próprias
conversas – algo interessante (ou mesmo divertido!) em nível pessoal.
Essa pode ser uma ótima maneira de conseguir e manter a atenção das pessoas. Então,
para o nosso exercício, aprenda um fato notável sobre bibliotecas.
Exemplos incluem o fato de que mais pessoas vão a bibliotecas do que ao cinema, ou
às dez melhores atrações turísticas da sua cidade.
Veja o que você pode descobrir sobre as bibliotecas do Brasil e de outros países. Use
histórias e dados do Mapa Mundial de Bibliotecas da IFLA para procurar inspiração.
53
�Pense em como avaliar o sucesso.
A necessidade de realizar o advocacy da biblioteca é clara, mas nem sempre é fácil
dizer o quão eficaz está sendo.
Mudanças de opinião, ou de intensidade de apoio nem sempre são simples de medir.
Mas está longe de ser impossível!
Quando você estabelece metas, vale a pena tomar pelo menos alguns minutos para
avaliar se você está indo na direção certa.
Para o nosso exercício, pense em como avaliar o sucesso.
Quais indicadores demonstram se você atingiu seu objetivo de longo prazo ou seus
marcos?
Você pode usar estatísticas de redes sociais ou contar citações na mídia. Você também
pode perguntar às pessoas, ou usar evidências anedóticas.
Você ainda pode descobrir mais sobre medidores de avaliação no manual da IFLA
Bibliotecas e as Metas de Desenvolvimento Sustentável: Um Manual de Contação de
Histórias.
54
�Salve sites e recursos úteis.
Realizar o advocacy é mais forte quando traz referências!
Ser capaz de confirmar o que está você está dizendo com histórias, estatísticas ou
estudos torna você mais convincente.
Já falamos sobre elementos individuais – um exemplo (informativo nº 4 – Os números
contam), ou uma citação (informativo nº 17 – Frases de impacto) –, mas, dado que você
pode precisar usar referências diferentes em situações diferentes, é melhor ter algumas.
Assim, nossa sugestão é que você salve sites e recursos úteis.
Quando vir algo que possa usar, salve em seu navegador ou mantenha em uma lista
pessoal. Existem várias ferramentas on-line gratuitas para isso: Start.me, Raindrop.io,
Google Bookmarks, são apenas algumas.
Se você tiver uma coletânea, pode começar a organizá-la, por exemplo, por cada um
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A seção Histórias dos ODS do
Mapa Mundial de Bibliotecas da IFLA é um bom lugar para começar, e aqui está um
exemplo de como coletar e organizar essas referências.
Você pode então usá-las quando estiver preparando cartas, blogs ou apresentações.
55
�Bibliotecas não existem no vácuo – elas estão lá para servir.
Realizar o advocacy é sobre ser notado e continuar sendo notado.
Você precisa de algo que fique na cabeça das pessoas com quem está falando.
Já discorremos sobre fatos surpreendentes e estatísticas, mas você também precisa que
sua mensagem “grude”.
Publicitários, publicitárias, políticos e políticas sabem disso há muito tempo ao planejar
campanhas.
Uma frase curta e atraente para resumir o que você faz pode ser realmente poderosa.
Então, para o nosso exercício, crie um slogan. Tente torná-lo breve e cativante – algo
que caberia até mesmo em um crachá ou broche.
Você também pode testá-lo com colegas e amigos.
56
�Agradeça.
Realizar o advocacy trata-se de construção de apoio.
Se baseia em convencer outras pessoas da necessidade de falar e agir pelas bibliotecas.
Essas pessoas podem fazer a diferença para você em seu trabalho.
Um advocacy bem-sucedido pode depender de toda uma rede – desde aqueles que
estão no poder (informativo nº 7 – Decisão de impacto), até jornalistas (informativo nº 14
– Imprensa e biblioteca) e outros parceiros e parceiras (informativo nº 9 – Sintonia com a
comunidade).
Pode até envolver seus amigos e suas amigas, que o/a ajudaram a refinar sua mensagem
ou a ecoá-la. Essas pessoas fazem diferença e é importante reconhecer isso.
Para o nosso exercício de hoje, agradeça!
Você pode enviar um cartão ou nota – escrever à mão torna ainda mais pessoal –, ou
apenas se certificar de mostrar sua gratidão quando os/as ver.
Você pode até fazer uma parede da fama para amigos e amigas da biblioteca!
57
�Celebre o sucesso.
Realizar o advocacy nem sempre é fácil.
Por meio desta série, compartilhamos 50 ideias do que você pode fazer em 10 minutos
para realizar um advocacy mais eficiente.
Juntos, os informativos totalizam mais de oito horas de atividade.
É claro que, na realidade, você pode gastar mais tempo para pensar, planejar e fazer
coisas, e para alcançar objetivos de médio ou de longo prazo que definiu para si mesmo,
usando seus indicadores de sucesso.
Com todo esse trabalho, você merece um momento para descansar e se parabenizar.
Portanto, para o nosso 50º e último exercício, celebre o sucesso!
Pense em como as coisas mudaram e em como você fez parte disso. Reflita também
sobre o que mais você quer fazer no futuro.
58
�Tradução e adaptação das postagens The 10 Minute Library Advocate,
do blog Library Policy and Advocacy da International Federation of
Library Associations and Institutions (IFLA).
59
�60
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Livros
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
O advocacy de 10 minutos da biblioteca
Subject
The topic of the resource
Advocacy
Biblioteca
Federação Internacional de Associações e Instituições
Bibliotecárias (IFLA)
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA)
Source
A related resource from which the described resource is derived
Origina: The 10 Minute Library Advocate, do blog Library Policy and Advocacy
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2023
Rights
Information about rights held in and over the resource
Organizado por: SP Leituras
Tradução por: One Translations
Revisão e adaptado por: SP Leituras e Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições (FEBAB)
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
Eletrônico
Language
A language of the resource
pt
Type
The nature or genre of the resource
Livro
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo (São Paulo)
Description
An account of the resource
Quando nos deparamos em 2019 com a iniciativa do “Advocacy de 10 minutos da biblioteca” da Federação Internacional de Bibliotecas (IFLA) tivemos o desejo de disseminá-la entre as equipes de bibliotecas do Brasil. Isso porque desde 2012, esse é um tema importante e então promovemos em iniciativa conjunta entre a FEBAB e SP Leituras, um curso presencial sobre “advocacy” com Marci Merola da Associação Americana de Bibliotecários (ALA) na Biblioteca de São Paulo. Naquele momento o termo “advocacy” era desconhecido pela área de bibliotecas e para contribuirmos nesta discussão traduzimos o “Manual das pessoas que advogam pela biblioteca”(*) de autoria da Associação de Bibliotecários Americana (ALA) e alinhamos várias ações para a promoção dos conceitos, visando estimular o engajamento das bibliotecas. Nossa intenção era sensibilizar as equipes para a preparação de planos locais de advocacy, sintonizados com as associações filiadas à FEBAB e com os Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas. Mas somente em 2021 é que conseguimos estabelecer uma nova parceria para traduzir e adaptar “o advocacy de 10 minutos da biblioteca” que, da mesma forma como lançado pela IFLA, idealizamos uma campanha de promoção de postagens com os conteúdos veiculados nas redes sociais da FEBAB e Sistema Estadual de Bibliotecas do Estado de São Paulo – SISEB. Ao final da campanha decidimos compilar todas as dicas e transformá-las neste livro de modo a facilitar o uso pelas equipes bibliotecárias e contribuir para termos mais materiais sobre o tema aplicado às bibliotecas. Então é com muita emoção que laçamos esse livro esperando que ele alcance ainda mais pessoas. Essa iniciativa não se esgota aqui, a partir desse livro queremos promover oficinas para ampliarmos a corrente em defesa das bibliotecas brasileiras. Assim, convidamos você a ler ou reler esse conteúdo e se engajar , lembrando que ninguém está só nesta “missão” . É importante se juntar às redes, sistemas estaduais e, claro, ao movimento associativo nacional. Então, vamos começar? Seja você também um(a) ativista pelas bibliotecas! Boa leitura!
Advocacy
ifla
Livros
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/5/6997/IFLA_TREND_REPORT_2021_UPDATE_-_Tradução.pdf
74b17e9963b63be666e32c13022ddfd4
PDF Text
Text
atualização
2021 do
Relatório de
tendências da
IFLA
20 tendências política, econômica, social, cultura e
tecnológica para moldar o futuro da nossa área e das
comunidades que servimos, assim como identificar
líderes bibliotecários emergentes
PERCEPÇÕES RETIRADAS DO
RELATÓRIO DE
TEDÊNCIAS
�A IFLA é a Voz Global das Bibliotecas e dos
Profissionais da Informação
A IFLA coloca as bibliotecas no cenário mundial ajudando seu desenvolvimento.
Nós somos a voz global e a instituição de maior confiança da biblioteconomia e
profissionais da informação, com uma rede ativa com mais de 1.500 membros - instituições
e profissionais líderes na área da biblioteconomia - em cerca de 150 países, e relações bem
estabelecidas com a Nações Unidas e outras organizações internacionais.
Junto com nossos membros, trabalhamos para definir a ordem profissional e desenvolver
padrões para prestação de serviços em bibliotecas, melhorar o acesso a informação e
recursos do patrimônio cultural e colocar esse trabalho no centro das políticas locais,
nacionais e globais.
Contribuidores do Relatório de Tendências Original:
Olivier Crepin-Leblond, Presidente da Internet
Corporation for Assigned Names and
Numbers (ICANN) At-large Advisory Committee
(ALAC)
Andreas Schleicher, Diretor de Educação,
Organisation for Economic Cooperation and
Development (OECD)
Suneet Singh Tuli, Fundador e CEO, DataWind Ltd
Anriette Esterhuysen, CEO, Association for
Progressive Communications (APC)
Fred Stielow, VP/Reitor de Bibliotecas, American
Public University System
Divina Frau-Meigs, Professora, Université du
Paris III: Sorbonne Nouvelle
Fred von Lohmann, Diretor Jurídico, Copyright,
Google Inc.*
Melissa Gregg, Pesquisadora Principal, Intel
Center for Social Computing
Louis Zacharilla, Co-fundador, Global Intelligent
Community Forum
John Houghton, Professor Bolsista, Centre for
Strategic Economic Studies, Victoria
University
*Comentando a título pessoal
As atualizações do Relatório de Tendências estão
disponíveis nas versões de 2016, 2017, 2018 e 2019
Deborah Jacobs, Diretora, Global Libraries, Bill &
Melinda Gates Foundation
Mariéme Jamme, CEO, Spot One Global
Solutions
Janis Karklins, Assistant Diretora-Geral Adjunto
de Comunicação e Informação, UNESCO
Alejandro Pisanty, Professor, National
Autonomous University of Mexico
Lee Rainie, Diretor, Internet & American Life
Project, Pew Research Center*
Para consultas de imprensa e mais informações,
por favor contatar: Stephen Wyber, Diretor de
Política e Advocacy da IFLA
(stephen.wyber@ifla.org)
Kate Russell, Apresentadora, BBC Click Online
2
�O QUE É O RELATÓRIO DE TENDÊNCIAS DA IFLA?
O Relatório de Tendências da IFLA é
o resultado do diálogo entre a
biblioteconomia e especialistas de
diversas áreas do conhecimento.
para reflexão, trazendo novas vozes
de dentro para fora da
biblioteconomia.
Essas atualizações podem ser
encontradas no site do Relatório de
Tendência – trends.ifla.org.
Por meio da troca de experiências e
perspectivas, foi proporcionado
uma nova oportunidade de explorar
e discutir tendências emergentes
que estão moldando o mundo em
que as bibliotecas estão inseridas.
Fundamentalmente, tudo isso
pretende ser um ponto de partida um catalisador - para discussões
tanto na biblioteconomia quanto
com parceiros externos. É um
suporte para pensar na melhor
forma de se preparar no que está
por vir, para que as bibliotecas não
apenas sobrevivem, mas
prosperem.
O primeiro Relatório identificou
cinco tendências de alto nível no
ambiente da informação global,
abrangendo o acesso a informação,
educação, privacidade,
envolvimento cívil e
transoformação tecnológica. Não
busca prever o futuro, mas sim
explorar forças que influenciem
nisso.
É onde você entra. Como as
bibliotecas atendem essas
tendências que tem influência
decisiva no quão importante é o
papel das nossas instituições no
novo cenário da informação. Isso
talvez seja a questão mais urgente
que a profissão enfrenta hoje.
Assim, o Relatório de Tendências
não é apenas uma publicação única
e estática, mas sim um conjunto
dinâmico e em evolução de recursos
online para bibliotecas e
profissionais da informação.
Encorajamos que use a Atualização
do Relatório de Tendências da IFLA
para organizar e facilitar workshops
criativos com a sua comunidade,
rede de contatos, colegas ou colegas
de trabalhos. Fique atento às
notícias da IFLA em www.ifla.org e
nos siga no Facebook e Twitter!
Ao lado do relatório original, há
uma gama de dados e informações
para as bibliotecas usarem,
compartilar e construir, incluindo
bibliográfias e revisão de literatura
dos relatórios existentes, periódicos
especializados e resumo de
discussões.
As atualizações subsequentes
abriram novos caminhos e questões
3
�Apresentação - Barbara Lison
Presidente da IFLA 2021-2023
Estou muito feliz em compartilhar com vocês a Atualização-2021 do Relatório de
Tendências da IFLA!
Esta edição gira em torno da minha Sessão de Presidente eleita no World Library
and Information Congress (WLIC) de 2021, que abarcou tanto o tema presidencial
da minha antecessora, Christine Mackenzie, quanto o meu próprio.
O tema de Christine - Vamos Trabalhar Juntos - moldou o Congresso como um todo,
ressaltando o quão importante é o compartilhamento de ideias e a colaboração
para se construir inovação e resiliência. O meu tema - Bibliotecas Construindo um
Futuro Sustentável - enfatiza a necessidade de olhar para o futuro, e o vínculo
estreito entre a sustentabilidade das nossas comunidades, do nosso meio-ambiente
e das nossas próprias bibliotecas.
Ao ler esta Atualização, você descobrirá mais sobre várias tendências potenciais que
podem vir a moldar este futuro, conforme sugerido por líderes emergentes de
bibliotecas ao redor do mundo - as pessoas que estarão na vanguarda do nosso
campo quando chegar esse momento.
Estas são reflexões esenciais. Elas nos ajudam a reiterar porque a nossa profissão,
as nossas instituições e os nossos serviços são relevantes. Elas nos ajudam a
reavaliar o que estamos fazendo agora. E nos ajudam a dar início a novas linhas de
discussão e colaboração. Muito me alegraria que vocês as levassem em conta para o
desenvolvimento do seu futuro profissional.
Ao longo da minha Presidência, desejo continuar estas discussões, trabalhar com os
colegas de profissão, onde quer que vocês estejam, em todas as fases da carreira,
para ajudar a construir este futuro mais sustentável para as nossas comunidades,
para as nossas bibliotecas, para a nossa Federação.
Gostaria de agradecer a todos aqueles que apresentaram ideias, assim como à
Rashidah Bolhassan, Heba Ismail, Andreas Mittrowann, Kay Raseroka, e, claro, ao
Secretário-Geral da IFLA, Gerald Leitner, e à equipe da IFLA por fazer da minha
Sessão de Presidente eleita no World Library and Information Congress (WLIC) de
2021 um grande sucesso.
Boa leitura!
4
�Introdução - Gerald Leitner
Secretário-Geral da IFLA
Bem-vindo à Atualização-2021 do
Relatório de Tendências da IFLA!
Temos a sorte, enquanto campo de
atuação, de contar com um corpo forte de
milhões de profissionais e outros
trabalhadores em bibliotecas e
informação comprometidos em
proporcionar um significativo acesso à
informação como um indutor de
desenvolvimento. O conjunto de suas
experiências, insights e energia nessa
atividade, são um recurso vital para
garantir que estamos prontos para
enfrentar este futuro.
Após um ano de pausa, temos o prazer de
compartilhar uma nova edição,
apresentando ideias e sugestões que
esperamos que venham a fomentar ideias
e reflexões de longo prazo no campo da
biblioteca, em todos os níveis.
Sem dúvida, a pandemia da COVID-19 foi
um choque, sendo que poucos previram
sua magnitude e impacto sobre as nossas
comunidades, instituições e a nossa
profissão. Contudo, também está claro
que estamos longe do fim, com cada dia
nos afastando ainda mais daquilo que
costumávamos considerar normal. Parece
improvável que, algum dia, iremos nos
livrar completamente da COVID, ou que
as coisas voltarão a ser como eram antes.
Por meio da Visão Global, da Loja de
Ideias e da Estratégia da IFLA, já se tem
recorrido a esse recurso para redesenhar
e reorientar o próprio trabalho da IFLA
para o futuro.
No entanto, uma Estratégia nunca pode
ser um ponto final. A Estratégia da IFLA,
apoiada pelas nossas novas estruturas de
governança, existe para permitir que a
área de biblioteca continue a mobilizar-se
para planejar e se preparar para o futuro,
da forma mais inclusiva, eficaz e
transparente possível. A nossa Visão - de
um campo bibliotecário forte e unido,
potencializando sociedades alfabetizadas,
informadas e participativas - é uma visão
de longo prazo, e é nisso que devemos
nos concentrar.
E isto não é tudo. A pandemia se
sobrepôs às mudanças em andamento e, em alguns casos, às crises - que já
estavam tendo um impacto sobre o
trabalho das bibliotecas. Por vezes, estas
mudanças chegaram a interagir com os
efeitos da COVID-19, aumentando,
diminuindo ou transformando-os.
Essencialmente, a pandemia - tal como
outras transformações no nosso mundo tem testado nossa capacidade de
adaptação às mudanças, e de mostrar
resiliência, imaginação e inovação. Esta
capacidade será fundamental para que a
nossa atividade possa continuar a
desempenhar um papel central na
garantia de um desenvolvimento
sustentável para o futuro.
O Relatório de Tendências original da
IFLA, de 2013, e as atualizações
subsequentes de 2016, 2017, 2018 e 2019,
todos visam a fornecer combustível para
esta reflexão.
5
�Na sequência de nossa edição de 2019,
que se baseou nos insights apresentados
pelos palestrantes da Sessão Presidencial
no World Library and Information
Congress daquele ano, esta edição
também oferece uma oportunidade para
aprofundar ainda mais algumas das
ideias veiculadas e compartilhadas no
WLIC deste ano.
A maior parte do relatório deste ano está
focada nas 20 Tendências provenientes
das contribuições recebidas dos líderes
emergentes no início de 2021.
Todas essas tendências representam
possíveis direções em que as nossas
sociedades e a nossa atividade poderiam
evoluir. Não há certeza de quais delas irão
adiante e as que seguirem irão interagir e
às vezes entrar em conflito com as outras,
a fim de moldar o futuro.
Seguindo as tendências, há seções mais
curtas que descrevem como a sessão da
Presidente eleita no WLIC foi conduzida, e
possíveis variações na condução, bem
como links para vídeos enviados por uma
seleção dos líderes emergentes que
propuseram tendências.
Gostaria, em especial, de agradecer
sinceramente a todos aqueles que
contribuíram com as ideias que ajudaram
a moldar este relatório, assim como aos
outros que enviaram ideias
anonimamente. As tendências aqui
sugeridas não devem ser atribuídas a
nenhum indivíduo.
6
�20 Tendências
Através de uma pesquisa realizada em
Junho e Julho de 2021, a IFLA pediu
aos líderes bibliotecários emergentes
que identificassem as tendências que
eles acreditavam que moldariam a
Biblioteconomia nos próximos dez
anos, e de que forma. Estas ideias
foram analisadas pela Direção-Geral
da IFLA, e foram identificadas vinte
tendências no total para estimular a
reflexão na Sessão da (então)
Presidente eleita no World Library and
Information Congress (WLIC) de 2021.
Além disso, com frequência, ocorre
sobreposição entre tendências e, em
alguns casos, conflito. Isso não
surpreende - muitos dos rumos
seguidos por nossas economias e
sociedades são o resultado de
diferentes probabilidades e
tendências que se unem, criando uma
série de resultados possíveis.
Em cada caso, é definido um cenário
de alto nível com base nas ideias
recebidas, seguido de novas
percepções [insights] obtidas a partir
das nossas contribuições, inclusive
quanto a possíveis respostas. As
tendências são muitas vezes abertas,
representando um direcionamento,
ao invés de um ponto de chegada
específico. É quando as tendências se
unem que cenários futuros específicos
podem ser determinados.
As tendências como estão aqui
expostas são, naturalmente, apenas
uma forma de classificação do rico e
diversificado conjunto de ideias
recebidas. Algumas são amplas,
abordando mudanças gerais na
política e na sociedade, enquanto
outras são mais especificas para as
próprias bibliotecas.
7
�1 TEMPOS DIFÍCEIS À FRENTE!
Uma recuperação lenta da COVID pressionará todos os tipos de gastos
públicos, obrigando as bibliotecas a intensificarem esforços na defesa de
seus interesses
Os colaboradores enfatizaram o risco
de que as necessidades a curto prazo
dos governos de obter recursos
(especialmente em países sem acesso
a empréstimos, tais como pequenos
estados insulares em
desenvolvimento) possam combinarse com a crença (errônea) de que,
graças à tecnologia, as bibliotecas são
menos necessárias do que antes.
oportunidades de avaliar o efeito do
nosso trabalho sobre as comunidades
que servimos. A defesa dessa causa
deve ser dirigida não apenas àqueles
que decidem, mas também a
comunidades mais amplas e
potenciais parceiros.
Além disso, tornar as bibliotecas uma
parte integrante das estratégias de
diferentes ministérios, agências e
organizações poderia ajudar a
assegurar um futuro melhor, e
também a garantir que as bibliotecas
estão mais aptas a compreender e
responder às necessidades. Para tal,
as bibliotecas podem precisar
trabalhar mais para alinhar-se (ou
demonstrar alinhamento ) com as
prioridades dos governos, instituições
patrocinadoras e outros.
Especificamente, eles demonstraram
preocupação de que a automação de
algumas tarefas de biblioteca possa
levar a uma impressão de que seja
necessário reduzir a equipe, tornando
o mercado de trabalho mais
competitivo. Ademais, também foi
destacado que a tecnologia tem seus
próprios custos, e não somente da
compra inicial, mas também da
contínua manutenção e atualização.
Especialmente num ambiente de
recursos limitados, isto poderia
também levar a uma maior pressão
sobre as despesas destinadas a outras
atividades.
Estes tipos de esforço seriam
necessários em todos os níveis - local,
regional, nacional e global - onde
quer que as decisões estivessem
sendo tomadas.
Quanto a como reagir, muitos
enfatizaram a necessidade de acelerar
o ritmo na defesa dos interesses das
bibliotecas, e de cumprir o objetivo de
tornar cada bibliotecário um defensor
dessa causa. Para fortalecer esta
defesa, precisamos demonstrar
melhor o nosso valor, aproveitando
8
�2 O VIRTUAL CHEGOU PARA FICAR!
As pessoas continuam a preferir o acessar remotamente os serviços de
biblioteca, colocando em questão o valor dos espaços e do acervo físico
Para muitos colaboradores, ficou claro
que a prestação de serviços para
usuários à distância continuaria a ser
a norma. A pandemia já havia forçado
uma reflexão sobre como prestar
serviços, mas passar de uma lógica de
prestação remota temporária para
uma permanente foi um passo à
frente.
Ao mesmo tempo, em um ponto que
repercutiu na Tendência 10, é
provável que todo o potencial do
virtual só esteja disponível onde tanto
as bibliotecas como os usuários
tenham o equipamento e as
habilidades necessárias. Além do
mais, a mudança para o virtual
também representa o risco de colocar
as bibliotecas em concorrência mais
direta com outros serviços online pela
atenção das pessoas. A fim de reter
uma "fatia do mercado", as
bibliotecas teriam de prestar mais
atenção às tendências tecnológicas,
compreender as suas implicações, e
reagir adequadamente.
Os colaboradores viram tanto pontos
potencialmente positivos quanto
negativos nisso. Pelo lado positivo,
alguns deles observaram que as
ferramentas digitais proporcionavam
novas possibilidades de prestar
serviços mais personalizados,
tornando realidade conceitos como a
aprendizagem centrada no estudante.
Havia também possibilidades
interessantes de prover acesso a uma
gama ampliada de conteúdos usando
uma gama ampliada de meios,
facilitando o atendimento a
necessidades variadas.
Caso contrário, como já salientado na
Tendência 1, havia o risco de os
tomadores de decisão enxergarem
uma justificativa mais fraca para a
prestação de apoio financeiro às
bibliotecas, especialmente para a
manutenção dos locais físicos das
bibliotecas. Ademais, a prestação de
serviços virtuais levanta questões
sobre como proteger os direitos
fundamentais, sobretudo a
privacidade, dado que as bibliotecas
dependem frequentemente de
prestadores terceirizados.
Além disso, vários colaboradores
apontaram que a mudança para o
virtual poderia também tornar as
bibliotecas capazes de realizar o seu
potencial como centros não só de
gestão de conhecimento, mas
também de geração de conhecimento,
com maior ênfase na produção e
comunicação de conteúdos e serviços
digitais.
9
�3 RETORNO AOS ESPAÇOS FÍSICOS
As pessoas redescobrem o valor dos espaços, que proporcionam
oportunidades para trocas e discussões significativas
Alguns colaboradores sentem que as
pessoas ficariam muito felizes de retornar
aos espaços físicos e encontrar com
outros de suas comunidades à medida
que as restrições forem levantadas. De
fato, diante da tendência geral por
moradias menores e mais
individualizadas e uma vida menos
comunitária, a importância dos locais
para contatos e atividades sociais poderia
aumentar. Com efeito, com muitos
governos optando por manter as
bibliotecas abertas mesmo quando outros
serviços permanecem fechados, este
poderia até ser o caso agora, embora este
tipo de uso das bibliotecas seja
necessariamente limitado pela
necessidade de proteger a saúde e o
bem-estar tanto dos funcionários como
dos usuários.
uma "caixa de areia" onde as pessoas
pudessem experimentar e interagir com
a tecnologia sem risco ou custo indevido,
na forma, por exemplo, de oficinas de
experimentos. Sem dúvida, uma vez que
as coleções se movimentam on-line,
poderia ser liberado espaço nas
bibliotecas para outras atividades de
grande impacto. Isto complementaria o
papel atual das bibliotecas no
desenvolvimento de coleções localmente
relevantes e no apoio à coesão social e a
uma identificação no nível local.
Havia, contudo, a percepção de que a
eficácia da utilização dos espaços físicos
não podia ser tida como garantida. Não
bastava ser simplesmente um local que
oferecesse WiFi liberado e contação de
histórias , embora estes fossem
claramente elementos importantes antes, precisávamos pensar no papel
sociológico dos bibliotecários, e de que
forma eles poderiam agir como
facilitadores e mediadores para gerar
resultados positivos em suas
comunidades. Da mesma forma, há uma
necessidade constante de se refletir
acerca de como manter os espaços físicos
atrativos, úteis e acessíveis a todos.
O lugar das bibliotecas nas comunidades
também apareceu em uma série de
contribuições, sugerindo a necessidade
de uma nova reflexão sobre como se
envolver com o ambiente local e outros
atores locais, incluindo as empresas. Ao
proporcionar espaços para o
envolvimento ativo nas informações,
discussões e tomadas de decisão, as
bibliotecas poderiam ajudar a dar suporte
ao desenvolvimento de soluções
adequadas a questões locais.
Finalmente, como um colaborador
observou, esta tendência pode ser algo
ainda para o futuro, com muitas pessoas
cautelosas ou simplesmente incapazes de
regressar aos espaços físicos das
bibliotecas, trazendo novas questões
sobre inclusão e alcance.
Diversos colaboradores ressaltaram que
os espaços físicos e a tecnologia não
eram mutuamente excludentes - pelo
contrário, os dois poderiam se
complementar de maneira eficaz. Por
exemplo, as bibliotecas poderiam prever
10
�4 A ASCENSÃO DAS HABILIDADES INTERPESSOAIS
Numa época de evolução acelerada das tecnologias, torna-se cada vez mais
importante que os bibliotecários sejam capazes de inovar e adaptar-se a
situações imprevisíveis
Em todos os setores econômicos, a
crescente valorização das habilidades
interpessoais [Soft Skills], bem como
da capacidade de aprender e se
requalificar, já é bem reconhecida, e
para a Biblioteconomia não é
diferente. À medida que os materiais
sob nossa guarda e aos quais damos
acesso, as ferramentas de que
dispomos e as necessidades e
expectativas das comunidades
evoluem, é importante ter as
habilidades que nos permitam evoluir
com eles.
Determinados colaboradores
ressaltaram também a relevância do
pensamento crítico dentro da
profissão em torno de tendências
mais gerais na sociedade, sobretudo
as impulsionadas pela adoção de
tecnologias digitais. Ter uma
perspectiva tão ampla pode tanto
ajudar a manter o foco, quanto a dar
sentido às mudanças que estamos
notando no cotidiano.
Do mesmo modo, é preciso estar
antenado com a cultura popular, bem
como com a forma como diferentes
gerações interagem com a
informação e aprendem. Era clara a
capacidade de compreender e
responder às necessidades dos
indivíduos, recorrendo à inteligência
emocional, a fim de apoiar o seu bemestar, e ajudá-los a desenvolver as
meta-literacias necessárias para
torná-los participantes ativos na
sociedade da informação.
Os tipos específicos de habilidades
'soft' destacadas pelos colaboradores
incluem resiliência, agilidade,
flexibilidade, construção de confiança
na comunidade, construção de
parcerias, resolução de problemas, e
uma capacidade de responder
positivamente ao inesperado. Alguns
salientaram em particular a
necessidade de inovação e
criatividade, com o surgimento de
novos papéis para pessoas com
formação em Artes.
Para este fim, as respostas
enfatizaram o valor de trabalhar em
colaboração próxima com os colegas,
incluindo além das fronteiras e tipos
de instituição, com o objetivo de
identificar tendências e soluções. Em
termos mais abrangentes, precisava
ser dada a merecida prioridade ao
desenvolvimento profissional
contínuo.
11
�5 A DIVERSIDADE É LEVADA A SÉRIO
Uma consciência crescente da existência e dos impactos da discriminação
leva a uma reforma radical das nossas coleções, serviços e práticas
Os colaboradores ressaltaram que os
acontecimentos recentes lançaram uma
nova luz sobre a necessidade de se
priorizar promoção de equidade,
diversidade e inclusão para torná-las
realidade. Esta questão diz respeito não
só a como as bibliotecas podem
contribuir para uma sociedade melhor,
mas também a como nós mesmos
trabalhamos.
construir conhecimento especializado em
torno do 'design thinking' (foco no
projeto) e da acessibilidade.
A tecnologia efetivamente oferece
possibilidades interessantes aqui. Novas
possibilidades já foram abertas para
pessoas com deficiência, mas,
potencialmente, há mais a alcançar em
termos de modulação da prestação de
serviços para maximizar o seu impacto
positivo. Da mesma forma, a tecnologia
também criou oportunidades para
assegurar a preservação de uma gama
muito mais diversificada e inclusiva de
patrimônio e o acesso a ela. Ao mesmo
tempo, a necessidade de respeitar os
direitos (sobretudo a privacidade) e evitar
a exclusão dos que não interagem, como
já mencionado, também entra em jogo.
Esta é uma questão ética, já que não pode
ser aceitável discriminar
injustificadamente grupos ou indivíduos
com relação aos níveis de serviço
oferecidos, mas também uma questão de
desempenho. Se o sucesso das bibliotecas
for mensurado de acordo com sua
capacidade de ajudar todos os membros
das comunidades a que servem a
satisfazer as suas necessidades de
informação e alcançar o seu potencial,
qualquer exclusão de indivíduos,
consciente ou não, é um fracasso.
A chave para responder aqui será olhar
para a diversidade na própria área de
Biblioteconomia. Em alguns países, ao
menos, existe uma consciência crescente
de como as escolhas feitas no passado
criaram padrões de discriminação que
agora precisam urgentemente ser
enfrentados. Ao fazê-lo, não só se
cumprirá uma responsabilidade
fundamental no terreno da nãodiscriminação, mas também ajudará a
construir a nossa capacidade de
satisfazer as necessidades de diversas
comunidades. Aprender a fazer isto de
maneira eficiente será provavelmente um
tema central nos meses e anos
vindouros.
Para ter sucesso, teremos de continuar
desenvolvendo ferramentas e
competências que nos permitam
identificar de maneira eficaz as diferentes
necessidades, bem como os impactos das
práticas e serviços disponíveis atualmente
nas bibliotecas. Também é importante
compreender como podemos avaliar a
diversidade das coleções, e solucionar as
lacunas encontradas. É provável
que os peritos em catalogação
desempenhem um papel importante
nesse âmbito. Precisamos, também,
12
�6 UM CÁLCULO AMBIENTAL
As mudanças climáticas trazem novas ameaças às bibliotecas e às
comunidades a que elas servem, forçando uma adaptação radical para evitar
catástrofe
As bibliotecas não serão poupadas dos
impactos das mudanças climáticas, seja
sob a forma de alterações ambientais
graduais, ou sob a forma de eventos
climáticos extremos que podem causar
tantos danos a vidas e coleções.
Além disso, o patrimônio que as
bibliotecas detêm pode contribuir para
isso, propiciando insights sobre formas
alternativas de se fazer as coisas que
podem muito bem se mostrar mais
respeitosas ao meio ambiente.
Quanto aos edifícios das bibliotecas,
novas diretrizes arquitetônicas
provavelmente terão um papel
importante, permitindo que as
bibliotecas resistam melhor às ameaças
e ao mesmo tempo promovendo a
eficiência energética. A gestão
abrangente dos riscos será importante,
a fim de evitar perdas irreparáveis.
Políticas para enfrentar a mudança
climática podem muito bem levar a
uma necessidade de requalificação,
ligada à descarbonização, ao
crescimento das indústrias verdes e a
um possível retorno ao nível local, com
uma maior participação da produção e
do consumo ocorrendo nas
proximidades. Em ambos os casos, é
provável que os trabalhadores
precisem ter acesso a programas que
possam ajudá-los a desenvolver novas
capacidades ou, mais em meta nível,
garantir que eles
tenham as habilidades (como a
alfabetização) que lhes permitam
aprender - veja a Tendência 14 para
mais informações.
No entanto, os colaboradores também
viram um papel importante para as
bibliotecas, ajudando a promover a
mudança de comportamento e uma
maior capacitação climática, em linha
com um compromisso mais amplo de
envolvimento em questões sociais. Para
além de uma maior sensibilização, e do
exemplo que pode ser dado através de
edifícios de bibliotecas verdes, há um
papel particularmente potencial, na
divulgação dos conhecimentos
necessários para a mitigação ou
adaptação, por exemplo nas
comunidades rurais e agrícolas. Nessas
áreas, a adoção de novas práticas pode
ajudar a reduzir as emissões e ajudar as
pessoas a lidar com seu ambiente em
constante mudança.
Naturalmente, para administrar isso,
tanto o financiamento quanto outras
formas de apoio serão necessários, a
fim de garantir que as mudanças físicas
nos espaços das bibliotecas possam ser
realizadas, e o pessoal esteja pronto e
confiante para desempenhar seu papel.
13
�7 UMA POPULAÇÃO MÓVEL
Com pessoas cada vez mais nômades, o conceito de biblioteca 'local' torna-se
menos relevante, e a necessidade de fornecer serviços conjuntos
transnacionais aumenta
Os colaboradores observaram que
uma consequência-chave da mudança
climática ainda não mencionada na
Tendência 6 é a probabilidade de que
mais pessoas precisem se mudar do
local onde vivem atualmente. Muitas
áreas se tornarão inabitáveis devido à
elevação do nível do mar ou ao
aumento da temperatura, enquanto
as mudanças econômicas
provavelmente obrigarão as pessoas a
procurar trabalho – e, portanto,
moradia – em outros lugares.
usuários mais globalizados que não
necessariamente têm residência
permanente. Em particular, em
situações onde a afiliação à biblioteca
depende da residência, pode haver a
necessidade de se estudar como ser
mais flexível na permissão de acesso
aos recursos e serviços da biblioteca.
Essa situação pode também exigir a
prestação de serviços não apenas
remotamente, mas também
transnacionais, levantando questões
técnicas e potencialmente de direitos
autorais. Ao mesmo tempo, também
levanta a possibilidade de as
bibliotecas crescerem em importância
como espaços de trabalho
compartilhados na comunidade, para
pessoas sem um local de trabalho
definido.
Isto se combinará com fatores
existentes que impulsionam a
mobilidade, tais como conflito,
perseguição e pobreza, que também
obrigam as pessoas a fugir de suas
casas.
Paralelamente a isto, a experiência do
trabalho remoto durante a pandemia
também levantou a possibilidade de
um mundo onde as pessoas estão
muito menos ligadas a um só lugar, e
podem, ao invés disso, compartilhar e
aplicar seus conhecimentos em
qualquer lugar. É claro que isso pode
ser mais uma possibilidade para os
ricos do que para outros, que podem
ter menos opções.
Em termos de impactos sobre as
bibliotecas, isso pode criar uma
necessidade de poder atender a
14
�8 O USUÁRIO IMPACIENTE
Os usuários de bibliotecas, em particular das gerações mais jovens, esperam
as mais modernas tecnologias e serviços, e correm o risco de se afastar das
bibliotecas se não as encontrarem lá
Os colaboradores sugeriram que as
bibliotecas precisam estar atentas e
responder às mudanças de
necessidades e expectativas dos
usuários, e em particular ao risco de
que os usuários mais jovens não
tolerem processos lentos ou confusos.
Alguns argumentaram que pode até
haver uma queda no interesse pelos
serviços tradicionais, bem como a falta
de vontade de dedicar tempo para
visitar um edifício físico de biblioteca
(como já destacado na Tendência 2).
é um modelo utilizado pelas principais
plataformas da Internet (assim como
pelas bibliotecas-sombra, tal como
Sci-Hub), o que pode ser visto como
uma razão para seu sucesso. Tal
plataforma poderia até mesmo ajudar
as pessoas a identificar a biblioteca
mais próxima a elas, se elas
precisarem usar recursos físicos.
Além disso, várias contribuições
destacaram o potencial da
personalização dos serviços como
resposta, fazendo uso da tecnologia
para oferecer uma experiência mais
adequada às expectativas e
necessidades individuais. Alguns
argumentaram que a inteligência
artificial poderia ajudar nesse aspecto,
fornecendo respostas mais bem
direcionadas às solicitações, embora
também houvesse preocupações
quanto aos riscos de preconceito,
limitação da liberdade de acesso à
informação, e quanto à privacidade.
Uma consequência potencial disso é
que se as pessoas não encontrarem as
informações de qualidade de que
precisam, elas se voltarão
rapidamente para outras fontes
menos confiáveis. Isso seria um
problema não só para as bibliotecas,
mas também para a sociedade como
um todo (ver Tendência 18).
Uma das medidas propostas é
trabalhar para desenvolver
plataformas mais simples e unificadas
que evitem que os usuários precisem
entrar várias vezes no sistema. Esse já
Também com base na tecnologia, os
colaboradores notaram o potencial
dos "bots" para responder a
perguntas, bem como para fornecer
um serviço 24 horas por dia, 7 dias
por semana, à distância. Da mesma
forma, as mídias e redes sociais
também poderiam fornecer um meio
mais eficaz de alcançar os usuários
onde eles estão.
15
�9 O RETORNO AO ANALÓGICO
Uma nova geração, traumatizada pelo estresse da constante conectividade
às mídias sociais, redescobre os recursos físicos – incluindo os livros – como
uma saída
Muitas contribuições recebidas
destacaram que, especialmente com a
experiência da pandemia, as pessoas
estavam ficando cada vez mais
conscientes das limitações das
ferramentas digitais. Não devemos ver
a tecnologia como uma solução para
tudo, ou um fim em si mesma, mas
sim como uma ferramenta entre
outras.
poderiam ser particularmente
poderosas como lugares para a
prática de mindfulness (atenção
plena) e promoção do equilíbrio
mental, ou mesmo como 'espaços
seguros' longe das mídias sociais.
Como já destacado anteriormente,
também se previa que muitos
apreciariam a oportunidade de estar
juntos pessoalmente de novo. À
medida que as sociedades se abrem
novamente e as pessoas passam de
uma vida online globalizada, porém
individualizada, para uma vida física
coletiva local, as bibliotecas podem
ser fundamentais tanto como espaço,
quanto como centros de promoção do
bem-estar e do espírito comunitário.
De fato, havia a sensação de que às
vezes a tecnologia era vendida em
excesso, e de que é hora de o pêndulo
voltar para formas mais analógicas de
fazer as coisas. Isto poderia incluir
uma reavaliação (e uma nova
apreciação) dos papéis e atividades
tradicionais.
Em particular, os colaboradores
estavam preocupados que as pessoas
precisassem de ajuda para lidar com o
ritmo acelerado da vida moderna,
bem como com o risco de interações
digitalmente mais superficiais.
Arriscavam-se também a sofrer com a
estreiteza de uma experiência online
dominada por um pequeno número
de plataformas projetadas para
agarrar e reter a atenção.
Paralelamente, os colaboradores
sublinharam que as coleções físicas
continuam sendo importantes, bem
como o valor que elas têm tanto por
seu conteúdo quanto por seu
formato. A leitura de um livro físico
permanece, para muitos, uma
experiência muito diferente da leitura
em uma tela, e mais rica.
Em ambos os casos, experiências
analógicas e físicas poderiam fornecer
um antídoto. Desenvolvendo alguns
dos temas já abordados na Tendência
3, foi sugerido que as bibliotecas
16
�10 A ESCALA É IMPORTANTE
O custo da prestação de serviços completos e modernos significa que só é
possível às instituições maiores fazê-lo, deixando as menores para trás
Várias tendências destacadas até o
momento se referiram ao potencial da
tecnologia, sobretudo para responder
às crescentes expectativas dos
usuários. No entanto, a possibilidade
de concretizar isso não está
necessariamente distribuída por igual
no campo da Biblioteconomia, com
instituições menores, em particular,
correndo o risco de serem incapazes
de responder.
sublinhou que essa divisão havia se
tornado mais aparente durante a
pandemia, com bibliotecas melhor
equipadas sendo capazes de mudar
para serviços remotos, enquanto as
menos ricas foram efetivamente
forçadas a hibernar. O risco era de
que aquelas bibliotecas que já estão
em dificuldades pudessem enfrentar
uma queda na sua utilização e,
portanto, dúvidas crescentes sobre
sua viabilidade.
Em particular, dado o rápido ritmo das
mudanças tecnológicas, os
equipamentos e serviços existentes
ficam rapidamente desatualizados e
precisam ser substituídos. Além disso,
há custos contínuos associados a
taxas de licenciamento e atualizações.
Finalmente, a fim de utilizar as
ferramentas disponíveis de forma
eficaz, há também a necessidade de
treinamento contínuo e apoio para o
pessoal da biblioteca. Tudo isso
implica uma necessidade de
investimento.
As respostas dos colaboradores a
essa proposta incluíram um novo
impulso para o trabalho em rede,
permitindo que instituições menores
se beneficiem de novas tecnologias a
um custo marginal muito baixo. Isso
certamente poderia ajudar a dar uma
solução para questões de acesso a
serviços e conteúdo, mas não elimina
a necessidade de equipamentos e boa
conectividade. O advento do "aberto"
(ver Tendência 19) também poderia
ajudar de alguma forma, embora,
mais uma vez, não pudesse resolver
todos os problemas.
Portanto, as contribuições destacaram
a preocupação de que corremos o
risco de ver duas classes de
bibliotecas – aquelas que são capazes
de se manter atuais (geralmente as
maiores, com melhores recursos),
com o pessoal recebendo o apoio
necessário para trabalhar com novas
ferramentas, e aquelas que ficam para
trás. Na verdade, um colaborador
Também ligado à ideia de trabalhar
em rede, um colaborador sugeriu que
uma melhor coleta e avaliação de
dados também poderia ajudar
sistemas de bibliotecas mais amplos a
identificar melhor as ramificações em
dificuldade, e para onde a ajuda
poderia ser direcionada.
17
�11 PREDOMINÂNCIA DOS DADOS
Novos usos e aplicações de dados mudam dramaticamente nossa vida
econômica e social, tornando cada vez mais essencial que as pessoas sejam
alfabetizadas a fim de lidar com os dados
O crescente papel da inteligência artificial
(IA) e outras aplicações de dados em
nossa vida cotidiana figuram em muitas
das contribuições recebidas. Em
particular, os dados estão no centro do
impulso em direção a serviços mais
individualizados, que visam a analisar o
comportamento passado (tanto de
qualquer usuário, quanto dos usuários
em geral) a fim de fazer previsões para o
futuro e, particularmente, o que melhor
responderá às necessidades ou interesses
de alguém. Naturalmente, ferramentas
similares já servem para direcionar a
publicidade e até mesmo moldar o que
vemos na Internet ou em outros serviços
quando os ativamos.
respeitar a privacidade, quanto para estar
consciente do risco de preconceitos ou
replicação de desigualdades ou formas
de discriminação existentes.
Com os dados desempenhando um papel
tão importante na forma como
vivenciamos o mundo e os diferentes
serviços, os colaboradores sublinharam,
portanto, a importância de entender os
dados e, em particular, onde a IA está
sendo aplicada, e o que isso pode
significar. Isso é, sem dúvida, uma
importante nova dimensão da
alfabetização em informação, tanto no
contexto da efetiva capacidade de
pesquisa, quanto na vida em geral. Para
as bibliotecas, há um potencial papel a
ser desempenhado na conscientização de
como utilizar os dados de forma ética, a
fim de apoiar pesquisa eficaz e novos
conhecimentos científicos.
Um colaborador sublinhou que o foco no
indivíduo em tais modelos orientados por
dados também pode levar a potenciais
perturbações na forma como pensamos e
trabalhamos como humanos dentro de
um contexto social, dado que somos
definidos mais por nossas próprias
características (como codificadas para uso
em algoritmos) do que pelas conexões
entre nós.
Além disso, leis recentes de proteção de
dados deram novos direitos aos
indivíduos para tomar decisões sobre
como seus dados são utilizados
(governança de dados individuais). No
entanto, a eficácia de tais medidas
depende das pessoas explorarem ou não
as possibilidades agora abertas a elas.
Aqui, como em outros lugares, há uma
necessidade urgente de garantir que não
sejam apenas os privilegiados ou aqueles
com educação mais formal que possam
entender e usar essas opções. Essa
poderia ser outra oportunidade para as
bibliotecas.
Outras contribuições argumentaram que
uma melhor utilização dos dados também
pode fortalecer os esforços para analisar
e avaliar o impacto dos serviços de
biblioteca. Em vez disso, há possibilidades
de se verificar o que realmente está
acontecendo, não apenas o que é
assumido por profissionais, ou relatado
por indivíduos. Ao mesmo tempo, tal
utilização é necessária tanto para
18
�12 PESQUISA TRANSFORMADA
A inteligência artificial revoluciona a forma como encontramos informações,
tornando possível fornecer resultados cada vez mais precisos para os
usuários
Como já destacado na Tendência 11, a
inteligência artificial (IA), alimentada
pela aprendizagem automática, está
remodelando a forma como
experimentamos o mundo online. Em
particular, tem tido aplicações
significativas no mundo da pesquisa –
uma área onde as bibliotecas, é claro,
têm longa experiência.
advertiram contra a superestimação
do potencial da IA para melhorar a
busca. Como já destacado, a coleta e
aplicação dos dados necessários para
treinar a IA levanta questões sobre
privacidade que devem ser abordadas
a fim de garantir que os serviços
resultantes sejam legítimos.
Em um nível mais fundamental, os
resultados apoiados pela IA são
apenas tão bons quanto o projeto de
programas de aprendizagem
automática e alimentação de
informação – há muitas
oportunidades para imprecisões se
infiltrarem e distorcerem os
resultados. Subestimar estes riscos
poderia facilmente levar, na melhor
das hipóteses, à ocorrência de erros,
na pior, à perpetuação ou mesmo ao
aprofundamento de desigualdades e
de injustiça.
Os colaboradores notaram o potencial
para usar a IA em bibliotecas no
sentido de fornecer inteligência mais
profunda e insights sobre tendências
que, por sua vez, poderiam ajudar a
garantir respostas mais adequadas às
necessidades de informação. Desta
forma, os usuários da biblioteca
poderiam se beneficiar mais
plenamente do potencial da web
semântica. Tais ferramentas eram
cada vez mais valiosas, dado o volume
de informação agora disponível.
Essencialmente, as ferramentas de IA
oferecem novas oportunidades para
se manter informado e atualizado,
apesar do rápido ritmo de criação de
informação. De fato, eles podem ser
essenciais para garantir a capacidade
de descoberta de conteúdo – a
simples publicação de material na
Internet não é garantia de que ele
será lido.
Finalmente, fazendo eco do ponto
levantado na Tendência 10, há o risco
contínuo de que o potencial para usar
a IA efetivamente também possa
depender do nível de recursos de
cada biblioteca, e do investimento
feito na qualificação de seu pessoal.
Tal qualificação é particularmente
importante para que novas
ferramentas de pesquisa possam ser
utilizadas com plena consciência de
suas limitações.
No entanto, os colaboradores
19
�13 CORRIDA AOS EXTREMOS
O debate político se torna mais polarizado, tornando mais difícil encontrar
consenso tanto na política quanto na sociedade, prejudicando os
argumentos a favor de instituições compartilhadas
Os colaboradores destacaram uma
tendência social e política mais ampla que
corria o risco de ter um impacto
significativo sobre as bibliotecas e suas
missões: a aparente polarização crescente
da sociedade. Em particular, eles
observaram uma tendência entre alguns,
pelo menos, de se tornarem mais
desdenhosos das opiniões das pessoas
com as quais discordam, em vez de
procurar se envolver e compreender
outras posições, e chegar a um consenso.
Paralelamente, temos visto a diminuição
da confiança em profissões que antes se
beneficiavam de níveis relativamente
altos de respeito, incluindo jornalistas,
pesquisadores e até mesmo médicos.
As próprias bibliotecas correm o risco de
serem arrastadas para estes debates,
tanto em disputas muito diretas sobre os
livros que podem manter em suas
coleções (um desafio muito real já em
alguns países), quanto indiretamente na
medida em que os serviços públicos
como um todo são postos em questão.
Existe, sem dúvida, uma particular
ameaça às instituições focadas em
promover a reflexão, ampliar os
horizontes e defender os direitos de
todos, nada do que parece ser uma
grande prioridade para os populistas.
Entretanto, os colaboradores também
viram um resultado potencial mais
positivo, com bibliotecas reafirmando a
importância da leitura ampla, e tomando
uma posição verdadeiramente
independente e informada. As bibliotecas
poderiam atuar como faróis – espaços
democráticos de conhecimento
promovendo participação, colaboração e
transparência. Como a Tendência 18
aponta, a importância da alfabetização
em informação poderia finalmente ser
devidamente reconhecida.
Tudo isso teve o efeito de colocar em
questão a base de conhecimento sobre a
qual a discussão política e cívica pode ter
lugar, tornando a busca de soluções
muito mais difícil. Este declínio na
confiança também prejudicou a eficácia
das políticas baseadas na mudança e na
formação de comportamentos, sobretudo
a resposta à pandemia. Sem o desejo ou a
capacidade de chegar a um acordo, há o
risco de enfraquecer-se o sentido de uma
comunidade e sociedade compartilhadas
sobre as quais muitas instituições são
construídas.
Tal posição implicaria investimento de
esforços e, potencialmente, também
riscos, mas também poderia contribuir
para salvaguardar o lugar das bibliotecas
na sociedade no futuro.
Com o passar do tempo, corremos o risco
de ver forças mais populistas aparecerem,
baseadas mais na força de suas opiniões
e na simplicidade de seus argumentos do
que em qualquer base de evidência ou
respeito aos direitos humanos.
20
�14 APRENDIZES AO LONGO DA VIDA
Não existe mais trabalho para toda a vida, o que significa que cada vez mais
pessoas precisam se requalificar ao longo da vida. Em resposta, as
bibliotecas intensificam as atividades de aprendizagem
Os colaboradores sublinharam que já
estamos em um período de rápidas
mudanças econômicas e tecnológicas,
que parece improvável que desacelere
nos próximos tempos à luz da
necessidade de adotar formas mais
sustentáveis de vida e trabalho.
é que todos tenham as habilidades da
alfabetização básica necessárias para
se utilizarem de materiais de
aprendizagem, bem como habilidades
digitais fundamentais.
Além disso, fazendo eco das
observações feitas na Tendência 4
sobre a própria área de
Biblioteconomia, as pessoas
precisariam de 'soft skills', incluindo
resiliência, capacidade de se envolver
com novas ideias e de viver digna e
harmoniosamente com os outros.
Sem dúvida, a alfabetização em
sustentabilidade também faria parte
do conjunto de habilidades
necessárias.
Como já destacado na Tendência 6,
um impacto disso provavelmente será
uma grande mudança nos tipos de
trabalho disponíveis para as pessoas.
A descarbonização levará ao fim de
algumas indústrias e à transformação
de outras. O maior uso da tecnologia
substituirá algumas atividades, mas
poderá permitir o surgimento de
novas, ou pelo menos deixar mais
espaço e tempo para elas. O mesmo
acontecerá com as mudanças
demográficas. Uma relocalização de
atividades econômicas poderia levar
ao declínio de centros econômicos
maiores, mas também a
possibilidades mais diversificadas de
trabalho dentro das comunidades.
Várias contribuições viram esta
tendência como uma oportunidade,
criando possibilidades para as
bibliotecas reafirmarem seu papel
como centros de aprendizado, tanto
dentro das comunidades quanto em
instituições como escolas,
universidades e outras organizações.
Em paralelo, os próprios bibliotecários
viriam a ser vistos cada vez mais
como educadores. Para que isso seja
possível, seria necessário acessar e
fazer uso efetivo de plataformas e
recursos, bem como garantir que os
profissionais de Biblioteconomia e da
informação recebam treinamento e
apoio adequados.
Um fio condutor de todo esse
processo será a necessidade de as
pessoas se qualificarem e
requalificarem ao longo da vida para
assumir – ou criar – as novas funções
disponíveis. Os colaboradores
sublinharam que uma condição prévia
para a aprendizagem ao longo da vida
21
�15 UMA COLEÇÃO ÚNICA E GLOBAL
Com a digitalização de recursos e possibilidades de trabalho
transinstitucional, não é mais tão relevante falar de coleções locais, mas sim
de acesso a recursos universais
Várias contribuições destacaram a
tendência a uma crescente
globalização das coleções. Ainda que o
empréstimo entre bibliotecas e outras
formas de compartilhamento de
recursos tenha sempre significado
que nenhuma coleção era
necessariamente hermeticamente
selada, existem agora novas
possibilidades que permitem que
pesquisadores e outros trabalhem
com uma seleção muito mais ampla
de materiais, integrantes do acervo de
diferentes bibliotecas.
Trabalhar de tal forma também
oferece novas possibilidades de se
obter insights que podem ajudar
a resolver questões-chave,
principalmente a mudança climática, e
apoiar os esforços de previsão
destinados a aumentar nosso preparo
para o futuro, reunindo consórcios
mais amplos de informação. Eles
também poderiam ajudar a aumentar
o uso – e assim a percepção da
relevância – de materiais únicos
mantidos em coleções menores.
Alguns sugeriram que essa
globalização poderia até ser o gatilho
para um novo dinamismo, uma
reorientação das bibliotecas para o
uso de dados e informações em larga
escala, a fim de desenvolver novas
ideias.
Os colaboradores pintaram um
quadro de um sistema digitalizado,
com bibliotecas e suas coleções
totalmente conectadas entre si
através das fronteiras, nos
aproximando de uma realidade onde
os usuários de bibliotecas realmente
podem acessar a memória e os
conhecimentos que nossas
instituições detêm em nível global.
Com usuários familiarizados com uma
Internet que (aparentemente) opera
independentemente de fronteiras,
isso também ajudaria a evitar o risco
de as bibliotecas parecerem isoladas
ou presas no passado. Poderia
também ajudar a acompanhar a
tendência de aumento dos usuários
independentes, menos ligados a
qualquer área (Tendência 7).
Alcançar isso exigirá esforço, como já
o atestam os envolvidos em dados
abertos vinculados. Obviamente, isso
exigirá colaboração para permitir a
integração de sistemas diferentes, ou
a aceitação e aplicação de normas
comuns. Como destacado na
Tendência 8, quaisquer interfaces e
plataformas resultantes também
precisarão ser bem projetadas e
simples, a fim de fazer justiça ao
trabalho realizado para unificar as
coleções.
22
�16 A PRIVATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
O uso de ferramentas tecnológicas, bem como as lentas reformas nos
direitos autorais, significam que é possível aos atores privados restringir e
controlar as informações, até em nível detalhado, obrigando a permissões e
pagamentos
Os colaboradores destacaram suas
preocupações com os esforços para
colocar novas barreiras em torno da
informação. A tecnologia certamente
permite isso, como o fazem os termos dos
contratos que bibliotecas e usuários
precisam assinar para acessar materiais
digitais (em contraste com a maior
liberdade quando uma obra física é
comprada diretamente). Esta situação é
facilitada pelas leis de direitos autorais
que não procuram proteger os direitos
dos usuários em relação ao conteúdo
digital.
desigualdades sociais e econômicas,
quanto para apoiar os esforços de
pesquisa mais inclusivos possíveis para
enfrentar os desafios (ambientais) que
enfrentamos.
Um colaborador destacou preocupações
particulares em torno da 'blockchain'
(protocolo da confiança), e o impacto que
isso poderia ter na circulação do
conhecimento quando isso pode ser cada
vez mais estritamente controlado e
monetizado. Parece improvável que os
'microcontratos' associados a obras
protegidas por direitos autorais por meio
da 'blockchain' sejam capazes de avaliar
os usos permitidos sob exceções e
limitações aos direitos autorais, e assim
bloqueá-los ou monetizá-los
por 'default'.
Além dos bloqueios imediatos sobre o
que as bibliotecas podem adquirir, as
contribuições também destacaram a falta
de certeza que uma falha na atualização
das leis de direitos autorais pode causar,
por exemplo, em relação a usos mais
recentes que, no entanto, estão de acordo
com as missões tradicionais das
bibliotecas, tais como mineração de texto
e dados. Limitar as possibilidades de
análise ou outros usos poderia acabar por
conduzir a uma nova divisão entre
aqueles com e sem recursos para
'comprar segurança', pagando por
licenças adicionais.
As bibliotecas são membros de longa
data do movimento que pressiona por
um maior franqueamento como antídoto
para a privatização do conhecimento. Há
uma crescente consciência do papel que
as publicações das bibliotecas, em
particular, podem desempenhar na
construção dos 'knowledge commons'
(conhecimentos comuns). Isso
proporcionou oportunidades para
explorar novos modelos, focados no
acesso, em lugar da maximização do
lucro com o propósito de beneficiar os
acionistas ou de prover subsídio cruzado
a outras atividades.
Isso gerou ameaças significativas à
capacidade das bibliotecas de garantir
que cada usuário tenha a chance de se
beneficiar do acesso aos materiais
publicados. Isso, por sua vez, tem impacto
na sustentabilidade, em termos do poder
das bibliotecas, tanto para reduzir as
23
�17 QUALIFICAÇÕES SÃO IMPORTANTES
À medida que aumenta a complexidade do ambiente de informação,
aumenta também a necessidade de os funcionários de biblioteca se
beneficiarem de um alto nível de educação.
Essas incluem habilidades digitais
mais elevadas, permitindo o pleno
uso de ferramentas digitais para
fornecer serviços centrados no
usuário, habilidades STEAM (acrônimo
inglês para ciência, tecnologia,
engenharia, artes e matemática),
codificação e programação,
alfabetização em sustentabilidade e
ambiental, e a capacidade de avaliar
as necessidades da comunidade e do
usuário e responder em
conformidade. Os bibliotecários
também precisavam ser treinados
para lidar com novos tipos de
material, incluindo conteúdos de
acesso franqueado e bibliotecas
digitais, e para aprender a ser
defensores eficazes.
Como já destacado na Tendência 4, o
conjunto de habilidades exigidas pelos
bibliotecários para realizar seu
potencial e o de suas instituições está
em permanente evolução. Para uma
série de colaboradores, isto precisava
ir lado a lado com um foco mais forte
na qualificação e profissionalização no
setor, sobretudo quando se trata de
garantir que todas as bibliotecas
sejam dotadas de pelo menos um
bibliotecário qualificado. De fato,
como uma pessoa sublinhou,
habilidades e treinamento foi muitas
vezes o que fez a diferença entre uma
biblioteca ser um depósito de livros, e
ser um centro dinâmico de pesquisa,
educação e cívico.
Com relação ao que as qualificações
poderiam cobrir, além das 'soft skills'
já mencionadas na Tendência 4,
algumas contribuições propuseram
uma série de áreas que têm o
potencial de se tornar mais
importantes no futuro como parte da
base de conhecimento de qualquer
bibliotecário. Algumas delas já são
mencionadas em outras tendências
destacadas neste relatório, e
poderiam ajudar a garantir que os
novos bibliotecários que ingressem na
profissão estejam mais preparados
para o mundo que enfrentam, bem
como capazes de se adaptar a futuras
mudanças.
Assegurar um maior reconhecimento
do trabalho dos bibliotecários, e
salários adequados, poderia ajudar a
atrair e reter pessoas talentosas,
aumentando ainda mais a capacidade
de essa atividade profissional cumprir
suas missões. Oportunidades
contínuas de aprendizagem e
certificação de habilidades, assim
como a criação e manutenção de
trilhas de liderança abertas também
ajudariam a manter as pessoas
dentro da atividade.
24
�18 RECONHECIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
Governos e outros reconhecem plenamente a importância da competência
em informação como uma resposta a longo prazo ao aumento da
desinformação.
A Tendência 13 observou o potencial
de uma corrida aos extremos no
discurso político e cívico, e o impacto
que isso poderia ter sobre a coesão
social e as instituições que dependem
disso. Conforme exposto, isso
representa um desafio direto, a curto
prazo, aos governos que estão
tentando, com base em evidências
científicas, encorajar as pessoas a agir
de forma responsável em relação aos
outros cidadãos e ao meio ambiente.
Além disso, desenvolver a
alfabetização em informação também
pode ser um estímulo competitivo,
garantindo que as pessoas sejam
mais capazes de navegar no mundo
digital em geral e sejam mais eficazes
e produtivas em seu trabalho. De fato,
diante da abundância de informações
disponíveis hoje, ela poderia até se
tornar uma parte fundamental da
educação desde muito cedo,
paralelamente aos esforços para
ampliar os horizontes das pessoas
mais jovens e a sua abertura ao
mundo. Isso pode significar um lugar
para bibliotecas – nas escolas, nas
universidades, públicas e assim por
diante.
Os colaboradores sugeriram que os
significativos efeitos negativos da
desinformação e das conspirações
disseminadas através das redes
sociais durante a pandemia
provavelmente levarão a uma nova
consciência da necessidade de agir, e
construir as próprias defesas das
pessoas contra mentiras e histórias
fabricadas. Mais pessoas do que
nunca – tanto nos governos como em
geral – estão cientes de que a
alfabetização em informação é uma
habilidade vital, e que não pode ser
negligenciada.
Alguns colaboradores argumentaram
que, potencialmente, as bibliotecas
poderiam ter um papel nas
discussões sobre políticas mais
amplas de alfabetização em
informação, aproveitando tanto suas
competências quanto sua reputação
como lugares para buscar
informações de qualidade. Nisso, elas
poderiam até mesmo trabalhar com
empresas de mídia social para
oferecer treinamento e apoio no
combate à desinformação deliberada.
Em particular, dadas as desvantagens
de medidas mais contundentes (como
a tentativa de proibir ou bloquear
completamente os sites), a
alfabetização em informação pode vir
a ser vista como a única forma
sustentável de combater a
desinformação online.
25
�19 “ESTAR DISPONÍVEL” DESAFIA AS BIBLIOTECAS EM
SEREM “PONTOS DE VENDA EXCLUSIVO” (UNIQUE
SELLING POINT – USP)*
Com uma parcela crescente das informações científicas disponível
livremente, as bibliotecas são forçadas a adaptar o seu papel para não
perder relevância
O movimento Acesso Aberto (Open Access –
OA) teve sucesso significativo ao desafiar o
pressuposto de que a publicação e
disseminação da pesquisa só pode ocorrer
através de um modelo econômico que
considera que os usuários (ou bibliotecas em
seu nome) são obrigados a pagar às editoras
pelo acesso. Ultrapassando os desafios
criados pelas leis de direitos autorais
restritivas, as publicações de acesso aberto
estão imediata ou rapidamente disponíveis
para uso por qualquer pessoa com acesso à
Internet.
capacidade de descoberta, garantindo a
preservação e provendo a capacitação e o
apoio necessários à navegação ao redor do
vasto número de recursos disponíveis. Os
bibliotecários também poderiam
desempenhar um papel fundamental na
gestão dos repositórios de dados de
pesquisa, o que seria essencial para a
realização do potencial da ciência aberta.
Finalmente, como alguns colaboradores
observaram, a batalha está longe de ser
ganha no que toca ao acesso aberto. Além
das questões continuadas sobre como
garantir a sustentabilidade financeira e a
escalabilidade dos modelos abertos e ao
mesmo tempo maximizar sua inclusividade,
ainda há muitos pesquisadores e autores que
ainda duvidam dos méritos dos modelos
abertos. Isto pode ser devido a uma
percepção de que pode haver dinheiro a ser
ganho (raramente o caso), ou a uma
sensação de que estar disponível
gratuitamente desvaloriza o trabalho deles.
As bibliotecas podem precisar direcionar
parte de sua defesa em torno dos méritos do
máximo acesso à informação aos próprios
autores, para mostrar-lhes o quão poderoso
isto pode ser como uma força para o bem.
Nos últimos anos, a OA tem sido
acompanhada por outros movimentos
abertos - ciência aberta e bolsa de estudos
aberta mais ampla, recursos educacionais
abertos e GLAM (acrônimo em inglês para
Galerias, Bibliotecas, Arquivos e Museus)
abertos - todos com o objetivo de reduzir as
barreiras de acesso, de uso e de engajamento
na educação, ciência e vida cultural.
Alguns colaboradores se preocuparam, no
entanto, que o surgimento do "open"
(movimento aberto) pudesse levar a uma
sensação de não haver mais necessidade de
que as instituições desempenhassem o papel
tradicional das bibliotecas, de proporcionar
uma oportunidade para que as pessoas
tivessem acesso a obras que de outra forma
seriam inacessíveis. Sem a necessidade de as
bibliotecas gastarem dinheiro em assinaturas,
pode haver o risco de que aqueles que tomam
as decisões de financiamento possam optar
por cortar orçamentos.
Nota (*) Um ponto de venda exclusivo USP
por sua sigla em inglês, também chamado de
proposta de venda exclusiva. Trata-se de uma
declaração de marketing que diferencia um
produto ou marca de seus concorrentes. Um
“USP” pode apresentar o menor custo, a mais
alta qualidade, a maior experiência, o
primeiro em sua classe de produtos ou outra
característica que diferencia a oferta da
concorrência. Um ponto de venda exclusivo
pode ser pensado como "o que você tem que
os concorrentes não têm".
Em resposta, foi observado que, em um nível
fundamental, um maior acesso à informação
deveria ser reconhecido como uma coisa boa
em si. Paralelamente, outros destacaram estar
no escopo das próprias bibliotecas o
desenvolvimento de novas funções, a fim de
agregar valor, sobretudo através do apoio à
26
�20 DESIGUALDADES SE APROFUNDAM
Com a tecnologia criando novas possibilidades para os que têm acesso a ela,
a distância entre estes e os que não têm acesso cresce, ameaçando confinar
grandes parcelas da população à pobreza, a menos que ações sejam
empreendidas
Um tema que surgiu em muitas das
outras tendências destacadas neste
relatório é o risco de que, quando novas
possibilidades não são abertas a todos,
no fim, elas possam acabar ampliando
divisões e desigualdades.
Uma resposta sugerida para isso foi a
necessidade de continuar insistindo que
as próprias bibliotecas sejam de livre
acesso, dado o risco de que a cobrança
possa acabar excluindo algumas das
pessoas que mais precisam de
bibliotecas. Outros sugerem que
qualquer estrutura de preços precisa
garantir que não se crie uma barreira, ou
estigma, para os usuários.
Os colaboradores indicaram que durante
a pandemia, aqueles sem acesso à
Internet e sem habilidades para usá-la
enfrentaram muito mais transtornos em
sua educação, e em sua vida profissional
e social, do que aqueles que
simplesmente foram capazes de levar
suas vidas online. O mesmo vale com o
acesso à alfabetização e às habilidades
digitais, que podem ser uma porta de
acesso não só a empregos e outras
oportunidades, mas também
simplesmente à possibilidade de
aprender mais.
No entanto, também podem existir
desigualdades entre as bibliotecas, como
destacado na Tendência 10. É possível
que bibliotecas menores ou aquelas que
operam com orçamentos menores (por
exemplo, aquelas em áreas mais pobres
onde há menos receita tributária
disponível para apoiá-las) simplesmente
não sejam capazes de oferecer a gama
completa de serviços que poderiam
ajudar os usuários a fazer o melhor uso
da informação para melhorar suas vidas.
Isso é particularmente importante, visto
que muitas vezes são aqueles que já
enfrentam a exclusão - pessoas em
situação de pobreza ou com deficiência,
assim como mulheres e refugiados - que
têm menos probabilidade de se conectar.
As sugestões dos colaboradores em
resposta incluíram um foco mais forte em
garantir que houvesse pelo menos um
nível básico de serviço entre as
bibliotecas, a fim de garantir que os
usuários das bibliotecas, onde quer que
estejam, possam se beneficiar das
possibilidades essenciais de acesso e uso
das informações.
O aprofundamento das desigualdades
pode representar um desafio à coesão
social, e até mesmo ao contrato social
sobre o qual as sociedades e serviços
como as bibliotecas são construídos.
Quando elas se traduzem em acesso
reduzido à saúde, educação e outras
formas de participação, também
representam um ataque aos direitos
fundamentais.
27
�Trabalhando com as
Tendências
Nosso metódo
A sessão da Presidente eleita no
World Library and Information
Congress (WLIC) de 2021 se baseou
nessas tendências identificadas para
realizar um exercício de previsão com
os participantes ao vivo. O objetivo da
sessão era incentivar a reflexão sobre
as tendências que provavelmente
seriam mais significativas para o
futuro das bibliotecas, aproveitando
as ideias coletivas dos participantes.
1) Após uma introdução, o conjunto
de 20 tendências é apresentado ao
público. Pode ser útil compartilhar
antecipadamente as tendências para
que o público possa se familiarizar
com elas;
2) O painel de especialistas oferece
suas próprias ideias sobre as
tendências, destacando aquelas que
eles acham que são particularmente
importantes;
A sessão se baseou livremente no
modelo 'Delphi' de identificação de
tendências de forma colaborativa,
dentro dos limites impostos pelo
tempo (uma hora) e pelo formato
digital da sessão. Ela se baseou em
um software de votação online para
realizar esse processo ao vivo.
3) O público vota, selecionando 10 entre as 20 tendências - que eles
consideram mais significativas para o
futuro da área de Biblioteconomia;
4) As 10 tendências que receberam o
maior número de votos no total são
reveladas;
Com o apoio de quatro especialistas
escolhidos pela então Presidente
eleita, Barbara Lison, pela influência
que tiveram sobre o seu próprio
pensamento ao longo do tempo, a
sessão utilizou a estrutura abaixo, que
naturalmente pode ser replicada
dentro de associações ou outros
grupos de bibliotecas, seja
integralmente ou de forma adaptada.
5) O painel de especialistas apresenta
seus comentários sobre os resultados,
bem como sua avaliação sobre as
tendências mais importantes dentre
as remanescentes;
6) O público vota novamente,
selecionando 5 - entre as 10
tendências remanescentes - que
consideram mais significativas para o
futuro da área de Biblioteconomia;
A sessão foi realizada seguindo os
passos à direita:
28
�7) As 5 tendências que receberam o
maior número de votos no total são
reveladas;
As 10 tendências-destaque
foram: 1 (Tempos difíceis à
frente!), 2 (O virtual chegou
para ficar!), 3 (O retorno aos
espaços físicos), 5 (A
diversidade é levada a sério), 6
(Um cálculo ambiental), 8 (O
usuário impaciente), 11
(Predominância dos dados), 14
(Aprendizes ao longo da vida),
18 (Reconhecimento da
alfabetização em informação),
e 20 (Desigualdades se
aprofundam).
8) painel de especialistas apresenta
seus comentários.
Com mais tempo, ou um formato
diferente, qualquer pessoa
interessada em realizar um exercício
semelhante poderia explorar algumas
das seguintes opções:
Incentivar as discussões em grupo
em cada etapa, permitindo que
todos os participantes
identifiquem as tendências que
consideram mais importantes,
explicando por que acham isso.
Isso pode ser pessoalmente
(quando possível) ou utilizando
"breakout rooms" (salas
simultâneas) em uma plataforma
digital. Os participantes devem
tentar convencer uns aos outros
de seus argumentos, indicando
evidências dos seus pontos de
vista.
As 5 tendências-destaque
finalistas foram: 2 (O virtual
chegou para ficar!), 5 (A
diversidade é levada a sério), 6
(Um cálculo ambiental), 14
(Aprendizes ao longo da vida),
e 20 (Desigualdades se
aprofundam).
Inclua uma fase extra no final,
onde especialistas e participantes
explorem como as diferentes
tendências escolhidas interagem
umas com as outras – é provável
que elas se complementem ou se
anulem entre si?
Inclua numa fase em que os
especialistas e/ou grupos
discutam as diferenças entre seus
resultados e os da sessão da
Presidente eleita no WLIC:
Inclua uma fase extra onde você
tente definir 'futuros' - uma
imagem de como poderia ser a
atividade de Biblioteconomia
quando diferentes combinações
de tendências se concretizarem.
Também o encorajamos a explorar
outras formas de trabalhar com as
Tendências para incentivar a reflexão
sobre o futuro!
29
�Saiba mais sobre
Tendências
Além da sessão da Presidente eleita no WLIC, houve também três sessões em que
alguns dos líderes emergentes apresentaram suas ideias para o futuro em maior
profundidade.
Organizadas por região (Ásia-Oceania, África e Ásia, e as Américas), cada uma delas
contou com 7 a 9 palestrantes.
Você pode assistir aos vídeos no canal da IFLA no Youtube através dos seguintes
links:
África e Europa: https://youtu.be/4tWHGR6zcKc
Asia-Oceania: https://youtu.be/s2iHbua_oCk
Americas: https://youtu.be/uKQS2zreQG0
30
�IFLA Headquarters
P.O. Box 95312
2509CH The Hague
Netherlands
TEL + 31-70-3140884
E-MAIL ifla@ifla.org
www.ifla.org
Tradução:
Secretaria de Gestão de
Informação e Documentação
Senado Federal
Praça dos Três Poderes
Bloco 14
Brasília-DF
CEP 70165-900
Apoio:
Federação Brasileira de Associações
de Bibliotecários, Cientistas da
Informação e Instituições - FEBAB
Rua Avanhandava, 40, cj. 110
Bela Vista
São Paulo - SP
CEP 01306-000
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
IFLA
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Atualização 2021 do Relatório de Tendências da IFLA
Subject
The topic of the resource
Bibliotecas
Tendências
IFLA
Description
An account of the resource
20 tendências política, econômica, social, cultura e tecnológica para moldar o futuro da nossa área e das comunidades que servimos, assim como identificar líderes bibliotecários emergentes.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
IFLA
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2023
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
Tradução: Secretaria de Gestão de Informação e Documentação do Senado Federal
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
Eletrônico
Language
A language of the resource
pt
Type
The nature or genre of the resource
Relatório
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo (São Paulo)
ifla
Relatorios
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/5/1539/DA21_Report_IFLA_PT-BR.pdf
34cfa9f5f72eedf16a32b43215c1a6c3
PDF Text
Text
DA2I
DESENVOLVIMENTO E ACESSO
À INFORMAÇÃO 2019
EDUCAÇÃO DE QUALIDADE • TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÔMICO • REDUÇÃO DAS
DESIGUALDADES • AÇÕES RELATIVAS AO CLIMA • PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES FORTES
Federação Internacional
de Associações e
Instituições
Bibliotecárias
GRUPO DE TECNOLOGIA
& MUDANÇA SOCIAL
UNIVERSIDADE de WASHINGTON
Faculdade de Informação
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
A
DA2I.ifla.org
�A Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias
(IFLA) é a principal entidade internacional que representa os interesses dos
serviços bibliotecários e de informação, bem como dos seus usuários. A
IFLA trabalha para promover um campo forte e globalmente unido de
bibliotecas como uma força propulsora de sociedades letradas, informadas
e participativas, e coloca a importância do acesso à informação no centro
de seus valores. Com membros em quase 150 países, a instituição é tanto
a voz mundial da profissão de bibliotecário quanto da informação, e o centro
principal para desenvolver padrões, partilhar boas práticas, capacitar e criar
conexões entre bibliotecas e associações de bibliotecas em nível mundial.
O Grupo de Tecnologia e Mudança Social [Technology & Social
Change Group - TASCHA] da Faculdade de Informação da Universidade
de Washington explora o papel das tecnologias digitais na construção de
sociedades mais abertas, inclusivas e igualitárias. O TASCHA é um elo de
pesquisa multidisciplinar cujo trabalho tem ajudado organizações
internacionais, governos, organizações da sociedade civil e bibliotecas
públicas nos Estados Unidos e em mais de 50 outros países.
Gostaríamos de agradecer as contribuições de nossos autores
convidados, bem como das equipes da IFLA e do TASCHA, cujos
trabalhos tornaram este relatório possível, em especial as contribuições
de Maria Violeta Bertolini e May Oostrom-Kwok (IFLA), e Chris Jowaisis,
Chris Coward e Doug Parry (TASCHA)
O relatório original foi criado graças às contribuições de muitas pessoas
que ajudaram a desenvolver o conceito e a selecionar os indicadores
utilizados. Seus nomes estão destacados no relatório de 2017, e suas
contribuições ainda são percebidas nesta edição.
Desejamos agradecer, em especial, à Fundação Bill e Melinda Gates, cujo
generoso apoio tornou este relatório possível.
�Prefácio
O papel da informação em nossas sociedades nunca foi
tão importante. A informação é facilitadora, matéria-prima,
fonte de inovação e criatividade. Dar a todos o acesso à
informação é garantir que todos tenham a oportunidade de
aprender, crescer e tomar melhores decisões para si e para
os que estão ao redor.
GLÒRIA PÉREZ-SALMERÓN
Presidente, Federação Internacional de Associações e
Instituições Bibliotecárias
Em plena era da informação, isso é uma necessidade. Aqueles que não
possuem acesso são deixados para trás, privados de um meio essencial de
melhorar sua própria situação, são banidos da vida cultural, econômica, social
e cívica.
Por isso, estou tão convencida do poder das bibliotecas como motores da
mudança. Elas são garantidoras desse acesso, não apenas por meio da
possibilidade física de se encontrar um livro ou ficar on-line, mas por
fornecer o espaço e o apoio para garantir que todos possam realizar o
potencial da informação.
Acredito firmemente que, embora cada vez mais nossas vidas se
desenvolvam no ambiente on-line, as bibliotecas se tornaram mais vitais
- como pontos físicos de encontro, como locais para pedir orientações,
como instituições com uma clara vocação para ajudar suas
comunidades.
Por meio de seu trabalho, podemos garantir que a informação se torne
uma força para a igualdade e um acelerador do desenvolvimento, tanto
ao redor do mundo quanto nas diferentes áreas políticas.
Portanto, saúdo calorosamente esta segunda edição do relatório de
Desenvolvimento e Acesso à Informação. Sou grata a todos os nossos
autores - especialmente aos nossos autores convidados - por suas
contribuições. Espero que seu trabalho contribua para um maior
reconhecimento do acesso à informação e apoio a ele para todos os que
possam contribuir para uma vida melhor.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
i
�Introdução
GERALD LEITNER
Secretário-Geral, Federação Internacional de
Associações e Instituições Bibliotecárias
O acesso à informação é essencial para a capacitação dos indivíduos, a
eficácia das políticas e a responsabilização dos governos. Quando todos
podem desfrutar da informação, ela é um motor do desenvolvimento
sustentável em todas as suas dimensões. Quando está ausente,
insuficiente ou desigual, as oportunidades são perdidas, as decisões são
piores e o progresso é sufocado. As bibliotecas são vitais para assegurar
que todos possam se beneficiar do acesso à informação, tornando as
sociedades mais fortes e justas uma realidade para todos.
Este relatório - o segundo da série posterior à primeira edição, em 20171
- fornece mais evidências, exemplos e análises dessa contribuição e do
papel das bibliotecas na sua concretização. Ele está explicitamente
focado na Agenda de 2030 das Nações Unidas e em seus Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), que fornecem tanto uma afirmação
da importância do acesso à informação para o desenvolvimento, quanto
um marco para se pensar sobre como realizar seu potencial.
O objetivo deste relatório é fornecer uma exploração do acesso à informação
como um motor do desenvolvimento. Ao fazer isso, ele busca informar a tomada
de decisão sobre a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável. O relatório foi elaborado para ser aplicável a todos os níveis sobre
a melhor forma de construir sociedades mais fortes, justas e sustentáveis, tanto
com base nas discussões ocorridas no Fórum Político de Alto Nível das Nações
Unidas quanto nos debates nos níveis nacional e local. Portanto, é destinado a
legisladores e conselheiros, bem como a todos que buscam formas mais
eficazes para apoiar o desenvolvimento, e aos bibliotecários e funcionários de
bibliotecas que podem ajudar a implementá-lo.
Essa introdução, portanto, oferece uma atualização sobre o entendimento
do acesso à informação aplicado neste relatório, uma discussão sobre as
principais questões emergentes desde a última edição, e um panorama dos
capítulos que seguem.
Acesso significativo à informação e o papel das bibliotecas
Quando se refere ao acesso à informação, este relatório adota uma
abordagem deliberadamente ampla, sublinhando a importância do acesso
“significativo”. Isso reflete o entendimento de que a disponibilidade física e
jurídica da informação — o lado da oferta — não pode fazer diferença
quando as pessoas não têm as habilidades, a confiança e as condições
sociais e culturais para aplicá-la — o lado da demanda.
Em outras palavras, uma conexão física de internet, ou leis que assegurem a
transparência de dados públicos ou acesso aberto à pesquisa financiada com
dinheiro público, só pode ter pleno efeito se todos puderem utilizar plenamente
essa informação.
Essa é uma abordagem que encontra suas raízes na Agenda de 2030 das
Nações Unidas. A Agenda faz referência ao acesso à informação, mais ou
menos explicitamente, em 20 metas, incluindo comprometimento para
desenvolver
infraestruturas,
promover
competências,
combater
as
desigualdades e promover as liberdades.
Uma parte importante deste relatório é, portanto, baseada em um conjunto
de indicadores que exploram essas quatro facetas, ou “pilares” do acesso à
informação: conectividade física com a internet, habilidade, contexto
ii
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�Falhar na garantia de acesso significativo à informação
prejudica o indivíduo, antes e acima de tudo. Ele perde
informações que podem ajudá-lo a tomar melhores
decisões, ou perde oportunidades de aprender e
comunicar-se.
social e cultural, e legislação. Esses pilares são explicados em mais detalhes
no Capítulo 1, mas, resumidamente, ilustram as condições que precisam ser
atingidas para possibilitar a realização do potencial de acesso à informação.
Em uma situação em que todas as peças estão no lugar, todos podem
entrar on-line, sem injustas barreiras práticas, financeiras ou culturais.
Podem encontrar uma ampla gama de informações não distorcidas, e têm
a capacidade de tomá-las, avaliá-las e aplicá-las para promover suas
próprias vidas ou as vidas dos que estão ao seu redor.
Isso não ocorrerá se faltar um único elemento. Sem uma conexão à internet, há
menos oportunidades de aprendizado, de comunicação e de criação. Sem
condições sociais e culturais favoráveis, grupos inteiros podem ser excluídos —
particularmente mulheres —, mas também os afetados pela pobreza ou que
tenham uma situação jurídica inferior (como os refugiados). Sem as leis corretas,
o conteúdo disponível on-line é distorcido, e as pessoas são incapazes de criar
seus próprios materiais ou compartilhar suas opiniões. E sem habilidades, as
informações não podem ser encontradas ou aplicadas de forma eficaz.
Uma falha na garantia de acesso significativo à informação prejudica
o indivíduo, antes e acima de tudo. Eles perdem informações que
podem ajudá-los a tomar melhores decisões, ou perdem
oportunidades de aprender e comunicar-se.
Entretanto, isso também traz custos em termos de redução da eficácia das
políticas. Se uma população não for informada sobre os sistemas e programas
de desenvolvimento, não for capaz de compreender ou interagir com
informações sobre saúde pública, ou não puder interagir com serviços públicos
on-line, o governo é menos capaz de atingir seus objetivos. Quem governa
também depende de um bom acesso à informação para orientar sua própria
elaboração de políticas ou diretrizes, enquanto que sua prestação de contas às
pessoas e parlamentos requer acesso para funcionar.
A inabilidade de encontrar, entender, usar e criar informações pode, portanto, levar
a uma variedade de resultados negativos. Em contrapartida, os indivíduos e
sociedades que conseguem acessar e fazer uso da informação estão em uma
posição muito mais forte para alcançar êxito agora e no futuro. Para evitar que
diferentes níveis de acesso significativo à informação conduzam a divisões de
desenvolvimento sustentadas ou crescentes, há a necessidade de intervenção.
Em termos de políticas, os governos podem atuar para melhorar suas pontuações
em cada um dos indicadores identificados neste relatório, por meio de reformas que
favoreçam a conectividade, a igualdade, a educação e as liberdades fundamentais.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
iii
�Como parte disso, o suporte a sistemas eficazes de bibliotecas pode ser
um passo extremamente poderoso. As bibliotecas conectadas podem
fornecer um ponto de partida e uma complementação para as conexões
de internet domésticas generalizadas. Podem trabalhar juntamente com
as escolas como fornecedoras de competências, desde a alfabetização
básica até o pensamento crítico mais elevado, e representar uma porta de
entrada para as oportunidades de aprendizagem continuadas. Estão
abertas a todos e, portanto, constituem um lugar onde as barreiras sociais
e culturais podem ser superadas, e onde os indivíduos podem começar a
participar da vida cívica.
Evolução desde 2017
Vale a pena refletir sobre as mudanças observadas no panorama da
informação desde o primeiro relatório, em julho de 2017. Claramente,
dois anos é um período de tempo relativamente curto. Entretanto, três
mudanças parecem particularmente relevantes no contexto de um
relatório focado no acesso à informação.
Uma primeira questão diz respeito à taxa de progresso da conexão de
pessoas à internet. Embora exista um consenso geral de que mais de 50%
da conectividade à internet foi alcançada em 2018 2, ainda há muito a ser
feito. Além disso, a taxa de crescimento das conexões parece estar
diminuindo, o que significa que se corre o risco de faltarem muitas décadas
para que todos os que pretendem ter acesso à internet possam tê-lo.
Essa é uma grande preocupação, dado que, ainda que a
conectividade com a internet não seja condição suficiente para o
acesso significativo à informação, é uma condição necessária. As
conexões também são essenciais para que as bibliotecas possam
prestar muitos dos serviços pelos quais contribuem para o
desenvolvimento. São essenciais novas abordagens e o uso integral
das infraestruturas existentes.
Uma segunda questão relaciona-se à emergência de desinformação
deliberada como uma questão política. Isso teve implicações
significativas para a confiança nas informações encontradas na
internet, e levou a clamores para maior intervenção governamental.
De forma mais positiva, esse fenômeno também sublinhou a
necessidade de desenvolver mais competências na utilização da
internet. Essas podem ajudar as pessoas não apenas a compreender e
avaliar as informações que encontram, mas também aplicá-las, partilhálas e criá-las.
Como nunca, há, indiscutivelmente, uma maior
compreensão da necessidade de construir o conhecimento, as
capacidades e as atitudes para serem internautas efetivos.
Ligada à segunda questão, está a da regulamentação do conteúdo em
geral. O poder da internet como um meio de compartilhar e acessar
informações tem estimulado os esforços para controlá-la, para fins
políticos, de segurança ou sociais. O surgimento de novas ferramentas,
iv
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�tais como tecnologias de filtragem, torna essa perspectiva mais viável
do que no passado.
Como tal, temos visto clamores - incluindo, algumas vezes, das
próprias grandes plataformas - para que haja regulamentação. Além
do risco de simplesmente consolidar a posição dos principais agentes
como os únicos atores que podem aplicar novas regras, as
regulamentações desproporcionais representam uma ameaça à livre
expressão e ao acesso à informação que fizeram da internet um
motor de transformação.
A segunda edição
Como a segunda edição do relatório sobre Desenvolvimento e Acesso à
Informação, esta publicação fornece mais provas da contribuição do
acesso para o desenvolvimento. Coloca uma ênfase particular sobre o
lugar das bibliotecas na consecução desse objetivo.
Pela primeira vez, entretanto, fornece alguns insights ao longo do
tempo, com base em um conjunto de indicadores de acesso à
informação identificados acima. O Capítulo 1 explora essas
evoluções, destacando a preocupação de que o crescimento do
número de indivíduos que usam a internet não é, muitas vezes,
acompanhado de progressos na educação, igualdade de gênero e de
liberdades.
O Capítulo 2 aborda a perspectiva da biblioteca, baseando-se em uma
gama de novos exemplos de onde as bibliotecas estão fazendo a
diferença. Destaca, em particular, os múltiplos benefícios de diversas
atividades bibliotecárias, as quais podem levar a resultados positivos em
várias áreas. Com frequência, esses exemplos mostram o que pode ser
alcançado quando uma conexão com a internet está associada a
iniciativas adicionais.
Os Capítulos 3 a 7 enfocam, por sua vez, cinco dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável enfatizados em 2019 - ODS 4 (educação),
ODS 8 (trabalho digno e crescimento econômico), ODS 10 (redução de
desigualdades), ODS 13 (ações relativas ao clima) e ODS 16 (paz, justiça
e instituições fortes). Cada capítulo explora os aspectos relacionados à
informação de um Objetivo e suas metas associadas, estabelecendo
como elas contribuem tanto para a efetividade das políticas quanto para
a obtenção dos resultados. Em cada caso, as formas pelas quais as
bibliotecas podem ajudar são explicadas. Uma conclusão, então, reúne
algumas das lições aprendidas nos diferentes capítulos.
Juntas, essas perspectivas oferecem uma mensagem clara. O acesso
significativo à informação é um poderoso acelerador de
desenvolvimento e, ao proporcionar isso, as bibliotecas são parceiros
essenciais para o desenvolvimento. Apelamos aos governos e a todos
os envolvidos na elaboração de políticas de desenvolvimento
sustentável que as ajudem a realizar o seu potencial.
1.
Garrido, M e Wyber, S. (Eds.). (2017). Relatório de Desenvolvimento e Acesso à Informação, da2i.ifla.org
2.
Vide, por exemplo: https://news.itu.int/itu-statistics-leaving-no-one-offline/
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
v
�DA2I
vi
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Índice
Prefácio
i
Introdução
ii
Capítulo 1
3
Progresso rumo a um significativo acesso à informação, e ameaças
emergentes
Capítulo 2
17
Tornar significativo, tornar igualitário: o papel das bibliotecas na
geração de desenvolvimento
Capítulo 3
23
Educação de qualidade e aprendizado continuado para todos - Um
enfoque nas pessoas
Capítulo 4
29
O acesso à informação para o trabalho digno e o crescimento
econômico
Capítulo 5
37
Desigualdades: as bibliotecas e a partilha do conhecimento
Capítulo 6
45
Acesso à informação e mudança climática
Capítulo 7
51
Objetivo 16: A paz, a justiça e as instituições fortes dependem do
acesso à informação
Conclusão
57
Colaboradores
60
Bibliografia
64
�DA2I
2
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 1
Progresso rumo a um significativo acesso
à informação, e ameaças emergentes
Este capítulo fornece um panorama do progresso feito por vários países
para alcançar um acesso significativo à informação entre 2015 e 2018, no
contexto da Agenda 2030 das Nações Unidas e dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODSs). O ano base, 2015, foi escolhido para
corresponder ao ano em que os ODSs foram estabelecidos pela
Assembleia Geral das Nações Unidas.1
MARIA GARRIDO, MICHELLE
FELLOWS, e BREE NORLANDER
Grupo de Tecnologia e Mudança Social, Universidade de
Washington
Ao longo deste relatório, o acesso significativo à informação é definido
como “os direitos e habilidades para usar, criar e partilhar informações de
maneiras que sejam significativas para cada indivíduo, comunidade ou
organização.”2 Essa abordagem baseada em direitos reconhece como uma
combinação de fatores estruturais nos níveis social, político e econômico se
manifesta em contextos locais e mundiais para promover (ou impedir) a
capacidade de acesso significativo à informação que contribui para um
desenvolvimento mais equitativo e sustentável.3
Por que medimos o progresso no acesso significativo
à informação
A Agenda de 2030 da ONU “é um plano de ação para as pessoas, o
planeta e a prosperidade” com a promessa de que “ninguém será
deixado para trás”.4 O acesso significativo à informação pode melhorar
os tipos de progresso previstos nos 17 Objetivos incluídos na Agenda.
A ascensão da internet e da rede social expandiu profundamente a
gama de interações possíveis entre os indivíduos, as comunidades, as
organizações e os governos, fornecendo oportunidades crescentes de
colaboração para combater a pobreza e a desigualdade, produzir e
consumir informações cívicas e participar de ações sociais e políticas. 5
Entretanto, não há garantia de que o acesso às tecnologias de
informação e comunicação (ICTs, na sigla em inglês), ou as
oportunidades que viabilizam, levarão a uma mudança social equitativa
ou inclusiva. Isso é particularmente verdadeiro quando se consideram
as condições necessárias para que o acesso à informação responda, de
forma significativa, aos principais desafios da sociedade — como descrito
no Marco para o Desenvolvimento e o Acesso à Informação:6 (1) a
disponibilidade de infraestrutura de conectividade física, (2) as
habilidades para usar as ICTs, (3) o contexto social da informação, e (4)
o ambiente jurídico e político. De fato, devido às barreiras enfrentadas
continuamente nestas áreas por muitas das populações mais vulneráveis
e isoladas do mundo, é muito possível que uma distribuição desigual do
acesso à informação contribuirá para alguns tipos de marginalização que
prejudicam os esforços de desenvolvimento.
Aqui estão alguns dos motivos pelos quais medimos o progresso:
O acesso significativo à informação possibilita uma mudança de baixo
para cima que apoia uma ampla gama de objetivos de desenvolvimento
sustentável consagrados na Agenda de 2030 da ONU.
Há provas robustas7 de como as tecnologias de informação e comunicação,
e as mudanças sociais que geram, foram alavancadas para promover o
desenvolvimento sustentável em contextos altamente diversos e em uma
ampla variedade de domínios, tais como o desenvolvimento da força de
trabalho, a igualdade de gênero, a justiça social e o crescimento econômico.
Em 2019, o Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
3
�Sustentável (HLPF, na sigla em inglês) enfocará suas análises temáticas anuais
sobre os ODSs relacionados à educação, ao emprego, à desigualdade e à boa
gestão da coisa pública, de forma que esses domínios são de particular interesse
neste capítulo.
O acesso significativo à informação deve ser tornado mais igualitário e
inclusivo.
Em um mundo cada vez mais movido pela interconectividade e pela comunicação
onipresente, o acesso significativo à informação é uma necessidade e um direito.
Nas duas últimas décadas, fizemos grandes avanços em direção ao aumento da
conectividade e da alfabetização digital para bilhões de pessoas. Ainda assim,
para muitas comunidades ao redor do mundo, o progresso tem sido frustrado por
desigualdades sociais e econômicas fundamentais, as quais permanecem em
vigor.8 Ainda estamos longe de atingir uma sociedade da informação
verdadeiramente inclusiva e igualitária.
Os avanços tecnológicos afetarão cada vez mais o progresso dos ODSs, não apenas
em termos de como as pessoas acessam e usam a informação, mas também das
ramificações sociais, culturais e políticas de assuntos relacionados que emergem.
No ecossistema de informação complexo e em evolução da atualidade, é mais
importante do que nunca se atingir o acesso significativo e igualitário à
informação. Desafios emergentes, tais como a desinformação, a segurança
on-line e a privacidade dos dados, a monopolização do acesso e curadoria da
informação, e novas restrições à liberdade de informação exacerbam ainda
mais as desigualdades sociais e econômicas profundamente enraizadas, as
quais impedem o progresso em múltiplas frentes.
Como medimos o progresso no acesso significativo à informação
Para monitorar o progresso feito pelos países rumo a um acesso significativo à
informação, selecionamos 17 indicadores nas quatro dimensões do Marco para
o Desenvolvimento e o Acesso à Informação. 9 Esse marco foi desenvolvido
pelos autores em 2017 e reflete um consenso geral entre os pesquisadores,
profissionais de desenvolvimento e legisladores informados de que o acesso
físico à tecnologia da informação por si só não é suficiente para construir uma
sociedade mais igualitária e participativa. O contexto social, político e cultural
da criação e do uso da informação é vital para destravar a natureza
transformacional dos recursos de informação e melhorar o bem-estar das
pessoas e suas comunidades.
Medir a contribuição do acesso significativo à informação para o desenvolvimento
sustentável é um esforço complexo, determinado, em parte, pela disponibilidade
de dados entre os países de ano a ano.10 Resumir os dados também é tarefa
desafiadora; por exemplo, agrupamos os países por região ou nível de renda para
destacar as tendências, mas fazer isso pode mascarar as diferenças entre os
países dentro de uma região. As classificações regionais refletem as usadas no
Relatório de 2016 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 11 No âmbito
desse sistema, os países são divididos em 10 regiões distintas — nove regiões
geográficas e uma região econômica, que é um grupo de 55 países
“desenvolvidos” (de um total de 228 países). As classificações de renda aplicamse a quatro categorias de renda estabelecidas pelo Banco Mundial: baixa, médiabaixa, média-alta e alta.12
Para uma visão mais abrangente do progresso rumo ao acesso significativo à
informação em nível de país, estimulamos os leitores a utilizar outras
ferramentas relacionadas à iniciativa de Desenvolvimento e Acesso à
Informação (DA2I, na sigla em inglês), incluindo os painéis DA2I13 e o Mapa do
Mundo de Bibliotecas da IFLA e suas Histórias dos ODS (uma ferramenta de
monitoramento que fornece estudos de caso sobre como as bibliotecas estão
promovendo os ODSs com seus trabalhos).
Olhar para o futuro
Este capítulo divide-se em três seções, cada uma correspondendo a uma
dimensão do acima mencionado Marco para o Desenvolvimento e o
Acesso à Informação.
4
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�• Seção 1 – Infraestrutura e uso da conectividade – mostra os avanços que o mundo
fez rumo ao estabelecimento de uma infraestrutura de conectividade mais inclusiva,
como evidenciado pela cobertura expandida da rede de banda larga móvel e por uma
proporção crescente de internautas.
• Seção 2 – O contexto social da adoção e do uso – mostra como o nível de instrução
dos jovens mudou nos últimos anos, inclusive com uma tendência ascendente na
conclusão da educação secundária superior (N. R.: equivalente ao 1º – 3º anos do
ensino médio no Brasil) e uma diminuição contínua da diferença de gênero entre
homens e mulheres nos quatro níveis educacionais.
• Seção 3 – O ambiente jurídico e político – mostra como as liberdades online e off-line estão diminuindo em vários países.
1. Infraestrutura e uso da conectividade
No contexto dos ODSs, a infraestrutura de conectividade física
(especificamente para a internet móvel e fixa) desempenha um papel
importante no apoio à inclusão econômica e no fornecimento de uma rota
para uma distribuição mais igualitária do conhecimento e dos recursos.
Para essa dimensão, incluímos indicadores em duas áreas de
conectividade:
1.
2.
3.
4.
5.
População coberta por pelo menos uma rede móvel 3G (ITU, na sigla em inglês)
Percentual de famílias com acesso à internet (ITU)
Assinaturas ativas de banda larga móvel por 100 habitantes (ITU)
Assinaturas de banda larga fixa por 100 habitantes (ITU)
Percentual de indivíduos que usam a internet (ITU)
Ao observar as mudanças na conectividade de 2015 a 2016, vemos um
padrão claro de melhora da conectividade em todas as regiões e em
praticamente todos os indicadores, continuando uma tendência de
crescimento sustentado. Países de renda média-baixa e de renda baixa
alcançaram alguns dos progressos mais significativos.
1.1 A cobertura de redes sem fio 3G alcançou 82% da
população mundial
Entre 2015 e 2016, a cobertura das redes sem fio 3G expandiu para alcançar
quase 82% da população do mundo, ou seja, mais de 6 bilhões de pessoas.
Em nível regional,14 o sudeste da Ásia, o norte da África, o Cáucaso e a Ásia
Central, o sul da Ásia e a África Subsaariana registraram os maiores
progressos em termos de cobertura. Embora os países de baixa renda tenham
atingido quase 50% da cobertura 3G (por população) em 2016, ainda estão
bem atrás da média mundial. Em nível de país, a infraestrutura de
conectividade na Bolívia, na Ucrânia, na Groenlândia, em Serra Leoa, na
Argélia e no Nepal registrou o maior aumento percentual da cobertura de rede
3G em 2016 em comparação com 2015.
1.2 Quase metade das residências no mundo tem acesso à internet
O número de famílias com acesso à internet em casa por meio de redes
fixas ou móveis aumentou de 45% (2015) para 48% (2016) no mundo
todo. Apesar desse avanço modesto, há diferenças bem significativas
entre as regiões. Enquanto na América Latino e no Caribe 46% da
população tinha acesso à internet em casa, na África Subsaariana e na
Oceania apenas 16% e 14%, respectivamente, tinham esse recurso de
conectividade. De acordo com a ITU (International Telecommunication
Union - União Internacional de Telecomunicações) (2018), o aumento de
lares com acesso à internet pode ser parcialmente motivado por um
aumento no uso de dispositivos móveis para acessar a internet em casa,
e não por qualquer outra mudança nas conexões de banda larga fixa. 15
Enquanto os indicadores de acesso à internet em casa, as assinaturas de
banda larga móvel e a cobertura 3G aumentaram de 2015 para 2016, a
banda larga fixa registrou uma queda insignificante (0,3 ponto percentual)
no número de assinaturas. Uma explicação possível para o maior
aumento na banda larga móvel do que nas assinaturas de banda larga
fixa pode ser o fato de que a banda larga fixa continua a ser relativamente
cara em países de baixa renda, nos quais, conforme concluído pela
Comissão de Banda Larga, a banda larga fixa custa, em média, mais do
dobro que a banda larga móvel.16
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
5
�1.3 Mais da metade da população do mundo usa a internet
Comparado a outros indicadores de infraestrutura de conectividade, o uso da
internet apresentou a mudança mais dramática, passando de 47,1% (2015) para
51,6% (2016) da população, um aumento de 9,6%. Entre 2015 e 2016, o maior
aumento percentual de internautas foi em países de baixa renda (24,9%) e de
renda média-baixa (11,2%). Em nível regional, a Oceania, o sudeste da Ásia e
o sul da Ásia tiveram o maior aumento percentual de internautas em comparação
com 2015. Embora muitos dos países dessas regiões ainda estejam abaixo da
média mundial, eles continuam a dar passos positivos rumo ao acesso físico
universal à informação em algumas das áreas que enfrentam mais desafios
econômicos ao redor do mundo. (Vide Imagem 1: Progresso regional em
infraestrutura e uso da conectividade de 2015 a 2016).
Em nível de país, nove entre os 10 países que tiveram o maior crescimento da
população que usa a internet estão na África Subsaariana. Desses nove
países, Serra Leoa, Tanzânia, Guiné, Gabão e Moçambique registraram o
maior aumento no número de indivíduos que usam a internet em comparação
com o ano anterior. O Gabão, por exemplo, aumentou o percentual de sua
população que usa a internet de 7% em 2010 para quase 50% em 2016. De
acordo com o Banco Mundial (2018), por meio de uma combinação de
investimentos em infraestrutura de banda larga e da formulação de uma
estratégia digital que estabeleceu um ambiente regulatório mais propício ao
investimento e à concorrência no país, o custo do acesso à internet no Gabão
caiu de uma média de US$18 para US$2.80 por mês. 17
Imagem 1: Progresso regional em infraestrutura e uso de conectividade de 2015 a 2016
(percentual da população)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Cáucaso
e Ásia
Central
Ásia
Oriental
América
Latina e
Caribe
Cobertura da rede 3G em 2015
Norte da
África
Oceania
Sudeste
da Ásia
População de internautas em 2015
Sul da
Ásia
África
Ásia
Subsaariana Ocidental
Regiões
desenvolvidas
Mundo
2016
Fonte: Grupo de Tecnologia e Mudança Social da ITU - Universidade de Washington
1.4 O percentual de internautas tem aumentado constantemente, mas os desafios
relacionados às desigualdades de gênero e à acessibilidade dos preços da
internet ainda permanecem
A diferença no acesso à internet, considerando-se o gênero, aumentou de 11%
em 2015 para 12% em 2016. Quando se objetiva a participação verdadeiramente
inclusiva e igualitária, é importante observar a conectividade em relação a
diferentes populações, especialmente os grupos historicamente excluídos,
como mulheres e meninas. As pesquisas mostram que mulheres e meninas
enfrentam, com frequência, desafios particularmente difíceis relacionados às
normas sociais e culturais que fazem com que tenham menos probabilidade que
os homens e os meninos de acessar, usar, possuir e criar tecnologia digital e
desenvolver ainda mais suas habilidades digitais. 18 Por exemplo, um estudo
abrangente recentemente publicado sobre o estado da igualdade de gênero no
acesso, nas habilidades e na liderança em tecnologias de informação e
comunicação (ICT) contestou a suposição comumente aceita de que os altos
níveis de adoção do telefone móvel reduziram a disparidade de gênero digital.
Em vez do esperado, a pesquisa mostrou que a diferença persiste nos três
domínios em diversos países, 19 e essa situação é exacerbada ainda mais no
caso das mulheres que vivem em zonas rurais. 20
6
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�De acordo com a ITU (2016), a proporção de homens que usam a internet
continua a ser maior que a proporção de mulheres em dois terços dos países
onde há dados disponíveis, embora não esteja claro em que medida a situação
melhorou nos últimos anos. As estimativas da ITU indicam uma divisão crescente
ao longo de um período de um ano, com a disparidade de gênero em relação ao
uso de internet aumentando de 11% em 2015 para 12% em 2016 (ITU, 2016).
Em nível regional, as estimativas da ITU demonstraram que a diferença de
gênero foi maior na África (23%), e nos Estados Árabes (18%) e menor nas
Américas (2%) para os países que constaram do relatório.21
A acessibilidade dos preços é um importante determinante do acesso
das pessoas à informação
A análise realizada pela Alliance for Affordable Internet (A4AI - Aliança para a
Internet com preços acessíveis) sugere um progresso considerável nos últimos 10
anos em assuntos relacionados à acessibilidade de preços da internet,
especialmente com a redução de preços para serviços móveis. 22 Entretanto, a
incapacidade das pessoas de custearem uma conexão de internet básica
permanece uma das maiores barreiras de acesso. 23 A A4AI define a acessibilidade
como 1GB de dados móveis que custam 2% ou menos do rendimento mensal médio
da pessoa, calculado com base na Renda Nacional Bruta per capita. 24 O último
relatório da A4AI mostra que em 2017 mais de 2 bilhões de pessoas no mundo
ainda viviam em países onde os dados móveis tinham preços inacessíveis. A A4AI
encontrou diferenças de preços consideráveis entre as regiões. Por exemplo, os
dados móveis foram os mais baratos na Ásia (1,54% da renda) versus, por exemplo,
América Latina e Caribe (3,58% da renda) e África (8,76% da renda). Apenas quatro
países africanos atingiram a meta de acessibilidade de preços (Tunísia, Nigéria,
Maurício e Egito).25
2. O contexto social de adoção e uso: oportunidades
de educação para os jovens
Enquanto a infraestrutura de conectividade física fornece às comunidades as
bases tecnológicas para o acesso à informação, o contexto social da adoção e do
uso molda a forma como os indivíduos se envolvem com essa infraestrutura. Uma
multiplicidade de fatores – incluindo a dinâmica social em torno da pobreza, da
raça, da etnia, da desigualdade de gêneros, e uma diversidade de normas sociais
e culturais – influencia a capacidade das pessoas de acessarem e utilizarem a
informação de maneira significativa em suas vidas cotidianas.
Em diversos países, pessoas jovens enfrentam níveis mais altos de pobreza,
desemprego, subemprego e marginalização geral do que os adultos mais
velhos,26 o que justifica o estabelecimento das metas relativas aos jovens nos
ODSs 4 (educação para todos) e 8 (emprego digno) na Agenda de 2030 da ONU.
A análise a seguir enfoca os jovens para ilustrar como o contexto social afeta o
acesso significativo à informação. Especificamente, consideramos o nível de
instrução e seus efeitos sobre as oportunidades para os jovens.
A educação é fundamental para melhorar os meios de subsistência dos
indivíduos, das famílias e das comunidades, e é um veículo importante por
meio do qual crianças e jovens podem aspirar a uma melhora em seus meios
de subsistência. Entretanto, a educação pode manifestar as desigualdades
existentes em muitos países, dificultando o futuro dos jovens.
O acesso significativo à informação está estreitamente ligado à educação.
Claramente, a possibilidade de se conectar à internet pode abrir novas
possibilidades interessantes de acessar materiais e ferramentas de
aprendizagem. Entretanto – de forma crucial – a relação também ocorre na
outra direção, com uma gama de competências, desde a alfabetização
básica até a alfabetização da informação crítica de nível superior, sendo
necessária para otimizar o acesso à informação.
Com isso, vemos que alguns jovens – os com competências para utilizar
a tecnologia e a informação de maneira significativa – podem encontrar
recursos e oportunidades on-line para complementar seus meios de
subsistência ou perspectivas de trabalho, enquanto outros perdem
essas oportunidades. Apenas a conectividade física não pode superar
as barreiras impostas ao acesso significativo à informação se as
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
7
�oportunidades de educação e formação não existirem ou só estiverem
disponíveis para poucos.
Para este relatório, nossa análise baseia-se em dados provenientes de
um indicador:
1. Nível de instrução, isto é, o nível mais alto de formação obtido por
indivíduos com idade igual ou superior a 25 anos – ensino médio e
faculdade (UNESCO)
No geral, ao observar as mudanças no contexto social entre 2006 e 2015,27
vemos uma tendência ascendente na conclusão do ensino secundário
superior* para os países participantes da pesquisa, e estamos mais
próximos de alcançar a igualdade de gênero no ensino primário e no
primeiro ciclo do ensino secundário**, com a parcela de mulheres que obtêm
um bacharelado ultrapassando, na verdade, a parcela de homens.
2.1 A conclusão do ensino secundário superior para os indivíduos com
idade igual ou superior a 25 anos aumentou para 34% no mundo todo
As métricas do nível de instrução – o nível mais alto de instrução que o indivíduo alcançou
– fornecem uma imagem das oportunidades que crianças e jovens têm de progredir ao
longo do percurso educacional. Nossa análise mostra uma tendência ascendente
crescente, em nível mundial, na conclusão do ensino secundário superior. Entre 2006 e
2015 (o último ano com dados disponíveis), as taxas do nível de instrução referentes à
educação secundária superior, sendo este o nível mais elevado obtido, aumentaram de
25,5% para 34,4%. Enquanto isso, os níveis de instrução referentes ao primeiro ciclo do
ensino secundário, sendo este o nível mais alto obtido, variaram ligeiramente de 15,6%
para 16,9%. Entretanto, a conclusão do bacharelado, sendo este o nível mais alto obtido,
diminuiu de 17,8% em 2011 para 14,2% em 2015. (Vide Imagem 2: Tendências do nível
de instrução por nível de formação, 2010-2015.)
Imagem 2: Tendências do nível de instrução por nível de formação, 2010-2015
(percentual da população)
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2010
Primário
2011
Primeiro ciclo do secundário
2012
Secundário superior
2013
2014
2015
Bacharéis
Fonte: UNESCO
Nota: O número de países participantes da pesquisa varia ano a ano
Grupo de Tecnologia e Mudança Social, Universidade de Washington
Uma importante tendência observada nos últimos 10 anos nos países
participantes da pesquisa é que a igualdade de gêneros, no que concerne
às taxas de nível de instrução, foi alcançada nos níveis de ensino primário
e no primeiro ciclo do ensino secundário.28 Ainda há uma disparidade com
relação ao nível do ensino secundário superior, mas as mulheres superaram
os homens na proporção de conclusão do bacharelado (sendo este o mais
alto grau obtido) desde 2006. (Vide Imagem 3: Tendências do nível de
instrução por gênero, 2010-2015.)
*(N. R.: equivalente ao 1º – 3º anos do ensino médio no Brasil)
**(N. R.: equivalente ao 6º – 9º anos do ensino fundamental no Brasil)
8
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�Imagem 3: Tendências do nível de instrução por gênero, 2010-2015
(percentual da população)
Mulheres
Homens
90
90
80
80
70
70
60
60
50
50
40
40
30
30
20
20
10
10
0
0
2010
Primário
2011
2012
2013
Primeiro ciclo do secundário
2014
2015
Secundário superior
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Bacharéis
Fonte: UNESCO
Nota: O número de países participantes da pesquisa varia a cada ano
Grupo de Tecnologia e Mudança Social, Universidade de Washington
Os estudos demonstram que os níveis de renda nacional estão diretamente
relacionados ao nível de instrução educacional 29 e as tendências recentes
mostram um progresso positivo, particularmente nos países de renda médiabaixa. De 2014 a 2015, o nível mais alto de grau de instrução para países com
renda média-baixa aumentou tanto na modalidade de nível secundário superior
(de 22% para 36%) quanto no nível de bacharelado (de 9% para 14%).
Em nível regional, os países da África Subsaariana registraram os progressos
mais significativos ao aumentar as taxas de nível de instrução no nível
secundário superior entre 2014 e 2015 (de 12% para 26%). O percentual de
pessoas que obtiveram um bacharelado como o nível de instrução escolar mais
elevado na região caiu de 5% para 3% no mesmo período. A obtenção do grau
de bacharel também diminuiu de 17% para 11% na Ásia Ocidental, mas
cresceu ligeiramente de 2014 a 2015 no Cáucaso e na Ásia Central, regiões
“desenvolvidas”, Ásia Oriental, América Latina e Caribe e Sudeste da Ásia.
Entretanto, a observação dos países “desenvolvidos” ao longo de um período
de dois anos mostra uma tendência descendente na obtenção do bacharelado,
de 20% em 2013 para 15% em 2015.
3. O ambiente jurídico e político: direitos políticos,
direitos civis e a liberdade na rede
O pilar dos ambientes jurídico e político do Marco DA2I relaciona-se ao
ponto até o qual os países implementaram os tipos de objetivos baseados
nos direitos, e as práticas equitativas e participativas que apoiam um
acesso significativo à informação. Isso inclui garantir os direitos das
pessoas à liberdade de expressão, de associação, de participação
política, de ação cívica e segurança e privacidade on-line.
A relação entre as liberdades e o acesso à informação está consagrada
na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Objetivo 16 dos
ODSs, e particularmente na Meta 16.10, a qual busca “garantir o acesso
público à informação e proteger as liberdades fundamentais, de acordo
com a legislação nacional e os acordos internacionais.”30
Quando essas liberdades são restringidas, as pessoas são incapazes de
fazer uso pleno do acesso à informação, não apenas para participar da
vida cívica, mas também para comunicar e criar conteúdos
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
9
�relevantes para o benefício de outros. Tais controles rigorosos podem
ter um efeito desencorajador sobre o jornalismo, a pesquisa e a
disponibilidade para buscar informações pessoais.
Esta seção apresenta o estado do mundo no que diz respeito aos direitos
políticos, às liberdades civis e às liberdades on-line. Baseia-se nos índices
da Freedom House (Casa da Liberdade), cujos esforços na coleta de dados
abrangentes avaliam o estado do mundo (e tendências ao longo do tempo)
em uma gama de assuntos, incluindo o direito à informação. 31
Os dois índices usados são:
1. Liberdade no Mundo
2. Liberdade na Rede.
3.1 A liberdade no mundo continua a declinar
O índice de Liberdade no Mundo criado pela Freedom House é composto por
duas classificações separadas sobre direitos políticos e liberdades civis.
• Classificação dos Direitos Políticos: Avalia a capacidade das
pessoas de participar do processo eleitoral, assegurar o pluralismo
político e responsabilizar o governo.
• Classificação das Liberdades Civis: Avalia em que medida as pessoas
podem exercer a liberdade de expressão e de crença, se podem
associar-se e reunir-se livremente, e se existe um estado de direito
igualitário que proteja as liberdades sociais e econômicas.
O índice combinado de Liberdade no Mundo retrata um quadro sombrio
do estado do mundo no que diz respeito ao direito à informação para
todas as pessoas, com implicações gritantes para o futuro da
democracia. De acordo com a Freedom House,32 2018 marca o 12º ano
consecutivo com queda nas classificações relativas aos direitos políticos
e às liberdades civis no mundo. Atualmente, quase 40% das pessoas no
mundo vivem em países classificados como não livres e um quarto vive
em países classificados como só parcialmente livres. 33
Nossa análise mostra que, entre 2010 e 2018, a liberdade declinou na
maioria das regiões do mundo e em quase todos os níveis de renda dos
países. Entre 2017 e 2018, os países de alta renda e de renda média-alta
tiveram os maiores declínios em sua pontuação de liberdade combinada –
incluindo democracias maduras, onde muitos poderiam esperar que as
liberdades não faltariam. Em nível regional, das 10 sub-regiões da ONU,
apenas três (Ásia Oriental, Cáucaso e Ásia Central, e Oceania) registraram
um aumento de liberdade nos dois últimos anos, mesmo esses ligeiros
aumentos regionais foram impulsionados apenas por um grupo de países,
e quase todos os países dentro dessas regiões permanecem parcialmente
livres ou não são livres.34
Os países que registram melhora em matéria de direitos políticos e
liberdades civis, com frequência, viram apenas pequenas melhoras em
suas pontuações, embora diversos países – tais como Angola, Etiópia
e Equador35 – tenham tido pontuações significativamente melhores
devido a importantes desdobramentos que resultaram em expansões
das liberdades. (Vide Imagem 4 para os países que registraram os
maiores ganhos e perdas de liberdade em 2018).
10
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�Imagem 4: Países com os maiores ganhos e declínios na pontuação geral em matéria de liberdade, 2017-2018.
Gabon
Tunísia
Turquia
Tanzânia
Maldivas
Polônia
Malta
Líbia
Hungria
Uganda
Sudão
Somália
Jamaica
Haiti
Guatemala
Angola
Afeganistão
Nepal
Equador
Uzbequistão
Timor- Leste
Iraque
-10
Livre
-8
Parcialmente Livre
-6
-4
-2
Mudança na pontuação a partir de 2017
0
2
4
Não Livre
Fonte: Freedom House
Nota: As pontuações refletem melhora ou deterioração dos direitos políticos e das
liberdades civis. Grupo de Tecnologia e Mudança Social, Universidade de Washington.
3.2 Liberdade no Mundo: direitos políticos e liberdades civis
Observando-se os diferentes componentes que constituem os
subíndices da Freedom House em matéria de direitos políticos e
liberdades civis, vemos que na Ásia Ocidental e no Cáucaso e Ásia
Central, os regimes autoritários limitaram ainda mais a capacidade das
pessoas de ter eleições justas e livres. 36 (Vide Imagem 5: Ganhos e
perdas, por região, em matéria de liberdades civis e direitos políticos,
2017 - 2018). Em 2018, comparado ao ano anterior e em relação a outras
regiões, o Norte da África registrou os maiores declínios em múltiplas
áreas, incluindo: o direito à associação e à organização; garantias da
autonomia dos povos e direitos individuais; pluralismo político e
funcionamento adequado do governo por meio da implementação de
salvaguardas contra a corrupção e o nepotismo; e abertura e
transparência no governo.
Embora a causa principal desse declínio das liberdades varie conforme
a região e o país, algumas tendências emergentes afetaram os países
em diferentes níveis de desenvolvimento social, econômico e político.
Talvez a tendência mais preocupante seja a ascensão do autoritarismo
e de governos populistas em diversos países, inclusive em Estados com
longa e estabelecida tradição democrática. 37 Estimulada por uma
crescente desigualdade social e econômica, a desconfiança geral das
pessoas acerca de um sistema político que consideram corrupto e
ineficiente, juntamente com a onda atual de desinformação e
manipulação da informação nas mídias sociais, está criando as bases
para que as forças autoritárias ganhem poder político às custas de
nossos direitos políticos e liberdades civis. 38
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
11
�Imagem 5: Ganhos e perdas, por região, em matéria de liberdades civis
e direitos políticos, 2017-2018, expressos em variação percentual
Cáucaso e Ásia Central
Pluralismo
Político
Regiões Desenvolvidas
6,90
Funcionamento
do Governo
1,27
0,00
Processo
Eleitoral
0,83
0,37
9,52
Estado de Direito
0,00
0,32
Autonomia Pessoal
e Direitos dff
Individuais gffdh
4,08
Liberdade de
Expressão e
de Crença
5,26
1,13
Direitos de
Associação e
de Organização
4,55
0,55
Ásia Oriental
0,29
América Latina e Caribe
Pluralismo Político
3,33
0,48
Funcionamento
do Governo
5,26
1,56
Processo
Eleitoral
0,00
1,54
Estado de Direito
0,00
0,66
0,00
0,54
Liberdade de
Expressão e
Crença
3,33
0,67
Direitos de
Associação e de
Organização
0,00
Autonomia
Pessoal e Direitos
Individuais
Norte da África
Pluralismo Político
Funcionamento
do Governo
Processo
Eleitoral
1,35
Oceania
0,60
12,12
3,13
11,76
0,79
12,50
Estado de Direito
0,69
9,09
Autonomia Pessoal
e Direitos
Individuais
8,57
0,00
Liberdade de
Expressão
e de Crença
2,78
0,00
11,54
0,84
Direitos de
Associação e
de Organização
Sudeste da Ásia
Pluralismo
Político
0,00
Funcionamento do
Governo
2,13
Processo
Eleitoral
Estado de Direito
Autonomia Pessoal
e Direitos
Individuais
12
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
Sul da Ásia
1,96
0,00
2,00
3,08
2,04
2,08
0,00
0,00
Liberdade de
Expressão e
de Crença
1,12
0,00
Direitos de
Associação e
de Organização
4,08
0,00
�África Subsaariana
Pluralismo
Político
Funcionamento
do Governo
Processo
Eleitoral
Estado de Direito
0,00
2,05
2,96
7,69
2,65
42,00
2,32
2,63
Autonomia Pessoal
e Direitos
Individuais
0,00
1,82
Liberdade de
Expressão e
de Crença
2,78
Direitos de
Associação e de
Organização
0,74
Direitos Políticos
Ásia Ocidental
1,59
0,00
Direitos Civis
Fonte: Freedom House
Grupo de Tecnologia e Mudança Social, Universidade de Washington.
3.3 Liberdade na rede
A classificação “Liberdade na Rede” rastreia os obstáculos ao acesso à
internet, os limites ao conteúdo da internet e as violações dos direitos dos
usuários em 65 países. De acordo com o último relatório da Freedom House
sobre a Rede (2018), 34% da população mundial vivia em países
classificados como “não livres” e 33%, em países classificados como
“parcialmente livres”. Apenas 20% das pessoas viviam em países onde seus
direitos de acesso à internet estavam garantidos.39
Nossas liberdades de acesso à rede já vinham diminuindo há sete anos
consecutivos e, em 2018, esta tendência continuou por um oitavo ano.
De acordo com o último relatório sobre “Liberdade na Rede”:
Dos 65 países avaliados, 26 estão em declínio geral desde junho de
2017, comparados com 19 que registraram melhoras na rede. [No geral],
17 governos aprovaram ou propuseram leis restringindo a mídia on-line
em nome do combate às “notícias falsas” e à manipulação on-line, e 18
países aumentaram a vigilância, frequentemente evitando a supervisão
independente e enfraquecendo a criptografia para obter acesso irrestrito
aos dados. (Freedom House, FON 2018)
Nossa análise sugere que os países de baixa renda sofreram as maiores
perdas nas liberdades on-line de 2015 a 2016, seguidos pelos países de
renda média-alta. Países do Norte da África e do Cáucaso/Ásia Central
registraram a maior diminuição das liberdades on-line em 2016. As
Filipinas, a Turquia e a Arábia Saudita estavam entre os 30 países onde
os governos tentaram manipular o diálogo político e cívico e espalhar
desinformação ao empregar exércitos de “formadores de opinião” para
promover certas agendas políticas e reduzir a oposição na mídia social. 40
A China, o Irã, a Síria, a Etiópia, a Arábia Saudita, o Bahrein, o Paquistão,
Cuba, o Uzbequistão e o Vietnã foram os 10 países com as maiores
restrições às liberdades on-line no mundo em 2016.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
13
�O caminho adiante
Quando observamos os progressos feitos pelas regiões e pelos países
para alcançar o acesso significativo à informação e seu uso entre 2015
e 2018, vemos resultados variados. Os ganhos em conectividade e
educação são compensados por perdas nas liberdades individuais. Em
vez de fazermos sérias incursões para alcançar o acesso significativo à
informação para todos, nossos indicadores mostram que, em geral,
estamos correndo no lugar. Aparentemente, para cada passo adiante, o
mundo deu um passo para trás. Por exemplo:
Houve progresso significativo na construção de infraestruturas de
conectividade, particularmente em países de baixa renda e países de renda
média-baixa, mas essas infraestruturas permanecem subutilizadas.
A existência de infraestrutura de conectividade física é fundament al
para garantir o direito ao acesso significativo à informação. Entretanto,
a capacidade real das pessoas de acessar e usar essa infraestrutura
é determinada por diversos fatores sociais, incluindo pobreza, acesso
a oportunidades igualitárias de educação e empregos dignos para
mulheres e homens, e a presença de um marco jurídico e político que
proteja os direitos de todas as pessoas. Apesar de avanços
significativos na disponibilidade de tecnologias de informação e
comunicação, houve um progresso insignificante para se resolver a
expressiva disparidade de gênero que persiste no uso dessas
tecnologias. E embora a conectividade, particularmente através de
conexões móveis, tenha se tornado mais barata na maioria dos países,
o preço permanece sendo uma barreira intransponível para muitas
pessoas ao redor do mundo.
Uma observação positiva é que o nível de instrução continua a
aumentar em todas as regiões do mundo.
A educação é fundamental para melhorar os meios de subsistência dos
indivíduos, das famílias e das comunidades, e é um veículo importante por
meio do qual crianças e jovens podem aspirar a um emprego digno.
Entretanto, o desempenho educacional pode refletir as desigualdades
existentes em muitos países, dificultando as possibilidades dos jovens. Com
isso, vemos que alguns jovens – os com acesso físico, recursos financeiros e
competências digitais para utilizar a tecnologia e a informação de maneira
significativa – podem encontrar recursos e oportunidades on-line para apoiar
seus meios de subsistência ou perspectivas de trabalho. Porém, quando as
oportunidades de educação, treinamento e emprego não são distribuídas
igualitariamente, os jovens enfrentam obstáculos que o acesso à informação,
por si só, não pode ultrapassar.
Enquanto isso, um declínio generalizado das liberdades é um presságio
de problemas para o futuro da democracia em todo o mundo.
Os limites excessivos às liberdades têm consequências evidentes para a
democracia, pois as sociedades perdem o poder das vozes das pessoas
para decidir a orientação política de seus países. A liberdade de expressão
é a pedra angular da participação política e dos direitos civis e incorpora um
conjunto de valores democráticos que afetam cada aspecto do acesso
significativo à informação. Uma abordagem baseada em direitos de acesso
à informação reconhece que o direito à informação impacta também todos
os outros direitos. Esses direitos são interdependentes e indivisíveis.
Conforme as vidas das pessoas se tornam ainda mais interconectadas
devido às nossas interações on-line, a garantia dos direitos das pessoas à
participação livre e segura em diferentes espaços on-line é mais importante
do que nunca. A noção da internet como uma tecnologia de libertação está
diminuindo à medida que os governos ao redor do mundo estão, cada vez
mais, vigiando seus cidadãos, utilizando a mídia social para espalhar
desinformação e manipular seus eleitores para obter ganhos políticos, e não
protegendo seus povos contra violações de privacidade.
14
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�A escassez de dados sobre indicadores importantes permanece um
obstáculo aos nossos esforços.
Nossos esforços para rastrear o progresso dos países e regiões rumo
ao alcance do acesso significativo e uso da informação estão
severamente prejudicados pela falta de disponibilidade de dados
relevantes. Durante o período entre 2015 e 2018, os dados de muitos
dos 17 indicadores incluídos no marco de DA2I não foram atualizados
ou tornados públicos. Em um mundo supostamente repleto de dados, a
realidade é que há lacunas importantes de dados nos principais
indicadores sociais e econômicos. A escassez de dados não apenas
limita nossa capacidade de avaliar o progresso dos países, como, talvez
ainda mais importante, restringe de forma significativa a concepção de
políticas baseadas em provas que verdadeiramente tratem das
necessidades das diversas comunidades em cada país.
1.
Este capítulo é o segundo fascículo, após o relatório de DA2I publicado em 2017. Vide: Garrido, M. & Wyber, S. Eds. (2017)
2.
Vide: Garrido & Fellows, 2017: 11
3.
Para uma discussão mais aprofundada sobre a importância da abordagem baseada em direitos em relação à Agenda da ONU de 2030, vide,
por exemplo: Nussbaum, (2001) Esterhuysen, A., (2016) e Souter, D., (2016)
4.
https://sustainabledevelopment.un.org/post2015/transformingourworld
5.
Há um volume de pesquisa extenso e bem estabelecido dedicado ao estudo das contribuições do acesso à informação com a finalidade
de fazer avançar os objetivos sociais e econômicos. Numerosos estudos nas áreas de comunicação, especialmente a de comunicação de
desenvolvimento (por exemplo, Castells, 1996; Melkote, 2000; Wilkins, 2000; Castells, Fernandez, & Sey, 2009; Toyama, 2011 Heeks,
2010; Sey et al., 2015; Donner, 2016) e ciências da informação (por exemplo, Burnett & Jaeger, 2011), e, mais recentemente, na área de
engenharia e design centrados no homem (por exemplo, Starbird, 2018) lançaram luz sobre as diferentes formas pelas quais as
comunidades, as organizações da sociedade civil, os governos e as agências internacionais usaram diversos recursos de informação e
comunicação para promover a mudança social
6.
Vide Garrido & Fellows, (2017)
7.
Vide nota de rodapé 5
8.
Vide Pew Internet Research (2016); ITU, (2016 ,2017, 2018); Garrido & Fellows (2017); e EQUALS Research Group, (2019); entre outros.
9.
Vide: Anexo 3 (Glossário dos indicadores de DA2I) está disponível aqui: https://da2i.ifla.org/
10. Para obter informações sobre nossa metodologia e uma discussão sobre os desafios enfrentados, vide Anexo 1 (Processo de Pesquisa)
e Anexo 2 (Curadoria, Processamento e Estratégia de Análise de Dados) aqui: https://da2i.ifla.org/node/50
11. Uma lista de países e sua classificação regional está disponível no Anexo 2 (Curadoria, Processamento e Estratégia de Análise de Dados)
aqui: https://da2i.ifla.org/node/51
12. Informações sobre a classificação do grupo de renda feita pelo Banco Mundial podem ser encontradas aqui:
https://datahelpdesk.worldbank.org/knowledgebase/articles/378834-how-does-the-world-bank-classify-countries
13. Os painéis de DA2I serão divulgados em julho de 2019. Consulte nosso site para obter atualizações: http://tascha.uw.edu/
14. Médias regionais recebem um peso conforme a população do país.
15. Vide: ITU (2018)
16. Vide: Broadband Commission [Comissão da Banda Larga] (2018)
17. Para obter informações sobre o Projeto de Comunicações do Eixo da África Central feito pelo Banco Mundial, vide:
http://projects.worldbank.org/P108368/centralafrican-backbone-apl1a?lang=en
18. Vide, por exemplo: EQUALS Research Group (2019) e ITU (2016, 2017, e 2018)
19. Para uma análise abrangente sobre o estado da disparidade de gênero em matéria de ICT [Tecnologias de Informação e Comunicação], vide:
EQUALS Research Group (2019)
20. Vide: Web Foundation [Fundação Web] (2016)
21. Vide: ITU (2016)
22. Vide: Affordability Report [Relatório de Acessibilidade de Preços] (2018)
23. Ibid
24. Mais informações sobre essa definição de acessibilidade de preços, bem como uma lista dos custos de banda larga móvel por
país, estão disponíveis em https://a4ai.org/mobile-broadband-pricing-data/.
25. Ibid
26. Vide, por exemplo: ILO (2017, 2018); UNESCO (2017, 2018); e UNDP [Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas] (2016)
27. Os dados relativos a 2016 não foram incluídos na análise devido ao pequeno número de países que informaram os dados pertinentes a esse indicador
naquele ano (n=2) 28.
28. UNESCO (2016 e 2017)
29. Vide, por exemplo: ILO (2017, 2018), UNDP (2016)
30. Vide Garrido, Fellows e Koepke (2017)
31. Vide a Metodologia da Freedom House: https://freedomhouse.org/report/methodology-freedom-world-2019
32. Freedom House (2018)
33. Ibid
34. Ibid
35. Ibid
36. Freedom House (2018)
37. Mozilla Foundation [Fundação Mozilla] (2018)
38. Vide: Freedom House (2017 e 2018)
39. Freedom House (2018b)
40. Ibid
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
15
�DA2I
16
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 2
Tornar significativo, tornar igualitário:
o papel das bibliotecas na geração
do desenvolvimento
O fornecimento de acesso à informação é a principal missão das
bibliotecas. Ao adquirir, preservar e organizar as informações e ao permitir
aos usuários que as leiam e as apliquem, as bibliotecas há muito têm
estado no centro de nossa infraestrutura cultural e de pesquisa. São
guardiãs de grande parte do patrimônio documental do mundo, bem como
as fontes das matérias-primas para a inovação.
STEPHEN WYBER
Gestor, Política e Advocacia, Federação Internacional
de Associações e Instituições Bibliotecárias
Também têm uma importante missão social. No século XIX, a construção
de bibliotecas fazia parte do esforço para educar e capacitar os que não
pertenciam à elite. Complementando o movimento para desenvolver os
direitos trabalhistas e a educação universal, as bibliotecas integraram parte
de uma nova provisão de serviços – e oportunidades – a todos.
Embora o mundo tenha mudado, a principal missão das bibliotecas permanece
relevante e, provavelmente, mais do que nunca. À medida que se torna cada
vez mais claro o que pode ser alcançado com a informação, torna-se cada vez
mais imperativo que todos tenham a possibilidade de se beneficiar.
Os custos do não acesso são claros. Conforme detalhado no capítulo anterior,
quem não dispõe de acesso significativo à informação perde oportunidades de
emprego ou de empreender, não consegue envolver-se em pesquisas e
inovação ou na vida cívica, e é impedido de comunicar-se com amigos,
familiares e com quem partilha de seus interesses.
Ademais, a falta de acesso pode afastar as pessoas de suas culturas e, no
nível mais básico, das informações de que precisam para tomar as
decisões certas para si e suas comunidades.
A falta de capacidade para encontrar, acessar, aplicar e criar informações
pode, muitas vezes, reforçar a desvantagem social e econômica, que pode,
por sua vez, aumentar ainda mais as barreiras para o acesso à informação.
Isso, com efeito, cria um gargalo ao desenvolvimento igualitário, tornando
mais difícil a realização dos objetivos da Agenda da ONU de 2030. Como
pretende mostrar este capítulo, as bibliotecas podem proporcionar uma
forma eficaz de sair dessa situação.
Como mostra o Mapa do Mundo de Bibliotecas da IFLA, existem, pelo
menos, 2,3 milhões de bibliotecas pelo mundo. Embora muitas sirvam a
comunidades específicas (tais como as bibliotecas de escolas, bibliotecas
acadêmicas ou especiais - isto é, bibliotecas institucionais ou
parlamentares), o que inclui mais de 357 mil bibliotecas públicas, com a
missão de ajudar todos os seus usuários. Isso representa um enorme
recurso em potencial.
Entretanto, as bibliotecas não existem em um vácuo. Dependem de
diversas condições para existir e serem capazes de cumprir suas missões.
Obviamente, o financiamento é crucial, não apenas para ter um edifício e
equipe adequados, mas também para o acervo e a infraestrutura.
As bibliotecas têm uma relação de mão dupla com os diversos elementos do Marco
de Desenvolvimento e Acesso à Informação (DA2I). Beneficiam-se de um bom
desempenho em cada um dos quatro pilares do Marco, mas, principalmente,
também os apoiam. Na verdade, há um forte potencial para um círculo virtuoso.
Este capítulo explorará essas questões e ilustrará a contribuição que as
bibliotecas adequadamente equipadas podem oferecer. Por fim, relacionará
os exemplos discutidos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
17
�Bibliotecas e conectividade
O primeiro pilar do Marco de DA2I enfoca
a capacidade dos indivíduos de se
conectarem à internet, seja por uma
conexão por fios ou cabos (ou uma
combinação destas e a Wi-Fi), seja por
meio de banda larga móvel. Obviamente,
os usuários de bibliotecas também se
beneficiam da conectividade, e, de fato, as
bibliotecas, cada vez mais, demandam
isso para desempenhar suas missões.
Entretanto, esta seção argumenta que o
fornecimento de acesso público à
internet em bibliotecas é uma parte
fundamental de qualquer estratégia de
conectividade, inclusive nos países mais
avançados. Isso porque o acesso à
internet em bibliotecas representa uma
proposta de valor singular, não apenas
como um trampolim para uma maior
proporção de conexões domésticas,
mas também como complemento para
tal, mesmo que alguns países se
aproximem de 100% no uso da internet.
Em resumo, há uma forte relação de
mão dupla entre as bibliotecas e o bom
desempenho do primeiro pilar do Marco
de DA2I.
Como destacado no primeiro capítulo, o
custo permanece como uma barreira
importante para o uso da internet. O
acesso público em bibliotecas fornece
uma resposta a essa questão,
especialmente quando um esforço é
realizado para garantir que os custos
sejam zero ou o mínimo possível para
quem, de outra forma, não poderia pagar.
Entretanto, o custo é relativo. Quando
alguém vê um grande valor em algo,
estará pronto para pagar um alto preço.
Em contrapartida, se sentir que um
produto ou serviço tem pouco valor, não
estará disposto a pagar nem mesmo um
pequeno valor. Ao oferecer acesso
gratuito ou de baixo custo, as bibliotecas
podem ajudar a superar essa situação,
dando aos novos usuários uma
oportunidade de experimentar a internet
por si próprios. Ao descobrir o que está
disponível, os usuários podem tornar-se
mais dispostos, mais cedo ou mais
tarde, a pagar por uma conexão
doméstica.
Também acontece que, mesmo nos
países mais bem conectados, diversas
pessoas permanecem desconectadas,
por necessidade ou por escolha. Por
todas as razões explicitadas na
introdução, descrevendo os impactos da
pobreza informacional, a presença de
bibliotecas como uma opção de recurso
é
fundamental.
Como
será
posteriormente discutido neste capítulo,
as bibliotecas também oferecem apoio e
18
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
treinamento
complementares
fundamentais que geralmente não estão
disponíveis para um usuário doméstico.
Estudo de caso 1: bibliotecas e
redes comunitárias, Perafita,
Espanha
Uma maneira promissora pela qual as
bibliotecas
podem
apoiar
a
conectividade
é
agindo
como
plataformas e centros de encontro para
redes comunitárias. Essas são redes
locais de internet, de propriedade da
comunidade e por ela administradas,
em vez de grandes provedores de
serviços de internet. Centradas nas
necessidades de uma área local,
provaram ser um meio eficaz de
proporcionar uma conectividade melhor
e mais ampla do que a que o mercado
oferece.
No caso do projeto guifi.net, na
Catalunha, Espanha, a biblioteca da
aldeia de Perafita tornou-se o nó para
uma
ampliação
da
rede.
Considerando-se a posição central da
biblioteca, e o fato de que ela já estava
conectada à internet de alta
velocidade, era um local ideal para
colocar um transmissor. Entretanto,
de forma crucial, ela já oferecia um
telecentro e, por isso, era um bom
local para organizar oficinas e
discussões. A própria biblioteca
observou um maior uso de seus
próprios recursos, enquanto o uso da
internet na comunidade como um todo
aumentou acentuadamente.1
Estudo de caso 2: ‘crianças no
tablet’, Kibera, Quênia
Embora os telefones estejam cada vez
mais onipresentes, muitas vezes, não
são adequados para o aprendizado ou
outras formas mais profundas de
interação com a informação. Por
exemplo, o acesso à tecnologia ainda é
raro no assentamento informal de
Kibera, no Quênia, onde vivem cerca
de um milhão de pessoas. Os jovens
que lá vivem também têm dificuldades
com a educação, sem que ninguém
pertencente ao assentamento jamais
tenha conseguido entrar em escolas
“nacionais” de prestígio, para as quais
o ingresso depende do desempenho
nas provas.2
Para combater isso, o Kenya National
Library Service [Serviço de Biblioteca
Nacional do Quênia] criou o “Kids on
the Tab” [Crianças no Tablet], um
programa que dá às crianças locais o
acesso a tablets pré-carregados com
conteúdo educacional, bem como
apoio para que aprendam a aproveitar
ao máximo a internet como um todo. O
programa funciona com uma agência
educacional e complementa o sistema
formal de educação, com o objetivo de
tornar a aprendizagem mais interativa,
envolvente e eficaz - algo que não seria
possível de outra forma mesmo para
aqueles que, de fato, tinham acesso a
smartphones.
Os resultados foram impressionantes. Já no
início, o programa teve um número de
inscritos superior à oferta de vagas. Um
terço de seus participantes obtiveram
admissão ao ensino médio em escolas
nacionais. As crianças também se tornaram
mais entusiasmadas com a aprendizagem e
desenvolveram competências e habilidades
digitais importantes. Após conseguirem
uma melhor educação na juventude, suas
perspectivas são muito melhores.
Bibliotecas,
igualdade
competências
e
O segundo e o terceiro pilares do Marco
de DA2I abordam os contextos social e
cultural, bem como a capacidade dos
usuários
e
consumidores
de
aproveitarem ao máximo o acesso à
informação.
Esses pilares estão
estreitamente associados aos esforços
para proporcionar maior igualdade e
sistemas de educação eficazes – áreas
com as quais as bibliotecas contribuem
fortemente.
No tocante às competências, as
bibliotecas têm dois pontos fortes que
são únicos. O primeiro é a excelência e
a experiência de sua equipe para
acessar e utilizar a informação. A
biblioteconomia é uma profissão focada
em aprender a navegar no mar de
informações disponíveis, e em ensinar
os outros a fazer o mesmo.
Esse ensino pode consistir em ajudar os
usuários a encontrar o livro ou a
informação correspondente às suas
necessidades. Entretanto, também
implica desenvolver a alfabetização
informacional entre os usuários. Essa é
a competência que permite aos outros
saber onde encontrar, como avaliar e de
que forma utilizar a informação. Com a
crescente preocupação em torno dos
impactos da desinformação deliberada,
a capacidade de identificar a diferença
entre o confiável e o não confiável é uma
resposta vital (com muito menos
repercussões negativas do que os
esforços para banir as “notícias falsas”).
�As pessoas mais velhas são particularmente suscetíveis a serem privadas do acesso
à informação, considerando o risco de serem deixadas para trás por um mercado
focado em novos dispositivos e em usuários mais jovens.
O segundo ponto forte é o fato de que
as bibliotecas estão abertas a todos,
em todos os estágios de suas vidas.
Elas tanto complementam as escolas
(e podem, até mesmo, precedê-las ao
ajudar a desenvolver a alfabetização na
primeira infância) quanto proporcionam
uma
segunda
oportunidade
permanente para quem não obtêm
êxito de imediato na educação formal.
Considerando-se as rápidas mudanças
no ambiente da informação, esse papel
é particularmente vital.
Nesse
contexto, as bibliotecas podem
fornecer elas próprias as competências
capazes de promover o emprego, a
inclusão e o envolvimento cívico, de
maneira mais ou menos formal, ou
podem atuar como uma plataforma
para que outros grupos ofereçam
treinamento.
Além do treinamento de competências,
as bibliotecas também podem ajudar a
resolver formas de desigualdade
resultantes de uma gama de fatores
sociais e culturais. Por exemplo, grupos
inteiros – mulheres e meninas,
migrantes e refugiados, pessoas mais
velhas, portadores de deficiências –
podem ser excluídos das oportunidades
de se beneficiarem com a informação.
Essa exclusão pode ocorrer por meio de
regras formais e práticas culturais (o
direito de possuir um telefone, por
exemplo), uma incapacidade de usufruir
dos serviços públicos (devido a
questões linguísticas), ou uma simples
incapacidade de se adaptar às
necessidades.
Como destacado na introdução, pode
haver o risco de um círculo vicioso em
que os indivíduos ou
grupos
marginalizados também não tenham
acesso às informações de que precisam
para melhorar suas vidas. Isso, por sua
vez, apenas reforça sua exclusão. Tem
havido discussões sobre a ligação entre
pobreza de informação e outras formas
de pobreza e, portanto, sobre a
necessidade
de
intervenções
(principalmente por meio de bibliotecas)
para romper esse círculo.
Aqui, também, as bibliotecas têm um
papel a desempenhar ao oferecer um
serviço universal. Isso decorre tanto da
natureza do espaço que fornecem
quanto do desenvolvimento dos serviços
para
atender
às
necessidades
específicas. O Relatório de 2017 de
DA2I, por exemplo, ilustrou o papel
particular das bibliotecas na promoção
da igualdade de gênero no acesso à
3
informação.
Estudo de caso 3: gen connect
[conexão gen], Shoalhaven,
Austrália
O potencial das bibliotecas como uma
plataforma para o fornecimento de
competências inclusivas é realçado
pelas Bibliotecas de Shoalhaven, na
Austrália. Em uma comunidade de cerca
de 100.000 pessoas, quase um terço das
famílias é composto por pessoas idosas
que nunca tiveram filhos ou cujos filhos
4
se mudaram.
As
pessoas
mais
velhas
são
particularmente suscetíveis a serem
privadas do acesso à informação,
considerando o risco de serem deixadas
para trás por um mercado focado em
novos dispositivos e em usuários mais
jovens. Isso pode resultar, por exemplo,
em solidão e não aproveitamento dos
serviços do Governo disponíveis on-line.
Como resultado, a biblioteca de
Shoalhaven decidiu atuar para ajudar a
garantir que todos os residentes da
cidade pudessem desenvolver as
competências necessárias para utilizar
as novas tecnologias.
Em vez de oferecer cursos formais, a
biblioteca buscou as escolas locais para
encontrar jovens voluntários, os quais
ficaram mais que satisfeitos em partilhar
suas habilidades na utilização de
dispositivos e serviços. As pessoas mais
velhas, então, puderam beneficiar-se de
uma hora grátis, por semana, de apoio
individual de seus novos e mais jovens
“tutores”, no escopo do “Gen Connect”.
Embora para os mais velhos, a
aprendizagem fosse o aspecto mais
importante do que viam como um
programa altamente bem sucedido, a
chance de conectar-se com os membros
mais jovens da comunidade ficou em
segundo lugar. Os próprios jovens
tutores particularmente gostaram das
relações criadas. No geral, o Gen
Connect não apenas desenvolveu
competências digitais, mas também
ajudou a combatera exclusão e construiu
um senso mais forte de comunidade.
Estudo de caso 4: leitura para os cães,
Bascortostão, Federação Russa
As pessoas portadoras de deficiências
estão, especialmente, em risco de
usufruir de menores oportunidades
educacionais que os demais, em virtude
da falta de materiais e apoio relevantes,
o que aumenta seu potencial de serem
excluídas na velhice. Particularmente,
as crianças com deficiências podem
sofrer com a falta de confiança de ler em
voz alta para os adultos e seus pares, o
que os impede de fazê-lo e, portanto, de
desenvolver uma habilidade fundamental
para o aprendizado, em geral.
Bibliotecas na República Russa de
Bascortostão têm buscado romper
esse círculo ao oferecer a terapia de
leitura canina – leitura para os cães em
vez
de
pessoas.
Tem
sido
demonstrado que isso pode remover a
hesitação ou o constrangimento que as
crianças poderiam sentir de outra
forma.
Esse serviço tem sido
particularmente útil para famílias mais
pobres, que não podem custear
opções particulares mais caras.
O programa levou a uma maior
confiança na leitura e na comunicação
com os outros, e ajudou a desenvolver
a competência das crianças de ter
empatia com os outros, levando a uma
5
maior integração social.
Case study 5: learn to discern, Ukraine
Dada a preocupação com a
desinformação deliberada on-line, o
exemplo do projeto Aprender a
Discernir, comandado pela IREX, na
Ucrânia, é poderoso. Em uma época de
alta tensão política, os ucranianos têm
sido submetidos ao uso da informação
de forma amplamente politizada, com o
risco da criação de um sentimento de
6
apatia e desinteresse da população.
A abordagem da IREX objetiva ir além
do
conteúdo
tradicional
de
alfabetização da mídia, principalmente
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
19
�porque muitas pessoas atualmente
acessam suas notícias pelas redes
sociais em vez dos sites tradicionais de
notícias. Por meio de um currículo
interativo talhado para o ambiente e as
necessidades da mídia local, e da
formação de 428 treinadores de
alfabetização midiática de base, foi
possível criar cursos tanto nas
bibliotecas
quanto
em
outras
instituições. Com uma abordagem em
cascata, os que participaram dos cursos
foram, então, incentivados a disseminar
o aprendizado com aqueles ao seu
redor, complementado por outdoors em
locais públicos. De maneira crucial, os
que
trabalham
em
bibliotecas
garantiram que o projeto fosse aberto a
pessoas de todas as idades em todo o
país, e não limitado aos jovens.
The project has had a measurable
impact, with half of participants regularly
fact-checking news three months after
the course, up from 21 percent before.
Ninety- two percent had checked news
at least once, and 91 percent shared the
skills gained. Meanwhile, a survey of the
people who saw
the billboards and advertising campaign
in its first two weeks showed that 54
percent identified that they needed
media literacy training.
Outros exemplos
Ao fornecer competências, é preciso
adaptar o conteúdo às necessidades
dos indivíduos. As necessidades
específicas dos jovens – em particular
os que podem estar em risco de
marginalização por outras razões, tais
como falta de habitação ou sexualidade
– podem representar um desafio
específico, mas a dedicada equipe da
biblioteca e a disposição para ouvir
7
podem fazer a diferença.
desempenho nessa área, quanto
contribuíram para ela.
estar bem informados.
É claro que as próprias bibliotecas
beneficiam-se
da
liberdade
de
expressão (inclusive da liberdade de
publicação), o que apoia um forte fluxo
de novos livros, artigos e ideias. Sem
essa oferta, as bibliotecas não teriam
muita informação à qual dar acesso.
Infelizmente,
existem
diversos
exemplos de leis (e um medo delas,
ensejando a autocensura) fazendo com
que materiais sejam censurados ou
mesmo retirados das estantes das
bibliotecas.
11
As bibliotecas também são menos
capazes de apoiar os pesquisadores e
os autores quando há menos liberdade.
Quem faz pesquisa confia na liberdade
acadêmica para prosseguir em seu
trabalho, em consonância com o seu
melhor juízo.
Entretanto, como mencionado, as
bibliotecas também ajudam a tornar
os direitos uma realidade. Em um
nível básico, a relação entre a
liberdade de expressão e o livre
acesso à informação está clara na
Declaração Universal. Ao dar às
pessoas a possibilidade de ler e
aprender, as bibliotecas capacitamnas a criar.
As bibliotecas também apoiam a
governança transparente e participativa.
Muitas perceberam seu potencial como
lugares para ajudar os usuários a
aproveitar as iniciativas abertas dos
governos,
para
incentivar
a
conscientização e o envolvimento
políticos. Há também exemplos de
bibliotecas que simplesmente ajudam os
usuários a entender seus próprios
9
direitos e, assim, colocá-los em prática.
A mesma necessidade de adaptar a
programação está presente em outros
grupos de risco. Há exemplos de
bibliotecas
que
desenvolveram
programas para apoiar o emprego e o
empreendedorismo entre mulheres (na
China e no Norte da Macedônia), entre
ciganos (na Croácia) ou entre
imigrantes (na Suécia), para apresentar
Por fim, as bibliotecas podem apoiar os
esforços para construir sociedades mais
pacíficas e estáveis, não apenas pela
promoção da inclusão nos seus serviços
e acervos, mas também como
instituições de memória que podem
10
possibilitar a cura e a reconciliação.
8
apenas poucos casos.
Bibliotecas e liberdades
O quarto pilar do marco de DA2I
analisa as legislações fundamentais
que dizem respeito à liberdade de
expressão e à liberdade de acesso à
informação. Como nas seções
anteriores, as atividades das
bibliotecas tanto ganharam melhor
20
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
Ao
trabalhar
com
a
União
Interparlamentar,
a
biblioteca
desenvolveu
um
programa
de
treinamento para a equipe local, com os
bibliotecários parlamentares de outros
países dedicando um tempo para
partilhar conhecimentos e práticas. O
resultado foi um serviço de pesquisa
operacional cujo trabalho, mesmo no
primeiro ano, foi usado por quase todos
os
membros
do
parlamento,
notavelmente em questões como
violência doméstica, empréstimos
internacionais para o desenvolvimento
Estudo de caso 6: Biblioteca
Parlamentar, Myanmar
Em Myanmar, como parte da transição
para a democracia, a necessidade de
uma biblioteca parlamentar eficaz foi
reconhecida pelo governo e pelos
doadores. Com os membros do
parlamento ganhando novos poderes
para examinar as decisões do executivo
e responsabilizá-lo em nome de seus
eleitores, os parlamentares precisavam
e reforma da legislação fundiária.
Estudo de caso 7: centro de acesso à
informação jurídica, Nova Gales do
Sul, Austrália
Embora a lei seja aplicada nos
tribunais,
esses
não
são,
normalmente, os melhores lugares
para acessar informações jurídicas.
As próprias bibliotecas jurídicas
tendem a estar localizadas dentro das
universidades, e, portanto, não
necessariamente
acessíveis
ao
público em geral. Entretanto, a
experiência dos bibliotecários jurídicos
é, sem dúvida, útil para as pessoas
que procuram entender e fazer valer
os seus direitos.
O Legal Information Access Centre
(LIAC - Centro de Acesso à
Informação Jurídica), localizado em
Nova Gales do Sul, na Austrália, tem
um recorde de quase 30 anos na
oferta de acesso à justiça por meio do
serviço Find Legal Answers (Encontre
Respostas Jurídicas) em bibliotecas
públicas.
O LIAC resulta da colaboração entre a
Biblioteca Estadual de Nova Gales do
Sul e a Fundação de Leis e Justiça de
Nova Gales do Sul; esse centro
produziu
materiais
que
são
compreensíveis ao público em geral,
bem como treinou bibliotecários
públicos para ajudar as pessoas a
utilizarem esses materiais.
As
bibliotecas, então, têm trabalhado com
organizações que representam grupos
que podem ter maiores necessidades
de apoio, como a Associação dos
Locatários. O serviço recebeu um
feedback quase que unanimemente
positivo dos usuários, cujo número está
12
crescendo acentuadamente.
�Outros exemplos
Nos Estados Unidos, uma rede está
desenvolvendo o potencial das
bibliotecas como centros onde o
público pode usufruir ao máximo dos
dados abertos. A natureza pública,
mas menos formal, das bibliotecas as
tornam um lugar ideal para os
indivíduos trabalharem com essas
informações. A Biblioteca Pública de
Chattanooga, por exemplo, está
operando, desde 2014, o portal de
dados abertos on-line da cidade e,
atualmente, hospeda 280 bases de
dados que receberam centenas de
milhares de visitas.13
Medellín, na Colômbia, também
testemunhou
um
exemplo
poderoso das bibliotecas que
atuam, inclusive, como centros
para a armazenagem de dados
abertos, neste caso, sobre poluição
do ar. A Fundação Makaia
trabalhou em conjunto com as
bibliotecas municipais e locais para
instalar sensores de poluição nas
agências, e, assim, fornecer aos
usuários
o
treinamento
em
alfabetização de dados para serem
capazes
de
interpretar
as
informações recebidas. O projeto
tem tido forte participação, com um
aumento da compreensão sobre a
questão da poluição do ar, e maior
envolvimento nas discussões do
governo municipal sobre como
reduzi-la.14
Há, também, esforços para
incentivar o envolvimento no
processo político em nível
nacional nos Estados Unidos. A
Biblioteca Pública Columbus,
em Wisconsin, organizou uma
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
Votação Infantil, incentivando
os jovens tanto a ver como a
democracia funciona quanto a
discutir
os
méritos
dos
diferentes candidatos. 15 Uma
campanha maior no decorrer
das eleições intermediárias, em
novembro
de
2018,
testemunhou as bibliotecas do
país incentivando a participação
e envolvimento dos eleitores
nas questões. Enquanto isso,
em Taiwan, na China, as
bibliotecas identificaram tópicos
importantes
de
discussão
política
nas
eleições
e
forneceram cursos e listas de
leitura
aos
usuários
de
bibliotecas
para
que
compreendessem melhor as
questões subjacentes.16
Conclusão:
ODS
A conexão
Os exemplos dados neste trabalho
fornecem ilustrações, de todo o
mundo, da contribuição que as
bibliotecas podem dar para fortalecer
cada um dos pilares do acesso
significativo à informação no âmbito
do Marco de DA2I. Ao possibilitar a
conectividade e o acesso à
tecnologia, ao proporcionar o
desenvolvimento de competências e
o aprendizado a todos (mesmo a
quem
está
sob
risco
de
marginalização) e ao fortalecer a
democracia e a responsabilização, as
bibliotecas
estão
fazendo
contribuições reais.
seções. Isso reflete a insistência na
Agenda de 2030 da ONU de que as
ações em diferentes áreas de
desenvolvimento
estão
interconectadas. Também é um
lembrete de que as bibliotecas estão
bem posicionadas para apoiar a
realização de todos os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável.
No resto do Relatório deste ano sobre
Desenvolvimento
e
Acesso
à
Informação, os especialistas discutirão
o papel do acesso à informação na
concretização de cinco dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável em
foco no Fórum Político de Alto Nível de
2019. 17 Em cada uma dessas áreas,
há provas de como as bibliotecas
podem fazer a diferença.
Os diversos impactos das intervenções
nas bibliotecas também retomam o
conceito
de
“aceleradores
de
desenvolvimento”
proposto
pelo
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. 18 Isso estabelece
uma abordagem ao planejamento que
identifica ações que podem trazer o
progresso em várias frentes por meio
da resolução dos principais “gargalos”.
– Como apresentado na introdução, se
a pobreza informacional – a falta de
acesso significativo à informação – é
um gargalo, então, as bibliotecas do
mundo parecem ser um forte
exemplo
de
acelerador
de
desenvolvimento. O único desafio
agora é garantir que todas elas
tenham o reconhecimento e o apoio
de que precisam para alcançar esse
Um ponto a ser destacado é que
potencial.
muitos dos exemplos dados poderiam
ser citados em mais de uma das
Baig, R. (2018)
Histórias dos ODS da IFLA, Biblioteca em Kibera, o maior assentamento informal da África, melhora o acesso à informação,
https://librarymap.ifla.org/stories/
Vide ensaio de Nancy Hafkin, discutindo a interação de gêneros e o acesso à informação em Garrido, M. and Wyber, S. (2017), Development
and Access to Information [Desenvolvimento e Acesso à Informação] 2017
Histórias dos ODS da IFLA: Conectando Gerações na Biblioteca, https://librarymap.ifla.org/stories/Australia/CONNECTING-GENERATIONS-TOBUILDTECHNOLOGY-SKILLS-AT-THE-LIBRARY/125
Histórias dos ODS da IFLA: Crianças portadoras de necessidades especiais leem para cães para desenvolver competências linguísticas na biblioteca,
https://librarymap.ifla.org/stories/Russian-Federation/CHILDREN-WITH-SPECIAL-NEEDS-READ-TO-DOGS-TO-DEVELOP-LANGUAGE-SKILLS-ATTHE-LIBRARY/127
IREX (2019)
Walsh, B. (2018)
FLA (2019)
American Association of Law Librarians (2014) [Associação Americana de Bibliotecários Jurídicos]
IFLA (2018)
Fraser e Myat Kyaw (2015)
Scarf, P. (2016)
Poon, L. (2019)
Makaia (2017)
Fesemye, C. (2018)
Lin and Zhong (2016)
ODS 4 (Educação de Qualidade), ODS 8 (Trabalho Digno e Crescimento), ODS 10 (Redução de Desigualdades), ODS 13 (Ações Relativas ao
Clima) e ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Fortes).
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: www.undp.org
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
21
�DA2I
22
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 3
Educação de qualidade e
aprendizagem contínua para
todos – Foco nas pessoas
O objetivo do ODS 4
Quando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) foram adotados
pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 2015, foram bem acolhidos
pelos Estados-Membros, pela sociedade civil e por outras partes interessadas. A
Agenda 2030 visa proporcionar um quadro de referência universal para o
desenvolvimento sustentável que possa unir esforços para melhorar vidas e
salvar o planeta.
DR KATARINA POPOVIĆ
Secretária-Geral, Conselho Internacional de
Educação de Adultos
Na sequência dos 15 anos da Agenda de Desenvolvimento do Milênio, os ODSs
não só trouxeram novos temas para a agenda (como mudanças climáticas,
desigualdade econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça), como
também se destacaram por seu caráter universal, na medida em que atribuíram
responsabilidades tanto aos países industrializados desenvolvidos quanto aos
países em desenvolvimento. Houve também uma maior ênfase no caráter
interligado dos objetivos e na noção de que o sucesso em uma área poderia
desbloquear o potencial das outros.
Esse é, em grande medida, o caso da educação. Toda a Agenda 2030 reflete
claramente essa visão da importância transversal de uma resposta educacional
adequada. A educação é explicitamente formulada como um objetivo autônomo
– Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 ("Garantir uma educação de
qualidade, inclusiva e equitativa, bem como promover oportunidades de
aprendizagem permanente para todos"), mas também é considerada crucial para
a realização de muitos outros objetivos. A educação e a aprendizagem
permanente são o fio condutor que atravessa a implementação de todos os 17
ODSs.
As expectativas da educação são muito altas: É um pré-requisito para a redução
da pobreza, bem como para a ocupação remunerada e o trabalho digno. É
também crucial para o crescimento sustentável, a construção da coesão social, a
prosperidade e a promoção dos direitos humanos, bem como da igualdade. Os
objetivos estão claramente expressos nas metas do ODS 4 (ONU, 2015),
enquanto numerosas metas e indicadores relacionados à educação também
estão contidos em outros ODSs.
O acesso à informação é um fator-chave para o sucesso aqui. Parafraseando
Paulo Freire, quando as pessoas não sabem ler as palavras nem o mundo, não
têm possibilidades de mudar suas próprias vidas, nem a situação em nível
nacional, nem tampouco de ter informações e conhecimentos sobre as questões
pelas quais poderiam lutar em nível global.
É fato que, em nível governamental, existe um forte enfoque na necessidade de
reunir dados e informações confiáveis como "chave para a tomada de decisões"
para apoiar a implementação da Agenda. Isso abrange a reunião de dados e
informações a partir dos mecanismos de comunicação existentes, o
desenvolvimento de novas metodologias para a coleta de dados e "esforços para
reforçar as capacidades estatísticas nos países em desenvolvimento".
Quando se trata do acesso à informação por "pessoas comuns" – para quem
toda a agenda é criada – há uma ampla referência ao "acesso à informação" (no
ODS 16), mas também muitas referências à informação para uso prático, tais
como informação "sobre reservas alimentares", "serviços de saúde, inclusive para
planejamento familiar", ou "informação e consciência para o desenvolvimento
sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza".
Isso é
complementado pelo debate sobre a eliminação do fosso digital e a
disponibilização de "acesso às tecnologias da informação e das comunicações"
e "acesso universal à internet a preços razoáveis".
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
23
�Nos países que lutam com dificuldades orçamentárias ou com a falta de
capacidade para desenvolver políticas, a falta de acesso à informação pode
impedir o progresso. Mesmo que existam medidas em âmbito nacional ou regional,
não está claro se a informação relevante estará acessível a todos.
O acesso à informação é também
essencial para que a educação
alcance a todos. Os potenciais
estudantes precisam saber sobre as
oportunidades
disponíveis,
precisam
interagir
com
a
informação como parte do processo
de aprendizagem. Tanto eles
quanto o governo precisam de
informação para avaliar o sucesso
das iniciativas políticas nas áreas.
Este estudo explora algumas das
questões-chave na concepção e
implementação do ODS 4, e como o
acesso à informação contribui para
o sucesso.
2. Pessoas, não políticos:
ajudando todos a aprender.
Uma primeira questão fundamental
advém do fato de a Agenda 2030
como um todo – e, claro, o ODS 4 –
estar centrada nas pessoas. Como
resultado, as pessoas devem estar
no centro da sua implementação e
beneficiar-se
da
mudança
transformadora que promete, em
vez de estarem simplesmente
sujeitas às decisões dos outros. Se
informação é poder, o acesso à
informação é crucial para que as
pessoas sejam empoderadas e,
portanto, os ODSs alcançados.
No entanto, existe o risco de que
sejam envidados mais esforços
para reforçar as capacidades dos
governos,
notadamente
para
monitorizar o progresso (o que é de
fato importante, mas não deve ser o
único foco), do que para apoiar o
acesso de todos à informação.
Considerando que quem tem
acesso à informação relevante
detêm o poder, é crucial que o
acesso
à
informação
seja
observado como um direito humano
ou cívico, como também o direito de
todas as pessoas a quem a Agenda
se dirige, para que possam assumir
o papel de agentes de mudança.
Quando se fala em garantir os
direitos dos indivíduos, é importante
recordar o lema da Agenda 2030:
"Ninguém fica para trás." Em outras
palavras, deve ser para todos os
países e grupos de pessoas.
Ninguém deve ser excluído. Mas
24
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
isso continuará apenas no plano
das boas intenções, se as coisas
continuarem como estão. Quando
se trata de educação e informação,
devemos observar as condições
enfrentadas por pelo menos dois
grupos.
Em primeiro lugar, as pessoas nos
países
menos
desenvolvidos
enfrentam diversas formas de
marginalização e privação. Nos
países que lutam com dificuldades
orçamentárias ou com a falta de
capacidade
para
desenvolver
políticas, a falta de acesso à
informação
pode
impedir
o
progresso. Mesmo que existam
medidas no âmbito nacional ou
regional, não está claro se as
informações relevantes estarão
acessíveis a todos. A vasta
experiência demonstrou que uma
orientação adequada é útil em
termos de troca de informações
sobre
as
possibilidades
de
educação, ofertas e disposições
que possam ser adequadas,
especialmente na educação não
formal. Esse pode ser o caso de
todos, desde pessoas em grandes
áreas urbanas que vivem em
condições de favela até pessoas em
zonas rurais remotas, que estão
completamente
isoladas
de
qualquer fonte de informação
relevante. Elas correm o risco de
desconhecer as possibilidades de
que dispõem, mesmo que existam,
reduzindo a eficácia até mesmo das
políticas mais bem concebidas.
O mesmo princípio aplica-se no
contexto das fases de definição da
agenda do ciclo político. Aqui, existe
o risco de uma comunicação
unilateral em que os "beneficiários"
– especialmente em países menos
desenvolvidos – são receptores
passivos de informação que foi
selecionada, moldada, "embalada",
interpretada e distribuída em
centros de poder que excluem a
participação de "pessoas comuns".
As narrativas dos ODSs e os meios
de implementação são criados
principalmente pelos atores globais,
e os "beneficiários" são, na melhor
das hipóteses, informados sobre
isso. Raramente têm sequer a
oportunidade de dar feedback ou de
participar de forma ativa
processos de transformação.
nos
Em segundo lugar, os adultos e as
pessoas idosas correm também o
risco de ficar para trás no contexto
dos esforços de educação. Nos
ODSs, os adultos aparecem como
um grupo-alvo apenas no Objetivo
4.6 - relacionados à alfabetização e
aritmética, com indicadores de
sucesso
muito
vagos
("uma
proporção substancial de adultos...").
A referência à "aprendizagem
permanente” também não ajuda.
Embora o conceito já tenha sido bem
acolhido por seus esforços para
promover a educação contínua, que
coloca o aluno no centro, não
cumpriu o que prometeu e deixou a
porta aberta a uma concentração de
recursos nos alunos mais jovens, em
detrimento dos mais velhos. Além
disso, enfocar na pessoa e insistir
nos indivíduos acabaram por dar aos
adultos
plena
responsabilidade
pessoal (sobretudo financeira) por
sua aprendizagem, o que diminuiu a
responsabilidade do Estado. A
ênfase na educação não formal e na
aprendizagem em geral (em vez de
na educação) enfraqueceu as
estruturas educativas e o apoio
institucional, colocando os resultados
educativos no topo da agenda
(negligenciando ao mesmo tempo as
estruturas
e
os
processos
educativos). Assim, a aprendizagem
permanente continuou como um
quadro vazio no qual a educação de
adultos
desapareceu.
A
marginalização desse setor ganhou
um instrumento poderoso, uma
desculpa apoiada pela abordagem
política de alto nível. (Orlović e
Popović, 2018, p. 7)
Os adultos também pertencem ao
grupo que, em comparação com os
jovens, têm menos acesso à
informação sobre as possibilidades e
opções de educação.
�Isso pode ocorrer por razões
geográficas, econômicas ou políticas,
ou porque existe um estigma social,
vergonha ou más experiências
educativas
anteriores
que
os
impedem de procurar informações,
chances,
oportunidades
e
perspectivas.
O aumento da importância atribuída
ao acesso digital da informação pode
renegá-los ainda mais – muitos
estudos mostram que os adultos e as
pessoas mais velhas podem ter
relutância ou menos êxito na
utilização das TICs (Tecnologias da
Informação e da Comunicação). Um
enfoque exclusivo nos recursos
digitais priva-os dos materiais a que
estão habituados, como os materiais
físicos existentes nas bibliotecas, e
minimiza suas chances de obter
aconselhamento
significativo,
relevante e adequado sobre tipos de
informação, áreas de conhecimento e
métodos de aprendizagem que
podem
obter
nas
estruturas
educativas.
3. Tecnologias digitais – uma
ferramenta necessária, mas
não uma solução infalível
Se há uma característica dominante
da nova Agenda, é a fé nas TICs e
na digitalização como uma "solução
infalível". O alto nível de confiança
no poder da tecnologia baseia-se
em vários projetos bem sucedidos
onde
telefones
celulares
ou
computadores vêm sendo usados
para alcançar objetivos com
determinado grupo-alvo.
Não se pode negar que as tecnologias
digitais desempenham um papel
especialmente
central
na
implementação da Educação 2030 e
do ODS 4.
Mas é errado
compreender a informação apenas
num contexto digital. Nem toda a
informação é digital e nem todo o
conhecimento tem de ser, ou deveria
ser, baseado em informação digital.
Concentrar-se na informação digital e
negligenciar
outros
tipos
de
informação leva à perda de áreas e
fontes de informação e conhecimento
mais amplas.
Deve-se também lembrar que o
pronto acesso à internet e às
ferramentas digitais ainda não é
uma realidade para grande parte do
mundo e da população humana. A
difusão da Internet veio com uma
"fosso digital" entre ricos e pobres.
Afirmando que é universal, a
Agenda 2030 corre o risco de ver o
mundo através das lentes da
realidade
dos
países
mais
desenvolvidos. Chakravorti adverte:
"Uma vez que os atores digitais
globais localizam-se no Norte
Digital, grande parte das queixas
das sedes administrativas ainda são
sobre problemas do Norte Digital. É
tempo de reconhecermos que o Sul
Digital está pronto para forjar o seu
próprio caminho. Suas atitudes e
engajamento com a tecnologia são
diferentes."
(2018)
Isso
tem
definitivamente um impacto na
forma como as tecnologias são
utilizadas na educação e como a
informação é recebida e tratada em
diferentes partes do mundo.
É também fundamental não tomar um
meio para atingir um objetivo. Embora
as TICs possam ser um grande apoio
aos esforços educativos, são apenas
um instrumento; as "boas e velhas
questões" da educação permanecem:
Qual é o conteúdo? Quem está
criando e para quem? Que tipo de
informação deve ser dada, pensada e
como?
Quem está fazendo o
monitoramento e a avaliação e como?
Todos os usuários são realmente
capazes de assumir todo o processo
educativo, sem orientação, apoio ou
feedback?
Algumas
plataformas
interativas
oferecem resposta limitada a essas
questões, mas está longe de ser verdade
que a Internet possa substituir partes
importantes do sistema educativo. É
também cada vez mais evidente que
existem riscos associados à utilização
extensiva da Internet e das redes sociais
entre os jovens. As tecnologias digitais e
as
redes
sociais
efetivamente
revolucionarão nosso mundo e a forma
como vivemos e trabalhamos, mas não
de forma excepcionalmente positiva.
Na educação de adultos, há muitos
grupos-alvo que precisam de mais
do que as competências para utilizar
a tecnologia digital para se tornarem
aprendizes
independentes.
Especialmente
com
grupos
marginalizados
de
baixa
alfabetização, a motivação é de
importância crucial. Um professor
ou facilitador incentivador, um grupo
e ambiente de apoio, bem como
métodos
e
atmosfera
empoderadores
são
mais
importantes para esse tipo de
grupo-alvo, e desempenham um
papel crucial na redução do risco de
evasão escolar.
Além disso, uma aprendizagem
eficaz exige, por vezes, sair da zona
de
conforto
e
experimentar
dissonâncias
cognitivas
ou
desconforto quando os nossos
estereótipos ou "pontos cegos" são
questionados.
Ler livros que
resistiram ao teste do tempo, ter um
professor reflexivo que inspira
pensamentos críticos, ou ter a
experiência do contato direto com as
artes visuais são ações cujo impacto
não deve ser subestimado no
processo de educação, mesmo que
não possam ser capturados em
metas ou indicadores.
As complexas questões da motivação
humana, da relutância, do medo, da
vergonha e das necessidades
dificilmente podem ser resolvidas por
soluções tecnológicas rápidas. A
questão não reside, obviamente, em
saber se a tecnologia digital deve ser
utilizada, mas sim como. Uma
abordagem mista é necessária, mas
parece ser ignorada ou negligenciada
no ODS 4.
4. Educação e interação
significativa com a informação
Um foco na "oferta" de educação também
pode ignorar o fato de que o
conhecimento,
especialmente
na
educação de adultos, é criado através da
comunicação bidirecional. A abordagem
unidirecional, que corre o risco de ser o
caso com o atual entendimento mais
restritivo de "acesso à informação",
assume fontes de informação fixas,
estáveis e confiáveis, de um lado, e
receptores passivos, do outro.
Essa é uma compreensão muito
tradicional, mesmo obsoleta, da
educação e do ensino, e cada vez mais
inadequada, especialmente para a
educação de adultos. Para serem
agentes ativos no fornecimento do
desenvolvimento, as pessoas precisam
de ser capazes de ser cocriadoras do
conhecimento baseado na informação.
Em relação ao ponto anterior, uma
condição fundamental para a cidadania
ativa é o pensamento crítico. As pessoas
são capazes de refletir sobre o seu
próprio processo de aprendizagem e
como lidarão com as contradições,
dificuldades e desafios desse
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
25
�processo? Elas têm as competências
mais amplas (incluindo valores éticos)
que poderiam se opor às "notícias
falsas" e ao mau uso da mídia digital?
São necessários esforços muito mais
intensos para desenvolver o acesso
crítico à informação, bem como a
alfabetização mediática, permitindo aos
cidadãos questionar as fontes de
informação, avaliá-las e reconhecer
vários
tipos
de
propaganda,
manipulação e fraude. Com efeito, o
pensamento crítico e a leitura crítica da
informação são ainda mais essenciais à
medida que o papel das TICs cresce,
mas não podem coroar-se de êxito
apenas pela utilização das TICs.
Muitos dos problemas atuais que o
mundo está enfrentando não se devem
à falta de conhecimento digital puro,
mas à falta de competências e atitudes
relacionadas. Isso requer muito mais do
que a capacidade física para apoderarse de um livro ou conectar-se à internet.
Os espaços não virtuais e a interação
com recursos escritos são importantes,
não só para as técnicas de leitura e
escrita, que são cruciais para as
competências de alfabetização, mas
também
para
reconhecer
e
compreender três aspectos cruciais da
informação: contexto, conteúdo e
significado.
5. Além das métricas, um foco
necessário nos resultados e
recursos
Há implicações decorrentes da
forte concentração na medição1,
que pode levar à negligência de
todas as áreas da educação e dos
fatores-chave que estão na base do
sucesso.
Certamente, é positivo que tenha
havido um impulso para escolher
indicadores
que
sejam
"cientificamente
robustos
e
baseados em evidências" (UNSD,
2015). Eles ajudam a tornar a
coleta de dados mais confiável e
transparente, como também fácil
de monitorar. No entanto, essa
abordagem corre o risco de criar
uma espécie de "mantra", em que
"o que escolhermos medir ditará
para onde se dirigem as atividades
dos Estados" (Long, 2015). Os
indicadores correm o risco de
impulsionar a agenda, "colocando
a mensurabilidade em primeiro
lugar e as preocupações políticas
mais amplas que não podem ser
facilmente
simplificadas
em
26
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
Exemplo: "Ang Guro kong Pulis", uma campanha de biblioteca
móvel em Manila
Embora as Filipinas tenham uma das maiores taxas de alfabetização entre
os países do Sudeste Asiático, ainda há uma lacuna na alfabetização e uma
necessidade de alcançar a inclusão na educação. As lacunas são
especialmente evidentes na comunidade (crianças, jovens fora da escola
etc.), onde a falta de salas de aula e professores é uma questão importante.
A fim de responder a alguns desses desafios, o projeto educativo "Ang Guro
kong Pulis" foi lançado sob a liderança do Distrito Policial de Manila. O
projeto visa oferecer educação básica grátis para crianças de rua. Como
parte do projeto, um dos veículos da polícia foi carregado com vários livros
e transformado em uma biblioteca móvel, e vários policiais visitaram as ruas
do Roxas Boulevard em Manila.
A partir de outubro de 2018, eles ofereceram os livros às crianças, com a
ideia de mantê-las afastadas das drogas e das armas. Depois dos sucessos
iniciais, os pais das crianças também foram incluídos no programa; eles
vinham acompanhar e agentes da polícia com formação em educação, que
foram encarregados de ensinar e trazer livros, começaram a ensinar os pais
também. A biblioteca móvel tem agora 11 paradas ou estações, com o
objetivo de aumentar o número.
A polícia fornece refeições aos participantes, enquanto várias faculdades e
universidades têm ajudado realizando seminários sobre drogas, crime e
primeiros socorros básicos, bem como apoiando o programa por meio da
doação de livros antigos e materiais de escrita. Os livros são usados para
ensinar educação básica, oferecendo aulas de leitura e escrita básica em
inglês e filipino, matemática e educação cívica. Essa é uma solução de
longo prazo que tenta apoiar as crianças de rua por meio da educação, mas
com o potencial de incluir também as comunidades.
segundo lugar". (Freistein, 2017).
Essas
amplas
preocupações
podem incluir metas menos
facilmente quantificáveis, como a
democracia (Smith, 2018).
No caso da educação, a agenda
Educação 2030 simula ser isenta
de valor, mas as suas metas e
indicadores têm uma função social
e organizacional inegável. Isso
carrega um conceito educacional
particular e baseia-se em um
sistema de valores particular, que
molda suas dimensões sociais,
"sua
onipresença
e
poder,
particularmente sobre aqueles que
são demasiadamente incapazes de
resistir a eles" (Freistein, 2017).
Tanto a Agenda 2030 da ONU como
a Agenda 2030 da Educação têm
um forte foco nos resultados
educacionais em vez de nos
processos e resultados menos
facilmente mensuráveis, com uma
consequência de se negligenciar
áreas de educação superior para
além do ensino e da formação
profissional
(EFP)
e
das
competências. Isso leva a uma
subestimação da importância da
criação do conhecimento em áreas
importantes da vida humana, como
a que se fornece pelas bibliotecas,
bem como de coisas como arte,
criatividade e pensamento crítico.
Paralelamente,
existe,
naturalmente, uma necessidade
de investimento. Estima-se que
US$ 3 trilhões serão necessários
anualmente para alcançar uma
educação inclusiva, equitativa e
de qualidade para todos (ODS
4).
O
Relatório
de
Monitoramento
Global
da
Educação estimou que os
países de baixa e média renda
enfrentariam um déficit de
financiamento anual de US$ 39
bilhões
em
2015-2030
(UNESCO, 2015). Ao mesmo
tempo, o investimento em
educação está diminuindo em
todo o mundo, tanto sob a forma
de despesa interna como de
ajuda
oficial
ao
desenvolvimento.
�Em primeiro lugar, temos de ser
realistas quanto às possibilidades de
recorrer ao financiamento privado e à
mobilização de recursos internos,
tendo em conta tanto a necessidade
de assegurar um enfoque contínuo
nos objetivos de interesse público da
política educativa, como a ironia de
que são frequentemente os impostos
mínimos pagos pelas multinacionais
privadas que faz com que os
governos não tenham dinheiro
suficiente para gastar.
6. O papel das bibliotecas
Como já foi referido várias vezes, as
bibliotecas
têm
um
papel
potencialmente
valioso
a
desempenhar na realização do ODS
4 e, em especial, na resposta a
alguns
dos
desafios
acima
mencionados. O trabalho delas não é
apenas sobre o "bom e velho" hábito
de ler livros.
Há estudos recentes de Vesna
Crnogorac que apontam para o
importante papel das bibliotecas na
democratização da sociedade e na
transformação
de
sociedades
fechadas em democracias. "Mais do
que nunca, na longa história das
bibliotecas, há a responsabilidade de
criar as condições para o livre acesso
às fontes de conhecimento e
informação, independentemente das
diferenças
(étnicas,
políticas,
religiosas, éticas). A biblioteca – por
natureza uma instituição democrática
– serve à sociedade por meio do
cidadão individual, que encontra um
lugar onde pode alcançar a liberdade
de expressão e o livre acesso à
informação. Estamos num momento
histórico de respeito pelos valores
democráticos, e a biblioteca pública
precisa redefinir seu papel de
tradicional para contemporâneo [...] A
biblioteca pública como um "ponto de
acesso" para os cidadãos na área da
liberdade de informação ajuda a
alcançar
a
transparência
e
implicitamente poderia permitir o
exercício desse direito de livre acesso
à informação de importância pública.
(Crnogorac, 2016)
O acesso à informação está
diretamente ligado ao conhecimento,
à democracia e à proteção dos
direitos humanos, e as bibliotecas
públicas são locais onde esses
valores se encontram. Além disso, a
biblioteca é um local de cooperação
de vários parceiros e partes
interessadas, um centro para a
comunidade local e suas atividades,
bem como um centro de orientação
para a investigação, a pesquisa e a
aprendizagem.
As bibliotecas acolhem as pessoas
em risco de serem deixadas para
trás, promovem o desenvolvimento
de competências de informação
crítica e outros comportamentos
que permitem que todos façam
melhor uso da informação para a
educação (e que podem não ser tão
facilmente medidos), e oferecem um
espaço para que pessoas de todas
as idades venham e aprendam. Ao
mesmo tempo em que há
necessidade de mobilizar todos os
recursos
para
fornecer
desenvolvimento, é necessário
utilizar plenamente as bibliotecas.
No entanto, esse papel das
bibliotecas não é suficientemente
abordado na Agenda 2030 da ONU,
notadamente no ODS 4. Levando em
conta todas as dificuldades que a
implementação da agenda da
Educação
enfrenta,
dificilmente
podemos dar-nos ao luxo de
renunciar a um recurso tão poderoso
e importante aliado nos nossos
esforços.
7. Conclusão
A Agenda 2030 enfatiza os dados e
informações,
especialmente
no
contexto do monitoramento da
implementação da Agenda, com o
ODS 4 naturalmente incluído nos
esforços. O Instituto de Estatística2 da
UNESCO está de fato utilizando esses
dados para alertar para as lacunas na
implementação e convida claramente
"países,
doadores,
organizações
internacionais e cidadãos empenhados
– a defender a educação no próximo
Fórum Político de Alto Nível sobre
Desenvolvimento Sustentável", uma
vez que mesmo "os dados mais
básicos mostram que estamos longe
do objetivo de garantir que todas as
crianças estejam na escola e em
processo de aprendizagem até 2030".
Mas é óbvio que uma abordagem
ao ODS 4 focada apenas em
padrões e escolas perde em
termos de educação não formal e a
aprendizagem
permanente.
Crucialmente, também negligencia
o papel do acesso à informação
como veículo de transparência e
porta de entrada para a educação
de adultos.
Além disso, um acesso significativo à
informação constitui a base do
conhecimento e deve ser visto como
condição
prévia
para
o
desenvolvimento de competências de
pensamento crítico e de cidadania
democrática, em que os dados e as
informações brutas seriam escolhidos,
ligados, refletidos e avaliados de forma
crítica. O papel das bibliotecas também
é importante, uma vez que as TICs e a
internet devem ser vistas como uma
ferramenta útil, mas não como uma
solução mágica.
O acesso à informação é uma
condição prévia importante para
atingir os objetivos do ODS 4. Sem
pleno reconhecimento disso no
discurso sobre a Agenda 2030,
acompanhado
de
maior
investimento na educação e na
aprendizagem permanente, grandes
grupos de pessoas ficarão para trás
até 2030.
1.
Comparativamente, há poucas discussões sobre como apoiar a implementação e quase nenhuma lição aprendida com os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. "A euforia 'pós-2015' não considera o fato de que a maioria das questões que atrasaram
o sucesso do movimento dos ODMs e a Educação para Todos (EPT) não foram resolvidas ou até pioraram. A forte convicção
contemporânea de que a falta de indicadores claros e mensuráveis foi um dos principais problemas não tem base na evidência
da pesquisa ou na análise contextual...". (Popović, 2015). Criticando os efeitos dos testes de alto risco na motivação e
aprendizagem dos alunos, Amrein e Berliner nos lembram que "devemos lembrar a sabedoria do comentário do fazendeiro de
que pesar um porco todos os dias nunca o mais gordo. Definitivamente, é preciso poupar" (2003). Arriscamo-nos a concentrarnos apenas num número limitado de sucessos e a ignorar os desperdícios que ocorrem quando problemas graves, sistêmicos e
estruturais deixam de ser resolvidos porque não aparecem nos indicadores.
2.
O Instituto de Estatística da UNESCO (UIS) insta: "Precisamos de dados para acompanhar o progresso ao longo do tempo.
Precisamos de dados para identificar as barreiras ao acesso e à qualidade da educação. Precisamos de dados desagregados
para garantir que nenhuma criança fique para trás. Precisamos de dados que apoiem as prioridades nacionais. Precisamos de
dados que sejam comparáveis internacionalmente. Precisamos de dados que demonstrem o que funciona, para que os recursos
possam ser canalizados para o máximo de impacto". (Montoya, 2019).
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
27
�DA2I
28
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 4
Acesso à informação para o trabalho
digno e o crescimento econômico
Acesso à informação e às tecnologias da informação e da
comunicação (TIC) para um desenvolvimento econômico mais
inclusivo, emprego e oportunidades de trabalho digno
A realização e a medição da Agenda 2030 implicará uma disposição
multidimensional de soluções. Nesse sentido, a Agenda salienta a importância de
seus meios de implementação para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) por meio da mobilização de recursos financeiros e do
desenvolvimento de capacidades e tecnologia, bem como por meio da geração
de dados e do reforço institucional. Nomeadamente, a Agenda considera que as
tecnologias da informação e da comunicação (TIC) desempenham um papel
facilitador e de apoio nesse contexto, o que confirma a sua importância para a
abertura de grandes possibilidades para a aceleração do progresso humano (Del
Rio et al, a publicar).
STEFANIA L. CANTONI; TATIANA
JEREISSATI & LEONARDO M.LINS
Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento
da Sociedade da Informação
(Cetic.br), Centro Brasileiro de Informação em Rede
(NIC.br)
À medida que avançamos para as Sociedades do Conhecimento1, a informação
e o conhecimento têm um impacto cada vez mais significativo na vida das pessoas
(UNESCO, 2003). Assim, o acesso à informação pode ser considerado um
processo complexo que engloba "os direitos e a capacidade de usar, criar e
compartilhar informações de forma significativa para cada indivíduo, comunidade
ou organização", conforme declarado no Relatório de Desenvolvimento e Acesso
à Informação (DA2I) de 2017 (Garrido & Wyber, 2017, p. 15).
Nesse contexto, tem sido amplamente observado que as TICs podem
desempenhar um papel fundamental na melhora do acesso e partilha da
informação, reduzindo potencialmente os custos de produção, partilha,
distribuição e visualização da informação e do conhecimento, o que é essencial
para o funcionamento democrático das sociedades e para o bem-estar de cada
indivíduo. As TICs podem, portanto, capacitar os indivíduos, permitindo que
exerçam seus direitos, sejam economicamente ativos e adquiram novas
competências. Além disso, a Internet e as comunicações móveis aceleraram
enormemente o ritmo e o volume de informação disponível, bem como o seu
alcance até mesmo nas partes mais remotas do mundo2.
Além disso, o acesso a serviços móveis pode trazer novas oportunidades
econômicas para as populações de baixa renda, por exemplo por meio de serviços
como o m-banking (mobile banking – serviços bancários por celular ou tablet) e o
comércio eletrônico. Não só a inclusão financeira é um aspecto importante para
as pequenas empresas e o empreendedorismo, como também o m-banking e o
microcrédito podem reduzir os custos de transação e fomentar o crescimento
econômico. Ademais, em muitos setores – como a saúde, a educação, o mercado
de trabalho, a alimentação e a agricultura – um amplo conjunto de serviços,
soluções e recursos baseados nas TICs podem conduzir a transformações que
podem promover o desenvolvimento social, econômico e político de forma
sustentável.
Nesse cenário, espera-se que as TICs assumam cada vez mais tarefas rotineiras
e analíticas, não só confinadas a tarefas manuais na manufatura, mas também a
tarefas analíticas de tomada de decisão (Comissão Europeia, 2016)3. Por
conseguinte, é muito importante que as pessoas possuam as competências
necessárias para utilizar as funções elementares das TICs de forma significativa
e eficiente. Como mostra o relatório da Comissão Europeia sobre as TICs para o
trabalho (2016), são necessárias competências digitais em todos os tipos de
trabalho, incluindo empregos fora dos escritórios. Notadamente, a maioria dos
empregos exigem competências digitais básicas, incluindo a capacidade de
comunicar-se via e-mail ou mídia social, criar e editar documentos, pesquisar
informações ou proteger informações pessoais online. Os indivíduos que não
possuem competências digitais correm, por conseguinte, o risco de
marginalização não só no mercado de trabalho, mas também na vida cotidiana.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
29
�As TICs, portanto, atravessam
todos os setores da economia e da
sociedade, e a internet pode ser um
importante
catalisador
de
desenvolvimento para indivíduos,
comunidades e países. Elas podem,
por exemplo, fornecer acesso
amplo e crescente a informações,
serviços e aplicativos que podem
agregar valor à vida das pessoas,
aumentar sua produtividade e
permitir que acessem novas
oportunidades (ITU, 2016, p. 91).
Nesse sentido, embora dentro do
quadro dos ODSs haja poucas
menções específicas às TICs, elas
podem potencialmente contribuir
para todos os ODSs.
Em especial para alcançar o
trabalho digno e o desenvolvimento
econômico – Objetivo n.º 8 dos
ODSs –, o crescimento econômico
terá de ser promovido de forma
sustentada, inclusiva e sustentável,
juntamente com a promoção do
emprego produtivo e do trabalho
digno para todos. A esse respeito,
as TICs, ao facilitarem o acesso à
informação, podem desempenhar
um papel importante, contribuindo
para o empreendedorismo, a
criação de empregos, a educação e
a formação, a produtividade e o
crescimento
econômico,
a
criatividade e a inovação, bem
como a inclusão financeira.
Esse capítulo analisa a forma como
as TICs podem potencialmente
contribuir para a realização do ODS
8, melhorando o acesso à
informação e oferecendo um
conjunto de soluções e serviços
possibilitados nas TICs. Examina os
numerosos aspectos a considerar
para alavancar as TICs para o
trabalho digno e o crescimento
econômico, tanto individual como
organizacional. Aborda igualmente
os obstáculos e as condições para
um
acesso
significativo
à
informação
e
aos
serviços
financeiros. Por último, enfatiza a
importância do monitorização dos
ODSs e defende a necessidade de
indicadores harmonizados para
esse fim.
1. As TICs e o acesso à
informação
Ao considerar as TICs como um meio
para melhorar o acesso à informação,
a relação entre TICs e ODSs emerge
como
um
truísmo;
as
TICs
potencialmente aumentam o acesso à
30
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
informação, o que por sua vez pode
capacitar os indivíduos, permitindolhes exercer melhor seus direitos, ser
economicamente ativos e produtivos,
aprender
e
aplicar
novas
competências e encontrar melhores
meios
para
ganhar
a
vida.
Empoderados dessa forma, podem
potencialmente participar na tomada
de decisões e responsabilizar os seus
governos, enriquecendo a sua
identidade e expressão culturais.
Assim, o acesso à informação é crucial
para o enriquecimento do processo
coletivo
de
construção
do
conhecimento, bem como para o
desenvolvimento econômico, social e
político (IFLA, APC & TASCHA, 2014;
ISOC, 2015; Banco Mundial, 2016).
O ODS 8, preocupado com o trabalho
digno e o crescimento econômico,
estabelece
quatro
metas
que
abrangem diferentes aspectos que
requerem acesso à informação, tais
como: emprego produtivo, educação e
formação, produtividade econômica,
empreendedorismo, criatividade e
inovação. Para que as pessoas
aprendam
e
usem
novas
competências que possam ser
relevantes
para
o
trabalho,
especialmente
em
um
mundo
dinâmico e em mudança, o acesso à
informação é um passo importante em
um processo complexo. Não só o
acesso à informação requer précondições físicas, sociais e legais
específicas, como também a própria
informação precisa ser transformada
em conhecimento para ser útil.
Além disso, quando se pretende
alcançar o pleno e produtivo emprego
e trabalho decente para todas as
mulheres e homens, deve-se ressaltar
que "a relação entre igualdade de
gênero e acesso à informação é uma
complexa cadeia de eventos que se
reforçam em um ciclo de feedback"
(Hafkin, 2017, p. 83). Em uma nota
semelhante, o acesso à informação e
ao conhecimento – juntamente com
recompensas econômicas – é crucial
para o desenvolvimento de uma
economia criativa e, em vista da
crescente contribuição das indústrias
criativas à produção econômica
nacional, a maioria dos países está
buscando adotar políticas para
desenvolver suas indústrias criativas e
fortalecer sua competitividade na
economia global (UNESCO, 2013a).
Tendo em conta os seus aspectos
diretos e secundários, as TICs podem
potencialmente contribuir para a
realização de um trabalho digno e para
o crescimento econômico, melhorando
o acesso à informação tanto por parte
dos indivíduos como das organizações.
1.1. As TICs para melhorar o
acesso das pessoas à informação
As TICs permitem potencialmente que
as pessoas, em qualquer parte do
mundo, tenham acesso à informação e
ao
conhecimento
quase
instantaneamente (ITU, 2005). Em
particular, ao expandir a base de
informação, reduzir os custos de
informação e pesquisa, e criar bens de
informação, as TICs podem facilitar a
pesquisa, a correspondência e a
partilha de informação e contribuir para
uma maior organização e colaboração
entre os agentes econômicos (Banco
Mundial, 2016).
Particularmente na agricultura, as TICs
podem ser utilizadas para manter os
trabalhadores informados sobre os
preços, os fatores de produção ou as
novas
tecnologias,
reduzindo
potencialmente o tempo e os custos,
bem como o atrito e a incerteza,
eliminando viagens dispendiosas e
facilitando a coordenação com os
comerciantes. Em suma, as TICs
podem
potencialmente
afetar
o
desenvolvimento econômico, uma vez
que podem ajudar a reduzir os
obstáculos ao acesso à informação e os
custos dos serviços. Por exemplo, uma
transação mutuamente benéfica pode
ser dificultada se duas partes não
conseguirem se encontrar ou adquirir
informações
suficientes
para
prosseguir com a transação com
confiança; em tais casos, os custos da
transação são infinitamente altos. Um
exemplo do uso da tecnologia para
superar os custos dos serviços é o
surgimento de plataformas de comércio
eletrônico – ambientes onde a oferta e
a demanda se encontram – que têm
facilitado aos produtores encontrar
clientes (Banco Mundial, 2016).
Além disso, ao abordar o emprego
pleno e produtivo e o trabalho digno, o
Objetivo 8.5 - "Alcançar emprego pleno
e produtivo e trabalho digno para todas
as mulheres e homens, incluindo os
jovens e as pessoas com deficiência, e
salário igual para trabalho de igual
valor" reconhece explicitamente a
necessidade de inclusão. Ademais, o
indicador
�8.5.1 mede a remuneração horária
média dos trabalhadores do sexo
feminino e masculino, por profissão,
idade e deficiência, e o indicador 8.5.2
aborda a taxa de desemprego, por
sexo, idade e status da deficiência.
Em termos de emprego inclusivo, de
acordo com o Relatório Global da
UNESCO (2013b), as pessoas com
deficiência são muito mais propensas
a
ficar
desempregadas
ou
economicamente inativas, e mesmo
aquelas que são economicamente
ativas muitas vezes ganham menos
do que seus pares sem deficiência.
Nesse
sentido,
os
avanços
tecnológicos podem abrir novos
caminhos para a inclusão social,
aprendizagem,
emprego
e
participação das pessoas com
deficiência (UNESCO, 2013). Com
efeito, as TICs podem permitir
múltiplos meios de comunicação –
voz, texto e gestos – facilitando o
acesso à informação por parte das
pessoas com deficiência, bem como a
interação social, abrindo assim
oportunidades
significativas
e
generalizadas de empregabilidade e
produtividade econômica4. Além
disso, o teletrabalho pode permitir
que as pessoas se envolvam com o
trabalho remotamente, fora do
escritório (Banco Mundial, 2016),
superando
as
dificuldades
relacionadas ao deslocamento.
Ademais, para atingir o objetivo 8.5
em particular – bem como toda a
Agenda 2030 – os Estados-Membros
devem suprimir as disparidades de
gênero (digitais), para que as
mulheres
possam
beneficiar-se
plenamente do acesso à Internet e
dos recursos que as TICs podem
proporcionar.
Geralmente,
as
mulheres tendem a ser mais pobres
do que os homens e ter menos
acesso à educação, além de ocupar
posições de menos poder nas
empresas e na política. Dito isso,
existem muitas desigualdades e
barreiras enfrentadas pelas mulheres
que as impedem de beneficiar-se
plenamente
das
oportunidades
oferecidas pelas TICs, incluindo
aquelas relacionadas a normas
sociais, divisão de trabalho baseada
em gênero, estereótipos de gênero e
até mesmo violência de gênero
(UNCTAD, 2014). No entanto, as
TICs
podem
potencialmente
aumentar as oportunidades das
mulheres para o emprego, o
empreendedorismo e o bem-estar
social em áreas que estão cada vez
mais inseridas na vida cotidiana,
como a facilitação de transações
financeiras, o preenchimento de
formulários do governo e a
comunicação com outros ao redor do
mundo (Garrido, Fellows & Koepke,
2017). Assim, em diferentes esferas,
incluindo a social e a econômica, as
mulheres podem lucrar com as TICs,
uma vez que estas podem muitas
vezes evitar a necessidade de
mobilidade e ajudar a superar as
barreiras de acesso à informação.
Isso, por sua vez, facilita decisões
mais esclarecidas e pode aumentar
as
oportunidades
econômicas
(UNCTAD, 2014). Finalmente, para
além do acesso, outras barreiras
devem ser consideradas à medida
que as mulheres procuram utilizar
eficazmente a informação5 (Hafkin,
2017).
Garrido & Wyber (2017) argumentam
que lacunas distintas no acesso a
oportunidades de educação e
formação contribuem para os níveis
de desemprego entre os jovens.
Portanto, um maior acesso à
informação poderia presumivelmente
contribuir
para
desenvolver
competências e a empregabilidade
geral, o que está relacionado com a
realização do Objetivo 8.6 - "Reduzir
substancialmente a proporção de
jovens
não
empregados,
em
processo de educação ou formação".
As ferramentas e os recursos de TIC,
como os cursos abertos online
(MOOCs)6 e os recursos educativos
abertos (OERs na sigla em inglês)7,
podem facilitar a aquisição de
competências e promover a formação
profissional e a aprendizagem
permanente8.
1.1.1. TICs para as competências
de aprendizagem e competências
para a utilização das TICs
Capacitar indivíduos requer não apenas
a provisão de acesso à informação, mas
também as competências para
transformá-la em conhecimento9 – para
ser capaz de buscar informações,
avaliá-las criticamente e criar novas
informações e conhecimentos. Além
disso, à medida que as pessoas
desenvolvem as competências e
recursos para obter, compartilhar, criar
e expressar informações, constroem
mecanismos poderosos para enfrentar
os desafios que entendem ser os mais
urgentes (Garrido, Fellows & Koepke,
2017).
Dito
isso,
as
TICs
podem
potencialmente expandir o acesso à
educação e abrir novas possibilidades,
eliminando condicionalismos espaciais e
temporais, mas as competências digitais
são fundamentais para que contribuam
eficazmente para reduzir a proporção de
jovens – e adultos – que não trabalham,
não estudam nem seguem qualquer
formação. Não é de surpreender que o
ODS 4 Objetivo 4.4 suscite um "aumento
substancial do número de jovens e
adultos que possuem competências
relevantes,
incluindo
competências
técnicas e profissionais, para o emprego,
o trabalho digno e o empreendedorismo",
e um indicador relacionado refere-se
explicitamente às TICs: 4.4.1 "Proporção
de jovens e adultos com competências
em tecnologias da informação e da
comunicação (TICs), por tipo de
competência".
Em outras palavras, embora as TICs
possam alavancar a aprendizagem de
competências relacionadas com o
emprego, é necessário possuir as
competências essenciais para utilizar as
TICs e acessar a informação de forma
mais geral. Isso vai além das
competências digitais básicas para o uso
adequado
das
ferramentas:
as
competências digitais geralmente são
compostas
de
alfabetização
computacional,
informativa
e
comunicativa (Hinostroza, 2017). Tais
competências incluem a capacidade de
utilizar o computador para investigar, criar
e comunicar-se em diferentes esferas da
vida – em casa, na escola, no local de
trabalho e, em geral, na sociedade
(Fraillon et al., 2013, citado em
Hinostroza, 2017, p. 16).
Por último, os cenários futuros apontam
para a emergência de novas categorias
de empregos, no contexto do avanço das
tecnologias, substituindo parcial ou
totalmente outros. Isso significa que os
conjuntos de competências exigidas em
ocupações antigas e novas vão mudar
em muitas áreas e transformar como e
onde as pessoas trabalham. Isso implica
transições difíceis para milhões de
trabalhadores e a necessidade de
investimento
proativo
no
desenvolvimento de uma nova onda de
alunos ágeis e talentos qualificados de
forma geral10 (WEF, 2018). Nesse
contexto, muitos enfatizam a relevância
do desenvolvimento de um conjunto
particular de competências – ou seja,
competências do século 21 – agrupadas
em quatro áreas: competências de vida e
carreira; competências de aprendizagem
e
inovação
(pensamento
crítico,
comunicação,
colaboração
etc.);
assuntos-chave e temas do século 21
(linguagem, matemática,
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
31
�ciência, finanças, ecologia
etc.); e informação, mídia e
competências
tecnológicas
(Hinostroza, 2017).
1.2. Informação, criatividade e
inovação possibilitadas pelo
acesso à informação por meio
das TICs
Dado que a informação é atualmente
divulgada mais rapidamente do que
nunca e que constitui um trunfo
essencial para a competitividade
econômica, é importante que tanto as
empresas
como
os
governos
promovam formas de desenvolver as
competências necessárias para que a
informação seja utilizada de forma
criativa e inovadora. Uma vez que a
informação é considerada fundamental
para
aumentar
a
produtividade
econômica, os custos irrecuperáveis
para sua criação devem ser superados.
No entanto, embora o custo de
produção da informação seja elevado, o
mesmo não acontece com a sua
reprodução (Shapiro & Varian, 2002). À
medida que a utilização das TICs
aumenta e a informação torna-se mais
amplamente divulgada, o custo do
acesso a essa informação diminui. Isso
coloca o seguinte desafio às empresas:
há
um
número
crescente
de
concorrentes capazes de reproduzir a
informação
produzida
pelas
organizações. Por conseguinte, dado
esse ambiente mais competitivo, as
empresas
devem
desenvolver
estruturas organizacionais capazes de
responder rapidamente às mudanças
tecnológicas e de mercado.
O objetivo 8.2 requer "níveis mais
elevados
de
produtividade
econômica
por
meio
da
diversificação,
modernização
tecnológica e inovação, incluindo
a concentração em setores de
elevado valor agregado e com
grande intensidade de mão-deobra". O acesso e a partilha da
informação são cruciais para a
promoção da inovação, e uma
vez que esta se torne rotina nas
organizações, pode levar a uma
maior produtividade econômica e
diversificação tecnológica, uma
vez que o ecossistema em que
funciona permite a criação de
nova informação. À medida que a
inovação é internalizada pelas
empresas, isso, por sua vez,
promove uma cultura dinâmica,
em que o espírito empreendedor
e
a
criatividade
são
recompensados, e pode levar à
32
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
criação de novos empreendimentos
que ofereçam soluções para os
mais
diversos
problemas
e
necessidades. Em ambientes em
que a inovação é a regra, há uma
procura de empregos de qualidade
que
exigem
capacidades
específicas dos indivíduos e das
empresas.
É importante salientar que um maior
acesso à informação não conduz
necessariamente à geração de valor
para todos; do mesmo modo, a par da
disseminação da informação, existe
uma concorrência mais intensa entre
as empresas, precisamente porque a
maior circulação da informação
permite que mais atores tenham
acesso a mais mercados, já que a
facilidade de internalização da
informação pode levar à melhora dos
processos e ao desenvolvimento de
novos produtos. Portanto, do ponto de
vista da criação de valor econômico,
a maior circulação de informação é
simultaneamente uma oportunidade e
um
desafio:
quem
conseguir
transformar
melhor
e
mais
rapidamente o acesso à informação
em conhecimento e, por sua vez, em
inovação,
obterá
vantagens
competitivas difíceis de serem
mudadas.
O Objetivo 8.3 visa a "promover
políticas
orientadas
para
o
desenvolvimento que apoiem as
atividades produtivas, a criação de
emprego digno, o empreendedorismo, a
criatividade e a inovação". O acesso e a
utilização eficientes e produtivos da
informação são essenciais para que as
empresas possam criar e participar em
ecossistemas dinâmicos, em que a
produção de conhecimento, juntamente
com a sua utilização na prática, leva à
inovação e ao espírito empreendedor,
favorecendo o surgimento de setores
dinâmicos e o crescimento econômico.
A disseminação das TICs facilita a
produção de conhecimento e sua
partilha de forma gratuita, favorecendo
a entrada de vários atores no processo
ou o desenvolvimento de produtos.
Ambientes abertos – em que o acesso
e a partilha de informação não são
restringidos – são mais propícios à
criação de conhecimento e inovação.
Por último, a ideia de promover
ambientes abertos e favoráveis à livre
circulação da informação para fomentar
a criação de conhecimento e a inovação
aplica-se tanto aos Estados-nação
como às empresas.
2. Serviços financeiros como TIC
- soluções habilitadas
Um vasto conjunto de serviços públicos e
privados – tanto online como offline, que
são potencializados pelas TICs, bem
como soluções e recursos possibilitados
pelas TICs – pode promover o
desenvolvimento social, econômico e
político
de
forma
sustentável,
contribuindo em domínios como a
educação, a saúde, as finanças, o
mercado de trabalho e a administração
pública.
Atualmente, 2 bilhões de indivíduos (e
200 milhões de empresas) em economias
emergentes não têm acesso a poupança
e a crédito, e não participam plenamente
do sistema financeiro formal (McKinsey
Global Institute, 2016), o que os impede
de participar em atividades econômicas
que poderiam transformar suas vidas,
como também lhes bloquear o
desenvolvimento econômico11. A inclusão
financeira é particularmente relevante
para as populações vulneráveis e pode
contribuir para uma maior segurança e
estabilidade. Isso permite, por exemplo,
planejar melhor o futuro ou responder a
acontecimentos
inesperados
(Diniz,
2018).
A Agenda 2030 reconhece que a inclusão
financeira é vital para as pequenas
empresas e o empreendedorismo e, em
particular, o Objetivo 8.10 visa a "reforçar
a capacidade das instituições financeiras
nacionais a incentivar e expandir o
acesso de todos aos serviços bancários,
de seguros e financeiros”. Da mesma
forma,
um
indicador
relacionado
explicitamente refere-se às TICs: 8.10.2
"Proporção de adultos (15 anos ou mais)
com conta em banco ou outra instituição
financeira ou em prestador de serviços
financeiros móveis.”
Nesse contexto, as TICs – juntamente
com as competências e a confiança para
utilizá-las – podem contribuir para
melhorar a qualidade, a variedade e o
âmbito dos microsserviços financeiros,
bem como responder a algumas das
necessidades inerentes à vida cotidiana
das pessoas com baixos rendimentos,
historicamente excluídas do sector
financeiro por serem consideradas de alto
risco e menos rentáveis.
As plataformas digitais, por exemplo,
oferecem muitas possibilidades para
facilitar a inclusão de serviços
�Por meio da Internet, da banda larga e das infraestruturas de TICs baseadas em telefones
móveis, as pessoas que vivem na pobreza podem aumentar a capacidade de melhorar sua
situação econômica, com acesso a serviços financeiros confiáveis que podem proporcionar
uma rede de segurança vital.
financeiros importantes: pagamento,
crédito, poupança e seguros. O acesso
por meio de um dispositivo móvel pode
ajudar a superar muitos dos problemas
associados à inclusão financeira:
Programas como o banco móvel
combatem
a
questão
do
distanciamento; as transferências de
dinheiro entre pares evitam altos custos
de transação; a oferta de novas formas
de estabelecer crédito ajuda quem luta
contra a falta de histórico de crédito; e a
criação de novos modelos de negócios
aborda a falta de alfabetização e
educação
financeira
entre
os
financeiramente
excluídos
(Diniz,
2018). Em países com baixos níveis de
inclusão financeira entre uma grande
proporção da população, as inovações
relacionadas às TICs no campo dos
serviços
financeiros
incluem
correspondentes
bancários
sem
agência, dinheiro eletrônico e contas de
poupança básicas (contas de baixo
custo) (Ontiveros, Martin Enriquez &
Lopez Sabates, 2014, citado em Del Rio
et al, a publicar).
Por meio da Internet, da banda larga e
das infraestruturas de TIC baseadas em
telefones móveis, as pessoas que
vivem na pobreza podem aumentar a
capacidade de melhorar sua situação
econômica, obtendo acesso a serviços
financeiros confiáveis que podem
proporcionar uma rede de segurança
vital. A partir da abertura de uma conta
e da realização de transações básicas,
como transferências de dinheiro e
pagamentos de contas, os usuários
podem passar para serviços financeiros
mais avançados, como empréstimos e
produtos de seguros. O maior acesso a
serviços financeiros viabilizado pelas
TICs pode, por sua vez, incentivar o
investimento, estimulando a criação de
empregos e o crescimento econômico
(The
Earth
Institute,
Columbia
University & Ericsson, 2015).
3. Condições para um
acesso
significativo
à
informação e para o acesso
aos serviços financeiros
A estrutura de Desenvolvimento e
Acesso à Informação (DA2I),
desenvolvida
pela
Federação
Internacional de Associações e
Instituições Bibliotecárias (IFLA na
sigla em inglês), em parceria com o
Grupo de Tecnologia e Mudança
Social
da
Universidade
de
Washington,
propõe
quatro
dimensões interdependentes que
influenciam o acesso à informação
e sua capacidade de avançar nos
ODSs, como segue:
1. Infraestrutura de acesso à
informação e comunicações: a
conectividade
(e
recursos
materiais) que estabelece a
conexão física com a informação.
2. Contexto social de uso: a
variedade de fatores locais e
culturais que moldam a forma
como os usuários envolver-se-ão
com a informação.
3. Capacidades: o conjunto de
conhecimentos
funcionais,
competências e recursos que uma
população desenvolve ao longo
do tempo e que molda a natureza
de como a informação é usada ou
não usada.
4. Panorama jurídico e político: as
políticas
e
os
quadros
regulamentares que promovem ou
dificultam a conectividade, a
acessibilidade, a inclusividade e
os direitos.
A esse respeito, para garantir o
acesso à informação – bem como a
soluções possibilitadas pelas TICs –
devem ser satisfeitas determinadas
condições prévias, como a existência
de infraestrutura adequada (banda
larga fixa e móvel) e de dispositivos
(computadores,
telefones
etc.)
necessários para a ligação à Internet.
O acesso à Internet por intermédio de
dispositivos móveis é cada vez mais
importante nos países menos
desenvolvidos e nas zonas rurais e
remotas, uma vez que os dispositivos
móveis se tornaram a principal porta
de acesso à Internet para muitos. Os
smartphones podem potencialmente
conectar um número crescente de
pessoas a recursos de conhecimento,
oportunidades
de
emprego
e
amenidades culturais. No entanto,
deve-se notar que "quem depende de
seus smartphones para acessar a
internet encontra restrições como limites
de dados e telas pequenas, e o
dispositivo não é sua ferramenta favorita
para a aprendizagem pessoal em casa.
Em vez disso, quem possui smartphone,
mas não com banda larga em casa,
depende de um tipo de "ecossistema
alternativo", que é uma combinação de
uso de seus dispositivos móveis com
outros recursos, como computadores e
Wi-Fi, disponíveis em bibliotecas
públicas" (Anderson & Horrigan, 2013).
Igualmente importantes para o acesso à
informação são os pontos de acesso
público à Internet, tais como telecentros e
bibliotecas, em particular em países ou
áreas
com
menor
conectividade
doméstica12. Além de manter uma série de
recursos de informação, muitas bibliotecas
oferecem múltiplas formas de acesso às
TICs, geralmente gratuitas, bem como o
acesso a livros, documentos, periódicos e
bancos de dados em bibliotecas ou
remotamente por meio de sites, juntamente
com serviços móveis. Além disso, os
bibliotecários
têm
um
papel
a
desempenhar, orientando quem tem pouca
experiência no acesso à informação e/ou
na utilização das TICs (Hafkin, 2017): além
do acesso, as bibliotecas podem
potencialmente ajudar as pessoas a
compreender as informações que obtêm.
Consequentemente, as bibliotecas apoiam
o ODS 813 , ao proporcionar ao público
acesso à informação e o necessário
treinamento
de
competências
–
especialmente aos excluídos digitais – para
a procura de emprego. Por exemplo, o
pessoal qualificado da biblioteca pode
prestar assistência com inscrições online e
atividades relacionadas a encontrar um
emprego (IFLA, 2016).
Assim, mesmo quando existe
conectividade
física,
são
necessárias
capacidades
específicas
para
identificar,
encontrar e utilizar a informação
existente
e
utilizá-la
potencialmente para melhorar as
condições
de
vida
–
particularmente o emprego e a
formação – e para gerar novas
informações.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
33
�Portanto, o acesso à informação e ao
conhecimento requer competências
de alfabetização digital, alfabetização
midiática (compreensão de vários
tipos de mídia e formatos pelos quais
a informação é transmitida) e
alfabetização
informacional
(habilidades para buscar, avaliar, usar
e criar informações de forma eficaz
para alcançar objetivos pessoais,
sociais, ocupacionais e educacionais)
(UNESCO, 2018, citado em Del Rio et
al,
a
publicar).
Tendo
em
consideração que a Agenda 2030
promete que "ninguém ficará para
trás", é da maior importância
considerar um avanço gradual na
inclusão digital, desde o acesso às
TICs até a sua utilização. Dado que
um aspecto importante do fosso
digital14 refere-se à falta de
competências,
essas
são
fundamentais para garantir que as
pessoas possam beneficiar-se das
TICs e ter um acesso significativo à
informação, evitando reproduzir as
desigualdades.
Dito isso, além da conectividade e
das capacidades da internet, a
informação deve ser: relevante e
disponibilizada (gerada, tornada
pública e ativamente divulgada por
todas as partes interessadas, além
de ser social e economicamente
relevante);
acessível
(potencialmente acessada por todos,
sem dificuldade, independentemente
do idioma, cultura, localização
geográfica ou nível de competência);
e acessível em termos de custo de
acesso (UNESCO, 2018, citado em
Del Rio et al, a publicar).
Juntamente com o elevado custo das
telecomunicações, as micro e
pequenas empresas enfrentam outro
obstáculo ao acesso aos serviços
financeiros: muitas vezes não têm
capacidade para utilizar serviços
financeiros baseados nas TICs,
devido a uma infraestrutura de
comunicação deficiente e à falta de
suporte regulatório. Elas são muitas
vezes prejudicadas pela prevalência
de tecnologias obsoletas e custos
proibitivos de instalação de novas
tecnologias, e sofrem com a falta de
pessoal
qualificado
e
baixas
competências de alfabetização digital
(The Earth Institute, Columbia
University, & Ericsson, 2015). Mais
uma vez, o desenvolvimento de
competências e o treinamento são,
por conseguinte, condições prévias
para que estas empresas tenham
acesso aos serviços financeiros
proporcionados pelas TICs. Em
34
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
países onde o desemprego ou o
subemprego são um problema
crescente, a expansão das micro e
pequenas empresas pode criar
oportunidades de emprego vitais. Ao
abordar os baixos níveis de
alfabetização digital e promover o
acesso
a
serviços
financeiros
orientados
pelas
TICs,
os
formuladores de políticas podem dar
um indispensável e muito necessário
impulso aos ODSs relacionados ao
desenvolvimento
de
pequenas
empresas (The Earth Institute,
Columbia University, & Ericsson,
2015, p. 39).
4.
Monitoramento
das
conquistas dos ODSs: a
necessidade de indicadores
harmonizados & conclusões
sobre as TICs
O acesso à informação é uma questão
que atravessa toda a Agenda 2030 e,
portanto,
é
acompanhado
por
indicadores organizados de acordo com
diferentes objetivos e metas. Da
mesma forma, todos os objetivos e
metas dos ODSs são interdependentes
e devem ser perseguidos em conjunto,
uma vez que o progresso em uma área
muitas vezes depende do progresso em
outras.
Para o acompanhamento e revisão do
progresso para alcançar os ODSs, 10
critérios foram estabelecidos pela
Comissão de Estatísticas da ONU para
a
coleta
de
Indicadores
de
Monitoramento Global robustos, a ser
compilados por agências internacionais
usando dados desagregados dos
sistemas estatísticos nacionais. Dados
atuais e utilizáveis são essenciais para
a tomada de decisões fundamentadas,
o monitoramento do progresso e a
avaliação dos resultados.
Nesse contexto, as TICs são
explicitamente reconhecidas como um
meio transversal de execução da
Agenda, bem como por seu papel
fundamental na medição do progresso
em
todos
os
aspectos
do
desenvolvimento sustentável. Com
efeito, é importante que todos os
domínios
em
que
as
TICs
desempenham um papel relevante
sejam adequadamente medidos e
acompanhados. Para tanto, é crucial
dispor de indicadores de TICs
comparáveis em nível internacional,
baseados
em
definições
e
metodologias acordadas em comum,
que permitam aos atores políticos e a
outras partes interessadas identificar as
tendências e os desafios relacionados
com as TICs.
Nos últimos anos, o Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da
Sociedade da Informação (Cetic.br), um
departamento do Centro Brasileiro de
Informação em Rede (NIC.br), vem
contribuindo ativamente para debates
internacionais sobre a padronização de
indicadores e definições metodológicas
para a produção de estatísticas de TICs.
O Centro realiza várias pesquisas
nacionais autônomas sobre as TICs –
como a TIC Domiciliar e a TIC Empresa
– que são essenciais para a coleta e
disseminação de dados relacionados às
TICs, em nacional e internacional. Isso
permite uma melhor compreensão do
papel das TICs na facilitação do acesso
à informação e à educação por parte de
indivíduos e organizações, por exemplo.
As metodologias seguidas pelo Cetic.br
para esses levantamentos estão
alinhadas
com
os
parâmetros
estabelecidos
pelas
organizações
internacionais, incluindo a União
Internacional de Telecomunicações
(UIT) e a Conferência das Nações
Unidas
sobre
Comércio
e
Desenvolvimento (UNCTAD). Portanto,
o
Centro
recolhe
indicadores
internacionalmente acordados sobre
TICs que permitem comparações entre
países, mas também produz uma vasta
gama de dados nacionais relevantes,
desagregados
por
variáveis
socioeconômicas importantes e que
permitem uma maior compreensão dos
contextos locais. Esse processo é crucial
para
monitorizar
os
impactos
socioeconômicos das TICs e a
realização da Agenda 2030 em geral.
5. Conclusões
As TICs estão fortemente ligadas ao
acesso e à utilização da informação,
que
são
importantes
para
o
desenvolvimento
econômico,
a
educação, a formação e o emprego. As
TICs podem desempenhar um papel
importante na promoção de um
desenvolvimento mais inclusivo e
sustentável. Em particular, as mulheres
e as pessoas com deficiência, bem
como os jovens, mencionados nos
objetivos 8.5 e 8.6, podem beneficiar-se
grandemente
das
oportunidades
oferecidas por essas tecnologias.
No entanto, mais do que nunca, o
acesso à informação exige as
competências
necessárias
para
acessar, utilizar, partilhar e adequar as
ferramentas oferecidas pelas TICs, a
fim de garantir que todos os benefícios
sejam iguais e que ninguém
�fique para trás. Se as disparidades
sociais e digitais não forem
superadas,
as
desigualdades
podem
ser
ainda
mais
reproduzidas e as pessoas com
competências – digitais, cognitivas,
competências do século XXI –
podem
estar
mais
bem
posicionadas para encontrar um
emprego e ganhar melhores
salários. A esse respeito, o
desenvolvimento de competências
digitais relacionadas com o
tratamento da informação para
jovens e adultos é prioritário, em
especial
para
os
grupos
identificados como potencialmente
desfavorecidos econômica ou
socialmente.
Devido à maior divulgação do
acesso e utilização das TICs, a
informação
circula
mais
eficientemente entre indivíduos,
comunidades e organizações,
aumentando suas oportunidades
de
adquirir
e
desenvolver
conhecimentos que possam ser
úteis ao processo produtivo,
favorecendo
o
crescimento
econômico inclusivo. Para as
empresas, o desafio consiste em
transformar essa maior circulação
de informação em melhor tomada
de decisão e conhecimento para a
inovação e, ao fazê-lo, apoiar a
Objetivo 8.2 e o Objetivo 8.3.
Tanto para acessar a informação
por intermédio das TICs quanto
para utilizar serviços e recursos
das
TICs,
como
serviços
financeiros, há muitas condições
que têm de ser satisfeitas para
garantir que ninguém fique para
trás. Ter acesso à informação por
intermédio das TICs implica ter
conectividade – em dispositivos
móveis, em casa, em espaços
públicos, como bibliotecas, ou
outros locais – mas também
desenvolver
as
competências
necessárias
para
utilizar
a
informação de forma significativa,
para fins relevantes. O acesso à
informação deve ser entendido como
um processo complexo que depende
da disponibilidade de informações
relevantes, bem como de preço
razoável e acessibilidade.
Por fim, à luz do papel fundamental
que o acesso à informação
desempenha na consecução do ODS
8 e do potencial oferecido pelas TICs
para melhorar o seu acesso,
utilização, criação e partilha, é da
maior importância que sejam
recolhidos
dados
pontuais
e
relevantes para informar os atores
políticos e acompanhar o progresso
dos
objetivos
acordados
internacionalmente, como a Agenda
2030.
1.
De acordo com a UNESCO, as Sociedades do Conhecimento baseiam-se em quatro princípios, a saber: liberdade de expressão; igualdade de acesso à
educação; acesso universal à informação, especialmente no domínio público; e expressão da diversidade cultural. Construída sobre o conceito de Sociedade da
Informação, a pluralidade inerente ao conceito de Sociedades do Conhecimento "implica diversidade, variedade e acesso à escolha", onde "as pessoas possam
acessar e trocar informações e ideias de qualidade que sejam relevantes para sua vida e desenvolvimento" (UNESCO, 2003:2).
2.
Por exemplo, como a agricultura é cada vez mais intensiva em conhecimento, as TICs podem ajudar os agricultores a melhorar os rendimentos das culturas e a
produtividade das empresas por meio de um melhor acesso à informação de mercado, previsões meteorológicas, programas de formação e outros conteúdos
online adaptados às suas necessidades.
3.
De acordo com as TICs para o trabalho: Relatório sobre competências digitais no local de trabalho (Comissão Europeia, 2016), a utilização das TICs – nos
estados membros da UE – aumentou significativamente nos últimos cinco anos em mais de 90% dos locais de trabalho, sendo que os locais de trabalho
microdimensionados registraram aumentos limitados em comparação com os de maior dimensão. Além disso, 38% dos locais de trabalho relatam que a falta de
competências digitais tem impacto no seu desempenho.
4.
No entanto, como aponta o Banco Mundial (2016), a mera existência de tecnologia não é suficiente para eliminar a lacuna na inclusão socioeconômica das
pessoas com deficiência, pois é necessário um ecossistema adequado para promover a implementação de tecnologias digitais acessíveis.
5.
A esse respeito, vale a pena mencionar o papel das bibliotecas no empoderamento das mulheres por intermédio das TICs, conforme descrito no Resumo da
Publicação Para Além do Acesso "Capacitação de mulheres e meninas por meio das TICs nas bibliotecas" (2012) [Beyond Access Issue Brief "Empowering
Women and Girls Through ICT at Libraries" (2012)], disponível em http://beyondaccess.net/wp-content/uploads/2013/07/Beyond-Access_GirlsandICT-IssueBrief.pdf
6.
Um MOOC é um curso online que visa à participação ilimitada e acesso aberto via web. Além dos materiais tradicionais do curso, tais como palestras filmadas,
leituras e grupos de problemas, muitos MOOCs fornecem ferramentas interativas com fóruns de usuários para apoiar as interações da comunidade entre alunos,
professores e auxiliares de ensino (AEs), bem como feedback imediato para testes rápidos e tarefas.
7.
Recursos educacionais abertos (OERs) são materiais de ensino, aprendizagem e pesquisa em qualquer meio – digital ou outro – que residam no domínio público
ou tenham sido liberados sob licença aberta que permita acesso, uso, adaptação e redistribuição sem custos por outros, sem restrições ou com restrições
limitadas. Para saber mais, acesse https://en.unesco.org/themes/building-knowledge-societies/oer.
8.
A aprendizagem permanente está relacionada com o ensino voluntário e automotivado, realizado fora da escola, com o objetivo principal de melhorar o
desenvolvimento pessoal ou profissional Para saber mais, acesse http://uil.unesco.org.
9.
A mídia tradicional, as organizações da sociedade civil e as instituições públicas, como as bibliotecas, podem contribuir para a tradução de informações em
conhecimento acessível e uso orientado, "preparando informações, estendendo recursos informativos para comunidades carentes e oferecendo espaços sociais
para convocar, aprender, criar e resolver problemas em suas comunidades" (Garrido, M. & Wyber, 2017, p. 11).
10. Note-se que nos referimos às potencialidades das TICs para os trabalhadores e futuros trabalhadores adquirirem competências e, ao fazê-lo, prepararem-se para o
mercado de trabalho. No entanto, tal como o Fórum Econômico Mundial declara no relatório O Futuro do Emprego de 2018, destaca-se uma série de implicações e
prioridades imediatas para as diferentes partes interessadas, como as empresas e os governos. "(...) Imperativo para alcançar essa visão positiva do futuro do
emprego será um movimento econômico e social dos governos, empresas e indivíduos no sentido de uma aprendizagem ágil e permanente, bem como estratégias
e programas inclusivos de reciclagem e atualização de competências em todo o espectro profissional. As competências interpessoais relacionadas com a tecnologia
e não cognitivas estão a tornar-se de forma paralela cada vez mais importantes, e existem oportunidades significativas para parcerias inovadoras e criativas entre as
partes interessadas dos governos, empregadores da área, prestadores de serviços de educação e outros para experimentar e investir em novos tipos de ensino e
formação que serão mais úteis para os indivíduos neste novo contexto do mercado de trabalho" (WEF, 2018, p. 22).
11. De acordo com o McKinsey Global Institute (2016), a adoção e uso generalizados de finanças digitais poderiam aumentar o PIB de todas as economias
emergentes em 6%, ou US$ 3,7 trilhões, até 2025.
12. Essas medidas incluem "recursos que permitam a qualquer membro do público utilizar a preços acessíveis os computadores com conexão de banda larga,
juntamente com as ferramentas TICs associadas, como impressoras e escâneres, bem como o apoio técnico à utilização da Internet". As instalações de acesso
público podem ser "telecentros" ou "centros multimídia comunitários" (CMCs), ou " cybercafés" privados, construídos com o apoio do Estado. A localização de
serviços de acesso público em instituições existentes situadas na comunidade, como bibliotecas e correios, é muitas vezes um método particularmente eficaz de
implementação do acesso público" (IFLA, APC & TASCHA, 2014).
13. Vários exemplos de como as bibliotecas têm apoiado o emprego em todo o mundo podem ser encontrados no documento da IFLA Uma Missão de Justiça Social:
Bibliotecas, Emprego e Empreendedorismo [A Social Justice Mission: Libraries, Employment and Entrepreneurship], disponível em
https://www.ifla.org/files/assets/hq/topics/libraries-development/documents/libraries_and_social_justice.pdf
14. 14. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o termo "fosso digital" refere-se à diferença entre indivíduos,
famílias, empresas e áreas geográficas em diferentes níveis socioeconômicos, tanto em relação às oportunidades de acesso às tecnologias da informação e da
comunicação (TICs) quanto ao uso da internet para uma ampla variedade de atividades (OCDE, 2001, p. 5).
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
35
�DA2I
36
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 5
Desigualdades: bibliotecas e
compartilhamento de conhecimentos
Essa dissertação explora o papel das bibliotecas no compartilhamento de
conhecimento, concentrando-se especialmente em sua expressão digital e nas
formas pelas quais elas podem contribuir para a redução da pobreza. Começa
por estabelecer o contexto em termos dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) e da distinção entre conhecimento "aberto/público" e
"fechado/privado". A próxima seção explora questões importantes em torno
dos significados e do uso da "informação" e "conhecimento", as necessidades
que as pessoas pobres e marginalizadas têm de conhecimento, e a
importância de obter mais evidências sobre como as bibliotecas, tanto virtuais
quanto reais, podem ser usadas para influenciar a redução da pobreza. A
penúltima parte do ensaio examina então as diversas formas pelas quais as
bibliotecas podem ser usadas para reduzir as desigualdades, e inclui dois
estudos de caso contrastantes, o Movimento Biblioteca Pública Indiano e as
microbibliotecas portuguesas. A dissertação conclui com recomendações
sobre como superar os obstáculos enfrentados por um uso mais amplo das
bibliotecas para reduzir a desigualdade.
P. TIM H. UNWIN
Royal Holloway, Universidade de Londres
Contexto: aberto e púbico, ou fechado e privado?
O Conhecimento é poderoso. Tem, portanto, tendência a ser utilizada pelos ricos
e poderosos ao longo da história para manter o seu status e perpetuar as
desigualdades a seu favor. No entanto, sempre houve também os que tentaram
partilhar mais amplamente o conhecimento, muitas vezes com base na moral de
que o conhecimento é, de fato, empoderador e pode transformar as estruturas
sociais e políticas. Isso é tão verdadeiro hoje, quando o conhecimento formal
está sendo cada vez mais mediado por tecnologias digitais, como foi no passado
distante, quando o conhecimento era amplamente compartilhado por meio de
livros. O ODS 10, que se concentra na redução das desigualdades, fornece uma
importante alavanca por meio da qual tais agendas podem ser promovidas na
próxima década.
ODS 10: o objetivo problemático
Os esforços recentes para reduzir a pobreza centraram-se, em geral, sobretudo
no crescimento econômico e não na redução das desigualdades. A Agenda
2030 e os ODSs (ONU, 2015) continuam, portanto, em grande parte, a centrarse no crescimento econômico que está no cerne dos anteriores Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODMs) das Nações Unidas de 2000. No entanto,
os ODSs são muito mais em número, e procuram combinar os interesses de
crescimento econômico dos ODMs com preocupações sobre mudanças
ambientais e sustentabilidade. Eles também incluem uma tensão importante,
representada pelo ODS 10, aparentemente deslocado: reduzir a desigualdade
dentro e entre os países. Esses focos que se concentram em aumentar o
crescimento e reduzir a desigualdade competem entre si, porque o crescimento
econômico quase sempre tem sido historicamente associado ao aumento da
desigualdade, a menos que seja dada uma atenção muito considerável
especificamente para compartilhar os benefícios desse crescimento
amplamente em toda a sociedade (Oxfam, 2019). Os processos que dão origem
a essas desigualdades foram drasticamente aumentados pela concepção e
difusão de tecnologias digitais em evolução cada vez mais rápida (Unwin,
2018). No entanto, os 10 objetivos do ODS 10 não fazem menção direta às
formas pelas quais o conhecimento pode ser usado para reduzir a
desigualdade, nem ao uso de tecnologias digitais para isso.
Para compreender essa tensão entre crescimento e desigualdade, é essencial
abordar a distinção entre pobreza relativa e absoluta (Unwin, 2007). Em
essência, quem defende uma medida absoluta de pobreza, como incorporado
nos ODMs e na maioria dos ODSs, assim o faz com base na noção positiva de
individualidade e competição, enquanto quem defende
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
37
�um padrão relativo o faz na crença
normativa de que as pessoas
também são comunais e devem
organizar atividades econômicas de
forma cooperativa (O'Boyle, 1999).
O domínio esmagador das noções
de direitos humanos "individuais" em
vez de "comunitários" (Unwin, 2014)
no sistema da ONU e além, e o
poder das grandes corporações
globais na governança internacional
contemporânea, têm alimentado
essa ênfase na maximização do
crescimento em vez de minimizar a
desigualdade. A pobreza absoluta
pode, de fato, ser reduzida apenas
pelo crescimento econômico, mas a
pobreza relativa não. Os ODSs e o
Fórum Político de Alto Nível sobre
Desenvolvimento Sustentável (FAN)
não reconheceram suficientemente
essa tensão e, por conseguinte,
também não criaram mecanismos
por meio dos quais as desigualdades
prejudiciais possam ser reduzidas.
Conhecimento privado e público
A posse de conhecimento por
indivíduos ou comunidades é central
para as relações de poder associadas
a esse equilíbrio de ênfase entre
pobreza
absoluta
e
relativa.
Historicamente, em sociedades com
tradição em alfabetização, a palavra
escrita tem sido um meio importante
para
registrar
e
compartilhar
informações e ideias por quem sabe
ler e tem acesso a textos. Bibliotecas
fixas, portanto, desempenharam um
papel crucial como repositórios de
conhecimento.
Sociedades
com
tradições
orais
em
contraste
transmitia o conhecimento por
intermédio da palavra falada mais
acessível de sagas, poesias e
narração de histórias. No entanto,
ambas as tradições tinham estruturas
de poder significativas: as bibliotecas
ajudavam a manter o poder nas
tradições de alfabetização; os direitos
de iniciação e as estruturas
hereditárias serviam às tradições orais.
Ambas procuraram equilibrar o
secretismo e a abertura, mas de
formas diferentes. No entanto, parece
haver uma distinção útil que pode ser
feita aqui entre alfabetização e
individualismo, por um lado, e
tradições orais e comunitárias, por
outro. Os meios de partilha dentro de
ambos os tipos de sociedade são
diferentes, e é necessário realizar mais
investigação sobre a medida em que
cada um deles está relacionado com a
desigualdade.
O desenvolvimento do acesso à
informação e ao conhecimento nas
sociedades
alfabetizadas
está
razoavelmente bem documentado.
Os livros primitivos tinham de ser
copiados laboriosamente à mão, e por
isso eram caros. Como conhecimento
é poder, eles eram normalmente
mantidos nas bibliotecas "privadas"
das elites. Novas formas de
impressão na Europa começaram a
democratizar a distribuição de
conhecimentos a partir do século XV,
mas a ideia de bibliotecas "públicas"
só começou realmente a tomar forma
na Europa no século XIX (Harris,
1999), como resultado de pressões
morais e econômicas para melhorar a
vida dos pobres. É importante
observar, entretanto, que outras
tradições muito mais adiantadas
buscavam
também
compartilhar
conhecimento dentro das sociedades
letradas. No Cairo, no início do século
XI, por exemplo, (al-Hakim bi-Amr
Allah, também conhecido como Abu
Ali Mansur), o sexto califa fatimida
fundou a (Dar al-Alem, Casa do
Conhecimento),
que
foi
especificamente concebida para
permitir
ao
público
adquirir
conhecimento.
Informação,
conhecimento
e
desigualdade
Há fortes argumentos de que a
criação de bibliotecas públicas, em
vez de apenas bibliotecas privadas,
pode desempenhar um papel
importante ao permitir que todos
acessem a informação e a processem
para
moldar
seus
próprios
conhecimentos. No entanto, para que
isso aconteça, as pessoas têm de ser
alfabetizadas e capazes de acessar o
conteúdo dessas bibliotecas; tais
argumentos também tendem a
privilegiar as tradições alfabetizadas
em detrimento das orais. O advento
das tecnologias da informação e da
comunicação
(TICs)
também
proporcionou uma oportunidade
valiosa para ampliar as noções de
compartilhamento de conhecimento
público comunitário, especialmente
por meio de uso de software livre, de
código
aberto,
e
recursos
educacionais abertos, bem como pela
criação de bibliotecas virtuais ou
digitais (IFLA & UNESCO, 2011). Tais
distinções entre público e privado são
muito semelhantes à diferença entre
as
abordagens
comunitária
e
individual para a redução da pobreza
(Tabela 1). Na prática, esses
conceitos, mostrados como opostos
binários na Tabela 1, geralmente se
confundem entre si e estão em ambos
os extremos dos espectros, mas são
mostrados aqui dessa forma porque
refletem
conceitualizações
fundamentalmente diferentes da
pobreza, do papel das bibliotecas,
dos conteúdos, das tecnologias
digitais e do desenvolvimento.
A UNESCO, em particular, tem
desempenhado durante muito tempo
um forte papel na defesa de que mais
apoio deve ser dado à criação de
sociedades do conhecimento nas
quais todos os cidadãos possam
acessar e usar as informações de que
necessitam para ter vidas realizadas
(Mansell & Wehn, 1998; UNESCO,
2005). Como Souter (2010, p.11)
resumiu, "Por
Tabela 1: Oposições binárias: pobreza, bibliotecas e conteúdo
Conceito de
pobreza
Soluções para
a redução da
pobreza
Bibliotecas
Tipo de
Sociedade
Conteúdo
Software
Direção
Absoluto
Individual
(crescimento
econômico)
Privadas
Principalmente
alfabetizadas
Conteúdo exclusivo
Conteúdo
fechado
Principalmente de
cima para baixo
Relativo
Comunitária
(redução da
desigualdade)
Públicas
Principalmente
orais
Acesso aberto
(especialmente
recursos educacionais
abertos)
Fonte aberta
e livre
Encoraja a
abordagem de
baixo para cima
38
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�Sociedades do Conhecimento, a
UNESCO considera as sociedades
nas quais as pessoas têm a
capacidade não apenas de adquirir
informações, mas também de
transformá-las em conhecimento e
compreensão, o que as capacita a
melhorar seus meios de vida e
contribuir para o desenvolvimento
social e econômico de suas
sociedades". Tais ideias reforçam a
noção de que a informação e o
conhecimento são essenciais para o
desenvolvimento efetivo e, portanto,
que a superação da pobreza e da
desigualdade de informação é uma
parte importante de qualquer agenda
de desenvolvimento global (Haider &
Bawden, 2007). Entretanto, existem
desafios
consideráveis
na
concretização dessa visão, alguns
dos quais, considerados mais
importantes, são explorados mais
adiante.
Conhecimento marginal e de elite
Tradicionalmente, os bibliotecários
têm servido como guardiões do
conhecimento, decidindo o que deve
existir numa biblioteca e o que deve
ser excluído. Isso significa que as
bibliotecas
geralmente
oferecem
acesso a conhecimentos de elite.
Quase por definição, eles também têm
sido a preservação do conhecimento
alfabetizado em vez do conhecimento
oral. As pessoas e comunidades
pobres e marginalizadas também têm,
no entanto, imensos recursos de
conhecimento. Ao passar informações
por intermédio de tradições orais, elas
sabem, por exemplo, como sobreviver
em ambientes onde um banqueiro, um
acadêmico ou um político alfabetizado
"com boa formação" não seriam
capazes de sobreviver nem por alguns
dias.
No entanto, as TICs começaram a ser
utilizadas para subverter conceitos
tradicionais,
de
duas
formas
principais: pela utilização de áudio e
vídeo, que já não requerem
competências
de
alfabetização
tradicionais para o seu acesso, e pela
permissão de que qualquer pessoa
com acesso à Internet e a um
dispositivo de entrada possa transferir
conteúdos
multimídia.
Alguns
bibliotecários e instituições há muito
que estão ativamente empenhados na
democratização do conhecimento. O
Arquivo de Som da BBC no Reino
Unido, por exemplo, fundado em
1936, contém centenas de milhares de
gravações de áudio que datam do
século 19. Mais recentemente, a
Ryerson University no Canadá
desenvolveu
iniciativas
para
incorporar conhecimentos indígenas
em suas práticas (Sloan, 2018), e
Horrigan (2015) também destacou
as maneiras pelas quais as
bibliotecas nos EUA estão mudando
em resposta ao desejo das pessoas
de usá-las para fornecer novos
serviços. Como os exemplos na
próxima seção também enfatizam,
muitas
iniciativas
enfocam
especialmente as maneiras pelas
quais novos tipos de bibliotecas
podem servir às comunidades
marginalizadas.
Nunca se deve esquecer que as
pessoas
marginalizadas
com
poucos recursos ainda têm um
conhecimento muito poderoso. É
apenas um tipo de conhecimento
diferente do conhecimento que os
ricos consideram importante. Essa
dissertação sugere que ambos os
tipos de conhecimento devem ser
considerados como igualmente
"valiosos" em qualquer tipo de
discurso de desenvolvimento.
Desigualdades: ver e ouvir os
pobres e marginalizados
Ao contrário dos ODMs, o ODS 10
fornece um quadro muito mais claro
do que considera desigualdade, e
nos últimos anos tem havido alguma
evidência de que as agências da
ONU e alguns governos estão
reconhecendo a necessidade de
equilibrar o crescimento econômico
com a atenção à desigualdade,
mesmo que apenas por causa da
constatação de que as desigualdades
crescentes prejudicam o crescimento
(Cingano, 2014; UNESCO, 2018). Há,
assim, uma compreensão saudável e
crescente de que a pobreza e a
desigualdade não devem ser vistas
apenas em termos econômicos. As
formas
como
as
diferentes
características humanas e dimensões
da vida se cruzam e reforçam a
pobreza suscitaram um interesse
renovado, destacando como certos
grupos de pessoas tendem a ser
constantemente marginalizados. Os
processos associados ao crescimento
econômico, especialmente como
resultado do surgimento de novas
tecnologias digitais, trabalham para
mantê-las na pobreza. Entre essas
pessoas estão incluídas as que
apresentam deficiência, jovens fora
da escola (crianças em risco de viver
e trabalhar nas ruas), meninas e
mulheres
(especialmente
em
sociedades patriarcais tradicionais),
minorias étnicas e refugiados.
É muito importante que as vozes
desses indivíduos e comunidades
marginalizados sejam ouvidas, não
só dentro dos países onde vivem,
mas também globalmente na
formulação de políticas e iniciativas
tais como o próprio processo dos
ODSs. As suas histórias têm de
estar
nas
bibliotecas
dos
funcionários públicos e dos atores
políticos, que por sua vez têm de
começar a
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
39
�desenvolver estratégias com os mais virtuais e digitais desde a sua
marginalizados e não para os mais origem, em meados da década
marginalizados.
de 1990, tenha tido muitos
benefícios, tais como a não
ocupação de muito espaço físico
Necessidades, acesso, experiência
(continua a ser necessário que os
e utilização
A presença de uma biblioteca, real ou servidores
hospedem
o
virtual, não significa necessariamente conteúdo),
a
disponibilidade
que irá beneficiar os marginalizados e permanente, a facilidade de
reduzir as desigualdades. Ao nível mais pesquisa, a possibilidade de
simples, se as pessoas não souberem preservação de textos e imagens
como acessar uma biblioteca, não e o fornecimento de recursos
poderão se beneficiar do seu conteúdo, multimídia,
subsistem
ainda
se não puderem ler o texto, não muitas questões sobre como elas
poderão aprender com ele; se não devem
ser
financiadas,
o
houver nada de relevante para as suas equilíbrio
entre
conteúdos
necessidades, não serão capacitadas. abertos e proprietários, a medida
Por inúmeras vezes, as iniciativas das em que permitem a interação
bibliotecas
e
as
soluções
de comunitária e, em última análise,
aprendizagem
online
foram se aumentam ou reduzem as
desenvolvidas para as pessoas pobres, desigualdades. Embora algumas
na esperança de que os seus
conteúdos mudem vidas para melhor,
mas como esses esforços não
compreenderam
os
princípios
fundamentais da necessidade, acesso,
experiência
e
utilização,
não
conseguiram fornecer os resultados
pretendidos. Isso levou a um
ressurgimento do interesse pelos
significados da alfabetização e ao
reconhecimento de que ela deve agora
ir muito além da capacidade de ler
textos em uma página para incluir a
alfabetização digital, ou as habilidades
necessárias para acessar conteúdo
online e dar sentido a ele (Wagner,
2011, 2017). Se as pessoas não
conseguem acessar as tecnologias
digitais e depois encontrar o conteúdo
ou a informação que lhes possa ser útil,
também nunca irão se beneficiar do
potencial que foi criado.
Bibliotecas como lugares
As tecnologias digitais transformaram a
compreensão de lugar e espaço.
Tradicionalmente,
as
bibliotecas
públicas eram lugares físicos onde as
pessoas iam ler, estudar, obter
informações
ou
pedir
livros
emprestados. Eram lugares onde se
formavam comunidades e onde se
fomentavam grupos de leitura ou de
aprendizagem. Progressivamente, à
medida que as tecnologias digitais se
tornam mais populares e os conselhos
locais reduzem as despesas, muitas
dessas bibliotecas entram em crise. No
Reino Unido, por exemplo, foi relatado
em 2016 que quase 350 bibliotecas
haviam fechado nos últimos seis anos,
com perda de 8.000 empregos (The
Guardian, 2016; mas veja também
Horrigan, 2015). Embora a rápida
expansão das bibliotecas
40
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
estejam sendo transformadas em
centros digitais, muitas vezes são os
já privilegiados que mais se
beneficiam com isso, em vez dos
mais pobres e marginalizados.
A necessidade de evidências e dados
Os desafios da evidência na seção
anterior destacam a importante
necessidade de mais dados e
evidências para chegar a decisões
sobre o impacto relativo de
diferentes tipos de soluções
bibliotecárias para reduzir a
desigualdade. Como observam
Garrido e Fellows (2017), é notável
que os ODSs não mencionem o
acesso à informação como um fator
específico
na
redução
da
desigualdade. Por conseguinte, é
necessário
O Movimento Indiano das Bibliotecas Públicas (IPLM na sigla em inglês)
O acesso a informações relevantes e úteis tem sido um desafio para as pessoas
pobres e as comunidades marginalizadas na Índia. Tradicionalmente, o acesso à
informação estava voltado para as elites, e as bibliotecas públicas têm
desempenhado um papel importante na democratização desse acesso. No
entanto, a oferta de bibliotecas é espacialmente variável, com 80 a 90% das
bibliotecas públicas localizadas em apenas seis estados indianos, principalmente
no sul; muitas delas também têm acesso limitado para os usuários e, muitas
vezes, oferecem apenas um serviço de referência e de empréstimo tradicional.
O IPLM foi, portanto, criado para revitalizar as bibliotecas públicas da Índia e
trazê-las de volta ao convencional como centros de conhecimento e de
informação inclusivos. Experiências de outros centros de serviços multimídia em
diversos lugares do mundo indicam que eles têm o potencial de fornecer muitos
serviços diferentes. Os programas IPLM em curso fornecem sessões de
conscientização de saúde, conteúdo educacional e orientação vocacional tanto
online como nos locais em que eles estão situados. É também dada especial
atenção à formação relevante dos bibliotecários, para que estes tenham as
competências necessárias para ajudar os usuários a se beneficiar dos seus
recursos e informações. No entanto, os custos envolvidos são elevados, e muito
do seu trabalho inicial foi financiado por agências externas, como a Fundação Bill
e Melinda Gates.
�Inúmeras vezes, as iniciativas das bibliotecas e as soluções de aprendizagem online
foram desenvolvidas para as pessoas pobres, na esperança de que os seus
conteúdos mudassem vidas para melhor, mas como esses esforços não entenderam
os princípios fundamentais da necessidade, acesso, experiência e utilização, não
conseguiram fornecer os resultados pretendidos.
que haja muito mais exploração e
investigação sobre as formas pelas
quais esse acesso, especialmente
por meio de bibliotecas físicas e
virtuais, pode permitir que as
pessoas e comunidades mais
marginalizadas e vulneráveis sejam
beneficiadas.
Também
são
necessários muito mais dados
sobre a utilização de "bibliotecas" e
repositórios digitais por pessoas
marginalizadas, e até que ponto
essa utilização pode reduzir as
desigualdades, para que se possam
criar
melhores
políticas
de
desenvolvimento
baseadas
no
conhecimento.
muito
considerável
e
uma
mudança na mentalidade de quem
defende o uso das TICs para atingir
os ODSs, longe da ênfase no
crescimento econômico e rumo à
redução das desigualdades.
As tecnologias móveis constituem
um meio muito importante de
comunicação e de partilha de
conhecimentos,
havendo
atualmente mais assinaturas de
serviços móveis do que pessoas
no planeta. No entanto, esse uso é
espacialmente muito variável,
continuam a ser um meio valioso pelo
qual as pessoas mais marginalizadas
podem efetivamente acessar e utilizar
tecnologias e recursos digitais.
Quando esses são verdadeiramente
multifuncionais e multimídia, podem
de forma efetiva servir como locais
onde as pessoas em áreas isoladas
podem acessar conhecimentos de
saúde, educativos, culturais e
econômicos e partilhar as suas
próprias experiências online, se assim
o desejarem. Contudo, devem ser
adequadamente planejados e
Bibliotecas que abordam
as desigualdades
As fronteiras entre o virtual e o
real, e mesmo entre os seres
humanos e as máquinas em geral,
estão se tornando cada vez mais
indistintas. No entanto, esses
conceitos retêm valor e são
particularmente úteis para ajudar
a
compreender
como
as
bibliotecas podem abordar as
desigualdades.
O virtual…
A explosão de informação e
recursos de aprendizagem online
ao longo da última década tem sido
notável, e muitas pessoas agora
têm literalmente o conhecimento do
mundo na ponta dos dedos por
intermédio da internet. Entretanto,
quase
metade
(48,8%)
da
população mundial ainda não está
usando a internet (ITU, 2018). As
tecnologias digitais continuam a
servir
principalmente
às
necessidades e interesses das
pessoas mais ricas e não das mais
pobres. Assim, para reduzir as
desigualdades,
é
essencial
aumentar o acesso, permitir que as
pessoas possam utilizar esses
recursos de informação e que os
conteúdos sejam relevantes para
as suas necessidades. Todos
esses três exigem um esforço
com os países africanos e outros
estados
menos
desenvolvidos
apresentando ainda taxas muito
mais
baixas.
Embora
essas
tecnologias possam ser utilizadas
para aumentar a partilha de
conhecimentos relevantes entre os
mais marginalizados, é necessário
fazer muito mais para apoiar e
implementar políticas e iniciativas
que se concentrem nessa questão.
… e o real
Os telecentros multifuncionais têm
sido amplamente criticados e
podem muito bem ser apenas uma
característica
transitória
da
passagem de modelos comunitários
para modelos individuais de
atividade humana. No entanto,
demonstraram
uma
resiliência
considerável (como nesta ilustração
de um telecentro em Bario, uma
comunidade isolada em Sarawak), e
dotados de recursos e devem ser
tomadas medidas para atenuar os
numerosos aspetos negativos da
utilização digital, especialmente para
as crianças (UNICEF, 2017).
No entanto, as bibliotecas são muito
mais do que apenas locais onde a
informação e o conhecimento são
transacionados.
Elas
também
desempenham
papéis
sociais,
culturais e políticos importantes. Em
um mundo digital cada vez mais
individualizado,
dominado
pelo
intercâmbio
econômico,
elas
continuam a ser lugares onde a alma
de uma sociedade pode ser
encontrada e moldada.
Enfrentamento dos obstáculos
Se ignorarmos os pobres em nosso
meio, perdemos nossa humanidade e
nossas almas. Para quem acha que
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
41
�é errado que 26 pessoas –
principalmente do sexo masculino
(n=25) dos EUA (n=15), das quais pelo
menos 10 fizeram fortuna no setor de
tecnologia – possuam o equivalente ao
que têm os 3,8 bilhões de pessoas mais
pobres do mundo (Oxfam, 2019), os
obstáculos que impedem o progresso
rumo ao ODS 10 devem ser
identificados e superados. Três
principais passos são essenciais:
Reconhecer que a redução das
desigualdades tem a ver com a
vontade de fazer, e não com
dinheiro. Para que o sistema da
ONU como um todo, bem como
líderes específicos de governos,
comecem
a
reduzir
as
desigualdades em seus
estados, é preciso que se
concentrem nesse objetivo acima da
recente ênfase que foi colocada no
crescimento econômico. Deixar de
fazer não só é moralmente errado,
como terá um impacto muito
significativo no sistema econômico
global, na coesão social e na
estabilidade política.
Alcançar acesso universal a preços
acessíveis à conectividade digital
de alta qualidade. Em um mundo
cada vez mais dominado pelo
compartilhamento de informação
via tecnologias digitais, é essencial
que estas sejam acessíveis,
confiáveis
e
suficientemente
rápidas em todo lugar, para que as
pessoas e comunidades pobres e
marginalizadas
possam
potencialmente se beneficiar da
aquisição dos conhecimentos que
elas permitem.
Servir os interesses dos pobres e
marginalizados. O acesso por si
só, porém, é insuficiente. As
oportunidades de informação e
comunicação proporcionadas pela
tecnologia devem ser relevantes
para as necessidades dos mais
marginalizados, que, por sua vez,
devem poder utilizá-las para seu
próprio empoderamento. É aqui
que os bibliotecários e bibliotecas,
virtuais e reais, continuam a ter um
papel crucial para a melhor
formação de sociedades.
Microbibliotecas: um exemplo de Portugal
Ao contrário dos problemas enfrentados pelas grandes bibliotecas
tradicionais, o movimento das microbibliotecas reflete uma abordagem mais
ascendente e comunitária ao compartilhamento de conhecimento. Em muitos
casos, como em Portugal e no Reino Unido, isso tem sido apoiado por
fundações de empresas de telecomunicações, oferecendo antigas cabines
telefônicas para utilização como microbibliotecas, reforçando mais uma vez a
ligação entre as TICs e a partilha de conhecimento, embora num idioma muito
diferente. Em Portugal, por exemplo, a Fundação PT (2018) "reutiliza as
antigas cabines telefônicas e estabelece parcerias com autarquias locais e
outras instituições, para a adaptação, colocação e promoção de
microbibliotecas que visam reforçar os laços comunitários, promover a
cidadania, incentivar a leitura e promover o amor pelo livro num espaço
totalmente inesperado". Desde o final dos anos 2000, tais iniciativas
floresceram globalmente, com o movimento Pequena Biblioteca Gratuita
[Little Free Library] afirmando ter atingido cerca de 75.000 bibliotecas
registradas em 85 países até 2018, e outras iniciativas, como o Projeto
Parada do Livro [The Book Stop Project] nas Filipinas, criando redes de
espaços móveis para redes de bibliotecas instantâneas [pop-up] em áreas
urbanas (Rhodes, 2018).
42
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
43
�DA2I
44
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 6
Acesso à informação e mudança
climática
A Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) adotou os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) universais em 2015. Os 17 ODSs abordam
os três aspectos da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. A ONU
pretende atingir as metas definidas o mais tardar até 2030. Os ODSs são de
relevância universal, ou seja, as nações em todos os níveis de desenvolvimento
estão igualmente comprometidas com a sua implementação.
KARL FALKENBERG
Professor e Palestrante Independente, ex-DiretorGeral para o Meio Ambiente, Comissão Europeia
Os ODSs fazem parte da Resolução 70/1 da ONU, que estabelece a Agenda
para o Desenvolvimento Sustentável para transformar o mundo. Destaca em
particular as pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e a parceria. Reconhece
que o mundo enfrenta enormes desafios de desigualdade, degradação
ambiental global e insegurança. Requer às nações que trabalhem para a
realização dos objetivos por meio de uma parceria global revitalizada, baseada
num espírito de solidariedade global reforçada, destinada a não deixar ninguém
para trás. Dá importância à governança democrática e à participação de todas
as partes interessadas e de todas as pessoas. A plena participação das pessoas
requer empoderamento, alfabetização e acesso à informação.
Entre os muitos desafios que o planeta enfrenta, as alterações climáticas são
verdadeiramente globais. A ciência compreendeu como a atividade humana
nesse planeta, largamente baseada em fontes de energia fósseis, está poluindo
sua atmosfera, conduzindo assim a um aumento mais rápido da temperatura
global por que o planeta jamais passou. Para esse processo, é irrelevante onde
as emissões de gases de efeito estufa são produzidas, todas essas emissões
na atmosfera contribuem igualmente para o aquecimento. Os cientistas referemse aos últimos 70 anos como a grande aceleração. A população mundial
explodiu de 3 bilhões em 1950 para mais de 7 bilhões atualmente e espera-se
que cresça para mais de 10 bilhões em 2050. Os padrões de produção e
consumo humanos estão exercendo uma forte pressão sobre os limitados
recursos naturais do nosso planeta. Os ciclos do fosfato e do nitrato estão
atingindo níveis críticos e a água potável e os solos férteis estão sob pressão,
bem como os ecossistemas e a biodiversidade. E a mudança climática já está
acontecendo, como evidenciado pelas condições climáticas mais extremas do
planeta.
É importante observar que os efeitos das alterações climáticas não são iguais
em todos os continentes do planeta. Embora seja verdade que as alterações
climáticas conduzem ao aquecimento global, é necessário compreender que
esse efeito é considerado com base em uma média. Isso não significa
explicitamente que as temperaturas estarão subindo de forma linear em todos
os lugares do planeta. A realidade individual é definida pelas condições
climáticas locais. O aquecimento global modificará essas condições climáticas
de forma dramática, tornando o clima local mais errático e mais extremo. O
planeta passará por ventos mais fortes e furacões que serão potencializados por
águas oceânicas mais quentes; períodos de chuvas mais fortes, mas também
secas mais longas; mudanças dramáticas de temperatura em zonas tropicais; e
invernos potencialmente mais rigorosos em zonas temperadas. A tradução
precisa do aquecimento global em condições climáticas do dia-a-dia local ainda
é um desafio científico, mas está ficando claro que a parte mais pobre do planeta
provavelmente será a mais atingida. Em primeiro lugar, porque quase todo o
crescimento demográfico recente do planeta ocorreu no mundo menos
desenvolvido, e essa tendência continua. A Índia, a China, o Sudeste Asiático,
o Brasil e o México passaram por esse crescimento, e a África está em processo
de juntar-se ao grupo — colocando-nos no caminho para mais de 10 bilhões de
homens e mulheres no planeta até 2050. Esse crescimento ocorreu em grande
parte nas zonas tropicais, onde o aquecimento tornará as condições de vida
particularmente difíceis.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
45
�Muito mais pessoas precisam de acesso à informação. Elas precisam da
capacidade de compreender a comunicação e de mudar o seu comportamento
individual. Elas também precisam claramente traduzir o seu conhecimento
aperfeiçoado em direito democrático de eleger líderes que façam a coisa certa.
Em segundo lugar, trata-se de
regiões pobres, com pessoas que
não
dispõem
dos
recursos
financeiros para se protegerem
contra os efeitos das alterações
climáticas. Algumas ilhas baixas e
regiões costeiras serão submersas
pela elevação do nível do mar,
chuvas como as das monções
destruirão casas, e períodos
prolongados de seca conduzirão a
uma escassez extrema de água
potável. A produção de alimentos
também será substancialmente
prejudicada. As populações pobres
serão as mais afetadas pela
destruição
progressiva
dos
ecossistemas mundiais e pela
insuficiente
capacidade
de
fornecimento de alimentos e bebidas
ao ser humano.
O que é preciso fazer?
Precisamos agir para mitigar as
causas das alterações climáticas
provocadas
pelo
homem
e
precisamos
adaptar-nos
às
consequências inevitáveis do que já
provocamos. Essas ações devem ser
coordenadas em nível global. A
Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança Climática
(UNFCCC na sigla em inglês) busca
alcançar um consenso entre as
nações sobre quais medidas urgentes
são necessárias. Mas ainda temos
uma série de líderes mundiais que
negam o óbvio, e muitos indivíduos
têm consciência insuficiente sobre as
consequências da situação atual. São
necessárias melhoras substanciais
do lado do conhecimento, bem como
esforços importantes de atenuação
para reduzir substancialmente a
utilização de combustíveis fósseis
nas economias mundiais. Fontes
alternativas de energia estão sendo
desenvolvidas, com um forte enfoque
na eficiência, num esforço para viver
com menos dependência desse
recurso. A produção de alimentos
também contribui substancialmente
para as mudanças climáticas. As
dietas humanas com menos ênfase
em carne, em açúcar e em sal podem
contribuir para abrandar as alterações
46
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
climáticas. O setor dos transportes é
também, na sua forma atual, um
grande contribuinte para as emissões
de CO². E o grande setor da
habitação precisa tornar-se mais
eficiente em termos energéticos, por
intermédio de melhores sistemas de
aquecimento e arrefecimento e de
melhor isolamento.
É importante ressaltar que os pontos
de ruptura conhecidos precisam ser
evitados, porque se ultrapassados,
eles acelerariam drasticamente a
mudança climática. Um exemplo
significativo é o risco de liberação de
quantidades muito substanciais de
metano, hoje capturado sob o gelo
permanente. O metano é um gás com
efeito estufa 30 vezes mais forte do
que o CO². A ciência está enfatizando
todos esses efeitos de forma mais
precisa.
É aqui que a ligação com a
informação, a alfabetização e a
educação fica óbvia. Muito mais
pessoas precisam de acesso à
informação. Elas precisam da
capacidade de compreender a
comunicação e de mudar o seu
comportamento individual. Elas
também
precisam
traduzir
claramente
seu
conhecimento
aperfeiçoado em direito democrático
de eleger líderes que façam a coisa
certa. O que o planeta precisa é de
acesso significativo à informação, ou
seja, informação clara e confiável,
que tenha sido revista por pares
quanto à sua qualidade científica e
verificada profissionalmente quanto
à sua verdade — um grande desafio
na era das notícias falsas e fatos
alternativos! A mídia jornalística terá
de
desempenhar
um
papel
importante, mas as comunidades
locais
podem
ou
precisam
desenvolver
sua
própria
compreensão
com
base
em
informações
escritas.
Aqui
novamente, as bibliotecas podem
desempenhar
um
papel
na
apresentação de acesso não filtrado
à mais ampla gama de escritos
científicos.
A informação está disponível hoje numa
magnitude sem precedentes. Os painéis
científicos internacionais, como a
Plataforma Intergovernamental sobre
Alterações Climáticas (IPCC), reúnem
cientistas qualificados de várias áreas da
ciência, bem como de vasta área
geográfica e, certamente, dependem do
acesso à informação científica global e
atualizada. Eles produzem modelos
revisados por pares que não só explicam
as causas profundas das mudanças
climáticas, mas também fornecem
ferramentas de análise que preveem com
crescente
probabilidade
as
consequências da inação. Muitas partes
do planeta tornar-se-ão inabitáveis para a
humanidade, devido ao aumento das
temperaturas, secas, elevação do nível
do mar etc. Com as mudanças
tecnológicas, o acesso à informação hoje
em dia depende mais frequentemente
dos instrumentos de pesquisa digital.
Basicamente, substituímos a palavra
"pesquisa" por "Google". É tão fácil,
quando há acesso à internet. Mas poucas
pessoas entendem que sua pesquisa é
filtrada por meio de algoritmos, que
tentam oferecer informações que
confirmam, em vez de desafiar, as
opiniões mantidas anteriormente. Esses
sistemas dividem eficazmente as nossas
sociedades de uma forma sem
precedentes, criando mesmo a aceitação
de fatos alternativos, um conceito
completamente errôneo.
As bibliotecas devem desempenhar um
papel importante na resolução desse
problema. Elas podem ajudar as pessoas
a verificar as informações sem um filtro e
a ter acesso a todo o espectro do
conhecimento científico. É claramente
mais difícil fingir nos EUA que as
alterações climáticas são apenas um
truque chinês/europeu para enfraquecer
a economia estadunidense, quando a
NASA e seus serviços militares estão
entre as principais fontes das alterações
climáticas em curso e das expectativas de
desenvolvimentos futuros. Confrontar
concepções errôneas com evidências
revisadas por pares de uma ampla gama
de fontes independentes parece-me
representar a melhor esperança de
�chegar a uma avaliação racional da
realidade, em vez de crenças
ideológicas. Pode-se argumentar
que a mudança dramática das
condições meteorológicas pode ser
observada
também
pelos
desinformados. Muitas comunidades
tradicionais que sobrevivem da
natureza para obter comida e bebida
de fato notarão a mudança.
Perceberão a migração de animais,
tanto em terra como nos mares,
devido ao aquecimento global.
Notarão que árvores e florestas
inteiras estão deslocando-se para
áreas anteriormente mais frias e que
suas
culturas
típicas
estão
desaparecendo. Isso pode ser
evidente para as pessoas que ainda
vivem da natureza, mas menos para
as muitas que se mudaram para as
megacidades, mas o que é
necessário
para
todos
é
compreender a ligação direta entre a
atividade humana e as alterações
climáticas. Onde a atitude das
pessoas ainda é influenciada
principalmente
pelo
fatalismo
religioso, é difícil argumentar a favor
da mudança dos padrões de
produção e consumo humanos.
Quando
as
pessoas
não
compreendem
a
importante
capacidade de vinculação dos gases
do efeito estufa com as zonas
úmidas, solos, florestas e oceanos,
continua a ser difícil convencê-las de
que esses ecossistemas precisam
ser protegidos. É preciso ter
consciência de que o lixo plástico
pode ser uma ameaça direta à vida
na terra e nos oceanos, pondo em
risco a própria sobrevivência da
humanidade no planeta.
O mesmo raciocínio aplica-se às
medidas de adaptação necessárias.
Abandonar terras para serem
utilizadas como área de transbordo
para os rios é politicamente difícil.
Impedir a construção em áreas
conhecidamente
inundáveis
é
igualmente difícil. Como dito certa
vez por um ministro europeu do Meio
Ambiente: investir em proteção
contra as inundações é impopular
porque significa aumentar os
impostos. Aparecer em áreas
inundadas com botas de borracha e
mostrar empatia é muito popular!
Pessoas desinformadas tendem a
tomar decisões desinformadas! As
bibliotecas são, mais uma vez, uma
importante fonte de informação
sólida, sempre que possível com
revisão por pares. E torna-se
absolutamente necessário que as
bibliotecas
sejam
devidamente
geridas, mostrando da forma mais
transparente possível a literatura
disponível sobre as alterações
climáticas. As bibliotecas também
poderiam procurar orientar as
pessoas na direção dos artigos ou
livros mais revisados por pares e
organizar oficinas em torno das
soluções
discutidas
multilateralmente para mitigação e
adaptação. A literatura também
está repleta de sugestões de
soluções
inteligentes
para
adaptação.
O
papel
dos
manguezais para proteger as
costas e a manutenção das
florestas terrestres são apenas dois
exemplos. Os manguezais e as
florestas aglutinam CO² e servem
também como dissipadores desse
elemento. As florestas tendem a
manter o solo da melhor forma, em
particular no que diz respeito à
absorção de água. Isso ajuda a
prevenir inundações após chuvas
fortes,
ou
até
mesmo
deslizamentos. As árvores nas
cidades têm um efeito de ar
condicionado, tornando as ondas
de calor mais toleráveis à saúde
humana.
No caso de todos os 17 ODSs, é
verdade que o Objetivo 13 (Ação
Climática) não pode ser alcançado
isoladamente. Não garantiremos as
medidas de mitigação e adaptação
necessárias se não combatermos
com êxito a pobreza e a fome, se
não oferecermos condições de
trabalho dignas às pessoas, se não
eliminarmos a discriminação de
gênero, se não capacitarmos as
pessoas em formas democráticas
de
governança,
se
não
protegermos os ecossistemas em
terra e nos nossos oceanos etc.
Precisamos superar a mentalidade
de
silo
(pensamento
individualizado) que predomina em
nosso
mundo
altamente
especializado. Na Europa, as
ONGs
verdes
pressionaram
durante anos pelo uso de motores
diesel, acreditando que eles eram
mais eficientes e emitiam menos
gases de efeito estufa. Descobriuse então que os motores a diesel
emitem mais nitratos e mais
partículas finas, e são a principal
causa
das
400.000
mortes
prematuras por ano devido à má
qualidade do ar ambiente nas
cidades europeias. É preciso evitar
desenvolver
soluções
para
problemas específicos sem testar
essas soluções em relação a toda a
lista de ODSs. Isso pode parecer
ambicioso, mas é o único caminho
seguro para um futuro sustentável para
a humanidade nesse planeta azul.
Algumas dessas coisas podem parecer
óbvias para os informados. Mas o
planeta está povoado por pessoas que
nunca ouviram falar das descobertas
científicas e do grande consenso em
torno das causas das alterações
climáticas e das suas ameaças cada
vez maiores. Isso não é uma crítica;
infelizmente, continua a ser uma
realidade. As pessoas diretamente
expostas aos efeitos visíveis das
alterações climáticas tendem a
perceber que algo está errado. Mas
não é do conhecimento geral que a
atividade humana é uma das principais
causas da mudança dramática. O
elevado número de seres humanos no
planeta deveria ser mais amplamente
reconhecido
como
um
fator
contribuinte. Nos anos 1950, o planeta
era povoado por 3 bilhões de pessoas.
Hoje somos 7 bilhões e esperamos
ultrapassar os 10 bilhões nos próximos
20 a 30 anos. A capacidade de carga
do planeta azul chamado Terra está-se
tornando seriamente dilatada! Quase
todo o crescimento demográfico está
ocorrendo
em
países
menos
desenvolvidos. A demanda por
recursos para uma vida decente está
crescendo exponencialmente! A maior
parte da atual qualidade de vida na
parte industrializada do mundo é
alimentada por recursos energéticos
fósseis. Muitos dos nossos alimentos
são produzidos à custa das florestas e
das zonas úmidas, e as nossas dietas
com base em carne não apenas são
pouco saudáveis para os que
desfrutam de um bife por dia, como
também constituem uma grande fonte
de emissões dos gases de efeito
estufa.
Como pode uma melhor forma de
governo lidar com todos esses
desafios? A resolução da ONU sobre
os ODSs destaca o papel da
governança democrática e do respeito
pelo estado de direito. Ambos os
conceitos necessitam de cidadãos
informados para exercerem seus
direitos democráticos e reivindicarem
seus direitos individuais ao abrigo do
estado de direito imparcial. Informação
e educação são cruciais para ambos. E
as bibliotecas são uma ferramenta
fantástica
para
compartilhar
conhecimento
humano.
Não
surpreende que os regimes ditatoriais
tendam a destruir livros e bibliotecas,
como ficou demonstrado durante o
reinado fascista na Alemanha ou, mais
recentemente, durante a ocupação dos
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
47
�extremistas islâmicos e a destruição
parcial de Timbuktu.
Ao longo dos séculos, o acesso às
bibliotecas tornou-se mais aberto,
compartilhando conhecimento muito
além de um pequeno número de
elites. Combater o analfabetismo
continua a ser dramaticamente
importante. Os ODSs representam
uma tentativa de superar a
crescente especialização do mundo
de hoje. O mundo precisa de
especialistas para avançar o
conhecimento coletivo. Mas o
mundo
também
precisa
de
generalistas que compreendam as
línguas dos especialistas e os levem
a
interagir
para
avaliar
adequadamente
todas
as
consequências, não apenas os
efeitos individuais da mentalidade de
silo. Exemplos da falta de uma
análise holística são abundantes.
48
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
A mudança para motores diesel em
carros na Europa foi motivada
também pela luta contra a mudança
climática, sem considerar a
significativa
poluição
do
ar
ambiente pelas emissões de
nitrogênio e partículas finas. Da
mesma forma, na transição para as
energias renováveis, a introdução
de grandes barragens para a
produção de eletricidade muitas
vezes não leva em conta as
necessidades de água potável das
populações a jusante, para não
falar dos problemas das zonas
úmidas a jusante e da agricultura.
As políticas sustentáveis terão de
ser políticas holísticas. Os 17 ODSs
têm impacto uns sobre os outros, e
apenas
as
políticas
que
efetivamente consideram todas as
questões de forma equilibrada
acabarão
por
conduzir
a
sociedades sustentáveis.
Os conhecimentos científicos sobre
essas interações estão crescendo e
sendo documentados, por exemplo,
sob a forma do vínculo agroalimentar
ou de uma compreensão mais
profunda do funcionamento dos muitos
ecossistemas do planeta. É importante
que o maior número possível de
pessoas tenha acesso a essas
descobertas, a fim de chegar às
conclusões
adequadas
ao
seu
comportamento pessoal e, talvez ainda
mais importante, utilizar seu direito de
voto em governos que buscarão
políticas
sustentáveis.
Continuo
convencido de que a urgência de
implementar
mudanças
para
a
sustentabilidade exige regulamentação
governamental.
A mudança de
comportamento individual de mais de 7
bilhões
de
pessoas
levará
simplesmente demasiado tempo para
manter o aquecimento global abaixo
dos 2 graus Celsius.
�DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
49
�DA2I
50
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Capítulo 7
Objetivo 16: A paz, a justiça e as instituições
fortes dependem do acesso à informação
As últimas duas décadas presenciaram mudanças significativas na percepção
dos benefícios e perigos da tecnologia. Essas mudanças refletem a complexa
relação entre as capacidades das tecnologias digitais de hoje, como são
reguladas e controladas, e nossa capacidade de atingir o ODS 16.
DOROTHY GORDON
Presidente do Programa Informação para Todos
da UNESCO
As preocupações extrapolaram o acesso, a razoabilidade de preços e vários
tipos de fossos digitais para agora incluir assimetrias de informação,
neutralidade da rede, domínio de plataforma, modelos de negócios de
exploração de dados, viés algorítmico, preocupações com privacidade e
segurança, bem como notícias falsas. O poder das redes sociais para
informar e mobilizar a sociedade civil celebrada durante a "Primavera
Árabe" está agora justaposto contra a manipulação da opinião pública e o
"municiamento" das mesmas plataformas no contexto das eleições. Por
exemplo, o escândalo da Cambridge Analytica1, amplamente coberto pela
mídia convencional, fornece insights reais sobre os negócios de "perfis" de
mídias sociais.
SDG 16
Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar acesso à justiça para todos e construir
instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveisi.
16.10: Assegurar o acesso público à informação e proteger as
liberdades fundamentais, em conformidade com a legislação
nacional e os acordos internacionais.
Ferramenta que também é usada para radicalizar a juventude e promover o
extremismo violento na sociedade civil, a mídia social trouxe muitos à
percepção de que a concentração de poder na "grande tecnologia" (os
principais atores tecnológicos, baseados principalmente nos EUA e na
China, que dominam a curadoria, acesso e controle da informação) merece
maior atenção. Ao mesmo tempo, a rápida implantação de combinações de
novas tecnologias que medeiam o acesso à informação – como a
inteligência artificial, a Internet das coisas e, naturalmente, o big data
(grandes volumes de dados) – reforça a necessidade de dispor de um
público mais bem informado e empenhado, capaz de fazer escolhas
tecnológicas que sejam do seu interesse.
Este capítulo enfocará os aspectos da governança do ecossistema de
informação e o potencial para um maior envolvimento cívico em torno das
questões de acesso público à informação e, em particular, o Objetivo 16.10.
As recomendações centram-se no papel das bibliotecas para educar, informar
e engajar desde a comunidade até aos níveis globais.
Sociedades do conhecimento inclusivo - UNESCO
A internet foi originalmente concebida como um bem público. A "abertura" que
nos permite criar conteúdo, inovar e acessar informações online está sob
constante ameaça e ataque de uma série de forças, incluindo a "grande
tecnologia", entre outros. Como afirma o Relatório de Saúde da Internet 2019
do Mozilla:
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
51
�Como as guerras começam nas mentes dos homens e das mulheres, é nas mentes dos
homens e das mulheres que as defesas da paz devem ser construídas. Constituição da
UNESCO
"... em 2019, a abertura da internet
está tão radical -- e tão ameaçada -como nunca antes. Os governos de
todo o mundo continuam a restringir o
acesso à internet de diversas
maneiras, desde a censura total até a
exigência de pagamento de impostos
para usar a mídia social, passando
pelo fechamento ou desaceleração da
internet para silenciar a dissidência.
Poderosos lobistas estão ganhando
lutas por regimes de direitos autorais
mais
restritivos,
e
grandes
plataformas
tecnológicas
nos
prendem a sistemas proprietários."2
Essas realidades recordam-nos a
necessidade de nunca considerar os
nossos direitos como garantidos.
A UNESCO é uma organização
multilateral dentro do sistema da ONU
que defende vigorosamente uma
internet livre e aberta através da
cooperação internacional, capacitação
e assistência técnica aos seus EstadosMembros. 3 Há muitos anos que está
engajada nessa agenda, enfatizando o
potencial da internet dentro de seu
objetivo de desenvolver "sociedades do
conhecimento inclusivas baseadas na
liberdade de expressão, no acesso
universal
à
informação
e
ao
conhecimento,
no
respeito
à
diversidade cultural e linguística, bem
como na educação de qualidade para
todos".4
A UNESCO e suas organizações
irmãs da ONU, como a União
Internacional de Telecomunicações,
desempenharam
um
papel
fundamental na Cúpula Mundial
sobre a Sociedade da Informação
(CMSI, 2003 e 2005), que mapeou
as implicações da tecnologia da
informação para o desenvolvimento,
incluindo a internet, e reforçou as
abordagens
multissetoriais
na
governança
da
internet.
O
envolvimento
continua
por
intermédio do fórum anual da CMSI
e das reuniões e conferências
regulares convocadas sobre o
acesso à informação na era digital.
A UNESCO está comprometida com a
construção
de
sociedades
do
conhecimento sustentáveis por meio de
seus principais programas, incluindo os
intergovernamentais, como o Programa de
Informação para Todos da UNESCO
[Information for All Programme - IFAP]. A
IFAP foi fundada quando os governos
membros e parceiros se comprometeram a
aproveitar as novas oportunidades da era
da informação para criar sociedades
equitativas por meio de um melhor acesso
à informação.5 Em 2011, a IFAP lançou um
código de conduta para a internet que
permanece relevante até hoje.
Trecho do Código de Ética da IFAP para a Sociedade da
Informação 36 C/49 Anexo
O Conselho Intergovernamental do Programa Informação para Todos da
UNESCO .... tem por base um conjunto de valores, direitos básicos e
obrigações na sociedade da informação que devem nortear as ações e
serem observadas pelos membros da sociedade da informação.
1. A Internet em particular e as TICs em geral devem ser reconhecidas
como um serviço público fundamental para a construção de uma sociedade
da informação centrada nas pessoas, inclusiva e orientada para o
desenvolvimento. Elas são cruciais para promover o exercício e o gozo dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais universalmente
reconhecidas.
[…]
4. A informação deve ser disponibilizada, acessível e a preços razoáveis a
todos os grupos linguísticos, culturais e sociais e a ambos os sexos,
incluindo as pessoas com deficiências físicas, sensoriais ou cognitivas e as
pessoas que falam línguas minoritárias. A Internet e outras TICs servirão
para reduzir o fosso digital e implantar tecnologias e aplicativos que
garantam a inclusão.
Domínio da plataformaii
Em uma reunião da Comissão Federal de Comunicações dos EUA realizada em janeiro de 2019, o Presidente do
Subcomitê Antitruste da Câmara dos Deputados, David Cicilline, D-R.I., abriu o programa com palavras fortes sobre
o comportamento anticompetitivo percebido por parte do Google, tanto como guardião quanto por sua explosão de
compra, na qual engoliu empresas menores. Essa "concentração de poder" cria "impactos perniciosos em uma
imprensa livre e diversa", disse Cicilline, especialmente "na ausência de um mercado competitivo". Ele citou
relatórios sobre a capacidade do Google de manipular o tráfego em suas redes de anúncios, bem como com seus
leitores e usuários. Tudo isso afeta "tanto as empresas de notícias tradicionais quanto as editoras digitais", disse
Cicilline. "A internet gratuita e aberta... é incompatível com esta tendência para a centralização online."
"É vital que o Subcomitê Antitruste da Câmara aborde essas questões em uma investigação de cima para baixo
[para determinar] se o uso do poder de mercado prejudica o processo competitivo online", disse ele. "Não podemos
ter uma democracia sem uma imprensa livre e diversa" – que dê aos editores "condições de igualdade para negociar
com plataformas dominantes".
52
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�A IFAP promove ativamente a reflexão
internacional sobre os desafios éticos,
legais e sociais das sociedades do
conhecimento.
Por
exemplo,
a
UNESCO e a IFAP trabalham
ativamente
para
combater
a
radicalização online dos jovens. A
Internet tem sido adotada por grupos
extremistas violentos, cada vez mais
eficazes na utilização das TICs para
promover o ódio e a violência, com base
em motivos étnicos, religiosos e
culturais. Esses grupos utilizam a
Internet para ampliar os seus esforços
de sensibilização e recrutamento,
especialmente entre os jovens, através
da criação de comunidades online de
alcance mundial, nas quais as opiniões
e os comportamentos extremistas
violentos podem ser encorajados. Em
uma observação mais otimista, a IFAP
tem laços de cooperação de longa data
com a IFLA para promover seus
objetivos comuns, incluindo aqueles na
área de alfabetização informacional e
aprendizagem permanente.
Em 2015, os 195 Estados-Membros da
UNESCO comprometeram-se com a
universalidade da internet e quatro
princípios fundamentais que podem ser
resumidos na sigla R.O.A.M. (em
inglês): a internet deve ser:
1. Baseada nos Direitos humanos;
2. Aberta;
3. Acessível a todos, e
4. Alimentada pela participação de
múltiplas partes interessadas.
Esses princípios ROAM ancoram os
indicadores de universalidade da
internet (IUI na sigla em inglês), que são
"destinados como ferramenta de
pesquisa voluntária para que as partes
interessadas reúnam evidências para
avaliar as estruturas nacionais da
internet, particularmente nas áreas de
mandato da UNESCO, para aumentar a
compreensão do ambiente nacional da
internet, e para fornecer uma base de
evidências para a formulação de
políticas pelos governos e outras partes
interessadas".6 A IUI é liderada pelo
IPDC [International Programme for the
Development of Communication –
Programa
Internacional
para
o
Desenvolvimento da Comunicação].7
Se alguém perguntasse a pessoas
comuns sobre os princípios ROAM e
os indicadores de universalidade da
Internet, poucas teriam alguma ideia.
A implantação voluntária da IUI, que
pode mesmo ser feita em nível
comunitário,
talvez
alterará
gradualmente essa situação. A IUI
muda de forma decisiva a discussão
para enfocar a melhora do acesso à
informação
com
vistas
ao
desenvolvimento
sustentável,
distanciando-se de seu foco histórico
em infraestrutura, e lembra-nos da
necessidade de fazer perguntas
importantes, tais como: Quem são os
guardiões do conteúdo? Como se
controla e se cuida do conteúdo? Em
quais línguas estão os disponíveis os
conteúdos na Internet? E como o
acesso
à
informação
difere
dependendo de quem você é e onde
você se encontra? Essas questões
são relevantes em todos os países e
são também dimensões importantes
do trabalho da IFAP.
Jardins murados em encostas
escorregadias – registros
como polícia de conteúdo
A ICANN [Internet Corporation for
Assigned Names and Numbers Corporação da Internet para Atribuição
de Nomes e Números] é uma
organização sem fins lucrativos
registada na Califórnia desde 1998. É
responsável
por
coordenar
a
manutenção e os procedimentos das
diversas bases de dados relacionadas
com os espaços de nomes e espaços
numéricos da internet, assegurando o
funcionamento estável e seguro da
rede.8 A sua missão, tal como consta no
icann.org, é "ajudar a garantir uma
Internet global estável, segura e
unificada". Na linguagem cotidiana, a
ICANN gerencia tudo o que vem depois
do ponto em um endereço da web, por
exemplo: .com, .org, .biz ou .ru. Esses
são conhecidos como TLDs (top level
domains) ou domínios de nível superior.
Quando um TLD não representa um
país ou um território, é conhecido como
TLD genérico (gTLD).
Os TLDs são geridos por registros. São
empresas que historicamente têm
desempenhado um papel importante na
saúde técnica da internet. Há 35 anos,
sete TLDs foram criados pela Fundação
Nacional de Ciência dos EUA, incluindo
.com, .org e .net. Em 2012, depois de
quase uma década de discussões sobre
políticas e construção de consenso
dentro da estrutura de tomada de
decisões de múltiplos participantes da
ICANN, foram feitos pedidos para novos
gTLDs. Exemplos de novos gTLDs
solicitados e delegados incluem ".africa",
".baby" e ".bible". O objetivo declarado do
exercício foi aumentar a concorrência, a
escolha do consumidor e a inovação e
expansão do sistema de nomes de
domínio genéricos de primeiro nível para
outros idiomas além do inglês, incluindo
chinês, cirílico e árabe.
Apesar dos trabalhos preparatórios, a
aplicação do regime dos novos gTLD
continua
a
suscitar
controvérsia.
Considera-se que as grandes empresas
e as organizações bem estabelecidas
têm
uma
vantagem
injusta
na
candidatura a determinados gTLDs, bem
como em sua gestão. Alguns criaram
"jardins murados", introduzindo regras e
restrições que limitam o acesso aos
nomes de domínio de segundo nível por
empresas e até mesmo por rivais
ideológicos.
Talvez de igual ou maior preocupação, a
delegação de novos gTLDs significou
uma nova versão do contrato de registro.
Em sua iteração original, os registros
estavam preocupados com a saúde da
infraestrutura da internet e os interesses
do público – incluindo os registradores
(aqueles de nós que registramos nomes
"Quando começamos a ICANN, há 20 anos, muitos de nós concordamos
fervorosamente com o Comitê Consultivo Governamental sobre o fato de
que estávamos supervisionando a Internet e seu sistema de nomes de
domínio como um recurso público. Apoiamos um modelo em que as
diversas partes da comunidade criaram regras para os registros e
registradores; a ICANN e seus registros mantiveram-se religiosamente
afastados da camada de conteúdo da Internet. Nosso trabalho foi ajudar
a manter a infraestrutura da internet segura e estável. Mas agora alguns
dos novos registros genéricos de nomes de domínio de primeiro nível
parecem pensar que podem fazer qualquer coisa: aumentar os preços e
criar o conteúdo e as regras de "remoção de nomes de domínio" que
quiserem– sem o devido processo, sem lei, sem justiça. Eles chamam
seus registros de 'jardins murados', mas esses registros minam as
liberdades e direitos fundamentais da internet com a censura imposta.”
– Kathy Kleiman, bolsista do Centro de Política de Tecnologia da
Informação da Universidade de Princeton e cofundadora do grupo de
usuários não comerciais da ICANNiv
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
53
�de
domínio
para
nossas
organizações, nossas empresas,
passatempos e bairros). Hoje em
dia, os poderes de registro estão
sendo estendidos em larga escala,
tal como reflete esta declaração:
"Um operador de registro é
responsável por serviços que
incluem administração de banco de
dados de clientes, publicação de
arquivos de zona, operação de DNS
e
DNSSEC,
marketing
e
determinação de políticas”.9
O
seguinte
extrato
de
um
comentário público postado em
relação a mudanças na forma como
o .org é gerenciado fornece um
resumo das implicações dessas
mudanças, e a caixa abaixo oferece
contexto ao detalhar uma política
antiabuso real.
A Internet não tem fronteiras (em
teoria), mas o que é legal depende
da jurisdição. O Relatório de
Tendências de 2013 da IFLA 10
identifica isso como o desafio
contínuo de regular uma Internet
global sem fronteiras em um nível
supranacional enquanto acomoda
jurisdições e quadros jurídicos
nacionais
sobrepostos
e
concorrentes. Os tipos de razões
abertas apresentadas no ponto B
da
política
antiabuso
acima
referida não esclarecem qual a
jurisdição aplicável. Na verdade,
"quaisquer leis aplicáveis, regras
ou requisitos governamentais,
pedidos de aplicação da lei"
parecem indicar que qualquer
governo pode solicitar que um
registro tome providências e
suspenda, cancele ou transfira
qualquer registro ou transação ou
que o bloqueie. Também não há
clareza sobre o que constituiria
Um trecho de uma verdadeira política antiabuso
(compromissos voluntários) inclui a seguinte cláusulaiii:
O operador de registro reserva-se o direito, a seu exclusivo critério, a
qualquer momento e sem limitação, de recusar, suspender, cancelar ou
transferir qualquer registro ou transação, bem como bloquear qualquer
nome de domínio, colocá-lo em espera ou estado semelhante, conforme
considerar necessário para qualquer uma das seguintes situações:
A. proteger a integridade e a estabilidade do registro;
B. cumprir quaisquer leis aplicáveis, regras ou requisitos
governamentais, pedidos de aplicação da lei ou qualquer processo de
resolução de litígios;
C. cumprir os termos deste Contrato de Registro e da Política Antiabuso
dos Operadores de Registro;
D. o registrante não mantém a Informação Whois atualizada;
E. a utilização do nome de domínio viola as políticas de utilização
aceitável do Operador de Registro, ou os direitos de terceiros ou as
políticas de utilização aceitável, incluindo a violação de qualquer direito
de autor ou marca registrada, entre outros; ou
F. conforme necessário, durante a resolução de uma disputa.
exatamente uma infração de
conteúdo. A situação não só é
perigosa para os registradores,
como também introduz novas
vulnerabilidades para os registros,
pois eles podem abrir-se a ações
judiciais ao aceitar determinados
pedidos e negar outros. Também
não há clareza sobre o que
constituiria
exatamente
uma
infração de conteúdo.
Os defensores dos Compromissos de
Interesse Público e das mudanças nas
responsabilidades
dos
registros
argumentam
que
esses
são
necessários para que alguns dos
elementos criminosos da internet – por
exemplo,
tráfico
de
crianças,
pornografia
e
promoção
do
extremismo
violento
–
sejam
controlados.
No entanto, o que constitui e não constitui
conteúdo aceitável não é apenas
discutível, mas estão ancorados na
história e na cultura. A censura pode
afetar pessoas reais e, muitas vezes, os
mais vulneráveis da sociedade. Baixar
um nome de domínio significa perder
páginas da web, e-mails e listservs –
identidades
online
inteiras
de
organizações, empresas, causas e ideias
pessoais. Mudar o papel da ICANN e dar
aos
registros
a
capacidade
de
estabelecer regras, aplicá-las como
juízes e executores sem o devido
processo – em um cenário que desafia a
justiça natural – não pode ser saudável
para a boa governança, a liberdade de
expressão e os direitos que são
fundamentais para uma internet livre.
Conforme comentário público sobre as
alterações às regras do .org coloca: "Os
'Compromissos de Interesse Público'
obrigatórios e voluntários já estão sendo
usados para justificar a censura imposta
pelos registros ao conteúdo da Internet nos
novos gTLDs. Eles são totalmente
inadequados para os TLDs tradicionais,
Os "Compromissos de Interesse Público" convidam de forma irrefutável à regulamentação do discurso
e do conteúdo da Internet
"Os chamados 'Compromissos de Interesse Público' obrigatórios e voluntários são um conjunto de requisitos que foram acrescentados
aos acordos de registro para os novos domínios de nível superior. Eles foram criados e impostos pela equipe da ICANN sem a
participação da comunidade. Pretendem impor aos registros e agentes de registro uma obrigação geral de regulamentar o conteúdo
dos sítios e aplicações de internet para impedir a "violação dos direitos de autor", "práticas enganosas" ou outras "atividades contrárias
ao direito aplicável" e "aplicar consequências para essas atividades, incluindo a suspensão do nome de domínio". Essas disposições,
de fato, redirecionam o sistema de nomes de domínio de um sistema global de identificadores únicos de recursos de informação para
torná-lo um regulador global de discurso, no qual os usuários de internet em todo o mundo devem estar em conformidade com um
conjunto vago e inconsistente de leis nacionais, interpretadas e aplicadas por inúmeras corporações privadas, ou correr o risco de
perder seus nomes de domínio. Além disso, são diretamente contrárias à declaração de missão da ICANN, segundo a qual "a ICANN
não deve regulamentar (ou seja, impor regras e restrições) os serviços que utilizam os identificadores únicos da Internet ou o conteúdo
que esses serviços possuem ou fornecem".
54
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�especialmente o .org, e para as
circunstâncias
especiais
de
milhões de nomes de domínios
registrados em organizações
dedicadas à livre expressão e
envolvidas em questões legais,
incluindo avaliações de empresas
e seus produtos, serviços e
práticas”.
A questão é: como permitimos que
isso acontecesse? Infelizmente, há
muito poucas pessoas, além do
pessoal especializado remunerado de
organizações
com
orçamentos
saudáveis, que acompanham o que
acontece na ICANN. Seus processos
envolvendo
múltiplas
partes
interessadas são complicados de
seguir e compreender, mesmo para
aqueles que trabalham nesse campo.
Há muito poucos profissionais com a
combinação
necessária
de
competências
legais,
técnicas,
organizacionais e políticas. A maioria
das
pessoas
e
organizações
interessadas do "Sul Global" não pode
se dar ao luxo de participar de forma
consistente nas muitas reuniões que
são centrais para o trabalho da
ICANN.
As
bibliotecas
estão
posicionadas de forma exclusiva para
fornecer os espaços para acesso
remoto às assembleias da ICANN.
Podem organizar debates públicos
sobre essas questões, informar,
educar e desenvolver soluções reais.
O trabalho da ICANN é central para
uma internet robusta que nos permita
acessar o conteúdo de que
precisamos, em linha com os
princípios do ROAM da UNESCO.
Temos de prestar mais atenção à
forma como nosso mundo virtual está
organizado e é governado. Jardins
murados no contexto de uma internet
que se supõe ser livre e aberta merece
muita pesquisa e análise.
Conclusão
A Internet é fundamental para a nossa
capacidade de acesso à informação.
Estima-se que 4,5 bilhões de usuários
da Internet acessam regularmente
conteúdo online, muitas vezes usando
seus telefones celulares. O número de
usuários de internet está aumentando
rapidamente, com algumas estimativas
indicando que mais de 1 milhão de
pessoas entram online pela primeira
vez a cada dia. Muitos países têm
recursos limitados de alfabetização
informacional e, portanto, os usuários
têm poucas ferramentas para fazer
escolhas seguras e atualizadas sobre
como acessar informações online.
Aprendem fazendo, aprendem com
seus pares, seus filhos e, às vezes,
aprendem com os predadores. [O
relatório Desenvolvimento e Acesso à
Informação [Development and Access
to Information] de 201711 destaca o
potencial das bibliotecas para fazer a
diferença ao cultivar capacidades. As
pessoas
precisam
entender
as
implicações das escolhas tecnológicas
que fazem.
poucas pessoas na minha vizinhança
fizeram qualquer observação. Mesmo em
mercados
"antigos"
de
internet
relativamente sofisticados, as pessoas
levaram tempo para entender como a
Cambridge Analytica usava o perfil para
distorcer as eleições. Não havia
precedente, nada em suas experiências
que eles pudessem usar para explicar.
Para algumas pessoas, apenas a palavra
algoritmo é suficiente para persuadi-las a
desconectar-se. A parcialidade algorítmica
tem demonstrado trabalhar contra a justiça
para todos, ao caracterizar certas raças
como
inerentemente
imorais
ou
perigosas.12 Os criminosos que promovem
o extremismo violento online sabem que
muitos dos jovens vulneráveis aos quais se
dirigem não compreendem como estão
sendo manipulados. Essas são ameaças
reais, não virtuais, aos resultados do ODS
16.
As mudanças no papel da ICANN tiveram
implicações no potencial de censura
online, e a responsabilidade representa um
desafio, assim como decidir como melhor
gerenciar a regulamentação de uma
Internet sem fronteiras globais em nível
supranacional, acomodando jurisdições
legais
nacionais
sobrepostas
e
concorrentes. Há uma série de questões
que
requerem
um
envolvimento
fundamentado mais amplo. Precisamos
que as discussões tornem-se gerais para
sair do Fórum de Governança da Internet.
As
bibliotecas
têm
um
histórico
comprovado de locais que promovem o
engajamento cívico. Temos de estar mais
bem informados sobre a forma como
funciona o ecossistema de informação em
Quando o governo dos EUA aprovou a que nos encontramos hoje. Os sistemas de
lei CLOUD, que lhe dá acesso aos educação formal têm um papel como
também a mídia, e as bibliotecas têm um
dados armazenados no exterior,
papel potencialmente importante.
i Ver https://www.un.org/sustainabledevelopment/
ii Extraído da Política de Uso Aceitável e Antiabuso da Donuts Inc:https://donuts.domains/about/policies/acceptable-use/. Tais regras são, no entanto, comuns e
esse exemplo é também representativo de outros registros.
iii Ver https://www.multichannel.com/blog/platform-dominance-privacy-antitrust-5g-dominate-sotn-industry-assessment-as-internetinfrastructure-fades
iv Citação recebida por e-mail
v Trecho de: https://mm.icann.org/pipermail/comments-org-renewal-18mar19/2019q2/003200.html. Ver estatutos da
ICANN:https://www.icann.org/resources/pages/governance/bylaws-en/#article1
1. Ver https://www.theguardian.com/uk-news/2019/mar/17/cambridge-analytica-year-on-lesson-in-institutional-failure-christopher-wylie
2. Ver https://internethealthreport.org/2019/understand-the-issue-openness/
3. A missão da UNESCO é forjar uma cultura de paz, fomentando a geração e o intercâmbio de conhecimentos ... por meio da cooperação internacional,
da capacitação e da assistência técnica aos seus Estados-Membros. Trabalha para criar as condições para um verdadeiro diálogo entre culturas e povos,
baseado no respeito mútuo e no respeito pelos valores comuns. Ver unesco.org
4. Ver https://en.unesco.org/internetuniversality
5. Ver https://en.unesco.org/programme/ifap
6. Ver https://en.unesco.org/internetuniversality
7. Ver https://en.unesco.org/programme/ipdc
8. Ver estatutos da ICANN:https://www.icann.org/resources/pages/governance/bylaws-en
9. Ver ICANNWiki: https://icannwiki.org
10. Relatório de Progresso da IFLA: https://trends.ifla.org/literature-review/cross-cutting-political-and-regulatory-trends
11. Garrido, M. & Wyber, S. (Eds.). (2017). Desenvolvimento e Acesso à Informação 2019 Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias
Haia.
12. Noble, S. U. (2018). Algorítimos da opressão: Como as ferramentas de busca reforçam o racismo. New York, NY, U.S.: New York University Press.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
55
�DA2I
56
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
�Conclusão
Em consonância com a tônica na interligação das ações políticas no âmbito
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), o acesso à
informação é tanto um objetivo em si mesmo como um meio de alcançar
outros objetivos. O relatório sobre Desenvolvimento e Acesso à Informação,
portanto, concentra-se tanto em medir o progresso para um acesso
significativo à informação como em mostrar os benefícios que ela pode
trazer.
Essa – a edição de 2019 do relatório – permite uma primeira análise do
desempenho de diferentes países e regiões ao longo do tempo nas quatro
áreas-chave identificadas na edição de 2017: conectividade física,
competências, normas sociais e culturais, e ambiente jurídico.
O relatório destaca a conectividade à internet como tendo sido uma área de
forte desempenho global, com um número de países fazendo grandes
avanços rumo ao acesso à internet a preços acessíveis. No entanto,
continua a verificar-se uma forte variação, tanto dentro das regiões como
entre elas. Nós permanecemos longe de um mundo onde todos têm a
capacidade de conectar-se a preços acessíveis.
Mais preocupante, as desigualdades que existem off-line também aparecem
online. Por exemplo, as disparidades entre homens e mulheres na Internet
– a diferença entre a porcentagem de homens e a porcentagem de mulheres
que utilizam a Internet – aumentaram. Há também um quadro misto de
competências, em que o número crescente de pessoas com educação póssecundária mascara as diferenças entre os países. O quadro é mais sombrio
no que diz respeito ao ambiente jurídico, com cada vez mais países
classificados como não livres ou apenas parcialmente livres.
De um modo geral, embora haja razões para ser positivo, é evidente que o
acesso significativo à informação está longe de ser uma realidade para
todos, em todas as suas dimensões. Quando um grupo goza de acesso mais
significativo do que outro, ou quando é restringido para todos por intermédio
das ações do governo ou de atores privados, o acesso à informação não
pode contribuir plenamente para o desenvolvimento sustentável.
O Capítulo 2 enfatiza como as bibliotecas podem desempenhar um papel
positivo. Salienta que o trabalho das bibliotecas depende da conectividade
e das liberdades fundamentais, mas pode também apoiá-las, criando um
ciclo virtuoso. Além disso, as bibliotecas são parceiras fundamentais dos
governos nos esforços para promover a igualdade, o emprego e as
competências. Como o capítulo salienta, uma única atividade de biblioteca
pode, de fato, contribuir para uma série de objetivos políticos diferentes,
realçando o papel dessas instituições como aceleradores do
desenvolvimento.
Os cinco capítulos temáticos reforçam essas mensagens. Os capítulos 4
(ODS 8 – trabalho digno e crescimento) e 6 (ODS 13 – ação climática)
fornecem provas de como o acesso à informação pode ser fundamental para
o êxito dos esforços políticos em prol do emprego, da inclusão financeira e
da luta contra as alterações climáticas.
No âmbito local, o acesso é um meio fundamental para garantir que as
pessoas possam aproveitar as oportunidades disponíveis para aprender e
ganhar dinheiro, bem como para adotar comportamentos mais respeitadores
do ambiente. Mas também é importante em termos globais, por exemplo,
para os pesquisadores que trabalham para monitorizar e desenvolver
respostas às alterações climáticas, bem como para os atores políticos que
tomam decisões com base em seu trabalho.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
57
�Ao longo desses capítulos, o potencial das bibliotecas está claro. São lugares onde o acesso à
informação pode tornar-se uma realidade para todos, independentemente do contexto,
gênero, recursos ou outros fatores. Elas podem fornecer o apoio de que as pessoas precisam
para desenvolver habilidades e aproveitar oportunidades.
O Capítulo 3 (ODS 4 - Educação
de Qualidade) não só enfatiza o
valor do acesso à informação
como meio de fazer a ligação
entre
as
pessoas
e
as
oportunidades,
mas
também
destaca que, para o acesso ser
eficaz, precisamos ir além de
pensar apenas na conectividade.
Realça
a
necessidade
de
competências mais sofisticadas
para que as pessoas possam tirar
proveito da informação digital.
Talvez de forma contraditória,
essas são muitas vezes mais bem
fornecidas por meio do ensino e
do apoio presencial.
Os capítulos 5 (ODS 10 - Reduzir
Desigualdades) e 7 (ODS 16 - Paz,
Justiça e Instituições Fortes)
exploram a necessidade de prestar
atenção à forma como a própria
informação é fornecida. Eles
observam que, para que o acesso
seja ferramenta para o progresso
equitativo, a forma como a
informação
é
recolhida
e
apresentada é importante. Se não
tomarmos cuidado, a informação
corre o risco de reforçar o poder de
um grupo sobre outro, ou de ser
distorcida pelas ações de atores
comerciais ou estatais. Quando isso
acontece, o poder de acesso à
informação é enfraquecido ou
anulado.
Ao longo desses capítulos, o
potencial das bibliotecas está claro.
São lugares onde o acesso à
informação pode tornar-se uma
realidade
para
todos,
independentemente do contexto,
gênero, recursos ou outros
58
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
fatores. Elas podem fornecer o apoio
de que as pessoas precisam para
desenvolver habilidades e aproveitar
oportunidades.
As
instituições
centradas no público, com uma
competência única no tratamento da
informação (e uma consciência
crescente dos impactos das suas
decisões), podem também ajudar a
combater os riscos de distorção ou
discriminação. Como tal, ajudam a
garantir que o acesso à informação
realize o seu potencial como
acelerador de desenvolvimento.
O que este relatório significa para os
ODSs? Uma primeira mensagem
fundamental é a necessidade de
políticas coordenadas e combinadas.
Uma abordagem parcial, centrada, por
exemplo, na conectividade sem
considerar as competências, as
liberdades ou a igualdade, conduzirá a
resultados
não
otimizados.
Os
governos devem cumprir o seu
compromisso de tratar os ODSs, e
particularmente aqueles relacionados
ao acesso à informação, como um todo
coerente, e não escolher entre seus
diferentes elementos.
Uma segunda implicação é que
enfrentar os desafios globais, como
as alterações climáticas, exige
abordagens globais para o acesso
à informação. O Objetivo do
Desenvolvimento Sustentável 17 já
se refere à transferência de
tecnologia, mas não há razão para
que isso não aconteça também com
a informação. De fato, o acesso
global à informação promete
permitir que os beneficiários de
transferências
de
tecnologia
desenvolvam
suas
próprias
soluções em vez de simplesmente
serem "portadores" das ideias de
outros.
Uma
terceira
implicação
é
a
necessidade de continuar a centrar-se
em indicadores significativos no âmbito
das Nações Unidas. A desagregação
por gênero e nível socioeconômico já
está na agenda, mas ainda está longe
de estar completa. Enquanto isso, a
medição dos objetivos dos ODSs que
mencionam acesso é menos que
satisfatória. Uma vez que o acesso à
informação desempenha um papel
fundamental na eficácia de outras
iniciativas políticas, trata-se de uma
lacuna significativa que merece ser
preenchida.
Uma quarta implicação – que já está a
ser abordada de forma independente
pelo Painel de Alto Nível para
Cooperação Digital, criado pelo
Secretário-Geral das Nações Unidas –
é a necessidade de refletir sobre a
forma como a própria informação é
gerida. O tipo de informação disponível,
a forma como é partilhada e com quem
é partilhada tem grandes impactos em
situações do mundo real.
A implicação final é a necessidade de
considerar o potencial das bibliotecas
como um meio fundamental de
proporcionar acesso à informação.
Infraestrutura pré-existente e familiar,
com experiência na gestão e no acesso,
são parceiros lógicos, desde o nível
local até ao nível global, no apoio ao
desenvolvimento global.
�DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
59
�Colaboradores
Karl Falkenberg
Karl Falkenberg tem 40 anos de experiência em negociações internacionais para
a União Europeia. Sua carreira começou com as negociações sobre o comércio
de têxteis, e passou a maior parte desse tempo em negociações multilaterais,
incluindo a negociação do acordo institucional que estabelece a Organização
Mundial do Comércio.
Ele também negociou um grande número de acordos bilaterais de livre comércio,
antes de tornar-se Diretor-Geral de Meio Ambiente da UE. Nesse cargo, ele tratou
de temas como Mudanças Climáticas, Biodiversidade, uma série de convenções
ambientais internacionais e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs)
no sistema da ONU.
Desde julho de 2017, ele tem trabalhado como professor independente e
consultor em comércio, meio ambiente e sustentabilidade.
Michelle Fellows
Michelle é pesquisadora do Grupo de Tecnologia e Mudança Social [Technology
& Social Change - TASCHA] da Escola de Informação da Universidade de
Washington (UW). Ela usa métodos mistos de pesquisa e avaliação para
responder perguntas relacionadas ao acesso à informação, desenvolvimento de
competências e resultados de programas.
Muito do seu trabalho concentra-se na forma como as bibliotecas públicas apoiam
o bem-estar da comunidade e promovem o desenvolvimento. Ela também tem
grande interesse em alfabetização (informação, web, digital, dados). Michelle é
graduada em Administração Pública (MPA) e em Biblioteconomia e Ciência da
Informação (MLIS) pela Universidade de Washington.
Dr Maria Garrido
Maria é Diretora e Pesquisadora do Grupo de Tecnologia e Mudança Social da
Escola de Informação da Universidade de Washington (UW). Experiente na
realização de estudos com múltiplos países que abrangem diversas regiões
geográficas, grande parte de sua pesquisa concentra-se na apropriação das
tecnologias de informação e de comunicação (TICs) para catalisar a mudança
social, especificamente em comunidades que enfrentam desafios sociais,
políticos e econômicos.
Muito interessada no papel das TICs nos movimentos sociais, na
empregabilidade dos jovens e no desenvolvimento de competências, Maria tem
trabalhado em estreita colaboração com organizações da sociedade civil, ONGs,
bibliotecas públicas e financiadores de desenvolvimento para conduzir pesquisas
participativas que resultam em recomendações acionáveis para políticas e
práticas.
Maria está atualmente liderando um esforço de pesquisa de vários anos
enfocando o papel do acesso à informação no avanço dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). É doutora em Comunicação pela
Universidade de Washington e mestre em Relações Internacionais pela
Universidade de Chicago.
60
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�Dorothy Gordon
Dorothy Gordon é Presidente do Conselho Intergovernamental do Programa
Informação para Todos da UNESCO e membro do Conselho do IITE - Instituto de
Tecnologia da Informação em Educação da UNESCO. Foi a Diretora-Geral fundadora
do Centro de Excelência em TIC Ghana-India Kofi Annan, um instituto especializado em
formação tecnológica e investigação, cargo que ocupou durante mais de uma década.
Trabalha globalmente como assessora política, avaliadora, gestora de projetos e
consultora de gestão organizacional.
Ao longo de sua carreira de 30 anos em desenvolvimento internacional e tecnologia,
ela ocupou cargos de gerência na ONU e em empresas de consultoria de gestão global
em quatro continentes, envolvendo responsabilidades de supervisão de projetos e
programas multimilionários.
Ela é membro do Grupo de Intervenientes Não Comerciais da ICANN. Como forte
defensora da importância da construção de ecossistemas locais robustos de inovação
baseados em tecnologias de código aberto, ela atua no conselho e como mentora de
uma série de start-ups e de ONGs para mulheres da área de tecnologia. Ela é formada
pela Universidade de Gana e pela Universidade de Sussex, Instituto de Estudos de
Desenvolvimento, onde estagiou como economista de desenvolvimento. Ela trabalha
tanto em inglês como em francês.
Stefania Lapolla Cantoni
Stefania Lapolla Cantoni trabalha para o Centro Regional de Estudos para o
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), um departamento do
Centro Brasileiro de Informação em Rede (NIC.br).
Stefania tem trabalhado em estreita colaboração com o papel das tecnologias da
informação e da comunicação (TICs) para o desenvolvimento, principalmente com
atividades de sensibilização sobre o uso das TICs para alcançar e medir os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs).
Possui mestrado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, Brasil, e
bacharelado na mesma área pela Universidade de Entre Ríos, Argentina.
Gerald Leitner
Gerald Leitner assumiu o cargo de Secretário-Geral da IFLA em junho de 2016. Ele
é responsável pela direção estratégica e operacional e gestão financeira da IFLA.
Em 2017, Gerald Leitner iniciou o projeto Visão Global da IFLA, com o objetivo de
construir um campo de bibliotecas mais forte e mais unido globalmente, mais capaz
de promover sociedades letradas, informadas e participativas. Nesse contexto,
liderou um debate global ambicioso, envolvendo bibliotecas em 190 EstadosMembros das Nações Unidas, além de lançar novos projetos como o Mapa da
Biblioteca do Mundo e supervisionar uma expansão no envolvimento da IFLA com
bibliotecas globais.
Gerald Leitner trabalhou em cargos de direção em organizações internacionais e
nos setores cultural, científico e educacional da Áustria. Antes de tornar-se
Secretário-Geral da IFLA, foi Secretário-Geral da Associação Austríaca de
Bibliotecas. Nesse cargo, supervisionou reformas fundamentais na formação de
bibliotecários públicos, organizou o maior festival de literatura da Áustria e
desenvolveu novos serviços de TI para bibliotecas. Colaborou estreitamente com o
governo, assegurando o lugar das bibliotecas na agenda política.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
61
�Gerald foi presidente do Bureau Europeu de Associações de Informação e
Documentação de Bibliotecas (EBLIDA na sigla em inglês) e membro de
órgãos consultivos nacionais e internacionais nos setores cultural, educativo
e científico. Ele é altamente experiente na negociação com políticos,
autoridades, grupos de pressão, editores, artistas, empresas e parceiros
estratégicos. Em 2017, foi distinguido com a Cruz de Honra Austríaca em prol
da Ciência e da Arte.
Gerald estudou literatura e história na Universidade de Viena e, após os seus
estudos, trabalhou como jornalista, editor-chefe da revista Austrian Library e
chefe de formação de bibliotecários públicos na Áustria.
Bree Norlander
Bree Norlander é pesquisadora do Grupo de Tecnologia e Mudança Social
(TASCHA) da Escola de Informação da Universidade de Washington (UW). Ela
recebeu seu M.L.I.S. [Master of Library and Information Science - Mestrado em
Biblioteca e Ciência da Informação] da iSchool da Universidade de Washington,
especializando-se em Ciência e Curadoria de Dados.
Seu projeto principal enfocou a coleta e análise de dados sobre revistas de
Acesso Aberto, que ela e seus colaboradores continuam a manter no
FlourishOA.org. Ela também trabalha como gerente de projetos para o
programa Alfabetização em Dados Abertos [Open Data Literacy] da UW iSchool.
Sua pesquisa centra-se na curadoria de dados abertos e na análise de dados
abertos de formas novas e criativas para avançar e expandir o conhecimento
científico.
Drª Katarina Popovic
A Dra. Katarina Popovic é Secretária-Geral do ICAE [International Council for Adult
Education - Conselho Internacional de Educação de Adultos] e Professora do
Departamento de Andragogia, Faculdade de Filosofia da Universidade de
Belgrado, professora visitante em várias outras universidades e Presidente da
Sociedade Sérvia de Educação de Adultos.
É membro do Hall da Fama da Educação Internacional para Adultos e Educação
Continuada [International Adult and Continuing Education Hall of Fame], editora
chefe da revista Estudos andragógicos [Andragogical Studies] e autora de
numerosas publicações; foi vice-presidente da EAEA durante vários anos e
coordenadora do DVV internacional alemão para o Sudeste da Europa,
desenvolvendo numerosos projetos na área da educação, em várias funções –
como conselheira política, avaliadora, elaboradora de currículos e formadora.
A sua área de especialização é a educação e formação de formadores e
professores - é formadora certificada em educação de jovens e adultos (Suíça),
autora do primeiro Currículo Global de Formação de Professores Adultos, com
centenas de sessões de formação ministradas em todo o mundo para professores
em educação de jovens e adultos, e numerosas publicações sobre aprendizagem
permanente e educação de adultos.
Como Secretária-Geral da ICAE, ela monitora e apoia a implementação das
agendas globais, especialmente os ODSs e a Educação 2030. Ela é
copresidente do Grupo de Partes Interessadas da Academia e Educação no
sistema DESA da ONU, membro do Grupo Diretor do Mecanismo de
Coordenação do HLPF e membro da Aliança Global para a Alfabetização.
62
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
�Professor Tim Unwin
O Professor Tim Unwin é Professor Emérito de Geografia (desde 2011) e Presidente da
Cátedra UNESCO na TIC4D (desde 2007) na Royal Holloway, Universidade de Londres,
e Professor Honorário na Universidade de Lanzhou, na China. Foi Secretário-Geral da
Organização
de
Telecomunicações
da
Commonwealth
[Commonwealth
Telecommunications Organisation - CTO] de 2011 a 2015, e Presidente da Comissão de
Bolsas de Estudos da Commonwealth, de 2009 a 2014.
É membro do Painel Consultivo Digital do Departamento para o Desenvolvimento
Internacional, do Reino Unido, e do Conselho Consultivo Internacional de Computação e
Sociedade, da Universidade das Nações Unidas. Em 2018-19, liderou a coordenação de
21 agências da ONU em nome da UNESCO e do UNICEF para desenvolver uma
estratégia sistêmica sobre o futuro da educação e da aprendizagem para o Comitê de
Alto Nível sobre Programas da ONU.
Seu influente livro Tecnologias de Informação e Comunicação para o Desenvolvimento
[tradução livre de Information and Communication Technologies for Development], foi
publicado pela Cambridge University Press em 2009, e seu último livro Reclaiming ICT4D
foi publicado pela Oxford University Press em 2017. Grande parte de sua pesquisa e de
seus escritos concentra-se atualmente nas desigualdades causadas pelas TICs e no que
é preciso fazer para garantir que os mais pobres e mais marginalizados possam
beneficiar-se.
Ele é membro do UKRI GCRF Centro de Migração Sul-Sul (UKRI GCRF South-South
Migration Hub) (2019-23) com orçamento de 20 milhões de libras esterlinas, que realiza
pesquisas sobre o uso de tecnologias digitais por migrantes, cofundador da TEQtogether
(uma iniciativa para mudar as atitudes e comportamentos dos homens em relação às
mulheres e à tecnologia), e também é conhecido por sua pesquisa sobre a história e
geografia do vinho. Ele foi nomeado Companheiro da Ordem Mais Distinta de São Miguel
e São Jorge [Companion of the Most Distinguished Order of St. Michael and St George CMG] na lista de Honra do Aniversário de 90 anos da Rainha em 2016, por seus serviços
à Commonwealth.
Stephen Wyber
Stephen Wyber é Gerente de Política e Defesa de Direitos da Federação Internacional de
Associações e Instituições Bibliotecárias, onde lidera os esforços para construir uma
compreensão do papel das bibliotecas e influenciar a formulação de políticas.
Antes de fazer parte da IFLA em 2016, trabalhou na Embaixada Britânica em Paris e na
Delegação Permanente do Reino Unido na Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE). É licenciado em Política Europeia pela
Universidade de Wales, Aberystwyth, e possui mestrado pelo College of Europe.
DESENVOLVIMENTO E ACESSO À INFORMAÇÃO 2019
63
�Bibliografia
Capítulo 1
Progresso rumo a um significativo acesso
à informação e ameaças emergentes
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�© 2019 pela Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA)
e pelo Grupo de Tecnologia e Mudança Social, Universidade de Washington (TASCHA).
Os direitos autorais dos capítulos 3-7 são de posse de seus autores, que concederam o
direito não-exclusivo de publicar aqui as suas obras.
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Citation: ‘Garrido, M. & Wyber, S. Eds. (2019) Development and Access to Information.
International Federation of Library Associations and Institutions: The Hague’.
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�Traduzido por Lívia Aguiar Salomão e Hamilton Costa de Almeida
Revisado por Maria Iracema Lima Martin
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05 de setembro de 2019
68
DEVELOPMENT AND ACCESS TO INFORMATION 2019
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A Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA) é a principal entidade internacional que representa os interesses dos serviços bibliotecários e de informação, bem como dos seus usuários. A IFLA trabalha para promover um campo forte e globalmente unido de bibliotecas como uma força propulsora de sociedades letradas, informadas e participativas, e coloca a importância do acesso à informação no centro de seus valores. Com membros em quase 150 países, a instituição é tanto a voz mundial da profissão de bibliotecário quanto da informação, e o centro principal para desenvolver padrões, partilhar boas práticas, capacitar e criar conexões entre bibliotecas e associações de bibliotecas em nível mundial. O Grupo de Tecnologia e Mudança Social [Technology & Social Change Group - TASCHA] da Faculdade de Informação da Universidade de Washington explora o papel das tecnologias digitais na construção de sociedades mais abertas, inclusivas e igualitárias. O TASCHA é um elo de pesquisa multidisciplinar cujo trabalho tem ajudado organizações internacionais, governos, organizações da sociedade civil e bibliotecas públicas nos Estados Unidos e em mais de 50 outros países. Gostaríamos de agradecer as contribuições de nossos autores convidados, bem como das equipes da IFLA e do TASCHA, cujos trabalhos tornaram este relatório possível, em especial as contribuições de Maria Violeta Bertolini e May Oostrom-Kwok (IFLA), e Chris Jowaisis, Chris Coward e Doug Parry (TASCHA) O relatório original foi criado graças às contribuições de muitas pessoas que ajudaram a desenvolver o conceito e a selecionar os indicadores utilizados. Seus nomes estão destacados no relatório de 2017, e suas contribuições ainda são percebidas nesta edição. Desejamos agradecer, em especial, à Fundação Bill e Melinda Gates, cujo generoso apoio tornou este relatório possível.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
IFLA - International Federation of Library Associations
Publisher
An entity responsible for making the resource available
IFLA
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
Lívia Aguiar Salomão (Tradução Português)
Hamilton Costa de Almeida (Tradução Português)
Maria Iracema Lima Martin (Revisão Português)
Serviço de Tradução e Interpretação do Senado – SETRIN/SGIDOC (Tradução Português)
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
Recurso Eletrônico
Type
The nature or genre of the resource
Relatório
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Brasil
Language
A language of the resource
pt
ifla
Livros
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/5/438/IFLA_Goal_Inserts_brasil_4.pdf
0ce4cb8bd552efd641429438c1307e91
PDF Text
Text
IFLA
AS BIBLIOTECAS PODEM PROMOVER A
IMPLEMENTAÇÃO DA AGENDA 2030
I F LA
A voz global e confiável das bibliotecas e dos
profissionais da informação (www.ifla.org).
A Federação Internacional de Associações de
Bibliotecas e Instituições (IFLA) é o organismo
internacional que representa os interesses das
bibliotecas e serviços de informação e de seus
usuários.
OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS NAÇÕES UNIDAS
ACABAR COM A POBREZA EM TODAS AS SUAS FORMAS, EM
TODOS OS LUGARES
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
ACABAR COM A FOME, ALCANÇAR A SEGURANÇA ALIMENTAR E
MELHORIA DA NUTRIÇÃO E PROMOVER A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
ASSEGURAR UMA VIDA SAUDÁVEL E PROMOVER O BEM-ESTAR PARA
TODOS, EM TODAS AS IDADES.
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
ASSEGURAR A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EQUITATIVA E DE QUALIDADE, E
PROMOVER OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA
PARA TODOS
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Acesso público à informação e recursos que geram
oportunidades para melhorar a vida das pessoas;
- Capacitação para adquirir novas habilidades necessárias para a
educação e o emprego;
- Informação para apoiar o processo de tomada de decisões para
combater a pobreza por parte dos governos, da sociedade civil e
do setor empresarial.
- Pesquisas disponíveis em bibliotecas médicas e hospitalares que
apoiem a educação e melhorem a prática médica dos provedores de
cuidados médicos;
- Acesso público a informação sobre saúde e bem estar nas bibliotecas
públicas para contribuir com que todas as pessoas e famílias sejam
saudáveis.
- Pesquisas e dados agrícolas para que os cultivos sejam mais
produtivos e sustentáveis;
- Acesso público para produtores agrícolas a recursos em rede, como,
por exemplo, preços de mercado local, informes meteorológicos e
novos equipamentos.
- Equipes dedicadas que apoiem a educação na primeira infância
(educação cont inuada);
- Acesso à informação e a pesquisa para estudantes em todo o mundo;
- Espaços inclusivos onde os custos não sejam uma barreira para
adquirir novos conhecimentos e habilidades.
ASSEGURAR A DISPONIBILIDADE E GESTÃO
SUSTENTÁVEL DA ÁGUA E SANEAMENTO PARA
TODOS
ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO E EMPODERAR TODAS AS
MULHERES E MENINAS
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Espaços de encontro seguros e agradáveis;
- Programas e serviços pensados para satisfazer as
necessidades de mulheres e meninas como direito e saúde.
- Acesso à informação e tecnologias que permitam as mulheres
desenvolver habilidades no mundo dos negócios.
PROMOVER O CRESCIMENTO ECONÔMICO SUSTENTADO, INCLUSIVO
E SUSTENTÁVEL, EMPREGO PLENO E PRODUTIVO E TRABALHO
DECENTE PARA TODOS
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Acesso à informação e capacitação para desenvolver habilidades
que as pessoas necessitem para encontrar melhores postos de
trabalhos, candidatar-se a eles e ter sucesso em melhores empregos.
I FLA
ASSEGURAR O ACESSO CONFIÁVEL,
SUSTENTÁVEL, MODERNO E A PREÇO
ACESSÍVEL À ENERGIA PARA TODOS.
Às bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Acesso à informação de qualidade sobre boas práticas que permitam
desenvolver projetos locais de gestão da água e saneamento;
- Acesso livre e seguro a eletricidade e iluminação para ler, estudar e trabalhar.
�CONSTRUIR INFRAESTRUTURAS RESILIENTES, PROMOVER A
INDUSTRIALIZAÇÃO INCLUSIVA E SUSTENTÁVEL E FOMENTAR A
INOVAÇÃO
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Uma ampla estrutura de bibliotecas públicas, especializadas e
universitárias e com profissionais qualificados;
- Espaços agradáveis e inclusivos;
- Acesso a TIC, como por exemplo, com internet de alta velocidade
que não se encontra disponível em todo lugar.
TORNAR AS CIDADES E OS ASSENTAMENTOS HUMANOS INCLUSIVOS,
SEGUROS, RESILIENTES E SUSTENTÁVEIS
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Instituições confiáveis dedicadas a promover a inclusão e o intercâmbio
cultural;
- Documentação e conservação do patrimônio cultural para as futuras
gerações.
PROMOVER SOCIEDADES PACÍFICAS E INCLUSIVAS PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, PROPORCIONAR O ACESSO À JUSTIÇA
PARA TODOS E CONSTRUIR INSTITUIÇÕES EFICAZES, RESPONSÁVEIS E
INCLUSIVAS EM TODOS OS NÍVEIS
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Acesso público à informação sobre governo, a sociedade civil e outras
instituições;
- Capacitação nas habilidades necessárias para compreender e utilizar
esta informação;
- Espaços inclusivos e politicamente neutros para que as pessoas possam
reunir-se e organizar-se.
FORTALECER OS MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO E REVITALIZAR A
PARCERIA GLOBAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Uma rede de instituições baseadas nas comunidades que formam os
planos de desenvolvimento locais.
Para maiores informações, acesse: www.ifla.org/libraries-development
Tradução: FEBAB 2016
REDUZIR A DESIGUALDADE DENTRO DOS PAÍSES E ENTRE ELES
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de …
- Espaços neutros e agradáveis que permitam a aprendizagem para
todos, incluindo os grupos marginalizados, como os imigrantes, os
refugiados, as minorias, os povos indígenas e pessoas com
deficiência;
- Acesso equitativo à informação que promova a inclusão social,
política e econômica.
ASSEGURAR PADROES DE PRODUÇÃO E DE
CONSUMO SUSTENTÁVEIS
TOMAR MEDIDAS URGENTES PARA
COMBATER A MUDANÇA DO CLIMA E SEUS
IMPACTOS
CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DOS
OCEANOS, DOS MARES E DOS RECURSOS
MARINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
PROTEGER, RECUPERAR E PROMOVER O USO
SUSTENTÁVEL DOS ECOSSISTEMAS TERRESTRES,
GERIR DE FORMA SUSTENTÁVEL AS FLORESTAS,
COMBATER A DESERTIFICAÇÃO, DETER E
REVERTER A DEGRADAÇÃO DA TERRA E DETER A
PERDA DE BIODIVERSIDADE
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Um sistema sustentável de intercâmbio e circulação de materiais que reduza a geração de
resíduos;
- Registros históricos sobre mudanças costeiras e utilização da terra;
- Pesquisa e produção de dados necessários para elaboração de políticas de mudanças
climáticas;
- Acesso difundido para informações necessárias para orientar os tomadores de decisão por
parte dos governos locais ou nacionais sobre temas como: caça, pesca, uso da terra e
gestão da água.
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
IFLA
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
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Title
A name given to the resource
Agenda 2030 e como as bibliotecas podem contribuir com a sua implementação
Subject
The topic of the resource
Bibliotecas
Sustentabilidade
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An account of the resource
As bibliotecas apoiam esse objetivo mediante a provisão de...
- Um sistema sustentável de intercâmbio e circulação de materiais que reduza a geração de resíduos;
- Registros históricos sobre mudanças costeiras e utilização da terra;
- Pesquisa e produção de dados necessários para elaboração de políticas de mudanças climáticas;
- Acesso difundido para informações necessárias para orientar os tomadores de decisão por parte dos governos locais ou nacionais sobre temas como: caça, pesca, uso da terra e gestão da água.
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An entity primarily responsible for making the resource
IFLA - International Federation of Library Associations and Institutions
Source
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IFLA, Libraries and Development
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2017
Contributor
An entity responsible for making contributions to the resource
FEBAB
Relation
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http://www.ifla.org/publications/node/10546
Type
The nature or genre of the resource
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Language
A language of the resource
pt
2030
ifla
-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/5/590/IFLA-Acesso-e-oportunidade-para-todos.pdf
c17950c16f188c0bcf13530e84ce6c50
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ACESSO E OPORTUNIDADE PARA TODOS
Como as bibliotecas contribuem para a agenda de 2030 das Nações Unidas
International Federation of Library
Associations and Institutions
�ERRADICAÇÃO
DA POBREZA
FOME
ZERO
IGUALDADE
DE GÊNERO
ÁGUA LIMPA
E SANEAMENTO
INDÚSTRIA, INOVAÇÃO
E INFRAESTRUTURA
COMBATE ÀS
ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS
PARCERIAS EM
PROL DAS METAS
REDUÇÃO DAS
DESIGUALDADES
VIDA DEBAIXO
D’ÁGUA
EDUCAÇÃO
DE QUALIDADE
BOA SAÚDE
E BEM-ESTAR
ENERGIA
ACESSÍVEL E LIMPA
EMPREGO DIGNO
E CRESCIMENTO
ECONÔMICO
CIDADES E
COMUNIDADES
SUSTENTÁVEIS
CONSUMO
E PRODUÇÃO
SUSTENTÁVEIS
VIDA SOBRE
A TERRA
PAZ, JUSTIÇA
E INSTITUIÇÕES
FORTES
OBJETIVOS SUSTENTÁVEL
DE DESENVOLVIMENTO
17 OBJETIVOS PARA TRANSFORMAR NOSSO MUNDO
�Neste contexto da agenda de 2030 das Nações Unidas, a IFLA (Federação Internacional
das Associações e Instituições ligadas às Bibliotecas) acredita que o crescente acesso à
informação e ao conhecimento por parte da sociedade, por meio das diversas tecnologias
de informação(TICs), torna possível o desenvolvimento sustentável
e mais qualidade de vida para as pessoas.
Em setembro de 2015,
os Estados membros das Nações Unidas
adotaram o documento: “transformar nosso mundo:
a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”.
A nova agenda de 2030 da ONU é um marco inclusivo, integrada por 17 objetivos
de desenvolvimento sustentável que englobam o desenvolvimento econômico, ambiental
e social. Através do alcance dos objetivos dessa agenda nada será relegado. As bibliotecas
são instituições fundamentais para se alcançar esses objetivos.
O acesso público à informação permite que as pessoas tomem decisões conscientes que podem
melhorar suas vidas. As comunidades que têm acesso à informação relevante e no tempo certo
estão melhor posicionadas para erradicar a pobreza e a desigualdade, melhorar a agricultura,
proporcionar educação de qualidade e promover a saúde, a cultura a pesquisa e a inovação. 1
O acesso à informação foi reconhecido no Objetivo 16 dos ODS: Promover sociedades pacíficas
e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, facilitar o acesso à justiça para todos e criar
instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
Objetivo 16.10 Assegurar o acesso público à informação e proteger as liberdades
fundamentais, em conformidade com a legislação nacional e os acordos internacionais.
Cultura (objetivo 11.4 - Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural
do mundo) e Tecnologias de Informação e Comunicação (objetivos 5b - Aumentar o uso de tecnologias
de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento
das mulheres, 9c - Aumentar significativamente o acesso às tecnologias de informação e comunicação
e se empenhar para oferecer acesso universal e a preços acessíveis à internet nos países menos
desenvolvidos, até 2020, 17.8 - Operacionalizar plenamente o Banco de Tecnologia e o mecanismo
de capacitação em ciência, tecnologia e inovação para os países menos desenvolvidos até 2017,
e aumentar o uso de tecnologias de capacitação, em particular das tecnologias de informação e
comunicação) também estão incluídos nos ODS.
Metade da população mundial não tem acesso a informação em rede. Em nossa sociedade
do conhecimento, as bibliotecas proveem acesso e oportunidades para todos.
E, alfabetização universal é reconhecida na visão da agenda de 2030 da ONU.
Imaginamos um mundo com alfabetização universal. Agenda 2030 das Nações Unidas.
Em todo o mundo 320.000 bibliotecas públicas e mais de um milhão de bibliotecas parlamentares,
nacionais, universitárias, de pesquisa, especializadas e escolares garantem que as informações e o
conhecimento para utilizá-las estejam disponíveis para todos, convertendo-se em instituições
fundamentais para a era digital. As bibliotecas oferecem infraestrutura para as tecnologias de informação
(TICs) e ajudam as pessoas a desenvolver a capacidade de usar a informação de forma eficaz e
preservá-la para garantir o acesso permanente às futuras gerações. Proporcionam uma rede confiável
de instituições locais que podem chegar a todos os setores da população.
�AS BIBLIOTECAS APOIAM TODOS OS OBJETIVOS
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
As bibliotecas e o acesso à informação contribuem para o alcance de todos os objetivos
de desenvolvimento sustentável (ODS) por meio das seguintes ações:
Promover a alfabetização universal, incluindo a alfabetização e as habilidades digitais,
midiáticas e informacionais com o apoio de equipe especializada;
• Superar as dificuldades no acesso à informação e ajudar o governo, a sociedade civil e o
setor privado a compreenderem melhor as necessidades locais em matéria de informação;
• Promover um serviço em rede contendo os sites e programas governamentais;
• Promover a inclusão digital por meio das TICs;
• Atuar como centro da comunidade acadêmica e de pesquisa;
• Preservar e proporcionar o acesso à cultura e ao patrimônio do mundo.
•
AS BIBLIOTECAS IMPULSIONAM O PROGRESSO ATRAVÉS
DA IMPLEMENTAÇÃO DA AGENDA 2030 DA ONU
Enquanto os ODS são objetivos universais, cada país será responsável pelo desenvolvimento
e implementação de estratégias nacionais para alcança-los e deverá monitorar e informar os progressos.
A medida que se desenvolvem esses planos, a comunidade bibliotecária de cada país poderá demonstrar
como as bibliotecas contribuem para o cumprimento dos objetivos e satisfação das necessidades locais
de desenvolvimento.
�OBJETIVO 1 ACABAR COM A POBREZA EM TODAS AS SUAS
FORMAS, EM TODOS OS LUGARES
As bibliotecas, ao proporcionar acesso à informação e habilidades, oferecem
oportunidades às pessoas para melhorar suas vidas e contribuem para a tomada
de decisões por parte dos governos, das comunidades e outras instituições destinadas
a reduzir a pobreza e elevar a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.
ESLOVÊNIA
Na Eslovênia a biblioteca da cidade de Ljubljana oferece Serviço de Informação e Emprego que permite 1200 pessoas
por ano, muitas delas moradores de rua ou beneficiários de programas sociais, achar emprego. A biblioteca realiza
capacitações em alfabetização informacional e midiática e as auxiliam na preparação de seus currículos e a
candidatarem-se ao emprego desejado. Dado que muitos moradores de rua são usuários de drogas, a biblioteca
trabalha junto com o Centro de Prevenção e Drogaditos do Hospital Universitário de Psiquiatria de Ljubljana para
conseguir a reabilitação, reintegração e inclusão social. 2
SRI LANKA
O programa de Biblioteca Eletrônica Nenasala 3 é uma iniciativa governamental para aumentar a alfabetização digital
e o acesso à tecnologia dos habitantes mais pobres do país que vivem em zonas rurais distantes. 300 centros em
todo o país oferecem capacitação em computação básica, orientação no acesso à informação através da internet,
uma ampla variedade de conhecimentos locais relevantes. Os centros estão abertos a todos e são a forma mais
importante de dar acesso a infraestrutura nos lugares mais remotos e pobres do país.
�OBJETIVO 2 ACABAR COM A
FOME, ALCANÇAR A SEGURANÇA
ALIMENTAR E MELHORIA DA NUTRIÇÃO
E PROMOVER A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Bibliotecas, incluindo bibliotecas agrícolas especializadas e serviços
de extensão promovem acesso à investigação e dados sobre culturas,
mercado e métodos de agricultura produtiva.
ROMÊNIA
Os bibliotecários capacitados pela Biblionet 4 ajudaram 100.000 agricultores ra eceberem 187 milhões de dólares
em subsídios via serviços de internet entre 2011 a 2014.
Os 1000 bibliotecários que participaram dessa capacitação decidiram lançar o serviço nas bibliotecas locais com o
apoio dos prefeitos que entenderam os benefícios que esse serviço trazia aos agricultores. O programa ajudou os
agricultores a aprender como usar a tecnologia nas bibliotecas para acessar os formulários financeiros e submetê-los
economizando tempo e dinheiro. Especial atenção foi dada às necessidades locais para garantir a demanda.
�OBJETIVO 3 ASSEGURAR
UMA VIDA SAUDÁVEL E PROMOVER
As bibliotecas médicas,
O BEM-ESTAR PARA TODOS,
de hospitais e outras bibliotecas
especializadas são provedoras essenciais
EM TODAS AS IDADES
do acesso à investigação médica que respalda
melhores resultados em matéria de saúde pública.
O acesso público a informação sobre saúde em todas as
bibliotecas ajuda as pessoas a estarem melhor informadas
sobre saúde e a manterem-se saudáveis.
AUSTRÁLIA
Um relatório realizado em 2014 revelou que os hospitais, departamentos governamentais, associações
e outras organizações envolvidas com os cuidados da saúde obtiveram U$ 5 dólares de retorno para cada
U$1 dólar 5 investido em bibliotecas.
KYRGYZSTAN
Frente a uma epidemia de tuberculose o governo de Kyrgyzstan havia lançado um programa nacional intensivo
de prevenção e controle de tuberculose. O serviço do Consórcio de Informação de Bibliotecas de Kyrgyzstan
(KLIC sigla em inglês) “Não a TB!” trabalha conjuntamente com as organizações da sociedade civil como o projeto
HOPE e a Sociedade de Meia Lua Roxa com a finalidade de mobilizar as bibliotecas públicas a apoiar os objetivos
do governo. Depois de um subsídio piloto realizado em três bibliotecas de EIFL (Informação Eletrônica para as
Bibliotecas) as iniciativas do Programa de Inovação para bibliotecas públicas “Não a TB!” foram estabelecidas
em 190 bibliotecas rurais com capacitação para 800 pessoas sobre como elevar a conscientização acerca da
TB sendo que foram realizados debates públicos com participação de cerca de 5.600 pessoas. 6
UGANDA
Os profissionais médicos e da saúde no setor rural de Uganda ainda enfrentam desafios para o acesso à informação
básica necessária para assegurar a qualidade do cuidado da saúde. O Compêndio de Informação sobre a Saúde de
Uganda publicado pela Biblioteca da Universidade de Makere compila no formato impresso informações de saúde
para os trabalhadores que não podem ter acesso à informação online. O compêndio inclui resenhas sobre doenças
atuais e temas da saúde. Se distribui a mais de 1500 unidades de saúde incluindo hospitais, centros de saúde,
dispensários, algumas ONGs relacionadas a saúde, consultórios médicos de distritos, todas as comissões de serviços
sociais e saúde dos distritos e membros do parlamento. O Compêndio é uma das poucas fontes de informação atualizada
em áreas remotas durante epidemias como a hepatite. 7
�OBJETIVO 4 ASSEGURAR A EDUCAÇÃO INCLUSIVA,
EQUITATIVA E DE QUALIDADE, E PROMOVER OPORTUNIDADES
DE APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA PARA TODOS
As bibliotecas são o coração das escolas, universidades e institutos em todos
os países do mundo. As bibliotecas apoiam programas de alfabetização, oferecem
um lugar seguro para a aprendizagem e colaboram com pesquisadores na utilização
de dados e informações para gerar novos conhecimentos.
PAÍSES BAIXOS
Boekstart 8 trabalha com creches e centros de saúde, as bibliotecas públicas com os primeiros anos das escolas
primárias mediante o oferecimento de livros e capacitação a 75.000 crianças por ano com idades entre 0 a 4 anos.
O programa é apoiado pelo governo nacional e governos locais e visa estabelecer uma colaboração de longo prazo
entre as organizações para garantir a alfabetização das crianças.
SUÉCIA
A biblioteca da cidade de Malmo trabalha para superar a divisão digital e encorajar a inclusão social e sustentabilidade.
O Centro de Aprendizagem da biblioteca oferece cursos denominados “Começar!”, nos quais os usuários sem experiência
aprendem a abrir contas de email, a utilizar melhor a internet e a realizar configurações de privacidade. A biblioteca conta
com muitos usuários imigrantes, especialmente menores de idade que podem acessar as ferramentas projetadas para
melhorar sua aprendizagem e ajudar com as tarefas escolares. 9
SINGAPURA
O Conselho Nacional de Bibliotecas de Singapura (NBL por sua sigla em inglês) se relaciona com a população de
Singapura através de programas e serviços – tanto dentro como fora das bibliotecas – por meio de plataformas
físicas e digitais em todo o país. A NLB também presta especial atenção às comunidades que enfrentam
problemas de locomoção e têm dificuldades para deslocar-se às bibliotecas. A NLB tem
trabalhado com os sócios para oferecer programas personalizados e ônibus com
bibliotecas móveis que permitam que escolas com necessidades especiais,
orfanatos e abrigos tenham acesso às coleções e aos serviços.
Os serviços são os mesmos oferecidos por uma biblioteca
física, com boas coleções, empréstimo e devolução
\
de livros, assistência dos bibliotecários e
contação de histórias.10
�OBJETIVO 5 ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO E EMPODERAR
TODAS AS MULHERES E MENINAS
As bibliotecas apoiam a igualdade de gêneros ao oferecer espaços de encontro seguros
e programas para mulheres e meninas sobre direitos e saúde. Além disso, as TICs e os
programas de alfabetização ajudam as mulheres a construírem habilidades empreendedoras.
UGANDA
A Biblioteca Nacional da Uganda oferece um programa de capacitação nas TCIs dirigido às mulheres agricultoras,11
oferecendo acesso nos idiomas locais dos boletins meteorológicos, preços de cultivo e apoio no estabelecimento
de comércio digital. Esse programa, por meio da tecnologia, aumenta o bem estar econômico das mulheres.
NEPAL
A iniciativa de Desenvolvimento de Atitudes do Centro de Informação e Recursos de READ (educação para o
Desenvolvimento Rural) ajuda as mulheres e as meninas a obter conhecimentos e ter o controle sobre suas vidas.
O programa de empoderamento inclui seminários e workshops sobre direitos das mulheres, igualdade de gênero,
saúde, violência contra a mulher e outros temas. A biblioteca encoraja as mulheres a participar de um grupo que ser
reúne uma vez por mês em um setor reservado da biblioteca onde elas podem se expressar livremente. Os cursos
práticos incluem leitura, escrita e matemática, inglês, tecnologias, atitudes empreendedoras e aulas práticas sobre
fabricação de produtos para venda. Os centros READ de todo o país também oferecem programas de treinamento
em qualidade de vida, saúde, conhecimentos digitais e tecnologia.12
�OBJETIVO 6 ASSEGURAR A DISPONIBILIDADE E GESTÃO
SUSTENTÁVEL DA ÁGUA E SANEAMENTO PARA TODOS
OBJETIVO 7 ASSEGURAR O ACESSO CONFIÁVEL, SUSTENTÁVEL,
MODERNO E A PREÇO ACESSÍVEL DE ENERGIA PARA TODOS
As bibliotecas oferecem o acesso público à informação sobre água, uso de energia
e saneamento. Muitas bibliotecas públicas e comunitárias de todo o mundo são o único
lugar onde as pessoas têm acesso confiável a eletricidade para ler, estudar e candidatar-se
a um emprego.
HONDURAS
A biblioteca comunitária San Juan Planes desempenha um papel central na provisão de água potável segura a toda a
comunidade mediante um projeto de tratamento de água que é realizado na praça central do povoado.13
REINO UNIDO
Nas bibliotecas de Croydon, Derby e outras cidades do Reino Unido os usuários podem solicitar empréstimo de monitores
de energia para controlar quais equipamentos elétricos consomem muita energia, permitindo que as pessoas mudem e
reduzam seu consumo de energia. 14
�OBJETIVO 8 PROMOVER O
CRESCIMENTO ECONÔMICO SUSTENTADO,
INCLUSIVO E SUSTENTÁVEL, EMPREGO
PLENO E PRODUTIVO E TRABALHO
DECENTE PARA TODOS
Acesso público às tecnologias de informação
e os treinamentos em bibliotecas permitem que as
pessoas se candidatem aos empregos. A equipe capacitada
da biblioteca pode ajudar as pessoas com os formulários online,
escrever matérias de apoio e encontrar o emprego apropriado.
UNIÃO EUROPEIA
Na União Europeia, 250.000 pessoas por ano acharam emprego através das suas bibliotecas públicas.
Bibliotecas públicas ajudaram 4.1 milhões de europeus com consultas relacionadas a emprego e 1.5 milhões
a candidatar-se ao trabalho.15 Acesso público às tecnologias de informação e às capacitações permite que as
pessoas solicitem emprego sempre que o processo de seleção aconteça online.
ESTADOS UNIDOS
Em Nova Iorque, a Biblioteca de Ciência, Indústria e Comércio e a Biblioteca Pública de Queens e a Biblioteca
Profissional de Negócios e Comércio de Brooklin (B&CL por sua sigla em inglês) realizam maratonas sobre planos
de negócios que oferecem orientação aos participantes com foco em comerciantes atuais e futuros de comunidades
carentes. Na B&CL 25% dos participantes são imigrantes, 29% são desempregados ou com empregos temporários
e mais da metade tem uma renda familiar abaixo da média da cidade de Nova Iorque. 16
�OBJETIVO 9 CONSTRUIR INFRAESTRUTURAS RESILIENTES,
PROMOVER A INDUSTRIALIZAÇÃO INCLUSIVA E SUSTENTÁVEL
E FOMENTAR A INOVAÇÃO
As bibliotecas são o coração das instituições de pesquisa e da vida acadêmica.
Elas propiciam o acesso a internet de alta velocidade, infraestrutura de pesquisa
e profissionais capacitados. Em muitos países as bibliotecas públicas e educacionais
são os principais ou os únicos provedores de acesso público à internet de baixo
ou nenhum custo, uma forma fundamental de aumentar a conectividade. 17
LETÔNIA
Por cada dólar investido em bibliotecas públicas na Letônia no período de 2008-2010 se obtiveram quase 2 dólares
(diretos ou indiretos). Os ganhos obtidos pelo uso de computadores e internet nas bibliotecas públicas foram maiores
obtendo mais de $ 3 por cada dólar investido. 18
FINLÂNDIA
O Laborário de Ciências Abertas (Open Science Lab) realizado na biblioteca Nacional da Finlândia permite a qualquer
pessoa obter acesso às publicações, dados e métodos usados em pesquisa. O acesso livre é um dos princípios
fundamentais de melhoria do acesso à informação.19
�OBJETIVO 10
REDUZIR A DESIGUALDADE
DENTRO DOS PAÍSES E ENTRE ELES
Acesso equitativo à informação, liberdade de
expressão, liberdade de associação e reunião, o direito
à privacidade são fundamentais para a independência
individual. As bibliotecas contribuem para reduzir a desigualdade
proporcionando espaços cívicos seguros e abertos a todos em áreas
urbanas e rurais em todo o mundo.
MONGÓLIA
A maioria das pessoas cegas e com baixa visão na Mongólia não tem trabalho e não recebem nenhum tipo
de apoio. Em 2010, a biblioteca pública Ulaanbaatar (UPL por sua sigla em inglês) e a Federação de Cegos
da Mongólia construíram dois estúdios de gravação para criar audiolivros em formato DAISY que aumentam
notavelmente a quantidade de material acessível e abrem novas mundos de aprendizagem para pessoas com
deficiência visual. O consórcio de bibliotecas da Mongólia (MLC por sua sigla em inglês) também alcançou bons
resultados ao promover a adoção do Tratado de Marraquesh (2013) para facilitar o acesso às obras publicadas
destinadas às pessoas com problemas para a leitura. 20
INTERNACIONAL
Bibliotecas sem Fronteiras (Libraries Without Borders) proporcionam acesso à informação e recursos em campos
de refugiados através de Ideas Box, que permite que as pessoas tenham acesso à informação por meio de conexão
de internet por satélite e também a livros. Os “boxes” são patrocinados pelo Alto Comissionado das Nações Unidas
para os Refugiados (UNHCR). 21
�OBJETIVO 11 TORNAR AS CIDADES E OS
ASSENTAMENTOS HUMANOS INCLUSIVOS,
SEGUROS, RESILIENTES E SUSTENTÁVEIS
Bibliotecas desempenham um papel fundamental na preservação de um patrimônio cultural
inestimável, em todas as suas formas, para as futuras gerações. A cultura fortalece as
comunidades locais e favorece o desenvolvimento inclusivo e sustentável das cidades.
MALI
Em 2013 grupos armados ocuparam Mali do Norte e Timbuktu, uma cidade famosa por seu patrimônio cultural
e pela quantidade de bibliotecas públicas e privadas com um inestimável patrimônio documental. Com a finalidade
de salvaguardar os manuscritos durante a ocupação, os voluntários passaram os manuscritos como contrabando
à Bamako com a ajuda internacional. Desde esse momento os manuscritos têm sido conservados na capital e estão
em processo de restauração e digitalização. As bibliotecas tem tido um papel fundamental nas atividades de
evacuação e preservação do patrimônio único de Mali. 22
CHINA
Em janeiro de 2015 se inaugurou a primeira biblioteca do metrô de Beijing, a “Biblioteca do Metrô M” na estação
da Biblioteca Nacional da China (NCL). Essa biblioteca do metrô visa ampliar mais serviços, oferecer recursos de
alta qualidade – como livros eletrônicos que possam ser baixados gratuitamente – fomentar a cultura tradicional
e promover a leitura. Nessa biblioteca os trabalhadores são leitores, os leitores são passageiros e a biblioteca do
metrô se transforma em uma “estação de leitura para todos”. 23
COLÔMBIA
As bibliotecas públicas são parte integral da estratégia de renovação urbana da cidade de Medelim, Colômbia.
Estrategicamente situadas em algumas das comunidades mais carentes nas periferias de Medelim, tem se transformado
em centro de desenvolvimento social para dar resposta a necessidade de contar com espaços culturais e educativos.
As Bibliotecas Parque são um conjunto de bibliotecas públicas que oferecem as ferramentas e programas educativos
para beneficiar as comunidades locais e constituem um centro para projetos ecológicos e de desenvolvimento urbano.24
�OBJETIVO 12 ASSEGURAR PADRÕES DE PRODUÇÃO
E DE CONSUMO SUSTENTÁVEIS
OBJETIVO 13 TOMAR MEDIDAS URGENTES PARA COMBATER A MUDANÇA
DO CLIMA E SEUS IMPACTOS
OBJETIVO 14 CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DOS OCEANOS, DOS MARES
E DOS RECURSOS MARINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
OBJETIVO 15 PROTEGER, RECUPERAR E PROMOVER O USO SUSTENTÁVEL
DOS ECOSSISTEMAS TERRESTRES, GERIR DE FORMA SUSTENTÁVEL
AS FLORESTAS, COMBATER A DESERTIFICAÇÃO, DETER E REVERTER
A DEGRADAÇÃO DA TERRA E DETER A PERDA DE BIODIVERSIDADE
As bibliotecas são instituições sustentáveis: elas compartilham recursos dentro
da comunidade e em nível internacional e garantem a todos o acesso à informação.
Todas as bibliotecas desempenham um papel significativo na provisão de acesso a dados,
pesquisa e conhecimento que apoia a pesquisa informada e o acesso público à informação
sobre mudanças climáticas, sendo papel chave na preservação do conhecimento indígena que inclui tomada de decisão local sobre aspectos fundamentais da vida, incluindo caça,
pesca, uso da terra e gestão da água.
ESTADOS UNIDOS
A Biblioteca do Patrimônio da Biodiversidade é uma biblioteca digital de acesso público das bibliotecas Smithsonianas
que contém obras sobre biodiversidade que incluem mais de 46 milhões de páginas de mais de 170.000 volumes de
obras sobre biodiversidade publicadas entre os séculos XV e XXI em mais de 40 idiomas. Os pesquisadores estão
usando os dados para identificar novas espécies, marcar os avanços em matéria de população e ecossistemas e informar
futuros modelos de mudanças climáticas. Esses dados podem ser utilizados para formular políticas relacionadas com a
conservação, o desenvolvimento sustentável e administração responsável dos recursos. A coleção garante que todas as
pessoas - de todos os lugares – tenham acesso à informação necessária para salvar as espécies dos ecossistemas da Terra.25
SINGAPURA
O Conselho da Biblioteca Nacional de Singapura (NBL) tem trabalhado com seus patrocinadores com a finalidade
de construir uma Biblioteca Ecológica Infantil que ofereça coleções especiais sobre preservação do meio
ambiente e programas interativos de educação pública, destinados especialmente a ajudar
as crianças a compreender as mudanças climáticas. Grande parte do edifício será feito
de materiais recicláveis, reafirmando a mensagem de preservação. Ao desenvolver
e operar sua rede de bibliotecas a NLB recomenda que se apliquem práticas
recomendadas em matéria de energia e consumo de recursos e também
minimize seu uso excessivo. O maior êxito alcançado pelo edifício
da Biblioteca Nacional foi o Prêmio de Selo Verde de Platina
(Green Mark Platinum Award) em maio de 2013 dado
pela Autoridade de Construção em Singapura. 26
M a y
�OBJETIVO 16 PROMOVER SOCIEDADES
PACÍFICAS E INCLUSIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL, PROPORCIONAR O ACESSO À JUSTIÇA
PARA TODOS E CONSTRUIR INSTITUIÇÕES EFICAZES,
RESPONSÁVEIS E INCLUSIVAS EM TODOS OS NÍVEIS
Para alcançar o acesso pleno à informação todos devem ter tanto o acesso como as
habilidades para utilizar a informação de maneira efetiva como
expressado na Declaração
27
de Lyon sobre o Acesso à Informação e o Desenvolvimento. As bibliotecas possuem
habilidades e os recursos para apoiar os governos, instituições e indivíduos a comunicar,
organizar, estruturar e utilizar a informação de maneira efetiva para o desenvolvimento.
MOLDAVIA, GEORGIA E UCRÂNIA
A aliança para o Governo Aberto (OGP em inglês) 28 é uma organização internacional que trabalha com os governos
dos estados membro para criar fortes compromissos com a transparência, a participação cívica, a luta contra a corrupção
e um governo aberto responsável. A OGP tinha se comprometido a incluir o Objetivo 16 em seus planos de ação nacional.
Os países Moldávia, Georgia e Ucrânia podem acessar a informação e os acordos bibliotecários como parte dos seus
planos de ação (OGP). Os bibliotecários nestes países participam de reuniões da sociedade civil para colaborar com
o desenvolvimento do Plano de Ação Nacional dos seus países e tem aumentado a conscientização sobre a contribuição
das bibliotecas e o acesso a informação no cumprimento dos compromissos da OGP.
INTERNACIONAL
Em sintonia com a estratégia do Grupo do Banco Mundial dedicada a eliminação da pobreza extrema no ano de 2030,
a biblioteca do Grupo do Banco Mundial oferece tanto aos seus empregados como à comunidade em geral acesso
à informação e serviços relevantes com o propósito de promover a difusão do conhecimento, o bom governo e o
desenvolvimento econômico. Profissionais altamente qualificados em informação respondem perguntas relacionadas
com o desenvolvimento, encontram informação em diversas fontes internas e externas, promovem a capacitação das
equipes sobre as coleções, recursos e serviços que tenham relação com as prioridades de desenvolvimento do Banco.
A biblioteca também promove uma maior transparência e responsabilidade por meio da capacitação no desenvolvimento
das habilidades para acesso público à informação para membros de todo o mundo que não trabalhem na equipe.
O trabalho da biblioteca de acesso à informação é parte integrante do desenvolvimento global. 29
SUÍÇA
A Biblioteca Digital sobre Ética Globethics.net é uma biblioteca online que oferece acesso gratuito a centenas de milhares
de documentos completos sobre ética e disciplinas afins. Através da modernização do acesso aos recursos do conhecimento
sobre ética no hemisfério sul, esta iniciativa internacional visa o aprimoramento do intercâmbio de conhecimentos, em
particular, de norte a sul e de sul a sul, e vai contribuir com o desenvolvimento, especialmente, mediante a promoção
de liderança responsável, boa governança e tomada de decisões e seus processos baseados em valores.30
�OBJETIVO 17
FORTALECER OS
MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO
E REVITALIZAR A PARCERIA GLOBAL
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
As bibliotecas oferecem uma rede global de instituições baseadas
na comunidade dispostas a apoiar planos de desenvolvimento nacional
a nível local e nacional como recursos para aprimorar a tomada de decisões.
CANADÁ
O Conselho Nacional de Pesquisa da Biblioteca Nacional de Ciência é um co-patrocinador da Biblioteca Federal
de Ciência, um projeto que reúne sete bibliotecas departamentais de ciência para criar um única plataforma unificada
de busca e acesso. Isto objetiva garantir serviços de biblioteca e informação mais sustentáveis para os pesquisadores
e funcionários do governo federal, promover a visibilidade e o acesso às coleções e repositórios das bibliotecas de
ciências para os canadenses. O projeto representa um compromisso com o Plano Nacional de Ação para a Aliança
do Governo Aberto do Canadá em virtude do Compromisso Básico da Informação Aberta.31
�CANADÁ
EUR
ESTADOS UNIDOS
MALI
HONDURAS
COLÔMBIA
AS BIBLIOTECAS EM TODO O MUNDO ESTÃO TRATANDO
DE ALCANÇAR OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL DAS NAÇÕES UNIDAS.
UMA SELEÇÃO COM EXEMPLOS ESTÃO INCLUÍDAS NESTE FOLHETO.
REINO
�UROPA
KYRGYZSTAN
MONGÓLIA
CHINA
NEPAL
UGANDA
SRI LANKA
SINGAPURA
AUSTRÁLIA
SUÉCIA
FINLÂNDIA
UNIDO
LETÔNIA
PAÍSES BAIXOS
SUÍÇA
UCRÂNIA
ESLOVÊNIA
MOLDAVIA
ROMÊNIA
GEORGIA
�RECOMENDAÇÕES PARA OS FORMULADORES DE POLÍTICAS
1. INCLUIR AS BIBLIOTECAS EM SEUS PLANOS NACIONAIS
Os planos nacionais de desenvolvimento determinarão muito dos gastos governamentais
e prioridades do programa. Estes planos podem incluir um único plano de desenvolvimento
nacional, o plano nacional sobre banda larga, inclusão digital, desenvolvimento social,
entre outros. Se as pessoas precisam dos últimos preços de cultivo ou onde encontrar
cuidados médicos, o progresso em direção aos objetivos depende de compartilhamento
de informações. As bibliotecas são especialmente efetivas na ampliação do acesso à
informação em zonas marginalizadas e em tempos de crises ou transição.
2. PARCERIAS COM AS BIBLIOTECAS
As bibliotecas podem colaborar com o governo e com outros agentes para implementar
estratégias e programas nacionais com a finalidade de assegurar a inclusão a todas as
pessoas. O acesso à informação que as bibliotecas podem oferecer respalda a Agenda 2030
das Nações Unidas em sua totalidade e promove a eliminação da pobreza, a agricultura
sustentável e produtiva, a educação e saúde de qualidade e todos os demais Objetivos.
Nas bibliotecas os governos contam com um colaborador estabelecido, rentável e poderoso
na luta contra a pobreza, o desenvolvimento econômico e o ensino para todas as pessoas.
3. TRABALHAR COM AS BIBLIOTECAS PARA CRIAR CONSCIÊNCIA
SOBRE OS ODS E O QUE SIGNIFICAM EM NÍVEL LOCAL
Como parte da Agenda 2030 das Nações Unidas foi solicitado que cada país garantisse
que todas as pessoas, desde as organizações interessadas até o público em geral, tenham
conhecimento sobre os ODS e sua importância para a vida dos cidadãos. Os bibliotecários
podem colaborar colocando informações locais e atualizadas sobre os ODS tanto para quem
toma as decisões como para toda a comunidade local:
•
As bibliotecas podem compartilhar informações sobre os ODS e as prioridades nacionais
de desenvolvimento dentro de suas comunidades e internacionalmente, e conectar
as pessoas com a informação sobre os Objetivos na internet.
•
As bibliotecas designadas como Bibliotecas Depositárias e Centros de Informação
das Nações Unidas em todo o mundo cumprem um papel fundamental na comunicação
da informação, das pesquisas e recebem feedback que ajudam os tomadores de decisão,
a nível local e nacional, a alcançar os Objetivos. 32
�“Vamos ter a certeza de que usamos
as instituições que podem ajudar a abrir
bases de dados e recursos de conhecimento e
dar acesso às tecnologias de informação às pessoas
que precisam alcançar o desenvolvimento sustentável.
Bibliotecas esperam ser parceiras na revolução de dados e assim ajudar
33
a chegar a 2030 em boa forma.”
Donna Scheeder, Presidente da IFLA
�REFERÊNCIAS
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http://open.canada.ca/en/content/canadas-action-plan-open-government-2014-16#ch4-3
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http://unic.un.org
33
http://www.ifla.org/node/9427
liclibraries2020.eu/content/see-numbers
�SOBRE
CONTATO
IFLA: A voz global confiável das bibliotecas
e dos profissionais da informação.
Para maiores informações sobre as
recomendações desse caderno contate:
A Federação Internacional de Associações
de Bibliotecas e Instituições (IFLA) é o órgão
que representa os interesses das bibliotecas,
dos serviços de informação e seus usuários.
IFLA Headquarters
P.O. Box 95312
2509 CH The Hague
Netherlands
TEL +31-70-3140884
FAX +31-70-3834827
EMAIL ifla@ifla.org
www.ifla.org
FOTOGRAFIAS/
CRÉDITOS DAS IMAGENS
Capa: Amsterdam Public Library, The Netherlands
(Jorge Royan)
Contracapa: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável:
17 objetivos para transformar nosso mundo
Objetivo 6-7
Honduras: San Juan Planes Community Library
(Beyond Access)
Objetivo 8
Bibliotecas Motores do Progresso: Stuttgart Public
Library (jwltr Freiburg, Flickr)
European Union: Public library service in Slovenia
(Public Libraries 2020)
Objetivo 1
Objetivo 9
Sri Lanka: e-Library Nenasala Program of Sri Lanka
(Access to Learning Award 2014)
Finland: Open Science Lab
Objetivo 2
Objetivo 10
Romania: Biblionet (IREX)
Mongolia: Knowledge without boundaries (EIFL)
Objetivo 3
International: Ideas Box in Burundi (Bibliothèques
Sans Frontières)
Kyrgyzstan: Knowledge without boundaries (EIFL)
Objetivo 11
Objetivo 4
Netherlands: BoekStart.nl
Sweden: Open educational resources in libraries
(Läranderum)
Mali: Culture in Timbuktu 25 (UN Mission in Mali,
Flickr)
Objetivo 12-15
Objetivo 5
United States: Biodiversity Heritage
(BioDivLibrary & Les Veilleux, Flickr)
Library
Uganda: Beyond Access meeting in Uganda (Beyond
Access)
Singapore: World’s 1st Green Library for kids at the
National Library Board (Choo Yut Shing, Flickr)
Recomendações para os formuladores de políticas:
Atelier Khan
Academy, Burundi (Bibliothèques Sans Frontières)
�IFLA Headquarters
P.O. Box 95312
2509 CH The Hague
Netherlands
Tel +31-70-3140884
Fax +31-70-3834827
email ifla@ifla.org
www.ifla.org
Tradução:
FEBAB - Federação Brasileira de Associações
de Bibliotecários e Instituições
http://www.febab.org.br
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
IFLA
Text
A resource consisting primarily of words for reading. Examples include books, letters, dissertations, poems, newspapers, articles, archives of mailing lists. Note that facsimiles or images of texts are still of the genre Text.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Acesso e oportunidade para todos: Como as bibliotecas contribuem para a agenda de 2030 das Nações Unidas
Subject
The topic of the resource
Agenda 2030; Nações Unidas; Erradicação da pobreza; Fome zero; Boa saúde e bem-estar; Educação de qualidade; Igualdade de gênero; Água limpa e saneamento; Energia acessível e limpa; Emprego digno e crescimento econômico; Indústria,inovação e infraestrutura; Redução das desigualdades; Cidades e comunidades sustentáveis; Consumo e produção sustentáveis; Combate às alterações climáticas; Vida debaixo d’água; Vida sobre a terra; Paz, justiça e instituições fortes; Parcerias em prol das metas
Description
An account of the resource
Em setembro de 2015, os Estados membros das Nações Unidas adotaram o documento: “transformar nosso mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”. A nova agenda de 2030 da ONU é um marco inclusivo, integrada por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável que englobam o desenvolvimento econômico, ambiental e social. Através do alcance dos objetivos dessa agenda nada será relegado. As bibliotecas são instituições fundamentais para se alcançar esses objetivos. O acesso público à informação permite que as pessoas tomem decisões conscientes que podem melhorar suas vidas. As comunidades que têm acesso à informação relevante e no tempo certo estão melhor posicionadas para erradicar a pobreza e a desigualdade, melhorar a agricultura, proporcionar educação de qualidade e promover a saúde, a cultura a pesquisa e a inovação. O acesso à informação foi reconhecido no Objetivo 16 dos ODS: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, facilitar o acesso à justiça para todos e criar instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
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