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Biblioteca universitária: mediações da cultura informacional
científica e formação de sujeitos do conhecimento
Lilian Viana (USP) - vianalil@gmail.com
Ivete Pieruccini (Instituição - a informar) - ivetepie@usp.br
Resumo:
Apresenta pesquisa de doutorado em curso que afirma a importância da ampliação dos limites
conceituais que configuram a biblioteca universitária em nosso país a ser tomada como
instância de mediação da cultura informacional científica. Evidencia a problemática das
relações dos estudantes universitários com esse universo, face à insuficiência de saberes
necessários e indispensáveis à sua constituição como sujeitos epistêmicos, condição ao diálogo
afirmativo com o patrimônio científico existente. Por meio de pesquisa teórica e empírica - que
faz uso de metodologia colaborativa -, junto a estudantes ingressantes em curso de graduação,
propõe observar dinâmicas implicadas nas relações dos sujeitos com a cultura informacional
científica, tendo em vista extrair elementos que contribuam às reflexões sobre o
desenvolvimento da dimensão formativa da biblioteca universitária, por meio de processos de
mediação cultural. Considera que ao redefinir-se por abordagem nessa direção, a biblioteca
universitária estará em diálogo com problemáticas do contexto contemporâneo, contribuindo à
formação de sujeitos do conhecimento e, consequentemente, ao desenvolvimento dos campos
do conhecimento, intrinsecamente ligados às dimensões sociais, culturais e econômicas do
país.
Palavras-chave: Biblioteca universitária. Ensino superior. Conhecimento. Mediação.
Eixo temático: Eixo 1: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
�XXVIII Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia e
Documentação
Vitória, 01 a 04 de outubro de 2019.
Videografia: ( ) Sim (x ) Não
Eixo Temático: ODS 4: Educação de Qualidade
INTRODUÇÃO
O ingresso num curso de graduação no ensino superior não apenas
propicia a oportunidade de o sujeito entrar em contato com novos conhecimentos.
O estudante irá deparar-se com a exigência de novas formas de lidar com o
conhecimento, sobretudo em universidades, instituições comprometidas com a
pesquisa científica. Se para uma grande maioria dos estudantes a educação
básica correspondeu à exigência da capacidade de acumular conteúdos
intelectuais, seguindo rigidamente passos indicados pelos professores, no ensino
superior, entretanto, muitos irão experimentar inquietações a partir da relação
com o novo meio, que lhes exige o domínio de chaves necessárias para abrir as
portas que passam a ter diante de si. Isto porque a graduação é momento em que
o sujeito se vê diante de uma nova cultura, marcada por princípios, mecanismos e
valores constitutivos próprios que ensejam atitudes para que se relacione com o
conhecimento e integre o meio de maneira crítica, criativa, rigorosa e afirmativa.
A relação do estudante universitário com a cultura acadêmica foi abordada
em pesquisas nacionais e internacionais (ADACHI, 2017; BELETTATI, 2011;
COULON, 2008), que evidenciam um quadro complexo formado por questões
diversas referentes às formas e dinâmicas com o saber. A relação com o tempo é
nova, pois as aulas têm duração distinta do formato adotado no ensino médio,
bem como as disciplinas são distribuídas de modo diverso daquele praticado no
ensino básico, de modo geral. A necessidade de aprender a concentrar-se para os
estudos e saber organizar as atividades em um cronograma também é indicada
como questão problemática nas pesquisas e, se por um lado, é apontada a
importância de que o sujeito estabeleça novas formas de relações com regras, de
outro, é igualmente ressaltada a importância de novos princípios de diálogo com o
saber. Nessa esfera predominantemente cognitiva, foi evidenciado que os
estudantes têm dificuldades em fazer sínteses dos conhecimentos apresentados
em curso, de reconhecer aquilo que é importante anotar durante a aula, como
também de compreender a natureza do trabalho intelectual implicado no ensino
superior. Na medida que os professores não evidenciam caminhos explícitos para
serem seguidos rotineiramente, muitos aguardam orientações para agir e, desse
modo, não aproveitam o tempo livre para adentrar autonomamente pelas trilhas da
construção do conhecimento. Nessa direção, há relatos sobre possuir conteúdos
intelectuais sem, entretanto, conseguir articulá-los, aspecto que se evidencia tanto
no momento dos debates em sala de aula, como na etapa de redigir sínteses ou
�monografias, o que também inclui a dificuldade de adequar a escrita ao padrão
acadêmico. Esse emaranhado de questões, diretamente implicado nas relações
dos estudantes com o conhecimento, traz luz à problemática mais específica das
relações dos sujeitos com a cultura informacional científica. E, se consideramos o
conhecimento uma construção social – construção de sujeitos para sujeitos que
integram um mundo comum a todos –, evidencia-se a importância de que as
diferentes modalidades de cultura informacional incluam dispositivos para que
seus membros sejam formados enquanto sujeitos do conhecimento (LAROSSA,
1994). Nesses termos, a partir da abordagem da Ciência da Informação,
interrogamo-nos especificamente sobre o papel da biblioteca universitária nos
processos de apropriação da cultura informacional, defendendo-se a ideia de suas
implicações na educação dos estudantes como sujeitos do conhecimento. Se a
função de guarda, organização e disponibilização do patrimônio científico e
cultural desempenhada pela biblioteca universitária é essencial parece-nos,
entretanto, que tal paradigma centrado, sobretudo, na oferta e difusão de
repertórios científicos mostra-se insuficiente na contemporaneidade, colocando-se
em causa, nesta perspectiva, a própria finalidade das bibliotecas (em geral), dado
o atual cenário marcado pelas tecnologias de informação e comunicação que,
grosso modo, rompem com barreiras de limites físicos para o acesso à
informação. Essas reflexões iniciais foram gestadas a partir da experiência no
terreno de uma das pesquisadoras que, atuando profissionalmente como
bibliotecária no Serviço de Referência da Biblioteca da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), observou muitas das questões
acima indicadas. As inquietações diante das dificuldades para avançar nas
práticas profissionais junto aos estudantes foram propulsoras da busca por
interlocuções junto à academia, por meio do curso de doutorado em Ciência da
Informação (ECA/USP). É, assim, a partir desse entrecruzamento que o problema
de nossa pesquisa germinou, apontando para a urgência de se refletir, de forma
rigorosa, sobre o papel educativo da biblioteca universitária, tendo em vista a
constituição de bases sólidas que orientem a redefinição de sua esfera de atuação
para além da função informativa, aspecto que implicará incluir a formação dos
estudantes por meio da mediação da relação destes com a cultura informacional
científica. Essa abordagem ultrapassa enfoques procedimentais, ancorados na
noção de eficácia, de uso competente de conteúdos informacionais, uma vez que
tal perspectiva implicaria processos e práticas de adaptação do aluno ao meio,
não condizendo com a formação de atitudes como a autonomia, curiosidade
epistemológica, rigor e consciência crítica1, indispensáveis para que os sujeitos
atuem de modo afirmativo no seu campo do conhecimento. Em síntese, buscamos
ampliar os limites conceituais e metodológicos que configuram a biblioteca
universitária para que seja, também, dispositivo de mediação da cultura
informacional científica.
MÉTODO DA PESQUISA
1
Os termos são empregados a partir da obra de Paulo Freire. Para detalhes, consultar: STRECK,
Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (Org.). Dicionário Paulo Freire. Belo
Horizonte: Autêntica, 2008.
�A pesquisa está sendo desenvolvida a partir de dois eixos mutuamente
articulados: teórico e prático, conforme apresentado a seguir.
Pesquisa de referencial teórico: Constitui-se a partir dos seguintes conceitoschave: cultura acadêmica, conhecimento, informação, informação científica,
mediação, apropriação da informação, formação cultural, sujeito, experiência,
lugares de saber, ensino superior. De outro lado, tendo em vista a sistematização
de práticas desenvolvidas nas bibliotecas universitárias brasileiras, a partir de
2010, será realizado levantamento da produção existente nos repositórios do
Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) e do
Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU).
Pesquisa empírica: A pesquisa empírica constitui caminho para observação de
fenômenos implicados nas relações entre os sujeitos e a cultura informacional
científica. Tem como objetivo contribuir para a compreensão de elementos
concretos do espectro em que a questão está inserida e, assim, propiciar avanços
em nossas reflexões acerca da ampliação da esfera de atuação da biblioteca
universitária, tomada como instância de mediação e apropriação da cultura
informacional científica pelos estudantes. De natureza qualitativa, desenvolvida
por meio de metodologia colaborativa, a pesquisa – cujo território é a biblioteca da
ECA/USP – tem sua realização ao longo do primeiro semestre de 2019, junto a 11
alunos ingressantes no curso de graduação em Biblioteconomia (ECA/USP), que
aceitaram participar da ação, viabilizada a partir do diálogo com docente
responsável por uma disciplina e que criou condições de possibilidade para que a
proposta se efetivasse. Os estudantes irão realizar o trabalho final – uma
monografia sobre tema dentro do escopo teórico da disciplina – e a pesquisadora
irá acompanhá-los nesse ato buscando, com isso, atuar simultaneamente em dois
níveis: produção de conhecimento e desenvolvimento dos próprios participantes,
dentre os quais se inclui a própria pesquisadora. No ato de pesquisar e produzir
conhecimentos está em causa observar o modo como os estudantes passam a
interagir com a biblioteca e como reagem a demandas que implicam atitudes
inerentes a sujeitos do conhecimento, a saber, autonomia, rigor, consciência
crítica, curiosidade epistemológica. A ação da pesquisadora será dupla, ao mesmo
tempo, experimentando o papel de bibliotecária mediadora das relações entre
sujeitos e a cultura informacional científica e de observadora participante,
refletindo sobre o fazer bibliotecário na direção proposta neste estudo. As ações
serão realizadas considerando-se a pesquisa como um processo marcado por
distintos passos tais como: contato com a questão inicialmente proposta;
estabelecimento de perguntas para si mesmo; formulação de questões de
pesquisa; busca por informações; leitura e registro de informações; reformulação
de questões; nova busca por informações; leitura e registro de informações;
ordenação do pensamento diante das informações obtidas para sua comunicação,
dentre outras. Os passos não configuram, em absoluto, um protocolo a ser
rigidamente seguido, mas pontos que visam nortear o desenvolvimento das ações,
possibilitando idas e vindas que considerem o tempo dos sujeitos e suas
singularidades, aspecto que permitirá dar voz às dificuldades encontradas pelos
participantes do estudo. Não está em causa, portanto, o estabelecimento de uma
fórmula a ser seguida, ou modelo a ser implementado em bibliotecas
�universitárias. Por meio dessa ação pretendemos buscar elementos que lancem
luzes sobre dinâmicas inerentes às relações dos sujeitos com a cultura
informacional científica, alargando e trazendo novas complexidades às reflexões
teóricas, indispensáveis a possíveis avanços no âmbito das mediações culturais
entre o sujeito e o universo científico, entendendo-se que mediar é ato que implica
a própria experiência de si (LARROSA, 1994) do sujeito em meio a processo
afirmativo de construção da identidade de estudante universitário, condizente com
a noção de sujeito do conhecimento.
RESULTADOS INICIAIS E DISCUSSÃO
A biblioteca universitária desenvolvida e consolidada a partir do paradigma
do acesso, tendo como foco ações de guarda, organização e oferta do patrimônio
simbólico, encontra abrigo na própria legislação brasileira que, no decreto federal
no 9.235, de 15 de dezembro de 2017, dispõe sobre o exercício das funções de
regulação, supervisão e avaliação das instituições de educação superior e dos
cursos superiores de graduação e de pós-graduação no sistema federal de ensino,
caracterizando-a como infraestrutura física com a função de prover o acesso a
recursos informacionais analógicos e digitais. Sem desconsiderar a importância
dessa dimensão, evidenciamos sua insuficiência, se entendemos que produção do
conhecimento e apropriação cultural são elementos de um mesmo binômio. O
primeiro contato com os estudantes que participam da pesquisa reforçou aquilo
que foi identificado na literatura. Todos expuseram inquietações face às demandas
de atitudes que o ensino superior coloca, reconhecendo não possuirem chaves
cognitivas e culturais necessárias para adentrar nesse território, participando dele
como sujeitos, sendo marcante que, dentre os 11 participantes, 2 já haviam
cursado outra graduação na USP e ambos expuseram que o fim da graduação foi
acompanhado por sentimento de que faltou algo na formação para que se
reconhecessem como protagonistas em suas relações com o universo científico.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A democratização do acesso ao ensino superior marcou as últimas décadas
brasileiras com a expansão da rede pública universitária e políticas de
financiamento estudantil. Um importante passo democrático, que, por sua vez,
demanda novas ações, pois o simples contato do estudante com o meio é
insuficiente para que dele se aproprie. Esses públicos entre nós, diversificaram-se
não só em termos quantitativos, mas, em perfis socioculturais e etários, formação
básica inicial, expectativas em relação à educação, entre outros aspectos
observados no cotidiano institucional que comprovam fraturas entre a cultura de
origem do estudante e a cultura acadêmica, questões que merecem ser
problematizadas, considerando-se objetivos em torno da formação de sujeitos do
conhecimento. Trata-se, igualmente, de dimensão essencial ao desenvolvimento
dos diferentes campos do conhecimento, dado que os estudantes podem ser
considerados como elos da corrente de transformação do próprio campo do
conhecimento, por meio da sua inserção afirmativa nos domínios sociais,
econômicos e culturais. As bibliotecas universitárias, dispositivos de mediação do
patrimônio cultural e científico, configuram-se como potenciais instâncias
�privilegiadas para a educação cultural, indispensável à formação dos sujeitos do
conhecimento.
REFERÊNCIAS
ADACHI, Ana Amélia C. T. Evasão de estudantes de cursos de graduação da
USP ingressantes nos anos de 2002, 2003 e 2004. 2017. Tese (Doutorado em
Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2017. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde13092017-152310/pt-br.php . Acesso em 01 out. 2018.
BELLETATI, Valéria C. F. Dificuldades de alunos ingressantes na
universidade pública: alguns indicadores para reflexões sobre a docência
universitária. 2011. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-04082011-115006/ptbr.php. Acesso em 01 out. 2018.
COULON, Alain. A condição de estudante: a entrada na vida universitária.
Tradução de Georgina G. dos Santos e Sônia Maria R. Sampaio. Salvador:
EDUFBA, 2008.
LARROSA, Jorge. Tecnologias do eu e educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu da
(Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994, p.
35-86.
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CBBD - Edição: 28 - Ano: 2019 (Vitória/ES)
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Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
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2019
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Português
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
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Biblioteca universitária: mediações da cultura informacional científica e formação de sujeitos do conhecimento
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Lilian Viana
Ivete Pieruccini
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2019
Subject
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Eixo 1: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
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An account of the resource
Apresenta pesquisa de doutorado em curso que afirma a importância da ampliação dos limites conceituais que configuram a biblioteca universitária em nosso país a ser tomada como instância de mediação da cultura informacional científica. Evidencia a problemática das relações dos estudantes universitários com esse universo, face à insuficiência de saberes necessários e indispensáveis à sua constituição como sujeitos epistêmicos, condição ao diálogo afirmativo com o patrimônio científico existente. Por meio de pesquisa teórica e empírica - que faz uso de metodologia colaborativa -, junto a estudantes ingressantes em curso de graduação, propõe observar dinâmicas implicadas nas relações dos sujeitos com a cultura informacional científica, tendo em vista extrair elementos que contribuam às reflexões sobre o desenvolvimento da dimensão formativa da biblioteca universitária, por meio de processos de mediação cultural. Considera que ao redefinir-se por abordagem nessa direção, a biblioteca universitária estará em diálogo com problemáticas do contexto contemporâneo, contribuindo à formação de sujeitos do conhecimento e, consequentemente, ao desenvolvimento dos campos do conhecimento, intrinsecamente ligados às dimensões sociais, culturais e econômicas do país.
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