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Perspectivas de acolhimento a refugiados nas Bibliotecas
Comunitárias da cidade de São Paulo: um estudo exploratório.
Maria ROSA CRESPO (FaBCI) - rosa.crespo@fespsp.org.br
Resumo:
Um dos maiores desafios sociais da atualidade é a questão dos refugiados, deslocados e
apátridas que tem despertado atenção e preocupação em todas as partes do mundo. Diversas
instâncias da sociedade brasileira, nos âmbitos do Direito, da Educação e da Saúde, estão
envolvidas na análise e tentativas de dar uma resposta à sociedade, bem como no que se
refere à oferta de emprego e moradia aos diversos grupos de deslocados internacionais que se
encontram na informalidade. A ‘crise dos refugiados’ tornou-se crônica para a maioria das
nações e já se encontra instalada em nosso país. Diante desse quadro, que auxílio podem
oferecer as bibliotecas comunitárias da cidade de São Paulo? A partir de entrevistas com
refugiados e visitas realizadas a instituições de acolhimento e Bibliotecas Comunitárias da
cidade percebemos a possibilidade de acolhimento, oferta de apoio pontual, informação e
encaminhamento. Ao compilar os resultados alcançados nesta investigação, percebemos que,
talvez, o maior papel seja na integração social com a população local, abrindo espaço para
explicitação de suas histórias, demonstração de sua cultura e idioma, integração de crianças
por meio de brincadeiras e outras possibilidades abertas à generosidade, engenhosidade e
criatividade dos gestores de bibliotecas comunitárias.
Palavras-chave: Bibliotecas Comunitárias. Refugiados. Migrantes econômicos.
Eixo temático: Eixo 2: Não devemos deixar ninguém para trás
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�Título: Perspectivas de acolhimento a refugiados nas Bibliotecas Comunitárias da
cidade de São Paulo: um estudo exploratório.
Resumo
Um dos maiores desafios sociais da atualidade é a questão dos refugiados,
deslocados e apátridas que tem despertado atenção e preocupação em todas as
partes do mundo. Diversas instâncias da sociedade brasileira, nos âmbitos do Direito,
da Educação e da Saúde, estão envolvidas na análise e tentativas de dar uma
resposta à sociedade, bem como no que se refere à oferta de emprego e moradia aos
diversos grupos de deslocados internacionais que se encontram na informalidade. A
‘crise dos refugiados’ tornou-se crônica para a maioria das nações e já se encontra
instalada em nosso país. Diante desse quadro, que auxílio podem oferecer as
bibliotecas comunitárias da cidade de São Paulo? A partir de entrevistas com
refugiados e visitas realizadas a instituições de acolhimento e Bibliotecas
Comunitárias da cidade percebemos a possibilidade de acolhimento, oferta de apoio
pontual, informação e encaminhamento. Ao compilar os resultados alcançados nesta
investigação, percebemos que, talvez, o maior papel seja na integração social com a
população local, abrindo espaço para explicitação de suas histórias, demonstração de
sua cultura e idioma, integração de crianças por meio de brincadeiras e outras
possibilidades abertas à generosidade, engenhosidade e criatividade dos gestores de
bibliotecas comunitárias.
1 Introdução
Desde os anos 1990, observa-se que a contribuição do Brasil, no recebimento
de refugiados, vem assumindo maiores proporções, seja pela atuação do Comitê
Nacional de Refugiados (CONARE) do Ministério da Justiça, seja pelas ações
governamentais e não governamentais associadas ao Alto Comissariado da ONU
para Refugiados (ACNUR), seja pelo próprio engajamento da sociedade civil, tendo,
na atualidade, adquirido um caráter de emergência nas esferas da segurança e saúde
públicas, da mesma forma como acontece em outras partes do mundo.
A população refugiada no Brasil encontra-se nas grandes capitais, sendo que
São Paulo abriga o maior contingente, e, podemos dizer, as maiores dificuldades se
encontram no campo da inserção social, na obtenção de trabalho, no aprendizado da
língua e entendimento dos códigos culturais e conhecimento das estruturas oficiais de
gestão do país. Como podemos ver, os principais problemas dos estrangeiros
informais são comuns aos próprios habitantes de baixa renda em São Paulo:
dificuldade de moradia; informalidade e precarização do emprego; dificuldade de
acesso à educação formal e aos serviços públicos de saúde, e trabalho.
Diversas instituições em São Paulo encontram-se disponíveis para o
acolhimento dessa população, oferecendo desde água, lanches e algum item de
�higiene ou vestuário, e até, como é o caso do Centro de Estudos Migratórios (CEM)1,
assistência jurídica, encaminhamento para trabalho e moradia, espaços de integração
e congregação, eventos e outras modalidades de recepção e acolhida. Para algumas,
como a Cáritas Brasil2, a oferta está restrita àqueles que chegam com status de
refugiado concedido pela Governo Brasileiro, para outras, a situação legal na cidade
não é levada em consideração.
3 Procedimentos de pesquisa
Para estabelecimento de definições e coleta de informações, adotamos a
realização de uma revisão bibliográfica dos principais autores voltados para os temas
aqui abordados estabelecendo um patamar de qualidade que permita sua
transposição para a experiência real, o que também possibilitou aquisição de dados
secundários como números e estatísticas. Os dados primários foram adquiridos por
meio de entrevistas pessoais semi estruturadas, visitas, acompanhamento de
atividades e participação em reuniões de trabalho.
3.1 Pesquisa de campo
a) Entrevistas com refugiados;
b) Visitas e entrevistas com gestores de três bibliotecas comunitárias:
c) Visitas e entrevistas com quatro entidades:
4 As bibliotecas comunitárias
A criação da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias3 (RNBC) em 2008, por
um grupo de gestores de BCs de Salvador, BA, consolidou a oferta de um espaço de
discussão nacional sobre o tema e, de certa forma, estabelecer o termo BC como
denominador comum para os diversos formatos de oferta de informação e leitura que
se espalham pelo país, fora do âmbito governamental. A rede conta atualmente com
11 sub redes locais e 115 bibliotecas comunitárias nos estados do Pará, Maranhão,
Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro.
4.1 A rede Litera Sampa4
1
http://www.missaonspaz.org/cem
http://caritas.org.br/programas-caritas/refugiados
3 https://www.rnbc.org.br/
4 Literasampa.blogspot.com.br; literasampa@gmail.com.
2
�Em São Paulo, a partir da atuação da RNBC, formou-se uma articulação de 14
bibliotecas comunitárias que atua de forma colaborativa por meio de uma rede
denominada Litera Sampa. Seus objetivos declarados são: trazer leitores para as
bibliotecas comunitárias e também levar os livros até a comunidade de origem.
5 Resultados qualitativos
5.1 O que pensam os refugiados5
Os entrevistados acreditam que uma BC poderia oferecer informações sobre o
Brasil, costumes, mercado de trabalho. Acreditam que o brasileiro acolhe bem, Falar
de religião é complicado pois chegam com suas religiões próprias e isso é mais uma
dificuldade de entrosamento. Jornais e revistas semanais poderiam ser uma fonte
interessante de conhecimento do país. Gostariam de ouvir música, aprender a dançar,
ver filmes sobre o Brasil. “Isso seria melhor do que aulas ou palestras”.
5.2 A opinião das entidades6
Em geral as comunidades tendem a ficar juntas (em suas nacionalidades) para
se proteger do preconceito, de eventuais agressões e para combater a solidão e a
falta de parâmetros sociais de pertencimento. As estruturas Estatais de seus países
de origem como Embaixadas e Consulados, não são, obviamente, opções válidas
para busca de auxílio ou suporte. Considera-se importante a sensibilização e
preparação do voluntário da BC para atendimento ao refugiado, para que possa
indicar leituras, promover os eventos e prestar um auxílio mais efetivo.
5.3 O que dizem as BCs7
As BCs percebem os refugiados nas ruas e no comércio ambulante em suas
comunidades, mas estes não os procuram, não sabem de sua existência. De maneira
geral, as BC consideram como prioridade a inserção dos indivíduos na comunidade e
poderiam utilizar seu conhecimento local e regional para possíveis encaminhamentos
a Postos de Saúde, Instituições de atendimento e ajuda, Igrejas, Escolas e Creches,
entre outras.
6 Mapeamento das sugestões
5
Os termos entre parênteses expressam palavras dos entrevistados, que não serão identificados por
nome ou nacionalidade para preservar seu anonimato, algo bastante importante para eles.
6 Esta parte do artigo foi construída a partir de uma fusão das opiniões expressas pelas diversas
entidades entrevistadas.
7 Da mesma forma, esta parte do artigo foi construída a partir de uma fusão das opiniões expressas
pelas bibliotecas comunitárias visitadas.
�Quadro 01 – Sugestões e possibilidades
Procurar, desenvolver e manter canais de comunicação entre as BC’s e
as Entidades de acolhimento a refugiados.
Mapear outros espaços de acolhimento na comunidade.
Ações iniciais
Criar um mapa da localização das BC’s em São Paulo e região, com
endereços e contatos. Divulgar o mapa para as Entidades de
acolhimento, solicitar divulgação. Possível impressão e distribuição.
Procurar os Postos de Saúde da comunidade para divulgação.
Mapeamento da comunidade: verificar possível divulgação em mercados,
farmácias e lanchonetes. Usar canais do programa Saúde da Família,
divulgação em painéis de informações.
Divulgação
Produzir materiais de sensibilização, informações ou palestras sobre o
tema para gestores e comunidade.
Utilizar os próprios visitantes para divulgar um movimento voltado para os
estrangeiros. Solicitar colaboração na divulgação do acolhimento.
Ação conjunta da Litera Sampa - Buscar doações de entidades (Centros
culturais, Bancos, Programas de leitura, Consulados e etc.) solicitação de
forma institucional.
Solicitar às Editoras livros e autores africanos, para sensibilizar público
brasileiro.
Utilizar a RNBC para divulgar o movimento, receber sugestões de formas
Acervo
e possibilidades de atuação. Tentar levar o movimento a nível nacional.
Alimentar intercâmbio de volumes pela LIteraSampa.
Solicitar doações de produções audiovisuais: Anima Mundi, MIS, Festival
de Curtas, Instituto Moreira Salles, outros.
Buscar doações junto ao Estado: Biblioteca Nacional, Secretaria da
Educação, Consulados, Programas de Leitura, etc.
Utilizar os canais de comunicação com as Entidades para realização de
eventos conjuntos (integração, informação, conhecimento). Auxiliar na
divulgação, utilizar os contatos junto à comunidade.
Procurar espaço de comunicação em reuniões da comunidade. Participar
de Associações de bairro. Oferecer o espaço da BC para reuniões.
Cooperação
Utilizar as redes sociais para divulgar o acervo, serviços e eventos.
Procurar conhecer para oferecer informação prática de encaminhamento
aos órgãos oficiais. Aproveitar o conhecimento da comunidade e de suas
características para oferecer informação prática: vagas de emprego,
moradia e outros.
Pequenas estantes ou espaços sinalizados com diversos materiais
relativos à cultura brasileira, apostilas escolares, fotos, revistas semanais,
jornais da comunidade.
Procurar material que privilegie a periferia de SP, a realidade da periferia,
dar espaço aos coletivos para realização de eventos e encontros.
Materiais especiais /
Rodas de conversa com os migrantes, verificar suas necessidades,
ações
conhecer sua cultura e costumes.
A literatura que nos une – oferecer um espaço de leitura e fruição das
obras em línguas diferentes.
Oferecer possibilidade de cursos de português, ou o refugiado ensinar
sua língua e sua cultura.
Fonte: Preparado pela autora
Considerações finais
O conhecimento das estruturas e das ações das entidades de acolhimento
visitadas, permitiu o delineamento dos contornos possíveis para uma questão
abrangente e emergente, cujo enfrentamento começa a ser esboçado pela academia,
a partir dos trabalhos e das reflexões que podemos ver em Seminários de pesquisa e
�na literatura. Já os depoimentos colhidos junto à comunidade refugiada, ressalvando
o caráter experimental e informal desta investigação, nos levaram a estreitar nossa
relação e entendimento de uma das faces menos averiguadas e conhecidas dos
diversos problemas sociais de nossa cidade, a população migrante estrangeira, em
situação de refúgio ou informalidade.
REFERÊNCIAS
ACNUR. 60 anos de ACNUR: perspectivas de futuro. André de Carvalho Ramos;
Gilberto Rodrigues; Guilherme Assis de Almeida (Orgs.) São Paulo: Editora CL-A
Cultural, 2011.
ALVES, Maria Helena Hees. A aplicação da biblioterapia no processo de
reintegração social. BRAPCI, v. 15, n. 1/2, 1982, p. 54-61.
CUNHA, Miriam Vieira da. O Papel social do bibliotecário. Palestra proferida na
mesa de debates as dimensões sociais do nome do profissional Bibliotecário na
Universidade de Santa Catarina, out. 2002. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/viewFile/15182924.2003v8n15p41/5234>. Acesso em: 10 Maio 2018.
HAYDU, Marcelo. Refugiados angolanos em São Paulo: entre a integração e a
segregação. Ponto-e-vírgula, n. 5: 157-184, 2009.
MACHADO, Elisa Campos; VERGUEIRO, Waldomiro. A prática da gestão
participativa em espaços de acesso à informação: o caso das bibliotecas públicas e
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<http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S012009762010000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 10 Maio 2018.
____________. Uma discussão acerca do conceito de biblioteca comunitária.
Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas,
v. 7, n. 1, p. 80-84, jul./dez. 2009.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 5 ed. São Paulo: Atlas,
2008.
MOREIRA, Julia Bertino. A Problemática dos Refugiados na América Latina e no
Brasil. Cadernos PROLAM/USP (ano 4 - vol. 2 - 2005), p. 57-76.
SILVA, Ana Claudia P. de Oliveira. É preciso estar atento: a ética no pensamento
expresso dos líderes de bibliotecas comunitárias.386 fls. Dissertação (Mestrado em
Ciência da Informação) Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis, 2011.
�
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A name given to the resource
CBBD - Edição: 28 - Ano: 2019 (Vitória/ES)
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The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
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FEBAB
Date
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2019
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A language of the resource
Português
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The nature or genre of the resource
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
Event
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Perspectivas de acolhimento a refugiados nas Bibliotecas Comunitárias da cidade de São Paulo: um estudo exploratório.
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Maria ROSA CRESPO
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
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A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Subject
The topic of the resource
Eixo 2: Não devemos deixar ninguém para trás
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Um dos maiores desafios sociais da atualidade é a questão dos refugiados, deslocados e apátridas que tem despertado atenção e preocupação em todas as partes do mundo. Diversas instâncias da sociedade brasileira, nos âmbitos do Direito, da Educação e da Saúde, estão envolvidas na análise e tentativas de dar uma resposta à sociedade, bem como no que se refere à oferta de emprego e moradia aos diversos grupos de deslocados internacionais que se encontram na informalidade. A ‘crise dos refugiados’ tornou-se crônica para a maioria das nações e já se encontra instalada em nosso país. Diante desse quadro, que auxílio podem oferecer as bibliotecas comunitárias da cidade de São Paulo? A partir de entrevistas com refugiados e visitas realizadas a instituições de acolhimento e Bibliotecas Comunitárias da cidade percebemos a possibilidade de acolhimento, oferta de apoio pontual, informação e encaminhamento. Ao compilar os resultados alcançados nesta investigação, percebemos que, talvez, o maior papel seja na integração social com a população local, abrindo espaço para explicitação de suas histórias, demonstração de sua cultura e idioma, integração de crianças por meio de brincadeiras e outras possibilidades abertas à generosidade, engenhosidade e criatividade dos gestores de bibliotecas comunitárias.
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