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Bibliotecas como ambientes de luta pela redução das
desigualdades e pelo empoderamento de minorias
Carlos Robson Souza da Silva (IFCE) - crobsonss@gmail.com
Cinthia Thamiris Fernandes (IFCE) - thami.eller@gmail.com
Resumo:
As bibliotecas há muito deixaram de ser apenas tidas como meras guardiãs do conhecimento
da humanidade, pois hoje se compreende o seu papel preponderante no desafio que é
incentivar à leitura e promover o acesso à informação, principalmente para grupos
minoritários e populações vulneráveis, visando a sua inclusão informacional.O presente
trabalho surge como uma oportunidade para relatar as experiências das ações realizadas na
Biblioteca José Luciano Pimentel do IFCE, campus Cedro, em prol do fortalecimento de
indivíduos e comunidades pertencentes à grupos minoritários e populações vulneráveis. As
atividades do projeto foram realizados ao longo do ano de 2018 por meio de exposições,
apresentações teatrais, rodas de conversa e exibição de séries, voltadas para os públicos
feminino, negro, indígena, LGBT e comunitário.As atividades acima propostas e executadas
refletem o fato de que existe uma mudança social ocorrendo e de que as bibliotecas estão se
assumindo enquanto mediadoras de informação e agentes no empoderamento e na luta por
direitos para as minorias e populações vulneráveis excluídas.
Palavras-chave: Mediação da
Bibliotecas.
Informação.
Eixo temático: Eixo 3: Cultura do privilégio
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Empoderamento.
Representatividade
em
�XXVIII Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia e
Documentação
Vitória, 01 a 04 de outubro de 2019.
Introdução
As bibliotecas há muito deixaram de ser apenas tidas como meras guardiãs
do conhecimento da humanidade, imóveis e desinteressadas com a realidade que
a cercava. Hoje se compreende o seu papel preponderante no desafio que é
incentivar à leitura e promover o acesso à informação para indivíduos e
comunidades, principalmente daqueles provenientes de grupos minoritários e
populações vulneráveis, visando a sua inclusão informacional.
Essa inclusão informacional, tão necessária para o seu empoderamento e
protagonismo na luta por uma sociedade cada vez mais democrática, pode ocorrer
por através da mediação da informação, entendida como
Toda ação de interferência, realizada em um processo, por um
profissional da informação e na ambiência de equipamentos
informacionais, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou
plural; individual ou coletiva; visando a apropriação da informação que
satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade
informacional, gerando conflitos e novas necessidades informacionais
(ALMEIDA JÚNIOR, 2015 apud BARBOZA; ALMEIDA JÚNIOR, 2017, p.
64).
Neste sentido, com a Biblioteca José Luciano Pimentel do IFCE, campus
Cedro, por meio da realização, em 2017, da II Semana do Livro e da Biblioteca
"Leitores empoderados, bibliotecas relevantes", iniciou uma reflexão sobre o seu
papel no incentivo à leitura, como ferramenta para busca da autonomia de
indivíduos e comunidades, e promoção do acesso à informação, como recurso
indispensável para a participação efetiva em uma sociedade democrática (SILVA;
LOPES, 2018).
Como forma de dar continuidade ao que foi realizado durante a Semana do
Livro, criou-se o projeto de extensão “Bibliotecas Relevantes: mediação da
informação para o fortalecimento de indivíduos e comunidades”, o projeto foi
constituído de ações desenvolvidas ao longo do ano de 2018, com o objetivo de
trabalhar o empoderamento de minorias e o fortalecimento do protagonismo
desses indivíduos e suas comunidades.
As ações desenvolvidas têm como pressuposto a percepção de que a
Mediação da Informação se alinha, como ação de interferência, com a ideia de
�empoderamento, que se evidenciou nos últimos anos por assumir um gama de
“[…] significações que se referem ao desenvolvimento de potencialidades, ao
aumento de informação e percepção, buscando uma participação real e simbólica
que possibilite a democracia” (BAQUERO, 2001 apud KLEBA;WENDAUSEN,
2009, p. 735). Os indivíduos e comunidades, dessa forma, além de empoderadas,
tornam-se competentes para acessar, avaliar e usar a informação que facilite a
entrada num processo de luta contra a opressão e pela garantia de seus direitos.
O presente trabalho surge como uma oportunidade para relatar as
experiências das ações iniciadas na Semana do Livro, proporcionando o
desenvolvimento de intervenções contínuas em prol do fortalecimento de
indivíduos e comunidades pertencentes à grupos minoritários e populações
vulneráveis, atendendo aos requisitos da Agenda 2030 da ONU.
Tem como objetivo geral: relatar as experiências das ações realizadas na
Biblioteca José Luciano Pimentel do IFCE, campus Cedro em prol do
empoderamento de indivíduos e comunidades pertencentes a grupos minoritários
e populações vulneráveis e o fortalecimento do protagonismo desses indivíduos e
suas comunidades, por meio do incentivo à leitura e da promoção do acesso à
informação.
Relato da experiência
As atividades do projeto “Bibliotecas Relevantes: mediação da Informação
para o fortalecimento de indivíduos e comunidades”, baseado na proposta da II
Semana do Livro e da Biblioteca do IFCE, campus Cedro (SILVA; LOPES, 2018),
foram realizados ao longo do ano de 2018 por meio de exposições, rodas de
conversa e exibição de séries, sendo realizado um total de cinco atividades
abordando as temáticas: “Empoderamento Feminino”, “Empoderamento Negro”,
“Empoderamento Indígena”, “Empoderamento LGBT” e “Empoderamento de
Comunidades”.
a) Exposição: Cultura Indígena: Existência e Resistência
A primeira atividade realizada durante o ano de 2018 foi a exposição
“Cultura Indígena: Existência e Resistência”, tendo como objetivo geral: incentivar
alunos e a comunidade que cerca o IFCE, campus Cedro, a nutrir empatia pelo
povo e a cultura indígena e compreendê-la como essencial para a formação
social, cultural e histórica brasileira.
Para o alcance desses objetivos, utilizou-se três estratégias: a primeira,
com a exposição de livros escritos por autores indígenas; a segunda por meio da
exposição de obras de autores não-indígenas como meio de discutir as visões
deturpadas da cultura indígena feitas por autores consagrados (como José de
Alencar); e a terceira, uma estratégia de comunicação que permitisse o acesso a
unidades de informação digital, por meio de folhetos impressos.
�Para efetivar a terceira estratégia foram escolhidas cinco unidades de
informação indígena ou indigenistas (Biblioteca Curt Nimuendajú, Rádio Yandê,
Funai, Museu do Índio e Vídeo nas Aldeias), em seguida foram impressos folhetos
apresentando as unidades de informação, com QR Code nelas impresso, que
continha um link que direcionava para o site da unidade de informação
representada. A exposição ficou aberta dos dias 19 a 30 de abril de 2018 na
biblioteca.
b) Vamos falar sobre sustentabilidade com o ENACTUS
No mês de maio, durante a III Semana da Integração, do IFCE, campus
Cedro, foi realizado junto ao Time ENACTUS do mesmo Campus, um minievento
chamado “Vamos falar sobre sustentabilidade com o ENACTUS” com a proposta
de trabalhar o Empoderamento de Comunidades.
O time ENACTUS “[...] é uma organização internacional sem fins lucrativos
dedicada a inspirar os alunos a melhorar o mundo através da Ação
Empreendedora” (ENACTUS, 2018) e no campus Cedro, era formada pelos
alunos dos cursos superiores, principalmente Sistemas de Informação, com ações
voltadas ao incentivo ao empreendedorismo local por meio da reutilização correta
do lixo orgânico e eletrônico.
As atividades realizadas no momento foram as rodas de conversa “O que é
e para que serve a ENACTUS”, “Como fazer comida para a sua comida: do
desperdício de alimento ao biodecompositor” e “Como realizar o descarte do lixo
eletrônico” e a oficina “Jardinagem e uso de adubos”. As atividades foram
realizadas durante os dias 22 e 24 de maio de 2018.
c) Biblioteca #Pride: Ler com Orgulho
O dia do Orgulho LGBT é comemorado no dia 28 de junho e é
acompanhado por diversas manifestações culturais, sociais e políticas. Tornar a
biblioteca como espaço para socialização e empoderamento de pessoas lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, transgênero e transexuais (LGBT+), como pessoas
humanas dignas de respeito e representatividade foi o objetivo da exposição
“Biblioteca #Pride: Ler com Orgulho”.
A atividade foi efetivada por meio da seleção e exposição de livros escritos
por pessoas LGBT ou que abordem a temática, buscando incentivar a reflexão
sobre a representação da minoria neste tipo de obra e utilizar a representatividade
como forma de empoderamento.
A metodologia da ação envolvia a escolha de obras escritas prioritariamente
por LGBT, a seleção de obras com personagens LGBT escritas por autores LGBT
ou não, a produção de sinopses que enfatizassem a abordagem sobre a
comunidade LGBT adotada pelos livros escolhidos e a exposição propriamente
dita das obras. A exposição se estendeu do dia 25 a 29 de março de 2018.
�d) Dia Internacional de Ação pela Igualdade de Gênero
No dia 06 de outubro é comemorado o Dia Internacional de Ação pela
Igualdade da Mulher e a fim de reforçar a luta pela igualdade de direitos entre
gêneros e trazer a tona reflexões sobre as direitos já conquistados e tantos outros
ainda por conquistar, a biblioteca se propôs a apresentar a toda a comunidade
acadêmica do IFCE campus Cedro, a importância dessa data na luta pela garantia
de direitos iguais entre gêneros e o respeito a vida das mulheres.
A ação também teve como objetivos: incentivar o desenvolvimento de
atividades de ocupação nos espaços da biblioteca; fomentar e fortalecer narrativas
em torno do empoderamento feminino e os direitos iguais entre gêneros; e
reconhecer a importância da biblioteca como ambiente informacional que propicia
discussões em torno dessa temática.
A metodologia utilizada compreendia a reunião de obras literárias de autoria
feminina presentes no acervo da biblioteca; reunião de imagens contendo breve
biografia de personalidades femininas (pertencentes a todas as etnias, classes
sociais, orientação sexual e identidade de gênero) ligadas à arte, música,
televisão, literatura, filosofia, etc; selecão de citações pautadas na luta por
afirmação de direitos iguais entre mulheres e homens, destacando a inclusão de
imagens de mulheres negras, lésbicas e transgênero; divulgação nos veículos
oficiais do IFCE, campus Cedro, e rádio local; e exposição propriamente dita que
ocorreu durante os dias 06 a 20 de setembro de 2018.
Também em colaboração com uma escola local foi realizado a
apresentação de uma peça de teatro realizada por um conjunto de meninas no
auditório do campus, com a proposta de representar as vivências relacionadas à
violência contra a mulher e criticar uma posição passiva a temas como esse.
e) Maratona Cara Gente Branca
No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra em
referência morte de Zumbi dos Palmares e celebrando a luta do povo negro contra
o racismo e em prol do empoderamento, da cultura, da representatividade e do
acesso aos direitos humanos básicos, como educação, saúde, moradia, entre
outros.
Para trabalhar o eixo “Empoderamento Negro”, decidiu-se exibir, em
formato de maratona a série do serviço de streaming Netflix, Cara Gente Branca,
com o objetivo de utilizar o gênero Série de TV como meio para tratar de assuntos
como racismo, colorismo, representatividade, empoderamento e cultura negra no
IFCE, campus C
edro. E também com a proposta de: a) empoderar alunas e
alunos negros; fomentar o diálogo sobre as situações vividas por alunas e alunos
negros cotidianamente dentro e fora do IFCE, campus Cedro; e utilizar a biblioteca
como ambiente de discussão para as questões relacionadas à negritude.
A metodologia utilizada foi, primeiramente, a escolha da primeira temporada
da série Cara Gente Branca como ferramenta para a trabalhar o empoderamento
�negro; divulgação nos veículos oficiais do IFCE, campus Cedro, exibição da série
em formato Maratona, ou seja de maneira contínua durante dois dias seguidos e
realização da discussão sobre as temáticas abordadas por episódio ou grupo de
episódios. A Maratona ocorreu durante a IV Semana da Integração do IFCE,
campus Cedro, durante os dias 21 e 22 de novembro de 2018.
Considerações Finais
As atividades acima propostas e executadas refletem o fato de que existe
uma mudança social ocorrendo e de que as bibliotecas estão se assumindo
enquanto mediadoras de informação e agentes no empoderamento e na luta por
direitos para as minorias e populações vulneráveis excluídas, como resultado de
um longo processo histórico e opressor tão excludente como percebido na
sociedade contemporânea.
Dentre as principais potencialidades encontradas durante o projeto estão: a
discussão sobre a presença e a representação de grupos minoritários e de
populações vulneráveis por meio de exposições e rodas de conversa; a aplicação
de um modelo de mediação da informação e da cultura baseado na atuação dos
próprios representantes de grupos minoritários e vulneráveis, buscando inseri-los
nesses espaços sociais e educacionais e enaltecer os seus lugares de fala; e o
reconhecimento das bibliotecas como uma das principais fontes de informação
para o empoderamento de grupos minoritários e vulneráveis.
Referências
KLEBA, Maria Elisabeth; WENDHAUSEN. Empoderamento: processo de
fortalecimento dos sujeitos nos espaços de participação social e democratização
política. Saúde Soc., São Paulo, b. 18, n. 4, p. 733-743, 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v18n4/16.pdf>. Acesso em 12 abr. 2019.
SILVA, C. R. S. da; LOPES, F. L. C. Leitores empoderados, bibliotecas relevantes:
relato de experiência da II Semana do Livro e da Biblioteca do IFCE, campus
Cedro. Expressões da Extensão, v. 3, n. 2, p. 32 – 37, 2008. Disponível em: <
https://ifce.edu.br/proext/arquivos/revistaee_vol03-n02_final.pdf>. Acesso em 12
abr. 2019.
BARBOZA, Elder Lopes; ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. A mediação
da informação nas discussões sobre os fluxos informacionais. Informação em
Pauta, V. 2, N. 2, jul./dez. 2017. Disponível em: <
http://www.periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/30812/71593>.
Acesso em 12 abr. 2019.
ENACTUS. Quem somos. 2018. Disponível em:
<http://www.enactus.org.br/about-us/>. Acesso em 12 abr. 2019.
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CBBD - Edição: 28 - Ano: 2019 (Vitória/ES)
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Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
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2019
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Português
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The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
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Bibliotecas como ambientes de luta pela redução das desigualdades e pelo empoderamento de minorias
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Carlos Robson Souza da Silva
Cinthia Thamiris Fernandes
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2019
Subject
The topic of the resource
Eixo 3: Cultura do privilégio
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As bibliotecas há muito deixaram de ser apenas tidas como meras guardiãs do conhecimento da humanidade, pois hoje se compreende o seu papel preponderante no desafio que é incentivar à leitura e promover o acesso à informação, principalmente para grupos minoritários e populações vulneráveis, visando a sua inclusão informacional.O presente trabalho surge como uma oportunidade para relatar as experiências das ações realizadas na Biblioteca José Luciano Pimentel do IFCE, campus Cedro, em prol do fortalecimento de indivíduos e comunidades pertencentes à grupos minoritários e populações vulneráveis. As atividades do projeto foram realizados ao longo do ano de 2018 por meio de exposições, apresentações teatrais, rodas de conversa e exibição de séries, voltadas para os públicos feminino, negro, indígena, LGBT e comunitário.As atividades acima propostas e executadas refletem o fato de que existe uma mudança social ocorrendo e de que as bibliotecas estão se assumindo enquanto mediadoras de informação e agentes no empoderamento e na luta por direitos para as minorias e populações vulneráveis excluídas.
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