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Reflexões sobre o mercado consumidor na aquisição de livros e na
preservação das bibliotecas convencionais
Marcos Pastana Santos (IFRJ) - marcos.pastana@ifrj.edu.br
JUREMA ROSA LOPES (UNIGRANRIO) - jlopes@unigranrio.edu.br
Resumo:
O colapso editorial tem sido provocado pela mudança de comportamento do consumidor. A
internet com o investimento de empresas digitais predatórias tem potencializado a venda de
livros. Este deixa de ser apenas um objeto de consumo para se tornar engodo e cativar o
consumidor para outros produtos. Para este debate trazemos a contribuição de Bauman (2008)
sobre a sociedade de consumidores e para problematizar a permanência da biblioteca
trazemos observações de Cunha (2008) sobre o cenário destes espaços na sociedade
contemporânea. Este trabalho, na perspectiva da abordagem qualitativa de pesquisa
caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, objetivamos assim problematizar o comportamento
do consumidor perante a forma de aquisição de livros e as implicações na preservação das
bibliotecas convencionais. Sabemos que as bibliotecas convencionais diferentemente das
livrarias do ponto de vista comercial não possuem a mesma finalidade em obter recursos
financeiros com a utilização do livro, mas encontra concorrência na atenção do leitor, na
medida em que deixa de frequentar tal espaço público para recorrer a informação pela
internet. Os resultados desta pesquisa destacaram o recuo na produção de livros no biênio
(2016-2017) e a mudança de paradigma das bibliotecas convencionais para se manterem em
funcionamento. Ações que possibilitem a modernização do espaço e intercâmbio entre
bibliotecas para atualização do acervo é muito importante para o conhecimento ser atualizado
e o livro seja objeto de desejo do leitor. Concluímos que a sobrevivência das bibliotecas
convencionais na sociedade contemporânea está vinculada as mudanças constantes exigidas
pelo mercado consumidor.
Palavras-chave: Biblioteca. Mercado editorial. Consumidor.
Eixo temático: Eixo 4: A expansão desenfreada das tecnologias
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�XXVIII Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia e
Documentação
Vitória, 01 a 04 de outubro de 2019
1. Introdução
O colapso editorial tem sido provocado pela mudança de comportamento do
consumidor. A internet com o investimento de empresas digitais predatórias tem
potencializado a venda de livros. Nesta perspectiva o livro deixa de ser apenas um
objeto de consumo e passa a ser uma das formas de cativar o consumidor para
outros produtos. O barateamento dos produtos tem provocado uma competição
desigual, especialmente, entre livrarias de menor porte que estão sendo fechadas
em razão da baixa venda.
O investimento nas tecnologias de informação e comunicação por grandes
investidores tem provocado oligopólio neste mercado. No compreender de Bauman
(2008) é fundamental ter ciência dos mecanismos de relação de poder e o papel
que exerce a globalização na sociedade de consumidores. Com internet é possível
escolher, comparar os preços, verificar o custo do frete ou a isenção do produto. Se
antes, o livro era comercializado pelas livrarias e editoras de cada país, atualmente,
grandes empresas varejistas e e-commerce assumiram o posto de maiores
vendedores de livros, com a prática de truste1.
Este trabalho, na perspectiva da abordagem qualitativa caracteriza-se como
pesquisa bibliográfica e objetiva problematizar o comportamento do consumidor
perante a forma de aquisição de livros e as implicações na preservação das
bibliotecas convencionais. Sabemos que as bibliotecas convencionais
diferentemente das livrarias do ponto de vista comercial não possuem a mesma
finalidade em obter recursos financeiros com a utilização do livro, mas encontra
concorrência na atenção do leitor, na medida em que deixa de frequentar tal espaço
público para recorrer a informação pela internet. Será o fim das bibliotecas
convencionais brasileiras que na maioria das situações não possuem investimento
de renovação do acervo bibliográfico e das melhorias dos equipamentos de cultura?
O sucateamento destes espaços provoca desinteresse do leitor?
2. Reflexões sobre o mercado consumidor e o colapso do mercado editorial
Compreender a mudança de comportamento do consumidor vai além da
comodidade de comprar um livro pela internet da sua própria residência ao invés de
1
Tipo de estrutura empresarial na qual várias empresas, já detendo a maior parte de um mercado,
combinam-se ou fundem-se para assegurar esse controle, estabelecendo preços elevados que lhes
garantam elevadas margens de lucro. Os trustes têm sido proibidos em vários países, mas a eficácia
dessa proibição não é muito grande. (SANDRONI, 1999, p.612).
�pesquisar numa livraria física e ter a possibilidade de não encontrar a obra desejada.
O comércio eletrônico torna mais difícil deixar o consumidor decepcionado com a
experiência de não encontrar o livro desejado na loja física. Além disso, oferece um
leque de opções para a escolha do produto. Sites especializados em vendas
disponibiliza uma lista de empresas que vendem o mesmo produto com a cotação
de preços. Empresas, como a Amazon, empresa varejista, tem dominado o mercado
editorial. A concorrência predatória tem provocado o estrangulamento de outras
empresas do setor.
No compreender de Mello (2012) as lojas virtuais estabelecem estratégias de
controle e ampliação do mercado editorial através do banco de dados, ao invés das
editoras que em grande parte não tem esse controle sobre o consumidor.
O comércio de livros pela rede mundial permite às lojas virtuais formar
bases de dados sobre padrões de consumo por meio de buscas e escolhas
reveladas pelos consumidores e registradas por seus sistemas de
comércio on-line. Tais informações são ainda muito pouco exploradas,
principalmente pelas editoras, que, em geral, não têm acesso a tais
metadados. Esta é uma vertente a ser trilhada pelo setor editorial, pois
permite inferir correlações, identificar tendências e produzir informações
úteis a seus negócios. Mesmo os canais de venda da internet pouco
exploram esse manancial de informações sobre hábitos e preferências dos
consumidores e as tendências do mercado em seus variados segmentos.
[...] Em última instância, a competitividade de uma editora reside em sua
capacidade de produzir e fazer chegar às mãos do consumidor o conteúdo
de que ele necessita, em condições que ele julgue satisfatória vis-à-vis as
alternativas de que ele dispõe. A tecnologia digital, destacadamente a
internet, ampliou muito o leque de alternativas do consumidor para ter
acesso a conteúdo e alterou profundamente o contexto dos negócios,
também no setor editorial. Na medida em que o consumidor passou a
dispor da rede mundial entre suas opções de acesso a conteúdo editorial,
as empresas tiveram de se mover nessa direção para atendê-lo. (MELLO,
2012, p.454-455).
Editoras e livrarias independentes se reinventam para sobreviverem no
mercado editorial. Lançam obras de escritores promissores e cujos temas
despertem interesse de determinado segmento do público leitor.
Pois o
investimento de capital de grandes empresas promete maiores benefícios para seu
consumidor. Maior poder de atratividade tem como propósito alcançar maior número
de clientes.
O consumismo é uma das marcas do capitalismo da não acumulação de
bens, para Bauman (2008) o consumidor é estimulado a sempre comprar um
produto e descartá-lo com o surgimento de um modelo mais moderno.
O advento do consumismo solapou a credibilidade e o poder de persuasão
de ambos os argumentos [liberdade e responsabilidade] – de maneiras
diferentes em cada caso, embora pela mesma razão. Esta por ser
identificada no processo, cada vez mais evidente e ainda em expansão, de
desmantelamento do sistema, antes abrangente, de regulação normativa.
Parcelas cada vez maiores da conduta humana têm sido liberadas da
padronização, da supervisão e do policiamento explicitamente sociais
(para não dizer endossados por uma autoridade e apoiado por sanções
oficiais), relegando um conjunto crescente de responsabilidades, antes
�socializadas, ao encargo de indivíduos. Num ambiente desregulamentado
e privatizado que se concentra nas preocupações a atividades de
consumo, a responsabilidade pelas escolhas, as ações que se seguem a
tais escolhas e as consequências dessas ações caem sobre os ombros
dos atores individuais. Como assinalou Pierre Bourdieu duas décadas
atrás, a coerção tem sido amplamente substituída pela estimulação, os
padrões de conduta antes obrigatórios, pela sedução, o policiamento do
comportamento pela publicidade e pelas relações públicas, e regulação
normativa, pela incitação de novos desejos e necessidades. (BAUMAN,
2008, p.116).
Para o autor, a mudança no comportamento do indivíduo é estimulada pela
cultura do mercado. O mercado publicitário incita a sociedade a comprar bens de
consumo, com a velocidade que recomenda o descarte do produto, a fim de obter
um modelo mais atualizado.
Em relação ao mercado editorial, no último biênio (2016-2017) de acordo com
os indicadores da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) em parceria
com a Câmara Brasileira de Livros (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de
Livros (SNEL) teve queda na produção e vendas do setor editorial brasileiro de
acordo com a Tabela 1.
Tabela 1 – Comportamento do setor editorial brasileiro
Fonte: FIPE CBL/SNEL (2018)
Além do que apresentam estes indicadores podemos considerar que a queda
na produção editorial no Brasil tem provocado o fechamento de livrarias e
demissões em massa.
A biblioteca brasileira tradicional assim como a livraria física encontram
dificuldades para potencializar seus serviços e cativar os indivíduos que antes
utilizavam esses espaços com maior frequência.
�3. Biblioteca convencional e seu paradigma de acesso a informação
A biblioteca convencional2 faz parte do cenário de grande parcela das
instituições públicas brasileiras. Com a ausência de computadores e conexão com
a internet, a biblioteca fica estagnada no século XX. O advento da internet
possibilitou ao usuário acesso amplo da informação que antes era delegado pelas
bibliotecas públicas, escolares, comunitárias e universitárias.
Bibliotecas que não acompanham as mudanças provocadas pelas
tecnologias de informação e comunicação estão sendo consideradas obsoletas.
Como profissionais da área acreditamos que a falta de políticas públicas em nível
nacional e o reduzido ou a falta de recursos financeiros para incorporar o acervo e
modernizar o mobiliário fazem com que as bibliotecas resistam e suportem tal
situação. De acordo com as nossas observações em biblioteca pública e escolar,
podemos destacar que a frequência de usuários diminuiu consideravelmente e sua
resistência ocorre por leitores saudosistas. É importante não desconsiderar que
tanto nas bibliotecas públicas quanto as escolares a quantidade de leitores é menor
que a quantidade de não leitores. Na tabela 2, dados da pesquisa Retratos de
Leitura no Brasil (2015) organizado pelo Instituto Pró-Livro corrobora essa
realidade.
Tabela 2 – Frequência com que costumam ir na biblioteca
Fonte: INSTITUTO PRÓ-LIVRO (2015)
Estes indicadores, de uma amostra nacional de 5.012 entrevistados,
aproximadamente 3.308 entrevistados (66%) não frequentam a biblioteca.
Outro indicador importante é que 104,7 milhões (56%) de brasileiros do
universo de 188 milhões com mais de 5 anos de idade em 2015 são leitores.
(INSTITUTO PRÓ-LIVRO, 2015, p.22).
No compreender de Cunha (2008) se os profissionais que atuam na biblioteca
convencional planejarem ações que ampliem alguns serviços para os usuários
podem ajudar com a mudança de acesso a informação.
2
A biblioteca convencional é aquela em que a maioria dos itens do seu acervo é constituída de
documentos em papel. Ela existe desde a invenção da escrita. É claro que, antes do advento da
imprensa de tipos móveis, em 1440, o acervo era formado por outros tipos de materiais (como o
tablete de argila, o papiro e o pergaminho). Uma característica da biblioteca convencional é que tanto
a coleção como os seus catálogos utilizam o papel como suporte de registro da informação. (CUNHA,
2008, p.4-5).
�O contexto que se apresenta é propício para mudar a natureza do
empreendimento; no caso da biblioteca convencional, é necessário
examinar as enormes possibilidades do futuro e entender que o desafio
mais crítico será remover os obstáculos que a impedem de responder ás
necessidades de uma clientela em mudança, transformar os processos e
estruturas administrativas que caducaram e questionar as premissas
existentes. Aquela biblioteca que der um passo nesse processo de
mudança irá renascer. As que conservarem alguma visão idílica do
passado correrão grande risco e terão pouca oportunidade de serem
reconhecidas como instituições sócias necessárias. (CUNHA, 2008, p.15).
Ações que possibilitem a modernização do espaço e intercâmbio entre
bibliotecas para atualização do acervo é muito importante para o conhecimento ser
atualizado e o livro seja objeto de desejo do leitor, assim como foi recentemente nas
prateleiras das livrarias físicas.
Conclusão
Concluímos que a biblioteca convencional passa por muitas dificuldades para
a manutenção de serviços direcionada à informação de qualidade e atualizada para
o usuário. A sobrevivência das bibliotecas convencionais na sociedade
contemporânea está vinculada as mudanças constantes exigidas pelo mercado
consumidor. A instituição que resistir a transformação corre o risco de ter a sua
função reconhecida socialmente e está fadada ao fracasso. .
REFERÊNCIAS:
BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em
mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
CUNHA, Murilo Bastos da. Das bibliotecas convencionais às digitais: diferenças e
convergências. Perspectivas em Ciência da Informação, v.13, n.1, p.2-17,
jan./abr. 2008.
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS. Produção e vendas do
setor editorial brasileiro. São Paulo: Câmara Brasileira de Livros, 2018. Disponível
em:<http://cbl.org.br/downloads/fipe>. Acesso em: 03 abr. 2019.
INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da leitura no Brasil. 4.ed. São Paulo: Instituto
Pró-Livro, 2015. Disponível em:
<http://prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil
_-_2015.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2019.
MELLO, Gustavo. Desafios para o setor editorial brasileiro de livros na era digital.
BNDES Setorial, v. 36, p. 429-473, 2012. Disponível em:
<https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/1486/1/A%20set.36_Desafios%
20para%20o%20setor%20editorial%20brasileiro%20de%20livros%20na%20era%
20digital_P.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2019.
SANDRONI, Paulo (Org.). Novíssimo dicionário de Economia. São Paulo: Círculo
do Livro: Best Seller, 1999.
�
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A name given to the resource
CBBD - Edição: 28 - Ano: 2019 (Vitória/ES)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Publisher
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FEBAB
Date
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2019
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
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Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
Event
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Reflexões sobre o mercado consumidor na aquisição de livros e na preservação das bibliotecas convencionais
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Marcos Pastana Santos
JUREMA ROSA LOPES
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
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An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
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2019
Subject
The topic of the resource
Eixo 4: A expansão desenfreada das tecnologias
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An account of the resource
O colapso editorial tem sido provocado pela mudança de comportamento do consumidor. A internet com o investimento de empresas digitais predatórias tem potencializado a venda de livros. Este deixa de ser apenas um objeto de consumo para se tornar engodo e cativar o consumidor para outros produtos. Para este debate trazemos a contribuição de Bauman (2008) sobre a sociedade de consumidores e para problematizar a permanência da biblioteca trazemos observações de Cunha (2008) sobre o cenário destes espaços na sociedade contemporânea. Este trabalho, na perspectiva da abordagem qualitativa de pesquisa caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, objetivamos assim problematizar o comportamento do consumidor perante a forma de aquisição de livros e as implicações na preservação das bibliotecas convencionais. Sabemos que as bibliotecas convencionais diferentemente das livrarias do ponto de vista comercial não possuem a mesma finalidade em obter recursos financeiros com a utilização do livro, mas encontra concorrência na atenção do leitor, na medida em que deixa de frequentar tal espaço público para recorrer a informação pela internet. Os resultados desta pesquisa destacaram o recuo na produção de livros no biênio (2016-2017) e a mudança de paradigma das bibliotecas convencionais para se manterem em funcionamento. Ações que possibilitem a modernização do espaço e intercâmbio entre bibliotecas para atualização do acervo é muito importante para o conhecimento ser atualizado e o livro seja objeto de desejo do leitor. Concluímos que a sobrevivência das bibliotecas convencionais na sociedade contemporânea está vinculada as mudanças constantes exigidas pelo mercado consumidor.
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