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Livros e arte que falam por si: a formação da Biblioteca de Mario
Zanini
Lauci Bortoluci Quintana (MAC USP) - guila@usp.br
Resumo:
Esta comunicação trata sobre a biblioteca de arte de Mario Zanini, doada ao MAC USP em
1971. Seu intento é mostrar que a formação dessa biblioteca do artista é indicadora da própria
pesquisa que o artista realizava com sua pintura e sua arte, entre os anos 1930 e 1970. A
hipótese propõe que a biblioteca estava diretamente correlacionada com a obra produzida,
com um recorte de influências advindas de seus livros. Percebemos, pelos livros e pela atuação
do artista, que a biblioteca se coloca como um motor que o leva a pensar, e que nos mostra
que sua produção artística apresenta valores diferentes daquela produção anteriormente
realizada pelos artistas modernistas dos anos 1920. Assim, essa biblioteca possibilita um
caminho que expressa uma nova poética no cenário de uma urbanização que se processava no
ambiente paisagístico da cidade. No contexto do CBBD 2019, no tocante a questões como
democracia e diminuição de desigualdade, as bibliotecas podem ser um locus informacional de
extroversão dessas coleções, na promoção do patrimônio artístico-documental, que
entendemos ser o passo primordial para a execução de políticas de ação-cultural e educacional
que tratem sobre documentos de arte, sobre a história da arte e sobre a história da própria
modernidade paulista, para que possam ser conhecidas e estarem ao alcance de qualquer
leitor, de qualquer cidadão.
Palavras-chave: Bibliotecas de arte; Mario Zanini; MAC USP
Eixo temático: Eixo 9: 2º Fórum das Bibliotecas de Arte
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INTRODUÇÃO
Esta comunicação é resultado de uma tese de doutorado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte (PGEHAUSP) e trata sobre a biblioteca de arte que pertencera ao pintor Mario Zanini (19071971). Essa biblioteca foi doada ao MAC USP, em conjunto com 108 obras do
pintor, pela Família Zanini, em 1971. Nosso viés traz à tona uma biblioteca de arte
formada por um pintor, pertencente ao Grupo Santa Helena, nas décadas de 1930 e
1940, doada a um museu público universitário.
No contexto deste CBBD 2019, perguntamo-nos o que uma biblioteca de arte
pode fazer pelo fortalecimento da democracia e da igualdade, tornando-se um
espaço democrático de disseminação da informação artística, conforme já apontado
por Klara Freire, compartilhando riquezas e tornando possível o acesso à informação
em artes. Questionamos como uma coleção de livros, que pertencera a um artista,
pode descrever novos entendimentos da própria arte brasileira, do processo
modernista dos anos 1920 e 1930 e da formação da identidade nacional proposta
por Mário de Andrade. Perguntamo-nos se essa biblioteca tem algo a nos dizer
enquanto um processo de aprendizagem do próprio artista, um processo de
apreensão de sua própria realidade e finalmente, um processo de percepção de seu
entorno como consequência da modernização de S. Paulo dos anos 1950.
Essa investigação nos permitiu observar que os livros são indicadores da
pesquisa que o artista realizava na compreensão e interpretação da paisagem, ou
seja, de sua própria realidade, retratando a transformação e desenvolvimento da
cidade de São Paulo. A tese propõe que a Biblioteca de Mario Zanini estava
diretamente correlacionada com a obra produzida pelo artista. Elaboramos uma
reflexão sobre a linguagem pictórica de Mario Zanini, com um recorte das influências
advindas de livros de sua biblioteca. Em vista disso, sentimos a necessidade de
designar uma interpretação de algumas obras artísticas de Zanini, à luz de três livros
escolhidos para exemplificar a estrutura conceitual do pensamento estético do
artista: um sobre Paul Cézanne, um sobre Vincent Van Gogh e um sobre a
paisagem, de André Lhote.
Os critérios adotados para a escolha desses três livros foram os seguintes,
baseados nos preceitos de Walter Zanini: a busca do sentido da apreensão visual
(Cézanne); o trabalho desenvolvido por Zanini com as temáticas fluviais (Van Gogh);
a investigação teórica sobre paisagem (Andre Lhote).
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METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa procurou estabelecer uma reflexão sobre os livros
que vieram a formar sua biblioteca. O ponto de partida da análise passou a ser o
livro como propagador de ideias, que transforma a visão do mundo artístico do pintor
na temática da paisagem. Estamos nos referindo ao tecer de uma cultura de
visualidade, ou seja, à dimensão cultural do olhar, que é histórica e contextual.
A biblioteca será compreendida como memória que emana de um programa
de vida, da construção de um panorama cultural, que teria sua repercussão na
produção das obras artísticas de Mario Zanini.
Mario Zanini acompanhava os novos rumos da arte dos anos 1950, em
termos práticos e teóricos. Do livro de André Lhote, sobre a teoria da paisagem,
lembremos a parte destacada de um desenho geométrico esquematizado, que
demonstra que o artista estava em consonância com seu momento histórico de
atuação, sem praticar sacrifícios em sua própria maneira de ver e sentir seu mundo
figurativo. Assim, mesmo em contato com teoremas abstratos, geométricos e
cubistas, Zanini buscou retratar a emoção que o conectava a seu tema, trazendo
aos seus observadores a capacidade de evidenciar a paisagem que gerou sua
produção.
Entendemos que o fazer artístico de Zanini permite a reflexão sobre o
princípio norteador do processo de construção da biblioteca.
A arte é um traço da nossa relação histórica com o mundo. De um modo
sintético, uma obra de arte qualquer não é uma representação ou uma transposição,
figurativa ou simbólica, de uma realidade. Segundo Fischer, a arte tem a capacidade
de mostrar a realidade como passível de ser transformada e dominada. A obra e o
artista não são exteriores ao mundo sensível e ao mundo social em que atuam. Da
mesma forma que a arte, a biblioteca é uma construção historicamente situada.
DISCUSSÃO TEÓRICA
A Biblioteca de Mario Zanini vem corroborar seu trabalho artístico e sua
atuação, tanto nos grupos dos quais fez parte, como em sua vida dedicada ao
reconhecimento da profissão de artista, participando de sindicatos e associações.
Seu legado não pode somente ser descrito nos títulos de suas obras, conjugadas
aos livros de sua biblioteca. Observamos a biblioteca como um fenômeno situado
entre a paisagem natural que é vista, e, a partir deste “ver”, ela se torna o motor
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propulsor de um “pensar”, que proporciona a produção de uma linguagem artística
com valores diversos daquela que havia sido anteriormente realizada. Zanini insere
um novo valor à paisagem dos arredores da cidade de São Paulo, depura-a, e
possibilita um percurso imagético, que nos mostra uma nova poética expressiva na
pintura e o cenário de uma nova urbanização que se processava no ambiente
paisagístico da cidade.
É fundamental afirmar que os livros foram exemplos da mentalidade moderna,
criando uma nova relação entre a arte e a paisagem dos arredores da cidade. A
autoexpressão de Zanini se construiu por meio da interpretação e da arte oriunda
das pesquisas de Cézanne e de seu olhar que pensa a paisagem, e por Van Gogh,
que produziu uma obra cuja temática não era algo exterior a sua vivência.
Foi nosso propósito superar qualquer pressuposto de uma biblioteca de arte
formada pela arbitrariedade ou aleatoriedade. A Biblioteca de Mario Zanini trabalha
as reflexões da arte moderna dos anos 1930 e 1940 e a supremacia do gênero da
paisagem para esses pintores que agremiavam no Grupo Santa Helena. Temos o
conceito de que a biblioteca é composta por títulos que indicam uma nova posição
artística e autônoma, em relação à arte acadêmica do século XIX. Ela foi pensada e
construída por Mario Zanini, um artista que tinha a percepção de recriar paisagens
urbanas e suburbanas, assim como a vida cotidiana das populações que viviam na
periferia da cidade grande. Seu mérito foi descortinar uma poética moderna da
paisagem paulistana.
Mario Zanini foi um pintor humanista em seu tempo, que trabalhou pela
construção da modernidade. Construiu uma fortuna plástica desprendida de
interesses em bens materiais, vivendo de forma despojada, numa simplicidade
natural. Sua coleção artística e sua importância enquanto paisagista foram notadas
pela crítica, ainda em vida, como fontes de sensibilidade e qualidade.
Atualmente, com a história nos apontando, a posteriori, o esquecimento de
alguns desses artistas, as pesquisas poderão paulatinamente resgatar e recontar
essa história com novos olhares. As razões da escassez de pesquisas sobre
bibliotecas de artistas, do Grupo Santa Helena e de suas exposições ainda merecem
alguma elucidação, para que esta temática seja devidamente investigada e seus
principais pontos de interrogação solucionados.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão da democracia e da busca da igualdade, da redução das
diferenças entre todas as classes da sociedade encontra respaldo na disseminação
de informações e de equipamentos culturais, segundo José Nascimento , na
formação de sistemas de gestão participativa da cultura, colocados a favor de novas
percepções sobre a realidade. Podemos afirmar que o processo informacional das
bibliotecas, disseminando suas coleções, é o primeiro passo para dar visibilidade a
seus tesouros escondidos.
O papel de uma instituição de informação em arte na promoção do patrimônio
artístico-documental acarreta, para sua execução, o estabelecimento de políticas de
ação cultural, dentre as quais a extroversão de coleções públicas de documentos
sobre a história da arte, sobre a história da cidade, que existem para serem
descobertos por todos, por qualquer leitor, por qualquer cidadão.
REFERÊNCIAS
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.;
p. 252
FREIRE, Klara Martha Wanderley; MARQUES, Luana Farias Sales. Informação em
arte: conceitualizações e um olhar sobre a Agenda 2030. In: SEMINÁRIO DE
INFORMAÇÃO EM ARTE, 6., 2019, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
Instituto
Cervantes,
2019.
Disponível
em:
https://www.doity.com.br/anais/seminario-de-informacao-em-arte/trabalho/81112.
Acesso em: 16 abr.2019.
JOURDAIN, Francis. Cézanne. Paris: Braun, 1948.
LHOTE, André. Tratado del paisaje. Buenos Aires: Poseidon, 1943.
MATHEY, François. Van Gogh. Paris: Hazan, 1956.
NASCIMENTO JUNIOR, José do. Museus como agentes de mudança social e
desenvolvimento. Musas: Revista Brasileira de Museologia, Brasília, n. 4, p. 148162, 2009.
ZANINI, Walter. Mario Zanini (1907-1971). São Paulo: MAC USP, 1976. Catálogo de
exposição.
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Title
A name given to the resource
CBBD - Edição: 28 - Ano: 2019 (Vitória/ES)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
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Title
A name given to the resource
Livros e arte que falam por si: a formação da Biblioteca de Mario Zanini
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Lauci Bortoluci Quintana
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Vitória (Espírito Santo)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2019
Subject
The topic of the resource
Eixo 9: 2º Fórum das Bibliotecas de Arte
Description
An account of the resource
Esta comunicação trata sobre a biblioteca de arte de Mario Zanini, doada ao MAC USP em 1971. Seu intento é mostrar que a formação dessa biblioteca do artista é indicadora da própria pesquisa que o artista realizava com sua pintura e sua arte, entre os anos 1930 e 1970. A hipótese propõe que a biblioteca estava diretamente correlacionada com a obra produzida, com um recorte de influências advindas de seus livros. Percebemos, pelos livros e pela atuação do artista, que a biblioteca se coloca como um motor que o leva a pensar, e que nos mostra que sua produção artística apresenta valores diferentes daquela produção anteriormente realizada pelos artistas modernistas dos anos 1920. Assim, essa biblioteca possibilita um caminho que expressa uma nova poética no cenário de uma urbanização que se processava no ambiente paisagístico da cidade. No contexto do CBBD 2019, no tocante a questões como democracia e diminuição de desigualdade, as bibliotecas podem ser um locus informacional de extroversão dessas coleções, na promoção do patrimônio artístico-documental, que entendemos ser o passo primordial para a execução de políticas de ação-cultural e educacional que tratem sobre documentos de arte, sobre a história da arte e sobre a história da própria modernidade paulista, para que possam ser conhecidas e estarem ao alcance de qualquer leitor, de qualquer cidadão.
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