-
http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/50/5778/SNBU2018_176.pdf
c7e3de447a3668431861362705c8f8df
PDF Text
Text
Eixo II - Pesquisa e Extensão
CENTENÁRIO DO FUNDADOR DO INSTITUTO DE MICROBIOLOGIA PAULO
DE GÓES: NOS BARANGANDÃS DE CARMEM MIRANDA A DESCOBERTA DE
UM CIENTISTA COMPOSITOR
CENTENNIAL OF THE FOUNDER OF THE INSTITUTE OF MICROBIOLOGY PAULO DE
GÓES: IN THE BARANGANDÃS OF CARMEM MIRANDA THE DISCOVERY OF A
SCIENTIST - COMPOSER
Resumo: As comemorações do centenário do professor Paulo de Góes que ocorreram em
2013 no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro envolveram um
conjunto de ações, que buscavam exaltar e rememorar um dos expoentes no ensino superior
no Rio de Janeiro. Paulo de Góes tem uma trajetória profissional, que se inicia como
responsável pelo antigo laboratório da Microbiologia na antiga Faculdade do Rio de Janeiro,
coordenado pelo Professor Bruno Lobo e permanece como docente na Universidade do Brasil,
enquanto idealiza e funda o Instituto de Microbiologia, do qual foi também Diretor. Foi
revelado durante uma atividade de extensão o lado artístico de Paulo de Góes. Uma
apresentação musical e outras atividades culturais do centenário se encaixaram no eixo
extensão universitária. Destaca-se a igualdade de importância na tríade ensino - pesquisa extensão, atividades capazes de operar mudanças intelectuais dentro de uma comunidade. Os
eventos comemorativos possibilitam desdobramentos que visam à lembrança permanente e a
valorização do patrimônio cultural da microbiologia. A biblioteca da unidade é escolhida
como espaço de divulgação do material resultante do centenário, pois se constitui lugar de
memória da unidade.
Palavras-Chave: Universidades. Extensão comunitária. Memória Institucional.
Abstract: The celebrations of the centenary of professor Paulo de Góes that took place in
2013 at the Institute of Microbiology of the Federal University of Rio de Janeiro involved a
set of actions that sought to exalt and recall one of the exponents in higher education in Rio de
Janeiro. Paulo de Góes has a professional trajectory, which began as head of the former
laboratory of Microbiology in the former Faculty of Rio de Janeiro, coordinated by Professor
Bruno Lobo and remains a professor at the University of Brazil, while idealizing and founding
the Institute of Microbiology, who was also Director. The centenary revealed in an extension
activity the artistic side of Paulo de Góes. A musical performance and other cultural activities
of the centennial fit the university extension. It is important to emphasize equality of
importance in the teaching-research-extension triad, activities capable of operating intellectual
changes within a community. The commemorative events enable unfolding that aim at
permanent remembrance and the appreciation of the cultural heritage of microbiology. The
�library of the unit is chosen as a space for the dissemination of material resulting from the
centenary, since it constitutes the unit's memory space.
Keywords: Universities. Community - Institutional Relations. Institutional Memory.
1 INTRODUÇÃO
As comemorações do centenário do Professor Paulo de Góes, fundador do Instituto de
Microbiologia permitiram que toda a comunidade de uma unidade conhecesse a participação
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no processo de formação da ciência que
estuda os micróbios a partir do século XX e compreendesse a consolidação do Instituto de
Microbiologia Paulo de Góes (IMPPG) como importante unidade científica no Estado do Rio
de Janeiro. As celebrações que ocorreram em 2013, se constituíram de diferentes
homenagens: depoimentos de familiares, de antigos diretores, uma peça de teatro, uma
trajetória pessoal e profissional de Paulo de Góes, pôde-se compreender não somente a
influência da sua personalidade na materialização de uma unidade de ensino na UFRJ, como
também descobrir outra faceta do cientista: a do compositor.
A ideia de comemorar o centenário de um dos expoentes das Ciências da Saúde na
Universidade revela o objetivo do grupo de microbiologistas em rememorar a história
acadêmica e cientifica de Paulo de Góes para salvaguardá-la às futuras gerações. As
atividades de natureza extensionista possibilitaram diferentes formas representativas das ações
de Paulo de Góes: Cientista, Professor, Fundador de uma unidade de ensino, Adido Científico
em Washington (EUA), Pró-Reitor e de Compositor.
O trabalho enfatizará as ações que envolvem a representação artística de uma
composição criada por Paulo de Góes interpretada por Carmem Miranda, tratará da sua
relação com uma atividade extensionista e por fim identificará a extensão como parte
indissociável do eixo: ensino-pesquisa-extensão. A representação artística em homenagem ao
Professor e Fundador do Instituto de Microbiologia, apresenta como resultado um elemento
que exalta a Ciência e a Arte.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E FUNDAMENTO TEÓRICO
Para o embasamento teórico a pesquisa possui abordagem qualitativa e caráter
descritivo-exploratório, que englobou a definição das seguintes técnicas para a coleta de
dados: apreciação das fontes orais, pesquisa bibliográfica e revisão de literatura.
�A pesquisa qualitativa obtém vantagem quando interage com uma realidade que não
há como ser quantificada, conforme explica Minayo (2012, p.21):
[...] o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das
atitudes. Este conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade
social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por
interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus
semelhantes. O universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das
relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa
dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos.
Os Anais do Instituto, criados por Paulo de Góes são fontes documentais que dão o
alicerce permanente à coleta das informações sobre os primórdios do Instituto de
Microbiologia. Com base em levantamento bibliográfico, utilizamos a fonte fonográfica do
Museu da Imagem e do Som, que salva guarda em seus arquivos a entrevista concedida pelo
trabalho. A entrevista concedida pela viúva de Paulo de Góes enriqueceu as comemorações,
pois além das informações relatadas sobre Paulo de Góes na condução da sua vida acadêmica
e profissional, que possibilitaram a criação do Instituto, ela ainda indicou um caminho que era
desconhecido até pelo grupo do Instituto de Microbiologia, o lado compositor de seu falecido
marido, que acabou por revelar as múltiplas faces de uns dos expoentes que desenvolveram a
educação cientifica no Brasil.
Os preparativos para as comemorações do centenário envolveram técnicos
administrativos, docentes e discentes, que formaram uma comissão organizadora, apoiados
pela Direção da unidade. A comissão se reuniu semanalmente durante o primeiro semestre de
2013 para debater e programar as atividades que ocorreriam no 2o semestre de 2013. Os
professores Maulori Cabral e Isabel Liberto, docentes da unidade coordenaram uma série de
eventos comemorativos, pensados e elaborados para ocorrer entre 15 de julho e 07 de outubro
de 2013 nas dependências do Instituto de Microbiologia, conforme descrito a seguir:
Dia 15 de julho de 2013 - uma homenagem de cunho familiar com missa a ser
realizada no auditório do IMPPG, para celebrar a data de centenário de nascimento do Prof.
Paulo de Góes, atendendo desejo religioso da família e lançamento do selo comemorativo do
centenário de nascimento do Professor Paulo de Góes, fundador do Instituto de Microbiologia
da UFRJ, criado pela Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), com uma tiragem de 1000
exemplares.
Dia 29 de agosto de 2013 - uma homenagem de cunho institucional e familiar com
apresentação de comentários realizados por pessoas que conviveram com o Prof. Paulo de
�Góes; apresentação de peça de teatro descrevendo a solenidade de posse do Professor Paulo
de Góes na Academia Brasileira de Medicina, baseada nos discursos formulados,
respectivamente, pelo Professor Carlos Chagas Filho (apresentador) e pelo Empossado;
Prof. Paulo de Góes, gravada por Carmem Miranda, para o carnaval de 1933 e exibição do
depoimento gravado no Museu da Imagem e do Som pelo Prof. Paulo de Góes sobre a
trajetória científica por ele construída, com vistas ao desenvolvimento da educação brasileira.
Dia 07 de outubro de 2013 - uma homenagem de cunho nacional, institucional e
familiar. Atividades comemorativas referentes ao centenário do Prof. Paulo de Góes:
aniversário da criação em 28 de setembro de 1950 do IMPPG; Jubileu de Ouro da PósGraduação Stricto-Sensu, iniciada no IMPPG em 1962, e primeiro encontro de ex-alunos do
curso de Bacharelado em Microbiologia e Imunologia da UFRJ, ano em que a primeira turma
completa 15 anos de formatura. Como outras atividades do dia: abertura da XVI Semana de
Microbiologia; exibição do depoimento gravado no Museu da Imagem e do Som pelo Prof.
Paulo de Góes sobre a trajetória científica por ele construída com vistas ao desenvolvimento
da educação brasileira; apresentação da história do curso de graduação do IMPPG, com
descrição da trajetória profissional dos alunos de cada turma; encontro de ex-alunos das
primeiras turmas do curso de Especialização em Microbiologia e Imunologia (CEMI), com
início na década de 50 do século passado; lançamento do livro; apresentação de peça de teatro
descrevendo a solenidade de posse do Professor Paulo de Góes na Academia Nacional de
Medicina; a
de autoria do Prof. Paulo de Góes, gravada por Carmem Miranda, para o carnaval de 1933;
Dia 07 a 11 de outubro de 2013 - exibição na biblioteca do IMPPG da exposição:
composta por fotos, documentos institucionais e
objetos pessoais do acervo do Prof. Paulo de Góes, como parte das comemorações do
centenário, simultaneamente a atividades programadas para a XVI Semana de Microbiologia,
organizadas pelos alunos do curso de graduação do IMPPG.
As atividades apresentadas no evento comemorativo foram elaboradas dentro do
módulo extensionista que faz parte da tríade ensino-pesquisa-extensão. A extensão
universitária é composta por processo educativo, cultural e científico que vincula ensino e
pesquisa, ações capazes de viabilizar transformações na sociedade, através de seus agentes
universitários (FORPROEX, 2012).
O Plano Nacional de Extensão Universitária do Programa de Fomento à Extensão
Universitária no Brasil compreende que a extensão é o caminho pelo qual a universidade vai
�cumprir sua função social e como atividade acadêmica, torna-se instrumento que possibilita a
democratização do conhecimento produzido e ensinado nas instituições de nível superior
(NOGUEIRA, 2005). Ao adotar ações extensionistas, a universidade, consciente da sua
função social, ultrapassa sua missão geradora de novos conhecimentos e passa a atuar na
promoção do desenvolvimento cultural da sociedade. Para desenvolver atividades culturais de
extensão, a universidade se congrega a departamentos e bibliotecas que funcionam como
laboratórios para novos experimentos. O texto de Ferreira (2012) faz um breve comentário
sobre o nascimento do serviço de extensão em universidades brasileiras 134 e elenca experiências
desenvolvidas por algumas bibliotecas universitárias como comunidade de leitores, dinâmica de
grupo e sessões de cinema em um hospital universitário. No que tange a literatura existente,
para além do conceito ensino-pesquisa e extensão universitária, foram abordados no evento
como um todo, temas que circundaram o centenário: memória, memória institucional e
processos de mediação.
A mediação pode compreendida como uma ação de transferência de informação que
atenda a uma necessidade de informação de indivíduos ou grupos. Mediar é ação que estimula
a transformação de significados entre bens culturais, indivíduos e grupos. Para que essa
transformação ocorra, o ator através de instrumentos informacionais deve articular uma
comunicação entre objetos simbólicos, saberes e indivíduos, grupos e a coletividade, que
acessa e se apropria desses bens para no fim, ressignificá-los (LIMA, 2016).
Uma das acepções do termo mediação é no âmbito cultural, que tem a seguinte
aplicação pelos autores Perrotti e Pieruccini (2014, p. 10-11 apud LIMA, 2016):
[...] a mediação cultural não se constitui meramente como jogo de saberes especiais
ou especializados em vista de um fim determinado que lhe é exterior [...] a mediação
produção de sentidos que se realiza no campo amplo e dinâmico da cultura
(PERROTTI; PIERUCCINI, 2014 apud LIMA, 2016).
O historiador Pierre Nora compreende lugares de memória como locais materiais ou
imateriais nos quais se cristalizam as memórias de uma nação, e onde se cruzam memórias
pessoais, familiares e de grupo: monumentos, uma igreja, um sabor ou uma bandeira podem
se constituir lugares de memór
134
De acordo com Domingues (2005) o movimento pela extensão ganha força e promove em 1987 o I Encontro
Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. A discussão garante a construção
do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Brasileiras, que debate a revisão do conceito de
extensão e de construção da política de extensão coletiva para as universidades públicas. O Fórum atua nas bases
das ações de extensão, nas quais são incorporadas propostas do movimento estudantil da década de 60 e do Plano
de Trabalho de Extensão Universitária de 1975, que defendia integralidade do ensino-pesquisa-extensão na
formação acadêmica, diferente da visão assistencialista adotada pela política educacional naquela época.
�efeito nos três sentidos da palavra material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente
topográficos: arquivos, bibliotecas e museus. Lugares simbólicos: peregrinações, aniversários
e outros acontecimentos e lugares funcionais: manuais, autobiografias, associações e
instituições que preservam e divulgam acontecimentos. A materialização da memória é
formada por documentos, resultados de ação cultural através de recursos escritos, ilustrados,
imagéticos, sonoros ou em qualquer outro formato (NORA, 1993 apud SILVA, 2012). As
materialidades são necessárias para a manutenção das lembranças e como não há meio de
memórias, se fazem imperativos os lugares de memória. O desejo da celebração dos cem anos
do fundador do Instituto de Microbiologia reflete o desejo de um grupo na manutenção das
memórias que cercam a materialização de uma importante unidade de ensino no país.
A convivência com o patrono do Instituto levou os professores Maulori Cabral e Isabel
Liberto a criarem um evento que refletisse o espírito vanguardista de Paulo de Góes. Os
coordenadores identificaram outros atores que participaram da trajetória desse renomado
professor e reuniram relatos de familiares, pares, contemporâneos e servidores da unidade que
Góes materializou. A partir dos relatos, as atividades comemorativas foram sendo pensadas e
elaboradas para ocorrerem no segundo semestre. Ao fim do evento comemorativo, um livro
foi editado com as vivências de alguns que conviveram com ele e uma biografia resumida de
Paulo de Góes.
Para que as apresentações fossem recreativas e ao mesmo tempo didáticas, o professor
Maulori encontrou um grupo formado por estudantes da escola de música da UFRJ, que além
de tocar instrumentos, atuava e interpretava em outros eventos da Universidade. Os estudantes
foram convidados a conhecer a história de Paulo de Góes e receberam a missão de reproduzir
com seus instrumentos a canç
que também conviveu com Paulo de Góes e trabalhou nos preparativos do evento, convidou
sua irmã, que usava o canto como hobby, a interpretar a canção gravada por Carmem Miranda
em 1933. Esse grupo encenaria a música que divulgava o perfil artístico de Paulo de Góes.
3 PAULO DE GÓES: DO ESTUDANTE BOÊMIO A PATRONO DE UMA UNIDADE
DE ENSINO
Paulo de Góes ingressou na antiga Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1931
e afirmava já sentir grande interesse pela pesquisa cientifica, no campo da Biologia, em
especial no campo da Microbiologia. A vocação para o trabalho científico se despertou a
partir da convivência com o mestre Bruno Lobo que se tornou mentor de Paulo de Góes,
�quando Góes assumiu a monitoria da cadeira de microbiologia. Como docente, torna-se
responsável pelo curso da Faculdade de Medicina.
De acordo com o professor Milton Thiago (MELLO, 2016)
professor da cadeira da microbiologia e apoiava Paulo de Góes na Universidade do Brasil.
Góes resolve fazer um concurso para professor da Faculdade de Farmácia. Ele fez o concurso,
passou e ali iniciou a sua trajetória. Em uma pequena sala da Faculdade de Farmácia ele
começou com o seu laboratório de microbiologia, herdado em parte do grande laboratório de
Bruno Lobo (MELLO, 2016).
Um pavilhão desativado, no qual funcionava o antigo Hospital dos Alienados seria o
primeiro polo do ensino em Microbiologia da UFRJ a partir de 1950. Ali Paulo de Góes
ministrava aulas e se tornava fundador de uma unidade de ensino. Esta unidade, à medida que
cresce, apresenta desdobramentos no ensino e na pesquisa. Fontes de naturezas diversas
caracterizam o Instituto como lugar de memória a ser lembrado, tendo como cenário a
Universidade Federal do Rio de Janeiro. A fundação do Instituto de Microbiologia nos
permite conhecer a participação da Universidade no processo de consolidação da Ciência da
Microbiologia a partir do século XX e compreender a firmação do IMPPG como importante
unidade científica no Estado do Rio de Janeiro. Azevedo Netto (2007) baseado na obra
História e Memória, da autoria de LeGoff, compreende que a relação entre informação e
memória:
Pode ser considerada, na medida em que um determinado elenco de informações que se
referem ao passado de um grupo são reunidas e relacionadas entre si, como forma de dar
um sentido de compartilhamento de passados, constantemente construídos e
reinterpretados. Assim pode-se exemplificar a relação entre a informação e a memória na
multiplicidade de suportes que a informação pode assumir, no seu processo de
representação através da cultura material, expressos como documentos e monumentos
(LEGOFF, 2003).
Na entrevista que concedeu ao Museu da Imagem e do Som, Paulo de Góes (GÓES,
1969) se a
acontecimentos o levariam a outras posições em sua trajetória profissional, desviando-o do
seu meio ambiente ecológico natural, o laboratório.
Em sua trajetória profissional, Paulo de Góes assumiu os cargos de Professor
Universitário, Fundador e Diretor do Instituto de Microbiologia, Adido Científico, Sub-reitor
de ensino e pesquisa e por fim candidato a Reitoria da Universidade (GÓES, 1969). No livro
sobre os cem anos de Paulo de Góes (CENTENÁRIO, 2013) há uma extensa lista das
atividades científicas, acadêmicas e politicas exercidas por ele. A composição de sua autoria
foi uma atividade à margem e desconhecida, que surge a partir do depoimento de sua viúva
�aos coordenadores do centenário. Ao buscar histórias sobre Paulo de Góes, Maulori
(CABRAL, 2016) expõe essa faceta diversa do professor.
No livro do centenário (CENTENÁRIO, 2013) há uma passagem na qual a viúva
descreve a vida boêmia de Paulo estudante. Ela afirmou que os amigos de Góes eram
amigos de cantores e cantoras da época. Paulo caíra na boêmia com esses amigos. Nessa
época ele morava com tias e a mãe em Botafogo, bairro da Zona Sul no Rio de Janeiro. Certa
vez, um tio hospedou-se na casa das irmãs e percebeu que Paulo havia passado a noite fora de
casa, quando ele o viu entrar pela porta da sala. Naquele momento ele convidou,
propositadamente, o sobrinho a fazer um passeio matinal irrecusável pela praia de Botafogo,
hábito que o tio apreciava nas suas visitas ao Rio de Janeiro. A família o repreendia
constantemente pela vida boêmia que estava levando. Portanto, em dada ocasião sua mãe
pediu a intercessão do médico e professor Bruno Lobo, marido de sua irmã. Como Góes era
aluno de medicina da Faculdade do Rio de Janeiro, o professor Bruno Lobo o encaminharia
ao seu laboratório de microbiologia e o influenciaria a abraçar definitivamente a ciência e
abandonar a sua curta vida boêmia (CABRAL, 2016). Góes circulava com amigos como Noel
para ser cantado por Carmem Miranda no ano de 1933(CENTENÁRIO, 2013). Paulo de Góes
foi antes de tudo um professor com espirito visionário, que galgou as diversas atividades da
carreira universitária, mas deixou também um registro na vida artística.
Para este trabalho destacamos o evento do dia 07 de outubro de 2013, no qual a
família de Góes, a comunidade científica e outros convidados assistiram uma apresentação
musical com a participação de estudantes da UFRJ e a colaboração de um familiar da
professora Isabel Liberto, coordenadora dessa ação. Os professores Isabel Liberto e Maulori
Cabral participaram dos ensaios, organizando o evento que aconteceria no auditório da
unidade que fica instalada no bloco I da cidade universitária do Rio de Janeiro.
Membros da família de Góes disponibilizaram a música para que os coordenadores,
junto aos músicos e a cantora, ajustassem, estudassem e ensaiassem a canção gravada em
1933.
�Fonte: ACERVO da Biblioteca do Instituto de Microbiologia, 2013
A equipe do Banco de Imagens da Coordenadoria de Comunicação Social da UFRJ (CoordCOM)
participou da atividade de extensão a convite da comissão organizadora. Os vídeos e as fotografias foram
registrados pelo Banco de Imagens da UFRJ, que cedeu posteriormente o material fotográfico a Unidade.
4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS/ FINAIS
O centenário do fundador do Instituto evidenciou o perfil atuante de Paulo de Góes
como educador. Entretanto, as pesquisas realizadas em torno das suas atividades acabaram
por destacar sua vida pessoal, revelando o lado artístico de um cientista. Neste contexto, a
extensão como o terceiro elemento de comunicação entre universidade e sociedade através de
programas ou eventos esporádicos de conteúdo científico e cultural possui um caráter
significativo, uma vez que influencia o comportamento do sujeito.
A necessidade da divulgação da memória do patrono do Instituto não tem como
objetivo apenas rememorar uma data comemorativa, mas demonstrar o desejo de ver novos
profissionais imbuídos do mesmo espírito que envolveu aqueles que conviveram com o
professor Góes. Está em Nora (1993) a afirmação de que a memória demanda suportes
�exteriores e ou de referências tangíveis para uma existência, que entendemos poder ser vivida
ou revivida através desses lugares.
Para Thiesen (2009), a memória reproduz, tendo como base os arquivos, bibliotecas e
museus, o que torna fundamental o funcionamento de instituições-memória. Os fundos e
acervos revelados nos documentos armazenados nessas instituições constituem elementos da
memória e da História. Para além da descrição de documentos, a extração de linhas de
atualização que analisam aquilo que se é ou aquilo que se pode vir a ser é um processo
inacabado entre o instituído e o instituinte (THIESEN, 2013). Esse processo que se mantém
em permanente construção oferece ao sujeito, ferramentas que o torne capaz de perceber,
analisar e construir suas convicções ou se deparar com novas descobertas, tornando-o de fato
um agente crítico, transformador de valores e conceitos.
Para Góes as bibliotecas eram instituições de base que alavancavam o
desenvolvimento de atividades científicas, pois elas se configuram como lugares que mantêm
íntima relação com os universos da memória e do patrimônio (GÓES, 1964). Por esta razão,
devem participar ativamente de todas as etapas que garantam a valorização dos processos de
formação desse campo cientifico na UFRJ. Após o evento, a biblioteca da unidade passou a
ser um centro de armazenamento de materiais de diferentes naturezas. O material resultante
do centenário virá a ser acervo de divulgação da história da unidade, que será organizado e
divulgado pela equipe da Biblioteca através de ferramentas e bases de informação gerenciados
e criados pelo Sistema de Bibliotecas (SiBI) da UFRJ. Como resultado, as comemorações
potencializaram a biblioteca como lugar de memória.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e
documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
______. NBR 6023: NBR 6023: Informação e documentação: Referências. Rio de Janeiro,
p. 24. 2002.
______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um
documento escrito: apresentação. Rio de janeiro, 2002.
______. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de
Janeiro, 2011.
�AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier de. Informação e memória: as relações na pesquisa
Revista História em Reflexão. Dourados: UFRGD, v. 1, n. 2, p. 55-6, jul./dez., 2007.
Disponível em:
<http://www.ufgd.edu.br/historiaemreflexao/julho_dez_2007/arquivos/informacao-e-memoria2013-as-relacoes-na-pesquisa> Acesso em: 12 jun. 2016.
BIBLIOTECA do Instituto de Microbiologia. Imagens e vídeos do centenário do professor
Paulo de Góes: COORDCOM, 2013,
CABRAL, Maulori. Entrevista concedida a Ana Paula Alves Teixeira. Rio de Janeiro. 26
fev. 2016.
CENTENÁRIO do professor Paulo de Góes: 1913-2013. Organizado por Maria Isabel
Madeira Liberto e Maulori Curié Cabral. Rio de Janeiro: Access, 2013.
DOMINGUES, Soraya Corrêa. Cultura corporal e meio ambiente na formação de
professores Soraya Corrêa Domingues. 2005. 289 f. Dissertação (mestrado) Universidade
Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2005.
FERREIRA, R. S. Transpondo muros, construindo relações: uma reflexão sobre bibliotecas
universitárias e extensão no Brasil. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, Campinas, SP, v. 9, n. 2, p. 75-88, jan. 2012. Disponível em: <
http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/index.php/rbci/article/view/499>. Acesso em: 28
ago. 2015.
FORPROEX - FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES
PÚBLICAS BRASILEIRAS. Política Nacional de Extensão Universitária. Manaus:
FORPROEX, 2012. Disponível em <http://www.ufrgs.br/prorext-siteantigo/arquivosdiversos/PNE_07.11.2012.pdf/view>. Acesso em: 21 fev.2017
GÓES, Paulo de. Normas para o funcionamento de centros de formação e aperfeiçoamento
científico e docente para professores e pesquisadores: centros de pesquisa e treinamento
avançado. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCOLAS
MÉDICAS, 2., 1964. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABEM, 1964. p. 89-108.
GÓES, Paulo de. Paulo de Góes: entrevista [jun. 1969]. Entrevistador: Edson Dias Teixeira.
Rio de Janeiro: Museu da Imagem e do Som, 1969. [Oito fitas cassetes]
LE GOFF, Jacques. História e Memória, Campinas: Ed. UNICAMP, 2003.
LIMA, Celly de Britto; PERROTTI, Edmir Bibliotecário: um mediador cultural para a
apropriação cultural. Informacão@Profissões., Londrina, v. 5, n. 2, p. 161 180, jul./dez.
2016. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/infoprof/article/view/28319/20518>. Acesso em:
08 mar.2017.
MELLO, Milton Thiago. Entrevista concedida a Ana Paula Alves Teixeira. São Paulo, 03
mar. 2016.
�MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 31ª
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São
Paulo, n.10, 1993. Disponível em:
<https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/12101/8763>. Acesso em 15 mar.
2016.
NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel. Políticas de extensão universitária brasileira.
Belo Horizonte: UFMG, 2005.
SILVA, Tózé. Crónicas dum Tempo. Figueiró de Vinhos, Portugal: Booklândia, 2012.
Disponível em: <https://books.google.com.br/books?isbn=1300327308>. Acesso em: 16 set.
2015.
THIESEN, Icléia. Memória institucional: João Pessoa: Ed. UFPB, 2013.
THIESEN, Icléia. Museus, arquivos e bibliotecas entre lugares de memória e espaço de
produção de conhecimento. In: GRANATO, Claudia Penha dos Santos; LOUREIRO, Maria
Lucia de N. M. (Orgs.). Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas/Museu de
Astronomia e Ciências Afins. Rio de Janeiro: MAST, 2009. p. 61-82.
�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
SNBU - Edição: 20 - Ano: 2018 (UFBA - Salvador/BA)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Bibliotecas Universitárias
Description
An account of the resource
Tema: O Futuro da Biblioteca Universitária na Perspectiva do Ensino, Inovação, Criação, Pesquisa e Extensão.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
SNBU - Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFBA
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2018
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Salvador (Bahia)
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Centenário do fundador do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes: nos barangandãs de Carmem Miranda a descoberta de um cientista – compositor.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Teixeira, Ana Paula
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Salvador (Bahia)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFBA
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2018
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Description
An account of the resource
As comemorações do centenário do professor Paulo de Góes que ocorreram em 2013 no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro envolveram um conjunto de ações, que buscavam exaltar e rememorar um dos expoentes no ensino superior no Rio de Janeiro. Paulo de Góes tem uma trajetória profissional, que se inicia como responsável pelo antigo laboratório da Microbiologia na antiga Faculdade do Rio de Janeiro, coordenado pelo Professor Bruno Lobo e permanece como docente na Universidade do Brasil, enquanto idealiza e funda o Instituto de Microbiologia, do qual foi também Diretor. Foi revelado durante uma atividade de extensão o lado artístico de Paulo de Góes. Uma apresentação musical e outras atividades culturais do centenário se encaixaram no eixo extensão universitária. Destaca-se a igualdade de importância na tríade ensino - pesquisa - extensão, atividades capazes de operar mudanças intelectuais dentro de uma comunidade. Os eventos comemorativos possibilitam desdobramentos que visam à lembrança permanente e a valorização do patrimônio cultural da microbiologia. A biblioteca da unidade é escolhida como espaço de divulgação do material resultante do centenário, pois se constitui lugar de memória da unidade.
Language
A language of the resource
pt