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Eixo II - Pesquisa e Extensão
CLUBE DE LEITURA DA BCE: RELATO DE UMA AÇÃO CULTURAL NA
BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (BCE/UnB)
BCE READING CLUB: A CULTURAL ACTION EXPERIENCE REPORT OF CENTRAL
LIBRARY FROM UNIVERSITY OF BRASILIA (BCE/UnB)
Resumo: Visando cumprir seu papel junto à universidade e participar ativamente da tríade
ensino, pesquisa e extensão, a biblioteca universitária desenvolve diversas atividades
complementares. A promoção de clubes de leitura pode cumprir o papel de uma ação cultural
e apresenta-se como uma boa alternativa para a promoção da extensão nessas unidades de
informação. Este artigo apresenta a iniciativa da Biblioteca Central da Universidade de
Brasília em iniciar o "Clube de Leitura da BCE" como forma de ação cultural. O artigo
apresenta-se por meio de uma revisão de literatura sobre os temas abordados, um
levantamento de outras bibliotecas que realizam esse tipo de ação cultural, e é descrito o
relato de experiência sobre o processo de planejamento, implantação, desenvolvimento do
projeto do Clube assim como o registro de algumas percepções dos leitores participantes do
clube de leitura. A ação já demonstrou resultados positivos dentre seus participantes e
organizadores, o que demonstrou uma boa opção de mediação cultural e extensão entre a
biblioteca e a comunidade que a cerca.
Palavras-chave: Clube de leitura. Clube do livro. Leitura. Ação cultural. Biblioteca
universitária.
Abstract: In order to fulfill its role with the university and actively participate in the teaching,
research and extension triad, the academic library carries out several complementary
activities. The promotion of book clubs can fulfill the role of a cultural action and presents
itself as a good alternative for the promotion of extension activities in these information units.
This paper presents the initiative from the Central Library of the University of Brasilia in
starting the "BCE Reading Club" as a form of a cultural action. This essay is presented via a
review of the literature on the covered topics, a survey from other libraries that perform this
type of cultural action, and describes an experience report on the process of planning,
implementing, and developing the Reading Club project, as well as the recording of some
observations from the readers that participated in the reading club. The action has already
shown positive results among its participants and organizers, which has become a good
�example for cultural mediation and extension between the library and the surrounding
community.
.
Keywords: Book discussion group. Book Club. Reading. Cultural Action. Academic Library.
Introdução
A biblioteca universitária possui como uma de suas missões corroborar para a missão
maior e substancial das Universidades: alcançar a efetivação do tripé ensino, pesquisa e
extensão. De acordo com a Constituição Nacional (BRASIL, 1988), as universidades devem
obedecer ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, portanto para
estar em equilíbrio, este tripé precisa receber incentivos de forma igualitária.
Assim como as universidades, as bibliotecas universitárias devem aplicar seus esforço
não apenas em ensino e pesquisa, como frequentemente é visto. Ela deve atuar também no
processo de extensão. De acordo com Saviani (1987), a extensão é o processo de articulação
da universidade com a sociedade com o objetivo de que o conhecimento não fique restrito aos
seus muros.
Uma das maneiras das bibliotecas se envolverem nesse processo é através da
promoção de ações culturais, pois estas fornecem vivência cultural e educativa junto ao seu
público, que no caso da extensão é a comunidade como um todo. Para tanto, as bibliotecas
podem se valer de diferentes suportes culturais e informacionais através da arte, da música, do
teatro, exposições, debates, entre outras, de modo a obter como resultado a interação entre a
universidade e a sociedade (SÁ, 2013).
Visando estimular a interação universidade-sociedade, a Universidade de Brasília
iniciou em janeiro de 2017 a implantação do Clube de Leitura da BCE, no qual participam
alunos, professores, colaboradores e a comunidade em geral. Apesar do pouco tempo de
atividade do clube, este já apresenta incentivos para a sua perpetuação e para divulgação à
comunidade acadêmica como forma de promover atividades como esta por todo o país.
Revisão de literatura
A escrita e leitura sempre foram alicerces fundamentais na história da evolução da
cultura humana. Para Laraia (2007), o que diferencia o ser humano dos outros seres vivos da
natureza é sua capacidade intrínseca de produzir cultura, ou seja, a presença do livro e da
leitura - enquanto instrumentos essenciais da formação cultural - na nossa história pode ser
considerada um marco na definição que temos de nós mesmos há alguns séculos.
�A história da leitura ocidental passa por uma reformulação na Grécia antiga, onde a
relação entre fala e escrita tomou a forma como conhecemos hoje. No início, as interações
orais, no âmbito público e particular, eram tidas como um caminho para atestar a veracidade
de um fato ou discurso. Após a escola de Sócrates, surge um novo pensamento com relação à
escrita, no qual ela poderia ser um instrumento mais sólido para o alcance do conhecimento
científico e filosófico do mundo, longe de sofismos e retóricas que a fala poderia levar seus
ouvintes (McNEELY; WOLVERTON, 2013). Manguel (1997) afirma que a leitura é uma
capacidade nata do ser humano, para onde os olhos apontam, há a potência da leitura, seja ela
de um mundo físico e real ou simbólico e cultural. Depois de séculos de história humana, a
leitura e escrita são tidas como atividades fundamentais para a formação do indivíduo social e
cidadão, dotado de direitos, deveres e capaz de produzir, reproduzir e consumir cultura.
A Ciência da Informação (CI), enquanto campo do conhecimento científico, tem como
um de seus principais objetos de estudo o livro físico, e mais recentemente, seu
desdobramento virtual, como o livro eletrônico e digital. Segundo Borko (1968), a CI é a
disciplina que investiga as propriedades e comportamentos da informação, as forças que
modelam seu fluxo e os meios de processamento da informação, com objetivo de otimizar seu
acesso e usabilidade. Ou seja, grande parte dos estudos na área, tanto no século XX como no
XXI, estão estreitamente relacionados às interações dos livros e de sua leitura, seja em suporte
físico ou virtual, dentro de unidades de informação ou em locais de acesso à informação.
Logo, o estudo dos impactos que podem ser notados e sentidos com o uso e processamento do
livro enquanto um suporte dotado de informação, pode ser também considerado o estudo
sobre a história cultural, de um ponto de vista mais técnico e científico, do ser humano.
Dentro de uma biblioteca universitária está presente, concomitantemente, o estudo e
prática da leitura, do livro, da Ciência da Informação e das ações culturais que podem
promover uma maior agregação de valor nessa cadeia informacional. Segundo Milanesi
(2003, p. 24), a biblioteca é a "mais antiga e frequente instituição identificada com a cultura".
Contudo, não é bem essa a realidade que observamos no Brasil, tanto nas bibliotecas públicas,
especializadas, infantis, escolares quanto nas universitárias. Importante frisar que o último
tipo, as universitárias, possui como uma de suas missões corroborar para a missão maior e
substancial das Universidades, qual seja: alcançar a efetivação do tripé ensino, pesquisa e
extensão. Talvez os objetivos mais alcançados por essas instituições sejam o ensino e
pesquisa, até por força de legislação (avaliações periódicas do MEC, etc.), enquanto as
atividades de extensão ficam muitas vezes a desejar, seja por falta de incentivo, de tempo, de
planejamento ou por falta de uma política pública ou social maior do país que conflua para o
�sentido de retorno do conhecimento científico e cultural que a Universidade promove aos seus
estudantes e colaboradores.
Taparanoff (1982) afirma que a biblioteca universitária tem como uma de suas
características basilares a de ser uma organização social, ou sistema social. Ou seja, para além
de suas funções técnicas, ela precisa colaborar para modificação da realidade social do
ambiente em que está inserida. Tal ideia corrobora com o pensamento mais contemporâneo de
Milanesi (2003), o qual afirma que o acervo de uma biblioteca não deve ser a principal
preocupação dos bibliotecários, educadores e gestores, e sim a real necessidade de informação
de seu possível público. A forma como essa biblioteca irá instigar em seus usuários a reflexão
e conhecimento, para que eles, enquanto cidadãos e indivíduos pertencentes a uma sociedade,
possam adquirir essa informação e terem a potência mudar a realidade a qual pertencem.
Enquanto centro nevrálgico de uma Universidade, a biblioteca pode e deve fazer uso
de sua potência de mediadora informacional e cultural. Realizar o intercâmbio e comunicação
de informações pode ser a resposta para uma mediação institucional social que promova o
aprimoramento de seus usuários e da comunidade a qual serve (ALMEIDA, 2014a). Sá (2013)
ressalta a necessidade de se estimular no ambiente universitário a formação de leitores, se
utilizando de diferentes suportes culturais e informacionais, através da arte, da música, do
teatro, da contação de histórias, exposições, lançamento de livros, sessões de autógrafos com
escritores, debates e demais atividades voltadas para o livro e seus personagens, visando obter
como resultado interação entre a universidade e a sociedade. Um dos caminhos que podem ser
encontrados por esse tipo de unidade de informação é a promoção de ações culturais que
busquem fornecer vivência cultural e educativa junto ao seu público, além de formá-lo para a
reprodução
da
experiência
vivida
ou
a
criação
de
outras
em
seu
meio.
Coelho Neto (2001) nos traz que a ação cultural acontece como um diálogo constante
entre a comunidade sujeito da ação e o gestor cultural que a agencia, onde o agente se
aproxima e se envolve horizontalmente com a comunidade com a qual serão realizadas as
ações; e, além disso, por considerar os sujeitos como produtores do conhecimento, busca
provocá-los a mudanças significativas em suas vidas, portanto é um processo que tem um
princípio determinado mas não um fim definido; interessante observar que o destaque à ação
cultural ante outros fazeres culturais a serem realizados na biblioteca é esse instigar à reflexão
e da intrínseca modificação do indivíduo a partir dela. Ao bibliotecário se abre um campo de
atuação que oferece inúmeras opções de atividades a serem desenvolvidas, nas quais é
indiscutível sua importância tanto em dinamizá-las como de alavancar o processo de produção
cultural dessas instituições e da sociedade (CABRAL, 1999). O bibliotecário nesse contexto
�passa então a ter um papel de agente cultural, coordenando ações, planejando projetos e
provendo recursos, e buscando não interferir na ação em si, sendo apenas o guia condutor do
público-alvo dentro da ação. Cabral (1999, p. 40) acrescenta que
[...] o agente prepara as condições e fornece os recursos que propiciem o desenrolar
e o avanço da produção cultural, deixando que os membros dos grupos exerçam o
papel de sujeitos do processo de criação. Nela o indivíduo é o CRIADOR, e tem
autonomia para escolher com ampla liberdade os meios e técnicas que prefere
utilizar no ato criativo
ou seja, gerando um ambiente propício e agindo como mediador na ação cultural.
É importante salientar que em uma sociedade desigual, como a brasileira, que espaços
públicos acadêmicos busquem abrir suas portas para iniciativas que promovam experiências
para além do historicamente tradicional, e que de fato sejam mediadores do conhecimento e
ações culturais. Desta forma, cada vez mais a missão destas bibliotecas poderá ser atingida, ao
proporcionar à sociedade e à comunidade que a cercam possibilidades de contato,
disseminação, troca de informação, conhecimento e cultura (ALMEIDA, 2014b).
A biblioteca universitária possui muitas facetas para colocar em prática sua missão de
promover o tripé ensino, pesquisa e extensão. Projetos e atividades voltadas às ações culturais
podem e devem ser uma delas. Unir o que há de melhor em uma biblioteca - seus usuários,
corpo funcional e acervo/tecnologias - e transformar esse escopo em uma prática periódica de
mediação cultural, é um dos caminhos que podem ser percorridos, como incentivar a
formação de grupos de estudo, de leitura, de cineclubes, de intervenções artísticas, oficinas,
projetos de extensão com a comunidade externa e interna, ser sede de eventos culturais e
tantas outras atividades.
Recentemente, uma dessas práticas vem sendo resgatada de forma mais perceptível na
sociedade brasileira e mundial. São os clubes de leitura. O ser humano possui a tendência
social intrínseca em seu comportamento, reunir-se em grupos com objetivos e interesses
semelhantes, a qual é uma prática tão humana quanto a de produzir cultura. A fusão entre voz
e corpo no compartilhamento de impressões de leituras individuais para e com o coletivo,
pode possibilitar várias releituras de uma mesma história, o que agrega valor à prática da
leitura, com benefícios incalculáveis para seus participantes (OLIVEIRA; RIBEIRO; WILKE,
2012).
Os clubes de leitura não são uma prática contemporânea, há muito existem. Contudo,
nas últimas décadas vem se presenciando um fenômeno de reencontro dessa prática, de uma
forma mais midiática e interativa. Algumas tecnologias da informação e ações específicas de
pessoas famosas e influentes fizeram com que a prática da leitura e seu debate em conjunto
�fosse resgatada para o grande público. Desde os anos 90 do século XX, a apresentadora de TV
estadunidense Oprah Winfrey possui e lidera um clube de leitura. Nos últimos anos ela
migrou suas discussões sobre livros para plataformas online, o que proporcionou uma maior
integração e participação do público. Além de Oprah, há pouco tempo a atriz Emma Watson,
atualmente embaixadora da boa vontade da ONU para mulheres, criou um clube online de
leitura feminista para compartilhar com seus integrantes leituras que tratem do assunto.
No Brasil, muitas livrarias e grupos de pessoas particulares também vêm promovendo
encontros e formações de clubes de leitura. Talvez um dos mais famosos do país é o Leia
Mulheres. Um grupo de leituras que teve como inspiração uma ação promovida em 2014 pela
escritora e ilustradora britânica Joanna Walsh, com a campanha #ReadWomen2014, que teve
a ideia de questionar o porquê do baixo índice de leitores e de publicações de mulheres no
meio literário e editorial mundial. O Leia Mulheres já está presente em várias cidades do
Brasil, promovendo, além das discussões de gênero e feminismo, a criação de novos clubes de
leitura.
Algumas editoras também promovem clubes de leitura em livrarias, como o caso da
Companhia das Letras, que possui uma agenda de reuniões em algumas livrarias de cidades
do Brasil. Algumas outras iniciativas recentes nos canais de vídeos da internet também
contribuem para a formação de clubes de leitura e para a prática da leitura. Esses canais,
conhecidos como Booktubers (pessoas que compartilham suas leituras na internet no formato
de vídeos), incentivam a leitura entre jovens e adultos, ao trocar experiências com sua
audiência e levar uma nova forma de enxergar a leitura.
Segundo a última pesquisa do Instituto Pró-Livro, Retratos da Leitura no Brasil
ro lê em média 4,96 livros por ano, onde 2,53 dos livros são
terminados pelo leitor e apenas 2,88 são lidos por própria vontade - considerou-se leitor a
pessoa que leu algum livro nos três meses anteriores à pesquisa. Em comparação com outros
países desenvolvidos, não somos especificamente uma pátria de leitores. Logo, observar um
fenômeno de crescimento, ou mesmo surgimento, de clubes de leitura no país, é algo muito
positivo.
Levar a prática do compartilhamento de leituras para dentro das bibliotecas seria uma
das ações culturais, tanto do ponto de vista das Ciências Sociais quanto da Ciência da
Informação, capazes de alterar a realidade dos usuários e dos envolvidos na prática. Alguns
relatos de experiência dessa prática já foram feitos na literatura. Como é o exemplo do Clube
do livro "Era uma vez" dos servidores do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), que surgiu em 2012 com o objetivo de proporcionar uma discussão
�informal das leituras dos servidores do sistema. Esse não é um grupo aberto para a
comunidade acadêmica (DE BEM; AMBONI, 2012). Outro clube de leitura dentro do
ambiente da biblioteca universitária é do clube de leitura universitário da Universidade
Castilha la Mancha, na Espanha. Após uma iniciativa realizada em 2002, o clube de leitura foi
expandido para as demais bibliotecas da universidade, como um projeto de extensão. Os
encontros são destinados tanto para a comunidade interna como a externa à instituição
(JIMÉNEZ, 2013).
Na Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) também
acontece um clube de leitura idealizado por professor da área do direto da instituição, desde
2013. A biblioteca fornece todo o suporte técnico e material para as reuniões, que são
mediadas por palestrantes convidados. Os resultados desses encontros se mostraram bastante
positivos para o grupo, com perspectivas de crescimento e maior adesão acadêmicos (FICHT,
2016).
Implantação do Clube de Leitura BCE: relato de experiência
Histórico
A ideia inicial para a implantação do Clube de Leitura aconteceu em meados de 2016.
Inicialmente seria apenas uma forma de promoção da leitura entre os colaboradores da BCE.
Em janeiro de 2017 foi elaborado um projeto com as diretrizes básicas para a criação da
atividade, que solidificou a ideia e possibilitou a sua criação. O projeto foi apresentado à
direção da biblioteca que autorizou o seu início. Assim, foi realizada uma consulta entre os
colaboradores da biblioteca, a fim de verificar quem teria interesse em participar da
organização da atividade.
Em julho de 2017 foi realizada uma reunião inicial entre os colaboradores da
biblioteca, responsáveis pela organização do clube, para traçar as diretrizes finais para a
implantação do Clube de leitura. Ficou decidido que os encontros seriam realizados
mensalmente, sempre na última quinta-feira do mês, com início previsto para o mês de
setembro de 2017. As leituras seriam preferencialmente de livros de ficção que tivessem um
número de páginas não muito extenso, a fim de viabilizar os encontros mensais.
Escolha das obras
O método para escolha das obras obedeceu aos seguintes critérios:
1
Seis obras são previamente escolhidas entre a comissão organizadora do clube;
�2
As seis obras selecionadas são postadas na página da Biblioteca Central do Facebook
(página com mais de 13 mil curtidas e bom alcance). Os membros da página votam por meio
das reações do Facebook (ver figura 1);
3
As três obras com maior número de reações são levadas para votação entre os
participantes do clube;
4 A obra mais votada é a escolhida para a leitura do mês seguinte;
5
A obra vencedora é divulgada no Facebook da biblioteca, com o convite para a próxima
edição do clube (ver figura 2);
Figura 1: Postagem com a votação para a edição de janeiro do Clube
Fonte: Página oficial da BCE no Facebook/2018
�Figura 2:
Postagem com o convite para a segunda edição do Clube
Fonte: Página oficial da BCE no Facebook/2018
O primeiro encontro
21 e 28 de setembro de 2017
A comissão organizadora do clube indicou, como primeira leitura, a obra Dois irmãos, do
escritor amazonense Milton Hatoum. Dessa forma, não houve votação popular para a escolha
como nos encontros posteriores. Para discutir essa primeira obra, seriam excepcionalmente
realizados dois encontros: um no dia 21 de setembro de 2017, que estaria restrito a
colaboradores da BCE e funcionaria como um piloto, e outro aberto a toda comunidade, no
dia 28 de setembro de 2017. O evento piloto contou com sete participantes e o aberto à
comunidade contou com nove participantes.
�Figura 3: Participantes da primeira edição do Clube
Fonte: Perfil oficial da BCE no Instagram/2018
O segundo encontro
26 de outubro de 2017
Para a votação via Facebook, foram selecionadas as obras O profeta, de Khalil Gibran; Um
copo de cólera, de Raduan Nassar; O alienista, de Machado de Assis; Antes de nascer o
mundo, de Mia Couto; Maus, de Art Spiegelman; e O sol é para todos, de Harper Lee. Os três
mais votados foram Maus, O profeta e Antes de nascer o mundo, que foram levados para
votação entre os participantes do primeiro encontro. Foi escolhida a obra Antes de nascer o
mundo. O evento contou com dez participantes.
Figura 4: Participantes da segunda edição do Clube
Fonte: Perfil oficial da BCE no Instagram/2018
�O terceiro encontro
30 de novembro de 2017
A partir dessa edição, as obras foram selecionados dentro de um tema específico. O tema
escolhido foram obras escritas por autores negros, em homenagem ao Dia da Consciência
Negra, que acontece durante o mês de novembro. Foram selecionadas para a votação via
Facebook as obras: Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus; Sonhos em tempos de
guerra, de Ngugi Wa Thong; Jazz, de Toni Morrison; O alienista, de Machado de Assis; A cor
púrpura, de Alice Walker e Hibisco roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie. Os três mais
votados foram Quarto de despejo, A cor púrpura e Hibisco roxo. A obra Quarto de despejo foi
a escolhida. O evento contou com onze participantes.
Figura 5: Participantes da terceira edição do Clube
Fonte: Perfil oficial da BCE no Instagram/2018
Marketing do clube
Para divulgação do Clube de Leitura, utiliza-se primordialmente o Facebook, além dos
perfis do instagram e twitter oficiais da biblioteca. Essa ferramenta auxilia tanto na escolha
das obras, como já foi explicitado, quanto na promoção dos encontros, por meio da
divulgação periódica dos convites. A divulgação também é feita por meio de correio
eletrônico institucional para os colaboradores da biblioteca e para todos os servidores e
colaboradores da Universidade. Além disso, a coordenação do Clube conta com o apoio da
Secretaria de Comunicação (Secom/UnB) para divulgar as reuniões por meio das redes e
canais oficiais da UnB.
�De modo a auxiliar na divulgação, foram confeccionados marcadores de páginas,
distribuídos aos usuários da biblioteca, além de um banner, que foi afixado em um local
estratégico.
Participantes
Os participantes do clube formam um grupo heterogêneo, que inclui colaboradores da
biblioteca, alunos de graduação, pós-graduação e professores da universidade, bem como
usuários externos.
Para avaliação das reações dos participantes do clube, foi realizada uma pequena
entrevista contendo cinco perguntas direcionadas a dois participantes do clube. As perguntas
e respostas estão transcritas a seguir:
Você acha que sua participação no Clube de leitura modificou seus hábitos de leitura?
Participante 1
Antes do clube eu não tinha o hábito de ler livros de ficção. Minhas leituras
eram limitadas a material de pesquisa de pós-graduação. Todas as obras ficcionais que li
durante o ano de 2017 foram após a implantação do clube de leitura.
Participante 2
Eu estava meio parada com leituras, estava lendo mais livros sobre crianças,
sobre como educar os filhos. O clube de leitura foi uma grande oportunidade para aumentar o
número de leituras, porque assumimos o compromisso de debater os livros e então eu me
reencontrei com a literatura novamente.
Você acredita que a sua percepção e interpretação da obra lida é modificada após a reunião
mensal?
Participante 1
Com certeza. Eu gostei de todas as obras do Clube até agora, algumas eu não
havia gostado tanto quando li, mas após a discussão passei a ver o livro de outra forma e
gostar mais da obra e achá-la mais interessante.
Participante 2
Com certeza. Uma coisa que a gente fala muito quando tem as reuniões é
sobre essa questão da interpretação das obras. A gente consegue até enxergar a obra de uma
forma melhor após ouvir as várias interpretações que existem. Porque às vezes um tema você
vê de uma forma e vê que o colega já enxerga de outra forma, você vê que existem várias
abordagens sobre o mesmo tema.
O Clube de leitura da biblioteca possibilitou que você tivesse conhecimento de autores e obras
que antes não conhecia?
Participante 1
Então, a minha intenção ao entrar no clube de leitura foi me forçar mesmo a
ler mais, que eu sei que é algo importante, e realmente meus hábitos de leitura já estão
mudando e descobri vários autores e obras que não conhecia antes do clube.
�Participante 2
Com certeza. Como são livros indicados pelos participantes do grupo, então
abre muito o leque de livros. E mesmo que dos 6 livros pré-indicados escolhamos apenas um,
você já fica com aqueles outros livros na lista para leituras posteriores.
Você acha válido que uma biblioteca universitária realize eventos como um clube de leitura?
Participante 1
Com certeza. Acredito que uma biblioteca deve ter esse tipo de atividade
voltada para o lado cultural, de incentivo a leitura, para mostrar para os usuários como a
leitura é importante e promover também o uso do acervo, pois na biblioteca temos um acervo
muito bom e que muitas das vezes o usuário não conhece. Com o clube de leitura acho que as
pessoas estão conhecendo um pouco mais de nosso acervo e acho interessante para isso
também: para a promoção de leitura e pra divulgar o nosso acervo de literatura
Participante 2
Acho muito válido. Para muitas coisas na vida precisamos de incentivo,
então o clube de leitura é um grande incentivo para que as pessoas se abram para o mundo da
leitura, porque é algo muito engrandecedor. E a discussão, eu nunca tinha parado pra pensar,
mas pra minha vida pelo menos foi muito útil você conseguir enxergar o ponto de vista do
outro.
Considerações Finais
Levando-se em conta a revisão bibliográfica apresentada e o relato de experiência do
Clube de Leitura da BCE, percebe-se o quanto as bibliotecas e os bibliotecários em geral
podem atuar por meio de ações culturais. Dentro da biblioteca, o foco não pode ser
meramente o processo técnico do acervo, tais como indexação e catalogação. A biblioteca
deve estar atenta ao seu papel de mediadora cultural estimulando a formação de leitores
conscientes e reflexivos, através de diferentes suportes culturais e informacionais.
É possível observar que mesmo diante do pouco tempo de atividade do clube, este já
provocou mudanças na vida de seus participantes e, como afirma Coelho Neto (2001), esse
processo tem um princípio determinado, mas não um fim definido, ou seja, essa ação se
perpetuará através de muitas outras ações e reflexões na vida do participante e daqueles que
estão a sua volta.
A partir do relato observa-se o quanto os participantes tinham interesse em adquirir
novos hábitos de leitura, porém não obtendo sucesso anteriormente. O Clube de Leitura da
BCE possibilitou a esses participantes não só obterem determinada periodicidade e disciplina
em suas leituras, como também abriu um leque de possibilidade de novos autores, novos
temas e novos olhares sobre a leitura.
�Portanto, é de suma importância que as bibliotecas no Brasil assumam seu papel de
mediadoras culturais promovendo e estimulando o consumo e a produção cultural. É também
relevante salientar que este processo está ligado à necessidade das bibliotecas universitárias
enxergarem seu papel dentro do processo de extensão da universidade, dando suporte não só
às funções de ensino e pesquisa, como ainda é frequente no país.
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educação brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.
<http://www.brapci.inf.br/_repositorio/2011/06/pdf_f220a35953_0017357.pdf>. Acesso em:
15 jan. 2018.
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
SNBU - Edição: 20 - Ano: 2018 (UFBA - Salvador/BA)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Bibliotecas Universitárias
Description
An account of the resource
Tema: O Futuro da Biblioteca Universitária na Perspectiva do Ensino, Inovação, Criação, Pesquisa e Extensão.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
SNBU - Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFBA
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2018
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Salvador (Bahia)
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Clube de leitura da BCE: relato de uma ação cultural na Biblioteca Central de Brasília (BCE/UnB)
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Kama, Ana Flavia Lucas de F.; Silva, Fernando; Santos, Fabiana Camargo dos; Carmo, Rhuama Barbosa do
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Salvador (Bahia)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFBA
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2018
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Description
An account of the resource
Visando cumprir seu papel junto à universidade e participar ativamente da tríade ensino, pesquisa e extensão, a biblioteca universitária desenvolve diversas atividades complementares. A promoção de clubes de leitura pode cumprir o papel de uma ação cultural e apresenta-se como uma boa alternativa para a promoção da extensão nessas unidades de informação. Este artigo apresenta a iniciativa da Biblioteca Central da Universidade de Brasília em iniciar o "Clube de Leitura da BCE" como forma de ação cultural. O artigo apresenta-se por meio de uma revisão de literatura sobre os temas abordados, um levantamento de outras bibliotecas que realizam esse tipo de ação cultural, e é descrito o relato de experiência sobre o processo de planejamento, implantação, desenvolvimento do projeto do Clube assim como o registro de algumas percepções dos leitores participantes do clube de leitura. A ação já demonstrou resultados positivos dentre seus participantes e organizadores, o que demonstrou uma boa opção de mediação cultural e extensão entre a biblioteca e a comunidade que a cerca.
Language
A language of the resource
pt