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http://repositorio.febab.libertar.org/files/original/49/5940/SNBU2012_079.pdf
3c444a548d69ac22bec31bbc428259d6
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Organização do conhecimento: indexação, catalogação, tesauros , ontologias, taxonomias,
padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
Trabalho completo
POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA A CATALOGAÇÃO EM
BIBLIOTECAS: AAPLlCAÇÃO DA NOVA NORMA PARA DESCRiÇÃO
E ACESSO DE RECURSOS (RDA)
Karyn Munyk Lehmukuhl, Liliane Vieira Pinheiro2, Raquel
Bernadete Machado3
Mestre em Ciência da Informação. Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina.
2 Mestre em Ciência da Informação. Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina .
3 Especialista em Gestão de Unidades de Informação. Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal de Santa Catarina , Florianópolis, Santa Catarina .
1
Resumo
O presente artigo propõe uma reflexão acerca da RDA, Resource Description and
Access, em português, Descrição e Acesso de Recursos. . no âmbito das bibliotecas
universitárias e como essa nova regra de catalogação irá afetar o processo de busca
e recuperação da informação pelos usuários e a forma com a qual os bibliotecários
catalogadores realizam seu trabalho. Para elaboração deste estudo foram
identificados na literatura trabalhos relacionados ao tema que permitissem
esclarecer a aplicação da RDA. Para contextualizar a discussão apresentou-se um
histórico e evolução da catalogação. Em seguida explicou-se a RDA e suas
diferenças com relação ao AACR2 apresentando exemplos práticos de obras
catalogadas segundo as duas regras. Por fim , são discutidas as possibilidades e
desafios com a implantação da RDA.
Palavras-Chave: Descrição e Acesso de Recursos; Catalogação; Representação
Descritiva .
Abstract
This article proposes a reflection about the RDA, Resource Description and Access,
in the context of university libraries and how that new cataloging rule will affect
information seeking and retrieval process for users and how cataloguing librarians
will perform their work. For this study were identified works related to the topic that
would allow clarifying the application of the RDA. To contextualize the discussion was
presented the cataloguing history and evolution . Then was explained RDA and its
differences comparing to AACR2 using practical examples of works cataloged under
both rules. Finally we discuss the possibilities and challenges concerning RDA
implementation.
Keywords: Resource Description and Access; Cataloguing ; Descriptive
Representation .
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padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
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1 Introdução
Para ampliar o acesso às informações e facilitar a descoberta de recursos, as
bibliotecas universitárias devem acompanhar os avanços tecnológicos e a variedade
informacional, essenciais para a geração do conhecimento técnico e científico e para
a formação profissional. No contexto brasileiro, esse tipo de biblioteca destaca-se
de forma pioneira na adoção de novas tecnologias de informação e comunicação
para aprimorar ou mesmo oferecer serviços inovadores aos seus usuários.
As atividades de organização da informação, entre elas a catalogação, são
essenciais para a recuperação e localização da informação. Por meio dessa
atividade a obra é descrita a partir do título, autor(es), local de publicação, editora,
data de publicação e assunto(s) . Entretanto, as mudanças na sociedade implicam na
necessidade de atualizar as normas e padrões de catalogação, visando atender as
necessidades dos indivíduos ao oferecer ferramentas mais condizentes com tais
necessidades. Sendo assim, é imprescindível trazer à discussão a nova regra de
catalogação que, em breve, irá substituir o Anglo-American Cataloguing Rules, 2nd
edition, ou seja, a ROA, Resource Oescription and Access.
Esse trabalho propõe uma reflexão acerca da ROA, seu estágio atual e as
mudanças mais evidentes na prática da catalogação e para a descoberta de
recursos informacionais pelos usuários.
2 Materiais e Métodos
Para a realização deste estudo, foram identificados na literatura trabalhos
publicados sobre o tema, visando analisar os aspectos que possam elucidar a
aplicação da ROA em bibliotecas universitárias.
No segundo momento faz-se uma análise dos testes realizados pela Library
of Congress utilizando a ROA no MARC 21 a fim de comparar tais registros com
registros existentes elaborados de acordo com as normas do AACR.
3 A catalogação e a ROA
A organização da informação envolve, entre outras áreas da Biblioteconomia,
a catalogação que consiste na representação bibliográfica de um recurso dentro de
um sistema de controle de acervos. Para Mey (1995, p. 38), "a catalogação
compreende três partes: descrição bibliográfica, pontos de acesso e dados de
localização". A descrição bibliográfica refere-se à "representação sintética e
codificada das características de um item, de forma a torná-lo único entre os demais"
(MEY, 1995, p. 43).
Oe acordo com Mey e Silveira (2009, p. 7) a catalogação "implica no
levantamento das características desse registro e a cognição das características do
usuário". A catalogação promove o encontro entre o usuário e as informações de
que necessita e tem origem desde o surgimento das primeiras grandes bibliotecas e
teve como objetivo registrar os acervos bibliográficos. Com o passar dos tempos e o
surgimento de outras tecnologias, como a tipografia, surgem catálogos temáticos e
de autores e os sistemas de classificação. A catalogação tem importante
participação no controle bibliográfico universal, que objetiva desenvolver ferramentas
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padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
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que permitem a organização da informação e sua posterior recuperação e acesso
(PICCO ; REPISO, 2012) .
Visando a adequada descrição dos itens para atender às demandas dos
usuários e para possibilitar a preservação das informações foram estabelecidos
princípios e padrões para a catalogação, ao longo da história da humanidade,
destacando-se os princípios de Paris, as normas ISBD, o formato MARC e o Código
de Catalogação Anglo-Americano.
Entretanto, com os avanços tecnológicos é necessário rever os padrões e
princípios que regem a catalogação. A IFLA realizou encontros sob o seu comando
para consultar catalogadores e elaborar uma versão atualizada dos Princípios
Internacionais de Catalogação, que ampliam o escopo dos anteriores ao incluir os
inúmeros tipos de materiais e os aspectos relacionados aos dados bibliográficos e
de autoridade (OLlVER, 2011 ; PICCO; REPISO, 2012) .
A Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação enquadra :
abrangência ; princípios gerais; entidades, atributos e relações ; objetivos e funções
do catálogo; descrição bibliográfica; pontos de acesso e fundamentos para
aperfeiçoamento da busca (INTERNATIONAL FEDERATION OF LlBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2009).
Posteriormente, foram definidos requisitos funcionais para os registros
bibliográficos e surge um novo modelo conceitual de descrição. Em 1998 foram
publicados os Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR) e em
2009, os Requisitos funcionais para Registros de Autoridade (FRAD). Tais modelos
proporcionam uma base teórica e logicamente coerente para que, sobre ela, se
construa uma prática de descobrimento de recursos que seja mais adequada para o
usuário (OLlVER, 2011) .
Picco (2009) ressalta que o FRBR é o primeiro modelo conceitual para a
catalogação inspirado no modelo entidade-relacionamento advindo da informática.
Tal modelo baseia-se na percepção do mundo real , que consiste em um conjunto de
objetos definidos como entidades e nos relacionamentos existentes entre esses
objetos.
Mey e Silveira (2009) comentam que o modelo entidade-relacionamento foi
criado para o desenvolvimento de bases de dados relacionais, em contraposição às
bases de dados hierárquicas. Segundo Lourenço (2005, p. 78),
[.. .] foi idealizado por Peter Chen, no final da década de 1970 e vem sendo
estudado e aplicado até os dias atuais , sendo uma das ferramentas de
modelagem de dados mais comumente utilizadas no desenvolvimento de
sistemas gerenciadores de bancos de dados.
É importante destacar que os modelos FRBR não invalidam o uso dos
códigos de catalogação, ISBD, formato MARC e assemelhados. Os requisitos
tornaram-se a base conceitual utilizada para o aprimoramento de tais normas, regras
e formatos (MEY, SILVEIRA, 2009).
A FRAD surgiu como uma expansão dos FRBR com a finalidade de analisar
outras partes do registro bibliográfico, como os pontos de acesso.
Visando a aplicação destes requisitos foi elaborado o novo código de
catalogação, cuja sigla RDA pode ser traduzida para o português como Recursos:
descrição e acesso. A RDA ué a nova norma de catalogação que substitui as Angloamerican cataloguing rules, 2nd edition" (OLlVER, 2011, p. 17).
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A ROA "é baseada em um conjunto de instruções práticas, que é
fundamentada em um conceito teórico que define a forma , a estrutura e o conteúdo
desta nova padronização" (SILVAet ai, 2012, p. 114). Mantém uma forte relação com
as AACR2 , apesar de pautar-se em uma estrutura teórica , ser projetada para o
ambiente digital e ter maior abrangência que as AACR2 . "Seu surgimento remonta à
necessidade de encontrar solução para problemas há muito entranhados nas
AACR." (OLlVER, 2011, p. 51).
Silva e outros (2012) enfatizam que a ROA é uma norma de conteúdo e
objetiva criar um grupo robusto de informações, que alimentam as bases de dados
atuais, e uma estrutura para os novos desafios de coleta e consulta de informação.
Segundo Corrêa (2008) essa norma foi desenvolvida para ser mais flexível e pode
ser aplicada independente do ambiente informacional, seja ele digital ou
convencional.
Como os modelos conceituais que dão base à ROA trazem uma nova forma
de olhar e descrever o objeto informacional, evidenciando as suas relações ao
descrever/catalogar um recurso informacional torna-se necessário identificar o que é
a obra, a expressão , a manifestação e o item. "A obra é realizada por meio de
expressão é concretizada em manifestação é exemplificada por item" (OLlVER,
2011, p. 24, grifo do autor) .
O novo código foi publicado em julho de 2010 e sua forte relação com o
modelo conceitual FRBR resulta da vontade de sintonizar-se com os avanços
tecnológicos. Por isso, foi definido de modo a compor a mesma realidade das bases
de dados (PICCO; REPISO, 2012).
As FRBR identificam três grupos de entidades, as quais, segundo Mey e
Silveira (2009), são o aspecto mais importante pois permitem um novo tipo de
abordagem dos registros bibliográficos: Oliver (2011) especifica estes grupos em :
a) Grupo 1: produtos do trabalho intelectual ou artístico, que tem como
entidades: obra , expressão, manifestação e item;
b) Grupo 2: responsáveis pelo conteúdo intelectual ou artístico, a produção física
e a disseminação, ou a custódia das entidades do primeiro grupo. O grupo
dois tem como entidades: pessoas físicas e pessoas jurídicas;
c) Grupo 3: assuntos, que tem como entidades: conceito, objeto, acontecimento,
lugar e todas as entidades dos grupos um e dois.
As entidades mencionadas devem ser consideradas na descrição de qualquer
recurso informacional.
O modelo conceitual é uma representação do universo bibliográfico real, no
qual diferentes entidades se relacionam entre si e podem ser descritas com distintos
elementos ou atributos. A entidade faz referências a coisas e objetos que devem ser
representados, os atributos são as suas características e as relações são os
vínculos ou relações entre elas (TAYLOR, 2007 apud PICCO; REPISO, 2012) . Por
meio desses modelos lógicos é possível o reexame, por especialistas da área, dos
princípios fundamentais escondidos por trás de formatos e regras de catalogação, de
modo a permitir uma modelagem mais correta e perfeita da representação descritiva
e, consequentemente, a uma melhor recuperação (LOURENÇO, 2005) .
Uma das contribuições do modelo FRBR é incorporar a dimensão do
conteúdo na catalogação para definir as entidades diretamente relacionadas com a
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obra e a expressão (PICCO, 2009).
A norma ROA é composta por 38 capítulos - o capítulo O é a introdução; 10
seções, divididas em 37 capítulos; e 13 apêndices (SILVA et aI. , 2012). A distribuição
da ROA ocorre como parte de uma ferramenta em linha denominada ROA Toolkit,
que inclui o conteúdo integral da norma e também documentos e funcionalidades
adicionais (OLlVER, 2011 ; ROA TOOLKIT, 2012).
A partir da ROA Toolkit é possível entender como a norma está estruturada . O
novo código se divide em dez seções e em uma parte introdutória que contempla os
objetivos e alcance do código. As seções abordam tanto a descrição dos atributos
(seção 1 a 4) como das suas relações (seção 5 a 10).
Na primeira seção são abordadas as instruções para registrar os atributos das
manifestações e dos itens. A seção 2 apresenta as instruções para registrar os
atributos da obra e expressão e a descrição do conteúdo . Na seção 3 estão as
instruções para registrar os atributos de pessoas, famílias e entidades. Já o capítulo
4 indica como registrar os conceitos, objetos, acontecimentos e lugares (ROA
TOOLKIT, 2012).
A partir da seção 5 estão as instruções para registrar as relações. As seções 5
e 8 indicam como registrar as relações entre a obra, a expressão, a manifestação e
o item, de acordo com o modelo FRBR. As seções 6 e 9 apresentam as instruções
para as relações da pessoa , família ou instituição com um recurso, seguindo o
modelo FRAO. As seções 7 e 10 apresentam as instruções para relacionar o tema
da obra , utilizando conceitos, objetos, eventos e lugares (ROA TOOLKIT, 2012).
Entre as vantagens da ROA Toolkit estão a possibilidade de comparar as
regras do atual código com a AACR2 e a de verificar fluxos de trabalho sugeridos
para a descrição de determinados recursos.
4 ROA e AACR2: principais mudanças
A ROA foi concebida para atender aos anseios de um conjunto de normas
mais voltado à realidade dos catálogos eletrônicos de bibliotecas e as diversas
fontes de informação em linha disponíveis. Entretanto, as suas regras foram
construídas com base nas regras do ACCR2 (JOINT STEERING COMMITTEE FOR
REVISION OF AACR, 2005). "Há também um esforço consciente para preservar a
compatibilidade com os dados dos registros AACR2 . Os dados ROA podem ser
codificados com a mesma norma MARC 21 usada em registros AACR2 ." (OLlVER,
2011, p. 5).
Anteriormente, a descrição bibliográfica voltava-se para os aspectos físicos
das entidades bibliográficas e em estabelecer o conteúdo das mesmas (PICCO,
2009). Ainda para esta autora, o novo código ROA irá permitir a descrição e acesso a
qualquer recurso e então permitirá um alcance maior das regras AACR2 que tinham
o foco nas obras impressas.
A grande diferença da norma ROA é o foco no usuário e nas tarefas
executadas ao descobrir recursos. Estas tarefas surgem nos modelos FRBR e
FRAO , que trazem uma nova forma de pensar os dados bibliográficos e autoridade,
e estão presentes em toda a norma (organização, estrutura e conteúdo) (OLlVER,
2011).
Ainda em relação às mudanças, Picco (2009) afirma que esta mudança de
abordagem não é menor porque, em geral, os usuários se dirigem a uma biblioteca
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ou realizam uma busca em um catálogo interessados pelo conteúdo de uma
determinada entidade bibliográfica e não apenas por seus aspectos de
apresentação. No entanto, não se pode ignorar que a ênfase tradicional da descrição
é focada nos aspectos físicos ou de apresentação da informação, definindo-se a
catalogação como a descrição física dos documentos. Pode-se afirmar que à partir
da incorporação do modelo FRBR ocorre uma mudança significativa na prática e,
portanto, no próprio objeto da catalogação.
As mudanças proporcionadas pela ROA terão impacto no cotidiano dos
profissionais que realizam o trabalho de catalogação, pois a forma de analisar a obra
é diferenciada, exige uma descrição detalhista e que demandará inclusive um nível
cultural mais elevado para atender a essa nova forma de fazer catalogação.
Modesto (2011 , p. 1) analisa o novo olhar do catalogador frente à ROA e
afirma que a principal regra mexe com a "zona de conforto de catalogadores". Ele
questiona se os profissionais "estão conscientes sobre as mudanças e os seus
possíveis impactos nos serviços técnicos". O autor também indaga outras questões
referentes ao controle bibliográfico, incluindo formatos de comunicação e
intercâmbio, destacando o MARC21 . Para Modesto, "é clara a necessidade de
avaliar o cenário bibliográfico de forma mais ampla" .
Alguns estudos já foram iniciados para aplicação do modelo entidaderelacionamento. Lourenço (2005) aplicou esse modelo para criar um padrão de
metadados para teses e dissertações. Segundo a pesquisa , foi possível detectar
inconsistências de aplicação dos princípios básicos da catalogação. Além disso, o
estudo permitiu ampliar a visão de como as ferramentas de modelagem de dados
auxiliam no aperfeiçoamento e adequação de normas e padrões de representação
descritiva, no ambiente tradicional e digital.
Em outro estudo, Silveira (2007) analisou o impacto dos FRBR nos pontos de
acesso de responsabilidade social. Neste trabalho, a autora aponta diversas
mudanças relacionadas à prática da catalogação e destaca que a principal mudança
está no foco ao usuário. Segundo a autora , as regras eram estipuladas para facilitar
o trabalho do bibliotecário e a partir dos FRBR as regras são estipuladas para
facilitar as atividades dos usuários, implicando na revisão das regras, como a da
escolha dos pontos de acesso. Silva et ai (2012, p. 116) acrescenta que "a
terminologia utilizada nas AACR2 para cabeçalhos também muda na ROA e passa a
ser denominada pontos de acesso autorizados."
00 ponto de vista prático, já é possível conhecer as mudanças que, no
primeiro momento, ocorrerão na catalogação de materiais através dos testes já
realizados internacionalmente. Assim , para entender como será aplicada a ROA nas
bibliotecas universitárias consultou-se os testes da Library of Congress a fim de
comparar a catalogação de uma obra utilizando a ROA e a catalogação feita com
base no AACR2 .
É importante esclarecer que os testes, na realidade, são o resultado de um
esforço conjunto das três bibliotecas nacionais norte-americanas: Library of
Congress (LC), National Library of Medicine (NLM) e National Agricultural Library
(NAL). As três bibliotecas tinham como objetivo, ao testar, a ROA verificar sua
viabilidade operacional , técnica e econômica (LlBRARY OF CONGRESS, 2012).
Outro ponto relevante também tratado pelas três instituições foi a adaptação
do MARC21 para acomodar as necessidades criadas pela ROA. Sendo assim , na
Figura 1 é apresentado um registro elaborado pela LC seguindo a ROA. Constata-se
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que alguns campos não existem na estrutura atual do MARC21 .
=LDR 01570nam a2200373Ki 4500
=001 ocn697793103
=003 OCoLC
=005 20110201055509.0
=008 110121 s2011\\\\at\\\\\\\\\\\\001\0\eng\d
=010 \\$a 2009941964
=040 \\$aOCLCQ$beng$erda$cQBX
=020 \\$a9780538754286 (Student edition)
=020 \\$a0538754281 (Student edition)
=020 \\$z9780538754293 (Instructor's edition)
=020 \\$z053875429X (Instructor's edition)
=035 \\$a(OCoLC)697793103
=037 \\$aONLY US RDA TEST PARTICIPANTS SHOULD ADD INSTITUTION RECORDS
TO THIS MASTER RECORD ; NO CHANGES SHOULD BE MADE TO THE MASTER RECORD
=079 \\$aocn664722928
=049 \\$aQBXA
=100 1\$aGwartney, James D.
=245 10$aMacroeconomics :$bprivate and public choice l$cJames D. Gwartney, Richard L.
Stroup , Russell S. Sobel, David A. Macpherson.
=250 \\$a13th edition, 13e, Student edition.
=260 \\$aAustralia ;$aBrazil ;$aJapan ;$aKorea ;$aMexico ;$aSingapore ;$aSpain ;$aUnited
Kingdom ;$aUnited States :$bSouth-Western Cengage Learning ,$c[2011), copyright 2011 .
=300 \\$axxvii , 585 pages ;$c28 cm
=336 \\$atext$2rdacontent
=337 \\$aunmediated$2rdamedia
=338 \\$avolume$2rdacarrier
=500 \\$alncludes indexo
=505 O\$aThe economic way of thinking -- Markets and government -- Core macroeconomics
-- International economics -- Applying the basics : special topics in economics.
=700 1\$aStroup, Richard L.
=700 1\$aSobel, Russell S.
=700 1\$aMacpherson, David A.
=985 \\$acommonsetA$bIOrQBI
=994 \\$aCO$bDLC
Figura 1 - Registro elaborado segundo as normas da ROA
Fonte: LlBRARY OF CONGRESSoROA bibliographic records: text version . Disponível em:
<http://www.loc.gov/catdir/cpso/RDAtesUrdatestrecords.html>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Para efeito de comparação a Figura 2 apresenta o mesmo registro catalogado
segundo as normas do AACR2 .
Uma das mudanças mais evidentes é a substituição da Designação Geral do
Material (DGM), antes registrada no subcampo h do campo 245, pelos campos 336,
337 e 338, o que requer uma descrição física mais detalhada da obra . Nesses
campos são descritas as informações referentes, respectivamente, ao tipo de
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Organização do conhecimento: indexação, catalogação, tesauros , ontologias, taxonomias,
padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
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conteúdo, tipo de mídia e tipo de suporte . Segundo Oliver (2011), cada um desses
elementos conta com um vocabulário controlado, cujos termos foram selecionados
por sua adequação para o elemento, de forma a abranger todos os tipos possíveis
de conteúdo e suporte de forma .
r············· -
=LDR 00990nam a2200289Ka 4500
=001 oen697791029
=003 OCoLC
=005 20110201055509.0
=008 110121s2011\\\\at\\\\\\\\\\\\001\0\eng\d
=010 \\$a 2009941964
=040 \\$aOCLCQ$beng$eQBX
=020 \\$a9780538754286 (student ed .)
=020 \\$a0538754281 (student ed .)
=020 \\$z9780538754293 (instruetor's ed .)
=020 \\$z053875429X (instruetor's ed.)
=035 \\$a(OCoLC)697791 029
=037 \\$aONLY US RDA TEST PARTICIPANTS SHOULD ADD INSTITUTION RECORDS TO
THIS MASTER RECORD; NO CHANGES SHOULD BE MADE TO THE MASTER RECORD
=079 \\$aoen664722928
=049 \\$aQBXA
=245 OO$aMaeroeeonomies :$bprivate and publie ehoiee /$eJames D. Gwartney ... [et al.l .
=250 \\$a13th ed .
=260 \\$aAustralia ;$aMason, OH :$bSouth-Western Cengage Learning,$ee2011.
=300 \\$axxvii, 585 p. ;$e28 em.
=500 \\$alneludes indexo
=700 1\$aGwartney, James D.
=985 \\$aeommonsetA$bIOrQBI
=994 \\$aCO$bDLC
0.0.
0.0.
. . _ ••• _ _ _ _
•••• _.
Figura 2 - Registro elaborado segundo as normas do AACR2
Fonte: LlBRARY OF CONGRESSoROA bibliographic records: text version. Disponível em :
<http://www.loc.gov/catdir/cpso/RDAtesUrdatestrecords.html>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Detalhando melhor, o campo 336 refere-se ao tipo de conteúdo, ou seja ,
como ele é expresso e por meio de qual dos sentidos humanos o conteúdo é
apreendido. Alguns dos termos adotados para descrever o tipo de conteúdo são:
texto, palavra falada , programa de computador, sons, imagem fixa .
No campo 337 são relacionadas às informações do tipo de mídia. Neste caso,
a mídia pode ser entendida como o tipo de dispositivo de intermediação necessário
para ver, tocar, exibir, etc. o conteúdo de um recurso. Quanto ao vocabulário adotado
podem ser: áudio, vídeo, computador, projetado, microforma.
Já no campo 338 é registrado o tipo de mídia, ou seja, o formato do meio de
armazenamento e invólucro de um suporte com relação ao tipo de dispositivo de
intermediação necessário para acessar ao conteúdo do recurso. Por exemplo, para
suporte de dados os termos que podem ser adotados são: cartão de memória, disco
de computador, recurso em linha.
No exemplo apresentado nas Figuras 1 e 2 verifica-se também a aplicação de
outra importante modificação de procedimento proposta pela RDA que é o registro
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padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
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de todos os indivíduos aos quais é atribuída responsabilidade pela obra . No caso do
exemplo apresentado na Figura 1 verifica-se que o primeiro autor identificado na
obra foi registrado no campo 100 e os demais no 700 . No campo 245 todos os
autores são informados, inutilizando a "Regra dos três" adotada no AACR2 (SILVA et
aI., 2012). Segundo Seikel e Steele (2011) os compiladores de trabalhos devem ser
considerados como o ponto de acesso preferido, registrando-se no campo 100.
Todos os autores serão registrados no campo 245/$c, independentemente do seu
número. Quanto ao termo latino et aI. este não será mais utilizado para designar
mais de três autores e ou criadores.
Ademais, outras expressões latinas não serão mais adotadas como o sine
loco (s.I.), poderá empregar informações por extenso e no idioma da agência
catalogadora . Outra mudança que reflete o contexto dos catálogos em rede é o
princípio da representação. Ou seja, as informações devem ser registradas conforme
estão apresentadas na obra, não importando incorreções e sem a necessidade de
abreviações. Na realidade, as abreviações aparecerão apenas se a informação
estiver abreviada na obra . O catalogador deve aceitar o que está vendo no material
e registrar as informações de forma fiel ao que é apresentado.
Silva et aI. (2012) complementam que é essencial seguir o princípio da
representação presente na Declaração de Princípios Internacionais de Catalogação,
a qual tem por objetivo facilitar e encorajar a tarefa do catalogador, reproduzir
fielmente o que está no documento. Ademais, para estes autores, o ponto de acesso
principal será o primeiro autor, e que se mencione os demais autores, em
conformidade com o objetivo principal de foco no usuário.
Com relação aos dados de autoridade também foram necessanas
modificações no MARC21 para viabilizar os relacionamentos entre as entidades
bibliográficas. A ideia é esmiuçar os registros de autoridade de modo a acomodar um
número de elementos fundamentais listados no item 8.3 da ROA, permitindo um
campo para diferenciar cada dado sobre um nome, por exemplo, local associado
(370), endereço (371), campo de atividade (372), afiliação (373), ocupação (374),
gênero (375), informações sobre a família (376) e língua associada (SEIKEL;
STEELE, 2011).
=LDR 00567nz a2200181n 4500
=001 11054
=005 20110111163100.0
=008 101123nl\azannaabn\\\\\\\\\\ln\aaa\\\\\c
=010 \\$ardatestCSt-r
=035 \\$a#1
=040 \\$aCSt-Law$beng$cCSt-Law$erda
=100 1\$aBlitz, James S.
=370 \\$aWashington, D.C.
=372 \\$acommunications law practitioner
=373 \\$aDavis Wright Tremaine, L.L.P.
=374 \\$aattorney
=670 \\$aMultichannel video compliance guide, une 2005 update:$bp. iii (James S. Blitz;
partner Davis Wright Tremaine, L.L.P.)
=985 \\$acommonsetU$bCSt
Figura 3 - Registro de dados de autoridade segundo a ROA
Fonte: LlBRARY OF CONGRESSoROA authority records: text version. Disponível em:
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Organização do conhecimento: indexação, catalogação, tesauros , ontologias, taxonomias,
padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
Trabalho completo
<http://www.loc.gov/catdir/cpso/RDAtesUrdatestrecords.html> . Acesso em: 20 mar. 2012.
Assim , para exemplificar, através do registro apresentado na Figura 3 é
possível saber que essa autoridade nasceu em Washington D.C (370\$a), que seu
campo de atividade é direito da comunicação (372), é afiliado ao escritório de direito
Oavis Wright Tremaine (373) e sua ocupação é advogado.
Observa-se que, ao aplicar a ROA, na estrutura já existente ou adaptada do
MARC 21 , não são exploradas todas as potencialidades propostas pelo modelo
inspirador da ROA. Acredita-se que a ROA traz alterações além das verificadas nos
registros testes da LC . Ao seguir os pressupostos do modelo, a descrição do recurso
é elaborada diferentemente de como ocorre nos sistemas atuais, pois é necessário
descrever os elementos (atributos) e estabelecer as relações entre estes.
Com base no exposto, acredita-se que o catálogo seria uma espécie de rede
em que as diferentes expressões (traduções, revisões , edições compactas, etc ..) e
manifestações (publicação da editora x, y ou z) de uma obra (criação intelectual ou
artística) estariam vinculadas a ela, como também as diferentes obras elaboradas a
partir do conteúdo desta obra (revisões críticas, avaliações, comentários) . Ao buscar
no catálogo, o usuário recupera o registro da obra e a partir deste registro encontra a
manifestação e expressão que mais se enquadre ao que realmente almeja, ou viceversa , como defende Picco (2009) ao afirmar que é importante que o catálogo
represente estas relações e assim , transforme-se numa excelente ferramenta para
investigação.
Oeste modo, a ROA é vista como uma ferramenta para a descoberta de
conhecimento e deve corresponder aos critérios de busca para que seja adequada
às necessidades do usuário (OLlVER, 2011; MORENO, 2009). Isto está em
consonância com as tarefas de usuários relativas a dados bibliográficos: encontrar,
identificar, selecionar e obter a entidade.
Assim, será ampliado o escopo de decisão do catalogador, que pode
estabelecer as relações entre os registros do catálogo. Picco (2009) afirma que cabe
ao bibliotecário a decisão de como aplicar o princípio de reunião e catalogação, de
modo a agrupar as obras sob um único cabeçalho no catálogo, ou estabelecer as
relações entre as obras da mesma rede ou família, para que o usuário recupere
tanto a obra como as que foram geradas a partir dela .
5 Possibilidades e desafios com a implantação da ROA
A implantação da ROA traz novas possibilidades para os usuários, justamente
por ter sido construída com foco no usuário. Entre as possibilidades apresentadas
pode-se destacar:
a) a melhor navegação e visualização dos registros;
b) a definição dos elementos de dados com precisão, pois os dados são
registrados em elementos apropriados, definidos e identificados sem
ambiguidade;
c) os dados servem à disponibilidade dos resultados, assim a exibição destes
fornece aos usuários informações com significado. Agrupa e reúne os
trabalhos mostrando as semelhanças e diferenças;
d) amplia a aplicação ao alcançar uma maior internacionalização, saindo do
contexto anglo-norte-americano ;
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Organização do conhecimento: indexação, catalogação, tesauros , ontologias, taxonomias,
padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
Trabalho completo
e) utilização em outras comunidades de metadados, como a norma é aplicada
tanto aos recursos tradicionais (livros e periódicos impressos/eletrônicos)
como a documentos arquivísticos, documentos em repositórios digitais,
artefatos, entre outros;
f) os dados da biblioteca podem estar fora do catálogo, em outras
ferramentas , pois os dados ROA não precisam ser armazenados em
registros bibliográficos e de autoridade . A ROA pode ser aplicada tanto em
ambientes atuais - bases de dados com registros bibliográficos e de
autoridades - como em ambientes futuros - bases de dados que adotem o
modelo FRBR/FRAO e os registros são agrupados de acordo com a
entidade ;
g) continuidade pode ser tanto implantada hoje como nos cenários futuros ;
h) eliminação dos ruídos na descrição, pois não são utilizadas abreviaturas. O
catalogador é orientado a aceitar o que está no recurso e a descrição
coincide com a forma como os recursos são apresentados (OLlVER, 2011).
As possibilidades indicadas são vantagens para os usuários, para as
instituições, catalogadores e criadores de metadados (OLlVER, 2011). Para as
instituições as vantagens estão em satisfazer os usuários e ter mais visibilidade ao
tornar os dados da biblioteca utilizáveis em ambientes de rede. Para os
catalogadores oferece a "orientação concreta para corresponder às necessidades do
usuário e registrar dados que coincidam com as tarefas específicas do usuário"
(OLlVER, 2011 , p. 128).
A implantação da ROA vem como solução para problemas e dificuldades
apontados tanto por catalogadores como por usuários ao longo dos últimos anos,
impulsionados pelos avanços tecnológicos. Entretanto, por estar em fase de estudos
e testes ainda apresenta muitos desafios.
A ROA foi construída com base no modelo conceitual FRBR e FRAO, mas ao
aplicar a ROA no contexto e ferramentas existentes, hoje, impossibilita a aplicação
dos modelos. E como "a característica marcante da ROA é harmonizar-se com os
modelos conceituais FRBR e FRAO e ser coerente com os Princípios Internacionais
de Catalogação" (OLlVER, 2011, p. 126), sua aplicabilidade engessada pode tornála apenas uma adaptação das AACR. Picco e Repiso (2012) alertam que as
verdadeiras mudanças nos registros bibliográficos serão observadas a partir de
novas estruturas desenvolvidas.
Observa-se que o MARC21 e a própria estrutura do catálogo existente
atualmente não comportam a essência dos modelos FRBR e FRAO, que enaltecem
as características da rede, ao inspirar-se no modelo entidade-relacionamento. O
catálogo das bibliotecas é uma automatização do catálogo impresso, que não teve
mudanças na sua estrutura mesmo com o advento da Internet que revolucionou o
mundo informacional e, consequentemente, a busca e recuperação da informação.
Quanto ao MARC, Tillett (2011) afirma que os testes realizados pela LC para
verificar a viabilidade da ROA não tinham como foco testar também o MARC, porém
os participantes apontaram problemas que deixam claro que essa linguagem é uma
barreira para atingir os benefícios potenciais que o novo código pode oferecer para
levar efetivamente as bibliotecas para a web. Assim, uma das recomendações
suscitadas após o teste é progredir para o desenvolvimento de uma linguagem que
substitua o MARC.
Picco e Repiso (2012) colocam o Dublin Core como uma possibilidade para a
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padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
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mudança nas estruturas atuais, pois afirmam que a vinculação da comunidade ROA
com o Oublin Core oferece a possibilidade de superar limitações do formato MARC.
Outra possibilidade é o uso das ferramentas da web semântica .
A ROA, baseada no modelo conceitual , traz modificações no âmago da
catalogação, principalmente na forma como se descreve o objeto informacional.
Apontar e divulgar os relacionamentos entre os recursos informacionais é a
grande inovação da ROA. Atualmente cada item é descrito isoladamente e só se
vincula aos demais pela autoria ou assunto em comum . Oliver (2011, p. 84) ressalta
que "nos catálogos atuais, não existe agrupamento segundo o tipo de relação." Por
isso, estabelecer relações entre os recursos torna-se um desafio na aplicação
da ROA.
A RDA oferece meios para registrar a natureza da relação. Os registros criados
com as AACR2 de fato incluíam informação sobre relações, mas a natureza
delas geralmente tinha de ser verificada pela leitura do reg istro. Informações
precisas sobre relações oferecem a possibilidade de criar caminhos úteis no
meio de enormes volumes de dados, ensejando ao usuário navegar com êxito
em grandes catálogos ou bases de dados; podem também ser usadas para
melhorar a ordenação, disposição e exibição dos resultados de buscas .
(OLlVER, 2011, p. 82) .
Os desafios estimulam a inovação na implantação da ROA, que trará
incontáveis vantagens aos usuários que buscam a informação. Com as mudanças
tecnológicas dos últimos anos o usuário modificou a sua forma de buscar a
informação, estão cada vez mais autônomos e querem que a informação esteja
disponível em apenas um clique.
Conners (2008) faz uma crítica aa ROA pela persistência na necessidade de
escolha da entrada principal , mantendo a mentalidade do AACR2 ao adotar o
MARC21 . Para este autor, os bibliotecários precisarão administrar a obsolescência
da entrada principal nos registros bibliográficos, a qual é desnecessária nos
catálogos em linha, pois apresentam um único registro completo da obra e os
usuários podem pesquisar por diversos pontos de acesso. Com o advento da
Internet, a entrada principal e o ponto de acesso principal perderam a função , mas
os catalogadores continuam a dedicar um tempo significativo e esforço intelectual
para determinar os pontos de acesso principais para muitas publicações
(CONNERS, 2008).
Com a transição para a ROA, o ponto de acesso principal passa a ser uma
escolha livre da unidade de informação no momento da catalogação, sem a
obrigatoriedade de escolher o autor em detrimento do título.
Vale ressaltar que isto vem ocorrendo pela aplicação da ROA nos sistemas
existentes e na estrutura do MARC que foram criados para comportar as regras
AACR2 . Para obter êxito na aplicação da ROA é necessário reformular o ferramental
existente de modo a comportar tanto a descrição dos atributos como as relações
associadas aos atributos.
A ROA traz a possibilidade de que o bibliotecário mude a sua postura e
descreva o objeto na forma como o usuário o procura. "A implantação da ROA exige
preparo e treinamento" (OLlVER, 2011, p. 111) por parte dos profissionais, os quais
deverão estar capacitados e sintonizados com os conteúdos das obras e se
portando como usuários que buscam a informação. "A ROA abre espaço para o
discernimento do catalogador; este precisa conhecer os princípios destinados a
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Organização do conhecimento: indexação, catalogação, tesauros , ontologias, taxonomias,
padrões e protocolos (Z39 .5, XML, etc.) e demais temas relacionados
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orientar as decisões quanto aos dados que são importantes para o usuário."
(OLlVER, 2011 , p. 111).
A catalogação a partir dos novos padrões exigirá mais conhecimento e
erudição do bibliotecário, pois a catalogação deve ser pensada como a
representação das entidades e o estabelecimento das relações entre as distintas
entidades e seu conteúdo, que adquire importância particular como contribuição para
a geração de novo conhecimento (PICCO , 2009).
Silveira (2007) ressalta que o bibliotecário deve estar mais atento às
particularidades dos usuários e demandará mais esforços para atender às
necessidades de informação. Além disso, a autora ainda destaca que o grande
impacto provocado pelos FRBR é a retomada das discussões sobre a catalogação
em nível teórico.
Picco e Repiso (2012) ainda defendem que os bibliotecários demonstraram
dificuldades em identificar corretamente as entidades da obra e expressão no
momento de registrá-los e no estabelecimento das relações.
No caso específico do Brasil, o primeiro desafio a ser superado é a tradução
do código para o idioma nacional. Também é importante fomentar o trabalho
cooperativo, porém isso só será possível após uma padronização mínima de códigos
e linguagens.
6 Considerações finais
As transformações na sociedade da informação e do conhecimento alteram
substancialmente a produção do conhecimento e organização e recuperação da
informação. Estas alterações implicam em mudanças nos padrões e na descrição
dos recursos informacionais.
A nova norma de catalogação ROA impulsiona estas transformações e por ser
pautada em um novo modelo conceitual exige mudanças mais profundas na
catalogação e na estruturação do catálogo, exigindo mudanças nas ferramentas:
MARC e sistemas. Para Lourenço (2005, p. 83) "é dominante o pensamento de que
é necessária uma mudança fundamental na catalogação que passa da filosofia da
descrição para a filosofia da recuperação".
Entretanto, o grande desafio é que as mudanças não ocorram somente no
registro dos recursos, do título e dos autores. "A ROA terá impacto imediato nos
catalogadores e também nos projetistas e gerentes de sistemas de bibliotecas"
(OLlVER, 2011, p. 6). A catalogação a partir dos novos padrões exigirá mais
conhecimento e erudição do bibliotecário, pois a catalogação deve ser pensada
como a representação das entidades e o estabelecimento das relações entre as
distintas entidades e seu conteúdo, que adquire importância particular como
contribuição para a geração de novo conhecimento (PICCO, 2009).
Quanto ao futuro próximo, a Library of Congress e outras bibliotecas irão
adotar a ROA à partir de 31 de março de 2013 e com isso será dado o primeiro
passo para a transição do AACR para a ROA. Porém, ainda serão necessárias
diversas alterações e mesmo uma mudança de mentalidade dos profissionais da
informação para que os conceitos do FRBR e FRAO sejam adotados em sua total
dimensão na aplicação da ROA.
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TILLETT, Barbara B. Keeping libraries relevant in the Semantic Web with resource
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
SNBU - Edição: 17 - Ano: 2012 (UFRGS - Gramado/RS)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Bibliotecas Universitárias
Description
An account of the resource
Tema: A biblioteca universitária como laboratório na sociedade da informação.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
SNBU - Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFRGS
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2012
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Gramado (Rio Grande do Sul)
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Possibilidades e desafios para a catalogação em bibliotecas: a aplicação da nova norma para Descrição e Acesso de Recursos (RDA).
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Lehmukuhl, Karyn Munyk; Pinheiro, Liliane Vieira; Machado, Raquel Bernadete
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Gramado (Rio Grande do Sul)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFRGS
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2012
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Description
An account of the resource
O presente artigo propõe uma reflexão acerca da RDA, Resource Description and Access, em português, Descrição e Acesso de Recursos, no âmbito das bibliotecas universitárias e como essa nova regra de catalogação irá afetar o processo de busca e recuperação da informação pelos usuários e a forma com a qual os bibliotecários catalogadores realizam seu trabalho. Para elaboração deste estudo foram identificados na literatura trabalhos relacionados ao tema que permitissem esclarecer a aplicação da RDA. Para contextualizar a discussão apresentou-se um histórico e evolução da catalogação. Em seguida explicou-se a RDA e suas diferenças com relação ao AACR2 apresentando exemplos práticos de obras catalogadas segundo as duas regras. Por fim, são discutidas as possibilidades e desafios com a implantação da RDA.
Language
A language of the resource
pt